INVESTIGAÇÃO DE ENFERMAGEM SOBRE O USO DE CATETERES ... · homem e vai depender do número e da...

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PÁGINA DO ESTUDA NTE INVESTIGAÇÃO DE ENFERMAGEM SOBRE O USO DE CATETERES VENOSOS EM CLI ENT ES HOSPITALIDOS NURÇING RESEARCH ON INTRAENOUÇ CATHETERIÇATION R HOÇPITAUÇED PATIENTÇ. /wa Keiko Aida Utyama 1 Mitsuko Ohnishi 1 Regina Mariuza Borsato Quesada 2 Cassia Hitomi /shioka 3 RESUMO: Através do presente estudo pode-se concluir que a cateterização intravenosa foi efetuada em 59,4% da amostra por acesso venoso difi cultado; em 1 00% da amostra foi efetuado curativo fechado, sendo que a troca do curati vo foi feita a cada 48 horas em 89,8% da amostra; o tempo de permanência do cateter intravenoso foi de até 10 dias em 52% dos casos, sendo que o cateter foi retirado em 34,8% por suspensão da medicação e problemas técnicos, respectivamente. O microrganismo de maior incidência foi 5taphy/ococcus aureus em 20,3% da amostra analisada. UNITERMOS: Cateter venoso - Venossecção - Cultura de ca teter. Punção percutãnea - ABSTRACT: This report shows that in travenous cathet erisation has been required for 59.4% of the patients in this sampl e. The main reason identified for catheterisation was the difficulty in accessing peripheral veins. The wound dressing was applied for 1 00% of the patients and the procedure itself was carried out each 48 hours in 89.8% of them. The intravenous catheter stood for 10 days in 52% of the cases and it was removed in 34.8% for intravenous drugs interruption and the other reasons were related as to technical problems. . The most present microorganism was 5taphy/ococcus aureus in 20.3% of the catheter cultures. KEYWORDS: Intravenous cath eter - Venesection - Percutaneous pun cture - Catheter culture. 1 Docentes do Depaamento de Enfermagem, CCS-UEL 2 Docente do Depaamento de Patologia Aplicada, Legislao e Deontologia, CCS-UEL 3 Discente do Curso de Enfermagem d o CCS-UEL R. Bras. Enfe., Brasília, v. 50, n. 2, p . 291-296, abr .ljun 1997 291

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PÁGINA DO ESTUDA NTE

I NVESTIGAÇÃO DE ENFERMAGEM SOBRE O USO DE CATETERES VENOSOS EM CLI ENTES HOSPITALIZADOS NURÇING RESEARCH ON INTRA\JENOUÇ CATHETERIÇATION fOR HOÇPITAUÇED PATIENTÇ.

/wa Keiko Aida Utyama 1 Mitsuko Ohnishi 1 Regina Mariuza Borsato Quesada 2 Cassia Hitomi /shioka 3

RESUMO: Através do presente estudo pode-se concluir que a cateterização

intravenosa foi efetuada em 59,4% da a mostra por acesso venoso dificultado; em

1 00% da amostra foi efetuado curativo fechado, sendo que a troca do curativo foi

feita a cada 48 horas em 89,8% da amostra ; o tempo de permanência do cateter

intravenoso foi de até 1 0 dias em 52% dos casos, sendo que o cateter foi retirado

em 34,8% por suspensão da medicação e problemas técnicos, respectivamente. O

microrganismo de maior incidência foi 5taphy/ococcus a ure us em 20,3% da

amostra analisada.

U NITERMOS: Cateter venoso - Venossecção -

Cultura de cateter.

Punção percutãnea -

ABSTRACT: This report shows that intravenous catheterisation has been required for

59 .4% of the patients in this sample. The main reason identified for catheterisation was the difficulty in accessing periphera l veins . The wound dressing was a pplied for 1 00% of the patients and the procedure itself was carried out each 48 hours in 89 .8% of them. The intravenous catheter stood for 1 0 days in 52% of the cases and it was removed in 34.8% for intravenous drugs interruption and the other reasons were related as to tech nical problems. . The most present microorganism was 5taphy/ococcus a ure us in 20.3% of the catheter cu ltures.

KEYWORDS: In travenous catheter - Venesection - Percutaneous puncture -

Catheter cu lture.

1 Docentes do Departamento de Enfermagem, CCS-UEL 2 Docente do Departamento de Patologia Aplicada, Legislação e Deontologia, CCS-UEL 3 Discente do Curso de Enfermagem do CCS-UEL

R. Bras. Enferm. , Brasíl ia, v. 50, n . 2 , p . 291 -296, abr.ljun 1 997 291

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UTYAMA, Iwa Keiko A ida cf alii

INTRC?DUÇÃO

No jn ício do sécu lo XIX, o avanço da tecnologia na área da saúde permitiu o progresso das técn icas de infusões venosas, desde a terapia parenteral com uti l ização de soluções estéreis até o desenvolvimento de dispositivos de admin istração, ou seja , catéteres especiais e agu lhas segundo Bennett 2 .

Soares & Oliveird3 referem que , em 1 949, obtiveram acesso à veia profunda através da punção da veia subclávia ; a parti r desta técn ica esta veia passou a ser ut i l izada amplamente na área da medicina para infusão de soluções para h idratação, a l imentação parentera l e medida de pressão venosa centra l .

Entretanto , Bennett 2 e Maki et a l 1 1 citam que vários autores colocam que as compl icações infecciosas dos acessos venosos centrais i nseridos por punção percutânea ou d issecção (flebotomia) impl icam na fonte de infecção do doente . A inda citam que a maioria das infecções relacionadas aos acessos venosos centra is i n iciam com infecções locais do curativo da punção do catéter venoso causadas por m icroorgan ismos da própria flora cutânea .

Sabendo-se que a capacidade de cicatrização dos ferimentos é um processo fisiológ ico inerente a todo organismo vivo , destinado à reparação dos tecidos lesados como citam Koch9 e Da vis3, alguns autores referem que numerosas experiências mostram que não há uma substância con hecida para uso tópico ou gera l que acelere a cicatrização fisiológ ica normal .

Fuerst & Wolfr, referem que as respostas do corpo às lesões e ao processo de cicatrização são ambos mecan ismos de proteção normais e a ciência moderna não descobriu nenhuma maneira de me lhorá- los ; no entanto , são usados d iferentes agentes terapêuticos , porém nenhum é suficiente por isso. Ainda os mesmos afirmam que a cicatrização é melhor estimu lada mediante um bom funcionamento fisiológ ico de todo o organ ismo e tem sido comprovado que as feridas curam com maior rapidez · quando o paciente goza de equ i l íbrio e letro l ítico , de adequada nutrição e repouso e acrescentam que algumas atitudes podem ser tomadas para ajudar ou dar apoio a estes mecan ismos, real izando curativo com técnica asséptica , troca regu lar dos curativos.

Duarte et a l4 sugere que a infecção do catéter venoso ocorre a partir de m icroorgan ismos proven ientes da pele; portanto deve-se real izar o curativo com

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I n p e s t i g a ç ã o de E llfe r m a g e m S o b r e o . . .

fina l�dade de preven i r a contaminação das feridas e reduzir a infecção sobre a ferida , como citam Kozier 1 0 e Dugas 5

Diante de todas as considerações dos autores , surge uma série de questionamentos sobre as metodologias ut i l izadas para se diagnosticar que a principal fonte de infecção do paciente seja por punções percutâneas ou d issecções venosas.

O presente estudo tefll como objetivo verificar se as colocações dos autores acima citados sobre as compl icações infecciosas são corretas, questionando o t ipo de venossecção , sexo , idade, tempo de permanência , motivo de cateterização, motivo da retirada, incidência e classificação dos m icrorgan ismos.

METODOLOGIA

A amostra será constitu ída pelos pacientes de ambos os sexos , com catéter intravenoso ( intracater e fleboton ia) , i nternados nas segu intes un idades : méd ico­cirú rg ico , t isiologia e semi- intensivo do Hospita l U n ivers itário da Região Norte do Paraná ( H U RNP) , em Londrina - Pr.

A amostra é constitu ída de 26 pacientes e a coleta efetivada no período de janeiro a dezembro de 1 995, através dos prontuários dos pacientes . A tabu lação dos dados foi efetuada manualmente .

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com o sexo , pode-se verificar que o mascu l ino se destacou com 54% e o femin ino com 46% .

Em relação à idade , a maior incidência ficou para os ind ivíduos acima de 6 1 anos , com 38 ,5%. Levou-se e m consideração a deficiência imunológ ica do ind ivíduo idoso e a demora em processos de cicatrização por déficit n utriciona l .

O tipo de venossecção mais ut i l izado encontrado nas investigações foram as flebotomias, com um tota l de 26% , e i ntracater, 1 7% , isto porque a lguns pacientes tiveram a necessidade dos do is tipos de venossecção para a l imentação parentera l e verificação de pressão venosa centra l .

O tempo de permanência da flebotomia foi de 6 a 1 0 d ias (34 ,6%) e 26 a 30 d ias ( 1 5 ,4%) ; intracater, 6 a 1 0 d ias (4 1 ,2%) e 1 1 a 1 5 d ias (20 ,4%) . De acordo

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UTY AMA, lwa Keiko Aida et alii

com bibl iografias, constatou-se que o prazo ideal seria de 9 a 1 0 d ias para a

retirada do catéter. Pode-se verificar que o motivo da cateterização mais usado

era para infusão venosa , com 37,2%, dentro da nutrição parentera l ,

antibioticoterapià e verificação do PVC; perda de catéter - 32 ,5%, levando-se em

consideração a excessiva manipu lação do cat�ter pelos profissionais da equ ipe

de saúde e também do paciente .

Motivos da retirada por suspensão da medicação ou infi ltração - 27 ,9%.

Acredita-se ocorrer por tracionamento do catéter decorrente da realização

inadequada do curativo e infecção - 23 ,3%, sendo o microorgan ismo mais

encontrado Staphy/ococcus aureus (23,5%) e Acynetobacter carboacétius

( 1 7 ,6%) .

Nota-se, de acordo com bibl iografias, que o crescimento das infecções

estafitocócicas nos hospitais se dá na maioria das vezes pelo relaxamento dos

procedimentos assépticos; o excesso de confiança nos antibióticos e o seu uso

inadequado leva à resistência do indivíduo. A infecção causada pelo

Acynetobacter carboacéticus faz acreditar-se que o pessoal da área hospitalar é

o principal reservatório das infecções, pois é uma bactéria Gram (-) não

fermentada e que cresce principalmente em ambiente hospitalar.

CONCLUSÃO

Através dos dados encontrados no presente estudo, conclu i-se que o alto

índice de infecção em pacientes com venossecção foram pela bactéria

Staphy/ococcus aureus como já foi visto na d iscussão. Acredita-se que isto se dá

pela excessiva manipu lação e inadequada técn ica asséptica uti l izada pelá

equ ipe durante a realização de procedimentos l igados ao catéter, como falta de

conscientização da equipe, levando à contaminação dos catéteres intravenosos

e a possíveis complicações.

A própria bactéria Staphylococcus aureus é uma Gram (+) distribu ída pela

pele e mucosa do homem e animais; causa grande número de infecções no

homem e vai depender do número e da via de introdução de seus produtos

tóxicos e da exposição prévia ao microorganismo.

Considerando-se as colocações acima relacionadas à conscientização da

equ ipe de saúde na util ização da técnica asséptica desde a instalação, curativo e

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I n v e s t iga ção de E nfe r m age m S o b re o . . .

ret irada do catéter, não deixando de lado a saúde geral e o estado n utricional do ind ivíduo, chega-se à infecção endógena.

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