Geologia - Repositório Aberto da Universidade do...
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UNIVERSIDADE DO PORTO
Faculdade de Cincias - Departamento de Geologia
Desenvolvimento sustentvel e educao cientfica:
Um estudo com alunos do 3o Ciclo do Ensino Bsico
Dissertao de Mestrado em Geologia para o Ensino
Geologia
FACULDADE DE CINCIAS UNIVERSIDADE DO PORTO
Cristina Manuela Folgado Antunes
Porto, 2006
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UNIVERSIDADE DO PORTO
Faculdade de Cincias Departamento de Geologia
Desenvolvimento sustentvel e educao cientfica: Um estudo com alunos do 3o Ciclo do Ensino Bsico
Dissertao de Mestrado em Geologia para o Ensino
Geologia
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Porto, 2006
DEPARTAMENTO OE GEOLOGIA FACULDADE DE CINCIAS DO PORTO
BIBLIOTECA
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Cristina Manuela Folgado Antunes
Desenvolvimento sustentvel e educao cientfica:
Um estudo com alunos do 3o ciclo do Ensino Bsico
Dissertao apresentada Faculdade de Cincias da Universidade do Porto, para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Geologia para o Ensino, realizada sob a orientao cientfica da Doutora Clara Vasconcelos, professora auxiliar do Departamento de Geologia da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto.
Faculdade de Cincias da Universidade do Porto Departamento de Geologia
2006
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"Temos de acabar com a superstio de que a nossa raa algo de especial, destinada a explorar totalmente o planeta em nome do seu egosmo. Pelo contrrio, devemos considerar que, tal como no antigo conceito de Vedas, este planeta a Me Terra - a Bhawani Vasundhara na tradio hindu e Gaia na Grega - que tem alimentado a conscincia durante milhares de milhes de anos, desde o lodo do oceano primordial at onde ela se encontra actualmente. De certo modo, a humanidade representa o crebro colectivo da Me Terra. E a conscincia humana, que possui potenciais ilimitados de desenvolvimento espiritual, tem agora de ultrapassar as limitaes primrias da raa e da nacionalidade, das crenas e das ideologias, para expressar cada vez mais os problemas globais."
Karan Singh (foi maraj de Caxemira e membro do governo de Indira Gandhi)
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Agradecimentos
Agradeo a todos os que, com as suas palavras e atitudes, me incentivaram e ajudaram a
concretizar este trabalho.
Doutora Clara Vasconcelos pela competncia, eficincia e disponibilidade com que
me orientou.
Aos meus professores e colegas de mestrado (os melhores que se podem ter) pelo
companheirismo e pelo que com eles aprendi.
Aos meus colegas da Escola Secundria de Ermesinde que, no meio do seu difcil labor,
encontraram tempo para me ajudar a implementar trs rondas de questionrios que
distriburam a 720 alunos, num total de 30 turmas (sem esta ajuda este estudo no se
realizaria).
Ao Conselho Executivo e Coordenadora de Directores de Turma do 3o Ciclo do
Ensino Bsico da Escola Secundria de Ermesinde, pela colaborao prestada.
Aos meus alunos pela alegria com que participaram no estudo exploratrio e nas minhas
aulas.
Aos meus amigos em especial ao Melo e minha comadre, pelo apoio incondicional.
D. Assuno que com o seu trabalho me permitiu concretizar o meu.
minha Me, Z, ao Manei, ao Joo e ao Pedro a quem este trabalho dedicado, por
acreditarem todos os dias que tudo o que fao " sempre muito bem feito" !
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Resumo
Desenvolver competncias que permitam o exerccio de uma cidadania responsvel e interveniente com prticas indutoras de desenvolvimento sustentvel , actualmente, uma prioridade em Educao. Ento, por que razo continuamos a educar os nossos jovens como se no existisse uma situao de emergncia planetria? Sabe-se que a comunidade, em geral, e os docentes, em particular, possuem percepes fragmentadas e superficiais sobre a situao global do Planeta. O desejo de possuir uma compreenso mais profunda, alargada, global e sistmica dos problemas que o planeta enfrenta, so as principais causas da escolha do tema desta dissertao. Acresce, ainda , o facto de esta problemtica complexa fazer parte dos actuais currculos dos Ensino Bsico e Secundrio. Com este trabalho, propusemo-nos contribuir para uma educao cientfica que contemple a "Situao no Mundo" como uma componente essencial na formao pessoal e social dos nossos jovens. Iniciado em Abril de 2005, este estudo, teve como principal objectivo determinar as percepes que os alunos do 3o Ciclo do Ensino Bsico, de uma Escola urbana situada no distrito do Porto, possuam sobre a actual situao do Mundo. Em termos metodolgicos optou-se pelo Estudo Delphi, um mtodo que permite obter julgamentos de grupo sobre matrias factuais onde no existem ou so insuficientes informaes precisas, ou onde os valores para cada informao so apenas uma opinio. Este mtodo distingue-se essencialmente por trs caractersticas, o anonimato, a interaco com "feedback" controlado e a representao estatstica das respostas do grupo. Na prtica, o estudo Delphi consiste na realizao de uma srie de questionrios, interligados, correspondendo cada srie a "um round" que designamos, para simplificar, por fase. Na fase I pediu-se a 748 alunos, da Escola supramencionada, que referissem os trs maiores problemas que afectam a humanidade. Obtiveram-se 670 respostas cuja anlise permitiu a distribuio dos problemas indicados em 11 categorias. Na fase II solicitou-se aos 670 participantes que responderam fase I que ordenassem as 11 categorias, atribuindo o valor 1 mais importante e o valor 11 menos importante. Procedeu-se ao tratamento de dados, recorrendo-se utilizao do programa SPSS 14.0 for Windows. Com base nesta anlise, as 11 categorias foram ordenadas segundo a opinio da maioria. Na fase III foi pedido aos alunos para compararem as suas respostas (dadas na fase II) com as da maioria. Solicitou-se, ainda, que em caso de desacordo procedessem a nova reordenao. Da anlise das respostas obtidas, concluiu-se que 600 alunos concordaram com a maioria (apenas 30 alunos, 5%, discordaram). Os resultados permitiram identificar as percepes dos alunos do 3o ciclo do Ensino Bsico da escola considerada sobre a actual situao do Mundo o que possibilitar, na prtica, uma interveno pedaggica no sentido de os alertar para alguns dos problemas menos referidos (como o caso do urbanismo excessivo e a sobrexplorao dos recursos naturais). Convm, ainda, salientar que o presente estudo se revelou importante ao nvel da formao destes alunos, futuros cidados que se pretendem conscientes dos problemas que afectam a Humanidade. Tal facto manifestou-se quer nas respostas dadas na fase I do Estudo Delphi, quer no empenho e entusiasmo que demonstraram em participar nas 3 fases que o mesmo envolveu. Refira-se, tambm, a importante contribuio desta investigao para o desenvolvimento pessoal e profissional da investigadora. Este estudo sobre Desenvolvimento Sustentvel, permitiu, ainda, verificar que, numa poca em que o desenvolvimento cientfico e tecnolgico tem consequncias marcantes na Situao do Mundo, fundamental intervir de forma a promover uma melhor compreenso das vantagens e inconvenientes da Globalizao e das complexas relaes entre Cincia, Tecnologia, Sociedade e Ambiente.
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Abstract
To develop abilities that permit the practice of a responsible and intervening citizenship with inductive practices that lead to sustainable development is currently a priority in education. Then, for what reason do we continue to educate our youths as if they don't exist in a situation of planetary emergency? It is known that a community, in general, and its educators, in particular, possess fragmented and superficial perceptions about the current global situation. The desire to possess a deeper, more profound and systematic understanding of the problems that our planet faces is the principal reason for the choice of this thesis topic. In addition to this, is the fact that this complex problem is part of the actual curriculum of elementary and secondary school students. This work proposes to contribute to a scientific education that contemplates the "Global Situation" as an essential component in the personal and social development of our youths. Commencing in April of 2005, this study, had as its principle objective, to determine the perceptions that pupils of an elementary school located in a suburb of the district of Porto, possessed about the actual global situation. In methodological terms, the Delphi Study was chosen due to the fact that this study allows for the obtainment of judgements from a group about factual matters where they don't exist or where the information needed is not sufficient or precise enough, or where the values for each piece of information are simply an opinion. This method distinguishes itself essentially due to three major characteristics which are: anonymity, interaction with controlled feedback and statistical representation of group responses. In practice, the Delphi study consists of the realisation of a series of linked questionnaires in which each series corresponds to a "round" that we assign, to simplify, by phase. In phase I, 748 pupils of the school aforementioned were asked what they feel are the three major problems that affect humanity. 670 responses were obtained in which analysis permitted the distribution of the problems indicated into 11 categories. In phase II, the 670 participants that responded to phase I were required to list these 11 categories, attributing the value of 1 to the most important and the value of 11 to the least important. The data was processed using the program SPSS 14.0 for Windows. With basis on this analysis the categories were ordered according to the majority's opinion. In phase III the pupils were asked to compare their responses (provided in phase II) with those of the majority. If students did not agree with the majority, they were now requested to reorder the categories. In analysis of the responses provided, the conclusion was that 600 pupils agreed with the majority (only 30 pupils, 5%, disagreed). The results obtained permitted the identification of the perceptions of the pupils of the school in study about the actual global situation, which will permit, in practice, the pedagogical intervention aiming to alert to some of the problems less mentioned (as is the case with excessive urbanisation and exploitation of natural resources.) It is necessary to point out that the present study revealed itself as important to the development of these pupils; future citizens that we wish to be conscious of the problems that affect humanity. This fact manifested itself not only in the responses given in phase I of the Delphi Study, but also in the persistence and enthusiasm that was shown by these pupils in participating in the remaining phases. Not to mention the important contribution that this investigation had on the personal and professional development of the investigator. This study on Sustainable Development permitted still, the verification that in a time where scientific and technical developments have significant consequences in the global situation, it is fundamental to intervene in a way that promotes better comprehension of the advantages and inconveniences of globalization and the complex relations between Science, Technology, Society and Environment.
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INDICE
Agradecimentos iii
Resumo iv
Abstract v
ndice vi
INTRODUO ix
1 .Contextualizao da investigao x
2.Dos problemas aos objectivos da investigao xiv
2.1.Problemas de investigao xv
2.2.Hipteses de trabalho xv
2.3.Objectivos da investigao xv
3.Organizao do trabalho xvi
Captulo I - Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel 2
1.1.Introduo 2
1.2. A Estratgia Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel 2
1.2.1 .Os pilares do Desenvolvimento Sustentvel 4 1.2.2.A Estratgia Nacional de Educao para o Desenvolvimento
Sustentvel 7
1.3.Educao Cultura e Sustentabilidade 10
1.4.0 Movimento CTS e a Educao Cientfica 12
1.4.1. As origens do movimento CTS 12 1.4.2. A importncia do estudo da Natureza da Cincia na tomada de
decises 13 1.5.A relao entre Crescimento Sustentado e Desenvolvimento Sustentvel em
Portugal 15
1.5.1.Ameaas e oportunidades para a sustentabilidade em Portugal 16
1.5.1.1.Pontos fracos: Ameaas 16 1.5.1.2.Pontos fortes: Oportunidades 20
vi
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Captulo II- Uma viso holstica da actual situao do Mundo 23
2.1. A globalizao 24
2.2. Principais problemas com que a Humanidade se debate 24
2.2.1. A poluio 25
2.2.1.1. Apoluio do ar 27
2.2.1.1.1.A destruio da camada de ozono 28
2.2.1.1.2.0 aquecimento global 30
2.2.1.1.3. As chuvas cidas 33
2.2.2. A poluio do solo 34
2.2.3. A poluio da gua 35
2.2.4. A sobrexplorao dos recursos naturais 37
2.2.4.1. A falta de gua potvel 39
2.2.5. A desflorestao a destruio da biodiversidade e
a desertificao 41
2.2.6. A destruio da diversidade cultural 44
2.2.7. A exploso demogrfica 45
2.2.8. O urbanismo excessivo 47
2.2.9. As catstrofes 49
2.2.9.1. As catstrofes provocadas pelo Homem 49
2.2.9.1.1. A guerra 49
2.2.9.1.2.0 terrorismo 50
2.2.9.1.3.0s incndios 51
2.2.9.1.4. A desertificao 53
2.2.9.2. As catstrofes naturais 56
2.2.9.2.1.Sismos e vulces 56
2.2.9.2.2.Tempestades e inundaes 57
Captulo III - Metodologia da investigao e implementao do estudo 59
3.1. Introduo 60
3.2. Caracterizao da Metodologia Delphi 61
3.3.Caracterizao da Escola onde se realizou o estudo 64
3.4. Implementao do Estudo 64
vii
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3.4.1.Estudo exploratrio 65
3.4.1.1.Metodologia 65
3.4.1.2. Resultados 67
3.4.2. Primeira fase do Estudo Delphi 69
3.4.2.1.Metodologia 69
3.4.2.2.Resultados 71
3.4.3. Segunda fase do Estudo Delphi 78
3.4.3.l.Metodologia 78
3.4.3.2.Resultados 79
3.4.4. Terceira fase do Estudo Delphi 81
3.4.4. l.Metodologia 81
3.4.4.2.Resultados 82
Captulo IV- Concluses e implicaes do estudo 85
4.1.Desenvolvimento Sustentvel: a nica soluo para a humanidade 86
4.1.1.0s principais riscos naturais e ambientais para Portugal 89
4.1.2.Formar cidados educar para a sustentabilidade 91
4.2. Principais concluses do estudo 92
4.3.Limitaes e constrangimentos 93
4.4.Implicaes e perspectivas para futuras investigaes 95
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 101
ANEXOS 113
Anexo 1 114
Anexo II 116
Anexo III 118
Anexo IV 120
Anexo V 122
viii
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INTRODUO
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Introduo
l.Contextualizao da investigao
"Os nossos antepassados encaravam a Terra como rica e generosa, o que na realidade . Muitas pessoas, no passado pensavam tambm que a Natureza era inesgotvel; o que hoje sabemos que s o ser se cuidarmos dela. No difcil perdoar a destruio do passado, que resultou da ignorncia. Mas, hoje temos a capacidade e a responsabilidade de a proteger"
(Dalai Lama, 1989).
Vivemos numa poca de profundas e rpidas mudanas onde o avano
tecnolgico e a corrida informao coexistem com a inevitvel procura da sobrevivncia.
Na Sociedade de excesso de informao e hiperconsumo em que vivemos torna-se
indispensvel a implementao de um desenvolvimento sustentvel, isto , que satisfaa as
necessidades do presente sem comprometer as geraes futuras.
O bem-estar e a qualidade de vida das populaes, proporcionados pelo
desenvolvimento econmico das sociedades em que esto inseridas, encontram-se
fortemente ameaados pela causa que lhes deu origem: o prprio desenvolvimento
econmico. Por outro lado, a diviso que tradicionalmente se fazia de problemas
ambientais locais, regionais, nacionais e internacionais no faz sentido, uma vez que hoje
se tem a noo de que estes limites no so estanques.
Nos ltimos quarenta anos, o Homem produziu mais de noventa por cento da
tecnologia da Histria. reas como a sade, os transportes, a habitao e as comunicaes
constituem exemplos deste sucesso. No entanto, a falta de valores no que concerne
tica, justia, harmonia social e solidariedade, ameaa o futuro da Humanidade: a
Cincia encontra-se ao servio de poucos (os ricos) e tem esquecido a maioria (os
pobres).0 progresso uma arma que deve estar ao servio da paz e a sua principal misso
dever ser a promoo de condies de vida dignas para todos os habitantes do Planeta.
Note-se que os pases tecnologicamente desenvolvidos consomem oitenta por cento dos
alimentos, enquanto que os pases pobres, como tm que sobreviver com o restante,
passam fome; os pases ricos possuem acesso fcil a medicamentos, hospitais e clinicas,
mas nos pases pobres morre-se de doenas curveis; os pases ricos dispem de gua
canalizada, aquecimento central, transportes pessoais e pblicos em abundncia, todavia
x
-
Introduo
nos pases pobres a gua utilizada, sem qualquer tratamento, directamente de rios e
lagos, anda-se a p ou, quando muito, em transportes precrios e envelhecidos.
As crianas so as principais vtimas dos problemas que afectam o mundo. Nos
pases pobres, uma em cada trs crianas sobrevive com fome e, todos os dias, mais de
quarenta mil morrem por desnutrio ou com doenas para as quais at existem vacinas.
Oito em cada dez famlias dos pases pobres no dispem de gua potvel. A carncia de
iodo provoca atrasos mentais em cerca de cento e vinte mil crianas todos os anos e
duzentas e cinquenta mil cegam por falta de vitamina A. Nos ltimos dez anos, a guerra
causou a morte de mais de seis milhes de crianas, e feriu muitas mais, especialmente por
causa das minas antipessoal. No mesmo perodo, mais de doze milhes de crianas foram
desalojadas e trezentas mil foram usadas como soldados.
H outros problemas de que raramente se fala e dos quais no existem estatsticas:
abandono e maus tratos; crianas rfs; trfico de bebs para lhes extrarem rgos que
so usados em transplantes nas clnicas privadas; pedofilia; escravatura em minas de ouro
e carvo, em plantaes de caf e cana-de-acar, fbricas, etc..
A sociedade da abundncia, do consumo e da poluio vive lado a lado com a
misria e a fome onde cada dia apenas mais um dia de luta contra a morte.Com a to
falada globalizao, hoje, mais do que nunca, necessrio uma educao que nos ajude a
tomar conscincia da situao geral, que nos permita aprofundar a compreenso global dos
problemas para que possamos implementar comportamentos responsveis e participar
activamente na tomada de decises (Edwards, 2003).
O desejo e a necessidade de possuir uma compreenso mais profunda, alargada,
global e sistmica dos problemas que o Planeta enfrenta, so as principais causas da
escolha do tema da presente dissertao. Acresce, tambm, o facto de esta problemtica
complexa fazer actualmente parte dos actuais currculos do Ensino Secundrio, diga-se,
desde j, com toda a pertinncia.
Com este estudo, propusemo-nos contribuir para uma educao cientfica que
contemple a "Situao no Mundo" como uma componente essencial na formao pessoal e
social dos nossos jovens, no mbito de uma cidadania responsvel e interveniente,
xi
-
Introduo
acreditando que a inovao no ensino das Cincias passa por rupturas (nem sempre fceis
de levar a cabo) com o paradigma epistemolgico dominante (Cachapuz, 1992).
Segundo Daniella Tilbury (1995), os problemas ambientais e do desenvolvimento
no se devem exclusivamente a factores fsicos e biolgicos, sendo tambm necessrio
compreender o papel dos factores estticos, sociais, econmicos, polticos, histricos e
culturais.
Ento, por que razo continuamos a educar os nossos jovens, em geral, como
se no houvesse uma emergncia planetria? (Orr,1995)
Segundo Mayer (1995), uma das srias dificuldades que se apresentam aos docentes
na realizao desta tarefa que as nossas prprias percepes espontneas sobre a situao
do mundo so, geralmente, fragmentadas e superficiais e incorrem numa intrnseca falta
de compreenso da situao global do Planeta, que se detecta na generalidade dos
cidados incluindo a maioria dos lderes nacionais e internacionais nas reas da poltica,
dos negcios ou da cincia. Para alm disso, o tratamento sobre a crise planetria em
educao e, em particular face aos docentes, tem incidncia nas percepes que possuem
alunos e professores sobre a situao do mundo (Edwards, 2003).
Um estudo sobre as percepes que os professores de cincias portugueses e
espanhis tm da situao do mundo, refere: Se queremos compreender correctamente,
para poder actuar de maneira efectiva, quais so os problemas que ameaam a vida neste
Planeta, parece claro que no basta referir alguns aspectos ambientais concretos e que
necessrio ter uma perspectiva global que mostre as estreitas relaes causais entre os
diversos problemas. Realizmos, por isso, um esforo de generalizao para mostrar a raiz
dos problemas e salientar o reducionismo causal que costuma afectar o estudo dos
problemas cientficos e, pior ainda, quando se trata de problemticas complexas como
aquela com que estamos a lidar, com srias implicaes ticas. O resultado dos nossos
estudos e debates est representado na figura 1.
xii
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Em sntese trata-se de
Estabelecer as bases de uni desenvolvimento sustentvel (que no comprometa o das
geraes futuras)
isso exige cm primeiro lugar
Criar instituies democrticas, tambm a nvel planetrio,
capazes de evitar a imposio de interesses particulares
nocivos para a populao actual ou para as geraes futuras
contra tsto, impe-se
universalizar os direitos humanos, todos eles interligados, desde os direitos democrticos de opinio, associao ...
aos direitos econmicos, sociais e culturais (ao trabalho, sade, educao ...)
e aos direitos da "terceira gerao" ou da solidariedade. como o direito a um ambiente saudvel
o que exige
Dirigir os esforos da investigao cientfica
para o desenvolvimento de tecnologias propiciadoras de
um desenvolvimento sustentvel
Impulsionar uma educao solidria,
capaz de superar a tendncia da orientao do comportamento em funo de valores c interesses
particulares a curlo prazo
Figura 1. Uma situao de Emergncia Planetria, Problemas e Desafios (Extrado de: Edwards, Praia, Peres & Vilches, 2001)
-
Introduo
Segundo os mesmos autores, como se visualiza no topo do diagrama, trata-se de ter
como base um desenvolvimento sustentvel, ou seja, que atenda s necessidades do
presente sem comprometer a capacidade das geraes futuras satisfazerem as suas prprias
necessidades.
No mesmo trabalho, referem-se os resultados obtidos num estudo que recorreu
utilizao do esquema da figura 1, com professores portugueses e espanhis. Partindo do
princpio que talvez sejam as referncias ao desenvolvimento sustentvel um dos
indicadores mais evidentes da ateno global situao do planeta. " sintomtico que em
todas as amostras analisadas - professores em actividade ou em formao, tanto espanhis
como portugueses - as percentagens que o mencionam sejam extremamente baixas
(abaixo do 12%)",(Praia et al.,2001, p.48).
Com base na concluso dos estudos anteriormente referidos, podemos inferir que
os nossos alunos possuem uma viso redutora da situao do mundo. Os problema que a
seguir se levantam partem deste pressuposto.
2. Dos problemas aos objectivos da investigao
Apesar de os curricula da maioria dos pases, onde se insere Portugal, inclurem ,
contedos, finalidades e o desenvolvimento de competncias relacionados com a
proteco do meio ambiente , em muitos casos estes so contemplados como reas
transversais. Tal facto pode verificar-se nas Orientaes Curriculares para o 3o ciclo do
Ensino Bsico, (M.E.,2001, p.26) :
"O trabalho pode desenvolver-se na disciplina de Cincias Naturais e na de Cincias Fsico- Qumicas em articulao ou ser abordado de forma transdisciplinar com a interveno das disciplinas de Histria, Geografia, Portugus, entre outras. Pode tambm ser desenvolvido na rea de Projecto, constituindo ocasio para os alunos realizarem actividades de pesquisa".
Na verdade, verifica-se que muitos destes aspectos no so tidos em conta na
Educao Cientfica. Assim, a constatao deste facto incentivadora da realizao de
uma pesquisa no sentido de verificarmos em que medida estamos a contribuir para que os
nossos alunos tenham uma verdadeira percepo dos problemas e desafios que afectam o
mundo e que esto a desencadear uma grave crise planetria. Com este objectivo
formularam-se os seguintes problemas de investigao:
xiv
-
Introduo
2.1.ProbIemas de investigao
As questes problema que presidiram nossa investigao foram:
*Quais as percepes dos alunos, do 3o ciclo do Ensino Bsico, sobre os problemas
(ambientais, sociais, ticos...) que afectam a Humanidade?
* possvel promover uma educao cientfica, a nvel da sala de aula, que conduza a uma
viso holstica da situao do Planeta?
2.2.Hipteses de trabalho
Numa tentativa de dar resposta aos problemas de investigao que colocamos,
formulamos as hipteses de trabalho que se apresentam:
*Os nossos alunos possuem uma viso redutora da situao do mundo.
* A aplicao do estudo de Delphi poder auxiliar a modificar as percepes dos alunos
sobre a situao do mundo.
* possvel mudar, atravs de estratgias de ensino /aprendizagem adequadas, a viso
redutora que os jovens tm sobre os problemas com que o Planeta se debate.
2.3.0bjectivos da investigao
Partimos do pressuposto de que a aplicao da metodologia Delphi permitiria
obter, de uma forma interactiva, juzos colectivos sobre questes debatveis e complexas.
Por outro lado pretendamos saber quais as percepes dos alunos, do 3o Ciclo do Ensino
Bsico, sobre os principais problemas e desafios com que a humanidade se debate. Assim,
estabeleceram-se os seguintes objectivos de investigao:
* Diagnosticar as percepes que os alunos tm sobre a actual situao planetria.
* Desenvolver estratgias com vista mudana das vises redutoras da situao no Mundo.
xv
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Introduo
^Construir material didctico, de acordo com o contedo programtico, para as reas mais
deficitrias diagnosticadas no estudo de Delphi.
3.0rganizao do trabalho
O presente trabalho encontra-se organizado em duas partes cada uma constituda
por dois captulos.
Na primeira parte, desta dissertao, que designmos por " Referenciais tericos",
apresentamos consideraes sobre a actual situao do mundo, referimos a importncia da
educao cientfica na formao de futuros cidados e cidads e salientamos a importncia
da adopo de medidas polticas globais na implementao de prticas promotoras de um
desenvolvimento sustentvel. No primeiro captulo faz-se um historial do papel da Educao, em especial da
Educao Cientfica, na formao dos nossos jovens.
No segundo captulo aborda-se de uma forma sucinta, mas global, a actual situao
do Mundo. Descrevem-se os principais problemas com que a Humanidade se debate e
propem-se algumas medidas para os combater.
Na segunda parte do nosso trabalho, designada " Da metodologia da investigao
s implicaes do estudo" detalhadamente descrita a metodologia da investigao
seleccionada ("Estudo tipo Delphi") apontando-se as razes da escolha deste instrumento
de investigao. Descrevem-se, ainda, todos os procedimentos efectuados, fzendo-se a
anlise e descrio dos resultados obtidos e das limitaes e constrangimentos
encontrados. No terceiro captulo feita a caracterizao do "Estudo Delphi", descrevendo-se a
pesquisa efectuada em estreita articulao com os resultados pretendidos e a amostra
seleccionada. Seguidamente, especifica-se a estrutura, organizao e dinmica das
diferentes fases que integram a investigao (figura 2), que foi concebida e
operacionalisada para determinar as percepes que os alunos do 3o Ciclo do Ensino
Bsico, de uma Escola situada no distrito do Porto, possuem sobre a actual situao do
Mundo. Ainda neste captulo, faz-se a anlise da informao obtida no Estudo Delphi e
apresentam-se os resultados.
xvi
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Sequncia da Investigao
Introduo
Incio da Investigao
Seleco da Amostra
Elaborao do
Questionrio
Seleco da Amostra (5% da amostra final)
Estudo Exploratrio
Aplicao do
Questionrio
Anlise das respostas
necessrio reformular o questionrio?
1a. Fase
2a. Fase
Estudo tipo Delphi
3a. Fase
1o. Questionrio
Anlise de Contedo
Categorizao das respostas
2. Questionrio
Anlise das respostas
Aplicao do 2o. e 3o.
Questionrios
Anlise das respostas
necessrio nova ronda?
No
Fim da Pesquisa
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Introduo
No quarto captulo, realiza-se uma reflexo geral sobre o trabalho, referindo as
respostas encontradas para os problemas da investigao e/ou justifica-se a sua
inexistncia. Propem-se, ainda, estratgias/materiais promotoras da Educao para a
Sustentabilidade com base no Ensino por Pesquisa (EPP), numa perspectiva de resoluo
de problemas(anexo V).
Finalizamos o nosso trabalho com a apresentao das concluses que consideramos
como mais relevantes, pelo facto de mais perto se prenderem com a realidade estudada,
bem como as limitaes e constrangimentos inerentes a este tipo de pesquisa. Assim,
inclumos um ltimo ponto nesta dissertao dedicada sugesto de alternativas para
futuras investigaes nesta rea que acentuem a perspectiva do "Educar para as prticas
de Desenvolvimento Sustentvel".
xviii
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CAPTULO I
EDUCAO CIENTFICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
Captulo 1. Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
"A Educao -hoje como sempre- a nica sede duradoura onde se pode propiciar uma reflexo serena sobre as implicaes estruturantes da evoluo tecnolgica e a sua relao com a marcha da humanidade. "
{Roberto Carneiro, 2001)
1.1. Introduo
Na Conferncia das Naes Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, Cimeira da
Terra, que decorreu no Rio de Janeiro em 1992, foi solicitada aos educadores a
contribuio para a clarificao e compreenso pblicas dos problemas e desafios
relacionados com o futuro do Planeta.
Por esta razo, na Agenda 21, pede-se aos educadores (independentemente do
campo especfico de trabalho) que contribuam para a implementao de prticas de
desenvolvimento sustentado que tornem possvel a participao dos cidados em busca de
solues.
1.2. A Estratgia Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel
As Naes Unidas e a Unio Europeia, entre outras entidades e instituies, tm
apelado necessidade de tornar operacional a demanda pela sustentabilidade atravs da
formulao e implementao de estratgias nacionais para o desenvolvimento sustentvel.
A prpria Unio Europeia deu o exemplo ao aprovar a sua prpria Estratgia Comunitria
para o Desenvolvimento Sustentvel (2001). As Naes Unidas, por seu turno, decidiram
consagrar a dcada de 2005-2015 consagrao universal do carcter estratgico do
desenvolvimento sustentvel.
A Estratgia Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel (ENDS) resulta de um
esforo iniciado em 2002 e que, depois de diferentes fases de desenvolvimento, foi
implementado em Janeiro de 2005."O Grande Desgnio que enforma a Estratgia Nacional
de Desenvolvimento Sustentvel o de fazer de Portugal, no horizonte de 2015, um dos
pases mais competitivos da Unio Europeia, num quadro de qualidade ambiental e de
coeso e responsabilidade social" (EDNS, 2004,p.4).
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
Por Estratgia Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel (ENDS) para o
perodo 2005/15 entende-se um conjunto coordenado de actuaes que, partindo da
situao actual do Pas, com as suas fragilidades e potencialidades, permitam num
horizonte de 10/12 anos assegurar um crescimento econmico clere e vigoroso, uma maior
coeso social, e um elevado e crescente nvel de proteco do ambiente. A ENDS construi-
se como um processo poltico que pretende tornar operacional uma integrao harmoniosa
das dimenses ambiental, social e econmica na concepo e implementao das diferentes
polticas pblicas, orientadas no mdio e longo prazo pela viso de um Portugal moderno,
mais justo, mais convergente com os seus parceiros europeus, empenhado na construo da
Unio Europeia e com voz activa nas iniciativas por uma ordem internacional que promova
a paz e o desenvolvimento sustentvel escala planetria.
Segundo a Comisso Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Naes
Unidas, 1988) entende-se por Desenvolvimento Sustentvel o desenvolvimento que
satisfaz as necessidades da presente gerao sem comprometer a capacidade das
geraes futuras satisfazerem as suas prprias necessidades. Este conceito, surgiu em
1987 no Relatrio "O Nosso Futuro Comum", mais conhecido por Relatrio Brundtland, da
autoria de Gro Harlem Brundtland, que o definiu como: O processo de desenvolvimento
que permite s geraes actuais satisfazerem as suas necessidades sem colocar em perigo a
satisfao das necessidades das geraes futuras. Tal significa que o processo de
desenvolvimento das sociedades actuais no deve ser sinnimo de explorao exaustiva de
recursos naturais, sob pena de comprometer a sobrevivncia das geraes futuras por falta
de recursos. Assim, o desenvolvimento sustentvel um conceito econmico e uma
exigncia tica.
Em 1992, realizou-se no Rio de Janeiro a Conferncia das Naes Unidas sobre
Ambiente e Desenvolvimento, a clebre Cimeira da Terra, na qual foi definido e elaborado
o plano de aco para o Desenvolvimento Sustentvel, a Agenda 21. Este documento foi
redigido como um plano estratgico para o desenvolvimento a ser aplicado por todos os
pases, de forma a permitir o desenvolvimento das sociedades sem colocar em perigo os
ecossistemas, e simultaneamente combatendo a pobreza, a fome e o analfabetismo.
No entanto, apesar de os dramticos apelos das Naes Unidas (1992), a ateno prestada
ao estado do Planeta por organizadores curriculares, professores de cincias e
investigadores em Educao e Cincia , ainda, muito frgil (Edwards, 2000).
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
Neste contexto, como educadores nosso dever possibilitar que os jovens adquiram
uma verdadeira cultura cientfica, no esquecendo que ser cientificamente culto implica
tambm atitudes, valores e novas competncias (em particular abertura mudana, tica da
responsabilidade, aprender a aprender) capazes de ajudar a formular e debater
responsavelmente (UNESCO, 1999).
1.2.1. Os pilares do Desenvolvimento Sustentvel
A implementao do desenvolvimento sustentvel assentava inicialmente em duas
dimenses fundamentais: o desenvolvimento econmico e a proteco do ambiente. Aps a
Cimeira Social de Copenhaga, realizada em 1995, foi integrada a vertente social como
terceiro pilar do conceito de desenvolvimento sustentvel. Assim, embora actualmente o
desenvolvimento sustentvel mantenha o mesmo desgnio global, a sua implementao
realizada com base em trs dimenses essenciais: o desenvolvimento econmico, a coeso
social e a proteco do ambiente.
A definio clssica de Desenvolvimento Sustentvel da World Commission on
Environment and Development (1987), reuniu um amplo consenso, embora, por vezes, este
consenso seja meramente formal e esconda srios mal entendidos (Vilches, A., Gil-Prez,
Edwards, M., Praia, J. & Vasconcelos, C , 2001). Por esta razo a expresso
"desenvolvimento sustentvel" deu lugar a expresses tais como, construo de uma
sociedade sustentvel (Roodman,1999).
Mas como poderemos direccionarmo-nos para uma sociedade sustentvel ( ou
de desenvolvimento sustentvel)?
Atendendo a que nos ltimos anos se tem vindo a impor a ideia de que as polticas e
os regulamentos ambientais podem ter um impacte negativo na competitividade das
empresas, com as consequentes implicaes econmicas e sociais, alguns sectores
empresariais organizaram-se na formulao de normativos do que devem ser as relaes
entre a proteco ambiental e a actividade industrial. Surge, ento, o conceito de
ecoeficincia proposto pelo World Business Council for Sustainable Development: "a
ecoeficincia corresponde produo de bens e servios a preos competitivos que
satisfaam as necessidades humanas, melhorem a qualidade de vida e, progressivamente,
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
reduzam os impactes ecolgicos e a intensidade de utilizao de recursos nas diferentes etapas do ciclo de vida at ao nvel compatvel com a capacidade de carga estimada do planeta"(Costa, 1999,p.22).
Nesta definio o conceito de sustentabilidade acolhe-se na formulao "...at ao nvel compatvel com a capacidade de carga estimada do planeta", enquanto introduz a ideia de competitividade como elemento essencial ao prosseguimento da actividade. Tambm, como j foi referido, a percepo da importncia social da actividade econmica viria a evidenciar a necessidade de acrescentar uma nova dimenso ao conceito de desenvolvimento sustentvel.
Surge assim o conceito dos trs pilares do desenvolvimento sustentvel: crescimento econmico, equilbrio ecolgico e progresso social ou, numa formulao alternativa, competitividade, ambiente e desenvolvimento social, (Costa, 1999), como se pode visualizar na figura 2.
Desenvolvimento Social
Ambiente Competitividade
Figura 2 : Os trs pilares do desenvolvimento sustentvel (Extrado de Costa, 1999).
Esta trilogia corresponde afinal, interaco dos grandes grupos em presena: as empresas, a administrao pblica e a sociedade civil. No entanto, sob o nosso ponto de vista, a implementao de polticas e programas promotores de um desenvolvimento
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
sustentvel (figura 3), implica a existncia de uma cultura cientfica slida e adequada a
uma tomada de decises que se pretende consciente e informada.
Progresso Social
Equilbrio Ecolgico Crescimento Econmico
Figura 3. Os trs pilares do Desenvolvimento Sustentvel.
Segundo diversos autores, entre os quais se salientam Vilches, et ai. (2001), em
matria pedaggico educacional, uma fronteira deveria separar as pessoas que tm uma
percepo dos problemas das que no tm uma propenso para contribuir para tomadas de
deciso e aco. Tal percepo deve conseguir ser suficiente para se entender, por exemplo,
que uma educao para o desenvolvimento sustentvel incompatvel com uma
publicidade agressiva que estimule o consumismo exagerado e pouco racional. Para tal
educao, necessrio promover a anlise das concepes que esto presentes como
"bvias e inquestionveis". Este o caso muito particular da ideia de competitividade.
Assim, quando se fala de uma economia competitiva (algo necessrio para que um pas
possua uma "economia sustentada" que torne possvel um desenvolvimento sustentvel),
devemos cuidar para que este comportamento no seja agressivo e portanto, incompatvel
com os objectivos do desenvolvimento sustentvel. Neste sentido, necessitamos de uma
educao que ajude os professores e os alunos a analisarem as aces sob um ponto de
vista global, tendo em considerao as repercusses a curto, mdio e longo prazo, quer em
termos pessoais quer para toda a humanidade (Vilches, et ai. 2001). O que comprova a
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
afirmao de Cachapuz et ai., (1997) segundo o qual para chegar sociedade do
conhecimento hoje claro, a importncia de uma adequada cultura cientfica/tecnolgica
na emergncia do progresso social que ela pressupe. E por isso que a questo de uma
adequada Educao em Cincia se coloca actualmente em toda a sua pertinncia no mbito
da educao formal, no formal e mesmo informal.
Assim, as Orientaes Curriculares, provenientes do Ministrio da Educao (2001),
integram plenamente o tema que pretendemos investigar. Estas orientaes, sugerem que:
A rea disciplinar Cincias Fsicas e Naturais, atravs dos contedos incide em
campos diversificados do saber;
As experincias vividas na sala de aula devem levar organizao progressiva do
conhecimento e capacidade de viver democraticamente;
Sempre que possvel, devem ser criadas situaes de aprendizagem centradas na
resoluo de problemas;
Sempre que possvel, sejam implementadas experincias educativas onde o aluno
desenvolva atitudes e valores, respeitando a tica e a sensibilidade, inerentes ao
trabalho em Cincia, avaliando o seu impacte na sociedade e no ambiente;
Tais indicaes inserem-se nos objectivos gerais seleccionados pelo Grupo de
Trabalho do Conselho Nacional de Educao, para a promoo de uma cidadania
participativa.
1.2.2. A Estratgia Nacional de Educao para o Desenvolvimento Sustentvel
Todos estamos de acordo quando se afirma que um dos pilares do desenvolvimento
sustentvel o equilbrio ecolgico. No entanto, todos os dias somos confrontados com
alteraes ambientais a um ritmo alarmante: as emisses de gases com efeito de estufa,
entre outras causas, fazem aquecer a Terra; as plataformas glaciarias fragmentam-se; o
nvel do mar sobe; rios e mares secam; as secas perduram; a eroso aumenta; as reservas de
gua doce diminuem; os ciclos das estaes alteram-se; os habitats mudam e os fogos
aumentam.
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
Tambm a guerra, quase sempre movida pela corrida aos recursos naturais, com a
consequente violao de direitos humanos, a fome, as catstrofes naturais que sempre
causam mais danos nas populaes mais desfavorecidas, a exploso demogrfica, o
hiperconsumo o desequilbrio norte-sul, so acontecimentos que devemos analisar e ter em
conta na educao dos nossos jovens.
Coloca-se ento uma nova questo. Estar ao alcance do cidado comum
modificar a situao?
Mais do que atitude, necessria uma formao adequada (Telles, 2004) e
principalmente iniciativas a nvel governamental. Neste mbito surgiu a Estratgia
Nacional de Educao para o Desenvolvimento Sustentvel (ENEDS) que deve constituir-
se como um documento estratgico de mdio prazo para a promoo da Educao para a
Sustentabilidade, em Portugal, em especial durante a dcada das Naes Unidas (2005-
2015).
A relevncia de uma ENEDS deve ser vista a vrios nveis: nacional, europeia,
transatlntica e mundial e deve articular-se com a Lei de Bases da Educao, Estratgia
Nacional de Desenvolvimento Sustentvel e a Estratgia de Conservao da Natureza e da
Biodiversidade, entre outros.
A Educao para o Desenvolvimento Sustentvel (EDS), dever assentar nos quatro
pilares do Relatrio Delors (aprender a conhecer, aprender a viver em comum, aprender a
fazer e aprender a ser), Delors, J. et al.,(1996).
A principal meta da EDS promover a aprendizagem/vivncia de saber, saber viver
em comum, saber fazer e saber ser, indispensveis a uma efectiva participao individual e
comunitria, na tomada de decises e implementao de prticas que visem a construo de
um futuro sustentvel, tomando em considerao as dimenses ambiental, social e
econmica.
A EDS deve assentar numa abordagem holstica, transdisciplinar, reflexiva, critica e
participativa e deve estar presente em todos os programas e nveis de educao formal, no
formal e informal, o que se pretende ilustrar com o esquema da figura 4.
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
ABORDAGEM
Formal No Formal Informal
Figura 4. A Educao para o Desenvolvimento Sustentvel (EDS) - Formas de abordagem.
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
Assim sendo, importante salientar a relevncia de uma abordagem holstica da
educao e em particular, da educao em cincias. Segundo Woolnough (1989) citado
por Almeida, A, (2001,p.54):
"...centrar o ensino da cincia nas suas partes no significa que se ensine cincia, atendendo a que o todo mais do que a soma das partes e diferente. Neste sentido, a cincia, tal como o ensino da cincia, deve ser vista como uma actividade holstica de resoluo de problemas (holistic problemsolving activity) onde ocorre uma interaco continua entre o conhecer e o fazer."
De acordo com as sugestes da UNESCO, e considerando algumas especificidades
de carcter europeu e nacional, devero estabelecerse, entre outras, as seguintes temticas
centrais:
Promoo da igualdade entre gneros e dos direitos das crianas (como
aspectos decisivos da igualdade da pessoa humana);
Promoo participao pblica alargada (optimizando as formas de
participao);
Valorizao do rural e do interior e recuperao do urbano litoral (onde
so de destacar as questes das regies rurais de agricultura tradicional, de
presso humana sobre o litoral e a vida nas cidades);
Cooperao transfronteiria e europeia para a sustentabilidade (como
forma de criao de polticas sustentveis de coeso), (Freitas, 2004).
O que nos leva a concluir que educar para a sustentabilidade , cada vez
mais, uma questo tica.
1.3. Educao, Cultura e Sustentabilidade
Formar e educar so os princpios orientadores de pais e professores preocupados
com a insero dos jovens na sociedade em que vivemos. Nesta sociedade global e
consequentemente multicultural em constante transformao, a educao assume um papel
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
fondamental na sobrevivncia individual e colectiva do ser humano enquanto pessoa e
cidado. Para Silva, B., (1998):
"o conceito de educao utilizado com diversas acepes conforme a aproximao que se faz a determinadas teorias. A polissemia do termo reflecte-se nos diferentes usos: como um produto, um processo, o estar educado (expresso que se refere a uma problemtica de raiz filosfica- o homem educado), uma relao entre diferentes agentes e como um sistema..."
Tambm ao longo dos tempos este conceito tem sofrido alterao. Assim, segundo
a Enciclopdia Lello Universal (1978), a educao pode ser definida como o conjunto dos
esforos reflectidos , por meio dos quais se auxilia a Natureza no desenvolvimento das
faculdades fsicas, intelectuais e morais do homem, tendo em vista a sua perfeio, a sua
felicidade e o seu destino social. Numa definio mais abrangente a educao pode definir-
se como a forma de aquisio da cultura de um sistema scio-cultural por um indivduo.
Mas o que a cultura ?
Para Edgar Morin (1999, p.61), "cultura o conjunto dos saberes, saber- fazer,
normas, interdies, estratgias, crenas, ideias, mitos que se transmitem de gerao em
gerao, reproduz-se em cada indivduo, controla a existncia da sociedade e mantm a
complexidade psicolgica e social."
Logo, apesar da globalizao (e tambm por causa dela), preservar a cultura dos
diferentes povos que constituem a humanidade algo to importante que se torna
inquestionvel para as sociedades democrticas e pluralistas. Neste sentido, a UNESCO
atravs da sua declarao universal sobre a identidade cultural, em Novembro de 2001,
apresentou a seguinte definio de cultura: A cultura deve ser considerada como o conjunto
de traos distintivos, espirituais e materiais, intelectuais e afectivos que caracterizam uma
sociedade ou um grupo social; (...) engloba alm das artes e das letras, os modos de vida, as
formas de viver em conjunto, os sistemas de valores, as tradies e as crenas.
Esta definio, segundo Wolton, D. (2003, p.29) "encontra eco na Cimeira de
Joanesburgo de Setembro de 2002, em que a diversidade cultural foi apresentada como
garantia do desenvolvimento sustentado".
Mas, como j foi referido, no pode haver desenvolvimento sustentado, sem uma
cultura cientfica adequada.
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
1.4. O Movimento CTS e a Educao Cientfica
Nos ltimos anos, o Ensino das Cincias tem vindo a recorrer insistentemente a
temas como a alfabetizao cientfica e tecnolgica, compreenso pblica da cincia,
cincia para todos, cultura cientfica e tecnolgica, e educao CTS ( Cincia, Tecnologia e
Sociedade). Estas temticas so o reflexo da existncia de vrias directrizes sobre polticas
educativas de organismos tais como a UNESCO (1990,1994), o International Council for
Science (UNESCO-ICSU, 1999 a, b),o International Bureau of Education (Poisson, 2000) e
a Organizacin de Estados Iberoamericanos para la Education, la Cincia y la Cultura
(OEI; 2001). Assim, na actualidade, numerosos especialistas, de todo o mundo, em didctica das
cincias, defendem que a principal finalidade do ensino das cincias deve ser a
alfabetizao cientfica e tecnolgica (Manassero, M. A.,et ai , 2003).Como justificao
alegam motivos socioeconmicos, culturais, de autonomia pessoal, prticos de utilidade
para a vida quotidiana, cvicos e democrticos para a participao social em decises sobre
muitos assuntos de interesse pblico relacionados com a cincia e a tecnologia e ainda
ticos no que diz respeito responsabilidade que devem ter cientistas, tcnicos, polticos e
cidados em geral.
1.4.1. As origens do movimento CTS
Retrocedamos en el tiempo. Verano dei 45.Son las 8:14(horario dei lugar)del 6 de agosto, cuando el Enola Gay, un B-29 preparado ai efecto, sobrevuela el suroeste de la isl de Hondo, en el archipilago nipn, y arroja sobre la ciudad de Hiroshima la Little Boy, una bomba atmica de urnio. El 9 de agosto es lanzada otra ai medioda sobre Nagasaki, una importante ciudad situada ai noroeste de la isl japonesa da Kyushu. Estos terribles sucesos ponen fin a la segunda guerra mundial, pro poo despus el mundo entero se horrorizar ai conocer los efectos destructivos desproporcionados sobre lapoblacin civil. Menos de un mes antes, el 16 dejulio, la bomba atmica de urnio haba sido probada con xito en un desierto prximo a Alamogordo, en el estado norteamericano de Nuevo Mxico. Se culminaba as el Proyecto Maniatan iniciado en 1942. Se trata de un caso que ilustra perfectamente las complejas y dramticas relaciones entre ciencia-tecnologa y poder militar, que puede completarse tambin con las controvrsias entre el ambicioso general Leslie Groves y el cientfico Julius Robert Oppenheimer.
Dia 4 de octubre de 1957. Un sonido procedente del espado asombra a todo el mundo; el impacto fue an mayor para los habitantes de los EE.UU. de Norteamrica. La URSS haba puesto en rbita terrestre su primer sputnik, un satlite artificial poco mayor que un baln de ftbol. Las repercusiones sociales de este acontecimiento fueron enormes, y los ninos de la era atmica dieron paso a los
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
de la era espacial(la era post-sputnik).Actualmente, las telecomunicaciones dependen de numerosos satlites artificiales, pro estamos acostumbrados; se han incorporado a nuestra vida cotidiana y apenas les prestamos atencin, salvo cuando no podemos sintonizar nuestro programa de television favorito, falia nuestro sistema de telefonia o algn visionrio nos anuncia que "el cielo se va a caer sobre nuestras cabezas" (Manassero , M. A.,et ai, 2001,p.l).
Os acontecimentos acima relatados, e ainda muitos outros mais recentes,
(descritos no captulo 2 desta dissertao) fizeram, segundo Manassero et ai. (2001),
surgir o movimento CTS. Ainda sob o ponto de vista dos mesmos autores, embora as
razes do movimento tenham diferentes origens, todas tm em comum a pretenso de
compreender melhor a dimenso social e organizadora da cincia e da tecnologia,
destacando entre estes:
A necessidade de gerir os grandes laboratrios industriais e militares e os
centros de investigao e desenvolvimento, associados " big science" e
"higt technology".
O aparecimento de uma conscincia crtica no que diz respeito aos efeitos
negativos da cincia e da tecnologia.
A necessidade de criar instituies e formar peritos em poltica cientfico-
tecnolgica e evoluo das tecnologias.
O aparecimento de investigaes, no mbito da sociologia do conhecimento,
que questionam a imagem tradicional da cincia e a tecnologia como
actividades desligadas do contexto social, poltico e econmico.
1.4.2. A importncia do estudo da Natureza da Cincia na tomada de decises
No novidade que nos ltimos anos, a investigao em Didctica das Cincias tem
prestado particular ateno participao dos cidados nas decises tecnocientficas de
interesse social. Para alm disso, a Didctica das Cincias sustenta cada vez vais que o
ensino sobre a natureza da cincia (NdC) um elemento substantivo e irrenuncivel na
alfabetizao cientfica e tecnolgica para todas as pessoas, apelando os especialistas para o
argumento democrtico da participao dos cidados em decises tecnocientficas de
interesse social. Assim, segundo diversos especialistas (Acevedo, J.A., et al.,2005), as
capacidades necessrias para intervir na tomada de decises tecnocientficas podem e
devem ser educadas.
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
"Adernas, es en el desarrollo de estas capacidades donde se manifiesta con ms intensidad la relacin entre la ensenanza de las cincias y la educacin en valores, algo que reivindica con gran vigor el movimiento CTS" (Acevedo, et ai. 1996).
No entanto, estudos recentes de Sadler & Zeidler (2004) demonstraram que
consideraes de ordem moral, sentimentos e emoes tm uma enorme repercusso nas
decises que se tomam relativamente a questes relacionadas com a engenharia gentica.
Ainda segundo Sadler (2004), se bem que a compreenso de alguns elementos bsicos de
NdC sejam importantes para a tomada de melhores decises sociocientfcas, este no ser
o nico aspecto, nem sequer o mais importante dos que intervm na resoluo destas
questes to complexas. A figura 5 resume os principais factores que, at agora, a
Didctica das Cincias considerou neste campo:
Razonamiento moral. Valores y normas
Conocimientos dei tema y de NdC
Creencias culturales, sociales y polticas
Figura 5. Factores que influenciam a tomada de decises em assuntos tecnocientficos de interesse social (Extrado de Acevedo et al.,2005, p. 130).
Toma de decisiones en
asuntos tecnocientficos
de inters social
Emociones y sentimientos
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
Assim, parece indispensvel prestar muito mais ateno do que habitual na
educao cientfica a aspectos culturais, sociais, morais, emotivos, atitudinais e
axiolgicos, tal como vem sugerindo o movimento CTS para o ensino das cincias
(Acevedo et ai. 2004). esta a razo pela qual o projecto PISA3 (para 2006) incluir a
avaliao de competncias atitudinais como um elemento do currculo de cincias. Este
facto pressupe uma inovao que talvez favorea num futuro prximo, a educao
explicita de atitudes no ensino das cincias (Fensham, 2004).
Relembra-se que PISA (Programme for International Student Assessment), um
projecto de avaliao internacional de aprendizagens escolares promovido pela OECD -
Organization for Economic Cooperation and Development- (Harlen, 2001, 2002; OECD,
1999, 2000, 2001,2004a, b).As diversas aplicaes do PISA centram-se no conceito de
alfabetizao de leitura (ano 2000), matemtica (ano 2003) e cientfica (ano 2006), ainda
que em todas as ocasies estejam sempre presentes questes dos trs tipos de
alfabetizao, em cada aplicao coloca-se a tnica numa delas, qual se dedica dois
teros da avaliao.
1.5. A relao entre Crescimento Sustentado e Desenvolvimento Sustentvel em Portugal
Segundo os autores da Estratgia Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel
(ENDS, 2004, p.66), Portugal tem um srio problema de crescimento sustentado por
resolver, j que:
Sem crescimento sustentado no h meios que suportem um desenvolvimento
sustentvel que no comprometa o futuro das novas geraes;
Um crescimento sustentado exige aumentos de produtividade significativos com
criao simultnea de empregos, o que s possvel numa pequena economia aberta
com uma profunda transformao na "carteira de actividades mais expostas
concorrncia internacional" em direco a actividades com maior valor
acrescentado incorporado e com maior dinmica de crescimento no comrcio
internacional; sem aumentos mais fortes de produtividade Portugal no pode
inserir-se numa trajectria de melhores remuneraes sem pr em causa, a prazo, o
nvel de emprego;
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
No essencial, a obteno de um crescimento mais elevado exige um forte
crescimento no investimento privado, nacional e estrangeiro, na diversificao da
oferta de bens e servios internacionalmente transaccionveis e beneficiando de
forte procura internacional nas prximas dcadas;
Um dos principais obstculos a um crescimento sustentado encontra-se no nvel de
habilitaes e de qualificao da populao activa, que para ser ultrapassado exige
uma melhoria significativa do sistema de ensino, com efeitos a longo prazo, e uma
aposta concentrada na aprendizagem ao longo da vida que contribua para uma
sofisticao das actividades mais expostas competio internacional, aposta que
dever ter efeitos a curto e mdio prazo.
Atendendo a esta problemtica, essencial para o nosso pas e face aos desafios da
sustentabilidade, realizou-se um estudo do qual se concluiu quais as principais ameaas e
oportunidades para a concretizao de um crescimento sustentado que permita um
desenvolvimento sustentvel, em Portugal.
1.5.1. Ameaas e oportunidades para a sustentabilidade em Portugal
Na ENDS(2004,p.78-81) encontram-se os resultados da anlise dos trs pilares do
Desenvolvimento Sustentvel (Dimenses Econmica, Social e Ambiental) em Confronto
com as Tendncias Mundiais tendo como horizonte o ano 2015. Nesta anlise, tornam-se
mais visveis os Pontos Fortes, Pontos Fracos, Oportunidades e Ameaas com que Portugal
se vai defrontar entre 2005 e 2015.
1.5.1.1. Pontos fracos/Ameaas
Assim, no documento supracitado, encontram-se mencionados os seguintes pontos
fracos (principais ameaas), ao desenvolvimento sustentvel, do nosso pas:
Um dfice de produtividade resultante da interaco do padro de actividades
dominante no Pas; da posio ocupada pelas empresas que exportam a partir de
Portugal nas cadeias de valor das actividades globais em que se inserem; e das
deficincias organizativas, quer internas s empresas quer resultantes da
insuficiente organizao em rede das actividades.
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
Um padro de actividades "internacionais" em que predominam indstrias baseadas
na intensidade do trabalho e nas baixas qualificaes (vesturio, calado...), na
combinao de recursos naturais com reservas de expanso limitadas e baixas
qualificaes do trabalho - madeira, cortia, papel, cermicas - e em servios
baseados em recursos naturais e baixas qualificaes - nomeadamente o turismo
"sol -praia".
Uma orientao de mercado das exportaes portuguesas excessivamente
concentrada numa nica macro - regio da economia mundial , a Europa
Continental e a zona Euro.
Uma intensidade energtica do crescimento que, no obstante a reduo de
importncia dos sectores industriais pesados, continuou em patamares elevados e
foi responsvel pelo aumento significativo das emisses de GEE, arrastando
dificuldades no cumprimento dos compromissos assumidos para com a UE a nvel
das questes ambientais, que se podem traduzir em penalizaes.
Maior abertura dos mercados da UE aos pases asiticos, devido a acordos
internacionais e ao interesse das multinacionais europeias em explorar as
oportunidades desses mercados, nomeadamente no caso da China.
Alterao do mercado petrolfero com consequncias no agravamento do dfice
comercial externo do Pas.
Dificuldades adicionais na captao de IDE resultantes da presena no interior da
Unio Europeia de novos Estados Membros com melhores condies em termos de
qualificao de mo-de-obra, custos do trabalho, nveis de proteco social aceites
pela populao e posio geogrfica.
Eventual crescimento do desemprego com origem nas indstrias de mais trabalho
intensivo, atingindo mo-de-obra em faixas etrias e com nveis de escolaridade que
tornam difcil a sua reintegrao no mercado de trabalho.
Acumulao de factores - do abandono escolar ao desemprego de longa durao e
dificuldades de integrao de populao imigrante - que podem contribuir para
aumento de excluso social e de criminalidade.
Vulnerabilidade - no longo prazo - aos impactos das alteraes climticas num Pas
com extensa orla costeira.
Possibilidade de abandono efectivo de 22% do territrio, abrangido por estatutos de
proteco ambiental, como resultado da falta de investimento.
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
Uma elevadssima dependncia energtica do exterior, que aumenta a
vulnerabilidade em matria de aprovisionamento energtico.
Um aumento significativo das emisses de GEE's nos ltimos anos que faz temer
pelo incumprimento da meta assumida por Portugal no mbito do Protocolo de
Quioto.
Desconhecimento e baixa valorizao do patrimnio natural nacional; insuficiente
financiamento atribudo conservao da natureza.
Dificuldades de melhoria do ar urbano.
Um abandono escolar de propores muito preocupantes, acompanhado por baixos
nveis de competncia em reas chave como matemtica, cincias e lngua
portuguesa, comprometendo desde o ensino bsico e secundrio a qualificao da
populao activa futura.
Uma reduzida formao de engenheiros, que acompanha um crescente desinteresse
dos jovens pelas reas cientficas, o que limita a capacidade de atrair actividades
mais exigentes em competncias tecnolgicas.
Um grande desperdcio de recursos financeiros e humanos decorrente quer da
insuficincia de actividades de formao dirigidas para competncias com forte
procura e susceptveis de requalificar jovens com nveis pouco elevados de
escolaridade, quer da produo em larga escala de licenciados em reas sem procura
no mercado.
Prosseguimento de um crescimento urbano extensivo sem qualidade esttica e
ambiental, comprometendo recursos naturais, qualidade de vida das populaes e
atractividade do territrio.
Aposta num crescimento intenso do sector de turismo que acabe por destruir os
recursos naturais em que ainda se baseia hoje o essencial dos seus factores de
competitividade.
Praias fluviais de baixa qualidade.
Elevados nveis de eroso da orla costeira.
Prosseguimento da destruio do patrimnio florestal, com reas ardidas
anualmente superiores s reas florestadas.
Contaminao das guas de superfcie e subterrneas e insuficiente construo de
reservas estratgicas de gua em rios sob controlo nacional.
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
Limitaes possveis no espao da UE ao principal modo de transporte de
mercadorias do comrcio externo de Portugal - o meio rodovirio - e concentrao
excessiva deste num nico corredor.
Sistemas de suporte e proteco social essencialmente da responsabilidade do
Estado, mas sujeitos forte influncia de interesses especficos que travam as
reformas no sentido da eficincia sem prejuzo da equidade. Sistema de Penses a
exigir um continuado esforo de reforma se se quiser evitar a sua inviabilizao
financeira a mdio/longo prazo.
Uma administrao pblica com funcionamento burocrtico, com srios problemas
de renovao de competncias tcnicas e com uma relativa incapacidade de
controlo de custos do investimento pblico.
Um sector empresarial do Estado centrado no sector dos transportes gerando
sistematicamente dfices e incapaz de oferecer uma oferta competitiva
ambientalmente mais sustentvel.
Um equipamento em infra - estruturas de transporte de mercadorias e pessoas sem
conexo com as principais rotas mundiais (referncia aos portos de guas profundas
e aeroportos internacionais), acentuando os efeitos negativos de uma posio
perifrica na Europa.
Um modelo de mobilidade assente sobretudo no modo rodovirio, especialmente
em formas de utilizao individual, causando impactos fortemente negativos no
ambiente e na qualidade de vida e gerando, devido ao congestionamento,
necessidades permanentes de novos investimentos em infra-estruturas.
Uma dinmica de crescimento urbano em extenso e de baixa qualidade, para o
qual contribui o modo actual de financiamento das autarquias.
Nveis claramente insuficientes de atendimento em reas de necessidades bsicas -
com destaque para a drenagem e tratamento das guas residuais - rea, que em
conjunto com o abastecimento de gua de qualidade vai continuar a exigir
volumosos investimentos.
Insuficiente aproveitamento do potencial existente de energias renovveis.
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
1.5.1.2.Pontos fortes/Oportunidades
Quanto aos pontos fortes (oportunidades) susceptveis de promover um crescimento
sustentado, na ENDS(2004,p.78-81), referem-se os seguintes:
Integrao numa zona de estabilidade cambial, como a zona Euro, integrao que
contribui para a adopo de polticas de consolidao oramental e para a reviso de
prioridades nas despesas pblicas e no seu modo de financiamento.
Concretizao de um processo de reformas estruturais, enquadrado num esforo
comum a nvel da Unio Europeia, que lhe d maior base consensual interna.
Dinamismo verificado nos sectores de exportao tradicionais, quer em termos de
empresas individuais, quer de lgicas de cooperao empresarial e de ligao a
centros de I&D.
Nvel de despesas na educao, que em termos relativos, e para o conjunto dos
graus de ensino, se situa em nveis mdios no seio da EU.
Existncia de plos de I&D de qualidade internacional em reas que podem ser
teis, j a curto e mdio prazo, para apoiarem diversificao de actividades -
robtica e automao, tecnologias informao e telecomunicaes, cincias da
sade, biotecnologia e qumica fina, polmeros, fsica tecnolgica e instrumentao
(energia).
Uma evoluo favorvel na cobertura do Pas pelas redes de telecomunicaes e
uma forte dinmica empresarial neste sector e nos sectores afins, incluindo uma
presena significativa em mercados.
Consolidao de um modo de organizao das empresas lder a nvel mundial, o
crescimento mundial que alimenta um processo de outsourcing para diversos locais
do mundo de um cada vez maior nmero de actividades, das mais simples s mais
complexas, abrindo oportunidades localizao de novas actividades em Portugal.
Multiplicao das actividades de servios que escala mundial se deslocalizam para
regies que combinam caractersticas naturais, ambientais, culturais e de
disponibilidade de recursos humanos qualificados, que as tornam especialmente
atractivas.
Intensificao dos fluxos de turismo resultantes da procura de espaos residenciais
em localizaes com clima ameno, qualidade ambiental e paisagstica, condies de
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
segurana e bons servios de sade por parte de sectores afluentes da populao
europeia.
Prosseguimento de movimentos de imigrao de populaes com nveis de
qualificao superiores mdia portuguesa que podem contribuir para facilitar a
atraco de certo tipo de actividades.
Disponibilidade de vastos espaos territoriais com baixa densidade populacional
que os tornam atractivas para um conjunto de actividade (da aeronutica e servios
associados s energias renovveis).
O lanamento de um conjunto inovador de iniciativas para a Sociedade de
Informao, desde os campus virtuais, internet nas escolas, biblioteca do
conhecimento on Une, ao governo electrnico, s cidades digitais etc.
Uma clara disponibilidade manifestada pelos portugueses para rapidamente se
tornarem utilizadores das Tecnologias da informao, nos mais variados campos da
sua aplicao.
Uma melhoria muito significativa das acessibilidades no interior do pas e com
Espanha, assente no modo rodovirio, que facilitou a consolidao de uma rede de
cidades mdias.
Um quadro legislativo ambiental consolidado.
Conscincia crescente a todos os nveis da sociedade da necessidade de promover
uma utilizao racional dos recursos naturais associada ao reconhecimento de que
no so inesgotveis.
Potencial em energias renovveis elevado: especialmente bio-energia, energia solar,
energia elica e energia hdrica.
Grande diversidade de patrimnio natural, 22% do territrio classificado com
estatuto de proteco de conservao da natureza.
Oportunidades de alargamento de mercado s empresas at agora mais viradas para
o mercado interno, no espao de proximidade que a economia espanhola.
Possibilidades de reforo da cooperao no interior do espao dos pases de lngua
portuguesa e de aproximao a pases asiticos com ligaes histricas a Portugal.
Proximidade de uma bacia energtica em forte crescimento na frica Ocidental,
abrindo eventualmente oportunidades na rea dos servios e da manuteno
industrial.
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Educao cientfica e desenvolvimento sustentvel
Possibilidade de estreitar relaes privilegiadas com regies fortemente inovadoras
dos EUA, Europa do Norte e sia, que contribuam para um reforo do IDE em
direco a Portugal.
Melhoria dos factores gerais de atractividade e competitividade da economia
portuguesas, em consequncia das reformas estruturais iniciadas nos ltimos dois
anos e das polticas orientadas para a competitividade e o crescimento.
Encarar o ambiente tambm como uma oportunidade econmica.
Criao e reforo das fileiras industriais de equipamentos de produo de energia.
Uma dotao climtica e paisagstica favorveis atraco de pessoas e actividades.
Um patrimnio histrico, cultural, arquitectnico e relacional de grande valia.
Uma lngua - a lngua portuguesa - como factor potencial de organizao de um
espao cultural e econmico de importncia mundial.
Integrao no peloto da frente da economia do hidrognio atravs da sua produo
com base nas energias elica e solar.
Atendendo ao actual contexto scio-econmico do nosso pas e ao estado da
economia global, mais uma vez se conclui que as prioridades em educao esto: no ensino
da lngua materna (que para alm de um patrimnio valioso indispensvel para o
desenvolvimento de competncias a todos os nveis); no ensino da matemtica
(indispensvel ao desenvolvimento de competncias essenciais para as reas cientfico -
tecnolgicas) e na educao cientfica com particular incidncia nas relaes CTS (CTSA).
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CAPTULO II
UMA VISO HOLSTICA DA ACTUAL SITUAO DO MUNDO
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Uma viso holstica da actual situao do Mundo
Captulo 2. Uma viso holstica da actual situao do Mundo
2.1.A globalizao
"A globalizao j termo do quotidiano dos homens modificado
profundamente pela tecnologia da informao e pela crescente avalanche de relaes
econmicas sem fronteiras, cujo poder incontrolado ameaa o mundo do trabalho e
semeia de perigos a prpria democracia..." (Pereira, M., 2003, p.5).
Nesta era de globalizao, todas as solues para os principais problemas com
que a humanidade se debate passam por uma completa mudana de culturas e
mentalidades. Os pases tecnologicamente desenvolvidos devem investir nos mais
pobres em projectos que criem emprego e satisfaam as necessidades mais elementares,
em vez de darem "esmolas ocasionais". Os pases onde a pobreza impera (embora
muitos deles sejam os "mundialmente mais ricos" ao nvel de recursos naturais) devem
combater a corrupo e evitar as guerras pelo poder.
O actual sistema econmico, longe de estar ao servio de todos, aumenta a riqueza
de uma minoria e a pobreza da maioria. Dois em cada trs habitantes do mundo
sobrevivem com menos de dois euros por dia. As mulheres, crianas, idosos e refugiados
so os mais expostos pobreza. Os seus direitos fundamentais so frequentemente
agredidos no que concerne alimentao, sade, habitao e educao.
2.2. Principais problemas com que a Humanidade se debate
Com o objectivo de realar o carcter prioritrio desta investigao, nesta
seco, iremos apresentar de uma forma sucinta, mas holstica, os problemas que
consideramos mais graves, escala mundial, j que impedem um desenvolvimento
sustentado promotor da Sustentabilidade Planetria.
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Uma viso holstica da actual situao do Mundo
2.2.l.A poluio
A poluio, degradao do meio ambiente pela sociedade tecnolgica revelase,
neste momento, uma das principais causas de perturbao do equilbrio dos
ecossistemas. Poluir, do latim polluere, significa profanar ou macular (Lello, J. & Lello,
E.,1978). Assim, qualquer actividade que liberte para o meio ambiente, materiais ou
substncias prejudiciais aos seres vivos uma fonte de poluio.
A actividade antrpica, nomeadamente a que envolve o consumo de
combustveis fsseis, como a indstria e os veculos automveis, a agricultura dos
pases industrializados e o modo de vida urbano, constituem as principais fontes de
poluio do planeta. Este facto pode observarse, na figura 6.
Dixido de Carbono (C02 Metano (CH4) Contribuio para o efeito de estufa 60% 15% com origem humana
Agricultura (produo Princioais fontes " Queima de combus,iveis ,sseis de arroz) e pecuria (55 v - Desflorestamento Combustveisfsseis
Queima de biomassa Tempo de vida cn . naatmosfera 50a200anos 10anos
Concentrao naEraPrindustrial +/280ppm* +/700ppb" (10001750)
S r a a c 368ppm*
Oxido Nitroso (N20)
Solos agrcolas (fertilizantes) 52b Dejectos da pecuria 26% Queima de biomassa 6%
bOanos
+/270 ppb"
316ppb"
Taxa anual de aumento
(ppm* partes por milho; ppb* partes por bilio)
Figura 6. A actividade humana a principal fonte de poluio, do planeta
(Extrado de KRUPA,(2001).
Os agentes de poluio, designamse por poluentes. Assim, definese poluente,
como qualquer substncia ou material que, atingindo determinada concentrao, afecta
o meio ambiente. Existe uma enorme diversidade de poluentes. No entanto, pela sua
toxicidade e frequncia com que so lanados no ambiente, destacamse os indicados
na figura 7.
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Uma viso holstica da actual situao do Mundo
PRINCIPAIS POLUENTES
POLUENTE FONTES OE POLUIO ! EFEITOS NOCIVOS NO AMBIENTE E POPULAES
Lavagens de tanques e pores de navios
PETRLEO petroleiros, no mar. Acidentes com petroleiros e plataformas petrolferas.
O petrleo e seus derivados so os principais poluentes dos oceanos. As mars negras destroem o plancton, peixes e aves, e contaminam as praias.
FOSFATOS E NITRATOS
Esgotos domsticos e agricultura intensiva, devido ao uso excessivo de detergentes e adubos.
Principais responsveis pela degradao do solo, rios e lagos. Devido ao excesso de nutrientes, algas, peixes e bactrias reproduzem-se intensamente. O nmero excessivo de bactrias gasta o oxignio dissolvido, o que provoca a morte dos peixes e outros seres vivos, por asfixia.
MERCRIO
Utilizao de combustveis fsseis e indstrias de material elctrico, tintas e papel.
Polui o solo e a gua. um grave poluente dos alimentos que provm do mar. A sua acumulao no organismo provoca graves danos no sistema nervoso,
RADIAES
Produo de energia atmica, acidentes em centrais nucleares; fabrico e experincias com armas nucleares.
Perigosos contaminantes do ar, gua e solo. Acima de determinados nveis, provocam cancro e alteraes genticas, nas populaes.
CHUMBO
Aditivos da gasolina, fundies de chumbo, indstria qumica e pesticidas.
Acumula se no solo, nos sedimentos marinhos e na gua. Altamente txico, provoca graves doenas, mesmo em baixas concentraes.
DDTE OUTROS PETICIDAS
Controlo de pragas, na agricultura.
Poluem o solo, a gua e o ar. Os pesticidas, mesmo em baixas concentraes, so extremamente txicos. O DDT transporta-se atravs das cadeias alimentares. Foi proibido em 1970.
XIDOS DE AZOTO
Motores de combusto interna, fornos, incineradoras e uso excessivo de adubos.
Poluem o solo, a gua e o ar. Contribuem para a formao das chuvas cidas c do smog, nas grandes cidades. Provocam graves doenas respiratrias.
PARTCULAS SLIDAS
Cimenteiras, refinarias, siderurgias, construo civil e agricultura intensiva.
So poluentes do ar. As partculas de menor dimenso, que so inalveis, penetram no sistema respiratrio, danificando-o. Causam asma e bronquite, principalmente, nas crianas e idosos.
CFC CLOROFLUOR-CARBONETOS
Mecanismos de refrigerao, sprays, indstrias de isolamento trmico e electrnica.
Poluentes do ar, responsveis pela destruio da camada de ozono, foram proibidos. Apesar do seu uso se restringir a alguns pases subdesenvolvidos, devido sua longevidade de mais de 50 anos, ainda continuam a aumentar o buraco na camada de ozono.
DIXIDO DE ENXOFRE
Centrais elctricas, fbricas, veculos automveis e refinarias.
Poluente do ar. Provoca doenas respiratrias Contribui para a formao das chuvas cidas. Corri a vegetao e edifcios calcrios.
MONXIDO DE CARBONO
Combusto incompleta dos combustveis fsseis.
Poluente do ar. Mortal, em concentraes elevadas, afecta, sobretudo, os sistemas nervoso e cardiovascular.
DIXIDO DE CARBONO
Uso de combustveis fsseis, incndios e destruio de florestas.
Poluente do ar. A sua acumulao aumenta a temperatura atmosfrica. Principal responsvel pelo aumento do efeito de estufa e do aquecimento global
Figura 7. Principais poluentes (Extrado de Antunes, C, Bispo, M, Guindeira, P., 2004, p.73).
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Uma viso holstica da actual situao do Mundo
Devido necessidade que o ser humano tem em organizar o conhecimento, para
melhor o descrever, habitual considerar a poluio do ar, da gua e do solo. No
entanto, as relaes entre os diversos ecossistemas terrestres e respectivos bitopos so
to estreitas que a poluio de uns afecta, igualmente, todos os outros. Poluentes
lanados sobre o solo so transportados pela gua e pelo vento, chegando, deste modo
aos oceanos, depois de percorrerem a atmosfera, rios e lagos. Populaes pertencentes a
comunidades terrestres so, muitas vezes, intoxicadas pelo consumo de espcies
aquticas poludas.
2.2.1.LA poluio do ar
O ar para a Humanidade o mais precioso dos bens. No entanto, sem qualquer
cuidado, o Homem tem poludo a atmosfera, alterando a sua composio.
Segundo o Conselho da Europa, diz-se que existe poluio do ar quando a
presena de uma substncia estranha ou a variao importante na proporo dos seus
constituintes susceptvel de provocar efeitos prejudiciais ou doenas, tendo em conta o
estado dos conhecimentos cientficos do momento.
Nos ltimos 30 anos o chumbo, contido na gasolina e gasleo, causou enormes
danos na sade humana. Na dcada de setenta, nos EUA e a partir de 1995 na Europa, o
chumbo foi banido dos combustveis. Actualmente, 20% da gasolina vendida no Mundo
ainda contm esse metal. Mas, apesar de ainda se manterem elevados, as emisses de
chumbo, tm diminudo escala planetria. Tambm no caso de outros metais pesados,
a tendncia de decrscimo. Por exemplo, as emisses de mercrio reduziram 37%, no
mesmo perodo de tempo.
Como exemplo de um caso extremo de poluio atmosfrica, referem-se
frequentemente os acontecimentos da Cidade do Mxico, onde as aves dos parques
chegaram a morrer, as escolas fecharam e foi declarado o estado de emergncia.
Problemas semelhantes, ocorreram em Atenas e noutras cidades europeias como, por
exemplo, Milo onde o trnsito automvel proibido quando se registam ndices
elevados de poluio.
Em Portugal, o impacte ambiental do sector dos transportes, para o qual
concorrem o aumento de trfego e o consequente congestionamento das vias, tem
aumentado nos ltimos quinze anos, nomeadamente no que respeita s emisses de
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Uma viso holstica da actual situao do Mundo
poluentes que lhe esto associadas com consequncias na qualidade do ar,
especialmente na maioria das grandes cidades e respectivos centros urbanos e nos nveis
de rudo atingidos. Verifica-se um desequilbrio evidente entre os diferentes meios de
transporte, com predominncia clara da rodovia, no obstante o esforo realizado na
ltima dcada na extenso de linhas ferrovirias electrificadas; "a utilizao do
transporte colectivo tem sido contrariada pela expanso do recurso ao automvel
particular" (EDNS,2004,p.56).
A ocorrncia de fenmenos como o buraco da camada de ozono, o efeito de
estufa, as chuvas cidas e a desflorestao so consequncias da interferncia negativa
do ser humano nos ecossistemas.
2.2.1.1.1. A destruio da camada de ozono
O ozono um gs azul plido, altamente reactivo, com um odor penetrante, de
frmula qumica 03. um poderoso oxidante, frequentemente utilizado em
branqueamentos e aparelhos de ar condicionado. Possui, ainda, propriedades
desinfectantes.
A camada de ozono situa-se na estratosfera, entre os 12 e os 50 Km de altitude e
protege, os seres vivos das radiaes ultravioletas procedentes do Sol.
Sabe-se que qualquer forma de vida sensvel radiao ultravioleta e que
existe uma relao directa entre estas radiaes e o cancro. As radiaes ultravioletas
tambm inibem a actividade do sistema imunitrio humano. No mar so uma ameaa
para as algas e plancton, base das cadeias alimentares marinhas, o que implica uma
diminuio no nmero de peixes.
Em Maio de 1985, a revista "Nature" anunciou a descoberta de um buraco na
camada de ozono, sobre a Antrctida (ver figura 8) por trs cientistas ingleses. No
espao de 10 anos, estes cientistas constataram que esta camada reduziu cerca de 1%.
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Uma viso holstica da actual situao do Mundo
Figura 8. Mapa obtido por satlite, em 1990.As reas rosa e violeta correspondem ao
buraco da camada de ozono (Extrado de Porrit, J. ,1992, p.22).
A camada de ozono encontra-se danificada, especialmente sobre a Antrctida,
local onde pela primeira vez se detectou o famoso "buraco na camada de ozono", os
estragos so causados por alguns poluentes qumicos. A maioria so compostos
quimicamente estveis que contm cloro ou brmio, mas os mais conhecidos so os
clorofluorcarbonetos (CFC).
Inventados por Thomas Midgley em 1930, os CFC utilizavam-se como agentes
de refrigerao dos frigorficos, nos sprays domsticos, nas indstrias do isolamento
trmico e da electrnica. ptimos refrigeradores, muito estveis, no inflamveis, nem
explosivos, inodoros, incolores, no txicos, no cancergenos, no alrgicos e podendo
liquefazer-se a baixa presso perderam toda a aceitao quando se descobriu que as suas
molculas eram as responsveis pela destruio da camada de ozono.
No entanto, apesar dos CFC serem os principais responsveis pela destruio da
camada de ozono existem muitos outros, como os halocarbonetos, usados no fabrico de
extintores, o clorofrmio de metilo e o tetracloreto de carbono, ambos solventes, alguns
substitutos dos CFC e o brometo de metilo que um pesticida. Em 1993, qumicos
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Uma viso holstica da actual situao do Mundo
australianos iniciaram ensaios com sulfureto de carbonilo, um substituto para o brometo
de metilo, que parece no ter efeitos negativos sobre a camada de ozono.
O prmio Nobel da Fsica, em 1995, foi atribudo aos cientistas que descobriram
os agentes que causam a diminuio da camada de ozono.
Apesar da utilizao dos CFC se restringir, actualmente, a alguns pases estas
substncias com uma longevidade de mais de 50 anos, continuam a destruir a camada de
ozono. Para que a utilizao de CFC cesse, necessrio, a nvel mundial, promover
uma poltica de desenvolvimento sustentvel ,que permita aos pases subdesenvolvidos
parar com a sua utilizao. Tambm indispensvel o envolvimento dos pases em vias
de desenvolvimento ( e principalmente dos Estados Unidos) no processo de Quioto,
"depois do perodo de 2012, entrando numa nova fase em que o princpio da
responsabilidade partilhada e diferenciada no poder deixar de fora naes e
economias com a dimenso das da China, ndia e Brasil" (ENDS,2004, p.74).
No que concerne ao nosso pas, Portugal ainda no conseguiu dissociar as
emisses de poluentes atmosfricos do crescimento econmico e as emisses de SO2,
por exemplo, continuam a aumentar mais rapidamente que o PIB. Os elevados nveis
de ozono troposfrico ocorrem de forma sazonal em vrias regies; o cumprimento dos
compromissos nacionais, comunitrios e internacionais estabelecidos exige a definio e
implementao de medidas adicionais s polticas e legislao existentes, caso contrrio,
no sero alcanadas as metas propostas e enfrentaremos pesadas penalizaes, o que
ser particularmente lesivo para o pas, atendendo fragilidade da economia nacional
(ENDS, 2004,p.57).
2.2.1.1.2.0 aquecimento global
"Todos os cientistas admitem que a temperatura da superfcie terrestre est a
aumentar gradualmente desde h alguns anos. As interpretaes, mais alarmistas,
relacionam este processo com