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DE HISTÓRIAS NASCEM HISTÓRIAS MEMÓRIAS

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DE

HISTÓRIAS

NASCEM

HISTÓRIAS

MEMÓRIAS

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Índice

Prefácio 2

Infância 4

Adolescência 6

A casa 10

A alimentação 14

Vestuário 17

Escola 20

Trabalho 24

Enxoval 29

Namoro, casamento e boda 32

Divertimentos 37

Orações 45

Curiosidades 50

Confidências 53

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Prefácio

“De histórias nascem histórias” é fruto da

parceria entre a Biblioteca Municipal de Sever do

Vouga e a Associação Pró Cidadão Deficiente

Integrado (valências Centro de Dia e Lar de idosos).

Foi realizado graças à sabedoria e experiência

adquiridas ao longo da vida de cada um e partilhadas,

tanto oralmente como pela escrita, através das ações do

Projeto “Sénior Net”.

3

Idosos, nascidos entre os anos 1930 a 1940, média de

80 anos de idade, contam a sua história, “retalhos” da

sua vida na esperança de deixar o seu testemunho, passar

valores às novas gerações, convictos de que, apesar de

tudo… vale a pena viver.

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Infância

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ascíamos em casa dos nossos pais, com

ajuda de uma parteira (pessoa

habilidosa que ajudava na hora do

parto).

A assistência médica era só para os afortunados,

caso contrário, ficava ao cuidado das famílias.

A maior parte das crianças eram amamentadas pelas

mães e as que não podiam amamentar ofereciam leite de

cabra, pois o leite de vaca era demasiado forte.

Éramos deitados em berços de madeira construídos

pelos carpinteiros da terra.

Os colchões eram feitos de palha de centeio. Os

lençóis dos afortunados eram de linho fino, sendo os dos

outros feitos de linho grosso, a estopa.

As nossas mantas eram feitas de lã e de farrapos.

Não existiam fraldas. Usavam-se panos rasgados

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de lençóis velhos e camisas chamadas “faixeiras”.

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Adolescência

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uando éramos mais crescidos, brincávamos ao

neto, à macaca, ao descanso, à corda, à

bilharda, ao pião e também com bonecas de

pano.

Acompanhávamos os nossos pais nos trabalhos de

lavoura. Íamos, por exemplo, para o monte e de lá

trazíamos um molhinho de lenha.

Aos domingos, íamos com os nossos pais à missa e

todas as noites rezávamos o terço. Nas noites mais frias,

rezávamos à lareira.

Íamos às feiras tanto para vender os produtos da

terra como para comprar o que precisávamos.

Íamos à de Ribeiradio que era no dia 8 de cada

mês.

Raramente íamos à feira de Vale de Cambra por

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ser mais distante e termos de ir a pé.

Naquela altura, havia muito respeito, apesar de se

viver com muito trabalho, sem tempo para demonstração

de amor. A educação era rígida.

Os filhos não ousavam responder aos pais.

Tratávamo-los por “Senhor meu pai” e “Senhora minha

mãe!”.

Havia muito respeito também pelos mais velhos ou

pelas pessoas com cargos superiores. Tratávamos essas

pessoas por “você”, “vossemecê” mas nunca por “tu”.

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A casa

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s casas eram pequenas, feitas de pedra e

cobertas com telha de caleira. Algumas eram

forradas a madeira, outras eram só mesmo

em pedra. O chão da casa era de soalho.

A casa de banho era a chamada retrete que ficava

fora da casa. Como as famílias eram grandes, as casas

tinham três a quatro quartos bastante pequenos e onde

dormiam dois a três irmãos. No quarto, só cabia

praticamente a cama. Não havia cómodas e eram raras

as que tinham mesinha de cabeceira.

A sala era grande e só era aberta em alturas

especiais como a Páscoa, o Natal e a festa da terra.

A cozinha era o compartimento onde se passava a

maior parte do tempo. Existia um forno a lenha para

cozer o pão. As lareiras eram grandes e feitas de pedra.

Serviam de aquecimento e para cozinhar nas panelas de

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ferro.

A banca era uma peça de madeira com uma bacia de

barro para lavar a loiça. Como não havia esgotos, a

água era sempre despejada. A loiça era de barro, os

talheres de ferro e mais tarde de alumínio.

As casas com mais posses tinham um armário de

madeira para arrumar alguma loiça.

As mesas eram grandes e com bancos corridos em

madeira.

Não existia fogões nem luz. Cozinhava-se tudo à

lareira, numa panela de ferro ou em cima de umas

trempes, e usávamos candeias a petróleo para iluminar.

Limpava-se a cozinha com vassouras que eram feitas

de giesta ou de mato manso. Para o resto da casa,

usávamos vassouras feitas de milho miúdo.

Para lavar a louça, utilizávamos um farrapo e

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sabão.

A cozinha era o espaço mais acolhedor, onde, para

além das refeições, passávamos o serão. Sentávamo-nos

entre as pernas dos nossos pais para ouvirmos histórias e

lendas. Era na cozinha que fazíamos também as nossas

orações.

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A alimentação

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alimentação era fraca e pouca variada.

Cozia-se a carne e os feijões numa panela

de ferro. As sardinhas eram assadas ou cozidas e comiam-se

com broa. A maior parte das vezes era uma sardinha para

três pessoas.

O caldo era feito na panela de ferro com carne,

couves, batata, feijão e era engrossado com farinha. Por

vezes, comia-se caldo de cebola ao pequeno-almoço.

Para acompanhar e dar algum sabor à sopa,

comíamos também carne gorda no pão.

A alimentação era à base do que se retirava da terra.

Naquela época, a terra não produzia como

atualmente. Não havia adubos.

As batatas e os outros legumes eram pequenos. Não

davam fartura e havia muita fome.

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A maioria das pessoas não tinham dinheiro para

comprar um porco. Tinham que fazer terras de fora e

pagar as medidas ao dono das terras, sobrando muito

pouco.

Comia-se melhor apenas em época festiva ou quando

uma mãe dava à luz. Por exemplo, matava-se uma

galinha para fazer uma canja e dizia-se que era para

fortalecer o leito materno.

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Vestuário

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s mulheres usavam apenas vestidos ou saias

com uma blusa e cobriam-se com um xaile.

Muitas vezes usávamos sacos de linhol na

cabeça para nos abrigar da chuva. Os guarda-chuvas

eram só para os ricos.

Não havia meias. Andávamos descalços ou de

tamancos. Outros usavam uma tábua de madeira, coberta

com pele de animal, fazendo de chinelos.

Naquele tempo, havia pouca roupa. Passávamos

muito frio. Não havia cuecas nem soutiens. Assim sendo,

as raparigas usavam “coletes” (tiras de pano) para

segurar os seios.

Os tecidos eram de chita e seda no que diz respeito à

roupa exterior, e de pano grosso branco quanto à roupa

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interior.

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Escola

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aquele tempo, a escola não era

obrigatória.

Entrava-se com 9 anos e andava-se até

aos 12 anos de idade. No entanto, havia crianças que

começavam a escola mais cedo, pois os pais “compravam a

idade”.

No início, era apenas um privilégio dos mais

abastados. Os mais pobres, por vezes, não iam à escola

por falta de dinheiro (não tinham como comprar a lousa e

outro material necessário) e iam trabalhar para ajudar os

pais.

Andávamos na escola até à quarta classe.

O horário era das 9.00h às 12.00h e das 13.00h às

15.00h.

Levávamos a comida para o almoço que era

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constituído por pão (broa) e uma peça de fruta ou uma

sardinha.

Havia uma sala para rapazes e outra para as

raparigas e, geralmente, o professor ensinava os rapazes e

a professora as raparigas.

Os professores batiam muito: ora com uma cana

preta da Índia na cabeça, ora com a palmatória na mão

e até com a própria mão.

As crianças não podiam ir à casa de banho quando

queriam. Alguns acabavam mesmo por urinar na cadeira

ficando assim até chegar a casa.

À sexta-feira, íamos para o recreio. Cantávamos o

hino nacional e marchávamos como os soldados. Enquanto

a professora não ouvisse um só pé bater no chão, ou seja,

todos a marchar ao mesmo tempo, apanhávamos porrada.

O hino nacional era cantado todos os dias e

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rezávamos de manhã a seguinte oração:

“Jesus divino mestre iluminai a minha inteligência, dirigi

a minha vontade, purificai o meu coração para que eu

seja sempre cristão fiel a Deus, cidadão útil à pátria.”

Naquela altura, não havia papel e escrevíamos

numa lousa com um ponteiro (tipo giz). Mais tarde veio

o papel.

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Trabalho

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lguns acabavam a 4.ª classe, outros não.

Com 11 e 12 anos, as raparigas e os rapazes

que não iam para a escola, iam “servir para

fora”, isto é, iam para Albergaria, Águeda e até para

Aveiro trabalhar para casa de outras pessoas com mais

posses. Depois do trabalho, custava regressar ao lar,

porque a casa dos patrões tinha mais conforto. Vinham

apenas na altura das festas.

As raparigas tomavam conta de crianças mas

também trabalhavam na agricultura (“estercadas”,

sementeiras, desfolhadas, vindimas, passar carvão,

achas…).

Os rapazes trabalhavam na agricultura e com cerca

dos 14 anos já se empregavam em fábricas.

O dinheiro que ganhávamos era muito pouco e era

para dar aos nossos pais ou para comprar o enxoval.

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Os nossos pais gostavam que fossemos trabalhar,

pois era menos uma pessoa a sustentar.

Matança do porco

Comprava-se um porco acima de 7 semanas que

geralmente se ia buscar à feira de Ribeiradio.

Quando eram pequeninos, comiam farinha de milho,

couves e cabaça. Mais tarde, quando eram maiores,

comiam bolotas. Estavam um ano inteiro no curral e eram

mortos no inverno porque estava mais frio e, assim, a

carne conservava-se melhor.

Juntavam-se algumas pessoas da família, o matador

e levavam o porco até ao local onde iria ser morto e

chamuscado. Era colocado em cima de umas tábuas ou em

cima de um carro de bois onde prendiam as pernas com

cordas.

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Matava-se o porco com uma grande faca e

apanhava-se o sangue para os alguidares.

Os homens chamuscavam o porco com carqueja seca

a arder sobre o pêlo. Outros raspavam com facas para

retirar a pele mais fina e as unhas. Depois lavava-se o

porco com água quente e esfregava -se com carqueja.

Seguidamente, o porco era pendurado pelas patas

traseiras e era aberto: tiravam todas as miudezas e as

tripas para um cesto. Às tripas ainda quentes, retiravam-

lhes a gordura que servia para fazer rojões das tripas e

lavavam-nas para fazer as morcelas e chouriças. Outras

eram para cozinhar depois de temperadas em vinha d’alho,

durante dois dias.

No dia da matança comiam todos juntos.

Normalmente, era batata cozida com iscas de fígado ou

fressura.

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No dia seguinte, o porco já estava escorrido e era

então desmanchado, ou seja, cortado. Da carne faziam-se

os rojões que se conservavam no unto e a restante carne

era para colocar na salgadeira (caixa grande de madeira

cheia de sal).

Do sangue que fora aproveitado, uma porção era

temperada com azeite, alho e cebola picados e depois era

cozido em água e sal. Chamava-se “serrabulho” e

geralmente comia-se cerca dois dias após a matança: o dia

da “rejoada” com o cozido e rojões.

Com o restante sangue faziam-se as morcelas. Tinha

que ser mexido até ficar frio e não coalhar. Nesse

alguidar, já tinha vinho tinto. Ficava assim até ao dia

seguinte, que era quando se faziam as morcelas que

levavam sal, alho, cominhos e pimenta e colorau e, por

fim, iam para o fumeiro.

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Enxoval

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enxoval. Íamos guardando tudo em malas de

madeira ou de lata (baús).

Quase todas as peças eram feitas em

casa pelas raparigas.

Para fazer os lençóis, comprávamos o tecido no qual

bordávamos alguns motivos e fazíamos renda para pregar

no lençol.

As colchas eram compradas na feira e outras eram

feitas em renda.

Também fazíamos as toalhas de mesa. Comprávamos

pedaços de pano e fazíamos quadrados de renda que eram

unidos entre si.

Adornávamos com renda panos de cozinha que

comprávamos na feira.

Os cobertores de tiras de farrapos também eram

feitos manualmente por quem soubesse fazer.

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Depois comprávamos as loiças, os talheres e todas

as outras e coisas que fizessem falta num lar.

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Namoro, casamento e boda

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eralmente entre os 16 e os 17 anos já se

começava a namorar.

“Namorámos por carta e casei-me por procuração.

Ele estava em Moçambique e fui ter com ele depois de

estar casada. Casei-me com 25 anos”.

“Ele foi perguntar à minha mãe se eu queria

namorar com ele. Ela respondeu que era connosco.

Namorámos sempre na presença da minha mãe. Depois

perguntou-lhe se podíamos casar. Eu nem sabia o que era

o casamento. Casei-me com 33 anos.”

“Antigamente os pedidos de casamento eram feitos

aos pais. Casei-me com 29 anos.”

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“O meu homem foi pedir-me em casamento ao meu

pai e à minha mãe. Já namorávamos há algum tempo.

Casei-me com 23 anos”.

“O meu marido bateu à porta e a minha mãe

mandou-o entrar. Perante ela, disse: Venho ver se a sua

filha me quer! A minha mãe respondeu que sim e casei-me

então com 16 anos.”

“Nunca se sabia quando se engravidava, pois

naquele tempo não havia métodos de prevenção. Por isso,

tinha-se mais filhos e eram criados de forma diferente.

Tinham mais mimo (em relação a nós) e arranjava-se tudo

de melhor mesmo que não fosse luxo.

A escola era obrigatória até à 6.ª classe e só podiam

trabalhar a partir dos 16 anos. Quando eram mais

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crescidos, os filhos ajudavam muito em casa.”

“Antigamente, casava-se pela igreja e trajava-se um

fato ou vestido. A cor era sempre clara: azul, rosa ou

cinzento.

A boda era em nossa casa ou na dos nossos pais ou

sogros. Se fosse no verão, havia quem pusesse a mesa

debaixo das ramadas.”

“Vínhamos da igreja para a casa todos juntos pela

estrada. Era bonito ver os noivos à frente e as pessoas

todas atrás. O almoço era feito em casa: primeiro era a

canja, depois o cozido e o assado no forno. Outros

casamentos tinham outros pratos como frango estufado

com ervilhas e puré de batata.

A sobremesa era aletria, salada de fruta, leite-creme

36

e bolos. Naquele tempo, não se vivia a lua-de-mel. Não

havia dinheiro, nem carros”.

37

Divertimentos

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pesar de trabalharmos muito, também nos

divertíamos.

Participámos em festas religiosas.

As raparigas iam às festas em grupos e lá

encontravam rapazes com quem conversavam e dançavam.

Nesses dias, vestíamos a melhor roupa e íamos

sempre à missa.

Íamos aos entremeses.

Alguns rapazes e raparigas gostavam de participar

nesses divertimentos. Tinham gosto pela representação e

por estarem em grupo. Encontravam-se à noite, sempre

no final dos trabalhos, e apenas no Inverno, pois as

noites eram maiores.

No Verão, havia sempre muito trabalho para fazer.

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Os jovens ensaiavam peças de teatro durante cerca de

dois meses. Apresentavam a peça nas eiras ou em lugares

espaçosos.

Participávamos também nos bailaricos.

Naquele tempo, não existiam sítios próprios para

divertimentos, então os bailaricos eram feitos em casas de

particulares que cedessem o espaço.

Pagavam a um acordeonista ou a quem tivesse uma

grafonola para fazer o baile. O dinheiro era angariado

através de quermesses.

Os rapazes e as raparigas aproveitavam para

conversar e dançar. “Naquele tempo, é que era! As

pessoas divertiam-se mais!”.

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Nas Desfolhadas…

As desfolhadas eram feitas nos palheiros e nas eiras.

Geralmente eram à noite, no fim da ceia, à luz da candeia

(lanterna) de petróleo ou do lampião e, mais tarde, à luz

do gasómetro.

A rapaziada juntava-se para desfolhar o milho.

Enquanto desfolhavam, cantavam falsete e acima. E

quando encontravam uma espiga vermelha, conhecida como

“milho rei”, davam um abraço e raramente um beijo a

todos os que estavam na roda gritando: “chiiiiiiiiiiii,

chiiiiiii!”.

Cantares da desfolhada

“Não há desfolhada animada sem milho rei.

Aparece uma espiga, rapariga, cumpre-se a lei:

- Um abraço tens de dar, não te podes recusar.”

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“Desfolhava-se o milho rei pela mão das raparigas.

Quem tem milho rei, quem tem? Quem será?

Qual a maçaroca que o milho não dá?!”

“À noite, no fim da ceia principiam as desfolhadas.

À noite no fim da ceia

Principiam as desfolhadas

Era o brio das aldeias

Oh ai! Acaba de madrugada.

Era o brio das aldeias,

Oh ai! Acaba de madrugada.

Oh! Moças solteiras

Cá deste lugar

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São feitas branjeiras

Pró vira dançar

Que danças tão belas

Sempre à nossa moda,

Batendo as chinelas

Certinhas na roda.

Se me roubas um beijo,

Ai! Até te chamo ladrão

Porque os beijos só se dão

Quando manda o coração.

Oh! Moças solteiras!

Cá deste lugar

São feitas branjeiras

Pró vira dançar

43

Que danças tão belas

Sempre à nossa moda,

Batendo as chinelas

Certinhas na roda.

As Janeiras

Para cantar “as janeiras”, juntava-se um grupo de

rapazes e de raparigas que iam de porta em porta.

As pessoas davam o que tinham: maçãs, chouriços e

quando davam dinheiro, esse era pouco. No entanto,

também havia casas que não davam nada. Aí, o grupo

cantava para mostrar o seu descontentamento:

“- Esta casa cheira ao barro

Aqui mora algum chibarro

Esta cheira ao unto

Aqui mora algum defunto.”

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Os magustos

Naquele tempo não havia instrumentos para animar

as festividades, então cantava-se. Mais tarde, para

animar, chamava-se um acordeonista e outras vezes

alguém que tocava concertina.

A pessoa que organizava os magustos dava uma flor

a cada rapariga que aparecesse. Essa flor era para

arrematar, e o dinheiro angariado servia para pagar o

músico. Por vezes, faziam muito dinheiro porque os

rapazes queriam agradar às raparigas, e tudo faziam

para ficar com a flor da rapariga que lhes agradava mais.

Acontecia ainda zanga entre os rapazes por causa das

flores.

Os magustos eram feitos na rua e as castanhas eram

assadas na caruma.

No fim havia bailarico…

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Orações

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njo da Guarda

Santo Anjo do Senhor, meu zeloso

guardador, se a Ti me confiou a piedade

divina, hoje e sempre Te rezo, me guarde e me ilumine.

Amém!

Pai Nosso e Ave Maria.

Alma de Cristo

Alma de Cristo, santificai-me. Corpo de Cristo, salvai-me.

Sangue de Cristo, inebriai-me. Água do lado de Cristo,

lavai-me. Paixão de Cristo, confortai-me. Ó bom Jesus,

ouvi-me. Dentro das Vossas Chagas, escondei-me. Não

permitais que de Vós me separe. Do espírito maligno,

defendei-me. Na hora da minha morte, chamai-me. E

mandai-me ir para Vós, para que Vos louve com os

Vossos Santos, por todos os séculos. Amém!

A

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Quando Deus era menino

Quando Deus era menino, pôs a mão naquele altar. Três

Marias viu lá estar, com três penas de valor, taf, taf,

Madalena nunca deixes de limpar o pequenino pelo

grande, que no céu nos vem salvar.

Glória.

Oração de S. Francisco

São Francisco de Lisboa, aceitai-me este cordão que a

Nossa Senhora me deu no domingo da Ressureição.

Numa porta tem S. Pedro, na outra tem S. João, no

meio tem o retrato da Nossa Senhora da Conceição.

Oração ao deitar

Com Deus me deito. Com Deus me levanto. Com graça

de Deus e do seu Divino Espirito Santo. Que o Senhor

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desça do céu à terra e se deite ao pé de mim para que os

demónios não tomem conta de mim.

Autora: D. Idalina

Idade: 82

Pai Nosso pequenino

Pai Nosso pequenino quando Deus era menino.

Senhor é meu padrinho. A Senhora a minha madrinha

que me pôs a mão na testa. Já os galos cantam um

cântico, já os anjos se levantam, já o Senhor vai na cruz

para sempre menino Jesus.

Autora: D. Idalina

Idade: 82

Oração ao deitar

Com Deus me deito e com Deus me levanto com a graça

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de Deus e com o Divino Espírito Santo. A Senhora me

cubra com o seu divino manto.

Se eu bem coberta for, não terei medo nem temor, nem

coisa que má for. Se eu adormecer, acordai-me, se eu

morrer, iluminai-me com as três velas da virgem Maria.

Oração da manhã

Vinde meu Jesus, vinde ao meu pobre coração com aquele

afeto e amor com que entraste no ceio da virgem

imaculada

Autora: D. Idalina

Idade: 78

50

Curiosidades

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om doze anos, fui tomar conta de 3

crianças: uma com um mês, outra com

um ano e meio e outra com 3 anos.”

“A minha 1.ª comunhão foi muito feliz. Tinha 8 anos e

deixaram-me ondular o cabelo.”

“Na escola, por cada erro levávamos uma reguada.

Um dia, tive 4 erros e o professor mandou-me estender a

mão. Mas, quando ia bater, tirei a mão e bateu no

joelho. Para voltar à escola, o meu pai teve de me levar.”

“A professora Maria deu com a régua numa menina que

baixou a cabeça para se defender. A professora continuou

até que lhe rachou a cabeça. Os colegas começaram a

gritar, e a irmã que estava noutra sala foi chamar a mãe.

Este caso foi a tribunal.”

“Eu só comecei a usar cuecas quando fui para a escola e

só as usava enquanto estava lá.”

“C

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“Ainda não tinha 12 anos e já levava o leite a Pinheiro

Manso (Vale de Cambra). Depois, ia cartar achas

durante o dia. Tinha umas côdeas de pão para comer sem

mais nada.”

“Quando tinha seis anos, sendo filha de um sargento,

aprendi a pôr-me em sentido quando esteasse a bandeira.

Um dia, um capitão viu-me ter esta ação e deu-me 50

escudos.”

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Confidências

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gora que tenho 83 anos é que tenho

consciência que tenho muita idade.”

Clementina

“Penso que já vivi muito e tenho muitos anos.”

Laura

“Não tenho medo de morrer. É uma viagem que

tenho que fazer.”

Rosa

“Se soubesse que iria morrer, rezaria e pediria a

Deus que perdoasse os meus pecados”.

Leontina

“Se eu soubesse que iria morrer, chamaria os meus

filhos e dividiria tudo o que tinha.”

“A

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“Não tenho medo de morrer. Tenho a minha gente

à minha espera.”

Anunciação

“Agora temos uma vida melhor.”

Irene

“Não mudaria nada no meu passado.”

Leontina

“Sinto-me triste porque tenho uma família triste.

Sei que estou numa fase de dizer adeus ao mundo e

esperar que Deus me leve.”

Anunciação

“A velhice é pensar mais em Deus. Agora

caminhamos para o fim.”

Leontina

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“Não mudaria nada no meu passado.”

Leontina

“Se pudesse voltar atrás, não trabalhava tanto e não

poupava tanto.”

Clementina

“Não penso na velhice nem na morte.”

Irene