iv mostra 2º semestre 2006
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CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE PROFª. DRª. BEATRIZ REGINA PEREIRA SAETA
Diretora
PROFª. DRª. IRANI TOMIATTO DE OLIVEIRA
Coordenadora do Curso de Psicologia
PROFª. MS. TÂNIA ALDRIGHI
Profª. Resp. pela Área de Psicologia Institucional
PROFESSORES CONVIDADOS
Profª Ms. Aparecida Norma Martins - IPUSP
Profª Ms. Alessandra Bonadio - UNIFESP Prof. Dr. Ailton Siqueira Fonseca - UERN
Prof. Ms.Aurélio Fabrício T. Mello – UPM
Prof. Ms. Allan Rodrigues Dias - IPUSP
Profª. Ms. Berenice Carpigiani – UPM
Profª.Ms. Carla Biancha Angelucci - UPM
Profª. Drª. Dinorah Fernandes G. Martins – UPM
Prof. Ms. Erich Montanar Franco - UPM
Prof. Ms. Fabiano Fonseca – USP/UPM
Prof. Ms. José Estevam Salgueiro – UPM
Profª Ms. Isabel da Silva Amaral - UNIBAN
Prof. Dr. Irto de Souza - IPUSP
Prof. Ms. Lineu Norio Kohatsu -UPM
Prof. Ms. Luiz Fernando Bacchereti - UPM
Prof. Ms. Mario Souza Costa - IPUSP
Prof. Ms. Marcos Vinicius de Araujo - UPM
Profª. Ms. Maria Conceição C. Uvaldo – IPUSP
Prof. Dr. Marcelo Afonso Ribeiro –IPUSP
Profª Ms. Mônica Birchler V. Meira. PUC/SP – UNIP
Prof. Dr. Paulo Afrânio Sant’Anna - UPM
Profª Drª Sueli Galego de Carvalho - UPM
Profª Sonia Regina P. P. Luque – IPUSP
Profª. Drª. Solange Aparecida Emílio - UPM
Profª Ms. Susete Bacchereti - UPM
Profª. Ms. Rejane Teixeira Coelho – UPM
Prof. Dr. Robson Rusche- UPM
Profª Tatiana Neves – IPUSP
Profª Drª Tereza Hatae Mito - UPM
PROFESSORES ORIENTADORES
Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho Profª. Drª. Anete de Souza Farina
Prof. Drª. Claudia Stella
Prof. Ms. João Garção Profª.Drª. Vânia Conselheiro Sequeira
Prof. Ms. Walter Lapa
Núcleo de Estudos e
Pesquisas Psicossociais do
Cotidiano
ANAIS
DA
IV MOSTRA
DE PSICOLOGIA
DO COTIDIANO
DIA: 31/10/2006
HORÁRIO: das 7h30 às 18h
LOCAL: Auditório Ruy Barbosa
AARRTTEE
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A RECEPÇÃO DE DIFERENTES ESTILOS MUSICAIS: A
ABERTURA PARA A CO-CRIAÇÃO.
Pesquisadores:
Diogo Teixeira Barbosa
Fernanda Cardoso Diniz
Isabela Mastriani Simões Tuca
Juliana Guida
Maria Alice Álvaro de Souza Camargo
Mauro Henrique Capelli
Nara Nogueira
Natalia Catalina Muñoz
Natalia Oncins, Paloma.
Orientação: Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho
O trabalho pretende analisar as diferentes formas de recepção, construção ou co-
criação de quatro diferentes estilos musicais: a música popular brasileira, o rock, a
música erudita e o rap. O objetivo é avaliar o impacto desses diferentes objetos
estéticos em públicos específicos, isto é, em aficionados dos estilos acima
referidos. Em outras palavras, será que diferentes gêneros musicais fazem com
que os receptores mudem suas formas de sentir, pensar e se inserir no mundo,
constituindo suas subjetividades através dessas diversas linguagens? Se sim, quais
são essas transformações? Segundo Cândido (1995) a arte é uma atividade
fundamental de todos os homens em todos os tempos. Assim, o autor considera
que a luta pelos direitos humanos pressupõe a consideração de bens que
garantem tanto a sobrevivência física quanto a espiritual (como o direito à Arte).
Sempre historicamente situadas, as atividades artísticas, enquanto construções
simbólicas com estruturas próprias configuram-se como formas de significação
do mundo, formas sempre abertas a diferentes interpretações. Com efeito, como
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saliente Duarte Jr. (1985) a experiência estética se realiza como uma relação na
qual sujeito e objeto artístico estão dialeticamente articulados. Vygotsky (1998 e
2004) também considera que uma obra de arte se traduz como uma relação
dialética entre forma e conteúdo, relação essa que, por trabalhar com palavras e
imagens muitas vezes ambíguas – posto que a Arte ultrapassa os sentidos
cotidianos dos signos – pressupõe um receptor ativo, isto é, capaz de construir
sentidos múltiplos a partir da sua percepção. Assim, o receptor da arte é também
um co-autor. Segundo o psicólogo russo, embora a produção e a recepção da
Arte não sejam processos idênticos, eles têm algo em comum: há sempre, na
recepção uma recriação do ato criador. Tal recriação ocorre, para Vygotsky, a
partir das emoções suscitadas pela Arte, emoções que ocorrem no plano da
fantasia ou da imaginação e que levam à construção de múltiplas representações
da realidade, ainda que sempre em contextos culturais específicos e, muitas
vezes, colocando em discussão valores dessa mesma cultura. Ao produzir
emoções de sentidos opostos, as Arte, para o autor citado, produz catarse,
conceito tomado por Vygostky de Aristóteles mas interpretado como produção
de estranhamento, isto é, de sentidos que só se apresentam como latentes na vida
cotidiana. Assim, para alcançarmos o objetivo desse trabalho faremos entrevistas
semidirigidas, isto é, com roteiro previamente elaborado, sendo o foco das
questões o processo de re-criação dos estilos musicais acima referidos.
REFERÊNCIAS: CÂNDIDO, A. O direito à literatura. In: Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995. DUARTE JR. J. F. O que é Beleza. São Paulo: Brasiliense, 1985. VYGOTSKY, L. Psicologia da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1998. __________, A Educação Estética. In: Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
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O PROCESSO DE CO-CRIAÇÃO NA EXPERIÊNCIA ESTÉTICA:
ANÁLISE DE PRODUÇÕES ESCRITAS SOB O IMPACTO DA
INTERSECÇÃO DE FOTOS E MÚSICAS.
Pesquisadores:
Clara Maria Okada
Débora de Carvalho
Érica Mota
Felipe Pereira
Lia Temple
Lídia Marinho
Lisa Ichinoseki;
Marcela Bertoncini
Nara Amorim
Patrícia Batistela
Ricardo Macedo
Sheila Martins
Tatiana Andrade
Vanessa Porcino.
Orientação: Prof. Dr. Alex Moreira de Carvalho.
Segundo Duarte Jr. (1985) a experiência estética se constitui como uma relação.
Assim, trata-se de um processo pelo qual a obra de arte e o receptor dialogam de
tal forma que existe não só criação, por parte do artista, mas também o que
Vygotsky (2004) chama de co-criação por parte de quem a recebe. Como a
linguagem artística se constrói com quase símbolos (cf. Duarte Jr, 1985), posto que
tem sentido conotativo, ela acaba expressando idéias e sentimentos de múltiplos
significados, o que permite, ao receptor, de forma consciente ou inconsciente,
conceber sua própria interpretação do objeto estético. A reação estética é, pois,
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segundo Vygotsky (1998), uma unidade entre percepção, emoção e imaginação,
unidade esta que se constitui na intersecção entre o plano cultural, já que a Arte,
para o autor, é uma técnica ou atividade social de expressão dos sentimentos, e o
psiquismo individual. No entanto, tal processo de recepção ou reação só se
realiza a partir da estrutura simbólica de uma obra. Assim, investigamos neste
trabalho a intersecção entre fotos e música conforme será mais explicitado no
procedimento. Agendamos três encontros com 5 estudantes de diferentes cursos
da Universidade Presbiteriana Mackenzie. No primeiro, apresentamos 3 fotos
preto e branco, retratando imagens cotidianas da cidade de São Paulo, do
fotógrafo Rafael Salvador, e pedimos que escrevessem histórias sobre as
mesmas. No segundo e terceiro, apresentamos as mesmas 3 fotos, acompanhada,
cada uma, por músicas instrumentais diferentes de Mozart, Vivaldi, Chopin,
Bach e Philip Glass, e pedimos que novamente escrevessem histórias.
Analisamos, posteriormente, se o conteúdo das histórias relatadas apresentavam
emoções distintas.
REFERÊNCIAS: DUARTE JR. J. F. O que é Beleza. São Paulo: Brasiliense, 1985. VYGOTSKY, L. Psicologia da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1998. _________ . A Educação Estética. IN: Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2004
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O PROCESSO DE REAÇÃO ESTÉTICA DIANTE DE MÚSICA DE
WALTER FRANCO: UMA ANÁLISE DO PONTO DE VISTA DA
PSICOLOGIA DA ARTE DE VYGOTSKY
Pesquisadores:
Andrea Mataresi
Carla Cozatti
Claudete Vasconcellos de Almeida Araújo
Paola Phedra Zajdenbaum
Patrícia Azevedo Ribeiro
Patrícia Bouças Apparecido
Silvia Regina dos Santos Dermendjian
Victor Valentim de Souza
Orientação: Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho
Investigaremos neste estudo o processo de recepção artística de um dos autores
da música popular brasileira tido como maldito, isto é, como um produtor de
obras que não se alinham com as criações delimitadas pela indústria cultural (cf.
Adorno, 1991). Com efeito, trata-se de um músico cuja produção simbólica
pauta-se pela invenção de formas de linguagem cujos sentidos não estão pré-
estabelecidos. Em outras palavras, segundo o autor citado, a razão instrumental,
no capitalismo, produziu a cultura de massas, se apropriando dos bens culturais.
Nesta cultura vendem-se representações do mundo que reiteram imagens já
estipuladas, o que significa afirmar que se trata, na arte, neste contexto criado, de
uma satisfação manipulada do receptor, que vê ou ouve aquilo que já se encaixa
em determinadas caricaturas. No entanto, para Adorno a Arte possui também
um potencial crítico: a produção de objetos estéticos que exprimam a dor ou a
alienação gerada pelo mundo do trabalho pode se constituir como estranhamento
para quem a percebe e busca colocar em questão valores já estabelecidos. A Arte,
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assim, seria, a verdadeira expressão de do que, na vida cotidiana, está reprimido.
Neste sentido, a Arte ultrapassa o cotidiano, colocando-o sob suspeita. Para
Vygotsky (1998) a arte é um campo específico do homem social: o campo do
sentimento. A arte, neste sentido, é uma forma de expressão do psiquismo social,
isto é, a atividade artística consiste na construção de objetos simbólicos cuja
força psíquica e cultural são os sentimentos. No entanto, par o autor russo a
expressão artística não se reduz a uma efusão emocional. Com efeito, a Arte só é
expressiva no interior das formas autônomas que o artista constrói. Com relação
à reação ou percepção da obra de Arte, Vygotsky considera que tal processo se
estabelece como uma relação entre o objeto artístico e o receptor. Assim, como
assinala Duarte Jr (1985) e Frayzer-Pereira (1994) a experiência estética se
constitui entre o fazer simbólico do criador e o processo de elaboração do
receptor. Sentimentos e idéias são, então construídos e sempre mediados pela
cultura, a Arte passa a ser um modo específico de dizer o que não se diz com a
linguagem conceitual que se usa no cotidiano. A Arte, para Vygotsky, vai além
do cotidiano justamente porque o coloca em questão, produzindo catarse, isto é,
uma descarga emocional que ocorre a partir da percepção da forma e se realiza
na fantasia ou na imaginação. Entende-se neste trabalho que Vygotsky interpreta
o conceito aristotélico de catarse como produção de estranhamento e, assim,
sempre mediada pela cultura, a Arte seria um modo específico de revelar
sentidos ocultos da realidade social. Neste sentido, este trabalho pretende
verificar como, para alguns receptores ocorre a leitura ou a co-criação de músicas
construídas fora dos moldes estabelecidos pela cultura vigente e avaliar as
facilidades e/ou dificuldades encontrados nos relatos dos receptores de tal
maneira de representar o mundo. Para Alcançarmos este objetivo serão
realizadas entrevistas semidirigidas com 6 pessoas, sendo eles: 3 sujeitos com
linguagem musical e 3 sujeitos que não tiveram a mesma formação. A entrevista
terá roteiro pré-estabelecido, roteiro este formulado a partir dos objetivos
propostos.
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REFERÊNCIAS ADORNO, T. E HORKEIMER, M, A dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: zahar, 1991. DUARTE JR, J., O que é beleza. São Paulu: Brasiliense, 1995. FRAYZER-Pereira, J. Os limites da arte: a abertura para a psicologia. In: Psicologia: Ciência e profissão. Ano 14 123, 1994. VYGOTSKY, S. R., Psicologia da arte. São Paulo: Ed Martins Fontes, 1998.
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FFAAMMÍÍLLIIAA
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UM OUTRO OLHAR PARA A FAMÍLIA DE PESSOAS PRESAS
Pesquisadores:
Ana Veronica C. da Silva
Eliana M. T. J. F. Ornelas
Laís P. Khoury
Thais S. Braga
Orientação: ProfªDrª Vania sequeira
Estudar a população carcerária brasileira tem relevância social, pois corresponde
a estudar a vida de muitas pessoas (223.220 presos). Historicamente, as prisões
quando foram instaladas serviam apenas de preparação para a verdadeira
punição, que era a pena de morte, mutilação, entre outras. A prisão não era
definitiva, era ante-sala da pena. A partir do final do século XVIII, passou a ser a
própria punição, que passou a atingir a liberdade do ser humano. Desde o inicio
das prisões o discurso veiculava o ideal de transformação, de regeneração dos
condenados, porém esse ideal nunca foi concretizado, já que o fracasso das
prisões, como agente possibilitador de desenvolvimento humano, foi constatado
desde o inicio desse tipo de penalização. Os mesmos problemas ainda são
encontrados hoje: superlotação, fugas e rebeliões, condições desumanas e
situações de violência. Acreditamos que estes problemas justificam estudar ainda
mais essa temática, para poder contribuir para a elucidação de tal enigma, assim
como de propiciar indicativos para intervenções nesta área. Entendemos que
estudar as vivências dos familiares de presos é importante porque eles estão
permeados por uma invisilibilidade social. Seus sofrimentos e dificuldades não
são amparados pela sociedade. Buscamos investigar por meio da própria fala
dessas pessoas o que de fato ocorre em suas vidas após o aprisionamento de um
de seus membros. Temos a intenção de contribuir para a não estigmatização
desta população. O objetivo deste estudo foi analisar as vicissitudes dos
familiares de pessoas presas. O método qualitativo foi escolhido por ser um
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método de pesquisa que valoriza a subjetividade. O paradigma qualitativo
defende a produção de conhecimento como um processo permanente em que os
resultados são momentos parciais que se entregam constantemente com novas
perguntas e abrem novos caminhos à nova produção de conhecimento. Cada
resultado está imerso em um campo infinito de relações e processos que o
afetam, no qual o problema inicial se multiplica em infinitos eixos de
continuidade da pesquisa. Realizaremos entrevistas semi-abertas com familiares
de pessoas presas. Também visitaremos o setor da Secretaria de Administração
Penitenciária do Governo do Estado de São Paulo, que atende a familiares do
sistema prisional para entrevistar profissionais deste setor e coletar dados sobre
este serviço. Os estudiosos sobre a prisão (Rocha, 1994) nos ensinam que elas
são habitadas não apenas pelos criminosos, mas por uma parcela da população, a
mais pobre. É uma ilusão acreditar que a prisão é um agente de proteção social,
na verdade é uma engrenagem na fabricação da exclusão social. Podemos
observar que há uma dinâmica entre a exclusão e a inclusão social; a exclusão
social acontece sutilmente por meio de condições de saúde insatisfatórias, falta
de atendimento durante a gestação, falta de equipamentos sociais que auxiliem
ao desenvolvimento infantil, escolas que não dão ensino de qualidade,
inexistência de qualificação profissional para os jovens nas periferias, tudo isso
constrói um tipo de inclusão perversa, pois não temos garantia de cidadania para
todos os membros de nossa sociedade. Uma parte dessa população busca sua
pertença social no crime, que dá status e acesso aos bens de consumo,
difundidos na mídia como fundamentais à vida, porém de acesso garantido
somente a uma parte da população. Entendemos as causas da criminalidade,
considerando seus aspectos sociais. A prisão é uma instituição permeada por
significados, geralmente depreciativos dirigidos aos presos e por extensão, a seus
familiares. O estigma é uma cristalização de aspectos negativos da identidade do
sujeito, ele imobiliza e não permite o desenvolvimento pleno do sujeito.
Sabemos que o preconceito se constrói por uma rotulação negativa de apenas
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um aspecto do sujeito, de forma a impedir que tenhamos a acesso ao sujeito em
sua totalidade, inclusive em suas potencialidades. Avaliamos que os familiares
dos presos vivem imersos na mesma sociedade que produz o preconceito e que
eles próprios tentam lidar sozinhos, sem amparo social e político, com a quebra
destes preconceitos, já que podem ter contato com outros aspectos de seus
familiares que não só a vida criminal. Acreditamos que nosso trabalho possa
contribuir para combater o preconceito contra o preso e sus familiares.
Atualmente, o processo de reintegração do preso à sociedade requer muito mais
esforço do preso, do que da sociedade, que deveria oferecer a reeducação e o
trabalho como processo de reintegração. Infelizmente, o sistema prisional
brasileiro se encontra em situação ainda distante do que seria necessário para
reintegrar o preso à sociedade e diminuir a incidência dos mesmos. Esse
problema social só poderá ser resolvido quando todos enxergarem essa
problemática, e efetivarem ações nas áreas da cultura, educação e trabalho, como
a formas de ressocialização de um indivíduo marcado pelo estigma.
REFERÊNCIAS
BARATTA, A. (1990). Por um Concepto Critico de Reintegracíon Social del Condenado. In: Oliveira, E. (Coord.). Criminologia Critica (Fórum Internacional de Criminologia Crítica). Belém: CEJUP, pp 141-157. BARROS, A. R. de R. Relato de experiência educação e trabalho – instrumentos de ressocialização e reinserção social. São Paulo: FUNAP, s/d. BUORO, A. B. Negociando a dignidade humana: os familiares de presos e a percepção dos direitos humanos. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social.Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998. CHIESS, L. As Prisões em São Paulo. SALLLA, FERNANDO, São Paulo; Annablume/ Fapesp, 1999. DUPAS, G. A lógica da economia global e a exclusão social. Rev. bras. Ci. Soc., São Paulo,v.12, n.34, 1998.
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GOMES, M., A. & PEREIRA, M., L., D. Família em situação de vulnerabilidade social: uma questão de políticas públicas Rev. bras. Ci. Soc., Rio de Janeiro, v.10, n.2, 2005. ROCHA, L. C. A prisão dos pobres. Tese de Doutorado. USP, 1994. SANTOS, T., S. Globalização e exclusão: a dialética da mundialização do capital. Rev. bras. Ci. Soc., Porto Alegre, n.6, 2001. SEQUEIRA. Família e pertencimento. Vidas Abandonadas. Tese de Doutorado. PUC/SP, 2005. SOUZA, Ceila M et al. O trabalho no sistema penitenciário. Brasília, 2002, mimeo. STELLA, C. A Socialização dos filhos de mulheres presas. Tese de Doutorado. PUC/SP, 2004. ZAFFARONI, E. Raul (1998). Criminologia: aproximación desde um margen. Santa Fé de Bogotá (colômbia): Editorial Temis S. A. ZALUAR, A.Exclusão e políticas públicas: dilemas teóricos e alternativas políticas. Rev. bras. Ci. Soc., São Paulo, v. 12, n. 35, 1997.
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MST: OUTROS LAÇOS FAMILIARES?
Pesquisadores:
André K. Miyake
Carolina M. N. Betti
Daniella Diddio
Flávia I. Carnielle
Isabel N. Rinaldi
Isabela M. F. A. dos Santos
Mariana B. Pioltini
Neuma P. de Souza
Sônia M. B. Campos
Talitha R. Antonucci
Thatiana S. Riva
Tiago E. Farah
Orientação: Profª Drª Vania Conselheiro Sequeira
Buscamos uma compreensão sobre a atual configuração familiar no Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a partir de aspectos históricos,
sociais, culturais e subjetivos, contextualizando o maior movimento social do
Brasil contemporâneo e a questão agrária brasileira, com o intuito de não só
entender a família em sua diversidade, mas como parte de um movimento com
rupturas com o sistema capitalista, procurando compreender até que ponto a
estrutura social, no caso mais próxima do ideal socialista, influencia as relações
cotidianas da família e se ela se difere da família inserida no contexto capitalista.
Pretendemos analisar o cotidiano das famílias acampadas, suas relações, suas
atividades para compreender seus vínculos afetivos e sociais, valores e crenças, e
a partir dessa perspectiva compreender como funciona uma família que vive
num contexto social diferente do que conhecemos. Acreditamos que a família
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integrada a um movimento que tem como desafio a elaboração de um programa
para o campo, por meio de lutas massivas, com organização da população deve
apresentar alguma diferença em termos de valores, diferente da família nuclear
da sociedade atual neoliberal, que exclui os mais pobres, deixando-os sem
trabalho, sem direitos e sem dignidade. Objetivo: Compreender a configuração
familiar num acampamento do MST. Método: Observação participante
acompanhada de entrevistas semi-dirigidas com pessoas do acampamento
visitado. Optamos pelo método qualitativo porque nos permite ter acesso ao
cotidiano e ao relato das pessoas, o que nos remete não apenas a vivencia
pessoal, mas às relações e experiências de todo um grupo. Discussão: A
reforma agrária no Brasil é uma questão histórica. A luta pela terra existe desde
nossa colonização, e persiste hoje com um histórico de violência, conquistas e
derrotas. O MST existe oficialmente desde 1984 e tem como principal objetivo a
justa distribuição de terra para todos. No Brasil existe uma enorme desigualdade
social, fazendo com que milhões de pessoas vivam sem condições adequadas.
Grande parte da população não tem lugar para morar e nem formas de
subsistência garantidas. A luta pela terra é, portanto, uma questão social de
grande importância no nosso país. Espalhado por todo território nacional e com
repercussão internacional, o MST ao longo dos anos adquiriu uma identidade
própria, que representa uma cultura de luta e contestação. O movimento pode
ser considerado um lugar de formação do sujeito social sem terra, dentro de uma
ideologia de luta e de um sentimento que valoriza em primeiro lugar a
coletividade. (CALDART, 1999). E será que isso nos remete a uma outra
configuração familiar? Qual é a função da família? Entendemos, assim como
Sequeira (2005), que ela deve garantir o desenvolvimento da personalidade do
sujeito e ao mesmo tempo oferecer laços de pertença com a comunidade. A
filiação nos parece fundada biologicamente, mas não é, ela é uma regra social que
define o pertencimento de um indivíduo ao grupo. Em muitas sociedades, a
filiação não possui relação com a procriação em si. A função de educar e o afeto
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criam as relações simbólicas que definirão o lugar do indivíduo dentro da família
e da sociedade. O fato de a família apresentar diferentes configurações não muda
sua função de dar pertença ao indivíduo por meio de um lugar social. As famílias
no MST se organizam em acampamentos até conseguirem assentar-se na terra.
Posteriormente, esta configuração é desfeita e as famílias não conseguem se
separar dos moldes tradicionais de organização familiar e de propriedade privada.
Inclusive as terras recebidas são dadas para cada família. Os papéis sociais são
bem delimitados, não conseguindo estabelecer uma relação sem hierarquização
baseada na dominação, embora os ideais do movimento preguem o inverso.
REFERÊNCIAS
BRENNEISEN, E. C. Relações de poder, dominação e resitência:a organização social e da produção em assentamentos rurais na região oeste do Paraná. Tese de doutorado em Ciências Sociais, PUC-SP, 2000.
CALDART, R. S. O MST e a formação dos sem terra: o movimento social como princípio educativo. Texto produzido para o Primeiro Seminário Internacional do GT CLACSO Educação, Trabalho e Exclusão Social na América Latina. Rio de Janeiro, 1999.
CARDOSO, S. Os significados do envelhecimento e do ser velho no movimento sem terra. Dissertação de mestrado em Gerontologia Social, PUC-SP, 2002. COMPARATO, B. K. A ação política do MST. Revista São Paulo em Perspectiva, 15(4),2001. FERNANDES, B. M. A ocupação como forma de acesso à terra. Trabalho organizado para apresentação no XXIII Congresso Internacional da Associação de Estudos Latino-Americanos. Washington – DC, 2001. HÉRITIER, F. Masculin/Féminin La Pensée de la Différence. París, Éditions Odile Jacob, 1996. MARCONI, M. A; PRESOTTO, Z M. N. Família e sistema de parentesco. In: Antropologia, uma introdução. 4° ed., São Paulo, Atlas, 1998.
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MORISSAWA, M. A história da luta pela terra e o MST. Editora Expressão Popular, 2001. NARITA, S. Estudo dos processos sociais que motivam um grupo de trabalhadores à participação no Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra no Pontal do Paranapanema - SP. Dissertação de mestrado em Psicologia. USP/SP, 2000. OSORIO, L. C. Família hoje. Porto Alegre, Artes Médicas, 1996. REIS, J. R. T. Família Emoção e ideologia. In: Psicologia Social: o homem em movimento. 13° ed., São Paulo, Brasiliense, 1994. RIBEIRO, S. L. S. Processos de mudança no MST: História de uma família cooperada. FFCH/USP-SP, 2002. SEIXAS, A. M. R. A família como transmissor e modelador da sexualidade e gênero femininos. In: Sexualidade feminina; história, cultura, família, personalidade e psicodrama. São Paulo, SENAC São Paulo, 1998. SEQUEIRA, V. C. Vidas abandonadas: crime, violência e prisão. Tese de Doutorado, PUC/SP, 2005. WINNICOTT, D. W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo, Martins Fontes, 2005.
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VIVÊNCIAS DAS FAMÍLIAS MONOPARENTAIS NA ATUALIDADE
Pesquisadores:
Aline Pizarro Riguete
Andréa Alves Klawa
Andréa Maria Pojo do Rego
Cecília Maria Galvão de Barros
Cláudia Bonfily Pimentel
Erileide Ferreira Alves
Fernanda Pavan Carvalho
Jayna Fontes
Larissa Soares Lima
Lilian Yumi Matsuo
Natália Bianchi Rosa
Sandra Boscatto
Thiago Rodrigo Heine dos Santos
Orientação: Profª Drª Vania Conselheiro Sequeira
A família sofreu várias transformações no decorrer do tempo. Até o final da
Idade Média, a idéia de intimidade era inexistente, não havia separação entre o
público e o privado, a vida era totalmente voltada para o social e não
sentimental. No fim do século XVIII, ocorre uma mudança marcante no lugar
da criança na família, o valor social da linhagem transferiu-se para família
conjugal, firmando o modelo nuclear. Embora esse modelo tenha sido
questionado, a família não foi substituída por nenhum outro grupo ou instituição
social. Desde o século XIX, têm-se registros de famílias monoparentais. O termo
monoparental foi criado em substituição às expressões mãe solteira e pai solteiro,
que possuíam uma conotação moral negativa. Este arranjo familiar possui
diferentes motivações: separação, morte, abandono de um dos genitores,
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também podemos ter a família monoparental por escolha de um das partes,
como nas chamada “produções independentes”. Pode contar com participação
ou não, do membro ausente na criação dos filhos. Atualmente a família
monoparental tem se mostrado cada vez mais freqüente, sobretudo as chefiadas
por mulheres o que se deve em parte, pelo ingresso da mulher no mercado de
trabalho. No ano de 2000 encontramos 12,53 % das mulheres sozinhas
responsáveis por seus filhos, enquanto apenas 1,58% eram homens na mesma
situação. Podemos observar que este fenômeno é crescente e merece maior
aprofundamento. Objetivo:Compreender as vivências das famílias
monoparentais na atualidade.Método: Realizaremos entrevistas com roteiro
semi-dirigido com os adultos responsáveis pelas famílias monoparentais.
Optamos pelo método qualitativo por não se expressar em termos numéricos,
priorizando a subjetividade, a linguagem e imagens (COZBY, 2003). Trata-se de
um modelo que busca compreender o fenômeno em suas particularidades, de
forma a aprofundar os aspectos subjetivos presentes. Discussão: Para a
psicanálise, o desenvolvimento psíquico da criança ocorre a partir das funções
materna e paterna, necessárias para a estruturação da subjetividade. Essas
funções possuem diferentes atributos de acordo com a fase de desenvolvimento
da criança, sendo exercidas por adultos como mãe, pai, familiares com laços
biológicos ou não. A principal função de uma família é dar sustentação aos seus
membros e inseri-los na cultura, e isso ocorre de diferentes maneiras, incluindo
as novas configurações familiares atuais (SEQUEIRA, 2005).A família
monoparental feminina é mais comum em nosso meio, presente em nosso país
desde a colonização, porque existiam famílias oriundas do duplo vínculo dos
colonos, que tinham uma família oficial com direitos reconhecidos e outra,
chefiada por mulheres, sem reconhecimento social porque não era oficial. Além
disso, ainda hoje encontramos muitas mulheres responsáveis por seus lares, por
diferentes fatores como abandono, separação, gravidez não planejada.
Atualmente, a família monoparental pode ser decorrente de uma escolha
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individual da mulher, essa configuração familiar se dá pela adoção de crianças
por mulheres solteiras, viúvas ou separadas, e também pela “produção
independente”, que é uma alternativa mais recente. As mulheres que chefiam a
família monoparental, devem garantir além dos cuidados afetivos e domésticos, a
sustentação social e econômica de seus filhos. A função do pai pode ser muito
bem desenvolvida com as novas tendências da chamada paternidade ativa.
Atualmente, um bom pai, deve além de sustentar economicamente o filho, ser
carinhoso e estar presente no dia-a-dia, ajudando nos afazeres de casa e em
relação aos filhos, mesmo ainda havendo uma dificuldade por padrões impostos
pela sociedade como naturalmente do feminino. Concluímos que independente
das diferentes configurações familiares, o adulto responsável pela criança pode
ser capaz de possibilitar um ambiente adequado e proporcionar um
desenvolvimento emocional saudável. Cabe à sociedade acompanhar as
transformações e dar um suporte social e político para amparar o cotidiano
desses adultos em seus cuidados com sua família.
REFERÊNCIAS
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BRAGA, M. da G. R. e AMAZONAS, M. C. L. de A. Família: maternidade e procriação assistida. Psicolog. estud., abril 2005, vol. 10, nº 1, p. 11-18.
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MMÍÍDDIIAA
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UM ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE DE CONSUMO
Pesquisadores:
Ana Moreira Cotrim
Bianca Greco dos Santos
Fernanda Rocha de Moraes
Lívia Lopes
Marilia Gabriela Gonçalves
Rebeca Anafe
Tatiana Pereira
Thomás Leite
Orientação: Prof. Ms. João Garção
Este estudo teve por objetivo refletir sobre a sociedade contemporânea que
apresenta como uma de suas características principais a inscrição do sentimento
de felicidade relacionado à posse de um bem material, o que confere a sociedade
contemporânea para denominação de “sociedade de consumo”. Essa lógica
influencia os consumidores a desejarem muito e sentirem que podem dar-se ao
luxo de possuir, comer e vestir o melhor, e encontrar no produto as qualidades
que a propaganda atribui a eles. Hoje os produtos em sua grande maioria são
iguais. Diferenciá-los fica a cargo da comunicação publicitária, que com os seus
mecanismos de persuasão, recursos psicológicos, tais como: emoções,
percepções, motivações, entre outros, cria e exibe um mundo perfeito e ideal,
conciliando o princípio do prazer com o da realidade, e dessa maneira agrega
valores subjetivos ao produto. Isto é a marca. A função persuasiva na linguagem
publicitária consiste em tentar mudar a atitude do receptor. Para isso, ao elaborar
o texto o, publicitário, leva em conta o receptor ideal da mensagem (público
alvo). O vocabulário é escolhido de forma pontual.. A mensagem faz crer que
falta algo para completar a pessoa: prestígio, amor, sucesso, lazer, vitória. Para
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preencher esse vazio, utiliza palavras adequadas que desperta o desejo de ser
feliz, natural de cada ser. Por meio das palavras, o receptor “descobre” o que lhe
faltava, embora logo após a compra sinta a frustração de permanecer insatisfeito.
Por isso que a marca é de extrema importância na publicidade, guarda sentido de
estratégia corporal, buscando mais expressão, propicia movimentos de
“simulação e dissimulação, aumentando o poder do corpo de afetar e ser
afetado” (in Baudrillard, apud Santaella, p. 118). É assim que a marca, diferencia
os produtos, ao se tornar o objeto de desejo da maioria dos consumidores. Em
suma, estudar marcas e produtos é perceber a utilização das principais teorias
psicológicas a serviço do consumo.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, N. Publicidade: A Linguagem da Sedução. 3 ed. Editora Ática, 2003. São Paulo. SANTAELLA, L. Corpo e Comunicação: Sintoma da Cultura. Editora Paulus, 2006. São Paulo. HOPKINS, C. A ciência da propaganda. Editora Cultrix, 1923.São Paulo
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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS TRIBOS URBANAS.
Pesquisadores:
André Pereira Ribeiral
Carolina de Araújo Malaquias
Fernanda Saad França Bastos
Greta Sarah Peres Sunhog
Joana Robertiello Guimarães
Miriam B. Peres Sunhog
Nívea Evangelista
Rafael Petit Imthurn
Rafaela Bello Sampaio
Simone Oliveira
Vinicius Costa Fontes
Orientação: Prof. Ms. João Garção
A cidade de São Paulo oferece inúmeras opções de consumo e por ser uma
megalópole, apresenta múltiplas opções para os distintos estilos de
consumidores. A Galeria do Rock, como parte do cenário urbano, representa a
diversidade de estilos tribais da cidade. Tentar entender o consumo, de certa
forma, passa por entender a galeria, por sua estória e característica. Ela possui
450 estabelecimentos comerciais, sendo 190 dedicados ao mundo do rock. São
vendidos CDs, discos, vídeos, camisetas, acessórios, bandeiras, pôsteres e itens
de decoração. Há também estúdios de piercing e tatuagem e sedes de fãs-clube.
O prédio onde hoje se encontra a Galeria foi fundado em 1963, com o nome de
Shopping Center Grandes Galerias. O objetivo deste estudo foi verificar como
se constituiu o público que freqüenta a Galeria do Rock, os produtos que são
consumidos, bem como contemplar as diferentes representações das tribos
urbanas que a freqüentam. Além disso, procurou-se identificar o tipo de
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consumo apresentado por essas diferentes tribos, em relação aos produtos que
caracterizam cada tribo que age como elemento de tipificação e, portanto,
inserção. Como estratégia de coleta de dados, foram realizadas visitas ao local
acima mencionado, entrevistas semidirigidas e coleta de material fotográfico. A
análise e discussão do material foram baseadas em conceitos como indústria
cultural, representações sociais, necessidade de pertencimento e as características
das “tribos”.
REFERÊNCIAS ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. A Indústria Cultural: O Iluminismo como Mistificação das Massas. In: LIMA, L. C. (org.). Teoria da cultura de massa. São Paulo: Paz e Terra, 2000. BAUMAN, Zygmunt; COSTA, João Rezende, Trad. Ética pós-moderna. São Paulo, SP: Paulus, 1997. COELHO, T. O que é indústria cultural. 17ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1998. CALDAS, W. Cultura de massa e política das comunicações. São Paulo: Global, 1986. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. 1ª reimpressão Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10ª ed, Rio de Janeiro: DP&A, 2005. JAMESON, Fredric. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. 2. ed. São Paulo, SP: Ática, 1997. SANTAELLA, L. Cultura das mídias. 3ª ed. São Paulo: Experimento, 2003.
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DOUTORES DA ALEGRIA
Pesquisadores:
Prof. Paulo Manetta
Profª Drª. Regina Ferreira
Profª Ms.Sandra Salgado
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
Doutores da Alegria é uma organização não governamental que busca amenizar
as dificuldades das crianças internadas tais como a distância do ambiente
familiar, dos amigos assim como restrições quanto a brincadeiras,alimentação,
atividade física através da pura e simples “alegria” levada por atores profissionais
para os hospitais. Em 1986, Michael Christensen, um palhaço americano, diretor
do Big Apple Circus de Nova Iorque, apresentava-se numa comemoração em
um hospital da cidade quando pediu para visitar as crianças internadas que não
puderam participar do evento. Improvisando, substituiu as imagens da
internação por outras alegres e engraçadas. E, assim, surgiu o projeto Clown
Care Unit, grupo de artistas treinados para levar a alegria a crianças internadas
em hospitais .Em 1988, o ator Welligton Nogueira passou a integrar a trupe
americana. Em 1991, quando voltou ao Brasil, resolveu tentar um projeto
parecido e, com o nome Doutores da Alegria. Os Doutores da Alegria acreditam
que o sorriso é coisa séria, contam com atores profissionais especializados nas
áreas de teatro clown e técnicas circenses, que recebem treinamento médico
específico para melhorar a interação com as crianças.Visitam 350 mil crianças e
adolescentes internados em 12 hospitais em três estados: São Paulo, Rio de
Janeiro e Pernambuco. O trabalho objetivou verificar a linguagem do humor
utilizada pelos “palhaços” e suas representações e interações para dar suporte o
processo de criação de peças publicitárias que visam sensibilizar o receptor
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para a importância de contribuir para o bem estar e a alegria de crianças
hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde. Para tanto, optou-se pela
metodologia qualitativa com um estudo exploratório baseado em dados
secundários e posteriormente a observação natural em hospitais e entrevistas
semidirigidas com pais e profissionais da alegria. A análise e discussão do
material foram baseadas nas repercussões e significados das brincadeiras para as
crianças.
REFERÊNCIAS
CARRASCOZA,J. A .Razão e Sensibilidade no do Texto Publicitário, São Paulo, Futura, 2004 JUNQUEIRA, M. F. P. S. A relação mãe-criança hospitalizada e o brincar. Pediatria Moderna, São Paulo, v. 38, n. 1/2, p. 44-46, jan./fev. 2002. MASETTI, M. Soluções de palhaços: transformações na realidade hospitalar. São Paulo:Palas Athena, 1998. 80 p. SOIFER, R. Psiquiatria infantil operativa. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.424p WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. 1 ed. Rio de Janeiro: Imago, 1975. 203 p.
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RREELLIIGGIIOOSSIIDDAADDEE
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“PIOR CEGO É AQUELE QUE NÃO QUER VER”:
UMA VISÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS
SOBRE CRENÇAS E RELIGIÕES.
Pesquisadores:
Ana Carolina B. Gonçalves
Ana Priscila Sanches
Cleber do C. Oliveira
Denise Silva
Gabriela de Faria
Marcela Del Bianco
Michele Paes
Tatiana Carvalho
Prof. Walter Lapa
A sociedade em que vivemos é uma sociedade seletiva e julgadora, que diferencia
os indivíduos por classe social, credo ou cor. Mas essas não são as únicas
diferenças contidas na nossa sociedade, pessoas com necessidades especiais
fazem parte do convívio social e muitas vezes são excluídas, sem alicerce social o
único meio que encontram de acolhimento é a religião, onde que para Deus
todos somos iguais. A questão que levantamos no nosso trabalho é sobre o que
está entre a linha de normalidade e anormalidade? O que é normal ou
“patológico”? qual o conceito de excepcional, como a religião ajuda as pessoas a
enfrentar a sociedade, e seus problemas, mesmo sabendo que a sociedade é
injusta com qualquer indivíduo que nela se adequar. Temos a intenção neste
trabalho de não tratar uma pessoa como excepcional ou deficiente e sim como
diferente, como todos os seres do mundo são diferentes, entre si essa diferença
se molda de acordo com a subjetividade da cada um, e essa diferença que faz
com que sejamos um diferente do outro. Este trabalho será constituído por
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relatos, vídeos e entrevistas, feitas com pessoas portadoras de necessidades
especiais verificando a posição da religião na vida dessas pessoas, se acreditam
em Deus ou não, se há um acolhimento por meio da comunidade e participantes
religiosos, se os templos e suas dependências são adaptados para suas
necessidades e questionar se a sociedade de hoje ainda exclui o indivíduo de
participar ativamente no meio social, se há questionamento de mudança vinda
do próprio indivíduo portador, o que poderemos fazer para que esse ponto de
vista seja levado para a sociedade, apelando para que essas vozes nunca se calem.
Ainda fingimos que o mundo, a sociedade, a religião, o indivíduo como
participante ativo da sociedade seja visto apenas como diferente, a construção
que fazemos de um mundo melhor (que não existe) a cada dia se torna mais
distante, e não só por parte da religião, mas também das políticas, as instituições,
públicas ou privadas. Até quando tamparemos nossos olhos para as injustiças do
nosso mundo? Como dito por Jesus: “Pior cego é aquele que não quer ver!”
REFERÊNCIAS:
FREUD, S.(1921). Psicologia de Grupo e Análise do Ego in: Obras Completas. Imago, RJ., Vol. XVIII. 1922; BÍBLIA SAGRADA, Sociedade Bíblica Católica. Internacional e Paulus. 1990, 25° impressão.
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ALGUMAS QUESTÕES DE GÊNERO NAS RELAÇÕES
INTERPESSOAIS SOB A PERSPECTIVA DA RELIGIÃO.
Pesquisadores:
Danit Zeava Falbel Ponde
Fernanda Maluf Ferreira
Juliana de Freitas Bevilacqua
Márcia Badin de Melo
Mariana Rauchfeld
Raquel Athayde Couri
Sílvia Regina Kusaba
Tássia Bittar Pires
Orientação: Prof. Ms.Walter Lapa
Em nosso trabalho procuramos pesquisar, sob as perspectivas religiosas, se
existem questões específicas de gênero na tessitura de um cotidiano de casais.
Para isso foram realizadas entrevistas, semi-estruturadas, com perguntas amplas
para que os entrevistados que expusessem suas idéias, falassem o que lhes é
considerado importante, tendo assim uma maior abertura em suas respostas.
Nestas entrevistas investigamos o cotidiano de casais em relação às questões de
gênero que estão envolvidas no seu relacionamento no âmbito religioso. Em
nossa pesquisa três casais foram colaboradores, um judeu, um católico e um do
candomblé. Partindo-se do pressuposto que a filiação a uma instituição religiosa
é um determinante na orientação de comportamentos envolvendo a obediência
as regras, dogmas, crenças, valores pré-estabelecidos por esta, há que se verificar
como isto afeta o relacionamento cotidiano de casais. Se por um lado as questões
de gênero são naturais no reconhecimento das diferenças no âmbito fisiológico
que elas apontam ao indivíduo, não o são no que tange às atribuições,
subjetividade, comportamento que são construídas pelo contexto cultural no
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qual este indivíduo está inserido. Da mesma forma o relacionamento sexual,
considerado como uma expressão física instintual, será balizado e intermediado
pelas regras das instituições sociais das quais o indivíduo faz parte. Assim
emergem categorias simbólicas tais como amor, virgindade, namoro, noivado,
casamento, adultério, divórcio, opção sexual, que compõe o universo do
relacionamento interpessoal. Todas estas submetidas as particularidade de cada
contexto cultural. Ao longo da história as relações conjugais promoviam alianças
sociais, econômicas sob a égide de uma rigidez de valores amplamente
internalizados no indivíduo. Entretanto a sociedade contemporânea se depara
com uma flacidez quando o indivíduo tem dificuldade de identificar-se com uma
dinâmica que proporcione uma modelação da estrutura de sua vida cotidiana. A
busca imediatista por felicidade, prazer, satisfação dos desejos, fruto da
exacerbação do individualismo promovido pelos ideários capitalistas, trouxe a
problematização da permissividade na conduta, refletindo diretamente na
qualidade dos vínculos afetivos. Um relacionamento interpessoal de
compromisso demanda a prevalência da maturação de certos aspectos como
responsabilidade, intimidade, respeito, aspectos estes que estão constantemente
presentes no discurso religioso. Portanto este discurso proporciona segurança ao
servir como bússola norteadora no percurso existencial do casal. Ao nos
questionarmos sobre tal realidade confirmamos, através das entrevistas, que
discurso religioso realmente exerce esta função norteadora para os casais.
REFERÊNCIAS: BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: Edições Paulinas, 1989. BERGER, Peter L.; LUCKMAN, T.. A Construção Social da Realidade. 23ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar., 2005.
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UM UNIVERSO AFRO: MACUMBA, UMBANDA OU CANDOMBLÉ?
Pesquisador: Ítalo do Lago Pinha ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA
UNIVERSIDADE MACKENZIE
Orientador: Prof. Ms.Walter Lapa As doutrinas dos cultos africanos em formação apresentam divergências comuns
em suas teologias, em razão das difusões sincréticas ocorridas no Brasil. As
diferenças têm sua história marcada pelo tráfico de pessoas de diferentes nações
africanas, cada um com sua própria cultura; e pelo inculturação diacrônico destes
povos, em solo brasileiro, com a cultura ameríndia, a religião católica e,
posteriormente, kardecista. Não sabemos ao certo a procedência dos negros
africanos em relação às suas respectivas tribos. Isso se deve ao fato do ministério
da Fazenda do Brasil ter ordenado a destruição dos documentos históricos sobre
a escravidão, em circular número 29 de 13 de maio de 1891, perdendo-se com
essa ação parte da história e os dados exatos. Neste estudo a intenção é refletir
sobre algumas questões que, equivocadamente, a partir da cultura cristã
medieval, promoveu o diálogo ético entre as culturas. Além disso, problematizar
as diferenças básicas entre umbanda e candomblé; musicalidade africana e valor
de sua cultura; sincretismo religioso; alguns rituais iniciáticos; preconceitos
religiosos e religião para os excluídos, como um exercício importante para
compreender essas práticas religiosas. Resumidamente este trabalho não tem a
pretensão de solucionar a falta de diálogo e o desconhecimento do universo
africano, mas sugere o proveito das imagens para despertar o desejo pelo
diálogo. Temos muito em comum: “Se o cristianismo lida com a certeza do
sagrado, em contra partida, encontramos o sagrado em múltiplos universos”.
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REFERÊNCIAS: BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: Edições Paulinas, 1989. FREUD, S.(1921). Psicologia de Grupo e Análise do Ego in: Obras Completas. Imago, RJ., Vol. XVIII. 1922.
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SSUUBBJJEETTIIVVIIDDAADDEE
EE CCUULLTTUURRAA
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BIG BROTHER E SOCIEDADE DO ESPETÁCULO: UM
FENÔMENO SOCIAL
Pesquisadores
Adriana Akemi Sato
Amanda Leal
Camila Bombonato Vitório
Cláudia Soares Abude
Danilo Paiva Pescarmona
Emily Minami
Laryssa Paperetti Delgadillo Toro
Luiz Alberto de Oliveira
Maria Cristina Pimentel
Sofia Nery Lieber
Stela Ribeiro de Mendonça
Thiago Chaves Kevork Hassesian
Orientação: Profª. Drª. Cláudia Stella
" A vida é um show. No palco contemporâneo, o espetáculo em cartaz é a vida.
Os ingressos na bilheteria dão direito a entrar na intimidade dos atores, formar
alteridades e idealizar heróis, mas a platéia não está satisfeita e quer ela mesma
encenar o espetáculo. E na esquizofrenia de ser ao mesmo tempo personagem e
espectador, ela tenta ler o letreiro em neón que anuncia o título da obra:
realidade." (Felipe Pena). Inspirado no livro "1984", do escritor inglês George
Orwell, em que todos os habitantes de um país fictício são vigiados diariamente
por câmeras que funcionam como os olhos do governo, nasceu o "Big Brother"
em 1999, na Holanda. Em 2002 estreiou no Brasil como um fenômeno de
audiência. Objetivamos analisar o fenômeno social do BBB e compreender a
sociedade de consumo, massificada pela Indústria Cultural, que privilegia e é
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transformada em um espetáculo pela mídia. São questões que levam a reflexão
sobre o poder da mídia e da necessidade do público sair do seu cotidiano e fazer
uma catarse a partir de eventos que expõem pessoas ao julgamento público.
Foram realizadas pesquisas por meios eletrônicos (matérias e entrevistas dos
participantes do BBB), entrevistas com participantes do programa e livros
relacionados. A formação do caráter do homem ocorre através da vida privada e
da tolerância no espaço público. O homem, alienado não consegue se
desvencilhar da manipulação econômica e científica e mesmo política imposta
pela sociedade. Feuerbach diz “sem dúvida nosso tempo prefere a imagem à
coisa. A ilusão é sagrada, a verdade profana”. O efeito hipnótico e político da
exposição pode ser visto no panóptico de Benthan, onde ver e ser visto reforçam
o narcisismo, como forma de uma recompensa simbólica, cujos papéis
incorporados e manipulados, se tornam dóceis ao telespectador. O espetáculo
submete os homens e define toda a realização humana, transformando o ser em
ter. O capitalismo conduz a uma busca generalizada do ter e do aparecer, onde
toda a realidade individual se tornou social e diretamente dependente do poderio
social obtido. A televisão se coloca em uma espécie de função deformativa em
relação à consciência do indivíduo, divulgando ideologias e induzindo o
indivíduo à uma falsa consciência e ocultamento da realidade, desenvolvendo
valores padronizados e servindo como referencial ao fazer cotidiano. De acordo
com Adorno, os ídolos que surgem na indústria cultural são pessoas comuns, tais
como seus espectadores, descobertos por caçadores de talentos e lançados na
grande mídia, seguindo a lei do acaso, onde qualquer indivíduo pode se tornar
ídolo na sociedade atual. O culto ao corpo é também algo imposto pela indústria
cultural através de um modelo legitimado pela sociedade, sendo utilizado na
obtenção de lucro pessoal, já que o valor atribuído a ele é concreto. Essa
ideologia massificada é transportada aos telespectadores através de imagens e
diálogos. “A ilusão não pode ser substituída por nada melhor porque não existe
nada melhor” (F. Nietzche). A tragédia, vivenciada no BBB, consiste nos
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conflitos pessoais entre duas obrigações igualmente fortes, como jogar ou não
jogar e lidar com o que a sociedade exige dele e o que ele realmente deseja. Para
que não haja uma exclusão social, o indivíduo acaba desenvolvendo papéis, ainda
que de forma superficial, se adequando às padronizações e transformando-se em
mercadoria. “A recompensa simbólica não é apenas a satisfação pessoal, o
narcisismo de ter aparecido na televisão, de ter conseguido fazer uma única e
efêmera passagem. Agora é tornar-se a personagem de uma história.” (Ignácio
Ramonet). Consideramos, preliminarmente, que o BBB propicia o
fortalecimento da indústria cultural, uma vez que massifica os indivíduos, tendo
em vista os números crescentes de audiência e inscrição de participantes. Em
uma sociedade sem perspectivas do sujeito se tornar indivíduo, as pessoas
projetam ascensão social em um reality show na esperança de que possam vir a
ter um lugar na sociedade de consumo.
REFERÊNCIAS MATOS, Olgaria. Sociedade, Tolerância, Confiança e Amizade. Revista USP. São Paulo, 37, p.92-100, mar-maio, 1998. ADORNO, Theodor. A Indústria Cultural in: A Dialética do Esclarecimento. Editora Jorge Zahar. São Paulo. FREUD, Sigmund. O Mal estar na civilização. Rio de janeiro, Editora Imago. São Paulo. ADORNO. Televisão e Formação. in: Educação e Emancipação. Editora Paz e Terra. São Paulo. FIGUEIREDO, Luiz Cláudio. Subjetividade Privatizada in Psicologia: Uma Nova Introdução. São Paulo: Educ, 2000.
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AS CORES DO ARCO-ÍRIS: PARADA GLBT, PRECONCEITO E
CONSTITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE
Pesquisadores:
Claudia Montanari Gitti
Danielle Guimarães Dalcin
Ester Hsu
Grinis Miyashiro
Hidaline Izabelle de França Silva
Julia Camarinha
Júlia Severino Duarte
Juliana Belloni Mendes Barreto
Mariah Theodoro da Silva
Marina Benez Madrid
Renata Reed Rocha
Talita Vinche Badra
Orientação:Profª Drª Claudia Stella
A mobilização da população GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros)
iniciou-se em 28 de junho de 1970, com uma grande marcha comemorativa do
primeiro aniversário dos “motins do Stonewall”, bar gay de Nova York, que era
alvo freqüente de ações policiais. Este fato configura um momento histórico
bastante significativo para a militância GLBT. No Brasil, o final dos anos 70
marca o início da mobilização em grupos de ativismo homossexual, durante o
período de “abertura política”. Em 1990, a visibilidade da chamada “peste
gay”(aids) e a expansão de mercado voltado ao público GLS (gays, lésbicas e
simpatizantes) foram grandes fatores para a articulação e expansão da militância.
Em São Paulo, a primeira Parada aconteceu em 28 de junho de 1997, reunindo
cerca de 2 mil participantes. O aumento significativo de participantes gerou a
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necessidade dos organizadores fundarem uma associação para promoção da
Parada. Assim, nasceu a Associação do Orgulho de GLBT de São Paulo. Em
2006, a Parada do orgulho GLBT em São Paulo comemorou seu 10º aniversário,
com 2,5 milhões de pessoas. Um dos principais problemas encontrados por seus
integrantes, é a questão da homofobia, discriminação por orientação sexual e
identidade de gênero, que pode ser superada quando ocorre a hipótese de
contato, isto é, a possibilidade da percepção de características semelhantes a
partir do contato entre membros de grupos distintos – aumentando a tolerância
à diversidade e diminuindo o preconceito. Na hipótese de contato, o apoio social
é fundamental para a redução do preconceito. O preconceito contra os
homossexuais, é visto como um problema social e psíquico – o que é de extrema
importância, sendo esta uma sociedade capitalista e cambial, que visa a
domesticação dos indivíduos para que possa exercer seu controle dissimulado,
fazendo-nos pensar que somos livres. A sociedade do espetáculo, o “fazer ver e
deixar-se ver”, atribui à aparência um papel importantíssimo. Os objetivos deste
trabalho foram o de refletir, a partir de várias paradas com repercussão na mídia,
se houve redução do preconceito e maior tolerância quanto à diversidade sexual
na cidade de São Paulo, e, verificar na fala dos integrantes do movimento GLBT,
a questão da subjetividade homossexual na cultura do consumo e na sociedade
do espetáculo. O método utilizado foi o de pesquisa bibliográfica, pesquisas em
meios eletrônicos sobre a parada e sobre a diversidade sexual e entrevistas semi-
dirigidas com os integrantes do movimento GLBT. Tendo em vista as
informações coletadas, percebeu-se que apesar da parada ter perdido seu caráter
político, ela serviu ao objetivo a que se propôs inicialmente, ou seja, o de fazer
com que a sociedade se tornasse ainda que implicitamente mais tolerante em
relação à diversidade sexual, ao menos em uma determinada época do ano.
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GAYS, LÉSBICAS E TRANSGÊNEROS. Resoluções do I Congresso da ABGLT: Avanços e perspectivas. Curitiba, 2005. Disponível em <www.abglt.org.br>. Acessado em 05.09.06.
ASSOCIAÇÃO DA PARADA DO ORGULHO GLBT DE SÃO PAULO. Histórico das Paradas em São Paulo. São Paulo, 2006. Disponível em <www.paradasp.org.br>. Acessado em 25.08.06
ASSOCIAÇÃO DE JOVENS LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRANSGÉNEROS E SIMPATIZANTES. A origem do Movimento Civil LGBT. Lisboa, 2005. Disponível em <www.ex-aequo.web.pt>. Acessado em 08.09.06.
CENTRO LATINO-AMERICANO EM SEXUALIDADE E DIREITOS HUMANOS. Atuação premiada. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em <www.clam.org.br>. Acessado em 28.08.06.
CARRARA, S; RAMOS, S; SIMÕES, J. A; FACCHINI, R. – Política, Direito, Violência e Homossexualidade Pesquisa 9º Parada do Orgulho GLBT – São Paulo 2005. 1. ed. Rio de Janeiro: CEPESC, 2006. CROCHICK, J. L. Teoria Crítica da Sociedade e estudos sobre o Preconceito. In: Revista Sociedade Brasileira de Psicologia Política, ano 1, vol. 1, n. 1. 2001.
DINIZ, A. Uma história em 7 capítulos. In: Revista Oficial da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. São Paulo, 2004. FACCHINI, R. Na ordem do dia: movimento GLBT e paradas. São Paulo, 2006. Disponível em <www.paradasp.org.br>. Acessado em 25.08.06.
FIGUEIREDO, L. C. Psicologia: uma nova introdução. São Paulo: Educ, 2000.
MATOS, Olgária. Sociedade, Tolerância, Confiança, Amizade. Revista USP. São Paulo, 37, p. 92-100, mar.-maio, 1998.
SALIS, V. D. Mitologia Viva: Aprendendo com os deuses a arte de viver e amar. São Paulo: Nova Alexandria, 2003.
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FUTEBOL: A CONSTITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE NA CULTURA
DO ESPETÁCULO
Pesquisadores:
Adriana W. Amato
Carina P. Curti
Camila P. Sampaio
Cinthia B. Gonçalves
Claudio L. Palombo
Danielli A. Caravieri
Danielly T. Penido
Débora S. Nascimento
José Dantonio
Marina B. Ceron, Paloma P. dos Santos.
Orientação: Profª Drª Claudia Stella
O futebol está presente no Brasil desde o fim do séc XIX, quando foi
introduzido por Charles Miller. Desde então, este fenômeno cresceu muito,
sendo possível encontrar aqueles que digam que o “...futebol no Brasil é uma
função da alma, uma função que enreda em todos os ramos da grande árvore
psíquica: o amor, o ódio, o medo, a bravura, a solidariedade, a piedade, o
sadismo, o senso estético, o sentimento de solidão e da morte” (Museu dos
Esportes). Para acompanhar isso, temos aqueles que torcem pelo time ao qual se
sentem mais atraídos, existindo aqueles torcedores que, faça chuva ou faça sol,
eles estarão no estádio vibrando por tal time. Voltando um pouco no tempo,
mais exatamente à Roma Antiga, vamos encontrar um momento no qual,
preocupado com o rápido crescimento do contingente de desempregados que
migravam para as cidades romanas, o imperador decidiu oferecer comida e
diversão a essas pessoas como meio de evitar possíveis rebeliões: isso ficou
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conhecido como a política do “pão-e-circo”. É diante desses quadros que
colocamos o futebol como mais um produto da Indústria Cultural, como um
instrumento destinado a suprir diversão às pessoas para que estas não tenham
uma possibilidade de reflexão, ocupando todo seu tempo disponível. Como
objetivo deste trabalho nos propomos a fazer um paralelo da dinâmica social da
população para com o futebol na sociedade atual e a política do pão e circo da
Roma antiga e, tentar investigar o papel e a importância do futebol na
constituição da subjetividade de crianças/adolescentes de baixa renda com
idades entre 11 e 14 anos, freqüentadoras do programa Escola da Família no
bairro do Ipiranga em São Paulo. Para tal, recorremos às leituras de textos de
Freud, como o Mal-Estar na Civilização e Psicologia de Grupo e Análise do Ego,
e do texto de Adorno e Horkheimer, a Dialética do Esclarecimento, com maior
ênfase na definição de Indústria Cultural. A seguir, recorremos à Internet para
levantarmos notícias sobre o panorama político e cotidiano, nacional e
internacional, quando da época da Copa do Mundo de 2006, para então
contrapor, tanto as próprias notícias referentes a esse panorama social e o modo
como estas foram veiculadas, às notícias referentes à atuação da seleção
brasileira. Por fim, recorremos a entrevistas semi-dirigidas com as crianças e
adolescentes de baixa renda para investigarmos o papel do futebol na
constituição de suas subjetividades: nessas entrevistas questionamos o papel do
futebol em suas vidas, em seus planos futuros, sobre o impacto do futebol em
suas relações familiares e de amizades, e finalmente sobre o papel da escola para
eles (como são suas relações para com a escola e qual a importância desta para
eles). Dessas entrevistas, pudemos ver que estas crianças e adolescentes
depositam no futebol grande parte do seu futuro: querem ser jogadores, para
poderem ganhar muito dinheiro e então ajudarem suas famílias (desejo
partilhado pela maioria dos entrevistados). Acreditam ser realidade o panorama
do futebol brasileiro por meio das notícias veiculadas sobre os “medalhões” do
esporte, tais como “Ronaldinho Gaúcho”, “Kaká”, entre outros grandes nomes
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do futebol nacional. Esquecem que na verdade apenas alguns poucos conseguem
chegar a tal patamar, sendo a realidade dos aspirantes permeada por dor e
sofrimento (Alcântara, 2006). Como considerações preliminares do estudo,
podemos citar o destaque dado pela mídia aos jogadores do Brasil em
detrimento das noticias e negociações políticas, bem como, a importância que o
futebol tem na vida de crianças de baixa renda como uma das poucas
oportunidades de se tornar um indivíduo reconhecido nesta sociedade fazendo
essas crianças e adolescentes aderirem assim à Industria Cultural por meio do
desenvolvimento de sua identidade espelhada dos “astros” do futebol.
REFERÊNCIAS ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zaar Editor, 1985. FIGUEIREDO, L. C. Psicologia: uma nova introdução. São Paulo: Educ, 2000. FREUD, S. O Mal-Estar na Civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
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TTRRAABBAALLHHOO
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ADMIRÁVEL MUNDO DO TRABALHO: ASAS OU GRILHÕES?
Pesquisadores:
Danielle Ambrózio
Gabriel Ornellas
Jaqueline Murauskas
Juliana Bennatti
Michele Prado
Thiago Ribeiro
Orientação: Profª Drª Anete Souza Farina
”A palavra “trabalho” deriva da palavra latina tripalium, que era um instrumento
de suplício composto de três paus, usado para torturar escravos. A palavra latina
labor significa “dor”. Alguma razão existe em esquecer a origem das palavras
‘trabalho’ e ‘labor’.” (Vaneigem, 2002). Há muito que todas as forças dirigentes
da modernização ocidental pregam a santidade do trabalho, construindo o
dogma segundo o qual o trabalho é o destino natural do homem. Foi após o
iluminismo que o trabalho se tornou o elemento “humanizador” do homem. O
homem moderno, ou o sujeito burguês, era o homem livre para trabalhar,
ficando o trabalho atrelado a juízos morais e a um sistema ético que ao longo do
desenvolvimento capitalista se transformou, transformando o próprio homem.
O cristianismo, talvez a primeira intenção de glorificar o trabalho árduo,
inaugurou a autodisciplina e o sacrifício, e o protestantismo a idéia de
autonegação do prazer, no mundo do trabalho que, segundo Weber (2004),
representa éticas combinadas. Desde então, o trabalho aparece como uma
sombra do homem, o elemento principal da máquina capitalista, que através dos
aparelhos estatais, lhe impôs a necessidade do trabalho. Os indivíduos tinham
que produzir, não para si, mas para o Estado militarizado do início da
modernidade. Foi assim que veio ao mundo a finalidade circular do trabalho. O
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ganho se transformou em motivação central da sociedade, e o trabalho em
exigência social. Porém, o desenvolvimento das tecnologias e da comunicação e
os esforços, talvez em vão, dos trabalhadores por melhores condições nas
fábricas, apresentou uma nova ética e uma nova configuração do trabalho. Com
a administração científica, peça chave nesse velho contexto ético da
modernidade, até então vigente, surge o toyotismo. A ideologia que esse modelo
de produção apresenta é a formação de equipes, que devem agir com
cooperação, flexibilidade, descentralização e diversidade. O toyotismo configura
a nova organização do trabalho, e do próprio modo de produção capitalista. “As
empresas buscaram eliminar camadas de burocracia, tornaram-se organizações
mais planas e flexíveis. Em vez das organizações do tipo pirâmide, a
administração quer agora pensar nas organizações como redes” (SENNETT, p.
23). O chefe passa então a ser um líder do grupo, um aliado do empregador, a
partir de um novo discurso repleto de simbologias igualitárias. As equipes
competem entre si, e trabalhador e fiscalizador já não se distinguem. Esta nova
modalidade de trabalho, entretanto, traz consigo um fardo: o desemprego. Não
se trata de uma novidade em nossa sociedade, o desemprego vem aumentando
em função dessa nova fase do trabalho, que exige qualificação especifica, o que
deve transformar a todos em “competentes, flexíveis, cooperativos, de fácil
interação grupal entre outras inúmeras qualificações”. Ainda nesse contexto, o
desenvolvimento tecnológico implica dispêndio da força humana, e o mercado
especulativo de ações gera mais lucro do que investimentos em produtividade. É
em meio a esse novo cenário que o trabalhador procura um espaço para se
submeter a essas determinações. .Uma contradição ronda o trabalho, e a própria
organização social capitalista. De um lado, ele vive do fato de sugar maciçamente
energia humana. De outro, impõe, pela lei da concorrência empresarial, um
aumento de produtividade, no qual a força de trabalho humano é substituída por
tecnologia. Por fim, as asas desmistificadas do trabalho se mostram grilhões,
porque com a escassez de postos de trabalho e a submissão à lógica da
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sobrevivência o trabalho se torna um cárcere na vida do homem
contemporâneo. O presente estudo teve por objetivo verificar a participação do
trabalho na constituição da subjetividade, a partir do discurso de diferentes
atores sociais. Fizeram parte do estudo vinte pessoas: 04aposentados; 04
desempregados; 04 recém- ingresso no mercado de trabalho; 04 trabalhadores há
mais de dez anos no mercado de trabalho; 04 trabalhadores informais. Todos
com idade superior a 21 anos. Como estratégia de investigação, adotou-se a
entrevista semidirigida que procurou verificar: (1) tempo de trabalho, (2)
significado do trabalho, (3) a participação do trabalho na vida pessoal. As
entrevistas foram realizadas após os voluntários serem informados dos objetivos
da pesquisa e assinarem o termo de livre consentimento garantido. Os dados
obtidos foram analisados qualitativamente e informam que o trabalho, como
atividade cotidiana, atua na constituição da subjetividade e, portanto, na vida de
cada um dos entrevistados. A partir de uma visão histórica observa-se que as
transformações ocorridas no mundo do trabalho também transformou o homem
e suas condições de existência. Pode-se identificar uma estrutura ideológica que
como um véu encobre os sentidos que o trabalho apresenta, desviando a
verdadeira função, quando colocado no campo da moralidade e da formação
pessoal, as atividades relacionadas ao mercado, a economia e a situação política.
A frase “o trabalho dignifica o homem”, é recorrente entre os entrevistados,
independente da idade e condição que apresentam no mercado de trabalho.
Aposentados, recém-empregados, desempregados, trabalhadores, todos vêem o
trabalho como o elemento que concede ao homem sua humanidade. Eles
acreditam que o reconhecimento social, enobrecimento pessoal, formação do
caráter, são elementos construídos na relação entre homem-trabalho. A vontade
de trabalhar e o medo do desemprego impõem uma pressão social e psicológica,
submetendo-os às mais diversas coações e humilhações. Assim, o trabalho é
visto como um dos imperativos máximos, além de escasso, ampliando a legião
de servos voluntários. A historia da modernidade é a historia da imposição do
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trabalho. Para Arendt (2001) o trabalho é a atividade correspondente ao
artificialismo da existência humana. A ideologia do trabalho é a própria
submissão ao trabalho, que aparece como uma “missão civilizadora”. Entretanto,
uma contradição surge através da historia o trabalho. De um lado ele suga a
energia humana em escalas grandiosas, por outro, vem substituindo essa força
humana por tecnologias.
REFERÊNCIAS ALBORNOZ, Susana. O que é trabalho?. Coleção Primeiros Passos. Ed. Melhoramentos, 199 ARENDT, Hannah. A condição humana. 10ª edição – Rio de Janeiro. Forense Universitário, 2001 CADERNOS DE PSICOLOGIA SOCIAL E DO TRABALHO. Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho.IPUSP.São Paulo, 1999-2005. GORZ, André. Metamorfoses do Trabalho. São Paulo: Annablume, 2003. SENNETT. Richard. A Corrosão do Caráter: as conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo – 5ª edição. Rio de Janeiro. Record, 2001. KURZ, Robert. O colapso da modernização. Da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial. - São Paulo: Paz e Terra, 1992. KRISIS, Grupo. Manifesto Contra o Trabalho. - São Paulo. Conrad Editora, 2001. WEBER; Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo.Companhia das Letras,2004 VANEIGEM, Raoul. A arte de viver para as novas gerações. – São Paulo. Conrad Editora do Brasil, 2002
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TRABALHO E GÊNERO: REFLEXÕES SOBRE A
IDENTIDADE FEMININA EM UM MUNDO MASCULINO
Pesquisadoras:
Natália Lobas
Thais Vega
Ticiane Cruz
Orientação: Profª Drª Anete Souza Farina
Historicamente, coube para a mulher a condição de submissão ao homem, em
praticamente todas as culturas. Nas antigas civilizações, cabia à mulher, quase
que exclusivamente, a maternidade e a manutenção da prole, assim
exemplificado na sociedade grega. A mulher nessa época sob uma rígida
disciplina, era reduzida à semi-escravidão. Ela não desfrutava de nenhum poder
político e era tratada como mercadoria, além de estritamente ligada às atividades
domésticas e à reprodução. Da mesma forma, na antiga Mesopotâmia, a mulher
exercia o papel de escrava sob a autoridade absoluta do homem. A mulher
sozinha nunca recebeu consideração e respeito, que só eram alcançados a partir
do casamento e da maternidade. Esses papéis. de mãe e esposa, lhes garantiam
alguns direitos. Foi uma longa e árdua jornada até a mulher alcançar um relativo
progresso em sua condição social. Depois de séculos de subserviência ao sexo
masculino, foi a partir do século XVIII, permeado por revoluções sociais, que a
mulher deixou de viver exclusivamente no âmbito privado, passando a atuar
também no espaço público, desenvolvendo atividades no comércio e em outros
segmentos da economia, contudo, essa autonomia era muito restrita. Com a
passagem do século XVIII para o século XIX, as mulheres começam a
conquistar uma maior liberdade para exercer algumas profissões e essa
“liberação” passou a se constituir como uma ameaça à estrutura familiar, alvo de
preocupação da sociedade, trazendo a necessidade de se desenvolver uma
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ideologia que preservasse o papel destinado à mulher, desde o inicio da
civilização e assegurar a instituição familiar. Essa ideologia reproduzida desde a
infância, sedimentou a superioridade masculina. A educação que também
reproduz a idéia da mulher voltada para o âmbito privado e o homem para o
público, enfraquecendo a imagem de uma mulher bem sucedida no espaço
publico, garantindo, de certa forma até hoje, a manutenção da supremacia entre
os gêneros. Já na segunda metade século XIX, com o surgimento do movimento
feminista, as mulheres passaram a reivindicar a supressão do patriarcado e o
direito ao voto, em busca de uma equiparação de seus direitos políticos em
relação ao homem, rompendo com as barreiras que impediam que a mulher
participasse da esfera pública. As feministas propunham uma atuação da mulher
com direito à auto-expressão, à realização individual e independência. E foi a
partir dessa luta que as mulheres começaram a ingressar no mundo masculino e
exercer funções que antes só eram executadas por homens, como no caso das
profissões que este estudo aborda. O presente estudo teve por objetivo explorar
o cotidiano de trabalho com mulheres que exercem profissões comuns ao sexo
masculino. Fizeram parte deste estudo cinco mulheres que exercem as seguintes
profissões: Frentista de Posto de Combustível, Mecânica, taxista, Cobradora de
ônibus e Caminhoneira. Todas com idade superior a 25 anos. Como estratégia de
investigação adotou-se a técnica de entrevista semidirigida, que procurou
verificar: (1) motivo de ingresso na profissão, (2) o cotidiano de trabalho, (3)
vivência de preconceito, (4) satisfação no trabalho e (5) implicações do tipo de
trabalho na vida pessoal. As entrevistas foram realizadas após as voluntárias
serem informadas dos objetivos do estudo e assinarem o termo de livre
consentimento esclarecido. Os dados, após serem analisados informam que as
entrevistadas ingressaram nas atividades que executam por uma questão de
sobrevivência. Em relação ao cotidiano de trabalho expressão desgaste físico e
psicológico pela carga e tipo de trabalho. As vivências de preconceito
relacionadas ao gênero são vividas na relação com colegas, clientes e, em relação
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à autocrítica. Todas se sentem satisfeita com o trabalho e não expressam
implicações do tipo de trabalho com a vida pessoal. Observou-se que a atuação
ainda se mostra como um desafio que a cada dia elas têm que resignificar.
Segundo Berger (2000) a identidade é formada por processos sociais e, uma vez
solidificada é mantida, modificada ou mesmo remodelada pelas relações sociais.
Sendo assim, as distinções entre mulher e homem são produtos do meio em que
vivem, e suas identidades estão associadas aos papéis tipificados na vida
cotidiana. Estas mulheres procuram se integrar socialmente, resistindo ao
julgamento, embora sofra com o preconceito por parte de diversos atores
sociais. Dizem ter passado por situações de preconceito e negam sua identidade
feminina a fim de evitar constrangimentos. Permanentemente reafirmam sua
identidade feminina e consideram que possuem capacidades, como os homens,
para exercerem suas profissões. A partir desta pesquisa pode-se identificar que o
mercado de trabalho ainda é muito segmentado, criando por vezes um abismo
entre os gêneros. Um mundo onde a mulher ainda é alvo de preconceito, quando
ultrapassa a barreira criada há muito tempo. A mulher associada à idéia de
responsável pela casa e família, deixa para o homem a responsabilidade pelo
sustento financeiro e define as identidades, pessoal e coletiva, que são
amplamente reconhecidas. Ao longo dos séculos essa questão ainda não se
modificou. No exercício profissional as entrevistadas buscam afirmação e
garantir um espaço nesse mercado tradicionalmente masculino. Essa ruptura
entre produção e reprodução, que é apenas uma das muitas questões presentes
na relação gênero e trabalho, deve necessariamente ser considerada quando da
construção e desenvolvimento de um plano de ação transformadora da rígida
divisão entre gêneros.
REFERÊNCIAS BERGER; P. & LUCKMANN;T. A Construção Social da Realidade: Tratado de Sociologia do Conhecimento. Ed. Vozes, Petrópolis 2003.
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HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972. RABELOFABIOLA; & PEREIRA; TELMA. Profissão delegada de polícia: Um estudo sobre a representação social de uma profissão tipicamente masculina. Universidade São Judas Tadeu. SP.1999 MATOS; M.I.S. Delineameando corpos As representações do feminino e do masculino no discurso médico. SP 1980-1930
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REFLEXÕES SOBRE A REPRESENTAÇÃO DO TRABALHO
ENTRE PROFISSIONAIS DE DISTINTOS CONTEXTOS.
Pesquisadores:
Andréa Marques Gomes
Carina Ferreira Guedes
Carla Regina Visti Luner
Carolina Cardoso Fiussi
Carolina Gomes Martins Ramos
Cássia de Oliveira Fernandez
Dailza Pineda;
Flávio Kaspinski Gerab
Guilherme Borges Valente
Isabel Tatit
João Vitor Hernandez Gonçalves
Ketty-Keila Neto da Silva Borges
Marjorie El Khouri
Renata Fernandez Targino
Simone Marques Yamada
Tiago B. M. Barbuto
Thais Mariana A. Ferreira.
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-USP
Orientação: ProfªDrª. Anete de Souza Farina
A Psicologia do Trabalho discute os temas relacionados ao mundo do trabalho,
envolvendo a representação do trabalho na sociedade atual, procurando ampliar
a compreensão sobre os efeitos psicossociais do trabalho na vida
contemporânea. Entende que o trabalho sob relações de dominação impõe-se ao
homem como simples meio de existência, isto é, como uma atividade que tem
IV Mostra de Psicologia do Cotidiano
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como único sentido o de garantir a sobrevivência física. (Marx,1984). A atividade
vital humana é tanto a responsável ou a base para prover as condições materiais
de existência, quanto engendra a vida genérica do homem. Isto quer dizer que,
além de produzir os meios necessários para a existência física, a atividade vital
humana produz, ao mesmo tempo, a humanização ou a autocriação do gênero
humano. Na atualidade, frente às inúmeras dificuldades vividas pelo país, o
trabalho alienado, como meio de existência, não é um ato que desenvolve novas
capacidades e cria novas necessidades, não como essência humana no sentido da
realização das potencialidades alcançadas pelo gênero humano.Heller (1972)
menciona que "existe alienação quando ocorre um abismo (...) entre a produção
humano-genérica e a participação consciente do indivíduo nessa produção".
Considerando este referencial, o trabalho é alienado quando seu sentido não
corresponder ao significado previsto socialmente, isto é, quando o sentido
pessoal do trabalho separa-se de sua significação. Se o sentido do trabalho for
apenas o de garantir sua sobrevivência, trabalhando só pelo salário, estamos
diante de uma prática que reflete um pronunciado limite para a vida humana. Em
relação à representação, num primeiro momento é o conteúdo concreto
apreendido pelos sentidos, pela imaginação, pela memória ou pelo pensamento;
é, em síntese, a reprodução daquilo que se pensa. Nesta definição, a ênfase situa-
se na natureza do conhecimento, na possibilidade mesmo do conhecimento e da
apreensão da realidade. As representações sociais, sendo definidas como formas
de conhecimento prático, inserem-se mais especificamente entre as correntes que
estudam o conhecimento do senso comum, em contraste, as correntes que se
debruçam sobre os saberes enquanto saberes formalizados, ou não, mas as
manifestações como construções sociais, sujeitas às determinações sócio-
históricas. Com base no exposto, o presente estudo teve por finalidade verificar
a representação do trabalho a partir de depoimentos coletados entre
profissionais que atuam em contextos distintos, procurando verificar a
representação que têm do trabalho. Participaram do estudo vinte entrevistados
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que foram estimulados a falarem sobre o seu cotidiano de trabalho. Os
depoimentos, após serem analisados, apresentam em seu conteúdo um
pronunciado medo do desemprego, quer na forma explícita ou implícita. Essa
construção define a relação que esses estabelecem com o trabalho, bem como as
repercussões dessa relação para a vida de cada entrevistado. O estudo ainda não
foi concluído, contudo, sinaliza para uma significativa mudança na relação entre
trabalhador, trabalho e empregador, configurando um campo de importante
discussão para todas as ciências e, principalmente para a Ciência Psicológica.
REFERÊNCIAS BERGER; P. & LUCKMANN; T. A construção Social da Realidade. São Paulo: Vozes, 2004. CADERNOS DE PSICOLOGIA SOCIAL DO TRABALHO. Centro de Psicologia Aplicada ao trabalho. IPUSP. São Paulo, 1999-2005 HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972. SPINK; Mary. J. O conceito de representação social na abordagem psicossocial. Cadernos de Saúde Pública. vol.9 no.3 Rio de Janeiro. July/Sept. 1993.