EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL/NOTÍCIAS COSMÉTICOS Os...
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COSMÉTICOS
Indústria adere a métodos alternativos
A indústria de cosméticos está
um pouco à frente na questão de
testes que substituam completa-
mente os animais, já que existem
no mercado testes validados para
irritação e corrosão cutânea e
ocular. Além disso, a maioria das
substâncias que entram na com-
posição desses cosméticos já fo-
ram previamente testadas e não
há a necessidade de repetição.
Em junho de 1989, a empresa de
cosméticos Avon anunciou o tér-
mino de todos os testes com ani-
mais em seus produtos, inclusive
em laboratórios do exterior. No
Brasil, O Boticário e a Natura ba-
niram os testes em animais em
2000 e 2006, respectivamente.
Entretanto, muitas empresas ain-
da testam produtos, como cremes
e maquiagem, em animais a fim de
avaliar riscos de reações alérgi-
cas, por exemplo.
Segundo informações do Centro
de Desenvolvimento de Produtos
dos Laboratórios da Avon (EUA), a
avaliação de segurança dos produ-
tos utiliza dados de testes in vitro,
como cultura celular ou testes clí-
nicos em voluntários humanos,
além de referências pré-existen-
tes de testes em animais. A Natura
também não realiza testes em ani-
mais ou em tecidos de animais
criados exclusivamente para pes-
quisa, nem permite tais testes em
projetos realizados por parceiros
ou fornecedores.
Apesar desse tipo de iniciativa fa-
zer parte da filosofia de algumas
indústrias de produtos de beleza,
não existe no Brasil nenhuma lei
sobre o uso de animais nesses
testes. A União Européia, entre-
tanto, aprovou o banimento dos
testes de cosméticos em animais
e exigiu que as indústrias os eli-
minassem por completo até 2009.
Talvez por isso, na Europa, o de-
senvolvimento de produtos cos-
méticos seja a única área que
mostra uma redução significativa
no uso de animais.
Nereide Cerqueira
PE S QU I S A C I E N T Í F I C A
Métodos alternativosainda são poucos e nãosubstituem totalmenteo uso de animais
Embora vários métodos alternati-vos ao uso de animais já estejamsendo utilizados com sucesso emdiversos centros de ensino, elesainda estão em estudo e têm sidopouco aplicados em pesquisa cien-tífica. Em geral, quando se fala demétodos alternativos, pensa-sesimplesmente na substituição deanimais vivos. Entretanto, além dasubstituição, a redução e o refina-mento (diminuição no grau de dorou de sofrimento provocado aosanimais) também são consideradoscomo alternativas, de acordo comprincípio dos 3Rs (replacement, re-duction and refinement) desenvol-
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vido por Russel e Burch em 1959. Os métodos alternativos apresen-tam vantagens como o custo me-nor. Segundo Octávio Presgrave,pesquisador da Fundação Oswal-do Cruz e coordenador da Comis-são de Alternativas do Colégio Bra-sileiro de Experimentação Animal(Cobea), estima-se que o métodoalternativo, em média, custe cercade 30% do valor da pesquisa emanimais. Outra vantagem é a eco-nomia de espaço. “Para se criar emanter animais, é necessária todauma estrutura de biotério, comoestantes, caixas, alimentação, con-trole de ambiente etc”, explica opesquisador. As desvantagens sãopoucas, mas especialistas apontamque, em alguns casos, a falta de in-teração de uma substância testecom um organismo vivo pode atra-palhar os resultados. “Mas, nestecaso, o avanço do conhecimentocientífico vai acabar eliminandoesse fator”, diz Presgrave. Alguns métodos alternativos, em-bora ainda não validados, estãosendo desenvolvidos. Pesquisado-res do Laboratório de ImunologiaAplicada (LIA) da UniversidadeFederal de Santa Catarina têmadaptado várias técnicas para dimi-nuição e até substituição de roedo-res, comumente utilizados em la-boratórios de diagnóstico de raiva.“Na realidade não criamos nadanovo, apenas temos tentado cha-mar a atenção para a existência deinúmeras metodologias já disponí-veis e que poderiam substituir a uti-lização de animais em pesquisa”,explica Carlos Roberto Zanetti,coordenador do laboratório. “Ostestes alternativos podem ser mais
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vantajosos para os pesquisadores,pois podem fornecer resultadoscom menor variabilidade, em me-nor tempo e mais baratos”, defende. Dentre os métodos alternativospropostos está a utilização de li-nhagens de células para isolamentodo vírus da raiva. “Métodos seme-lhantes estão disponíveis na Euro-pa e EUA há décadas, mas não tive-ram muita aceitação por aqui, poismuitas vezes a estrutura de biotériojá está em funcionamento e, apa-rentemente, é mais simples utilizá-los do que montar uma nova estru-tura para cultivo de linhagens celu-lares. O Instituto Pasteur de SãoPaulo, no entanto, que é um labo-ratório de referência nacional, temse mostrado aberto a essas idéias etem tentado implementar tais téc-nicas na sua rotina”, afirma o coor-denador do LIA.Atualmente, todos os projetos depesquisa que Zanetti coordena têmcomo objetivo principal a padroni-zação de métodos substitutivos, semuso de animais. “Tenho a esperançaque, atuando em um laboratório li-gado a um programa de pós-gradua-ção em biotecnologia, e que, por-tanto, forma mestres e doutores,possamos ser uma referência, umcontraponto ao sistema, dando pos-sibilidade aos alunos de refletirem etomarem suas próprias decisões so-bre o assunto”, planeja.Outro método alternativo ao uso deanimais em pesquisa, ainda não rea-lizado no Brasil, é o uso da miogra-fia in vitro em substituição aos testesde letalidade (DL50) com toxinabotulínica (botox) realizados emanimais vivos. Trata-se de uma téc-nica onde são usados músculos iso-
lados de animais para testar subs-tâncias que podem, por exemplo,ter efeito paralisante ou que aumen-tam a força muscular. Nessa técnica,o animal, geralmente camundongoou ave, é sacrificado com anestésicoe tem um músculo retirado e sub-metido a testes. De acordo com Ca-roline Borja, pesquisadora colabo-radora do Departamento de Farma-cologia da Faculdade de Medicinada Universidade Estadual de Cam-pinas (Unicamp), a miografia in vi-tro não elimina o sacrifício dos ani-mais, mas reduz seu sofrimento,utiliza menor quantidade de ani-mais e tem menor custo. “Já é umagrande vantagem em relação aostestes in vivo, em que os animais so-frem por horas e horas até morrer.Se os testes in vitro substituíssempelo menos esses testes in vivo dabotox seria uma grande evolução,até que outras alternativas sem ani-mais surgissem”, diz Borja.Além de métodos in vitro de culturade células e tecidos, existem outrosmétodos alternativos ao uso de ani-mais. Segundo Stélio Luna, profes-
sor da Faculdade de Medicina Vete-rinária e Zootecnia da Unesp de Bo-tucatu e membro da Comissão deÉtica, Bioética e Bem-estar Animaldo Conselho Federal de MedicinaVeterinária, técnicas de imagemnão invasivas, como a tomografiacomputadorizada, a ressonânciamagnética e avradiografia, tambémpodem ser usadas em pesquisa. Es-tudos epidemiológicos e clínicos,autópsias e estudos pós-mortem,além de simulações em computadore do uso de modelos matemáticostambém são alternativas citadas porLuna. Apesar de todos esses méto-dos possíveis, os animais ainda sãonecessários em pesquisas de algu-mas áreas. “O que não se justifica éo sofrimento em nenhuma situa-ção, mesmo que seja pelo ‘bem’ daciência”, enfatiza o professor.
PERSPECTIVAS AO USO DE ANIMAIS EM
PESQUISA Ekaterina Rivera, coorde-nadora do Biotério Central da Uni-versidade Federal de Goiás e vice-presidente do Cobea, acredita que,para que a comunidade científica ea sociedade em geral possam aceitare confiar em testes alternativos quenão utilizem animais, deve-se exi-gir e saber que esses testes possuemboa qualidade científica, que foramtestados preliminarmente com su-cesso e validados por órgãos credi-tados para tal fim. “É importanteque os parâmetros avaliados repro-duzam com fidelidade os mesmosresultados que os testes que usamanimais”, afirma Rivera. “Os méto-dos alternativos exigem muito tem-po, muito dinheiro e muita paciên-cia para serem desenvolvidos. Ain-da não há metodologias ou concei-
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Foto cedida pela Unicamp
O rato está entre os animais mais usados na experimentação animal
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tos válidos para o desenvolvimentode tais métodos e tampouco podemser implementados por meio de umdecreto lei”, diz. E acrescenta, “nãovislumbramos em um futuro próxi-mo a abolição total da experimen-tação com animais. Podemos dizerque a evolução da ciência busca no-vos conhecimentos e o aperfeiçoa-mento de nossos trabalhos atuais. Abusca por alternativas ao uso deanimais em experimentação é sem-pre vantajosa, pois deixaremos deinfringir sofrimento e dor aos ani-mais não-humanos, já que somosresponsáveis e temos o dever deprotegê-los”.Para Marcel Frajblat, pesquisadordo Laboratório de Biotecnologiada Reprodução/Biotério da Uni-versidade do Vale do Itajaí e presi-dente do Cobea, o uso de alternati-vas viáveis promoverá o desenvolvi-mento da ciência da mesma formaque o uso de animais. “Mas é im-portante deixar claro que existempoucas alternativas validadas quesubstituem completamente o usode animais”, lembra. Para ele, serámuito difícil conseguir produzirum método alternativo que repro-duza precisamente o funcionamen-to do corpo humano ou animal.“Algumas etapas do processo cien-tífico poderão ser substituídas,mas, provavelmente, haverá a ne-cessidade do teste em animais. Aabolição do uso dos animais devevir junto com a abolição da necessi-dade de seu uso. Não podemos abo-lir o uso de animais enquanto hou-ver esta necessidade”, acredita.
Nereide Cerqueira
MEDICINA ALTERNATIVA
Falta discussão sobre pesquisas com animais
O debate sobre a utilidade e
necessidade de experimentos com
animais está fortemente atrelado
à medicina convencional. Mas
qual é o posicionamento da
medicina alternativa em relação a
essa questão? À primeira vista,
pode parecer que, para ser
coerente com o nome, essa
medicina seja contra o uso de
animais. No entanto, essa não é a
visão, necessariamente, da
maioria, alerta Robbert van
Haselen, em editorial publicado
no Complementary Therapies in
Medicine (março, 2008), periódico
científico inglês.
A busca por uma resposta surgiu
quando Haselen,que pertence ao
Instituto Internacional de Medicina
Integrada (Intmedi, na sigla em
inglês), teve de decidir se um artigo
que envolvia o uso de animais
deveria ou não ser publicado. Para
chegar a uma conclusão, ele teve
de explorar o assunto a fundo.
O primeiro passo foi retomar as
normas internacionais de uso de
animais em pesquisa biomédicas,
como as divulgadas pelo Conselho
para Organizações Internacionais
em Ciências Médicas (Cioms). Em
resumo, a entidade defende que
se evite, sempre que possível, o
uso de animais em experimentos,
mas, em caso de necessidade, o
sofrimento e dor devem ser
suprimidos e minimizados, além
de ser providenciado tratamento e
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acondicionamento apropriados.
A filosofia desse e de outros
periódicos de medicina alternativa
é de que estudos que fizeram uso
de animais podem ser publicados,
desde que demostrem a
impossibilidade de realização da
pesquisa com métodos alternativos
e que seja comprovado o benefício
científico. Haselen passou, então, a
questionar se os chamados
benefícios científicos seriam
julgados de forma diferente para
terapias de medicina alternativa
(CAM, Medicina Complementar e
Terapêutica, na sigla em inglês)
e se seriam necessárias normas
específicas de utilização de
animais, questões que ele
apresentou aos membros do
Conselho Internacional e aos
editores associados de seu
periódico. Houve, evidentemente,
quem fosse contrário ao uso de
animais em experimentos, mas
Haselen lembra que o mesmo
ocorre fora da comunidade de CAM.
A maioria, no entanto, apontou que
os animais são importantes na
pesquisa e que não é preciso
desenvolver regras diferentes
das aplicadas na pesquisa de
medicina convencional.
Embora sua amostra tenha sido
pequena (15), Robbert Haselen
acredita que “é preciso refletir, de
forma clara e aberta, sobre o que
consideramos um uso ‘apropriado’
de animais em pesquisa de CAM”.
Ele enfatiza, ainda, que, para a
maior parte das terapias
alternativas, a discussão ainda é
incipiente ou mesmo inexistente.
Germana Barata
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