Final fantasy XIII - episódio zero - Promessa

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FINAL FANTASY XIII Episódio Zero -Promessa-

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FINAL FANTASY XIII Episódio Zero -Promessa-

Texto: Jun Eishima Conceito Original: Motomu Toriyama & Daisuke Watanabe

Tradução: Mangekyou54

Nerd, Uai! Vídeos, Games e Tradução www.nerduai.blogspot.com.br

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Índice

Parte I: Encontro Capítulo 1 06 Capítulo 2 11 Capítulo 3 14 Capítulo 4 17 Capítulo 5 21 Capítulo 6 23 Capítulo 7 26

Parte II: Estranho Capítulo 1 29 Capítulo 2 31 Capítulo 3 36 Capítulo 4 46 Capítulo 5 51

Parte III: Tesouro (Família) Capítulo 1 55 Capítulo 2 60 Capítulo 3 62 Capítulo 4 65 Capítulo 5 68 Capítulo 6 72 Capítulo 7 78

Parte IV: Busca Capítulo 1 80 Capítulo 2 82 Capítulo 3 87 Capítulo 4 93 Capítulo 5 97 Capítulo 6 101 Capítulo 7 103

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Parte V: Amigos Capítulo 1 107 Capítulo 2 110 Capítulo 3 112 Capítulo 4 119 Capítulo 5 124

Parte VI: Presente Presente 127

Parte VII: Amanhã “Naquele dia, a trage dia nos acometeu” 135 “Naquele dia, duas garotas entraram no templo” 136 “Vamos ficar juntas para sempre” 140

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Encontro

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(1) Ela sabia que estava cercada, mas na o sentia nervosismo ou pa nico. So pensava

em como isso lhe pouparia o tempo de ter que procurar por eles. Bem como disseram, pensou Lightning enquanto preparava sua espada. Havia va rios Bloodfangs, um monstro que parece um peixe com braços e pernas anfí bios que vive nas margens dos lagos. Nos arredores da Cidade Costeira de Bodhum, esses tipos de monstros aqua ticos aparecem com freque ncia. Na o sa o so os humanos que querem viver aqui. Com a sua temperatura quente, a gua e clima de reserva natural, parece que ate criaturas selvagens identificam uma vida fa cil.

Ela podia detectar quatro dos monstros vermelho e cinza na a rea. Sentiu dois vindo por tra s. Um começou a rastejar. Estava se preparando para atacar. Ela desceu a espada num movimento ra pido para a sua direita. Certeiro. Agora para a esquerda. Sua espada brilhou, se tornando o seu nome, perfurando as entranhas do Bloodfang. Agora dois ja foram. Ela sentiu algo pular nas suas costas. Mas naquela velocidade, na o havia perigo. Ela exalou um pequeno suspiro. Fez um giro e o cortou ao meio. Agora restava apenas um atra s dela...

Foi nessa hora. Ela deu um salto para tra s. Ouviu tiros, e o Bloodfang foi perfurado. Agora mais um estava mergulhado no seu pro prio sangue verde.

- Viemos ajudar! Ela ouviu uma voz de mulher e o barulho de uma aeromoto. Vocês não vão ajudar,

só vão atrapalhar, pensou, irritada, e baixou sua arma. O Bloodfang ja na o estava mais focado em Lightning. Ela na o precisava olhar para cima para saber que a dona daquela voz era uma mulher muito inco moda. Pelo barulho da moto, com certeza tinha sido remodelada. Na o era do tipo que fora desenhada com segurança em primeiro lugar para o mercado tradicional, nem um modelo militar que priorizava o sile ncio. Era um som diferente. A mulher montada naquilo na o podia ser nem uma soldada, nem uma civil.

Mas na verdade na o era a mulher que tinha atirado que estava pilotando a moto. Era um homem de cabelo azul. Ele era muito jovem. Tinha acesso rios com penas e joias por toda parte, e mesmo de longe se via que era um rapaz muito espalhafatoso. Atra s dele estava a mulher de cabelo preto, segurando uma grande arma. A moto desceu rapidamente, e a mulher saltou e começou a atirar. O u ltimo Bloodfang tentou fugir, mas em va o. Ela na o era ma atiradora. Claro que desperdiçou algumas balas, mas pelo menos acertou o alvo.

A moto voou em volta de Lightning por alguns momentos e finalmente parou. O piloto claramente sabia o que estava fazendo.

- E aí , soldada? Estava em maus lenço is, hein? A mulher de cabelo preto guardou a arma e sorriu. A gola da sua camisa era grande

e estava aberta. Lightning podia ver uma tatuagem de borboleta na parte superior do seu ombro. Enquanto o homem de cabelo azul era enfeitado demais, essa mulher mostrava pele demais. Nenhum dos dois trajava roupas que algue m usaria normalmente num campo de batalha. Todos aqueles acesso rios so atrapalhariam na luta. Uma arma grande como aquela aqueceria ra pido demais. E com tanta pele exposta, ela ficaria vulnera vel a queimaduras. Amadores, ela decidiu, e enta o perguntou:

- Quem sa o voce s? - Somos a NORA.

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Embora Lightning tenha tentado parecer dura e fria, a outra mulher pelo jeito na o percebeu. Seus olhos da cor do a mbar a olhavam de cima a baixo, como que em surpresa.

- Se voce e uma soldada de Bodhum, pelo menos ja ouviu falar de no s, certo? Confiante. Lightning queria saber como ela podia ser ta o confiante, mas na o tinha

tempo para perguntar. - Lamento, mas nunca. – disse ela, rispidamente, e começou a andar. Podia ouvir

as vozes deles la atra s. - Mas... - Estranho, eu podia jurar que e ramos mais famosos que isso... Ela andou mais ra pido para na o ter mais que ouvir as vozes deles. Que irritante.

Eles interferiram na sua missa o, e ainda achavam que tinham ajudado. Ela na o aguentava ver o quanto eles se achavam, enta o mentiu, e se odiou por isso tambe m. Sim, ela mentiu. Mentiu que nunca tinha ouvido falar da NORA. Ela os conhecia. Ouviu sobre o grupo que usava um pequeno estabelecimento na praia como quartel de operaço es. O local na verdade era um bar, voltado para turistas, mas mais visitado pelos pro prios moradores da cidade. Na verdade fazia mais sucesso entre estudantes.

- NORA e uma sigla. “Nada de Obrigaço es, Regras ou Autoridade”. E isso que significa o nosso nome.

Lightning ficou ainda mais irritada ao ouvir isso. Sacou o comunicador sem fio. Não pense em coisas desnecessárias, repetia para si mesma. Chame o tenente e avise que o trabalho foi concluído. Essa é a coisa mais importante a se fazer agora.

Ja havia va rios soldados no ponto de encontro. Os Bloodfangs na o estavam longe

do lugar relatado. Quando o alvo sa o monstros que se locomovem depressa, nunca e fa cil. Monstros odeiam humanos, enta o e difí cil ve -los em distritos comerciais ou residenciais, mas os arredores sa o diferentes. Para as pessoas que vivem na a rea rural ao redor da cidade, os monstros sa o um grande problema. Embora ate um amador seja capaz de dar cabo de um, geralmente eles se movem em grandes grupos. Os u nicos que vivem sozinhos sa o os maiores e mais fortes dos monstros. Em outras palavras, aqueles que, ao serem avistados, deve-se avisar o exe rcito imediatamente. Elimina -los e o trabalho do Regimento de Segurança, a unidade de Lightning.

Outros soldados vieram ate ela, parabenizando pelo trabalho bem feito. Lightning procurou pelo seu oficial superior. Na o, na o havia necessidade de procurar por ele. O Tenente Amodar se fazia ouvir de qualquer lugar. Ela seguiu na direça o da sua risada espirituosa.

Lightning franziu o rosto. Amodar estava conversando com um grupo que ela nunca tinha visto. E ao lado deles estava uma aeromoto modificada. Parecia muito com a que o homem de cabelo azul pilotava. Quem era aquele homem que estava conversando ta o amigavelmente com o Tenente? Ele estava todo suado, mas parecia muito confiante. Ela na o sabia dizer se era por causa das roupas ou do jeito como se movimentava, mas tinha certeza so de olhar para ele que era o lí der.

Seus olhos se encontraram. Lightning encarou de volta. Ela sabia que era grosseiro de sua parte, mas o homem parecia suspeito demais. Notando que estava acontecendo alguma coisa, o Tenente Amodar olhou na mesma direça o.

- Ei, Comandante! Bem-vinda de volta. Lá vem ele de novo, pensou Lightning, suspirando. Ele gosta dessas brincadeiras.

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- Comandante? Que tipo de piada e essa agora, Tenente? – colocando e nfase em “Tenente”. Diferentemente de quando entrou, agora ela ja estava acostumada a ignorar as brincadeiras dele. Claro que a s vezes era necessa rio revidar.

- Bom, voce estava no comando dessa operaça o, certo? – quando ele começava com isso, na o parava ta o cedo, enta o ela apenas suspirou e decidiu ignorar.

- E quem e esse? – ela olhou para o homem ao lado do Tenente. Fosse de longe ou de perto, a impressa o dela era a mesma: na o era boa coisa.

- Ele e da NORA, Sargento. – um jovem soldado entrou na conversa. – Na o conhece eles?

NORA de novo não, pensou ela, quase mostrando sua irritaça o. Acabo de me livrar de dois deles e já tem mais um aqui querendo atenção.

- E um grupo de patrulheiros composto por volunta rios da cidade. – ele obviamente tomou o sile ncio de Lightning como falta de conhecimento da parte dela. Amodar adicionou:

- O lí der deles e o Snow aqui. Ela sentiu uma mistura de gratificaça o e indignaça o ao perceber que estava certa. - E aí ? – o cumprimento dele a deixou ainda mais irritada. Não podia ser um pouco

mais educado?, pensou. - Essa e a nossa comandante de campo. Ela pode ser jovem, mas e muito boa. –

para provar, Amodar tocou o cabo da espada de Lightning com a ponta dos dedos. - Tenente, na o vamos falar sobre... – Lightning sabia o que ele ia dizer a seguir e

tentou impedir, mas Amodar a ignorou e continuou: - Esse e um tipo de espada que so os melhores soldados podem usar. O que eu

estou dizendo e que aqueles que te m essa espada tambe m te m as melhores habilidades. Na o e incrí vel? – ele ja estava passando dos limites, pensou Lightning. Ela queria dete -lo antes que ele a envergonhasse mais, mas Amodar na o dava uma tre gua.

- E a Blazefire Saber dela e especial. Tem uma inscriça o que diz... Como era mesmo? “Rela mpago branco... Use o meu nome.” Na o e isso? – mentalmente ela o corrigiu: Clame o meu nome. Mas ela na o podia dizer em voz alta, era pate tico demais.

- Por favor, vamos mudar de assunto, pode ser? – apesar de constrangida, ela estava feliz de ouvir aquelas palavras do seu oficial superior. Mas tudo tem um limite. Especialmente com aquele tal de Snow bem na frente dela dizendo coisas como “E mesmo?” e “Uau, que maneiro!”. Era insuporta vel.

- Tudo bem, tudo bem. – Amodar pareceu decepcionado a princí pio, mas enta o riu vigorosamente. – Bom, enfim. Enta o foi por isso que a nossa Sargento aqui conseguiu terminar isso ta o ra pido. Voce s devem ter ficado tristes de na o poderem fazer muita coisa de novo, ne ?

- Bom, na verdade na o viemos so por causa dos monstros que os moradores relataram.

- E mesmo? - E . Temos um plano: se fizermos uma fogueira, a fumaça vai atrair os que esta o

na toca e aí podemos acabar com todos de uma vez. - Ei, ei, essa ideia ate e boa, mas cuidado pra eles na o ficarem fora de controle. – e

enta o Snow disse: “Claro, claro!”, e concordou com tudo. Grupo de patrulheiros?, pensou Lightning. Não me façam rir. É só um bando de amadores que arranjou umas armas e agora se acha a liga da justiça... Ela queria dizer o que pensava deles, mas na o mudaria nada. Uma crí tica so tem valor quando se espera algo da pessoa. Com eles, seria so

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desperdí cio de saliva. - Voce s te m muita energia. Por que na o entram no exe rcito? - Regras e uniformes na o combinam com a nossa personalidade, sabe? – Por que

esse cara continua dizendo coisas tão irritantes?, pensou Lightning. Ele está me tirando do sério. Mas o Tenente Amodar so riu e disse: “Cuidado com o que diz!”, dando um tapinha nas costas de Snow, como se fosse um bom amigo.

- Bom, agora que os seus monstros ja eram, no s vamos cuidar dos nossos. – com as palavras de Snow, todos subiram na moto.

- Cuidado pra na o chamarem a atença o de quem na o deve. – disse o jovem soldado de antes. Ele regulava idade com eles, e parecia simpatizar com o grupo – A PSICOM na o e como a gente, eles na o deixariam voce s por aí assim.

PSICOM. Patrulha de Segurança, Informaça o e Comando. Uma espe cie de serviço secreto do exe rcito. Eles so aceitavam os melhores soldados. A Patrulha Guardia trabalha perto do povo, enta o pode-se dizer que sa o mais “simpa ticos”. Mas a PSICOM na o tem isso. Na o, a PSICOM na o deixaria a NORA existir. Mas um bando de jovens irresponsa veis nunca saberia disso. E todos os membros da NORA riram das palavras gentis do jovem soldado.

- Vamos ficar bem. Somos mais fortes que qualquer exe rcito. – mais uma vez, Lightning ficou irritada. Mas o jovem soldado na o pareceu se importar, e apenas disse: “Confiantes voce s, hein?”, com um sorriso.

Lightning chegou a conclusa o de que eles na o so na o tinham bom senso, mas sequer viam as coisas o bvias que qualquer pessoa normal veria. Enta o decidiu que ignora -los e esquece -los seria a melhor coisa. Mas...

- Espere. – quando se deu conta do que estava fazendo, ela ja tinha se aproximado deles. Precisava dizer uma coisa. So uma coisa. – Seu nome e Snow, na o e ?

- Sim? – Snow, que estava se preparando para decolar, olhou para tra s. - E voce que tem andado atra s da minha irma o tempo todo. - Irma ? - Serah Farron. – ela nem tinha terminado de dizer o nome quando Snow gritou

“Ah!”, pulou da moto e veio correndo na sua direça o. - Enta o voce e a irma da Serah? Seu rosto lembra o dela, mas de resto voce s sa o

ta o diferentes! – ele parecia ta o feliz que Lightning ficou desconcertada. Parecia uma criança que tinha acabado de ganhar um doce – Serah comentou que a irma era soldada. Quando te vi, achei mesmo que podia ser voce , mas fiquei com vergonha de perguntar.

Ele disse o nome dela com tanta familiaridade que a irritaça o de antes voltou com força total. Lightning estava prestes a dar um soco na cara dele, quando de repente ele estendeu a ma o direita.

- Prazer em conhece -la! Sou Snow Villiers. – a ma o dele era enorme. Ela pensou que, talvez por ele estar usando luvas de couro, causasse a impressa o de ter ma os ta o grandes. Alia s, como ele podia estender a ma o em cumprimento estando de luva? Aquele homem realmente na o sabia nada de etiqueta.

- Afaste-se da minha irma . – ela ignorou a ma o estendida. Na o tinha nenhum interesse em ser amiga vel com ele.

- O que ? Os olhos de Snow navegavam entre a sua ma o ignorada e o rosto de Lightning. Ele

achou que na o tinha entendido o que ela disse. - Mandei se afastar da minha irma .

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Snow recuou. Ele finalmente entendeu que estava sendo rejeitado. Mesmo assim, na o desistiu, e disse, um pouco relutante:

- E se eu me recusar? Não preciso responder, já disse tudo que queria, ela pensou. Deu as costas e

começou a andar, mas de repente tropeçou em alguma coisa. Um coco. Era um tipo de coco que so crescia nos coqueiros de Bodhum. Quando

algue m falava “coqueiro” por ali, todo mundo pensava nessa a rvore. Ela cresce ra pido, as folhas sa o grandes e largas e em geral as pessoas a consideram uma planta bastante bonita. Mas sa o diferentes dos coqueiros comuns num quesito: os cocos na o sa o comestí veis. Eles sa o enormes e, na o importa se forem fervidos ou cozidos, na o servem como alimento. Sa o coisas grandes e inu teis. Como esse homem, Lightning pensou.

- E se eu me recusar? Ela pisou o coco com força. - Na o me provoque. – lentamente ela estalou os dedos e fechou a ma o em punho.

Na o era assim que ela pretendia se livrar do homem que estava correndo atra s da sua irma , mas parecia que na o tinha jeito. Mas de repente ela se desequilibrou. O pe que estava sobre o coco ficou sem suporte. Snow tinha chutado o coco para o ar e ele fez um arco, caindo na sua ma o. Ele era como uma criança boa em futebol.

- Lamento, mas mesmo que voce me bata, na o vai adiantar. Ele estava querendo dizer que o soco de uma mulher na o seria forte o bastante ou

simplesmente que na o ouviria a s palavras dela? Provavelmente as duas coisas, pensou Lightning.

- Porque eu sou cabeça dura. – ele falou sorrindo, deixando-a ainda mais irritada. Ela deu as costas para ele e foi embora. Não gosto dele, pensou. Desencaminhando crianças e agindo como um super-herói, se fazendo de amiguinho com todo mundo... Homem horrível. O que Serah viu nele? Mas claro que isso é só uma fase. Ela não o ama de verdade. Claro que não.

- Sargento Farron, voce o conhece? Eles podiam na o ter ouvido a conversa, mas provavelmente viram a briga. O jovem

soldado perguntou com uma voz receosa. - Na o, na o conheço. – ela na o o conhecia. E pretendia nunca mais trocar sequer

uma palavra com ele. Nem ela, nem Serah. – Estou indo embora. – Lightning jogou os cabelos para tra s e seguiu seu caminho.

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(2) A brisa do mar sobre o seu rosto era refrescante. Serah caminhava tranquilamente

pelo passeio pu blico, e esticou os braços para se espreguiçar. O tempo estava o timo. O lugar estava vazio e quieto. Nessa e poca, todos os turistas iam para a praia nadar no mar. O bar da NORA devia estar lotado desde de manha . Mesmo que na o fosse alta temporada, hoje era o dia da Lebreau. Sua comida sempre conseguia atrair uma multida o.

Provavelmente era por isso que Snow estava atrasado. Ele deve ter dito algo como “deixo o resto com voce s” e tentado sair, mas aí um dos clientes o pegou de conversa. Imaginar essa cena fez Serah sorrir.

- Ei! – ela ouviu uma voz chamar, e olhou para tra s. Na o era Snow. Era o membro da NORA chamado Gadot. Como estava sozinho na moto, ele devia estar indo para o trabalho. Ou talvez Lebreau pediu para ele comprar alguns ingredientes.

- Enta o ele vai atrasar, ne ? – disse ela quando a moto parou ao seu lado. Embora Serah na o tivesse muita estatura, perto de Snow a diferença era gritante. Ele era ta o grande e musculoso que as pessoas da cidade costumavam chama -lo de “gigante”. Quando o viu pela primeira vez, ela o achou assustador. Claro que agora seu pensamento era outro – Esta preso com os clientes?

- Bingo. E pelo jeito vai demorar. – Queria saber se são clientes homens ou mulheres, pensou Serah. Ela na o tinha certeza se quem enviou Gadot como mensageiro tinha sido Snow ou Lebreau.

- Tudo bem, entendi. Obrigada. - Na o foi nada. Eu estava vindo pra esse lado mesmo. – e com isso Gadot deu um

“tchau” e decolou de novo com a aeromoto. Serah acenou um adeus e ficou olhando-o ir embora.

O sile ncio voltou, e Serah começou a caminhar de novo. Havia um lugar perto do final do passeio pu blico onde as gaivotas se reuniam. Ela decidiu que ia esperar por Snow la . Nunca se cansava de ver as gaivotas brincando nas ondas. Serah desejou ter trazido alguma coisa para dar de comida a elas.

- Eu amo essa cidade. – murmurou Serah – Os pa ssaros brincando no mar, a cor do ce u, as folhas balançando nas a rvores, esse passeio pu blico, ta o bonito... – mas este era o u ltimo ano de Serah no colegial. Ja estava decidido que ela iria para a universidade na capital, E den. Era o caminho que ela mesma escolhera, mas so de pensar em ir embora dali ela ficava triste. Snow sempre dizia: “E den e logo ali. Podemos nos ver quando quisermos”, e sorria. Serah tambe m tentava se convencer disso: na o era como se eles nunca mais fossem se ver de novo. Nunca ver algue m de novo era algo que ela entendia bem.

O primeiro foi o seu pai. Muito embora ainda na o tivesse idade para entender de fato o que era a morte, Serah entendia que nunca mais veria o seu pai de novo. Quando sua ma e morreu de uma doença, ela sentiu ainda mais forte a dor de perder algue m para sempre. Perder algue m bem diante dos seus olhos. Snow tambe m conhecia essa dor. Ele foi criado pela mesma instituiça o que Gadot, Lebreau e Yuj. Todos eles conheciam essa dor. Era por isso que eram ta o gentis com as pessoas. Mesmo que na o se dessem conta disso.

Eu sou feliz, Serah percebeu. Sou feliz, então a menor distância entre nós já dói. Não poder se encontrar todos os dias, falar de coisas bobas, cercados de pessoas legais. Tem sido tão bom que perder qualquer fragmento disso é doloroso.

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- Garota mimada. Voce esta sendo gananciosa. – e deu um tapinha de leve no pro prio rosto – E den na o e assim ta o perto como Snow diz, mas ainda e verdade que podemos nos ver se quisermos. Enta o eu vou parar de sentir pena de mim mesma. Na o quero desperdiçar o tempo que tenho aqui com esses sentimentos.

Ela tinha acabado de se decidir quando viu algue m vir correndo pelo passeio. Era Snow. Ele demorou menos do que ela imaginara. Provavelmente se esforçou bastante para terminar a conversa o mais ra pido possí vel.

- Aqui! – ela deu um pulo e acenou.

- Voce conheceu a minha irma ?! – ela na o conseguiu esconder o choque. Snow

estava totalmente sem fo lego depois de atravessar o passeio pu blico todo correndo, mas, assim que conseguiu, a primeira coisa que disse foi: “Conheci a Lightning.”

- E , nos esbarramos ontem. - Ah, enta o foi por isso! – exclamou Serah. - O que ? Ela disse alguma coisa sobre mim? - Na o. Mas estava de muito mau humor, enta o eu fiquei pensando o que poderia

ter acontecido. – por mais que estivesse irritada, Lightning agia como se nada tivesse acontecido. Ela nunca demonstrava os sentimentos. Era orgulhosa demais para isso. Mas Serah conseguia, de alguma maneira, sentir as variaço es de humor da irma . Como se uma espe cie de campo invisí vel ao redor dela mudasse levemente. Se tivesse que comparar com alguma coisa, ela diria que era como eletricidade esta tica. Voce na o pode ver, mas se encostar, vai sentir o choque.

O choque deve ter sido violento, pensou Serah, rindo por dentro. Lightning e Snow sa o opostos extremos. Ele e fiel aos seus sentimentos, o que pensa transparece no rosto, aço es e palavras. Seus sentimentos e suas aço es sa o uma coisa so . Ele nunca mentiria ou enganaria. Foi por isso que Serah sentiu que podia confiar nele, mas com sua irma foi diferente. Eles na o te m nada em comum, sa o como o leo e a gua.

- Droga... – Snow coçou a cabeça – O que no s vamos fazer? A princí pio, Serah na o entendeu o que ele quis dizer, mas enta o se lembrou: - Esta tudo bem, voce ainda pode vir. – na pro xima semana, era o aniversa rio de

Lightning. Serah a convenceu a tirar folga, para que os tre s pudessem comemorar juntos. - Vamos contar pra ela que estamos namorando. - Sim, seria horrí vel ter que esconder. Serah pretendia apresentar Snow para ela na festa de aniversa rio. Ela na o queria

que Lightning tirasse um dia de folga so para conhece -lo, ja que, sendo ta o dedicada ao trabalho, isso so a deixaria irritada, mas tambe m na o queria esperar demais para resolver isso.

- Se conversarmos, ela vai entender. Ela e uma boa pessoa. – Lightning e rí gida na o so consigo mesma, mas com todo mundo. E quando decide alguma coisa, quase nunca volta atra s, enta o os outros a acham cabeça-dura. Mas foi assim que ela conseguiu me proteger e me criar, pensou Serah. Apesar de ainda ser muito nova, ela jogou sua infa ncia fora para se tornar forte por Serah. No funeral do seu pai e no funeral da sua ma e, ela estava segurando a ma o de Serah. Era como se dissesse: Não importa o que aconteça, eu estarei com você. Serah nunca esqueceu o calor da ma o da irma .

Ah!, ela finalmente encontrou algo que Lightning e Snow tinham em comum. Mesmo que suas personalidades fossem completamente diferentes, havia uma coisa. Eu

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amo os dois, pensou Serah, do fundo do seu coraça o. Eles têm isso em comum. - Sim, vai ficar tudo bem. No s temos que contar para ela. Temos que faze -la nos

aceitar. - Mas se ela ficar brava, acho que vai me matar. – disse Snow, brincando. Serah,

tentando na o rir, forçou um rosto se rio. - Isso seria o menor problema. Se ela ficar brava, acho que destro i Cocoon inteiro! - Ela na o seria capaz, seria? – Snow franziu as sobrancelhas. Mas nenhum dos dois

aguentou mais. Serah acabou deixando uma risada escapar, e Snow levantou a cabeça para gargalhar com todas as forças. Espero que um dia nós três possamos rir assim juntos, pensou Serah. Não, eu sei que vamos. No aniversário dela.

- Snow! – de repente algue m gritou atra s deles. - O que foi, Maqui? – perguntou Snow quando a moto se aproximou. - Eles esta o saindo. No s interceptamos a comunicaça o sem fio do exe rcito. Parece

que os monstros esta o na floresta. E hora da Equipe NORA entrar em aça o! - Beleza. – disse Snow enquanto a aeromoto aterrissava. - Desculpe, Serah. O general aqui esta me convocando. - Sim, senhor! – disse Serah em tom de brincadeira, fazendo uma mesura. Maqui

era um ano mais novo que ela, enta o ela o considerava quase um colega de classe. - Desculpe atrapalhar. – disse Maqui, rindo. Snow disse “desgraçado” e fingiu dar

um soco nele. Eles eram como irma os. - Bom, enta o eu vou pra casa. - Ah! Voce na o pode me esperar? Eu quero ir ao shopping com voce . - Shopping? - Comprar o presente da sua irma ! - Ah, um presente de aniversa rio! - Eu quero que a gente escolha um juntos. Se quiser, voce ja pode ir pro shopping

e ir olhando alguma coisa... - Na o, eu espero aqui. Vou dar uma volta no Vestí gio enquanto isso. - Certo. – disse Snow, enquanto a moto decolava – Vamos resolver isso ra pido! - Tome cuidado! – disse Serah, acenando, embora Snow e Maqui ja estivessem no

ar. Ela pensou: Você é mesmo rápido.

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(3) Ela tentou na o demonstrar que estava de mau humor, mas achava que na o tinha

funcionado. Quando voltou para casa na noite passada, na o conversou muito com Serah. “Estou cansada”, disse, e se trancou no quarto. Ela na o queria dizer nada do que pudesse se arrepender. Lightning sabia que, se abrisse a boca, ia começar a gritar com Serah para terminar com aquele cara. Ela na o queria dizer a Serah que era contra. Conhecia o temperamento da irma melhor que ningue m. Embora ela pareça ser gentil e doce, por dentro e forte. Se Lightning dissesse que era contra so porque na o gostou dele, Serah tentaria faze -la mudar de ideia e a briga na o acabaria ta o cedo. Ela na o queria ter de passar por isso.

Lightning suspirou e começou a lavar a bandeja que usou para o cafe da manha . Nos dias em que ela saí a para trabalhar cedo, elas tomavam cafe juntas, mas em dias como hoje, em que pegava mais tarde, ela tomava sozinha. Quando Lightning acordou, Serah ja tinha saí do, mas deixou o cafe da manha pronto. Os hora rios de trabalho de Lightning estavam sempre mudando, mas ela estava sempre preparada.

O pai delas morreu cedo, e como a ma e precisava trabalhar, Lightning cuidava dos afazeres dome sticos, enta o sua experie ncia com essas atividades era muito maior que a de Serah. Mesmo assim, Serah era uma cozinheira muito melhor que Lightning.

- Serah e mesmo a melhor cozinheira. “Eu tambe m sou a melhor cozinheira!” Ela se lembrou das conversas que tinha

com Serah e sua ma e. Embora na o aceitasse na o ser a melhor, ela sempre estava feliz e sorrindo. Mas enta o sua ma e ficou doente.

Foi pouco antes de ela morrer. Depois da aula, Lightning foi com Serah ate o hospital onde sua ma e estava internada. Serah queria correr pela rua, mas Lightning segurava sua ma o, dizendo: “Na o corra, e perigoso.” Era sempre assim. Lightning queria proteger a irma , mas na verdade, no fundo ela mesma queria correr. Correr para longe. Mas naquele dia foi diferente.

No dia anterior, quando ela chegou da escola, o me dico ligou dizendo que sua ma e tinha piorado. Na pro xima vez que ela tivesse uma crise, poderia ser perigoso, ele disse.

Na o havia outros parentes, enta o o me dico na o teve escolha a na o ser contar a jovem Lightning, de quinze anos, os detalhes da doença da ma e. “Se acontecer alguma coisa”, ele disse, “posso apresentar voce s a uma assistente social”. Ele a instruiu sobre os va rios lugares onde poderia conseguir ajuda. Existiam programas para que as crianças o rfa s pudessem viver com dignidade. “Na o precisa se preocupar com dinheiro. Sua u nica preocupaça o deve ser cuidar da sua irma .” Foi isso que o me dico disse.

Mas, com essas palavras, Lightning se deu conta de que teria de assumir muitas responsabilidades. Sera que seus medos transpareciam?, ela se perguntava. Se na o para todos, pelo menos sua ma e provavelmente sabia o que ela estava pensando.

- Estou me sentindo bem hoje. Sim, acho que quero comer algumas frutas. Serah, voce poderia ir comprar algumas?

- Eu vou. – disse Lightning, se levantando. Mas sua ma e sorriu: - Serah e melhor com comida, lembra? - E , e tambe m sou a melhor cozinheira! – disse Serah, orgulhosa, e saiu do quarto. - A partir de agora, voce tera que fazer muitas outras coisas ale m de cozinhar. –

disse a ma e enquanto os passos de Serah se afastavam. Sim, ela entende, pensou Lightning. Por isso pediu para Serah ir comprar as frutas. Agora poderá falar sem medo

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sobre o que eu terei que fazer. Mas na o falou – Mas sabe, voce na o precisa fazer tudo sozinha. Serah pode te ajudar com muitas coisas...

- Mas ma e... – ela na o conseguiu dizer mais nada. Sua ma e esticou a ma o, puxando Lightning para perto. Acariciou seus cabelos como os de uma criança pequena. Lightning sentiu que ia chorar.

- Nossa princesinha. No s costuma vamos chamar voce assim, antes de Serah nascer. - Eu na o me lembro disso... - Quando Serah nasceu, voce se tornou uma irma mais velha. Tinha apenas tre s

anos. Mas eu e seu pai na o podí amos mais dizer que era a nossa u nica princesa. – a voz da sua ma e era doce, mas Lightning podia sentir a dor por tra s dela. A ma o que tocava seus cabelos era ta o magra.

- Depois que o seu pai morreu, voce sempre me ajudou, na o e ? Sempre cuidou de Serah. Voce e uma irma maravilhosa. Por isso, eu sei que na o preciso me preocupar com Serah. Sei que voce sempre estara la por ela. – apo s uma pausa, continuou – Mas Serah tambe m estara la por voce . Ela a ajudara quando for difí cil, lhe dara força. Na o se esqueça disso. – e enta o sua ma e disse, com dificuldade: – Minha princesinha...

A condiça o da doença mudou rapidamente depois disso. Lightning ja havia se preparado para isso, enta o aceitou sem dizer nada. Naquele dia, no momento em que sua ma e a abraçou como a uma criança, sua infa ncia chegou ao fim. Ela na o tinha mais a quem chamar de ma e. Enta o na o era mais uma criança. Na o podia mais ser uma criança.

“Voce na o precisa fazer tudo sozinha.” Sua ma e disse isso. Mas a u nica que podia proteger Serah era ela. É claro, ela se deu conta, que vou ter que fazer isso sozinha.

Eu quero ser uma adulta. Ela sentia isso com uma certeza esmagadora. Para proteger Serah, para fazer a minha única irmã feliz, eu tenho que me tornar uma adulta o mais rápido possível. Se não posso ser adulta por lei, vou ter que me livrar do nome que os meus pais me deram e me tornar uma adulta. Está tudo bem. Mesmo que eu não seja mais a filha da minha mãe, em troca serei a guardiã de Serah. Eu vou protegê-la. Ela fez um juramento na frente do tu mulo da ma e. E adotou seu novo nome, Lightning.

Ela voltou a si com o barulho do coldre fechando. Sem perceber, ja tinha ate

trocado de roupa. Sorriu. Nem era hora de sair ainda. Mas ela tinha acordado mais cedo que o planejado. Na o conseguiu dormir muito

bem, provavelmente por causa do que aconteceu ontem. Compreensí vel, ela se repetiu pela milione sima vez, e suspirou. A culpa era daquele cara. Ela na o era uma daquelas irma s superprotetoras que rechaçavam qualquer um que falasse com a irma zinha. So queria algue m que fizesse Serah feliz. Algue m que a protegesse. Ela na o deixaria algue m que na o pudesse fazer isso chegar perto dela. Ele na o precisava ser bonito, articulado ou ter qualquer outra qualidade aparente. So precisava trata -la bem e estar disposto a protege -la.

Mas aquele homem jamais poderia fazer isso, Lightning pensou. Era so um brutamontes que se achava o garanha o do pedaço. Ao primeiro sinal de adversidade, ele abandonaria Serah e fugiria. Se ela deixasse Serah esfriar a cabeça um pouco, ela entenderia. Uma aluna de notas perfeitas e um desempregado inu til nunca poderiam dar certo.

Se a mamãe estivesse viva, nós duas juntas conseguiríamos convencer Serah?

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Na o, provavelmente na o. Lightning suspirou. Seu pai tambe m fazia um pouco esse tipo. Era um homem gentil e cheio de boas intenço es, mas na o era muito responsa vel. Agora que sou adulta, eu entendo isso, pensou Lightning. Claro que, quando era criança, ela amava o pai. Nas suas lembranças, ele estava sempre sorrindo e fazendo o melhor. Mas, se ele tivesse vivido mais, sera que ela aceitaria bem o seu jeito despreocupado de encarar a vida? Eu provavelmente teria me rebelado contra ele.

A mamãe escolheu o papai assim mesmo. Provavelmente alguém como Snow a conquistaria facilmente. Ela diria algo como: ‘Se é ele que a Serah ama...’ e aceitaria. Então cabe a mim proteger Serah dele. Eu não sou a nossa mãe ou o nosso pai. Eles poderiam aceitar. Mas eu não. Nunca.

Ela colocou as luvas de couro e abriu a porta do quarto. Decidiu sair mais cedo.

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(4) De acordo com os registros antigos, o Vestí gio de Bodhum existe ha centenas de

anos. Os pre dios e casas antigos de Cocoon costumam ser chamados de “histo ricos”, mas as coisas de Pulse sa o chamadas de “Vestí gios”.

Provavelmente ele foi levado para la durante a Guerra da Transgressa o, para ser usado como material para reparar os lugares destruí dos. Era de conhecimento comum que os fal’Cies extraí am materiais de Pulse para manter as estruturas de Cocoon. Mas o estranho era que, em todas aquelas centenas de anos, esse Vestí gio especí fico nunca foi usado como material de reparo, nunca foi usado para construça o, e nem nunca devolvido a Pulse. Simplesmente ficou em Bodhum, abandonado. Ningue m sabia se havia algum plano para ele, ou se estava sendo guardado para o caso de uma emerge ncia. Para os imortais fal’Cies, va rias centenas de anos na o eram nada. Nenhum humano era capaz de entender os desí gnios de um fal’Cie.

De todo modo, era um miste rio. Talvez as pessoas mais pro ximas ao governo soubessem de alguma coisa, mas uma civil comum como Serah so podia especular.

- Na o importa quantas vezes eu veja, ainda acho estranho... – disse Serah olhando para as enormes ruí nas. Quem poderia ter construí do aquilo?

Os humanos normais na o podem viver em Pulse. Desastres naturais frequentes e monstros violentos tornavam isso impossí vel. Ela sempre ouviu que os poucos que viviam la eram praticamente ba rbaros. Jamais eles poderiam ter construí do uma estrutura ta o grande e complicada. Ela tambe m aprendeu que em Pulse havia fal’Cies, assim como em Cocoon. Mas, ao contra rio dos fal’Cies de Cocoon, que concediam inu meras be nça os ao seu povo, os fal’Cies de Pulse so causavam destruiça o.

Sendo assim, tambe m na o poderiam ter sido os fal’Cies de Pulse. Se o Vestí gio tivesse sido construí do por criaturas ta o terrí veis como essas, com certeza seria perigoso para Cocoon, e os fal’Cies ja o teriam destruí do e usado os materiais para construça o.

Mas se na o foram os fal’Cies de Pulse e nem os ba rbaros, enta o quem o construiu? Muitos livros e artigos foram escritos sobre o assunto. Todos queriam saber. Mas

nenhuma resposta foi encontrada. Era uma histo ria ta o antiga que era compreensí vel que ningue m conseguisse alcançar sua origem.

Serah se interessou por Histo ria por causa de miste rios como esse. E graças a isso, suas notas na mate ria subiram cada vez mais. A s vezes ela pensava que, se na o tivesse crescido perto do Vestí gio de Bodhum, provavelmente na o teria se interessado por Histo ria, mas na o tinha como saber com certeza.

Nada deixava Serah mais empolgada que um miste rio a ser solucionado. Mesmo que na o houvesse uma resposta definitiva, era divertido imaginar o que poderia ser. Claro que se o miste rio fosse resolvido, melhor.

- Eu queria tanto entrar... Mas na o havia entrada para o Vestí gio. Ningue m sabia o que havia la dentro. Podia

ate na o ter nada, apenas um grande espaço vazio. Serah tocou a estrutura. Na o era feita de pedra nem metal. Era algo fresco. Na o, provavelmente era algum tipo de metal, so que ela na o o conhecia. Pelo menos na o era do tipo que se usava em pre dios.

Quando essa coisa foi construí da em Pulse, devia ser muito diferente. Exposta ao vento e a chuva de Cocoon por se culos, estava muito deteriorada. Provavelmente na o so a textura mudou, mas tambe m a cor e talvez ate a forma.

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Serah olhou para cima, tentando ver o topo do Vestí gio, e caminhou lentamente ao redor dele. Fazendo assim, parecia que as ruí nas estavam se movendo. Foi a sua irma quem lhe mostrou isso quando eram pequenas. Lightning disse que aprendeu com o pai delas, e que Serah estava la no dia, mas ela na o lembrava.

Aqui nunca muda, pensou Serah. Cinco anos atrás, dez anos atrás, agora. Então provavelmente daqui a cinco e dez anos também continuará igual. Mesmo depois que eu morrer, ela pensou, ele continuará aqui, do mesmo jeito...

Enta o ela sentiu algo estranho. Uma mudança debaixo dos seus dedos, na parede das ruí nas. Surpresa, Serah olhou na direça o. A parede estava contorcida, revelando uma entrada.

Serah olhou maravilhada para o interior. - Esta aberto?! Desde quando? Quando esteve la , ha poucos dias, aquilo na o existia. Ela sempre

foi fascinada por aquelas ruí nas, desde pequena. Na o deixaria o menor detalhe escapar aos seus olhos, especialmente algo ta o significativo quanto uma entrada.

Talvez uma equipe de pesquisa do governo finalmente tenha conseguido abrir. Serah deu alguns passos para dentro.

- Tem algue m aqui? Na o houve resposta. Na o havia guardas, enta o provavelmente na o era uma missa o

de pesquisa. - Acho que na o tem problema se eu olhar so um pouquinho... Ela teria se rios problemas se descobrissem que entrou sem permissa o, mas no

fim a curiosidade venceu. Foi entrando lentamente. Esperava pelo menos chegar ao centro. O centro do

Vestí gio de Pulse. Isso era uma coisa que veio de fora de Cocoon. Ela estava extasiada, pensando no quanto estava perto de descobrir os segredos do Vestí gio. Mas, quanto mais adentrava, mais sentia que estava sendo desrespeitosa. O ar la dentro era ta o fresco e quieto.

O Vestí gio parecia muito maior por dentro que por fora. Havia caminhos e escadas interconectados por toda parte. Era o bvio que na o havia pessoas ali. Na o so ela na o via ningue m, mas tambe m na o ouvia vozes, nem mesmo o menor som. Apesar disso, estava claro la dentro. Havia iluminaça o. Enquanto explorava, Serah se perguntava que tipo de tecnologia era usada ali. As luzes pareciam ficar cada vez mais brilhantes, como que mostrando um caminho.

- Uau... Ela falou quase como um sopro, mas o eco foi alto. Instintivamente Serah levou a

ma o a boca. Exalou um pequeno suspiro e voltou a explorar. A arquitetura era estranha. O cha o parecia feito de pedra, mas era completamente diferente de qualquer construça o antiga de Cocoon. O cha o, as paredes e os caminhos eram todos perfeitamente retos. Enta o provavelmente aquilo foi feito por algue m habilidoso. As linhas se encontravam de modos elaborados, e criavam uma linda harmonia.

- O que sera que tem la em cima? Ela olhou para o alto. O teto, apesar de muito distante, brilhava tanto que ela podia

ve -lo claramente mesmo dali. Havia uma escadaria que subia. Devia ter alguma coisa la . Naquele momento, o corrima o das escadas se acendeu. Era como se dissesse: “Se

quiser saber mais, venha.” Serah na o hesitou por um momento, e começou a subir os degraus. Seus passos ecoavam. A dista ncia entre os degraus parecia diferente da usada

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em Cocoon, mas na o chegava a causar dificuldade para andar. Ela subiu mais um pouco e chegou a outro caminho reto, mas ele logo levou a outra

escadaria. Era longa, mas ela na o estava cansada. Tudo ali era muito mais interessante que qualquer museu que ela ja tinha visto. As paredes geome tricas, o padra o sime trico do cha o... Serah subia quase que em transe.

Os caminhos e escadas eram bastante complexos, mas ela na o se perdeu nenhuma vez. Como antes, as luzes pareciam indicar as direço es certas. Fosse coincide ncia ou uma espe cie de tecnologia especí fica para isso, estava ajudando-a a subir.

Ela se perguntava para que aquele lugar serviria. Todas as muitas perguntas que ela se fez ao longo de toda a vida estavam voltando. Na o parecia que era um lugar “mau”. Ela na o sentia nada de malevolente no ar.

- Mas... Estou ficando cansada. Acho que na o vou conseguir chegar ao topo. Ela ja tinha passado por muitas escadas, caminhos e salas. Sentou nos degraus por

alguns momentos e olhou para cima. Ainda na o estava nem na metade da subida. Claro, estava dentro daquelas ruí nas que pareciam tocar o ce u. Na o seria fa cil chegar ao topo.

- So mais um pouco... Ela concluiu que, ja que ia ter que voltar mesmo, podia pelo menos chegar ate o

meio do caminho. Seus pe s estavam cansados, mas ela continuou. Estava ofegando, subindo as escadas devagar, quando algo chamou sua atença o.

- Que lindo! No centro da pro xima a rea plana, havia um pilar de luz. Diferente das anteriores,

era uma luz verde, clara. - Vou descansar ali. A luz vai me ajudar a na o me perder. Quando se aproximou, ela viu que havia mais pilares de luz nas partes superiores.

Era uma luz ta o ca lida, que so de chegar perto ela ja se sentia revigorada. Essa área deve servir para descanso mesmo, pensou, recostando-se no pedestal.

De repente, houve um tremor no interior do Vestí gio. Surpresa, Serah deu um pulo. O cha o e as paredes começaram a se mover. Ela percebeu que estava sendo otimista demais com relaça o aos pilares de luz. Eles na o marcavam uma a rea de descanso, mas uma espe cie de transportador.

Preocupada, Serah olhou ao redor. Escadarias viraram corredores, degraus formaram paredes, toda a disposiça o interna do Vestí gio estava mudando. No andar de baixo, um grande cilindro caiu com um ronco. Será que é uma fonte de energia?, ela pensou.

De repente, a escadaria na frente dela desapareceu. Ela achou que ia se tornar um caminho reto como as outras, mas na o. Na o surgiu nada la . Ela virou uma parede.

- E agora, o que eu vou fazer...? Os tremores pararam e tudo ficou quieto de novo. Ela so teve um breve momento

de alí vio antes que um estranho sí mbolo vermelho aparecesse flutuando a frente dela. Era o mesmo padra o estranho que ela vira nos andares inferiores. So que ela tinha a impressa o de ja ter visto aquilo antes, antes mesmo de entrar ali. Onde eu já vi isso?, pensou.

O sí mbolo vermelho de repente emitiu uma rajada de luz brilhante. Serah cobriu o rosto. Uma estranha ta bua apareceu no ar. Na o, na o era uma ta bua, parecia mais uma plataforma flutuando sozinha.

- Isso e ... Tipo um elevador, ne ? Um bem antigo.

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Ela ja tinha visto elevadores antigos, quando visitou um dos sí tios histo ricos de Cocoon. Mas esse “elevador” era muito diferente deles.

- Acho que vou ter que subir e ver no que da . Serah pulou na plataforma. Ela nem parou para pensar que podia ser perigoso.

Como as luzes nos caminhos e escadas de antes, o elevador tambe m se acendeu. Ela estava certa, lentamente a plataforma começou a subir. Serah se sentiu satisfeita por finalmente ter uma oportunidade de chegar ao topo.

O teto estava mais pro ximo. A luz ficou ta o forte que doí a os olhos. Enfim o elevador parou. Será que cheguei ao último andar?, ponderava Serah. O ar ali parecia mais fresco que no ní vel do cha o.

- Isso sa o... Partí culas de cristal? Havia centenas de pequenas luzes cintilantes flutuando no ar fresco. Ao inve s de

simplesmente bonito, ela sentiu, em algum lugar dentro de si, que aquilo era sagrado. Endireitou as costas e caminhou entre o espeta culo de luz. São coisas assim que nos dão vontade de rezar.

As portas se abriram, como se dissessem que logo responderiam a cada pergunta dela. Serah entrou. Estava escuro. Ela começou a temer que talvez fosse um lugar onde na o devia entrar. Mas o caminho se iluminou. Na o era ta o brilhante quanto os corredores anteriores, mas tambe m na o era escuro. Deve ser o caminho certo, ela pensou.

Serah continuou em frente, e as luzes foram ficando um pouco mais fortes. Sim, é o caminho certo, ela pensou consigo mesma. Estou no caminho certo.

- Tem algue m aí ? Apesar das luzes, ela na o conseguia ver muito a frente. Havia algo ali, algo grande.

Algo vivo. E estava se movendo. Dentro dele, uma luz fria brilhou. - Um cristal?! Mas... Mas por que ? No momento seguinte, uma luz ofuscante tomou conta do lugar. Era uma luz

branca, pura, ta o forte que ela teve de cobrir os olhos. Mas uma imagem se formou na sua mente. Era grande, e horrí vel.

- O que ... O que e isso?! Ela gritou, mas nenhum som saiu. A coisa grande e horrí vel se ergueu e contorceu.

Houve um grito, mas ela na o escutou. Ou sera que escutou? Era uma mu sica. Algue m estava cantando. Que música é essa? O que significa?

Enta o ela na o conseguiu mais pensar. Tudo ficou escuro.

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(5) Lightning pensou em caminhar um pouco pelo bairro antes de ir para o trabalho,

mas, quando se deu conta, estava no shopping. Todo ano, turistas de toda parte vinham assistir ao festival de fogos de artifí cio de

Bodhum. Era uma tradiça o de tempos antigos, e havia ate algumas lendas sobre ela. A mais popular era: “Se voce rezar para os fogos, seu desejo se realizara .” So isso. Na o precisava fazer mais nada. Apenas rezar. Provavelmente por ser ta o simples, as pessoas acreditavam nisso ha de cadas, talvez ate mais tempo.

Todos te m desejos. Por mais feliz que voce seja, ha algo que o deixaria mais feliz. E por isso que na noite do festival as praças de Bodhum se enchem de muito mais gente que o normal. Com tantas pessoas reunidas, e inevita vel que acidentes aconteçam. Enta o, na noite do festival, o Regimento de Segurança de Bodhum fica de prontida o. Naquela noite, Lightning seria responsa vel pera a rea entre o shopping e a praia.

Acho que é uma boa ideia examinar a minha área de antemão, ela pensou. Posso mapear onde fica cada loja, decidir onde posicionarei meus soldados e o que devo fazer para prevenir acidentes. Por exemplo, é interessante colocar mais soldados perto dessa loja de acessórios. Ou pelo menos mandá-los ficar de olho. Qualquer loja que trabalha com joias corre um alto risco de roubo.

Ela olhou uma das vitrines e uma coisa chamou sua atença o. Um grande pingente pendurado numa corrente delicada. A pedra tinha a forma de Cocoon e algum outro objeto que ela na o conhecia. Lightning na o sabia muito sobre joias, mas parecia algo que Serah gostaria.

Caminhar pelo shopping olhando as vitrines fez Lightning se dar conta de quanto tempo fazia que na o caminhava despreocupadamente assim. Provavelmente desde a u ltima vez que foi fazer compras com Serah. E isso já faz muito tempo. Foi antes de eu entrar no exército.

De repente ela se sentiu culpada. Quando começou a trabalhar, passou a ficar mais ausente, mas pensava que, quando se acostumasse com o serviço, teria mais tempo livre e compensaria ficando com Serah. Mas um ano se passou e ela adquiriu mais funço es. Ficou ainda mais ocupada. Quando se deu conta, elas na o so na o saí am mais juntas, mas quase na o se falavam.

Quando ela entrou no exe rcito, Serah ainda estava no ensino me dio. Devia estar preocupada com o que faria depois de se formar ou com algum namorado. Todos te m esse tipo de problema nessa idade. Ela provavelmente quis pedir conselhos a Lightning. Mas na o, ela sempre estava ocupada demais.

Serah deve ter se sentido sozinha. Ela devia querer algue m para conversar... Deve ter sido por isso que se deixou levar pela conversa de um exibido como Snow. Sendo assim, ela pensou, então isso é tudo culpa minha. Se eu tivesse sido mais presente... Mesmo estando ocupada, eu podia ter arranjado tempo para ela. Por que não fiz isso? Eu jurei diante do túmulo da nossa mãe que a protegeria, mas só a fiz se sentir sozinha, ao ponto de ela chegar a se envolver com aquele homem horrível. E é tudo culpa minha...

- Ah, que gracinha! Lightning se virou ao ouvir a voz jovial. Uma ma e e um filho haviam parado na

frente de uma das gaiolas de transporte de uma loja de animais. - Voce gosta dessas coisas, ma e?

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- Ue , voce tambe m gostava. Sempre que passava na frente de uma loja, começava a chorar, dizendo: “Eu quero um! Eu quero um!”

- E quantos anos faz isso? - Poucos... Uns dez. Ma e e filho olhavam para a gaiola. Mesmo de longe, era nota vel que eles se davam

bem. O cabelo do filho era prateado, enquanto o da ma e tinha uma cor mais ardente. Apesar da diferença no cabelo, seus rostos eram parecidos. Dizem mesmo que os garotos parecem com as ma es. Pela altura, ele parecia ter cerca de quatorze ou quinze anos. A jaqueta laranja que vestia tornava ainda mais o bvia sua idade. Foi quando eu tinha essa idade que a minha mãe morreu, ela pensou, com tristeza.

- Eles fazem muito sucesso com as crianças. Sa o inteligentes e se apegam ao dono rapidamente. – disse o atendente tirando um pequeno pa ssaro da gaiola e levando ate eles. Era um filhote de chocobo. – E esta o vendendo como a gua. Nossa loja em Euride recebeu alguns anteontem e ja acabaram todos. Logo vamos ficar sem aqui tambe m.

Quando éramos crianças, eles não eram tão populares como hoje, pensou Lightning, mas algumas crianças da sua classe tinham filhotes de chocobo. Serah tinha uma amiga com quem brincava sempre que tinha um, e seus olhos sempre brilhavam quando ela falava nele.

- E enta o, o que acham de levar um? - Ah, infelizmente na o sera possí vel. Estamos aqui de fe rias. Seria muito difí cil

depois leva -lo daqui ate Palumpolum. Quando ouviu a palavra “fe rias”, Lightning teve uma ideia. Fe rias. Era perfeito. Seria uma boa maneira de compensar Serah por te -la deixado tanto sozinha. Elas

podiam viajar para algum lugar. Claro que ela na o poderia tirar fe rias muito longas, mas mesmo com apenas alguns dias era possí vel fazer uma viagem curta. Quando o festival acabasse, as coisas ficariam tranquilas de novo e ela poderia tirar uma pequena folga.

Podemos conversar sobre isso no meu aniversário, pensou Lightning. No seu aniversa rio, elas sempre jantavam juntas. E Serah dava um presente escolhido com o maior cuidado. Dessa vez ela poderia agradecer o presente dizendo que elas sairiam de fe rias. So as duas.

Na viagem, Lightning ouviria tudo que Serah quisesse falar. Para compensar por todo o tempo que elas na o conversaram. Elas se divertiriam e comeriam coisas deliciosas. Claro que quando elas voltassem, Lightning tambe m ia se esforçar mais para passar mais tempo com Serah. Ela na o ia mais deixa -la sozinha. Fazendo isso, com certeza ela abriria os olhos e perceberia que estava jogando a vida fora ficando com aquele homem horrí vel. E depois, ela iria para a universidade em E den. Se fizesse novos amigos e conhecesse novos lugares, com certeza esqueceria Snow completamente.

Lightning decidiu que era uma excelente ideia. E foi tudo graças a quela ma e e seu filho. Ela se virou para dizer obrigado, mas eles ja tinham ido embora. Ela os viu se afastando na multida o. Eles pareciam ta o felizes que Lightning ficou com um sentimento bom.

Obrigada, pensou Lightning. Espero que aproveitem bastante suas férias.

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(6) Na escurida o, ela ouviu uma voz. Disse “l’Cie”. Era uma voz que parecia que ia

desaparecer a qualquer instante. - Por que ...? Dessa vez era uma voz diferente, uma voz mais doce. - Por que escolheu algue m de Cocoon? Quem estava falando? Do que estava falando? Ela queria perguntar “quem e voce ?”,

mas percebeu que na o conseguia falar. Tambe m na o conseguia abrir os olhos ou mover os braços. Na o conseguia mover nada. Tinha a sensaça o de estar flutuando. O que está acontecendo?, ela se perguntou. Justo quando pensou nisso, a escurida o ficou mais profunda. Sem sequer pensar em resistir, ela afundou no inconsciente.

Ela sentiu um calor no rosto. Abrindo os olhos, viu o ce u azul la em cima. Na o so o

ce u, mas o exterior do Vestí gio. Como ela foi parar la fora, deitada no cha o, era um miste rio. Timidamente, tentou levantar a ma o direita. Conseguiu move -la. Enta o tentou a esquerda. Ah, que bom, ela pensou, acho que estou normal.

Ela se levantou lentamente, mas ficou um pouco tonta. Sentou por um momento, apoiando as duas ma os no cha o.

- O que aconteceu? – ela se perguntou – Eu estava andando pelo Vestí gio, e aí ... Subi algumas escadas, indo cada vez mais fundo... Enta o vi um grande cristal. E depois uma luz branca, pura. Depois disso, na o lembro de mais nada. Como se aquela luz tivesse queimado tudo. O que aconteceu? O que era aquela luz?

“Por que escolheu algue m de Cocoon?” Ela se lembrou daquela voz. Foi um sonho? Provavelmente. Ela ficou inconsciente

afinal, e na o havia nenhum sinal de humanos no Vestí gio. Mas aquela coisa estranha que viu antes de perder a conscie ncia... Na o, na o estranha. Horrí vel, repulsiva. Seu nome... Na o. Na o, era um sonho. Um pesadelo horrí vel.

Mas, se eu estou aqui, significa que devia ter alguém dentro do Vestígio. Eu estava inconsciente, então alguém deve ter me carregado até aqui. Ela procurou na sua memo ria.

Tinha outra coisa que ela ouviu. Sim, “l’Cie”. l’Cie? Aqueles l’Cie? Serah balançou a cabeça em negativa. Os l’Cies na o passavam de uma histo ria antiga. Eram parte de lendas e contos de fada.

Sua cabeça estava latejando. Quando caiu, ela provavelmente bateu em alguma coisa. Se perguntou se teria se machucado em mais algum lugar. Movimentou as pernas, mas nada doeu. Levantou a cabeça, mas na o ficou tonta de novo. Se apoiando na parede das ruí nas, se levantou. Suas pernas tremeram um pouco, mas ela na o perdeu o equilí brio.

Na o estava machucada. Serah deixou escapar um suspiro de alí vio. Enta o seus olhos recaí ram sobre a mancha negra sobre seu braço esquerdo.

- O que ? O que e isso? Havia um sí mbolo negro no seu antebraço. Era elaborado demais para ter sido

feito por brincadeira, mas era diferente da tatuagem que Lebreau tinha no ombro. - Tomara que saia com a gua. Se na o sair... O que eu vou fazer? Ela o tocou com a ponta dos dedos, e foi enta o que se deu conta. Ela ja tinha visto

esse padra o antes. Era um padra o complexo feito de muitas setas. O padra o no seu braço

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na o era exatamente igual, mas bastante parecido. Sim, ela ja tinha visto aquilo va rias vezes dentro do Vestí gio, o mesmo sí mbolo que estava naquela luz vermelha.

- Ah! – exclamou Serah instintivamente. Ela acabara de se lembrar. Quando viu o padra o pela primeira vez no Vestí gio, tambe m pensou que ja o tinha visto antes. Sim, definitivamente ja tinha visto antes. Ha muito tempo, num livro que pegou na biblioteca.

Muito tempo atra s, quando inimigos foram enviados de Pulse para atacar Cocoon, os fal’Cies transformaram humanos em l’Cies, tornando-os seus servos e concedendo poderes especiais em troca. Os l’Cies lutaram para proteger Cocoon. Estava escrito nos registros da Guerra da Transgressa o.

Os fal’Cies de Pulse tambe m criaram l’Cies a partir dos ba rbaros e os enviaram para Cocoon. Foi nessa pa gina que ela viu o padra o, o mesmo padra o que agora estava no seu braço. A legenda dizia: “Marca dos l’Cies de Pulse (Reproduça o)”.

- Eu sou uma l’Cie? Uma l’Cie de Pulse. - Na o... Na o, isso na o pode ser. So podia ser uma brincadeira de mau gosto. Uma brincadeira daquela pessoa cuja

voz ela ouviu no Vestí gio. “Por que escolheu algue m de Cocoon?” Seu coraça o acelerou. Aquelas palavras. Era como se dissesse que normalmente

algue m de Cocoon na o seria escolhido. E isso significa que devia haver pessoas de fora de Cocoon ali.

- De Pulse...? E claro. O Vestí gio veio de Pulse. O que aquela voz quis dizer era: “Por que escolheu

algue m de Cocoon se tinha algue m de Pulse a disposiça o?” A voz na o estranhou o ato de escolher em si, apenas o alvo. O que significava que aquela voz sabia que l’Cies eram escolhidos naquele lugar. E quem escolhe um l’Cie e um fal’Cie.

Enta o... - Tem um fal’Cie de Pulse dentro do Vestí gio? Agora tudo fazia sentido. As partí culas de cristal no ar, o grande cristal que ela viu

antes de perder a conscie ncia... Se havia um fal’Cie la , tudo fazia sentido. Serah viu o fal’Cie, que a transformou numa l’Cie. Uma l’Cie de Pulse, destinada a trazer o desastre a todos de Cocoon.

Os l’Cies escolhidos pelos fal’Cies de Cocoon eram “servos sagrados”, mas os de Pulse eram “peo es do diabo” e inimigos de Cocoon.

- Eu sou isso? Na o... Na o, so pode ser mentira. Na o pode ser... Serah esfregou a marca negra no braço ate doer. Na o saiu. - Isso e so uma brincadeira horrí vel! Ela esfregou o braço com mais força. E mais. Enta o se assustou. A marca negra

estava mudando. Na o estava saindo, mas a cor e a forma mudaram. - Na o pode ser... Na o era so algo rabiscado no seu braço. Fazia parte dele. - Na o, na o, na o, eu na o quero isso! Ela caiu de joelhos. Não, isso não pode ser. É só algum engano bobo. Ela tentou se

convencer disso, mas toda vez que via a marca no braço, perdia a esperança. Ela na o podia negar o que sabia. Teria sido mais fa cil se na o soubesse de nada.

- Snow... Lightning... Estou com medo. Na o estava frio, mas seus ombros tremeram. As la grimas escorreram pelo rosto.

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- Me ajude, Snow... Ela so chorou por um momento. Snow vai voltar logo, ela pensou. Não quero que

ele me veja assim. Com essa marca horrível. Agora que sou um perigo para Cocoon. Ela acalmou as pernas tre mulas e se levantou. Preciso sair daqui, e agora. Antes que o Snow volte. Era o u nico pensamento que a fazia continuar.

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(7) Onde Serah gostaria de ir?, Lightning se perguntava. A simples ideia a fazia sorrir. Caminhando pelo shopping, os passos de Lightning

pareciam mais leves que o normal. Foi a primeira vez que ela entrou numa age ncia de viagens, mas os funciona rios foram gentis e atenciosos. Havia muitos lugares que elas podiam ir, mesmo num perí odo curto de fe rias, eles disseram. Eles ate enviaram uma lista de sugesto es por e-mail. Agora elas poderiam olhar com calma no dia do aniversa rio e fazer planos. Seria a primeira viagem delas. Com certeza Serah ficaria feliz.

Pensar no sorriso de Serah fazia seu coraça o ficar alegre e quente. Meu tesouro, pensou Lightning. Eu faria qualquer coisa por ela. Me desculpe, Serah, por ter sido tão ausente. Mas eu não vou mais te causar sofrimento. Não usarei mais meu trabalho como desculpa. Eu prometo.

Ela sentiu que estivera fugindo desde a morte da sua ma e. Eu não preciso fugir, devo parar e viver a minha vida. Por Serah e por mim mesma.

Na multida o, ela viu duas pessoas vestidas de jeitos estranhos. Uma era uma mulher de cabelos negros cujas roupas lembravam as do homem espalhafatoso e da mulher seminua que ela vira ontem. Parece que estou destinada a encontrar esse tipo de gente ultimamente, pensou Lightning. Mas, ao contra rio da mulher de antes, essa parecia ter uma aura indoma vel ao seu redor. Talvez fosse o desenho da sua roupa azul que causasse essa impressa o. Provavelmente era algo “da u ltima moda” ou alguma coisa idiota do tipo. A mulher com ela usava o mesmo tipo de roupa. Devia ser ate da mesma marca. Talvez fossem turistas de E den.

- Eu na o entendo nada de moda. – disse Lightning, suspirando. - Na o entende o que ? – uma voz familiar interrompeu a divagaça o. Era o Tenente

Amodar. Lightning fez uma leve mesura e apontou para as duas mulheres que observava. - As roupas que aquelas duas esta o usando... Elas na o estavam mais la . Talvez tivessem entrado em alguma loja. - Duas...? - Deixa pra la . So estava pensando em como na o entendo nada de moda. –

Incluindo aqueles dois que vi ontem, adicionou em pensamento. Realmente não sou capaz de entender.

- Bom, voce talvez na o, mas e quanto a sua irma zinha? Ela se interessa, ahn... Pela “u ltima moda”?

- Se ela dissesse que queria usar esse tipo de roupa... Eu não permitiria, ela ia dizer. Mas parou. Amodar so estava mexendo com ela de

novo. Lightning riu forçadamente, para na o deixar o Tenente sem graça. - E muito estranho te ver no shopping logo antes do trabalho, Sargento. Fazendo

umas comprinhas, talvez? Pra entrar na moda? - Vamos parar de falar nisso, por favor. – ela falou ta o rispidamente que Amodar

fez um gesto com as ma os para pedir desculpas – Estou examinando o lugar, ja que esta sera a minha a rea de patrulha durante o festival. Vamos precisar fazer muitas mudanças no shopping.

- Fico feliz que voce se esforce tanto, mas na o acha que devia esperar ate o dia do festival para fazer isso?

- Ora, enta o por que o senhor esta aqui, Tenente? – ela decidiu provoca -lo tambe m. Ja sabia o motivo. Eles se conheciam ha muito tempo.

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- Bem, o mesmo que voce . - Enta o acho que na o sobrou nada para voce fazer. - Um cara velho como eu a s vezes fica meio esquecido. Ate o dia do festival, posso

ja ter esquecido de tudo. Eles se entreolharam e riram. - Espero que corra tudo bem no festival esse ano. Em oito dias, o ce u acima de Bodhum seria tomado de fogos de artifí cio. Seria a

noite em que as pessoas que queriam realizar seus sonhos se reuniriam. O dia seguinte seria o vige simo primeiro aniversa rio de Lightning. Seria a primeira vez em muito tempo que ela poderia conversar bastante com Serah. Seu coraça o ja pulava de ansiedade.

- Opa, na o podemos ficar parados aqui o dia todo. Esta na hora. Vamos. Lightning endireitou as roupas e olhou para frente. Era hora de trabalhar. Hora de

se tornar uma soldada. - Entendido, Tenente. O sol da tarde estava radiante. Os dois caminharam rapidamente entre os clientes

despreocupados. Ela ouviu pessoas falando de coisas bobas e rindo alegremente. A Cidade Costeira de Bodhum era cheia de momentos assim. Lightning pensou no quanto queria ter um deles com Serah.

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Estranho

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(1) Vanille na o sabe por quanto tempo dormiu. Ela sonhou muitas coisas, e chorou

muitas vezes. Mas na o conseguia se lembrar de nada direito, tudo vinha embaçado ou em pedaços. Eram assim os seus sonhos. “Vanille”, ela ouviu, ou pensou ter ouvido, e abriu os olhos.

- Fang? Ela so imaginou que ouviu o pro prio nome? Ou aquilo fora um sonho tambe m?

Fang, que ate enta o dormia ao seu lado, na o estava em lugar algum. - Fang... Onde voce esta ? – Vanille se levantou e olhou ao redor, procurando. Sentiu

uma impote ncia esmagadora. A cada dia era pior. Caminhou pelo corredor chamando o nome de Fang. Na o havia necessidade de gritar, o lugar era amplo e mesmo o menor som ecoava bastante. Desta vez, ela teve certeza de que ouviu a voz de Fang vinda la de baixo. Vanille desceu as escadas correndo e pulou no elevador. Ela sabia onde Fang estava agora, e podia ir direto ate ela.

Ela sentiu o vento na bochecha. Um ar gelado soprava pela entrada, e podia-se ver que la fora ainda estava escuro.

- O que foi? – perguntou Fang antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. - Nada. – disse Vanille. Ela queria perguntar o mesmo a Fang, saber o que ela

estava fazendo. Mas na o perguntou. Ao inve s disso, apenas se sentou em sile ncio ao seu lado. Daqui era possí vel ver o mar e o ce u. Mas na o o horizonte.

- Que ce u estranho. – disse Fang, olhando para cima. Ainda estava escuro. Ela fez a mesma coisa no dia em que elas acordaram ali pela primeira vez. As duas foram ate la fora e Fang olhou para o ce u – Quando olho para ele, perco a respiraça o. Porque, como e possí vel? Por que na o vejo uma cidade la em cima?

Cocoon era um mundo na forma de uma bola. Dentro da bola havia cidades, mares, florestas... E o “ce u” era apenas o espaço entre eles. Era um ce u muito diferente daquele que elas conheciam.

- E na o e so o ce u, o mar tambe m e estranho. Na o tem cheiro de sal. - Tem um pouco, mas so da para sentir bem de perto. - Ate isso e estranho. Aqui eu achei que poderia beber, mas... A a gua e salgada. - No s achamos que era um lago no iní cio, lembra? - Tudo e estranho aqui. Na o consigo compreender. – suspirou Fang. - E como um sonho, daqueles em que nada faz sentido. - E ... Fico surpresa por essa gente realmente viver aqui. - Eu queria que fosse um sonho... – sim, seria ta o bom se fosse um sonho. Ontem,

anteontem e o dia em que elas acordaram. Se tudo fosse apenas um sonho, pensou Vanille. Queria que tivéssemos acordado hoje... Seria ta o bom se a realidade tivesse começado naquele momento. Claro que era idiotice pensar isso, claro que ela so estava sendo inge nua. Mas talvez, apenas talvez, se isso tivesse acontecido, quem sabe as coisas fossem diferentes?

- Daria no mesmo. Cumprirí amos nosso Foco e voltarí amos para Gran Pulse. O que mais poderí amos fazer?

- Sim... Tem raza o... – Vanille sorriu e fez que sim com a cabeça. Mas na o conseguia deixar de pensar que, talvez, se elas na o tivessem acordado, as coisas poderiam ser diferentes. Que se uma u nica circunsta ncia fosse outra, talvez na o houvesse tanta dor.

- Ei, na o se preocupe. Nenhum Foco pode ser cumprido em tre s dias.

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Fang devia achar que ela estava triste porque era o quarto dia desde que acordaram e ainda na o tinham feito nada de concreto para cumprir o Foco. Mas na o era isso. Quando Vanille pensava nesses tre s dias desde que acordaram, ficava tonta e com dor de cabeça. Era nessas horas que ela mais sentia que nunca deviam ter acordado. Se tivessem continuado a dormir, nada teria acontecido e ningue m teria sido envolvido.

Vanille levantou a ma o para o ce u que começava a clarear. No dia em que elas acordaram, ela esteve li com Fang, olhando para o ce u. Um pouco ao longe era possí vel ver uma cidade. Uma cidade de cores muito estranhas. Eram as cores do começo.

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(2) Elas precisavam de tempo. Tempo para entender onde estavam e qual a situaça o

em ma os. Depois que acordou, Fang ainda se sentia um pouco entre sonhos e realidade. Vanille tambe m estava confusa, e na o dizia nada muito coerente. Mas enfim conseguiram desfazer a neblina que cercava suas mentes.

Olhando ao redor, elas viram que estavam no templo. Era a ca mara dos l’Cies, onde aqueles que viraram cristal eram enclausurados. Foi enta o que elas se deram conta do que tinha acontecido. Elas cumpriram seu Foco e receberam o descanso eterno. Mas agora um novo Foco surgira, e elas despertaram novamente. Ate aí era fa cil de deduzir. Mas...

- Ei, o que aconteceu antes da gente virar cristal? – perguntou Fang. - Voce na o lembra? - Na o... Minha cabeça esta toda bagunçada. Sinto que esta faltando algo importante.

– a voz de Fang estava tre mula. Ela olhava para a marca de l’Cie no seu braço, que estava manchada com um branco ví vido. Foi so depois que Vanille percebeu que Fang tentava sorrir – Estou sem rumo...

Fang estava a beira das la grimas. Essa era uma Fang que Vanille jamais vira. Ela estendeu os braços, envolvendo-a num abraço. – Eu tambe m. – murmurou, mas sua voz era como a de um estranho. Quando finalmente se acalmaram, se levantaram e Vanille sorriu.

- Por que na o vamos para casa? Um Foco ja tinha sido cumprido, com certeza elas seriam recebidas de volta de

braços abertos, na o? Seu novo Foco podia ser cumprido depois... Mesmo que elas na o soubessem do que se tratava.

- E se todo mundo ja estiver velho e gaga ? – Fang disse e sorriu. Era um sorriso de verdade desta vez.

- Voce acha? Mas talvez tenha se passado pouco tempo e ele digam: “Nossa, voce s ja voltaram?”

- Quantos anos sera que se passaram? - Talvez sejam apenas dias. - Enta o estariam sendo muito duros com a gente. Poxa, nos deixem descansar pelo

menos um pouco! – brincando juntas, elas seguiram para o lado de fora, esperando ver o seu antigo lar.

- Mas... Isso na o pode ser! Era noite. Mas havia tantas luzes que elas podiam ver os pre dios que compunham

a cidade a sua volta. Havia luzes em cada cantinho, e um mar refletindo tudo de volta para elas. Era um mar estranho, sem horizonte. Olhando para cima, elas viram um ce u ainda mais estranho. A princí pio, acharam que era um ce u com muitas estrelas, mas enta o perceberam que na o eram estrelas, e sim as luzes de uma cidade distante. Algo assim podia mesmo ser chamado de ce u?

- Onde...? - Na o estamos em Gran Pulse. – disse Fang. Vanille fechou os olhos por um momento. Vou olhar só mais uma vez, ela pensou.

Talvez esteja diferente. Quando abriu os olhos de novo, nada havia mudado. Elas olharam para o mar e para o ce u, mas na o falaram nada. Na o havia nada para

se dizer. Em sile ncio, voltaram para o templo. Estavam com fome. Cocoon, e elas sabiam

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que era Cocoon, na o era lugar para elas vagarem sem rumo, com fome e desarmadas. As pessoas sempre levavam oferendas para o lugar onde os l’Cies eram enclausurados. Ali os alimentos na o apodreciam mesmo que ficassem muito tempo sem cuidado. As armas e equipamentos que elas usaram no passado tambe m estavam la . Vanille sempre ouviu que as oferendas eram feitas para que os l’Cies cristalizados pudessem dormir bem, mas provavelmente era para o caso de eles acordarem de novo.

- Mas que droga e essa? A comida que fora deixada no altar estava ta o podre que ningue m conseguiria

comer. Elas procuraram alguma coisa comestí vel no resto do templo, mas foi perda de tempo. Alimentos so eram deixados na ca mara dos l’Cies.

- Algue m esta pregando uma peça na gente? - Impossí vel... Mas e muito estranho... As oferendas deviam se manter por pelo menos dez anos. Tanto Fang quanto

Vanille sabiam muito bem disso. A tradiça o era levar novos alimentos para o templo a cada dez anos. Havia um festival e todos dividiam a comida, para compartilhar a alegria do festival com os l’Cies adormecidos.

A comida na o era algo que uma criança acharia delicioso, mas era comestí vel. A que estava diante delas, por outro lado, tinha apare ncia e cheiro horrí veis, sem falar no gosto. Era perigoso comer.

- Na o e so a comida. Olhe aquilo. – disse Vanille. Havia trajes de festival jogados num canto, ao lado de um bau . Ambos estavam deteriorados, pareciam envelhecidos.

- Isto tambe m... – Fang pegou sua lança favorita e torceu a ponta. Vanille na o sabia qual era o problema nela exatamente, mas na o parecia mais ta o imponente.

- Parece que tudo foi exposto ao vento la de fora. O ar dentro do templo estava parado. Isso na o devia ter acontecido. E na o so com

a comida; o metal e o tecido na o deviam ter se deteriorado ta o facilmente. - Enta o as u nicas coisas aqui que na o mudaram fomos no s, que e ramos cristais. –

disse Fang. Por quantos anos elas dormiram afinal? Pela apare ncia das coisas, na o foram dez anos, e sim centenas.

- Esqueça a ideia de todos estarem velhos. A essa altura, ja esta o mortos. - Na o... – Vanille olhou para baixo, mordendo o la bio, tentando se controlar. - Na o fique assim. – disse Fang, fazendo um carinho nela e se levantando – Antes

de mais nada, precisamos comer. - Mas na o podemos comer isso... – Vanille olhou para as oferendas. A comida podre,

os trajes de festival carcomidos. Ela adorava usa -los nas festividades... - Havia um mar la fora, certo? E tambe m uma floresta. Era um pouco longe, mas...

Vamos encontrar comida. Vai dar certo. – Fang pegou sua lança e sorriu. Que estranho, pensou Vanille. Quando a Fang diz “vai dar certo”, eu acho mesmo que vai.

- Tem raza o. – Vanille pegou sua pro pria arma e se levantou.

Ja era madrugada, a hora perfeita para caçar no territo rio inimigo. Ao contra rio

do dia, na o haveria muitas pessoas perambulando, mas ainda havia luz o bastante para se enxergar. Primeiro elas tentaram o mar. Na floresta, correriam o risco de se perderem, e, de todo modo, era mais perto do templo. Talvez na o encontrassem nada a tempo para o desjejum, mas pelo menos poderiam almoçar, ou era o que pensavam...

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- Parece que vamos ter um cafe da manha afinal! – Vanille olhava empolgada para o peixe balançando nos seus braços. Na o era estranho Fang conseguir pegar um peixe com a ponta da sua lança, mas era quase ine dito Vanille fazer isso sem dificuldade.

- Esses peixes te m problema de cabeça? Parecia que esses peixes na o tinham predadores, enta o na o percebiam o perigo

se aproximando. Quando Fang ou Vanille chegavam perto, eles tentavam fugir. Mas se moviam muito devagar.

- Sera que podemos mesmo comer isso? Animais que eram fa ceis demais de se pegar podiam ser venosos, ter gosto ruim,

ou mesmo na o serem comestí veis de fato. As duas começaram a pensar que talvez esses peixes na o fossem servir para nada afinal.

- Puxa, voce s sa o boas mesmo nisso. – uma voz se dirigiu a elas da praia. As duas endureceram, instantaneamente se arrependendo da falta de cuidado, e se viraram. Mas o que encontraram foi um casal de idosos, sorrindo e batendo palmas.

- Que diferente ver pessoas pegando peixes em Bodhum assim. - Nem esta o usando isca. Mas agora eu entendi, e melhor usar um arpa o que uma

rede de pesca. Eles na o chegaram a dizer o nome do peixe, mas parecia que era uma espe cie que

servia como alimento em Cocoon. - Ah, nos desculpem, acho que estamos atrapalhando. - Na o querí amos ser grosseiros... – eles pareceram tristes por um momento, mas

rapidamente voltaram a sorrir e continuaram a caminhada pela praia de ma os dadas. - O que... foi isso? – Fang esperou o casal ficar bem longe antes de falar. - Eles eram de Cocoon... Certo? – elas achavam que, se fossem encontradas, seriam

atacadas imediatamente, sem a menor cerimo nia. Este era, afinal, “O Ninho do Diabo no Ce u”. As roupas que aquele casal usava eram muito diferentes de qualquer coisa vista em Gran Pulse. Se aqueles eram os trajes de Cocoon, elas deviam ser reconhecidas como o inimigo num instante.

- Mas eles na o pareceram hostis. - Sera que so sa o burros, como os peixes? Bom, eram velhos, afinal. Talvez ja na o

estejam mais raciocinando direito. - Pode ser... – disse Vanille. Mas pensou em outra possibilidade – Talvez queiram

nos pegar desprevenidas. - Quer dizer que so se fizeram de bobos para poder chamar os amigos? Ah, sim,

isso faz sentido. - Enta o talvez seja perigoso voltar agora. - E , acho melhor examinarmos a a rea primeiro. Elas saí ram do mar e caminharam de volta na direça o do tempo. Era melhor reunir

informaça o que tentar se esconder. Se ficassem cara a cara com o inimigo uma segunda vez, so precisavam lutar. Na o era como se estivessem desarmadas. Elas eram fortes o bastante para se virarem mesmo que fossem atacadas pelas costas.

Mas, no fim, todo esse raciocí nio foi inu til. Na o que na o conseguissem revidar, mas o inimigo nunca atacou. Elas viram as pessoas e observaram de longe. Mas estavam desarmadas e na o demonstravam o menor sinal de hostilidade, enta o na o havia motivo para elas começarem alguma coisa. Elas na o queriam atiçar o inimigo, enta o so ficaram observando. Esperavam ser atacadas a qualquer momento, mantendo sempre posiça o de alerta. Estavam preparadas.

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- Qual o problema dessa gente? – murmurou Fang, vendo aquelas pessoas darem as costas para elas sem a menor preocupaça o, apesar de estarem desarmadas. Vanille concordava. Era estranho demais.

- Talvez eles na o saibam que somos o inimigo? - Mesmo estando armadas? Voce so pode estar brincando. Mas talvez seja por isso que não perceberam que somos o inimigo, pensou Vanille.

Senão aquele primeiro casal de idosos que encontramos e aquele grupo de garotos que acabou de passar nunca teriam nos ignorado assim.

Um repentino bater de asas interrompeu seus pensamentos. Fang sacou sua lança das costas e entrou em posiça o de combate. Criaturas aladas na o davam chance, suas u nicas opço es eram lutar ou fugir. Pelo som, na o parecia que era uma criatura grande, enta o a melhor opça o era lutar. Vanille sacou sua arma e correu para o lado dela.

- Ha ? As duas estavam perplexas. - Como...? O pa ssaro branco foi derrotado com um u nico golpe. E era muito maior que todos

os peixes que elas tinham encontrado. - Como um monstro pa ssaro pode ser ta o fraco? Um pa ssaro daquele tamanho devia ser carní voro, e dos fortes, na o uma criatura

ta o fa cil de se sobrepujar. - Sera que so come frutas e nozes? As garras e o bico nem sa o afiados. – depois de

verificar com cuidado para ter certeza de que estava morto, Vanille o pegou pelas pernas. - Mas como um bicho desses sobrevive? Se estive ssemos em Gran Pulse, ele nem

teria saí do do ninho. - E , la embaixo, ele viraria comida em questa o de minutos. - Bom, pelo menos parece que temos comida fa cil. Legumes tambe m eram abundantes. Mais para frente no caminho havia uma

plantaça o, mas sem nenhuma cerca ou muro para manter os pa ssaros e bestas fora. Era como se estivessem dizendo que elas podiam pegar tudo que quisessem.

E assim, sua primeira refeiça o no territo rio inimigo foi mais luxuosa do que elas jamais imaginaram. Na o conseguiram nenhum tempero para refinar o sabor, mas aí ja era pedir demais.

Como na o podiam fazer uma fogueira dentro do templo, cozinharam o peixe e a carne do lado de fora. Usaram os trajes cerimoniais para alimentar o fogo.

- Os sacerdotes morreriam se vissem isso. - Acha que vamos ter problemas? - Esta tudo bem, e uma emerge ncia. - E , acho que sim. No momento, nossa sobrevive ncia e mais importante. Hm, isso

parece gostoso. – as duas morderam a carne rece m-cozida. - Ugh! - Que coisa e essa? Elas olharam para a carne que acabaram de morder. Na o que na o fosse comestí vel,

na verdade nem tinha um gosto realmente ruim. So que praticamente nem tinha gosto. A carne era aguada, viscosa. Era um gosto muito estranho, enta o elas experimentaram o peixe e os legumes. Mas o gosto era o mesmo.

- Isso e bizarro ate para criaturas selvagens...

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Animais diferentes tinham gostos diferentes, enta o talvez elas so tivessem dado azar. E os selvagens dificilmente eram ta o saborosos quanto os criados especificamente para servir como alimento. Mas, por outro lado...

- Mas no s encontramos os legumes numa plantaça o, na o foi? Vanille fez que sim. A princí pio, ela achou mesmo que na o devia ser coisa boa, ja

que na o tinha nenhuma proteça o nem nada. Mas estava bem cuidado e regado. Na o havia du vida de que era uma plantaça o de verdade.

- Como as pessoas de Cocoon comem essa porcaria? – rosnou Fang, mas continuou a comer a carne assim mesmo. Vanille seguiu seu exemplo, e abocanhou um legume. Pelo menos na o pareciam venenosos.

Quando terminaram de comer, elas enterraram os restos da fogueira e voltaram para dentro do templo. Aquele lugar era cada vez mais estranho. Peixes que se moviam devagar, pa ssaros idiotas e pessoas que podiam ver que elas eram claramente diferentes, mas na o suspeitavam de nada. Era muito difí cil de aceitar, mesmo sob a desculpa de que era um mundo diferente.

- Ei, quer ir ver a cidade amanha ? - Ja ? - Na o vamos ganhar nada ficando paradas aqui. Era verdade, elas precisavam conseguir mais informaço es. Ha quanto tempo elas

estavam em Cocoon? Por que o templo fora levado para la ? Havia tantas perguntas. - Cedo ou tarde, vamos ter de acabar com eles, mesmo. - Por que ?! - O nosso Foco... – disse Fang, tocando a marca manchada de branco no seu braço

– Talvez eu consiga lembrar de alguma coisa se entrarmos em batalha com o inimigo. O que Fang faria quando se lembrasse? Na o, so havia uma coisa a fazer. Lutar. - Na o precisamos ter pressa. Acabamos de acordar. - Ja e o segundo dia. Amanha sera o terceiro. - E , mas... - Esta com medo? – Fang lançou um olhar doce e abraçou Vanille para acalma -la –

Fique tranquila, voce viu aquela gente hoje. No s duas somos mais fortes que todos eles juntos.

Não, eu não posso contar pra Fang ainda, pensou Vanille. Ainda não. - Na o tenho medo. Tenho voce comigo. – As coisas que eu quero afastar dos meus

pensamentos, posso fazer com que não sejam mais reais? Posso fazer com que nunca tenham acontecido? Essa ideia era cada vez mais forte dentro de Vanille. Quando pensava nisso, seu coraça o parecia mais leve que o ar.

- Esta tudo bem, vamos. Vai dar tudo certo, tenho certeza. – Vanille abriu um sorriso radiante. Tudo que ela precisava pensar era no amanha . Tudo ia dar certo amanha , nada mais importava.

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(3) - O que e ... Tudo isso? - Sera que... E um festival? Estar cercadas pelo povo de Cocoon na o era mais ta o surpreendente quanto no

começo. Quando grupos de pessoas passavam, elas na o ficavam tensas como antes. Havia muita gente no caminho do templo ate onde elas estavam agora, mas ningue m tentou atacar, nem sequer olhou estranho para Fang ou Vanille.

Caminhando ao longo da praia, elas viram garotas com roupas parecidas com as delas nadando na a gua. Foi um alí vio. Aparentemente as pessoas daqui as confundiram com o seu pro prio povo. Agora seria fa cil andar entre eles sem preocupaça o.

Havia tantas pessoas. Muito mais do que elas jamais imaginaram ver num lugar so . Especialmente com espaços ta o estreitos e apertados entre os pre dios. Vanille e Fang estavam imo veis no meio da multida o, de queixo caí do vendo aquela cena.

- Vamos logo. – disse Fang, soltando a ma o de Vanille e começando a andar. A outra a seguiu. Elas ja estavam ha muito tempo paradas no meio do caminho, e as pessoas começavam a olhar de cara feia.

Seguindo o movimento da multida o, elas perceberam que todas aquelas pessoas estavam fazendo compras. Olhando melhor, viram que todos os pre dios dos dois lados da rua eram lojas.

- Tudo isso sa o lojas? Quantas havia? Mais do que Vanille vira na vida toda. Havia ate va rias lojas que se

especializavam em roupas, todas fervendo com uma variedade de cores e modelos. Na o era de se surpreender que ningue m achasse os trajes delas estranhos, com tamanha abunda ncia de estilos a disposiça o.

Havia muitas lojas diferentes. Vanille viu uma que tinha acesso rios, outra com coisas que pareciam papel e canetas, uma de mo veis mais para o final da rua, e na frente dessa ate uma com grandes objetos que ela deduziu que eram veí culos, todos alinhados do lado de fora.

Entre as pessoas, ela viu uma garota analisando atentamente as peças de roupa. Perto dela, um menino pequeno fazia pirraça com os pais, talvez tentando convence -los a comprar alguma coisa. Um casal alegre saí a da loja de joias. Tudo parecia ta o tranquilo e feliz.

- Estou me sentindo tonta... – Vanille estava cansada, apesar de na o ter andado muito. Tentar absorver tudo que havia nos dois lados da rua estava sendo cansativo para ela.

“Ei, Fang...” Ela quase disse, mas parou. Fang estava com uma cara se ria. – Ladro es. – murmurou.

Vanille segurou a ma o de Fang antes que ela pudesse agir. Ela entendia o que Fang estava sentindo, entendia melhor que ningue m. E sentia o mesmo. Mas no momento elas estavam no meio do territo rio inimigo, e so carregavam armas pequenas, escondidas no meio da roupa.

- Fang, voce na o pode... - Eu sei. Eu sei, mas... – ela apertava os punhos tentando se segurar – Tudo isso foi

roubado de no s. E mesmo assim eles... Todo mundo sabia que Cocoon era um ninho de demo nios. Os fal’Cies de Cocoon

iam a Gran Pulse para roubar seus recursos naturais. Uma vez ate levaram uma cidade

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inteira. Eles roubavam as terras das fazendas pouco antes da colheita, e rasgavam a pro pria terra para usar em seu benefí cio. Era por isso que elas sempre consideraram as pessoas de Cocoon suas inimigas.

Mas, depois de ver aquele casal de idosos ontem e todas as pessoas que passaram por elas, ela começou a achar isso estranho. E hoje, vendo pessoas fazendo compras, mais du vidas surgiram na sua mente. Essas pessoas realmente queriam destruir Gran Pulse e tirar tudo delas?

Vanille começou a pensar, pelo que viu, que eles na o eram ta o diferentes do seu pro prio povo. Suas roupas eram diferentes, suas casas eram diferentes, o gosto dos seus legumes e carnes eram diferentes, mas talvez por dentro fossem iguais.

- Hoje so estamos reunindo informaço es. Certo? – ela cochichou no ouvido de Fang. Na o queria que ela fizesse nada irracional.

- Certo. – Fang disse entredentes. Vanille abriu a boca para dizer alguma coisa, mas ouviu uma voz se dirigir a elas.

- Ei, mocinhas, esta o sozinhas? Fazendo compras? Parece que voce s na o sa o daqui. Fang ficou dura ao ouvir a voz. Se virando, elas viram dois homens, que sorriam.

Vanille os olhou cuidadosamente. Seus rostos eram simpa ticos e amiga veis, mas esses dois eram muito diferentes do casal de idosos que elas encontraram no dia anterior. Com certeza desta vez eles estavam tentando pega -las desprevenidas para atacar.

- Na o esta o com medo de no s, ne ? - Na o se preocupem, na o somos sacanas. O olhar nos rostos deles e sua linguagem corporal denunciavam a mentira por tra s

das suas palavras. Eles deviam estar planejando alguma coisa. Vanille deu um passo para tra s, e Fang levou a ma o a arma que escondia na cintura.

- Ei, querem beber alguma coisa? Ou talvez comer? Ao ouvir a palavra “comer”, Fang e Vanille se entreolharam. Eles na o podiam ser

inimigos se estavam oferecendo um lugar para elas a mesa, se dispondo a compartilhar sua comida e bebida.

- E se rio? Voce s comeriam conosco? – Vanille nunca pensou que um inimigo diria uma coisa dessas.

- Tem um restaurante muito bom aqui perto. Venham, no s mostramos pra voce s. - E melhor ir agora que esta cedo, porque mais tarde la fica lotado. Vanille olhou para Fang. Ela parecia perdida, e ainda estava em guarda, pronta

para sacar sua arma a qualquer momento. Vanille fez um gesto discreto com a cabeça para dizer a Fang para esperar um pouco.

- Tudo bem enta o. Vamos comer. – Fang saiu da sua posiça o de guarda e fez que sim para os dois homens. Eles sorriram. Eram sorrisos verdadeiros dessa vez, na o falsos como os de antes. Vanille pensou que talvez so estivesse imaginando que eles escondiam alguma coisa.

Fang resmungou, como sempre, mas na o podia recusar. Se negar a sentar a mesa com algue m era o mesmo que declarar guerra. Era perigoso demais começar uma guerra contra tantas pessoas, e, se ela fizesse isso, talvez nunca achasse um jeito de recuperar sua memo ria.

Enta o elas seguiram os dois homens, sem falar nada durante todo o caminho, ate que chegaram a um restaurante absolutamente abarrotado de gente.

- E aí , o que va o querer comer? – perguntou um dos homens quando se sentaram a mesa. Que estranho, pensou Vanille. Se foram eles que convidaram, por que perguntam

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o que queremos? Temos que comer o que eles oferecerem. É assim que funciona. - O carda pio esta ali. – o outro sorriu e apontou para a parede. Vanille ficou ainda

mais confusa. O que eles queriam que elas fizessem afinal? - Ahn... O que estava escrito la , quer dizer, os sí mbolos na parede eram a escrita de Cocoon.

Provavelmente explicava tudo que elas tinham que fazer. Mas, infelizmente, nem Vanille nem Fang conseguiam ler.

Vanille fez um movimento com os olhos, tentando perguntar a Fang o que deviam fazer. Fang fez que sim e levou a ma o a sua arma.

- Isso na o! – gritou Vanille, segurando a ma o dela antes que fosse tarde demais. Os dois homens se voltaram para elas com olhares questionadores.

- Ahn... Na o foi nada. De verdade, na o foi nada. Na o se preocupem, e que... – ela forçou os mu sculos da boca a abrir um sorriso. Felizmente, pareceu engana -los.

- Se esta o em du vida, que tal o especial da casa? - Tudo bem! Pode ser assim! – concordou Vanille. Qualquer coisa que as tirasse

daquela situaça o sem que parecessem estranhas demais. Um deles fez o pedido, e Vanille exalou um suspiro de alí vio.

- Enta o, de onde voce s sa o? De um problema direto para outro. Essa na o era uma pergunta fa cil de responder.

Ela precisaria sorrir e engana -los de novo. - Bem... Longe... - Longe? - E , muito longe... – para evitar que eles perguntassem o nome da cidade, Vanille

decidiu tomar as re deas da conversa primeiro – E voce s, sa o de onde? - Somos de E den. Estudamos na universidade de la . - E den...? Universidade...? - Isso, a Universidade de E den. Parecia que repetir a pergunta era a coisa errada a se fazer. Vanille cochichou no

ouvido de Fang: - Ja ouviu falar disso? - Claro que na o. - E agora...? Fang colocou um dedo na testa, pensativa. Enta o seu rosto se iluminou: - “Universidade” so pode ser o nome da cidade... Enta o talvez E den seja o nome da

montanha ou vale onde ela fica? Vanille se levantou de um salto. E claro! So podia ser isso! - Desculpe, algum problema...? Cochichando entre si, elas acabaram esquecendo completamente os dois homens.

Felizmente, parecia que eles na o tinham escutado o que elas estavam falando, mas sem du vida foi uma grande grosseria.

- Desculpa, na o foi nada. Enta o como e essa... “Cidade Universidade”? - A Universidade? Vanille na o sabia por que ele tinha repetido, mas fez que sim. Os dois começaram

a falar empolgadamente sobre a tal “Cidade Universidade”. Era o bvio que eles tinham orgulho da sua cidade e a amavam muito. Vanille se perguntou se era um lugar fa cil de se viver ou se esses dois em especial tinham um orgulho fora do comum. Talvez fosse um pouco de cada. De todo modo, assim elas na o precisavam mais falar de si mesmas. Apesar

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de na o entender quase nada do que eles diziam, ela ouviu com atença o, sempre sorrindo. - Desculpem a demora. – disse a garçonete, interrompendo-os no meio da histo ria

e distribuindo as refeiço es pela mesa. - O que ? Por que a comida ja esta aqui? – disse Vanille, surpresa. Ela achou que

demoraria muito mais para chegar. Era por isso que estava tentando faze -los falarem de si mesmos.

- Como assim “por que ”? – ele olhou para ela de um jeito estranho. Aparentemente, ela na o devia ter se surpreendido tanto.

- Ah... N- Na o e nada! Nossa, olha isso! Tudo parece ta o delicioso, e eu estou com tanta fome! – enta o elas cometeram outro erro. Juntar os dedos e agradecer antes de uma refeiça o era uma coisa normal para ela e Fang, mas os dois do outro lado da mesa ficaram olhando sem entender.

- O que e isso? Algum tipo de simpatia? - Ha ? Ah, s- sim, claro! - Voce s sa o engraçadas. - V- Voce acha? Bem, se eles só nos acharem engraçadas, tudo bem. Contanto que não suspeitem de

nós..., pensou Vanille. Deu uma mordida na comida. Na o tinha um sabor muito forte, mas na o era ruim. Era uma refeiça o de verdade

desta vez, na o como a que elas comeram no dia anterior. Era uma comida que algue m fez para elas, e por isso eram gratas. Mesmo que na o fosse do seu gosto.

- Isso e o sal? Tomara que na o seja açu car. – disse Fang. - Ah, boa ideia! Podemos colocar sal. Me passa... - O que voce esta fazendo? Na o pode colocar tudo isso! Outro erro. Quantos ja eram agora? Vanille teve vontade de chorar. Fang, sendo

Fang, na o pareceu se importar. - Se rio? Eu sempre como assim. – Fang despejou o sal sobre a comida e levou tudo

a boca. Os outros dois olhavam em choque silencioso. - Ahn, bom... Ela gosta de coisas salgadas, ne ? Era completamente verdade. Fang adorava uma comida salgada. Mas parecia que

o conceito de “comida salgada” de Cocoon era numa escala menor. - Ah, sim. O que e aquilo? – ignorando as reaço es a s suas prefere ncias alimentí cias,

Fang apontou pela janela. Era possí vel ver o templo dali. - Ha ? Ah, fala do Vestí gio de Pulse? Eles pareceram aliviados com a oportunidade de mudar de assunto. Nenhum dos

dois olhou para o prato de Fang de novo. Provavelmente estavam tentando na o pensar no sal.

- E , ha quanto tempo esse... “Vestí gio” esta aqui? Eles fizeram um olhar estranho. Talvez isso fosse algo que ate as crianças sabiam

em Cocoon. O buraco que elas cavavam para si mesmas parecia ficar cada vez mais fundo. Vanille tentou inventar desculpas para a sua o bvia falta de conhecimento.

- Bem... E que voce s parecem ta o inteligentes. E , aposto que sabem um pouco de tudo! – embora fosse um tipo de elogio extremamente cliche , valia a pena tentar. Mesmo que na o funcionasse, no mí nimo ningue m se ofendia com um elogio – Enta o eu pensei, sabe, que voce s devem saber mais sobre as coisas do que no s. Tipo... Mais detalhes?

O olhar suspeito sumiu dos rostos deles, e eles ficaram mais animados.

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- Bom, a teoria mais aceita diz que o Vestí gio esta aqui ha 666 anos. O tempo exato e questionado a s vezes, mas nada muito longe dessa me dia de 650 anos.

Os olhos de Vanille se arregalaram. Elas imaginavam que podia ser alguns se culos, mas ouvir a data exata ainda foi chocante.

- Os livros de Histo ria sempre trazem escrito: “Va rias centenas de anos atra s, depois da Guerra da Transgressa o, os fal’Cies o trouxeram de Pulse.” A teoria de que foi ha 666 anos e muito popular, claro, mas na o ha nenhuma prova concreta. Sempre havera opinio es diferentes.

Va rias centenas de anos atra s, 666 anos atra s... Essas palavras ficaram ecoando na cabeça dela. Nada mais do que eles disseram foi registrado.

- E esse... Vestí gio... Ahn, quando ele foi trazido de Pulse... Isso causou problemas para as pessoas de la ?

Os dois homens se entreolharam. Vanille ficou com medo de ter dito algo errado de novo. Mas na o, desta vez eles riram.

- Causar problemas pras pessoas de la ? Voce e mesmo engraçada. Nem tem gente em Pulse.

- Na o... tem? – ate Fang ficou chocada. - Pulse e o inferno, ningue m consegue viver la . Todo mundo sabe disso. Voce s na o

prestavam atença o nas aulas de Histo ria? – ele so estava brincando com elas, mas um no se formou na garganta de Vanille. Ela sabia que tinha que dizer alguma coisa para que eles na o suspeitassem delas de novo, mas as palavras ficaram presas. Ela so conseguiu fazer um sorriso fraco.

- Bom, dizem que tem ba rbaros la embaixo que vivem como animais, mas... - Ba rbaros...? - E . Eles mal conseguem falar, e vestem peles de animais. Durante a Guerra da

Transgressa o, os fal’Cies tentaram usar os prisioneiros como ma o de obra, mas dizem que na o serviram pra muita coisa.

Uma nuvem vermelha nublou a visa o de Vanille. Esses “ba rbaros que na o serviram pra muita coisa” eram o seu povo.

- Ja que e so isso que vive la embaixo, na o importa se pegarmos alguma coisa, na o e ? Alia s, eles deviam e nos agradecer, ja que pelo menos estamos dando alguma utilidade pras suas coisas.

Ela conheceu uma cidade que viveu na pobreza depois que suas terras cultiva veis foram arrancadas do cha o pouco antes da colheita. Sua linha fe rrea foi destruí da, eles na o tiveram como conseguir combustí vel ou comida e morreram congelados. Agradecer? Ele diz que deviam agradecer?

Eles não sabem de nada, pensou Vanille. Não precisam sujar as mãos, nem sabem as coisas horríveis que fazem, só vivem confortavelmente usando as coisas que os fal’Cie tomaram de nós.

Debaixo da mesa, seus punhos tremiam. Ela so conseguia pensar em quebrar o prato na sua frente. O que a deteve na o foi autocontrole. Foi pacie ncia. Fang faria alguma coisa, ela saberia o que fazer.

- Preciso conversar com voce s la fora. – Fang parou de comer e se levantou. - O que ? Mas estamos comendo... - Na o importa. Venham comigo. Agora. – a voz de Fang era suave. Um pequeno

sorriso se formava em seus la bios. Na o era um sorriso verdadeiro, mas eles eram fa ceis de enganar. Vanille viu atrave s daquele sorriso, mas na o disse nada.

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Intelige ncia na o devia ser uma das melhores qualidades deles. Quando Fang os chamou para sair no meio da refeiça o, eles deviam ter imaginado o que estava por vir. Deviam ter percebido que haveria uma luta. Era a quebra de uma tre gua, uma declaraça o de guerra. Ou talvez o povo de Cocoon simplesmente na o entendesse essas coisas.

Mesmo assim, eles a seguiram sem questionar, enta o na o podiam ser muito espertos. Mesmo quando ficou o bvio que estavam sendo levados para um lugar afastado, longe dos olhares dos curiosos, eles na o pareceram suspeitar de nada.

Fang so precisou dar dois ou tre s socos para nocautea -los. Pate ticos. Ta o fracos quanto o peixe e o pa ssaro de ontem.

- Me desculpe por ser uma ba rbara. Isso e a u ltima coisa que eu aturaria vinda de voce s, seus desgraçados. Sa o piores que os vermes que se alimentam de carniça.

Obviamente, eles na o podiam ouvir nada do que ela dizia. Provavelmente era melhor que na o ouvissem mesmo. Fang os chutou por um tempo, mas enta o pareceu pensar em algo e se ajoelhou.

- O que foi? - As coisas deles... – murmurou Fang, e começou a mexer nas suas roupas. - E mesmo! – talvez elas conseguissem encontrar alguma coisa. Armas, por

exemplo. Vanille decidiu ajudar, e se inclinou sobre o segundo homem. - Estranho... - O que ? - Ele na o tem nenhum dinheiro. E o seu? - Deixa eu ver... Na o, nada. – na verdade, eles na o tinham nada de coisa alguma. E

tambe m na o carregavam nenhuma sacola ou bolsa. - Enta o como pagaram no restaurante? Quando eles saí ram do estabelecimento, um deles foi ate o caixa para pagar. Se

na o havia dinheiro, como pagou? Vanille o virou de bruços e procurou no bolso da calça. - O que e isso? – disse ela, puxando uma pequena placa do tamanho da sua ma o.

Parecia que era feita de metal. A cor era cinza, mas tinha um cí rculo negro no centro. - Fang, olha isso. E ... Algum tipo de carta o? - Esse cara tambe m tem um. Pra que será que serve? – pensou Vanille, e apertou o cí rculo negro. A parte cinza

se iluminou. - Ah! Na o! O que e isso?! – surpresa, Vanille jogou o carta o longe. Ficou ajoelhada

no cha o, observando-o, e viu a cor enfraquecer ate o carta o ficar transparente. Ela se perguntou que tipo de dispositivo seria aquele. Como uma coisa ta o pequena podia fazer um truque desses? Na o havia onde esconder seus fios ou peças.

Vanille continuou olhando enquanto uma imagem tridimensional começou a se formar acima do carta o. Era o rosto de uma pessoa.

- Isso e ... - Para identificar o dono do carta o. Vanille o pegou e experimentou apertar o cí rculo negro de novo. Mas na o houve

mudança na imagem. Apertou em va rios outros lugares, mas nada aconteceu. - Acho que so o dono pode usar. Na o vai servir de nada pra gente. Fang fez que sim e deu uma olhada no outro carta o, tentando ver se havia algo que

o tornasse diferente e, portanto, u til. De repente ela olhou para cima, surpresa. O som de um bater de asas se aproximava. Alarmadas, elas se esconderam nas

sombras das paredes. Um pa ssaro branco, muito maior e aparentemente mais perigoso

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que o de ontem, deu um rasante e pousou no beco. Embora fosse um pa ssaro, seus olhos ficavam na parte frontal do rosto, ao inve s de na lateral. Parecia quase humano.

Ta o repentinamente quanto chegou, voou novamente. Nas sombras das suas asas elas podiam ver as garras afiadas de uma ave predato ria. Mas na o parecia interessada em atacar, apenas circundando acima das suas cabeças antes de ir embora.

- Aquele pa ssaro viu o que esta vamos fazendo? Era muito estranho... - E claro que na o, na o e uma criatura inteligente. - E , tem raza o... Vanille pensou que so estava nervosa por estar ta o dentro do territo rio inimigo. - Ah, e , quase esqueci disso. Fang ainda estava segurando o carta o. Apertou o cí rculo negro com força e ele se

iluminou ainda mais que antes. Houve um breve curto de eletricidade, e enta o a luz se apagou e ele ficou quieto.

- Voce quebrou?! - Provavelmente. – Fang mordeu os la bios e apertou o cí rculo negro de novo, ainda

mais forte dessa vez. Ele se acendeu de novo, a cor enfraqueceu e ficou transparente. - Ah, que bom! Acho que na o esta quebrado afinal! – disse Vanille, aliviada. Ela se

inclinou para olhar mais de perto. O outro carta o tinha mostrado o rosto do dono, mas esse na o mostrava nada. Na o, havia algo escrito no carta o, mas o lugar onde o rosto devia aparecer estava em branco. Parecia que o dono tinha sido apagado – Ahn, enta o sera que quebrou?

- Talvez. – Fang cutucou a parte negra de novo. A tela mudou e palavras surgiram. Mas infelizmente era tudo na escrita de Cocoon, que nenhuma das duas entendia.

- Acha que conseguiremos usa -lo agora? Elas escreveram seus nomes sobre a informaça o do dono original, mas na o havia

como saber o que aconteceria se realmente tentassem usar. Elas tiveram sorte so de ter chegado ate ali.

- Acho que sim. Mas o que faremos com ele? - Eu na o sei... – Vanille levantou as ma os, como que admitindo a derrota. Se elas

na o sabiam como funcionava, na o conseguiriam usar. - Bom, e melhor ficarmos com ele. - Sim. – Estamos nos tornando ladras, pensou Vanille. Enta o veio um barulho. Vozes!

E se aproximando depressa. Sem fazer um ruí do, elas se levantaram e correram. - Eles sa o mesmo nossos inimigos... – murmurou Vanille. - Disse alguma coisa? - Na o, nada. – seu coraça o estava pesado, mas ela forçou um sorriso. No momento,

precisava se concentrar em correr. Mas havia tantas coisas que Vanille queria conseguir esquecer...

Quando elas voltaram ao templo, nem tudo estava como antes. Havia sinais de que

algue m usara o elevador. Um intruso. - Ha algue m de Cocoon aqui. – disse Fang, ja preparando sua lança. Elas tentaram

ouvir alguma coisa, mas o sile ncio era total. Vanille olhou para a abo bada do teto. O templo fora construí do originalmente para testar aqueles que se tornariam

l’Cies. Na parte mais profunda da construça o, o fal’Cie Anima aguardava para testar e escolher seus servos. Os que tinham pensamentos maldosos ou na o eram fortes o

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bastante para se tornarem l’Cies na o conseguiriam abrir os porto es sagrados. Estava escrito nos livros dos sacerdotes.

- Cuidado. - Eu sei. – elas se entreolharam e começaram a seguir o corredor. Ao subir as

escadas, tentaram na o deixar seus passos serem ouvidos, e sempre atentas a qualquer som do intruso. Logo chegaram a primeira porta. Se era algue m de Cocoon, na o seria capaz de abri-la, e ainda estaria la , vagando sem rumo na frente dela.

- Bom, dizem que ha ba rbaros la embaixo que vivem como animais, mas... Isso era so o que o povo de Cocoon pensava deles. Gente assim nunca conseguiria

abrir a porta. Na o era nem digna de colocar os pe s dentro daquele templo. Mas na o havia ningue m na frente da porta. O intruso devia ter aberto a porta e

continuado em frente. - Mas isso... Na o e ... – Vanille estava sem palavras. Havia indí cios de que algue m

passara por ali, mas elas na o tinham tempo para parar e refletir a respeito. O intruso ja podia estar pro ximo do centro, elas precisavam correr.

O som dos passos na o as preocupava mais. Subiram as escadas galopando e pularam no elevador. Mas na o havia ningue m na pro xima porta, nem na pro xima. Isso so podia significar que o intruso na o era mau, mas como? O u nico jeito de algue m de Cocoon conseguir atravessar os porto es sagrados seria se encontrasse um jeito de enganar o pro prio fal’Cie.

- Isso na o pode estar acontecendo... Chegaram a parte mais profunda do templo. Na pro xima ca mara ficava o fal’Cie.

Mesmo elas so estiveram la uma vez. Na o era um lugar onde qualquer um podia entrar. A porta se abriu, e elas encontraram o intruso caí do no cha o. Inconsciente. Era uma garota.

- Ela deve ter se perdido. – Fang baixou a lança. A garota parecia ter a mesma idade de Vanille, e na o portava armas – Esta sozinha.

Fang a olhava com frieza. Vanille sabia o que ela estava pensando. Ponderava se devia ou na o mata -la, para que na o pudesse contar a ningue m que esteve ali. Se a deixassem viver, a garota provavelmente levaria mais pessoas ali. Vanille se aproximou da moça caí da, e foi enta o que...

- Espera! – se ajoelhou ao lado da garota e agarrou seu braço – Olha! Essa marca no braço dela e ...

Era exatamente igual a s delas. - Ela foi transformada... Em l’Cie... Ela tinha a marca de um l’Cie escolhido pelo fal’Cie Anima, um Foco. - Por que ...? – a voz de Fang estava tre mula – Por que escolheu algue m de Cocoon?

– o som da sua lança caindo no cha o ecoou pela ca mara – Por que o fal’Cie faria isso? Na o houve resposta. Os fal’Cies na o eram seres que podiam ser questionados

pelos humanos. - Como ela pode ser um l’Cie de Gran Pulse? Esta querendo dizer que somos iguais? - Mas e algue m de Cocoon. Eles na o podem simplesmente receber um Foco... Um Foco. Quando Vanille disse a palavra, Fang tocou o pro prio braço. Por entre os

dedos dela, Vanille podia ver sua marca de l’Cie esbranquiçada, borrada, que na o tinha mais a forma original. Fang perdera a memo ria, na o conseguia mais lembrar do pro prio Foco. Ah, pensou Vanille, então é isso. Ela sabia por que o fal’Cie tinha escolhido um novo l’Cie.

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- Bom... Vamos pelo menos tira -la daqui. – Fang pegou a garota nos braços. Seus olhos e os de Vanille na o se encontraram, mas elas sabiam que pensavam a mesma coisa.

Fang cruzou a porta. Pegando a lança no cha o, Vanille a seguiu. Olhou mais uma vez para o fal’Cie Anima, mas ele continuava em sile ncio.

Do lado de fora do templo, deitaram a garota no cha o. Mas ela ainda na o acordava. - Ela e nossa substituta... E claro que Fang sabia, soube desde que viu a marca da garota. Ela manteve o rosto

virado na outra direça o, mas Vanille podia ver que estava triste. - Somos l’Cies pate ticas, na o somos? Na o conseguimos nem lembrar do nosso Foco.

Enta o o fal’Cie escolheu outra pessoa. Esse não é o único motivo, Vanille murmurou no fundo do seu coraça o. A culpa é

minha. É tudo culpa minha, porque... Eu fugi. O fal’Cie percebeu o que eu fiz. Agora, por minha culpa, essa garota se envolveu nos nossos problemas.

As pa lpebras da garota começaram a se agitar. Ela estava prestes a acordar. Fang e Vanille na o podiam se permitir ser vistas, enta o se esconderam nas sombras do templo para ver o que ia acontecer.

A garota se sentou. Devia estar tonta, porque colocou a cabeça entre os joelhos e ficou parada por alguns momentos. Ainda na o tinha percebido a marca no braço. Depois de um tempo, usou a parede do templo como apoio para se levantar. Enta o seus olhos pararam, e olharam para a marca. Ela percebera a marca. A garota a esfregou, como se fazer isso pudesse faze -la desaparecer.

- Ela na o sabe sobre os l’Cies? Na o... Ha fal’Cies em Cocoon. - Talvez ela so na o saiba o que e porque a forma e diferente? Mas enta o, o que elas iam fazer? Se ela nem percebesse que tinha um Foco a

cumprir, se transformaria num Cie’th. Mas, a menos que revelassem quem realmente eram, elas na o conseguiriam explicar nada para a moça.

- Parece que ela sabe... De repente, ela entrou em desespero. Elas podiam ouvi-la gritando que devia ser

algo que algue m rabiscou no seu braço. Mesmo de longe, Vanille e Fang puderam ver sua marca evoluir. O medo da garota a afetara. Agora ela deve saber. Que foi escolhida como uma l’Cie de Gran Pulse... Não, do “inferno onde os bárbaros vivem”.

A garota estava chorando. Era possí vel ver os seus pequenos ombros tremendo. Finalmente, se afastou da parede e começou a caminhar com as pernas tre mulas. Ela parecia ta o pequena e triste.

Isso era algo que elas nunca conseguiriam corrigir. A garota na o tinha nada a ver com nada, mas fora envolvida nos problemas delas so pelo azar de estar ali.

- Na o faça essa cara. - Mas... Quando algue m se tornava um l’Cie, na o havia volta. O destino da garota fora

mudado para sempre. E era tudo culpa delas. - A u nica coisa que podemos fazer e descobrir o nosso Foco e cumpri-lo. Acabar

com isso de vez. Assim poderemos voltar a Gran Pulse. Se aquela garota ia ser a substituta delas, enta o seu Foco devia ser o mesmo. Se

elas o cumprissem, ela na o teria que se tornar um Cie’th. Devia ser isso que Fang estava pensando. Mas, mesmo que elas cumprissem seu Foco, a garota era de Cocoon... Vanille

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na o queria mais pensar naquilo. A verdade era cruel demais. - Fang, vamos esquecer o nosso Foco. A marca de Fang estava morta. Mesmo que ela na o cumprisse o seu Foco, talvez

na o se tornasse um Cie’th. Sendo assim, elas na o precisavam mais se preocupar com isso. - Na o. – Fang apontou para a perna de Vanille – Sua marca ainda esta viva. Se na o

cumprirmos o nosso Foco, voce se tornara um Cie’th. - Na o tem problema, eu... - Foi voce que disse que ficarí amos juntas para sempre! – Fang segurou o rosto de

Vanille com as ma os. - No s ficaremos juntas para sempre... - Sim. - E voltaremos para casa juntas. - Foi o que prometemos, lembra? Vanille tocou as ma os de Fang e fez que sim com a cabeça. - Voce esta certa... Eu... Elas prometeram isso ha muito tempo. Tudo daria certo contanto que ficassem

juntas. Elas nunca se separariam. Essa promessa ela na o ia quebrar.

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(4) A enorme quantidade de pessoas na o a incomodou tanto quanto no dia anterior,

e Vanille se sentia calma e relaxada enquanto caminhava pelas ruas. Como na o queria correr o risco de encontrar os dois homens da ve spera, Vanille

sugeriu que elas explorassem outra a rea da cidade. Fang dizia que, mesmo se os vissem de novo, seria fa cil nocautea -los, mas concordou assim mesmo.

A rua que elas percorreram no outro dia era cheia de lojas de roupas e acesso rios, mas o que o lugar onde estavam agora tinha em abunda ncia eram estabelecimentos de comida e bebida.

- Olha, olha! Esta o vendendo legumes! – eles eram grandes, frescos e tinham as mais variadas cores, todas muito fortes: amarelo, verde, vermelho...

- Totalmente diferentes dos que vimos no jardim aquele dia. - Mas na o parecem, na o sei, artificiais? Parecem perfeitos demais. Sera que da para

comer mesmo? Os legumes tinham exatamente a mesma forma e tamanho, como se fossem todos

re plicas uns dos outros. Os que elas pegaram na plantaça o eram pequenos e sem gosto, mas era visí vel que eram comestí veis.

- Talvez eles plantem de um jeito diferente. - Bem, e Cocoon, afinal. – Vanille imaginou as pessoas injetando lí quidos coloridos

nos legumes. Não é possível, pensou em seguida, balançando a cabeça. - Na o tem como eles alimentarem toda essa gente com plantaço es pate ticas como

a que no s vimos. - Cocoon e muito grande... - Talvez, se formos a algum outro lugar, eu consiga recuperar a memo ria. Vanille na o respondeu, desviando o olhar para a multida o. Fang estava ficando

impaciente, ela entendia isso. Olhou para a amiga, sabendo o que ela estava pensando. Aquela garota fora transformada em l’Cie por causa delas. Porque estavam demorando demais para cumprir seu Foco.

Mas aquilo estava errado, Vanille sabia que estava. Na o tinha sido Fang quem estragara tudo. A culpa era toda de Vanille. Ela suspirou e olhou para o ce u, quando de repente percebeu que Fang estava se afastando.

- Fang? - Fique aí . - Espera! – mas Vanille na o conseguiu agir a tempo. So po de ver Fang desaparecer

na multida o. Parecia que ela na o teria escolha a na o ser espera -la voltar. Recostou-se na parede mais pro xima.

A maioria dos clientes entrando e saindo das lojas eram mulheres, muitas delas com crianças. Talvez porque aqueles lugares vendiam coisas de comer; as mulheres deviam estar comprando ingredientes para preparar o jantar das suas famí lias. Mas havia algo estranho nelas. Enquanto observava, Vanille reparou num detalhe muito peculiar: quase todas as pessoas saí am das lojas de ma os vazias. Embora fosse possí vel que algumas simplesmente na o comprassem nada, era impensa vel isso acontecer com todas.

- Talvez eles entreguem em casa? – pensou Vanille. Em Gran Pulse, coisas grandes ou pesadas eram entregues a domicí lio, mas itens pequenos ou do dia a dia, como comida, as pro prias pessoas levavam para casa. Enta o, talvez houvesse outro motivo. Vanille

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balançou a cabeça, confusa. - Esperou muito? De repente Vanille sentiu algo gelado tocar sua testa. Deu um grito e pulou. - Ha , ha . Desculpa. – sorriu Fang, estendendo um frasco com algum tipo de bebida

– Voce e ta o esponta nea. - Na o pude evitar... – disse Vanille com uma careta, mas pegou o frasco – Onde voce

conseguiu isso? - Comprei. Vanille olhou para o frasco e depois para Fang. Onde ela tinha conseguido dinheiro?

Elas nem sabiam como funcionava o sistema de come rcio de Cocoon. - Usei isto. – disse Fang, sacando o carta o que roubaram no dia anterior – Cocoon

e um lugar muito estranho. E difí cil de acreditar que uma coisinha dessas pode comprar qualquer coisa. – ela abriu o seu frasco e tomou um gole, indicando com um gesto para Vanille fazer o mesmo. O frasco era um pouco estranho, mas na o era difí cil entender como se abria.

- Nossa, e gostoso. - Falei pra me darem a bebida mais doce que tinham. Depois de todas as coisas aguadas e sem gosto que elas andaram comendo nesses

dias, era maravilhoso beber algo em que era possí vel sentir o doce. Era tudo que Fang desejava naquele momento.

- E como se compra coisas com isso? - Eu na o sei como funciona. So imitei o que todo mundo estava fazendo. Como eles.

– disse Fang, apontando para as pessoas na loja na frente delas. Vanille po de ver que a mulher la dentro tinha um carta o parecido.

- Observei as pessoas numa e pensei: “ei, talvez seja assim que funciona”. - Enta o isso serve como o dinheiro de Cocoon? - Acho que sim, mas tambe m existe dinheiro normal. – Fang apontou para outra

loja. Era rosa e branca e tinha lindos enfeites pendurados na porta. Uma loja de doces. Crianças entravam e saí am o tempo todo, cheias de saquinhos. Pelo jeito, gastar a mesada toda em doces era algo que tanto as crianças de Cocoon quanto de Gran Pulse gostavam de fazer – As crianças usam dinheiro. – disse Fang.

Elas podiam ver que todos os adultos usavam carto es. A s vezes o dono do carta o apertava alguma coisa nele, ou inseria alguma coisa no carta o. Outras vezes o atendente da loja passava o carta o por uma ma quina de formato estranho. Parecia que havia muitas maneiras de usar o objeto.

- Vi uma loja que vendia armas. Podemos comprar algumas pra nos virarmos melhor, ja que as nossas esta o velhas e em pe ssimo estado. – sorriu Fang – Finalmente podemos lutar.

- Mas... – aqueles dois homens eram inacreditavelmente fracos. Fang conseguiu derrota -los de ma os vazias. Ate os peixes e o pa ssaro foram pate ticos. Provavelmente nenhuma criatura em Cocoon, incluindo os humanos, sabia lutar.

- Na o fomos escolhidas como l’Cies para lutar com Cocoon? - Sim, mas... No momento, na o parece haver motivo... - E ... E ta o pací fico aqui. Talvez nem precisemos lutar. - Isso. Na o vamos lutar. – pediu Vanille. Sua voz soou ta o estranha aos seus ouvidos.

Ela se perguntou se Fang percebera. - Mas se na o temos que lutar, qual e o nosso Foco? Se na o descobrirmos...

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Isso de novo. Sempre volta a isso, pensou Vanille, suspirando. Um amontoado de vozes interrompeu seus pensamentos:

- Na o acha melhor fazer o fal’Cie Tour primeiro? Vanille e Fang se entreolharam. - Podemos ir a Euride no u ltimo dia, e de la vamos embora. - Mas, quanto mais perto do festival, mais cheio fica. - E verdade. Um grupo de mulheres passou ao lado delas, conversando empolgadamente. A

que elas se referiam com “fal’Cie Tour”? E “Euride”? Talvez fosse o lugar onde os fal’Cies de Cocoon ficavam. Fang e Vanille começaram a andar atra s das mulheres, tentando na o ser percebidas, para ouvir mais dessa importante informaça o.

- Por que na o alugamos um carro particular? Dividindo para todas, saira barato. - Na o tem necessidade disso. Podemos muito bem ir de trem. Esse lugar chamado Euride devia ser longe se elas pretendiam pegar um trem. - Mas sera que esse trem tem muitos hora rios? Na o quero esperar muito. - Vamos perguntar na Estaça o de Bodhum. - Enta o esta combinado, ne ? Agora podemos ir ao shopping? Minha filha pediu pra

buscar uma encomenda... Isso era tudo que elas tinham a dizer sobre os fal’Cies. Depois disso, a conversa

desviou para o que iam comprar e a que horas iam comer. Justo quando Vanille e Fang perceberam que na o iam conseguir mais nada com as mulheres, o grupo entrou numa loja. As duas seguiram reto.

- Foi “Euride” que elas disseram, certo? - Sim, a lí der daquelas ladras... Elas na o tinham como saber com certeza se o fal’Cie especí fico que roubava os

recursos de Gran Pulse estaria la , mas na o importava. Todos os fal’Cies de Cocoon eram iguais para elas.

- Enta o acho que precisamos ir la mostrar o nosso respeito. - No s vamos ver o fal’Cie? - Se ficarmos cara a cara com o inimigo, talvez entendamos qual e o nosso Foco.

Ou talvez eu recupere a memo ria... Alguma coisa tem que acontecer. - Mas Euride deve ser longe. Elas disseram que iam pegar um trem para ir la . Nem Fang nem Vanille ja tinham andado de trem. O que passava perto da vila delas

viajava longe, ate os confins do mundo. Mas so carregando mercadorias. Ningue m da vila ja tinha andado naquele trem. Na o era para isso que eles serviam, na o normalmente ao menos.

Foi por isso que elas ficaram surpresas ao ouvir um bando de dondocas falar ta o casualmente sobre pegar um trem. Cada vez mais elas questionavam sua opinia o inicial de que Cocoon era um lugar pate tico.

- Eu irei ate onde for preciso para recuperar a minha memo ria. - Mas talvez a gente na o tenha dinheiro suficiente. Talvez so esse carta o na o sirva.

– ela na o queria ir a Euride. Na o queria enfrentar um fal’Cie de Cocoon. - Fique calma – disse Fang, sorrindo – Podemos ir a estaça o e perguntar. Ha muitas

maneiras de conseguirmos dinheiro. Vai dar tudo certo. Vamos. – Fang deu meia-volta e começou a andar. Quando ela se decidia, se decidia. Na o havia mais como faze -la mudar de ideia agora. A Vanille so restava se preparar para tudo. Suspirou e seguiu os passos de Fang.

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Antes de descobrirem como se chegava a Euride, elas precisavam descobrir onde ficava a estaça o de Bodhum. Elas acharam que, se simplesmente andassem pela cidade, acabariam encontrando, mas na o foi assim. Enta o, enquanto compravam ingredientes para o jantar, perguntaram onde ficava. Elas ficaram com medo que as pessoas achassem a pergunta estranha, mas logo viram que na o havia motivo para preocupaça o.

Parecia que a cidade sempre recebia muitos viajantes, enta o as pessoas estavam acostumadas a esse tipo de pergunta. Elas diziam: “Ah, esta o aqui de fe rias? De onde sa o?” Na verdade, Vanille e Fang acharam que estavam sendo amiga veis demais. Elas ficaram sabendo que todas as lojas da cidade dispunham de mapas para os visitantes, que podiam ser levados gratuitamente. Era uma maneira de evitar que eles se perdessem.

- Distribuir mapas para viajantes? Isso parece perigoso. Um mapa desses, que mostrava a localizaça o de todos os pontos importantes da

cidade, seria uma arma nas ma os do inimigo. Um mapa era um documento importante que devia ser mantido em segredo. Vanille na o conseguia deixar de sentir pena de pessoas que na o sabiam de algo ta o simples. Mas o atendente a olhou estranho quando ela mencionou isso. Aparentemente as pessoas de Cocoon na o pensavam assim.

Elas saí ram assim que o atendente marcou a estaça o no mapa para elas. Se ficassem mais, podiam acabar se entregando. Estavam começando a ter mais medo de serem denunciadas pelas pro prias palavras e aço es que pelas roupas que usavam.

Felizmente, a estaça o na o era muito longe. Ficava a cerca de quinze minutos a pe do shopping, e muito perto do templo. Mas, se na o tivessem o mapa, elas na o tinham certeza se teriam reconhecido o lugar como uma estaça o. A estaça o de Bodhum parecia ao mesmo tempo familiar e muito diferente das de Gran Pulse.

- Na o parece muito uma estaça o. Parece mais uma loja... - E veja aquele trem. – Fang apontou quando elas chegaram mais perto da estaça o

– Parece que vai soltar dos trilhos. O trem era todo arredondado. Dizer que ia soltar dos trilhos era exagero, mas de

fato parecia estar faltando alguma coisa. - Se um monstro o atacasse, ele sairia voando. Os trens de Gran Pulse eram grandes e resistentes, para aguentar os ataques dos

monstros. Na o tinham janelas e eram feitos de materiais rí gidos, para que na o fossem esmagados.

- Sera mesmo que chegaremos a Euride com isso? – questionou Vanille. - Na o adianta ficar se preocupando. Primeiro precisamos descobrir quando o trem

parte. Depois a gente ve essas coisas de preço e tempo de viagem. Elas acharam que, ao chegar a estaça o, conseguiriam todas as respostas, mas

estavam enganadas. Na o sabiam nem onde começar a procurar as informaço es. Para iní cio de conversa, havia um monte de plataformas diferentes. Em Gran Pulse havia apenas uma, mas aqui em Bodhum eram va rias, e parecia que cada trem ia para um lugar diferente.

Mais surpreendente ainda era a quantidade de trens que chegava. Na vila delas, o trem so chegava de manha cedo e a noite.

- Ai... O que vamos fazer? Elas andaram sem rumo dentro do pre dio, sem conseguir descobrir nada. - Tudo bem com voce s? Precisam de ajuda? – era uma jovem ma e com uma criança

pequena. Devia ter visto que elas estavam confusas. - Ahn... Bem, no s queremos ir a Euride, mas...

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- Para visitar o fal’Cie? O trem para Euride sai da plataforma 1. Vanille e Fang trocaram olhares e suspiraram de alí vio. Salvas! - Tenham uma boa viagem. – disse a mulher, se virando para ir embora. - Ahn, espere, por favor! Posso fazer mais uma pergunta? – ainda havia mais coisas

que elas precisavam saber – Quanto custa para chegar a Euride? Podemos chegar la com isto? – disse Vanille, mostrando o carta o. A mulher riu.

- Bom, eu na o sei qual e o seu limite de cre dito, mas com certeza sera suficiente, a menos que queiram um vaga o especial.

A mulher que elas viram antes falou de algo assim tambe m, so que na ocasia o o termo foi “carro particular”. Parecia que havia muitas maneiras diferentes de se chegar a Euride.

- E, ahn... Quantos trens va o para Euride por dia? - Quantos? Hm... Bom... – ela tombou a cabeça para o lado para pensar. Isso devia

significar que na o havia muitos. - Ah, na o, por favor, na o diga que e so um a cada va rios dias? - Ha ? - Essa na o, vamos ter que esperar va rios dias? – Vanille começou a se preocupar.

O que elas fariam se tivessem que esperar tanto tempo? Mas a risada da jovem mulher cortou seu medo em pedaços como se fosse uma faca.

- Puxa, voce s duas sa o engraçadas. Na o se preocupem. E so ir para a plataforma e esperar um pouco, toda hora tem um.

- Mesmo...? - E que voce perguntou quantos va o para la por dia, e eu nunca tinha parado pra

contar. Sa o tantos. Parecia que elas tinham dito outra coisa estranha. Mas, felizmente, desta vez na o

precisaram se desculpar. A mulher apenas riu. - Se na o quiserem esperar o trem, sempre tem a opça o da aeromoto. Ha um lugar

que aluga bem ao lado da estaça o. O preço de uma de dois lugares e quase o mesmo do bilhete de trem.

- Ahn, na o... Eu prefiro o trem... Na verdade, elas nem sabiam o que era uma aeromoto, mas preferiram na o dizer

isso. Talvez fosse algo comum ate para as crianças de Cocoon, enta o elas podiam parecer suspeitas de novo.

- Tudo bem enta o, tenham cuidado e façam boa viagem. – a mulher pegou na ma o do filho e seguiu seu caminho.

- Ah, na o! Esqueci de perguntar... - O que ? - Quantos dias leva para se chegar a Euride. - Ah... Mas na o importava. Elas sabiam que conseguiriam pagar o preço do bilhete, e

sabiam de onde o trem saí a. Era toda a informaça o de que precisavam. - Espero que na o demore mais de dois dias... - Na o importa quanto tempo vai levar, contanto que encontremos esse fal’Cie. O coraça o de Vanille pesou quando ela ouviu a palavra fal’Cie. Justo quando estava

começando a esquecer, Fang a lembrava de novo. - Esta cansada? – Fang olhou para ela, preocupada. - Um pouco. – respondeu Vanille, se esforçando para sorrir.

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(5) O trem escorregou da estaça o de Bodhum como que planando na a gua. As pessoas

estavam se afastando lentamente no começo, mas logo a cidade inteira passou como um borra o.

- Uau... – Vanille e Fang se aproximaram da janela para apreciar a vista. Logo elas passariam pela praia.

- Olha aquilo! Aquela ilha esta voando! - Incrí vel... Elas sentiram olhos as observando e se viraram. Os outros passageiros pareciam

surpresos com o comportamento delas. Vanille e Fang rapidamente se endireitaram nos seus bancos. Elas nem tinham percebido que estavam literalmente com as caras coladas na janela. Ainda era possí vel ver a marca da respiraça o no vidro.

Algue m deu um risinho. Vanille ficou vermelha e olhou para baixo. Olhando para fora de novo, discretamente desta vez, Vanille viu o mar reluzindo

com a luz do sol que incidia sobre ele. De repente o trem virou, e o carro do maquinista entrou no campo de visa o. Vanille ficou chocada. Na o havia trilhos sob o trem. “Olha aquilo!” – disse Vanille, tapando a boca com as ma os para evitar que os outros ouvissem. Ela na o queria chamar atença o de novo, mas na o conseguia se segurar. Puxou o braço de Fang, apontando para as ilhas flutuantes la fora. Fang fez que sim.

- A tecnologia que eles te m em Cocoon e incrí vel. – cochichou Vanille no ouvido de Fang. Talvez, se elas procurassem em cada canto de Gran Pulse, ate encontrassem algo parecido. Mas era altamente improva vel achar um trem que se movia pelo ar.

Uma das ilhas flutuantes estava chegando perto da janela, mas passou ta o ra pido que mal deu para ver. O trem tecia um caminho complexo entre elas.

- Olha! Uma aeromoto! – a voz de um menino escapou do banco da frente. Vanille esticou o pescoço para ver. Havia tre s veí culos voando logo ao lado do trem. Deviam ser os meios de transporte alternativos que a mulher falou ontem.

- Sa o ta o ra pidas! Papai, o que e mais ra pido? Uma aeromoto ou a sua aeronave? - Claro que a minha nave e mais ra pida! – ao contra rio do menino, que era pequeno

demais, elas podiam ver o topo da cabeça do pai. Seu cabelo parecia um ninho de pa ssaro, parecia ate que alguma ave ia sair de la a qualquer momento.

- Quantas ilhas... - A cidade de Bodhum e um arquipe lago flutuante. – ele explicou ao filho. Tinha

uma voz gentil. - Aquilo e Bodhum? Aquele lugar voando la no alto? - La em cima? Na o, la na o e Bodhum. E um lugar chamado E den. E na o e uma ilha

como Bodhum. A palavra “E den” chamou a atença o de Vanille. Era o lugar que os dois homens do

outro dia mencionaram. Mas na o parecia ser uma montanha ou vale. Era um lugar alto, mas na o era uma ilha voadora? Enta o o que era?

- Papai, o senhor ja esteve em E den? - E claro que ja , sou um piloto. E tambe m ja fui a um lugar chamado Palumpolum.

La tem mais lojas que em qualquer outro lugar de Cocoon! - Tem lojas de brinquedos? - Um monte!

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- E de chocobo? - Tem va rias lojas de animais. - Na o! Quero uma de chocobo. - Bom, aí eu ja na o sei... Eles na o estavam falando sobre nada importante, mas Vanille estava gostando de

ouvir. Provavelmente era assim que era ter uma famí lia. Eles continuaram falando sobre os lugares que o pai piloto ja tinha visitado. Havia um lugar onde eles jogavam os monstros e os deixavam correr soltos, uma cidade cheia de jogos e va rios outros meios de diversa o...

Ouvindo a conversa, Vanille começou a se dar conta da quantidade de lugares diferentes que Cocoon tinha, e da quantidade de pessoas que deviam viver la . Seria ta o bom se elas na o fossem inimigas, se os fal’Cies de Cocoon na o tivessem roubado tanto delas... Todos poderiam viajar livremente entre Cocoon e Gran Pulse. Que maravilhoso seria um mundo assim.

Ela na o queria lutar. Na o com esse pai e seu filho, ou com aquela jovem ma e que encontraram na estaça o, nem com aquele casal de idosos. Ela na o queria machucar nenhum deles. Mas eu devo estar errada, pensou Vanille. Sempre aprendi que devemos lutar. Mas... Eu sou fraca, então não quero lutar. Fang nunca se sentiria assim. Nunca se sentiria perdida. Ela lutaria independentemente do custo. Mas...

Fang não luta porque é forte, embora seja muito forte. Ela luta porque é gentil. Ela nunca perdoaria aquelas pessoas que machucaram seus entes queridos. Mas é por isso que eu não posso deixá-la lutar, pensou Vanille. Fang nunca se perdoaria se machucasse um inocente.

“Sua marca ainda esta viva. Se na o cumprirmos o nosso Foco, voce se tornara um Cie’th.”

Vanille se lembrou das palavras que Fang dissera dois dias antes. Na o importava se ela ia escolher lutar ou na o. Qualquer que fosse a sua decisa o, assim como tudo que fizera no passado, o resultado sempre seria o sofrimento de Fang.

- Ei, o que foi? Vanille olhou para cima, surpresa. Ela tinha se perdido dentro da pro pria cabeça

e nem percebera que o trem tinha parado. Elas estavam na estaça o. - O que ... Que estaça o e essa? - A u ltima parada. Voce na o ouviu? Disseram que era a estaça o de Euride. Todos os passageiros estevam se levantando e formando uma fila no corredor. O

pai e o filho que estavam na frente delas ja tinham saí do. Que bom que não perguntei quantos dias a viagem duraria... – pensou Vanille.

Entrando na fila dos passageiros, elas logo saí ram do trem. Na o havia perigo de se

perderem, ja que todos estavam seguindo na mesma direça o. Havia uma grande praça na frente da estaça o, e do outro lado uma construça o que

parecia uma usina de energia. A praça tinha barracas que vendiam balo es e doces, e era ta o cheia e barulhenta quanto a rua com as lojas de Bodhum.

Havia pessoas tirando fotos de si mesmas na frente da usina, casais andando de ma os dadas, crianças, idosos... Euride tinha um clima muito festivo.

Num canto da praça havia um grupo de estudantes ouvindo atenciosamente o seu professor:

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- Essa usina e mantida em funcionamento pelo fal’Cie Kujata, e fornece a maior parte da energia usada nas cidades pro ximas a Euride. Todas as coisas que facilitam as nossas vidas funcionam usando a energia gerada nesta usina. Alguma du vida?

- Na o, senhor! – gritaram os garotos, com energia. As pessoas que passavam por perto riram.

- Na o da pra acreditar nessas pessoas. – murmurou Fang – Elas na o sabem nada sobre tudo que os fal’Cies roubaram de no s.

- E ... Elas na o sabem de nada... – mas ignora ncia era um pecado? Vanille na o tinha certeza. Mas se elas na o fizessem nada, tambe m estariam cometendo um pecado. Na o havia jeito de escapar. Todos os caminhos levavam a um destino triste.

- Ei, Fang? Na o podemos simplesmente na o escolher? Na o podemos esquecer tudo isso...? – Não tem problema fugir, ela pensou consigo mesma. Mas era algo que sabia que nunca poderia dizer a Fang.

- Quando cumprirmos o nosso Foco, poderemos deixar tudo isso para tra s. Vanille na o disse mais nada, apenas segurou a ma o de Fang. Igual a quando eram

crianças, juntas contra um mundo de inimigos. Contanto que permanecessem juntas, elas podiam superar qualquer coisa. Contanto que permanecessem juntas, mesmo que fugir na o fosse uma opça o...

- No s vamos voltar para casa. Eu juro. – mesmo que a pro pria Fang tivesse medo. A usina de energia onde o fal’Cie Kujata aguardava estava bem diante delas. Vanille

segurou com força a ma o de Fang, e se deixou levar em meio a multida o.

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Tesouro (Família)

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(1) Quem poderia imaginar que isso tomaria tamanha proporção? Soldados pra todo lado, uma confusão. Quando eu te conheci, estava tudo tão calmo.

Vamos ver... Foi há oito dias, não foi? É, só oito dias. Nesse meio tempo, tudo isso aconteceu. Eu nem sei mais o que está havendo.

Não dá pra acreditar nisso. Eu desisti completamente. Bom, você também...

- Papai, eu quero aquele! Dajh deu um puxa o na ma o dele, e Sazh parou sem nem pensar. Quando querem

alguma coisa dos pais, as crianças pulam, correm, chamam a atença o de todo jeito ate conseguirem. Seu filho Dajh tinha apenas seis anos, mas conseguia convencer Sazh de qualquer coisa com pouco esforço.

- Ei, por que na o compramos na volta? Sazh estava com o filho no Desfiladeiro de Euride. Ele na o se lembrava exatamente

de quando foi, mas Dajh disse que queria ver um fal’Cie. Se voce queria ver um fal’Cie em Cocoon, o melhor lugar para ir era Euride, onde

residia Kujata. Sazh começou a pesquisar e encontrou uma vaga num pacote turí stico que parecia perfeito. “Fe rias em Famí lia: Visite Euride e Bodhum” era o nome do pacote. As passagens e o hotel ja estavam incluí dos, assim como algumas atividades de lazer, e ainda havia tempo livre para explorar os lugares. Crianças tinham um belo desconto, e no geral parecia divertido.

E assim, agora eles estavam a caminho da usina. O lugar estava lotado de turistas, e havia uma loja de lembrancinhas em cada esquina. Sazh sabia que, cedo ou tarde, Dajh ia querer parar, provavelmente interessado em algum bala o em formato de animal, ou talvez algum doce colorido.

- Na o! Agora! Agora! Dajh puxou a ma o dele com mais força. E assim que as crianças sa o, dizem o que

querem quando querem. Sazh sabia que tambe m tinha feito o mesmo na sua e poca, e ainda se lembrava do quanto ficava feliz quando ganhava o que pedia.

Mas havia algo que ele na o percebia quando era criança. Os adultos que davam o que ele queria ficavam ainda mais felizes com isso.

- Ta bom, ta bom. Mas so dessa vez. – so dizer isso ja o fazia sorrir – Enta o, o que e que voce quer?

Eles estavam na frente de uma loja de animais. Na o era uma simples barraquinha local, mas uma franquia com estabelecimentos por toda parte.

- Eu quero o amarelo! - Vamos ver... Havia va rias gaiolas diferentes alinhadas na frente da loja. Para se ter uma ideia

do qua o grande era a franquia, ali na o havia apenas os tradicionais ca es e gatos, mas tambe m monstros cujos genes foram modificados para se tornarem do ceis.

- O amarelo? Que amarelo? – os olhos dele pararam – Na o... Na o pode ser... Aquele? Em uma das maiores gaiolas estava uma enorme Flan amarela. A criatura ficava

esticando o corpo, tentando parecer assustadora. - Oi, rapazinho. Estava falando desse amarelo aqui, ne ? – a vendedora sorriu para

Dajh e agitou os braços.

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- E , esse mesmo! – Dajh assentiu e fez o mesmo movimento. Parecia que estavam imitando um pa ssaro.

- E isso que as crianças querem quando dizem “o amarelo”. – disse a vendedora, apontando para uma placa que dizia: “Filhotes de Chocobo Aqui!”

- Ufa, e so um chocobo. – ele ficou desesperado quando achou que Dajh queria a Flan, mas na o via problema em um filhote de chocobo – Tudo bem enta o, vamos levar um “amarelo”.

O rosto de Dajh se iluminou quando ouviu as palavras. Ele adorava chocobos. Seu livro de gravuras predileto era sobre as criaturinhas, e ele ate tinha uma toalha com o desenho de um que usou ate virar um trapo.

- Perfeito! Enta o, por favor, entrem na loja. – a vendedora tentou pegar na ma o de Dajh.

- Na o, eu vou esperar aqui! – disse Dajh. Ele estava orgulhoso porque ja podia esperar sozinho enquanto seu pai fazia alguma coisa. Agora ele queria sempre esperar sozinho.

- Tudo bem, mas na o pode sair daqui. Entendido? Dajh concordou, mas estava com um rosto travesso. Claro que Sazh sabia o que ele

pretendia, e era por isso que sempre dizia para na o sair do lugar. Recentemente, Dajh na o ficou satisfeito so de esperar sozinho, enta o decidiu fazer uma brincadeira: esperou Sazh entrar na loja e se escondeu num canto. Quando seu pai voltou, tomou um susto daqueles.

Quando Sazh entrou na loja, a vendedora estava acabando de abrir a gaiola. Nessa hora, um dos chocobos saiu voando e começou a rondar Sazh.

- Ei, parece que ele gostou de voce . – ela sorriu e fechou a janela quando viu o filhote de chocobo voando em volta de Sazh.

- E mesmo? Eu na o saberia dizer. – seus olhos encontraram os do chocobo. O bichinho tombou a cabeça para o lado, como um cachorro pedindo carinho. Justo quando Sazh começou a achar bonitinho, os olhos do chocobo brilharam. No instante seguinte, ele mergulhou na cabeça de Sazh.

- Ai! – o filhote de chocobo se alojou no meio dos seus cabelos – Ei, cuidado com essas garras aí !

A resposta foi um pio. Sazh na o sabia se significava “Ta bom!” ou “Voce acha que eu me importo?”, mas, de todo modo, ele parecia feliz.

Quando terminou de pagar, Sazh saiu da loja a passos ra pidos com o chocobo na cabeça. Ele queria mostrar o bichinho a Dajh o mais ra pido possí vel. Mas na o seria bem assim. Dajh na o estava em lugar nenhum. Bom, na o era uma grande surpresa.

- Ei, Dajh? Esta brincando de esconde-esconde? Ele fez de conta que estava procurando. Claro que Dajh so estava escondido na

esquina mais pro xima. Logo ele escutaria seus risos. Crianças pequenas na o se escondem para na o serem encontradas, se escondem para receberem um grande abraço.

- Ei, parece que eu perdi. Na o consigo te encontrar! – ele disse, fingindo desistir. Mas, mesmo assim, na o ouviu a risada do filho – Dajh...?

Ele começou a procurar. Debaixo de um banco, na esquina de um beco, atra s de um carrinho de flores. Mas Dajh na o estava em lugar nenhum. Talvez enta o... A usina de energia ficava logo ali...

- Voce na o entrou sozinho, na o e ?

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Sazh correu para a entrada da usina. As crianças te m essa habilidade de sempre inventar alguma coisa nova para deixar os pais desesperados. Sa o boas nisso. Parece que e uma parte essencial das suas personalidades. Ele vai passar um bom tempo sem esperar sozinho, pensou Sazh. Dajh provavelmente nem pensou no perigo de sair andando por aí por conta pro pria.

Quando chegou em frente a entrada, ele olhou de volta para a praça mais uma vez, so para garantir. Havia muitas crianças da idade dele, mas Dajh na o estava entre elas. Ele realmente devia ter entrado na usina. Sazh começou a ficar preocupado de verdade.

Foi quando aconteceu. Houve um grande tremor, como se algo colossal tivesse caí do. Ao longe, ele podia ouvir o som de uma forte ventania. As crianças brincando na praça começaram a chorar e gritar.

- Dajh! – Sazh correu para a porta de entrada. Algo ruim tinha acontecido. Ele sabia – Dajh, onde voce esta ?

Uma sirene de emerge ncia soou. Um som alto o suficiente para abafar os gritos. Os turistas saí am correndo da usina o mais ra pido que podiam. Sazh queria entrar para procurar por Dajh, mas a multida o o empurrava na direça o oposta. Ele na o conseguia avançar um milí metro. Mesmo assim, continuou tentando, fazendo força para atravessar a massa de gente. As pessoas gritavam com ele e reclamavam, mas ele na o tinha tempo para isso agora.

Demorou um pouco, mas finalmente ele ouviu os funciona rios da usina dizerem aos turistas para se acalmarem e saí rem de maneira organizada. Eles tambe m deviam estar confusos com tudo aquilo, por isso na o agiram de imediato.

Sazh ainda podia ouvir e sentir os tremores. Uma fumaça branca subia do cha o, e ele na o fazia ideia do que tinha acontecido la dentro. Foi um ince ndio, uma explosa o?

- Dajh! Onde voce esta , Dajh? – sem querer, ele inalou a fumaça, mas ela na o o fez engasgar ou tossir. Na o era fumaça, mas algum tipo de ne voa. O que estava acontecendo la dentro afinal...?

Na o havia mais muitas pessoas la dentro. Provavelmente a maioria ja tinha fugido. Talvez Dajh tivesse sido levado com eles? Na o, algo lhe dizia que na o. Ele sentia que Dajh estava por perto.

- Dajh! E o papai! Responda, por favor! – ele estava bem na frente do fal’Cie Kujata. Gritou mais alto. A ne voa branca ficou ainda mais espessa que antes, e ele po de ouvir um som alto como o de ar escapando. Continuou em frente, verificando cuidadosamente cada canto.

Enta o viu a cor familiar das roupas de Dajh. - Dajh! – ele estava estirado sobre um dos bancos de descanso. Sazh correu e o

pegou nos braços. - Papai...? - Tudo bem, esta tudo bem. Voce se machucou? – ele falou com uma voz calma

para na o preocupar o filho, verificando seus braços e pernas – Ha ? O que e isso? Havia uma marca estranha que ele nunca vira no dorso da ma o de Dajh. Olhando

rapidamente, Sazh achou que era um adesivo, mas era outra coisa. Parecia com aquelas tatuagens que os jovens gostavam de fazer. Mas como Dajh poderia ter...?

Na o, haveria tempo para pensar nisso depois. Primeiro eles precisavam sair dali, chegar a algum lugar seguro. Ele colocou Dajh nas costas para carrega -lo, quando ouviu o som de passos se aproximando.

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- Ei, voce s esta o bem? – era um soldado da Patrulha Guardia . Ele poderia leva -los a um lugar seguro.

- O meu filho, ele... - Esta machucado? Bateu a cabeça? - Eu na o sei. Eu o perdi de vista e... Provavelmente o manual de procedimentos de emerge ncia dizia para na o perder

tempo ouvindo a histo ria dos civis, porque os soldados rapidamente abriram uma maca e colocaram Dajh sobre ela, antes que Sazh terminasse de falar. Uma soldada chegou mais perto e falou com ele.

- Na o precisa ter medo, vai ficar tudo bem. Ela provavelmente estava verificando se ele reagiria a um estí mulo. Voltou ate os

outros soldados e assentiu com a cabeça. - Levem-no para a sala de primeiros socorros. Senhor, por aqui, por favor. Estamos salvos, pensou Sazh, vai ficar tudo bem. E seguiu os soldados.

A sala de primeiros socorros estava repleta de turistas que se machucaram

enquanto fugiam, ou que no mí nimo na o se sentiam bem depois do ocorrido. Enquanto estava na maca, Dajh ficara quieto, mas depois que o colocaram na cama, começou a ficar agitado, se mexendo sem parar. Ele olhou para Sazh.

- Ei, papai... - Psiu. – disse Sazh, colocando a ma o no ombro do filho – Voce precisa ficar quieto

ate o me dico chegar. - Ta ... – Dajh concordou a contragosto. Estava uma confusa o no corredor la fora.

Sera que havia algum paciente em estado grave? A porta da sala de primeiros socorros se abriu de repente e va rios soldados entraram em formaça o. Era o bvio que na o eram do Regimento de Segurança de Euride, na o so por causa das roupas diferentes, mas pelo seu jeito rí spido.

- Estamos em estado de emerge ncia. A partir de agora, a usina e toda a a rea ao redor de Euride esta o sob a supervisa o da PSICOM. Voce s devem obedecer a todas as nossas ordens.

Havia uma mulher jovem na frente dos soldados, cujo belo rosto carregava um ar de intelige ncia e autoridade. Mas, talvez por causa dos o culos, seu olhar parecia frio e severo.

- A Estaça o de Euride ficara fechada temporariamente, e todos os voos suspensos. Uma tenda sera montada em frente a usina de energia para abriga -los ate la , enta o, por favor, aqueles que ja receberam a avaliaça o me dica, dirijam-se para la . Os que ainda na o foram avaliados devem se dirigir para a tenda de primeiros socorros, ao lado dela, onde os tratamentos continuara o. A partir de agora, este lugar esta interditado.

A sala de primeiros socorros ficou barulhenta, mas apenas por um momento. Enta o, ao comando da mulher, os soldados separaram as pessoas em grupos e as encaminharam para fora em fila. É tudo tão rápido, pensou Sazh. A PSICOM sempre foi boa nesse tipo de coisa.

Sazh e Dajh foram para o fim da fila da tenda de primeiros socorros. Mas enta o ele sentiu uma ma o tocar o seu ombro.

- E esta a criança que estava desacordada em frente ao fal’Cie? – era a mulher de o culos que liderava os soldados. Ela falou baixo e num tom mais amiga vel ao se dirigir a

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Sazh – Eu sou Jihl Nabaat, da PSICOM. Gostaria de falar com voce sobre o seu filho. Venha comigo, por favor.

- Sobre o meu filho? Ela levou o dedo indicador aos la bios, um sinal de sile ncio. - Eu sei que voce deve estar ansioso, mas, por favor, siga as minhas ordens. Eu vou

explicar tudo com detalhes, mas aqui... Ha pessoas demais. As palavras dela escondiam alguma coisa. O que estava acontecendo afinal? O que

eles queriam com Dajh? Ele queria perguntar muitas coisas, mas aquela era a PSICOM. E ela comandava uma unidade. A u nica coisa que Sazh podia fazer era concordar.

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(2) Eles fingiram que éramos pacientes de emergência, nos tirando dali e colocando

numa nave da PSICOM. Vez ou outra, um dos superiores aparecia e comentava que eles precisavam nos “observar”. Aquela tal de Nabaat ficava dizendo que foi “um golpe de sorte” ou algo do tipo. A especialidade da PSICOM é... Bom, popularmente eles são chamados de “Terror de Pulse”. Eu me perguntava o que podia haver de “sorte” na presença da PSICOM na usina.

Não, eu não me importava com isso, contanto que Dajh estivesse bem. Contanto que ele estivesse seguro. Mas eles não me explicaram nada, só nos arrastaram até Éden e nos colocaram no hospital do exército. Ela disse que explicaria os detalhes depois, mas, com a equipe médica em cima da gente o tempo todo, isso teria que esperar.

Mas ela disse: “A segurança do seu filho é a nossa prioridade máxima.” Então eu não perguntei mais nada.

Eu estava tão atordoado que esqueci completamente de apresentar você e Dajh. Mas você também não conseguiria se apresentar direito na ocasião, não é? Estava fazendo o meu cabelo de ninho, com tanto medo que nem conseguia se mexer, lembra? Quando finalmente saiu de lá, já era noite, e eu estava indo dormir. Não me deixaram ficar no mesmo quarto que Dajh. Eu estava sozinho, então comecei a pensar.

É claro que não consegui dormir. Não conseguia parar de pensar numa frase que a Tenente Nabaat disse: “A marca de l’Cie.”

No dia seguinte, nada havia mudado. Sazh ainda na o sabia o que estava havendo.

Abordou alguns dos me dicos, mas eles so diziam que ainda estavam investigando. Ou que a Tenente Nabaat explicaria tudo depois. Se ele perguntava onde ela estava, eles diziam que na o sabiam. Ele pensou que eles deviam estar escondendo alguma coisa, mas, ao mesmo tempo, pareciam realmente na o fazer ideia. Na o eram eles os responsa veis pela investigaça o a que Dajh estava sendo submetido, mas um dos seus superiores, um especialista.

Talvez eles tenham ficado com pena de Sazh, que estava ficando fora de si de ta o preocupado. A equipe me dica tentou localizar a Tenente Nabaat, mas na o se saiu muito melhor que ele. Ela estava fora a trabalho, na o era possí vel sequer contata -la.

- A Tenente Nabaat e uma pessoa muito importante. E nela que o Santua rio confia. No s na o podemos fazer nada.

A jovem moça que fez tudo o que po de para ajuda -lo pareceu ficar triste com seu insucesso. De acordo com ela, Nabaat se formou com as melhores notas da classe. Depois disso, avançou rapidamente para a posiça o de tenente, e na o demoraria muito para subir ainda mais.

Se algue m assim estava envolvida, enta o o que aconteceu em Euride na o foi um simples acidente. Pelo jeito, ele e Dajh se envolveram em algo muito se rio. Disso ele na o tinha du vida.

- Continuaremos tentando entrar em contato com ela, para que o senhor receba uma explicaça o o mais ra pido possí vel. Sei que esta preocupado, mas, por favor, aguente so um pouco mais.

- Eu entendo, mas e que... Faça o possí vel, por favor. – Sazh agradeceu e voltou para o seu quarto. Na o era uma enfermaria, mas um lugar a parte, reservado para as famí lias

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dos pacientes. Parecia mais um hotel. Tinha ate um computador com acesso a internet, entre outras coisas.

Quando ele parou na frente da ma quina, o filhote de chocobo saiu do esconderijo no cabelo dele. Provavelmente estivera esperando para ver se era seguro, por isso na o tinha saí do de la antes.

- Brinque aí o quanto quiser. Eu vou tentar conseguir alguma informaça o. – ele ligou o computador e abriu o navegador. Queria descobrir mais sobre essa “marca de l’Cie” da qual Nabaat falara.

E claro que ele ja tinha ouvido falar dos l’Cies. Conhecia as histo rias desde pequeno. Todos de Cocoon ouviam sobre eles em histo rias antigas e contos de fadas. Mas qual era a relaça o dessas fa bulas com a realidade? Ele na o conseguia entender o que isso podia ter a ver com Dajh e o incidente em Euride. Ele provavelmente ouvira errado, devia ser outra palavra. Na o l’Cie. Mas, se era assim, enta o o que Nabaat realmente disse? Ele precisava saber de qualquer jeito.

Sazh pensou que sua busca so resultaria em tí tulos de livros infantis. Mas estava enganado. Apareceram mais livros de Histo ria do que ele jamais imaginou. Havia co pias de textos antigos e ví deos de bibliotecas de refere ncia tambe m.

Sazh ainda estava pensando em qual link devia acessar primeiro quando o bebe chocobo veio voando ate o painel de controle. A tela mudou.

- Ei, ei, na o mexe nisso! Vai brincar pra la . – ele ja ia apertar o bota o para voltar a pa gina anterior, mas percebeu que o que aparecera na tela era algo bastante curioso. Era uma imagem de um texto antigo, letras e sí mbolos estranhos e gravados em pedra.

- Mas que coisa e essa? Ele reconhecia aquele sí mbolo. Na verdade, o vira no dia anterior. Era a marca que

estava no dorso da ma o de Dajh. Sazh leu o texto que acompanhava a imagem e ficou em estado de choque.

A “marca de l’Cie” que Nabaat falou... Ele na o ouvira errado.

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(3) Até agora, eu nunca tinha entendido a frase “tudo ficou escuro”. Mas acontece. Não

que realmente fique escuro, mas você simplesmente não consegue enxergar mais nada. Não importa o que apareça na sua frente, a mente não registra.

Lembro que a informação que eu acessei era de algum grupo de estudo de alguma universidade, ou algum grupo de pensadores independentes, sei lá. Mas não lembro mais o que estava escrito. Lembro que li, disso eu tenho certeza. Acho que dizia algo sobre os “l’Cies do Santuário” ou coisa do tipo.

Mas nada daquilo era o que eu queria saber, o que eu queria ouvir. Você sabe o que um pai quer ouvir, certo? Só uma coisa. Uma coisinha simples. “O seu filho vai ficar bem.”

Não sei por que achei que a Tenente Nabaat me diria isso. Eu estava em pânico. Cada palavra que eu lia parecia mais inacreditável que a outra. Eu não queria acreditar. Achei que uma soldada que se formou com as melhores notas da classe poderia me dizer isso, que tudo aquilo era um absurdo ridículo que não tinha nada a ver com a realidade. Eu me agarrei a esse pensamento como se a minha vida dependesse disso.

Só dois dias depois eu consegui vê-la. Três dias depois do incidente...

- Desculpe deixa -lo esperando por tre s dias. – Nabaat se curvou em mesura – Sei

que estava muito preocupado. – seu rosto era complacente. Eles estavam numa sala de observaça o me dica, de frente para um monitor. A tela

mostrava Dajh brincando com algo que parecia um quebra-cabeça. Nabaat disse que era uma das coisas que estavam usando na investigaça o. Sazh na o podia visita -lo ainda, mas a Tenente preparou essa sala para que ele pudesse pelo menos ver que seu filho estava bem.

- Desculpe todo o trabalho que eu dei. Voce tem os seus compromissos, eu entendo. Mas o Dajh, o meu filho... – Me deixe levá-lo para casa. Sazh queria dizer, mas na o disse. Olhou para Dajh no monitor, batendo as ma os em satisfaça o. La estava o sí mbolo, bem ali, no dorso da sua ma o. Não posso pedir isso, ele pensou, precisamos fazer alguma coisa quanto àquilo primeiro. Antes de irmos para casa.

- Voce provavelmente ja percebeu, mas... – Nabaat parecia prestes a dizer algo difí cil. Respirou fundo e continuou – Seu filho foi escolhido para ser um l’Cie. Pelo fal’Cie Kujata.

Sazh usou todo o tempo que teve nesses u ltimos tre s dias para pesquisar e estudar os l’Cies. Mas isso so o fez perder a esperança. Nabaat era a u ltima chance que ele ainda tinha. Ele tinha certeza de que ela diria: “Voce entendeu tudo errado. E claro que o seu filho na o e um l’Cie.” E riria da sua tolice. Mas suas palavras o lançaram no desespero. Ele nem percebeu que estava gritando.

- Como voce pode brincar com algo assim?! Os l’Cies sa o so uma histo ria antiga... - Eu entendo como se sente. – Nabaat fechou os olhos numa expressa o triste. Sazh

estava sem palavras. Devia dizer “Voce na o entende nada!” ou “Na o quero sua piedade!”? Na o, isso na o mudaria nada. Nada que ele dissesse mudaria algo. Ele preferiu na o dizer nada.

Eu não aceito isso. Não aceito. Sazh apertou o punho em frustraça o. - No s tambe m ficamos surpresos. – ela continuou com cuidado – De acordo com

os registros, na o ha um l’Cie ha centenas de anos. Desde a Guerra da Transgressa o.

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- Enta o por que ? Por que isso aconteceu com o Dajh? Por que justo Dajh? Havia outras crianças no mesmo lugar, muitas. Crianças da

mesma idade de Dajh. Alia s, precisava ser uma criança? Havia adultos la . Na o seria muito mais prudente escolher um deles? Enta o por que ele escolheu Dajh?

- Para dizer a verdade, no s na o sabemos. So podemos deduzir que foi considerado o mais indicado pelo fal’Cie.

- Um menino de seis anos? Isso e ridí culo! - Sr. Katzroy... – parecia que ela ia dizer alguma coisa, mas desviou o olhar e ficou

em sile ncio. Ela sabe de alguma coisa, pensou Sazh. Ainda está escondendo alguma coisa de mim.

- O que a PSICOM... O Santua rio vai fazer com Dajh? – Nabaat dissera antes que a segurança dele era a prioridade ma xima. Mas Sazh sabia que o exe rcito na o se importaria tanto assim com uma simples criança civil.

- Se voce prometer manter o que estou prestes a dizer em segredo... Bingo, pensou Sazh. Nabaat olhou diretamente nos olhos dele. - Um grande perigo se aproxima de Cocoon. Temos observado Pulse, e sabemos

que esta o preparando uma invasa o. - O que ? Como assim “uma invasa o”? De Pulse? Isso era grande demais, ele na o era capaz

de entender o escopo da situaça o. - O Santua rio esta tentando evitar que essa informaça o chegue ao pu blico, mas o

que aconteceu na usina na o foi um acidente. Foi um ataque dos inimigos de Cocoon. Aquela ne voa branca, o cha o tremendo... O Santua rio anunciou que foi apenas um

acidente. Mas foi algo planejado, algo de Pulse. - A destruiça o so na o foi pior graças a Dajh. Ele foi escolhido pelo fal’Cie para ser

um l’Cie. - Impossí vel. Como uma criança de seis anos poderia fazer alguma coisa? Era inacredita vel. Como um menino de seis anos seria capaz de conter os inimigos

de Pulse? - E a verdade. – disse Nabaat, desta vez rí spida – Mas os inimigos escaparam, ainda

esta o a solta. Na o sabemos quando ou onde havera outro ataque. Por isso pedimos a sua cooperaça o.

- Cooperaça o? Ele ainda na o conseguia ver a coisa como algo diferente de uma piada de pe ssimo

gosto. Cooperar? Com o que ? - Dajh foi escolhido. Ele e a chave para salvar Cocoon. Ele pode na o ter cie ncia do

pro prio poder, mas o Santua rio o ajudara a descobri-lo. Ele e o u nico que pode impedir a invasa o de Pulse. Enta o, por favor, senhor Katzroy... Por favor, nos ajude.

- Eu na o sei o que dizer. Isso e ta o repentino... Ele queria ouvir uma explicaça o mais concreta. Ele na o entendia nada daquilo.

Na o queria saber de uma invasa o de Pulse. So queria saber quando poderia levar Dajh para casa.

Havia alguma chance de eles voltarem a ter uma vida normal? - Sim, sim, eu entendo. – Nabaat assentiu va rias vezes. Ela na o parecia mais uma

soldada, e sim uma professora falando com uma criança pequena – Na o estamos pedindo que faça nada de mais. So queremos que cuide dele.

Eu devo estar parecendo uma criança desobediente agora, pensou Sazh.

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- Na o sabemos que Foco ou poderes Dajh recebeu. Mas precisamos descobrir o mais ra pido possí vel, por isso o estamos investigando agora. Infelizmente, na o podemos permitir que o visite ainda, mas entendo que esteja preocupado. Enta o, por favor...

Foco? Ah, claro. Se um l’Cie na o cumpre o seu Foco, se transforma num Cie’th, uma espe cie de zumbi decadente. Era disso que ela estava falando. No momento, a coisa mais importante era descobrir qual era o Foco dele. Sazh entendia. Na sua cabeça, ele entendia, mas no seu coraça o...

- Estamos fazendo de tudo para que voce possa ve -lo ja amanha . Mas precisamos terminar os testes que faltam. Enta o, por favor, espere so mais um dia.

Na o havia nada que Sazh pudesse dizer.

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(4) Ela não estava mentindo quando disse “amanhã”. Já era noite, mas finalmente me

deixaram ver Dajh. Te deixei no quarto porque, se te visse, Dajh podia ficar desconcentrado e não descobrir o seu Foco.

Ei, não faz essa cara! Eu queria muito que vocês se conhecessem. Mas o que a Tenente disse sobre crianças é verdade. Quando alguma coisa chama a atenção delas, elas esquecem todo o resto. Na época, eu não entendia realmente o que eles queriam dizer com Foco. Não a fundo. Mas estava em pânico. Não só naquela hora, mas o tempo todo. Eu só conseguia me preocupar.

Um menino de seis anos entenderia? Poderia entender? Era só nisso que eu pensava...

Quando chamaram Sazh para entrar, era uma sala diferente da do dia anterior. Em

vez de um monitor, havia uma grande janela. Era possí vel ver a sala ao lado nitidamente. Mas de la , na o era possí vel ver esta. Se fosse, Dajh o teria visto e vindo correndo. Eles provavelmente usavam essa sala para monitora -lo.

- Voce quer ve -lo primeiro? Ou prefere primeiro saber o que descobrimos? - O que descobriram... Por favor. Ele queria muito ver Dajh, mas estava preocupado com os resultados dos testes.

Se visse o filho pensando nisso, so o deixaria preocupado. Chegou a conclusa o de que era melhor ouvir primeiro.

Na sala adjacente havia um oficial brincando com Dajh. O homem aparentava ter no ma ximo trinta anos. Seu longo cabelo prateado e a cicatriz na testa provavelmente assustavam muitas crianças, mas Dajh parecia gostar dele. O homem devia gostar de crianças. Seu rosto era severo, mas era o bvio que tratava Dajh com carinho. Ou talvez so levasse suas obrigaço es a se rio.

- Dajh e um bom menino. Gosta de conversar e sempre obedece. – olhando pela janela, Nabaat sorriu.

- Bom, a ma e dele morreu quando ele era bem pequeno. Ele precisou ir para a creche e ficar com baba s, enta o se acostumou a brincar com adultos. Eu queria ser um pai mais presente, enta o pedi para me transferirem para uma rota local, para poder ficar mais tempo em casa.

Antes da sua esposa morrer, ha tre s anos, Sazh so vivia para o seu trabalho. Seu sonho sempre foi se tornar um piloto, e ele finalmente conseguiu na o so isso, como tambe m ser alocado numa rota de longa dista ncia. Tudo parecia perfeito.

Quando ele pediu para mudar de rota so para ficar com o filho, todos ficaram surpresos. Ate o pro prio Sazh achou estranho. Ele batalhou tanto para alcançar o sucesso profissional, e enta o de repente abriu ma o de tudo. Mas na o estava arrependido. Ele se deu conta, pela primeira vez, do prazer que era estar junto do seu filho. Era divertido e aquecia o seu coraça o.

Ele na o queria ver Dajh sozinho agora que perdera a ma e. Pelos u ltimos tre s anos, ele trabalhou e cuidou dele da melhor maneira que po de. Mas, na verdade, foi Dajh quem salvou Sazh. Seus sorrisos e seu amor se tornaram a raza o da vida dele.

- O que voce s descobriram? Podem cura -lo desse nego cio de l’Cie? – Eu não quero perder o sorriso de Dajh, pensou Sazh. Mas o rosto de Nabaat entristeceu.

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- Com a tecnologia humana... Sinto muito, mas simplesmente na o e possí vel. - Na o... – disse Sazh; sua voz parecia fraca e distante. Se Dajh na o cumprir o seu

Foco, vai se tornar um Cie’th. Um monstro. Se cumprir, se tornara um cristal. Os textos antigos diziam: “O l’Cie que completa o seu Foco e transformado em cristal e abençoado com a eternidade.” Mas para os humanos isso e a mesma coisa que a morte.

Sazh olhou para o outro lado da janela. Dajh estava andando de cavalinho nas costas do oficial. Ele estava rindo e batendo palmas de alegria. Seu sorriso era o mesmo de sempre, mas agora ele era um “l’Cie”. So por causa de uns rabiscos na ma o, ele nunca mais poderia ter uma vida normal.

- E se remove ssemos a marca? Uma daquelas te cnicas de remover tatuagem pode funcionar, na o?

Mesmo que, na pior hipo tese, fosse preciso cortar a ma o dele inteira, ainda seria melhor que se tornar um monstro ou cristal. Mesmo que na o pudesse mais usar a ma o, ele ainda teria a chance de viver uma vida feliz.

- Na o podemos. Na o ha como prever o que aconteceria com Dajh. Sabemos ta o pouco sobre os l’Cies... Na o, na verdade, na o sabemos nada.

- Mas... - Sei que e difí cil de aceitar, mas na o ha nada que possamos fazer para mudar a

condiça o dele. O que temos de fazer e descobrir quais sa o os poderes e o Foco de Dajh. So poderí amos pensar em cortar a marca como um u ltimo recurso. Porque e arriscado demais.

Era fa cil dizer isso, mas eles na o sabiam quanto tempo ainda restava. O tempo limite para ele cumprir esse Foco podia ser amanha ou daqui a um ano, na o havia como saber. Podia ate ser daqui a uma de cada...

- Mas progredimos um pouco. - Progrediram? Do que esta o falando? - Bom, ainda e uma hipo tese. – Nabaat começou a explicar – Parece que Dajh pode

“sentir” elementos de Pulse. Ele provavelmente sera capaz de descobrir onde esta o os l’Cies que atacaram Euride, bem como o fal’Cie que os controla.

A pouca esperança que Sazh ainda tinha se transformou em desespero. Dajh podia sentir onde aquelas pessoas de Pulse estavam. Mas isso so o colocaria em mais risco. Sazh finalmente entendeu. Percebeu a diferença entre as pessoas normais e a PSICOM. Para aqueles que protegem Cocoon de Pulse, uma habilidade dessas obviamente seria vista como um progresso. No fim, eles eram iguais aos fal’Cies. So queriam usar Dajh.

Ele na o sabia mais o que esperar da PSICOM ou do Santua rio. Na o podia contar com Nabaat nem ningue m dali. O u nico que faria algo por Dajh de verdade era ele.

- Por favor... Me deixe ver Dajh. Me deixe ver o meu filho. - Claro. Por aqui, por favor. – Nabaat se levantou, sorrindo. Ele na o sabia se era

porque seus pro prios sentimentos estavam abalados, mas teve a impressa o de que havia uma certa frieza por tra s daquele sorriso – Ele ficou muito empolgado quando soube que voce vinha hoje.

O que ela estava tentando faze -lo fazer? Ele na o podia confiar nela. - Papai! Dajh veio correndo quando a porta se abriu. - Dajh! Dajh pulou nele, e Sazh o pegou e abraçou. Ele parecia o mesmo de sempre.

Quando o sentiu nos seus braços, Sazh percebeu o quanto sofreria se Dajh deixasse de

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existir. Ele na o queria perder esse sentimento, esse calor. Ele o protegeria, de qualquer maneira.

- Ei, papai... Limpando rapidamente as la grimas dos cantos dos olhos, ele colocou Dajh no cha o. - Diga? – ele se ajoelhou e olhou nos olhos do filho. - Eu quero ver os fogos de artifí cio! Os grando es! - Fogos de artifí cio? - E , os grando es! La no ce u! Assim! – disse Dajh, fazendo um grande cí rculo no ar

com as ma os. - Bom, eles ainda te m va rios exames pra fazer, enta o vai ter que ser depois. - Na o! Fogos de artifí cio! Grando es! Ele queria dar tudo que Dajh desejava. Mas e claro que a PSICOM na o os deixaria

sair dali. Agora que sabiam que ele tinha o poder de sentir as pessoas de Pulse, eles continuariam fazendo testes ate descobrirem o seu Foco.

- Depois dos exames, esta bem? - Na o! Os fogos va o acabar! Dajh estava mais insistente que o normal. Geralmente ele exigiria bastante no

começo, mas na o demorava muito para desistir e obedecer. Sazh ficou com ainda mais vontade de realizar seu desejo.

- Mas agora tem os exames... – ele olhou para Nabaat. Dajh era um bom menino; se ela explicasse que os exames eram importantes, ele entenderia. Podia ficar triste, mas obedeceria. Mas Nabaat disse algo completamente inesperado.

- Quando disse que va o acabar, se referia ao festival de fogos de Bodhum? E mesmo, haveria um festival de fogos de artifí cio em Bodhum dentro de alguns

dias. Dajh devia ter reparado nos cartazes espalhados pela cidade quando eles estiveram la .

- Por que quer ir? Gosta de fogos de artifí cio? Dajh olhou para cima, como que procurando a resposta. Pressionou os la bios. - O que foi, Dajh? - Esta la . – murmurou, se agarrando em Sazh. - O que esta la ? Ele pressionou o nariz novamente contra o ombro de Sazh e balançou a cabeça em

negativa. - Tudo bem, Dajh. No s todos vamos ver os fogos de artifí cio juntos. – disse Nabaat,

acariciando o cabelo do menino. Ela estava falando se rio? - Tenente, tem certeza que devemos...? - Acredito que vale a pena verificar. – ela ajustou os o culos com a ponta do dedo e

fez um sinal para o oficial. – Ate agora, Dajh nunca tinha dito nada desse tipo. E possí vel que seu poder de sentir elementos de Pulse esteja agindo. E muito prova vel que aconteça alguma coisa no festival de fogos de artifí cio de Bodhum.

Claro que as intenço es dela na o seriam ta o simples quanto agradar uma criança. Sazh ficou quieto. Eles podiam querer que Dajh cumprisse seu Foco o mais ra pido possí vel, mas Sazh so queria leva -lo ao festival de fogos de artifí cio. Ele na o queria mais ve -lo sendo tratado como uma cobaia.

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(5) Nós íamos ver os fogos de artifício. Dajh ficou tão feliz que começou a correr e pular

pela sala. Devia estar cansado de todos aqueles exames que faziam nele. Apesar de aquele oficial da PSICOM e os psicoterapeutas infantis brincarem com ele, ainda era, em verdade, um pássaro numa gaiola.

Eles fizeram mais e mais testes, mas mesmo assim não conseguiram descobrir qual era o Foco. A única coisa que sabiam é que ele podia sentir a existência de elementos de Pulse. Mas, pra mim, parecia que nem isso era verdade. Na minha cabeça, eles só estavam mentindo pra mim, como se algo do tipo fosse me convencer a cooperar.

Eu ainda não acreditava quando entramos na aeronave para Bodhum. Ah, é, você também estava lá. Lembra de como Dajh ficou quando te viu? Eu não o via feliz daquele jeito há muito tempo...

Sazh observava Dajh correr de um lado para o outro nos corredores da nave, seus

pensamentos um turbilha o. O filhote de chocobo ia atra s. Quando as duas crianças... Na o, quando a criança e o pa ssaro se viram, a amizade foi instanta nea. A cabine estava uma confusa o por causa dos dois.

Bom, como na o havia mais passageiros, Sazh deixou eles brincarem a vontade. Quando pensou no quanto Dajh ficou preso naquele quarto, sentiu que ele tinha o direito de correr e brincar assim. Ele na o podia dizer na o. Nabaat na o parecia se incomodar tambe m. Na verdade, ate pediu para um dos seus homens tirar fotos de Dajh brincando com o chocobo. Talvez fossem usar para outro teste.

- Papai, estou com sede. – disse Dajh, correndo ate onde Sazh estava sentado. A agitaça o estava finalmente começando a cansa -lo. Obviamente, o filhote de chocobo veio logo atra s e usou a cabeça de Sazh como pista de pouso. Sazh abriu um suco, e Dajh bebeu tudo numa golada so . Com toda a correria e gritaria, e claro que ele ficaria com sede.

- Ah, e ! Temos que escolher um nome pro nosso amiguinho, na o e ? Quando Dajh e o chocobo se viram, a brincadeira começou na mesma hora. Na o

houve tempo para sequer pensar em nomes. - Hm... Um nome legal! Tipo o da TV! Dajh estava se referindo a um programa infantil que ele na o ficava um dia sem

assistir. O personagem principal era um filhote de chocobo que era um hero i da justiça. Os chocobos estavam ta o em alta entre as crianças hoje em dia por causa desse programa.

- Mas ei, e se for menina? O que vamos fazer? Dizem que nem especialistas conseguem identificar o sexo de um chocobo. Eles

sa o criaturas muito misteriosas. Sa o capazes de entender a lí ngua humana e te m um excelente senso de direça o. Mas era basicamente isso que se sabia sobre eles.

- Ta , enta o um nome legal e que serve pra menino ou menina! - Bom, essa vai ser uma tarefa difí cil. Mas voce vai ter bastante tempo pra pensar.

Ele na o vai embora mesmo. Mas o problema na verdade era quanto tempo Dajh tinha. Sazh ficou deprimido.

Que tipo de Foco uma criança de seis anos teria? Uma criatura inofensiva cuja vida se resume a pular, correr e brincar?

- Papai, papai, o que e aquilo? – disse Dajh, apontando para a janela.

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- Hm? Deixa eu ver... Ah, aquilo. E o Vestí gio de Bodhum. Daqui a pouco vamos passar por ele.

Dajh pressionou a testa contra a janela e olhou fixamente para as ruí nas. Sazh achou o grande interesse curioso, ja que ele ja tinha visto o lugar quando foram para Euride, mas talvez na o estivesse reconhecendo porque estavam do lado contra rio.

- Eu quero entrar. - No Vestí gio? Que pena, na o da . Na o tem porta. Ningue m nem sabe se tem alguma

coisa la dentro. E so uma coisa estranha de Pulse... – enta o Sazh se lembrou. Uma coisa estranha de Pulse? Na o foi isso que Nabaat disse? Que Dajh podia sentir os elementos de Pulse?

- Esta la dentro. - Dajh... Voce ... Ele estava amedrontado demais para dizer mais. - Dajh, tem alguma coisa la dentro? De repente Nabaat estava ao lado deles. Ela devia estar ouvindo. - Eu... Na o sei... Mas... Esta la ... - Entendo. Voce na o sabe o que e , mas sabe que tem alguma coisa la , na o e isso? Dajh fez que sim com a cabeça, sem desviar os olhos do Vestí gio. - Obrigada. Voce e um bom menino. – disse ela acariciando sua cabeça. Olhou para

Sazh como quem diz: “Esse e o poder do seu filho.” Mas ele ainda na o queria acreditar. O Vestí gio era de outro mundo, era natural ele

achar estranho. Dajh so estava interessado nele por causa disso, era so uma curiosidade de criança.

- Vamos organizar uma equipe para investigar o Vestí gio. E possí vel que os l’Cies de Pulse estejam...

- Esta brincando? E claro que isso na o e possí vel! – Sazh gritou sem perceber. Dajh se assustou e olhou para ele. – Na o se preocupe, o papai so ficou surpreso. Desculpe ter gritado, na o queria assustar voce .

Ele pegou Dajh pela ma o e colocou no colo. Na o queria que ele olhasse mais.

Eu não queria acreditar que ele realmente podia sentir as coisas de Pulse. Acho que,

lá no fundo, eu ainda tinha esperança de que fosse tudo um mal-entendido. É claro que Dajh não podia ser um l’Cie. Então, quando vi Dajh olhando para o Vestígio daquele jeito, não consegui aguentar.

Eu queria continuar acreditando que Dajh só queria ver o festival de fogos, que isso não tinha nada a ver com Pulse. Que ele só estava falando aquelas coisas porque a PSICOM estava confundindo sua cabeça. Eu nunca mencionei isso, mas Dajh sabia da história de que os fogos de artifício de Bodhum realizam desejos. Ele devia ter ouvido a conversa de alguém no trem para Euride.

Ei, você lembra o que Dajh desejou? “Quero que o papai fique feliz de novo”, ele disse. Eu soube que não podia continuar tão desanimado depois daquilo, não se estava preocupando o meu próprio filho. Então decidi que nunca mais ficaria triste ou preocupado na frente de Dajh de novo. Bom, pelo menos eu tentei, né? Mesmo depois do que a Tenente disse...

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A claridade era tanta que parecia dia. O festival de fogos estava acabando, e muitos deles, de todas as cores, iluminavam o ce u. Provavelmente todos ja tinham terminado de fazer os seus desejos. Agora so olhavam para o ce u, a s vezes proferindo um “oh!” ou “ah!”. Dajh segurava a ma o de Sazh. Ele pulava de alegria, sorrindo.

- Enta o, Tenente Nabaat... Como foi...? Sazh e Nabaat eram os u nicos olhando numa direça o completamente diferente da

das outras pessoas. Nabaat tinha ficado na aeronave esperando o relato rio da equipe de investigaça o. Se ela estava aqui agora, enta o...

- Recebi um comunicado da equipe de investigaça o. – disse Nabaat, falando baixo. Sazh respirou fundo e esperou ela continuar – Ha um fal’Cie de Pulse dentro do Vestí gio.

O mundo ficou mudo. A explosa o dos fogos, o burburinho da multida o, tudo sumiu. A u nica coisa que restou foi a voz de Nabaat.

- E uma vergonha. O Vestí gio esta aqui ha centenas de anos e o Santua rio nunca soube disso. Devemos muito a Dajh.

Dajh nem sabia que Nabaat estava falando dele. Estava pulando com as ma os levantadas para o ce u, como se pudesse tocar os fogos.

- Afinal, de repente ele disse que queria vir a Bodhum, que havia algo aqui... Quem poderia imaginar...

Quem poderia imaginar que havia um fal’Cie de Pulse em Bodhum? Dentro de uma ruí na sem entrada nem saí da.

- Agora temos certeza. Dajh pode sentir elementos de Pulse. - Mas e quanto ao Foco dele? E so sentir e encontrar essas coisas? O rosto de Nabaat nublou. - Ainda na o temos certeza. - Mas por que na o? Quer dizer, ele encontrou o fal’Cie pra voce s, na o foi? Por que

na o seria isso? - Me perdoe. Ainda ha muito que na o sabemos. Mas sinto que na o seria algo ta o

simples quanto encontrar o fal’Cie de Pulse... – Nabaat interrompeu o pro prio discurso. Parecia que na o queria dizer mais que isso. Se o Foco de Dajh fosse encontrar o fal’Cie de Pulse, a essa altura ele ja teria se transformado em cristal. O que significava que so encontrar o fal’Cie na o fora suficiente para cumprir o seu Foco.

Ele tambe m precisava encontrar todos os l’Cies que estavam escondidos? Ou talvez tivesse na o so que encontra -los, mas derrota -los. De todo modo, era um fardo pesado demais para um menino de seis anos.

- Papai! Ei, papai! – Dajh estava puxando o braço dele. - Ah, desculpa. O que foi? - Agora eu quero ir no Parque Nautilus! Sazh e Nabaat se entreolharam. O Parque Nautilus era um parque tema tico que o

Santua rio administrava. Era a grande atraça o da cidade de Nautilus. Sera que Dajh sentiu mais alguma coisa de Pulse? Deviam ser os l’Cies.

- Tem... Alguma coisa la ? Sua voz estava ta o tre mula que ele mal conseguiu falar. Se houvesse um l’Cie de

Pulse em Nautilus, enta o dessa vez Dajh podia acabar virando um cristal. - Tem! Tem um monte de chocobos! E aquelas coisas peludas! Sazh sentiu um alí vio. Dajh so queria ver os chocobos e as ovelhas. E claro, eles

tinham falado sobre Nautilus no trem para Euride. Ele provavelmente so tinha lembrado disso.

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- Parece que na o tem nada a ver com Pulse. – disse Nabaat. Sazh fez que sim. - Me leva, me leva! Ele ja ia dizer que eles iam depois, mas Nabaat falou primeiro. Sazh achou que ela

estaria decepcionada por suas expectativas na o terem sido atendidas, mas seu rosto era gentil.

- Dajh, sempre que voce quiser ir a algum lugar, e so me falar, ta bom? Ah, e claro. Mesmo que dessa vez na o tenha sido como o esperado, sempre havera

a pro xima. Provavelmente era isso que ela estava pensando. Ou talvez so tenha concluí do que uma criança que carrega o pesado fardo de ser um l’Cie merece se divertir um pouco, e decidiu conceder isso a ele. Na o, na o ela. Definitivamente na o ela.

- Eu levo voce pra qualquer lugar que quiser ir. - Parque Nautilus! - Esta bem, esta bem. Enta o, da pro xima vez, vamos todos juntos. Eu prometo! - Legal! Qualquer um que visse com certeza acharia aquela cena linda. Qualquer um que

na o soubesse a verdade. Sazh desviou o olhar e se deparou com um rosto familiar. Aquele soldado de cabelo prateado. Qual era o nome dele? Tenente Rosch ou algo assim.

- Tenente Nabaat. – a voz dele era incisiva. Sazh teve um mau pressentimento. Nabaat se levantou. Achando que Rosch tinha vindo brincar com ele de novo, Dajh ficou todo animado. Sazh o pegou no colo e virou para o outro lado. O que eles iam conversar provavelmente na o era algo que uma criança devesse ouvir.

- A decisa o foi tomada. De costas, Sazh ouviu a conversa.

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(6) A “decisão” da qual o Tenente Rosch falara era uma quarentena de toda a Bodhum

e seus habitantes. Eles vieram no dia seguinte ao festival de fogos. A PSICOM age rápido. Mas o mais impressionante mesmo foi a velocidade com que montaram as barricadas ao redor do Vestígio. Embora eu só tenha ficado sabendo disso depois.

Parece que a equipe de investigação que foi enviada ao Vestígio nunca voltou. Nem sequer um deles. Depois de entrar em contato via rádio para informar sobre a existência do fal’Cie, eles se perderam lá dentro. Ao invés de enviar uma equipe de resgate, a PSICOM selou o Vestígio. Apesar de eles ainda poderem estar vivos lá dentro, em algum lugar.

Bom, talvez os soldados estivessem acostumados com esse tipo de coisa. Mas os civis não. Acha que eles simplesmente aceitariam isso? Não, é claro que não. E muito menos eu. Não houve nenhuma explicação, só disseram que não podíamos sair da cidade. Quem em sã consciência ficaria quieto engolindo isso?

Especialmente naquele dia, porque isso não afetava só os moradores de Bodhum. Havia turistas de toda Cocoon lá. Naquele dia, logo depois do festival de fogos de artifício, tudo virou uma loucura...

Depois do festival, nós passamos a noite na guarnição da força de segurança. A

princípio, a ideia era voltar ao centro médico de Éden, mas quando Dajh disse “Já vamos voltar?”, os planos mudaram. A PSICOM achou que talvez ele estivesse sentindo alguma coisa de Pulse e preferiu ficar.

A equipe me dica responsa vel pelos testes de Dajh fora com eles para Bodhum,

mas na o era possí vel fazer muita coisa na guarniça o. Separar pai e filho a essa altura na o traria nenhum benefí cio tambe m, enta o eles ganharam um pouco mais de tempo juntos.

Nabaat ja tinha pedido que Sazh continuasse a monitorar Dajh. Segundo ela, qualquer coisinha que ele dissesse poderia ser uma pista importante. Sazh na o podia recusar. Mesmo que o fizesse, eles ainda instalariam uma ca mera ou gravador de voz no quarto, no mí nimo. Eles iam ser vigiados de qualquer jeito. Sazh sabia disso muito bem. De todo modo, Dajh estava feliz. Correu pelo quarto com o filhote de chocobo durante um bom tempo, ate que, enfim, caiu na cama.

Sazh achou que Dajh ia dormir ate tarde no outro dia, mas ele acordou no mesmo hora rio que de costume, com uma cara de sono. Tomou o cafe rapidamente e quando viu o filhote de chocobo brincando, tudo que queria fazer era brincar tambe m, esquecendo completamente o cansaço.

Dajh provavelmente queria vir a Bodhum para escapar de todos aqueles testes. Agora ele na o parecia ter nada a ver com aquela histo ria de l’Cie ou inimigos de Pulse. Estava completamente diferente de quando disse que queria vir assistir aos fogos.

- Papai, eu quero ver televisa o! - O que ? Ah, e , esta na hora. Era so um programa infantil de quinze minutos, mas Dajh sempre assistia antes

de ir para a creche, enquanto Sazh trocava de roupa. Sazh pensava que eles repetiriam esse ritual todos os dias ate que Dajh ficasse velho demais para assistir programas desse tipo. Depois do trabalho, ele ia ate a creche buscar o filho, e no caminho eles falavam sobre o que o teria no jantar, paravam para comprar coisas nas lojas... O que parecia uma

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coisa corriqueira agora era como um milagre. Mas esse milagre tinha ido embora, sua luz se apagara.

- Papai, a TV esta esquisita! – disse Dajh, descontente – Todos os canais sa o iguais. Sazh olhou para a tela, se lembrando de onde estava. - Essa e ... A Estaça o de Bodhum... – a imagem mostrava a estaça o interditada e

cercada de soldados. A voz de uma apresentadora acompanhava as cenas: - Na noite passada, um fal’Cie de Pulse foi encontrado no Vestí gio de Bodhum. O

Santua rio decidiu colocar toda a cidade de Bodhum e as regio es imediatamente ao seu redor em quarentena.

A TV enta o mostrou a imagem de uma frota de aeronaves acima da estaça o. Sazh correu para a janela. Podia ver as naves ultravelozes do exe rcito decolando, e soldados correndo para todos os lados. O ce u na direça o da estaça o estava completamente tomado. A narraça o continuou:

- O Santua rio revelou que o incidente que ocorreu na usina de energia de Euride na verdade foi um ataque dos l’Cies de Pulse.

Sazh voltou a olhar para a TV quando ouviu a palavra “Pulse”. Havia inu meras pessoas na frente da estaça o, e soldados empurrando-as para tra s. Provavelmente eram turistas. “No s nem moramos aqui”, deviam estar dizendo, “foi so coincide ncia estarmos aqui hoje. Por que temos que passar por isso?”

Sazh entendia a situaça o deles. Ele mesmo se sentiu perdido assim sete dias atra s. - Com o recente desdobrar de eventos, a situaça o dentro da cidade parece tensa.

Alguns ja dizem que medidas mais dra sticas que a quarentena sera o necessa rias. Ele na o queria ouvir mais. Na o queria ver aquele reflexo do seu pro prio desespero.

Sazh desligou a TV. - Nada de TV hoje. Voce vai ter que assistir amanha . Olha, ele quer brincar. O filhote de chocobo saiu voando de dentro do cabelo dele. Dajh riu e a duplinha

começou a correr pelo quarto. A essa altura, ele ja devia ter se esquecido completamente do tal programa que queria assistir.

Houve uma batida na porta, como se algue m estivesse esperando exatamente por aquele momento. E claro, afinal eles estavam sendo vigiados. Quando Sazh abriu a porta, Nabaat estava do outro lado.

- Sr. Katzroy, vamos sair daqui o mais ra pido possí vel. Prepare-se. - Tem certeza? E quanto a sentir as coisas de Pulse e tudo mais? Ela olhou para dentro do quarto por sobre o ombro de Sazh. Quando viu que Dajh

estava totalmente entretido com o chocobo, disse no ouvido dele: - O Santua rio chegou a conclusa o de que Bodhum foi contaminada por Pulse. O que significava que decidiram expulsar todos os que tinham alguma chance de

serem de Pulse na o so da cidade, mas de Cocoon. Seriam deportados para Pulse. Nabaat falava de um jeito como se fosse o pro ximo passo lo gico depois de uma quarentena.

- Quando o anu ncio for feito, acreditamos que as pessoas ficara o descontentes. Seria mil vezes pior que isso. Se a situaça o ja estava ruim porque na o podiam sair

da cidade, se fossem mandados para Pulse, para o inferno, as pessoas começariam a se revoltar. Era so uma questa o de tempo.

- Claro que precisamos encontrar os l’Cies de Pulse o mais ra pido possí vel, mas a segurança de Dajh e mais importante que qualquer outra coisa. Quando a nave estiver pronta, virei busca -los.

Nabaat se virou e saiu, deixando apenas suas palavras para tra s.

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O transporte na o demorou. Eles na o disseram se iam voltar para o centro me dico ou se iam para algum outro lugar, so mandaram os dois entrarem na nave. Sazh na o fez nenhum questionamento. Ele achou que Dajh ficaria brincando com o filhote de chocobo na nave como na vinda, mas desta vez ficou quieto. Permaneceu sentado, vendo Bodhum pela janela.

- Papai, tem uma coisa voando. – murmurou Dajh. - O espaço ae reo de Bodhum tinha sido bloqueado pela força ae rea da PSICOM,

enta o era de se esperar. Com certeza haveria uma porça o monte de... Hm? Quando olhou pela janela, ele viu a “coisa” de que Dajh falava. Parecia uma nave

militar normal, daquelas mais velozes, mas seus movimentos eram estranhos. - O que esta acontecendo? Enta o ele entendeu por que era ta o estranho. Ela estava sendo perseguida por

outras naves militares. Ate sendo atacada por elas. A outra nave estava tentando evitar os ataques, subindo, descendo, indo para um lado e para o outro, tornando a sua rota de voo bizarra. A nave parecia estar indo para o Vestí gio, ou pelo menos tentando.

- Eles va o cair! – gritou Dajh. A nave fora atingida, começando a cuspir uma fumaça negra pelos canos, mas ainda continuava tentando alcançar o topo das ruí nas. Enta o algue m pulou da nave.

- Uma civil? Parecia ser uma moça jovem. Ela estendeu a ma o para a nave e gritou alguma coisa.

E claro, era por isso que eles estavam sendo perseguidos. Eram civis que roubaram uma nave militar. Enta o a garota foi engolida pelo Vestí gio. A nave onde ela estava foi lançada longe. O que tinha acontecido?

- Dajh, voce viu algue m pular daquela nave nas ruí nas? De repente, Nabaat estava ao lado deles. Dajh fez que sim. - E viu a pessoa desaparecer? - Na o desapareceu. Esta la dentro. Parecia que os olhos de Sazh na o o enganaram, ela realmente fora sugada para

dentro das ruí nas. Mas isso significava que havia uma civil la dentro, uma pessoa feita refe m pelo fal’Cie de Pulse.

- Bom trabalho, Dajh. – disse Nabaat, acariciando sua cabeça. Sazh se perguntou o que Nabaat estaria pensando. Eles na o deviam ir resgatar a garota?

- Voce ... Voce s precisam resgata -la! - Na o ha necessidade disso. O Vestí gio tambe m sera levado para Pulse, selado do

jeito que esta . Ele vai para o mesmo lugar que o resto dos civis de Bodhum, enta o na o faz diferença.

Sazh na o podia acreditar no que estava ouvindo. Eles iam simplesmente deixar aquela garota nas ma os do inimigo? Era isso mesmo?

- Ale m do mais, e altamente prova vel que ela seja uma l’Cie de Pulse, na o acha? O inimigo do seu filho, era isso que ela queria dizer. Nabaat olhou para Dajh. Ele

ja tinha perdido o interesse no que acontecia la fora e estava brincando com o filhote de chocobo. Dajh sentira outra coisa de Pulse, mas seu Foco ainda na o fora concluí do. Apesar de ter visto uma garota que podia ser uma l’Cie de Pulse, ele ainda na o tinha virado cristal. O que significava que o Foco de Dajh era na o so encontrar o fal’Cie ou os l’Cies de Pulse, mas tambe m derrota -los.

- Dajh demonstrou interesse pela nave em que a garota estava. Enta o o melhor a se fazer e levar o Vestí gio para Pulse sem nos preocuparmos com ela.

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Sazh sentiu algo estalar dentro dele. - Acha mesmo que isso e o melhor? O que deu em voce ? Se mandarem aquela coisa

para Pulse... Se a mandassem para Pulse, as pessoas de Cocoon na o poderiam mais alcança -la.

E Dajh nunca poderia cumprir o seu Foco. - Se a mandarmos para Pulse, os cidada os de Cocoon ficara o livres de uma ameaça. - Isso pode ser o timo pra voce , mas e quanto a Dajh? Vai simplesmente deixa -lo se

transformar num Cie’th? Enta o por que ficaram fazendo esses testes idiotas nele? Nabaat na o moveu sequer uma sobrancelha. - E evidente que tudo que fazemos e pelo bem do povo de Cocoon. Esta sugerindo

que existe algo mais importante que isso? - O que ...? Ele nunca sentiu tanta raiva, mas as palavras agarraram na garganta. Apertou os

punhos, mas mesmo assim eles na o paravam de tremer. - Na o confunda as coisas, sr. Katzroy. Meu trabalho e proteger o povo de Cocoon

da ameaça de Pulse. Suas palavras eram frias, como o gelo. Um sorriso terrí vel pairava nos seus la bios. - Deví amos parar de discutir, na o acha? Pense em como o seu filho esta se sentindo

agora. Sazh olhou na direça o de Dajh. Aquela na o era uma conversa que uma criança

devia ouvir. Felizmente, ele estava concentrado em escalar os bancos, sem dispensar a menor atença o a eles. Aliviado, Sazh sentiu toda a força se esvair das suas pernas. Caiu no banco atra s de si e segurou a cabeça com as ma os. Ouviu os passos de Nabaat se afastando, mas na o conseguiu reunir energia para se manifestar novamente.

Eu não posso fazer nada, pensou. Ele sempre soube, desde o iní cio. Para a PSICOM e o Santua rio, Dajh na o passava de uma ferramenta a ser usada. Uma u nica criança na o importava se o que estava em jogo era o mundo todo. Na o era so Nabaat. Toda a PSICOM – na o, todas as pessoas de Cocoon pensavam assim.

Claro que, na balança de Sazh, as medidas eram outras. O que importava era Dajh, o resto de Cocoon podia ir pro inferno. O que significava que ele era o u nico que podia fazer alguma coisa pelo filho. Ele teria que cumprir o Foco de Dajh para ele, com as suas pro prias ma os. A realidade era triste, mas muito simples: quer Dajh completasse o seu Foco ou na o, eles nunca mais poderiam voltar para a vida que tinham antes. A u nica coisa que restava para ele agora era a morte ou algo equivalente. Mesmo assim, ser um cristal era muito melhor que ser um monstro.

Sazh teria de destruir o fal’Cie de Pulse. Mas como? Ele era so um humano normal. Seria um humano capaz de derrotar um ser ta o poderoso como um fal’Cie? Na o, ele na o podia pensar assim. Se lembrou da garota que saltou da nave e foi engolida pelo Vestí gio. Devia ser impossí vel roubar uma nave, escapar de todos aqueles soldados e ainda chegar ao topo das ruí nas. Mas ela conseguiu. Como Nabaat dissera, eles provavelmente eram inimigos de Dajh. Mas eles deram esperança a Sazh. Mesmo que fosse algo impossí vel, ele tinha um motivo para tentar.

- Dajh... – ele so pretendia dizer no seu coraça o, mas o nome escapou pelos la bios. - O que foi, papai? Dajh estava no banco atra s do dele. Deu um pulo e olhou no rosto de Sazh. - Na o... Na o e nada... – sua visa o ficou embaçada. Ele olhou pela janela. – O papai

vai tirar uma soneca, ta ?

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- Ta bom. – disse Dajh, voltando a correr. Sazh ficou la , com os olhos fechados, ouvindo os pios do filhote de chocobo e as risadas felizes de Dajh.

Quando chegaram ao centro me dico, eles foram colocados em quartos separados.

Sazh queria que pelo menos o filhote de chocobo ficasse com Dajh, mas na o deixaram. - Na o! Eu quero ficar com o papai! Dajh segurou a bainha da capa de Sazh e na o soltava. Talvez ele soubesse o que o

pai pretendia. Que ele pretendia destruir o fal’Cie de Pulse antes que o exe rcito tivesse a chance de mandar o Vestí gio para Bodhum.

- Desculpe, Dajh, mas voce ainda precisa fazer alguns exames. Aguente so mais um pouquinho. Amanha voce vai poder brincar mais com o seu pai. Assim esta bom? – sorriu Nabaat.

Dajh parecia inconsola vel. Ainda se segurava em Sazh. - Quando os exames acabarem, eu vou comprar tudo que voce quiser. O que voce

prefere? Um livro de colorir? Um chocobo gigante? - De verdade? - E , de verdade! O que voce quiser, e so pedir! - Eu quero ir no Parque Nautilus! Quero ver os chocobos! Outra vez o Parque Nautilus. Ele dissera isso durante o festival de fogos tambe m.

Devia querer muito ir la e ver aquele monte de chocobos. Sazh queria que Dajh pedisse algum brinquedo ou outra coisa fí sica, assim teria uma desculpa para sair e ir ate o Vestí gio. Mas Dajh na o estava pedindo coisas. Ele queria um lugar, queria ficar mais com o pai. Enta o ele fez uma promessa. O que mais podia fazer?

- Ta bom. Quando voce terminar os exames, no s vamos ao Parque Nautilus. O filhote de chocobo piou, como que dizendo para na o esquecerem dele. - E claro que voce vai tambe m! - Legal! Voce promete, papai? - Eu prometo. Uma promessa que ele nunca poderia cumprir. Se Sazh derrotasse o fal’Cie, Dajh

viraria cristal antes mesmo dos testes acabarem. Se na o derrotasse... Ele viraria um Cie’th.

- Mas voce tem que fazer os exames direitinho, viu? Sazh fez que sim e finalmente largou a roupa dele. Estava extremamente feliz com

a ideia de poder ir ao Parque Nautilus. Estava sorrindo. Aquele sorriso sempre fez bem a Sazh, sempre o colocou para cima. Era o seu tesouro. Não vou deixar você virar um monstro, jurou. Mesmo que se torne um cristal, quero que continue sorrindo até o fim...

Ele gravou o rosto de Dajh na memo ria pela u ltima vez e tentou sorrir tambe m. Se perguntou se conseguiria. Ele na o podia deixar Dajh ou Jihl saberem que aquilo era uma despedida.

- Muito bem, Dajh, vamos para o seu quarto? Temos muito a fazer. - Ta . Papai, voce prometeu, hein? – disse ele e entrou. Num momento ele estava la ,

no seguinte na o mais. Sazh rangeu os dentes. Mas era melhor assim. - Obrigada por cooperar, sr. Katzroy. - Ahn, na o, eu... Era como se ele ja tivesse esquecido o que dissera na nave. Ela fez uma breve

mesura. Nabaat era uma mulher inteligente, Sazh na o sabia se conseguiria engana -la.

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Mas precisava conseguir. Tentou se acalmar antes de falar: - Tem so uma coisa que eu gostaria de pedir. Ele sabia que estava sendo vigiado, como Dajh. Se queria ir a Bodhum, primeiro

precisaria arranjar uma desculpa para sair. - Eu gostaria de ir a Palumpolum e comprar um livro de colorir ou um brinquedo...

Alguma coisa, sabe, pro Dajh. Havia uma grande loja em Palumpolum especializada em artigos infantis. Quando

ele ainda trabalhava numa rota de longa dista ncia, costumava parar la e comprar todo tipo de brinquedos para Dajh. Na e poca, ele na o interagia com o filho o bastante para saber do que ele gostava, enta o so comprava a primeira coisa que via. O resultado a s vezes era muito engraçado.

- Bom, e que... Deve ser difí cil pra uma criança ta o pequena ter que passar por todos esses testes. Eu queria comprar alguma coisa pra alegra -lo, faze -lo parar de pensar nisso um pouco. E so isso, sabe.

- Sim, tenho certeza que isso deixaria Dajh muito feliz. - Se eu for agora, acho que consigo estar de volta ate amanha a tarde. Mas se Dajh

perguntar sobre mim, por favor, na o diga onde eu fui. Quero que seja uma surpresa. - Tudo bem. Eu entendo. – disse ela, sorrindo. Enta o disse: – Sendo assim, que tal

levarmos voce numa das nossas naves militares? Sera muito mais ra pido que pegar um transporte civil.

Eu sabia, pensou Sazh. Eles iam vigia -lo de qualquer jeito. Ele ficou feliz por ter escolhido Palumpolum. Se fosse uma cidade pequena, ele na o conseguiria despista -los, mas numa cidade grande e movimentada, seria fa cil desaparecer.

- Seria maravilhoso. Obrigado. Isso ia funcionar. Tinha de funcionar. Ele se forçou a sorrir.

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(7) Escapar dos meus cães de guarda foi mais fácil do que pensei. Eu sempre fui àquela

loja comprar presentes pro Dajh. Conheço cada canto. Eles vão aprender que não se deve subestimar um civil. Quando saí de Palumpolum, preferi alugar uma aeromoto em vez de pegar um trem. Assim seria mais difícil me rastrear.

A parte mais difícil devia ter sido entrar em Bodhum, mas não foi. A PSICOM tinha ordens para não deixar nada sair, nem sequer um rato. Mas não havia nenhum problema em entrar.

Eu disse a eles que minha esposa e meu filho estavam na cidade e que queria ficar com eles. Se eles iam ser mandados para Pulse, eu queria ir junto. Foi tão fácil, eles nem se deram ao trabalho de me revistar. Até que eu sou bom nisso, hein?

Bom, agora é hora de nos despedirmos. Afinal, dizem que Pulse é o inferno. Não que eu pretenda ir até lá, mas não sei se vou conseguir chegar ao fal’Cie antes disso. E derrotá-lo também não vai ser fácil. Então, sinto muito, mas não posso levar você comigo. Acho que você consegue sair da cidade antes que os soldados notem. Quando estiver fora de Bodhum, estará livre para ir para onde quiser. Só ficamos juntos por pouco tempo, mas você me ajudou muito. Ajudou Dajh também, eu acho. Deu um motivo para ele sorrir. Então obrigado.

Ah, mas o que é isso!? O que você está fazendo? Ai, ai, ai, ai, ai! Pare de me bicar! O que deu em você?!

Você... Quer vir comigo? Então acha que eu não dou conta sozinho, é? Tá bom, tá bom. Tudo bem. Vamos cumprir o Foco do Dajh pra ele e depois voltaremos juntos. Assim está bom?

Ah, é, acabou que não escolhemos o seu nome. Dajh estava tão empolgado brincando que nem lembrou disso. Quando voltarmos, essa será a primeira coisa que faremos. Como era mesmo? Um nome legal que sirva pra menino e menina, né? É, vamos arranjar um nome assim pra você. É uma promessa.

Todos os trens da Estaça o de Bodhum estavam bloqueados, exceto um. O u nico

que restava ia para o Limite Suspenso, na fronteira leste de Cocoon. Era o trem que ia para Pulse, numa viagem sem volta. Os trilhos estavam velhos e enferrujados.

A situaça o estava completamente diferente do que apareceu no jornal na ve spera. Ningue m estava enfrentando os soldados. Todos haviam desistido, caí ram no desespero. E agora estavam embarcando na sua u ltima viagem de trem.

Ele na o podia deixar que eles soubessem que estava ali por outro motivo. Que na o estava indo para Pulse, e sim para o fal’Cie de Pulse. Sazh caminhou como o resto deles, olhando para o cha o. Mesmo assim, sentia que tinha mais esperança que qualquer um ali. Ele tinha um plano, ia fazer alguma coisa. Mesmo que nunca mais fosse ver o seu amado filho...

- Depois que entrarmos ali, nunca mais poderemos voltar. Tem certeza que quer isso? – sussurrou ele para o filhote de chocobo enfurnado no seu cabelo. Sentiu uma bicada na cabeça.

- Ai! Ta bom, entendi. Estamos nisso juntos. Vamos enta o. – ele murmurou, seguindo na direça o da estaça o. Para o começo de uma nova jornada, uma sem bilhete de volta.

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(1) Fang sentiu um arrepio na espinha enquanto caminhava pelas ruas abarrotadas

do distrito comercial de Bodhum. Seria porque estava bem no meio do territo rio inimigo? Na o, na o parecia ser isso. Talvez fosse porque estava sendo seguida? Na o, na o era isso tambe m. Ela ja tinha despistado os perseguidores.

Apareceram mais soldados do que ela esperava, mas, felizmente, Euride ficava entre o mar e uma cadeia de montanhas. Havia muitos lugares para ela se esconder, e o terreno a ajudou a deixar pistas falsas para o inimigo enquanto escapava.

Fang teve sorte e encontrou uma aeromoto cujo dono estava bastante distraí do. Assim, ela po de se locomover muito mais ra pido. Ela nunca havia pilotado um veí culo de Cocoon antes, mas conseguiu se virar.

Na o foi difí cil voltar de Euride para Bodhum. A estrada era larga e bem sinalizada, sendo possí vel cruza -la mesmo durante a madrugada. Antes de entrar na cidade, ela descartou a aeromoto num canto e fez o resto do caminho a pe . Ja era manha quando chegou ao templo.

Mas Vanille na o estava la . A comida que elas tinham guardado continuava intocada. Ela na o devia ter voltado para Bodhum. Ou talvez ainda estivesse fugindo do inimigo.

Não se preocupe. Não importa para onde você vá, eu vou te encontrar. Era uma promessa que ela tinha feito ha muito, muito tempo. Ela tinha de encontra -la o mais ra pido possí vel. Vanille devia estar se sentindo sozinha. Chorando enquanto dormia, como sempre.

- Aquela garota esta sempre chorando... – ela murmurou. Sua voz falhou. Tinha esquecido que passara a noite toda correndo, sem comer nem beber nada. A garganta estava seca.

Ela foi ate uma daquelas ma quinas quadradas num canto da rua, sacou seu carta o e o segurou em frente a coisa. Apertando boto es aleato rios, foi recompensada com o som de uma lata cheia de bebida caindo na pequena abertura na parte da frente.

Fang ja tinha se acostumado a abrir esse tipo de recipiente. Eles eram um pouco diferentes dos de Gran Pulse, mas na o muito complicados. Ela odiou admitir, mas, apo s se acostumar, os recipientes de Cocoon na verdade eram mais fa ceis de abrir.

Enquanto bebia o lí quido, pensou em Vanille. Talvez naquele exato momento ela estivesse com fome, incapaz de conseguir comida. Elas tinham roubado dois daqueles carto es, e Vanille estava com o outro, mas elas nunca chegaram a testa -lo. O u nico que elas realmente tinham usado ate agora era o que estava com Fang.

Um pa ssaro passou voando, e Fang enrijeceu. Um pa ssaro branco. Outra vez?, ela pensou. Era aquele estranho pa ssaro humanoide que elas viram alguns dias atra s. Se bem que, por mais estranho que fosse, ate agora parecia ter trazido sorte a elas. Ele apareceu pela primeira vez quando elas conseguiram os carto es, afinal. Ela o viu quando escapou de Euride tambe m. Foi na ocasia o que encontrou a aeromoto e conseguiu deixar os soldados para tra s. Sendo assim, enta o talvez algo de bom fosse acontecer de novo. Por exemplo, talvez ela encontrasse Vanille...

Fang se voltou para a multida o, na esperança de ve -la. Observou com cuidado as portas das lojas, vendo as pessoas entrando e saindo.

- Acho que na o... – suspirou. Ela na o estava por ali, mas talvez tivesse voltado a praia. La havia garotas que usavam roupas como as dela, enta o talvez tivesse ido para la para na o chamar atença o. Deixando a lata vazia no cha o, Fang começou a andar.

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- Ei, voce podia pelo menos jogar isso no lixo. Ela ignorou a voz. Era melhor na o se envolver com ningue m de Cocoon. Isso, e ela

sabia que na o precisava temer um ataque mesmo que estivesse de costas. Tudo era ta o calmo e seguro ali em Cocoon que ela mal podia acreditar. Ate mesmo os soldados que ela encontrou antes em Euride mal tinham alguma experie ncia de luta. Treinamento eles certamente tinham, mas experie ncia de verdade na o.

- Ei, espera um pouco aí , “Srta. Sem Educaça o”... Agora a voz estava bem atra s dela. Ela nem percebeu o homem se aproximar. Uma

imprude ncia. Parou e olhou para ele por sobre o ombro. Fez mença o de se virar, mas correu rapidamente para a multida o. Ningue m atiraria nela no meio de um grupo grande como esse. Essas pessoas na o tinham tanta determinaça o.

Ela na o vira aquele uniforme azul em Euride, mas sabia que era um soldado. Ele chegou perto dela sem que ela notasse. Era bem treinado, na o seria ta o fa cil fugir dele.

Fang correu ate a frente do shopping, mas na o ousou entrar. Um lugar fechado com tantas pessoas seria perigoso. Se esgueirando por um beco, dobrou va rias esquinas ate chegar a um muro, o qual pulou facilmente.

Fang correu tanto que em dado momento nem sabia mais onde estava. Mas na o havia mais ningue m atra s dela, ela na o estava mais sendo seguida. Suspirou aliviada. Seu peito doeu e ela perdeu o equilí brio. Provavelmente correra mais do que devia; precisava recuperar o fo lego antes de continuar.

Enta o ela sentiu um golpe nas costas; o mundo balançou. Algue m tinha pulado em cima dela, mas, quando se deu conta, ja era tarde demais.

- Desgraçado! – ela reuniu toda a força que conseguiu nos braços para tentar se libertar, mas na o... Estava presa. Ele algemara seus braços, na o havia o que fazer.

- Calma! Na o somos seus inimigos! – ele tirou as ma os dela – Sinto muito ter que fazer isso com voce . Meu nome e Rygdea. Sou da Cavalaria... Ahn, na o que voce saiba o que e isso...

Diante dela estava um homem de rosto gentil e barba por fazer. Seu rosto era sim amiga vel, mas fora ele quem a prendera. Era um homem cuidadoso e ha bil, ela sabia que na o conseguiria escapar dele. Provavelmente ele era muito mais forte que qualquer um daqueles soldados que ela encontrara antes.

- Eu gostaria que voce conhecesse uma pessoa. Por favor, venha comigo. Ela so se levantou porque ja estava cercada, e todos os soldados tinham uma arma

apontada para a sua cabeça. Mas o u nico que ousara se aproximar dela fora Rygdea. Os outros se mantinham o mais longe possí vel. Pate tico.

Ale m das algemas, agora colocaram uma venda nela. Rygdea a tocou gentilmente no ombro para indicar o caminho. Na o havia nada que ela pudesse fazer a na o ser seguir as ordens deles.

- Se na o fizermos isso, sabemos que voce na o aceitara vir conosco. Mas na o vamos muito longe, enta o na o se preocupe.

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(2) Na o demorou muito para Fang entender por que tinha sido vendada. A nave deles

era ta o estreita que seria impossí vel travar uma batalha usando armas de fogo la dentro. Se ela na o estivesse vendada e algemada, poderia resistir e escapar.

Mas ela na o ficaria muito tempo assim, como Rygdea prometera. Mal a nave alçou voo, ela sentiu os tremores da aterrisagem. Uma ma o cutucou suas costas, indicando que era hora de andar, mas logo mandou parar de novo.

Houve um leve ruí do. Parecia vagamente familiar, e logo ela percebeu que era o som de portas se abrindo e fechando. Todas as portas do shopping e da usina de energia faziam o mesmo barulho.

Uma voz começou a falar, e era uma que ela na o reconhecia. Talvez fosse o homem que Rygdea queria que ela conhecesse.

Parecia que Rygdea era um “capita o”. Ela ouvira a palavra diversas vezes enquanto fugia. Aparentemente, os soldados usavam um sistema de tí tulos para marcar a posiça o hiera rquica uns dos outros.

A venda foi removida, e os olhos de Fang arderam com a luz forte da cabine. Ela rapidamente examinou a a rea, descobrindo que todos os soldados tinham ido embora. Havia apenas dois homens la agora: Rygdea e mais um. Ele tinha cabelos negros e um rosto calmo que denunciava que na o era um qualquer

- Tire as algemas. - Tem certeza, General Raines? A mocinha e forte. - Na o importa. O que aquele homem estaria pensando? Fang na o estava nada satisfeita com suas

algemas, mas sabia que faria o mesmo se estivesse no lugar deles. Ele devia ter algum tipo de plano preparado se ia solta -la. Seus olhos se encontraram e ele sorriu.

- Eu sei muito bem o que voce esta pensando. Voce e uma l’Cie de Pulse, e Cocoon inteiro e seu inimigo. Mas tudo na vida tem exceço es, sabia?

Fang continuou muda, olhando nos olhos do homem. Tentou ler alguma coisa nas suas expresso es faciais, qualquer coisa, mas elas eram ta o ilegí veis quanto a grafia de Cocoon. Seus olhos eram escuros e frios como o mais pleno inverno, e de profundidade estarrecedora.

- Eu sou Cid Raines. Posso estar no controle da Cavalaria, mas na o sou seu inimigo. Fang na o era burra; na o ia simplesmente engolir essas palavras. Ela riu. - Na o seja ridí culo. O inimigo e o inimigo. Na o ha exceço es. - E claro que a nossa missa o e o nosso objetivo e proteger o povo de Cocoon. Mas

somos mesmo inimigos so porque o que queremos proteger e diferente? - Onde voce quer chegar com isso? Não, pensou Fang, eu nem quero entender. Raines tirou um pequeno dispositivo

do bolso e colocou no ouvido. Era difí cil para Fang acreditar, ja que era algo ta o pequeno, mas aquela ma quina era um comunicador sem fio de Cocoon.

- Ah, Tenente Nabaat. Qual a situaça o do seu lado? Fang se perguntou com quem ele estaria falando. Raines continuava olhando nos

seus olhos. Uma voz de mulher saiu do aparelho, assustando Fang. - A criminosa ainda esta a solta. Na o conseguimos localiza -la. - A mesma coisa aqui. Continuaremos a sobrevoar a a rea entre Euride e Bodhum.

Avise se precisar de alguma coisa.

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Fang na o entendia como o dispositivo funcionava, mas parecia que, com ele, era possí vel ouvir a voz de outras pessoas. Raines sorriu discretamente, talvez achando a reaça o dela engraçada.

- Acreditamos que ela esta escondida em algum lugar do desfiladeiro, enta o... - Ah, entendo, voce acha que teremos mais chance de encontra -la procurando por

ar? Entendido. Mais alguma coisa? - Uma vez capturada, ela deve ser levada para o QG da PSICOM imediatamente. - Isso e uma ordem? – Raines olhou para Fang. Ela na o conseguia entender o que

ele estava pensando. - E um pedido. - E um “pedido” da PSICOM e o mesmo que uma ordem do Santua rio, claro. Na o demorou muito para Fang entender que a relaça o entre esses dois na o era

particularmente amiga vel. - Mas devo admitir que estou curioso. Ja faz um dia inteiro desde o incidente e ate

agora na o me foram passados os detalhes. Obviamente, se voce esta envolvida, deve ser algo muito se rio. Isso, pelo menos, e o bvio.

- Infelizmente, eu na o posso elucidar sua curiosidade. – respondeu a mulher num tom sarca stico – Essa informaça o e confidencial e pertence apenas a PSICOM.

- Ah, voce e sempre assim... – Raines suspirou e desligou o comunicador. O sorriso desapareceu do seu rosto quando olhou para Fang – E agora voce sabe. O exe rcito do Santua rio na o tem unidade.

- Unidade? - Sim. Ha dois “braços” no exe rcito do Santua rio. Um deles e a Brigada de Resposta

de Ampla A rea, tambe m conhecida como Cavalaria. Somos no s, que protegemos o povo. O outro lado e a PSICOM, as forças especiais do Santua rio.

- O que isso importa? Sa o todos inimigos para mim. Raines ignorou o comenta rio e continuou: - Eu na o mandei Rygdea te trazer aqui para entrega -la para a PSICOM. Na verdade,

e exatamente o contra rio. Qual era o objetivo dele afinal? Qualquer que fosse a organizaça o dos exe rcitos de

Cocoon, todos deviam querer capturar os l’Cies. Fang na o conseguia entender o que se passava na cabeça daquele homem.

- No s na o concordamos com as atitudes da PSICOM. Na o somos seus aliados. - Enta o esta querendo dizer que na o e meu inimigo? Ah, claro. – provavelmente

eles realmente na o se davam bem com essa tal de PSICOM, a julgar pela conversa de um minuto atra s. Mas isso na o significava que estavam do lado de Fang – Tudo que voce quer e me capturar primeiro para desbancar o seu concorrente. Mas, infelizmente para voce , eu na o tenho valor como l’Cie. – ela olhou para a marca no pro prio braço, que estava branca quando ela acordou. Era como uma marca de queimadura seca, como se tudo tivesse sido incinerado da sua mente – Eu na o me lembro do meu Foco nem de nada da minha vida. Na o tenho nenhuma informaça o para te dar.

- E... Ela na o tinha certeza se devia dizer isso ao inimigo. - Estou procurando uma pessoa. Na o tenho tempo para te ajudar. – Fang na o sabia

se a melhor opça o era dizer isso, mas precisava de informaço es sobre Vanille. Ela queria saber que tipo de reaça o os dois homens teriam ao ouvi-la dizer isso.

Mas eles permaneceram em sile ncio, e seus rostos na o esboçaram nada.

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- Eu entendo. Cabe a voce decidir se quer nos ajudar ou na o. Mas, enquanto isso, vai ficar conosco.

É claro, pensou Fang. Não importa o que digam, tudo que realmente querem é me prender e me usar. Sendo assim, minha única opção é escapar.

- Capita o, leve-a para um dos alojamentos. - Entendido. Pelo jeito que eles se falavam, Fang po de perceber que Raines estava acima de

Rygdea no sistema hiera rquico. Mas, apesar disso, eles pareciam muito mais pro ximos do que era de se esperar nesse tipo de relaça o. Ela cogitou que eles podiam ter idades pro ximas. Na o, ela na o tinha tempo nem motivo para pensar nisso. Havia coisas mais importantes com as quais se preocupar...

- Ei, mocinha, ve se na o tenta fugir, hein? – disse Rygdea, dando um tapinha nas costas dela. Ele é forte, pensou Fang – Se bem que voce na o e bem uma “mocinha”, ne ? Mas sabe, se luta ssemos, um de no s provavelmente na o sairia vivo. Enta o vamos ser amigos, que tal?

Fang na o tinha o mais remoto interesse em ser amiga dele, mas era verdade que, se lutassem, ambos sofreriam danos se rios. Levantou as ma os, em tre gua.

Do outro lado da porta havia um corredor estreito. Como a sala anterior era muito larga e redonda, Fang achara que o pre dio todo era assim, mas imediatamente percebeu que estava enganada.

- O que ? Voce s nem te m janelas por aqui? – o corredor apertado era claustrofo bico, deixando-a ainda mais irritada.

- Janelas na o servem pra muita coisa numa aeronave. - Uma... - Voce esta dentro da Lindblum, uma aeronave. Ela tocou uma das paredes. Se isso era mesmo uma nave, ela devia ser capaz de

sentir seu movimento. Pelo menos era assim nas naves de Gran Pulse. Mas seus dedos na o sentiram nenhuma vibraça o. O que significava que eles deviam estar ancorados.

- O que ? Voce na o percebeu? Estamos em pleno voo. - Esta ... Esta voando? – ela na o podia acreditar. A nave na o tremia nem vibrava

nem um pouco. Na o, reparando bem, era possí vel sentir um movimento muito suave no cha o, mas ta o discreto que so mesmo prestando atença o algue m notaria. Ela ja tinha se surpreendido com a velocidade do trem de Bodhum para Euride, e essa nave era ainda mais veloz. – Enta o... Isso e uma nave?

Fang olhou para os dois lados do corredor. Era ta o comprido que ela ja na o via mais a ponta de onde veio, e nem o fim do outro lado.

- Na o pode... – ela tinha achado o corredor muito apertado mesmo, e notou que a sala de antes tinha um teto mais baixo que as outras que ja vira. Mas, se era uma nave...

- Voce esta bem? - Sim, so estava pensando que essa nave deve ser muito grande. - Que nada. A Palamecia e muito maior. - Acho que a minha cabeça vai explodir... – Fang mal conseguia imaginar uma nave

dessas. Elas eram numa escala completamente diferente das que eles tinham em Gran Pulse. Na o so as naves, mas as armas que os soldados carregavam eram mais poderosas que qualquer uma que ela ja vira antes.

As bestas e os pa ssaros, e mais ainda os humanos de Cocoon, eram muito fracos em comparaça o com os de Gran Pulse. Claro que havia alguns como Rygdea, que eram

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evidentemente fortes, mas a maioria dos soldados que ela vira em Cocoon era fraca. Mas Cocoon tinha tecnologia. Fang na o sabia que tipo de outras bugigangas eles

podiam ter na manga, mas e se todas as pessoas pudessem usar? Talvez elas estivessem cercadas por um inimigo pior do que imaginavam.

Quando chegaram ao final do corredor, havia uma escadaria. Fang se perguntou quanto mais eles teriam de andar, especialmente porque o caminho ate ali ja fora longo. Como as pessoas que trabalhavam ali conseguiam se comunicar com toda essa dista ncia?

- Parece que voce finalmente se acalmou. Ha pouco tempo estava latindo como um cachorro selvagem.

- Bom, eu na o sou um cachorro, enta o na o me trate como um. Estou quieta porque estou pensando num jeito de sair daqui.

- Na o faça isso! – o rosto de Rygdea ficou se rio – A PSICOM montou um cerco e tanto ao redor de Bodhum. Se sair daqui, eles va o te pegar na hora.

- Na o sou burra o bastante para me deixar capturar por aquelas bostas. - Acho que voce na o esta entendendo. - Na o estou entendendo o que ? Rygdea suspirou. - Voce conseguiu despistar os soldados que cercaram a usina. Tudo bem, admito

que voce e boa. Mas acha mesmo que escapou sozinha? - O que quer dizer com isso? - Ora, na o podí amos simplesmente capturar voce na frente da PSICOM, eles nos

mandariam entrega -la. Voce ouviu a conversa, na o? Na o podí amos deixar isso acontecer, enta o esse tempo todo no s ficamos sabotando o sistema de busca deles e mandando informaço es falsas pelo comunicador.

Fang na o entendeu muito bem, mas parecia que Raines e Rygdea a tinham ajudado a escapar.

- Isso na o faz sentido. Por que me ajudariam se somos inimigos? - E como o General Raines disse, na o estamos com a PSICOM. O inimigo do nosso

inimigo e nosso - “O inimigo do nosso inimigo e nosso amigo”, hein? – isso fazia mais sentido para

Fang que simplesmente dizer que eles na o eram inimigos. Mesmo que estivessem em lados opostos, juntar forças em circunsta ncias desse tipo na o era ta o incomum.

- Bom, esse e o seu quarto, mocinha. Rygdea parou na frente de va rias portas. Fang na o tinha a menor ideia de onde

eles estavam ou de onde tinham vindo. Mesmo que ela tentasse fugir, provavelmente na o conseguiria.

- Desculpe ser ta o pequeno. Apesar de na o ter muita coisa, so uma cama e uma mesa pequena, era um quarto

de verdade. Era bem mais do que ela esperava. - Me chame de Fang. - Hum? - Pare de me chamar de “mocinha”. Rygdea sorriu. - Eu sabia que voce na o gostava de ser chamada assim, mas na o sabia o seu nome. - Enta o devia ter perguntado. - Se eu tivesse perguntado, voce teria dito? - Na o... Provavelmente na o. – ate pouco tempo atra s, ela na o tinha intença o de

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dizer seu nome a ele. Mas Rygdea era forte. Embora as pessoas possam contar mentiras, na o ha mentira na força.

- Voce disse que estava procurando uma pessoa, certo? – perguntou Rygdea, como quem acabava de se lembrar – E forte como voce ?

- Mais forte que qualquer soldado de Cocoon. - Todas as mulheres de Pulse sa o fortes assim? Ela disse que estava procurando uma pessoa, mas nunca disse que era uma mulher.

Fang olhou para ele com suspeita. - Na o me olhe assim. No s vimos as gravaço es das ca meras de segurança de Euride.

A imagem estava meio borrada, mas pelo menos isso deu pra identificar. Fang exalou um suspiro de alí vio. Vanille na o fora capturada. - Esta preocupada? E claro que esta . Na o importa o quanto ela e forte, ainda esta

sozinha la fora. - E ela chora o tempo todo. Vanille sempre chorava. A s vezes acordava de um pesadelo, se segurava em Fang

e implorava para que na o a deixasse sozinha. Ela sempre foi assim, desde que elas eram crianças.

- E a s vezes ela ri das coisas mais estranhas. Quando foi a u ltima vez que ela viu Vanille rir? No trem para Euride? Na o... Ela

ficou surpresa com tudo, mas na o riu. Sera que ela chegou a rir alguma vez depois que elas acordaram?

- Quer que eu procure por ela? Fang na o esperava que ele fizesse essa oferta. Rygdea ate parecia ser um cara legal,

mas ainda era o inimigo. - Porque tipo, por enquanto voce na o pode sair daqui, certo? Se voce fosse la fora,

seria suicí dio. Mas eu entendo a sua preocupaça o por ela. Eu tambe m tenho amigos, sabe. – Rygdea falou com um sorriso, na o parecia estar mentindo.

- Eu na o... Na o quero te dever nada. - Muito bem, enta o que tal isso: faremos um acordo. - Acordo? - Na o podemos deixar nem voce nem ela cair nas ma os da PSICOM, enta o eu vou

achar a sua amiga pra voce e, em troca, voce s na o se deixam capturar por eles. Os soldados de Cocoon na o eram fortes por si mesmos, mas tinham tecnologia e,

mesmo entre esses soldados, havia alguns fortes, como Rygdea. Cercada por soldados assim, na o havia muita coisa que ela pudesse fazer agora.

- Eu... Sim... – ela na o sabia o que Raines planejava, mas sentiu que podia confiar em Rygdea.

Quando ele encontrasse Vanille, Fang cumpriria a sua parte do acordo. Disso ele podia ter certeza.

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(3) Um acordo, hein? Eu sou bonzinho demais., pensava Rygdea enquanto caminhava

da Estaça o de Bodhum para o distrito comercial. Eles na o ganhariam nada com isso. Fang disse que “na o tinha valor como l’Cie”. Ele na o tinha certeza do verdadeiro

significado dessas palavras, mas era o bvio que ela na o estava resignada. Talvez eles na o conseguissem nenhuma informaça o sobre Pulse com ela, mas era verdade que na o podiam deixa -la cair nas ma os da PSICOM. Procurar sua amiga na o seria perda de tempo. E, se conseguissem convence -la a se juntar a eles, seria uma ajuda e tanto. Quando Fang foi capturada, Rygdea sentiu sua força e habilidade em primeira ma o, mas o mais surpreendente mesmo foi o seu desempenho quando a deixaram usar o simulador de treinamento. Ele achou que ela ficaria entediada se ficasse so esperando, enta o a levou ate a ma quina.

Embora seja verdade que ha um mundo de diferença entre uma luta de verdade e um programa de simulaça o, Fang conseguiu a pontuaça o ma xima numa ma quina que nunca vira antes. Na o era de se surpreender que ela fosse capaz de despistar os inimigos ta o facilmente num territo rio desconhecido.

Ela na o tinha so força, mas tambe m a sorte do seu lado. Era quase impossí vel de acreditar que ela comprou passagens para Euride com um carta o de cre dito roubado e que, mesmo depois de dias, o dono original ainda na o o tinha bloqueado. Sem falar na aeromoto que usou depois que fugiu da usina. O veí culo devia estar com o motor ligado, jamais ela teria conseguido liga -la sem saber o que estava fazendo. O dono daquela moto devia ter ido fazer algo ra pido e por isso a deixou ja no ponto para quando voltasse. Se bem que a PSICOM interditou a usina logo depois do acidente. Talvez o dono nem tivesse voltado.

Fang disse que vira uma coruja estranha em Cocoon tre s vezes. Uma coruja que tinha rosto humano e pernas como as de um re ptil. Ela nunca tinha visto algo parecido, nem mesmo em livros, dissera. Rygdea ja tinha visto essa criatura, mas so uma vez. Era considerada rara. O fato de ela ter visto tre s vezes em apenas alguns dias mostrava como a sorte parecia segui-la.

A amiga de Fang ainda estava fugindo da PSICOM, e sem a ajuda da Cavalaria. Sua sorte devia ser ainda maior que a de Fang. Talvez todos os l’Cies de Pulse tivessem essa be nça o.

- Mas onde eu devo começar a procurar por ela? O festival de fogos aconteceria em apenas dois dias, e Bodhum ja estava cheia de

turistas. Seria perda de tempo e energia procura -la nessa multida o. Fang disse que sua amiga na o tinha condiço es de ir longe. A menos que algo tivesse acontecido, ela tinha de estar em algum lugar em Bodhum. Mas o problema era que Rygdea na o conhecia muito bem a regia o. Ou seja, teria de procurar ao acaso. Pelo menos era o que pensava quando ouviu uma voz chamando o seu nome. Era uma oficial do Regimento de Segurança de Bodhum. Rygdea tinha conversado com ela outro dia, quando veio a cidade investigar.

- Voce e ... a Sargento Farron, certo? - Senhor! – disse ela fazendo uma saudaça o, um exemplo de conduta perfeita. Seus

movimentos eram ligeiros e precisos. Dada a oportunidade, ela poderia vir a se tornar muito forte. Embora ele ja soubesse disso por causa das informaço es presentes na ficha de todo soldado, era algo que ficava evidente so de olhar para ela.

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- Na o seja ta o formal, relaxe. – disse ele. Foi quando teve uma ideia. Ele podia na o conhecer a regia o, mas podia pedir ajuda a algue m que conhecia.

- Voce conhece algum lugar que os jovens gostam de frequentar? Qualquer coisa serve.

Na o havia sido divulgado que a suspeita do ataque era uma moça jovem. A amiga de Fang podia ter decidido se esconder em meio a outras pessoas da mesma idade, para na o levantar suspeitas.

- Isso tem alguma coisa a ver com o incidente em Euride? – os olhos da Sargento Farron se acenderam. Sua intuiça o era boa.

- Voce tem pistas? – ela estava tentando extrair informaço es dele, enta o Rygdea decidiu adotar uma postura mais ofensiva; no mí nimo poderia descobrir como as tropas estavam interpretando o acontecido.

- Na o, senhor. Apenas perguntas. - Como? - Nossa ordem e capturar o suspeito. So isso. Mas a PSICOM esta aqui. Chegaram

aqui logo depois do incidente. E mais que suficiente para deixar todos cheios de du vida. – ela falou de maneira casual, mas estava claramente esperando para analisar a reaça o dele.

- Bom, soldados rasos como no s nunca sa o informados de nada, mesmo. - Desculpe-me, senhor, mas na o creio que o Capita o Rygdea da Cavalaria possa ser

considerado um soldado raso. Ela percebeu as intenço es dele na hora. Seus olhos eram penetrantes. Os olhos de

algue m que sabia exatamente o que ele estava pensando. Se tentasse conseguir mais alguma informaça o com ela, cavaria a pro pria tumba.

- De todo modo, na o e isso. So estou sendo usado por uma amiga para encontrar uma pessoa. – ele fez mença o de suspirar, para dar a entender que estava ali contra a sua vontade. Na o que acreditasse que fosse convencer, mas ela era o tipo de pessoa que na o e so perspicaz, mas sabe bem quando e como agir. – Estou com dificuldade de procura -la, porque na o conheço bem a regia o. Voce chegou na hora perfeita para me ajudar.

Como ele esperava, a Sargento Farron na o perguntou mais nada sobre Euride. - Se me der o nu mero de identidade dela, posso pedir aos soldados de planta o. - Na o, na o, na o podemos deixar a informaça o se espalhar. – ele explicou que era

uma garota que tinha fugido de casa. A Sargento Farron fez que sim, compreensiva. - Enta o e uma garota... Com que freque ncia ela vem a Bodhum? - Ela na o conhece a regia o tambe m. E de muito longe. – ele na o estava mentindo,

so era muito mais longe do que a Sargento Farron podia imaginar. - Que tipo de informaça o pode me passar sobre ela? - Ela anda com o cabelo preso em dois rabos. Parece que ri e chora muito. Na o e

nem um pouco tí mida. - E uma criança? - Na o... Tem por volta de 17 ou 18 anos... – quando começou a falar, Rygdea caiu

na gargalhada – Tem raza o, parece uma criança. - Na o, eu entendo. Tenho uma irma mais nova da mesma idade. – a Sargento

Farron sorriu discretamente quando disse isso. Era a mesma expressa o que Fang fazia quando falava da amiga.

- E ela gosta muito de animais. Ha algum lugar em Bodhum onde ela poderia ter contato com eles?

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- Ate onde eu sei, so nas lojas. O u nico lugar em Cocoon onde realmente havia animais com os quais as pessoas

podiam interagir era o Parque Nautilus, mas era impensa vel que ela fosse parar la para brincar com ovelhas em plena fuga. Na o havia motivo para se focar nesse aspecto dela.

- Bom, na o e um lugar com animais, mas ha um bar onde os jovens gostam de se reunir...

- Bar? - Sim, fica perto da praia. Ouvi dizer que e popular tanto entre os nativos quanto

os turistas. Na o que eu ja tenha visitado o lugar. – seu rosto ficou grave. Parecia que ela na o tinha uma boa opinia o sobre o bar.

- Uau, voce sabe bastante. Isso sim e um soldado exemplar. - Ah, na o... Eu so sei porque a minha irma comentou... - Entendi... Bom, acho que vale a pena verificar. O lugar seria perfeito para ela se camuflar. Haveria muitas pessoas da sua idade,

enta o na o chamaria atença o, e, como os nativos tambe m frequentavam o lugar, poderia fazer amizade com algue m e arranjar um lugar para ficar.

- Certo, eu vou dar uma olhada. Obrigado pela ajuda. Como sempre, a Sargento Farron fez uma saudaça o perfeita antes de partir.

O bar era exatamente como a Sargento Farron dissera. Havia uma boa mistura de

nativos e turistas, e todos eram jovens. Mas o rosto pelo qual ele procurava na o estava em canto algum.

- Bem-vindo! Sinto muito, mas no momento todas as nossas mesas esta o ocupadas. Mas, se quiser se sentar no balca o...

Rygdea ja tinha visto o garçom de cabelo azul antes. Outro dia, quando estava fora numa investigaça o de campo, o garoto fora detido e revistado. Parecia que a PSICOM tinha suspeitado de um pacote que ele carregava. Mas, depois de revista -lo, viu que na o havia nada de importante la dentro.

- Como posso servi-lo? – perguntou uma voz radiante quando ele se sentou ao balca o. Havia uma mulher de baixa estatura do outro lado, agitando as bebidas. Seus cabelos eram negros como os de Fang, mas havia uma doçura nos seus olhos que lhe dava uma apare ncia mais receptiva.

- Estou com fome. Qualquer coisa de comer esta o timo. - Algum ingrediente que eu deva evitar? Rygdea disse que na o, e ela sorriu. Pelo jeito que ela ligou o fogo e mexia a panela,

era o bvio que era profissional. Ela batia as bebidas e cortava as frutas numa velocidade impressionante.

- Snow? Ei, o Snow esta aqui? – um garoto de cerca de 16 ou 17 anos abria caminho pela multida o para chegar ao balca o. Um cheiro de o leo e graxa pairava ao redor dele, provavelmente era um meca nico.

- Ja falei pra na o correr dentro do bar. - Eu sei, eu sei. Mas Lebreau, cade o Snow? Lebreau devia ser o nome da mulher atra s do balca o. Na o fosse pela proximidade

de idade, qualquer um acharia que eram ma e e filho. - Ele disse que ia ver a Serah. Saiu agorinha. Mas deixa isso pra la , Maqui. Pode me

dar uma ma o aqui? Preciso que voce busque alguns legumes la atra s.

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O garoto chamado Maqui fez cara de decepça o, suspirou, deu meia-volta e seguiu para o lugar indicado. Rygdea correu os olhos novamente pelo bar, mas novamente na o havia sinal da amiga de Fang. Ou, pelo menos, na o havia ningue m que parecesse estar fugindo. Todos falavam alto e sorriam, sem nenhuma preocupaça o no mundo.

A PSICOM encobriu mesmo a notícia do incidente, pensou Rygdea. Apesar de Euride ficar colada em Bodhum, ningue m parecia estar preocupado com o que aconteceu. Nem os soldados sabiam da histo ria direito, e so os que tinham uma cabeça boa sobre os ombros como a Sargento Farron raciocinaram que o fato de a PSICOM estar envolvida significava que a coisa era se ria.

- Senhor? Esta esperando algue m? A voz dela o trouxe de volta ao presente. O jeito que ele olhava para as pessoas

devia te -la feito deduzir que esperava algue m. Ele balançou a cabeça em negativa. - Estou procurando uma pessoa. Viu alguma garota de uns 17 ou 18 anos? - Vejo umas vinte por minuto. Pode ser mais especí fico? - Ela usa o cabelo preso em dois rabos. – Rygdea fechou as ma os em punho dos

dois lados da cabeça, representando o estilo. - So isso? - Bom, tambe m usa braceletes nos dois braços. Muitos, todos fininhos. E creio que

tambe m use va rios colares. - Na o me lembro de algue m assim. E sua namorada? Na o, espere, voce disse que

ela tem 18 anos... Sua filha? - Ei... - So estou brincando com voce . Enta o ela usa o cabelo preso em dois rabos, muitos

braceletes e colares, certo? Ela tinha boa memo ria. Provavelmente adquirida com o trabalho no bar. - Parece que ela ri muito, esta sempre de bom humor. Soube que tambe m e um

pouco estabanada, mas gosta de cuidar dos outros e e muito gentil. - Hm... Esse tipo de descriça o na o ajuda muito a encontrar algue m... - E , tem raza o. – ale m disso, era muito improva vel que ela começasse a rir do nada

como Fang disse que fazia num lugar onde nunca esteve antes. Tambe m era ingenuidade pensar que ficaria cuidando dos outros quando ela mesma estava em apuros. Ele esqueceu de mencionar que ela chorava muito, mas isso provavelmente ajudaria tanto quanto as outras informaço es.

- De todo modo, se vir algue m assim, pode me avisar? Mas ela na o pode saber. - Como assim? Essa histo ria esta muito esquisita. - Ela fugiu de casa. Os pais esta o contando comigo para encontra -la. Ela fez um olhar suspeitou, mas enta o cedeu. - Tudo bem enta o. Se uma garota com essa descriça o aparecer, eu te aviso. - Obrigado, fico te devendo uma. - Anote aqui o endereço ou telefone de contato. E aqui esta a sua refeiça o. Um prato cheio de comida apareceu diante dele. Ela continuara trabalhando

durante toda a conversa. Impressionante. - So na o cause confusa o aqui ou no s acabamos com a sua raça. Somos mais fortes

que muitos soldados. – disse ela. Rygdea sabia que era impossí vel isso ser verdade, mas na o queria causar problemas. Começou a se perguntar se na o devia começar a andar com algum objeto de Fang. Talvez assim fosse mais fa cil entrar em contato com sua amiga. Decidiu conversar a respeito com Fang depois.

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Comer uma comida melhor do que ele esperava foi a melhor coisa do dia inteiro. Depois de sair do bar, deu outra volta pelo distrito comercial, mas em va o.

- Vejo que na o conseguiu encontra -la. – disse Fang quando ele voltou a Lindblum, suspirando de frustraça o.

- Voce tem alguma ideia de onde ela pode estar? Algum lugar onde pode ter ido? - Sim, mas ja procurei la . - Entendo... Fang devia estar vagando pela cidade em busca da amiga quando a encontraram.

Provavelmente ja tinha procurado em todos os lugares mais prova veis e saiu de ma os vazias. Ela estava ta o desesperada que nem percebeu que estava sendo seguida.

- Ah, ja sei! – disse Fang, se levantando de su bito – Ela pode estar na floresta, ou na praia, ou algum lugar do tipo.

- Por que ? - Por comida. Eu sei que ela tem um carta o, mas duvido que consiga usar. Rygdea pareceu chocado com a ideia de pegar peixes ou pa ssaros para comer. - Qual o problema? - Bom, e que... Ir ate o mar para pegar peixes... - Como voce s podem viver sem saber como obter comida? Parecia que os l’Cies de Pulse na o tinham apenas sorte, mas tambe m força. - Ela gosta muito de cozinhar, sabe. A s vezes ate inventa uma receita nova. Se bem

que geralmente sai alguma coisa horrí vel. – Fang sorriu ao se lembrar da amiga. Rygdea pensou na Sargento Farron falando da irma . A amiga de Fang devia ser como uma irma para ela.

- Quando a encontrarmos, vou pedir para ela fazer algum prato de Pulse para mim. Mas... Sem tanto sal. – disse Rygdea. Parecia que em Pulse eles gostavam de coisas com gostos mais fortes, enta o Fang sempre colocava uma montanha de sal na comida.

- Vou mandar ela fazer o pior que puder. – disse Fang, sorrindo. Enta o perguntou: – Por que esta com um cara como Raines?

- E por que a pergunta? Tentando descobrir os meus segredos? Fang murmurou que era parcialmente verdade. - Eu na o consigo entende -lo. Na o sei o que esta pensando. - Bom, ele e um homem importante no Santua rio. E, considerando quantas vidas

tem sob o seu comando, seria um problema se fosse ta o fa cil de ler. - Ele e ta o incrí vel assim? Basta um olhar para perceber o quanto ele é forte. Se não consegue ver isso, pensou

Rygdea, está precisando fazer um exame de vista. Mas não, percebeu, não é disso que ela está falando. Ela consegue ver que ele pensa diferente dos outros, é isso que a intriga.

- Os outros soldados o chamam de “General-Brigadeiro Cid Raines”. E voce e um... “Capita o”, certo? Qual a diferença?

- Bom, um capita o e so um oficial de comando interino. Um general-brigadeiro e um dos primeiros postos de general. Ale m dos dois ainda ha mais uma categoria, a de oficiais de campo. Dentro dela se enquadram os corone is, tenentes-corone is e tenentes-comandantes. Nossas patentes sa o completamente diferentes.

- Na o faço a menor ideia do que voce esta falando. - Bom, digamos apenas que ele manda em mim. Fang fechou a cara. Rygdea achou

ta o engraçado que decidiu continuar: - Abaixo de todos no s ficam os oficiais militares, e abaixo deles ainda ha os oficiais

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na o-comissionados, como os sargentos, os cabos... - Chega! Ja chega disso. Voce esta fazendo a minha cabeça rodar. – disse Fang, ja

atordoada com a quantidade de informaça o – O exe rcito de Cocoon e complicado demais. Voce s se divertem recitando esse monte de nomes?

- Bom, eu na o diria que e exatamente divertido, mas tambe m na o recitamos... Eles ainda na o tinham tentado fazer Fang falar sobre Pulse, mas agora ele sabia

que eles na o tinham um exe rcito, ou, no mí nimo, na o era muito organizado. - Bom, e verdade que o exe rcito tem muitas regras e a s vezes e chato. O pro prio Rygdea odiava a rigidez do exe rcito, e uma vez ate pensou em sair. Ele

entrou na academia militar porque queria voar numa aeronave. Depois de se formar, foi para o exe rcito, mas na o por querer se tornar um soldado. Na o fosse pelo seu amor por naves, ele nunca teria se envolvido com isso.

Na o demorou muito para Raines convida -lo para fazer parte da Cavalaria. Apesar de na o ser muito mais velho que Rygdea, Raines ja tinha sido promovido a patente de general-brigadeiro. Para algue m sem perspectiva como Rygdea, aquilo parecia outro mundo; era impossí vel que os dois tivessem alguma coisa em comum. Mesmo assim, aceitou o convite, ja que o sala rio era melhor.

Com o tempo, pore m, suas conversas ficaram mais se rias, e ele na o po de mais ignorar Raines. Seus ideais eram parecidos, e Raines na o os tratava apenas como uma teoria abstrata. Rygdea chegou a conclusa o de que, enquanto continuasse perto desse homem, teria um motivo para ficar no exe rcito.

- Mesmo na o gostando, voce continua com o Raines? Por que ? Na o havia nenhum significado oculto por tra s da pergunta de Fang, mas seria

perigoso responde -la. Ele poderia expor demais dos objetivos deles. - Eu apenas confio nele. - Mas por que ? - Acho que... Com ele por perto, as coisas fazem sentido. - Estar perto dele te faz querer trabalhar com ele? - Ah, e tambe m... – na o teria problema falar so algumas verdades – Eu sempre

aposto naquele que tem mais chance de vencer. Na o luto batalhas perdidas. - Sei... – disse Fang, com um olhar estranho no rosto. - O que ? - E que e estranho. Voce me parecia o tipo de pessoa que confia mais em si mesmo. - Acho que voce me superestimou. - Pelo contra rio. Achei que era um idiota que fazia burrices so porque achava que

era certo. - Que bom enta o que resolvemos esse mal-entendido. – disse Rygdea, saindo do

quarto. Ele na o podia se deixar cair na la bia de Fang. Ha poucos momentos, a PSICOM tinha feito um anu ncio. A interdiça o a Euride ia

terminar e os turistas poderiam voltar a visitar a usina. Havia coisas demais acontecendo ao mesmo tempo. Ele precisava encontrar a amiga de Fang logo, antes que ela caí sse nas ma os da PSICOM.

Rygdea correu para a ponte.

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(4) Fang nunca imaginara que algo ta o trivial quanto a ause ncia de janelas pudesse

deixar algue m ta o nervoso, e mesmo assim agora caminhava de um lado para o outro incessantemente na pequena cabine.

Mas na o era por isso que ela estava ta o nervosa. Ja fazia dois dias que ela estava ali, e quatro desde o incidente em Euride. Mas ainda na o havia sinal algum de Vanille. Hoje Rygdea fora a Bodhum novamente para procura -la, mas isso so servira para deixar Fang mais nervosa. Nem Rygdea nem Raines, nem ningue m a na o ser ela, sabia qua o pouco tempo Vanille ainda tinha. Enquanto ela estava aqui sem fazer nada, a marca de Vanille estava evoluindo. Ela precisava recuperar a memo ria e cumprir seu Foco antes que fosse tarde demais.

Ela na o queria ser capturada pelo exe rcito, enta o concordou em ficar na Lindblum. Mas, com isso, estava desperdiçando um tempo que na o tinha. Podia ser perigoso la fora, ou idiota tentar enfrentar todos esses soldados, mas era melhor que ficar parada ali. Fang abriu a porta lentamente e deu uma espiada no corredor.

Na o havia muitas pessoas por ali a essa hora. A maioria dos soldados estava nos seus postos, o resto estava dormindo. Ontem, entediada, ela tinha saí do da sua cabine, mas logo se perdeu. Pensou em procurar algue m e perguntar onde ficava a cabine, mas na o conseguiu encontrar ningue m. Depois de uma hora vagando pela nave, finalmente achou o caminho de volta.

Na o havia ningue m no corredor, como ela pensara. Fang correu. Planejava achar a pequena nave na qual fora levada ali e usa -la para escapar. Apesar de na o saber como pilota -la, sua esperança era que fosse igual a aeromoto. Tudo que ela precisava fazer era chegar ate ela; o resto viria depois.

Mas, na o importava onde ela ia, a nave na o estava em lugar nenhum. Em todas as direço es parecia haver um beco sem saí da.

Se soubesse que isso ia acontecer, ela teria vasculhado melhor a nave no dia anterior. Podia ter dito a algue m que estava entediada e pedir que a levasse para passear la dentro. Exceto por Rygdea, todo mundo achava que ela era apenas uma convidada de Raines. Se tivesse pedido, provavelmente ningue m negaria.

- De novo... – Outro beco sem saí da. Fang suspirou ante a fria parede de metal. - De novo o que ? – disse uma voz penetrante atra s dela. Raines – Sabe, pensamos

que seria perigoso se voce pudesse se locomover livremente, enta o montamos algumas barreiras. Todas as portas que levam a a rea de lançamento esta o bloqueadas.

Eles já sabiam o que eu planejava, pensou Fang, mordendo os la bios e encarando Raines.

- Uma nave do exe rcito na o e ta o fa cil de usar quanto uma aeromoto civil. Voce na o pode simplesmente subir em uma e achar que vai dar certo. Mesmo sendo uma l’Cie, na o sobraria muita coisa de voce se fizesse isso.

- Eu entendo. – Fang escaneou a a rea rapidamente. Na o havia mais ningue m. Se so havia um adversa rio, claro que ela podia dar um jeito, na o? Mesmo que na o conseguisse derrota -lo, talvez houvesse uma maneira de neutraliza -lo.

- Tem uma coisa que eu quero te mostrar... Na o, que eu quero que escute. Se quer lutar, tudo bem, mas podemos fazer isso depois.

- Claro, quando os seus homens chegarem, ne ? Acha que vou cair nessa?

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Raines caiu em gargalhada, balançando a cabeça. Pegou a espada e jogou no cha o aos pe s de Fang.

- Te darei isso. Se algum dos meus homens chegar, voce pode me matar, me fazer de refe m, o que quiser.

- O que ...? – disse Fang, confusa com a oferta – Voce e maluco?! - Sim, provavelmente. – disse Raines calmamente, dando meia volta e fazendo um

sinal para ela o seguir. A vontade de lutar se esvaiu dela completamente. Agarrando a espada com força, o acompanhou.

Era a mesma sala de dois dias atra s, quando tiraram a venda dela depois de descer

da nave menor. Aquela sala. Mas, talvez porque agora ja estava mais acostumada com o lugar, o teto baixo ja na o parecia ta o estranho.

- E enta o? O que quer que eu escute? Sentada numa cadeira, Fang brincava com a espada. Na o tinha nenhuma intença o

de apunhala -lo pelas costas, mas tambe m na o ia abrir ma o da u nica arma que tinha. Se ele fizesse qualquer coisa estranha, ela a usaria.

Raines apertou um bota o no dispositivo sobre sua mesa, sem explicar nada do que estava fazendo. Um ruí do inco modo saiu da ma quina por um tempo, ate que vozes tomaram conta da sala.

- Na o acha que era cedo demais para encerrar o bloqueio de Euride? - Se o mantive ssemos por mais tempo, os civis começariam a ficar preocupados.

No s so escondemos a existe ncia dos l’Cies para evitar isso. Dois homens conversavam, um jovem e um velho. Na o, o primeiro provavelmente

na o era ta o jovem na verdade, so era mais novo que o outro. - O que ... e isso? – disse Fang. Raines levou o dedo indicador a boca para dizer que

fizesse sile ncio. O homem mais novo continuou: - Podí amos pelo menos continuar a investigar ate os l’Cies serem capturados... - Ja correm boatos de que o que aconteceu em Euride na o foi um mero acidente.

Se insistirmos no bloqueio e na investigaça o, esses boatos so ganhara o força. A voz de uma mulher interrompeu a conversa. A mesma mulher com quem Raines

conversara dois dias atra s. - Se o problema e o vazamento de informaça o, podemos dar um jeito. - Esta sugerindo usar a mí dia para fazer uma lavagem cerebral no povo? E mesmo

uma boa ideia. As pessoas sa o tolas, fa ceis de manipular. Acreditara o em qualquer coisa que facilite suas vidas.

Quem era esse velho? Era o bvio que era algue m com muita autoridade, mas quem ele achava que era para falar assim das pessoas?

- Esse e o representante do Santua rio, o Primarca Galenth Dysley. Os outros dois sa o os tenentes Rosch e Nabaat da PSICOM.

Fang se lembrava que o nome da mulher era Nabaat. - Mas eu fui repreendido pelo fal’Cie E den. Ele disse para na o esconder a verdade

das pessoas. Parece que o fal’Cie estava insatisfeito com a maneira como conduzi o caso, muito embora tenha feito tudo pelo bem do povo.

- O fal’Cie E den...? - Sim, ele disse para encerrar o bloqueio e a investigaça o. Ele quer que a vida das

pessoas volte ao normal.

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- Mas isso e loucura! Ha pelo menos dois l’Cies a solta! Se na o fizermos nada, eles podem atacar de novo!

- Eu concordo, mas sou apenas um mensageiro dos fal’Cies. Na o posso ir contra os seus comandos.

Houve um som de bipe, e a conversa foi cortada ta o de repente quanto começou. - Nosso espia o estava gravando. Isso explicava porque o som estava ta o estranho. Um microfone escondido. Fang

ficou surpresa. Apesar de ele ter dito que eram facço es opostas, ela na o pensou que ele iria longe o bastante para gravar as conversas dos outros. Parecia que a rivalidade entre a PSICOM e a Cavalaria de Raines era mais profunda do que ela imaginava.

- Este e o verdadeiro Cocoon, onde o Primarca do Santua rio ve as pessoas como nada mais que meras ovelhas.

- Primarca? Aquele velho? Ele e muito importante? Raines fez que sim com pesar, como se a mera ideia o enojasse. - A pessoa que tem mais poder em Cocoon so faz o que os fal’Cies querem.

Enquanto Cocoon continuar sob a lei do Santua rio, no s seremos apenas gado para eles. - E por que me fez ouvir isso? Quer que eu diga: “Nossa, que do ”? Ele ignorou o comenta rio sarca stico e continuou: - Voce diz que esqueceu, mas so pode haver um Foco para um l’Cie de Pulse em

Cocoon: matar os nossos fal’Cies. - Tambe m poderia ser a destruiça o total de Cocoon. - Voce acha mesmo? Se fosse isso, na o haveria necessidade de voce s acordarem do

lado de dentro de Cocoon. Era verdade. Ela mesma tinha achado estranho as duas acordarem ali. E com o

fal’Cie Anima. Isso a fez pensar que talvez seu Foco na o fosse destruir Cocoon em si, mas sim o seu nu cleo.

- Tudo se encaixa se pensarmos assim. O que deve significar que voce tem algum poder capaz de destruir os fal’Cies. E um poder que no s queremos.

Poder para destruir os fal’Cies? Ele queria destruir os fal’Cies de Cocoon? - Por favor, eu quero que nos empreste esse poder. - Voce quer destruir os fal’Cies de Cocoon? Na o trabalha pra eles? - Na o quero simplesmente destruir os fal’Cies. Quero acabar com esse governo de

fachada. Fang achou que havia so uma rivalidade boba entre Raines e a PSICOM ou Nabaat,

mas parecia que a coisa ia muito mais longe. Ele na o era contra a PSICOM apenas, mas o pro prio Santua rio.

- Mas no s somos o seu inimigo. - No s dois somos inimigos dos fal’Cies de Cocoon. Talvez tenhamos sido inimigos

no passado, mas, dadas as circunsta ncias, acho que podemos formar uma aliança. O olhar de Raines era se rio. Ele na o era o tipo de pessoa que diria algo assim de

brincadeira. - Tem certeza? Usar o nosso poder significa trair Cocoon. - Farei qualquer coisa para alcançar o meu objetivo. Agora ela entendia por que ele se esforçara tanto para ajudar o inimigo. Era para

poder enfrentar algue m ainda mais poderoso. - Eu disse que estava procurando uma amiga. So tomarei uma decisa o depois que

a encontrarmos.

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- Eu entendo. Faremos tudo ao nosso alcance para encontra -la. So na o faça nada precipitado.

- Voce quer que eu fique quietinha aqui sendo uma boa menina? Ate quando? – agora que ela sabia qual era o objetivo dele, agora que o entendia, estava disposta a ouvir.

- Como Dysley disse, eles encerraram o bloqueio e a investigaça o. A PSICOM vai continuar na cidade por alguns dias, mas a segurança na o sera mais ta o pesada. – ele ergueu tre s dedos – Espere so mais tre s dias.

- O que esta planejando? Ele contou sobre o festival de fogos de artifí cio. É verdade, pensou Fang, ouvimos

falar disso na cidade. É um grande festival em que pessoas de Cocoon inteiro vêm para ver os fogos.

- No dia do festival, o policiamento ficara a cargo do Regimento de Segurança. A PSICOM tambe m vai estar la , mas na o podera se mobilizar contra voce . Voce tera mais chance de se misturar aos turistas e na o chamar muita atença o.

Vanille provavelmente ainda estaria bem em tre s dias, pensou Fang, concordando. - Eu ficarei aqui ate o festival. Mas tem uma coisa... - Uma coisa? - Ainda na o decidi se vou te ajudar. Se o Foco delas era destruir os fal’Cies de Cocoon, seria u til juntar forças com

Raines. Mas se na o era, um tempo precioso seria perdido. Enquanto a marca de Vanille continuasse ativa, cada segundo contava. Elas na o podiam dar esses segundos para o inimigo. Enquanto na o recuperasse a memo ria, ela na o podia tomar uma decisa o.

- Tudo bem. Primeiro vamos encontrar sua amiga e aí voce me da uma resposta. Mesmo que eles encontrassem Vanille, ela na o poderia responder enquanto sua

memo ria na o voltasse. Mas na o podia dizer isso a Raines.

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(5) A busca por Vanille continuou, mas Rygdea sempre voltava de ma os vazias.

Quando Fang se deu conta, dois dias ja haviam se passado, e o festival estava prestes a começar. E ela ainda tinha problemas com a memo ria. Tentara relembrar coisas da infa ncia, nomes das pessoas que conhecia... Mas sua mente continuava ta o vazia quanto antes.

Como prometido, Raines a deixou sair. Fang recebeu um pequeno dispositivo sem fio para que eles pudessem entrar em contato com ela quando necessa rio. Tambe m lhe deram um dispositivo de “transfere ncia”, que a permitiria ter acesso a sua arma quando quisesse.

Obrigada, pensou Fang. Apesar de no fim nenhum dos dois ter ganhado nada com o tal “acordo”, ela ainda sentia que devia algo a Rygdea.

O templo foi o primeiro lugar que ela visitou. Rygdea na o dissera nada sobre o lugar. Isso provavelmente significava que nem ele nem mais ningue m sabia que era possí vel entrar la . Como eles procuraram em toda parte e na o encontraram Vanille, era possí vel que ela estivesse escondida ali.

So alguns dias tinham se passado desde que elas deixaram o templo, mas la dentro parecia aconchegante e familiar. Nesse mundo estranho, era a sua u ltima conexa o com o lar.

Vasculhando o lugar, Fang viu que os trajes cerimoniais sobre os quais elas dormiam estavam jogados de qualquer jeito pelo cha o. Vanille esteve ali, mas agora na o havia sinal dela. Talvez elas tivessem se desencontrado por pouco.

Ela viu a arma de Vanille. Era preocupante saber que ela estava andando por aí desarmada. Devia te -la deixado para na o chamar atença o. Infelizmente, ao contra rio de quando acordaram, a cidade estava perigosa agora, com soldados por toda parte.

Fang deu mais uma volta la dentro, so para garantir, antes de sair. Por precauça o, caso Vanille voltasse, pegou as roupas do cha o e as dobrou direito, como uma espe cie de sinal de que tinha passado por ali.

Se pelo menos o fal’Cie Anima lhe dissesse alguma coisa. Se Vanille tinha mesmo passado por ali, ou alguma pista de onde ela podia estar. Aquele velho disse que o fal’Cie o tinha repreendido. Era possí vel que os fal’Cies de Cocoon tivessem uma maneira de se comunicar com as pessoas. Tal coisa era totalmente impensa vel para um fal’Cie de Gran Pulse.

Se bem que seria um saco se eles falassem, pensou ela. Provavelmente só ficariam dando ordens, ignorando tudo que as pessoas dizem. É assim que os fal’Cies são. No fim, eu só posso contar comigo mesma, ponderou.

Fang caminhou pela praia onde elas pescaram e pela floresta onde pretendiam caçar. Quando voltou a cidade, ja era noite. Tambe m deu uma olhada na horta de onde roubaram alguns legumes, mas Vanille na o estava por la tambe m.

- E mesmo depois daquilo, eles na o aprenderam. Fang olhou para a horta desprotegida, sem sequer uma cerca, e riu. Pore m, e isso

provavelmente era so porque ja fazia tempo que estivera ali, ate este lugar pareceu bonito agora. Ela se abaixou e colocou a ma o na terra. Vanille podia ter ido ali e feito o mesmo. Na o, ela sabia que tinha acontecido.

- Mas eu na o posso ficar aqui esperando por ela.

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Fang bateu as ma os para limpar a poeira e se levantou. Enta o percebeu que algo tinha caí do no cha o. Era o dispositivo sem fio. Ela tinha esquecido dele completamente. Ao pega -lo, viu que havia uma luz piscando. Parecia que algue m tentara contata -la.

- Como isso funciona mesmo...? – ela mexeu em tudo, como fizera com a aeromoto antes, tentando faze -lo funcionar. De repente, o aparelho ligou. Parecia que ela era boa com esse tipo de coisa.

- Onde voce esta ?! – gritou Rygdea quando ela colocou o dispositivo na orelha – Por que me ignorou esse tempo todo?!

- Desculpa, esqueci que estava com essa coisa. - Voce e inacredita vel... – ela o ouviu suspirar. - Ei, eu na o estou acostumada com essas bugigangas. - Ta , tudo bem. So queria te avisar que a PSICOM esta no Vestí gio. - Vestí gio? – enta o ela se lembrou: eles chamavam o templo de “Vestí gio”. - Parece que esta o fazendo uma investigaça o la . - Mas por que ? – estava difí cil manter a voz firme – Pelo que esta o procurando? - Eu na o sei os detalhes. So recebemos um comunicado. Mas sei que esta o usando

monstros militares. E na o sa o so os Pantherons que costumam usar em buscas, mas os Thexterons de caça tambe m.

Fang na o sabia a diferença entre esses monstros, mas era evidente, pelo jeito que Rygdea estava falando, que a situaça o na o era normal.

- Mandaram ate unidades militarizadas. Na o chegue perto delas. Na o sa o o tipo de inimigo que da pra derrotar sozinho.

Quando esteve no templo, Fang na o viu nenhum sinal de soldados, ou mesmo de qualquer pessoa. Eles deviam ter chegado assim que ela saiu.

- A propo sito, conseguiu encontra -la? - Se tivesse, ja teria voltado. - Entendo... Bom, de todo modo, eu diria que e melhor voce se misturar a multida o,

assim na o conseguira o te encontrar. Ah, espera um pouco. A voz dele sumiu. Devia ter recebido outra chamada. Mas na o demorou muito a

voltar. - Na o chegue perto da base do Regimento de Segurança. – disse ele quando voltou

a linha – Acabamos de receber um ví deo do sistema de monitoramento. Tem um monte de naves vindo pra ca a toda velocidade. Isso na o e uma simples investigaça o.

- Tomarei cuidado. – respondeu Fang, desligando o comunicador e correndo para o templo. Ela sabia que Rygdea tinha raza o, mas, se Vanille voltasse la , correria perigo. Quando o templo entrou no seu campo de visa o, pore m, ficou claro que na o seria ta o simples. Como ele disse, o lugar estava cercado de veí culos do exe rcito. Havia tanta gente que, de longe, parecia ate um enxame de insetos. Por mais que ela odiasse admitir, na o havia como enfrentar tudo aquilo. A questa o agora ja na o era nem ajudar Vanille, ela na o conseguiria sequer entrar no templo.

Talvez essa nem fosse a primeira vez que eles entravam ali. Seria possí vel que tivessem feito isso sem que Rygdea e seu grupo soubessem? Isso explicaria por que Vanille na o estava no templo. Ela teria visto os soldados e fugido, deixando a arma para tra s. Deve ser isso, pensou Fang consigo mesma, o que significa que Vanille não só não está lá, como não vai voltar. Eu vou ter que acreditar nisso por agora, e procurar em algum outro lugar...

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Estava ficando escuro. Logo ficaria escuro demais para procura -la. Fang seguiu sem demora para o distrito comercial.

- Aqui ate parece dia. O distrito comercial e a praia estavam um show de luzes, ale m de lotados de gente.

A exibiça o de fogos de artifí cio no ce u iluminava a cidade inteira. Fang achou que toda essa luz ajudaria na busca por Vanille, se ela estivesse la . Mas na o estava.

Fang vasculhou cada canto do distrito comercial. Foi a ma quina de vendas onde elas compraram bebidas pela primeira vez com o carta o, a loja de doces onde ganharam um mapa, a todos os lugares onde estiveram juntas. Mas, mesmo assim, nenhum sinal de Vanille.

Havia pessoas demais. Quando elas estiveram na cidade pela primeira vez, logo depois de acordar, ela teve dificuldade ate de imaginar de onde toda aquela gente tinha saí do. Mas hoje o lugar estava ainda mais abarrotado que antes. Para se esconder, era o timo, mas o que ela queria agora era justamente encontrar uma pessoa.

Cansada de andar, Fang decidiu parar num bar da praia. Logo se deu conta de que era o mesmo bar do qual Rygdea falara, onde conversou com uma mulher que misturava as bebidas sem parar. Ele disse que era bom.

- Bem-vinda! Estamos com todas as mesas ocupadas, mas nosso balca o e o melhor da cidade! – sorriu a moça. Sim, ele mencionou o quanto ela era amiga vel. Fang assentiu, relaxando um pouco. Estava muito mais cansada do que pensava. Na o descansara nada desde a tarde, enta o era de se esperar.

- O que vai querer? - Uma bebida... Algo bem doce. A moça fez que sim e pegou um copo. - Voce parece cansada. - E , um pouco. - Estava fazendo compras? Achou algo legal? Estranhamente, Fang na o se sentiu desconforta vel com as perguntas da mulher.

Talvez fosse porque ela tinha mais ou menos a mesma idade que Vanille. Fang pensou no sorriso de Vanille.

- Na verdade, estou procurando uma pessoa. - Hm, ela se perdeu? E o festival, coisas assim acontecem. Uma amiga? - E . - Como ela e ? Fang estava prestes a responder, quando a mulher gritou para algue m atra s dela. - Voce esta atrasado. Ela disse que estaria esperando no lugar de sempre. O homem com quem ela falou era alto e forte. Fang se perguntou se seria um

cliente regular. Ele deu meia-volta e saiu depressa, enta o na o foi possí vel examinar direito o seu rosto, mas as mangas desgastadas do longo casaco e as luvas de couro que ele usava ficaram na sua mente. Parecia mais um brutamontes sujo que qualquer outra coisa.

- Desculpe interrompe -la. O que ia dizer? – a moça colocou a bebida na frente dela. Fang tomou um gole, e era ta o doce quanto ela esperava. Foi refrescante sentir aquele lí quido escorrendo pela sua garganta. Todas as bebidas de Cocoon que ela experimentou eram muito aguadas para o seu gosto, mas essa ate que estava boa. Como Rygdea dissera, esse devia ser um bom estabelecimento. Para os padro es de Cocoon, claro.

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Fang pegou algumas fatias de fruta que estavam sobre o balca o e mordiscou. Gosto de nada.

- Enta o, a garota que esta procurando... Pode descreve -la? - Eu diria que tem aproximadamente a sua idade... Na o, provavelmente um pouco

mais nova. E uma medrosa, mas curiosa com tudo. E inge nua e desastrada, mas gentil com todo mundo e esta sempre sorrindo.

- E bonita? - Sim, mas uma chorona. – a mulher parecia estar ouvindo com atença o, enta o

Fang continuou – Quando esta sozinha ou preocupada, ela sempre chora. Mas e so eu dar um tapinha na cabeça dela que ela esquece tudo na hora. E assim que ela e ...

- Entendo... Bom, espero que a encontre logo para que possa dar esse tapinha. - E ... – disse Fang, sorrindo. Vanille na o era a u nica que estava se sentindo sozinha

e preocupada na verdade. - Ja pediu para os fogos? - Como assim? - Voce na o sabe? Diz a lenda que os fogos de artifí cio de Bodhum realizam desejos. - Eu... Ouvi essa histo ria, mas... – ela ja tinha ouvido va rias vezes. - Mas? Fang na o sabia se os fogos de Cocoon realizariam o seu desejo. - Nada... Deixa pra la . - Bom, se ainda na o fez o seu desejo, por que na o pede para encontra -la? Ou deseje

que ela na o chore mais. Fang fez que sim e se levantou. Ja tinha ficado ali mais tempo do que planejava. - Se na o conseguir encontra -la, volte aqui. Ficarei de olho para o caso de algue m

assim aparecer. - Sim, obrigada. Apo s pagar com o carta o, Fang saiu. Estava lotado dentro do bar, mas fora estava

pior ainda. - E como procurar um gra o de areia no deserto... – ela suspirou e olhou para o ce u.

Ou talvez fosse como tentar tocar aqueles brilhos no ce u. Fang encostou os dedos das duas ma os. Em Gran Pulse isso era uma oraça o, mas as pessoas de Cocoon na o teriam ideia do que ela estava fazendo. Sera que Vanille estava olhando para aquele ce u?

Enquanto ela pensava nisso, o dispositivo sem fio começou a vibrar. Era Rygdea. Ela teve a esperança de que ele estava entrando em contato para avisar que a tinham encontrado, mas na o, a voz dele era grave.

- Onde voce esta ? - Estou na frente do bar que voce falou. - Certo. Volte ao ponto de encontro. Estamos indo te pegar. O combinado era que ela voltaria para a Lindblum se eles encontrassem Vanille

ou quando o festival terminasse. Mas, pelo tom de voz dele, ela entendeu que as notí cias na o eram boas.

- O que aconteceu? - Uma coisa horrí vel. Te conto os detalhes aqui. Fang concordou e desligou o dispositivo. Ela tinha um mau pressentimento.

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(6) Interceptar a informaça o na o fazia parte dos planos originais deles. Ela na o tinha

sido codificada nem nada, e a primeira pessoa a ouvir foi um dos operadores de ra dio de patente mais baixa. A princí pio, ele achou que era um trote. Na o ia salvar a gravaça o e muito menos relata -la. Se Rygdea na o tivesse passado por la na hora, ningue m ficaria sabendo de nada.

“Um fal’Cie de Pulse foi encontrado no Vestí gio.” Era isso que a transmissa o dizia. Se Rygdea na o soubesse que a PSICOM estava investigando o Vestí gio, tambe m teria pensado que se tratava de um trote.

Mas a veracidade se confirmou rapidamente, porque a PSICOM na o demorou a selar o Vestí gio. Quando invadiram as ca meras de segurança, eles viram que a maior parte das forças da PSICOM estava se mobilizando para ir a Bodhum. Eles tambe m receberam ordens de se retirarem imediatamente. Foi por isso que mandaram Fang voltar para a nave. Muito embora ela provavelmente ainda estivesse procurando pela amiga, na o havia outra opça o. A PSICOM trabalhava muito ra pido. Exigiram a retirada na o so da Cavalaria, mas do pro prio Regimento de Segurança de Bodhum tambe m. E tudo isso bem no meio do festival de fogos de artifí cio.

- O que eles pretendem fazer? - Devem estar querendo ganhar tempo ate a informaça o vazar. - Enta o eles encontraram mesmo um fal’Cie de Pulse? Provavelmente foi um choque ate para os oficiais de mais alta patente da PSICOM.

O susto deve ter feito os soldados que encontraram o fal’Cie esquecerem de criptografar a mensagem. Eles a transmitiram numa freque ncia que ate civis podiam acessar. Outras pessoas tambe m ja deviam ter interceptado o co digo. E, como no incidente de Euride, os boatos na o demorariam a se espalhar.

- Va o anunciar a existe ncia do fal’Cie oficialmente assim que bloquearem a cidade. - Acha que as pessoas entrara o em pa nico? - Pelo menos dentro da cidade. – disse Raines. Esse era o motivo do bloqueio.

Mesmo que houvesse pa nico em Bodhum, na o se espalharia para outras regio es. Selar as pessoas e a informaça o permitiria que os moradores de outras cidades continuassem desconectados da situaça o. As pessoas na o se importam com o que acontece quando na o as afeta diretamente. O povo de fora logo perderia o interesse.

- Ainda na o posso acreditar que havia uma coisa daquelas escondida no Vestí gio. Devia ser por isso que Fang insistiu em ficar em Bodhum. Mesmo quando eles

sugeriram que sua amiga podia ter fugido para algum outro lugar, ela simplesmente respondeu que na o era possí vel. Embora isso na o fosse de todo estranho, fazia muito mais sentido se havia um fal’Cie de Pulse por perto. Fang e sua amiga eram l’Cies. Elas na o podiam deixar seu fal’Cie para tra s so porque estavam sendo perseguidas.

- Se pelo menos tive ssemos encontrado a amiga dela antes de eles descobrirem essa coisa...

- Infelizmente, acredito que teremos que desistir disso. Na o podemos mais sequer chegar perto de Bodhum, muito menos conduzir uma busca la .

Mesmo que eles conseguissem furar o bloqueio, na o conseguiriam sair de novo. Ja tinha sido difí cil ajudar Fang a escapar de Euride, e desta vez haveria uma força muito maior.

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- E agora, o que vai acontecer...? – enquanto Rygdea dizia essas palavras, Raines recebeu uma chamada no comunicador. – E o...?

Ele nem precisou terminar, o rosto de Raines deixava claro. Era o espia o deles. Fazia alguns dias que Raines tinha conseguido um contato na PSICOM. Foi so graças a isso que eles conseguiram reagir ta o depressa e resgatar Fang.

- Desculpe, pode ir la para fora um pouco? Rygdea fez que sim em sile ncio e se levantou. Eles tinham concordado que o u nico

que saberia a identidade do homem seria Raines. Como a informaça o que ele passava era sempre das boas, Rygdea imaginava que era algue m importante.

Rygdea se virou por um momento e viu o olhar no rosto de Raines quando ele atendeu a ligaça o. Ele sempre parecia ficar estranho. Rygdea na o sabia explicar como exatamente, so sabia que ele ficava diferente. Talvez fosse porque tambe m era arriscado para ele conversar com o homem. Rygdea imaginava que devia ser um homem que valia esse preço. Na o, na o tinha certeza se era sequer um homem.

- Certo, acho melhor eu ir buscar a Fang. Na o era um trabalho que o apetecia. Ele teria de dizer a ela que precisaria parar

de procurar a amiga. A imagem do rosto dela surgiu na sua mente. - Ela vai dizer que viramos inimigos de novo... – ele achou que eles poderiam

trabalhar juntos. Tinham um inimigo e um objetivo em comum, enta o seria perfeito lutar juntos. Mas agora...

Ele se sentia estranhamente deprimido.

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(7) - O que voce disse?! – Fang pulou para cima de Raines, mas Rygdea a segurou. Ela

estava ta o nervosa que nem percebeu. - Recebemos ordens de sair de Bodhum. Na o poderemos mais permanecer neste

espaço ae reo. - Seu...! – eles tentaram se desculpar, mas as palavras na o surtiram nenhum efeito

– Me deixem sair desta nave! Me deixem sair agora! Ela sabia que seria difí cil encontrar Vanille. Foi por isso que ficou na nave, fazendo

o papel de boa menina. Ate agiu conforme as ordens deles. Mas agora isso...? - Fique calma! - Ficar calma? Ficar calma?! – ela tentava se desvencilhar dele, mas Rygdea na o

movia um mu sculo. - As forças da PSICOM esta o chegando. Tente entender, as armas deles sa o feitas

especialmente para enfrentar pessoas e criaturas de Pulse. Seria suicí dio. - Voce acha que eu ligo pra isso?! - Voce quer morrer?! - E se eu quiser?! – era melhor morrer que deixar Vanille se tornar um Cie’th, que

abandona -la. - Ainda na o esta tudo perdido! – disse Rygdea. A frase pareceu finalmente servir

para alguma coisa. Fang parou de se debater, e ele afrouxou os braços. - O que ? Mas voce disse... - Eu disse que í amos deixar a a rea, na o que vamos parar de procurar! - E a mesma coisa! - Voce so quer encontrar a sua amiga, na o e ? Que diferença faz se isso acontecer

dentro ou fora de Bodhum? – disparou Raines. Fang olhou para Rygdea, confusa, mas ele fazia o mesmo com relaça o ao general.

- Senhor, o que ... – Rygdea começou a falar, mas parou. Fang se questionava se ele sabia do que Raines falava.

- O Santua rio decidiu deportar todos que esta o em Bodhum para Pulse. Na o so os moradores da cidade, mas cada pessoa que esta la agora. - o anu ncio seria amanha , ele continuou, e o processo começaria no dia seguinte.

- Na o pode ser... – murmurou Rygdea, com uma voz esparsa. Parecia que a verdade era muito pior do que ele imaginava.

- Primeiro as pessoas sera o levadas de trem ate o Limite Suspenso, e de la sera o mandadas para Pulse.

Era a fronteira de Cocoon, explicou Rygdea. So viviam monstros la . Na verdade, a entrada de civis era proibida.

- Se sua amiga esta em Bodhum, sera colocada nesse trem. No momento, por causa da PSICOM, no s na o podemos nem chegar perto de Bodhum, mas e se a encontra ssemos no Limite Suspenso? E eu soube que o Vestí gio onde o fal’Cie repousa tambe m sera movido para la , enta o acredito que todos estara o concentrados nele.

- Esta sugerindo extrair a amiga de Fang desse trem? Senhor, isso e ... - Loucura? Mas... – ele olhou nos olhos de Fang – Se voce sair e for ate la sozinha,

vai cair direto nas ma os do inimigo. Estou enganado? - Na o esqueça que voce tambe m e um inimigo. - Acredito que ja expliquei isso. No s queremos derrotar os fal’Cies... E o Santua rio.

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- E , fiquei sabendo. Acha que eu me importo com as suas briguinhas por poder? - Isso na o e uma “briguinha por poder”. Na o e poder que eu desejo. - Enta o o que e que voce deseja? - Deixar de ser uma ovelha. E quero o mesmo para todos de Cocoon. Fang pensou ver alguma coisa no fundo dos olhos dele. Era algo que ela ja tinha

visto em algum lugar antes. - No s somos humanos. Temos nossos pro prios desejos, sentimentos, ideais... Ser

humano e ser o deus do seu pro prio coraça o. Na o somos apenas ferramentas para os fal’Cies.

Enta o ela se lembrou de onde tinha visto aquele olhar antes. Foi nos rostos das pessoas que tiveram seus lares destruí dos pelos fal’Cies de Cocoon. A cor da dor e do desespero. Talvez os olhos de Fang tambe m fossem assim, mesmo agora. Era por isso que ela na o se arrependia de ter se tornado uma l’Cie.

- Faremos tudo em nosso poder para encontrar sua amiga. Isso eu prometo. - Mas, senhor... – Rygdea tentou intervir, mas Raines o impediu com um gesto. - Isso e so mais uma parte do nosso trabalho. As vidas dessas pessoas esta o sendo

destruí das porque elas tiveram o azar de passar perto de uma coisa de Pulse. No s na o podemos simplesmente ignorar isso.

- Bom... So porque voce insiste. Eu continuo achando esse plano o mais maluco de todos os planos malucos. Mas vou com voce s, porque pelo menos na o e impossí vel.

Rygdea sempre falava com um tom casual, mas Fang viu que sua preocupaça o era se ria. Eles iam resgatar Vanille de um trem protegido por membros da PSICOM que eram mais numerosos e melhor equipados que eles. Na o seria fa cil, e talvez a Cavalaria teria de fazer sacrifí cios.

- Enta o eu fico te devendo. – Fang fechou os olhos por um momento e rezou. Rezou para que o Foco delas fosse destruir os fal’Cies de Cocoon, para que elas pudessem lutar juntas, para que tomar essa decisa o na o fosse um erro – Enta o, depois que salvarmos a minha amiga, Vanille, no s ajudaremos voce s. Usaremos todo o nosso poder para acabar com os fal’Cies de Cocoon.

Raines sorriu discretamente. Ela ainda na o conseguia entender o que se passava na cabeça dele, mas decidiu que era melhor na o se preocupar. Contanto que ela pudesse salvar Vanille, o resto na o importava.

A Lindblum atracou a s margens do Lago Bresha no dia em que o trem do Expurgo

deixou Bodhum. Era difí cil esconder uma nave grande numa a rea aberta como o Limite Suspenso, enta o eles decidiram aterrissar aqui e usar veí culos menores para chegar mais perto do trem. Esse era o plano.

- So mais um pouco... – murmurou Fang, vislumbrando as a guas do Lago Bresha que se espalhavam ate onde a vista alcançava. Ela estava num dos veí culos menores que seguiam para o Limite Suspenso.

- Sim, so mais uma hora e o trem chegara . Aí vamos ter um grande reencontro feliz. – brincou Rygdea. Nessa hora, Fang viu um pa ssaro branco pela janela.

- O que foi? - Aquele pa ssaro... – ela apontou, mas o animal ja estava longe. Suas asas brancas

desapareceram nas nuvens. Fang se lembrou que o vira quando Rygdea a capturou. Ela achou que ia virar uma prisioneira, mas, graças a eles, conseguiu permanecer segura e

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agora ia resgatar Vanille. Esse era mesmo um pa ssaro da sorte. Ia dar certo. Ela ate rezou para aqueles tais fogos de artifí cio lenda rios, ou seja la

o que forem. Eles iam encontrar Vanille... Sem du vida. Fang sorriu e olhou para frente. O Limite Suspenso ja estava pro ximo.

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Amigos

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(1) Telefonemas noturnos nunca sa o boa coisa. Tendo vivido apenas quatorze anos, provavelmente ainda era um pouco cedo para

começar a decidir que alguma coisa na o tinha exceça o. Mas hoje é verdade, pensou Hope, vendo sua ma e atender ao telefone.

- Na o, esta tudo bem. Na o se preocupe. Estamos nos divertindo muito. Bodhum e um o timo lugar. Na o tivemos nenhum problema com o hotel, e o mar e lindo.

Era o seu pai ao telefone. Hope soube no instante em que o aparelho tocou. E ele ja imaginava por que o pai tinha ligado. Afinal, ja estava anoitecendo. Ele podia ver pela janela atra s da sua ma e que o dia estava se esvaindo.

- Sim, sim... Eu entendo. Que pena... Bingo, pensou Hope. A voz desanimada da sua ma e era a prova de que ele estava

certo. A empresa precisava dele, havia muito serviço e ele na o poderia vir amanha . Era provavelmente isso que ele estava dizendo.

Isso era para ter sido fe rias em famí lia. Dez dias na praia, sem preocupaço es. Sua ma e passara seis meses planejando tudo. So para se divertirem e relaxarem, na o para ver algo em particular. Pelo menos foi o que ela disse. “Vamos nos divertir, so no s tre s. Ha tanto tempo na o fazemos isso.”

Mas ele sabia o verdadeiro significado por tra s das palavras da sua ma e. Com seu marido sempre ta o ocupado, e seu filho naquela idade difí cil, a “adolesce ncia”, cada vez eles se distanciavam mais. Ela na o sabia o que fazer. Enta o provavelmente achou que, se fossem a algum lugar diferente, saí ssem um pouco da rotina de casa, finalmente teriam tempo para conversar. Pelo menos, era uma ideia razoa vel.

Hope na o estava empolgado com a viagem. Diz dias seguidos junto do seu pai? Ele nem saberia sobre o que conversar. Hope se irritava so de pensar nisso. Enta o ficou aliviado quando seu pai precisou fazer uma viagem a trabalho. Ele disse que daria tempo de pegar uma parte do passeio, mas Hope na o acreditou. Provavelmente na u ltima hora surgiria uma reunia o que ele na o tinha como cancelar, ou algue m do Santua rio faria uma encomenda, alguma desculpa qualquer. Era sempre assim. Na o importava o que prometesse, seu pai sempre descumpria por causa do trabalho.

- Esta tudo bem, de verdade. Na o precisa se preocupar. Aqui tem tanta coisa pra se fazer que a gente nem ve o tempo passar!

Sua ma e forçou um tom de voz mais feliz. Como sempre. Ele queria dizer a ela que na o precisava fazer isso. Seu pai estava sempre quebrando promessas, mas ela nunca o culpava. Sempre aceitava as desculpas obedientemente. “O trabalho do seu pai e difí cil”, dizia ela. “Ele tem muitas responsabilidades. Pessoas importantes do Santua rio confiam nele. Ele faz tudo isso por no s.” Era ta o irritante ela nunca dizer nada contra ele. Mas, por mais que ela se esforçasse para defende -lo, seu pai nunca dissera uma palavra de gratida o.

Meu pai não se importa, pensou Hope. Nem com ela... Nem comigo. Ele na o tinha certeza se sua ma e realmente na o percebia isso ou se apenas fingia.

Mas isso na o era ta o importante na verdade. Quem está errado nessa história é o meu pai, concluiu Hope em pensamento.

- Amanha ? Vamos a Euride como o planejado. Sim, ja reabriram. Acontecera um acidente na usina de energia do Desfiladeiro de Euride ha tre s dias.

Por causa disso, os passeios turí sticos tinham sido suspensos por tempo indeterminado.

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Mas aparentemente o dano na o fora ta o grave, e as visitas seriam reabertas amanha . - Na o se preocupe. Ora, se o pro prio fal’Cie decidiu que e seguro, quem somos no s

para questionar? Voce e muito medroso. Até parece que ele se preocupa de verdade, pensou Hope. Claro que ele na o diria

isso em voz alta. Sabia que so deixaria sua ma e triste. Sua cabeça sabia disso, mas seu coraça o...

- Ele na o vem, na o e ? E claro. – as duras palavras escaparam da boca assim que ela desligou o telefone.

- Na o fale assim, ele na o faz por mal. Voce sabe como o acidente de Euride deixou as pessoas preocupadas. Os oficiais do Santua rio ficaram muito ocupados, e isso acabou afetando o trabalho do seu pai tambe m. Ah, mas ele disse que chegara a tempo de ver o festival de fogos.

De novo com as promessas que nunca vai cumprir. Ele nem devia faze -las. - Que seja, na o vamos falar dele. Ate porque, mesmo se viesse, ele so diria as coisas

de sempre. “Como esta a escola? E as notas?” So isso e mais nada. Parece um papagaio que so sabe... – “repetir as coisas”, Hope ia dizer. Mas viu a tristeza nos olhos da sua ma e. – Ah, e , voce disse que queria que eu te ajudasse com uma coisa? – disse, tentando mudar o rumo da conversa – Na o vamos ficar brigando por causa de uma pessoa que nem esta aqui.

- Ah, sim, e mesmo. Voce pode lavar esses legumes pra mim? - Legumes? - Bom, ja que estamos num apartamento que tem cozinha, acho um desperdí cio

ficar comendo fora todo dia. – ela pegou um grande embrulho. Tinha cheiro de terra. Na o era bem o que ele esperava ver.

- Onde voce arranjou isso? - Ganhei de um rapaz simpa tico. Ah, é, a mamãe acordou cedo hoje, pensou Hope. Ele ficou dormindo e ela decidiu

sair para dar uma caminhada. Deve ter sido nessa hora. - Ele me disse que e de uma plantaça o caseira. A maioria das pessoas aqui tem

uma, ao inve s de comprar no mercado. Tome, lave esses. Sua ma e separou os vegetais, dando umas coisas enrugadas que pareciam batatas

a Hope. Ela ficou com algumas folhas com mordidas de insetos. Era o tipo de coisa que eles nunca veriam num mercado de Palumpolum. Nem de nenhum outro lugar.

- Voce sempre tem ideias estranhas. – disse Hope, suspirando e abrindo a torneira. Na o era a primeira vez que ela fazia algo assim.

- Mas e que eu achei ta o interessante! O rapaz era bonito e tinha um estilo u nico, sabe, com umas roupas coloridas. Mas aí ele me disse que trabalhava num bar, enta o faz sentido. E um jeito de atrair os clientes. Ah, e tinha um outro garoto, mais baixinho, com ele. Acho que deve ter a sua idade.

- Ainda e estranho. Por que algue m iria querer trabalhar com isso? - Voce acha? Eles pareciam estar se divertindo. Algue m que planta a pro pria comida... Hope na o conseguia entender. Havia usinas

de produça o de comida administradas diretamente pelos fal’Cie que produziam uma grande quantidade de comida de alta qualidade que era vendida a preços baixos. Ele na o sabia quanto custavam as sementes dos legumes, mas se eram na faixa das sementes de flores que ele via em Palumpolum, com certeza plantar na o saí a mais barato que simplesmente comprar comida pronta.

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- Depois apareceu uma garota, e eles começaram a conversar, e no fim ele me deu esses legumes.

- Voce e muito imprudente. - Sou uma ma e. Sou forte. Ela sorriu e continuou a lavar as folhas. Parecia que tinha esquecido por completo

a ligaça o de alguns minutos atra s. Devíamos ter planejado essa viagem sem incluir ele desde o começo, pensou Hope. Assim ela não ficaria se preocupando toda hora, só faria coisas divertidas assim. É por isso que eu odeio ele. Odeio telefonemas noturnos...

Ele esfregou forte para tirar a terra do legume. Seria tão bom se eu pudesse tirar tudo de ruim da nossa vida com essa facilidade...

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(2) O Desfiladeiro de Euride era um ponto turí stico muito popular. A usina de energia

que havia la era destino certo para excurso es escolares e famí lias bem-sucedidas, e todos diziam que a paisagem ao redor era uma das mais lindas de Cocoon inteiro. A possibilidade de ver o fal’Cie Kujata, responsa vel pelo funcionamento da usina, tambe m servia como um bo nus e tanto. Os fal’Cies sa o importantes, sustentando a pro pria vida do povo de Cocoon, mas na o era sempre que pessoas comuns podiam ve -los ta o de perto.

Era por isso que muitas das pessoas que visitavam a Cidade Costeira de Bodhum aproveitavam para dar um pulinho no Desfiladeiro de Euride. Apo s uma curta viagem a um preço acessí vel, era possí vel ver os equipamentos mais modernos da usina, curtir a exuberante paisagem, e ainda ver um fal’Cie. Esses tre s atrativos faziam com que o lugar nunca ficasse sem turistas.

Ale m da usina, havia uma praça com barracas de lembrancinhas para todos os lados, so esperando os turistas. As crianças das excurso es escolares sempre se reuniam aqui, e suas vozes empolgadas eram inconfundí veis. Esse era o famoso Desfiladeiro de Euride que todos conheciam. Mas hoje ele estava diferente.

- E completamente diferente daqueles ví deos... – murmurou Hope. Finalmente eles haviam chegado a Euride. A praça estava fechada, com uma fita contornando todo o seu perí metro. Soldados armados em cada canto. Na o havia barraquinhas de comida ou bebida, na o havia barraquinhas de balo es.

- Parece que o que aconteceu aqui foi mais se rio do que disseram na TV. Na o posso acreditar que tem mais soldados que turistas. – sua ma e parecia estar se divertindo, sem se incomodar muito com a situaça o, mas na o po de esconder a surpresa quando viu a quantidade de homens uniformizados e armados. – Devem ter chamado os soldados de Bodhum para ajudar. Coitados, ja esta o ta o atarefados por causa do festival...

- Na o, esse na o e o uniforme deles, e o da PSICOM... Eu acho. So aqueles ali sa o soldados comuns.

- Ah, e ? - Acho que sim. Vi numa foto que o Kai me mostrou uma vez. O sonho de Kai era se tornar piloto do exe rcito, enta o ele sabia muito sobre isso.

Se Kai estivesse aqui, saberia que tipo de arma cada um dos soldados carregava. Hope na o via Kai ha quase tre s anos. Ele se mudara por causa do trabalho dos pais. Apesar de so ter ido para a cidade vizinha, na o era mais a mesma coisa agora que na o frequentavam a mesma escola. No começo, eles se telefonavam e mandavam mensagens regularmente, mas aos poucos isso foi diminuindo.

- Ei, aquela na o e a mesma loja de animais que vimos em Bodhum? – Hope deixou as lembranças de lado para olhar para onde sua ma e apontava. A familiar logomarca colorida chamava atença o em frente a porta fechada da loja.

- Na o e aquele lugar que vendia filhotes de chocobo? - Sim, esse mesmo. Ele disse que todos da loja de Euride tinham sido vendidos,

lembra? – isso aconteceu no dia em que eles chegaram a Bodhum. Depois de fazer check-in no hotel, sua ma e disse que queria dar uma volta no shopping.

Algumas crianças passaram correndo ao lado de Hope. Deve ser uma excursão, ele pensou. Não, espere, todas as escolas estão de férias, então deve ser algum evento especial para crianças.

- Depressa! Vejam, ja estamos atrasados!

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Tem uma garota assim em toda classe, aquela que sempre faz tudo certinho e quer mandar nos outros. Havia uma na turma anterior de Hope. Havia uma na atual. Era totalmente impossí vel uma turma sem essa figura. Ta o impossí vel quanto Cocoon existir sem os fal’Cies.

- Aí eu fui na excursa o de Gapra. - Ah, aquela da floresta? - Isso. Hope se virou na direça o da voz. A garota falava com orgulho. Devia estar falando

da Floresta Branca de Gapra, a reserva ecolo gica do Santua rio. E uma das poucas a reas preservadas de Cocoon. Como sua funça o principal e a pesquisa biolo gica, normalmente civis na o podem entrar. A u nica exceça o e em excurso es como essa. As datas sa o muito poucas, e basicamente so escolas ou grupos de pesquisadores independentes sa o aceitos. Como sa o muitas pessoas e poucas vagas, a decisa o e feita na base do sorteio. Por isso, era muito raro encontrar algue m que ja tinha ido la . Na o era de se surpreender que a garota estivesse se gabando. Kai provavelmente fez o mesmo na sua nova escola, ja que a turma deles tambe m foi la uma vez.

- O que foi, Hope? Sua ma e ja estava um pouco mais adiante. Ela parou e olhou para tra s. - Nada... E que aquelas crianças que passaram correndo estavam falando de Gapra. - Ah, e mesmo, a sua escola foi sorteada, na o foi? Faz quanto tempo? Cinco anos? - Seis. Quando Kai ainda estava la , e Elida. Os tre s sempre estiveram juntos. Em Gapra,

eles ficaram juntos. Ele lembrava de correr atra s deles nas trilhas iluminadas. Hope se perguntou se eles ainda lembravam da aventura que tiveram la .

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(3) Dentro da nave, todos levantaram a voz em empolgaça o. Abaixo deles, esferas de

luz espalhadas pela superfí cie do lago, reluzindo. Tudo era colorido com va rios tons de verde. Eles tinham acabado de sobrevoar a a rea residencial da Va rzea Sunleth, que ficava ao lado da maior floresta natural de Cocoon.

- Aquele e o Lago Bresha? - Ei, olha so que a rvore enorme! - Aquilo e uma montanha? As vozes das crianças estavam ta o altas que parecia ate que iam rachar os vidros

das janelas. - Crianças, por favor, façam sile ncio! A voz da professora foi ainda mais alta. Depois de dez anos fazendo isso, ela na o

se surpreendia mais, mas os funciona rios da nave estavam boquiabertos com as crianças. Essa nave normalmente so transportava passageiros que tinham condiça o de pagar um preço alto. Por isso, quase sempre o cliente eram membros do Santua rio em misso es de grande importa ncia. Cuidar de crianças era incomum para eles. A reserva natural ficava numa a rea de difí cil acesso, por isso a escola preferia contratar naves bem modernas. E o resultado era esse.

Aos poucos a nave foi perdendo altitude, e o Lago Bresha se aproximando. A superfí cie do lago tomou conta da vista das janelas, e as crianças começaram a gritar sem controle de novo. A professora bateu as ma os e ergueu a voz: “Prestem atença o!” – e todos ficaram quietos.

- A nave vai pousar agora. Na o vamos parar muito perto do lago, e a pista de pouso e improvisada. Fiquem atentos e na o se afastem do grupo. Se entenderam, levantem a ma o.

- Entendemos! – responderam todos, levantando as ma os em conjunto. Hope ouviu uma voz dizer “uau” ao seu lado. Era Kai. Ainda mantendo a ma o levantada, Hope perguntou a ele:

- O que foi? - E muito difí cil aterrissar num lugar desses sem uma pista adequada. - E ? - E essa nave e grande. So um piloto muito bom pra fazer isso. Hope na o entendia bem as coisas que ele falava. Kai queria ser piloto do exe rcito

quando crescesse, enta o sabia tudo sobre esse tipo de coisa, mas Hope na o sabia de nada. Mas, se Kai disse que o piloto era bom, devia ser verdade.

- O que voce s esta o cochichando aí ? – disse Elida. Ela estava bem ao lado de Kai, e começou a se apoiar nele.

- Na o fala ta o alto! – repreendeu Kai. Elida era a melhor cantora da classe, mas, talvez por isso mesmo, sempre falava muito alto.

Eles se conheceram na cerimo nia de boas-vindas do primeiro ano da escola prima ria. Os professores tinham colocado os tre s para sentar perto. Fizeram o mesmo na classe e logo ficaram amigos. Eles sempre faziam tudo juntos.

Seus interesses, gostos e personalidades eram completamente diferentes, mas a s vezes uma proximidade externa importa mais que uma interna. Eles moravam perto um do outro, e frequentemente iam para a escola juntos. Hope e Elida eram filhos u nicos, mas Kai tinha um irma o tre s anos mais novo. Seu nome era Hal, e ele tambe m costumava

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brincar com eles. Ano apo s ano, eles sempre tinham a sorte de ficar na mesma classe. Apesar de nem sempre sentarem juntos, nos eventos e excurso es como essa eles na o desgrudavam.

- Ele disse que o piloto desta nave e muito bom. – cochichou Hope no ouvido de Elida.

- Muito bom? Por que ? – Elida tombou a cabeça, sem entender. Kai ia começar uma explicaça o minuciosa, mas a professora interrompeu.

- Ei, voce s aí ! Parem de conversar e abaixem as ma os! – so os tre s ainda estavam com as ma os para cima. Rapidamente as abaixaram, enquanto os outros riam.

- E tudo culpa de voce s! – disse Elida, brava. Foi quando o cena rio la fora parou de se mover. Hope na o sentira o menor tremor enquanto a nave aterrissava. Ele na o sabia nada sobre aeronaves, mas realmente era o bvio que o piloto era bom.

- Viu? Eu na o falei? – disse Kai, como se tivesse sido ele mesmo quem aterrissou a nave.

A primeira coisa que chamou a atença o das crianças quando desceram da nave foi

o cha o. Elas nunca tinham sentido algo parecido. Em Palumpolum havia ruas para todo lado. Mesmo nos parques era difí cil encontrar um pedaço de terra exposta. Elas ficaram surpresas com a sensaça o estranha debaixo dos seus pe s, mas, quando deram uma boa olhada ao redor, ficaram ainda mais encantadas com o que viram. Grama e a rvores na o eram novidade, mas elas estavam sempre isoladas em lugares reservados. Elas nunca tinham visto tantas coisas verdes juntas como aqui.

- Atença o, crianças! Todas se lembram das regras que conversamos ontem? Todos levantaram a ma o. - O timo, enta o quais sa o os tre s “na os”? Quero ouvir todos falando juntos! - Na o correr, na o empurrar, na o se afastar! - Muito bem! Aqui e diferente da cidade. E fa cil escorregar, enta o nada de correr.

Os monstros so gostam de dormir, mas se voce s gritarem ou fizerem muito barulho, eles podem acordar e ficar bravos. Enta o quero todo mundo em sile ncio, entendido?

Eles ja tinham escutado isso inu meras vezes desde que a escola fora sorteada. Os professores sabiam que simplesmente dizer para as crianças ficarem quietas nunca funcionaria, enta o optaram por martelar isso na cabeça delas a cada momento. Os soldados ja tinham afastado os monstros mais perigosos da trilha que eles iam fazer. Os u nicos que ainda restavam eram os quietos e do ceis, e esses nem gostavam de chegar perto de pessoas mesmo. Atrair os monstros para longe era muito mais difí cil que simplesmente mata -los, mas Sunleth era um lugar para estudar a vida selvagem, enta o ningue m permitiria isso. O pai de Hope tinha mencionado isso uma vez.

- E tem mais uma coisa importante que voce s devem lembrar. Ha muitas ravinas e penhascos aqui, e muito perigosos. Hoje eles colocaram cordas e plataformas para no s, mas so em algumas a reas. Nunca saiam da a rea de observaça o! Estes cientistas va o nos acompanhar, enta o obedeçam a tudo que eles disserem. Todos entenderam?

Todos levantaram a ma o, e Hope olhou para a trilha que iam seguir. Em meio a s densas a rvores, ele podia ver rochas afiadas e desfiladeiros í ngremes. Estava um pouco nervoso por ter que se aventurar num lugar que era “muito perigoso”.

De acordo com o programa, eles seguiriam a Trilha do Arco-I ris ate o Lago Bresha, onde parariam para comer e teriam algum tempo livre. Na volta, passariam pela Trilha

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Verde. Mas Hope preferia ficar ali esperando. Ele sempre gostou mais de brincar em casa que na rua. Gostava de ficar sozinho com seus jogos ou ir a casa de Kai olhar as figuras de armas e equipamentos do exe rcito. Mas, como Kai e Elida gostavam de brincar ao ar livre, eles so faziam isso quando estava chovendo, ou quando Hal na o estava muito bem para sair.

- Muito bem, agora vamos dividi-los de acordo com as classes. A trilha e estreita, enta o façam uma fila u nica!

Um dos cientistas acompanharia cada turma. Ao contra rio dos professores, eles na o estavam acostumados a falar alto. Cada um carregava um pequeno megafone nas ma os. A fila de crianças andava lentamente. Com quase cem pessoas, era bastante grande.

- Essas flores sa o ta o bonitas! – Elida esticou a ma o para pegar uma flor vermelha, mas Hope a impediu.

- Na o. Disseram que na o podemos tocar ou pegar nenhuma das plantas. Algumas sa o venenosas.

- Eu sei disso. So ia tirar uma foto. – disse Elida, tirando uma pequena ca mera do bolso.

- Sera que a mama e gostaria de uma foto de uma flor...? Hope pegou sua pro pria ca mera. As ca meras digitais modernas enviavam as fotos

automaticamente para o computador sincronizado, e eram absolutamente essenciais em eventos como este. A que Hope e os outros tinham era uma versa o econo mica, feita de pla stico e com menos recursos de filtros. Mas era mais barata, enta o era perfeita para crianças, que podiam deixa -las cair e quebrar. E na o ter que se preocupar com o espaço do carta o de memo ria era uma vantagem e tanto. Apesar que a bateria ainda era um problema.

Hope enquadrou a flor vermelha. Tambe m tirou uma foto da flor branca ao lado dela. Suas pe talas fra geis foram carregadas pelo vento. Ele tirou uma foto disso tambe m. Espero que as fotos fiquem boas, pensou. Tem flores aqui que não se vê na cidade. E na o eram so as flores. Os monstros que ele podia ver ao longe so aumentavam o charme de Sunleth. Hope estava em transe, tirando foto atra s de foto. Subiu uma colina ate sem ver.

- Ei, voce s na o acham que o vento daqui tem um cheiro... meio estranho? – disse Elida. Hope tambe m tinha reparado. Assim que eles se afastaram da nave e adentraram a trilha. Desde aquela hora.

- Tem cheiro de... Ai, reme dio. – Kai respirou fundo e fez uma careta. - Na o, na o e reme dio. Parece mais com... ervas? - E , parece as coisas que o vovo bebe. Provavelmente ouvindo a conversa, a cientista na frente deles se virou e sorriu. - Esse e o cheiro do verde. Da terra e da grama. Todas as crianças ao redor trocaram olhares. Havia terra na cidade. Havia vasos

de planta e flores nos parques. Mas elas nunca sentiram esse cheiro. - A terra pura, sem intervença o humana, cheira assim. E as plantas tambe m. Pensando bem, pensou Hope, as flores também têm um cheiro diferente. Não, não

exatamente diferente, só mais forte. Ele estava tirando as fotos sem se aproximar muito, mas o cheiro doce das flores o alcançava. Era surpreendente. Ele se perguntou se era por causa daquela terra dali.

- Olhem! Um monstro! – gritou algue m. Quando Hope olhou, viu algo rastejando ao longo da beira de um barranco. Era translu cido e gosmento. Que monstro estranho.

- Isso e uma Flan. Elas sa o comestí veis, sabiam?

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Todos levantaram a voz, em choque e incredulidade. - Mas eu na o vou contar que comidas sa o feitas com elas. Eu teria se rios problemas

se alguma criança ficasse com nojo e resolvesse na o comer mais. – disse ela, brincando. A excursa o estava prestes a espiralar numa discussa o sobre que tipo de comida uma Flan poderia virar, mas enta o a Trilha do Arco-I ris chegou ao fim. A cientista devia ter dito aquilo porque sabia que estavam quase terminando.

Quando eles chegaram ao topo da subida, a vista apagou qualquer lembrança dos monstros. Um arco-í ris cortava o ce u, lançando luz colorida sobre os buracos das nuvens. Hope ouviu o clique da ca mera de algue m. O garoto devia ter lembrado que tinha uma. E isso foi como um sinal. Todos pegaram suas ca meras e começaram a fotografar a cena magní fica diante dos seus olhos.

- Ainda tem muitos lugares bonitos. Tomem cuidado pra na o fotografar demais e ficarem sem bateria.

Com essas palavras, o som dos cliques parou. Hope mal conseguiu se segurar. Ele ja estava com a bateria no vermelho.

- Queria ter trazido duas ca meras... – disse Elida. Provavelmente todos estavam pensando a mesma coisa. Mas a regra era que cada um so podia levar uma ca mera.

- Pessoal, olhem para ca , por favor. – era a cientista, usando o megafone. Ela devia estar esperando todos terminarem de tirar as fotos para começar a falar – Como todos voce s ja sabem, o clima de Cocoon e controlado pelos fal’Cies. Como regra geral, os fal’Cies na o dizem aos humanos o que te m planejado para cada dia.

Mas havia exceço es. Quando iam acontecer tempestades, rela mpagos, ventos fortes ou outros climas ruins, os fal’Cies comunicavam o Santua rio, que, por sua vez, avisava os civis, para que ficassem preparados. Os anu ncios dos fal’Cies estavam sempre corretos, nunca erravam. Era totalmente diferente da chamada “previsa o do tempo”, que era feita por humanos atrave s de coleta de dados e pesquisas complicadas. Ela ate era bastante precisa, mas tinha suas limitaço es e a s vezes podia falhar.

- Ao contra rio do resto de Cocoon, o clima de Sunleth e controlado pelo seu pro prio fal’Cie. Isso porque aqui no s estudamos os efeitos que a chuva, o vento e outros tipos de clima te m sobre as plantas e os monstros.

Elida levantou a ma o para fazer uma pergunta. - Existe algum monstro que na o gosta de chuva? Elida odiava chuva. Devia ser por isso que pensou nessa pergunta. - Claro, existe sim. Mas ha outros que adoram. Elida fechou a cara na hora. Parecia arrependida de ter perguntado. Hope e Kai

tiveram vontade de rir. - Hoje na o poderemos ir la , mas do outro lado daquela montanha fica um vale

onde no s mantemos os monstros que adoram a chuva e os monstros que odeiam. Estamos controlando a chuva naquela a rea e verificando periodicamente para ver como os monstros reagem. E por isso que quase sempre e possí vel ver um arco-í ris aqui.

O papai tinha dito mesmo que os arco-íris são feitos da “refração da luz nas gotas de água no ar”, pensou Hope. Acho que depois vou perguntar a ele sobre as Flans. Ele vai saber.

- Certo, vamos em frente. Vamos passar por uma a rea conhecida como “Caminho das Sombras”. La existem muitas plantas estranhas que odeiam a luz do sol. Mas e muito escorregadio, enta o tomem cuidado quando forem tirar fotos. – disse a cientista, enfim desligando o megafone.

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Eles fizeram outra fila e continuaram seguindo o caminho. Ate agora, a trilha fora toda em subida, mas finalmente surgiu um declive. Mesmo assim, a caminhada continuava difí cil. Hope nunca imaginara que a grama e a terra molhada podiam ser ta o escorregadias. O caminho estava desobstruí do, sem nenhuma pedra, mas ele quase caiu va rias vezes. E logo estava todo coberto de terra. Nas orientaço es para a excursa o que a escola mandara para os pais estava escrito: “Usar sapatos conforta veis e roupas que possam rasgar ou sujar.” Agora ele entendia o porque .

Olhando ao redor, ele logo esqueceu o cansaço. Pegou a ca mera novamente para fotografar mais da bela paisagem. Tirou fotos dos raios de sol sobre as pedras, da grama transparente como cristal. Mas, quando a descida terminou, Hope tirou sua u ltima foto. A luz que indicava a bateria piscou e se apagou. Agora aquilo na o passava de um pedaço de pla stico. Guardando a ca mera no bolso, ele se sentiu inseguro. Agora na o tinha nada para fazer.

Apesar de a descida ter terminado, parecia estar mais difí cil andar. Os passos de Hope estavam pesados.

- Ai, na o podemos ir embora agora? – disse ele, reclamando um pouco. - Tambe m quero. – adicionou Elida, quase sem fo lego. - Mas quando chegarmos ao Lago Bresha vamos poder brincar! Kai era o u nico que continuava cheio de energia. Aparentemente, os tombos na o

o incomodavam. Suas ma os e roupas estavam cobertas de terra. - Kai, voce precisa tomar mais cuidado. E se voce se machucasse? Ele disse que estava bem, mas imediatamente caiu de costas. Sem perder tempo,

se levantou de novo num pulo e continuou a andar. - Se ele diz que esta bem, e porque esta . – disse Elida, suspirando.

Depois de comer e descansar um pouco, Hope sentiu seu cansaço desaparecer por

completo. Quando eles chegaram ao lago, ele achou que nunca mais ia querer se mover de novo.

- O que vamos fazer? Ainda temos muito tempo. Aqui eles podiam correr e gritar a vontade que na o haveria problemas. - Vamos subir aquela a rvore grandona ali. Quero tirar uma foto la de cima. - Ainda na o cansou de tirar fotos, Kai? Voce geralmente na o tem pacie ncia pra isso.

– disse Elida, surpresa. Hope na o gostou da ideia do amigo, enta o tentou impedi-lo antes que algo de ruim acontecesse.

- Na o podemos subir nas a rvores ou nas pedras. Se cairmos de la , vamos morrer. – nem Kai nem Elida raciocinava direito quando ficava empolgado com alguma coisa. So Hope escutava a voz da raza o.

- Vou ter que concordar com o Hope dessa vez. Voce na o vai conseguir subir aí . - Mas eu prometi pro Hal. Disse que ia tirar uma foto superlegal pra ele. Ah, sim, é verdade. – lembrou Hope. O Hal também queria vir na excursão. Mas Hal

ainda nem estava na escola. Kai passou um tempa o tentando acalma -lo, bolando alguma coisa para compensa -lo por na o poder ir. Deve ter sido por isso que prometeu tirar uma foto legal.

- Enta o por que na o tirou uma do arco-í ris...? - Eu tirei. Mas acho que na o bastou. Tambe m tirei fotos dos monstros, mas na o sei,

ainda na o foi algo ta o maneiro assim, sabe? Enta o agora eu quero tirar uma foto do alto

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daquela a rvore. - Mas e impossí vel. Voce nunca vai conseguir subir nessa a rvore. - Na o da pra saber sem tentar. – disse Kai, levando a ma o ao bolso. E franziu. - O que foi? Kai na o disse nada, apenas verificou o bolso do outro lado. - O que ? Na o me diga que perdeu a sua ca mera por aí ? Ele olhou no bolso do casaco, na mochila. Depois de procurar em todos os lugares

possí veis, finalmente desistiu. A julgar pela cara que estava fazendo, Hope e Elida na o tinham mais du vida.

- Bom, ela deve ter caí do em algum lugar por aqui. – disse Hope. Todos concordaram. Enta o começaram a procurar, mas na o encontraram nada. - Sera que foi na trilha? Voce caiu va rias vezes. – Elida apontou para os joelhos

sujos dele. - Bom, pelo que eu lembro, a u ltima vez que a usei, foi na hora do arco-í ris. Enta o ela devia ter caí do em algum lugar entre aquela colina e o lago. Mas eles na o

tinham mais como voltar la . Depois que chegaram ao lago, a trilha foi fechada de novo. Os cientistas queriam manter a interfere ncia externa o mais reduzida possí vel.

- Ei, Hope, me empresta a sua ca mera? Normalmente Hope faria isso. Kai e Elida eram duas vezes mais desatentos que

ele, isso na o era ta o incomum de acontecer. Hope achava que eles deviam tomar mais cuidado com as coisas, mas eles tambe m viviam dizendo que ele pensava demais. No fim, a ca mera dele costumava tirar fotos para todos os tre s.

Mas hoje era diferente. - Desculpa, a bateria acabou. Era impossí vel pensar muito antes de tirar uma foto aqui. A paisagem de Sunleth

era ta o bonita. Hope usou tanto a ca mera que ela descarregou. - A minha tambe m. Acabei com ela na Trilha do Arco-I ris. – disse Elida. Kai suspirou. - Acho que na o tem jeito enta o... - Na o se preocupe, eu levo as minhas fotos pro Hal ver tambe m. – Elida tentou

consola -lo – E o Hope leva as dele. Assim vai bastar, na o acha? Ele vai ver o triplo de fotos. Tenho certeza que ficara feliz.

Mas eles so chegariam em casa a noite. Hal so poderia ver as fotos no outro dia, depois da aula. Hope ficou com pena de Hal. Os quatro costumavam brincar juntos depois da aula. Ele ficava bravo porque era o u nico que na o ia a escola. Sempre dizia: “Por que eu na o posso ir?”

Hal ficaria ta o decepcionado... Na o, eles tinham que encontrar a ca mera de Kai. Precisavam encontra -la por Hal. - Vamos procura -la. Kai e Elida ficaram surpresos. - A Trilha do Arco-I ris na o e ta o longe. Ainda temos tempo livre, vamos procurar. - Mas na o podemos voltar la . Eles selaram a trilha. - Esta tudo bem, vamos dar um jeito. Eles se entreolharam. Nunca pensaram que Hope diria algo assim. - Meu pai disse que nunca devemos quebrar uma promessa, na o importa o qua o

pequena ela seja.

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Ele tambe m dizia que, mesmo que voce esquecesse que fez uma promessa, a outra pessoa lembraria. Kai podia simplesmente dizer que na o tinha jeito e deixar de lado. Mas, enquanto isso, Hal estava esperando ansiosamente por aquelas fotos.

- Vamos procura -la. – disse ele de novo. Apesar de Hal na o ser da sua turma, ainda era um amigo. Elida parecia sentir o mesmo.

- E , na o queremos decepcionar o Hal. Estava decidido.

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(4) Eles na o podiam voltar para a trilha pelo caminho tradicional. Os cientistas ja

tinham começado a rondar o lugar. Decidiram ir pelo meio da mata. Parecia haver uma espe cie de trilha alternativa la . Eles na o tinham como saber com certeza se era uma, mas pelo menos parecia.

- Vamos chegar la se seguirmos esse caminho, ne ? – perguntou Elida, preocupada. - Bom, no mí nimo, estamos indo pro lado certo. Se continuarmos seguindo nessa

direça o, uma hora encontraremos a trilha principal. Fazia pouco tempo que eles tinham saí do da a rea do lago, mas os barulhos dos

seus colegas ja pareciam perigosamente distantes. Hope começou a achar que talvez esse na o fosse o caminho certo afinal.

- Na volta, e melhor a gente seguir a trilha principal. - Mas se virem a gente, va o nos dar uma bronca. - Na o se preocupem, ate la eles ja tera o ido embora. - Mas os professores podem estar vigiando. A floresta ao redor era quieta demais, enta o eles sentiam uma necessidade de falar

alto mesmo o assunto sendo banal. Quando estavam no meio do grupo, com tanta gente falando ao mesmo tempo, ningue m prestara atença o nisso, mas agora que eram so os tre s, o sile ncio era assustador.

- Ei, olhem aquilo! Devem ser frutas! – disse Elida, empolgada. Ela apontava para um galho que ate tombava com o peso de va rias frutas alaranjadas. Elas eram maiores que qualquer vegetal que eles ja tinham visto nas lojas.

- Sera que sa o comestí veis? - Nem pense nisso. Sinceramente, Elida, voce na o tem noça o. - Ei, que grosseria! - Bom, eu te entendo. A cor delas e bem bonita. - Na o me interessei por isso! – Elida estava ficando brava. - Ei... Pessoal... – de repente, Kai mudou o rumo da discussa o – Voce s na o acham

que essa cor e meio familiar? Parece com a daquela coisa, lembram...? Que ela disse que era comestí vel...

Enta o Hope tambe m percebeu. Aquele monstro que eles viram perto da a rea do arco-í ris tinha uma cor muito parecida. Ele tambe m recordou que a criatura na o estava muito distante da trilha principal.

Enta o a terra se ergueu na frente deles, como uma parede viva. Era o monstro. Seu corpo avermelhado-alaranjado translu cido pulsava. Uma Flan, pensou Hope, assustado. Suas pernas começaram a correr antes que ele se desse conta.

- Ah! Esta vindo atra s da gente! – gritou Elida, a beira das la grimas. Hope era o mais lento dos tre s, e na o havia tempo para olhar para tra s. Ele apenas correu, movendo as pernas o mais ra pido que po de. Se o deixassem para tra s, estaria tudo acabado para ele. Ele correu enquanto seu fo lego permitiu. Na o fazia ideia de em que direça o estavam indo. Os tre s encontraram uma pedra atra s da qual poderiam se esconder e se enfiaram la . O coraça o de Hope batia ta o forte que parecia que ia pular da boca.

- Na o... Na o esta mais nos seguindo... – Kai olhou discretamente por tra s da pedra e se sentou, aliviado. Hope sentiu as pernas ficarem fracas. Na o conseguiria correr mais um passo que fosse.

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Os tre s finalmente relaxaram um pouco, ainda ofegantes depois do galope. Hope sentiu um arrepio na espinha. Se o cha o ali fosse escorregadio como o da trilha principal, ou se algum deles tivesse tropeçado em alguma coisa, quem sabe o que poderia ter acontecido? Eles tiveram sorte de escaparem inteiros.

- Ei, onde... No s estamos Ate enta o, eles achavam que estavam seguindo na direça o da trilha principal. Se

fosse a direça o errada, era so dar meia volta e fazer o caminho inverso. Mas isso ja na o era mais possí vel agora.

- Esse lugar parece um pouco... Diferente. As a rvores escuras que os cercavam antes tinham sumido, e grandes colinas se

erguiam em todas as direço es. Quase na o havia grama no cha o. Era um lugar desolado e seco.

- De que lado no s viemos? Eles estavam ta o concentrados em fugir do monstro que nem prestaram atença o

no caminho que fizeram. Tudo que podiam ver agora eram rochas e abismos espalhados por todos os lados.

- Bom, a trilha deve estar na direça o do arco-í ris... Mas as elevaço es rochosas bloqueavam a vista. Eles mal conseguiam ver o ce u,

quem dira um arco-í ris. - Acho que e pra ca . - Na o, na o. E pra ca . Kai e Elida apontaram em direço es completamente diferentes. Hope na o fazia nem

ideia de qual dos dois poderia estar certo. A verdade era que ningue m sabia qual direça o era qual mais.

- Bom... Vamos continuar em frente enta o. - Mas o certo e parar de andar quando voce se perde. - Talvez em outros lugares, mas e se mais um monstro atacar? Na o conseguiremos

escapar de novo. Aquela a rea era rochosa e í ngreme, o cha o desigual. Eles estariam completamente

perdidos se fossem atacados por um monstro veloz. - Se encontrarmos um lugar alto, com uma boa vista, conseguiremos localizar o

lago. Assim saberemos como voltar. - Isso. No s so saí mos um pouco da trilha. Se conseguirmos ver o lago, tudo estara

resolvido. – concordou Kai. Elida fez que sim meio contrariada, ainda na o convencida. - Ah, e . Esperem um pouco. – Hope pegou uma pedra pontuda e marchou um “X”

numa rocha – Vamos para a direita. Se estivermos errados, voltamos aqui e tentamos ir para a esquerda.

- Uau, Hope! Voce e ta o inteligente! - Meu pai que me ensinou. Ele disse que, quando se esta perdido, e importante

pelo menos reconhecer os lugares por onde ja passou. - Bom, enta o o seu pai e inteligente. – brincou Elida. Um elogio ao seu pai deixava

Hope mais feliz que um elogio a ele mesmo. - Vamos logo. Daqui a pouco dara a hora da turma ir embora. Os tre s assentiram e começaram a jornada. Embora ainda fosse cedo, a luz na a rea

encoberta de rochas era limitada. Eles caminhavam sem fazer um som. Tinham medo que suas vozes pudessem atrair os monstros. Sem que ningue m sugerisse, deram as ma os. De alguma forma, isso os fazia se sentirem mais fortes, estarem unidos naquele

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caminho que na o conheciam. Partes de algumas rochas reluziam em azul. Se eles na o estivessem perdidos,

achariam a luz bonita. Mas agora mesmo esse espeta culo parecia um sinal de perigo. O ar estava quente, e um vento inco modo soprava das fendas.

Hope na o sabia o quanto eles tinham andado. As pedras pareciam sempre as mesmas, por mais que eles avançassem. Enta o, ao longe, viram algo que parecia uma ma quina. Se entreolharam, assentiram, e começaram a correr. Acharam que poderiam usa -la para fazer contato com algue m. Se fosse parecida com as que tinham em casa, seria possí vel ate ligar direto para os professores. Mas, ao chegar perto, perceberam que na o era nada parecida com os eletrodome sticos caseiros. Na o parecia algo que crianças conseguiriam usar.

- Vamos apertar qualquer coisa e ver o que acontece. - E melhor na o. E se quebrar...? – mas, antes que Hope pudesse impedir, Elida tocou

o painel. Ele se acendeu. - Viu? A gente consegue. – disse Elida, orgulhosa. Assim que ela acabou de falar, a

luz do painel se apagou de novo e a ma quina ficou quieta - Ha ? Na o funcionou? Bom, enta o acho que so me resta fazer do jeito que a minha ma e me ensinou... – Elida fechou a ma o em punho. Hope e Kai correram para segura -la, um de cada lado. Ambos sabiam muito bem que “jeito” era esse.

- Na o faz isso! Vai quebrar! - So a sua ma e consegue fazer as coisas funcionarem na base da porrada! Elida na o ficou satisfeita, mas abaixou o punho. - Bom, vamos fazer o que enta o? - Vamos andar mais um pouco. Se tem uma ma quina aqui, significa que tem gente

por perto. A trilha continuava difí cil, desigual e pedregosa, mas a esperança de que havia

algue m por perto dava energia para eles continuarem. - Ei, o que voce s acham que e isso? Eles tinham acabado de sair de um tu nel quando Hope se deparou com uma coisa

estranha flutuando bem na frente do seu rosto. Era uma bola reluzente, mais ou menos do tamanho de uma cabeça humana. Parecia que era feita de a gua, e oscilava em pleno ar.

- Bom, um monstro na o e . Na o esta atacando. - Ja falamos pra na o sair colocando a ma o nas coisas! – Hope e Kai gritaram juntos.

Mas era tarde demais. Elida ja estava com a ma o na bola brilhante. O vento ficou frio e o ce u escureceu. Gotas de a gua começaram a cair, primeiro discretamente, mas em poucos instantes ja era uma chuva torrencial. Agora eles sabiam o que era aquela bola. Era um dispositivo de controle do clima. Eles correram para dentro do tu nel. Era o u nico lugar para escapar da chuva.

- Bom, pelo menos agora no s sabemos pra que lado estamos indo. Ela disse que tinha uma coisa de chuva perto da Trilha do Arco-I ris, lembram? Ou seja, isso significa que na o falta muito pra chegarmos onde queremos.

- Ah, sim, isso e o timo, mas como vamos seguir em frente com essa chuva? Hope ja ia intervir na briga dos dois quando se lembrou de uma coisa. Quando eles

estavam na Trilha do Arco-I ris, a cientista disse uma coisa... Que existem monstros que adoram a chuva. E eles tinham lugar usado especialmente para estudar esses monstros...

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Temos que parar essa chuva, pensou Hope, e correu para fora do tu nel. Mas na o foi muito longe. Parou e começou a recuar discretamente. Bem na sua frente estava um monstro amarelo que parecia um sapo. Atra s dele, outros do mesmo tipo, de va rias cores. Eles tinham garras afiadas nas pontas das patas dianteiras. Seu corpo inteiro gelou so de olhar para eles.

Ele tentou correr, mas tropeçou na pro pria perna, caindo de costas. Sabia que tinha que fugir, mas na o conseguia se levantar. Um pouco atra s, houve um grito. Elida ja estava cercada de monstros tambe m. Ela era a pessoa que falava mais alto na turma inteira, e um grito seu era ensurdecedor. Hope pensou, em algum lugar da sua cabeça, que talvez isso assustasse os monstros e eles fossem embora.

Por um momento, os monstros pararam de se mexer. Mas nenhum monstro jamais fugiria do grito de uma criança. Rapidamente começaram a se aproximar de novo. Hope podia ver as presas afiadas nas bocarras deles. Eles vão me comer, pensou.

Hope fechou os olhos e se encolheu como uma bola, esperando pelo pior. Mas o ataque das garras afiadas nunca veio. Tremendo, ele abriu os olhos lentamente. A chuva tinha parado. Os monstros começavam a ir embora. Algue m tinha usado o dispositivo de controle do clima e parado a chuva.

“O clima de Sunleth e controlado pelo seu pro prio fal’Cie.” Hope se lembrou das palavras da cientista. Talvez na verdade tivesse sido o fal’Cie quem os salvou. Ele enta o ouviu a voz estridente de Elida.

- Olhem! E a nave! Kai soltou um viva. A nave estava sobrevoando as rochas. Talvez procurando por

eles. De repente, parou e começou a descer em linha reta. O fal’Cie deve ter chamado a nave também, pensou Hope. Kai saiu correndo do tu nel, balançando as ma os e gritando.

- Consegue se levantar? – Elida estendeu a ma o a Hope e o ajudou a ficar de pe . Ele olhou ao redor, mas na o viu nenhum cientista nem nada que pudesse ser um fal’Cie.

- Hope, depressa! Ele fez que sim e correu atra s de Kai e Elida, acenando e gritando para a nave.

Uma vez dentro da nave, eles foram levados a uma sala separada e questionados

sobre o ocorrido. Ouviram um serma o da professora sobre como os monstros de Sunleth poderiam te -los machucado. Eles na o esperavam por menos.

Agora que estavam de volta a nave, Kai milagrosamente recuperou sua ca mera. Um cientista a encontrou enquanto fazia a limpeza da trilha e levou para a professora. Eles na o precisavam ter ido procura -la afinal. Podiam muito bem ter ficado no lago ate o tempo de descanso acabar.

Eu não devia ter dito para irmos procurá-la, pensou Hope, arrependido. Ele na o sabia o que Kai e Elida estavam pensando, mas na o pareciam bravos com ele.

- O fal’Cie parou a chuva? – perguntou Elida a professora. Ela devia ter chegado a mesma conclusa o que Hope. O fal’Cie era o u nico que poderia ter parado a chuva daquele jeito.

- Na o, na verdade foram os cientistas, usando o sistema de controle remoto. Eles acharam estranho começar a chover fora do hora rio planejado.

Tambe m na o fora o fal’Cie quem chamara a nave. Fora o painel que Elida tocara antes. Um dos cientistas percebeu uma atividade estranha numa das ma quinas da a rea e logo se deu conta de que algue m tinha entrado no Vale da Chuva.

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- Dizem que e muito difí cil aterrissar la . Se o nosso piloto na o fosse ta o bom, voce s provavelmente ainda estariam presos naquele desfiladeiro. Na o deixem de agradece -lo depois.

Finalmente eles foram liberados para voltar para os seus assentos. - Kai, eu... Desculpa ter colocado a gente nessa enrascada. – disse Hope. - O que ? Foi o dia mais maneiro da minha vida! – e Kai sorriu, dando um tapinha

nas costas de Hope. Ele sorriu de volta e fez que sim com a cabeça. - Kai! Pega a sua ca mera, ra pido! – era Elida, que apontava para a janela. Ja estava

anoitecendo. Va rios pontos de luz piscavam alternadamente abaixo deles. Eram as luzes da pista de pouso de Sunleth. Kai correu para tirar a foto. Finalmente a ca mera deu seu u ltimo suspiro, ficando sem bateria depois de um dia inteiro de aventuras. A foto que Kai prometera tirar para Hal, a u ltima foto, foi uma vista noturna de Sunleth.

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(5) “Nunca devemos quebrar uma promessa, na o importa o qua o pequena ela seja.” Hope refletiu sobre as palavras que a lembrança trouxe consigo. Eu acreditava

nessas palavras, pensou. Sempre acreditei nelas. E aí até o meu pai, o próprio homem que me ensinou isso, as esqueceu.

Não, ele provavelmente ainda as segue à risca. A menos que se trate de mim ou da mamãe. Quando é para o trabalho, ele vai correndo, a qualquer hora do dia ou da noite. Às vezes esquece até de comer, trancado no escritório o dia todo. Para ele, agora, nada é mais importante, nada tem mais prioridade que o trabalho.

Seu pai na o se lembrava mais das promessas que fazia a famí lia. Ele nem prestava atença o neles mais. Quando foi a u ltima vez que Hope se deu ao trabalho de pelo menos tentar começar uma conversa com ele? Ha muito tempo. Sobre o que eu queria falar?, ele se perguntou. Já nem lembro mais. Seu pai dissera: “Desculpe, agora na o posso, tera que ser mais tarde.” Agora a u nica coisa da qual Hope se lembrava era de ser tratado como um inco modo pelo pai. Ele se lembrava desse momento como se fosse ontem. Quando seu pai saiu, ele finalmente entendeu uma coisa: na o importava o que ele esperasse, o que ele desejasse, nunca se realizaria.

- E uma pena tanta coisa estar fechada, mas pelo menos vamos poder ver o fal’Cie Kujata.

As palavras da sua ma e o trouxeram de volta. Eles tinham ido ali para ver o fal’Cie da usina de energia, e ja estavam a caminho da entrada. Ele na o podia ficar em paz com seus pensamentos, mas deixou de lado e fingiu interesse.

- Esta ta o vazio... - Metade da usina esta interditada. Na o podem permitir muitas pessoas. O acidente que acontecera em Euride era muito mais se rio do que o que a TV tinha

noticiado. Estar ali deixava isso claro. - Sera que o fal’Cie de Sunleth e parecido com o que tem aqui? - Ah, e , voce esteve la numa excursa o. Na o chegou a ver o fal’Cie? - Na o. Tivemos uma aula sobre como ele controla o tempo, mas a u nica coisa que

vimos foram monstros. - E mesmo, eu me lembro. Voce foi atacado por monstros e ficou doente. Fiquei

ta o preocupada. Talvez tenha sido porque ele teve contato direto com os monstros de Sunleth, mas,

na viagem de volta, Hope teve uma febre daquelas. Quando chegaram a Palumpolum, ele foi levado imediatamente ao hospital. Por conta disso, nunca chegou a agradecer ao piloto da nave. Na semana seguinte, Kai e Elida contaram sobre ele.

- Ele era muito maneiro. Tinha um cabelo diferente, parecia um ninho de pa ssaro. - Ele disse que o filho dele nasceu faz poucos dias. - Quando eu disse que queria ser piloto, ele me desejou sorte! Kai na o parava de falar no piloto da nave. Depois disso, seu sonho se tornou ainda

mais forte. Hope ate ficou com um pouco de inveja. Elida tambe m tinha um sonho para o futuro. Ela queria ser cantora, enta o entrou numa escola so para meninas que tinha um currí culo especial voltado para a mu sica. Isso foi ha um ano.

Quando era pequeno, eu queria ser igual ao meu Agora, por outro lado, seu pai era um exemplo de tudo que ele na o queria ser. Ele

nunca seria o tipo de pessoa que ignora aqueles que o amam, por mais importante que

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fosse o seu trabalho. Ele seria feliz contanto que na o se tornasse algue m que esquece suas promessas.

- Na o e ? - Ahn, o que ? Desculpa, eu estava distraí do. Ele resolveu parar de pensar tanto e começar a prestar atença o. Na o ouvir o que

as pessoas dizem era exatamente o que o seu pai fazia... - Aquelas moças que passaram pela gente estavam dizendo que, no acidente, um

menininho fico muito machucado. Parece que o pai dele ficou extremamente abalado. Fico com pena. E muito triste, na o e ?

- E ... - Espero que ele na o morra. Na o ha nada mais triste para um pai que perder o filho. Não importa se é o pai ou o filho que vai primeiro, pensou Hope. Quando alguém

amado morre, é sempre triste. Para aqueles que são deixados para trás. Mas Hope na o falou. Por algum motivo, na o conseguiu falar. - Ahn, Hope... Voce esta ... Chateado com o seu pai? - Na o. - Ele na o e muito bom em se expressar, sabe, mas e que seu trabalho exige muito.

Ele na o quer decepcionar ningue m. – quando olhava para o rosto da sua ma e, ele sentia aquela coisa ruim no peito sumir.

- Eu na o estou chateado. Ele vai vir pro festival de fogos, certo? Enta o esta tudo bem. O festival e a grande atraça o, afinal.

O sorriso da sua ma e parecia ta o feliz. Talvez eu deva tentar conversar com o meu pai na noite do festival, pensou Hope. Claro que ele só vai dizer “como vão as coisas na escola?” ou alguma coisa do tipo, mas, se ela ficar feliz...

Um soldado mascarado passou na frente deles. Os reparos do acidente ja deviam estar terminando, enta o por que havia tantos PSICOM ali? Quem era responsa vel pela patrulha de rotina da usina era o Regimento de Segurança. Hope sentia que alguma coisa estranha e horrí vel estava acontecendo. Sua ma e tambe m estava com um olhar cada vez mais inquieto. Hope tentou falar do jeito mais animado possí vel:

- Ei, por que na o voltamos pra Bodhum? Pra falar a verdade, desde aquele dia da excursa o, eu meio que perdi o encanto pelos fal’Cies.

Talvez sua ma e tambe m quisesse se livrar daquela sensaça o estranha que pairava no ar, pois rapidamente respondeu, no mesmo tom descontraí do:

- Tudo bem, vamos fazer compras enta o. - De novo? Ele na o queria ter que se preocupar com soldados ou com o fal’Cie. So queria bons

momentos para relaxar naquelas fe rias. Hm, acho que, quando voltar a Palumpolum, vou tentar marcar alguma coisa com o Kai e a Elida, pensou. Se eu disser que vi um monte de soldados em Euride, com certeza o Kai aparece. A Elida provavelmente vai se interessar mais pelo festival de fogos que pela usina.

Já faz três anos que não nos reunimos, pensou Hope. Suas fe rias escolares estavam apenas começando.

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Presente

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Presente - E ta o difí cil escolher um presente de aniversa rio pra ela. – Serah suspirou. Eles

estavam na frente de uma vitrine. Observando a moça, Snow a achou ta o se ria... Parecia ate a Lightning, quem conheceu alguns dias antes. Elas são mesmo irmãs, pensou.

Marca-textos e estojos de couro dominavam a parte frontal da vitrine. Serah examinou os objetos a mostra por um tempo, mas enta o balançou a cabeça em negativa, comentando:

- Acho que isso tambe m na o... Daqui a dois dias seria o aniversa rio da irma mais velha de Serah, Lightning. Snow

e Serah vieram ao shopping procurar um presente para ela. Mas ja fazia quase uma hora que estavam ali e Serah so dizia “isso na o” para tudo.

- E ta o difí cil assim? - Sim. Todo ano eu passo um tempa o procurando, mas nunca acho algo ideal. - Por que na o pergunta a ela o que gostaria de ganhar? - Na o adianta. Experimentei fazer isso uma vez, e sabe o que ela disse? - “Qualquer coisa que voce escolher, pra mim estara o timo”? – Snow so estava

dando um palpite, mas Serah arregalou os olhos. - Uau! Como voce sabia? - Me pareceu algo que ela diria. Tipo algo que uma ma e diria ao filho. - E ... Acho que ela sempre foi como uma ma e pra mim... – Serah começou a sorrir

um pouco, mas parou de repente – E na o e certo esconder coisas dos seus pais... – os olhos de Serah se voltaram para o curativo no seu braço esquerdo. Ela ainda na o tinha contado a Lightning o que havia de verdade ali. Snow ja sabia: um sí mbolo de Pulse. Serah entrara no Vestí gio e fora transformada em l’Cie pelo fal’Cie de Pulse que havia la . Ela era uma inimiga de Cocoon. Por causa disso, Serah tentou terminar com ele. Mas ele prometeu que a ajudaria a descobrir seu Foco. Eles o descobririam e cumpririam juntos. Depois disso... Ele na o sabia.

Ele perguntou aos clientes do bar se algue m sabia alguma coisa sobre Pulse ou os l’Cies, mas na o conseguiu nada. Todos so tinham ouvido lendas quando eram crianças, ou, no ma ximo, leram alguma coisa nos livros de escola. Mas ele na o desistiu. Começou a perguntar aos amigos dos amigos se sabiam de alguma coisa. Nada. Para piorar, um cara tentou vender uns objetos estranhos dizendo que eram de Pulse, e foi imediatamente escorraçado. Ele ate pensou em ir ate ao fal’Cie e perguntar diretamente a ele. Mas Serah rejeitou a ideia.

- Na o sabemos o que pode acontecer se deixarmos o fal’Cie bravo! – disse ela – Ele pode te transformar num l’Cie tambe m, ou pior: pode castigar a cidade inteira por isso.

Enta o ele desistiu da ideia. Se fosse apenas virar um l’Cie, na o tinha tanto problema. Mas ele na o podia deixar Bodhum pagar pela sua imprude ncia. Na o, ele na o podia deixar Serah enfrentar a ira do fal’Cie sozinha.

E foi assim que ele acabou onde estava agora, sem nada. Ele na o tinha nenhuma pista de como resolver a situaça o, mas sabia que as coisas se ajeitariam, de um jeito ou de outro. Ele faria tudo dar certo. Ainda na o tinha perguntado a todas as pessoas de Cocoon. Enquanto na o fizesse isso...

Snow colocou uma ma o sobre o curativo dela e acariciou seu cabelo com a outra. - Esta tudo bem. Daqui a dois dias, voce na o estara escondendo mais nada, certo?

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Eles tinham decidido que contariam tudo a Lightning no aniversa rio dela. Snow alegou que o clima festivo ajudaria a amenizar a situaça o e, ale m disso, ele estaria com ela. Serah sorriu quando ele disse isso.

Mas ela ainda parecia preocupada, incerta se conseguiria mesmo contar tudo para a irma . A s vezes, mesmo que fosse apenas por um momento, ele a pegava com um olhar de profunda tristeza. Como agora.

- Ei, olha aquilo! Na o seria perfeito? – Snow apontou para uma loja de brinquedos, tentando faze -la rir. Havia um enorme Carbu nculo de pelu cia na vitrine. Ele era verde, com longas orelhas e uma grande cauda, e usava uma fantasia de pierro . Originalmente um Eidolon dos contos de fadas, tinha caí do no gosto das crianças por ser fofinho e um tanto brincalha o. Nada poderia ter menos a ver com Lightning que isso. Com certeza Serah tambe m acharia engraçado...

- Tem raza o! E perfeito! - O que ? Serah correu para a loja. - Olha, pensando bem, talvez... – ela tinha mesmo levado aquilo a se rio? A menos

que Lightning secretamente gostasse de pelu cias... - Brincadeira! – riu Serah. Ela se virou e fez lí ngua para ele. Snow devia estar com

uma cara de choque absoluto, porque Serah começou a rir sem parar. Ele tambe m sorriu, levemente acanhado. Ela me pegou, pensou ele. Por um momento, cheguei a imaginar a Lightning dormindo abraçada com um Carbúnculo de pelúcia.

Recuperados das gargalhadas, eles seguiram em frente. Snow estava feliz por pelo menos te -la feito sorrir de novo. Ele na o queria ve -la triste, nem por um segundo.

- Obrigada. – ela pareceu sussurrar. - Ha ? Voce disse alguma coisa? - Na o, na o, nada. Ei, vamos olhar aquela loja. – disse Serah, puxando o braço dele.

Ele realmente na o tinha escutado direito, mas na o ia perguntar de novo. E nem precisava. A voz dela foi ta o suave que mal saiu, mas ele sabia que ela tinha dito “obrigada”.

Ele decidiu fingir que na o ouviu. Faze -la repetir tambe m a faria se lembrar da dura realidade que se aproximava. Snow so queria que ela esquecesse tudo aquilo e sorrisse.

- Talvez, ao inve s de um boneco do Carbu nculo, seja melhor um do Leviata . - Ainda com essa ideia? - Bom, pelo menos o Leviata combina mais com ela que o Carbu nculo. - Nem tem pelu cias dele. Na o força a barra, Snow. – Serah riu da ideia, enta o parou,

com um olhar empolgado no rosto – Ja sei! – disse ela – Vamos comprar um amuleto da sorte! Porque afinal, ela e uma soldada, ne ? Esta sempre em misso es perigosas.

- Na o sei na o, hein? Pelo jeito ela e um dos mandachuvas. - Como assim? - Ela estava comandando uma unidade outro dia. - E bem a cara dela. – disse Serah, com um sorriso. - Vamos ver... Um amuleto da sorte seria... Algo que voce pode manter por perto o

tempo todo, certo? Acho que e mesmo uma boa ideia. E ja que o presente e de no s dois, acho bom que concordamos. – enta o Snow viu a placa de uma loja de acesso rios. Mais propí cio impossí vel – Que tal darmos uma olhada ali?

- Ai, na o sei... Ela nunca se interessou muito por esse tipo de coisa. – disse Serah, tombando a cabeça em ponderaça o. Enta o sorriu, tendo uma ideia – Ah, olha, e a loja do outro dia. Talvez eles tenham algo que combine com a Lightning. – Serah apontou para

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seus brincos em forma de gato. Snow estava usando um pingente com a mesma forma. Fora um presente dela. Porque, segundo ela, a NORA era como um bando de “gatos desgarrados”. Assim que chegou a essa conclusa o, Serah correu ate a loja e comprou os brincos e o pingente. Mas Snow nunca foi de usar penduricalhos, enta o resistiu no começo. Ele estava feliz por ganhar um presente de Serah, mas era algo ta o feminino que dava vergonha de usar. Ele precisou juntar muita coragem para começar a usar, e mesmo depois disso ainda continuou preocupado, achando que todo mundo estava olhando e debochando dele em segredo. So se acostumou de verdade quando começou a passar quase o dia todo com Serah.

Em todo caso, se foi nessa loja que ela comprou, enta o com certeza encontrariam o que procuravam. Um presente para Lightning e... Mais uma coisa.

- Hm... Que estranho... – Serah correu os olhos pela loja quando entraram. - O que foi? - Nunca vi este lugar ta o cheio. E com clientes bem diferentes do normal. Como era a primeira vez de Snow naquela loja, ele na o tinha como saber se a

observaça o de Serah estava correta. Mas ela disse que, das outras vezes em que esteve ali, os u nicos clientes eram mulheres jovens. Agora havia pessoas mais velhas, casais com filhos, todo tipo de configuraça o imagina vel. Snow se sentiu aliviado. Ele na o ficaria a vontade numa loja so de mulheres.

- Mas isso e bom, na o? - E , acho que sim. Vamos encontrar um presente pra Lightning aqui, na o vamos? - Com certeza. – disse ele, correndo os olhos direto para um canto cheio de ane is.

Amanha era o festival de fogos de artifí cio, os fogos que dizem que realizam os desejos. Era nesse dia que ele pretendia pedi-la em casamento. Claro que para isso ele precisaria de um anel, e esta era a loja onde Serah comprara aqueles enfeites em forma de gato. Isso significava que devia haver um anel bom ali, ou pelo menos algum que a agradasse.

Ele olhou discretamente para os ane is enfileirados na vitrine e os comparou com os dedos finos de Serah. Qualquer um deles ficaria maravilhoso nela. Mas enta o olhou para as pro prias ma os.

- Eles nunca va o caber. – ele disse em voz alta, sem perceber. Serah se virou na sua direça o, confusa.

- Tudo bem? - Ahn... Sim, claro... – disse ele, desviando o olhar dos ane is. Na o havia chance nem

de o maior daqueles ane is caber no seu dedo. Suas ma os eram grossas demais. Eles nunca caberiam. Sem contar que ane is elegantes como aqueles quebrariam em dois minutos numa luta com monstros. Imagina so o desastre que seria chegar em casa com a aliança de casamento quebrada?

- Talvez um anel seja uma ma ideia... Na o precisa ser um anel... - E verdade, acho que na o combina muito com ela... – disse Serah. Ele na o pretendia dizer isso em voz alta, mas pelo jeito tinha escapado de novo. - Ale m disso, nas misso es isso pode atrapalhar no manuseio das armas. Na o sera

um bom presente se interferir no trabalho dela. - Ahn... E ... E ! Ele nunca se sentiu ta o irritado com sua boca tagarela. Não diga nada que a faça

suspeitar!, pensou ele, e se voltou para a pro xima bancada. Até eu posso usar um desses, falou consigo mesmo, so mentalmente desta vez. A mesa estava repleta de braceletes. Parecia que a maioria deles tinha um regulador de largura, e havia muitos modelos para

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se escolher. Alguns tinham a opça o de gravar nomes, outros tinham pedras preciosas, e ate havia alguns que pareciam algemas, vinham com a chave e tudo. Gostos bizarros a parte, na o era uma ma ideia. Acho que ela vai gostar mais de um desses que dá pra gravar o nome, pensou ele. Se eu pedir pra alargarem um pouco, pode servir em mim. Mas, justo quando ele tinha tomado sua decisa o...

- Nossa, isso vai ficar perfeito na Mary! – uma mulher esticou a ma o e pegou o bracelete que Snow estava de olho.

- Ahn... Mary? – É por isso que eu não suporto essas dondocas, pensou ele, olhando para a mulher ao seu lado.

- Olha como ficou lindo nela! – a mulher em questa o devia ter uns cinquenta anos e segurava um pequeno cachorro nos braços. Essa devia ser a tal “Mary”. O animal era de uma daquelas raças artificiais feitas especialmente para a vida dome stica. E agora o belo bracelete enfeitava o seu pescoço.

- Ela o esta usando como colar... - Nossa, que gracinha! Quando ele se deu conta, Serah estava bem ali do lado, acariciando a cabeça da

“Mary”. O bracelete reluzia graciosamente enquanto ela se revirava para aproveitar melhor o afago.

- Que seja... Melhor esquecer essa ideia enta o... - E ... A Lightning ja tem que usar uma coisa no braço. Algum tipo de ma quina. Na o

e sempre, acho que depende da missa o, mas... - Enta o vamos procurar outra coisa. Eles estavam falando de coisas completamente diferentes, mas era melhor que ela

na o soubesse. Seguiram para a pro xima bancada. - Hm... Brincos? – mas Serah ja tinha seus brincos de gato. Se Snow desse um par

novo, ela poderia achar que ele na o tinha gostado do modelo anterior – E ela na o tem quatro orelhas pra usar tudo de uma vez...

- Hm? Quatro o que ? - Nada, nada! – disse Snow, balançando as ma os. Falara alto sem querer de novo –

Espera aí ... Sa o quatro orelhas sim! – contando ele e Serah, eram quatro orelhas. Era so comprar um par e dividir entre os dois. Ambos ficariam com uma orelha de gato e uma orelha com o modelo novo.

- Snow? Voce esta bem? Esta meio estranho hoje... - Ah... Na o, e impressa o sua! – ele ja ia dizer para ela esquecer isso e ajuda -lo a

escolher um par de brincos quando uma voz chamou sua atença o. - Ei, olha esse em formato de coraça o! A voz era estupidamente escandalosa. Snow sabia que na o devia olhar, mas na o

conseguiu se impedir. - Ah, na o seja boba, Memezinha! Era um casal de adolescentes que obviamente na o se importavam com o que as

pessoas ao redor pensavam. Apesar de a loja estar bastante cheia, havia um grande espaço vazio ao redor deles. Eles estavam ta o espremidos um em cima do outro que na o parecia fisicamente possí vel ainda estarem de pe . Devia haver um limite para o qua o perto duas pessoas podiam ficar, na o? Eles na o estavam violando as leis da Fí sica? Enta o Snow deu uma boa olhada nas suas orelhas. Estavam usando duas metades de brincos ide nticos.

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Snow correu o olho pela loja e viu mais um casal usando brincos iguais. Ate casais mais velhos, ja com filhos, faziam o mesmo. Aparentemente isso era popular.

- Bom, acho melhor esquecer isso tambe m... Snow nunca gostou de fazer coisas “modinha”. Ele odiava ser igual a todo mundo.

Isso na o era um simples presente que ele ia dar para ela, era um pedido de casamento. Ele na o podia fazer algo ta o banal.

- Na o acha melhor irmos para outra loja? - E , acho que na o vou encontrar nada pra Lightning aqui... - Na o tem nenhum artigo militar, ne ? - Pois e ! – disse Serah, rindo. - Mas voce estava certa, e muito difí cil encontrar a coisa ideal... – Snow achou que

aquilo seria fa cil. Ele achou que na o teria dificuldade nenhuma para encontrar algo que deixasse claros os seus sentimentos.

- Desculpe tomar o seu tempo com isso... - Na o, na o foi isso que eu quis dizer. E que eu estou tentando encontrar algo que

demonstre perfeitamente o sentimento, sabe? Mas nada parece bom o bastante. Nada parece transmitir isso.

Parecia que ele nunca conseguiria encontrar algo capaz de demonstrar o que sentia por ela. A menos que pudesse dar Cocoon inteiro de presente.

- E , e por isso que eu nunca sei o que dar pra ela. Sempre acho que deve haver algo melhor. – enta o Serah sorriu – Mas sabe de uma coisa? Quando eu a vejo toda feliz com o presente, sinto que valeu a pena!

- Entendo... - E verdade. Ei, espera. Snow, que nego cio foi esse de “demonstrar sentimento”? - Ahn, nada! So maneira de falar! Certo, vamos procurar outro lugar! Vamos! Ops, ele quase deixou escapar de novo. Quantas vezes ainda ia dar essa mancada?

Ele estava começando a perder a confiança em si mesmo. Os dois saí ram da loja. Preciso ficar calmo. Não existe só essa loja em Bodhum. Vou encontrar alguma coisa.

Enta o, quase que por acidente, ele olhou para o lado e viu um par de colares na vitrine da loja. Estava ta o cheio la dentro que ele na o tinha visto antes.

- Desculpa, voce pode ir na frente? - O que foi? - Banheiro. Serah riu e fez que sim para ele, entrando na loja ao lado. - Com licença? Eu queria ver aquele colar na vitrine... – disse Snow para uma das

funciona rias da loja. Mas levou um susto ao perceber que conhecia a pessoa – Sonia?! - Snow! Ha quanto tempo. Sonia cresceu na mesma cidade que Snow. Ela era tre s anos mais velha, e como

uma irma para ele. Uma irma medonha. - Quanto tempo faz? - Desde que e ramos crianças. – disse ela, sorrindo. Enta o acenou para uma das

outras funciona rias para que pegasse os colares na vitrine. Parecia que ela na o tinha mudado nada.

- Sim, senhora. – disse a vendedora, fazendo uma mesura. Snow ficou surpreso. Pelo jeito ela na o estava so sendo mandona como sempre, realmente era a dona da loja.

- Sonia, essa loja e sua mesmo?!

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- Sim, mas faz pouco tempo. O antigo dono na o estava satisfeito com os nego cios e decidiu vende -la. Aproveitei o preço baixo e investi. Felizmente as coisas esta o dando certo, mas tambe m fico bastante cansada.

Deve ser por isso que a loja ficou tão popular de repente, pensou Snow. Foi tudo graças ao trabalho de Sonia.

- O que voce estava fazendo antes de vir pra ca ? - Era gerente de uma loja em Palumpolum. Desde que me formei. Ela ja na o morava mais perto de Snow ha um ano quando decidiu fazer faculdade

fora. Em Cocoon, se voce for inteligente e esforçado, pode entrar em qualquer instituiça o que quiser. O Santua rio paga todas as despesas, enta o mesmo o rfa os ou filhos de pais solteiros na o ficam em desvantagem. Os fal’Cies e o Santua rio garantem uma vida boa e justa para todos em Cocoon. Contanto que na o quebre nenhuma lei, voce pode viver do jeito que desejar.

Mas Snow sempre sentiu que havia algo de errado com esse jeito de viver. Ele na o sabia explicar, mas simplesmente na o dialogava bem com ele. Talvez fosse justamente por poder pegar o que quisesse do Santua rio que ele pegava ta o pouco. Enta o eles plantavam e caçavam monstros por conta pro pria. Tentavam fazer as coisas do jeito deles. Mas claro que era impossí vel fazer tudo sozinhos.

- Snow, na o me diga que voce na o trabalha? Continua aquele irresponsa vel? - Na o, eu... - Snow! Voce e um adulto agora, esta na hora de crescer! - Mas eu... – parecia que a inabilidade dela de ouvir tambe m continuava a mesma.

Ela sempre agiu como se fosse a ma e de todo mundo. - Aquela garota que estava com voce . E sua namorada, na o e ? - Sim...? - Pois enta o, nem que seja por ela, arrume um emprego e faça alguma coisa de u til!

Voce na o quer decepciona -la, quer? - E claro que na o! Eu vou fazer de Serah a mulher mais feliz de Cocoon! – todos ao

redor olharam para ele, que se deu conta que tinha gritado. Ate a funciona ria que tinha ido pegar os colares estava com uma cara de choque.

- Voce na o mudou nada. - Digo o mesmo pra voce , Sonia. - Nem pense que somos iguais! – disse ela com um sorriso enquanto pegava os

colares da outra moça. Uma pequena escultura de Cocoon feita em metal, juntamente com um anel, se penduravam na corrente.

Ele gostou assim que viu. Ha pouco tinha pensado que na o conseguiria expressar seus sentimentos por Serah a menos que lhe desse Cocoon inteiro. Na o, nem mesmo isso seria suficiente. Enta o ele daria dois Cocoons, e cada um carregaria um no pescoço.

- Na o e perfeito? Na o e como se estivesse escrito “o casal mais feliz de Cocoon”? - O casal mais feliz de Cocoon...? Ahn, e ... Nada poderia ser mais perfeito para dar a Serah. Ela seria a noiva mais feliz de

Cocoon. - Espere um pouco enquanto eu embrulho. - Ah, na o precisa. Na o quero faze -la esperar mais. Depois de pagar, ele saiu da loja como um furaca o, segurando o presente nas ma os. - Ei, Snow!

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Ele saiu ta o afobado que nem deu atença o. Estava ta o feliz por reencontrar uma velha amiga e encontrar o presente que tanto procurava que acabou demorando mais do que pretendia. Se demorasse demais, Serah podia suspeitar de alguma coisa e ir procurar por ele. Isso na o podia acontecer.

Ele procurou por toda parte, mas Serah na o estava por ali. Melhor assim. Ela na o podia ve -lo saindo da loja, muito menos com os colares na ma o. Antes de mais nada, ele os colocou no bolso. Foi uma sensaça o indescrití vel.

- A noiva mais feliz de Cocoon... Isso! – ele bateu os punhos, satisfeito. Amanha pediria Serah em casamento e desejaria felicidade aos fogos de artifí cio.

Serah na o sabia qual era o seu Foco e seu tempo era curto. Quando Snow pensava nisso, se sentia como se estivesse no alto de um abismo olhando para um mar revolto. E começava a achar que talvez na o houvesse uma saí da. Mas ele na o podia pensar assim, por Serah. Isso so a deixaria preocupada. Enta o ele decidiu acreditar que havia um futuro brilhante esperando por eles. O abismo podia ser iminente e perigoso, o mar podia estar revolto, mas atra s dele havia um ce u lí mpido e bonito.

- Snow! – algue m chamou. Era Serah, que vinha correndo e acenando – Achei um presente! – disse ela, empolgada.

- Voce estava procurando um amuleto da sorte, ne ? - Isso. Algo que ela possa carregar o tempo todo, algo que ela queira carregar. Eles estavam na frente de uma loja que vendia armas de corte. Serah sorriu e

apontou para algo na vitrine. - Isto? – era uma faca de sobrevive ncia. Na o era nada extravagante e realmente

parecia bem funcional. So na o parecia algo que algue m daria de presente de aniversa rio – Tem certeza?

- Bom, eu pensei que, como quero dar algo pra trazer boa sorte, isso seria perfeito. Ale m de ser bem a cara dela, dizem que uma la mina pode ser usada para cortar o mal que te ronda.

- “Cortar o mal que te ronda”? – Snow na o era muito ligado em superstiço es, mas ate para ele isso parecia ilo gico demais.

- E eu li num livro uma vez sobre um cara que sobreviveu a um monte de coisas so com uma faca. – disse Serah, num tom se rio. Seus olhos estavam um pouco distantes. – Ela esta sempre indo a lugares estranhos por causa do trabalho. Nunca se sabe o que pode acontecer. Eu quero que ela sobreviva ao que quer que possa acontecer la fora, e volte para casa sa e salva.

- E por isso quer dar uma faca de sobrevive ncia pra ela. - E estranho? - Na o, claro que na o. “Sobreviver ao que quer que possa acontecer.” Era um desejo que tambe m podia

se aplicar a eles. - Decidido enta o! Vamos levar isso! Serah fez que sim, sorrindo. Snow colocou o braço sobre o ombro fra gil de Serah

e abriu a porta da loja.

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Amanhã

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“Naquele dia, a tragédia nos acometeu” Naquele dia, a tragédia nos acometeu. Uma criatura terrível saiu do ninho de Lindzei, que flutua sobre as terras do grande

espírito de Pulse. Com sua mão direita maldita, rasgou o solo, partindo-o em mil fragmentos que

tomaram vida e atacaram as pessoas que viviam na terra. Com sua mão esquerda maldita, rasgou as montanhas, partindo-as em dez mil

fragmentos que tomaram vida e massacraram as criaturas que rastejavam sobre a terra. Com suas duas mãos malditas, rasgou os rios que nos concediam a vida, partindo

seus leitos em cem mil fragmentos que tomaram vida e arrastaram as pessoas e as criaturas que dependiam da sua bênção.

Devorou as frutas que eram o alimento das pessoas. Arrancou as terras férteis com suas mãos e levou embora. Metais que adormeciam nas profundezas da terra, extraiu com sua mão direita maldita, roubou com sua mão esquerda maldita, e então, isso também, levou embora.

Construções transformou em pó, e apenas restos ficaram para trás. Mas a maior injúria foram as incontáveis vidas. Gritos de dor e medo tomaram conta do mundo, mas a destruição continuou. Logo

o único som que restou foi o silêncio da morte. Após completar seus atos ferozes, voou de volta para o céu. Apenas duas crianças,

agora apavoradas e sem lar, presenciaram sua partida. Sua partida de volta para aquele ninho de demônios, aquele ninho redondo de ladrões que flutuava no céu.

Nos olhos de uma criança nasceu ódio, nos da outra tristeza. Naquele dia, a tragédia acometeu, e duas sementes foram plantadas na terra.

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“Naquele dia, duas garotas entraram no templo” Naquele dia, duas garotas entraram no templo. Uma já tinha os olhos de uma adulta, enquanto a outra ainda tinha os olhos de uma

criança. Sacerdotes em trajes vermelhos, negros e púrpuras indicavam o caminho à garota com olhos de adulto, enquanto a garota com olhos de criança os seguia.

Diante da escadaria sem fim, o sacerdote de traje vermelho disse às garotas: “Vocês devem deixar suas armas poluídas para trás. Daqui até a câmara do fal’Cie,

é proibido levar as imundícies do mundo.” As garotas deixaram suas armas naquele lugar. “Vocês vão me dar uma arma melhor quando eu for uma l’Cie, certo?”, a garota de

olhos de adulto falou, usando um tom de voz que não combinava com aquele lugar. Os três sacerdotes não deram atenção às palavras, simplesmente ordenando que

continuassem. Enquanto subiam as escadas, ambas as garotas continuaram mantendo em segredo

o sentimento que carregavam em seus corações. Elas o mantiveram em segredo para este dia, até este dia, por uma eternidade.

Subiram o primeiro lance e pararam, curvando-se em oração antes de continuar para o próximo. Fizeram isso dez e três vezes, até que chegaram ao portão onde tudo teria início. Então o sacerdote de traje negro disse às garotas:

“Esta porta é uma porta de desafios. Ela recusará aqueles que carregarem o mal em seus corações, e abrirá caminho para aqueles que se consagram ao espírito santo.”

A garota com olhos de adulto se ajoelhou diante da porta e rezou. A garota com olhos de criança fez o mesmo. O símbolo na porta brilhou em vermelho, e a porta se abriu.

“Tu foste aceita pelo Portão do Início. Firma-te em teu coração que contém o espírito santo e segue em frente, para a câmara do fal’Cie.”

Os três sacerdotes e as duas garotas atravessaram a porta, deixando para trás as escadarias de dez e três lances.

“Anime-se!” “Mas...” “Só eu que vou virar l’Cie, você não. Não precisa ter medo.” “Mas...” “Não se preocupe.” A garota com olhos de adulto sorriu, enquanto a garota com olhos de criança olhou

para o chão. Os três sacerdotes não disseram nada. Subiram um novo lance de escadas e pararam, curvando-se em oração antes de

continuar para o próximo. Fizeram isso dez e três vezes, até que chegaram a um portão de formato circular. Então o sacerdote de traje púrpura disse às garotas:

“Esta porta é uma porta de desafios. Ela recusará aqueles que carregarem fraqueza em seus corações, e abrirá caminho para aqueles que se consagram à força.”

A garota com olhos de adulto se ajoelhou diante da porta e rezou. A garota com olhos de criança fez o mesmo. O símbolo na porta brilhou em vermelho, e a porta se abriu.

“Tu foste aceita pelo Portão Circular. Firma-te em teu coração que contém força e segue em frente, para a câmara do fal’Cie.”

Os três sacerdotes e as duas garotas atravessaram a porta, deixando para trás as escadarias de dez e três lances.

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“Droga, essas escadas não acabam nunca. Não dava pra colocar um elevador aqui? É um exagero, você não acha?”

“Você não devia dizer essas coisas! Os sacerdotes disseram que faz parte do teste pra você se tornar uma l’Cie.”

“Tudo bem, eu até concordo que deve haver um teste, mas esses sacerdotes são tão fracos. Quem são eles pra dizer se eu sou adequada ou não?”

A garota com olhos de adulto riu, enquanto a garota com olhos de criança a repreendeu. Os três sacerdotes, claro, não disseram nada.

Subiram mais um lance de escadas e pararam, curvando-se em oração antes de continuar para o próximo. Fizeram isso dez e três vezes, até que chegaram ao portão onde tudo teria fim. Então o sacerdote de traje vermelho disse às garotas:

“Esta porta é uma porta de desafios. Ela recusará aqueles que carregarem ganância em seus corações, e abrirá caminho para aqueles que se consagram à honra.”

A garota com olhos de adulto se ajoelhou diante da porta e rezou. A garota com olhos de criança fez o mesmo. O símbolo na porta brilhou em vermelho, e a porta se abriu.

“Tu foste aceita pelo Portão do Fim. Firma-te em teu coração que contém honra e segue em frente, para a câmara do fal’Cie.”

Os três sacerdotes e as duas garotas atravessaram a porta, deixando para trás as escadarias de dez e três lances, chegando finalmente à reta final.

No alto da última escadaria havia dez sacerdotes, cada um empunhando sua lança sagrada, todos protegendo a porta para o fal’Cie.

“Daqui em diante, só eu irei.” “Mas...” “Vai ficar tudo bem.” Os três sacerdotes acompanharam a garota que tinha olhos de adulto até o topo da

escadaria final, então dez e três sacerdotes a rodearam e ergueram os braços em oração: “Escolhida.” “Aquela que se tornará uma l’Cie.” “Deixe o mal para trás.” “Apegue-se ao espírito santo.” “Deixe para trás a fraqueza.” “Apegue-se à força.” “Deixe para trás a ganância.” “Apegue-se à honra.” “Siga em frente, para a câmara do fal’Cie.” “Receba o seu poder.” “Receba o seu Foco.” “Torne-se um com o fal’Cie.” “E derrube o Céu.” A porta começou a se abrir, e a garota com olhos de adulto deixou os sacerdotes

para trás para cruzá-la. Então proferiu: “Fal’Cie Anima! Tenho algo a lhe dizer. Está me ouvindo?!” Os sacerdotes correram para impedir a garota, mas ela os jogou longe e continuou

seu discurso: “Por que você está aqui? Deve ser fácil para um fal’Cie como você esmagar Cocoon.

Por que não vai destruir Lindzei agora mesmo? Ao invés de criar todos esses l’Cies, não seria mais rápido simplesmente reunir todos os fal’Cies e vocês mesmos assumirem a luta?

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Será que não percebe isso, mesmo sendo um fal’Cie?” Os sacerdotes ergueram suas lanças e apontaram para a garota. “Ora, sua insolente...! Este é o fal’Cie Anima! Como ousa falar desse jeito com ele?!” A garota derrubou todos e pegou uma das lanças. Empunhando-a, invadiu a câmara

do fal’Cie. “Quantos l’Cies viraram Cie’ths enquanto você ficava parado aqui sem fazer nada?

Quantos lares foram perdidos enquanto os seus amigos só sabem cavar buracos?!” Os sacerdotes correram atrás da garota. “Como ousa...! Não dará nem mais um passo para dentro da câmara do fal’Cie!” Usando sua nova lança, a garota jogou no chão todos os sacerdotes que a seguiram

e continuou seu avanço. “Eu me tornarei uma l’Cie pra você. Destruirei quantos demônios quiser. Mas eu não

suporto ver que você só fica aqui sem fazer nada!” O sacerdote de trajes vermelhos, o sacerdote de trajes negros e o sacerdote de trajes

púrpuras se colocaram na frente do fal’Cie e empurraram a garota para trás. “Acha mesmo que uma garota qualquer como você tem o direito de dirigir uma

única palavra ao fal’Cie? Saia daqui!” “Eu só estou dizendo a verdade! Esse fal’Cie é um idiota! O que ele pensa que as vidas

dos humanos são?!” O sacerdote de trajes púrpuras respondeu friamente: “Humanos? Eles não passam de órfãos.” O sacerdote de trajes negros concordou: “A única razão para alimentar os órfãos é para que se tornem l’Cies. Não há outra

maneira de usá-los.” O sacerdote de trajes vermelhos concluiu: “Você é uma tola. Nem foi capaz de compreender as verdadeiras intenções daqueles

que cuidaram de vocês.” Os olhos da garota queimaram de ódio. “Não insultem o nosso lar!” Fora de controle, a garota estocou o sacerdote de trajes vermelhos, e nocauteou o de

trajes negros e o de trajes púrpuras. Então se voltou para o fal’Cie Anima. “É tudo culpa sua! Por sua causa, nossos amigos viram Cie’ths. Por sua culpa, os

fal’Cies de Cocoon vêm aqui e nos fazem mal. É tudo por sua causa! Eu vou te destruir!” A garota correu com a lança, mas inúmeras mãos surgiram de todos os lados para

segurá-la, jogando-a ao chão. A lança foi parar longe. Os dez sacerdotes correram e a cercaram, apontando as próprias lanças para o seu pescoço.

“Garota tola, vai morrer!” “Traidora, vai morrer!” A garota não se mexeu. Os dez sacerdotes ergueram as lanças lentamente. “Por favor, esperem!” A garota com olhos de criança correu e a protegeu com o próprio corpo. “Por favor, perdoem-na!” “Ela insultou o fal’Cie Anima e tratou nossos sacerdotes como tolos! Seus pecados

são grandes demais.” “Então deixem-me... Deixem-me pagar por eles!” Os lábios da garota caída se moveram, implorando para que ela parasse. Mas a

garota com olhos de criança não deu atenção, gritando:

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“Por favor, transforme nós duas em l’Cies! l'Cies que lutarão contra Cocoon!” Todas as dez lanças pararam de uma só vez, e seus portadores olharam com dúvida

para as garotas. Então se reuniram para deliberar. “Você não pode...” “Por favor. Eu sou a próxima mesmo. Quero que fiquemos juntas.” A garota ajudou a outra a se levantar, e sorriu. “Estive pensando nisso desde que entramos no templo. Em pedir para que nós duas

fôssemos feitas l’Cies.” “Mas...” “Nós podemos ser órfãs, mas fomos criadas juntas. Somos uma família. Podemos

proteger a todos juntas.” Os dez sacerdotes cercaram as duas garotas e ergueram as mãos em oração,

rogando que ambas fossem transformadas em l’Cies. “Vamos ficar juntas para sempre... Haja o que houver, nunca nos separaremos.” Naquele dia, duas l’Cies nasceram.

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Vamos ficar juntas para sempre “Vamos ficar juntas para sempre... Haja o que houver, nunca nos separaremos.” - Foi isso que eu prometi naquele dia... – murmurou Vanille enquanto caminhava

pelo passeio pu blico, olhando para o mar. Ao longe era possí vel ver o templo. O fal’Cie Anima ainda estava la – Desculpe quebrar aquela promessa... – ela pediu perda o a Fang, onde quer que ela pudesse estar. Talvez ainda estivesse no templo, mesmo agora. Com soldados de Cocoon cercando-o por todos os lados, ningue m poderia entrar ou sair.

A notí cia apareceu na TV um dia antes. Um fal’Cie de Pulse foi encontrado no

Vestí gio de Bodhum. Vanille estava na praça de alimentaça o do shopping. O templo ocupava toda a imagem da grande tela. Ja havia veí culos e soldados armados em volta dele.

Bastou a notí cia ser transmitida para as pessoas a volta começarem a entrar em pa nico. Sabendo que precisava voltar ao templo, Vanille correu imediatamente para ele. La fora, o ce u ja estava tomado por aeronaves.

A notí cia estava em todas as TVs e todos os ra dios. Bodhum agora seria interditada para a segurança dos civis de Cocoon. O medo dos ali presentes logo se transformou em revolta, enta o os soldados começaram a usar a força contra os civis.

Em meio a tudo isso, Vanille, que saí ra correndo do shopping, avançava freneticamente na direça o da praia, ansiosa para retornar ao templo. Ela ja estava quase chegando a uma a rea onde poderia ve -lo. Mas o que encontrou la ...

Todos os caminhos que levavam ao templo estavam bloqueados. Isso na o tinha sido mostrado nos noticia rios. Veí culos militares cercavam o lugar por todos os lados, na o havia mais como sequer chegar perto dele. Na o, ela na o podia nem ficar por ali para ver o que aconteceria. Havia soldados se aproximando, sera que a tinham visto? Ela na o podia se arriscar mais. Vanille deu meia-volta e correu de volta para o shopping. Eles na o a seguiram. Enta o provavelmente na o pretendiam prende -la. Talvez so fossem dizer que a a rea estava interditada.

Ja era tarde demais, mas ela se arrependeu de ter deixado sua arma no templo. Agora estava totalmente sozinha numa cidade que na o conhecia, e impossibilitada de se proteger. Teve vontade de chorar.

- Fang... Onde voce esta ? Na usina de energia, Fang tinha se feito de isca para que Vanille pudesse escapar.

Ela lutou sozinha contra todos os soldados. O plano deu certo, e Vanille saiu ilesa, mas desde enta o na o teve notí cias de Fang.

- Fang... Perdida nos pensamentos, Vanille na o prestou atença o em para onde estava indo.

Suas preocupaço es eram grandes demais. Quando se deu conta, estava diante da Estaça o de Bodhum. Enta o ela teve um estalo: e se Fang nem tivesse voltado para Bodhum? Ela ainda podia estar em Euride, escondida em algum lugar.

- Talvez eu possa encontra -la se for a Euride! Vanille correu para a estaça o, mas outra vez se surpreendeu com o que encontrou.

A entrada estava completamente selada. Enta o ela se lembrou de que ouviu no noticia rio que a cidade inteira seria interditada. Havia pessoas na frente da estaça o, provavelmente turistas, discutindo com os soldados.

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- No s na o somos de Bodhum! - Eu tenho que estar em E den amanha ! Tenho uma reunia o importante! - No s somos de Palumpolum! Pelo menos deixe o meu filho voltar para casa! Todos estavam tentando de tudo para se fazerem ouvir. Eu já vi algo assim uma

vez, pensou Vanille. Naquela vez, os guardas avisaram que eles so precisavam esperar um pouco que tudo seria resolvido e eles poderiam voltar para casa. Mas na o parecia ta o simples assim agora...

Fora ha oito dias. Depois do incidente na usina, a Estaça o de Euride e a pista de

pouso das aeronaves foram interditadas. Soldados armados tomaram conta do lugar, e as pessoas começaram a brigar com eles, exigindo serem libertadas. Mesmo reclamando que precisavam voltar ao trabalho ou que iam perder o voo de volta para casa, ainda obedeceram a s ordens. Isso porque os soldados disseram que, uma vez que passassem pela verificaça o de identidade, poderiam pegar o pro ximo trem para Bodhum. Enta o todos se reuniram na praça em frente a usina de energia e esperaram nas tendas que o exe rcito improvisou.

Claro que, como na o era de Cocoon, Vanille na o tinha um registro de identidade. Procurando por uma chance de escapar, seu olhar recaiu sobre soldados que colocavam carto es numa ma quina. Eles tambe m deviam servir como documentos de identidade, ela deduziu. Vanille e Fang tinham roubado carto es iguais a queles de alguns rapazes em Bodhum. Foi so graças a isso que conseguiram comprar comida e as passagens do trem para Euride.

Vanille pegou o carta o roubado e olhou para ele. Ela na o sabia se poderia usa -lo. Foi por puro acidente que elas descobriram como usar o que estava com Fang, e ainda nem tinham testado esse. O que ela faria se ele na o funcionasse? Pior ainda, e se eles descobrissem que era um carta o roubado?

- Vamos, o seu carta o. Vanille olhou para cima assustada, e se deparou com um soldado segurando uma

das ma quinas. Torcendo para que funcionasse, mas se preparando para o pior, entregou o carta o.

Ela se perguntou se a levariam para um lugar diferente para ser interrogada. Ou talvez a prendessem imediatamente. Ou talvez... Talvez a executassem ali mesmo. Fechou os olhos, orando em sile ncio.

- Mexa-se. Eu sabia, pensou Vanille. Ela se resignou. Era pate tico ser capturada agora, depois

de tudo, mas havia soldados demais ali, sem contar todas as outras pessoas... - Pega essa coisa logo! Preciso ir para o pro ximo! Vanille abriu os olhos, surpresa. O soldado estendia o carta o para ela. - O que ? - Por que esta perdendo tempo aqui? Va logo para a fila. Antes que ela pudesse perguntar o que ele quis dizer, o soldado passou para a

pro xima pessoa. Parecia que o carta o roubado tinha funcionado. Vanille foi para a fila das pessoas que ja tinham sido verificadas e partiu no trem seguinte para Bodhum. La , ficou esperando na plataforma da estaça o, na esperança de que Fang chegasse, mas isso nunca aconteceu.

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Ela voltou ao templo, mas na o havia comida e ela na o conseguia dormir. Se deu conta de que era a primeira vez na vida que passava a noite sozinha. Fang sempre esteve ao seu lado. Na aldeia, tambe m havia as outras crianças. Depois que viraram l’Cies, as duas ficaram sozinhas de novo, mas sempre tiveram uma a outra. Ela nunca dormira sozinha.

Em busca de comida, Vanille foi a shopping. Mas ela nunca tinha usado o carta o antes, enta o na o tinha certeza de que conseguiria faze -lo. Embora tenha funcionado como identidade em Euride, ela na o sabia se podia usa -lo para comprar alguma coisa. Vanille passou alguns minutos parada na frente da loja, pressionando nervosamente o carta o nas suas ma os.

O que a fez reunir coragem e finalmente entrar na loja foi o aparecimento daquele pa ssaro branco. Bom, talvez “coragem” na o seja a melhor palavra. Um pa ssaro branco, aquele mesmo pa ssaro estranho que elas viram quando roubaram os carto es, de repente pousou no teto da loja e olhou diretamente para Vanille. O susto foi ta o grande que ela correu para dentro ate sem ver. Agora do lado de dentro, a u nica coisa que ela podia fazer era agir naturalmente, imitando os outros clientes. Fez suas compras e usou o carta o para pagar. Era mais fa cil do que ela imaginava.

Agora ela entendia como era a vida deles. Cocoon realmente parecia um paraí so. Talvez o povo dali fosse ta o despreocupado justamente por viver uma vida ta o pacata, e tambe m devia ser por isso que ela nunca se sentiu ameaçada mesmo estando bem no meio do territo rio inimigo.

Mesmo estando sozinha, sem Fang, ela na o se sentia mais nervosa aqui. Mas ela na o conseguia esquecer a moça e a criança que acabaram prejudicados por causa delas. A culpa que ela sentia pelo que aconteceu a eles era como um espinho cutucando o seu coraça o.

E enta o, Vanille encontrou a garota na praia...

- O que voce esta fazendo aqui? Ela sentiu uma arma nas costas. Vanille voltou dos seus devaneios com um salto.

Era um soldado. PSICOM. Toda vez que esse nome era mencionado, as pessoas faziam cara de medo ou revolta.

Ate alguns dias atra s, na o havia nenhum soldado ali. Todos pareciam ta o felizes e animados. Ela tambe m se permitiu se sentir assim...

- Me desculpe! – disse Vanille. Sua voz saiu engasgada, quase um choro. Talvez por isso, o soldado abaixou a arma e falou de um jeito mais gentil:

- O registro vai começar daqui a pouco na estaça o. Voce precisa ir. Vanille correu sem olhar para tra s. Ela nunca mais voltaria ali. No instante em que

aquele anu ncio foi feito ontem, aquele paraí so desapareceu.

Um fal’Cie de Pulse fora encontrado. Bodhum inteira estava sob quarentena. Isso

por si so ja era a pior notí cia possí vel para as pessoas que viviam la . Foi so anunciarem na TV que a cidade virou uma confusa o. Sera que passou pela cabeça de algue m que ainda podia ficar pior?

A notí cia estourou durante a tarde. Vanille na o conseguiu voltar ao templo e nem encontrar Fang, enta o agora estava caminhando pelo shopping. Queria ficar em lugares

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movimentados, longe da atença o dos soldados. Um Expurgo para Pulse. No começo, Vanille na o sabia o que isso significava. E

talvez na o fosse a u nica. Quando a notí cia foi transmitida, todos ficaram quietos. Enta o ela percebeu que eles estavam com medo. As pessoas começaram a correr pelas ruas, gritando e chorando. Deviam achar que podiam fugir do seu destino.

Vanille so po de observa -los, intrigada com o desenrolar dos acontecimentos. Ela sabia que o povo de Cocoon odiava Pulse, mas so agora se deu conta de que na o entendia de verdade a profundidade disso. Eles tinham tanto medo de Pulse que perderam a raza o.

Para onde eles estavam correndo ela na o sabia. Talvez para a estaça o, ou talvez para casa. Por toda parte, brigas estouravam sem motivo. Mulheres falavam em vozes estridentes, e crianças caí am ao cha o e se debulhavam em la grimas.

Vanille estava parada ao lado de uma das lojas, observando tudo aquilo. Estava tre mula, na o conseguia dar um so passo. Aquelas eram mesmo as mesmas pessoas que assistiram ao festival de fogos na noite anterior? Era difí cil de acreditar. Aquelas pessoas eram alegres, ama veis, sempre com um sorriso no rosto. Eram pessoas felizes. Seus rostos so esboçavam esperança enquanto rezavam pela realizaça o dos seus sonhos. Na o havia se passado nem um dia completo desde enta o, mas agora...

Ela estava com medo, e triste, e com vontade de chorar. Uma dor ardente fervia atra s dos seus olhos, e ela so po de olhar para o cha o. Enta o, em meio ao barulho, algumas palavras chegaram aos seus ouvidos. Surpresa, Vanille tentou prestar atença o. Ela podia jurar que ouvira algue m dizer: “O fal’Cie de Pulse tambe m vai ser mandado pra la .” Ela teria de assistir ao noticia rio mais uma vez, so para ter certeza.

O fal’Cie Anima seria enviado para Pulse, seria devolvido a Gran Pulse... Era verdade? Mas enta o, e quanto ao Foco delas? Na o, mesmo que o fal’Cie Anima

na o estivesse em Cocoon, o Foco delas na o mudava. Quem tinha que cumprir o Foco eram ela e Fang, na o o fal’Cie...

Enta o ela se deu conta de uma coisa: se ficasse em Bodhum, seria mandada para Pulse junto com todos os outros. Na o que houvesse muita opça o, ja que todas as entradas e saí das de Bodhum estavam interditadas. Mas, se voltasse para Gran Pulse, na o poderia cumprir seu Foco.

Suas pernas fraquejaram e ela caiu de joelhos. Como ela po de na o pensar nisso antes? Se recostou num canto e permaneceu assim ate a noite cair.

Quando finalmente se levantou, Vanille se assustou ao ver que ja era noite. Na o havia quase mais ningue m no shopping. Deixando os corredores desertos, caminhou ate a praia. Era aqui que todos haviam se reunido para assistir ao festival de fogos. Claro que agora na o havia ningue m. O bar estava fechado. Apesar de so ter se passado um dia, parecia um lugar completamente diferente do da noite anterior. Tudo estava quieto, o u nico som era o das ondas indo e vindo.

Ao contra rio do de Gran Pulse, esse mar na o tinha cheiro de sal. Mas Vanille tinha gostado daqui. “Adeus”, murmurou ela, e voltou pelo caminho que veio. Caminhando mais um pouco, chegou a uma horta. Era o lugar de onde elas tinham roubado legumes no dia em que despertaram. O cheiro de terra e plantas era revigorante. Talvez Fang venha aqui, pensou ela, e la grimas começaram a escorrer. Eu sei, pensou, a Fang não vai vir. Eu nunca vou vê-la de novo, nunca mais...

Vanille chorou. Como uma criança chora, esperneando e gritando. E enta o, caiu no sono.

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O distrito comercial, como sempre, estava lotado. Mas, ao contra rio de ontem,

ningue m corria. Todos caminhavam na mesma velocidade e na mesma direça o, como uma massa u nica. A expressa o nos seus rostos era sombria, e todos andavam cabisbaixos. Seguiam para a estaça o para pegar o trem do Expurgo.

O povo de Cocoon achava que “Pulse era o inferno”. A julgar pelas reaço es do dia anterior, era o bvio que, para eles, ser deportados para la era o mesmo que uma sentença de morte. Mas não é assim, ela na o conseguia deixar de pensar. Tudo bem que o clima é mais severo, e há muitos monstros violentos. Vocês não poderão andar desarmados como fazem aqui em Cocoon. Mas Fang e eu nascemos e fomos criadas em Gran Pulse. Se todos trabalharem juntos, vocês darão um jeito.

Em Gran Pulse havia muitas planí cies e um ce u infinito. Havia luz do sol e muito verde. Vanille queria mostrar tudo isso ao povo de Cocoon. Muito embora soubesse que era impossí vel.

Estava quieto. Quieto demais para a quantidade de pessoas que havia ali. Quando ela chegou a Bodhum pela primeira vez, havia tanta agitaça o e barulho que parecia ate um festival. Mas, depois do que aconteceu ontem... Sera que a noite de sono os ajudou a recuperar a calma? Ou apenas tinham desistido? Ningue m parecia bravo, todos estavam inexpressivos.

Me perdoem... Vanille se desculpou em pensamento. Ela ja tinha se desculpado tantas vezes que perdeu a conta. Era culpa delas aquilo estar acontecendo com essas pessoas. Culpa delas e de mais ningue m.

Porque nós acordamos. E ainda havia a garota que o fal’Cie Anima transformou em l’Cie. E o garotinho que

o fal’Cie de Cocoon transformou em l’Cie. Ela nunca poderia pagar pelos crimes que cometeu contra eles. Na o podia faze -los voltarem ao normal. Na o podia mudar o destino deles. Pelo menos, pensou, posso não fazer mais mal ao mundo deles, às pessoas que amam. Isso pelo menos eu posso fazer.

Em dado momento, ela percebeu que o nu mero de pessoas tinha crescido. Tudo estava ta o quieto que nem parecia, mas agora havia tantas pessoas quanto no festival de fogos, talvez ate mais, todas caminhando lentamente na direça o da estaça o.

Finalmente o pre dio da estaça o surgiu ao longe. Era possí vel ouvir a voz de um soldado que dizia: “Quem ainda na o passou pela vistoria da bagagem, para o lado de ca !” A vistoria das bagagens tinha começado ontem mesmo, enta o a fila do lado dele estava relativamente pequena.

Quando ela entrou no pre dio, viu soldados com megafones berrando instruço es. Seus uniformes eram diferentes dos dos outros soldados que ela vira, enta o Vanille deduziu que deviam ser de patente mais alta.

- Atença o! Sigam as orientaço es e na o saiam da fila! Sua bagagem sera devolvida quando chegarem em Pulse.

A arma que ele tinha nas ma os deixou Vanille um pouco desconforta vel. Ele só está repassando orientações, por que precisa estar armado?, pensou. Todas as pessoas aqui são calmas e pacíficas, não há necessidade disso. Os outros soldados tambe m tinham armas. Apesar de dizerem que as pessoas iam “se mudar” para Pulse, parecia mais que estavam sendo encaminhadas ao corredor da morte. Mas, talvez porque o povo de Cocoon era ta o pací fico, ningue m relutou. Todos seguiam as instruço es mecanicamente, sem dizer uma palavra.

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Ou talvez nem tanto. Em algum lugar ela ouviu algue m gritar. - Ei, voce ! Na o saia da fila! Possivelmente algue m tentou fugir. A multida o reagiu um pouco. Estavam todos

apreensivos, talvez torcendo para que algue m tivesse encontrado um jeito de escapar. Um som de tiro ecoou. Pelos gritos, era o bvio que na o fora um tiro de adverte ncia.

A linha de pessoas se quebrou, o pa nico foi total. Os soldados apontaram suas armas na direça o delas, e tudo ficou imo vel e quieto novamente.

- Por favor, na o saiam da fila. Isso e pelo seu pro prio bem. Claro que ningue m acreditava nisso. So obedeceram porque na o queriam morrer.

Muito embora o que esperasse por eles la embaixo, em Pulse, fosse o inferno. A fila retomou o fluxo. Vanille reparou numa mulher conversando com um soldado.

Ela chamou sua atença o porque se parecia muito com Serah, a garota inocente que fora transformada numa l’Cie de Pulse. A mulher entregou sua arma para o soldado e foi para a fila. Minha culpa está me fazendo imaginar coisas, pensou Vanille. Acho que foi a cor do cabelo que me fez lembrar da Serah...

Atra s da mulher, entrou um homem de meia-idade. O cabelo dele mais parecia o ninho de um pa ssaro. Justo quando Vanille pensou isso, um pa ssaro de verdade saiu la de dentro.

- O que ? Era um filhote de chocobo. - Por que tem um chocobo no cabelo daquele cara? – era ta o engraçado que Vanille

começou a rir. Enta o algue m colidiu com ela. Ou melhor, ela colidiu com algue m, ja que na o estava olhando para onde ia. Ela tentou se equilibrar, mas era tarde demais – Ops! – ela escorregou e caiu de bunda no cha o. Felizmente na o se machucou, so ficou morrendo de vergonha.

- Voce esta bem? – perguntou algue m. Seguida da voz, uma ma o se estendeu na direça o dela – Se machucou? – uma mulher de rosto gentil olhava para ela. Vanille fez que sim, e a mulher sorriu – Ufa, que alí vio.

- Ela tem jeito de ser ma e... – Vanille murmurou discretamente. Enta o viu ao lado dela um garoto que tinha todos os indí cios de ser seu filho. Ela era mesmo uma ma e.

- Voce e daqui? - Na o, na o sou... - Ah, voce tambe m? No s somos de Palumpolum. – era um lugar do qual Vanille ja

tinha ouvido falar – E voce , de onde e ? - Ahn... Longe... - Longe? Vanille apenas disse que sim. A mulher na o fez mais perguntas, provavelmente

concluindo que Vanille tinha algum motivo para na o dizer de onde era. Na o, na verdade ela devia ter outras coisas com as quais se preocupar. Seu filho estava tremendo, mal conseguia ficar de pe .

Vanille estava indecisa se devia entrar na fila atra s desses dois ou da mulher que lembrava Serah. Mas na o demorou muito para se decidir, optando por ficar atra s da mulher gentil e seu filho. Se ia ser tratada como prisioneira, pelo menos ela queria ficar junto com pessoas boas.

Os soldados explicaram que, na melhor das hipo teses, eles chegariam a Pulse ainda no mesmo dia. Na pior, no dia seguinte. Quando chegarmos a Gran Pulse, talvez eu possa fazer algo por eles, pensou Vanille. Me desculpe, Fang, mas eu vou voltar para Gran

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Pulse com o fal’Cie. Desculpe quebrar a nossa promessa. Desculpe te deixar sozinha aqui em Cocoon...

Uma vez fora de Cocoon, ela na o poderia mais cumprir seu Foco. Vanille percebeu isso ontem, quando soube que o fal’Cie Anima seria mandado de volta para Pulse. Mas, quando se deu conta de que ainda havia algo que podia fazer, se sentiu aliviada.

“Se estiver muito difí cil, deixe para depois.” Serah disse isso quatro dias atra s, quando elas se encontraram na praia. Aquelas

palavras a salvaram e a deram um motivo para continuar. Por causa dessas palavras, ela estava aqui agora.

Quando eu entrar naquele trem, pensou, estarei oficialmente fugindo do meu Foco. E assim não precisarei mais machucar ninguém. Eu provavelmente virarei um Cie’th, mas sei que ainda tenho algum tempo.

“A s vezes e mais fa cil ver algo quando olhamos de longe.” Como Serah disse, quando ela olhasse o problema de longe, talvez encontrasse um

caminho diferente. Podia dar certo. Se ela fugisse, tudo poderia se resolver... Seu u nico arrependimento era deixar Fang para tra s, mas ela sabia que sua amiga

ficaria bem. Sua marca estava queimada, enta o ela provavelmente na o viraria um Cie’th. E Fang sabia se virar muito bem. Mas com certeza ela ficaria brava... E preocupada. Me desculpe, disse ela em pensamento mais uma vez.

Vanille juntou as ma os e rezou. Pela amiga que nunca mais veria. Pela promessa que na o poderia cumprir.

Os soldados começaram a colocar as bagagens no trem. Na pior das hipo teses, eles chegariam amanha , como um deles disse. Por um momento, Vanille sentiu suas pernas titubearem. De repente o dia em que elas se tornaram l’Cies parecia ontem mesmo, e o amanha parecia ta o distante que era quase inalcança vel. Mas por que ? Ela na o devia estar se preocupando. Finalmente ia voltar a Gran Pulse. Ela amava o cheiro do vento, as flores balançando com a brisa, o ce u azul e infinito... Havia todas as estrelas da noite, e, claro, sua cidade natal que a esperava. La era o seu lar, onde viviam seus amigos que tambe m eram sua famí lia, enta o com certeza ficariam felizes em ve -la.

Amanhã eu voltarei para casa... A fila andou.

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