MUCIO FERREIRA DE ABREU JUNIOR A MORTE...

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MUCIO FERREIRA DE ABREU JUNIOR A MORTE NOS SONHOS Trabalho apresentado como requisito par- cial para a obtenc;ao do grau de especia- lisla no Curso de Especializar;ao em Psi- corogia Clinica, do Centro de Especializa- 'lao e Pos-Graduar;ao, da Universidade Tuiuti do Parana Prof. Orientador. Nelio Pereira da Silva CURITIBA 1997

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MUCIO FERREIRA DE ABREU JUNIOR

A MORTE NOS SONHOS

Trabalho apresentado como requisito par-cial para a obtenc;ao do grau de especia-lisla no Curso de Especializar;ao em Psi-corogia Clinica, do Centro de Especializa-'lao e Pos-Graduar;ao, da UniversidadeTuiuti do Parana

Prof. Orientador. Nelio Pereira da Silva

CURITIBA1997

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SUMARIOI.INTRODU(:AO2. REFERENClAL TEORICO2.1 Mortificac;ao2.2 0 SONHAR COM A MORTE2.3 A morte como simbolo da transformayao maxima2.4 Os MilOS sobre a MOlle3. RELATO DE rR;\nCA3.1 Sinopse3.2 Amilise do caso4CONCLUSAOREFERENC1AS BlBLlOGRAF1CAS

59183131324750

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Resumo

Trabalho obrigatorio para forma9iio de psicologo clinico no Cur-so de P6s - GraduaC;Elo em Psicologia Clfnica, utilizando 0 me-todo de pesquisa bibliografica e apresenta9iio de caso ematendimento a titulo de ilustraC;80 para a pesquisa. 0 resultadoobtido com a paciente toi a resoluC;80 de sua queixa inicial e amodificaC;8o de sua conduta profissional. Conclui-se que 0 paci-ente comportava-se neuroticamente em seu ambiente profissio-nai, de maneira naG prod uti va e sem conseguir aplicar as recur-50S profissionais que ja conhecia, desta forma sem alcanc;ar asobjetivos impastos pela organiza98o a que pertence. Em trata-mento, pode perceber sua atitude neur6tica e concluir que deve-ria reconhecer e alterar a mesma em favor de sua saude psiqui-ca, tendo obtido exito. Como a metoda inicial e a pesquisa bi-bliografica, 0 caso em questao ilustra as afirmagoes da mesma,bern como as conclusoes obtidas.

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INTRODU9AO

Resulla esle trabalho monogratico da obrigatoriedade im-

posta pelas Faculdades Integradas da Sociedade Educacional

Tuiuti - FISET como condiC;:c30 sem a qual nao seria considerada

como completa a forma~ao do profissional que pretende concluir

esta P6s- Gradu8gao, de caracteristica pratica. Parte obrigatoria

do curricula implica em atendimentos a serem realizados pelo CUf-

"sando, concomitante a participac;:ao de aulas te6ricas que comple-

mentam 0 curso.

Para tanto, analisa-s8 urn casa atendido no decorrer do cur-

so, que despertou 0 interesse sobre os assuntos tratados, dada a

similaridade do tema escolhido para a elaborac;:ao desta monogra-

fia e 0 conjunto descritivo do casa selecionado.

o processo clinico empregado neste casa e de psicologia

analitica, bern como a supervisao do mesma, opr;;:ao oferecida pelo

curso proposto e que permite ao profissional graduar-se e atender

casos clinicos na instituir;;:ao, sob a supervisao de um profissional

com a mesma orientar;;:ao de atendimento pela qual optou.

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2 REFERENCIAL TEO RICO

o lermo psicologia analilica, criado pelo seu fundador, Carl

Gustav Jung, pode ser considerado a partir do momento em que 0

mesmo, quando convicto de suas opini6es, preferiu denominar sua

propria abordagem atraves desta expressao tecnica.

Hoje em dia, esta orientaC;80 terapeutica reune em uma asso-

Ci8C;ElO profissional internacional de analistas junguianos chamada

AssociaC;8o Internacional de Psicologia Analftica.

Jung sempre afirmou ser urn trabalho cientifico de base em-

pirica, abrangendo tearia, reflexao e pratica.

Segundo suas proprias palavras, uOevo repetir, rnais uma

vez, que meus metodos nao descobrem teariast mas sim fatos, e

digo aos senhores que fatos eu descobri atraves destes metod os"

2.1 Mortifica~ao - a mortificatio alquimica

A mortificagao propriamente dita tern 0 significado explicito

do ato de matar, pertinente a experiencia da morte .0 ascetismo

religioso, segundo Edinger utiliza-se do senlido de sujeic;:ao das

paixoes e apetites por meio de penitencia, abstinencia, infligir

dolorosos rigores ao corpo, e a descrigao deste processo acontece

como projegao de uma imagem psiquica. Descreve a mesma autor,

que 0 material cantida no frasca de experiencias alquimicos e per-

sonificado e considera como tortura as operac;:oes realizadas, de-

vida a carater prajetiva das experiencias.

o impacto psicol6gica da experiencia de observar a corpo de

uma pessoa morta, e as modificac;oes que acorrem na mesma sao

muilo forles, vindo da; 0 carater lorluranle da operac;:ao realizada

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palo alquimista; nao signifiea que estivesse literalmente diante de

urn cadaver, mas 0 momento do processo impliea em transformar

algo contido na psique, que e sentido como morte e renascimento.

Entenda-se operaryao todo 0 processo que envolve a obra al-

quimica, que passui carater essencialmente projetivD, com as

transformac;6es que ocorrem no frasco similares aos processos

pSico16gicos em andamento no sujeito que opera.

A utiliz8ryao de exemplos contidos em textes alquimicos tern a

funy80 de demonstrar a experiencia analoga de urn individuo que,

ao descrever suas experiencias praticas e psicologicamente pro-

jetivas, serviu-se de imagens e descriryoes metaf6ricas.

Dificilmente pode-s8 enearar as descric;6es simb61icas des-

tes textos de maneira objetiva, como a ciencia descreve nos dias

de hoje.

No entanto, centenas de compostos e substancias, bem como

metodos de obten9ao dos mesmos, descobertos e utilizados na

epoca anterior a Revoluc;ao Cientrfica permanecem quase inaltera-

dos em sua essencia, modernizando-se para a obtenc;ao em larga

escala e melhor precisao.

Nao pretende esta monografia descrever tais processos qui-

micos, mas uma analogia entre 0 comportamento de um paciente

cujas caracteristicas pessoais permitem exemplificar a pesquisa; e

imagens referentes ao processo citado com a linguagem do in-

consciente, que se expressa simb61ica e metaforicamente.

A linguagem e compreensao que modificou-se ao longo dos

seculos fol a linguagem do consciente em suas relac;6es com 0

meio ambiente, em beneficia de grande quanti dade de pessoas do

mundo inteiro, trazendo a luz da objetividade 0 que era exclusivo

do topa da piramide social da spoca, os religl0sos e os nobres

detentores do conhecimento da epoca.

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As semelhanC;8s simb61icas dos sonhos sao admissiveis,

dada a veracidade dos relatas das imagens descritas e das asso-

ciac;6es realizadas pelos pacientes. E naD apenas destes, mas no

quotidiano, encontra-se a descriy80 de uma linguagem similar,

quando S8 trata de afetos e sentimentos, aonde a razeD costuma

perder forc;a, e a muito custo 0 individuo consegue manter-S8 se-

nhor de seus atos.

A energia de urn afeto deve redistribuir-se psiquicamente,

na incessante tenseD entre os complexos psiquicos. Quando OCOf-

re tal redistribuiC;80, avalia-s8 0 quanta de energia psiquica 0

complexo retinha para sua autonomia. E necessaria urn processo

terapeutico de fata, em que ocorra a conscientizac;ao de conteu-

dos sombrios, em uma tentativa de trazer para a ego a direyao

destas energias.

Conteudos sombrios sao informayoes retidas no inconsciente

do sujeito, dificilmente acessiveis pela atua~ao da vontade. Sao

reconheciveis par serem ideol6gicamente inaceitaveis pelo sujeito,

permanecendo desta forma ocultas, como sombra.

A descriyao dos pacientes, durante este processo e de urn

conflito de emoyoes, entre 0 que surge inopinadamente, como as

conteudos subjetivos que contrariam os valores que considera

pessoalmente como sensatos e estaveis.

Descrevem 0 quanto estao impotentes diante daquilo que

sentem e como se comportam em seu quotidiano; de atitudes cla-

ramente contrarias a vontade consciente. Quando se conscienti-

zam que seus impulsos nao sao razoaveis, e tentam control a-los,

percebem 0 conflito e suas manifesta90es com mais clareza.

Este estado de conflito evidencia ao paciente afetos os quais

nao ousa sequer pensar, emoyoes descritas como perturbadoras,

ideias que contrariam seus valores. Se 0 paciente sucumbe diante

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do sofrimento, ocorre uma acomodacrao temporaria do psi qui sma,

na tentativa 6bvia de evitar 0 sofrer.

Nesta situacrao, quando nEw ocorrem modificacr6es significati-

vas de atitudes, 0 paciente tende a aceitar 0 estado de cOisas,

deixar as coisas como esUio, acomoda-se literalmente.

No entanto, tal acomoda9lio e aparente, senlio temporaria.

As forc;as que conduziram ao conflito, em seu movimento natural

de buscar equilibrio, nao estao inertes, porque isto dependeria de

uma decisao consciente, 0 que naG ocorre com tais foryas.

Na realidade, durante este movimento, surgem as IMAGENES

nos sonhos, com nitido movimento de informaC;8o e alerta para a

consciencia. Quando desconsiderados, as sintomas VaG ocorrendo,

sempre de intensidade progressivamente maior.

Enquanto naG houver a iniciativa de consenso da parte do

sujeito, 0 inconsciente, sob as formas de complexos, apossam-se

do quotidiano daquele. Com isto, os sonhos claramente nao ape-

nas indicam 0 porque de um sintoma, mas urn para que tambem,

geralmente como alerta para a proximidade de uma tragedia.

2.2 0 SONHAR COM A MORTE

o sonhar com a morte ou a presenc;a desta nos sonhos en-

volve sfmbolos que indicam a necessidade de transformaC;ao na

psique.

Sonhos descritos como misteriosos, com imagens de cemite-

rios, lapides, caix6es, defuntos. Imagens subterraneas, do mundo

dos mortos, do Hades, reino de Plutao, como descritos nos mitos.

Quando entendida literalmente, 0 sonho com a morte e agou-

rento, de mau-agouro, pressagio. E uma imagem tornada rigida,

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naO permitindo 0 desenvolvimento da expressao elaborada pelo

inconsciente.

o que ocorre S8 a paciente sucumbe, S8 a personalidade

consciente S8 corrompe?

Em The Twelve Keys, de Basile Valentin, encantramos a seguinte re-ceila de CALCINATIO: ~Toma urn feraz lobo cinzento, que e encontra-do nos vales e montanhas do mundo, nos quais uiva, quase selvagem,de fome. Da-the 0 corpo do rei e, quando ele 0 liver devorado, quei-ma-Q !Olalmente, ate torna-Io cinzas, numa grande fogueira.

Par esle processo, 0 rei sera Hbertado: e quando isla liver sido reali-zado par Ires vezes, 0 leao tera suplantado 0 lobo e nada encontrarapara devorar. E assim nossa corpo sera tornado apropriado para 0primeiro estagio do nossa trabalho.

Para 0 primeiro estagio, 0 albedo alquimico, corresponde

projetivamente ao primeiro momento psicol6gico ap6s a modifica-

980 imposta pela morte simb6lica de conteudos psiquicos.

Po is de acordo com a lei dos contrarios, seria a consciencia

de uma das partes a constela98o de seu oposto. Da escuridao, das

sombras e do negrume, como 0 amanhecer ap6s a nOite, surge a

luz.

Assim, os sonhos com imagens sombrias, escuras, refletem

imediatamente a identifica980 unilateral da consciencia com a luz,

em uma nega9ao dos conteudos sombrios e pouco aceitaveis como

naturais ao ser humano. Quando aeeitos natural mente como pre-

sen9as metaf6ricas, deixam de ser assustadoras.

Como exemplo, a deseortinar de alguns dogmas construidos

como verdades necessarias, como "Santo Agostinho nunca errouh,

como querem alguns partidarios da dogmatiea; os dogmas em si

eonstituem esta identifieagao unilateral, que nao aeeita aquilo que

a sombra pode trazer de produtivo.

Na natureza pode-se constatar a lei do equilibria dos opos-

tos, a enantiodromia, em cada fenomeno e manifestay80 de seu

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oposto. Ap6s a tempestade, a bonanya; mudo calor e secura antes

das chuvas. A existancia das estayoes; machos e fameas.

Este equillbrio de opostos e uma lei tanto no mundo externo

fenomenol6gico, como no mundo interno, psiquico.

Prosseguindo a citayao:

Read interpretou quimicamente esta passagem. Ele equipara 0 lobocom a antimonio, chamado de "lobo dos melaisn por tern devoradou

- ouse unido - com lodos os melais, menos 0 ouro. Devido ao seu usa napurifica9aO do aura fundido - do qual as impurezas sao removidas soba forma de uma escuma - 0 antimonio tambem e chamado de bagneumregis, " 0 banho do rein. Portanto, a passagem referia-se a purifica9aOdo Duro pela sua fusao com 0 antimonio, reaJizada por Ires vezes.

Essa interpreta9ao pode estar correIa de um ponto de vista est rita-mente quimico. Enlretanlo nao consegue levar em conla 0 significadodas imagens fantasiosas projetadas no processo quimico. Essas lma-gens represenlam 0 componente psiquico da alquimia, principal inte-resse do psicolerapeula.

A interpretac;ao quimica de uma citayao alquimica e cons ide-

rada pela autora junguiana Marie Louise Von Franz como clara-

mente extrovertida, enquanto referencia substancias quimicas e

processos como f6rmulas para 0 preparo de um composto. A mes-

ma autora diferencia como introvertido 0 ponto de vista que consi-

dera as obras e text os a partir dos conteudos psiquicos projeta-

dos, em que estilo de acordo EDINGER e JUNG.

Privilegiam 0 componente psiquico, que de fato, e 0 que se

pode estudar.

o texto fala do "Corpo do Rei" Presume-se que 0 Rei ja esta moria,tendo sido assassinado pelo processo de mortificatio A morle do Rei eum tempo de crise e transi9ao. 0 regicidio e 0 crime mais grave. Psi-cologicamente significaria a morie do principio que rege a conscien-cia, a mais elevada autoridade da estrutura hierarquica do ego. Porconseguinte, a morie do rei seria acompanhada por uma dissolu9aoregressiva da personalidade consciente.

Assim, a personalidade consciente reg ride a estagios anteri-

ores pela estagnayao em urn ou rnais complexos. 0 crime esta

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justa mente na inversao do curso natural da consciencia que deve-

ria desenvolver-se e buscar a individuac;ao.

Individuar-se significa ternar-s8 uma unidade indivislvel au

urn todD, que nao exclui 0 individuo do mundo, mas aproxima 0

mundo do individuo.

Este curso de eventos e indicado pelo fato de 0 Rei servir de alimentopara urn lobo raivoso ; isto e, 0 ego foi devorado pete desejo faminta.o lobo, par sua vez, alimenta 0 fogo. Mas lobo=desejo e desejo=fogo.Assim 0 desejo consome a 5i mesmo. Depois de uma descida ao infer-no, 0 ego - Rei renasce, a feiyao da fen ix, num estado purifica-do. EDINGER.1995, P. 38

o sonho do paciente incluido nesta pesquisa indica esta ne-

cessidade de purgar, de descer aos infernos para purificar este

ego. Isto refere ao sonho com a cadaver do pai que jaz intocado,

nao decomposto. Necessita apodrecer para que algo de novo pos-

sa surgir. Isto tambem remete ao complexo paterno.

Sobre complexo, 0 conceito de JUNG.

( ... )a consideraC;;ao de um complexo como uma entidade autonomadentro da psique, Jung asseverava que as "complexos se comportamcomo seres independentes~(CW8,parag.253). Tambem argumentavaque "nao existe diferenca, em principia, entre uma personalidadefragmentaria e umcomplexo ... complexos sao psiques parci-a is~ (C WB, pa rag .202).

Um complexo e uma reuniao de imagens e ideias, conglomeradas emtorno de um nucleo derivado de um ou mais arquelipos, e caracteriza-das por uma tonalidade emocional comum. Quando entram em aC;;ao(tornam-se constelados), os complexos contribuem para 0 comporta-mento e sao marcados pelo AFETO, quer uma pessoa esteja au naoconsciente deles.

Sao particularmente l11eis na analise de sintomas neur6ticos.( ... ) Jungreferia-se ao complexo como a "via regia para a inconscienteMe comoa arquiteto dos sonhos" 1550 sugeria que as sonhos e outras mani-festagoes simbolicas estao intimamente relacionados com os comple-xos.( ... ) Mais ainda, de acordo com Jung, as complexos tambem afe-tam a memoria. 0 "complexo de pai~ nao s6mente contem uma imagemarquetipica de pai, mas tambem um agregado de todas as inteiracoescom 0 pai ao longo do tempo (ver Imago). Oai 0 complexo de pai mati-zar a recordac;;ao de experiencias precoces do pai real.

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Justamente par constituir urn agregado das intera90es com 0

pai, 0 complexo paterno da a nota para 0 tipo de recordac;ao que 0

sujeito tern daquele, comumente envoi venda a imagem do me sma

em uma identificac;ao unilateral; muito born ou muito mau, juizo de

valor infantil e seguramente distante da realidade.

Possuidor de urn aspecto arquetfpico, 0 ego esta situado no

amago de urn complexo de ego, uma hist6ria personalizada do

desenvolvimento da consciencia e autoconscientizac;ao do indivi-

duo. 0 complexo de ego esta em relacionamento com outros com-

plexos, 0 que muitas vezes 0 envolve em urn confldo. Ai entaD

existe 0 risco deste ou qualquer complexo S8 dissociar, sendo a

personalidade por ele dominada.

Urn complexo pode dominar 0 ego (como na PSICOSE) ou 0 ego pode

se idenlificar com 0 complexo (ver INFLA9AO; POSSESSAO). ..)Na

analise, pode·se fazer uso de PERSONIFICA90ES oriundas de comple·

xos; 0 paciente pode ~nomear· as varias partes de si proprio. Um interes-

se alual na teo ria dos complexos surge de uma utilidade na descriyBo de

como os eventos emocionais da fase mais precoce da vida se tornam fi-

xados e operantes na psique adulla. Finalmente, a ideia de ·personalida-

des" parciais e relevante para a atual reelaborayBo do conceito de

SELF. SAMUELS 19aa,p.49

Significa 0 quanta 0 ego, enquanto complexo convergente

das for9as que aspiram a consciencia, ser rei at iva mente fragil,

sendo simbolicamente devorado par outros complexos, de acordo

com os motivos expostos acima. Metaforicamente, sendo 0 com-

plexo rei, converge para si os movimentos energeticos da psique,

tendo a tarefa de redistribuir adequadamente os mesmos.

Uma imagem arquetipica do potencial mais pleno do homem e

a unidade da personalidade como um todo. 0 self, como urn prin-

cipio unificador dentro da psique humana, ocupa a posiyao central

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de autoridade com relaC;8o a vida psicologica 8, portanto, da vida

do indivfduo.

2.3 a morte como simbolo da transforma~iio maxima

De todas as transformac;6es a que 0 ser humane pode S8

permitir e passar, a morte representa a ultima destas eta pas de

modific8C;80. A ~ceifadora de vidasn1 OU ainda a morte como ar-

que ira de algumas lIustrac;oes medievais, indica sempre transfor-

maCY8o; modificar algo que nao e mais adequado para 0 processo

em que S8 encontra a psique.

A questao do incesta e a participacyao simb61ica do pai pode

ser considerada nas palavras de JUNG, quando da imagem ambi-

gua que 0 pai oferece aos olhos infantis de seu filho; ambos de-

sejam a mesma mulher, mas nao compartilham do mesmo lugar.

Cabe ao pai 0 lugar de autoridade em rela9ao ao filho e da mode-

raCY80 de seus instintos .

.. } onde 0 taura representa 0 monstro ( comparilvel ao taura ven-cido par Gilgamesh ), 0 ~pai", que paradoxalmente, como gigante eanimal perigoso, forya a proibil(ao do incesto. Como a mae, que da avida e torna a tira-Ia como mae ~terriveln ou ~devoradoran, tambem 0pai e paradoxal, po is vive seus instintos livremente e ao mesmo tempopersonifica a lei que os proibe.

A diferenl(a sutil, mas fundamental, e que 0 pai nao comete incestoenquanto 0 filho mostra tendencia para 0 mesmo. Contra este se dirigea lei paterna, com a impetuosidade e violencia dos instintos irrefrea-dos. ( ... ) Enquanto 0 npai n como lei moral, e no filho nao s6 um fatorobjetivo mas tambem urn fator espirituaJ subjetivo, 0 abatimento dotouro evidentemente significa urn dominio dos instintos animais, massecreta e ocultamente, tambem uma violal(ao da forl(a da lei, portantouma usurpal(aO dos direitos culposa. Como 0 bom e sempre inimigo doalimo, loda inoval(ao radical representa uma lesao de direitos tradici-onais e por [550, ocasionalmente, urn crime mortal. Como e sabido,este dilema tern papel importante na psicologia dos primordios docristianismo, na discussao por causa da lei judaica.(pg.2S6) Ele (0Cristo) por assim dizer, se una com a mae na marte, e ao mesmo tem-po nega 0 ate da uniao e paga sua culpa com a pena de morte.

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Por este ata de coragem maxima e de renuncia, a natureza animal ereprimida ao extrema, razao pela qual se pode esperar como resultadouma graya maxima para a humanidade, pOis apenas um ato desta natu-reza parece poder redimir a culpa de Adao, que consisliu numa Jnstin-tividade irrefreada.

o sacrificio justa mente nao signifiea uma regressao, mas umatransferencia bern sucedida da libido para 0 equivalente simballeD damae, e com iSso, para 0 plano espiritual

Esta lei, paradoxal mas nao contraditoria, e algo que perma-

nec8, e deve ser de alguma forma elaborado. Ora, 0 sonhar com a

estado cadaverico mas inalterado de seu pai, para 0 paciente ci-

tado, foi seguido de associac;:oes referentes a leis e costumes com

o qual se acostumara, como a missao a qual 0 pai Ihe designara,

e que ele compreendera como sendo alga que envolvia sua fami-

lia.

Estar ocupando 0 lugar do pai, e ainda da mae, detalhe que

pode ser considerado, se observarmos a sua atitude de escavar a

terra, na presen9a de sua mae, send a a terra elemento feminino

par excelencia, a qual con tern 0 caix80 com seu pai(remete ao

mito de Osiris/isis).

Assim, Oanes, 0 civilizador babilonico,e, ele proprio, urn peixe, e 0Ichtys cristao e 0 pescador por excelencia. No ambito da historia dossirnbolos, e tambem 0 anzol ou a isca colocada no caniyo com queDeus apanha 0 LeviaHi, entendido como a morte e 0 diabo. Na tradi-'fao judaica, e uma especie de alirnento eucaristico reservado aosjustos, na vida futura.Estes ultirnos se revestirao de urn manto de pelede peixe, depois da morte. Cristo nao e apenas 0 peixe, mas tambem apeixe que e comido ~eucaristicamenteB. E uma referencia a sirnbolo-gia do peixe como elemento de reden'fao nao apenas a cultura crista,mas aquelas que a precederam e constituiram, como a civilizac;:ao ju-daica e babHonica, de onde vieram os jude us quando da escravidao nababHonia. 0 redentor deve morrer para que haja beneficio para osseus, sejam estes familiares, amigos, pavo au self. JUNG.1986,p.103.

o peixe e vitima comum enquanto elemento nutricional para

os povos da terra, criatura que se reproduz em grande quantida-

de. Pode alimentar, enquanto especie, a uma grande quanti dade

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de pessoas, e nao e dificil imaginar 0 porque a sua imagem esta

associ ada a tantos motivos religiosos de reden9ao

Ainda urn principia antigo similia similibus curentur e refe-

rida no texto, sabre 0 aparente paradoxa mitico religioso do peixe

que anuncia 0 anti-Cristo, e que sera fisgado.

A concep~ao crista identifica este ultimo(Leviata) com a marte OUcom 0 diabo ( a anliga serpente), e de modo algum com 0 Messias. 0~Pharmakon athanasias~( 0 remedio da imortalidade) da tradic;ao judai-ca e a carne do Leviata, 0" peixe messianico·, como 0 denominaSCHEFTELOWlTZ. Le-se no Talmud Sanhedrin (98a) que 0 messias 56se manifestara quando 0 enfermo desejar ardentemente 0 peixe quenao se pede encontrar em parte alguma.

Mas Beemot e tambem comida eucaristica, ao lado de Leviata55 ,segundo 0 Apocalipse de Baruc, como vimos anteriorrnente. Este e urnaspeclo que se ignora facilrnente. Como expliquei em outra obra (Ti-pos Psicologicos, paragrafos 5215), parece que os do is anirnais pri-mordiais de Jave constituem um par de contrarios, po is um deles e ni-tidamente um animal terrestre, enquanto 0 outro e um animal marinho.Como ja vimos acima, Leviata e clara mente associ ado a figura doMessias, na tradir;ao judaica.

A inser~ao deste texto justilica-se pel a constata~ao da tradi-

980 judaica de que aquele que e citado como 0 arauto do apoca-

lipse, contsm em sua essencia 0 potencial da cura pelo proprio

veneno, visto que estas figuras simb61icas S80, quando compreen-

didas literal mente, paradoxais. 0 Leviata seria 0 prenuncio do

Apocalipse e 0 lim do mundo. Uma vez lisgado pelo Cristo pesca-

dor, ira se transformar.

Desta forma, anuncia a reden9ao e 0 reconhecimento dos

justos, que receberao sua recompensa na vida eterna. No entanto,

quando compreendidas pela analogia simb6lica, 0 mal e a melhor

cura para 0 mal.

Os opostos se observam em criaturas que teriam proceden-

cia no mar e na terra, viriam de dire90es opostas.

Antropologicamente, pode-se considerar a origem de ele-

mentos concebiveis para 0 ser humano da epoca, a terra e 0 mar,

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ja que 0 ar era acessivel apenas para profetas e bem-aventurados

A morte final, 0 fim de uma vida injusta e distante dos capri-

chos mundanos traria a vinda de urn mundo finalmente criado a

imagem e desejo do criador como recompensa aos que creem, evi-

dente projec;ao dos mesmos ..

Tomemos as justos e bem-aventurados como aqueles que S8

prepararam para este fim, e considerando-se que aquele que S8

submete ao trabalho de reconhecer em si suas limitac;oes, encon-

tra-S8 psicologicamente preparado para uma morte que em verda-

de seria a morte de algo indesejado e superado, para 0 rena sci-

mento OU 0 surgimento de algo novo e puro.

Com esta evolU/;ao, a divindade S8 liberta de seu par de

monstros-irmaos adversarios.

Na tradil/ao posterior do judaismo, segundo 0 referido testemunho deSCHEFTELOWITZ, LeviaUi, que ainda e combatido por Jave, em Isai-as 27, tern a tendeneia de tornar-see puroa

, em alimenlo geuearistico~,e se alguem pretend esse derivar daqui 0 simbolo do lehtys, teria ne-cessariamente de admitir que Cristo substituiu realmente a figura deLeviaUi, sob a forma de peixe, e que os dois monstros marinhos foramrebaixados a mera condilf30 de atributos do diabo e da mor-te.JUNG .1986, p.11 O.

Esta divis30 corresponde a duplicalfao da sombra, bast ante freqi..ientenos sonhos, onde as duas metades apresentam caraeteristieas distin-las ou opostas entre sl. Islo acontece quando a personalidade consei-ente (do eu) nao eneerra lodos os conteudos ou componentes que se-ria capaz de abranger. Uma parte da personalidade continua separadae se incorpora a sombra, em geral inconsciente, passando a formarcom ela uma dupla personalidade (muilas vezes antagonica). Se apli-carmos esla experiencia de psieologia pratica ao presenle caso mito-logico, 0 resullado sera que 0 monstro antagonista de Deus se desdo-bra porque a imagem divina aparece incompleta, por nao conter tudoquanto logicamente deveria abranger. Enquanto Leviata e um ser se-melhante ao peixe e, conseguinte, primitivo e de sangue frio, habi-lando as profundezas do Oceano, Beemot e quadrupede de sanguequente que habita nas montanhas .JUNG.1986,p.107

Mitos e lendas egipcios citam aspectos literais da morte,

como a sarcofago e a desmembramento, devido ao aspecto literal

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deste pavo de considerar 0 corpo como receptacula eternno da

alma, mesma ap6s a morte.

Tifao esquarteja 0 cadaver e destr6i as partes. Encontramos 0 mitodo esquartejamento em muitos mitos solares ao contra rio da "composi-t;;aoftda crian~a no ventre materno. De fato, a mae isis procura aspartes do cadaver com a ajuda de Anubis, que tern cabeca de chacal.Aqui as devoradores noturnos de cadilveres, as caes e as chacais, tOf-nam·se ajudantes na decomposiyBO, da recrialfao.

Possivelmente tambem 0 abutre egipcio deve seu significado sim-bolieD de mae a esta funyao de devorar cadaveres. Na antigLiidadepersa jogavam-se cad.heres como alimento aos caes, assim como ain-da hoje no Tibete au nas torres mortuarias dos Parsi a remol:(ao dosmortos e deixada aos cuidados dos abutres. Na Persia era costume le~var urn cao junto ao leilo do moribundo, que Ihe devia dar urn poucode alimento.JUNG.1986,p.226.

Provavelmente 0 alimento era dado ao cao para que este poupasse 0corpo do moribundo, assim como Cerbero foi apaziguado pelo bolo demel que Hercules Ihe deu na viagem ao inferno.

Mas se levarmos em consideral,(ao que Anubis, com sua cabel,(a dechacal presta bons servil:(os a reconstituil,(ao de Osiris e ao significadomaterno do abutre, surge a pergunta se esta cerimania nao simbolizaalgo de mais profundo. CREUZER tam bern se ocupou com esta ideia echegou a conclusao de que a forma astral da cerimania do cao, doaparecimento da estrela Sirio(ou Canicula) na epoca do apogeu dosol, tenha relal,(ao com a cerimania

Quer dizer: a introduc;ao do cao no quarto do rnoribundo teria urnsignificado cornpensatorio, pois a morte seria transform ada assim noapogeu do Sol. JUNG.1986,p.227.

E uma imagem pSicologica, como se depreendesse tambem do fatode se considerar a morte como penetral,(aO no ventre materno Estainterpretal,(ao provavelmente e apoiada pela func;ao do cao no sacrifi-cio Mithryacum, que de outra forma seria enigmatica. Os monumentosmostram que sobre 0 touro morto por Mitra frequentemenle apareceum cao saltando.

Mas tanto a lenda persa quanto nos monumentos, esle sacrificio eapresentado como momenta de fertilidade maxima. Isto e expresso demaneira extraordinariamente bela no relevo mitraico de Heddernheim;num lado da grande laje (outrora giral6ria) aparecem 0 abatimento esacrificio estereotipado do touro, do outro lado estao 0 Sol com umcacho de uvas na mao, Mitra com a cornucopia, os dadOforos [os por-ta-tochas] com frutas, correspondendo a lenda de que do louro mortoprovem lad a a fertilidade: dos cornos vern os frulos, do sangue a vi-

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nho, da cauda as cereals, do semen as gerat;;oes de bovin~s, do foci~nho 0 alho, etc. Sabre esla cena est a Silvana, com as animais da flo·resta que dele 58 originam.(, .. ) Osiris, como sombra, arma 0 Sol novo,seu filho Horus, para a luta com Titao. Osiris e Horus correspondemao jil mencionado simbolismo do pai-filho. Osiris esta ladeado pela fi-gura bern farmada e pel a figura feia, islo e, Horus e Harpocrates, quegeralmente aparece como aleijado ou grotescamente deformado.E pas-sivel que 0 tema dos dais irmaos desiguais esteja ligado a idela pri-mitiva segundo a qual ga placenta e 0 irmao gemeo do reeem -nasci-do' .JUNG. 1986, p. 228.

Tais mitos registraram durante milenios, as express6es reli-

gi05a5 de civiliz8c;6es, culturas que expressavam sua religiosida-

de pel a devo9ao a tais contos. Evidenciam-se as identifica90es

com as imagens descritas nos misterios de forma arquetipica"

caso contrario, tais mitos nao teriam a aceitac;ao que alcanc;aram

enquanto expressao.

1.Arquetipo:parte herdada da psique, do grego archetypo;, principiobasico. Archeos, arcaico, primitiv~, anterior, ja existente, precedente.

Estudiosos afirmam que tais mitos perdu ram mesmo contem-

poraneamente, ao considerarem serem as hist6rias basicas da re-

ligiao crista, registradas nos Evangelhos, como semelhantes

aquelas, e que tal semelhanc;a derivaria da propria transmissao

das informa90es pelas tradi90es adaptadas as culturas especifi·

cas, a exemplo 0 judaismo.

A morte e a redenC;ao do Enviado, Deus ou Messias encerra

em si 0 coletivo da obra que poderia ser alcanc;ada individual-

mente. Mas para tanto, e necessario um conhecimento geralmente

alcanc;ado apenas por aqueles que se dedicam a religiosidade.

Historicamente, religiosos sempre existiram, desde tempos

imemoriais, como classe social, com papel e desempenho politico,

e os cismas e lutas da Idade Media sao bom exempla da perm a-

nencia desta luta par um poder que quer expressar-se temparal-

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mente, como uma forma de controle atrav8S da afirma980 do mito,

e de seU$ legitimos representantes, como S8 denominam geral-

mente estes mesmos religiosos.

Tambem comum as retigi6es sao as historias de como as

crentes alcanc;am destino semelhante ou proximo ao da divindade

quando de fato permanecem fieis aos dogmas e ritos professados

em seus credos.

A certeza de que tal similaridade au lugar the sera reservado

junto ao Pai Divino ou Mae Divina, sao uma parcela da identifica-

y80 da morte como redenc;ao em mites de cunho religioso.

Os exemplos dos mitos de Osiris/isis/H6rusiTifon dao bem a

ideia de como a morte, em seu aspecto de transic;ao para urn esta-

do superior, nao afasta as imagens da putrefac;ao e suas caracte-

risticas pouco proprias de serem descritas, posta serem imagens

que geram aversao.

A certeza de que se tern algum controle sobre esta morte, de

que "0 cao nao devorara as carnes de seus ossos", e que existe

um destino melhor do que simplesmente apodrecer em um peda~o

de terra, e mais; de que este apodrecimento e parte do processo

de redenyao e ascensao para 0 divino, compoe 0 restante das ne-

cessidades de crer em ritos e mitos de maneira literal, tal como se

expressam nas religioes.

Concluir que estas sao expressoes extrovertidas de proces-

sos inconscientes esta correto. Quando destes mitos obtem-se

algo como um aprofundamento, um melhor conhecer do que diz

respeito a inconsciencia e das for9as que nas possuem, a neces-

sidade da expressao literal arrefece, para ocorrer a reden9ao in-

trovertida, no mais profunda rec6ndido individual, da renascer in-

terna das imagens arcaicas e 0 aproveitamento das for9as que de-

sencadeiam na psique.

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Encontrarn-se rnais referencias a respeito do tema morte e

transforma<;ao neste texto.

Antes de falar dos misterios que e5te mito n05 revela, e preciso di-zer mais alguma caisa a respeito do simbolo da arvore ( caix6es cos-lumam ser de madeira, e em alguns mitos. arvores sao ataudes aucaixoes de deuses au herois ). Osiris est a deitado sabre as ramos daarvore que crescem a sua volta.60. 0 lema de ser envolto au cobertopar vegetayBO encontra-se com frequencia no mito solar e no mito dorenascimento, Urn exemplo e a hist6ria da bela adormecida, outro asaga da jovem presa entre 0 cortice e a madeira. Uma saga primitivaconta como 0 heroi solar precisa ser libertado de plantas trepadeiras.

Uma jovem sonha que seu amado caiu na agua, ela tenta salva-Io, masprimeiro precisa retirar da agua algas e plantas marinha e depois con-segue alcan~a-Io. Numa saga african a 0 herai , depois de seu feito,ainda precisa seT desvencilhado das algas. Num canto polinesio a na-vio do herai e envolto petos tenlacutos de urn palipo gigante. A em-barcac;ao de Re durante sua viagem noturna pelo mar e envolta pet aserpente da noile.

Na adapta~ao poetica da histaria do nascimento de Suda, feita porEDWIN ARNOLD, tam bern se encontra 0 lema do envolvimen-to(pg.232,op.cit.). Encontramos urn tema muito semethante na lendacultiea da Hera de Sam os. Todos as anos a imagem ~desapareeida~ dotemplo era fixada num troneo de Iygos em qualquer parte a beira-mar,e envolta pelos ramos da arvore. Ali era -achadaft e the era servido abolo de noiva. Esta festa e antes de mais urn casamento cultico, paisem Samos corria a lenda de que Zeus livera inicialmente urn longo esecreto caso amoroso com Hera. Em Plateia e Argos fazia-se ate urncortejo nupcial com damas de honra, banquete, etc. A festa era cele-brada no mes dos casamentos (inicio de fevereiro).

Mas tam bern nestas duas cidades a imagem era lev ada ate urn lugarsolitario da floresta, como na lenda de PLUTARCO, segundo a qualZeus raptou Hera e a escondeu numa caverna de Kithairon. Mas deacordo com 0 que vimos ate agora, tudo isto nos leva ainda a outroraciocinio. islo e, a magi a do rejuvenescimento, associada ao hiera-gamo. ° desaparecimento e esconderijo na floresta. na caverna, a bei-fa-mar, encoberto de Iygos (salgueiro), indica a moTte e renascimen-to.JUNG.1986,P.231.

Pode-se considerar 0 sonho de P. como 0 renascimento da

consciencia paterna, de urn ou mais complexos; a indicac;:.ao das

imagines paterna, materna e fraterna. Melhor expressao do con-

texto do renascimento no sonho, este em especial, de que 0 cada-

ver intacto do pai ressurge ap6s P. escavar a terra (mae).

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Renasee 0 saber, a consciencia da importancia ainda atri-

bUlda aos contelidos paterna is, surge a oportunidade do individuo

compreender e aceitar a significado do sonho.

Aquila que esta intacto naD apodreceu, e portanto naG S8

transformou; sugere 0 pedido de que a putrefa~aoltransforma~ao

ocorra para que P. realmente venha a ser quem e de fato.

A indic8CY80 da finalidade do sonho e outra caracteristica

analitic8. Existe urn "para que", a que S8 destinam tais informa-

90es, 0 que faZ-S8 necessaria realizar. Portanto, indic8CYEIO de que

algo anormal merece especial aten980. Cadaveres naD sao comu-

mente encontrados intactos, apos tantos anos, exc8980 concedida

aos santos e alguns her6is.

Se a imagem pode sugerir a permanencia neste estado inco-

mum, "as verdades dele estao intactas. Lutar, veneer, ser for-

te.sic", a pr6prio sujeito reconhece esta permanenc;a, como ver-

dades intocadas e um objet;vo a cumprir.

A identificaC;ao com os ideais paternos e a manuten~ao dos

mesmos em sua vida sao revividos durante a curso da associac;ao

de ideias como uma sensaC;80 de alegria, revivida inclusive no

momenta da descriC;80 do fenbmeno.

Nao ha referencia a morbidez, ou associac;oes dolorosas au

de pesar, mas de alegria. Tal emoC;80 define a compreensao do

sonho por P. como sonho de saber algo, e alegrar-se com isto. 0

paralelo com os mitos de Osiris e a constelaC;ao familiar divina

ocorre similar neste sonho, com a presen~a da mae e da irma,

que sao expectadoras e nada falam.

E a filho que faz, des I enterra , assim como H6rus e a re-

dentor guerreiro do Pai Osiris, multo embora seja isis-mae aquela

que busca e reconstr6i 0 cadaver de Osiris despeda~ado, devol-

vendo-Ihe a vida atraves de sua magi a, com exce~ao do membro

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viril, que foi devorado, em algumas citagoes par urn carangueijo,

em Qutras par peixes, sendo entaD 0 mesma orgao substituido par

urn membra artificial e simbalieD.

Nao S8 trata, no sonho de P., de urn corpo destruido, mas

intacto, dispensando a busca e reconstrugao magica pelo materna.

A presen9a passiva da mile no sonho parece assegurar islo. No-

vamente, nao S8 trata de reconstruir, mas de constatar. Esta feliz

com aquilo que va e sente.

2.4 Os Mitos sabre a Morte

o mito e urn meio de expressar uma visao metaf6rica dos

mundos pessoal e fisico, sendo a raciocinio objetivo de pouea ser-

venti a quando uma tentativa de avaliag8o.

Os mitos gregos originalmente descrevem a morte, com 0 termo Ta-natos . principal auxiliar de Hades. embora naD estivesse submetido aele. Para 0 gregos, Tanatos era urn deus, para os romanos, uma deu·sa,a que chamavam Mors. Filho da noite, Tanatos e descrito por Euri·pedes (480? - 406 a.c.) coberto de negro, passeando entre as ho·mens com uma faca nas maos. Qutros poetas descrevem·no com umaaparencia menos sinistra e dotada de asas.

A atua.;;;ao de Tanatos, porem, depende da vontade do Destino, for.;;;asuperior aos hom ens e aos deuses. Quando 0 destino decide que echegada a hora final, Tanatos envia as Queres para executarem a de·termina.;;;ao. Essas divindades infernais apoderam·se do mortal desi·gnado, golpeiam·mo e arraslam·no para 0 Erebo.

Quando 0 mortal apontado para morrer e um perjur~ ou co-

meteu crimes contra pessoas de sua familia, Tanatos manda, em

lugar das Queres, as Erinias ou Furias. Filhas de Gaia, fecundada

pelo sangue de Urano, as Erinias figuram entre as mais anti gas

divindades des greges.

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Segundo JUNG, "as mitos sao revelac;6es originais da psi que

pre-consciente, afirmac;6es involuntarias sabre acontecimentos

psiquicos(CW 9i,parag.261).

Par serem involuntarios, mitologizar e uma agaD inconsciente

e uma maneira de expressar admirac;ao ou Dutro sentimento par

fatos au acontecimentos extraordinarios.

o ato de mitificar prossegue como sentimento ou sensac;ao,

porque a contemporaneidade avita 0 convivio com a transmissao

de conhecimentos pelas vias crais de sentimentos tao expressi-

vas; isto exporia 0 orador de uma maneira indesejavel.

No entanto, as religi6es e os religiosos ainda S8 valem deste

recurso na transmissao das verdades religiosas, 0 que lorna mais

intensa a vivencia da emoC;ao da fe.

Eram imaginadas como Ires deusas negras, aladas, com a cabeleiraeri'Yada de serpentes e levando nas maos tochas e a'Yoites. Sentavam-se no umbral da casa do criminoso, e dali nao se afastavam ate en-louquecer 0 culpado, e levarem-no, sob suplicios, aos Infernos. Mes-mo que 0 crime tivesse sido involuntario, 0 criminoso nao escapava afuria das Erinias. Porque elas eram encarregadas de proteger a ordemsocial e punir todo a ata que desagregasse a familia, consideradacomo sustentaculo da sociedade.

Cabia-Ihes tam bern impedir que adivinhos e profetas revelassem 0 fu-turo com muita clareza; nao era conveniente que os homens conheces-sem 0 porvir, porque isso representava uma perturbaC;ao da ordem.Mais tarde, as Erinias passaram a ser cencebidas apenas como exe-cutoras des castigos infernais.

Os mitos gre90s possuem um curso: a manuten.yao de uma

ordem divina que apenas pode ser alterada pelos deuses. Qual-

quer mortal que se aventure a tanto, de alguma maneira encontra

a puni,ao.

Tais castigos muitas vezes sao inflingidos pelos proprio ge-nera humano sabre si mesmo. As teorias e observac;:6es sabre so-

matizac;:6es e convers6es entre outros sintomas patologicos dei-

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xam esclarecida pela via racional 0 que S8 percebia como uma

atua~ao de uma juStiC;8 extern a ao individuo.

No entanto, apesar da atribuiC;80 da vontade do castigo ser

atributo divino, nao S8 concebiam lais divindades como apenas se-

res externos e distantes. A percepc;ao mito16gica implica na onis-

ciencia dos deuses.

Ha urn dialogo que culmina em literalidade quando as casti-

gos sao reconhecidamente auto-infligidos. Dialogo que nao foi

suficiente para que as partes entrassem em entendimento. A sizi-

gia nac acorre, as opostos permanecem distantes ou sem S8 tocar.

A alterag80 de curso da enantiodramia culmina na passagem das

metaforas do inconsciente para fenbmenos organicos, como visua-

liza9aO da dor.

Todo este mundo sombrio era apenas imaginado pelos vivos,

pais estava vedada a sua penetra98o. Na adisseia, no entanto, 0

her6i Ulisses con segue comunicar-se com as almas dos Infernos.

Para tanto dirige-se ao pais dos cimerios, situado numa ilha oci-

dental, onde sempre era noite.

Para alguns poetas, essa regUio fazia fronteira com 0 Hades; para ou-Iros era 0 proprio Hades, embora a maioria 0 localizasse nas profun-dezas terrestres. No pais dos cimerios, Ulisses abre uma vala profun-da, que banha com sangue de um cordeiro e de uma ovelha negra. 0tune I subterraneo transporta 0 liquido ate 0 lugar onde as almas pos-sam bebe-Io, pois esta e uma fonte de sua forya.

A ideia de que os mortos precisam de alimento encontra-se clara nosritos funebres dos gregos. Era costume realizarem grandes libayoesnos cemiterios, jogando farinha e mel sobre 05 tumulos, na crenya deque assim revigoravam as almas. Embora nao acreditassem como osegipcios, que a vida continuasse ate fisicamente apos a morte, tam-bem nao consideravam que a morle constituisse um fim absoluto.

Extinguia-se a existencia terrena, como processo natural, mas conti·nuava a exist en cia animica, como processo ultraterreno. 0 corpo naopersistia, mas a alma e a sombra continuavam atraves da eternidade,alimentadas de farinha, de mel do afeto dos vi·vos.LEFEVRE.1973,p.97.

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A respeito de Hades, a poeta ESQUILO deixa estes versos:

Hades, 0 deus da marte, preside 0 julgamento sobre as a<;oes de urnhomem depois que este morre.O deus da marte, Hades, nao se esque-cera das matan<;as e das dividas de sangue.GREENE.1985,p.42

A morte, Tanatos, nao e 0 deus Hades, e como ja citado,

tampouco submetido a 81e. No entanto e considerado seu maior

colaborador em aumentar 0 numero de almas no Hades pelas de-

terminac;ao de Destino. Quando Lachesis, a moira que decide so-

bre a qualidade e extensao da vida do mortal, carta a fino fio teci-

do pelas Moiras OU Parcas, 0 homem safre a transformaC;8o da

marte, que enquanto processo, sao sucessoes de transformac;6es e

estagios visiveis e perceptiveis par Qutros sentidos.

Quando a natureza envia sinais tao evidentes de afastamen-

to, pois nao e 0 homem 0 unico animal a possuir esta informayao

genetica de afastar-se de materia organica em decomposiy:ao,

evidencia-se 0 respeito que a mudany:a requer, 0 distanciamento

obrigat6rio das formas e seres que permanecem, daqueles que se

vao.

Uma serie de substancias t6xicas para 0 organismo humano

sao liberadas pelo cadaver, 0 que leva ao afastamento instintivo

do mesmo, ainda que existam os padroes sociais que regulam 0

nao consumo da carne de seu semelhante

Assim, a serie de minucias descritas nas mitologias do uni-

verso humano, a quantidade de auxiliares e locais especificos sao

proporcionais ao misterio das transformayoes da morte.

A saber, a existencia de uma entidade denominada Tanatos,

que executa ordens de um outro dito Destino, que e fiado por Par-

cas, simbolizam a preocupay:ao do ser humane com este momenta

silencioso e grave da transformac;ao do ser vivo em ser morto. De

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que existe uma ordem e uma justiya, urn curSD inflexivel, tal qual 0

fen6meno em 5i.

Com a antecedencia de alguns rnilenios, os hindus ou as pa-

vas que habitam as regi5es dos rios Indo e Ganges, possuem tam-

bern a sua deusa da morte, Kali, a devoradora ~Mae negra", deusa

sanguinaria que preside com bates e as mortes consequentes. A

desintegraC;8o e as doen98s tambem sao suas atribuic;oes, inclusi-

ve de restaurar vida e benc;8os.

Urn principia devorador feminino, que alguns diferenciariam

de Hades, com a epiteto Plutao, que curiosa mente significa rique-

zas.

Saber que seu paps I e a atribuiC;BO falica dada par sua mae,

a deusa Nyx, tarnbam conhecida par sua parcela Hecate, que per-

dura na imagem do CaD infernal Cerbero, de tres cabegas, assim

como Hecate, que presidia 0 Hades e vigiava os infernos, mas

como divindade feminina auto-fecundante, da a luz as Parcas,

G6rgonas, Lamias,Sorte, Velhice, assassinato, e muitos outros fi-

Ihos igualmente sombrios, das profundezas, inclusive Oneiros, 0

Senhor dos Sonhos, Morpheus, Nemesis, a destruigc3o.

As analogias nao 56 apenas inevitaveis, mas indispensaveis.

As metaforas e imagens que surgem a consciencia em busca de

uma ex-plicac;;ao ou ainda melhor, uma manifestac;;ao do sujeito no

que tange aa fenomena marte, literal e simb6lica.

o aspecto anal6gico da morte esta impllcito a nOC;;ao de um

inferno ou local para onde os mortos iriam, na transformagao sim-

b61lea para um outro estado mais sublime, sem 0 arcabougo fisico.

Se inferno ou Campos Elisios na mitologia greco- romana,

com seus locais tipicos e funcionais, tais como a travessia do rio

Estiges, na qual se faz necessaria a apresentagao de um Obolo ao

barqueiro Carontel que recusa-se a realizar a travessia daqueles

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que naG a carregam consigo, ficando as margens, implorando a

travessia.

A semelhany8 com 0 mito da deusa sumeria Ereschkigal, fe-

flete 0 inconsciente coletivD, ou arquetipico. Sete port6es e uma

85taca aonde fica pendurado a visitante. Lugar aonde S8 vai sub-

jetivamente, atraves dos sentimentos, sonhos, fantasias.

As entradas geralmente sao buracos e frestas, fissuras, cra-

teras e vulc6es. Como as buracos e frestas da consciencia, as in-

vasoes, conteudos endopslquicos incontrolaveis, fazem sentif 0

indivfduo tornado par algo diferente. Ocorre uma descida, urn

abaissement du nivaux mental, rebaixamento do limiar da consci-

encia pelo deslocamento da energia psiquic8.

Eis que entaD revelam-se as dons do reino das sombras, si-

milar em curso, as caracteristicas infernais. Tao marcantes as

imagens que clamam por aten9aO, que faz-se necessario um local

fora do corpo para deposita-las e atribuir-Ihe algum senti do.

A saida predileta de Plutao sao os vulc6es. Analogos os

sentimentos terriveis de furia, ciume, pavor, ira. Quando as inva-

soes psiquicas e os vulc6es se manifestam, ambos sao destrutivos

e incontrolaveis.

Persafone, antes Core, da a luz a Dionisios, bem como Eres-

chkigal da a luz a urn filho ap6s matar sua irma Inana, precursora

de Ashtart nos mitos sumerios-babilbnicos.

Ao aprofundamento, segue-se a descoberta, no conceito in-

fernal pre-cristao, de uma sensualidade, 0 que em termos de cris-

tianismo tambam esta associado a sensualidade como caracteristi-

ca demoniaca.

Plutao faz crescer uma flor para chamar a aten9aO de Core,

para depois toma-Ia, abrindo-se 0 chao aos seus pes e entao, vi-

olada por Hades e seus corcais negros.

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o que ja se escreveu sabre cavalos e sua associaC;Elo a se-

xualidade, nos casos do pequeno Hans por Sigmund Freud e tan-

tos Qutros, bern como as 6bvias associa90es do cavalgar e 0 atrito

decorrente na area genital torna clara a representaCY80 da sexual i-

dade implicita em Plutao.

Sobre 0 aspecto simb61ico do cavalo, escreveu JUNG:

De modo geral. 0 cavalo como 0 asno tern 0 significado de animalprii'lpico(Priapo, divindade simbolizada par urn falo eternamente ere-to).Marcas das patas de cavalo sao idolos que trazem ben<;aos e fru-tos. Garantiam a propriedade e de marcavam limites, como as priaposda Antigliidade latina.( ... ) A ferradura, urna redu<;ao do casco do ca-valo, e sinal de sarte e prote<;ao contra 0 mal. Na HoJanda, urn cascode cavalo e dependurado na estrebaria para afastar feiti<;os. 0 efeitoanalogo do falo e conhecido, dai os falos nos portoes. A perna de ca-valo era um excelente para-raio, segundo 0 principio do "similia simi-libus" Por sua velocidade (intensidade), os caval os representam 0venlo: 0 tertium comparationis novamente e 0 simbolo da libido. Nasaga alema, 0 vento e 0 caltador avido por donzelas,( ... ) E portantoum raciociniocoerente que 0 tempo, lao ligado ao conceito do destino,tambem apresente a mesma simbolica de libido.JUNG.1986,p.270.

Mesma que a candur;c3a seja de fato um carro puxado par

c6rceis negras, cansidera-se a valor do poder na epoca, e mesmo

com- temporaneamente, de passuir cavalos, mais especificamente

corceis, cavalos novos, fogosos e bem cuidados, que lorna expli-

cito 0 poder e a sexualidade do sujeito.

o simbolo da sexualidade animal, desenfreada e vigorosa,

necessaria para a transformar;ao de Core (virgem)em Proserpina

(portadora de destrui9ao), que deseja inconscientemente esta

transformar;c3o, deixanda-se ludibriar com ° apelo de uma flor ru-

bra, sinal de aceita9ao de seu destino mantido tanto tempo inal-

terado grar;as a sua mae Ceres.

A virgem mantida intocada sofre uma transformar;ao das mais

bruscas e brutais, tragada pela terra, e conduzida pelo senhor dos

infernos para um ato sexual forr;ado.

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A analogia de um mergulho as profundezas do inconsciente

para que exista uma transformac;ao de fato, de urn feminino tocado

de forma tao tipica pelo masculino da epoca.

Destino determina a morte da virgem para que das profunde-

zas renasg8 a mulher transformada ja em esposa, pois rna is uma

vez, Hades utiliza-s8 de urn presente, uma rama, de muitas se-

mentes, e que a esposa que deveria retarnar a superflcie porque

sua mae obriga, ingere, desconhecendo 0 significado magico dos

presentes.

Obriga.yao que custou 0 nao nascimento dos frutos da terra,

a marte dos homens e a destruiC;80 da cri8c;8o.

Ao aceitar 0 fruto infernal, uma alian9a indissoluvel formou-

se, e Ceres viu-se obrigada a partilhar a companhia de sua filha

em periodos alternados com 0 esposo que a sequestrara.

As ma8S desta maneira mitol6gica, devem eonformar-se ao

destino de suas filhas, que e a de tornar-se mulher, tornar-se es-

posa e gerar filhos, para nova transforma9ao. Marte a virgem, vida

a mulher que, fecundada, gera vida e a possibilidade de novas

transforma90es.

Muito logieo a nascimento de Dionisios, deus do 8xtase ine-

briante que resulta da ingestao do vinho. Dons da terra, nova-

mente.

Das profundezas da terra escura e sombria, naseem as

sementes que dar80 frutos. Os dons de Dionisios envolvem a ce-

lebra980 destes frutos na forma da uva transformada pelo esma-

gamento e da fermenta980 do mesmo, que gera vinho.

Vinho, bebida resultante da destrui9iio de um fruto, da morte

do mesmo para que, transforme-se e permita a aprecia9ao do sa-

bor e dos efeitos inebriantes, da eclosao de verdades submersas,

de desejos recalcados e da alegria da celebra9iio de um misterio.

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Da morte do fruta, nasee 0 conhecimento da verdade.

o excesso, para as nao iniciados nos misterios dionisiacos,

significa a estado ebrio, mera bebedeira, urn toc8r as fronteiras

das verdades do si mesma mas, par nao render culto e respeito

Aquele que preside tais misterios, termina em abandono descuida-

do, degenerac;ao do organismo, dares, e mesmo a morte.

Quanta maior 0 excesso e portanto, a ousadia, piores as

consequencias.

Cabe acrescentar que em alguns mitos, mais modernos em

relac;ao ao aeirna citado, Dionisios e fruto da uniao de Zeus com

Semele, que desejando ver a imagem de Zeus, solicitou ao mesmo

que 0 fizesse. Quando Zeus S8 revela, Semele marre queimada di-

ante da visao do divino. Costurando a crian98 em sua coxa, 0

parto de Dionisios ocorre rompendo a coxa paterna.

Novamente a ousadia de contemplar 0 divino determina a

morte antecipada do mortal que 0 deseja e realiza seu intento.

A metafora de contemplar 0 divino e a destrui9ao, incorre na

interpreta980 de que 0 excesso de luz cega aquele que contempla.

Faz-se necessaria uma prepara9ao para tanto, da mesma forma

que se alguem se encaminha em busca da verdade com excessivo

impulso, pode passar diante da mesma sem reconhece-Ia.

Tambem e uma li980 para a cautela em interpreta96es dema-

siadamente desveladoras. Soam como agressao, cegando 0 anali-

sando e promovendo uma morte sem a transforma<;8o esperada,

mas um recuo. Cego permanece aquele que realiza a interpretag80

descuidando do respeito diante das verdades e das profundezas.

Para que a vi sao das profundezas se concretize de maneira

segura, 0 consulente deve faze-Io cercado de cuidados e de um

acompanhante.

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Assim, Ulisses realiza rituais preparat6rios para a admnira-

,ao e contato com os mortos, portando uma espada afim de manter

longe as espiritos indesejados para que apenas 0 espirito de seu

pai S8 aproxime.

Eneias consulta a sibila de Gumas, realiza as rituais propici-

at6ri05 e desce aos infernos.

Criaturas monstruosas cercam as entradas das profundezas.

Pululam imagens assustadoras nos sonhos enos delirios. Tanto

mais bestial e agressiva quanta houver urgencia de conjunC;8o, a

CONIUNCTIO entre as parceiros consciente/inconsciente.

Da universalidade do tema, pode S8 encontrar a confirmac;:ao

nas semelhanc;as do tema, que transcendem tempo e espacyo.

Na Africa, especial mente nas terras lorubas, os mitos que

envolvem IKU, a morte, carream Qutras divindades complementares

na execu<;8o da transforma<;8o. Assim, ap6s a abra90 de IKU,

NANA -

BORUKU, aglutina,ao de NANABORUIKU; BORU equivale a

bom, agradavel.

A Senhora da Boa Marte, divindade das mais arcaicas nos

mitos lorubas, uma das faces da Mae primordial da cria,ao, repre-

senta a lodo, de onde provem a vida e a homem, e para ende ele

reterna. Matrona condutera dos mortos, entrega-os seguros as

maos de OYAGBALE, Senhora e Rainha dos Mortos, que os co-

manda com seu cetro da realeza, composto de crinas de cavalo e

haste de madeira.

Detsm 0 governo absoluto dos EGUNS, os mortos, que pas-

sam a viver sob a forma de EGUNGUNS em uma dimensao inter-

media ria entre 0 Csu/ORUM e a Terrallnle.

Filho desta divindade misteriosa, OBALUAYE s 0 senhor das

pestes e pragas, e da cura das mesmas, representando 0 governo

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superior de urn cicio; 0 homem percebe estar sob a egide de algo

que Ihe e muito superior e que nao com preen de.

As vestes de OBALUAYE sao de palhas muito longas, que

cobrem 0 corpo da cabeC;8 aos pes, amarrados em feixe sabre a

cabec;a; trata-s8 de urn misterio que nao pode ser contemplado, e

cuja pena, invariavelmente e a morte, talvez naG assistida par sua

mae NANA, mas lenta e inexoravel, seguida a virulencia de uma

praga semelhante il variola.

A principia, poderia S8 dizer que algo muito mal e feio aGul-

ta-s8 debaixo das palhas; no entante, esta divindade seria extre-

mamente bela, e esta beleza nao deve ser contemplada pel os

mortais.

Assim, nova mente, a aproximaC;8o da verdade S8 da quando

algo superior e arcaico deseja manifestar-se, independente da

vontade do individuo, que nao possui verdades, na realidade por

elas e possuido, e para contempla-Ias, necessita conduzir-se com

cautela.

E uma perCeP9aO universal que 0 divino e 0 profundo sao in-

visiveis aos olhos vulgares e comuns.

Esta milenar percep9aO da necessidade inclusa de acompa-

nhantes para a viagem as Sombras e a Luz encontra-se nas corpo-

ra96es religiosas, iniciaticas e cientfficas, especial mente a psico-

logia.

o psicologo acompanhante, tal qual Virgilio acompanha

Dante em seu periplo ate as portas do ceu, adiante das quais nao

adentra pelo fato de ter nascido e morrido nao-cristao, ficando

esta parte para Beatriz, que aos olhos de Dante, era imaculada.

Obviamente, a ANIMA conduz 0 homem il OPUS MAJOR, sen-

do seu ANIMUS componente essencial indissociada. A conjun<;ao

do homem deve, ao menos simbolicamente, dar-se com uma ima-

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gem feminina, e assim, ter acesso a luz. Par isto, Dante, sem 0

saber, caloca esta percepgao sob a forma do amor, ideal romanti-

co que aque-Ie nao pode concluir em vida, idealizando Beatriz.

Como Virgilio, 0 acompanhante deve possuir suficienle isen-

9130para ser reconhecido como tal.

Citando JUNG:

5e 0 efeito curativo depend esse unicamente da repeti990 do aconteci-do, a ab-rea99o poderia ser feita pelo paciente sozinho, a maneira deurn exercicio. 0 parceiro humano que 0 alivia da carga do afeto seriadispensBvel. No entanto, a intervenyao do medico e absolutamentenecessaria, e e Uleil en tender 0 que significa para 0 paciente poderconfiar sua experiencia a urn medico solidario e compreensivo. Suaconsciencia en contra no medico um apoio moral contra 0 afeto de seucomplexo traumatico, que de outra forma nao conseguiria domi-nar.JUNG.1987,p.4

Os mitos, contos, romances e historias estao plenos de in-

formac;6es de carater metaforico; sao fatos, descric;6es de como 0

ser humano sente e pensa.

Nao estar s6 e uma necessidade basica, pais 0 ser humano eurn animal social; nao sentir-se so em um processo e a chave de-

cisiva para 0 inicio do mesmo.

As caracteristicas desejaveis para ser acompanhante util no

processo, JUNG as citou. Prossegue:

Talvez possamos chamar de sugestao esta influencia absolutamenteindispensavel por parte do medico. Por meu lado, prefiro encara-Iacomo interesse humano e disponibilidade pessoal. Nao se trata de urnmetoda determinado, mas de quaJidades morais, de importancia capi-tal, nao s6 no caso da ab-reac;ao, mas em todo e qualquer processopSicotera peut i co.

Discorrer sobre a mitologia que envolve a tematica da morte;

dos sonhos que contem tais imagens, e oportunidade de verificar a

extensao da alma humana. A vontade de controlar tais fenomenos

pode levar 0 individuo simplesmente a nega-Ios. No entanto,

quando se mitologiza a tema, da-se vida aquilo que estava morto e

estagnado.

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Percebe-se a diferenciac;ao da morte em urn processo dina-

mica, em que a imagem do tim definitiv~ sugere oportunidade de

renOV8C;ElO au modific8c;ao; e de uma morte estagnada, literal e urn

fim para 0 qual todos caminham a contragosto.

Esta percepC;8o naD envolve imaginaC;8o au qualquer outro

movimento de sizigia do inconsciente com a consciencia. A morte

nos sonhos passa a ser a morte dos sonhos, e entao urn recurso

valioso para a individu8C;80 e a saude e afastado pelo sujeito que

naG suporta a mortific8c;ao.

Em EDINGER, vimas que tal pracessa exige renuncia, e per-

ceber a morte como simbolo de transforma9~10 implica aceitar as

fenbmenos deste.

Urn exemplo bastante pr6ximo dos autores das teorias psica-

nalitica, SIGMUN FREUD, e da pSicalagia analitica CARL GUSTAV

JUNG, encantram-se nas interpreta90es que a pai da psicanalise

fez de sanhas de JUNG com IMAGOS da marte. Interpretau-as

como 0 desejo iminente da morte do pai, 0 que levou a situac;6es

dificeis para ambos, e que culminou em um verdadeiro processo

de mortificac;ao e a afastamento destes colaboradores.

Isla da um bam exemplo de como as sonhos com a morte nao

passam em branco para aqueles que sabem seu valor, e que um

dia, a hora da transforma<;ao chegara.

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3 RELATO DE PRATICA

3.1 Sinopse

o paciente veia a entrar em contato com 0 psicologo aten-

dente atraves de pesquisa na lista telefonica da cidade de Curiti-

ba. Neste primeiro cantata telefonico, marcou uma entrevista ini-

cial, realizada na data de 09 de julho de 1997, e que teve lugar

em consult6rio particular.

o paciente refere como sua dificuldade emergente a condu-

98.0 inadequada do cargo de gerente que ocupa em uma instituic;Elo

bancaria. Verbaliza nEIOmais conseguir administrar 0 tempo e as

recursos de que disp6e, recursos estes as disponiveis na institui-

98.0 em que trabalha, bern como as recursos psiquicos, pois relata

sua falta de iniciativa para expandir os neg6cios, as quais 0 dire-

tor Ihe confiara.

Isto inclui a procura de noves clientes para a banco pelas

mais variadas formas de cantata, desde pesquisa telef6nica ate di-

rigir-se a variados locais e conquistar clientes novas.

Relata ser isto bem simples para sua pessoa ate pouco tem-

po atres, aproximadamente quatro meses antes da primeira ses-

sao. Oaquela data em diante, sentia-se sem iniciativa para nada, e

cumpria as horerios e obrigac;6es indispensaveis para manter-se

no cargo. Acompanhava est a falta de iniciativa uma sensaC;ao ver-

balizada como angustia.

Inquirido sobre sua capacidade de recordar-se de sonhos e

de eventos significativos, responde ter facilidade para tanto, mas

nao sabe como utilizar-se disto.

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Refere ter side estudante de psicologia ate 0 final do primei-

ro semestre do terceiro ana no perfodo noturno das Fiset - Facul-

dades Integradas da Sociedade Educacional Tuiuti, abandonando

o estudo devido as exigencias pessoais de pontualidade e assi-

duidade que nao conseguia manter. Justifiea, para tanto, os hora-

rios e reuni6es do banco em que trabalha serem determinados

pelas situ890es do momento, e nao haver urna agenda fixa e hora-

rio para estas terminarem.

A situ8yao caracterizou-se insuportavel para si, e viu-se

obrigado a trancar sua rnatriGula no curSD.

o paciente tern caracterfsticas visiveis de introversao mas

naG de timidez. Expressa-se com desenvoltura, e pessoa culta e

sociavel, embora nao demonstre ser expansivo. Fala pouco e seu

tom de voz e modulado, com timbre ligeiramente grave.

No decorrer das sessoes, relata que sua conduta sofreu alte-

racyoes positivas, isto significando a retomada da iniciativa para a

resolucyao de suas obrigacyoes profissionais, e a referida angustia

diminuido, reconhecendo ter relegado suas emocyoes e afetos a um

plano de interesses inferior e sem irnportancia.

Esta conduta, associ ada aos cuidados que vern dedicando aD

trabalho anaiftico ao qual vem se submetendo confere prognostico

favoravel ao seu psiquismo e progressivo aprofundamento de seu

auto- conhecimento.

3.2 Analise do caso

Este trabalho considera as atendimentos realizados a partir

da data de 09 de julho de 1997 ate 19 de novembro de 1997 com 0

paciente P.H.S., sexo masculino, solteiro, 32 anos de idade, nas-

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cido em 15 de janeiro de 1965,gerente de banco, curso superior

complete em actmnistras;Elo.

o paciente, que convenciona-se denominar doravante par P.,

em sua primeira sessao terapeutica refere dificuldades profissio-

nais, bern como reconhecida "dificuldade de relacionar-rne com al-

guem"(sic). De fato, durante as atendimentos, P. nao refere en-

contrar-se com outras pessoas a nao ser seus familiares ou em

seu meio profissional, salvo Qutros cantatas fortuitos e obrigatori-

as do quotidiano. Oepreende-se dBI a pouca intencionalidade para

encontros afetivDS ou mesmo de cunha sexual. No entanto, tam-

bern refere nao estar 5atisfeito, pois verbaliza a dificuldade ao

mesma tempo que sente vontade de relacionar-se "eu quero, mas

nao sei como"(sic).

o periodo da infElncia passou no interior do Estado de Santa

Catarina, na cidade de Lajes, ate as 10 anos de idade. 0 pai era

caminhoneiro, e quando P. refere-se ao pai, sempre utiliza adjeti-

vos como Uhonesto", "born", "justo", atributos que sao as mesmas

virtudes que refere como suas, vindo a associar tais virtudes como

sendo analogas as virtudes paternas apenas quando inquirido a

respeito. Sempre percebera estas caracteristicas, que sempre

considerou como natura is, pois admira seu pai, ja falecido.

Aos 13 anos de idade, seguindo sugestao de urn tio, entrou

para urn seminario, aonde durante 0 periodo de tres anos, relata

ter senti do 0 born ambiente, de justiya e boas inteng6es, embora

nao faltassem comentarios dos seminaristas sobre as vantagens

que tin ham as padres, em conforto e liberdade.

Relata terem sido tres anos de seguranga e que chegara

apensar em tornar-se padre, que a vocag80 nao parecia distante,

e que afastou-se para vir a trabalhar e principal mente, por nao

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aehar justa a comparaC;80 da vida feliz e de estudos, com as es-

forgos de seus pais.

A familia nao era pobre, tinha relativo conforta em casa e

segundo relato do paciente, tudo advinha do esforgo muito grande

de seu paL

Passou a trabalhar como continuo e auxiliar de servi<;os ge-

rais, estudando paralelamente em escola publica. Nao menciona

reprov89oes escolares.

Trabalha como gerente de banco hi! dez anos, e apenas re-

centemente, passou a reconhecer dificuldades em sua vida profis-

sional, 0 que levou-o objetivamente, como queixa inicial, para a

trabalho terapeutico analitico.

o trabalho passou a demonstrar maior engajamento da parte

do paciente quando na sessilo terapeutica do dia 05 de setembro

de 1997, inicia as trabalhos com a relato de urn sonho que 0 im-

pressionara a noite anterior, e que durante 0 decorrer do dia, oca-

sionalmente recordava-se daquele. Eis a descriC;ao, conforme 0

paciente relata: "Sonho nitido. Pra variar eu sonhei com meu pai,

vi seu tumulo coberto de terra. Eu escavei com as maos e de re-

pente achei 0 cadaver intacto. Tive a impressao de que aquele era

eu, isto era uma sensac;ao nitida .. havia um sentimento de alegria.

Minha mae e minha irma estavam ali, mas era s6 uma impressao "

(sic. )

Solicitado a realizar associag6es sobre 0 sonho, verbaliza:

"Tumulo e morte, fim. Enterrar .. tradigao. Cavando eu posso re-

montar a imagem dele dentro de mim. Terra, eu tenho a possibili-

dade de cultivar. Se bem tratada, vai cultivar. As verdades dele

estao intactas. Lutar, vencer, ser forte" (sic)

Os sonhos com a morte costumam ser seguidos de reflexao

da parte do sonhador, mesmo que durante breve periodo, pois nao

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apenas impressiona a consciencia ao acordar, mas durante a fe-

n6meno denominado sonho ,existe da parte de pacientes a des-

criryc30 de algum tipo de emoyao ou sentimento.

A refiexilo, ate ou efeito de refletir, meditagilo, prudencia.

Sabre a sonho com IMAGOS da morte e pratica comum,

causada pelo efeito que este tipo de sonho determina sabre a

consciencia daquele que sonha.

A preocupac;ao com 0 tema e a repercussao sabre a imagi-

naryc30 popular pode ser percebida pel as constantes publicac;oes

sabre 0 mesma; tanto do sonhar com a morte e os populares livros

de interpretagoes de sanhas, bem coma as publicagoes de jarnais

sobre a morte no quotidiano.

Considera-se tal reflexao como importante pela associac;c3o

realizada par pacientes, entre 0 sonho com a morte e a fenbmeno

literal da marte .Relatam as mesmos, a preacupagila cam algum

parente ou consigo mesmas, seu estado de saude e ainda da emo-

9;30 que verbalizam como medo da morte.

Relatam entila a preacupagila com 0 significado da marte em

seus sonhos.

o paciente traz, espontaneamente 0 sonho, verbalizanda que

o mesmo havia chamado a sua atencyao, e que durante 0 seu expe-

diente profissional, lembrou-se seguidas vezes das sensacyoes e

emacyoes que sentira durante 0 fenbmeno.

Para esclarecer a utiliza980 do termo fenbmeno, recorre-S8

ao dicionario

s.m, Toda modificar;:ao operada nos corpos pela ar;:ao dos agentes fisi-cos e quimicos; tudo que e percebido pelos sentidos OU pela conscien-cia verif. Se nec. Oesc.todo 0 signif.).

Relata pensamentos, reflex6es sabre a mesmo durante a

sessao terapeutica

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A descricyao das imagens no sonho, feita pelo paciente, sao

identicas a imagens descritas em public8cyoes anallticas que des-

crevem e interpretam as mesmas. Ou seja, ocorre a repeticyao de

algumas IMAGOS tipicas deste tipo de sonho.

Esteve interne como novicyo par tres anos em uma escola

Beneditina ("fcram tres anos muito bons, as eoisas eram mais

justas .. nao, as padres, falava-s8 que eles pregavam uma caisa

mas faziam outra. De alguma forma, islo nos viamos, as privilegi-

as, a diferenC;8 das instal890e5. Mas isto nao me incomodava

muito, eu estava bem la"(.sic). Segue a paragrafo.

Na verdade a situar;ao e outra: a renuncia a todas as alegrias da vida,esla marte antes 0 desabrochar , e 0 aspecto doloroso em geral, e saoem particular as desejos nao satisfeilOS e as tentativas da natureza deromper 0 cerco da repressBo, sem a qual uma tal diferencia(fBo seriaimpossivel. Naturatmente os mexericos e bisbilhotices das coirmassempre insinuam carinhosamente estes pontos sensiveis, dando asanta a impressao de ser esta a causa de seu sofrimento. Ela nao po-deria saber que 0 boato freqOentemente assume 0 papel do inconsci-ente que, como um habit adversario, sempre visa as lacunas reais denossa armadura desconhecidas por nos mesmos( ... ) As ftechas que fe-rem e doem nao vem de fora atraves de boalas, que sempre ala cam defora, mas etas vern ~pelas costas", do proprio inconsciente. Sao nos-50S proprios desejos que se encravam em nossa carne como fie-chas.39 Num outro contexto, isto se torna claro tambem para nossafreira(CATARtNA EMMERICH) E islo bern pe da letra.JUNG.1986,p.279.

A atitude literal de incorporar as leis cristas, traduzem esta

forma de identifica9ao com a paterno, de lei. E sempre a percep-

9aO de que sao os irmaos novi90s a falar de privilegios, sempre

serao os parentes que, mesmo com suas inadequa90es, encontram

no paciente a alva para suas flechas projetivas, no qual ele se

compraz, mesmo reclamando e percebendo que isto nao podia

continuar, po is 0 prejuizo economico e pessoal ja era demasiado.

A semelhan9a dos relatos e veemente. Cada flechada e uma

pequena morte sentida como gal pes com os quais 0 indivfduo se

identifica, pois e vitima e tern urn ganho com isto. No entanto, jade algum tempo vinha percebendo que isto nao Ihe servia mais,

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estava ficando cansado de ser urn alva para flechas de Qutrem. E

pelas costas, de si mesmo.

Transformat;:oes fcram ocorrendo 80 lango da vida do cliente,

em suas atitudes de veneer e lutar como ja dissera. No entanto,

par tras de tudo, permanecia algo que estava incomodo, recusan-

do-se a morrer para que 0 paciente pudesse ser de fa to aquilo que

6. Portanto, observa-S8 uma tipicidade, a recorrencia de imagens,

o que torn a 0 sonhar com imagens relacionadas ao fenbmeno

morte urn sonho significativ~ para a psi que de quem a relata, e

que existe urn padrao no curso.

Este pai inc61ume ,de fato nEIO decomposto, mas integra e

ocupanda urn espago que deveria ser exclusivo tanto quanta pas-

sivel do sujeito, referente a mais autonomia de seu complexo de

ego e de seu self.

Ocorre que na sessao terapeutica de 12 de novembro de

1997,0 paciente relata 0 seguinte sonho: "Era uma casa de 1940.

Ela virou e caiu. Nao se via mais nada." (sic) Solicitado a realizar

associac;oes e a verbalizar suas reflexoes a respeito do sonho,

relata: "Nao sei como eu sei que e de 1940. Mas eu sinto que algo

mudou. E s6 um sentimenta, eu ainda nao sei a que"(sic) Passa a

relatar a reorganizac;ao de sua vida pessoal como jil fora reco-

mendado em sess6es passadas, consegue de fato encontrar tempo

para exercitar-se, ir ao medico fazer exames e a deixar as limites

mais claros com as exigencias de seus familiares. Recebeu con-

vite para retornar a gerencia do banco anterior, devido a boa ima-

gem que ali deixara, fato que relutou a acreditar, necessitando

telefonar nova mente para confirmar 0 convite que Ihe fora feito

pessoalmente.

Este paciente vinha ja de algum tempo passando por um pro-

ceSSD de mortificayao, de angustias e ansiedades, senlimentos de

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culpa mas que naG acabavam resultando em algo de pal pavel em

sua vida. Muito ao contra rio, sua vida pessoal, bern como a profis-

sional estavam prestes a urn colapso, estava sucumbindo ao de-

sejo de abandonar seu emprego para ser gerente de urn empreen-

dimento duvidoso.

Ao tamar conhecimento do quanta estava agindo de maneira

omissa em relac;ao a sua inconsciencia, despertou para esta reali-

dade intern a, dando ateny80 a mesma, prestando atenyao e medi-

tando sabre as sonhos e seus significados. Par ser pessoa de in-

dole pratica, naG teve dificuldades em levar a termo providencias

que resolveram satisfatoriamente as situ8c;:6es emergenciais que

de fato mereciam cuidados urgentes.

o sonho com a marte, ou com IMAGINES relacionadas amesma, foi urn sinal do que estava prestes a acontecer e era

aguardado a muito tempo por sua psi que.

Redistribuir a energia psiquica novamente para atitudes de-

cisivas em sua vida pessoal e profissional , coisa que vinha aban-

donando.

a propria paciente relata que as alterac;6es citadas foram

acontecendo de maneira quase natural, como coisas que sempre

quisera fazer mas nunca se permitira.

De fato, algo morreu, ou comec;ou a decompor-se de suas

convicc;6es passadas. Algo em sua psique se renovou, para que

pudesse de fato se permitir a tanto.

A casa que desaba e desaparece parece indicar 0 fim de uma

construc;ao antiga, mas ultrapassada e que requeria renovac;ao.

Do caso citado, a queixa do cliente e uma onipresente culpa

que nao sabe com certeza de onde vem. Sente-se impressionado

com a frase do pai ~tens uma missao". Toda a descriC;ao dos crite-

rios adotados ao longo de sua vida sao analogos aos do pai.

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Auxilia de forma exorbitante em 9a5t05 e aten<;oes aos seus

parentes que segundo a mesma, "sequer reconhecem"(sic) , sem-

pre em detrimento de seu sossego e paz interior, pais descreve

que "quando vi, ja fiz a que nao devia ter feito .. abri a carteira. Eu

continuo agindo como 0 meu pai, e quem ganha com ista sao eles

"(sic)

Duas semanas ap6s a sonho, inicia a sessao relatando sua"

disposi<;80 a modificar as eoisas " sic, e verbaliza que decidiu-se

realmente a naG conceder demais. Com isto, quer dizer que lite-

ralmente nao pretende mais assumir as dividas que seus familia-

res e seu cunhado em especial vinham assumindo.

"Antes eu i8 dar urn murro na mesa, e tudo ia passar ... s6 eu

la fiear remoendo. Decidi que eles tern 0 seu quinhao de respon-

sabilidade" (sic.) Dirige-se a residencia de sua irma e comunica

com serenidade aos seus que daquele momenta em diante nao pa-

garia mais as contas que vinham fazendo as expensas de sua

vontade.

Isto gerou uma serie de rea90es e atritos familiares "e, isto eu ja

esperava, mas eu nao posso a vida inteira ficar deste jeito "sic

Relata sentir-se mais aliviado, e surpreendeu-se que seus paren-

tes, que moram em um terreno ao lado ten ham construido urn muro

com dais metros de altura, a qual ele associa muito obviamente

aos fatos relatados, pais tal muro come90u a ser construido muito

recentemente. "inclusive, deveriam estar usando este dinheiro

gasto neste muro inutil para pagar as dividas, que nao sao pou-

cas. Inutil, porque eu vou continuar a cobrar, e a meu nome que

esta no contrato."sic

Relata ter pensado com carinho em seu pai. Tambem relata a

ambiguidade de sentimentos que descobriu recentemente. "'E, eu

admirava meu paL Ele era integro, honesto e justo. Mas eu nao

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s8i, ha urn sentimento estranho de ... ralva, nao, eu nac se; dizer.

E diferente. Nao e 56 admiraC;Bo" .sicMas a prosseguimento da se-

mana na vida de P. nao refere alegria, mas uma altera<;ao de al-

gumas atitudes que lhe eram habituais, como ja referido. Apesar

da alegria sentida , rever 0 pai intacto e com ele seus valores, tal

alegria pode ser 0 prenuncio das modific890es que estavam par

vir, e que de fata sucederarn-s8.

A atitude literal paterna com a qual vinha sofrendo deu lugar

a uma atitude mais coerente com suas necessidades. De fatD,

pode-s8 dizer que as valores paternais podem ser adaptados ao

individua, reguladas segundo esta, nac par aquele.

Coerentemente, 0 sonho posterior e de uma casa de 1940,

que desaba e desaparece. 0 paciente relata que seus familiares

residem com ele. A "casa cain, quando ele mud a de atitude, e pas-

sa a sofrer represalias da parte dos mesmos.

A sessao seguinte, em 19 de novembro de 1997, P. relata

suas perceP96es e assacia96es deste ultimo sanho "Fiquei pen-

sando sabre esta casa, a do sonho, em casa, de noite. Na verda-

de, eu fiquei imaginando como seria uma casa como aquela. Me

chamou muito a aten9aO. Senti que ela era eunsic.

Inquirido se a imagem da casa estava nftida no momenta em

que a descrevia, respondeu afirmativamente. Solicitado que a

imaginasse e descrevesse 0 que lhe passasse pela mente, senti-

mentas, sensa96es, ideias, palavras. Respondeu: "A porta, gran-

de, escura, tern um trinco , parece de marfim. A casa fica perto de

urn morro, no pe de um morro. Tem uma entrada reta, que da em

uma escada com cinco degraus, uma sala vazia, sem moveis, chao

de madeira. Janela grande, que sai do chao, quadriculada. Chao

de taco, e bem nitido."

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Perguntado S8 via algo diferente, apes alguns segundos dis-

se: "Sim, uma entrada para urn parao, simples, de madeira, escu-

ro, sem luz Eu vejo urn interruptor, tern luz agora. Eu desc;o. 0

chEIO e de terra, sem cimento, paredes baixas, com gretas de ferro

para a claridade. Tern urn arminio velho, vazio. 0 lugar tern cheiro

de pena, pombo" (sic).

Associa 0 chao de terra ao sonho do cemiterio, e descreve

urn buraco escavado, do tamanho de uma sala, como S8 fosse urn

projeto iniciado e nao acabado. Descreve uma sensac;ao de sau-

dade, de urn passado que nao existe, de alguem que mora ali." Por

que uma casa limpa e nestas condic;6es esta abandonada? E, sou

eu mesmo" (sic.) Afirma que gostaria de ficar no local, pensando,

para entender. Reconhece de algum lugar 0 estilo da casa, ja viu

parecidas no interior do Estado de Santa Catarina. Perguntado

sabre 0 que sente naquele momento, verbaliza sentir frustrac;ao,

saudade,

Repentinamente, verbaliza: "Nao decepcionar meus pais era

um lema. Hoje eu me sinto sozinho, como um monte de coisa

abandonada "sic.

a proprio paciente, devido a suas caracteristicas de intro-

versao e facilidade para associac;6es, significa seu sonho da casa

como imagem de sua pessoa, algo antigo, uma constrUl;ao grande

mas abandonada, apesar das qualidades para a moradia e a lim-

peza do local A existencia de urn nrvel subterraneo foi decorren-

cia de sua necessidade de introversao, chegando a urn nivel den-

tro de si mesmo mais profundo e arcaico, com chao de terra, ao

qual associ a a irnagem do sonho do cemiterio. Mas nesta imagina-

C;ao deliberadamente ativa, nao existe presenc;a de nenhuma figura

humana. Apenas associa 0 buraco ja escavado a algum projeto ini-

ciado mas nao acabado. E declara sentir saudade de algo que nao

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sabs nominar, uma frustrar;ao que pode ser analoga a queixa de

suas dificuldades de relacionar-se com alguem.

A casa esta vazia, como ele mesmo S8 sente, solitario, agora

que a imagem do pai nao surge associ ada literalmente, e pode

existir urn espa.yo para S8 preencher em suas emoc;6es.

Declarando que naD decepcionar seus pais era urn lema,

confessa vir agindo de mane ira intensamente projetiva com as

imagens paternas e maternas, e nao seria demais lembrar a forma

patriarcal com que dirige a familia de sua irma e demais parentes

social e economicamente menes favorecidos.

Os ganhos de af810 ao abrir mao de constituir uma familia

para si, casando-se, unindo-se a uma mulher e tendo filhos, res-

soam em sua relac;ao familiar que tantas dificuldades relata.

Substitui esta relagao masculina individualizada por uma relagao

continuista e projetiva patriarca!.

A rea gao dos familia res e coerente com a relagao de substi-

tuigao; constroem urn muro de tijolos com dois metros de altura na

divisao do terreno que antes era apenas metaf6rica. Tambem eles

estavam confortavelmente instalados em uma relagao de ganhos

afetivos de substituigao associ ado a condigao s6cio-econbmica de

P. e quando esta altera sua conduta, nao mais se dispondo a

custear os gastos da familia. Esta, compoem-se de sua irma mais

nova, 0 cunhado e duas filhas, a cisao afetiva materializa-se na

construgao de um muro que nao tern fungao. Segundo P., poderia

ser dinheiro utilizado para pagar as dividas que seu cunhado acu-

mulou, como 0 caminhao que P. financiou para 0 mesmo vir a tra-

bathar como caminhoneiro, alias, trabalho que era de seu pai.

Todo 0 cicio projetivo e compensat6rio das emogoes eviden-

cia-se, aM as 0 prosseguimento da semana na vida de P. nao refe-

re alegria, mas uma altera9ao de algumas atitudes que Ihe eram

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habituais, como ja referido. Apesar da alegria sentida , rever 0 pai

intacto e com ele seus valores, tal alegria pode ser 0 prenuncio

das modific8g6es que estavam par vir, e que de fata sucederam-

se.

A atitude literal paterna com a qual vinha sofrendo deu lugar

a uma atitude mais cae rente com suas necessidades. De fata,

pode-s8 dizer que as valores paternais podem ser adaptados ao

individuD, regulados segundo este, nao par aquele

Coerentemente, a sonho posterior e de urna casa de 1940,

que desaba e desaparece. 0 paciente relata que seus familiares

res idem com 81e. A "casa cai", quando ele muda de atitude, e pas-

sa a sofrer represalias da parte dos mesmas.

A sessilo seguinte, em 19 de novembro de 1997, P. relata

suas percepgoes e associagoes deste ultimo sonho "Fiquei pen-

sando sobre esta casa, a do sonho, em casa, de noite. Na verda-

de, eu fiquei imaginando como seria uma casa como aquela. Me

chamou muito a aten9ao. Senti que ela era eu"sic.

Inquirido se a imagem da casa estava nftida no momenta em

que a descrevia, respondeu afirmativamente. Solicitado que a

imaginasse e descrevesse 0 que Ihe passasse pel a mente, senti-

mentos, sensa90es, ideias, palavras. Respondeu: "A porta, gran-

de, escura, tem um trinco , parece de marfim. A casa fica perto de

um morro, no pe de um morro. Tern uma entrada reta, que da em

uma escada com cinco degraus, uma sala vazia, sem m6veis, chao

de madeira. Janela grande, que sai do chilo, quadriculada. Chilo

de taco, e bern nitido."

Perguntado se via algo diferente, ap6s alguns segundos dis-

se: "Sim, uma entrada para um porao, Simples, de madeira, escu-

ro, sem luz Eu vejo urn interruptor, tern luz agora. Eu desgo. 0

chilo e de terra, sem cimento, paredes baixas, com gretas de ferro

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para a claridade. Tern urn armaria velho, vazio. 0 lugar tern cheiro

de pena, pombo" (sic).

Associa 0 chao de terra ao sonho do cemiterio, e descreve

urn buraco escavado, do tamanho de urna sala, como S8 fosse urn

projeto iniciado e nao acabado. Oescreve urna sens8<;8o de sau-

dade, de um passado que nao existe, de alguem que mora ali." Por

que urna casa limpa e nestas condi<;oes esta abandonada? E, sou

eu mesmo" (sic.) Afirma que gostaria de ficar no local, pensando,

para entender. Reconhece de algum lugar 0 8stilo da casa, ja viu

parecidas no interior do Estado de Santa Catarina. Perguntado

sabre 0 que sente naquele momento, verbaliza sentir frustra<;8o,

saudade.

Repentinamente, verbaliza: "Nao decepcionar meus pais era

urn lema. Hoje eu me sinto sDzinho, como urn monte de caisa

abandonada "sic.

a pr6prio paciente, devido a suas caracteristicas de intro-

versao e facilidade para associa<;oes, significa seu sonho da casa

como imagem de sua pessoa, algo antigo, uma construr;ao grande

mas abandonada, apesar das qualidades para a moradia e a lim-

peza do local A existencia de um nivel subterraneo foi decorren-

cia de sua necessidade de introversao, chegando a um nivel den-

tro de si mesmo mais profundo e arcaico, com chao de terra, ao

qual associ a a imagem do sonho do cemiterio. Mas nesta imagina-

<;ao deliberadamente ativa, nao existe presen<;a de nenhuma figura

humana. Apenas associa 0 buraco ja escavado a algum projeto ini-

ciado mas nao acabado. E declara sentir saudade de algo que nao

sabe nominar, uma frustrar;ao que pode ser analoga a queixa de

suas dificuldades de relacionar-se com alguem.

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A casa asta v8zia, como ele mesma S8 sente, solitario, agora

que a imagem do pai nEIO surge associ ada litera Imente, e pode

existir urn espac;o para S8 preencher em suas emoyoes.

Declarando que naG decepcionar seus pais era urn lema,

confessa vir agindo de maneira intensarnente projetiva com as

imagens paternas e maternas, e nac seria demais lembrar a forma

patriarcal com que dirige a familia de sua irma e demais parentes

social e economicamente menes favorecidos.

Os ganhos de afato ao abrir mao de constituir uma familia

para si, casando-se, unindo-se a uma mulher e tendo filhos, res-

soam em sua relaC;8o familiar que tantas dificuldades relata.

Substitui esta relac;ao masculina individualizada par uma relac;ao

continuista e projetiva patriarca!.

A rea9ao dos familiares e coerente com a rela9ao de substi-

tui9ao; constroem urn muro de tijolos com dois metros de altura na

divisao do terreno que antes era apenas metaforica. Tambem eles

estavam confortavelmente instal ados em uma rela9ao de ganhos

afetivos de substitui9ao associado a condi9ao socio-econ6mica de

P. e quando este altera sua conduta, nao mais se dispondo a

custear as gastos da familia. Esta, compoem-se de sua irma mais

nova, 0 cunhado e duas filhas, a cisao afetiva materializa-se na

constru9ao de um muro que nao tern fun9aO. Segundo P., poderia

ser dinheiro utilizado para pagar as dividas que seu cunhado acu-

mulou, como a caminhao que P. financiou para a mesmo vir a tra-

balhar como caminhoneiro, alias, trabatho que era de seu pai.

Todo 0 cicio projetivo e compensatorio das em090es eviden-

cia-se, a ponto do proprio paciente reconhecer seus excessos e

aiterar sua conduta. Tambem tern consciencia das conseqOencias

em seu meio familiar destas altera90es, e todo 0 aspecto da morte

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simb61ica vern a tona, a morte como signa da transformaCY8o uni-

versal

Tudo que e vivo morre, inclusive as parcel as que compoem

os seres vivos. No ser humano em especial, as emoc;oes inade-

quadas e as atitudes decorrentes que nao sofram urn processo de

modifica~ao para uma expressao melhor adaptada, levam 0 indivi-

duo a inadaptag8o, expoem-no as neuroses e a toda gama de si-

nais que provem do inconsciente destin ado a manifestar-se par

ser parte do ser humane e que incessantemente vern a tona em

suas manifestagoes sombrias de pouca adaptag8o.

Nem toda manifestag80 sombria e inadaptag80 DU patologia,

mas a expressao da sombra, par ser inconsciente e arcaica, dificil

mente prove 0 individuo que nega a existencia destas forC;8s, de

meiDs adequados de sobrevivencia e expressao social.

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4 CONCLUsiiO

Ap6s a pesquisa bibliografic8, ilustrada pelo casa clinico do

paciente citado, pode-s8 concluir a utilidade dos recursos cultu-

rais, como 0 estudo de mitologia e dos costumes de povos de dife-

rentes culturas no metoda escolhido e a estudo anal6gico de ca-

ses.

Tal estudo permite visualizar que apesar das diferen98s cul-

turais entre as pavos e civiliz8yoes, existem fatas que S8 repetem

no relato mitol6gico dos pavos, sendo a constatayc30 dos mesmas

o abjetivo cientffico a que S8 propos a eriador da pSicologia anali-

tica, Carl Gustav Jung

Dos relatos da importancia conferida aos sonhos e mitos de

diferentes culturas, conclui-se que 0 trabalho clinico fundamenta-

do em text os e teorias de psicologia anal [lica permanece consta-

tando a reincidencia de tais relatos oniricos e miticos no quotidia-

no moderno.

As reincidencias citadas, quando estudadas sob a 6tica desta

teoria, permite compreensEio das causas e objetivos dos fenbme-

nos e fatos relatados, promovendo 0 aprofundamento cultural, te-

6rico e psiquico do pesquisador.

Desta forma 0 pesquisador e psicologo, produtor daquilo que

descobre, desenvolve a capacidade de compreender 0 que a fala

dos pacientes expoe. Ampliando e aprofundando 0 conhecimento

de tais fatos, encontra um processo ana logo em sua psique.

A medida que este processo de aprofundamento e ampliaC;Elo

psiquicos prosseguem, 0 profissional encontra recursos internos

melhor elaborados e assim, apto a acompanhar 0 trajeto terapeuti-

co que 0 trabalho analitico exige.

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Para que possa acompanhar de forma util a quem recorre aos

servi90s profissionais de urn terapeuta, 0 psic61ogo analitico ve-se

na instancia desta realiz8980 de pesquisa.

Tanto mais recurs os culturais e tecnicos que possua, devi-

damente aprofundados; tanto melhor a conhecimento de si mesma,

sem 0 qual 0 atendimento ao paciente seria pretensioso, pois aon-

de pode levar a desconhecimento?

Como acompanhar e orientar, ser de alguma maneira util a

quem requer tal auxilio, S8 0 proposto terapeuta nac realiza a jor-

nada interior que pretende para 0 paciente?

Os conceitos e juizos de valores do pesquisador, quando im-

buido de curiosidade, encontram ampliay8o, en quanta a compre-

ensao do outro e a disponibilidades pessoal forem atributos ne-

cessarios ao clinico em pSicologia.

Um processo concomitante de humilda~ao tambem procede, 7visto 0 encontrar incessante de texlos informativos e conheci-

mentos sempre mais variados e profundos, levando ao reconheci-

mento de que algo muito mais amplo sera desvelado aqueles que

perseguem 0 conhecimento e 0 aprimoramento pessoal e profissi-

onal.

Conclui-se que 0 beneficiario de uma pesquisa, em primeira

instancia e 0 proprio pesquisador, em termos pessoais e profissio-

nais. E 0 sujeito imediato, 0 paciente, que e 0 motivo encarnado

desta profiss80, tambem tera beneficios, decorrentes do aprimo-

ramento do profissional que 0 acompanha terapeuticamente.

Esta pesquisa tem um carater inicialmente tecnico; no en-

tanto alegar isen980 ao tema e ao processo de estudo, seria cor-

roborar a conceito de que aquila que se estuda nao diz respeito

aquele que 0 faz objeto de estudo.

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Finaliza esta pesquisa a citac;ao de um paragrafo escrito par

JUNG, referente ao processo natural de encontro dos opostos, a

enantiodromia.

Arvore nenhuma, sabemos, cresce em diretyao ao ceu, 5e suas raizestambern nao 5e estenderem ate 0 inferno. 0 duple mavimento e ine-rente a natureza do pendula. Cristo e imaculado, mas logo no inleia desua vida publica da-se 0 seu encontro com Satanas, contraposi.yao queconslilui a vertenle da tremenda ten sao existente no interior da almado mundo, expressa no aparecimento de Cristo, e 5e acha indissolu-velmente ligada ao sol ;ustitiae,o sol da juStil(8, como mysterium in;-quitatis, misterio da iniquidade; da mesma forma a sombra pertence aluz, tal qual urn irmao, como opinaram as ebienitas e 05 euqueutas,estando unidos um ao outro. Ambos aspiram a realeza: um a realezado ceu e 0 outro ao principatus huius mundi, governo deste mundo.Fala-se tambem de um reino ~milenar~e de uma K vinda do anticristo~,como se os mundos e os tempos tivessem sido parlilhados entre osdais irmaos regios. Por isso 0 enconlro devia significar muito mais doque um simples acaso: era uma conexao.JUNG.1986,p.41.

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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICASUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA.Biblioteca Central.Normas

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JUNG,Carl Gustav. Ab-rea~ao,analise dos sonhos, transfer;,n

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