111712120520Breve Historia Do Corpo e Seus Monstros - De Ieda Tucherman
IEDA MARIA VALLE MONTEIRO CALLEJAS PACTO … · The PNAIC is a program established by the federal...
Transcript of IEDA MARIA VALLE MONTEIRO CALLEJAS PACTO … · The PNAIC is a program established by the federal...
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
IEDA MARIA VALLE MONTEIRO CALLEJAS
PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE
CERTA (PNAIC): AS VOZES DE PROFESSORAS SOBRE
A FORMAÇÃO CONTINUADA E AS PRÁTICAS
ESCOLARES EM MATEMÁTICA
CUIABÁ-MT
2017
IEDA MARIA VALLE MONTEIRO CALLEJAS
PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA
(PNAIC): AS VOZES DE PROFESSORAS SOBRE
A FORMAÇÃO CONTINUADA E AS PRÁTICAS
ESCOLARES EM MATEMÁTICA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito para
obtenção do título de Mestre em Educação, linha de pesquisa
Educação em Ciências e Educação Matemática.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Rute Cristina Domingos da Palma
CUIABÁ-MT
2017
AGRADECIMENTOS
A Deus, meu bom Pai amoroso e soberanamente justo por excelência, a que devo a
vida. Aos meus pais, Alfredo (in memorian) e Lenice, que me oportunizaram a vinda a
presente existência e me ofertaram os melhores exemplos de retidão de caráter, e aos meus
irmãos, que contribuíram com meu crescimento humano.
À família que eu e Osvaldo constituímos: Eduardo, Flávio, Rose Anne, Alfredo e
Angélica. Aos alunos que tive, que tenho e aos que ainda terei, pois sem eles a Educação não
teria sentido para mim.
À SME de Cuiabá, pelo afastamento remunerado para qualificação, possibilitando a
dedicação exclusiva ao mestrado, experiência esta que muito acrescentou ao meu crescimento
individual e profissional.
Ao professor Claudionor (in memorian), grande incentivador.
Em especial à minha orientadora, Rute Cristina, professora pela qual nutro admiração
e respeito, pelas grandes contribuições oferecidas a mim, enquanto pessoa e profissional
exemplar.
Às professoras Marta Maria Pontin Darsie e Loriege Pessoa Bittencourt pelo aceite
da participação nas bancas de qualificação e defesa, contribuindo com a ampliação e
aprofundamento das reflexões acerca do objeto de pesquisa.
Às amigas do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Ciências e Educação
Matemática: Elenir, Vani, Lezi, Suellene, Micheli por compartilharem o caminho a ser
trilhado de forma amiga e paciente.
Às amigas que compartilharam grandes momentos ao longo desses dois anos, Marcela
e Lenir (irmãs queridas e prestativas), e Daniela (papai) que se juntou ao grupo de forma tão
natural e espontânea trazendo um novo colorido com sua jovialidade e bom humor.
Em especial à minha irmã mais nova, Jaqueline (que por algumas vezes foi minha
filha, outras foi minha mãe), nos momentos que atravessamos, desde o ingresso no Mestrado
como alunas especiais. Aprendi com ela que a aparência frágil pode esconder uma força capaz
de vencer o mundo com determinação, foco, trabalho e muita fé em Deus.
Enfim, a todos aqueles que partilharam e compartilham comigo na presente existência.
RESUMO
A presente pesquisa visa investigar “o que dizem as professoras sobre o Pacto Nacional Pela
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e os processos de ensinar e aprender Matemática no
primeiro ciclo do EF”. O PNAIC é um programa instituído pelo governo federal por meio da
Lei 12.801/2013, tendo como eixo principal a formação continuada de professores, com o
objetivo de alfabetizar em Linguagem e Matemática as crianças até oito anos de idade, ao final
do primeiro ciclo do Ensino Fundamental. Os referenciais que respaldam a investigação e
análise de dados se pautam nos estudos sobre a Matemática na infância, em D’Ambrósio
(1999, 2004); Nacarato, Mengali e Passos (2011); Moura (2007, 2010) e Palma (2010). Nas
discussões sobre a formação continuada, referendamo-nos em Nóvoa (1992); Garcia (1999);
Imbernón (2010); Tardif (2009) e Gatti (2011). A pesquisa se configura numa abordagem
qualitativa do tipo estudo de caso, apoiada nos estudos de Bogdan e Biklen (1994) e Stake
(2012). Foram investigados os relatos de três professoras efetivas da rede municipal de ensino
de Cuiabá-MT, que atuam nos 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental. As fontes de produção
de dados foram os questionários de caracterização, observações com registros em diários de
campo, entrevistas semiestruturadas e documentos escolares. Na realização das análises,
organizamos os dados em três eixos: O que as professoras dizem sobre suas trajetórias
profissionais; As vozes das professoras sobre a formação do PNAIC Matemática e As vozes
das professoras sobre as práticas escolares e o processo de aprender e ensinar Matemática após
a formação do PNAIC. Os dados indicam que as professoras apontam aspectos positivos no
tocante às contribuições da formação, a partir de elementos comuns, como: a organização dos
direitos de aprendizagem, a organização das aulas a partir da sequência didática e a
contribuição dos jogos no processo de ensino e aprendizagem. Os destaques dos relatos foram
para os jogos e a sequência didática, e ambos carecerem de mais estudos e reflexões para sua
consolidação na prática pedagógica das professoras. As mesmas tecem críticas quanto ao
desenvolvimento da formação, o pouco tempo destinado à realização das atividades
programadas e a articulação com os gestores escolares, bem como a demora de acesso aos
cadernos de atividades. A partir disso, concluímos que, para que um programa de formação
continuada se efetive é necessário partir das necessidades apresentadas pelos próprios
professores. Além disso, o coordenador pedagógico deve assumir papel central de articulador
das ações formativas de modo a promover o desenvolvimento da equipe pedagógica como um
todo.
Palavras-chave: PNAIC Matemática; Formação Continuada; Relato de Professoras
ABSTRACT
The present research aims to investigate "what the teachers say about the National Pact for
Literacy in the Right Age (PNAIC) and the processes of teaching and learning Mathematics
in the first cycle of EF". The PNAIC is a program established by the federal government
through Law 12,801 / 2013, with the main focus being the continuing education of teachers,
with the aim of teaching children and adolescents up to the age of eight at the end of the first
cycle of Elementary School. The references that support the investigation and analysis of data
are based on the studies on Mathematics in childhood, in D'Ambrósio (1999, 2004); Nacarato,
Mengali and Passos (2011); Moura (2007, 2010) and Palma (2010). In discussions about
continuing education, we refer to Nóvoa (1992); Garcia (1999); Imbernón (2010); Tardif
(2009) and Gatti (2011). The research is based on a qualitative approach of the case study
type, supported by studies by Bogdan and Biklen (1994) and Stake (2012). We investigated
the reports of three effective teachers of the municipal education network of Cuiabá-MT, who
work in the 1st, 2nd and 3rd years of elementary school. As sources of data production with
characterization questionnaires, observations with records in field diaries, semi-structured
interviews and school documents. In conducting the analyzes, we organized the data into three
axes: What as a teacher about your career prospects; As voices of the teachers about a
formation of the PNAIC Mathematics and The voices of the teachers about the school
practices and learning processes and to teach Mathematics after a formation of the PNAIC.
The data indicate that as teachers they point out positive aspects, such as: an organization of
learning rights, an organization of lessons from the didactic sequence and the contribution of
teaching games to learning. The highlights of the reports were for the games and the didactic
sequence, both of which lack further studies and reflections for their consolidation in the
pedagogical practice of the teachers. They criticize the development of the training, the short
time allocated to carry out the planned activities and the articulation with the school managers,
as well as the delay in access to the activity books. From this, we conclude that for a continuing
training program to be effective it is necessary to start from the needs presented by the teachers
themselves. In addition, the pedagogical coordinator must assume a central role as articulator
of the formative actions in order to promote the development of the pedagogical team as a
whole.
Keywords: PNAIC Mathematics; Continuing Education; Teacher Report.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Caderno do PNAIC - Matemática ....................................................................... 71
Figura 2 – Atividades livro didático ................................................................................... 134
Figura 3 – Avaliação diagnóstica ....................................................................................... 139
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimentos dos Componentes Curriculares ...... 45
Quadro 2 - Eixos Estruturantes de Matemática .................................................................. 45
Quadro 3 - Os cincos Direitos de Aprendizagem em Matemática ..................................... 68
Quadro 4 - Eixos Estruturantes e Objetivos dos Direitos de Aprendizagem ...................... 69
Quadro 5 - Caracterização da escola ................................................................................... 79
Quadro 6 - Síntese da caracterização das professoras participantes da pesquisa ............... 81
Quadro 7 - Questionários, estruturas e finalidades ............................................................. 83
Quadro 8 - Inventário dos dados da pesquisa ..................................................................... 88
LISTA DE SIGLAS
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
ES Entrevista Semiestruturada
GESTAR Programa de Gestão de Aprendizagem Escolar
GGEPs Grande Grupo de Estudo e Pesquisa
IES Instituição de Ensino Superior
MEC Ministério da Educação e Cultura
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
PDE Programa de Desenvolvimento da Escola
SME Secretaria Municipal de Educação
THC Teoria Histórico-Cultural
UFMT Universidade Federal de Mato Grosso
UNEMAT Universidade do Estado de Mato Grosso
UNESP Universidade Estadual Paulista
UNIR Universidade de Rondônia
PNAIC Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa
OE Orientador de Estudo
PF Professor Formador
PA Professor Alfabetizador
EM Educação Matemática
IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
EI Educação Infantil
AI Anos Iniciais
EF Ensino Fundamental
OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
PISA Programme for International Student Assessment
CNE Conselho Nacional de Educação
CEC Conselhos Escolares Comunitários
MCR Matriz Curricular de Referência
ENEM Exame Nacional do Ensino Médio
LDB Lei de Diretrizes e Bases de Educação Nacional
PNE Plano Nacional de Educação
PROFA Programa de Gestão da Aprendizagem Escolar
PNLD Programa Nacional do Livro Didático
PNBE Programa Nacional Biblioteca na Escola
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INEP Instituto Nacional de Estudo e Pesquisa Anísio Teixeira
TCA Programa Toda Criança Aprendendo
ANA Avaliação Nacional da Alfabetização
BDTD Biblioteca Digitais Teses e Dissertações
IPE Implementação Pedagógica de Ensino
PPGE Programa de Pós Graduação em Educação
PHC Pedagogia Histórico- crítica
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
HÁ Hora- atividade
SBEM Sociedade Brasileira de Educação Matemática
DC Diário de Campo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 12
1 A MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS: FINALIDADES, DESAFIOS E
POSSIBILIDADES .............................................................................................................. 25
1.1 A finalidade da Matemática no contexto escolar nos anos iniciais ....................... 25
1.2 O processo de aprender e ensinar Matemática e a construção dos conhecimentos
matemáticos ..................................................................................................................... 29
1.3 A Matemática escolar: desafios e possibilidades ................................................... 33
1.4 Orientações curriculares para as práticas pedagógicas em Matemática ............ 41
1.5 A proposta de organização do Ensino Fundamental na Rede Pública Municipal
de Cuiabá ..........................................................................................................................46
2 A FORMAÇÃO INICIAL E A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES
QUE ENSINAM MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS .............................................. 48
2.1 A Formação Inicial de Professores que ensinam Matemática nos Anos Iniciais . 48
2.2 A Formação Continuada de professores dos Anos Iniciais ................................... 56
2.3 O Pacto Nacional pela Idade Certa da Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) . 65
3 O PERCURSO METODOLÓGICO .............................................................................. 73
3.1 A opção metodológica................................................................................................ 73
3.2 O Estudo de Caso....................................................................................................... 75
3.3 O contexto e as professoras participantes da pesquisa .......................................... 77
3.4 Caracterizações da escola ......................................................................................... 79
3.5 Caracterizações das professoras participantes ....................................................... 80
3.6 As fontes, os instrumentos e procedimentos de produção de dados da pesquisa 82
3.7 Organização dos dados para leitura e compreensão da pesquisa ......................... 88
4 AS VOZES DAS PROFESSORAS SOBRE A FORMAÇÃO DO PNAIC E OS
PROCESSOS DE ENSINAR E APRENDER MATEMÁTICA ...................................... 90
4.1 O que as professoras dizem sobre suas trajetórias acadêmicas e profissionais ... 91
4.2 as vozes das professoras sobre a formação do PNAIC Matemática .......................99
4.2.1 Sobre a dinâmica da formação ........................................................................99
4.2.2 O processo no formativo PNAIC e a articulação com as equipes gestoras das
escolas .................................................................................................................. 102
4.2.3 Os conteúdos matemáticos na formação do PNAIC .................................... 109
4.2.4 As contribuições do PNAIC Matemática: o jogo e a sequência didática ..... 112
4.3 As vozes das professoras sobre as práticas escolares e o processo de aprender e
ensinar Matemática após a formação do PNAIC Matemática ................................. 122
4.3.1 As finalidades da Matemática nas vozes das professoras ............................. 124
4.3.2 Como a criança aprende ................................................................................ 126
4.3.3 Os conteúdos matemáticos a serem encaminhados ...................................... 128
4.3.4 O planejamento das aulas da Matemática ..................................................... 130
4.3.5 A avaliação da aprendizagem dos alunos ..................................................... 138
4.3.6 Influências do PNAIC Matemática nas práticas pedagógicas ...................... 140
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ..................................................................................... 143
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 147
APÊNDICES ....................................................................................................................... 159
12
INTRODUÇÃO
O ensino da Matemática vem se destacando nas discussões, que abordam temas como,
o currículo, a avaliação e as práticas pedagógicas. Disso, decorrem debates que revelam
preocupação, nas diversas esferas institucionais, especialmente após a grande repercussão das
avaliações em larga escala, que revela o desempenho dos alunos no percurso de escolarização.
Não se pode falar em melhoria da Educação e no bom desempenho dos alunos
baseando-se apenas nos resultados das avaliações, sem reportarmo-nos às políticas públicas,
às condições objetivas de trabalho, às reformulações curriculares, bem como à formação
inicial e continuada dos professores que ensinam Matemática.
Após realizar toda a escolarização em escolas públicas estaduais, concluí o ensino
médio em 1982, na antiga Escola Técnica Federal de Mato Grosso, no curso de Secretariado.
Embora desejasse ter cursado o magistério - pois já sentia inclinação para a docência, mas não
foi possível realizá-lo por impedimentos alheios à minha vontade.
No ano seguinte, ingressei no curso de Letras da Universidade Federal de Mato
Grosso, o qual não foi possível concluir por ter optado por outros caminhos.
Retornei anos depois para cursar Pedagogia numa instituição privada, onde despertou
em mim o interesse pela Matemática, vista pela primeira vez, sob uma nova perspectiva
metodológica de ensino, além da tradicionalmente vivenciada no período escolar. Em
seguida, fui aprovada no concurso público de uma rede municipal de ensino, onde comecei a
lecionar nos anos iniciais do Ensino Fundamental (EF).
Nesse mesmo período, participei da formação continuada ofertada pela rede, pautada
pelos estudos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1997) e pelo Programa
Gestar1, cujas lacunas deixadas pela formação inicial não foram extintas; todavia, algumas
alternativas metodológicas contribuíram muito com a minha prática em sala de aula.
Anos após, trabalhei numa instituição privada de ensino superior, em que
acompanhava o estágio supervisionado de licenciandos, inclusive de Matemática, e fui
familiarizando-me cada vez mais com a disciplina. Com a intenção de complementar a minha
1 Gestar-Programa Gestão da Aprendizagem Escolar. Instituído pelo governo federal por meio do MEC, no ano
de 2003. Apresenta-se como um conjunto de ações articuladas a serem desenvolvidas com professores
habilitados para atuar da 1a à 4a série ou do 2o ao 5o ano do Ensino Fundamental, que estejam em exercício nas
escolas públicas do Brasil. Nesse contexto, o GESTAR I tem a finalidade de contribuir para a qualidade do
atendimento ao aluno, reforçando a competência e a autonomia dos professores na sua prática pedagógica.
13
formação, realizei o curso, em nível de especialização, Fundamento, Didática e Docência do
Ensino Superior.
Nova pausa na carreira profissional e o retorno só se deu via concurso público, no ano
de 2011, na rede municipal de ensino de Cuiabá, onde recomecei a lecionar no Ensino
Fundamental e realizei também diversos cursos de formação continuada, oferecidos pela rede,
como o Programa de Implementação Pedagógica de Ensino (IPE) (em Matemática), o
Programa Roda de Conversa e o curso de Iniciação ao Uso de Tecnologia na Educação.
No ano de 2013 iniciei a participação no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
Certa (PNAIC), em Linguagem. Nessa ocasião, as inquietações com relação à formação
continuada de professores, começaram a mobilizar-me nas buscas pelo melhor entendimento
e ampliação dos conhecimentos oferecidos pelo programa, pois meu objetivo sempre foi a
melhoria da qualidade do trabalho desenvolvido no âmbito do processo de ensino e
aprendizagem, e desenvolvimento profissional.
Nesse movimento de busca por compreensão da proposta e de melhorar a prática,
comecei, então, a pesquisar na internet e encontrei o programa de formação continuada
Alfabetização no Tempo Certo2, de Minas Gerais, que me estimulou ainda mais para a
continuidade dos estudos. Constatei as inúmeras possibilidades com vistas a ampliar as
práticas escolares, como complementação à proposta oferecida pelo PNAIC, já que o referido
programa vinha desenvolvendo proposta semelhante, de forma mais abrangente e há mais
tempo.
Em 2014 participei da formação do PNAIC Matemática e, embora percebesse as
primeiras contribuições do programa, sentia que faltava mais embasamento teórico e
metodológico, visto que a formação era tratada de forma aligeirada, nos encontros semanais,
e precisávamos desenvolver atividades semelhantes com os alunos, independente do
planejamento que já tínhamos estabelecido no calendário escolar. Essas atividades não
estavam sintonizadas com a matriz curricular da SME – que deveria ser cumprida – e com o
planejamento anual, já aprovado pela coordenação escolar, em pleno desenvolvimento.
Diante das inquietações e dilemas, buscava respostas sobre as contribuições (ou não)
dos programas de formação continuada. Causava-me estranheza o montante de recursos
alocados e a insignificante melhora nos resultados das avaliações locais e as realizadas em
larga escala, revelando a baixíssima proficiência dos alunos, principalmente, em Matemática.
2 Alfabetização no Tempo Certo. Programa implantado pelo CEALE-MG.
14
Nesse contexto, alguns aspectos chamaram-me atenção com relação ao Programa do
Pacto, dentre eles, a ausência das coordenadoras pedagógicas das escolas na formação, o
pouco ou quase nenhum espaço para a articulação com os pares no espaço escolar, e o não
envolvimento da comunidade escolar. Assim, ausente das discussões por não participar da
formação, a coordenadora pedagógica não conseguia acompanhar o desenvolvimento das
orientações e atividades solicitadas às professoras pelo Orientador de Estudos (OE) do
PNAIC3.
E os questionamentos continuavam, a exemplo de: Como poderia ser garantida a
continuidade das propostas tratadas nas formações, nas práticas escolares, principalmente na
Matemática, após a formação? Como seriam os anos subsequentes à formação? Como se daria
a (re)organização curricular na sequência? Quais intervenções deveriam ser instituídas às
turmas que não avançassem? Como entender a importância dos conhecimentos matemáticos
nos anos iniciais e o papel do professor que ensina?
Nesse movimento, ainda participando da formação do PNAIC em Matemática, tomei
conhecimento do Edital do Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE-
UFMT), na linha de Educação em Ciências e Educação Matemática, em que vislumbrei a
possibilidade de participar, com o objetivo de aprofundar os conhecimentos sobre a formação
continuada em Matemática. O ingresso no programa se deu no ano seguinte, após os trâmites
legais do processo para o ingresso.
Assim, surgiu o interesse pelo o objeto de pesquisa do presente trabalho, a formação
continuada de professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
A partir disso, fomos4 delimitando as leituras e o diálogo para chegarmos ao problema
de nossa pesquisa, compreendendo a importância de dar voz às professoras alfabetizadoras,
raramente ouvidas, que participaram da formação, e buscar responder: “O que manifestam as
vozes de professoras sobre a formação do Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa
e os processos de ensinar e aprender Matemática no primeiro ciclo do Ensino Fundamental”?
Na intenção de compreender o objeto de estudo em tela realizamos um levantamento
das produções científico-acadêmicas brasileiras relativas ao programa federal Pacto Nacional
Pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC Matemática) nos programas de Pós-Graduação em
Mestrado e Doutorado oferecidos no Brasil, nas redes pública e privada.
3 Uso no presente trabalho as terminologias Pacto, Pacto Matemática e PNAIC para identificar o Pacto Nacional
Pela Alfabetização na Idade Certa, programa do Governo Federal (MEC, SEB, 2013). 4 A partir desse momento do texto adoto o uso do pronome de tratamento “nós”, sinalizando a entrada na
produção da pesquisa propriamente, que possui uma natureza de formação pessoal, com inspiração no coletivo.
15
O período referente às pesquisas abrange os anos de 2014 a 2016. As pesquisas são
disponibilizadas por meio eletrônico (internet), localizadas no site da Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), portal que abriga a produção de teses e
dissertações.
Dessa forma realizamos as buscas, utilizando os descritores: PNAIC Matemática,
Educação Matemática e Formação Continuada.
Localizamos 15 Dissertações e nenhuma Tese, e a partir da leitura dos respectivos
resumos, destacamos: o autor e o título, a instituição de ensino, o ano de produção, os objetivos
e/ou problemas de pesquisa, a metodologia utilizada e um resumo dos resultados obtidos.
Ao realizarmos o mapeamento das produções, observamos que diferentes temas
investigados poderiam ser agrupados por eixos temáticos e, dessa forma, foi possível conhecer
as nuances das discussões em torno da formação continuada de professores que ensinam
Matemática no Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa. Assim, organizamos os
dados em três eixos temáticos: Eixo 1 – Contribuições do PNAIC Matemática às práticas
pedagógicas, Eixo 2 – A formação continuada e as políticas educacionais e Eixo 3 - As
metodologias e eixos matemáticos no processo de ensino e aprendizagem.
A seguir, apresentamos uma síntese dos eixos temáticos de investigação, de acordo
como o que foi apurado nas dissertações que versaram sobre o tema em foco:
Eixo 1 – Contribuições do PNAIC Matemática às práticas pedagógicas. Nesse eixo,
constam as pesquisas de Santos (2016), Silva (2015), Ferreira (2015), Santos (2015) e Lima
(2015). Todas as produções abordam as contribuições trazidas pelo PNAIC Matemática às
práticas pedagógicas dos professores participantes da formação no ano de 2014.
Nas produções constantes no Eixo 1, trazemos a dissertação de Santos (2016), que
buscou responder, qual o lugar dos saberes experienciais dos professores alfabetizadores na
proposta e nas práticas de formação continuada, promovidas pelo PNAIC nos anos de 2013 e
2014. Para isso, a pesquisadora analisou os Cadernos de Linguagem e de Matemática que
orientaram a formação. Observou e gravou a formação de um grupo de orientadores de estudos
e de professores alfabetizadores num polo de formação. A pesquisa de cunho qualitativo
destaca que os saberes experienciais dos professores são apresentados em três dimensões: o
que se lê, como experiência bem sucedida de professores alfabetizadores nos cadernos de
formação, e as atividades que os professores em formação são chamados a realizar; o que se
vê e ouve, na condição de socialização de experiências entre os professores alfabetizadores
nos encontros de formação e nas tarefas para casa e escola, nas discussões de temas contidos
nos cadernos de formação e nos trabalhos em grupo. E conclui que, mais do que uma
16
oportunidade de reconhecer e sistematizar os saberes da experiência, o programa propõe a
reflexão sobre a prática desses professores.
Silva (2015) investigou em que termos os saberes docentes são mobilizados a partir da
formação continuada de professores alfabetizadores e como ela é tecida em torno dos saberes
docentes mobilizados na/da prática de alfabetização. Utilizou como metodologia a pesquisa
qualitativa de análise textual discursiva, ao investigar cinco professoras alfabetizadoras. O
autor aponta que a construção das informações se deu a partir dos registros das atividades
realizadas pelas professoras durante os encontros de formação, dos seus relatórios de prática
e dos seus relatos de experiência. Ao concluir, afirma que a partir da formação continuada e
da ação educação educativa cotidiana os elementos mobilizam uma pluralidade de saberes:
saberes da experiência, saberes do conteúdo, saberes pedagógicos, saberes curriculares e
saberes da ciência da educação, os quais considera serem necessários à prática de
alfabetização matemática.
Santos (2015), elaborou recomendações aos Coordenadores Pedagógicos para auxiliá-
los a promover (ou ressignificar) a formação em serviço com os professores do Ciclo de
Alfabetização. Para tanto, os Coordenadores deveriam apoiar-se nos conhecimentos e
habilidades construídos pelos professores nos processos de formação realizados no PNAIC,
para qualificar a aprendizagem dos alunos em sala de aula. A autora realizou uma pesquisa
qualitativa com base em pesquisa documental, bibliográfica e nas vivências do participante
do pesquisador. Traz recomendações elaboradas, embora representem um primeiro esforço de
sistematização da questão, que podem representar elementos de reflexão e de eventual
mudança na prática dos coordenadores pedagógicos e dos professores. Considera também que
os objetivos propostos foram atingidos, embora reconheça que o tema inclua múltiplos olhares
e inúmeras tarefas a se realizarem, bem como afirma que quanto mais aprofunda os estudos e
analisa as práticas escolares, mais reconhece que esta questão ainda aguarda a devida atenção
das políticas públicas, voltadas à capacitação e formação continuada do coordenador
pedagógico.
Lima (2016) analisou as práticas de ensino de Matemática de três professores
alfabetizadores que participaram do processo de formação continuada no âmbito do PNAIC,
em 2014. A autora identificou os conhecimentos pedagógicos gerais e pedagógicos do
conteúdo e do currículo, mobilizados por esses professores, caracterizando as formas de
organização de ensino presentes nas aulas de Matemática. Fundamentou-se nos pressupostos
teóricos dos estudos de Lee S. Schulman, tendo realizado pesquisa qualitativa de caráter
exploratório, do tipo estudo de caso. Ao concluir, sinaliza que a prática do professor é singular
17
e tem sido pouco guiada pelos elementos que deveriam ser norteadores da atividade docente:
planejamento e currículo. Complementa que o professor precisa desenvolver sua prática com
base no conhecimento de novas estratégias que ultrapassem a apropriação do ensino de outras
áreas de conhecimento em detrimento da Matemática, na maior ênfase em um bloco de
conteúdo e no trabalho que perceba e envolva a Matemática além da que é trabalhada formal
e explicitamente. Conclui que a referida disciplina poderia ser mais adequadamente explorada
e abordada, pois questões: culturais, sociais e econômicas que permeiam a educação no Brasil
e impossibilitam seu bom desenvolvimento devido à complexidade e interesses envolvidos,
pontuar e solucionar os reais problemas, não devendo o professor carregar sozinho a culpa
pelas falhas educacionais.
Ferreira (2015) ouviu os professores para conhecer como o ensino de Matemática vem
sendo desenvolvido nos anos iniciais, antes e após a participação no PNAIC Matemática, no
semiárido sergipano. A autora realizou um estudo de caso, com abordagens qualitativa e
quantitativa. Num primeiro momento, buscou as concepções dos professores sobre a própria
prática de ensino de matemática, antes da participação no PNAIC Matemática; num segundo
momento, tratou das concepções desses professores, após a formação do PNAIC.
Resumidamente, aponta que os participantes da formação sentiram-se mobilizados a refletir
sobre suas práticas de ensino, e sobre a forma como se relacionam com a Matemática, além
da relação estabelecida com os alunos. Destaca algumas críticas relacionadas ao programa,
como: o difícil acesso aos polos de formação, o atraso na entrega dos materiais e,
principalmente, a ausência da equipe diretiva da escola, na formação. Recomenda também
que a formação continuada precisa ser repensada, reformulada, para que tenha maior
aproveitamento e mobilização que altos investimentos de formação desse porte requerem.
As cinco pesquisas apresentam diferentes enfoques sobre as contribuições do PNAIC
Matemática, pois propõem a necessidade da ampliação da reflexão sobre a prática docente; a
mobilização da pluralidade de saberes: saberes da experiência, saberes do conteúdo, saberes
pedagógicos, saberes curriculares e saberes da ciência da educação; a ampliação da reflexão
e eventual mudança na prática dos coordenadores pedagógicos e dos professores, dos
conteúdos que envolva a Matemática, como a necessidade de se repensar, reformular a
formação continuada para que tenha maior aproveitamento e mobilização que os altos
investimentos de formação desse porte requerem.
Eixo 2 – A formação continuada do PNAIC Matemática e as políticas educacionais.
Nesse eixo, Mindiate (2015) e Rosa (2016) apresentam discussões sobre as políticas
educacionais brasileiras e a relação com a formação continuada do PNAIC Matemática.
18
A produção de Mindiate (2015) traçou um perfil de uma política brasileira que tem
como foco a educação e, em particular, a alfabetização matemática na perspectiva do
letramento, de crianças até o 3º ano do EF, centrando-se nas ações do PNAIC. Investigou, a
partir de documentos oficiais, fontes bibliográficas e lançou mão de procedimentos da história
oral temática, com entrevistas transcritas e textualizadas, registrando o que dizem os quatro
pesquisadores que participaram da formulação e implementação dessas políticas, ou que
podem fazer considerações críticas a respeito delas. Estão registradas em sua pesquisa
algumas narrativas sobre a gênese de políticas públicas e algumas formas de compreendê-las
de modo crítico, podendo contribuir para a formulação de novas políticas que tenham como
finalidade resolver os problemas sociais dos povos.
Rosa (2016) abordou o tema das políticas de formação continuada de professores no
Brasil e analisou condições e fatores que implicam a existência (ou não) de sintonia entre os
objetivos, opções e práticas delineadas pelos PNAIC, para o eixo formação continuada e as
demandas e expectativas de professores participantes. Em termos teórico-metodológicos a
pesquisa foi orientada por uma abordagem crítica de investigação e dinamizada com base em
pressupostos da pesquisa qualitativa. Contou também com pesquisa documental, com ênfase
em documentos legais oriundos do governo federal, com entrevistas semiestruturadas
associadas a uma sessão de grupo focal com profissionais do magistério da educação básica,
participantes da formação continuada, oportunizada pelo PNAIC. A partir disso, conclui que
os sujeitos locais consultados avaliam positivamente a adesão ao PNAIC, pois considera o
modelo de formação continuada um avanço no processo formativo, embora os problemas de
percurso de ordem operacional tenham sido enfrentados pela rede municipal, de modo a
salvaguardar o andamento dos trabalhos. E finaliza pontuando que os objetivos, opções e
práticas delineadas para o eixo da formação continuada de professores, em função dos fins
almejados pelo PNAIC, encontram-se atualmente sintonizados com expectativas e demandas
dos professores da rede pesquisada, embora essa sintonia tenha sido sentida somente com o
passar do tempo.
As duas investigações sobre o PNAIC Matemática apontam e registram algumas
narrativas sobre a gênese de políticas públicas e algumas formas de compreendê-las de modo
crítico podendo contribuir para a formulação de novas políticas que tenham como finalidade
resolver os problemas sociais dos povos; e as políticas educacionais, que os objetivos, opções
e práticas delineadas para o eixo da formação continuada de professores, em função dos fins
almejados pelo Pacto, encontram-se atualmente sintonizado com expectativas e demandas dos
professores da rede pesquisada.
19
No Eixo 3 - As metodologias e eixos matemáticos no processo de ensino e
aprendizagem. O eixo referido compreende as pesquisas de Martins (2015), Costa (2015),
Pereira (2016), Santos (2016), Zuge (2015), Júnior (2015) e Souza (2014). Nele, estão
reunidas as produções que envolveram o lúdico, a Sequência Didática e os eixos matemáticos,
os conteúdos de Números e a Geometria, que foram contemplados pelo PNAIC Matemática.
Martins (2015) investigou, sob a forma de um texto dramático, episódios e cenas, que
versavam sobre a Alfabetização Matemática no Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade
Certa (PNAIC), com enfoque no letramento. Envolveu, dessa forma, professores e crianças
protagonistas do primeiro ciclo de alfabetização, com propósito de construir fontes orais sobre
o tema. Tais fontes foram construídas a partir de relatos a respeito das relações estabelecidas
com a Matemática pelos professores na infância, na formação acadêmica e na prática em sala
de aula, bem como as relações que estabelecem com os alunos, atualmente. Para a constituição
das fontes orais foram realizadas entrevistas baseadas na metodologia da História Oral
Temática. A autora finaliza a pesquisa dando voz às participantes que narram suas
experiências, estabelecendo relações e conexões, instituindo, desse modo, outro olhar, novos
sentidos e perspectivas sobre o tema.
Costa (2015), por sua vez, investigou a utilização das histórias infantis no trabalho
com a Matemática, nas salas de 1º ano do EF, em uma escola da rede municipal de Mogi
Mirim-SP, e as ações do PNAIC Matemática, disciplina que provoca tantos desafios aos
alunos para compreender as possíveis conexões entre o uso dos contos de fadas e a
aprendizagem Matemática Nessa pesquisa, a autora realizou observações sistemáticas da
rotina de uma classe nos momentos em que era trabalhada a literatura infantil com
aprendizagem Matemática. A mesma realizou as intervenções com crianças a partir da leitura
de três contos de fada: Os três porquinhos, João e o Pé de Feijão e Cachinhos Dourados, e
partiu da utilização de objetos disparadores para que as crianças desencadeassem processos
imaginativos. Como resultado, foi possível perceber os contos de fada, conforme uma
potencialidade na aprendizagem matemática. A partir dos diálogos estabelecidos, dos
diferentes materiais e propostas, as crianças avançaram matematicamente, inclusive ao
indicarem suas vivências fora do ambiente escolar.
Pereira (2016) investigou a importância do ensino da Geometria Espacial no Ciclo da
Alfabetização, contidos tanto nos PCN, como no PNAIC Matemática. Para isso, utilizou-se
de dois instrumentos de avaliação diagnóstica para alunos do 4º ano, aplicados no início e no
final da pesquisa, bem como um questionário para professores sobre a importância do ensino
da Geometria nos anos iniciais. Como resultado da pesquisa, destaca-se a necessidade de
20
resgate e valorização dos conteúdos clássicos da Geometria, em relação aos demais conteúdos
do currículo. Ademais, os dados revelam a precarização da formação inicial e continuada de
professores alfabetizadores. A partir desse contexto, desenvolveu uma Sequência Didática,
com base na metodologia da Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), como subsídio teórico e
metodológico aos professores alfabetizadores, na realização e cumprimento dos Direitos de
Aprendizagem das crianças, com os objetivos de promover a apropriação dos conceitos
científicos do campo da geometria espacial e resgatar os conceitos clássicos da Geometria
Espacial, via análise lógico-histórica, em face da desvalorização deles, optando por
desenvolvê-los já, a partir dos anos iniciais.
Santos (2016), em sua pesquisa, buscou elementos para responder qual a compreensão
de número é expressa por professores que ensinam Matemática no Ciclo de Alfabetização. O
autor realizou uma pesquisa qualitativa, desenvolvida em uma abordagem fenomenológica,
seguindo os procedimentos de produção e análise de dados, conforme Bicudo (2011a, 2011b).
Realizou um estudo inicial da região de inquérito, o número no ciclo de alfabetização
matemática, na perspectiva do PNAIC, em que trouxe uma compreensão fenomenológica de
número. Foram entrevistados seis professores. De acordo com a análise de dados, esses
professores compreendem número ora como código presente em situações cotidianas, ora
como quantidade que emerge das situações de quantificação.
Zuge (2015), por outro lado, investigou a formação de professores que ensinam
Matemática nos AI do EF a partir de discussões sobre o Sistema de Numeração Decimal, no
contexto de um grupo de trabalho de Orientadoras de Estudos do PNAIC Matemática. A
autora acompanhou os encontros de formação continuada presenciais, nos quais foi abordado
o Sistema de Numeração Decimal em um grupo de trabalho. De igual forma, realizaram-se
sessões reflexivas com professores Orientadores de Estudos desse grupo de trabalho,
aplicando-se um questionário para levantar indicativos do que esses professores pensam sobre
o Sistema de Numeração Decimal e seu ensino. A partir dos dados oriundos dos encontros,
foram realizadas as análises e concluiu-se que espaços de formação, como os oportunizados
pelo PNAIC, podem se constituir em espaços de aprendizagem da docência para os
professores envolvidos, em especial se desenvolverem atividades formadoras que
proporcionem o acesso ao conhecimento matemático em decorrência de um processo lógico
histórico. De igual forma, haverá aprendizagem na docência se promoverem discussões sobre
a organização do ensino com enfoque no aprendizado do aluno e favorecerem o
desenvolvimento coletivo do grupo a partir da compreensão do papel fundamental das
relações sociais no desenvolvimento do indivíduo.
21
Júnior (2015), na pesquisa seguinte, identificou os saberes docentes anunciados por
um grupo de professoras dos AI do EF, vinculadas ao PNAIC Matemática, por meio do
planejamento circunstanciado por uma reflexão coletiva e realização de uma atividade de
Geometria desenvolvida em sala de aula. A pesquisa foi qualitativa, do tipo pesquisa-ação,
tendo em vista a proposta de uma intervenção no grupo pesquisado. O autor apresentou
contribuições para a continuidade da discussão dos saberes docentes no contexto educacional
que valorizem a voz do professor dos AI do EF. E. Ao concluir, destaca os saberes docentes
anunciados pelas professoras decorrentes da formação profissional, bem como os saberes
disciplinares, curriculares e experienciais nas narrativas analisadas. Aponta também
indicativos para a formação continuada docente no que dizem respeito à postura reflexiva do
profissional. Inclui em suas análises conclusivas, ainda, a questão do saber experiencial como
um saber importante a ser considerado nas pesquisas acadêmicas e nas próprias formações
continuadas de professores.
Souza (2014) relata que sua pesquisa foi uma contribuição ao PNAIC. O autor faz uma
apresentação de seus objetivos, suas estratégias e sua metodologia, usando como fonte de
informação a legislação vigente, que institui, regulamenta e normatiza o programa; na
sequência, faz uma abordagem do ponto de vista pedagógico dos cadernos de formação,
explicitando os conceitos e estratégias propostos pelo material que é utilizado como
bibliografia básica nos cursos de formação continuada de professores disponibilizados pelo
programa. E, por fim, faz a apresentação de uma Sequência Didática, elaborada com o objetivo
de contribuir para as formações dos formadores, orientadores de estudo e alfabetizadores do
PNAIC para todo o Brasil. O autor ainda disponibilizou dados dos acessos recebidos e de
downloads efetuados.
As sete dissertações reunidas nesse último eixo, apontam em síntese, a possibilidade
novos sentidos e perspectivas oferecidas pela formação, o avanço dos conhecimentos
matemáticos dentro e fora do ambiente escolar, a ampliação dos espaços de aprendizagens da
docência e conhecimentos matemáticos, bem como as questões relativas aos saberes
experienciais que devem ser considerados nas pesquisas acadêmicas e nas formações de
professores. Por outro lado, alguns resultados apontam para a precarização da formação inicial
e continuada de professores alfabetizadores e a compreensão acerca dos números presentes
em situações cotidianas, ora como quantidade que emerge das situações de quantificação.
Assim, partir do levantamento e leitura dos estudos que abordam a formação
continuada do Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC Matemática),
22
percebemos que a quantidade de produções se intensificou no último ano e que a ausência de
teses produzidas nesse período, pode se justificar pelo pouco tempo da referida formação. Daí
acreditarmos que muitas pesquisas dessa natureza estejam em andamento.
De modo geral, as pesquisas analisadas apontam para as contribuições do PNAIC
Matemática na formação dos professores e no processo de ensino e de aprendizagem, todavia,
em todos encontramos destaques à fragilidade, tanto da formação inicial quanto da continuada
dos docentes e, consequentemente, a ausência de conhecimentos básicos para os Anos Iniciais
do Ensino Fundamental, em Matemática. Destaca-se nesses estudos que as investigações
sobre os conhecimentos e as práticas dos professores, assim como aspectos relativos à
Educação Matemática, ainda precisam ser explorados. E é nesse contexto de produção
científica, que nossa pesquisa se insere.
Assim, a opção pelo trabalho com os relatos das professoras se deu pelo fato de ser
uma via que oportuniza as participantes da pesquisa, discorrerem sobre o que realmente
pensam sobre as experiências vivenciadas na formação do PNAIC em Matemática e o trabalho
pedagógico que vem realizando após a formação.
Compreendemos, dessa forma, os relatos como uma oportuna possibilidade de refletir,
e representar experiências, produzindo sentido acerca do que somos, fazemos, pensamos,
sentimos e dizemos.
Em nosso estudo, ouvimos os relatos das professoras alfabetizadoras que atuam nos
1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental numa escola municipal de Cuiabá, no sentido de que
suas vozes fossem potencializadas e descortinassem um panorama de como se deu a formação
continuada do PNAIC em Matemática. Realizamos o trabalho de ouvir as professoras sobre o
processo vivenciado, buscando captar os sentidos de cada uma sobre o que representou essa
formação em sua história de vida. Diante disso, elaboramos objetivos que nos aproximassem
de respostas ao nosso problema de pesquisa.
Assim, estabelecemos o objetivo geral, que é, analisar, a partir das vozes das
professoras participantes, como compreendem a formação do PNAIC, bem como à
organização e ao desenvolvimento dos processos de aprender e ensinar Matemática nos anos
iniciais. A partir do objetivo geral, delineamos os seguintes objetivos específicos:
Identificar uma escola em que todas as professoras do primeiro ciclo tivessem
participado da formação do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa-
Matemática;
23
Caracterizar o percurso acadêmico-profissional das professoras participantes
da pesquisa;
Investigar o que dizem as professoras sobre as aprendizagens e dilemas
vivenciados na formação do PNAIC- Matemática;
Analisar o que relatam as professoras sobre como compreendem a
aprendizagem e desenvolvem o ensino da matemática com as crianças do
primeiro ciclo.
A nossa opção foi pela pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso, tendo como fonte
de produção dos dados os questionários, as entrevistas semiestruturadas e documentos oficiais
e escolares (planejamentos, sequências didáticas e caderno de alunos).
Para alcançar tal objetivo na pesquisa organizamos o presente trabalho em quatro
capítulos.
No primeiro capítulo, intitulado “A Matemática nos anos iniciais: finalidades,
contextos e desafios”, tratamos brevemente da matemática no contexto, destacando as
finalidades, os processos de ensinar e aprender matemática, as propostas curriculares e os
desafios que enfrentam os professores para ensiná-la em um contexto social e educacional de
mudanças. Para fundamentar teoricamente o trabalho, pautamo-nos nos estudos de Moura
(2010); Palma (2010); Curi (2004); Nacarato, Mengali e Passos (2011), entre outros.
Já no segundo capítulo, “A formação continuada de professores que ensinam
Matemática nos anos iniciais”, dialogamos com as abordagens que permeiam a formação
inicial e continuada, pautados nos estudos de Imbernón (2010); Tardif (2009); Garcia (1999);
Fiorentini (2005); Gatti (2011) e Libâneo (2004), entre outros. Além disso, apresentamos, em
linhas gerais, o Programa Federal Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC
Matemática).
O terceiro capítulo, “O percurso metodológico”, apresenta a metodologia de pesquisa,
cuja opção foi a qualitativa do tipo estudo de caso, em que explanamos o percurso realizado.
Nele, dialogamos com Bogdan e Biklen (1994) e Ludke e André (2012).
A análise interpretativa da produção de dados é apresentada no quarto capítulo, sob o
título “Relatos de professoras sobre a formação do PNAIC e os processos de ensinar e
aprender matemática”, no qual traçamos o perfil das professoras alfabetizadoras da rede
municipal de Cuiabá, bem como realizamos a análise do que relatam as professoras sobre as
aprendizagens e dilemas vivenciados na formação do PNAIC- Matemática e o sobre como
24
compreendem e desenvolvem o ensino da matemática com as crianças do primeiro ciclo. E,
por fim, tecemos algumas considerações sobre a pesquisa.
25
1 A MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS: FINALIDADES, DESAFIOS E
POSSIBILIDADES
Compreendemos que, ao nascer, a criança vai sendo inserida em uma sociedade já
organizada, a qual necessita integrar-se de forma paulatina à medida que se desenvolve, para
atuar, criar, intervir e apropriar-se dos conhecimentos historicamente construídos. A
apropriação desses conhecimentos se dará na interação entre ela e os demais membros da
sociedade, cabendo primeiramente à família essa importantíssima tarefa e, consequentemente,
à escola e à sociedade, que podem e devem contribuir efetivamente com seu desenvolvimento,
integração e atuação no sentido de contribuir com a sociedade que a acolheu.
Assim, concebendo a Matemática como um dos conhecimentos produzidos ao longo
do desenvolvimento da humanidade, a escola assume o papel de destaque, tanto no processo
de ensino sistematizado da disciplina como na contribuição efetiva para o processo de
humanização do indivíduo.
Neste capítulo, apresentamos a Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
discorrendo sobre as finalidades, desafios e possibilidades presentes nessa etapa de
escolarização, para melhor compreensão desse processo. Como também as propostas de
mudanças contidas nos PCN, na LDB 9394/96 e nas Diretrizes Curriculares da Educação
Básica 2013.
1.1 A finalidade da Matemática no contexto escolar nos anos iniciais
Na busca pela compreensão sobre a finalidade da Matemática no contexto escolar
podemos destacar dois aspectos: o ensino da Matemática visa ao desenvolvimento do
raciocínio lógico matemático, ligado às faculdades intelectuais, que são potencializadoras para
que a criança pense matematicamente cada vez melhor, e, decorrente do primeiro, que ela
possa, a partir do desenvolvimento desses conhecimentos, exercer sua cidadania ao
compreender a realidade e nela poder intervir.
Diante disso, depreendemos que, aquele indivíduo que não domina o conhecimento
matemático não consegue fazer determinadas leituras, ou as realiza de forma parcial, e,
portanto, acaba tendo uma visão limitada do ponto de vista da economia, do comércio, da
política, dentre outros itens do contexto social no qual está, ou deveria estar inserido.
Nesse movimento, concordamos com D’Ambrósio (2011), quando afirma que a
Matemática escolar, longe de se resumir a um amontoado de números, nomes, e regras
26
simplesmente impostas, deve ser também uma prática cultural que possibilite ao aluno o
desenvolvimento da autonomia, da criatividade e da defesa de sua dignidade.
Sabemos que muitas mudanças ocorreram, e, buscando compreender como se deu o
processo de transformação pelo qual a Matemática passou e continua passando no contexto
humano ao longo da história, destacamos o surgimento, nos últimos quarenta anos, da
Educação Matemática (EM). Sobre o tema, encontramos os estudos de Fiorentini e Lorenzato
(2009), que sintetizam a Educação Matemática como sendo:
[...] Uma área de conhecimento das ciências sociais ou humanas, que estuda
o ensino e a aprendizagem da matemática. De modo geral, poderíamos dizer
que a EM caracteriza-se como uma práxis que envolve o domínio do
conteúdo específico (a matemática) e o domínio de ideias e processos
pedagógicos relativos à transmissão/assimilação e/ou à
apropriação/construção do saber matemático escolar. (FIORENTINI;
LORENZATO, 2012, p. 45).
Dessa forma, concordamos com D´Ambrósio (1993) a Matemática não se limita ao
seu aspecto utilitário, mas adquire um caráter formativo muito importante para o
desenvolvimento de alunos e professores, pois é concebida como meio ou instrumento que
assume papel importante na formação social e intelectual deles, oportunizando ao educador
matemático a promoção de uma educação pela Matemática e não mais para a Matemática.
Nessa perspectiva, o conhecimento matemático é visto como condição necessária para
que a criança se aproprie da cultura na qual está inserida, ou seja, apropriar-se da linguagem e
signos matemáticos para com eles, atuar, criar e intervir em seu contexto social. Conceber a
Matemática nessa perspectiva significa compreendê-la também como “produto cultural e
ferramenta simbólica, e a infância como condição histórico-cultural de ser do sujeito que
aprende” (MOURA, 2007, p. 41). O autor destaca a fragilidade da criança e que a ela sejam
garantidos “[...] os cuidados para que o novo sujeito não morra e que venha a constituir-se
adulto estabelecem um conjunto de acções que possam optimizar a vida do coletivo. Nesse
movimento, a criança coletiva-se e constrói a sua identidade”. (MOURA, 2007, p. 42). Portanto,
ela também é sujeito que produz e transforma conhecimento ao interagir em diferentes espaços
e tempos.
Assim sendo, quanto mais cedo for oportunizado o contato das crianças, por exemplo,
com as noções matemáticas, que fazem parte do seu dia a dia, melhor será o seu processo de
construção, que poderá se dar de forma lúdica e adequada à fase infantil, ensinada desde os
27
anos iniciais, ao que Moura (2007, p. 43) anui, “[...] a Matemática contempla o mundo da
criança e é parte do equipamento cultural, em que devemos possibilitar a criança apreender o
conhecimento matemático para que intervenha na construção de sua vida e do coletivo”. Daí a
importância de se estimular o trabalho com a Matemática nos anos iniciais da escolarização.
Além disso, disseminou-se, atualmente, a ideia estabelecida pelo senso comum de que
é preciso ensinar primeiramente as letras e os conteúdos da área da linguagem para, somente
depois, introduzir os conteúdos matemáticos, ao que Moretti e Souza (2015, p. 16) se
contrapõem, nos seguintes termos: “é possível pensarmos em processos de organização do
ensino que, ao mesmo tempo que considerem as especificidades da infância, favoreçam e
potencializem diferentes aprendizagens”. As autoras ainda enfatizam que “a criança não
aprende por “fatias” separadas por área do conhecimento, como também a prática escolar para
criança pequena deve priorizar situações de ensino nas quais diferentes conhecimentos, possam
se integrar” (MORETTI; SOUZA, 2015, p. 17).
Levando em consideração que a criança, nos primeiros anos, possui características
próprias dessa fase da vida, como a imaginação e a criatividade, mas que tende a sofrer fortes
influências do contexto onde está inserida, é importante que o professor conheça as
características dos alunos, além do domínio do conteúdo a ser desenvolvido, e que tenha clareza
em sua intencionalidade educativa, de modo que favoreça a organização das atividades de
ensino que propiciem a aprendizagem.
Assim, a escola é concebida como o espaço onde o ensino ocorre de forma organizada
e intencional, onde são estabelecidas as condições objetivas para que os alunos possam
apropriar-se dos conhecimentos historicamente produzidos pelo homem.
Compreendendo a importância da escola no desenvolvimento dos indivíduos, faz-se
necessário refletir também sobre a forma como esse ensino vem acontecendo.
Assim, Nascimento, Araújo e Migueis (2010), consideram a escola como:
[...] Um dos locais que deve trabalhar com a perspectiva de transformar o
senso comum em conhecimento científico, o pensamento empírico em
pensamento teórico, processo esse que, segundo a teoria histórico-cultural,
é o que transforma as funções psíquicas elementares em funções psíquicas
superiores (NASCIMENTO; ARAÚJO; MIGUEIS, 2010, p. 119).
Nesse sentido, assumir os princípios da perspectiva do desenvolvimento humano como
norteadores do processo educativo da escola, significa admitir uma nova possibilidade de
28
organização das práticas didático-pedagógicas dos professores. Isso significa uma ruptura
com as práticas de ensino pautadas em perspectivas simplesmente mecânica e/ou
reprodutivista, limitadoras das potencialidades inerentes ao aluno.
Consequentemente, diferente do que se acreditava no passado, em que o sujeito aprendia
de forma passiva, atualmente já se reconhece o sujeito na condição de produtor de
conhecimento, acreditando-se, conforme Rego (2012, p. 98), que ele “não é um receptáculo que
absorve e contempla o real nem portador de verdades oriundas do plano ideal”. Trata-se, sim,
de um sujeito ativo na sua relação com o mundo e, como seu objeto de estudo, constrói (no seu
pensamento) esse mundo. Em outras palavras, “[...] o conhecimento envolve sempre um fazer,
um atuar do homem” (REGO, 2012, p. 98).
Assim, construção do conhecimento matemático, de acordo com Moura (2007):
[...] é resultado da busca constante do homem por controlar o movimento
das quantidades, das formas e das relações entre estas e os números. O
motivo de ensinar a lidar com conhecimentos matemáticos e o modo de se
constituírem estes conhecimentos são o que é preciso para dar condições aos
sujeitos para realizarem uma das suas necessidades básicas desde o início da
humanidade: comunicar-se para dividir ações que propiciem melhores
condições de vida (MOURA, 2007, p. 60).
Para D’Ambrósio (2010), todo conhecimento é resultado de um longo processo
cumulativo de geração, de organização intelectual, de organização social e de difusão,
elementos naturalmente não contraditórios entre si e que influenciam uns aos outros.
O autor ainda nos explica, em outro estudo, que ao conhecermos, por exemplo, a história
da matemática no contexto social da humanidade podemos nos apropriar dos conhecimentos
matemáticos de maneira mais contextualizada, mais interdisciplinar, aproximando esse
conhecimento das situações cotidianas de modo mais criativo e humanizado. Assim sendo, tece
as seguintes considerações:
As ideias matemáticas comparecem em toda a evolução da humanidade,
definindo estratégias de ação para lidar com o ambiente, criando e
desenhando instrumentos para esse fim, e buscando explicações sobre os
fatos e fenômenos da natureza e para a própria existência. Em todos os
momentos da história e em todas as civilizações, as ideias matemática estão
presentes em todas as formas de fazer e de saber. [...] acredito que um dos
maiores erros que se pratica em educação, em particular na Educação
Matemática, é desvincular a Matemática das outras atividades humanas.
(D’AMBRÓSIO, 1999, p. 97).
29
Nesse movimento, integrar a Matemática às atividades humanas, faz-se necessário e
urgentes para tornar seu ensino e sua aprendizagem menos áridos para professores e alunos.
No próximo item destacamos alguns desafios e possibilidades referentes à Matemática
no contexto escolar.
1.2 O processo de aprender e ensinar Matemática e a construção dos conhecimentos
matemáticos
A Matemática tem se revelado nas narrativas das pessoas comuns, dissociada de sua
real importância, evidenciando muitas vezes um desconforto advindo de experiências
negativas, disseminando a ideia de que a sua aprendizagem é para poucos e de que a grande
maioria não consegue compreendê-la.
Segundo Amaral (2015),
A Matemática, no contexto escolar, assume representações contraditórias.
De um lado, o status de ciência milenar, cujas aplicações na vida cotidiana,
no mundo do trabalho e das ciências são reconhecidas por toda comunidade
escolar (pais, alunos e professores). Por outro lado, a imagem da Matemática
escolar, revelada nos depoimentos da maioria das pessoas, parece dissociada
da importância que a ela é atribuída. As experiências ruins e dificuldades
superam os relatos de sucesso e prazer. A Matemática escolar é apontada
como disciplina difícil, cuja aprendizagem é para poucos. (AMARAL, 2015,
p. 29).
Concepção e crença as quais não compartilhamos, muito embora reconheçamos que
o processo de aprender e ensinar Matemática nos anos iniciais não tem sido tarefa simples
para os professores que realizam essa prática.
De acordo com Megid (2009):
[...] os professores dos anos iniciais, até por conta dos fracassos e das falhas
que muitas vezes fizeram parte da sua trajetória de estudante, não se
permitem utilizar caminhos que não sejam os dos algoritmos e das atividades
guiadas, que dificilmente proporcionarão questionamento vindos dos alunos
que não possam ser prontamente solucionados por eles, professores
(MEGID, 2009, p. 14).
Tais procedimentos, apreendidos no período de escolarização, repercutem na prática
do professor, que, muitas vezes, não se sente seguro em realizar ações diferentes daquelas
30
vivenciadas, pois lhe falta o domínio conceitual e na utilização de recursos, ante a variedade,
disponível atualmente. Assim sendo, limita-se à repetição de exercícios, que são muitas vezes
desconexos e que na maioria das vezes servem apenas para preencher a carga horária da
disciplina.
Alro e Skovsmose (2010), denominaram esses procedimentos como “o paradigma do
exercício”, que é, sobretudo, dividido em duas partes: na primeira o professor explica o
conteúdo matemático com alguns exemplos – geralmente mais simples – e os alunos resolvem
os exercícios propostos, comumente reproduzidos de livros didáticos. Na segunda etapa o
professor faz as devidas correções, “que se limitam a verificar respostas certas ou erradas”
(ALRO; SKOVSMOSE, 2010, p. 51).
Retomando aos estudos de Nacarato, Mengali e Passos (2011), encontramos
concepções que os professores têm quanto à natureza da Matemática e quanto às perspectivas
do ensino e da aprendizagem, a saber: a Matemática como ferramenta, caracterizando uma
concepção utilitarista, em que prevalece o modo prescritivo de ensinar, enfatizando regras e
procedimentos; e a “Matemática como corpo estático e unificado de conhecimento” –
aproximando-se de uma perspectiva platônica, decorrendo dessa “o ensino com ênfase nos
conceitos e na lógica dos procedimentos matemáticos” (NACARATO; MENGALI; PASSOS,
2011, p. 24-25).
Em ambos os modelos, segundo as autoras, o professor desempenha o papel de
instrutor que determina o que fazer e os alunos apenas executam, evidenciando um processo
de ensino centrado nele. O aluno é considerado apenas um sujeito passivo que aprende o
conteúdo pela verbalização do professor, pela mecanização e pela repetição de exercícios e
procedimentos.
Denominada ensino tradicional, essa abordagem se configura basicamente na
transmissão e na aprendizagem do aluno pelo acúmulo de informações. Quanto à metodologia
praticada, de acordo com Mizukami (1986, p. 15): “baseia mais frequentemente em aula
expositiva e nas demonstrações do professor à classe, tomada quase como auditório”. Assim,
o livro, como recurso, é utilizado nas diversas fases do processo de ensino dos conteúdos
estabelecidos para o período. Conforme Souza (2010):
Da introdução dos conceitos a proposta de exercícios, o livro tornou-se a
base para o trabalho com a Matemática na sala, e tem determinado vários
aspectos do ensino dessa ciência, como: “O que ensinar” (seleção dos
conteúdos); “Como ensinar” (metodologia de ensino), e “Quando ensinar”
(intervenção no domínio cognitivo) (SOUZA, 2010, p. 9).
31
Lopes (2015) entende que a Matemática ainda seja uma disciplina regida por regras
arbitrárias e que ensina uma linguagem simbólica, a qual o aluno não consegue atribuir
sentido, sendo comumente associada ao seu fracasso. É o caso, por exemplo, “dos algoritmos
das operações que são ensinados para os alunos como um conjunto de passos a serem seguidas
e, como consequência, a resolução de problemas é entendida como a habilidade de aplicar tais
algoritmos” (LOPES, 2015, p. 1).
Nesse sentido, quando há dissociação entre o ensino e as relações estabelecidas pelos
alunos, o conhecimento aprendido não os auxilia diante de situações que necessitem de
utilização prática da matemática.
Assim, Lopes (2015) afirma, baseada nos estudos de Kopnin (1978):
[...] Ignora a relação lógico-histórica da produção dos conceitos
matemáticos, a aprendizagem dos algoritmos enquanto uma síntese
importante para o desenvolvimento das operações e que visa facilitar os
cálculos, acaba sendo um obstáculo para a aprendizagem. Esse exemplo
indicia que a escolarização, que deveria ser a etapa de mediação entre o
conhecimento que o aluno traz do seu cotidiano com o conhecimento
historicamente organizado através da linguagem matemática
institucionalizada, não está conseguindo cumprir com sua função (LOPES,
2015, p. 2).
Uma outra perspectiva, trazida por Lanner de Moura (2007), refere-se à proposta de
educação científica da infância, com enfoque na Educação Matemática, pois visa desenvolver
melhor a compreensão sobre a educação contínua da criança. A autora considera que os
conceitos matemáticos, ainda que complexos, estão na composição da atividade humana,
encontrando-se no quotidiano “quer na estruturação do espaço que habitamos e nas máquinas
que manipulamos quer nas relações sociais, políticas, econômicas que estabelecemos para a
vida conjunta e para a produção” (LANNER de MOURA, 2007, p. 67).
A partir disso, a autora então, considera dois pressupostos: primeiro, a partir dos
estudos de Lima (1992), que afirma:
Quanto mais se intensifica a prática mecânica de ensino, mais o conceito que
a sustenta se torna invisível ao nosso pensamento. [...] um segundo
pressuposto é o princípio da educação conceptual não é um facto que
acontece aleatória, permanente e espontaneamente a todo e qualquer
momento, em função simples uso do conceito. Mas algo que seja pensado,
elaborado intencionalmente (LIMA, 1992 apud LANNER de MOURA,
2007, p.68).
32
Quando abordamos as questões sobre conceitos, muitos questionamentos nos surgem,
seja a respeito do ensino do conceito à criança, seja do momento de iniciá-lo. A autora, ao
citar Lima (1992), afirma que “o ponto de partida é sempre o mais importante do movimento
educacional”. Explica ainda, a existência de duas tendências de disponibilidade de
aprendizagem no seguinte sentido:
[...] a que se manifesta pelo entusiasmo, curiosidade e busca do
conhecimento e a que se manifesta pelas características de bloqueio
cognitivo e afectivo, de alienação da capacidade aprender. Se o ponto de
partida respeitar o desenvolvimento da criança e acontecer com a criança,
interagindo com a sua atenção, a sua emoção e a sua sensibilidade; é possível
que o primeiro movimento, o da criatividade e autodeterminação, passe a ser
dominante em todo o futuro processo da aprendizagem (LIMA, 1992 apud
LANNER de MOURA, 1992, p. 68).
Diante disso, cabe ao professor a tarefa de, ao compreender os processos internos de
desenvolvimento da criança, organizar o ensino pensando nas futuras aprendizagens que ela
precisará continuar desenvolvendo.
Lanner de Moura (2007, p. 68) reforça o compromisso do professor no encontro com
a criança, ao referir-se ao processo de “ensinar e aprender matemática um encontro
pedagógico com o conceito, de modo que o aprender matemática não se reduza a uma
justaposição mecânica entre o sujeito e o objeto científico”. Nesse importante momento
acontece a composição de um mútuo movimento afetivo, além do entendimento de “si
próprios, das coisas e dos outros ao (re) criarem o conceito nas suas subjetividades”
(LANNER DE MOURA, 2007, p. 68). A mesma explica, ainda, que é nesse movimento
afetivo que a tensão criativa do desenvolvimento conceptual faz-se presente, apontando “dois
elementos didáctico-pedagógicos interdependentes, que proporcionam o estado da tensão
criativa” (LANNER DE MOURA, 2007, p. 68).
De forma sucinta, ao tratar da criação numérica humana, a autora explica que, ao sentir
necessidade de contar, o homem utilizou o seu corpo, (dedos, toque, fala, etc.), bem como
objetos do próprio do ambiente para contar e controlar as quantidades que precisava
administrar, como número de animais do seu rebanho, habitantes da sua tribo, etc. Assim, num
processo de aprimoramento, criou instrumentos operacionais.
Na sequência, continua explicando, criou
33
[...] Elementos de racionalidade, de pensamento, uma abstração: a operação
de fazer corresponder. Estes três elementos da sua primeira criação numérica
- a contagem, o instrumento concreto e a correspondência biunívoca -
compõem o primeiro conceito numérico e matemático que chamamos de
numeral-objecto. O numeral-objecto é o primeiro momento da criação
numérica, procedido pelo numeral escrito e antecedido pelo senso numérico
(LANNER DE MOURA, 2007, p. 74).
Essa parte inicial da criação matemática, poucas vezes tem sido abordada, ou, quando
são, acontece de forma rápida e/ou superficial, sendo caracterizada com desperdício de tempo
por alguns professores, já que o trabalho pedagógico, pode, como muitos acreditam, partir do
enunciado e escrita dos numerais, desconsiderando a possibilidade da educação conceitual
numérica, que possibilita à criança a construção do pensamento e da linguagem numérica.
Assim, “os conceitos são indispensáveis ao movimento do nosso pensamento no
sentido da teoria científica, pois concentra-se neles o conhecimento de aspectos essenciais da
atividade com o objeto”. (LANNER DE MOURA, 2007, p. 76-77). Diante disso,
concordamos que o desenvolvimento dos conceitos deve ser aprendido e desenvolvido pelo
professor em sua formação e desenvolvido na sua prática.
Assim, concordamos que a Matemática escolar se apresenta como um grande desafio,
todavia, repleta de possibilidades a serem exploradas, conforme apresentamos a seguir.
1.3 A Matemática escolar: desafios e possibilidades
Em nosso entender, são diversos os desafios ligados ao processo de ensino e
aprendizagem em Matemática, face ao complexo contexto educacional na atualidade,
concitando a construção de novos sentidos e ressignificações pelos quais o processo precisa
passar, aqui compreendido como um processo dialético e não linear ou estanque.
Apesar das principais tendências e orientações presentes nos documentos curriculares
da Matemática apontarem para diferentes formas de abordagens para o ensino da Matemática,
os trabalhos pedagógicos desenvolvidos na escola, enfrentam ainda diversos desafios, todavia,
apresentam pelo menos duas possibilidades evidenciadas de exercício: a primeira diz respeito
a que a referida disciplina está ainda centrada nos cálculos e procedimentos mecânicos,
desconectados da realidade dos alunos e sem o devido sentido atribuído ao conteúdo que se
espera que ele aprenda; e uma outra possibilidade, é a que assumimos neste estudo. Trata-se
da perspectiva histórico-cultural, em que os estudos desenvolvidos pela Educação Matemática
34
ajudam a compreender a organização do processo de ensino e o entendimento de como o
sujeito aprende.
Observamos que, apesar das reformas curriculares adotadas nas últimas décadas, o
ensino da Matemática ainda se centra, muitas vezes, em práticas baseadas na memorização,
no siga o modelo, e destituída de significados para os alunos e até mesmo para os próprios
professores, que tendem a reproduzi-lo conforme aprenderam em suas etapas de escolarização.
Com relação a essa discussão, Nacarato, Mengali e Passos (2011) descrevem a forma
como se encontram as práticas de algumas escolas:
Nesse paradigma, via de regra, segue-se uma rotina mais ou menos
padronizada: o professor expõe algumas ideias matemáticas com alguns
exemplos e, em seguida, os alunos resolvem incansáveis listas de exercícios
– quase sempre retiradas de livros didáticos. Na etapa seguinte, o professor
os corrige, numa concepção absolutista de matemática, na qual prevalece o
certo ou o errado. Esses exercícios frequentemente são preparados por
alguém externo à sala de aula, sem a participação do professor e dos alunos
(NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2011, p. 21).
Nessa perspectiva tradicional, o destaque vai para o acúmulo de informações, quase
sempre externo ao sujeito que aprende, cabendo ao professor a missão de transmitir e conduzir
o aluno aos objetivos estabelecidos tanto pela escola como pela sociedade. Com relação a esse
paradigma, destacamos que não concordamos com tal prática por compreendermos que seja
possível desenvolver o ensino da Matemática de outras formas já evidenciadas por pesquisas,
muito embora defendamos que o esforço e a dedicação do aluno na apropriação dos conceitos
e domínio dos conteúdos matemáticos, sejam decisivos no processo.
Denominado ensino tradicional, infelizmente, ainda encontramos essa perspectiva
educacional em nossas escolas. Nessa abordagem, de acordo com Mizukami (1986, p. 2), “a
concepção de educação é caracterizada como um produto, em que os objetivos a serem
atingidos já estão preestabelecidos”, e não se apresentam como uma construção individual do
aluno, organizada intencionalmente e mediada pelo professor.
Assim, com relação ao processo de ensino e aprendizagem nessa perspectiva, fica
configurada a transmissão e a organização lógica das ideias, em que o ensino se restringe à
escola, além do processo educacional basear-se, na maioria das vezes, exclusivamente em
decisões verticais, desconsiderando-se as necessidades dos alunos.
35
Segundo D’Ambrósio (2010, p. 20), tais práticas educativas privilegiam o saber fazer
repetitivo, treinando os alunos a apenas executar determinadas tarefas que pouco colaboram
para seu desenvolvimento intelectual.
A compreensão também fica comprometida já que, resultando na assimilação parcial,
o aluno apenas tende a reproduzir o que aprendeu; prioriza-se a quantidade em detrimento da
qualidade, não incentivando o pensamento reflexivo, tampouco sobre outras possibilidades de
se chegar ao mesmo resultado, por exemplo.
Observamos em nossa prática que muitas vezes os alunos aguardam as correções dos
problemas para então copiarem as respostas corretas. Sobre isso, Darsie e Palma (2013)
explicam:
A socialização e a discussão das produções dos alunos não são priorizadas
nesta perspectiva; ao contrário, prática muito comum é a proposição da
correção coletiva dos problemas na lousa apenas com o intuito de verificar
resultados. Geralmente um aluno bem-sucedido na resolução de problemas
é convidado a resolver o problema no quadro, e os demais ou não prestam
atenção na correção, ou copiam os resultados do quadro num ato mecânico.
O professor, por sua vez, centra a atenção no produto, na verificação do
acerto ou erro do algoritmo convencional utilizado pelo aluno (DARSIE;
PALMA, 2013, p. 16).
Concordamos com as autoras que tal prática desconfigura a proposição da situação-
problema e destitui o aluno do ato de pensar, impedindo-o da atribuição de “significado aos
conceitos matemáticos e, por não compreendê-los, acaba por estabelecer um vínculo negativo
com a matemática” (DARSIE; PALMA, 2013, p. 16). Esses vínculos negativos podem
perdurar por muito tempo na vida do aluno, influenciando direta ou indiretamente seu futuro
profissional.
Há tempos as propostas de mudança vêm sendo implementadas, como, por exemplo,
aquelas contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN/1997). Referindo-se ao
documento, Pires (2000, p. 57), citada por Nacarato, Mengali e Passos (2011), destaca: a
matemática entendida como instrumento de compreensão e leitura de mundo; o reconhecimento
dessa área do conhecimento como estimuladora do “interesse, curiosidade, espírito de
investigação e o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas” (PIRES apud
NACARATO, MENGALI; PASSOS, 2009, p. 19). Segundo a autora, há no documento,
indicativos de ruptura com a linearidade do currículo, uma vez que ele destaca a importância
de estabelecer conexões entre os diferentes blocos de conteúdos, entre a matemática e as demais
36
disciplinas, além da exploração de projetos que possibilitem a articulação e a contextualização
dos conteúdos.
Na educação brasileira, temos visto nos últimos anos diversas tentativas de prescrições
curriculares oficiais como “versão legítima do currículo a ser executado, mesmo que os
professores não reconheçam nelas ideias e propostas com as quais concordem ou não tenha se
envolvido no processo de discussão e elaboração de tais orientações” (SANTOS, 2014, p. 17).
Fica evidenciada a necessidade de ampliação do debate para a elaboração de currículos oficiais
e a necessidade de elaboração de novos parâmetros e propostas curriculares.
Na prática, o professor assume ressignificar o currículo a partir de sua formação e de
suas experiências profissionais, quer dizer, a “legitimidade do currículo como elemento
constitutivo do sistema de ensino se dá graças à presença ativa e autônoma do professor, cuja
ação está longe de reduzir à aplicação pura e simples de um currículo prescrito pelos
organismos oficiais de educação” (SANTOS, 2014, p. 17). Ao considerar que os professores
são “sujeitos ativos do ensino que ministram”, e os “[...] currículos oficiais ou livros didáticos,
que restringem os processos de discussão e participação direta na sua elaboração a pequenas
equipes técnicas, representam um elemento adicional ao trabalho do professor” (SANTOS,
2014, p. 18).
Nesse contexto, o autor conclui:
A relação entre esses níveis de formulações de projetos curriculares – o geral
(oficial), o local (de uma escola ou grupos de escolas) e o individual do
professor em que o professor é o sujeito principal, da leitura da reflexão e da
articulação das ideias veiculadas nesses diferentes tipos de projetos,
questionando, ajustando ou validando o seu próprio projeto, é condição para
que o currículo efetivamente praticado pelo professor na sala de aula seja
frutífero e, consequentemente, que o ensino tenha vitalidade (SANTOS,
2014, p. 18).
As recomendações do autor são viáveis, todavia, precisamos saber se esse movimento
vem ocorrendo no contexto escolar, pois se tem evidenciado nas últimas décadas os baixos
níveis de aprendizagem dos alunos em Matemática. As pesquisas e avaliações em larga escala
no Brasil, como do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB, 2015), divulgadas
recentemente, por exemplo, revelam um insignificante aumento na média dos alunos em
Matemática, passando da média de 5,2 (em 2013) para a média de 5,5 (em 2015). São
resultados, considerados insuficientes, segundo os parâmetros estabelecidos pela avaliação
para um país em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
37
Muitas vezes os resultados das avaliações têm sido entendidos como “[...] indicadores
ou sinalizadores de uma dada situação”. Ou também utilizados a partir “[...] do desempenho
de alunos nas avaliações externas de sistema como indicador do desempenho docente”
(GATTI, 2014, p. 374).
É evidente que tais resultados não devem ser considerados isolados das mudanças
sociais pelas quais o país também vem atravessando com relação às questões familiares,
econômicas e políticas. Mas não podemos ignorar que eles servem ao levante também das
discussões em torno das questões educacionais.
Muito embora constatemos os pequenos avanços revelados pelas avaliações, estudos
como os de D’Ambrósio (2004), Nacarato, Mengali e Passos (2011), Moura (2010) e Santos
(2014), entre outros, apontam que existem problemas nos processos da Matemática nos anos
iniciais que precisam ser superados. E, para melhor compreendê-los, é preciso situar o
contexto em que estão inseridos e mobilizar toda a sociedade.
No atual contexto da Educação Básica brasileira, como mencionamos anteriormente,
inúmeras mudanças vêm sendo gradualmente implantadas, a partir da Lei de Diretrizes e
Bases (LDB - Lei nº 9.396/1996). Muitas delas advêm de esforços empreendidos pela
sociedade para conquista de melhorias na educação, todavia, ao serem propostas e
implementadas, acabam frustrando expectativas pelo fato de não terem sido criadas,
concomitantemente, as condições necessárias para tal implementação ou porque são medidas
sobrepostas a outras implementadas parcialmente, gerando novos problemas ou distorções,
que, somados aos não resolvidos anteriormente, agravam ainda mais a situação (SANTOS,
2014, p. 3). Ações essas que recaem também sobre a escola, sobrecarregando a gestão e os
docentes com diversas incumbências ante o reduzido prazo para seu desenvolvimento.
Ainda segundo o autor, alguns exemplos podem ser relacionados, a saber:
[...] A organização do ensino na escola básica em séries e ciclos; a
padronização que os processos avaliatórios nacionais e internacionais
impõem e os seus efeitos, por vezes deletérios, sobre a prática pedagógica
na educação básica; a instituição e ampliação do período da escolarização
obrigatória; a alteração da duração do Ensino Fundamental (EF) de oito para
nove anos; as diretrizes e os referenciais para cursos de formação de
professores não levam em conta a ideia de integração do Ensino
Fundamental e, em consequência, pouco impactam a enorme quantidade de
cursos de licenciaturas realizadas no país; e, por fim, o hiato existente entre
a produção de propostas curriculares, pelo país afora, a formação e as
práticas docentes (SANTOS, 2014, p. 3).
38
Embora reconheçamos a existência de todos esses importantes fatores citados pelo
autor, destacamos duas mudanças consideradas centrais nas discussões mais recentes, que
influenciaram os processos de ensino e aprendizagem dos alunos. São elas: “1) Aquelas que
instituíram a obrigatoriedade do ensino dos 4 aos 17 anos de idade, e 2) A alteração do período
do Ensino Fundamental para nove anos” (SANTOS, 2014, p. 4).
Com relação à obrigatoriedade do ensino dos 4 aos 17 anos de idade o autor aponta:
Cabe reforçar que as práticas escolares insistiam e têm insistido – por
convicção ou por não conseguirem evitar (possivelmente por não saberem
como) – em submeter as crianças pequenas a um ritual de escolarização
único, precoce, que as consideram de modo indiferenciado do ponto de vista
etário, sem enxergar a multiplicidade de formas de infância e as
singularidades dessas crianças dentro da escola (SANTOS, 2014, p. 6).
Ou seja, mesmo que o Estado oportunize a inserção das crianças nas escolas, não torna
garantida a adequação de práticas educacionais compatíveis às necessidades da faixa etária.
Para tanto, o autor levanta alguns itens que ampliam as discussões, quando retrata a
transição entre os níveis de escolarização da forma como tem sido feita e questiona, quanto à
inclusão dos alunos de seis anos no primeiro ano do Ensino Fundamental, afirmando não ser
“sinônimo de antecipação de um modelo de escolarização antes aplicado a alunos da primeira
série. Ao contrário, esse modelo de escolarização precisa ser revisto e adequado à realidade
dos alunos” (SANTOS, 2014, p. 6-7).
Concernente a essas discussões, encontramos a pesquisa realizada por Silva (2016),
em que relata:
Encontramos nas discussões situações que insistem e persistem na prática de
ensino que priorizem determinados conteúdos e modelos de atividades,
fragmentando o ensino e a aprendizagem na infância. Contudo, os estudos
sinalizaram que tais propostas de ensino da matemática não atendem à
necessidade da criança. No entanto, pode ser que estas situações se
justifiquem pela prática da cultura escolar, devido a fragilidade na formação
inicial e continuada do professor, como indicam algumas discussões
(SILVA, 2016, p. 49).
Santos (2014) prossegue com as discussões, ampliando para o tema da formação de
professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental:
39
[...] tendo o mesmo tipo de formação, não há garantia nenhuma de que a
transição para os alunos de um nível ao outro, ou de um ano escolar para o
seguinte, seja menos conflituosa do que a transição dos alunos entre dois
níveis que requerem formação diferenciada dos seus professores (SANTOS,
2014, p. 7).
Como cada etapa do período de escolarização da criança possui sua especificidade, a
formação de professores deveria estar em consonância com essa realidade.
A mesma fragmentação, continua o autor, também se sucede no Ensino Médio, na
transição ao superior, denotando a “perpetuação de uma lógica de fragmentação na cadeia da
escolarização vivida pelos alunos, bem como nos cursos de formação de professores”
(SANTOS, 2014, p. 6-7). A ausência de discussões e problematização alimentam essa lógica
de forma precoce e indevida, estendendo-se ao longo da educação básica em todos os níveis
e anos de escolarização.
Em síntese, não bastam medidas legais, que simplesmente ampliem um ano no Ensino
Fundamental, instituindo a escola de nove anos, se ações concomitantes não forem
implantadas no sentido de garantir que outras necessidades sejam também atendidas, como
antecipação da escolarização ao invés de readequação à realidade do aluno. De igual forma, a
formação unificada de professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental e
continuidade na transição dos alunos nos diferentes níveis, ao invés da fragmentação na cadeia
da escolarização.
Silva (2016) ouviu as narrativas de professoras, coordenadoras pedagógicas e
coordenadoras da Educação Infantil (EI), da Secretaria Municipal de Educação de um
município, sobre o trabalho desenvolvido com a Matemática no processo de transição da pré-
escola para o 1º ano do Ensino Fundamental (EF), que revelaram:
[...] Ausência de um documento próprio do município, como também
orientações teórico-metodológicas que norteiam o trabalho a ser
desenvolvido nesse período da vida escolar da criança. [...] verificamos nos
encaminhamentos pedagógicos, ausência de articulação das ações entre os
profissionais que atuam nas duas primeiras etapas da Educação Básica. [...]
esta situação fragiliza a garantia da continuidade no processo de
aprendizagem e desenvolvimento da criança (SILVA, 2016, p. 128).
No caso específico da Matemática, Santos (2014), comenta que, embora se
reconheçam as inovações trazidas pelas pesquisas no tratamento das noções matemáticas nos
diferentes níveis de ensino, à comunidade de educadores matemáticos recai uma nova dívida
40
que se sobrepõe àquela contraída no processo de implantação da escola de oito anos. Essa
dívida se dá “no tocante ao tratamento do conteúdo e na aplicação de metodologias, recursos
didáticos e avaliações que não respeitam diferenças etárias, ritmos e estilos cognitivos dos
alunos” (SANTOS, 2014, p. 9). E quanto às dificuldades com a Matemática, o autor atribui a
essas questões: “as causas da fragmentação aludida, da falta de sentido do conhecimento e dos
processos matemáticos que, aos olhos dos alunos e ao longo do tempo, tem tido como
consequência o precoce desinteresse e o acúmulo de dificuldades desses alunos”. (SANTOS,
2014, p. 9).
A partir disso, compreendemos um pouco mais sobre as dificuldades reveladas pelas
pesquisas e avaliações da Matemática, especialmente a falta de sentido do conhecimento e dos
processos matemáticos, o que levou à conclusão de Silva (2016, p. 129): “[...] analisamos que
a matemática no processo de transição da EI para o EF é ofertada à criança de maneira
destituída de sua significação social, revelando-nos a urgência de práticas educativas que
atendam às especificidades da infância”.
Atualmente, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, de forma geral,
definem: “Os conhecimentos escolares podem ser compreendidos como o conjunto de
conhecimentos que a escola seleciona e transforma, no sentido de torna-los passiveis de serem
ensinados, ao mesmo tempo em que serve de elementos para a formação ética, estética e política
do aluno” (BRASIL, 2013, p. 116).
Embora a legislação oriente sobre os princípios inovadores dos documentos
curriculares, Nacarato, Mengali e Passos (2011) entendem que pesquisas em Educação
Matemática nos anos iniciais ainda revelam uma realidade muito distante na maioria das
escolas. Curi (2005), afirma que as dificuldades no ensino dos conhecimentos matemáticos são
diversas, envolvendo desde as fragilidades das formações inicial e continuada, até os reflexos
nas práticas pedagógicas, provenientes da forma como os professores se relacionam de forma
pessoal ou coletivamente com a Matemática.
Reconhecemos, assim, que as mudanças em educação são lentas e dificilmente são
assimiladas devido a fatores diversos que vem interferindo direta ou indiretamente nos reais
objetivos do ensino.
Diante disso, quando nos propomos a compreender efetivamente o papel da educação
e sua real importância na vida do aluno, compreendemos as contribuições da teoria histórico-
cultural. A teoria possibilita-nos a compreensão de que a educação proporciona o
desenvolvimento do pensamento do aluno, tão importante no processo de conquista da
autonomia educacional, por meio de atividades que suscitem a atribuição de significados aos
41
conteúdos desenvolvidos. Para Rigon, Asbahr e Moretti (2010), a educação é uma via que
possibilita o desenvolvimento psíquico e humano do sujeito; sendo assim, defendem a
necessidade da “educação sistematizada em todas as fases do desenvolvimento, dado que ela
permite uma organização consciente dos processos de formação do indivíduo, via organização
intencional de um ensino” (RIGON; ASBAHR; MORETTI, 2010, p. 29). Concordamos que
essa seja a forma mais adequada de organização de ensino.
Segundo a teoria histórico-cultural todo conhecimento sistematizado é oriundo de
necessidades humanas apresentadas em determinada época da humanidade. Assim, ainda que
um conteúdo pareça descontextualizado em determinado momento da história, ele serviu para
suprir as necessidades do homem, devendo, dessa forma, ser compartilhado com as próximas
gerações (MOURA, 2007).
Nesse contexto, assumir os princípios da perspectiva do desenvolvimento humano
como norteadores do processo educativo da escola significa admitir uma nova possibilidade
de organização das práticas didático-pedagógicas dos professores, o que significa uma ruptura
com as práticas de ensino pautadas em perspectivas única e exclusivamente, mecânicas e/ou
reprodutivistas, limitadoras das potencialidades inerentes ao aluno.
Além disso, o professor no processo de ensino e aprendizagem, possui como função
principal a ação de mediar e motivar a apropriação dos conhecimentos matemáticos pelos
alunos. Nesses termos, concebemos que todas as pessoas são capazes de construir tal
conhecimento, salvaguardando, logicamente, o tempo e as características individuais do
aluno.
Diante dessa realidade é importante considerar também as orientações curriculares que
norteiam as práticas pedagógicas em Matemática.
1.4 Orientações curriculares para as práticas pedagógicas em Matemática
Trataremos de forma breve, neste item, a implantação da nova estrutura curricular do
Ensino Fundamental (EF) obrigatório nos documentos que norteiam e orientam a educação, e
como estão propostas as orientações curriculares para o ensino de Matemática no 1º Ciclo, a
partir da década de 1990.
Começamos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino
Fundamental no Brasil, documento lançado no ano de 1997, pelo Ministério da Educação e
42
Cultura (MEC), resultante das discussões iniciadas nos idos de 1980, ante o movimento
mundial de reformas educacionais. Na parte inicial desse documento encontra-se a indicação
de que se trata de um instrumento de apoio ao trabalho pedagógico, apresentando a elaboração
de projetos educativos, planejamento das aulas, análise de material didático, etc., e também a
indicação para atualização profissional dos professores, no próprio contexto escolar.
No documento, o conteúdo conceitual e procedimental de Matemática indicado para
esse ciclo contempla os quatro blocos de conteúdos para o Ensino Fundamental: Número e
Operações; Espaço e Forma; Grandezas e Medidas; Tratamento da Informação. Consta
também que a indicação de blocos de conteúdos deve ser tomada pelos professores, apenas
como referência para seu trabalho. Define ainda, como desafio ao professor, apresentá-los aos
alunos da forma mais integrada possível, estabelecendo a relação deles com os conhecimentos
manifestados pelos alunos. Apresenta também outro desafio: o de definir a sequência em que
os conteúdos matemáticos serão trabalhados e o nível de aprofundamento que lhes serão
atribuídos. Isso é, identificar em cada bloco de conteúdo quais competências são socialmente
relevantes e em que medida contribui para o desenvolvimento do aluno. Assim, é importante
ressaltar:
As crianças que ingressam no primeiro ciclo, tendo passado ou não pela pré-
escola, trazem consigo uma bagagem de noções informais sobre numeração,
medida, espaço e a forma, construídas em sua vivência cotidiana. Essas
noções Matemáticas funcionarão como elementos de referência para o
professor na organização das formas de aprendizagem. (BRASIL, 1997, p.
45).
Nesse contexto, fica evidenciada a importância do professor, ao planejar e organizar o
ensino dos conteúdos matemáticos, considerar o que os alunos já construíram em suas
vivências exteriores à escola. Nesse contexto, os sistemas deveriam, então, “rever currículos,
conteúdos, práticas não somente para o primeiro ano, mas para todo o Ensino Fundamental”
(BRASIL, 2006, p. 8).
No mesmo documento, no que tange às implicações do EF de nove anos para a
melhoria do ensino, verificamos que: a aprendizagem não depende apenas do aumento do
tempo de permanência na escola, mas, também, do emprego mais eficaz desse tempo. Desse
modo, a associação de ambos pode contribuir significativamente para que os estudantes
aprendam mais e de maneira mais prazerosa” (BRASIL, 2006, p. 7). O documento destaca,
43
outrossim, a necessidade do desenvolvimento de práticas pedagógicas que visem respeitar as
crianças como protagonistas no seu processo de aprendizagem.
Apesar da existência de diversas ações orientativas desenvolvidas pelo MEC, após a
implantação do Ensino Fundamental, as dificuldades e desafios inerentes ao ensino nessa
etapa ainda estão longe de serem vencidos. Assim, nesse contexto, o MEC edita as “Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação Básica”, em 2013, na qual destacamos que:
Os sistemas de ensino e as escolas não poderão apenas adaptar seu currículo
à nova realidade, pois não se trata de incorporar, no primeiro ano de
escolaridade, currículo da Pré-Escola, nem de trabalhar com as crianças de
6 (seis) anos os conteúdos que eram desenvolvidos com as crianças de 7
(sete) anos. Trata-se, portanto, de criar um novo currículo e de um novo
projeto político-pedagógico para o Ensino Fundamental que abranja os 9
anos de escolarização, incluindo as crianças de 6 anos. (BRASIL, 2013, p.
109).
Embora as orientações enfatizassem o atendimento à criança de seis anos,
considerando as características próprias dessa faixa etária, demonstravam a necessidade de
repensar todo o EF. Denota-se, portanto, a importância da ação pedagógica assegurar o
aprendizado das áreas de conhecimento nos três primeiros anos e, ao mesmo tempo, considerar
os aspectos pertinentes à infância.
Nesse contexto, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental de Nove
Anos, aprovadas em 2010, assim definem a tarefa ao Ministério da Educação:
Artigo 49 - O Ministério da Educação, em articulação com os estados, os
Municípios e o Distrito Federal, deverá encaminhar ao Conselho Nacional
de Educação, precedida de consulta pública nacional, proposta de
expectativas de aprendizagem dos conhecimentos escolares que devem ser
atingidos pelos alunos em diferentes estágios do Ensino Fundamental (art.
9, §3º, desta Resolução) (BRASIL, 2010).
Nesse movimento, sensível às necessidades sociais, políticas, culturais e econômicas
do país, esse documento apresenta ao Conselho Nacional de Educação (CNE) e à sociedade
brasileira para debate (e operação) os Elementos Conceituais e Metodológicos para Definição
dos Direitos e Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento do Ciclo de Alfabetização das
crianças brasileiras em idade escolar (BRASIL, 2012, p. 6).
Assim, o presente documento, em sua primeira versão, constitui-se em parte essencial
de uma política de governo que está consubstanciada na MP nº 586/2012, que foi anunciada
44
pela então Presidente da República, no mesmo dia do lançamento do Pacto Nacional Pela
Alfabetização na Idade Certa, em novembro de 2012, com assinatura de adesão de 5.240
municípios e dos 27 estados da federação (BRASIL, 2012, p. 7).
Com o objetivo de alfabetizar todas as crianças até oito anos de idade várias ações em
diversos âmbitos, são propostas e o referido documento aponta que o Pacto Nacional “supõe
ações governamentais de cursos sistemáticos de formação de professores alfabetizadores,
oferecidos pelas Universidades Públicas participantes da Rede de Formação, a
disponibilização de materiais pedagógicos fornecidos pelo MEC” (BRASIL, 2012, p.7).
Propõe também, “[...] um amplo sistema de avaliações provendo registros e análise de
resultados que induzem ao atendimento mais eficaz aos alunos em seus percursos de
aprendizagem” (BRASIL, 2012, p. 7).
O texto do presente documento foi constituído pela reunião de diversos órgãos, como
o MEC/SEB/DICEI/COEF, por meio de grupos de trabalho, de publicações legais a respeito
de currículos e seminários nacionais, de observações de práticas didáticas como objetos de
pesquisas das universidades e de encontros de formação em municípios de todos os estados.
E está organizado em duas partes: a primeira contempla os Fundamentos Gerais do Ciclo de
Alfabetização, bem como os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento por Área de
Conhecimento e Componente Curricular de Língua Portuguesas, que se consubstanciam na
aprendizagem das crianças de seis e oito anos.
Na segunda parte apresenta cada área de conhecimento, sendo que o componente
curricular de língua portuguesa define seus direitos de aprendizagens, os eixos que estruturam
esses direitos e os diversos objetivos de aprendizagem de cada eixo, num rol que compõe
cerca de 30 direitos, 20 eixos estruturantes e 256 objetivos de aprendizagens (BRASIL, 2012,
p. 8-9).
A seguir, apresentamos, de forma sintetizada, os Direitos de Aprendizagem e
Desenvolvimento contidos no documento a que nos referimos anteriormente.
45
Quadro 1 – Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento dos Componentes Curriculares
MATEMÁTICA
I. Utilizar caminhos próprios na construção do conhecimento matemático, como ciência e
cultura construídas pelo homem, através dos tempos, em resposta às necessidades concretas e
a desafios próprios dessa construção.
II. Reconhecer regularidades em diversas situações, diversas naturezas, compará-las e
estabelecer relações entre elas e as regularidades já conhecidas.
III. Perceber a importância da utilização de uma linguagem simbólica universal na
representação e modelagem de situações matemáticas como forma de comunicação.
IV. Desenvolver o espírito investigativo, crítico e criativo, no contexto de situações-problema,
produzindo registros próprios e buscando diferentes estratégias de solução.
V. Fazer uso do cálculo mental, exato, aproximado e de estimativas. Utilizar as Tecnologias da
Informação e Comunicação potencializando sua aplicação em diferentes situações.
Fonte: Organização da autora, com base nos documentos (BRASIL, 2012).
Ainda de acordo com o documento, foram organizados os Eixos de cada disciplina em
quadros, em que os respectivos objetivos de aprendizagem são descritos por ano (1º, 2º e 3º)
do EF. (BRASIL, 2012, p. 42-43).
O Quadro 2, a seguir, sintetiza os eixos estruturantes da Matemática, conforme
indicado no referido documento.
Quadro 2 – Eixos Estruturantes de Matemática
Matemática
I. Número de Operações
II. Eixo Pensamento Algébrico
III. Eixo Espaço e Forma
IV. Eixo Grandezas e Medidas
V. Eixo Tratamento da Informação
Fonte: Organização da autora, com base no documento (PNAIC, 2014).
Todas as demais disciplinas também têm seus respectivos Direitos de Aprendizagem
e Eixos. Segundo orientações do PNAIC, eles devem ser organizados juntamente com os
conteúdos disciplinares nas Sequências Didáticas desenvolvidas na escola.
Apresentamos, no próximo item deste capítulo, como o ensino na Rede Municipal de
Ensino de Cuiabá está organizado.
46
1.5 A proposta de organização do Ensino Fundamental na Rede Pública Municipal
de Cuiabá
Na Rede Municipal de Ensino de Cuiabá são apresentadas, entre outras, as seguintes
ações político-administrativas, visando dar condições objetivas para a organização do ensino
em ciclos: a) implementação do processo de Gestão Democrática no Município, retomando o
instituído em 1993, pela Lei nº 3.201, de 10 de novembro de 1993, a qual definia a constituição
de Conselhos Escolares Comunitários (CEC), eleição de diretor escolar e transferência de
recursos financeiros às unidades escolares; b) criação da Sala de Apoio à Aprendizagem, que
realiza o atendimento aos alunos com dificuldades de aprendizagem, no contraturno escolar;
c) estabelecimento de 20% da carga horária do professor, destinada à Hora Atividade5; d) e
proposição de um programa de formação continuada.
O Plano Educação na Diversidade propõe o Programa, revitalizando a formação, com
objetivo de desenvolver a formação continuada para os profissionais da Educação, por meio
de processos coletivos de reflexão que garantam a melhoria da prática pedagógica e do ensino
(CUIABÁ-SME, 2007, p. 55). Outro projeto de formação continuada que compõe o referido
programa refere-se ao “Projeto Roda de Conversa”, que tem a escola como lócus da formação,
sendo previsto em calendário escolar os dias dos encontros mensais/bimestrais. Dentre os
objetivos, constam:
- Subsidiar o coordenador pedagógico com elementos teórico-práticos para
que possa apoiar os docentes no exercício de suas funções, tendo como
referência o PPP da escola;
- Estabelecer uma política de acompanhamento ao professor em seu lócus
de trabalho, por meio de estratégias reflexivas e investigativas, a fim de que
o processo de aprendizagem em sala de aula possa ser efetivamente
ressignificado;
- Apoiar a formação de conhecimento específicos dos diferentes
profissionais da educação, de acordo com as necessidades formativas
identificadas, articulando teoria e prática e tendo como eixo a análise crítica
do contexto e a reflexão da prática pedagógica (CUIABÁ-SME, 2007, p.
57).
Além dessas ações, destacamos no atual contexto da política educacional da rede
municipal a proposição de uma matriz curricular de referência para o período do 1º ao 9º ano
5 Hora destinada ao planejamento e avaliação do trabalho pedagógico, às reuniões pedagógicas, aos cursos de
aperfeiçoamento profissional, à articulação com a comunidade escolar e à colaboração com a gestão escolar, de
acordo com a proposta da unidade de ensino e as políticas educacionais da SME (Art. 33, Lei complementar nº
220, de 22.12.10).
47
do EF. No ano de 2009, com base em um documento formulado pela equipe da Secretaria
Municipal de Educação, é elaborado, com a participação das unidades de ensino, o documento
“Matriz Curricular de Referência para o 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental (MCR) da rede
Pública Municipal de Cuiabá”, em que a estrutura se apresenta de acordo com as capacidades
a serem desenvolvidas em cada ciclo.
De acordo com o referido documento, a partir de 2010, foram criados mecanismos
para que os docentes estabelecessem metas efetivas a serem alcançadas em cada ano do Ensino
Fundamental, de modo a oferecer uma maior unicidade às ações educativas desenvolvidas
pelas escolas, unidades da rede de ensino, de forma que garantisse a qualidade educacional
(CUIABÁ, 2010).
Embora ainda conste como documento oficial, a “Matriz Curricular de Referência para
o 1º ao 9º Ano do Ensino Fundamental (MCR) da Rede Pública Municipal de Cuiabá”, as
unidades escolares têm se referenciado também nos “Direitos de Aprendizagem”, constantes
na proposta do “Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa- PNAIC” (BRASIL, 2013).
Diante do que foi exposto no presente capítulo, compreendemos a importância da
Matemática no contexto escolar onde ela deve ser desenvolvida, de forma que atenda a
compreensão do seu aspecto formal, contribuindo efetivamente no desenvolvimento
intelectual, social e cultural do sujeito.
Em face do que foi exposto no presente capítulo, destacamos o que se refere à melhoria
da qualidade do ensino em Matemática, reconhecendo a possível ineficácia dos estudos, se
limitarmos as discussões e não considerarmos a formação inicial e continuada dos professores
que a ensinam.
Diante desse contexto, nossa pesquisa busca investigar como ocorre a formação
continuada de professores que ensinam Matemática, para responder “o que manifestam as
vozes de professoras sobre a formação do Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa,
sobre a formação continuada e os processos de aprender e ensinar Matemática nos Anos
Iniciais”.
Nessa perspectiva, no próximo capítulo apresentamos as discussões acerca das
formações docentes: a formação inicial e a continuada.
48
2 A FORMAÇÃO INICIAL E A FORMAÇÃO CONTINUADA DE
PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS
Nas últimas décadas diversos temas relacionados à melhoria da qualidade em
educação têm se destacado no meio educacional, conforme relatamos anteriormente. Dentre
esses temas, estão a formação e desenvolvimento profissional docente, cujas discussões têm
sido ampliadas com a incorporação de novos elementos, como: currículo, baixa
remuneração, fragilidade da formação inicial, pouca eficácia das formações continuadas e
falta de políticas educacionais que garantam a melhoria da qualidade do ensino.
Neste capítulo, apresentamos a formação inicial de professores por meio de um breve
panorama nacional. Abordamos, igualmente a formação continuada em seu aspecto
histórico, trazendo as discussões para o âmbito dos programas federais relativos à formação
continuada de professores. Fundamentamos nossa pesquisa nos estudos realizados por
Nóvoa (1999), Gatti (2008, 2010, 2011, 2014), Ferreira (2003), Tardif (2009), Imbernón
(2009, 2010), entre outros.
2.1 A Formação Inicial de Professores que ensinam Matemática nos Anos Iniciais
Encontramos em nossos estudos diversas produções relativas à formação inicial de
professores e constatamos tratar-se de tema que revela grande complexidade. Muito embora
reconheçamos a existência da ampliação do debate, as tentativas de mudança nas
licenciaturas e os grandes investimentos realizados, infelizmente, apresentam resultados
insuficientes para o alcance da meta, que é a melhoria da educação.
O atual contexto nos remete às reflexões acerca dos reais sentidos e da importância
atribuídos às formações docentes, inicial e continuada, e como elas vêm sendo tratadas e
implementadas no Brasil, já que ambas são etapas importantes para a melhoria do sistema
educacional.
As políticas de formação de professores foram instituídas, a partir da Lei de
Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/96), onde constam conceitos de formação inicial,
desenvolvimento profissional e formação continuada de professores. Todavia, ao longo do
tempo, essa lei recebeu diversas alterações e complementações, dentre elas, a Resolução nº
2, de 1º de julho de 2015, do Conselho Nacional de Educação, que define as novas Diretrizes
49
Curriculares Nacionais para formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura,
cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a
formação continuada. Em seu artigo 3º, enfatiza a necessidade de uma formação que
contemple as especificidades das etapas da Educação Básica e as diferentes modalidades.
Art. 3º A formação inicial e a formação continuada destinam-se,
respectivamente, à preparação e ao desenvolvimento de profissionais para
funções de magistério na educação básica em suas etapas – educação
infantil, ensino fundamental, ensino médio – e modalidades – educação de
jovens e adultos, educação especial, educação profissional e técnica de
nível médio, educação escolar indígena, educação do campo, educação
escolar quilombola e educação à distância – a partir de compreensão ampla
e contextualizada de educação e educação escolar, visando assegurar a
produção e difusão de conhecimentos de determinada área e a participação
na elaboração e implementação do projeto político-pedagógico da
instituição, na perspectiva de garantir, com qualidade, os direitos e
objetivos de aprendizagem e o seu desenvolvimento, a gestão democrática
e a avaliação institucional. (BRASIL, 2015, p. 3).
Embora entendamos a importância da legislação, ela não bastará se for
desconsiderada a complexidade do contexto que envolve o processo educacional, visto que
“é incrementada pela mudança radical e vertiginosa das estruturas científicas, sociais e
educativas (em sentido amplo) que são as que dão apoio e sentido ao caráter institucional do
sistema educativo” (IMBERNÓN, 2010, p. 10).
Assim, segundo o autor, a instituição educativa e a profissão docente desenvolvem-
se em um contexto marcado por:
Um incremento acelerado e uma mudança vertiginosa nas formas adotadas
pela comunidade social, no conhecimento científico e nos produtos do
pensamento, a cultura e a arte;
Uma evolução acelerada da sociedade em suas estruturas materiais,
institucionais e formas de organização da convivência, modelos de família,
de produção e distribuição, que têm reflexos na mudança inevitável das
atuais formas de pensar, sentir e agir das novas gerações;
Contextos sociais que condicionarão a educação e refletirão uma série de
forças em conflito. As enormes mudanças dos meios de comunicação e da
tecnologia foram acompanhadas por profundas transformações na vida
institucional de muitas organizações e abalaram a transmissão do
conhecimento e, portanto, também suas instituições. O mito da sociedade
da informação deixa muitas pessoas totalmente desinformadas, ao passo
que outras acumulam capital informativo em seu próprio benefício e no de
alguns poucos;
50
Uma análise da educação que já não a considera patrimônio exclusivo dos
docentes e sim de toda a comunidade e dos meios de que esta dispõe,
estabelecendo novos modelos relacionais e participativos na prática social
e docente. (IMBERNÓN, 2010, p. 9).
Dessa forma, o autor considera “inquestionável uma nova forma de ver a instituição
educativa, as novas funções do professor, uma nova cultura profissional e uma mudança nos
posicionamentos de todos os que trabalham na educação e, é claro, uma nova participação
social do docente” (IMBERNÓN, 2010, p. 10).
Todavia, a formação inicial de professores não vem acompanhando as necessidades
educacionais decorrentes das mudanças ocorridas nos últimos anos. Nos estudos realizados
por Gatti (2010), está demonstrado que a formação de professores para a educação básica:
[...] ainda é feita, em todos os tipos de licenciatura, de modo fragmentado
entre as áreas disciplinares e níveis de ensino, não contando o Brasil, nas
instituições de ensino superior, com uma faculdade ou instituto próprio,
formador desses profissionais, com uma base comum formativa, como
observado em outros países, onde há centros de formação de professores
englobando todas as especialidades, com estudos, pesquisas e extensão
relativos à atividade didática e às reflexões e teorias associadas (GATTI,
2010, p. 1358).
Essa denúncia da autora quanto à ausência de instituições ou cursos de formação
próprios nos remete à reflexão inadiável, se desejamos a melhoria da qualidade da educação
que queremos para o nosso país.
Outros estudos, como, Gatti e Nunes (2010) e Gatti e Barreto (2009), também
apontam para a fragilidade da formação inicial. Porém, Gatti (2010), não afirma, com isso,
que toda a responsabilidade quanto aos problemas da educação pública recaia sobre os
professores. Segundo a autora:
Múltiplos fatores convergem para isso: as políticas educacionais postas em
ação, o financiamento da educação básica, aspectos das culturas nacionais,
regionais e locais, hábitos estruturados, a naturalização em nossa sociedade
da situação crítica das aprendizagens efetivas de amplas camadas
populares, as formas de estrutura e gestão das escolas, formação dos
gestores, as condições sociais e de escolarização de pais e mães de alunos
das camadas populacionais menos favorecidas (os “sem voz”) e, também,
a condição do professorado: sua formação inicial e continuada, os planos
de carreira e salário dos docentes da educação básica, as condições de
trabalho nas escolas (GATTI, 2010, p. 1359).
51
Assim, todos esses fatores precisam ser levados em consideração quando se tratar da
formação inicial docente. Embora reconheçamos a importância de todos eles, vamos nos ater
à formação continuada de professores dos Anos Iniciais-AI do Ensino Fundamental-EF.
Gatti (2014, p. 27) trouxe em seu estudo “alguns aspectos relativos a uma meta-
análise no que concerne às pesquisas sobre formação docentes para a educação básica”,
explicando que não existem grupos especializados que possuam o reconhecimento
suficiente, nem nas universidades, nem em órgãos gestores, capazes de produzir meta-
análises baseadas em grandes conjuntos de produções e pesquisas sobre temas básicos, que
de alguma forma possam contribuir efetivamente para a melhoria de ações políticas, relativas
às ações educativas. A autora ainda destaca a questão da cultura de gestores, que não se
valem dos resultados oriundos de investigações sólidas dos trabalhos investigativos. Ou seja,
o conjunto de produção de pesquisas, que efetivamente poderia contribuir para a melhoria
da educação, nem sempre é considerado na definição das políticas públicas.
Nesse mesmo trabalho, a autora ainda pondera sobre a escassez, ou inexistência, de
sínteses de conhecimento acumulado sobre temas básicos em educação que possam subsidiar
políticas e propostas educacionais, “que sejam acessíveis em sua linguagem e aporte, a
interlocutores diversos: gestores de diferentes níveis da rede educacional, mídias
educacionais ou mídia em geral, associação de pais, de professores, etc.” (GATTI, 2014, p.
28). Revela, ainda, “[...] a ausência de grupo de suporte que ofereçam contribuições dessa
natureza aos organismos que tomam decisões quanto à gestão pública e pedagógica em
educação, bem como a outros setores de interesse”. (Ibidem). Isso leva ao questionamento
sobre “[...] a existência ou não de interesse genuíno por parte de órgãos gestores, órgãos
consultivos, de se orientar por sínteses consistentes de conhecimentos produzidos no campo
da educação”. (Ibidem).
Diante disso, observamos os imensos desafios que permeiam a formação inicial de
professores. E quando se trata da formação dos professores que ensinam Matemática nos
anos iniciais, parece-nos que os desafios são ainda maiores, pois além da “insuficiência da
formação inicial dos professores para promover a aprendizagem dos seus alunos”. (BRASIL,
1999), existem as marcas negativas relativas à disciplina no período da escolarização que
ainda estão presentes nas trajetórias profissionais.
Ensinar Matemática constitui um grande desafio, dentre outros enfrentados pelos
professores que a ensinam nos anos iniciais. Todavia, as dificuldades apresentadas nem
sempre se relacionam ou se restringem à formação acadêmica; muitas vezes, antecedem-na,
podendo advir de um processo precário de escolarização básica.
52
Nacarato, Mengali e Passos (2011, p. 23) destacam o “quanto a professora é
influenciada por modelos docentes com os quais conviveu durante a trajetória estudantil, ou
seja, a formação profissional docente inicia-se desde os primeiros anos de escolarização”. E
afirmam que a formação em matemática das alunas/professoras, além de encontrar-se
distanciada das tendências curriculares atuais, depara-se com o fato de que grande parte delas
carregam em si marcas profundas de sentimentos negativos relacionados à disciplina, que,
muitas vezes, tem ocasionado bloqueios, tanto para aprender como para ensinar a referida
área.
Portanto, se pretendemos compreender como essas professoras pensam e
desenvolvem suas práticas pedagógicas, buscamos, durante a pesquisa, conhecer o percurso
escolar e acadêmico por elas realizado.
Ouvimos também seus relatos relacionados às aprendizagens realizadas no processo
formativo, pois as práticas pedagógicas “colocam essas professoras diante do desafio de
ensinar conteúdos específicos de forma diferente da que aprenderam, além de precisar
romper com crenças cristalizadas sobre práticas de ensino de matemática pouco eficazes para
a aprendizagem dos alunos” (NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2011, p. 23).
Na busca pela compreensão de como se deu o processo formativos do professor que
ensina matemática e como a ensina aos seus alunos, as autoras destacam que na década de
1980 “a maioria dos estados brasileiros elaborou suas propostas curriculares tanto no sentido
de atender a uma necessidade interna do país, quanto com vistas a acompanhar o movimento
mundial de reformas educacionais” (NACARATO; MENGALI; PASSOS 2011, p. 16).
E prosseguem explicando:
Os currículos elaborados na maioria dos países trazem alguns aspectos em
comum, que se podem dizer inéditos quanto ao ensino da disciplina:
alfabetização matemática; indícios de não linearidade do currículo;
aprendizagem com significado; valorização da resolução de problemas;
linguagem matemática, dentre outros (NACARATO; MENGALI;
PASSOS, 2011, p. 16).
Com o intuito de compreender a organização curricular nos estados brasileiros, as
autoras pautaram-se nos estudos realizados por Carvalho (2000, p. 122-123), em que
destacam pontos positivos e negativos dos aspectos elencados. Quanto aos pontos positivos
são destacados:
53
O tratamento e análise de dados por meio de gráficos;
A introdução de noções estatísticas e probabilidade; [...]
O desaparecimento da ênfase na teoria dos conjuntos; [...]
A percepção de que a matemática é uma linguagem;
O reconhecimento da importância do raciocínio combinatório;
Um esforço para embasar a proposta em estudos recentes de educação
matemática;
A percepção de que a função da Matemática escolar é preparar o
cidadão para a atuação na sociedade em que vive. (CARVALHO apud
NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2011, p.16-17).
Com relação aos aspectos negativos da proposta apresentadas nos estudos de
Carvalho (2000, apud NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2011, p. 17), as autoras
destacam a prevalência do ensino “dos conteúdos e nos algoritmos das operações em
detrimento dos conceitos, sem, no entanto oferecer ao professor sugestões de abordagens
metodológicas compatíveis com a filosofia anunciada na proposta”. As orientações eram
gerais e raramente contribuíam com a prática do professor em sala de aula, bem como se
notava a ausência de [...] “referências ao tratamento de habilidades tidas como fundamentais
para o desenvolvimento do pensamento matemático, como cálculo mental, estimativa e
aproximações” (NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2011, p. 17).
Embora nesse período se apresentasse uma “intenção construtivista – tendência
didático-pedagógica bastante forte na educação brasileira, essas propostas sugeriam a
criação de ambientes em que os alunos pudessem construir conceitos matemáticos”
(CARVALHO apud NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2011, p. 17). No entanto, as
orientações gerais dadas aos professores pouco contribuíram para o desenvolvimento
profissional, considerando os apontamentos do estudo ora citado.
Aliada a essas questões, existe o fato de que a formação da maioria das professoras
que atuava nas séries iniciais da época era a habilitação no magistério, e em nível médio.
Isso revela que, se por um lado, alguns desses cursos “tinham uma proposta pedagógica
bastante interessante, por outro, na maioria deles não havia educadores matemáticos que
trabalhassem com as disciplinas voltadas à metodologia de ensino de matemática – muitos
eram pedagogos sem formação específica”. Nacarato, Mengali e Passos (2011, p. 17-18)
concluem que disso decorre, muitas vezes, “uma formação centrada em processos
metodológicos, desconsiderando os fundamentos da matemática. Isso implicava uma
formação com muitas lacunas conceituais nessa área do conhecimento”.
54
Dessa forma, “se os cursos de magistério pouco contribuíram para a formação das
futuras professoras de matemática, os cursos de pedagogia, na maioria das instituições
superiores, mostravam-se ainda mais deficitários” (NACARATO; MENGALI; PASSOS,
2011, p. 18). Ou seja, os alunos, futuros professores, não recebem uma formação adequada
no ensino médio e continuaram sem recebê-la na formação inicial, o que influencia
negativamente o desenvolvimento docente. Assim, “[...] com esse quadro, é possível supor
que as professoras, em sua prática, pouco compreendiam das novas abordagens apresentadas
para o ensino de matemática nos documentos curriculares” (NACARATO; MENGALI;
PASSOS, 2011, p. 18).
Diante disso, revela-se a existência de lacunas na formação docente referentes aos
conhecimentos matemáticos, pois Palma (2010), baseando-se nos estudos de Curi (2004),
destaca que desde os Cursos Normais não há presença de disciplinas destinadas ao
tratamento dos conhecimentos matemáticos, que essas disciplinas não contemplam os
conteúdos matemáticos. Segundo ela, “parece haver um enfoque nos aspectos metodológicos
em detrimento dos conteúdos matemáticos” (PALMA, 2010, p. 20). Complementando, a
autora afirma que:
Quando elas existem, o conhecimento “de e sobre a Matemática” é pouco
enfatizado. E tem se constatado que a carga horária dos cursos de formação
de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, dedicada ao
ensino e aprendizagem de Matemática, é insuficiente para propiciar os
saberes docentes necessários que a prática pedagógica exige. A formação
inicial ainda deixa lacunas que precisarão ser preenchidas, nos cursos de
formação continuada ou nos grupos de estudos formados na própria escola
(PALMA, 2010, p. 20).
É comum constatarmos no meio docente relatos de dificuldades referentes à falta de
apropriação tanto dos conceitos quanto dos conteúdos matemáticos. Igualmente, os relatos
mencionam que dificilmente encontram onde recorrer, tendo muitas vezes que buscar
respostas nos livros didáticos ou na internet.
A formação inicial não tem contemplado os conhecimentos matemáticos necessários
aos docentes. Sobre isso, Curi (2004) revela:
Professores concluem cursos de formação sem conhecimento de conteúdos
matemáticos com os quais irá trabalhar tanto no que concerne a conceitos
quanto a procedimentos, como também da própria linguagem matemática
que utilizarão em sua prática docente, à história do referido conceito, o
55
aprofundamento suficiente para que os futuros professores proponham
situações problematizadora a seus alunos, capazes de favorecer a
aprendizagem matemática (CURI, 2004, p.13).
Em decorrência disso, a autora aponta a necessidade de se aumentar à carga horária
curricular para desenvolver conteúdos matemáticos, tanto para suprir as demandas
formativas profissionais dessa disciplina quanto para a superação das deficiências relativas
à formação matemática básica apresentada pelos futuros docentes (CURI, 2004, p. 13).
Essas afirmações levam-nos a inferir que a formação inicial nem sempre propicia os
saberes docentes necessários à prática pedagógica, o que suscita a necessidade da formação
continuada. A formação continuada não se justifica pelos déficits que advenham da formação
inicial, mas possibilita a discussão de vários aspectos não contemplados nela.
Confirmamos nossa posição, concordando com Gatti, Barreto e André (2011, p.845),
de que “é preciso investir maciçamente na formação inicial dos professores, de modo que a
formação continuada não seja obrigada a atuar retrospectivamente e, portanto, de forma
compensatória”. Ou seja, repetindo as mesmas propostas com os mesmos conteúdos, e sim
“[...] uma formação continuada prospectiva, por meio da qual o professor ganhe mais
autonomia, inclusive para opinar em que aspecto e de que formas deve se dar seu
aprimoramento profissional” (GATTI; BARRETO; ANDRÉ, 2011, p. 845). Ou seja, o
adequado seria uma formação realizada em continuidade com a formação inicial e que
contemplasse tanto os saberes provenientes da formação inicial, como os saberes advindos
da experiência e da prática docente, de maneira que pudessem sanar as dificuldades e
limitações referentes às atividades desenvolvidas em sala de aula.
Mota e Oliveira (2006) ampliam a necessidade de articulação entre as instâncias
formativas, quando afirma:
Teoricamente, a formação de professores está diretamente relacionada à
vida política, social e econômica da sociedade moderna, na qual e para a
qual existe a educação como um processo em permanente transformação.
A formação de professores, assim entendida, exige a compreensão das
condições objetivas do seu trabalho, do currículo e das relações decorrentes
do processo ensino-aprendizagem, em permanente processo de construção
do saber docente e dos aspectos institucionalizadores da prática
pedagógica, realçando-se assim, a necessidade de articulação da formação
inicial com a formação continuada mediada pela própria prática
pedagógica. (MOTA; OLIVEIRA, 2006, p. 1).
56
Corroboramos com as autoras na medida em que elas consideram a formações inicial
e continuada indissociáveis entre si, constituindo um “contínuo processo de ação-reflexão-
ação, a qual busca seu conteúdo no encontro da prática pedagógica com o conhecimento
teórico” (MOTA; OLIVEIRA, 2006, p. 1). A primeira formação [...] significa a
instrumentalização dos professores para o exercício da atividade pedagógica construída pela
agencia formadora; a segunda, se expressa por [...] um processo dinâmico por meio do qual,
no exercício de sua prática profissional, os professores vão adequando sua formação às
exigências do ato de ensinar” (MOTA; OLIVEIRA, 2006, p. 1).
Assim sendo, ambas as formações se tornam interdependentes. Nesse sentido, a
formação continuada visa ao suprimento das lacunas deixadas pela formação inicial, bem
como a continuidade do processo formativo.
Vejamos, então, como tem se apresentado a formação continuada de professores dos
anos iniciais (AI) do Ensino Fundamental (EF).
2.2 A Formação Continuada de Professores dos Anos Iniciais
A formação continuada de professores dos AI, é um dos itens que compõe toda a
discussão acerca das ações necessárias ao melhoramento da qualidade da educação básica
no Brasil, nos últimos anos. Imbernón (2010, p. 39), destaca que “em todos os países, em
todos os textos oficiais, em todos os discursos, a formação continuada ou capacitação
começa a ser considerada como fundamental, a fim de se alcançar o sucesso nas reformas
educacionais”.
Por seu turno, Fiorentini (2004, p. 124) afirma que “pensar a constituição do
professor somente no período da formação inicial, independente da continuada, isto é,
daquela que acontece no próprio processo de trabalho, é negar a história de vida do futuro
professor; é negá-lo como sujeito de possibilidades”. Para o autor, isso pressupõe considerar,
equivocadamente, que o conhecimento esteja pronto e acabado.
Libâneo (2004) corrobora com essa afirmação, ao entender que a formação do
professor não se completa na formação inicial.
A formação continuada do professor, é o prolongamento da formação
inicial visando o aperfeiçoamento profissional teórico e prático no próprio
contexto de trabalho e, ao desenvolvimento de uma cultura geral, mais
ampla, para além do exercício profissional (LIBÂNEO, 2004, p. 241).
57
Ou seja, é pertinente considerar o processo formativo como contínuo, de modo que
acompanhe o desenvolvimento científico, cultural e social que se estende ao longo da
atividade docente.
Nessa mesma perspectiva, Marim (2011, p. 97) sinaliza que “precisamos
compreender que a formação continuada seja concebida como processo dinâmico por meio
do qual, ao longo do tempo, o profissional da educação irá adequando sua formação às
exigências de sua atividade profissional”, e não mais da forma estanque, rasa e/ou aligeirada,
como vinha sendo proposta.
Ao longo das décadas, segundo Fiorentini e Nacarato (2005), a formação continuada
vem recebendo diversos nomes para designá-la, como: “capacitação, aperfeiçoamento,
treinamento, reciclagem, formação permanente, formação continuada, e mais recentemente,
educação continuada, desenvolvimento profissional ou profissionalização” (FIORENTINI;
NACARATO, 2005, p. 8).
De acordo com os mesmos autores, nas décadas de 1970 e 1980, essa formação
limitava-se a ofertar cursos caracterizados como “reciclagem, treinamento ou capacitação de
professores em novas técnicas e metodologias de ensino de matemática”, pois se baseava no
pressuposto de que, com o passar dos anos, os professores apresentavam conteúdos e
metodologias defasados, dificultando a produção de novos conhecimentos e a atualização
das práticas pedagógicas, sendo necessário, para isso, “[...] tomar conhecimento dos novos
saberes curriculares produzidos pelos especialistas” (FIORENTINI; NACARATO, 2005, p.
8).
Predominava, nessas décadas, um modelo meramente aplicacionista, que trazia
características da racionalidade técnica6, porém, na década seguinte, as propostas para a
formação docente, passaram a dar enfoque ao profissionalismo, com maior ênfase aos
saberes docentes, aos saberes de sua própria experiência. Dessa maneira, o professor, além
de pesquisar, também reflete sobre sua prática, e de modo que a formação passa, então, a ser
entendida como “sendo um conjunto de competências adquiridas pela formação e pela
experiência” (GATTI, 2011, p. 43).
Mais recentemente, os estudos produzidos, como os de Gatti (2008) e Davis et al.
(2011), apresentam a formação continuada, de uma forma geral, permeada por uma
6 De acordo com esse modelo, também conhecido como a epistemologia positivista da prática, “a
atividade profissional consiste na solução instrumental de um problema feita pela rigorosa aplicação
de uma teoria científica ou uma técnica”. (SCHÖN, 1983, p. 21).
58
complexidade de fatores, os quais abrangem todo o desenvolvimento escolar, como o
currículo, o processo de ensino e aprendizagem e a profissão docente, entre outros, que
retratam o panorama das formações no Brasil.
Davis et al. (2011), após leitura de bibliografia especializada, constataram que a ideia
recorrente da formação continuada de professores se faz necessária e se dá devido às
limitações da formação inicial, que ainda deixa muitas lacunas, que inevitavelmente,
repercutem de forma negativa no trabalho docente. Uma delas ficou conhecida como modelo
do déficit, que consiste no preenchimento das lacunas deixadas pelos cursos de licenciatura;
a outra, como modelo do aperfeiçoamento constante. Essa se deu pelo fato do campo
educacional ser “muito dinâmico e suscitar constantemente a produção de novos
conhecimentos no processo ensino aprendizagem, que exige dos professores expansão e
aprimoramentos constantes, tanto da base conceitual como de suas habilidades pedagógicas”
(DAVIS et al., 2011, p. 829).
Concordamos com Fanizzi (2015) na medida em que afirma que tanto o modelo do
déficit quanto o modelo que propõe um aperfeiçoamento constante do professor, “não são
antagônicos, embora sejam descritos separadamente” nos estudos citados; ainda assim,
demonstram a “[...] complementaridade que existe entre ambos”. Assim, considera cabível
“uma formação continuada que preencha lacunas da formação inicial, cuja proposta seja
também parte de um programa de atualização do professor” (FANIZZI, 2015, p. 89).
Davis et al. (2011), ainda sobre a formação continuada, destacam outra classificação,
que se divide em duas perspectivas: “a perspectiva individualista, que centra na figura do
professor, e a perspectiva colaborativa, centrada em atividades realizadas
predominantemente nas escolas, com ênfase no trabalho partilhado” (DAVIS et al., 2011, p.
826).
A perspectiva individualista apresenta três suposições que a fundamentam, de acordo
com as autoras:
Vários tipos de suposição embasam a vertente individualista, entre elas as
seguintes: (i) a maior qualificação dos docentes em termos éticos e
políticos permitirá que eles aquilatem melhor sua importância social,
conheçam mais seu papel e as expectativas nele colocadas, de modo que
possam construir um novo sentido para sua profissão; (ii) a formação
inicial dos docentes é aligeirada, sendo central ajudá-los a superar entraves
encontrados no exercício profissional relativos à falta de conhecimentos
científicos essenciais, de habilidade para o adequado manejo da sala de
aula e, ainda, de uma visão objetiva sobre questões e temas frequentes no
dia a dia escolar, como violência, uso abusivo de drogas, gravidez e/ou
paternidade na adolescência, etc.; (iii) os ciclos de vida profissional
59
precisam ser considerados, tendo em vista que a experiência docente e suas
perspectivas mudam conforme os interesses e necessidades da faixa etária.
(DAVIS et al., 2011, p. 829-830).
Nesse sentido, o professor precisa buscar ampliar o conhecimento e a compreensão
dessas questões, que se fazem presentes na sociedade e na escola. Da mesma forma, apoiar-
se na perspectiva colaborativa, a qual se centra no desenvolvimento das “equipes
pedagógicas (direção, coordenação, corpo docente) das escolas, que deve ocorrer,
prioritariamente, no interior de cada uma delas, à luz dos problemas enfrentados” (DAVIS et
al., 2011, p. 831-832).
As autoras relatam que os estudos dessa vertente
Subdividem-se em dois subgrupos: (i) aqueles que entendem ser o
coordenador pedagógico – CP – o principal responsável pelas ações de
formação continuada na escola; e (ii) o que buscam fortalecer e legitimar a
escola como lócus de formação continua e permanente, de modo a criar
nela uma comunidade colaborativa de aprendizagem (DAVIS et al., 2011,
p. 831-832).
Nesse ponto, concordamos com as autoras sobre a coexistência de ambas as
propostas, sendo a escola um espaço legitimado como lócus de formação de professores, de
forma continuada e permanente, contando com a presença do coordenador pedagógico na
condução da formação docente.
Diante disso, reconhecemos a importância dos trabalhos realizados no coletivo, onde
geralmente acontecem as formações, estudos, discussões e planejamentos. De acordo com
Nacarato (2005, p. 186), essa condição “dá ao docente a segurança de que necessita para
enfrentar o trabalho, e, sobretudo as experiências inovadoras”, embora não seja possível
separar as duas formas de se trabalhar, pois a apropriação do conhecimento docente, mesmo
se dando individualmente, condiciona-se a que o professor atue no coletivo da escola.
Compreendemos, dessa forma, que a formação faz-se necessária, tendo em vista um
cenário em que as informações são transmitidas com rapidez, as mudanças sociais e os
conhecimentos alteram-se, ampliam-se a cada dia, e os estudos e pesquisas tornam-se
imprescindíveis a todos os profissionais, promovendo uma postura proativa ante seu
desenvolvimento profissional. Para o professor, o exercício da investigação torna-se uma
constante, uma busca de novos conhecimentos e de melhores formas de desenvolvê-los em
sala de aula.
60
No campo específico da Matemática, assim como nas demais áreas, a formação
continuada também vem se apresentando como uma possível alternativa no tratamento das
várias lacunas decorrentes da formação inicial, entendida como um “continuum” por
Nacarato (2008). Espera-se que não seja fragmentária e descontínua e nem leve à repetição
dos mesmos temas, conteúdos e metodologias, os quais pouco ou nada contribuem para o
desenvolvimento docente, mas que considere juntamente o conhecimento conceitual e o
epistemológico, assim como os saberes docentes.
Da forma como vêm sendo propostos os programas de formação continuada
governamentais, muitas vezes impostos verticalmente, há uma tendência de que o professor
modifique/adeque sua prática mediante as orientações recebidas da formação, que podem
causar um “curto-circuito” no trabalho docente. Segundo Imbernón (2010, p. 37), isso
“ocorre quando a formação exige do professor que ele faça mudanças em sua prática
pedagógica, sem que esteja convencido teórica e experiencialmente, de que elas são
necessárias”. Consequentemente, sempre que as práticas formativas desconsiderarem o
contexto em que os professores atuam e não respeitarem o tempo necessário para a
apropriação das novas propostas, em conjunto com os seus pares, os “curto-circuitos”
acontecerão, trazendo mais transtornos que benefícios, chegando até comprometer o
desenvolvimento do processo educacional.
Torna-se necessária, portanto, uma redefinição da docência como profissão e, para
tanto, precisamos compreender como vem se apresentando esse processo nas últimas
décadas. De igual forma, como as políticas públicas têm interferido no processo, quais têm
sido os avanços e as contribuições para a formação docente no Brasil.
Nacarato, Mengali e Passos (2011), corroboram com tais ideias, no sentido de que,
somando-se a outros fatores, a melhoria educacional exige urgentes avanços no modelo de
formação docente, tanto na formação inicial quanto na continuada.
[...] o desafio consiste em criar contextos em que crenças que essas futuras
professoras foram construindo ao longo da escolarização possam ser
problematizadas e colocadas em reflexão, mas, ao mesmo tempo, que
possam tomar contato com os fundamentos da matemática de forma
integrada às questões pedagógicas, dentro das atuais tendências em
educação matemática. [...] no que diz respeito à formação continuada,
cursos centrados em sugestões de novas abordagens para a sala nada têm
contribuído para a formação profissional docente; é necessário que as
práticas das professoras sejam objeto de discussão. As práticas
pedagógicas que forem questionadas, refletidas poderão contribuir para a
mudança de crenças e saberes dessas professoras (NACARATO;
MENGALI; PASSOS, 2011, p. 37-38).
61
Embora os professores participem de forma coletiva das formações ofertadas pelas
instituições governamentais, ou por livre iniciativa, cada qual pode se apropriar ou não da
proposta formativa. Ferreira (2003, p. 36) aponta que “cada professor cresce
profissionalmente a seu modo: avançando e recuando, arriscando-se em novas estratégias ou
deixando-se levar pelos modismos ou conveniências, refletindo conscientemente sobre sua
prática pedagógica ou desenvolvendo-a mecanicamente”. Assim, a decisão quanto à
qualidade e continuidade do desenvolvimento profissional submete-se à decisão pessoal do
professor.
Concordamos sobre a grande importância desses investimentos institucionais,
todavia, reiteramos a posição sobre a decisão individual dos professores na apropriação dos
conhecimentos ofertados pelas formações.
Quando se refere aos saberes da formação profissional, teoricamente produzidos em
pesquisas dissociadas das necessidades da sala de aula, Guérios (2005) constatou:
Em um dos extremos, os professores aceitam-nos dogmaticamente, crendo
que adotando-os, resolverão de imediato os problemas de sua prática.
Acreditando ser o melhor a fazer, repetem fórmulas, modelos ou métodos,
tais como verticalmente foram recebidos. No outro extremo, agem com
rejeição a priori, justificando não haver identificação entre a prática que
vivenciam e o conhecimento teoricamente produzido que lhes é
disponibilizado (GUÉRIOS, 2005, p. 136).
Comumente, observamos em nosso meio, posicionamento de professores que optam
por uma das extremidades, ansiosos por respostas prontas às questões que lhes angustiam,
como, por exemplo, a não aprendizagem de seus alunos. Isso pode ocorrer pelo
desconhecimento da incompletude do desenvolvimento das propostas na formação. Tal
situação pode se explicar por diversas circunstâncias: aceitam-na de forma passiva; aplicam
aos alunos; bloqueiam as possibilidades, preferindo outras experiências anteriores, por
considerá-las como modismos.
Guérios complementa que tanto
[...] a rejeição quanto o aceitamento tácito de conhecimento não faz sentido
em um processo de formação continuada, [...] uma vez que o que buscamos
é o aprimoramento da prática pedagógica pela continuidade de sua
formação numa perspectiva de transformação (GUÉRIOS, 2005, p. 136).
62
A recomendação seria a busca de um equilíbrio entre os conhecimentos adquiridos e
a vida do professor, já que ambos não se dissociam, pois “os conhecimentos adquiridos em
momentos formais interagem, ou pelo menos devem interagir com a vida do professor –
considerada nas dimensões profissionais e pessoal, incluindo os âmbitos emocional e
afetivo” (GUÉRIOS, 2005, p. 136). Assim, o desenvolvimento profissional se dará de forma
integrada.
No processo de desenvolvimento, observamos nas últimas décadas, a partir da LDB
de 1996, o Plano Nacional de Educação (PNE), de 2001, e, mais recentemente, a versão de
2014. Da mesma forma, tivemos a implantação de propostas curriculares, como os PCN, em
1997, os quais vêm ampliando e implementando as discussões em âmbito federal, estadual
e municipal acerca da valorização profissional docente.
Assim, diversas propostas de formação continuada foram elaboradas, implantadas e
desenvolvidas em todo território brasileiro, com o objetivo de contribuir com a melhoria do
trabalho pedagógico mediante programas, como: Um Salto para o Futuro, Parâmetros em
Ação - Programa de Desenvolvimento Profissional Continuado, Programa de Professores
Alfabetizadores (PROFA) e Programa de Gestão da Aprendizagem Escolar - Gestar I e II
(do Fundescola).
O programa federal Pró-Letramento foi implantado em 2005, com um diferencial, já
que trouxe a formação continuada na área da Matemática.
No ano de 2008 passa a ser articulado à Provinha Brasil – Avaliação dos Anos
Iniciais, e a prova torna-se instrumento diagnóstico, em que os resultados são incorporados
ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), cujo intuito é atender às
demandas de informações sobre o nível de alfabetização dos alunos, de modo a subsidiar as
intervenções pedagógicas e administrativas que balizem o redirecionamento das práticas
alfabetizadoras com base nas análises das respostas dos alunos (GATTI, 2011).
A LDB/1996, no capítulo VI, em seus artigos 61 a 67, refere-se aos profissionais da
educação, definindo três campos de formação no âmbito do magistério: a inicial, para
formação de professores para a Educação Básica; a pedagógica, destinada aos portadores
com diploma de Ensino Superior que queiram atuar na Educação Básica; e a continuada, que
deve ser oferecida aos profissionais da educação dos diversos níveis de ensino.
Embora a lei destaque o papel da formação em serviço, não define princípios e
procedimentos para a sua realização: “A formação de profissionais da educação [...] terá
como fundamentos: a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante capacitação em
serviço” (Art. 61, inciso I). A lei esclarece que os sistemas de ensino deverão valorizar os
63
profissionais da Educação e assegurar-lhes, por meio dos estatutos e planos de carreira, o
aperfeiçoamento profissional continuado (Art. 67, inciso II). A legislação define, ainda, que
os municípios serão os responsáveis primeiros pela formação em serviço (Art. 87, § 3º, inciso
III) (BRASIL, 1999, p. 65-57).
Gatti (2008) reflete sobre a necessidade de um longo período de debates sobre a
importância da formação continuada, especialmente nos poderes públicos, conforme o
trecho a seguir destacado:
O artigo 67, que estipula que os sistemas de ensino deverão promover a
valorização dos profissionais da educação, traz em seu inciso II o
aperfeiçoamento profissional continuado como uma obrigação dos poderes
públicos, inclusive propondo o licenciamento periódico remunerado para
esse fim. Mais adiante, em seu artigo 80, está que “o Poder Público
incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino
a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação
continuada” (grifo nosso). E, nas disposições transitórias, no artigo 87, §
3º, inciso II, fica explicitado o dever de cada município de “realizar
programas de capacitação para todos os professores em exercício,
utilizando também, para isto, os recursos da educação à distância”. No que
diz respeito profissional de modo geral, a lei coloca a educação continuada
como uma das estratégias para a formação para o trabalho (Art. 40)
(GATTI, 2008, p. 64).
Nesse contexto, a formação continuada recebe um destaque e amparo legal para a
implementação do desenvolvimento docente, pois possibilita a criação de espaços para uma
dimensão coletiva para as discussões, reflexões e produção de saberes e valores que
oportunizam a saída do professor do isolamento da sala de aula, em busca de uma reflexão
coletiva, por meio do compartilhamento de experiências, avanços, sucessos, dilemas e
dificuldades vivenciadas.
Contudo, as mudanças nas práticas dos professores não acontecem de forma
imediata. Sobre isso, Gatti (2011), afirma:
A utilização de ideias e valores como instrumentos de mudança da prática
educativa requer outras estratégias e demanda tempo para consolidar-se
que não aquele da duração dos cursos propostos. É comum afirmar-se que,
terminado o programa de formação, tudo volta a ser como antes, seu prazo
de validade finda com a própria vigência do programa (GATTI, 2011, p.
223).
64
A autora, referindo-se aos estudos de Altobelli (2008), relata que as professoras
participantes de vários programas de formação para professores alfabetizadores afirmam
que:
[...] mudaram sua concepção e suas ideias sobre alfabetização, mas que os
cursos não influenciaram suas práticas. Assimilados os princípios
preconizados, elas têm dúvidas e sentem dificuldade de aplicá-los nos
contextos em que trabalham, mas a falta de acompanhamento, após o
período de formação, interrompe a interlocução iniciada durante o curso
(ALTOBELLI apud GATTI, 2008 p. 223).
Defendemos que os programas de formação continuada devem contribuir para que a
construção da identidade docente aconteça de forma articulada com os demais profissionais
da escola: gestores, coordenadores pedagógicos e entre os próprios professores. Entendemos
a formação está vinculada às experiências vivenciadas constantemente na prática pedagógica
e na apropriação de conhecimentos, devendo ter as condições necessárias à sua continuidade.
Por outro lado, é importante que esses programas também sejam avaliados,
especialmente no contexto das escolas, e que, nesse bojo, sejam considerados a sua
importância para o desenvolvimento pessoal e profissional docente, a organização curricular,
os recursos oferecidos, assim como o perfil dos alunos e da comunidade onde estão inseridos.
Referindo-se às avaliações dos programas, Romanowski (2010) aponta:
Tornam-se fundamentais as avaliações dos programas, sendo
absolutamente necessário incluir várias categorias no levantamento de
dados. Entre elas, verificar como os professores percebem os fins da
educação, os conteúdos curriculares, métodos, recursos de ensino e as
práticas de avaliação (ROMANOWSKI, 2010, p. 139).
Assim, consideramos importante ouvir os relatos das professoras, pois isso significa
dar voz ao sujeito que detém grande parte da responsabilidade na condução de um bom
ensino, oportunizando que se expresse sobre o que pensam, como pensam e relatam. Esses
relatos estão repletos de lembranças, vivências, experiências pessoais, também
compartilhadas com o grupo ao qual pertence.
Nesse sentido, destacamos também a importância do trabalho colaborativo
desenvolvido nas escolas, que nos dizeres de Nacarato (2005, p. 192), “é central ao processo
de desenvolvimento profissional uma prática pautada num trabalho colaborativo em que os
docentes se sentem à vontade para relatar seus sucessos e fracassos”. Ou seja, se por um lado
os sucessos contribuem para o melhoramento do grupo e possibilita a ressignificação das
65
práticas escolares, por outro, os fracassos quando compartilhados com os pares, se discutidos
e refletidos podem elencar aspectos que precisam ser melhorados. (NACARATO, 2005, p.
192).
Contudo, muito embora os docentes participem das discussões e planejamentos
coletivos, isso não representa a anulação da individualidade, pois essa se mantém. E isso,
“[...] parece revelar, que embora a produção de saberes docentes ocorra pela mediação do
coletivo dos professores, ela é, em última instância, também um processo individual e
subjetivo”. (Ibidem).
Assim, se o grupo é fundamental ao processo de produção de saberes e de reflexão,
a apropriação ou internalização é um processo individual ou particular de cada integrante do
grupo.
Apresentamos no item seguinte, o programa de formação PNAIC Matemática, a
partir do qual investigamos o que dizem as professoras sobre o processo formativo
vivenciado.
2.3 O Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC)
O Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) trata-se de um
programa do Ministério da Educação (MEC) que conta com a participação articulada entre
o Governo Federal, os Governos Estaduais e Municipais e o Distrito Federal, dispostos a
mobilizar esforços e recursos, tendo em vista a valorização dos professores e das escolas.
Além disso, visa ao apoio pedagógico, com materiais didáticos de qualidade para todas as
crianças do ciclo de alfabetização, e à implementação de sistemas adequados de avaliação,
gestão e monitoramento, objetivando alfabetizar plenamente todas as crianças até oito anos
de idade, apresentando como referência o Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007 e a Meta
5 do PNE.
O Pacto ofereceu formação continuada em grande escala, e é considerado o maior
programa de formação de professores já desenvolvido pelo MEC, tanto pela abrangência da
maioria dos municípios brasileiros, como pelo número de professores participantes.
Foi implantado em 2013, em todos os municípios e estados do Brasil, propondo a
Alfabetização na Perspectiva do Letramento e, no ano seguinte, a Alfabetização Matemática.
A organização da formação e do processo contou com a articulação entre o MEC e as
66
Universidades parceiras, trabalhando conjuntamente com equipes de formadores de
Linguagem e de Matemática.
No caderno de Matemática do Pacto (BRASIL, 2013) a contribuição com o
aperfeiçoamento profissional dos professores alfabetizadores, foi constituída por um
conjunto integrado de ações, materiais e referencias curriculares e pedagógicas
disponibilizado pelo MEC, tendo como eixo principal a formação continuada de professores
alfabetizadores.
As ações do Pacto apoiam-se em quatro eixos de atuação, segundo BRASIL (2013,
p.8).
1. Formação continuada presencial para professores alfabetizadores e seus
orientadores de estudo e a constituição de uma rede de professores orientadores de
estudo. O MEC poderá conceder bolsas de estudos para os orientadores de estudo e os
professores alfabetizadores, nos termos da Lei nº 11.273 de 2006, com valores e
critérios regulamentados em resolução específica do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE).
2. Materiais didáticos, obras literárias, obras de apoio pedagógicos, jogos e
tecnologias educacionais: o presente eixo é composto por um conjunto de materiais
específicos para a alfabetização. Foram entregues aos participantes materiais
pedagógicos, livros didáticos e manuais do professor, que são distribuídos pelo
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), além de jogos pedagógicos, obras de
referência, de leitura e de pesquisa fornecidos pelo Programam Nacional Biblioteca na
Escola (PNBE), assim como tecnologias educacionais de apoio à alfabetização.
3. Avaliações sistemáticas: importantes componentes são reunidos e caraterizados pelas
avaliações periódicas durante a formação, mas também por meio da Provinha Brasil,
aplicadas aos alunos do 2º ano do EF, e da Avaliação Nacional da Alfabetização
(ANA), ao final do 3º ano do EF. Os dados resultantes dessas avaliações servem tanto
para avaliar o desempenho das turmas quanto para planejar políticas públicas para a
alfabetização.
4. Gestão, controle social e mobilização.
O PNAIC-Alfabetização Matemática (2014, p. 41) “traz a Educação Matemática na
perspectiva do letramento e que tem como eixo central a resolução de situações-
problema e o desenvolvimento do pensamento lógico”. Além disso, contribui para que
67
a definição de direitos e objetivos de aprendizagem da Matemática repercuta
positivamente na prática de ensino de matemática no Ciclo de Alfabetização.
No que diz respeito ao professor alfabetizador, a orientação é que ele seja tratado
como um profissional em formação em todas as áreas do ciclo de alfabetização. Para auxiliar
nesse processo, visto que um dos seus eixos trata da formação continuada, o Pacto
Matemática traz em seu caderno de apresentação, os princípios da formação continuada que
orientam suas ações:
A prática da reflexividade: pautada na ação prática/teoria/prática,
operacionalizada na análise de práticas de salas de aulas, aliadas à
reflexão teórica e reelaboração das práticas.
A constituição da identidade profissional: efetivada em momentos
de reflexão sobre as memórias do professor enquanto sujeito de um
processo mais amplo, procurando auxiliá-lo a perceber-se em
constante processo de formação.
A socialização: operacionalizada na criação e fortalecimento de
grupos de estudo durante as formações que, espera-se, transcenda o
momento presencial, diminuindo o isolamento profissional,
intrínseco à profissão de professor, que, em geral, mantém contato
com pais, alunos e diretores, mas não com seus pares.
O engajamento: privilegiar o gosto em continuar a aprender é uma
das metas primordiais da formação continuada e certamente faz parte
da melhoria de atuação em qualquer profissão.
A colaboração: para além da socialização, trata-se de um elemento
fundamental no processo de formação. Através da colaboração,
busca-se a formação de uma rede que visa ao aprendizado coletivo,
por meio do qual os professores exercitem a participação, o respeito,
a solidariedade, a apropriação e o pertencimento (BRASIL, 2014, p.
15).
Dedicamos especial atenção ao caderno de apresentação da Alfabetização
Matemática, nos quais os Direitos e Objetivos de Aprendizagem de Matemática para o Ciclo
de Alfabetização apresentados no Documento Elementos Conceituais e Metodológicos7
7 Esse documento é parte essencial de uma política de governo que está consubstanciada na MP nº 586/2012,
que foi anunciada pela Presidente da República no mesmo dia do lançamento do Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa, em novembro de 2012 com a assinatura de adesão de 5.240 municípios e dos 27
estados da federação. O Pacto Nacional supõe ações governamentais de cursos sistemáticos de formação de
professores alfabetizadores, oferecidos pelas Universidades Públicas participantes da Rede de Formação, a
disponibilização de materiais pedagógicos fornecidos pelo MEC, assim como um amplo sistema de avaliações,
prevendo registros e análise de resultados que induzem ao atendimento mais eficaz aos alunos em seu percurso
de aprendizagem. As ações do Pacto Nacional pressupõem também gestão do processo, controle social e
mobilização cujas responsabilidades estão repartidas entre os municípios, os estados e a união (BRASIL, 2012,
p. 7).
68
foram utilizados para definição dos Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento do Ciclo
de Alfabetização (1º, 2º e 3º anos) do Ensino Fundamental.
Na sequência, apresentamos os cinco Direitos Básicos de Aprendizagem em
Matemática recomendados pelo PNAIC Matemática para os AI do EF, conforme consta no
Quadro 3:
Quadro 3 – Os cinco Direitos de Aprendizagem em Matemática
DIREITOS DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA
I. Utilizar caminhos próprios na construção do conhecimento matemático, como ciência e cultura
construída pelo homem, através dos tempos, em resposta a necessidades concretas e a desafios
próprios dessa construção;
II. Reconhecer regularidades em diversas situações, de diversas naturezas, compará-las e
estabelecer relações entre elas e as regularidades já conhecidas;
III. Perceber a importância da utilização de uma linguagem simbólica universal na representação
e modelagem de situações matemáticas como forma de comunicação;
IV. Desenvolver o espírito investigativo, crítico e criativo, no contexto de situações-problema,
produzindo registros próprios e buscando diferentes estratégias de solução;
V. Fazer uso do cálculo mental, exato, aproximando e de estimativas. Utilizar as Tecnologias da
Informação e Comunicação potencializando sua aplicação em diferentes situações.
Fonte: BRASIL (2014)
Para melhor organização, os Direitos de Aprendizagem são relacionados a partir da
organização dos conteúdos e eixos estruturantes para alfabetização e letramento matemático,
separados apenas para fins de organização. Recomenda-se que sejam “abordados de forma
integrada para proporcionarem experiências com as práticas de representar, pois são
constituídos por conceitos, propriedades, estruturas e relações” (BRASIL, 2014, p. 43).
Cada caderno apresenta um eixo matemático correspondente:
Números e Operações;
Pensamento Algébrico;
Espaço e Forma/Geometria
Grandezas e Medidas
Tratamento da Informação/Estatística e Probabilidade (BRASIL,
2014, p. 43).
Com o foco na situação-problema, que amplia as possibilidades de desenvolvimento
de uma aprendizagem mais significativa, é possível, por meio dos cinco direitos básicos de
69
matemática, alcançar as seguintes expectativas do letramento, conforme apresentamos a
seguir no Quadro 4:
Quadro 4 – Eixos Estruturantes e Objetivos dos Direitos de Aprendizagem
I. O aluno pode utilizar
caminhos próprios na
construção do
conhecimento
matemático
No Ciclo de Alfabetização, a criança pode experimentar situações
em que é solicitada, por exemplo, a classificar, a comparar, a
medir, a quantificar e a prever. Essas práticas são desenvolvidas
sempre de forma inclusiva e colaborativa, favorecendo o convívio
e as trocas de conhecimento dentro de variadas práticas sociais e
culturais.
II. O aluno precisa
reconhecer e estabelecer
relações entre
regularidades em
diversas situações
No Ciclo de Alfabetização, as crianças precisam ser ativas na sala
de aula: manipular objetos, construir e desconstruir sequências,
desenhar, medir, comparar, classificar e modificar sequências
estabelecidas por padrões. Essas atividades são amplamente
mobilizadas pelo uso do próprio corpo como referência para
contagens e mediações, pelo uso de jogos, materiais diversos e
livros de literatura já distribuídos pelo MEC e presentes nas
escolas.
III. O aluno tem
necessidade de perceber
a importância das ideias
matemáticas como forma
de comunicação
No Ciclo de Alfabetização fica em evidência a oralidade
matemática: o falar e o conversar sobre a matemática, sobre
elementos presentes nos conteúdos e ideias matemáticas, na
apresentação e explicitação de pontos de vista. Além da
linguagem comum, fazendo referência a triângulos, quadrados,
somar, dividir, ordenar, etc., se inicia com as práticas de
argumentação, de defesas de pontos de vistas e de organização
temporal das ações.
IV. O aluno precisa
desenvolver seu espírito
investigativo, crítico e
criativo, no contexto de
situações-problema,
produzindo registros
próprios e buscando
diferentes estratégias de
solução
No Ciclo de Alfabetização, é importante que a criança perceba que
a tentativa e o erro fazem parte do seu processo de construção do
conhecimento e, para isso, precisa ser instigada a refletir sobre
suas ações que, quando instigantes, despertam a curiosidade, o
desejo de responder, de ajustar-se ou de contestar as regras de um
jogo, de seguir ou questionar estratégias sugeridas por um colega.
Quando a escola trabalha em uma perspectiva de convívio, de
inclusão, surgem as situações em que há necessidade de
negociação entre as crianças – ou entre os adultos e as crianças –
ou entre os adultos e as crianças. Esse é o campo das situações-
problema, que fornecem amplas possibilidades de registros e
práticas.
V. O aluno precisa fazer
uso do cálculo mental,
exato, aproximado e de
estimativa, utilizando as
Tecnologias da
Informação e
Comunicação em
diferentes situações
No Ciclo de Alfabetização, é importante que o cálculo mental e
aproximado seja valorizado, pois contém e revela estratégias que
podem ser usadas pelos professores para a sistematização de
estimativas (com variadas formas de registro) e, posteriormente,
de cálculos “exatos”, obtidos mediante algoritmos escritos ou
calculadoras. A informática pode ser utilizada para o
desenvolvimento da autonomia dos alunos em práticas de
pesquisa. As tecnologias também se mostram importantes para
que sejam instituídas – na prática – várias possibilidades de
convívio e comunicação com os alunos com deficiência sensorial,
intelectual ou motora.
70
Fonte: Organização da autora, com base no documento – PNAIC Matemática (2014, p. 15).
Os indicadores insatisfatórios de alfabetismo funcional favoreceram o aparecimento
de medidas que alcançaram as práticas pedagógicas, principalmente as dos professores
alfabetizadores, que se tornaram o centro do debate pedagógico. A alfabetização e o
letramento receberam destaque e mobilizam muitas reflexões acerca de processos de
formação continuada para professores dos sistemas públicos de ensino, assim como a
apropriação do conhecimento escolar pelas crianças.
O Ministério da Educação vem buscando novos direcionamentos para a educação
brasileira, ao apresentar o “Programa Toda Criança Aprendendo” (TCA), que já trazia linhas
de ação prioritárias: implantação de Política Nacional de Valorização e Formação de
Professores; ampliação do atendimento escolar, incluindo as crianças de seis anos no ensino
fundamental; apoio à construção de Sistemas Estaduais de Avaliação da Educação Básica e
instituição de programas de apoio ao letramento. Mas o programa recebeu diversas críticas,
já que excluía a participação docente na elaboração da proposta detalhada de formação
continuada e da concepção de avaliação como instrumento de caráter processual e
interdisciplinar. Defendiam a necessidade de respeito à valorização do trabalho docente e às
suas condições de trabalho.
Como consequência das discussões em torno da proposta, foi implementada a Rede
Nacional de Formação Continuada, com a participação das universidades brasileiras,
contando com investimento público e a realização de um pacto federativo para as relações
educacionais, a partir das disposições constitucionais presentes, respectivamente, nos
Artigos 23 e 211 da Constituição Federal de 1988, que preconiza regime de cooperação entre
os entes federados e Regime de Colaboração entre os sistemas de ensino.
Todos os professores alfabetizadores receberam um conjunto de cadernos, de modo
que cada eixo foi contemplado no respectivo caderno do programa, conforme segue.
O primeiro caderno da apresentação e traz um panorama do programa, com os
seguintes itens: A formação de professores que ensinam Matemática no âmbito do Pacto
Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa; A criança e a Matemática escolar; Alfabetização
Matemática; Os saberes das crianças como ponto de partida para o trabalho pedagógico;
Direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: A Matemática como instrumento
de formação e promoção humana; Eixos estruturantes e objetivos dos Direitos de
Aprendizagem para a Alfabetização Matemática na perspectiva do letramento; Papéis do
brincar e do jogar na Alfabetização Matemática; e as Referências.
71
Os demais cadernos, também distribuídos aos professores alfabetizadores, foram:
Figura 1 – Cadernos do PNAIC – Matemática
Fonte: Cadernos de Formação em Alfabetização Matemática
Os cadernos de Formação em Alfabetização Matemática, assim são denominados:
Organização do trabalho pedagógico (8 horas);
Quantificação, registros e agrupamentos, (8 horas);
Construção do sistema de numeração decimal (12 horas);
Operações na resolução de problemas (12 horas);
Geometria (12 horas);
Grandezas e medidas (12 horas);
Educação estatística (8 horas);
Saberes matemáticos e outros campos dos saberes (8 horas);
Educação matemática no campo (8 horas);
Educação Matemática inclusiva (8 horas);
Jogos na alfabetização Matemática (8 horas). (BRASIL 2014).
Os Orientadores de estudos, após passarem pela formação com os professores de
área, organizavam os conteúdos contidos nos cadernos, que eram estudados com os
professores alfabetizadores a cada encontro, conforme a carga horária.
Vale ressaltar que a carga horária descrita era destinada às atividades presenciais,
todavia, os professores alfabetizadores desenvolviam atividades fora da formação que não
eram contabilizadas.
72
Inclusive uma das atividades realizadas fora da formação era a construção dos jogos
matemáticos a serem utilizados com os alunos, de modo que no encontro subsequente
deveriam ser socializados com outras professoras cursistas.
A formação foi operacionalizada com encontros mensais entre os Professores
Formadores (PF), selecionados pelas universidades públicas brasileiras, e professores
Orientadores de Estudos (OE), selecionados pelos municípios, a partir de critérios
estabelecidos pelo MEC, que organiza, com base nos princípios formativos, os encontros de
formação dos professores alfabetizadores que estejam atuando nos três primeiros anos do
ensino fundamental, em escolas públicas das diversas regiões do país. Eles encontraram-se
semanal/quinzenalmente com os professores alfabetizadores, e desenvolveram o curso de
Alfabetização Matemática, que está organizado em oito unidades, totalizando 80 horas, além
do seminário de encerramento de 8 horas.
Como já mencionamos, as três professoras participantes de nossa pesquisa
participaram da formação do PNAIC- matemática. No próximo capítulo apresentamos o
nosso percurso metodológico.
73
3 PERCURSO METODOLÓGICO
No presente capítulo, pautado nos estudos de Bogdan e Biklen (1994), Minayo
(1994), Gonzáles Rey (2012), Stake (2012) traçamos o percurso da pesquisa com o objetivo
de apresentar a opção metodológica, o tipo de pesquisa, o contexto da pesquisa, a
caracterização das professoras participantes, além dos instrumentos e procedimentos
utilizados para a produção de dados no intuito de responder nosso problema de investigação.
3.1 A opção metodológica
Para responder a indagação sobre o que as professoras alfabetizadoras manifestam
sobre a formação do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa e o processo de
aprender e ensinar Matemática nos Anos Iniciais do EF compreendemos que todas as ações
para a produção dos dados da pesquisa, deveriam ser realizadas no próprio ambiente escolar
onde as professoras realizam suas práticas pedagógicas, ou seja, onde o objeto a ser
pesquisado se manifesta, podendo ser revisitado a qualquer momento por fazer parte da
memória das participantes da pesquisa.
Como intencionamos investigar e analisar por meio dos relatos das professoras
alfabetizadoras acerca da formação do Pacto em Matemática, optamos pela pesquisa
qualitativa, que surgiu como alternativa adequada de respostas aos desafios da investigação
em Ciências Humanas e Educação. De acordo com Bogdan e Biklen (1994), essa abordagem
não objetiva testar hipóteses e as questões investigadas não se evidenciam mediante
operacionalização de variáveis, o que permite a investigação dos fenômenos em toda a sua
complexidade e em contexto natural. Os autores destacam que os depoimentos dos
participantes da pesquisa, na produção de dados qualitativos, “privilegiam, essencialmente,
a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos investigados”
(BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 16).
Diante disso, compreendemos que a abordagem metodológica qualitativa, nos
possibilitou melhor e maior aproximação com nosso objeto de estudo, porque as professoras
falam da perspectiva de quem participou ativamente da formação do Pacto e de quem
vivenciou todas as etapas propostas pela formação.
Corroboramos com a definição de Minayo (1994) com relação ao método qualitativo,
como sendo aquele “capaz de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como
74
inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no
seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas”.
Assim, o método qualitativo se preocupa com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde ao universo mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos, que não podem ser reduzidos apenas à
operacionalização de variáveis, como já dissemos. E sabemos que o contexto em que as
participantes estão inseridas foi contemplado nas análises dos dados produzidos.
Segundo Bogdan e Biklen (1994), cinco características configuram a abordagem
qualitativa, conforme segue:
1) “Na investigação qualitativa, a fonte direta de dados é o ambiente
natural, constituindo o investigador o instrumento principal”. Ou seja, a
pesquisa supõe que o investigador esteja inserido no contexto da pesquisa,
no nosso caso, dentro da escola, em contato direto com o grupo de
professoras investigadas, durante a organização de seus planejamentos
semanais/mensais e todo o trabalho pedagógico por elas realizados.
2) “A investigação qualitativa é descritiva”. Nessa abordagem a produção
de dados se dá por meio das palavras/narrativas e imagens. O registro e a
análise dos dados assumem uma relevância própria, já que são colhidos de
maneira a retratarem, de forma minuciosa e fidedigna, a realidade
investigada. Diversos detalhes do ambiente deveriam ser observados para
compor a resposta de nosso problema de investigação. Propusemos, dessa
forma, especial cuidado e muita atenção ao descrever o ambiente e o que
narram as professoras sobre as suas práticas pedagógicas.
3) “Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que
simplesmente pelos resultados ou produtos”. De acordo com essa
característica, o foco principal do investigador é observar com acuidade
visual e percepção alargada, buscando perceber como o problema se
mostra nas diversas atividades e procedimentos do cotidiano do ambiente
pesquisado e os sujeitos envolvidos na pesquisa. Em nossa pesquisa
procuramos compreender tanto o processo de formação já concluído, como
a maneira como as professoras planejam e organizam as aulas de
matemática atualmente.
4) “Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de
forma indutiva”. Como o objetivo dos investigadores não é confirmar
hipóteses, as abstrações vão sendo construídas à medida que a
singularidade dos dados vai se construindo e manifestando. Só é possível
compreender mais profundamente o objeto de estudo, a partir da coleta dos
dados e depois de certo tempo de contato com os sujeitos da pesquisa. Em
nossa pesquisa fomos percebendo a mudança das primeiras perspectivas e
a congregação dos dados, que foram sendo produzidos e tomando corpo no
contexto da escola a cada encontro com as professoras, em que trocamos
impressões e ouvimos suas narrativas acerca dos temas relativos ao nosso
objeto de pesquisa.
5) “O significado é de importância vital na abordagem qualitativa”.
Segundo os autores, o principal foco de atenção dos pesquisadores é, sem
75
dúvida, o significado que os participantes da pesquisa atribuem às coisas e
a sua vida, pois busca compreender as perspectivas de como veem e sentem
o objeto investigado. Em nossa pesquisa, estivemos o tempo todo atentas
para perceber e identificar nas narrativas das professoras o significado
atribuído à formação do Pacto, como observavam as contribuições, ou não,
trazidas pela formação e o que dizem sobre a prática educativa.
(BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 49).
Assim, optamos por produzir os dados da pesquisa com os participantes em seu
contexto educacional, ou seja, na própria escola, no seu espaço de atuação docente, durante
o desenvolvimento de sua prática escolar.
Nesse movimento, estamos compreendendo que a produção de dados da pesquisa se
apresenta, conforme as discussões de Gonzáles Rey (2012), referentes à concepção do
processo de produção de dados na pesquisa qualitativa, que se contrapõe ao termo
comumente utilizado nas pesquisas nos campos das ciências sociais, ou seja, coleta de dados.
Segundo esse autor, o pesquisador produz os dados da pesquisa, a partir de seus
marcos referenciais prévios e “não está nas aparências do material empírico o objeto do
pesquisador, mas nas diversas formas de organização subjetiva presente em todo tipo de
comportamento ou expressão humana” (GONZÁLES REY, 2012, p. 117).
Entendemos que essa metodologia da pesquisa nos permitiu, por meio do contato
direto entre pesquisadora e participantes da pesquisa, compreender melhor como se deu o
processo de formação do Pacto Matemática e o sentido que lhe é atribuído, conforme narrado
pelas professoras alfabetizadoras.
A partir disso, delineamos a descrição e fundamentação do tipo de pesquisa escolhido
para melhor responder nosso problema.
3.2 O Estudo de Caso
A opção metodológica pela pesquisa qualitativa, conforme descrevemos na seção
anterior, associada ao estudo de caso, “busca retratar a realidade de forma profunda e mais
completa possível, enfatizando a interpretação ou a análise do objeto, no contexto em que se
encontra, mas não permite a manipulação de variáveis e não favorece a generalização”
(FIORENTINI; LORENZATO, 2012, p. 110).
Sobre o estudo de caso, os referidos autores, apoiados pelos estudos realizados por
Gil (1988, p. 58), afirmam que se trata de um “estudo profundo e exaustivo de um ou de
poucos objetos, com contornos claramente definidos, permitindo seu amplo e detalhado
76
conhecimento”. Seguem afirmando que “ele é recomendável para a construção de hipóteses,
para confirmação ou reformulação do problema e, sobretudo, quando se quer estudar algo
singular, que tenha um valor em si mesmo” (FIORENTINI; LORENZATO, 2012, p. 109).
Concordamos sobre a importância de conhecer o contexto individual das professoras
participantes, para ampliar e aprofundar o entendimento sobre aquilo que relatam das suas
experiências na formação na formação do Pacto Matemática, assim como de suas práticas
pedagógicas no período posterior à formação. Stake (2012, p. 11) afirma que “os
investigadores qualitativos tratam das singularidades dos casos e contextos individuais como
importantes para a compreensão. A particularização é um objetivo importante, uma vez
conhecida a particularidade do caso”.
Embora todas tenham participado da mesma formação, cada qual manifestou uma
narrativa particularizada sobre a formação e suas práticas escolares, impregnadas de crenças,
concepções, histórias e vivências ao longo da vida, da formação e da carreira profissional.
Para André (1995), o estudo de caso é recomendado:
1. Quando se está interessado numa instância em particular, isto é, numa
determinada instituição, numa pessoa ou num específico programa ou
currículo;
2. Quando se deseja conhecer profundamente essa instância particular em
sua complexidade e em sua totalidade;
3. Quando se estiver mais interessado naquilo que está ocorrendo e como
está ocorrendo do que nos resultados;
4. Quando se busca descobrir novas hipóteses teóricas, novas relações,
novos conceitos sobre um determinado fenômeno; e
5. Quando se quer retratar o dinamismo de uma situação numa forma muito
próxima do seu acontecer natural. (ANDRÉ, 1995, p. 26).
Sendo o estudo de caso um tipo de pesquisa cuja principal característica é o “contato
direto do pesquisador com a situação pesquisada, permite reconstruir os processos e as
relações que configuram a experiência escolar diária” (ANDRÉ, 1995, p. 41). Para que o
investigador compreenda melhor os processos de ensino e aprendizagem no contexto
escolar, é necessário que se aprofunde a observação in loco, apreendendo o máximo possível
a visão de mundo dos participantes e, principalmente, o sentido que eles atribuem à realidade
na qual estão inseridos.
Se por um lado o aprofundamento possibilita uma maior observação, compreendendo
os processos de ensino e aprendizagem, encontra um outro desafio que, segundo André
(1995), é o de saber articular “o envolvimento e a subjetividade, mantendo o distanciamento
que requer um trabalho científico”.
77
Dessa forma, a autora esclarece:
Distanciamento não é sinônimo de neutralidade, mas que preserve o rigor.
Uma das formas de lidar com essa questão tem sido o estranhamento – um
esforço sistemático de análise de uma situação familiar como se fosse
estranha. Trata-se de saber lidar com percepções e opiniões já formadas,
reconstruindo-os em novas bases, levando em conta, sim, experiências
pessoais, mas filtrando-as com apoio do referencial teórico e de
procedimentos metodológicos específicos, como por exemplo, a
triangulação (ANDRÉ, 1995, p. 48).
No percurso de toda a pesquisa, realizamos esse movimento de aproximação e a de
afastamento, de modo a não interferir no processo de organização das professoras, todavia,
sem perder de vista a produção dos dados que precisávamos para compor nossa pesquisa.
Na sequência, apresentamos o contexto onde a pesquisa foi realizada.
3.3 O contexto e as professoras participantes da pesquisa
As professoras participantes da pesquisa lecionam no município de Cuiabá, capital
do estado de Mato Grosso, na rede pública de educação, contexto da nossa investigação. Ali,
adota-se o sistema de Ciclo de Desenvolvimento Humano desde 1999, pautada no propósito
de superar “a fragmentação e rupturas na construção do conhecimento encontrado na escola
seriada” e, ainda, “promover o respeito ao ritmo de aprendizagem e ao processo de
construção de conhecimento da criança” (CUIABÁ, 2000, p. 20).
O Ensino Fundamental de nove anos possui a seguinte organização:
1º Ciclo (Infância – 6 a 9 anos);
2º Ciclo (Pré-adolescência – 9 a 12 anos – 4º, 5º e 6º anos);
3º Ciclo (Adolescência – 12 a 15 anos – 7º, 8º e 9º anos).
Nesse contexto, a pesquisa foi realizada numa escola municipal de Cuiabá, cujas
professoras e equipe gestora, participaram da formação do Pacto Nacional Pela
Alfabetização na Idade Certa Matemática, no ano de 2014.
Após levantamento realizado com algumas unidades escolares, identificamos a
escola que atendia aos critérios estabelecidos. Na sequência, entramos em contato com a
equipe gestora (diretora e coordenadora pedagógica), e professoras, de modo que
apresentamos a proposta com o panorama do trabalho que realizaríamos. Toda a equipe se
78
mostrou favorável tanto à realização de nossa pesquisa quanto à participação, colocando-se
à disposição para o trabalho.
Nos encontros subsequentes percebemos um maior acolhimento, segurança e
confiança em nossa proposta, à medida que fomos estreitando o diálogo sobre o
entendimento da pesquisa e a rememoração da formação do Pacto Matemática.
Vejamos a seguir os critérios estabelecidos para a escolha da referida escola:
Todas as escolas municipais de Cuiabá participaram da formação do Pacto Nacional
Matemática, no ano de 2014. Ante os critérios estabelecidos, a fim de delimitar e direcionar
o universo de pesquisa optamos pelas escolas que pudessem atendê-los, conforme
apresentamos a seguir:
Escolas Municipais que atendessem os anos iniciais do Ensino
Fundamental;
Escola em que professoras participantes do Pacto Matemática
estivessem nos anos iniciais do EF.
Para alcançarmos as possibilidades objetivas de investigação no trabalho de campo,
torna-se “necessário que o investigador tenha a confiança dos participantes, e que estes se
sintam à vontade com a presença do investigador” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 113).
Ainda acrescentamos que essa confiança apresentou-se crescente ao longo dos encontros, e
as participantes sentiram-se estimuladas a colaborar cada vez mais, mostrando-se bastante
receptivas com a pesquisa, narrando com tranquilidade as lembranças advindas dos
momentos de formação e das propostas a serem desenvolvidas na sala de aula, como
complementação das etapas contidas nos cadernos do Pacto, orientadas pelos Orientadores
de Estudo (OE).
Faz-se necessário o registro de um fenômeno ocorrido no período de busca das
escolas. Das oito escolas visitadas, apenas uma atendeu aos critérios estabelecidos, ou seja,
nas demais escolas as professoras que participaram da formação do Pacto Matemática, não
atribuíram aulas nos anos iniciais. As profissionais não estavam em sala de aula, e sim
ocupando outras funções, como coordenação e direção, ou atribuíram aulas no 2º ciclo do
EF; ou ainda, encontravam-se afastadas por licença maternidade ou aposentadorias. Pode-se
apreender, diante disso, situações em desconformidade com a proposta do programa
governamental, que é formar professores alfabetizadores para alfabetizar as crianças do 1º
Ciclo, até os oito anos de idade.
79
3.4 Caracterização da escola
No Quadro 5, a seguir, apresentamos as principais características da Escola
Esperança8, lócus da pesquisa. Tais características estão contidas no Questionário de
Caracterização da Escola, respondidos pela coordenadora da unidade escolar, além dos
registros da observação do contexto e da análise do documento Projeto Político Pedagógico
(PPP).
Quadro 5 – Caracterização da escola e local de realização da pesquisa
Caraterização da Escola Esperança
Localização Região Oeste do município de Cuiabá
Ano de fundação 1985
Início do regime de ciclos 1999
Quantidade de professores Efetivos: 26 professores
Interinos: 11 professores
Quantidade de alunos 469 alunos
Quantidade de salas de aulas 9 salas
Turnos de funcionamento 3 (matutino, vespertino e noturno)
Fonte: Diário de campo da pesquisadora e PPP da escola
A Escola Esperança, localizada na região oeste da cidade, conta com sala de
professores, secretaria, sala de leitura e um laboratório de informática com acesso à internet.
Somente a sala dos professores e a sala de apoio pedagógico possuem ar condicionado, as
demais dependências possuem apenas ventiladores de teto. São disponibilizados aos
professores, recursos midiáticos, como: data show, caixas de som, aparelhos de televisão e
DVD, notebook, telão, microfones. Existem, ainda, materiais pedagógicos de linguagem
(alfabeto móvel, quebra-cabeça silábico, livros de leitura, incluindo a caixa do PNAIC e a
caixa do Trilhas), além da “Tenda de leitura”, montada para estimular o hábito de leitura nos
alunos. Identificamos, por fim, os materiais pedagógicos de Matemática, como dominó dos
numerais, ábaco, material dourado, jogos da memória e jogos matemáticos.
A equipe gestora da Escola Esperança é constituída por uma diretora, uma
coordenadora pedagógica e uma secretária escolar. O quadro docente é composto por 26
8 Escola Esperança é um nome fictício atribuído à Escola Municipal de Cuiabá, lócus da pesquisa.
80
professores efetivos e 11 prestadores de serviço por contrato temporário. Atende atualmente
469 alunos, de diversos bairros no seu entorno, na zona urbana de Cuiabá-MT. A Escola
iniciou seu funcionamento no ano de 1985, e aderiu à organização do Ensino Fundamental
em Ciclos de Formação Humana, denominado Projeto Escola Sarã, no ano de 1999
(denominação da organização do Ensino Fundamental em Ciclos de Formação Humana da
Rede Pública Municipal de Cuiabá).
3.5 Caracterização das professoras participantes
Como participantes de nossa pesquisa, convidamos três professoras do Ensino
Fundamental, dos 1º, 2º e 3º anos, e ouvimos suas narrativas acerca da formação do Pacto
Nacional Matemática e as contribuições (ou não) dessa formação às suas práticas
pedagógicas.
Dessa forma, as professoras participantes deste estudo de caso foram definidas,
respeitando os seguintes critérios:
Professoras efetivas da rede municipal de ensino de Cuiabá-MT;
Participantes da formação do PNAIC Matemática em 2014;
Professoras regentes dos 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental;
Que aceitassem participar do estudo de caso.
Participaram de nossa pesquisa, as professoras, cujos nomes são fictícios: Rose Anne
(1º ano), Neucília (2º ano) e Denise (3º ano). Os nomes fictícios visaram garantir, o sigilo
dos seus nomes reais e o anonimato das informações produzidas.
Apresentamos os dados de caracterização das professoras participantes da pesquisa,
sintetizados no Quadro 6, a seguir:
81
Quadro 6 – Síntese da caracterização das professoras participantes da pesquisa
Professora Rose
Anne Professora Neucília Professora Denise
Idade 44 anos 50 anos 33 anos
Ano que leciona 1º ano 2º ano 3º ano
Formação inicial Pedagogia Pedagogia Pedagogia
Especialização Psicopedagogia Gestão escolar e EJA Psicopedagogia
Formação
continuada em
Educação
Matemática
PNAIC PNAIC Gestar/IPE/PNAIC
Tempo de atuação
docente 23 anos 30 anos 12 anos
Tempo de atuação
na rede municipal 2 anos 16 anos 5 anos
Situação
trabalhista Efetiva Efetiva Efetiva
Jornada de
trabalho semanal 40 h 40h 40h
Turno que
trabalha
Matutino
Vespertino
Noturno
Matutino
Vespertino
Noturno
Matutino
Vespertino
Trabalha em
outra instituição
escolar
Sim Não Não
Exerce outra
profissão Não Empresária Não
Fonte: Questionário de Caracterização das Professoras (QCP).
Essas informações foram obtidas mediante o Questionário de Caracterização das
Professoras.
Professora Rose Anne (leciona no 1º ano): tem 44 anos de idade, cursou
Contabilidade no Ensino Médio em escola pública e é graduada em Pedagogia em instituição
particular, com Pós-Graduação em Psicopedagogia Clínicas e Intérprete de Libras. Começou
a lecionar quando cursava o Ensino Médio e atualmente conta com 23 anos de experiência
na docência; em todos esses anos, vem atuando no 1º ciclo, com jornada de 40 horas
semanais na Escola investigada. Com relação à formação continuada, ao longo da trajetória,
82
participou de diversas formações, porém, nenhuma dela na área da Matemática. A professora
entrou para a rede municipal de ensino no ano de 2014, pois foi aprovada no concurso
público de 2010. Participou do PNAIC em Matemática, em 2014.
Professora Neucília (leciona no 2º ano): conta hoje com 50 anos de idade e realizou
sua escolarização em escolas públicas de ensino. Tem formação em nível médio na Escola
Normal pública e em Pedagogia no curso superior em instituição particular. Fez Pós
Graduação em Gestão Escolar e, ainda, em Educação de Jovens e Adultos. Possui 30 anos
de experiência na docência, divididos entre o 1º ciclo e a Educação de Jovens e Adultos. A
docente atua há 16 anos na rede municipal de ensino e participou de diversas formações,
dentre elas, o Pró-Letramento e o PNAIC em Linguagem e Matemática.
Professora Denise (leciona no 3º ano): tem 33 anos e atua há 13 anos na docência,
em sua maior parte em instituição particular. É formada em Pedagogia, com Pós-Graduação
em Psicopedagogia. Trabalhou com o 1º e 2º ciclos. Antes de ingressar no setor público, por
meio de concurso, lecionou alguns anos na rede particular de ensino, onde trabalhou com as
tecnologias de ensino. A professora Denise participou de diversos cursos de formação
continuada na rede municipal de ensino, na qual ingressou no ano de 2011, dentre eles, o
PNAIC Linguagem e em Matemática.
A seguir, exporemos as fontes e os procedimentos de produção de dados da pesquisa.
3.6 As fontes, os instrumentos e procedimentos de produção de dados da pesquisa
Ao concluirmos os processos de seleção e formalização da autorização da pesquisa,
iniciamos trabalho de campo da pesquisa. Realizamos uma pesquisa qualitativa do tipo
estudo de caso e, para tanto, empreendemos, conforme indicam alguns autores, o trabalho
do investigador no processo de produção de dados da pesquisa no ambiente natural onde o
fenômeno estudado se manifesta, especificamente, neste caso, no espaço escolar, que se
constitui no momento mais importante da pesquisa (BOGDAN; BIKLEN, 1994;
GONZÁLES REY, 2012, entre outros).
Fiorentini e Lorenzato (2012, p. 101) relatando sobre a importância do trabalho de
campo, advertem que tais informações “não nos fornecem gratuitamente as explicações que
buscamos”, mas que, norteados pelas questões as quais se pretende investigar, é ele próprio
quem produz os dados, “mediante um processo interativo de diálogo e questionamento da
realidade”. Ainda afirmam que, para isso, “há várias formas de interrogar a realidade e
83
coletar informações [...]. Visando obter maior fidedignidade, pode lançar mão de mais de
uma técnica, procurando, assim, triangular informações”. (FIORENTINI; LORENZATO,
2012, p. 102).
Os diferentes instrumentos e procedimentos utilizados em nossa pesquisa, foram
eleitos por nos permitir a conjunção de elementos e informações que viabilizaram o alcance
dos objetivos propostos nesse estudo de caso. São eles:
Questionários
No decorrer da nossa investigação utilizamos dois questionários, cujo objetivo foi
levantar algumas informações para que pudéssemos elaborar a caracterização da escola em
que a pesquisa foi realizada, bem como a caracterização das professoras participantes da
investigação. O questionário foi respondido pelas professoras envolvidas, após o
assentimento delas, oficializando, dessa forma, o início da pesquisa.
O Quadro 7, a seguir, relaciona os questionários utilizados e as informações que se
pretendeu alcançar.
Quadro 7 – Questionários, estruturas e finalidades
Questionários Estrutura e finalidades
Questionário de Caracterização da
Escola
(QCE)
Constituído por questões diversas, que visaram
obter informações sobre a estrutura e organização
da escola, bem como dados referentes ao acervo
de materiais pedagógicos, de multimídia e livros
de literatura.
Questionário de Caracterização das
Professoras (QCP)
Composto por questões objetivas e subjetivas que
visaram a obtenção de informações das
professoras participantes, sobre dados pessoais,
situação e experiência profissional e a formação
continuada.
Fonte: Organização da autora
Diário de Campo
Para que as observações e registros pudessem retratar com fidedignidade todo o
trabalho, utilizamos outro importante instrumento, o diário de campo, no registro das
84
diversas ações realizadas no local da pesquisa. Na opinião de Fiorentini e Lorenzato (2012),
o “diário de campo constitui um dos mais ricos instrumentos de produção de dados durante
as observações em campo, uma vez que estes podem conter, simultaneamente, aspectos
descritivos e interpretativos do fenômeno investigado” (FIORENTINI; LORENZATO,
2012, p. 119).
Imersos no ambiente da pesquisa procuramos não intervir nas ocorrências naturais
do contexto escolar. Muitas vezes nos movimentamos sem chamar a atenção, mas
observando as singularidades, os detalhes das ações e do conjunto dos atores que compõe a
realidade escolar. Ludke e André (1986, p. 26), apontam que a possibilidade do “contato
pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado”, permite uma verificação
mais precisa do objeto estudado.
De forma natural, fomos conduzindo as conversas informais, oportunizando-nos um
mútuo conhecimento, de modo que as informações levantadas serviram como complemento
aos dados obtidos com os outros instrumentos.
Ainda de posse do instrumento diário de campo, anotamos os momentos em que
estivemos com as professoras, ora no grupo com seus pares, ora individualmente, em que
buscamos, na medida das possibilidades, reproduzir os diálogos, descrever atividades,
procedimentos didáticos e observar como eram organizadas as dinâmicas das aulas. Ao
mesmo tempo, realizávamos algumas reflexões teóricas tanto dos aspectos observados,
como da nossa perspectiva de observadora.
Essas informações produzidas a partir desses eventos coletivos nos auxiliaram na
contextualização dos conhecimentos e das práticas manifestadas na organização do trabalho
pedagógico, bem como nas entrevistas.
Diversas conversas informais também ocorreram ao longo do trabalho de campo, as
quais serviram para aproximar mais a pesquisadora do contexto e das professoras
participantes, oportunizando um conhecimento mútuo e o levantamento de informações que
foram úteis para complementar os dados obtidos com outros instrumentos.
Observamos as atividades das professoras participantes que se realizavam na Hora-
Atividade (HA), o planejamento e à organização dos trabalhos pedagógicos, especificamente
os voltados para a Matemática. Nessas observações, direcionamos nossa atenção aos
conhecimentos profissionais e às práticas pedagógicas também concernentes à Matemática,
expressos nas falas e atitudes das professoras.
Concentramos também nossa atenção nos relatos sobre: as aprendizagens na
formação do PNAIC Matemática; o que ainda manifestam na prática pedagógica, a utilização
85
de material pedagógico e manipulável; a articulação entre a proposição do conteúdo e as
experiências culturais dos alunos; a valorização das estratégias individuais; como a
Matemática aparece na organização da Sequência Didática; como a professora concebe a
aprendizagem do aluno; como avalia a aprendizagem do aluno; como age quando o aluno
não aprendeu.
Nos momentos das observações, buscamos reproduzir os diálogos, descrevendo
atividades e procedimentos didáticos, que foram registrados.
As anotações foram digitadas na sequência e sistematizadas em relatos com
anotações atinentes aos procedimentos didáticos das professoras.
Conforme a organização da escola, as professoras realizavam a Hora-Atividade em
dias diferentes, durante quatro horas semanais, das 13h às 17h. As observações e os diálogos
informais com as professoras se deram da seguinte forma: com a professora Rose Anne (1º
ano) aconteceram todas as segundas-feiras, com a professora Neucília (2º ano), às quartas-
feiras e com a professora Denise (2º ano), às quintas-feiras.
Entrevista semiestruturadas
Como em nossa pesquisa buscamos compreender a partir dos relatos de professoras
participantes, como compreendem a formação do PNAIC, bem com a organização e os
processos de aprender e ensinar Matemática nos AI optamos pela entrevista semiestruturada
como um dos instrumentos, para darmos vozes às participantes que se dispuseram a
participar desse estudo.
Nesse caso, as entrevistas das professoras participantes nos permitiram ouvir suas
vozes, compreendendo-as com autoras de sua própria história durante o percurso profissional
na docência.
Acreditamos que as professoras ao relatarem oralmente as suas experiências aos
outros, aprende e ensina. Segundo Freitas e Fiorentini (2007, p. 66), “aprender, porque, ao
narrar, organizar suas ideias, sistematiza suas experiências e produz novos aprendizados.
Ensina porque o outro, frente às narrativas de experiências do colega, pode ressignificar seus
próprios saberes e experiências”.
A partir disso, corroboramos com Freitas e Fiorentini (2007), ao concebermos as
narrativas como modo de refletir, de relatar e representar as experiências, produzindo sentido
ao que somos, fazemos, pensamos, sentimos e dizemos.
86
As entrevistas com as professoras participantes da pesquisa foram conduzidas a partir
de um roteiro constituído de perguntas subjetivas, divididas em quatro blocos: o primeiro
bloco teve como objetivo compreender o perfil das professoras participantes, seu contexto
familiar, seu vínculo com a escola. No segundo bloco o objetivo foi aprofundar a
compreensão na construção dos conhecimentos matemáticos bem como do seu ensino, desde
o período da escolarização, a formação inicial em pedagogia, aos conteúdos e metodologias
discutidos nesse período. O terceiro bloco apresentou questões relativas à formação
continuada do Pacto em Matemática, em que elas puderam se expressar sobre a proposta,
suas experiências na formação continuada e as aprendizagens.
No quarto e último bloco, as docentes puderam narrar sobre suas práticas
pedagógicas no tocante ao processo de aprender e ensinar matemática, sobre suas ações
acerca da organização e do desenvolvimento dos seus planejamentos e como vem
conciliando as orientações sugeridas pelo Pacto Matemática, mesmo após dois anos da
formação, em consonância com os encaminhamentos da SME em suas práticas.
Documentos escolares
Praticamente todos os estudos requerem, de uma forma ou de outra, análise de
documentos. Quanto à decisão sobre quais documentos devem ser selecionados e analisados,
o pesquisador deve levar em conta a utilidade potencial de cada documento, tendo em vista
os objetivos da pesquisa (STAKE, 2012).
Como mencionado anteriormente, investigar e analisar a organização e o
planejamento pedagógico das ações educativa das professoras participantes referentes à
formação do PNAIC em Matemática, fazem parte dos nossos objetivos; com isso,
compreendemos ser importante, além do acompanhamento dessas professoras e suas
narrativas sobre o processo de aprender e ensinar Matemática, o conhecimento dos
documentos que norteiam tal prática.
Com o objetivo de complementar e contextualizar as informações produzidas nas
observações e entrevistas, fornecendo elementos para a triangulação dos dados, e,
consequentemente, visando aumentar as possibilidades de interpretação das práticas e dos
conhecimentos específicos, pedagógicos e curriculares das professoras participantes da
pesquisa no processo de produção de dados da pesquisa, recolhemos e analisamos os
documentos escolares, de acordo com Vasconcelos (2012), relacionados a seguir:
87
1. Projeto Político Pedagógico da escola (PPP) – conforme orientação, sua
elaboração deve envolver todos os segmentos escolar, pois se constitui num plano maior da
escola, abrangendo tanto a dimensão pedagógica quanto a comunitária e administrativa.
Como elemento de organização e integração da atividade prática da escola, define o tipo de
ação educativa que quer realizar como instituição. O PPP da escola está sendo reelaborado
neste ano de 2016. O documento contém a identificação da escola, a missão, os valores, a
visão de futuro, o marco situacional e referencial (histórico do funcionamento da escola e
diagnóstico dos anseios e proposições da comunidade escolar e indicativos das bases legais
e teóricas para o projeto educativo da escola), a organização administrativa e pedagógica, a
opção pela Metodologia de Projetos de Trabalho, os projetos desenvolvidos na escola (Sala
de Apoio, Projeto de Leitura, Projeto de Informática, de Formação Continuada) e a proposta
pedagógica para a Educação Infantil e para o Ensino Fundamental. Ressaltamos que o
referido documento só foi cedido para a nossa pesquisa no mês de setembro de 2016).
2. Planos de curso anual e bimestrais – esse documento escolar deve estar
articulado ao PPP da unidade escolar, pois é elaborado como explicação da proposta geral
de trabalho do professor para uma disciplina/ano/ciclo. Possibilita a comunicação entre os
professores, facilitando a integração curricular e evitando repetição e vazios curriculares.
Recolhemos em nossa pesquisa os três “Planos Anual de Ensino”, uma para cada ano
do 1º Ciclo, que foram elaborados pelas respectivas professoras participantes da
investigação. Tais planos contêm: Metas, Cronograma e Áreas de ensino, com seus
respectivos Eixos, Direitos de Aprendizagem, Conteúdos e Metodologias. Por sua vez, nos
planejamentos bimestrais encontramos um recorte do plano anual para cada bimestre.
3. Caderno de plano do professor/Sequências Didáticas – no caderno são
apresentadas as propostas de trabalho de cada professora, com as Sequências Didáticas a
serem desenvolvidas quinzenalmente, mencionando os Direitos de Aprendizagem.
4. Cadernos de alunos – como não acompanhamos as aulas das professoras,
portanto, não tivemos acesso ao desenvolvimento dos conteúdos propostos e nem contato
com os alunos, todavia, solicitamos que elas disponibilizassem alguns cadernos dos alunos
para que pudéssemos analisar. Cada participante selecionou e nos entregou um caderno, que
trazia atividades de parte do ano letivo. Dessa forma, limitamos a análise dos cadernos desses
alunos aos aspectos relativos às atividades relacionadas à Matemática.
88
3.7 Organização dos dados para leitura e compreensão da pesquisa
Descrevemos a seguir um inventário dos dados da pesquisa para facilitar a leitura e
a compreensão das informações resultantes da investigação. Apresentamos a organização
que adotamos para identificar os dados oriundos de cada instrumento e procedimentos nas
análises no corpo deste trabalho.
Quadro 8 – Inventário dos dados da pesquisa
Fontes/Instrumentos e procedimentos Identificação/Sigla Quantidade
Questionário Caracterização da Escola QCE 1
Questionário de Caracterização das
Professoras QCP 3
Diário de Campo DC 1
Entrevistas semiestruturadas (1 e 2) ES1
ES2
6
(2 com cada professora)
Projeto Político Pedagógico da Escola PPP 1
Planos de curso anual e bimestrais PA/PB 3
Sequência Didática SD 6
(2 com cada professora)
Cadernos dos alunos CA 3
(1de cada ano)
Fonte: Organização da autora
As informações produzidas por meio de questionários são identificadas pela sigla,
precedida pelo nome da professora participante. Por exemplo: (Prof.ª Rose Anne QCS), que
corresponde às informações dadas pela professora no questionário de caracterização.
Da mesma forma, procedemos com as entrevistas semiestruturadas, que serão
identificadas pelas letras ES, antecedida pelo pseudônimo da professora entrevistada. Por
exemplo: (Prof.ª Denise, ES), indicando a fala da professora Denise durante a entrevista.
As anotações registradas no Diário de Campo são apresentadas por meio de trechos
dos diferentes registros durante o trabalho de campo.
As anotações que correspondem às falas das professoras são identificadas com os
seus respectivos nomes, a sigla DC (iniciais de Diário de Campo).
89
Em relação aos documentos, identificamos a sigla do documento, a professora em
questão e o ano que leciona. Dessa forma, “SD, Prof.ª Denise” corresponde à Sequência
Didática da referida professora do 3º ano. Por sua vez, “CA, 3ª, Denise” indica caderno de
aluno do 3º ano da Prof.ª Denise. Quando mencionamos os livros didáticos utilizados pelos
alunos, adotamos a sigla “LD2-A” para indicar o livro usado pelo aluno do 2º ano e “LD3-
A” para indicar o livro didático utilizado pelos alunos do 3º ano.
Optamos por expor o processo de construção dos eixos de análise no próximo
capítulo, no qual apresentamos e discutimos os dados da pesquisa.
90
4 AS VOZES DAS PROFESSORAS SOBRE A FORMAÇÃO DO PNAIC E OS
PROCESSOS DE ENSINAR E APRENDER MATEMÁTICA
Nossa intenção, no presente capítulo, é responder ao problema levantado na pesquisa:
o que manifestam as vozes de professoras sobre a formação do Pacto Nacional Pela
Alfabetização na Idade Certa e os processos de ensinar e aprender Matemática no primeiro
ciclo do Ensino Fundamental?
Para responder ao problema nos aproximamos do contexto escolar em que as
professoras atuam e oportunizamos que relatassem suas experiências com a matemática
enquanto alunas da educação básica e na licenciatura em Pedagogia. Além disso, analisamos
os relatos das professoras sobre a formação do PNAIC em Matemática e sobre a organização
e desenvolvimento de suas práticas escolares. Entendemos que para melhor compreender os
conhecimentos profissionais e as práticas escolares das professoras participantes, precisamos
considerar o processo histórico de formação dessas professoras, bem como as suas práticas
no contexto das condições objetivas e subjetivas de organização do trabalho pedagógico e
de forma continuada dentro do espaço escolar em que atuam.
Nesse processo, à medida que realizamos as leituras dos relatos das professoras
participantes, os dados foram nos revelando que os seus conhecimentos profissionais não se
encontram dissociados do processo histórico dos percursos formativos e profissionais, e nem
das práticas escolares, pelo contrário, eles se entrecruzam, revelando um panorama próprio
de cada docente.
Para que melhor pudéssemos responder ao problema de investigação apresentamos a
discussão dos dados em três eixos temáticos, quais sejam:
O que as professoras dizem sobre suas trajetórias profissionais: neste primeiro
eixo, analisamos os relatos das três professoras sobre a trajetória acadêmica referente a
matemática no período da escolarização da Educação Básica, e principalmente, no processo
de formação inicial no curso de Pedagogia, buscando compreender como foram se
constituindo os conhecimentos profissionais e as práticas pedagógicas em Matemática.
As vozes das professoras sobre a formação do PNAIC Matemática: neste segundo
eixo nosso objetivo foi apresentar e analisar os relatos das professoras sobre a formação do
PNAIC Matemática, considerando a proposta, a dinâmica do curso e da escola, os conteúdos
matemáticos e as metodologias discutidas na formação, o processo de aprender e ensinar
Matemática e as contribuições do PNAIC para o processo de formação.
91
As vozes das professoras sobre as práticas escolares e o processo de aprender e
ensinar Matemática após a formação do PNAIC: o terceiro eixo, objetiva apresentar e
discutir o que relatam as professoras sobre suas práticas pedagógicas, evidenciando o que
dizem as professoras sobre a finalidade da Matemática, os conhecimentos profissionais para
ensinar Matemática, sobre a organização, o planejamento e a avaliação dos processos de
ensino e aprendizagem da Matemática.
Esses três eixos temáticos foram organizados de forma a possibilitar a compreensão
do movimento individual e coletivo, das vivências na formação do PNAIC Matemática e das
práticas escolares das professoras, buscando responder ao nosso problema de investigação,
sobre o processo de ensinar e aprender Matemática nos AI do EF.
Nesse movimento, optamos por duas diferentes maneiras de apresentação e análise
dos dados, no primeiro eixo por se tratar das trajetórias acadêmicas e profissionais fizemos
a opção por apresentar e a analisar os dados de cada professora, e no segundo e terceiro
eixos, apresentamos e analisamos os dados das três professoras participantes, de forma
simultânea e articulada.
Cabe ainda ressaltar que nossa intenção não é atribuir juízo de valor a quaisquer
respostas, classificando-as como certas ou erradas, antes, buscar a melhor compreensão da
realidade a qual se encontram inseridas essas professoras para suscitar reflexões e
alternativas que possam contribuir com as práticas docentes, a partir da formação
continuada.
4.1 O que as professoras dizem sobre suas trajetórias acadêmicas e profissionais
Neste item, apresentamos a análise acerca das trajetórias acadêmicas e profissionais
das professoras Rose Anne (1º ano), Neucília (2º ano) e Denise (3º ano).
Acompanhamos as professoras participantes e ouvimos suas narrativas em diversos
momentos das atividades docentes; assim sendo, pudemos conhecer um pouco mais sobre
suas histórias e compreender um pouco mais sobre a realidade na qual estão inseridas.
Embora esses processos de constituição profissional se aproximem, concordamos
com Nóvoa (1997, p. 33) quando afirma que “[...] não há dois professores iguais e [...] a
identidade que cada um de nós constrói como educador baseia-se num equilíbrio único entre
as características pessoais e os percursos profissionais”.
92
Dessa forma, trazemos como um dos objetivos específicos de nossa investigação o
percurso profissional dessas professoras, pois acreditamos que esse conhecimento nos
possibilitará uma melhor compreensão de suas necessidades, que são resultantes desse
processo e refletem-se em sua atuação docente. Dessa forma, buscamos contemplar na
descrição e análise do percurso individual, as relações com a Matemática.
A trajetória acadêmica e profissional da Professora Rose Anne (1º ano)
A professora Rose Anne, em seus relatos, descreveu sua escolarização que foi
realizada inteiramente em escolas públicas, e que somente no 4º ano percebeu que tinha
muitas dificuldades em Matemática, porém, somente alguns anos depois descobriu o porquê
disso. Sua mãe escrevia com a mão esquerda e seus avós maternos, por considerarem errado,
obrigaram-na a escrever com a mão direita. O mesmo se deu com a professora Rose Anne,
pois seus pais, apegados à crendice popular, acreditavam que “quem era canhoto, era contra
Deus”. Isso causou-lhe grandes transtornos, uma lentidão muito grande e intensas
dificuldades para acompanhar a turma. Essa situação toda gerou inúmeros conflitos que
ainda estão presentes em sua memória na fase adulta, conforme relata:
Eu era péssima em Matemática, eu tinha pavor à Matemática.
Matemática, pra mim, significava medo. Essa professora também da
Matemática. Eu me lembro dela me chamando para o quadro e falava
assim: - Rose Anne, vem pra frente e eu fazia conta... eu nem sabia... e
fechava os meus olhos, achando que ela não estava me vendo. Fechava
meus olhos bem apertados e fingia que não estava me vendo... pavor! Eu
reprovei no 4º ano, pois tinha horror à minha professora. E ela era minha
vizinha, quando ela passava perto, eu atravessava a rua para não chegar
perto dela. A minha professora do ano seguinte foi quem me ajudou a
desenvolver, a sair da minha “caixinha fechada”. Uma professora muito
tradicional, presa naquilo que ela trabalhava e a outra não. Teve uma
mudança significativa na minha vida. Quando cheguei no 5º e 6º ano,
conheci um outro professor de Matemática numa outra escola onde
estudei... aí me apaixonei pela Matemática, mas ainda tinha dificuldade
de interpretação, então quando eu ia fazer os probleminhas, não
conseguia fazer porque não conseguia interpretar... Isso foi até o 2º grau,
quando fiz Contabilidade. Antes não era trabalhado com a gente como é
hoje. A Matemática deixou de ser aquele “bicho” que era na época (Prof.ª
Rose Anne – 1º ano ES).
93
Essas declarações da professora Rose Anne explicitam, infelizmente, experiências
traumáticas com a Matemática no Ensino Fundamental e que as referências constituídas com
a disciplina, nessa etapa da escolarização, não foram positivas. No entanto, em seus relatos
fica também evidenciado que, após ter sido reprovada, no ano seguinte, a relação com a outra
professora resgatou sua autoestima, embora não relate o melhoramento na aprendizagem em
Matemática. No início do relato, fica caracterizada uma relação professor-aluno-
conhecimento, marcada pela rigidez e arbitrariedade docente e desconhecimento do papel da
Matemática. Segundo Mizukami (1986), isso se caracteriza como modelo tradicional de
ensino, traduzido pela dinâmica de exposição oral dos conteúdos e repasse de técnicas
operatórias pelos professores para serem memorizadas pelos alunos mediante a repetição de
exercícios.
Relata também que somente conseguiu mudar a relação com a Matemática nos anos
finais graças a outro professor que a influenciou positivamente. Influenciou-a tanto que no
2º grau optou por fazer Contabilidade, curso que requer um conhecimento maior da
disciplina.
E a Prof.ª Rose Anne prossegue, narrando que iniciou a carreira docente em uma
escola de “reforço”, quando teve seu primeiro emprego. Estranhou o fato das crianças serem
alfabetizadas pelo sistema fonético (em que emitiam os sons das letras antes de
pronunciarem as sílabas), ao que se acostumou, e apaixonou-se pela profissão. Em seguida,
começou a trabalhar numa escola particular.
Outro ponto narrado pela professora foi sobre a sua formação inicial e as lembranças
que trazia da relação com a Matemática, porém, ela não lembra muito desse período.
Não me lembro direito, não. Formei-me no ano de 1995, e não lembro de
ter visto Matemática na formação. Não lembro. Teve a disciplina, mas não
me recordo. Eu só lembro da alfabetização. [...] Lembrei! Fizemos uma
atividade que fizemos um peixe... Era uma pescaria, para pegar o alfabeto
e os numerais... bolinhas. Pegávamos um número que correspondia. Que
me lembro, só isso (Prof.ª Rose Anne 1º ano -ES).
Essa fala denota que, as lembranças da professora não revelam a abordagem ou
estudos dos fundamentos da Matemática de forma integrada às questões pedagógicas,
indicando apenas a ênfase nos aspectos da simples instrumentalização para o ensino. Ou
seja, a construção de jogos para o trabalho dos conteúdos matemáticos.
94
Sabemos que as lacunas existentes na formação inicial dos professores,
especialmente em Pedagogia, não se tratam de um caso isolado. Diversos estudos vêm
apontando, de longas datas, essa realidade, como: Barreto e Gatti (2009), Curi (2005),
Nacarato, Mengali e Passos (2011), Palma e Lanner de Moura (2009), entre outros,
denunciando que futuros professores, infelizmente, não vivenciam de maneira consistente
estudos sobre os fundamentos da Matemática e as práticas de ensino e de pesquisa em
Educação Matemática.
Assim, Araújo e Moura (2008, p. 77-78) entendem que “o processo de formação
docente se inicia no período de escolarização e perpassa a formação inicial e continuada”.
No caso estudado, a professora Rose Anne só realizou a primeira formação continuada em
Matemática no PNAIC, em 2014, que, conforme explicitaremos mais a frente, também
contemplou os aspectos metodológicos.
A trajetória acadêmica e profissional da Professora Neucília (2º ano)
A Prof.ª Neucília (2º ano) também realizou todo o período de escolarização em
escola pública. A professora conta que seu pai construiu uma escola, averbou o prédio na
Prefeitura e contratou professores, no sítio onde moravam, para que os filhos estudassem.
Anos após sua família mudar para um sítio mais próximo, ela e seus irmãos passaram a
estudar na cidade. A professora cursou a Escola Normal, tendo concluído aos 17 anos,
quando começou a lecionar. Alguns anos depois, a professora Neucília casou-se e teve quatro
filhos. Por motivos familiares, afastou-se por um período das atividades docentes,
retornando somente quando seus filhos já estavam em idade escolar. Assim, suas primeiras
experiências na docência se deram em escola particular. A professora relata que tem poucas
lembranças da Matemática no seu período de escolarização. Lembra que não tinha atividades
lúdicas, o que tornava o processo de aprendizagem mais difícil e isso lhe trazia muito
sofrimento. O conflito aumentava pelo fato da professora gostar da Matemática; e, porque
gostava, se esforçava muito para compreendê-la.
O trabalho (com a Matemática) era só na prática, eu tinha uma certa
dificuldade. Eu sofria, porque me interessava muito pela Matemática, eu
me atentava muito pela Matemática, que eu sempre saía bem na
Matemática. Sempre tive prioridade com a Matemática. Ela é muito
95
importante, porque a Matemática está no cotidiano da gente (Prof.ª
Neucília 2º ano).
Não constatamos nos relatos da professora Neucília a presença de grandes traumas,
como no caso anterior, ligados à Matemática, mas sim a presença do sofrimento no processo
de aprendizagem da disciplina. A professora cursou o Magistério e, na sequência, Pedagogia.
Na época, na maioria das cidades do interior do país, o curso técnico de Magistério era a
única opção de curso em nível médio, especialmente para as mulheres.
Quando questionada sobre a Matemática no curso de Pedagogia, a professora não
considera ter sido suficiente para formar-se professora:
Não. Acho que não foi suficiente. Aprendi muito mais na Escola Normal
do que na Pedagogia. Eu achei que a Pedagogia não dá muita base. A
pessoa tem que se esforçar muito. Eu acho que deveria ser como nós
trabalhamos. O professor deveria aprender a como preparar suas aulas,
bem de acordo com a realidade. Fazer a teoria e a prática numa
preparação de aula, dos conteúdos, de acordo como a gente trabalha com
as crianças... Na Pedagogia não se aprende... por isso eles (os
professores) têm aquele abalo quando entram (em sala de aula). Deveriam
trabalhar os conteúdos com os professores, dentro daquilo que eles têm
que trabalhar com as crianças (Prof.ª Neucília 2º ano - ES).
A Prof.ª Neucília revela de forma enfática a insatisfação com a formação acadêmica,
considerando que não lhe ofertou a preparação para ensinar Matemática, assim como em
relação aos conhecimentos específicos, como os aspectos metodológicos relacionados ao
modo de ensiná-la. Faz comparação à Escola Normal e afirma, categoricamente, que o antigo
curso oferecia melhor base ao trabalho docente.
Essas afirmações são compreensíveis, se considerarmos que o antigo curso de
Magistério, segundo sua afirmativa, atendia as necessidades formativas para o exercício da
docência, ou seja, instrumentalizava para o ensino. No entanto, é notório que os cursos
profissionalizantes se pautavam numa abordagem tecnicista; e outros aspectos, como os
sociais e políticos, que também perpassam pela ação docente, eram muito pouco discutidos.
Gatti (2014, p. 38-39) em uma de suas pesquisas conclui que no Brasil, os cursos de
licenciatura “[...] mostram-se estanques entre si e, também, segregam a formação na área de
conhecimento específico da área dos conhecimentos pedagógicos, dedicando parte exígua
96
de seu currículo às práticas profissionais docentes”. As discussões sobre a escola, os
processos de aprendizagem, do ensino e do conteúdo precisam se intensificar.
Na fala da Prof. Neucília destacam-se as fragilidades encontradas na abordagem dos
conhecimentos específicos e pedagógicos do curso de Pedagogia. É sabido sobre a ausência
de articulação entre “os conhecimentos pedagógicos e específicos nos cursos de formação
de professores polivalentes, e a ausência de conhecimentos específicos relativos às diferentes
áreas do conhecimento com as quais o futuro professor irá trabalhar” (CURI, 2005 p. 160).
Quando analisamos a trajetória da Prof.ª Neucília, percebemos as poucas
contribuições vivenciadas no período de escolarização e de formação. A despeito do
tecnicismo do primeiro e da fragilidade do segundo, vale ressaltar que ela participou das
principais formações continuadas, que foram o Pró-Letramento e o PNAIC, ambos na área
de Matemática.
A trajetória acadêmica e profissional da Professora Denise (3º ano)
A Prof.ª Denise (3º ano) nos narrou que sempre gostou da Matemática nos anos
iniciais e até dominava os conhecimentos básicos da disciplina, o que não aconteceu no
Ensino Médio, quando aumentaram os desafios, o que fez com que ela desistisse de cursar
Arquitetura e optasse pela Pedagogia. Ela experimentou a docência por acaso, porque
precisou substituir uma professora. Desde então, se envolveu com a escola e gostou muito,
resolvendo, então, continuar e está na profissão há 12 anos. Lecionava na área da
informática, com multimídia na rede particular de ensino, e explica que trabalhava com os
alunos os conteúdos de outras áreas.
Foi muito tranquila. Na Matemática básica eu dominava, mas quando
chegou no Ensino Médio, a trigonometria, a geometria mais
aprofundada... eu tive muita dificuldade e me afastei da Matemática. Eu
queria fazer Arquitetura, mas aí eu me lembrei da trigonometria, então
pensei: - Deixa eu fazer logo a Pedagogia (Prof.ª Denise 3º ano).
A Prof.ª Denise em seus relatos fala sobre a dificuldade com a Matemática,
especificamente no ensino Médio, e que isso influenciou diretamente na sua mudança
profissional, já que seu desejo, a princípio, era fazer Arquitetura.
97
Quando questionada sobre a formação inicial em Pedagogia, e especificamente sobre
a Matemática nesse período, ela argumenta:
Sim, tive Matemática. E a professora na formação, trouxe que a
Matemática não está só em sala de aula, mas em todos os lugares que a
gente possa ver. Nós visitamos o São Gonçalo-Beira Rio, lá na ceramista
(aula de campo). Ali nós começamos a trabalhar com os jogos.
Conhecimento conceitual, não. Teve só uma “pincelada”, mas não
aprofundou. Teve como a criança aprende, sim, porque a gente tem todo
esse parâmetro, mas faltou Matemática em si, os conceitos (Prof.ª Denise –
3º ano – ES).
Nesse trecho da fala da Prof.ª Denise evidencia-se questões importantes sobre o
processo de formação em Matemática, destacando que teve a oportunidade de estar
envolvida em situações que a oportunizaram perceber e compreender a matemática em
outros contextos, como a matemática dos ceramistas da região São Gonçalo Beira Rio. Se
por um lado a professora parece ter tido a possibilidade de ampliar seu olhar para a
matemática, e para como a criança aprende; por outro, destaca que o estudo dos conceitos
matemáticos foi insuficiente.
Lanner de Moura (2007, p. 68) reforça o compromisso do professor no encontro com
a criança ao referir-se ao processo de “ensinar e aprender matemática um encontro
pedagógico com o conceito, de modo que o aprender matemática não se reduza a uma
justaposição mecânica entre o sujeito e o objeto científico”. E a autora explica que a tensão
criativa do desenvolvimento conceptual faz-se presente, apontando “dois elementos
didáctico-pedagógico interdependentes, que proporcionam a tensão criativa” (LANNER DE
MOURA, 2007, p. 68).
Embora a docente tenha relatado sobre as lacunas da formação inicial em Pedagogia,
conforme abordamos anteriormente, ela nos traz dados diferentes das demais, por ter
realizado diversos cursos de formação continuada, oferecidos pela rede municipal de ensino.
Ela destaca o aprofundamento nos conteúdos Matemáticos nessas formações, o que não
aconteceu na formação inicial.
Concluímos, ante o relato da professora, que embora tenha realizado uma trajetória
sem sobressaltos, outros aspectos não relacionados precisariam estar presentes em seu
desenvolvimento, na condição relação de profissional docente.
Ao analisar os relatos constatamos que as três professoras não estabeleceram relações
tão positivas com a Matemática no período de escolarização. A professora Rose Anne (1º
98
ano) relata experiências mais negativas e traumatizantes. As experiências das professoras
Neucília (2º) e Denise (3º ano), embora não tenham sido na mesma intensidade, deixaram
marcas em suas vidas, que, aliadas à formação inicial insuficiente, interferiram direta ou
indiretamente em suas trajetórias profissionais. Mesmo assim, todas conseguiram, de uma
forma ou de outra, reelaborar uma boa relação e o gosto pela Matemática.
Referindo-se às influências das experiências escolares na atuação docente,
D’Ambrósio (2010) acrescenta que as memórias de experiências são carregadas de emoção
e noção intuitiva, mas também racional. O que o estudante aprende durante o período escolar
ele incorpora à prática docente e, conforme vai desenvolvendo reflexões críticas sobre elas,
somadas às observações teóricas que se acumulam, constroem-se elementos para aprimorá-
las.
O mesmo autor afirma num outro estudo que, “todo professor, ao iniciar sua carreira,
vai fazer na sala de aula, basicamente, o que ele viu alguém, que o impressionou, fazendo.
E vai deixar de fazer algo que viu e não aprovou” (D’AMBRÓSIO, 2010, p. 91).
Por outro lado, citando Lorte, Imbernón (2010) aponta que por vezes as experiências
com os alunos na educação básica permanecem como referências mais importantes que as
adquiridas nos cursos de formação profissional. Nessa mesma perspectiva, Lima e Carvalho
(2012, p. 105) compreendem que “as concepções apropriadas pelos professores ao longo da
sua formação influenciam profundamente seu trabalho educativo e, de certo modo,
determinam a forma de pensar e praticar a ação educativa”.
Outro ponto em comum nas narrativas das professoras é a indicação e a consciência
por parte delas de um processo escolar com muitas lacunas conceituais que envolvem
conhecimento matemático, que não foram eliminadas na formação inicial para professores,
como também a participação em poucas formações contínuas na área da matemática. A
formação continuada aparece como alternativa no suprimento de algumas defasagens que
possam existir advindas da escolarização e da formação inicial.
O PNAIC tinha por objetivo contribuir para a formação matemática das professoras
alfabetizadoras. Assim, um dos objetivos de nossa pesquisa foi investigar o que narram as
professoras sobre as aprendizagens e dilemas vivenciados na formação do PNAIC-
Matemática.
99
4.2 As vozes das Professoras sobre a formação do PNAIC em Matemática
No ano de 2013, por ocasião da implantação do PNAIC em Linguagem, todas as
professoras que desejassem realizar essa formação deveriam atribuir suas aulas nos anos
iniciais do EF. Da mesma forma ocorreu no ano de 2014, em relação ao PNAIC Matemática.
Com o objetivo de garantir a continuidade aos participantes, a Secretaria Municipal de
Educação lançou uma Portaria, priorizando a atribuição das aulas dos anos iniciais aos
professores que estivessem participando da referida formação.
As professoras, ao relatarem sobre o processo formativo do PNAIC-Matemática
destacaram alguns aspectos que apresentamos em nossa análise: a dinâmica da formação, o
processo formativo e a articulação com as equipes gestoras, os conteúdos matemáticos na
formação e as contribuições do processo formativo.
4.2.1 Sobre a dinâmica da formação
A dinâmica da formação do PNAIC Matemática se deu da seguinte forma: a
professoras alfabetizadoras optaram por realizar as respectivas formações com um encontro
semanal, que poderia ser na Hora-Atividade ou no período noturno; e aquelas que optaram
pela formação aos sábados, realizavam os encontros em período quinzenal.
A cada encontro realizado, após o estudo dos eixos temáticos contidos nos cadernos
da formação, as professoras, de forma individual ou reunidas por escola, desenvolviam
atividades - Sequências Didáticas/Jogos - e realizavam essas atividades com os alunos em
sala de aula. No encontro seguinte, as professoras socializavam as experiências com as
demais professoras alfabetizadoras.
A Prof.ª Denise relata de forma sucinta essa dinâmica: “Era basicamente estudo do
texto no coletivo durante as aulas ou apresentação do texto por grupos. Aplicação de
atividade em sala e produção de Sequência Didática e execução em sala de aula. Depois, a
retomada do que foi aplicado”. Ou seja, na formação estudavam os textos contidos nos
cadernos previstos para aquela aula e discutiam com o grupo de professoras. Em seguida, a
Sequência Didática era proposta para ser desenvolvida em sala com os alunos. E no encontro
seguinte da formação, compartilhado com as demais professoras.
Todavia, essa dinâmica não aconteceu com a Prof.ª Rose Anne, que declara: “Eu
pedia ajuda para outros professores e só realizava as atividades dentro do próprio curso do
100
Pacto. [...] Fui perguntando para as meninas (professoras), do curso (da formação).
Demonstrava-se, com isso, a grande dificuldade das professoras que frequentam a formação
pela primeira vez. A docente afirma que não fazia as atividades propostas, limitando-se a
realizar as atividades durante a formação, ao mesmo tempo em que pedia ajuda às outras
professoras da formação.
Quando interpeladas a resgatar suas memórias ao ano de 2014, quando se deu a
formação do PNAIC Matemática, as professoras se mostraram receptivas para falar sobre
como ocorreu a dinâmica da formação.
Prof.ª Denise realizou a formação “aos sábados. E uma parte da Hora-Atividade, eu
usava para estudar o material do PNAIC”. Em seu relato, ela afirma ter aproveitado parte
da Hora-Atividade para estudar o material do PNAIC, já que as Professoras Alfabetizadoras
precisavam desenvolver atividades em suas respectivas salas e apresentar nos encontros da
formação. “Então o curso é ótimo, mas o professor precisa ter tempo para explorar o curso,
durante a preparação das aulas para os alunos”. Nesse trecho da narrativa, a alegação recai
sobre a falta de tempo para a realização de todas as atividades propostas pela formação,
conforme foram propostas pelo programa, requerem tempo e dedicação para o seu preparo.
A Prof.ª Neucília também realizava a formação aos sábados e assim se expressa:
Era fora da Hora-Atividade, mas era cansativo e atrapalhava, porque o
tempo não era suficiente para preparar nossa aula. O professor
alfabetizador trabalha muito em casa, muito mesmo. Todo o final de
semana preparamos o que vamos trabalhar (Prof.ª Neucília – 2º ano - ES).
A professora menciona o cansaço ocasionado pelo fato de permanecer o sábado,
integralmente, na formação, bem como a escassez do tempo destinado a resolver tantas
atribuições que estão sob o encargo do professor, como o planejamento das aulas e as
solicitações da formação.
Somente a Prof.ª Rose Anne realizou a formação no horário da Hora-Atividade,
porém, concorda com as outras colegas quando se trata do pouco tempo e a quantidade de
tarefas a serem realizadas.
Importante destacar que grande parte das professoras leciona em pelo menos duas
classes, muitas vezes em anos diferentes, o que dificulta a realização de atividades, conforme
foram propostas. Essa crescente exigência sobre o professor demanda um esforço superior à
101
sua capacidade física e mental. O estudo de Romanowski e Martins (2010) pautado nos
dados apresentados na pesquisa de Fanfani (2005):
Sinaliza para um número elevado de professores que trabalha em duas ou
mais instituições e, mais do que isso, as inúmeras atividades como a
coordenação de atividades com outros professores, a participação em
projetos institucionais e de articulação com a comunidade, a atenção
personalizada aos alunos. Essa crescente ampliação de atividades
fragmenta o trabalho e a não contribui para a identidade do professor com
as instituições em que atua (FANFANI, 2005 apud ROMANOWSKI;
MARTINS, 2010, p. 297).
Defendemos assim, a ampliação das ações e políticas educacionais que considerem
a complexidade do trabalho docente para o êxito da melhoria educacional mediante a
formação continuada.
Prosseguindo com as narrativas sobre como poderia ter sido a formação do PNAIC
Matemática, a Prof.ª Denise relata com certa indignação:
Poderia não ser tão corrido e desorganizado na parte de implantação, de
informação desencontrada. Apresenta pra gente um curso e chega na hora
é outro, né? E outra coisa: você é obrigada a fazer. Nem tudo que é
obrigada é bom, porque tem gente que não se adapta. A orientação veio
que quem não fosse fazer o curso de formação não poderia atribuir aulas
no 1º ciclo. Só que isso não foi falado quando o PNAIC foi implantado, só
foi falado no final do ano, na hora da atribuição. Não sei se isso é do curso
ou das políticas, é mais a parte de desorganização. A gente faz atividade
e tem que ficar vendo se fez, se recebeu a bolsa ou não. Aí a gente tinha
que ficar indo lá, mais a parte burocrática, porque a parte do material ...
e os formadores que eu peguei foram ótimos também (Prof.ª Denise – 3º ano
- ES).
Nesse trecho da fala da docente, várias questões são levantadas. Ela relata que gostou
do material e dos formadores, mas questiona a forma aligeirada com que a formação foi
desenvolvida e a desorganização com os desencontros das informações. Na parte em que a
professora reclama: “A gente faz atividade e tem que ficar vendo se fez, se recebeu a bolsa
ou não”, refere-se ao Sispacto9, sistema em que eram cadastradas informações pessoais dos
professores, atividades desenvolvidas, avaliação dos OE, como também dos alunos. Nesse
9 O SisPacto é o sistema de monitoramento do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, disponibilizado no
SIMEC. Disponível em: <http://simec.mec.gov.br>. Acesso em: 15.04.16.
102
portal, consultava-se a liberação das bolsas recebidas pelos professores, cujo sistema
apresentava diversos problemas relativos aos registros e informações e à demora nos créditos
das bolsas destinadas aos professores.
4.2.2 O processo formativo no PNAIC e a articulação com as equipes gestoras das escolas
Quando questionadas sobre o período da formação, ao lembrar da escola anterior, a
Prof.ª Rose Anne demonstra agitação intensa, destacando frustração inicial com as
dificuldades vivenciadas nesse período, no qual realizou a primeira formação continuada em
Matemática, juntamente à posse na rede municipal de ensino como professora efetiva, num
concurso realizado quatro anos antes.
Menciona também a ausência de apoio por parte da Coordenação escolar logo na
chegada à escola, conforme relata:
A primeira formação que eu fiz foi o Pacto Matemática em 2014. Não fiz
o Pacto Alfabetização em 2013. Na formação continuada da Matemática
eu tive dificuldade na outra escola que trabalhei antes, porque eu não
tinha orientação da coordenação. O que aprendi lá na formação não se
aplicava, não se aplicava, não se cobrava. Eu tinha outras cobranças na
escola que não eram relacionadas ao Pacto (Prof.ª Rose Anne – 1º ano -
ES).
A fala da Prof.ª Rose Anne, “Eu tinha outras cobranças na escola que não eram
relacionadas ao Pacto”, faz referência ao cumprimento do planejamento anual, aos projetos
e às demais atividades previstas nos projetos escolares que já estavam em andamento e não
coadunavam com as atividades exigidas no PNAIC.
Sentindo-se desorientada e com grandes dificuldades na conciliação das atividades
propostas, ela se limitou a realizar as atividades somente nos encontros da formação do
PNAIC.
Não tinha uma pessoa para orientar dentro da outra escola. Tudo era
muito confuso, parece que eu tinha caído de paraquedas. Eu pedia ajuda
para outros professores e só realizava as atividades dentro do próprio
curso do Pacto (Prof.ª Rose Anne – 1ª ano - ES).
103
Percebemos nesse trecho a ausência de um trabalho articulado entre as equipes
escolares, em que professores recém-chegados à rede recebem a mesma formação de outros
veteranos, que, mesmo tendo outras experiências na docência, deveriam receber uma
formação/orientação inicial para que conhecessem o sistema de ensino e se integrassem à
equipe antes de exercerem a docência.
Não tinha. E isso foi um problema, isso que foi minha insegurança. Fiquei
perdida como “cego em tiroteio”. Quando você é nova num lugar nem
todo mundo quer partilhar com você, talvez por insegurança. Não senti,
“estou incluída”, “estou integrada”, “estou fazendo parte desse negócio
aqui”. Fui perguntando para as meninas (professoras), do curso (Prof.ª
Rose Anne – 1º ano - ES).
O sentimento manifestado pela professora é de inadequação, de não pertencimento
ao grupo escolar ao qual foi designada a exercer. Retrata também a ausência de colaboração
entre as próprias professoras da escola.
Depreendemos outro aspecto com relação a não participação da Coordenadora
Pedagógica no processo formativo, denotando um descompasso com a proposta do PNAIC,
já que os objetivos a serem alcançados com a alfabetização das crianças devem resultar de
um trabalho realizado no coletivo escolar, e não recair apenas sobre o professor.
Assim, a Prof.ª Rose Anne afirma que, além de não participar da formação, a
Coordenadora dizia: “O aluno tem que aprender, se vira nos trinta”, o que destoa
frontalmente das funções do Coordenador Pedagógico, que, conforme André e Vieira,
(2009):
Deve atuar a cada nova situação acionando um ou mais de seus saberes,
mobilizando no cotidiano uma pluralidade de saberes de naturezas
distintas, tais como: saberes profissionais, éticos, políticos, relacionais,
curriculares, afetivos, experienciais e pedagógicos. Com o passar do tempo
esses saberes evoluem e se modificam, ganham novos formatos e novas
dimensões quando vividos no contexto do trabalho e compartilhados com
seus pares (ANDRÉ; VIEIRA, 2009, p. 19).
Conforme os autores citados, os Coordenadores Pedagógicos devem estar sempre
atentos às mudanças e transformações que ocorrem no ambiente escolar. Dentre suas
principais atividades, constam o planejamento e a manutenção da rotina escolar quanto à
104
formação e ao acompanhamento pedagógico do professor. Mas eles precisam também
“atender necessidades e prever ações que possam garantir o bom andamento do processo de
ensino e aprendizagem”. Ainda assim, não devem se limitar a esses itens, mas ampliar esse
trabalho, podendo utilizar, para tanto, recursos como a formação continuada dos professores
(ANDRÉ; VIEIRA, 2009, p. 20). O ideal seria que os Coordenadores Pedagógicos pudessem
acompanhar as formações dos professores.
Conforme Placco e Souza (2006):
Processos formativos precisam oferecer oportunidades para que os
professores busquem pontos de intersecção com seus pares, por meio de
depoimentos e relatos de experiências. Nesses processos, convive-se com
a declaração de dúvidas e angústias, a confirmação de conquistas e o
enfrentamento das dificuldades, num movimento de interlocução, de
acolhidas, de pontuações necessárias, que enriquecem o trabalho tanto
individual como no coletivo (PLACCO; SOUZA, 2006, p. 38).
Poucas vezes isso acontece no espaço escolar. Na maioria das vezes, o professor
precisa modificar/adequar sua prática mediante as orientações recebidas em sua formação
continuada, o que causa “curto-circuitos”. Segundo Imbernón (2010, p. 37), “[...] ocorrem
quando a formação exige do professor que ele faça mudanças em sua prática pedagógica,
sem que esteja convencido teórica e experiencialmente, de que elas são necessárias”.
Consequentemente, sempre que as práticas formativas desconsiderarem o contexto em que
os professores atuam e não respeitarem o tempo necessário para a apropriação das novas
propostas com seus pares, os “curto-circuitos” acontecerão, provocando, muitas vezes, mais
transtornos que benefícios, podendo inclusive, comprometer e truncar o processo
educacional.
A professora Rose reafirma a dificuldade em atender tanto as atividades comuns da
escola quanto as atividades propostas pela formação do PNAIC, como se observa no relato:
Trazer o que eu aprendi lá para a sala de aula foi difícil, porque eu tinha
que cumprir com o que o Pacto pedia, mais o que a escola cobrava. Fora
isso, todos os dias tinha coisas diferentes para fazer. Então minha cabeça
ficava confusa. Você chegava num lugar, não tinha orientação da
coordenação, e você ficava toda ‘embananada (Prof.ª Rose Anne – 1º ano
- ES).
105
Entendemos que tal situação relatada pela professora antepõe-se à Portaria nº 1.458,
no seu art. 1º, proposta pelo MEC por ocasião da implantação do PNAIC, conforme:
A formação continuada de Professores Alfabetizadores tem como objetivo
apoiar todos os professores que atuam no ciclo de alfabetização, incluindo
os que atuam nas turmas multisseriadas e multietapa, a planejarem as aulas
e a usarem de modo articulado os materiais e as referências curriculares e
pedagógicas ofertadas pelo MEC às redes que aderirem ao Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa e desenvolverem as ações desse Pacto
(BRASIL, 2012 a, art. 1º, grifo nosso).
Além disso, constam nos princípios da formação continuada que orientam as ações
do PNAIC, explicitados nos Cadernos de Linguagem e retomados nos Cadernos de
Matemática, num de seus itens:
A socialização: operacionalizada na criação e fortalecimento de grupos de
estudo durante as formações que, espera-se, transcenda o momento
presencial, diminuindo o isolamento profissional, intrínseco à profissão de
professor, que, em geral, mantém contato com pais, alunos e diretores, mas
não com seus pares (BRASIL, 2015, p. 26-27).
Sabemos que o fato ocorrido na referida escola não se trata de um caso isolado, mas
recorrente nas discussões dos grupos em formação, pois ouvimos relatos semelhantes à
época de nossa formação, em que também participamos como professora alfabetizadora.
Porém, no ano seguinte, a Prof.ª Rose Anne realiza sua remoção para a Escola
Esperança, lócus de nossa pesquisa, e seus relatos são diametralmente opostos à experiência
na escola anterior. Dessa maneira, ela reiterar o trabalho colaborativo da atual equipe:
Por isso que eu digo: eu vim entender o Pacto aqui nessa escola. Até
elogiei a coordenadora. Falei pra ela dia que teve reunião aqui: - Vocês
estão de parabéns, porque hoje eu sei o que tenho que fazer com o Pacto (Prof.ª Rose Anne – 1º ano - ES).
A Prof.ª Rose Anne percebe o engajamento da equipe e muda sua perspectiva ante a
formação do PNAIC Matemática, por ter compreendido a proposta do programa. E continua
106
reafirmando a importância do trabalho realizado em equipe no espaço escolar,
parabenizando, especialmente, o trabalho da coordenadora pedagógica.
Sem titubear, eu falo pra você: quando todo mundo tá junto (professores e
coordenação) sabe o que você tá fazendo dentro da sala de aula, aí
funciona. Quando não, cada um vai do jeito que quer, aí não funciona. E
a gente trabalhando junto, todas as professoras do mesmo ano juntas, o
resultado você tem igual. As crianças saem do 1º para o 2º ano, e o
professor também está realizando as atividades da mesma maneira. É bem
diferente. Isso aqui é que é legal também. Quando o professor pegar esse
aluno, já tem uma noção do que vai precisar trabalhar com ele. Eu sabia,
eu fazia, mas ninguém falava o que tinha que fazer depois. Aqui nessa
escola tem uma sequência (Prof.ª Rose Anne – 1º ano - ES).
A docente demonstra nesse trecho do relato um inequívoco alívio quando relata o
trabalho desenvolvido pela equipe escolar, o que a leva a compreender melhor a proposta do
programa, por ter conseguido vislumbrar na prática a continuidade do trabalho realizado em
equipe nos anos subsequentes. Porém, é preciso que os professores vejam o novo programa
formativo ou as transformações da prática refletida na aprendizagem de seus alunos. Nesse
sentido, “mudam suas crenças e atitudes de forma significativa e supõem um benefício para
o alunado e a forma de exercer a docência, então, abre-se a forma de ver a formação não
tanto como uma agressão externa, mas como um benefício individual e coletivo”
(IMBERNÓN, 2009, p. 27).
O autor então citado complementa: “Não podemos separar a formação do contexto
de trabalho ou nos enganaremos no discurso. [...] o contexto condicionará as práticas
formativas e sua repercussão no professorado e, é claro, a inovação e a mudança”
(IMBERNÓN, 2009, p. 10).
Fiorentini (2008), citando documentos da Sociedade Brasileira de Educação
Matemática (SBEM), em que constam os resultados das avaliações externas, assim a eles se
refere: “revelam que as escolas bem sucedidas nas avaliações de seus alunos são aquelas que
possuem um trabalho coletivo, envolvendo toda a comunidade escolar, propostas inovadoras
e professores atuando em uma única escola e motivados para o trabalho”. Dessa forma, ainda
segundo o autor, confirma-se que a formação continuada realizada pelo coletivo da escola
aponta diretamente para a melhoria das práticas pedagógicas (FIORENTINI, 2008, p. 54).
Considerando que uma das finalidades da formação continuada é a contribuição para
a melhoria do trabalho em sala de aula, Day (2001) indica que:
107
Os efeitos da formação continuada têm maior probabilidade de se
prolongarem no tempo se puderem ser apoiados e adaptados aos contextos
locais da sala de aula e das escolas [...] as relações diretas de causa-efeito
entre a formação contínua, a mudança e a sua eficácia devem ser
problematizadas – os níveis contextuais (macro, meso ou micro) contituem
factores que irão condicionar este processo, assim como a qualidade das
próprias atividades de formação continua [...], nem todos os programas de
formação continua se centram diretamente na sala de aula (DAY, 2001, p.
211).
Se para a Prof.ª Rose Anne, a experiência inicial na formação do PNAIC, que
coincidiu com a entrada na rede municipal de ensino, foi traumática, o mesmo não aconteceu
com as duas professoras participantes da pesquisa, pois elas já estavam lotadas na Escola
Esperança, para onde a primeira veio no início do ano 2014.
A dinâmica proposta pela formação do PNAIC Matemática, apontava para que o
desenvolvimento das atividades propostas ocorresse dentro do espaço escolar, de forma
articulada entre as professoras e a equipe escolar. Inclusive pudemos verificar, enquanto
participante, da formação do PNAIC Matemática casos em que professoras e coordenadoras
pedagógicas participavam num mesmo polo de formação e no momento da socialização
apresentavam os trabalhos que haviam desenvolvidos com seus respectivos alunos na escola.
No relato da Prof.ª Neucília fica evidenciada a importância do trabalho desenvolvido
com a equipe escolar de forma colaborativa, possibilitando romper com o individualismo e
a ausência de metas estabelecidas para o ensino. Nas palavras da docente:
Foi muito bom prá escola, porque todos ficam na mesma linha de
pensamento, não tem mais aquele pensamento individual que tinha antes,
como se fosse um rumo a ser seguido”. (Prof.ª Neucília – 2º ano - ES).
Essa afirmação está alinhada com a afirmativa de Imbernón (2010), ao defender que
“a formação continuada de professores pode ajudar a romper com a cultura individualista, já
que a formação coletiva supõe uma atitude constante de diálogo, de debate, de consenso e a
metodologia de trabalho e o clima afetivo são pilares do trabalho colaborativo”. Talvez esse
seja de fato o trabalho mais desafiador dentro da escola, pelo fato de existirem divergências
pessoais, na maioria das vezes alheias ao trabalho educativo.
Quando abordamos questões relativas à articulação da equipe escolar a Prof.ª Denise,
prontamente, respondeu:
108
Sim, consegui articular com a maioria das professoras, principalmente
com o pessoal mais novo que está entrando (na rede municipal. Eles têm
uma outra cabeça. O pessoal mais antigo já não aceita e dizem: - Eu não
vou fazer isso, não. Acho que é próprio do sistema político que influencia
a formação, que eles já passaram por tantos “modismos”. Ou então diziam
que fariam só para cumprir, mas na prática era o BA BE BI BO BU. Mas
o pessoal que estava chegando, assim como eu, se entusiasmava, sentava
com a coordenação também. Nunca tive problemas (Refere-se novamente
à área da Linguagem). (Prof.ª Denise – 3º ano - ES).
A docente levanta outras questões, como as relativas à descrença das professoras
mais experientes com os programas governamentais, que mudam a cada período, a cada
gestão governamental, desestimulando, muitas vezes, o trabalho docente.
Embora os profissionais participem de forma coletiva das formações ofertadas pelas
instituições governamentais, ou mesmo aquelas em que participam por livre iniciativa, cada
docente, em sua individualidade, se apropria ou não da proposta. Quanto a isso, Ferreira
(2003, p. 36), aponta que “cada professor cresce profissionalmente a seu modo: avançando
e recuando, arriscando-se em novas estratégias ou deixando-se levar pelos modismos ou
conveniências, refletindo conscientemente sobre sua prática pedagógica ou desenvolvendo-
a mecanicamente”.
Esses profissionais podem optar ou não por se envolverem no trabalho colaborativo
com a equipe escolar. Sobre isso, Imbernón (2010, p. 72) afirma: “se os professores não
impulsionam nas instituições educacionais uma nova cultura colaborativa e tampouco a
demanda e reivindicam-na na formação, será impossível desenvolver processos de formação
colaborativos e uma inovação institucional”.
Algumas vezes, em nossa experiência profissional temos nos deparado com situações
análogas às citadas pela autora; muitas vezes, o professor mais experiente já passou por
tantas mudanças políticas e pedagógicas ao longo de sua carreira, que, participa dos
programas de formação continuada por ser obrigado, ou por estar condicionado a algum tipo
de benefício pecuniário, mas não por acreditar nas contribuições a sua prática.
Alguns consideram essas propostas como mais um modismo passageiro, em que
aceita participar, mas em seguida, retoma a sua antiga prática por acreditar que ela seja mais
eficaz ou por ter segurança em trabalhar da forma como domina.
Porém não concordamos com tal postura, pois acreditamos sim, que o professor deva,
responsabilizar-se além de sua formação, do seu aperfeiçoamento profissional, a busca pelo
109
desenvolvimento de uma cultura colaborativa em que o trabalho com os pares seja o
propulsor das mudanças que urgem no âmbito da educação.
Além de metas estabelecidas para o ensino, o professor precisa se apropriar dos
conteúdos que irá ensinar. Dessa maneira, vejamos então o dizem as professoras sobre os
conteúdos matemáticos discutidos no decorrer do curso.
4.2.3 Os conteúdos matemáticos na formação do PNAIC
Os conteúdos matemáticos foram trazidos como proposta do PNAIC Matemática
desenvolvidos a partir dos cadernos oferecidos no curso. A cada encontro discutia-se os textos,
geralmente utilizando-se da leitura compartilhada com as professoras cursistas, para, na
sequência propor a realização de algumas atividades a serem desenvolvidas com seus
respectivos alunos.
Apesar de os cadernos estudados tratarem de conteúdos matemáticos específicos,
como operações aritméticas, geometria, nos relatos das professoras não há menção a
aprendizagem de conteúdos matemáticos, ou a ampliação de sua compreensão a partir da
formação. Mesmo quando questionadas, nenhum comentário positivo ou negativo, referente
aos conteúdos matemáticos trabalhados na formação fora destacado nas falas. O conteúdo
matemático é quase ausente no discurso das professoras, sendo mencionado apenas quando
associado a algum jogo ou material didático pedagógico.
Quando questionadas se continuavam utilizando ou se pautando nos cadernos do
PNAIC – Matemática, elas afirmaram: “Sim, utilizo os cadernos, principalmente os de
Matemática, que deixaram a desejar por não ter alguém para acompanhar”. E novamente a
Prof. Rose Anne faz alusão à ausência de acompanhamento na escola que trabalhava na época
da formação.
Por sua vez, a Prof.ª Neucília limitou-se a afirmar que continua utilizando, “os jogos,
os vídeos, os filmes e o cantinho da Matemática”. Referindo-se aos materiais
disponibilizados pela formação, inclusive, faz referência ao “Cantinho da Matemática”,
atividade sugerida pela formação para que os professores organizassem em suas respectivas
salas um espaço específico para a Matemática, onde os jogos e materiais deveriam ser
acessíveis aos alunos.
Prof.ª Denise, quando se refere à utilização dos cadernos de Matemática, afirma:
110
Foram ótimos por conta da introdução dos jogos. Não trouxeram o jogo
pelo jogo, mas ele trouxe o conteúdo que vai ser trabalhado com aquele
jogo, a metodologia, porque foi desenvolvido aquele jogo. Não foi o jogo
pelo jogo, mas tem um sentido, tem um significado (Prof.ª Denise – 3º ano -
ES).
Na fala dessa professora já percebemos alguns componentes que revelam o
conhecimento da organização, dos conteúdos e objetivos do caderno de jogos, conforme
apresentamos no capítulo 2.
Outro tema relacionado na proposição do PNAIC desde o início da formação refere-
se à interdisciplinaridade; porém, foi no 3º ano do programa que a temática tomou corpo e
permeou todas as propostas contidas nos cadernos da formação no ano de 2015. Registramos
que, nesse ano, apenas três dos onze cadernos propostos foram desenvolvidos na formação,
que ocorreu nos últimos três meses do referido ano.
Sobre a interdisciplinaridade, a professora Denise destaca em sua fala:
A proposta do PNAIC é a interdisciplinaridade, certo? Acho que ficou
vago, sobre como fazer essa interdisciplinaridade, porque tem conteúdo
muito específico da Matemática, então tem coisa que você precisa ter
tempo para pesquisar, e o professor não tem tempo (Prof.ª Denise – 3º ano).
A professora aborda dois aspectos, a incipiente discussão sobre interdisciplinaridade
e matemática e, as condições objetivas de trabalho por não dispor de tempo suficiente para
a pesquisa, ação necessária para desenvolver propostas pedagógicas nessa perspectiva.
Na proposição do PNAIC as discussões sobre a interdisciplinaridade estão
amparadas:
Nos documentos oficiais desde a Lei de Diretrizes e Bases, promulgada em
1971 (LDB N.º 5.692/71; BRASIL, 2006), e nunca mais deixou de se
apresentar em diretrizes e parâmetros para a Educação. A LDB N.º
9.394/96 retoma a orientação para a interdisciplinaridade e faz replicar essa
necessária interdisciplinaridade nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL, 1998) e nas Orientações Curriculares Nacionais (OCNEM,
2006), para toda a Educação Básica. É ainda ratificada, mais recentemente,
nos documentos voltados para o Ensino Fundamental de nove anos e nos
Cadernos das duas primeiras edições do Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa (PNAIC, 2012 e 2013, p.45).
111
Embora possamos atestar o amparo legal dos documentos orientadores do ensino, a
interdisciplinaridade ainda é pouco compreendida no que diz respeito ao processo de
construí-la no fazer pedagógico. Fazenda (1995), em seus estudos, verificou que no Brasil,
apesar da diversidade de práticas intuitivas e projetos educacionais que se apresentam como
interdisciplinares, não existem regras ou intenções claras e “em nome da
interdisciplinaridade, rotinas estabelecidas são condenas e abandonadas, e slogans, apelidos
e hipóteses de trabalho são criados; muitas vezes eles são improvisados e mal elaborados”
(FAZENDA, 1995, p. 7).
Ainda nos cadernos, encontramos exemplos de organização dos conteúdos de forma
interdisciplinar, alinhados aos Direitos de Aprendizagem:
Com relação às outras áreas do conhecimento, o diálogo ocorre no interior
dos textos, na organização dos cadernos de um modo geral. Por exemplo,
a Geografia, notadamente a Educação Cartográfica (um dos Direitos de
Aprendizagem), evidencia-se quando do trabalho com a construção de
esquemas e mapas, junto com e pelas crianças. Mantém-se um diálogo
constante com a História, tida algumas vezes como fio condutor de
sequências didáticas, como por exemplo, no trabalho com as unidades de
medida, quando se opta por uma construção que resulta na necessidade da
criação de “padrões de medida”. Enfim, não apenas ocorrem momentos
“explícitos” de abordagem relacionadas a outras áreas do conhecimento,
mas uma série de oportunidades que favorecem intervenções dos
professores para que se estabeleçam novas relações (BRASIL, 2014, p.
15).
Estamos defendendo que a trajetória profissional do docente influencia diretamente
suas práticas pedagógicas, e sabemos que, se a interdisciplinaridade não fez parte nem da
etapa da escolarização nem da formação inicial, dificilmente se efetivará na formação
continuada, pois, segundo Gatti (2016, p.1):
De modo geral, nem as públicas nem as privadas estão realmente formando
professores. A crítica às universidades públicas é que elas não faziam uma
associação adequada entre as teorizações e as práticas, que é um
movimento de interdisciplinaridade, difícil, inclusive para os professores
doutores que estão nessas universidades, pois a formação deles é
disciplinar, e não interdisciplinar (GATTI, 2016, p. 1).
Assim, compreendemos que o trabalho com a interdisciplinaridade precisa de maior
estudo e reflexões, em conjunto com a escola para que o trabalho possa ser desenvolvido
112
conforme suas especificidades, e não apenas como uma reunião de conteúdos de áreas
específicas que não coadunam entre si e que não alcançam os objetivos propostos.
Na continuidade dos relatos, questionamos as professoras sobre quais aprendizagens
consideraram como sendo as mais significativas na formação do PNAIC Matemática. E
assim procedemos no próximo item.
4.2.4 Contribuições do PNAIC Matemática: o jogo e a sequência didática
Atualmente a utilização de jogos e brincadeiras no processo ensino e aprendizagem
de Matemática se apresentam como tema constante nos estudos de diversos pesquisadores,
dentre eles, Moura (1992); Grando (2004); Nacarato (2005), que destacam as
potencialidades metodológicas desde que a intencionalidade esteja presente.
Moura (1992), afirma que:
O jogo para ensinar matemática deve cumprir o papel de auxiliar no ensino
do conteúdo, propiciar a aquisição de habilidades, permitir o
desenvolvimento operatório do sujeito e, mais, estar perfeitamente
localizado no processo que leva a criança do conhecimento primeiro ao
conhecimento elaborado.
Quando o jogo é bem trabalhado em sala de aula, além de possibilitar a construção
dos conceitos matemáticos, possibilita também aos alunos a capacidade de organização, de
reflexão, argumentação e as melhores estratégias para alcançar os resultados. E na relação
com os pares, aprende a ganhar, a perder, o respeito às regras e o trabalho em equipe.
Como mencionamos anteriormente os conteúdos matemáticos não foram destacados
nas falas das professoras, bem como a discussão sobre como a criança aprende Matemática.
As professoras, ao se referirem às contribuições do curso para a atuação docente,
destacam dois aspectos: o jogo e a sequência didática.
Os Jogos Matemáticos
A Prof.ª Rose Anne, ao ser arguida, já declara prontamente que o programa
contribuiu muito, pois se tornou uma referência para o alfabetizador e para o seu currículo,
113
Contribuiu muito. Em qualquer escola que você vai, a primeira pergunta
é: - Fez o Pacto? Porque se você vai pegar uma sala de alfabetização, que
eu me identifico, é a primeira coisa que perguntam. Então é uma referência
para nosso currículo E também pelo fato de você trabalhar com o aluno
da melhor forma possível. O que é na verdade o Pacto? É você trabalhar
o prazer da criança em aprender, isso é a melhor coisa (Prof.ª Rose Anne –
1º ano - ES).
E finaliza associando o PNAIC e sua proposta de trabalho ao prazer da criança no
processo de aprendizagem. A docente torna sua fala mais específica quando menciona a
importância do jogo nesse processo, afirmando que, a partir da formação, muda sua
perspectiva ao utilizá-lo em sala de aula.
Os jogos. Todos os jogos achei muito importante. Antes a gente já usava
os jogos, mas hoje, com outro olhar. Jogava com o aluno, mas não tinha o
jeito de observar, ver o que ele está produzindo ali. Então agora com o
olhar diferenciado (Prof.ª Rose Anne – 1ºano - ES).
A Prof.ª Rose Anne, referindo-se aos jogos, afirma que as contribuições deles,
oportunizaram outras formas de trabalhar com a Matemática, além das atividades
desenvolvidas nos cadernos utilizados pelos alunos.
Nessa parte eu achei muito interessante porque não usava muito o visual
com eles, antes de fazer o PNAIC, então o PNAIC ajudou nesse sentido,
porque a gente fica muito preso ao caderno, caderno, caderno, e esquece
que o visual é importante para eles nesse momento (Prof.ª Rose Anne – 1º
ano - ES).
A docente, quando se referia aos jogos, usou o termo “visual”, e quando arguida para
que explicitasse sobre a utilização do termo, respondeu: “Quero dizer concreto. Eu vou
passando do visual para o escrito”. Ou seja, visual é tudo o que seja concreto, que a criança
pode pegar, manipular. Importante considerar que a matemática é aprendida na medida em
que as crianças estabelecem relações mentais que envolvem situações numéricas, métricas,
espaciais, dentre outras. Como já dissemos anteriormente, não são os objetos ou o jogo que
ensina matemática, e sim as relações que podem (ou não) ser estabelecidas enquanto a
criança age sobre os objetos, as situações.
114
Ela alega que o PNAIC ajudou no sentido de ofertar alternativas ao trabalho do
professor, oportunizando outras formas de ensino da Matemática que não se restringissem
apenas ao uso do caderno escolar.
A Prof.ª Neucília aponta as contribuições de forma mais generalista, como um
reforço daquilo que ela já sabia e vinha desenvolvendo em sua carreira docente, todavia,
considera que os cursos são sempre bons. Enfatiza também a questão do lúdico, dos jogos
trazidos pela proposta do programa de formação continuada.
É um reforço ao conhecimento que a gente tem. Os cursos dão uma nova
ênfase. O que a gente já sabe e o que a gente vê lá, a gente já desenvolve.
Vê outras atividades, outras formas de se trabalhar. É bem rico o
conhecimento que se adquire. Acho que é muito válido o trabalho do
PNAIC. O lúdico, os jogos, bastante variedade de jogos, enriquece
bastante o trabalho da gente, sim (Prof.ª Neucília –2º ano - ES).
E prossegue com os relatos, relembrando da rotina proposta pela formação a ser
desenvolvida com os alunos, destacando que eles próprios a cobram ao chegarem à sala de
aula.
Tudo vai se modernizando. A gente não pode ficar parado. Tanto que os
meus alunos logo na chegada já querem que eu coloque a rotina lá no
cantinho da sala de aula. Aquela rotina que eu fiz no PNAIC, eles cobram
quando tento mudar. E a cada atividade realizada eu vou riscando. Essa
organização eu aprendi no PNAIC (Prof.ª Neucília – 2º ano - ES).
A professora explica que, à medida que as atividades são desenvolvidas na rotina
fixada num cartaz na parede, ela vai riscando os itens propostos para serem trabalhados
naquele dia, para que os alunos percebam o que já foi realizado e o que ainda falta realizar
até o final da aula.
Nas narrativas da Prof.ª Neucília, pudemos observar que, embora ela também tenha
feito menção positiva à importância dos jogos nos processos formativos, ao mesmo tempo
demonstra um certo enfado devido à rotina repetitiva e a um provável exagero na utilização
dos jogos nas atividades Matemática.
Quando nós fizemos o PNAIC foi assim através dos jogos. Eu acredito que
se aprofundasse um pouco mais, ajudaria também. Ficar assim naquela
115
rotininha, jogos, jogos, poderia ter também outras formas lúdicas de
trabalhar. Assim que eu penso que foi um reforço bem bom o PNAIC (Prof.ª
Neucília – 2º ano - ES).
A professora sugere a necessidade do aprofundamento de outras formas lúdicas de se
trabalhar, além dos jogos. Talvez esse seja um dos grandes desafios das formações, sejam
elas iniciais ou continuadas: articular as práticas pedagógicas num movimento em que
possam ser problematizadas, questionadas, refletidas, investigadas. Nacarato, Mengali e
Passos (2011) assim examinam a questão:
Sem dúvida, os desafios postos à formação dos professores que atuam nas
séries iniciais são grandes. Esses desafios consistem em criar contextos
em que as crenças que esses professores foram construindo ao longo de
sua escolarização possam ser problematizados e colocadas em reflexão,
mas, ao mesmo tempo, que possam tomar contato com os fundamentos da
matemática de forma integrada às questões pedagógicas, dentro das
atuais tendências em educação matemática (NACARATO; MENGALI;
PASSOS, 2011, p. 38).
Concordamos com as autoras, todavia, “o professor nem sempre tem clareza das
razões fundamentais pelas quais os materiais ou jogos são importantes para o ensino-
aprendizagem da matemática e, normalmente, não questiona se estes realmente são
necessários, e em que momento devem ser usados” (FIORENTINI; MIORIM, 1990 p. 1).
A Prof.ª Denise também reafirma as contribuições, destacando sobre a importância
da alfabetização associada ao jogo e ao processo de aprendizagem da criança.
Eu gostei muito do PNAIC, porque trouxe exatamente o que é
alfabetização. Como se trabalha com a alfabetização. Porque precisa de
jogo; como a criança aprende. Jogando também, que a criança pode ser
letrada antes de ser alfabetizada. A proposta é ótima (Prof.ª Denise – 3º ano
- ES).
A mesma Prof.ª relata uma situação específica aprendida na formação, ao que
nomeou de “empresta um” e “vai um”, afirmando que aprendera em seu processo de
escolarização. Ou seja, automatizou o processo e somente na formação conseguiu
compreender o sistema de trocas entre unidades, dezenas e centenas.
116
Uma experiência interessante, foi que encontrei um vídeo interessante que
o PNAIC passou sobre o Material Dourado, trabalha justamente o
“empresta um”, e as crianças compreenderam que se tratava de 10
(dezena) e não 1 (unidade). Então eles já sabem que cada 10 cubinhos
equivalem a uma barrinha/dezena. Eu aprendi com o vídeo e ensinei a eles.
Antes eu não sabia, o “vai um” era automático. Eles adoraram, formaram
grupos. Foi bom para aqueles que estavam com deficiência, conseguir
internalizar o tal do “empresta um”. E eu passei atividades e eles
resolveram com o Material Dourado (Prof.ª Denise – 3º ano - ES).
O relato da professora Denise, foi o único que trouxe à tona, uma aprendizagem,
nesse caso associada a compreensão do sistema de numeração decimal e as operações
aritméticas, a partir da utilização do material dourado.
A forma como o professor concebe o trabalho também foi uma discussão trazida por
Muniz (2010), quando o jogo:
[...] aparece para sistematizar, generalizar ou treinar a aplicação do novo
conhecimento construído fora do jogo, ele é tão somente um pretexto para
a atividade matemática e, consequentemente, a aprendizagem matemática
se realiza efetivamente, apenas na segunda instancia, na atividade
matemática, mas não no jogo, exceto se concebermos a própria atividade
matemática como jogo (MUNIZ, 2010, p. 65).
E essas concepções transparecem nos relatos da professora quando afirma que utiliza
os jogos para sistematizar as aprendizagens dos alunos.
A construção dos jogos foi desenvolvida na formação, e conforme a docente nos
relata a respeito desse processo:
No Pacto nós aprendemos a construir jogos, tanto na Linguagem quanto
em Matemática, a usar dentro da Sequência Didática, dentro da rotina.
Tem um momento apropriado para o jogo e isso não vai estar desvinculado
do conteúdo do ensino da criança, é um complemento, um recurso (Prof.ª
Denise - 3º ano - ES).
A docente explica que os jogos foram utilizados dentro da Sequência Didática, em
um momento apropriado, que estava vinculado ao conteúdo a ser ensinado. A partir disso,
considera o jogo como um complemento, um recurso a ser utilizado no processo de ensino
e aprendizagem dos alunos.
117
Conforme apresentamos no capítulo anterior, dentre os cadernos de estudos
oferecidos pelo PNAIC Matemática, um refere-se ao Caderno de Jogos, que eram
trabalhados em conjunto com os cadernos de temas específicos da Alfabetização
Matemática. Nesse Caderno de Jogos, havia atividades lúdicas com o objetivo de auxiliar
nos trabalhos com a Matemática, e a proposta nele contida não se limitava a um simples
passatempo ou ao brincar pelo brincar, mas as trazia como recursos auxiliares aos trabalhos
pedagógicos, e ainda como possibilidade de ampliação dos conceitos matemáticos.
Da mesma forma como as professoras aprenderam a construir os jogos, podem
também ensinar os alunos de forma que possam permitir-lhes tanto a experimentação como
a construção de conceitos matemáticos por seu intermédio, que é um dos muitos recursos
que subsidiam a prática de ensino do professor.
As três professoras ao abordaram as contribuições do PNAIC Matemática destacam
como ponto comum a alusão aos jogos pedagógicos desenvolvidos pela formação.
Concordamos com Nacarato (2004, p. 5), na medida em que afirma que “nenhum material
didático – manipulável ou de outra natureza – constitui a salvação para a melhoria do ensino
de Matemática. Sua eficácia ou não dependerá da forma como o mesmo for utilizado”. E a
autora complementa a afirmação, citando Schliemann, Santos e Costa (1992, p. 101): “não
é o uso específico do material concreto, mas, sim, o significado da situação, as ações da
criança e sua reflexão sobre essas ações que são importantes na construção do conhecimento
matemático”.
Observamos a necessidade da ampliação das discussões acerca da utilização de
materiais pedagógicos no processo de ensino e aprendizagem da Matemática. Não havendo
a correta apropriação tanto dos conceitos matemáticos quanto da utilização desses materiais,
o processo se torna inócuo, podendo até comprometer ainda mais, tornando mais confuso ou
limitando-se apenas à dimensão lúdica.
Mas o jogo não foi o único destaque das narrativas das professoras, visto que a
Sequência Didática também foi bastante evidenciada quando o tema era atinente à formação
continuada.
Então, apresentamos no próximo item algumas reflexões sobre a Sequência Didática
propostas na formação do PNAIC e destacada pelas professoras.
118
A Sequência Didática
A Sequência Didática foi um aspecto bastante destacado pelas Professoras, ao se
referir à formação do PNAIC Matemática.
O Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa, lançado no ano de 2013, quando
desenvolveu a proposta de Alfabetização na área da Linguagem, trouxe a proposta de
desenvolvimento da Sequência Didática baseada nos estudos dos autores Dolz, Noverraz e
Schneuwly (2004, p. 97), que, ao abordarem especificamente o ensino da língua materna,
referem-se à sequência didática como um “conjunto de atividades escolares organizadas, de
maneira sistemática, em torno de um gênero oral ou escrito”. Elas permitem uma maior
sistematização do ensino e da aprendizagem, “com a finalidade de ajudar o aluno a dominar
melhor um gênero de texto, permitindo-lhe, assim, escrever ou falar de uma maneira mais
adequada numa dada situação de comunicação” (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY,
2004, p. 97).
Um primeiro aspecto proposto no desenvolvimento de uma Sequência Didática é o
objetivo que se pretende alcançar ante as necessidades dos alunos, manifestando a
intencionalidade do ensino.
Outro destaque, que já foi discutido anteriormente, refere-se às relações estabelecidas
entre os conteúdos selecionados das diferentes áreas do conhecimento, bem como a
articulação entre elas. Identificar o que é possível ser trabalhado dentro de uma atividade nas
diferentes áreas do currículo requer um olhar atento sobre os direitos de aprendizagem de
cada área. Devemos considerar também o tempo destinado ao trabalho com sequências, que
podem variar em função do que os alunos precisam aprender, do desenvolvimento do
trabalho, da mediação do professor durante as atividades, dos objetivos alcançados, do
acompanhamento dos alunos durante o processo.
Nos relatos da Prof.ª Rose Anne, observamos a anterior dificuldade em fazer uma
Sequência Didática sozinha, pois ela não sabia por onde começar. Isso em razão da mudança
ocasionada pela chegada à nova escola e seu envolvimento na organização pedagógica
escolar.
A docente enfatiza o fato de ter aprendido a organizar uma Sequência Didática, o que
atribui ao fato de não ter realizado a formação do PNAIC em Linguagem, realizado no ano
anterior ao ano em que entrou na rede municipal.
119
Hoje eu sei sentar e fazer uma Sequência Didática sozinha. Porque antes
eu não dava conta. Não sabia por onde começar. Lia e tentava entender.
Não entendia porque não tinha feito o Pacto 2013 Linguagem. Por que
nem elas (as professoras da escola anterior), coitadas, sabiam fazer
direito. Ainda hoje, inclusive elas me pedem prá mandar as Sequências
Didáticas (Prof.ª Rose Anne – 1º ano - ES).
A professora ainda menciona o fato das colegas da escola em que atuou anteriormente
pedirem para ela enviar a Sequência Didática para que possam desenvolvê-la. Essa prática,
por vezes, muito presente destitui a intencionalidade do planejamento. Quando uma mesma
sequência didática é utilizada por diferentes professores para ministrar suas aulas a diferentes
alunos a técnica se sobrepõe ao aluno e ao professor. Neste sentido, a sequência didática não
se caracteriza como o planejamento de ações/atividades que visem alcançar determinados
objetivos de aprendizagem dos alunos; ao contrário, tem objetivo em si mesma.
Na entrevista narrativa que realizamos com a Prof.ª Neucília e buscamos auscultar
suas lembranças, ela reafirma as contribuições trazidas pela formação e atribui destaque à
Sequência Didática, que foi por diversas vezes mencionada nos variados momentos em que
acompanhamos suas atividades na escola, nos diversos encontros informais e no
acompanhamento da Hora-Atividade da docente.
Contribuiu porque antes do PNAIC nós não tínhamos a Sequência
Didática. Não tínhamos rotina, nem organização. São inovações, e a gente
tem que estar sempre atualizando, e para essas atualizações são
importantes cursos como esses. E até hoje a gente está em transformação
na Sequência Didática. Todo ano ela está inovando (Prof.ª Neucília – 2º ano
- ES).
Transformação e inovação são termos utilizados pela docente ainda para expressar
as contribuições trazidas pela Sequência Didática, mencionando a boa aceitação por parte
dos alunos. “Ela tem uma boa aceitação. Tudo vai se modernizando. A gente não pode ficar
parada”. Igualmente, ressalta a importância de se avançar, modernizar na forma de
trabalhar.
A rotina proposta pela formação a ser desenvolvida em sala de aula, também foi um
aspecto relevante evidenciado pelas professoras,
120
Tanto que os meus alunos logo na chegada já querem que eu coloque a
rotina lá no cantinho da sala de aula. Aquela rotina que eu fiz no PNAIC,
eles cobram quando tento mudar. E a cada atividade realizada eu vou
riscando. Essa organização eu aprendi no PNAIC (Prof.ª Neucília -2º ano -
ES).
A Prof.ª nos conta que os próprios alunos solicitam que ela exponha a rotina num
cartaz, de modo que marquem as atividades à medida que sejam realizadas. Essa prática foi
trazida pelo PNAIC para que as professoras realizassem com os alunos.
Ainda versando sobre a temática da Sequência Didática, a Prof.ª Denise demonstra
familiaridade com a prática, mas também destaca os Direitos de Aprendizagem, que são
conhecidos, ainda, como capacidades.
A elaboração da Sequência Didática eu já trazia de outra escola particular
que trabalhei. Os Direitos de Aprendizagem foram essenciais, porque ali
dá um norte do que a criança precisa chegar sabendo. Então com base
nisso, você faz a Sequência Didática. Além do mais tem a leitura em que
se coloca a criança no mundo da leitura, as crianças começam a cobrar:
- Professora, não vai ler hoje? Não vai ter tal coisa hoje? A rotina (Prof.ª
Denise – 3º ano – ES).
A docente relata que realizava anteriormente, quando trabalhava na escola particular
com essa forma de organização didática. Quanto aos Direitos de Aprendizagem, considera
que funcionam como um norte a ser alcançado, pois estabelecem as capacidades a serem
desenvolvidas pelos alunos, em cada disciplina.
Muitas expressões foram usadas anteriormente para representar os objetivos listados
no Documento Elementos Conceituais e Metodológicos para Definição dos Direitos de
Aprendizagem e Desenvolvimento do Ciclo de Alfabetização (1º, 2º, 3 anos) do Ensino
Fundamental, como: competências, descritores, indicadores de desempenho, expectativas de
aprendizagem. Mas no presente material de formação foi adotado o que se denomina
“Direitos de Aprendizagem”, já que a educação escolar é compreendida como um direito
social (BRASIL, 2014, p. 42).
Com relação às dificuldades no desenvolvimento das atividades propostas solicitadas
pelo PNAIC Matemática, a Prof.ª Denise nos contou:
121
Não senti dificuldades porque os orientadores pediam uma Sequência que
você já tinha feito, então não era trabalho extra. Ali era uma Sequência
que você já tinha feito e eles viam se estava adequada ou não, dando
oportunidade para você trabalhar (Prof.ª Denise – 3º ano - ES).
Assim, ela atribui certa facilidade ao desenvolver as atividades, argumentando que
os PO solicitavam Sequências Didáticas que já possuíam, após a análise quanto à adequação,
o que oportunizava a continuidade do trabalho. Isto é, as professoras traziam as Sequências
Didáticas que haviam realizados no ano anterior e acrescentavam a Matemática e as demais
disciplinas para ampliá-las. Assim, as professoras tinham a possibilidade de trabalhar
novamente a mesma Sequência Didática, porém, de forma mais ampliada.
No caderno 6 do PNAIC encontramos as orientações citadas pela docente, no trecho
em que Dubeux e Teles (2014) destacam a importância da introdução e inter-relação dos
conhecimentos de diversas áreas:
[...] embora os direitos de aprendizagem sejam específicos para áreas de
conhecimento, a forma como o trabalho pedagógico se organiza pode
possibilitar não só a interdisciplinaridade, mas também uma prática com
abordagem em níveis de aprofundamentos indicados para cada ano de
ensino (DUBEUX; TELES apud BRASIL, 2013 p. 12).
Com relação à proposta do PNAIC, a professora assim relata:
A proposta do PNAIC dava orientações para trabalharmos no sentido de
contemplar a proposta e isso foi muito válido, pode-se perceber que
existem diferentes coisas como: Sequência de Atividades, Sequência
Didática. Que as atividades são uma coisa, didática é outra (Prof.ª Denise
– 3º ano - ES).
Nesse trecho, a docente reafirma as contribuições da proposta do PNAIC, e destaca
que há diferenças entre Sequência de Atividades e Sequência Didática. A primeira pressupõe
um trabalho pedagógico organizado em uma determinada sequência, durante determinado
período estruturado pelo professor, criando, assim, uma modalidade de aprendizagem mais
orgânica.
122
Diante dessas colocações torna-se evidente que para as professoras o que foi mais
significativo no processo formativo do PNAIC diz respeito aos jogos e a organização do
trabalho a partir das sequências didáticas, ou seja, aos aspectos metodológicos.
Não podemos afirmar que o curso enfatizou os aspectos metodológicos, em
detrimentos dos conceituais porque não analisamos os cadernos de estudo e as práticas
formativas. Também não podemos afirmar que esses aspectos são os mais citados porque
dizem respeito ao fazer pedagógico, as ações desempenhadas pelas professoras para ensinar
as crianças.
Vejamos a seguir, como as professoras compreendem a aprendizagem e relatam
desenvolver o ensino da matemática com as crianças do primeiro ciclo.
4.3 As vozes das professoras sobre as práticas escolares e o processo de aprender e
ensinar Matemática após a formação do PNAIC Matemática
Nesse subitem, a nossa atenção se volta para o relato das professoras acerca das
práticas pedagógicas desenvolvidas na escola, em relação ao planejamento, desenvolvimento
e avaliação do processo de aprender e ensinar Matemática nos AI do EF.
A escola apresenta uma rotina na organização do espaço e do tempo escolar, conta
com uma estrutura física relativamente pequena, todavia, capaz de possibilitar o
desenvolvimento de todas as atividades programadas pela equipe escolar. A limpeza da
escola é realizada, conforme orientação da direção, por equipe própria.
Infelizmente, as salas de aula não são climatizadas, fator esse considerado negativo
devido às elevadas temperaturas de nossa cidade (Cuiabá). Mas, ainda assim, os ambientes
das salas de aula são acolhedores e contam com abundante material didático-pedagógico,
material manipulativo, inclusive jogos, que estão ao alcance das crianças. A maioria dos
materiais pedagógicos não permanece na sala de aula, porém, quando solicitado pelas
professoras, são imediatamente disponibilizados pela coordenadora pedagógica.
Com relação à utilização e movimentação no espaço escolar foi possível perceber, de
forma geral, que a disposição do mobiliário favorece a vivência e a interação entre
professores, equipe gestora e alunos, incluindo a aprendizagem coletiva.
Outro fator observado foi o tempo escolar diário, que se encontrava devidamente
organizado, com horários pré-estabelecidos para o início das atividades, para o lanche e para
o seu término. Dessa forma, a rotina organizacional da escola possibilitava o cumprimento,
123
conforme determina a LDB nº 9.394/96, estabelecido para o EF de uma quantidade mínima
de quatro horas de trabalho educativo efetivo. Nesse período, os alunos eram acolhidos no
pátio, onde cantavam e recebiam os informes do dia ou da semana pela equipe escolar,
durante quinze minutos antes de entrarem para a sala de aula. Ao longo da semana,
disciplinas (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia) são distribuídas
em horários pré-determinados e ministradas pela professora referência de cada turma. As
demais disciplinas, como Educação Física e Artes, são ministradas por professores
específicos das respectivas áreas no período em que a professora referência esteja cumprindo
suas Horas-Atividades, destinadas ao planejamento das atividades, ao lançamento dos
conteúdos e à frequência dos alunos no sistema SigEduca10.
Assim, durante o período das observações, diálogos e questionamentos, debruçamo-
nos sobre a descrição das atividades que as professoras participantes dizem realizar,
intencionando compreender o funcionamento das práticas pedagógicas e os conhecimentos
profissionais subjacentes. Voltamos nosso olhar especificamente para as atividades voltadas
ao ensino da Matemática, especialmente aquelas relacionadas à formação do PNAIC
Matemática (as formas de organização dos conteúdos, a articulação entre os conteúdos e as
experiências culturais dos alunos, valorização ou não, das estratégias individuais dos alunos
e as avaliações) e os recursos utilizados, as interações e as proposições de mediações
pedagógicas.
Concordamos com o entendimento do ensino da Matemática, numa perspectiva
humanizadora, pressuposto da teoria histórico-cultural, quando aponta de forma subjacente
que no processo educativo o papel do professor é o de mediador entre a criança, o objeto a
ser conhecido e o meio que o circunda. Dessa forma, a ação do professor em sala de aula
deve ser intencionalmente planejada e, em decorrência disso, ao planejar cada atividade, ele
deve ter clareza sobre os objetivos, os conteúdos e os conhecimentos que os alunos já
possuem, de forma que consigam atribuir sentido, facilitando a apropriação dos
conhecimentos propostos.
Além disso, para o professor ensinar é necessário que possua, entre outros saberes,
conhecimentos específicos, pedagógicos e curriculares do conteúdo da disciplina que se
propõe a ensinar, nesse caso, a Matemática.
10 O Sistema Integrado de Gestão Educacional Estadual (SigEduca) é de propriedade da Secretaria
Estadual de Educação e Cultura-Seduc e seu uso foi concedido ao município de Cuiabá. O SigEduca
possibilita à Secretaria Municipal total integração entre os diversos sistemas da administração
pública de educação; realizar suporte ao sistema de forma otimizada; possuir sistema para internet
Web com disponibilidade de informação em tempo real.
124
4.3.1 As finalidades da Matemática nas vozes das professoras
Em nosso capítulo teórico, discutimos as finalidades da Matemática, que
transcendem os aspectos exclusivamente utilitários. Da mesma forma, tratamos do
importante papel que ela exerce na formação social e intelectual do aluno. Para melhor
compreender como as professoras participantes percebiam e lidavam com a disciplina,
acompanhamo-las no planejamento das aulas de Matemática na Hora-Atividade. Todavia,
vale destacar que o planejamento não acontecia somente no âmbito escolar, pois também se
dava em outros momentos, como, por exemplo, em casa, nos finais de semana, quando o
tempo não era suficiente para a realização da atividade. Dessa forma, muitas vezes, ao
chegarmos na escola, já nos deparávamos com os planejamentos prontos.
Cientes dessa forma de organização, intensificamos o acompanhamento das
professoras participantes, buscando sempre direcionar nosso olhar para a relação que
estabeleciam com o processo de aprender e ensinar Matemática nesse movimento. Assim,
retomamos, numa segunda etapa, as entrevistas semiestruturadas (ES2), questionando sobre
as finalidades do ensino da disciplina para as crianças.
Quando questionamos sobre as finalidades da Matemática e os conteúdos da
disciplina para o 2º semestre, as docentes afirmaram:
Ela desenvolve o raciocínio lógico, a criatividade da criança, ela fica mais
ágil na hora de pensar, de fazer cálculos mentais. Facilita quando eu
trabalho com elas com os jogos, ela já vai estar refletindo sobre suas ações
ali naquele processo, criando, imaginando. Creio que isso é bastante
válido. A criança aprende Matemática através do concreto, da vivência
dela (Prof.ª Rose Anne – 1º ano – ES2).
Trabalhar a lógica, fazer com que a criança tenha a percepção de lógica,
de lógica Matemática, é a vivência que a gente fala e o adulto muitas vezes
fala: - Não consigo! É a lógica, a percepção do que está por trás de uma
atividade ou de um conteúdo. Como um pai me perguntou: - Por que você
está ensinando a hora, se você ainda não ensinou multiplicação? Uma
coisa não precisa estar ligada a outra. A criança precisa perceber que
aquele relógio marca a hora de cinco em cinco. Lógico, a partir daí eu
poderia começar a trabalhar multiplicação. A criança aprende
Matemática brincando, vivenciando, manuseando (Prof.ª Denise – 3º
ano – ES2).
125
A Prof.ª Rose Anne, ao ser arguida quanto aos objetivos da Matemática, aponta
rapidamente para o desenvolvimento do raciocínio lógico e o desenvolvimento de cálculos
mentais. Relata que os jogos contribuem muito para esse processo, ao afirmar que a criança
aprende mediante o que tem oportunidade de vivenciar.
Já a Prof.ª Débora diz que a lógica está implícita nos conteúdos matemáticos,
inclusive citando como exemplo o questionamento feito pelo pai de um aluno sobre o fato
de se ensinar as horas (em relógio analógico) antes de ensinar a multiplicação. Ao que ela
responde que basta a criança compreender que os “o relógio marca a hora de cinco em
cinco11”. Conclui a questão, reafirmando que a criança aprende a Matemática brincando.
Temos como convicção que a matemática na escola deve oportunizar que as crianças
se desenvolvam intelectualmente, e na medida em que forem ampliando os conhecimentos
matemáticos possam cada vez realizar leituras matemáticas, compreender e intervir na
realidade na qual estão inseridos. Já destacamos anteriormente que concordamos com
D´Ambrósio (1993) que a Matemática não se limita ao seu aspecto utilitário, mas adquire
um caráter formativo muito importante para o desenvolvimento de alunos e professores, pois
é concebida como meio ou instrumento que assume papel importante na formação social e
intelectual deles.
Nesse sentido, é fundamental que as propostas do ensino da matemática mantenham
presentes os aspectos socioculturais e históricos que envolvem a produção de conhecimento,
considerando formas “culturalmente distintas de manejar quantidades, números, medidas,
formas e relações geométricas” (FERREIRA, 2003, p.7). Nessa perspectiva, consideramos
que a aprendizagem da linguagem e signos matemáticos é uma condição necessária para que
a criança se aproprie da cultura na qual está inserida.
4.3.2 Como a criança aprende
Nessa etapa das análises, em que desejamos compreender o fazer pedagógico
desenvolvido na escola, destacamos o papel do professor, que possui a tarefa de conhecer os
conteúdos específicos das disciplinas, os processos internos pelos quais passam as crianças,
11 Observamos o relógio não marca a hora de cinco em cinco, mas no relógio constam todas as horas
e os minutos, apenas que em alguns modelos de relógio, os algarismos múltiplos de 5, recebem
maiores destaques.
126
para então organizar o ensino, pensando nas futuras aprendizagens que precisarão continuar
desenvolvendo.
Assim, questionamos as professoras sobre como os alunos aprendem, obtendo as
seguintes respostas:
Com algo palpável, prática mesmo: palitinho de picolé, caixinha de fósforo.
Eu uso material de tampinha com numerais e depois para eles colocarem
outras pecinhas para tentarem visualizar aquele número. Não é o contar
por contar, mas para ele olhar para aquele número e visualizar qual é o
significado dele. Contas... aquele negócio de fazer pulseirinhas. Eu ponho
no barbante e eles vão contando um por um, para identificar o numeral.
Então eu faço dessa maneira para ficar mais fácil para eles aprenderem a
Matemática. A Matemática é visual mesmo. É concreto! (Prof.ª Rose Anne
– 1ª ano - ES).
A criança aprende de forma mais prática que tem pra eles (Prof.ª Neucília
–2º ano - ES).
Conduzo com exemplos. Com a própria teoria, se eu tenho que dar teoria,
e trabalhando com exercícios, atividades... porque só teoria eles não vão
aprender. Tem que aliar a teoria à prática. Os conceitos que tenho que
trabalhar mais vezes são as operações e os números, têm que ser
trabalhados direto. De tempo em tempo, conforme a necessidade eu
retomo esses conteúdos. Uma vez por mês, duas até conseguir (Prof.ª
Denise 3º ano - ES).
A Prof.ª Rose Anne não titubeia ao responder que a criança aprende com o concreto,
palpável, citando diversos exemplos de materiais manipuláveis, como: palitos de picolé e
tampinhas. E afirma que os alunos não veem sentido “naquilo que está na parede”, referindo-
se aos cartazes com os numerais fixados na sala de aula. Continua a explicar que para melhor
ensiná-los faz “coisas da vivência deles”, como: idade, número de alunos em sala, quantos
estão almoçando no dia. Afirma ainda que essa é a melhor forma do aluno aprender, todavia,
reconhece que o tempo para a aprendizagem, varia de aluno para aluno.
Concordamos com as professoras quando apontam para a necessidade de estimular
os conhecimentos matemáticos que realmente sejam significativos para as crianças, com
questões do dia a dia, que possam incentivar a busca através de questionamentos que
envolvam, por exemplo, os números, as medidas, dados estatísticos, as formas geométricas,
de forma que se apropriem desses conhecimentos.
A Prof.ª Neucília foi categórica ao afirmar que a criança aprende “de forma mais
prática que tem pra eles”. Nesse ponto da entrevista, e em outras ocasiões em que
estabelecemos os diálogos, a docente também apresenta semelhante percepção quanto à
aprendizagem dos alunos com materiais manipuláveis.
127
A Prof.ª Denise diferencia-se um pouco das demais por relatar que o processo de
ensino e aprendizagem precisa “aliar a teoria e prática”. Levanta a importância dos conceitos
no ensino das quatro operações, bem como a retomada dos mesmos a cada mês.
É importante salientar que não é pela repetição das atividades que o aluno aprenderá
a resolver as operações aritméticas, a crianças precisa compreender as relações matemáticas
que necessita estabelecer para resolver a situação que se apresenta.
Na sequência, perguntamos como elas acreditam que o aluno aprende e nos relatos
das três professoras revelam coincidências, como se percebe:
Com os alunos que não aprendem, que não conseguem acompanhar a
turma, faço um trabalho individual, separado, atividades diferenciadas
com eles. Nem todas as atividades eles conseguem acompanhar os outros,
então eu faço atividade diferenciada e atendimento individual. A todo
instante vou na carteira deles, ajudando (Prof.ª Neucília – 2º ano - ES).
Avalio a aprendizagem através de atividades. Avaliação nem conto muito.
Ele entende durante a aula e chega na avaliação ele não consegue
entender, internalizar o que se está perguntando. Então avalio nas
atividades do dia a dia. Dá prá perceber se a criança aprendeu ou não.
Quando percebo que ele não aprendeu tenho que voltar o conteúdo com
outra metodologia. Se ele não aprendeu, vamos voltar, vamos pesquisar
outra coisa pra ele. Geralmente eu deixo a turma, pego um grupinho, deixo
quem já sabe fazendo uma atividade e faço uma atividade diferenciada
(Prof.ª Denise –3º ano - ES).
Ambas as professoras demonstram preocupação e atenção com os alunos que não
aprendem e não conseguem acompanhar o grupo, a professora do 2º ano diz que trabalha de
forma diferenciada, oferecendo um acompanhamento individual, na busca de sana essas
dificuldades.
E a Prof.ª Denise também nos conta que atende aos alunos que apresentam
dificuldades, separadamente do grupo, e ainda levanta a questão das avaliações externas,
sugerindo que estas nem sempre refletem o que a criança realmente sabe.
Em ambos os relatos é possível observar o envolvimento das docentes nos processos
de aprendizagem dos alunos, reforçando o papel do professor como mediador do processo
de ensino e aprendizagem, e também como o organizador do ensino, evidenciando de forma
implícita a visão utilitarista dos conteúdos matemáticos.
Segundo Moura (2013), a superação dessa visão tem sido buscada numa outra
perspectiva, cujo foco está no melhor entendimento sobre os processos humano de se
128
produzir conhecimento no seu desenvolvimento cultural. É preciso oportunizar aos alunos a
partilha de conhecimentos hoje para que possam adquirir outros futuramente, como também
o desenvolvimento de capacidades para lidarem com o conhecimento hoje, com “algum
método que lhes permita atingir conhecimentos futuros e sempre que esses se fizerem
necessários para viver plenamente e dignamente (MOURA, 2013, p. 94-95).
Diante disso, destacamos a importância do papel do professor nesse processo. É
necessário que o ensino ocorra de forma organizada e intencional, para que contribua
efetivamente com a apropriação dos conhecimentos pelos alunos.
4.3.3 Os conteúdos matemáticos a serem ensinados
Ao professor cabe o papel de eleger os conteúdos matemáticos a serem trabalhados
durante determinado período, seja, (semanal, mensal, bimestral ou anual), Cabe a ele
também elaborar as sequências de atividades, visando a construção dos conceitos
matemáticos, dos objetivos de aprendizagem, bem como as estratégias metodológicas e os
recursos didáticos necessários de forma a garantir a aprendizagem dos alunos.
Na sequência, questionamos sobre os conteúdos matemáticos a serem ensinados no
2º semestre de 2016. Dessa forma, as professoras se manifestaram:
Vou trabalhar leitura e a escrita dos numerais até 300. Assim, trabalho:
unidade, dezena e centena, que é um reforço do que eu já trabalhei no
bimestre anterior. Vou trabalhar também: dúzia, ½ dúzia, sistema
monetário brasileiro, e vou trabalhar as operações de multiplicação (por
2 e por 3), a ordem crescente dos numerais, contagem e situação-problema
(envolvendo ideias de juntar, de tirar, separar e até multiplicação,
envolvendo sempre a tabuada do 2 e do 3). Na Geometria, vou trabalhar
as formas geométricas, que são (quadrado, triângulo retângulo, a esfera).
No tratamento da informação, tabelas e gráficos, sempre usando o livro
didático do aluno, mas quando não tem eu faço atividade “xerocada”
(Prof.ª Neucília – 2º ano ES).
A principal meta e objetivo de ensino de Matemática para o 2º semestre,
querendo ou não, tenho uma preparação de avaliação externa, então
tenho que focar bastante na parte do que eles pedem nas avaliações
externas, rever, dar o que ainda não dei e trazer isso para que a criança
aprenda. Não só pensando na avaliação externa. Ela é muito importante,
mas eles vão para o 4º ano e esses alunos do 3º ano serão avaliados pela
ANA (Avaliação Nacional da Alfabetização). [...] Não pensando só no
IDEB, mas se o menino aumenta a proficiência do IDEB, ele está mais
129
apto a enfrentar o mundo. Não posso ficar brincando de ensinar aqui
dentro (Prof.ª Denise – 3º ano ES2).
A resposta da professora relata especificamente os conteúdos a serem trabalhados no
semestre vindouro em Matemática. Vale ressaltar que nesse ponto da entrevista a Prof.ª
Neucília abre o planejamento bimestral e lê os registros previstos para a disciplina, que
coincidem com alguns dos Eixos Matemáticos propostos pelo PNAIC Matemática, que são:
Números e Operações, Geometria e Tratamento da Informação. E cita também o livro
didático como apoio e as “atividades xerocadas”, pois ambos possuem atividades a serem
desenvolvidas com os alunos.
Diferentemente da anterior, a Prof.ª Denise não aponta somente os conteúdos, mas
deixa evidente a preocupação com a avaliação pela qual os alunos desse ano passam ao final
do ciclo, quando se refere à Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), tornando-se clara
a ansiedade gerada na docente ante essa perspectiva, que fora reforçada em diálogos
informais, registrados no Diário de Campo (DC). Essa temática esteve na pauta de diálogos
ocorridos na sala dos professores entre nós, os professores dos 3º anos e a coordenadora
pedagógica, que endossava o comprometimento com a seriedade do momento avaliativo e a
responsabilidade sobre os resultados dela advindos.
Observamos que tanto a rede municipal de educação como a equipe gestora escolar
manifestaram grande empenho nos resultados da alfabetização, que, além de ser a proposta
principal do PNAIC, está diretamente relacionada aos resultados do IDEB.
A professora assim finaliza sua fala: “não posso ficar brincando de ensinar aqui
dentro”. Com isso, revela o paradoxo vivenciado na profissão docente, diante das
proposições da formação continuada e das avaliações das aprendizagens das crianças. Ou
seja, quando se refere à formação e ao ensino da Matemática, aponta que a criança aprende
brincando com o lúdico, com os jogos, todavia, exige de si mesma e das crianças, por
conseguinte, uma postura mais séria, rígida, pois estão diante de um ranking, em que
precisam apresentar resultados, que serão contabilizados para mais ou para menos.
Em consequência disso, constatamos que, atualmente, no meio educacional as
unidades escolares são classificadas pelos resultados alcançados no IDEB, e em muitos
casos, aquelas que apresentam melhores desempenhos têm recebido, por exemplo, maior
procura pelas matrículas.
Corroboramos com Santos (2014), que destaca, dentre outros aspectos, que “os
processos avaliatórios nacionais e internacionais impõem e os seus efeitos, por vezes
130
deletérios, sobre a prática pedagógica na educação básica”. Isso demonstra o desvio dos
objetivos propostos para as avaliações em larga escala.
Com relação aos dados obtidos com essas avaliações, Gatti (2007) aponta:
Em tese, estes dados deveriam subsidiar políticas públicas de melhoria da
educação escolar e ajudar a balizar as atividades de ensino nas escolas.
Porém, pelos dados sucessivamente obtidos, o desempenho escolar dos
alunos continua abaixo do que se poderia esperar, em alguns casos piorou.
Isso nos leva a pensar que é preciso considera em situação com mais
seriedade. (GATTI, 2007, p. s/n).
Tornar as avaliações externas o único ou o principal objetivo do ensino da
Matemática na escola denota claramente o desvio das finalidades do seu ensino. Fato este
considerado preocupante, pois sabemos que cabe à escola “[...] trabalhar com a perspectiva
de transformar o senso comum em conhecimento cientifico, o pensamento empírico em
pensamento teórico [...]”. (NASCIMENTO; ARAÚJO; MIGUEIS, 2010, p. 119). Dessa
forma, permitir que as avaliações norteiem o ensino, pode tornar-se prejudicial e
comprometer todo o processo educacional.
Além dos processos avaliatórios, a elaboração de um bom planejamento também
favorece o ensino da Matemática.
Na sequência, apresentamos os relatos das professoras sobre o planejamento das
aulas de Matemática
4.3.4 O planejamento das aulas de Matemática
Conforme informamos anteriormente, os planejamentos eram elaborados na Hora-
Atividade das professoras e estruturados na forma de Sequência Didática, em parceria com
as outras docentes dos anos equivalentes, a cada quinzena. Ou eram elaborados por uma das
professoras, que repassava às demais colegas, e todas desenvolviam com os alunos em sala
de aula.
Pudemos observar o empenho da equipe gestora escolar nessa reelaboração do PPP,
que contou com o apoio de profissionais da rede municipal de educação, todavia o
instrumento ainda não está sendo utilizado conforme o proposto.
131
Cabe ressaltar que o PPP não foi citado espontaneamente como instrumento
importante ao planejamento das ações educativas na escola. Provavelmente isso só ocorrerá
se os professores forem inseridos no processo de maneira a atribuírem sentido a proposta
pedagógica. Como diz Asbahr (2005, p. 115-116) “ao convergirem seus motivos pessoais
em motivos coletivos, os professores articulam-se em torno de objetivos definidos em
comum e passam a desencadear ações planejadas”. O autor complementa: “a cisão
significado e sentido pessoal no trabalho docente compromete o produto do trabalho
educativo e interfere diretamente na qualidade do ensino ministrado” (ASBAHR, 2005, p.
115-116).
Concordamos que o sistema de ciclo assumido pela rede municipal de ensino, e
consequentemente pela escola, tenha como pressuposto o que é considerado por Freitas
(2004): que os professores e toda a comunidade escolar pensem, discutam e definam metas
coletivas para a aprendizagem dos alunos, de forma que elas estejam muito bem
estabelecidas, com a clareza e a objetividade que realmente se deseja alcançar ao final do
ciclo. Todavia, verificarmos a ausência de um trabalho pedagógico coeso e colaborativo, em
que o docente deveria buscar planejar, organizar e conduzir suas aulas com métodos,
estratégias e os conteúdos baseados apenas nas próprias experiências adquiridas no seu
percurso profissional, muitas vezes, dissociados dos objetivos coletivos. Tais condições
comprometem, naturalmente, o alcance das metas estabelecidas com vistas ao
desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.
Vejamos, então, como as professoras abordaram a questão do planejamento realizado
na escola, pois nesse diálogo, as professoras externalizam algumas percepções sobre o
planejamento das atividades a serem desenvolvidas.
A maior dificuldade é o pouco tempo que a gente tem. Hoje, por exemplo,
tem Hora-Atividade, às vezes tem curso pra gente fazer. Já estamos com
duas semanas de aula e eu tive que entregar o “Plano Bimestral” e o
Projeto. E hoje estou fazendo a Sequência Didática. Durante duas
semanas fizemos revisão com os alunos... então o tempo é muito curto pra
você fazer tudo. E aí até pra você selecionar material, separar os jogos,
confeccionar, se não tem esse tempo de confeccionar material, a gente não
tem... quando a gente precisa pesquisar para fazer o planejamento, ou
você tira o dia prá fazer o material (Prof.ª Rose Anne – 1º ano ES).
Dificuldade não tenho em planejar. Acontece que tenho pouco tempo, a
Hora-Atividade é pouca, tem sempre que levar serviço pra casa. Precisava
ter mais Hora-Atividade prá fazer a Sequência Didática. Tem muita coisa
132
prá fazer, deveria ter tempo exclusivamente prá fazer a Sequência
Didática, e a organização dos jogos. (Prof.ª Neucília – 2º ano - ES).
Eu seleciono os Direitos de Aprendizagem, conforme o conteúdo a ser
trabalhado pois conforme os conteúdos, têm os Direito, porque já fizemos
isso no plano anual. Pegamos os Direitos do 3º ano (que é a maioria),
porque no 3º ano a maioria tem que ser consolidada. Nós elencamos os
conteúdos que têm a ver com aquele Direito. Então repete-se bastante os
conteúdos porque tem os vários direitos que trabalham aquele conteúdo.
Por exemplo, números e operações, se pegarmos os Direitos relativos ao
eixo Números e Operações e pegarmos os conteúdos, fica bem repetitivo.
Então aproveitamos para retomar os conteúdos. É como se fosse uma
espiral, o mesmo conteúdo que trabalhei no 1º bimestre pode ser
retomado, sem problemas. Se a criança consolidou ou não, eu posso
retomar, porque nem todo mundo aprende no mesmo tempo. Pra isso tem
os diagnósticos, que tem o acompanhamento e as avaliações individuais
dos alunos (Prof.ª Denise – 3º ano - EF).
Na declaração da professora, inexistem dificuldades relacionadas ao planejamento
ou organização, pois a maior dificuldade apontada foi a falta de tempo para a realização de
todas as atribuições que lhes são conferidas.
Quando as professoras relatam a elaboração conjunta do planejamento que realizados
na forma de Sequência Didática quinzenal, verificamos na verdade, a compartimentalização
do planejamento, pois a cada período, uma das professoras fica responsável pela elaboração,
e as demais se encarregam de desenvolver em suas respectivas turmas. Ou seja, parece-nos
que não há uma discussão mais pormenorizada dos objetivos a serem alcançados e dos
conteúdos a serem desenvolvidos, mas sim um agrupamento de atividades disponíveis que
se aproximem, numa justaposição/acomodação que contemple, senão todos, pelo menos a
maior parte dos conteúdos propostos.
Acreditamos que procedimentos como esses podem comprometer a eficácia do
planejamento, que é parte importante da ação docente, imprescindível no processo ensino e
aprendizagem, pois é preciso tempo para planejar, pensar as ações a serem desenvolvidas.
Da forma como está organizada a dinâmica do ensino de Matemática na escola, que,
precisa atender as grandes demandas externas, em um tempo exíguo para seu
desenvolvimento, torna-se muito difícil a realização de um planejamento adequado, advindo
de reflexão conjunta do grupo de professores para atender as necessidades dos alunos.
As professoras fazem referência aos Direitos de Aprendizagem, instituídos pelo
PNAIC como norteadores da organização curricular, juntamente com a Matriz Curricular,
documento este, proposto pela Secretaria Municipal de Educação.
133
A docente descreve como insere os conteúdos das demais disciplinas a partir de um
gênero textual escolhido e declara que quando isso não é possível, “tem que inserir o
conteúdo de qualquer forma, e é feito da maneira tradicional, mas precisa colocar” (Prof.ª
Neucília – 2º ano - ES), revelando a fragilidade da metodologia que alcança parcialmente os
conteúdos disciplinares propostos para aquele ano/etapa.
A professora Denise exemplifica como procede para planejar “elencamos os
conteúdos que têm a ver com aquele Direito. [..]Por exemplo, números e operações, se
pegarmos os Direitos relativos ao eixo Números e Operações e pegarmos os conteúdos, fica
bem repetitivo. Então aproveitamos para retomar os conteúdos”. A professora apesar de
mencionar a ideia de currículo em espiral “é como se fosse uma espiral, o mesmo conteúdo
que trabalhei no 1º bimestre pode ser retomado, sem problemas”, parece não perceber que
número e operações deve ser trabalhado ao longo do ano letivo de maneira que as crianças
ampliem a compreensão do sistema de numeração e as operações com números naturais.
Ainda relativo ao planejamento, indagamos às professoras sobre os recursos
utilizados na realização dessas ações, ao que responderam:
Eu tenho em casa uma caixa de jogos que são ainda do curso de
Pedagogia, a caixa de jogos do PNAIC e as buscas no “Google” que
sempre a gente faz, que dê pra idade deles e a “Caixa da Matemática” que
temos em sala. Material Dourado, que uso muito pra eles contarem
unidades (Prof.ª Rose Anne – 1º ano - ES).
No planejamento eu uso muito os recursos que eu tenho de acordo com
os conteúdos a serem trabalhados. Trabalho com vídeo quando precisa,
pego exemplos com ele. Se não tiver o jogo, buscamos trazer a criança
para aquele conteúdo, para aquele jogo. Vamos então fazer o jogo, se eu
não tenho material dourado, então vamos pegar tampinhas, vou pegar
alguma coisa... vamos contar no dedo (Prof.ª Denise – 3º ano - ES).
Reorganizamos a forma de trabalhar, mas ainda utilizamos o livro
didático por achá-lo muito útil, bem organizado e colorido, o que facilita
o trabalho com as crianças (Prof.ª Neucília – 2º ano – DC).
As professoras relatam sobre os recursos utilizados nos planejamentos e fazem
referências aos jogos contidos na Caixa da Matemática, material esse contendo alguns jogos
disponibilizados pelo próprio PNAIC Matemática, e outros confeccionados pelas próprias
professoras. Outros recursos citados são as pesquisas no Google e a Caixa de Material
Dourado, que a professora diz utilizar para os alunos “contarem as unidades”.
134
Muito embora a existência desses recursos, o livro didático apresenta-se como um
grande aliado na consolidação da aprendizagem das crianças, por ser colorido e organizado,
segundo a fala da Prof.ª Neucília.
Figura 2- Atividades livro didático
Fonte: Livro Didático do 2º ano, adotado pela escola.
O jogo também é citado como um recurso utilizado nas aulas de matemática. As
professoras exemplificam em que momentos já utilizaram o jogo.
Eu trabalho o antecessor, o sucessor, sempre através de jogos, eu dou as
cartelas pra eles e vou fazendo o bingo dos números para eles
assinalarem... aí trabalho unidade, dezena e centena, que é um reforço do
que trabalhei anteriormente (Prof.ª Neucília – 2º ano - ES)
Com os jogos eu vou trabalhando a parte cognitiva e a criança, que vai
aprendendo sem estar se preocupando em aprender. Ela vai estar
interagindo, absorvendo o conteúdo e não vai ficar se preocupando com a
parte didática de quadro: - Eu tenho que saber, eu tenho que saber. E
aprende brincando. Então é mais lúdico ... trazer a criança pra dentro do
lúdico, pra dentro da proposta de ensino (Prof.ª Denise – 3º ano - ES).
A Prof.ª Neucília mostra que utiliza o jogo mais como um reforço dos conteúdos que
foram trabalhados.
Na fala da Prof.º Denise fica evidenciado que o jogo é utilizado para desenvolver a
cognição, de forma descontraída, porém significativa.
135
Concordamos com o jogo que, ao ser bem planejado e com intencionalidade, pois
além da diversão, oportuniza a interação com os demais colegas, exercita a resolução de
problemas e consequentemente desenvolva o raciocínio lógico matemático. Com relação a
intencionalidade pedagógica na utilização de materiais concretos, Passos (2006) elucida que
a apropriação dos conhecimentos matemáticos não ocorre de forma empírica com a simples
manipulação de jogos ou outros materiais, mas sim através das significações que serão
produzidas a partir de suas ações.
A apropriação de determinado conhecimento matemático, que é o propósito das
ações do professor, só se dará através da mediação estabelecida por este entre o aluno e os
materiais manipuláveis, com objetivos expressamente definidos e muito bem delineados.
Pois segundo Moura (2001), “[...] a intencionalidade educativa é, no seu nascedouro, o
resultado de múltiplos fatores que se unem num propósito coletivo de querer influenciar ou
modificar comportamentos”. (MOURA, 2011, p. 157).
Moretti (2016, p. 31) considera que “Ao brincar ou jogar, a criança potencializa sua
possibilidade de aprender e de se apropriar de novos conhecimentos”. Todavia, isso não se
dá de forma aleatória, “[...] mas cabe ao professor mediar criando situações desafiadoras,
colocando os alunos para pensar, e intervir no momento certo” (Ibidem).
Diante disso, concordamos com a autora quando aponta que:
[...] O jogo ou a brincadeira podem constituir-se como importante recurso
metodológico nos processos de ensino e de aprendizagem, se considerado
de forma intencional e em relação com o conceito que se pretende ensinar.
No caso da Matemática, é possível planejar situações nas quais, por meio
da brincadeira desencadeada por jogos ou por histórias, as crianças se
deparem com as necessidades de contar, registrar contagens, socializar
esses registros, organizar os dados. Por meio dos jogos e na ação
compartilhada entre as crianças em atividade lúdicas, explorando a
imaginação e a criatividade (MORETTI, 2016, p. 32).
Dessa forma, asseveramos que o uso dos jogos propostos na formação do PNAIC, se
bem utilizados, podem tornar-se um recurso desencadeador de diversas aprendizagens,
todavia evidenciamos o papel do professor é fundamental nesse processo. Ou seja, não basta
disponibilizar jogos para as crianças como um mero passa tempo, é necessário empreender
tempo e explorar situações que promovam avanços na aprendizagem dos alunos.
136
Para dinamizar o currículo escolar, a sequência didática é mencionada como a
maneira que a escola adotou, a partir das orientações da Secretaria de Educação, para
organizar o planejamento das aulas.
Já destacamos que as professoras indicaram a sequência didática como uma
aprendizagem significativa vivenciada na formação do PNAIC. Nos relatos a seguir, as
professoras explicitam como planejam e desenvolvem as sequências didáticas.
As docentes começam explicitando como realizam as atividades proposta na
Sequência Didática que organizam a cada quinzena.
É assim: primeiro eu coloco a parte da Linguagem e depois vem a
Matemática, então eu coloco todas as atividades e os eixos que precisam
ser trabalhados dentro da Matemática, as capacidades e depois o
conteúdo, o que vai ser trabalhado com a criança: se vai ser geometria,
numerais... a gente coloca os conteúdos que vão ser trabalhado com eles.
Às vezes, dentro da história que eu conto, eu pego uma que dá prá casar
tudo, então a história fala, por exemplo: “O dez sacizinhos” tem o texto e
tem a Matemática e dentro disso eu faço um “link”. No 1º ano, como eu
dou todas as matérias, eu consigo (Prof.ª Rose Anne – 1º ano - ES).
Vou colocando os conteúdos na Sequência Didática um pouco por vez.
Tenho o bimestre todo para trabalhar, então eu faço uma Sequência
Didática a cada 15 dias. São duas por mês. Seguimos os Direitos de
Aprendizagem/Capacidades e vou encaixando os conteúdos (Prof.ª Neucília
– 2º ano - ES).
Quando trabalho com a Sequência Didática parto sempre de um texto da
Linguagem. A partir daí vejo o que consigo trabalhar em outras áreas, por
exemplo, a Matemática em que estou trabalhando com composição e
decomposição de números, então não tinha muita possibilidade. Esse
conteúdo dá prá pegar um número do texto, mas você não trabalha. É
conteúdo de fixação. Eu coloco na Sequência Didática, exercícios de
fixação para suprir uma eventual falha que a Sequência possa ter tido na
escolha do gênero. Português e Matemática eu trabalho com fixação de
conteúdo. Por mais que eu esteja letrando o aluno eu não posso deixar de
trabalhar o conteúdo (Prof.ª Denise – 3º ano - ES).
Eu uso os Direitos de Aprendizagem do 1º ano. As atividades precisam ser
introduzidas e as que precisam consolidar, então a gente usa esse meio,
as atividades são inseridas para o 1º ano da Matriz Curricular, mas as do
1º ano que precisam ser consolidadas. E tem a Sequência Didática, que as
vezes eu coloco uma história que case com o que eu vou trabalhar, por
exemplo, eles fizeram a história do livro “Cabelo de Lelê”, fazemos a
quantidade, quem tinha cabelo igual da Lelê, e vamos fazendo em
quantidade, contando. Eles fizeram uma ficha de quem tem a pele branca,
quem tem pele negra, ou morena. E eles trouxeram esses dados e foram
computados. Fizemos uma ficha discriminando quantos são negros,
137
quantos são morenos, quantos são brancos, e fizemos uma coluna de
quantidades para visualização e eles vão contando quantos têm. Usamos
também o gráfico para contagem de numerais, então sempre faço da
mesma história que é contada. Quando faço a Sequência na área da
Linguagem eu tento puxar para a Matemática, quando dá para ser feito.
Quando não dá (a história nunca fica parada naquilo que a gente
planejou) ... Nesse texto nós mostramos pra eles o continente africano e aí
o nosso país, Brasil. E eles falaram: - Quantas cidades/estados têm no
continente africano? Então algumas coisas dão prá fazer o “link”.
Quando não dá, nós inserimos o conteúdo mesmo. Se não tem como
inserir, fazer um link, e é preciso trabalhar, tem que inserir o conteúdo
de qualquer forma, e é feito da maneira tradicional, mas precisa colocar
(Prof.ª Rose Anne – 1º ano - ES).
Ao falar da sequência didática a professora Rose Anne diz que dentro da história que
conta, organiza as capacidades e os conteúdos a serem trabalhados. Nota-se que o gênero
textual histórias, contos, fábulas, enfim, a literatura infantil é a mais utilizada pelas
professoras no uso das sequências didáticas, isso demonstra a preocupação maior que tem
com a linguagem. No entanto, nem sempre é possível contemplar a matemática nesses
gêneros e os professores acabam forçando a utilização da matemática na tentativa de um
trabalho interdisciplinar quando poderiam utilizar outros gêneros como por exemplo, a
receita culinária ou a regra de um determinado jogo, tão falado em todo momento desta
pesquisa, pois trazem oportunidades riquíssimas de trabalhar os conhecimentos matemáticos
de maneira significativa sem deixar de lado a linguagem.
A Prof.ª Neucília em sua fala relata um procedimento que devemos estar atentas no
momento de planejar a sequência didática. Consideramos aconselhável selecionar primeiro
os conteúdos e os objetivos a serem trabalhados antes de escolher o gênero principal e as
atividades da sequência, para que norteiam todas as decisões no período de planejamento e
execução da sequência.
O fato de escolher primeiro a sequência e depois ficarem tentando ‘encaixar as
capacidades e os conteúdos’, resulta no dilema vivido pela professora Denise quando não
consegue incluir atividades de composição e decomposição de números, e para resolver esse
problema acaba recorrendo aos exercícios de fixação.
Nos relatos foi recorrente a posição de que inicialmente se escolhe um gênero textual
e a partir dele são trabalhados os conteúdos da Linguagem, e posteriormente, são acrescidos
conteúdos das demais disciplinas, quando possível. Quando não há possibilidade de
relacionar com os conteúdos matemáticos, Prof.ª Rose Anne destaca “tem que inserir o
conteúdo de qualquer forma, e é feito da maneira tradicional, mas precisa colocar”.
138
No bojo das discussões o jogo e a sequência didática, embora tenham sido destacados
como um dos aspectos mais importantes na formação do PNAIC Matemática. No relato que
as professoras fazem de sua prática pedagógica constatamos que essas práticas ainda não
estão consolidadas. Ressaltamos que a nossa intenção não foi constatar a partir das falas das
professoras se o que aprenderam na formação desenvolviam na prática pedagógica, e sim
compreender como no momento da pesquisa compreendiam e realizavam suas práticas,
especificamente em relação a matemática.
Em relação ao jogo, nas falas das professoras e nos momentos em que
acompanhamos o planejamento, apesar anunciarem a importância que atribuem para as aulas
de matemática não identificamos que sejam utilizados com regularidade como instrumento
mediador ao desenvolvimento ou a mobilização de conhecimentos matemáticos. Nesse
sentido, apesar do destaque recebido, carece de maior estudo e reflexão por parte das
professoras, para que consigam alcançar os objetivos propostos.
No que diz respeito à sequência didática, os relatos das professoras e a observação
tanto no planejamento das ações, quanto nos Planos de Ensino, apresentam dissociação entre
o proposto e o realizável, uma vez que a ação de planejar se apresenta desprovida de
intencionalidade. As sequências didáticas, muitas vezes são compartilhadas por outras
professoras que não participaram da sua elaboração, limitando-se a proposição da mesma.
Também ficou evidenciado nas falas das professoras que há uma tensão em relação
a avaliação, ora dizem ter a preocupação em acompanhar o que e como as crianças
produzem, ora preparar as crianças para a avaliação de larga escala externa.
4.3.5 A avaliação da aprendizagem dos alunos
Compreendemos a avaliação da aprendizagem dos alunos como parte imprescindível
do processo de ensino e aprendizagem. Assim, arguimos as professoras participantes para
que relatassem como elas realizam a avaliação dos alunos:
Eu acompanho os alunos, fico constantemente andando pela sala e
observando quem faz, quem é dependente do coleguinha, aqueles que já
têm autonomia, isso aí eu sei tranquilamente, mas a gente faz uma
avaliação de Matemática ao final do bimestre. Essa avaliação seria assim,
essas atividades, uma retomada geral de todas as atividades. E eu procuro
139
deixar a criança fazer sozinha prá ver se ela tem autonomia prá fazer. Na
Matemática só no final do bimestre (Prof.ª Neucília – 2º ano - ES).
Não faço avaliação única para todos. Não tem como. Até porque tenho
um autista na sala. Tenho crianças que não sabem ler, então não tem como
ser única (Prof.ª Denise –3º ano – ES).
A professora Neucília explica como realiza o acompanhamento e observação dos
alunos para verificar se já possuem autonomia para realizar as atividades. Relata também a
realização de avaliações bimestrais, ocasião esta em que retoma todas as atividades
anteriormente trabalhada.
No DC consta o registro da avaliação diagnóstica realizada pela Prof.ª Neucília
realizada com os alunos do 2º ano no início o ano letivo. Segundo a professora, a partir dessa
avaliação é possível diagnosticar o que o aluno já sabe e onde pode avançar na aprendizagem.
Figura 3 - Avaliação diagnóstica
Fonte: Caderno da professora
A professora do 3º ano destaca a existência em sala de aula, de alunos com
necessidades próprias, específicas, impossibilitando assim, a realização de avaliação única
para todos. Assim sendo, ela busca adequar a avaliação, realizando-a de forma diferenciada
a cada aluno.
No entanto, apesar de as professoras se mostrarem sensíveis a singularidade que cada
criança apresenta no processo de construção de conhecimento, também propõe avaliações
escritas, como o exemplo acima, para diagnosticar o que os alunos já sabem. Por certo, é
fundamental que as professoras compreendam que há necessidade de compreendermos como
as crianças pensam e como registram e explicam as atividades matemáticas propostas. Nesse
140
sentido, dar voz as crianças e permitir que explicitem suas estratégias pessoais, a partir da
oralidade, dos registros convencionais ou não, dos registros pictográficos, pode ser um
caminho que permita a acriança avançar em suas descobertas e aprendizagens da matemática
escolar.
4.3.6 Influências do PNAIC Matemática nas práticas pedagógicas
Com o intuito de concluir, ainda que parcialmente nossa pesquisa, questionamos as
professoras a respeito do que, efetivamente tinha ficado em sua prática, após a formação do
PNAIC Matemática:
Ficou a forma de trabalhar, a rotina, a organização, os jogos, atividades
com jogos. Tudo que eu aprendi lá, permanece. O PNAIC contribuiu
bastante, até pra organização da sala de aula, a rotina, o diário, foi tudo
muito bom (Prof.ª Neucília – 2º ano - ES).
O PNAIC contribuiu para a minha prática pedagógica, pois antes a gente
não tinha muito apoio da gestão em utilizar os materiais concretos. Agora
eles já entendem se a gente está fazendo um jogo, uma brincadeira, é para
contribuir para o aprendizado das crianças. Quem ainda não entende são
os pais, que reclamam que é só jogo, jogo, jogo. Só que eles não entendem
que por trás do jogo, tem o registro, tem o objetivo, tem um conteúdo a ser
trabalhado ali. O jogo é colocado uma vez na semana (Prof. ª Denise – 3º
ano - ES).
De forma bem sintética e direta as professoras atribuem ao PNAIC Matemática a
forma diferenciada de organização de suas salas de aula, bem como a forma de trabalhar,
como o estabelecimento de uma rotina diária e a inclusão dos jogos matemáticos.
Apontam também as mudanças ocorridas na relação com a equipe gestora, que por
desconhecimento, talvez não atribuísse importância à utilização de materiais manipuláveis
no processo de ensino e aprendizagem de Matemática. Ressaltamos aqui o fato da
Coordenadora Pedagógica da escola Esperança ter sido também, Orientadora de Estudos do
PNAIC.
Na fala da Prof.ª Denise destaca-se também a não compreensão por parte dos pais
dos alunos sobre a presença, talvez excessiva dos jogos em sala de aula, ao que a docente
explica não se tratar do jogo pelo jogo, mas a existência de objetivos bem definidos, registros
141
e conteúdos matemáticos previstos. Afirma ao final que o jogo é desenvolvido com as
crianças uma vez por semana.
Ao encerrarmos a entrevista, oportunizamos para que as professoras se
manifestassem sobre as sugestões ou contribuições para as melhorias do PNAIC
Matemática:
Pra mim foi proveitoso. Nada a acrescentar. Acho que deveria continuar
e não parar. (Prof.ª Rose Anne – 1º ano).
Olha, teria assim, quando nós fizemos o PNAIC foi assim através dos
jogos, eu acredito que se aprofundasse um pouco mais, ajudaria também.
Ficar assim naquela rotininha, jogos, jogos, poderia ter também outras
formas lúdicas de trabalhar, assim que eu penso que foi um bom reforço o
PNAIC. A pessoa que consegue continuar ele, é bom. Foi muito bom prá
escola, porque todos ficam na mesma linha de pensamento, não tem mais
aquele pensamento individual que tinha antes, como se fosse um rumo a
ser seguido. (Prof.ª Neucília – 2º ano).
O PNAIC, em si, foi ótimo. O material excelente, os livros, jogos, veio
encarte com jogos. Eu acho que disponibilizar os jogos, porque nem
sempre os que a gente faz com os alunos, duram, estragam logo. Assim
como veio a caixa da CEEL, da Faculdade de Pernambuco - de
Linguagem. Veio um material muito bom, construísse na parte da
Matemática, a duração dos jogos mesmo. Poderia também não ser tão
corrido e desorganizado na parte de implantação, de informação
desencontrada, apresenta pra gente um curso e chega na hora é outro, né?
E outra coisa: você é obrigada a fazer. Nem tudo que é obrigada é bom.
Tem gente que não se adapta. A orientação veio que, quem não fosse fazer
o curso de formação não poderia atribuir aulas no 1º ciclo. Só que isso
não foi falado quando o PNAIC foi implantado, só foi falado no final do
ano na hora da atribuição. Não sei se isso é do curso ou das políticas. E
mais a parte de desorganização. A gente faz atividade, tem que ficar vendo
se fez, se recebeu a bolsa ou não. Aí a gente tinha que ficar indo lá. Mais
a parte burocrática, porque a parte do material ... e os formadores que eu
peguei foram ótimos também. (Prof.ª Denise – 3º ano - ES).
De uma forma geral as professoras avaliam a formação do PNAC Matemática como
positiva e que deve continuar, atendendo a proposição da formação continuada, todavia, a
Prof.ª Neucília parece não aprovar as formas reiteradas de se trabalhar com os jogos como
foram propostas na formação. Depreendemos diante dessa colocação que a docente
reivindica o aprofundamento conceitual dos conteúdos matemáticos, embora sugira também
outras formas lúdicas de trabalhar. Destacamos ainda na fala da mesma professora o
alinhamento da condução dos trabalhos na escola, como um rumo a ser seguido, deixando
claro que antes da formação, cada docente realizava o planejamento e a escolha dos
142
conteúdos disciplinares, inclusive os matemáticos, como queriam ou entendiam que
deveriam ser trabalhados.
A professora do 3º ano destaca a qualidade dos materiais enviados às escolas pelo
programa e suas contribuições para o desenvolvimento das aulas, todavia, destaca as
dificuldades geradas pelo sistema de controle online que atendia todo o país, o excesso de
burocracias e incertezas geradas pela demora na confirmação dos registros realizados e das
bolsas, que na maioria dos meses ficavam atrasadas. Como também a “obrigação” de ter que
participar da formação e o desencontro de informações relativos às atribuições de aulas, fatos
estes, que geraram diversos transtornos no interior das escolas, até que houvesse um
consenso entre os profissionais e a SME enviasse um documento priorizando as vagas do 1º
Ciclo aos professores participantes do PNAIC.
Finaliza a fala avaliando como bom, embora os itens acima destacados, fazendo
referência aos bons Orientadores de Estudos que teve na formação.
A seguir apresentamos as nossas considerações finais.
143
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Considerando o percurso que nos possibilitou a chegada a este momento da pesquisa,
e após vencida todas as etapas em que procuramos compreender o que manifestam as vozes
de professoras sobre a formação do Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa e os
processos de ensinar e aprender Matemática no primeiro ciclo do EF, apresentamos as
considerações parciais dos dados produzidos e analisados.
Nesta etapa de nossa pesquisa, retomamos brevemente o percurso que nos
possibilitou a chegada até aqui. O interesse apontado e justificado no início da pesquisa
manteve-se intacto até o presente momento, todavia, a percepção acerca do objeto de
pesquisa, veio se modificando à medida que a investigação foi se constituindo com as
contribuições dos levantamentos realizados, das leituras dos referenciais teóricos e com os
dados produzidos e analisados.
Ao nos propormos investigar o que dizem as professoras sobre formação continuada
do PNAIC Matemática, algumas dúvidas e inseguranças surgiram pelo fato de tratarmos com
nossos pares. Nos diversos momentos em que nos inserimos na escola e começamos a ouvi-
las, identificamo-nos com as dificuldades, angústias, desafios inerentes ao trabalho docente,
e por alguns momentos chegamos a pensar que não conseguiríamos concluir a pesquisa.
Todavia, renovávamos a esperança a cada dia, por compreender a importância das discussões
e contribuições das reflexões à educação.
Nesse movimento aprofundamo-nos ainda mais no universo do complexo trabalho
docente, e trouxemos um recorte sobre a formação continuada em Matemática, realizada no
ano de 2014, retratada nas vozes das professoras. A partir disso somos levados a depreender
que tudo que foi dito pelas mesmas sobre a formação e suas práticas não são verdades
absolutas, imutáveis, portanto que sejam levadas em consideração a essência subjetiva,
histórica e social das participantes, assim como seus conhecimentos.
Dessa forma, salientamos que os dados apresentados foram analisados e respaldados
teoricamente, todavia, de forma alguma apresentam um resultado final e absoluto, pelo
contrário, pois a subjetividade inerente às investigações qualitativas, as reflexões e
considerações aqui apresentadas revelam o olhar das pesquisadoras sobre o fenômeno
investigado, limitado a um determinado período de tempo e contexto. Diante disso, torna-se
aberto a outras percepções e interpretações.
Organizamos nosso trabalho em três eixos: no primeiro “O que as professoras dizem
sobre suas trajetórias profissionais”, analisamos o percurso pessoal das mesmas, em que
144
foi possível perceber um processo insuficiente quanto ao acesso e apropriação dos
conhecimentos matemáticos, e um conhecimento pautado pelo modelo tradicional de ensino,
cujo conhecimento matemático é visto como pronto e acabado, que precisa ser transmitido
limitando-se à transmissão e assimilação de símbolos e regras. Apesar disso todas
conseguiram desenvolver uma boa relação com a Matemática e tornarem-se professoras.
No segundo eixo, apresentamos “As vozes das professoras sobre a formação do
PNAIC Matemática”, quando foi solicitado que nos contassem sobre a formação continuada
do PNAIC Matemática, foram evidenciadas grande importância atribuída aos jogos
matemáticos e a organização das aulas a partir de uma sequência didática, ou seja, as
professoras enfatizam os aspectos metodológicos, em detrimento da formação teórica e dos
conceitos matemáticos.
Ainda nesse eixo, as professoras destacam como aspectos positivos, a possibilidade
de pensar e organizar o processo de ensino da matemática a partir de elementos comuns,
neste caso os direitos de aprendizagem, a organização das aulas a partir da sequência didática
e a contribuição dos jogos no processo de ensino e aprendizagem. No entanto, elencam
também críticas a maneira como a formação foi desenvolvida em relação ao tempo
disponível para participar do curso, horários das aulas, demora em ter acesso aos cadernos
de estudo e a relação com as equipes gestoras da escola que nem sempre propiciaram a
articulação entre a formação e as práticas pedagógicas a serem desenvolvidas.
Em relação ao terceiro eixo “As vozes das professoras sobre as práticas escolares e
o processo de aprender e ensinar Matemática após a formação do PNAIC”, destaca-se nos
relatos das professoras a intenção de realizar um bom ensino e que as crianças aprendam
matemática. No entanto, a concepção de Matemática, de aprendizagem da matemática
precisam ser ampliadas e ressignificadas para que possam de fato empreender práticas
pedagógicas mais inovadoras.
Do nosso ponto de vista da formação do PNAIC Matemática, dentre outros aspectos,
um merece destaques, a ausência das professoras cursistas participantes da formação
continuada no ano 2014, nas salas de aula dos AI, dois anos após a formação. Diante disso,
questionamos: Como um programa de formação continuada, cujo objetivo é alfabetizar as
crianças até oito anos, ou seja, no final do 1º ciclo, não garante a permanência dos professores
participantes do PNAIC, nessa etapa de ensino?
Além disso, o programa, apesar de trazer nos cadernos algumas experiências
metodológicas consideradas como bem sucedidas, pressupõe que os docentes pouco ou nada
têm a dizer sobre sua formação ou suas necessidades em sala de aula, visto que o PNAIC
145
Matemática traz conteúdos e metodologias semelhantes à de programas anteriores com
formatos únicos, com objetivo de atingir o maior número de professores possíveis,
ignorando, por exemplo, o seu tempo de experiência na docência. Ou seja, tanto o professor
experiente quanto o recém-chegado à rede, recebem a mesma formação continuada.
Em relação ao jogo matemático e a sequência didática, embora tenham sido
destacados como um dos aspectos mais importantes na formação do PNAIC Matemática, no
relato das professoras, constatamos que o trabalho com os mesmos ainda não estão
consolidados, pois a inserção do jogo nas práticas pedagógicas, da forma como foram
relatadas, carece de maior estudo e reflexão, para que consigam alcançar os objetivos
propostos, que são a utilização dos mesmos como auxiliares da construção de conceitos e
desenvolvimento dos conteúdos matemáticos.
No que diz respeito à sequência didática, os relatos das professoras e a observação
tanto no planejamento das ações, quanto nos Planos de Ensino, apresentam dissociação entre
o proposto e o realizado, uma vez que a ação de planejar se apresenta desprovida de
intencionalidade. As sequências didáticas, muitas vezes são compartilhadas por outras
professoras que não participaram da sua elaboração e são desenvolvidas com os alunos sem
serem pensadas ou adequadas às características da turma. Além disso, a justaposição de
atividades com conteúdos matemáticos não contemplados nas sequências, mas que
obrigatoriamente precisavam ser desenvolvidos com as crianças revelaram a
descontinuidade no processo ensino e aprendizagem.
Particularmente enquanto participante da formação do PNAIC Matemática à época,
como professora alfabetizadora, pude vivenciar questões, conflitos e desafios semelhantes
aos das colegas participantes da pesquisa, com relação ao acúmulo de atividades e o pouco
tempo para desenvolver as proposições da formação em concomitância ao planejamento
escolar.
Assim sendo, independente de qual seja programa proposto de formação continuada,
defendemos que para que a proposta seja realmente eficaz precisa, primeiramente, partir da
necessidade apresentada pelos professores da própria escola. Assim como a (re)organização
da escola como lócus da formação de professores, tendo o coordenador pedagógico no papel
central de articulador das ações formativas, de modo a promover o desenvolvimento da
equipe pedagógica como um todo.
Não acreditamos que essa seja a proposição ideal, mas sim aquela que esteja mais
próxima da realidade educacional e perfeitamente exequível, se a equipe escolar assim
decidir.
146
Embora concordemos que a função da formação continuada de professores centra-se
nas disciplinas curriculares, não deve limitar-se a ela, mas suscitar a ampliação das
discussões sobre a melhoria das condições de trabalho e das relações profissionais, com
vistas à melhoria da educação como um todo.
Ao finalizar, evidenciamos que esta pesquisa possibilitou, na condição de
pesquisadora/formadora, muito além da titulação de mestre, pois foi a oportunidade de
desenvolvimento profissional e a ampliação das responsabilidades inerentes à profissão, do
aprofundamento dos conhecimentos científicos, como também a convivência enriquecedora
com todos os componentes do GRUEPEM. Nesse período, pudemos compreender um pouco
mais sobre a complexidade da formação do professor que ensina Matemática e o desafio de
aproximar o proposto ao realizado.
Desejamos que a partir das discussões levantadas neste trabalho, novas reflexões e
ações possam ser mobilizadas no sentido de trazer à tona os desafios, as fragilidades, bem
como os avanços da formação continuada de professores que ensinam Matemática nos anos
iniciais, e sirvam de contribuições às futuras resoluções formativas educacionais.
147
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. R. de; PLACCO, V. M. N. de S. (Orgs.). O coordenador pedagógico e a
questão da contemporaneidade. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
ALRO, Helle; SKOVSMOSE, Ole. Diálogo e aprendizagem em educação Matemática.
Trad. de Orlando Figueiredo. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. Campinas-SP:
Papirus, 1995.
______; VIEIRA, M. M. da S. O coordenador pedagógico e a questão dos saberes. In:
ALMEIDA, L. R. de; PLACCO, V. M. N. de S. (Org.). O coordenador pedagógico e a
questão da contemporaneidade. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
ARAÚJO, Elaine Sampaio; MOURA, Manoel Oriosvaldo de. Contribuições da teoria
histórico-cultural à pesquisa qualitativa sobre formação docente. In: PIMENTA, Selma
Garrido; FRANCO, Maria Amélia Santoro (Orgs.) Pesquisa em educação: possibilidades
investigativas/formativas da pesquisa-ação. São Paulo: Edições Loyola, 2008, v. 1, p. 75-
101.
BOGDA, Robert C.; BIKLEN, Sari K. Investigação qualitativa em educação. Tradução
Maria João Alvarez, et al. Porto: Porto Editora, 1994.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais
Para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação
Pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação
continuada. Resolução CNE/CP n. 02/2015, de 1º de julho de 2015. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, seção 1, n. 124, p. 8-12, 02 jul. 2015.
______. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá
outras providências. Disponível em:
<www.planaldo.gov.brccivil_03/leis/leis_2001/10172.htm.> Acesso em: 9 set. 2015.
______. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
______. Lei nº 11.114/2005. Altera os arts. 6º; 30; 32 e 87 da Lei nº 9.394/96, com o
objetivo de tornar obrigatório o início do Ensino Fundamental aos seis anos de idade.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 maio 2005.
______. MEC/SEB/DPE/COEF. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a
inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: FNDE, Estação Gráfica, 2006.
______. MEC/SEB. Lei nº 11.274, 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29,
30, 32 e 87 da Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases
148
da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o Ensino
Fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 7 fev. 2006.
______. MEC/SEB. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica.
Secretaria de Educação fundamental. Resolução CNE/CEB nº 7/2010. Fixa as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de nove anos. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 15 dez. 2010. Seção 1, p. 34.
______. MEC/SEB. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica /
Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e
Educação Integral. Brasília, 2013.
______. Por uma prática educativa nos anos iniciais do ensino fundamental que respeite os
direitos da criança à aprendizagem. Disponível em:
<http://direitoaeducacao.files.wordpress.com/2010/02/texto-maria-malta-salto-para-o-
futuro-rev1.doc.> Acesso em: 19 jun.2016.
______. Portaria nº 867, de 4 de julho de 2012. Instituiu o Pacto Nacional Pela
Alfabetização na Idade Certa e as ações do Pacto e define suas diretrizes gerais. Publicada
no Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, jul./2012. Disponível
em: <inep.gov.br/educação_basica/provinha_brasil/legislação/2013/portaria n 86.>. Acesso
em: 19 abr.2016
______. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Matemática. Brasília MEC/SEF, 1997. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro03.pdf>. Acesso em: 28 jul.2015.
______. MEC. Secretaria de Educação Básica. Programa Gestão da Aprendizagem
escolar- GESTAR I. Brasília: MEC/SEB, 2008.
______. MEC. Secretaria de Educação Básica. Elementos Conceituais e Metodológicos
Para Definição dos Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento do Ciclo de
Alfabetização (1º, 2º e 3º Anos) do Ensino Fundamental. Diretoria de Currículos e
Educação Integral-DICEI. Coordenação Geral do Ensino Fundamental-COEF. Brasília,
dez. 2012. Disponível em: .........Acesso em: 15 jul. 2015.
______. MEC. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB
n. 4/2008. Orientação sobre os três Anos Iniciais do Ensino Fundamental de nove
anos. 2008b. Disponível em: <www.mec.gov.br/cne.> Acesso em: 15 jul. 2016.
______. Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fev. de 2002. Diretrizes Curriculares
Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica. Disponível em:
<www.mec.gov.br/comoponent/article.> Acesso em: 15 jun.16.
______. MEC. Secretaria de Educação Básica. Ensino Fundamental de nove anos –
Orientações para inclusão da criança de seis anos de idade. 2ª Edição. Brasília – 2007.
Disponível em: <www.portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifun9anos
basefinal.pdf.> Acesso em: 20 jul. 2016.
149
CARAÇA, Bento de Jesus. Conceitos fundamentais da Matemática. 2. ed. Lisboa,
Portugal: Gradiva, 1998.
CARRAHER, T. N.; CARRAHER, D. W.; SCHLIEMANN, A. D. Na vida dez, na escola
zero. São Paulo: Cortez, 1988.
CLANDINI, D. J.; CONNELLYN, F. M. Pesquisa Narrativa: experiência e história em
pesquisa qualitativa. Tradução: Grupo de Pesquisa Narrativa e Educação de Professores
ILEEL/UFU. Uberlândia: EDUFU, 2011.
CONNELLY, F.M. CLANDINI, D. J. Relatos de experiência y investigación narrative. In:
LARROSA, J.; ARNAUS, R.; FERRER, V.; LARA, N, P.; CONNELLY, F. M.;
CLANDINI, D. J. GREENE, M. Déjame que te cuente. Ensayos sobre narrativas y
educación. Barcelona: Editorial Laertes, 1995.
COSTA, Patrícia M. B. J. S. Era uma vez... Alfabetização Matemática e contos de fadas:
uma perspectiva para o letramento na infância. 2015. 168f. Dissertação (Mestrado em
Educação)-Centro de Ciências Humanas Sociais e Aplicadas, Unicamp, Campinas-SP,
2015.
CUIABÁ. Secretaria Municipal de Educação. Escola Sarã: Cuiabá nos ciclos de
Formação. Cuiabá: DEP/SME, 2000.
______. Plano Educação na Diversidade: programas gestão em movimentos, currículo na
diversidade, revitalizando a formação. Cuiabá-MT: Entrelinhas, 2007.
______. Matriz Curricular de Referência: 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Rede
municipal de ensino de Cuiabá. Cuiabá: SME/DIPE, 2010.
CURI, Edda. A matemática e os professores dos anos iniciais. São Paulo: Musa
Editora, 2005. (Biblioteca aula musa educação matemática; v.2).
______. Formação de professores de matemática: realidade presente e perspectivas
futuras. 2000. 244 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Matemática)-Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Matemática, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo, 2000.
______. Formação de professores polivalentes: uma análise de conhecimentos para
ensinar matemática e de crenças e atitudes que interferem 261na constituição desses
conhecimentos. 2004. 278 f. Doutorado (Doutorado em Educação Matemática)-Programa
de Pós-Graduação em Educação Matemática, Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, São Paulo, 2004.
DAY, C. Desenvolvimento profissional de professores. Os desafios da
aprendizagem permanente. Tradução de Maria Assunção Flores. Porto, 2001.
150
D’ AMBRÓSIO, Ubiratan. Da realidade à ação: reflexões sobre educação e matemática.
São Paulo: Summus, 1986.
______. Educação Matemática: da teoria à prática. 19. ed. Campinas:
Papirus, 2010.
______. Por que se ensina Matemática? Disponível em:
<http://cidadeescola.com.br/eventos/reunião2004/natureza/pos_por_que_se_ensina_matem
ática.pdf.> Acesso em: 02. jul. 2016.
______. Educação Matemática: da teoria à prática. 19. ed. Campinas:
Papirus, 2010.
______. A história da matemática: questões historiográficas e políticas e reflexos na
Educação Matemática. In: BICUDO, M. A. V.(Org.). Pesquisa em Educação
Matemática: concepções e perspectivas. São Paulo: UNESP, 1999. p. 97-115.
______. Ubiratan. Etnomatemática: arte ou técnica de explicar e conhecer. 2.ed.São
Paulo: Editora Ática, 1993.
DARSIE, Marta Maria Pontin; PALMA, Rute Cristina domingos da (Orgs.). Resolução
de problemas: algumas reflexões em Educação Matemática. Cuiabá: EdUFMT, 2013.
DAVIS, C. L. F. et al. Formação Continuada de professores em alguns estados e
municípios do Brasil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 41, n. 144, p. 826-, set./dez
2011.
DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michele; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências
didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In:
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na
escola. Tradução de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado
das Letras, 2004. p. 95-128.
FANFANI, E. T. La condicion docente: análises comparado de la Argentina, Brasil,
Perú y Uruguai. Buenos Aires: Siglo XXI, 2005.
FANIZZI, Sueli. Políticas públicas de formação continuada de professores dos
anos iniciais em Matemática: uma experiência da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo. 2015. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2015.
FAZENDA, Ivani. A Pesquisa em educação e as transformações do
conhecimento. Campinas: Ed. Papirus, 1995.
151
FERREIRA, Ana Cristina. Um olhar retrospectivo sobre a pesquisa brasileira em
formação de professores de matemática. In: FIORENTINI, Dario. Formação de
professores de matemática: explorando novos caminhos com outros olhares.
Campinas: Mercado de Letras, 2003. p. 19-55.
FERREIRA, Ana Paula Aragão. O que os professores da Rede Pública Estadual do
semiárido sergipano dizem sobre o PNAIC- Eixo Matemática. 2015. 94 f. Dissertação
(Mestrado em Educação)-Programa de Pós-graduação Ensino de Ciência e Matemática,
Universidade Federal de Sergipe, 2015.
FERREIRA, Mariana Kawll Leal. Idéias matemáticas de povos culturalmente distintos.
São Paulo: Global, 2002.
FIORENTINI, Dario; MIORIN, Ângela M. Uma reflexão sobre o uso de materiais
concretos e jogos no ensino da Matemática. Boletim SBEM-SP, n. 7, jul-ago 1990.
______. LORENZATO, Sérgio. Investigação em educação matemática: percursos
teóricos e metodológicos. – 3ª Ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2012.
(Coleção formação de professores).
______. A pesquisa e as práticas de formação de professores de Matemática em face
das políticas públicas no Brasil. Bolema, Rio Claro-SP, v. 21, n. 29, p. 43-70, 2008.
FONSECA, Maria da Conceição R. F. Alfabetização Matemática. In: BRASIL. Pacto
Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: caderno de apresentação. Ministério da
Educação. Secretaria de Educação Básica. Brasília: MEC/SEB, 2014.
GATTI, Bernadete A. Formação docente. Especialista afirma que universidades brasileiras
não estão realmente “formando professores. Revista Educação, São Paulo, ed. 231, 3 de
agosto de 2016. Disponível em: <www.revistaeducacao.com.br/especialista.> Acesso em:
10 nov. 2016.
______. Formação de professores no Brasil: características e problemas. Educação e
Sociedade, Campinas, v.31, n. 113, p. 1355-1357, out/dez, 2010.
______. A Análise das políticas públicas para formação continuada na última década.
Revista Brasileira de Educação, v. 13, n. 17, jan./abr. 2008.
______; NUNES, Marina Muniz Rossa. Formação de professores para o ensino
fundamental: estudo de currículos das licenciaturas em Pedagogia, Língua Portuguesa,
Matemática e Ciências Biológica. São Paulo: FCC/DPE, 2009.
______; BARRETTO, E. S. de S.; ANDRÉ, M. E. D. A. Políticas Docentes no Brasil: um
Estado da Arte. Brasília: Unesco, 2011.
152
______. Formação inicial de professores para a Educação Básica: pesquisas e políticas
educacionais. Est. Aval. Educ, São Paulo, v. 25, n. 57, p. 24-54, jan./abr. 2014.
______. Avaliação institucional: processo descritivo, analítico ou reflexivo? Estudos
em Avaliação Educacional, São Paulo, v. 7, p. 7-14, 2006.
______. Avaliação e qualidade do desenvolvimento profissional docente. Avaliação,
Campinas; Sorocaba, SP, v. 19, n. 2, p. 373-384, jul. 2014.
______. Avaliação e Qualidade da Educação. Caderno ANPAE, Porto Alegre-RS,
n. 4, 11 a 14 nov. 2007.
GONZALES REY, Fernando. Pesquisa qualitativa e subjetividade: os processos de
construção da informação. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2012.
GUÉRIOS, Ettiène. Espaços Intersticiais na formação docente: indicativos para a formação
continuada de professores que ensinam matemática. In: FIORENTINI, Dario;
NACARATO, Adair M. Cultura. Formação e desenvolvimento profissional de
professores que ensinam Matemática. Campinas: GEPFPM – PRAPEM-FE/Unicamp.
São Paulo: Ed. Musa, 2005.
IMBERNÓN, Francisco. Formação continuada de professores. Porto Alegre: Artmed,
2010.
______. Formação Docente e Profissional: formar-se para a mudança e a incerteza.
9.ª Ed. Tradução Silvana Cobucci. São Paulo: Cortez, 2011.
JÚNIOR, Eduardo Morais. Por trás do currículo oficial, que Geometria acontece? Um
estudo sobre os saberes anunciados nas narrativas de professores dos anos iniciais do
Ensino Fundamental. 2015. 150 f. Dissertação (Mestrado em Educação)- UFSCar,
Sorocaba, 2015.
LANNER DE MOURA, Anna R. Movimento conceptual. In: MIGUEIS, Marlene;
AZEVEDO, Maria da G. Educação Matemática na Infância: abordagens e desafios.
Coleção Biblioteca do Professor. 1ª Ed. jan. 2007.
LEONTIEV, Alexi et al. Psicologia e pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do
desenvolvimento. Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2005.
______; VYGOTSKY, Lev S.; LURIA, Alexander R. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. Tradução de Maria de Pena Villa Lobos. 12º edição. São Paulo: Ícone,
2012. (Coleção Educação Crítica).
______. O desenvolvimento do psiquismo humano. São Paulo: Moraes, 1978.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: Teoria e Prática. 5. ed.
Goiânia: Alternativa, 2004.
153
LIMA, Simone Marques de; CARVALHO, Ademar de Lima. A Formação do Pedagogo e
o ensino da Matemática: as concepções de ensino que permeiam a prática de professores.
In: SILVA, Adelmo Carvalho; CARVALHO, Mercedes; RÊGO, Rogéria Gaudêncio do
(Orgs.). Ensinar Matemática: formação, investigação e práticas docentes. Cuiabá:
EduFMT, 2012.
LOPES, Anemari R. L. V. Formação de professores que ensinam matemática: alguns
princípios orientadores. In: XII Encontro Gaúcho de Educação Matemática. Porto
Alegre, RS, 10 a 12 set. 2015.
LORENZATO, Sergio. Para aprender Matemática. 2. ed. rev. Campinas: Autores
Associados, 2008. Coleção Formação de Professores.
______. Sérgio. Que Matemática ensinar no primeiro dos nove anos do Ensino
Fundamental? In: Congresso de Leitura do Brasil, 17, 2009, Campinas. Anais... ALB.
Disponível em: <http:// alb.com.br/arquivo-morto/edições
anteriores/anais17/txtcompletos/sem07/COLE 2698.pdf.> Acesso em: 09 jul. 2016.
LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens
qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MARIM, Vlademir. Formação continuada do professor que ensina Matemática nas
séries iniciais do Ensino Fundamental: um estudo a partir da produção acadêmico-
científica brasileira (2003-2007). 2011. 217 f. Tese de Doutorado, PUC-SP, São Paulo
2011.
MARTINS, Iloine Maria H. Alfabetização Matemática: um ato lúdico. 2015. Dissertação
(Mestrado em Educação)-Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2015.
MEGID, M. A. B. A. Formação inicial de professoras mediada pela escrita e pela
análise de narrativas sobre operações numéricas. 2009. Tese (Doutorado em
Educação Matemática)-Faculdade de Educação, Unicamp, Campinas, 2009.
MELLO, Guiomar N. de. Formação inicial de professores para a educação básica:
Uma (Re)visão radical. PERSPEC., São Paulo, v. 14, n. 1, p. 98-100, 2000.
MINAYO, M. C. de S. e cols. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Rio de
Janeiro: Vozes, 1994.
MINDIATE, Manoel Joaquim. Uma compreensão da Alfabetização Matemática
como política no Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa. Dissertação
(Mestrado em Educação)-Setor de Ciências Exatas. 2015. 86f. Universidade Federal
do Paraná, Curitiba, 2015.
MIZUKAMI, Maria da G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU,
1986.
154
MIZUKAMI, M. da Graça N. Revista Centro da Educação, Edição 2004, v. 29, n. 02.
Disponível em: <http://coralx.ufsm.br/revce/revce/2004/02/a3.htm>
Acessado em: 15 maio 2016.
______. Aprendizagem da docência: algumas contribuições de L. S. Shulman. Revista
Centro da Educação, Edição 2004, v. 29, n. 02. Disponível em:
<http://coralx.ufsm.br/revce/revce/2004/02/a3.htm.> Acesso em: maio 2012.
MOURA, Manoel Oriosvaldo (org.). A atividade pedagógica na teoria Histórico-
cultural. Brasília: Liber Livro, 2010.
______. Manoel Oriosvaldo. Matemática na infância. Educação Matemática na
infância: abordagens e desafios. In: MIGUEIS, Marlene da Rocha; AZEVEDO, Maria da
Graça. Gaia: Gaialivro, 2007.
______. Manoel Oriosvaldo. O jogo e a construção do conhecimento matemático. Série
Ideias n. 10, São Paulo. FDE, 1992. Disponível em
http://www.crmaiocovas.sp.gov.br/pdf/ideia_10_ p045.053_c.pdf. Acesso em 15.07.16
MORAES, Silvia Pereira Gonzaga de; MOURA, Manoel Oriosvaldo de. Avaliação do
processo de ensino e aprendizagem em Matemática: contribuições da teoria histórico-
cultural. Bolema, Rio Claro-SP, ano 22, n. 33, p. 97- ,2009.
MORETTI, Vanessa Dias; SOUZA, Neusa M. M. de Souza. Educação Matemática nos
anos iniciais do Ensino Fundamental: princípios e práticas pedagógicas. São Paulo:
Editora Cortez, 2015.
MOTTA, Fernanda A. B.; OLIVEIRA, Raimundo N. M. O. Formação continuada: da
concepção tradicional à contemporânea. In: IV Encontro de Pesquisa em Educação da
UFPI GT02. Disponível em: < leg.ufpi.br/ppged/index/pagina/id/1857.> Acessado em: 11
abr. 2016.
MUNIZ, Cristiano A. Brincar e jogar: Enlaces teóricos e metodológicos no campo da
educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. (Tendências em Educação
Matemática, 20).
FIORENTINI, D.; NACARATO, A.M. (Orgs.) Cultura, formação e
desenvolvimento profissional de professores que ensinam Matemática:
investigando e teorizando a partir da prática. São Paulo: MUSA Editora, 2005. p. 175-
195.
NACARATO, Adair Mendes. A escola como lócus de formação e de aprendizagem:
possibilidades e riscos da colaboração. In: FIORENTINI, D.; NACARATO, A.M.
(Orgs.) Cultura, formação e desenvolvimento profissional de professores que
ensinam matemática: investigando e teorizando a partir da prática. São Paulo:
MUSA Editora, 2005. p. 175-195.
155
______. Eu trabalho primeiro no concreto. Revista de Educação Matemática, Sociedade
Brasileira de Educação Matemática – Regional São Paulo, SBEM-SP, 2004.
______. A formação do professor de matemática: contexto e educação. Revistas
Eletrônicas Unijuí, Ijuí, Editora Ijuí, ano 21, n. 75, jan/jun 2006.
______; MENGALI, Brenda Leme da Silva; PASSOS, Carmem Lúcia Brancaglion. A
Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: tecendo fios de ensinar e do
aprender. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 1ª Ed. 2011.
NASCIMENTO, C. P.; ARAÚJO, E. S.; MIGUEIS, M. R. O conteúdo e a estrutura da
atividade de ensino na educação infantil: o papel do jogo. In: MOURA, Manoel Oriosvaldo
(Org.). A atividade pedagógica na teoria histórico-cultural. Brasília: Liber Livro, 2010.
p. 111-134
NÓVOA, António. Os professores e as histórias da sua vida. In: ______ (Org.). Vidas de
Professores. 2.ed. Lisboa: Porto Editora, 1995a. p. 11-30.
______ . O passado e o presente dos professores. In: ______ (Org.). Profissão professor.
2.ed. Lisboa: Porto Editora, 1995b. p.13-34.
PAIS, Luiz Carlos. Uma análise do significado da utilização de recursos didáticos no
ensino da Geometria. Reunião Anped, Caxambu, 2000. Disponível em:
<www.anped.org.br/23/textos/1919t.pdf, 23ª.> Acesso em: 22 de agosto de 2016.
PALMA, Rute C. R. da. A produção de sentidos sobre o aprender e ensinar
matemática na formação inicial de professores para a educação infantil e anos
iniciais do Ensino Fundamental. 2010. Tese (Doutorado em Educação)-
UNICAMP, Campinas-SP, 2010.
PASSOS, Cármem L. Brancaglion; NACARATO, Adair; FIORENTINI, Dario et al.
Desenvolvimento profissional do professor que ensina Matemática: uma meta-análise de
estudos brasileiros. Quadrante, Lisboa, n. 15 p. 193-219, 2006.
______; Cármem L. Brancaglion; OLIVIERA, Rosa M. M. A de. Formação como
contínum: a escrita de professores: narrativas de grupo colaborativo e mentoria. São
Carlos: EdUFscar, 2010. (Coleção UAB – Ufscar).
PEREIRA, Adauto de Jesus. Contribuições da Pedagogia Histórico-Crítica para o ensino
da Geometria Espacial no Ciclo de Alfabetização. 2016. Dissertação (Mestrado em
Educação)-UNESP, Bauru, 2016.
PLACCO, V. M. N. de S.; SOUZA, V. L. T. de (Orgs.). Aprendizagem do Adulto
Professor. São Paulo: Loyola, 2006.
156
PONTE, J. P. Concepções dos Professores de Matemática e Processos de Formação.
Disponível em: <http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2985/1/92-
Ponte%20(Concep%C3%A7%C3%B5es). pdf.> Acessado em: 15 maio 2016.
REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 23. ed.
Petrópolis: Vozes, 2012.
RIGON, Algacir José; ASBAHR, Flávia da Silva Ferreira; MORETTI, Vanessa Dias.
Sobre o processo de humanização. In: MOURA, Manoel O. (Org.). A atividade
pedagógica na teoria histórico-cultural. Brasília: Liber Livro, 2010.
______ et al. O desenvolvimento psíquico e o processo educativo. In:
MOURA, Manoel Oriosvaldo (Org.). A atividade pedagógica na teoria histórico-
cultural. Brasília: Liber Livro, 2010.
ROMANOWSKI, J. P. Formação e profissionalização docente. Revista IBEPEX. 4.ª Ed.
2010.
ROMANOWSKI, Joana P. R; MARTINS, Pura L. O. M. Formação continuada:
contribuições para o desenvolvimento profissional dos professores. Rev. Diálogo Educ,
Curitiba, v. 10, n. 30, p. 285-300, maio-ago. 2010.
ROSA, Zuleide Ramos F. da. O PNAIC como peca da política de formação continuada
de professores: entre fins declarados e expectativas locais. 2016. Dissertação (Mestrado
em Educação)-UNOESC, Joaçaba-SC, 2016.
SANTOS, César A. P. Santos. A ideia de número no ciclo de alfabetização matemática:
o olhar do professor. 2016. Dissertação (Mestrado em Educação)-UNESP, Rio Claro,
2016.
SANTOS, Cíntia Anselmo dos. O papel do Coordenador Pedagógico no processo
formativo dos professores do Ciclo de Alfabetização: O Pacto Nacional Pela
Alfabetização na Idade Certa. 2015. Dissertação (Mestrado em Educação)-PUC, São
Paulo, 2015.
SANTOS, Maria Inês M. dos. O lugar dos saberes experienciais dos professores do
programa Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa. 2016. Dissertação
(Mestrado em Educação). Ijuí-RS, 2016.
SANTOS, Vinício de M. Ensino de Matemática na Escola de Nove Anos: Dúvidas,
Dívidas e Desafios. São Paulo: Cengage Learning, 2014.
SILVA, Fabiano Colins da. Saberes docentes na/da formação continuada de
professores alfabetizadores e tecida em torno dos saberes docentes mobilizados na/da
prática de alfabetização. 2015. Dissertação (Mestrado em Educação)-Universidade
Federal do Pará, Belém, 2015.
157
SILVA, Lezi A. da. Matemática na Escola: Narrativas de professoras sobre o processo
de transição da Educação Infantil para o ensino fundamental. 2016. Dissertação
(Mestrado em Educação)-Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso,
Cuiabá-MT, 2016.
SCHÖN, Donald. The reflective practitioner. New York: Basic Books, 1983. STAKE, Robert E. A arte da investigação com Estudos de Caso. Tradução Ana Maria
Chaves. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2012.
SOUZA, Guilherme Alves de. Uma Sequência Didática como contribuição para
formação do Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). 2014.
Dissertação (Mestrado em Educação)-UNIR, Porto Velho-RO, 2014.
SOUZA, Kátia do Nascimento Venerando de. Alfabetização Matemática: considerações
sobre a teoria e a prática. Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 10, n. 1, 2010.
Disponível em: <http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index. php/ric/article/viewFile/273/259> Acesso em: 24.07.16
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 16ª ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2014.
THOMPSON, Alba Gonzáles. A relação entre concepções de Matemática e de ensino de
Matemática de professores na prática pedagógica. 1984. Trad. Gilberto F. A. de Melo,
Tadeu Oliver Gonçalves, Maria Aparecida C. R. T. Moraes e Antônio Miguel. Zetetiké,
Campinas, CEMPEM- FE/UNICAMP, v. 5, n. 8, p. 1-16, jul./dez/ 1997.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o
desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 1988.
______. Pensamento e linguagem. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1998.
______. Uma contribuição à Teoria do desenvolvimento da Psique Infantil. In:
VYGOTSKY, L. S; LURIA, A. R; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1988.
ZUGE, Vanessa. Professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental em formação:
um olhar a partir das discussões sobre o sistema de numeração decimal no contexto do
Programa Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa. 2015. Dissertação (Mestrado
em Educação), Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2015.
ZUNINO, D. L. A Matemática na escola: aqui e agora. Porto Alegre: Artes Médicas,
1995
LANNER DE MOURA, Anna Regina; PALMA, Rute C. D. da. O material didático no
ensino de Matemática: lembranças deixadas em alunos de Pedagogia. Série – Estudos.
Campo Grande _ MS, n. 28, p. 135 -150, jul/dez 2009.
158
FIORENTINI, Dario; LORENZATO, Sergio. Investigação em Educação matemática:
percursos teóricos e metodológicos. 3ª ed. rev. Campinas. SP: Autores Associados, 2009.
LIMA, Priscila Ferreira. Análise de Práticas de Ensino de Matemática no Ciclo de
alfabetização: um estudo a partir da teoria da base do conhecimento do professor.
Dissertação de mestrado em Educação. UFPE, Recife, 2016.
VASCONCELOS, Celso dos Santos. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e
projeto político- pedagógico. 22 ed. São Paulo: Libert Editora, 2012.
159
APÊNDICE A – Autorização Diretor
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – DIRETOR (A)
Declaro, por meio deste termo, que autorizei a realização na escola,
_____________________________________________________ a pesquisa intitulada
“PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA-PNAIC: AS VOZES
DE PROFESSORAS SOBRE A FORMAÇÃO CONTINUADA E AS PRÁTICAS ESCOLARES
EM MATEMÁTICA” que será desenvolvida pela mestranda Ieda Maria Valle Monteiro
Callejas, vinculada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Mato
Grosso.
Estou ciente que a pesquisa objetiva a mobilização e ampliação dos conhecimentos
sobre a formação continuada em matemática, e as práticas escolares das professoras
alfabetizadoras das séries iniciais do Ensino Fundamental.
Fui informado (a) ainda, que a pesquisa se dará sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Rute
Cristina Domingos da Palma, a quem poderei contatar quando julgar necessário através do
telefone (65) 3615-8935 (período vespertino). E caso necessite de maiores esclarecimentos
posso contatar o “Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Hospital
Universitário Júlio Müller-UFMT”, atualmente sob a coordenação da Prof.ª Rosangela Kátia
Sanches Mazzorana Ribeiro, localizado a Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367 – Boa
Esperança, Cuiabá-MT, CEP 78.060-900. Local de atendimento: CCBSI, 1º andar, telefone
(65) 3615-8254.
Afirmo que autorizei a realização da pesquisa, sem receber qualquer incentivo
financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da
mesma. Estou informado (a) dos objetivos estritamente acadêmicos desse estudo.
Estou ciente de que os dados da pesquisa serão produzidos a partir da observação das
atividades e escritos dos professores participantes. O acesso à análise dos dados produzidos
será feita apenas pela aluna pesquisadora e sua orientadora.
Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Permissão para o uso de imagens: ( ) SIM ( ) NÃO
Cuiabá, _______ de _______________ de 2016
Assinatura do (a) Professor (a): ____________________________________
Assinatura do (a) Pesquisador (a): _______________________________
160
Apêndice B – Tecle Professor
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PROFESSOR (A)
Declaro, por meio deste termo, que aceitei participar da pesquisa intitulada “PACTO
NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA-PNAIC: AS VOZES DE
PROFESSORAS SOBRE A FORMAÇÃO CONTINUADA E AS PRÁTICAS ESCOLARES
EM MATEMÁTICA” que será desenvolvida pela mestranda Ieda Maria Valle Monteiro
Callejas, vinculada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Mato
Grosso.
Estou ciente que a pesquisa objetiva a mobilização e ampliação dos conhecimentos
sobre a formação continuada em matemática, e as práticas escolares das professoras
alfabetizadoras das séries iniciais do Ensino Fundamental.
Fui informada ainda, que a pesquisa se dará sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Rute
Cristina Domingos da Palma, a quem poderei contatar quando julgar necessário através do
telefone (65) 3615-8452 (período vespertino). E caso necessite de maiores esclarecimentos
posso contatar o “Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Hospital
Universitário Júlio Müller-UFMT”, atualmente sob a coordenação da Prof.ª Rosangela Kátia
Sanches Mazzorana Ribeiro, localizado a Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367 – Boa
Esperança, Cuiabá-MT, CEP 78.060-900. Local de atendimento: CCBSI, 1º andar, telefone
(65) 3615-8254.
Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa e que fui informada dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo.
Estou ciente de que os dados da pesquisa serão produzidos a partir da observação das
atividades e registros escritos dos professores participantes. O acesso à análise dos dados
produzidos será feito apenas pela aluna pesquisadora e sua orientadora. Não serão
repassados a terceiros. Os nomes da escola e professoras serão mantidos em absoluto
anonimato.
Fui ainda informada que posso me retirar dessa pesquisa a qualquer momento, sem
nenhum prejuízo ou constrangimentos.
Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Cuiabá, _______ de _______________ de 2015
Assinatura do (a) Professor (a): ____________________________________
Assinatura do (a) Pesquisador (a): _________________________________
161
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que autorizo meu filho (a) e/ou criança pela qual sou
responsável legal a participar da pesquisa intitulada “PACTO NACIONAL PELA
ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA: AS VOZES DE PROFESSORAS SOBRE A
FORMAÇÃO CONTINUADA E AS PRÁTICAS ESCOLARES EM MATEMÁTICA”, que será
desenvolvida pela mestranda Ieda Maria Valle Monteiro, vinculada ao Programa de Pós-graduação
da Universidade Federal de Mato Grosso.
Estou ciente que a pesquisa objetiva investigar o trabalho na formação continuada de
professoras participantes do PNAIC Matemática.
Fui informado (a), ainda, que a pesquisa está sob a orientação da Prof.ª Drª Rute Cristina
Domingos da Palma, a quem poderei contatar quando julgar necessário através do telefone (65)
3615.8452 (período vespertino). E caso necessite de maiores esclarecimentos posso entrar em
contato com o “Comitê de Ética em Pesquisa-Humanidade”, atualmente sob a coordenação da Sr.ª
Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro que pode ser contatada pelo telefone (65) 3615-8935,
pelo endereço eletrônico [email protected], endereço: Avenida Fernando Corrêa da Costa,
2.367, Instituto de Educação – sala 31, Boa Esperança, Cep: 78060-900.
Afirmo que autorizei a participação do meu filho (a) e/ou criança pela qual sou responsável
legal, por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e
com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa e que fui informado (a) dos
objetivos estritamente acadêmicos do estudo.
Estou ciente de que os dados da pesquisa serão produzidos a partir da observação das
atividades contidas nos cadernos. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pela aluna
pesquisadora e sua orientadora.
Fui ainda informado (a), que posso retirar meu filho (a) e/ou criança pela qual sou
responsável legal, dessa pesquisa a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou constrangimentos.
Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Cuiabá, ____ de _________________ de 2016.
Nome do (a) aluno (a): __________________________________________________________
Assinatura dos pais ou responsáveis: ________________________________________________
Assinatura do (a) pesquisador(a): ___________________________________________________
162
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA – ESCOLA ESPERANÇA
BLOCO 1 - Contexto da professora participantes da pesquisa
a) Diga o seu nome e me conte se você é cuiabana, ou se veio de outra cidade/estado?
b) Você é casada, tem filhos, família?
c) Qual é a sua formação? Como se deu, você se formou no curso que realmente
desejava?
d) Como foi o início da sua carreira docente? Em quais anos já lecionou?
e) Quanto tempo você está nessa escola? Você é efetiva ou interina?
BLOCO 2 – Sobre a construção dos conhecimentos matemáticos e do ensino de Matemática
(trajetória escolar e profissional).
a) Como foi sua relação com a Matemática no período escolar? Do que você
lembra?
b) Como foi a sua formação? Você sentiu que ela foi adequada? Do que você se
recorda?
c) Na graduação, você teve alguma disciplina específica sobre a Matemática? A
formação inicial foi suficiente para ensinar Matemática aos alunos? Por quê? Em
que sentido?
d) O que você melhor apreendeu, metodologias ou conteúdo?
e) O que mais se discutiu no curso/disciplina?
f) Como tem sido o seu ensino de Matemática?
g) Na sua opinião, o que o professor precisa saber para ensinar Matemática?
BLOCO 3 – Sobre a formação continuada do Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade
Certa. (Participação na formação continuada e práticas escolares).
a) Em sua trajetória profissional, você já participou de outro (s) curso (s) de
formação continuada? Quais e como foram essas formações?
b) Essas formações contribuíram ou não para a sua prática?
c) Como era a dinâmica do PNAIC? Como foi desenvolvido? (que dia/horário
fazia?)
d) A proposta do PNAIC foi boa? (materiais, cadernos de estudos, jogos).
e) Daquilo que foi proposto, o que foi mais significativo no curso?
f) Há algo que deveria ser discutido e não foi?
g) O que achou da Sequência Didática?
163
h) Fale-me um pouco sobre o sentido atribuído à formação do PNAIC para a sua
carreira profissional?
BLOCO 4 – A prática Pedagógica
i) E o sentido da formação do PNAIC para as suas práticas pedagógicas?
j) A formação do PNAIC foi significativa ou não para a sua formação?
k) No que diz respeito ao processo de aprender e ensinar Matemática, existe algo
que você ainda realiza nas práticas escolares?
l) A formação do Pacto te oportunizou maiores reflexões sobre o ensinar e aprender
Matemática nos anos iniciais, como era antes?
m) Fale sobre o que mais você gostou de aprender no Pacto?
n) Fale-me agora da organização e desenvolvimento dos seus planejamentos. Como
você concilia as orientações sugeridas pelo Pacto e as orientações da escola e da
SME, em seus planejamentos, por exemplo? Fale-me também do
desenvolvimento da hora-atividade e planejamento, como e onde faz? Com quem
faz?
164
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIETRUTURADA II – ESCOLA ESPERANÇA
BLOCO 1 – Retomando as questões:
a) Como você mencionou em entrevistas anteriores, que os jogos matemáticos foram o mais
te marcou na formação na formação do PNAIC, você pode falar mais a respeito?
b) E com relação à Sequência Didática, conte-me como você tem desenvolvido os conteúdos
(direitos de aprendizagem) relativos à Matemática?
c) Fale-me das dificuldades de organização dos planejamentos?
BLOCO 2 – Sobre a Matemática:
a) Com relação à Matemática, o que você considera que seja a função, os objetivos e a
definição dessa disciplina?
b) Como a criança aprende Matemática?
c) Conte-me como você tem organizado o ensino da Matemática, faz planejamento das aulas?
Tem algum(ns) recurso(s) para planejar?
NO RETORNO DAS FÉRIAS – 2º Semestre/2016
d) Quais são as metas, objetivos do ensino da Matemática nesse segundo semestre?
e) O que você ainda vai ensinar?
e) Há algum conteúdo na Matemática que você não gosta ou acha difícil ensinar?
f) O que as crianças aprenderam?
BLOCO 3 – Sobre as Práticas Pedagógicas:
a) Fale-me como você organiza sua prática pedagógica nas aulas de Matemática?
b) Que tipo de materiais você tem usado? Como, quando e por quê?
d) Como você tem conduzido as aulas de Matemática?
e) Como você organiza os conteúdos da (Matriz Curricular/Direitos de Aprendizagem)?
f) Tem algum outro conceito que você tenha que trabalhar mais?
g) Como você acompanha e avalia a aprendizagem dos alunos? Como você faz com os alunos
que não aprendem?
g) Você pode me contar alguma experiência?
h) Você organizaria de forma diferente?
i) Como a Matemática é discutida pelo grupo nos anos/ciclos? Tem reunião para isso?
As professoras conversam entre si?
Ao final da conversa:
1. Da formação do PNAIC, o que permanece presente em sua prática pedagógica?
2. O PNAIC contribuiu efetivamente para sua prática pedagógica em Matemática? Em quê?
2. Se tivesse outra formação, como você acha que deveria ser organizada?
165
QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA (QCE)
Nome da escola: _________________________________________________________
Endereço: ______________________________________________________________
Tel.: ( ) _________________ Cel.: ( ) __________________
E-mail da escola: ________________________________________________________
Nome do(a) diretor(a) da escola: ___________________________________________
Data do início de funcionamento da escola: ___________________________________
Etapas/Ciclos que atendem: ________________________________________________
Ano que iniciou o regime de Ciclos: _________________________________________
Turnos de funcionamento: ( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Noturno
Nº de salas de aula ___________ Nº de alunos ______________
Nº de Professores: Efetivos _________ Contratados ___________
Biblioteca: ( ) Sim ( ) Não. Outros: ______________________________
Laboratório de informática: ( ) Sim ( ) Não
Sala de vídeo: ( ) Sim ( ) Não
Materiais pedagógicos: ___________________________________________________
Materiais Multimídia: ____________________________________________________
Livros de Literatura: _____________________________________________________
______________________________________________
Carimbo e assinatura do (a) Diretor (a)
Cuiabá-MT., _____ de ______________de _____
166
QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO DO PROFESSOR (QCP)
Professora: _____________________________________________________________
1. Dados Pessoais
Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
Data de Nascimento: ___/___/______ Naturalidade: ________________
E-mail: _____________________________________________________________
Fone: ( ) _______________________ Cel.: ( ) _____________________
2. Formação Acadêmica
Graduação
Curso/Habilitação: ____________________________________________________
Instituição: __________________________________________________________
Cidade/Estado: ______________________________
Modalidade do curso: ( ) Presencial ( ) À Distância ( ) Semipresencial
Ano de Início _________________________ Ano de Término _______________
Pós-Graduação
( ) Especialização
( ) Mestrado
( ) Doutorado
( ) Não cursei ou não completei o curso de Pós-Graduação
Ano de início __________________________ Ano de término ________________
Área: _______________________________________________________________
3. Situação e Experiência Profissional
a) Qual sua situação trabalhista?
( ) Efetivo
( ) Concursado em estado probatório
( ) Prestador de serviço por contrato
b) Turno (s) que trabalha nesta Escola:
167
( ) Matutino
( ) Vespertino
c) Trabalha em outra Escola?
( ) Sim ( ) Não ________________________________________________
d) Jornada de trabalho semanal: _________________________________________
e) Exerce outra profissão além de professor?
( ) Sim ( ) Não ________________________________________________
f) Há quantos anos você leciona? ________________________________________
g) Já atuou em outras etapas da Educação Básica?
( ) Creche
( ) Educação Infantil ( ) 4 anos ( ) 5 anos
( ) Ensino Fundamental ( ) Anos Iniciais ( ) Anos Finais
( ) Ensino Médio
h) Há quantos anos você trabalha nesta Escola? _____________________________
i) Há quantos anos você leciona no 1º Ciclo? ______________________________
j) Em quais anos do 1º Ciclo do Ensino Fundamental você já atuou?
( ) 1º ano ______ anos
( ) 2º ano _______ anos
( ) 3º ano ______ anos
k) No presente ano, quantos alunos você possui por sala?
( ) 1º ano Matutino _______________ Vespertino _________________
( ) 2º ano Matutino _______________ Vespertino _________________
( ) 3º ano Matutino _______________ Vespertino _________________
4. Formação Continuada:
a) Você participou de alguma atividade de formação continuada em Educação
Matemática nos últimos cinco anos? Caso a resposta seja positiva, qual foi a
natureza das atividades (projetos de pesquisas, grupo de estudo, seminários,
oficinas, congressos, cursos, palestras) e a carga horária?