MOORE Jr, B. as Origens Sociais Da Ditadura e Da Democracia

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    A guerra civil americana: a ultim revoluocapitalista

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    Plantao e fbrica: conflito inevitvel?

    (1) Tal comooutros termos do gnero, impossiel defullra cl ssedos camponesescompreciso

    absoiuta,

    pois nos limitesas distiqties confundem-se na prpria realidadesociai. Umahistria prviude subordinaoa uma classe superw proprietria reqnhecida e reforpda peiasleis - que, contudo. nem sempre prolbem a sada dessa classe -, disth esculturais ntidas eum grau considedvd de possedef i m da tena. constituem asprincipaiscaractersticasdistinti-vas da classe camponesa. Por sm os cultivadores negros em regime de parceuos, o Sul atual,podem ser considkadosmmo uma classe de camponeses,na sociedade americana.

    As principais diferenas entre a via americana para a moderna demo-cracia capitalista e as vias seguidas pela Inglaterra e pela Frana provm

    do comeo mais tardio da Amrica. Os Estados Unidos no enfrentaram

    o problema de desmantelar uma sociedade agrria complexa e bem esta-belecida, quer fosse de forma feudal p u burocrtica., ~ e s d eo incio, aagricultura comercial foi importante, como no caso das plantaes de

    tabaco da Virgnia e em breve se tornou dominante, medidi que o , tpais se firmava., As lutas polticas entre uma aristocracia fundiria pr-

    -comercial e um monarca nunca fizeram parte da histria americana.,

    Nem a sociedade americana jamais teve uma macia classe de campone-

    ses comparvel s da Europa e da Asia(1). Por esses motivos, pode-seargumentar que a histria americana no contm. uma revoluo compa-

    i L

    I

    rvel Revoluo Puritana ouevoluo

    Francesa, nem, evidente

    mente, s revolues russa e chinesa do sculo Contud o, houvenela

    dois grandes .movimentos armados, a Revoluo Americana e a Guerra

    Civil,esta ltima

    umdos conflitos mais sangrentos

    dahistria moderna,

    at a sua poca.

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    l i AS ORIGENS SOCIAIS DA Di ADURA EDA D E M O C R A U

    um sistema industrial capitalista. Penso que, em principio, possveldescobrir o que essas exigncias realmente eram, no mesmo sentido

    objetivo em que um bilogo pode descobrir, para qu lquer organismovivo, as condies necessrias para a reproduo e sobrevivncia, tais

    como os tipos especficos de alimntao quantidad e de umidade, etc.

    Deve tambm ser evidente que as necessidades, ou imperativos estrutu-

    rais, para a escravatura das plantaes e para o capitalismo industrialprimitivo vo muito alm dos sistemas econmicos em si e, sem dvida,penetram na rea das instituies polticas. s sociedades escravagistas

    no tm as mesmas formas polticas que as q ue se baseiam no trabalholivre. Mas, voltando nossa pergunta central, haver algum motivo por

    que tenham de lutar?

    Pode-se comear com uma noo geral para demonstrar que hum conflito inerente entre o sistema da escravatura e o sistema capita-

    lista da mode-obra formalmente livre e assalariada, Embora isso cons-

    titua umaparte crucial do tema, no serve como proposio gerd a .

    partir da qual a Guerra C i d possa ser extrapolada como exemplo.

    Como se ver brevemente, o algodo produzido pelo trabalho escravodesempenhou um papel decisivo no desenvolvimento n o s do capita-lismo americano, como tambm do capitalismo ingls Os capitalistas

    no punham objees obteno de materiais produzidos pelos escra-

    vos, desde que se pudesse obter lucro ao trabalh-los e revend-los. Sob

    um ponto de vista estritamente econmico, a mo-de-obra assalariada eos escravos das plantaes contm tanto potencial para negcios e

    para as relaes polticas complementares como para um conflito. Po-demos responder nossa pergunta com urna negativa provisria: no h

    motivo geral abstrato para a luta entre o Norte e o Sul. Em outras pala-, vras, era necessria a presena de circunstncias histricas especiais para

    impedir o acordo entre uma sociedade agrria baseada em mo-de-obra

    escrava e umcrescente

    capitalismo industrial.Para se obterem indcios sobre quais poderiam ter sido essas cir-

    cunstncias, til observar um caso em que houve um acordo entre

    esses dois tip os de sub-sociedades dentro de uma unidade poltica maior.Se soubermos o que torna possvel wn acordo, ficamos sabendo algodas circunstncias que o tornam impossveL Uma vez mais, a histriaalem til e sugestiva. A histria alem do sculo X X demonstra,muito claramente, que a indstria avanada pode entender-se muito

    bem com uma forma de agricultura que tem um sistema altamente

    repressivo de mo-de-obra. evidente que o Junker alemo no era pro-

    ORIGENSREVOLUCIONAR SDA DEMOCRACIA CAPITALISTAi 9

    priamente um propriet rio de escravos. E a Alemanha no era os Esta-dos Unidos. Mas onde residam exatamente as diferenas? Os Junkers

    conseguiram manter os camponeses independentes sob a sua alada eformar uma aliana com setores da grande indstria, que gostavam dereceber a sua assistncia para manter os operrios industriais no seu

    lugar com

    uma combinao de represso e paternalismo. A conseqn-cia a longo prazo veio a ser fatal democracia na demanha.

    A experincia alem sugere que, se o conflito entre o Norte e o Sultivesse sido harmonizado este compromisso teria sido feito $ custa do

    subsequente desenvolvimento democrtico dos Estados Unidos, possi-bilidade que, ao que penso, nenhum historiador revisionista explorou

    ainda. Tambm nos diz onde podemos procurar com xito. Por que

    motivo os capitalistas do Norte no tiveram necessidade dos Junkers

    sulistas para estabelecerem e fortalecerem o capitalismo industriai nos

    Estados Unidos? Faltavam nos Estados Unidos os laos polticos e eco- .nmicos que existiam na ~leinanha?Havia na .sociedade americana

    grupos diferentes, tais como os agricultores independentes, em vez dos

    camponeses? Onde e como estavamaiinhados

    os grupos principais nasituao americana?

    agora o momento de examinarmos mais de perto

    a cena americana.

    2. Trs formas do desenvolvimento capitalista americano

    Por volta de 1860. os Estados Unidos possuam trs formas totalmente . diferentes de sociedade, em diferentes partes do pais: o Sul, com a cul-tura d o algodo; o Oeste, terra de agricultores livres; e o Nordeste, em

    rpido processo de industrializao.

    As Linhas de clivagern e cooperao nem sempre seguiram nessesmesmos sentidos. Para falar a verdade, desde os dias de Hamilton e

    ~effersonsempre houvera luta entre os agricultorese os interesses urba-

    nos comerciais e fuianceitos. A expanso do pas no sentido do Oestefez parecer, por momentos, sob a chefia do presidente Jackson, na d-

    cada de 1830, que os princpios da deinoaac ia agrria- que, na pr-tica, consistiam num mnimo absoluto da autoridade central e numatendncia para favorecer os devedores em relao aos credores - tives-

    sem ganho uma vitria duradoura sobre os de Alexander Hamilton.

    Mesmo nostem pos de Jackson, porm, a democracia agrriaj enfren-tava srias dificuldades. Dois fatos estreitamente relacionados iriam des-

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    1.56 AS ORIGENS' SOCIAIS DADiTADUR DADEMOCRACIA

    perod o prolongado de ditadura semi-reacionria, em vez de uma demo-

    cracia poltica firmemente enraizada, com todas as suas limitaes edeficincias,

    Abater a escravatura foi um passo decisivo, um ato pelo menos to

    importante como o abater da monarquia absoluta com a Guerra C i dInglesa e a Revoluo Francesa, um preliminar essencial para novos pas-sos, d como nestes violentos movimentos, as principais realizaesdaGuerra Civil Americana foram polticas, no sentido lato da palavrq. Asgeraes posteriores da Amrica tentaram introduzir o contedo econ-

    rnico na estrutura poltica, para elevar o nivel do povo a uma certa con-cepo de dignidade humana, pondo nas suas mos os meios materiais

    para decidirem o seu prprio destino. As revolues subseqiientes, naRh s i a e na China, tiveram o mesmo propsito, ainda que os meios

    tenham, em grande parte, at agora, submergido e distorcido os fins. dentro deste contexto, penso eu, que a Guerra Civil Americana deveser colocada, para a suadevida apreciao.

    O fajo de o governo federal no se imiscuir na coao escrava-

    tura um ponto importante. fcil imaginar as dificuldades queamo--de-obra organizada teria tido que enfrentar por exemplo, nos seus

    esforos para conseguir aceitao legal e poltica nos ltimos anos, se

    esta barreira no tivesse sido derrubada. Na medida em que os rnovi-

    mentos subsequentes para a extenso das fronteiras e significados daliberdade tm enfrentado obstculos desde o fim da Guerra Civil,fizeram-no, em grande parte, por causa do carter incompleto da vitria

    obtida em 1865 e subsequentes tendncias para uma coligao conserva-dora entre os interesses dos proprietrios do Norte e do Sul. Essa carac -terstica de imperfeio baseou-sena estrutura do capitalismo industrial.Grande parte da antiga represso voltou ao Sul, sob novos disfarcespuramente econmicos, enquanto novas formas apareciam a e no resto

    dos Estados Unidos, medida que o capitalismo industrial se desenvol-

    via e se espalhava. Se o governo federal deixou de se preocupar com Ocumprimento das leis contra os escravos fugitivos, concordou com

    novas formas de opresso ou a elas serviu de instrumento.

    No que se refere aos negros,s

    recentemente comeou o governo

    federal a mover-se no sentido oposto. Na altura em que escrevo estas

    linhas, os Estados Unidos encontram-se no meio de uma amarga luta

    pelos direitos civis dos negros, luta essa que subir e descer como umamar durante anos. Implica muito mais do que negros, apenas. Devido .

    s peculiaridades da histria americana, o ncleo central da classe infe-

    ORIGENSREVOL UCIONRL S DA DEMOCR CL C PIT LIST 157

    rior americana constitudo por pessoas de pele escura. Constituindo o

    nico setor iinportante da sociedade americana ativamente descontente,os negros so atualmente o nico campo potencial de recrutamento,

    para modificao da democracia capitalista mais poderosa do mundo.Se esse potencial vai significar algo, se ir estilhaar-se e desaparecer o u

    aliar-se a outros descontentamentos para alcanar resultados significati-

    vos, issoj outra histria,No fundo, a luta dos negros e dos seus aliados brancos respeita a

    capacidade da democracia capitalista contempornea de viver de acordocom os seus nobres princpios, algo que sociedade alguma jamais fez.

    t

    Aqui .nos aproximamos da ambigidade mxima na apreciao e nainterpretao da Guerra civil Isto recorrente atravks de toda a Hist-ria. Existe mais do que coincidncia n o 'fato de dois famosos dirigentespolticos de sociedades polticas terem decidido expressar os seus ideaisem discursos pelos seus mortos, a mais de dois.mil anos de distn .

    Pai-a'o historiador crtico, tanto Pricles c o mo ~~i n c o l nse tornaramfigurasambguas, medida que alinha o que fizeram e o que sucedeu ao

    lado do que haviam dito e daquilo.que, muito provavelmente, espera-vam que sucedesse. A luta por aquilo que eles exprimiram ainda noterminou, e talvez nunca termine, at que a humanidade deixe de habi-

    tar a terra. A medida que nos esforamos, cada vez mais, por resolver asambigidades da Histria, acabamos, eventualmente, por descobri-lasem ns prprios e no prximo, tal como nos fatos supostamente mortos

    da Histria, Encontramo-nos, inevitavelmente, no meio do vaivm dosacontecimentos e desempenhamos um papel como indivduo, no im-porta se muito insignificante e pequeno, naquilo que o passado vir asignificar para o futuro.