Fontes lexicais de adverbiais espaciais e temporais...

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros COSTA, SBB. Fontes lexicais de adverbiais espaciais e temporais portugueses. In: OLIVEIRA, K., CUNHA E SOUZA, HF., and SOLEDADE, J., orgs. Do português arcaico ao português brasileiro: outras histórias [online]. Salvador: EDUFBA, 2009, pp. 77-99. ISBN 978-85-232-1183-7. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. Fontes lexicais de adverbiais espaciais e temporais portugueses Sônia Bastos Borba Costa

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros COSTA, SBB. Fontes lexicais de adverbiais espaciais e temporais portugueses. In: OLIVEIRA, K., CUNHA E SOUZA, HF., and SOLEDADE, J., orgs. Do português arcaico ao português brasileiro: outras histórias [online]. Salvador: EDUFBA, 2009, pp. 77-99. ISBN 978-85-232-1183-7. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

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Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada.

Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

Fontes lexicais de adverbiais espaciais e temporais portugueses

Sônia Bastos Borba Costa

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FONTES LEXICAIS DE ADVERBIAIS ESPACIAIS E TEMPORAIS PORTUGUESES

Sônia Bastos Borba COSTA

(UFBA/PROHPOR) INTRODUÇÃO

Sem adentrar a complexa questão de conceituação da classe dos advérbios,

daremos notícia de trabalho que vimos desenvolvendo desde a defesa de Tese de

Doutoramento intitulada Adverbiais espaciais e temporais do português: indícios

diacrônicos de gramaticalização. Naquele estudo, levantamos, em 9 textos do século

XVI1, integrais ou por amostragem, todas as formas adverbiais espaciais e

temporais, simples ou locucionais, analisando-as em sua constituição

morfossintática, em seu conteúdo semântico e em seu estatuto quanto à foricidade,

com o intuito não apenas descritivo, mas de contribuição para a sua compreensão

a partir da ótica da teoria da Gramaticalização, focalizando sua trajetória do latim

ao português.

Desde então temos trabalhado com os mesmos tipos de adverbiais nas cartas

escritas no Brasil pelo Pe. Antônio Vieira (séc. XVII) no período em que o jesuíta se

incumbiu da missão da Companhia de Jesus para a catequese indígena, na região

que, à época, se identificava como Província do Grão-Pará e Maranhão e hoje

corresponde a grande parte do norte do Brasil, entre junho de 1651 e junho de

1661, conhecidas como Cartas do Maranhão, e em cartas de juízes escritas no

Estado da Bahia-Brasil, na segunda metade do século XVIII, não só com o intuito

de avaliar a continuidade, o desuso ou a emergência de novos adverbiais, mas

também com o intuito de averiguar possíveis registros de adverbiais de formação

já portuguesa e, particularmente, brasileira.

1 A Carta de Pero Vaz de Caminha (texto integral); Cartas de D. João III (as de número 1 a 22); Cartas da Corte de D. João III (as de número 3, 8, 9, 22, 43, 47; 50 a 57; 84, 85, 86, 106; 163, 165, 167; 169; 171; 173); Gramática da Linguagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira (texto integral); Gramática da Língua Portuguesa , de João de Barros (texto integral); Diálogo em Louvor de Nossa Linguagem, de João de Barros (texto integral); Diálogo da Viciosa Vergonha, de João de Barros (texto integral); Ásia, de João de Barros (primeira e segunda décadas – texto parcial).

78

Assim, para o presente trabalho, consideramos os adverbiais encontrados nos

9 textos do séc. XVI pesquisados (11.244 linhas); nas 39 cartas do Pe. Vieira (em

torno de 6.500 linhas); e nas 127 cartas de juízes da Bahia, escritas entre os anos

1764-1799 (em torno de 1.900 linhas).

Um dos temas afetos à Teoria da Gramaticalização que nos tem ocupado é a

alegada propriedade da unidirecionalidade, considerada essencial para a citada

teoria. Tem-nos intrigado, sobretudo, o fato de que uma teoria que se inclui em

abordagem funcionalista das línguas possa se ver engessada em tratamento

diacrônico um tanto determinista. Como conciliar a admissão de que o uso é

fundamental na criação, expansão e fixação de um elemento lingüístico, com a

admissão de que existe um direcionamento prévio, que “guia” essa mudança?

Talvez a interface da teoria com a abordagem cognitivista apresente uma

justificativa para o fato de que os falantes testam e selecionam expressões em uso e

inovadoras, a partir de tendências cognitivistas, por essência, razoavelmente

previsíveis, o que admitimos, mas não há dúvida de que a discussão abordando a

questão das tendências prévias versus usos deve ser empreendida em relação aos

estudos de Gramaticalização, como já tem sido contemplada em estudos de

mudança lingüística, a partir de outros aportes metodológicos.

Alertamos que advogar a qualificação de teoria para as abordagens da

Gramaticalização nos parece razoável, considerando que reconhecemos nesses

estudos:

a) objeto próprio, a saber, a compreensão de como termos e estruturas

gramaticais são originados nas línguas;

b) método próprio, que permite submeter os elementos que analisa a

avalições de alterações semânticas, sintáticas, mórficas e fônicas que os fazem

inserir-se cada vez mais na estrutura gramatical de cada língua;

c) capacidade de formular hipóteses, submetidas à hipótese–mor, qual seja, a

admissão de que existe um continuum discurso → gramática, de que a gramática

de uma língua é um contínuo fazer-se, o que implica não só a inclusão de termos

novos para expressar relações gramaticais, como também de estruturas

79

gramaticais novas que possam vir a dar conta das relações de sentido necessárias,

segundo a admissão da existência de competição de motivações no jogo da

linguagem; e que normalmente, estruturas mais extensas, ou frouxamente

conectadas se transformam paulatinamente em estruturas mais compactas, mais

interconectadas, mais interdependentes, assim como termos integrantes de classes

lexicais mais ligadas à denominação podem vir a integrar classes lexicais mais

afetas às inter-relações, que afinal são o que constitui a gramática de uma língua;

d) compreensão particular do fenômeno das línguas, vistas como um devir

da parole para a langue, em termos saussurianos, ou do desempenho para a

competência, em termos chomskianos, ou do uso para a gramática, em termos

funcionalistas, o que torna a gramática de uma língua, ou, pelo menos, os meios

pelos quais a gramática de uma língua se manifesta, sempre emergente, no sentido

de Hopper (1991) e sempre compreendida como incluindo variações, que podem

ou não levar à mudança, como querem os sociolinguistas. Assim, embora o

arcabouço abstrato das gramáticas das línguas seja, grosso modo, predizível, como

querem os gerativistas, as formas pelas quais ele se manifesta (incluindo

estruturas ou construões gramaticais) se organizam sintagmaticamente e

paradigmaticamente, permitindo um fluir no sentido do mais estruturado, mais

predizível, mais compacto, mais econômico, embora novas formas continuem

eclodindo e passando pelo mesmo fluir, o que garante a perenidade e a

funcionalidade natural das línguas;

e) identificação e caracterização de mecanismos que os elementos perpassam

no seu fluir, prevendo parâmetros de avaliação dessa implementação (cf., por

exemplo, LEHMANN, 1982).

Como já manifestado em outros momentos (cf., por exemplo, COSTA, 2006,

p. 298-299), consideramos que, no tratamento da cadeia da unidirecionalidade,

estão inter-relacionados três tipos de continuum: o continuum conceitual, que

identificamos como de tipo a; o continuum morfossintático, que identificamos

como de tipo b, e o continuum do tipo c, relacionado à possível seqüência na

80

aplicação diacrônica dos mecanismos de gramaticalização, esse sobre o que menos

se reflete. Caracterizamos a seguir os dois primeiros tipos:

Tipo a) Considera a trajetória:

pessoa → objeto → atividade → espaço → tempo → qualidade

Trata a trajetória cognitiva e também lingüística conceitos-fonte →

conceitos-alvo e diz respeito a processos produtores de significado, relativos ao

mundo extralingüístico, que ligam o mundo real ao mundo mental e esse ao

mundo lingüístico, através sobremodo do que se costuma chamar o léxico da

língua. Nas nossas abordagens, temos preferido substituir a denominação do

último elemento, qualidade, por noções mais abstratas. É o que se poderia chamar a

face semântica dos estudos de gramaticalização.

Tipo b) Considera a trajetória:

discurso → sintaxe → morfologia → fonologia → Ø/discurso e diz respeito à passagem do mundo mental ao lingüístico e, neste, de níveis de

estruturação mais frouxos a mais interligados, tanto no sentido paradigmático

quanto sintagmático, o que implica em maior paradigmacidade e maior

coalescência, no sentido de Lehmann (1982). É o que se poderia chamar a face

morfossintática dos estudos de gramaticalização.

Neste trabalho nosso principal foco é a manifestação do continuum do tipo

a, concentrado sobretudo na questão das fontes, tentando uma abordagem dos

processos metafóricos ou metonímicos que envolvem o percurso semântico do

núcleo do item adverbial.

Quanto ao continuum do tipo b, lembramos apenas que é consensual

admitir-se que os adverbiais ocupam, nesse continuum, posição intermediária, que

partilham com os adjetivos, e que esses últimos, na cadeia, precedem os advérbios.

De fato, o processo de formação da maioria dos adverbiais do nosso corpus,

simples e locucionais, confirma essa postulação: seus núcleos são provindos, quer

ainda no latim, quer já no português, de nomes (28 fontes nominais), adjetivos (19

81

fontes adjetivais), verbos (4 formas verbais). Alguns já eram adverbiais no latim

(27 fontes adverbiais). Outros, poucos, têm seus núcleos provindos de preposições

(3 fontes), além das preposições que compõem massivamente as locuções

adverbiais em português (a, até, de, em, para, por). Muitos deles, produziram

também conjunções ou nexos discursivos vários.

Além desses elementos-núcleos, ocorrem, tanto no corpus utilizado para a

tese, quanto naquele utilizado para este trabalho, as já citadas 6 preposições e

alguns outros elementos, como: artigos; demonstrativos; numerais; o item não;

quantificadores (algum, muito, todo, tanto, pouco, bastante); indefinidos (qualquer,

algum, vários); adjetivos ordenadores (primeiro e último); identificadores (mesmo,

outro); adjetivos (breve, passado, presente) e o classificador cada, todos participantes

na formação de locuções.

1 AS FONTES

Passando ao foco do trabalho, apresentamos nos quadros aqui expostos as 78

fontes lexicais latinas, 1 francesa e 2 portuguesas dos adverbiais de conteúdo

semântico espacial e temporal, simples e locucionais, encontrados nos corpora dos

séculos XVI, XVII e XVIII, sobre as quais pretendemos apresentar algumas

considerações de ordem semântica. O quadro apresenta ainda o sentido da fonte

na língua de origem e os adverbiais dos séculos pesquisados que a têm como

núcleo.

82

FON

TES

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DO

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ente

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ente

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te, p

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men

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ente

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83

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84

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pa

ra

baix

o, a

taab

aixo

ab

aixo

, de

alto

a b

aixo

, deb

aixo

,

brĕvī,

e qu

e te

m p

ouco

esp

aço;

cur

to;

que

tem

po

uca

dura

ção

brev

e, b

reve

men

te, e

m b

reve

, br

evem

ente

, em

tão

bre

ve t

empo

, po

r bre

ve te

mpo

, br

evem

ente

, com

bre

vida

de

cōntĭnŭŭ

s, -a

, -um

co

ntín

uo, c

ontin

uado

cont

inua

men

te,

ntĭnŭā

tŭs,

-a, -

um

cont

inua

do; j

unto

, reu

nido

co

ntin

uada

men

te

dērě

trār

iŭs,

-a, -

um

que

fica

atrá

s; qu

e se

mov

e pa

ra tr

ás

por d

erra

deir

o

grān

dĭs,

-e

gran

de; i

doso

; sub

lime

a gr

ande

mědĭā

tŭs,

-a, -

um

divi

dido

ao

mei

o

imed

iata

men

te

imed

iata

men

te,

jūnc

tǔs,

-a, -

um

junt

o, u

nido

junt

o, ju

ntam

ente

ju

ntam

ente

, jun

to

lōngǔs

, -a,

-um

lo

ngo;

com

prid

o ao

long

o, d

e lo

ngo,

mānĕā

na

(hor

a) m

atin

al

aman

hã, d

e m

anhã

, pel

a m

anhã

, de

man

hã, p

ela

man

hã,

da m

enhã

, nŏ

vŭs,

-a, -

um

novo

, rec

ente

; out

ro

de n

ovo,

nov

amen

te,

de n

ovo,

nov

amen

te,

de n

ovo,

nov

amen

te,

pērpĕtǔǔ

s, -a

, um

o in

terr

ompi

do; i

ntei

ro

perp

etua

men

te,

prīmārĭŭ

s, -a

, -um

prim

eiro

; pri

ncip

al

à pr

imei

ra

vist

a,

à pr

imei

ra,

da

prim

eira

, pri

mei

ram

ente

, pri

mei

ro

prim

eiro

, pr

imei

ram

ente

, a

prim

eira

vez

, na

pri

mei

ra o

casi

ão, p

rim

eira

men

te, p

rim

eiro

,

prōxĭmŭs

, -a,

-um

vi

zinh

o; p

róxi

mo

próx

imo,

de

próx

imo,

pro

xim

amen

te,

sǔbĭ

tǔs,

-a, -

um

repe

ntin

o, s

orra

teir

o

de sú

bito

ūl

tĭmŭs

, -a,

um

o

mai

s af

asta

do; o

mai

s re

mot

o

nest

es ú

ltim

os t

empo

s, à

últi

ma

hora

, a ú

ltim

a ve

z,

por ú

ltim

a, p

or ú

ltim

o, u

ltim

amen

te

85

FON

TES

DO

S A

DV

ERBI

AIS

– V

ERBO

S

FON

TES

SEN

TID

O

AD

VER

BIA

IS

Séc.

XV

I Sé

c. X

VII

c. X

VII

I dī

stān

s, -t

is

Afa

stad

o

dist

ante

īnstān

s, -ti

s qu

e pe

rseg

ue;

amea

çado

r; pr

óxim

o;

pres

ente

nu

m in

stan

te (B

anda

rra)

, ne

ste

inst

ante

prāe

sēns

, -tĭs

que

assi

ste;

qu

e es

à vi

sta;

atu

al

ao p

rese

nte

ao p

rese

nte,

de

pres

ente

, no

pre

sent

e te

mpo

, no

tem

po p

rese

nte,

est

e (p

rese

nte)

ano

, ao

pres

ente

, até

o p

rese

nte,

até

ao

pre

sent

e, d

e pr

esen

te, p

rese

ntem

ente

vi

sta

(por

t.)

Vis

ta

à pr

imei

ra v

ista

86

FON

TES

DO

S A

DV

ERBI

AIS

– A

DV

ÉRBI

OS

FO

NTE

S SE

NTI

DO

A

DV

ERBI

AIS

c. X

VI

Séc.

XV

II

Séc.

XV

III

accu

illā

c

acol

á

ad

īllīn

c

além

al

ém, d

’alé

m

accu

ĭnde

aq

uém

pe

ra a

quém

ălĭcǔbĭ

em a

lgum

luga

r al

gure

s

al

hure

s (p

ort.)

em

nen

hum

luga

r ne

lhur

es

āntĕ

di

ante

, an

tes,

an

teri

orm

ente

an

tes,

dant

es, d

iant

e, a

dian

te, a

o di

ante

, av

ante

, da

li po

r di

ante

, da

qui p

or d

iant

e, e

m d

iant

e, p

or

dava

nte,

po

r di

ante

, pe

r aq

ui

adia

nte,

ante

s, d

ante

s, n

o di

a an

tes,

tan

tos

anos

ant

es,

daí

por

dian

te, d

aqui

por

dia

nte,

dia

nte,

adi

ante

, ao

dian

te, p

or

dian

te, a

vant

e, d

ali p

or d

iant

e, d

aqui

em

dia

nte,

daq

ui

por

dian

te, d

e ho

je a

dia

nte,

de

hoje

em

dia

nte,

de

hoje

po

r dia

nte,

em

dia

nte,

ava

nte,

ante

s, p

ouca

s ho

ras

ante

s, ao

dia

nte,

par

a di

ante

, da

qui p

or d

iant

e, d

aqui

em

dia

nte,

daí

em

dia

nte,

cĭtō

de

pres

sa,

brev

emen

te,

pron

tam

ente

cedo

, ce

do,

fŏrā

s pa

ra

fora

, ir

em

bora

af

ora,

fora

, de

fora

, par

a fo

ra, p

er

fora

, fo

ra, d

e fo

ra, p

or fo

ra,

fora

, par

a fo

ra,

hāc

por a

qui

cá, d

e cá

, per

aqua

, por

cá,

, par

a cá

, de

cá, p

or c

á,

cá, d

e an

tão

para

cá,

c ne

ste

luga

r aq

ui,

ataa

qui,

daqu

i, da

qui

por

dian

te,

per

aqui

ad

iant

e,

por

aqui

,

aqui

, até

aqu

i, da

qui,

daqu

i por

dia

nte,

por

aqu

i, da

qui

em d

iant

e,

aqui

, da

qui,

daqu

i em

dia

nte,

daq

ui p

or d

iant

e, a

aqui

,

ībī

i (ne

sse

luga

r)

i, pe

r i, d

hi a

pou

co, d

hi, d

esi

a +

i (po

rt.)

aí, d

aí,

aí, d

aí, d

aí p

or d

iant

e,

aí, d

aí, d

aí e

m d

iant

e hŏ

dĭē

hoje

at

é ho

je, h

oje,

hoj

e em

dia

, at

é ho

je, d

e ho

je a

dia

nte,

de

hoje

em

dia

nte,

de

hoje

por

di

ante

, hoj

e,

hoje

, até

hoj

e,

īllāc

at

é lá

, de

lá, l

á, p

era

lá,

lá, d

e lá

, lá

īllīc

al

i, lá

, na

quel

e lu

gar

ali,

dali,

dal

i por

dia

nte,

per

a al

i, po

r ali,

tely

, al

i, da

li, p

or a

li, d

ali p

or d

iant

e,

ali,

dali,

īndĕ

de

sse

luga

r ai

nda,

ain

da...

nom

, ai

nda,

ain

da n

ão, n

ão...

aind

a, n

em...

aind

a ai

nda,

inda

, īn

trō

para

den

tro

dent

ro,

de d

entr

o, p

er d

entr

o,

pera

den

tro,

de

ntro

, de

dent

ro, p

ara

dent

ro, p

or d

entr

o de

ntro

jăm

im

edia

tam

ente

, ag

ora,

até

ago

ra

já, j

á nã

o,

já, j

á nã

o, n

ão já

, não

...já

, já

não.

..mai

s, ja

mai

s já

, já

não,

des

de já

lōngē

de lo

nge;

mui

to

tem

po; l

onga

men

te

long

e, d

e lo

nge

long

e, d

e lo

nge,

lo

nge,

87

FON

TES

SEN

TID

O

AD

VER

BIA

IS

Séc.

XV

I Sé

c. X

VII

c. X

VII

I măgĭs

m

ais

não.

..mai

s, n

unca

mai

s ca

da d

ia m

ais,

cad

a ve

z...m

ais,

não

mai

s, já

não

...m

ais,

jam

ais,

nun

ca m

ais,

por

(mui

to) m

ais

tem

po

mai

s te

mpo

, cad

a ve

z m

ais,

mai

s do

s an

os, n

unca

m

ais,

jam

ais

mĭnŭtē

co

m

pequ

enos

ac

esso

s de

to

sse;

ao

s pe

daci

nhos

ameú

de,

nūnq

uăm

nu

nca

nunc

a, n

unca

mai

s,

nunc

a, n

unca

mai

s nu

nca,

nun

ca m

ais,

*p

rēttŭ

ap

erta

do;

pers

egui

do

de

pert

o

pert

o, d

e pe

rto,

pe

rto,

de

pert

o, a

o pe

rto,

par

a pe

rto,

rěpē

ntē

de

repe

nte

de

repe

nte,

de

repe

nte,

mpĕ

r se

mpr

e se

mpr

e se

mpr

e, p

ara

sem

pre

sem

pre

tārdē

lent

amen

te,

tard

iam

ente

ta

rde,

ta

rde

tūnc

en

tão,

na

quel

e te

mpo

, de

pois

di

sso,

sen

do a

ssim

até

entã

o,

de

entã

o,

entã

o,

ento

nces

, po

r en

tão,

po

r en

tonc

es,

entã

o,

entã

o, d

e en

tão

para

cá,

88

FON

TES

DO

S A

DV

ERBI

AIS

– P

REP

OSI

ÇÕ

ES

FO

NTE

S SE

NTI

DO

A

DV

ERBI

AIS

c. X

VI

Séc.

XV

II

Séc.

XV

III

āntĕ

an

tes d

e an

tont

em

an

tece

dent

emen

te

pōst

at

rás,

depo

is

depo

is,

depo

is, a

o de

pois

, mui

tos

dias

dep

ois,

de

pois

, ao

depo

is

trān

s al

ém

de,

para

tr

ás d

a ca

beça

at

rás,

detr

ás,

para

tr

ás,

para

de

trás

, at

rás,

para

trás

,

89

Sobre os nomes, observamos inicialmente que flèche, nome francês, foi

introduzido no português no século XV e tarde, que, apesar de ter um seu cognato,

o adverbial tārdē registrado em latim, não tem registro como nome latino, mas já o

tem em português. E, dos latinos, 3 têm origem grega reconhecida (cymā, nōx,

pīttăcìǔm)12.

2 O CONTINUUM SEMÂNTICO

Para a observação do continuum semântico percorrido pelas fontes dos

adverbiais portugueses que coletamos, apresentamos abaixo um quadro que,

embora muito esquemático, permite uma certa visualização. Chamamos a atenção

para o fato de que a coluna outras noções registra sentidos que nem sempre são

preenchidos por adverbiais, como é o caso de, por exemplo, logo, juntivo oracional.

2 Esclarecemos, contudo, que não procedemos à investigação da etimologia de todos os nomes latinos.

90

TRA

JETO

SEM

ÂN

TIC

O –

NO

MES

FON

TES

LATI

M

SÉC

. XV

I SÉ

C. X

VII

C. X

VII

I

CO

R

OBJ

E

TO

UTR

AS

E T

OU

TRA

S E

TO

UTR

AS

E T

OU

TRA

S ăgīnă,

- x

- x

mod

o -

x -

- -

- -

- -

ānnǔ

s, -i

i -

- -

x -

- x

- -

x-

- x

- cā

sŭs,

-us

- -

- x

- -

- -

- x

- -

x-

cōstă,

x -

- -

- -

- -

x -

- -

- -

cymă,

- x

- -

- x

- te

xto

x -

text

o -

- te

xto

dĭēs

, - e

i -

- -

x -

- x

- -

x-

- x

- fīnĭs

, -is

-

- x

- qu

alid

ade

- x

- -

xco

nclu

são

- x

conc

lusã

o flè

che

(fr.)

- -

- -

- -

x -

- -

- -

- -

fūnd

ǔs, -

i -

- x

- -

x -

- x

- -

- -

- hō

ră, -

æ

- -

- x

- -

x -

- x

- -

x-

īnstān

s, -t

is

- -

xx

- -

- -

- x

- -

x-

lŏcǔ

s, -i

-

- x

- -

- x

conc

lusã

o -

xco

nclu

são

- x

conc

lusã

o mănŭs

, -us

x

- -

- -

- x

mod

o x

- po

sse

- -

- mĕdĭŭ

m, -

ii -

- x

x in

stru

men

to

x -

- x

- -

x -

- mēn

s,tìs

x

- -

- 'e

spír

ito,ra

zão'

-

- m

odo

- -

mod

o -

- m

odo

nōx,

-tis

-

- -

x -

- x

- -

x-

- x

- ōc

cāsĭŏ,

-oni

s -

- -

x fa

vora

bilid

ade

- -

- -

x-

- x

- pā

rs, -

tis

- -

xx

fim

- -

- x

- m

odo

x -

- pā

ssǔs

, -us

-

- x

- ge

sto

- -

- -

- te

xto

x x

- pī

ttăcĭŭm

, -ii

(gr.)

-

- x

- -

x x

- -

- -

- -

- pū

nctă

, -æ

-

x -

- ge

sto

x -

- -

- -

- -

- pū

nctŭ

m, -

i x

- x

x te

xto

- -

- -

xm

odo

- -

- sē

ptĭmānă,

- -

- x

- -

- -

- -

- -

x-

spătĭŭ

m, -

ii -

- x

x -

- -

- -

x-

- x

- ta

rde

(por

t.)

- -

- -

- -

x -

- x

- -

x-

tēm

pǔs

- -

- x

- -

x -

- x

- -

x-

vīx,

-cĭs

-

-

x

x

x

x

91

TRA

JETO

SEM

ÂN

TIC

O -

AD

JETI

VO

S

FON

TES

LATI

M

SÉC

. XV

I SÉ

C. X

VII

C. X

VII

I

CO

RO

BJ

E T

OU

TRA

S E

T O

UTR

AS

E T

OU

TRA

S E

T O

UTR

AS

ætē

rnālĭs

, -e

- -

- x

- -

x -

- -

- -

- -

āltŭ

s, -a

, -um

-

- -

- -

- -

- x

- -

- -

- āc

tŭālĭs

,e

- -

- -

- -

- -

- x

- -

x -

bāssŭs

, -a,

-um

x

- -

- -

x -

- x

- -

- -

- brĕvī

- -

- x

mod

o -

x m

odo

- x

- -

x -

cōntĭnŭŭ

s, -a

, -um

-

- x

x -

- -

- -

x -

- -

- cō

ntĭnŭā

tŭs,

-a, -

um

- -

x x

- -

x -

- x

- -

- -

dērě

trār

iŭs,

-a, -

um

- -

x -

- -

x -

- -

- -

- -

grān

dĭs,

-e

- -

x x

qual

idad

e -

- -

- -

- -

- m

odo

mědĭā

tŭs,

-a,

-um

-

- x

- -

- x

- -

x -

- x

- jū

nctǔ

s, -a

, -u

m

- -

x x

- -

- -

x -

- x

- -

lōngǔs

, -a,

-um

-

- x

x -

x -

- -

- -

- -

- mānĕā

na

- -

- x

- -

x -

- x

- -

x -

nŏvŭ

s, -a

, -um

-

- -

- qu

alid

ade

- x

qual

idad

e-

x qu

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ade

- x

- pē

rpĕtǔǔ

s, -a

, um

-

- x

x -

- x

- -

- -

- -

- prīmārĭŭ

s, -a

, -um

-

- x

- qu

alid

ade

- x

- -

x -

- x

- prōxĭmŭs

, -a,

-um

-

- x

- -

- -

- -

- -

x x

- sǔ

bĭtǔ

s, -a

, -um

-

- -

x -

- x

- -

- -

- -

- ūl

tĭmŭs

, -a,

um

-

- x

x -

- -

- -

- -

- x

-

92

TRA

JETO

SEM

ÂN

TIC

O –

VER

BOS

FO

NTE

S LA

TIM

C. X

VI

SÉC

. XV

II

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. XV

III

C

OR

O

BJ

ET

OU

TRA

S E

TO

UTR

AS

E T

OU

TRA

S E

TO

UTR

AS

dīstān

s, -t

is

- -

- -

- -

x -

- x

- -

- -

īnstān

s, -t

is

x -

xx

- -

x -

- x

- -

x-

prāe

sēns

, -tĭs

-

- x

- -

- x

- -

x-

- x

- vi

sta

(por

t.)

x -

- -

- x

- m

odo

- -

- -

- -

93

TRA

JETO

SEM

ÂN

TIC

O –

AD

VÉR

BIO

S

FON

TES

LATI

M

SÉC

. XV

I SÉ

C. X

VII

C. X

VII

I

C

OR

OBJ

E

T

OU

TRA

S E

T

OU

TRA

S E

T

OU

TRA

S E

T

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TRA

S ac

cu il

lāc

- -

x-

- x

- -

- -

- -

- -

ad īl

līnc

-

- x

- -

x -

- -

- -

- -

- ac

cu ĭn

de

- -

x-

- x

- -

- -

- -

- -

ălĭcǔbĭ

- -

x-

- -

- -

- -

- -

- -

alhu

res

(por

t.)

- -

- -

- x

- -

- -

- -

- -

āntĕ

-

- x

x -

x x

pref

erên

cia

xx

pref

erên

cia

x x

pref

erên

cia

cĭtō

-

- -

x -

- x

- -

x-

- -

- fŏ

rās

- -

x-

- -

x -

- x

- -

x-

hāc

- -

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94

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95

Quanto ao continuum semântico, percebe-se que, além de a forte maioria

apontar para a procedência do deslizamento espaço → tempo como muito

produtivo, algumas observações avultam:

b) Algumas fontes latinas e uma portuguesa advêm de denominações

ligadas a partes, faculdades ou atividades do corpo, inclusive gestos

(cōstā, mănŭs, mēns, pūnctŭm, bāssŭs, mĭnutē, præsēns e vista) ou a objetos

ou partes de objetos (ăgīnă, pūnctă), o que atesta a alegada previsível

passagem, no continuum do tipo a, de pessoa → espaço ou de objeto →

espaço;

c) 40 das 81 fontes têm representanrtes em núcleo de adverbiais

documentados nas três épocas;

d) Algumas desapareceram como núcleo de adverbiais espaciais e

temporais, como, por exemplo, ăgīnā, mănŭs, pīttăcìǔm, ălĭcŭbĭ, ībī, embora

algumas continuem sob forma de outras classes de adverbiais ou de

palavras, como, por exemplo, flèche (flecha, subst.); mănŭs (de mão em mão,

manualmente, adverbiais de modo); pīttăcìǔm (pedaço, substantivo; aos

pedaços, adverbial de modo); dērětrāriŭs (derradeiro, adjetivo, pouco usado);

accu illăc (acolá, adverbial, pouco usado);

e) Algumas, embora não documentadas nos séculos XVII e XVIII, sabemos

que continuam em uso, como fūndŭs, pūnctă, pūnctŭm, lōngŭs, pērpětŭŭs,

cĭto, mĭnutē, prēttŭ e trāns;

f) Algumas só começam a ocorrer como núcleo de adverbiais espaciais e

temporais mais tarde, como ōccāsĭŏ, pārs, pāssŭs, pūnctŭm, sēptĭmānă,

spătĭŭm, āctŭālĭs, dīstāns, īnstāns;

g) As fontes mais produtivas, quanto ao número de adverbias que vieram a

formar (types), não com relação à freqüência de uso (tokens) são ānnŭs,

dĭēs, hōră, tēmpŭs, vĭcĭs, præsēns, āntě. O caso de mēns merece registro à

parte, considerando que deslizou de forma livre para forma presa, vindo,

nesse emprego, a ser muitíssimo produtiva nas três épocas pesquisadas;

96

h) Algumas percorreram todo o continuum, como pūnctŭm, mĭnutē e cōstā,

considerando-se que temos em uso a expresão pelas costas para indicar

modo;

i) Os deslizamentos metafóricos ou metonímicos podem ter-se dado, quer

no uso da fonte em sua classe de palavra básica, quer já como adverbial:

i) na passagem do grego para o latim (cymā, pīttăcìǔm);

ii) em latim ; (ăgīnā, cāsŭs, fīnĭs, lŏcŭs, mědĭm, mēns, ōccāsĭŏ, pārs, pāssŭs,

pūnctă, pūnctŭm, spătĭŭm, bāssŭs, brěvīs, cōntĭnūătŭs, cōntĭnŭŭs, grāndĭs, jūnctŭs,

lōngŭs, pērpětŭŭs, prīmārĭŭs, ūltĭmŭs, īnstāns, præsēns, āntě, hīc, īndě, jăm,

mĭnŭtē, prēttŭ, tārdē, tūnc, pōst, trāns)

iii) do latim ao português (fīnĭs, mănŭs, pāssŭs, pūnctă, mēns, āctŭālĭs,

bāssŭs, dērětrāriŭs, vīstă)

iv) já no português (cima, fim, fundo, logo, mão, grande, novo, próximo,

antes, este, ali, ainda, perto, sempre, trás)

O espaço de que dispomos agora não nos permite reflexões

pormenorizadas sobre o percurso de todas as fontes. Contudo, destacaremos aqui

algumas que podem representar maior dificuldade de acompanhamento apenas

pelos quadros ou que apresentem particularidades que os quadros não podem

captar:

a) A fonte cyma nome latino, ‘pimpolho, renovo, grelo de plantas’

(SARAIVA, s.d., s.v. cyma), é proveniente de kyma, nome grego, ‘onda, vaga,

qualquer produção, animal ou vegetal’. (HOUAISS, 2001, s.v.cima). Segundo

Houaiss, no latim vulgar o termo assumiu (metonimicamente, acrescemos) o

sentido de “o que avulta à superfície, extremidade, parte superior ou mais alta das

coisas” e, no português arcaico, significou (pelo deslizamento metafórico espaço

→ tempo, acrescemos) “cobro, remate, termo”, sendo citada uma expressão

exemplificativa, “dar cima a um mal-entendido”. Mattos e Silva (1989, p. 249)

também registra a ocorrência de aa cima, com esse último sentido, no século XIV.

(1) E aa cima a piedade venceu a homildade (MATTOS E SILVA, 1989:250).

97

b) A fonte pittaccium,–ii, nome latino, ‘rótulo, emplastro, pequeno escrito’,

provém do grego pittákion, ‘pano sobre o qual se estende um emplastro’. Sofreu,

portanto, processo metonímico do grego ao latim e, já em português assume o

sentido temporal que capturamos no séc. XVI:

(2) ...e comecaram asaltar e dançar huũ pedaço (Carta de Pero Vaz Caminha, fl.5, ls.29-30).

c) A fonte latina agina, ‘encaixe ou buraco em que se move o travessão da

balança’, é, segundo Machado (1965, s.v. asinha), proveniente da forma feminina

de *aginus, adjetivo derivado do verbo āgō, no sentido de ‘pesar’. Assumiu

também em latim, segundo Machado, a acepção de ‘balança’, num rico jogo

metonímico, portanto. Para Corominas e Pascual (1980-1991, s.v. aína) ăgīnā é

nome do latim vulgar, ‘atividade’, derivado, por abstração, do sentido de ăgěre, na

acepção de ‘conduzir, empurrar’, e é o étimo de ajinha (~asinha), advérbio

trasmontano, ‘imediatamente, pronto’. Lembram, também, a existência do verbo

ăgĭnāre, ‘agitar-se’, documentado em Petrônio, e as formas hispânicas ajinarse,

‘apressar-se’ e aginhado, ‘apressado’. Curioso que tão rica história semântica e

morfossintática se tenha esvaído no português, talvez devido à intensa formação

de novos adverbiais locucionais, como depressa, que não fez parte dos adverbiais

que analisamos.

d) Tarde aparece duas vezes como fonte, sendo uma como o adverbial

latino, tārdē, que nos deu o adverbial tarde, e outra como o nome português tarde,

que nos deu as locuções à tarde, de tarde, pela tarde. Observe-se que, em latim, o

adverbial desliza semanticamente de um adverbial temporal de aspecto,

fronteiriço de modo (‘lentamente’) para um adverbial de localização temporal

(‘após o termo de algum evento’), sentido que continua em português. Mas o

português produziu um substantivo cognato tarde, com o sentido de ‘parte do dia

após o meio-dia’ que, por sua vez, produziu os citados adverbiais temporais.

Assim, este é um caso interessante para a avaliação da unidirecionalidade quanto

ao continuum do tipo b (morfossintátrico), visto que o português “tirou” um

substantivo provavelmente do sentido de um adverbial. A esse respeito, temos

uma posição já expressa em outra oportunidade (cf. COSTA, 2006, p. 307-309).

98

Alguns outros adverbiais que aqui trouxemos mereceriam também estudo

quanto a seus percursos semânticos, o que ficará para uma próxima oportunidade.

Deles, destacamos acolá, jamais, nelhures, ontem e os derivados de māněană, cujas

histórias são particularmente interessantes para estudo sob a ótica da Teoria da

Gramaticalização.

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99

HOUAISS, A. (2001). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva e M. de S. Villar. LEHMANN, C. (1982). Thoughts on grammaticalization: a programmatic sketch. Arbeiten des Kölmer Universalien – Projekts 48. Cologne: Universitat zu Köln, Institut für Sprachwissenchaf. LOBO, Tânia (2001). (Org.). Cartas baianas setecentistas. São Paulo: Humanitas. LOPES, Fernão (1966). Crônica de D. Pedro. Ed. crítica con introduzione e glossario a cura di Giuliano Macchi. Roma: Edizione dell’Ateneo. MACHADO, José Pedro (1967). Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. 2. ed. Lisboa: Editorial Confluência. MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia (1989). Estruturas trecentistas: elementos para uma gramática do português arcaico. Lisboa: IN–CM. PEREIRA. S. B. (1964). Vocabulário da Carta de Pero Vaz de Caminha. Rio de Janeiro: INL/MEC. SARAIVA, F. R. S. (s. d.). Novissimo Diccionario Latino-Portuguez. 5. ed. Rio de Janeiro: Garnier. TORRES, Amadeu; ASSUNÇÃO, Carlos (2000). Gramática da linguagem portuguesa: edição crítica, semidiplomática e anastática. Lisboa: Academia de Ciência de Lisboa. p. 161-237 [1-76]. (Edição semidiplomática).