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Professor Cássio Albernaz

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História

OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DE PERNAMBUCO

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Há mais ou menos 12 mil anos, durante a transição entre o período Pleistoceno e o Holoceno, boa parte do território brasileiro já estava ocupado por grupos de caçadores e coletores pré--históricos. Tais grupos são divididos pelos arqueólogos em tradições, estabelecidas de acordo com os resquícios de sua cultura material.

Na região que hoje corresponde ao estado de Pernambuco, foram identificados vestígios se-guros de ocupação humana superiores a 11 000 anos, nas regiões de Chã do Caboclo, em Bom Jardim, e Furna do Estrago, em Brejo da Madre de Deus. Nesta última região, foi descoberta uma importante necrópole pré-histórica, com 125 metros quadrados de área coberta, de onde foram resgatados 83 esqueletos humanos em bom estado de conservação.

À tradição Nordeste pertenciam aqueles que possuíam indústria lítica refinada e faziam belas pin-turas rupestres. Há mais ou menos 7 mil anos atrás, esse grupo foi substituído pelas tribos da tra-dição Agreste, que não dominava as artes, exceto a da guerra. É a esse período de transição que remonta a presença humana mais antiga de que se tem notícia no Parque Nacional do Vale do Catimbau, o 2º maior parque arqueológico do Brasil, perdendo apenas para a Serra da Capivara, no Piauí. Em 1970 foi descoberto um esqueleto datando 6.800 anos em um abrigo utilizado como cemitério pré-histórico, atualmente em exposição no Museu Municipal de Buíque.

Dentre os grupos indígenas que habitaram o estado, destaca-se a tradição cultural Itaparica, responsável pela confecção de artefatos líticos lascados há mais de 6 000 anos. No Agreste pernambucano, conservam-se pinturas rupestres com data aproximada de 2 000 anos antes do presente, atribuídas à subtradição denominada Cariris velhos.

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CARACTERÍSTICAS SOCIOCULTURAIS DAS POPULAÇÕES INDÍGENAS

Características socioculturais das populações indígenas que habitavam o território do atual estado de Pernambuco, antes dos primeiros contatos euro-americanos:

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Com uma superfície de 90 mil há, o Vale do Catimbau estende-se entre os Municípios de Buí-que, Ibimirim, Inajá e Tupanatinga, fazendo fronteira com a reserva indígena federal Kapinawá, localizada na serra da Mina e onde vivem cerca de 400 índios.

Segundo pesquisadores da UFPE, os antigos habitantes do lugar eram grupos caçadores-coleto-res do Período Holoceno que não apresentavam domínio da cerâmica e moravam em cavernas (tanto é que, das cerca de 200 grutas e cavernas existentes no Vale, pelo menos 28 guardam vestígios de sepultamentos). Dos 23 sítios arqueológicos com grafismos rupestres já cataloga-dos pelo IPHAN no Parque, o maior e mais importante é o Alcobaça, situado em um paredão ro-choso com configuração de anfiteatro. Lá foram encontradas pinturas rupestres em um painel de 60m, ocupando uma área de 50m de extensão com largura variando entre 2 e 3m. Já a pedra da Concha apresenta um painel de 2,3m por 1,5m, albergando inscrições com figuras humanas, animais e desenhos geométricos em tons ocre. São imagens isoladas que não compõem cenas, com predominância da tradição Agreste. Acredita-se que foram utilizados nas pinturas pigmen-tos metálicos e não metálicos misturados a pigmentos orgânicos, como genipapo e urucum.

A Furna do Estrago, abrigo sob rocha localizado no Município de Brejo da Madre de Deus, é um dos mais importantes sítios arqueológicos do Brasil. Da sucessiva utilização do sítio como habitação por grupos caçadores-coletores numa seqüência temporal de aproximadamente 10 mil anos, resultou uma estratigrafia em que predominam as lentes de fogueiras superpostas,

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formando pacotes de cinzas, e sedimentos finos, soltos, secos, de cor parda, contendo restos alimentares e toscos artefatos de pedra e osso. Há cerca de 2 mil anos, a Furna passou a ser utilizada como cemitério.

Quando os primeiros europeus chegaram ao território brasileiro, no início do século XVI, vários grupos indígenas ocupavam a região Nordeste. No litoral, predominavam as tribos do tronco linguístico tupi, como os Tupinambás, Tabajaras e os Caetés, os mais temíveis (e já desapare-cidos). No interior, habitavam grupos dos troncos linguísticos Jê, genericamente denominados Tapuias. Nos brejos interioranos do estado ainda é possível encontrar grupos indígenas rema-nescentes das antigas tradições, como os Pankararu (em Tacaratu) e os Atikum (em Floresta).

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Os grupos se formavam e se mantinham unidos principalmente pelos laços de parentesco, que também articulavam o relacionamento desses mesmos grupos entre si. Agrupamentos menores, as aldeias ligavam-se através do parentesco com unidades maiores, as tribos. Os índios sobre-viviam da caça, da pesca, do extrativismo e da agricultura. Nem esta última, porém, servia para ligá-los permanentemente a um único território. Fixavam-se nos vales de rios navegáveis, onde existissem terras férteis. Permaneciam num lugar por cerca de quatro anos. Depois de esgotados os recursos naturais do local, migravam para outra região, num regime semi-sedentário.

Suas tabas (aldeias) abrigavam entre 600 e 700 habitantes. Levando em conta as possibilidades de abastecimento e as condições de segurança da área, um conselho de chefes determinava o local onde eram erguidas. As aldeias eram formadas por ocas (cabanas), habitações coletivas que apre-sentavam formas e dimensões variadas. Em geral, as ocas eram retangulares, com o comprimento variando entre 40 m e 160 m e a largura entre 10 m e 16 m. Abrigavam entre 85 e 140 moradores. Suas paredes eram de madeira trançada com cipó e recobertas com sapé desde a cobertura. As várias aldeias se ligavam entre si através de trilhas, que uniam também o litoral ao interior.

Para uma lista completa dos povos indígenas de Pernambuco, consultar o site da Universidade Federal de Pernambuco: https://www.ufpe.br/nepe/povosindigenas/

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A “GUERRA DOS BÁRBAROS” (1683 – 1713)

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A Guerra dos Bárbaros foram os conflitos, rebeliões e confrontos envolvendo os colonizadores portugueses e várias etnias indígenas tapuias que aconteceram nas capitanias do Nordeste do Brasil, a partir de 1683. Com a expulsão dos holandeses do território brasileiro em 1654, os portugueses puderam retomar o avanço em direção ao interior nordestino, expandindo as fa-zendas de gado e perseguindo as etnias indígenas. Porém a resistência de diversas etnias indí-genas, que tinham sido aliados dos holandeses, foi um elemento-surpresa para os lusos.

Os portugueses fortificaram o efetivo militar, inclusive com a vinda de bandeirantes paulistas como Domingos Jorge Velho. Já as etnias indígenas tapuias do interior nordestino, como os janduís, paiacus, caripus, icós, caratiús e cariris, uniram-se em aliança e confrontaram os por-tugueses nas tentativas de dominar as terras dos nativos. A aliança das tribos tapuias, deno-minada pelos portugueses como Confederação dos Cariris ou Confederação dos Bárbaros, foi derrotada somente em 1713.

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A denominação Tapuia foi dada pelos cronistas da época, e perpetuada pela historiografia ofi-cial, aos grupos indígenas com diversidade linguística e cultural que habitavam o interior, em distinção aos Tupi, que falavam a língua geral e se fixaram no litoral. Estudos atuais demons-tram que esses povos pertenceram aos seguintes grupos culturais: os Jê, os Tarairiu, os Cariri e os grupos isolados e sem classificação. Entre eles podem ser citados os Sucurú, os Bultrim, os Ariu, os Pega, os Panati, os Corema, os Paiacu, os Janduí, os Tremembé, os Icó, os Carateú, os Carati, os Pajok, os Aponorijon, os Gurgueia, que lutaram ora contra ora a favor dos colonizado-res de acordo com as estratégias que visavam à sua sobrevivência.

A rigor, embora tenham inicialmente recebido os europeus amistosamente, os indígenas brasi-leiros jamais aceitaram, sem resistência, a dominação do "homem branco", sobretudo a partir da penetração do conquistador português no interior do país, na busca de metais preciosos ou na expansão das fazendas pastoris. Esse avanço geralmente se tornava sinônimo de massacre dos nativos, escravização dos sobreviventes, violência sexual e usurpação das terras indígenas. Não menos nefasta, para eles, era a ação dos missionários.

A resistência dos índios se fazia pela fuga dos aldeamentos missionários (em sua maioria, jesuí-tas) e de outros tipos de cativeiro, pela defesa das aldeias contra as investidas dos bandeirantes, por ataques a vilas e fazendas, bem como por formas variadas de suicídio, quando aprisiona-dos. Essa resistência, ainda que heroica, mostrou-se infrutífera, não somente face à superiori-dade militar do homem branco, como também devido à dificuldade dos indígenas de se unirem contra o inimigo comum. Ao contrário, divididos por rivalidades tribais, muitos se prestavam a auxiliar os europeus na luta contra outros indígenas. Nas raras ocasiões em que conseguiram se unir, na forma de confederações, os conquistadores tiveram muito trabalho para dominá-los.

Uma dessas confederações foi a dos cariris, que durou trinta anos, envolvendo nativos princi-palmente do Ceará, mas também algumas tribos de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Pa-raíba. Ela foi uma resposta tardia ao avanço de poderosos sesmeiros (como o célebre Garcia d’Ávila, da Casa da Torre), que se apossavam de vastos territórios, invadindo terras ocupadas por indígenas e provocando vários conflitos.

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A designação “bárbaros” era dada pelos colonizadores e cronistas da época aos povos nativos que habitavam à região e ofereciam resistência à ocupação do território pelos portugueses. Essa terminologia etnocêntrica convinha ao discurso colonizador que propagava a catequese e a “civilização” dos povos indígenas nos moldes culturais do europeu ocidental. Eram descritos como povos selvagens, bestiais, infiéis, traiçoeiros, audaciosos, intrépidos, canibais, poligâmicos, enfim, “índios-problema”, pois não se deixavam evangelizar e civilizar. Eram, portanto, considerados os principais obstáculos à efetiva colonização.

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História – Guerra dos Bárbaros – Prof. Cássio Albernaz

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Essa imagem reforçou os argumentos do conquistador de impetrar uma “guerra justa” para extirpar os “maus” costumes nativos, satisfazendo tanto as necessidades de utilização de mão de obra pelos colonos quanto à garantia aos missionários do sucesso na imposição da catequese. O resultado foi a criação de dispositivos legais que legitimavam uma guerra de extermínio. É isso que nos confirma o documento datado de 1713, quando os povos nativos já estavam drasticamente reduzidos ou aprisionados e aldeados, no qual o governador de Pernambuco insiste ser “necessário continuar a guerra até extinguirem estes bárbaros de todo ou do menor ficarão reduzidos a tão pouco número que ainda que se queiram debelar o não possam fazer”.

Embora o resultado dessa guerra tenha sido catastrófica para os povos nativos da região, é importante destacar a sua tenaz resistência, que retardou o processo de conquista da terra pelos colonos nos sertões nordestinos por quase dois séculos. Os Tapuia desenvolveram uma forma de luta singular na história da resistência indígena no Brasil. Apesar de um passado caracterizado por conflitos internos entre as diversas tribos, esses povos conseguiram, através de uma série de alianças, alcançar um certo grau de coesão na sua luta contra o colonizador que desejava remover os habitantes indígenas da região para povoá-la de gado (foi o pastoreio que permitiu a ocupação econômica, pelos colonizadores, em todo o interior do Nordeste).

A partir do século XVII, a pecuária foi paulatinamente sendo levada para o interior da região, espalhando-se pelo agreste e alcançando o sertão. A criação de gado permitiu a ascensão econômica e social de alguns habitantes do local, e a Guerra dos Bárbaros tornou-se um meio para alcançar esse fim, pois, por seu intermédio, conquistava-se o direito a sesmarias, condição essencial para a montagem de uma fazenda de gado. A resistência indígena foi a maior barreira à expansão da pecuária, pois ela só se desenvolveu, ampliando o seu mercado, após o final do conflito, quando as terras estavam “limpas” dos indígenas.

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A LAVOURA AÇUCAREIRA E MÃO DE OBRA ESCRAVA

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Duarte Coelho tratou de instalar em Pernambuco os primeiros engenhos de açúcar da colônia, incentivando também o plantio do algodão. Tudo estava por fazer e o donatário organizou o tombamento de terras, a distribuição de justiça, o registro civil, a defesa contra os índios Caetés e Tabajaras. Ao falecer, em Lisboa, em 1554, legou aos filhos uma capitania florescente. O seu cunhado, Jerônimo de Albuquerque, em correspondência com a Coroa, pedia autorização para importar escravos africanos. Coube a Pernambuco o nada honrável título de primeiro porto brasileiro de desembarque de escravos africanos comercializados. Em 1546 já existiam 76 escravos na colônia.

Em Olinda, sede administrativa da capitania, se instalaram as autoridades civis e eclesiásticas, o Colégio dos Jesuítas, os principais conventos e o pequeno cais do Varadouro. Em fins do século XVI, cerca de 700 famílias ali residiam, sem contar os que viviam nos engenhos, que abrigavam de 20 a 30 moradores livres. O pequeno porto de Olinda era pouco significativo, sem profundidade para receber as grandes embarcações que cruzavam o Oceano Atlântico. Por sua vez, Recife, povoado chamado pelo primeiro donatário de "Arrecife dos navios", segundo a Carta de Foral passada a 12 de março de 1537, veio a ser o porto principal da capitania.

Em pouco tempo, a Capitania de Pernambuco se tornou a principal produtora de açúcar da colônia portuguesa. Consequentemente, era também a mais próspera e influente das capitanias hereditárias. O fato é que o início da produção de açúcar coincidiu com a chegada dos escravos africanos ao Brasil. Em 1590, eles já eram 36 mil escravos e depois passaram a ser usados, também, na lavoura do café, sendo submetidos às mais duras condições de trabalho.

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Surge em Pernambuco o protótipo da sociedade açucareira dos grandes latifundiários da cana-de-açúcar, que perdurará de forma majoritária nos dois séculos seguintes. O cultivo da cana-de-açúcar adaptou-se facilmente ao clima pernambucano e ao solo massapê. A maior proximidade geográfica de Portugal, barateando o custo do transporte, a abundância do pau-brasil, o cultivo do algodão e os grandes investimentos feitos pelo donatário na fundação de vilas e na pacificação dos índios são outros fatores que ajudam a explicar o progresso da capitania. Tal prosperidade, entretanto, transformou a capitania em um ponto cobiçado por piratas europeus. Já em 1595, o corsário inglês James Lancaster tomou de assalto o porto de Recife e passou a saquear as riquezas transportadas do interior. Partiu um mês depois, levando as pilhagens em quinze embarcações.

Era o engenho uma espécie de povoação rural, a exemplo da usina de açúcar dos dias atuais, que congregava não somente escravos mas artesãos dos mais diversos misteres, lavradores de canas vizinhos, moradores livres, agregados da casa-grande, padres e familiares do senhor de engenho, que vieram a tornar-se, no dizer de Stuart Schwartz, "espelhos e metáfora da sociedade brasileira".

Assinala Antonil (1711) servirem ao senhor-de-engenho, "além dos escravos de enxada e foice que tem nas fazendas e na moenda, e fora os mulatos e mulatas, negros e negras de casa ou ocupados em outras partes, barqueiros, canoeiros, calafates, carapinhas, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pescadores. Tem mais cada senhor destes necessariamente um mestre-de-açúcar, um banqueiro e um contra-banqueiro, um purgador, um caixeiro no engenho e outro na cidade, feitores nos partidos e roças, um feitor mor de engenho, para espiritual um sacerdote seu capelão, e cada qual destes oficiais tem soldada".

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História – Lavoura Açucareira e Mão de Obra Escrava – Prof. Cássio Albernaz

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Em Pernambuco, em carta escrita em 1539, dirigida ao rei D. João III, o donatário Duarte Co-elho Pereira solicita autorização para a importação direta da costa da Guiné de 24 negros, a cada ano, quantidade que seria aumentada por D. Catarina, em 1559, para 120, mediante o pagamento de uma taxa reduzida, nada impedindo que outros negros aqui chegassem por ou-tros caminhos. No testemunho dos jesuítas Antônio Pires (carta de 4 de junho de 1552) e José Anchieta (1548), era comum a existência de escravos negros e índios em Pernambuco; a escra-vidão dos índios durou até o século XVII, quando foi extinta pela Bula do Papa Urbano VIII, de 22 de abril de 1639.

Era tanta a importância do trabalho escravo que o padre Antônio Vieira, em carta dirigida ao Marquês de Niza, datada de 12 de agosto de 1648, chega a afirmar: Sem negros não há Per-nambuco!

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A GUERRA DOS MASCATES (1710 – 1711)

http://www.sohistoria.com.br/ef2/mascates/

A Guerra dos Mascates que se registrou de 1710 a 1711 na então Capitania de Pernambuco, é considerada como um movimento nativista pela historiografia em História do Brasil. Confron-taram-se os senhores de terras e de engenhos pernambucanos, concentrados em Olinda, e os comerciantes reinóis (portugueses da metrópole) do Recife, chamados pejorativamente de mascates. Quando houve as sedições entre os mascates europeus do Recife e a aristocracia rural de Olinda, os sectários dos mascates se apelidavam tundacumbe, cipós e camarões, e os nobres e seus sectários, pés rapados - porque quando haviam de tomar as armas, se punham logo descalços e à ligeira, para com menos embaraços as manejarem, e assim eram conhecidos como destros nelas, e muito valorosos, pelo que na história de Pernambuco, a alcunha de pés rapados é sinônimo de nobreza.

Com a expulsão dos holandeses do Nordeste, a economia açucareira sofreu uma grave crise. Mesmo assim, a aristocracia rural (senhores de engenho) de Olinda continuava controlando o poder político na capitania de Pernambuco. Por outro lado, Recife se descolava deste cenário de crise graças à intensa atividade econômica dos mascates (como eram chamados os comer-ciantes portugueses na região). Outra fonte de renda destes mascates eram os empréstimos, a juros altos, que faziam aos olindenses.

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Causas da Guerra dos Mascates:

• Disputa entre Olinda e Recife pelo controle do poder político em Pernambuco.

• Crise econômica na cidade de Olinda.

• Favorecimento da coroa portuguesa aos comerciantes de Recife.

• Forte sentimento antilusitano, principalmente entre a aristocracia rural de Olinda.

• Conquista da emancipação de Recife, através de Carta Régia de 1709, que passou a ser vila independente (criação da Câmara Municipal), conquistando autonomia política com rela-ção à Olinda. A aristocracia rural de Olinda temia que Recife, além de ser o centro econômi-co, passasse a ser também o centro político de Pernambuco.

Objetivos:

• Os olindenses queriam manter o controle político na região, sobretudo com relação à prós-pera cidade de Recife.

• Os olindenses queriam que a coroa portuguesa mantivesse Recife na condição de povoado.

• Os olindenses não queriam que a coroa portuguesa continuasse privilegiando os mascates (comerciantes de Recife). Logo, defendiam a igualdade de tratamento.

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História – Guerra dos Mascates – Prof. Cássio Albernaz

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Em 1710, havia um clima de hostilidades e tensão entre as duas cidades pernambucanas. Neste ano, os olindenses invadiram Recife dando início a Guerra dos Mascates. Num primeiro mo-mento da guerra, os olindenses levaram vantagem, porém, em 1711 os recifenses (mascates) se organizaram e invadiram Olinda, destruindo vilas e engenhos na cidade. Depois de muita luta, que contou com a intervenção das autoridades coloniais, finalmente em 1711 a nomeação de um novo governante que teve como principal missão estabelecer um ponto final ao conflito.

O escolhido para essa tarefa foi Félix José de Mendonça, que apoiou os mascates portugueses e estipulou a prisão de todos os latifundiários olindenses envolvidos com a guerra. Além disso, vi-sando evitar futuros conflitos, o novo governador de Pernambuco decidiu transferir semestral-mente a administração para cada uma das cidades. Dessa maneira, não haveria razões para que uma cidade fosse politicamente favorecida por Félix José, desta forma, Recife foi equiparada a Olinda e assim terminou a Guerra dos Mascates.

Consequências:

• O governador de Pernambuco ordenou a prisão dos principais líderes do movimento.

• A autonomia de Recife permaneceu após o conflito.

• Em 1712, Recife tornou-se a sede administrativa de Pernambuco.

Em 1714, o rei D. João V, resolveu anistiar todos os envolvidos nessa disputa, manteve as prer-rogativas político- administrativas de Recife e promoveu a cidade ao posto de capital do Per-nambuco.

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AS INSTITUIÇÕES ECLESIÁSTICAS

As instituições eclesiásticas e a sociedade colonial;

(Convento de São Francisco, convento franciscano mais antigo do Brasil, localizado em Olinda.)

O catolicismo foi trazido por missionários que acompanharam os exploradores e colonizadores portugueses. Na época, o estado controlava a atividade eclesiástica. Sustentava a igreja, nome-ava bispos e párocos e concedia licenças.

"A própria chegada dos portugueses é uma chegada acompanhada de um evento religioso. Os portugueses que vêm pra cá, eles não vêm apenas com interesse político, interesse econômico, há o interesse de evangelizar, expandir a fé católica. Não é à toa que uma das imagens mais importantes na esquadra de Cabral, logo quando Cabral vem aqui ao Brasil é a celebração da nossa primeira missa". (Lula Couto, professor de história do Brasil).

O Estado português promoveu a vinda de ordens religiosas para tomar a seu cargo a “conversão” dos indígenas e sua integração na formação social senhorial, assim como dar assistência religiosa aos colonos. As quatro ordens religiosas (clero regular) que formam a “coluna vertebral” do apa-relho eclesiástico brasileiro colonial eram jesuítas, beneditinos, franciscanos e carmelitas.

Essas ordens fundam conventos, de onde saem seus membros para catequizar indígenas, assis-tir aos colonos, etc. Também criam e mantém Seminários, importantes centros de formação do clero, destacando-se os colégios dos jesuítas.

Os primeiros jesuítas chegam ao Brasil em 1549, junto com o primeiro governador-geral, Tomé de Souza. Em Pernambuco, assim como em outras regiões, fundarão colégios, pois o governo metropolitano a eles confiara o ensino público na colônia. Serão expulsos do Brasil em meados do século XVIII, por ordem do Marques de Pombal.

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Ao contrário do clero secular, dependente do estado, o clero regular (ordens) possuíam dotação orçamentária própria, e, com isso, grande autonomia. Pela proximidade com a população, era comum heranças e doações particulares aos conventos, o que concorreu para a formação de grandes patrimônios.

Em fins do século XVI (1593-1595), O Tribunal do santo Ofício (Inquisição) visita Pernambuco.

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A diocese de Pernambuco só será fundada em 1676 (até então, só existia a diocese da Bahia), vinculando as riquezas dos dízimos à jurisdição da Coroa. Isso se justificava pelo crescimento tanto populacional quanto econômico da Capitania. Por disputas entre a Coroa e Roma, a Diocese de Olinda ficou vaga por 10 anos no início do século XVIII. Além disso, uma importante recomendação da Igreja de Roma demorou a ser cumprida em Pernambuco: a cada diocese criada, um seminário para a formação de sacerdotes deveria ser imediatamente criado. Na Capitania, só em meados d século XVIII isso ocorreu.

A construção do famoso Seminário de Olinda, teve a intenção de promover, além da formação téo-filosófica, a “regeneração moral e alevantamento espiritual do clero”, o que parece não ter surtido resultados ao nível da Capitania de Pernambuco, o que evidencia a falta de interesse por parte do Estado e da classe senhorial local, em promover as reformas necessárias a uma melhor organização do aparelho eclesiástico, garantindo-se que a população respeitasse o discurso da Igreja, de reforço ao código moral tradicional, a religião do estado e suas autoridades, não havia porque reformar este aparelho.

A sociedade da região açucareira dos séculos XVI e XVII era composta, basicamente, por dois grupos. O dos proprietários de escravos e de terras compreendia os senhores de engenho e os plantadores independentes de cana. Estes não possuíam recursos para montar um engenho para moer a sua cana e, para tal, usavam os dos senhores de engenho. O outro grupo era formado pelos escravos, numericamente muito maior, porém quase sem direito algum. Entre esses dois grupos existia uma faixa intermediária: pessoas que serviam aos interesses dos senhores como os trabalhadores assalariados (feitores, mestres-de-açúcar, artesãos) e os agregados (moradores do engenho que prestavam serviços em troca de proteção e auxílio). Ao lado desses colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos, funcionários e comerciantes.

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História – As Instituições Eclesiástica – Prof. Cássio Albernaz

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A sociedade açucareira era patriarcal. A maior parte dos poderes se concentrava nas mãos do senhor de engenho. Com autoridade absoluta, submetia todos ao seu poder: mulher, filhos, agregados e qualquer um que habitasse seus domínios. Cabia-lhe dar proteção à família, recebendo, em troca, lealdade e deferência. Essa família podia incluir parentes distantes, de status social inferior, filhos adotivos e filhos ilegítimos reconhecidos. Seu poder extrapolava os limites de suas terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a vida colonial. A casa grande foi o símbolo desse tipo de organização familiar implantado na sociedade colonial. Para o núcleo doméstico convergia a vida econômica, social e política da época.

A posse de escravos e de terras determinava o lugar ocupado na sociedade do açúcar. Os se-nhores de engenho detinham posição mais vantajosa. Possuíam, além de escravos e terras, o engenho. Abaixo deles situavam-se os agricultores que possuíam a terra em que trabalhavam, adquirida por concessão ou compra. Em termos sociais podiam ser identificados como senho-res de engenho em potencial, possuindo terra, escravos, bois e outros bens, menos o engenho. Compartilhavam com eles as mesmas origens sociais e as mesmas aspirações.

O fato de serem proprietários independentes permitia-lhes considerável flexibilidade nas negocia-ções da moagem da cana com os senhores de engenho. Eram uma espécie de elite entre os agricul-tores, apesar de haver entre eles um grupo que tinha condições e recursos bem mais modestos.

Esses dois grupos - senhores de engenho e agricultores -, unidos pelo interesse e pela dependência em relação ao mercado internacional, formaram o setor açucareiro. Os interesses comuns, porém, não asseguravam a ausência de conflitos no relacionamento. Os senhores de engenho consideravam os agricultores seus subalternos, que lhes deviam não só cana - de - açúcar, mas também respeito e lealdade. As esposas dos senhores de engenho seguiam

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o exemplo, tratando como criadas as esposas dos agricultores. Com o tempo, esse grupo de plantadores independentes de cana foi desaparecendo, devido à dependência em relação aos senhores de engenho e às dívidas acumuladas. Essa situação provocou a concentração da propriedade e a diminuição do número de agricultores.

Existiam também os lavradores, que não possuíam terras, somente escravos. Recorriam a alguma forma de arrendamento de terras dos engenhos para plantar a cana. Esse contrato impunha-lhes um pesado ônus, pois em cada safra cabia-lhes, apenas, uma pequena parcela do açúcar produzido. Esses homens tornaram-se fundamentais à produção do açúcar. O senhor de engenho deixava em suas mãos toda a responsabilidade pelo cultivo da cana, assumindo somente a parte do beneficiamento do açúcar, muito mais lucrativa.

Nesta época, o termo "lavrador de cana" designava qualquer pessoa que praticasse a agricultura, podendo ser usado tanto para o mais humilde dos lavradores como para um grande senhor de engenho, conforme explica o historiador americano Stuart Schwartz.

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História

SOCIEDADE COLONIAL

A Capitania de Pernambuco

(A Capitania de Pernambuco abrangia os atuais estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e a porção ocidental da Bahia, chegando ao noroeste mineiro e nordeste goiano.

Pernambuco foi a Capitania mais rica do Brasil Colônia)

A Capitania de Pernambuco ou Nova Lusitânia foi uma das subdivisões do território brasileiro no período colonial. Abrangeu os territórios dos atuais estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e a porção ocidental da Bahia, possuindo, deste modo, fronteira ao sul/sudoeste com Minas Gerais (o extremo noroeste de Minas era a parte final da comarca do São Francisco: a capitania/província de Pernambuco avançava um pouco mais adentro do território norte/noroeste-mineiro do que a Bahia). No início do século XVII, a Capitania de Pernambuco chegou a atingir o posto de maior e mais rica área de produção de açúcar do mundo.

Em 1501, ano seguinte ao da chegada dos portugueses ao Brasil, o território de Pernambuco, definido pelo Tratado de Tordesilhas como região pertencente à América portuguesa, é explorado pela expedição de Gaspar de Lemos, que teria criado feitorias ao longo da costa da colônia, incluindo, possivelmente na atual localidade de Igarassu, cuja defesa seria futuramente confiada a Cristóvão Jacques.

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O povoamento efetivo de Pernambuco, entretanto, inicia-se em 1534, quando a colônia portu-guesa é dividida em capitanias hereditárias. O território do atual estado de Pernambuco equi-vale a parte da Capitania de Pernambuco, doada a Duarte Coelho, e parte da Capitania de Ita-maracá, doada a Pero Lopes de Sousa.

De acordo com a Carta de Doação passada por D. João III a 10 de março de 1534, o capitão donatário de Pernambuco foi Duarte Coelho Pereira, fidalgo que se destacara nas campanhas portuguesas na Índia. A capitania se estendia entre o rio São Francisco e o rio Igaraçu, compre-endendo:

“Sessenta léguas de terra (…) as quais começarão no rio São Francisco (…) e acabarão no rio que cerca em redondo toda a Ilha de Itamaracá, ao qual ora novamente ponho nome rio [de] Santa Cruz (…) e ficará com o dito Duarte Coelho a terra da banda Sul, e o dito rio onde Cristó-vão Jacques fez a primeira casa de minha feitoria e a cinqüenta passos da dita casa da feitoria pelo rio adentro ao longo da praia se porá um padrão de minhas armas, e do dito padrão se lançará uma linha ao Oeste pela terra firme adentro e a terra da dita linha para o Sul será do dito Duarte Coelho, e do dito padrão pelo rio abaixo para a barra e mar, ficará assim mesmo com ele Duarte Coelho a metade do dito rio de Santa Cruz para a banda do Sul e assim entrará na dita terra e demarcação dela todo o dito Rio de São Francisco e a metade do Rio de Santa Cruz pela demarcação sobredita, pelos quais rios ele dará serventia aos vizinhos dele, de uma parte e da outra, e havendo na fronteira da dita demarcação algumas ilhas, hei por bem que sejam do dito Duarte Coelho, e anexar a esta sua capitania sendo as tais ilhas até dez léguas ao mar na fronteira da dita demarcação pela linha Leste, a qual linha se estenderá do meio da bar-ra do dito Rio de Santa Cruz, cortando de largo ao longo da costa, e entrarão na mesma largura pelo sertão e terra firme adentro, tanto, quanto poderem entrar e for de minha conquista. (…).” (Carta de Doação)

Ao receber a doação, Duarte Coelho Pereira partiu para o Brasil com a esposa, filhos e muitos parentes. Ao chegar ao seu lote, fixou-se numa colina, construindo uma fortificação (o Castelo de Duarte Pereira), uma capela e moradias para si e para os colonos: seria o embrião de Olinda, constituída vila em 1537.

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História

INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA (1645 – 1654)

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Nove anos após a expulsão dos franceses, o território colonial brasileiro sofreu uma invasão holandesa, em 1624. Os motivos que traziam os holandeses ao Brasil eram muito diferentes. Para compreendê-los, é necessário fazer algumas considerações sobre o período em que Portugal (União Ibérica) esteve sob o domínio espanhol, bem como sobre as relações internacionais da Espanha.

Após ter emergido como potência europeia, a Espanha perseguiu o objetivo de unificar toda a península ibérica, incorporando Portugal ao seu território. Os portugueses resistiram enquanto puderam. Mas, no século 16, alguns acontecimentos contribuíram para a Espanha concretizar seus objetivos.

Em 1578, o rei dom Sebastião, último monarca da dinastia de Avis, morreu e não deixou herdeiros. Então, o cardeal dom Henrique, único sobrevivente masculino da linhagem de Avis, assumiu a regência. Com sua morte, em 1580, o rei da Espanha, Felipe 2º; da mesma linhagem familiar, achou-se no direito de ocupar o trono português e invadiu Portugal. O domínio espanhol sobre Portugal duraria 60 anos, até 1640.

Contudo, antes disso, Portugal já havia estabelecido relações comerciais com os ricos negociantes holandeses, que passaram a financiar a produção açucareira no Brasil e a controlar toda a sua comercialização no mercado europeu. Por outro lado, no mesmo período, a Espanha pretendia dominar todo o território dos Países Baixos, na qual a Holanda estava situada, pois a circulação de mercadorias naquela região contribuía significativamente para abastecer os cofres do tesouro espanhol.

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Não obstante, em 1581, sete províncias do Norte dos Países Baixos, incluindo a Holanda, criaram a República das Províncias Unidas e passaram a lutar por sua autonomia em relação aos espanhóis. Ao incorporar Portugal, aproveitando-se do seu controle sobre o Brasil, a Espanha planejou impedir que os holandeses continuassem a comercializar o açúcar brasileiro. Era uma tentativa de sufocar economicamente a Holanda e impedir sua independência.

Os holandeses reagiram rapidamente, concentrando seus esforços no controle das fontes dos produtos que negociavam. Surgiu assim, em 1602, a Companhia das Índias Orientais. Essa empresa, de porte enorme, se apossou dos domínios coloniais portugueses no Oriente. Em decorrência dos êxitos desse empreendimento, os holandeses criaram, em 1621, a Companhia das Índias Ocidentais. Esta ficou encarregada de recuperar o controle do açúcar brasileiro e monopolizar o seu comércio nos mercados europeus.

Para controlar a produção e comercialização do açúcar era necessário ocupar e se apoderar de partes do território colonial brasileiro onde ele era produzido. Desse modo, contando com uma frota composta de 26 navios e 500 canhões, os holandeses iniciaram sua primeira invasão do Brasil em 1624. Atacaram a cidade de Salvador, na época o centro administrativo da colônia. Mas, um ano após terem chegado, foram expulsos, sem grandes dificuldades.

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A segunda invasão holandesa ocorreu em Pernambuco, ("Zuickerland" = terra do açúcar) em 1630, sob o comando de Hendrick Coenelizoon Lonck; o desembarque ocorreu em Pau Amarelo.

A resistência foi organizada por Matias de Albuquerque, governador de Pernambuco, que fundou o Arraial do Bom Jesus. Em 1631 ocorreu a batalha dos Abrolhos entre a esquadra de D. Antônio de Oquendo (espanhola) e a esquadra do Almirante holandês Jansen Pater. Em 1632 ocorreu a deserção de Domingos Fernandes Calabar, contribuindo decisivamente para que os holandeses se fixassem no Nordeste.

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História – Insurreição Pernambucana – Prof. Cássio Albernaz

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Os holandeses ocuparam novos territórios (Itamaracá, Rio Grande do Norte, Paraíba) e tomaram o Arraial do Bom Jesus. Em Porto Calvo, Calabar foi preso e enforcado. Matias de Albuquerque foi substituído por D. Luís de Rojas e Borba, que depois morreu no combate de Mata Redonda frente aos holandeses; seu substituto foi o Conde Bagnoli.

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Para governar o "Brasil Holandês", foi nomeado o Conde Maurício de Nassau, que além de estender o domínio holandês (do Maranhão até Sergipe, no rio São Francisco) realizou uma excelente administração:

• fez uma política de aproximação com os senhores-de-engenho;

• incrementou a produção açucareira;

• concedeu tolerância religiosa;

• trouxe artistas e cientistas como Franz Post (pintor) Jorge Markgraf (botânico), Pieter Post (arquiteto), nomes ligados ao movimento renascentista flamengo;

• promoveu o embelezamento da cidade de Recife, onde surgiu a "Mauricéia", na ilha de Antônio Vaz.

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A Insurreição Pernambucana (ou Guerra da Luz Divina) representou uma ação de confronto com os holandeses por parte dos portugueses, comandados principalmente por João Fernandes Vieira, um próspero senhor de engenho de Pernambuco. Em 15 de maio de 1645, reunidos no Engenho de São João, 18 líderes insurretos pernambucanos assinaram compromisso para lutar contra o domínio holandês na capitania. O movimento integrou forças lideradas por André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Henrique Dias e Felipe Camarão, nas célebres Batalhas dos Guararapes, travadas entre 1648 e 1649, que determinaram a expulsão dos holandeses do Brasil. Nessa luta contra os holandeses, os portugueses contaram com o importante auxílio de alguns africanos libertos e também de índios potiguares.

Batalha dos Guararapes (óleo sobre tela por Victor Meirelles, 1879).

https://pt.wikipedia.org/wiki/Insurrei%C3%A7%C3%A3o_Pernambucana#/media/File:Victor_Meirelles_-_%27Battle_of_Guararapes%27,_1879,_oil_on_canvas,_Museu_Nacional_de_Belas_Artes,_Rio_de_Janeiro_2.jpg

A oposição dos portugueses aos holandeses ocorreu em decorrência da intensificação da co-brança de impostos e também da cobrança dos empréstimos realizados pelos senhores de en-genho de origem portuguesa com os banqueiros holandeses e com a Companhia das Índias Ocidentais, empresa que administrava as possessões holandesas fora da Europa.

Outro fato que acirrou a rivalidade entre portugueses e holandeses foi a questão religiosa. Boa parte dos holandeses que estava na região de Recife e Olinda era formada por judeus ou pro-testantes. Nesse contexto religioso que trazia as consequências da Reforma e da Contrarrefor-ma para solo americano, o catolicismo professado pelos portugueses era mais um elemento de estímulo para expulsar os holandeses do local.

Os conflitos iniciaram-se em maio de 1645, após o regresso de Maurício de Nassau à Holanda. As tropas comandadas por João Fernandes Vieira receberam o apoio de Antônio Felipe Ca-marão, índio potiguar conhecido como Poti que auxiliou no combate aos holandeses junto a centenas de índios sob seu comando. Outro auxílio recebido veio do africano liberto Henrique Dias. A Batalha do Monte Tabocas foi o principal enfrentamento ocorrido nesse início da In-surreição. Os portugueses conseguiram infligir uma retumbante derrota aos holandeses, ga-rantindo uma elevação da moral para a continuidade dos conflitos. Além disso, os insurrectos receberam apoio de tropas vindas principalmente da Bahia.

Outro componente envolvido na Insurreição Pernambucana estava ligado às disputas que havia entre vários países europeus à época. Durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), os espa-nhóis estavam em confronto com os holandeses pelos territórios dos Países Baixos. Era ainda o período da União Ibérica, em que o Reino Português estava subjugado ao Reino Espanhol.

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História – Insurreição Pernambucana – Prof. Cássio Albernaz

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Nesse sentido, a posição holandesa em relação a Portugal era dúbia. Em solo europeu, os holan-deses apoiavam os portugueses contra o domínio espanhol, mas, ao mesmo tempo, ocupavam territórios portugueses na África Ocidental e no Brasil, sendo que além da região pernambucana, os holandeses tentaram ainda conquistar algumas localidades no Maranhão e em Sergipe.

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No início de 1648, Holanda e Espanha selaram a paz, e os espanhóis aceitaram entregar aos holandeses as terras tomadas pelos insurrectos portugueses em Pernambuco. Frente a tal situ-ação, o conflito continuou. Em Abril de 1648, ocorreu a primeira Batalha dos Guararapes, em que os holandeses sofreram dura derrota, abrindo caminho para o ressurgimento do domínio português a partir de 1654.

A derrota da Holanda somente aconteceu no ano de 1654, quando despertavam-se os sentimentos nativistas. Entre as principais consequências dessa insurreição, temos a colonização das Antilhas, que fizeram com que a Holanda aumentasse sua produção de açúcar com técnicas mais avançadas que geraram uma decadência na produção desse produto no nordeste do Brasil. Além disso, houve ainda o acordo conhecido como Tratado de Paz de Haia, firmado no ano de 1661 entre Portugal e Holanda. Com esse acordo, ficou determinado que os holandeses receberiam uma indenização de 4 milhões de cruzados e as Ilhas Molucas e do Ceilão como uma forma de indenização.

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História

PERNAMBUCO NO CONTEXTO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

A Província de Pernambuco no I e II Reinado

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No início do século XIX, uma grande mudança política aconteceu no Brasil: a transferência da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, em função da ocupação francesa de Portugal. Isso provocou uma grande alteração no status da colônia (primeira e única vez na história em que a sede da metrópole transfere-se para a colônia), além de mudanças econômicas e sociais.

A chamada Revolução Pernambucana, também conhecida como Revolução dos Padres, foi um movimento emancipacionista que eclodiu em 6 de março de 1817, na então Capitania de Pernambuco, no Brasil. Dentre as suas causas, destacam-se a influência das ideias Iluministas propagadas pelas sociedades maçônicas (sociedades secretas), a crise econômica regional, o absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e seu séquito recém-chegados ao Brasil — o Governo de Pernambuco era obrigado a enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear salários, comidas, roupas e festas da Corte, o que ocasionava o atraso no pagamento dos soldados, gerando grande descontentamento do povo brasileiro. Foi o único movimento separatista do período colonial que ultrapassou a fase conspiratória e atingiu o processo revolucionário de tomada do poder.

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No começo do século XIX, Olinda e Recife, as duas maiores cidades pernambucanas, tinham juntas cerca de 40 mil habitantes (o Rio de Janeiro, capital da colônia, possuía 60 mil habitantes). O porto do Recife escoava a produção de açúcar, das centenas de engenhos da Zona da Mata, e de algodão. Além de sua importância econômica e política, os pernambucanos tinham participado de diversas lutas libertárias (Insurreição Pernambucana e Guerra dos Mascates).

As ideias liberais que entravam no Brasil junto com os viajantes estrangeiros e por meio de livros e de outras publicações, incentivavam o sentimento de revolta entre a elite pernambu-cana, que participava ativamente, desde o fim do século XVIII, de sociedades secretas, como as lojas maçônicas. Em Pernambuco as principais foram o Areópago de Itambé, a Patriotismo, a Restauração, a Pernambuco do Oriente e a Pernambuco do Ocidente, que serviam como locais de discussão e difusão das "infames ideias francesas". Nas sociedades secretas, reuniam-se in-telectuais religiosos e militares, para elaborar planos para a revolução.

A fundação do Seminário de Olinda, filiado a ideias iluministas, deve ser levado em conside-ração. Não é por outro motivo que o levante ficaria conhecido como "revolução dos padres", dada a participação do clero católico. Frei Caneca tornar-se-ia um símbolo disso.

Dentre as causas imediatas, podemos destacar a presença maciça de portugueses na liderança do governo e na administração pública; a criação de novos impostos por Dom João VI pro-vocando a insatisfação da população pernambucana. Segundo escritor inglês então residente no Recife, era grande a insatisfação local ante a obrigatoriedade de se pagar impostos para a manutenção da iluminação pública do Rio de Janeiro, enquanto no Recife era praticamente inexistente a dita iluminação; a grande seca que havia atingido a região em 1816 acentuando a fome e a miséria, como consequência, houve uma queda na produção do açúcar e do algodão,

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História – Pernambuco no Contexto da Independência do Brasil – Prof. Cássio Albernaz

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que sustentavam a economia de Pernambuco, esses produtos começaram a sofrer concorrên-cia do algodão nos Estados Unidos e do açúcar na Jamaica; as influências externas com a divul-gação das ideias liberais e iluministas, que estimularam as camadas populares de Pernambuco na organização do movimento de 1817; a crescente pressão dos abolicionistas na Europa vinha criando restrições gradativas ao tráfico de escravos, que se tornavam mão de obra cada vez mais cara, já que a escravidão era o motor de toda a economia agrária pernambucana. O movi-mento queria a Independência de Pernambuco sob um regime republicano.

O movimento foi liderado por Domingos José Martins, com o apoio de Antônio Carlos de An-drada e Silva e de Frei Caneca. Tendo conseguido dominar o Governo Provincial, se apossaram do tesouro da província, instalaram um governo provisório e proclamaram a República. Mas as tentativas de obter apoio das províncias vizinhas fracassaram.

Tropas enviadas da Bahia, chefiadas por Luís do Rego Barreto, avançaram pelo sertão pernam-bucano, enquanto uma força naval, despachada do Rio de Janeiro, bloqueou o porto do Recife. Em poucos dias 8000 homens cercavam a província. No interior, a batalha decisiva foi travada na localidade de Ipojuca. Derrotados, os revolucionários tiveram de recuar em direção ao Reci-fe. Em 19 de maio as tropas portuguesas entraram no Recife e encontraram a cidade abando-nada e sem defesa. O governo provisório, isolado, se rendeu no dia seguinte.

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Dominada a revolução, foi desmembrada de Pernambuco, com sanção de João VI de Portugal, a comarca de Alagoas, cujos proprietários rurais haviam se mantido fiéis à Coroa, e como recom-pensa, puderam formar uma província independente. Apesar de sentenças severas, um ano depois todos os revoltosos foram anistiados, e apenas quatro haviam sido executados.

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Em 1818, D. João é proclamado rei (passa a ser D. João VI), em decorrência da morte de sua mãe. Porém o rei permanece no Brasil, deixando o comando de Portugal nas mãos de um general inglês, responsável pela expulsão dos franceses. Essa submissão revolta os portugueses, que em 1820 rebelam-se (Revolução do Porto). As lideranças do movimento constituem um governo provisório e convocam as Cortes, para votar uma Constituição e criar a monarquia constitucional. Diante de tais acontecimentos, D. João VI é obrigado a voltar para Portugal (em 1821).

O rei deixa seu filho, D. Pedro, como príncipe regente. Porém, as Cortes de Lisboa pretendiam “recolonizar” O Brasil, por ser a única colônia que ainda gerava lucros. Por isso, passaram a restringir a autonomia administrativa e os poderes de D. Pedro, além de exigirem o retorno do príncipe a Portugal.

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Muitos latifundiários e comerciantes brasileiros sentem-se prejudicados, e passam a apoiar a desobediência de D. Pedro. Surge o Partido Brasileiro, que tem dentre seus membros, Cipria-no Barata, grande nome envolvido na Insurreição Pernambucana. Um documento elaborado pelo partido reúne mais de 8 mil assinaturas pedindo a permanência de D. Pedro, que gerou o famoso dia do fico (9 de janeiro de 1822) e a determinação de que ordens vindas de Portugal só seriam acatadas mediante sua autorização.

Na sequencia, uma série de medidas adotadas por D. Pedro desagradaram a metrópole e pre-pararam o caminho para a Independência (convocação de uma Assembleia Constituinte, or-ganização de uma Marinha de Guerra, além de obrigar as tropas portuguesas a irem embora). Em 7 de setembro há o famoso Grito do Ipiranga e em 22 de dezembro do mesmo ano, ele é declarado Imperador.

Durante o processo de independência, em Pernambuco, duas alianças se formavam e disputa-vam o poder: centralistas e federalistas. Da disputa pelo poder, resultou a vitória daquela que viria a ser liderada pelos irmãos Cavalcanti de Albuquerque (centralistas), cuja influência foi tal que, na década de 1840, dizia-se que a província se tornara um feudo daquela família, resultan-do daí o citadíssimo soneto, cantarolado na época da Praieira (1848): "Quem viver em Pernam-buco, há de estar desenganado; ou há de ser Cavalcanti, ou há de ser cavalgado".

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História – Pernambuco no Contexto da Independência do Brasil – Prof. Cássio Albernaz

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O processo de maturação e disputa das alianças políticas em Pernambuco teve paralelos em várias outras províncias, onde não era certa a continuação da obediência ao Rio de Janeiro, de onde vinham as ordens desde 1808. O federalismo era uma bandeira extremamente atraente para vários setores das elites locais, que ficaram encantadas com a autorização das cortes revolucionárias em Portugal para que elegessem suas próprias juntas governativas. Esse arremedo de governo local, com o pleno controle das rendas internas das ex-capitanias, era parte da agenda dos liberais "moderados" federalistas.

A revolução do Porto desatou os elos entre as partes constituintes do reino. Em cada uma das províncias havia disputas locais para a formação das juntas governativas. Mas a autonomia fôra concedida pelas cortes reunidas em Portugal. Assim, a liderança carioca passou a ser vista com extrema desconfiança nas antigas capitanias.

A adesão de Pernambuco ao Rio de Janeiro, sob um regime monárquico autoritário, foi conseguida através de um golpe de Estado, urdido com o aval dos Andrada e apoio das tropas do exército. Ali o desejo por maior autonomia, e até separação, já era antigo entre muitos letrados e liberais mais "exaltados". Mas isso não significava aderir ao Rio de Janeiro. Muito pelo contrário. Veio de lá a repressão a 1817, quando as tropas fiéis à Sua Majestade fidelíssima chegaram ao cúmulo de executar até padres. Vista sob este prisma, a Confederação do Equador pode ser entendida como uma radicalização tardia de uma proposta federalista moderada, cujos defensores estiveram no poder em Pernambuco quando governou a província a primeira junta de governo entre 1821 e 1822, eleita de acordo com as provisões exaradas pelas cortes constitucionais do Porto.

Mesmo admitindo-se que a maioria das elites locais era favorável à separação de Portugal (uma proposta no mínimo discutível), não há porque pensar que a alternativa preferida fosse a constituição de um novo país tendo Pedro como Imperador. Havia um verdadeiro descompasso entre a posição do Rio e de algumas capitanias mais antigas, como Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Pará.

O resultado prático mais imediato da revolução do Porto foi a demissão dos governadores provinciais, nomeados pelo rei, e a formação de Juntas Provisórias de governo, eleitas pelas Câmaras. As províncias ganharam mais autonomia do que tinham antes, ou mesmo do que viriam a ter durante o resto do período imperial. O governo local foi de fato exercido durante este curto período, entre 1821 e 1822. Não é difícil compreender, portanto, porque houve gente que preferia a manutenção dessa situação à aventura da independência a qualquer custo, muito menos a reboque da nova corte que se constituía em torno do príncipe regente.

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O último governador régio de Pernambuco foi o General Luís do Rego. Provado nos campos de batalha contra Napoleão, era um homem talhado para segurar as rédeas de uma província saída de uma revolta das dimensões de 1817. Como seria de se esperar de um militar experiente, acompanhou com desconfiança e cautela o desenrolar dos acontecimentos em Portugal e no Rio. Os liberais só entraram num clima de euforia a partir do dia 06 de maio de 1821, quando desembarcaram, anistiados, os rebeldes que haviam sido presos em 1817. A maioria deles, todavia, preferiu se instalar na vila de Goiana, perto da fronteira com a Paraíba, do que ficar bem vigiada pelo General no eixo Recife-Olinda. A constituição portuguesa foi jurada no Rio de Janeiro no dia 21 de abril. Mas Luís do Rego só fez o mesmo em Pernambuco no dia 11 de julho.

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Era grande a pressão sofrida pelo governador. As cortes o viam como um representante do Ancién Regime, embora se entendesse a situação peculiar de Pernambuco que precisava de um laço forte, haja vista o que acontecera quatro anos antes. A aristocracia agrária pernambucana, por sua vez, pretendia formar uma junta de governo local, como em outras províncias. Controlando de perto as Câmaras de Recife e Olinda, Luís do Rego procedeu à eleição dos 07 representantes de Pernambuco às cortes, o que deixou profundamente insatisfeita a oposição local. Foi em meio a rumores de todos os tipos que um tresloucado personagem, desses que aparecem de vez em quando para turvar um pouco mais os rumos do mundo, tocaiou e atirou em Luís do Rego no dia 21 de julho. Ninguém nunca soube suas reais motivações, embora de tudo já tenham dito um pouco os cronistas locais ufanistas. Herói, ou maluco simplesmente, na fuga, o infeliz personagem morreu afogado. Mas Luís do Rego fôra ferido. Sem saúde, era mais difícil manter a firmeza de antes. No dia 30 de agosto de 1821, obedecendo às novas diretrizes, o General formou a sua própria junta de governo, e anunciou a medida às outras províncias. Colocou então o cargo à disposição, mas não houve quem assumisse o seu lugar.

Um dia antes, em 29 de agosto, militares, milicianos, plantadores e ex-rebeldes de 1817 mobilizaram-se em Goiana, formando uma outra junta provisória. A "junta de Goiana" enviou um ultimato ao governador no dia 1º de setembro de 1821, ameaçando tomar o Recife, caso o general não entregasse o cargo. Ao contrário do que se poderia esperar de um general bem treinado, Luís do Rego mostrou moderação nesse momento. Ao enviar tropas para investigar o que ocorria em Goiana, deixou claro ao comandante que a sua missão era de paz e não de guerra.

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História – Pernambuco no Contexto da Independência do Brasil – Prof. Cássio Albernaz

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Os membros da Junta de Goiana começaram a ser tratados como rebeldes. Como sempre acontecia no Brasil escravista, temia-se também que a oportunidade fosse aproveitada pelos negros e pardos para uma insurreição mais ampla. Luís do Rego acusou a Junta de Goiana de armar negros nos subúrbios e insuflá-los contra os habitantes do Recife. No dia 21 de setembro de 1821, houve refregas entre as forças de ambas as Juntas. Uma ao norte, em Olinda, outra em Afogados, ao sul do Recife. As escaramuças repetiram-se no dia 1º de outubro. Luís do Rego acusava os anistiados de 1817 pela agitação.

https://tokdehistoria.com.br/tag/seculo-xix/

Com a província quase em guerra, resolveram dialogar. No dia 05 de outubro de 1821, reuni-ram-se os representantes da Junta de Goiana e do General português na povoação de Beberi-be, na saída para o interior, entre Recife e Olinda. Chegaram a um acordo. A cidade do Recife ficaria com o governador. O resto com a Junta de Goiana. Isso até a eleição de uma nova Junta, conforme as instruções que se esperava de Portugal. É relevante notar, que o "procurador" do Recife nessa reunião foi Gervásio Pires, comerciante de grosso trato, senhor de engenho, e um dos rebeldes de 1817 anistiados. Quem o acompanhava na empreitada era um outro ex-rebel-de de 1817, Luís Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque - um dos irmãos Cavalcanti: o mais brilhante deles, diria anos depois o Marquês de Paraná.

No dia 26 de outubro de 1821, formava-se então a primeira Junta de Governo de Pernambuco. À frente dela estava eleito o próprio Gervásio Pires, o homem que intermediara a negociação entre o governador português e os liberais mais exaltados de Goiana. Com o afastamento do governador português, as disputas internas entre as elites locais tornaram-se mais claras. Dei-xando de lado os "pés de chumbo", sempre opostos à chamada "causa do Brasil", os liberais radicais republicanos, e os negros que queriam haitianizar a América portuguesa, pode-se per-ceber a paulatina cristalização de duas tendências principais entre as elites locais.

Uma delas, melhor articulada com o projeto urdido no Rio de Janeiro, era favorável à união das províncias sob a liderança do príncipe regente. Chamaremos essa tendência de centralista, termo emprestado da historiografia sobre o liberalismo na América Latina muito apropriado quando se olha a construção do Estado nacional de fora do eixo das províncias do sudeste que viriam a deter a hegemonia política a partir do primeiro reinado. Essa tendência congregava muita gente da antiga aristocracia açucareira, e viria a ser liderada pelo Morgado do Cabo, su-cedido pelos irmãos Cavalcanti.

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A outra tendência era a federalista: tanto fazia a sede do reino ser no Rio como em Lisboa - ou até nos dois lugares - desde que fosse mantida a autonomia provincial, conquistada com a Re-volução do Porto. Essa segunda tendência era liderada por Gervásio Pires, que assumiu o go-verno provincial em outubro de 1821.

Vale salientar que essas duas facções obviamente não eram partidos pré-concebidos e coesos.

O grupo centralista, favorável à união das províncias em torno do projeto de José Bonifácio, juntava uma boa parte da aristocracia agrária mais antiga e muitos dos comerciantes de grosso trato bem estabelecidos. Sob o ponto de vista econômico e político, iriam se aliar à corte no Rio de Janeiro justamente por terem se beneficiado do sistema vigente direta ou indiretamente, afinal de contas o sistema colonial não teria durado tanto sem a ajuda de uma oligarquia local, que ganhava dinheiro, poder e status com o regime. Essa elite pagava um preço pelos limites impostos à expansão de seus negócios de exportação. Mas, em troca, ganhava a garantia da permanência das estruturas de poder da qual fazia parte, mesmo como parceiros secundários. Isso incluía todo um conjunto de prerrogativas que, na prática, se traduziam no apoio real ao domínio exercido localmente. Inclusive culturalmente sentiam-se mais como portugueses do Brasil do que com alguma identidade própria, diferenciada, brasileira propriamente dita. O na-cionalismo ufanista da historiografia colonial brasileira costuma disfarçar a colaboração interna ao sistema. Mas esse dado é relevante para entender a dominação portuguesa por tanto tem-po, com tão pouca tropa estacionada no Brasil.

Uma vez mantido o poder no Rio, fosse ou não feita a independência de Portugal, acreditavam, em primeiro lugar, que nada seria mexido. Caso o Brasil adquirisse sua soberania, continuariam ganhando o livre acesso ao comércio externo - que aliás já tinham em 1821-22. Em segundo lugar, ganhariam finalmente o pleno controle das rendas derivadas dos impostos arrecadados.

Socialmente, desejavam títulos de nobreza e fidalguia, que não eram em absoluto irrelevantes, numa época em que o Estado ainda não era esse ente impessoal a que estamos acostumados hoje em dia. Os antigos barões do açúcar não se satisfaziam mais em serem barões apenas (no sentido metafórico da palavra), queriam se tornar efetivamente nobres. A monarquia centraliza-da no Rio poderia assim vir a ser do agrado de muitas famílias fidalgas mais antigas da província, desde que ajustada de forma a conceder-lhes mais alguns privilégios mantendo os que já tinham.

Além dessas vantagens, dentro de uma perspectiva bastante prática, entendiam que o apoio do Rio de Janeiro se traduziria no suporte militar da Coroa quando tivessem que enfrentar seus adversários locais, fossem esses quilombolas, índios ou os vizinhos. Isso não era pouco, como ficou evidente na demonstração de força do exército que esmagou 1817.

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História

CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR E REVOLUÇÃO PRAIEIRA

Movimentos Liberais: Confederação do Equador (1824) e Revolução Praieira (1848)

Combate entre rebeldes e legalistas na luta dos Afogados. Exército Imperial do Brasil ataca as forças confederadas no Recife, 1824.

A Confederação do Equador foi um grande movimento revolucionário, de caráter separatista e republicano ocorrido em 1824 no Nordeste do Brasil. A revolta teve seu início na província de Pernambuco, porém, espalhou-se rapidamente por outras províncias da região (Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba).

Representou a principal reação contra a tendência absolutista e a política centralizadora do go-verno de D. Pedro I (1822-1831), esboçada na Carta Outorgada de 1824, a primeira Constituição do país. A revolução queria a formação de uma república baseada na constituição da Colômbia. Ganhou este nome, pois o centro do movimento ficava próximo a Linha do Equador.

Em Pernambuco, centro da revolta, o movimento teve participação das camadas urbanas, elites regio-nais e intelectuais. A grande participação popular foi um dos principais diferenciais deste movimento. Por trás das divergências políticas que culminaram com a proclamação da Confederação do Equador, encontra-se uma divisão econômica e espacial de Pernambuco. Ao norte, açucareiro e algodoeiro, com vilas populosas, opunha-se o monolitismo do sul pernambucano, exclusivamente açucareiro, cujas po-voações eram simples anexos dos engenhos de cana. De acordo com Evaldo Cabral de Mello:

"O contraponto do algodão e do açúcar explica ali mais acentuadamente que em nenhuma outra região brasileira, que se aprofundou ali o conflito entre a nova e a velha estrutura comer-cial - a do algodão, ligada desde a transmigração da Coroa para o Rio e à abertura dos portos ao mercado britânico, e a do açúcar da cana, jungida ao entreposto lusitano." Ambos os itens encontram-se figurados na bandeira da Confederação, onde se vê um ramo de algodão, à direi-ta, lado a lado com uma cana-de-açúcar.

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O absolutismo de D. Pedro I trouxe grande insatisfação à população e isso gerou protestos em Pernambuco, Paraíba e Ceará.

Os jornais “Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco” de Cipriano Barata e o “Tífis Pernambuco” de Frei Caneca (ambos liberais) ajudaram ainda mais a preparar o espírito das pessoas para a revolução. Cipriano Barata era natural da Bahia e tornou-se notável pela sua atividade jornalística defendendo os valores liberais da época. Dedicou a sua vida à luta revolu-cionária e esteve ligado às camadas mais populares e por essa razão, foi preso várias vezes. Frei Caneca era um dos discípulos de Cipriano e principal líder da Confederação do Equador contra D. Pedro.

Frei Caneca, preso

Em 1823, as ideias republicanas dominavam o nordeste e se acentuaram em face das ameaças do Imperador que, com a Constituição outorgada em 1824, impôs ao país um estado unitário. Pernam-buco não aceitou essa Constituição e em 2 de julho de 1824, seu presidente Manuel de Carvalho Pais de Andrade proclamou a Confederação do Equador (movimento republicano e separatista que uniu Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte). No início a Constituição adotada foi a Colombiana. O objetivo era formar um novo estado completamente separado do Império, cujas bases eram um governo representativo e republicano, garantindo a autonomia das províncias confederadas.

Surgiram algumas dissidências internas no movimento, pois ele agregava classes sociais díspares. Depois de estabelecidas as primeiras ações da Confederação, alguns de seus líderes decidiram aban-doná-la. Tudo isso porque alguns integrantes da revolta defendiam a radicalização de algumas ações do novo governo. Frei Caneca, Cipriano Barata e Emiliano Munducuru acreditavam que a ampliação de direitos políticos e reformas no campo social eram medidas urgentes no novo poder estabeleci-do. A proposta de Pais de Andrade no sentido de libertar os escravos e o exemplo haitiano (país que recentemente se libertara do domínio francês através de uma revolta popular) não tranquilizavam as elites, e alguns proprietários de terras passaram a colaborar com o governo imperial. Porém, a repressão ao movimento estava sendo preparada no Rio de Janeiro. Várias tropas foram enviadas para o Nordeste sob o comando do brigadeiro Francisco de Lima e Silva (forças terrestres) e de Lord Cochrane (forças navais). Em setembro de 1824, as forças de Lima e Silva dominaram Recife e Olinda (principais centros de resistência), e dois meses depois foi a vez do Ceará.

As penas impostas aos revoltosos foram severas e D. Pedro não atendeu aos pedidos para que elas fossem mudadas. Frei Caneca foi condenado à forca, contudo, acabou sendo fuzilado, dian-te da recusa do carrasco em executar a sentença. Muitos companheiros de Caneca receberam a mesma condenação, outros tiveram mais sorte e conseguiram fugir.

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História – Confederação do Equador e Revolução Praieira – Prof. Cássio Albernaz

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Possível mapa da Confederação do Equador

https://pt.wikipedia.org/wiki/Confedera%C3%A7%C3%A3o_do_Equador#/media/File:Confedera%C3%A7%C3%A3o_do_Equador.png

Mesmo com o fim da Confederação do Equador, a insatisfação contra o absolutismo do Impe-rador continuava e crescia cada vez mais. O forte caráter centralizador do governo de D. Pedro I gerou conflito entre o novo estadista e as elites que defenderam sua chegada ao poder.

Não bastassem os desentendimentos políticos, a falta de arrojo do rei junto às questões eco-nômicas também contribuiu para sua queda. A contração de dívidas com a Inglaterra e o gasto de verbas com a Guerra da Cisplatina fortaleceram o movimento oposicionista. Em 1829, a fa-lência do Banco do Brasil agravou o repúdio aos poderes imperiais. Dessa forma, a vitória dos oposicionistas, em 1830, dava sinais do enfraquecimento político de Dom Pedro I.

No Rio de Janeiro, vários confrontos entre brasileiros e portugueses representavam a falta de reco-nhecimento ao governo imperial. A Noite das Garrafadas, ocorrida no início 1831, ficou marcada como a maior dessas manifestações anti-lusitanas. Ainda tentando recuperar prestígio, em março daquele ano, Dom Pedro I anunciou um corpo de ministros formado somente por brasileiros. A ma-nobra de Dom Pedro I já era tardia. Os militares aderiram ao movimento de oposição ao seu gover-no e a câmara dos deputados se tornou um reduto de críticas à presença do rei.

Sem alcançar o êxito esperado, um grupo de soldados e populares concentrados no Campo de Santana ameaçaram a integridade de Dom Pedro I. Mediante a embaraçosa situação, o impera-dor abdicou do trono no dia sete de abril de 1831. Porém seu filho e sucessor, o futuro D. Pedro II era menor de idade (tinha apenas 5 anos) e seguiu-se um período em que o governo do Impé-rio brasileiro estava nas mãos de regentes.

Não foi um período tranquilo, muitas revoltas e rebeliões eclodiram no país. A Cabanada foi uma rebelião ocorrida entre 1832 e 1835, iniciada logo após a abdicação de Dom Pedro I, ou seja, no período da Regência. Dificuldades financeiras do novo Regime, com o comércio exte-rior quase estagnado e a queda das cotações do algodão e da cana-de-açúcar, além do privilé-gio aduaneiro à Inglaterra, em vigor desde 1810, fizeram com que eclodissem diversas revoltas no Império do Brasil nesse período.

O movimento da Cabanada se deu em Pernambuco, Alagoas, e Pará, porém são insurreições diferentes e em locais diferentes. A primeira se trata da revolta em Pernambuco e Alagoas e a segunda na região do atual Pará.

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Em Pernambuco, onde também foi chamado de "A Guerra dos Cabanos", a rebelião foi conser-vadora pois pretendia a volta do monarca português ao trono do Brasil (para alguns historiado-res, uma pré-Canudos). Desenrolou-se na zona da mata e no agreste. Teve como líder Vicente de Paula, com seguidores de origem humilde, predominando índios (jacuípes e outros) e es-cravos foragidos (chamados de papaméis). Com a morte de Dom Pedro I em Portugal (1834), o movimento deixou de ter razão de existir. Ao final da Cabanada, o líder Vicente de Paula foi preso e enviado para a ilha de Fernando de Noronha.

Após muita instabilidade política e social, em 1940 ocorre o Golpe da Maioridade, dando início ao Segundo Reinado.

No começo do Segundo Reinado, a ascensão dos liberais que apoiaram a chegada de Dom Pe-dro II ao poder foi logo interceptada após os escândalos políticos da época. As “eleições do cacete” tomaram os noticiários da época com a denúncia das fraudes e agressões físicas que garantiriam a vitória da ala liberal. Em resposta, alguns levantes liberais em Minas e São Paulo foram preparados em repúdio às ações políticas centralizadoras do imperador.

Nesses dois estados os levantes não tiveram bastante expressão, sendo logo contidos pelas forças militares nacionais. Entretanto, o estado de Pernambuco foi palco de uma ação liberal de maior impacto que tomou feições de caráter revolucionário.

http://brasilescola.uol.com.br/historiab/revolucao-praieira.htm

Ao longo da década de 1840, setores mais radicais do partido liberal recifense manifestaram seus ideias através do jornal Diário Novo, localizado na Rua da Praia. Em pouco tempo, esses agitadores políticos ficaram conhecidos como “praieiros”. Assim como em outras partes do Bra-sil, em Pernambuco existiam dois partidos: liberal (dominado pelos Cavalcanti) e conservador (dominado pelos Rego Barros).

Essas duas famílias faziam acordos políticos com muita facilidade. Assim, Francisco de Paula Cavalcanti tornou-se presidente da província em 1837, através de um acordo com os Rego Bar-ros e, em 1840, foi a vez de Francisco Rego Barros (barão de Boa Vista) assumir a presidência. Em 1842, alguns integrantes do Partido Liberal se rebelaram e fundaram o Partido Nacional de Pernambuco (Partido da Praia), eles acusavam Rego Barros de distribuir os melhores cargos aos Cavalcanti e seus aliados mais próximos.

Entre as principais medidas defendidas por esses liberais estavam a liberdade de imprensa, a extinção do poder moderador, o fim do monopólio comercial dos portugueses, mudanças sócio-econômicas e a instituição do voto universal. Mesmo não tendo caráter essencialmente

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História – Confederação do Equador e Revolução Praieira – Prof. Cássio Albernaz

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socialista, esse grupo político era claramente influenciado por socialistas utópicos do século XIX, como Pierre–Joseph Proudhon, Robert Owen e Charles Fourier.

Em 1847, o movimento passou a ganhar força com a nomeação de um presidente de provín-cia conservador mineiro para conter a ação dos liberais pernambucanos. Revoltados com essa ação autoritária do poder imperial, os praieiros pegaram em armas e tomaram conta da cidade de Olinda. A essa altura, um conflito civil contando com o apoio de grandes proprietários, pro-fissionais liberais, artesãos e populares tomou conta do estado.

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Em 1 de janeiro de 1849, os revoltosos lançaram o seu programa, um documento que denomi-naram Manifesto ao Mundo, de conteúdo socialista utópico, supostamente escrito por Borges da Fonseca, um jornalista. O manifesto defendia:

• o voto livre e universal do povo brasileiro;

• a plena e absoluta liberdade de comunicar os pensamentos por meio da imprensa (liberdade de imprensa);

• o trabalho, como garantia da vida para o cidadão brasileiro;

• o comércio a retalho só para os cidadãos brasileiros;

• a inteira e efetiva independência dos poderes constituídos;

• a extinção do Poder Moderador e do direito de agraciar;

• o elemento federal na nova organização

• a completa reforma do Poder Judiciário, de forma a assegurar as garantias dos direitos individuais dos cidadãos;

• a extinção da lei do juro convencional;

• a extinção do sistema de recrutamento militar então vigente.

Apesar do caráter liberal da revolução, os revoltosos não cogitavam a abolição da escravidão.

Em fevereiro de 1849, depois de receber a adesão da população urbana que vivia em extrema pobreza, pequenos arrendatários, boiadeiros, mascates e negros libertos, os rebelados toma-

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ram a cidade de Recife e entraram em novo confronto com as forças imperiais. Nesse período, o insurgente Pedro Ivo surgiu como um dos maiores líderes dos populares. Entretanto, a falta de apoio de outras províncias acabou desarticulando o movimento pernambucano.

Pedro Ivo, herói da revolução.

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No ano de 1851, o governo imperial deu fim aos levantes que contabilizaram cerca de oitocen-tas baixas. Os líderes do movimento pertencentes à classe dominante, foram detidos e julgados apenas em 28 de novembro de 1851, quando os ânimos na província já tinham serenado, oca-sião em que o governo imperial pôde lhes conceder anistia. Voltaram, assim, a ocupar os seus cargos públicos e a comandar os seus engenhos.

Por outro lado, os rebeldes das camadas sociais menos privilegiadas - rendeiros, trabalhadores e outros - não tiveram direito a julgamento e, ou sofreram recrutamento forçado ou foram anistiados por intervenção de seus superiores para retornarem ao trabalho, exceto aqueles que foram sumariamente fuzilados durante e logo após os combates.

Dentre as várias revoltas ocorridas durante o Brasil Império, esta foi a última.

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História

TRÁFICO TRANSATLÂNTICO DE ESCRAVOS PARA TERRAS PERNAMBUCANAS

Maquete do interior de um navio negreiro

https://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%A9rcio_atl%C3%A2ntico_de_escravos#/media/File:Kenneth_Lu_-_Slave_ship_model_(_(4811223749).jpg

Recife foi o quinto maior centro mundial de tráfico escravista (ficaria atrás apenas de Rio de Janeiro, Liverpool, Bahia e Londres). O período coberto, 1801-1851, abrange a fase de maior intensidade do tráfico de escravos, 1801-1830, quando o número de escravos desembarcados foi maior que um terço do total para todo o período do tráfico pernambucano.

O primeiro navio negreiro a desembarcar em Pernambuco (em 1560) foi também o primeiro navio negreiro a desembarcar no Brasil, fruto de um pedido de Duarte Coelho, primeiro dona-tário da capitania de Pernambuco, ao rei de Portugal. O último aportou no Recife em 1851, ano em que finalmente a proibição do tráfico negreiro transatlântico foi adotada. Foram, no total, 1.376 viagens com o nefasto objetivo. Dos quase 5 milhões de escravos oficialmente trazidos para o Brasil, 853.833 deles desembarcaram em Pernambuco.

Principais regiões de comércio de escravos na África entre os séculos XV e XIX.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%A9rcio_atl%C3%A2ntico_de_escravos#/media/File:Africa_slave_Regions.svg

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No Brasil, 2.054.725, ou 42%, desembarcaram no período de 1801 a 1850. Em Pernambuco, 259.054, ou 30%, desembarcaram entre 1801 e 1850, perfazendo uma média de 5 mil desem-barcados por ano. Comparativamente, nos séculos XVII e XVIII, a média era de 2.500 e 3.300 ao ano, respectivamente. O fato de o volume de importação de escravos em Pernambuco ser bem mais expressivo no século XIX que nos séculos anteriores sugere que as atividades econômicas nesta região estavam aquecidas. 87,2% das viagens cujo destino era Pernambuco tinham como ponto de partida esta mesma região. Isto sugere que quem organizava e financiava o desem-barque de negros em Pernambuco eram pessoas que ali residiam.

Dado que a origem da maioria das viagens para Pernambuco era Pernambuco, em todos os períodos do tráfico, é evidente que este era essencialmente um tráfico Recife-portos africanos--Recife durante toda a sua vigência. Contrariamente, é comum a ideia de um comércio triangu-lar na literatura: um mesmo navio transportaria manufaturas da Europa para a África, trocadas por escravos que eram trazidos para as Américas, e finalmente o navio levaria produtos agríco-las das Américas para a Europa.

O Projeto Estudo Comparado do Escravismo Brasileiro no Século XIX (UnB e UFPE), examinou 3.955 inventários registrados em cartórios pernambucanos ao longo do século XIX, para desco-brir quem eram os agentes financiadores do tráfico para Pernambuco. A cobertura geográfica dos inventários cobre todas as áreas da província. Graças a este material, coletaram-se infor-mações sobre o registro do inventário; o ano e a região em que este foi feito; a ocupação do inventariado; a quantidade de dinheiro, ouro, prata e cobre que possuía; a quantidade e o valor de escravos sob seu domínio; dívidas ativas e passivas; e assim por diante. Ao todo, encontram--se registros de 21.930 escravos levados a Pernambuco: 11.005 registrados na Zona da Mata; 5.390 no Recife; 3.617, no Agreste; e 1.918, no Sertão.

Tais dados pesquisados apontam que, em sua maioria, os traficantes de Pernambuco eram por-tugueses radicados no Recife. No geral, eram comerciantes e desenvolviam atividades comer-ciais nos centros urbanos. Alguns possuíam fazendas, e a maioria era influente na política local.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%A9rcio_atl%C3%A2ntico_de_escravos#/media/File:Pelourinho.jpg

É importante ressaltar que, durante muitos anos, a Companhia Geral de Pernambuco e Para-íba deteve o monopólio do tráfico para a região em análise, mais precisamente entre 1759 e 1788. Tal companhia era uma empresa de caráter monopolista, criada em 1759 pelo Marquês de Pombal logo após o grande terremoto de Lisboa, que deixou a economia local muito preju-dicada. O objetivo da criação desta companhia, juntamente com a Companhia Geral do Grão--Pará e Maranhão, era alavancar a economia portuguesa fragilizada pelo desastre natural de 1755. Funcionou durante 26 anos, apesar de ter começado sua atividade cerca de dois anos

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História – Tráfico Transatlântico de Escravos para Terras Pernambucanas – Prof. Cássio Albernaz

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após a aprovação dos estatutos. O fim do monopólio abriu espaço para a livre concorrência, a qual permitiu a alocação de recursos dos próprios pernambucanos nesta atividade.

Mais de 70% dos escravos trazidos para Recife na primeira metade do século XIX vieram em na-vios de proprietários particulares, a maioria comerciante. Desta forma, há indícios de que o capi-tal aplicado nesta atividade não vinha de senhores de engenho preocupados com a escassez de mão de obra, mas de comerciantes acostumados a lidar com outros tipos de mercado, além do de escravos. Muitos tinham casas comerciais, padarias, lojas, açougues, casas de importação e exportação, emprestavam dinheiro por meio de emissão de letras, eram membros da Alfândega de Pernambuco e participavam de sociedades comerciais. Também eram senhores de engenho; porém, esta atividade parece ter sido complementar, não preponderante sobre as demais.

Era natural que capitais originados no comércio, importante fonte de acumulação no período, se dirigissem para uma área lucrativa de negócios: o tráfico de escravos. Essa atividade, no século XIX em Pernambuco, tinha como característica a bilateralidade, a participação de nego-ciantes portugueses radicados no Recife e de familiares no ramo. Que os negociantes fossem portugueses não é surpreendente: havia predominância deles no comércio, desde o período colonial; a Guerra dos Mascates foi essencialmente entre senhores de engenho de Olinda e co-merciantes portugueses do Recife.

http://maracatu.org.br/o-maracatu/historia/

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História

COTIDIANO E FORMAS DE RESISTÊNCIA ESCRAVA EM PERNAMBUCO

http://s1.static.brasilescola.uol.com.br/artigos/e4c9583e6c2349dfc2b065e3f62fa21b.jpg?i=http://www.brasilescola.com/upload/conteudo/images/e4c9583e6c2349dfc2b065e3f62fa21b.jpg&w=302&h=293&c=FFFFFF

A maior prova da significativa da quantidade de cativos no estado de Pernambuco, inclusive em seu interior, desmentindo a ideia de uma escravidão branda, é a demografia documentada pelo DGE (Diretoria Geral de Estatística) na década de 70 do século XIX, com a obrigatoriedade das matriculas, após a lei do ventre livre sancionada, em 28 de setembro de 1871.

De fato, o impacto (político, social e jurídico) da lei de 1871 não foi pequeno, e a matrícula geral dos escravos foi talvez sua mais significativa materialização. Com sua instituição, além do silêncio ritual, as relações entre raça e cidadania modificaram-se de modo radical. Até então, os chamados homens livres “de cor” precisavam ser socialmente reconhecidos como tal, o que no mínimo limitava sobremaneira seu direito de ir e vir além das já referidas redes imediatas. Após 1871, deslocava-se o ônus da prova: era o senhor que precisava apresentar a matrícula de seu escravo. Sem ela, qualquer pessoa “de cor” era juridicamente livre. A instituição da matricula se, por um lado, servia para garantir futura indenização ao direito de propriedade senhorial no processo gradual de abolição para o qual a lei sinalizava, de outro, pela primeira vez, rompia com a associação legal entre cor e suspeita da condição de escravidão.

Foi, principalmente, a partir da década de 1870, momento de grande transformação social e econô-mica no parque açucareiro nacional como um todo, que, particularmente Pernambuco, então prin-cipal produtor de açúcar do país, e mais especificamente a Zona da Mata, recebeu grande parte dos investimentos do governo imperial avançando tecnologicamente. O objetivo do governo era que

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a indústria açucareira nacional se mantivesse no mercado internacional do açúcar o qual, naquele momento, contava com o crescimento da produção europeia de açúcar de beterraba.

As festas tinham um importante papel na construção da liberdade, por proporcionar a sociabili-zação e o divertimento, no dia a dia inexistente. Lembrando que também traziam a tona, brigas entre grupos rivais, que antecediam sua vinda da África. Todavia esquecido, pela consciência de fazerem parte do mesmo grupo social, se recorriam nestas horas para criação de estratégias. Criando um mundo paralelo na escravidão aonde o negro, era livre para decidir um destino me-lhor. Afinal a alforria não era a real resposta que traria a liberdade para um escravo, era quase que inconsciente na maioria deles, a liberdade só aconteceria se fosse para todos.

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/img/0120.jpg

Entende-se pelos anos da década de 70 do século XIX, como um período único na história do trabalhador brasileiro, de passagem ou “transição” do trabalho escravo para o trabalho “livre” ou assalariado. Voltando-nos para Pernambuco, às cidades do interior do estado, no ano de 1872, no primeiro senso brasileiro, verificamos paróquias, freguesias e cidades com perfis econômicos variados, mudando a velha perspectiva histórica de que em Pernambuco teve uma escravidão branda, concentrando-se de maneira quase única na produção açucareira, consequentemente de escravos de profissão lavradores. Compreende-se, cada vez mais, que a escravidão estava onipresente, dentro de toda a produção de bens de consumo, há muito já institucionalizada nesta província de antiga colonização.

De acordo com o mesmo recenseamento, comparando as províncias, coloca-se que só 105 homens escravos e 52 mulheres escravas, em toda a província de Pernambuco, sabiam ler e escrever. Um número alto se compararmos ao Rio Grande do Norte, que no total registrou-se 4 homens e 3 mulheres, porém altíssimo quando a capital do império, Rio de Janeiro, só possuía 79 homens e 28 mulheres registradas como capaz de ler e escrever.

Na capital da província de Pernambuco, Recife, antes mesmo de 1830 a maioria dos trabalhadores alforriados eram mulheres negras e mulatas. Mulheres estas que se apropriavam, ou não, das vantagens que tinham, perante os escravos homens, obtinham mas cedo a alforria. Sua vantagem consistia na proximidade dos senhores, e de agrados que poderiam dar e receber. Eram elas amas de leite, cozinheiras, engomadeiras, faxineiras. E estavam onipresentes na sociedade escravista. Difícil dizer o que o luxo da escravidão não poderia oferecer aos senhores de conforto e serviços. De pentear o cabelo, a limpar o a calçada da casa. Sabe-se que mesmo sendo submetidas a humilhações, assédios e estupros por seus senhores e ódio de suas patroas, era melhor que trabalhar na rua local que era sinônimo de insegurança, morte, prostituição e fome. A empregada doméstica assalariada surgirá aí nesta condição específica de ex-escrava e, junto a elas, suas concorrentes que baixavam suas possíveis rendas, as próprias escravas.

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História – Cotidiano e Formas de Resistência Escrava em Pernambuco – Prof. Cássio Albernaz

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http://s1.static.brasilescola.uol.com.br/artigos/Resitencia-escravos-BRASILESCOLA(1).jpg?i=http://brasilescola.uol.com.br/upload/e/Resitencia-escravos-BRASILESCOLA(1).jpg&w=302&h=293&c=FFFFFF&t=1

Outra profissão importante dentro da urbe pernambucana eram os canoeiros responsáveis pelo movimento do transporte fluvial nos rios que cruzam a cidade. Eles exerciam um emaranhado de funções sociais: passagem de informações, contatos entre os Engenhos, transporte de água limpa para consumo, e de pessoas. Foram verdadeiros precursores na formação dessa sociedade paralela. Os canoeiros do Recife tinham mais autonomia do que muita gente livre. Muitos desses escravos pagavam semanalmente uma certa quantia ao senhor e moravam nas cidades nos seus próprios casebres, espalhados nos arredores da cidade, na periferia das ilhas de Santo Antônio e da Boa Vista, nos limites entre os mangues e a terra firme, nas casas palafitas na beira dos rios. Havia, portanto, uma contradição entre necessidade de controle do escravo e a natureza das ocu-pações urbanas, que para gerarem lucro, muitas vezes exigiam uma grande movimentação do trabalhador.

Não muito distante da capital, vários homens e mulheres viviam no campo vagando de vila em vila tentando fugir da estrutura extrativista da sociedade escravista. Presentes dentro dos en-genhos e nas cidades. Para sobreviver a tanta “onipresença” da escravidão e da desapropriação do corpo, pelos senhores de engenhos: negros, brancos, pardos, livres e mulatos escravos ou não, viviam na “bandidagem” e na “vadiagem” roubando cavalos, e revendendo-os. Ajudando fugas, até quem sabe negociando melhores patrões para escravos fujões.

A fuga para o mato era uma decisão extrema, que envolvia riscos. A construção da sua ideia de liberdade era baseada na sua experiência, e nas tradições de sua cultura. Isolado estaria social-mente morto. Não haveria a liberdade social, o que é o que nos interessa aqui. Para que esta fosse alcançada no mato, era preciso que o fugitivo passasse a pertencer a uma comunidade alternativa: o quilombo. Mas mesmo aí o processo continuava.

Os quilombos vingaram até o fim da Cabanada, isto é, até o começo da segunda metade do sé-culo XIX. Nos anos de 1870, o mundo da fuga, estava muito mais perto do mundo legal. Roubos e trocas de passaporte, contrabando, roubos de vilas. Muitas eram as possibilidades de se sus-tentar e fugir do sistema sem olhar para trás e muitos faziam. Em fuga, o sistema era personifi-cado na polícia, que eventualmente, dava de cara com essas figuras que habitam o imaginário dos quilombolas, dos cangaceiros e cavaleiros do Sertão e Agreste pernambucano.

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https://blogdogianfranco.wordpress.com/category/trabalho-sobre-quilombos/

O risco do submundo do crime não seria mais feliz do que pertencer a grupos sociais dentro do tão violento sistema escravista? Provavelmente sim, ou não. Fugir dos castigos, humilhação, da desapropriação do próprio corpo, do estupro, de ver filhos sendo vendidos como coisas, tudo isso deveria servir de estímulo mais que convincente para seguir na vida de incertezas do crime, mas experimentando alguns momentos de liberdade, principalmente se fosse feito em bandos, ou duplas. A relação entre a liberdade social e a liberdade jurídica será sempre muito íntima durante a escravidão.

Ainda sobre resistência escrava, nota-se que muitos autores questionam a virtual ausência de re-beliões escravas, mesmo tendo havido até mais confusão no Recife do que na maioria das capitais provinciais na primeira metade do século XIX, quando comparado com o ciclo das insurreições liberais, que se inicia com a Insurreição de 1817, passa pela Confederação do Equador em 1824 e termina com a Praieira, em 1848. Porem, alguns historiadores percebem algumas ligações plausí-veis entre esses movimentos políticos maiores e as estratégias de resistência desenvolvidas pelos escravos do Recife nessa época, através de algumas narrativas de fugas que expressam o desen-volvimento de alternativas de resistência em resposta à conjuntura específica de Pernambuco nesse período, assim como alguns dos motins urbanos ocorridos no Recife nesse período, que não envolveram apenas escravos, mas também outros segmentos da sociedade.

Podemos citar um episódio ilustrativo de grande relevância para o estudo da resistência negra, es-pecificamente em Pernambuco: aconteceu em 1846. De acordo com o chefe de polícia da província, suspeitava-se que uma seita religiosa de negros, surgida na cidade, era na realidade um disfarce para uma sociedade secreta cujo objetivo era preparar uma insurreição de escravos. A polícia entrou em ação, cercando uma casa no bairro de São José, onde os fiéis se reuniam. Segundo as autoridades, os negros então saíram protestando, gritando contra a religião do Estado. O líder – o Divino Mestre segundo os fiéis – era o crioulo Agostinho José Pereira, que teria uns trezentos seguidores na cidade. Pelo menos outros seis negros foram presos além de Agostinho, sendo que um deles entregou-se, declarando o desejo de compartilhar da mesma sorte do Divino Mestre, cuja esposa estaria grávida havia cinco anos mas só daria à luz quando descesse o Messias.

A seita do Divino Mestre espalhara-se pela cidade. Um editorial do Diário de Pernambuco conta que no bairro da Boa Vista, na casa de um dos principais discípulos de Agostinho, foi encontra-do uma bíblia onde estavam marcadas as passagens que tratavam do fim da escravidão. Mais grave ainda foi a apreensão, na casa do próprio réu, de alguns textos que tratavam do Haiti.

No seu interrogatório, o Divino Mestre mostrou um pouco mais de si. Dizia-se livre. Tinha 47 anos. Sabia ler e escrever. Já estivera no Rio de Janeiro como oficial de milícias e, de passagem, na Bahia. Foi-lhe também perguntado se havia participado da Sabinada na Bahia, em 1839. Res-

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pondeu que não, mas admitiu que conhecera Sabino quando o líder da revolta já estava preso no Rio de Janeiro, numa fortaleza onde o Divino Mestre estava de serviço. Isso, de uma certa forma, indica que não eram infundadas as suspeitas das autoridades de que Agostinho era um desertor do exército que, anteriormente, já se havia metido em outras aventuras políticas. Poderia mesmo ter sido punido, através do recrutamento forçado, pela participação como miliciano na Confede-ração do Equador, sob as ordens do seu comandante, como admitiu no interrogatório. O advoga-do de defesa foi ninguém menos que o maior agitador liberal daquela época, em Pernambuco, Borges da Fonseca. Que crime é ser cismático? – perguntou Borges, argumentando com clareza que a lei proibia outros cultos, mas não cominava a pena de prisão para os praticantes, limitando--se a ordenar a sua dispersão e a destruição dos seus artefatos; no mais, uma multa poderia ser aplicada. Só que os desembargadores perceberam que Agostinho não era um protestante qual-quer. O problema não era só de ordem religiosa. Agostinho não pregava apenas a desobediência ao padroado régio. Tinha algo mais. Ele era um pastor negro.

http://s2.glbimg.com/7jMBcp7i9f1Qfg_iL1oqRMIrSWg=/0x0:1055x728/620x428/s.glbimg.com/po/ek/f/original/2013/06/11/11o_tema_-_pelourinho.png

A pregação negra trazia ainda um outro inconveniente para a ordem escravista. A livre inter-pretação das escrituras é um dos princípios básicos do protestantismo, mas a rigor ele só se efetiva quando é possível a cada pessoa ler a Bíblia. Ao alfabetizar os seus seguidores, Agosti-nho dava-lhes um instrumento adicional de luta de enorme repercussões. Se adicionarmos a esse aprendizado os tais papéis sobre o Haiti e a ênfase nas passagens bíblicas que tratam da libertação dos escravos, pode-se entender que Agostinho era realmente um elemento perigoso para a ordem, por mais que Borges da Fonseca se esforçasse em provar o contrário.

Os escravos pernambucanos não estavam alheios às ideias francesas, presentes nas revoltas e tentativas de rebeliões do início do século XIX – como poderiam estar, depois da experiência do Haiti? Agora, ninguém era ingênuo de se envolver assim sem mais nem menos. Era preciso alguma esperança efetiva de ganho. Os escravos do Recife também não estiveram ausentes das demais manifestações urbanas ocorridas na primeira metade do século passado e que são par-te do contexto político maior das disputas políticas locais.

Por seu protagonismo em muitos levantes liberais ocorridos em Pernambuco, os negros (es-cravos ou forros, pardos, mulatos...) causavam medo e ofereciam grande perigo para a camada senhorial. Tanto que cantaram-se nas ruas os citadíssimos versos:

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Marinheiros e caiadostodos vão se acabar,porque só pardos e pretos,o Brasil hão de habitar.

http://people.ufpr.br/~lgeraldo/Fugadeescravos.jpg

Em outro evento ocorrido no Recife em 1824, em que não faltaram pardos pobres, negros e escravos entre os manifestantes, outros versos também foram entoados:

Qual eu imito a Cristovam,

esse imortal haitiano.

Eia! Imitai a seu povo,

Oh, meu povo soberano!

A cidade do Recife foi amordaçada durante a década de 1820. Mesmo assim não faltaram fugas de escravos e todas as demais formas de resistência comuns às sociedades escravistas. O fato mais importante desse período foi o apogeu do quilombo de Malunguinho, cuja vida e morte está intimamente ligada à história política e social de Pernambuco como um todo. Pode-se dizer que a expansão do quilombo é um dos resultados das brigas de branco entre 1817 e 1824, que abriram brechas no sistema, facilitando as fugas de escravos, inclusive urbanos. Onde havia mato, sempre houve gente escondida, mas um volume tão grande de quilombolas perto do Recife só pode ser entendido como resultado das fugas dos cativos dos proprietários que se envolveram naquelas duas insurreições. Começando quase que às portas das cidades gêmeas de Recife e Olinda, nos morros e florestas dos subúrbios a noroeste delas, os mocambos espalhavam-se pelas matas que serpenteavam entre os engenhos da zona da mata norte, conhecidas pelo nome de floresta do Catucá.

O quilombo de Malunguinho se fortalecia toda vez que as elites brigavam entre si, como em 1817, 1824 e 1831-32, e feneceu no final do decênio de 1830, após a derrota da Cabanada (1832-1835). Enquanto durou, foi a alternativa mais radical para os cativos do Recife e da zona da mata seca, daí a sua importância para o entendimento da resistência escrava, não somente no interior, mas também no principal núcleo urbano da província.

Havia conexões entre os quilombolas e os escravos da cidade. Os quilombolas costumavam atacar os arrabaldes, principalmente a povoação de Beberibe, onde a água era límpida, e onde as escravas lavavam as roupas dos seus senhores e senhoras do Recife, para onde voltavam

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depois, provavelmente de canoa, remadas por negros, muitas vezes cativos também. Isso indica, inclusive, que a conexão com os escravos da cidade podia também ser feita pelas mulheres.

Essas ligações entre os quilombolas e os demais escravos ficaram mais claras em 1827, quando o Conselho de Governo reuniu-se para tomar medidas efetivas contra o quilombo. Não era a primeira vez que isso acontecia, muito pelo contrário. Após ter debelado a Confederação do Equador, o general Lima e Silva marchou para o Catucá com toda a tropa disponível. Mas bastou a força ir embora para os mocambos voltarem a crescer. Na tal reunião de janeiro de 1827, a elite dirigente de Pernambuco temia que Malunguinho e seus seguidores tencionassem efetivamente atacar o Recife.

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Alguns escravos habilitados profissionalmente, fingindo-se de forros, fugiam para trabalhar em navios. Marinheiros escravos faziam a mesma coisa, mudando até de nome depois do desembarque. Essas pessoas tiveram um enorme papel na resistência escrava pois, ao repassar as notícias de rebeliões, terminaram influindo na conduta dos escravos de outros lugares. Alguns desses marinheiros negros cruzaram os mares, chegando a aprender outras línguas europeias, como era o caso de um negro jovem vindo de São Tomé, que fugiu no Recife em 1831: era capaz de falar “inglês alguma coisa”.

Pode-se dizer que o quilombo do Catucá ditou o ritmo da resistência escrava no Recife. Após o seu fim, fugir para o mato perdeu muito do sentido para os escravos urbanos. As alternativas de resistência e sobrevivência mudaram. Enquanto existiu, foi o principal referencial da resistência escrava na província.

Alguns levantes urbanos ocorreram ainda nos anos de 1830, sendo reprimidos duramente. Mas não se esgota aí o tema dos levantes urbanos no Recife em que os negros e pardos participaram – e quem sabe até alguns brancos pobres, descendentes de portugueses ou açorianos modestos que imigravam aos montes para Pernambuco. A violência urbana renovou-se na década de 1840, quando praieiros e conservadores disputavam o poder na província. Tendo que disputar as eleições, as lideranças partidárias mobilizavam sua clientela urbana, que terminava fugindo ao controle e aderindo à causa dos liberais radicais. Em torno de 1845, a agitação da população deslocada da cidade já era tanta que o cônsul americano chegou a dizer que a mob – a canalha – estava no poder.

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Foi muita correria pela cidade naqueles anos. Os escravos, todavia, são menos visíveis na docu-mentação sobre aqueles episódios, devido ao rápido aumento da população livre depois da In-dependência. Não obstante, justamente lá pela década de 1840, se solidificaria uma das formas de contestação mais criativas dos cativos do Recife: deixar-se acoitar ou roubar por alguém. Em outras palavras, procurar um outro patrão, tal como faziam e fazem os trabalhadores livres quando insatisfeitos. O que não falta nos anúncios de fuga daqueles anos são menções a um possível acoitamento dos cativos por pessoas livres.

Esses acoitamentos, todavia, não se davam por solidariedade – pensar assim seria idealizar de-mais a relação senhor-escravo – mesmo admitindo que isso possa ter ocorrido em algumas ins-tâncias, principalmente nos casos em que os próprios negros escondiam companheiros sendo perseguidos. Regra geral, os acoitamentos aconteciam por interesse do acoitador que ganhava um trabalhador sem ter que pagar por ele o preço de mercado.

O aspecto mais significativo dessa situação é a participação do escravo no processo. Era ele quem saía da casa do seu dono para se estabelecer noutra residência. Assim, a única e fundamental diferença de uma fuga como outra qualquer é a cumplicidade desse alguém livre, interessado em adquirir o cativo. Essa não era uma fuga para se tornar um quilombola, ou um fugitivo a mais se fingindo de forro pelas ruas, mas a busca por um senhor menos despótico e/ou disposto a respei-tar alguns direitos que o fugitivo acreditava ter adquirido ou pensava em adquirir.

Também foi na década de 1840 que os roubos de escravos tornaram-se uma atividade corri-queira em Pernambuco. Roubo, não furto. Como coisa que era, de acordo com a lei brasileira, ele não poderia ser furtado, mas somente roubado. Considerava assim a legislação que só era possível tomar um escravo alheio através da violência (como, por exemplo, nos casos de rapto de crianças) ou então através da persuasão do cativo. Na linguagem das ruas, utilizada nos jor-nais e nas fontes policiais, o ladrão “seduzia” o cativo, oferecendo-lhe dinheiro ou outra vanta-gem qualquer. De acordo com a lei, o senhor – a vítima aqui – ficava indefeso no momento em que o ladrão convencia o cativo a deixá-lo. Através de um artifício de lógica jurídica portanto, o direito considerava que essa persuasão equivalia a coação direta, uma vez que impossibilitava o legítimo proprietário de defender a sua posse. Assim, a legislação admitia claramente que, para um ser humano ser “roubado”, era preciso que o “objeto” do crime, o cativo, consentisse no roubo. Ficava tacitamente reconhecida a capacidade do escravo de interferir no ato ilícito, agindo em seu próprio benefício. Ao contrário de outros bens semoventes, o cativo dificilmen-te poderia, sem consentimento, ser levado por outra pessoa.

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Na história do Recife, não há outro período de longa duração tão conturbado. A Insurreição de 1817, as manifestações de rua de 1823 e 1824, a Setembrizada em 1831 e os mata-marinheiros entre 1844 e 1848 são parte desse contexto. Vale a pena repetir que, obviamente, nenhum desses episódios foi uma rebelião escrava. Todavia, eles têm relevância para o entendimento da história da escravidão na cidade e em Pernambuco como um todo. Não que os cativos, a partir dessa conjuntura, entendessem a existência de “contradições” no sistema – não é assim tão simples. Mas eles com certeza percebiam que os brancos também brigavam entre si. Muitas das fissuras do sistema foram escancaradas naqueles momentos de perigo. A rotina era quebrada. Reinava aquilo que os contemporâneos letrados chamavam nos jornais de “anarquia”, “algazarras”, “distúrbios” e outros termos semelhantes. Os escravos aproveitavam-se das circunstâncias para avançarem suas lutas, em grupo ou individualmente.

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História

CRISE DA LAVOURA CANAVIEIRA

Durante várias décadas, até meados do século XX, quando foi suplantado por São Paulo, Per-nambuco foi o principal produtor nacional de açúcar. Até então, seus concorrentes mais impor-tantes - Bahia e Rio de Janeiro - não conseguiram ultrapassá-lo.

Na segunda metade do século XVII, o triunfo alcançado pelo açúcar já não era mais o mesmo. Nessa época, os holandeses foram expulsos da região Nordeste – principal polo de fabricação do açúcar brasileiro – para empreender o cultivo de cana-de-açúcar nas Antilhas. Nesse con-texto, Portugal não conseguiu fazer frente ao preço e à qualidade mais competitiva do açúcar antilhano. De tal modo, a produção açucareira entrara em crise. Podemos citar como principais causas da crise do açúcar:

- A União Ibérica (1580 a 1640), que estabeleceu o domínio da Espanha sobre Portugal e suas colônias. Este fato fez com que os espanhóis tirassem os holandeses da lucrativa atividade açu-careira brasileira, expulsando-os do Nordeste brasileiro. Após este fato os holandeses passaram a produzir açúcar em suas colônias nas Antilhas.

- Os holandeses conheciam o processo de fabricação de açúcar e tinham o controle sobre a dis-tribuição e comercialização deste produto. Logo, conseguiram conquistar os grandes mercados consumidores rapidamente, deixando o açúcar produzido no Brasil em segundo plano no mer-cado internacional. A concorrência holandesa foi, portanto, uma das principais causas da crise do açúcar brasileiro no período colonial, pois eles conseguiram produzir açúcar mais barato e de melhor qualidade do que o brasileiro.

A crise do açúcar reduziu drasticamente os lucros dos senhores de engenho do Nordeste e tam-bém diminuiu a arrecadação de impostos, provocando uma crise financeira em Portugal. A co-roa portuguesa rapidamente agiu em busca de uma nova forma de exploração colonial. Neste sentido, a coroa portuguesa estimulou a produção de outros gêneros agrícolas no Brasil como, por exemplo, tabaco e algodão.

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Vale ressaltar que, apesar da crise, a produção e exportação de açúcar permaneceram como prin-cipais atividades econômicas até o apogeu do Ciclo do Ouro (segunda metade do século XVIII).

Essa não seria a primeira e nem a última vez que a produção de açúcar brasileira viria a entrar em crise. A falta de condições para investimento e as várias oscilações experimentadas no mercado externo acabavam por deflagrar esses tempos de crise da economia açucareira. Apesar disso, não podemos nos esquecer que tal atividade econômica sempre figurou entre as mais importantes de nossa economia colonial. E, por isso, nunca chegou a entrar em uma crise definitiva que viesse a encerrar o negócio.

Engenho Espadas, em Pernambuco, no Brasil: um exemplo de engenho banguê em funcionamento na década de 1950

https://pt.wikipedia.org/wiki/Engenho_de_a%C3%A7%C3%BAcar#/media/File:Engenho1.jpg

As inovações em escala internacional introduzidas no século XIX determinaram a necessidade de modernização da indústria açucareira, dando margem ao programa imperial de implantação de engenhos de maior produção. Assim, a partir de 1874 foram implementadas melhorias nos banguês, visando à produção de açúcar branco e demerara, surgindo então as fábricas de maior capacidade de produção. Quando eram de propriedade particular, chamavam-se usinas; quando de empresas comerciais, geralmente estrangeiras, denominavam-se engenhos centrais. O que distinguia umas das outras era que as usinas, sendo de propriedade de antigos senhores de engenho e de parentes e vizinhos associados, não separavam a produção da industrialização da cana e utilizavam a mão-de-obra escrava, enquanto os engenhos centrais, subsidiados e com garantias de juros do capital aplicado pelo governo, tinham restrições quanto à posse de terras para a cultura da cana e à utilização da mão-de-obra escrava. A produção da cana a ser industrializada nos engenhos centrais era feita por proprietários de terra, antigos senhores de engenho que a vendiam ao engenho central, comprometendo-se a fornecer cotas anuais. Esses proprietários de engenho que desmontavam a sua indústria, eram chamados de fornecedores de cana, substituindo os banguezeiros.

http://3.bp.blogspot.com/_1dNjQ4O4_c8/TTO9xcs9SvI/AAAAAAAABXo/l9R4DXe_WX8/s1600/206b9985b54fb58ad12d85970a7dc302.jpg

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História – Crise da Lavoura Canavieira – Prof. Cássio Albernaz

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Os engenhos centrais instalados em Pernambuco a partir de 1884 tiveram pequena duração. Muitos deles foram vendidos a usineiros, sobretudo após a proclamação da República, face ao poder político que os chefes regionais passaram a exercer após a descentralização promovida pelo 15 de novembro.

O processo de extinção dos engenhos banguês e a sua substituição por usinas e engenhos centrais iniciado no último quarto do século XIX foi lento a princípio. Posteriormente houve uma tal aceleração, que em 1914 já colocara em funcionamento cerca de 56 usinas. Os engenhos centrais foram fechados ou transformados em usinas após a proclamação da República.

Do século XVIII ao XIX o açúcar continuou a ter importância na economia do nosso país, embora o café viesse a se tornar o principal produto brasileiro. Mas pouco a pouco o açúcar perdeu mercado e foi deixando de ser a base de sustentação da nossa economia.

Outros acontecimentos que prejudicaram o açúcar brasileiro, já no século XIX, foram o Bloqueio de Napoleão Bonaparte contra os navios ingleses transportadores de açúcar do nosso continente para o mercado consumidor europeu e o aparecimento do açúcar de beterraba, o chamado “açúcar alemão”. Esse novo produto foi utilizado pelos países consumidores como um produto substituto ao açúcar da cana, ocorrendo o agravamento da crise do nosso açúcar e os maus efeitos decorrentes da monocultura latifundiária em nossa economia.

Assim, a partir de meados do século XVIII e durante todo o século XIX, o preço do açúcar permaneceu reduzido à metade. Sem recursos próprios para conter a desvalorização do açúcar o Governo de Portugal e os produtores portugueses mudam atenção para o café, no século XIX.

http://3.bp.blogspot.com/_1dNjQ4O4_c8/TTPA7QShEAI/AAAAAAAABX4/_bBBs_kqQOw/s1600/Ciclos%252520-%252520MUNDO%252520EDUCACAO.jpg

Dessa forma houve no próprio funcionamento do ciclo do açúcar, elementos negativos que impediram sua viabilidade ao progresso. Ocorrendo, então, o encerramento do monopólio da economia açucareira que manteve sua importância, porém deixou de ser o principal produto e a base de sustentação da economia brasileira.

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História

A PARTICIPAÇÃO DOS POLÍTICOS PERNAMBUCANOS NO PROCESSO DE EMANCIPAÇÃO/ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Por 83 votos favoráveis e apenas nove contrários, a Câmara dos Deputados aprovou o fim da servidão no Brasil.

http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/05/11/interna_politica,386059/abolicao-da-escravatura-completa-125-anos-e-em-reconta-a-historia.shtml

No final do século XIX, a escravidão já havia sido abolida na maioria dos países. O Brasil seria o último país a abolir oficialmente a escravidão, pois durante muito tempo a aquisição de escravos foi um grande investimento.

De 1831 a 1850 inicia-se uma intensa luta contra o tráfico de escravos, resultado do confronto entre o Brasil, econômica e culturalmente assentado na escravidão, e as nações déias as, que concretizaram suas revoluções burguesas e da industrial e ansiavam por transformar os escravos em seus futuros consumidores. Em 1845 a Inglaterra aprovou o Bill Aberdeen, lei que permitia aos navios ingleses atacarem, em águas internacionais, navios brasileiros envolvidos com o tráfico de escravos. Com a intensificação da repressão ao tráfico, os ingleses passaram a atacar os navios nos portos brasileiros. A extinção do tráfico internacional, resultado de um acordo secreto entre os dois governos, não impediu que continuasse, por muitas décadas, o tráfico interno, onde os cafeicultores adquiriram os escravos do Nordeste.

A promulgação da Lei de Terras, em 1850, aumentou o poder dos proprietários de terra e donos de escravos com a proibição da posse da terra aos que nela já habitavam, além da expulsão dos índios e posseiros que lá viviam desde os tempos coloniais. Em 1850 é promulgada a Lei Eusébio de Queirós, que determinou o fim do tráfico de escravos para o Brasil. Essa lei proibiu o desembarque de negros africanos nos portos brasileiros. Os últimos 200 escravos trazidos para o país desembarcaram em Pernambuco, em 1855.

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Em 1871, a Lei do Ventre Livre declarava libertos os filhos das escravas nascidos a partir da aprovação da lei. Seus defensores afirmavam que a Lei do Ventre Livre, junto com a proibição do tráfico negreiro, assegurava a extinção gradual da escravidão no Brasil. Os donos de escra-vos, por sua vez, temiam ficar sem mão-de-obra para trabalhar em suas plantações. Eles acu-savam o governo de querer provocar uma crise econômica ao decretar essa lei. A Lei do Ventre Livre, porém, teve pouco efeito prático, já que dava liberdade aos filhos de escravos, mas os mantinha sob a tutela dos donos das mães até completarem 21 anos.

No ano de 1885 surge a Lei dos Sexagenários, também chamada Lei Saraiva-Cotegipe, que li-bertava os escravos com mais de 65 anos. Essa lei também não ajudou quase nada, pois poucos escravos conseguiam viver mais de 40 anos. Por quê? Eles trabalhavam muito, comiam pouco e suas senzalas não tinham nenhum conforto. Além disso, a maioria dos escravos se vestia com trapos, não tinha roupas quentes para se proteger no inverno e, quando ficavam doentes, em geral, continuavam trabalhando e não contavam com nenhum cuidado especial.

E, finalmente, em 13 de maio de 1888, acontece a Abolição da escravatura. A assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel, foi o término de um processo para atender os interesses capitalis-tas da Inglaterra, que pleiteavam a abolição da escravidão no Brasil.

Neste longo processo, uma das figuras mais representativas foi a do pernambucano Joaquim Nabuco. Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (Recife, 19 de agosto de 1849 — Washing-ton, 17 de janeiro de 1910) foi um político, diplomata, historiador, jurista, orador e jornalista formado pela Faculdade de Direito do Recife. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Na data de seu nascimento, 19 de agosto, é comemorado o Dia Nacional do Historiador. Foi um dos grandes diplomatas do Império do Brasil (1822-1889), além de orador, poeta e me-morialista. Além de “O Abolicionismo”, “Minha Formação” figura como uma importante obra de memórias, onde se percebe o paradoxo de quem foi educado por uma família escravocrata, mas optou pela luta em favor dos escravos. Nabuco diz sentir “saudade do escravo” pela gene-rosidade deles, num contraponto ao egoísmo do senhor. “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”, sentenciou.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Nabuco#/media/File:Joaquim_Nabuco_-_1902.jpg

Joaquim Nabuco se opôs de maneira veemente à escravidão, contra a qual lutou tanto por meio de suas atividades políticas e quanto de seus escritos. Fez campanha contra a escravidão na Câmara dos Deputados em 1878 (não foi reeleito em 1882), e em legislaturas posteriores, quando liderou a bancada abolicionista naquela Casa, e fundou a Sociedade Antiescravidão Brasileira, sendo responsável, em grande parte, pela abolição da escravidão no Brasil, em 1888.

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A Participação dos Políticos no Processo de Emancipação/Abolição da Escravatura – Prof. Cássio Albernaz

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Nabuco era um monarquista e conciliava essa posição política com sua postura abolicionista. Atribuía à escravidão a responsabilidade por grande parte dos problemas enfrentados pela sociedade brasileira, defendendo, assim, que o trabalho servil fosse suprimido antes de qualquer mudança no âmbito político. A abolição da escravatura, no entanto, não deveria ser feita de maneira ruptúrica, ou violenta, mas assentada numa consciência nacional dos benefícios que tal resultaria à sociedade brasileira.

Também não creditava a movimentos civis externos ao parlamento o papel de conduzir a abolição. Esta só poderia se dar no parlamento, no seu entender. Fora desse âmbito cabia somente assentar valores humanitários que fundamentariam a abolição quando instaurada. Criticou também a postura da Igreja Católica em relação ao abolicionismo, chamando-a de “a mais vergonhosa possível”, pois ninguém jamais a viu tomar partido dos escravos. E emendou: “A Igreja Católica, apesar do seu imenso poderio em um país ainda em grande parte fanatizado por ela, nunca elevou no Brasil a voz em favor da emancipação”. Após a derrubada da monarquia brasileira, Nabuco retirou-se da vida pública por algum tempo.

Outra personalidade envolvida no processo emancipatório dos escravos, foi o abolicionista Tobias Barreto, que apesar de não ser pernambucano, (era sergipano de Campos do Rio Real), estudou Direito na Faculdade do Recife e se transformou no principal teórico brasileiro à testa do movimento renovador das déias denominado de Escola do Recife, que ainda hoje repercute no Brasil e em algumas partes do mundo civilizado. Tobias Barreto de Menezes chegou ao Recife em 1862. Formado em Direito vai advogar na Comarca de Vitória, fixando-se no termo de Escada, por motivos de família.

http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/intranetSupremoEmDiaNoticia/imagem/2012/TobiasBarreto.jpg

O movimento em defesa da liberdade dos negros escravos pode ser dividido em três fases distin-tas, cada uma com sua importância. A primeira delas, eminentemente literária, constou de um engajamento intelectual principalmente no Nordeste brasileiro, com ênfase para Pernambuco, tendo como maior expoente o poeta baiano Castro Alves (1847-1871). Seus poemas arrebatados de humanidade, ecoavam como disparos destinados a sacudir a consciência escravocrata domi-nante. Nos saraus, nas récitas, nas páginas soltas dos bandos, e nos livros, as vozes poéticas dos primeiros abolicionistas abriam caminho para uma luta mais ampla em defesa da liberdade.

A partir de 1879, Joaquim Nabuco detonou uma movimentação enorme de imediata reper-cussão social, em defesa da liberdade dos cativos. A imprensa passava a ter, muito mais que antes, o papel de tribuna permanente da discussão em torno da questão servil e da abolição da escravatura. Muitos vultos surgiram no cenário do combate, dentre eles André Rebouças, que aprofundava o estudo da abolição para desdobrá-la num projeto de longo alcance, segundo

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o modelo francês das fazendas centrais. Ao tempo em que tomava dimensão nacional a luta, eram criadas as Sociedades abolicionistas, eram fundados os jornais que nas Províncias sus-tentavam o fogo, em defesa da liberdade dos negros. Era a vibração da segunda e mais ruidosa fase do movimento abolicionista.

A terceira e última fase, voltada para a libertação dos escravos e para a organização da socieda-de pela via econômica do trabalho livre, tem em Tobias Barreto a sua maior liderança. É nesta fase, como se verá adiante, que a campanha abolicionista dilata seu alcance para uma ampla crítica social, através da atuação, algumas vezes até panfletária, de Tobias Barreto, na tentativa de levar o povo à consciência da cidadania.

De volta ao Recife, Tobias Barreto entra na última fase criadora de sua vida de intelectual, como professor da Faculdade de Direito e como líder de um movimento fecundo, de grande repercus-são nacional, conhecido sob a denominação de Escola do Recife. Pernambuco estabelecia, no Nordeste, o compromisso engajado da sua Faculdade de Direito, em contraponto ao descom-promisso da Faculdade de Direito de São Paulo, onde uma geração de poetas abstraía a realida-de de uma sociedade em formação para intimizar seus sentimentos e suas perplexidades. Mais uma vez Pernambuco evoca para si os vínculos com a nacionalidade, com as causas sociais, com o futuro, desta feita tendo à frente a figura de Tobias Barreto.

Como muitos poetas do seu tempo, Tobias Barreto também engajou a sua poesia na defesa da liberdade dos negros. E o fez de três formas: exaltando a morena, mestiça brasileira, deploran-do a escravidão, de forma explicita, e inflamando as massas em torno das idéias de liberdade.

http://img.historiadigital.org/2009/11/Movimento-Abolicionista-Agostini.jpg

“Se Deus é quem deixa o mundoSob o peso que o oprime,Se ele consente o crime,

Que se chama escravidão,Para fazer homens livres,

Para arrancá-los do abismo,Existe um patriotismoMaior que a religião.

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A Participação dos Políticos no Processo de Emancipação/Abolição da Escravatura – Prof. Cássio Albernaz

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Se não lhe importa o escravoQue a seus pés queixas deponha,

Cobrindo assim de vergonhaA face dos anjos seus,

Que em delírio inefável,Praticando a caridade

Nesta hora a mocidadeCorrige o erro de Deus.”

(Tobias Barreto, A Escravidão, de 1868)

Revista Ilustrada, 1888.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Abolicionismo_no_Brasil#/media/File:Emancipa%C3%A7ao.jpg

Outras personalidades, não pernambucanos, mas que estudaram na Escola de Direito de Recife, também participaram ativamente na campanha e no processo abolicionista: Plínio de Lima, Castro Alves, Rui Barbosa, Aristides Spínola, Regueira Costa, entre outros. Juntos fundaram uma associação abolicionista formada por alunos daquela escola.

Na mesma turma de Joaquim Nabuco, forma-se outro abolicionista pernambucano: José Mariano Carneiro, fundador do jornal abolicionista A Província. Assim como Joaquim Nabuco, Barros Sobrinho, João Ramos, Alfredo Pinto, Phaelante da Câmara, Vicente do Café e Leonor Porto, José Mariano era membro da associação emancipatória Clube do Cupim, fundado em 1884 (logo após a abolição da escravidão no Ceará), que alforriava, defendia e protegia os escravos.

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(Joaquim Nabuco)

https://2.bp.blogspot.com/-OeqelziAun8/VvvB4nJbjiI/AAAAAAAAHfQ/2teIdfeU7YQniiPd8tIcKogp0nLSHeePA/s320/DSC06261.JPG

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História

VOTO DE CABRESTO E POLÍTICA DOS GOVERNADORES

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No ano seguinte à Abolição, o Marechal Deodoro da Fonseca (que foi o primeiro presidente, provisório) proclama a República, dando início à Primeira República ou República Velha. Este período compreende os anos de 1889 e 1930, quando a elite cafeeira paulistana e mineira re-vezava o cargo da presidência da República movida por seus interesses políticos e econômicos.

Esse revezamento ficou conhecido como Política dos Governadores ou "política do café-com--leite", o arranjo político que vigorou no período da Primeira República, envolvendo as oligar-quias de São Paulo e Minas Gerais e o governo central no sentido de controlar o processo su-cessório, para que somente políticos desses dois estados fossem eleitos à presidência de modo alternado. Assim, ora o chefe de estado sairia do meio político paulista, ora do mineiro.

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Após a proclamação da república, a 15 de novembro, dois militares se sucederam no comando do país, os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. A partir daí, a história do Brasil foi marcada por acordos entre as elites dos principais centros políticos do país, que à época eram minas gerais e São Paulo. Os "coronéis", grandes fazendeiros, optavam por candidatos da política café-com-leite, e estes, além de concentrar suas decisões na proteção dos negócios dos latifundiários, concediam regalias, cargos públicos e financiamentos.

O surgimento do nome "café-com-leite" batizando tal acordo seria uma referência à economia de São Paulo e Minas, grandes produtores, respectivamente, de café e leite. Entretanto, alguns autores contestam tal explicação para o surgimento da expressão, pois o Rio Grande do Sul seria o maior produtor de leite à época. O leite como referência a minas gerais teria vindo na verdade das características da cozinha mineira, representada pelo queijo minas ou mesmo pelo pão de queijo, e que assim, combinada com o a palavra "café", há muito associada a São Paulo (por ser este estado, sim, o grande produtor de café e seu maior representante), remeteria à expressão ainda hoje conhecida de "café-com-leite", usada para designar a pessoa que participa de uma ação com neutralidade, que não pode dar conselho e não pode ser aconselhado, que participa com condições especiais em algum evento.

Com Campos Sales (1898), instalou-se o poder dos governadores dos estados (política dos governadores), que tinham grande autonomia em relação ao governo federal e se articulavam para escolher os presidentes da república que tinham mandato de 4 anos sem direito a reeleição. Os presidentes e governadores tinham a prerrogativa de destituir (as chamadas "degolas") os deputados e senadores eleitos que não lhes fossem afeitos através das comissões de verificação dos poderes, que existiam nos congressos estaduais (atuais assembleias legislativas estaduais) e no congresso nacional. O voto não era secreto, o que tornava o voto de cabresto e a fraude eleitoral práticas comuns.

As eleições presidenciais ocorriam, de quatro em quatro anos, em 1 de março, e a posse dos eleitos se dava no dia 15 de novembro do ano da eleição presidencial. O candidato oficial a presidente da república era escolhido através de um acordo nacional entre os presidentes dos estados. De acordo com essa obra de engenharia política, o poder federal não interferia na política interna dos estados e os governos estaduais não interferiam na política dos municípios, garantindo-se lhes a autonomia política e a tranquilidade nacional.

O sistema político que vigorava, e que tinha o abuso de poder por conta da autoridade compra de votos e o uso das instituições públicas para favorecimento pessoal ou de terceiros, ficou conhecido como Voto de Cabresto. Nas regiões do Brasil em que encontramos a pobreza como companhia diária, encontrávamos, e ainda encontramos esta prática, que é a principal característica das práticas que definem o Coronelismo. Desde as primeiras eleições, ainda no Império, essas práticas de fraudar o sistema eleitoral é uma praga de difícil combate.

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História – Voto de Cabresto e Política dos Governadores – Prof. Cássio Albernaz

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No século XX, o auge do coronelismo, os eleitores precisavam levar apenas um pedaço de papel com o nome do seu candidato e depositar na urna. Tratava-se de qualquer papel, trazido de casa mesmo, muitas vezes entregues pelos próprios coronéis a seus funcionários e já preenchidos. É importante ressaltar que a grande maioria dessas pessoas era analfabeta, sabendo apenas assinar o seu nome. Como analfabetos não podiam votar, na época, levavam para as urnas os papéis já preenchidos, não levantando a suspeita de que não saberiam ler e escrever. Nos papéis estavam escritos o nome dos candidatos que eram convenientes aos próprios coronéis em relação as suas alianças políticas. Assim o coronel que tivesse mais influência, que tinha mais empregados, geralmente levantava mais votos para seus candidatos.

Já os empregados, como não sabiam ler, votavam sem ao menos saber o que estava escrito nos papéis que depositavam nas urnas, aonde chegavam através de um transporte fornecido pelo próprio coronel. Todo território Brasileiros estava repleto dessa figura, um grande fazendeiro que exercia poder total sob uma comunidade de camponeses humildes, muitas vezes liderando, e reprimindo, por via oral ou até mesmo pelo uso da força. Ou seja, quando o convencimento não surtia efeito em seus influenciados, o coronel recorria à violência para que os eleitores de seu “curral eleitoral” obedecessem às suas ordens. E como o sistema eleitoral era aberto, ficava muito fácil a fiscalização dos eleitores para que votassem nos candidatos exigidos pelo coronel. Usava esse poder, então, para garantir que os candidatos que eles apoiavam fossem eleitos.

Porém, durante a Primeira República, não eram apenas São Paulo e Minas os principais atores no jogo político do período, conforme percebemos pela carta do presidente da Câmara dos Deputados Arnolfo Azevedo ao presidente Washington Luís em 1926 (onde fala sobre a importância de um vínculo entre os jogadores cujo se desfazer era o fim do próprio jogo). “No baralho político há três ases e três reis”. “Quem vai dirigir o jogo precisa ganhar a partida e para ganhá-la é indispensável ter dois ases e um rei” (sendo os ases Minas, São Paulo e Bahia, e os reis Pernambuco, Rio e Rio Grande do Sul). “Sentar-se à mesa do jogo sem contar com esses trunfos é arriscado e quem tiver a maioria absoluta dos seus valores fará, não só um governo bom, mas ótimo e fácil”. Notamos, então, que eram seis as forças políticas estaduais do período.

Em 1929, com a grande crise econômica que se seguiu à quebra da bolsa de Nova Iorque, o café brasileiro ficou praticamente sem comprador, prejudicando enormemente os cafeicultores paulistas. O que aconteceu, na sequência, foi que o Estado de São Paulo, que deveria apoiar o próximo presidente da República (que seria o mineiro previamente escolhido Antônio Carlos Andrada), resolveu mudar. O Presidente Washington Luís voltou atrás e passou a apoiar outro candidato paulista, Júlio Prestes, o que provocou uma visível cisão dos grandes Estados.

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A cisão política do café-com-leite foi o resultado deste rompimento e, por isto, o estado de Minas Gerais se une logo ao Rio Grande do Sul. Tentou-se obter a adesão de Pernambuco, Bahia e do

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estado do Rio de Janeiro, oferecendo-lhes em troca a vice-presidência. A proposta foi aceita pela Paraíba, formando uma aliança política que ficou conhecida como aliança liberal, lançando um novo candidato próprio: Getúlio Vargas. Vargas mesmo assim foi derrotado nas eleições. No entanto, um clima instável e generalizado de insubordinação, de enorme inquietação política contra o estado de São Paulo e de sua dominação, passou a ser insustentável.

A motivação de todo este processo foi a morte de João Pessoa, que seria o candidato à vice-presidência da república na chapa de Getúlio Vargas. O evento, que a rigor não tinha nenhuma conexão com as inquietações políticas e com a concorrência eleitoral, passou-se a ter um pretexto de rompimentos políticos.

João Pessoa seria assassinado a tiros na capital pernambucana. A morte do ilustre paraibano, no entanto, impulsionou os revolucionários, que já arquitetavam a tomada de poder. Washington Luís foi deposto em 24 de outubro de 1930, vinte e um dias antes do término do seu mandato como presidente da república. Por este golpe militar, que passou o poder em 03 de novembro às forças político-militares, acontece a revolução de 1930 comandada por Getúlio Vargas.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f6/revolu%c3%a7%c3%a3o_de_1930.jpg

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História

PERNAMBUCO SOB A INTERVENTORIA DE AGAMENON MAGALHÃES

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Agamenon Sérgio de Godoy Magalhães (Vila Bela, atual Serra Talhada, 5 de novembro de 1893 — Recife, 24 de agosto de 1952) foi promotor de direito, geógrafo, professor (de Geografia) e político brasileiro; deputado estadual (1918), federal (1924, 1928, 1932, 1945), governador de estado (1937, 1950) e ministro (Trabalho e Justiça). Fomou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Recife (1916), em Recife, sendo em seguida nomeado para a promotoria da comarca de São Lourenço da Mata. No ano seguinte, retornou a Recife, onde fixou residência. Em 1918, foi eleito deputado estadual com apoio da agremiação governista estadual (Partido Republicano Democrata) e, em 1924, tornou-se deputado federal, reeleito quatro anos depois. Contudo, em 1930, rompendo com os governos estadual e federal, aderiu à Aliança Liberal formada em torno da candidatura de Getúlio Vargas. Após a revolução, apoiou o interventor Carlos de Lima Cavalcanti e ajudou a articular no estado o Partido Social Democrata (de sustentação ao Governo Provisório), pelo qual elegeu-se deputado constituinte em 1932.

Em 1934, foi convidado pelo presidente Getúlio Vargas para a pasta do Trabalho, Indústria e Comércio. À frente do ministério, promoveu intervenções em sindicatos, nomeando diretores de confiança do governo, e trabalhou na implementação de novas leis, como a que reservava dois terços dos postos de trabalho nas empresas comerciais e industriais para brasileiros e a que garantia uma indenização aos trabalhadores demitidos sem justa causa. Durante sua gestão foi criado também o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI). Em janeiro de 1937, passou a acumular com o Ministério do Trabalho, interinamente, o Ministério da Justiça e Negócios Interiores, onde permaneceu até o mês de junho. Era, então, elemento dos mais prestigiados junto ao governo federal e por isso mesmo deu apoio decidido ao projeto continuísta de Vargas, concretizado com o golpe que em 10 de novembro instituiu o Estado Novo.

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Aliado fiel de Vargas, ele entrou em choque com o interventor Lima Cavalcanti, seu antigo aliado, que tendia a apoiar a candidatura oposicionista de Armando de Sales Oliveira para a sucessão presidencial de 1938, e a quem acusara de conivência com o levante comunista deflagrado em novembro de 1935 em Recife por membros da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Por este motivo, em novembro de 1937, após a decretação do Estado Novo, Agamenon Magalhães foi nomeado interventor federal em Pernambuco, substituindo seu antigo aliado e opositor.

A interventoria de Agamenon Magalhães coincidiu ainda com os anos da presença militar norte-americana no Recife, em virtude das alianças em torno da Segunda Guerra. Este período foi marcado por transformações não apenas no cenário político, mas também no plano cultural. Ainda em 1941, os EUA iniciou a política de envio de observadores navais para vários portos brasileiros. O primeiro a chegar foi o capitão aposentado da US Navy W.A. Hodgman. Ele chegou ao Recife em 26 de fevereiro, sob as ordens do Escritório de Inteligência Naval. Recife era a terceira cidade do Brasil, com uma população estimada à época de 400 mil pessoas.

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Com a declaração de guerra contra as potências do Eixo, e a cessão de bases no litoral brasileiro combinada com as operações de defesa do atlântico sul, Recife passa a ser uma cidade estratégica para as pretensões americanas, e com o apoio de Agamenon Magalhães, Recife terá a Sede da Quarta Frota Naval e será a base das operações marítimas com raio de atuação do Canal do Panamá até o extremo sul das Américas, além de um campo de pouso construído pelos americanos e chamado de Ibura Field, que atualmente é o Aeroporto Internacional dos Guararapes.

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História – Pernambuco sob a Interventoria de Agamenon Magalhães – Prof. Cássio Albernaz

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Ocorrem muitas mudanças no estado. Contudo as mudanças não foram meramente militares, houve um impacto profundo na sociedade pernambucana e, em especial em Recife. Primeira-mente o impacto foi econômico, já que no auge de suas atividades a Quarta Frota mantinha cerca de 4000 homens no Estado, todos recebendo integralmente seus soldos e gastando, prin-cipalmente com os atrativos da vida nos trópicos. Passou a circular no mercado local dólares americanos, e isso impulsionou consideravelmente a comércio local e as atividades de apoio. Outros aspectos interferiram na vida do recifense, que teve que passar por um racionamento de combustível e apresentou inflação de bens e serviços locais.

Misto de populismo social com centralização política, o estilo de governo de Agamenon (por ele chamado de "ruralização") foi marcado pela busca da unidade social e política, apoiada na personalidade pública do interventor. O governo estadual procurou envolver-se em todos os setores da vida cotidiana, seguindo um ideário tradicionalista, autoritário e fortemente católi-co, que procurou apoiar-se tanto na censura oficial do DIP, quanto na utilização do jornal oficio-so, o Diário da Manhã.

A obra administrativa de Magalhães pode ser dividida, primeiro, pela busca desenfreada do "con-senso máximo" na sociedade pernambucana, a partir de uma falsa imagem de paz e harmonia social no Estado. Objetivo perseguido através de uma feroz repressão aos “adversários, críticos, comunistas, prostitutas, afro-brasileiros, vadios e homossexuais”. O governo Agamenon também combateu o cangaço e realizou obras contra a seca. Seu programa de erradicação dos mocambos (habitações insalubres) teve forte impacto entre as populações pobres e foi objeto de intensas e apaixonadas controvérsias entre sociólogos, antropólogos, engenheiros, sanitaristas e urbanistas. A campanha contra os mocambos assumiu um caráter ressocializador, na medida em que vincu-lava estreitamente habitação, saúde, integridade física e moral da família, trabalho e cidadania. Na verdade, ela escondia uma intenção civilizatória com a qual muitos não concordavam, como Gilberto Freyre, Mario Sette, Manuel Bandeira e outros.

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Outro aspecto dessa obra que merece atenção é a criação dos Centros Educativos Operários, cujo fim era “educar, regenerar, civilizar e integrar” os trabalhadores no seio da sociedade. A meta principal era fazer um trabalho de saneamento e profilaxia social, afastando os operários da doutrina marxista da luta de classes.

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Em janeiro de 1945, Agamenon Magalhães foi novamente chamado por Getúlio Vargas para a pasta da Justiça. Mas desta vez, Getúlio não preparava o fechamento das instituições (como em 1937), e sim a sua democratização.

Como titular da pasta, Agamenon aprovou o novo Código Eleitoral (Lei Agamenon) e convocou as primeiras eleições livres do Brasil, com a autorização para o funcionamento dos partidos políticos e o pleito direto para a presidência da República. No entanto, a tentativa de aprovar uma lei antitruste (chamada de "lei malaia" por seu opositor Assis Chateaubriand, fazendo assim menção ao seu apelido pernambucano, "China gordo", dado por Manoel Bandeira) aumentou as pressões de setores empresariais e militares contra o governo Vargas. Em outubro de 1945, Getúlio Vargas acabou sendo deposto, e com ele Agamenon deixou o ministério. O sucessor de Vargas, José Linhares, anunciou o veto à "lei malaia" como uma de suas primeiras medidas.

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História

MOVIMENTOS SOCIAIS E REPRESSÃO DURANTE A DITADURA CIVIL-MILITAR (1964-1985) EM PERNAMBUCO

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2015/09/06/internas_viver,596430/fotografo-reconstroi-memorias-de-pernambucanos-afetados-pela-ditadura-militar.shtml

No dia 1 de abril de 1964 a história política, social, econômica, cultural e religiosa, começava a ser definida de forma autoritária e opressora. Durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), os setores de oposição aos governos militares foram bastante vigiados, censurados e reprimidos. Inúmeras pessoas foram presas, muitas delas eram jovens que, independente de sexo, se vincularam a organizações, partidos políticos e entidades estudantis para lutar em prol da democracia. Dessa forma, os órgãos de informação nomearam de subversivos as pessoas e os diversos setores da sociedade que foram vistos como um perigo à ditadura, tendo em vista a lógica coercitiva do Estado. Com base em uma teoria que abarcava diferentes tipos de guerra, os militares combateram-nos, alegando defender a segurança e o desenvolvimento do país.

Em Pernambuco, o principal órgão de vigilância, censura e repressão do regime foi o Departamento de Ordem Política e Social de Pernambuco (DOPS-PE). Essa instituição surgiu como uma Delegacia de Ordem Política e Social, em 1935. Em 1961, transformou-se em um Departamento, ampliando o seu aparato coercitivo. Ele foi extinto somente em 1990 e a sua atuação foi bastante significativa. Isso porque além de realizar atividades de vigilância social e de prevenção e repressão ao comunismo, tinha as funções de realizar inquéritos sobre crimes de ordem política e social, exercer as medidas de polícia preventiva e controlar os serviços cujos fins estivessem em conexão com a Ordem Política e Social.

Um dos principais nomes ligados à resistência no estado de Pernambuco é o de Miguel Arraes governador deposto em 1964. Elegeu-se governador em 1962, com 47,98% dos votos, pelo Partido Social Trabalhista (PST), apoiado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e setores

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do Partido Social Democrático (PSD), derrotando João Cleofas (UDN) – representante das oligarquias canavieiras de Pernambuco. Seu governo foi considerado de esquerda, pois forçou usineiros e donos de engenho da Zona da Mata do Estado a estenderem o pagamento do salário mínimo aos trabalhadores rurais (o Acordo do campo) e deu forte apoio à criação de sindicatos, associações comunitárias e às ligas camponesas.

Arraes cercado por militares no dia do golpe.

https://www.google.com.br/search?q=ditadura+militar+em+pernambuco&biw=1366&bih=622&source=lnms&tbm=isch&sa=X&sqi=2&ved=0ahUKEwi615XUuIXMAhUCaD4KHfJxDQAQ_AUIBigB#tbm=isch&q=miguel+arraes+cassado&imgrc=5rUDKY2A5v2P4M%3A

Com a deflagração do golpe militar de 1964, tropas do IV Exército cercaram o Palácio das Prin-cesas (sede do governo estadual). Foi-lhe proposto que renunciasse ao cargo para evitar a pri-são, o que prontamente recusou para, em suas palavras, “não trair a vontade dos que o elege-ram”. Em consequência, foi preso na tarde do dia 1º de abril. Deposto, foi encarcerado em uma pequena cela do 14º Regimento de Infantaria do Recife, sendo posteriormente levado para a ilha de Fernando de Noronha, onde permaneceu por onze meses. Posteriormente, foi encami-nhado para as prisões da Companhia da Guarda e do Corpo de Bombeiros, no Recife, e da For-taleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Libertado em 25 de maio de 1965, exilou-se na Argélia.

Concedido o habeas corpus, Arraes foi orientado por seu advogado, Sobral Pinto, a exilar-se, sob pena de voltar a ser preso pela ditadura. Após recusa da França em recebê-lo, Arraes co-gitou pedir asilo ao Chile – onde, alguns anos depois, houve em 1973 o golpe militar de Pino-chet. Assim, Arraes tomou a Argélia como destino. Parecia até proposital, pois a Argélia tinha problemas sociais parecidos com os do Brasil. Durante o exílio, foi condenado à revelia, no dia 2 de março de 1967, pelo Conselho Pernambucano de Justiça da 7ª Região Militar. A pena, de 23 anos de prisão, pelo crime de “subversão”.

De modo geral, em todo o Brasil, diversos foram os movimentos de resistência ao golpe, como, por exemplo, o movimento estudantil, o movimento das mulheres, o movimento sindical etc. De modo mais específico, em Pernambuco houve uma representação importante por parte da Igreja, na pessoa de Dom Helder Câmara que teve um papel atuante e que determinou de for-ma direta no embate ao regime autoritário.

Uma das formas de repressão usadas pelos governos militares, diante da população foram os atos institucionais o (AI’S). Durante todo período de ditadura foram elaborados 16 AI’S. As re-presentações desses AIS significavam a cassação de direitos políticos entre outros e fez com que a sociedade se isolasse da participação que ela tinha antes de 1964 e só iria voltar a ter esses direitos após 1985.

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História – Movimentos sociais e Repressão Durante a Ditadura Civil-Militar (1964-1985) – Prof. Cássio Albernaz

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Representado por diversos lideres o movimento da Igreja teve seu apogeu em Pernambuco na pessoa de Dom Hélder Câmara, No dia 12 de março de 1964 foi designado para ser arcebispo de Olinda e Recife, Pernambuco, múnus que exerceu até 2 de abril de 1985. Instituiu um governo colegiado nesta diocese, organizada em setores pastorais. Criou o Movimento Encontro de Irmãos, o Banco da Providência e a Comissão de Justiça e Paz daquela diocese. Fortaleceu as comunidades eclesiais de base.

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Estabeleceu uma clara resistência ao regime militar. Tornou-se líder contra o autoritarismo e pelos direitos humanos. Não hesitou em utilizar todos os meios de comunicação para denunciar a injustiça. Pregava no Brasil e no exterior uma fé cristã comprometida com os anseios dos empobrecidos. Foi perseguido pelos militares por sua atuação social e política, sendo acusado de comunismo. Foi chamado de “Arcebispo Vermelho”. Foi-lhe negado o acesso aos meios de comunicação social após a decretação do AI-5, sendo proibida inclusive qualquer referência a ele.

Desconhecido da opinião pública nacional, fez TTP s tes viagens ao exterior, onde divulgou amplamente suas TTP s e denúncias de violações de direitos humanos no Brasil. Foi adepto e promotor do movimento de não violência ativa. Em 1984, ao completar 75 anos, apresentou sua renúncia.

Além da Igreja, o estado também ofereceu importantes núcleos rurais de resistência. Em Pernambuco a partir da década de 50 irá se articular diversas formas de movimentos sociais, em diferentes setores de mobilização, frente a situações sociais no meio rural que já carregava um peso de séculos, onde a terra explorada por uma pequena parcela burguesa que ao impor a economia de monocultura, agravou cada vez mais a vida de milhares de camponeses. A década de 50 é um marco importante não só para Pernambuco como para a História do Brasil, aonde efetivamente vai se falar em reforma agrária de uma maneira radical.

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http://3.bp.blogspot.com/_8NxAVnlUWrU/TIrKBz6392I/AAAAAAAABUE/1meUbdtPi3g/s400/Ligas+Camponesas+Permanbuco+-1955.JPG

Há que se destacar o surgimento das Ligas Camponesas, por iniciativa do Partido Comunista Brasileiro e que teve como principal figura incentivadora o advogado e deputado pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) Francisco Julião (1915-1999). As Ligas Camponesas organizaram milhares de trabalhadores rurais que viviam como parceiros ou arrendatários, principalmente no Nordeste brasileiro, utilizando o lema “Reforma Agrária na lei ou na marra” contra a secular estrutura latifundiária no Brasil. A primeira liga foi formada em 1954, em Vitória de Santo Antão, no estado de Pernambuco, reunindo 1200 trabalhadores rurais. O caráter dessas organizações abandonava as antigas medidas assistencialistas, passando a assumir uma atuação política mais ativa na luta pelos direitos dos trabalhadores rurais e pela distribuição de terras. As ligas camponesas foram totalmente reprimidas durante a ditadura civil-militar e seus principais líderes foram presos.

O golpe de 1964 alterou significativamente um momento histórico da nossa sociedade, a implantação do regime ditatorial se deu pelo consenso por parte da sociedade. Em Pernambuco, e mais especial na região da Zona da Mata Sul, havia um momento gênese que se desenvolvia.

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História

HERANÇA AFRO-DESCENTE EM PERNAMBUCO

O texto encontrado no site da Secretaria de Cultura de Recife, Núcleo de Cultura Afro-Brasileira, resume bem o aspecto da herança em questão: “a herança africana, trazida por milhões de ne-gros e negras vítimas do tráfico transatlântico, com uma enorme diversidade de grupos étnicos, fez do Brasil a segunda maior população de negros do mundo fora da África. Vivendo em condi-ções desfavoráveis, essa população negra brasileira, ao longo de sua história, utilizou-se de meca-nismos diversos para resistir à escravidão, que mesmo depois de um século abolida, faz amargar frutos que geram a necessidade de uma resistência permanente. Essa herança de luta está re-presentada nas formas singulares de manifestações culturais, artísticas e religiosas. O sonho de liberdade e dignidade do povo negro expressa-se de forma marcante na dança, na música, nas artes plásticas e, sobretudo, na religião do Candomblé, que tanto ajudou a preservar a memória ancestral do povo negro brasileiro. No Recife, as diversas manifestações culturais afro-brasileiras têm papel fundamental na rica cultura local. São de matrizes africanas, em sua grande maioria, as manifestações populares que colorem os quatro cantos desta cidade. (...)”

Em oposição ao legado negativo da escravidão, existe uma herança afrodescendente positiva e riquíssima no estado de Pernambuco, que se manifesta sobretudo na cultura: música, dança, co-mida, etc. Nota-se, também, a influência afrodescendente na oralidade da fala pernambucana, recheada de vocábulos provenientes da africanidade linguística (banda, cachimbo, fubá e molo-que, como exemplos), assim como alguns fenômenos linguísticos da oralidade e do português popular que são atribuídos à influência africana, como o apagamento do /r/ no final das palavras e a falta de concordância nominal, no português não padrão. Essas influências também ocorrem em outras regiões do Brasil, mas de forma diferenciadas localmente, muitas vezes.

Muito dessa herança sobreviveu às perseguições e às discriminações, adaptando-se. Os terreiros de candomblé de Recife, para esquivarem-se da política de repressão do estado, transformaram--se em sociedades carnavalescas, como o maracatu. Os negros, disfarçados de nobres, reverencia-vam a "Corte Real", mas na verdade evocavam os seus deuses. E assim continuaram por décadas, resistindo e sendo discriminados. O Maracatu (Rural ou Urbano), que atualmente faz parte do carnaval de Pernambuco, é propriamente um desfile carnavalesco, remanescente das cerimônias de coroação dos reis africanos. A tradição teve início pela necessidade dos chefes tribais, vindos do Congo e de Angola, de expor sua força e seu poder, mesmo com a escravidão.

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Outro exemplo é o Frevo (Frevo de Rua, Frevo Canção ou Frevo de Bloco), que teve origem na capoeira, cujos movimentos foram estilizados para evitar a repressão policial. O nome vem da ideia de fervura (pronunciada incorretamente como “frevura”). É uma dança coletiva, execu-tada com uma sombrinha, que seve para manter o equilíbrio e embelezar a coreografia. Atual-mente, é símbolo do carnaval pernambucano.

Além desses ritmos, podemos citar o forró (com influências também indígenas e europeias; baião, xote, xaxado e côco, que fazem parte do forró), o manguebeat (movimento de contra-cultura surgido em Recife, que mistura outros ritmos regionais, como maracatu, com hip hop, música eletrônica, etc) e a ciranda (um tipo de música e dança típica da Ilha de Itamaracá).

Caranguejo (símbolo do mangue beat) da Rua da Aurora, no Recife

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e4/Caranguejo_da_Rua_da_Aurora_-_Recife-PE_-_Brasil.jpg

A Capoeira, trazida pelos negros de Angola, inicialmente, não era praticada como luta, mas como dança religiosa. Mas, no século XVI, para resistir às expedições que pretendiam exterminar Palmares (quilombo localizado na Capitania de Pernambuco, no território do atual estado de Alagoas), os escravos foragidos aplicavam os movimentos da capoeira como recurso de ataque e defesa. Em 1928, um livro estabeleceu as regras para o jogo desportivo de capoeira e ilustrou seus principais golpes e contragolpes. O capoeirista era considerado um marginal, um delinquente. O Decreto-lei 487 acabou temporariamente com a capoeira, mas os negros resistiram até a sua legalização. E em 15 de julho de 2008 a capoeira foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro e registrada como Bem Cultural de Natureza Imaterial.

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História – Herança Afro-descente em Pernambuco – Prof. Cássio Albernaz

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Na culinária pernambucana, o legado africano é encontrado em muitos pratos e temperos, com destaque para alguns produtos que de lá vieram e que hoje são elementos fundamentais na alimen-tação: a banana, o amendoim, o azeite de dendê, a manga, a jaca, o arroz, a cana de açúcar, o co-queiro e o leite de coco, o quiabo, o caruru, o inhame, a erva-doce, o gengibre, o açafrão, o gergelim, a melancia, a pimenta malagueta, a galinha d’angola entre outros. Com a escassez da alimentação do escravo, os negros inventaram o pirão escaldado (massapê) e o mungunzá, por exemplo.

http://blackpagesbrazil.com.br/noticias/wp-content/uploads/2015/03/Comidas.jpg

Importante destacar a influência africana na religiosidade de Pernambuco, principalmente em re-lação à Xangô, que é o nome da divindade iorubá do trovão. Esta divindade é tão importante em Pernambuco que batiza a religião afro no Recife. Lá, os praticantes são chamados de xangozeiros.

https://www.google.com.br/search?q=xangozeiros+Recife&biw=1366&bih=622&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjN_rPT0ofMAhWGHpAKHUYlBqkQ_AUICSgE#imgrc=PWb9mos85LSudM%3A

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História

PROCESSO POLÍTICO EM PERNAMBUCO (2001-2015)

No ano de 2002, o Brasil teve eleições presidenciais, para o Senado, deputados estaduais e federais e para os governos dos estados e do Distrito Federal. Em Pernambuco, foi reeleito Jarbas Vasconcelos, do PMDB, pela coligação União por Pernambuco, com o PFL. Após sete anos no comando do estado renunciou ao mandato em 31 de março de 2006 para disputar, com sucesso, uma cadeira no Senado Federal. Jarbas Vasconcelos passou o governo para Mendonça Filho que perdeu a reeleição para o então deputado federal Eduardo Campos no 2º turno (em 2006).

Eleito em 1998, pela União por PE, na ocasião formada apenas por PMDB e PFL, após derrotar o então governador Miguel Arraes (PSB) por uma diferença de mais um milhão de votos, em sua primeira passagem pelo cargo o governador Jarbas Vasconcelos beneficiou-se enormemente de dois fatores, hoje, não mais existentes. O primeiro deles, de caráter político, relacionava-se à reeleição de um forte aliado no Estado, Marco Maciel (PFL), no cargo de vice-presidente da República, na chapa encabeçada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O segundo, esse de caráter econômico, dizia respeito à disponibilidade dos recursos oriundos da privatização da maior empresa do Estado, a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe).

http://www.senado.gov.br/senadores/img/fotos-oficiais/senador4545.jpg

Dessa forma, coube ao primeiro Governo Jarbas Vasconcelos realizar o processo de privatização, no segundo ano de seu primeiro mandato (2000), o que gerou recursos da ordem de 1 bilhão de dólares (em torno de 2 bilhões de reais), valor bem inferior ao que poderia ter sido alcançado se o processo tivesse se concretizado ainda no Governo Miguel Arraes. Acontece que, naquele período, por conta da relação cambial mais favorável, antes da crise dos chamados “tigres asiáticos” e da Rússia, a privatização poderia ter ficado na casa dos 2 bilhões de dólares (em torno de 3,7 bilhões de reais).

Os recursos não tardaram a aportar aos cofres do Estado logo no início do Governo Jarbas Vas-concelos. Isso, certamente, ocorreu em função de sua condição de forte aliado do Governo FHC-Maciel. Assim, o Estado de Pernambuco recebeu, por conta da privatização, uma anteci-pação de crédito da ordem de 100 milhões oriundos da Eletrobrás. Tal fato permitiu o início de uma série de obras de infra-estrutura, prioridade do primeiro Governo Jarbas Vasconcelos, que

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se ampliou nos dois anos seguintes à privatização da estatal, realizada em fevereiro de 2000. Des-sa forma, foram realizadas principalmente obras em barragens e adutoras no interior do Estado e a duplicação da BR232 – a maior e mais visível obra do primeiro Governo Jarbas Vasconcelos. Para duplicar os 153 km da estrada federal que liga Recife a Caruaru, município situado no Agreste pernambucano, estava previsto, inicialmente, uma contrapartida do Governo federal, o que não ocorreu até o final do mandato de FHC-Maciel. Nesse sentido, faltando ainda um ano para en-cerrar seu primeiro mandato, o Governo Jarbas Vasconcelos já havia utilizado 72% dos recursos oriundos da privatização da Celpe. O restante foi consumido em seu último ano de governo.

Sem dúvida alguma, a disponibilidade de tais recursos propiciou a realização de uma série de obras de infra-estrutura importantes no Estado, muitas das quais de grande visibilidade, e ajudou a cata-pultar a candidatura do governador Jarbas Vasconcelos em direção a outro mandato. Tendo decli-nado do convite para compor a chapa do tucano José Serra à Presidência da República, como seu vice, o governador Jarbas Vasconcelos optou por disputar a reeleição ao cargo. Se isso não tivesse ocorrido, possivelmente, a União por PE não sobreviveria às eleições de 2002, face às disputas que certamente ocorreriam para a definição da chapa majoritária e a ausência de alguém com a mesma densidade eleitoral do governador. O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) ganhou um segundo mandato obtendo uma expressiva vitória eleitoral, já no primeiro turno, assim como ocorrera qua-tro anos antes. Dessa vez, no entanto, ampliou ainda mais sua votação, obtendo 60,4% dos votos válidos, enquanto o candidato do PT, Humberto Costa, o segundo mais votado, chegou a 34,1%.

Em 2004, aconteceu no Brasil o referendo sobre armas de fogo. Em Pernambuco, foram 2.296.510 votos “não” contra 1.918.048 “sim”, em resposta à pergunta: O comércio de armas de fogo e mu-nição deve ser proibido no Brasil? O "não" venceu em todos os Estados, com destaque para Rio Grande do Sul, Acre e Roraima, onde a opção recebeu cerca de 87% dos votos. O melhor desem-penho do "sim" foi em Pernambuco e no Ceará, com pouco mais de 45% dos votos.

Em 2006, Eduardo Campos, neto do ex-governador Miguel Arraes, é eleito governador pelo PSB, sendo reeleito em 2010. Em abril de 2014 Campos retira-se do cargo de governador e se candidata à Presidência de República, com Marina Silva como vice. Porém, no dia 13 de agosto daquele ano, o avião que o levava, caiu em Santos (SP), matando Campos e mais seis pessoas.

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Apesar de jovem (49 anos), Campos era uma das mais influentes lideranças políticas brasileiras. Antes de ser governador, ele foi deputado federal por Pernambuco por três vezes e ministro da Ciência e Tecnologia. Ele também protagonizou um dos momentos mais surpreendentes da-quela corrida presidencial: conseguiu atrair Marina Silva para o PSB em outubro de 2013, após ela não obter o registro para formar o partido Rede Sustentabilidade. Em junho de 2014 os dois

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História – Processo Político em Pernambuco – Prof. Cássio Albernaz

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lançaram a chapa presidencial do PSB, com Eduardo Campos como candidato a presidente e Marina como vice. Ambos representaram a candidatura com uma “terceira via”, uma alternati-va à polarização PT-PSDB, que marca as eleições brasileiras desde 1994.

Eduardo Campos ocupou o Governo de Pernambuco durante sete anos (2007–2014). Na primeira gestão, destacam-se projetos e obras estruturadoras do governo Federal como a ferrovia Transnor-destina, a Refinaria de Petróleo Abreu e Lima, a fábrica de hemoderivados Hemobrás e a recupe-ração da BR-101. O socialista colocou as contas públicas na internet com o Portal da Transparência do Estado, considerado pela ONG Transparência Brasil o segundo melhor do país, entre os vinte e seis estados da federação e o Distrito Federal. O estado de Pernambuco cresceu acima da média nacional (3,5% em 2009) e os investimentos foram de mais de R$ 2,4 bilhões em 2009, contra média histórica de R$ 600 milhões/ano. A administração foi premiada pelo Movimento Brasil Competitivo.

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Na segurança pública, houve redução dos índices de violência com a implantação do programa Pacto pela Vida. O número de homicídios no estado sofreu uma queda 39,10% desde o início do programa. Além disso, 88 municípios pernambucanos chegaram a uma taxa de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) menor que a média nacional, que é de 27,1 por 100 mil habitantes. A redução também ocorreu com crimes como roubos e furtos. Entre 2007 e 2013, houve uma diminuição de 30,3% neste tipo de delito no estado. Em 2013, Eduardo anunciou o rompimento com o governo Dilma, saindo da base aliada junto com seus correligionários, orientando-os a entregarem os cargos de confiança nos vários escalões.

Entre os motivos do rompimento, Campos apontou a manutenção da aliança do governo Dilma com setores políticos tradicionais, entre os quais, com o PMDB. Aproximou-se de Marina Silva e a acolheu, com seus aliados, no PSB, chamando o novo movimento de "Nova Política". Este rompimento provocou uma rachadura entre a PSB e os aliados à presidente Dilma Rousseff do PSB do Ceará, com seu líder Ciro Gomes.

Nas eleições para o governo do estado, em 2014, Paulo Câmara, do mesmo partido de Eduardo Campos (PSB), é eleito com 68,08% dos votos válidos.

http://nilljunior.com.br/blog/wp-content/uploads/2014/11/Paulo_c_mara_32.jpg

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REFERÊNCIAS:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pernambuco

http://destinopernambuco.blogspot.com.br/2010/03/antes-mesmo-de-paranampuka.html

http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar./index.php?option=com_content&view=article&id=649&Itemid=188

http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/indios-o-brasil-antes-do-descobrimento.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/Capitania_de_Pernambuco

http://www.areliquia.com.br/artigos%20anteriores/41escrav.htm

http://www.old.pernambuco.com/diario/2003/09/22/especialholandesesf125_0.html

http://g1.globo.com/pernambuco/vestibular-e-educacao/noticia/2012/10/professor-de-historia-explica-presenca-da-igreja-catolica-no-brasil.html

http://www.revista.ufpe.br/revistaclio/index.php/revista/article/viewFile/794/647

http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo01/soc_acucareira.html

h t t p : / / h i s t o r i a d o b r a s i l 1 5 0 0 a 1 8 2 1 . o p e n b r a s i l . o r g / 2 0 1 1 / 1 2 / i n v a s a o - e m -pernambuco-1630-1654.html

http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/invasao-holandesa-portugal-perde-pernambuco-para-holanda.htm

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