DESAFIOS PEDAGÓGICOS NO ENSINO DE BIOLOGIA: concepções … · DESAFIOS PEDAGÓGICOS NO ENSINO DE...
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DESAFIOS PEDAGÓGICOS NO ENSINO DE BIOLOGIA: concepções e
fazeres no espaço escolar
PEDAGOGICAL CHALLENGES IN BIOLOGY TEACHING: CONCEPTIONS AND
ACCOMPLISHMENTS IN THE SCHOOL ENVIRONMENT
Josefa Rafaeli Ferreira de Sousa Rangel¹, Antonia Arisdelia Fonseca Matias Aguiar Feitosa
Resumo
Os avanços da ciência implicam para o ensino de biologia um compromisso maior em construir
conhecimentos biológicos que sirvam de embasamento científico para que jovens e
adolescentes estudantes da educação básica participem, de forma ativa, das discussões que
envolvem os temas contemporâneos. Contudo, as fragilidades inerentes ao ensino limitam a
formação de sujeitos críticos e atuantes. O presente estudo foi realizado na Escola Estadual
Tabelião José Pinto Quezado da sede municipal de Aurora – CE, com a pretensão de analisar
as limitações teóricas e pedagógicas do Projeto Político Pedagógico (PPP) e expressas nas
atividades curriculares e práticas docentes do ensino de biologia. O estudo foi de caráter
qualitativo cujas estratégias de pesquisa foram: análise de conteúdo em documentos oficiais e
estudo exploratório envolvendo a participação em atividades no espaço escolar. Os dados foram
obtidos a partir de observações e da aplicação de questionários junto à equipe didático-
pedagógico da escola. O estudo mostrou a ausência de orientações curriculares para o
desenvolvimento de temas transversais, e limitações no campo da interdisciplinaridade entre as
áreas do conhecimento. Revelou ainda como dificuldades para o ensino de biologia que, embora
a escola disponha de um laboratório de ciências biológicas, há ausência de aulas práticas, bem
como a ordem estrutural e a disposição de materiais dificulta o desenvolvimento dessas aulas.
Não há indicadores de inserção do tema transversal ética no PPP escolar. Isso nos reporta a uma
preocupação com a cientificidade e às repercussões dos achados científicos tão conflituosos na
sociedade contemporânea. Entendemos que as orientações previstas no PPP escolar podem
ampliar ou limitar a percepção docente e esta constitui o seu fazer pedagógico. Estes são fatores
determinantes para a superação dos desafios no ensino de biologia.
Palavras–chave: Ensino de Biologia. Projeto Político Pedagógico. Atividades Curriculares.
Abstract
Advances in science result in a greatercommitment to biology teaching in order to
buildbiological knowledge that may serve as ascientific basis so that youth and
adolescentstudentsof basic educationparticipate, actively, in the
discussionsinvolvingcontemporary issues. However, the weaknessesinherent toteachinglimit
theformation of criticaland activeindividuals.The currentstudy was carried out in the
EscolaEstadualTabeliãoJoséPintoQuezado,inthemunicipalheadquartersofAurora -EC, with the
purpose to analyzethe theoretical andpedagogical constraints of the PedagogicalPolitical
Project(PPP) expressed in thecurricular andteaching activities ofbiologyteaching. The study
was ofqualitative nature whose researchstrategieswere:content analysisof officialdocuments
andexploratory studyinvolving the participation in the school activities. Data were
obtainedfrom observationsand the use of questionnaireswith thedidactic andpedagogicalstaffof
the school. The studyshowed the absence ofcurricularguidelines for the developmentofcross-
sectional themes, and limitationsin the interdisciplinaryfield among the areas of knowledge. It
still revealedas difficultiesforbiology teachingthat, although theschool has a laboratoryof
biological sciences, there are nopractical classes, as well as the structural orderand
thelayoutofmaterialshinderthe development of theseclasses. There are no inclusion indicators
of the cross-sectional theme, named ethics, in the school PPP. This leads us to a major concern
with scientificity and to the outcome of the quarrelsome scientific findings in contemporary
society. We understand thatthe guidelines set outin the schoolPPPcanbroaden or narrowthe
teachingperception andthis constitutes itspedagogical practice. These aredecisive factors
forovercoming the challengesinbiology teaching.
Keywords: Biology Teaching. Pedagogical Political Project. Curricular Activities.
Introdução
Em um mundo comandado pela ciência e pela tecnologia, onde os conhecimentos científicos se
tornam indispensáveis para o desenvolvimento da sociedade humana, o ensino de Biologia tem
um papel essencial na vida dos cidadãos. Diariamente grande quantidade de informações
veiculadas pelos meios de comunicação se refere a fatos cujo completo entendimento depende
do domínio de conhecimentos científicos. Nos últimos anos os conhecimentos biológicos têm,
por essa via, se feito presente em nossa vida com uma frequência incomum, dado ao avanço da
ciência em alguns de seus domínios (BRASIL, 2002).
Possibilitar o domínio de conhecimentos biológicos que permitam o aluno compreender e
participar ativamente dos debates contemporâneos é uma das finalidades do ensino de biologia.
As limitações existentes no sistema de ensino impossibilitam a formação de sujeitos críticos e
atuantes. De acordo com Brasil (2008), o ensino de Biologia encontra-se distanciado da
realidade do aluno de tal forma que não lhe permite perceber o vínculo estreito existente entre
o que é estudado na disciplina e o seu cotidiano. Essa visão dicotômica impossibilita ao aluno
estabelecer relações entre a produção científica e o seu contexto, prejudicando a necessária
visão holística que deve pautar o aprendizado sobre a Biologia.
Nesta perspectiva, a valorização da realidade do aluno permite que este tenha uma nova visão,
a de observar sua realidade, compreendê-la e enxergar possibilidades de mudanças. Se a
realidade dos alunos, seus conhecimentos e vivências prévias forem tomados como ponto de
partida, o ensino de biologia fará sentido para o aluno e a compreensão dos processos e
fenômenos biológicos será possível e efetiva.
O processo de ensino aprendizagem em consonância com a realidade do aluno só é possível
com o gerenciamento educacional participativo. Neste contexto, percebemos a importância da
participação de todos os atores escolares (núcleo gestor, professores, funcionários, pais e
alunos) na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP), no qual estejam refletidas as
expectativas e demandas pedagógicas da comunidade envolvida.
Essa discussão é enriquecida com Vasconcellos (1999) ao ressaltar que quando os sujeitos
escolares estão envolvidos e comprometidos em tornar concretas as tendências pedagógicas no
PPP, certamente, estes agentes terão um leque de possibilidades de trabalho, para atender as
demandas cotidianas no âmbito escolar.
É nesta perspectiva que o PPP, como instrumento teórico-metodológico, organiza e integra as
suas práticas educacionais através de um planejamento coletivo, participativo e colaborativo no
âmbito escolar, propiciando permanente interação entre os agentes escolares na incorporação
de práticas pedagógicas ao currículo escolar, na definição de prioridades temáticas e dos
problemas mais relevantes a serem solucionados.
O presente estudo teve como pretensão analisar as limitações teóricas e pedagógicas do Projeto
Político Pedagógico (PPP) e expressas nas atividades curriculares e práticas docentes do ensino
de biologia.
Buscamos, através desta pesquisa, compreender os desafios que permeiam o ensino de biologia
no espaço escolar investigado neste estudo, ao passo que potencializam os objetivos deste
componente curricular.
O Espaço Escolar e a Formação do Sujeito
O desenvolvimento humano é algo complexo que demanda esforços também humanos para o
seu aprimoramento. De acordo com Bittar (2013), ninguém nasce portador da virtude, esta é
uma habilidade ética fundamentalmente humana, potencialmente presente em toda pessoa, e
suscetível de ser ensinada. A educação cultiva nas variadas personalidades, experiências,
origens sociais e econômicas, incentivos necessários para que brotem as qualidades humanas
democráticas, tolerantes, responsáveis, conhecedoras, participativas, pensantes, conscientes e
críticas da vida social.
As pessoas constituem-se, em contextos sociais específicos, e são, em grande parte,
condicionadas por seu contexto social, econômico, humano e histórico.
Cabe à escola tornar-se um dos agentes de mudança social e constituir-se num espaço
democrático.
Spinassé (2004) apud Ferraço (2008) afirma que a escola é uma organização social complexa,
heterogênea, multidimensional, que se de longe parece ser o local de rotina, da previsibilidade,
da repetição, um olhar mais acurado, cuidadoso e detido desvendará um universo rico em
criatividade, novidades, improvisação, engenhosidade. Ainda de acordo com os autores, a
escola possui múltiplas faces, pois ao mesmo tempo em que é organizada de acordo com a
legislação, em seu interior, o processar da auto-organização produz regras e decisões
alternativas às emanadas pela Administração Central.
Deste modo, a escola é o lugar que representa a esperança, o desejo humano de aperfeiçoar-se,
de mudar, de fazer-se e promover-se o integralmente, o lugar social no qual a expectativa de
mudança é o traço mais marcante. É o espaço da concretização dos objetivos máximos do
sistema educacional, no qual as metas governamentais são atingidas, ou não, em que as políticas
educacionais são realizadas conforme o previsto, ou sofrem distorções.
Projeto Político Pedagógico como Possibilidades Curriculares
O Projeto Político Pedagógico é um instrumento teórico-metodológico que tem como função
organizar e integrar as práticas educacionais através de um planejamento coletivo, participativo
e colaborativo no âmbito escolar.
Etimologicamente o termo projeto – projetare – significa prever, antecipar, projetar o futuro,
lançar-se para frente. A partir desse entendimento, construímos um projeto quando temos uma
demanda para tal, quando temos um problema (NERI E SANTOS, 2001).
Neri e Santos (2001) define os termos Político e Pedagógico, procurando justificá-lo dentro do
projeto da escola. O projeto é político por estar introjetado num espaço de sucessivas discussões
e decisões, que envolvem debates, sugestões, opiniões, sejam elas contra ou a favor. A
participação de todos os envolvidos no Projeto Político Pedagógico da escola, as resistências,
os conflitos, as divergências são atos extremamente políticos. O projeto é pedagógico por
implicar em situações específicas do campo educacional, por tratar de questões referentes à
prática docente, do ensino aprendizagem, da atuação e participação dos pais nesse contexto
educativo, enfim, de todas as ações que expressam o compromisso com a melhoria da qualidade
do ensino.
Segundo Paiva (2001) o projeto político pedagógico é considerado o plano maior da unidade
escolar. Foi a partir da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que o Projeto
Político Pedagógico passou a ser obrigatório nas instituições de ensino, apresentando-se como
a melhor forma de organizar o espaço escolar, para que a escola conquiste sua autonomia, na
tentativa de melhorá-la em diversos aspectos principalmente ajudando a minimizar as
fragilidades pedagógicas.
Neri e Santos (2001) afirma ainda que o Projeto Político Pedagógico é antes de tudo a expressão
da autonomia da escola no sentido de formular e executar sua proposta de trabalho. É um
documento juridicamente reconhecido, que norteia e encaminha as atividades desenvolvidas no
espaço escolar e tem como objetivo central identificar e solucionar os problemas que interferem
no processo ensino aprendizagem. Esse projeto está voltado diretamente para o que a escola
tem de mais importante “o educando” e para aquilo que os educandos e toda a comunidade
esperam da escola – uma boa aprendizagem.
O Ensino de Biologia: orientações curriculares oficiais
As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio – DCNEM, se articulam em três áreas
do conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática
e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e suas Tecnologias, estabelecendo as competências e
habilidades que deverão servir como referenciais para as propostas pedagógicas, além de
recomendar a interdisciplinaridade e a contextualização, princípios condutores da organização
curricular (BRASIL, 2008).
De acordo com Brasil (2008. p.20), O ensino de Biologia:
Deve possibilitar o domínio de conhecimentos biológicos que permitam ao
aluno compreender e participar ativamente dos debates contemporâneos.
Nesse sentido, deve propiciar condições para que o educando compreenda a
vida como manifestação de sistemas organizados e integrados, em constante
interação com o ambiente físico-químico. O aluno precisa ser capaz de
estabelecer relações que lhe permitam reconhecer que tais sistemas se
perpetuam por meio da reprodução e se modificam no tempo em função do
processo evolutivo, responsável pela enorme diversidade de organismos e das
intrincadas relações estabelecidas pelos seres vivos entre si e com o ambiente.
O aluno deve ser capaz de reconhecer-se como organismo e, portanto, sujeito
aos mesmos processos e fenômenos que os demais. Deve, também,
reconhecer-se como agente capaz de modificar ativamente o processo
evolutivo, alterando a biodiversidade e as relações estabelecidas entre os
organismos.
Trata-se de capacitar o educando para interpretar os fatos e os fenômenos – naturais ou não –
sob a óptica da ciência, mais especificamente da Biologia, para que, simultaneamente, adquira
uma visão crítica que lhe permita tomar decisões usando sua instrução nessa área conhecimento.
Percurso Metodológico
Esta pesquisa, voltada ao ensino de biologia, foi executada no período de Fevereiro à
Junho/2014 na Escola Estadual Tabelião José Pinto Quezado da sede Municipal de Aurora –
CE. Teve como finalidade analisar limites expressos no PPP com repercussão para o ensino de
biologia, no espaço escolar.
Como estratégias metodológicas foram adotadas: a análise de conteúdo e o estudo exploratório.
A análise de conteúdo é um método de tratamento e análise de informações, colhidas por meio
de técnicas de coleta de dados, consubstanciadas em um documento. A técnica se aplica a
análise de textos escritos ou de qualquer comunicação (oral, visual, gestual) reduzida a texto ou
documento, com objetivo de compreender criticamente o sentido das comunicações, seu
conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas (CHIZZOTTI, 1995).
A pesquisa exploratória, segundo Marconi e Lakatos (2010), é concebida graças à sua
vinculação às pesquisas de campo, sendo, portanto, investigações de pesquisa empírica cujo
objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver
hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para
a realização de uma pesquisa futura mais precisa, ou modificar e clarificar conceitos.
Em relação às técnicas de apreensão de dados foram utilizadas a observação e a aplicação de
questionários junto à equipe didático-pedagógico da escola com o objetivo de investigar sobre
os desafios que norteiam os agentes escolares, principalmente o professor de biologia, para a
implantação do PPP como orientação curricular.
A observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos
na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas
também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar (MARCONI e LAKATOS,
2010). É um elemento básico de investigação cientifica.
Os questionários, como instrumentos de investigação, consiste em um conjunto de questões
pré-elaboradas, sistemática e sequencial dispostas em itens que constituem o tema da pesquisa,
com o objetivo de suscitar dos informantes respostas por escrito ou verbalmente sobre o assunto
que os informantes saibam opinar ou informar. É uma interlocução planejada (CHIZZOTTI,
1995).
Perfil Didático-Pedagógico da Escola Estadual Tabelião José Pinto Quezado
O Conhecimento pedagógico é um conceito-base que se refere a um conhecimento amplo,
implica o domínio de saber-fazer (estratégias pedagógicas) bem como o saber - teórico e
conceitual e suas relações. Sua construção implica trocas cognitivas e socioculturais entre
ensinantes/aprendentes durante o processo de ensino de aprender (BOLZAN, 2002).
No emaranhado de situações que constituem o conhecimento escolar, destacamos: o papel da
Educação Biológica na formação de jovens autônomos, participativos, qualificados para o pleno
exercício da cidadania.
Embora os professores da escola Tabelião José Pinto Quezado busquem ampliar as
oportunidades de aprendizagem dos alunos, muitas são as dificuldades encontradas no cotidiano
escolar, a destacar as aulas praticas de laboratório. A escola dispõe de laboratório de ciências,
no entanto a ordem estrutural e materiais que o mesmo se encontra dificulta o desenvolvimento
de aulas práticas.
Durante as reuniões de planejamento, os professores reclamaram da falta de materiais no
laboratório como: reagentes, microscópios (dos três disponíveis apenas um funciona), modelo
de células, o que impossibilita o aprofundamento dos conteúdos específicos – citologia por
exemplo.
Deste modo e de acordo com os agentes investigados, as principais dificuldades apontadas para
o ensino de biologia foram:
Os materiais didáticos e os recursos necessários muitas vezes são escassos,
assim como a dificuldade de aprendizado de alguns alunos (Coordenadora da
área).
Déficit de aprendizagem dos alunos com conceitos básicos de biologia
(Professora de Biologia).
Para uma das professoras é necessário “maior dedicação dos alunos na compreensão dos
conceitos básicos de biologia”.
Para Bachelard (1996) apud Perrenoud (2000), os professores têm dificuldade de compreender
que seus alunos não compreendem. Para o autor a não compreensão não é por falta de vontade
do aluno, deste modo o professor deve entender que o que é evidente para ele é, muitas vezes,
opaco e confuso para os aprendizes.
O que se percebe é que o ensino de biologia ainda acontece de forma enciclopedista, com pouca
ou nenhuma interação com os alunos, com metodologias ainda centradas no professor com
adoção de aulas expositiva. Os professores reclamam das péssimas condições do laboratório de
ciências, mas pouco se fala em adoção de aulas praticas com materiais alternativos e
principalmente com a participação dos alunos.
As aulas práticas de laboratório contribuem para a ampliação dos conhecimentos dos alunos
desenvolvendo e proporcionando um novo olhar sobre o mundo. Deste modo o professor deve
explorar situações e materiais comuns, de fácil acesso/obtenção caso a escola não disponibilize
um laboratório.
Para a coordenadora da área é “necessário uma ampliação dos recursos didáticos,
principalmente no que refere aos recursos de aulas praticas” para sanar as deficiências no
ensino.
Já para outra professora investigada, para melhorar o ensino de biologia é necessário
“enriquecer ainda mais o protagonismo juvenil”. Essa concepção corrobora com as de Brasil
(2008), é necessário conhecer quem são os jovens e quais suas relações com a realidade escolar.
Na maior parte das vezes os jovens veem-se pouco refletido nas propostas pedagógicos, o que
causa distanciamento e impede uma relação significativa com o ambiente escolar.
Participando ativamente do processo de ensino-aprendizagem, o aluno sente-se a peça chave e
necessária, facilitando a assimilação dos conteúdos biológicos, pois deixa de ser um mero
receptor passivo das informações e passa a ser o elemento ativo de sua aprendizagem.
Outro desafio que norteia o ensino de biologia, que não foi citado pelos investigados, mas que
merece destaque é a não inserção de todos os temas transversais. Embora o PPP afirme que
serão inseridos os temas transversais em todas as disciplinas, este ainda acontece de forma
fragmentada. As professoras afirmaram trabalharem com alguns temas: meio ambiente,
orientação sexual e saúde; meio ambiente, saúde, diversidade cultural, orientação sexual,
trabalho e consumo. No entanto, nenhuma das professoras adota o tema ética no ensino de
biologia, tema este essencial para a formação, e principalmente, para o gerenciamento adequado
das habilidades e competências dos alunos no campo científico.
Esta fragilidade de percepção e sensibilidade ao tema ética nos reporta a uma preocupação com
a cientificidade e as repercussões dos achados científicos tão conflituosos na sociedade
contemporânea. Emerge deste contexto as seguintes indagações: como formar indivíduos
autônomos, competentes e participativos se o tema Ética não é trabalhado?A Ética diz respeito
às reflexões sobre as condutas humanas, “Como agir perante os outros”. A reflexão sobre as
diversas faces das condutas humanas deve fazer parte dos objetivos maiores da escola
comprometida com a formação para a cidadania.
Essa questão revela um desafio maior encontrado no espaço escolar: como abordar a ética se as
professoras sequer sabem que este tema deve ser inserido nas atividades curriculares na escola
e que está presente no PPP. As duas professoras de biologia não participaram da elaboração do
Projeto Político pedagógico da escola, o que dificulta a sua execução, caracterizando falta de
afinidade com as proposições registradas para a área de biologia.
Os professores almejam mudanças e mostraram-se preocupados com os desafios encontrados
no cotidiano escolar, desafios estes difíceis de serem superados, visto que a prática docente não
está pautada no projeto maior da escola – o PPP.
O PPP deve ser o alicerce da pratica docente, sua elaboração, no entanto, parece ser apenas para
cumprir a legislação, constituindo-se como um dos principais motivos da má formação dos
alunos.
Considerações
A educação é uma prática social humana construída historicamente que emerge da dialética
entre homem, mundo, história e circunstâncias. As ações educativas revestem-se de
intencionalidades através das quais integram e organizam suas práxis. Estão sempre
susceptíveis a mudanças; circunstâncias imprevisíveis, não planejadas podem redirecionar o
processo e reconfigurar as situações iniciais.
O Espaço Escolar constitui o local para onde convergem de modo oficializado, as atribuições e
compromissos para sua efetivação. Nesta perspectiva, as pessoas que integram o ambiente
escolar assumem o compromisso de lidar com a complexidade e diversidade das situações
envolvidas e de efetivar o papel transformador da educação.
O estudo confirma o papel do PPP na condução das atividades curriculares no espaço escolar,
e a necessidade da sua elaboração e execução com a participação dos agentes escolares. Não
basta querer mudar a realidade escolar, sem antes saber o que, e como mudar.
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PERRENOUD, Philippe.Dez Novas Competências para Ensinar.Porto Alegre: Artmed
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VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: Projeto de ensino-aprendizagem e
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