Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

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THE STOOGES ULTRAVOX SIMPLE MINDS HAPPY MONDAYS TONY WILSON NEW ORDER U2 PRIMAL SCREAM HUMAN LEAGUE

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Nesta edição para além de nomes sonantes como Iggy and The Stooges , Human League, Simple Minds, e U2 podem contar com novidades sobre a nossa primeira festa. 5 anos de jornalismo musical. Bem vindos à revista de cultura alternativa do Som à Letra, a Urban Ground. Pretendemos “surrealizar por aí”. Não perca as nossas próximas aventuras.

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THE STOOGES ULTRAVOX SIMPLE MINDS HAPPY MONDAYS TONY WILSON NEW ORDER U2 PRIMAL SCREAM HUMAN LEAGUE

Page 2: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Directora:

Irene Leite

[email protected]

Urbangroundmagazine.blogspot.pt

Revisão:

Irene Leite

Colaboram nesta edição:

Maria Coutinho, Ana Luísa

Silva, Irene Leite, Miguel

Ribeiro, Bruno Vieira, Adri-

ano Marques, Sara Cunha ,

Júlia Rocha , Sara Pereira,

Carmen Gonçalves

Editorial

É com muito orgulho que arrancamos 2015 com este novo

projeto , que não é mais do que uma extensão do trabalho

desenvolvido pelo Som à Letra nos últimos cinco anos.

Grande parte dos artigos presentes nesta primeira edição

são provenientes dos arquivos do Som à Letra, que ao

longo dos anos tornou-se mais generalista. Isto não impli-

ca que não sejam elaborados novos artigos especialmente

para esta revista. Estamos em construção.

Nesta edição para além de nomes sonantes como Iggy

and The Stooges , Human League, Simple Minds, e U2

podem contar com novidades sobre a nossa primeira fes-

ta. 5 anos de jornalismo musical.

Bem vindos à revista de cultura alternativa do Som à Le-

tra, a Urban Ground. Pretendemos “surrealizar por aí”.

Não perca as nossas próximas aventuras.

In: http://david-duque.blogspot.com.es/2011/01/caricaturas_15.htm

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Capa

Ninguém esperaria ouvir, em plenos anos

sessenta, um grito de revolta contra o

aborrecimento. Estávamos em plena era

hippie. Make love, not war… Por isso,

também ninguém esperava ver surgir uma

figura como Iggy Pop na América das flores

no cabelo… “No fun” é uma espécie de

premonição do movimento Punk que

despontaria na década seguinte…e que hoje

nos bate à porta.

Por Maria Coutinho

The Stooges foi a primeira banda que gravou com a

voz de Iggy Pop (nesta altura era Iggy Stooge), mas

é também o título do álbum que, em 1969, a Elektra

Records lançou, com arranjos do mesmo John Cale

que conhecemos nos Velvet Undergound. Na altura

não terá causado grande impressão, pelo menos a

avaliar pelos fraquíssimos resultados de vendas.

Mas com o passar do tempo impôs-se como um dos

maiores álbuns de estreia de sempre na história do

Rock.

Há um mito urbano acerca deste álbum: consta que

a editora terá exigido mais material do que as cinco

músicas que a banda apresentou para gravar.

Mentindo para não perder a oportunidade, os

músicos teriam assegurado que tinham muito mais

composições para trazer no dia seguinte…

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Uma noite de ensaios muito criativa deu origem aos

restantes temas que acabaram por integrar o disco

de estreia da banda ( “Real Cool Time,” “Not Right”

e “Little Doll”). Isto só foi possível porque o método

de trabalho dos The Stooges constituía em compor

peças de um a dois minutos e improvisar mais

alguns minutos para completar.

Já nesta época havia algo de único nas

performances de Iggy, um estilo de apresentação

em palco que é inimitável, por mais que se possa

detectar a sua influência em outros artistas até aos

dias de hoje. Reza a lenda que terá sido o inventor

do “stagediving” e é bem famosa a sua capacidade

de surpreender com contorcionismos pouco

ortodoxos de sangue, suor e lágrimas, que vão

desde a auto-mutilação à exibição de uma nudez

que nenhuma mãe aprovaria, e que levam o público

ao delírio. Uma liberdade artística que, segundo se

diz, terá sido inspirada pela actuação de Jim

Morrison num espectáculo dos The Doors a que

Iggy assistiu em 1967. A irreverência é, aliás, a

imagem de marca de Iggy Pop. É toda uma postura

que já era punk antes deste movimento explodir

com a sua atitude, sempre do “contra”. Em “No

Fun” Mr Pop responde a “Walk The Line”, o êxito

em que um Johnny Cash recém-casado promete ser

fiel e “portar-se bem”… Mas para Iggy isso significa

monotonia, aborrecimento, “no fun”… É a mesma

atitude que leva os punks ingleses, anos mais tarde,

a assumir que preferem uma vida curta, mas

intensa, e certamente não foi por coincidência que

os Sex Pistols gravaram a sua versão deste tema.

Nas exibições ao vivo , “No Fun” ganha uma

dinâmica especial, a postura de Iggy Pop torna-se

mais agressiva, a atitude de revolta mais patente….

É frequente ouvi-lo gritar repetidamente o título

“No Fun”, que se converte numa espécie de palavra

de ordem…Um grito de guerra inconfundivelmente

punk.

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Iggy Pop

Querido leitor. Hoje, antes de lhe oferecermos

um maravilhoso artigo sobre música, vamos

jogar ao Quem é Quem? Servirá para

descomprimir de uma semana de trabalho,

que foi repleta de contratempos e stress.

Preparado? Vamos lá:

“É internacional?” Sim! “A minha avó

conhece?” Sim! “É velho?” Sim! “Acabado?”

Nunca! “Com garra?” Muita! “Veste-se bem?”

Vestir não se veste muito! “É moreno?” No

corpo! “É loiro?” Oxigenado! “Usa um nome

falso?” Pois claro que sim caro leitor. De outro

modo não nos serviria! “É uma estrela do

Rock?” Sim! Mas tem Pop no nome. “Pop no

nome?” Sim querido leitor. Pop no nome. Já

sabe quem é? Pois claro que sabe! É o Iggy

Pop.

Por Ana Luísa Silva

Corria o ano de 1947 quando algo de novo

sucedeu no Mundo. Havia nascido uma figura

que, anos e anos mais tarde se tornaria uma das

pessoas mais célebres e emblemáticas da

música rock no panorama internacional.

Baptizado sob o nome de James Newell

Osterberg, o futuro Iggy Pop nada tinha a ver

com o que se nos apresenta hoje. Rapaz tímido

e introvertido foi criado sob os costumes anglo-

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-irlandeses por parte do pai e norueguesa/

dinamarquesa por parte da mãe, num camping

para auto caravanas.

O seu amor pela música começou bem cedo,

tendo iniciado a sua carreira musical como

baterista em várias bandas da escola onde

andava no Michigan. Na “The Iguanas” – nome

de uma delas – foi onde lhe surgiu o nome

“Iggy” e não tardou muito até que se mudasse

para Chicago a fim de aprender muito mais

sobre a sua paixão: o blues. Durante a sua

estadia na cidade dos “Bulls”, Iggy participou

em várias bandas a fim de ganhar não só

dinheiro mas também e principalmente fazer

novas amizades que, futuramente o pudessem

ajudar a dar o saltinho de pardal que tanto

precisava.

Foi então pelo amor ao Blues – e por influência

directa de bandas como “The Sonics” ou “The

Doors” – que Iggy decidiu formar os ”The

Stooges” com Dave Alexander no baixo e os

irmão Ron e Scott Asheton na guitarra e bateria

respectivamente. Começaram a frequentar

bares para concertos e rapidamente Iggy se

apercebeu que necessitava de uma marca que o

destacasse da grande massa musical que já se

fazia sentir na época. Após ter assistido a um

concerto dos “The Doors” em 1967, Iggy Pop

ficou atónito com as perfomances e

individualismo que Jim Morrison emanava. O

seu comportamento extremo inspirou Iggy a ir

muito além de todos os seus limites enquanto

tocava, rolando sobre cacos de vidro, baixando

as calças e esfregando pedaços de carne ou

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manteiga de amendoim no peito. Loucuras à

parte, passou a ser aclamado como o pai do

“stage dive” – algo que abraçou pela primeira

vez durante um espectáculo em Detroit.

Em 1968, um ano antes de lançar o seu álbum

de estreia, a banda assinou um contrato com a

Elektra Records e Iggy, a fim de evitar

problemas futuros, decidiu ligar a Moe

Howard (elemento do grupo de comédia

televisiva “Three Stooges” para saber se o

deixavam baptizar a banda de The Stooges. A

resposta foi clara: “I don’t care what they call

themselves, as long as they’re not the Three

Stooges!”. Disco lançado em 1969 e fracasso

total. O álbum não teve vendas nenhumas e o

sucesso comercial falhou. Ainda assim em 1970,

a banda decidiu arriscar e lançou “Fun House”

seguindo o mesmo marasmo comercial do

álbum anterior, mas foi sol de pouca dura já

que a banda se cansou do vicio em heroína que

Iggy mantinha e deitavam por terra, sonhos.

No ano seguinte, Iggy conheceu David Bowie

em Nova Iorque o que demonstrou ser uma

boa influência já que em 1972, Iggy viajou com

Lou Reed para Londres com o objectivo de

lançar uma carreira a solo. Mas Bowie e Pop

tiveram uma ideia melhor e decidiram relançar

os The Stooges convidando de novo os irmãos

Asheton e impondo algumas mudanças. Ron,

anterior guitarrista, ofereceu o seu lugar a

James Williamson e deu-se o nascimento de

“Raw Power”. O consumo de drogas agravou-

se e os The Stooges voltaram a separar-se nesse

ano depois de terem entrado em confrontos

com motoqueiros. Depois da segunda

separação dos Stooges, Iggy fez algumas

gravações com James Williamson, mas o

lançamento das mesmas só se deu em 1977

aquando do lançamento do álbum “Kill City”.

Infelizmente Iggy não conseguiu largar as

drogas e internou-se num manicómio a fim de

se reabilitar , tendo Bowie como única visita.

Finada a reabilitação, Bowie e Pop rumaram a

Berlim. Iggy assinou um contrato com a RCA

Records e Bowie ajudou a escrever e produzir

os álbuns “The Idiot” e “Lust for Life” que são,

de longe, os álbuns mais mediáticos de Pop.

Ainda assim Iggy estava insatisfeito com a

editora RCA e, ao ver-se livre do contrato,

mudou para a Arista Records. Lançou “New

Values” em 1979 que, apesar de ter algumas

músicas com reconhecimento, não teve grande

sucesso. O disco ficou mais famoso nas terras

dos cangurus: Nova Zelândia e Austrália, o que

levou Iggy a visitar esta região pela primeira

vez.

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Enquanto estava em Melbourne, fez uma

aparição memorável no programa televisivo

“Countdown”. Durante o decorrer da sua

performance de “I’m bored”, Iggy não fez o

mínimo esforço para mostrar que estava a fazer

playback e ainda tentou agarrar raparigas que

estavam na plateia. A verdade é que tal

coragem e loucura lhe valeram uma óptima

popularidade entre os punks australianos.

Os anos 80 começaram com a publicação da

autobiografia intitulada “I need More”. O livro

conta com uma selecção de fotografias a preto e

branco e tem o prefácio escrito pelo mítico

Andy Warhol. Em 1982 lançou o disco

“Zombie Birdhouse” sem sucesso algum.

Contudo a sorte manteve-se do lado de Iggy.

Isso ou Bowie que, não o largando por um

minuto, gravou “China Girl” e colocou o nome

de Pop nos créditos. A presença de Bowie na

vida de Pop valeu-lhe uma melhoria na sua

condição de vida: largou a heroína, teve aulas

de actor e ainda se casou. Em 1988 lançou

“Instinct” , álbum recheado de sons de

guitarras sujas que relembram os bons tempos

dos “The Stooges”.

Com a entrada do novo milénio, Iggy já fez

muita coisa. Participou em algumas músicas da

banda At the Drive-In, cantou a música “Fix

Me” para o álbum “Rise Above: 24 Black Flag

Songs to Benefit the West Memphis Three”

organizado por Henry Rollins e ainda voltou a

reunir os “The Stooges” gravando novos

álbuns e dando concertos um pouco por toda a

parte. Em 2010 os “The Stooges” foram

introduzidos no “Rock and Roll Hall of Fame”.

O pai do “stage dive” ainda anda aí e é preciso

ter cuidado. É gigante e não é a idade que o vai

demover.

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Corria a década de 70 quando Joey,

juntamente com Johnny, Tommy e Dee Dee

formaram uma banda que mudou o padrão do

rock conhecido até então. Deixando de lado os

excessos e o virtuosismo do final dos anos 60,

criaram, quase por acaso, um novo estilo

musical que viria a influenciar numerosas

bandas de rock que surgiram nas décadas

seguintes. A lenda continua.

Por Carmen Gonçalves

Baterista desde os 13 anos, Joey tocava numa

banda rock quando foi convidado para se

juntar ao grupo que estava a ser formado por

John Cummings e Douglas Colvin. Quando se

percebeu que como baterista não conseguia

acompanhar o estilo mais agressivo da banda, o

produtor Tommy Erdelyi assumiu as baquetas

e Joey passou então a ser o vocalista principal.

E assim nasceram os Ramones. A ideia do

nome surgiu de Douglas Colvin que decidiu

usar o sobrenome de Ramone, rebaptizando-se

de Dee Dee Ramone, e propondo o mesmo aos

restantes elementos da banda.

Em pouco tempo o conjunto de músicos

amadores tornou-se uma das principais

atracções do clube nova-iorquino CBGB. Um

ano depois os Ramones foram a primeira banda

punk rock a assinarem um contrato musical

com uma editora e lançaram o seu primeiro

disco em 1976, o homónimo “Ramones”.

Com a simplicidade dos três acordes em

músicas directas, que não ultrapassavam os

dois minutos, os Ramones interpretavam o

vazio da vida dos jovens da época, sem

perspectivas de futuro – o sucumbir às drogas,

à prostituição e à delinquência juvenil. Músicas

como “Judy Is a Punk ”, “Now I Wanna Sniff

Some Glue” ou “Blitzkrieg Bop”, faziam as

delícias do movimento “underground” urbano

em ascensão.

Apesar de não terem alcançado um grande

sucesso comercial nos Estados Unidos, os

Ramones editaram catorze álbuns em vinte e

dois anos de carreira, seguidos quase sempre

de uma tourné. Nos concertos chegavam a

tocar trinta temas em noventa minutos, quase

sem parar. Desta forma, mesmo sem um

grande número de vendas, construíram uma

legião fiel de fãs e de seguidores.

Foram uma grande influência para muitos

jovens desajustados socialmente, e muitos

destes formaram a sua própria banda punk,

como o é o caso dos The Clash e dos Sex

Pistols, pioneiros do punk rock em Inglaterra.

Page 10: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Mais tarde, no início da década de 90 surgiram

várias bandas rock norte-americanas

influenciadas pelo movimento punk. Bad

Religion, Soundgarden, Pearl Jam e Green Day,

foram algumas das bandas que beberam da sua

influência.

No final da década de 70 o punk rock estava de

ressaca, muito devido ao caos instalado pelos

Sex Pistols. Tocar punk rock em Inglaterra caiu

em desuso, e começaram a emergir as

primeiras bandas dos movimentos pós-punk e

new wave. Ainda assim os Ramones

mantiveram-se fiéis ao seu estilo, embora

começassem a surgir as primeiras alterações na

formação da banda. Com a saída do baterista

Tommy, Marky Ramone assumiu o seu lugar e

foi a altura ideal para os Ramones apontarem

para novas direcções. Queriam fazer um disco

mais comercial, mas sem deixar de lado as

características iniciais da banda. E foi assim que

em 1978 chegou ao mercado o LP “Road To

Ruin”, que mostrava que os Ramones sabiam e

podiam fazer um rock acessível e de qualidade.

No início da década de 80 alguns conflitos

começaram a provocar tensão na banda. Até

então Joey tinha pouca participação na

composição dos temas, mas nessa época passou

a ter um papel mais importante, juntamente

com Dee Dee. Mas a vida boémia de festas,

drogas e álcool levou com que até ao final da

década os Ramones tivessem algumas

formações diferentes. Em 1983 deu-se a saída

do baterista Marky, tendo regressado após a

sua reabilitação quatro anos mais tarde. E em

1989 os Ramones sofreram um revés com a

saída de Dee Dee, que era o elemento que tinha

o papel principal na composição dos temas.

Na década de 90 e já com a nova formação os

Ramones editaram três álbuns. Em 1995

lançaram o último registo “Adios Amigos!”, e

no ano seguinte a banda separou-se. O cansaço

acumulado, a falta de comunicação entre os

elementos e a doença que tinha afectado o

vocalista Joey, foram factores preponderantes

para o grupo se desfazer. O último concerto da

banda aconteceu no dia 6 de Agosto de 1996

em Hollywood. Eddie Vedder, Chris Cornell e

o ex-elemento Dee Dee Ramone, foram alguns

dos convidados especiais desta actuação. Ficou

registado como o concerto número 2.263 e deu

origem ao álbum e ao vídeo “We’re Outta

Here!”.

Com o fim dos Ramones foi deixada uma

lacuna no movimento punk, que dificilmente

será preenchida. Mais do que uma influência,

foram e continuam a ser, a base de sustentação

para o que de melhor se pode fazer na cena

punk rock.

Page 11: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Sex Pistols

Com o humor cínico e rebelde dos britânicos

jovens, o Rock and Roll nunca mais foi o

mesmo depois dos Sex Pistols. A música, a

letra, a atitude de cada membro da banda e

um desejo de chocar e provocar era algo que

nunca se tinha visto antes, e o álbum Never

Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols

serviu para alterar o panorama punk-rock na

Inglaterra e influenciar o resto do mundo.

Hoje, em modo punk.

Por Adriano Marques

A banda londrina criada em 1975 era

originalmente composta pelo vocalista Johnny

Rotten, o guitarrista Steve Jones, o baterista

Paul Cook e o baixista Glen Matloc, que

acabaria por ser substituído por Sid Vicious em

1977. Rapidamente se apercebeu que este

grupo era diferente, e apesar de curta carreira

(apenas dois anos) os Sex Pistols chocaram

uma inglaterra assediada pela pobreza,

desemprego, e greves operárias. Ao mesmo

tempo esta época foi o timing perfeito para o

punk estar na moda. Por exemplo a canção

God Save the Queen, entre muitas outras, era

vista como uma provocação à monarquia

britânica e aos desempregados.

O único álbum do grupo, Never Mind the

Bollocks, Here’s the Sex Pistols foi lançado em

outubro de 1977, e apesar de tanta controvérsia

até teve um grande impacto pelos ouvintes

britânicos. No mesmo ano começavam as

turnês pela América que incitava imensa

emoção e protesto por causa do famoso rótulo

acerca da violência que havia nos seus

espetáculos. Por outro lado, o seu sucesso era

cada vez maior porque a publicidade negativa

aumentava a sua notoriedade.

Dada a reverência para com o legado dos Sex

Pistols , Never Mind the Bollocks foi

considerado o número dois do álbum de todos

os tempos pelos editores da Rolling Stone.

Apesar da carreira ter terminado em 77 o

grupo juntou-se em 2007, os integrantes da

formação original dos Sex Pistols (Johnny

Rotten, Steve Jones, Paul Cook e Glen Matlock)

com o objetivo de comemorar os 30 anos do

álbum “Never Mind The Bollocks”. O grupo

marcou presença, inclusive, no Festival

Paredes de Coura .

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Quando a atitude faz o monge

Já foi lançada uma das mais controversas

músicas dos Sex Pistols, “Belsen was a Gas”, e

que é apontada por muitos como uma crítica

idiota aos acontecimentos que envolveram a

libertação do campo nazi de Bergen-Belsen

pelas forças britânicas. Na letra, escrita por

Sid Vicious, lê-se uma descrição, a espaços

grotesca, daquilo que seriam os horrores

sofridos pelos judeus. Nas entrelinhas

encontramos John Simon Ritchie-Beverly,

agressivo, controverso, ofensivo e exagerado, e

percebemos nas imagens o porquê de este ser,

ainda hoje, o ícone maior da cultura punk.

Por Sara Cunha

É curioso que passados mais de 30 anos sobre a

sua morte, o nome de Sid Vicious valha quase

tanto como o do colectivo Sex Pistols, até

porque, bem feitas as contas, o baixista que

começou como baterista nos The Flowers of

Romance, até nem alinhou na formação inicial

da banda e, mesmo lá dentro, nunca foi um

parceiro consensual. Curioso, mas não

totalmente surpreendente, se pensarmos que os

Sex Pistols nunca quiseram ser uma banda de

hits. Para a banda inglesa o importante não era

o porto, mas a viagem e, mais do que isso, o

rasto de destruição que durante a mesma

pudessem deixar. Daí que não seja de estranhar

que o próprio Malcolm McLaren, fundador do

colectivo, fosse o primeiro a afirmar que “caso

tivesse conhecido Vicious antes de Rotten, seria

ele o vocalista, porque tinha um carisma

incomparável em palco”.

Filho de mãe hippie e um (ausente) pai ex-

guarda, John Simon Ritchie-Beverly haveria de

renascer Sid Vicious quando o animal de

estimação de John Joseph Lydon (mais tarde

Jonhny Rotten e, como já devem ter somado,

vocalista dos Sex Pistols) o mordeu. Sem

especial talento para a música, a história

pública de Sid confunde-se com a sua vida

pessoal, marcada por comportamentos limite,

auto-destrutivos e uma tendência natural para

abraçar vícios e atitudes agressivas. Tendo

abandonado a escola muito jovem, Sid era um

dos números que engrossava as fileiras do

desemprego, filho de uma geração de jovens

sem grandes projectos, interesses ou aspirações

e que vagueavam as ruas de Londres

alimentando a frustração face a uma sociedade

tradicionalista e sem oportunidades. Não

admira, portanto, que o seu percurso na música

Page 13: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

viesse a transformar-se na materialização do

ódio ao poder estabelecido e à coroa inglesa,

tudo muito bem embalado num pacote de

formas agressivas, “punch sentences” e ritmos

acelerados. A prová-lo está o single “God Save

the Queen” em que acusa Elizabete II de não

ser um ser humano. Uma trilha que haveria de

granjear o ódio de grande parte da população

das ilhas britânicas, arrecadar algumas

agressões a elementos da banda e uma

proibição de circulação em território inglês.

Nada que assustasse Sid e o seu colectivo que,

no seguimento do single, decidiram editar o

álbum “Never Mind the Bollocks, Here’s the

Sex Pistols” também ele um registo non grato

na indústria da especialidade.

Sid não era homem de meias palavras, como

não era de meias atitudes, até porque, como o

mesmo dizia (ou predizia), “haveria de morrer

novo”. Foi, de resto, a atitude exagerada, as

unhas roxas e a vida amorosa turbulenta, capaz

de fazer correr tinta de jornais, que haveriam de

imortalizá-lo aos olhos da história da música.

No atrelado desta fama, e como esquecê-la,

cabe apenas um nome, Nancy Sprungle. A

grande paixão da vida de Vicious que se

gabava de ter tirado a virgindade ao baixista e

de o ter iniciado no consumo de heroína. Uma

relação tão apaixonada quanto tortuosa que

haveria de ser rastilho para o fim dos Sex

Pistols, numa altura em que o consumo

exagerado de droga era motivo para intensas

discussões entre os elementos da banda. Após o

final do colectivo, Vicious e Nancy rumam aos

Estados Unidos para tentar algumas incursões a

solo, mas nada que fosse além de uns concertos

e perfomances de bairro.

Em Outubro de 1978, Nancy Sprungle é

encontrada morta no chão da sua casa de

banho. No corredor, Sid jazia inanimado e,

apesar das declarações confusas e

contraditórias, acaba por ser condenado por

homicídio involuntário. Dias mais tarde, é

libertado, sob fiança . Em Fevereiro de 1979, no

seguimento de uma festa que celebrava a sua

segunda liberdade condicional, Sid Vicious é

encontrado morto. Tinha 21 anos e no bolso do

casaco uma carta onde se lia: “”Nós tínhamos

um pacto de morte e eu tenho que manter

minha parte. Por favor, enterrem-me junto da

minha querida, com o meu casaco de cabedal,

jeans e botas de motoqueiro”.

Page 14: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Decorria o ano de 1976 quando os The Clash

se deram a conhecer ao mundo. O movimento

punk rock britânico estava no seu apogeu com

os Sex Pistols a marcarem definitivamente

este estilo. Mas os The Clash vieram dar um

novo alcance musical ao punk, incorporando

novos estilos e acrescentando uma

sofisticação lírica e política, que os distinguia

da maioria das bandas punk rock da época.

Por Carmen Gonçalves

A formação original era composta por Joe

Strummer na voz, Mick Jones na guitarra, Paul

Simonon no baixo e Terry Chimes na bateria

(substituído por Nick Headon pouco antes do

lançamento do disco de estreia). O homónimo

“The Clash” chegou às lojas em 1977 e teve

entrada directa para o top britânico.

Por esta altura a banda andava em turné com

os Sex Pistols, a abrir a primeira parte dos seus

concertos, e apesar no género musical ser o

mesmo, havia diferenças notáveis entre as duas

bandas. Enquanto os Sex Pistols eram apenas

uma banda de rebeldes que pregavam anarquia

pura e simples, os The Clash eram uma banda

de rebeldes com uma causa, que mostravam

nas suas letras críticas sociais subtis.

Com o segundo álbum, “Give ‘Em Enough

Rope”, lançado em 1978, conseguiram

finalmente alguma repercussão no mercado

americano fazendo com que o primeiro LP

fosse também lançado a nível mundial.

Seguiram-se duas turnés bem sucedidas nos

Estado Unidos.

Musicalmente falando, os The Clash foram

capazes de evoluir bastante no decorrer da sua

carreira, aventurando-se, inclusive, em

sonoridades diferentes do punk rock, como o

pop, o reggae e o ska, abrindo caminho para a

new wave.

Esta influência de novas sonoridades,

principalmente do reggae e do ska, ficaria clara

no terceiro disco, “London Calling”, de 1979,

que também mostrou muitas influências do

rock n’ roll e do blues. O experimentalismo da

banda foi ainda mais longe, incluindo

instrumentos de sopro e electrónicos em alguns

dos seus temas. A diversidade destes estilos

levou o álbum a ser bem aceite nos Estados

Unidos, tendo sido o maior sucesso comercial

da banda.

O quarto álbum da banda surgiu um ano mais

tarde em 1980. “Sandinista!” é um álbum triplo

repleto de experimentações musicais

enveredando pelo o reggae e o dub, e

Page 15: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

expandindo-se em direção a outras técnicas de

produção e estilos musicais, que incluíam jazz e

hip-hop. O resultado confundiu os novos fãs e

as vendas caíram na Grã-Bretanha, embora

tenham-se saído melhor nos Estados Unidos.

Em 1982 a banda redimiu-se com o lançamento

de “Combat Rock” que incluía os temas “Rock

The Casbah” e “Should I Stay Or Should I

Go?”, que se tornou num verdadeiro hino do

movimento punk.

Os sintomas passaram despercebidos com o

sucesso de “Combat Rock”, mas depois deste

álbum a banda começou lentamente a se

desintegrar. O baterista Nick Headon foi

demitido por apresentar problemas sérios com

drogas, embora a razão oficial tenha sido

diferenças políticas. Para o seu lugar foi

chamado o antigo membro Terry Chimes, que

não se manteve muito tempo na banda. Depois

da turné deste álbum Chimes abandonou os

The Clash, convencido de que o grupo não

duraria muito tempo.

Em 1983, e depois de uma longa procura por

um novo baterista, Pete Howard foi recrutado,

mas a formação da banda em breve iria

conhecer novos elementos. Em Setembro de

1983 Joe Strummer e Paul Simonon expulsaram

Mick Jones devido ao seu comportamento

problemático e a divergências musicais, tendo

entrado para o seu lugar dois guitarristas, Nick

Shepperd e Vince White.

No final de 1984 os The Clash anunciaram que

um novo disco estava a caminho, contudo o

resultado final não foi o esperado pela banda.

As sessões de gravação deste novo álbum

foram decepcionantes, com o empresário Bernie

Rhodes a alterar drasticamente os arranjos das

músicas e baseando o som em sintetizadores.

Desiludido com o álbum, o líder Joe Strummer

levou a banda em digressão pelo Reino Unido,

tocando de graça em esquinas e bares. Estes

foram os últimos concertos dos The Clash. Em

1985 “Cut The Crap” chegou às lojas e a

desvirtuação do som dos The Clash foi arrasada

pela crítica. Em 1986 Strummer e Simonon

anunciaram o que já se previa, chegando ao fim

a existência dos The Clash. Embora tenham tido

uma curta existência, os The Clash tornaram-se

numa verdadeira banda de culto, tendo

revolucionado o punk rock britânico, não só

pela mescla de sonoridades, mas sobretudo

pelo conteúdo crítico das suas letras. Hoje, são

considerados uma das maiores bandas de todos

os tempos graças à atitude, à criatividade e à

ousadia em juntar reggae, dub, ska, jazz e funk

ao punk rock.

Page 16: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Tony Wilson

No mundo da música, seja de que género for,

a condição de músico ou produtor é sem

dúvida importante para ser-se famoso, ou pelo

menos, relativamente conhecido. No entanto

existem personalidades que, sem o serem,

adquirem quase igual estatuto, tornando-se

igualmente figuras importantes e

determinantes, influenciando decisivamente a

história da música. Um destes exemplos foi o

jornalista Tony Wilson (fundador da Factory

Records e mentor do fenómeno Madchester) e

um dos primeiros a ter consciência da

existência da música indie . Vamos então falar

um pouco sobre a sua vida…

Por Bruno Vieira

Natural de Salford, Lancashire, o jornalista e

apresentador de TV formado em Cambridge com uma

especialização em língua inglesa começou por estagiar

na ITN. Fez carreira na Granada Television e passou

também pela BBC. Tony Wilson foi um dos principais

responsáveis pela revolução no mercado musical

britânico em meados da década de 70, ao dar aos novos

nomes da música a oportunidade de serem alguém, num

mercado onde só parecia haver lugar para os músicos

estabelecidos. O facto de ter assistido em 1976 ao

primeiro concerto dos Sex Pistols fê-lo perceber que

algo estava a nascer, faltava só preparar o terreno para

fazer acontecer. A música alternativa/independente

dava os primeiros passos.

A Factory Records tornou-se então numa espécie de

albergue para nomes como Joy Division, New Order,

Happy Mondays, Clash, Buzzcocks, entre outros. A

abertura de dois espaços: um clube nocturno para

actuação das bandas da sua editora e mais tarde a

discoteca Hacienda, que se tornaria no centro da noite

de Manchester, deram um impulso à vida nocturna

desta cidade, muito marcada pela recessão económica e

social da época. Do ambiente urbano-depressivo até ao

fenómeno Madchester foi um ápice. Em final dos anos

80 os dias eram já mais alegres e as noites de festa…

nascia a cultura Rave.

A história deste período seria mais tarde recontada

através de 24 Hour Party People, filme/documentário

autobiográfico, realizado em 2002 por Michael

Winterbottom e interpretado por Steve Coogan (no

papel de Tony Wlson), que nos dá a conhecer o

ambiente em torno de Manchester, desde meados de 70

a inícios de 90, fazendo-se acompanhar de uma

excelente banda sonora, que inclui nomes como Joy

Division, Sex Pistols, Happy Mondays, The Clash, Durutti

Column, New Order, entre outros…

Para terminar lembro apenas que Tony Wilson faleceu

em Agosto de 2007, aos 57 anos em Manchester, vítima

de ataque cardíaco, embora lutasse contra um cancro

desde o início de 2006.

Page 17: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Tony Wilson é um jornalista frustrado da Gra-

nada TV, cansado de fazer programas que cheiram a

mofo. Entrevistar um guarda-canais ou um dono de

um rebanho de ovelhas guardado por um pato, não

são o tipo de trabalho que o realizem. Mas Wilson

quer fazer algo de importante que possa contar aos

netos: funda uma editora, a Factory Records e abre

dois espaços: um clube nocturno onde actuam as

bandas da sua editora e mais tarde a Hacienda, dis-

coteca famosa e centro da noite de Manchester.

24 Hour Party People retrata o panorama musical

desde os primórdios do Punk, em meados dos anos

70, passando pelo fenómeno de “Madchester“ em

finais de 80, até ao surgimento da cultura “Rave“.

Quando Tony Wilson assiste em 76 ao primeiro

concerto dos Sex Pistols, apercebe-se que está na

vanguarda das tendências musicais. São poucos a

assistir ao concerto… mas bons! O espírito deste

concerto não poderia captar melhor a atmosfera ur-

bano-depressiva causada pela recessão económica e

social da Inglaterra de finais de 70. A primeira ban-

da Punk cantava o que o poder instituído não queria

ouvir: “Deus salve a rainha… Ela não é um ser hu-

mano… Não há futuro… Nos sonhos da Inglaterra“.

De facto os anos 70 não estavam fáceis para os no-

vos nomes da música, com as grandes editoras a

ditarem as regras do jogo. As coisas passavam-se

mais ou menos assim: existia um número considerá-

vel de artistas conhecidos e consagrados que rendi-

am muito dinheiro às editoras, os denominados

“supergrupos“. Apenas estes tinham acesso aos me-

lhores meios com produções e espectáculos megaló-

manos. Com os “supergrupos“ a sustentarem os lu-

cros das editoras, apostar em bandas desconhecidas

era um risco que ninguém estava disposto a correr.

A Factory Records acolheu estas bandas que de ou-

tra forma jamais teriam direito a tempo de antena,

estamos a falar de nomes como Joy Division, New

Order e Happy Mondays, Clash, Buzzcocks, entre

outros. A editora concedeu total liberdade criativa

aos seus músicos, inclusive o direito de poderem

abandoná-la quando entendessem. As regras eram

tudo menos convencionais e os contratos redigidos

e assinados com sangue.

A Factory Records foi, talvez, a principal responsá-

vel pela generalização do conceito “independente“,

tornando-se numa espécie de albergue para os no-

vos talentos de então, ainda hoje fonte de inspiração

para toda uma nova geração emergente de nomes

como Franz Ferdinand, The Strokes, The Libertines,

Editors, Arcade Fire ou Interpol. Devido a dificul-

dades financeiras a Factory Records seria mais tarde

adquirida pela London Records.

Realizado em 2002 por Michael Winterbottom e

interpretado por Steve Coogan (no papel de Tony

Wilson), este filme/documentário autobiográfico faz

-se acompanhar ainda de uma excelente banda so-

nora, essencial a todos os interessados em conhecer

os primeiros nomes do som alternativo.

24 hour party people

Page 18: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

New Order: Os verdadeiros ícones da alternativa

Os New Order são uma banda pós-punk de

música electrónica inglesa, formada em 1980

pelos ex-integrantes dos Joy Division, após o

suicídio do vocalista Ian Curtis e que se

desmoronou em 2007. É considerada a

pioneira na união do rock com a música

electrónica e foram uma das maiores difusoras

da música electrónica, ao lado de bandas

como os Depeche Mode e os Pet Shop Boys.

New Order é um dos nomes mais influentes e

revolucionários de todos os tempos no rock e

na música electrónica.

Por Sara Pereira

Formados no início da década de oitenta em

Manchester (Inglaterra), os New Order eram

inicialmente constituídos por três membros dos

Joy Division, cuja carreira foi prematuramente

interrompida com o suicídio do vocalista Ian

Curtis, em maio de 1980. No entanto , os

membros remanescentes dos Joy Division,

Bernard Sumner, na guitarra, Peter Hook, no

baixo, e Stephen Morris encarregado pela

bateria, decidiram continuar, apesar da

tragédia, e optaram por mudar o nome para

New Order.

Esta nova denominação, que deveria passar a

ideia de mudança e renascimento, despertou

suspeitas entre os jornalistas sobre as filiações

políticas do grupo, uma vez que Nova Ordem

era o que Adolf Hitler pretendia impor à

Humanidade caso tivesse vencido a Segunda

Guerra Mundial. Entretanto, mais tarde, o livro

“24 Hour Party People”, de Tony Wilson,

revelou que o nome era uma referência ao

Khmer Vermelho e foi sugerido pelo

empresário da banda na época, Rob Gretton,

após ter assistido a um documentário sobre a

revolução no Camboja. Especula-se também

que a escolha do nome poderia ter sido uma

homenagem aos The Stooges, embrionário

grupo proto-punk norte-americano, que foi

uma grande influência no som da banda

quando ainda se chamavam Joy Division

A banda inglesa já vendeu mais de vinte

milhões de álbuns. Com cerca de sete minutos e

meio de duração, Blue Monday é o single de

maior duração que já alcançou os tops

britânicos, conhecido como o single mais

Page 19: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

vendido da história musical, tendo vendido

mais de três milhões de cópias. No entanto,

pelo facto de a Factory não pertencer à

Indústria Fonográfica Britânica, o grupo

inglês não pôde receber um disco de ouro.

Blue Monday é vista como uma das músicas

mais importantes do panorama electrónico

dos anos 80 por misturar o Synthpop,

considerado por muitos como a junção

máxima da música electrónica com o rock,

com influências da cena de clubes de Nova

York.

Em Junho de 1980, Sumner, Hook e Morris

fizeram a sua primeira gravação de estúdio

contando com a companhia de Kevin

Hewick. A faixa resultante desse trabalho,

Haystack, foi editada na colectânea From

Brussels With Love. A canção foi uma das

primeiras a fazer parte do novo material que

o trio vinha compondo logo após a morte de

Ian Curtis. Uma segunda música, A Piece of

Fate, também foi gravada com a participação

de Hewick, mas este fonograma nunca viu a

luz do dia. Kevin produziu esta faixa ao

longo dos anos e ela foi lançada pelo cantor

em 1993 com o nome No Miracle. No mês

seguinte, a banda faria algumas gravações no

famoso estúdio da banda Cabaret Voltaire, o

Western Works, em Sheffield (UK).

Page 20: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Após algumas apresentações ao vivo como trio,

Gillian Gilbert foi integrada à banda

encarregando-se dos teclados e da guitarra,

enquanto Bernard Sumner se consolidava no

posto de vocalista, por vezes dividido com

Peter Hook.

O início da década de oitenta ficou marcado

pelo primeiro single do grupo rock. Lançado

em 1981, este continha duas músicas escritas

ainda nos tempos dos Joy Division, que no

entanto ainda não tinham sido terminadas

devido à morte de Curtis: Ceremony e In a

Lonely Place. Em Setembro do mesmo ano, pela

Factory Records, editora independente que os

abrigava desde 1978, lançam o compacto

Procession, que antecedeu o lançamento de

Movement, o primeiro álbum, em novembro de

1981.

Os New Order foram os pioneiros na ligação da

música electrónica ao Rock. Revolucionaram a

que é hoje conhecida como Dance Music.

Com o disco Power, Corruption and Lies, de

1983, eles mudaram de direcção musical,

distanciando-se de vez da sombra de Ian Curtis

e partindo para músicas mais dançantes,

inspirados pelos Kraftwerk, Afrika Bambaata,

Disco Music e Giorgio Moroder. A partir desse

disco, a banda também adoptou uma postura

mais abstracta nas letras, num oposto ao lirismo

desesperado de Ian Curtis. Os singles desse ano

foram Blue Monday e Confusion, uma música

com uma batida hip-hop muito forte.

Os singles de 1983 foram Blue Monday e

Confusion. Os New Order conseguiram ser

reconhecidos mundialmente como a maior

banda independente do planeta, tendo sido a

primeira banda independente inglesa a fazer

sucesso mundial. O álbum Low-Life, de 1985,

trouxe mais dois grandes singles – Thieves Like

Us e The Perfect Kiss. É o único álbum da

banda que inclui fotografias dos seus membros,

o que marcou uma aproximação maior da

banda com o público em relação aos anos

anteriores.

O álbum Brotherhood, de 1986, traz uma das

músicas de maior sucesso da banda, Bizarre

Love Triangle. E neste mesmo ano eles também

lançaram os singles “States Of The Nation” e

“Shellshock”.

Page 21: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Em 1987 a banda lançou a colectânea

Substance, contendo todos os singles

lançados até aquele momento. Músicas como

Bizarre Love Triangle e Sub-Culture são as

versões do single, diferentes das versões dos

respectivos álbuns. Com um som mais pop e

limpo nos singles, como True Faith e Touched

By The Hand Of God a banda entra numa nova

época musical. Dois anos depois sai o disco

Technique. Este incorpora a emergente acid

house ao rock electrónico característico da

banda e é, para muitos, um retrato fiel do auge

da acid house. O disco representava o que

havia de mais moderno na época e recebeu

elogios rasgados da crítica do mundo inteiro,

sendo o primeiro disco do grupo a chegar ao

topo da parada de LPs na Inglaterra.

World In Motion, foi o primeiro single dos New

Order a alcançar o top nas paradas britânicas.

Foi feita para a Selecção Inglesa de Futebol,

sob o nome de NewEnglandOrder, e lançada

em 1990 para a Copa do Mundo daquele ano,

na mesma época em que Bernard Sumner

formava a banda paralela Electronic com o

guitarrista dos The Smiths, Johnny Marr. De

salientar que Peter Hook, tal como o seu

colega, também acabou por formar um projecto

paralelo chamado Revenge.

Republic foi lançado em 1993, após a saída

dos New Order da até então sua editora, a

Factory Records, e mostrando a partir de então

um grupo já um tanto desgastado. O single

Regret foi um hit nos E.U.A.. Após esse disco,

os integrantes pararam as actividades da

banda e cada um foi trabalhar em projectos

paralelos, como mencionado anteriormente,

Bernard com o Electronic, Peter com o

Revenge, sendo que Steve e Gillian, formaram

o Other Two.

Em 1994 a colectânea The Best Of New Order

foi lançada com vários dos singles do

Substance. No ano seguinte, lançaram a

“segunda parte” desta colectânea, desta vez

chamada The Rest Of New Order, contendo

antigos e novos remixes das suas músicas. Em

1998 a banda voltou à activa e a tocar músicas

dos Joy Division como Transmission e

Atmosphere. Além disso, participou da banda-

sonora do filme “The Beach”, com Leonardo Di

Caprio, com a música inédita “Brutal”, que não

aparece em nenhum outro registo da banda.

Em 2001 a banda lançou o álbum Get Ready,

notando-se uma grande mudança na parte

musical, mais focada na guitarra do que nos

teclados, como mostra os singles Crystal e 60

MPH. O disco contou com participações de

dois grandes músicos: Bobby Gillespie dos

Primal Scream, que participa da música Rock

the Shack e Billy Corgan do Smashing

Pumpkins, que participou da música Turn My

Way.

Page 22: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Em 2005 a banda lançou Waiting for the Sirens’ Call, o primeiro álbum com o novo membro,

Phil Cunningham e sem Gillian Gilbert, que se recusou em favor de cuidar dos seus filhos com

Stephen Moriss. Singles como Jetstream (que tem a participação de Ana Matronic dos Scissor

Sisters) e Krafty foram muito bem recebidos. No mesmo ano a banda ganhou o prêmio God Like

Genius da NME Awards e foi incluída junto com os Joy Division no UK Music Hall of Fame. Em

2006 a música Guilt Is a Useless Emotion, do álbum Waiting for the Sirens’ Call, concorreu ao

Grammy Awards na categoria de melhor Gravação Dance.

Em 2007 Peter Hook anunciou sua saída e o fim da banda. Após conflitos com Bernard e

Stephen, que afirmaram que a saída de Hook não significa o fim da banda, que continua em

actividade. Deste modo, em 20 de Julho de 2007, Morris e Sumner noticiaram que os New Order

continuavam a trabalhar sem Hook.

Lost Sirens, entretanto, pode ser considerado o último material gravado da banda pois não

sabemos se um dia a banda estará unida novamente. Com oito músicas, seis delas inéditas, ele

demonstra que o grupo ainda tinha e talvez ainda terá muita lenha pra queimar e são um

exemplo para o Synthpop, Dance Music e Post-Punk. Até lá, ou não, os outros artistas vão

dando música para os nossos ouvidos.

Page 23: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Happy Mondays: Queridos anos 90

No início da década de 80 Manchester deu a

conhecer uma banda de pop rock alternativo, cujo

estilo viria a ser bastante influenciado pelos

conterrâneos New Order. Até o nome da banda

evidencia o fascínio pelo coletivo formado por

Bernard Sumner, e por um dos seus maiores

sucessos, o tema “Blue Monday”. Em plena era da

New Wave nasceram assim os Happy Mondays,

originalmente formados pelo vocalista Shaun

Ryder e pelo seu irmão Paul Ryder.

Por Carmen Gonçalves

Em 1984 os Happy Mondays, assinaram um

contrato com a lendária editora Factory Records, na

qual viriam a permanecer até 1992. Poucos meses

após este contrato deram o seu primeiro grande

concerto e gravaram o primeiro single de três

faixas , “Forty-Five”.

Em 1987 surgiu o primeiro longa duração,

intitulado “Squirrel And G-Man Twenty Four Hour

Party People Plastic Face Carnt Smile (White Out)”,

do qual foi retirado o single “24 Hour Party

People”. Em 2002 o título deste tema viria a dar

nome ao filme de Michael Winterbottom, cujo

enredo retratava a história da Factory Records e das

bandas que dela fizeram parte.

Apesar das críticas mais negativas ao trabalho da

banda, os Happy Mondays quebraram algumas

barreiras para a época e alcançaram o 10º lugar de

vendas em Inglaterra. Com a Factory Records

lançaram mais quatro álbuns entre 1988 e 1992,

tendo alargado o seu sucesso aos Estados Unidos.

Uma dos segredos para este sucesso passava

também por um membro da banda, conhecido por

Bez, que era uma espécie de “dançarino louco”, que

além de dançar, tocava maracas.

Após a saída da Factory Records, os Happy

Mondays tiveram um período de altos e baixos, e

em 1999 decidiram regressar ao ativo, pela mão da

editora London Records. Este regresso foi

acompanhado por um single à altura, com uma

versão para o tema “The Boys Are Back In Town”,

de Thin Lizzy’s.

O último registo de originais da banda ,“Uncle

Disfunktional”, foi lançado em 2007, após 15 anos

sobre a edição de “Yes Please!”, o último álbum de

originais, editado ainda pela Factory Records.

Apesar deste regresso aos discos não ter obtido o

sucesso desejado, os Happy Mondays mantêm-se

inabaláveis, sendo uma das poucas bandas

britânicas pioneiras do movimento britpop, que

ainda continua no ativo.

Page 24: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Os Stone Roses são um banda britânica de

rock alternativo, da cidade de Manchester,

formada em 1983. Um dos primeiros grupos

a surgir no chamado “movimento de

Manchester” . Apesar de ter passado por

algumas mudanças, o alinhamento que mais

resultou e que foi considerado o principal

foi este: Ian Brown como vocalista, John

Squire como guitarrista, Gary “Mani

Mounfield” no baixo e Alan “Reni” Wren, na

bateria.

Por Júlia Rocha

Brown e Squire conheciam-se da escola e em

comum tinham uma admiração pelos Clash.

Mais tarde foram recrutando os restantes

membros. O nome Stone Roses foi proposto

por John Squire, que o escolheu pela

combinação de dois nomes fortes, mas

bastante distintivos.

O seu álbum de estreia “The Stone Roses”, foi

lançado em 1983, álbum este que foi um

grande sucesso e fez representar este

movimento do rock alternativo que emergia na

música britânica. Continha o grande sucesso

“Waterfall” e “She Bangs the Drums”.

Foi nesta altura que os Stone Roses

apostaram em mudar de editora e tiveram

alguns problemas com a sua editora mãe, que

não sabia que eles tinham desistido do

contrato. Uma batalha legal que só terminou

em 1991. Lançaram o segundo álbum em 1994,

denominado “Second Coming”. A partir deste

álbum, as mudanças começaram a surgir e o

baterista Reni sai da banda, seguido do

guitarrista John Squirre. A saída de Reni não

teve grande justificação, algo que perturbou a

banda de certo modo. Esta separação musical

levou então à saída de Squire. A banda

acabaria por se desintegrar.

Reuniram-se em 2012 para uma tour mundial, a

começar com três espectáculos na sua cidade

natal de Manchester. O documentário "Made of

Stone" é uma ótima sugestão para ficar a

conhecer melhor o percurso do grupo.

Page 25: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Formados em meados dos anos 80, os

Primal Scream são uma das bandas que

mais marcaram a cena musical da década

de 90. Constituídos, inicialmente, por Bob

Gillespie (ex-baterista dos Jesus and The

Mary Chain) e por Jim Beattie, a banda foi

aumentando, à medida que também a sua

sonoridade se ia expandindo.

Por Carmen Gonçalves

“Sonic Flower Groove” (1987) e o homónimo

“Primal Scream” (1989) foram os dois primeiros

álbuns da banda. A sonoridade Pop Psicadélica

ecoava nestes registos, mas não

acrescentaram nada de especial à música da

época, sendo apenas mais uma banda com um

som pretensiosamente pop que se camuflava

no meio mais alternativo.

Em 1991 os Primal Scream encontraram o seu

rumo e o sucesso comercial com o disco

“Screamadelica”, a grande obra-prima da

banda. Foi um álbum vanguardista para a

época, misturando o Acid House com o Rock

Alternativo, coros Gospel e muito Pop

Psicadélico, tendo-se tornado num álbum de

culto, marcando a sonoridade musical da

década. Neste disco podemos encontrar o

tema “Loaded” que esteve no top 20 no Reino

Unido.

Com o sucesso, vieram os concertos e

tournées, mas também o abuso de drogas

pesadas por grande parte dos elementos da

banda, o que se repercutiu no trabalho

seguinte. “Give Out But Don’t Give Up” foi

gravado com os temas que não integraram o

álbum anterior, tendo sido alvo de muitas

críticas pela imprensa e recebido de forma

mista pelos fãs. Nesta altura a banda entrou

num hiato de quase três anos e quase se

desintegrou, mas voltou triunfante com

“Vanishing Point” (1997). Este álbum é mais um

registo da criatividade e inovação dos Primal

Scream, inspirado na Pop Psicadélica dos anos

60 e no Dub, como podemos ver na faixa

“Kowalski".

Com o entrar no novo milénio os Primal

Scream reinventaram-se outra vez. Os dois

álbuns seguintes “XTRMNTR” (2000) e “Evil

Heat” (2002) comprovam isso mesmo. Esta

mudança de som veio acompanhada de ácidas

críticas políticas e de uma instrumentação

raivosa e barulhenta, repleta de distorção e

feed-backs.

Page 26: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Passados quatros anos de fúria e de rebeldia contra o sistema, o álbum “Riot City Blues” (2006)

parte para algo mais tradicional, coisa que ainda não se tinha visto na carreira da banda até

então. Este registo tem como referências o rock dos anos 60 e é o primeiro sem nenhuma

sonoridade electrónica. Em 2008, numa tentativa de se reinventar outra vez, a banda lançou

“Beautiful Future”, um álbum de BritPop. A crítica foi dura com este álbum, e nem a participação

dos produtores Paul Epworth e Björn Yttling levou este registo ao sucesso.

Em 2011 os Primal Scream regressaram com a tournée comemorativa dos 20 anos de

“Screamadelica”, que foi muito bem recebida pelos fãs. Por esta altura os Primal Sream

soavam a uma banda com quase 30 anos a viver do passado. Desengane-se quem não pensou

o contrário. Depois do fiasco do álbum anterior, em Maio de 2013 editaram o décimo registo de

originais “More Light”, e acertaram em cheio! Trata-se um disco de rock psicadélico com

tremendas variações de timbre e harmonias. É diversificado na sonoridade e na influência

musical. Na verdade parecem três discos num só, mas esta variedade não deixa cair na

monotonia. É como se fosse uma viagem atribulada. Tem de tudo! Este álbum foi bem

recebido pelos fãs e despertou os elogios da crítica pela sua temática politicamente carregada.

Depois de “Screamadelica” este registo é talvez um dos melhores dos Primal Scream.

Page 27: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Num filme sempre electropop...The Human League

Se do cruzamento dos The Sex Pistols com os

Chic resultaram os Duran Duran, como os

próprios gostam de afirmar, os The Human

League terão nascido da fusão dos Kraftwerk

com Eno (até 1980) ou com os Roxy Music e

Bowie nos anos seguintes.

Por Bruno Vieira

Naturais de Sheffield, formaram-se em 1977 e

desde cedo seguiram uma linha electrónica

experimentalista, tendo editado os álbuns

“Reproduction” em 1979 e “Travelogue” em

1980, ambos com passagem discreta no Top

Britânico. O single “Empire State Human” do

primeiro álbum é hoje a música mais

representativa deste período.

Mas em 1981 tudo mudou com “Dare!”.

Considerado por muitos como um dos mais

importantes e representativos álbuns de Synth

Pop de sempre, quebrou em parte com o

experimentalismo dos primeiros tempos

imprimido pelo vocalista Phil Oakey, ao tornar

a electrónica mais acessível. Os ritmos frios da

electrónica analógica eram agora aquecidos

com melodias e, também, com as vozes dos

novos elementos Susanne Sulley e Joanne

Catherall. “Dare!” teve o poder de transformar

uma banda praticamente desconhecida num

caso sério de popularidade no início dos Anos

80.

O single “Don´t You Want Me” chegou ao 1º

lugar das tabelas de vendas britânica e norte-

americana tornando-se num mega-sucesso, a

mesma posição alcançada pelo álbum e temas

como “The Sound of the Crowd”, “Love

Action” e “Open Your Heart” tornam-se

também grandes êxitos. Mas a pérola esquecida

de “Dare!” surge logo no início do álbum é dá

pelo nome “The Things That Dreams Are Made

Of”

No ano seguinte é editado “Love and

Dancing”, um álbum com versões

instrumentais baseado nas músicas de “Dare!”,

remisturadas e produzidas por Martin Rushent.

O sucesso do álbum dava para tudo . até para

recuperar com sucesso um tema quase

esquecido do segundo álbum “Travelogue”,

“Being Boiled”.

Em 83 é lançado o EP “Fascination!” com os

singles “Mirror Man” e “(Keep Feeling)

Fascination”, ambos a chegarem a nº 2 do Top

Britânico.

Page 28: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Com “Dare!” a assumir-se, quase, como o

disco de estreia, o álbum seguinte não teria

vida fácil. O sempre difícil 2º álbum, neste

caso, 4º de originais “Hysteria” de 84,

desapontou bastante. As coisas não correram

bem desde o início: dois produtores

abandonaram o barco e temas como o rockeiro

“The Lebanon” e outros como “Life on Your

Own” e “Louise” tornram-se êxitos de menor

escala, ainda assim perduraram.

Em 1986 são recrutados os produtores R&B

Jimmy Jam e Terry Lewis para o novo álbum

“Crash”. Com uma sonoridade em sintonia com

os novos ritmos de dança, “Crash” não se sai

mal nos Estados Unidos, onde o single

“Humam” chega ao 1º lugar. Em Inglaterra o

sucesso de “Human” é ligeiramente menor (8º

lugar), mas os singles “I Need Yout Loving” e

“Love Is All That Matters” ficam-se por

posições bastante modestas.

Em 1990 os The Human League atravessam

um período bastante incaracterístico, à

semelhança de muitas bandas da sua geração

que parecem não saber que rumo seguirem,

como os Duran Duran.

“Romantic?”, considerado a par de “Secrets”

como os álbuns mais pobres da banda falha o

Top 20 e o single “Heart Like a Wheel” não

consegue melhor do que um 29º lugar.

“Soundtrack to a Generation”, do mesmo

álbum, apesar de ser uma música interessante,

não obtém reconhecimento significativo.

Teríamos de esperar quase cinco anos por

novo disco até que é lançado “Octopus”. Com

uns The Human League a recuperarem a

sonoridade Synth Pop que lhes deu crédito,

“Octopus” é o melhor álbum depois de “Dare!”.

A banda recupera algum do fôlego perdido,

obtendo resultados bastante satisfatórios. Quer

o álbum quer o single de apresentação “Tell

Me When” chegam ao 6º lugar. “These Are the

Days” é uma boa música, mas é na terceira

faixa que se encontra a pérola do álbum “One

Man in My Heart”.

No início do novo milénio é editado “Secrets”.

Seis anos volvidos depois de “Octopus”,

esperava-se mais mas, o penúltimo trabalho da

banda não teve argumentos para se impor,

tornando-se no álbum com pior desempenho

de sempre nas tabelas de vendas. Um

ligeiríssimo destaque para o single “All I Ever

Wanted” e pouco mais.

Embora sem álbuns lançados, a banda

manteve ao longo de dez anos uma actividade

regular em matéria de concertos, dois dos

quais em Portugal em 2007. O ano de 2011 é

marcado pelo regresso de Phil Oakey e

“senhoras” aos álbuns, com “Credo”,

recentemente lançado. É certo que não se

espera o sucesso de outros tempos, mas o

Page 29: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

simples facto destes veteranos do electropop

terem material novo, só por si, é digno de

registo. O semanário musical britânico NME

chegou a dar destaque ao single “Nevel Let Me

Go”.

A segunda faixa do álbum “Night People”,

parece igualmente interessante, constituindo

indicadores importantes para que este regresso

não seja apenas um mera formalidade.

Atendendo ao contexto musical actual,

“Credo” parece ter mais argumentos para não

cair no esquecimento que o seu antecessor. A

ver vamos se estaremos perante um “filme

electropop” para mais tarde recordar…

The Human League - um ano, quatro

concertos...

Os The Human League regressaram em 2011

com o álbum “Credo”, dez anos depois de

“Secrets”. Este facto apenas servirá de mote

para partilhar uma situação curiosa que se

passou comigo e não tanto para falar sobre a

história desta banda, por sinal uma das mais

importantes do período da New Wave.

Decorria o verão de 2006 e após folhear a Q

Magazine, um anúncio em particular despertou

-me a atenção, o concerto dos The Human

League em Londres no Shepherds Bush

Empire. Sendo a banda liderada por Phil Oakey

uma das minhas preferidas pensei que seria um

excelente pretexto para visitar Londres,

juntando assim o útil ao agradável. Na altura

lembro-me de pensar o quão improvável seria

ver os The Human League em Portugal, que

não demorei muito tempo a decidir dar um

saltinho até Londres.

Parti então para a capital britânica e no dia 1 de

Dezembro lá estava eu à porta no Shepherds

Bush Empire preparado para o concerto.

Escusado será dizer que adorei, foi como de

uma viagem no tempo se tratasse, tendo a

banda tocado quase todos os êxitos. O

ambiente na sala, muito bonita por sinal (tipo

Coliseu de Lisboa, mas mais pequena) foi

fantástico. O público predominantemente

acima dos 30 anos, como seria de esperar,

correspondeu , e a noite foi no mínimo

fantástica.

Passados alguns meses, um amigo meu falou-

me que os The Human League vinham a

Portugal, notícia que na altura pensei tratar-se

de uma piada. Mas na verdade não era. Eles

iam mesmo estar presentes por ocasião do 5º

aniversário do Farol Design Hotel em

Cascais ,a 30 de Junho. Não se tratou bem de

um concerto, mas antes de uma festa na qual a

banda apresentou alguns dos seus mais

conhecidos êxitos. Apesar da curta actuação e

do playback instrumental, o bom ambiente ,

bem como o local privilegiado, abrilhantaram

este evento especial. Pensava eu que o capítulo

The Human League em Portugal tinha ficado

por aqui, mas estava enganado.

Ainda o verão de 2007 ia a meio, qual não foi o

meu espanto quando soube que os The Human

League estavam de regresso ao nosso país para

uma actuação no Festival dos Oceanos a 4 de

Agosto, junto de nomes como Expensive Soul e

Marcelo D2. Apesar da pouca coerência do

cartaz o evento era de livre acesso, tornando

ainda mais fácil rever a banda de Sheffield,

desta feita em ambiente de verdadeiro

concerto, tendo como cenário a Praça do

Comércio. Vesti-me a rigor com uma t-shirt

trazida de Londres, facto que terá despertado a

atenção de um casal de aparência nórdica ,

procurando informações sobre o local do

concerto.

O bom tempo e o público em número

apreciável ajudaram à festa. Os The Human

Page 30: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

League ofereceram uma actuação segura e muito completa, como se em nome próprio se

tratasse. Foi um concerto tipo best of repleto de êxitos, com destaque para o álbum “Dare!”.

Apesar da maior parte do repertório ser da década de 80, não esqueceram o bem sucedido

álbum “Octopus” de 95.

Para terminar em beleza o tema escolhido foi “Together in Electric Dreams”, contagiando todo o

público , inclusive aquele que ali se encontrava para ver os outros artistas. Mas a cereja no topo

do bolo estava reservada para depois do concerto, quando Phil, Suzanne e Joanne, se

disponibilizaram para tirar fotos com alguns fãs que os aguardavam, tornando a noite ainda

mais inesquecível.

Mas a história não fica por aqui. A 1 de Dezembro de 2007, precisamente um ano depois do

primeiro concerto, estou novamente a caminho de Londres. O cartaz anunciava o histórico

álbum “Dare!” (de 1981) tocado na íntegra. Só por este facto já valia a pena a deslocação. O

concerto teve lugar no majestoso Hammersmith Apollo (uma espécie de Aula Magna, mas com

o triplo da lotação). Para além de “Dare!” os The Human League tocaram os habituais êxitos da

praxe.

Apesar da sala lotada, o facto de apenas haver lugares sentados, de certa forma quebrou a

energia do público, menos espontâneo no que toca a dançar. Tratou-se no entanto de um

concerto interessante, embora sem o factor novidade do primeiro. No espaço de um ano e sem

que nada o fizesse prever, tinha tido a oportunidade de assistir a quatro concertos de uma das

minhas bandas de eleição. É caso para dizer, “não há fome que não dê em fartura”…

Page 31: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Electropop vs Electrorock

No início dos anos 80 dois álbuns

distinguiram-se no panorama musical da New

Wave, sendo ambos considerados obras de

referência daquele período. E porquê? Estado

a sonoridade pop/rock claramente sujeita à

ditadura dos sintetizadores, “Dare!“ dos The

Human League era o melhor exemplo da

electrónica a dar forma à música pop,

enquanto “Vienna“ dos Ultravox, o mesmo

conceito, mas em formato rock.

Por Bruno Vieira

“Vienna“ de 1980 era o quarto disco dos

Ultravox e o primeiro da era Midge Ure,

enquanto que “Dare!“ era o terceiro dos The

Human League e o primeiro em que participam

Susanne Sulley e Joanne Catherall. Estes dois

aspectos podem ter passado despercebidos à

maioria das pessoas, mas acabariam por ser

determinantes para o futuro das bandas, na

medida em que foram os primeiros a conhecer

um assinalável sucesso comercial e pelos quais

os Ultravox e os The Human League são hoje

conhecidos.

É claro que para um seguidor dos Ultravox da

era John Foxx esta não é uma verdade muito

conveniente, mas factos são factos, e a realidade

é que os Ulltravox só ficariam verdadeiramente

conhecidos do grande público com a entrada de

Page 32: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Midge Ure. Quanto aos The Human League a

questão é mais pacífica na medida em que

Philip Oakey foi desde o início, em 1977,

vocalista da banda.

Como já referi, as raparigas entraram a tempo

de ser editado a obra-prima que foi “Dare!“. Até

aqui a banda tinha tido apenas um relativo

sucesso com o single “Empire State Human“ do

álbum “Reproduction“ de 1979, e pouco mais.

Embora o sucesso dos The Human League

não se deva única e exclusivamente à entrada

de Susanne e Joanne, a sua chegada acabaria

por marcar a imagem do grupo, com as vozes

femininas a adquirirem grande protagonismo.

Para melhor medir o sucesso de “Dare!“ e

“Vienna“ teremos de recorrer à tabela de

vendas britânica. Mais como termo de

comparação do que como objectivo de eleger o

melhor álbum, os números são os seguintes:

THE HUMAN LEAGUE

ÁLBUM – Posição mais elevada (total de

semanas)

DARE! – 1º (72)

Singles – Posição mais elevada (total de

semanas)

The Sound of the Crowd – 12º (10)

Love Action (I Believe In Love) – 3º (13)

Open Your Heart – 6º (9) Don`t You Want Me –

1º (13)

ULTRAVOX

ÁLBUM – Posição mais elevada (total de

semanas)

VIENNA – 3º (72)

Singles – Posição mais elevada (total de

semanas)

Sleepwalk – 29º (11)

Passing Strangers – 57º (4)

Vienna – 2º (14)

All Stood Still – 8º (10)

Page 33: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Simple Minds no Coliseu de Lisboa: “Noite de New Wave” (2011)

Tendo como objectivo inicial relatar apenas a

minha experiência do concerto da banda

escocesa em Portugal no dia 14 de Fevereiro

de 2012, houve no entanto a necessidade de

fazer alguns ajustes ao texto, dadas as reacções

que entretanto fui lendo sobre o concerto.

Por Bruno Vieira

Depois de baralhar e voltar a dar, aqui fica a

história do mesmo:

Anunciado claramente em diversos órgãos de

comunicação social como um concerto em que a

banda de Jim Kerr iria revisitar os primeiros cinco

álbuns da sua carreira (tocando cinco músicas de

cada um deles), estava dado o mote para uma noite

de pura new wave, marcada pelo som dos

sintetizadores mas onde as guitarras se fizeram

ouvir e bem, não afastando de todo uma audiência

mais rockeira. O facto da banda não tocar os

grandes clássicos de meados dos anos 80 e inícios

de 90, seria um mero acidente de percurso tendo em

conta os objectivos desta digressão de 16 datas, que

começou em Lisboa e terminou no dia 4 de Março

de 2012 na Irlanda. Não foi de facto um concerto em

formato best-of para um público mainstream (onde

a escolha de um espaço como o Campo Pequeno ou

o Pav. Atlântico seriam mais apropriados), mas sim

um concerto para fãs ou então verdadeiros

interessados por música, um evento de culto único,

que definitivamente não era para todos, daí ter sido

escolhido um espaço bem mais pequeno, como o

Coliseu de Lisboa.

O interesse pela new wave (de um modo geral) já

vem de longe, pese embora conhecesse pouco mais

de uma dezena de músicas da banda relativas a este

período, graças a “Glittering Prize” (o meu primeiro

best-of) e de mais alguma pesquisa por conta

própria. Não posso afirmar que o período mais

mediático da banda me tenha passado ao lado, mas

o gosto pela descoberta deste passado menos

conhecido, fez do concerto de terça-feira uma

espécie de “cereja no topo do bolo”.

Com 25 músicas previstas no alinhamento e uma

sala praticamente lotada, na qual sobressaia sem

surpresa o público da faixa etária dos 40/50, os

Simples Minds iniciaram a ordem de trabalhos com

“I Travel”, tema de abertura do primeiro álbum da

década de 80 “Empires and Dance”, seguida de

“Today I Died Again” do mesmo álbum, em certa

medida a fazer lembrar os Ultravox da era John

Foxx. Nesta altura os Simple Minds disputavam o

mesmo campeonato de bandas como INXS ou U2,

que antes de atingirem o estrelato orbitavam

também no universo post-punk e new wave.

Page 34: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Na primeira parte do concerto, realce para

“Wasteland”, “Life In a Day” e sobretudo “Love

Song”, provavelmente a que mais terá mexido

com todos aqueles que torciam pelos grandes

êxitos, e também porque o dia do concerto

coincidia com o dia dos namorados. Tal como

começou, a primeira parte terminaria com

“Room”, tema do álbum “Empires and Dance”,

ao que se seguiu um intervalo de cerca de 15

minutos, tal como anunciado antes do início do

concerto.

A segunda parte abriu e fechou com temas

relativamente conhecidos como “The

American” e “Someone Somewhere in

Summertime”. Pelo meio de referir também o

imperdível “Promised You A Miracle”, o denso

“Celebrate” novamente de “Empires and

Dance” (encerrando as músicas tocadas deste

álbum), bem como outros interessantes como

“Sweat In Bullet” e “Changeling”. Fazendo bem

as contas e volvidas 20 músicas tocadas, era

mais que certo que as 5 que faltavam só

poderiam ser tocadas no decorrer do encore. E

assim foi com o instrumental “Themes For

Great Cities”, seguido de “Glittering Prize”

outras das mais conhecidas. Antes do terminus

com “New Gold Dream” do álbum homónimo,

realce para o delicioso e viciante “Chelsea Girl”

do álbum “Life In Day” de 1979.

Deste concerto só posso dizer que foi uma

experiência única, apenas proporcionada pelo

repertório temático e rico que a banda trouxe, o

que não é muito habitual já que a maioria dos

concertos acabam invarialvelmente no clássico

formato best-of, mais apelativo. Assim sendo

quer a banda, quer a promotora, quer a própria

rádio que em Portugal apoiou este concerto

estão de parabéns por não terem tido receio de

arriscar num espectáculo que estava longe de

ser para as massas, o mesmo que dizer,

comercialmente correcto.

Jim Kerr, líder da banda desde o seu início em

1977, continua um excelente performer e nem

mesmo a sua voz parece acusar o passar dos

anos, sendo um privilégio ver, nos dias de

hoje, um músico dos tempos da velhinha new

wave em tão boa forma, sem parecer

decadente.

Quanto à reacção do público e apesar de

algumas caras descontentes pelo facto dos

grandes êxitos não terem sido tocados, a

recepção à banda escocesa foi na maior parte

do tempo calorosa.

Page 35: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Mesmo para muitos que foram ao engano, terá prevalecido o facto de estarem em frente de um

líder carismático de uma banda que assegurou já o seu lugar na história da música. Pode não ter

havido lugar para grandes coros (salvo pontual excepção), mas houve certamente calor humano

e saber receber por parte do público português, muito longe da banda ter sido vaiada como,

infelizmente, já pude ler.

Neste aspecto não posso deixar de manifestar o meu descontentamento pela má publicidade que

muitos pseudo fãs da banda, supostamente entendidos mas pelos vistos pouco conhecedores do

seu passado, tiveram o cuidado de fazer passar. Li de tudo: “lamentável”, “isto não se faz", “pior

concerto de sempre”, “muito fraco”, “grande seca” e “enganados”. Mas o chorrilho de disparates

ainda foi mais longe: desde “onde estão os êxitos anteriores a 1990?”, “não tocaram as músicas

anunciadas nos spots” até “concerto para um público underground”. Curioso que alguém tenha

afirmado ainda “não ter sido revisto o passado da banda”, provavelmente não terão presenciado

o mesmo concerto, enfim. A todos estes peritos em Simple Minds da velha-guarda, os quais

orgulhosamente ostentam no seu curriculum o concerto no Estádio de Alvalade em 1990, apenas

sugiro que façam o trabalhinho de casa antes de se meterem num concerto que vai para além do

óbvio. Para muita gente a carreira dos Simple Minds terá começado apenas em 1985, puro

engano, antes de serem conhecidos do grande público já a banda tinha 6 álbuns editados.

Tudo o que se tem dito acerca do mesmo só me permite concluir que existe ainda uma faixa

muito significativa de público para quem a música são meia dúzia de êxitos do passado que

ficaram no ouvido e que ainda passam na rádio, e pouco mais. Nada contra, desde que não se

façam passar por experts (nem sempre a antiguidade é um posto). Gostar de música não tem

tanto a ver com a idade, mais pelo interesse que se demonstra pela mesma. Muito ou pouco, o

que sei é mais do que suficiente para concluir que há mais vida para além dos grandes êxitos.

Page 36: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Boy

O primeiro álbum dos U2

Sempre achei interessante o início de carreira

de bandas ou artistas consagrados, com um

longo percurso percorrido, inúmeros álbuns e

um estatuto que poucos atrever-se-ão a pôr em

causa. Mas toda esta fama e glória faz com que

a maioria do público esqueça ou desconheça o

tempo em que tudo começou. Há de tudo,

desde inícios fulgurantes que depois se

eclipsam com o tempo a começos mais

discretos que se transformam em grandes

carreiras. Os irlandeses U2 são o melhor

exemplo destes últimos, daí que tenha sido a

banda escolhida para falar do seu primeiro

álbum, Boy.

Por Bruno Vieira

Se há bandas que dispensam apresentação, os U2

são uma delas, já o álbum de estreia, nem tanto. E

porquê?

Estando a banda irlandesa há muitos anos na

primeira divisão da música, aquando do

lançamento de Boy, em 1980 nada previa que se

tornassem no fenómeno (não apenas musical) que

são hoje. Sem pôr em causa a qualidade do álbum

de estreia, do qual resultaram excelentes temas

como I Will Follow, Into the Heart, Out of Control,

Stories for Boys ou A Day Without Me, o que é

certo é que apesar da critica favorável , não terá

sido o “clique” para o sucesso imediato. O que por

vezes não é o mais importante, já que inícios de

carreira promissores rapidamente se esgotam em

vazios criativos

.A carreira do quarteto liderado por Bono, pelo

contrário, foi feita de passos seguros, culminando

no mega-álbum The Joshua Tree, sete anos mais

tarde. Prova de que o sucesso e o reconhecimento

podem demorar… mas perduram. Voltando a Boy,

estamos perante um bom registo rock, marcado

ainda pela atmosfera cinzenta do post-punk, com a

guitarra deThe Edge e a voz de Bono a imporem-

se. Produzido pelo consagrado Steve Lillywhite

(que também colaborou com nomes como Peter

Gabriel, Morrisey, Big Country, Simple Minds, entre

outros), Boy não conseguiu melhor do que um 52º

lugar no top britânico.

O single de apresentação I Will Follow, escrito por

Bono na sequência do falecimento da sua mãe,

falhou a presença na tabela de vendas britânica ,

mas continua a ser um dos temas mais marcantes

e preferidos dos fãs e o único tocado em todos os

espectáculos realizados pela banda.

Page 37: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

António Variações

Mais popular, menos santo, sempre António

Junho é mês de Santos Populares, sendo o dia

de Santo António o ponto alto destas

comemorações para todos os alfacinhas e não

só. O dia do padroeiro de Lisboa também é a

data em que outro António, os das músicas

também elas populares, partiu.

Por Bruno Vieira

Se António Variações fosse vivo teria , mais ou

menos a idade de Mick Jagger ou David Bowie.

Esta precoce partida acabaria por deixar um

enorme vazio na música popular portuguesa,

infelizmente pouco reconhecido nos anos que

imediatamente se seguiram à sua morte. Mas a

curta carreira de Variações não diminui a sua

importância enquanto artista e a prova disso é

que teve uma carreira bastante produtiva com

apenas dois álbuns, motivos mais que

suficientes para considerar Variações como um

dos nomes maiores da música portuguesa do

último quarto do século XX

Origens e chegada a Lisboa

A 3 de Dezembro de 1944 nasce António

Joaquim Rodrigues Ribeiro na Freguesia de

Fiscal - Amares, Braga. Filho de camponeses,

termina a escola primária e depois de recusar a

profissão de carpinteiro, imposta pelos pais,

ruma a Lisboa onde já se encontravam dois

irmãos e alguns familiares. Trabalha

Page 38: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

como empregado de balcão, empregado de

escritório e barbeiro. Esta última profissão irá

aperfeiçoar, tornando-se mais tarde

cabeleireiro. Estuda de noite. A ideia de um dia

vir a ser um fadista famoso acompanha-o desde

pequeno, quando cantava no quintal da casa de

família. Sem nunca renegar às suas origens, a

chegada a Lisboa abre-lhe os horizontes, mas

por pouco tempo, já que cedo se apercebe da

pobreza social e cultural da capital. Olhei para

trás, Linha – vida e Anjinho da guarda são os

temas que melhor retratam esta etapa da sua

vida.

Principais influências e viagens

A procura de novos horizontes leva-o a

Londres em 1975, onde fica cerca de um ano.

Parte depois para Amesterdão onde vive cerca

de três anos e aprende a profissão de

cabeleireiro. Nesta cidade faz amizades que

mais tarde visita com regularidade. De volta a

Lisboa, estabelece-se como o primeiro

cabeleireiro unisexo do país, abrindo mais

tarde uma barbearia na Rua de S. José. Terá

afirmado um dia que apesar de gostar da sua

profissão, não a considerava uma paixão e que

o mais importante era ter rendimentos para

viver e gozar férias no mês de Agosto. Visita

Nova Iorque e regressa à Holanda. O espírito

inconformado e de cidadão do mundo estão

presentes nos temas Estou além e Minha cara

sem fronteiras.

As figuras da Mãe, Amália e Fernando Pessoa

constituem as suas principais referências e

fonte de inspiração para algumas das suas

músicas, tais como Deolinda de Jesus, Povo que

lavas no rio, Voz – Amália – de nós e Canção.

Apesar de fascinado pelo que vê lá fora,

facilmente encontra um equilíbrio entre o que

se poderá denominar vanguarda e tradicional.

É neste contexto que terá ficado célebre a

expressão “entre Nova Iorque e a Sé de Braga“,

que mais não significava do que a fusão entre a

música moderna e a música popular/

tradicional portuguesa, sem esquecer o Fado,

mais pela forma como o próprio António

entoava a voz.

Page 39: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Espectáculos, discos e fama

Para António a grande paixão era mesmo a

música e tudo havia de fazer para concretizar o

seu sonho. Mas de início as coisas não foram

fáceis e pelo meio foi coleccionando algumas

frustrações. Por exemplo, quando concorre

para vocalista dos Corpo Diplomático (banda

antecessora dos Heróis do Mar), chumba na

audição. Mas nem tudo se perde, já que se

torna cabeleireiro da banda. Em 1977 assina

finalmente contrato com a Valentim de

Carvalho, depois de apresentar uma maqueta

com alguns temas. Foi para estúdio mas os

resultados ficaram aquém das expectativas,

dado não ter sido encontrado o “registo certo”.

Sabendo que a melhor forma de dar-se a

conhecer era fazer espectáculos e esperar por

uma nova oportunidade da editora, apresenta-

se ao mundo artístico como António e

Variações, nome da orquestra/grupo que

pretendia criar. Daí o nome definitivo António

Variações. Em Março de 1981, sob o nome

António (autor/intérprete), faz o primeiro

espectáculo na discoteca Trumps que, devido

ao ruído, provoca alguns problemas com a

vizinhança. Não tendo corrido da melhor

forma, regressa ao Trumps para um segundo

espectáculo melhor organizado, e canta a

música Toma o comprimido. Mais confiante

depois de uma actuação bem sucedida,

convence Júlio Isidro (cliente da barbearia) a

ouvir uma cassete com músicas suas. Não

demorou muito até ser convidado, ainda nesse

ano, a actuar no programa O Passeio dos

Alegres, onde cantou os temas Toma o

comprimido e Não me consumas. O primeiro

acabaria por se editado apenas em 2006 na

colectânea A História de António Variações. Já

o segundo seria editado pelo projecto

Humanos em 2004.

Sem novidades da parte da Valentim de

Carvalho e com um contrato assinado vai para

quatro anos, no qual existia o compromisso

para a gravação de um disco, fala com o irmão

Jaime Ribeiro (advogado) no sentido de

pressionar a editora. Em Julho de 1982 é

finalmente chamado para entrar em estúdio e

iniciar os ensaios para a gravação do primeiro

maxi-single Povo que lavas no rio/Estou além.

A admiração por Amália era tal que António

chegou a fazer a primeira parte de um dos

espectáculos da fadista, na Aula Magna, como

forma de a homenagear. Para além de O

Passeio dos Alegres em 1981, actua também

nos programas da RTP Musicaqui e Retrato de

Família em 1982 e Frut`ó Chocolate e Ora Bem

em 1983. Os seus videos passam no programa

Vivamúsica em 1983. Ainda neste ano é editado

o primeiro LP , Anjo da Guarda, com

elementos dos GNR como músicos de suporte.

O resultado supera todas as expectativas e

temas como O corpo é que paga, É p`rá amanhã

e Quando fala um português, tornam-se

grandes êxitos. No Verão desse ano, António

Variações é muito solicitado para espectáculos

ao vivo por todo o país.

No ano seguinte, durante as gravações do

segundo LP Dar e Receber, António começa a

evidenciar alguns problemas de saúde.

Músicos e técnicos com quem trabalhava

julgam tratarem-se de sintomas de fadiga

devido ao número excessivo de espectáculos.

Ainda assim consegue terminar o álbum que,

desta vez, contou com o apoio dos Heróis do

Mar. Apesar de bem sucedido, o êxito de Dar e

Receber ficou aquém de Anjo da Guarda

devido ao falecimento prematuro do músico a

13 de Junho de 1984, no Hospital da Cruz

Vermelha em Lisboa. Provavelmente Variações

terá sido uma das primeiras vítimas conhecidas

de Sida em Portugal. Com a sua morte, toda a

promoção do álbum teve de ser cancelada. No

entanto, temas como Perdi a memória, Quem

feio ama e Dar e receber, perduraram.

António Variações

Page 40: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Espirito "Zappiano" onde a liberdade criativa

impera. Eis os Pãodemónio , banda potuense

que apresenta um verdadeiro (e irresistivel)

cocktail sonoro, onde o jazz, a música

experimental, o metal, ou o funk se

encontram, como podem comprovar no álbum

"Pirraças Pueris", editado a 12 de Maio de 2014

de forma independente .

Por Irene Leite

1-Como e quando tudo começou?

Ricardo: Começou numa viagem Lisboa-Porto

em que eu e o Fábio estávamos “colados” no

disco “Ultrahang” do Chris Potter e decidimos

criar um grupo com a mesma formação instru-

mental, para explorarmos as possibilidades de

fusão de estilos musicais e da acústica com a

electrónica. O Nuno e o Marcelo foram convida-

dos de imediato.

2-Porquê Pãodemónio?

Ricardo: Porque é uma palavra inventada que

na verdade obriga as pessoas a pronunciar

“pandemónio” com sotaque do Porto, que é a

cidade onde vivemos os quatro. Além disso a

ideia de “pandemónio” ilustra um pouco a mú-

sica que nós fazemos e, sendo uma palavra ge-

nuinamente portuguesa, é também uma forma

de identidade.

3-Quais são as vossas principais influências?

Ricardo: Pensando simultaneamente na compo-

sição e na performance, eu diria: Messiaen, De-

bussy, Bartók, Scriabin, Shostakovich, Frank

Zappa, Kurt Rosenwinkel, Meshuggah, Chris

Potter, Marcus Miller, Korn, Rage Against the

Machine, Miles Davis, Nusrat Ali Khan, enfim,

é difícil fazer uma seleção porque na verdade

há uma imensidão de coisas que nos influenci-

am em diferentes medidas e aspectos... acho

que isso é transversal a todo o artista que pro-

cura criar da forma mais pessoal, genuína e ori-

ginal possível – e esse é definitivamente o meu

(e nosso) caso.

4-Variedade de estilos é característica chave no

vosso trabalho. Como funciona o vosso pro-

cesso criativo, já que abarca diferentes back-

grounds?

Ricardo: No que aos temas do disco diz respei-

to, o processo criativo tem sido partir das parti-

turas que eu escrevi, procurar sons, desenvol-

ver estruturas e encontrar possibilidades de or-

questração e de improvisação. Mas nós fazemos

Page 41: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

também um tipo de trabalho mais complexo:

composição espontânea através da improvisa-

ção colectiva. Este é um método que nos leva a

outro tipo de composições, geralmente mais

extensas e encadeadas. Seja qual for o caso, é

nos ensaios que estudamos juntos as formas de

combinar (ou não!) diferentes estéticas instru-

mentais e musicais. Resumindo: composição,

experimentação, estruturação e performance.

Fábio: Como o Ricardo disse e bem apesar de

vários pontos de partida no fundo é uma cami-

nhada em conjunto. Obviamente quem escreve

é o visionário, registando ideias nessa direção,

eu diria que aí está materializada a fatia mais

significativa do bolo, no entanto, é no trabalho

em grupo com ensaios que as peças se juntam,

que se experimenta e muitas vezes que se des-

cobrem caminhos paralelos, novas panorâmicas

e novos sons, novas manipulações que serão a

cereja em cima do bolo durante a performance,

que quando brindadas com muita improvisa-

ção colectiva gera interessantes e explosivas

surpresas.

5-Como tem sido a recepção do público?

Fábio: Tem sido mesmo muito positiva, no final

dos concertos temos sempre um bom feedback

sobre a nossa performance. Eu diria que tal se

deve precisamente ao facto da nossa música ser

bastante abrangente e de certa forma agradar

amantes de Rock, Metal, Indie, Funk, Jazz, Fu-

são, Avant Garde, entre outros, há portanto

momentos para cada tipo de fã, desde improvi-

sação contemporânea até riffs dignos de um be-

lo headbanging. Por outro lado, tentamos tocar e

experienciar o concerto como se não houvesse

amanhã, com nível de energia sempre alto e de-

safios musicais de dificuldade elevada, eu diria

que muitas vezes caminhamos freneticamente

junto ao abismo, arriscamos imenso mas o que

resulta dessa experiencia é verdadeiramente

enriquecedor, e tudo isso não passa indiferente

a quem nos ouve e nos vê. Por outro lado, gran-

de parte do nosso concerto é feito com música

improvisada, logo nunca há dois concertos se-

melhantes, o que é bom para quem nos segue

mais do que uma vez, e nesse sentido já conse-

guimos reconhecer alguns fãs que fazem ques-

tão de aparecer em praticamente todas as nos-

sas performances.

6-Algum concerto para breve?

Fábio: Sim, teremos novidade brevemente, to-

dos os concertos serão anunciados no nosso

website oficial e portais online.

7-Planos futuros.

Fábio: É da nossa natureza nunca estarmos ple-

namente satisfeitos com o nosso trabalho, con-

fesso que somos artisticamente ambiciosos,

queremos cada vez mais arriscar, experimentar,

e sobretudo criar novos desafios para manter a

chama acesa. Nessa charneira já começamos a

delinear as diretrizes criativas para o próximo

álbum, entre muitas outras coisas vai de facto

haver mais variedade compositiva, posso avan-

çar que a primeira música já está em estado

avançado, é poderosíssima e saiu do microcos-

mos criativo do Nuno.

Page 42: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

A minha carreira começou agora!

É conhecido como Marinho Cowboy, voz dos projectos Falecido Alves dos Reis e Alucina

Eugénio que deram o seu contributo para a música portuguesa dos anos 80 e 90,

respectivamente. Mário Ferreira esteve emigrado em Espanha durante 17 anos, apresentando

agora dois projectos distintos : Mad Joint e Boémia Vádia . Recorde o percurso deste cowboy

português , que nunca deixou de sentir e expressar a sua grande paixão: a música.

Foto/Nanã Sousa Dias

Texto/Irene Leite

Page 43: Edição nº 1 urban ground janeiro de 2015

Mário Ferreira iniciou a sua carreira musical a meio

da década de 80 com o projecto Falecido Alces dos

Reis, em que era vocalista. Do grupo faziam parte

Quim Coutinho (Kim C), Eduardo “Búfalo” Correia e

José Pedro Guimarães. A estreia deu-se em 1988

no Pub Luís Armastrondo no Porto. Participam

também no Concurso de Música Moderna

Portuguesa do Rock Rendez Vous desse ano

sendo que aparecem na compilação “Registos”

com o tema “À Noite”.

Dados os bons conhecimentos de que dispunham

junto dos promotores dos espectáculos, fizeram as

primeiras partes dos concertos dados na Invicta por

The Mission, Baalam & The Angels e Peter Murphy.

Depois mudariam de nome para Alucina Eugénio,

uma verdadeira aventura.

Os Alucina Eugénio , de 93, eram Mário Ferreira

(voz, baixo, bateria) e Kim Coutinho (guitarra,

teclas, percussão e voz). No entanto, eram

também e em colaboração, Fernando Cunha

(guitarra e voz), Zé Borges (bateria e voz), Júlio

César (baixo), Alex Fernandes (sampling, teclas,

voz e percussão), Victor Moura (guitarra em

“Touch’n Go”), Miguel Guia (percussão em

“Touch’n Go”), Margarida Nilo (voz em “Piece of

Cake” e “Viscious” e Nelson Mandela MC (rapper).

Uma verdadeira família.

“Mushrooms EP 93″ é uma registo descontraído.

Há pop, rock, até uns toques de rap, no fundo, vale

um pouco de tudo rumo à boa disposição, como

avança o site a Trompa. “Moderna festarola pop”.

1 – Como e quando surgiu a paixão pela

música? Houve influência de algum familiar /

amigo em concreto?

A paixão pela música surgiu de pequeno, quando

ouvia a minha avó a cantar o fado, e tinha

autorização do meu pai para investigar a sua

coleção de singles.

2-Como e quando surgiu o projeto Falecido

Alves dos Reis? Porquê esse nome?

- No ano de 1986, eu trabalhei no Tour Circo de

Feras, dos Xutos e Pontapés, e fui com eles, na

qualidade de road-manager, fazer um concerto no

extinto pavilhão Infante Sagres. O grupo que fazia a

primeira parte eram os X-Position, (já a dar as

ultimas), e conheci o Kim Coutinho, (era o

guitarrista), com quem fiquei no Porto umas

semanas, depois do concerto. Ele já andava a

ensaiar o projecto Alves dos Reis, com o Tó-Zé

Ferreira e o Pedro Guimarães, e convidaram-me

para cantar. Foi a minha primeira vez! O nome veio

umas semanas depois, quando o Eduardo “Bufalo”,

se juntou a nós. Nessa época ele lia “O homem de

Lisboa”, um excelente livro que retratava com

grande exactitude, a execução de um plano que

viria ser a maior burla jamais cometido contra o

Banco de Portugal. Era um simplório, com recursos

de intelectual. Decidimos dedicar-lhe o nome do

grupo.

3-Que influências tinham na altura?

- As novas sonoridades que chegavam do Reino

Unido, principalmente, cinzentos, urbano-

depressivos de finais dos oitenta. The Cure, The

Cult, The Smiths, Joy Division…

4-Nos anos 90 ocorreu outra grande aventura:

os Alucina Eugénio. Porquê o corte com o

projeto anterior?

- Os Falecido tiveram uma vida curta mas muito

intensa, até que chegou um dia, ( a finais de 89), eu

senti que já não era aquilo que queria fazer.

Comecei a trabalhar com a Bimotor no Porto, e a

ter acesso directo às ultimas novidades entre o

indie e o alternativo. Rapidamente me apaixonei de

novos sons que vinham da América, com Jane´s

Adiction, Red Hot Chilli Pepers, Soundgarden,

Pearl Jam, ou mesmo os Nirvana. Era o principio

dos anos 90 e comecei a ensaiar o projecto Alucina

Eugénio, com clientes da Bimotor, que também

eram músicos, de diferentes estilos. Propus ao Kim

Coutinho acompanhar-me nessa nova aventura,

que aceitou e assinou todas as composições a

meias comigo. Ainda hoje tocamos juntos e já se

falou mais que seriamente na possibilidade de

reactivar os Alucina Eugénio.

5-Nos anos 90 o Mário também trabalhou nas

noites do Meia Cave. Como recorda essa

experiência como dj?

Comecei a trabalhar como dj no Porto, para me

fazer à vida, já que queria ficar (residi no Porto 10

anos), a tocar, mas não chegava para viver. Fui

primeiro dj do Loco Moskito, do Griffon´s, com o Tó-

Zé, passei por uma serie de casas, antes de chegar

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ao Meia-Cave, onde permaneci durante 6 bons e

longos anos. Sou um privilegiado por poder ter

assistido aquele movimento que se criou ao redor

do culto à Ribeira que houve naqueles anos. Estive

de 87 a 93, e foi como um laboratório de pesquisa,

de investigação musical.

6-Segue-se depois uma grande viragem na sua

vida: vai para Espanha durante 17 anos. E

nasceram, entretanto, três novos projetos: Mad

Joint , Fado Blues e Boémia Vadia. Como é que

surgiram estes projetos?

O que se passou, foi que nenhum de nós (eu e o

Kim), estávamos preparados para o relativo êxito

que teve o EP “Mushrooms” dos Alucina Eugénio, e

não soubemos manejar a situação com coerência .

Não havia internet, não tivemos assessoria de uma

grande editora e a coisa foi-se perdendo, até que

eu tive uma proposta de trabalho (que nada tinha a

ver com a musica), para Espanha, e lá me vi eu a

caminho de Madrid, onde fiquei dois meses,

partindo depois para Valência onde efectivamente,

estive 17 anos, 12 dos quais, praticamente afastado

da música, na parte prática. Fui pai e marido, limitei

-me a trabalhar e a ouvir o que podia. Nunca deixei

de escrever, assim que um dia, fui viver para um

pequeno paraíso à beira mar plantado chamado

Las Rotas (a 90 klms ao sul de Valência), e

comecei a cantar tudo o que tinha escrito. Comprei

uma guitarra acústica usada e fui dando forma a

canções. Um dia de Outubro do ano 1997, telefonei

ao Kim, (estivemos 12 anos sem notícias um do

outro), e convidei-o a ir passar uns dias comigo, e

que trouxesse instrumentos. Ele assim o fez,

gravamos uma primeira maquete, formamos um

projecto ao que chamámos maRKimia, que não foi

mais que, (sem intenção), o reactivar do processo

de reciclagem dos Alucina Eugénio. Todos os

temas que fizemos entre 2008 e 2010, são parte do

novo repertório que esperam os novos

Alucineugénio para levar para a estrada. Com a

chegada da crise e com ela cada vez mais difícil a

possibilidade de estarmos juntos, (Kim seguia

vivendo no Porto, e eu em Valência), acabei por dar

corpo a uma ideia já antiga que tinha na mente, que

era tentar fundir o fado, com outros estilos. Tive a

sorte e o prazer de conhecer alguns músicos em

Valência que me ajudaram a criar os Fado Blues,

com quem gravei um cd, “Taberna flotante”, que foi

editado em Espanha. Um projecto de autor, (as

composições e letras são minhas), que acabou por

ser efémero pelo factor de que os músicos tinham

os seus próprios projectos e grupos em expansão.

Em Janeiro de 2012, os Fado Blues pediram férias

por tempo indeterminado, e eu segui a trabalhar e a

avançar com a ideia. Como fiquei sem músicos,

incorporei a Rebecca Amar nas vozes, (cantora

parisiense de cabaret que aporta os ambientes

dignos de Montmartre e que quadra muito bem com

o meu canto e as minhas palavras do fado), e voltei

a chamar o Kim. Completei o processo com bases

electrónicas, e assim nasceram Boémia Vadia. Em

Valência gravámos 3 demos, e em Agosto de 2013,

decidimos assentar arraiais e “armas” na Costa da

Caparica, onde residimos actualmente. MaDJoint, é

produto das facilidades que nos dá a internet. Ao

ter uma quantidade enorme de temas que não

sabia que fazer, decidi criar essa ideia, como dj de

autor, onde me dediquei durante o tempo de

adaptação da família à nova cidade, a fazer

reciclagens e novas versões de canções que foram

muito famosas no nacional cançonetismo da minha

infância e juventude, misturados com alguns

originais. Suponho que é um projecto sem grande

futuro, mas rico em experiência e para sumar ao

curriculum.

7- Que balanço estabelece em relação à sua

carreira?

Que até agora, foi uma enorme fase de

aprendizagem. A minha carreira começou agora!

8-Planos futuros.

Os planos futuros consistem em apresentar a

Boémia Vádia ao vivo em Portugal Os concertos de

Boémia Vádia oscilarão entre a electrónica e o

acústico, já que recuperaremos alguns dos temas

do cd “Taberna flotante” dos Fado Blues, mas serei

fiel à sua estrutura original.

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5 anos de Som à Letra no Heaven`s Club com Boémia Vadia

Porque a música faz toda a diferença!

O Som à Letra começou por ser um projeto académico de final de curso para a cadeira de imprensa, mas em

meses tornou-se em algo muito sério. Estávamos em setembro de 2009. Começou num blog, mas com o

passar do tempo profissionalizou-se. O projeto migrou para uma casa (www.somaletra.wordpress.com) com

um design mais cuidado e apelativo (sob o mote Keep it simple), juntou-se ao seu público nas redes sociais,

e o crescimento tem sido diário. Já cobrimos vários concertos (nacionais e internacionais) temos uma equi-

pa que se estende de norte a sul, sempre com o objetivo de informar, ensinar, entreter e ajudar. A música é

o nosso grande enfoque.

Mas o Som à Letra é muito mais do que um jornal. Também se ouve (Som Fm). A webrádio está em edições

experimentais, com destaque para a nossa mais recente aposta: o programa, Num filme sempre electropop,

conduzido por Irene Leite.

www.devaneios15.blogspot.com

www.mixcloud.com/somfm

www.cibersom.wordpress.com

O Som à letra apresenta ainda uma componente de responsabilidade social (Som Cívico) divulgando e apoi-

ando causas como o projeto refood (Cedofeita).

http://somaletra.wordpress.com/2014/11/07/refood-pelo-combate-a-fome-escondida-nos-meios-urbanos/

Trata-se de uma área que será mais desenvolvida futuramente.

Por isso é com grande orgulho que vos convidamos a marcar presença no primeiro evento que celebra es-

tes 5 anos de atividade, levados a cabo por uma equipa de voluntários movida pela paixão pelo jornalismo

musical. E que muito brevemente verá toda a sua atividade formalizada.

A festa é já dia 7 de Fevereiro no Heaven´s Club com os Boémia Vadia, projeto avant gard liderado por Mário

Ferreira (ex Falecido Alves dos Reis e Alucina Eugénio) e Rebecca Amar. Há ainda o dj set temático liderado

pelos dj´s Kulture Brothers e Sérgio Pereira. Uma noite certamente inesquecível e com a sede alternativa do

Som à Letra.

Acerca da Boémia Vadia

O projeto Boémia Vadia nasceu em Valência, onde Mário Ferreira foi residente nos últimos 17 anos. Aconte-

ceu no seguimento do final do Fado Blues como grupo.

No projeto Boémia Vadia, como explica Mário Ferreira no blogue a Trompa, o que move os músicos é “o

prazer de poder fazer música e poder dedicar-me a ela . Depois, a possibilidade de poder experimentar, de

fusionar estilos, harmonias, raízes, de absorver certas características da música tradicional (portuguesa,

mas não só) e misturá-las com todas aquelas influências que fomos adquirindo ao longo dos anos . O obje-

tivo principal são os nossos concertos ao vivo”.

O que se pode esperar das atuações?

Mário Ferreira resume. “Um espetáculo intenso e muito visual , devido à estética e presença da Rebecca no

palco , performance, charme e elegância , teatro, poesia, tudo condimentado com um instrumental que te

levará desde os anos 80 até à atualidade”.

http://somaletra.wordpress.com/2014/01/26/a-conversa-com-mario-ferreira/

Não ficaremos por aqui!

O Som à Letra sai à rua ….

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Boémia Vadia: "Paris, Folie"

Entrar no mundo dos Boémia Vadia é ter a oportunidade de percorrer uma estrada

sedutora, com toques de cabaret. Rebecca Amar dá grande alma ao grupo

deliciosamente vadio. "Paris, folie". Electrofado? Sim, com grande charme e

envolvência. A 7 de Fevereiro na festa dos 5 anos do Som à Letra, no Heaven´s Club,

Porto.

Por Irene Leite

É impossível não resistir a este som vadio. A música é intensa e sedutoramente aguçada. A sintonia entre Mário

Ferreira e Rebbeca Amar é notória.

"Emissora silêncio está no ar", dizem. Mas é nos temas "Cabaret dos Vampiros" e "Valkiria Gitana" que toda a

energia do grupo está patente.

Há experimentalismo acima de tudo. Um cocktail saudável que funde o tradicional com o avant gard. Nota-se uma

forte componente cénica na forma de interpretação dos temas, intensos, onde se evidencia entrega e paixão.

Há espaço para "alien´s", um "café" e um "bagaço" e ainda um "cabaret" muito especial. Tudo para proporcionar a

boémia mais atraente desta feita para o Porto.

O Ep "Circo Amar" está quase a sair. Neste momento seguem as apresentações ao vivo, com novo formato e

estreia do baterista Emanuel Ramalho, no já confirmado sábado 7 de Fevereiro no Heaven´s Club, no Porto.

Acerca da Nocturnal Dust Productions:

A Nocturnal Dust Productions é uma organização com quase 15 anos pela margem alternativa, saída da cabeça e

do coração de Sérgio P, dj residente do Heavens Club.

Além da promoção e organização de eventos com Djs, a Nocturnal Dust dedica-se também a organizar e promover

concertos, dos quais destacamos Los Carniceros del Norte (Espanha), Eyaculacion Post Mortem (Espanha), Star

Industry (Belgica), Dilana (E.U.A.), Chavalier Avant Gard (Canada), Boémia Vadia, Templários do Rock, Espelho

Mau, La Chanson Noire, etc...

Sempre alternativa, estra organização não troca os seus ideais por modas, movidas ou popularidades, pois o seu

caminho é sempre pela... via alternativa.

Acerca dos Kulture Brothers:

Tudo começou em 1 de Outubro de 2005, mais precisamente em Torres Novas no Trampolim Bar onde os irmãos

Manuel e Tiago Magalhães começaram com o projecto Kulture Brothers. Naturais da Cidade do Porto, sentiram a

necessidade de partilhar a sua cultura e ao mesmo tempo divertirem-se com isso mesmo. O gosto eclético de am-

bos revela uma extrema versatilidade, viajando assim desde as melodias sintetizadas dos anos 80 ao rock (este

sempre funcionando como motor do projecto) mas onde o indie e outros géneros mais podem fazer parte dos seus

alinhamentos. Ambos têm o orgulho de já ter passado pelos seguintes sítios: Trampolim bar, Galeria Bar, Teatro Sá

da Bandeira, Real Feitoria, FEUP (Feup Caffé e Feup Sounds), Plano B, V5, Alfândega do Porto, SPOT, La Bohe-

me, Insólito bar, Contagiarte, Vila Porto, Basement, Armazém do Chá, Tendinha Indiscreta, Tendinha dos Clérigos,

More Clube, Super Bock HD Fest (Viana do Castelo) e Indiscreta; e de já terem partilhado o mesmo palco com as

respectivas bandas: Sizo, Pluto, John is Gone, X-wife, Wraygunn, Dogma, Kumpania Algazarra, Blá Blá Blá, Turbo

Club, Nagoya, Nema Trevo, Hookers on Rockets, Mr. Miyagi, Larkin, Killimanjaro, Moe´s Explosion, KVB e Slimmy.

Sendo assim só lhes resta esperar que muitos anos se sigam pela frente sempre a partilhar a música que gostam

por todos vós.

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A selecção da Urban Ground

The Clash-Should i stay or should i go?

Debbie Harry-Rush Rush

Velvet Underground-Venus in Furus

Pãodemónio-Pirraças Pueris

Frank Zappa-You are what you is

José Cid-Fuga para o espaço

Blondie-Atomic

The Undertones-Teenage Kicks

The Cult-Fire Woman

The Sisters of Mercy-Black Planet

António Variações-Sempre Ausente

Amy Holland-She´s on fire

Bruce Springsteen-Downbound train

Flowered Up-It´s on