Estudo da consciência do consumidor com relação aos ativos sintéticos e ativos naturais...
-
Upload
senac-sao-paulo -
Category
Education
-
view
570 -
download
10
description
Transcript of Estudo da consciência do consumidor com relação aos ativos sintéticos e ativos naturais...
21
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
ESTUDO DA CONSCIÊNCIA DO CONSUMIDOR COM RELAÇÃO AOS
ATIVOS SINTÉTICOS E ATIVOS NATURAIS PRESENTES NOS
COSMÉTICOS
STUDY OF CONSUMER AWARENESS IN RELATION TO SYNTHETIC
AND NATURAL SUBSTANCES PRESENT IN COSMETICS
Flavia Gimenez1
Letícia de Cássia Valim Dias2
Célio Takashi Higuchi3
Resumo
Como o mercado de cosméticos está entre os que obtiveram maior crescimento na
última década, estando o Brasil em terceiro lugar no ranking mundial quando se trata de
produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, o presente projeto tem por
finalidade fazer um levantamento comparativo entre os cosméticos, sua composição,
ativos de origem sintética e os de origem natural. Podendo, ao final, estabelecer
conclusões sobre a consciência do consumidor com relação a cada um deles, tal como
destacar os benefícios ou dificuldades estabelecidos por cada tipo. O estudo será feito por
meio de levantamento e revisão de literatura científica já existente.
Palavras-chave: ativos sintéticos, ativos naturais, mercado de cosméticos
1 Graduanda do curso Tecnologia em Estética e Cosmética no Centro Universitário Senac. 2 Professor (a)/Orientador (a) do Curso de Tecnologia em Estética e Cosmética – Centro Universitário Senac – São
Paulo e-mail: [email protected] 3 Mestre e farmacêutico pela UNESP, Araraquara, e pesquisador responsável pela linha de pesquisa “Cosméticos
Sustentáveis”, Senac, SP. E-mail: [email protected].
22
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
Abstract
As the cosmetics market is among the highest growth achieved in the last decade,
Brazil being the third in the world rankings when it comes to personal care products,
perfumes and cosmetics, this project aims to make a comparative study between
cosmetics they use, in its composition, active synthetic origin and those using active
natural origin. May, in the end, to draw conclusions on consumer awareness with
respect to each of them, such as highlighting the benefits or difficulties established for
each type. The study will be done through survey and review of existing scientific
literature.
Keywords: synthetic actives, natural actives, cosmetics market
1. Introdução
Um cosmético, mesmo possuindo em sua composição somente ativos naturais,
pode apresentar algum tipo de alergia ao consumidor? Em termos de segurança, qual
pode ser mais confiável: um cosmético com ativos naturais ou um com ativos
sintéticos?
Para responder essas e outras perguntas, é necessário entender alguns conceitos
sobre pele, ativos presentes nos cosméticos, índices atuais de mercado e de toxicologia.
Segundo levantamento realizado pela União para Bio Comércio Ético (UEBT,
2012), no Brasil cerca de 70% dos entrevistados mostraram preocupação em conhecer
a origem dos ingredientes naturais usados para fabricar cosméticos, demostrando
consciência com a preservação da fauna e flora. Além do mais, 69% deixariam de
comprar um produto caso soubessem que o fabricante não se atenta às boas práticas na
cadeia de abastecimento.
Este estudo mostra como o brasileiro está cada dia mais preocupado com os ativos
existentes na composição de um cosmético e, em decorrência disso, cada vez mais
exigente na escolha de um produto.
23
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
1.2. Conceituando pele
Não há como falar de cosméticos sem primeiro entender o correto funcionamento
da fisiologia da pele humana.
A pele representa 12% do peso seco total do corpo, com peso de
aproximadamente 4,5 quilos, e é de longe o maior sistema de órgãos expostos ao meio
ambiente. Um pedaço de pele com aproximadamente 3 cm de diâmetro contém: mais de
3 milhões de células, entre 100 e 340 glândulas sudoríparas, 50 terminações nervosas e
90 cm de vasos sanguíneos. Estima-se ainda, 50 receptores por 100 milímetros
quadrados, num total de 640.000 receptores sensoriais. O número de fibras sensoriais
oriundas da pele que entram na medula espinhal por via de raízes posteriores é superior
a meio milhão (BJORKSTEIN, 1983 apud GUIRRO e GUIRRO, 2004).
Pela resistência e flexibilidade da pele, determina-se a plasticidade cutânea.
Caracteristicamente dinâmica, a pele apresenta alterações constantes, sendo dotada de
grande capacidade renovadora e de reparação, e de certo grau de impermeabilidade.
Tem como função maior e vital a conservação da homeostasia: termorregulação,
controle hemodinâmico e produção e excreção de metabólicos (AZULAY, 2008).
Segundo Vivier (1997), a pele pode exercer diferentes funções:
Manutenção da sua própria integridade e da integridade do organismo;
Proteção contra agressões e agentes externos (físicos, químicos e biológicos);
Absorção e secreção de líquidos;
Controle de temperatura;
Barreira à prova d’água;
Absorção de luz ultravioleta, protegendo o organismo de seus efeitos nocivos;
Metabolismo de vitamina D;
Funções estéticas e sensoriais.
A pele é composta por duas camadas principais: a epiderme, camada superficial
composta de células epiteliais intimamente unidas e a derme, camada mais profunda
composta de tecido conjuntivo denso irregular. O limite entre a epiderme e a derme não
é regular, mas caracteriza-se pela presença de saliências e reentrâncias das duas
24
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
camadas que se ajustam entre si, formando as papilas dérmicas (GUIRRO e GUIRRO,
2004).
Sob a derme, está a tela subcutânea (subQ). Também denominada de hipoderme,
essa tela é constituída dos tecidos conjuntivos areolar e adiposo. As fibras se estendem
da derme fixando a pele à tela subcutânea, a qual, por sua vez, se conecta aos tecidos e
órgãos subjacentes. A tela subcutânea serve como um depósito para armazenar gordura
e contém os grandes vasos sanguíneos para irrigação (TORTORA e GRABOWSKI,
2006).
Como funções estéticas e sensoriais, consideram-se a aparência, o toque, a
maciez, a exalação de odores, a coloração e a sensibilidade da pele, responsáveis pela
atração física e social do homem (HARRIS, 2003).
Esses tecidos, como quaisquer outros, gradualmente passam por mudanças de
acordo com a idade, sendo que, na pele, essas alterações são mais facilmente
reconhecidas. Atrofia, enrugamento, ptose e lassidão representam os sinais mais
aparentes de uma pele senil (ORIA, 2003).
Desde os primórdios da civilização, os cuidados com a pele fazem parte de um ritual
muito além da higiene. Egípcios, romanos e gregos tinham no banho um sofisticado
prazer. Tornaram-se pioneiros no desenvolvimento de tratamentos estéticos ligados ao
relaxamento. No Egito, as mulheres costumavam se banhar várias vezes ao dia, alternando
águas quente e fria. Os banhos eram seguidos de massagens com óleos aromáticos. Em
Roma, as mulheres eram atendidas por escravas conhecidas como cosmetae cujos nomes
dariam origem, não acidentalmente, a palavra cosmética. Os gregos, por sua vez, seriam
responsáveis pela invenção dos cremes faciais contra rugas. Sua fórmula de sucesso
incluía cera derretida, azeite de oliva, rosas esmagadas para proporcionar um aroma
agradável e lanolina extraída da lã de ovelhas, ingredientes usados pela cosmetologia até
hoje (SAGGIORO, 1999).
O uso de cremes, géis, loções e tônicos para limpar a pele deve fazer parte das
atribuições diárias do indivíduo contemporâneo. O resultado será bem gratificante e, em
médio e longo prazo, econômico, podendo adiar tratamentos mais caros e invasivos
(KEDE et al., 2010 apud LUCA et al., 2013).
Até o início da década de 1960, teorias científicas sugeriam, os ingredientes
25
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
cosméticos raramente penetram nas camadas da pele. Entretanto, hoje muitos
especialistas suspeitam que a penetração ocorra com a maioria dos ingredientes
(FARAHMAND e MAIBACH, 2012 apud LUCA et al., 2013). A definição penetração
cutânea é usada para produtos com ação tópica, ou seja, formulações cosméticas e
dermatológicas. Enquanto, a permeação cutânea têm sido mais empregada para produtos
de ação sistêmica, ou seja, transdérmicos. A substância pode permear através da pele
por meio de difusão ativa e atravessar a epiderme intacta ou através dos apêndices da
pele, porém ocupam pequena porcentagem da superfície toda, por isso, a permeação é
considerada pequena (LEONARDI, 2008 apud LUCA et al., 2013).
Como consumidores e profissionais de saúde têm se tornado mais esclarecidos no
que concerne à segurança, a penetração cutânea de componentes de fragrância e de
ingredientes cosméticos tem sido de grande interesse. Por conseguinte, a indústria tem
procurado formas de estimar a penetração de estruturas químicas através da pele
humana (FARAHMAND e MAIBACH, 2012 apud LUCA et al., 2013).
1.3. Mercado de cosméticos
Atualmente, o Brasil compreende a terceira posição no mercado mundial de
higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (ABIHPEC, 2012), ficando atrás somente dos
Estados Unidos e do Japão.
A participação crescente da mulher brasileira no mercado de trabalho aliada à
utilização de tecnologia de ponta e o consequente aumento da produtividade são os
principais fatores para o excelente crescimento do setor. Além desses fatores, também
merecem destaque os lançamentos constantes de novos produtos, atendendo cada vez
mais às necessidades do mercado, e o aumento da expectativa de vida, trazendo a
necessidade de conservar uma impressão de juventude (CORRÊA, 2006).
A relação do brasileiro com o cosmético é proveniente de uma cultura de
miscigenação de raças tornando o culto ao corpo saudável explicável pelo clima tropical
e a utilização de trajes leves que deixam as partes do corpo à mostra; à fascinação das
mulheres brasileiras pelos cabelos; a utilização de maquiagem diariamente, ao menos
26
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
pelo uso do batom; à higiene pessoal, através do banho diário, da utilização de
desodorantes, deocolônias e à busca pela juventude da pele (OLIVEIRA, 2010).
Verifica-se que as grandes empresas do setor de cosméticos e, principalmente, as
empresas transnacionais adotam estratégias definidas com relação ao desenvolvimento
de novos produtos investindo em centros próprios de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) e/ou parcerias extramuros e com processos de gestão do conhecimento
estruturados. Já as pequenas e médias empresas, muitas vezes não dispõem de capital
necessário para a realização de investimentos de P&D ou de uma situação econômico-
financeira que permita assumir os riscos inerentes ao desenvolvimento de novos
produtos. Muitas dessas empresas também não dispõem de uma gestão do
conhecimento. No Brasil, embora seja predominante a presença das grandes empresas
internacionais do setor, pode-se observar a existência de um grande número de
empresas de capital nacional, algumas das quais vem realizando atividades de
desenvolvimento de produto no país, adotando estratégias no sentido de incrementar sua
participação no mercado nacional e também no mercado internacional (AVELAR e
SOUZA, 2005).
Sendo um mercado extremamente crescente e com consumidores cada vez mais
preocupados com a origem e os tipos dos ativos encontrados nos cosméticos, observou-
se o aumento, nas últimas décadas, no consumo de produtos formados por ativos
naturais.
Esse é o resultado da preocupação da sociedade contemporânea com a
preservação do meio ambiente, da constituição de um estilo de vida mais saudável e do
desenvolvimento da consciência de sustentabilidade.
Para Gomes (2009), a questão ambiental ganhou uma dimensão maior e universal
na virada do século XX, e a preocupação com a qualidade de vida passou a ser
praticamente assunto de saúde pública: consumir produtos naturais passou a ser visto
como uma questão moderna, de caráter atual, símbolo de uma nova fase no mundo do
consumo.
Segundo Miguel (2011), estudos indicam o mercado internacional de produtos
naturais para cuidado pessoal tem um crescimento médio anual avaliado em torno de 8 a
27
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
25%. E esses mesmos estudos também indicam para os mercados de produtos sintéticos,
do mesmo setor, uma taxa média de crescimento inferior: girando em torno de 3 a 10%.
1.4. Percepção do consumidor
A percepção é o processo pelo qual o indivíduo seleciona, organiza e interpreta as
informações recebidas, para atribuir significado ao meio em que vive. No livro
Administração de marketing, o autor norte-americano, Philip Kotler, explica: o
comportamento do consumidor é influenciado por quatro fatores principais: cultural
(cultura, subcultura e classe social); social (grupos de referência, família, papéis e
posições sociais); pessoal (idade e ciclo de vida); e psicológico. Esses fatores fornecem
subsídios para entender o consumidor de maneira efetiva (FRANQUILINO, 2013).
O consumo é um processo contínuo e vai muito além da troca de uma quantia
financeira por uma mercadoria ou serviço. Envolve questões e influenciam o
consumidor antes, durante e depois da compra, e também todo o processo de busca,
escolha e tomada de decisão. Quando se fala de consumo, se fala não só de objetos
tangíveis, mas de experiências, ideias e características intangíveis (SOLOMON, 2002).
A compreensão da relação entre indivíduos e objetos de consumo, suscita o
entendimento do Homem como um ser dotado de necessidades sociais que sobrepujam
as necessidades naturais. As suas escolhas apresentam uma lógica social pautada nos
significados do grupo ao qual pertence. O homem satisfaz suas necessidades
fundamentadas nos significados sociais da sua cultura. A natureza (instinto) determina o
que não pode deixar de ser feito para assegurar a sobrevivência dos indivíduos, mas é o
convívio social, o fator determinante dos objetos a serem consumidos pelo grupo
(MELO et al., 2005).
Segundo Melo et al. (2005), os cosméticos estão associados a imagens, como a
saúde, a preservação ou mesmo, a recuperação da juventude. As relações entre beleza e
saúde são recorrentes nos anúncios de cosméticos. Nas mensagens publicitárias, as
marcas desse setor comunicam, não somente o corpo perfeito, a saúde, mas também a
beleza e a juventude comparecem como mercadorias simbólicas anunciadas, subliminar
28
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
e conjuntamente, com a mercadoria concreta: o produto cosmético. Com a adoção de
novos hábitos alimentares, a prática de atividades físicas, a utilização de recursos
técnicos que embelezam o rosto, corpo, pele, cabelos, além da aplicação diária do
produto, os resultados benéficos prometidos podem ser conquistados.
Para Souza (2013), o fato de um cosmético ser uma mercadoria a qual não precisa
necessariamente de uma indicação e ainda o pesado marketing apresentado por esses
produtos, gera-se o aumento do consumo. Muitas vezes desnecessário e, ainda partindo
do pressuposto do cosmético poder ser usado por um longo período, é necessário a
garantia da segurança desses itens.
Em geral, um consumidor que tem problema com cosmético tentará
primeiramente substituir o produto por outro. Somente quando o produto suspeito não
pôde ser identificado ou quando a dermatite persiste após o produto suspeito ter sido
substituído, o consumidor consulta um médico clínico geral, e raramente um
dermatologista (DOOMS-GOOSSENS, 1993).
1.5. Os ativos presentes nos cosméticos
Em nível mundial cresce a chamada “onda verde”, isto é, o interesse pela
utilização de produtos vegetais, tanto do ponto de vista farmacológico como do
cosmetológico. Essa utilização abrange:
Extratos: são preparações líquidas obtidas pela extração de seus ativos por
diversos métodos, veiculados geralmente em propilenoglicol, dando origem aos
extratos glicólicos, muito utilizados em produtos cosméticos;
Óleos fixos vegetais: são obtidos dos frutos ou apenas das sementes e são ricos
em triglicerídeos (fração saponificável). A fração insaponificável é heterogênea, e
nela encontra-se: esqualeno, fitosterois, provitaminas e vitaminas lipossolúveis,
principalmente as vitaminas A e E. É uma fração muito importante para a
cosmética, e muitos dos óleos utilizados têm seu valor exatamente por conter essa
29
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
fração. São utilizados na cosmética, principalmente, por suas propriedades de
emoliência, evitando o ressecamento da pele;
Manteigas: são ricas em ácidos graxos, esteróis e vitaminas. As principais são:
Manteiga de cupuaçu: obtida das sementes da Theobroma grandiflorum. É um
produto da Amazônia, naturalmente refinado;
Manteiga de oliva, manteiga de abacate, manteiga de manga: têm ação
antioxidante, auxiliando no tratamento da pele envelhecida, graças à suas
propriedades emolientes e revitalizantes;
Manteiga de cacau: obtida de sementes do cacau, é constituída principalmente de
glicéridos do ácido palmítico e oleico. Tem propriedades emolientes;
Manteiga de karité: obtida de sementes da Butyrospermum parkii K (Shea), árvore
de origem africana. Rica em lipídios (45% A 55%), constituídos por uma mistura
equilibrada de ácido oleico e esteárico. O uso da manteiga de karité como um
unguento para massagem corpo, emoliente para cabelo, suavizantes de ferimentos
e eritema é uma antiga tradição na África. É nutritivo (antirrugas), emoliente,
protetor solar e coadjuvante na elasticidade cutânea;
Manteiga de shorea (Shorea butter): cera sólida, tem uso similar ao da manteiga
de karité. Não é oleosa ao tato e é suave à pele;
Manteiga de bacuri (Plantonia insigns): é indicada para hidratar peles cansadas e
também apresenta eficácia em tratamento contra acne;
Manteiga de ucuuba (Virola surinamensis): por sua comprovada ação anti-
inflamatória, cicatrizante e antisséptica, é indicada para peles oleosas e acneicas.
Seguindo toda essa tendência do aumento no consumo de produtos naturais, o uso
30
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
desenfreado de cosméticos deste gênero, tendo em mente serem 100% seguros, pode ser
um dado um tanto quanto preocupante.
Assim, é importante o entendimento claro do conceito de ativo, seja qual for sua
procedência: natural ou sintético.
Uma formulação ou composição cosmética, contém substâncias ou grupos de
substâncias com as seguintes categorias: veículo ou excipiente, ativos, conservantes,
corretivos, corantes, pigmentos e ainda perfumes ou óleos essenciais.
Os ativos são substâncias químicas ou biológicas (sintéticas ou naturais) com
atividade comprovadamente eficaz sobre a célula do tecido. Enquanto o veículo é
responsável pelo transporte, pela forma cosmética e finalmente por garantir a melhor
penetração na pele, o ativo promove a ação específica sobre a célula, podendo ser de
várias formas, por exemplo, hidratação, nutrição, cicatrização, revitalização, entre
outros (BORGES, 2010).
Desta forma, há cosméticos de ação adstringente, com ativos de extratos vegetais
ricos em taninos, de ação anti-inflamatória; com alfa-bisabolol, de ação antisséptica,
como é o tea tree oil, dentre outros. Podem ser de origem vegetal, animal, obtidos
sinteticamente ou por biotecnologia (REBELLO, 2011).
Após a criação de uma fórmula cosmética, é importante a procedência de alguns
testes antes de fabricá-la e comercializá-la.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2008), conforme a
legislação brasileira vigente e harmonizada no Mercosul, exige a apresentação dos
dados de Controle de Qualidade (especificações) no ato da regularização de um produto
cosmético. Nas inspeções, é exigida a apresentação das especificações, dos métodos de
ensaio e dos registros das análises. A empresa deve cumprir o estabelecido no Termo de
Responsabilidade, constante do dossiê de registro/notificação, por meio do qual declara
que os produtos atendem aos regulamentos e outros dispositivos legais referentes ao
controle de processo e de produto acabado, e aos demais parâmetros técnicos relativos
às Boas Práticas de Fabricação.
31
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
1.6. Perigo: o uso incorreto de cosméticos
Os cosméticos são formulados utilizando ingredientes apropriados de alto perfil
de segurança e em níveis de concentração adequada. Muitos desses ingredientes foram,
de início, introduzidos para uso na indústria farmacêutica e, posteriormente, para
cosméticos. Embora não seja a unanimidade, pode-se afirmar que os cosméticos são
produtos seguros quando utilizados de maneira adequada e seguindo recomendações do
fabricante (OLIVEIRA, 2010).
Um cosmético regulamentado como natural, é formado por 95% de ingredientes
naturais (ECOCERT, 2012), e não isenta o seu consumidor de desenvolver um processo
de irritabilidade em decorrência do seu uso.
Segundo Pinto (2013), a correta formulação de cosméticos à base de plantas é
mais complexa e de eficácia mais imprevisível comparadas a moléculas definidas,
provenientes de síntese química. Parte dos produtos cosméticos naturais possuem um ou
mais ingredientes vegetais para justificar o marketing ecológico, após o qual se pode
esconder a presença de componentes químicos ativos cuja segurança e eficácia
proporcionam a satisfação do usuário. Os ingredientes de origem vegetal chegam às
mãos do formulador, quase sempre procedentes de indústrias intermediárias,
utilizadoras de uma complexa tecnologia extratora e estabilizadora, acompanhada, por
vezes, de biotecnologias modificadoras das moléculas vegetais para torná-las mais
adequadas para uma determinada indicação.
Com o crescimento da indústria cosmética, juntamente das pesquisas
desenvolvedoras de ativos dermatológicos e bases diferenciadas, observa-se, ainda
assim, não raros os casos de intoxicação por cosméticos. O grande problema é feito pelo
usuário nunca ou quase nunca relacionar seu processo alérgico ou sua intoxicação ao
uso destes produtos. Isso porque o consumidor acredita no cosmético e nos benefícios
associados por ele, não aceitando que possa causar algum dano à saúde, tamanha a
crença colocada neste tipo de produto (SOUZA, 2013).
O grande problema da questão da toxicidade nos cosméticos talvez seja o grande
número desses produtos usados no cotidiano, estando eles em contato direto com o
32
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
corpo humano, podendo assim afirmar que é possível ficar exposto num só dia a uma
série de substâncias químicas de natureza e comportamento específicos (SANTOS,
2008).
Muitas irritações presenciadas por vezes na pele podem ser definidas como
intolerâncias locais, podendo corresponder a reações de desconforto, variando sua
intensidade desde ardor, coceira e pinicação. Podendo chegar até a corrosão e destruição
do tecido (CHORILLI et al., 2006).
Perfumes e conservantes são os alérgenos mais frequentemente encontrados em
cosméticos embora, evidentemente, outros tipos de ingredientes possam estar
envolvidos. Por conseguinte, são necessários extensos e investigativos testes de alergia
para identificar todos os alérgenos em potencial (GOOSSENS e LEPOITTEVIN, 2003).
Rancé (2011) explica como os alérgenos presentes nos cosméticos podem chegar
à pele de várias maneiras diferentes: por aplicação direta, por ocasional contato com a
superfície contaminada com alérgeno, por contato aerotransportado (por exemplo,
vapores ou gotas), por transferência pelas mãos às áreas mais sensíveis (por exemplo, as
pálpebras), por um produto usado pelo parceiro (ou qualquer outra pessoa), ou ser
fotoinduzida, resultantes do contato com um foto-alérgeno e exposição à luz solar, em
particular luz UV-A.
Assim, independente do grau de risco que o produto cosmético apresenta, este
deve ser seguro. Entende-se por segurança de cosméticos a ausência razoável de risco
de lesão significativa em condições de uso previsíveis, ou seja, defini-se segurança em
termos de probabilidade de que o produto não provoque danos significativos. Quando se
fala em segurança de produtos cosméticos, deve-se entender: não existe 100% de
segurança em nenhuma substância química, pois a água pode ser perigosa se
administrada em quantidades inadequadas (CHORILLI et al., 2007).
1.7. Toxicologia
A ciência responsável por estes estudos de intoxicação é a Toxicologia. É a
33
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
ciência multidisciplinar que estuda a interação entre o organismo e um agente químico
capaz de produzir respostas nocivas, levando ou não à morte ou mesmo comprometendo
uma função orgânica (SANTOS, 2008).
Os conhecimentos sobre toxicologia datam de registros egípcios de 1500 a.C.,
onde o homem tinha conhecimentos tóxicos do efeito do veneno extraído de variedades
de plantas e animais (OLIVEIRA, 2010).
Gomes (2013) levantou alguns possíveis componentes ativos, de origem sintética
e natural, eventualmente sensibilizadores da pele:
Bálsamo de Peru: ativo natural presente em perfumes, cremes, loções e águas de
colônia;
Lanolina: ativo natural usado para hidratação, presente em cremes e loções;
Triclosan: ativo sintético com função antisséptica, presente em desodorantes e
antiperspirantes;
Hidroquinona: ativo de origem sintética ou natural com função clareadora,
presente em fotoprotetores e bronzeadores;
Cera de carnaúba: ativo natural com propriedade de coloração, presente em bases
para maquiagem e batons;
Cera de abelha: ativo natural com função emoliente, moldante,
impermeabilizante, cicatrizante e anti-inflamatória, presente em máscaras e cremes
depilatórios;
Folhas de Henna: ativo natural com propriedade de coloração, presente em
tinturas para cabelo;
34
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
Óleo de menta: ativo natural com propriedade constritora, analgésica e
bactericida, presente em cremes de barbear;
Óleo de coco: ativo natural com função umectante e auxiliadora de hidratação,
presente em xampus e cremes de barbear.
2. Objetivos
O objetivo deste levantamento comparativo entre cosméticos constituídos por
ativos de origem sintética e cosméticos constituídos por ativos de origem natural é
estudar a visão do consumidor com relação a esses dois tipos de produtos, e a sua opção
de compra.
3. Justificativa
Existe uma preocupação da sociedade contemporânea com a qualidade de vida. O
aumento do consumo de produtos naturais, tal como do aumento na procura por
cosméticos, de uma forma geral, os quais retardem o envelhecimento e superem
dificuldades nas características físicas do indivíduo, trazendo assim beleza e jovialidade.
Assim, o intuito do presente projeto é desenvolver um estudo que oriente o
consumidor quanto ao uso correto dos cosméticos como um todo, sendo eles de origem
natural ou não-natural.
4. Metodologia
O presente projeto foi desenvolvido por meio de levantamento bibliográfico e
demais literaturas científicas já existentes sobre o tema, abordando o âmbito de tendências
do mercado de cosméticos, farmacologia dos ativos, toxicologia e ainda fisiopatologia
35
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
dermatológica. Sendo realizada uma revisão sobre o assunto com base em todo o material
levantado e encontrado.
5. Considerações finais
Visto o mercado de cosméticos estar em crescente ascensão, faz necessário o seu
correto entendimento, bem como uma devida atenção a utilização correta de produtos
deste âmbito. Visando assim a genuína eficácia proposta pelos artigos cosméticos nas
propagandas feitas ao consumidor.
Informar, conscientizar, além das demais funções propostas por esses tipos de itens:
são parâmetros de suma importância ao comercializar-se um cosmético.
Usar produtos específicos e que se adaptem a cada tipo de fisiologia é
imprescindível na prevenção de patologias, a exemplo de dermatites de contato e
eritemas.
Cada consumidor é único e com características físicas e genéticas próprias. Por isso,
o uso de cosméticos deve ser de forma responsável e respeitosa das características de cada
um. Devendo-se sempre procurar um médico em cada de qualquer tipo de alergia ou
patologia mais grave.
6. Referências
AVELAR, Ana Cristina Maia; SOUZA, Cristina Gomes. Desenvolvimento de produtos
na indústria nacional de cosméticos: um estudo de caso. XXV Encontro Nacional de
Engenharia de Produção, Porto Alegre, 2005.
AZULAY, Rubem David. Dermatologia. 5.ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2008.
BJORKSTEIN, J. Theories of ageing: fundamentals of geriatric medicine. Nova
Iorque: Raven, 1983 apud GUIRRO, Elaine Caldeira de Oliveira; GUIRRO, Rinaldo
Roberto de J. Fisioterapia dermato-funcional. São Paulo: Manole, 2004.
BORGES, Fábio dos Santos. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas
36
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
disfunções estéticas. São Paulo: Phorte, 2010.
BRASIL. Guia de controle de qualidade de produtos cosméticos: uma abordagem
sobre os ensaios físicos e químicos. Brasília, DF: Anvisa, 2008.
BRASIL. Legislação: regulamentação para produtos cosméticos. Brasília, DF: Anvisa:
2012.
BRASIL. Panorama do setor. São Paulo; ABIHPEC, 2012 Disponível em
http://www.abihpec.org.br/wp-content/uploads/2012/04/Panorama-do-setor-2011-2012-
17-ABR-2012.pdf. Acesso em 03 de maio de 2013.
CHORILLI, M. et al. Toxicologia dos Cosméticos. Latin American Journal of
Pharmacy, n. 26, p. 144-154, 2006.
CORRÊA, Jorge de Paula. Comportamento da consumidora de cosméticos. Belo
Horizonte: Faculdade de Ciências Empresariais, 2006.
DOOMS-GOOSSENS, A. Alergia de contato a cosméticos. Cosmetics & Toiletries,
São Paulo, v.05, p.27-29, set/out 1993.
ECOCERT. Cosméticos naturais e orgânicos. Disponível em:
http://www.ecocert.com.br/cosmeticos.html. Acesso em 03 de maio de 2013.
FARAHMAND, S., MAIBACH, H. I. Predição da penetração percutânea de
ingredientes cosméticos. Cosmetics & Toiletries, p. 42-45, v. 24, 2012 apud LUCA,
Cristiane et al. A atuação da cosmetologia genética sobre os tratamentos
antienvelhecimento. Interfacehs, São Paulo, v. 8, p. 66-67, ago 2013.
FRANQUILINO, Erica. Percepção do consumidor. Cosmetics & Toiletries, São Paulo,
v. 25, p. 18-22, mai/jun 2013.
GARCIA, Renato. Internacionalização comercial e produtiva na indústria de
cosméticos: desafios competitivos para empresas brasileiras. Produção, São Paulo, v.
15, n. 2, ago. 2005.
GOMES, Andréia Bartachini. Alergia a cosméticos. Ativos Dermatológicos. São Paulo,
2013.
37
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
GOMES, Angela Nelly. O novo consumidor de produtos naturais: consumindo
conceitos muito mais do que produtos. 2009. 11 f. Estudo e discussão acadêmica –
Escola de Propagando e Marketing de São Paulo.
GOOSSENS, A.; LEPOITTEVIN, J.P. Allergie de contact aux cosmétiques et aux
composants de parfums : aspects cliniques, chimiques et diagnostiques nouveaux.
Revue française d’allergologie et d’immunologie clinique. França, n.43, p.294-300,
2003.
GUIRRO, Elaine Caldeira de Oliveira; GUIRRO, Rinaldo Roberto de J. Fisioterapia
dermato-funcional. São Paulo: Manole, 2004.
KEDE, M. P. V. et al. Guia de beleza e juventude: a arte de se cuidar e de elevar a
autoestima. Rio de Janeiro: Senac, 2010 apud apud LUCA, Cristiane et al. A atuação da
cosmetologia genética sobre os tratamentos antienvelhecimento. Interfacehs, São
Paulo, v. 8, p. 66-67, ago 2013.
LEONARDI, G. R. Cosmetologia aplicada. 2.ed. São Paulo: Santa Isabel, 2008 apud
LUCA, Cristiane et al. A atuação da cosmetologia genética sobre os tratamentos
antienvelhecimento. Interfacehs, São Paulo, v. 8, p. 66-67, ago 2013.
MELO, Ana Cristina do Espírito Santo et al. Imaginário feminino no consumo de
cosméticos: um estudo sobre a significação das marcas de cremes faciais e o uso desses
produtos para o público feminino. Salvador: UFBA, 2005.
MIGUEL, Laís Mourão. Tendências do uso de produtos naturais nas indústrias de
comércio na França. Revista Geográfica de América Central, Costa Rica, número
especial, p 1-15, 2011.
OLIVEIRA, Amanda Szekir. Dermatotoxicidade: uma abordagem farmacêutica. Porto
Alegre: UFRGS, 2010.
ORIA, Reinaldo B. et al. Estudo das alterações relacionadas com a idade na pele
humana, utilizando métodos de histo-morfometria e autofluorescência. An. Bras.
Dermatol., Rio de Janeiro, v. 78, n. 4, ago. 2003.
38
ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013
PINTO, Mariana da Rocha. Utilização de materiais de origem vegetal em produtos
farmacêuticos e cosméticos de aplicação cutânea. 2013. 46 f. Dissertação apresentada
na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias para a obtenção do grau de
mestre em Ciências Farmacêuticas.
RANCÉ, Fabienne. Contact-Allergic Reactions to Cosmetics. Journal of Allergy.
Estados Unidos, v. 2011, 2011.
REBELLO, Tereza. Guia de produtos cosméticos. São Paulo: Senac, 2011.
SAGGIORO, K. Guia prático de beleza e boa forma. São Paulo: Senac, p. 240, 1999.
SANTOS, Hamilton. Toxicologia: a garantia de cosméticos seguros. Cosmetics &
Toiletries, São Paulo, v. 20, mar/abr, p. 20-24, 2008.
SOLOMON, Michael R. O comportamento do consumidor: comprando, possuindo,
sendo. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
SOUZA, Valéria Maria. A questão da toxicidade nos cosméticos e o aumento no
consumo de cosméticos infantis. Ativos Dermatológicos. São Paulo, 2013.
TORTORA, Gerard J.; GRABOWSKI, Sandra Reynolds. Corpo humano:
fundamentos de anatomia e fisiologia. Porto Alegre: Artmed, 2006.
UNIÃO PARA BIOCOMÉRCIO ÉTICO – UEBT. Barômetro de biodiversidade.
Disponível em http://www.ethicalbiotrade.org/news/wpcontent/uploads/
UEBT.BARO2O12.portuguese.web_.pdf. Acesso em 03/05/2013.
VIVIER, Anthony. Atlas de Dermatologia Clínica. 2ª ed. São Paulo: Manole, 1997.
Recebido em 30/10/2013
Aceito em 16/12/2013