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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

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DESENVOLVENDO A CRITICIDADE AMBIENTAL ATRAVÉS DO ESTUDO DA MATA CILIAR E DE SEU PAPEL NA CONSERVAÇÃO DO ECOSSISTEMA

AQUÁTICO

Elenice Félis da Silva1

Jorge Sobral da Silva Maia2

Resumo

A intervenção pedagógica teve como público alvo os estudantes da Educação de Jovens e Adultos dos anos finais do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Barão do Rio Branco - EFMP, no Município de Assaí PR, valendo-se de estratégias para promover a cultura ambiental através da Educação, enquanto propiciadora no seu papel na formação dos estudantes. Os conhecimentos teóricos e práticos foram suportes para pensar atitudes que possam levar a construção de agentes transformadores da sua realidade local, cidadãos críticos, capazes de reinventar atitudes em favor de um ambiente saudável, proporcionando assim uma melhor qualidade de vida para si e para os outros. Foram feitos estudos reflexivos e práticos sobre os problemas ambientais e a preservação das matas e florestas, com recorte no reflorestamento das margens de rios, lagos, nascentes, mananciais, entre outros, designada na região do Norte Pioneiro no Estado do Paraná, como “mata ciliar”, os quais, a nosso ver, justificam a presente intervenção pedagógica. Diante disso, a indagação que se fez nesta pesquisa: É possível construir com os estudantes, através do conhecimento sobre reflorestamento da vegetação ciliar, a compreensão da importância da conservação dos ecossistemas aquáticos? Deste modo, a intervenção pedagógica objetivou-se em instrumentalizar os estudantes da Educação de Jovens e Adultos com conhecimento teórico e prático sobre a importância da mata ciliar como meio de preservação da qualidade da água e de preservação do meio ambiente em que vivem. A metodologia utilizada foi a pesquisa de campo de observação direta, denominada de observação participante, através do método de abordagem dedutivo e de pesquisa qualitativa na modalidade interpretativa no procedimento da pesquisa-ação, buscando-se compreender in loco, a realidade na cidade de Assaí – PR.

Palavras-chave: Educação Ambiental; Educação de Jovens e Adultos (EJA); Mata

Ciliar; Preservação da Água.

1 Pós-Graduação em Instrumentalização para o Ensino de Ciências, graduação em Matemática, atua

no Colégio Estadual Barão do Rio Branco EFMP, em Assaí –PR.

2Professor Adjunto CCHE - Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP Orientador do

Projeto PDE UENP - Jacarezinho – Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada GEPRHEA UENP CNPq e Membro do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental GPEA FC UNESP CNPq - [email protected]

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1 Introdução

Tendo em vista, a necessidade da preservação do meio ambiente, uma

educação voltada à Educação Ambiental se torna relevante, possibilitando a

construção de conhecimentos, acerca dos cuidados necessários para preservação

dos bens da natureza que contribuem para a vida no planeta.

Dessa forma, a Educação Ambiental tem o papel importante de promover

interdisciplinarmente a apropriação dos conhecimentos científicos que expliquem os

fenômenos naturais e possibilitem mudanças de valores e atitudes, para que os

estudantes possam contribuir com a sociedade no enfrentamento dos problemas

ambientais da sociedade contemporânea.

Diante deste contexto, a intenção deste projeto foi promover junto aos

estudantes na modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) dos anos finais

do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, no Município de

Assaí (PR), estudos reflexivos e práticos sobre os problemas ambientais e a

preservação das matas e florestas, com recorte no reflorestamento das margens de

rios, lagos, nascentes, mananciais, entre outros, designada na região do Norte

Pioneiro no Estado do Paraná, como “mata ciliar”.

Os moradores da zona urbana, assim como os estudantes da EJA, podem

observar os rios da nossa região, pois há nascentes de águas doces, ou passam

rios, riachos, que são afluentes do Rio Tibagi bem como perceber a necessidade de

protegê-los das agressões externas.

Dessa forma este projeto buscou promover a criticidade dos estudantes por

meio de estudos, visitas e reflexões sobre ações cotidianas em relação aos

problemas ambientais, principalmente no que se refere à questão da mata ciliar.

É fato que precisamos nos relacionar com a natureza de forma harmônica, a

fim de contribuirmos na busca de novas soluções para mudar a realidade de hoje e

proporcionar um melhor amanhã, principalmente com relação à retirada da mata

ciliar que deixa os ambientes aquáticos desprotegidos prejudicando a qualidade da

água e consequentemente a qualidade de vida do homem.

Diante disso, a indagação que se fez nesta pesquisa é que se: É possível

construir com os estudantes da EJA, através do conhecimento sobre reflorestamento

da vegetação ciliar, a compreensão da importância da conservação dos

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ecossistemas aquáticos?

Sendo assim, objetivou-se instrumentalizar os estudantes com conhecimento

teórico e prático, partindo da verificação dos conhecimentos prévios que os

estudantes têm sobre as questões ambientais, mata ciliar e sua contribuição no

processo de conservação do ecossistema aquático. Houve também a análise das

produções sobre as ações desenvolvidas nas visitas técnicas organizadas bem das

convergências e divergências entre as leituras apresentadas pelos estudantes,

sobre as funções e importância da recuperação da vegetação no entorno dos rios,

córregos e nascentes, entre outros.

1.1 Educação de Jovens e Adultos – EJA

Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE) para a

Educação de jovens e adultos (EJA), essa modalidade de ensino atende

"educandos-trabalhadores", possuindo caráter político e social com finalidades e

objetivos de formação humana, desenvolvendo o senso crítico, para que estes

adotem atitudes éticas e políticas, para o desenvolvimento de sua autonomia

intelectual (PARANÁ, 2006).

O reconhecimento de que a Educação de jovens e adultos sirva, em grande

parte, à população excluída, faz com que se tal modalidade seja tratada com a

multiplicidade de alternativas as quais facilitam o fluxo e a certificação escolar, o que

(HADDAD, 2007) explicita dizendo:

Avançar numa nova concepção de EJA significa reconhecer o direito a uma escolarização para todas as pessoas, independentemente de sua idade. Significa reconhecer que não se pode privar parte da população dos conteúdos e bens simbólicos acumulados historicamente e que são transmitidos pelos processos escolares. Significa reconhecer que a garantia do direito humano à educação passa pela elevação da escolaridade média de toda a população e pela eliminação do analfabetismo (HADDAD, 2007, p.15).

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No estado do Paraná, a EJA é orientada pelas Diretrizes Curriculares do

Estado (DCE) que foi construída coletivamente e de forma dialógica, em que são

apresentados os fundamentos teóricos metodológicos, conteúdos estruturantes,

encaminhamentos metodológicos e avaliativos para atender as especificidades

culturais e sociais dos educandos jovens, adultos e idosos (PARANÁ, 2008).

O documento DCE traz a necessidade de se buscar o diálogo com a prática

vivenciada pelos estudantes da EJA, o que deve ser bem cuidado pelos professores

em sua prática pedagógica:

Os educandos da EJA trazem consigo um legado cultural – conhecimentos construídos a partir do senso comum e um saber popular, não-científico, constituído no cotidiano, em suas relações com o outro e com o meio – os quais devem ser considerados na dialogicidade das práticas educativas. Portanto, o trabalho dos educadores da EJA é buscar de modo contínuo o conhecimento que dialogue com o singular e o universal, o mediato e o imediato, de forma dinâmica e histórica (PARANÁ, 2006, p. 38).

Sendo assim, o trabalho educativo deve partir dos conhecimentos

já adquiridos da vivência do aluno, que traz uma bagagem cultural e social,

relacionando-os com os conhecimentos científicos, respeitando o tempo e espaço de

aprendizagem. Os conteúdos devem ser percebidos no mais amplo contexto,

através de atividades que integrem os diferentes saberes, como também o uso de

metodologias e procedimentos flexíveis para que possam ser alterados e adaptados

às necessidades dos estudantes (PARANÁ, 2006).

A atividade reflexiva e o foco centralizado no desenvolvimento da

capacidade de pensar e reinventar o ambiente em que vive como apontou (FREIRE,

1987), são encaminhamentos fundamentais para a superação de uma educação

bancária. Sendo assim, a maneira e a concepção pedagógica adotada pelo

professor da EJA são fundamentais para que os estudantes percebam que o

conhecimento tem a ver com o seu contexto social, cultural e com sua história de

vida.

No contexto de uma formação ampla do estudante da EJA, a disciplina de

Ciências tem papel importante na formação de conceitos de uma cultura de

educação ambiental para além da sala de aula, pois partem de elementos

observados na natureza para reinterpretar, os conhecimentos dessa área, como

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expressam as Diretrizes para a disciplina:

A disciplina de Ciências tem como objeto de estudo o conhecimento científico que resulta da investigação da Natureza. Do ponto de vista científico, entende-se por Natureza o conjunto de elementos integradores que constitui o Universo em toda sua complexidade. Ao ser humano cabe interpretar racionalmente os fenômenos observados na Natureza, resultantes das relações entre elementos fundamentais como tempo, espaço, matéria, movimento, força, campo, energia e vida. (PARANÁ, 2008, p. 40)

Pensando sobre esse contexto, os trabalhos com os estudantes da EJA, em

termos de conteúdos, devem estar voltados para o contexto de vivência dos

mesmos. Isso quer dizer que as práticas pedagógicas, para essa modalidade,

devem ser norteadas pelos eixos cultura, trabalho e tempo, valorizando o trabalho, a

história, a cultura e os conhecimentos que fazem parte da vida daqueles alunos.

1.2 Educação Ambiental

A educação ambiental de acordo com (PHILIPPI; PELICIONI, 2005, p. 03)

"vai formar e preparar cidadãos para a reflexão crítica e para uma ação social

corretiva ou transformadora do sistema, de forma a tornar viável o desenvolvimento

integral dos seres humanos".

Para (MORALES, 2008) após os debates dos movimentos ambientalistas é

que surge a educação ambiental para discutir e rediscutir a relação entre natureza e

sociedade, considerando que a Educação Ambiental não dará conta, sozinha, da

resolução dos problemas ambientais, mas como meio para construir-se uma

sociedade mais crítica e reflexiva. No Brasil, a trajetória da educação ambiental, sob

os reflexos do cenário mundial, ganha destaque nas décadas de 70 e 80, em cuja

sequência acontecem: movimentos ambientalistas, a Lei Federal nº. 6938/91, o I

Seminário "Universidade e Meio Ambiente", a criação da Constituição Federal de

1988, a criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) em 1989. Cada um

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desses acontecimentos marcou a importância da educação ambiental e sua

promoção, especialmente por meio das instituições de ensino.

Na década de noventa, uma portaria do Ministério da Educação "estabelece

que a Educação Ambiental deva estar contemplada no currículo escolar, em todos

os níveis de ensino" (MORALES, 2008, p. 25).

A partir de então são implementados cursos de formação de professores,

práticas de educação ambiental junto às comunidades, é criado o Ministério do Meio

Ambiente, surgem as Redes de Educação Ambiental, acontece o II Fórum Brasileiro

de Educação Ambiental, a Conferência Internacional do Rio-92, elaborou-se o

Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), é sancionada a atual LDB

nº. 9.394/96, são aprovados os Parâmetros Curriculares Nacionais/97, é publicada a

Política Nacional de Educação Ambiental fatos que impulsionaram a educação

ambiental no Brasil. Sobre a questão ambiental, MORALES (2008) coloca:

Assim, destaca-se que o processo formativo estabelecido pela educação ambiental busca por meio da interdisciplinaridade e complexidade, contribuir para a formação de sujeitos políticos, capazes de pensar e agir criticamente na sociedade, baseado nas vias de emancipação e transformação social (MORALES, 2008, p. 28).

Além disso, a Política Nacional de Educação Ambiental, lei nº 9.795, de 27

de abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental, trata nos artigos 1º, 2º e

3º sobre o entendimento do que vem a ser educação ambiental como "processos por

meio dos qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,

conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação

do meio ambiente", assim como de que ela é "um componente essencial e

permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em

todos os níveis e modalidades do processo educativo" e ainda, que "todos têm

direito à educação ambiental" (BRASIL, 1999, p. 1).

(GONÇALVES, 1990 apud ADAMS, 2005, p. 01) apresenta uma definição de

Educação ambiental que é destacada como sendo "um processo longo e contínuo

de aprendizagem, de uma filosofia de trabalho participativo em que todos, família,

escola e comunidade, devem estar envolvidos". Complementando tal definição,

LUCAS (1980 apud ADAMS, 2005) explica que:

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A Educação Ambiental (EA) tem sido entendida e desenvolvida enquanto educação sobre o ambiente, educação no ambiente, educação para o ambiente e pelas classes formadas pelas possíveis combinações entre estas três categorias. LUCAS (1980 apud ADAMS, 2005, p. 01)

Sobre a importância da Educação Ambiental na integração entre o ser

humano e o meio ambiente, dizendo que ela é importante na integração do homem

com o meio ambiente, (GUIMARÃES, 1995) também expõe:

Uma relação harmoniosa, consciente do equilíbrio dinâmico na natureza, possibilitando, por meio de novos conhecimentos, valores e atitudes, a inserção do educando e do educador como cidadãos no processo de transformação do atual quadro ambiental do nosso planeta. (GUIMARÃES, 1995, p. 15)

Ainda sobre a degradação ambiental, (LEFF, 2001) relata que o risco de

colapso ecológico e o avanço da desigualdade e da pobreza são sinais claros da

crise do mundo globalizado. A crise ambiental atual impõe às sociedades a busca de

novas formas de pensar e agir, individual e coletivamente. Isso implica um novo

conjunto de valores no qual a educação tem um papel importante a desempenhar.

1.3 Educação Ambiental e Mata Ciliar

Como um processo que permite às pessoas compreenderem o ambiente de

forma crítica e global, a Educação Ambiental é uma ferramenta para se trabalhar a

importância da preservação das Matas Ciliares, contribuindo para a manutenção de

valores, atitudes de conservação e uso racional dos recursos naturais (MACAGNAN

et al, 2005 apud HERPICH; MACAGNAN; NASCIMENTO JÚNIOR, 2006).

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1.3.1 Nomenclatura

Vários estudos apresentam uma revisão do uso de termos como: mata

ripária, mata ciliar, mata de galeria, floresta de galeria, floresta ciliar, dentre outras. O

próprio termo ciliar segundo (RODRIGUES, 2004), foi usado inicialmente para

designar as formações florestais observadas nos diques marginais de grandes

planícies, numa faixa estreita de vegetação. Nesse pressuposto ele esclarece o uso

do termo mata ciliar de acordo com a legislação brasileira que "foi usado de forma

extremamente genérica, designando qualquer formação florestal ocorrente na

margem de cursos d’água, englobando assim as florestas de galeria, as de brejo, as

ripárias etc." (RODRIGUES, 2004, p. 94)

(MACHADO, 1989, p. 03) explica que de acordo com o Código Florestal,

mata ciliar é "aquela que existe às margens dos cursos d'água, ou inexistindo, deva

existir nessas margens, ao redor das lagoas, lagos, reservatórios de água naturais

ou artificiais, nas nascentes. [...] está relacionada com a água e com a fauna".

Conforme (MARTINS, 2004, p. 11) a definição para matas ciliares se refere

"aquelas que ocorrem ao longo dos cursos d’água, incluindo tanto a ribanceira de

um rio ou córrego, de um lago ou represa, como também as superfícies de

inundação e que sofrem influência do lençol freático"”. Neste sentido Carvalho

(1996) aponta:

As Matas Ciliares são formações florestais às margens de ambientes aquáticos, constituem um ambiente complexo com condições mesoclimáticas distintas, atribuídas as temperaturas mais amenas e a maior umidade atmosférica desse local. As relações desempenhadas entre o ambiente aquático e o vegetal terrestre que margeia os cursos de água fazem com que diversos autores considerem inúmeras denominações, caracterizações e funções para esta vegetação (CARVALHO, 1996, p. 01).

(TOSIN, 1990, p. 31) diz que mata ciliar está relacionado com o próprio

termo visto que trata "de áreas localizadas ao longo das margens dos rios ou

qualquer outro curso d'água, funcionando como filtro (como os cílios para os olhos)

dificultando a incorporação de elementos estranhos ao ambiente aquático".

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1.3.2 Legislação sobre as Matas Ciliares

A mata ciliar é um espaço territorial protegido pela Constituição Federal de

1988 que contemplou no Capítulo VI, dedicado ao Meio ambiente, Título VIII – Da

Ordem Social sobre os “espaços territoriais e seus componentes a serem

especialmente protegidos” (BRASIL, 1988).

Antes mesmo da Constituição Federal/88, o Código Florestal/65 já tratava

sobre as áreas de preservação ambiental, e cria as Áreas de Preservação

Permanente (APP) e Reserva Legal em propriedades rurais.

Neste Código, a Lei nº. 4.771/65, traz as APP, sendo que tratam sobre as

matas ciliares em faixas de 30 a 500m, dependendo da largura do rio ou córrego,

enquanto que a Resolução nº. 303, de 20 de março de 2002, do CONAMA

especifica em seu artigo 3º os limites de APP”, ou seja:

Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada: I - em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção horizontal, com largura mínima, de: a) trinta metros, para o curso d`água com menos de dez metros de largura; b) cinqüenta metros, para o curso d`água com dez a cinqüenta metros de largura; c) cem metros, para o curso d`água com cinqüenta a duzentos metros de largura; d) duzentos metros, para o curso d`água com duzentos a seiscentos metros de largura; e) quinhentos metros, para o curso d`água com mais de seiscentos metros de largura; II - ao redor de nascente ou olho d`água, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinqüenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte; III - ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mínima de: a) trinta metros, para os que estejam situados em áreas urbanas consolidadas; b) cem metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d`água com até vinte hectares de superfície, cuja faixa marginal será de cinqüenta metros; IV - em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de cinqüenta metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado; V - no topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a dois terços da altura mínima da elevação em relação a base; VI - nas linhas de cumeada, em área delimitada a partir da curva de nível correspondente a dois terços da altura, em relação à base, do pico mais baixo da cumeada, fixando-se a curva de nível para cada segmento da linha

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de cumeada equivalente a mil metros; VII - em encosta ou parte desta, com declividade superior a cem por cento ou quarenta e cinco graus na linha de maior declive; VIII - nas escarpas e nas bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir da linha de ruptura em faixa nunca inferior a cem metros em projeção horizontal no sentido do reverso da escarpa; IX - nas restingas: a) em faixa mínima de trezentos metros, medidos a partir da linha de preamar máxima; b) em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação com função fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues; X - em manguezal, em toda a sua extensão; XI - em duna; XII - em altitude superior a mil e oitocentos metros, ou, em Estados que não tenham tais elevações, à critério do órgão ambiental competente; XIII - nos locais de refúgio ou reprodução de aves migratórias; XIV - nos locais de refúgio ou reprodução de exemplares da fauna ameaçadas de extinção que constem de lista elaborada pelo Poder Público Federal, Estadual ou Municipal; XV - nas praias, em locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre (BRASIL, 2010).

Diante das legislações é possível perceber que a mata ciliar está protegida,

ainda que estas não sejam as únicas leis em torno do Meio ambiente, pois, de

acordo com (CABRAL, 2008), desde 1965 até 2007, são catorze leis e três

resoluções que tratam de políticas de proteção ao meio ambiente.

O projeto do novo Código Florestal foi aprovado em maio de 2011 pela

Câmara dos Deputados. Este projeto, que passara a ser discutido no Senado, tem

provocado debates "para resolver uma questão que está dividindo o país: o

tratamento a ser dado à cobertura florestal, principalmente nas áreas de exploração

agrícola" (TRIBUNA DO NORTE, 2011).

O código atual continua em vigor enquanto o texto final não for aprovado

pelo Senado.

1.3.3 Importância das Matas Ciliares

A mata ciliar como instrumento de preservação dos ambientes aquáticos

apresenta várias funções, como afirma (VOLK, 2007):

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A mata ciliar se estabelece como um filtro ambiental, retendo sedimentos, poluentes dissolvidos que seriam levados até os mananciais d’água. [...] a manutenção da mata ciliar protege as regiões ribeirinhas da erosão e do assoreamento dos recursos hídricos, conservando a qualidade e o volume das águas. (VOLK, 2007, p. 15).

Nesse sentido, de preservar as regiões ribeirinhas, de forma a promover a

qualidade de vida das populações que têm cursos de água em suas propriedades,

faz-se necessário o entendimento de que uma cultura de preservação ambiental é

importante para todos, pois promove a sustentabilidade para quem vive dos recursos

da área preservada pela mata ciliar.

Mesmo em vista dos benefícios para o ambiente e para os seres vivos, o

homem, pelo próprio processo de urbanização não consegue manter a preservação

da mata ciliar, o que (MARTINS, 2004 apud FERREIRA; DIAS, 2004, p. 02)

complementa dizendo que as matas ciliares "são áreas diretamente afetadas por

construção hidrelétricas, abertura de estradas em regiões com topografia acidentada

e implantação de culturas agrícolas e de pastagem".

Também (BORGES et al., 2000) tratam desses dados, enfatizando, quando

explicam sobre o papel das matas ciliares:

As formações ciliares têm o papel de promover a estabilidade das comunidades florísticas e faunísticas em suas diferentes biotas e funciona como filtro de escoamento superficial tanto pela densidade de sua copa, como pelo material da serapilheira, recupera as nascentes garantindo água em qualidade e quantidade e melhora as condições hidrológicas do solo. (BORGES et al, 2000, p. 08)

Percebe-se que diante do exposto, pelos seus benefícios e pelas suas

funções as matas ciliares devem ser preservadas, não só pelo cumprimento de uma

legislação, mas compreendendo os danos ambientes que causa a não presença

desta na proteção hídrica.

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2 Percorrendo o passo a passo da pesquisa

A intervenção pedagógica elegeu os alunos da Educação de Jovens e

Adultos que participam dos anos finais do Ensino Fundamental do Colégio Estadual

Barão do Rio Branco – EFMP, no Município de Assaí (PR), oferecendo estudos e

discussões acerca da contribuição das matas ciliares para a conservação dos

sistemas aquáticos, como ferramenta promotora de aprendizagem, nas aulas de

Ciências, ressignificando conceitos de educação ambiental.

A presente pesquisa utilizou-se como técnica um tipo de pesquisa de campo

de observação direta, denominada de observação participante, que promove a

participação direta da pesquisadora com seus alunos, sobre o qual LAKATOS;

MARCONI (2007, p. 196) explicam que o pesquisador "se incorpora ao grupo,

confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro do grupo que está

estudando e participa das atividades normais deste".

Levando em consideração este aspecto, a pesquisa iniciou-se considerando

a importância de instrumentalizar os estudantes com conhecimentos teóricos e

práticos sobre a importância da vegetação em torno dos corpos d’água.

Diante dessa situação e dos trabalhos desenvolvidos na escola, partiu-se

para a pesquisa teórica sobre o assunto buscando referencial teórico em dados

secundários, com uma vasta bibliografia sobre o assunto, elegendo artigos e livros

de autores que tratam sobre o Meio ambiente, Educação Ambiental e mata ciliar.

Optou-se por uma abordagem qualitativa e modalidade interpretativa, pois,

como conceituam (BOGDAN; BIKLEN, 1994), uma vez que para atingir o objetivo

principal desta pesquisa, buscou-se compreender as percepções, considerações e

reflexões dos grupos sobre cada uma das atividades propostas. Dessa forma, várias

atividades foram desenvolvidas, a saber:

Tendo como primeira ação foi a socialização do projeto com a comunidade

escolar realizada na semana pedagógica em agosto, com esclarecimentos sobre o

tema e as estratégias que seriam desenvolvidas durante a implementação. A

apresentação do projeto despertou expectativa entre os professores, uma vez que o

trabalho pode enriquecer e promover mudanças na comunidade escolar trabalharia

diretamente com o problema do ecossistema aquático e vem contemplaria questões

relacionadas ao meio em que o estudante está inserido de forma participativa.

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A segunda ação foi a apresentação do projeto aos estudantes da EJA,

objetivando promover o conhecimento da proposta de estudo, como também

demonstrar sua relevância e o vínculo que mantém com as situações cotidianas

vivenciadas por eles. A percepção de que o projeto está relacionado a necessidades

diárias da vida prática instigou a curiosidade e o entusiasmo dos estudantes,

mobilizando entre os presentes a formação de um grupo para o desenvolvimento da

pesquisa.

A terceira ação foi de proporcionar discussões, questionamentos,

problematizações, interpretações dos conhecimentos trazidos pelos estudantes

sobre os principais problemas socioambientais e o entendimento que apresentam

em relação à mata ciliar, como também fazer a contextualização do tema proposto.

A contextualização do tema proposto, no intuito de integrar os estudantes às

ações que seriam desenvolvidas, partiu da visão prévia que apresentavam sobre o

meio ambiente e os problemas a ele relacionados. Para se saber sobre o

conhecimento prévio sobre o assunto utilizou-se como recurso o estudo de textos,

análise de vídeos, interpretação de música e palestra.

A quarta ação foi à visita à Estação de Tratamento para a observação de

como é feita a captação, transporte e tratamento da água distribuída à população, no

mês de setembro de 2010.

Nesta ação foi proposto que os estudantes conhecessem como é feito o

tratamento da água e como esta chega às suas casas para beber e cozinhar;

conheceram o porquê desse tratamento; como também, observaram as fases de

tratamento da água nos tanques de: floculação/decantação, filtragem e desinfecção.

Na quinta ação foram desenvolvidas visitas de campo para a observação na

região de um curso d’água com vegetação ao entorno e outro sem. A proposição das

visitas foi possibilitar ao estudante o contato direto com o local e seu entorno, onde

puderam fazer observações do mesmo em seus diferentes aspectos.

Na sexta ação promoveu-se no mês de novembro de 2010 o plantio de

mudas de árvores com os estudantes no entorno de um curso d’água.

Esta experiência prática teve como objetivo estreitar as relações com o meio

ambiente, sendo assim foi possível vivenciar que o respeito à terra, o prazer em

plantar uma árvore foi estabelecido. Constata-se que para a produção de uma

cultura ambiental que respeita seu meio ambiente é necessário partir de atitudes

simples, para que percebam a importância do trabalho, por exemplo, da

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reestruturação das matas ciliares iniciando com atitudes simples para atingir o seu

objetivo, no qual será concluído com o aprofundamento de conhecimentos

necessários à sua efetivação.

3 Apresentando os resultados da Intervenção Pedagógica

Inicialmente fez-se um diagnóstico inicial para a verificação dos

conhecimentos prévios dos estudantes sobre natureza, meio ambiente, preservação

e os principais problemas ambientais (como por exemplo: aquecimento global,

poluição, derrubada e queimadas das matas e florestas). Sendo assim, segue o

registro dos estudantes sobre os assuntos propostos, porém com reestruturação

feita pela pesquisadora para melhor compreensão:

“Enchentes, alagamentos são provocados pelo lixo jogado nas ruas”; “Destruição de matas, florestas, poluição, queimadas aumentam a temperatura do planeta”; “Natureza são os pássaros, árvores, matas, rios etc.”; “Preservar o planeta – fazer nossa parte”; “Meio ambiente – lugar onde vivemos”; “Aquecimento global – desastres naturais”; “Se não cuidar dos rios podemos ficar sem água”; “Poluição: automóveis e queimadas”; “Produtos químicos usados em casa vão parar nos rios”; "Queimadas e desmatamentos das matas e florestas – animais em extinção”; "Precisa reciclar"; "Reflorestamento – cuidar e plantar árvores”. (ESTUDANTES da EJA, 2010).

Após o registro, propôs-se uma discussão sobre qual é o entendimento que

apresentam sobre o que é a mata ciliar, seu reflorestamento e importância para os

ecossistemas aquáticos (como por exemplo: rios, lagos, nascentes, riachos,

represas, entre outros). Após a reflexão sobre o assunto, levantou-se

questionamento a respeito dos conhecimentos trazidos pelos estudantes. Sobre

essa questão foram feitos alguns comentários, que foram organizados e corrigidos

ortograficamente. Convém registrar, aqui, que nem todos os estudantes

conseguiram dar uma definição sobre o que é mata ciliar, sendo que das 35

produções feitas, 29 responderam algo sobre a mata ciliar, cinco não citaram nada e

uma não soube responder. Sendo assim, segue o registro dos estudantes sobre os

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assuntos propostos, porém com reestruturação feita pela pesquisadora para melhor

compreensão:

“Reflorestar para não secar a água”; “árvores – ar mais puro”; “mata ciliar – lei”; “mata ciliar fica na beira dos rios, lagos e represas”; “preservação dos rios para reprodução dos peixes”; matas – manter os animais”;”mata ciliar é aquela que nunca foi desmatada”;”preservar 30 metros da margem dos rios”.(ESTUDANTES da EJA, 2010).

No contexto de formação de conceitos da importância da qualidade da água

foi proporcionado aos estudantes a visita à Estação de Tratamento da água, que

possibilitou a integração da teoria estudada em sala de aula, com a prática,

momento que os estudantes da EJA puderam verificar a questão teoria-prática, tão

necessária para a apropriação dos conhecimentos.

Os estudantes durante essa visita tiveram oportunidades de observar e

registrar as explicações fornecidas por um funcionário que os acompanhou durante

toda a visita, esclarecendo sobre a forma como se dá o tratamento da água pela

SANEPAR.

Observou-se que essa atividade proporcionou o conhecimento da origem da

água que chega às casas e todo o processo pelo qual passa antes de ser utilizada

pelas pessoas. E neste sentido, percebe-se a sensibilização dos estudantes, quanto

à importância dessa substância para os seres vivos e a responsabilidade de todos

em conservá-la e economizá-la.

De acordo, com os estudos proporcionados pela intervenção pedagógica,

para se manter a qualidade dos mananciais de abastecimento, bem como do

ecossistema ali presente, faz-se imprescindível manter as matas ciliares no seu

entorno. Nesse sentido foi proporcionada aos estudantes visitas a um curso de água

na região de Assaí, como se pode observar na figura 1:

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Pode-se relatar o interesse dos estudantes pela observação, pois

registravam todas as informações recebidas, questionavam e durante todas as

visitas, estavam sempre munidos com material de anotação nas mãos.

Outro momento importante da intervenção pedagógica foi a participação dos

estudantes no plantio de mudas de árvores ao entorno de um curso d’água na

região. O trabalho de reestruturação da mata ciliar necessita de estudos com

conhecimentos específicos, o que não foi possível realizar na presente pesquisa

com os estudantes da Educação de Jovens Adultos por conta do pouco tempo dos

estudantes, que tem como característica predominante, serem trabalhadores.

Entretanto, sentiu-se a necessidade de realizar uma atividade prática, na qual os

estudantes pudessem entrar em contato com a natureza.

Esse momento da intervenção pedagógica pode ser observado na figura 2:

Fig. 1: Imagem Fotográfica. Estudantes da Educação de Jovens e Adultos do Colégio Estadual Barão do

Rio Branco - EFMP, em visita a um curso d’água na região de Assaí -PR. Fonte: Arquivo da autora, 2010.

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A participação no plantio das mudas de árvores no entorno do curso d’água,

pode-se dizer que alcançou o objetivo que era estabelecer a relação dos estudantes

com o meio ambiente, possibilitando aos estudantes conhecer e agir,

compreendendo que é possível transformar uma realidade (nesse caso, plantar

mudas de árvores onde não há vegetação).

Após o plantio, foi solicitado aos estudantes que fizessem um relatório de

como ele aconteceu, descrevessem a importância da atividade para sua vida.

Analisando os relatórios dos estudantes, relatam-se algumas afirmações:

“[...] sei que isto foi apenas um começo de muitas árvores que ainda quero plantar [...]”. “Sinto-me orgulhosa por essa atividade prática [...]”. “Foi muito bom essa experiência, foi assim uma lição de vida para mim,

Fig. 2: Imagem Fotográfica. Estudantes da Educação de Jovens e Adultos do Colégio Estadual Barão do Rio Branco - EFMP, plantando mudas de árvores no entorno de um córrego na região

de Assaí – PR. Fonte: Arquivo da autora, 2010.

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assim posso ajudar mais pessoas a fazerem o mesmo que nos fizemos hoje.’ “Esse plantio de hoje nos dá muito valor para nós que somos estudantes a gente aprende muito mais e dar valor na natureza [...]” “[...] fez com que eu não só pensasse, mas também tomar algumas atitude para ajudar o meio ambiente.” (ESTUDANTES da EJA, 2010).

Pelos fragmentos de falas dos estudantes percebem-se falas significativas,

sobre a aprendizagem focada na intervenção pedagógica, além do aspecto de

participar desse momento de prática social, tanto das visitas quanto de pôr a mão na

terra e nas mudas das árvores plantadas, como um gesto de realização pessoal e de

compromisso com o meio ambiente, não somente nesse momento histórico, mas de

uma lição para suas vidas.

No final da intervenção pedagógica, foi elaborado o diagnóstico final sobre a

conclusão do projeto. Os estudantes relataram a experiência de ter participado deste

estudo, como também fizeram comentários das atividades desenvolvidas e o que

isso acrescentou para melhoria da sua visão sobre o Meio Ambiente que se registra

a seguir com a escrita, sem nenhuma correção, idêntica ao que os estudantes

fizeram:

“Devemos preservar a mata ciliar porque ela protege da erosão, do desbarrancamento.” “Antes do estudo do projeto não entendia porque tanta vegetação nas margens dos rios”. “Na visita do rio com mata ciliar, senti a diferença do ar, mais fresco e agradável, o solo úmido e coberto de folhas dando vida aos microorganismos”. “Bem eu posso dizer que hoje eu me preocupo bem mais com o meio ambiente aprendi muito com as palestras e com as visitas que fizemos pelas matas rios e riachos”. “[...] conheci os tanques por onde passa a água que também é armazenada e tratada, os produtos usados para combater as impurezas para que seja uma água limpa e saudável [...]” “[...] sem cobertura de árvores, as tempestades, as chuvas que cai transbordam e faz erosão” “A mata ciliar tem muita importância no nosso meio, e no meio ambiente em que vivemos ajuda controlar a temperatura do ar e controlar o clima”. (ESTUDANTES da EJA, 2010).

Percebeu-se, diante dos relatos, que o mais significativo para os estudantes

foi às saídas a campo, onde puderam entrar em contato com lugares da região em

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que vivem e observarem, diretamente, as características locais confrontando com o

que estudaram na teoria, isto é, a teoria e a prática, conforme relatado pelos

estudantes. Também, verbalizavam a todo o momento que adquiriram muitos

conhecimentos e de que houve uma mudança na percepção de como deve ser a

relação do homem com o meio ambiente em que vivem.

4 Conclusão

As discussões fomentadas sobre as questões ambientais e a importância da

mata ciliar possibilitaram aos estudantes da EJA a interação de seus conhecimentos

da vida cotidiana, em relação as suas relações sociais e com o meio, dos principais

problemas socioambientais e o entendimento que apresentam sobre a importância

da água na qualidade de vida das pessoas, assim como da recuperação ciliar dos

ambientes aquáticos, agregando a teoria e relacionando-a com a realidade local.

O que se pode concluir é que todas as ações propostas, no projeto de

intervenção, aconteceram como previsto e de que todos os momentos foram

gratificantes e enriquecedores, tanto para a pesquisadora quanto para os

estudantes, diante dos estudos apresentados, das falas ditas, do entusiasmo nas

atividades, do desempenho nas práticas e nas visitas.

Em vista dos procedimentos pedagógicos aplicados, os estudantes de EJA,

enquanto pessoas que trabalham o dia todo e estudam no período noturno, se

dispuseram a participar do projeto, inclusive aos finais de semana, o que de fato

comprova que ações bem planejadas e que sejam do interesse do estudante

provocam uma participação mais efetiva de todos nas atividades.

Considerando a educação ambiental como relevante, destaca-se a

importância da contextualização, relacionando o conhecimento teórico às práticas

cotidianas, isto é a práxis, na discussão dos problemas concretos e visíveis ou não,

em busca de soluções possíveis na resolução de problemas como os recursos

hídricos, assim como com o meio ambiente.

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