DOENÇA DEGENERATIVA DOS DISCOS INTERVERTEBRAIS … · Imagem transversal da coluna vertebral ao...

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Autores Galriça, B 1,2 ; Proença, N 2 . 1 ICBAS-UP, Portugal; 2 Hospital Veterinário do Porto, Portugal Bibliografia: 1. Sharp, Nicholas. Wheeler, Simon. “Thoracolumbar Disc Disease.” Small Animal Spinal Disorders: Diagnosis and Surgery, Second ed., Elsevier, 2005, pp. 121- 159 2. Farrell M, Fitzpatrick N. Feline Intervertebral DIsc Disease, 2005 3. De Decker S, Warner AS, Volk HA. Prevalence and breed predisposition for thoracolumbar intervertebral disc disease in cats, 2017 4. Muñana KR, Olby NJ, Sharp NJ, Skeen TM. Intervertebral Disc Disease in 10 cats, 2001 Figura 1: Imagem transversal da coluna vertebral ao nível do espaço T12-T13 onde é possível ver material do disco mineralizado no chão do canal vertebral, ligeiramente para o lado direito (seta). Figura 2: Imagem transversal da coluna vertebral ao nível do espaço T13-L1 onde e possível ver material do disco mineralizado no chão do canal vertebral, em ambos os lados do canal (setas). Figura 3: Imagem transversal da coluna vertebral ao nível de L2- L3 onde é possível ver material do disco mineralizado no chão do canal vertebral, do lado esquerdo (seta) Figura 4: Reconstrução sagital da coluna toraco-lombar onde é possível observar herniações de disco nos espaços T12-T13, T13-L1 e L2-L3 (Setas) Figura 6: Fotografia tirada durante o procedimento cirúrgico (Hemilaminectomia do espaço intervertebral T12- T13, do lado Direito), onde é possível observar o canal medular, já sem nenhum material discal a causar compressão. Figura 5: Fotografia Tirada durante o procedimento cirúrgico (Hemilaminectomia do espaço intervertebral T12-T13, do lado Direito), onde é possível observar o material discal herniado a causar uma compressão medular no espaço intervertebral T12-T13 (circulo) Discussão A doença de disco intervertebral apresenta um estudo mais detalhado em humanos e em cães do que em gatos, dado estimar-se que a prevalência nestes últimos seja de apenas 0.02% a 0,24%. Ao contrário do que acontece em cães, não está provado que haja qualquer predisposição de raça nos felinos, contudo, o último estudo de Decker et al, demonstrou que talvez possa existir uma maior predisposição para esta doença em animais de raça (Graf. 1) comparativamente com gatos da raça Europeu Comum. Este estudo relatou ainda que no que diz respeito aos animais de raça, foi observado um maior número de casos de doença de disco intervertebral em animais de raça Persa e British Shorthair, quando comparados com as outras raças (Graf.2), existindo um ligeiro aumento da prevalência desta doença na raça Persa (1,83%) e na raça British Shorthair (1,29%) que podem ser significativos. Quanto à prevalência de idades, esta situa-se em idades superiores (mediana =12,2 anos) diminuindo em gatos de raça (mediana = 7,6 anos) (Tab. 1). Caso Clínico Um gato macho de raça Persa, com 3.90 kg, 3 anos de idade, esterilizado e indoor , foi visto em consulta devido a claudicação e apoio ligeiro do peso sobre o membro pélvico direito. Para além da claudicação mencionada, o animal apresentava um exame físico dentro da normalidade e as imagens radiográficas não apresentavam qualquer alteração. Sendo instituído tratamento com anti-inflamatório. Nos dias seguintes o animal apresentou-se com ataxia dos membros pélvicos, evoluindo rapidamente para paraparésia ambulatória. Foi realizada uma Tomografia Axial Computorizada (TAC) onde se pôde observar uma compressão medular ao nível do disco intervertebral de T12-T13 e compressão ligeira ao nível dos discos intervertebrais de T13-L1 e L2-L3 (Fig. 1, 2, 3 e 4). Foi proposta a resolução cirúrgica, tendo sido realizada uma hemilaminectomia direita de T12-T13 (Fig. 5 e 6) e uma fenestração do disco intervertebral de T13-L1 e de L2-L3 de forma a diminuir a pressão que estava a causar compressão medular nestes espaços. No pós-cirúrgico, a condição neurológica agravou-se para uma paraparésia não ambulatória, recuperando progressivamente nos dias seguintes. Seis dias após a cirurgia, já se encontrava com ataxia ao nível do estado pré- operatório, tendo o paciente obtido alta clínica. Quatro dias após a alta, veio à consulta de controlo onde foi possível observar que a recuperação estava a progredir como desejado, já sendo capaz caminhar distâncias longas, embora ainda com algum desequilíbrio. No exame clínico, verificaram-se ainda défices proprioceptivos moderados, mas o animal era capaz de realizar uma locomoção autónoma. Três semanas após a cirurgia, em nova consulta de controlo, a recuperação evoluiu pouco, mantendo-se ainda uma ataxia dos membros pélvicos mas já tendo adquirido autonomia na locomoção. Idade em que Surgiram os Sintomas Mais Novo Mediana Mais Velho No Total dos Gatos observados 0,75 Anos 9 Anos 15,3 Anos Em Gatos de Raça Europeu Comum 1,3 Anos 12,2 Anos 15,3 Anos Em Gatos de Raça 0,75 Anos 7,6 Anos 13,7 Anos Europeu comum 45% British Shorthair 16% Persa 13% Bengal 7% Siames 7% Havana Brown 3% Maine Coon 3% Sphynx 3% American Shorthair 3% Raça 55% Europeu Comum 45% Gráfico 1: Comparação da percentagem de gatos afectados por doença do disco intervertebral entre gatos europeu comum e de raça segundo Decker et al. Gráfico 2: Comparação dos Animais afectados consoante as suas raças segundo Decker et al. Tabela 1: Comparação das idades de gatos afectados com doença do disco intervertebral segundo Decker et al. Conclusão A presença de discos herniados normalmente passa por um fenómeno isolado nos gatos afectados, ao contrário deste caso que apresentava 3 discos afectados simultaneamente. Tendo por base os estudos mais recentes, podemos concluir que possivelmente exista predisposição racial e etária para a Doença de Disco Intervertebral, pelo que devemos ter em especial atenção o aparecimento de sinais neurológicos, principalmente em animais de raça British Shorthair e como foi o caso, de animais de raça Persa. Quanto à idade, devemos estar prevenidos pois esta doença tende a aparecer em animais mais idosos, contudo o intervalo de idades em que ela pode surgir aparenta ser bastante amplo.

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AutoresGalriça, B

1,2; Proença, N

2.

1ICBAS-UP, Portugal;

2Hospital Veterinário do Porto, Portugal

Bibliografia:1. Sharp, Nicholas. Wheeler, Simon. “Thoracolumbar Disc Disease.” Small Animal Spinal Disorders: Diagnosis and Surgery, Second ed., Elsevier, 2005, pp. 121- 1592. Farrell M, Fitzpatrick N. Feline Intervertebral DIsc Disease, 2005 3. De Decker S, Warner AS, Volk HA. Prevalence and breed predisposition for thoracolumbar intervertebral disc disease in cats, 2017 4. Muñana KR, Olby NJ, Sharp NJ, Skeen TM. Intervertebral Disc Disease in 10 cats, 2001

Figura 1: Imagem transversal da coluna vertebral ao nível do espaço T12-T13 onde é possível ver material do disco mineralizado no chão do canal vertebral, ligeiramente para o lado direito (seta).

Figura 2:Imagem transversal da coluna vertebral ao nível do espaço T13-L1 onde e possível ver material do disco mineralizado no chão do canal vertebral, em ambos os lados do canal (setas).

Figura 3:Imagem transversal da coluna vertebral ao nível de L2-L3 onde é possível ver material do disco mineralizado no chão do canal vertebral, do lado esquerdo (seta)

Figura 4:Reconstrução sagital da coluna toraco-lombar onde é possível observar herniações de disco nos espaços T12-T13, T13-L1 e L2-L3 (Setas)

Figura 6:Fotografia tirada durante o procedimento cirúrgico (Hemilaminectomia do espaço intervertebral T12-T13, do lado Direito), onde é possível observar o canal medular, já sem nenhum material discal a causar compressão.

Figura 5:Fotografia Tirada durante o procedimento cirúrgico (Hemilaminectomia do espaço intervertebral T12-T13, do lado Direito), onde é possível observar o material discal herniado a causar uma compressão medular no espaço intervertebral T12-T13 (circulo)

DiscussãoA doença de disco intervertebral apresenta um estudo mais detalhado em humanos e em cães do que em gatos, dado estimar-se que a prevalência nestes

últimos seja de apenas 0.02% a 0,24%. Ao contrário do que acontece em cães, não está provado que haja qualquer predisposição de raça nos felinos, contudo,o último estudo de Decker et al, demonstrou que talvez possa existir uma maior predisposição para esta doença em animais de raça (Graf. 1)comparativamente com gatos da raça Europeu Comum. Este estudo relatou ainda que no que diz respeito aos animais de raça, foi observado um maiornúmero de casos de doença de disco intervertebral em animais de raça Persa e British Shorthair, quando comparados com as outras raças (Graf.2), existindoum ligeiro aumento da prevalência desta doença na raça Persa (1,83%) e na raça British Shorthair (1,29%) que podem ser significativos.

Quanto à prevalência de idades, esta situa-se em idades superiores (mediana =12,2 anos) diminuindo em gatos de raça (mediana = 7,6 anos) (Tab. 1).

Caso ClínicoUm gato macho de raça Persa, com 3.90 kg, 3 anos de idade, esterilizado e indoor , foi visto em consulta devido a claudicação e apoio ligeiro do peso sobre o

membro pélvico direito. Para além da claudicação mencionada, o animal apresentava um exame físico dentro da normalidade e as imagens radiográficas nãoapresentavam qualquer alteração. Sendo instituído tratamento com anti-inflamatório. Nos dias seguintes o animal apresentou-se com ataxia dos membros pélvicos,evoluindo rapidamente para paraparésia ambulatória. Foi realizada uma Tomografia Axial Computorizada (TAC) onde se pôde observar uma compressão medular aonível do disco intervertebral de T12-T13 e compressão ligeira ao nível dos discos intervertebrais de T13-L1 e L2-L3 (Fig. 1, 2, 3 e 4).

Foi proposta a resolução cirúrgica, tendo sido realizada uma hemilaminectomia direita de T12-T13 (Fig. 5 e 6) e uma fenestração do disco intervertebral de T13-L1 ede L2-L3 de forma a diminuir a pressão que estava a causar compressão medular nestes espaços. No pós-cirúrgico, a condição neurológica agravou-se para umaparaparésia não ambulatória, recuperando progressivamente nos dias seguintes. Seis dias após a cirurgia, já se encontrava com ataxia ao nível do estado pré-operatório, tendo o paciente obtido alta clínica.

Quatro dias após a alta, veio à consulta de controlo onde foi possível observar que a recuperação estava a progredir como desejado, já sendo capaz caminhardistâncias longas, embora ainda com algum desequilíbrio. No exame clínico, verificaram-se ainda défices proprioceptivos moderados, mas o animal era capaz derealizar uma locomoção autónoma.

Três semanas após a cirurgia, em nova consulta de controlo, a recuperação evoluiu pouco, mantendo-se ainda uma ataxia dos membros pélvicos mas já tendoadquirido autonomia na locomoção.

Idade em que Surgiram os Sintomas

Mais Novo Mediana Mais Velho

No Total dos Gatos observados

0,75 Anos 9 Anos 15,3 Anos

Em Gatos de Raça Europeu Comum

1,3 Anos 12,2 Anos 15,3 Anos

Em Gatos de Raça 0,75 Anos 7,6 Anos 13,7 Anos

Europeu

comum

45%

British

Shorthair

16%

Persa

13%

Bengal

7%

Siames

7%

Havana

Brown

3%

Maine

Coon

3%

Sphynx

3%

American

Shorthair

3%

Raça

55%

Europeu

Comum

45%

Gráfico 1:Comparação da percentagem de gatos afectados por doençado disco intervertebral entre gatos europeu comum e de raçasegundo Decker et al.

Gráfico 2:Comparação dos Animais afectados consoante assuas raças segundo Decker et al.

Tabela 1:Comparação das idades de gatos afectados com doença do disco intervertebral segundo Decker et al.

ConclusãoA presença de discos herniados normalmente passa por um fenómeno isolado nos gatos afectados, ao contrário deste caso que apresentava 3 discos

afectados simultaneamente.Tendo por base os estudos mais recentes, podemos concluir que possivelmente exista predisposição racial e etária para a Doença de Disco Intervertebral,

pelo que devemos ter em especial atenção o aparecimento de sinais neurológicos, principalmente em animais de raça British Shorthair e como foi o caso, deanimais de raça Persa.

Quanto à idade, devemos estar prevenidos pois esta doença tende a aparecer em animais mais idosos, contudo o intervalo de idades em que ela pode surgiraparenta ser bastante amplo.