III Workshop de Álgebra da UFGA Álgebra dos quatérnios teve origem com William Rowan Hamilton...
Transcript of III Workshop de Álgebra da UFGA Álgebra dos quatérnios teve origem com William Rowan Hamilton...
III Workshop de Álgebra da UFG – CAC
Os Complexos e o Anel dos Quatérnios
Edson Félix Júnior - [email protected]
Romário Pereira Rezende - [email protected]
Igor dos Santos Lima (Orientador) - [email protected]
Resumo
A Álgebra dos quatérnios teve origem com William Rowan
Hamilton (1805-1865). O presente trabalho visa discutir o
conjunto dos números dos quatérnios e demonstrar algumas de
suas propriedades. Este trabalho é um complemento ao estudo
do conjunto dos números complexos na disciplina cursada este
semestre (Cálculo em uma variável complexa).
Introdução
Segundo BOYER, William Rowan Hamilton apresentou o primeiro
conceito moderno dos complexos como pares ordenados de reais e tentou
generalizar esta ideia para o espaço tridimensional. Após inúmeras
tentativas verificou-se que não era possível a existência de um complexo
tridimensional. Com isso, Hamilton descobriu os quatérnios, que é uma
Álgebra de dimensão quatro sobre o corpo dos números reais e que possui
todas as propriedades de um corpo, exceto a comutatividade da
multiplicação. Dizem que Lorde Hamilton teve a ideia de definir o produto
quaterniônico num passeio que fez com a Lady Hamilton.
“Quaternion Bridge”
Preliminares
Definição: Um anel é um conjunto não vazio 𝑨 munido de duas operações
internas, uma chamada soma e denotada por + e outra chamada
multiplicação e denotada por ∙ satisfazendo as seguintes propriedades:
1) Para quaisquer 𝒂, 𝒃 ∈ 𝑨 tem-se 𝒂 + 𝒃 = 𝒃 + 𝒂. (Comutatividade da
adição)
2) Para quaisquer 𝒂, 𝒃, 𝒄 ∈ 𝑨 tem-se 𝒂 + 𝒃 + 𝒄 = 𝒂 + 𝒃 + 𝒄. (Associatividade da adição)
3) Existe 𝟎 ∈ 𝑨 𝐭𝐚𝐥 𝒒𝒖𝒆 𝒂 + 𝟎 = 𝒂 para qualquer 𝒂 ∈ 𝑨. (Existência do
elemento neutro da adição)
4) Para qualquer 𝒂 ∈ 𝑨 existe −𝒂 ∈ 𝑨 tal que 𝒂 + −𝒂 = 𝟎. (Existência
do simétrico de todo elemento de A)
5) Para quaisquer 𝒂, 𝒃, 𝒄 ∈ 𝑨 tem-se 𝒂 ⋅ 𝒃 ⋅ 𝒄 = 𝒂 ⋅ 𝒃 ⋅ 𝒄. (Associativa
da multiplicação)
6) Para quaisquer 𝒂, 𝒃, 𝒄 ∈ 𝑨 tem-se 𝒂 ⋅ 𝒃 + 𝒄 = (𝒂 ⋅ 𝒃) + (𝒂 ⋅ 𝒄) e
𝒃 + 𝒄 ⋅ 𝒂 = 𝒃 ⋅ 𝒂 + 𝒄 ⋅ 𝒂. (Distributividade da multiplicação em relação
a soma)
Observação: A multiplicação não necessita ser comutativa. Quando isto
ocorrer, dizemos que A é um anel comutativo. Veremos que os quatérnios
não formam um corpo.
Notação: (𝑨,+,⋅) denotará um anel 𝑨 com as operações + 𝒆 ⋅.
Exemplo: O conjunto ℂ = { a + bi | a, b ∈ ℝ e i² = -1 } é um exemplo de
anel. As operações neste conjunto são definidas por (a + bi) + (c + di) = (a +
c) + (b + d)i e (a + bi)(c + di) = (ac –bd) + (ad + cb)i. O elemento neutro
aditivo é (0 + 0i) = 0 e o elemento neutro multiplicativo é (1 + 0i). O inverso
aditivo de um elemento (a + bi) é (-a + (-bi)), pois (a + bi) + (-a + (-bi)) = (a –
a) + (b – b)i = 0 + 0i = 0.
O Anel dos quatérnios
O anel dos quatérnios é definido como Q = {𝒂 + 𝒃𝒊 + 𝒄𝒋 + 𝒅𝒌|𝒂, 𝒃, 𝒄, 𝒅 ∈ ℝ}. A operação de soma é definida coordenada a coordenada e para o
produto usamos 𝒊𝟐 = 𝒋𝟐 = 𝒌𝟐 = 𝒊𝒋𝒌 = −𝟏. Estas igualdades implicam que
𝒊𝒋 = 𝒌, 𝒋𝒌 = 𝒊, 𝒌𝒊 = 𝒋, 𝒋𝒊 = −𝒌, 𝒌𝒋 = −𝒊 𝒆 𝒊𝒌 = −𝒋.
As leis que definem as operações em Q são:
(𝒂 + 𝒃𝒊 + 𝒄𝒋 + 𝒅𝒌) + (a’ + b’i + c’j + d’k) = a + a’ + (b +
b’)i + (c + c’)j + (d + d’)k
( 𝒂 + 𝒃𝒊 + 𝒄𝒋 + 𝒅𝒌 ) * (a’ + b’i + c’j + d’k) =
𝒂𝒂’ – 𝒃𝒃’ – 𝒄𝒄’ – 𝒅𝒅’ + 𝒂𝒃’ + 𝒂’𝒃 + 𝒄𝒅’ – 𝒅𝒄’ 𝒊 +
𝒂𝒄′ − 𝒃𝒅′ + 𝒄𝒂′ + 𝒅𝒃′ 𝒋 + 𝒂𝒅′ + 𝒅𝒄′ − 𝒄𝒃′ + 𝒅𝒂′ 𝒌
Resultados
Se 𝜶 = 𝒂 + 𝒃𝒊 + 𝒄𝒋 + 𝒅𝒌 ∈ 𝑸, definimos o conjugado de 𝜶 como 𝜶 = 𝒂 −𝒃𝒊 − 𝒄𝒋 − 𝒅𝒌 e a norma de 𝜶 como
N(𝜶) = 𝜶𝜶 = 𝒂𝟐 + 𝒃𝟐+𝒄𝟐+𝒅𝟐.
Segue da definição de norma que se 𝜶 ≠ 0, 𝜶−𝟏 =𝜶
𝑵(𝜶).
Lema 1: A conjugação em Q satisfaz às seguintes propriedades:
1. Se 𝜶 ∈ Q, então 𝜶 = 𝜶.
2. Se 𝜶,𝜷 ∈ Q e 𝒓, 𝒔 ∈ ℝ, 𝒆𝒏𝒕ã𝒐 𝒓𝜶 + 𝒔𝜷 = 𝒓𝜶 + 𝒔𝜷 .
3. Se 𝜶,𝜷 ∈ Q, então 𝜶 𝜷 = 𝜶𝜷 = 𝜷 𝜶.
Demonstração: As duas primeiras afirmações são de fácil verificação. Para
a última, podemos supor 𝜶,𝜷 ∈ 𝟏, 𝒊, 𝒋, 𝒌 e usar o item anterior.
Lema 2 : A norma em Q satisfaz às seguintes propriedades:
1. Se α ∈ Q, então N(α) ∈ ℝ, N(α) ≥ 𝟎 ⇔ 𝜶 = 𝟎.
2. Se 𝜶,𝜷 ∈ Q, então N(𝜶𝜷) = N(𝜶)N(𝜷)
Demonstração: A primeira afirmação segue diretamente da definição de
norma. Vamos agora mostrar a segunda: Usando o Lema 1, temos
𝑵 𝜶𝜷 = 𝜶𝜷𝜶𝜷 = 𝜶𝜷𝜶 𝜷 = 𝜶𝜶 𝜷𝜷 = 𝑵 𝜶 𝑵 𝜷 .
Na terceira igualdade acima, usamos que 𝜷𝜷 ∈ ℝ, além de fazer uso do
item 3 do Lema 1.
Referências Bibliográficas
• H. H. Domingues; G. Iezzi. Álgebra Moderna. Atual, São Paulo,
2003.
• J. C. Braga Barros; J. A. Santana. Estruturas Algébricas – Com
Ênfase em Elementos da Teoria de Lie. Editora da Universidade
Estadual de Maringá, 2011.
• Abramo Hefez: Curso de Álgebra – Volume 1. SBM, Rio de
Janeiro – 1993
• C. B. Boyer. História da matemática. Edgard Blücher, São Paulo,
1974.