Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

15
1 Visão sistêmica segundo Visão sistêmica segundo Bunge Bunge ou... “Ontologia bungeana de sistema” ou... “Ontologia bungeana de sistema” ou... “Filosofia é a coisa mais prática que ou... “Filosofia é a coisa mais prática que existe” existe” By Vini By Vini http://kern.ispeople.org http://kern.ispeople.org , baseado fortemente , baseado fortemente em… em… Mario Bunge (2003) Emergence and Convergence: Qualitative Novelty and the Unity of Mario Bunge (2003) Emergence and Convergence: Qualitative Novelty and the Unity of Knowledge. University of Toronto Press. (e alguns journal papers dele e seguidores). Knowledge. University of Toronto Press. (e alguns journal papers dele e seguidores). Instituto Stela – Show & Tell # 6 Instituto Stela – Show & Tell # 6 Florianópolis, 31 de outubro de 2008, 11:30 AM, Sala de videoconferência Florianópolis, 31 de outubro de 2008, 11:30 AM, Sala de videoconferência

description

Show & Tell #6, por Vinícius Medina Kern. Hora e local: QUI 30/10/08 11:30 h, sala VC, Instituto Stela

Transcript of Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

Page 1: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

1

Visão sistêmica segundo BungeVisão sistêmica segundo Bungeou... “Ontologia bungeana de sistema” ou... “Ontologia bungeana de sistema”

ou... “Filosofia é a coisa mais prática que existe”ou... “Filosofia é a coisa mais prática que existe”

By ViniBy Vini http://kern.ispeople.org http://kern.ispeople.org, baseado fortemente em…, baseado fortemente em…Mario Bunge (2003) Emergence and Convergence: Qualitative Novelty and the Unity of Mario Bunge (2003) Emergence and Convergence: Qualitative Novelty and the Unity of Knowledge. University of Toronto Press. (e alguns journal papers dele e seguidores).Knowledge. University of Toronto Press. (e alguns journal papers dele e seguidores).

Instituto Stela – Show & Tell # 6Instituto Stela – Show & Tell # 6Florianópolis, 31 de outubro de 2008, 11:30 AM, Sala de videoconferênciaFlorianópolis, 31 de outubro de 2008, 11:30 AM, Sala de videoconferência

Page 2: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

2

MotivaçãoMotivação

• “Ontologias” da Computação… (não são)– Por isso, não cheguei a me interessar (apesar da tese-1997)

• Bunge: – Conheci meio por acaso (ao orientar uma dissertação de mestrado).– Detona verborragia e obscuridade (p.ex. espicaça Husserl, Heidegger).– Os “sistêmicos” não são sistêmicos; são holistas (incluindo Bertalanffy).

• Coincidiu c/impressões minhas (s/ Deleuze e Guattari, p.ex.)– Sistemismo - O que é: essência de sistema (modelo CESM – próx.slide)

• “A system is a complex object whose parts or components are held together by bonds of some kind.”

– Visão de mundo que reconcilia/nega individualismo e holismo

• Pareceu útil (usei em Modelagem de Sistemas)

• Mario Bunge (Wikipedia, página na U. McGill): Físico e filósofo argentino (Bs.As., 1919) radicado no Canadá.

– Criou a Universidad Obrera com 18 anos (foi fechada por Perón).– Hoje “acusado” de positivista (~direitista) por argentinos leigos.– Há quem o considere o maior filósofo do Séc. XX, mas ainda é

relativamente pouco reconhecido.– Segue na ativa! (Dizem que responde e-mail, mas não provoquei)

Page 3: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

3

Motivação (complementando)Motivação (complementando)

• Usei CESM CommonKADS no EGC/UFSC (disciplina Modelagem de Sistemas, 2008)

• 10 trabalhos, cada um fez modelos contextuais e de conhecimento do CommonKADS (modelou tarefa(s) intensiva(s) em conhecimento). MAS TB FEZ CESM:– Composition, Environment (itens que têm ligações com componentes),

Structure (ligações), Mechanism (processo que dá o efeito sistêmico).

– Difícil fazer (por falta de prática do rigor ontológico) Problema mais comum: perder o foco e tentar analisar vários sistemas diferentes, em vários níveis, ao mesmo tempo.

– Simplicidade e concisão força o foco na questão ontológica (tipicamente complicada em projetos de software).

– Pareceu relevante para apoiar análises/modelagens.

• A seguir: exemplo ilustrativo…

Page 4: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

4

Exemplo motivador: Exemplo motivador: Sistema Sistema de formação do EGC/UFSCde formação do EGC/UFSC

Agências de fomento

Cultura (usos, padrões de comportamento, tradições, crenças...)

UFSC: gestão, apoio, infra-estrutura, biblioteca etc.

Organizações: empresas, ONGs, IES etc.

Normas,regula-mentos,leis

doce

ntes

discentes

– Composição: docentes, discentes– Ambiente: Normas, agências de fomento, cultura, UFSC, organizações– Estrutura:

colaboração, discussão, co-autoria, orientação, ensino, peer pressure (endoestrutura), sujeição a regras, fomento, influência, rel. institucional, afiliação/parceria (exoestrutura)

– Mecanismo: ingresso, estudo, pesquisa-publicação, feedback, defesa

Page 5: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

5

CESMCESM: Mais formalmente…: Mais formalmente…

• Qualquer sistema concreto* s pode ser modelado, em qualquer instante, pela quádrupla (s) = <C (s), E (s), S (s), M (s)>,onde– C (s) = Composição: Coleção de todas as partes de s.

• Para Bunge e a Matemática, conjuntos têm pertinência fixa de elementos. São coleções, mas essas não são necessariamente conjuntos.

• Tudo no universo é, foi ou será um sistema ou componente de um sistema. There are no permanent strays or isolates.

– E (s) = Ambiente: Coleção de itens que não pertencem a s e atuam ou sofrem a ação por algum ou todos os componentes de s.

• Tudo, menos o universo, tem um ambiente.

* Sistemas abstratos (como uma teoria, um sistema de equações etc.) não têm Mecanismo.

Page 6: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

6

CESM CESM (cont.)(cont.)

– S (s) = Estrutura: Coleção de relações, em particular ligações (bonds), entre os componentes de s ou entre esses e seu ambiente E(s).

• Ligação: relação que faz diferença para os relacionados, Exemplos: atração elétrica, conversação (numa comunidade linguística). Contra-exemplos (relações que não estruturam sistema): maior do que, à direita de.

• A estrutura pode ser dividida em duas:– Endoestrutura: Coleção de ligações entre os membros do sistema.– Exoestrutura: Coleção de ligações entre membros do sistema e itens do ambiente.

» A exoestrutura inclui 2 itens importantes: input (coleção de ações de itens do ambiente sobre o sistema) e output (ações do sistema sobre o ambiente).

– M (s) = Mecanismo: Coleção de processos que fazem o sistema se comportar da maneira que se comporta.

• É o que leva à emergência, à propriedade sistêmica.

Page 7: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

7

Exemplos de sistemas (Bunge, 2003)Exemplos de sistemas (Bunge, 2003)

s

Sistema

CComposição

EAmbiente

SEstrutura

MMecanismo

Átomo As partículas e campos associados constituintes do átomo.

Coisas (partículas e campos) com as quais o átomo interage.

Os campos que mantêm o átomo unido, mais sua interação com itens do ambiente.

Os processos de emissão e absorção de luz, combinação etc.

Comunidade linguística

As pessoas que falam a mesma língua.

A(s) cultura(s) na(s) qual(is) a linguagem é usada.

A coleção de relações de comunicação linguística.

A produção, transmissão e recepção de símbolos.

Empresa Os funcionários (personnel) e a gerência.

Mercado e governo.

As relações de trabalho entre membros da empresa e entre esses e o ambiente.

As atividades que resultam em produtos da empresa.

Page 8: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

8

Mais Exemplos Mais Exemplos (“meus”, isto é, não do Bunge)(“meus”, isto é, não do Bunge)

s

Sistema

CComposição

EAmbiente

SEstrutura

MMecanismo

Democracia Cidadãos (incl. mandatários), poderes constituídos, mídia* (quarto poder)

Constituição e arcabouço legal, situação econômica e política, cultura (incl. de respeito às instituições).

Endo: liderança política, mandatos, equilíbrio de poderes, influência da mídia. Exo: obediência às leis, suscetibilidade às vicissitudes econômicas.

Participação política (principal), eleição (secundário, bem secundário)

Classe acadêmica (turma de disciplina)

Alunos, professor.

Curso, universidade, literatura da área, leis e regimentos.

Endo: liderança, coleguismo, avaliação. Exo: sujeição às leis e regimentos, conhecimento da literatura.

Estudo, discussão (não destaco “aula” como essencial para o desempenho sistêmico).

* Concepção minha, sujeita a crítica, mas é uma sugestão de que a mídia é realmente mais do que parte do Ambiente…

Page 9: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

9

CESM – Exemplos de mecanismoCESM – Exemplos de mecanismo

Sistema Função específica Mecanismo(s)Rio Drenagem Fluxo de água

Reator químico Emergência de novas moléculas Reações químicas

OrganismoManutenção Metabolismo

Coração Bombeamento de sangue Contração-relaxamento

Cérebro Comportamento e pensamento Ligações neurônicas

Escola Aprendizagem Ensino, estudo, discussão

Fábrica Produção de mercadorias Trabalho, gestão

Lab. científico Crescimento do conhecimento Pesquisa

Comun. científica Controle de qualidade Peer review

Corte de justiça Busca da justiça Litígio…

“A way to find out the mecanism that makes a system tick is to look for specific functions of the system.”

Page 10: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

10

CESM – Limitação; como usarCESM – Limitação; como usar

• CESM: simples, mas difícil de usar porque requer conhecimento de todas as partes de um sistema e suas interações, bem como suas ligações com o resto do mundo.

• Na prática, usamos as noções de CESM em certo nível.– P.ex. falamos da composição atômica de uma molécula, da composição

celular de um órgão, da composição individual de uma sociedade.– Exceto na física de partículas, nunca lidamos com o componente último

de uma coisa (e mesmo naquela, ignoramos interações, em especial com itens do ambiente).

– Ou seja, em vez de tomar toda a composição, tomamos um conjunto Ca(s)

de partes do tipo a ou no nível a. Similarmente, tomamos Eb(s), o

ambiente no nível b. Enfim, formamos o que se poderia chamar de um modelo CESM reduzido:

• abcd (s) = <Ca (s), Eb (s), Sc (s), Md (s)>.

• Isso permite, por exemplo, construir inúmeros modelos de sistema social (subsistemas – p.ex. famílias, organizações) , mudando os termos a, b, c e d.

Page 11: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

11

Ferramentas intelectuaisFerramentas intelectuais• Bunge critica o fenomenalismo (filosofia oposta ao realismo, para a qual só

há fenômenos/percepções, que dá explicações cinéticas, estratégia que ele considera pobre – que não explica).

• Para explicar: Mecanismo. Diagrama de Boudon-Coleman:

Problema-exemplo: aumento da renda declínio da fertilidadeDescrição em um só nível, sem mecanismo aparente. Só a referência ao micronível pode explicar a correlação:

Macronível aumento da renda declínio da fertilidade

Micronível melhoras em educação e planejamento familiarprevidência social/aposentadorias

“Reengenharia e downsizing afetam a distribuição de renda”:Macronível downsizing/reengineering aumento da desigualdade de renda

Micronível perda de empregos bem-pagos declínio da renda dos trabalhadores

“Desigualdade de renda extrema é inversamente proporcional à democracia política”:Macronível desigualdade de renda repressão

Micronível privação relativa frustração rebelião

Explicação do atraso agricultural francês comparado ao avanço britânico (Tocqueville, 1856):Macronível centralização política empobrecimento e alienação

Micronível ausência do nobre proprietário estagnação cultural, fraqueza de laços

sociais

Page 12: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

12

Ferramentas intelectuaisFerramentas intelectuais

• Quadrado BEPC: “…todo fato social tem 5 aspectos s mas ligados:– environmental (N),– biopsychological (B), As linhas são ações e fluxos de vários– economic (E), tipos (transf de energia ou info., uma– political (P), and piscadela ou ‘the finger’…). Os fatores– cultural (C)” são encadeáveis de 5!=120 formas.

• Teorias disciplinares às X explicam fatos pontuais, mas processos de longo prazo requerem explicações interdisciplinares / sistêmi[ca|sta]s.

• Uma mudança social pode ter origem em qualquer aspecto. P.ex.:– N E B P C. É provável que a queda das civilizações suméria

e maia resultem de secas prolongadas [N] que secaram canais e arruinaram a agricultura [E], causando fome [B], que pode ter gerado instabilidade política [P] e decadência cultural [C].

– B E P C. Uma praga letal [B] concentrou a riqueza em poucas famílias [E], o que aumentou seu poder político [P] e as levou a encabeçar um novo movimento cultural [C]. (Este é o mecanismo principal da Renascença florentina).

P C

N

B E

Page 13: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

13

Sistemismo bungeano – onde ando...Sistemismo bungeano – onde ando...

• Lendo Emergence and Convergence (faltam <30%)• Li transversalmente, por enquanto (papers)…

– Mechanism and explanation, Phil Soc Sci (1997) e How Does It Work?: The Search for Explanatory Mechanisms, Phil Soc Sci (2004), que falam de explicação de fenômenos complexos.

– An ontological model of an information system by Wand+Weber, IEEE TSE (1990), a “Ontologia de Bunge-Wand-Weber” (BWW):

thing, property, class, coupling, system, sys.composition & env…– Mechanisms for communication between business and IT experts,

Comp Std & Interfaces (2008) by Kilov+Sacks, e Ontological modelling of information systems from Bunge’s contributions, Proc. 1st Wshop Phil Foundations of Info. by Herrera et al. (2005)

• Falta ler (além de ler direito os artigos acima):– Treatise on Basic Philosophy (1974-89), 8 volumes.– Uns 20 papers que citam BWW (¿grupo de estudo? ¿APP EGC?...)

(ou seja, com mais leituras vêm mais coisas práticas a mostrar)

Page 14: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

14

Sistemismo bungeano – Para que serve?Sistemismo bungeano – Para que serve?

• Dá uma visão de mundo que permite explicar a emergência (efeito sistêmico) em vez de aceitar correlação de variáveis como “explicação” fenomenalista.

• CESM facilita a discussão sobre a análise do sistema.– O que é C, E, S e M?– Qual processo é o mecanismo? O que é essencial?– Projetos de software: Talvez seja elucidativa a

modelagem CESM do sistema social e do sociotécnico.

– ¿Ontologia no Protégé?• Com navegação entre níveis (requereria todo o detalhe da BWW)

• Para montar diagramas de Boudon-Coleman.• Para montar explicações BEPC.

Page 15: Instituto Stela S&T#006, Visão sistêmica segundo Bunge

15

Bunge – Para saber maisBunge – Para saber mais (tenho tudo menos o (tenho tudo menos o TreatiseTreatise))

• Treatise on Basic Philosophy (1974-89, 8 volumes–2 são sobre ontologia, US$ 750 na Amazon).

• Livro Emergence and convergence (2003) no Google Books (cap. 3 sobre CESM) “CESM está para a ontologia do Treatise assim como um DW está para o BD fonte.” (Kern)

• Artigos sobre CESM / mechanism-based explanation:– M. Bunge (1997) Mechanism and explanation. Philosophy of the Social Sciences 27, p. 410-465.

– M. Bunge (2000) Systemism: the alternative to individualism and holism. Journal of Socio-Economics 29, p. 147–157.

– Systems and mechanisms: A symposium on Mario Bunge’s philosophy of social science (2004) Philosophy of the Social Sciences 34, 2-3 (2 full issues).

– M. Bunge (2004) How Does It Work?: The Search for Explanatory Mechanisms. Philosophy of the Social Sciences 34, p. 182-210.

• Especificamente na área de Computação e Sistemas Computacionais (o 1º é citado pelos demais):

– Y. Wand & R. Weber (1990) An ontological model of an information system, IEEE TSE 16 (11), p. 1282-1292. (Ontologia de Bunge-Wand-Weber, BWW)

– S. Herrera et al. (2005) How system models contributes to the design of information systems, Proc. IFSR2005 - The 1st World Congress of the International Federation for Systems Research. Kobe, Japan.

– S. Herrera et al. (2005) Ontological modelling of information systems from Bunge’s contributions, Proc. 1 st Workshop on Philosophical Foundations of Information.

– H. Kilov & I. Sacks (2005) Philosophy-based mechanisms for communication between business and IT experts, Proc. ONTOSE - First Workshop on Ontology, Conceptualizations and Epistemology for Software and Systems Engineering.

– H. Kilov & I. Sacks (2008) Mechanisms for communication between business and IT experts, Computer Standards & Interfaces, article-in-press.

OBRIGADO! Vinícius [email protected] (e obrigado Lucas pelo feedback e entusiasmo de sempre)