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Monografia que fala sobre a música na era digital

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  • FACULDADE DE COMUNICAO SOCIAL CURSO DE JORNALISMO

    MAURCIO CRIO

    MSICOS DA ERA DIGITAL - O PAPEL DA ASSESSORIA

    DE COMUNICAO NO AMBIENTE DAS REDES DE RELACIONAMENTO

    Porto Alegre 2009

  • MAURCIO CRIO

    MSICOS DA ERA DIGITAL - O PAPEL DA ASSESSORIA DE COMUNICAO NO AMBIENTE DAS REDES

    DE RELACIONAMENTO Monografia apresentada como requisito parcial para obteno do ttulo de bacharel em Jornalismo da Faculdade de Comunicao Social da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul.

    Orientadora: Profa. Me. Ana Maria Brambilla

    Porto Alegre

    2009

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    MAURCIO CRIO

    MSICOS DA ERA DIGITAL - O PAPEL DA ASSESSORIA DE COMUNICAO NO AMBIENTE DAS REDES

    DE RELACIONAMENTO Monografia apresentada como requisito parcial para obteno do ttulo de bacharel em Jornalismo da Faculdade de Comunicao Social da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul.

    Aprovada em.................de........................de 2009.

    Banca Examinadora:

    Orientadora: Profa. Me. Ana Maria Brambilla

    PUCRS

    Prof. Dr. Andr Fagundes Pase PUCRS

    Prof. Esp. Ticiano Paludo

    PUCRS

  • 3

    Dedico este trabalho memria de meu Pai, Iguer Brenol Crio, que descansa no corao de toda a famlia, e minha

    Me, a quem s tenho a retribuir o imenso amor que me doou durante toda a minha vida.

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    AGRADECIMENTOS

    Aos meus grandes amigos pela fora recebida que, embora muitos no tenham conhecimentos profundos sobre msica, mdia social ou assessoria de comunicao, ajudaram nesta

    monografia sendo parte importante da minha felicidade e alegria pela vida;

    minha famlia, que no me d apenas abrigo, comida e roupa lavada, mas muito amor, sentimento que levei comigo at o trmino deste trabalho;

    minha namorada, Renata Preussler, por seu companheirismo, amor e

    compreenso, entre horas e outras de energticos, beijos e abraos;

    Aos meus professores do ensino fundamental, mdio e, principalmente, os da Famecos, que souberam passar bons conhecimentos, alm de aceitar meu jeito diferente de trabalhar

    sob presso, entre eles, em especial, Prof. Dr Ivone Maria Cassol, que alm de conhecimento, soube aconselhar e passar confiana durante toda a faculdade;

    meu mestre Nen Zimmermann, com quem escrevo, converso, reflito e aprendo muito a cada dia; aos entrevistados deste trabalho:

    Juarez Fonseca, por me receber em sua casa, e Rafael Rossato, pela pacincia e ateno;

    Agradeo a orientadora deste trabalho, Prof. Me. Ana Maria Brambilla,

    por confiar no projeto inicial e emprestar seus valiosos conhecimentos para sua concretizao.

    Tambm reconheo as importantes contribuies feitas pelo sbio

    Prof. Dr. Andr Fagundes Pase, pelo produtor musical e amigo Prof. Esp. Ticiano Paludo e a ateno prestada pela

    generosa Prof. Dr. Cristiane Finger.

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    A msica sempre vai achar um caminho at ns, com ou sem negcios, poltica, religio ou qualquer outra

    baboseira ligada a ela. A msica sobrevive a tudo e, como Deus, est sempre presente

    Eric Clapton

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    RESUMO

    Este trabalho tem como finalidade apresentar e contextualizar um novo mercado

    para a rea de assessoria de comunicao, tendo em vista o surgimento das redes

    de relacionamento como ferramentas estratgicas para a promoo e divulgao de

    msicos no ambiente virtual. Desse modo, sero observados aspectos importantes

    sobre a atual indstria musical e suas mudanas provocadas pelo surgimento de

    novas tecnologias para que sejam detectadas e analisadas as oportunidades que

    este mercado oferece. Para isso, o trabalho utiliza o case da cantora Mallu

    Magalhes e compara com outros msicos, analisando e interpretando as formas

    que cada artista distribudo nas redes sociais. Como metodologia, o trabalho utiliza

    pesquisa bibliogrfica para traar conceitos e referncias sobre o mercado musical e

    tambm da assessoria de imprensa e comunicao. Alm disso, uma pesquisa

    qualitativa ser realizada com duas fontes que serviro para costurar o cenrio da

    nova indstria musical com os cases apresentados.

    Palavras-chave: Assessoria de Imprensa. Assessoria de Comunicao. Msica. Mdias Sociais.

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    RESUMEN

    Este trabajo tiene por finalidad presentar y contextualizar un nuevo mercado para el

    rea de asesoria de comunicacin, con vistas a la aparicin de redes de

    relacionamiento como herramientas estratgicas para la promocin y difusin de

    msicos en el entorno virtual. As, sern observados los aspectos importantes sobre

    la actual industria de la msica y sus cambios causados por la aparicin de nuevas

    tecnologias, para que sean detectadas y analizadas las oportunidades que ofrece

    este mercado. Para ello, el trabajo utiliza el caso de la cantante Mallu Magalhes y lo

    compara con otros msicos, analizando e interpretando las formas que cada artista

    es distribudo en ls redes sociales. Como metodologa, el trabajo utiliza pesquisa

    bibliogrfica para elaborar conceptos y referencias sobre el mercado de la msica y

    tambin de la asesoria de prensa y comunicacin. Adems de eso, una pesquisa

    cualitativa se realizar con dos fuentes que sirvirn para adaptar el escenario de la

    nueva industria de la msica con los casos presentados.

    Palabras clave: Asesoria de Prensa. Asesoria de Comunicacin. Msica. Mdios. Comunicacin Social.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2006 ..............................................35

    Figura 2 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2007 ..............................................36

    Figura 3 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2008 ..............................................36

    Tabela 1 - Quadro comparativo.................................................................................61

  • 9

    SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................................11 2 METODOLOGIA ....................................................................................................14 3 A ARTE DE ASSESSORAR ..................................................................................17 3.1 PRIMEIRO A NOTCIA, DEPOIS OS RESULTADOS.........................................18

    3.2 O RELEASE........................................................................................................21

    3.3 PRODUTOS E SERVIOS DA ASSESSORIA ...................................................22

    4 A INDSTRIA FONOGRFICA SE REINVENTA .................................................25 4.1 WEB: INDEPENDNCIA OU MORTE.................................................................26

    4.2 O TECNOBREGA E O COMRCIO INFORMAL ................................................28

    4.3 O DILEMA DA ILEGALIDADE.............................................................................34

    5 REDES SOCIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS A FAVOR DO MSICO ................40 5.1 REDES DE RELACIONAMENTO INVADEM A WEB..........................................44

    5.1.1 Orkut................................................................................................................46 5.1.2 MySpace..........................................................................................................47 5.1.3 YouTube ..........................................................................................................48 5.1.4 Outras redes ...................................................................................................49 6 ANLISE DE CASES ...........................................................................................52

    7 ANLISE SOBRE A NOVA INDSTRIA DA MSICA .........................................65

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    8 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................68 REFERNCIAS.........................................................................................................70

  • 11

    1 INTRODUO

    O tema escolhido refere-se a uma afinidade pessoal do autor com o universo

    da msica e a vontade de colaborar com os mercados da comunicao social. Este

    trabalho aborda um tema importante para o desenvolvimento da indstria musical e

    sua harmonia com as novas mdias e tecnologias, assim como abre horizontes para

    um novo mercado de comunicao tanto para jornalismo, como publicidade e

    propaganda e relaes pblicas.

    O objetivo principal deste trabalho buscar um novo mercado aos

    profissionais da comunicao e trazer novas possibilidades aos assessores. Este

    estudo no se prope a especificar os servios deste novo mercado ou compar-los

    com os j exercidos na profisso, mas sim traar um novo perfil de trabalho, tendo

    como cliente a classe dos msicos e como desafio de trabalho o ambiente das redes

    de relacionamento na internet. Esse foi o motivo pelo qual foi escolhida uma

    entrevista com Rafael Rossato, fundador da empresa Agncia de Msica e

    empresrio de Mallu Magalhes, uma cantora de apenas 17 anos que depois de

    lanar algumas msicas na rede social MySpace, se tornou um fenmeno da msica

    brasileira. Poucas msicas suas em uma rede de relacionamento a transformaram

    num dolo adolescente, chamando patrocnios de grandes empresas, e investidores

    de todos os tipos de mercado. Mallu uma prova de que novos dolos no precisam,

    necessariamente, nascer do bero de gravadoras. A internet est possibilitando o

    surgimento de novos mercados e um deles pode ser o surgimento de uma nova

    atuao para o mercado da comunicao.

    A assessoria de comunicao poderia encontrar nas redes de relacionamento

    um papel importante para o desenvolvimento de artistas do mercado musical? Para

    responder a essa pergunta, tambm se faz necessrio analisar o contexto em que se

    encontra a indstria da msica, os seus desafios e as suas transformaes diante

    das novas tecnologias. Alm de Rossato, este trabalho consultou o jornalista e

    critico musical Juarez Fonseca, para que se tenha uma viso de fora do mundo dos

    negcios sobre o atual mercado da msica.

    Assessorar msicos no novidade, porm, visvel a falta de preparo dos

    profissionais atuais no que se diz respeito web. Hoje, no basta enviar releases

    para sites especializados. Para se atingir bons resultados nesta rea, entender de

  • 12

    computador pouco. O assessor de imprensa, ou de comunicao, da era digital

    necessita conhecer a internet e todas suas possibilidades, alm de saber utilizar as

    novas mdias e ferramentas da atualidade a favor do seu cliente.

    De outro lado, msicos se encontram perdidos, em um tempo onde a indstria

    fonogrfica se reinventa, deixando de ser calcada apenas na venda de CDs. Quando

    a evoluo tecnolgica parecia querer colocar um fim nas gravadoras, surge a

    indstria da comunicao para tentar selar uma era de novas alternativas de receita

    para os msicos e as companhias, como o caso dos contratos de patrocnios e a

    venda de espaos publicitrios em shows. A publicidade comea a tomar conta da

    lucratividade das gravadoras, cujo quadro de artistas tem agora o desafio de levantar

    a bandeira de marcas e empresas.

    Do fsico ao digital, os CDs, denominados lbuns, transformam-se aos

    poucos no que chamado de digital-release o que seria um lbum digital, com

    arquivos de udio distribudos ou vendidos por msicos e/ou gravadoras na internet.

    Tanta mudana de conceitos e quebra de paradigmas faz com que as

    estratgias de comunicao dos artistas da msica tenham que ser aprimoradas e

    renovadas, o que inclui tambm o trabalho de assessoria de imprensa e

    comunicao, parte importante de um estratgico plano geral de divulgao e

    sustentao da marca e dos feitos do cliente.

    No adianta somente o registro musical, os artistas precisam estar

    constantemente presentes na mdia para trabalharem sua imagem junto ao pblico e

    vender seu produto, no caso, suas msicas e seus shows.

    Est mais clara, entre os assessorados, a idia de que preciso divulgar aes positivas, resultados alcanados, novos produtos e programas lanados, entre outros assuntos. Est disseminada a percepo de que a boa imagem ajuda a vender (MAFEI, 2004, p. 57).

    O objetivo deste trabalho fazer com que assessores de comunicao

    tenham maior qualificao para tratar a imagem de msicos com a imprensa, e com

    o pblico geral da internet, os internautas, alm de fortalecer as estratgias de

    comunicao no mercado da msica. Ou seja, este trabalho tem a premissa de

    ajudar a classe dos msicos, tanto os novos como os antigos, a vender seu trabalho

  • 13

    e se relacionar harmonicamente com a imprensa e seu pblico por meio das redes

    de relacionamento.

  • 14

    2 METODOLOGIA

    Para a concretizao deste estudo, primeiro foi feito o uso de uma pesquisa

    bibliografia, com autores especializados em temas como assessoria de imprensa,

    cibercultura, internet, novas mdias e indstria musical. Entre os autores esto:

    Andr Pase, Chris Anderson, Irineu Franco Perpetuo, Raquel Recuero e Ronaldo

    Lemos, entre outros.

    Como consta do livro de Lakatos e Marconi (1996, p. 15):

    A pesquisa uma indagao minuciosa ou exame crtico e exaustivo na procura de fatos e princpios; uma diligente busca averiguar algo. Pesquisar no apenas procurar a verdade; encontrar respostas para questes propostas, utilizando mtodos cientficos.

    De forma simples, segundo Silva e Menezes (2001, p. 19), pesquisar significa

    procurar respostas para indagaes propostas.

    por essa busca por respostas que se torna necessrio recorrer aos livros,

    considerados os mestres das sucessivas geraes, segundo Enas Machado de

    Assis, no livro O Universo das Comunicaes Humanas. Desde suas primeiras

    aparies, em folhas de papiro coladas umas nas outras, formando rolos que

    chegavam a ter 20 metros de comprimento, o livro servia como referncia e registro

    para uma minoria de sbios e intelectuais. Depois, com a evoluo do papel,

    passando pelo pergaminho at o papel conhecido atualmente, o livro se popularizou

    e chegou no universo dos estudos cientficos.

    Entende-se que pesquisa bibliogrfica ocorre quando o pesquisador utiliza de

    materiais escritos. No fazem parte de uma pesquisa bibliogrfica apenas livros,

    mas todos meios impressos disponveis, no caso deste trabalho, acrescenta-se as

    revistas. Foram utilizadas as revistas Exame e Meio Digital, ambas com matrias que se encaixaram dentro da proposta deste estudo.

    Pesquisado o contedo literrio, entrevistas qualitativas auxiliaram na unio

    entre a prtica e a teoria.

  • 15

    Para Silva e Menezes (2001, p. 20), a pesquisa qualitativa considera o

    dinamismo entre o sujeito e o mundo real, ou seja, entre a subjetividade do

    entrevistado e o objetivo dos fatos:

    A interpretao dos fenmenos e a atribuio de significados so bsicas no processo de pesquisa qualitativa. No requer o uso de mtodos e tcnicas estatsticas. O ambiente natural a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador o instrumento-chave. descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado so os focos principais de abordagem.

    Com o apoio de entrevistas qualitativas sero apresentados cases de msicos

    que conseguiram bons resultados na carreira investindo na comunicao online e

    nas novas tecnologias. No case principal, a histria de Mallu Magalhes, uma

    cantora que com apenas 15 anos, na poca em que colocou suas msicas para

    download no MySpace, conseguiu se transformar em um fenmeno de audincia.

    Para analisar este caso, foi feita uma entrevista no dia 7 de novembro de

    2009 com Rafael Rossato, empresrio da cantora e dono da empresa de marketing

    musical Agncia de Msica, que alm de trabalhar com a Mallu, presta servios para

    grandes empresas brasileiras interessadas em projetos que envolvam o mercado

    musical.

    No objetivo de no centralizar a questo da mudana da indstria musical

    ocasionada pelas novas tecnologias apenas nos envolvidos diretamente com a

    msica como um negcio estratgico e administrativo, foi entrevistado, no dia 10 de

    novembro, o jornalista e crtico musical Juarez Fonseca para traar um panorama

    geral do novo momento em que a msica se encontra.

    Em cima das experincias relatadas pelos entrevistados, ser feita uma

    anlise sobre o exerccio da assessoria de comunicao no universo digital,

    principalmente levando-se em considerao como possvel meio de trabalho o

    crescimento das redes sociais ou de relacionamento na internet.

    Para provar a eficincia das redes sociais como instrumentos propagadores e

    divulgadores de artistas, foi preparado um quadro de comparao que envolveu

    msicos que despontaram na mdia brasileira - ou que j eram conhecidos e se

    adaptaram s novas mdias - em funo do trabalho realizado em alguma rede de

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    relacionamento. Foram usados os seguintes artistas: NxZero, Fresno, Pedra Letcia

    e Mallu Magalhes. Esses cases tambm servem para validar o sucesso de Mallu

    Magalhes e conhecer sua verdadeira magnitude e amplitude na internet por meio

    de uma comparao numrica objetiva tirada de pesquisas do autor em redes

    sociais nas quais encontram-se perfis dos msicos citados.

    As principais redes de relacionamento usadas para comparar os nmeros de

    audincia da Mallu ante os demais artistas foram o MySpace, Orkut e YouTube,

    pois estes apresentam nmeros claros dos seus usurios, com maior transparncia

    e visibilidade dos internautas que visitam suas respectivas pginas na internet.

    No dia 4 de outubro de 2009, foram acessados os perfis de cada artista no

    objetivo de registrar os nmeros de cada um nesses portais de relacionamento. No

    mesmo dia, foi feita uma pesquisa via internet pelos demais canais/sites em que

    esses msicos se encontram hospedados como Orkut e Twitter, no intuito de

    analisar os meios prioritrios para cada artista na web e, por fim, tentar chegar a

    uma suposio sobre suas estratgias de comunicao.

    Percebe-se que todos os mtodos e tipos de pesquisas citados at ento se

    enquadram no conceito de pesquisa exploratria, apontado por Silva e Menezes

    (2001, p. 21), que: Visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torn-lo explcito ou a construir hipteses. Envolve levantamento bibliogrfico; entrevistas com pessoas que tiveram experincias prticas com o problema pesquisado; anlise de exemplos que estimulem a compreenso. Assume, em geral, as formas de Pesquisas Bibliogrficas e Estudos de Caso.

    por meio de pesquisa exploratria que tentar se chegar a uma linha de

    pensamento e estudo que possa servir como base de consulta a todos os

    profissionais que atuam, ou ainda, iro atuar neste segmentado ramo da

    comunicao, assim como servir como referncia terica para os interessados ou

    envolvidos profissionalmente com a indstria da msica.

  • 17

    3 A ARTE DE ASSESSORAR

    Segundo o autor Jorge Duarte (2003, p. 34), no livro Assessoria de Imprensa

    e Relacionamento com a Mdia, o jornalista americano Ivy Lee foi pioneiro, em 1906,

    no que hoje chamado de relaes pblicas, bero da assessoria de imprensa ou,

    num sentido mais amplo, assessoria de comunicao. Na poca, Lee prestou seus

    servios a Rockefeller, o mais impopular homem de negcios dos Estados Unidos.

    Como diz Duarte, foi escolhido, a dedo, para ser o santo de um milagre impensvel:

    conseguir que o velho baro do capitalismo selvagem, de odiado, passasse a ser

    venerado pela opinio pblica americana.

    De 100 anos para c, muitos velhos bares entregaram suas imagens a um

    assessor de imprensa no exterior, porm, no Brasil, as relaes pblicas s foram

    popularizadas a partir de 1964, tanto na esfera pblica como a privada. Em 1968, a

    atividade de relaes pblicas comeou a ser inserida nos cursos de comunicao

    at conquistar uma regulamentao de enorme abrangncia no campo profissional.

    A nova profisso tambm trouxe confuso quanto ao papel na rea da comunicao,

    sendo confundida principalmente com o jornalismo.

    O perodo da ditadura militar incendiou o exerccio das relaes pblicas e,

    por consequncia, a assessoria de imprensa:

    O uso intensivo da propaganda poltica pelo regime militar atuou como vitamina de crescimento nas relaes pblicas. E, nos departamentos de relaes pblicas, expandia-se a atividade de assessoria de imprensa, em um processo que se nutria na euforia de prosperidade do milagre econmico, regado pelos dlares da dvida externa (DUARTE, 2003, p. 44).

    Anos depois do perodo militar, surgiram duas vertentes que individualizaram e

    separaram os profissionais de relaes pblicas dos jornalistas que exerciam

    assessoria de imprensa.

    Em 1980, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de So Paulo criou

    a Comisso Permanente e Aberta dos Jornalistas em Assessorias de Imprensa. Estava

    clara a inteno dos jornalistas de lutar por um espao num mercado at ento ocupado

    pelas entidades de relaes pblicas (DUARTE, 2003, p. 46).

  • 18

    Com o surgimento da Comisso, tambm foi produzido o primeiro Manual de

    Assessoria de Imprensa. Como consta no livro de Duarte (2003, p. 46), as primeiras

    frases do manual diziam o seguinte: Os profissionais de assessoria de imprensa

    so, antes de tudo, jornalistas. Eles vieram preencher uma lacuna atendida

    indevidamente por profissionais de outros setores, entre eles recursos humanos,

    marketing e promoes.

    A segunda vertente foi a dos jornalistas-empresrios, como diz Duarte,

    surgida a partir da criao da Associao Nacional das Empresas de Assessoria de

    Imprensa e Comunicao Social (Aneci). Depois do primeiro ano de existncia, a

    associao j contava com 30 agncias do ramo.

    O ano de 1995 foi marcado pela revoluo das fontes, como chamou Duarte

    (2003, p. 47), ao relatar estudo feito pela subseo do Dieese no Sindicato dos

    Jornalistas Profissionais do Estado de So Paulo, cujo resultado revelou que um

    tero dos jornalistas profissionais com carteira assinada trabalhava fora das

    redaes, ou seja, nas fontes.

    No Brasil, em 1995, dos 18.825 jornalistas com carteira assinada, 36,40%

    exerciam assessoria de imprensa, contra 36,40% dos que trabalhavam nos jornais,

    seguidos por 12% profissionais de televiso, 7% de rdio, 6% de revistas e 2% de

    agncias noticiosas, segundo a Secretaria de Polticas de Emprego e Salrios do

    Ministrio do Trabalho. Era o comeo de uma saudvel concorrncia que se

    estabelece no ramo da comunicao em busca de clientes (DUARTE, 2003).

    3.1 PRIMEIRO A NOTCIA, DEPOIS OS RESULTADOS

    Como avalia Jorge Duarte (2003, p. 150): nem tudo o que ocorre na

    instituio transforma-se em notcia. Para o autor, necessrio avaliar quais os

    acontecimentos considerados suficientemente, interessantes e relevantes para serem

    transformados em notcias, o que envolve tambm um jogo de interesses tanto por

    parte do assessor de imprensa como do jornalista de um veculo. Da mesma forma que

    o assessor quer a promoo de um fato, o mesmo pode no estar de acordo com os

    interesses do veculo.

  • 19

    A notcia, como forma de conhecimento, no concerne primariamente nem ao futuro nem ao passado, mas ao presente. A qualidade do efmero e transitrio constitui a verdadeira essncia da notcia. Um evento cessa de ser notcia logo que cessou a tenso que o causou e, conseqentemente, a ateno do pblico se volta para uma nova notcia. Nada disto, obviamente indito e j conhecido h muitos anos.1

    Entre as estratgias para equilibrar o atendimento ao interesse pblico as

    necessidades do assessorado, est o agendamento prvio de entrevistas ou matrias.

    Alm da negociao de pauta com antecedncia, Duarte (2003, p. 154-5), tambm cita

    a apropriao dos valores-notcia, cujo objetivo transformar acontecimentos de rotina

    em notcias.

    Como consta no livro da Duarte, existem cinco critrios ou categorias de valores-

    notcia:

    a) importncia (algo que o pblico deve conhecer) ou Interesse (capacidade de

    entretenimento, interesse humano) da notcia;

    b) caractersticas especficas do produto informativo (sua disponibilidade, sua

    ruptura da normalidade, sua atualidade).

    c) meio de comunicao (determinada notcia adequada a quais meios ou

    qual mdia?);

    d) pblico (a imagem que os jornalistas tm do pblico);

    e) a concorrncia entre os meios de comunicao facilita a negociao de

    exclusivas e furos.

    Geralmente a definio usual da "notcia" inclui outros atributos dos fatos ordinrios como: Atualidade, Proximidade (particularmente a geogrfica), a Conseqncia (eventos que mudam ou ameaam mudar a vida das pessoas), Interesse Humano (evocando uma resposta emocional ou ilustrando uma verdade universal). Conflitual (O choque de interesses, na guerra, no esporte, na poltica) e a Proeminncia dos atores envolvidos.2

    Mais forte que as estratgias j citadas, a busca pelo novo, objetivo do

    jornalismo em geral, dos assessores de imprensa e dos jornalistas de redaes. O

    1 EPSTEIN, p. 164). Disponvel em: . 2 Ibid.. Disponvel em: .

  • 20

    novo tambm um valor-notcia, e, pode ser segundo Duarte (2003, p. 156):

    a) um produto pronto para ser lanado;

    b) o avano ou a continuao de um projeto;

    c) o que diferente num produto j conhecido ou um novo uso para um

    produto antigo;

    d) tendncias de especialistas, projees e previses;

    e) fato ou notcia atual.

    Outra forma de propor o novo o uso do newspeg quando acontecimentos da

    atualidade legitimam a notcia. Essa ttica tambm chamada pelo jargo jornalstico

    de gancho ou cabide para pendurar uma notcia. O gancho pode ser um

    acontecimento da atualidade, ou seja, uma notcia que j circula na imprensa; o prprio

    tempo, com a comemorao do aniversrio da empresa, por exemplo, ou um evento ou

    fato relacionado organizao acontecido h poucas horas; e as datas comemorativas,

    como o Dia dos Pais, Dia da rvore, Dia do Meio Ambiente, entre tantos outros.

    Um quarto tipo de newspeg a sazonalidade - atribuir os fatores climticos ou

    os calendrios agrcolas na composio de uma notcia. A funo do assessor de

    imprensa entregar esse gancho aos veculos nos quais almeja divulgar a imagem

    do cliente (DUARTE, 2003). Duarte (2003, p. 159) chama de traduo a decodificao da realidade,

    como pegar assuntos corriqueiros do dia das pessoas e transform-los em notcias: Assim, o que est na moda, o que est na pauta do dia, notcia ou d ibope. E o que est na moda? Justamente os acontecimentos (assuntos ou problemticas) que esto em evidncia na imprensa em determinado momento e que, por esse motivo, integram a agenda de preocupaes da opinio pblica, como temas importantes.

    Desta forma, o que assunto na mdia pode ser uma relevante oportunidade

    para gerar interesse nos jornalistas de veculos. Contudo, ter o assunto ou mote no

    basta para que o assessor de imprensa cumpra com sua funo. necessrio

    tambm fazer uso da tcnica principal deste tipo de profissional o release.

  • 21

    3.2 O RELEASE

    A assessoria de imprensa, como toda profisso, exige tcnicas e padres.

    por meio de releases material de divulgao produzido pela assessoria de

    imprensa e destinado aos veculos de comunicao, segundo definio de Kopplin e

    Ferraretto (1993) que o assessor realiza a maioria de suas atividades.

    Existem vrios tipos de releases. O padro destaca um fato em si e seus

    personagens, como por exemplo um evento, apenas como as informaes

    necessrias, sem maiores detalhes. J o de opinio um texto jornalstico onde o

    assessorado expressa um fato relacionado direta ou indiretamente a ele, baseado

    em uma entrevista.

    Na tentativa de emplacar uma notcia importante, o assessor pode recorrer ao

    texto dirigido, ou seja, ele pode enviar especialmente uma notcia para um jornalista,

    veculo e especialmente colunistas. No livro de Kopplin e Ferraretto (1993),

    recomenda-se que o assessor leve em considerao as particularidades do espao

    para o qual pretende mandar esse tipo de release, a fim de melhor atender as

    expectativas do colunista, blogueiro ou jornalista que for receber.

    Existe ainda o release especial, que no pode ser confundido com o dirigido.

    Neste caso, geralmente o veculo que solicita assessoria a narrao ou

    reportagem de um fato especfico, por no poder cobrir o acontecimento.

    O livro de Kopplin e Ferraretto (1993) segue colocando que h um release

    artigo, que mostra a opinio do cliente. Nele, quando o texto sai em alguma

    publicao, o nome do e a opinio final do assessorado que esto sendo

    publicados, porm, o assessor pode dar um tratamento jornalstico ao texto,

    reformatando-o caso necessrio.

    De acordo com Kopplin e Ferraretto (1993), os releases feitos para rdio e

    televiso so feitos em situaes especiais, como a divulgao de eventos em

    programas que apresentam entrevistas e reportagens. A recomendao dos autores

    que o assessor busque contato por telefone ou a organizao de entrevistas com o

    assessorado.

    Uma espcie de carta pela qual a assessoria convida os veculos a

    comparecerem a determinados eventos como aberturas de cerimnias e entrevistas

    coletivas, podendo ser acompanhado de outros tipos de release ou um press-kit

  • 22

    material com textos informativos, sugestes de pauta, fotos, currculos do cliente,

    levantamentos estatsticos e plataformas com udios e vdeos (KOPPLIN;

    FERRARETTO, 1993, p. 113-115).

    A cobertura de um evento relacionado ao cliente, do qual ele ou o nome dele

    faa parte, tambm entra nos tipos de releases, pois o resultado do

    acompanhamento ser enviado para os veculos de comunicao para possveis

    publicaes.

    Outras formas de release, segundo Kopplin e Ferraretto (1993), so as notas

    oficiais - textos distribudos para a mdia em situaes crticas, nas quais o cliente

    precisa definir uma opinio importante, de interesse pblico e os comunicados, com

    informaes teis para o jornalista e no o veculo do qual ele faz parte, como a

    indicao das formas de contato com uma fonte, nmeros de telefone, endereos, etc..

    3.3 PRODUTOS E SERVIOS DA ASSESSORIA

    Em sua obra, Duarte (2003, p. 236) coloca que: a prtica de assessoria de

    imprensa, historicamente, poderia ser definida pela gesto de fluxos de informao e

    relacionamento entre fontes e jornalistas. Quem realiza a gesto dessa

    comunicao, no necessariamente precisa ser um jornalista. Segundo o autor,

    relaes-pblicas, publicitrios, pessoal de marketing, recursos humanos e

    planejamento tambm podem estar inseridos no ramo. Com isso, amplia-se o

    conceito de assessoria de imprensa para assessoria de comunicao.

    Essa amplitude de reas tambm aumenta o nmero de produtos e servios

    dos assessores de comunicao, como veremos ao longo deste trabalho.

    Os servios a serem prestados, para Duarte (2003), podem ser internos, ou

    seja, direcionados ao interior das empresas, os empregados e colaboradores, ou

    externos, direcionados para a mdia em geral. Tambm podem ser operacionais ou

    estratgicos. A diferena entre os dois conceitos que o primeiro envia

    mecanicamente releases ou servio de clipping, o que o torna um simples operador

    dos conhecimentos da comunicao. No segundo, a estratgia o que conta, com

    base nas pretenses do cliente, que vai optar por prioridades, que podem ser desde

    a motivao de funcionrios at posicionar-se como referncia em determinada rea

  • 23

    do mercado, ou simplesmente obter maior visibilidade pblica (DUARTE, 2003,

    p. 237).

    Alm dos releases que podem ser aplicados profisso de assessor de

    imprensa, quando se agregam outras reas de atuao, formando um trabalho

    extenso de comunicao, se ampliam os produtos e servios possveis. Vejamos

    alguns outros apontamentos por Duarte (2003, p. 238):

    a) acompanhamento de entrevistas dos assessorados para os veculos;

    b) administrao da AI Trabalhar como assessor tambm exige atitude de

    gerncia, como a organizao e estratgias empresariais, conhecimentos

    culturais e de administrao;

    c) apoio a eventos relacionados direta ou indiretamente ao cliente;

    d) construo de um arquivo para o assessorado onde possam ser buscadas

    e consultadas matrias jornalsticas registradas no passado;

    e) avaliao de resultados, no s de mapeamento de notcias na mdia, mas

    com relao aos objetivos do trabalho de assessoria, criao de

    formulrios para registro de pedidos de entrevista e at pesquisas

    qualitativas com os jornalistas de veculos para avaliar como est se

    encaminhando a assessoria;

    f) controle de um Banco de Dados relacionado ao cliente;

    g) oferta de brindes para as redaes, com cuidado para no parecer que o

    assessor est comprando o jornalista;

    h) clipping e anlise de noticirio devem ser feitos como forma de identificar

    as citaes sobre o cliente registradas na mdia. A confeco deste

    relatrio o trabalho mais tradicional do assessor de imprensa que deve

    ser realizado e atualizado constantemente;

    i) promoo de concursos de reportagem podem ser sugeridos para inspirar

    jornalistas a se interessarem por um tema especfico relacionado ao

    cliente;

    j) realizao de entrevistas coletivas, recomendadas quando o assessorado

    faz parte de algum caso extraordinrio, a ponto que o assunto chame a

    ateno de vrios jornalistas. O tema deve ser de grande interesse pblico

    para que os jornalistas concordem em aparecer na ocasio, mesmo

    sabendo que o que for dito, se tornar uma informao compartilhada

    entre toda a imprensa presente;

  • 24

    k) elaborao de fotos para releases e divulgao do cliente;

    l) elaborao de um Jornal mural, normalmente utilizado nas empresas para

    avisos e recados importantes que ajudem na organizao e comunicao

    entre todos os membros da companhia;

    m) preparao de um Mailing ou cadastro de jornalistas, a fim de listar os

    jornalistas aos quais sero destinados os releases da assessoria ou outros

    contatos e negociaes que envolvam a imagem do cliente e o veculo. No

    mailing constam informaes sobre os jornalistas como nome, empresa, e-

    mail, telefone, etc.;

    n) construo de sites na internet e atualizao dos mesmos para que o

    cliente possa manter seus negcios no ambiente online.

    Foi visto neste captulo alguns conceitos sobre assessoria de imprensa, assim

    como as diversas maneiras de exercer a profisso, o que incluiu as tcnicas, os

    produtos e os servios oferecidos pelo assessor. O prximo captulo servir para o

    entendimento da atual indstria musical, a fim de que no trmino deste trabalho se

    possa construir uma anlise da funo de assessoria de comunicao aplicada ao

    mercado da msica e suas novas atribuies, como o uso das redes de

    relacionamento na internet para divulgao da imagem do artista.

  • 25

    4 A INDSTRIA FONOGRFICA SE REINVENTA

    O mercado da msica no Brasil se mostra estreito quando pode se contar nos

    dedos o nmero de gravadoras associadas ABPD (Associao Brasileira dos

    Produtores de Discos). So dez: EMI Music, Mk Music, Music Brokers, Paulinas,

    Record Produes e Gravaes Ltda., Som Livre, Sony Music Entertainment, The

    Walt Disney Records, Universal Music e Warner Music.

    Fundada em abril de 1958, a entidade surgiu com o objetivo de conciliar os

    interesses das gravadoras como os de autores, intrpretes, msicos, produtores e

    editores musicais, alm de defender os direitos e interesses dos seus associados,

    combater a pirataria musical e promover levantamentos estatsticos e pesquisas de

    mercado relacionadas ao setor. Ao longo deste trabalho sero apresentados dados

    provenientes destas pesquisas.3

    Em 1950, as grandes gravadoras (majors) da poca eram: RCA Victor,

    Columbia, Decca e Capitol. Elas atuavam como um oligoplio, desempenhando

    todas as atividades da cadeia. Procuravam artistas, gravavam seus fonogramas,

    distribuam as faixas para sua prpria cadeia de revendedores, divulgavam e

    comercializavam o produto em rdios e cinemas (LEO; NAKANO, 2009, p. 14).

    No mundo, o mercado de fonogramas consolidou-se a partir de meados de

    1960, quando houve uma evoluo nos processos de tecnologia da indstria

    fonogrfica. Neste perodo, as grandes produtoras (majors) percebiam a entrada de

    outros atores nas atividades do mercado musical, ou seja, o mercado de artistas e

    produtores independentes estava crescendo. De 1950, at o incio da dcada de

    1970, com o crescimento de meios como o rdio, televiso e cinema, o mercado foi

    caracterizado por fuses e aquisies que formaram grandes conglomerados como

    MGM, United Artists, Paramount, Warner Brothers, etc..

    Mesmo com um notvel oligoplio, pequenas e mdias gravadoras

    independentes existem desde 1940, tambm conhecidas por indies. Contudo, foi

    desenvolvida pelas gravadoras, em 1970, uma estratgia chamada de sistema

    aberto. Com ele, as majors passam a usar os produtores independentes para

    buscar novos artistas e incorpor-los ao seu casting de artistas ou estabelecer

    3 DISPONVEL em: .

  • 26

    contratos de distribuio com selos independentes (LEO; NAKANO, 2009).

    No livro A Cauda Longa, Chris Anderson (2006, p. 2) diz que: quase todos os

    cinqenta lbuns musicais mais vendidos de todos os tempos foram gravados nas

    dcadas de 1970 e 1980 e nenhum deles dos ltimos cinco anos. Segundo ele,

    era a poca dos chamados campees de bilheteria e os discos de ouro. Com essa

    afirmao, o autor chama a ateno para a atual fragmentao dos mercados, que

    mudou o papel das gravadoras na indstria do entretenimento, o que ser visto com

    maior abrangncia no captulo 3. Por enquanto, preciso falar sobre a importncia

    dos artistas independentes, importantes membros da viso de negcios proposta por

    Chris Anderson.

    Segundo Leo e Nakano (2009), embora, parte do processo e dentro do

    mercado, os produtores e msicos independentes ainda no tinham a liberdade

    conquistada com o avano da internet, como veremos a seguir. Mesmo com a entrada

    desses novos atores, as majors continuaram no controle do mercado musical e at se

    beneficiaram com o crescimento da msica independente, passando a exercer,

    principalmente, as atividades de produo, distribuio e comercializao dos artistas.

    4.1 WEB: INDEPENDNCIA OU MORTE

    Como se v, so poucas grandes gravadoras em atuao no pas para

    milhares de msicos independentes com restritas oportunidades de mostrar seus

    trabalhos na grande mdia.

    Nesse cenrio, o msico independente chamado assim popularmente,

    embora, se analisado a rigor, nota-se que o msico sempre ser dependente de

    alguma marca ou ter o apoio de terceiros - obrigado a se fazer valer de muita

    criatividade para divulgar seu trabalho e ser reconhecido, j que no dispe do

    modelo tradicional de distribuio e venda de CDs, que envolve contratos entre

    majors e grandes redes varejistas. Dessa forma, principalmente com o avano das

    novas mdias, os artistas passaram a encontrar novos meios de divulgao, o que

    pode ser feito, gratuitamente, em mdias sociais como o MySpace.

    Porm, antes do fenmeno do MySpace, o mundo da msica havia

    experimentado o compartilhamento de arquivos.

  • 27

    O grande impacto da internet na distribuio de msicas se deu inicialmente atravs das redes de compartilhamento de arquivos virtuais, as chamadas redes P2P, principalmente com a introduo do Napster, em agosto de 1999, seguido de diversos outros programas semelhantes (como Kazaa, BitTorrent, eMule, Limewire etc.) (LEO; LAKANO, 2009, p. 19).

    O uso da internet para a distribuio de msicas, como o sistema P2P, que

    veremos com maior abrangncia no captulo 3, foi um fator determinante para o

    crescimento do mercado independente.

    Nota-se, pelo texto de Andr Pase (2004, p. 146), que o cenrio independente

    da msica j estava se movimentando desde os anos 90 pela internet:

    Apesar das dificuldades, a msica ganhou espao na rede. Uma das suas primeiras manifestaes foi o Internet Underground Music Archive. O IUMA (www.iuma.com) tinha o propsito de colocar e listar artistas na rede, disponibilizando sons, imagens e, principalmente, o contato dos msicos. Alm de ouvir, o pblico ganhou a possibilidade de interagir. [...] O conceito ganhou novos recursos com a web e, em 1993 o IUMA j estava na rede. Um ano depois, empresas j estavam buscando alternativas comerciais para a msica online.

    Como cita Pase (2004), no texto acima, alm de ouvir, o pblico ganhou a

    possibilidade de interagir, o que pode ser considerado um dos primeiros sinais de

    uma nova era calcada na interatividade e colaborao de contedo via internet. Foi

    por meio da internet que o mercado independente da msica ganhou fora para se

    movimentar, divulgar artistas e, com isso, alimentar a cultura global.

    Alm do fenmeno das redes de compartilhamento de arquivos tipo Napster,

    o cenrio independente passou a ser alimentado por novas ferramentas. O mundo

    conheceu o MySpace e tambm o YouTube, com a possibilidade de compartilhar

    vdeos gratuitamente na internet e divulg-los com facilidade. O surgimento dos

    blogs como nova forma de expressar contedo tambm fazem parte desse cenrio.

    Um dos fenmenos mais impressionantes da digitalizao foi a ampliao da oferta de bens musicais na internet, resultante da crescente facilidade de gravar, editar e divulgar um lbum a custos baixssimos. [ ] A indstria fonogrfica e os controladores das grades de veiculao musical nos rdios e TVs agora enfrentam as redes P2P, os blogs, os videologs, o YouTube e os audiocasts (SILVEIRA, 2009, p. 27).

  • 28

    Uma outra forma de definio que se enquadra ao termo independente, com

    relao aos artistas, pode ser encontrada na obra Moderno Ps-Moderno, de

    Teixeira Coelho (1995, p.122):

    O artista no se v mais obrigado a procurar aquilo que ainda no foi feito e sente-se em liberdade para voltar-se na direo do que bem entender. No h nem mesmo um empenho definitivo em relao a si mesmo ou sua obra: hoje faz isto, amanh sente-se livre para fazer uma coisa bem diferente. Esse artista, e todo o ps-modernismo, sente-se como um girassol: tudo o atrai e a partir de seu centro ele se espalha em todas as direes.

    Na viso de Coelho, um artista com independncia tem a liberdade de

    escolher seu caminho no mercado musical, seja com um contrato com grandes

    gravadoras, como encontrar meios em ferramentas digitais ou at mesmo usar o

    comrcio informal, como veremos a seguir no mercado da Tecnobrega.

    4.2 O TECNOBREGA E O COMRCIO INFORMAL

    No livro Tecnobrega - O Par reinventando o negcio da msica, os autores

    Ronaldo Lemos e Oona Castro apresentam o modelo de negcio que tomou conta

    de muitas bandas do mercado da msica paranaense, inclusive a Calypso, que

    embora seja a mais conhecida do tecnobrega no Brasil e seja citada muitas vezes

    como referncia no livro, no foi entrevistada, por questes tcnicas das pesquisas,

    as quais foram realizadas no ano de 2006.

    Para explicar esse novo modelo de negcio, preciso entender o que

    tecnobrega. Segundo o livro de Lemos e Castro, a expresso surgiu do brega

    tradicional, produzido nas dcadas de 1970 e 1980, quando o movimento do gnero

    se intensificou no Par, alm de ser inspirado pelas canes romnticas da Jovem

    Guarda, rotuladas por romantismos exagerados e amores perdidos. Em 1990, os

    artistas paraenses comearam a produzir novos gneros como o brega calypso, com

    forte influncia da msica caribenha. Mas, foi s por volta de 2002 que iniciou o

    movimento tecnobrega do qual faz parte a banda Calypso.

  • 29

    Nos anos 2000, o tecnobrega j incentivou tambm a criao de outros estilos

    como o bregamelody e o cybertecnobrega, ambos influenciados pela msica

    eletrnica. Mais do que um estilo musical, o tecnobrega um mercado que criou

    novas formas de produo e distribuio (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 22).

    O novo modelo de negcio analisado no livro, segundo os autores, foi

    conhecido por todo o mercado por meio do grande sucesso do casal Joelma e

    Chimbinha, respectivamente, vocalista e guitarrista do grupo Calypso. Sem o apoio

    de gravadoras, eles elaboraram uma nova forma de distribuir suas msicas. Criaram

    seu prprio selo e venderam seus CDs a preos baixos (entre R$ 5,00 e R$ 10,00)

    em supermercados populares, freqentados por seus fs. Depois de estourar entre

    as classes populares de Belm do Par e outros estados do nordeste, a banda

    ganhou visibilidade ao aparecer no Domingo do Fausto, da Rede Globo. A alta

    divulgao proporcionada pelo programa de televiso fez com que Joelma e

    Chimbinha conquistassem fs por todo o pas e ainda inspirassem outras bandas

    paraenses a seguir o mesmo caminho de distribuio musical (CASTRO; LEMOS,

    2008, p.18).

    Este exemplo est neste trabalho para representar a criatividade do mercado

    independente, desassociado de um modelo formal de mercado. Trata-se de um

    modelo pioneiro na forma de conduzir negcios no mercado musical. De acordo com

    o livro de Ronaldo Lemos e Oona Castro, a estratgia utilizada pelas bandas

    paraenses gera um fenmeno que fomenta a produtividade cultural do estado, pois

    lida com custos baixos de produo e uma cadeia colaborativa de negcio entre os

    grupos envolvidos, citados no livro como atores do tecnobrega.

    Uma das principais caractersticas desse novo mercado a forte participao

    do comrcio informal (vendedores ambulantes) como meio de divulgao. Os

    artistas desse movimento no contam com a distribuio tradicional em lojas de

    msica ou varejo, mas sim a venda por meio de vendedores de rua nas periferias,

    que fazem um papel importante de divulgao das bandas.

    Para entender melhor este cenrio, o livro apresenta os agentes, ou atores,

    do negcio da tecnobrega.

  • 30

    a) Aparelhagens

    So empresas, na maioria familiares, donas da mais moderna lista de

    equipamentos de luz e som para a animao de eventos. So responsveis pelas

    principais festas bregas do Par. Uma aparelhagem constituda por torres de

    caixas de som, teles e diversos aparelhos de efeitos especiais, o que inclui a

    elevao dos palcos e iluminaes explosivas pouco convencionais. Entre os

    aparelhos mais usados esto os Teles, notebook, cmera de vdeo, equipamentos

    de iluminao skywalker, efeitos visuais de raio laser, torres de caixa de som com

    cerca de trs metros e mesas de som.

    b) DJ

    o principal artista que comanda as festas promovidas pela aparelhagem

    pela qual foi contratado. Seu papel muito importante nessa indstria, pois ele

    quem apresenta inovaes ao pblico tecnobrega, ou seja, msicas novas do estilo.

    Com equipamentos em casa, o DJ de estdio se torna a principal fonte de produo

    dos CDs e DVDs do negcio tecnobrega. Os Djs so disputados pelas

    aparelhagens, sendo os principais personagens da festa, muitas vezes, mais que os

    grupos musicais. O prestgio tanto, que o pblico fica de frente para eles como se

    fosse o show de uma banda.

    c) Artistas

    De acordo com o livro de Ronaldo Lemos e Oona Castro, 84% dos artistas do

    tecnobrega so compositores, alm de cantores, afinal, o negcio se torna pouco

    lucrativo para essa classe dos compositores, que dependem exclusivamente dos

    direitos autorais, os quais, num primeiro momento, se tornam ineficazes nesse

    modelo de negcio, pelo menos enquanto os artistas so menos conhecidos. O

    papel dos artistas nesse mercado lanar msicas que possam estourar, at que

    sejam convidados para fazer shows.

  • 31

    d) Estdios

    Locais onde novos CDs so produzidos de forma independente, ou seja,

    pagos pelos prprios artistas. Parte do papel de gravadoras e selos foi substitudo

    por estdios domsticos.

    e) Reprodutor no autorizado ou distribuidor informal O papel deste grupo reproduzir (fazer cpias) dos CDs e DVDs dos artistas

    da tecnobrega e repass-los aos vendedores de rua. Consta no livro que 80% dos

    CDs nas bancas dos ambulantes so comprados desses agentes.

    f) Vendedores de rua Recebem os CDs e DVDs dos distribuidores informais, ou dos prprios

    artistas (nesse caso a reproduo feita por conta do ambulante), para vender o

    trabalho e, principalmente, divulgar as bandas da msica tecnobrega.

    g) Festeiro Mais que um promoter, o festeiro uma pessoa ou grupo responsvel pela

    promoo das festas das aparelhages, bem como sua organizao. Faz o papel de

    empresrio e produtor, contratando casas de festa, aparelhagem e/ou banda,

    bilheteria e bar. O festeiro tambm financia a compra de novos equipamentos para

    as aparelhagens.

    h) Casas de festas e balnerios

    Casas noturnas so os lugares onde ocorrem as festas e os shows da

    tecnobrega durante a noite. Os balnerios so clubes campestres de sindicatos e

    associaes profissionais onde ocorrem as festas das aparelhagens. Segundo o livro

    de Ronaldo Lemos e Oona Castro, os balnerios realizam essas festividades aos

    domingos, entre 10:00h e 22:00h.

  • 32

    i) Programas de rdios e de TV

    Depois de o pblico tanto martelar nos ouvidos da grande mdia, que se

    recusava a tocar o tecnobrega, veculos passaram a incluir o estilo em sua

    programao. Algumas rdios j implantaram programas com DJs de tecnobrega, o

    que ajuda muito na divulgao.

    Agora que conhecemos todas as partes envolvidas, vejamos o ciclo que

    alimenta este negcio:

    Simplificadamente, podemos dizer que o mercado do tecnobrega funciona de acordo com o seguinte ciclo: 1) os artistas gravam em estdios prprios ou de terceiros; 2) as melhores produes so levadas a reprodutores de larga escala e camels; 3) ambulantes vendem os CDs a preos compatveis com a realidade local e os divulgam; 4) DJs tocam nas festas; 5) artistas so contratados para shows; 6) nos shows, CDs e DVDs so gravados e vendidos; 7) bandas, msicas e aparelhagens fazem sucesso e realimentam o ciclo (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 22).

    Esse processo mostrado pelos autores simplifica o mapa deste negcio

    inovador, que vai contra o modelo engessado e tradicional de distribuio de CDs. O

    tecnobrega se caracteriza por ser um empreendimento fortemente calcado em

    negcios familiares e nas relaes de amizade (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 47).

    Pode-se relacionar este grupo formado por pessoas com interesses em

    comum, citado por Castro e Lemos, com a atual situao da internet, onde grupos se

    renem de forma segmentada em prol dos mesmos objetivos.

    Raquel Recuero, no livro Redes Sociais na Internet cita o conceito de capital

    social empregado por Putman, que aponta dois aspectos determinantes para a

    construo do valor social: o individual e o coletivo.

    O aspecto individual vem dos interesses dos indivduos em fazer parte de uma rede social para seu prprio benefcio reflete-se amplamente na esfera coletiva do grupo, sejam eles como custos ou benefcios. da que vem a dupla natureza do conceito, que pode englobar tanto bens privados como coletivos (RECUERO, 2009, p. 45).

  • 33

    Com base nestes argumentos, pode-se dizer que o tecnobrega uma espcie

    de rede social, neste caso, fsica, que tambm traz benefcios aos indivduos que

    fazem parte dela. Sendo assim, relaes comerciais do lugar a ligaes de

    confiana para que os negcios continuem no futuro. Para Lemos e Castro, este tipo

    de relao permite que lucros e prejuzos sejam distribudos equilibradamente, com

    menores riscos para ambas as partes.

    Mesmo se tratando de um mercado cooperativo, com membros atuando com

    os mesmos interesses e trocas, o tecnobrega tambm envolve competio, embora,

    ainda sendo um mercado colaborativo, calcado em apoios, parcerias e tratos boca a

    boca. Artistas chegam a pagar no mais que R$ 50,00 para rdios ou DJs de

    grandes aparelhagens tocarem suas msicas, porm, essa prtica no

    considerada como jab, mas sim um apoio. Se fosse um jab, a msica teria que

    ser paga at que a msica estourasse e fosse pedida frequentemente pelos

    ouvintes, o que no necessrio no sistema da tecnobrega.

    O que define o tamanho de uma aparelhagem no apenas o prestgio, o

    cach e o pblico que atrai, mas, principalmente, a potncia de seu som e o

    investimento em recursos tecnolgicos (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 64). Com essa

    afirmao, percebe-se que as aparelhagens gastam muito dinheiro com

    equipamentos de ponta e novidades tecnolgicas, tanto que para definir o tamanho

    de uma aparelhagem, basta analisar qual possui os melhores equipamentos. A

    concorrncia obriga grandes investimentos por parte de cada aparelhagem,

    considerados at excessivo pelos autores. Castro e Lemos alertam que as

    aparelhagens correm risco de falncia de mdio a longo prazo, ressaltando que

    outras habilidades criativas, de custos menores, podem contribuir para o bom

    posicionamento delas no mercado (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 55).

    Alm de estar sempre por dentro das novidades tecnolgicas, tanto sonoras

    como de iluminao, as aparelhagens investem na venda de ingressos, produo de

    CDs e DVDs, encomendas de msicas (jingles feitos por artistas da tecnobrega para

    ressaltar o nome da aparelhagem), patrocnio de artistas, promoo nas rdios,

    entre outras atividades. Outro fator tambm desestabiliza o negcio das

    aparelhagens. Somente 10% dos donos de aparelhagens de tecnobrega no Par

    possuem renda exclusivamente proveniente da aparelhagem, e os 6% restantes so

    aposentados e apenas 4% delas so consideradas grandes, de acordo com as

    pesquisas apresentadas no livro. As mdias ocupam 47% do mercado, e as

  • 34

    pequenas 50%. Contudo, o ativo fixo das grandes aparelhagens quase dez vezes

    maior do que o das pequenas (CASTRO; LEMOS, 2008).

    A divulgao dos msicos independentes e iniciantes no mercado tecnobrega,

    porm, no feita s nas grandes aparelhagens. So as pequenas e mdias que

    buscam lanar novos artistas para ganhar destaque e notoriedade. Com isso, elas

    ganham um papel importante no mercado, o de pautar novidades, ganhando da

    concorrncia em inovao.

    O modelo utilizado pelo mercado da tecnobrega traz, em sua essncia, a

    mesma discusso que o sistema de msica independente na internet, com as redes

    de compartilhamento de arquivos de udio. Em ambos os casos, o comrcio ilegal

    acionado, embora, de maneiras diferentes. De qualquer forma, os dois mexem com

    discusses que envolvem direitos autorais e pirataria.

    4.3 O DILEMA DA ILEGALIDADE

    A divulgao por meio dos vendedores de rua fundamental para que

    artistas e aparelhagens se tornem conhecidos e consigam bons contratos para

    apresentaes (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 56). Dessa forma, os autores salientam

    que o comrcio ilegal a chave do mercado tecnobrega.

    por meio da chamada pirataria que os artistas tm encontrado alternativas

    para divulgar suas msicas. Na internet, a busca por divulgao por meio de

    downloads incentivada por grande parte dos artistas, principalmente os

    independentes, que colocam suas msicas para baixar em sites de relacionamento

    como o MySpace.

    No livro Tecnobrega, os autores dizem que no h pirataria quando os

    msicos concedem ou autorizam suas msicas para a venda e divulgao.

    O termo pirataria denota toda maneira informal de se produzir um CD, seja por terceiros, em larga ou pequena escala, seja pelo prprio autor. Mas neste caso, no pode ser considerada pirataria, na medida em que se trata da produo da prpria obra pelo prprio autor, como explicita a Lei n 9.610/98, nos artigos 28 e 29. (CASTRO; LEMOS, 2008, p. 152).

  • 35

    De qualquer maneira, enquanto muitos msicos consideram saudvel a

    prtica do download de msicas na internet e o compartilhamento de arquivos,

    sendo alguns at a favor do comrcio informal, como o caso das bandas de

    tecnobrega, as gravadoras ainda lutam para destruir esse mercado, que passa a

    diminuir suas receitas com venda de CDs e DVDs.

    A Associao Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) destina um intenso

    trabalho na luta contra a pirataria e os direitos autorais dos artistas que compem

    suas gravadoras associadas. A entidade, que manteve durante anos a Apdif

    Associao Protetora dos Direitos Intelectuais Fonogrficos, reformulou sua

    estratgia contra a pirataria e criou em 2007 uma nova entidade chamada APCM

    Associao Antipirataria Cinema e Msica, incluindo o setor de vdeo em suas

    atividades. por meio da Apdif que as gravadoras associadas tratam questes

    judiciais e/ou extrajudiciais na defesa dos direitos autorais dos artistas.

    Veja os nmeros do mercado informal divulgados pela Apdif:

    Figura 1 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2006

    Fonte: Disponvel em: .

  • 36

    Figura 2 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2007

    Fonte: Disponvel em: .

    Na comparao de 2006 com 2007, nota-se que houve um crescimento na

    luta contra a pirataria. Um exemplo o nmero de DVDs de shows apreendidos, um

    crescimento de 14,51%, passando de 2.699.808 para 3.158.263 de acordo com a

    APCM Associao Antipirataria Cinema e Msica. S em 2007, ano em que foram

    feitas 3 mil operaes de combate pirataria (acrscimo de 21,24% em relao a

    2006), foram apreendidas mais de 36 milhes de CDs e DVDs , entre gravados e

    virgens.

    Figura 3 - Apreenses da pirataria no Brasil em 2008 Fonte: Disponvel em: .

  • 37

    Em 2008, foram realizadas mais aes contra a pirataria do que no ano

    anterior (3.591 contra 3.000), o que resultou num aumento no nmero de

    apreenses de mdias virgens. Foram apreendidos 8 milhes de CDs e mais de 17

    milhes de DVDs. Tambm houve um acrscimo no nmero de condenados, 195

    contra 143 de 2007. Segundo a APCM, as pessoas eram condenadas de acordo

    com o art. 184 do Cdigo Penal Brasileiro.4

    Com relao ao caso da pirataria na internet, para Andr Pase (2004, p. 198),

    pelo menos at a data da publicao de sua tese, em 2004, as aes contra essa

    prtica no se preocupavam com a imagem do usurio. As campanhas de

    marketing contra a pirataria, feitas at o momento, no observam o contexto do

    usurio, que erroneamente tratado como um vilo s por ter copiado um arquivo

    na internet. Em contrapartida, essa posio no pode ser vista como uma defesa ao

    usurio. O mesmo autor condena a maneira com que so tratadas as ferramentas de

    compartilhamento de arquivos na internet, transferindo a discusso para a

    moralidade dos internautas: O problema da cpia de arquivo no est no programa,

    mas na moral das pessoas que utilizam a ferramenta (PASE, 2004, p. 151). Outro

    autor que compartilha com as mesmas ideias Andr Passamani (2009, p. 51): A

    indstria musical decidiu ignorar o avano das redes P2P e criminalizar os

    usurios/fs.

    De outro lado, os nmeros apresentados pela APCM preocupam as

    autoridades nacionais. Estima-se que sejam perdidos R$ 500 milhes por ano da

    arrecadao em impostos em funo da pirataria, considerando somente ICMS, PIS

    e Cofins. Estes e outros dados constam no site da ABPD e tambm o da APCM.

    Num mbito geral, o combate pirataria representado no Brasil pelo CNPC

    Conselho Nacional de Combate Pirataria. Criado em novembro de 2004 pelo

    Ministrio da Justia, o CNPC formado por representantes de Ministrios do

    Congresso Nacional, alm da Polcia Federal, Polcia Rodoviria Federal, da Receita

    Federal, da Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP) e do setor privado.

    O conselho conta com seis representantes das indstrias mais afetadas pelo

    problema da falsificao no Brasil, entre elas, a ABPD, que cuida do interesse das

    gravadoras, baseadas em todos os argumentos vistos at ento, no objetivo de tirar

    do mercado os vendedores informais e a circulao de produtos ilegais, com apoio

    4 CREDITAR. Disponvel em: .

  • 38

    do Ministrio da Justia e outras entidades.

    A questo dos direitos autorais no envolve s represso por parte de

    entidades pblicas e privadas. H tambm os que sugerem novas alternativas para

    ajudar o ramo artstico a se manter livre e longe das limitaes oriundas das regras

    de direitos autorais.

    Em Massachusetts (EUA), foi criada uma corporao no profissional, hoje

    sediada na Universidade de Standford, chamada Creative Commons5 CC. Nela,

    foram estabelecidos novos tipos de licena para tornar maleveis os direitos

    autorais, at ento subordinados nos dois extremos: todos os direitos reservados

    ou nenhum direito reservado. A corporao norte-americana traou leis que

    tentaram achar o meio termo entre essas regras.

    Uma licena Creative Commons constitui uma garantia de liberdade para qualquer um que acessa o contedo, e mais importante, uma expresso de um ideal, em que a pessoa associada licena mostra que acredita em algo mais do que os extremos Todos ou Nenhum. O contedo marcado com a marca (cc) ou CC, que no indica que abriu-se mo do copyright, mas que certas liberdades foram dadas (LESSIG, 2005, p. 255).

    A partir da marca CC, foi criada uma nova licena, mais flexvel, que permite a

    escolha de alguns direitos reservados pelo autor da obra. Usada principalmente em

    websites, a marca CC j est inserida ativamente em mais de 30 pases, sendo

    amparada por suas respectivas legislaes. No Brasil, a verso da CC

    desenvolvida em parceria com a Faculdade de Direito da Fundao Getlio Vargas

    do Rio de Janeiro.

    Para o professor de Direito da Universidade de Stanford e fundador da CC,

    Lawrence Lessig (2005, p. 19): A funo da lei cada vez menos apoiar a criatividade e cada vez mais proteger certas indstrias da competio. Justo quando a tecnologia digital poderia oferecer uma extraordinria gama de criatividade comercial ou no, a lei impossibilita tal criatividade com regras insanamente complexas e vagas e com a ameaa de penalidades obscenamente severas.

    5 CREATIVE COMMONS. Disponvel em: .

  • 39

    Por este ponto de vista, pode ser interpretado que Lessig (2005) defende a

    liberdade e a criatividade dos produtores de entretenimento acima dos interesses

    das gravadoras. O autor tambm sugere que a abertura da propriedade intelectual

    na internet tem a ver com direitos de liberdade.

    No modern phenomenon better demonstrates the importance of free resources to innovation and crativity than the Internet. To those who argue that control is necessary if innovation is to occur, and that more control will yield more innovation, the Internet is the simplest and most direct reply.6

    No site oficial do Creative Commons Brasil especifica o CC como um projeto

    sem fins lucrativos que disponibiliza licenas flexveis para obras intelectuais. O uso

    deste novo tipo de licena ganhou popularidade e atingiu a alta cpula do Governo,

    sendo usado at pelo Blog do Planalto.7 O Governo aliado a novas propostas e

    ferramentas tecnolgicas mostra que a internet no est mudando apenas o modo

    de agir da populao, mas tambm os que comandam o futuro das naes, neste

    caso, as autoridades polticas.

    A polmica que envolve os direitos autorais e a pirataria no o foco principal

    deste trabalho, porm, imprescindvel para o entendimento do contexto geral em

    que se encontra a indstria da msica. um assunto que no se pode deixar de

    discutir, pois o exerccio da assessoria de comunicao para msicos est ligado

    diretamente ao andamento das leis de mercado, que envolvem direitos autorais.

    Para se estabelecer qualquer discusso sobre a pirataria e a troca gratuita de

    msicas e arquivos, preciso entender as mudanas que aconteceram na

    tecnologia durante os ltimos anos e o crescimento da internet como ambiente de

    colaborao, interao e compartilhamento. o que trata o prximo captulo.

    6 Traduo da autora: Nenhum fenmeno moderno demonstra melhor a importncia dos recursos

    livres para a inovao e a criatividade do que a Internet. Para aqueles que argumentam que o controle necessrio se a inovao est a ocorrer, e que mais controle render mais inovao, a Internet a mais simples e mais direta resposta (BRAMBILLA, 2005, p. 3).

    7 DISPONVEL em: .

  • 40

    5 REDES SOCIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS A FAVOR DO MSICO

    Antes de prosseguir, importante salientar que os conceitos bsicos sobre

    internet, sua histria e dados tcnicos sobre tecnologia, no sero abordados neste

    trabalho, visto a grande extenso de estudos j realizados sobre o tema. A inteno

    deste captulo abordar as novas ferramentas e tecnologias sob o prisma da

    indstria musical, com a finalidade de apoiar a discusso sobre este mercado e a

    anlise de cases.

    Como foi visto no captulo anterior, a indstria da msica ganhou novas

    formas. A internet reposicionou os artistas e produtores independentes, vistos agora

    como novos e poderosos membros do mercado e gerou ampla discusso sobre a

    questo da propriedade intelectual.

    A construo deste novo cenrio se deve, num primeiro momento,

    popularizao das redes P2P.

    Atualmente ns estamos no meio de outra guerra contra a pirataria. A Internet provocou essa guerra. O compartilhamento de arquivos atravs de sistemas peer-to-peer (P2P) est entre as formas mais eficientes de tecnologia permitidas pela Internet. Usando inteligncia distribuda, sistemas de P2P facilitam a distribuio de contedo de uma maneira que uma gerao atrs era simplesmente inimaginvel (LESSIG, 2005, p. 17).

    Na definio de Andr Passamani, P2P, do ingls peer-to-peer (de par para par),

    refere-se s redes de compartilhamento de arquivos, associadas diverso por seus

    usurios e a cataclismas econnicos por seus crticos (PASSAMANI, 2009, p. 51).

    Segundo Lessig (2005, p. 61), a primeira ferramenta a colocar em evidncia o

    sistema peer-to-peer foi o Napster:

    Lanado em Julho de 1999, o Napster alcanou 10 milhes de usurios em apenas nove meses. Aps 18 meses, haviam cerca de 80 milhes de usurios registrados do sistema.[75] As cortes rapidamente tiraram o Napster do ar, mas outros servios surgiram para ocuparem o vcuo formado. [...] Com os sistemas de P2P voc pode compartilhar suas msicas favoritas com seu melhor amigo ou com os seus 20 mil melhores amigos.

  • 41

    Lessig (2005, p. 61) diz que a facilidade e o baixo custo das redes de

    compartilhamento de arquivos inspirou milhes a apreciarem msica de uma forma

    como jamais fizeram antes. O autor ainda caracteriza os consumidores das

    ferramentas P2P, dividindo-os em quatro tipos:

    a) aqueles que substituem a compra de contedo pela cpia. Esse grupo

    prefere baixar msicas a comprar CDs;

    b) utilizam as ferramentas P2P para a audio de msicas, geralmente

    indicadas por um amigo. Ouvem o MP3 e depois compram o disco. Neste

    caso, para os artistas, o ambiente P2P acaba sendo uma forma de

    comercial gratuito, pois o usurio ouviu o som, normalmente, pela

    indicao de uma pessoa conhecida que no est ganhando nada pela

    divulgao. O saldo final deste compartilhamento pode aumentar as

    compras de msica (LESSIG, 2005, p. 62);

    c) este terceiro tipo de usurio utiliza as redes de compartilhamento de

    arquivos para conseguir materiais sob copyright que no so mais

    vendidos ou que seriam muito caros fora da web. uma boa forma de

    encontrar msicas raras. Para contedo no vendido, isso ainda

    tecnicamente uma violao de copyright, embora j que o dono do

    copyright no est mais vendendo esse contedo, o prejuzo econmico

    zero (LESSIG, 2005, p. 62).

    d) h os que utilizam as redes de compartilhamento para baixarem contedos

    que no esto sob copyright ou cujo dono os disponibilizou de graa.

    Ao mesmo tempo que apresenta cada tipo de usurio dos sistemas P2P,

    Lessig (2005, p. 273) prope solues que mantenham as ferramentas e ajudem o

    mercado. O modelo sugerido pelo autor, baseado nos quatro tipos de usurios

    citados, para a diminuio dos prejuzos causados pelas redes de compartilhamento

    o seguinte:

    A garantias dos diretos do compartilhamento de tipo D; B permisses para compartilhamento legalizado de material do tipo C; no-comercialmente sem custos, e de compartilhamento legalizado de material do tipo C no-comercialmente sob uma taxa baixa fixada por lei; C durante a transio, taxar e compensar os prejuzos comprovadamente causados pelo compartilhamento tipo A.

  • 42

    Estima-se que as redes P2P possuem 885 milhes de arquivos disponveis

    para download, grande parte formada por msicas, contra aproximadamente 6

    milhes de faixas em sites licenciados para venda online de msica digital (LEO;

    NAKANO, 2009).

    Embora ainda hegemnica, a estrutura de liderana imposta pelas gravadoras

    no a mesma de dcadas atrs. De acordo com Chris Anderson (2006, p. 5),

    ainda existe demanda para a cultura de massa, mas esse j no mais o nico

    mercado. Os hits competem com inmeros mercados de nicho, de qualquer

    tamanho. E os consumidores exigem cada vez mais opes. O escritor de A Cauda

    Longa constata um novo mercado, formado por nichos, onde o consumo de cultura

    fragmentado e segmentado. Diz o autor: O novo mercado de nichos no est

    substituindo o tradicional mercado de hits, apenas; pela primeira vez, os dois esto

    dividindo o palco (ANDERSON, 2006, p. 6).

    Uma das principais caractersticas do mercado de nicho a segmentao do

    pblico do artista:

    O que rudo para uma pessoa, sinal para outra. Se um produtor pretender que algo seja absolutamente certo para determinado pblico, a mesma coisa ser, por definio, errada para outro pblico. As concesses necessrias para que algo seja atraente para todos significa quase com certeza que a coisa no ser completamente atraente para ningum motivo pelo qual chamado de mnimo denominador comum (ANDERSON, 2006, p. 82).

    Chris Anderson aponta o iPod, MP3 player lanado pela Apple, em 2001,

    como o primeiro dispositivo porttil de msica digital indispensvel. Embora tenham

    existido outros aparelhos com funes parecidas, o iPod destacou-se por sua

    simplicidade e capacidade de armazenar at sessenta gigabytes, permitindo com

    que sejam armazenadas at dez mil msicas. Essa inveno da Apple s fomentou

    o compartilhamento de msicas na internet. As pessoas podiam ter o estoque de

    pequenas lojas de msica num nico aparelho com 10 cm de comprimento e 5 cm

    de largura e menos de 2,5 cm de espessura, a custo zero e ainda tinham uma

    imensa variedade de opes para baixar na internet (ANDERSON, 2006, p. 32).

    O surgimento desses novos caminhos para se consumir msica afetou as

    vendas do mercado fsico de CDs.

  • 43

    Apesar dos resultados controversos sobre o impacto do MP3, se prejudica ou ajuda a indstria, ele altera o modo como os discos so vendidos. O pblico que possui poder aquisitivo para ter um computador acaba por selecionar melhor a compra, utilizando seus recursos apenas em sons que so do seu real agrado. Para as camadas mais pobres da populao, o CD original e seu alto preo so um sonho fora da realidade de seu oramento. A verso pirata de R$ 3,00 acaba ganhando espao (PASE, 2004, p. 157).

    O pblico no mudou apenas no comportamento de consumo, mas na forma

    de interagir com o ambiente online.

    Diante de uma obra multimdia em CD-ROM, ou diante das home pages da internet, no nos colocamos mais como leitores de um livro ou espectadores das formas clssicas do espetculo. Agora, devemos, para que haja acontecimento, ver e interagir, simultaneamente, com a obra. Este agir se d atravs da interatividade digital (clicar em cones os mais diversos). [...] Podemos, tambm, manipular cada uma das formas mediticas vontade, e de forma independente (imagem, som e texto). Tornamo-nos, no nos leitores, no sentido estrito, mas atores, navegadores (LEMOS, 2007, p. 70).

    A interatividade digital descrita por Lemos tambm tema dos estudos de

    Alex Primo (2009), um pesquisador dessa rea que se preocupa em deixar bem

    clara a definio dos diversos tipos de interatividade. Segundo ele, as mdias

    tradicionais como jornais, revistas e emissoras de TV e rdio j promovem um tipo

    de interao, contudo, ele define dois grandes grupos para os processos interativos

    mediados por computador, ou seja, no ambiente online, so eles:

    a) Interao reativa

    Caracteriza-se pelos processos de ao e reao tanto pelo intercambio de

    banco de dados como uma troca de mensagens via SMS (mensagens de texto pelo

    celular) ou conversas programas como o MSN. Tambm se caracteriza por

    alternativas oferecidas a priori, como num software de computador.

  • 44

    b) Interao mtua

    O ambiente principal dessa interao a web 2.0, alicerada pela troca

    colaborativa de ideias e a construo cooperativa de um comum.

    Das interatividades descritas por Primo, a que se encaixa no contexto deste

    trabalho a mtua, caracterizada pela web 2.0 e sites colaborativos, como o

    caso das redes de relacionamento.

    O blogueiro e estudioso das mdias sociais Juliano Spyer (2009), em artigo

    publicado em seu site, diz que:

    Atualmente, Web 2.0 o termo mais difundido dentro da indstria de tecnologia como sinnimo de sites colaborativos. [...] e refere a uma relao de caractersticas que supostamente diferenciam novos sites daqueles que naufragaram com o estouro da Bolha da Internet na virada do sculo 20 para o 21.

    O crescimento das formas de interao dos internautas, em sites cada vez

    mais complexos e dinmicos na chamada web 2.0, desencadeou o surgimento de

    novos portais interativos, construdos pelos prprios usurios, mais conhecidos

    como redes de relacionamento ou redes sociais.

    5.1 REDES DE RELACIONAMENTO INVADEM A WEB

    Para Burge e Comm (2009), o termo mdia social muito abrangente,

    podendo ser interpretado por diversas maneiras, embora, os autores achem um jeito

    simples e direto para defini-lo: Talvez a melhor definio para mdia social seja,

    porm, o contedo que foi criado por seu pblico.

    Embora falando com outro termo, Raquel Recuero fala sobre o mesmo

    assunto:

  • 45

    Rede social gente, interao, troca social. um grupo de pessoas, compreendido atravs de uma metfora de estrutura, a estrutura de rede. Os ns da rede representam cada indivduo e suas conexes, os laos sociais que compem os grupos. Esses laos so ampliados, complexificados e modificados a cada nova pessoa que conhecemos e interagimos (RECUERO, 2009b, p. 25).

    Dessa forma, Raquel Recuero (2009b) resume o conceito de redes sociais.

    Para a autora, esses laos sociais promovidos por um ambiente de comum acesso e

    troca de informaes gera o que ela chama de capital social, ou seja, valores

    diferentes que do voz s pessoas que participam e fazem com que cada uma delas

    tenha uma importncia especfica para a formao de uma rede social.

    Contudo, qual o valor deste ambiente para o sucesso de um artista da

    msica? De acordo com Raquel Recuero, uma quantidade grande de amigos no

    Orkut pode trazer visibilidade e transpassar essa popularidade para o espao off-

    line. Assim, pessoas podem ser influenciadas pelo nmero alto de amigos que o

    artista tem, possibilitando a impresso de que ele uma figura procurada, desejada

    e admirada. Diz Recuero (2009a, p. 108): Outro valor dos sites de redes sociais

    est relacionado ao gerenciamento dos grupos sociais. Artistas podem comandar

    suas comunidades e estabelecer um determinado controle deste ambiente, formado

    em grande parte por seus fs.

    O uso de uma rede social por msicos capacita o registro de dados

    relacionados audincia. Os nmeros de pessoas que interagem com o artista na

    rede podem influenciar no grau de popularidade do artista. Contudo, para Recuero

    (2009b), a popularidade pode ser boa como tambm ruim, dependendo da forma

    com que o artista usa as redes de relacionamento e estrutura sua marca neste

    ambiente. Tambm no a reputao que estipula o grau de autoridade do usurio,

    neste caso, artista presente na rede.

    Contudo, para uma divulgao efetiva de um artista na web, no basta o

    esforo do artista, mas sim de todos os fs que ele possui na rede, o pblico

    internauta. Para Adriana Amaral (2009, p. 97), existem dois tipos de fs com relao

    a experincias online

  • 46

    a) o f-colecionador: aquele que obtm vdeos, fotos e imagens raras do artista e os compartilha na web, principalmente, por meio de sites de relacionamento ou redes de compartilhamento;

    b) o f-produtor: aquele que se torna tambm parte do cenrio produzindo material prprio a partir de suas referncias musicais.

    Para os fs compartilharem arquivos ou contedos sobre os artistas na

    internet, existem inmeros sites de redes de relacionamento no Brasil e no mundo

    disponveis. Contudo, para este trabalho, sero contextualizados com maior

    profundidade apenas os que serviram como objeto de estudo para a anlise, ou

    seja, Orkut, MySpace, e YouTube.

    5.2.1 Orkut

    No Brasil, um dos sites de maior acesso, que possibilita este tipo de

    relacionamento virtual, o Orkut. Trata-se de uma rede social com grande

    popularidade entre os brasileiros, visto que eles formam mais da metade do nmero

    total de usurios do site. Dados presentes no prprio endereo eletrnico8

    identificam que 51,16% do nmero total de usurios do Orkut so brasileiros, contra

    19,89% formados por indianos e 17,02% norte-americanos, alm de uma quantidade

    no significativa de membros de outros pases como Paquisto, Paraguai e Reino

    Unido que no passam do 1% cada. Esses nmeros revelam o gosto do brasileiro

    por esse tipo de site.

    Segundo Recuero (2009a), esta rede foi criada pelo aluno Orkut Buyukkokten

    da Universidade de Stanford e funcionrio do Google, empresa hoje detentora do

    site. A partir de uma verso embrionria, chamada Club Nexus, criada nas horas

    vagas, em 2001, surgiu o Orkut. Entre as especificidades deste site, est a

    possibilidade da criao de perfis, de comunidades e a interao entre os membros

    de interesse em comum por meio de comentrios, mensagens e os chamados

    depoimentos. Hoje, tambm possvel colocar vdeos nos perfis. Recuero (2009a,

    p. 166), explica o mecanismo:

    8 DISPONVEL em: .

  • 47

    O Orkut funciona basicamente atravs de perfis e comunidades. Os perfis so criados pelas pessoas ao se cadastrar, que indicam tambm quem so seus amigos (onde aparece a rede social conectada ao ator). As comunidades so criadas pelos indivduos e podem agregar grupos, funcionando como fruns, com tpicos (nova pasta de assunto) e mensagens (que ficam dentro da pasta do assunto).

    Embora o seu principal concorrente, o Facebook, esteja crescendo em solo

    latino-americano, como aponta Recuero (2009a), o Orkut ainda supera o site norte-

    americano na quantidade de usurios cadastrados. De acordo com a consultoria

    ComScore9, o Orkut teve 22,8 milhes de usurios no Brasil cadastrados at

    setembro de 2009, contra apenas 1,8 milho do Facebook. Entretanto, a audincia

    do concorrente aumentou 407% em 12 meses, sendo que, no mesmo perodo, o

    Orkut avanou somente 10%. Ainda assim, este trabalho foca no Orkut pela sua

    hegemonia entre a populao brasileira, ainda que ameaada pela concorrncia.

    5.2.2 Myspace

    O MySpace a principal rede social analisada neste trabalho, por ser o

    bero do sucesso de Mallu Magalhes. Essa rede surgiu em 2003, com a

    possibilidade da construo de perfis, blogs, grupos e fotos, msica e vdeo, sendo o

    site mais popular nos Estados Unidos at 2008, quando perdeu a liderana para o

    Facebook.

    Como foi visto no segundo captulo, depois da popularizao das redes de

    compartilhamento P2P, as redes de relacionamento de popularizaram, inclusive, o

    MySpace, que se tornou uma forte arma para os msicos pela possibilidade de

    inserir msicas no site e disponibiliz-las para os internautas ouvirem e fazerem

    downloads gratuitos.

    9 DISPONVEL em: .

  • 48

    Uma das apropriaes mais notveis do sistema foi seu uso por bandas para divulgar gravaes e composies e sua simbiose com os fs (Boyd & Ellison, 2007). Por conta disso, o sistema passou a ser bastante associado produo musical, inclusive, no Brasil (RECUERO, 2009a, p. 173).

    O MySpace continua sendo uma rede de massa, mesmo sendo to forte em

    um mercado especfico como o da msica. A popularidade do site tanta que um a

    cada quatro norte-americanos tem conta no MySpace, sendo que no Reino Unido h

    tantos indivduos nessa rede de relacionamentos quanto os que possuem ces de

    estimao (COMM; BURGE, 2009). Segundo Burge e Comm (2009, p. 4) O site

    gera 14 bilhes de comentrios de usurios, 10 bilhes de contatos de amizade e

    insero de 8 milhes de imagens todo o dia.

    5.2.3 YouTube

    O YouTube foi fundado em 2005 e desde ento lder no setor de vdeos on-

    line. Neste site, os internautas podem assistir e compartilhar vdeos com toda a web.

    tambm possvel enviar e compartilhar os vdeos por meio de celulares, blogs e e-

    mail. Um dos pontos positivos deste site que o internauta no precisa estar

    logado para acessar os vdeos. Em novembro de 2006, depois de um ano de seu

    lanamento, o YouTube foi comprado pelo Google Inc. em uma das mais faladas

    aquisies at o momento, o que gerou ainda mais popularidade ao canal e

    parcerias de contedo, posteriormente, com grandes empresas, inclusive, do setor

    musical como Universal Music Group, Sony Music Group e Warner Music Group.

    Contudo, no preciso ser de uma gravadora para uma banda ter seu vdeo no

    YouTube. Basta ter um login de acesso e enviar vdeos para o site, divulgar e torcer

    para fazer sucesso.10

    De acordo com texto do prprio site, cada vez mais pessoas esto

    capturando momentos especiais em vdeo e o YouTube est cuidando de

    transform-las nos criadores da televiso do futuro.

    10 YouTube. Disponvel em: .

  • 49

    Os nmeros demonstram que audincia no problema para essa televiso

    do futuro. De acordo com Burge e Comm (2009, p. 5), o YouTube atraiu mais de 60

    milhes de visitantes nicos a cada ms. Eles se sintonizaram s dez horas de

    filmagem de vdeo inseridas no site a cada minuto.

    5.2.4 Outras redes

    Depois de apresentadas algumas das redes sociais mais populares do Brasil,

    pode-se ver que elas no so iguais. Algumas so s compostas de conexes,

    outras, de conversas, outras ainda, de uma mistura de ambos (RECUERO, 2009b,

    p. 25).

    Mesmo diferentes todas as redes sociais se mostram importantes para a

    comunicao miditica e interpessoal, pois segmentam mercados em comunidades

    e grupos do mesmo interesse. Isso faz com que se formem nichos, como o caso

    do mercado da msica, e que eles encontrem um ambiente prprio para prosperar,

    seja nos negcios como tambm no relacionamento com outros indivduos, tanto por

    dilogos pela troca de mensagens como fruns de discusso com pessoas dos

    mesmos interesses.

    Embora no faam parte da anlise comparativa deste trabalho, as redes

    sociais que sero citadas a seguir tambm esto sendo usadas pelo mercado da

    msica para a divulgao de artistas:

    a) Blogs

    O nome vem da contrao de duas palavras em ingls, web, de world wide

    web, e log, que pode ser traduzida como registro.11 Para Edney Souza (2009,

    p. 31), uma das vantagens das ferramentas de blog permitir que os usurios

    publiquem seu contedo sem a necessidade de saber como so construdas

    pginas na internet, ou seja, sem conhecimento tcnico especializado.Na falta de

    dinheiro, os blogs tornam-se uma possibilidade eficaz para msicos construrem uma

    11 DISPONVEL em: .

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    pgina diferenciada na web, mantendo um relacionamento com seus fs por meio da

    rea de comentrios que essa rede oferece.

    b) Twitter

    O Twitter o mais popular microblog do mundo. um site que se diferencia

    das demais redes por sua caracterstica de restringir contedo, exigindo criatividade

    dos seus usurios, pois permite que qualquer pessoa envie uma mensagem de texto

    com no mais que 140 caracteres. O Twitter mudou a pergunta que aparece em

    cima da caixa de mensagens, ou twittadas, como so chamadas pelos usurios,

    para refletir melhor o que o servio se tornou, segundo o site.12 A pergunta era O

    que voc est fazendo? e agora foi amplificada para O que est acontecendo?.

    Muitos msicos esto usando o Twitter para se aproximar dos seus fs, com

    promoes, alm de contar suas rotinas de shows, gravaes, etc..

    c) Facebook

    Tem um sistema muito parecido com o Orkut, seu maior concorrente. Essa

    rede, segundo Burge e Comm (2009), suporta mais de 60 milhes de usurios

    ativos, ou seja, pessoas que usam o perfil pelo menos uma vez por semana. A

    mdia de cadastrados no Facebook de 250 mil novos membros. Mais de 65

    bilhes de pessoas visitam o Facebook todo ms, sendo que mais da metade dos

    usurios volta ao site todo dia.

    d) Fotolog

    uma rede que permite que o usurio publique fotografias acompanhadas de

    texto e receba comentrios de outros membros do site.

    Segundo Recuero (2009a, p. 169), em setembro de 2008,

    12 DISPONVEL em: .

  • 51

    o Fotolog foi o segundo site onde os brasileiros passam mais tempo (22,1 minutos, em mdia), ficando atrs apenas do Orkut. Hoje em dia, o sistema tem mais de 22 milhes