Maurcio Monografia Era digital
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FACULDADE DE COMUNICAO SOCIAL CURSO DE JORNALISMO
MAURCIO CRIO
MSICOS DA ERA DIGITAL - O PAPEL DA ASSESSORIA
DE COMUNICAO NO AMBIENTE DAS REDES DE RELACIONAMENTO
Porto Alegre 2009
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MAURCIO CRIO
MSICOS DA ERA DIGITAL - O PAPEL DA ASSESSORIA DE COMUNICAO NO AMBIENTE DAS REDES
DE RELACIONAMENTO Monografia apresentada como requisito parcial para obteno do ttulo de bacharel em Jornalismo da Faculdade de Comunicao Social da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Profa. Me. Ana Maria Brambilla
Porto Alegre
2009
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MAURCIO CRIO
MSICOS DA ERA DIGITAL - O PAPEL DA ASSESSORIA DE COMUNICAO NO AMBIENTE DAS REDES
DE RELACIONAMENTO Monografia apresentada como requisito parcial para obteno do ttulo de bacharel em Jornalismo da Faculdade de Comunicao Social da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul.
Aprovada em.................de........................de 2009.
Banca Examinadora:
Orientadora: Profa. Me. Ana Maria Brambilla
PUCRS
Prof. Dr. Andr Fagundes Pase PUCRS
Prof. Esp. Ticiano Paludo
PUCRS
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Dedico este trabalho memria de meu Pai, Iguer Brenol Crio, que descansa no corao de toda a famlia, e minha
Me, a quem s tenho a retribuir o imenso amor que me doou durante toda a minha vida.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus grandes amigos pela fora recebida que, embora muitos no tenham conhecimentos profundos sobre msica, mdia social ou assessoria de comunicao, ajudaram nesta
monografia sendo parte importante da minha felicidade e alegria pela vida;
minha famlia, que no me d apenas abrigo, comida e roupa lavada, mas muito amor, sentimento que levei comigo at o trmino deste trabalho;
minha namorada, Renata Preussler, por seu companheirismo, amor e
compreenso, entre horas e outras de energticos, beijos e abraos;
Aos meus professores do ensino fundamental, mdio e, principalmente, os da Famecos, que souberam passar bons conhecimentos, alm de aceitar meu jeito diferente de trabalhar
sob presso, entre eles, em especial, Prof. Dr Ivone Maria Cassol, que alm de conhecimento, soube aconselhar e passar confiana durante toda a faculdade;
meu mestre Nen Zimmermann, com quem escrevo, converso, reflito e aprendo muito a cada dia; aos entrevistados deste trabalho:
Juarez Fonseca, por me receber em sua casa, e Rafael Rossato, pela pacincia e ateno;
Agradeo a orientadora deste trabalho, Prof. Me. Ana Maria Brambilla,
por confiar no projeto inicial e emprestar seus valiosos conhecimentos para sua concretizao.
Tambm reconheo as importantes contribuies feitas pelo sbio
Prof. Dr. Andr Fagundes Pase, pelo produtor musical e amigo Prof. Esp. Ticiano Paludo e a ateno prestada pela
generosa Prof. Dr. Cristiane Finger.
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A msica sempre vai achar um caminho at ns, com ou sem negcios, poltica, religio ou qualquer outra
baboseira ligada a ela. A msica sobrevive a tudo e, como Deus, est sempre presente
Eric Clapton
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RESUMO
Este trabalho tem como finalidade apresentar e contextualizar um novo mercado
para a rea de assessoria de comunicao, tendo em vista o surgimento das redes
de relacionamento como ferramentas estratgicas para a promoo e divulgao de
msicos no ambiente virtual. Desse modo, sero observados aspectos importantes
sobre a atual indstria musical e suas mudanas provocadas pelo surgimento de
novas tecnologias para que sejam detectadas e analisadas as oportunidades que
este mercado oferece. Para isso, o trabalho utiliza o case da cantora Mallu
Magalhes e compara com outros msicos, analisando e interpretando as formas
que cada artista distribudo nas redes sociais. Como metodologia, o trabalho utiliza
pesquisa bibliogrfica para traar conceitos e referncias sobre o mercado musical e
tambm da assessoria de imprensa e comunicao. Alm disso, uma pesquisa
qualitativa ser realizada com duas fontes que serviro para costurar o cenrio da
nova indstria musical com os cases apresentados.
Palavras-chave: Assessoria de Imprensa. Assessoria de Comunicao. Msica. Mdias Sociais.
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RESUMEN
Este trabajo tiene por finalidad presentar y contextualizar un nuevo mercado para el
rea de asesoria de comunicacin, con vistas a la aparicin de redes de
relacionamiento como herramientas estratgicas para la promocin y difusin de
msicos en el entorno virtual. As, sern observados los aspectos importantes sobre
la actual industria de la msica y sus cambios causados por la aparicin de nuevas
tecnologias, para que sean detectadas y analizadas las oportunidades que ofrece
este mercado. Para ello, el trabajo utiliza el caso de la cantante Mallu Magalhes y lo
compara con otros msicos, analizando e interpretando las formas que cada artista
es distribudo en ls redes sociales. Como metodologa, el trabajo utiliza pesquisa
bibliogrfica para elaborar conceptos y referencias sobre el mercado de la msica y
tambin de la asesoria de prensa y comunicacin. Adems de eso, una pesquisa
cualitativa se realizar con dos fuentes que sirvirn para adaptar el escenario de la
nueva industria de la msica con los casos presentados.
Palabras clave: Asesoria de Prensa. Asesoria de Comunicacin. Msica. Mdios. Comunicacin Social.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2006 ..............................................35
Figura 2 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2007 ..............................................36
Figura 3 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2008 ..............................................36
Tabela 1 - Quadro comparativo.................................................................................61
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SUMRIO
1 INTRODUO .......................................................................................................11 2 METODOLOGIA ....................................................................................................14 3 A ARTE DE ASSESSORAR ..................................................................................17 3.1 PRIMEIRO A NOTCIA, DEPOIS OS RESULTADOS.........................................18
3.2 O RELEASE........................................................................................................21
3.3 PRODUTOS E SERVIOS DA ASSESSORIA ...................................................22
4 A INDSTRIA FONOGRFICA SE REINVENTA .................................................25 4.1 WEB: INDEPENDNCIA OU MORTE.................................................................26
4.2 O TECNOBREGA E O COMRCIO INFORMAL ................................................28
4.3 O DILEMA DA ILEGALIDADE.............................................................................34
5 REDES SOCIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS A FAVOR DO MSICO ................40 5.1 REDES DE RELACIONAMENTO INVADEM A WEB..........................................44
5.1.1 Orkut................................................................................................................46 5.1.2 MySpace..........................................................................................................47 5.1.3 YouTube ..........................................................................................................48 5.1.4 Outras redes ...................................................................................................49 6 ANLISE DE CASES ...........................................................................................52
7 ANLISE SOBRE A NOVA INDSTRIA DA MSICA .........................................65
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8 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................68 REFERNCIAS.........................................................................................................70
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1 INTRODUO
O tema escolhido refere-se a uma afinidade pessoal do autor com o universo
da msica e a vontade de colaborar com os mercados da comunicao social. Este
trabalho aborda um tema importante para o desenvolvimento da indstria musical e
sua harmonia com as novas mdias e tecnologias, assim como abre horizontes para
um novo mercado de comunicao tanto para jornalismo, como publicidade e
propaganda e relaes pblicas.
O objetivo principal deste trabalho buscar um novo mercado aos
profissionais da comunicao e trazer novas possibilidades aos assessores. Este
estudo no se prope a especificar os servios deste novo mercado ou compar-los
com os j exercidos na profisso, mas sim traar um novo perfil de trabalho, tendo
como cliente a classe dos msicos e como desafio de trabalho o ambiente das redes
de relacionamento na internet. Esse foi o motivo pelo qual foi escolhida uma
entrevista com Rafael Rossato, fundador da empresa Agncia de Msica e
empresrio de Mallu Magalhes, uma cantora de apenas 17 anos que depois de
lanar algumas msicas na rede social MySpace, se tornou um fenmeno da msica
brasileira. Poucas msicas suas em uma rede de relacionamento a transformaram
num dolo adolescente, chamando patrocnios de grandes empresas, e investidores
de todos os tipos de mercado. Mallu uma prova de que novos dolos no precisam,
necessariamente, nascer do bero de gravadoras. A internet est possibilitando o
surgimento de novos mercados e um deles pode ser o surgimento de uma nova
atuao para o mercado da comunicao.
A assessoria de comunicao poderia encontrar nas redes de relacionamento
um papel importante para o desenvolvimento de artistas do mercado musical? Para
responder a essa pergunta, tambm se faz necessrio analisar o contexto em que se
encontra a indstria da msica, os seus desafios e as suas transformaes diante
das novas tecnologias. Alm de Rossato, este trabalho consultou o jornalista e
critico musical Juarez Fonseca, para que se tenha uma viso de fora do mundo dos
negcios sobre o atual mercado da msica.
Assessorar msicos no novidade, porm, visvel a falta de preparo dos
profissionais atuais no que se diz respeito web. Hoje, no basta enviar releases
para sites especializados. Para se atingir bons resultados nesta rea, entender de
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computador pouco. O assessor de imprensa, ou de comunicao, da era digital
necessita conhecer a internet e todas suas possibilidades, alm de saber utilizar as
novas mdias e ferramentas da atualidade a favor do seu cliente.
De outro lado, msicos se encontram perdidos, em um tempo onde a indstria
fonogrfica se reinventa, deixando de ser calcada apenas na venda de CDs. Quando
a evoluo tecnolgica parecia querer colocar um fim nas gravadoras, surge a
indstria da comunicao para tentar selar uma era de novas alternativas de receita
para os msicos e as companhias, como o caso dos contratos de patrocnios e a
venda de espaos publicitrios em shows. A publicidade comea a tomar conta da
lucratividade das gravadoras, cujo quadro de artistas tem agora o desafio de levantar
a bandeira de marcas e empresas.
Do fsico ao digital, os CDs, denominados lbuns, transformam-se aos
poucos no que chamado de digital-release o que seria um lbum digital, com
arquivos de udio distribudos ou vendidos por msicos e/ou gravadoras na internet.
Tanta mudana de conceitos e quebra de paradigmas faz com que as
estratgias de comunicao dos artistas da msica tenham que ser aprimoradas e
renovadas, o que inclui tambm o trabalho de assessoria de imprensa e
comunicao, parte importante de um estratgico plano geral de divulgao e
sustentao da marca e dos feitos do cliente.
No adianta somente o registro musical, os artistas precisam estar
constantemente presentes na mdia para trabalharem sua imagem junto ao pblico e
vender seu produto, no caso, suas msicas e seus shows.
Est mais clara, entre os assessorados, a idia de que preciso divulgar aes positivas, resultados alcanados, novos produtos e programas lanados, entre outros assuntos. Est disseminada a percepo de que a boa imagem ajuda a vender (MAFEI, 2004, p. 57).
O objetivo deste trabalho fazer com que assessores de comunicao
tenham maior qualificao para tratar a imagem de msicos com a imprensa, e com
o pblico geral da internet, os internautas, alm de fortalecer as estratgias de
comunicao no mercado da msica. Ou seja, este trabalho tem a premissa de
ajudar a classe dos msicos, tanto os novos como os antigos, a vender seu trabalho
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e se relacionar harmonicamente com a imprensa e seu pblico por meio das redes
de relacionamento.
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2 METODOLOGIA
Para a concretizao deste estudo, primeiro foi feito o uso de uma pesquisa
bibliografia, com autores especializados em temas como assessoria de imprensa,
cibercultura, internet, novas mdias e indstria musical. Entre os autores esto:
Andr Pase, Chris Anderson, Irineu Franco Perpetuo, Raquel Recuero e Ronaldo
Lemos, entre outros.
Como consta do livro de Lakatos e Marconi (1996, p. 15):
A pesquisa uma indagao minuciosa ou exame crtico e exaustivo na procura de fatos e princpios; uma diligente busca averiguar algo. Pesquisar no apenas procurar a verdade; encontrar respostas para questes propostas, utilizando mtodos cientficos.
De forma simples, segundo Silva e Menezes (2001, p. 19), pesquisar significa
procurar respostas para indagaes propostas.
por essa busca por respostas que se torna necessrio recorrer aos livros,
considerados os mestres das sucessivas geraes, segundo Enas Machado de
Assis, no livro O Universo das Comunicaes Humanas. Desde suas primeiras
aparies, em folhas de papiro coladas umas nas outras, formando rolos que
chegavam a ter 20 metros de comprimento, o livro servia como referncia e registro
para uma minoria de sbios e intelectuais. Depois, com a evoluo do papel,
passando pelo pergaminho at o papel conhecido atualmente, o livro se popularizou
e chegou no universo dos estudos cientficos.
Entende-se que pesquisa bibliogrfica ocorre quando o pesquisador utiliza de
materiais escritos. No fazem parte de uma pesquisa bibliogrfica apenas livros,
mas todos meios impressos disponveis, no caso deste trabalho, acrescenta-se as
revistas. Foram utilizadas as revistas Exame e Meio Digital, ambas com matrias que se encaixaram dentro da proposta deste estudo.
Pesquisado o contedo literrio, entrevistas qualitativas auxiliaram na unio
entre a prtica e a teoria.
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Para Silva e Menezes (2001, p. 20), a pesquisa qualitativa considera o
dinamismo entre o sujeito e o mundo real, ou seja, entre a subjetividade do
entrevistado e o objetivo dos fatos:
A interpretao dos fenmenos e a atribuio de significados so bsicas no processo de pesquisa qualitativa. No requer o uso de mtodos e tcnicas estatsticas. O ambiente natural a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador o instrumento-chave. descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado so os focos principais de abordagem.
Com o apoio de entrevistas qualitativas sero apresentados cases de msicos
que conseguiram bons resultados na carreira investindo na comunicao online e
nas novas tecnologias. No case principal, a histria de Mallu Magalhes, uma
cantora que com apenas 15 anos, na poca em que colocou suas msicas para
download no MySpace, conseguiu se transformar em um fenmeno de audincia.
Para analisar este caso, foi feita uma entrevista no dia 7 de novembro de
2009 com Rafael Rossato, empresrio da cantora e dono da empresa de marketing
musical Agncia de Msica, que alm de trabalhar com a Mallu, presta servios para
grandes empresas brasileiras interessadas em projetos que envolvam o mercado
musical.
No objetivo de no centralizar a questo da mudana da indstria musical
ocasionada pelas novas tecnologias apenas nos envolvidos diretamente com a
msica como um negcio estratgico e administrativo, foi entrevistado, no dia 10 de
novembro, o jornalista e crtico musical Juarez Fonseca para traar um panorama
geral do novo momento em que a msica se encontra.
Em cima das experincias relatadas pelos entrevistados, ser feita uma
anlise sobre o exerccio da assessoria de comunicao no universo digital,
principalmente levando-se em considerao como possvel meio de trabalho o
crescimento das redes sociais ou de relacionamento na internet.
Para provar a eficincia das redes sociais como instrumentos propagadores e
divulgadores de artistas, foi preparado um quadro de comparao que envolveu
msicos que despontaram na mdia brasileira - ou que j eram conhecidos e se
adaptaram s novas mdias - em funo do trabalho realizado em alguma rede de
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relacionamento. Foram usados os seguintes artistas: NxZero, Fresno, Pedra Letcia
e Mallu Magalhes. Esses cases tambm servem para validar o sucesso de Mallu
Magalhes e conhecer sua verdadeira magnitude e amplitude na internet por meio
de uma comparao numrica objetiva tirada de pesquisas do autor em redes
sociais nas quais encontram-se perfis dos msicos citados.
As principais redes de relacionamento usadas para comparar os nmeros de
audincia da Mallu ante os demais artistas foram o MySpace, Orkut e YouTube,
pois estes apresentam nmeros claros dos seus usurios, com maior transparncia
e visibilidade dos internautas que visitam suas respectivas pginas na internet.
No dia 4 de outubro de 2009, foram acessados os perfis de cada artista no
objetivo de registrar os nmeros de cada um nesses portais de relacionamento. No
mesmo dia, foi feita uma pesquisa via internet pelos demais canais/sites em que
esses msicos se encontram hospedados como Orkut e Twitter, no intuito de
analisar os meios prioritrios para cada artista na web e, por fim, tentar chegar a
uma suposio sobre suas estratgias de comunicao.
Percebe-se que todos os mtodos e tipos de pesquisas citados at ento se
enquadram no conceito de pesquisa exploratria, apontado por Silva e Menezes
(2001, p. 21), que: Visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torn-lo explcito ou a construir hipteses. Envolve levantamento bibliogrfico; entrevistas com pessoas que tiveram experincias prticas com o problema pesquisado; anlise de exemplos que estimulem a compreenso. Assume, em geral, as formas de Pesquisas Bibliogrficas e Estudos de Caso.
por meio de pesquisa exploratria que tentar se chegar a uma linha de
pensamento e estudo que possa servir como base de consulta a todos os
profissionais que atuam, ou ainda, iro atuar neste segmentado ramo da
comunicao, assim como servir como referncia terica para os interessados ou
envolvidos profissionalmente com a indstria da msica.
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3 A ARTE DE ASSESSORAR
Segundo o autor Jorge Duarte (2003, p. 34), no livro Assessoria de Imprensa
e Relacionamento com a Mdia, o jornalista americano Ivy Lee foi pioneiro, em 1906,
no que hoje chamado de relaes pblicas, bero da assessoria de imprensa ou,
num sentido mais amplo, assessoria de comunicao. Na poca, Lee prestou seus
servios a Rockefeller, o mais impopular homem de negcios dos Estados Unidos.
Como diz Duarte, foi escolhido, a dedo, para ser o santo de um milagre impensvel:
conseguir que o velho baro do capitalismo selvagem, de odiado, passasse a ser
venerado pela opinio pblica americana.
De 100 anos para c, muitos velhos bares entregaram suas imagens a um
assessor de imprensa no exterior, porm, no Brasil, as relaes pblicas s foram
popularizadas a partir de 1964, tanto na esfera pblica como a privada. Em 1968, a
atividade de relaes pblicas comeou a ser inserida nos cursos de comunicao
at conquistar uma regulamentao de enorme abrangncia no campo profissional.
A nova profisso tambm trouxe confuso quanto ao papel na rea da comunicao,
sendo confundida principalmente com o jornalismo.
O perodo da ditadura militar incendiou o exerccio das relaes pblicas e,
por consequncia, a assessoria de imprensa:
O uso intensivo da propaganda poltica pelo regime militar atuou como vitamina de crescimento nas relaes pblicas. E, nos departamentos de relaes pblicas, expandia-se a atividade de assessoria de imprensa, em um processo que se nutria na euforia de prosperidade do milagre econmico, regado pelos dlares da dvida externa (DUARTE, 2003, p. 44).
Anos depois do perodo militar, surgiram duas vertentes que individualizaram e
separaram os profissionais de relaes pblicas dos jornalistas que exerciam
assessoria de imprensa.
Em 1980, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de So Paulo criou
a Comisso Permanente e Aberta dos Jornalistas em Assessorias de Imprensa. Estava
clara a inteno dos jornalistas de lutar por um espao num mercado at ento ocupado
pelas entidades de relaes pblicas (DUARTE, 2003, p. 46).
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Com o surgimento da Comisso, tambm foi produzido o primeiro Manual de
Assessoria de Imprensa. Como consta no livro de Duarte (2003, p. 46), as primeiras
frases do manual diziam o seguinte: Os profissionais de assessoria de imprensa
so, antes de tudo, jornalistas. Eles vieram preencher uma lacuna atendida
indevidamente por profissionais de outros setores, entre eles recursos humanos,
marketing e promoes.
A segunda vertente foi a dos jornalistas-empresrios, como diz Duarte,
surgida a partir da criao da Associao Nacional das Empresas de Assessoria de
Imprensa e Comunicao Social (Aneci). Depois do primeiro ano de existncia, a
associao j contava com 30 agncias do ramo.
O ano de 1995 foi marcado pela revoluo das fontes, como chamou Duarte
(2003, p. 47), ao relatar estudo feito pela subseo do Dieese no Sindicato dos
Jornalistas Profissionais do Estado de So Paulo, cujo resultado revelou que um
tero dos jornalistas profissionais com carteira assinada trabalhava fora das
redaes, ou seja, nas fontes.
No Brasil, em 1995, dos 18.825 jornalistas com carteira assinada, 36,40%
exerciam assessoria de imprensa, contra 36,40% dos que trabalhavam nos jornais,
seguidos por 12% profissionais de televiso, 7% de rdio, 6% de revistas e 2% de
agncias noticiosas, segundo a Secretaria de Polticas de Emprego e Salrios do
Ministrio do Trabalho. Era o comeo de uma saudvel concorrncia que se
estabelece no ramo da comunicao em busca de clientes (DUARTE, 2003).
3.1 PRIMEIRO A NOTCIA, DEPOIS OS RESULTADOS
Como avalia Jorge Duarte (2003, p. 150): nem tudo o que ocorre na
instituio transforma-se em notcia. Para o autor, necessrio avaliar quais os
acontecimentos considerados suficientemente, interessantes e relevantes para serem
transformados em notcias, o que envolve tambm um jogo de interesses tanto por
parte do assessor de imprensa como do jornalista de um veculo. Da mesma forma que
o assessor quer a promoo de um fato, o mesmo pode no estar de acordo com os
interesses do veculo.
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A notcia, como forma de conhecimento, no concerne primariamente nem ao futuro nem ao passado, mas ao presente. A qualidade do efmero e transitrio constitui a verdadeira essncia da notcia. Um evento cessa de ser notcia logo que cessou a tenso que o causou e, conseqentemente, a ateno do pblico se volta para uma nova notcia. Nada disto, obviamente indito e j conhecido h muitos anos.1
Entre as estratgias para equilibrar o atendimento ao interesse pblico as
necessidades do assessorado, est o agendamento prvio de entrevistas ou matrias.
Alm da negociao de pauta com antecedncia, Duarte (2003, p. 154-5), tambm cita
a apropriao dos valores-notcia, cujo objetivo transformar acontecimentos de rotina
em notcias.
Como consta no livro da Duarte, existem cinco critrios ou categorias de valores-
notcia:
a) importncia (algo que o pblico deve conhecer) ou Interesse (capacidade de
entretenimento, interesse humano) da notcia;
b) caractersticas especficas do produto informativo (sua disponibilidade, sua
ruptura da normalidade, sua atualidade).
c) meio de comunicao (determinada notcia adequada a quais meios ou
qual mdia?);
d) pblico (a imagem que os jornalistas tm do pblico);
e) a concorrncia entre os meios de comunicao facilita a negociao de
exclusivas e furos.
Geralmente a definio usual da "notcia" inclui outros atributos dos fatos ordinrios como: Atualidade, Proximidade (particularmente a geogrfica), a Conseqncia (eventos que mudam ou ameaam mudar a vida das pessoas), Interesse Humano (evocando uma resposta emocional ou ilustrando uma verdade universal). Conflitual (O choque de interesses, na guerra, no esporte, na poltica) e a Proeminncia dos atores envolvidos.2
Mais forte que as estratgias j citadas, a busca pelo novo, objetivo do
jornalismo em geral, dos assessores de imprensa e dos jornalistas de redaes. O
1 EPSTEIN, p. 164). Disponvel em: . 2 Ibid.. Disponvel em: .
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novo tambm um valor-notcia, e, pode ser segundo Duarte (2003, p. 156):
a) um produto pronto para ser lanado;
b) o avano ou a continuao de um projeto;
c) o que diferente num produto j conhecido ou um novo uso para um
produto antigo;
d) tendncias de especialistas, projees e previses;
e) fato ou notcia atual.
Outra forma de propor o novo o uso do newspeg quando acontecimentos da
atualidade legitimam a notcia. Essa ttica tambm chamada pelo jargo jornalstico
de gancho ou cabide para pendurar uma notcia. O gancho pode ser um
acontecimento da atualidade, ou seja, uma notcia que j circula na imprensa; o prprio
tempo, com a comemorao do aniversrio da empresa, por exemplo, ou um evento ou
fato relacionado organizao acontecido h poucas horas; e as datas comemorativas,
como o Dia dos Pais, Dia da rvore, Dia do Meio Ambiente, entre tantos outros.
Um quarto tipo de newspeg a sazonalidade - atribuir os fatores climticos ou
os calendrios agrcolas na composio de uma notcia. A funo do assessor de
imprensa entregar esse gancho aos veculos nos quais almeja divulgar a imagem
do cliente (DUARTE, 2003). Duarte (2003, p. 159) chama de traduo a decodificao da realidade,
como pegar assuntos corriqueiros do dia das pessoas e transform-los em notcias: Assim, o que est na moda, o que est na pauta do dia, notcia ou d ibope. E o que est na moda? Justamente os acontecimentos (assuntos ou problemticas) que esto em evidncia na imprensa em determinado momento e que, por esse motivo, integram a agenda de preocupaes da opinio pblica, como temas importantes.
Desta forma, o que assunto na mdia pode ser uma relevante oportunidade
para gerar interesse nos jornalistas de veculos. Contudo, ter o assunto ou mote no
basta para que o assessor de imprensa cumpra com sua funo. necessrio
tambm fazer uso da tcnica principal deste tipo de profissional o release.
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3.2 O RELEASE
A assessoria de imprensa, como toda profisso, exige tcnicas e padres.
por meio de releases material de divulgao produzido pela assessoria de
imprensa e destinado aos veculos de comunicao, segundo definio de Kopplin e
Ferraretto (1993) que o assessor realiza a maioria de suas atividades.
Existem vrios tipos de releases. O padro destaca um fato em si e seus
personagens, como por exemplo um evento, apenas como as informaes
necessrias, sem maiores detalhes. J o de opinio um texto jornalstico onde o
assessorado expressa um fato relacionado direta ou indiretamente a ele, baseado
em uma entrevista.
Na tentativa de emplacar uma notcia importante, o assessor pode recorrer ao
texto dirigido, ou seja, ele pode enviar especialmente uma notcia para um jornalista,
veculo e especialmente colunistas. No livro de Kopplin e Ferraretto (1993),
recomenda-se que o assessor leve em considerao as particularidades do espao
para o qual pretende mandar esse tipo de release, a fim de melhor atender as
expectativas do colunista, blogueiro ou jornalista que for receber.
Existe ainda o release especial, que no pode ser confundido com o dirigido.
Neste caso, geralmente o veculo que solicita assessoria a narrao ou
reportagem de um fato especfico, por no poder cobrir o acontecimento.
O livro de Kopplin e Ferraretto (1993) segue colocando que h um release
artigo, que mostra a opinio do cliente. Nele, quando o texto sai em alguma
publicao, o nome do e a opinio final do assessorado que esto sendo
publicados, porm, o assessor pode dar um tratamento jornalstico ao texto,
reformatando-o caso necessrio.
De acordo com Kopplin e Ferraretto (1993), os releases feitos para rdio e
televiso so feitos em situaes especiais, como a divulgao de eventos em
programas que apresentam entrevistas e reportagens. A recomendao dos autores
que o assessor busque contato por telefone ou a organizao de entrevistas com o
assessorado.
Uma espcie de carta pela qual a assessoria convida os veculos a
comparecerem a determinados eventos como aberturas de cerimnias e entrevistas
coletivas, podendo ser acompanhado de outros tipos de release ou um press-kit
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material com textos informativos, sugestes de pauta, fotos, currculos do cliente,
levantamentos estatsticos e plataformas com udios e vdeos (KOPPLIN;
FERRARETTO, 1993, p. 113-115).
A cobertura de um evento relacionado ao cliente, do qual ele ou o nome dele
faa parte, tambm entra nos tipos de releases, pois o resultado do
acompanhamento ser enviado para os veculos de comunicao para possveis
publicaes.
Outras formas de release, segundo Kopplin e Ferraretto (1993), so as notas
oficiais - textos distribudos para a mdia em situaes crticas, nas quais o cliente
precisa definir uma opinio importante, de interesse pblico e os comunicados, com
informaes teis para o jornalista e no o veculo do qual ele faz parte, como a
indicao das formas de contato com uma fonte, nmeros de telefone, endereos, etc..
3.3 PRODUTOS E SERVIOS DA ASSESSORIA
Em sua obra, Duarte (2003, p. 236) coloca que: a prtica de assessoria de
imprensa, historicamente, poderia ser definida pela gesto de fluxos de informao e
relacionamento entre fontes e jornalistas. Quem realiza a gesto dessa
comunicao, no necessariamente precisa ser um jornalista. Segundo o autor,
relaes-pblicas, publicitrios, pessoal de marketing, recursos humanos e
planejamento tambm podem estar inseridos no ramo. Com isso, amplia-se o
conceito de assessoria de imprensa para assessoria de comunicao.
Essa amplitude de reas tambm aumenta o nmero de produtos e servios
dos assessores de comunicao, como veremos ao longo deste trabalho.
Os servios a serem prestados, para Duarte (2003), podem ser internos, ou
seja, direcionados ao interior das empresas, os empregados e colaboradores, ou
externos, direcionados para a mdia em geral. Tambm podem ser operacionais ou
estratgicos. A diferena entre os dois conceitos que o primeiro envia
mecanicamente releases ou servio de clipping, o que o torna um simples operador
dos conhecimentos da comunicao. No segundo, a estratgia o que conta, com
base nas pretenses do cliente, que vai optar por prioridades, que podem ser desde
a motivao de funcionrios at posicionar-se como referncia em determinada rea
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do mercado, ou simplesmente obter maior visibilidade pblica (DUARTE, 2003,
p. 237).
Alm dos releases que podem ser aplicados profisso de assessor de
imprensa, quando se agregam outras reas de atuao, formando um trabalho
extenso de comunicao, se ampliam os produtos e servios possveis. Vejamos
alguns outros apontamentos por Duarte (2003, p. 238):
a) acompanhamento de entrevistas dos assessorados para os veculos;
b) administrao da AI Trabalhar como assessor tambm exige atitude de
gerncia, como a organizao e estratgias empresariais, conhecimentos
culturais e de administrao;
c) apoio a eventos relacionados direta ou indiretamente ao cliente;
d) construo de um arquivo para o assessorado onde possam ser buscadas
e consultadas matrias jornalsticas registradas no passado;
e) avaliao de resultados, no s de mapeamento de notcias na mdia, mas
com relao aos objetivos do trabalho de assessoria, criao de
formulrios para registro de pedidos de entrevista e at pesquisas
qualitativas com os jornalistas de veculos para avaliar como est se
encaminhando a assessoria;
f) controle de um Banco de Dados relacionado ao cliente;
g) oferta de brindes para as redaes, com cuidado para no parecer que o
assessor est comprando o jornalista;
h) clipping e anlise de noticirio devem ser feitos como forma de identificar
as citaes sobre o cliente registradas na mdia. A confeco deste
relatrio o trabalho mais tradicional do assessor de imprensa que deve
ser realizado e atualizado constantemente;
i) promoo de concursos de reportagem podem ser sugeridos para inspirar
jornalistas a se interessarem por um tema especfico relacionado ao
cliente;
j) realizao de entrevistas coletivas, recomendadas quando o assessorado
faz parte de algum caso extraordinrio, a ponto que o assunto chame a
ateno de vrios jornalistas. O tema deve ser de grande interesse pblico
para que os jornalistas concordem em aparecer na ocasio, mesmo
sabendo que o que for dito, se tornar uma informao compartilhada
entre toda a imprensa presente;
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24
k) elaborao de fotos para releases e divulgao do cliente;
l) elaborao de um Jornal mural, normalmente utilizado nas empresas para
avisos e recados importantes que ajudem na organizao e comunicao
entre todos os membros da companhia;
m) preparao de um Mailing ou cadastro de jornalistas, a fim de listar os
jornalistas aos quais sero destinados os releases da assessoria ou outros
contatos e negociaes que envolvam a imagem do cliente e o veculo. No
mailing constam informaes sobre os jornalistas como nome, empresa, e-
mail, telefone, etc.;
n) construo de sites na internet e atualizao dos mesmos para que o
cliente possa manter seus negcios no ambiente online.
Foi visto neste captulo alguns conceitos sobre assessoria de imprensa, assim
como as diversas maneiras de exercer a profisso, o que incluiu as tcnicas, os
produtos e os servios oferecidos pelo assessor. O prximo captulo servir para o
entendimento da atual indstria musical, a fim de que no trmino deste trabalho se
possa construir uma anlise da funo de assessoria de comunicao aplicada ao
mercado da msica e suas novas atribuies, como o uso das redes de
relacionamento na internet para divulgao da imagem do artista.
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25
4 A INDSTRIA FONOGRFICA SE REINVENTA
O mercado da msica no Brasil se mostra estreito quando pode se contar nos
dedos o nmero de gravadoras associadas ABPD (Associao Brasileira dos
Produtores de Discos). So dez: EMI Music, Mk Music, Music Brokers, Paulinas,
Record Produes e Gravaes Ltda., Som Livre, Sony Music Entertainment, The
Walt Disney Records, Universal Music e Warner Music.
Fundada em abril de 1958, a entidade surgiu com o objetivo de conciliar os
interesses das gravadoras como os de autores, intrpretes, msicos, produtores e
editores musicais, alm de defender os direitos e interesses dos seus associados,
combater a pirataria musical e promover levantamentos estatsticos e pesquisas de
mercado relacionadas ao setor. Ao longo deste trabalho sero apresentados dados
provenientes destas pesquisas.3
Em 1950, as grandes gravadoras (majors) da poca eram: RCA Victor,
Columbia, Decca e Capitol. Elas atuavam como um oligoplio, desempenhando
todas as atividades da cadeia. Procuravam artistas, gravavam seus fonogramas,
distribuam as faixas para sua prpria cadeia de revendedores, divulgavam e
comercializavam o produto em rdios e cinemas (LEO; NAKANO, 2009, p. 14).
No mundo, o mercado de fonogramas consolidou-se a partir de meados de
1960, quando houve uma evoluo nos processos de tecnologia da indstria
fonogrfica. Neste perodo, as grandes produtoras (majors) percebiam a entrada de
outros atores nas atividades do mercado musical, ou seja, o mercado de artistas e
produtores independentes estava crescendo. De 1950, at o incio da dcada de
1970, com o crescimento de meios como o rdio, televiso e cinema, o mercado foi
caracterizado por fuses e aquisies que formaram grandes conglomerados como
MGM, United Artists, Paramount, Warner Brothers, etc..
Mesmo com um notvel oligoplio, pequenas e mdias gravadoras
independentes existem desde 1940, tambm conhecidas por indies. Contudo, foi
desenvolvida pelas gravadoras, em 1970, uma estratgia chamada de sistema
aberto. Com ele, as majors passam a usar os produtores independentes para
buscar novos artistas e incorpor-los ao seu casting de artistas ou estabelecer
3 DISPONVEL em: .
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26
contratos de distribuio com selos independentes (LEO; NAKANO, 2009).
No livro A Cauda Longa, Chris Anderson (2006, p. 2) diz que: quase todos os
cinqenta lbuns musicais mais vendidos de todos os tempos foram gravados nas
dcadas de 1970 e 1980 e nenhum deles dos ltimos cinco anos. Segundo ele,
era a poca dos chamados campees de bilheteria e os discos de ouro. Com essa
afirmao, o autor chama a ateno para a atual fragmentao dos mercados, que
mudou o papel das gravadoras na indstria do entretenimento, o que ser visto com
maior abrangncia no captulo 3. Por enquanto, preciso falar sobre a importncia
dos artistas independentes, importantes membros da viso de negcios proposta por
Chris Anderson.
Segundo Leo e Nakano (2009), embora, parte do processo e dentro do
mercado, os produtores e msicos independentes ainda no tinham a liberdade
conquistada com o avano da internet, como veremos a seguir. Mesmo com a entrada
desses novos atores, as majors continuaram no controle do mercado musical e at se
beneficiaram com o crescimento da msica independente, passando a exercer,
principalmente, as atividades de produo, distribuio e comercializao dos artistas.
4.1 WEB: INDEPENDNCIA OU MORTE
Como se v, so poucas grandes gravadoras em atuao no pas para
milhares de msicos independentes com restritas oportunidades de mostrar seus
trabalhos na grande mdia.
Nesse cenrio, o msico independente chamado assim popularmente,
embora, se analisado a rigor, nota-se que o msico sempre ser dependente de
alguma marca ou ter o apoio de terceiros - obrigado a se fazer valer de muita
criatividade para divulgar seu trabalho e ser reconhecido, j que no dispe do
modelo tradicional de distribuio e venda de CDs, que envolve contratos entre
majors e grandes redes varejistas. Dessa forma, principalmente com o avano das
novas mdias, os artistas passaram a encontrar novos meios de divulgao, o que
pode ser feito, gratuitamente, em mdias sociais como o MySpace.
Porm, antes do fenmeno do MySpace, o mundo da msica havia
experimentado o compartilhamento de arquivos.
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27
O grande impacto da internet na distribuio de msicas se deu inicialmente atravs das redes de compartilhamento de arquivos virtuais, as chamadas redes P2P, principalmente com a introduo do Napster, em agosto de 1999, seguido de diversos outros programas semelhantes (como Kazaa, BitTorrent, eMule, Limewire etc.) (LEO; LAKANO, 2009, p. 19).
O uso da internet para a distribuio de msicas, como o sistema P2P, que
veremos com maior abrangncia no captulo 3, foi um fator determinante para o
crescimento do mercado independente.
Nota-se, pelo texto de Andr Pase (2004, p. 146), que o cenrio independente
da msica j estava se movimentando desde os anos 90 pela internet:
Apesar das dificuldades, a msica ganhou espao na rede. Uma das suas primeiras manifestaes foi o Internet Underground Music Archive. O IUMA (www.iuma.com) tinha o propsito de colocar e listar artistas na rede, disponibilizando sons, imagens e, principalmente, o contato dos msicos. Alm de ouvir, o pblico ganhou a possibilidade de interagir. [...] O conceito ganhou novos recursos com a web e, em 1993 o IUMA j estava na rede. Um ano depois, empresas j estavam buscando alternativas comerciais para a msica online.
Como cita Pase (2004), no texto acima, alm de ouvir, o pblico ganhou a
possibilidade de interagir, o que pode ser considerado um dos primeiros sinais de
uma nova era calcada na interatividade e colaborao de contedo via internet. Foi
por meio da internet que o mercado independente da msica ganhou fora para se
movimentar, divulgar artistas e, com isso, alimentar a cultura global.
Alm do fenmeno das redes de compartilhamento de arquivos tipo Napster,
o cenrio independente passou a ser alimentado por novas ferramentas. O mundo
conheceu o MySpace e tambm o YouTube, com a possibilidade de compartilhar
vdeos gratuitamente na internet e divulg-los com facilidade. O surgimento dos
blogs como nova forma de expressar contedo tambm fazem parte desse cenrio.
Um dos fenmenos mais impressionantes da digitalizao foi a ampliao da oferta de bens musicais na internet, resultante da crescente facilidade de gravar, editar e divulgar um lbum a custos baixssimos. [ ] A indstria fonogrfica e os controladores das grades de veiculao musical nos rdios e TVs agora enfrentam as redes P2P, os blogs, os videologs, o YouTube e os audiocasts (SILVEIRA, 2009, p. 27).
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28
Uma outra forma de definio que se enquadra ao termo independente, com
relao aos artistas, pode ser encontrada na obra Moderno Ps-Moderno, de
Teixeira Coelho (1995, p.122):
O artista no se v mais obrigado a procurar aquilo que ainda no foi feito e sente-se em liberdade para voltar-se na direo do que bem entender. No h nem mesmo um empenho definitivo em relao a si mesmo ou sua obra: hoje faz isto, amanh sente-se livre para fazer uma coisa bem diferente. Esse artista, e todo o ps-modernismo, sente-se como um girassol: tudo o atrai e a partir de seu centro ele se espalha em todas as direes.
Na viso de Coelho, um artista com independncia tem a liberdade de
escolher seu caminho no mercado musical, seja com um contrato com grandes
gravadoras, como encontrar meios em ferramentas digitais ou at mesmo usar o
comrcio informal, como veremos a seguir no mercado da Tecnobrega.
4.2 O TECNOBREGA E O COMRCIO INFORMAL
No livro Tecnobrega - O Par reinventando o negcio da msica, os autores
Ronaldo Lemos e Oona Castro apresentam o modelo de negcio que tomou conta
de muitas bandas do mercado da msica paranaense, inclusive a Calypso, que
embora seja a mais conhecida do tecnobrega no Brasil e seja citada muitas vezes
como referncia no livro, no foi entrevistada, por questes tcnicas das pesquisas,
as quais foram realizadas no ano de 2006.
Para explicar esse novo modelo de negcio, preciso entender o que
tecnobrega. Segundo o livro de Lemos e Castro, a expresso surgiu do brega
tradicional, produzido nas dcadas de 1970 e 1980, quando o movimento do gnero
se intensificou no Par, alm de ser inspirado pelas canes romnticas da Jovem
Guarda, rotuladas por romantismos exagerados e amores perdidos. Em 1990, os
artistas paraenses comearam a produzir novos gneros como o brega calypso, com
forte influncia da msica caribenha. Mas, foi s por volta de 2002 que iniciou o
movimento tecnobrega do qual faz parte a banda Calypso.
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29
Nos anos 2000, o tecnobrega j incentivou tambm a criao de outros estilos
como o bregamelody e o cybertecnobrega, ambos influenciados pela msica
eletrnica. Mais do que um estilo musical, o tecnobrega um mercado que criou
novas formas de produo e distribuio (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 22).
O novo modelo de negcio analisado no livro, segundo os autores, foi
conhecido por todo o mercado por meio do grande sucesso do casal Joelma e
Chimbinha, respectivamente, vocalista e guitarrista do grupo Calypso. Sem o apoio
de gravadoras, eles elaboraram uma nova forma de distribuir suas msicas. Criaram
seu prprio selo e venderam seus CDs a preos baixos (entre R$ 5,00 e R$ 10,00)
em supermercados populares, freqentados por seus fs. Depois de estourar entre
as classes populares de Belm do Par e outros estados do nordeste, a banda
ganhou visibilidade ao aparecer no Domingo do Fausto, da Rede Globo. A alta
divulgao proporcionada pelo programa de televiso fez com que Joelma e
Chimbinha conquistassem fs por todo o pas e ainda inspirassem outras bandas
paraenses a seguir o mesmo caminho de distribuio musical (CASTRO; LEMOS,
2008, p.18).
Este exemplo est neste trabalho para representar a criatividade do mercado
independente, desassociado de um modelo formal de mercado. Trata-se de um
modelo pioneiro na forma de conduzir negcios no mercado musical. De acordo com
o livro de Ronaldo Lemos e Oona Castro, a estratgia utilizada pelas bandas
paraenses gera um fenmeno que fomenta a produtividade cultural do estado, pois
lida com custos baixos de produo e uma cadeia colaborativa de negcio entre os
grupos envolvidos, citados no livro como atores do tecnobrega.
Uma das principais caractersticas desse novo mercado a forte participao
do comrcio informal (vendedores ambulantes) como meio de divulgao. Os
artistas desse movimento no contam com a distribuio tradicional em lojas de
msica ou varejo, mas sim a venda por meio de vendedores de rua nas periferias,
que fazem um papel importante de divulgao das bandas.
Para entender melhor este cenrio, o livro apresenta os agentes, ou atores,
do negcio da tecnobrega.
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a) Aparelhagens
So empresas, na maioria familiares, donas da mais moderna lista de
equipamentos de luz e som para a animao de eventos. So responsveis pelas
principais festas bregas do Par. Uma aparelhagem constituda por torres de
caixas de som, teles e diversos aparelhos de efeitos especiais, o que inclui a
elevao dos palcos e iluminaes explosivas pouco convencionais. Entre os
aparelhos mais usados esto os Teles, notebook, cmera de vdeo, equipamentos
de iluminao skywalker, efeitos visuais de raio laser, torres de caixa de som com
cerca de trs metros e mesas de som.
b) DJ
o principal artista que comanda as festas promovidas pela aparelhagem
pela qual foi contratado. Seu papel muito importante nessa indstria, pois ele
quem apresenta inovaes ao pblico tecnobrega, ou seja, msicas novas do estilo.
Com equipamentos em casa, o DJ de estdio se torna a principal fonte de produo
dos CDs e DVDs do negcio tecnobrega. Os Djs so disputados pelas
aparelhagens, sendo os principais personagens da festa, muitas vezes, mais que os
grupos musicais. O prestgio tanto, que o pblico fica de frente para eles como se
fosse o show de uma banda.
c) Artistas
De acordo com o livro de Ronaldo Lemos e Oona Castro, 84% dos artistas do
tecnobrega so compositores, alm de cantores, afinal, o negcio se torna pouco
lucrativo para essa classe dos compositores, que dependem exclusivamente dos
direitos autorais, os quais, num primeiro momento, se tornam ineficazes nesse
modelo de negcio, pelo menos enquanto os artistas so menos conhecidos. O
papel dos artistas nesse mercado lanar msicas que possam estourar, at que
sejam convidados para fazer shows.
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d) Estdios
Locais onde novos CDs so produzidos de forma independente, ou seja,
pagos pelos prprios artistas. Parte do papel de gravadoras e selos foi substitudo
por estdios domsticos.
e) Reprodutor no autorizado ou distribuidor informal O papel deste grupo reproduzir (fazer cpias) dos CDs e DVDs dos artistas
da tecnobrega e repass-los aos vendedores de rua. Consta no livro que 80% dos
CDs nas bancas dos ambulantes so comprados desses agentes.
f) Vendedores de rua Recebem os CDs e DVDs dos distribuidores informais, ou dos prprios
artistas (nesse caso a reproduo feita por conta do ambulante), para vender o
trabalho e, principalmente, divulgar as bandas da msica tecnobrega.
g) Festeiro Mais que um promoter, o festeiro uma pessoa ou grupo responsvel pela
promoo das festas das aparelhages, bem como sua organizao. Faz o papel de
empresrio e produtor, contratando casas de festa, aparelhagem e/ou banda,
bilheteria e bar. O festeiro tambm financia a compra de novos equipamentos para
as aparelhagens.
h) Casas de festas e balnerios
Casas noturnas so os lugares onde ocorrem as festas e os shows da
tecnobrega durante a noite. Os balnerios so clubes campestres de sindicatos e
associaes profissionais onde ocorrem as festas das aparelhagens. Segundo o livro
de Ronaldo Lemos e Oona Castro, os balnerios realizam essas festividades aos
domingos, entre 10:00h e 22:00h.
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i) Programas de rdios e de TV
Depois de o pblico tanto martelar nos ouvidos da grande mdia, que se
recusava a tocar o tecnobrega, veculos passaram a incluir o estilo em sua
programao. Algumas rdios j implantaram programas com DJs de tecnobrega, o
que ajuda muito na divulgao.
Agora que conhecemos todas as partes envolvidas, vejamos o ciclo que
alimenta este negcio:
Simplificadamente, podemos dizer que o mercado do tecnobrega funciona de acordo com o seguinte ciclo: 1) os artistas gravam em estdios prprios ou de terceiros; 2) as melhores produes so levadas a reprodutores de larga escala e camels; 3) ambulantes vendem os CDs a preos compatveis com a realidade local e os divulgam; 4) DJs tocam nas festas; 5) artistas so contratados para shows; 6) nos shows, CDs e DVDs so gravados e vendidos; 7) bandas, msicas e aparelhagens fazem sucesso e realimentam o ciclo (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 22).
Esse processo mostrado pelos autores simplifica o mapa deste negcio
inovador, que vai contra o modelo engessado e tradicional de distribuio de CDs. O
tecnobrega se caracteriza por ser um empreendimento fortemente calcado em
negcios familiares e nas relaes de amizade (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 47).
Pode-se relacionar este grupo formado por pessoas com interesses em
comum, citado por Castro e Lemos, com a atual situao da internet, onde grupos se
renem de forma segmentada em prol dos mesmos objetivos.
Raquel Recuero, no livro Redes Sociais na Internet cita o conceito de capital
social empregado por Putman, que aponta dois aspectos determinantes para a
construo do valor social: o individual e o coletivo.
O aspecto individual vem dos interesses dos indivduos em fazer parte de uma rede social para seu prprio benefcio reflete-se amplamente na esfera coletiva do grupo, sejam eles como custos ou benefcios. da que vem a dupla natureza do conceito, que pode englobar tanto bens privados como coletivos (RECUERO, 2009, p. 45).
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33
Com base nestes argumentos, pode-se dizer que o tecnobrega uma espcie
de rede social, neste caso, fsica, que tambm traz benefcios aos indivduos que
fazem parte dela. Sendo assim, relaes comerciais do lugar a ligaes de
confiana para que os negcios continuem no futuro. Para Lemos e Castro, este tipo
de relao permite que lucros e prejuzos sejam distribudos equilibradamente, com
menores riscos para ambas as partes.
Mesmo se tratando de um mercado cooperativo, com membros atuando com
os mesmos interesses e trocas, o tecnobrega tambm envolve competio, embora,
ainda sendo um mercado colaborativo, calcado em apoios, parcerias e tratos boca a
boca. Artistas chegam a pagar no mais que R$ 50,00 para rdios ou DJs de
grandes aparelhagens tocarem suas msicas, porm, essa prtica no
considerada como jab, mas sim um apoio. Se fosse um jab, a msica teria que
ser paga at que a msica estourasse e fosse pedida frequentemente pelos
ouvintes, o que no necessrio no sistema da tecnobrega.
O que define o tamanho de uma aparelhagem no apenas o prestgio, o
cach e o pblico que atrai, mas, principalmente, a potncia de seu som e o
investimento em recursos tecnolgicos (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 64). Com essa
afirmao, percebe-se que as aparelhagens gastam muito dinheiro com
equipamentos de ponta e novidades tecnolgicas, tanto que para definir o tamanho
de uma aparelhagem, basta analisar qual possui os melhores equipamentos. A
concorrncia obriga grandes investimentos por parte de cada aparelhagem,
considerados at excessivo pelos autores. Castro e Lemos alertam que as
aparelhagens correm risco de falncia de mdio a longo prazo, ressaltando que
outras habilidades criativas, de custos menores, podem contribuir para o bom
posicionamento delas no mercado (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 55).
Alm de estar sempre por dentro das novidades tecnolgicas, tanto sonoras
como de iluminao, as aparelhagens investem na venda de ingressos, produo de
CDs e DVDs, encomendas de msicas (jingles feitos por artistas da tecnobrega para
ressaltar o nome da aparelhagem), patrocnio de artistas, promoo nas rdios,
entre outras atividades. Outro fator tambm desestabiliza o negcio das
aparelhagens. Somente 10% dos donos de aparelhagens de tecnobrega no Par
possuem renda exclusivamente proveniente da aparelhagem, e os 6% restantes so
aposentados e apenas 4% delas so consideradas grandes, de acordo com as
pesquisas apresentadas no livro. As mdias ocupam 47% do mercado, e as
-
34
pequenas 50%. Contudo, o ativo fixo das grandes aparelhagens quase dez vezes
maior do que o das pequenas (CASTRO; LEMOS, 2008).
A divulgao dos msicos independentes e iniciantes no mercado tecnobrega,
porm, no feita s nas grandes aparelhagens. So as pequenas e mdias que
buscam lanar novos artistas para ganhar destaque e notoriedade. Com isso, elas
ganham um papel importante no mercado, o de pautar novidades, ganhando da
concorrncia em inovao.
O modelo utilizado pelo mercado da tecnobrega traz, em sua essncia, a
mesma discusso que o sistema de msica independente na internet, com as redes
de compartilhamento de arquivos de udio. Em ambos os casos, o comrcio ilegal
acionado, embora, de maneiras diferentes. De qualquer forma, os dois mexem com
discusses que envolvem direitos autorais e pirataria.
4.3 O DILEMA DA ILEGALIDADE
A divulgao por meio dos vendedores de rua fundamental para que
artistas e aparelhagens se tornem conhecidos e consigam bons contratos para
apresentaes (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 56). Dessa forma, os autores salientam
que o comrcio ilegal a chave do mercado tecnobrega.
por meio da chamada pirataria que os artistas tm encontrado alternativas
para divulgar suas msicas. Na internet, a busca por divulgao por meio de
downloads incentivada por grande parte dos artistas, principalmente os
independentes, que colocam suas msicas para baixar em sites de relacionamento
como o MySpace.
No livro Tecnobrega, os autores dizem que no h pirataria quando os
msicos concedem ou autorizam suas msicas para a venda e divulgao.
O termo pirataria denota toda maneira informal de se produzir um CD, seja por terceiros, em larga ou pequena escala, seja pelo prprio autor. Mas neste caso, no pode ser considerada pirataria, na medida em que se trata da produo da prpria obra pelo prprio autor, como explicita a Lei n 9.610/98, nos artigos 28 e 29. (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 152).
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35
De qualquer maneira, enquanto muitos msicos consideram saudvel a
prtica do download de msicas na internet e o compartilhamento de arquivos,
sendo alguns at a favor do comrcio informal, como o caso das bandas de
tecnobrega, as gravadoras ainda lutam para destruir esse mercado, que passa a
diminuir suas receitas com venda de CDs e DVDs.
A Associao Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) destina um intenso
trabalho na luta contra a pirataria e os direitos autorais dos artistas que compem
suas gravadoras associadas. A entidade, que manteve durante anos a Apdif
Associao Protetora dos Direitos Intelectuais Fonogrficos, reformulou sua
estratgia contra a pirataria e criou em 2007 uma nova entidade chamada APCM
Associao Antipirataria Cinema e Msica, incluindo o setor de vdeo em suas
atividades. por meio da Apdif que as gravadoras associadas tratam questes
judiciais e/ou extrajudiciais na defesa dos direitos autorais dos artistas.
Veja os nmeros do mercado informal divulgados pela Apdif:
Figura 1 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2006
Fonte: Disponvel em: .
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36
Figura 2 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2007
Fonte: Disponvel em: .
Na comparao de 2006 com 2007, nota-se que houve um crescimento na
luta contra a pirataria. Um exemplo o nmero de DVDs de shows apreendidos, um
crescimento de 14,51%, passando de 2.699.808 para 3.158.263 de acordo com a
APCM Associao Antipirataria Cinema e Msica. S em 2007, ano em que foram
feitas 3 mil operaes de combate pirataria (acrscimo de 21,24% em relao a
2006), foram apreendidas mais de 36 milhes de CDs e DVDs , entre gravados e
virgens.
Figura 3 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2008 Fonte: Disponvel em: .
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37
Em 2008, foram realizadas mais aes contra a pirataria do que no ano
anterior (3.591 contra 3.000), o que resultou num aumento no nmero de
apreenses de mdias virgens. Foram apreendidos 8 milhes de CDs e mais de 17
milhes de DVDs. Tambm houve um acrscimo no nmero de condenados, 195
contra 143 de 2007. Segundo a APCM, as pessoas eram condenadas de acordo
com o art. 184 do Cdigo Penal Brasileiro.4
Com relao ao caso da pirataria na internet, para Andr Pase (2004, p. 198),
pelo menos at a data da publicao de sua tese, em 2004, as aes contra essa
prtica no se preocupavam com a imagem do usurio. As campanhas de
marketing contra a pirataria, feitas at o momento, no observam o contexto do
usurio, que erroneamente tratado como um vilo s por ter copiado um arquivo
na internet. Em contrapartida, essa posio no pode ser vista como uma defesa ao
usurio. O mesmo autor condena a maneira com que so tratadas as ferramentas de
compartilhamento de arquivos na internet, transferindo a discusso para a
moralidade dos internautas: O problema da cpia de arquivo no est no programa,
mas na moral das pessoas que utilizam a ferramenta (PASE, 2004, p. 151). Outro
autor que compartilha com as mesmas ideias Andr Passamani (2009, p. 51): A
indstria musical decidiu ignorar o avano das redes P2P e criminalizar os
usurios/fs.
De outro lado, os nmeros apresentados pela APCM preocupam as
autoridades nacionais. Estima-se que sejam perdidos R$ 500 milhes por ano da
arrecadao em impostos em funo da pirataria, considerando somente ICMS, PIS
e Cofins. Estes e outros dados constam no site da ABPD e tambm o da APCM.
Num mbito geral, o combate pirataria representado no Brasil pelo CNPC
Conselho Nacional de Combate Pirataria. Criado em novembro de 2004 pelo
Ministrio da Justia, o CNPC formado por representantes de Ministrios do
Congresso Nacional, alm da Polcia Federal, Polcia Rodoviria Federal, da Receita
Federal, da Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP) e do setor privado.
O conselho conta com seis representantes das indstrias mais afetadas pelo
problema da falsificao no Brasil, entre elas, a ABPD, que cuida do interesse das
gravadoras, baseadas em todos os argumentos vistos at ento, no objetivo de tirar
do mercado os vendedores informais e a circulao de produtos ilegais, com apoio
4 CREDITAR. Disponvel em: .
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38
do Ministrio da Justia e outras entidades.
A questo dos direitos autorais no envolve s represso por parte de
entidades pblicas e privadas. H tambm os que sugerem novas alternativas para
ajudar o ramo artstico a se manter livre e longe das limitaes oriundas das regras
de direitos autorais.
Em Massachusetts (EUA), foi criada uma corporao no profissional, hoje
sediada na Universidade de Standford, chamada Creative Commons5 CC. Nela,
foram estabelecidos novos tipos de licena para tornar maleveis os direitos
autorais, at ento subordinados nos dois extremos: todos os direitos reservados
ou nenhum direito reservado. A corporao norte-americana traou leis que
tentaram achar o meio termo entre essas regras.
Uma licena Creative Commons constitui uma garantia de liberdade para qualquer um que acessa o contedo, e mais importante, uma expresso de um ideal, em que a pessoa associada licena mostra que acredita em algo mais do que os extremos Todos ou Nenhum. O contedo marcado com a marca (cc) ou CC, que no indica que abriu-se mo do copyright, mas que certas liberdades foram dadas (LESSIG, 2005, p. 255).
A partir da marca CC, foi criada uma nova licena, mais flexvel, que permite a
escolha de alguns direitos reservados pelo autor da obra. Usada principalmente em
websites, a marca CC j est inserida ativamente em mais de 30 pases, sendo
amparada por suas respectivas legislaes. No Brasil, a verso da CC
desenvolvida em parceria com a Faculdade de Direito da Fundao Getlio Vargas
do Rio de Janeiro.
Para o professor de Direito da Universidade de Stanford e fundador da CC,
Lawrence Lessig (2005, p. 19): A funo da lei cada vez menos apoiar a criatividade e cada vez mais proteger certas indstrias da competio. Justo quando a tecnologia digital poderia oferecer uma extraordinria gama de criatividade comercial ou no, a lei impossibilita tal criatividade com regras insanamente complexas e vagas e com a ameaa de penalidades obscenamente severas.
5 CREATIVE COMMONS. Disponvel em: .
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39
Por este ponto de vista, pode ser interpretado que Lessig (2005) defende a
liberdade e a criatividade dos produtores de entretenimento acima dos interesses
das gravadoras. O autor tambm sugere que a abertura da propriedade intelectual
na internet tem a ver com direitos de liberdade.
No modern phenomenon better demonstrates the importance of free resources to innovation and crativity than the Internet. To those who argue that control is necessary if innovation is to occur, and that more control will yield more innovation, the Internet is the simplest and most direct reply.6
No site oficial do Creative Commons Brasil especifica o CC como um projeto
sem fins lucrativos que disponibiliza licenas flexveis para obras intelectuais. O uso
deste novo tipo de licena ganhou popularidade e atingiu a alta cpula do Governo,
sendo usado at pelo Blog do Planalto.7 O Governo aliado a novas propostas e
ferramentas tecnolgicas mostra que a internet no est mudando apenas o modo
de agir da populao, mas tambm os que comandam o futuro das naes, neste
caso, as autoridades polticas.
A polmica que envolve os direitos autorais e a pirataria no o foco principal
deste trabalho, porm, imprescindvel para o entendimento do contexto geral em
que se encontra a indstria da msica. um assunto que no se pode deixar de
discutir, pois o exerccio da assessoria de comunicao para msicos est ligado
diretamente ao andamento das leis de mercado, que envolvem direitos autorais.
Para se estabelecer qualquer discusso sobre a pirataria e a troca gratuita de
msicas e arquivos, preciso entender as mudanas que aconteceram na
tecnologia durante os ltimos anos e o crescimento da internet como ambiente de
colaborao, interao e compartilhamento. o que trata o prximo captulo.
6 Traduo da autora: Nenhum fenmeno moderno demonstra melhor a importncia dos recursos
livres para a inovao e a criatividade do que a Internet. Para aqueles que argumentam que o controle necessrio se a inovao est a ocorrer, e que mais controle render mais inovao, a Internet a mais simples e mais direta resposta (BRAMBILLA, 2005, p. 3).
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5 REDES SOCIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS A FAVOR DO MSICO
Antes de prosseguir, importante salientar que os conceitos bsicos sobre
internet, sua histria e dados tcnicos sobre tecnologia, no sero abordados neste
trabalho, visto a grande extenso de estudos j realizados sobre o tema. A inteno
deste captulo abordar as novas ferramentas e tecnologias sob o prisma da
indstria musical, com a finalidade de apoiar a discusso sobre este mercado e a
anlise de cases.
Como foi visto no captulo anterior, a indstria da msica ganhou novas
formas. A internet reposicionou os artistas e produtores independentes, vistos agora
como novos e poderosos membros do mercado e gerou ampla discusso sobre a
questo da propriedade intelectual.
A construo deste novo cenrio se deve, num primeiro momento,
popularizao das redes P2P.
Atualmente ns estamos no meio de outra guerra contra a pirataria. A Internet provocou essa guerra. O compartilhamento de arquivos atravs de sistemas peer-to-peer (P2P) est entre as formas mais eficientes de tecnologia permitidas pela Internet. Usando inteligncia distribuda, sistemas de P2P facilitam a distribuio de contedo de uma maneira que uma gerao atrs era simplesmente inimaginvel (LESSIG, 2005, p. 17).
Na definio de Andr Passamani, P2P, do ingls peer-to-peer (de par para par),
refere-se s redes de compartilhamento de arquivos, associadas diverso por seus
usurios e a cataclismas econnicos por seus crticos (PASSAMANI, 2009, p. 51).
Segundo Lessig (2005, p. 61), a primeira ferramenta a colocar em evidncia o
sistema peer-to-peer foi o Napster:
Lanado em Julho de 1999, o Napster alcanou 10 milhes de usurios em apenas nove meses. Aps 18 meses, haviam cerca de 80 milhes de usurios registrados do sistema.[75] As cortes rapidamente tiraram o Napster do ar, mas outros servios surgiram para ocuparem o vcuo formado. [...] Com os sistemas de P2P voc pode compartilhar suas msicas favoritas com seu melhor amigo ou com os seus 20 mil melhores amigos.
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Lessig (2005, p. 61) diz que a facilidade e o baixo custo das redes de
compartilhamento de arquivos inspirou milhes a apreciarem msica de uma forma
como jamais fizeram antes. O autor ainda caracteriza os consumidores das
ferramentas P2P, dividindo-os em quatro tipos:
a) aqueles que substituem a compra de contedo pela cpia. Esse grupo
prefere baixar msicas a comprar CDs;
b) utilizam as ferramentas P2P para a audio de msicas, geralmente
indicadas por um amigo. Ouvem o MP3 e depois compram o disco. Neste
caso, para os artistas, o ambiente P2P acaba sendo uma forma de
comercial gratuito, pois o usurio ouviu o som, normalmente, pela
indicao de uma pessoa conhecida que no est ganhando nada pela
divulgao. O saldo final deste compartilhamento pode aumentar as
compras de msica (LESSIG, 2005, p. 62);
c) este terceiro tipo de usurio utiliza as redes de compartilhamento de
arquivos para conseguir materiais sob copyright que no so mais
vendidos ou que seriam muito caros fora da web. uma boa forma de
encontrar msicas raras. Para contedo no vendido, isso ainda
tecnicamente uma violao de copyright, embora j que o dono do
copyright no est mais vendendo esse contedo, o prejuzo econmico
zero (LESSIG, 2005, p. 62).
d) h os que utilizam as redes de compartilhamento para baixarem contedos
que no esto sob copyright ou cujo dono os disponibilizou de graa.
Ao mesmo tempo que apresenta cada tipo de usurio dos sistemas P2P,
Lessig (2005, p. 273) prope solues que mantenham as ferramentas e ajudem o
mercado. O modelo sugerido pelo autor, baseado nos quatro tipos de usurios
citados, para a diminuio dos prejuzos causados pelas redes de compartilhamento
o seguinte:
A garantias dos diretos do compartilhamento de tipo D; B permisses para compartilhamento legalizado de material do tipo C; no-comercialmente sem custos, e de compartilhamento legalizado de material do tipo C no-comercialmente sob uma taxa baixa fixada por lei; C durante a transio, taxar e compensar os prejuzos comprovadamente causados pelo compartilhamento tipo A.
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Estima-se que as redes P2P possuem 885 milhes de arquivos disponveis
para download, grande parte formada por msicas, contra aproximadamente 6
milhes de faixas em sites licenciados para venda online de msica digital (LEO;
NAKANO, 2009).
Embora ainda hegemnica, a estrutura de liderana imposta pelas gravadoras
no a mesma de dcadas atrs. De acordo com Chris Anderson (2006, p. 5),
ainda existe demanda para a cultura de massa, mas esse j no mais o nico
mercado. Os hits competem com inmeros mercados de nicho, de qualquer
tamanho. E os consumidores exigem cada vez mais opes. O escritor de A Cauda
Longa constata um novo mercado, formado por nichos, onde o consumo de cultura
fragmentado e segmentado. Diz o autor: O novo mercado de nichos no est
substituindo o tradicional mercado de hits, apenas; pela primeira vez, os dois esto
dividindo o palco (ANDERSON, 2006, p. 6).
Uma das principais caractersticas do mercado de nicho a segmentao do
pblico do artista:
O que rudo para uma pessoa, sinal para outra. Se um produtor pretender que algo seja absolutamente certo para determinado pblico, a mesma coisa ser, por definio, errada para outro pblico. As concesses necessrias para que algo seja atraente para todos significa quase com certeza que a coisa no ser completamente atraente para ningum motivo pelo qual chamado de mnimo denominador comum (ANDERSON, 2006, p. 82).
Chris Anderson aponta o iPod, MP3 player lanado pela Apple, em 2001,
como o primeiro dispositivo porttil de msica digital indispensvel. Embora tenham
existido outros aparelhos com funes parecidas, o iPod destacou-se por sua
simplicidade e capacidade de armazenar at sessenta gigabytes, permitindo com
que sejam armazenadas at dez mil msicas. Essa inveno da Apple s fomentou
o compartilhamento de msicas na internet. As pessoas podiam ter o estoque de
pequenas lojas de msica num nico aparelho com 10 cm de comprimento e 5 cm
de largura e menos de 2,5 cm de espessura, a custo zero e ainda tinham uma
imensa variedade de opes para baixar na internet (ANDERSON, 2006, p. 32).
O surgimento desses novos caminhos para se consumir msica afetou as
vendas do mercado fsico de CDs.
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Apesar dos resultados controversos sobre o impacto do MP3, se prejudica ou ajuda a indstria, ele altera o modo como os discos so vendidos. O pblico que possui poder aquisitivo para ter um computador acaba por selecionar melhor a compra, utilizando seus recursos apenas em sons que so do seu real agrado. Para as camadas mais pobres da populao, o CD original e seu alto preo so um sonho fora da realidade de seu oramento. A verso pirata de R$ 3,00 acaba ganhando espao (PASE, 2004, p. 157).
O pblico no mudou apenas no comportamento de consumo, mas na forma
de interagir com o ambiente online.
Diante de uma obra multimdia em CD-ROM, ou diante das home pages da internet, no nos colocamos mais como leitores de um livro ou espectadores das formas clssicas do espetculo. Agora, devemos, para que haja acontecimento, ver e interagir, simultaneamente, com a obra. Este agir se d atravs da interatividade digital (clicar em cones os mais diversos). [...] Podemos, tambm, manipular cada uma das formas mediticas vontade, e de forma independente (imagem, som e texto). Tornamo-nos, no nos leitores, no sentido estrito, mas atores, navegadores (LEMOS, 2007, p. 70).
A interatividade digital descrita por Lemos tambm tema dos estudos de
Alex Primo (2009), um pesquisador dessa rea que se preocupa em deixar bem
clara a definio dos diversos tipos de interatividade. Segundo ele, as mdias
tradicionais como jornais, revistas e emissoras de TV e rdio j promovem um tipo
de interao, contudo, ele define dois grandes grupos para os processos interativos
mediados por computador, ou seja, no ambiente online, so eles:
a) Interao reativa
Caracteriza-se pelos processos de ao e reao tanto pelo intercambio de
banco de dados como uma troca de mensagens via SMS (mensagens de texto pelo
celular) ou conversas programas como o MSN. Tambm se caracteriza por
alternativas oferecidas a priori, como num software de computador.
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b) Interao mtua
O ambiente principal dessa interao a web 2.0, alicerada pela troca
colaborativa de ideias e a construo cooperativa de um comum.
Das interatividades descritas por Primo, a que se encaixa no contexto deste
trabalho a mtua, caracterizada pela web 2.0 e sites colaborativos, como o
caso das redes de relacionamento.
O blogueiro e estudioso das mdias sociais Juliano Spyer (2009), em artigo
publicado em seu site, diz que:
Atualmente, Web 2.0 o termo mais difundido dentro da indstria de tecnologia como sinnimo de sites colaborativos. [...] e refere a uma relao de caractersticas que supostamente diferenciam novos sites daqueles que naufragaram com o estouro da Bolha da Internet na virada do sculo 20 para o 21.
O crescimento das formas de interao dos internautas, em sites cada vez
mais complexos e dinmicos na chamada web 2.0, desencadeou o surgimento de
novos portais interativos, construdos pelos prprios usurios, mais conhecidos
como redes de relacionamento ou redes sociais.
5.1 REDES DE RELACIONAMENTO INVADEM A WEB
Para Burge e Comm (2009), o termo mdia social muito abrangente,
podendo ser interpretado por diversas maneiras, embora, os autores achem um jeito
simples e direto para defini-lo: Talvez a melhor definio para mdia social seja,
porm, o contedo que foi criado por seu pblico.
Embora falando com outro termo, Raquel Recuero fala sobre o mesmo
assunto:
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Rede social gente, interao, troca social. um grupo de pessoas, compreendido atravs de uma metfora de estrutura, a estrutura de rede. Os ns da rede representam cada indivduo e suas conexes, os laos sociais que compem os grupos. Esses laos so ampliados, complexificados e modificados a cada nova pessoa que conhecemos e interagimos (RECUERO, 2009b, p. 25).
Dessa forma, Raquel Recuero (2009b) resume o conceito de redes sociais.
Para a autora, esses laos sociais promovidos por um ambiente de comum acesso e
troca de informaes gera o que ela chama de capital social, ou seja, valores
diferentes que do voz s pessoas que participam e fazem com que cada uma delas
tenha uma importncia especfica para a formao de uma rede social.
Contudo, qual o valor deste ambiente para o sucesso de um artista da
msica? De acordo com Raquel Recuero, uma quantidade grande de amigos no
Orkut pode trazer visibilidade e transpassar essa popularidade para o espao off-
line. Assim, pessoas podem ser influenciadas pelo nmero alto de amigos que o
artista tem, possibilitando a impresso de que ele uma figura procurada, desejada
e admirada. Diz Recuero (2009a, p. 108): Outro valor dos sites de redes sociais
est relacionado ao gerenciamento dos grupos sociais. Artistas podem comandar
suas comunidades e estabelecer um determinado controle deste ambiente, formado
em grande parte por seus fs.
O uso de uma rede social por msicos capacita o registro de dados
relacionados audincia. Os nmeros de pessoas que interagem com o artista na
rede podem influenciar no grau de popularidade do artista. Contudo, para Recuero
(2009b), a popularidade pode ser boa como tambm ruim, dependendo da forma
com que o artista usa as redes de relacionamento e estrutura sua marca neste
ambiente. Tambm no a reputao que estipula o grau de autoridade do usurio,
neste caso, artista presente na rede.
Contudo, para uma divulgao efetiva de um artista na web, no basta o
esforo do artista, mas sim de todos os fs que ele possui na rede, o pblico
internauta. Para Adriana Amaral (2009, p. 97), existem dois tipos de fs com relao
a experincias online
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a) o f-colecionador: aquele que obtm vdeos, fotos e imagens raras do artista e os compartilha na web, principalmente, por meio de sites de relacionamento ou redes de compartilhamento;
b) o f-produtor: aquele que se torna tambm parte do cenrio produzindo material prprio a partir de suas referncias musicais.
Para os fs compartilharem arquivos ou contedos sobre os artistas na
internet, existem inmeros sites de redes de relacionamento no Brasil e no mundo
disponveis. Contudo, para este trabalho, sero contextualizados com maior
profundidade apenas os que serviram como objeto de estudo para a anlise, ou
seja, Orkut, MySpace, e YouTube.
5.2.1 Orkut
No Brasil, um dos sites de maior acesso, que possibilita este tipo de
relacionamento virtual, o Orkut. Trata-se de uma rede social com grande
popularidade entre os brasileiros, visto que eles formam mais da metade do nmero
total de usurios do site. Dados presentes no prprio endereo eletrnico8
identificam que 51,16% do nmero total de usurios do Orkut so brasileiros, contra
19,89% formados por indianos e 17,02% norte-americanos, alm de uma quantidade
no significativa de membros de outros pases como Paquisto, Paraguai e Reino
Unido que no passam do 1% cada. Esses nmeros revelam o gosto do brasileiro
por esse tipo de site.
Segundo Recuero (2009a), esta rede foi criada pelo aluno Orkut Buyukkokten
da Universidade de Stanford e funcionrio do Google, empresa hoje detentora do
site. A partir de uma verso embrionria, chamada Club Nexus, criada nas horas
vagas, em 2001, surgiu o Orkut. Entre as especificidades deste site, est a
possibilidade da criao de perfis, de comunidades e a interao entre os membros
de interesse em comum por meio de comentrios, mensagens e os chamados
depoimentos. Hoje, tambm possvel colocar vdeos nos perfis. Recuero (2009a,
p. 166), explica o mecanismo:
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O Orkut funciona basicamente atravs de perfis e comunidades. Os perfis so criados pelas pessoas ao se cadastrar, que indicam tambm quem so seus amigos (onde aparece a rede social conectada ao ator). As comunidades so criadas pelos indivduos e podem agregar grupos, funcionando como fruns, com tpicos (nova pasta de assunto) e mensagens (que ficam dentro da pasta do assunto).
Embora o seu principal concorrente, o Facebook, esteja crescendo em solo
latino-americano, como aponta Recuero (2009a), o Orkut ainda supera o site norte-
americano na quantidade de usurios cadastrados. De acordo com a consultoria
ComScore9, o Orkut teve 22,8 milhes de usurios no Brasil cadastrados at
setembro de 2009, contra apenas 1,8 milho do Facebook. Entretanto, a audincia
do concorrente aumentou 407% em 12 meses, sendo que, no mesmo perodo, o
Orkut avanou somente 10%. Ainda assim, este trabalho foca no Orkut pela sua
hegemonia entre a populao brasileira, ainda que ameaada pela concorrncia.
5.2.2 Myspace
O MySpace a principal rede social analisada neste trabalho, por ser o
bero do sucesso de Mallu Magalhes. Essa rede surgiu em 2003, com a
possibilidade da construo de perfis, blogs, grupos e fotos, msica e vdeo, sendo o
site mais popular nos Estados Unidos at 2008, quando perdeu a liderana para o
Facebook.
Como foi visto no segundo captulo, depois da popularizao das redes de
compartilhamento P2P, as redes de relacionamento de popularizaram, inclusive, o
MySpace, que se tornou uma forte arma para os msicos pela possibilidade de
inserir msicas no site e disponibiliz-las para os internautas ouvirem e fazerem
downloads gratuitos.
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Uma das apropriaes mais notveis do sistema foi seu uso por bandas para divulgar gravaes e composies e sua simbiose com os fs (Boyd & Ellison, 2007). Por conta disso, o sistema passou a ser bastante associado produo musical, inclusive, no Brasil (RECUERO, 2009a, p. 173).
O MySpace continua sendo uma rede de massa, mesmo sendo to forte em
um mercado especfico como o da msica. A popularidade do site tanta que um a
cada quatro norte-americanos tem conta no MySpace, sendo que no Reino Unido h
tantos indivduos nessa rede de relacionamentos quanto os que possuem ces de
estimao (COMM; BURGE, 2009). Segundo Burge e Comm (2009, p. 4) O site
gera 14 bilhes de comentrios de usurios, 10 bilhes de contatos de amizade e
insero de 8 milhes de imagens todo o dia.
5.2.3 YouTube
O YouTube foi fundado em 2005 e desde ento lder no setor de vdeos on-
line. Neste site, os internautas podem assistir e compartilhar vdeos com toda a web.
tambm possvel enviar e compartilhar os vdeos por meio de celulares, blogs e e-
mail. Um dos pontos positivos deste site que o internauta no precisa estar
logado para acessar os vdeos. Em novembro de 2006, depois de um ano de seu
lanamento, o YouTube foi comprado pelo Google Inc. em uma das mais faladas
aquisies at o momento, o que gerou ainda mais popularidade ao canal e
parcerias de contedo, posteriormente, com grandes empresas, inclusive, do setor
musical como Universal Music Group, Sony Music Group e Warner Music Group.
Contudo, no preciso ser de uma gravadora para uma banda ter seu vdeo no
YouTube. Basta ter um login de acesso e enviar vdeos para o site, divulgar e torcer
para fazer sucesso.10
De acordo com texto do prprio site, cada vez mais pessoas esto
capturando momentos especiais em vdeo e o YouTube est cuidando de
transform-las nos criadores da televiso do futuro.
10 YouTube. Disponvel em: .
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Os nmeros demonstram que audincia no problema para essa televiso
do futuro. De acordo com Burge e Comm (2009, p. 5), o YouTube atraiu mais de 60
milhes de visitantes nicos a cada ms. Eles se sintonizaram s dez horas de
filmagem de vdeo inseridas no site a cada minuto.
5.2.4 Outras redes
Depois de apresentadas algumas das redes sociais mais populares do Brasil,
pode-se ver que elas no so iguais. Algumas so s compostas de conexes,
outras, de conversas, outras ainda, de uma mistura de ambos (RECUERO, 2009b,
p. 25).
Mesmo diferentes todas as redes sociais se mostram importantes para a
comunicao miditica e interpessoal, pois segmentam mercados em comunidades
e grupos do mesmo interesse. Isso faz com que se formem nichos, como o caso
do mercado da msica, e que eles encontrem um ambiente prprio para prosperar,
seja nos negcios como tambm no relacionamento com outros indivduos, tanto por
dilogos pela troca de mensagens como fruns de discusso com pessoas dos
mesmos interesses.
Embora no faam parte da anlise comparativa deste trabalho, as redes
sociais que sero citadas a seguir tambm esto sendo usadas pelo mercado da
msica para a divulgao de artistas:
a) Blogs
O nome vem da contrao de duas palavras em ingls, web, de world wide
web, e log, que pode ser traduzida como registro.11 Para Edney Souza (2009,
p. 31), uma das vantagens das ferramentas de blog permitir que os usurios
publiquem seu contedo sem a necessidade de saber como so construdas
pginas na internet, ou seja, sem conhecimento tcnico especializado.Na falta de
dinheiro, os blogs tornam-se uma possibilidade eficaz para msicos construrem uma
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pgina diferenciada na web, mantendo um relacionamento com seus fs por meio da
rea de comentrios que essa rede oferece.
b) Twitter
O Twitter o mais popular microblog do mundo. um site que se diferencia
das demais redes por sua caracterstica de restringir contedo, exigindo criatividade
dos seus usurios, pois permite que qualquer pessoa envie uma mensagem de texto
com no mais que 140 caracteres. O Twitter mudou a pergunta que aparece em
cima da caixa de mensagens, ou twittadas, como so chamadas pelos usurios,
para refletir melhor o que o servio se tornou, segundo o site.12 A pergunta era O
que voc est fazendo? e agora foi amplificada para O que est acontecendo?.
Muitos msicos esto usando o Twitter para se aproximar dos seus fs, com
promoes, alm de contar suas rotinas de shows, gravaes, etc..
c) Facebook
Tem um sistema muito parecido com o Orkut, seu maior concorrente. Essa
rede, segundo Burge e Comm (2009), suporta mais de 60 milhes de usurios
ativos, ou seja, pessoas que usam o perfil pelo menos uma vez por semana. A
mdia de cadastrados no Facebook de 250 mil novos membros. Mais de 65
bilhes de pessoas visitam o Facebook todo ms, sendo que mais da metade dos
usurios volta ao site todo dia.
d) Fotolog
uma rede que permite que o usurio publique fotografias acompanhadas de
texto e receba comentrios de outros membros do site.
Segundo Recuero (2009a, p. 169), em setembro de 2008,
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o Fotolog foi o segundo site onde os brasileiros passam mais tempo (22,1 minutos, em mdia), ficando atrs apenas do Orkut. Hoje em dia, o sistema tem mais de 22 milhes