Ludwig Wittgenstein - O Livro Azul

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    L u d w i g W i t t g e n s t e i n

    Ttulo o ri ginal: The Blue and Brown Books

    Basil Blackwell, 1958Edio o ri ginal de Basil Blackwell, Limited

    Traduo de Jorge Mendes

    Reviso de traduo de Dr. Carlos Mon rjo

    Reviso tipogrfica de Artur Lopes Cardoso

    Capa de Edies 70

    Depsito legal n. 53.180/92

    ISBN 972-44-0842-6

    Di re itos rese rv ados para todos os pases de l ngua portuguesa por Edies 70, Lda.

    EDIES 70, LDA . Av. In fante D. Hen ri que, Lote 306 -2 1900 LISBOAApa r tado 8229 1803 LISBOA CODEX

    T e l e f s . 8 5 9 6 3 4 8 / 8 5 9 9 9 3 6 / 8 5 9 8 6 2 3

    Fax 859 86 23

    DISTRIBUIODEL DISTRIBUIDORA DE LIVROS, LDA.

    Av. Infante D. Henrique, Lote 306-2 1900 LISBOA

    Apa r tado 8230 1803 LISBOA CODEXT e l e f s . 8 5 9 6 3 4 8 / 8 5 9 9 9 3 6 / 8 5 9 8 6 2 3

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    DELEGAO DO NORTEDEL DISTRIBUIDORA DE LIVROS, LDA. Rua da Rasa, 173

    4400 VILA NOVA DE GAIATelef. 370 19 13 Fax 370 19 12

    DISTRIBUIO NO BRASIL:EDIES 70, BRASIL, LTDA. Rua So F rancisco Xavier, 224-A, Loja 2 (TIJUCA)

    C EP 20 550 R I O DE JAN EI RO, RJTelef. e Fax 284 29 42 / Telex .. 40385 AMLJ B

    Esta obra est protegida pela Lei. No pode ser rep ro duzida, no todoo u em p a r te, qualquer que seja o m odo util izado, incluindo fotocpia

    e xerocpia, sem prvia auto ri zao do Editor. Qualquer transgresso Leidos D i re itos de Autor ser passvel de procedimento judicial.

    O L I V R O

    AZUL

    edies 70

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    NOTA DO EDITOR PORTUGUS

    O prefcio de R. R., datado de 19 58, foi escrito para

    a primeira edio doLivro Azule do Livro Castanho,

    p u b licados num nico volume pela editora inglesa BasilBlackwell . Deve ser, por isso, entendido como umaintroduo quelas du a s obras.

    Na edio portuguesa, o Livro Azul eo Livro Castanho

    so pub licados separadamente. No enta n to, parec e u - n o s

    importante conservar o prefcio, pois permite ao leitor situaro Livro Azulno percurso seguido por Wi t tgenstein, desde

    a publicao do Tractatusat s Investigaes F ilosficas.

    O Livro Castanhoser brevemente pub licado pela s

    Edies 70.

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    PREFCIO

    Wittgenstein ditou o texto do Livro Azul (embora nolhe desse este nome) aos seus alunos de Cambridge, duranteo ano escolar de 1933-34 e f-lo policopiar. O texto doLivro Castanho foi ditado a dois dos seus alunos (FrancisSkinner e Alice Ambrose) durante o ano de 1934-35. Destetexto, apenas foram feitas trs cpias dactilografadas e eleapenas as mostrou a amigos muito prximos e alunos. Masas pessoas que as pe diram emprestadas fizeram as suas

    prprias cpias, que puseram circular. Se Wittgensteintivesse atribudo um titulo a estes textos ditados, ter-lhes--ia provavelmente cha mado Com entrios Filosficos ou

    Investigaes Filosficas. Mas o primeiro texto tinha umacapa azul e o segundoumacapa castanha e os ttulosactuais derivam do facto de sempre se ter falado delesnestes termos.

    Ele enviou mais tarde um a cpia do Livro Azul a LordRussell, d qual juntou uma nota.

    Caro RussellH cerca de dois anos prometi enviar-lhe um dos

    meus m anuscritos. O que lhe envio hoje no essemanuscrito. Estou aindads voltas com ele e sabeDeu s se alguma vez o virei a publicar, quer na sua

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    totalidade, quer em parte. Mas h dois anos leccioneialguns cursos em Cambridge e, para que os meusalunos pudessem dispor de algum material, ditei-lhesalgumas notas que fiz policopiar. Acabei precisamentede corrigir gralhas e outro tipo de erros, de algu nsexemplares e ocorreu-me que talvez gostasse de terum. Por isso, envio-lho. No minha inteno que

    leia as lies; mas no ca s

    o de no ter nada de melhorpara fazer, ese elas lhe puderem proporcionaralguma satisfao, ficaria, de facto, muito satisfeito.(Penso que difcil compreend-las, visto que muitosaspectos so ap enas aflorados. Elas so destinadasapenas s pe ssoas que seguiram os cursos.) Comoeu disse, se no as ler isso no ter qualquerim p o r t n c i a .

    Sempre seu

    Ludwig Wittgenstein

    OLivro Azul no era de facto mais do que isso: umconjunto de notas. OLivro Casta nho era bastante diferentee Wittgenstein encarou-o, durante algum tempo, como oesboo de uma obra a publicar. Mais do que uma vez,iniciou uma verso corrigida, em lngua alem. A ltimatentativa foi feita em Agosto de 1936. Com algumas

    peque nas altera es e ins er es , e la foi levada at ao in cio

    da discusso sobre a aco voluntria. Ele escreveu e ntoem traos fortes, Dieser ganze "Versuch einer Uma rbei-tung" vom (Anfang) bis hierher ist nichts wert. ((Do incioao fim, esta tentativa de reviso, no tem q ualquer valor.)Foi nessa altura que comeou o que viria a ser (com

    pequenas revises) a primeira parte dasInvestigaesFilosficas.

    Duvido que ele tivesse publicado oLivro Ca s t a n h o ,acontecesse o que acontecesse, em ingls, e todos aqueles

    que so capazes de ler a sua obra em alemo perceberoporqu. Em ingl s, o se u est ilo , por ve ze s, de sa je itad oe apresenta muitos germanismos. M as mantivmo-lo assim,

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    excepo feita a um pequeno nmero de casos em que osignificado era desfigurado e a correco bvia. O quedamos aqui d estampa s o notas que ele ditou aos seusalunos e um rascunh o para seu prprio uso; nada mais.

    Para Wittgenstein, a filosofia era um mtodo de inves-tigao, mas a sua maneira de conceber o m todo estavaa muda r. Podemos apercebe r-nos disso, por exemplo, nomodo como ele utiliza a noo de jogos de linguagem.Costumava introduzi-los para afastar a ideia de uma formanecessria da linguagem. Esta foi, pelo menos, uma das

    primeiras utilizaes que deles fez. muitas vezes tilimaginar diferentes jogos de linguagem. A princpio eleescrevia, s vezes, diferentes formas de linguagem, comose as duas expresses fossem equivalentes; embora o tenhacorrigido por vezes em verses mais recentes. NoLivroAzul ele fala umas vezes d e imaginar diferentes jogos delinguagem, outras vezes de imaginar diferentesnotaes

    como se isso constitusse o jogo. E parece no terdistinguido claramente a capacidade de exprimir, dacapacidade de compreender uma notao.

    A compreenso do que as pessoas querem dizer pode,segundo ele, ser alcanada, por exemplo, se algum explicaros sentidos das palavras. Como se compreender eexplicar fossem de certo modo correlativos. Mas, noLivro Ca s t a n h o , ele reala que a aprendizagem de um jogode linguagem anterior a isso, e que o que se mostra

    necessrio , no a explicao, mas o t r e i n o comparvelao treino que se daria a um animal. Isto est de acordocom a ideia, por ele realada nasInvestigaes, de que

    podem os fa lar e comp reen de r o qu e di to sabendo o qu esignifica sem qu e isso queira dizer que podem os dizero que significa, nem to pouco que seja isso aquilo queaprendemos. Ele afirma tambm a(Investigaes, par. 32)que Santo Agostinho descreve a aprendizagem da lingua-gem humana como se a criana chegasse a uma terradesconhecida cuja lngua no compreendesse: isto comose ela j tivesse uma lngua, mas no e sta. Poder-se-iaverificar se a criana compreende o francs perguntando-

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    -lhe o que significam as expresses. Mas no destamaneira que pode mos saber se um a criana sabe falar, eno isso o que ela aprende quando aprende a falar.

    Quando oLivro Castanho fala de diferentes jogos delinguagem como sistemas de comunicao(Systememenschlicher Verstndigung), no se trata simplesmente denotaes diferentes. Introduz-se, assim, uma noo decompreenso, e da relao entre compreenso e linguagem,que no tem qualque r realce noLivro Azul. Wittgensteininsiste, por exemplo, noLivro Castanho no facto de acompreenso no ser uma coisa nica; ela de esp ciesto diferentes quanto os prprios jogos de linguagem.Poderamos da concluir que, quando imaginamos diferen-tes jogos de linguagem , no estamos a imaginar partes ou

    partes pos sve is de um sistema gera l d a lin guagem.OLivro Azul menos claro a este respeito. Na pgina

    47 ele afirma que o estudo dos jogos de linguagem o

    estudo de formas primitivas da linguagem ou de linguagensprimitiva s . M as de pois prosseg ue dize nd o qu e se pre ten-demos estudar os problemas da verdade e da falsidade, doacordo e desacordo de prop osies com a realidade, danatureza da assero, da suposio e da interrogao,teremos toda a vantagem em examinar as formas primitivasde linguagem em qu e estas formas de pensamento surgem,sem o pano de fundo perturbador de processos de pen-samento muito complicados. Quando examinamos essas

    fo rm as simples de lin guag em, a n voa menta l q ue pareceencobrir o uso habitual da linguagem desaparece. Des-cobrimos actividades, reaces, qu e so ntidas e transpa-rentes. Por outro lado, reconhecemos, nestes processossimples, formas de linguagem que no diferem essencial-mente das nossas formas mais complicadas. Apercebemo--nos da possibilidade de construir as formas complicadas,

    pela adi o gradu al de no va s form as a par tir da s form asprimit ivas .

    Esta passagem quase parece indicar que tentamos forne-

    cer algo de semelhante a uma anlise da nossa linguagemvulgar. Como se pretendssemos descobrir algo que se

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    passa com a nossa ling ua ge m qu an do a fa lamos, m as qu eno podem os perceber at que tenhamos adoptado estemtodo de atravessar a nvoa que a e ncobre. Como se anatureza da assero, da suposio e da interrogao

    fosse ala m esma e t ivssemos descoberto prec isamente um amaneira de a tornar transparente. OLivro Castanho,

    porm , neg a essa persp ec tiva e por isso qu e Wittg en ste ininsiste af no facto de que no considera os jogos del inguagem qu e descrevemos como partes incompletas deurna linguagem, mas como linguage ns completas. De talmodo que, p or exemplo, certas funes gramaticais numal inguagem no teriam qualquer equivalente numa outralinguagem; e o acordo e desacordo com a realidadeseriam algo de diferente em diferentes linguagens demodo que o seu estudo numa dada linguage m pouco nos

    poder eluc idar sobre essa re lao nu ma ou tra lin gu ag em .Essa a razo que o leva a perguntar noLivro Castanho

    se o sentido da palavra Tijolo o mesmo numalinguagem primitiva e na nossa; o que est de acordo coma sua ideia de que a l inguagem mais simples no uma

    fo rm a incomple ta da lin guag em mais complic ada . A di s-cusso, sobre se devem os ou no considerar Tijolo comouma frase elptica uma parte importante da sua explicaodo que so diferentes jogos de linguagem. Mas noencontramos sequer uma antecipao dessa discusso no ,Livro Azul.

    Num dos livros de apontamentos de Wittgenstein encon-tramos um come ntrio sobre os jogos de lingua gem, que

    fo i p rova ve lm ente escrito no incio de 19 34. Su speito queseja posterior d passagem da pg ina, que citei anterior-mente; em todo o caso, diferente. We nn ich bestimmteeinfache Sprachspiele beschreibe, so geschieht es nicht, ummit ihnen nach und nach die Vorgnge de r ausgebildetenSprache oder des Denkens aufzubauen, was nur zuUngerechtigkeiten fhrt (Nicod und Russell), sondem ichstelle die Spiele als solche hin, und lasse sie ihre aufklren-

    de Wirkung au f die besonderen Probleme ausstrahlen.(Quando descrevo certos jogos simples de linguagem, no

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    o fao com o propsito de construir gradualmente, a partirdeles, os processos da nossa linguagem desenvolvida oudo pensamento o que apenas pode conduzir a erros (NicodeRussell). Limito-me a expor os jogos tal como so, e adeix-los lanar a sua luz sobre os problemas parti-culares.)

    Eis, segundo penso, uma boa descrio do mtodoaplicado na primeira parte do Livro C a s t a n h o . Mas tambmse evidencia a grande diferena entre oLivro CastanhoeasInvestigaes.

    NoLivro Castanho a exposio dos diferentes jogos delinguagem no se apresenta directamente como u ma dis-cusso de problemas filosficos particulares, embora sedestine a e sclarec-los. Ela torna claros vrios aspectosda linguagem, em particular aspectos que muitas vezesnos escapam em virtude, precisamente, das inclinaes queencontram a sua expresso mais nftida nos problemas da

    fil osof ia . A disc uss o su gere, de ste mod o, onde su rg em asdificuldades que d o origem a esses p roblemas.

    No que ele nos diz, por exemplo, do verbo poder eda relao deste corn a viso do que comum, levan-ta-se a questo do que se aprende qu ando se aprende alinguagem; ou do que se sabe quando se sabe o quealgo significa. Mas tambm se levanta a questo sobreo que significaria perguntar comopode a linguagemser desenvolvida dsso ainda tem sentido? Ainda se

    est a falar, ou trata-se de uma algaraviada incompre-ensvel? E isto pode conduzir d questo sobre o que po-de ser dito, ou ainda, sobre como poderamos saber quese tratava de uma proposio; ou o que uma pro-

    posio, ou o que a linguagem. A maneira comoWittgenstein descreve aqui os jogos de linguagem desti-na-se a mostrar que no se obrigado a levantar estasquestes, e que s-lo representaria um equvoco. Mas o

    problem a reside em no pode rm os de ixa r d e nos interroga rsobre o que leva a que as pessoas b faam constantemente.AsInvestigaes so, no que respeita a este assunto,diferentes.

    Os jogos de linguagem no so a (nasInves ti gaes)menos ainda que noLivro Ca s tanho estdios na exposiode um a linguagem comp licada. Mas eles so estpidos deuma discusso que se orienta para a grande questosobre o que a linguagem (par. 65).

    Wittgenstein introdu-los nasInves ti gaes e tambmno Livro Castanho p ara esclarecer o problema da relao

    entre as palavras e aquilo que elas representam. Mas nasInvestigaes ele est interessado na concep o filosficado sentido que encontramos em Santo Agostinho, e mostraque esta a expresso de uma tendncia que se manifestamuito claramente na teoria dos nomes prprios, de ton

    pon to de vista l g ico, qu e su stenta que os n icos nom esautnticos so os demonstrativos isto e aquilo. Ele chamaa isto uma tendncia de sublimar a lgica da nossalinguagem (die Logik unserer Sprache zu sublimieren)(par. 38) e m parte porque, em comparao com os nomes

    prprios do ponto de vista lgico, tudo o resto a que sechama nom e -o apenas num sentido inexacto e aproxi-mado. E esta tendncia que leva a que se fale de umanatureza ltima da linguagem, ou de uma gramticalgicamente correcta. Mas, por que motivo cedemos a estatendncia? A resposta no simples, mas W ittgenstein esbo-a uma resposta passando d discusso das noes desimples e complexo e da ideia de anlise lgica. (Eleno faz isto noLivro Castanhoonde, admitindo que o

    pretendido era lanar luz sobre o funcionamento dal inguagem, tal seria desnecessrio.)Toda a ideia de um a anlise lgica da linguage m, ou

    de uma anlise lgica das proposies, estranha econfusa; e ao expor os seus jogos de linguagem, Wittgen-stein no se propunha de todo levar a cabo uma tal anlise.O facto de os considerarmos linguagens mais p rimitivasou mais simples, no significa que eles revelem algo desemelhante aos elementos que devem estar presentes numal inguagem m ais complicada. (Cf. Inves tigaes,par. 64.)Eles so linguagens diferentes no elementos ou aspectosda Linguagem. Mas nesse caso poder-se-ia pretender

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    saber o que existe neles, que nos leva a afirmar que s otodos linguagens. O qu e que, de facto, faz que algo sejauma linguagem? Esta a grande questo (par. 65) sobrea natureza da linguagem ou da proposio, que se ocultou

    por de trs de toda s as co nside ra es anterio res.Poder-se-ia mesmo dizer que a discusso, at passa-

    gem referida dasInvestigaes, tinha unicamente como

    objectivo a tentativa de revelar o sentido do tratame nto dosproblemas fi los ficos por re fe r nc ia a jogos de ling uag em.Ou melhor ainda: o de mostrar como o uso de jogos delinguagem pode tornar claro o que um problema

    fi los fi co .NoLivro Castanho, por ou tro lado, Wittgens te in passa

    da enum erao de exemplos de tipos diferentes de deno-minao, a uma discusso dos diversos processos decomparao com a realidade. Esta ainda, sem dvida,

    uma d iscusso acerca das relaes entre as palavras eaquilo que elas representam. Mas aqui, ele no se esforapo r revelar a tendncia, qu e se ocul ta por detrs da mane irade encarar as palavras, que tantos problem as originou em

    fi loso fia.NasInvestigaes, ele prossegue em seguida com uma

    discusso das relaes entre a lgica e a linguage m, o queno faz noLivro Castanho embora essa discusso estejaintimamente relacionada com o que a refere, em p articularcom o que diz sobre poder e as suas conexes com a

    ideia do que p ode ser dito. (((Quando dizem os que isto ainda linguagem? Quando dizemos que uma proposio?)Sendo assim, sentimo-nos tentados a imaginar um clculo,e o que nele pode ser dito. Mas Wittgenstein considerariaisto como uma m compreenso do que um a regra dalinguagem e do que a utilizao da linguagem. No modocomo falamos habitualmente, no emp regamos conceitosdefinveis com preciso, nem, tambm, regras precisas. Ea inteligibilidade um tanto diferente da inteligibil idade

    num clculo.O facto de se ter considerado o que pode ser ditocomo o que permitido num c lculo (Que ou tro sentido

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    poder ter "permitido" ? ) foi responsve l por se terpresum ido qu e a lgica de term ina a u n i d a d e da linguagem:o que pertence e no pertence linguagem ; o que e no inteligvel; o que pode, ou no, ser considerado comouma proposio. NoLivro Castanho, Wittgenstein afirma,com insistncia, que a linguagem no possui esse tipo deunidade, nem, to pou co, esse tipo de inteligibilidade. Mas

    ele no discute realmente os motivos que levaram a qu ese presumisse que e la os possua.No penso que se possa considerar que ele o tenha feito

    anteriormente, noLivro Azul. A no surge o problemada lgica e da linguagem, ao qual seguramente se fazaluso noLivro Castanho, ainda que de um modo no muitoclaro. Na pgina 58 do Livro Azul Wittgenstein afirma queno utilizamos geralmente a linguagem de acordo comregras rigorosas, mas ela tambm no nos foi ensinada pormeio de regras rigorosas. Nas nossas discusses, pelo

    contrrio, comparamos constantemente a linguagem comum clculo que obedece a regras exactas. Quando mais frente, ele perguntaporque o fazemos, responde simples-mente: A resposta reside no facto de os problemas que

    procuramos el iminar der ivarem semp re, p recisamente, destaatitude para com a linguagem. E poder-se- perguntarse isso uma resposta. O seu ponto de vista, tal comoo expressa na pgina 60 por exemplo, o de que o homemque se encontra filosoficamente perplexo descobre uma lei

    na maneira como utilizamos uma palavra, e, ao tentaraplicar esta lei de m odo consistente, confronta-se com...resultados paradoxais. E, primeira vista, isso parece--se de certo modo com o que ele disse mais tarde, nasInvestigaes, sobre uma tendncia pa ra realar a lgicada nossa linguagem. Mas ele no alude no Livro Azul aoque, na utilizao ou na compreenso da linguagem, conduzas pessoas a concebe r as palavras nesses termos. Supo-nhamos que isso acontece em virtude de os filsofosconsiderarem a linguagem de um ponto de vista metafsico.Mu ito bem; mas qu ando procuramos saber o que os levaa fazer isso, a resposta de Wittgenstein no Livro Azul

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    a de que isso se deve a um desejo de ge neralidade, e aofa cto de os fi l so fo s te rem se mpre prese nte o mtod o dacincia e serem irresistivelmente tentados a colocar questese a responder-lhes da mesma maneira que a cincia(p. 49) por outras palavras, para ele, a origem da metafsicano se encontra em algo qu e se relacione especificamentecom a linguage m. Esse um aspe cto muito importante a

    ser aqui salientado e significa que a sua viso do carcter

    da perp lexidade fi losfica no era ainda to clara comoquando escreveu as Investigaes. Mas, em todo o caso,no essa tendncia para colocar questes e lhes responderda mesma maneira que a cincia (ou pelo menos, no

    princ ip almente e la ), qu e le va os fi l so fos a co nce be r u malinguagem ideal ou u ma gramtica logicamente correcta,quando se encontram pe rplexos relativamente linguagemou d com preenso. Isso acontece p or motivos diferentes.

    Wittgenstein afirma muito claramente no Livro Azul que

    no utilizamos a linguagem de acordo com regras rgidas,e que no utilizamos as palavras de acordo com leissemelhantes ds leis cientficas. Mas no muito claro noque respeita ds noes d e conhecimento do sentido oude compree nso, o que tambm significa que mu ita coisana noo de obedincia a u ma regra ainda, para ele,

    pou co clara . Essa a ra z o qu e o le va a n o re co nh ece rtotalmente o tipo de confuses qu e podem dar origem dafirmao de que o conhecimento da linguagem o

    conhecimento do que pode ser dito.De que pode depender apossibilidade dos sentidos dasnossas palavras? Essa a que sto subjacente ideia desentido, que encontramos na teoria dos nomes p rprios deum ponto de vista lgico e na anlise lgica. Ela inseparvel da questo relativa ao que se aprende quandose aprende a linguagem, ou ao que a aprendizagem dal inguagem. W ittgenstein explica noLivro Azul que as

    palavras tm os sentidos que lhes damos, e que umainvestigao dos seus sentidos reais seria o resultado deuma confuso. Mas ele n o distinguiu ainda nitidamentea aprendizagem de um jogo de linguagem da aprendizagem

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    de uma notao e, por essa razo, no pode tornar comple-tamente evidente a natureza da confuso a que se ope.

    Por outras palavras, Wittgenstein no percebeu clara-mente noLivro Azul o que representa o problema relativoaos requisitos da linguagem, ou d inteligibilidade dal inguagem. E p or isso que ele afirma, na pg ina, que alinguagem vulgar perfeita, o que equivalente dafirmao: uma linguagem, perfeito. E isso parecesignificar que satisfaz as qualidades requeridas. Mas aoexprimir-se nestes tempos, ele vftima do mesmo tipo deconfuso que m ais tarde denu nciou. Falar-se, como o fazaqui W ittgenstein, da elaborao de linguag ens ideais,como se e sta fosse assimilveld elaborao de jogos delinguagem, parece-me obscurecer o designfo das linguagensideais, a inteno dos que as conceberam. E le no teria

    fa lado ne stes te rm os mais tarde.Pode ter sido esta falta de clareza j mencionada, ou

    algo de sem elhante, o que conduz W ittgenstein a referir--se mais do que uma vez, noLivro Azul, ao clculo dalinguagem (e. g. p. 81; ou, melhor ainda, p. 113) emboraele tenha tambm afirmado que apenas utilizamos alinguagem como um clculo em casos muito raros. Se nose estabelece a distino entre uma linguagem e umanotao, dificilmente se pode r notar qualquer diferenaentre a utilizao de um a linguagem e a utilizao de um anotao. Mas nesse caso no se tem justamente uma viso

    clara das dificuldades respeitantes relao entre alinguagem e a lgica.Essas dificuldades tornam-se m uito mais ntidas noLivro

    Castanho, embora ele no lhes faa af qualquer refernciaexplfcita. Podemos afirmar que elas constituem o tema

    principal das Investigaes.E esse o tema subjacente ds discusses sobre a viso

    de algo como sendo algum a coisa, bem com o s partesanteriores dasInvestigaes. E, de novo, constatamos queWittgenstein transforma estas discusses numa exposio

    das dificuldades fi losficas, de uma m aneira a que n orecorreu noLivro Castanho.

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    Durante u ma cu rta poca, Wittgenstein interessou-sepe lo problem a re lativo a saber e m qu e consiste re conhec eralgo como uma proposio (mesmo que isso nos sejacompletamen te desconhecido), ou reconhecer algo cornolinguagem por exemplo, o reconhecimento de algo escrito indep endente do reconhecimen to do que que r dizer. Asegunda parte doLivro Castanho decorre deste problema

    e m ostra que quando tais reconhecimentos so correcta-mente percebidos, no devem conduzir aos tipos de questesformuladas pelos filsofos. A s analog ias qu e ele es tabe le ceentre a compreenso de uma frase e a compreenso deum tema mu sical, por exemplo, ou entre a inteno de dizerque esta frase significa algo e a inteno de dizer que esta

    form a colorid a exprim e algo mostram claram en te qu e nose trata do reconhecimento de uma caracterstica geral (ainteligibilidade, possivelmente) suscep tvel de ser explicada,tal como no faria sentido a pergunta sobre o que exp rime

    a forma colorida.Ma s por que motivo se sentiu a nece ssidade de falar,

    por exemplo a este propsito, de metalgica? O Livro

    Casta n ho esboa uma explicao e deixa entrever algomais. Mas existe algo na maneira como utilizamos alinguagem, e na relao entre a linguagem e o pensam ento o poder de um argumento e, em geral, o poder dasexpresses q ue d a impresso de o seu reconhecimento

    comourna l inguagem ser mesm o muito diferente do seu

    reconhecimento como um lance num jogo. (Como se acompreenso fosse algo que nada tivesse a ver com ossignos; e como se qualquer coisa que no visvel no

    pr prio sistema de signo s fosse ne ce ssria para ele se rlinguagem.) Wittgenstein tenta levar isto em linha de contanas ltimas seces das Investigaes.

    Ele falou de operaes efe ctuadas com signos, da opoder-se dizer E como se f izssemos funcionar ummecanismo como outro lado qualquer. Se apenas dissoque se trata de um mecanismo ento isso no umalinguagem. impossvel responder a esta objeco em

    pou ca s palav ras. M as o probl ema im por tante. T am b m

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    o a questo relativa ao que pretendemos dizer, porexemplo, quando falamos de pensar co m signos. O que isso? E a aluso aos traos feitos com um lpis num

    papel de facto proveitosa?A m aior parte destes problemas p ode ser resolvida

    acentuando o facto de a escrita e a palavra serem prpriasdas relaes com outras pessoas. E nesse contexto que ossignos adquirem vida, e por isso que a linguagem no

    apenas um mecanismo.Mas pode -se objectar que algum p oder fazer tudo isso,

    utilizar correctamente os signos no jogo com outraspessoas e viver sem problemas, mesmo sendo cego aosentido. Wittgenstein usou essa expresso por analogiacom cego ds cores e surdo ao tom. Se eu pronunciaruma palavra ambgua, como por exemplo vale e per-guntar a algum qual o sentido que lhe atribui ao ouvi--la, poder responder-me que pensa numa linda depresso

    entre duas montanhas ou talvez nu m vale telegrfico. Noser possvel imaginar algum para quem essa perguntano fosse compreensvel? Se perante essa pessoa se pronun-ciasse unicamente u ma p alavra, ela no lhe transmitiriaqualquer sentido. E contudo ela p oderia responder com

    palav ras s frases e ou tras elocu es, e tambm a si tu a-es com que se de frontasse e reagir correctamente. Oun o ser possvel imaginar isso? Wittgenstein, segundo p en-so, no tinha a certeza. Se um homem fosse cego ao senti-do, seria ainda capaz de utilizar a linguagem? Ou a

    pe rce p o do sentido ind ep endente do us o d a l ing ua ge m?H qualquer coisa que soa a falso na ltima pergunta;

    no prprio facto de a fazer. Mas e la parece revelar queainda existe algo de pouco claro na nossa noo do usoda linguagem.

    Ou se acentuarmos simplesmente, de novo, que os signosso prprios das relaes com outras pessoas, o quediremos do pap el da intuio em relao ds matemticase d descoberta de provas, por exemplo?

    Enquanto p resistirem estas dificuldades, continuar-se-a pensar que dever existir algo como uma interpretao.

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    Continuar-se-k a pensar que se algo linguagem entodeve significar paramim alguma coisa, etc. E por estemotivo com o fim de tentar compreender qual a naturezadestas dificuldades foi necessrio a Wittgenstein ocupar--se desse assunto complicado que a viso de algo comosendo qualquer coisa, do modo como o estava a fazer.

    E o mtodo tem de ser a um tanto diferente. No sepod e esp erar tanto dos jogos de lin g, ' igm.

    Maro, 1958

    O que o sen tido de uma palavra?Abordemos esta questo pergunta n do, em primeiro lugar,

    o que uma exp licao do sentido de uma palavra; a quese assemelha a explicao de uma palavra?

    Esta questo ajuda-nos de modo anlogo ao modo com oa questo como que medimos um comprimento? nosajuda a compreender o problema o que o comprimento?

    As questes O que o comprim ento?, O que osen tido?, O que o nm ero um? etc., causam-nos umconstrangimento mental. Sentimos que para lhes dar res-postas deveramos apontar para algo e contudo sentim os

    que no podemos apontar para nada. (Enfrentamos uma dasgr a n des fontes da desorientao filosfica: um subst a n t ivofaz-nos procurar uma coisa que lhe corresponda.)

    Perguntar, em primeiro lugar, O que um a explicaodo sentido? tem duas v a n tagens. Num certo sen tido, fazregressar terra a questo o que o sen tido?, porqu a n topara compreender o sen t ido de sen t ido dever-se-ia tam-bm, sem dvida, comp reender o sen ti do de exp licaodo sentido. Numa palavra: perguntemos o que aexplicao do sen ti do, visto que seja o que for que elaexplique, isso ser o sen tido. O estudo da gramtica daexpresso explicao do sen ti do revelar-nos- algo sob re

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    R.R.

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    a gramtica da palavra sentido e curar-nos- da tentaode procurar nossa volta um ob jecto a que se pudessechama r o sentido.

    O que geralmente se chama explicaes do sentido deuma palavra pode, muito g rosseiramente, ser dividido emdefinies verbais e ostensiv a s . Ver-se- mais tarde em quesentido esta diviso apen a s imperfeita e provisria (e ofacto de o ser constitui um aspecto importante). A definio

    verbal, visto que nos conduz de um a expresso verbal aoutra, no nos leva, num ce r to sentido, mais longe. Nadefinio ostensiva, contudo, parecemos aproximar-nos, deum m odo mais efectivo, de conhecimento do sen tido.

    Uma dificuldade com que nos chocam os consiste nofacto de que parece no existi rem definies ostensivas param u i t a s palavras na nossa linguagem; e. g. para palavrascomo um, nmero, no, etc.

    Questo: S er necessrio compreender a prpria definio

    ostensiva? No poder a definio ostensiva ser malcompreendida?Se a definio explica o sen ti do de uma palavra, no

    , sem dvida, essencial que a pa lavra tenha sido ouvidaa n teriormente. Atribuir-lheum sent ido o dever dadefinio ostensiva. Exp liquemos, ento, a palavra tovea p o n ta n do para um lpis e dizendo isto tove. (Em vezde isto tove podia aqui ter dito isto chama-se "tove".Chamo a ateno para isto para eliminar, de uma vez portodas, a ideia de que as palavras da definio ostensivap redicam algo do definido; a confuso ent re a f r a se isto vermelho, atribuindo a cor vermelha a qualquer coisa,e a definio ostensiva isto cham a-se "vermelho".) Oraa definio ostensiva isto tove pode ser interpretadade mltiplas m a n eira s . Apre sentarei algumas dess a s inter-pretaes utiliz a n do palavra s de uso corrente. A de finiopode pois ser interpretada como significando:

    Isto um lpis,Isto madeira,

    Isto um,Isto duro, etc. etc.

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    Pode opor-se a este argumento o facto de que todas estasinterpretaes pressupem outra linguagem verbal; e estaobjeco digna de nota se por interpretao p re t e n d e r -mos apenas a dizer traduo numa linguagem verbal.F a re i algumas sugestes que podero tomar isto mais claro.Interroguemo-nos sob re qual o nosso critrio quandoafirmamos que algum interp re tou a definio ostensiva deum modo particular. Suponh amos que eu dou a um ingls

    a definio o stensiva isto o que os alem es chamam"Buch". Nesse caso, na gr a n de maioria dos casos dequalquer modo, a pa lavra inglesa book ocorrer aopensamento do ingls. Podem os afirmar que ele interpre to uBuch como significando book. As circunstncias serodiferentes se, por exemplo, apontarmos para uma coisa queele nunca viu antes e dissermos: isto um b a njo .Possivelmente ser nesse caso a p alavra guitarra que lheocorrer ao pensamento, ou nenhuma palavra m a s sim a

    imagem de um instrumento semelh a n te, ou possivelmentenada. Ento no c a s o de de eu lhe ordenar escolhe de entreestas cois a s um banjo, se ele escolher aquilo a quechamamos um b a njo podemos dizer que ele deu ainterpretao corr e cta palavra "banjo"; se ele escolheroutro instrumento qualquer, di remos que ele interp re tou"b a njo" como signific a n do "instrumento de cordas".

    Dizemos que ele deu palavra "b a njo " es ta ou aq uelainterpretao, e inclinamo-nos a p resumir um acto deter-minado de interpretao, para alm do acto de escolha.

    O nosso problema anlogo ao que se segue:Se eu der a algum a ordem: traz-me uma flor vermelha

    daquele prado, como que ele pode saber qual o tipode flor que h-de trazer, se eu apen a s lhe dei uma palav ra?

    A primeira resposta qu e se pode alvitrar a de que foiprocurar uma flor vermelha tendo em mente um a imagemvermelha, e compara n do-a com a s flores para ver qual delastinha a cor da imagem . Ora, de facto, essa man eira deprocurar existe, e no de modo n enhum essencial que

    a imagem utilizada seja mental. De facto, o processo podeser o seguinte: levo uma tabela que faa corresponder nomes

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    a quadrados coloridos. Qua n do ouo a ordem traz-me etc.trao com o meu dedo uma linha, partindo da palavravermelho at um ce r to quadrado, e procu ro uma flor quetenha a mesma cor do q uadrado. Mas esta no a nicama n eira de procurar e no a habitualmen te utilizada.Olhamos nossa volta, dirigimo-nos para uma flor ecolhmo-la sem a comparar com o que que r que seja. Paraverificar que o pro ce sso de execuo da ordem pode ser

    deste t ipo, conside rem a ordem imaginauma m a n ch avermelha. Neste c a s o, no sero tentados a pensar queantesde a executarem devem imaginar uma manchavermelha que vos sirva de modelo para a m a n cha vermelhaque vos foi pedido que imagin a s s e m .

    Ora poderiam perguntar: interpretamosa s palavras a n te sde executarmos a ordem? E nalguns c a s os constataro quefazem algo que poderia ser chamado interpre tar, a n tes deexecutar, noutros no.

    Certosprocessos mentais definidosparecem ser inse-parveis do funcionamento da linguagem, sendo os nicosa condicion-lo. Refiro-me aos processos de compreensoe significao. Os signos da n ossa linguagem pare cem noter vida sem estes processos men tais; e pode ria ter-se aimpresso de que a nica funo dos signos a de induzirtais processos e de que estes so, na realidade, a s nicascois a s em que deveramos estar intere ssados. Por con-s e g u i n t e , s e v o s p e r g u n t a re m q u a l a r el a o e n t r e u m n o m ee a coisa que ele designa, sentir-se-o inclinados a responderque se trata de uma re lao psicolgica, e possivelmentepensaro especi ficamente, ao dizerem isto, no mecanismoda associao. Somos tentados a pensar que o mecanismoda linguagem composto por du a s par tes; uma parteinorgnica, a manipulao dos signos, e um a parte orgni-ca, a que podemos chamar a compreenso destes si gn os ,a atribuio de sen ti do a estes signos, a sua interpretao,o pensamento. Estas ltimas ac t ividades pare cem decorrernum meio fora do vulgar, o esprito; e o mec a n ismo do

    esprito, cuja natureza, segundo parece, no compreen-demos completamente, pode produzir efeitos no suscep-

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    tveis de serem provocados por um mec a n ismo materia l.Assim, por exemplo, um pensamento (que um processo

    mental desse tipo) pode ou no estar de acordo com are a lidade; posso pensar num homem que n o est presen t e ;sou capaz de o imaginar, de me re ferir a ele num qualquercomentrio a seu r e speito, mesmo que ele se encontre amilhares de quilmetros, mesmo que esteja mo rto .

    Estranho mec a nismo, o do desejo, poder dizer-se,que me perm ite desejar o que nunca acontecer.

    Apenas existe uma m a n eira de evitar, pelo menosparcialmente, a aparncia miste riosa dos processos dep e n s a m e n t o , q u e a d e s u b s ti t u i r, n e s t e s p r o c e s s o s , q u a l q u e rinfluncia da imaginao pelo exame de objectos re a is .Deste modo, pelo menos em ce r tos c a s os, pode pa recernecessrio que eu tenha em mente uma imagem vermelhapara comp reender a palavra vermelho. M a s porque nohei-de subs t ituir a m a n cha vermelha imaginria pela viso

    de um pedao de papel vermelho? A imagem visual spoder ser mais viva. Imaginem um homem que traz semp reno bolso uma folha de papel na qual os nomes d a s corescorrespondem a manch a s colorid a s . Dir-me-o que inco-m o d a t i v o t r a n s p o r t a r u m a t a b e l a d e s s e t ipo, e que u ti lizamoss e m p re , em vez disso, o mecanismo da a s sociao. Masisto irrevelante, e em muitos casos nem sequer verdadeiro. Se, por exemplo, vos fosse pedido para pinta remu m a t o n a lidade especial de azul, chamada azul-de-prssia,

    poderiam ter de uti li zar uma ta b e la que vos levasse dapalavra azul-de-prssia a uma am ostra da cor, que serviriade modelo.

    Poderamos muitssimo be m, quando isso se demons-t r a sse t i l , subs ti tuir todos os processos de imaginao pelaviso de um objecto ou pela pintura, o desenho, ou amodelagem, assim com o em vez de se falar para si prpriose poderia escrever ou falar em voz a lta.

    Frege ridicularizou a concepo formalista das matemti-cas, afirmando que os formalistas confundiam aquilo quepouca importncia tem, o signo, com o que impo rt a n t e ,o sentido. De facto, a s matemticas no tratam de smbolos

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    i dif i t i t i (

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    tal qual definido pelas regr a s do xadre z, em stio dife-rente daquele que ocupado pelos diversos pedaos demadeira, que so os reis dos diversos jogos.) Opensamento, dizemos, sem d vida algo; ele no um"nada" ; e a nica resposta que podem os dar a isto ade que a palavra pensamento tem o seu uso, que de

    um ti po completamente dife re nte do uso da palavra

    frase.Ora querer isto dizer que absurdo falar de uma

    localizao da ocorrncia do pensam ento? De modo algum.Esta expresso tem sen tido se lhe dermos sen ti do. Sedissermos: o pensamento ocorre nas nossas cabe a s qual

    , encara n do-a seriamente, o sen ti do desta expresso?Presumo qu e seja o de que certos processos fisiolgicoscorrespondem aos nossos pensamentos de um a forma talque se conhecerm os a correspondncia pode remos, obser-vando esses processos, descobrir os pensamentos. M a s em

    que sen tido se poder dizer que os processos fisiolgicoscorre spondem a pensam entos, e em que sentido se poderdizer que at ingimos os pensamentos a partir da observaodo crebro?

    Pre sumo q ue imaginamos que a correspondncia foiverificada experimentalmente. Imaginemos grosseiramenteuma tal experincia. Ela consiste em observar o crebrode um indivduo enqu a n to este pensa. Mas agora podemconsiderar que a razo pela qual a minh a exp licao ir

    falharre side, sem dvida, no facto de o exp erimentador

    apenas conhecer indirectamenteos pensamentos do indi-vduo, por intermdio deste, que os expressarkde uma

    ma n eira ou outra. Afastare i esta dificuldade supondo queo indivduo simultaneamente o experimentador, que olhapara o seu prprio crebro recorrendo por exemplo a u mespelho. (O carcter grosseiro desta desc rio no reduz demodo algum a fora do argumento.)

    Nesse caso, pergunto-vos se o indivduo-experimentadorobservar uma ou du a s cois a s ? (No me digam que ele

    observ a uma s coisa, do interior e do exte rior, visto queisto no afasta a dificuldade. Fala remos mais tarde de

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    interior e exterior. ( 1 )) 0 indivduo-experimentador obser-va uma correlao entre dois fenmenos. Um deles a que,possvelmente, chama o pe nsam en to, pode consistir numasrie de imagens, sensae s orgnicas, ou, por outro lado,num a srie de experincias visuais, tcteis e muscularesva riadas, que por ele so sen tida s quando escreve ou pro-fere uma frase. A outra experincia corresponde observao do funcionamento do seu crebro. Ambos os

    fenmenos poderiam ser corre ctamente chamados ex-presses do pensamento; e seria melhor de modo a impedira confuso, reje ita r como ab su rda a ques t o onde quese encontra o pensamento? Se, todavia, usamos a expressoo pensamento ocorre na cabea, demos a esta express oo seu sentido atravs da desc rio da experincia que

    ju s tificaria a hiptesesegundo o qu al o pensamento ocorrenas noss a s cabeas, atravs da desc rio da experincia aque chamamos observao do pensamento no nossocrebro.

    Esquecemos facilmente que a palavra loca lizao usada em m uitos sen ti dos dife rentes e qu e existem tiposde enunciados m uito diferentes sobre uma coisa, a quepodemos, num caso particular, de acordo com o usocorrente, chamar especificaes da loca li zao da coisa.Assim, disse-se do espao visual que o seu lugar na nossacabea e penso q ue, em parte, esta afirma o foi o resultadode um equvoco grama ti ca l .

    Posso dizer: vejo, no meu campo visual, a imagem da

    rvore situada direita da im agem da torre ou vejo aimagem da rvore no meio do cam po visual. Sentimo--nos, neste c a s o, inclinados a perguntar, e onde q ue vso campo visual? Ora se o onde supe a determinaode uma localizao, no sentido em que especificmos alocalizao da imagem da rvore, chama ria ento a vossaateno p ara o facto de no te re m ainda dado sen t ido aesta questo ; isto , para o facto de se te re m baseado numaanalogia grama tical, sem terem a n alisado a a n alogia deta-

    l h a d a m e n t e .(Cf.pp.47e83 e segs.

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    Ao dizer que a ideia de que o nosso campo visual estlocalizado no nosso crebro de rivou de um equvocogramatical, no foi minha inteno a firmar a impossibi-lidade de atribuio de sen ti do a uma tal especificao dalocalizao. Poderamos, por ex emplo, imaginar facilmenteuma experincia que descreveramos por re curso a esseenunciado. Suponham que olhvamos para um grupo deobjectos nesta sala, e que, enqu a n to o fazamos, era intro-

    duzida nos nossos c rebros uma sonda, verific a n do-se quequando a extremidade da sonda ati ngia um ponto particulardo crebro, uma pequena poro do nosso campo visualdesaparecia. Poder-se-ia deste m odo estabelecer uma corres-pondncia entre pontos do crebro e partes da imagemvisual, e isto permitir-nos-ia afirmar que o campo visualse localizava num determinado lugar do crebro. Se ago-ra se perguntar Onde q ue vs a imagem deste livro?

    a resposta poderia ser (como a n te riormente) di reita da-

    quele lpis, ou Na par te esquerda do meu campovisual, ou ainda: Sete centmetros por trs do meu olhoesquerdo.

    Ma s se algum n os disser: Garanto-lhes que sinto quea imagem v isual se encontra cinco centmetros por trs doosso do meu nariz; o que lhe poderemos responder?Diremos que ele no est a dizer a verdade, ou que talsensao impossvel? E se ele nos perguntar conhecemtodas a s sensaes existentes? Como sabem que esta sen-

    sao n o existe?E se o vedor nos disser que que quando segura a varasenteque a a gua se encontra a dois metros de profun-didade? Ou que senteque a dois metros de profun didadeexiste uma mistura de cobre e ouro? Suponham que face s n o s s a s d v i d a s e l e respondia: Vocs podem avaliar umadistancia quando a v em. Por que razo no po de re i eu

    avali-la de m a n eira diferente?Se compre endermos a ideia de uma tal avaliao,

    esclareceremos a natu reza das noss a s dvidas sob re as

    afirmaes do vedor, e do homem que dizia sentir a imagemvisual por trs do osso do seu nariz.

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    Face s afirmaes: este lpis tem doze centmetros decomprimento e sinto que este lpis tem doze centmetrosde comprimento, -nos necessrio escla recer a relaoexistente entre a gramtica da p rimeira e a da segunda.Gostaramos de re sponder afirmao sinto na minha moque a gua se encontra a um metro de profundidade: Nosei o que isso significa. Mas o vedor di ria: Sem dvidaque sabes o q ue significa. Sabes o que significa "um metro

    de profundidade", e sabes o qu e significa "sinto'! A o q ueeu retorquiria: sei o que uma palavra significa em certoscontextos. Assim eu compreendo frase, um metro deprofundidade quando, por exemplo, ela surge em contextoscomo: A m edio mostrou que a gua se encontra a ummetro de profundidade, Se cavarmos a um m etro deprofundidade descobriremos gua, Calculo que a gua seencontre a um metro de profundidade. Mas o uso daexpresso uma sensao n a s minhas mos de que a gua

    se encontra a um m etro de profundidade tem ainda deme ser explicado.Poderamos perguntar ao vedor como ap rendeu o

    sen tido da palavra "um metro"? Supomos que lhe tenhammostrado objectos com esse comp rimento, que os tenhamedido e outras coisas do mesmo gnero. Tambm oe n s i n a r a m a f a la r d e u m a s e n s a o d e q u e a g u a s e e n c o n t raa um m etro de profundidade, uma sensa o, por exemplo,n a s s u a s mos? S e isso no aconteceu, o que o fez relacionara palavra "um metro" com uma sensao na sua mo?No caso de termos sempre ava liado comprimentos a olho,sem nunca os termos medido, como poderamos avaliar umcomprimento em centmetros medindo-o? Isto , comointerpretaramos a experincia da medio em centmetros?O problema o seguinte: qual a relao existente ent re ,por exemplo, uma sensao tctil e a experincia da mediode uma coisa por recurso a uma vara de m etro? Esta relaomostrar-nos- o que signi fica sentir que uma coisa temdoze centmetros de comp rimento. Admitamos, que o

    vedor dizia nunca ap rendi a corre lacionar a profundidadea que a gua se encontra no subsolo com sensa es na

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    d h dizagem da avaliao com o acto de avaliar A importncia

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    minha mo, m a s quando sinto uma certa tenso nas minhasmos, as palavras "um metro" vm-me repentinamente aoesprito. Responderamos eis uma excelente exp licao doque quer dizer com "sensao de q ue a profundidade deu m metro", e a sua afirmao no tem outro sentido paraalm daquele que a sua exp licao lhe deu. E se aexperincia mos trar que a profundidade a que de facto seencontra a gua concorda semp re com a s palavras "n

    metros" que lhe vm ao esprito, a sua sensao ser muitotil para determinar a profundidade a que encontraremosgua. Mas, como vem, o sen ti do das palavras sintoque a gua se encontra a uma profundidade de n m etrostinha de ser exp li cado; no o podamos com preender seo sentido d a s palavras n metros fosse o usual (isto ,o de contextos habituais). N o dizemos que o homemque no s diz sentir a imagem visual cinco centmetros portrs do osso do seu nariz nos est a mentir ou a dizer

    disparates. Mas af irmam os que n o compreendemos osen tido dessa frase. Ela combina palavras bem conhecid a s ,mas f-lo de uma maneira que ainda no comp reendemos.A gramtica desta fr ase tem ainda de nos ser explicada.

    A importncia do exame cuidadoso da resposta do vedorreside no facto de pensarmos frequentemente que demosum sentido a uma afirmao P som ente se declararmossinto(ou creio) que P o caso. (Referir-nos-emos m aistarde (2) afirmao do professor Hardy de que o teo re made Goldbach uma proposio porque pode acreditar queele verdadeiro.) J referimos q ue a mera explicao dosen ti do das palavr a s um me tro, da maneira habitual, noexplica ainda o sen ti do da fr ase sensao de q ue a guase encontra a um m etro etc. Ora, no teramos sen tidoestas dificuldades se o vedor ti vesse dito que aprenderaa avaliar a profundidade a que se en contra a gua, porexemplo, escav a n do procura de gua semp re que expe-rimentava uma sensao particular e correlacion a n do deste

    modo essas sensaes com mediesde profundidade.

    Devemos ento examinar a relao do processo de apren-(2)Wittgenstein no cumpriu esta promessa (N.O.).

    dizagem da avaliaocom o acto de avaliar. A importnciadeste exame reside no facto de se aplicar relao entrea ap rendizagem do sen ti do de uma palavra e a u t i lizaoda palavra. Ou, num sen t ido mais geral, no facto de revelaras diferentes relaes possveis entre uma dada regra e asua ap lic a o .

    Consideremos o processo de avaliao da distncia a olhonu: extremamente importa n te que tenham conscincia da

    existncia de muitos processos diferentes, a que chamamosavaliao a olho.Consideremos os seguintes casos:

    (1) Algum m e pergunta como ava liaste a altura desteedifcio? Respondo: Tem quatro a n dares, pre sumo quecada a n dar tenha cerca de cinco metros, porta n to deve termais ou m enos vinte metros de altura.

    (2) Num outro c a s o: Sei qual aproximadamen te, aesta distncia, a aparncia de um metro; port a n to deve tercerca de quatro m etros.

    (3) Ou noutro caso: Um hom em alto quase chegariaa este ponto; porta n to ele deve estar mais ou m enos a doismetros do cho.

    (4) Ou finalmente: No sei, parece ter um m etro.

    Este ltimo caso susceptvel de nos emb araar. Seperguntarem o que aconteceu neste caso quando o homemavaliou a distncia? a resposta correcta pode ser: ele olhou

    para o objecto e disse "parece ter um m etro de compri-mento". Pode ter sido apen a s isto o que aconteceu.

    Dissemos a n teriormente que no nos teramos sentidodesorientados com a resposta do vedor se ele nos t ivessedito que aprenderaa avaliar a profundidade. Ora a apren-dizagem da ava liao pode, falando de uma ma n eira geral,s e r c o n s i d e r a d a s e g u n d o d u a s r e laes diferentes com o actode avaliar: ou como uma causa do fenm eno da avaliao,ou como proporcionadora de uma regra (uma tabela, um

    grfico, ou algo do mesmo gnero) que uti li zamos quandoa v a l i a m o s .

    Suponhamos que eu ensino a algum o uso da palavra avaria seria nesse caso aquilo a que chamamos o esqueci-

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    Suponhamos que eu ensino a algum o uso da palavraamare lo, aponta ndo repetidamente para uma m a n chaa m a re la e pronuncia n do a palavra. Numa outra ocasio fa-o-o ap licar o que aprendeu d a n do-lhe a seguinte ordem:escolhe de dentro deste saco uma bola am arela. O q uese p a s sou quando ele obedeceu minha ordem? Dire i quepossivelmente p a s sou-se apenas isto: ele ouviu a s minh a spalavras e tirou uma bola amarela do saco. Podem imedia-

    tamente sentir-se inclinados a pensar que isto no pode tersido tudo o que se passou; e o tipode coisa que sugeririam a de que ele imaginou algo amare lo quando compreendeua ordem, tendo em seguida escolhido a bola de acordo coma sua imagem. Para perceber que isto no necessriolemb rem-se de que eu lhe podia ter dado a ordem Imaginauma m a n cha am arela. Sentir-se-iam ainda inclinados asupor que ele imagina em primeiro lugar uma m a n c h aamarela, apenas compreendendoa minha ordem, e que emseguida imagina uma m a n cha amarela que se assemelhe

    primeira? (No quero dizer que isto no seja possvel,o facto de o ap resentar o desta ma n eira apenas vos mostra,de imediato, que no necessrio que isto acontea. Isto,a propsito, ilustra o mtodo da filosofia.)

    Se o sen t ido da palavra ama re lo nos for ensinado porrecurso a uma qualquer espcie de definio ostensiva (umaregra para o uso da palavra) este ensino pode ser conside-rado de duas m a n eir a s diferentes.

    A. O ensino uma repe ti o. Esta repetio leva-nos

    a a s sociar uma imagem am a re la, coisas ama re las, com apalavra amarelo. Assim, quando eu dei a ordem escolhede dentro deste saco uma bola ama re la, a palavra ama-relo pode ter produzido uma imag em am a re la, ou umasensao de reconhecimento quando o olhar da pessoaincidiu sob re a bola amarela. Poderia dizer-se, neste caso,que a repe ti o do ensino edificou um mecanismo psquico.Isto, todavia, seria apen a s uma hiptese, quando no umametfora. Poderamos compararo ensino com a instalao

    de uma ligao elctrica entre um interruptor e umalmpada. O p aralelo com a falha da ligao ou com a sua

    4 0

    avaria seria, nesse caso, aquilo a que chamamos o esquecimento da explicao, ou do sen ti do, da palavra. (Serconveniente voltar a abordar o sen ti do de esquecimentodo sen ti do de uma palavra (3)).

    Na m edida em que ocasiona a associao, a sensaode reconhecime nto, etc. etc., o ensino a causa dos fen-menos de compreenso, da execuo de um a ordem, etc.;a necessidade do processo de ensino para a produo destes

    efeitos uma h iptese. concebvel, neste sen ti do, quetodosos processos de compreenso, de execuo de umaordem, etc. pudessem ter acontecido sem q ue a linguagemtivesse alguma vez sido ensinada pesso a (Isto pa rec e ,precisamente agora, extremamente paradoxal).

    B. O ensino pode ter-nos proporcionado uma regra queest envolvida nos processos de compreenso, execuo deuma ordem, etc.; envolvida significando, contudo, quea expresso desta re gra faz par te destes processos.

    Devemos fazer a distino ent re o que se poderia chamarum processo em conformidade comuma re gra, e, umprocesso envolvendo uma regra (no sen ti do acima refe-rido).

    Tomemos um exemplo. A lgum me ensina a e levarnm eros ao quadrado. Ele escreve a srie:

    1 234,

    e pede-me para os elevar ao quadrado. (Substituirei de novo,neste c a s o, quaisquer processos que ocorram no espritopor processos de clculo no papel). Suponham que eu es-crevo ento por ba ixo da primeira srie de nmeros, a srie:

    1 4916.

    O que eu escrevi est em conformidade com a r e gra geralda elevao ao quadrado; mas est tambm obviamente emconformidade com um gr a n de nmero de outras regras; eno em maior ou menor graus com um a ou outra de entree s t a s . Nenhumare gra esteve aqui envolvida, no sentido aque nos referimos a n teriormente do envolvimento de umaregra num processo. Suponhamos que para obter os meus

    Wittgenstein no volta a referir este assunto.

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    resultados eu calculei lx1 2x2 3x3 4x4 (isto escrevi Suponham q ue eu apontava para um b ocado de papel

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    resultados eu calculei lx1, 2x2, 3x3, 4x4 (isto , escrevineste caso os clculos); de novo isto estaria em conformi-dade com um gr a n de nmero de regras. Suponhamos, poroutro lado, que para obter os meus resultados eu tinha es-crito, por exem plo recorrendo a notao algbrica, o quepodem cham ar a regra da elevao ao quadrado. N estecaso, esta regra estava envolvida num sentido do qua l todasa s outras se encontravam excludas.

    Diremos que a regra est envolvidana compreenso, naexecuo de uma ordem, etc., se como gostaria de dizer,o smbolo da re gra faz parte do clculo. (Como no estamosi n t e ressados no local em que os processos do pensam ento,do clculo, ocorrem, podemos imaginar em n osso proveitoque os clculos foram feitos na sua totalidade no papel.No estamos p r e ocupados com a diferena entre interno eexte r n o.)

    Um exemplo caracterstico do caso B s eria o de um ensi-no que nos proporcionasse uma tabela que utilizaramos narealidade para compreender, executar uma ordem, etc. Seformos ensinados a jogar xad rez, podero ensinar-nos re-gras. Se depois jogarmos xad re z, estas regras no estaron e c e s s a riamente envolvidas no jogo. Mas pod ero estar.Imaginem, por exemplo, que as regr a s eram express a s soba forma de uma tab ela. Numa coluna estariam rep re s e n t a d a sa s peas, e numa coluna paralela encontraramos diagramasque mostrariam a liberdade (os movimentos reconhecidoscomo legtimos) das pe a s . Suponham agora que o modo

    como o jogo jogado envolve a deslocao do dedo dojo ga do r sob re a tabela, da representao da pea at aosmovim entos possveis, para depois executar um dessesmovimentos.

    O ensino como histrica hipottica das nossas acess u b s e q u e n t e s (c o m p r e e n s o , e x e c u o d e u m a o r d e m , a v a l i a -o de um comprimento, etc.) posto de parte pelas nossasconsideraes. A re gra que foi ensinada e subsequente-mente ap lic a d a a p e n a s nos interessa, na medida em que est

    envolvida na aplicao. Uma re gra, ta n to qu a n to nos inte-ressa, no age distncia.

    Suponham q ue eu apontava para um b ocado de papele dizia a algum : cham o "vermelho" a esta cor. Maistarde dava-lhe a ordem: agora pinta uma m a n cha ver-melha. Em seguida perguntava-lhe: porque que, aoexecutares a minha ordem, pintaste precisamente esta cor?A sua resposta poderia ser, neste caso: Esta cor (apontandopara a amostra que eu lhe tinha mostrado) chamava-severmelho, e a m a n cha que pintei tem, como po de ver, a

    cor da amostra. Ele deu-me a s sim, uma razo para o factode ter executado a ordem da maneira como o fez. Dar umarazo para algo que se fez ou disse significa m ostrar umcaminhoque conduz a esta aco. N alguns c a s os significadescrever o caminho que se utilizou; noutro significad e s c rever o caminho que a conduz e que est emconformidade com cert as regras aceites. Assim, quando seperguntou pessoa porque execut a s te a minha ordempinta n do precisamente esta cor?, ela pode ria ter desc ri to

    o caminho que realmente u ti lizara para chegar a este tomp a r t icular de cor. Isso teria acontecido se, ao ouvir a palavravermelho, ti v e s s e s e g u r a d o a a m o s t ra q u e e u l h e m o s t r a r a ,designada pela palavra vermelho, e tivesse copiadoaamostra ao pintar a m a n cha. Por outro lado pode ria t-lapintado automati camente ou a partir de uma imagemguardada na mem ria, podendo, ainda a s sim, apontar paraa amostra quando lhe fosse pedido que desse uma razo,m o s t r a n do que ela condizia com a mancha q ue pintara.Neste ltimo c a so a razo ap re s e n t a d a t e ria sido de segundotipo; isto , uma justificao post hoc.

    Ora, se se pensar que no se ria possvel comp re endere executar a ordem sem um ensino prvio, o ensino encarado como proporcion a n do uma razopara se fazero que se fez; como proporcion a n do o caminho que se segue.Existe a ideia de que se uma ordem comp reendida eexecutada deve haver uma razo para a executarmos comoo fazemos; deve mesmo haver uma cadeia de razes quere monta at ao infinito. como se se dissesse: Esteja onde

    estiver, chegou a vindo de um qualquer outro lugar, e aesse outro lugar vindo de um outro lugar; e assim po r dia n te

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    ad infinitum (Se por outro lado t ivessem d ito esteja d a n tes e a exposio da vossa razo no uma hiptese

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    ad infinitum. (Se, por outro lado, t ivessem d ito estejao n d e e s ti v e r , pod er ia ter a chegado vindo de um outro lugarsituado a um m etro de distncia; e a esse outro lugar deum terceiro tambm a um m etro de distncia, e assim pordi a n te ad infinitum, se ti vessem dito isto te riam salie n t a d oa infinita pos sibi lid ad e de avanar um p a s so. Assim a ideiade um a cadeia infinita de razes surge de uma confusosemelh a n te a esta: que uma linha de um certo comp rimento

    se compe de um nmero infinito de partes porque infinitamente divisvel; isto , porque n o existe um termopara a possibi lidade de a d ividir.)

    Se, por outro lado, admitirem que a cadeia de razesreaistem um incio, deixaro de sentir averso pela ideiade um caso em que no exista qualquerrazo para quea ` ordem seja executada de uma d eterminada m a n e i r a .Chegados a este ponto, surge-nos contudo uma outraconfuso: a que se estabelece entre razo e causa. -selevado a esta confuso pelo uso ambguo da palavraporqu. Assim, quando a cadeia de razes chegou a umtermo e ainda se pergunta porqu?, sentimo-nos incli-nados a indicar uma causa em lugar de uma razo. S e, porexemplo, quando vos feita a pergunta, porque quepintaram p recisamente esta cor quando vos disse parapintarem uma mancha vermelha? re s p o n d e rem: mos-traram-me uma amostra desta cor e ao mesmo tempop ronunciaram a palavra "vermelho"; por conseguinte quan-do ouo a palavra "vermelho" esta cor vem-me semp re ao

    esprito, o que indicaram uma causa da vossa aco eno uma razo.

    A proposio segund o a qual a vossa aco tem um adeterminada causa, uma hiptese. A hiptese ter fun-damento se um certo nm ero de experincias forem, fala n dode uma m a n eira geral, concord a n tes, na demonstrao deque a vossa ac o a consequn cia habitual de certascondies que, nesse caso, chamamos causas da aco. Paras a b e r q u a l a r a z o p a r a f a z e re m u m a d e te r m i n a d a a f ir m a o ,

    para agirem de uma determinada m a n eira, etc., no necessrio um qualquer nmero de experincias concor-

    d a n tes, e a exposio da vossa razo no uma hiptese.A diferena entre as gramticas de razo e causa b a s t a n te semelh a n te diferena entre as gramticas demotivo e causa. Da causa pode dizer-se que no sepode conhec-la, m a s apen a s conjecturk-la. Por outro ladodiz-se frequentemente: Sem dvida que sei por que o fizfalando do motivo. Qu a n do digo: apenas podemos con-

    jecturara causa mas conhecemoso mo ti vo, esta afirma-

    o, como veremos mais tarde, grama ti cal. O podem osrefere -se a uma possibilidade lgica.O du plo uso da palavra porqu, aplic a n do-se ta n to

    causa como ao mo ti vo, juntamente com a ideia de quepodemos conhecer e no apenas conjecturar os nossosmo t ivos, d o rigem confuso que nos leva a consideraro mo ti vo como um a causa de que temos conhecimentoimediato, uma causa ob servada interiormente, ou reveladapela experincia. Dar uma razo como ap re sentar um

    clculo que ti vesse permi tido a obteno de um certore su l t a do .Voltemos af irmao de que o pensamento consiste

    essencialmente em operar com signos. A minha: posio eraa de que d izer-se que o pensamento uma ac tividademental nos sujeitava a sermos induzidos em erro. Aquesto sob re qual o tipo de ac ti vidade representada pelopensamento, anloga a esta: Onde ocorre o pensamento?Podemos responder: num papel, na nossa cabea, noesprito. Nenh uma destas afirmaes acerca da localizao

    fornece alocalizao do pen samento. O uso de todas estasespecificaes correcto, mas no devemos ser induzidosem erro pela semelh a n a da sua forma lingustica, aceita n douma falsa concepo da sua gramtica. Como, por exemplo,quando dizemos: A nossa cabea sem dvida o verda-deirolugar do pensamen to. O mes mo se aplica ideiado pensamento como uma ac t ividade. corr e cto dizer queo pensamento uma ac ti vidade da mo q ue escreve, dala r inge, da nossa cabea e do nosso esprito, desde que se

    compreenda a gram tica destas afirmaes. E , alm disso,extremamem nte importante ter conscincia de como, pela

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    m compreenso da gramtica d a s nossas expresses, somos contado tira da prateleira um fruto e pe-no num saco. E

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    m compreenso da gramtica d a s p ,levados a pensar numa destas afirmaes em particularcomo indic a n do a verdadeira sede da actividade do pen-s a m e n t o .

    Uma objeco que se pode lev a n tar declarao de queo pensamento algo de sem elh a n te a um a actividade damo, corre sponde afirmao de que o pensamento fazpa r te da nossa experincia privada. No material, mas

    um facto da conscincia privada. Esta objeco expressana questo: pode uma mquina pensar? Voltarei a refe-rir-me a este assunto(4), e remeter-vos-ei agora apenas parauma questo an loga: pode uma m quina ter do res dedentes? Sentir-se-o certamente inclinados a r e s p o n d e r :Uma mquina no pode ter dores de dentes. Resta-me,neste momento, chamar a vossa ateno para o uso quefizeram da palavra pode e perguntar-vos: Era vossa in-teno dizerem que toda a vossa experincia passadamostrou que uma mquina nunca deve ter dores de dentes?A impossibilidade de que falam uma impo ssibilidadelgica. A questo : Q ual a re lao entre o pensamento(ou a dor de dentes) e o indivduo qu e pensa, tem dor dedentes, etc.? De momento na da mais acrescentarei sob reeste a s sun t o .

    Se dizemos que o pensam ento essencialmente umaoperao com signos a primeira questo que poderole v a n tar : O que so signos?. Em vez de dar a estaquesto um a qualquer resposta geral, propor-vos-ei um

    exame atento de casos pa r t iculares do que chamaramosoperar com signos. Conside remos um exemplo simplesde operao com palavra s . Dou a algum a ordem: Traz--me seis ma s do m erceeiro, e descre vo o modo comoexecutar essa ordem. As palavr a s seis mas esto escrit a snum b ocado de papel, o papel entregue ao merceeiro,o merceeiro compara a palavra ma com etiquetasexistentes em d iferentes p rateleira s . Ele descobre que apalavra concorda com um a d a s eti quetas, conta de 1 at

    ao nmero esc rito na tira de papel, e por cada nmero(4) Ver p. 88 para m ais alguma s referncias a este assunto.

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    contado tira da prateleira um fruto e pe no num saco. Eaqui tm um c a s o do uso de palavras. De futuro, chama re imuitas vezes a vossa ateno para aquilo a que cham a re i

    jogo s de lin gu ag em . Estes s o man eiras mais simples deusar signos do que a s da nossa linguagem altamentecomplicada de todos os dias. Os jogos de linguagem soa s forma s de linguagem com q ue a cria n a comea a fazeruso la s palavras. O estudo dos jogos de linguagem o

    estudo de formas primitivas da linguagem ou de linguagensprimitiv a s . Se p r e tendemos estudar os problemas da verdadee da falsidade, de acordo e desacordo de preposies coma realidade, da natureza da assero, da suposio e dainterrogao, teremos toda a v a n tagem em examinar asformas primitiv a s da linguagem em q ue estas formas depensamento surgem, sem o p a n o de fundo perturbador deprocessos de pensamento muito complicados. Qu a n doexaminamos essas form a s simples de linguagem, a nvoamental que parece encobrir o uso habitual da linguagemdesaparece. Descobrimos ac ti vidades, reaces, que son t i d a s e t r a n s p a r e n t e s . P o r o u t r o l a d o , r e c o n h e c e m o s , n e s t e sprocessos simples, formas de linguagem qu e no diferemessencialmente da s nossas formas mais complicadas. Aper-cebemo-nos da possibi lidade de construir as form a s com-plicadas pela adio gradual de nova s form a s a partir dasform a s primitivas.

    O q ue toma difcil seguir esta linha de investigao o nosso desejo de genera lid a d e .

    Este desejo de generalidade re su l ta n te de um certonmero de tendncias relacionadas com confuses filos-ficas particulares. Por exem plo:

    (a)A tendncia para procurar algo de comum a todasa s e n ti dades que geralmente subsumimos num termo geral.

    Sen tim o-no s po r exemplo inclina dos a pensar que deveexistir algo de comum a todos os jogos, e que esta pro-priedade comum a justificaso para a aplicao do termogeral jogo aos diversos jogos; ao passo que os jogos

    formam uma famliacujos membros tm parecenas. Algunstm o m esmo nariz, outros as mesmas sobr a n celh a s e outros

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    ainda a mesma m a n eira de a n dar; e esta s par e c e n a s (d) O nosso desejo de genera lidade tem uma outra fonte

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    ainda a mesma m a n eira de a n dar; e est pa s ob repem-se. A ideia de um conceito geral, como um apropriedade comum das suas ocorrncias particulares, rela-ciona-se com outras idei a s primitivas, dem a s iado simples,da estrutura da linguagem. E comparvel ideia de quea s propriedadess o ingredientesd a s c o i s a s q u e a s p o s s u e m ;que a beleza , por exemplo, um ingrediente de todas ascois a s bel a s tal como o lcool um ingrediente da cerveja

    e do vinho, e que por conseguinte poderamos ter a belezapura, sem mistura de algo b elo.(b ) Existe uma tend ncia enraizada n a s nossas formas

    de expresso habituais para pensar que a pessoa que apren-deu a compreender um termo geral, por exemplo, o termofolha, est, desse modo, na posse de uma espcie de ima-gem geral de uma folha, em contraste com imagens de fo-l h a s p a r t ic u l a r e s . Q u a n do ela aprendeu o sen ti do da palavrafolha foram-lhe mostradas diferentes folhas apenas como

    um m eio para atingir a finalidade de produzir nela umaideia, que imaginamos ser uma espcie de imagem geral.Dizemos que a pessoa percebe o que comum a tod a s e s t a sfolh a s , e isto verdadeiro se que remos dizer que elas po-dem, se isso lhe for p edido, referir-nos certas caractersticasou prop riedades que tm em comum. M a s sentimo-nosinclinados a pensar que a ideia geral de uma folha algosemelha n te a uma imagem visual, ma s uma imagem visualque apen a s contm o que com um a todas as folhas (afotografia comp osta de G alion). Isto est de novo relacio-

    nado com a ideia de que o sentido de uma palavra umaimagem, ou um objecto corre lacionados com a palavra. (Istosignifica, grosseiramente, que consideramos as palavrascomo se tod a s el a s fossem nomes prprios, e que confundi-mos, por isso, o objecto nomeado com o sen tido do nome.)

    (c) A ideia que temos do que acontece quando obtemosa ideia gera l folha, pl a n ta, etc. etc., est de novorelacionada com a confuso entre um estado mental, naacepo de um estado de um hipottico mec a n ismo mental,

    e um estado mental na acep o de um estado de conscincia(dor de dentes, etc.).

    (d)O nosso desejo de genera lidade tem uma outra fonteimportante: a nossa preocupao com o mtodo da cincia.Refiro-me ao mtodo de reduzir a explicao dos fenmenosnaturais ao menor nm ero possvel de leis naturais primi-tivas e, na matemtica, de unificao dos d iferentes tpicospo r recurso a uma generalizao. Os filsofos tm semp represente o mtodo da cincia e so irresis t ivelmente ten-tados a lev a n tar questes e a responde rem-lhes do mesmo

    modo que a cincia. Esta tendncia a verdadeira fonteda metafsica, e leva o filsofo total ob scuridade. Q ueroaqui dizer que nunca te re mos como tarefa reduzir seja oque for a qualque r outra coisa, ou explicar seja o que for.A filosofia na verdade puramente desc ritiva. (Pensemem questes como Existiro dados dos sentidos? eperguntem: Qual o mtodo a u ti lizar para determinar isto?A introspeco?)

    Em vez de desejo de genera lidade, poderia ter tambm

    referido a atitude de desprezo para com o c a s o parti cular.Se, por exemplo, algum tenta exp licar o conceito denmero e nos diz que uma determinada definio n o suficiente ou grosseira porque apenas se ap lica, porexemplo, a nm eros finitos, eu re sponder-lhe-ia que osimples facto de ele ter sido capaz de ap resentar uma taldefinio limitada toma esta definio extremamente im-portante para ns. (A elegncia no o que procuramosconseguir.) E porque ser mais inte r e s s a n te para ns o queos nmeros finitos e transfmitos tm em comum do queo que os distingue? Ou a n tes, no deveria ter dito porqueser mais inte re s s a n te para ns? no o ;e istocaracteriza a nossa m aneira de pensar.

    A a ti tude para com o m ais geral e o mais particular emlgica est re lacionada om o u so da palavra espcie,que responsvel por o riginar confuses. Falamos deespcies de nmeros, espcies de proposies, espcies dedemonstraes e, tambm, de espcies de mas, espciesde papel, etc. Num ce r to sen ti do, o que define a esp cie

    so prop riedades como a dou ra, a du reza, etc. Noutrose n ti do as diferentes espcies so estrutur a s gramatica is

    difere ntes. Um tratado acerca do pomo pode ser considerado porque levou a que os filsofos reje ita ssem como irr ele-

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    p pincompleto se existirem espcies de ma s a q ue ele nofaz referncia. Temos aqui um padro de completudeexistente na natu re za. Suponha mos, por outro lado, queexis ti a um jogo semelh a n te ao xadrez, mas m ais simples,dado que no seriam utilizados pees. Deveramos consi-derar este jogo incompleto? Ou devere mos considerar um

    jogo m ais completo do que o xad re z se de algum modo

    con ti ver o xadre z, m a s ac re s c e n ta n do-lhe novos elementos?O desp rezo na lgica pelo que parece ser o caso menosgeral deriva da ideia de que ele incompleto. de factooriginador de confuso falar da aritmtica dos nmeroscardinais como algo de especial em oposio a algo m aisgeral. A aritmtica dos nmeros cardinais no mostra qual-quer sinal de incompletude; nem to pouco isso acontececom uma aritmtica que cardinal e finita. (No existemquaisquer distines sub t is entre a s formas lgicas comoas que existem entre os sabores de diferentes espcies demas.)

    Se examinarmos a gramtica, por exemplo, das palavrasdesejo, pensamento, compreenso, significao,no ficaremos descontentes quando ti vermos descrito vrioscasos de desejo, pensamento, etc. Se algum nos disser no s a isto, com toda a certeza, que cham amos "desejo",responderemos de facto no, m as pode, se quiser, construircasos mais complicados. E, no fim de cont a s , no existeuma categoria definida de caractersticas que seja aplicvel

    a todos os casos de desejo (pelo menos n o sen ti do em quea palavra habitualmente u ti lizada). Se, por outro lado,p re tendem dar um a definio de desejo, isto , estabelecerum limite ntido, para o uso da pa lavra ento so liv re sde o fazerem como quiserem; m a s este limite nunca serinteiramente coincidente com o uso real, visto que este usono tem um limite ntid o .

    A ideia de que p ara tomar claro o sen ti do de um termogeral era necessrio descobrir o elemento comum a todas

    a s suas aplicaes, estorvou a inves ti ga o filosfica, nos6 porque no conduziu a qualquer resultado, mas tambm

    5 0

    p q q reje ita ssem como irr elevantes os casos concretos, os nicos que poderiam t -losajudado a compreenderem o uso do termo geral. Qu a n doScrates faz a pergunta, O que o conh ecimento? elenem sequer considera como uma resposta preliminaraenumerao de casos de conhecimento( 5) . Se eu quisessesaber o que a aritmtica, deveria sentir-me deverass a ti sfeito por ter inves ti gado o caso de uma aritmtica

    cardinal finita, porque:(a ) isto levar-me-ia a todos os casos mais comp licados,(b ) uma aritmtica cardinal finita no incompleta, no

    tem lacunas que possam ser p r e enchidas pela re s ta n tea r i tm t i ca .

    Q ue acontece, se ent re as 4 e as 4.30, A espera queB venha ao seu quarto? Num certo sen tido em que u ti lizada, a frase esperar algo entre as 4 e as 4.30, nose refere a um processo ou estado mental que se desenrole

    d u ra n te esse intervalo, mas a um gr a n de nmero dea c ti vidades e estados de esprito diferentes. Se, por exem plo,eu espero B para o ch, o que acontece pode ser isto: squatro hora s olho para a minha agenda e vejo o nome B

    ju nto da data de hoje ; pr ep aro ch para do is ; pe nso porum mom ento ser que B fuma? e ponho cigarros vista;por volta das 4.30 comeo a sentir-me impaciente; imaginoqual ser o aspecto de B quando entrar no meu quarto.Tu do is to cons iderad o esp erar B en tre a s 4 e as 4.30.E existem variantes infindveis deste processo q ue descre-

    vemos por recurso mesm a expresso. Se se perguntar oque tm em comum os difer e ntes processos de esperaralgum para o ch, a resposta a de que no h uma ni-ca caracterstica comum a todos eles, embora haja comoque uma sobreposio de muitas caractersticas comuns.Estes casos de expecta ti va formam uma famlia; tmparecenas fam ilia re s que no se encontram claramented e f i n i d a s .

    Existe um uso totalmente dife re nte da palavra expec-

    tativa, quando ela se refe re a um sentimento particular.(5)Teeteto 146d - 147c .

    5 1

    Este uso de palavras como desejo, expectativa, etc. na expresso a doena de B right( 6) . Com parem a gra-

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    p j , p ,ocorre facilmente. Existe um a relao bvia entre este usoe o que foi anteriormente descrito. No h dvida de que,em m uitos casos, se esperamos algum, no primeiro sen ti do,algumas, ou todas, as ac tividades descritas so acompa-nhadas por um sentimento peculiar, uma tenso; e naturalutilizar a palavra expecta ti va para re ferir esta experinciade tenso.

    Coloca-se agora a questo: dever esta sensao serchamada a sensao de expecta ti va, ou a sensao deexpecta tiva pela chegada de B? N o primeiro c a s o, dizerque nos encontramos num estado de expecta tiva nod e s c reve totalmente, de modo notrio, a situao de estar espera de que isto ou aquilo acontea. O segundo caso, com frequncia, alvitrado irreflectidamente como umaexp licao do uso da expresso esperar que isto ou aquiloacontea, e podero at pensar q ue, com esta exp licao,

    se encontram em terreno seguro, visto que se podere sponder a quaisquer outras questes dizendo que asensao de expectativa indefinvel.

    Nestas circunstncias no existe qualqu er objeco achamar a uma sensao particular a expecta tiva pelachegada de B . Podero at existir excelentes razes deordem prtica para usar uma tal expresso. Apenas umaobservao: se explicmos o sen tido da expresso es-perar pela chegada de B desta m a n eira, nenhuma fraseque seja derivada desta, pela substituio de B por umoutro nome, fica, com isso, explicada. Pode dizer-se quea expresso esperar pela chegada de B no um valorde uma funo do tipo esperar pela chegada de x. P aracompreenderem isto comparem o nosso c a s o com o dafuno eu como x. Com preendemos a proposio eucomo um a cadeira embora no nos tenha sido especifi-camente ensinado o sen tido da expresso comer umacadeira.

    O papel que, no nosso c a s o presente, desempenhado

    pelo nome B na expresso estou espera de B, podeser comparado com o que o nome Bright desempenha

    52

    )mtica desta palavra, quando ela denota um ti po particularde doena, com a da expresso a doena de Brightquando esta se re fe re doena que Bright tem. Caracteri-zarei a dife re na dizendo que a palavra Bright no pri-meiro caso um ndice no nomecomplexo a doena deBright; no segundo c a s o chamar-lhe-ei um argumento dafuno a doena de x. Pode dizer-se que um ndice alude

    a qualqu er coisa, e uma tal aluso pode ser justificadade toda s as maneiras possveis. Nestes termos, chamar auma sensao a expecta tiva pela chegada de B d a r --lhe um nome complexo e B a lude possivelmente aohomem cuja chegada tinha nitidamente sido precedida pelas e n s a o .

    Podemos de novo utilizar a expresso expe ctativa pelachegada de B no como um nome mas como umacaracterstica de certas sensaes. Ser possvel, por exem-plo, explicar que se diz que uma certa tenso umaexpectativa pela chegada de B, se ela sa ti sfeita pelachegada de B. Se a s sim que usamos a expresso, entoser correcto afirmar que no sabemos o que esperamosa t q u e a n o s s a e x p e c t a t iv a t e n h a s i d o s a tisfeita (cf. Russell).Ma s ningum pode acreditar que esta a nica maneira,ou mesmo a m a n eira mais comum, de usar a palavraesperar. Se eu perguntar a algum de quem ests espera? e depois de obter a re sposta perguntar de novotens a certeza de que no ests espera de outra pessoa?,

    ento, na m aior parte dos casos, esta questo seria consi-derada absurda e a re sposta seria algo como devo, semdvida, saber de quem estou espera.

    Pode caracterizar-se o sentido que R ussell d palavradesejo dizendo que ela significa para ele uma espciede fome. Considerar que um a sensao particular de fo-me ser sa tisfeita pela ingesto de um alimento particular,c o n s titui uma hiptese. Na m a n eira de usar a palavradesejo, que prpria de Ru ssell, no faz sentido dizer

    desejava uma ma m a s fiquei sat isfeito com uma(6) Cf. Tractatus, 5.02.

    5 3

    pera(). Mas, de facto, fazemo-lo s vezes, us a n do al d d d f d d ll

    primeiro sentimento atravs de um verbo intransitivo, oud

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    palavra desejo de uma m aneira diferente da de Russell.Neste sen t ido, podemos dizer que a tenso do desejo foimitigada sem que o desejo tenh a sido sa ti sfeito; e tamb mque o desejo foi sati sfeito sem qu e a tenso tenha sidomi tigada. Isto , posso, neste sen tido, ficar insa ti sfeito semque o m eu desejo tenha sido sa ti s fe i to .

    Ora, poderamos sentir-nos tentados a afirmar que a

    diferena de que falamos se re sume simplesmente aoseguinte: nalguns casos sabemos o que desejamos, noutrosno. Existem, certamente, c a s os em que dizemos sinto umdesejo, embora no saiba o que desejo ou, sinto umreceio, mas no sei o q ue receio, ou ainda: sinto medo,mas no tenho medo de algo em par t icular.

    Podemos descrever estes casos dizendo que temos cert a ssensaes que no se re fere m a ob jectos. A frase que nose re ferem a objectos introduz uma distino grama tic a l .Se, ao caracterizar tais sensaes, utilizarmos verbos comorecear, desejar, etc., estes verbos sero intrans itivos;eu receio ser anlogo a eu choro. Podemos chorarpor causa de alguma coisa, mas o qu e nos leva a chorarn o u m c o n s tituinte do processo de choro; isto , podamosd e s c re ver o que acontece quando choramos, sem m encio-narmos o qu e nos leva a chorar.

    Suponham agora que eu suge ria o uso da expressosinto medo, e de expresses semelh a n tes, apenas dema n eira transitiva. Em lugar de dizermos, como o fazamos

    a n tes, tenho uma sensa o de medo (intransitivamente),diremos agora tenho m edo de algo, m a s no sei de qu.Existir alguma objeco a esta terminologia?

    Podemos dizer: No, a no ser que estamos, nesse caso,a utilizar a palavra "saber" de um a m a n eira estra n ha.Considerem este ca s o: temos um sentimento impre cisode medo. M ais tarde, acontece algo que nos leva a dizer,Agora sei do que tinha medo. Tinha medo de que istoe aquilo acontecessem. S er correcto descrever o meu

    rn Cf. Russell, Analysis of M ind, III.

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    deveria dizer que o meu medo ti nha um ob jecto emboraeu no soubesse que isto acontecia? Ambas estas form a sde descrio podem ser utilizadas. Para comp re e n d e rem istoexaminem o seguinte exemplo: pode considerar-se tilchamar a um ce rto estado de apod recimento de um dente,no acompanhado pelo que geralmente chamam os dor dedentes, dor de dentes inconsciente e usar num tal caso

    a e x p r e s s o d e q u e t e m o s d o r d e d e n t e s , m a s n o o s a b e m o s . precisamente neste sen ti do que a psicanlise fala depensamentos inconscientes, actos de vontade, etc. Ora, serque, neste sentido, um erro dizer que tenho dor de dentesmas qu e no o sei? No h nada de mal nisso, dado quese trata unicamente de uma nova terminologia qu e podeser em qualquer altura traduzida de novo para a linguagemcomum. Por outro lado a palavra saber obviamenteusada de uma m a n eira nova. Se pre tendem examinar omodo como esta expresso usada, ser til perguntarema vocs prprios com que se parece, neste c a so, o processode vir a saber? A que chamamos "vir a saber" ou,"descobrir"?

    No errado, de acordo com a nossa nova conveno,dizer tenho um a dor de dentes inconsciente. Qu e maispodero exigir da vossa notao, do que a distino entreum m au dente que no vos p rovoca dor de dentes e ummau dente que o faz? Mas a nova expresso induz-nos emerro, ao evocar imagens e a n alogias que nos tornam difcil

    o recurso nossa conveno. E extremamente difcil prde parte estas imagens, a menos que estejamos constan-temente vigila n tes; particularmente difcil quando, ao filoso-farmos, contemplamos o que dizemossobre as cois a s .Assim, a expresso dor de dentes inconsciente pode, ouinduzi-los erroneamente a pensar q ue foi feita um a des-coberta formidvel, uma descob e r t a que num ce rt o sentidoconfunde completamente a nossa compreenso; ou ento,podero ficar extremamente perplexos com a expresso (a

    perplexidade da filosofia) e possivelmente formularo um aquesto do ti po como ser possvel uma dor de den tes

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    garga n ta est inflamada, isto poderia indicar-nos umi Ch i t f j

    Qu a n do falamos da linguagem como um simbo li smod l l t t t d

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    sintoma da a n gina. Chamo sintoma a um fenmeno cujacoincidncia, de uma ou de outra m a n eira, com o fenmeno

    que cons titui o nosso critrio de definio, nos foi reveladapela experincia. Assim, afirmar que um homem tema n gin a s se este bacilo foi nele encontrado uma tautologia,

    ou uma ma n eira pouco exacta de enunciar a definiode a n gina. Mas afirmar, um home m tem a n ginas sempre

    que tem a garg a n ta inflamada formular uma hiptese.Na prtica, se vos pergunt a s sem qual dos fenmenos

    o critrio de definio e qual um sintoma, se riam na maior

    par te dos casos incapazes de responder a esta questo

    excepto tom a n do uma deciso ad hocarbitrria. Pode sertil definir uma palavra adopt a n do como critrio dedefinio um fenmeno , mas facilmente seremos induzidos

    a definir a palavra recorrendo ao que, de acordo com onosso primeiro uso, era um sintoma. Os m dicos usam

    nomes de doenas sem nunca decidirem quais os fenmenosque devem ser considerados como critrios e quais comos i n to m a s ; e isto no cons ti tui necessariamente uma faltadeplorvel de clareza. Devem lembrar-se de que no

    u t ilizamos geralmente a linguagem de acordo com regrasrigorosas ela tamb m no nos foi ensinada por meio deregras rigorosas. Ns, pelo contrrio, nas nossas discusses,comparamos constantemente a linguagem com um clculoque obedece a regras exacta s .

    Esta um a viso muito parcial da linguagem. Na prtica,

    usamos m uito raramente a linguagem como um clculodeste tipo. No s no pensam os nas regras de uso nasdefinies, etc. q uando utilizamos a linguagem, comotambm no somos capazes de, na maior parte dos casos,fornecer essas re gras quando isso nos pedido. Som osclaramente incapazes de circunsc rever os conceitos que

    u ti lizamos; rio porque desconheam os a sua verdadeiradefinio, mas porque no existe qualquer definioverdadeira desses conceitos. Supor a sua necessidade s eri a

    como supor que, semp re que as c r i an a s

    brincam com umabola, jogam um jogo de acordo com regras rig o r o s a s .

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    usado num clculo exacto, o que temos em mente podeser encontrado na cincia e na matemtica. O nosso usocomum da linguagem apen a s em casos raros se adapta aeste padro de exac ti do. Por que mo ti vo ento compa-ramos constantem ente, ao filosofarmos, o nosso uso daspalavra s com um uso que obedece a r e gr a s exactas? Aresposta reside no facto de os enigm as que procuramos

    eliminar derivarem sempre, prec i s a m e n t e , d e st a a t it u d e p a r acom a linguagem.Considerem como um exemplo a questo O que o

    tempo ?, tal como foi formulad a por S a n to Agostinho eoutros. p rimeira vista, o que esta questo pede u madefinio, m as, nesse c a s o, lev a n t a - s e im e d i a t a m e n t e a q u e s -to: O que ganharamos com um a defmio, se ela apenasnos pode conduzir a outros termos no definidos? E porque mo tivo se deveria ficar perplexo com a falta de uma

    definio de tempo, e n o com a falta de uma definiode cadeira? Por que mo t ivo no deveramos ficar per-plexos em todos os casos em que no temos um a definio?Ora uma definio escla rece com frequncia a gramticade uma palavra. E, de facto, a gramtica da palavra tem-po que nos deixa perplexos. Nsa p e n a s ex pre s s a m o s e s taperplexidade ao formular um a questo um pouco engana-dora, a questo: O que ...? Esta questo uma expressode falta de cla re za, de m al-estar mental, e comparvel q uesto porqu? q ue as cri a n as repetem to frequen-

    temente. Tambm esta uma expresso de um m al-estarmental, e no pede necessariamente quer uma causa, queruma razo. (He r tz, Princpios de M ecnica.) Ora a perple-xidade sobre a gramtica da palavra tempo provm doque se poderia chamar a s contradies aparentes dessag r a m t i c a .

    Foi uma dess a s contradies que embaraou S a n toAgostinho quando argumentou: Com o possvel a mediodo tempo? O passado no pode ser medido, porque passou,

    e o futuro no pode ser medido porque ainda no existe.E o presente no pode ser medido porque no tem extenso.

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    de que uma palavra no tem um sen t ido que lhe tenha sidodado por assim dizer por um poder independente de ns

    parece apropriado e, por outro, tem seguramen te induzidoas pessoas em erro (Poder se ia dizer que o assunto de

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    dado, por assim dizer, por um poder independente de ns,para que possa proceder-se a uma esp cie de investigaocientfica sobre o q ue a p