ESTRUTURA METÁLICA PARA MORADIA POPULAR EM ......as an industrial method which can be translated...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
MESTRADO EM CONSTRUÇÃO METÁLICA
ESTRUTURA METÁLICA PARA MORADIA POPULAR
EM ENCOSTAS
por
PAULO MARTIN SOUTO MAIOR
Orientado por
Ricardo Azoubel da Mota Silveira, D.Sc.
CONVÊNIO USIMINAS/UFOP/FUNDAÇÃO GORCEIX
OURO PRETO
SETEMBRO/1997
ii
MAIOR, PAULO MARTIN SOUTO
Estrutura Metálica para Moradia Popular em Encosta [Ouro Preto] 1997, (Escola de Minas,
Mestre, Engenharia Civil, 1997)
Tese – Universidade Federal de Ouro Preto, Escola de Minas
1 – Estruturas Metálicas
3 – Habitação Popular
2 – Perfis leves soldados
I – Escola de Minas, UFOP
iii
A meus pais
iv
“Porque toda arquitetura, seja boa ou má, danifica a ribeira do lago ?”
Adolf Loos.
v
Agradecimentos
• Aos meus pais, pelo incentivo e carinho ao longo do curso.
• Ao professor Ricardo da Mota Silveira, pela dedicação, esmero e confiança ao longo da
elaboração desse mestrado
• A professora Márcia Reis, pela valiosa e decisiva colaboração no desenvolvimento deste
trabalho
• Ao professor Khaled Ghoubar, pela possibilidade de conhecer a FAU-USP.
• Ao DECIV/Escola de Minas/UFOP, pelo apoio financeiro.
• Ao colega Cláudio José, pela ajuda e sugestões na conclusão deste trabalho.
• Aos colegas do mestrado pela convivência amiga.
vi
Resumo
Este trabalho apresenta uma proposta de habitação popular industrializada, com
enfoque específico para estrutura metálica. Todos os materiais apresentados no projeto partem
do princípio do processo industrial em grande escala.
A pesquisa propõe uma solução para ocupação de áreas em declive, justificando assim
o emprego do aço em estruturas com pequenos vãos, como também a ocupação de áreas já
construídas. São levantadas questões relativas às referências e premissas a serem seguidas,
como a disposição e o modelo de implantação, na proposta arquitetônica. Além dos dados
técnicos, tais como: modelo estrutural metálico, coberta em estrutura metálica, esquadrias em
alumínio, paredes e lajes em concreto celular, é dada atenção especial à fundamentação do
projeto como método industrial, que pode ser traduzido como uma leitura técnica, de uma
situação existente; ou seja, transformar em tecnologia um comportamento urbano e social
deficiente.
Para estabelecer esses critérios, foram levados em consideração: tipologia,
implantação, programa, ampliação, zoneamento e distribuição dos modelos de unidades
habitacionais, procurando manter assim a relação direta com o seu entorno.
Abstract
vii
This work presents a proposal for industrialized popular housing projects with
specific focus on metallic structures. All materials presented in this project are manufactured
using large scale industrial processes.
The research offers a solution for constructions in areas in decline which justify the
application of steel in small inerspace structures as well as the occupation of areas which have
already been built. Several issues are raised regarding which references are to be followed
such as, for example, the disposition and the model of the architectural proposal. Besides
technical matters such as the steel structure model, aluminium windows and cellular concrete
walls and plates, special attention has been given to the theoretical foundations of the project
as an industrial method which can be translated into a technical reading of an existing
situation, i.e., to transform a faulty paterns of urban and social behavior through technology.
To establish these criteria typology, programs,amplification, zoning and distribution of
the habitational units were taken into consideration in attempt to maintain the direct
relationship with the surroundings.
viii
Sumário
Página
Resumo ............................................................................................................................... vi
Abstract .............................................................................................................................. vii
Lista de Figuras e Fotos .................................................................................................... xii
Lista de Tabelas ................................................................................................................. xiv
Lista de Pranchas............................................................................................................... xvi
Capítulo 1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
1.1 – OBJETIVO DO TRABALHO .................................................................................... 1
1.2 – ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .......................................................................... 2
Capítulo 2 – HISTÓRICO .................................................................................................. 5
2.1 – INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 5
2.2 – BREVE HISTÓRICO DO FERRO E DO AÇO ......................................................... 6
2.3 – INDÚSTRIA NACIONAL ......................................................................................... 20
2.4 – CONSIDERAÇÕES SOBRE HABITAÇÃO POPULAR AO LONGO DA
HISTÓRIA ........................................................................................................................... 22
2.4.1 – As Primeiras Habitações .......................................................................................... 23
2.4.2 – Mundo Antigo.......................................................................................................... 26
2.4.3 – Mundo Clássico ....................................................................................................... 30
2.4.4 – Idade Média ............................................................................................................. 31
ix
2.4.5 – Vilas Operárias (Bauhaus) ....................................................................................... 33
2.4.6 – Origens da Habitação Popular no Brasil .................................................................. 34
Capítulo 3 – O AÇO ........................................................................................................... 37
3.1 – INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 37
3.2 – OBTENÇÃO DO AÇO .............................................................................................. 38
3.2.1 – Elemento Ferro ........................................................................................................ 38
3.2.2 – Elemento Carbono ................................................................................................... 38
3.2.3 – Sinter ........................................................................................................................ 39
3.3 – REDUÇÃO ................................................................................................................. 39
3.4 – REFINO ...................................................................................................................... 39
3.5 – LAMINAÇÃO ............................................................................................................ 40
3.6 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA BÁSICA DAS CHAPAS .............................................. 41
3.6.1 – Aço Carbono ............................................................................................................ 42
3.6.2 – Aço de Baixa Liga ................................................................................................... 42
3.7 – CARACTERÍSTICAS DAS ESTRUTURAS METÁLICAS .................................... 43
3.7.1 – Resistência ............................................................................................................... 43
3.7.2 – Comportamento Estrutural ...................................................................................... 43
3.7.3 – Construção ............................................................................................................... 44
3.7.4 – Manutenção ............................................................................................................. 44
3.7.5 – Economia ................................................................................................................. 44
3.7.6 – Reaproveitamento .................................................................................................... 45
3.7.7 – Aumento da Área Útil .............................................................................................. 45
3.7.8 – Resistência à Corrosão ............................................................................................. 46
3.7.8.1 – Pintura ................................................................................................................... 47
3.7.8.2 – Revestimentos Metálicos ...................................................................................... 48
3.7.8.3 – Proteção Catódica ................................................................................................. 48
3.8 – PRINCIPAIS PRODUTOS EM AÇO PRODUZIDOS NO BRASIL ........................ 49
x
Capítulo 4 – FUNDAMENTAÇÃO E DEFESA DO PROBLEMA PROPOSTO ............ 62
4.1 – INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 62
4.2 – “METROPOLIZAÇÃO” NAS CIDADES BRASILEIRAS ........................................ 63
4.3 – PROJETO DE HABITAÇÃO POPULAR E AS POLÍTICAS HABITACIONAIS .. 64
4.3.1 – Contexto Atual ......................................................................................................... 68
4.4 – O PROGRAMA DA CASA POPULAR .................................................................... 69
4.5 – INDUSTRIALIZAÇÃO ............................................................................................. 72
4.5.1 – Referência Industrial ................................................................................................ 74
4.5.2 – O Método Industrial ................................................................................................. 76
4.6 – RELAÇÃO COM OCUPAÇÕES EM TERRENOS INCLINADOS ......................... 78
Capítulo 5 – “ERGONOMETRIA” ..................................................................................... 91
5.1 – INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 91
5.2 – ESTUDO “ERGONOMÉTRICO” .............................................................................. 92
Capítulo 6 – ANTEPROJETO ARQUITETÔNICO .......................................................... 106
6.1 – INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 106
6.2 – ESTRUTURA ............................................................................................................. 107
6.2.1 – Escolha do Perfil ...................................................................................................... 107
6.2.2 – Comportamento Estrutural ...................................................................................... 111
6.2.3 – Ligações ................................................................................................................... 112
6.2.3.1 – Ligação Rotulada .................................................................................................. 112
6.2.3.2 – Ligação Engastada ................................................................................................ 113
6.2.4 – Programa para Detalhamento da Estrutura .............................................................. 113
6.2.4.1 – Lendo as Rotinas AutoLisp no AutoCad .............................................................. 114
6.2.4.2 – Detalhe D1 ............................................................................................................ 114
6.2.4.3 – Detalhe D2 ............................................................................................................ 115
6.2.4.4 – Detalhe D3 ............................................................................................................ 116
6.2.4.5 – Base das Colunas .................................................................................................. 116
6.3 – LAJES E PAREDES .................................................................................................. 116
xi
6.4 – COBERTA.................................................................................................................. 118
6.5 – ESQUADRIAS ........................................................................................................... 120
6.6 – ESCADA .................................................................................................................... 121
6.7 – IMPLANTAÇÃO ....................................................................................................... 121
Capítulo 7 – CUSTO MÉDIO DO PROJETO ................................................................... 169
7.1 – INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 169
7.2 – CUSTOS DAS UNIDADES HABITACIONAIS: 4M, 6M-345 e 6M-445 ............... 170
7.3 – CUSTO E CRONOGRAMA PARA IMPLANTAÇÃO ............................................ 174
7.4 – CONCLUSÕES DOS CUSTOS ................................................................................. 181
Capítulo 8 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS TRABALHOS
............................................................................................................................................. 183
8.1 – CONCLUSÕES GERAIS ........................................................................................... 183
8.2 – RECOMENDAÇÕES ................................................................................................. 184
Referências Bibliográficas ................................................................................................ 186
xii
Lista de Figuras e Fotos
Capítulo 2
Figura 2.1 – Alto Forno Com Foles Hidráulicos. ................................................................ 8
Capítulo 3
Figura 3.1 – Fases da Laminação ......................................................................................... 41
Figura 3.2 – Comparação de Dimensões de Colunas de Aço com Colunas de Concreto . 46
Capítulo 4
Foto 4.1 – Bairro Nova Descoberta, Recife–PE, 1997 ........................................................ 81
Figura 4.1 – Decomposição Cromática (resolução 5 x 5) ................................................... 82
Figura 4.2 – Decomposição Cromática (resolução 10 x 10) ............................................... 83
Figura 4.3 – Decomposição Cromática (resolução 20 x 20) ............................................... 84
Figura 4.4 – Decomposição Cromática (resolução 35 x 35) ............................................... 85
Foto 4.2 – Avenida Nova Descoberta, Recife–PE, 1997 ..................................................... 86
Figura 4.5 – Decomposição Cromática (resolução 5 x 5) ................................................... 87
Figura 4.6 – Decomposição Cromática (resolução 10 x 10) ............................................... 88
Figura 4.7 – Decomposição Cromática (resolução 20 x 20) ............................................... 89
Figura 4.8 – Decomposição Cromática (resolução 35 x 35) ............................................... 90
Capítulo 6
Figura 6.1 – Dimensões dos Pórticos .................................................................................. 108
Figura 6.2 – Carregamento Permanente .............................................................................. 108
Figura 6.3 – Sobre Carga Decorrente do Uso ...................................................................... 109
Figura 6.4 – Vento α = 0 ..................................................................................................... 109
xiii
Figura 6.5 – Vento α = 90º .................................................................................................. 110
Figura 6.6 – Perspectiva da Implantação (vista 01) ............................................................. 147
Figura 6.7 – Perspectiva da Implantação (vista 02) ............................................................. 148
Figura 6.8 – Perspectiva da Implantação (vista 03) ............................................................. 149
Lista de Tabelas
xiv
Capítulo 3
Tabela 3.1 – Tipos de Aços Produzidos no Brasil ............................................................... 49
Tabela 3.2 – Tipos de Produtos .......................................................................................... 52
Tabela 3.3 – Perfis de Seção Simples e Composta ............................................................. 60
Capítulo 4
Tabela 4.1 – Distribuição da População Urbana, Segundo os Grupos de Habitantes, nos
Anos dos Recenseamentos (Brasil, 1950 a 1980) ................................................................ 64
Tabela 4.2 – População Moradora em Favelas no Município de São Paulo, 1973 a
1987 ..................................................................................................................................... 67
Tabela 4.3 – Áreas dos Ambientes da Casa. ........................................................................ 71
Capítulo 6
Tabela 6.1 – Dimensões Admissíveis para Perfil “Caixa” .................................................. 110
Tabela 6.2 – Dimensão Admissível para Perfil “I” ............................................................. 111
Tabela 6.3 – Painéis Laje. .................................................................................................... 117
Tabela 6.4 – Comparação de Sobrecarga Entre Materiais para Coberta ............................. 119
Tabela 6.5 – Espaçamento Entre Telhas, Ripas e Tesouras da Coberta .............................. 120
Capítulo 7
Tabela 7.1 – Custo Médio para Construção de uma Unidade Habitacional Tipo 4M, 6M-345
ou 6M-445 em Alvenaria Estrutural .................................................................................... 171
Tabela 7.2 – Custo Médio para Construção de uma Unidade Habitacional Tipo 4M, 6M-345
ou 6M-445 em Estrutura de Concreto ................................................................................. 172
xv
Tabela 7.3 – Custo Médio para Construção de uma Unidade Habitacional Tipo 4M, 6M-345
ou 6M-445 em Estrutura Metálica ....................................................................................... 173
Tabela 7.4 – Custos da Implantação em Alvenaria Estrutural para 29 Unidades
Habitacionais ....................................................................................................................... 175
Tabela 7.5 – Custos da Implantação em Estrutura de Concreto para 29 Unidades
Habitacionais ....................................................................................................................... 176
Tabela 7.6 – Custos da Implantação em Estrutura Metálica para 29 Unidades
Habitacionais ....................................................................................................................... 177
Tabela 7.7 – Cronograma para Construção da Implantação em Alvenaria Estrutural para 29
Unidades Habitacionais ....................................................................................................... 178
Tabela 7.8 – Cronograma para Construção da Implantação em Estrutura de Concreto para 29
Unidades Habitacionais ....................................................................................................... 179
Tabela 7.9 – Cronograma para Construção da Implantação em Estrutura Metálica para 29
Unidades Habitacionais ....................................................................................................... 180
Tabela 7.10 – Índice de Diminuição para Construção em Larga Escala ............................. 182
xvi
Lista de Pranchas
Capítulo 5
Estar ..................................................................................................................................... 93
Jantar .................................................................................................................................... 95
Quartos................................................................................................................................. 97
Banheiro ............................................................................................................................... 102
Cozinha e Área de Seriço .................................................................................................... 103
Capítulo 6
Planta Baixa 4M .................................................................................................................. 122
Perspectiva Estrutural 4M ................................................................................................... 123
Planta de Coberta 4M .......................................................................................................... 124
Planta Estrutural da Coberta 4M ......................................................................................... 124
Plantas Baixas 6M ............................................................................................................... 125
Perspectiva Estrutural 6M ................................................................................................... 127
Planta de Coberta 6M .......................................................................................................... 128
Planta Estrutural da Coberta 6M ......................................................................................... 129
Plantas Baixas 6M-45º ......................................................................................................... 130
Perspectiva Estrutural 6M-45º ............................................................................................. 132
Planta de Coberta 6M-45º .................................................................................................... 133
Planta Estrutural da Coberta 6M-45º ................................................................................... 134
Plantas Baixas 7m-45º ......................................................................................................... 135
Perspectiva Estrutural 7M-45º ............................................................................................. 137
Planta de Coberta 7M-45º .................................................................................................... 138
Planta Estrutural da Coberta 7M-45º ................................................................................... 139
Planta Baixa 7M .................................................................................................................. 140
Perspectiva Estrutural 7M ................................................................................................... 141
xvii
Planta de Coberta 7M .......................................................................................................... 142
Planta Estrutural da Coberta 7M ......................................................................................... 143
Implantação.......................................................................................................................... 144
Corte C1 ............................................................................................................................... 145
Corte C2 ............................................................................................................................... 146
Detalhe D1 Ligação Rotulada ............................................................................................. 150
Detalhe D2 Ligação Engastada ............................................................................................ 152
Detalhe D3 Ligação Rotulada a 45º ..................................................................................... 155
Base da Coluna .................................................................................................................... 157
Lay-out Painéis .................................................................................................................... 158
Detalhe Fixação dos Painéis ................................................................................................ 163
Planta Baixa Escada ............................................................................................................. 166
Detalhe Escada .................................................................................................................... 167
Detalhe Coberta ................................................................................................................... 168
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
1.1 – OBJETIVO DO TRABALHO
O problema da construção da “casa popular” não é novo nem é um questionamento
sobre um aspecto perverso da modernidade. Como e onde moravam os pobres é uma questão
que surge desde que o homem começou a se organizar.
Fatores sociológicos imprimem naturalmente ao projeto que aqui se propõe uma
característica peculiar, pois sua fundamentação está condicionada à existência de um modelo
social bastante injusto e deficiente, o que obriga e determina como diretrizes não aspectos
estéticos e formais, embora importantes, e sim seu aspecto técnico com inevitáveis
condicionantes econômicos e sociais.
As propostas são variadas, tanto quanto possível, não só do ponto de vista técnico, mas
naturalmente também do social, como é o caso particular da verticalização de habitações
populares em bairros pobres, ou a singularidade da realidade na prática da auto-construção.
Projetar para população de baixa renda é sempre um desafio. Trabalha-se, quase
sempre, nos limites mínimos, o que sem dúvida exige estudo detalhado e minucioso das
possíveis propostas de projeto. Assim, mais do que um projeto construtivo, procura-se
apresentar, uma interpretação, ou mais precisamente, a tradução de um modo de vida através
de um desenho industrial. A justificativa dessa diretriz baseia-se não no que pode ser
considerado ideal como projeto de habitação popular, mas devido às dimensões dolorosas que
alcançam a falta de moradia e a densidade como ela se apresenta, tenta-se neste trabalho
oferecer tecnologia a um tipo de ocupação do solo já existente. Se a urbanidade presente em
2
bairros pobres eventualmente existe, ou não é propícia, não é enfoque prioritário, pois o que
se propõe é um modelo que se adeque a situações já bastante sedimentadas. Tem-se
consciência, portanto, em virtude de motivos econômicos, de não ser ainda possível uma
reestruturação de grandes bairros pobres, e muito menos de uma única forma. Assim, este
projeto não propõe uma alteração, mas sim uma adaptação concebida técnica e racionalmente.
A preocupação maior reside na ocupação de terrenos acidentados, pois é
inquestionável a grande construção de “barracos” e casas precárias em morros e declives.
Justifica-se, pois, o emprego da estrutura metálica, exatamente para que se entenda à
exigência do projeto de englobar diferentes situações, ao contrário do que poderia ser a
apresentação de projetos para locais planos. Considerando-se que as colunas e vigas são
padronizadas, é possível pensar em um sistema construtivo maleável, sem prejuízo de sua
operacionalidade técnica.
O aspecto técnico é, portanto, uma constante no projeto proposto, englobando-se não
só a estrutura, mas coberta, paredes, lajes e escadas. Porém se considerando a opção pelos
perfis metálicos para as vigas e colunas, devido às suas características, seria um contra-senso
empregar–se métodos artesanais primários, como alvenaria para as paredes ou concreto para
as lajes, pois significaria falta de sintonia com o processo industrial do projeto.
1.2 – ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
No Capítulo 2 – Histórico, é feito um estudo sobre as origens do ferro, principalmente,
que tipos de edificações em estrutura metálica eram construídas no Brasil. Esse estudo é
importante para que se possa, além de se verificar uma referência histórica, constatar o que é
construído atualmente no país. Paralelamente ao histórico de ferro e do aço, procurou–se
extrair exemplos da evolução de casas de população pobre, apresentando seus aspectos como:
serialidade, padronização e diferenças de níveis em ocupações desde o mundo antigo até os
dias atuais.
3
No Capítulo 3 – O Aço, é exposto o material empregado na estrutura, desde sua
extração, onde se apresenta a forma como se obtém as ligas de aço, até sua composição
química básica. Após esse estudo, demonstra–se de forma esquemática a diversidade dos
produtos metálicos produzidos no país, como por exemplo: o aço de qualidades estruturais,
aço carbono, aço para usos gerais, chapas de piso, etc, e onde também são descritos seus
aspectos relativos ao tipo, forma, aplicação, especificação além de alguns comentários.
A definição do contexto urbano no qual está inserido este projeto é o ponto de partida
para determinação dos princípios básicos que serão discutidos na elaboração da proposta
arquitetônica, e que é apresentado no Capítulo 4 – Fundamentação e Defesa do Problema
Proposto. O estudo delimita primeiramente o momento em que o projeto é apresentado, e
também se discute a relação do projeto em função das políticas habitacionais em vigor e que
informações foram levadas em conta para conclusão da metragem, do programa da casa
popular e dos aspectos sociais e de zoneamento.
Por último nesse capítulo, pesquisou–se a fundamentação teórica em relação à
industrialização, pois já que se propõe um modelo de casa inteiramente pré-fabricada, se fez
necessário buscar uma referência industrial, na qual estivesse intrínseca a realidade “técnica”
do projeto arquitetônico, assim como a valorização do material e a relação do projeto proposto
com o tipo de local ao qual se destina: áreas pobres com ocupação em terrenos inclinados.
No Capítulo 5 – Ergonometria, é apresentado o estudo referente as dimensões
necessárias dos ambientes da casa onde se procura exemplificar as diversas situações e as
distintas formas de distribuição do mobiliário em um mesmo ambiente, já que o projeto não é
constituído apenas uma planta baixa, mas sim de oito modelos básicos.
O projeto arquitetônico é apresentado no Capítulo 6 – Anteprojeto Arquitetônico,
constituído primeiramente pelas justificativas técnicas em relação a estrutura, painéis, coberta,
esquadrias e implantação. Em complemento obrigatório são expostas as Pranchas
arquitetônicas, constituídas pelas plantas baixas, cortes, perspectivas e detalhes.
4
O custo do projeto em estrutura metálica, é comparado com alvenaria estrutural e
estrutura de concreto no Capítulo 7 – Custo Médio do Projeto, onde se demonstra como se
comporta a estrutura metálica em relação a outros tipos de materiais.
Finalmente, no Capítulo 8 – Conclusões, são discutidas as conclusões a que se pôde
chegar através do projeto proposto em estrutura metálica, assim como também são feitas
algumas sugestões para futuros trabalhos.
Capítulo 2
HISTÓRICO
2.1 – INTRODUÇÃO
Os projetos em habitação com estrutura metálica possuem seus primeiros exemplos
patenteados a partir do século XIX, principalmente no sistema belga Danly, que era
constituído completamente de chapas metálicas e que chama a atenção pelo nível tecnológico.
É abordado neste capítulo, de forma resumida, não só os estudos das origens conceituais de
casas em ferro e aço, mas também os diversos usos desse material, desde as primeiras formas
de emprego em pequenos utensílios até as grandes estruturas.
Assim, no item 2.2, relativo ao histórico do ferro e do aço, procura-se apresentar o que
já se projetou em estrutura metálica, para que se possa destacar uma primeira referência, ou
seja, quais foram as propostas pioneiras que se preocuparam com o clima tropical, passo
inicial para o que é o contexto atual, bastante diferente e, naturalmente, infinitamente mais
complexo, demostrado através do item 2.3 – Indústria Nacional – , onde é exposto o quadro da
produção de aço no Brasil.
No item 2.4, relativo às considerações sobre habitação, há um enfoque que procura,
principalmente, extrair exemplos de casas da população pobre, apresentando aspectos como
serialidade, padronização e diferenças de níveis em ocupações desde o mundo antigo até os
dias atuais, com o intuito de se afirmar a necessidade da busca de propostas racionais e
diversificadas nos mais distintos aspectos.
6
2.2 – BREVE HISTÓRICO DO FERRO E DO AÇO
Os primeiros vestígios do uso dos metais foram encontrados no vale inferior do Indo,
onde se desenvolveram várias cidades primitivas ao longo de suas margens, como Mohenjo-
Daro e Arapa, no último período neolítico, chamado de eneolítico. É através do cobre,
entretanto, que se tem as primeiras notícias do uso de metais pelo homem, utilizado
inicialmente como adorno ou em forma de pequenos utensílios, por volta do III milênio a.C. O
metal empregado naquele período era obtido através da fundição de pirites, ou seja, um
composto de cobre, ferro e sulforeto que resultava em um material com suficiente dureza,
motivo pelo qual tornou-se apreciado para confecção de ferramentas, armas, armaduras e
adereços pessoais. Com a adoção do estanho conseguiu-se obter o bronze, que sendo de maior
resistência possibilitou sua utilização também na construção de edifícios. Um dos primeiros e
mais conhecidos exemplos foi a cúpula do Panteão de Roma, que teve sua coberta forrada
com telhas desse metal, o qual serviu também para fabricação de grades e grandes esculturas
de bronze.
O desenvolvimento dos processos de obtenção de metais deu-se primeiro em regiões
onde se encontrava minério de ferro em grande quantidade. Um dos fatores determinantes, e
que causou um grande impulso na produção metálica, foi a adoção de madeira para obtenção
de carbono, pois se conseguia assim certa resistência, necessária na fabricação de elementos
como por exemplo braçadeiras, parafusos e pequenas barras, pois o alto custo dos utensílios
de ferro não se devia propriamente à qualidade da mão-de-obra. Embora esse fator tenha
influído, o que determinava a raridade e o custo dos produtos de ferro era o processo de
obtenção do metal. Assim, somente com o progresso técnico na produção do ferro é que
ocorreria a vulgarização desse material, o que se deu somente com a invenção do alto forno no
século XV.
No mundo antigo, o desenvolvimento do emprego desse material ocorreu
principalmente a partir de 500 a. C. devido à expansão do Império Romano, pois como sua
utilização era difundida naquela cultura, seja em pequenos adereços, esculturas ou armas foi,
pouco a pouco, sendo assimilada também pelos povos conquistados. A Península Ibérica
7
serviu como primeira fornecedora de artigos de ferro à Roma e, posteriormente, com o
declínio do poder romano, lá se desenvolveu a chamada “forja catalã”.
O processo primitivo de obtenção do ferro como matéria prima para confecção de
ferramentas e utensílios começava com a lavagem do minério que, após ser tostado, era
fundido em fornos cavados, semelhantes a poços. Um importante aprimoramento foi a
introdução de foles manuais; somente no final da Idade Média foram introduzidos sistemas
mecânicos compostos por vários foles, os quais permitiam fornos de maior dimensões,
aumentando-se, assim, a produção.
Historicamente, um dos mais antigos documentos conhecidos que trata
especificamente e com relativa profundidade do emprego de metais pelo homem, é o tratado
de metalurgia De Re Metallica, composto por 12 livros, escrito por Georgius Agricola (1494 -
1555). A importância desse documento não se limita apenas ao seu pioneirismo, nem por se
tratar de uma das mais antigas fontes escritas para o estudo da história dos metais, mas,
principalmente, pela metodologia adotada pelo autor, baseada em pesquisas de campo e
observações, que dão uma catalogação dos instrumentos, métodos e processos de forma
ricamente ilustrada e didática, com um enfoque bastante prático do modo de trabalho dos
artesãos da Idade Média.
Nessa obra, através das xilogravuras ricamente detalhadas, revela-se uma importante
parte do conhecimento mecânico, artesanal e arquitetônico medieval, ligado à tecnologia dos
metais. Pode-se verificar, por exemplo, o nível de desenvolvimento de sistemas hidráulicos
com peças metálicas adquiridos até aquele período, seja para moer grãos ou sistemas como o
mostrado na Figura 2.1, o qual possibilitava que apenas um homem, controlasse vários foles
de uma fornalha, onde, graças à clareza e legibilidade do desenho, torna-se bastante
compreensível o funcionamento desse sistema. O tratado de Agricola, além da apresentação
de utensílios, ferramentas e sistemas hidráulicos, descreve em várias tabelas e esquemas a
composição de ligas metálicas composta de ferro e outros metais, construção de fornos, tempo
e processo de fundição, escavação das minas, lavagem do minério e diversos sistemas
mecânicos, na maioria delas em função do ferro.
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No livro IX, destinado à construção de alto fornos, verifica-se o virtuosismo do
detalhamento a que se chegou nos processos de siderurgia daquela época, onde são descritas
as ferramentas empregadas na sua construção, as peças acabadas e a forma de construção,
inclusive com a planta baixa, corte e em alguns casos também a perspectiva.
Apenas com o intuito de registrar sua importância e seu nível técnico, foi selecionado
um pequeno trecho daquela obra, relativo à construção das paredes dos alto fornos, que dá
uma idéia bastante clara de como eram executadas essas construções: “There are three
furnaces walls, a back one which is against the “second” wall, and two sides ones, of which I
will speack later. These should be made by natural stones, as this is more serviceable than
burnt bricks, because bricks soon become defective and crumble away, when the smelter or
his deputy chips off the accretions which adhere to the walls when the ore is smelted. Natural
stones resist injury by the fire and last a long time, especially that which is soft and devoid of
cracks; but on the contrary, that which is hard and has many cracks is burst asunder by the
fire and destroyed. For this reason, furnaces which are made of the latter are easily weakened
by the fire, and when the accretions are chipped off they crumple to pieces. The front furnaces
wall sould be made of brick, and there should be in the lower part a month tree palms wide
and one a half feet high, when the hearth is completed.” (Agricola, pp. 355, 1556).
Figura 2.1 – Alto Forno Com Foles Hidráulicos (Agricola, pp. 359, 1556).
É nesse período, aliás, que se utiliza pela primeira vez o alto forno acionado por foles
hidráulicos, como ilustrado na Figura 2.1, o que sem dúvida daria um impulso significativo no
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desenvolvimento da fundição de ferro. Isso representou um passo inicial para popularização
desse material, diferenciando-se, assim, do processo empregado até o final da Idade Média,
por obter um rendimento térmico mais perfeito, com temperaturas mais elevadas
proporcionando uma fusão mais completa.
Embora no Renascimento alguns tratadistas, (Alberti, 1991), recomendassem o uso de
materiais em seu estado natural, como a pedra e a madeira, o fato do ferro ser empregado
apenas em maçanetas, dobradiças, pregos, braçadeiras, etc., induz a se concluir que foram
razões conceituais que fizeram com que não fossem empregados elementos metálicos nas
edificações, e não razões técnicas, pois, como já foi demonstrado, o alto nível de
conhecimento alcançado possibilitaria, já no Renascimento, um maior aproveitamento do
ferro na arquitetura. Esses aspectos limitaram, de certa forma, os metais, os quais
necessitavam de processos que os transformassem para que se tornassem ideais para sua
utilização, ou seja, exigia-se que lhes fosse extraída sua condição natural, e por isso talvez
tenham sido discriminados.
Ao se falar em ferro e aço, vem logo à mente o período no qual este tipo de indústria
estava fortemente associado às modificações sociais provocadas pelas possibilidades que a
tecnologia vislumbrava para a humanidade. O aprimoramento técnico e as invenções surgiam
de forma intensa e acelerada se comparados ao sucedido nos séculos anteriores. Pela primeira
vez se empregava carvão mineral ao invés do carvão vegetal, sob a forma de hulha e coque,
elevando-se substancialmente a qualidade do ferro fundido. Além das melhorias técnicas
introduzidas, um dos aspectos mais importantes e que preocupava até então as siderúrgicas da
época, era o fato de que para se produzir cerca de 15 toneladas por semana, era necessário em
torno de 1 acre de floresta por dia, o que fatalmente se tornaria, mais cedo ou mais tarde, um
problema com a devastação e escassez da madeira como combustível.
O parágrafo anterior refere-se ao século XIX, no período conhecido como Revolução
Industrial, embora este processo tenha se iniciado cem anos antes. Foi em 1709, na Inglaterra,
em Coalbrookdale, onde surgiu a primeira fundição que inovou ao substituir o tipo de
combustível empregado na fundição. O novo método, que consistia na utilização do coque
para fundir o ferro através do resíduo sólido da destilação do carvão mineral, foi tão
10
significante que, na mesma região, entre os anos de 1775 a 1781 construiu-se, a primeira
ponte totalmente concebida em ferro, conhecida como Iron Bridge (Pevsner, pp.12 1981),
vencendo um vão de 30 metros sobre o rio Severn, sem dúvida, um arrojo estrutural para
àquela época. A adoção desse novo sistema em edificações deu-se de forma bastante rápida,
se comparada às modificações estruturais, ocorridas até então ao longo da história da
arquitetura, pois, em menos de um século, mais precisamente em 1850, o ferro fundido na
Inglaterra era responsável por cerca de 39% do seu PIB, chegando a 41% em 1913, ou seja,
um valor recorde até então.
A história da siderurgia no Brasil inicia-se no período colonial, onde se identificam as
primeiras iniciativas na fabricação doméstica de ferro fundido. Ainda que pequena, a
produção nacional recebe maiores estímulos com a vinda da família real ao Brasil, e se
destaca, à época, pela construção de fábricas no sudeste, obviamente próximas as regiões de
maior ocorrência de minério de ferro, entre as quais as fábricas de Morro do Pilar, a fábrica do
Prata e a Forja do Curral Del-Rei, implantadas com incentivos fiscais. Em 1855, o número de
estabelecimentos de tipo forjas, já alcançava 50, na província de Minas Gerais, o que para a
época era um número expressivo, dadas as circunstâncias do país não ter passado pelo
processo de revolução industrial, e que havia somente há pouco mais de três décadas, deixado
de ser colônia de Portugal.
Segundo Pirson (Derenji, pp.72, 1993), a primeira obra em estrutura metálica na
América Latina, foi construída pela Coalbrookdale Company em Spanish Town, Jamaica, no
ano de 1807, 30 anos depois da construção, pela mesma companhia e com a mesma técnica,
da primeira ponte metálica na Europa. Isso demonstra a rápida expansão que teve essa “nova
arquitetura”.
Um dos aspectos mais importantes da Revolução Industrial, em relação ao
desenvolvimento siderúrgico, deu-se graças as ferrovias e trens construídos, pois “Nenhum
dos novos usos do ferro, no entanto, contribuiu de maneira mais decisiva para o
desenvolvimento da indústria siderúrgica, do que as ferrovias” (Gomes, pp. 15, 1988).
A introdução definitiva do ferro na arquitetura deu-se, primeiramente, como uma
adaptação estrutural, consistindo no emprego de barras e trilhos de trens, utilizados como
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vigas e pilares pela sua alta resistência em relação à esbelteza. Isto surge quando se começou a
produzir, em grande escala, lingotes, chapas e perfis em ferro fundido e mais tarde em aço
para as ferrovias, trens, navios, armas, etc. Estes elementos foram adequados para servirem
como estruturas em edificações, pois tinham a resistência necessária, e, a partir do século
XIX, já era possível se dispor de quantidade suficiente para grandes obras.
Em um segundo momento também ocorreu uma adaptação, não limitada a resolver
apenas problemas técnicos, mas sim condicionada e preocupada com aspectos formais. Na
arquitetura, as primeiras adaptações desses elementos na construção civil apresentavam
sempre um mínimo de espessura, ocasionando, frequentemente, extravagâncias em vigas e
junções super dimensionadas, que, no começo, chocaram os críticos da época, que não
aceitavam esse tipo de material como premonição de uma nova tendência na arquitetura. Não
podiam negar, porém, que desde o final do século XIX, o ferro fundido tivera sua utilização
bem sucedida, primeiro em esgotos sanitários, coletores de águas pluviais, bebedouros
públicos, quiosques, coretos, postes de iluminação a gás e bancos de praças, o que propunha,
inevitavelmente, seu emprego na construção civil em pontes, passarelas e, finalmente, em
edifícios.
Era possível, naquele importante momento da história da metalurgia, a multiplicação
de peças antes produzidas de forma artesanal. A produção industrial de elementos que antes
eram confeccionados como peças únicas, e por isso mesmo considerados obras de arte,
poderiam a partir daquele momento, acreditavam alguns pensadores da época, serem
banalizadas devido à quantidade de repetições a partir de uma mesma matriz, além da
incorporação de temas tradicionais. Levantaram-se várias questões estéticas e formais, não só
na arquitetura mas também no mobiliário, em adornos ou qualquer outro objeto que permitisse
sua elaboração em ferro ou aço. Esse foi um dos aspectos bastantes discutido na Revolução
Industrial e de relevância em relação ao ferro e aço, isto é, que adaptações e modificações
possivelmente sofreria a estética a partir de então.
O ferro, como partido estético, começa realmente a ser discutido após a Exposição
Universal de 1851, em Londres, onde foram expostas obras que não só impressionavam pelo
arrojo de suas proporções mas pelo aspecto “industrial” com que se apresentavam. Uma delas
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foi o Palácio de Cristal de Paxton, com 556 metros de comprimento, todo construído com
perfis pré-fabricados, e remontado em 1854, em Sidenham, o que demonstrou a praticidade do
novo sistema em construir obras exatamente iguais, em regiões distintas. A arquitetura perdia,
então, seu vínculo com o local, podendo um mesmo edifício ser montado e desmontado
inúmeras vezes.
No Brasil, a importação de produtos em ferro fundido está diretamente ligada à
prosperidade que se verificou a partir da década de 1880, impulsionada pelo comércio do café,
borracha, algodão, açúcar e outros produtos, que enriquecia uma burguesia que aspirava o
modo de vida europeu, importando os mais diversos objetos, desde grampos de cabelo até
sofisticados mobiliários urbanos. Como a Europa ditava não só os modismos, mas também os
avanços técnicos, a importação desses modelos significava acompanhar e integrar-se à
vanguarda e ao “mundo desenvolvido”. Certamente os utensílios domésticos como fogões,
grades, bacias sanitárias e banheiros públicos criavam um ar de modernidade e de progresso,
mas os edifícios que eram inteiramente importados é que forneciam, do ponto de vista urbano,
o mais impressionante elemento e símbolo de prosperidade que uma cidade poderia ter.
A variedade de produtos produzidos em ferro era divulgada através de catálogos que
vendiam desde pequenas ornamentações até prédios inteiros. Existia, naturalmente, uma
grande diferença entre se comprar um objeto composto de uma ou poucas peças, em relação à
montagem de um prédio constituído de centenas de elementos como vigas, pilares, chapas,
ornamentos, etc. Segundo Gomes, (pp. 49, 1988), os “exportadores de edifícios”, afim de
prevenir erros na montagem final, pois eram anteriormente edificados no terreno da própria
fábrica onde eram produzidos, e assim, enumerados todos os componentes, para então, após
serem desmontados e embalados para montagem dos edifícios no local de destino.
Obviamente que todo esse processo era supervisionado por técnicos da fábrica.
Independentemente do grau de informação e diversidade de produtos oferecidos nos
catálogos, sua importância maior estava no fato da impressão que causavam esses “manuais
do futuro”. Seu efeito psicológico, revelado na possibilidade de se adquirir, através de um
anúncio, a cópia completamente fiel de um modelo europeu, exercia um certo fascínio, pois
assim era possível se entrar em contato com a Europa de uma forma aparentemente simples.
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Sem dúvida isso representava um grande atrativo, pois a idéia de “mandar buscar” a última
palavra em tecnologia parecia realmente uma atitude moderna para a época. Para isso, eram
confeccionados catálogos, que eram cuidadosamente executados, através dos quais se expunha
toda a linha de seus produtos, onde as peças chamadas, de “exemples”, vêm numeradas,
separadas em seções e perfeitamente explicitadas quanto aos detalhes, proporções e medidas.
Além disso, eram apresentadas através de desenhos técnicos apurados que facilitavam a
escolha e permitiam ao comprador uma fácil visualização na hora de fazer e escolher
combinações.
A boa publicidade teve importância fundamental na aceitabilidade dessa arquitetura
industrial nos países importadores, entre eles o Brasil. O ideal do estilo de vida europeu era,
de repente, um sonho fácil de se realizar, não só pelos avanços prometidos e justificativas
apresentadas nos catálogos pelos construtores, tais como leveza, desmontabilidade,
serialidade, modulação, etc., mas, sem dúvida também pela possibilidade de em regiões pouco
desenvolvidas se receber um kit1, o que parecia diminuir a distância entre o mundo moderno e
países onde o processo industrial tardará ou não acontecerá; ou seja, numa pequena cidade que
possuísse um desses modelos, certamente seus moradores acreditariam estarem “ conectados
” às tendências, pensamentos e tecnologias mais avançadas da Europa.
“As aspirações das administrações regionais, assim como as públicas, estavam muito
mais voltadas para a obtenção de edifícios quase prontos, que desempenhassem bem suas
funções, seja de mercado, teatro, estação ferroviária, ou simplesmente de símbolo de
modernidade e progresso, podendo ser construído em pouco tempo e tendo o papel de
modernidade européia.
Por não serem fabricadas no Brasil acrescentavam a esse atributos o fato de serem
raros e de provirem geralmente de industrias do mais alto nível técnico, que mantinham
contrato com firmas locais.” (Teixeira, pp. 101, 1994).
Os exemplos de maior destaque da arquitetura em ferro, no Brasil, podem ser
observados na sua maioria em prédios públicos, a exemplo da ornamentação da Estação da
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Luz, em São Paulo, na ferrovia que ligava Santos a Jundiaí, através da qual escoava-se
principalmente a produção de café da região, inaugurada em 1867 pela empresa inglesa São
Paulo Railway. Além da estrutura em ferro e aço para as pontes e arcos da gare, importaram-
se até os tijolos e madeiramentos, sendo um caso particular na arquitetura do ferro no Brasil,
pois importou-se todo o prédio, inclusive materiais não metálicos.
Seguindo a tendência da participação do ferro apenas em determinados momentos do
projeto, está o Teatro José de Alencar, em Fortaleza, inaugurado em 1910, o qual possui como
a Estação da Luz, uma parte de alvenaria, neste caso projetada no Brasil e outra, pré-fabricada
em ferro, produzida na Escócia.
No caso do teatro, o partido geral, de autoria de Bernardo José de Mello, não foi
elaborado pela empresa inglesa responsável pelos elementos metálicos, pois como as peças
em ferro podiam ser encomendadas e compradas isoladamente, na suposição que arquitetos e
construtores podiam importar apenas partes em ferro que completariam seus projetos; só o
conjunto da platéia constitui-se de elementos metálicos, sendo o restante do prédio em
alvenaria.
Esses dois exemplos não foram escolhidos aleatoriamente pois, embora tanto o teatro
quanto a estação revelem de forma bastante clara o conceito histórico da arquitetura do ferro
no Brasil, a relação entre eles vai mais além de comparações estéticas e plásticas, pois têm em
comum o nome Walter MacFarlane & Cº., empresa fundada em 1850 na Escócia, e que sem
dúvida teve papel decisivo no desenho de prédios públicos neste país, pois estão gravados nos
dois casos descritos, a procedência inglesa em seus pilares, vigas, grades, chapas, etc.
Entre outros exemplos importantes da influência de Walter MacFarlane & Cº. no
Brasil, podem-se destacar o Pavilhão das Tartarugas, para vendas de carnes e peixe com
quiosques de refresco no Mercado de Manaus, o coreto da praça da Abolição, em Olinda, a
praça do Relógio em Belém e as escadarias da Biblioteca Pública em Manaus.
1 “Kit”, palavra da língua inglesa, que significa coleção, sortimento, estojo, bastante empregada com o sentido de jogo de peças que se prestam para montar ou armar um objeto.
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A origem inglesa de edificações em ferro e aço, tornou-se de certa forma quase
automática, quando se questionava a procedência de um prédio, ou parte dele, mas como a
proposta deste trabalho delimita seu campo de estudo na habitação, os exemplos mais
interessantes encontrados na bibliografia pesquisada são de residências de procedência belga,
que utilizam o conhecido sistema “Danly”.
O polo siderúrgico de Aiseau, povoado perto de Charleroi, iniciara suas atividades
desde o século XV, propiciadas, por um rio, uma floresta de carvalhos e minerais de ferro de
excelente qualidade que produziam excepcionais metais. O passo decisivo se deu no final do
século XVIII, quando várias fábricas são agrupadas e, finalmente, em 1863, quando Joseph
Danly (1839 - 1899), então com 24 anos, compra com seu irmão banqueiro, as instalações
industriais do local (Derenji pp. 76, 1993).
O sistema que Danly desenvolveu é, basicamente, um sistema arquitetônico de dupla
parede, lançado pela primeira vez, através de uma barraca tipo “ambulância-móvel”, como
projeto para um concurso em 1885. A grande inovação, era em um módulo pequeno, de
apenas 19,2 cm, articulado em uma estrutura na qual, todas as peças metálicas, incluindo o
revestimento exterior, participam da rigidez do conjunto, ao contrário do sistema
convencional de vigas e colunas, formando pórticos. Não se pode dizer que a conformação das
chapas que compunham as paredes, devia-se apenas a motivos técnicos, pois é explicito, a
aparência semelhante à fachadas em pedras, como pode ser observado, em projetos como a
estação de Bananal, em São Paulo (Gomes, pp. 193, 1988), entre outros.
Em relação aos edifícios residenciais, vale observar o relato feito por Gomes (pp. 203
a 204, 1988) ao visitar uma casa construída com o sitema Danly, na avenida Generalíssimo
Deodoro, nº 694, em Belém do Pará: (...) “Foi possível sentir o fluxo ascendente de ar
passando pelas paredes ocas, introduzindo a mão num dos poucos orifícios existentes,
causados pela deterioração do material, aparentemente sem conservação. (...) As paredes são
ocas, duplas, compostas de painéis, caprichosamente estampados, aparafusados a perfis de
ferro, que formam o caixote auto portante característico do sistema. As duas faces de uma
mesma parede distam, entre si, 0,26m. ”
16
Outro exemplo de habitação, também em Belém do Pará, é uma casa localizada na
Avenida Almirante Barroso, nº 152. Originalmente pertenceu ao almirante Álvaro Adolpho,
na qual, posteriormente, funcionou o curso de arquitetura da Universidade Federal do Pará, e
que atualmente serve como escritório da administração do clube social Monte Líbano. Essa
construção possui as mesmas características da primeira casa citada, pois também foi
projetada no sistema Danly da “Forges d’Aiseau”, e apresenta todo o revestimento em chapas
de ferro estampadas, igualmente pobre em ornatos.
Uma característica presente nestes dois tipos de edificação residencial, talvez
elaborada propositadamente, são os terraços, que envolvem quase que todo o perímetro das
residências. Sendo uma característica de casas coloniais, principalmente no campo, um grande
terraço, isso nos leva a acreditar que houve um planejamento especial para se desenvolverem
produtos especiais para países de clima quentes, já que não se vê ornamentação como um dos
elementos marcantes dos prédios, mas sim a planta baixa utilizada. Não que nos outros
sistemas, como os prédios de origem inglesa da Walter MacFarlane & Cº, não tivessem sido
projetados pensando-se no tipo de clima tropical, mas, sem dúvida, os conceitos planejados
por Joseph Danly mostram, já no século XIX, que uma arquitetura em estrutura metálica pode
ser projetada levando-se em consideração aspectos climáticos e geográficos, pois sua
maleabilidade construtiva se adequa facilmente às mais diferentes regiões.
Essas observações foram feitas baseadas em fotografias, pois, nas fontes pesquisadas,
encontra-se um acervo rico, inclusive de detalhes, que proporciona uma idéia bastante clara
dos sistemas construtivos de origem belga e inglesa, embora também constem exemplos de
edificações de origem francesa e alemã, países onde posteriormente, juntamente com os
Estados Unidos no final do século XIX, iniciaram também indústrias siderúrgicas,
aumentando-se a concorrência com os países pioneiros.
Os norte-americanos tiveram, até meados de 1850, uma fraca participação no setor de
construção em ferro e aço, porém, a partir desta data, com o desenvolvimento econômico e
principalmente com uso de uma tecnologia própria, difundiu-se rapidamente o uso de
estruturas metálicas na arquitetura. Esse desenvolvimento deu-se principalmente em Chicago,
sob diversos aspectos. Primeiro pelo incêndio de 1871, que destruiu grande parte da cidade,
fazendo com que fosse reconstruída, o que propiciou novas construções e métodos. Segundo
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pelo desenvolvimento do meio oeste americano, expansão da rede ferroviária, hidroviária e
exploração das reservas minerais, que transformaram a Chicago do século XIX em um grande
centro industrial, ocasionando a construção de diversos arranha-céus, como descreve Hart et
al. (pp. 12, 1978): “As early as 1895 the new constructional method had become firmly
established in all the major cities, but at that period Chicago had more High-rise steel frame
structures that all the other cities put together.”
Certamente os motivos citados se apresentaram como forte incentivo para a utilização
de estruturas de aço em Chicago. Existe, porém, além desses aspectos, a figura de um
engenheiro pioneiro, William Le Baron Jenney, um dos fundadores da Escola de Chicago, e
que projetou um dos primeiros prédios com este novo tipo de sistema estrutural em aço, no
ano de 1879, chamado de Leiter Building I, com sete pavimentos, o qual seria definitivo do
ponto de vista técnico, devido ao seu arrojo estrutural na época. William Jenney conseguiu
aperfeiçoar a estrutura de esqueleto de aço, o que permitiu aumentar-se a altura, sem receio de
se sobrecarregar excessivamente os pilares nos andares abaixo, o que, de certa forma,
contribuiu para a adoção de vidraças quase contínuas, que se tornaria um dos ícones da
arquitetura modernista em todo o mundo.
O desenvolvimento desse tipo de projeto criou, sem dúvida, uma nova metodologia
para a arquitetura, baseada na planta baixa elaborada a partir de tramas, lay–out livre,
modulação e grandes aberturas nas fachadas, o que foi rapidamente assimilado por arquitetos,
engenheiros e construtores, pois havia uma predisposição em “criar” ou defender uma
tendência própria, de certa forma desvinculada do historicismo arquitetônico empregado até
aquele momento na Europa. Essa mudança não se fez, porém, de forma incisiva ou
vanguardista, pois edifícios que utilizavam tecnologia de ponta, inclusive superando o know-
how europeu, como o edifício Guaranty Building, de 1895 (Hart, et al., pp. 15, 1978), de
autoria de Sulivan, embora com corpo estrutural principal em aço, possuía uma vasta
ornamentação eclética, principalmente no seu coroamento. O interessante desse exemplo
ocorre, sobretudo na marcação do tratamento da fachada, dividindo claramente o térreo e a
cobertura do resto do edifício, o que seria futuramente refinado e postulado no modernismo
por Le Corbusier, ou seja, vê-se nesses projetos os primeiros passos de uma arquitetura
sintonizada com as tendências estéticas da época. Após o grande passo inicial, os edifícios
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posteriores cada vez mais se superavam, principalmente no período entre 1920 e a II Guerra
Mundial, mesmo com a queda da bolsa em 1929, gerada pela conhecida crise da década de
vinte, que atingiu muitos setores. Foram, então, batidos vários recordes:
* Woolsworth Building - Nova Iorque, com sessenta e seis pavimentos,
construído em 1913.
* Empire State Building - Nova Iorque, com 381 m de altura,
construído em 1930.
* John Hancock Center - Chicago, com 344 m de altura, construído
em 1968.
* World Trade Center - Nova Iorque, com 412 m de altura,
construído em 1974.
No Brasil, o aço só alcançou proporções industriais em 1946, com a construção da
Companhia Siderúrgica Nacional - CSN, em Volta Redonda-RJ. Até aquela época,
praticamente todo o aço produzido no país era importado, tanto que a construção da própria
CSN foi executada por empresas estrangeiras, já que existiam poucas fábricas de estruturas
metálicas, como a Companhia Brasileira de Construção Fichet Schwartz-Hautmont, instalada
desde 1923, a Pierre Saby, desde 1935, a Construtora Metálica Nacional e a União dos
Construtores Metálicos, estas últimas só operando com estruturas leves geralmente, formadas
por treliças.
Com a boa aceitação de produtos planos e revestidos, faltava, entretanto, incentivar o
consumo de perfis laminados, utilizados na construção civil. Isso só foi possível quando a
própria CSN instalou uma fábrica de estruturas, a Fábrica de Estruturas Metálicas - FEM, em
1953, com o objetivo de difundir a construção metálica. Nos anos sessenta, com a Companhia
Siderúrgica Paulista - COSIPA e a Usinas de Minas Gerais - USIMINAS, ocorreu um
considerável aumento na produção e consumo de aços laminados, consolidando-se o emprego
das estruturas metálicas, o que fez estimular e crescer o número de fabricantes, que hoje
respondem por mais de 500.000 t/ano de capacidade instalada.
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A pouca repercussão, porém, que teve o aço na arquitetura brasileira, no contexto do
modernismo, se deve em parte a “cultura do concreto”, pois nomes como Gregory
Warchachik, já em 1927, em São Paulo, na Vila Mariana (residência própria), e em 1931 no
Rio de Janeiro (casa Norchild), indicavam em seus projetos tendências que a vanguarda
modernista apontava. Sem dúvida, a confirmação da estética assumida no país como modelo
de desenvolvimento em sintonia com os mais avançados conceitos artísticos europeus da
época, revelou-se em projetos como a capital, Brasília, projeto-piloto de Lúcio Costa, onde a
cultura do concreto nas mãos de Oscar Niemeyer desenvolveu-se em tal magnitude, que criou
um padrão imitado inúmeras vezes no Brasil, procurando manter semelhança com o perfil
daquela cidade “arrojada”, o que sucedeu, alias, não apenas no país, mas também no exterior.
É óbvio que um exemplo capaz de projetar a estética aqui defendida, embora ela não tivesse
suas bases na cultura nacional, fosse reverenciada em todo o mundo, fez com que o concreto
se tornasse um modelo, deixando outros materiais, do ponto de vista vanguardista, à margem
do conceito contemporâneo da arte.
Na história da evolução da estrutura metálica no Brasil, existe o importante nome do
escritório Paulo Fragoso, pois deve-se a ele, a Introdução e aperfeiçoamento do conceito de
vigas mistas, traduzido da Alemanha, um dos fatores mais importantes para a viabilização
econômica da solução metálica para edifícios altos. Estava deflagrado o processo que daria
início às edificações de aço no Brasil.
A importância de Fragoso pode ser traduzida nos seus diversos projetos calculados em
aço, como o primeiro edifício de múltiplos andares em estrutura metálica do país, o edifício
Garagem América, com 15 pavimentos, no ano de 1957, em São Paulo, de autoria do arquiteto
Rino Levi, o edifício Avenida Central, com trinta e seis pavimentos e 112 metros de altura em
1959, no Rio de Janeiro, e o hangar da Varig, em 1980, com pé direito de 29 m, entre outros.
Hoje em dia os exemplos de edifícios arrojados em estrutura metálica são inúmeros em
todo o país, mas como o tema deste trabalho é a habitação popular, no enfoque específico de
terrenos acidentados, não estão inseridas no seu contexto, grandes edificações com mega-
estruturas. Assim, procurou-se sobretudo pesquisar projetos de habitação no Brasil que
empregassem o aço como componente estrutural, voltados para população de baixa renda.
20
Podem-se destacar dois exemplos, embora sejam em terrenos planos, dão uma idéia do
emprego do aço na construção de habitação popular.
O primeiro, trata da construção, em 1988, pela COHAB, de edifícios (Dias, pp.111,
1993), no bairro de Heliópolis em São Paulo, conhecidos popularmente através do padrão
“caixão”. Estas construções se diferenciam do tipo de projeto típico desse programa, apenas
em relação ao material empregado nas vigas e pilares, neste caso em aço. Esses prédios, com
quatro apartamentos por pavimento, com dois quartos cada um, possuem a disposição básica e
comum em “H”, com circulação vertical no centro, repetindo conceitos já gastos de
zoneamento, modificando-se unicamente o material de sua estrutura, o que talvez sirva de
exemplo, mais do que as grandes obras, como justificativa de um estudo de habitação que
explore com mais riqueza as possibilidades técnicas do aço.
O segundo exemplo encontrado é, o sistema construtivo SPAT, aplicado a casas
populares em Santa Catarina, no bairro Jardim Planetário, em 1995. Embora empregue aço na
sua estrutura e inclusive na coberta, mantém-se alvenaria para o fechamento das paredes e
telhas em cerâmica para o telhado, o que sem dúvida, é um contra senso, pois se retrocede a
modelos construtivos artesanais, já que se emprega perfis metálicos com o objetivo de acelerar
a obra e posteriormente, na sua montagem, volta-se ao tijolo e ao cimento, mantendo-se
assim, o mesmo ritmo das construções em alvenaria.
2.3 – INDÚSTRIA NACIONAL
O Brasil chegou à década de 1970 gastando quase todas as suas divisas provenientes
da venda de café na compra de produtos siderúrgicos, passando na década seguinte a uma
capacidade de produção já acima da demanda interna, o que lhe permitiu expandir o mercado
de exportação. Esse é um fato relevante já que o Brasil se coloca entre os poucos países que
conseguiram, nos últimos anos, reverter a posição de importador para exportador, embora na
produção mundial tenha uma participação na ordem de 2,3%, e caia para menos de 1%, índice
não muito significativo se comparado ao volume de exportações de produtos siderúrgicos de
21
outros países. De qualquer forma, porém, em relação à América Latina o Brasil tem uma
produção na ordem de 50%.
Embora ainda com índices baixos, pode-se considerar o Brasil em boa posição no
mercado internacional de produtores de aço. Além de possuir reservas naturais, conta com 45
empresas. Este parque siderúrgico, é dividido em quatro grandes grupos (Oliveira, pp. 19,
1988):
1. Usinas de produtos planos de aços comuns e/ou de qualidade e porte do tipo - usinas
integradas -, operando com coque, com produção anual em torno de 3 milhões de toneladas e
de capital estatal. São elas: COSIPA (Companhia Siderúrgica Paulista), CSN (Companhia
Siderúrgica Nacional), CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão), USIMINAS (Usinas
Siderúrgicas de Minas Gerais.)
2. Usinas de produtos planos de aços especiais, inoxidáveis e chapas siliciosas. A
única produtora é a ACESITA, Companhia de Aços Especiais de Itabira, com uma produção
de cerca de 700 mil toneladas por ano.
3. Usinas de produtos não-planos de aços comuns e/ou de qualidade, na maioria com
capital privado, as quais processam, a partir de sucata e ferro gusa, principalmente vergalhões,
perfis leves, barras e fio-máquina. As principais indústrias são:
Açonorte, CBA, Cearense, Cobrasman, Cosigua, Cosinor, Dedini, Fi-El, Guaíra, Hime,
Itaunense, Mafersa, Mendes Júnior, Rio Grandense, Santa Olímpia, Santo Amaro, Santo
Stéfano e Zanini.
4. Usinas de produtos não-planos de aços especiais. A produção siderúrgica dessas
indústrias, na sua maioria, semi-integradas e integradas a carvão vegetal, fabricam uma grande
diversidade de produtos, de qualidade e preço elevado. São elas: Mannesmann, Acesita, Aços
Finos Piratini, Anhanguera, Villares, Aparecida, Vibasa e Eletrometal.
22
Recentemente nota-se articulações, tanto de empresas privadas quanto estatais, na
divulgação do emprego do aço na construção civil no Brasil, o que pode ser comprovado
através de publicações especializadas (Construções Metálicas), além da constituição de
empresas voltadas estritamente para estruturas metálicas, referidas anteriormente, como
também pelo funcionamento de um elenco de construtoras de estruturas metálicas bastante
extenso, além da formação de profissionais da construção com projeção nacional vinculados
exclusivamente a projetos em aço, cujos limites são naturalmente as condições de aquisição,
transporte, montagem e custos, os quais são sempre decisivos na opção por este tipo de
estruturas.
Com essas limitações, embora seja crescente o número de projetos que empregam o
aço, não só estruturalmente, mas tirando-lhe partido estético Ainda não podemos comparar
nossos números, nem os refinamentos e virtuosismo estéticos, com os alcançados no primeiro
mundo, nas construções norte-americanas e européias, pois os inúmeros exemplos dessas
edificações, vastamente publicadas em revistas e periódicos nacionais e internacionais,
mostram uma riqueza de detalhes estruturais e arquitetônicos, ainda não conseguida ou
explorada aqui no país.
2.4 – CONSIDERAÇÕES SOBRE HABITAÇÃO POPULAR AO LONGO DA
HISTÓRIA
Seria uma pretensão absurda tentar explicar 40.000 anos de evolução da habitação em
apenas um único trabalho e de forma tão resumida, mas a intenção da exposição dos conceitos
mais relevantes, ao longo da história, relacionados ao tema deste trabalho serve, sem dúvida,
para que se possa entender o por quê de aspectos de zoneamento e implantação, serem aceitos,
muitas vezes sem questionamentos e simplesmente aplicados, não se levando em conta outras
formas de distribuição de ambientes, com aproveitamento de novas técnicas estruturais e
formas de ocupação, nas quais está baseado o projeto aqui proposto para habitação multi-
familiar.
23
Os dados e citações apresentados neste tópico, têm a função de demonstrar, de forma
simplificada e resumida, inúmeros exemplos de casas populares no curso da história, o que
sem dúvida ajudará a se reexaminar alguns conceitos rígidos, no que diz respeito a projetos
desta ordem.
A maior dificuldade ao se tentar selecionar exemplos relevantes de habitações de
população de baixa renda nas culturas antigas, está no fato de apresentarem uma estrutura
quase sempre frágil, pois os restos arqueológicos são, na maioria, de construções maiores,
cuja estrutura e fundações resistiram aos anos, como templos, palácios, prédios públicos, etc.,
além de “(...) las ciudades praticarem en su vida una especie de autofagia en virtud de la cual
(y más si la ciudad es rica) destruye los edificios viejos para sustituirlos por nuevos.”
(Bellido, pp. 117, 1966). Por esses motivos, se fez necessário, também, escolher alguns
exemplos de residências de famílias abastadas pois, servem para demonstrar com que
mentalidade eram projetadas e construídas as habitações ao longo da história.
É questão importante e fundamental, para que se possa entender e justificar os
exemplos apresentados, a diferença entre habitações pobres e “habitações construídas para a
população de baixa renda”, onde, neste segundo caso, realmente se detecta uma consciência e
um padrão construtivo exclusivo para essa camada da população.
2.4.1 – As Primeiras Habitações
Desde os primórdios da humanidade, o homem vem se deparando com problemas
fundamentais, os quais pode-se dizer que basicamente são: segurança, alimentação e
habitação. Certamente o estudo histórico dos hábitos alimentares e da culinária revelam
aspectos importantes das diversas civilizações, assim como também os meios que o homem
utilizou para transformar a natureza em seu proveito. Mas, sem dúvida, um dos passos mais
importantes que a humanidade dá no início do seu processo evolutivo, surge quando o homem
se estabelece em um determinado local e ali forma uma comunidade. É nesse período de
transição, de culturas nômades para sedentárias, que representa a determinação intencional de
uma residência e de um local, de certa forma definitivos, que se apresentam duas
características importantes, ou seja, a habitação confere segurança ao núcleo familiar e
24
permite sua fixação, incentivando a procura de alimentos sempre próximos. As tribos
nômades se estabeleciam em regiões onde havia maior fartura, o que contribuiu para o
desenvolvimento da agricultura e domesticação de animais, e se evolui dos abrigos para as
“primeiras casas”, que davam maior segurança aos primeiros grupos sedentários.
O passo seguinte do homem foi, portanto, habitar pequenas e rudimentares cabanas,
segundo demonstram as descobertas na costa de Niza, na França, ocupada pelo homo erectus
durante o período das glaciações, por volta de 400 000 a. C. (Plazola, pp. 86, 1977)
Localizadas sobre dunas protegidas por um aglomerado de rochas, sua planta revela-se de
forma elíptica, cujas medidas variam entre 9 e 16 m de comprimento por 4 a 7 m de largura.
Sua estrutura, constituída de ramos, estava apoiada apenas em um dos lados, servindo como
anteparo para a coberta, que era revestida com folhagens. Estes abrigos possuíam duas águas,
embora os ramos estivessem apenas apoiados nas pedras, pois a evidência de buracos nos
centros das plantas seria um indicativo da existência de apoios supostamente para a cumeeira,
acreditam os especialistas. Talvez um dos aspectos mais interessantes destas moradias seja a
existência de um zoneamento interno bastante definido, como por exemplo locais onde foram
encontrados restos de fezes, confinados em uma área restrita, próximos a outros locais,
também delimitados, onde se encontrou material lítico e zonas sem restos arqueológicos que,
segundo os especialistas, representam locais de dormir. A divisão do espaço e delimitação de
atividades dentro de uma edificação, já era uma das preocupações do homem pré-histórico.
Indagações sobre a evolução do habitat humano, principalmente especulações de como
seriam as primeiras construções, estiveram presentes entre os historiadores que tentaram
elucidar como se desenvolveu o processo, principalmente no contexto da arquitetura, pois
estruturalmente as origens repousam sobre sistemas trilíticos, como as pedras de Stonehenge
(2775 - 1500 a. C. na Inglaterra). Resta saber como surge a intenção artística, e a partir de que
momento as concepções estéticas despertam interesse na construção, já que os aspectos
funcionais é que estão sempre presentes nos exemplos mais antigos.
Entre as especulações escritas a respeito do surgimento de concepções artísticas das
“primeiras casas”, destaca-se a seguinte: “Los órdenes, a juicio de Milizia, se diferenciaban
unos de otros a causa de los diversos tamaños de los árboles. Milizia anãde una nota
personal cuando sugiere que arcos y bóvedas derivan de las ménsulas que seguramente se
25
anãdieron en las esquinas alos troncos de los árboles para suportar más peso. Ya
continuacíon deduce todos los detalles de la construcíon en piedra, hasta las escaleras y sus
balaustradas, de la connstruccíon de una cabaña de madera. (...) Pensaba que hicieron al
principio con tablas, troncos o piedra sin labrar, lo qual dio lugar a diversos tipos de
superficie mural. La conjución del muro y la columna hizo nacer la arquitectura de “ bajo
relieve ” , en el que la columna no se alza orgulhosa y separada del muro sino que está más o
menos empotrada en él.” (Rykwert, pp. 82 a 83, 1974).
Essas especulações podem parecer um tanto absurdas, principalmente ao se observar
os desenhos elaborados pelo próprio Milizia (Rykwert, pp. 79, 1974), onde claramente é
sugerido que a cabana primitiva já nascia com intenções de se tornar uma parte das ordens
clássicas da arquitetura.
Demostrar de forma bastante resumida, a evolução do conceito de casa, enquanto
arquitetura, não implica em se descrever como surge a concepção de arte na construção, como
defendiam os tratadistas dos séculos XVIII e XIX. De certa forma, as pinturas rupestres nas
cavernas ocupadas pelos homens pré-históricos, já exprimiam, por si só, um conceito de arte,
bastante primitivo é claro mas, sem dúvida, comprovado nas diversas “tradições2” encontradas
inclusive no Brasil, como Tupi-Guarani e Nordeste. Assim, é possível se verificar que a
evolução se dá em um primeiro momento de forma técnica, passando a possuir posteriormente
outras conotações, inclusive a artística, pois, para ocupar esses abrigos, o homem teve que
primeiro expulsar animais e controlar o fogo, para depois poder utilizar esse locais e
transformá-los, tornando-os mais adequados às suas necessidades.
A mudança da caverna para as cabanas, não se deu de forma sistematizada. Inúmeros
exemplos encontrados no homem de Neanderthal revelaram abrigos feitos de ramos de
árvores fincadas no chão em forma de fileiras paralelas suportando barras horizontais, também
constituídas de ramos, dentro das próprias cavernas. Em muitos casos o revestimento
encontrado era de peles, e possuíam uma vedação superior diferentemente dos primeiros
modelos que utilizavam apenas folhagens.
2 Termo utilizado para designar estilos distintos de pinturas rupestres, utensílios e aspectos relativos a uma cultura pré-histórica.
26
Um dos exemplos mais interessantes de construção de cabanas em abrigos naturais,
encontra-se no sudoeste dos Estados Unidos, no Novo México, no sítio arqueológico de Mesa
Verde, descoberto no século XVII. Nesse local foram edificadas pequenas construções, em um
total de duzentas habitações em blocos de pedras, numa falha na encosta de uma montanha,
inclusive algumas com um primeiro pavimento (Willex, pp. 211, 1966).
Um bom exemplo para se entender os restos de abrigos encontrados são as aldeias
indígenas norte americanas, revestidas com peles, assim como também as que são encontradas
aqui no Brasil, como as cabanas das tribos do Xingu, forradas com folhagens, e das quais se
pode dizer que são semelhantes, do ponto de vista técnico, às primeiras construções pré-
históricas.
Fica claro, portanto, que dessa forma é que nasceu a cabana primitiva, as quais ao
longo do tempo, fizeram-se mais confortáveis e mais amplas, sendo as primeiras apenas
simples abrigos das intempéries do tempo e de animais selvagens, e que evoluíndo pouco a
pouco, formam verdadeiras aldeias terrestres e até lacustres.
Há 10.000 a. C., no Mesolítico, dentro da classificação arqueológica, iniciam-se
mudanças importantes como alteração lenta do clima, que se tornou mais úmido, propiciando
um crescimento maior de vegetação, desaparecimento dos grandes mamíferos de caça e a
domesticação de animais, como a ovelha no Oriente Médio, e primeiros indícios de
agricultura. A saída do homem das cavernas e o culto da natureza através de pequenas
estatuetas, são indícios que estão se organizando os primeiros núcleos sociais formados pelo
homem de Cro-Magnon, que atravessa o estreito de Bering e povoa toda a América. É nesse
contexto que pode-se começar a pensar em primeiras cidades e em primeiras habitações
organizadas, ainda que em um modelo bastante distante do conceito moderno de urbanização.
2.4.2 – Mundo Antigo
27
Segundo Plazola (pp. 90, 1977) o primeiro assentamento conhecido, considerado
cidade, é o de Jericó. A através das muralhas mais profundas que rodeavam a cidade,
encontradas a 17 metros de nível do solo, e feitas de grandes pedras, foram encontradas
datações com 8000 a.C., embora restos arqueológicos falassem de visitantes que frequentavam
aquele local por volta de 9500 a. C. As casas mais antigas dessa cidade possuíam planta
circular, sendo construídas de tijolos de barro, em forma de escarpas, feitos à mão. As plantas
retangulares só seriam construídas 1000 anos depois.
Na descrição de exemplos contemporâneos a Jericó, encontrados na África (7000 a.C.)
e na Jordânia (6500 a.C.), apresentados também através de plantas baixas (Plazola, pp. 91,
1977), nota-se que além das variações circulares, retangulares e elípticas, quase todas
possuíam áreas delimitadas para dormir, de uso comum, assim como ambientes para
armazenamento de alimentos, no caso, cereais, o que não significa um modelo e nem mesmo
caracteriza as residências naquela época Assentamentos mais desenvolvidos, do ponto de vista
técnico, como construções que alcançavam até o terceiro pavimento, foram encontradas na
Turquia (6500 a.C.), constituídas na maioria, de apenas uma única habitação, embora que
bastante delimitada quanto ao seu zoneamento. Leia-se, por exemplo, a informação de
Plazola:
“El cuarto unico 6 x 7 m estaba zonificado de la siguinte manera: en el rincón noreste
del cuarto, se elevaba el nível del piso un poco para albergar la cama del padre de la familia
hecha por medio de una estera tejida ; en la pared esta otra plataforma servía de recámara a
la mujer y los hijos; el horno lo ubicaban en la pared sur y junto a él un hogar abierto debajo
de la cobertura de acesso en el techo para que a la vez funcionara de tiro de chimenea. Para
la despensa de los víveres utilizaban aberturas hechas en el muro. Las funciones del baño las
efectuaban exteriormente en los patios de la comunidad o en los restos de casas
desocupadas.”. Falando a respeito da estrutura, acrescenta: “(...) muros de doble reforzados
con postes de madera a modo de castilhos para sostener una techunmbre plana con dos vigas
madrinas principales y un entramado de troncos más pequeños en su parte supeior. Esta
techumbre estaba recubierta por pedaços de caña mezclados con baro seco. Las casas se
edificaban una junto la otra sobre las ruinas de su antecesora por lo que se generaron varios
desniveles entre una y otra. Para evitar la intromisión de fieras salvages y prever las
28
inundaciones, no existía puerta al nível del suelo por lo que el aceso a la vivienda se
efectuaba por el techo en donde se realizaba una entrada consistente en una abertura
acompañada de una escalera. Esto provocaba que las circulaciones públicas se efetuaran por
los techos de los vecinos.” (Plazola, pp. 93, 1977).
Pode-se verificar que os exemplos até agora expostos, principalmente através da
citação de Plazola, tratam da habitação como elemento fundamental na determinação do
traçado urbano dessas primeiras cidades, ou seja, as ruas nasciam pela construção desordenada
e sobreposta de novas casas, as quais se apresentam, na sua maioria, formadas por plantas
baixas de geometria circular, retangular ou elípticas, o que proporciona uma malha irregular,
se é que se pode empregar este termo, tratando-se de casos tão desorganizados e primários,
mantêm seus parâmetros urbanos, fortemente relacionada com a disposição de cada
construção.
O passo seguinte da evolução no contexto urbano ocorre no desvinculamento da casa
como fator determinante no traçado das ruas, ou seja, existe um planejamento dos eixos da
cidade, anterior à construção das edificações, ao contrário da casualidade da malha urbana nas
cidades antigas. Assim se propicia, de certa forma, uma independência de concepção, que
ocorre a partir do momento em que se tem uma área restrita, ou seja, um lote, no qual uma
construção, desde que respeite certos códigos e normas impostos, pode ter certa liberdade no
seu projeto. Claro que não se está falando de conceitos artísticos, mas sim de aspectos
técnicos, de distribuição interna, dimensionamento, circulação, etc. Estes aspectos são
diferentes, no caso de construções que vão formando pouco a pouco ruelas e becos, como nos
exemplos anteriores descritos por Plazola. Esse conceito vem acompanhado de um
desenvolvimento social bem mais complexo pois, para existir uma racionalidade no traçado
de ruas, invariavelmente tem que ocorrer a hierarquização de áreas, ou seja, fica explícito que
devem existir locais públicos, comerciais, religiosos, etc., que propiciem uma sistematização
de acessos e fluxos dentro dessas cidades.
Os exemplos mais antigos dentro desse novo conceito de divisão entre eixo urbano e
edificação, podem ser vistos nas escavações das ruínas de Mohenjo-Daro (2500 a. C.)
29
descoberta em 1921, e localizadas nas margens do Indo. Constituída por um traçado reticular,
e edifícios retangulares, foi na sua época uma referência para outras de seu gênero no Oriente
Médio (Mesopotâmia), devido ao alto grau de urbanização, o que superava todas as formas de
ocupação conhecidas até então.
O traçado relativamente regular de Mohenjo-Daro, segue sem dúvida, um projeto
premeditado, como é possível comprovar através do trabalho de Bellido (pp.7 e 9, 1966):
“(...) Tres grandes calles paralelas de 10 metros de anchura la cruzaban de norte e sur y dos
de este a oeste formando barrios de 364 m. por 182 m. dentro de los cuales las calles
principales se cruzaban en ángulo recto formando manzanas. Las secundarias eran
estrechas llegando algunas o solo 1,25 de anchura. Este trazado en retícula hace de
Mohenjo-Daro el ejemplo conocido más remoto de una ciudad de planta orthogónica. (...)
Pero es más, la ciudad estaba provista de ciertos servicios no menos sorprendentes, como un
sistema de condución de agua, que permitió tener no solo fuentes públicas en abundancia,
sino incluso suministro domiciliario, lo que, a su vez, permitió en las casas el uso del baño y
hasta de retretes. (...) El sistema de aportación de agua es muy ingenioso. El canal tenía casi
la altura de un hombre e iba abovedado.”
Através das casas, de Mohenjo-Daro, comprova-se o alto nível de desenvolvimento
que alcançou aquela cultura, pois sua organização interna demostra um zoneamento bastante
complexo, o qual contava com: “(...) alcobas para varios sirvientes, una racámera para
invitados en la planta baja, las recámaras de la familia en un segundo nivel, un patio central
hacia donde daban las habitaciones, y un pozo de agua potable que suministrava agua para
toda la casa por medio de una red de tuberia interna.” (Plazola, pp. 95, 1977). O exemplo
apresentado deve tratar de uma casa de família abastada.
No mundo antigo, um exemplo interessante de casa popular em relação ao conceito
atual, são as escavações de Tell-el Amarna (Plazola, pp. 97, 1977), onde foram encontradas
um conjunto de casas pequenas constituídas com dois, três ou quatro dormitórios. Os
materiais de construção para essas habitações eram o barro para os muros, feitos de tijolos, a
palha para a coberta e a madeira como elemento estrutural. A planta apresenta-se de forma
30
retangular e a implantação seriada, ou seja, as casas estavam dispostas de forma linear, o que
nos faz lembrar repetidos exemplos de implantações atuais, embora as datações desses sítios
arqueológicos indiquem 1370 a. C.
Devido à existência de inúmeras culturas, as variações dos modelos das casas tanto
esteticamente, quanto em relação à sua distribuição interna, e levando-se em consideração as
diferenças cronológicas nos exemplos citados, pode-se dizer que existiu no mundo antigo uma
arquitetura popular, que foi desenvolvida visando a camada pobre da comunidade. Note-se
também que aspectos como serialidade, modulação e repetição de habitações já podem ser
detectados em várias culturas.
2.4.3 – Mundo Clássico
No mundo clássico, pode-se destacar entre os inúmeros casos conhecidos, as chamadas
“manzanas”3, da cidade de Agrigento (século V a. C.). Através de sua planta, é possível
comprovar uma certa serialidade do ponto de vista urbano, pois as casas se mantêm alinhadas
formando quadras retangulares, compondo um traçado conhecido como reticular4, além da
distribuição interna na maioria das casas manter certa modulação, no que diz respeito às
dimensões dos cômodos, embora ocorram variações no programa em relação ao número de
ambientes em várias residências.
Os dados obtidos na bibliografia, apresentam diversas plantas baixas e informações a
respeito de ricas casas e edificações de até sete e oito pavimentos, assim como cortes e
detalhes construtivos de vários períodos distintos da Roma antiga. Esses restos arqueológicos
das habitações, que se julgam haverem sido ocupadas, por indivíduos humildes, não se
mantiveram o suficiente para poderem ser analisadas. Entretanto, através da cidade de Ostia5,
pode-se ter uma idéia de como seriam as “tabernae”, em Roma, pois uma de suas
características está no fato de serem ambientes não apenas com funções da casa ou seja,
3 Grupo de edificações que formam uma quadra, não havendo separação entre os distintos blocos. 4 Traçado reticular, concepção urbanística mais antiga conhecida, descoberta em Mohenjo-Daro (2500 a. C.), primeira cidade a qual se atribuí esse tipo de urbanismo. 5 Ostia era um porto perto de Roma e pode ser considerada seu “bairro marítimo” (Bellido, pp. 136, 1966).
31
dormir, comer, cozinhar, descansar, etc., englobando também o uso comercial do mesmo
espaço, isto é, as “tabernae” possuíam a parte frontal destinada ao comércio e nos fundos os
aposentos e áreas íntimas, ocupação que pode ser vista hoje em dia, em qualquer bairro de
padrão semelhante aos da COHAB, onde em um primeiro momento as habitações são todas
iguais e, a medida que o tempo passa, a adoção de ampliações e sacadas, também com
objetivos comerciais, criam uma desconfiguração “lógica”, no sentido de que a cidade se
modifica continuamente e, em muitos casos, isto não é previsto.
O exemplo de Ostia serve para se compreender que a multiplicidade de usos sempre
foi uma constante em bairros pobres, pois o conceito de casa, como lugar exclusivo para vida
em família, diferente do conceito de local de trabalho, ligado apenas a relações profissionais,
não pode ser aplicado às comunidades carentes. O pequeno comércio surge nesses bairros,
primeiro nos aposentos da frente das casa, como pode ser visto ainda hoje em dia nas placas
que avisam “vendem-se picolé” ou “cortam-se cabelos”, e são justamente esses avisos que nos
advertem da maleabilidade das intervenções populares. O projeto que vai ser implantado
deverá, obrigatoriamente, considerar ampliações e multiplicações não só do programa da casa
popular, mas também quanto ao seu uso.
2.4.4 – Idade Média
Na Idade Média, a realidade física das habitações dos pobres obedece primeiro à uma
realidade jurídica, pois os homens se dividiam entre homens livres e servos, o que também
aconteceu nas culturas anteriores, mas, nesse período, é fator determinante. Não se pode
esquecer que a Idade Média dura dez séculos, podendo-se até falar de Idades Médias. Há
portanto, características especiais. A população medieval é sobretudo rural e não urbana, e
isso é um dado fundamental. A idéia da “polis” pertence à Antiguidade Clássica e a de
“grande cidade” é romana ou, mais remotamente grega. As invasões bárbaras funcionaram
como uma força anti-urbana, e os ricos prudentemente afastaram-se dos núcleos citadinos para
melhor se defenderem em castelos. Essa circunstância deve ser entendida não como um
desaparecimento dos núcleos citadinos na transição Antiguidade/Idade Média, mas seria
melhor entender-se o processo apenas como um “eclipse” das cidades.
32
Considerações de ordem econômica e demográfica são importantes na caracterização
do vilarejos medievais. “Ao sabor das fases de expansão e de estagnação nas quais influíam
tanto as condições meteorológicas quanto eventos políticos, como as guerras de início do
século XVII na Lorena , podem observar-se períodos de construção intensa, de abandono e
de substituição das construções privadas. Causas menos aparentes, devidas não a conjuntura
econômica, geral ou regional, e sim à própria evolução dos ciclos familiares no interior das
casas, também acarretam sucessivas transformações do espaço construído.
Tais razões determinam que não se separe o estudo das condições habitacionais (as
tipologias das construções, os planos dos espaços internos, o mobiliário e seu uso) do estudo
do grupo das pessoas aparentadas que moram no interior das casas.” (Duby et al., pp. 509,
1988).
O castelo nada mais é do que uma resultante da necessidade militar de defesa. Uns
tantos pobres habitavam os castelos como servos, em dependências especiais desprovidas de
conforto, já que a maioria da classe pobre (servos), vivia no campo em choupanas de adobe,
de dois cômodos no máximo, pois geralmente, tem apenas um no qual se dorme, se come, se
cozinha e se protege os animais no inverno.
Os pobres que viviam nas cidades em ruas estreitas, moravam em casas escuras e
geralmente com dois pavimentos, o primeiro de pedra ou adobe e o segundo de madeira, o que
provocava frequentemente incêndios. Eram habitações de artesãos, pequenos comerciantes ou
membros das chamadas corporações de ofícios. Há, portanto, uma distinção arquitetônica a se
fazer entre o servo da gleba (camponês pobre que paga impostos pesados aos donos da terra, o
senhor feudal), que mora em casebres ou choupanas, e o artesão, às vezes tão pobre como um
servo da gleba, porém, juridicamente um homem livre.
O testemunho arqueológico das habitações populares medievais é praticamente nulo,
ao contrário dos exemplos clássicos, descritos anteriormente. Além disso há uma diferença
importante, e que se pode utilizar como exemplo de comparação: são as “villae” de origem
romana e que correspondem à conhecida “casas grandes” de engenhos, e que deixaram
alicerces, mosaicos, etc. As “villae” fazem parte de uma estrutura econômica-agrária não
33
militar, ao contrário do castelo, onde a preocupação com a defesa era básica, e lhe dava
formas características (solidez, dificuldades de acesso, construção demorada e pouco luxo). A
“villae” e os castelos constituem a arquitetura dos que têm poder econômico. A casa do
camponês medieval era uma cabana miserável, construída de varas cruzadas e recoberta com
barro, tendo no telhado de palha um buraco pelo qual saía a fumaça. A cama era apenas um
caixote de madeira cheio de palha e o piso constituía-se de barro batido.
Uma rica fonte de estudo e observação da tipologia e mobiliário das casas medievais,
pode ser verificada através de quadros de pintores da época, como nos sugere Collomp: (Duby
et al., pp. 501, 1988).
“O pintor Albrecht Dürer nos deixou determinado número de desenhos, muitos deles
aquarelados, que mostram casas de vilarejos e cidades da Alemanha, da Áustria, da Itália no
final do século XV e início do XVI. (...) Os desenhos de edifícios nos apresentam os materiais
usados na construção : tijolos aparentes ou rebocados nas casas com vigas aparentes e
telhados inclinados do bairro da capela de São João Nuremberg.
Uma característica interessante, descrita por Collomp, e inclusive observada nos dias
atuais, e discutido mais adiante no Capítulo 4, item 4.4, é o fato da cozinha não se apresentar,
em casas de gente pobre, separada da sala, mas sim formando um espaço único.
“(...) a mesa redonda com uma toalha branca (a mesma toalha que voltaremos a ver nos
interiores rurais dos irmãos Le Nain), sobre o qual se encontram tigelas contendo uma sopa
a base de leite (a família retratada possui vacas, pois um homem e uma mulher estão fazendo
manteiga). O mais surpreendente é o fogão central, no nível do solo, com o imenso caldeirão
pendurado numa grande cremalheira.” (Duby et al., pp. 503, 1988).
2.4.5 – Vilas Operárias (Bauhaus)
34
O desenvolvimento industrial dos países europeus, a partir do século XVIII, criou um
padrão de habitação no qual prédios multi-familiares são projetados para os trabalhadores
perto de fábricas e indústrias (vilas industriais).
Entre as características dessas vilas, podem-se destacar: a padronização dos materiais,
repetição das plantas baixas e implantação. Nos vários exemplos existentes, vale ressaltar os
estudos desenvolvidos na Alemanha, durante os anos da BAUHAUS, onde a casa proletária,
alcança uma compreensão extrema, como pode ser observado em projetos como a “cidade
nova” de Hilberseimer (Droste, pp. 212, 1990), na qual, as casas dos trabalhadores eram
pensadas também levando-se em consideração possíveis ampliações, partindo-se de uma
planta básica. Há também os estudos propostos por Mies Van der Rohe (Droste, pp. 156,
1990) de casas com oficina, casas independentes de dois pavimentos e casas unifamiliares de
um pavimento, entre diversas outras propostas.
2.4.6 – Origens da Habitação Popular no Brasil
No Brasil, as primeiras construções de habitação para população pobre, e porque não
dizer, miserável, foram as senzalas. Embora estas fossem apenas cubículos inabitáveis, torna-
se evidente que existe, em alguns casos, uma implantação padronizada e de forma seriada.
Um exemplo interessante, ainda conservando seus antigos componentes (casa grande,
senzala, moenda e capela), está situado no Município de Igarassu, a 31 quilômetros ao norte
do Recife. Trata-se do Engenho Monjope, que data da primeira metade do século XVII. É
possível verificar-se na sua implantação, a disposição linear e paralela das senzalas, formando
um arruamento em frente da casa-grande. Este caso não caracteriza propriamente as senzalas,
pois representa um exemplo pontual, mas serve para se exemplificar, uma das origens das
casas de trabalhadores pobres no meio rural açucareiro.
Deve-se também fazer uma divisão jurídica, como foi feito anteriormente ao se falar
da Idade Média, quando se trata do Brasil. Os exemplos iniciais são de habitações de escravos,
diferentes das casas de homens pobres e livres, as quais, de forma genérica, modificam sua
35
técnica de construção conforme o local, ou seja, as casas no litoral apresentam uma técnica
distinta. A diferença básica reside no material empregado, pois, no interior, principalmente em
São Paulo, a taipa de pilão foi a técnica usada nas primeiras construções, conforme a frase
emblemática de Lemos: (pp. 26, 1989) “A taipa de pilão simbolizou a civilização paulista”.
A região onde os jesuítas implantaram o colégio era quase um morro, cercado de
brejos. Nesse lugar não havia pedra e foi somente a partir do século XVIII que se descobriram
jazidas de limonita, que forneceram material para as fundações de algumas edificações da
época, na qual a pequena São Paulo já estava configurada em taipa de pilão.
No litoral, devido as terras das praias serem impróprias à compressão e apresentarem-
se pouco “argilosas”, não suportando os índices pluviométricos da região, adotaram-se pedras,
que, devido a sua abundância e a existência de bastante cal produzida a partir de calcinação de
blocos de sambaqui, caracterizou um sistema estrutural de arquitetura litorânea, definida pela
simples aptidão da mão de obra disponível e dos materiais oferecidos pelo meio ambiente.
São encontrados diversos exemplos de habitações que empregavam esse material como
alvenaria.
Um programa novo, surgido com a arquitetura de tijolos, refere-se ao “sobradinho”,
nas vilas operárias, destinado a classe média baixa e foi massificado no período da I Guerra
Mundial. Os “sobradinhos” construídos a partir de lotes estreitos, apresentam um zoneamento
simples, com dormitórios, em média dois, no primeiro pavimento, e possuem além de sala,
cozinha e banheiro no térreo, sendo este último também encontrado, em uma edícula no
quintal.
Atualmente, existem inúmeros exemplos de projetos voltados para população de baixa
renda, principalmente aqueles financiados pelo extinto BNH, e projetos de auto-construção,
assim como financiamentos da Caixa Econômica Federal. Nesta pesquisa, como o interesse é
de uma proposta tecnológica, só foram pesquisados aqueles trabalhos com o esse enfoque.
Entre eles, podem-se destacar duas publicações: Arquitetura e Habitação Social em São Paulo
– 1989 a 1992 (Bonduki, 1993) e Dez Alternativas Tecnológicas para Habitação
(MINTER/PNDU, 1989). Nos projetos apresentados, são encontrados os mais diversos tipos
36
de implantações, compostos de construções unifamiliares e multifamiliares, com no máximo
cinco pavimentos, empregando-se diversas técnicas, desde taipa em blocos prensados até solo
cimento, embora nenhum deles trate do problema da construção popular em encostas e muito
menos em estrutura metálica.
Todos os exemplos citados ou comentados, e os aspectos levantados, tais como
zoneamento, modulação, implantação, programa, distribuição e compatibilidade com outros
usos foram empregados para se entender alguns conceitos básicos e, principalmente, suas
origens relativas à habitação popular. Não é, porém, intenção deste estudo, além de fugir do
escopo do tema tratado, demonstrar a evolução histórica da casa, e sim apresentar exemplos
que tragam fundamentação para alguns dos conceitos aqui propostos, e que serão apresentados
no Capítulo 4.
Capítulo 3
CONSIDERAÇÕES SOBRE O AÇO
3.1 – INTRODUÇÃO
Se faz necessário, inicialmente, algumas considerações sobre o aço, não só para
apresentar suas características, mas, principalmente para expor suas vantagens na construção
civil, já que a concepção estrutural no projeto aqui proposto, é composta exclusivamente de
barras metálicas.
Dos itens 3.2 a 3.6, são expostas a forma de extração e obtenção, assim como a
composição básica das chapas encontradas no Brasil. Os itens seguintes, 3.7 – Características
das Estruturas Metálicas – e 3.8 – Principais Produtos em Aço – têm como objetivo
demonstrar, de forma esquemática, a diversidade dos produtos metálicos, produzidos no país,
como por exemplo: o aço de qualidades estruturais, aço carbono, aço para usos gerais, chapas
de piso, etc, e onde também são descritos seus aspectos relativos ao tipo, forma, aplicação,
especificação além de alguns comentários.
38
3.2 – OBTENÇÃO DO AÇO
Pelos dados e informações apresentados no histórico sobre o aço e o ferro, foi
analisado que as dificuldades na obtenção de ligas metálicas ao longo da história, deram-se
basicamente sob dois aspectos: tecnologia que permitisse controle da temperatura, conseguida
através dos altos fornos e dos foles hidráulicos e a substituição do carvão vegetal pelo
mineral.
Atualmente, o processo empregado baseia-se na extração em jazidas naturais de
minério de ferro, de carvão mineral ou de carvão vegetal, este último oriundo de reservas
florestais.
3.2.1 – Elemento Ferro
Encontrado na natureza, e basicamente composto de oxigênio, ferro e sílica sob forma
de pedra compactada, o minério de ferro passa por um processo de redução, com o objetivo de
separar–ló de outros elementos.
3.2.2 – Elemento Carbono
Elemento fundamental na obtenção do aço, o carbono, é obtido a partir do carvão
vegetal ou mineral, que assim como o minério de ferro, também tem que ser separado de
outros elementos.
No carvão mineral é aplicado o processo de destilação, denominado coqueificação, que
o isola do alcatrão, benzol, amônia, tolueno e do fenol, entre outros componentes. Resultam
desse processo: carbono e cinzas, os quais são então chamados de coque.
No carvão vegetal, devido ao alto teor de carbono e baixa incidência de outros
elementos, o uso é direto e sem nenhum preparo.
39
3.2.3 – Sinter
Entre as matérias primas empregadas na obtenção do aço, temos o sinter, que não é
básico. Esse produto é resultante da queima de mistura de finos de minérios de ferro,
constituída basicamente de moinha de coque, finos de calcários , areia de sílica e finos do
próprio sinter. A importância desse componente está condicionada com a possibilidade de um
maior rendimento e qualidade do ferro, denominado ferro gusa, que se obtém diretamente do
alto-forno.
3.3 – REDUÇÃO
Como foi visto nos tópicos anteriores, onde registrou-se a forma pela qual são
encontrados os elementos básicos para a obtenção do aço, concluí-se que do minério de ferro e
coque, só interessam respectivamente: o ferro e o carbono.
A redução ocorre em um alto-forno, no qual são introduzidos: minério de ferro, coque,
calcário e sinter. O processo ocorre ao se injetar ar em alta temperatura, do que resulta a
combustão do coque e o carbono em parte queimado pelo oxigênio do ar. Forma-se assim o
monóxido de carbono que, passando pelo minério de ferro, “rouba” oxigênio e transforma-se
em dióxido de carbono, liberando o ferro.
Por último, ocorre a separação entre o ferro em estado líquido e a escória, constituída
por uma mistura de silício, calcário além de outros elementos, da qual resulta um ferro
denominado ferro gusa, que contém impurezas, e que, sendo refinado posteriormente,
resultará em aço.
3.4 – REFINO
40
O refino ocorre em um setor da siderúrgica chamado aciaria, que trata o ferro gusa em
um forno especial para remover o silício e outros elementos indesejáveis, através de aditivos
que incorpora e que é conjuntamente eliminado nas escórias ou sob forma de gases, além de
provocar a diminuição do carbono.
Após os processos descritos, o aço, ainda líquido, sofre variações na sua composição
química. Dependendo de qual o emprego lhe que será dado, são adicionados vários outros
elementos. É então, vazado em lingoteiras ou nos fornos e poços de laminação, solidificando-
se lentamente. Podem ocorrer também transformações mecânicas e, portanto, esta é a última
fase para obtenção do aço, conseguido através de laminação ou forjamento.
3.5 – LAMINAÇÃO
O processo de laminação subdivide-se basicamente em laminação a quente e
laminação a frio.
No processo de laminação a quente os lingotes entram primeiramente em um
laminador, denominado desbastador, afim de tornar os lingotes menos bastos. Logo em
seguida, entram em um forno de reaquecimento para então passarem por outro laminador,
denominado de reversível. Finalmente, as chapas entram no laminador contínuo de
acabamento a quente, tomando, após esse processo, a forma de bobinas, para posteriormente
serem cortadas através da tesoura e guardadas na forma de chapas finas. Essas chapas são
empregadas para confecção de perfis soldados, ligações, emendas e bases de colunas.
Na laminação a frio, empregada principalmente em chapas finas, sob forma de
bobinas, o processo se inicia com seu desenrolamento a quente, através de uma linha de
decapagem, para novamente serem rebobinadas. A bobina decapada passa então em um
laminador contínuo de acabamento a frio, para em seguida entrar em um forno de
recozimento. Na última fase do processo as chapas passam por um linha de encruamento e
finalmente são cortadas através de uma tesoura. Nesse processo de laminação são empregadas
chapas geralmente com espessura inferior a 3 mm.
41
Na Figura 3.1, tem-se uma idéia clara das fases da laminação de diversos componentes
metálicos, nos quais pode-se observar a evolução, passo a passo, na obtenção das seções de
perfis.
Perfil “I” Cantoneira Perfil “U”
Trilhos Estaca Prancha
Figura 3.1 – Fases da Laminação (AÇOMINAS, vol. I, pp. 29, 1982).
3.6 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA BÁSICA DAS CHAPAS
Composto quase que exclusivamente de ferro, em uma proporção de 98% e com
pequenas quantidades de carbono, silício, enxofre, fósforo, manganês, etc., o aço, é um dos
42
materiais que melhor relação oferece entre esbeltez e resistência, um dos motivos pelo qual foi
escolhido para este trabalho. Entre o materiais que compõem a liga de aço, o que tem maior
influência sobre suas propriedades é o carbono, responsável pela alta resistência mecânica e
ductilidade (capacidade de deformação antes da ruptura).
Os aços utilizados na construção civil são divididos basicamente em dois grupos: aço
carbono e aço de baixa liga.
3.6.1 – Aço Carbono
O aço carbono é o tipo mais empregado na construção civil. Como o próprio nome
indica, é através da adoção de carbono e, em menor quantidade, também de manganês, que se
consegue aumentar a resistência em relação ao ferro puro. Na prática, o teor empregado de
carbono não ultrapassa 0,45%, pois acima desse padrão ocorre um decréscimo da
soldabilidade e o material torna-se quebradiço.
3.6.2 – Aço De Baixa Liga
O aço de baixa liga é o aço carbono, acrescido dos chamados elementos de liga, em
pequenas quantidades, como por exemplo: nióbio, cobre, manganês, silício, etc. Esses
elementos permitem baixos teores de carbono, na ordem de 0,20%, sem contudo se alterar a
soldabilidade, e o mais importante, obtém-se assim altas resistências nas ligas de aço.
Outra preocupação ao se fabricar chapas metálicas, incide na resistência à corrosão, ou
seja, com pequenas variações químicas, acrescentado-se componentes como vanádio, cromo,
cobre, níquel e alumínio conseguem-se obter os chamados aços de baixa liga, com alta
resistência mecânica e resistente à corrosão atmosférica.
43
3.7 – CARACTERÍSTICAS DAS ESTRUTURAS METÁLICAS
O aço na construção civil possui as seguintes características mecânicas:
3.7.1 – Resistência
O aço possui alta resistência a tensões (tração, compressão, flexão, etc.) se comparado
à madeira ou concreto. Isso significa que os elementos de uma estrutura em aço (pilares,
vigas, etc.) suportam grandes esforços com perfis delgados, ou seja, com áreas de seções
pequenas se comparadas ao comprimento da peça. Isto é possível graças à sua alta densidade,
7.850 kg/m3, que possibilita um menor volume estrutural.
Essa elevada resistência mecânica, conseguida em relação ao seu peso específico,
permite ao projetista buscar estruturas mais leves, não só através do material, mas também em
relação à geometria, ou seja, o aço permite conformá-lo de modo que as forças que agem nas
barras tenham uma melhor distribuição.
3.7.2 – Comportamento Estrutural
Os elementos em aço oferecem grande segurança, pois seu comportamento estrutural,
representado pela elasticidade, ruptura e limite de escoamento, são bem definidos. Esse
comportamento se dá pelo fato do material se apresentar único, uma vez que na maioria das
estruturas metálicas, dificilmente atuarão outros materiais.
A maior resistência do aço permite a realização de um projeto mais leve, com bom
alinhamento na construção, pois os elementos estruturais chegam à obra já nas dimensões
exatas, e desse modo se reduzem os excessos de correções, com revestimentos e reboco.
44
3.7.3 – Construção
Os elementos em aço são produzidos nas fábricas de forma seriada, restando apenas
sua montagem, diminuindo-se assim bastante o tempo da obra. A dispensa de escoramento e a
realização rápida de várias lajes, pois montam-se rapidamente os pavimentos a partir do
momento da entrega dos elementos estruturais no local da obra, pode-se construir em
ambiente limpo, reduzindo-se o acúmulo de entulhos dentro e fora do canteiro.
3.7.4 – Manutenção
Devido à produção padronizada e dimensões estruturais (áreas das seções menores),
torna-se mais fácil trocar ou reforçar elementos estruturais em aço, além da possibilidade de
se desmontar e transportar para outro local, sem grandes perdas.
3.7.5 – Economia
As estruturas metálicas, principalmente em edifícios de múltiplos andares, reduzem o
custo da obra a partir das fundações. Devido ao peso menor do esqueleto estrutural são
utilizadas fundações mais econômicas. Ao mesmo tempo em que são executadas as
fundações, paralelamente, se fabrica o esqueleto estrutural. Com o esqueleto pronto e
entregue, resta apenas sua montagem. Foram apontados nos itens anteriores, a dispensa de
escoramento, assim como a redução do acúmulo de entulhos dentro e fora do canteiro além do
bom alinhamento na construção, reduzindo-se excessos de correções, o que diminui o custo
total da obra.
Fazendo-se uma comparação entre as espessuras empregadas no reboco de estruturas
metálicas, observa-se um ganho significativo em relação as estruturas em concreto e alvenaria
O reboco empregado, nas estruturas de concreto para corrigir imperfeições, é em torno de 20
mm a 25 mm de espessura, enquanto nas obras em aço não é necessário mais do que 5 mm,
45
sem prejudicar a finalidade e qualidade do mesmo. Considerando-se que o revestimento pesa
em torno de 2 t/m3, verifica-se que a economia direta obtida ultrapassa a cifra de 30 t. por cada
1.000 m² de revestimento, reduzindo assim o custo com materiais, mão de obra, transportes,
deslocamentos, e armazenagem, bem como carga nas fundações, (Werneck, pp. 41, 1984).
É importante salientar que para uma economia significativa, em comparação com
outros tipos de estruturas, é necessário um ordenamento rigoroso do cronograma da obra, pois
o aço requer uma execução sistemática para que se possa reduzir também os encargos sociais
da construção.
3.7.6 – Reaproveitamento
As estruturas metálicas possibilitam o reaproveitamento após sua desmontagem ou
apenas de partes que não estejam mais atuando na estrutura. Esse aspecto, de certa forma
remoto, é entretanto um fator importante no uso de estruturas metálicas, pois o preço de uma
demolição, varia entre 10% e 15% do valor total, que pode até ser diminuído, levando-se em
consideração que o aço pode ser vendido como sucata ou reaproveitado, dependendo do caso
e do estado de conservação da estrutura.
3.7.7 – Aumento da Área Útil
O aumento da área útil de uma planta baixa pode ser comprovado através da Figura
3.2, na qual são comparadas as dimensões entre pilares de concreto e de aço. Dada a maior
resistência da estrutura metálica, consegue-se uma redução na área das seções dos pilares. São
comparados pilares dimensionados para carregamentos de 1000t pilares à esquerda, e 100t
pilares à direita. No emprego de grandes estruturas, observa-se que o ganho é bem maior no
pilar em aço revestido de concreto e de seção quadrada de 45 cm, representando um ganho na
diminuição de sua área de quase 75%, se comparado ao pilar de concreto. Embora também
ocorra uma diminuição da área da seção do pilar submetido a 100t, o índice é reduzido pela
metade.
46
No caso específico de habitações populares, como o dimensionamento interno das
casas quase sempre se mantêm nos limites de medidas mínimas, isto significa que o aço é
também indicado para esse tipo de construção, já que ocorre um ganho de área na planta baixa
em relação às dimensões dos pilares e vigas da estrutura.
920
920
450
450 210
210
290
290
a) carga de 1000t b) carga de 100t
Figura 3.2 – Comparação de Dimensões de Colunas de Aço com Colunas de Concreto
(AÇOMINAS, Vol. I, pp. 54, 1982).
3.7.8 – Resistência à Corrosão
Uma das características dos metais expostos ao ar ou oxigênio é o fato da oxidação
ocorrer de forma bastante rápida nas etapas iniciais, tornando-se posteriormente mais lenta.
47
Essa diminuição do tempo de oxidação ocorre quando se forma uma película, resultado da
própria corrosão, capaz de separar o metal do oxigênio. Caso ocorra o aparecimento de
cavidades entre o metal e a película, pode-se gerar grave diminuição da sustentação, pois se o
óxido não é o suficientemente plástico para assentar-se sobre o ferro serão produzidas fissuras
que deixarão o oxigênio entrar, fazendo com que ocorra aumento de regiões corroídas.
Especificamente em relação à corrosão do ferro, ocorrem três capas, que
correspondem, salvo algumas variações, aos três óxidos: FeO, Fe3O4 e Fe2O3, e que variam
em relação à quantidade de ferro, sendo o nível máximo nas mais profundas.
Pode-se teoricamente admitir que, ao se aumentar a espessura da capa de óxido em
ligas de ferro, estas estariam mais protegidas da oxidação. Na prática, entretanto ocorre o
desprendimento dessa capa por atrito, ou mais freqüentemente por flexão, quando diminui a
temperatura, já que se produzem esforços desiguais devido às contrações, entre o metal e o
óxido, além da fragilidade deste último, o que provoca pequenos desprendimentos em barras,
quando submetidas a esforços.
Alguns elementos são adicionados ao aço como prevenção à corrosão, como por
exemplo cromo, alumínio, tungstênio e silício. Quando se emprega alumínio, se utiliza
também níquel, para lhe dar estrutura austenítca, como é o caso dos aços inoxidáveis.
Por último, resta acrescentar que as proteções contra corrosão, dentro dos processos de
limpeza, aplicações de tintas de fundo e de acabamento, sendo feitas na fábrica, terão todas as
condições de conferir uma excelente qualidade ao material. Entre os processos mais comuns,
tem-se:
3.7.8.1 – Pintura
Este é o processo mais prático e usual para se proteger as superfícies metálicas, devido
à sua relativa facilidade de aplicação. O aspecto mais importante dessa operação é a fase de
limpeza da superfície a ser pintada, pois dela dependerá a qualidade do serviço.
48
Podem-se distinguir quatro categorias de tratamento: detergência, emprego de
solventes, decapagem e ação mecânica, que é o método mais comum. Esse último consiste na
utilização da ação abrasiva manual ou mecanizada. No caso de processos manuais são
utilizados escovas, marteletes, lixas etc., e no caso dos mecanizados, raspadeiras, lixadeiras,
escovas rotativas, etc.
Entre os processos mecânicos, a limpeza por jateamento constitui o procedimento mais
eficiente para remoção de escamas de laminação e ferrugem, para depois então ser executada a
etapa seguinte, que é a pintura.
3.7.8.2 – Revestimentos Metálicos
Existem diversos processos, entre os quais: galvanização, metalização,
eletrodeposição, etc. O processo mais empregado é a metalização com zinco, através da
aplicação do metal fundido, por meio de pistolas.
3.7.8.3 – Proteção Catódica
Este processo usa anodos, cujo potencial é inferior ao do aço, o que provoca um fluxo
de corrente através de eletrólito nos metais, de tal maneira que os cátions saem do anodo para
o eletrólito, ao mesmo tempo que os elétrons se dirigem do anodo para o catodo, seguindo o
circuito metálico, formando-se assim uma pilha galvânica.
49
3.8 – PRINCIPAIS PRODUTOS EM AÇO PRODUZIDOS NO BRASIL
Na Tabela 3.1, são apresentados os principais tipos de aços produzidos no Brasil com
o tipo, características, classe e respectivos comentários. Na tabela 3.2, expõem-se os tipos de
produtos produzidos em aço no país, com sua forma, aplicação, especificação e comentários.
Tabela 3.1 – Tipos de Aços Produzidos no Brasil (Magalhães, pp. 145 e 148, 1984).
Tipo
Característica
Classe
Comentário
Aços
carbono.
Diversas.
De baixo até
alto carbono.
São fabricados em todos os graus de desoxidação, desde aço doce até
alto carbono, em forma de chapas, tiras tubos, perfis I, U, H,
cantoneiras, barras, etc.
Seguem normas tais como SAE (1006-1095), diversas classes de
ABNT, ASTM, API, DIN, ABS, BV, LR, normas próprias das usinas,
caracterizadas para uso em estruturas de engenharia civil, arquitetura,
engenharia naval, engenharia química, engenharia mecânica, etc.
Todas as classes deste aço são fabricadas no Brasil, inclusive produtos
de grandes dimensões com tratamento térmico de normalização,
têmpera de revenimento. Os aços para estrutura naval são fabricados
pelas usinas homologadas pelas entidades classificadoras e os produtos
são inspecionados rigorosamente e periodicamente por estas entidades.
Existem também alguns outros produtos sujeitos à inspeção terceira.
Tabela 3.1 (continuação)
50
Tipo
Característica
Classe
Comentário
Aços micro-ligados e baixa liga.
Alta resistência com excelente soldabilidade.
50 kgf /
mm² a
80 kgf / mm²
Alguns tipos desta classe são fabricados no Brasil, principalmente, em
chapas e tiras de grandes dimensões. São fornecidos com baixo carbono
equivalente, conforme normas próprias de empresas siderúrgicas, ABNT,
ASTM, DIN, NAVAL, API, etc., como laminados ou normalizados, das
quais algumas garantem até propriedades de impacto. Entre os produtos
desta série, como laminados e tratados termicamente (temperados e
revenidos), são fabricados no Brasil principalmente em forma de chapas e
tiras de grandes dimensões. São fornecidos em baixo carbono equivalente,
conforme normas próprias de empresas siderúrgicas, DIN, API, etc. Quase
todos os tipos de produtos desta série têm garantia até de propriedades de
impacto.
Alta resistência soldável e resistente à corrosão atmosférica.
50 kgf /
mm²
São fabricados alguns tipos desta série, em chapas e tiras de grandes
dimensões e diversos tipos de perfis, vigas, cantoneiras, etc. A maioria
dos produtos é fabricada pelas normas próprias desenvolvidas por
empresas siderúrgicas, tais como, a série de SAC da Usiminas, NIOCOR e
CORTEN da CSN, sendo outros à parte fabricados conforme a norma
ASTM.
Aços micro-ligados e baixa liga.
Alta resistência soldável, com boa tenacidade a baixa temperatura.
50 kgf /
mm²
São fabricados alguns tipos desta série, com garantia de tamanho de grão
austenítico fino e tenacidade a temperatura relativamente baixa,
principalmente, em forma de chapas grossas, tiras de grande dimensões e
tubos conforme ASTM, DIN, etc.
Média resistência para uso a altas temperaturas.
Temperado até 600ºC aproximadamente
Dentre os diversos tipos de aços micro-ligados e de baixa liga, quase
todos os tipos desta série são fabricados em forma de chapas grossas e
tiras de grandes dimensões, tubos, alguns tipos de perfis, etc.
Tabela 3.1 (continuação)
51
Tipo
Forma
Aplicação
Comentários
Especificação
Aços ligados.
Diversas.
Média até alta
liga.
Dentre os aços média e alta liga com
grande variedade de tipos de aços,
alguns são fabricados no Brasil,
principalmente, em duas empresas
siderúrgicas integradas.
A Mannesmann fabrica,
principalmente, aços até média liga em
forma de tubos sem e com costura. A
Acesita fabrica maior gama de chapas
finas a quente, platina barras, etc.
Tabela 3.2 – Tipos de Produtos (Magalhães, pp. 147 e 148, 1982).
52
Tipo
Forma Aplicação Comentários Especificação
Qualidade
Usos Gerais.
CG, BQ, CFQ,
BF, CFF, CGT
e BG.
Diversos.
Aços de baixo, médio e alto carbono
com garantia somente de composição
química. Conforme a aplicação e/ ou
composição química são fabricados em
diversas graus de desoxidação.
ABNT-NB 82 1006-1080
SAE 1006-1080.
Qualidade
estrutural.
CG, BQ, CFQ,
CGT e BG.
Pontes,
locomotivas,
vagões, edifícios,
máquinas,
equipamentos em
geral, peças para
automóveis ,etc.
Aços de baixo carbono com ou sem
adição de cobre e com a garantia de
composição química e propriedades
mecânicas. São produzidos,
principalmente de semi-acalmado ou
acalmado e em diversas classes de
propriedades mecânicas, sendo alguns
aços de alta resistência de classe de 50
kgf / mm² e 60 kgf / mm².
ABNT-E B-225, ASTM-A
36 A283, A284, A572 e
A573, G-65.
DIN 17, 100 e 17,135.
Qualidade
estrutural
soldável de
alta
resistência.
CG, BQ, CFG.
Estrutura geral,
pontes, edifícios,
navios,
guindastes,
vagões, vasos de
pressão,
implementos
agrícolas,
plataformas, etc.
Aços de baixo carbono, micro ligados
e de baixa liga com garantia de
composição química e propriedades
mecânicas. A maioria dos produtos são
da série de alta resistência e fabricados
como aços acalmados. Nos produtos
da série NTU, norma própria da
Empresa, é garantida a propriedade de
impacto.
AB NT- EB -326, NTU-
SAR-50, 55, 60, SER-36,
DIN- 17.100 . RRST. 52.3
e QST- 52.3. ASTM-A-441
e A-607, NTU SER-36.
BS-4360, ASTM A572-
4573-G-70.
Tabela 3.2 (continuação)
53
Tipo
Forma Aplicação Comentários
Especificação
Qualidade
Estrutural
Soldável de
Alta
Resistência
Resistente à
Corrosão
Atmosférica.
CG, BQ, CFQ,
BF, CFF.
Estrutura geral,
pontes, edifícios,
vagões,
equipamentos para
mineração, navios,
automóveis,
implementos
agrícolas,
plataformas, etc.
Aços de baixo carbono, micro
ligados e de baixa liga, com garantia
de composição química e
propriedades mecânicas. A maioria é
produzida com aço acalmado, com
adição de elementos de liga em
diversas combinações, de maneira a
se obter boas características
mecânicas , aliadas a uma maior
resistência à corrosão atmosférica.
Os aços dessa classe possuem boas
propriedades de impacto, com baixo
carbono equivalente. São geralmente
da classe de 50 kgf / mm² e
produzido segundo norma própria da
Usiminas.
NTU SAC 41, 50.I, 50II,
50.II, ASTM -A-242, 588
e 606.
Tabela 3.2 (continuação)
Tipo
Forma
Aplicação
Comentários
Especificação
54
Qualidades
Tubos.
CG, BQ, CFG.
Tubulações,
oleodutos, etc.
Aços de baixo carbono com ou sem
micro-adição de elementos de liga,
com garantia de composição química
e propriedades mecânicas.
Entretanto a norma API, especifica
material sob a forma de tubo
acabado. Considerando que as
chapas sofrem alterações das
propriedades mecânicas, através dos
processos de conformação e
soldagem efetuados pelos fabricantes
de tubos, o fornecimento de produtos
dessa série e feito mediante
minucioso entendimento entre Usina
e o consumidor. A maioria dos aços
desta série é de alta resistência, com
excelente soldabilidade e tenacidade.
API-5LX (até x-65).
Tabela 3.2 (continuação)
Tipo
Forma
Aplicação
Comentários
Especificação
55
Qualidade
estrutural
naval.
CG, CGT,
CFQ.
Estruturas de
navios.
A comercialização de aços desta série,
principalmente segundo as normas das
entidades classificadoras navais (Lloyd
Register, American Bureau, etc.) é permitida
somente nas usinas homologadas por aquelas
devido ao fato de serem os navios segurados
por armadores. Existem diversos tipos desta
série, desde aços ao baixo carbono, até de
baixa liga, sendo todos com garantia de
composição química e propriedades
mecânicas. Os aços de alta resistência são
fabricados somente em chapas grossas
(PLATE MILL).
ASTM-A-131 LRS,
ABS, BV, GL.
Grau A.
Qualidade
caldeiras,
vasos de
pressão e
nuclear.
CG, BQ.
Caldeiras e vasos
de pressão para
trabalho em
temperaturas
baixas, médias e
elevadas.
Aços ao carbono e de baixa liga, com garantia
de propriedades mecânicas e composição
química. São produzidos como acalmados,
com baixo carbono equivalente.
A série é composta de aços até a classe 50
kgf / mm² de resistência. Entre os aços para
altas temperaturas, alguns tipos garantem
tamanho de grão austenítico médio e
propriedades a altas temperaturas. São quase
totalmente laminados em forma de chapas
grossas, sendo apenas uma pequena
proporção sob a forma de bobinas a quente
ASTM-A-255, A-285,
A-299, A-442, A-455,
A-515, A-516, DIN
17155-15Mo3,
WSTE-26 e 36.
Tabela 3.2 (continuação)
Tipo
Forma
Aplicação
Comentários
Especificação
56
Qualidade
estrutural
para
automóveis.
CG, BQ, CFG.
Longarinas,
chassis, aros discos
de rodas, etc.
Aços de baixo carbono, com ou sem
micro adição de elementos de liga,
com garantias de composição
química e propriedades mecânicas.
São produzidos desde efervescentes
até acalmados. Todos os produtos
são fabricados visando boa
conformabilidade para confecção
de peças para automóveis, mesmo na
classe de alta resistência. A maioria
é fornecida sob a forma de bobinas a
quente e uma parte como chapas
grossas.
ABNT-EB 593.
NTU-RW-28, 30 e 32.
RWE-28 e 30.
Qualidade
chapas de
piso.
CG, BQ, CFQ.
Piso.
São fabricados por laminados a
quente, utilizando-se cilindros com
depressões usinadas, de maneira a
imprimir relevos na superfície das
chapas. Essas saliências, são em
forma de dentículos perpendiculares
alternadamente, de modo a tornar a
chapa adequada para confecção de
pisos. São utilizados aços de média
dureza, com o controle de carbono
equivalente e silício.
NTU-USIPISO.
Tabela 3.2 (continuação)
Tipo
Forma
Aplicação
Comentários
Especificação
57
Qualidade
recipientes
transportáveis
para gases
liquefeitos de
petróleo.
BQ, CFQ. Botijões e
recipientes para
gases liquefeitos
de petróleo.
Aços de Baixo carbono com
garantia de composição química e
propriedades mecânicas,
principalmente com boas
características de conformação, com
garantia de razão elástica de 0,55 a
0,75 kgf / mm².
ABNT-EB-253,
NTU-BG.
Qualidade
estampagem.
BQ, CFG, BF,
CFF.
Peças
componentes
estruturas
mecânicas
metálicas e
diversas peças que
requerem
estampagem.
Aços extra-doce, com garantia de
composição química e propriedades
mecânicas, utilizados para
estampagem média, profunda e extra
profunda. São produzidos em todos
os graus de desoxidação. Aqueles
destinados a estampagem extra-
profunda são também resistentes ao
envelhecimento. Nas chapas
laminadas a frio, são garantidos
valores de embutimento Erichsen,
que representam os seus graus de
comformabilidade. A maioria dos
produtos desta série é destinada à
industria automobilística,
eletrodoméstica e fabricantes de
tambores e latas para embalagem.
ABNT-EB-295 e DIIN
1623-F1-1 NTU-EM-EP
e EPA ASTM-A-619, A-
621, A-622.
Tabela 3.2 (continuação)
Tipo
Forma
Aplicação
Comentários
Especificação
Qualidade
Esmaltação
BF, CFF.
Aparelhos e
utensílios
Aços extra-doce, com garantia de
composição química e propriedades
ABNT-EB-294-
QCV, EEV.
58
vítrea. eletrodomésticos,
peças esmaltadas
em geral, e como
revestimento
decorativo na
construção civil.
mecânicas, utilizados para estampagem
média e extra profunda. São produzidos
em todos os graus de desoxidação
(efervescente, capeado e acalmado
especial). Aqueles destinados à
estampagem extra-profunda são também
resistentes ao envelhecimento. Nas chapas
laminadas a frio, são garantidos valores de
embutimento Erichsen. Esses produtos
têm também características excelentes
para receber a esmaltação vítrea nos
fabricantes de aparelhos eletromésticos.
Qualidade
eletro-
magnética.
BE, CE.
Núcleo de
geradores e
motores elétricos.
Estas chapas são fabricadas como
produtos semi-processados, que
necessitam de tratamento térmico e
isolamento superficial nos fabricantes de
equipamentos elétricos. São fornecidos
com garantia de composição química,
dureza e perda no núcleo (W/kg), como
aços baixo carbono com encruamento
forçado, e aços de baixo e médio teor de
Si, em espessuras de 0,45, 0,50 e 0,61
mm.
NTU-USICORE 300
e 360, 45/500.
Produtos atuais (legenda):
01. Placa - PL,
02. Chapas grossas - CG,
03. Bobinas grossas - BG,
04. Chapas grossas laminadas a quente - CGT,
05. Bobinas a quente - BQ,
06. Chapas finas a quente - CFQ,
07. Bobinas a frio - BF,
59
08. Chapas finas a frio - CFF,
09. Bobinas de folhas não revestidas - BNR,
10. Chapas de folhas não revestidas - FNR,
11. Bobinas de piso - BP,
12. Chapas de piso - CP,
13. Chapas elétricas - CE,
14. Bobina elétrica - BE.
Os tipos de produtos produzidos no Brasil, apresentados nas Tabelas 3.2 e 3.3,
possuem variações entre alguns fabricantes, mas, através de seus catálogos, têm-se
informações suficientes para se especificar os tipos de elementos estruturais desejados.
Apenas com intuito informativo, pois fugiria do escopo deste trabalho a apresentação
de todos os componentes metálicos e suas dimensões, é exposto de forma bastante
simplificada na Tabela 3.3, os principais tipos de perfis encontrados na Indústria Nacional.
Tabela 3.3 – Perfis de Seção Simples e Composta (AÇOMINAS, Vol. III, pp. 47, 1982).
Perfil
Indicação
Cantoneiras de abas iguais.
Torres, como montante e nos treliçamentos. Treliças planas, principalmente nos treliçamentos.
60
½ “I”, ½ “H” ou “T” laminados.
Cordas comprimidas de treliças.
HPL, HPM, HPP.
Colunas, cordas e treliçamentos de treliças.
Dois perfis “U” conformados a frio e soldados.
Colunas ou montantes em estruturas leves.
Barra redonda.
Somente nos treliçamentos de vigas “R”.
Tubo.
Colunas ou montantes em estruturas leves.
Tubo cheio de concreto.
Colunas.
Perfil composto por chapas.
Cordas de treliças. Quando as chapas são finas há perigo de flambagem local.
Perfis compostos por chapa em caixão ou “I”.
Colunas, cordas de treliças, Nos treliçamentos em treliças de parede dupla.
Tabela 3.3 (continuação)
Perfil
Indicação
Dois “H”, um inteiro e dois ½ “H” ou um inteiro e um ½ “H”.
Colunas
61
“H” reforçado por chapas, formando caixão.
Coluna.
Perfis Laminados formando caixão.
Colunas
Cantoneiras soldadas.
Colunas e montantes de estruturas leves.
Perfis conformados a frio.
Cordas e treliçamentos de treliças leves.
Perfis especiais conformados a frio formando caixão.
Colunas e montantes de estruturas leves.
Capítulo 4
FUNDAMENTAÇÃO E DEFESA DO PROBLEMA PROPOSTO
4.1 – INTRODUÇÃO
A definição do contexto urbano no qual está inserido este projeto é o ponto de partida
para determinação dos princípios básicos que serão discutidos neste capítulo. Assim, a
situação, denominada “metropolização”, item 4.2, definirá em que momento ocorre o projeto
aqui proposto de habitação popular.
O passo seguinte discute a relação do projeto em função das políticas habitacionais em
vigor, tema que é abordado no item 4.3 – Projeto de Habitação Popular e as Políticas
Habitacionais – , onde são comparados os conceitos do extinto BNH e do Pró-Moradia em
relação à proposta apresentada.
Com esses dados: contexto urbano e relação com uma mentalidade habitacional
definida, buscou-se a determinação de um programa básico da casa popular, que é apresentado
no item 4.4 – O Programa da Casa Popular – , no qual são dadas de forma bastante prática,
informações não apenas em relação à metragem, mas também sobre aspectos sociais e de
zoneamento.
A preocupação seguinte, refere-se à industrialização, pois já que o projeto, propõe um
modelo de casa inteiramente pré-fabricada, se fez necessário buscar uma referência industrial,
na qual estivesse intrínseca a realidade “técnica” do projeto arquitetônico, assim como a
valorização do material, o que se apresenta no item 4.5 – Industrialização – , no qual se define
seu conceito dentro da arquitetura.
63
O último tópico, item 4.6 – Relação com Ocupações em Terrenos Inclinados – ,
relaciona o projeto proposto com o tipo de local ao qual se destina: áreas pobres com
ocupação em terrenos inclinados. Através de fotografias, procura-se traduzir o tipo de
implantação e distribuição das unidades habitacionais já existentes em um desenho industrial.
4.2 – “METROPOLIZAÇÃO” NAS CIDADES BRASILEIRAS
A história da urbanização moderna no Brasil, pode ser delimitada por três períodos
(Chafun, pp. 18 e 19, 1996): de 1930 a 1945, de 1945 a 1980 e de 1980 até os dias atuais.
O primeiro momento, compreendido entre as décadas de 1930 e 1945, apresenta uma
população rural de 32%, que representava 68,4% dos domicílios particulares permanentes. As
cidades são pequenas e localizadas quase na sua maioria no litoral. Por motivos da crise
mundial de 1930, que também atinge o Brasil em plena fase de dinamismo demográfico e
econômico, observa-se, principalmente no setor agrícola, uma dispersão populacional para
regiões pouco exploradas, assim como também migração para as cidades.
No segundo período, de 1945 a 1980, observam-se acelerações da produção industrial,
conjuntamente ao crescimento urbano das cidades. O êxodo rural, provocado em parte pela
maior oferta de indústrias e melhoria da infra-estrutura das cidades, pode ser comparado
através do número de domicílios particulares permanentes rurais em 1980, que cai para apenas
29,5%, passando para 21,8% em 1991.
O terceiro e mais importante momento, relacionado ao tema desta pesquisa, surge no
início da década de 1980, provocado por uma fase de recessão e crise, na qual ocorre redução
importante no ritmo do processo de “metropolização” (Tabela 4.1), e que tem, entre suas
características, aspectos como a descentralização industrial, além de um outro fator, “ (...)
chamado contrametropolização, ou seja, a escolha de residir ou trabalhar fora das grandes
cidades. ” (Chafun, pp. 19, 1996).
64
Tabela 4.1 – Distribuição da População Urbana, Segundo os Grupos de Habitantes, nos Anos
dos Recenseamentos, Brasil –1950 a 1980 (Chafun, pp. 21, 1996).
Cidades:
( n.º de habitantes )
População Recenseada
Crescimento
%
1950 / 1980
1950
1960
1970
1980
Brasil
Até 20.000
De 20.000 a 50.000
De 50.000 a 100.000
De 100.000 a 200.000
De 200.000 a 500.000
De 500.000 a 1.000.000
De 1.000.000 a 2.000.000
Mais de 2.000.000
1.878.891
5.142.655
1.803.988
1.370.919
1.472.654
1.772.643
760.726
2.084.561
4.374.745
3.200.481
8.479.207
3.140.591
2.511.478
2.766.167
3.265.456
1.441.797
3.913.105
6.487.016
52.904.244
12.014279
5.175.920
4.425.233
4.673.990
6.012.075
2.854.329
6.908.979
10.239.924
8.201.370
19.470.227
8.419.380
------
------
------
------
------
------
4,37
3,79
4,67
5,94
5,15
5,62
5,91
4,96
3,11
Vê-se, portanto, que o problema da habitação está fortemente ligado à
“metropolização”, já que a oferta de empregos não significa infra estrutura na mesma
proporção, pois “(...) o déficit nem sempre é de uma nova habitação mas sim de
habitabilidade, isto é, de melhores condições de saneamento.” (Chafun, pp. 18 e 19, 1996).
4.3 – PROJETO DE HABITAÇÃO POPULAR E AS POLÍTICAS HABITACIONAIS
Antes de se expor o conceito atual, convém descrever, de forma breve, os aspectos que
justificam o projeto proposto neste trabalho em relação à política seguida atualmente pelos
órgãos públicos, utilizando-se para isso, como metodologia, a comparação com estratégias
passadas adotadas pelo governo e que foram do ponto de vista operacional ineficientes.
65
Com a criação do BNH, em 1964, o governo Castelo Branco, expõe o déficit
habitacional como “problema fundamental ” (Bolaffi, pp. 43, 1975). O BNH e SFH recebem
então, a missão de promover a construção e aquisição da casa própria, especialmente para as
classes de baixa renda. Fundado com um capital de 1 bilhão de cruzeiros, captados com
arrecadação compulsória de 1% da folha dos salários correspondentes à CLT, lhe são
transferidas em 1967, a gestão dos depósitos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS), recolhendo-se assim, para seus cofres, recursos que o tornaram o segundo maior
banco nacional em termos de magnitude de recursos disponíveis.
O principal problema da moradia popular, que parecia ser a verba necessária para que
fosse engrenado um plano de habitação estava, do ponto de vista econômico, aparentemente
resolvido. Com a verba que dispunha o BNH, seria possível a construção de moradias para
grande maioria da população que não tinha casa própria.
Os dados do próprio BNH, demonstram, entretanto, justamente o contrário. Segundo o
seu relatório anual de 1971, “Os recursos utilizados pelo Sistema Financeiro da Habitação só
foram suficientes para atender a 24% da demanda populacional urbana ” (Bolaffi, pp. 53,
1975), chegando em 1980 a 37,8%, mostrando-se assim os resultados insatisfatórios do Plano
de Habitação Popular, que embora tenha recebido fabulosos recursos financeiros, revelavam
claramente sua incapacidade para resolver o problema cada vez maior de famílias carentes de
habitação.
Essa ineficiência pode ser explicada através da política de se transmitir para a
iniciativa privada suas operações, já que o banco apenas administrava a arrecadação dos
recursos, assim como sua transferência para as prefeituras. Estas dependem de empresas e
consultorias particulares que elaboram planos urbanísticos para seu município para, então
qualificarem-se na obtenção de empréstimos. Além desse fator, sua distorção mais grave está
no fato de que o candidato “paga duas vezes pela casa” (Bolaffi, pp. 66, 1975): a primeira, de
forma indireta, através dos impostos que o governo aplica para construir as casas, e a segunda,
quando paga novamente para obter o imóvel, mostrando-se, assim, que um plano de habitação
único, regido por conceitos que são aplicados para todo o país de forma igual, somente
contribui para agravar os problemas urbanos relativos a falta de moradia.
66
Outro resultado desfavorável em relação ao BNH, está na constatação de que durante
seus 22 anos de existência, ele financiou 4,8 milhões de moradias, ou seja, 25% do
incremento de moradias construídas no Brasil, mas a realidade desses índices demonstra que
apenas 20% do financiamento concedido destinou-se a famílias de baixa renda, sendo o
restante voltado para habitações em todas as faixas de renda, pela promoção pública das
Companhias de Habitação Popular e, principalmente, pela promoção privada da incorporação
imobiliária.
Conclui-se, nesta parte deste trabalho, que em um país como o Brasil, grande do ponto
de vista geográfico, apresentando desigualdades não só intra-regionais mas também regionais,
não se pode tentar resolver o déficit da habitação em situações onde aspectos econômicos e
políticos são tão diferenciados, com apenas uma política que tenha pretensão de incorporar
todos os problemas específicos de cada região. Por outro lado, os conjuntos habitacionais
produzidos no período do BNH, despreocupado com a qualidade de vida dos moradores,
destacaram-se pela sua grande dimensão e pela uniformidade dos projetos urbanísticos e das
edificações que atendiam mais ao interesse das empresas de construção, preocupadas,
principalmente, em simplificar a edificação. O resultado foi desastroso: monotonia, falta de
identificação do morador com sua habitação, falta de identidade urbana, e desgaste das
soluções empregadas.
Seguindo-se os conceitos do BNH, e analisando-se sua política habitacional, várias
questões podem ser levantadas, como por exemplo:
• Por que a metragem dos projetos era julgada de forma igual sem se considerar a
região?
• Por que o que se supunha aceitável para um determinado local do país, o era também
para os demais?
• Como um modelo de financiamento para habitação pode ser único para todas as
regiões, sabendo-se que existem estados altamente industrializados como São Paulo e estados
pobres como o Piauí, e se usar a mesma política no emprego, captação e execução de casas
populares?
67
As respostas a essas questões podem ser dramaticamente agravadas com estatísticas do
maior centro urbano do país, a cidade de São Paulo, a partir da Tabela 4.2.
Tabela 4.2 - População Moradora em Favelas no Município de São Paulo 1973 a 1987
(DIEESE/1990).
Ano
1973
1980
1987
População total do
município de São Paulo
6.560.547
8.558.841
10.554.107
População moradora em
favelas no município de
São Paulo
71.840
375.023
812.764
% de população
moradora em favelas no
município de São Paulo
1.09
4.40
7.70
Na Tabela 4.2, pode-se observar que, durante os anos 70, o quadro de favelas se altera,
pois o seu incremento está em torno de 10% acima do índice de crescimento populacional
total do município de São Paulo. No período estudado é importante salientar que também
aumentaram o número de cortiços e casas de aluguel de situação precária, na periferia.
Pode-se acrescentar que o crescimento no déficit habitacional é provocado também por
outros aspectos relevantes, como por exemplo o desaparecimento, pouco a pouco, da
abundância de terras em torno da cidade, gerando o aumento real do preço do lote, rigidez
contra a abertura de loteamentos clandestinos e a elevação do preço dos transportes, o que
dificulta o acesso até eles, e, finalmente, o adensamento das áreas centrais da cidade, elevando
o custo dos imóveis e expulsando a população de baixa renda para a periferia.
68
4.3.1 – Contexto Atual
O contexto atual, no programa habitacional recentemente criado pelo Governo Federal,
Pró-Moradia, procura evitar os erros do passado, incorporando a tendência de
descentralização, a qual, não era, como foi assinalado anteriormente, uma das premissas das
políticas de intervenção habitacional para população de baixa renda.
Entre as preocupações do Pró-Moradia, segundo revela Chaffun (pp. 27, 1996), estão
aspectos onde a população alvo, são famílias com renda de até três salários mínimos a serem
beneficiadas com recursos do FGTS. Para isso, também a Caixa Econômica Federal, órgão
operador do FGTS, está sendo reestruturada a nível nacional, afim de poder operar através de
suas unidades regionais com maior autonomia técnica e financeira. Isso significa que os
estados e municípios passam a ter maior flexibilidade na escolha de alternativas a serem
adotadas, de acordo com as possibilidades e prioridades de cada local, o que não acontecia
com o BNH pois aspectos importantes como metragens, programa arquitetônico e tipo de
construção, tinham um mesmo padrão para aprovação de financiamento das verbas em
praticamente todas as regiões.
Outra virtude do Pró-Moradia, é o fato de que são delegados colégios estaduais,
integrados por representantes do governo e da sociedade, que determinam os programas e
projetos a serem financiados.
Ainda é cedo para serem analisados os resultados das novas políticas habitacionais,
mas, a experiência adquirida com o fracasso de políticas como as do BNH e SFH serve, pelo
menos do ponto de vista técnico, para impedir que sejam repetidos os mesmos erros.
É nessa nova mentalidade que se encaixa a proposta deste trabalho, pois uma de suas
principais características é justamente a flexibilidade, tanto de programa arquitetônico quanto
em relação à implantação. Essa liberdade possibilita justamente uma adequação a diferentes
situações, ou seja, não existe uma proposta rígida e fechada, do ponto de vista social, mas
necessariamente delimitam-se alguns aspectos técnicos na sua implantação, os quais serão
detalhadamente descritos mais adiante.
69
Em relação às políticas do tipo autogestão e mutirão, vale salientar, que as soluções
cooperativistas deram bons resultados em diversos casos, mas, não são genericamente
infalíveis, pois, como políticas de intervenção habitacional pelo estado, pecam pelo fato de
serem aplicadas na falta de uma alternativa comprovadamente e amplamente bem sucedida
como função ou ação estatal. Assim, o mutirão é adotado partindo-se da premissa que o estado
é impotente para resolver o problema da moradia, como ficou provado e já foi discutido
anteriormente em relação ao BNH e SFH. Com essa ótica, e também por razões técnicas, esse
tipo de política habitacional não se adequa a esta proposta, baseada em elementos
industrializados, pois necessita de profissionais qualificados na sua montagem, o que
inicialmente descarta o emprego da comunidade que utilizará este tipo de projeto. Além disso
o próprio cronograma empregado pelo mutirão, já que a execução das unidades é feita por
indivíduos que também são desqualificados para a construção civil, não obedece a um
processo sistematizado como exige o emprego de estruturas metálicas, que necessitam de
empresas especializadas.
4.4 – O PROGRAMA DA CASA POPULAR
Antes de iniciar a exposição da metodologia empregada no desenvolvimento do tipo
de habitação popular aqui proposto, cabe uma referência inicial ao problema da “planta”, não
em relação ao seu desenho, e sim às exigências básicas que a casa tem no âmbito social. Esta
imbricação sociológica e econômica é importantíssima. Segundo Sampaio et al. (pp. 25,
1983):
“Quanto ao agenciamento das dependências, não podemos aconselhar como
necessária a distribuição de cômodos possibilitando os acessos exteriores, embora facilitem a
locação de cômodos e ganhos extras no orçamento mensal.
Esses hábitos populares de planejamento, evidentemente, tenderão a desaparecer com
o progresso e o aumento de renda per capita, mas em contrapartida, podemos dizer que o
agenciamento que une o quintal dos varais à cozinha e à sala tornando-as um todo
inseparável, deveria ser respeitado em qualquer hipótese.
70
Nesses três locais desenvolve-se a vida quotidiana da família, havendo a franca
superposição das atividades de lazer e de trabalho, como vimos. Portanto, julgamos que os
projetos dirigidos especialmente a essa classe social poderiam perfeitamente imaginar
ambientes amplos que resumissem num mesmo espaço aquelas atividades exercidas na sala
de cozinha. Não acreditamos que haja uma orientação maior que aconselhe,
sistematicamente, nas casas auto-construídas, a separação franca e total entre a sala e a
cozinha; se na maioria das vezes isso ocorre, é porque aqueles cômodos foram construídos
em etapas diferentes, e porque a indigência de meios construtivos não permite grandes vãos
ou grandes dimensionamentos.
Se o fogão e a pia de lavagem de louça puderem ficar colocados de maneira discreta,
a idéia, cremos, será bem recebida pela dona da casa que cozinha, lava, passa, pole as
panelas e costura as roupas das crianças, que ao seu lado fazem lição.
Não há tendência em se separar a zona de comer da zona de cozer. A própria
televisão se ambientará nessa grande sala familiar, para onde deitarão portas os
dormitórios.”
Acrescenta-se: “Os dados computados, além dessa somatória dos quartos (24 m²) nos
dão 12 m ² para a cozinha e 2,5 m ² para as instalações sanitárias, que perfazem um total de
50,5 m ². Se adicionarmos 10% dessa área para circulação, chegamos a um total de 55,5 m ²
de área construída. Notar que essa é uma área média para família média de 4 a 5 pessoas,
que também ocupam 5 dependências: dois quartos, sala, cozinha e banheiro.
Analisando esses dados constatados, verificando em planta a falta de critérios
maiores de agenciamento, dimensionamento e de circulação interna, inclusive na disposição
do próprio equipamento, vemos que a casa popular, sem prejuízo do modo de viver normal,
sem violentar seus usos e costumes, poderá ser reduzida em sua área da seguinte maneira :
sala, cozinha com 20 m²; dois dormitórios com 18 m² ; banheiro com 3 m² e circulação 4 m²
(variável, senão dispensável) chegamos assim a um total que varia de 41 a 45 m ².”
“O quintal, isto é a área livre do terreno ao lado ou até na frente da casa, como
vimos, é um local de estar além de constituir área distribuidora de circulação, pois nunca
devemos esquecer que inúmeras vezes a casa popular é fracionada, extrovertida, composta de
71
agrupamentos de cômodos sem comunicação interna. Nas casas racionalmente planejadas é
certo que o quintal passará a ter uma função secundária servindo tão somente para os varais
das roupas lavadas e uma ou outra galinha e talvez uma pequena horta. Assim o quintal e a
lavandaria constituirão um binômio ligado a cozinha.
Essa lavandaria, na verdade poderá se constituir num simples alpendre com tanques
de lavagem de roupas.”
Esses dados e conceitos servirão de base para o início desta proposta de habitação.
Sintetizando as informações e recomendações reproduzidas, foi possível elaborar a Tabela
4.3, com as metragens dos ambientes da casa.
Tabela 4.3 - Áreas dos Ambientes da Casa.
FUNÇÕES
AMBIENTES
ÁREAS
Dormir, repousar, vestir e trabalhar.
Dormitório.
18.00 m²
Serviços.
Cozinha e lavanderia.
7.00 m²
Refeições.
Jantar.
5.00 m²
Lazer.
Estar/TV.
8.00 m²
Higiene.
Banheiro.
3.00 m²
Circulação e contato das paredes com o
piso
10% a 15%
4.00 m²
Total
45.00 m²
Esses valores não são rígidos mas havendo um programa básico não haverá
necessariamente uma planta básica, ou seja. No sistema proposto há uma grande liberdade de
soluções, mostrando-se ele extremamente flexível em relação à implantação e à distribuição
interna, pois, mais de que um modelo, o projeto é um estudo de possibilidades e intenções.
Não é intenção, portanto, impor uma planta nem muito menos um programa; as diversas
72
soluções adotadas servem apenas para mostrar sua adaptabilidade às diversas expectativas
que pode ter o seu morador.
4.5 – INDUSTRIALIZAÇÃO
Nos exemplos citados e comentados a respeito de habitações populares ao longo da
história, ficou claro que a economia na construção baseava-se sempre na redução de matéria
prima empregada na edificação, o que repercutia na diminuição, não só do programa
arquitetônico, mais também da área construída. Assim, optou-se por uma estrutura leve de
pequenos vãos dentro do critério geral de minimização de custos.
Segue, de acordo com Sampaio et al. (pp. 37, 1983), um aconselhamento que parece
prudente e viável:
“Esses critérios de custos procurou estabelecer condições para que fosse viável a
realização da construção da área achada como a mínima necessária, com a extrema
racionalização de processos e a diminuição de custos de mão de obra, e não, como de fato, é
hoje corrente; a diminuição absurda de área como o único critério de se chegar a um custo
correspondente à faixa de poder aquisitivo que se visa atingir, sem se alterar os métodos
tradicionais de construção, a não ser pela depauperação dos acabamentos.
Haverá é claro, sempre um limite na capacidade de se reduzirem os custos, e
consequentemente, nas atuais circunstâncias, uma faixa de população aquém da
possibilidade de se integrar ao mercado. A partir deste limite, a eliminação, ou mesmo o
estreitamento desta faixa, somente se dará pelo aumento de renda, e portanto, antes no
âmbito da sócio-economia, e das decisões políticas, do que da tecnologia.”
O processo industrial aparece no texto citado com a intenção de baixar os custos,
mantendo-se certos padrões de qualidade, ou seja, a economia não reside mais na subtração de
insumos, mas na quantidade em que os produtos são produzidos.
73
Essa mudança de mentalidade, repercute sobre os mais distintos aspectos da
humanidade, como observa Oliveri (pp. 1, 1972): “El costo de fabricacíon del primer avión
casí llegó a a las 18.000 liras por pasajero-médio: actualmente el vuelo-jet tiene un costo
aproximado de 18 liras por pasagero medio. Entonces que los coches fueran construídos con
paneles trabajados a martillos y tornos manuales en vez de utilizar medios automáticos como
hacemos actualmente. El precio de cada coche probablementeseria de casi 10.000 liras
esterlinas, por lo que en las calles británicas, podrian contarse por centenares en vez de
millones.”
Aplicando este conceito, relativo ao processo industrial, no processo de construção de
habitação principalmente voltada para população de baixa renda, duas considerações devem
ser feitas: a primeira no desafio que a produção industrial tem de realmente alcançar um
desenho que responda tecnicamente às expectativas e exigências da habitação a um baixo
custo, e a segunda, em relação também ao desenho, mas do ponto de vista estético.
A compreensão desse problema pode ser ilustrada através de um dos exemplos mais
importantes na evolução do processo industrial moderno, a linha de montagem do modelo
“T”. O método, criado por Henry Ford, possibilitou, em 1913, com um investimento inicial de
apenas US$ 100.000,00, revolucionar de tal forma o método industrial, baseando-se em custos
baixos, aumento do volume de vendas e melhoria da produção que, quarenta anos depois, a
empresa lucrava US$ 100.000.000,00.
Do ponto de vista técnico, os problemas dos elevados custos na produção individual de
cada automóvel estavam resolvidos, e esse é o momento que divide justamente a metodologia
do projeto, pelo menos tecnicamente. Tal mudança não apresentou quaisquer avanços em
relação ao desenho; embora produzidos sob novos conceitos industriais, agora dentro de uma
linha montagem, continuavam, na sua essência, “carruagens motorizadas” pois o método para
construção das antigas carruagens baseava-se na produção artesanal, o qual gerou um desenho
típico que identifica, claro que com variações, esse tipo de transporte. Em relação aos
primeiros automóveis, ocorrera apenas a alteração na forma de produzir força motriz,
trocando-se o cavalo pelo motor a explosão, o que pode ser comprovado através da relativa
semelhança de desenho entre esses dois tipos de transportes, ou seja, a premissa semântica
continuara sendo a carroça.
74
O mesmo acontece com os trens, ainda de forma mais agressiva, pois sua maquinaria,
bielas, encaixes, tubos, conexões, parafusos, a fumaça da queima do carvão e o vapor de suas
caldeiras lhe atribuem esteticamente qualidades industriais que não são ressaltadas, e sim
produzidas através da máquina, um objeto com fortes referências à produção artesanal. Não se
está julgando esteticamente as primeiras locomotivas nem muito menos os modelos das linhas
de montagens pioneiras, e nem se poderia fazê-lo, mas se faz aqui um questionamento em
relação aos dias atuais do “padrão de atitude” para com a industrialização.
É claro que, em um primeiro momento, não se pode exigir um desenho consciente, no
qual estejam presentes todas as mudanças e valores sociais dos novos processos industriais.
Mas caso se compare a carruagem, ao modelo “T”, os dois possuem, soluções tanto
“ergonométricas” quanto estéticas bastante semelhantes. Ao contrário do que se verificará se
for feita a comparação em função do conhecido Citroën “tubarão”, lançado na década de
setenta, que serviu de referência para a indústria automotiva, valorizando justamente aspectos
tecnológicos, como a aerodinâmica, tão presente no desenho dos automóveis atuais. É
justamente essa “diferença” de conceito, - do produto revelar e valorizar o seu contexto - na
qual deve estar a interpretação da industrialização na construção civil e que na temática deste
trabalho é um dos referenciais para a fundamentação do projeto.
4.5.1 – Referência Industrial
Aplicando-se os conceitos abordados nos itens anteriores ao desenho industrial voltado
para construções para população de baixa renda, especificamente no Brasil, tem-se através dos
projetos e conceitos expostos por Lina Bo Bardi (1914 - 1992), como relata Ferraz (pp. 210,
1996), questionamentos relativos à industrialização, que podem e devem ser feitos, como ela
mesmo salientou: “O reexame da história recente do país se impõe. O balanço da civilização
brasileira “popular” é necessário mesmo à luz da alta cultura. Este balanço não é o balanço
do folclore, sempre paternalisticamente amparado pela cultura elevada, é o balanço “visto
do outro lado”, o balanço participante. É o Aleijadinho e a cultura brasileira antes da
Missão Francesa. É o nordestino do couro e das latas vazias, é o habitante das “Vilas”, é o
negro e o índio, é uma massa que inventa, que traz uma contribuição indigesta, seca, dura de
digerir.”
75
“O Brasil se industrializou, a nova realidade precisa ser aceita para ser estudada. A
“volta” a corpos sociais extintos é impossível, a criação de centros artesanais, a volta a um
artesanato como antídoto a uma industrialização estranha aos princípios culturais do país é
errada. Porque o artesanato como corpo social nunca existiu no Brasil, o que existe é um
pré-artesanato doméstico esparso, o que existiu foi uma imigração rala de artesãos ibéricos
ou italianos e, no século XIX, manufaturas. Artesanato nunca.”
A aplicação desses conceitos expostos por Lina, podem ser vistos em seus projetos,
como a cadeira tripé (Ferraz, pp. 59, 1996) em madeira, na qual uma criação popular, a rede,
foi transcrita para um desenho industrial, ou seja, através da observação do meio de vida da
população, saltam aos nossos olhos um leque de soluções que, tratadas do ponto de vista
industrial, revelam uma cultura desvinculada de soluções formais baseadas apenas no folclore.
Essa matriz conceitual orientou esta proposta de habitação popular industrializada,
seguindo-se, prudentemente, uma advertência de Oliveri (pp. 1972): “El equivoco radica en la
pretencíon de reproducir con la máquina un objeto-casa, “ hecho a mano ”, en quanto que
posee en si mismo las características de lo manual.”
Emergem entretanto algumas questões, dada a especificidade do tema. A primeira
questão levantada, é então, necessariamente, onde buscar as referências que possibilitariam
um desenho de habitação popular industrializado.
O primeiro passo, foi buscar respostas no modo de vida e nos exemplos onde ocorrem
justamente os aspectos relativos ao enfoque desta dissertação: áreas em declive e ocupação
verticalizada. Como se trata de habitação popular, e sua ocorrência se vê bem mais intensa nas
periferias, principalmente se tratando de construções em encostas, pode-se verificar através
das Fotos 4.1 e 4.2, os seguintes aspectos:
Observando-se a ocupação dos morros, pode-se tentar classificar vários elementos
comuns na tipologia das habitações, os quais embora pareçam disformes quanto a aspectos
relativos a ritmo, gabarito, volumétrica, etc., possuem hierarquia e valores bem definidos. A
primeira vista pode parecer um cenário confuso, completamente desorganizado e sem
nenhuma diretriz aparente, se comparado com áreas centrais ou bairros nos quais já foram
76
implementados projetos de urbanização para população de baixa renda. O primeiro problema,
portanto, é justamente como criar ou propor uma forma de ocupação de uso residencial capaz
de se adequar a esse “caos”.
Parte-se do princípio que a desorganização ocorre do ponto vista do desenho urbano e
da implantação das unidades habitacionais, uma vez que como núcleos de uma cidade, os
bairros de população de baixa renda, apresentam-se estruturados e dentro de uma hierarquia
intrínseca a sua evolução. Na maioria dos casos, já existe uma organização social e
principalmente política que, sem dúvida, faz parte da vida dos moradores, embora pareçam
inexistentes. Revela-se antagônico querer “organizar”, segundo princípios apenas técnicos,
uma condição urbana já definida; não é apenas porque esteja configurada de forma imprópria,
que por isso se deva desconsiderar seu comportamento. O fato de ocorrerem repetições e,
sobretudo, considerando as dimensões urbanas que estas áreas alcançam em várias cidades em
todo o país, exige-se intervenções e propostas que considerem principalmente que “tipo de
urbanidade” está presente nesses locais.
Os comportamentos e situações que estão diretamente ligados ao tema deste trabalho
tais como sua disposição volumétrica, tipologia urbana e repetição de elementos quadrados
dispostos, na maioria, em ângulos retos que formam as vielas, escadarias, becos, córregos e
ruas que se moldam conforme o relevo, constituem, necessariamente, fontes substanciais na
elaboração metodológica.
4.5.2 – O Método Industrial
Para se alcançar o objetivo desejado, ou seja, um sistema construtivo para habitação
popular de baixo custo que não imponha conceitos fora do contexto social e urbano de locais
de população de baixa renda, deve-se iniciá-lo por um processo que permita e preveja
modificações e ampliações e, acima de tudo, que esteja fundamentado na maleabilidade, isto
é, que constitua um sistema “aberto”, que possibilite diversas intenções, assim como uma
sistematização construtiva nos diferentes modelos possíveis.
77
Para isso é que não se partiu de uma concepção ou um modelo pronto, mas sim de
elementos que conectados dessem diversas possibilidades de projeto. Tratando-se de um
método industrial, fica clara a importância do grau de padronização de todos os elementos
básicos como diretriz da concepção do projeto. Teve-se em mente neste “desideratum” as
advertências e recomendações de Oliveri (pp. 135, 1972):
“Todo sistema adolece de una serie de limitaciones que definen el ambito dentro del
cual es válido. En un sistema abierto, tales limitaciones o vínculos deben ser de naturaleza tal
que no prejudiquen la possibilidad del contínuo “ devenir ” de las limitaciones mismas.
Exemplo de sistema cerrado es el dogma; de sistema abierto, el lenguage no alienado. Es
abierto en tanto que tiene la posibilidad de amoldarse a los canbios de circustancias, de
absorver los “ imput ” y las solicitaciones externas. Un sistema construtivo abierto, para
serlo, debe poseer un suficiente contexto “ objetivo ”, porque no solamente utiliza el
momento de la creación arquitectónica del objeto constructivo, sino además el momento de
produción industrial, en sus partes constitutivas. En nuestro caso, el problema es, pues, la
investigacion y la estruturación de un sistema en el que sea posible la intervención de la
industria en la produción en serie de elementos para una construción que cambia
continuamente y de lo que desconoce, no solamente se futuro, si no incluso su presente.”
O primeiro elemento adotado, a malha reticulada, na qual estão interligadas a estrutura
e o dimensionamento da planta arquitetônica, prioriza, no primeiro momento da elaboração do
projeto, uma metodologia que limita algumas exigências de produção industrial, impondo-se
assim, uma pré-seleção de componentes construtivos. Após sua definição, nesse caso
específico do aço, as limitações não mais ocorrem, devido a modulação. Através da repetição
contínua dos modelos estabelecidos, a malha se mostrará útil na escolha e elaboração das
variações possíveis.
Foi necessário, naturalmente, definir o módulo. Para o seu dimensionamento dois
aspectos fundamentais devem ser considerados: padrões industriais, ou seja, quais as medidas
possíveis para o tipo de projeto proposto e sua relação com a escala humana.
A relação entre essas duas características fundamentais ao projeto, baseou-se na
procura de um módulo “n” que possibilitasse todos os usos do programa da casa dentro de
78
uma dimensão padrão. Através da retícula, o desenvolvimento e multiplicações da casa,
podem ser feitos de acordo com as necessidades do local. No 3° Simpósio Sobre o Uso Do
Aço Na Construção (Santos, pp. 5, 1994), há recomendações que são fundamentais e que
foram levadas em consideração: “A concepção do projeto arquitetônico em estruturas
metálicas está centralizada na modulação da edificação em função da modulação da
produção de chapas.
A utilização do sistema modular parte do princípio que o projeto de arquitetura é a
base que possibilita através da racionalização, maior qualidade no produto final : obra
pronta.
O uso da estrutura metálica implica em um projeto de arquitetura modulado, ligado a
racionalização dos meios de produção.
A norma DIN 18.000, define o módulo fundamental como “M” e sua magnitude como “M” =
1.00m.
A modulação para chapa padrão varia em função do módulo fundamental, assim
3,00m = 3m e 6,00 = 6m e sucessivamente para efeito de simplificação usamos “M” como
módulo padrão para determinada estrutura, mantendo correspondência entre o módulo
usado e o comprimento padrão da chapa produzida. (Ver projetos básicos anexos M =
3,00).”
Para a determinação do módulo em relação a escala humana, se fez necessário um
estudo “ergonométrico”. Para isso, foi empregado uma malha, e dentro dela, criaram-se, todas
as situações relativas ao programa da casa, como é possível se observar no Capítulo 5, através
das pranchas de 1/57 a 13/57 , Nessas pranchas, o módulo de 3 m, se mostra suficiente para
todas as funções de uma unidade habitacional popular.
4.6 – RELAÇÃO COM OCUPAÇÕES EM TERRENOS INCLINADOS
Uma das maiores preocupações, se não a maior, nesta proposta para um sistema
industrializado habitacional popular, residiu na observação da forma de ocupação que ocorre
79
em bairros de população de baixa renda, principalmente em áreas inclinadas. Um dos
primeiros aspectos observados é o traçado das ruas, vielas e becos, os quais se apresentam de
forma orgânica, ou seja, levou-se em conta, que não há um critério estabelecido que determine
como ocorrem os traçados desses eixos.
Ao se observar áreas, como por exemplo a avenida Nova Descoberta, no bairro Nova
Descoberta no Recife-PE, Fotos 4.1 e 4.2, fica evidente que os acessos se formaram devido a
construção de edificações, e não ao contrário, ou seja, as ruas se desenvolvem posteriormente
à construção das casas, formando assim, um percorrido sinuoso, pois seu traçado avança
acompanhando o perfil de cada nova edificação que surge em função também do relevo.
A primeira questão seria então, como intervir nesse tipo de ocupação, partindo-se do
pressuposto que existem numerosas áreas que se apresentam de forma tão extensa, e que uma
restruturação total equivaleria a reconstruir um bairro inteiro. Conclui-se então que, um
sistema construtivo “aberto” se adequaria mais facilmente às mais diversas situações.
Isso significa que o partido adotado, assim como sua fundamentação, estão inseridos
em um contexto urbano atual e independente de “estudos plásticos”. O que na verdade se
pretende demonstrar, são aspectos existentes na vida de moradores de áreas pobres das
cidades, capazes de terem leitura e tradução em um desenho que não se restrinja apenas a
soluções formais, mas aborde características como ocupação urbana, densidade ocupacional,
relevo acidentado, diferença de programa e possibilidade de coexistência com novas
tecnologias construtivas com métodos existentes, extraídas, do próprio modo de vida dos
habitantes.
Pode-se concluir, nesta parte deste trabalho, que uma de suas bases, é justamente
“copiar” a organização, principalmente espacial, traduzindo-a através de um desenho
industrial possível. Para isso, também levou-se em consideração o aspecto volumétrico, como
já foi discutido no item 4.6, e a gama de cores. Para isso fez-se necessário um estudo
verificando–se os tons cromáticos de maior incidência, já que não é intenção do projeto
proposto, impor ou “modificar” as situações existentes, e sim procurar uma racional
adequação a elas. Essa verificação foi possível decompondo-se os pontos das Foto 4.1 e 4.2,
80
os quais revelaram as cores e tons das edificações do local, como pode ser visto nas páginas
82 a 85 e 87 a 90.
Apenas duas fotografias não seriam capazes de expressar a grande variedade de
exemplos desse tipo de ocupação e construções, mas a intenção é mostrar que as cores
empregadas no projeto, podem estar inseridas no contexto do local pois, como ocorre em
intervenções pontuais, a medida que o tempo passa, o projeto original vai se modificando e
incorporando as características da região, cidade, bairro e rua.
Capítulo 5
“ERGONOMETRIA”
5.1 – INTRODUÇÃO
A comprovação das dimensões compatíveis com o módulo estrutural adotado, em
relação ao projeto arquitetônico, é apresentado no item 5.2 – Estudo “Ergonométrico” – . O
objetivo é demostrar que metragem mínima necessitam as diversas funções da casa.
Procurou-se, exemplificar as diversas situações que ocorrem nos ambientes da casa e
são também propostas distintas formas de distribuição do mobiliário em um mesmo ambiente,
já que o projeto não é constituído de apenas uma planta baixa, mas sim de oito modelos
básicos.
5.2 – ESTUDO “ERGONOMÉTRICO”
A metodologia adotada para averiguação das dimensões necessárias ao programa da
casa popular, baseou-se primeiramente nos aspectos “ergonométricos” e equipamentos
residenciais mais comuns em relação à escala humana. Nas primeiras consultas bibliográficas,
de autores brasileiros, sobre habitação popular e que tratassem de propostas tecnológicas
mantendo relação direta ao tema desta dissertação (Martino, pp. 26, 1981 e MINTER/PNUD,
1989), verificaram-se algumas variações entre as informações apresentadas, o que estimulou a
se consultar também estudos de autores estrangeiros (Panero, 1987).
92
Como elemento de análise, procurou-se, paralelamente, observar-se em lojas de
móveis populares, os exemplos que estivessem relacionados diretamente ao mobiliário básico
da casa.
Com esses três elementos: estudos “ergonométricos”, estudos sobre o
dimensionamento interno de casas populares e consultas ao comércio voltado para móveis
consumidos por população de baixa renda, chegou-se às referências e dados suficientes para
se verificar qual modulação seria necessária para as unidades residenciais, levando-se em
conta todos os usos pertinentes à habitação.
Uma representação gráfica explicita a comprovação das áreas necessárias para as
diversas funções de comer, dormir, descansar, trabalhar, higiene e lazer, que determinam o
programa básico da casa. Ela procura, entretanto, apenas mostrar de forma ilustrativa,
empregando para isso em vez de cotas, que limitariam e de certa forma ditariam dimensões
rígidas o que foge à concepção do projeto, uma representação que propõe tolerâncias e que
permite variações. Assim, foram abolidas as cotas e adotada uma malha modulada em 50 cm
X 50 cm, afim de se introduzir os desenhos dentro de uma escala de projeto. O entendimento
das dimensões, tornou-se dessa forma, muito mais livre, pois sua leitura permite uma
compreensão lógica da necessidade de espaço que cada função exige da casa.
Outro aspecto importante a ser destacado, está no fato do projeto arquitetônico ser
constituído de diversos modelos de planta baixa que, embora estejam dentro de uma
modulação, variam de acordo com sua orientação e implantação, o que cria alternativas na
disposição do mobiliário. Assim, pretende-se que a malha se apresente bastante didática na
função de orientar outras possíveis organizações.
Nas Pranchas de 1/57 a 13/57, apresentadas a seguir, são demonstradas as situações
mais comuns em relação aos distintos ambientes da casa.
Capítulo 6
ANTEPROJETO ARQUITETÔNICO
6.1 – INTRODUÇÃO
Os dados técnicos, perfis metálicos, fechamentos dos pórticos estruturais, coberta e
esquadrias, são abordados neste capítulo com o objetivo de informar as fontes que originaram
o projeto do ponto de vista técnico.
O primeiro tópico a ser pesquisado, item 6.2 – Estrutura – , busca especificar quais os
perfis para vigas e colunas mais indicados para este tipo de projeto, assim como o
comportamento da estrutura e suas ligações. O item 6.2.4 - Programa para Detalhamento da
Estrutura – , composto por rotinas, elaboradas na linguagem computacional AutoLisp, é onde
são fornecidos os detalhes das ligações engastadas e rotuladas dos pórticos estruturais, assim
como as informações para utilização do programa, a partir do software, AutoCAD, versão 12,
para Windows.
Nos itens seguintes, 6.3 – Lajes e Paredes – , 6.4 – - Coberta – e 6.5 – Esquadrias – ,
são comentados os detalhes e explicações técnicas das respectivas Pranchas, justificando-se
cada um dos elementos empregados no projeto.
107
6.2 – ESTRUTURA
Antes da descrição relativa ao comportamento estrutural, é necessário que se
demonstre, quais os princípios que determinaram a escolha do tipo de perfil adotado no
projeto.
6.2.1 – Escolha do Perfil
O tipo de perfil metálico foi escolhido através de consulta a um especialista, afim de
indicar e justificar o tipo de elemento estrutural metálico mais adequado ao projeto proposto.
Assim, foi feito um pré-dimensionamento para um caso particular, a título de exemplificação
de uma estrutura com 3 pavimentos, elaborado pela Profa. Márcia Reis, (responsável pela
disciplina Construções Metálicas e de Madeira, do curso de Engenharia Civil da UFOP).
Entretanto, deve–se esclarecer que foram considerados:
a) A estrutura da edificação é composta por pórticos rígidos espaçados de 3m em 3m,
nas direções transversais e longitudinais.
b) Os pórticos foram dimensionados, considerando–se perfis “I” e “caixa”1.
c) Limite de escoamento do aço, (sy) = 25 kN cm2
d) Limite de resistência à ruptura (fu) = 40 kN cm2
d) Aço USISAC 41
Para o pré-dimensionamento, os dados levados em consideração foram:
108
Figura 6.1 – Dimensões dos Pórticos.
Figura 6.2 – Carregamento Permanente, Composto pelo Peso da Estrutura Metálica e Peso do
Concreto das Lajes.
1 Perfil composto por dois perfis “U” enrijecidos e soldados, formando uma seção retangular.
109
Figura 6.3 – Sobrecarga Decorrente do Uso.
Figura 6.4 – Vento α = 0.
110
Figura 6.5 – Vento α = 90º
Através dos valores encontrados, para as solicitações (momentos fletores, esforços
cortantes e esforços normais), são indicadas as dimensões possíveis nas Tabelas 6.1. e 6.2.
Tabela 6.1 – Dimensões Admissíveis para Perfil “Caixa”.
Perfil tipo “caixa”
(Tecnofer)
d (mm)
b (mm)
t (mm)
c (mm)
peso próprio (kg/m)
250
170
3.35
25
23.71
300
170
3
25
23.68
111
Tabela 6.2 – Dimensão Admissível do Perfil “I”.
Perfil “I”
(Manual Brasileiro para
cálculo de estrutura
metálica, vol. III, tomo I)
d (mm)
bf (mm)
tw (mm)
tf(mm)
peso próprio (Kg/m)
200
130
5
8
23.6
Com base nesses dados verificou-se, através dos cálculos, que poderiam ser
empregados os dois tipos de seção. O fator determinante na escolha foi então, a facilidade que
oferece o perfil “I” em relação às instalações elétricas e hidráulicas, pois as tubulações podem
seguir expostas nas barras da estrutura, (Prancha 53/57), não necessitando para isso furos nas
chapas ou quebras nas paredes.
6.2.2 – Comportamento Estrutural
Uma das exigências do projeto quanto à estrutura, está na necessidade de se deixar
livre todos os vãos entre colunas, que são de apenas 3,00 m, devido à ocorrência de aberturas
para as esquadrias. As variações quanto ao comprimento das vigas, ou seja, medidas fora do
módulo adotado, ocorrem apenas nas plantas baixas com 45º, pois a inclinação altera o
comprimento destas nos pórticos onde é feito a rotação.
Inicialmente supõe–se que os pórticos estão espaçados de 3m em 3m, entretanto se em
um cálculo mais detalhado for verificado que não há necessidade desse espaçamento, poderá
se optar por algumas colunas servindo apenas como caixilho para os painéis em concreto
celular, o que reduz, consideravelmente, as espessuras e dimensões, do que poderíamos
chamar de “falsas colunas”.
112
Um problema inicial foi, então, a estabilização da edificação, já que este não poderia
ser feito através de contraventamentos, devido às aberturas das esquadrias. A solução
encontrada, foi a adoção de quadros rígidos que, permitem deixar livres os vãos, sem o
inconveniente dos contraventamentos.
O sistema adotado, funciona com ligações da maioria das vigas com colunas,
projetadas como rígidas. Dessa forma se obtém um conjunto de pórticos verticais rígidos da
mesma altura do edifício, onde o prédio adquire estabilidade como um todo, para as cargas
horizontais.
Esse comportamento é proposto, a partir do modelo de estabilidade descrito nas
publicações da SIDEBRAS (pp. 9, 1990), o que não representa uma solução única, pois o
sistema estrutural adotado neste projeto, possibilita inúmeras variações de implantação. Caso
forem projetadas outras implantações que não se enquadrem no modelo apresentado, caberia
então um estudo específico.
6.2.3 – ligações
O tipo de ligação empregada foi determinado procurando-se uma solução “simples”.
Como o objetivo, é trabalhar com o aço para habitação popular, os detalhes buscam um
desenho de fácil execução, a partir de peças já existentes no mercado.
Devido às exigências estruturais anteriormente descritas, ocorrem duas situações de
ligações: rotulada e engastada.
6.2.3.1 – Ligação Rotulada
A ligação rotulada (detalhe 1 - D1, Pranchas 39/57 e 40/57) é o caso mais simples,
pois, transmite somente a carga devida à reação vertical e horizontal, e o apoio da viga tem
momento nulo, podendo girar livremente (AÇOMINAS, pp. 118 a 120, 1982).
113
O detalhe proposto emprega duas cantoneiras soldadas na alma da viga, e aparafusadas
na alma ou na mesa da coluna, conforme for o caso. Optou-se pela solda na viga porque esta
já vem executada de fábrica, onde se tem um maior controle de qualidade. A ligação na coluna
através de parafusos, resulta da sua facilidade de execução, pois quando a viga chegar à obra
não haverá necessidade do emprego de soldadores, além de se obter um melhor alinhamento
da construção.
Devido ao projeto arquitetônico possuir também plantas que possibilitam “curvas” de
45º (Pranchas 22/57, 23/57, 27/57 e 28/57), foi necessário a implementação de detalhes
exclusivos para esses casos (Pranchas 44/57 e 45/57) onde ocorrem apenas ligações rotuladas.
6.2.3.2 – Ligação Engastada
Como o contraventamento é feito através de pórticos rígidos, são necessárias ligações
engastadas, a fim de se manter o sistema estável. Nestes casos a viga “chega” na alma ou na
mesa da coluna (detalhe 2 - D2, Pranchas 41/57, 42/57 e 43/57), através de uma chapa de
topo, soldada na viga e aparafusada na coluna (AÇOMONAS, pp. 121, 1982).
O engaste na chapa de topo poderá ser feito, dependendo das exigências da estrutura,
por parafusos comuns, segundo as especificações do cálculo estrutural. Pode–se adotar
também uma solução em que a viga é totalmente soldada à coluna, tomando–se os cuidados
para o engastamento
6.2.4 – Programa para Desenho da Estrutura
O objetivo da elaboração de um programa computacional na linguagem AutoLISP,
para AutoCad, baseia-se em dois aspectos importantes:
Primeiro, por se tratar do aplicativo mais empregado atualmente para desenho técnico,
principalmente desenho arquitetônico. Segundo, existe uma intenção de se demonstrar que,
114
em arquitetura, quando se trata do emprego de elementos industrializados, onde esses estão
bastante delimitados, é possível uma “sistematização” na confecção de desenhos de detalhes.
É importante salientar que não é objetivo deste aplicativo analisar o comportamento
estrutural, mas sim, após a determinação dos perfis adequados ao projeto arquitetônico, caberá
ao programa apenas desenhar os detalhes, necessitando-se para isso, que o usuário indique
suas dimensões e faça previamente o cálculo estrutural.
Nas Pranchas 39/57 a 45/57, são apresentados os detalhes produzidos pelas rotinas em
AutoLisp.
6.2.4.1 – Lendo as Rotinas Autolisp no Autocad
Para acessar as rotinas em AutoLisp, D1, D2 e D3 deve-se seguir os seguintes passos:
1. Executar o AutoCAD.
2. Dentro do AutoCAD, selecionar a partir do menu suspenso FILE, a opção
APLICATIONS...
3. Escolher o botão de comando FILE, no boxe de diálogo.
4. Selecionar o arquivo D1.LSP, D2.LSP ou D3. LSP.
5. Carregar a rotina com o botão LOAD.
6. Para executar o aplicativo deve-se, no aviso de comando do AutoCAD, digitar D1,
D2 ou D3, conforme o detalhe desejado
6.2.4.2 – Detalhe D1
As informações exigidas pela rotina D1, constituída pelas Pranchas 39/57 e 50/57, são:
1. Insira ponto inicial do desenho;
2. Insira largura da mesa na coluna (mm);
3. Insira espessura da mesa da coluna (mm);
115
4. Insira a distância entre as mesas da coluna (dentro a dentro) (mm);
5. Insira espessura da alma na coluna (mm);
6. Insira largura da mesa na viga (mm);
7. Insira espessura da alma na viga (mm);
8. Insira largura da aba menor da cantoneira (mm);
9. Insira largura da aba maior da cantoneira (mm);
Quando surgirem as perguntas 8 e 9, no aviso de comando do AutoCad, serão
indicados na área de desenho, os locais nos quais serão desenhadas as abas da cantoneira.
10. Insira espessura da cantoneira (mm);
11. Insira largura da aba aparafusada na mesa da coluna (mm);
12. Insira largura da aba soldada na alma da viga (mm);
Também nos itens 10 e 11, serão indicados, os locais nos quais serão desenhadas as
abas da cantoneira, na área de desenho.
13. Insira espessura da cantoneira (mm);
14. Insira altura da viga rotulada na alma da coluna (mm);
15. Insira espessura das mesas na viga (mm).
6.2.4.3 – Detalhe D2
As informações exigidas pela rotina D2, constituída pelas Pranchas 41/57 a 43/57, são:
1. Insira ponto inicial do desenho;
2. Insira largura da mesa na coluna (mm);
3. Insira espessura da mesa na coluna (mm);
4. Insira a distância entre as mesas da coluna (dentro a dentro) (mm);
5. Insira espessura da alma na coluna (mm);
6. Insira largura da placa na cabeça da viga (mm);
7. Insira espessura da placa na cabeça da viga (mm);
8. Insira largura da mesa na viga (mm);
9. Insira espessura da alma na viga (mm);
10. Insira altura na viga engastada (mm);
11. Insira espessura da mesa na viga (mm);
116
12. Insira altura da placa na cabeça da viga (mm).
6.2.4.4 – Detalhe D3
As informações exigidas pela rotina D3, constituída pelas Pranchas 44/57 e 45/57, são:
1. Insira ponto inicial do desenho;
2. Insira largura da mesa na coluna (mm);
3. Insira espessura da mesa na coluna (mm);
4. Insira a distância entre as mesas da coluna (dentro a dentro) (mm);
5. Insira espessura da alma na coluna (mm);
6. Insira largura da mesa na viga rotulada (mm);
7. Insira espessura da alma na viga (mm);
8. Insira largura da cantoneira (mm);
9. Insira espessura da cantoneira (mm);
10. Insira altura da viga (mm);
11. Insira espessura das mesas da viga (mm).
6.2.4.5 – Base das Colunas
Para a base das colunas, adotou-se um detalhe genérico, constituído por uma chapa de
base, fazendo transição do pilar para o bloco de concreto, como pode ser visto na Prancha
46/57. Esse tipo de base para coluna metálica, é proposta a partir dos exemplos descritos por
Andrade. ( pp. 181, 1994).
6.3 – LAJES E PAREDES
Uma das premissas básicas do projeto, é o tempo de execução, já que se propõe a
implantação de áreas já ocupadas e em declive. Assim, pesquisou-se um material que
possibilitasse a montagem de painéis de forma rápida, o que descarta o emprego de concreto e
117
alvenaria, pela sua lentidão e o processo “artesanal” que requer a execução com esses
materiais. Por este motivo, tanto nas paredes como no piso, adotou-se o concreto celular,
devido a sua fácil montagem, uma vez que o mesmo não necessita de escoramento, nem
tempo de cura.
Outra grande vantagem dos painéis em concreto celular é o fato de que, no momento
em que são apoiados nas vigas metálicas, já é possível que os operários caminhem sobre estes,
o que dá mais dinamismo à construção; além disso, devido ao seu baixo peso (625 kg/m³ nos
painéis laje e 600 kg/m³ nos painéis paredes), são necessários apenas dois homens para seu
transporte dentro da obra.
Na Tabela 6.3, são apresentadas as espessuras dos painéis em concreto celular em relação às
cargas admissíveis.
Tabela 6.3 - Painéis Laje (Siporex, Ribeirão Pires, SP, 1997).
Espessura (cm)
Sobrecarga (kg/m2)
100
150
200
250
300
400
500
Comprimento máximo (cm)
7,5
290,00
260,00
240,00
220,00
210,00
----
----
10
400,00
350,00
320,00
300,00
260,00
230,00
190,00
12
400,00
400,00
400,00
370,00
350,00
280,00
230,00
15
400,00
400,00
400,00
400,00
400,00
350,00
290,00
Com base nos dados da Tabela 6.2, verifica-se que as espessuras e os comprimentos
dos painéis são:
118
• Espessura para painel parede = 10 cm
• Comprimento para painel parede > 320
• Espessura para painel laje = 10 cm
• Comprimento para painel parede > 320
• Espessura para painel forro = 10 cm
• Comprimento para painel parede > 320
Nas Pranchas, 52/57 a 54/57, são apresentados os detalhes de fixação dos painéis em
concreto celular, e nas Pranchas 47/57 a 51/57, são apresentados os respectivos lay-outs.
6.4 – COBERTA
Em relação aos outros tipos de materiais empregados comumente em cobertas, como a
telha cerâmica ou de fibrocimento, a escolha de telhas metálicas destaca-se principalmente em
relação ao peso, como é possível se verificar na Tabela 6.4, e em segundo lugar, pela
possibilidade de corte das telhas em diversos ângulos. Essa informação foi obtida em consulta
a empresas e fábricas de estruturas metálicas. Isso é fundamental para resolução da coberta
nas plantas baixas, nas quais os módulos não estejam dispostos linearmente.
Tabela 6.4 – Comparação de Sobrecarga Entre Materiais para Coberta (USIMINAS, pp. 17,
1992).
119
Cantuária
Colonial
Francesa
Plan
Metálica
Cimento
Ondulada
Trapezoidal
Tégula
Amianto
Área coberta
(m²)
51,84
51,84
51,84
51,84
51,84
51,84
51,84
51,84
Inclinação
(Gr)
17,00
17,00
17,00
17,00
17,00
17,00
17,00
17,00
Inclinação
(%)
30 %
30%
30%
30%
30%
30%
30%
30%
Peso Total
393,53
360,08
423,03
381,39
135,05
156,99
393,15
149,70
A telha metálica foi escolhida procurando-se a simplificação da estrutura da coberta. O
modelo de perfil trapezoidal mostrou-se adequado, pois permite um maior espaçamento entre
terças, devido a sua conformação, ao contrário das telhas onduladas metálicas ou telhas não
metálicas, como pode ser comprovado na Tabela 6.5 e nas Pranchas estruturais da coberta
(16/57, 21/57, 26/57, 31/57 e 35/57).
Tabela 6.5 – Espaçamento Entre Telhas, Ripas e Tesouras da Coberta (USIMINAS, pp.14,
1992).
120
Espaçamento (mm)
Telhas
Ripas
Tesouras
Cantuária
340,00
3000,00
Colonial
440,00
3000,00
Fancesa
310,00
3000,00
Plan
400,00
3000,00
Tégula
320,00
3000,00
Metálica Trapezoidal
3000,00
3000,00
Metálica ondulada
1500,00
3000,00
Fibrocimento
6 mm.
1690,00
3000,00
6.5 – ESQUADRIAS
Seguindo o mesmo princípio dos itens anteriores, pesquisou-se um padrão de
esquadrias que fossem produzidas industrialmente, o que conduz a empresas de grande porte.
Por apresentar um linha de produtos voltados para construções populares, a Alcoa, forneceu o
tipo de material ideal para esta proposta. Nos catálogos fornecidos por essa empresa, -
Módulos Stantard II, o modelo Janela de Correr com duas e/ou quatro folhas, responde de
forma suficiente às necessidades do projeto, pois é a linha de produção mais “simples” das
esquadrias em alumínio.
121
6.6 – ESCADA
A escada proposta no projeto (Pranchas 37/57, 55/57 e 56/57), procura resolver sua
estrutura de forma o mais simples possível. Assim, é empregado perfil “U” nas vigas, ou seja,
nas duas barras laterais inclinadas, onde são soldados os degraus (HART, et al, pp. 298,
1978). Os patamares são compostos por perfis de chapa dobrada em forma de “U”,
preenchidos com concreto, já que não há coberta nas escadas, o que no caso de chuva, tornaria
sua superfície escorregadia caso também fosse de aço.
6.7 – IMPLANTAÇÃO
A proposta de implantação demonstrada através da Prancha 36/57, e das figuras 6.6,
6.7 e 6.8, procura revelar a maleabilidade e adaptabilidade do sistema construtivo proposto.
Assim, são empregados quatro tipos de plantas baixas, mostrando que a composição de
diferentes tipos de unidades habitacionais, consegue facilmente acompanhar as diferenças de
níveis, como também as “curvas” de um morro ou encosta. Para uma maior compreensão
técnica, também são apresentados dois cortes: um na escada (Prancha 37/57) e outro nas
unidades habitacionais (Prancha 38/57), onde fica claro a superposição dos pórticos
estruturais, assim como a circulação vertical e de acesso às unidades habitacionais.
O modelo proposto de implantação, procura “criar” o que seria uma situação
extremamente desfavorável para construção de habitações populares. Talvez mais importante
do que buscar uma área específica, para demonstrar como se comportaria o sistema adotado, a
intenção da implantação adotada, é provar as várias possibilidades do projeto em um terreno
inclinado e recortado.
Capítulo 7
CUSTO MÉDIO DO PROJETO
7.1 – INTRODUÇÃO
Talvez o primeiro questionamento em relação à estrutura metálica, no contexto atual
do Brasil, seja o seu preço. Para isso, é apresentado através de tabelas, o custo do projeto
proposto em R$ relativo a agosto de 1997, comparando-o com alvenaria estrutural e estrutura
de concreto. Primeiro, de forma isolada são apresentados as unidades habitacionais 4M, 6M–
345 e 6M–445, (Tabelas 7.1, 7.2 e 7.3) com seus custos específicos e depois, a implantação
(Prancha 36⁄57), mostrando como se comporta o aço em escala industrial (Tabelas 7.4, 7.5 e
7.6).
Uma preocupação importante no projeto é o tempo de execução, pois como o enfoque
desse trabalho delimita o seu estudo para áreas ocupadas, a necessidade de um sistema de
rápida construção é fundamental, vez que a substituição das residências deve ser concluída o
mais breve possível. Assim, comparam-se nas Tabelas 7.7, 7.8 e 7.9, os cronogramas relativos
à construção em estrutura metálica, alvenaria estrutural e concreto.
No último item, 7.4 – Conclusões dos Custos – , resume-se o comportamento da
estrutura metálica em relação às duas análises: no contexto da produção em larga escala e
como projeto isolado.
7.2 – CUSTO DAS UNIDADES HABITACIONAIS: 4M, 6M–345 e 6M–445
A planta baixa básica o tipo 4M (Prancha 14⁄57), foi a primeira unidade habitacional a
ser pesquisada isoladamente em relação ao custo. Para isso, são apresentados, além do custo
do projeto em estrutura metálica (Tabela 7.3), os valores equivalentes, caso o projeto fosse
proposto em estrutura de concreto (Tabela 7.1) ou alvenaria estrutural (tabela 7.2).
Além da unidade habitacional 4M, procurou-se também apresentar os custos de forma
isolada de um dos tipos de planta baixa na qual os pórticos não estivessem compostos de
forma linear, ou seja, onde a estrutura forma um ângulo de 45°. Para isso foram escolhidos as
plantas 6M-345 (Prancha 22/57) e 6M-445 (Prancha 23/57).
A seguir são apresentadas as Tabelas 7.1, 7.2 e 7.3.
Tabela 7.1 – Custo Médio para Construção de uma Unidade Habitacional Tipo 4M,
6M–345 ou 6M–445 em Alvenaria Estrutural.
Etapa
Preço total
Participação
4M
6M-345/6M-445
4M
6M-345/6M–
445
Instalação do canteiro de obras
R$ 50,76
R$ 73,67
0,48 %
0,50 %
Movimento de terra
R$ 413,10
R$ 486,90
3,91 %
3,29 %
Serviços Gerais – internos
R$ 101,76
R$ 136,26
0,96 %
0,92 %
Infra-estrutura
R$ 1.004,58
R$ 1.348,93
9,50 %
9,11%
Superestrutura
R$ 1.418,01
R$ 2.632,24
13,42 %
17,78 %
Paredes
R$ 837,35
R$ 393,96
7,92 %
2,66 %
Esquadrias metálicas
R$ 1.142,01
R$ 1.641,22
10,80 %
11,09 %
Cobertura
R$ 1.061,38
R$ 1.389,96
10,04 %
9,39 %
Forro
R$ 213,84
R$ 334,13
2,02 %
2,26 %
Revestimentos de paredes internas
R$ 1.089,38
R$ 1.731,60
10,31 %
11,70 %
Revestimentos de paredes externas
R$ 487,86
R$ 790,65
4,62 %
5,34 %
Pisos internos
R$ 979,86
R$ 1.530,04
9,27 %
10,35 %
Instalações hidráulicas
R$ 577,72
R$ 662,94
5,47 %
4,48 %
Instalações elétricas
R$ 415,81
R$ 523,66
3,93 %
3,54 %
Pintura
R$ 776,78
R$ 1.128,23
7,35 %
7,62 %
Preço por m²
R$ 293,62 (4M)
R$ 293,19 (6M-345/6M–445)
Total geral
R$ 10.570,20 (4M)
R$ 14.804,39 (6M-345/6M–445)
Tabela 7.2 – Custo Médio para Construção de uma Unidade Habitacional Tipo 4M,
6M–345 ou 6M–445 em Estrutura de Concreto.
Etapa
Preço total
Participação
4M
6M-345/6M-445
4M
6M-345/6M–445
Instalação do canteiro de obras
R$ 50,76
R$ 79,31
0,46 %
0,54 %
Movimento de terra
R$ 311,62
R$ 486,90
2,82 %
3,30 %
Serviços Gerais – internos
R$ 33,60
R$ 49,00
0,30 %
0,33 %
Infra-estrutura
R$ 449,27
R$ 1.285,36
4,06 %
8,72 %
Superestrutura
R$ 2.279,37
R$ 3.302,31
20,61 %
22,39 %
Paredes
R$ 8,37,35
R$ 393,96
7,57 %
2,67 %
Esquadrias metálicas
R$ 1.671,71
R$ 1.142,01
15,11 %
7,74 %
Cobertura
R$ 889,88
R$ 1.389,96
8,05 %
9,42 %
Forro
R$ 207,36
R$ 656,45
1,87 %
4,45
Revestimentos de paredes internas
R$ 1.107,89
R$ 1.731,60
10,02 %
11,74 %
Revestimentos de paredes externas
R$ 505,85
R$ 517,01
4,57 %
3,51 %
Pisos internos
R$ 979,86
R$ 1.530,04
8,86 %
10,37 %
Instalações hidráulicas
R$ 551,16
R$ 616,77
4,98 %
4,18 %
Instalações elétricas
R$ 407,81
R$ 439,54
3,69 %
2,98 %
Pintura
R$ 776,78
R$ 1.128,23
7,02 %
7,65 %
Preço por m²
R$ 307,23 (4M)
R$ 262,19 (6M-345/6M–445)
Total geral
R$ 11.060,27 (4M)
R$ 14.748,45 (6M-345/6M–445)
Tabela 7.3 – Custo Médio para Construção de uma Unidade Habitacional Tipo 4M, 6M–345
ou 6M–445 em Estrutura Metálica.
Etapa
Preço total
Participação
4M
6M-345/6M–445
4M
6M-345/6M–445
Instalação do canteiro de obras
R$ 50,76
R$ 79,36
0,37 %
0,28 %
Serviços Gerais – internos
R$ 15,30
R$ 10,46
0,11 %
0,04 %
Infra-estrutura
R$ 252,42
R$ 314,96
1,82 %
1,11 %
Superestrutura
R$ 4.987,49
R$ 15.673,54
36,02 %
55,23 %
Painéis
R$ 1,699,92
R$ 2.644,32
12,28 %
9,32 %
Esquadrias metálicas
R$ 1.142,01
R$ 1.142,01
8,25 %
4,02 %
Cobertura
R$ 1.366,12
R$ 2.128,41
9,84 %
7,50 %
Forro
R$ 156,24
R$ 2,44
1,13 %
0,86 %
Revestimentos de paredes internas
R$ 997,30
R$ 1.836,75
7,20 %
6,47 %
Revestimentos de paredes externas
R$ 505,85
R$ 517,01
3,65 %
1,82 %
Pisos internos
R$ 979,86
R$ 1.530,04
7,08 %
5,39 %
Instalações hidráulicas
R$ 521,41
R$ 632,85
3,77 %
2,32 %
Instalações elétricas
R$ 399,12
R$ 495,55
2,88 %
1,75 %
Pintura
R$ 776,78
R$ 1.128,23
5,61 %
3,98 %
Preço por m²
R$ 384, 66 (4M)
R$ 504,49 (6M-345/6M–445)
Total geral
R$ 13..847,58 (4M)
R$ 28..377,57 (6M-345/6M–445)
Comparando os custos entre os três sistemas estruturais, observa–se que a estrutura
metálica apresenta-se como a mais onerosa.
7.3 – CUSTO E CRONOGRAMA PARA IMPLANTAÇÃO (Prancha 36⁄⁄⁄⁄57)
Para a implantação proposta (Prancha 36⁄57), foi elaborado o mesmo critério adotado
nas Tabelas 7.1, 7.2 e 7.3, em relação ao custo, ou seja, são apresentados os valores
respectivos, caso o projeto fosse composto por estrutura de concreto ou alvenaria estrutural.
Além do custo, é apresentado o cronograma da construção, com os três tipos de
material na estrutura, para que se possa comparar, como se comporta o aço em relação ao
tempo de execução, especificamente no projeto proposto.
A seguir, são apresentadas as Tabelas 7.4, 7.5 e 7.6, relativas ao custo da implantação
e as Tabelas 7.7, e 7.8 e 7.9, relativas ao cronograma.
Tabela 7.4 – Custos da Implantação (Prancha 36⁄57) em Alvenaria Estrutural para 29
Unidades Habitacionais.
Etapa
Preço total
Participação
Instalação do canteiro de obras
R$ 1.573,56
0,40 %
Movimento de terra
R$ 9.660,10
2,47 %
Serviços Gerais – internos
R$ 2.070,44
0,53 %
Infra-estrutura
R$ 23.627,83
6,05 %
Superestrutura
R$ 78.044,37
19,98 %
Paredes
R$ 39.377,88
10,08 %
Esquadrias metálicas
R$ 30.843,35
7,89 %
Cobertura
R$ 50.050,93
12,81 %
Forro
R$ 13.258,08
3,39 %
Revestimentos de paredes internas
R$ 36,642,14
9,38 %
Revestimentos de paredes externas
R$ 9.036,33
2,31 %
Pisos internos
R$ 47.082,33
12,05 %
Instalações hidráulicas
R$ 14.784,23
3,79 %
Instalações elétricas
R$ 11.061,19
2,83 %
Pintura
R$ 23.480,57
6,01 %
Preço por m²
R$ 242,00
Total geral
R$ 390.584,33
Tabela 7.5 – Custos da Implantação (Prancha 36⁄57) em Estrutura de Concreto para 29
Unidades Habitacionais.
Etapa
Preço total
Participação
Instalação do canteiro de obras
R$ 1.573,56
0,40 %
Movimento de terra
R$ 9.660,10
2,47 %
Serviços Gerais – internos
R$ 862,61
0,22 %
Infra-estrutura
R$ 11.730,80
2,99 %
Superestrutura
R$ 100.126,86
25,50 %
Paredes
R$ 32.923,80
8,38 %
Esquadrias metálicas
R$ 30.834,35
7,85 %
Cobertura
R$ 50.050,93
12,75 %
Forro
R$ 13.258,08
3,38 %
Revestimentos de paredes internas
R$ 36.642,14
9,33 %
Revestimentos de paredes externas
R$ 9.036,33
2,30 %
Pisos internos
R$ 47.082,33
11,99 %
Instalações hidráulicas
R$ 14.784,23
3,71 %
Instalações elétricas
R$ 10.826,45
2,76 %
Pintura
R$ 23,480,57
5,98 %
Preço por m²
R$ 243,28
Total geral
R$ 392.657,03
Tabela 7.6 – Custos da implantação (Prancha 36⁄57) em Estrutura Metálica para 29 Unidades
Habitacionais.
Etapa
Preço total
Participação
Instalação do canteiro de obras
R$ 1..573,56
0,40 %
Serviços Gerais - internos
R$ 122,53
0,03 %
Infra-estrutura
R$ 2.423,06
0,56 %
Superestrutura
R$ 143.079,92
32,85 %
Painéis
R$ 42..347,84
9,72 %
Esquadrias metálicas
R$ 3.0.834,35
7,08 %
Cobertura
R$ 68.799,97
15,80 %
Forro
R$ 9.686,88
2,22 %
Revestimentos de paredes internas
R$ 35.107,28
8,06 %
Revestimentos de paredes externas
R$ 5.908,85
1,36 %
Pisos internos
R$ 47.082,33
10,81 %
Instalações hidráulicas
R$ 14.466,48
3,32 %
Instalações elétricas
R$ 10.662,80
2,45 %
Pintura
R$ 23,480,57
5,38 %
Preço por m²
R$ 269,87
Total geral
R$ 435.576,42
Tabela 7.7 – Cronograma para Construção da Implantação (Prancha 36⁄57) em Alvenaria Estrutural para 29 Unidades Habitacionais.
Tarefas
3o trimestre, 1997
4o trimestre, 1997
1o trimestre, 1998
2o trimestre, 1998
Júl. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun.
1
Locação da obra
�
2
Fundação
�
�
�
�
�
�
�
�
�
�
�
3
Mov. de terra
�
�
4
Alvenaria
�
�
�
�
�
�
�
5
Superestrutura
�
�
�
�
�
�
�
�
�
�
�
�
�
6
Esquadria
�
�
7
Telhado
�
�
�
�
�
8
Revestimento
�
�
�
�
�
9
Pisos
�
�
�
�
�
�
10
Instalações elétrica
e hidro-sanitária
�
�
�
�
�
�
�
�
11
Pintura
�
�
�
�
�
Tabela 7.8 – Cronograma para Construção da Implantação (Prancha 36⁄57) em Estrutura de Concreto para 29 Unidades Habitacionais.
Tarefas
3o trimestre, 1997
4o trimestre, 1997
1o trimestre, 1998
2o trimestre, 1998
Júl. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun.
1
Locação da obra
�
2
Fundação
�
�
�
�
�
�
�
�
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Mov. de terra
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Superestrutura
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5
Alvenaria
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6
Esquadria
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7
Telhado
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8
Revestimento
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9
Pisos
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10
Instalações elétrica
e hidro-sanitária
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11
Pintura
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Tabela 7.9 – Cronograma para Construção da Implantação (Prancha 36⁄57) em Estrutura Metálica para 29 Unidades Habitacionais.
Tarefas
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
1
Locação da obra
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2
Fundação
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3
Mov. de terra
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4
Superestrutura
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5
Painéis
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6
Esquadria
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7
Telhado
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8
Revestimento
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9
Pisos
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10
Instalações elétrica
e hidro-sanitária
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11
Pintura
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7.4 – CONCLUSÕES DOS CUSTOS
Pode-se concluir que, embora no projeto proposto em estrutura metálica o preço por
m² da implantação (Prancha 36/57) continue mais elevado, ele obteve o maior índice de
redução (Tabela 7.10) se comparado com o custo das unidades habitacionais orçadas de forma
isolada. Isso significa que o preço do aço reduz, com índices bem maiores as construções de
larga escala. Tal fato é comprovado quando se confrontam os índices de redução também do
concreto e da alvenaria estrutural.
Outro aspecto importante, pelo fato da construção ser industrializada, e não apenas
pela estrutura metálica ser montada mais rapidamente, mas também pela adoção de painéis em
concreto celular, foi possível uma diminuição substancial do tempo de execução que, nesse
caso específico é de 33% em comparação aos outros tipos de estrutura apresentados, o que
pode ser comprovado nas Tabelas 7.7, 7.8 e 7.9.
Para melhor visualização, é apresentada na tabela 7.10, a economia que cada tipo de
estrutura permite reduzir o preço por m² em função de uma maior produtividade.
Tabela 7.10 – Índice de Diminuição para Construção em Larga Escala
Unidade habitacional 4M (Prancha 14⁄57),
valor por m²
Unidade
habitacional 6M–345
(Prancha 22⁄57) e 6M–445
(Prancha 23⁄57) valor por m²
Média do valor
por m² da 2o e 3o colunas
Implantação
(Prancha 36⁄57), valor por m² para 29 U.H.
Comparação
da diminuição do preço por m² entre as U.H. 4M, 6M–345,
6M–445 e a Implantação
A B
Alvenaria estrutural
R$ 293,62
(Tabela 7.1)
R$ 293,19
(Tabela 7.1)
A + B = 293,40 2
R$ 242,00
(Tabela 7.4)
14 %
Estrutura
de concreto
R$ 307,23
(Tabela 7.2)
R$ 262,19
(Tabela 7.2)
A + B = 284,74 2
R$ 243,28
(Tabela 7.5)
15 %
Estrutura Metálica
R$ 384,66
(Tabela 7.3)
R$ 504,49
(Tabela 7.3)
A + B = 444,57 2
R$ 269,87
(Tabela 7.6)
40 %
Assim, através da Tabela 7.10, é demonstrada a necessidade de produção industrial
como elemento capaz de diminuir os custos, e não reduzir o valor por m², em função da
subtração dos insumos para habitação popular.
Capítulo 8
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS TRABALHOS
8.1 – CONCLUSÕES GERAIS
Nos tópicos iniciais, constatou-se uma primeira referência, através do sistema
construtivo Danly, especificamente tratando-se de pequenos vãos para habitação, uma vez
que, através de construções do século XIX, inclusive no Brasil, conforme abordado no item
2.2 – Breve Histórico do Ferro e do Aço – , pôde–se verificar que, não só grandes estruturas
podem necessitar de elementos metálicos mas, através de uma composição onde a estrutura
esteja formada por pequenos elementos, pode-se definir uma grande variedade de soluções. A
pesquisa relacionada ao histórico foi fundamental para elaboração do projeto arquitetônico,
pois, a “idéia” de “kit” foi adotada, não apenas na estrutura, mas também como uma
importante diretriz em todos os elementos construtivos adotados.
Outra conclusão importante, mas do ponto de vista conceitual de ocupação do solo,
surge no item 2.4 – Considerações Sobre Habitação Popular ao Longo da História – , onde se
verificou que as implantações adotadas em várias culturas, representavam uma situação
fortemente ligada a cada sociedade em particular. Isso não significa que as soluções
pesquisadas foram levadas em consideração, mas sim, revelam a preocupação de se
contextualizar o tipo de ocupação do solo com aspectos sociais, o que aliás constituí uma das
bases do projeto.
Com esses questionamentos, juntamente com a definição do momento específico em
que o projeto é proposto, item 4.2 – Metropolização nas Cidades Brasileiras – , conclui-se
que, em bairros pobres, densamente povoados, é necessário que se leve em consideração
características urbanas e sócio-políticas, não resultando em uma intervenção, mas, melhor
seria dizer, em uma adequação a um tipo de urbanidade fortemente sedimentada. Essas
184
conclusões podem ser verificadas através da comparação entre as políticas habitacionais no
período do extinto BNH e a mentalidade atualmente empregada, item 4.3 – Projeto de
Habitação Popular e as Políticas Habitacionais – , no qual fica claro a necessidade de uma
proposta maleável, que se adapte a distintas realidades.
Conclui-se que uma intervenção, no contexto de áreas já ocupadas em encostas e de
população de baixa renda, deva estar baseada em um sistema estrutural e arquitetônico
extremamente livres capazes de se adaptarem a distintas situações. Portanto, a importância do
processo industrial para habitação popular, é ressaltada através de dois aspectos diferentes. O
primeiro, de ordem conceitual, é onde se tenta traduzir um tipo de comportamento com um
desenho industrial, e o segundo é a função dos custos pois, como foi apresentado no capítulo
VII, especificamente tratando-se de estruturas metálicas, seu custo é reduzido conforme se
aumenta a produção, ou seja, o aço apresenta-se econômico naturalmente em uma produção
industrial.
Isso pode ser comprovado, comparando-se os custos das unidades habitacionais
isoladas em relação à implantação, onde se vê uma redução de 40%, contra 15% do concreto e
14% da alvenaria estrutural.
8.2 – RECOMENDAÇÕES
Uma questão que certamente mereceria um estudo profundo, é o binômio estrutura
metálica e painéis de fechamento que, nesse caso, são de concreto celular. Como esses painéis
possuem ferragens no seu interior, caberia uma pesquisa com o objetivo de se estudar uma
solução onde os painéis não atuassem apenas como parede de fechamento, mas também
agissem como elemento estrutural, tentando-se com isso reduzir a espessura dos perfis e,
portanto, o preço final do projeto. Necessita-se para isso de uma análise técnica na área
experimental em estruturas.
Outro tópico que mereceria uma abordagem mais detalhada, é o estudo do modelo
estrutural no qual os detalhes para as plantas baixas, como no caso das unidades habitacionais
6M–345, 6M–445, 7M–145 e 7M–245, que formam ângulos de 45°, resultassem em um
185
desenho de fácil execução, pois, no projeto apresentado, teve-se que elaborar uma ligação
específica para o momento em que a estrutura “faz a curva”, sendo este fora do padrão
adotado nas plantas baixas nas quais os pórticos apresentam-se de forma linear. Para isso seria
necessário a elaboração de detalhes capazes de permitir diferentes “curvas” em uma planta
baixa.
186
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