GAME OF THRONE - Por dentro da série da HBO

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O guia mergulha no universo criado por George R.R. Martin que ganhou vida pela HBO revelando as curiosidades dos bastidores de uma das séries mais populares da tv. A editora LeYa lança este guia oficial do seriado que arrebatou milhares de fãs ao redor do mundo. Prefácio de George R.R Martin – autor da saga “As Crônicas de Gelo e Fogo”, que deu origem à adaptação -, entrevistas dos atores, produtores e criadores da série – e malucos - David Benioff e D.B.Weiss, este guia mergulha no universo medieval de Westeros, mostrando, em detalhes, como foi toda a produção da série. O responsável por este guia é Bryan Cogman produtor executivo, que entrou para o time de roteiristas do seriado e escreveu dois episódios ao longo das três temporadas. Confira curiosidades sobre os figurinos, a escolha das locações e a construção dos cenários mais marcantes como a Muralha e o castelo de Winterfell, as adaptações de diálogos dos livros para a série e as brincadeiras e erros de bastidores.

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P r e f á c i o d e g e o r g e r . r . m a r t i n ♦ P r ó l o g o d e d a v i d b e n i o f f & d . b . w e i s s

b r y a n c o g m a n

TM

p o r d e n t r o d a s é r i e d a h b o

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www.hbo.com

Copyright © 2012 by HOME BOX OFFICE, INC.All rights reserved. HBO and related trademarks

are the property of Home Box Office, Inc.Publicado originalmente por Chronicle Books em 2012

sob o título: Inside HBO’s Game of Thrones

2013 © Todos os direitos desta edição reservados aTEXTO EDITORES LTDA. [Uma editora do Grupo Leya]

Rua Desembargador Paulo Passaláqua, 8601248-010 – Pacaembu – São Paulo – SP – Brasil

www.leya.com.br

Diretor editorial: Pascoal SotoEditora executiva: Tainã Bispo

Produtora editorial: Fernanda Satie Ohosaku Assistentes editoriais: Renata Alves, Maitê Zickuhr e Andréa Bruno

Tradução: Marcia BlasquesPreparação: Marcia Menin

Revisão: Gabriela Hengles e Eliane UsuiDiagramação: Ana Dobón

Impresso na China

A g r a d e c i m e n t o s

Trabalhar nessa série extraordinária, com pessoas tão apaixonadas e talentosas, não faz justiça à frase “sonho que se torna realidade”. Então, agradeço a David Benioff e D. B. Weiss, meus chefes, mentores e amigos, que me deram a incrível oportunidade não só de escrever para Game of Thrones, mas também de fazer este livro especial. E, claro, sou grato a George R. R. Martin, por criar esse mundo fantástico e esses personagens intensos – minha esperança contínua é de deixá-lo orgulhoso.

Agradeço também a Gemma Jackson, Michele Clapton e todo o elenco e a equipe de GoT, do passado e do presente, que de bom grado conseguiram tempo (em meio à agitada agenda de produção da segunda temporada) para partilhar suas ideias sobre a série. E peço desculpas a todos os entrevistados que não fazem parte do livro – tínhamos tão pouco espaço!

Obrigado ao coprodutor Greg Spence, ao coordenador de pós-produção Martin Mahon, às artistas conceituais Ashleigh Jeffers e Kim Pope, à coordenadora do depar-tamento de arte Joanne Hall e à fotógrafa Helen Sloan pela ajuda inestimável em reunir a arte deste livro. E muito, muito obrigado a você, Lucy Caird: o livro teria sido quase impossível sem seu trabalho heroico de agendar entrevistas com elenco e equipe.

Finalmente, minha gratidão eterna a minha esposa, Mandy, por sua persistente paciência, seus conselhos e seu amor.

— B r y a n C o g m a n

Agradecimentos especiais a James Costos, Stacey Abiraj, Josh Goodstadt, Janis Fein, Cara Grabowski, Robin Eisgrau e Vicky Lavergne.

Fotografias de Game of Thrones de Helen Sloan, Nick Briggs, Paul Schiraldi, Oliver Upton e Ashleigh Jeffers.

Ilustrações dos figurinos de Michele Clapton e Kimberly Pope.

Arte conceitual de Julian Caldow, Marc Homes, Gavin Jones, Tobias Mannewitz, Kimberly Pope e William Simpson.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Cogman, BryanPor dentro da série da HBO Game of Thrones / Bryan

Cogman; tradução de Marcia Blasques. – São Paulo : LeYa, 2013. 192 p. : il., color.

ISBN 978-85-8044-667-8

Título original: Inside HBO’s Game of Thrones

1. Game of Thrones (programa de televisão) 2. Televisão – seriados I. Título II. Blasques, Marcia

12-0367 CDD 791.45/72

Índice para catálogo sistemático:1. Game of Thrones (programa de televisão) 791.45/72

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4 . . . . . . . Prefácio: Das Páginas para a Tela por George R. R. Martin6 . . . . . . . Prólogo: Sete Perguntas para David Benioff e D. B. Weiss

8 . . . . . . I A Muralha 15 . . . . . . . Caminhantes Brancos: Uma Breve História17 . . . . . . O Prólogo Episódio I da Primeira Temporada: “O Inverno está Chegando” 21 . . . . . . A Patrulha da Noite: Uma Breve História22 . . . . . . Desenhando a Muralha e o Castelo Negro27 . . . . . . Vestindo a Patrulha da Noite28 . . . . . . Jon Snow31 . . . . . . Samwell Tarly32 . . . . . . Além da Muralha

36 . . . . . I I Winter fel l38 . . . . . . Casa Stark: Uma Breve História40 . . . . . . Criando Winterfell44 . . . . . . Vestindo Winterfell47 . . . . . . Eddard “Ned” Stark51 . . . . . . Catelyn Stark52 . . . . . . Robb Stark55 . . . . . . Sansa, Arya e Bran

60 . . . . . I II Porto Real

62 . . . . . . Porto Real: Uma Breve História64 . . . . . . Criando Porto Real69 . . . . . . O Trono de Ferro 70 . . . . . . Vestindo Porto Real72 . . . . . . Casa Lannister: Uma Breve História75 . . . . . . . Tywin Lannister76 . . . . . . Cersei Lannister81 . . . . . . Vestindo Cersei82 . . . . . . Jaime Lannister84 . . . . . . Ned versus Jaime Episódio 5 da Primeira Temporada: “O Lobo e o Leão”87 . . . . . . Tyrion Lannister90 . . . . . . Casa Baratheon: Uma Breve História93 . . . . . . Robert Baratheon94 . . . . . . Joffrey Baratheon98 . . . . . . A execução de Ned Episódio 9 da Primeira Temporada: “Baelor”

105 . . . . . Renly Baratheon105 . . . . . Margaery e Loras Tyrell 106 . . . . . Mindinho (Petyr Baelish)107 . . . . Varys110 . . . . . Brienne de Tarth111 . . . . . Bronn113 . . . . . Batalha da Água Negra Episódio 9 da Segunda Temporada: “Água Negra”

118 . . . . . IV Westeros120 . . . . . Casa Greyjoy: Uma Breve História122 . . . . . Criando Pyke127 . . . . . Theon Greyjoy130 . . . . . Casa Arryn: Uma Breve História132 . . . . . Criando o Ninho da Águia134 . . . . . As Terras Fluviais: Uma Breve História136 . . . . . Pedra do Dragão: Uma Breve História138 . . . . . Criando Pedra do Dragão141 . . . . . Stannis Baratheon142 . . . . . Melisandre 143 . . . . . Davos Seaworth

144 . . . . V Essos146 . . . . . Essos: Uma Breve História148 . . . . . Criando Essos152 . . . . . Casa Targaryen: Uma Breve História155 . . . . . Daenerys Targaryen158 . . . . . Vestindo Dany161 . . . . . Viserys Targaryen162 . . . . . A coroação de Viserys Episódio 6 da Primeira Temporada: “Uma Coroa de Ouro”166 . . . . . Jorah Mormont169 . . . . . Khal Drogo174 . . . . . Criando o Idioma Dothraki176 . . . . . O nascimento dos dragões Episódio 10 da Primeira Temporada: “Fogo e Sangue” 180 . . . . . Qarth e o Deserto Vermelho183 . . . . . Vestindo Qarth

184 . . . . .Por trás das câmeras

188 . . . . .Um pouco de traquinagem

190 . . . . . Epílogo: Reflexões sobre Game of Thrones

Sumário

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David Benioff e D. B. Weiss são homens cora-josos ou loucos. Só assim para aceitar o traba-lho de levar A Guerra dos Tronos (e o restante de minha maciça série de fantasia épica, Crô-nicas de Gelo e Fogo) para a televisão.

Não há tarefa mais perigosa em Holly- wood do que tentar transformar um livro popular ou aclamado pela crítica em série de TV ou filme. O Hollywood Boulevard está forrado de crânios e ossos secos daque-les que tentaram e falharam... e, para cada fracasso conhecido, há centenas dos quais nunca se ouviu falar, porque as adaptações foram abandonadas no meio do caminho, em geral depois de anos de desenvolvimen-to e dezenas de roteiros.

Uma história é uma história, mas cada meio tem seu modo de contá-la. Um filme, um programa de TV, um livro, uma revista em quadrinhos; cada um tem suas forças e fraquezas, coisas que funcionam bem, outras nem tanto, coisas que dificilmente são factíveis. Passar das páginas para a tela nunca é fácil.

Um romancista conta com técnicas e recursos que não estão disponíveis para os ro-teiristas: diálogos internos, narradores incons-tantes, pontos de vista de primeira e terceira pessoa, flashbacks, narrativas expositivas e vários outros. Como romancista, empenho-me em colocar os leitores dentro das mentes dos per-sonagens, deixá-los a par de seus pensamentos, permitir-lhes que vejam o mundo pelos olhos deles. A câmera, no entanto, fica do lado de fora do personagem, e o ponto de vista, então, é necessariamente externo em vez de interno. Além da locução (que me parece sempre uma intrusão, um suporte na melhor das hipóteses), o roteirista depende do diretor e do elenco para transmitir a profundidade das emoções, as su-tilezas dos pensamentos, as contradições dos personagens que um escritor pode simplesmen-te contar para o leitor em prosa franca e direta.

Há, ainda, certos desafios práticos. Um drama televisivo dura cerca de 60 (na TV a cabo) ou 45 minutos (na TV aberta). Há mais flexibilidade em um filme, mas mesmo

nesse caso o melhor que se consegue é em torno de duas horas. Chegue a três horas e os estúdios certamente começarão a cortar. A maior parte dos romances, porém, tem história demais para essa duração. Produza uma adaptação cena por cena, linha por linha, e você acabará com algo longo demais, tanto para a TV como para o cinema. E o problema é agravado quando o material de origem é uma fantasia épica. O Senhor dos Anéis foi dividido em três volumes porque o livro que Tolkien entregou era três vezes mais longo do que a maioria dos romances da década de 1950. E meus livros, como quase todas as fantasias contemporâneas, são muito maiores do que os de Tolkien.

Orçamentos e prazos de produção tam-bém têm grande impacto no que pode ou não ser feito quando se passa das páginas para a tela. É fácil para alguém como eu descre-ver um estupendo salão de festas com uma centena de lareiras, grande o suficiente para acomodar mil cavaleiros, cada um com sua elegância heráldica. Mas coitados dos pobres produtores que reproduzirão isso na tela. Primeiro, precisam construir um cenário gi-gante, com todas aquelas lareiras (“Você real-mente precisa de cem? Não podemos ter, por exemplo, seis?”). Depois, devem encontrar mil figurantes para ocupar o salão. Então, têm de fazer com que os figurinistas esbocem mil túnicas heráldicas, meçam mil extras, costu-rem os figurinos e... bem, você captou a ideia. Uma alternativa seria tentar fazer tudo com imagens geradas por computador. Um ótimo recurso, mas que também tem custos e con-some tempo. E orçamento é orçamento, seja ele de 1 milhão de dólares ou 100 milhões.

Ao longo de minha carreira, trabalhei em ambos os lados da grande divisão entre páginas e tela. Comecei com o impresso, no início dos anos 1970, como romancista e con-tista, escrevendo exclusivamente em prosa. Na década de 1980, alguns produtores e es-túdios me notaram, e tive minhas primeiras experiências com meu trabalho sendo opina-do, adaptado e, em alguns casos, até mesmo

P R E F Á C I O : D A S P Á G I N A S P A R A A T E L A

p o r G e o r g e R . R . M a r t i n

George R. R. Martin no set de Game of Thrones em Belfast.

P o r D e n t r o d a S é r i e d a H B O G a m e o f T h r o n e s

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filmado. Passei a criar roteiros em meados da mesma década, para a refilmagem da CBS de Além da Imaginação, e me peguei adaptando histórias de outros escritores. Trabalhei por três anos como escritor/produtor da série de TV A Bela e a Fera e depois por cinco anos no desenvolvimento (mais conhecido como “inferno do desenvolvimento”), escrevendo pilotos de TV e filmes, a maior parte dos quais nunca foi feita.

Somando tudo, permaneci quase uma década em Hollywood. Acho que fiz alguns bons trabalhos, porém, oriundo que era do mundo da prosa, estava constantemente ba-tendo a cabeça contra os muros do que era possível no cinema e na televisão. “George, isso é ótimo”, dizia o estúdio sempre que eu chegava com o primeiro rascunho de um novo roteiro, “mas filmar o que está aí vai custar cinco vezes nosso orçamento. Você precisa reduzir dez páginas... cortar doze personagens... transformar essa imensa cena de batalha em um duelo... diminuir de doze cenários para dois...”, e assim por diante.

E eu fazia. Era o trabalho. No entanto, sempre preferi aqueles meus primeiros im-produtíveis rascunhos iniciais aos roteiros fi-nais e, depois de dez anos na indústria, estava cansado de me refrear. Foi isso que, mais que tudo, me levou de volta à prosa, meu primei-ro amor, na década de 1990. O resultado foi A Guerra dos Tronos e sua sequência (cinco livros publicados até o momento, mais dois planeja-dos). Havia passado anos imaginando, escre-vendo e desenvolvendo conceitos para a TV, tudo eminentemente factível para os orça-mentos televisivos. Agora queria deixar tudo isso para trás, transpor todos os obstáculos. Imensos castelos, vastas paisagens dramáti-cas – desertos, montanhas, pântanos –, dra-gões, lobos gigantes, batalhas colossais com centenas de cada lado, brilhantes armaduras, belas heráldicas, lutas de espada e torneios, milhares de personagens complicados, anta-gônicos, falhos, um completo mundo imagi-nário. Completamente não filmável, é claro.

Nenhum estúdio ou rede de TV jamais toca-ria em uma história como essa. Eu sabia. Se-riam bons livros, talvez grandes livros, porém era tudo o que seriam. (Ah, a ironia...)

Mais ou menos na época em que A Fúria dos Reis foi publicado, começamos a ouvir falar de produtores e roteiristas interessados nos direitos da série (A Fúria foi o segundo volume, mas o primeiro a alcançar o topo das listas dos mais vendidos). Eu estava cético. Meus agentes e eu respondemos a alguns telefonemas, fomos a algumas reuniões, ouvimos algumas propostas... mas eu continuava em dúvida. Todos falavam em transformar As Crônicas de Gelo e Fogo – todos os sete livros, incluindo os que eu ainda não havia escrito – em filme. Com certeza estavam inspirados pelo imenso sucesso da trilogia de O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson, e esperavam reproduzir isso. Também fiquei inspirado pelo trabalho de Jackson, mas sabia que a mesma abordagem nunca funcionaria com minhas fantasias. Minha série é muito grande, muito complexa. Um de meus volumes, sozinho, é tão grande quanto os três do professor Tolkien

juntos. Foram necessários três filmes para fazer justiça a O Senhor dos Anéis. Seriam necessários vinte para fazer As Crônicas de Gelo e Fogo, e não havia estúdio no mundo louco o suficiente para se comprometer a isso.

Mesmo assim, as conversas me fizeram pensar sobre como seria possível passar minha história das páginas para a tela. A televisão era o único caminho, percebi. Não uma série de rede de TV aberta; tal ideia jamais daria certo. O orçamento de uma rede aberta simplesmente não seria suficiente, e seus censores ficariam chocados com todo o sexo e a violência dos romances. Na melhor das hipóteses, seriam produzidas versões com cortes, chá gelado em vez de hidromel forte. Uma longa minissérie poderia servir, algo como Raízes ou Shogun, mas as redes de TV abertas não estavam mais fazendo esse tipo de miniépicos.

Tinha de ser a HBO, decidi. O pessoal que fizera Os Sopranos, Deadwood, Roma. Nin-guém nem chega perto quando se trata de pro-duzir televisão adulta de qualidade. Mas não

podia ser um filme para TV, tampouco uma minissérie. Precisava ser uma série completa, com uma temporada inteira dedicada a cada livro. O único problema era que a HBO nunca havia feito fantasia ou demonstrado qualquer interesse no gênero. Jamais aconteceria.

E então conheci David Benioff e Dan Weiss, em um almoço marcado por meu agente, Vince Gerardis, no Palm, em Los Angeles. O almoço se estendeu além do jantar. Acontece que David e Dan tinham o mesmo sonho que eu, de fazer de As Crônicas de Gelo e Fogo uma série na HBO. “Vocês são loucos”, eu disse para eles. “É muito grande. É muito complicado. É muito caro. A HBO não faz fantasia.”

Os dois loucos não se intimidaram. Amavam a história e estavam convencidos de que podiam levá-la para a tela. Então os deixei tentar.

Foi a melhor coisa que já fiz.Enquanto escrevo, a primeira tempora-

da de Game of Thrones começou e terminou, com grande aclamação do público e da críti-ca, incluindo nomeações para o Emmy® e o Golden Globe®. Além de Peter Dinklage ter conquistado os dois prêmios por sua atuação como Tyrion Lannister, escritores, produ-tores, diretores, figurinistas, produtores de efeitos especiais, dublês e muitos mais foram reconhecidos, por seus pares, pelo trabalho marcante. As filmagens da segunda tempo-rada já estão completas, e os novos episódios estão a postos. E tanto a série como os livros se tornaram parte de nossa cultura, com re-ferências e citações em programas tão diver-sos quanto Os Simpsons, The Big Bang Theory, Parks and Recreation, Castle e Chuck.

Ninguém está mais feliz ou espantado do que eu. É bom demais para uma história que eu achava que jamais saltaria das páginas para a tela.

“Como fizeram isso?”, talvez você pergunte.

Bryan Cogman tem feito parte dessa jor-nada desde o início. Foi a primeira pessoa que David e Dan contrataram quando receberam sinal verde, e ele passou a maior parte dos úl-timos anos em Westeros. Eu o deixarei contar.

Como David e Dan, ele sabia que esse tra-balho era perigoso quando o aceitou.

— g e o r g e r . r . m a r t i nSanta Fé, Novo México

27 de janeiro de 2012

“Vocês são loucos”, eu disse para eles . “É muito grande . É muito complicado . É muito caro .”

P r e f á c i o

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P R ó L O G O

S e t e p e r g u n t a s p a r a D a v i d B e n i o f f e D . B . W e i s s

B R Y A N C O G M A N : Como foi o primeiro contato de vocês com os livros de George R. R. Martin?

D . B . W E I S S : Quando vi os livros pela pri-meira vez, formavam uma grande pilha de papel no chão diante da porta de David. Pareciam literalmente um peso de porta.

DAVID BENIOFF: Em janeiro de 2006, conver-sei por telefone com um agente literário que me falou algo sobre os livros que representava. Um, em particular, me soou interessante: A Guerra dos Tronos, de George R. R. Martin. Confesso que não tinha ouvido nada a respeito da obra ou de George antes desse telefonema. Quando mais jovem, eu era grande fã de ficção fantástica, particularmente fantasias épicas, mas, depois de ler várias imitações de Tolkien, perdi o gosto por esse tipo de literatura. Mesmo assim, ouvir sobre o romance me intri-gou, então eu disse que gostaria de lê-lo. Alguns dias mais tarde, um pacote chegou à minha porta. Um pacote pesado, contendo os primei-ros quatro volumes de As Crônicas de Gelo e Fogo, mais de quatro mil páginas no total, com capas tradicionais de fantasia épica – homens barbu-dos empunhando espadas, castelos distantes, feiticeiras sensuais com decotes impressionan-tes. Eu pensei: “Bem, parece o tipo de coisa-pa-drão”. Em poucas páginas soube que estava errado. Depois que Jaime Lannister empurrou Bran Stark de uma janela da torre, fiquei viciado. Após ler algumas centenas de páginas, liguei para Dan, um de meus mais antigos ami-gos, e alguém que eu sabia que já tinha sido tão obcecado por fantasia quanto eu. Ambos tínhamos orgulho de sermos mestres em nos-sos respectivos jogos de Dungeons and Dragons.

Tudo bem, talvez “orgulho” seja exagero. Tal-vez não nos gabássemos desses jogos nas festas do ensino médio. Mesmo assim...

D. B. WEISS: Ele me pediu que desse uma olhada em A Guerra dos Tronos, para ter certeza de que não estava louco. Dei uma olhada, tive a mesma reação de “caralho!” quando Bran foi jogado pela janela, e três dias mais tarde tinha lido 900 páginas. Não lia um livro assim desde os doze anos. Foi uma experiência poderosa. Compulsiva. Propulsiva.

D A V I D B E N I O F F : Convulsiva.

D . B . W E I S S : Algumas vezes.

B R Y A N C O G M A N : O que os fez querer adaptar o material, e por que fizeram isso para a televisão, e não para o cinema?

DAVID BENIOFF: Você não entra em um pro-cesso de adaptação levianamente. No caso de Game of Thrones, dedicamos seis anos de nossas vidas à série. E o fizemos por uma razão simples,

Como produtores-executivos e roteiristas-chefes, David Benioff e D. B. (Dan) Weiss dividem o leme de Game of Thrones . Tornaram-se amigos há mais de quinze anos, quando estudavam literatura irlandesa no Trinity College, em Dublin. Com o passar do tempo, ambos alcançaram sucesso como romancistas e roteiristas, mas não haviam encontrado um bom projeto para trabalhar juntos até se depararem com a saga épica fantástica de George R. R. Martin, As Crônicas de Gelo e Fogo .

P o r D e n t r o d a S é r i e d a H B O G a m e o f T h r o n e s

D. B. Weiss e David Benioff

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familiar para os leitores de George: ficamos apaixonados pelos livros. Ficamos apaixonados pelo mundo que ele criou, pela expansão de Westeros e Essos. Ficamos apaixonados pelos personagens, centenas deles, tanto pelos bons como pelos maus, pelos Stark, pelos Lannister, pelos Targaryen e pelos Greyjoy. Ficamos apai-xonados pela brutalidade da narrativa: ninguém está a salvo. O bem não triunfa sobre o mal. Pes-soas terríveis têm traços simpáticos, e pessoas adoráveis têm traços repugnantes.

D. B. WEISS: Quando grande parte de sua vida é adaptar materiais para a tela, você sempre está procurando personagens profundos, uma his-tória muito bem trabalhada e atraente, paixão, violência, intriga, humanidade e todas as ambiguidades que vêm com um mundo plena-mente realizado... e você nunca encontra tudo isso no mesmo lugar. Só que nós encontramos. Foi estimulante e assustador.

DAVID BENIOFF: E todas as coisas pelas quais nos apaixonamos tornavam impossível considerar os livros como fonte para um filme. Primeiro, porque comprimir cada volume em um filme de duas horas significa-ria descartar dezenas de tramas secundárias e montes de personagens. Segundo, porque um filme de fantasia com esse escopo, finan-ciado por um grande estúdio, certamente precisaria ser classificado para maiores de treze anos, o que significaria sem sexo, sem sangue, sem profanidades. Foda-se isso.

BRYAN COGMAN: Descrevam alguns dos desafios de adaptar uma narrativa desse porte, com tantos personagens e tramas.

D. B. WEISS: A questão se responde por si mesma: há muita coisa lá. George não con-tou só uma história; ele criou um mundo. Dez horas é bastante tempo para contar uma história, mas para fundar um mundo você tem de ser eficiente ou se arriscar a perder coisas que ama. Na primeira tempo-rada, eu acho que conseguimos manter quase tudo o que realmente amamos. Ao avançar, infelizmente, serão necessários alguns sacrifícios ou compressões – de outro modo, precisaríamos de trinta episó-dios por temporada, e o orçamento com o elenco afundaria o barco. Mas o objetivo sempre será preservar o espírito da série:

criar episódios que façam os telespectado-res se sentirem do mesmo jeito que os livros nos fazem sentir quando os lemos pela pri-meira vez... e relemos e lemos novamente.

B R Y A N C O G M A N : Quais cenas ou diá-logos em particular vocês mais se orgu-lham de ter escrito?

D A V I D B E N I O F F : A cena em que Syrio e Arya conversam sobre suas crenças: “Só há um deus. O nome dele é Morte. E só há uma coisa para dizer para a Morte: ‘Hoje não’”.

Essa cena [do episódio 6 da primeira temporada] mostra perfeitamente o proces-so colaborativo de Game of Thrones. George, claro, inventou Arya e Syrio. De início não planejávamos ter essa cena em particular, mas Jane Espenson [corroteirista do mesmo episódio] nos convenceu de que era uma boa ideia. Dan pegou a cena original de Jane e a reconfigurou. Então fiz aquele diálogo sobre a morte. Miltos Yerolemou [que interpretou Syrio] pegou um diálogo que poderia ter soado pomposo ou pretensioso, ou pompo-samente pretensioso, e o entregou assim. E Dan Minahan dirigiu uma cena perfeita.

D. B. WEISS: Os diálogos são muito simples, mas um dos quais mais me orgulho é provavel-mente o da cena entre Robert e Cersei [no epi-sódio 5 da primeira temporada], quando eles têm um raro momento de lucidez sobre o pân-tano tóxico que é o casamento deles. Cersei pergunta a Robert se alguma vez tiveram chance de serem felizes juntos, e Robert lhe diz a verdade: “Não”. Então, pergunta para ela: “Isso a faz se sentir melhor ou pior?”. E ela res-ponde: “Não me faz sentir nada”.

Isso não aparece muito em uma pági-na, na verdade. Então, deixe-me mudar a pergunta para: “Que diálogos vocês mais se orgulham de os atores terem reproduzido com eficácia devastadora?”.

DAVID BENIOFF: Você, senhor, está enganado. O melhor diálogo que você escreveu é aquele em que Sam diz: “Sempre quis ser um feiticeiro”.

BRYAN COGMAN: Quais dos vários temas da história mais ressoam em vocês?

DAVID BENIOFF: No mundo real, coisas horrí-veis acontecem com pessoas boas, mas imbecis

hipócritas em geral fazem tremendo sucesso. Então, como, no mundo da fantasia, o bem sempre triunfa e o mal é derrotado? Parece estranho por se tratar de uma história de dra-gões, demônios de gelo e princesas com cabelos prateados, mas George traz certo realismo para a fantasia épica. Ele introduz tons de cinza em um universo geralmente preto e branco.

D. B. WEISS: Antes de mais nada, para mim essa sempre foi uma história sobre poder. Quem o quer, por que o quer, como conse-gui-lo, o que fazer com ele, o custo para o personagem e sua família. É o tema que per-passa grandes histórias épicas, desde a Ilíada até O Poderoso Chefão e O Senhor dos Anéis. E, nesse sentido, também é uma história sobre como o pessoal se torna político, como os amores, as luxúrias, os ódios e os remorsos de alguém podem ter repercussões muito além das pessoas imediatamente afetadas.

BRYAN COGMAN: Por que a Irlanda do Norte foi a escolha final para as grava-ções e base de operações de Game of Thrones?

DAVID BENIOFF: Por várias razões: a Irlanda do Norte oferece ampla gama de locações a curta distância. Cumes varridos pelo vento, praias rochosas, prados verdejantes, altas falésias, ria-chos bucólicos – podíamos filmar durante o dia em qualquer um desses lugares e ainda dormir à noite em Belfast, que é uma base maravilhosa, uma cidade pequena onde nos sentimos em casa desde o início. Nossa equipe local é abastecida por pessoas incrivelmente apaixonadas e talen-tosas. Diferentemente de lugares acostumados às super-produções, como Hollywood ou Lon-dres, ainda sentimos certa excitação da comuni-dade por termos escolhido Belfast como ponto central da série.

BRYAN COGMAN: Por fim, em que momento perceberam que [o ex-assistente, atual supervisor de produção] Bryan Cogman era a chave para o sucesso da série?

D. B. WEISS: Infelizmente, foi pouco depois que o demitimos e vendemos seu bebê para o circo.

D A V I D B E N I O F F : Ele sempre nos amea-çava de pedir demissão da série e trabalhar em Camelot. É verdade.

P r ó l o g o

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I T h e W a l l [ T h e N i g h t ’ s W a t c h ]

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I A M u r a l h a

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I T h e W a l l [ T h e N i g h t ’ s W a t c h ]

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I A M u r a l h a A P a t r u l h a d a N o i t e

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semente (para a Muralha) foi plantada dez anos antes de eu começar a escrever os livros, quando visitei o Reino Unido pela primeira vez e fui à Muralha de Adriano. O sol estava se pondo, e fiquei parado no alto da muralha, olhando para o norte. Era outono, um dia frio. O vento soprava, e isso despertou algo em mim.Tentei me colocar no lugar de um legionário romano postado, naquela muralha, alguém da Itália ou da África; o Império tinha soldados do mundo todo nessa época. Você fica parado ali, praticamente no fim do mundo, e pode ver as colinas e as florestas além. Que inimigo está vindo por aqueles bosques? O que vai emergir e atacá-lo do outro lado da muralha? Foi um

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semente (para a Muralha) foi plantada dez anos antes de eu começar a escrever os livros, quando visitei o Reino Unido pela primeira vez e fui à Muralha de Adriano. O sol estava se pondo, e fiquei parado no alto da muralha, olhando para o norte. Era outono, um dia frio. O vento soprava, e isso despertou algo em mim.

momento realmente profundo, que tocou algo em minha imaginação. Havia uma história ali. É claro, na Muralha de Adriano, o que teria emergido daqueles bosques seria um escocês! Eu precisava de mais do que um escocês. E a fantasia é inevitavelmente maior, então eu sabia que a Muralha tinha de ser maior.

— G E O R G E R . R . M A R T I N Produtor-executivo, autor de As Crônicas de Gelo e Fogo

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[ 1 5]

“Ah, minha doce criança do verão, o que você sabe sobre o medo?

O medo é para o inverno, quando a neve fica com mais de

trinta metros de altura. O medo é para a Longa Noite...

quando os Caminhantes Brancos se movem pelos bosques.”

— V e l h a A m a

Liderando monstruosos exércitos de mortos, os Caminhantes Brancos travaram uma guerra contra os vivos, varrendo vilas, for-talezas e cidades, destruindo completamente tudo em seu rastro.

Com o tempo, uma aliança entre os Primeiros Homens e os Filhos da Floresta pôs fim à Longa Noite. Juntos, derrotaram os Caminhantes Brancos, mandando-os de volta para os rincões inexplorados do Extremo Norte. Para evitar que invadissem novamente, o povo de Westeros construiu a Muralha e colocou a Patrulha da Noite sobre ela. Por um milênio, os Caminhantes Brancos não foram vistos, tornando-se, então, mais mito do que realidade, uma história para assustar crianças desobedientes na hora de dormir. No entanto, com relatos perturbadores chegando de além da Muralha, alguns se perguntam se os Caminhantes Brancos retornaram... e estão se preparando para voltar a atacar.

[ acima ] Arte conceitual inicial, Caminhante Branco. ✥ [ ao lado ] A Floresta Assombrada, onde vivem os selvagens

e criaturas piores. ✥ [ dupla anterior ] A Muralha. ✥ [ página 11 ] Patrulheiros se aventuram para o norte.

Há mil anos, segundo a lenda, um inverno brutal e uma horrível escuridão engoliram toda Weste-

ros. Essa escuridão, conhecida como a Longa Noite, durou uma geração. Foi a época dos Cami-

nhantes Brancos, criaturas demoníacas nascidas dos desertos gelados do Extremo Norte.

U m A B r e V e h i s t ó r i A

CAmiNhANtes BrANCOs

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A M u r a l h a [ 1 7]

Nos momentos iniciais de Game of Thrones, três homens da Patrulha da Noite – Sor Waymar Royce, Will e Gared – aventuram-se além da Muralha. A missão rotineira de patrulhamento torna-se fatal quando encontram os legendários e horríveis Caminhantes Brancos, e apenas Will (interpretado por Bronson Webb) escapa com vida.

WILL SIMPSON (artista de storyboard): Eu estava conversando sobre o primeiro storyboard da sequência com [o diretor] Tim Van Patten. Tim descreveu a cena de maneira muito espe-cífica – toda aquela intensa atmosfera e estado de espírito. Foi um jeito realmente incrível de abrir a série, atingindo os espectadores com algo abstrato, algo que nunca tinham visto, e jogando-os dentro da história.

TIM VAN PATTEN (diretor, primeira temporada): A aparência do Caminhante Branco foi o primeiro desafio. No último minuto, finalmente chega-mos à aparência com a qual ele ficou, mas não antes que cada detalhe fosse discutido à exaus-tão. Como havia se adaptado ao ambiente? Qual o tom da pele? As feições? A altura? Como se movia? Sua vestimenta? Suas armas?

W I L L S I M P S O N : Fiz três desenhos dos Caminhantes Brancos durante a produção do piloto, conceitos muito iniciais. A ideia original veio da descrição do livro: deviam ser entidades congeladas.

ADAM McINNES (supervisor de efeitos visuais, pri-meira temporada): Quando Tim Van Patten fez os storyboards da sequência do Caminhante Branco no prólogo, a presença da criatura era muito mais extensa do que a usada no episódio, o que foi bom por vários motivos. Fomos obri-gados a encontrar a solução mais acessível para as criaturas que não fosse simplesmente evitar vê-las desde o início. Por fim, decidimos que os Caminhantes seriam interpretados por atores

vestidos e maquiados para que parecessem não humanos. Conor O’Sullivan, nosso especialista em próteses, encomendou alguns conceitos artísticos para vender a ideia.

ALIK SAKHAROV (diretor de fotografia, primeira temporada): Conheço Tim Van Patten desde 1998, quando trabalhamos na primeira tempo-rada de Os Sopranos, então desenvolvemos um código ao longo dos anos. Nós dois passamos uma semana no apartamento dele – bebendo um bom vinho e comendo muito macarrão, claro – e disparamos ideias para todos os lados. Analisamos o roteiro, diálogo por diálogo, olha-mos as fotos da locação e imaginamos como seria a ação. Lembro que andamos pelo aparta-mento fazendo cada movimento dos patrulhei-ros, agindo quase como se fosse um teatro, um teste da caixa-preta. Então começamos a dividir a sequência em tomadas, começando com Will cavalgando, uma tomada inicial extremamente longa. Vamos observá-lo ou seguir com ele? Detalhes assim são discutidos exaustivamente porque, dependendo do tipo de tomada, você inspira uma resposta emocional distinta do espectador. Para mim, a chave para aquela pri-meira sequência era a marcha cautelosa, e Timmy é um mestre na utilização do tempo.

ADAM McINNES: Os atores nas vestes de Caminhantes tinham de se mover do melhor modo possível em um terreno difícil, quase sem enxergar, já que as máscaras reduziam a visão a um grão. Acrescentamos o brilho azul dos olhos na pós-produção.

O P R Ó L O G O

E p i s ó d i o 1 d a P r i m e i r a T e m p o r a d a : “ O I n v e r n o E s t á C h e g a n d o ”

“Eu vi o que vi... vi os Caminhantes Brancos.”

{ Will }

[ acima ] Os patrulheiros Gared (Dermot Keaney) e Sor Waymar Royce (Rob Ostlere), da Patrulha da Noite, vasculham a floresta. ♦ [ ao lado ] Bronson Webb como Will, um malsucedido patrulheiro da Patrulha da Noite.

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P o r D e n t r o d a S é r i e d a H B O G a m e o f T h r o n e s[ 1 8]

T I M V A N P A T T E N : Acabamos mudando a sequência da noite, como estava no roteiro, para o crepúsculo, a fim de ter melhor controle das tomadas e sentir mais o ambiente. Filmamos no fundo da floresta, o que trouxe mais desafios, e nosso pessoal de efeitos especiais teve de criar a neve. Isso tudo levou três dias – nenhum deles fácil, mas todos satisfatórios.

W I L L S I M P S O N : O que amo nesse pró-logo é que começa com essa sequência louca, que é basicamente um filme de ter-ror, e então você não vê os Caminhantes novamente durante toda a temporada! Mas estão sempre, como observadores, no fundo de sua mente, assim como na mente dos caras na Muralha.

WILL SIMPSON: O interessante dessa sequência é que fui até a locação [Floresta Tollymore, na Irlanda do Norte] com Tim e Alik e tomei notas,

rabiscando enquanto discutíamos. Estava vendo tudo ali, bem diante de mim, an-tes de desenhar, o que não acontece normalmente. Foi ótimo trabalhar com Tim, ele é muito colaborativo. Dei duro para conseguir movimentos e energias reais nos quadros para ajudá-lo a compreender a sequência.

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A M u r a l h a [ 1 9]

[ à esquerda ] Locação na Floresta Tollymore. ♦

[ acima, no alto ] Os Caminhantes Brancos estão prontos para a “ação”. ♦ [ acima, embaixo ] Uma macabra descober-ta além da Muralha. ♦ [ página anterior, em cima ] Arte conceitual da Muralha. ♦ [ página anterior, embaixo ] O diretor Tim Van Patten recorre aos storyboards no set.

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[ 2 1]

[ a c i m a ] Jo n Sn o w ( K i t Ha r i n g t o n ) e Sa m w e l l Ta r l y ( Jo h n Bra d l e y) fa ze m o s v o t o s d a Pa t r u l h a d a No i t e di a n t e d e u m r e p r e se i ro

a n c e s t ra l . ✥ [ a o l a d o ] Jo n Sn o w ( K i t Ha r i n g t o n ) e n fr e n t a se u s c o m pa n h e i ro s r e c r u t a s d u ra n t e t r e i n o n o Ca s t e l o Ne g ro .

no despertar da Longa Noite. Essa fabu-losa estrutura, diferente de qualquer

outra já construída, estende-se de um lado a outro de Westeros, toda ela guardada e

mantida pelos homens da Patrulha.Um homem da Patrulha da Noite não usa emblema; veste-se

todo de preto e é frequentemente chamado de “irmão negro”. Faz um juramento de servir por toda a vida; sua única fidelidade é para com seus companheiros da Patrulha. Renuncia ao nome de família e a quaisquer terras ou títulos; seu passado é esquecido, apagado. Um irmão negro deve se manter celibatário, não pode casar ou ter filhos, pois os fundadores da Patrulha da Noite acreditavam que o amor era a morte do dever. Prometendo uma vida de privações e grande sacrifício, o juramento da Patrulha da Noite não deve ser feito levianamente – a punição para a deserção é a morte. Uma vez na Muralha, as distinções de classe são deixadas para trás, e orgulhosos voluntários de casas nobres ficam lado a lado com pequenos ladrões recrutados em calabouços. Qualquer um pode subir de posição; um homem ganha o que merece na Muralha.

Ainda que os Caminhantes Brancos tenham desaparecido há muito tempo, a Patrulha da Noite tem outro inimigo for-midável para combater. Por gerações, bárbaros seminômades conhecidos como “selvagens” ameaçam o povo do Norte. Denominando-se “povo livre”, eles se recusam a seguir as leis e os costumes dos Sete Reinos. Ao longo da história, diferentes clãs selvagens mobilizaram-se sob uma liderança única, um “Rei Para Lá da Muralha”, e tentaram ataques de larga escala

contra o reino. Todas as vezes foram retumbantemente derrota-dos pelos corajosos homens da Patrulha da Noite. Agora, no entanto, um novo rei selvagem, chamado Mance Rayder, uniu os selvagens com um fervor não visto há mais de cem anos.

No auge de sua glória, a Patrulha era muito respeitada em todo o continente, no entanto, servir como irmão negro já não tem o mesmo prestígio de antigamente. A Casa Stark e outras casas do Norte continuam a reconhecer sua importância para a segurança e estabilidade do reino, mas as poderosas casas do Sul não partilham desse ponto de vista. Elas não consideram os selvagens uma ameaça real e duvidam que os Caminhantes Brancos retornarão – duvidam até de sua existência. Acreditam que a Patrulha da Noite é uma or- dem equivocada e obsoleta, composta por párias inúteis, crimino- sos e imprestáveis. Por isso, o contingente da Patrulha foi dimi-nuindo, até chegar a menos de mil homens, e apenas três dos deze- nove castelos ao longo da Muralha são funcionais. Mas, a despeito dessas privações, os irmãos negros continuam sua solitária vigília.

“A noite chega, e agora começa minha vigia. Não terminará até minha morte. Não tomarei

esposa, não possuirei terras, não gerarei filhos. Não usarei coroas e não conquistarei

glórias. Viverei e morrerei em meu posto. sou a espada na escuridão. sou o vigilante nas

muralhas. sou o escudo que guarda o reino dos homens. Dou minha vida e minha honra à

Patrulha da Noite, por esta noite e por todas as noites que estão por vir.”

– J u r a m e n t o d a P a t r u l h a d a N o i t e

Patrulha da Noite é uma irmandade juramentada dedicada a defender os reinos dos homens contra o retorno dos Cami-

nhantes Brancos e de outras forças obscuras que se escondem no Extremo Norte. Seu posto é a poderosa Muralha,

uma fortificação maciça de gelo e pedra de duzentos metros de altura, erigida pelos Primeiros Homens

U m A B r e V e h i s t ó r i A

A P A t r U L h A D A N O i t e

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P o r D e n t r o d a S é r i e d a H B O G a m e o f T h r o n e s[ 2 2]

[ acima ] Owen Teale como o sádico mestre de armas da Patrulha da Noite, Alliser Thorne.

D E S E N H A N D O

A M U R A L H A e O C A S T E L O N E G R O

“Eu só quero ficar em cima da Muralha e mijar da beira do mundo.”{ Tyrion Lannister }

DAVID BENIOFF (produtor-executivo, roteirista): Os efeitos visuais mais importantes filmados no primeiro episódio são os da Muralha, o que é compreensível, uma vez que a Muralha pode ser o marco divisório mais crucial em toda Westeros. Tinha de parecer ao mesmo tempo realista e deslumbrante, e a equipe de efeitos especiais fez um trabalho excelente.

A D A M M c I N N E S : Nosso objetivo com a Muralha era criar uma estrutura que fosse inquestionavelmente feita de gelo, mas cuja construção também tivesse a marca registrada da engenharia humana. O lado sul, onde fica o Castelo Negro, seria o lado movimentado. Veríamos remanescentes das trilhas e postos avançados usados para trans-portar materiais e manter a construção ao

longo dos séculos. O lado norte tinha de ser puro, para que fosse inconcebível que alguém pudesse escalar a Muralha, proporcionando, assim, a defesa perfeita contra as forças obs-curas do Norte. Para construir tudo isso, começamos com a arte conceitual e a cons-trução física do Castelo Negro nas locações na pedreira Magheramorne.

R O B B I E B O A K E (coordenador de locações) : Lembro de ler a primeira temporada deses-perado, pensando: “Onde vou encontrar isso?”. A Irlanda do Norte tem várias loca-ções, mas nem tantas muralhas de duzentos metros. Então fiquei muito satisfeito quando levei [a designer de produção] Gemma Jackson até Magheramorne, uma velha pedreira de calcário a cerca de trinta

quilômetros ao norte de Belfast, e pergun-tei: “O que acha?”. Lá estava! Por completa coincidência, acabamos construindo na parte mais segura da pedreira.

ADAM McINNES: A justificativa para uma base mais rochosa para a Muralha era a necessi-dade de a engenharia ter material sólido como fundação para o gelo, o que provavelmente se encaixava bem com uma boa e alta locação física na qual filmar. A equipe de efeitos espe-ciais tratou a superfície da rocha para parecer gelo e neve acumulada. Então digitalizamos todo o cenário com o Castelo Negro e a mura-lha-pedreira para obter a base de um modelo de computação gráfica, e um extenso matte painting digital foi usado para finalizar as cenas em que a Muralha é vista na série.

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A M u r a l h a [ 2 3]

GEMMA JACKSON: Foi Tom Martin, nosso incrível gerente de construção, quem teve a ideia de usar um elevador de canteiro

de obras de verdade. Então compramos um, e nós mesmos cobrimos a estrutura que veio com ele. Foi uma coisa extraordinária, embora ele tenha emperrado uma ou duas vezes com os atores dentro!

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P o r D e n t r o d a S é r i e d a H B O G a m e o f T h r o n e s[ 2 4]

DAVID BENIOFF: Gemma Jackson e seu departamento se superaram com o Castelo Negro. De todos os maravilhosos cenários criados para a primeira temporada, é prova-velmente o meu favorito. Os diretores ado-ram filmar ali, porque podem colocar a câmera em qualquer ângulo sem nunca deixar nosso mundo. Não há pontos mortos – quando você fica parado no meio do Castelo Negro, você realmente acredita que está dentro dele.

GEMMA JACKSON (designer de produção): Comecei com os roteiros e as descrições encontradas no livro de George, mas também pesquisei muito material envolvendo a cultura esquimó – ou pessoas vivendo em iglus, que são imun-

dos. Elas dormem em plataformas, enroladas todas juntas em peles. Há latões de cera e gordura, além de sangue das focas que mata-ram. É fascinante, muito primitivo. Também fiquei obcecada pela arquitetura do Hima-laia. Muitas vezes parece que as construções estão nascendo das rochas e das pedras, e elas precisam resistir a um clima muito rigoroso.

O Castelo Negro era um cenário com interio-res e exteriores, construído em uma área da parede da pedreira, e tinha de representar o pátio principal de um grande castelo, o res-tante do qual foi construído com computa-ção gráfica usando arte conceitual como guia. Todos aqueles castelos ao longo da Muralha estão desmoronando, e o Castelo Negro é

KIT HARINGTON ( Jon Snow): O cenário era incrível. Era surpreen-dente caminhar por algo quase idêntico ao que eu tinha em mente.

Não percebi na época, mas trabalhar na pedreira, com o cenário construí-do contra a imensa parede, deu aos atores a sensação real da importância daquilo. Teria sido mais difícil sentir esse assombro só com uma tela verde.

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A M u r a l h a [ 2 5]

[ acima ] O cenário da Muralha. ♦ [ à esquerda ] Alli-ser Thorne (Owen Teale) em um “momento de ensina-mento” com Jon Snow (Kit Harington). ♦ [ página ao

lado, embaixo, à esquerda ] Arte conceitual inicial da Muralha. ♦ [ página ao lado, embaixo, à direita ] James Cosmo como o Senhor Comandante Mormont.

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P o r D e n t r o d a S é r i e d a H B O G a m e o f T h r o n e s[ 2 6]

um dos poucos que ainda funcionam. É um lugar miserável para estar. Então decidimos usar vigas e pedras, materiais brutos para transmitir como devia ser extenuante viver ali. É um mundo muito monocromático de gelo, madeira e pedra.

JOHN BRADLEY (Samwell Tarly): Quando vi aquilo pela primeira vez, pensei: “Ah, meu Deus, é imenso! Tenho de encenar aqui. Tenho de me ligar e atuar o melhor que puder”.

Então percebi que tudo estava ali para me aju-dar a atuar o melhor possível. Qualquer receio que eu tinha em entrar no mundo da série foi dissipado naquele lugar, naquele momento, de

tão impressionante o cenário e de tão imersos que ficamos nele. Podia ser um cenário de TV, mas não era o lugar mais agradável para se estar em alguns dias. Só de atravessar o pátio, com aquelas pedras afiadas, a chuva caindo e o manto pesado, não há como sua mente estar em outro lugar. Filmávamos ali o dia todo, e o local mais confortável para descansar era aquela imensa pilha de rochas, onde todos sentávamos. Aquilo era conforto! Basicamente vivíamos naquela pilha de rochas.

[ acima ] Arte conceitual inicial do Castelo Negro.♦

[ à direita ] Kit Harington (Jon Snow) luta com Grenn (Mark Stanley). ♦ [ página ao lado, em cima ] O endureci-do irmão negro da segunda temporada. ♦ [ página ao lado,

embaixo ] A Patrulha da Noite na locação na Islândia, na segunda temporada.

KIT HARINGTON: Eu amei de verdade filmar aquelas cenas de

luta. Derrotar três caras com uma espa-da é o sonho de todo jovem ator.

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A M u r a l h a [ 2 7]

MICHELE CLAPTON (figurinistas): Esses homens não usariam todos a mesma cor, o mesmo tom de negro. A Patrulha da Noite está deterio-rando, seu contingente vem diminuindo, eles não têm dinheiro, então as roupas precisavam refletir essas circunstâncias. Trabalhamos com a ideia de que eles tingem as roupas de negro, o que dá tons distintos. E, claro, dispõem de peles para manter-se aquecidos, mas tudo sempre tem de ser feito com o que conseguem nas pro-ximidades. Tudo é muito sujo, muito grosseiro.

Também decidimos que os recrutas fica-riam com as próprias roupas, além da rústica armadura-padrão de treino. Não usariam a

vestimenta negra até que entrassem para o agrupamento e fizessem o juramento da Patru-lha da Noite. Muitos dos novos recrutas foram arrancados das prisões, não tinham capa ou manto. Então, entre os recrutas, há uma mis-tura de cores e tecidos, dependendo de onde vieram. Sam, por exemplo, de origem nobre, tem um padrão de roupas muito mais elevado.

A aparência de Jon Snow, inicialmente, vem de Winterfell, mas, como é bastardo, suas roupas não têm a mesma qualidade das de seus irmãos e irmãs. Quando ele vai para a Muralha, conserva o mesmo traje, mas introduz alguns novos elementos escuros. Então, claro, fica totalmente de negro quando faz o juramento. Ele mantém o manto negro original durante toda a série; é um pedaço de casa, o que faz sentido para o seu personagem, eu acho.

V E S T I N D O

A P A T R U L H A D A N O I T E

“Na próxima vez que eu vir você,

você estará de negro.”{ Robb Stark }

“Sempre foi a minha cor.”{ Jon Snow }

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[ 2 8]

O fi lho bastardo de Ned Stark, Jon, foi reconhecido pelo pai

ao nascer e criado com os meios-irmãos e meias-irmãs em Win-

terfel l, onde sempre se sentiu como um pária. Cresceu idola-

trando o pai, ansiando pela afeição e aprovação que Ned nunca

foi capaz de lhe dar totalmente. Jon parece ter encontrado seu

lugar no mundo com a Patrulha da Noite, da qual se tornou um

l íder natural e um guerreiro eficaz ao enfrentar os perigos

além da Muralha.

“Na próxima vez que nos encontrarmos,

falaremos sobre sua mãe.”

— N e d s t a r k p a r a J o n s n o w

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D. B. WEISS (produtor-executivo, roteirista): Jon Snow é o que essa his-tória tem de mais próximo do herói tradicional, pelo menos no início. No entanto, assim como faz com a maior parte dos perso-nagens da saga, George pega o familiar e o vira de ponta-cabeça. Jon pode ser um herói, mas sua jornada é tudo, menos tradicional.

DAVID BENIOFF: Sinto como se tivéssemos visto todos os jovens atores do Reino Unido, muitos dos quais fizeram vários testes para diversos papéis, incluindo Robb, Theon, Viserys e Jon Snow. Fizemos duas audições para Jon: uma com um texto do primeiro episódio e outra com uma cena posterior, do terceiro livro, A Tormenta de Espadas. Kit Harington pareceu a pessoa certa desde o início, porque foi capaz de incorporar Jon Snow nesses dois pontos diferentes da história – o jovem imaturo do piloto e o guerreiro experiente das temporadas futuras.

K I T H A R I N G T O N : Eu me apaixonei pelo personagem imediatamente, porque ele não é um herói clichê. Ele comete erros; é possuído por muito autodesprezo e dúvidas. Viveu sua própria vida como um intruso, já que nascer bastardo é uma marca de vergonha nesse mundo. Apesar da sorte de ter sido reconhecido pelo pai e criado com os irmãos e irmãs,

nunca se sentiu realmente parte da família, sobretudo pelo jeito como é tratado por Catelyn, sua madrasta.

M I C H E L L E F A I R L E Y ( C a t e l y n S t a r k ) : Para Cat, ele é uma recordação diária da infidelidade de Ned, de sua traição. Acho que ela canaliza toda a raiva e ódio que sentiu por Ned em Jon. Ela não consegue disfarçar isso e não pode evitar. É mais forte do que ela.

KIT HARINGTON: Há o olhar que troco com Catelyn em uma das cenas iniciais do episódio 1 da primeira temporada, no pátio de treinos. Aquilo resume toda a infância de Jon, o que teve de viver. Acho que, de algum modo, tudo o que ele faz, cada relacio-namento, o faz pensar na mãe que nunca teve, o que lhe traz ques-tões muito freudianas cada vez que se aproxima de uma garota!

Para Jon, a Patrulha da Noite foi desde muito cedo algo do qual sabia que faria parte. Ele admira seu tio Benjen [interpre-tado por Joseph Mawle], primeiro patrulheiro na irmandade, e acredito que percebe que Benjen se sente um pouco intruso tam-bém. Jon vê a Patrulha da Noite como um chamado nobre e a Muralha como o lugar em que pode se tornar mais do que um bastardo. É claro, ele descobre que a Muralha e a Patrulha da Noite são bem diferentes do que esperava.

Acho que a primeira temporada é realmente sobre Jon perdendo sua família: o pai morto, o tio perdido além da Muralha, os irmãos e irmãs separados, Robb liderando uma guerra. Isso tem grande impacto sobre ele, endurece-o. Ele tem de fazer a escolha de deixar a antiga vida para trás de uma vez por todas e se dedicar à nova família, aos irmãos da Patru-lha da Noite. A segunda temporada é sobre encarar os perigos além da Muralha e o que realmente significa ser um irmão negro. Ele é testado das formas mais inesperadas possíveis.

[ no alto ] Jon supervisiona o exercício de arco do irmão mais jovem, Bran, em uma cena do episódio 1 da primeira temporada. ✥ [ acima ] Jon na

segunda temporada. ✥ [ página ao lado ] John Bradley como Samwell Tarly. ✥ [ página anterior ] Kit Harington como Jon Snow.

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A M u r a l h a [ 3 1]

JOHN BRADLEY: Houve um momento, no episódio 4 da primeira temporada, durante um treino com espadas [no qual o tímido Sam é maltratado por outro recruta], em que fiz uma importante descoberta. Tínhamos feito alguns ensaios, então eu tinha sido espancado algumas vezes. [O diretor] Brian Kirk estava arrumando as tomadas, e eu estava deitado no chão – ninguém estava prestando atenção em mim. Lembro de olhar para cima e ver Kit em pé a meu lado. Sem falar com ninguém, quase para si mesmo, ele disse: “Pobre Sam”. Fiquei tão contente! Tive certeza, naquele instante, de quão comovente aquela trama poderia ser, vendo Kit, o ator, sentindo algo pelo personagem. Foi então que soube que estávamos no caminho certo.

KIT HARINGTON: À primeira vista, a dinâmica entre Jon e Sam pode parecer a do “herói e seu amigo”, mas é muito mais do que isso. Jon pode começar como protetor de Sam, mas uma amizade real se desenvolve quase imediata-mente, e os dois se complementam muito bem.

J O H N B R A D L E Y : Minha cena favorita na primeira temporada é a cerimônia de “formatura” [na qual são atri-buídas as posições aos recrutas da Patrulha da Noite]. Sam percebe que algo perturba Jon e usa sua autodeprecia-ção para fazer o amigo sorrir. É revelado um lado diferente de Sam – quão perspicaz ele é em relação à inteligência emocional. Noutro momento, Sam convence Jon de que ser designado intendente é uma coisa boa, utilizando a retórica e a lógica para persuadi-lo. Vai além da amizade; Sam realmente se torna uma influência sobre Jon.

KIT HARINGTON: John traz muito humor e inteligência a Sam. Como acontece com muitos personagens, quando você pensa que entendeu Sam, ele o surpreende. Pode parecer um covarde, mas é na verdade muito cora-joso, um dos personagens mais corajosos da série.

“sempre quis

ser um

patrulheiro.“

— J o n s n o w

“sempre quis

ser um

feiticeiro.“

— s a m w e l l ta r l y

Primogênito de uma família nobre, Sam foi expulso pelo pai desaprovador e obrigado a se juntar

à Patrulha da Noite. Embora seja um autoproclamado covarde e, no início, intimidado pelos

outros recrutas, sua inteligência e pensamento rápido o ajudam a ser reconhecido e, com o tempo,

torna-se um dos amigos mais próximos de Jon Snow.

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DAVID BENIOFF: Um dos desafios da série é que ficamos viajando entre ambientes e climas absur-damente diferentes, várias vezes em um mesmo episódio. A Irlanda do Norte funciona muito bem como dublê das cercanias de Winterfell, das Terras Fluviais, do Vale e das Terras da Tempestade. Mas é difícil reproduzir as Terras do Sempre Inverno na Irlanda – não há grandes montanhas e a neve é esporádica e imprevisível. Felizmente, Stuart Brisdon e a equipe de efeitos especiais realiza-ram um trabalho incrível “fazendo nevar” em várias locações na primeira temporada.

Na segunda temporada, Jon Snow e os irmãos da Patrulha da Noite se aventuram bem além da Muralha, em busca de Benjen Stark e para descobrir por que os selvagens estão abandonando suas aldeias. Colocar neve sobre a Fortaleza de Craster – outro projeto magistral na manga de nosso ás, Gemma Jackson – funcio-nou bem, mas, quando Jon e companhia alcançam o Punho dos Primeiros Homens e além, não ficamos satisfeitos em espalhar celulose branqueada em um morro enlameado. Sentimos que precisávamos filmar em algum lugar que parecesse tão frio e glorioso como o mundo que imagina-mos enquanto lemos os livros. Então filmamos as cenas da trama de Jon Snow, na segunda temporada, na Islândia. Era imensamente desafiador filmar em dezembro, com cerca de quatro horas e meia de luz por dia, mas o cenário natural espetacular fez tudo valer a pena.

“temos outras guerras para lutar. Lá fora.”

– s e n h o r C o m a n d a n t e m o r m o n t

[ no alto ] Arte conceitual inicial do Punho dos Primeiros Homens, na segunda temporada. ✥ [ no centro ] Jon Snow

e Ygritte (interpretada por Rose Leslie), uma intrépida selvagem que Jon encontra nos desertos gelados além da Muralha. ✥ [ página do lado ] A Fortaleza de Craster. ✥ [ próxima dupla ] Jon Snow do lado de fora da Fortaleza de Craster.

A L é m d a m U r A L h A

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