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Contos De Teoria Clinica Psicanalítica escritos por Um Gajo Qualquer Disclaimer: Estes apontamentos foram criados com o único objectivo do seu autor não morrer de tédio enquanto estudava esta cadeira. Se alguém os vier a utilizar que o faça por sua conta e risco. Foram escritos sem cuidado nem moderação, num computador sem corrector ortográfico e não foram revistos. Se apreciam coisas bem escritas leiam antes um livro, de preferência um que não esteja relacionado com esta cadeira. (Freud, Melanie Klein, Fairbairn e Ogden incompleto) Conto 1- Uma visita (mais ou menos esperada) Tema: Observações sobre o amor de transferência- Freud, 1915 Os seus pés fustigavam a gravilha de forma cada vez mais violenta. A cada passo o ruído tornava-se mais intenso, como se ele próprio alertasse para o caminhante enfurecido. Cruzou a rua que faltava e o seu andar transformou-se num passo de corrida, sentia-se invadido por aquela urgência que nos assalta em momentos de raiva, chegou à porta vermelha ( a tal porta vermelha). Confirmou o número que correspondia àquele que estava apontado num papel, numa letra cuidadosamente desenhada e claramente feminina. Letra que ao pé dos seus dedos grandes e peludos parecia agora um pequeno rabisco infantil. Entrou e começou a galgar os degraus o mais depressa que podia. Deteve-se atrás de uma porta onde escutou barulho, ao ouvir uma voz masculina entrou. Deparou-se num gabinete, todo pintado de branco, à sua frente numa secretária de pinho polido um homem fitava-o não disfarçando o espanto. Ele teve a certeza, era ele... Ergueu então o taco de basebol que tinha trazido consigo e gritou: Homem “traído” (doravante H)-VOU-TE MATAR, SEU PSICANALISTA MISERÁVEL FOSTE TU, FOSTE TU QUE COMESTE A MINHA MULHER O homem que estava na secretária (doravante T)- Desculpe senhor, não percebo do que fala. H- Não te faças de desentendido, tu comeste a minha mulher, ela é tua paciente ou cliente ou lá como vocês chamam. T(levantando-se, mas mantendo o olhar temeroso focado no taco de baseball)- Caro senhor, tenho várias clientes, qual delas é a sua mulher.

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Contos De Teoria Clinica Psicanalítica escritos por Um Gajo Qualquer

Disclaimer: Estes apontamentos foram criados com o único

objectivo do seu autor não morrer de tédio enquanto estudava

esta cadeira. Se alguém os vier a utilizar que o faça por sua

conta e risco. Foram escritos sem cuidado nem moderação,

num computador sem corrector ortográfico e não foram

revistos. Se apreciam coisas bem escritas leiam antes um

livro, de preferência um que não esteja relacionado com esta

cadeira.

(Freud, Melanie Klein, Fairbairn e Ogden incompleto)

Conto 1- Uma visita (mais ou menos esperada)

Tema: Observações sobre o amor de transferência- Freud, 1915

Os seus pés fustigavam a gravilha de forma cada vez mais violenta. A cada passo o ruído

tornava-se mais intenso, como se ele próprio alertasse para o caminhante enfurecido. Cruzou

a rua que faltava e o seu andar transformou-se num passo de corrida, sentia-se invadido por

aquela urgência que nos assalta em momentos de raiva, chegou à porta vermelha ( a tal porta

vermelha). Confirmou o número que correspondia àquele que estava apontado num papel,

numa letra cuidadosamente desenhada e claramente feminina. Letra que ao pé dos seus

dedos grandes e peludos parecia agora um pequeno rabisco infantil. Entrou e começou a

galgar os degraus o mais depressa que podia. Deteve-se atrás de uma porta onde escutou

barulho, ao ouvir uma voz masculina entrou. Deparou-se num gabinete, todo pintado de

branco, à sua frente numa secretária de pinho polido um homem fitava-o não disfarçando o

espanto. Ele teve a certeza, era ele... Ergueu então o taco de basebol que tinha trazido consigo

e gritou:

Homem “traído” (doravante H)-VOU-TE MATAR, SEU PSICANALISTA MISERÁVEL FOSTE TU,

FOSTE TU QUE COMESTE A MINHA MULHER

O homem que estava na secretária (doravante T)- Desculpe senhor, não percebo do que fala.

H- Não te faças de desentendido, tu comeste a minha mulher, ela é tua paciente ou cliente ou

lá como vocês chamam.

T(levantando-se, mas mantendo o olhar temeroso focado no taco de baseball)- Caro senhor,

tenho várias clientes, qual delas é a sua mulher.

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H- É a Lurdinha.

T- quem?

H- A Lurdes, a minha mulher chama-se Lurdes. Chamava-se...

T- Não me diga que fez mal à sua mulher.

H- Eu??? Mas quem é que você pensa que eu sou? Eu nunca lhe tocaria! Ela é que se foi

embora.

T-ah, lamento.

H- Mas você esteve com ela esteve a tratá-la...

T- Estive, estive, acompanhei-a .

H- Não nesse sentido pá. Você fez sexo com a minha mulher (neste momento H apercebeu-se

que continuava com o taco de baseball no ar e que já tinha passado o timing desse gesto,

como tal sentiu-se ridículo e baixou o braço)

T(visivelmente animado por o taco já não reluzir em frente aos seus olhos) Não meu caro. Não

tive qualquer prática desse tipo com a sua esposa, nem nunca poderia ter...

H- Mas ela apaixonou-se por si... Eu sei, ela disse-me.

T(sorrindo) não lhe chamamos paixão... Chamamos-lhe transferência.

H- Ó meu porco, você está a dizer que comprou a minha mulher, como os jogadores da bola??

T- ahaha, não é nada disso meu caro, eu explico... A paixão que o senhor refere, não é uma

paixão, é induzida pela situação analítica não podendo por isso ser atribuída ao charme ou à

pessoa do analista, ela não é nenhuma conquista dele nem ele tem qualquer mérito nisso, essa

“paixão” é um aspecto incontornável do processo analítico e nada mais...

H- Ah então isso quer dizer que ela ainda gosta de mim?

T- Não sei nem me interessa. Agora cale-se lá um bocadinho senão isto nunca mais avança e já

vamos em duas páginas.

H- Peço desculpa...

T- Apesar de ser uma situação que o analista sabia que iria acontecer, não poderia preparar a

paciente, neste caso a sua mulher, para a emergência desta transferência erótica pois isso iria

minar a espontaneidade do processo e faria com que a paciente erigisse defesas e obstáculos

ao processo. À primeira vista pode parecer-lhe que não há vantagem nenhuma em que a

paciente se apaixone pelo analista.

H- claro que me parece, ela é minha mulher...

T- Epá cale-se lá faz favor... Pode parecer-lhe isso, pois a paciente de súbito irá perder o seu

entendimento sobre o tratamento bem como o seu interesse no dito, ocupando o seu tempo a

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falar no amor que quer ver correspondido. Haverá uma desistência dos sintomas ou pelo

menos será prestada muito menos atenção aos mesmos, passando a declarar que está bem.

Esta transferência erótica mais não é do que um trabalho da resistência, pois a transferência

erótica leva o insight a dissolver-se e paciente fica absorvida no seu amor. Normalmente isso

acontece num ponto em que se tentou que a paciente admitisse ou relembrasse algo

particularmente angustiante e recalcado. A resistência começa aí a fazer uso do amor com o

objectivo de impedir a continuação do tratamento, deflectindo o interesse da paciente e

colocando o analista numa posição desconfortável (Ou canhestra, o Freud chama-lhe

canhestra). Esta situação pode ainda ser agravada por dois motivos... Um deles, refere-se a

pacientes que se esforçam profundamente para assegurar a sua irrestibilidade e assim

destruirem a autoridade do analista levando-o para o nível de amante, ganhando todas as

vantagens da satisfação do seu amor (vinculado ao enamoramento). O outro, a paciente

submete o analista a um teste à sua severidade, caso ele vacile, ela demite-o da sua função

(expressão específica da resitência)... Ao olhar para H, T apercebe-se que este começa a fechar

os olhos lentamente enquanto o ouve. T aproxima-se e bate uma palma à frente dele

T- Acorde homem, então não quer saber o que aconteceu com a sua mulher??

H- Ãnh, o quê? Aah sim sim, quero sim, porque é uma vergonha é uma situação horrível para

mim... que desagradável, é uma maçada...

T- bom... O Analista não deve de forma alguma corresponder aos sentimentos ternos que lhe

são transferidos pela paciente, por outro lado ele também não deve influenciar a paciente de

forma a que ela renuncie e suprima os sinais e os sentimentos pois isso levaria a que esta

sentisse humilhação e se vinga-se por ela, não trazendo esse procedimento qualquer

vantagem à análise. Tampouco deve o analista optar pelo caminho intermédio que consiste

em declarar que se retribuem os sentimentos amorosos mas se evita qualquer

complementação física dessa afeição. Deve-se evitar também esse caminho pois o tratamento

analítico baseia-se na sinceridade e neste facto reside grande parte do seu efeito educativo e

do seu valor ético. Assim o tratamento deve ser levado a cabo na abstinência ( não apenas a

física) nem a privação de tudo o que a paciente deseja (pois isso não seria tolerado por uma

pessoa enferma) deve-se assim utilizar a necessidade e anseio da paciente como forças que a

incitem a trabalhar e a fazer mudanças e devemos cuidar e apaziguar estas forças por meio de

substitutos. Mas pensará agora você... Então e não poderia o analista corresponder aos

sentimentos da paciente e amor da paciente e fazer uso dessa infleuncia para a levar a realizar

as tarefas exigidas pelo tratamento e livrá-la da neurose?

H- É agora que eu te vou bater...

T- Pois não, não podia. Porque nesse caso a paciente conseguiria uma vitória mas o

tratamento seria derrotado. A paciente teria tido exito no acting out ( repetir na vida real algo

que deveria apenas ter sido reproduzido como material psíquico e mantido nessa esfera).

Assim no curso posterior do relacionamento amoroso ela expressaria todas as suas inibições e

reacções patológicas e não haveria como as corrigir. O episódio penoso terminaria em remorso

e com um grande fotalecimento da sua propensão à repressão. Isto acontece porque o

relacionamento amoroso destrói a susceptibilidade da paciente à influencia do tratamento

analítico e por isso é impossível combinar os dois.

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H- Então mas afinal você fez ou não fez sexo com a minha mulher?

T- Mas você só pensa em sexo homem?

H- eu?? Você é que é psicanalista...

T- Bom, voltando ao que interessa. Como vimos, é tão desastroso para a análise que o anseio

da paciente por amor seja satisfeito como que seja suprimido. Assim o caminho que o analista

deve tomar é um para o qual não existe modelo na vida real. Ele terá de tomar as devidas

precauções para não se afastar do amor transferencial, nem o repelir ou tomar qualquer acto

que o torne desagradável para a paciente, mas deve de modo igualmente determinado e

resuluto, recusar qualquer retribuição desse mesmo amor. Deve assim manter um firme

domínio do amor transferencial, mas simultaneamente tratá-lo como algo irreal, ou seja como

uma situação que tem de se atravessar no tratamento e remontar às suas origens

inconscientes o que pode ajudar a trazer tudo o que se acha muito profundamente oculto na

vida erótica da paciente para a sua consciência ou seja para dentro da sua esfera de controlo.

Quanto mais claramente o analista permitir que a paciente se aperceba que ele está à prova

de qualquer tentação, mais prontamente se poderá extrair desta situação o seu conteudo

analítico. Assim, a paciente cuja repressão sexual ainda não foi removida mas empurrada para

segundo plano, irá sentir-se suficientemente segura para pemitir que todas as suas

precondições para amar, todas as fantasias que surgem dos seus desejos sexuais, todas as

características pormenorizadas do seu estado amoroso venham à luz. Assim, a partir destas,

ela propria irá abrir caminho para as raízes infantis do seu amor.

H- Eu já percebi a vossa léria... É assim que vocês as caçam a todas.

T- Por acaso não, há mulheres com quem a tentativa de preservar a transferência erótica para

fins de trabalho analítico não surte qualquer êxito. Refiro-me a mulheres de paixões poderosas

que não toleram substitutos, com estas mulheres não é possível salvaguardar o tratamento,

pois ou se retribui o amor ou se acarreta a inimizade de uma mulher desprezada.

Para mulheres menos violentas no seu amor podemos ainda considerar um método que

consiste em gradualmente em gradualmente levar a mulher a adoptar a atitude analítica. O

amor genuíno torna-a dócil e intensifica a sua dedicação em solucionar os problemas do seu

caso pois o homem de quem ela está enamorada epsera isso dela, pode ela assim acelerar o

tratamento para voltar à vida real onde este amor se pode consumar. Freud contudo,

considera que esse amor não é genuíno e que a mulher está apenas evidenciado um espirito

teimoso e rebelde. Abandonou o tratamento e não manifesta respeito pelas convicções do

médico, evidencia uma resistência sobre o disfarçe de estar enamorada. Por outro lado,

também evidencia que este amor não é genuíno, o facto de não existir nenhuma característica

nova originada pela situação, são meras repetições e cópias de reacções anteriores, inclusive

infantis. Contudo este acaba por ser o caracter de qualquer estado amoroso.

H- estava aqui a pensar... há futebol hoje não há?

T- Ainda assim, podemos considerar que o estado de enamoramento que se manifesta no

tratamento não é real. A resitência não cria esse amor, encontra-o já pronto e faz uso dele

agravando as suas manifestações. Assim não podemos atestar definitivamente da sua não

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genuidade a partir da resistência. Há contudo duas características que conferem ao amor

transferencial um carácter de especialidade, o facto de ser provocado pela situação analítica, o

facto de ser grandemente intensificado pela resistência que domina a situação e o facto de lhe

faltar consideração pela realidade (é menos sensato, menos interessados nas consequências e

mais cego na avaliação da pessoa amada que o amor normal. Compreendeu tudo?

H- (abrindo os olhos sobressaltado)- ah sim sim, transferência, resistência, um espectáculo.

Pronto desculpe incomodá-lo, já percebi que não tenho que me preocupar consigo.

T- Pois, comigo não. Mas assine aqui isto antes de ir (disses estendendo um documento).

H- Mas o que raio é isto?

T- Isso são os papeis do Divórcio, eu represento a sua mulher.

H- Mas você não é o analista dela?

T- Não, esse é no andar em cima, eu sou o advogado.

H- Mas você sabe essas coisas todas...

T- Sabe, a sua mulher não é a primeira que depois de vir à psicanálise tem uns problemas e

recorre aos meus serviços, então eu fui aprendendo estas coisas, dá-me jeito.

H- então mas a minha mulher quer o divórcio?

T- pois parece que sim.

H- Mas você sabe onde é que ela está?

T- ò homem, fugiu com o psicanalista dela como é óbvio...

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Conto 2- Uma visita de outro grau

A dinâmica da transferência, Freud, 1912

Algures na Aústria no ano de 1914, um jovem passeia transportando umas folhas, o seu olhar

perdido percorre as estrelas, até que se detém numa delas que parece brilhar mais que as

outras todas. Subitamente essa estrela começa a ficar maior e maior e maior, até que ele

percebe que não se trata de uma estrela mas sim de uma nave espacial que se vai despenhar

ali mesmo. Correu a abrigar-se e nos segundos que se seguiram toda aquela pequena vila foi

abanada por uma explosão quando a nave embateu no solo. Por alguma razão que agora não

interessa abordar quase ninguém acordou, execepto um homem que gritou para o vizinho

(com quem tinha uma má relação de longo prazo)- “Baixa a televisão meu porco, que eu

amanhã acordo às 7 da manhã para ir trabalhar”. O vizinho respondeu que não tinha sido ele,

e que nem sequer tinha televisão, até porque a primeira televisão só ia ser comercializada em

1920. E começaram os dois a discutir. Quanto ao nosso protagonista, depois da poeira da nave

assentar, deparou-se com um Alien vestido com umas vestes que cerca de 60 anos mais tarde

seriam celebrizadas por um músico chamado António Variações.

Alien ou E.T(doravante denominado E)- Boas noites amigo terráqueo, pode ajudar-me?

Discípulo de Freud (doravante denominado D)- Mas tu falas a minha língua?

E – Sim, já há varios filmes que abordam isso, não vamos entrar por aí agora.

D- Ok.

E - Como vês, a minha nave despenhou-se preciso da tua ajuda.

D- Olha, calha bem que eu também preciso da tua...

E(visivelmente espantado)- Para quê?

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D- Ora vê se tu, dado que pertences a uma raça com inteligência superior que és...

E- Quem te diz que a minha raça é uma inteligência superior? Olha que eu acho o inverso

vocês só vão inventar a casa dos segredos daqui a quase um século, no meu planeta já existe

há anos, e acredites ou não é apresentada pela mesma Teresa Guilherme que vai apresentar a

vossa.

D- Pronto, mas és o mais perto de uma raça superior que eu arranjo neste momento, até

porque na minha aldeia já ninguém me deixa falar deste assunto.

E- Porquê?

D- Porque se aborrecem... Deixa estar, ora ouve. Segundo Freud, meu mentor, cada sujeito,

através de uma acção combinada da sua disposição inata e das influencias que sofre durante

os primeiros anos de vida, consegue um método específico próprio de se conduzir na vida

erótica (pré-condições, instintos que satisfaz, objectivos que determina. Isto produz o que se

podia designar de clichet esteriotipico (ou diversos deles) que se vai constantemente

repetindo. Importa contudo notar que apenas uma parte daqueles impulsos que determinam a

vida erótica, passou por todo o processo de desenvolvimento psíquico. Outra parte dos

impulsos libidinais foi retida no curso do desenvolvimento. Manteve-se afastada da

personalidade consciente e da realidade e ou foi impedida de expansão posterior (excepto na

fantasia) ou permaneceu totalmente no insconsciente. Assim se a necessidade que alguém

tem de amar não é inteiramente satisfeita, ele vai-se aproximar de outros com ideias libidinais

antecipadas, é por isso perfeitamente compreensivel que esta catexia libidinal se diriga

também ao médico. Estamos de acordo?

E- Raça superior o caraças... EU NÃO PERCEBI NADA DO QUE TU DISSESTE.

D- Epá quando uma pessoa não tem a sua necessidade de amar totalmente satisfeita, fica com

ideias libidinais antecipadas que condicionam a sua aproximação aos outros, a essas ideias

chama-se catexia libidinal e aquando da análise esta catexia vai-se dirigir também ao médico, e

gerar a transferência pelo menos foi isto que eu entendi do que o meu mentor escreveu.

E- também não sou eu que te vou corrigir filho.

D- Apesar disto, e de isto estar compreendido. Há 2 pontos que não estão, e que por isso

carecem de estudo e compreensão:

Primeiro, porque é que a transferência é tão mais intensa nos neuróticos em análise dos que

nos neuróticos que não estão em análise.

Segundo, porque é que na análise, a transferência surge como a resistência mais poderosa ao

tratamento, enquanto que fora dela deve ser encarada como veículo de cura e condição de

sucesso.

E- Quanto ao primeiro a contra-argumentação é evidente, ela também se verifica em

instituições em que os neuróticos são tratados sem ser pelo método analítico, por isso é

causada pela neurose e não pela psicanálise.

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D- Não disseste que não percebias nada disto?

E- O quê? Ah, pois não..Hein?

D- Mas quanto ao segundo...

E- Quanto ao segundo...

D- Quanto ao segundo. É preciso atentar em vários pontos:

1- Toda a neurose é desencadeada pelo prcesso de introversão (parte da libido que é

capaz de se tonar consciente e se encontra dirigida para a realidade é diminuida. A

parte que se dirige para longe da realidade e é inconsciente, é aumentada).

2- A libido entrou assim em curso regressivo e reviveu as imagos infantis do sujeito. O

tratamento procura tornar a libido acessível à consciência e útil à realidade.

3- Quando a psicanálise se depara com a libido no seu esconderijo, todas as forças que a

fizeram regredir, erguem-se como RESISTÊNCIAS ao trabalho da análise, para

conservar a líbido alí escondida.

4- A libido à disposição da personalidade esteve sempre sob a influência da atracção dos

complexos inconscientes e encontrou um curso regressivo devido ao facto de a

atracção da realidade ter diminuído. Para a libertar, terá de se superar a atracção do

inconsciente, ou seja o recalcamento dos instintos inconsciente tem de ser removido

pois ele é responsável pela maior parte da resistência.

5- A análise tem de lutar contra as resistências de ambas as fontes.

Assim quando entramos numa região em que a resistência é tão forte, emerge a

transferência. Quando algo serve apra ser transferido para a figura do médico, a

transferencia realiza-se. Produz a associação seguinte e associa-se por sinais de

resistências, por exemplo: interrupção. É assim a arma mais forte da resistência.

E-É nesses livros que se baseiam aqueles filmes do senhor dos aneis?

D- Não, isso é nos livros do Tolkien...

E- ah, mas é parecido...

D- mas o meu mentor ainda fez a diferenciação entre a transferência positiva e a

transferência negativa.

Transferência positiva (sentimentos afectuosos):

-transf de sentimentos amisosos ou afectuosos (acessiveis à consciencia)

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-transf de prolongamento desses sentimentos no inconsciente (remonta a fontes

eróticas).

Somos assim levados à descoberta que todas as relações emocionais se encontram

geneticamente vinculadas à sexualidade através da suavização do objecto sexual.

Transferência negativa (sentimentos hostis)

-Quando como no caso dos paranóicos apenas é possivel este tipo de transferência

deixa de haver possibilidade de cura...

-É colocada ao lado de uma transferência afectuosa com ambivalência. A ambivalencia

nas tendencias emocionais dos neuróticos é a melhor explicação para a sua habilidade

em colocar a transferência ao serviço da resistência.

Assim, a conclusão é que a transferência para o médico é apropriada para resistência

ao tratamento apenas na medida em que se tratar de transferência negativa ou

transferência positiva de impulsos eróticos reprimidade. Se removermos a

transferência por torná-la consciente, estamos a desligar da pessoa do médico os dois

componentes referidos do acto emocional. A psicanálise opera assim, na influenciação

de uma pessoa por meio dos fenómenos transferenciais possíveis no seu caso...

E- Agora percebi porque é que ninguém na tua aldeia fala contigo...

D- Então?

E- Ah tu não te apercebes... Nada, não és só o terráqueo mais enfadonho que eu já

conheci. Olha na nave-mãe que me veio agora buscar, e que está em cima de nós

(apontando para o céu onde uma nave gigante pairava sobre os dois insterlucutores)

fazemos muitas transferências queres vir experimentar?

D- Sim claro.

os dois começam assim a subir “sugados pela nave, ao chegarem à nave, depois de as

portas fecharem e a nave estar em andamento...

E- sabes um sinónimo que utilizamos aqui para transferências?

D- Não...

E- Sondas...

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Conto 3- Uma visita indesejada

Tema: Inveja e Gratidão Melanie Klein, 1957 e Complexo de édipo à luz das necessidades

arcaicas, Melanie Klein, 1945

O suor ainda lhe escorria pela cara enquanto se recostava na almofada, as horas iam passando

naquele que era o dia mais feliz da sua vida, e ela só desejava que ele nunca acabasse. Olhou

para o tecto tentando evitar ficar encadeada com as luzes brancas de hospital que aqui e ali se

distribuiam por todo o quarto. Deixou-se ficar queda, desfrutando de um descanso mais do

que necessário depois de 3 horas de parto... A felicidade enchia-lhe o peito e de certa forma

abafava o desgaste. Começava a entrar num estado de sonolência quando ouviu um bater na

porta, levantou a cabeça e viu uma mulher a entrar pelo quarto.

Melanie Klein (doravante denominada K)- Olá minha querida... Como está?

Mulher que acabou de ter um filho (doravante denominada M)- Mas quem é você?

K- Sou a Melanie... Estudo muito as criancinhas....

M- o que está a fazer no meu quarto, saia já daqui...

K- Oiça, eu vim ajudá-la... Vim prepará-la para perceber o desenvolvimento do seu bébé nesta

fase inicial.

M- Mas você trabalha aqui na clínica?

K-Pode-se dizer que sim. Ora bem, a primeira coisa que você tem de saber é que a primeira

relação de objecto do bebé, é com o seio materno e com a mãe, e se esse objecto originário

for introjectado, ele fica enraizado no ego em relativa segurança e fica lançada a base para um

desenvolvimento satisfatório. O facto de o bebé ter sido parte da mãe no estado pré-natal

pode contribuir para o sentimento inato do bebé de que existe algo fora dele que lhe dará

tudo aquilo que ele necessita e deseja. É esta proximidade mental como seio gratificar que

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restaura (quando tudo corre bem) a unidade pré-natal com a mãe e o sentimento de

segurança que lhe está associado. O seio bom é tomado dentro do ego e o bebé que estava

dentro da mãe tem agora a mãe dentro de si?

M- você está a dizer que o meu filho me vai ter dentro dele?

K- sim...

M-SEGURANÇA!!!!!AJUDEM-ME!!!

K- oiça, você não está a compreender, deixe-me começar por outro ponto. Há dois factores

que são determinantes na determinação das relações de objecto mais arcaicas na vida

emocional do bebé: gratidão e inveja. A inveja, pode ser considerada uma actividade existente

desde o início de vida, tem base constitucional e é de expressão sádico oral e sádico anal de

impulsos destrutivos para com o seio materno e afecta qualquer tipo de relação estabelecida

pelo objecto amado, nomeadamente a mãe e o seio materno. Assim, o bebé sente inveja do

seio nutridos pois ele sento que o seio possui tudo o que ele deseja e tem um fluxo ilimitado

de leite e amor que guarda para sua própria satisfação...

M- Você está drogada? SOCORRO!!

K- Já a gratidão, é a base das relações futuras do sujeito. Se o objecto bom for bem

interiorizado pelo bebé, ele irá ser capaz de partilhar com outros os dons do objecto. A

gratificação é originada pela satisfação que o bebé experimenta quando é saciado pelo seio

materno, sendo essa gratificação a manifestação mais precoce do instinto de vida e estando

intimamente ligada com a generosidade e o amor. O bebé apercebe-se assim que existe algo

de bom nos outros e em si mesmo e isso dá-lhe a capacidade de amar e ser amado.

M-Peço-lhe por favor que saia do meu quarto.

K- Não vai acontecer minha querida. Oiça queisto será muito útil para si. É preciso distinguir 3

conceitos, inveja, ciúme e voracidade:

Inveja: É um impulso fortemente destrutivo , associado a um sentimento de que outra pessoa

possui e desfruta de algo desejável, sendo o impulso invejoso de tirar isso ou destruir isso.

Pressupõe a relação do sujeito com uma só pessoa e remonta a mais arcaica e exclusiva

relação com a mãe.

Ciúme: Baseia-se na inveja mas pressupõe a existência de uma relação com pelo menos duas

pessoas. Centra-se no sentimento do sujeito de que alguém lhe roubou (ou está em perigo de

roubar) o amor que lhe é devido.

Voracidade: ânsia insaciável, que excede aquilo que o sujeito necessita e que o objecto pode

providenciar, é o desejo de sugar o leite materno até o seio secar ou mesmo devorá-lo.

Podemos distinguir a inveja e a voracidade com base numa diferença essencial, a voracidade

está essencialmente ligada à introjecção e a inveja à projecção. Assim, a inveja procura não

apenas despojar dessa maneira, mas também depositar maldade, primordialmente

excrementos maus e partes más do self, dentro da mãe, acima de tudo dentro do seu seio,

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com o objectivo de estragar e destruir. Já entre a inveja e o ciúme, a diferença será que no

ciúme o sujeito teme perder o que é bom, na inveja o sujeito sobre ao ver o outro possuir o

que quer para si. Assim, no ciúme não há destruição do objecto amado, este mantém-se bom.

Pode-se ainda afirmar que a pessoa invejosa é insaciável, uma vez que a inveja brota de dentro

e encontra quase sempre um objecto no qual focar-se.

M- Óptimo, impecável , adorei, pode ir-se embora agora?

K-Ainda estou a começar minha querida...

M- Oh meu deus...

K- Prosseguindo... O ego arcaico existe desde o ínicio da vida pós-natal, sob a forma

rudimentar e com falta de coiesão. No estágio inicial ele desempenha várias funções

importantes nas quais se destaca a defesa contra as pulsões de morte. Este ego, ao serviço das

pulsões de vida deflecte essas ameaças para fora, esta função deriva da necessidade de ligar

com a luta entre pulsões de vida e de morte. Outra das suas funções é a integração gradual da

capacidade de amar, capacitando o bebé a sentir amor pelo objecto e introjectá-lo. É neste

âmbito que surge o mecanismo de clivagem que divide o seio em objecto bom e objecto mau.

Esta clivagem é expressão do conflito inato entre amor e ódio e as ansiedades que dele

decorrem. O ego assim, fragmenta-se a si e aos objectos e dessa forma consegue dispersar os

impulsos destrutivos e as ansiedades persecutórias internas. Este processo ocorre durante a

posição esquizo paranoide (que se estende normalmente nos primeiros 3 a 4 meses de vida).

Fortalece o ego e permite a identificação com um objecto bom e total.

Caso a inveja seja excessiva, a clivagem será feita de forma muito profunda e será feita entre

objecto extremamente mau (revela impulsos destructivos muito intensos) e objecto idealizado

(defesa contra essas emoções) o que levará a que o bebé não se consiga identificar com o

objecto real. Pode tambem dar-se o caso de uma identificação projectiva excessiva que leva a

que as partes clivadas do self sejam projectadas para dentro do objecto, o que leva a uma

grande confusão entre o self e o objecto, o qual também passa a representar o self. Isso

resulta num enfraquecimento do ego e numa perturbaão das relações de objecto.

Está-me a acompanhar?

M- NÃO, NÃO ESTOU, SAIA DAQUI E PARE DE FALAR NOS MEUS SEIOS!!!

K- Ainda bem que está a gostar. Continuando... Se a posição esquizo-paranóide for bem

alcançada, surge depois a posição depressiva que se prolonga até aos 6 meses. Neste estágio,

o bebé progressivamente integra os seus sentimentos de amor e ódio, sintetiza os aspectos

bons e maus da mãe e passa por estados de luto ligados a sentimentos de culpa. Começa a

compreender o mundo externo e entende que não pode manter a mãe só para si de forma

exclusiva. Deixa de clivar o objecto e passa a perceber a mãe como pessoa, como objecto

total.

A rivalidade com o pai marca os estágios iniciais do complexo de édipo, directo e invertido

surge na posição depressiva associado ao facto de o pai ter levado o seio e a mãe. Se a

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rivalidade com o pai surgir prematuramente, este é visto com um intruso hóstil, e pode levar a

que o bebé não internalizae com segurança o objecto bom.

Entre as defesas contra a inveja contam-se:

-A desvalorização (objecto idealizado vai sendo desvalorizado)

-Desvalorização do self (sentimentos de culpa por não ter sido capaz de preservar o objecto)

-Voracidade

-Confusão (quando a clivagem entre bom e mau objecto não é bem sucedida, bebé fica

confuso entre bons e maus objectos.

-Fugir da mãe para outras pessoas admiradas e idealizada ( forma de evitar sentimentos para

com o objecto mais importante e desejado.

M- Óptimo acabou??

K- Não..não, Agora vamos falar do complexio de édipo...

M- ...Faça-me só um favor antes.

K- Diga?

M- Está a ver aquela anestesia ali?

K- Sim...

M-Dê-me por favor...

K-Desculpe minha querida, não posso fazer isso...

M- mas...

K- Ora bem..O complexo de édipo começa no primeiro ano de vida e segue inicialmente as

mesmas linhas para ambos os sexos. A relação com o seio da mãe é um dos factores essencias

que determinam todo o desenvolvimento emocional e sexual. Assim, a relação com o seio é o

ponto de partida para o inicio do complexo em ambos os sexos. A satisfação obtida no seio da

mãe vai permitir ao bebé dirigir o seu desejo para novos objectos, em particular e antes de

qualquer outro para o pénis do pai. A frustração e a gratificação moldam desde o inicio a

relação do bebé com o seio bom amado e o seio mau odiado. Estas duas atitudes diante do

seio da mãe são transportadas para a nova relação com o pénis do pai. O seio e o pénis são

assim objectos primários de desejos orais do bebé. O bebé sente uma necessidade crescente

de ter um objecto que possa amar e pelo qual ele (bebé) possa ser amado, por forma a

satisfazer o seu desejo de ajuda e segurança. A senhora teve um filho ou uma filha?

M- acha mesmo que eu lhe vou revelar seja o que for da minha vida?

K- Pronto, então falarei de ambos os casos...

M- Não!!! Não! Pronto eu tive um filho...UM FILHO!!

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K-Começarei pelos rapazes...

M-Começará???

K-Sim, escute... No menino, se ele consegue transferir parte do seu amor e desejos libidinais

do seio da mãe para o pénis do pai mantendo simultaneamente o seio como objecto bom, o

pénis aparecerá na sua mente como orgão bom e criador que lhe trará gratificção libidinal,

além de lhe dar filhos como fez à mãe. Estes desejos femininos são sempre uma característica

inerente do desenvolvimento do menino, pois estão na base do seu complexo de Édipo

invertido e constituem a primeira posição homossexual. Acreditar na bondade do orgão

genital masculino (do pai e dele próprio) possibilita que o menino consiga sentir desejos

genitais pela mãe. Quando o medo do pai castrador é acalmado pela confiança no pai bom, a

criança consegue encarar o ódio e a rivalidade provenientes da situação edipiana. Assim, as

tendencias edipianas invertidas desenvolvem-se ao mesmo tempo que as tendências positivas.

O medo da castração é activado assim que surgem as primeiras sensações genitais e é sentido

pela primeira vez sob o domínio da libido oral. Nesta senda os impulsos sadico-orais do

menino em relação ao saio da mãe, são transferidos para o pénis do pai. A rivalidade e o ódio

proveniente da situação edipiana manifestam-se no desejo que o menino sente de arrancar o

pénis com uma dentada. Isto provoca o medo que o seu próprio orgão genital seja arrancado

da mesma forma... Ainda, oura ansiedade que alimenta o medo da castração deriva das

fantasias sádicas em que os excrementos se tornam venenosos e perigosos, o pénis do próprio

menino identificado com essas fezes e cheio de urina má na mente da criança torna-se logo

um órgão de destruição nas fantasias de cópula, como consequência a crença do menino na

qualidade produtiva e reparadora do seu próprio orgão genital é reduzida.

M- Você é uma pessoa muito doente...

K- Relativamente à menina...

M- ALGUÉM QUE TIRE ESTA MULHER DAQUI, POR FAVOR!!!

K- Quando as sensações genitais ganham força no bebé do sexo feminino, aumenta o desejo

de receber o pénis, em conformidae com a natureza do seu orgão genital. Simultaneamente a

menina sabe inconscientemente que o seu corpo contém crianças em potência, que são na sua

visão o seu bem mais precisoso. Assim, o pénis do pai torna-se objecto de desejo e de

admiração, como fonte de felicidade e é ampliado pela relação grata e amorosa com o seio

bom. Ao comparar-se com a mãe, ela sente-se em desvantagem em vários aspectos, dado que

a mãe possui um poder mágico pois toda a bondade brota do seu seio e consegue ainda conter

o pénis do pai e os bebés dentro de si. Assim na menina as ansiedades relacionadas com o seu

corpo intensificam os impulsos de roubar crianças do corpo da mãe, tal como o pénis do pai

que lá se encontra. Estes impulsos, por sua vez, reforçam o medo que o seu próprio interior

seja atacado e que o seu conteúdo bom seja roubado por uma mãe externa e interna

retaliante. Assim, o facto de o desenvolvimento genital da menina ter uma grande centração

no desejo femenino de receber o pénis do pai e na grande preocupação (inconsciente) com os

bebés imaginários é característica específica do desenvolvimento da menina. Ao contrário do

menino em que a inveja da mãe é um elemento do complexo de édipo positivo, na menina é

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parte da sua situação edipiana positiva. Na menina o desejo de ter o seu próprio pénis é

secundário ao desejo de receber o pénis dentro de si.

M- Estou enojada...

K- Na menina, o papel fulcral do seu mundo interior na sua vida emocional, leva a que ela

tenha uma forte necessidade de prová-lo com objectos bons, o que contribui para a

intensidade dos seus processos de introjecção que também são reforçados pela natureza

receptiva do seu orgão genital. Há ainda na menina um desejo de igualar o pai, que contrasta

com a sua atitude feminina e é esta combinação que caracteriza o seu superego.

(Nesse momento entra um médico pela sala e ao ver K exclama: )

Médico- Ah então você está aqui... Vamos lá embora...

M- Ah muito obrigado...Essa médica é insuportável, vocês têm de rever o vosso pessoal.

Médico- Médica?? Qual médica? Ela á uma doente da ala psiquiatrica, de vez em quando foge

e vem aqui para a maternidade falar com as mães.

M- Mas.... mas ....Ela disse que era a Melanie Klein...

Médico- Oh minha senhora, a Melanie Klein morreu há mais de 50 anos...Acha que esta

mulher é médica? Não ouviu as coisas que ela lhe disse? Parece-lhe conversa de médico ou de

doente psiquiátrico?

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Conto 4- Uma viagem diferente

Tema: Relações de objecto e estrutura dinâmica, Fairbairn, 1944

Borrifou-se com perfume pela quarta e última vez antes de sair. Sentiu o odor do seu Ralph

Lauren a invadir o elevador e deliciou-se com a sua própria imagem no espelho. Cada uma das

peças de roupa que trazia, cujo nome só podia ser pronunciado em italiano, enchia-o de

confiança para o seu encontro. Não conseguia disfarçar o nervosismo, mas afinal agora já não

havia nada de errado em marcar encontros pela internet. Toda a gente o faz, pensou. Pessoas

sofisticadas como eu, com pouco tempo para conhecer outras pessoas, é mais do que normal

repetiu para si próprio como se estivesse a tentar convencer-se. Ao sair a porta do prédio,

verificou com satisfação que o táxi já o esperava, prontificou-se a entrar:

Tipo que se considera sofisticado (doravante definido por S)- Boa tarde, vamos ali para o Bistrô

100 maneiras no bairro alto, por favor...

Taxista (doravante definido por T)- Ora vamos embora...

( O silêncio instala-se, e depressa o taxista percebe que não quer fazer a viagem toda nesse

ambiente)

T- Então o amigo vai ali para o bairro alto hein?

S (com aquela simpatia sofisticada que ele acha que tem)- Pois vou...Gosta daquilo?

T- Ah, agora já não, quando era mais novo ainda lá ia, mas aquilo sempre teve muita

“malandrage”

S- Pois...

T- Mas nos meus tempos de faculdade ainda lá fui muita vez.

S- Ai andou na faculdade (perguntou com clara sofisticação e algum espanto)?

T- andei pois, tirei o curso e ainda exerci antes de vir para a praça.

S- Que curso tirou?

T- Psicologia. E depois fui para uma sociedade de psicanálise.

S- Ah (disse ele sofisticadamente) isso é giro, Freud e tal...

T- Eu era mais Fairbairn

S- Quem?

T- Faibairn!

S- Ah, esse não conheço, joga no Benfica? (disse ele, esquecendo um pouco a sua sofisticação)

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T- Não, Faibairn foi um psicanalista, eu apresento-lhe as ideias dele.

S- Oh, não se incomode...

T-Ora essa, faço questão. Ele baseia a sua teoria na ideia de que a libido não procura

primariamente o prazer, entenda-se libertação da tensão libidinal, mas sim objecto, entenda-

se, tensão pelo objecto provedor. Ele vai assim contra a ideia de Freud, pois considera que na

teoria freudiana não é levado em conta, quais as forças que levam à tensão que procura a

descarga e traz aliavo. Assim Freud falou em objectivos libidinais que são definidos pelas zonas

erógenas. Já Fairbairn vai defender que os objectivos não o serão, serão sim modos de relação

com o objecto, e as zonas erógenas não devem ser vistas como determinadoras dos objectivos,

mas sim como servidoras dos objectivos. Os orgãos corporais servem os canais pelos quais os

objectivos são atingidos. O verdadeiro objectivo libidinal, é o estabelecimento de relações de

objecto satisfatórias. É a natureza do objecto que determina a abordagem libidinal, assim será

a natureza do seio a determinar a abordagem oral, o que não nega que as actividades dêem

prazer.

S- Vire aqui...

T-Não é preciso, vamos aqui por outro caminho que eu conheço. Ora para Fairbairn, a

concepção de zona erógena não faz justiça à capacidade que os sujeitos têm de dispensar

satisfação do prazer, uma vez que de acordo com as teorias clássicas essa capacidade é

atribuída ou ao recalcamento ou a substituição do principio do prazer pelo principio da

realidade. No tocante à repressão, Faibairn até concorda com a teoria freudiana. Por outro

lado do ponto de vista das relações de objecto, a procura explicita de prazer representa uma

deterioração do comportamento. A procura explícita do prazer, tem como principal objectivo a

libertação da tensão da necessidade libidinal com o objectivo de libertar tensão. Contudo, a

partir do momento em que a necessidade libidinal é uma necessidade objectal, a libertação de

tensão implica alguma falha na relação de objecto. Relativamente à renuncia da satisfação do

prazer devido à substituição do principio do prazer pelo principio da realidade, o autor refere

que, uma vez que líbido procura o objecto, então o comportamento é orientado para a

realidade exterior, e assim determinado desde logo pelo principio da realidade. Estes

comportamentos só se tornam rigidos com a experiencia (algo que falta à criança ao invés de

principio da realidade) assim esta será mais emocional e impulsiva e menos controlada que um

adulto, o que associado à frustração que experimenta leva a que adopte comportamentos

libertadores de tensão, engendrados por um sentido limitado de realidade e não pelo principio

do prazer... Está a perceber?

S- Não, não estou, e também não estou a perceber que caminho estamos a fazer. Aquilo ali é o

aeroporto?

T- Então deixe lá o caminho e concentre-se, vai ver que isto faz tudo sentido. Para alcançar os

objectivo libidinais, ou seja, o estabelecimento de relações desejadas com os objectos, o

sujeito recorre aos orgãos corporais e a escolha é determinada pelos seguintes principios:

-que o orgão seja apropriado para o objectivo, e o mais apropriado para isso em termos de

processo evolutivo

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- Que o orgão esteja disponível

-Que o orgão tenha sido sancionado pela experiência

Assim, o objecto natural da criança é primeiramente o seio materno, até passar a ser a mãe

como um todo. Num adulto heterossexual, os orgãos genitais devem corresponder ao seio

materno nessa fase inicial.

A teoria do desenvolvimento libidinal define 3 estágios:

-o objecto biológico adequado é o seio materno (dependencia infantil)

- Estado transicional- com as vicissitudes e conflitos subjacentes a qualquer transição.São

postas em marcha técnicas defensivas paranóides, obsessivas, histéricas e fóbicas. Essas

defesas não correspondem a fases libidinais, são apenas métodos utilizados para lidar com as

dificuldades da fase transicional, com os objectos internos. Este estádio também inclui a

renuncia a relações estabelecidas durante a primeira fase. (estádio transicional)

- Os orgãos genitais heterossexuais, tornam-se então o objecto biológico adequado.

(dependencia madura)

Estádio da dependência infantil caracteriza-se por: relação quase exclusiva e de grande

dependencia da criança para com a mãe, reflectindo-se isto num processo psicológico de

identificação, na qual a separação do seu objecto é a principal fonte de ansiedade da criança.

Isto manifesta-se pela atitude da criança com o seio que é de incorporação oral e identificação

emocional.( Este estádio divide-se na fase do sugar e numa segunda fase do morder, que é a

fase onde a posição depressiva pode surgir.

Estádio da transição caracteriza-se por: Ser um estádio de vicissitudes que surgem das

dificuldades e conflitos da transição entre a relação com o objecto, que se baseia na

dependencia infantil e a relação de objecto que se baseia na dependência madura. É assim um

estádio de conflito onde aparecem as téncicas defensivas onde se destacam a paranoide, a

obsessiva a histérica e a fóbica.

Estádio da dependência madura caracteriza-se por: (ao invés de uma verdadeira

independencia) pois a capacidade estabelecer relações implica a dependencia. A dependência

madura não é caracterizada por uma atitude unilateral de incoporação nem por identificação

emocional, mas sim, pela capacidade da parte de um sujeito diferenciado estabelecer relações

de cooperação com objectos diferenciados. Há um equilibrio de dar e receber entre dois

sujeitos, é uma relação genital, mas ao mesmo tempo existe uma dependencia mútua que

levem a que cuidem um do outro, não existindo contudo identificação nem incoproração.

Através desta sequencia, há uma expansão gradual e o desenvolvimento de relações pessoais

com os objectos, sendo a primeira de uma grande dependencia com a mãe, que depois se vai

maturando e tornando mais complexa e íntima. As relações futuras serão muito influenciadas

pelas relações com os objectos biológicos apropriados.

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S- Oiça lá, onde é que nós estamos?

T- Estamos quase...

S- NÓS ESTAMOS A IR PARA A PONTE!!!

T- Como eu dizia... Faibairn chama ainda atenção para os desenvolvimentos que ocorrem na

primeira fase da dependência infantil que se podem associar a base patologica:

- Clivagem do objecto em bom e mau objecto

-internalização do mau objexto

-Clivagem do mau objecto internalizado em excitante e rejeitante

-Recalcamento de ambos os objectos pelo ego

-Clivagem e recalcamento das partes do ego que permanecem vinculadas aos objectos

recalcados e que os seguem até ao recalcamento sendo ego libidinal (id) e a sabotador interno

(superego)

-Como resultado tem-se a situação endopsiquica básica, em que se encontra um ego central

(corresponde ao ego de freud) que emprega a agressão no exercicio do recalcamento directo

sobre o ego libidinal vinculado ao objecto excitante e sobre o sabotador interno ligado ao

objecto respeintante. Esta situação é produzida pela clivagem pelo que envolve o

estabelecimento da posição esquizoide.

-Por fim há um recalcamento indirecto que consiste numa agressão por parte do sabotador

interno ligado ao objecto respeitante ao ego libidinal associado ao objecto excitante.

Por fim cumpre referir que os principais pontos que distinguem Fairbairn e Freud são:

Apesar de Freud estar preocupado com as relações de objecto, ele acabou por aderir ao

principio teorico de que o objectivo primário da libido é procurar prazer e libertar tensão, não

tendo esta direcção. Já Fairbairn adera ao principio de que a libido é primariamente orientada

para o objecto e a tensão que tem de ser libertar deriva da procura do objecto, ou seja a libido

tem direcção. Por outro lado Freud preconiza que a energia psíquica é distinta da estrutura

psíquica, já Fairbairn considera que a estrutura dinâmica e a energi não podem estar

separadas.

E pronto chegámos. São 10 euros.

S- foi uma volta...

T-Eu chamo-lhe lição.

S saiu do táxi muito apressado e deu de caras com a rapariga com quem se ia encontrar.

Rapariga- então demoraste tanto...

S- O taxista foi dar uma volta enorme... e veio com uma conversa estranhíssima

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Rapariga- sobre o quê?

S- Fairbairn...

Rapariga- Quem é esse? Não conheço. Joga no Benfica?

S- Não, eu explico-te...

(depois desse dia, a rapariga nunca mais quis ter encontros marcados pela internet)

Conto 6- Uma tarde de convívio

Tema: Factores Esquizóides da personalidade, Fairbairn, 1952

Ele atravessava a sala em corrida, aproximando-se de cada um dos presentes à vez. Abanava a

cauda na emoção que o caracterizava quando a família se reunia toda no mesmo espaço.Entre

festinhas e palmadinhas lá ele ia visitando cada um dos seus donos, tentanto repartir por

todos igual quantidade de atenção. O que nenhum dos presentes conseguia ver, é que dentro

do seu pelo brilhante e dourado, dois cavalheiros conversavam animadamente:

Pulga (doravante denominada por P)- ...e pronto, ainda andei nesse Boxer durante uns tempos

mas depois tiraram-me. Andei uns mesitos num bulldog e agora estou aqui.

Carraça (doravante denominada por C)-epá, eu sempre gostei de goldens. Já estou neste há

um ano e meio e não conto mudar-me tão cedo. Gosto das cores pá, acordar de manhã e ver

isto tudo amarelo, eu dou muito valor a esses detalhes, percebes?

P- Pois, eu estou habituado a cães mais escuros, faz-me alguma confusão à vista este amarelo

todo.

C- Com o tempo habituas-te.

P- O que é isso que tens aí na mão?

C- É um livro.

P- An, de quê?

C- É de um psicanalista.

P-iiiih, isso deve ser esquisito não?

C- É um bocado, eu mostro-te...Para Fairbairn, as 3 atitudes que definem os sujeitos

esquizóides são:

-Atitude de omnipotência (consciente ou inconsciente) dentro de certas esferas

sobrecompensada ou ocultada por atitudes de inferioridade ou humildade;

-Atitude de isolamento-disfarce social ou adaptação a papeis especificos, contendo um nivel

de emocionalidade subjacente e preocupação com a realidade interna

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-Tratar os sujeitos com um valor inferior ao real, incluindo os objectos libidinais, como meio de

satisfação para as suas necessidades. Esta propensão remete para a atitude do bebé na fase

oral precoce em relação ao seio materno.

As mães com características de inexpressões expontanes e genuinas de afecto pelo seu bebé

são propensas a provocar este tipo de regressões, dificultando a relação de intimidade entre a

própria e o bebé...

P- a minha mãe era assim... nunca lhe vi um sorriso, e se queria sangue tinha que ir eu ferrar,

desde cedo que tive de me safar sozinho.

C- Verifica-se assim nos esquizóides, uma preponderancia de falar sobre a atitude libidinal. A

um nivel mental profundo, falar é emocionalmente equivalente a acumular conteúdos

corporais, enquanto a doação é emocionalmente equivalente à despedida de conteúdos

corporais. No caso do sujeito com tendência esquizóide, existe um excesso de valorização dos

conteúdos mentais relativos à supervalorização dos conteúdos corporais implicita na atitude

de incorporação oral na primeira infância.

E estes sujeitos com propensão esquizóide desenvolvem técnicas através de defesas

P- e quais são essas técnicas

C- É Técnica de desempenhar papéis: Quando o sujeito representa parte de si consegue

expressar sentimentos pois a sua personalidade não está totalmente envolvida e ele assim

mantém-se imune a compromissos. Nalguns casos são produzidos de forma consciente

defendendo o contacto e entrega emocional genuína. Noutros são desenvolvidos de forma

inconsciente apercebendo-se apenas no decorrer do tratamento clínico.

E aTécnica exibicionista: descreve a mentalidade proeminente de um esquizóide expressa na

sua tendência para desenvolverem papéis adaptados. A atracção por actividades artísticas está

directamente relacionada com o facto de estes sujeitos desenvolverem um contacto social

indirecto e consequentemente, as mesmas actividades serem um meio exibicionista de

expressão.

P- Hmm, aprendeste isso tudo nesse livro do senhor Faibairn? Epá corta... Quem é que

escreveu isto? Quem é que escreveu esta porcaria? Estes diálogos estão ridículos, este

(apontando para a carraça) está aqui a dizer maluqueiras, e eu pareço a merda do Noody ou o

caraças a fazer perguntas estúpidas...

C- tem calma...

P-Isto é uma estupidez, nunca mais me apanham nisto... EU ENTREI NO “BEETHOVEN”, NA

“LASSIE” E NO “MARLEY E EU”! EU NÃO PRECISO DESTA PORCARIA! MAS VOCÊS PENSAM QUE

EU ME PRESTO A ISTO?? Despacha lá mas é o que tens a dizer...

C- Pronto, quanto ao factor de incorporação, a atitude da fase oral esquizóide é caracterizada

pelo acto de tomar, pela incorporação ou pela internalização. Surge geralmente em situações

emocionais de frustração, nomeadamente se a criança sente que não é amada

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verdadeiramente pela mãe, ou de o amor dela não é valorizado pela criança, o que suscita

situações onde:

- A criança considera a mãe como mau objecto, visto que não aparenta amá-la.

-Considera expressões exteriores do seu amor como más, tendo como resultado o

armazenamento do seu amor.

- Sente posteriomente que as relações de amor com objectos exteriores são agressivas.

Como resultado a criança vai transferir as relações com os seus objectos para o seu mundo

interno.

P- Acabou?

C- Havia mais umas coisas para dizer...

P- São importantes?

C- Acho que sim...

P- Muito importantes?

C- não sei, não tenho a certeza.

P- Então eles que vão lê-las ao livro. Vou-me embora...

(E assim a pulga saiu, deixando a carraça a lamentar ter perdido aquela que seria a sua grande

oportunidade, e com a certeza de que nunca mais voltaria a ser aceite num casting).

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Conto 6- Um homem num bar

Ogden, 1966

Homem no bar (doravante denominado H)- Traga-me um whiskey, não faça perguntas e deixe-

me falar até ao fim.

Empregado do bar (doravante denominado E)- Com certeza, isso é o que faz toda a gente que

aqui vem.

H- A identificação projectiva é o grupo de fantasisas que acompanha as relações de objecto

que dizem respeito à libertação do self face a aspectos indesejaveis para o mesmo e à

projecção dessas partes indesejáveis noutra pessoa e à “recuperação” de uma versão

modificado do que foi tirado.

A identificação projectiva distingue-se do conceito de projecção, visto que na projecção o

sujeito que projecta sente-se distante, ameaçado, indeciso ou fora de contacto face ao objecto

de projecção. Na identificação projectiva o sujeito sente-se profundamente conectado com o

objecto.

A Identificação projectiva é composta por 3 fases num único evento psicológico que

convergem na simultaneidade e interdependência.

A primeira parte da identificação projectiva deve ser entendida de acordo com os desejos que

o sujeito tem de se libertar de uma parte do self, por 2 razões: porque essa parte ameaça

destruir o self OU porque o sujeito sente que essa parte está em perigo de ser atacada por

outros aspectos do self e tem de ser salvaguardada ficando presa ao receptor.

A segunda fase da identificação projectiva tem por base a pressão exercida pelo projector no

receptor, para que o receptor experiencie essa pressão e se comporte de forma congruente

com a fantasia projectiva. A pressão não é imaginária é real.

A terceira fase da identificação projectivo envolve o “tratamento psicológico da projecção pelo

receptor e a reinternalização da projecção modificada, pelo projector. O receptor da projecção

experiencia-se como se fosse representado na fantasia projectiva. A realidade é que a

experiência do receptor representa um novo conjunto de sentimentos experimentados por

uma pessoas diferente do projector.

A identificação projectiva é um processo psicologico que é simultaneamente: Um tipo de

defesa, um modo de comunicação, uma forma primitiva de relação de objecto, um caminho

para a mudança psicológica.

Como defesa – Serve para criar a sensação de distância psicológica da parte não desejada e

muitas vezes temida pela self.

Como modo de comunicação: é o processo pelo qual os sentimentos vão ser congruentes com

aqueles que são induzidos na outtra pessoa, criando desta forma a sensação de estar a ser

compreendido ou de estar em harmonia com essa outra pessoa.

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Contos De Teoria Clinica Psicanalítica escritos por Um Gajo Qualquer

Como tipo de relação de objecto: Vai construir uma forma de ser e estar com a parte separada

do objecto.

Como caminho para a mudança psicológica: Processo pelo qual os sentimentos com os quais

se debate podem ser processados psicologicamente por outra pessoa, sendo por isso possível

a reinternalização desses mesmos sentimentos, agora alterados.

Agora podia dizer mais coisas sobre isto mas não tenho tempo...

E- vai a algum lado.

H- vou sim.

(dito isto tirou de uma pequena bolsinha que trazia um também pequeno revólver, encostou-o

à cabeça, sorriu e disparou...)