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TCNICA EXPANDIDA PARA VIOLO NO BRASIL: UMA ABORDAGEM EM OBRAS DE ARTHUR KAMPELA
Mario da Silva Junior
Abstract An overview of the classical guitar output with diversified languages in Brazil. Assumptions of extended technique used in works by Arthur Kampela, and its relationship with high complexity work. palavras-chave: violo de concerto msica contempornea brasileira tcnica expandida
INTRODUO
O presente trabalho tm como objeto dar uma abordagem reflexiva sobre a
obras Percussion Study 1 de Arthur Kampela pela aproximao interpretativa com a
mesma e por ser representativa da tcnica expandida para violo no Brasil. Como a
pesquisa est servindo para desenvolvimento de tese de um Doutorado em Teoria
Composicional (Unicamp), mais do que analisar, ir investigar o mbito das escrituras
instrumentais do compositor dentro do idiomatismo do violo.
As obras de Arthur Kampela esto sincronizadas com as tendncias das
dcadas de 1980-90 principalmente relacionadas s produes de Elliot Carter e Brian
Ferneyhough. Um aspecto da obra de Ferneyhough encontrado em Kampela diz respeito a
forma (no-forma) e repetio tambm bastante discutido no mbito da alta complexidade.
Citamos abaixo, um trecho do Percussion Study 1 que poder estender discusses
relacionadas a estes conceitos. Quatro origens sonoras so percebidas neste trecho. Duas
delas pela mo direita, na qual unhas dos dedos ima (indicador, mdio, anular) percutem a
lateral inferior, promovendo sons que se diferenciam das percusses pela unha do p
(polegar) no tampo (Ex. 1, cc-43). E outras duas pela mo esquerda, na qual as notas em
martelato so intercaladas pela ligadura da nota mi. Esse processo nos remete um aspecto
das sonoridades de procedimentos percussivos de madeira do Flamenco como castanhola e
sapateado nos dando um contexto de repetio caleidoscpica.
Ex. 1: Kampela, Arthur. Percussion Study 1 (cc. 43)
Silvio Ferraz discute sobre a ideia do informal e o automtico na obra tudes
Transcendentales de Brian Ferneyrough que para transformar o material so utilizados
diversos procedimentos que envolvem diretamente a repetio e Ferneyhough reala em
seus rascunhos a ideia de repetio caleidoscpica, de repetio literal e repetio em
negativo (do diferente) (FERRAZ, p. 229-230). Kampela ainda afirma que em sua obra
buscou quebrar barreiras, desenvolvendo novas extenses tcnicas para instrumentos
acsticos.
Carter em Changes para violo solo se utiliza de sua Alterao Rtmica Menor,
que consiste em conscientemente gerar uma distoro no ritmo. Tal procedimento,
encontrado em Kampela, frequentemente apresentado em escritas de quilteras aninhadas
nos seus Percussion Studies. Todavia, a quilteras aninhadas em Kampela nos do uma
sensao auditiva de simultaneidade, por saber encaixar muito bem pela intimidade
instrumental. No Exemplo 2 de Percussion Study 2 o jogo ambguo se d pela intercalao
de cordas soltas e presas (a nota Re 3 vezes corda solta).
Ex. 2 KAMPELA, Arthur. Percussion Study 2, c-5.
Kampela soube utilizar as estticas associado ao seu domnio do instrumento e
de sua experincia com a msica popular contempornea da dcada de 1980-90. Soube
aproveitar as potencialidades articulatrias do violo, exploradas quase que em sua
totalidade. Sonoridades so extradas desde aes com a mo direita nas cordas e no tampo
com sinais utilizados pela escrita da percusso, bem como a mo esquerda que ir atuar,
em certos momentos, tal qual um arpista dedilhando a corda (Ex. 3), sem ao da mo
direita:
Ex. 3: Kampela, Arthur. Percussion Study 1 (cc.48)
Ou ainda, como um percussionista batendo o dedo contra as cordas do
instrumento no brao e tampo (Ex 4, cc-82).
Ex. 4: Kampela, Arthur. Percussion Study 1 (cc.82)
Esta forma peculiar de performance e escrita usando extended technique
(tcnica expandida) denominada tapping technique pelo compositor. A tcnica do tapa
seria um conjunto de padres idiomticos e sequenciais. Digo padres idiomticos, porque
nem sempre so tcnicas expandidas, mas que procedimentos em acordo com
determinadas escritas, nos do a sensao auditiva de que est sendo empregado algo no-
tradicional na sonoridade. Porm, a organizao do material que nos ilude, do ponto de
vista sonoro, a crer como tcnica expandida. Adicionamos o fato da virtuosidade
instrumental contribuir para essa iluso sonora diversificada e difusa.
No comeo do Percussion Study 1 (Ex. 5), embora do ponto de vista da escuta
o incio parea uma inovao sonora, somente iremos considerar tcnica expandida 4 notas
pontuais a seguir:
Ex.5 : Kampela, Arthur. Percussion Study 1 (cc.1-3)
O trecho consiste de 26 notas, sendo que somente 4 (quatro) grafias so
consideradas de fato, tcnica expandida:
c-3 1a semnima, 1o Tempo percusso com dedo da ME (bi-tom)
c-3 3a fusa, 4o Tempo percusso tampo superior com MD
c-3 4a fusa, 4o Tempo percusso com dedo da ME
c-3 1a colcheia, 4o Tempo (anacruse) Pizz. a la Bartok com p da MD.
Tal estatstica muito frequente no caput de obras para violo do compositor.
Continuando nosso raciocnio sobre as sonoridades intrnsecas do instrumento, avaliamos
outros exemplos em Percussion Study 1. Quando se puxa (mo esquerda) e pulsa com
trmulo contnuo e assimtrico (mo direita) (Ex. 6) a corda para fora da escala uma
textura ruidosa de massa sonora surge. Em funo dessa ao de empurrar, que ocorre em
Percussion Study 1, a freqncia alterada para cima e a escuta das notas em staccatto,
aparentemente simultneas (Ex. 7), enriquecem acusticamente, diversificando a palheta
de timbres e rudos.
Ex. 6 e 7: Kampela, Arthur. Percussion Study 1
Voltando aos procedimentos idiomticos, e considerando estatsticas razoveis
de emprego da tcnica expandida, atentamos novamente para o fato da sonoridade
tradicional empregada. Kampela sempre procurou adequar padres do repertrio
violonstico inseridos na sua amlgama criativa. Os mesmos Exemplos 6 e 7 esto
relacionados tcnica do trmulo, um artifcio usado pelo violonista para simular o canto
de notas longas e suas propriedades de crescendo e sustentao. Comumente, o
procedimento atingido usando o dedo p (polegar da MD) como responsvel pelo tecido
harmnico, enquanto que dedos ima em repetio (Ex.8) se alternam para sutilmente
dissimular essa sustentabilidade e alternncia de dinmica no transcorrer meldico:
Ex. 8: TARREGA, Francisco. Recuerdos de La Alhambra, cc-1-2.
Outro padro estaria relacionado a tcnicas arpegiais. Na comparao (Ex.9),
Villa-Lobos utiliza para desenvolver o Estudo 1 de acordo com padres de progresso
harmnica do romantismo. Instrumentos harmnicos sem sustentao sonora ps-ataque,
usam a repetio para reforar, variar e desenvolver a escuta.
Ex.9: VILLA-LOBOS, Heitor. Estudo 1
Kampela utiliza esse padro como transio sonora para a diversidade
percussiva e de rudos das sees antecedente e consequente, um descanso auditivo entre
sees. No h emprego de tcnica expandida e sim organizao atonal (serial) e rica em
harmnicos, fruto da combinao cordas soltas e ligados (Ex. 10).
Ex. 10: KAMPELA, Arthur. Percussion Study 1. C-9
A textura entre o som da corda deslizada para fora em glissandos (6a. corda
som no tradicional) simultnea ao som tradicional (5a. corda) (Ex. 11) aplica frequncias
ricas e imprevisveis que trazem outras informaes sonoras em virtude da diferena de
material das cordas (6a, 5a, 4a metal ; 3a 2a 1a - nylon):
Ex. 11: Kampela, Arthur. Percussion Study 1
Atravs da integrao da percusso ao contexto de sonoridades diversificadas
da obra, a estrutura alcana uma plenitude de possibilidades nos Percussion Studies. O
amlgama textural de rudos com sons definidos representado, na sua maioria, pelo uso
de ligadura de mo esquerda sem nota precedente, alm de pizz. Bartok s com o polegar
na sexta corda intercalados com processos percussivos (Ex. 12, cc-6).
Ex. 12: Kampela, Arthur. Percussion Study 1 (cc.6)
Aps nossas consideraes especifica-tecnico idiossincrticas em relao ao
instrumento empregados por Kampela, vamos agora demonstrar os recursos
composicionais com apoio em trabalhos realizados.
BORTZ, CURY e ADOUR pesquisaram sobre procedimentos composicionais,
desenvolvimento rtmico e orientaes para intrpretes tendo como objeto Arthur
Kampela. O objetivo final era obter um guia que auxiliasse na preparao interpretativa em
virtude da complexidade das obras. Todavia, uma srie de argumentaes sobre as
estruturas composicionais e idiomticas vo surgindo no longo desses textos. Adour
menciona que trechos pontilhistas combinados a diversos procedimentos proporcionam
uma escuta complexa, porm de fcil execuo em funo de sua caracterstica
idiomtica. O pontilhismo est subentendido como uma forma de desorganizao das
texturas. Todas devem ser usadas, porm, devem ser evitadas no sentido de evitar
continuidades texturais. (ADOUR, p. 220). Adicionamos afirmativa de Adour, que o
pontilhismo pressupe um jogo de irregularidades entre a mtrica das sucesses sonoras e
tambm a relao de som e silncio. esse jogo irregular que corrobora nossa tese da
sensao sonora sempre parecer tcnica expandida. Como j havamos comentado antes
sobre quilteras aninhadas comparativamente ao processo de Carter, di