Festejo Do Catolicismo Popular
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77OLIVEIRA, Marcelo Leles Romarco de e ROMARCO, Evanize Kelli Siviero. Festejos...
OLIVEIRA, Marcelo Leles Romarco de e ROMARCO,
Evanize Kelli Siviero. Festejos do catolicismo tradicio-
nal no interior do Brasil. Textos escolhidos de cultu-
ra e arte populares, Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 77-
92, mai. 2010.
FESTEJOS DO CATOLICISMO TRADICIONAL
NO INTERIOR DO BRASIL
Marcelo Leles Romarco de Oliveira
Evanize Kelli Siviero Romarco
Discutem-se alguns festejos catlicos tradicionais em co-
munidades rurais do Brasil, com base em material coleta-
do atravs de entrevistas semiestruturadas e impresses
de campo no Amap e em Gois. Focalizam-se principal-
mente as festas do Divino Esprito Santo e dos santos pa-
droeiros dessas comunidades, abordando os seus desdo-
bramentos e a sua importncia cultural e simblica para
aqueles que as pracam. Destacam-se danas como a
cara, pracada em Gois, e o marabaixo, culvado porcomunidades quilombolas do Amap. Foi possvel apreen-
der que, apesar da modernidade, esses festejos perduram
como importante manifestao sociocultural desses gru-
pos. [Abstract on page 244]
FESTEJOS RELIGIOSOS, FOLIA, DANAS CIRCULARES.
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INTRODUO
Este estudo apresenta reexes sobre algumas manifestaes culturais encon-
tradas no interior do Brasil, mais especicamente na zona rural de dois estados brasilei-
ros, Gois e Amap. O material em que se apoia foi coletado em conversas com morado-
res das comunidades visitadas e na observao dos festejos religiosos pracados por es-
ses atores sociais.
Segundo Ferlini (2001), homenagens ou cultos s divindades protetoras esto na
origem das festas portuguesas, que foram introduzidas no Brasil a parr da colonizao,
e mantm, ainda, forte inuncia em comunidades tradicionais no interior do pas, ser-
vindo, alis, como elo com outros espaos e atores.
Atravs de entrevistas semiestruturadas e impresses de campo, foi possvel re-
er sobre esses festejos como importantes manifestaes culturais encontradas em co-
munidades rurais do interior dos estados visitados. importante destacar que em algu-mas situaes os pesquisadores acompanharam os preparavos dos festejos e parcipa-
ram de alguns dos rituais que os integram, como no caso da folia do Divino Esprito Santo
em assentamentos rurais, na regio P de Serra, no municpio de Padre Bernardo, no Es-
tado de Gois. Essa vivncia permiu maior compreenso de alguns relevantes elemen-
tos simblicos e culturais, como danas, msicas, cangas, queimas de fogos, represen-
taes emblemcas do sagrado que, segundo Gaeta (1997), so consendas e incen-
vadas pelo catolicismo tradicional, como privilegiadoras dos sinais visveis da f e de gra-
as alcanadas.
De acordo com Saraiva e Silva (2008), esses eventos em algumas comunidades
tambm so responsveis pelo estabelecimento do calendrio de fesvidades que re-
nem as comunidades para celebrar, agradecer ou pedir proteo ao santo devocionrio.
Assim, essas festas incluem muita f, atos religiosos, danas e produo de comi-
das picas, entre outros aspectos. As famlias entrevistadas declararam que nessa poca
os povoados ou comunidades rurais que realizam essas festas so mais visitados por pa-
rentes e amigos moradores das reas urbanas das cidades e de outras localidades.
Nesse contexto possvel citar os festejos religiosos do catolicismo tradicional,
como as folias, que so importantes para a integrao desses grupos. So marcadas porfolies que cantam pedindo a beno das divindade e acompanham o alferes at o local
do cruzeiro para, em seguida, montar seus animais e sair para o demorado giro, cada fo-
lia numa direo. Durante o giro, os folies devem preparar as cangas de rodas e caras
que vo cantar e danar nas casas visitadas e em que a folia pernoita.
Essas danas e ladainhas, como hoje as conhecemos, trazem em suas razes o
passado longnquo, a ancestralidade dos povos de carter comunitrio e gregrio que
pracam dana e o canto como comunho e transcendncia. Relembram, como cita Ga-
raudy (1980), um tempo em que danar e cantar eram celebraes, parcipaes, encon-
tros e rearmaes dos ciclos da vida na tenso entre o humano e o divino.
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Autores como Brando (1980) e Prado (1977) consideram esse po de manifesta-
o momentos especiais que tm o papel, por exemplo, de reconstruir os limites de uma
comunidade, reunindo serus membros e mancando seu pertencimento mediante a vi-
vncia e parlha de valores e crenas.
OS FESTEJOS RELIGIOSOS COMO EXPRESSO CULTURAL DASZONAS RURAIS BRASILEIRAS
Os dados aqui apresentados referem-se festa do Divino Esprito Santo em duas
regies, a primeira incluindo dois assentamentos rurais no interior do Estado de Gois,
e a outra representada por comunidades quilombolas da regio sul do Estado do Ama-
p. Apesar da semelhana dos rituais, possvel destacar algumas caracterscas pecu-
liares nessas festas, sobretudo em relao comida e s danas pracadas normalmen-
te no nal do festejo, como a cara em Gois e o marabaixo1em comunidades quilombo-
las do Amap.
importante destacar que essas festas, alm do cunho de f
e religiosidade, so marcadas por diversas manifestaes culturais
materiais e imateriais, como, por exemplo, bandeira, comidas pi-
cas, altares, danas e rituais, como o correr os pousos.2Alm disso,
esses festejos exprimem, tambm, as relaes de reciprocidade, que
vo caracterizar muitas comunidades rurais brasileiras.
Nesse sendo, Brando (1981) aponta que uma das caracte-
rscas marcantes das populaes rurais a f em Deus e nos san-tos, o que jusca a importncia das festas religiosas na organizao
social desses grupos, integrando-os, mas tambm o prprio munic-
pio em que se inserem essas comunidades.
No municpio de Macap-AP, um fesval rene e congre-
ga grupos de marabaixo de todo o estado, possibilitando que eles se
apresentem fora de suas comunidades nas pocas dos festejos reli-
giosos perodos de integrao e oportunidade de visibilidade para os grupos culturais
nas festas dos santos padroeiros das comunidades ou at mesmo do municpio.
Segundo os relatos dos atores entrevistados nessa poca de grandes encontros
dos grupos, tanto as comunidades se voltam para esses festejos quanto os moradores da
sede dos municpios se comprometem com essas celebraes. Em alguns casos, o pi-
ce do festejo o encontro das folias que circulam na zona rural e que so recebidas com
festa e comemorao pelos moradores das cidades, ansiosos por esse momento.
Candido (1987) ao estudar comunidades rurais no interior do Estado de So Pau-
lo demonstra que nessas localidades as festas despertam o esprito de ajuda mtua, um
dos elementos de denio da solidariedade vicinal, que liga pessoas e espaos. Para
concrez-las, essas avidades acontecem em meio a complexo conjunto de relaesque ultrapassam o espao familiar, chegando a abranger em diversas situaes outras co-
1 O marabaixo mani-
festao cultural praca-
da por grupo de descen-
dentes de negros no Es-
tado do Amap, a qual
ser dado destaque mais
adiante neste argo.
2 Correr o pouso signi-
ca o percurso que a ban-deira e os folies fazem
ao longo do festejo, ou
seja, so os locais e as ca-
sas dos devotos visitados
pela folia.
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munidades, o que dene a marca de um grupo ou de vrios grupos, criando, assim, uma
idendade cultural dessas localidades.
A folia de reis e do Divino Esprito Santo e as homenagens aos santos padroeiros
das cidades e a Santo Antnio, So Joo e So Benedito, entre outros, so as festas reli-
giosas mais comuns nessas regies, quase sempre incluindo em seus rituais ladainhas,cncos, pagamento de promessas ou oferecimento de prece, missa ou queima de um
pacote de velas.
Outro ponto a ser observado nas festas dos santos diz respeito s novenas, que
conformam complexo ritual envolvendo reza, msica, dana e confraternizao. Aconte-
cendo geralmente antes das festas, sua principal funo preparar os is espiritualmen-
te para o culto ao santo que ser homenageado. So distribudas ao longo de nove dias,
de modo que a lma noite caia na data da festa.
De acordo com depoimentos dos entrevistados, a noitada, cada um dos dias deuma novena, geralmente patrocinada por uma ou mais famlias moradoras do so ou
de alguma fazenda prxima, que se responsabilizam por providenciar a comida e a bebi-
da a servir aos msicos que acompanham a reza numa capela local (quando existe) ou na
casa de algum morador. O patrocnio de uma noitada normalmente confere muito pres-
gio social s famlias escolhidas. No sendo religioso, nesse momento que a famlia
como um todo recebe nominalmente as graas de seu santo de devoo.
Nesse sendo, Prado (1977) aponta que, a par do carter fesvo atravs das dan-
as e comidas, as festas dos santos representam a maneira mais forte de se provocar seu
milagre.
A FOLIA DO DIVINO ESPRITO SANTO NOS ASSENTAMENTOSRURAIS NA REGIO P DE SERRA EM GOIS
A regio P de Serra localizada no municpio de Padre Bernardo no Estado de
Gois, no entorno do Distrito Federal, formada por cinco assentamentos rurais cons-
tudos no nal do sculo XX; a maioria dos assentados de imigrantes vindos, sobretudo,
das reas rurais dos Estados de Gois, Minas Gerais e do Nordeste brasileiro, formando,
assim, um caldeiro cultural bastante diversicado.
Em comum, os assentados apresentam a caractersca de, antes de migrar para
a regio, ter trabalhado em Braslia, exercendo diversas avidades. Apesar de os assen-
tamentos serem formados por populao to heterognea, ainda assim possvel en-
contrar outros traos comuns nesse grupo, tendo como destaque a f e as crenas nos
santos de devoo, o que atesta ao local idendade cultural e simblica marcada pela
religiosidade.
Nesse sendo, nesses assentamentos, uma forma de expressar essa f atravs
da comemorao da folia do Divino Esprito Santo, que marcada, por um lado, pelo ca-
rter religioso novenas, ladainhas ou pagamento de promessas e, por outro, pelo ri-tual profano. Realizada na casa da festeira, uma espcie de organizadora da folia. a festa,
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alm de ser momento de celebrao o tambm de integrao; vrios assentados da re-
gio e convidados que moram na cidade vm parcipar do evento, que chega s vezes a
reunir cerca de 400 pessoas.
A festa do Divino Esprito Santo nos assentamentos dessa regio comeou em
2002, quando uma moradora do assentamento Vereda II, o maior deles, com mais de 150
famlias, resolveu organizar a folia. Nessa ocasio a maioria das famlias j ocupava suas
terras. Segundo essa moradora, a ideia de organizar a folia surgiu logo aps uma pro-
messa feita ao Divino Esprito Santo para melhorar o estado de sua sade que na ocasio
apresentava quadro clnico grave. A promessa consisa em que, se houvesse melhora em
seu estado de sade, ela se responsabilizaria por organizar a folia nos assentamentos da
regio durante sete anos. A parr dessa promessa, a entrevistada relatou que sua melho-
ra foi acontecendo e em pouco tempo saiu do hospital. Retornando ao assentamento ela
resolveu pagar a promessa.
Eu z a promessa de organizar a folia e fazer a caminhada durante sete anos,mas eu pretendo fazer a festa at morrer. E espero que os meus lhos quan-do eu morrer connuem a festa (...) na primeira festa do Divino que aconte-ceu aqui a gente fez uma novena, levantou a bandeira, mas no foi feita a ca-minhada; isso j tem uns quatro anos. Mas a caminhada mesmo tem uns doisanos (festeira do assentamento Vereda II, 2006).
A festeira informa ter trazido essa tradio da festa do Divino Esprito Santo de
Minas Gerais, estado de origem de seus familiares, onde diversas vezes ela presenciou a
folia do Divino. Ainda segundo a entrevistada, no incio, a realizao da festa, alm de re-
presentar o resgate de sua origem, tambm proporcionava unio mais forte dos assenta-mentos e permia que uma manifestao cultural to importante para os catlicos fos-
se perpetuada naquele novo espao em formao. Outra expectava da festeira era que
a folia servisse para que os lhos dos assentados conhecessem esse po de rito e os es-
mulasse a realiz-lo todos os anos, tornando-se mais um elemento da idendade cultu-
ral daquela regio.
Eu espero que depois dos sete anos que eu organizar a folia, outro devotopegue a responsabilidade e que a folia sempre acontea aqui, porque parans, catlicos, isso ser muito importante (festeira do assentamento Vereda
II, 2006).Tendo a festa comeado h pouco mais de quatro anos, apenas moradores de
dois assentamentos estavam recebendo a folia. importante destacar que sendo os as-
sentamentos formados por sos, as casas so distantes umas das outras, e a presena
de assentados de outras religies, que no recebem os folies, inuencia o raio de ao
da folia.
Na ocasio da festa os pesquisadores acompanharam um trecho da folia, que ao
todo percorreu mais ou menos 30 casas dos assentamentos Vereda II e Boa Vista. Segun-
do a festeira, a cada ano mais casas so visitadas, e sua esperana que em breve todos
os demais assentamentos recebam a folia.
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Figura 1: Altar nacasa de um devotoFoto: MarceloLeles Romarco deOliveira
Para organizar a folia, ela conta com ajuda de outras famlias dos assentamentos,
sobretudo daquelas de orientao catlica, que tm f no santo e por isso fazem ques-
to de parcipar, tanto do ponto de vista da logsca como fazendo doaes de alimen-
tos e dinheiro.
Brando (1981) conrma essa organizao ao informar que a folia decorre do tra-
balho ritual de um grupo consolidado que durante o perodo que antecede a festa ar-recada contribuies para sua realizao; em troca, a folia distribui bnos, auxilia no
pagamento de promessas, atualiza a devoo ao Divino e contribui para a reunio de
pessoas em refeies e no baile de encerramento. Trata-se, portanto, de empreendimen-
to colevo de assentados catlicos e envolve vrios outros assentados.
A rigor esse evento pode ser entendido, como classicou Mauss (2003), como um
grande sistema de prestaes totais, nos quais assentados e famlias so inscritos em cor-
rente obrigatria em que bens de natureza econmica, social e religiosa so doados, re-
cebidos e retribudos.
Essas prestaes e contraprestaes se estabelecem de uma forma, sobretudovoluntria, por meio de regalos, presentes embora elas sejam no fundo rigo-rosamente obrigatrias, sob pena de guerra privada ou pblica. Propusemoschamar tudo isso o sistema de prestaes totais (MAUSS, 2003: 191).
De acordo com Brando (1981), a folia tem importante papel no universo do
campons: seria um espao simbolicamente reconstrudo no tempo atravs de rituais
que possibilitam a realizao de trocas de bens e servios entre um grupo xo de mora-
dores e um grupo de folies.
No caso aqui em questo a folia ocupa espaos do codiano dos assentados,
como as casas, as estradas e os atalhos. Quanto trajetria, a folia realizada a parr
de uma lista feita pela festeira, que convida as famlias devotas do Divino, podendo tam-
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Figura 2: Camisarepresentando
os sete dons doDivino Esprito
Santo
Foto: MarceloLeles Romarco de
Oliveira
bm algum devoto entrar em contato com a festeira solicitando a presena da folia em
sua casa.
Na regio, a folia sai da casa da festeira, que ca no assentamento Vereda II. A
jornada comea na alvorada rezando o tero e invocando sade e proteo ao Divino Es-
prito Santo ou a outros santos de que os folies so devotos. Isso ocorre num altar im-
provisado na casa da festeira. importante ressaltar que em todas as casas que a folia vi-sita tambm so improvisados altares, geralmente na sala, porta da qual os folies so
recebidos e perguntam ao dono da casa se ele aceita a folia; aceitando, o dono da casa
se ajoelha, beija a bandeira e convida a folia a entrar em sua casa; os folies agradecem e
entram ento na casa, cantando e louvando.
Na casa, o proprietrio oferece uma oferta, que no nal desnado para al-guma igreja (...) essa celebrao importante porque tambm uma evange-lizao. E cada famlia d aquilo que pode, e no obrigado a dar; mas pra-camente todo mundo d alguma coisa para o Divino (sr. JB, assentamento BoaVista, 2006).
s vezes, o dono da casa pede a bandeira e percorre todas as dependncias da
casa, abenoando. Cabe lembrar que um dos maiores smbolos da festa a bandeira ver-
melha, com uma pomba branca de ps e bico vermelhos. O vermelho signica o amor e o
ardor missionrio, e a pomba branca, o Esprito Santo. Alm disso, na bandeira esto re-
gistrados os sete dons do Divino Esprito Santo, que so sabedoria, inteligncia, conselho,
fortaleza, cincia, piedade e temor a Deus. Esses dons, segundo a festeira, foram rados
da Bblia, e, de acordo com um parcipante da folia, um caminho a buscar incluiria esses
dons que o Divino representa (guras 1 e 2).
Quanto formao da folia, na regio ela constuda por:
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1- festeira: responsvel por sua organizao total. Nesse caso especco, a fes-
teira quem carrega a bandeira. Alm disso, a folia sai de sua casa e para l retorna no -
nal do dia, momento em que a bandeira hasteada, a pomba, solta, e a folia encerrada;
2- folio de guia: aquele que vai puxando os cantos;
3- folio de contraguia: vai ajudando o folio guia; geralmente so dois;
4- intercessor: responsvel por rezar o tero durante todo o trajeto;
5- tocadores: os que vo tocando bumbo, caixa e outros instrumentos;
Os que acompanham a folia so seus componentes, que ajudam na cantoria;
comum a folia ir aumentando medida que vai passando nas casas.
Durante todo o percurso a intercessora connua rezando o tero em voz baixa, e
os cantadores vo entoando cangas saudando o Divino Esprito Santo. A folia vai seguin-
do a trajetria previamente acordada, ou seja, indo de casa em casa segundo o trajeto
estabelecido para cumprir a jornada. De certa forma a folia da regio tem esquema circu-
lar, como sinaliza a Figura 3.
A jornada aqui pode ser compreendida como um conjunto de visitas rituais s ca-
sas dos moradores dos assentamentos que so devotos. Segundo relatos dos entrevista-
dos os folies representam os apstolos e so conduzidos s casas pelo alferes, abeno-
ando as famlias e unindo-as em torno da celebrao da festa que se aproxima. As rezas
nas casas visitadas pela folia ajudam a reforar o sendo de comunidade.
Devido ao fato de as distncias serem muito grandes de uma casa a outra, a
maior parte do trajeto feita de camionete e caminho, havendo tambm is queacompanham a folia a cavalo.
Para Brando (1981), a folia contribuiria para estabelecer um amplo ritual religio-
so por onde circularia um conjunto de ddivas entre um grupo de assentados cujas casas
ela visita. Dessa forma a folia pode ser considerada um conjunto de rituais pelos quais os
assentados se relacionam entre si e com o Divino Esprito Santo num amplo sistema de
trocas uma sequncia de pedidos, ofertas e agradecimentos. Nesse sendo,
receber a folia em casa muito bom, porque traz sade, aumento de produ -o e fartura para a minha famlia (...) J dois anos que eu ofereo o almoo
para os folies (sr. A. assentamento Boa Vista, 2006).Eu fao questo que a folia passe na minha casa, porque sempre d proteoe bno para toda a minha famlia (...) o que eu puder fazer para que a festaacontea todos os anos eu vou fazer (sra. P. assentamento Vereda II).
Como j mencionado, na folia de 2006 foram visitadas aproximadamente 30 ca-
sas, incluindo a da festeira, todas de famlias catlicas, envolvendo devotos dos assen-
tamentos Vereda II e Boa Vista. Todos os moradores dos assentamentos da regio so
convidados para a festa de encerramento, catlicos ou no, e os assentados de outras
religies acabam parcipando, como explicita o relato da festeira:
Aqui todo ano depois que hasteada a bandeira e que a festa comea vemtodo mundo, catlico, crente, macumbeiro, quem vier ser bem recebido (...)
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Casa da
festeira
Assentamento
VeredaII
Assentamento
Boa Vista
Assentamento
VeredaII
Figura 3: Representao da folia do Divino Esprito Santo na regio P de Serra
eu acho que esse ano deve vir umas 400 pessoas, que comem, danam at odia raiar (festeira, assentamento Vereda II, 2006).
Alm disso, os folies relataram que a folia representa momento de integrao
entre catlicos e no catlicos e tambm entre pessoas de outros assentamentos e da ci-
dade, que no nal de semana da folia vo para o assentamento em que ela se realiza.
A chegada da folia na casa da festeira um dos momentos mais importantes do
cortejo: recebida com foguetes e cantoria, e o alferes ondula a bandeira ao vento. Essesmovimentos, denominados venas, culminam com a saudao do povo aos folies. Em
seguida o alferes responsvel por carregar a bandeira vai at a festeira dona da casa e lhe
entrega a bandeira, que ser hasteada. Momento de grande emoo o hasteamento da
bandeira e a soltura de uma pomba branca que simboliza o Divino , em que os devotos
agradecem ao santo as graas alcanadas.
Em seguida os folies convidam os devotos a danar com eles a cara, dando
incio segunda fase da festa, que dedicada confraternizao de folies, devotos e
convidados.
A cara danada em crculo formado por pares que ao som das violas palmeiam
e batem ps alternadamente, em evolues variadas, de entremeio ao canto da moda,
danando logo a seguir o recortado (sapateado). O ritmo diferente a cada coreograa
os diferentes contatos dos ps com o solo, por exemplo, imprimem uma quandade de
esforo que traz uma riqueza de signicados expressivos, disntos e percepveis em cada
etapa da dana. Esse bater dos ps ou sapatear liga o homem terra, dura, rachada, que
dialoga com o homem e suas crenas.
Segundo Rodrigues (1997), assim como os ps, os movimentos das mos uli-
zam uma gama de possibilidades prprias dessa parte do corpo. A funo das mos nes-sa dana de propulsora do dilogo entre as partes do corpo mos e ps, ou seja, o ba-
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ter das palmas das mos fortalece e dialoga ao mesmo tempo com a ao expressiva do
bater dos ps no cho. Nesse sendo, as apresentaes dos careiros comeam com a
saudao dos violeiros e cantadores, que em roda ou leiras, entoam os cantos de ca-
ra e da roda com coreograas simples ao som de viola, pandeiro, palmeado e sapateado.
As letras das modas revelam o comportamento, conforme herana de conhecimentostransmidos pelas geraes anteriores, a atude do homem diante de um fato, de uma
pessoa ou em defesa da natureza.
Os careiros cantam suas crenas, homenageiam o Divino Esprito Santo, lem-
bram parbolas bblicas, normas morais e sociais, o trabalho e tambm sras. Nos ver-
sos da cara imperam a crca social, a religiosidade, a reforma agrria, a vida no assen-
tamento e as preocupaes ecolgicas. A marca do toque do pandeiro e a bada da viola
no compasso dos ps do a tnica dessa dana.
Logo aps a cara e antes de iniciar o baile que encerra a festa, todos os presen-
tes vo para o redor da mesa de jantar, rezam e agradecem ao Divino Esprito Santo mais
um ano com sade e fartura. Depois dessa celebrao inicia-se o jantar e a festa se en-
cerra com forr, msica eletrnica e um bingo que dura a noite toda. Nesse sendo,
possvel perceber que sagrado e profano andam de mos dadas nessas celebraes.
Esse po de festejo importante para agregao tanto dos moradores dos assen-
tamentos quanto dos visitantes: foi possvel perceber que durante o baile assentados de
todos os credos se juntam e parcipam, bem como os moradores da cidade, que normal-
mente so parentes das famlias assentadas. Esse momento profano pode ser considera-
do o ponto principal de interseo das famlias parcipantes da festa.
AS FESTAS DE SANTO E A DANA DO MARABAIXO EMCOMUNIDADES QUILOMBOLAS NA REGIO DO ESTADO DOAMAP
Essa seo apresenta alguns festejos do catolicismo tradicional, resultado de pes-
quisa realizada em comunidades tradicionais (quilombolas e extravistas) encontradas s
margens da BR-156, que liga o sul do Estado do Amap capital, Macap.
Durante os trabalhos de campo foi possvel apreender que os festejos so heran-
as trazidas pelos missionrios catlicos e pelos escravos vindos da frica Central, que
chegaram regio sobretudo a parr do sculo XVIII, por volta de 1770. Na ocasio, fato
histrico marcante na regio foi a chegada de cerca 163 famlias de colonos portugue-
ses e seus escravos da costa africana. Esses colonizadores vieram para a regio em de-
corrncia de conitos entre portugueses e muulmanos, e isso contribuiu para o incio da
ocupao das reas que atualmente correspondem aos municpios de Mazago Velho e
Macap, prximos da foz do rio Amazonas, no Estado do Amap (OLIVEIRA, 1999).
Destarte, os principais festejos dessa regio so os que emanam do catolicismo
popular:aqui sempre tem festa de santo, quando no nessa comunidade na outra;assim, uma comunidade vai convidando para parcipar das festas na vila do
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outro. As festas do padroeiro muito animada aqui na reserva [Resex do rioCajari] (entrevistado em Vila de Santa Clara, 2007).
Os santos de devoo local podem ser so Jos, so Mateus, so Sebaso, so
Tiago, so Benedito, o Divino Esprito Santo, Nossa Senhora de Fma, so Pedro, entre
outros. No caso de so Tiago, os moradores do municpio de Mazago explicam que a co-memorao, na segunda quinzena de julho, tem conotao diferente, pois simula a vit-
ria dos cristos contra os mouros nas lutas travadas no connente negro.
A relao com o santo padroeiro to importante, que em muitos casos as co-
munidades incorporam o nome do santo de devoo na denominao do grupo e/ou do
lugar.
O quadro abaixo apresenta o calendrio de alguns santos padroeiros encontrados
nas comunidades localizadas nas proximidades da BR-156 no Estado do Amap.
QUADRO 1. FESTAS DE SANTOS DEVOCIONRIOS NA REGIO DA BR-156 ENTRE
OS MUNICPIOS DE LARANJAL DO JARI E MACAP, NO ESTADO DO AMAP
Festa de santo rei
So Gonalo
So Sebaso
So Brs
So Benedito
Nossa Senhora da Piedade
Divino Esprito Santo
Nossa Senhora da Nazar
So Tiago
Nossa Senhora da Conceio
Nossa Senhora de Fma
So Pedro
Santa Clara
Festa de Santana
Festejos em louvor Me de Deus
Fonte: Pesquisa de campo, setembro de 2007.
Para organizao dessas festas, normalmente, eleita uma comisso coordena-
dora constuda por moradores de ambos os sexos que cam responsveis pelo bom an-
damento dos preparavos, neles includa a arrecadao de donavos que sero sortea-
dos nos bingos; essas doaes costumam estar relacionadas ao pagamento de promes-
sas feitas visando obter a proteo da famlia, a cura de alguma doena ou at melhores
colheitas.
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Oliveira (1999), estudando festejos semelhantes na cidade de Macap, aponta
que existe toda uma logsca para organizar as festas, com um rodzio entre as famlias
encarregadas das tarefas necessrias antes, durante e depois do festejo. Normalmente,
esse rodzio est relacionado a acordos estabelecidos por aqueles que mantm a devo-
o aos santos e a tradio do evento religioso.Ainda segundo a autora essa seria caractersca relevante de comunidades que
vivem na Amaznia, que passamgrande parte do ano envolvidas com os preparavos
desses festejos, constudos por expresses de f, de agradecimento e renovao dos
pedidos dessas comunidades a seus padroeiros.
Na casa onde acontece o marabaixo construdo um grande po com ban-cos ao redor, que se prolonga da sua porta principal ao meio-o da rua. Tal es-pao desnado aos fazeres profanos e ao marabaixo. Ou seja, onde se dan-a nos dias de marabaixo, bem como nos dias desnados aos bailes popula-
res. Corresponde ao espao pblico daquela realizao comunitria (OLIVEI-RA, 1999:5)
A estrutura da festa conta com diversos atores: labardistas, alferes da bandeira,
mestre-sala, carregadores da bandeira, tocadores e tamboreiros, entre eles.
De acordo com as famlias entrevistadas, geralmente a festa se inicia pela ma-
nh com queima de fogos e missa celebrada por padres vindos da cidade. Durante o dia a
imagem do santo percorre as casas da comunidade, em cortejos que so acompanhados
pelos devotos entoando ladainha e versos. noite acontecem ladainhas, bingos e, em al-
gumas festas, hasteamento da bandeira. No nal desses ritos servido o jantar ou o lan-
che e depois segue-se a festa profana que pode ser animada por forr e por msica comeslo tecnobrega, sendo tambm entoados os tambores de batuque acompanhando as
danas regionais, principalmente o marabaixo.
Trata-se de um po de dana folclrica que transmite senmentos de tristeza,
alegria, f e esperana, tendo como referncia as razes culturais de origem africana. Est
presente em muitas festas do catolicismo tradicional das comunidades negras do Estado
do Amap, sobretudo nos municpios de Macap, Santana e Mazago, sendo, portanto,
dana fundamental para os amapaenses.
Num misto de manifestao religiosa espontnea do povo, nem sempre bem in-terpretada, e originalidade dos passos ao som dos tambores, a dana africana ali se im-
planta, com base na agilidade dos ps. Cada integrante escolhe a roupa a seu gosto e
dana de ps descalos, mas so aspectos caracterscos dos trajes
angua rendada, roupa bem larga e rodada, toalha, brincos e um ra-
minho de or na cabea. Os homens usam chapu de carnaba en-
feitado com or e ta, toalha grande aberta, camisa e cala a gosto.
Assim os passos do marabaixo, sempre arrastando os ps descalos,
deslizam no cho, ao som de caixas cobertas de couro, que alguns
denominam tambor.3
3 Diocese de Macap.
Disponvel em: www.dio-
cesedemacapa.com.br/
festas_marabaixo.php.
Acesso em 16 de maio de
2010.
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Figura 4. Tamboresusados na festa domarabaixoFoto: MarceloLeles Romarco de
Oliveira
Os festejos do Divino Esprito Santo, de so Benedito, so Tiago e da Sanssima
Trindade so os principais de algumas comunidades que interpretam o marabaixo.
Nesse sendo, Oliveira (1999) descreve o marabaixo como prca de orientao
religiosa seguida pelas populaes negras e por remanescentes quilombolas amapaenses
que expressam sua f atravs da dana e do canto acompanhados por tambores, sendo
frequente o consumo de gengibirra (bebida alcolica), na parte da festa, digamos, profa-
na, posto que a manifestao marcada por dois grandes momentos, um relacionado ao
aspecto religioso e outro relacionado aos bailes populares, como atesta o autor.
O marabaixo consiste em uma reunio de prcas religiosas e profanas de ini-ciava popular, que no tm nada a ver com os cultos catlicos eclesiscos,que o caracteriza enquanto catolicismo popular (...) Acontece em louvor San-ssima Trindade e [ao] Divino Esprito Santo nos bairros da Favela e Laguinhono Centro da cidade de Macap, em louvor Santa Maria no Curia e nas v-rias outras comunidades como parte dos festejos a outros santos, em momen-
tos disntos(OLIVEIRA, 1999: 2-3).Assim, o marabaixo signicavo componente da idendade social e etnicidade
de grupos sociais amapaenses, permeado de mlplos signicados, histricos, sociais e
religiosos, e, por isso, considerado smbolo do Estado do Amap. Seu ritmo vincula-se s
tradies musicais, culturais e histricas elaboradas a parr das referncias do catolicis-
mo popular e das crenas dos pracantes.
Buscando entender a importncia do marabaixo junto a essas comunidades, os
autores entrevistaram um grupo da cidade de Mazago e outro no quilombo do Torro
do Matapi. Nesses depoimentos, os grupos explicaram que uma das conotaes dessa
manifestao est relacionada vinda de seus descendentes da frica Ocidental para o
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Brasil, aludindo ao trajeto a que foram submedos. Outra explicao que ajuda a enten-
der o marabaixo o maraba, termo rabe que signica saudar os deuses.
Oliveira (1999) considera a palavra uma possvel variao de marabuto ou mara-
but, do rabe morabit(sacerdote mal), sendo a manifestao fragmento de um ritual
mal, do grande imprio afro-sudans do sculo XVI.
As caixas usadas no marabaixo so construdas com tronco de rvores e pele de
animais (Figura 4), e as mos dos homens nas caixas (em geral trs) determinam o ritmo
dos ps das mulheres, que se arrastam no salo. A coreograa, como a maior parte das
danas afro-brasileira circular (deixando no centro os tocadores das caixas) e em sen-
do an-horrio. A dana imitaria os passos dos negros e escravos com os ps presos por
correntes (...) uma de ns puxa os versos que as outras que esto danando e fazem coro
e cantam as trovas (grupo folclrico de Mazago Velho, 2007).
Assim como no caso da festa do Divino Esprito Santo realizada na regio P deSerra, em que a festeira cede sua casa para as cerimnias, os devotos amapaenses tam-
bm oferecem suas casas para a celebrao da festa. Essa situao foi observada nas co-
munidades de remanescentes de quilombo de Campina Grande e Torro do Matapi, loca-
lizados beira da BR-156 no municpio de Macap. importante destacar que em algu-
mas comunidades existem espaos comunitrios em que a festa pode acontecer.
Segundo Oliveira (1999) a oferta da casa do devoto representa obedincia e re-
novao do culto s imagens, pois a quebra desse contrato com o santo de devoo po-
der signicar a rerada da proteo ou da graa alcanada.
Uma das caracterscas desses festejos comemorados com o marabaixo a ani-
mao da celebrao, da dana, sempre em meio a sorrisos e alegria. As msicas cantam
em versos as faanhas das comunidades, suas lendas, seus valores culturais, suas tradi-
es e suas vitrias.
Destarte, os ritos, o ritmo das caixas (tambores), o ladro (msicas e trovas popu-
lares dos prprios devotos) e os bailados do marabaixo dizem respeito ao modo de viver
das comunidades, suas formas de expresses e suas idendades, alm da manifestao
ser considerada instrumento de valores cos, de protesto e de contestao das comuni-
dades negras no Estado do Amap.
CONSIDERAES FINAIS
Por meio deste texto apresentamos a importncia dos festejos religiosos em co-
munidades rurais no interior do Brasil, manifestaes que, apesar da modernidade, per-
sistem como importante ponto de interseo na vida dessas populaes, cujo codiano
perpassado por valores tradicionais e saber que envolve os ciclos naturais, a f e as mani-
festaes culturais. Esses festejos so uma forma de comunho e transferncia de sabe-
res e valores para os membros da comunidade.
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No caso dos assentamentos estudados a festa do Divino Esprito Santo foi
uma forma encontrada por alguns membros para resgatar tradies adormecidas e
restabelec-las.
Nesse novo espao, novas formas de socializao, novos saberes adquiridos, fo-
ram acumulados ao longo de suas trajetrias de vida, podendo ser reproduzidos nesseambiente. Portanto, eventos dessa natureza contribuem para que as famlias assentadas,
sobretudo as de orientao catlica, desenvolvam coeso e idendade cultural de grupo.
No caso das famlias descendentes de escravos, esses festejos, sobretudo o ma-
rabaixo, representam uma forma de resistncia modernidade e uma maneira de pre-
servar e manter suas idendades sociais e culturais de fato, o marabaixo considera-
do uma das mais fortes expresses da cultura amapaense, sobretudo, dos remanescen-
tes de quilombolas.
Acreditamos que esses festejos, nessas regies, contribuem para reavivar mem-rias e estreitar laos, mediante elementos simblicos e culturais revelados nos encontros,
danas, cantos e crenas, aproximando cada guardio, festeira, labardista, alferes, mes-
tre-sala, tocador e devoto e exaltando a excelncia das relaes humanas, o convvio so-
cial e o senmento de pertencimento a um grupo.
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Marcelo Leles Romarco de Oliveira doutor em Cincias, Desenvolvimento, Agriculturae Sociedade (CPDA/UFRRJ) e professor efevo do Departamento de Gesto, do Instu-
to Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais Campus RioPomba.Evanize Kelli Siviero Romarco mestre em Pedagogia da Motricidade Humana (Unesp Rio Claro) e professora-assistente do curso de Dana, do Departamento de Artes eHumanidades da Universidade Federal de Viosa MG.