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Volume II. Número 3 SET/DEZ 2011

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Volume 1I - Número 3 • set/dez 2011

Sumário/Contents

RELATOS DE PESQUISA/RESEARCH REPORTSOs Créditos de Carbono da empresa Alto Tietê BiogásThe Carbon Credit of the Company Alto Tietê BiogásVanessa Cristina Santos ................................................................................................................................................................................................... 131

Manual sobre prevenção de quedas nos serviços de saúde pública ignora o perfil do público-alvoPrevention of falls of the elderly manual ignores the profile of target audienceProfª. Drª. Devani Salomão ............................................................................................................................................................................................... 145

A contribuição da recreação para a qualidade de vida do idosoThe contribution of recreation for the quality of life of elderlyMarcos Antonio da Eira Frias, Wana Yeda Paranhos, Patrícia Fera, Sandra Vital de Souza, Luciene de Faria Pintan ................................. 155

Avaliação da intensidade de dor em pacientes submetidos a tratamentos odontológicosEvaluation of pain intensity in patients undergoing dental treatmentFelipe César da Silva Menetti, Julianne dos Santos Maldonado, Gabriela dos Santos Martins, Maria José Tucunduva ............................... 163

REVISÃO/REVIEW Utilização do agregado trióxido mineral (mta), Hidróxido de Cálcio e Cimento de Portland em Pulpotomias.Using mineral trioxide aggregate (MTA), calcium hydroxide and portland cement in pulpotomy.Karen Martins Kaiser, Renata Debona Crespi, Eder Tartarotti, Edson Luiz Pelisser, Ana Paula Kruger Viegas ........................................... 170

MINI REVISÃO/MINI REVIEW O jogo de tênis de campo e suas implicações energéticasThe game of tennis field and its energy implicationsJoão Marcelo de Queiroz Miranda ................................................................................................................................................................................ 177

PONTO DE VISTA/POINT OF VIEWAnatomia e cirurgiaAnatomy and surgeryIkurou Fujimura ................................................................................................................................................................................................................... 181

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Science in Health

A revista de saúde da Universidade Cidade de São Paulo.

Chanceler

PAULO EDUARDO SOARES DE OLIVEIRA NADDEO

Reitor

RUBENS LOPES DA CRUZ

Vice-Reitor

SÉRGIO AUGUSTO SOARES DE OLIVEIRA NADDEO

Editor chefeJoaquim Edson VieiraVice editorRodrigo Ipolito Bouças

Editoria Acadêmica Ester Regina Vitale Denise Aparecida Campos

Assistente Editorial Mary Arlete Payão Pela

Normalização e revisãoClaudia MartinsEdevanete de Jesus de Oliveira

EditoraçãoVinicius Antonio Zanetti Garcia

Revisão do idioma portuguêsAntônio de Siqueira e Silva

Assessoria de Marketing Lúcia Ribeiro Periodicidade: Quadrimestral

Corpo Editorial por Secção1 - Biomedicina

Editor Sênior: Márcio Georges Jarrouge

[email protected]

[email protected]

Editores Associados: Ana Cestari, Marcia Kiyomi Koike, Profº Dr Rodrigo Ippolito Bouças.

2 – Ciências Biológicas e Meio Ambiente

Editor Sênior: Débora Regina Machado Silva

[email protected]

Editores Associados: Maurício Anaya, Ana Lúcia Beirão Cabral, Sandra Maria Mota Ortiz

3 – Educação Física

Editor Sênior: Roberto Gimenez

[email protected]

Editores Associados: Marcelo Luis Marquezi, Maurício Teodoro de Souza;

4 – Enfermagem

Editor Sênior: Wana Yeda Paranhos

[email protected]

Editores Associados: Patricia Fera; Fabiana Augusto Neman, Adriano Aparecido Bezerra Chaves;

5 – Fisioterapia

Editor Sênior: Francine Barretto Gondo

[email protected]

Editores Associados: Fábio Navarro Cyrillo, Renata Alqualo Costa, Alexandre Dias Lopes

6 – Formação e capacitação na área da saúde

Editor Sênior: Ecleide Cunico Furlanetto

[email protected]

Editores Associados: Julio Gomes de Almeida, Joaquim Edson Viei-ra, Stewart Mennin

7 – Inclusão social

Editor Sênior: Vânia Aparecida Marques Leite

[email protected]

Editores Associados: Fernanda Mendonça Pitta, Ivete de Masi

8 – Informática na saúde

Editor Sênior: Waldir Grec

[email protected]

Editores Associados: Sergio Daré, Aníbal Afonso Mathias

Júnior.

9 – Medicina

Editor Sênior: José Lúcio Martins Machado

[email protected]

Editores Associados: Jaques Waisberg, Sonia Regina P. Souza, Edna Frasson de Souza Montero, Marcelo Augusto Fontenelle Ribeiro Júnior, Sylvia Michelina Fernandes Brenna

10 – Odontologia

Editor Sênior: Cláudio Fróes de Freitas

[email protected]

Editores Associados: Eliza Maria Agueda Russo, Rivea Ines Fer-reira,

11 – Tecnologia em saúde

Editor Sênior: Willi Pendl

[email protected]

Editores Associados: Rodrigo de Maio, Wilson carlos da Silva Jú-nior.

12. Ciências Sociais Aplicadas

Editor Sênior: Wagner Pagliato

[email protected]

Editores Associados: Marco Antonio Sampaio de Jesus; Eduardo Ganymedes; Wanderley Gonçalves; Rinaldo Zaina Junior; Roberta de Cássia Suzuki

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E D I T O R I A L

A Science in Health apresenta, a partir desta 6ª edição – volume 2, número 3 – seu espaço reformulado, mas a mesma disposição para manter seu ambiente de divulgação de material de pesquisa e reflexões produzidas na Universidade Cidade de São Paulo.

A Revista tem sua divulgação no site da UNICID em “Destaques”, já a partir do número anterior (5ª. Edição – vol. 2, número 2). Acredita-se que este vínculo permitirá maior visibilidade da Revista junto ao público da própria Universidade e também ao público em geral, por ser uma publicação de acesso livre.

As áreas da Science in Health foram reavaliadas para a constituição de um novo desenho editorial. A nova composição estabelece como áreas de editoração: Biomedicina, Ciências Biológicas e Meio Ambiente, Ciências Sociais Aplicadas, Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Odontologia e Tecnologia em saúde.

O espaço formativo, que é missão da Revista, deverá incluir, além das publicações de artigos resultantes de trabalhos de pesquisa e de Conclusão de Curso, um local para as opiniões e considerações de cunho científico de nossos colegas por meio dos formatos de Revisões, Pontos de Vista (ensaios) e Resenhas de obras consi-deradas de interesse da comunidade universitária. Temos um projeto grande para a Science in Health. Traba-lharemos para que a atual periodicidade avance para um “quarterly journal” – com periodicidade trimestral.

Nesta edição os assuntos espelham a riqueza de ações e pesquisas da Universidade Cidade de São Paulo. Science in Health apresenta um texto sobre créditos de carbono, duas investigações com foco na população idosa - prevenção de quedas e a recreação contribuindo para a qualidade de vida neste período da vida; a anal-gesia em Odontologia e sua avaliação por meio de escalas de dor e sobre materiais em pulpotomias; o esporte se faz presente com um artigo sobre a prática do tênis de campo; e uma reflexão sobre anatomia “a mais antiga ciência que pode ser relacionada à medicina”.

No artigo de Santos, a redução de gases de efeito estufa e as Reduções Certificadas de Emissões – ou Cré-ditos de Carbono geram benefícios financeiros de longo prazo, estudados em empresa e seu inventário dos créditos. Os artigos de Salomão – sobre um manual de prevenção de quedas em pessoas idosas, e de Eira Frias e colaboradores sobre a recreação como suporte essencial para manutenção da qualidade de vida, discorrem sobre um fenômeno novo na demografia brasileira – o envelhecimento da população. Essa população (acima dos 65 anos) deverá aumentar entre 2% e 4% ao ano e deverá representar quase 19% da população brasilei-ra em 2050 (Carvalho e Rodríguez-Wong, Cad Saúde Pública RJ 2008, 24, p.597). Essa transição etária gera oportunidades e desafios que devem ser enfrentados, como avaliados pelos artigos desta edição da Science in Health. O assunto não se esgota – e convidamos nossos estudantes e pesquisadores ao estudo deste impor-tante fenômeno.

A Odontologia também se destaca nesta edição. Menetti e colaboradores demonstram a viabilidade do uso da escala visual de dor e a escala analógica para avaliação da dor em processos de exodontia – interessante notar que o estresse psicológico pode interferir no nível da dor. Kaiser e colaboradores estudam diferentes cimentos odontológicos em pulpotomias (técnica de remoção da porção mais afetada do tecido pulpar, preser-vando a vitalidade da polpa radicular) e apontam a superioridade de novos materiais mas que o hidróxido de cálcio ainda encontra espaço na Odontologia “quando a técnica for cuidadosamente bem realizada”.

Finalmente, o tênis de campo é apresentado por Miranda em seu artigo como uma prática esportiva que requer bom condicionamento físico – e os profissionais da saúde conhecerão os sistemas energéticos desse esporte com o intuito de evitar lesões. Esse conhecimento certamente não prescinde da anatomia, apresenta-da pelo Professor Fujimura: Nulla medicina sine anatomia. Com o conhecimento da anatomia, a referência do normal aponta os desvios – na Clínica; e a visão minuciosa da topografia indica os caminhos à Cirurgia. A quem ensina “resta o dever de apontar o real significado do valor da aquisição desses conhecimentos”.

A Revista Science in Health, nesta edição, e mantendo a tradição das anteriores, contribui de maneira eclé-tica para a formação profissional com visão ampla dos futuros profissionais da Unicid.

Desejamos boa leitura e convidamos para visitar e publicar nestas páginas, em suas futuras edições.

Joaquim Edson VieiraRodrigo Ippolito Bouças

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OS CRÉDITOS DE CARBONO DA EMPRESA ALTO TIETÊ BIOGÁS

THE CARBON CREDIT OF THE COMPANY ALTO TIETÊ BIOGÁS

Vanessa Cristina Santos*

* Universidade Cidade de São Paulo, [email protected]

RESUMO

A busca do equilíbrio entre as atividades humanas e a natu-reza se tornou algo imprescindível para promover o desen-volvimento sustentável, e isso se deve ao grande precursor para esse novo modelo de desenvolvimento, o “Protocolo de Quioto”, o qual estabelece metas de redução de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos, criando três mecanismos para que esses países possam cumprir suas metas, sendo que um é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, pelo qual países em desenvolvimento, como o Bra-sil, podem criar projetos de forma a contribuir com o meio ambiente, gerando, assim, as Reduções Certificadas de Emissões ou simplesmente Créditos de Carbono, trazendo benefícios financeiros a longo prazo, com a venda desses créditos para os países desenvolvidos. Este trabalho tem como objetivo analisar e identificar os créditos de carbono da empresa Alto Tietê Biogás. Para a execução do estudo foi realizada entrevista na empresa e pesquisas bibliográfi-cas. A conclusão desta pesquisa foi que a Alto Tietê Biogás elabora inventário dos créditos de carbono. Esta pesquisa não buscou esgotar o assunto, apenas apresentar o tema para novas discussões.

PALAVRAS-CHAVES: Aquecimento global • Proteção ambiental; Mudança do clima • Desenvolvimento sus-tentável • Efeito estufa.

ABSTRACT

The search for the balance between the human activities and nature made something essential to promote the sus-tainable development, and that is due to a great precur-sor for this new model of development, the “ Protocol of Quioto ” which establishes marks of reduction of gases of greenhouse effect for the developed countries, creating three mechanisms so that these countries can carry out their marks, whereas that one is the Mechanism of Clean Development, where developed countries like Brazil, can create form projects to contribute with the environment, producing the Reductions by making sure of Emissions or simply Credits of Carbon, producing financial benefits in the long run, with the sale of these credits for the developed countries. This assignment has the purpose of analysing and to identify the credits of carbon of the enterprise Alto Tietê Biogás. For the execution of the study interview was car-ried out in the enterprise and bibliographical inquiries. The conclusion of this research was that the Alto Tietê Biogás produces inventory of carbon credits. This research did not seek to exhaust the subject; just bring up the subject for further discussion.

KEY-WORDS: Global warming • Environmental protection • Climate change • Sustainable development • Greenhouse effect.

Relato de Pesquisa/ReseaRch RePoRts

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Santos VC. Os créditos de carbono da empresa Alto Tietê Biogás • São Paulo • Science in Health • 2011 set-dez; 2(3): 131-44

Relato de Pesquisa/ReseaRch RePoRts

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CONTEXTO GERALDiversos fatos vêm acontecendo em diversas re-

giões do planeta como: tornados, furacões, derreti-mento de geleiras, elevação do nível do mar, fortes chuvas, enchentes, desertificação, frio rigoroso, calor excessivo, incêndios florestais, desmatamento das florestas, poluição proveniente de empresas e au-tomóveis, consumo desenfreado etc. Tudo isso vem afetando de maneira significativa a vida de muitas pes-soas.

Sabe-se que o efeito estufa é necessário para que haja vida humana na Terra e sem ele o planeta conge-laria, mas devido à interferência do homem por meio de constantes formas de poluição ao meio ambiente, o efeito estufa natural está sendo afetado, causando o aquecimento global, ou seja, o clima está ficando cada vez mais quente.

Desde o surgimento do homem na Terra, os tipos de impacto ambiental têm se diversificado e sua frequên-

cia tem aumentado muito. O primeiro tipo de impacto causado pelo homem provavelmente derivou do domí-nio do fogo. Á medida que a espécie humana foi desen-volvendo novas tecnologias e ampliando seu domínio sobre os elementos e a natureza em geral, os impactos ambientais foram se ampliando em intensidade e exten-são. (BRANCO, 2004).

Vivemos um momento na sociedade onde a pre-servação do meio ambiente é cada vez mais presente, surgindo uma consciência mundial Governos, Empre-sas, Organizações Não Governamentais e Sociedade, precisam cuidar do planeta agora para garantir às próximas gerações um futuro melhor, com o intui-to de utilizar os recursos da natureza de forma mais inteligente.

A questão da preocupação com o meio ambiente vem conquistando cada vez mais notoriedade e espa-ço na sociedade, deixando de ser apenas uma preo-cupação regional e nacional, ganhando força em nível

Figura I: Cronologia dos Principais Acordos Internacionais.

1873 Organização Internacional de Meteorologia

1945 Organização das Nações Unidas (ONU)

1950 A Organização Internacional de Meteorologia deu origem à Organização Mundial de Meteorologia

1951 A Organização Mundial de Meteorologia se tornou uma agência especializada da ONU

1969 Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados

1972 • Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente – Declaração de Estocolmo;• Criação do Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA)

1979 Conferência Mundial sobre o Clima

1983 A ONU cria a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

1985 Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio

1987 • Protocolo de Montreal sobre Substâncias que destroem a Camada de Ozônio;• A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento apresentou o Relatório Nosso Futuro

Comum ou Relatório de Brundtland

1988 • Conferência sobre Mudanças na Atmosfera;• O Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA) e a Organização Meteorológica Mundial criam

o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)

1990 A ONU por meio da resolução 45/2012 cria o Comitê Intergovernamental de Negociação sobre a Convenção Quadro sobre Mudança do Clima

1992 • Cúpula da Terra• Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável• Agenda 21• Convenção sobre Diversidade Biológica• Declaração dos Princípios para o Manejo Sustentável das Florestas• Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima

Fonte: Dados da Pesquisa. Elaboração Própria.

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mundial. Diante disso, vários países vêm se reunindo para discutir sobre as questões ambientais. Entre os principais fatos cronológicos, é importante destacar (Figura 1).

Vale ressaltar que no ano de 1972 aconteceu em Estocolmo, Suécia, a primeira Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente. O evento reuniu represen-tantes de 113 países e cerca de 250 Organizações Não Governamentais (ONGs). Essa conferência ge-rou a Declaração da Conferência das Nações Uni-das sobre o Meio Ambiente Humano, (Declaração de Estocolmo), com 26 princípios, que mostram a importância da natureza em nossas vidas; a questão da preservação para as gerações atuais e futuras é responsabilidade de todos.

Conforme o princípio 21, da Declaração de Es-tocolmo, os Estados têm o direito de explorar seus próprios recursos, sem prejudicar os outros Estados e o princípio 24 diz que é necessário que todos os pa-íses, pequenos ou grandes, cooperem mediante acor-dos internacionais, a fim de evitar, reduzir e controlar eficazmente os efeitos prejudiciais ao meio ambiente.

Em 1987, a Comissão Mundial sobre o Meio Am-biente e Desenvolvimento apresentou o Relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland, no qual foi estabelecido o con-ceito de Desenvolvimento Sustentável, que é o desenvol-vimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfa-zerem suas próprias necessidades.

As indústrias estão mais dependentes de recursos ambientais e com isso a poluição vem crescendo mais rapidamente no mundo em desenvolvimento. Há uma grande urgência para o crescimento, mas também há uma menor capacidade para minimizar os efeitos cola-terais prejudiciais.

Nenhum país pode se desenvolver de forma isolada dos outros. Daí a busca do desenvolvimento susten-tável exige uma nova orientação nas relações interna-cionais. Crescimento sustentável em longo prazo irá retribuir mudanças de longo alcance para produzir o comércio, o capital e os fluxos de tecnologia que são mais justos e melhor sincronizados com os imperativos ambientais. (ANDI, 1987).

Assim, os objetivos de desenvolvimento econômi-co e social devem ser definidos em termos de susten-tabilidade em todos os países – desenvolvidos ou em desenvolvimento.

No mês de maio de 1992 em Nova York é ado-tada a United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC) ou Convenção-Quadro das Na-ções Unidas sobre Mudanças do Clima, com o obje-tivo de atingir a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera a um nível que evite uma interferência humana perigosa no sistema climático.

Já no mês de junho de 1992 aconteceu no Rio de Janeiro, Brasil, o maior evento mundial sobre o meio ambiente, reunindo 178 países e 114 chefes de Esta-do, onde representantes de 1600 ONGs participaram apenas como observadores, o evento ficou conheci-do como: Rio-92, Eco 92 ou Cúpula da Terra.

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima foi aberta para assinatura durante o evento no Rio de Janeiro e posteriormente na Sede das Nações Unidas em Nova York. Em conformidade com a referida Convenção:

As atividades humanas estão aumentando substancial-mente as concentrações atmosféricas de gases de efei-to estufa; esse aumento de concentrações está intensi-ficando o efeito estufa natural fazendo com que disso resulte, em média, aquecimento adicional da superfície e da atmosfera da Terra e afetando negativamente os ecossistemas naturais e a humanidade.

A maior parcela das emissões globais, históricas e atu-ais, de gases de efeito estufa é originária dos países desenvolvidos, e as emissões per capita dos países em desenvolvimento ainda são relativamente baixas e que a parcela de emissões globais originárias dos países em desenvolvimento crescerá para que eles possam satis-fazer suas necessidades sociais e de desenvolvimento.

A natureza global da mudança do clima requer a maior cooperação possível de todos os países e sua partici-pação em uma resposta internacional efetiva e apro-priada, conforme suas responsabilidades comuns, mas diferenciadas e respectivas capacidades e condições so-ciais e econômicas. (Preâmbulo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Meio Ambiente). (UNFCCC, 1992).

O Artigo 1 trata dos principais conceitos e abaixo estão relacionados alguns deles:

Mudança do Clima: significa uma mudança de clima que possa ser direta ou indiretamente atribuída à atividade humana que altere a composição da atmosfera mun-dial e que se some àquela provocada pela variabilidade climática natural observada ao longo de períodos com-paráveis.

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Gases de efeito estufa: são os constituintes gasosos da atmosfera, naturais e antrópicas, que absorvem e ree-mitem radiação infravermelha.

Objetivo da Convenção: é a estabilização das concentra-ções de gases de efeito estufa na atmosfera de modo a impedir a interferência humana no sistema climático, num prazo suficiente que permita aos ecossistemas se adaptarem naturalmente à mudança do clima de modo a que voltem individualmente ou conjuntamente a seus níveis de 1990. (UNFCCC, 1992).

O Artigo 23 diz que a entrada em vigor da Con-venção deverá ocorrer no nonagésimo dia após a data do quinquagésimo instrumento de ratificação, entrando em vigor dia 21 de março de 1994.

No Brasil, o Congresso Nacional aprovou a Con-venção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima por meio do Decreto Legislativo 1 de 03 de fevereiro de 1994. Foi promulgado por meio do Decreto 2.652 de 1 de Julho de 1998.

Ainda em conformidade com a Convenção, os pa-íses que a ratificaram precisam se reunir anualmente podendo serem realizadas reuniões extraordinárias, para discutir, melhorar e decidir sobre a implementa-ção da referida Convenção, sendo que essas reuniões são chamadas de Conferência das Partes (COP).

Como Órgão supremo desta Convenção, a Conferên-cia das Partes manterá regularmente sob exame a im-plementação desta Convenção e de quaisquer de seus instrumentos jurídicos que a Conferência das Partes possa adotar, além de tomar, conforme seu mandato, as decisões necessárias para promover a efetiva imple-mentação desta Convenção. (Artigo 7.1 da Convenção--Quadro das Nações Unidas sobre Meio Ambiente). (UNFCCC, 2011)

A primeira sessão da Conferência das Partes (COP) deverá ser realizada após um ano da entrada em vigor da Convenção e posteriormente as sessões ordinárias serão realizadas anualmente, mas sessões

Figura II: Cronologia das Conferências das Partes.

1995 COP-1 Berlim, Alemanha: constituição de um protocolo resultou no Mandato de Berlim.1996 COP-2 Genebra, Suíça: continuação das discussões sobre o protocolo.1997 COP-3 Quioto, Japão: Acorda-se o Protocolo de Quioto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Meio Ambiente.1998 COP-4 Buenos Aires, Argentina: acorda-se um período de dois anos para a implementação do Protocolo.1999 COP-5 Bonn, Alemanha: Discussões Técnicas sobre os mecanismos do Protocolo.2000 COP-6 1º Parte – Haia, Holanda: Discussões políticas.2001 COP-6 2º Parte – Bonn, Alemanha: Saída dos Estados Unidos, sob a alegação de que os custos seriam altos para a sua

economia.COP-7 Marraqueche, Marrocos: Negociações sobre o Protocolo foram reunidas nos Acordos de Marraqueche.

2002 COP-8 Nova Déli, Índia: Discussões sobre o Protocolo.2003 COP-9 Milão, Itália: Regulamentação de sumidouros de carbono no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.2004 COP-10 Buenos Aires, Argentina: Discussões técnicas e sobre o que irá acontecer após Quioto.2005 COP-11/MOP-1 Montreal, Canadá: Primeira conferência após o Protocolo de Quioto ter entrado em vigor: as discus-

sões foram sobre o que irá acontecer após a expiração do Protocolo de Quioto. 2006 COP-12/MOP-2 Nairóbi, Quênia: Assume-se o compromisso de revisão do Protocolo de Quioto.2007 COP-13/MOP-3 Bali, Indonésia: Estabeleceram-se compromissos mensuráveis para a redução de emissões causadas

por desmatamento das florestas tropicais para o próximo acordo; as decisões ficaram conhecidas como Mapa do Caminho de Bali.

2008 COP-14/MOP-4 Poznam, Polônia: Continuação das negociações estabelecidas pelo Mapa do Caminho de Bali.2009 COP-15/MOP-5 Copenhague, Dinamarca: As discussões foram reunidas nos Acordos de Copenhague.2010 COP-16/MOP-6 Cancum, México: Criação do Fundo Climático Verde com o objetivo de ajudar os países em desenvolvi-

mento e apoio à implementação de elementos para compensar os países a protegerem suas florestas.2011 COP-17/MOP-7 Durban, África do Sul: Será realizado em dezembro.2012 COP-18/MOP-8 Localidade ainda não divulgada: Expiração do Protocolo de Quioto.

Fonte: Dados da pesquisa. Elaboração Própria.

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extraordinárias poderão ocorrer.

PROTOCOLO DE QUIOTOO Protocolo de Quioto é um instrumento jurídico

complementar e vinculado à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima a qual foi acordada em dezembro de 1997, na Terceira Confe-rência das Partes (COP-3) na cidade de Quioto, Ja-pão. Segundo o Protocolo de Quioto, em 16 de mar-ço de 1998 foi aberto para assinatura, e para entrar em vigor era necessário que pelo menos 55 países, juntos correspondessem a pelo menos 55% das emis-sões totais de dióxido de carbono emitidas em 1990 e por este motivo o Protocolo de Quioto entrou em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005.

Para atingir o desenvolvimento sustentável, a Con-venção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima estabelece a participação de todos os países, com responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Com isso, o Protocolo de Quioto estabelece metas e prazos para a redução de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos que são os países listados no Anexo I da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima e cria mecanismos para se alcançar o objeto e incluem, em um desses mecanis-mos, os países “Não Anexo I” que são os países em desenvolvimento.(UNFCCC, 2011)

Segundo o Artigo 3.1 do Protocolo de Quioto, os países desenvolvidos devem reduzir pelo menos 5% dos gases de efeito estufa abaixo dos níveis de 1990 no período de compromisso de 2008 a 2012.

Para efeito do Protocolo de Quioto, são conside-rados seis gases de efeito estufa: Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4), Óxido Nitroso (N2O), Hi-drofluorcarbonos (HFCs), Perfluorcarbonos (PHCs) e Hexafluoreto de Enxofre (SF6) e os setores são: Energia, Processos Industriais, Agricultura, Resíduos, Uso de solventes e outros produtos.

Conforme o Artigo 4 da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, todas as partes devem elaborar, atualizar periodicamente, pu-blicar e pôr à disposição da Conferência das Partes o Inventário Nacional de emissões antrópicas por fontes e das remoções de todos os gases de efeito estufa. De acordo com o Artigo 7 do Protocolo de Quioto os países desenvolvidos devem incorporar ao seu inven-tário anual as informações suplementares necessárias em atendimento ao objetivo do Protocolo.

Para o cumprimento do objetivo de redução de emissão e para alcançar o desenvolvimento susten-tável, o Protocolo de Quioto estabelece metodolo-gias, diretrizes e três mecanismos: Implementação Conjunta, Comércio de Emissões e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que os países devem seguir para o cumprimento das metas.

Para Souza (2007), Mecanismos de Flexibilização, são arranjos técnicos operacionais para a utilização de paí-ses ou empresas, que oferecem facilidades para que as Partes possam atingir as metas de redução de emissões.

No Brasil, o Congresso Nacional aprovou o Pro-tocolo de Quioto e a Convenção-Quadro das Na-ções Unidas sobre Mudanças do Clima por meio do Decreto Legislativo 144 de 20 de Junho de 2002. Foi promulgado por meio do Decreto 5445 de 12 de maio de 2005.

IMPLEMENTAÇÃO CONJUNTAO Mecanismo da Implementação Conjunta pode

ser definido conforme o Artigo 6: qualquer Parte in-cluída nos países desenvolvidos pode transferir para ou adquirir de qualquer outra dessas Partes unidades de redução de emissões resultantes de projetos vi-sando à redução das emissões.

Esse mecanismo é utilizado apenas entre os países desenvolvidos, que podem financiar projetos para a redução de GEE em outros países desenvolvidos em troca das Unidades de Redução de Emissões.

COMÉRCIO DE EMISSÕESO Mecanismo do Comércio de Emissões pode ser

definido conforme o Artigo 17: as Partes do Anexo I podem participar do comércio de emissões com o objetivo de cumprir os compromissos assumidos no Protocolo de Quioto, e tal comércio deve ser adi-cional às ações domésticas com vistas a atender os compromissos quantificados de limitação e redução de emissões.

O Comércio de Emissões também é utilizado ape-nas entre países desenvolvidos, e aqueles países que conseguiram reduzir as suas emissões de GEE além das metas estabelecidas no Protocolo de Quioto podem vender seus créditos para países que poluíram mais.

MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPOO Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)

pode ser definido conforme o Artigo 12: assistir às Partes não incluídas no Anexo I para que atinjam o

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desenvolvimento sustentável e contribuam para o ob-jetivo final da Convenção, e assistir às Partes incluídas no Anexo I para que cumpram seus compromissos quantificados e redução de emissões.

O MDL interessa aos países em desenvolvimen-to, bem como o Brasil, pois os países desenvolvidos podem investir nos projetos de redução de GEE alo-cados nos países em desenvolvimento, onde não há obrigação de redução de emissão dos GEE e o custo pode ser menor, mas o investimento pode ser dos países em desenvolvimento. Com isso, os projetos de MDL geram as Reduções de Emissões Certificadas e os países desenvolvidos compram esses créditos de carbono para o cumprimento de suas metas.

NÃO CUMPRIMENTO DO PROTOCOLO DE QUIOTO Em conformidade com o Artigo 18 do Protocolo

de Quioto, a Conferência das Partes durante a COP-7 em 2001, ficou registrado nos Acordos de Marra-queche que as Partes que não cumprirem as quanti-dades de reduções de emissões no primeiro período 2008 a 2012: a dedução da quantidade atribuída da

Figura III Linha de Base e Adicionalidade

Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia. Elaboração Própria.

Figura IV: Conceitos

Ciclo do Projeto de MDL

Etapas às quais uma atividade de projeto do MDL deve necessariamente se submeter para que possa originar as Reduções Certificadas de Emissões, a última etapa do ciclo do projeto.

Linha de Base É o cenário de uma atividade de projeto do MDL que representa de forma razoável as emissões de gases de efeito estufa que ocorreriam na ausência da atividade de projeto proposta.

Adicionalidade Uma atividade de projeto MDL é adicional se as emissões antrópicas de gases de efeito estufa por fontes são reduzidas a níveis inferiores aos que teriam ocorrido na ausência da atividade de MDL registrada, ou seja, adicionalidade é uma redução adicional nas emissões de gases de efeito estufa que não ocorreria na ausência da atividade de projeto registrado É considerado adicional se sua implementação estiver vinculada necessariamente ao registro como uma atividade de MDL, ou seja, ao fato de que a atividade de projeto não seria executada sem a expectativa das Reduções Certificadas de Emissões.

Redução Certifi-cada de Emissão (RCE) ou Crédito de Carbono

Representam as reduções de GEE decorrente de atividades de projetos de MDL e que tenham passado por todo o Ciclo do Projeto do MDL, ou seja, a diferença entre as emissões de GEE da linha de base e as emissões de GEE do projeto após a implementação da atividade do projeto de MDL. Uma unidade de RCE é igual a uma tonelada métrica de dióxido de carbono equivalente.

Período de Obten-ção de Créditos

Pode ser de no máximo 10 anos para projetos de período fixo sem opção de renovação ou de 7 anos para projetos de período renovável, que podem ser renovados por no máximo dois perío-dos de 7 anos, totalizando 21 anos e para atividade de Florestamento e Reflorestamento o perío-do é de 30 anos de período fixo sem renovação ou 20 anos, com a possibilidade de ser renovado duas vezes, totalizando 60 anos. Para cada renovação, uma Entidade Operacional Designada determina e informa o conselho Executivo que a linha de base original do projeto continua válida ou foi atualizada, levando em conta a existência de novos dados, se for o caso. Os Participantes do Projeto selecionam um desses períodos de obtenção de créditos.

Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia. Elaboração Própria.

Parte para o segundo período de compromisso de um número de toneladas igual a 1,3 vezes a quantida-de em toneladas de emissões em excesso não pode-rão participar do Comércio de Emissões até que sua situação se regularize. Além de prestar explicações dos motivos da falta de sucesso do compromisso e medidas para alcançar os objetivos.

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Figura V: Ciclo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia. Elaboração Própria.

Figura VI: Participantes e Entidades Responsáveis

Participantes do Projeto (PPs)

Os PPs são Partes envolvidas e/ou entidades públicas e/ou privadas autorizadas pela Parte envol-vida a participarem da atividade de projeto do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). A Parte envolvida: poderá participar das atividades do MDL se for Parte no Protocolo de Quioto. Entidade Pública e/ou Privada: poderão participar se forem autorizadas devidamente pela Parte.

Autoridade Nacional Designada (AND)

Os países envolvidos em atividades de projeto do MDL devem indicar junto a Convenção-Qua-dro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima uma Autoridade Nacional Designada (AND), atestando que a participação do país é voluntária, sendo esta uma Entidade governamental. Foi criada no Brasil por meio do Decreto de 07 de Julho de 1999 alterado pelo Decreto de 10 de Janeiro de 2006 a Comissão Interministerial de Mudança do Clima, tendo como principais fun-ções: atestar o caráter voluntário dos participantes do projeto e que as atividades contribuem para o desenvolvimento sustentável do país.

Entidade Operacional Designada (EOD)

É uma entidade jurídica indicada pela COP/MOP e credenciada pelo Conselho Executivo do MDL. Até abril de 2011 havia 52 entidades credenciadas. A EOD é responsável em garantir que as atividades do projeto estão sendo aplicadas corretamente e se as normas e os procedimen-tos estabelecidos estão de acordo com o Protocolo de Quioto e pelo Conselho Executivo do MDL, tendo como principais funções: Validar e solicitar o registro de uma atividade de projeto no âmbito do MDL, verificar a redução de emissões e certificá-las, se for o caso, e solicitar ao Conselho Executivo a emissão das Reduções Certificadas de Emissão. (RCEs) cabíveis. No Bra-sil, exige-se, adicionalmente, que a Entidade Operacional Designada esteja legalmente estabeleci-da no país.

Conselho Executivo do MDL (CE)

É composto por dez membros das Partes do Protocolo de Quioto: quatro são das Partes no Anexo I e seis das Partes Não-Anexo I, tendo como principais funções: supervisionar o funcio-namento do MDL: credenciamento das Entidades Operacionais Designadas, validação e registro das atividades de projetos do MDL, metodologias para a linha de base e a Emissão das Reduções Certificadas de Emissões. As decisões são confirmadas pela COP/MOP.

Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia. Elaboração Própria.

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MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPODe acordo com o Protocolo de Quioto, para se

enquadrar nos projetos de MDL é necessário que os países em desenvolvimento e as empresas: partici-pem de maneira voluntária, ou seja, não pode existir uma lei ou norma para obrigá-las a participar, gerar benefícios reais e mensuráveis a longo prazo, contri-buir com o desenvolvimento sustentável e que haja reduções de emissões de gases de efeito estufa ou o aumento de remoções de forma adicional ao que ocorreria na ausência do projeto de MDL.

Para um melhor entendimento do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e do seu ciclo de funciona-mento será necessário abordar alguns conceitos im-portantes.

Segundo o (MCT, 2011) a proposta que deu origem ao MDL foi elaborada em Brasília e também foi o primeiro projeto de MDL aprovado no mundo, o projeto Nova

Gerar, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, um aterro sanitário que reutilizava o gás meta-no (liberado na decomposição do lixo) para produzir energia elétrica. Foi aprovado pelo Conselho Executivo no final de 2004.

O gráfico abaixo apresenta as atividades de proje-to do MDL que estão em alguma fase do ciclo repre-sentando um total de 7.742 projetos atualizados até 30/06/2011 de acordo com o MCT (2011) sendo que 3.214 já foram registrados pelo Conselho Executivo do MDL e 4.528 estão em outras fases do ciclo. Pode verificar que a China ocupa o primeiro lugar com 39% representando 3.056 projetos, em segundo lugar está à Índia com 27% com 2.098 projetos e em terceiro está o Brasil, com 6% com 499 projetos.

A tendência natural é que países como a China e Índia liderem a lista de projetos por terem uma ma-triz energética “suja”, com uso intensivo de carvão, e

Figura VII: Descrição das Etapas

Documento de Concepção do Projeto

É um documento elaborado pelos Participantes do projeto, que contém entre outros elementos, informações sobre os aspectos técnicos e organizacionais da atividade do projeto, as metodologias de linha de base e monitoramento, impactos ambientais e a descrição das informações para demonstrar a adicionalidade da atividade do projeto, período de obtenção dos créditos e plano de monitoramento, sendo este a base para as demais etapas.

Relatório de Validação É o processo de avaliação independente de uma atividade de projeto por uma Entidade Operacional Designada.

Carta de aprovação É o processo pelo qual as ANDs das Partes envolvidas confirmam a participação voluntária, e a AND da Parte anfitriã atesta que a atividade contribui para seu desenvolvimento sustentável.

Registro É a aceitação formal, pelo CE, de um projeto validado como atividade de projeto do MDL.

Relatório de Monitoramento

É um processo de monitoramento da atividade de projeto feito pelos PPs que inclui o recolhimento e armazenamento de todos os dados necessários para calcular a redução ou remoção de emissões de GEE. Ele deve estar de acordo com o plano de monitoramento estabelecido na metodologia indicada no DCP registrado.

Relatório de Verificação

É o processo de auditoria periódico e independente pela EOD para revisar os cálculos das reduções ou remoções de GEE resultantes de uma atividade de projeto do MDL registrada no CE, ou seja, consiste na verificação das efetivas reduções ou remoções.

Relatório de Certificação

É a garantia fornecida pela EOD por escrito de que uma atividade de projeto atingiu um determinado nível de redução ou remoção de GEE ao longo de um determinado período de tempo.

Emissão das RCE Etapa na qual o CE confirma que as reduções de emissões de GEE (ou remoção de CO2) decorrentes de uma atividade de projeto são reais, mensuráveis e de longo prazo. Atendidos esses requisitos, o CE pode emitir, as RCEs e nesse momento são creditadas aos participantes de uma atividade de projeto na proporção por eles definidas. As RCEs poderão ser utilizadas pelas Partes no Anexo I como forma de cumprimento parcial das metas de redução de emissões de GEE.

Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia. Elaboração Própria.

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índices de crescimento econômico maiores; já a ma-triz energética brasileira é considerada “limpa”, por-que está concentrada nas usinas hidroelétricas.

O Brasil têm sido bastante criativo e empenhado, con-seguindo fazer esses projetos no âmbito do MDL e am-pliando seu potencial para algo além de uma simples troca de matriz energética baseada em combustível fóssil. (DIAS FILHO, 2007)

O gráfico abaixo mostra que dos 499 projetos bra-sileiros, a predominância da escolha e interesse dos participantes dos projetos é do setor energético com 261 projetos, já os projetos em aterros sanitários re-presentam 7,6% dos interessados, o equivalente a 38 dos projetos. No Brasil, a região Sudeste predomina em número de projetos.

Figura VIII: Participação de projetos de MDL no mundo

Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia. Elaboração Própria.

MERCADO DE CARBONOConforme definição já vista acima, cada Crédito

de Carbono representa uma tonelada de dióxido de carbono equivalente que deixa de poluir.

O BCB (2011), por meio da Circular 3291/05 do dia 08 de setembro de 2005, promoveu alterações no Re-gulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Interna-cionais, atribui a natureza da operação com créditos de carbono como sendo de serviços diversos.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em decisão do colegiado de 07 de Julho de 2009, com base no voto do Diretor Otavio Yazbek, que os créditos de carbono são meros ativos, cuja comercialização pode ocorrer para o cumprimento de metas de redução de emissão de carbono ou com o objetivo de investimento. (BRA-SIL, 2011)

Por enquanto no Brasil não existe nenhuma nor-ma jurídica e tampouco contábil e fiscal sobre o tra-tamento dos créditos de carbono, e talvez por esse motivo muitas empresas ainda não investem em projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Existem alguns projetos de lei sobre isenção dos tri-butos referentes aos créditos de carbono, mas ainda estão em trâmite na Câmara dos Deputados.

Segundo a BOVESPA (2011), o Mercado de Carbono é o termo popular utilizado para denominar os sistemas de negociação de Unidades de Redução de Emissão de GEEs e há dois tipos de mercados para a negociação dos Créditos de Carbono: Mercado Oficial ou regula-

Figura IX: Projetos Brasileiros por Escopo Setorial

Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia. Elaboração Própria.

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tório do Protocolo de Quioto e o Mercado Voluntário ou Não-Quioto.

No Mercado Oficial do Protocolo de Quioto, os países desenvolvidos têm de reduzir suas emissões de GEE e para isso eles podem negociar os créditos de carbono, seguindo os requisitos estabelecidos pelo Protocolo de Quioto, as negociações podem ocorrer entre representantes de governos e empresas ou em bolsas e, segundo o Sr. David Smith, gestor de pro-dutos ambientais, energia e metais da BM&F BOVES-PA, a bolsa mais conhecida para essas negociações é a European Climate Exchange ou Bolsa do Clima da Europa.

Segundo Araujo (2010) atualmente o preço de cada crédito de carbono no mercado oficial está sendo ne-gociado pela moeda do euro (€) e está em torno de € 8,00 a € 18,00 e o valor em reais (R$) atualizado pela cotação no dia 01/08/2011 por meio do site do BACEN fica entre R$ 17,67 a R$ 39,75.

No Mercado Voluntário, participam voluntaria-mente governos, empresas, ONGs criando meios para a redução de GEEs, mas sem compromisso de metas obrigatórias, sendo que o mercado voluntá-rio não veio para substituir o Protocolo de Quioto e sim contribuir para as reduções de emissões de GEE. Segundo o Sr. David Smith, gestor de produtos am-bientais, energia e metais da BM&F BOVESPA, as ne-gociações desses créditos de carbono acontecem em Bolsas e a mais conhecida é a CCX, Chicago Climate Exchange ou Bolsa do Clima de Chicago.

Para Araujo (2010) os Estados Unidos, que não assi-naram o Protocolo de Quioto, desenvolveram regras próprias de restrição de GEEs e comercialização de crédito de carbono. Em geral, os mercados “Não--Quioto” procuram atender às exigências técnicas do Protocolo de Quioto, mas estabelecem metas de redu-ção de emissão menos rigorosas.

Um bom exemplo do mercado voluntário é a Par-ceria Ásia-Pacífico sobre Desenvolvimento Limpo e Clima que foi criada em 2005, voluntariamente pe-los governos dos Estados Unidos da América, Japão, China, Austrália, Índia, Coreia do Sul, tendo como objetivo frear o aquecimento global, criando novas tecnologias energéticas, menos poluentes.

Ainda de acordo com Araujo (2010) atualmente o preço de cada crédito de carbono no mercado vo-luntário está sendo negociado pela moeda do dólar (US$) e está algo em torno de US$ 4,50 e o valor em

reais (R$), atualizado pela cotação no dia 01/08/2011 por meio do site do BACEN, fica R$ 6,99.

Em 2007, aconteceu o primeiro leilão de crédito de carbono de projeto do MDL com titularidade da Prefei-tura de São Paulo, cuja realização foi na Bolsa de Mer-cadorias & Futuro BOVESPA. A Prefeitura vendeu um lote de 808.450 créditos de carbono, no período de 12/2003 a 12/2006, e os créditos foram gerados a partir do controle do gás metano que deixou de ser lançado na atmosfera pelo Aterro Sanitário Bandeirantes. (SÃO PAULO, 2008)

O preço fixado pela Prefeitura foi de € 12,70 e foi arrematado pela empresa Fortis Bank NV/AS, da Holanda, pagando € 16,20. O leilão rendeu € 13,09 milhões, o equivalente a R$ 34 milhões, à Prefeitura de SP. (SÃO PAULO, 2008).

A Bolsa de Mercadorias & Futuro (BM&F), em par-ceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indús-tria e Comércio Exterior, lançou, em dezembro de 2004, o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE), primeiro mercado a ser implantado em um país em desenvolvimento, que deverá negociar ativos gerados por projetos enquadrados com MDL. (SOU-ZA, 2007)

O Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE) foi normatizado por meio da Lei 12.187/09 que no artigo 9 nomeia entidades, autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para a nego-ciação dos créditos de carbono. O MBRE veio para consolidar o mercado de carbono que vem crescen-do cada vez mais.

Já no ano de 2010, aconteceu o primeiro leilão de cré-dito de carbono do mercado voluntário na BM&F BO-VESPA e os créditos de carbonos foram obtidos por meio de nove projetos de indústrias de cerâmicas que passou a alimentar os fornos com biomassa renovável como a serragem de madeira e o bagaço de cana de açúcar, gerando um total de 180.000 créditos de car-bono, divididos entre 3 lotes de 60.000 mil créditos de carbono. Não houve nenhum lance, contudo, para a BM&F BOVESPA, o saldo foi positivo, pois fortalece o país no mercado de carbono gerando cada vez mais transparência. (BOVESPA, 2011)

Os créditos de carbono no mercado oficial podem ser utilizados como forma de cumprimento das metas estipuladas no Protocolo de Quioto, bem como ne-gociados com o objetivo de comercialização e reven-da e podem ser adquiridos por Organizações Não--Governamentais, sem objetivo de revenda, visando

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à retirada dos créditos de carbono do mercado para proteção ambiental, aumentando, assim, a necessida-de de projetos e de atividades sustentáveis. (SOUZA, 2007)

ESTUDO DE CASO DA EMPRESA ALTO TIETÊ BIOGÁS LTDA. Por meio de entrevista realizada no dia 17/03/2011,

foram obtidas as seguintes informações:A Empreiteira Pajoan Ltda. é responsável, desde

janeiro de 2001, pelo aterro sanitário localizado no município de Itaquaquecetuba, São Paulo. O aterro recebe e recolhe uma média de duas mil toneladas de lixo doméstico por dia, das seguintes regiões: Poá, Suzano, Ferraz de Vasconcelos, Mogi das Cruzes, Ita-quaquecetuba, Arujá, Carapicuíba, e Mairiporã.

Em 2007, os sócios da Empreiteira Pajoan, pre-ocupados com questões ambientais, criaram a Alto Tietê Biogás Ltda. para atuar diretamente no ramo de captação e oxidação térmica (queima) de biogás proveniente de aterro sanitário, contribuindo, dessa maneira, para a melhoria do meio ambiente, evitando a emissão de gás metano para a atmosfera.

O Projeto de Captura de Gás de Aterro Sanitá-rio Alto-Tietê foi implantado dentro dos moldes do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) pela empresa Alto Tietê Biogás Ltda. Esse projeto consiste na captura e queima do biogás gerado no aterro sa-nitário da Empreiteira Pajoan, bem como na melhoria das condições sócioambientais da região em que atua, contribuindo, dessa forma, para que muitas nações atinjam as metas de redução de emissão de GEE esta-belecidas no Protocolo de Quioto.

O biogás surge pela decomposição dos resíduos orgânicos depositados nos aterros sanitários. Devido ao fato da produção do biogás derivar de diversos

resíduos orgânicos, como estrume de animais, lamas, lixo doméstico, resíduos agrícolas, entre outros, o biogás é um recurso natural e renovável que se en-contra disponível durante um largo período de tem-po, justificando-se, em muitos casos, a sua utilização energética, que é a estratégia em médio prazo da em-presa Alto Tietê Biogás Ltda.

A empresa gera e comercializa créditos de car-bono por meio da destruição térmica do gás metano (CH4), um dos principais gases causadores do efeito estufa devido ao seu elevado potencial que é 21 vezes mais nocivo que o gás carbono (CO2) e destrutivo para o planeta.

A queima do metano ocorre a todo instante e só para quando ocorre alguma interrupção como, por exem-plo, queda de energia. A empresa estipula um período médio mais ou menos de dois anos para entrar no Ci-clo de Desenvolvimento Limpo. O Projeto Alto Tietê Biogás está entre os 38 projetos de aterro sanitário em fase de validação/aprovação no ciclo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e, atualmente, se alguma entidade responsável pedir algum esclarecimento sobre a metodologia utilizada ou qualquer informação adicio-nal, é necessário voltar todo o ciclo novamente; e o tempo médio do começo do ciclo até a emissão das RCEs é de aproximadamente dois anos. (ALTO TIETÊ BIOGÁS, 2008).

As Reduções Certificadas de Emissões (RCEs) ou Créditos de Carbono são calculadas exatamente so-bre a quantidade do gás metano (CH4), destruído na planta. São feitos cálculos para apontamento de quan-tidade de RCEs geradas de acordo com o metano destruído, descontados itens como energia elétrica e consumo de GLP (chama piloto para combustão do metano). A geração de RCEs, portanto, não está rela-cionada ao carbono, e sim ao metano, que é 21 vezes

Figura X: Fotos do Aterro Sanitário

Fonte: Fotografia da empresa.

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Figura XI: Foto da máquina para queima de gases e aparelhos para a medição dos gases

Fonte: Fotografia da empresa.

mais nocivo que o carbono, o que justifica a redução de emissões e consequentemente a geração de RCEs.

A empresa Alto Tietê Biogás Ltda, devido à falta de regulamentação/normas sobre como deve ser a contabilização para mensurar os créditos de carbono, não contabiliza os créditos de carbono no ativo, mas elabora o inventário de emissões de Gases de Efeito Estufa.

O projeto da empresa ainda está no ciclo do Me-canismo de Desenvolvimento Limpo, mas já realizou as vendas antecipadas dos créditos de carbono e ape-nas nesse momento ocorre a contabilização e os de-vidos tributos são recolhidos.

Segundo os diretores da empreiteira Pajoan, na manhã do dia 25 de abril de 2011 foi identificada uma trinca enorme e logo acionaram a Companhia Am-biental do Estado de São Paulo (CETESB) após a vis-toria estavam discutindo medidas de cautela, já que os relatórios internos não indicavam deslocamento e nesse momento o aterro cedeu.

De acordo com os gestores, o aterro sofreu

a chamada “pane seca”, sem qualquer associação a combustível inflado. O que ocorreu foi exatamente uma explosão, abrupta e imprevisível, do maciço de resíduos. Então houve um solapamento da parte in-ferior do aterro, que pertencia ao Cipas, antigo res-ponsável pelo local, que era um lixão. Nesse espaço, foi formado um oco, que acabou cedendo. Com isso, toda drenagem de líquido foi comprimida na crista do aterro. O gás, naturalmente, expulsou os resíduos, provocando a explosão.

Não houve vítimas na explosão e o aterro foi interdita-do por tempo indeterminado. Com isso, todo lixo que era depositado em Itaquaquecetuba está sendo deposi-tado em Guarulhos temporariamente e a empreiteira Pajoan está aguardando um relatório técnico da Pre-feitura de Itaquaquecetuba, bem como uma posição da CETESB. (ARCOS, 2011)

CONSIDERAÇÕES FINAISDiversos desastres causados pelo aquecimento

global vêm acontecendo em várias partes do planeta e muito se fala que a causa é o efeito estufa. Porém, o efeito estufa natural é necessário para que haja vida no planeta, mas infelizmente o ser humano, pela ga-nância do capitalismo de primeiro enriquecer, ganhar muito dinheiro e depois pensar na natureza, adotou diversas atitudes, criou modelos de produção, polui-ção, consumismo, desmatamento e aumentando os gases poluentes. Com isso há uma interferência no efeito estufa natural e a consequência é o aumento de gases poluentes, ou seja, o aquecimento global.

O Protocolo de Quioto e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima esta-belecem metas de redução de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos, bem como três meca-nismos para que estes alcancem tais metas, e o Me-

Figura XII: Vista área após a explosão

Fonte: Portal Lacos.

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canismo de Desenvolvimento Limpo é o único em que países em desenvolvimento participam de forma voluntária, por meio de projetos obedecendo a uma série de critérios estabelecidos pelo próprio Proto-colo. (UNFCCC, 2011)

Dessa forma, países como o Brasil podem ser be-neficiados financeiramente pela venda dos créditos de carbono e contribuir para o meio ambiente, além decolaborarem com os países desenvolvidos para que alcancem suas metas de redução. O Protocolo de Quioto estabelece metas e prazos para o cum-primento e muitas são as expectativas se haverá um novo protocolo e se dessa vez os Estados Unidos vão aderir. As incertezas do que vai acontecer após 2012, quando expira o Protocolo de Quioto, ainda são um grande desafio para o Brasil e para o planeta.

Por meio da entrevista realizada no dia 17/03/2011, detectou-se que a empresa Alto Tietê Biogás Ltda, por falta de normas contábeis, não mensura os crédi-tos de carbono no ativo, mas elabora o inventário de emissões de gases de efeito estufa. A empresa apenas não contabiliza devido à falta de regulamentação e isso mostrou que a classe contábil deve adotar o bom senso e começar a se preocupar com esse fato, pois, à medida que novos negócios surgem a contabilidade deve acompanhá-los e exercer o seu papel perante a sociedade.

Ainda não existem normas contábeis, fiscais e jurídicas sobre os Créditos de Carbono, que provocam muita discussão, e isso acaba dificultando novos negócios. Ainda se fala em projetos de lei de isenção sobre essa operação e as únicas entidades que se pronunciaram a respeito foram o Banco Central do Brasil, que entende que os Créditos de Carbono são Serviços Diversos, e a Comissão de Valores Mobiliários, que os entende como meros ativos, o que por sinal ainda é algo muito superficial, pois ainda há dúvidas. (RIBEIRO, 2005).

As empresas que geram os créditos de carbono por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Lim-po devem mensurá-los na contabilidade? E em que momento devem ser mensurados, sabendo-se que o ciclo do MDL demora em torno de dois anos até a emissão dos Créditos de Carbono e, por isso, as empresas acabam vendendo antes da emissão pro-priamente dita? E como ficariam na contabilidade os créditos de carbono após a expiração, em 2012, do Protocolo de Quioto?

Por fim, se faz necessário destacar que o merca-do de carbono não é apenas uma forma de comer-cialização, abrange também a qualidade de vida das futuras gerações, contribuindo, dessa forma, para a sustentabilidade. E nós, como cidadãos do planeta, não precisamos esperar o que as próximas reuniões internacionais irão resolver a respeito de um novo protocolo. Precisamos fazer a nossa parte todos os dias.

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REFERÊNCIAS

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MANUAL SOBRE PREVENÇÃO DE QUEDAS NOS SERVIÇOS DE SAÚDE PÚBLICA IGNORA O PERFIL DO PÚBLICO-ALVO

PREVENTION OF FALLS OF THE ELDERLY MANUAL IGNORES THE PROFILE OF TARGET AUDIENCE

Profª. Drª. Devani Salomão*

* Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – [email protected]

ABSTRACT

This research presents the analysis of the Prevention of Falls of the Elderly Manual, a communication vehicle of the Ins-titute for Medical Assistance to the Public Servants of the State of São Paulo – Iamspe, under the administration of Governor José Serra of PSDB (Brazilian Social Democratic Party), assessing its form and content in order to place the speeches that are built and their implications for health pro-motion and prevention of falls in elderly people who use public health service in the city of São Paulo, specifically in the South Zone, the most populated of the city. Our goals were to analyze the form and content of media, its suita-bility for the intended audience, assessing the theoretical underpinning of the information content of the publication.

KEY WORDS: Public health • Health of the elderly • Accident prevention • Accidental falls.

RESUMO

Esta pesquisa apresenta a análise do Manual de Prevenção de Quedas da Pessoa Idosa, um veículo de comunicação do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público do Estado de São Paulo – Iamspe, sob a gestão do governador José Serra, do PSDB, avaliando sua forma e conteúdo, com a finalidade de situar os discursos que se constroem e suas implicações na promoção de saúde e prevenção de que-das do cidadão idoso que utiliza o serviço de saúde pública da cidade de São Paulo, especificamente da Zona Sul, por ser a mais populosa da cidade. Nossas metas foram anali-sar a forma e o conteúdo dessa mídia e sua adequação ao público-alvo, avaliando a sustentação teórica do conteúdo informativo da publicação.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde pública • Saúde do idoso • Preven-ção de acidentes • Acidentes por quedas.

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INTRODUÇÃOConscientes da importância da comunicação públi-

ca diante do cenário do aumento do número de pes-soas idosas que utilizam os serviços de saúde pública, bem como da ampliação das quedas dessa faixa popu-lacional, tivemos como objetivos desta investigação identificar o referencial teórico que dá suporte a essa comunicação e analisar como as técnicas comunicati-vas para alcançar essa população estão sendo conce-bidas pelos estudiosos em comunicação e saúde.

Examinamos o Manual de Prevenção de Quedas da Pessoa Idosa, que é de autoria do Centro de Estudos Ortopédicos do Hospital do Servidor Público Esta-dual, tendo como Diretor de Ortopedia e Trauma-tologia o Dr. Roberto Dantas Queiroz. Participaram também o Dr. Bartolomeu Ribeiro Coutinho Filho, médico residente do 3º ano do Serviço de Ortopedia e Traumatologia, e a fisioterapeuta Jaqueline Carneiro Coutinho.

Estudamos a forma e o conteúdo do instrumento e sua adequação ao público-alvo. Avaliamos, qualita-tivamente, a efetividade do conteúdo informativo do manual sobre o idoso que utiliza o serviço de geriatria ambulatorial do HSPE, na cidade de São Paulo.

Por que os idosos caemUma das ameaças à saúde e à vida dos idosos são

as quedas. Estas estão sendo tratadas pelo Ministério da Saúde como epidemia. Em 2009 os gastos públi-cos no país com internações e medicamentos nesses casos foram de R$ 81 milhões, R$ 12 milhões a mais que em 2006.

As quedas são frequentes na terceira idade, mas não podem ser consideradas normais. Especialistas afirmam ser comum pessoas nessa faixa etária caí-rem uma vez ao ano, mas devem ser avaliadas quando ocorrem mais vezes.

De acordo com dados da Secretaria da Saúde, di-vulgados em julho de 2009, o número de idosos que morreram após sofrerem quedas cresceu quase cinco vezes no Estado de São Paulo nos últimos oito anos. O levantamento, feito com base em informações re-ferentes ao período entre 2000 e 2008, alerta para a importância de se prevenir esse tipo de acidente entre os idosos e também para os cuidados médicos após a queda.

De acordo com o relatório, as mortes após es-ses acidentes saltaram de 253 em 2000 para 1.240

em 2008. No mesmo período, a mortalidade cresceu quase quatro vezes: o índice passou de 7,63 mortes para cada 100 mil idosos em 2000 para 28,42 oito anos depois.

A Secretaria da Saúde diz que os dados refletem o envelhecimento progressivo da população, com o aumento da expectativa de vida, e também que os casos estão sendo mais notificados.

O número de quedas costuma crescer à medida que a pessoa fica mais velha. Entre os 65 e 74 anos de idade, 32% dos idosos registram alguma queda no ano. Na faixa etária entre 75 e 84 anos, o índice cresce para 35%. Acima dos 85 anos, 51% dos idosos caem ao menos uma vez em 12 meses.

As quedas são um drama entre idosos, mas cos-tumam ser vistas pela sociedade como inerentes ao avanço da idade. As consequências são sérias demais para que o problema não seja tratado como ques-tão primordial de saúde pública. Por volta de 16% das quedas causam fraturas, e a cada quatro idosos inter-nados para cirurgia no fêmur um morre no prazo de um ano.

A Ideologia subjacente na comunicaçãoO Manual de Prevenção de Quedas da Pessoa Ido-

sa contém informações sobre quedas, sua definição, frequência e consequências, fatores de riscos intrín-secos e extrínsecos, apresentando normas de com-portamentos para que o idoso se previna das quedas. Foi distribuído, na Semana Mundial de Prevenção de Quedas da Pessoa Idosa, aos idosos que utilizam os ambulatórios da geriatria do Hospital do Servidor Estadual – HSPE, com culturas muito próprias, mas, no entanto, universalizou o idoso e seu contexto de atuação. É como se todos os idosos, paulistanos ou não, tivessem o mesmo pensamento, linguagem e re-alidade.

O conteúdo do manual é o que Chaui1 (1981) de-nomina de “discurso competente, no qual a linguagem sofre uma restrição que poderia ser assim resumida: não é qualquer um que pode dizer a qualquer outro qualquer coisa em qualquer lugar e em qualquer cir-cunstância”.

O manual contém uma linguagem permitida, já que os interlocutores – Secretaria da Gestão Pública/Iamspe/Centro de Estudos Ortopédicos do HSPE e idosos que utilizam os serviços de saúde pública – foram previamente reconhecidos; os três primeiros

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como tendo o direito de falar e o quarto, o de ouvir. Os lugares e as circunstâncias foram predetermina-dos para que seja lícito falar e ouvir, enfim, neles con-teúdo e forma estão autorizados.

MÉTODOSAnálise de conteúdoA nossa análise incide sobre o manual: capas e

contracapas e as 20 páginas, segundo metodologia proposta por Bardin2 (2004).

Em decorrência da leitura atenta e crítica, nos servimos da análise temática, isto é, escolhemos, no discurso do manual, as “unidades de registro”. A uni-dade de registro, como assegura Bardin2 (2004), é a unidade de significação correspondente ao segmento de conteúdo a considerar como unidade de base, vi-sando à categorização e à contagem frequencial. Para análise do conteúdo, recortamos frases de todos os títulos e textos que fazem parte do manual, levando em consideração os verbos, quaisquer que fossem. Com isso tentamos a validade das três hipóteses.

Por enumeração temática é possível realizar, no texto, o levantamento dos comportamentos aconse-lhados ou desaconselhados, que o idoso deve acatar ou afastar de modo a prevenir-se das quedas, contex-to ao qual o título do manual nos remete.

Após o recorte das frases, elas foram selecionadas por temas. Segundo Bardin2 (2004), tema é a unida-de de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria. O texto pode ser recortado em ideias consti-tuintes, em enunciados e em proposições portadoras de significações isoláveis.

Assim o tema é “uma unidade de significação com-plexa, de comprimento variável; a sua validade não é de ordem linguística, mas antes de ordem psicológica: podem constituir um tema tanto uma afirmação como uma alusão; inversamente, um tema pode ser desen-volvido em várias afirmações” (ou proposições).

Esse método nos possibilitou descobrir os núcleos de significado que compõem a comunicação do ma-nual, levando-se em consideração a frequência das unidades temáticas.

Foram selecionadas 122 frases para serem anali-sadas. As páginas três e quatro definem queda, sua frequência, consequência e fatores de risco. As pági-nas 5 e 6 apresentam quadros dos fatores intrínsecos relacionados à queda em idosos. As páginas 7 a 17

são dedicadas aos espaços físicos de uma casa, com indicativo dos riscos dos espaços considerados funda-mentais pelos autores: banheiro, quarto, sala, cozinha e escada. As páginas 18 e 19 são dedicadas aos espa-ços para animais de estimação. Dentro dessas temá-ticas criamos categorias que abarcassem a ideia geral do assunto. Assim, elegemos as seguintes categorias: informação, prescrição e prevenção.

Essas categorias foram subdivididas em duas sub-categorias: queda e promoção de saúde.

A análise do conteúdo foi a do tipo classificatório (Bardin2, 2004). Utilizamos todos os verbos presen-tes no manual, num total de 122, e os segmentamos por categorias semânticas, a saber: informação, prescri-ção e prevenção.

Histórias contadas com imagensAs histórias em quadrinhos são, segundo Eisner3

(2008), um meio visual composto de imagens. Ape-sar das palavras serem um componente vital, a maior dependência para descrição da narração está nas imagens entendidas universalmente, moldadas com a intenção de imitar ou exagerar a realidade. Muitas vezes os resultados são uma ideia trabalhada com ele-mentos gráficos. O layout da página possui efeitos de grande impacto, técnicas de desenho e cores chama-tivas que conseguem captar a atenção do criador. O efeito disso é que o roteirista e o artista são desvia-dos da disciplina da construção da narrativa (gri-fo nosso) e absorvidos pelo esforço de apresentar o produto final.

Ao criar um protótipo de um médico, é bastante útil adotar um conjunto de características que o leitor irá aceitar. Normalmente essa imagem é desenhada tanto a partir da experiência social quanto da forma com a qual o leitor acha que um médico deveria se parecer. (Eisner3, 2008).

Criar uma imagem estereotipada com o objetivo de contar uma história requer uma familiaridade com o público e a percepção de que cada sociedade tem um conjunto de estereótipos próprios que ela aceita.

Para Eisner3 (2008), a vestimenta é simbólica (grifo nosso), consegue transmitir instantaneamente a força, o caráter, a ocupação e a intenção de quem a usa. A maneira como o personagem a usa também pode transmitir uma informação ao leitor.

De acordo com o mesmo autor: “As histórias com o objetivo de ensinar alguma coisa são geral-

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mente estruturadas para se concentrar no processo. As habilidades são aprendidas através da imitação”. (Eisner3, 2008).

A criação do personagemA formação de um argumentista e criador de per-

sonagens não pode ficar restrita à leitura de quadri-nhos. Um roteirista de HQ tem que ter formação de escritor, ser bem informado sobre a história da humanidade. É recomendável, antes da criação de um roteiro, muita leitura e bastante pesquisa sobre o assunto a ser tratado (grifo nosso). Para criar um personagem é preciso pensar em todo o universo de coisa que o cerca.

A língua escrita apresenta características diversas da oral, em que se reproduz uma conversação entre dois falantes. Nela, a mensagem não é transmitida de imediato ao leitor, ao contrário da língua falada em que os interlocutores são coautores do texto, dei-xando em evidência todo o processo de produção. O texto escrito possui uma importante característica: o planejamento temático. Segundo Rodrigues4 (1985), qualquer um que se proponha a escrever sabe o tema que pretende desenvolver; essa escolha é unilateral, não levando em conta interesses e predileções do eventual leitor. Paralelo ao planejamento temático ocorre o planejamento linguístico, ou seja, a formula-ção verbal também é planejada, conforme afirma Ur-bano (1990, apud Rodrigues4, 1985).

RESULTADOSOs objetivos da Secretaria de Gestão Pública/Iamspe/

Centro de Estudos Ortopédicos do HSPEOs órgãos envolvidos na elaboração do manu-

al, ao não ouvirem o idoso sobre sua percepção de promoção de saúde e quedas, ignoraram o perfil do receptor, para que a comunicação atingisse todos os objetivos listados por Anzieu e Martin5 (1971) que seriam a) informar; b) convencer; mudar uma opinião; d) fazer agir; e) calar e expressar sentimento; f) ins-truir, atuar sobre o equilíbrio emocional e a saúde psíquica e física.

Se a intenção central era a adesão maior do idoso ao programa de prevenção destinado a ele, adesão esta que se traduziria em: a) conscientizá-lo sobre a importância da prevenção primária, visando diminuir o número de idosos internados por quedas; b) valorizar

o idoso, como cidadão usuário do sistema de saúde públi-ca, pois, na medida em que ele se sentisse prestigiado, aumentaria sua autoestima e se cuidaria melhor, pro-movendo sua saúde; c) informar sobre os procedimen-tos – o quê e como fazer para promover a saúde e prevenir-se das quedas – garantidos pela Constituição de 1988 (Brasil6, 1988) e pela Política Nacional do Idoso (Lei no. 8.842/94), (Brasil7, 1994), tais escopos não foram atingidos, já que se falou para um idoso caricaturado, irreal.

Entrando no universo pesquisadoNo decorrer da pesquisa, percebemos que o

público-alvo foi imaginado como um receptor idoso, homogeneizado, que não sabia o que fazer para pro-mover sua saúde e prevenir-se das quedas e, portan-to, acataria os conselhos e prescrições sem nenhum questionamento.

Ignoraram-se características marcantes do idoso, tais como a experiência e conhecimentos adquiridos durante um longo processo de vida, ou seja, um re-ceptor com conhecimento para escolher, de modo autônomo, soluções para prevenir-se das quedas e, consequentemente, promover sua saúde de acordo com o seu nível social e cultural.

Faltou a busca de informações precisas sobre o receptor, o que ele pensa sobre prevenção, saúde e promoção de saúde e quais mídias deveriam ser utilizadas para transmitir as informações. A pesquisa científica, que mostraria um início de diálogo com o público receptor, foi subestimada.

O manual: um instrumento de prevenção primáriaO Centro de Estudos Ortopédicos do HSPE, ao

elaborar o manual, atendeu as recomendações da Po-lítica de Saúde do Idoso, porque a publicação é um instrumento de medidas preventivas.

Foi escolhido o formato de um manual pela rele-vância do custo-benefício da publicação. As cartilhas, bem como os manuais, na área da saúde foram desen-volvidos para auxiliar os técnicos de saúde na orienta-ção de seus pacientes sobre doenças, procedimentos, sintomas e cuidados com a saúde.

O Hospital do Servidor Público precisava infor-mar a centenas de idosos, que utilizam o serviço de saúde pública, o quê, como, quando, onde e o porquê de procedimentos sobre prevenção em saúde, com o

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objetivo não só de diminuir o número de internações, mas também reduzir o número de quedas nessa po-pulação. De 24 a 26 de junho de 2009, o Iamspe rea-lizou uma série de atividades com foco na prevenção de quedas de pessoas com mais de 60 anos.

Os eventos fizeram parte da Campanha de Pre-venção de Quedas da Pessoa Idosa promovida pelo Futuridade. O manual foi lançado no dia 26 de junho de 2009.

Diante desse cenário, conclui-se que o manual foi o canal mais democrático e eficiente, foi uma ação sem respaldo estatístico do idealizador e produtores. Apesar de não haverem aferido os resultados da dis-tribuição e recepção do manual pelos idosos, este foi distribuído, sem nenhuma alteração, em 2010.

O Hospital do Servidor Público Estadual em 2010 repetiu os eventos do ano anterior. No encerramen-to da campanha, houve o relançamento do Manual de Prevenção de Quedas. Durante três dias, médicos das áreas de geriatria, ortopedia, medicina física e re-abilitação, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e outros profissionais de saúde informaram o público participante sobre a prevenção de quedas da pessoa idosa, possíveis consequências, tratamento após a queda e outros cuidados. Oficinas práticas comple-mentaram as palestras com orientações sobre a adap-tação do ambiente em que o idoso vive, exercícios para desenvolver o equilíbrio e resistência muscular. (IAMSPE8, 2010)

Essas ações acontecem apenas na semana destina-das à Campanha de Prevenção de Quedas da Pessoa Idosa. É um evento pontual. Isso não é suficiente para que o idoso se conscientize dos procedimentos pres-critos.

Fomos informados de que cada idoso, que compa-receu ao Ambulatório de Geriatria em 2010, recebeu gratuitamente um exemplar do manual. O Serviço de Geriatria não soube precisar quantos exemplares fo-ram distribuídos.

O manual e o nível de escolaridade dos idosos brasi-leiros

O Relatório Síntese dos Indicadores Sociais 2010, do IBGE, divulgado em 17/09/2010, indica a escolari-dade precária desse grupo, já que 30,7% dos entre-vistados disseram ter menos de um ano de instrução. (IBGE9, 2010).

Se ampliarmos para até quatro anos de estudo, o índice chega a 50,2%. Apenas 17,4% dos idosos ti-nham nove anos ou mais de estudo. Aqueles que ti-nham entre quatro e oito anos eram 32,3%. No geral, a média de anos de estudo dos idosos alcançava 4,2 anos.

O Sudeste é o que tem a maior taxa de pessoas com nove anos ou mais de estudo (21,2%). Na região, 38% dos idosos disseram ter entre quatro e oito anos de instrução. Considerando os idosos acima de 65 anos, o nível de escolaridade cai ainda mais e chega a 3,8 anos.

A figura abaixo mostra a escolaridade dos entre-vistados do HSPE, confirmando os dados e informa-ções do Relatório Síntese dos Indicadores Sociais (IBGE9, 2010):

Figura 1 – Distribuição da escolaridade dos entrevistados no pré-teste

Quem é o idoso que utiliza o ambulatório de geriatriaA primeira edição do manual foi publicada em

2009 e a necessidade de se fazer o estudo do perfil do idoso quando forem sugeridas ações para essa popu-lação, foi contemplada na Política de Saúde do Idoso, um documento de 1999. Assim sendo, podemos infe-rir que a pesquisa precária, quanto ao perfil do idoso, foi o principal problema na idealização e produção do Manual de Prevenção de Quedas da Pessoa Idosa. Os responsáveis por essa etapa, ao não terem consulta-do dados estatísticos para elaborarem os conteúdos, estereotiparam o idoso usuário do Serviço Público de Saúde e, em especial, os dos Serviços de Ortope-dia e Geriatria.

O que impressiona é que os produtores do ma-nual, principalmente os profissionais de comunicação, não tenham se dado conta de que é tecnicamente di-

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fícil sensibilizar e motivar para a ação receptores com diferentes modos de vida, emitindo mensagem com um só tipo de linguagem. A comunicação, para ser eficaz, deve ser segmentada, focando o público espe-cífico, considerando as características socioeconômi-cas, escolaridade e limitações que são pertinentes a essa população.

Houve, por parte do Iamspe/Centro de Estudos Ortopédicos do HSPE, uma vontade política de pro-pagar as informações necessárias para o idoso pro-mover sua saúde e prevenir-se das quedas; o meio e a forma podem ser adequados, mas o conteúdo não é, porque o receptor real é diferente daquele estere-otipado no manual.

O idoso estereotipado na publicação é branco (vide ilustrações do idoso/a), classe média, (visto o aparato residencial necessário para prevenir-se das quedas), urbano, do sudeste, com valores culturais semelhantes aos do habitante de uma megalópole.

A qualidade das informações do manual (precisão e aplicabilidade)

A capa apresenta o título da publicação, Manual de Prevenção de Quedas da Pessoa Idosa, seguido do logo do Iamspe e com a frase A Saúde do Servidor. O manual não promete nenhum resultado caso o leitor siga as prescrições.

A força ideológica de uma marcaPensando no efeito-leitor e na questão da credi-

bilidade do logotipo da publicação, podemos inferir que o Iamspe tem autoridade de conhecimento para garantir o compromisso que o título propõe: Manual de Prevenção de Quedas da Pessoa Idosa. O enuncia-do que vem abaixo da marca Iamspe é pretensioso. Denominando-se como A saúde do Servidor, induz à ilação de que tudo o que está no manual é vital para a promoção de saúde e prevenção de quedas. Aqui prevalece o que Citelli10 (2003) chama de raciocínio apodítico, descrito como algo pronto, finalizado e que não permite qualquer discussão. O substantivo masculino manual, utilizado no título, significa: livro pequeno que encerra os conhecimentos básicos de uma ciência (Dicionário Web11, 2011). O substantivo abstrato saúde, utilizado como um subtítulo, significa que o servidor público terá saúde tomando conheci-mento do teor do manual? É uma aspiração enorme e utópica a de que um manual de apenas 24 páginas tenha conteúdos que deem conta de tudo o que o idoso precisa saber para se prevenir das quedas.

O receptor do manualA publicação menciona claramente que o público-

-alvo é o idoso. Em nossa sociedade, os vocábulos velho ou idoso têm conotação pejorativa. É uma se-gregação que frequentemente leva o idoso a uma ati-tude de negação da velhice, buscando parecer mais jovem para ser aceito e acolhido, obscurecendo suas características, seus atributos e sua identidade.

No manual não aparece quem é o enunciador, em nenhuma das páginas. Falta a “assinatura” de quem define queda, sua frequência e consequência, os fato-res de risco, e os medicamentos que podem provocar as quedas. O enunciador que produziu o “discurso” do manual, tentando persuadir o enunciatário (o ido-so) constrói sua verdade no anonimato.

A capa mostra um casal de idosos. São caricatos Figura 2 – Capa do Manual de Prevenção de Quedas da Pessoa Idosa

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e, pelo que podemos constatar, no decorrer da nossa pesquisa, não têm semelhança com os idosos reais que frequentam o ambulatório da geriatria.

Para quem os responsáveis pelo manual estão contando sua história? A resposta a essa pergunta precede o próprio ato de contar uma história, por-que é uma preocupação fundamental da transmissão. O perfil do leitor – sua experiência e características culturais – tem de ser levado em conta antes que o narrador possa contar a história com sucesso. Uma boa comunicação depende da memória, da experiên-cia e do vocabulário visual do próprio narrador. A despreocupação com o perfil do leitor é um fator que prejudica a interação com receptor idoso.

Como os personagens do manual são burlescos na maneira de se comportar e vestir (grifo nosso), infere-se que o leitor-receptor não vai se reconhe-cer no manual. Apesar das informações, prescrições

e cuidados preventivos serem pertinentes, o idoso pode rejeitar os personagens e o que eles dizem. Não se pode esquecer que um elemento importante no contato leitor/narrador é a luta para manter o inte-resse do leitor. Os artifícios usados para contar uma história ligam o leitor à narrativa. Para o narrador, isso é uma questão de controle.

O pijama de bolinhas é uma vestimenta que não é comum em nenhuma faixa etária. Por que vestir o idoso com ele então? Por que ambos são burlescos?

A chave para o controle do leitor está relaciona-da ao seu interesse e compreensão. Existem alguns poucos temas fundamentais que podem ser chamados universais. Entre eles incluem-se histórias que satisfa-çam a curiosidade sobre áreas pouco conhecidas da vida, fornecem uma visão do comportamento huma-no em várias condições, representam fantasias, sur-preendem e divertem (Eisner12, 2008).

DISCUSSÃONa contracapa estão os dados oficiais da publica-

ção. O Iamspe é um órgão do Governo do Estado de São Paulo, o governador era José Serra, do PSDB, e a Secretaria de Gestão Pública. Essa secretaria visa ao fortalecimento da capacidade de governar, promo-vendo inovação, competências e pessoas na esfera go-vernamental, tendo como referência as necessidades dos cidadãos a serem providas pelo Poder Público.

A autoria do manual é do Centro de Estudos Or-topédicos do HSPE, fundado em 1961. Um educandá-rio que já formou inúmeros ortopedistas. A equipe atende cerca de nove mil usuários (pacientes) e re-aliza por volta de duzentas e cinquenta cirurgias por mês. As especialidades são: coluna, esportiva, joelho, mão, ombro, ortopedia geral, pé, pediátrica, quadril, traumatologia e tumor.

A coordenação editorial foi da Comunicação Insti-tucional do Iamspe que é responsável por toda infor-mação que interessa ao usuário, ao funcionário, aos órgãos afins por meio do Portal do Iamspe e outras publicações.

A ilustração foi feita por Jesse Brito Nascimento. A impressão e o acabamento ficaram a cargo da Im-prensa Oficial do Estado de São Paulo.

Tentamos contato com o Sr. Jesse Brito Nasci-mento, que respondeu ao nosso primeiro e-mail, pensando tratar-se de uma contratação dos seus ser-Figura 3 – Página 11 do Manual de Prevenção de Quedas

da Pessoa Idosa

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viços. Quando explicamos o motivo do nosso conta-to, que era saber o porquê das suas ilustrações, que idoso pesquisou para fazer aquele modelo, ele nos respondeu dessa maneira:

“Os personagens da cartilha de prevenção ante quedas foram criados na ideia de idosos comuns do hospital servidor publico estadual, suas roupas são baseadas no cotidiano, algumas cenas eu imaginei minha avó diabé-tica e com sérios problemas de adaptação com sua ida-de” (IAMSPE8, 2010).

Inexiste na primeira página, após a primeira con-tracapa, uma introdução, com explicação do propó-sito da publicação (grifo nosso) ou texto que bus-que aproximação com o leitor. O que temos é uma definição de queda, não dirigida ao idoso, já que não há nenhum pronome ali colocado, mas com a inten-ção de informar o que é esse evento.

O conteúdo do manual é informativo e explicati-vo. Fala sobre a frequência e consequências das que-das de idosos no Brasil. Apresenta os fatores intrínse-cos e extrínsecos das quedas. As recomendações e as prescrições são feitas em forma de história em qua-drinhos, onde as ilustrações estereotipadas apoiam ou são apoiadas pelos textos.

Imagens estereotipadasO estereótipo tem uma reputação ruim não ape-

nas porque implica banalidade, mas também por causa do seu uso como uma arma de propaganda ou pre-conceito. Quando simplifica e categoriza uma genera-lização imprecisa, ele pode ser prejudicial ou, no míni-mo, ofensivo. Irão os idosos reais, que frequentam o ambulatório do serviço da geriatria, se identificarem

com o idoso ilustrado no manual?A arte dos quadrinhos lida com reproduções facil-

mente reconhecíveis da conduta humana. Seus dese-nhos são o reflexo do espelho, e dependem de expe-riências armazenadas na memória do leitor para que ele consiga visualizar ou processar rapidamente uma ideia. Isso torna necessária a simplificação de imagens transformando-as em símbolos que se repetem. Nos quadrinhos, os estereótipos são desenhados a partir das características físicas comumente aceitas. Elas se tornam ícones e são usadas como parte da linguagem na narrativa gráfica. Que idoso é esse que o ilustra-dor imaginou? Que percepção esse ilustrador tem da velhice?

Análise temática, lexical e sintáticaTemáticaO manual, de acordo com a análise de conteú-

do, é igualmente informativo e prescritivo. Tratando também da prevenção. Há uma preocupação com as

Figura 4 – Distribuição das categorias das frases emprega-das no manual

Figura 5 – Distribuição porcentual das categorias das frases

Figura 6 – Distribuição porcentual das subcategorias das frases da categoria de Informação

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Figura 7 – Distribuição porcentual das subcategorias das frases da categoria de Prescrição

Figura 8 – Distribuição porcentual das subcategorias das frases da categoria de Prevenção

quedas e a promoção da saúde. As orientações sobre quedas são pertinentes. O risco de tombos aumenta com a idade e, mais da metade das ocorrências, são na residência do idoso. É significativo o número de idosos que morrem por causa da queda ou em con-sequência da imobilidade provocada por ela.

Temas encontradosO manual apresenta como tema geral 43 de infor-

mação, 43 de prescrição e 36 de prevenção.

É um documento preocupado em informar ao ido-so sobre quedas, prescreve para o idoso uma série de comportamentos que poderiam promover sua saúde.

As subcategorias quedas (67) e promoção de saú-de (55) aparecem nas categorias informação, prescri-ção e prevenção.

Os gráficos resumem os resultados obtidos na análise temática do manual.

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A CONTRIBUIÇÃO DA RECREAÇÃO PARA A QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO

THE CONTRIBUTION OF RECREATION FOR THE QUALITY OF LIFE OF ELDERLY

Marcos Antonio da Eira Frias*

Wana Yeda Paranhos**

Patrícia Fera***

Sandra Vital de Souza****

Luciene de Faria Pintan****

**** Enfermeiro. Mestre em Enfermagem pela EEUSP. Especialista em Gerontologia pela UNIP. Professor da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas de Tecnologia da Informação nos Processos de Trabalho em Enfermagem – GEPETE - EEUSP.

**** E nfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Gerenciamento em Enfermagem – PPGEn da EEUSP. Professora e Diretora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas de Tecnologia da Informação nos Processos de Trabalho em Enfermagem – GEPETE - EEUSP.

**** Enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP. Professor Adjunto da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. **** Graduandas do 7º Semestre do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID.

RESUMO

A manutenção da autonomia e independência de um in-divíduo adulto está atrelada à manutenção das condições físicas e psíquicas, condições estas que determinam a quali-dade de vida. As atividades de recreação estruturadas têm o potencial de influenciar de maneira significativa esse pro-cesso. Este estudo tem como objetivos compreender como a recreação contribui para a qualidade de vida dos idosos. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica, com-preendendo o período de 1999 a 2009: foram localizados 14 artigos e 04 livros. Para a busca, usamos os descritores: recreação, lazer, qualidade de vida e idoso. Os resultados apontam que a recreação preenche o tempo ocioso, trans-formando-o em processo terapêutico de restauração da saúde e equilíbrio emocional; proporciona alegria de viver; favorece o resgate cultural no domínio imaginário; estimula a buscar novas estratégias para recriar o estilo de viver; influencia de maneira significativa o meio interno do idoso com demência, reduz a agitação, a ansiedade, a limitação física, o uso de drogas antipsicóticas e melhora a sociali-zação. Com este estudo foi possível compreender que a recreação é suporte essencial para a manutenção da qua-lidade de vida, permite ao idoso continuar desenvolvendo seus afazeres e protela o tempo de desenvolvimento da dependência de um cuidador.

DESCRITORES: Recreação • Atividades de lazer • Idoso; Qua-lidade de vida • Meia-idade.

ABSTRACT

The maintenance of autonomy and independence of an adult individual is linked to the maintenance of the physi-cal and psychic conditions that determine the quality of life. Structured recreational activities have the potential to significantly influence this process. This study aimed to un-derstand how recreation contributes to quality of life for seniors. The methodology used was literature research, spanning the period from 1999 to 2009, and were located 14 articles and 04 books. In the search, we used the de-scriptors: recreation, leisure, quality of life and the elderly. The results indicate that recreation fills idle time, turning it into the therapeutic process of restoring health and emo-tional balance, gives joy of life, promotes the cultural revival in the field imagery; stimulates the search for new strate-gies to recreate the style of living; significantly influences the internal environment of the elderly with dementia, reduces agitation, anxiety, physical limitation, the use of antipsychot-ic drugs and improves socialization. This study reveals that recreation is essential to support the maintenance of quality of life, allows the elderly to continue developing his work and puts off the development time of dependence on a caregiver.

DESCRIPTORS: Recreation • Leisure activities • Elderly, quality of life • Middle aged.

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INTRODUÇÃOApesar do aumento da expectativa de vida ser um

ponto positivo, esse evento está baseado na quan-tidade de anos a mais e não na qualidade dos anos vividos a mais. Mesmo com todo o desenvolvimento tecnológico e da medicina, o acréscimo de anos não trouxe maior autonomia e qualidade de vida para os idosos, sendo, portanto, necessário que as pesquisas busquem evidenciar formas de modificar esse quadro (Carvalho1, 2006).

Qualidade de vida, segundo a OMS, é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores nos quais ele vive, considerando seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações, abordando também os diferentes graus de características qualitativas e quantitativas e valores de uma pessoa, que podem determinar o seu bem-estar e sua segurança e que não são estáticos, quase nunca (Organização Mundial de Saúde2, 2003).

A qualidade de vida e a satisfação que predominam na velhice estão associadas às conquistas, aos fatores socioeconômicos e à saúde (Joia et al.3, 2007), além da manutenção da capacidade de desenvolver atividades de vida diária (AVD).

Em relação ao idoso, saúde é um evento muito amplo e não pode ser avaliada simplesmente com base na presença ou ausência de doença. Afirmar que um idoso tem saúde implica necessariamente na pre-servação de sua capacidade funcional no desenvolvi-mento das atividades de vida diária (Bonardi et al.4, 2007).

A avaliação das atividades de vida diária contem-pla, dentre outras, a capacidade do indivíduo em rela-ção ao desenvolvimento de atividades de lazer.

O lazer é entendido como recreação, uma vez que fazem parte dessas atividades os “jogos, danças, ginástica, esporte, gincanas, passeios, caminhadas, en-tre outras”, e são desenvolvidas sem compromisso de regras e de desempenho (Inouye e Pedrazzani5, 2007).

Num estudo realizado por Inouye e Pedrazzani5 (2007) com idosos de 80 anos ou mais, usuários da rede municipal de saúde em um município do Estado de São Paulo, foi constatado que essa população re-fere não desenvolver nenhuma atividade física como forma de lazer. A “falta de lazer voltada para a faixa etária” é a principal queixa. Os resultados do estudo apontam, ainda, para a maior escolaridade e prática de

atividade física como importantes fatores que influen-ciam na qualidade de vida. Esses resultados denotam existir necessidade premente de políticas públicas que estimulem a criação de espaços planejados que garantam a segurança do usuário no desenvolvimento de atividades culturais e físicas, como caminhadas, e exercícios adaptados a essa população, diminuindo, assim, a distância cultural com outras gerações, a so-lidão e o isolamento social.

Sendo assim, consideramos relevante buscar na li-teratura o que tem sido discutido e apontado como contribuição da recreação para a manutenção da qua-lidade de vida dos idosos.

OBJETIVOConhecer, através de levantamento bibliográfico,

qual a contribuição da recreação para a qualidade de vida do idoso.

METODOLOGIAA metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica,

compreendendo o período de 1999 a 2009. Foram localizados 14 artigos e 04 livros que respondiam ao nosso questionamento. A busca foi feita nas bases de dados LILACS - Literatura Latino-Americana e do Ca-ribe em Ciências da Saúde; MEDLINE - Literatura In-ternacional em Ciências da Saúde; SciELO - Scientific Electronic Library Online e na biblioteca da Univer-sidade Cidade de São Paulo – UNICID. Para a busca, usamos os descritores: recreação, lazer, qualidade de vida e idoso.

Segundo Gil6 (1996), a pesquisa bibliográfica é de-senvolvida a partir de material já elaborado, consti-tuído principalmente de livros, artigos científicos e periódicos que permitem ao pesquisador uma cober-tura muito ampla e a análise em profundidade de cada informação.

Após a seleção do material foi feita uma leitura ex-ploratória para identificar os benefícios da recreação descritos pelos diversos autores. Identificados os be-nefícios, os trechos dos textos foram transcritos ipsis litteris para uma ficha de leitura e parafraseados. À medida que os textos eram lidos e feito o fichamento, pudemos perceber que seria possível fazer recortes e ordenar os benefícios segundo sua semelhança. As-sim, os resultados foram divididos em cinco grupos denominados respectivamente “prevenção de do-enças e promoção de saúde”; “redução do estresse,

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da agitação e melhora da autoestima”; “crescimento pessoal, alegria e prazer de viver”; “desenvolvimento da criatividade e resgate cultural”; “integração, socia-lização e sentimento de pertença”.

RESULTADOSNão existe unanimidade entre os diversos auto-

res em relação ao significado dos termos recreação e lazer. Os referidos termos aparecem ora como sinô-nimos, ora como antônimos. No entanto, nos dicio-nários da língua portuguesa (Holanda Ferreira7, 1995, Fernandes8, 1999), os termos recreação e lazer são definidos como sinônimos e correspondem a diverti-mento, recreio, passatempo (Frias9, 2009).

A prevenção de doenças, promoção de saúde e melhora da saúde física através de processos educati-vos possibilitam ao idoso a manutenção da autonomia e independência. Esses são alguns dos benefícios da recreação apresentados na literatura que contribuem para a qualidade de vida do idoso, e podem ser ob-servados abaixo.

GRUPO 1: PREVENÇÃO DE DOENÇAS E PRO-MOÇÃO DE SAÚDE

(…) prevenção e promoção de saúde (…)(14)(…) melhora com certeza o estado de saúde (…)

(14)(…) melhora da saúde física (…)(15)(…) processo terapêutico de restauração da saú-

de (…) (16)(…) desenvolvimento de processos educativos

(…) (17)(…) maior autonomia e independência (…) (18)

Com o aumento da população idosa no país, a recreação contribuirá efetivamente para um futuro com elevada qualidade de vida, sendo necessário que o profissional de saúde se prepare para orientar ati-vidades recreativas com vistas à prevenção e promo-ção de saúde. A recreação melhora com certeza o estado de saúde e a qualidade de vida (Papaléo Netto et al.10, 2005). Esse benefício, no nosso entender, está relacionado ao fato de o idoso preencher parte de seu tempo livre, diminuindo, dessa maneira, a proba-bilidade de desenvolver depressão.

Nesse sentido Benedetti et al.11 (2008) afirmam que a recreação para os idosos em geral preencherá

o tempo ocioso, transformando-o em processo tera-pêutico de restauração da saúde. Os fatores que alte-ram a saúde mental e afetam a qualidade de vida dos idosos são a demência e a depressão, que certamen-te prejudicam as atividades diárias das pessoas com idade avançada, tornando-as incapazes e dependen-tes, levando-as ao sedentarismo. Daí a necessidade de incluir tais pessoas em terapias e recreações que possam resgatar uma força a mais, que está na alegria de viver. Ao invés de expô-las somente a tratamento e assistência, promover uma motivação para o lazer e um envelhecimento saudável.

Autores (Lorda e Sanchez12, 2004) afirmam que a integração do idoso ao seu meio social, o estímulo à manutenção de vínculos e convívio social e a saúde física são benefícios oriundos da atividade de recrea-ção, que tem uma função terapêutica de restabeleci-mento da qualidade de vida e do prazer de viver.

O equilíbrio emocional proveniente da diminui-ção do estresse favorece a renovação das energias, o resgate da força interior, a elevação da autoestima, e possibilita a superação das inseguranças, diminuição da agitação, da passividade e do uso de drogas an-tipsicóticas, tornando-se, assim, uma alternativa não farmacológica para o tratamento dos idosos. Esses benefícios descritos na literatura estão apresentados a seguir no Grupo 2.

GRUPO 2: REDUÇÃO DO ESTRESSE, DA AGI-

TAÇÃO E MELHORA DA AUTOESTIMA.(…) equilíbrio emocional e a autoestima (…) (19)(…) diminuição do estresse e a renovação de

energias (20)(…) resgatar uma força a mais (…) (16)(…) suplantar sua falta de segurança (…) (21)(…) é uma forma alternativa não farmacológica

para reduzir a agitação, a ansiedade e a limi-tação (…) (22)

(…) diminuição do estado de agitação e estado de passividade (…) (23)

(…) estimula a buscar novas estratégias para me-lhorar a qualidade de vida (…) (15)

(…) influenciar de maneira significativa o meio in-terno do idoso com demência (…) (24)

(…) reduz o uso de drogas antipsicóticas (…) (22)(…) diminuição expressiva dos níveis de agitação e

passividade dos idosos (…) (25)

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O lazer deveria ser valorizado na vida diária da terceira idade, pois favorece o equilíbrio emocional e a autoestima (Jannuzzi e Cintra13, 2006). O equilíbrio emocional e autoestima elevada diminuem ou anulam a possibilidade de um indivíduo desenvolver depres-são e favorecem a sensação de bem-estar que culmina no equilíbrio do corpo, mente e espírito, equilíbrio este traduzido como renovação da energia vital.

Dessa forma, o lazer tem por finalidade a recre-ação, a distração, o descanso, a possibilidade de re-fletir sobre a realidade, a imaginação, o desenvolvi-mento da criatividade, a diminuição do estresse e a renovação de energias (Frias e Amorim14, 2002).

O estresse está presente não só nos idosos resi-dentes na comunidade, como pode também ser per-cebido com frequência em idosos institucionalizados que apresentem ou não algum grau de demência. O estresse pode se manifestar de maneiras diversas como impaciência, hostilidade, raiva, alteração do padrão de sono, medo, somatização, entre outros. Essas manifestações interferem na dinâmica da insti-tuição, e se medidas adequadas não forem adotadas para diminuir o nível de estresse entre os idosos, o ambiente se torna insalubre para todos os que com-partilham o mesmo espaço.

Nesse sentido, Putman e Wang15 (2007) afirmam em seu estudo que os residentes em instituições de longa permanência para idosos (ILPIs) com diagnósti-co de demência frequentemente vivenciam sintomas comportamentais de estresse como gritos e agitação. Esse comportamento afeta não só o doente, como também outros idosos da instituição, os visitantes e a equipe de funcionários. Um programa de recreação é uma forma alternativa não farmacológica para reduzir a agitação, a ansiedade, a limitação, o uso de drogas antipsicóticas e melhorar a socialização.

Em um estudo para determinar a eficácia das ati-vidades recreacionais desenvolvidas com idosos com demência, Kolanowski et al.16 (2005) perceberam que quanto maior o tempo de execução e participação nas atividades, mais positiva é a resposta em relação à diminuição do estado de agitação e estado de pas-sividade.

Sendo assim, vivenciar boas emoções é essencial para manter a qualidade de vida. As pesquisas suge-rem que o déficit cognitivo em indivíduos com de-mência pode impedir a capacidade de vivenciar mo-

mentos prazerosos e diminuir sua influência positiva sobre o doente. Consequentemente, as atividades de recreação estruturadas podem ter o potencial de in-fluenciar de maneira significativa o meio interno do idoso com demência (Schreiner et al.17, 2005).

Autores como Fitzsimmons e Buettner18 (2002) relatam que, após 2 semanas de intervenção com te-rapia recreacional individualizada, os resultados mos-traram diminuição expressiva dos níveis de agitação e passividade dos idosos.

A recreação também aparece na literatura como momento de reflexão, crescimento e estímulo que desperta o prazer, a alegria de viver, a motivação para desenvolver novos projetos e, como consequência, dão sentido à vida dos idosos. Esses benefícios da re-creação podem ser observados no Grupo 3.

GRUPO 3: CRESCIMENTO PESSOAL, ALEGRIA E PRAZER DE VIVER.

(…) refletir sobre a realidade (…) (20)(…) crescimento do indivíduo (…) (17)(…) desperta a sensação de prazer e bem-estar

(…) (26)(…) restabelecimento da qualidade de vida e do

prazer de viver (…) (15)(…) alegria de viver (…) (16)(…) faz o idoso se sentir feliz, alegre, satisfeito e

motivado para desenvolver outras atividades (…) (21)

(…) Expressão da felicidade (…) (24)(…) sentimentos de prazer (…) (18)(…) dão sentido ao viver e consequentemente in-

terferem na qualidade de vida (…) (18)

O idoso deve ser estimulado a buscar atividades variadas para ocupar seu tempo livre, pois o entrete-nimento, efetivado como recreação e divertimento, desperta a sensação de prazer e bem-estar (Inouye e Pedrazzani5, 2007).

Autores (Schreiner et al.17, 2005) afirmam ser fun-damental que se instale um programa contínuo de recreação para idosos, pois esta faz o idoso se sentir feliz, alegre, satisfeito e motivado para desenvolver outras atividades, além de suplantar sua falta de se-gurança.

Em estudo com 35 demenciados residentes em lares para idosos no Japão, Schreiner et al.17 (2005)

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observaram que os idosos submetidos a atividades de recreação estruturada expressaram felicidade sete vezes mais que quando estavam sem atividade. Esses autores concluíram que determinar um tempo para recreação é fundamental, pois provoca um efeito po-sitivo sobre os idosos, durante o tempo que estão sem atividade.

Com o avanço da idade ocorrem transformações físicas e mudanças no padrão socioeconômico. En-tretanto a recreação é um meio de adaptação que estimula a buscar novas estratégias para melhorar a qualidade de vida do idoso em potencial (Lorda e Sanchez12, 2004).

As raízes de um indivíduo ou comunidade estão ligadas às questões culturais que vão se sedimentando na sua memória e fazem parte de seu mundo imagi-nário. A recreação pode ser usada para desenvolver a criatividade, resgatar a cultura e para a descoberta de novos talentos, além de preencher o tempo livre. Esses benefícios da recreação são apresentados no Grupo 4.

GRUPO 4: DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVI-DADE E RESGATE CULTURAL

(…) resgate cultural no domínio imaginário (…) (26)

(…) estimula a imaginação, o desenvolvimento da criatividade (…) (20)

(…) descoberta de talentos (…)(17)(…) aumentar e desenvolver a sensibilidade cultu-

ral e criativa (…) (17)(…) preenche o tempo ocioso (…) (16)

Mazo et al.19 (2004) citam diversos autores como Cavallari e Zacharias (1998); Palma et al. (1994); Mar-celino (1983, 1992 e 1996); Bruhns (1997) os quais afirmam que as atividades recreativas ajudam os ido-sos a alcançar um adequado patamar de saúde física e mental; integrar-se e participar de atividades diversas; melhoram a satisfação pessoal e a vontade de conti-nuar vivendo e desfrutando da vida; agregam novas atitudes e valores que permitem melhor convívio e possibilitam a aquisição de linguagem mais expressi-va através de mecanismos de adaptação que, por sua vez, melhoram o desempenho cognitivo e a criativi-dade; além de diminuir o estresse e aumentar a au-toconfiança.

O desenvolvimento e manutenção da criatividade

e da capacidade cognitiva é um fator primordial para prevenir perdas e manter a autonomia e qualidade de vida do idoso, pois mesmo que este desenvolva algu-ma dependência física, manterá a capacidade decisória sobre sua vida. Na nossa vivência, a recreação con-tribui de maneira muito efetiva para que isso ocorra.

A recreação usada de forma preventiva é significa-tiva para o idoso, pois favorece o resgate cultural no domínio imaginário, assim como qualquer outra ativi-dade que proporcione bem-estar que priorize a auto-nomia e as limitações do idoso (Silva e Dias20, 2004).

A recreação também é descrita na literatura como momento de manutenção da autonomia e indepen-dência, estímulo à socialização, à consciência coletiva, ao relacionamento intergeracional e ao sentimento de pertença ao grupo: esses benefícios estão apre-sentados no Grupo 5.

GRUPO 5: INTEGRAÇÃO, SOCIALIZAÇÃO E SENTIMENTO DE PERTENÇA.

(…) a integração do idoso ao seu meio social (…) (15)

(…) o estímulo à manutenção de vínculos e conví-vio social (…) (15)

(…) aumentar e desenvolver a consciência indivi-dual e coletiva (…) (17)

(…) estimular a socialização e apoio mútuo de grupos e pessoas (…) (17)

(…) a aproximação entre gerações (…)(17)(…) resgate da socialização e da motivação (…)

(15)(…) melhorar a socialização (…) (22)(…) sentimentos de pertença (…) (18)

O lazer tem como função aumentar e desenvolver a consciência individual e coletiva, a sensibilidade cul-tural e criativa, estimular a socialização e apoio mútuo de grupos e pessoas. Permite o desenvolvimento de processos educativos, o crescimento do indivíduo, a aproximação entre gerações e a descoberta de talen-tos (Ferrari21, 2007).

Para os idosos que vivem em instituição de longa permanência, a recreação se apresenta como opor-tunidade de resgate da socialização e da motivação. Socialização é a capacidade de se relacionar com ou-tros, sentir prazer com a companhia dos outros e se beneficiar com as atividades desenvolvidas em grupo. A motivação é entendida como um impulso ou di-

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recionamento interior que nos leva a agir. Nos ido-sos institucionalizados, a motivação e a vontade de manter relações sociais são eventos pouco presentes devido a uma somatória de fatores, como a condição física e o fato de viver institucionalizado (15).

Em um estudo com idosos residentes em ILPIs com grau leve e moderado de demência, Phinney et al.22 (2007) utilizaram uma variedade de atividades de lazer, trabalhos domésticos simples e atividades sociais, e observaram, como resultado, maior auto-nomia e independência, sentimentos de prazer e de pertença. O estudo sugere que a familiaridade com o ambiente social e físico foi importante para a partici-pação nas atividades e que estas dão sentido ao viver desses indivíduos e, consequentemente, interferem na qualidade de vida.

CONSIDERAÇÕES FINAISCom este estudo foi possível perceber que a re-

creação é suporte essencial para a manutenção da qualidade de vida, permite ao idoso continuar desen-volvendo seus afazeres e protela o tempo de desen-volvimento da dependência de um cuidador. O idoso deve ser estimulado a buscar atividades variadas para ocupar seu tempo livre, pois o entretenimento efeti-

vado como recreação e divertimento desperta a sen-sação de prazer e bem-estar.

A recreação estimula e favorece a busca de novas e diversas estratégias para melhorar a qualidade de vida; no entanto, os profissionais devem se preparar para esse momento, visto que o idoso não volta a ser criança, ele é simplesmente um adulto que envelheceu e, portanto, precisa que as atividades de recreação sejam adaptadas às suas necessidades e capacidades.

Em relação ao idoso com demência, a recreação contribui para um melhor desempenho cognitivo, acalma e diminui períodos de agitação psicomotora.

A recreação já foi momento de preocupação do enfermeiro, momento este que foi se perdendo ao longo dos anos à medida que novos e modernos equi-pamentos foram sendo incorporados à assistência de enfermagem. Diante disso, entendemos que o en-fermeiro deve voltar seu olhar para as necessidades recreacionais de seu cliente e resgatar a recreação como momento de cuidado, haja vista o diagnósti-co de enfermagem “Atividade de RECREAÇÃO defi-ciente” (NANDA23, 2008) estabelecido pelo Comitê Internacional da North American Nursing Associa-tion-NANDA.

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AVALIAÇÃO DA INTENSIDADE DE DOR EM PACIENTES SUBMETIDOS A TRATAMENTOS ODONTOLÓGICOS

EVALUATION OF PAIN INTENSITY IN PATIENTS UNDERGOING DENTAL TREATMENT*

Felipe César da Silva Menetti***

Julianne dos Santos Maldonado**

Gabriela dos Santos Martins***

Maria José Tucunduva****

**** Trabalho desenvolvido na Clínica de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo e apresentado como Trabalho de Iniciação Científica.**** Biomédico (a) formado (a) pela Universidade Cidade de São Paulo (UNICID).**** Aluna do Curso de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID).**** Profa. Ms. da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). [email protected]

RESUMO

Diversas formas de analgesia foram desenvolvidas para a Odontologia, levando maior conforto ao paciente, mas re-conhecer os fatores desencadeadores do comportamento negativo pode eliminar ou mimetizar o medo, alterando a resposta final à dor e, para isso, uma boa conduta profissio-nal proporciona maior segurança e tranquilidade ao pacien-te. Dessa forma, este trabalho visa identificar a viabilidade e reprodutibilidade da utilização da escala visual analógica (EVA) e escala verbal de pontos (EVP) para análise de dor em pacientes perante tratamentos odontológicos e tam-bém relacionar a intensidade da dor e o estresse psicológico com a técnica anestésica utilizada durante o procedimento odontológico. A amostra foi constituída por pacientes aten-didos na Disciplina de Cirurgia da Clínica de Odontologia da UNICID que receberam anestesia infiltrativa terminal dos ramos do nervo maxilar e passaram por exodontia. Foi utilizada uma ficha de cadastro com dados pessoais e odon-tológicos dos pacientes que constituíram três grupos: G1) pacientes instruídos quanto ao procedimento, que recebe-ram o anestésico tópico; G2) pacientes instruídos quanto ao procedimento e que não receberam o anestésico tópico; G3) pacientes não instruídos quanto ao procedimento, que não receberam o anestésico tópico. A intensidade da dor e o estresse psicológico foram avaliados em 3 momentos dis-tintos com a escala EVA e EVP. Nossos resultados sugerem que tanto a EVA quanto a EVP podem ser utilizadas para a avaliação de dor, pois oferecem resultados semelhantes e o estresse psicológico pode interferir no nível de dor do paciente perante o procedimento odontológico.

PALAVRAS-CHAVE: Assistência Odontológica • Dor • Estresse Psicológico

ABSTRACT

Various forms of analgesia were developed for dentistry, taking physical comfort to the patient, but it is also impor-tant to recognize the triggering factors of negative behaviors that can eliminate or mimic fear, changing the final answer to pain, and for this a good professional conduct provides greater security and peace of mind to the patient. Thus, this study aims to identify the feasibility and reproducibility of the use of analogical visual scale (AVS) and verbal scale of points (VSP) to assess pain in patients that underwent dental treatment and also to relate the intensity of pain and psychological stress with the anesthetic technique used during dental procedures. The sample consisted of patients treated at the Surgery Clinic of Dentistry UNICID which received infiltration anesthesia of the terminal branches of the maxillary nerve and followed a dental extraction treat-ment. The registration form used contained personal and dental patient data, and those patients constituted three groups: G1) patient was instructed about the procedure and received the topical anesthetic, G2) patient was in-structed about the procedure and did not receive the topi-cal anesthetic, G3) patient was not instructed regarding the procedure and received no topical anesthetic. The intensity of pain and psychological stress were evaluated in three dif-ferent times with scale AVS and VSP. Results suggest that the EVA and EVP can be used for the evaluation of pain, because they offer similar results and psychological stress can influence the level of pain in dental procedures.

KEY WORDS: Dental Care • Pain • Stress, Psychological

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INTRODUÇÃOA dor tem sido definida, segundo a Associação In-

ternacional para o Estudo da Dor (IASP), como uma experiência sensorial e emocional desagradável, as-sociada ou relacionada à lesão real ou potencial dos tecidos. Em 1996, a American Pain Society (APS) a considerou-a como o “5º sinal vital” (Oliveira et al.1, 2003). No último século, diversas formas de analge-sia foram desenvolvidas para a Odontologia, propor-cionando maior conforto ao paciente (Ranieri et al.2, 2005).

A dor aguda está intimamente associada aos pro-cedimentos cirúrgicos odontológicos e resulta da ação de mediadores inflamatórios, liberados pelos te-cidos lesados que sensibilizam as terminações nervo-sas livres constituídas pelos nociceptores. A avaliação da experiência dolorosa tem vários objetivos consis-tindo de inúmeros elementos, como as experiências vividas, idade e nível socioeconômico, caracterizando a experiência dolorosa no nível biopsicossocial (Ra-nieri et al.2, 2005, Cavassim et al.3, 2003).

Reconhecer os fatores desencadeadores do com-portamento negativo no tratamento, o aperfeiçoa-mento dos procedimentos, a escolha adequada dos diferentes materiais cirúrgicos pelo odontólogo po-dem eliminar ou minimizar o medo, causando um me-nor trauma para o paciente (Kanegane et al.4, 2003, Malamed5, 2005, Pires et al.6, 2005).

Levando-se em consideração a particularidade de cada procedimento, deve-se escolher as seringas e agulhas que serão utilizadas, podendo ser feita a apli-cação do antisséptico tópico para minimizar a popu-lação bacteriana. Os anestésicos tópicos diminuem a sensação da penetração da agulha, favorecendo uma ação psicológica junto ao paciente (Malamed5, 2005).

Existem também anestésicos que podem ser su-perficiais e locais, visando a analgesia do nervo tri-gêmeo – V par craniano (Malamed5, 2005). Dentre os ramos do V par craniano, o maxilar e mandibular são da maior relevância para o cirurgião-dentista, pois as principais técnicas anestésicas agem por bloqueio ou depressão dos mesmos (Figun7, 2003; Malamed5, 2005, Aguiar et al.8, 2005, Madeira9, 2004).

Os anestésicos locais mais utilizados em proce-dimentos odontológicos são as aminoamidas terci-árias, como a lidocaína, aplicadas juntamente com vasoconstritores que amplificam seus efeitos locais,

aumentando sua analgesia. Vale lembrar que o proce-dimento anestésico por vezes não basta para a total analgesia, devido ao estresse psicológico gerado pelo procedimento ao paciente (Malamed5, 2005, Paiva e Cavalcanti10, 2005; Soares11, 2006; Vasconcelos et al.12, 2007).

Atualmente pode ser aplicada uma escala analógica visual (EVA) numerada de zero a 10 (dor aguda) e uma escala verbal de 4 pontos (EVP) para avaliar a dor (Cavassim et al.3, 2003). Dessa forma, para que se torne possível comparar as diferentes reações à anestesia, logrou-se estudar o nervo maxilar, por apresentar-se exclusivamente sensitivo.

Assim, o objetivo deste estudo é identificar a via-bilidade e reprodutibilidade da utilização da escala vi-sual analógica (EVA) e escala verbal de pontos (EVP) para análise de dor nos pacientes em tratamentos odontológicos e também relacionar a intensidade da dor e o estresse psicológico com a técnica anestésica em 3 momentos distintos do procedimento odonto-lógico, por meio da utilização da EVA e EVP.

MATERIAIS E MÉTODOSA pesquisa foi realizada no período de agosto a

novembro de 2009, na cidade de São Paulo. A popu-lação estudada foi obtida da demanda espontânea, ou referenciada, dos Serviços da Clínica de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo. O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética da Uni-versidade Cidade de São Paulo. (PP 13427219 – CAAE 0042.0.186.000-09 –Aprovado em 17/06/2009)

Trata-se de um estudo qualitativo, comparativo que objetiva testar uma possível associação entre o estresse prévio do paciente ao procedimento odon-tológico e a sensação final de dor, verificando-se a existência de uma relação entre eles. A amostra foi composta por 45 pacientes de ambos os sexos, com idade superior a 18 anos, que buscaram a Clínica de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, com indicação de exodontias simples na região da maxila. Todos os pacientes receberam, para o tra-tamento, anestesia infiltrativa terminal dos ramos do nervo maxilar. Foram selecionados somente pacien-tes que não apresentavam alterações sistêmicas que contraindicassem os procedimentos cirúrgicos e que não utilizavam analgésicos e/ou anti-inflamatório, as-sim como gestantes e idosos que também foram ex-

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cluídos. Foram constituídos 3 grupos com 15 pacientes

cada, sendo o Grupo 1 (G1) considerado controle, já que o paciente foi instruído detalhadamente quan-to ao procedimento e recebeu o anestésico tópico; no Grupo 2 (G2) o paciente foi instruído detalhada-mente quanto ao procedimento mas não recebeu o anestésico tópico e no Grupo 3 (G3) o paciente não foi instruído quanto ao procedimento e não recebeu o anestésico tópico.

O procedimento anestésico foi realizado seguindo as seguintes fases: secagem da área da maxila a ser anestesiada com gaze, aplicação do anestésico tópico (pomada) com cotonete por 2 minutos somente no G1. Nos demais grupos do estudo só houve a seca-gem da região e, após 5 minutos, aplicou-se a infil-tração anestésica (lidocaína) com agulha (30G curta). Foram infiltrados em todos os pacientes 30% do tu-bete anestésico na mucosa do palato, com tempo de aplicação de 15 segundos.

Para as exodontias selecionadas, utilizaram-se o material e instrumental apropriados e indicados para o ato cirúrgico. A técnica para exodontia dos elemen-tos dentários selecionados foi seguida de acordo com a literatura e apropriada para cada caso.

Após a realização do procedimento cirúrgico, os pacientes foram orientados quanto aos cuidados pós--operatórios e foi prescrito o analgésico Dipirona só-dica a 500 mg de 6/6 h, caso o paciente apresentasse dor.

A avaliação da dor foi realizada em 3 momentos: antes do procedimento, durante (na metade do pro-cedimento) e ao término do procedimento por um profissional devidamente instruído. A avaliação foi fei-ta com a utilização de 2 escalas para verificar o grau de dor, a EVA (Figura 1) que consiste numa linha reta com as seguintes identificações: sem dor, dor fraca, dor média, dor forte e dor insuportável. O paciente

foi instruído a marcar um ponto no local que corres-pondesse à dor que estava sentindo no momento. Já na EVP (Figura 2), o paciente foi instruído a marcar com um “X” o grau de dor que estava sentindo. Am-bas as escalas foram utilizadas com o mesmo fim, po-rém foram selecionados adjetivos semelhantes para confirmar a resposta do paciente.

Após a coleta de dados, para ser possível a análise estatística, o grau de dor foi transformado em valor numérico, como descrito na Tabela 1. Então, os re-sultados foram tabulados no programa Excel (Micro-

Escala Analógica Visual (EVA) Escala Verbal de Pontos (EVP) VALOR CORRESPONDENTE

Sem dor Ausência de dor 0

Dor fraca Dor pequena 2

Dor média Dor razoável 4

Dor forte Dor intense 6

Dor insuportável Dor forte 8

Figura I - Escala analógica visual – EVA. O paciente foi instruído a marcar um ponto no local que melhor representasse o grau de dor que estava sentindo, em 3 momentos diferentes do procedimento de exodontia (antes, durante e após).

Figura II - Escala verbal de pontos – EVP. O paciente foi instruído a marcar um X no local que melhor representasse o grau de dor que estava sentindo, em 3 momentos diferentes do procedimento de exodontia (antes, durante e após).

Tabela I - Adjetivos utilizados para avaliar o grau de dor dos pacientes com as escalas EVA e EVP e seus respectivos valores numé-ricos, utilizados na análise estatística.

Sem dor

or

Dor insuportável

Dor médiaDor fraca Dor forte

Marque com um X a sua dor nesse momento:

a) ausência de dor

b) dor pequena

c) dor razoável

d) dor intensa

e) dor forte

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soft® Excel 2010) e posteriormente analisados, utili-zando-se o programa SigmaStat for Windows (versão 3.10, Systat Software, Inc.). Os grupos foram compa-rados com o teste de análise de variância de uma via (ANOVA), sendo aplicado o teste post-hoc adequa-do. Os resultados foram expressos em média±desvio-padrão ou mediana (interquartis) quando adequados. Na comparação entre os grupos, o nível de significân-cia foi considerado quando p<0,05.

RESULTADOSParticiparam deste trabalho 20 homens e 25 mu-

lheres, maiores de 18 anos, que passaram pelo pro-cedimento odontológico de exodontia. Na Tabela 2 estão demonstrados os escores do nível de dor e a mediana (interquartis) dos grupos G1,G2 e G3 com os resultados obtidos pela EVA (p<0,05). Observa-mos que o G2 apresentou o maior escore de nível de dor (44), possivelmente porque os pacientes deste grupo estavam expostos a um estresse psicológico maior quando comparado ao grupo G1 e G3.

Na Tabela 3 estão demonstrados os valores do nível de dor e a mediana (interquartis) dos grupos G1,G2 e G3 com os resultados obtidos através da EVP (p<0,05). Foram observados resultados seme-lhantes aos obtidos pela escala EVA.

O G3 obteve a menor mediana (interquartis) e o menor nível de dor em ambas as escalas, talvez por-que os pacientes não estavam cientes do procedi-mento ao qual seriam submetidos.

Então, por meio do ANOVA, observamos que existiu diferença entre os grupos analisados (p<0,05), mas o teste post-hoc não conseguiu identificar essa diferença.

DISCUSSÃONa clínica, a avaliação das experiências subjetivas

é essencial; dentre elas, a avaliação da dor é uma das mais investigadas. A mensuração da dor é considera-da um grande desafio ao profissional da saúde, devido a sua complexidade. Nos últimos 20 anos ocorreram importantes avanços referentes à elaboração de téc-nicas para a sua avaliação (Malamed5, 2005, Paiva e Cavalcanti10, 2005, Soares11, 2006).

Tais avanços facilitaram a comunicação entre os pacientes e profissionais da área, possibilitando uma melhor compreensão da incidência, duração e inten-sidade da dor sentida (Cavassim et al.3, 2003).

A avaliação de estados subjetivos é feita, na maior parte dos casos, de forma confiável por meio do re-lato verbal Uhde et al.13 (1982), porém, ainda assim, são necessárias técnicas para permitir o registro des-ses relatos de forma padronizada e reproduzível. Para isso, são utilizadas escalas de avaliação geralmente classificadas em dois grandes grupos:

• Rating scales: preenchidas pelo observador (Snaith14, 1981);

• Escalas de autoavaliação: preenchidas pelo pró-prio indivíduo (Snaith14, 1981).

As escalas de autoavaliação, como as utilizadas neste estudo, são instrumentos utilizados para a mensuração dos estados subjetivos, sendo preenchi-das pelo próprio paciente e podendo ser de natureza discreta ou analógica. Na primeira, o sujeito assinala categorias intervalais ou qualidades de seu estado e, na segunda, o paciente assinala numa linha reta contí-nua que supostamente representa toda gama daque-la situação (Guimaraes15, 1998). Esse tipo de escala tem sido empregado para avaliar diferentes aspectos como humor (Barton et al.16, 1993), dor (Campbell e

GRUPOS NÍVEL DE DORMEDIANA

(interquartis)

EVA (G1) 28 2 (0,0 – 3,5)

EVA (G2) 44 2 (0,0 – 4,0)

EVA (G3) 10 0 (0,0 – 0,0)

p <0,05

Tabela II - Escores do nível de dor e mediana (interquartis) dos grupos G1,G2 e G3 quando questionados com a EVA. Resultados obtidos utilizando o teste ANOVA. Observe que o grupo EVA (G2) apresenta o maior nível de dor.

GRUPOS NÍVEL DE DORMEDIANA

(interquartis)

EVP (G1) 26 2 (0,0 – 2,0)

EVP (G2) 44 2 (0,0 – 4,0)

EVP (G3) 10 0 (0,0 – 0,0)

p <0,05

Tabela III - Escores do nível de dor e mediana (interquartis) dos grupos G1,G2 e G3 quando questionados com a EVP. Resultados obtidos utilizando o teste ANOVA. Observe que o grupo EVP (G2) apresenta o maior nível de dor.

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Lewis17, 1990); (Coulthard e Rood18, 1993, Buckelew et al.19, 1992)) e procedimentos odontológicos (Moo-re20, 1991, Hosey e Blinkhorn21, 1995).

Em 1976, Scott e Huskisson22 (1976) realizaram um estudo comparando seis diferentes tipos de esca-las visuais simples: EVA (escala analógica visual); escala numérica de 101 pontos (101-point numerical rating scale – NRS-101); escala em quadrados de 11 pontos (11- point Box scale – BS-11); escala comportamental de 6 pontos (6-point behavioral rating scale – BRS-6); escala verbal de 4 pontos (4-point verbal rating scale – VRS-4); escala verbal de 5 pontos (5-point verbal rating scale – VRS-5). Os autores analisaram diversos fatores e consideraram as seis escalas estudadas ins-trumentos úteis e confiáveis para a avaliação da dor (Scott e Huskisson22, 1976).

Utilizamos neste estudo uma escala não verbal (EVA) e uma verbal (EVP). Analisando os resultados obtidos, encontramos uma concordância com o que Matthews e McCulloch23 (1993) encontraram a res-peito da EVA, já que esta escala conseguiu reproduzir as sensações sentidas pelos pacientes, mostrando-se um método simples de aplicar, confiável e válido. Na verdade, as duas metodologias utilizadas (EVA e EVP) mostraram-se adequadas para a avaliação da intensi-dade de dor pós-operatória em cirurgias periodon-tais, fato confirmado no estudo realizado por Cavas-sim et al.3, (2003) que mostraram existir correlação entre a EVA e a EVP para a avaliação da intensidade da dor pós-operatória em cirurgias periodontais.

Nas escalas verbais são utilizados diferentes adje-tivos para representar o grau de dor de forma qua-litativa, são utilizadas palavras comuns do vocabulá-rio e familiares aos pacientes (Kremer et al.24, 1981, Chapman et al.25, 1985, Jensen et al.26, 1994, Pereira e Sousa27, 1998). Esse tipo de escala mostra-se válido e fidedigno na mensuração da experiência dolorosa. Entretanto, alguns pacientes apresentaram dificulda-de em utilizá-lo por falta de habilidade cognitiva ou introspecção para entender as palavras (Ferrell28, 2000). Durante a coleta de nossos dados, nenhum dos pacientes demonstrou dificuldades no momento de assinalar seu nível de dor, tanto na EVA quanto na EVP; no entanto, não podemos afirmar o grau de es-colaridade dos pacientes, pois esse fator não foi ava-liado durante a pesquisa, mas acreditamos que seja crucial no momento da interpretação.

Com base nas escalas de medo utilizadas neste trabalho, verificou-se uma semelhança entre os ín-dices da mediana (interquartis) entre a EVA e EVP, sugerindo que ambas são confiáveis para avaliar os ní-veis de dor. Esse dado também demonstra que tanto a EVA quanto a EVP podem ser úteis para o profissio-nal odontólogo na identificação de um paciente com medo e predisposto a apresentar um maior nível de dor durante o procedimento. No entanto, nem sem-pre o odontólogo consegue correlacionar de forma correta e real a verdadeira intensidade de dor/ansie-dade que o paciente está sentindo, por falta de expe-riência clínica. No estudo de Lodge e Tripp29 (1993) observou-se uma completa ausência de correlação entre pacientes e observadores, no caso estudantes de Odontologia, em relação à ansiedade experimen-tada durante os procedimentos odontológicos.

Nossos resultados indicam que os pacientes do grupo G2, que foram detalhadamente instruídos quanto ao procedimento e não receberam o anesté-sico tópico, obtiveram o maior nível de dor tanto na EVA quanto na EVP, quando comparado aos outros grupos. Isso porque esses pacientes possivelmente correlacionaram às informações recebidas com os possíveis riscos inerentes ao tratamento e com a dor que podiam ter durante o procedimento odontoló-gico. Enquanto os pacientes do grupo G3, que não receberam informações quanto ao procedimento, obtiveram o menor nível de dor e a menor mediana (interquartis), sugerindo que a conduta do odontólo-go e as informações passadas influenciam no estresse psicológico do paciente.

O baixo custo do atendimento disponibilizado facilita a procura do setor por pacientes com baixa renda. Porém, deve-se considerar que o processo saúde-doença é multicausal, na qual, além dos fato-res socioeconômicos, os fatores genéticos e familia-res encontram-se em primeiro nível de causalidade, podendo influenciar os fatores localizados em níveis inferiores, como os comportamentais. Portanto, ou-tros fatores, além dos abordados na presente pesqui-sa, podem ser estudados para o esclarecimento da questão medo/dor no atendimento odontológico.

CONCLUSÃONossos resultados sugerem que tanto a EVA

quanto a EVP podem ser utilizadas para a mensuração

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Menetti FCS, Maldonado JS, Martins GS, Tucunduva MJ. Avaliação da intensidade de dor em pacientes submetidos a tratamentos odontológicos • São Paulo • Science in Health • 2011 set-dez; 2(3): 163-9

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de dor durante procedimentos odontológicos. Os resultados mostraram uma tendência de que o nível de informação passado ao paciente antes do procedi-mento odontológico pode interferir no grau de dor durante e após o tratamento odontológico.

Este estudo pode ter prosseguimento, para ser possível identificar e confirmar que nível de infor-mação passado ao paciente interfere diretamente no nível de dor, durante e após o tratamento odontoló-

gico, através do teste post-hoc.

AGRADECIMENTOSAgradecemos à Profa Cristiane Lapa, Responsável

pela Clínica de Cirurgia e ao Professor Doutor Clau-dio Fróes de Freitas, Diretor da Clínica de Odonto-logia da UNICID, por ter permitido a obtenção de dados para a realização deste estudo.

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Menetti FCS, Maldonado JS, Martins GS, Tucunduva MJ. Avaliação da intensidade de dor em pacientes submetidos a tratamentos odontológicos • São Paulo • Science in Health • 2011 set-dez; 2(3): 163-9

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Karen Martins Kaiser*

Renata Debona Crespi*

Eder Tartarotti**

Edson Luiz Pelisser***

Ana Paula Kruger Viegas****

**** Cirurgiã-dentista, Especialista em endodontia pela Universidade Cruzeiro do Sul (ODONTOCENTER). [email protected], [email protected]

**** Cirurgião-dentista, mestre em endodontia pela Universidade Luterana Do Brasil/RS - ULBRA. [email protected]**** Cirurgião-dentista, mestre em endodontia pela Universidade São Leopoldo MANDIC. [email protected]**** Cirurgiã-dentista, mestre em endodontia pela Universidade Luterana do Brasil/RS. [email protected]

UTILIZAÇÃO DO AGREGADO TRIÓXIDO MINERAL (MTA), HIDRÓXIDO DE CÁLCIO E CIMENTO DE PORTLAND EM PULPOTOMIAS.

USING MINERAL TRIOXIDE AGGREGATE (MTA), CALCIUM HYDROXIDE AND PORTLAND CEMENT IN PULPOTOMY.

RESUMO

O objetivo deste estudo é comparar o índice de suces-so das pulpotomias onde se utilizou o agregado trióxido mineral (MTA), o cimento de Portland e o hidróxido de cálcio. Através da análise de artigos científicos, os resulta-dos observados foram que tanto o MTA quanto o cimen-to de Portland podem ser empregados em pulpotomias e apresentam melhores resultados clínicos e radiográficos, se comparados ao hidróxido de cálcio. Isso se deve a sua maior biocompatibilidade, resultando em menor transtorno pós--operatório, maior longevidade do tratamento e vitalidade do remanescente pulpar. Por fim, apesar das diferenças es-tatísticas encontradas em relação ao índice de sucesso do MTA e do cimento de Portland serem superiores quando comparados com o hidróxido de cálcio, os três apresentam resultados satisfatórios quando a técnica for cuidadosamen-te bem realizada.

PALAVRAS-CHAVE: Materiais restauradores do canal radicular • Pulpotomia • Cimentos dentários.

ABSTRACT

The objective of this study is to compare the success rate of pulpotomies in which we used the mineral trioxide ag-gregate (MTA), Portland cement and calcium hydroxide. Through the analysis of scientific articles, the results point out that both the MTA and Portland cement can be used in pulpotomies and have better clinical and radiographic re-sults when compared to calcium hydroxide. This is due to their greater biocompatibility, resulting in less post-opera-tive disorder, treatment longevity and vitality of the remain-ing pulp. Finally, despite the higher statistical differences found in relation to the success rate of MTA and Portland cement when compared with the calcium hydroxide, the three present satisfactory results when the technique is thoroughly well done.

KEY WORDS: Root canal filling materials • Pulpotomy • Dental cements.

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Kaiser KM, Crespi RD, Tartarotti E, Pelisser EL, Viegas APK. utilização do agregado trióxido mineral (MTA), Hidróxido de Cálcio e Cimento de Porland em Pulpotomias. • São Paulo • Science in Health • 2011 set-dez; 2(3): 170-6

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INTRODUÇÃOA busca pela manutenção da vitalidade e integri-

dade pulpar é uma constante na Odontologia. Ten-tativas de proteção pulpar direta ocorrem desde o século XVIII, quando se recomendava recobrir a pol-pa exposta com uma placa côncava de ouro (Sales et al.1, 2003). Desde então, vários materiais têm sido propostos com essa finalidade, apresentando pro-priedades favoráveis e desfavoráveis que devem ser consideradas de acordo com o caso.

A pulpotomia é um tratamento conservador que tem por objetivo preservar a vitalidade pulpar, prin-cipalmente em dentes com rizogênese incomple-ta e com ápice aberto, e tem sido considerado um tratamento provisório que deveria ser seguido pela pulpectomia (Demarco et al.2, 2002). Além disso, possibilita a restauração de dentes de forma direta e definitiva (Pimenta et al.3, 1990).

O material escolhido para a pulpotomia pode re-sultar em desvitalização dental, preservação da vita-lidade pulpar, regeneração pulpar com ou sem for-mação de tecido reparador. (Chibinski e Czlusniak4, 2003).

O sucesso da pulpotomia deve ser avaliado de acordo com os seguintes critérios: não apresentar dor espontânea ou provocada, não causar compro-metimento periapical e reabsorções internas e, quan-to ao teste de sensibilidade pulpar, este deve ser po-sitivo (Teixeira e Tancredo5, 1994).

O agregado trióxido mineral (MTA), o hidróxido de cálcio e cimento de Portland são os materiais mais utilizados para realização de pulpotomias, porém en-contram-se na literatura divergências de resultados quando observada a formação de barreira de dentina, ocorrência de necrose e inflamação tecidual. Dessa forma, justifica-se a importância de se determinar qual dos materiais propostos apresenta melhores re-sultados em pulpotomias.

Através da análise de artigos científicos relaciona-dos ao assunto a presente revisão tem como objetivo avaliar o índice de sucesso das pulpotomias utilizan-do o MTA, o cimento de Portland e o hidróxido de cálcio.

AGREGADO TRIÓXIDO MINERAL (MTA)O MTA é um pó fino hidrofílico desenvolvido

por Mahmoud Torabinejad na Universidade de

Loma Linda, Califórnia/EUA (Chibinski e Czlus-(Chibinski e Czlus-niak4, 2003). O pó é constituído de fi nas partícu-. O pó é constituído de finas partícu-las, cujos componentes principais são o silicato tricálcico, o aluminato tricálcico e o óxido de silicato. Há também pequenas quantidades de al-guns óxidos minerais, principais responsáveis pe-las propriedades químicas e físicas desse material, além do óxido de bismuto, que lhe confere ra-diopacidade. Em comum com o hidróxido de cálcio, o MTA tem as propriedades de biocompatibilidade, capacidade de induzir formação de tecido mineraliza-do e pH final de 12,5. Além disso, merecem destaque, entre as propriedades do MTA, a ausência de poten-cial mutagênico, radiopacidade superior à dentina e boa resistência à compressão (Chibinski e Czlusniak4, 2003, Duda e Losso6, 2005).

É um material biocompatível, capaz de manter a vitalidade pulpar, com capacidade osteoindutora que promove um selamento marginal adequado, preve-nindo infiltrações, além de apresentar efeito antimi-crobiano (Ruiz et al.7, 2003, Torabinejad et al.8, 1995).

HIDRÓXIDO DE CÁLCIO Em 1920, Hermann introduziu na Odontologia o

hidróxido de cálcio, que se tornou um marco histó-rico para a preservação pulpar. A partir dessa época, várias outras substâncias e associações foram propos-tas, desde o cimento de óxido de zinco e eugenol até os materiais mais recentes como o MTA (Der-(Der-zan Júnior e Garcia9, 1998). Quando empregado em pulpotomias, o hidróxido de cálcio promove necrose do tecido adjacente e inflamação do tecido contíguo, formando ponte de dentina na junção do tecido ne-crosado com o tecido vivo inflamado (Cohen e Har-(Cohen e Har-greaves10, 2007).

Foi proposto como uma alternativa ao for-mocresol para casos de pulpotomias de dentes decíduos em 1962 (Doyle et al., 1962 apud (Son-(Son-mez et al.11, 2008) e o primeiro agente a mostrar capacidade de induzir a regeneração de dentina (Zander et al., 1939 apud (Sonmez et al. 11, 2008).

É um pó branco, cristalino, altamente alcalino e ligeiramente solúvel em água, se dissociando em íons cálcio e hidroxila em solução. Os íons cálcio reagem com o dióxido de carbono nos

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Kaiser KM, Crespi RD, Tartarotti E, Pelisser EL, Viegas APK. utilização do agregado trióxido mineral (MTA), Hidróxido de Cálcio e Cimento de Porland em Pulpotomias. • São Paulo • Science in Health • 2011 set-dez; 2(3): 170-6

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tecidos produzindo granulações de calcita. Esse processo conduz a um acúmulo de fibronectina que permite adesão e diferenciação celular, re-sultando na formação de ponte de tecido duro. Para que a mineralização ocorra, o hidróxido de cálcio deve ficar em contato direto com o teci-do pulpar. Inicialmente, uma zona de necrose é formada adjacente ao hidróxido de cálcio e, em seguida, uma ponte de dentina é formada direta-mente abaixo da zona de necrose ou a zona de necrose é reabsorvida e substituída por ponte de dentina (Sonmez et al.11, 2008).

CIMENTO DE PORTHLAND Na literatura recente, observa-se que o ci-

mento de Portland apresenta seus constituintes bá-sicos similares aos do MTA (Duda e Losso6, 2005, Camilleri et al.12, 2005).

Recentemente vem sendo estudado como ma-terial substituto do MTA, pois tem demonstrado composição (com exceção do óxido de bismuto en-contrado apenas no MTA, conferindo radiopacidade), atividade antimicrobiana, mecanismo de ação e resul-tados bastante similares ao MTA (Camilleri et al.12, 2005, Holland et al.13, 2001), sendo, portanto, um ma-, sendo, portanto, um ma-terial economicamente mais viável e biologicamente compatível.

Nos trabalhos estudados seu uso demonstrou efeito sobre o complexo dentino-pulpar semelhante ao obtido com MTA, após pulpotomias (Silva14, 2003, Conti et al.15, 2009, Holland et al.16, 2001).

REVISÃO DE LITERATURAEstima et al.17 (2009), realizaram avaliação clínica

e radiográfica do emprego do MTA Angelus® em 30 pulpotomias em dentes decíduos com inflamação res-trita à câmara pulpar, com preservação de 90 e 180 dias. Os resultados demonstraram, na avaliação de 90 dias, que todos os dentes estavam com estruturas de suporte periodontal preservadas. Com 180 dias, ob-tiveram um índice de 100% de formação de ponte de dentina. Ainda, Chibinski e Czlusniak4 (2003) reali-zaram pulpotomia do elemento dental 85 com o uso de cimento MTA-Angelus seguindo o protocolo habi-tual. Em radiografia de controle após 6 meses, obser-varam condições de normalidade dental. Com esses

resultados, os autores puderam concluir que o MTA apresentou bom comportamento clínico e radiográ-fico, não produzindo sinais e sintomas de patologia pulpar, preservando a vitalidade dos filetes pulpares remanescentes, sendo um material eficaz para a reali-zação de pulpotomias.

Em um estudo realizado para avaliar a respos-ta pulpar ao capeamento direto com MTA ou hidróxido de cálcio, em seres humanos, com re-lação à formação de ponte de dentina, 20 tercei-ros molares, livres de cárie, tiveram suas polpas expostas e capeadas. Após 2 meses, os dentes fo-ram extraídos e os espécimes foram preparados para avaliação histológica e imuno-histoquímica. Histologicamente, 100% do grupo do MTA e 60% do grupo do hidróxido de cálcio formaram pon-tes de dentina. A espessura média das pontes de dentina observadas no grupo do MTA foi estatis-ticamente maior que a do grupo do hidróxido de cálcio (Min et al.18, 2008).

Sales et al1. (2003) relataram um caso de pulpoto-mia do dente 47 em uma paciente de 16 anos. A pa-ciente apresentava dor ao teste com frio, obtendo-se resposta positiva, porém sem qualquer alteração ra-diográfica que impossibilitasse o tratamento conser-vador. Sendo assim, procederam à pulpotomia com pasta de hidróxido de cálcio, obtendo sucesso com acompanhamento de 14 meses, com manutenção da vitalidade pulpar.

Accorinte Mde et al.19 (2008) comparam a respos- comparam a respos-ta da polpa dental humana realizando pulpotomias empregando o MTA e o hidróxido de cálcio como material de recobrimento. Para tanto, realizaram 40 pulpotomias de dentes permanentes. As polpas fo-ram capeadas com hidróxido de cálcio ou MTA, e os dentes observados em 30 e 60 dias para os dois materiais avaliados. Decorrido o perío-do de observação, os dentes foram extraídos e avaliados histologicamente. Em relação à forma-ção de ponte de dentina, o hidróxido de cálcio, após 30 dias, mostrou uma tendência para um desempenho superior em comparação com MTA no mesmo período, porém o hidróxido de cálcio apresentou maior resposta inflamatória e rápida formação de ponte de tecido duro em relação

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ao MTA. Após 60 dias, tanto o hidróxido de cál-cio quanto o MTA apresentaram uma resposta histológica similar e excelente, com formação de ponte de tecido duro em quase todos os casos e com baixo infiltrado inflamatório.

Em estudo que avaliou histologicamente a respos-ta do tecido pulpar de dentes de cães em capeamento pulpar com o hidróxido de cálcio e o MTA, Briso et al.20 (2006) analisaram 37 dentes de dois cães utilizan-(2006) analisaram 37 dentes de dois cães utilizan-do para o Grupo I pasta de hidróxido de cálcio P.A. e para o Grupo II capeamento com MTA. Os resul-tados apresentados pelo Grupo II foram significati-vamente melhores que os do Grupo I. Dos 19 casos tratados com hidróxido de cálcio, apenas 7 apresen-taram formação completa de ponte de tecido duro, 3 com defeitos na formação e 1 caso com formação apenas nas paredes laterais. Já, em relação ao desem-penho do MTA quanto à resposta pulpar, a formação de ponte de tecido duro foi encontrada em 12 dos 18 casos tratados. Apesar de ambos os grupos apresen-tarem resposta pulpar com formação de tecido duro, conclui-se que o MTA obteve melhores resultados.

Com objetivo de comparar as características his-tomorfológicas dos tecidos quando utilizados, para recobrimento, o MTA e pasta de hidróxido de cálcio, Accorinte et al.21 (2008) realizaram procedimentos de pulpotomia em 40 pré-molares humanos com ex-tração indicada por motivos ortodônticos. Os dentes foram divididos em grupos de acordo com o material, período de extração e observação: Grupo 1, hidróxi-do de cálcio e extração após 30 dias; Grupo 2, hidró-xido de cálcio e extração após 60 dias; Grupo 3, MTA e extração após 30 dias; e Grupo 4, MTA e extração após 60 dias. Todos os grupos tiveram bom desempe-nho na formação de ponte de tecido duro e resposta inflamatória. Uma resposta inferior foi observada no Grupo 1 quanto à formação de ponte de tecido duro quando comparada com os grupos 3 e 4.

Queiroz et al.22 (2005) avaliaram histologicamen- avaliaram histologicamen-te a resposta do tecido pulpar e da região periapical quando aplicado MTA ou hidróxido de cáclio dire-tamente sobre a polpa de 26 dentes de cães. Após 90 dias, foram realizadas radiografias de controle, e dissecadas as mandíbulas e maxilas para os cortes his-tológicos e, assim, procederam à avaliação. Obser-varam que em 13 polpas tratadas com MTA, e em 13 tratadas com hidróxido de cálcio, houve formação

de ponte de dentina e uma camada de odontoblastos normais subjacentes a ela. Observaram, ainda, que o tecido conjuntivo estava intacto, com quantidades consideráveis de fibroblastos e fibras colágenas, sem inflamação do tecido conjuntivo e regiões periapicais, e com cementoblastos na superfície do cemento. Ain-da, o ligamento periodontal apresentou-se ricamente vascularizado sem sinais de espessamento.

Duarte et al.23 (2002) avaliaram a contaminação bacteriana e fúngica presente no MTA-Angelus (cin-za e branco) e no cimento de Portland de um saco recém-aberto e de outro aberto há 2 meses. Os ma-teriais foram colocados em 3ml de caldo de BHI (in-fusion in brain and heart) ágar e incubados a 37ºC por 24 horas, e em 3mL de caldo Sabouraud e incubados a 25ºC por 72 horas. Os resultados mostraram näo haver contaminaçäo nos materiais testados, pois a propriedade antibacteriana do cimento de Portland se deve ao fato de sua fabricação ocorrer em altíssi-mas temperaturas, possuindo alto pH pela presença de óxido de cálcio, sendo incompatível com o cres-cimento bacteriano. Porém, sua esterilização é obti-da em autoclave por óxido de etileno (Islam et al.24, 2006, Menezes et al.25, 2004). Dessa forma, Conti et al.15 (2009), realizaram pulpotomias com aplicação de cimento de Portland esterilizado em óxido de etileno, em 3 dentes humanos decíduos. Foram observadas, com o acompanhamento de 3, 6 e 12 meses, a pre-servação da vitalidade pulpar e a formação da barreira dentinária, sem presença de sintomatologia dolorosa ao longo do período.

Holland et al.16 (2001) analisaram o comportamen- analisaram o comportamen-to da polpa de dentes de cães após pulpotomia de 26 dentes e proteção do tecido pulpar com MTA e cimento de Portland. Após 60 dias, os animais foram sacrificados e os espécimes observados histologica-mente, obtendo-se formação de ponte de dentina em 21 casos. Os resultados foram semelhantes, sendo observada a formação de dentina tubular em ambos os materiais.

Em um estudo, para investigar a resposta pulpar em dentes de cães pulpotomizados com MTA-An-gelus e cimento de Potland branco, Menezes et al.25 (2004) realizaram pulpotomias em 38 dentes, sendo 19 para cada material a ser estudado. Após 120 dias, os animais foram sacrificados e os espécimes avalia-dos. Ambos os materiais tiveram resultados sema-

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lhantes, com formação de tecido duro, sem presença de inflamação, necrose ou calcificações.

Reiss-Araujo et al.26 (2007) compararam histologi- compararam histologi-camente os efeitos do uso do MTA e do cimento de Portland em subcutâneo de ratos. Para isto, utiliza-ram 10 animais divididos em 2 grupos. Foram feitos retalhos na região de filtro superior, nos quais foram inseridos tubos de polietileno com MTA de um lado e cimento de Portland do outro. No Grupo I, 5 animais foram sacrificados após 2 semanas, e no Grupo II, 5 animais foram sacrificados após 12 semanas. Dos gru-pos avaliados, após a leitura das lâminas, verificaram que no Grupo I, com o cimento de Portland resultou um processo inflamatório agudo, e com o MTA em processo inflamatório mais brando. No Grupo II fo-ram observados, tanto para o cimento de Portland quanto para o MTA, um processo inflamatório crôni-co decorridas 12 semanas.

CONCLUSÕESPelo que se pode observar na literatura pesquisa-

da sobre o índice de sucesso dos materiais utilizados em pulpotomias, não restam dúvidas de que o uso de um material considerado ideal faz-se necessário com o objetivo de manter a vitalidade pulpar.

Além disso, a implantação do tratamento conser-vador pulpar não requer investimento de alto custo, é de execução mais simples que um tratamento endo-dôntico radical e, finalmente, oferece ótimos resulta-dos e elevados índices de sucesso.

A biocompatibilidade e a formação de barreira de tecido mineralizado do MTA mostra seme-

lhança na cicatrização do tecido pulpar, quando utilizado o hidróxido de cálcio ou o cimento de Portland, pois estes três materiais promovem a formação de ponte de dentina. Dessa forma, tan-to o MTA quanto o cimento de Portland podem servir como substitutos satisfatórios ao Hidró-xido de Cálcio, ainda utilizado pelo seu menor custo e grande aceitabilidade.

Apesar de o cimento ser um material científi-camente comprovado, mostrando resultados fa-voráveis para os casos de pulpotomia, e também ser uma opção mais acessível economicamente, quando comparado ao MTA, ainda não pode ser utilizado em pacientes, pois seu uso em estudos ocorre de forma não-oficial. Porém, sua eficá-cia e utilização é comprovada com as pesquisas (Conti et al.15, 2009, Duarte et al.23, 2002, Islam et al.24, 2006, Menezes et al.25, 2004), sendo uma alternativa viável, a partir do momento em que for aprovado pelos órgãos regulamentadores.

Portanto, tanto o MTA quanto o cimento de Port-Port-land podem ser empregados em pulpotomias com melhores resultados clínicos e radiográficos quando comparados ao hidróxido de cálcio, pela maior bio-compatibilidade, resultando em menor transtorno pós-operatório, maior longevidade do tratamento e vitalidade do remanescente pulpar. (Chibinski e Czlus-(Chibinski e Czlus-niak4, 2003, Estima et al.17, 2009, Min et al.18, 2008, Ac-corinte Mde et al.19, 2008, Briso et al.20, 2006).

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Kaiser KM, Crespi RD, Tartarotti E, Pelisser EL, Viegas APK. utilização do agregado trióxido mineral (MTA), Hidróxido de Cálcio e Cimento de Porland em Pulpotomias. • São Paulo • Science in Health • 2011 set-dez; 2(3): 170-6

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Kaiser KM, Crespi RD, Tartarotti E, Pelisser EL, Viegas APK. utilização do agregado trióxido mineral (MTA), Hidróxido de Cálcio e Cimento de Porland em Pulpotomias. • São Paulo • Science in Health • 2011 set-dez; 2(3): 170-6

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O JOGO DE TÊNIS DE CAMPO E SUAS IMPLICAÇÕES ENERGÉTICAS

THE GAME OF TENNIS FIELD AND ITS ENERGY IMPLICATIONS

João Marcelo de Queiroz Miranda*

* Curso de Educação Física, Universidade Cidade de São Paulo – Laboratório de pesquisa em fisiologia e metabolismo aplicados à atividade física (LAPEFFI), Curso de Educação Física, Universidade Nove de Julho

RESUMO

A prática do jogo de tênis de campo tem aumentado con-sideravelmente nos últimos anos a nível competitivo e do lazer. Em ambos os casos, é necessário obter um bom con-dicionamento físico para suportar as exigências de uma partida. O objetivo desta mini-revisão é fazer um levan-tamento bibliográfico sobre as características de uma par-tida de tênis e quais são os principais sistemas energéticos envolvidos para que se possa praticar esse esporte evitan-do lesões e otimizando a sua prática. Acreditamos que a relevância do trabalho está no subsídio aos profissionais da área da saúde que atuam na área do tênis de campo e do esporte com características semelhantes.

PALAVRAS-CHAVE: Tênis • Metabolismo energético.

ABSTRACT

The practice of tennis game field has grown exponentially in recent years at a competitive level and leisure. In both cases, it is necessary to obtain a good physical condition to withstand the demands of a match. The purpose of this mini-review is to review the literature on the characteristics of a tennis match and what are the main energy systems involved so that its can play this sport avoiding injuries and optimizing its practice. We believe that the relevance of this work is to subsidize to health professionals working in the field of tennis and sports with similar characteristics.

KEYWORDS: Tennis • Energy metabolism

Mini Revisão/Mini Review

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INTRODUÇÃOO tênis brasileiro tem atingido números expres-

sivos de praticantes tanto em nível de lazer quanto competitivo. Podemos perceber que, após o fenôme-no “Guga”, crianças e adolescentes desejam tornar-se atletas de alto nível, enquanto aqueles sem preten-sões para o alto rendimento optam pela sua prática em espaços públicos, escolas de tênis e clubes espor-tivos. Nos dois âmbitos, torna-se necessário que o atleta/praticante adquira uma boa condição física para suportar as exigências da modalidade, além de evitar lesões. Abrahão e Mello 1, (2008) citam a biomecânica do gesto técnico incorreto, os movimentos repeti-tivos e o tipo de piso da quadra como alguns dos fatores que podem causar lesões musculoesqueléti-cas no tenista. Além dos riscos de lesões, suportar fisicamente uma partida inteira de tênis pode vir a ser extremamente difícil no que diz respeito a manter a eficiência dos golpes, explosão nas jogadas de rede e resistir aos pontos de maior duração.

Dessa forma, entender a dinâmica do jogo, a dura-ção dos pontos, os intervalos entre pontos e games, são informações importantes tanto para o praticante quanto para o professor de educação física que deseja atuar nessa área. Compreendidas as características do jogo, podemos estabelecer quais exigências fisiológi-cas do ponto de vista energético são predominantes para quem deseja jogar tênis. Assim, o objetivo des- deseja jogar tênis. Assim, o objetivo des-ta mini-revisão é fazer um levantamento bibliográfi-co sobre as características de uma partida de tênis e quais são os principais sistemas energéticos envolvi-dos para que se possa praticar esse esporte evitando lesões e otimizando a sua prática. Acreditamos que tal levantamento possa dar subsídio não só aos pra-ticantes e atletas de tênis, mas, principalmente, aos professores de educação física e profissionais ligados ao esporte que desejam trabalhar nessa área que, em-bora, tenha aumentado nos últimos anos o número de praticantes, necessita de estudos científicos que possam nortear uma prática esportiva mais adequada tanto para os alunos/atletas quanto aos professores.

O JOGO DE TÊNIS DE CAMPO E SUAS IMPLICAÇÕES ENERGÉTICASUma partida de tênis é completamente imprevisí-

vel quanto às suas exigências físicas. A duração de um jogo pode chegar a cinco horas como pode também terminar em uma, já que não há limite estipulado de

tempo nessa modalidade. À capacidade para manter um esforço a partir dos 10 minutos até horas de du-ração, chamamos de resistência aeróbia (Orea et al. 2, 1996). O sistema oxidativo ou aeróbio será solici-tado para gerar energia para que o praticante/atleta consiga suportar uma partida de longa duração, prin-cipalmente.

Durante uma partida, devido à variação de jogo, os participantes podem fazer dezenas ou centenas de tiros curtos e explosivos para alcançar a bola, exigin-do do sistema anaeróbio a geração de energia (Ko-vacs 3, 2006).

Segundo Ishizaki e Castro 4, (2008) o tempo efeti-vo de um jogo de tênis competitivo é, em média, de 20% a 25% do tempo total da partida. Orea et al. 2, (1996) analisaram as ações de tenistas durante suas partidas e chegaram a conclusão de que o tenista fica, em média, 21,4% jogando, 68,7% recuperando-se ati-vamente entre um ponto e outro e 9,9% sentado. As-sim, pensando nos sistemas energéticos que atendam o gasto energético global proveniente de uma partida, acreditamos que haja uma integração dos sistemas: anaeróbio alático, anaeróbio lático e o sistema oxida-tivo. Porém, para tentar identificá-los respectivamen-te dentro de uma partida de tênis, temos que pensar em mais algumas particularidades do jogo.

Um estudo de Kovacs et al. 5, (2004) com adoles-centes em um torneio colegial mostrou que o tempo médio de duração de um ponto é 6,3±4,3 segundos. Muitos aspectos podem influenciar a duração do pon-to, como: o tipo de piso, o estilo de jogo dos tenistas, a tática adotada pelo jogador, dentre outros. Três partidas do nosso tenista brasileiro Gustavo Kuerten (Guga) foram analisadas por Paula 6, (1999) e, chegou--se a uma média de duração de 5,66s por ponto. Vale dizer que duas dessas partidas foram realizadas em pisos lentos e a terceira em piso rápido. Ishizaki e Castro4 (2008) fizeram um levantamento junto à As-sociação Alemã de Tênis e obtiveram média de du-ração dos pontos em quadras de saibro de 7 a 10 segundos e de 30% a 50% desses valores em quadras rápidas. Conforme essas características, a principal fonte para gerar energia é o sistema ATP-CP. Para justificar a utilização desse sistema, Orea et al.2 (1996) verificaram que a média da concentração do lactato pós-esforço nas partidas de tênis atingiu uma média de 2 a 5 mmol/l. Ishizaki e Castro4 (2008) apresentam

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o nível de lactato sanguíneo entre 2 a 3 mmol/l e ape-nas em situações excepcionais foram apresentadas concentrações de até 4mmol/l. Concluímos, assim, que, existe uma participação do sistema anaeróbio lá-tico para gerar energia, porém, de maneira muito dis-creta. Apresentamos a seguir a Tabela 1, que resume os sistemas energéticos a partir das características da partida de tênis.

Outro fator importante e com pouca literatura a respeito são as características das pausas dentro de uma partida de tênis. Esse fato pode também in-fluenciar na eficiência do praticante/atleta em manter a consistência do seu jogo. Existem três momentos durante uma partida que permitem que o jogador se recupere das suas ações musculares. Pela regra do tênis é permitido ao jogador 30 segundos para sacar entre um ponto e outro, 90 segundos entre viradas de quadra e 120 segundos de intervalo entre sets. Os dois últimos intervalos são invariáveis e o jogador precisa cumpri-los, mas, o intervalo entre um ponto e outro é determinado pelo próprio jogador. Em um estudo realizado por Paula6 (1999) foi observado que os jogadores descansam menos do que têm direito entre os pontos: 15 a 25 segundos.

A recuperação entre um ponto e outro pode ser caracterizada como ativa, já que o jogador continua em movimento de caminhada para se enxugar e pegar as bolas para seu próximo saque. Essa característica da recuperação é importante, pois sabe-se que é mais rápido restaurar as energias de forma ativa do que de forma passiva (sentado). Segundo Bompa7 (2002), de 20 a 30 segundos de intervalo é possível restaurar de 50% a 70% do sistema ATP-CP. Nos momentos de viradas de quadra (games ímpares), o jogador perma-nece sentado durante 90 segundos e quando termi-

na um set (vencedor de 6 games) o jogador senta-se novamente durante 120 segundos (Tabela 2). Dessa forma, como a maioria dos pontos são curtos e não é observado um grande acúmulo de lactato sanguíneo, os intervalos que acontecem em um jogo de tênis de campo são suficientes para restabelecer a energia do praticante/atleta para novos estímulos. Contudo, a intensidade dos golpes de quadra, a velocidade do jogo, um bom condicionamento aeróbio e as carac-terísticas individuais vão influenciar no processo de recuperação.

CONSIDERAÇÕES FINAISConcluímos que o tênis de campo é um esporte

com grande alternância de possibilidades motoras, caracterizado por curtos períodos de jogo intenso, intercalados por períodos de recuperação e por uma variação no tempo total de uma partida. Para que o tenista possa jogar uma partida com o máximo de desempenho possível, é necessário que possua uma boa resistência aeróbia para suportar as partidas mais longas, uma potência anaeróbia para ganhar os pontos mais curtos e uma boa resistência anaeróbia para su-portar os pontos mais longos. Além disso, um sistema aeróbio eficiente ajudaria no processo de recuperação metabólica durante os períodos de pausa no jogo.

Entendemos que existem diferenças entre os pra-ticantes e os atletas do tênis no que tange à solicita-ção energética da modalidade. Porém, a maioria dos estudos citados aqui foram realizados com base nos dados de atletas, que possuem maior condicionamen-to físico quando comparados aos praticantes, de-terminando-se assim, possivelmente uma solicitação metabólica diferente. Nesse sentido, sugerimos que estudos possam ser conduzidos com praticantes da

Tabela 1 – características de uma partida de tênis e siste-mas energéticos

Tabela 2 – Características dos intervalos de uma partida de tênis

Tipos de inter-valo

Tempo utilizadoTipo de recupe-

ração

Intervalo entre pontos

De 15 a 25 seg. Ativa

Intervalo entre games ímpares

90 seg. Passiva

Intervalos entre sets

120 seg. Passiva

Características da partida

Tempo utilizadoSistema energé-

tico

Duração da partida

Acima de 40 min. Sistema aeróbico

Duração do ponto

De 5 a 10 seg.Sistema anaeró-

bico alático

Duração dos pontos longos

Acima de 15 seg.Sistema anaeró-

bico lático

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modalidade. Além disso, sabemos que a intensidade de uma partida jogada por um praticante é diferente da intensidade de uma partida profissional, determi-nando-se também possíveis diferenças nas exigências energéticas.

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Contudo, é extremamente importante entender as características de uma partida de tênis de campo para poder determinar quais capacidades físicas e habilidades motoras estão envolvidas e precisam ser treinadas tanto por praticantes quanto por atletas, com o intuito de melhorar a performance de ambos.

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A Anatomia é, possivelmente, a mais antiga ci-ência que pode ser relacionada à Medicina, com a qual, aliás, confunde-se no período mais remoto. A Cirurgia é a mais primitiva das atividades reconhe-cíveis como médicas, por ter como substrato a ma-nipulação do corpo humano: supõe-se que, de início orientada para tratar entorses e ferimentos, ela te-nha evoluído para ressecções higiênicas, drenagens ou mesmo restaurações. Talvez até ainda sirva para funções místicas ou religiosas, como nas eras mais antigas.

Atividade diferente é a Clínica, o ramo médico que, a seguir, desenvolve-se em meio a medidas ne-cessárias para identificação, avaliação de doenças e planejamento terapêutico. Observação, avaliação e raciocínio passam a permitir a prevenção de riscos.

E tanto os primórdios da cirurgia quanto da clí-nica não prescindem do reconhecimento anatômico: nulla medicina sine anatomia. A máxima latina continua atual, conhecimentos anatômicos são básicos para os dois tipos de atividade médica, tanto a cirúrgica como a clínica – não há medicina sem anatomia.

Em consequência, na medida em que se expandem os conhecimentos anatômicos, as duas vertentes ex-perimentam progressos notáveis.

Na Clínica – que é fundamental para a cirurgia, em particular no momento de diagnosticar a doença e planejar o tratamento – investigações anatômicas fun-damentam o reconhecimento da normalidade e res-saltam as características patológicas. Sem a referência do normal não se pode identificar os desvios.

Percepção mais concreta pode ser obtida por meio de alguns exemplos. Uma dor no braço pode ter sua causa em afecção de outro local, tal como acontece em algumas isquemias de miocárdio: é a dor referida explicável pelo entendimento da metameria. Em outro exemplo, a alteração da voz pode ser pro-vocada por patologia do mediastino superior e isso só

ANATOMIA E CIRURGIA

ANATOMY AND SURGERY

Ikurou Fujimura*

* Médico, especialista em cirurgia geral e do trauma. Professor do Curso de Medicina - Universidade Cidade de São Paulo - UNICID

tem sentido como hipótese clínica se for conhecido o caprichoso curso recorrente que tem o nervo la-ríngeo inferior.

O médico não pode dispensar conhecimentos anatômicos bastante abrangentes no momento do ra-ciocínio clínico. São conhecimentos que devem estar previamente presentes, deles depende a interpreta-ção dos achados semiológicos: é inviável procurá-los no momento da elaboração do diagnóstico.

Na Cirurgia, é fácil de entender que o operador tem de basear suas decisões no conhecimento mais particularizado possível do órgão e da região aborda-dos. Embora sem dispensar a base anatômica prévia, muito sólida, ele pode, a qualquer dúvida, rever minú-cias úteis antes de executar sua intervenção e, desse modo, aperfeiçoar as soluções terapêuticas.

Em resumo, ao clínico cabe ter visão holística da anatomia, enquanto ao cirurgião compete ser dono, além disso, de uma visão minuciosa do órgão e sua topografia, de modo tão detalhado que deveria in-cluir, às vezes, a revisão de seus conhecimentos antes de agir.

O avanço da terapêutica cirúrgica valoriza co-nhecimentos que tinham antes escassa aplicação. É o caso da anatomia do feto, após a introdução da ci-rurgia fetal intrauterina. Ou da crescente importância de novos métodos diagnósticos que se baseiam em perspectivas inusitadas de visão anatômica. O que era mero detalhamento morfológico passa a ser chave do sucesso em determinadas situações.

Para o iniciante, é natural que perceba a impor-tância da anatomia em sua plenitude, porém em su-cessivas fases de sua evolução ele irá sentir que é im-perativa a renovação da própria cultura morfológica, conforme o direcionamento de sua atividade médica.

A quem ensina, resta o dever de apontar o real significado do valor da aquisição desses conhecimen-tos.

Ponto de vista/Point of view

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TIPOS DE PUBLICAÇÃO1- Relato de pesquisa. São artigos descrevendo

dados de pesquisa original, produto de obser-vação experimental, clínica ou desenho teó-rico. Relatos de casos não são considerados como dentro do escopo da revista.

2- Mini-revisões. Tratam-se de pequenas revi-sões temáticas destinadas a chamar a atenção para as consequências, implicações ou avan-ços de determinados temas na área da saúde e afins.

3- Ponto de vista. Essa seção é dedicada a en-saios, que podem ser análises e comentários sobre um determinado assunto, seja ele ob-servado sob uma nova perspectiva ou quan-do algum aspecto admite uma nova interpre-tação. Em geral, os textos dessa seção são assinados por convidados da revista; porém autores podem propor assuntos cuja perti-nência será avaliada pelo corpo editorial.

4- Resenhas. Espaço aberto a resenhas de livros que os colaboradores se interessem em di-vulgar. Devem ser acompanhadas do Título original, autor do livro resenhado, Editora e ISSN ou ISBN.

5- Cartas ao editor. Esse é um espaço aberto a comentários e réplicas sobre material publi-cado na revista em edições anteriores.

INSTRUÇÕES AOS AUTORES. Submissões para a revista Science in Health e todo

o trato até a publicação são feitas on line. As instru-ções para composição do manuscrito estão nas pági-nas finais da Science in Health .

Seus arquivos devem ser enviados em formato de editor de texto (Word® ou “Rich Text Format”- rtf) para o e-mail [email protected]. Os arquivos para análise por pares serão formatadas em PDF, bem como no processamento posterior para edição e publicação. Toda a correspondência a partir da submissão inicial, acompanhamento e eventuais re-visões serão feitos através de comunicação eletrônica por e-mail.

Os artigos devem ser elaborados em língua Por-tuguesa corrente ou, a critério do(s) autor(es), op-cionalmente em língua Inglesa. No caso de manuscri-tos em Inglês, caberá ao proponente a adequação da

grafia e gramática que será objeto de avaliação pelos pareceristas e comitê editorial. No caso de submis-sões em Português, a editora reserva-se no direito de solicitar ou efetuar (conforme o caso) eventuais modificações para adequação do perfeito léxico. Na elaboração do texto devem estar indicados os locais sugeridos de inserção de figuras e tabelas e as cita-ções (e referências) bibliográficas devem respeitar a convenção-estilo de Vancouver. O texto dever ser digitado em processadores de texto compatíveis com a plataforma Windows, usando preferencialmente as letras em Times New Roman ou Arial, tamanho 12, com espaçamento duplo, margens padrão (2,5 cm nas quatro dimensões), justificado à esquerda em pági-nas numeradas a partir do título (página 1). Símbolos devem ser inseridos no texto, no local apropriado, e o uso de caracteres especiais deve ser evitado ao máximo. A confecção do arquivo deve respeitar um dos cinco tipos de publicações aceitas pela revista, que contêm regras próprias.

RELATO DE PESQUISA: Sugere-se que o texto principal deva conter entre 3.000 e 5.000 palavras, excluindo--se referências, e deve ser construído contendo:

a) Página de rosto com o título do artigo em Português e o título em língua Inglesa, nome do(s) autor(es), nome do local e afiliação institucional do(s) autor(es), endereço postal, endereço eletrônico e número do telefone do autor correspondente.

b) Um resumo em língua Portuguesa e um outro (abstract) em língua Inglesa, não maior que 250 pala-vras cada, com uma lista de até cinco palavras-chave em Português e até cinco palavras-chave (key words) em Inglês.

c) Corpo do texto contendo quatro seções prin-cipais: Introdução, Material e Métodos, Resultados e Discussão. Figuras e Tabelas devem ser apresentadas após a lista de referências. Numerar figuras e tabelas com algarismos (não utilizar números Romanos).

d) Agradecimentos e apoio financeiro, quando houver.

e) Referências f) Legendas de figuras.

MINI-REVISÕES. Manuscritos relativamente curtos (preferencialmente entre 4.000 e 10.000 palavras) com a intenção de chamar a atenção para temas es-

REVISTA SCIENCE IN HEALTH • INSTRUÇÕES AOS AUTORESISSN 2176-9095 • Universidade Cidade de São Paulo

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pecíficos incorporando descobertas originais e/ou apontando para novas implicações sobre o assunto. O(s) autor(es) deve(m) apresentar uma retrospectiva histórica e a seguir discutir aspectos controversos, oferecendo a visão e criticismo do(s) autor(es) a res-peito do assunto. É desejável que se empregue uma linguagem genérica, de modo a ampliar o universo de leitores sobre o tema. A página de rosto, resumos (Português e Inglês, de até 250 palavras); agradeci-mentos e referências bibliográficas seguem o padrão determinado para Relato de Pesquisa. O corpo do texto deve conter um sumário com o as subdivisões de que trata o artigo logo no início, sendo seguido pelo desenvolvimento do manuscrito.

PONTO DE VISTA. Texto com um limite máximo de 3.000 palavras e um máximo de 15 referências bi-bliográficas. Compõe-se de uma breve introdução, o desenvolvimento do texto principal e as referências bibliográficas, podendo prescindir das subdivisões Material e Métodos e Resultados, cujo conteúdo deve ser diluído ao longo do texto. Ilustrações são limita-das a duas, sejam figuras, tabelas ou sua combinação. Regras para página de rosto e agradecimentos são si-milares às de Relatos de Pesquisa, porém os resumos em Português e Inglês têm restrição de até 150 pala-vras, mais até cinco palavras-chave.

RESENHAS. São artigos bastante breves (até 1.500 pa-lavras), onde o(s) autor(es) oferece(m) um resumo e opiniões sobre a leitura de um livro de interesse para as áreas de graduação e pós-graduação da Universida-de Cidade de São Paulo e do público em geral. Uma ilustração pequena (até meia página) pode ser aceita. Não são necessárias: a página de rosto, as subdivisões tradicionais no corpo do texto e o(s) resumo(s). O texto deve conter, ao final, o Título original e autor do livro resenhado, Editora e ISSN ou ISBN, e passará por processo de avaliação pelos Editores.

CARTAS AO EDITOR. A Science in Health está aberta a receber, a qualquer momento, correspondência dos leitores com comentários, críticas e opiniões a res-peito do material publicado na própria revista. Par-te da correspondência será publicada, em especial aquela que aponta e questiona aspectos interessantes e pertinentes sobre artigos divulgados. Os Editores reservam-se o direito de selecionar e condensar par-tes da correspondência para preservar a natureza científica da revista, de atender aos limites físicos do

espaço destinado e ainda facilitar a compreensão dos leitores, mas sem modificar o conteúdo original do(s) autor(es). Quando necessário, serão convidados autor(es) do(s) artigo(s) citados para réplicas ou tré-plicas, no sentido de preservar o espaço destinado ao debate científico e assegurar amplo direito a todos.

ELABORAÇÃO DA FIGURAS. Figuras são aceitas em for-matos EPS, TIFF, PDF ou JPEG. Importante saber que figuras em JPEG não oferecem a necessária definição e podem comprometer a qualidade do trabalho a ser divulgado. Utilize um mínimo de 300 dpi de resolução para imagens em preto e branco e coloridas e para desenhos (bitmapped line drawings) um mínimo de 1000 dpi. Combinações de ambos (bitmapped line/half-tone, coloridas ou gradações de cinza) deverão ser construídas a partir de 500 dpi. Quando traba-lhar com desenhos vetoriais (EPS), grave os arquivos no modo gráfico. Não trabalhe ou importe imagens usando processadores de texto ou similar. Cada fi-gura deve ser preparada de forma individual e com-por um arquivo único em uma página ou meia página impressa (limites máximos de 170mm X 230mm ou 80mm X 230mm, respectivamente). As figuras devem ser referenciadas Figura (abreviatura Fig.) e nume-radas sequencialmente em ordem de citação e em números arábicos. As legendas devem ser autoexpli-cativas e permitir a compreensão do material apre-sentado sem a necessidade de ler o texto principal.

ELABORAÇÃO DE TABELAS. Tabelas devem ser construí-das de modo a serem compreendidas sem a leitura do texto, em numeração (arábica) consecutiva de acor-do com a ordem de aparecimento e citação. Cada tabela precisa conter um título e um cabeçalho e as unidades de medida devem estar claramente indica-das. Colunas e linhas devem ser compostas por gra-des de tabulação e não por espaçamento. Utilize um guia de construção de tabelas em seu processador de texto. Atente para a não duplicidade de resultados na combinação de tabelas e gráficos.

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS. Artigos submetidos para publi-cação precisam conter declaração de conduta e, em especial, quando tratar de humanos, devem trazer testemunho de que foram aprovados por Comissão de Ética em acordo com a Declaração de Helsinke de1964 (http://www.wma.net). Também deve-se explicitamente declarar que as pessoas foram devi-damente esclarecidas e que o(s) autor(es) detêm o

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consentimento para inclusão no estudo. Detalhes que permitam a identificação dos sujeitos devem ser omitidos. Tratando-se de trabalhos usando modelos animais, estes devem declarar que todo o desenro-lar experimental foi feito em acordo com os princí-pios de conduta para uso e cuidado animal, dentro de leis específicas. O corpo editorial se reserva o direito de rejeitar manuscritos que não contemplam os requisitos acima mencionados. Autor(es) é(são) responsável(is) por falsas declarações ou malversação dos princípios acima.

REFERÊNCIAS. As referências citadas no texto devem estar presentes na lista de referências (e vice-versa). Resultados não publicados e comunicações pessoais não são aceitos como referências e seu uso não é recomendado. Caso seja imprescindível, essas cita-ções devem ser seguidas das expressões (resultados não publicados ou comunicação pessoal, respecti-vamente) no corpo do texto principal. Citações de trabalhos aceitos, mas ainda não publicados, devem ser sucedidas da informação “in press”. Trabalhos em preparação, mas não publicados, não devem ser ci-tados. A revista Science in Health adota o sistema autor-data para citação, em conformidade com o determinado no documento Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals [International Commitee of Medical Journal Editors, Ann Int Med] (126): 36-47, 1997). Assim, as citações no texto devem estar entre parênteses, identificadas pelo sobrenome dos autores e o ano da publicação do documento. Elas necessitam ser pertinentes e,

quando mais de uma, devem seguir a ordem crono-lógica de aparecimento. Tanto as citações quanto a lista de referências devem seguir a recomendação do Estilo de Vancouver. A lista de referências deve ser numerada de forma consecutiva de acordo com a or-dem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto. Mais de uma referência de um mesmo autor devem ser identificadas com letras minúsculas “a”, “b”, “c”, acrescidas após o ano de publicação

PROVAS. Quando aceito, será enviado ao autor cor-respondente um arquivo de prova contendo a forma editada do artigo, que deverá ser revisado e aprovado pelo autor. Quaisquer correções devem ser listadas e apontadas para posterior ajuste. Nessa época não serão aceitas modificações no corpo do texto, apenas equívocos de digitação e acertos menores, sem inter-ferência no conteúdo do manuscrito.

DIREITOS DE CÓPIA. A submissão de um manuscrito à Science in Health implica que o material não foi publicado (exceto na forma de resumo em anais de congresso ou como parte de monografia, dissertação, ou tese do autor) e que não está em processo de submissão em outra revista. A submissão ainda impli-ca que o autor correspondente obteve anuência de todos os demais coautores e que obteve tácita auto-rização dos responsáveis pelos locais onde foi feita a pesquisa. Se aceito o manuscrito, o autor correspon-dente assinará em nome de todos os coautores um termo de responsabilidade e ciência de disseminação das informações nele contidas.