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CURSO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA LICENCIATURA EM BIOLOGIA FRANCIELE PEREIRA NUNES CONTROLE DO MOSQUITO Aedes aegypti E FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS: POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DE TEMAS DE BIOLOGIA PARA ENSINO MÉDIO NUM CONTEXTO REGIONAL CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ 2015,1

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CURSO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA – LICENCIATURA EM BIOLOGIA

FRANCIELE PEREIRA NUNES

CONTROLE DO MOSQUITO Aedes aegypti E FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS:

POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DE TEMAS DE BIOLOGIA PARA ENSINO

MÉDIO NUM CONTEXTO REGIONAL

CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ

2015,1

FRANCIELE PEREIRA NUNES

CONTROLE DO MOSQUITO Aedes aegypti E FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS:

POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DE TEMAS DE BIOLOGIA PARA ENSINO MÉDIO

NUM CONTEXTO REGIONAL

Monografia apresentada ao Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia Fluminense, Câmpus Campos-

Centro, como requisito parcial para conclusão do curso de

Ciências da Natureza - Licenciatura em Biologia.

Orientadora: Drạ Desiely Silva Gusmão Taouil

CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ

2015,1

FRANCIELE PEREIRA NUNES

CONTROLE DO MOSQUITO Aedes aegypti E FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS:

POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DE TEMAS DE BIOLOGIA PARA ENSINO MÉDIO

NUM CONTEXTO REGIONAL

Monografia apresentada ao Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia Fluminense, Câmpus Campos-

Centro, como requisito parcial para conclusão do curso de

Ciências da Natureza - Licenciatura em Biologia.

Aprovada em 16 de dezembro de 2015

Banca avaliadora:

.................................................................................................................................................

Profạ Desiely Silva Gusmão Taouil (orientadora)

Doutora em Biociências e Biotecnologia/UENF

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

..................................................................................................................................................

Profạ Luciana Belarmindo da Silva

Doutora em Biociências e Biotecnologia/UENF

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

.................................................................................................................................................

Profọ Rodrigo Maciel Lima

Doutor em Biociências e Biotecnologia/UENF

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

Dedico a todos os meus familiares, pois é a

família que me impulsiona e me dá forças para

seguir em frente.

Em especial aos meus pais Maria Sônia e José

Francisco, exemplos de vida, que me apóiam

em minhas decisões.

Aos meus irmãos Francistilandio, Greison e

Gleice por todos os momentos que já

passamos juntos.

Ao meu sobrinho Pedro Henrique, que me faz

acreditar que dias melhores virão.

Ao meu esposo Otoniel, por todo apoio e

incentivo, que me faz cada dia mais buscar

meus objetivos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por me conceder a vida e me permitir tudo isto.

A todos os professores do Curso de Ciências da Natureza e aos colegas do Instituto Federal

Fluminense, por fazerem parte desta etapa de minha vida.

À minha orientadora Desiely Silva Gusmão Taouil.

O país já registrou, este ano, quase o triplo do

número de casos de dengue em comparação ao

ano passado.

Folha de São Paulo, 25 de fevereiro de 2013.

RESUMO

O Aedes aegypti é o principal vetor da dengue, febre amarela, febre chikungunya e febre zika.

A febre amarela está controlada no Brasil, inclusive existindo vacina para imunizar as pessoas

contra essa doença. No que se refere à dengue, porém, o número de casos da doença cresce a

cada ano, sendo considerada um problema mundial de saúde. Este vetor também é transmissor

da febre chikungunya, que tem apresentado números crescentes de casos no Brasil e no

mundo. O vírus que transmite a dengue apresenta cinco sorotipos diferentes Den-1, Den-2,

Den-3, Den-4 e Den-5, o que vem dificultando a produção de vacinas contra a doença. Para a

febre chikungunya também não há vacina preventiva. Este cenário desafia pesquisadores de

diversas áreas a buscarem formas de minimizarem os casos dessas doenças no mundo.

Campanhas são feitas com o objetivo de alertarem a população para o controle do Ae. aegypti

nas residências. Este trabalho está associado aos controles mecânico, legal, químico e

biológico. O controle biológico consiste no uso de organismos que já existem na natureza

reduzindo o número de mosquitos, como por exemplo, helmintos, protozoários, bactérias e

fungos. Os fungos entomopatogênicos são importantes organismos que já vêm sendo testados

e estudados contra as larvas do Ae. aegypti; devido à eficiência apresentada, têm despertando

o interesse neste tipo de controle, já que este possui várias vantagens em relação aos outros

meios de controle. Como Campos dos Goytacazes é uma cidade endêmica em dengue, este

trabalho apresenta um ensaio utilizando exposição de larvas de Ae. aegypti a fungos obtidos

em restingas para avaliação de patogenicidade. A experiência científica mostrou que o tema

fungos entomopatogênicos parece ter um grande potencial como agente contextualizador em

aulas de Biologia do Ensino Médio abordando biodiversidade, ecossistemas, fungos e seu

desenvolvimento, relações entre espécies, preservação de habitats, insetos, etc., além de poder

incentivar alunos no campo da pesquisa e permitir que o mesmo possa interligar as

necessidades da sociedade ao aprendizado.

Palavras chave: Doenças. Aedes aegypti. Fungos entomopatogênicos. Contextualização.

Educação.

ABSTRACT

Aedes aegypti is the main vector of dengue, yellow fever, chikungunya fever and zika fever.

Yellow fever is under control in Brazil, including existing vaccine to immunize people against

this disease. As regards to dengue, however, the number of cases of disease is growing every

year, and is considered a world health problem. This vector also transmits chikungunya fever,

which has brought increasing numbers of cases in Brazil and worldwide. The dengue virus

that transmits presents five different serotypes Den-1, Den-2, Den-3, and Den-4 Den-5, which

has hindered the production of vaccines against the disease. For chikungunya fever also there

is no preventive vaccine. This scenario challenges researchers from different areas to seek

ways to minimize the cases of these diseases in the world. Campaigns are performed with the

aim to warn the population for the control of Ae. aegypti in homes. This work is associated

with mechanical controls, cool, chemical and biological. Biological control is the use of

organisms that already exist in nature reducing the number of mosquitoes, such as helminths,

protozoa, bacteria and fungi. The entomopathogenic fungi are important organisms that are

already being tested and studied against the larvae of Ae. aegypti; due to the presented

efficiency, they have raised the interest in this type of control, as this has several advantages

over other means of control. As Campos dos Goytacazes is an endemic dengue in the city, this

paper presents a test using exposure Ae. aegypti to fungi obtained from salt marshes to assess

pathogenicity. Scientific Experience has shown that the subject entomopathogenic fungi

seems to have great potential as contextualizing agent in high school biology classes

addressing biodiversity, ecosystems, fungi and development, relationships between species,

preservation of habitats, insects, etc., in addition to encourage students in research and allow

it to link the needs of society to learning.

Keywords: Diseases. Aedes aegypti. Entomopathogenic fungi. Contextualization. Education.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Ciclo de vida do Ae. aegypti................................................................................

Figura 2: Ovos do Ae. aegypti.............................................................................................

Figura 3: A) organização corporal da larva; B) morfologia externa da larva.....................

Figura 4: As larvas do Ae. Aegypti têm fotofobia...............................................................

Figura 5: A) Esquema mostrando a organização corporal da pupa; B) Aspecto externo

da pupa.................................................................................................................................

Figura 6: Ae. aegypti adulto mostrando o desenho em forma de lira no tórax...................

Figura 7: Diferença entre o Ae. aegypti macho e fêmea.....................................................

Figura 8: Casos suspeitos de dengue em 2013....................................................................

Figura 9: Evolução do número de Ecopontos no Brasil de 2004 a 2013............................

Figura 10: Uso de capas para vedação de depósitos de água..............................................

Figura 11: Ae. aegypti infectado com (A) Metarhizium anisopliae e (B) Beauveria

bassiana..............................................................................................................

Figura 12: Coleta dos insetos mortos em Iquiparí..............................................................

Figura 13: Restinga de Iquiparí...........................................................................................

Figura 14: Dessecador utilizado para criar condição úmida para o desenvolvimento dos

fungos nos cadáveres dos insetos. A, dessecador aberto forrado com algodão embebido

com água esterilizada; B, Uma peneira foi utilizada como suporte para as placas

contendo os insetos; C, dessecador mantido fechado por 15 dias até o desenvolvimento

dos fungos na superfície dos insetos....................................................................................

Figura 15: Tubo de centrífuga contendo larvas e suspensão de fungos obtida a partir dos

insetos...................................................................................................................................

Figura 16: Pupas e mosquitos mortos do grupo controle. Nenhum sinal de crescimento

microbiano foi verificado.....................................................................................................

Figura 17: Besouro (F2) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, pupas mortas sem sinal de desenvolvimento de fungos..........................

Figura 18: Besouro (F3) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, D e E, pupas e fragmentos de mosquitos adultos mortos sem sinal

desenvolvimento de fungos..................................................................................................

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Figura 19: Besouro (F4) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, pupa seca mostrando esporos brancos na sua superfície; D, pupa

morta sem sinal de desenvolvimento de fungos...................................................................

Figura 20: Besouro (F5) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. Não houve registro de mortalidade..............................................................

Figura 21: Besouro (F6) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. Em B, vêem-se corpos de frutificação na superfície do besouro. C e D,

adultos e larva mortos sem sinal de desenvolvimento de fungos.........................................

Figura 22: Besouro (F7) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, larva morta sem sinal de desenvolvimento de fungos, mas envolvida

por cobertura viscosa............................................................................................................

Figura 23: Besouro (G8) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, larva e adultos mortos, sendo que a partir de um deles foi verificada

esporulação...........................................................................................................................

Figura 24: Besouro (G9) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. Não houve registro de mortalidade..............................................................

Figura 25: Besouro (G10) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, pupa morta sem sinal de desenvolvimento de fungos.............................

Figura 26: Besouro (G11) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. Em B, vê-se a presença de corpos de frutificação na superfície do

besouro. C, mosquito adulto sem sinal de desenvolvimento de fungos...............................

Figura 27: Vespa (G12) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C e D, pupa e adulto mortos sem sinal de desenvolvimento de

fungos...................................................................................................................................

Figura 28: Vespa (G13) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. Não houve registro de mortalidade..............................................................

Figura 29: Formiga (G14) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, Adultos e pupas sem sinal de desenvolvimento de fungos, mas

envolvidos com cobertura viscosa.......................................................................................

Figura 30: Besouro (G15) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C e E, larvas mortas sem sinal de desenvolvimento de fungos; D, adultos

com sinal de desenvolvimento de fungos; F, pupa envolvida com cobertura viscosa e

com pontos de crescimento de fungo na cobertura e não associado a mesma.....................

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Figura 31: Besouro (G16) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, D e E, adulto e pupas mortas sem sinal de desenvolvimento de

fungos...................................................................................................................................

Figura 32: Vespa (G17) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C e D, larva e adultos apresentando esporos superficiais; E, adultos sem

desenvolvimento de fungo; F, larva envolvida por cobertura viscosa com fungos

desenvolvidos na cobertura e não associados a mesma; G, larva envolvida por cobertura

viscosa sem sinal de desenvolvimento de fungos................................................................

Figura 33: Besouro (G18) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, larva morta envolvida por cobertura viscosa..........................................

Figura 34: Abdômen e tórax parcial de formiga (G19) antes (A) e depois (B) do

desenvolvimento de fungos na câmara úmida. C e D, pupas e adultos mortos sem sinal

de desenvolvimento de fungos.............................................................................................

Figura 35. Besouro (G21) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. A seta em A indica fungo cobrindo parte do besouro, Em B, nota-se que

não houve aumento da cobertura pelo fungo e sim consumo do mesmo por

microrganismos presentes no inseto. C, larva coberta com esporos da mesma cor do

fungo apontado em A...........................................................................................................

Figura 36: Homoptera: membracídeo “soldadinho” (G22) antes (A) e depois (B) do

desenvolvimento de fungos na câmara úmida. Não houve registro de mortalidade............

Figura 37: Insetos antes e depois da transferência para a câmara úmida. A. Besouro; B,

Besouro coberto por corpos de frutificação (seta) formados em condição úmida

favorável ao desenvolvimento do fungo; C, Vespa antes do desenvolvimento do fungo;

D, Vespa coberta por micélio e esporos brancos produzidos na câmara

úmida....................................................................................................................................

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Fungos entomopatogênicos utilizados no Brasil para controle de pragas...........

Tabela 2: Mortalidade de larvas, pupas e mosquitos adultos gerada pela exposição aos

fungos crescidos sobre insetos.............................................................................................

Tabela 3: Características das ordens dos insetos coletados.................................................

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................

2 Aedes aegypti E TRANSMISSÃO DE DOENÇAS........................................................

2.1 Ciclo de vida..................................................................................................................

2.2 Biologia do Ae. aegypti..................................................................................................

2.3 Doenças transmitidas....................................................................................................

3 PREVENÇÃO E CONTROLE DO Ae. aegypti ...........................................................

3.1 Prevenção do Ae. aegypti .............................................................................................

3.2 Controle Ae. aegypti .....................................................................................................

3.3 Métodos de controle rotineiro......................................................................................

3.3.1 Controle mecânico.......................................................................................................

3.3.2 Controle legal...............................................................................................................

3.3.3 Controle químico.........................................................................................................

3.3.4 Controle biológico ......................................................................................................

3.4 Fungos entomopatogênicos..........................................................................................

4 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS...............................................................................

4.1 Coleta de insetos............................................................................................................

4.1.1 Área de estudo..............................................................................................................

4.2 Crescimento de fungos em insetos...............................................................................

4.3 Exposição de larvas de Ae. aegypti aos fungos............................................................

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................................

5.1 – Testes de fungos sobre o mosquito Ae. aegypti........................................................

5.2 –Fungos entomopatogênicos e ensino de Biologia......................................................

5.2.1 – Reflexão sobre alguns desafios para se promover o ensino de Biologia..................

5.2.2 – Roteiro para utilização do tema “fungo entomopatogênicos” em aula de Biologia

do Ensino Médio...................................................................................................................

Considerações finais............................................................................................................

Referências...........................................................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

A cada ano cresce o número de casos de dengue, embora campanhas de

conscientização da população e uso de inseticidas contra as fases larval e adulta do mosquito

sejam realizadas visando o controle dessa doença. Nesta pesquisa será abordado o controle

biológico de larvas de Aedes aegypti, através do uso de fungos entomopatogênicos coletados

em restingas do Norte Fluminense.

A dengue é causada por um vírus da família Flaviviridae que se apresenta na forma de

cinco sorotipos DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4 e DEN-5. A transmissão da dengue ocorre

através da picada de fêmeas de Ae. aegypti infectadas com o vírus (TAUIL, 2001, p. 100;

FIOCRUZ, 2013b, [s.p.]).

Outra doença transmitida por esse mesmo vetor é a febre amarela, que apresenta dois

ciclos epidemiológicos de acordo com o local de ocorrência e a espécie de vetor (mosquito

transmissor): urbano e silvestre. Para prevenir esta doença existe vacina (PELCZAR, 2011, p.

265).

Alguns estudos sobre a utilização de fungos entomopatogênicos no controle do Ae.

aegypti já vem sendo realizados. Segundo Silva, o fungo Metarhizium anisopliae mostrou

eficiência de 100% de mortalidade sobre larvas de Ae. aegypti de 2ọ instar (SILVA et al.,

2004 apud LELES, 2009, p. 15).

Os fungos são organismos heterótrofos. Algumas espécies se alimentam de matéria

orgânica morta; outras são parasitas, e existem ainda algumas espécies simbiontes

mutualísticas (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2011, p. 280). O reino Fungi apresenta uma

grande diversidade de espécies, que são importantes tanto na natureza como nas indústrias

sendo fonte de matéria prima para muitos produtos. Nas indústrias algumas espécies são

utilizadas na fabricação de antibióticos, vinhos, cervejas, vitaminas, etc. Outras espécies são

utilizadas no controle biológico de pragas; estes são os chamados fungos entomopatogênicos,

que infectam e matam insetos.

Muitas pragas de agricultura e insetos vetores têm sido controladas com sucesso

através da aplicação de fungos entomopatogênicos. O uso desse tipo de fungo tem crescido

nos últimos anos devido às suas vantagens em relação aos pesticidas, entre estas estão a não

poluição do ambiente, a especificidade dos isolados às espécies de insetos, não oferecendo

riscos aos seres humanos, animais ou plantas; outra característica considerada é a incidência

reduzida da resistência do inseto.

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O controle biológico por meio de fungos entomopatogênicos vem crescendo no Brasil

pelas vantagens apresentadas. Portanto, será necessário que as biofábricas invistam mais, a

fim de melhorar a qualidade desses produtos e de suprir as demandas do setor.

Visto que várias espécies de fungos estão sendo utilizadas no controle de pragas de

lavouras e existem fungos com ação sobre o Ae. aegypti, estudos nesta área se mostram

promissores. A proposta desta monografia visa utilizar o controle de mosquitos Ae. aegypti

por meio do uso de fungos entomopatogênicos para promover uma reflexão sobre demandas

da sociedade e abordagem de conteúdos na sala de aula. Portanto, os objetivos específicos

serão desenvolver uma metodologia simples para coleta e teste de fungos, apresentar um

roteiro para aula teórico-prática contextualizada que possa integrar diferentes conteúdos de

Biologia e por último apresentar embasamento teórico baseado em alguns autores sobre a

necessidade do conteúdo oferecido nas escolas estar associado à realidade em que vive o

aluno.

O município de Campos dos Goytacazes é considerado área endêmica de dengue. Por

isso torna-se interessante a utilização desta pesquisa em escolas, como forma de promover a

contextualização de conteúdos específicos de Biologia, abordados em salas de aulas da região.

Dentre os conteúdos específicos estão as características dos fungos e suas funções nos

ecossistemas, relações interespecíficas, controle de populações, etc. Como afirmam os

Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio:

O conhecimento de Biologia deve subsidiar o julgamento de questões polêmicas,

que dizem respeito ao desenvolvimento, ao aproveitamento de recursos naturais e à

utilização de tecnologias que implicam intensa intervenção física no ambiente, cuja

avaliação deve levar em conta a dinâmica dos ecossistemas, dos organismos, enfim,

o modo como à natureza se comporta e a vida se processa (BRASIL, 2002, p. 219).

Portanto, o projeto se embasou nos PCNs ao pensar a formação de um professor capaz

de auxiliar seus alunos na compreensão da relação entre conteúdos de Biologia e demandas

reais da sociedade, favorecendo uma aprendizagem mais significativa. Portanto, acredita-se

que o futuro professor precisa aprender e desenvolver a habilidade de contextualizar o

conteúdo a ser trabalhado em sala de aula. Desta forma, cumprirá, durante sua vida

profissional, o objetivo geral da educação que é despertar a curiosidade e a vontade de

aprender do aluno (BRASIL, 2002, p. 221).

O capítulo 2 aborda o tema Aedes aegypti e transmissão de doenças, relatando

resumidamente o ciclo de vida do mosquito, sua biologia e as doenças transmitidas. Já o

capítulo 3 traz uma discussão sobre a prevenção e o controle do Ae. aegypti. No capítulo 4 são

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apresentados os métodos e procedimentos para realização dos experimentos. Os resultados e a

discussão são expostos no capítulo 5, em seguida as considerações finais dessa pesquisa

foram relatadas.

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2 Aedes aegypti E TRANSMISSÃO DE DOENÇAS

O Ae. aegypti é originário da África e se espalhou para outros países através dos

navios negreiros. Este mosquito quando infectado por patógenos pode transmitir doenças

(FIOCRUZ, 2013c, s.p.).

O Ministério da Saúde afirma que

Os primeiros registros de dengue no mundo foram feitos no fim do século 18, na ilha

de Java, no Sudoeste Asiático, e na Filadélfia, Estados Unidos. Somente no século

20, a dengue foi reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde.

(BRASIL, 2009b, p. 7).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que atualmente cerca de

2,5 bilhões de pessoas correm risco de contrair dengue; esse número corresponde a 2/5 da

população mundial. E que, a cada ano, 50 milhões de casos da doença ocorram; desses casos,

550 mil precisam ser hospitalizados e 20 mil acabam indo a óbito (BRASIL, 2009a, p 11). O

Ministério da Saúde relata que

Nas ultimas duas décadas, a incidência de dengue nas Américas tem apresentado

uma tendência ascendente, com mais de 30 países informando casos da doença, a

despeito dos numerosos programas de erradicação ou controle que foram

implementados. Os picos epidêmicos têm sido cada vez maiores, em períodos que se

repetem a cada 3-5 anos, quase de maneira regular. Entre 2001 e 2005, foram

notificados 2.879.926 casos de dengue na região, sendo 65.235 de dengue

hemorrágica, com 789 óbitos. As maiores incidências nesse período foram

reportadas pelo Brasil, Colômbia, Venezuela, Costa Rica e Honduras (82% do total)

(BRASIL, 2009a, p. 11).

Os primeiros casos de dengue no Brasil são relatados no fim do século XIX, porém no

início do século XX a grande preocupação era em relação à transmissão da febre amarela. As

medidas de controle aplicadas contra a febre amarela erradicaram em 1955 o Ae. aegypti do

Brasil. Porém, após cinco anos, o mosquito foi reintroduzido. Isso ocorreu devido a não

continuação das medidas preventivas, o que levou à disseminação por todo o território

brasileiro e, atualmente, cresce os números de pessoas infectadas pela dengue (FIOCRUZ,

2013c, s.p.).

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Em relação aos casos de dengue no Brasil o Ministério da Saúde afirma que

A primeira ocorrência do vírus no país, documentada clínica e laboratorialmente,

aconteceu em 1981-1982, em Boa Vista (RR), causada pelos vírus DENV-1 e

DENV-4. Anos depois, em 1986, houve epidemias no Rio de Janeiro e em algumas

capitais do Nordeste. Desde então, a dengue vem ocorrendo no Brasil de forma

continuada (FIOCRUZ, 2013c, s.p.).

Por esta razão, medidas de prevenção e de controle deste vetor são importantes para

diminuir os casos da doença. Se estas medidas ocorrerem de forma contínua e com a

participação de toda a população, poderão levar novamente à erradicação do Ae. aegypti no

Brasil.

As primeiras medidas de controle só foram possíveis porque o pesquisador Antonio

Gonçalves Peryassú descreveu características relacionadas ao ciclo de vida e à biologia do

mosquito, informações que até hoje são de extrema importância no controle deste vetor

(FIOCRUZ, 2013c, s.p.).

2.1 Ciclo de vida

O ciclo de vida do Ae. aegypti é constituído por quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto

(FIGURA 1), por meio das quais desenvolve, assim, a metamorfose completa (FUNASA,

2001, p. 11). Segundo a Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN), as fases de

ovo, larva e pupa ocorrem na água, enquanto a fase adulta é terrestre (SUCEN, 2010 apud

BRAGA; MANHÃES, 2010, p. 35).

Fonte: WHO–Communicable Diseases (CDS). Disponível em: <http://www.who.int/entity/water_sanit

ation_health> (adaptado) apud ALBERNAZ, 2008, p. 11.

Figura1: Ciclo de vida do Ae. aegypti

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Medindo cerca de 1 mm de comprimento e possuindo contorno alongado e fusiforme,

os ovos do Ae. aegypti são depositados pela fêmea, na parte interna de recipientes acima da

superfície da água. A fêmea põe seus ovos individualmente. Assim que ocorre a postura, os

ovos possuem cor branca, mas, logo em seguida, apresentam a cor negra brilhante (FUNASA,

2001, p. 11) (Figura 2).

Segundo o Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul, em

orientações sobre a Bioecologia do Ae. aegypti

A formação do embrião (embriogênese) varia de quatro a sete dias, podendo ser

prolongado se as condições externas forem prejudiciais. Uma fêmea pode produzir,

em média, 120 ovos, mas como há uma grande mortalidade em condições naturais,

as posturas reduzem consideravelmente (RIO GRANDE DO SUL, 2007, p. 1).

Os ovos apresentam grande capacidade de resistência ao ressecamento, podendo ficar,

segundo estudos, até 450 dias sem entrar em contato com água. Essa característica se mantém

15h após a postura (FIOCRUZ, 2013a, s.p.). Por este motivo, há uma grande preocupação em

eliminar os criadouros ao logo de todo o ano, principalmente no verão, período quente em que

ocorrem as chuvas. Mediante condições favoráveis de temperatura e umidade, o embrião se

desenvolve em 48h após a postura (FUNASA, 2001, p. 12).

Fonte: VIEIRA apud FIOCRUZ, 2013b, s.p. Disponível em: <http://www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/

oportunista.html>. Acesso em: 20 ago. 2014.

Figura 2: Ovos do Ae. aegypti

Como os ovos são depositados na superfície da água, assim que chove, o nível da água

se eleva e os ovos eclodem rapidamente, em questão de minutos, originando as larvas

(FIOCRUZ, 2013a, s.p.).

É na fase de larva que ocorrem a alimentação e o crescimento. A alimentação provém

do material orgânico encontrado nos criadouros. A temperatura, a quantidade de alimento e de

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larvas no criadouro determinam a duração desta fase (FUNASA, 2001, p. 12). O Centro

Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul afirma que

[...] em linhas gerais o período de desenvolvimento larval é de oito a dez dias e a

faixa de temperatura favorável (máximo de desenvolvimento com a mínima

mortalidade) é aquela entre 14ºC e 30°C. Abaixo da temperatura mínima podem

entrar em diapausa e geralmente não resistem ao congelamento. Embora vivam em

meio aquático, as larvas estão sujeitas às variações térmicas do ambiente,

principalmente aquelas que se desenvolvem em pequenas coleções hídricas (RIO

GRANDE DO SUL, 2007, p. 2).

Quanto à organização corporal, a larva é dividida em cabeça, tórax e abdômen

(apresenta 8 segmentos) como pode ser observado na Figura 3 (FUNASA, 2001, p. 12).

Fonte: A) FUNASA, 2001, p. 12 (adaptado); B) BRASIL, 2012, p. 23.

Figura 3: A) organização corporal da larva; B) morfologia externa da larva

No abdômen encontram-se as brânquias que são responsáveis pela regulação osmótica

e o sifão por onde as larvas respiram. A respiração das larvas ocorre na superfície da água em

posição quase vertical, se houver movimentos bruscos na água ou incidência de luz as larvas

rapidamente se deslocam em forma de S para o fundo dos criadouros, pois possuem fotofobia,

como apresentado na Figura 4 (FUNASA, 2001, p. 12).

20

Fonte: BRITO apud FIOCRUZ, 2008. Disponível em: <http://www.fiocruz.br /ioc/cgi /cgilua.exe/sys/st

art.htm?infoid=570&sid=32>. Acesso em: 20 ago. 2014.

Figura 4: As larvas do Ae. Aegypti têm fotofobia

As larvas são classificadas, em relação ao crescimento, em quatro estágios larvais. Em

condições favoráveis, o tempo de duração dos quatro estágios larvais é de cinco a dez dias

(SUCEN, 2010 apud BRAGA; MANHÃES, 2010, p. 40).

Para passar de um estágio larval para o outro é preciso que ocorra o desprendimento

do exoesqueleto em um processo denominado de muda, no qual a cápsula cefálica e o tórax

do exoesqueleto se abrem e a larva sai com um novo exoesqueleto, o que permite o seu

crescimento (SUCEN, 2010 apud BRAGA; MANHÃES, 2010, p. 41).

Após os quatros estágios larvais ocorre à fase de pupa que dura de dois a três dias. É

nesta fase que ocorre a transição do estágio larval para o adulto. Não é necessário que a pupa

se alimente nesse período. Com o corpo dividido em cefalotórax (cabeça e tórax unidos) e

abdômen, a pupa lembra o formato de uma vírgula (Figura 5). As pupas respiram através de

trombetas localizadas na cabeça (FUNASA, 2001, s.p.). É na região do cefalotórax que o

mosquito adulto emerge aos poucos até atingir a superfície da água, ficando por um

determinado tempo para que consiga sair totalmente do exoesqueleto (SUCEN, 2010 apud

BRAGA, MANHÃES, 2010, p. 42).

21

Fonte: A) FUNASA, 2001, p. 13 (adaptado); B) BRASIL, 2008, p. 24.

Figura 5: A) Esquema mostrando a organização corporal da pupa; B) Aspecto

externo da pupa

No período que antecede à emergência do adulto, as pupas mudam de cor ficando mais

escuras (CONSOLI, OLIVEIRA apud BRAGA; MANHÃES, 2010, p. 42). O mosquito ao

emergir da pupa, na fase adulta, fica, ainda por algumas horas, nas paredes do criadouro, até

que o seu exoesqueleto e asas estejam totalmente endurecidos. É na fase adulta que ocorre a

reprodução, momento importante para dispersão (FUNASA, 2001, p. 13). O Centro Estadual

de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul aborda algumas informações importantes na

fase adulta do mosquito:

[...] de maneira geral, a longevidade de mosquitos adultos em regiões temperadas é

de cerca de um mês. Já em zonas tropicais esse período pode ser de duas ou três

semanas. Assim como os ovos e as larvas, podem entrar em diapausa. Dessa forma,

conseguem resistir a períodos desfavoráveis. O momento de maior risco natural às

formas adultas é durante a emergência (saída da pupa). Nesta etapa, flutuando sobre

a exúvia da pupa (“pele morta”) necessitam de repouso temporário para fixação da

cor e endurecimento tegumentar. O cair da chuva e a movimentação da água podem

ser fatais. Logo após o endurecimento do exoesqueleto as fêmeas podem ser

fertilizadas e acredita-se que a cópula deve preceder a hematofagia (RIO GRANDE

DO SUL, 2007, p. 2).

Após 24 horas da emersão do mosquito, os órgãos reprodutivos estão totalmente

prontos e tanto o macho quanto a fêmea já podem acasalar. Em apenas uma inseminação

ocorre a fecundação de todos os ovos que a fêmea irá depositar enquanto viver (FUNASA,

2001, p. 13).

22

2.2 Biologia do Ae. aegypti

O Ae. aegypti é um mosquito urbano pertencente ao filo Arthropoda. Uma das

características marcantes deste filo é a presença de pés articulados. De acordo com a

quantidades de pares de patas é classificado como sendo da Classe Hexapoda. Em relação ao

par de asas é da ordem Diptera, sua família é Culicidae e seu gênero é o Aedes. Está é uma

espécie de regiões tropicais e subtropicais, sendo encontrada em todo o mundo (FUNASA,

2001, p. 11). Como afirma Ilma Aparecida Braga e Denise Valle

A espécie Ae. aegypti tem distribuição mundial. Encontra-se, em geral, entre as

latitudes 35° Norte e 35° Sul, que correspondem à isoterma de inverno de 10°C. A

distribuição desse mosquito também é restrita à altitude. Embora a espécie não seja

normalmente encontrada em zonas acima de 1.000 metros de altitude, sua presença

já foi detectada a alturas de mais de 2.000 metros, na Índia e na Colômbia (BRAGA;

VALLE, 2007, p. 280).

O tamanho do Ae. aegypti adulto é de 5mm e possui o corpo segmentado. No

exoesqueleto recoberto de quitina predomina a coloração amarronzada, mas nas pernas

apresenta manchas brancas e os segmentos tarsais são listrados de cor branco/prateado. Outra

característica marcante é o desenho em forma de lira no tórax (Figura 6) (BRASIL, 2008, p.

25 apud CANTIONÍLIO, SILVA, 2013, p. 33).

Fonte: PINHEIRO. Disponível em: <http://www.mdsaude.com/2012/04/fotos-mosquito-dengue.html>.

Acesso em: 20 ago. 2014.

Figura 6: Ae. aegypti adulto mostrando o desenho em forma de lira no tórax

23

O que diferencia macroscopicamente o macho da fêmea é a presença de antenas

plumosas e palpos mais longos (Figura 7). A alimentação do macho é composta somente de

carboidratos extraídos de vegetais, enquanto a fêmea além dos carboidratos também se

alimenta de sangue de animais vertebrados, preferindo o sangue do homem (antropofilia). A

alimentação ocorre principalmente pela manhã e ao anoitecer. A fêmea, após se alimentar do

sangue, normalmente realiza uma postura. O sangue garante as proteínas necessárias para o

desenvolvimento dos ovos (FUNASA, 2001, p. 13-14).

Fonte: PINHEIRO. Disponível em: <http://www.mdsaude.com/2012/04/fotos-mosquito-dengue.html>.

Acesso em: 20 ago. 2014.

Figura 7: Diferença entre o Ae. aegypti macho e fêmea

2.3 Doenças transmitidas

A febre amarela, a dengue, febre Chicungunya e febre zika são doenças transmitidas

pela picada da fêmea de Ae. aegypti contaminada por vírus. Estas doenças apresentam

importância mundial.

O vírus CHIKV causador da febre Chikungunya, é um vírus RNA pertencente ao

gênero Alphavírus da família Togaviridae (BRASIL, 2014, p. 7).

Já os vírus que causam a febre amarela, a dengue e a febre zika pertencem ao gênero

Flavivírus da família Flaviviridae (PELCZAR, 2011, p. 265). As características desses vírus

são abordadas por Pelczar, como citado a seguir:

Possui 38 ƞm de diâmetro e tem capsídio icosaédrico de 25 a 30 ƞm de diâmetro,

que envolve um RNA de fita única e é circundado por um envelope lipídico

compacto. O vírus tem a capacidade de multiplicar-se nos tecidos de vários

mosquitos, como também nos tecidos humanos e macacos (PELCZAR, 2011, p.

265).

24

A transmissão do vírus da febre amarela pode acontecer de duas formas: pelo ciclo

urbano ou pelo ciclo silvestre. No ciclo urbano, o mosquito Ae. aegypti, após picar uma

pessoa infectada com o vírus, pode transmitir a doença a uma pessoa sadia. Para que o

mosquito consiga transmitir a doença, o vírus precisa multiplicar-se no tecido intestinal

levando em torno de 10 a 15 dias. Após esses dias os vírus já se encontram nas glândulas

salivares de onde já podem ser transmitidos a outras pessoas. No ciclo silvestre a transmissão

se dá pelo Haemaggus sp (PELCZAR, 2011, p. 265). Essa doença pode ser encontrada na

África e nas Américas Central e do Sul (FUNASA, 2001, p. 8).

Para prevenir a febre amarela, as pessoas que moram ou vão viajar para áreas onde

existem casos da doença podem tomar a vacina, que é feita com o vírus atenuado (PELCZAR,

2011, p. 267). Essa doença gera altos índices de mortalidade, pois causa complicações

hepáticas graves, sendo considerada uma das doenças viróticas febris de maior gravidade

(LELES, 2009, p. 7).

Segundo a OMS, nos últimos anos a dengue é considerada um grande problema de

saúde pública distribuído por todo o mundo (OMS, 2009 apud BRAGA; MANHÃES, 2010,

p. 17). Renan Leles afirma que a dengue é uma arbovirose com repercussão mundial, e o vírus

pode apresentar quatro sorotipos diferentes (DENV-1, DENV-2, DENV-3, DENV-4).

Cientistas americanos analisaram amostras de sangue obtidas durante uma epidemia de

dengue que ocorreu na Malásia em 2007 e confirmam ter encontrado um novo tipo de vírus já

reconhecido oficialmente como DENV-5, sendo encontrado, até o momento, só na Malásia

(FIOCRUZ, 2013b, s.p.).

O vírus da dengue pode se manifestar tanto na forma clássica quanto na forma

hemorrágica da doença (FUNASA, 2001, p. 10). Na forma clássica, o primeiro sintoma é a

febre, normalmente alta variando em torno de 39ºC a 40ºC, seguida de cefaleias, exantemas,

náuseas e vômitos. Segundo estudos, em 48% dos casos a diarreia pode acometer pessoas com

esta doença. Inicialmente os sintomas da forma hemorrágica ocorrem semelhantes à forma

clássica, mas, rapidamente, manifestações hemorrágicas agravam o estado de saúde das

pessoas infectadas (BRASIl, 2011, p. 10). A dengue hemorrágica se manifesta quando o

indivíduo já teve dengue e novamente é acometido por esta doença, mas por outro sorotipo

diferente do primeiro. Casos em que a dengue hemorrágica ocorreu na primeira infecção

dificilmente ocorreram (RUSSO, 2003 apud BRAGA; MANHÃES, 2010, p. 23).

Segundo pesquisa realizada no Brasil pelo Ministério da Saúde no ano de 2013, em

1.315 municípios brasileiros, houve um aumento de 54,6% no número de casos suspeitos de

25

dengue. Em relação a 2010, foram 1.476.917 casos suspeitos notificados. Deste total, em 60%

das notificações o sorotipo responsável foi o DENV-4 (BRASIL, 2013, s.p.).

O mapa apresentado na Figura 8 mostra as porcentagens de casos suspeitos de dengue

em cada região do Brasil. De acordo com o mapa, a Região Sudeste apresenta um maior

percentual de casos em relação às outras regiões. Dos 6.566 casos graves de dengue

confirmados, 3.681 casos foram registrados apenas na região Sudeste (BRASIL, 2013, s.p.).

Fonte: BRASIL, 2013, s.p. Disponível em : <http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/arquivos/pdf/2013/Nov/

19/Coletiva_Dengue_1911_revisada_JBOK.pdf>. Acesso em 20 nov. 2013.

Figura 8: Casos suspeitos de dengue em 2013

Em 2013, 574 pessoas morreram por dengue. O maior número de mortes foi registrado

nas Regiões Sudeste (259) e Nordeste (136). Só no Rio de Janeiro foram confirmados 48

óbitos (BRASIL, 2013, s.p.).

Nos últimos meses tem-se divulgado casos de transmissão de uma outra doença, a

febre Chikungunya, em vários países, inclusive o Brasil. Esta doença pode ser transmitida

pelos mosquitos Ae. aegypti e Aedes albopictus, sendo este último também presente em

território brasileiro. Humanos servem como o principal reservatório do CHIKV durante

períodos de epidemia. Durante períodos interepidêmicos, um número de vertebrados tem sido

implicado como potenciais reservatórios, incluindo primatas não humanos, roedores, pássaros

e outros pequenos mamíferos. Os primeiros registros de casos desta doença ocorreram em

países da África e Ásia, principalmente a Índia. Casos importados começaram a ser

26

registrados em países da Europa e Américas, relacionados a viajantes originários de áreas

contendo o vírus CHIKV. Isto tem motivado ainda mais as políticas para controle dos

mosquitos vetores no Brasil. Os mosquitos adquirem o vírus de um hospedeiro virêmico.

Após um período de incubação médio de dez dias, o mosquito torna-se capaz de transmitir o

vírus a um hospedeiro suscetível, tal como um humano. Em humanos picados por um

mosquito infectado, os sintomas da doença tipicamente aparecem após um período de

incubação intrínseco médio de 3-7 dias (intervalo 1-12 dias) A doença aguda é mais

comumente caracterizada por febre de início súbito (tipicamente maior que 39°C) e dor

articular intensa. Outros sinais e sintomas podem incluir cefaleia, dor difusa nas costas,

mialgia, náusea, vômito, poliartrite, erupção cutânea, conjuntivite, entre outros. A fase aguda

do CHIKV dura de 3-10 dias. Não há tratamento antiviral específico para CHIKV.

Tratamento sintomático é recomendado após a exclusão de condições mais graves tais como

malária, dengue e infecções bacterianas (BRASIL, 2014, p. 7).

Até a semana epidemiológica 5 (SE 5, que equivale ao dia 07/02/15) foram registrados

67.006 casos notificados de dengue. A região Sudeste teve o maior número de casos

notificados (38.271 casos, 57,1%). A região com maior número de registros de casos graves e

com sinais de alarme é a região Sudeste (20 graves, 139 com sinais de alarme) (SVS, 2015, p.

1).

Em 2014 (semana epidemiológica (SE) 37 a 53) foram notificados 3.655 casos

autóctones suspeitos de febre de Chikungunya. Destes, 2.768 foram confirmados. Regiões

com casos autóctones são aquelas que apresentam reservatório do vírus e vetor, permitindo

que novas transmissões ocorram. Até a SE 5 de 2015 foram notificados 771 casos autóctones

suspeitos de febre de Chikungunya. Destes, 82 foram confirmados, 687 continuam em

investigação e 2 descartados. Em 2014 e 2015 foram ainda registrados 100 casos importados

confirmados por laboratório. As regiões com autoctonia são a Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

As regiões Sudeste e Sul apresentaram apenas casos importados, ou seja, os indivíduos

adquiriram o vírus em outro local (SVS, 2015, p. 3).

Em abril de 2015, outra doença transmitida pelo Ae. aegypti é identificada a febre zika.

Em 80% dos casos não ocorre nenhuma manifestação clínica, quando apresentam sintomas

estes são parecidos com os da dengue. Segundo Ministério da Saúde o vírus Zika está

relacionado ao surto de microcefalia e outras malformações congênitas que estão ocorrendo

no Brasil, sendo Pernambuco o estado com maior número de casos registrados (BRASIL,

2015, s.p.).

27

3 PREVENÇÃO E CONTROLE DO Ae. aegypti

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) para controlar ou prevenir a

transmissão do vírus da dengue é necessário que ocorra o controle dos mosquitos vetores e

que o contato humano-vetor seja interrompido. A OMS por meio do Controle Integrado de

Vetores visa melhorar a eficácia, rentabilidade, solidez e a sustentabilidade ecológica nas

intervenções de controle dos vetores, através de tomadas de decisões racionais na utilização

dos recursos. Nessa perspectiva as ações de controle do Ae. aegypti devem ser direcionadas

em todas as fases, principalmente nas fases imaturas do vetor, ocorrendo em todo o território

incluindo escolas, hospitais e locais de trabalho, que é onde o contato humano-vetor acontece

(OMS, 2015, s.p.).

Devido ao grande número de casos de dengue, o Ministério da Saúde investe em

campanhas de conscientização da população para o controle do Ae. aegypti, e também nas

formas mais diretas de eliminação deste vetor, como a aplicação de larvicidas e adulticidas.

3.1 Prevenção do Ae. aegypti

As medidas preventivas são de extrema importância para se evitar a proliferação do

Ae. aegypti e devem ser realizadas tanto dentro dos domicílios quanto fora deles.

Dentre algumas recomendações do Ministério da Saúde, tem-se: evitar o uso de pratos

em vasos de plantas para que água não seja acumulada. O prato pode ser usado apenas com

areia, assim mantem-se a umidade da terra do vaso. Adicionalmente, é necessário que

qualquer recipiente com água exposto aos mosquitos seja lavado periodicamente para a

remoção de ovos, como, por exemplo, bebedouros de animais. Os depósitos, como filtros,

tanques, entre outros, devem estar tampados (BRASIL, 2009a, p. 24). Piscinas devem ter a

água tratada. As calhas e lajes das casas devem estar limpas, e as caixas d’água bem

tampadas. Eliminar a água acumulada em plantas, como bromélias. Guardar de boca para

baixo as garrafas vazias, e os pneus que não são mais utilizados deverão ser entregues à

limpeza pública ou guardados em locais protegidos de chuva (BRASIL, 2009a, p. 25).

O destino adequado do lixo é um problema que afeta tanto as grandes cidades como as

áreas rurais. A destinação incorreta do lixo pode desencadear muitos problemas, inclusive

facilitar a disseminação de doenças. Por este motivo, o lixo deve ser descartado

preferencialmente em saco plástico, que precisa ser fechado e mantido em local seco até seu

28

recolhimento pela limpeza pública, que o destinará de forma adequada. O lixo nunca poderá

ser jogado em ruas e terrenos baldios (BRASIL, 2009a, p. 26).

Segundo o Ministério da Saúde, as medidas preventivas e a orientação da população

em relação à saúde acabam por envolver diretamente os moradores, para que os mesmos

sejam conscientizados e adquiram conhecimentos necessários para enfrentar o problema

(BRASIL, 2009a, p. 26).

3.2 Controle do Ae. aegypti

Segundo Garcia Neto, o controle da dengue continuará centrado no combate às

populações do Ae. aegypti ou na interferência do mosquito na interação humana, já que até o

momento não existem vacina ou cura clínica para esta doença, e ainda não há nenhuma

estratégia genética de controle disponível (GARCIA NETO, 2011, p. 50).

No Brasil existe o Programa de Erradicação de Ae. aegypti (PEAa), este programa foi

criado pelo Ministério da Saúde em 1996, e sua execução prevista para março de 1997.

Através do PEAa novas práticas e conceitos em relação a erradicação do Ae. aegypti foram

criadas, incorporando novos princípios ao SUS. Dentre esses princípios podem ser citados: “a

descentralização da política e das ações de controle do vetor para Estados e Municípios,

alterando o modelo atual vigente de gestão centralizada e verticalizada, de prestação de

serviço segmentada por procedimentos e equipes específicas para cada doença” (FUNASA,

2001, p. 7). As ações do PEAa devem ser voltadas para a fase larvária, pois essa fase

apresenta maior vulnerabilidade quando comparado as outras fases de vida do mosquito

(FUNASA, 2001, p. 12).

Atualmente, o controle do Ae. aegypti é dificultado por vários elementos externos à

saúde que atuam na dispersão e permanência do vetor; dentre esses elementos o Ministério da

Saúde destaca:

[...] o surgimento de aglomerados urbanos, inadequadas condições de habitação,

irregularidade no abastecimento de água, destinação imprópria de resíduos, o

crescente trânsito de pessoas e cargas entre países e as mudanças climáticas

provocadas pelo aquecimento global (BRASIL, 2009b, p. 53).

Tendo em vista que esses elementos dificultam o controle do mosquito, vários

métodos foram criados para tentar reverter essa situação.

29

3.3 Métodos de controle rotineiro

Os métodos de controle rotineiro dizem respeito às ações de rotina realizadas em

período não epidêmico da doença, sejam pelos próprios moradores, pelos agentes de saúde e

até mesmo pelos setores públicos e privados. Dentre os métodos mais utilizados destacam-se:

o mecânico, o químico, o legal e o biológico (BRASIL, 2009b, p. 54-55).

3.3.1 Controle mecânico

Este tipo de controle compreende medidas simples e eficazes que envolvem ações de

saneamento básico e educação ambiental; necessitando algumas vezes de um investimento

inicial alto, porém satisfatório, gerador de resultados permanentes (FERREIRA;

GUIMARÃES; SILVA, 2001, p. 15).

As iniciativas propostas no controle mecânico são enfatizadas pelo Ministério da

Saúde:

• reforço na coleta de resíduos sólidos, com destino final adequado, em áreas com

altos índices de infestação;

• coleta, armazenamento e destinação adequada de pneumáticos, atividade que tem

amparo legal na Resolução Conama no. 258 e que é executada em parceria entre a

iniciativa privada e os municípios, com a implantação de Ecopontos - desde o início

dessa política tem-se observado uma evolução positiva no número de Ecopontos

(Figuras 9) implantados no país;

• vedação de depósitos de armazenamento de água, com a utilização de capas e

tampas (Figura 10); (BRASIL, 2009b, p. 55, adaptado).

Fonte: RECICLANIP. Disponível em: <http://www.recicla

nip. org.br/v3/pontos/evolucao>. Acesso em: 19 ago. 2014.

Figura 9: Evolução do número de Ecopontos

no Brasil de 2004 a 2013

Fonte: CGPNCD/SVS/MS apud BRASIL, 2009b, p.

55.

Figura 10: Uso de capas para vedação de

depósitos de água

30

3.3.2 Controle legal

As ações realizadas no controle legal estão pautadas em normas de conduta

regularizadas através de instrumentos legais de apoio (BRASIL, 2009b, p. 57).

Segundo o Ministério da Saúde, essas ações, por terem caráter legal, devem ser

realizadas pelos municípios, especificamente pelos órgãos responsáveis pelos códigos de

postura, onde deverão: penalizar os donos de terrenos baldios que não fazem a limpeza e a

manutenção dos mesmos; acompanhar a visita domiciliar dos Agentes de Controle de

Endemias (ACE) em domicílios fechados que estejam abandonados ou caso algum morador

queira recusar a inspeção dos agentes; regulamentar atividades comercias consideradas, pela

vigilância sanitária, como sendo críticas (BRASIL, 2009b, p. 57).

3.3.3 Controle Químico

O controle químico consiste na utilização de produtos que envolvam elementos

químicos em sua composição (inseticidas), com o intuito de combater o vetor tanto na fase de

larval quanto na fase adulta (BRASIL, 2009b, p. 58).

No século XX, houve um grande avanço no controle de insetos, pois foram

desenvolvidos inseticidas capazes de permanecerem ativos por muito tempo (BRAGA;

VALLE, 2007, p. 283). Ilma Aparecida Braga e Denise Valle afirmam que

O primeiro inseticida de efeito prolongado, ou com propriedade residual, foi o

dicloro-difenil-tricloroetano (DDT), um organoclorado desenvolvido durante a

Segunda Guerra Mundial, que, quando aplicado em paredes e tetos de casas,

permanecia ativo contra os insetos por vários meses (BRAGA; VALLE, 2007, p.

283).

Outros inseticidas são utilizados no controle de vetores e agem sobre o sistema

nervoso central dos insetos. Esses inseticidas são pertencentes aos grupos dos

organofosforados, carbamatos ou piretróides (BRAGA; VALLE, 2007, p. 283).

O uso de inseticidas gera impactos no meio ambiente e pode desenvolver a resistência

dos vetores, por isso

A utilização de inseticidas em saúde pública tem por base normas técnicas e

operacionais oriundas de um grupo de especialistas em praguicidas da Organização

Mundial de Saúde (OMS), que preconiza os princípios ativos desses produtos e

recomenda as doses para os vários tipos de tratamento disponíveis (BRASIL, 2009b,

p. 58).

31

Devido aos problemas encontrados com o uso de inseticidas químicos no controle de

vetores, principalmente devido à resistência e os danos ao ambiente, torna-se mais importante

o controle que envolva agentes biológicos (WHO, 1984 apud PAULA, 2007, p. 10).

3.3.4 Controle Biológico

O controle de insetos é uma prática bem antiga. Na China há cerca de mais de 2.000

anos, registros comprovam o uso de práticas de controle biológico com foco no enfrentamento

das pragas agrícolas (BRAGA; VALLE, 2007, p. 282).

O controle biológico consiste no combate de pragas fazendo o uso de inimigos

naturais biológicos. O controle é considerado biológico natural quando envolve predadores,

parasitas e patógenos do vetor na natureza, sem a interferência humana. É biológico artificial

quando há necessidade de intervenção do homem. A interferência do homem torna-se

importante, pois na natureza muitas vezes os inimigos biológicos não estão em grande

quantidade, fazendo com que o controle não tenha tanta eficiência, então o homem acaba

incrementando a ação desses agentes biológicos (FERREIRA; GUIMARÃES; SILVA, 2001,

p. 15).

No controle biológico dos mosquitos, os agentes etiológicos mais estudados são:

protozoários, predadores, helmintos, bactérias e fungos, que através da predação ou do

parasitismo controlam a população de mosquitos (NEVES, 2005, p. 366). O manual de

normas técnicas da FUNASA confirma que

O controle biológico existe na natureza, reduzindo naturalmente a população de

mosquitos através da predação, do parasitismo, da competição e de agentes

patógenos que produzem enfermidades e toxinas. Atualmente, existem pesquisas no

sentido de utilizar o controle biológico, que teria a grande vantagem de minimizar os

danos ambientais que os inseticidas comuns podem causar. Algumas pesquisas estão

sendo feitas com base no uso de algumas espécies predadoras (peixes larvófagos,

copépodos), parasitas (nematóides) e patógenos (protozoários, microsporídios,

Bacillus produtores de toxinas, fungos e vírus). Estes últimos agem como inseticidas

de natureza biológica, padrão que foge ao mecanismo clássico da regulação

biológica (FUNASA, 2001, p. 65).

Quando se trata dos protozoários, muitos microsporídios já foram estudados, mas não

existe previsão de sua utilização na prática, sendo apenas o uso da Hedhzardia aedis viável.

Os testes realizados em laboratórios comprovaram que esta espécie possui eficácia no

controle do Ae. aegypti (NEVES, 2005, p. 366).

32

Os Predadores podem ser divididos em vertebrados e invertebrados. Entre os

predadores vertebrados, os mais utilizados são os peixes larvíporos compreendidos nos

gêneros Oreochromis e Poecilia reticulata, conhecidos popularmente como tilápia e guppy.

Em relação aos predadores invertebrados eles são mais de 250, sendo as planárias, os

microcrustáceos e as baratas d'água os mais usados no controle das larvas de mosquitos

(NEVES, 2005, p. 366).

Neves afirma que diversos nematódeos da família Mermithidae, são estudados para

serem utilizados no controle as larvas, com destaque para o Romanomermis culicivorax,

porém produzir uma grande quantidade in vitro é difícil o que acaba sendo um fator que limita

a utilização destes organismos (NEVES, 2005, p. 366).

Uma das bactérias mais usadas no controle biológico do Ae. aegypti é Bacillus

thuringiensis e, segundo a Funasa,

[...] hoje produtos comerciais à base de Bacillus thuringiensis sub.sp. israelensis

(Bti), com boa atividade contra larvas de Aedes e o Bacillus sphaericus, para larvas

de Anopheles e Culex. Ambos apresentam boa atividade contra larvas de várias

espécies de culicíneos. Apesar dos avanços nessa área de controle, ainda há muitos

impedimentos quanto ao uso desses métodos em grande escala na prática

operacional de rotina, considerando os custos, o baixo efeito residual, e a

intolerância à exposição direta da luz solar (FUNASA, 2001, p. 65).

O controle biológico de mosquitos, atualmente, não se restringe apenas em ser objeto

de pesquisas, porque este tipo de controle já vem sendo utilizado e apresentando resultados

práticos considerados bons (NEVES, 2005, p.366).

Segundo Messias, os fungos entomopatogênicos são mais vantajosos que outros

microrganismos entomopatogênicos usados no controle biológico de vetores (MESSIAS,

1989 apud PAULA, 2007, p. 12), pois os fungos infectam o intestino e a superfície do

tegumento do mosquito, enquanto bactérias e vírus infectam apenas o intestino (LEATHERS

et al., 1993 apud PAULA, 2007, p. 12).

3.4 FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS

Os fungos são organismos eucariontes, unicelulares (leveduriformes) ou multicelulares

(filamentosos), haploides (homo ou heterocariticos), com parede celular contendo quitina e α-

glucano. Não apresentam plastos ou pigmentos fotossintéticos. Todos os fungos conhecidos,

com poucas exceções, têm origem nos esporos (reprodução sexuada) ou conídios (reprodução

assexuada), corpúsculos que podem ser comparados às sementes das plantas superiores,

33

embora não sejam morfologicamente semelhantes a estas. Os esporos ou conídios, para

germinarem, necessitam de calor e umidade e o resultado desta germinação e a formação de

um ou mais filamentos finos, conhecidos como tubos germinativos. Estes tubos se ramificam

em todos os sentidos formando uma massa filamentosa, chamada micélio, que constitui o

sistema vegetativo, responsável pelo desenvolvimento fúngico e pela absorção dos alimentos.

Os filamentos simples ou ramificados que formam o micélio são denominados hifas. Na

maioria dos casos, o sistema vegetativo encontra-se no interior dos tecidos parasitados, no

solo ou na matéria orgânica em decomposição (MORAES et al., 2009, p. 400).

Com a formação dos esporos ou conídios é necessário que estes tenham acesso livre ao

ar, para assegurar sua disseminação. Realiza-se, então, uma diferenciação das hifas

vegetativas, geralmente levantadas verticalmente sobre o plano do micélio, conhecido como

esporóforo ou conidióforo, e sobre estes se originam os esporos ou conídios. As hifas, por sua

vez, podem ser apocíticas (com septo) ou cenocíticas (sem septo). O ciclo de vida dos fungos

compreende duas fases. Uma somática, caracterizada por atividades alimentares, e outra

reprodutiva, onde os fungos podem realizar reprodução sexuada ou assexuada. Em ambos os

casos, um grande número de estruturas é formado, dependendo da espécie. As estruturas

assexuadas, como também as sexuadas, podem ser formadas isoladamente ou em grupos,

neste caso, formando corpos de frutificação. Assim, conídios podem ser formados em

conidióforos isolados ou agrupados, constituindo então os conidiomas. Os esporos podem ser

formados em ascomas (onde são formados os ascos) ou basidiomas (onde são formados os

basídios) (MORAES et al.2009, 401).

A cada ano, em média, são descobertas 1.700 espécies de fungos; foram mais de

70.000 espécies identificadas até o ano de 2011. Por apresentar grande diversidade de

espécies o reino Fungi é dividido em quatro filos denominados de Chytridiomycota,

Zygomycota, Ascomycota e Basidiomycota. Essa divisão é feita a partir das características

apresentadas pelos fungos (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2011, p. 282).

A parede celular dos fungos é formada de quitina, um polissacarídeo que lhe confere

rigidez. Por apresentar parede celular rígida, os fungos se alimentam através da absorção de

moléculas que são liberadas da fonte de alimento quando o fungo secreta enzimas sobre a

mesma (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2011, p. 280).

São classificados quanto à alimentação como sendo heterótrofos, podendo ser

sapróbios (decompositores de matéria orgânica morta), parasitas (quando vivem dentro do

organismo de outra espécie e dela se nutrem pela absorção) ou simbiontes mutualísticos, neste

34

tipo de relação dois organismos se associam e se beneficiam mutuamente (RAVEN; EVERT;

EICHHORN, 2011, p. 280).

Os fungos entomopatogênicos têm grande importância quando parasitam insetos,

consequentemente causando sua morte, atuando, assim, diretamente no controle biológico. O

uso desses fungos já vem sendo aplicado no Brasil, principalmente no controle de pragas que

atacam as lavouras; por este motivo apresentam grande importância, pois trazem muitas

vantagens em relação aos agrotóxicos.

As vantagens são citadas por Pelczar em Microbiologia: conceitos e aplicações: “Este

grupo de microrganismos, denominados entomopatógenos, tem várias vantagens: (1) é

patogênico para insetos e inofensivos às plantas e aos animais; e (2) o perigo em potencial de

resíduos químicos é eliminado” (PELCZAR, 2011, p. 411).

A revista Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento traz uma abordagem em relação à

utilização dos fungos entomopatogênicos no Brasil, informando que esses fungos foram

testados pela primeira vez pelo russo Metschnikoff no final do século XIX. Para controlar

uma espécie de besouro, ele utilizou o fungo Metarhizium anisopliae e avaliou sua eficiência.

Somente no século seguinte surgiram os primeiros resultados práticos. Hoje em dia ocorre a

comercialização, em diferentes países, de muitos bioinseticidas produzidos à base de fungos

(FARIA; MAGALHÃES, 2001, p. 18).

M. anisopliae também vem sendo estudado para controle biológico de formigas dos

gêneros Acromyrmex e Atta. Este fungo controla naturalmente populações de formigas

cortadeiras em restingas (DIEHL-FLEIG; SILVA, 1994). Loureiro e Monteiro (2005), em

laboratório, encontraram resultados significativos da patogenicidade destes fungos sobre Atta

sexdens sexdens.

Alves relata que

Os fungos foram os primeiros agentes patogênicos de insetos a serem utilizados no

controle de pragas. Em condições naturais, a ocorrência de fungos

entomopatogênicos uem sido, no Brasil e em outros países, um fator importante para

reduzir as populações de pragas. Aproximadamente 80% das doenças de insetos têm

como agentes etiológicos os fungos, pertencentes à cerca de 90 gêneros e mais de

700 espécies (ALVES, 1998 apud GOMES, 2009, p. 23).

Os fungos entomopatogênicos mais importantes pertencem aos gêneros Metarhizium,

Beauveria, Nomuraea, Aschersonia e Entomophtora (FERRON, 1978 apud PAULA, 2007, p.

12).

35

No Brasil, através de micoinseticidas como ingrediente ativo é possível produzir em

grande quantidade os fungos entomopatogênicos. Como substrato para o desenvolvimento dos

fungos, as empresas do setor utilizam arroz cozido, acrescentando a ele esporos do fungo.

Estes esporos se desenvolvem formando novos fungos. A mistura de arroz mais fungo pode

ser vendida pelas empresas na forma de pó-molhável ou sem trituração (FARIA;

MAGALHÃES, 2001, p. 18).

A tabela a seguir contém uma relação de pragas de agricultura que vêm sendo

controladas por fungos entomopatogênicos no Brasil.

Tabela 1: Fungos entomopatogênicos utilizados no Brasil para controle de pragas

Cultura Praga Fungo

Pastagens Cigarrinhas Metarhizium anisopliae

Cana-de- açúcar Cigarrinhas Metarhizium anisopliae

Mamão Ácaros Beauveria bassiana

Café Broca-do-café Beauveria bassiana

Citrus Cochonilha ortézia Beauveria bassiana

Horticultura Diversas Beauveria bassiana

Seringueira Percevejo-de-renda Sporothrix insectorum

Fonte: FARIA; MAGALHÃES, 2001, p. 18 (adaptado).

Para controlar as pragas agrícolas, os fungos entomopatogênicos são os mais

utilizados. No controle de vetores de doenças, devido aumento das doenças, dentre elas a

dengue, e devido à resistência dos vetores pelos inseticidas, têm crescido o interesse na

utilização dos fungos (FFRENCH, CONSTANT, 2005 apud GOMES, 2009, p. 23).

Segundo Neves dentre os fungos mais estudados no controle de mosquitos, estão o

Metharhysium anisopliae e Lagenidium giganteum, que apresentaram ser eficientes no

controle de Culicídeos (Anopheles, Culex, Aedes) e Chironomidae (NEVES, 2005, p. 366).

Estudos feitos por Scholte et al. demonstraram a patogenicidade do fungo M.

anisopliae contra mosquitos adultos Ae. aegypti e A. albopictus (SCHOLTE et al., 2007 apud

GOMES, 2009, p. 24). O único produto comercializado à base de fungos entomopatogênicos

para controle de larvas de mosquito, foi baseado na espécie Lagenidium giganteum, retirado

em 1999 (SCHOLTE et al., 2004 apud GOMES, 2009, p. 23).

Pertencente à Classe dos Deuteromicetos, o gênero Metarhizium, vive em solos por

muito tempo. Os fungos desse gênero, quando infectam os insetos, os recobrem com uma fina

36

camada de conídios (esporos) que podem formar ramificações compostas de um conjunto de

micélios, e o corpo do inseto adquire consistência dura. Quando a conidiogênese chega ao

fim, o cadáver geralmente apresenta coloração verde, sendo a doença provocada chamada de

muscardine verde. O gênero Beauveria pertence à mesma Classe do Metarhizium, pode ser

encontrado em todos os países. A infecção pode ocorrer via tegumento, oral ou via sistema

respiratório. Os insetos atacados por este fungo ficam cobertos por um micélio branco, em

condições adequadas esses micélios esporulam, e comprometem o tecido gorduroso, intestinal

e os tubos de Malpighi do inseto. A doença é denominada muscardine branca (ALVES, 1998

apud PAULA, 2007, p. 13).

Na Figura 11 pode ser observada a infecção pelos fungos Metarhizium anisopliae e

Beauveria bassiana em Ae. aegypti, em experimentos realizados por Paula. Nos testes

realizados o fungo M. anisopliae isolado foi mais promissor contra o Ae. aegypti que o B

bassiana (PAULA, 2007, p. 42).

Fonte: PAULA, 2007, p. 40.

Figura 11: Ae. aegypti infectado com (A) Metarhizium anisopliae e (B) Beauveria

bassiana.

37

4 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS

Para realização desta pesquisa os métodos e procedimentos abaixo indicados foram

seguidos.

4.1 Coleta de insetos

As coletas de insetos mortos foram realizadas no período de novembro/2013 a

fevereiro/2014 nas restingas de Iquiparí e Farol de São Tomé (1 coleta/mês). Os insetos

mortos foram procurados na faixa anterior e dentro da mata de restinga, embaixo de arbustos

e árvores, principalmente (Figura 12).

Figura 12: Coleta dos insetos mortos.

Os insetos coletados foram acondicionados individualmente em frascos esterilizados

até a transferência para a câmara úmida.

4.1.1 Área de estudo

A restinga de Iquipari pertence ao complexo lacunar Grussaí/Iquipari. O complexo

possui extensão, em torno de 4.800ha, e situa-se no Município de São João da Barra,

localizado na região Norte Fluminense do Rio de Janeiro. A restinga de Iquipari (Figura 13)

38

tem em média 10km de extensão e área estimada de 1,4 km², apresentando grau de

preservação aceitável (LAMEGO, 1946 apud MACIEL, OLIVEIRA, 2007, p.181).

O clima dessa região é caracterizado entre tropical subúmido e semi-árido, com taxas

de precipitação maiores durante o verão, e menores no inverno, anualmente a precipitação

varia de 800 a 1.200mm. De agosto a dezembro o vento atinge maior velocidade, sendo

predominante na direção nordeste (RADAMBRASIL, 1983 apud ASSUMPÇÃO,

NASCIMENTO, 2000, p.303).

Figura 13: Restinga de Iquipari.

A restinga do Farol de São Tomé fica localizada no litoral do município de Campos

dos Goytacazes, também na região Norte Fluminense do Rio de Janeiro, assim como a

restinga de Iquipari. Por isso, apresenta clima parecido, mas com predominância para o

tropical úmido. As taxas de precipitação são idênticas as da restinga de Iquipari

(ASSUMPÇÃO, NASCIMENTO 2000 apud NASCIMENTO, RANGEL, 2011, s.p.).

Segundo Rangel e Nascimento esta restinga é um dos últimos remanescente do

Município de Campos dos Goytacazes, e é uma área pouco estudada, por esta razão dados de

diversidade das espécies encontradas no local são raros. Um estudo realizado em 2008 relatou

a presença das seguintes unidades fisionômicas nesta região: Formação Praial Graminóide,

Formação Praial com Moitas e Formação de Mata de Restinga, estas formações apresentam à

medida que se afasta do mar em direção ao interior (MAZUREC et al. 2008 apud

NASCIMENTO, RANGEL, 2011, s.p.).

39

4.2 Crescimento de fungos em insetos

Antes da transferência para câmara úmida, os insetos foram fotografados, mergulhados

em álcool 70% para assepsia externa e transferidos para placas de Petri estéreis forradas com

papel de filtro umedecido com 800 µL de água destilada esterilizada. As placas foram

tampadas e, então, mantidas em câmara úmida (dessecador com fundo forrado com algodão

embebido com água destilada esterilizada) para favorecer o desenvolvimento do fungo no

interior dos insetos até a extrusão do micélio com consequente esporulação na superfície do

cadáver. Inicialmente o dessecador foi lavado com hipoclorito de sódio 6% e o algodão foi

autoclavado por 15 min. A figura 14 mostra o dessecador utilizado no experimento.

Os insetos foram avaliados diariamente e após 15 dias, os mesmos foram retirados da

câmara úmida e fotografados.

Figura 14. Dessecador utilizado para criar condição úmida para o desenvolvimento dos

fungos nos cadáveres dos insetos. A, dessecador aberto forrado com algodão embebido

com água esterilizada; B, Uma peneira foi utilizada como suporte para as placas

contendo os insetos; C, dessecador mantido fechado por 15 dias até o desenvolvimento

dos fungos na superfície dos insetos.

4.3 Exposição de larvas de Ae. aegypti aos fungos

Todos os insetos mantidos em câmara úmida foram transferidos para tubos de ensaio

contendo 5 mL de água destilada esterilizada contendo tween 20%. Os tubos foram agitados

manualmente e 500 µL das suspensões foram aplicados sobre 10 larvas de Ae. aegypti de 3º.

instar mantidas em tubo de centrífuga (15 ml) contendo 5 mL de água destilada esterilizada.

As larvas foram observadas diariamente, sendo as mortas mergulhadas em álcool 70% e

transferidas para placas de Petri forradas de papel filtro como descrito para os insetos no item

40

4.2. Além das larvas, pupas e mosquitos gerados durante o experimento e encontrados mortos

também foram transferidos para as placas úmidas, com o auxílio de uma pinça, para verificar

desenvolvimento de fungos sobre os mesmos. A figura 15 mostra um tubo de centrífuga

contendo larvas em teste. O experimento foi feito em triplicata. Tubos controle com larvas em

água e tween 20 foram mantidos pelo mesmo período na ausência de fungos.

Figura 15. Tubo de centrífuga contendo larvas e suspensão de fungos obtida a partir dos

insetos.

41

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Testes de fungos sobre o mosquito Ae. aegypti

Dos 22 insetos coletados nas restingas de Iquiparí e Farol de São Tomé, encontrou-se

15 besouros (Ordem Coleoptera), 3 vespas (Ordem Hymenoptera), 2 formigas (Ordem

Hymenoptera) e 1 “soldadinho” (Ordem Homoptera). Apesar da polêmica em relação à

estimativa do número de espécies de insetos, os coleópteros (besouros) representam o grupo

mais rico dentre os insetos, com 350.000 espécies descritas (MACEDO et al., 2004, p. 117).

Portanto, é provável que seja o grupo mais abundante nos ecossistemas.

Normalmente, antes de serem testados, os fungos crescidos sobre insetos são

transferidos para meio de cultura para que o isolamento seja feito e para que um grande

número de esporos seja obtido (ALVES & FARIA, 2010, p. 12). Neste trabalho, uma outra

metodologia foi testada buscando permitir futuros isolamentos apenas de fungos patogênicos

para larvas de Ae. aegypti. Assim, os insetos sofreram uma remoção superficial de fungos que

foram colocados em contato com as larvas.

A Figura 16 apresenta pupa e adultos mortos do grupo controle. A causa das mortes é

desconhecida, e nenhum crescimento de bactérias ou fungo foi identificado nestas amostras.

As Figuras 17 a 36 mostram os insetos coletados antes e depois da transferência para a câmara

úmida. Para as amostras que apresentaram mortalidade de larvas, pupas e adultos, foram

inseridas fotos destes após serem mantidos na câmara úmida. Apenas os espécimes mortos

nos primeiros 5 dias de observação foram transferidos para a câmara úmida, os demais foram

apenas contados. A Tabela 2 apresenta a percentagem de mortalidade observada para as

exposições aos fungos desenvolvidos nos diferentes insetos. Os valores de mortalidade foram

semelhantes, sendo o obtido a partir da vespa G17 o mais elevado (33,3%). Embora resultados

semelhantes tenham sido encontrados, não é possível fazer uma comparação direta entre os

resultados, visto que não houve uma padronização do número de esporos aplicados em cada

amostra larval.

A Tabela 2 mostra resultado positivo para os fungos oriundos dos insetos F4, F8, G15,

G17 e G21, quanto a verificação de esporos sobre os cadáveres de larva, pupa ou adulto. Estes

dados são importantes para a realização de futuros isolamentos destas fontes de esporos,

aumentando a chance dos mesmos serem realmente patogênicos para o mosquito Ae. aegypti.

O tegumento dos insetos constitui-se em uma barreira físico–química altamente

eficiente contra a penetração de muitos agentes entomopatogênicos. Este tegumento

42

compreende a epicutícula e procutícula. Os fungos entomopatogênicos apresentam fatores de

virulência, incluindo a produção de enzimas, sendo que as proteases extracelulares estão

envolvidas na hidrólise dos componentes cuticulares (predominância de proteínas) facilitando

a penetração da hifa através da cutícula de inseto (TIAGO & FURLANETO, 2003, p. 40).

Larvas, pupas e adultos contendo sinais de esporos de fungos se apresentaram-se

secos. Para algumas placas foram visualizadas larvas, pupas e adultos envolvidos por

cobertura viscosa característica de crescimento bacteriano. É provável que bactérias

associadas aos insetos possam ter relação com a morte de alguns mosquitos.

A Figura 37 apresenta um besouro e uma vespa antes e depois do desenvolvimento dos

fungos. No besouro vê-se vários corpos de frutificação sobre os élitros. Na vespa vê-se o

crescimento de fungo de micélio e esporos brancos característicos de Beauveria bassiana.

Estes fungos não foram testados sobre larvas de Ae. aegypti.

Figura 16: Pupas e mosquitos mortos do grupo controle. Nenhum sinal de crescimento

microbiano foi verificado.

43

Figura 17: Besouro (F2) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na câmara

úmida. C, pupas mortas sem sinal de desenvolvimento de fungos.

Figura 18: Besouro (F3) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na câmara

úmida. C, D e E, pupas e fragmentos de mosquitos adultos mortos sem

sinaldesenvolvimento de fungos.

44

Figura 19: Besouro (F4) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na câmara

úmida. C, pupa seca mostrando esporos brancos na sua superfície; D, pupa morta sem

sinal de desenvolvimento de fungos.

Figura 20: Besouro (F5) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na câmara

úmida. Não houve registro de mortalidade.

45

Figura 21: Besouro (F6) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na câmara

úmida. Em B, vêem-se corpos de frutificação na superfície do besouro. C e D, adultos e

larva mortos sem sinal de desenvolvimento de fungos.

Figura 22: Besouro (F7) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na câmara

úmida. C, larva morta sem sinal de desenvolvimento de fungos, mas envolvida por

cobertura viscosa.

46

Figura 23: Besouro (G8) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na câmara

úmida. C, larva e adultos mortos, sendo que a partir de um deles foi verificada

esporulação.

Figura 24: Besouro (G9) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na câmara

úmida. Não houve registro de mortalidade.

47

Figura 25: Besouro (G10) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, pupa morta sem sinal de desenvolvimento de fungos.

Figura 26: Besouro (G11) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. Em B, vê-se a presença de corpos de frutificação na superfície do

besouro. C, mosquito adulto sem sinal de desenvolvimento de fungos.

48

Figura 27: Vespa (G12) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na câmara

úmida. C e D, pupa e adulto mortos sem sinal de desenvolvimento de fungos.

Figura 28: Vespa (G13) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na câmara

úmida. Não houve registro de mortalidade.

49

Figura 29: Formiga (G14) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, Adultos e pupas sem sinal de desenvolvimento de fungos, mas

envolvidos com cobertura viscosa.

Figura 30: Besouro (G15) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C e E, larvas mortas sem sinal de desenvolvimento de fungos; D, adultos

com sinal de desenvolvimento de fungos; F, pupa envolvida com cobertura viscosa e com

pontos de crescimento de fungo na cobertura e não associado a mesma.

50

Figura 31: Besouro (G16) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, D e E, adulto e pupas mortas sem sinal de desenvolvimento de fungos.

Figura 32: Vespa (G17) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na câmara

úmida. C e D, larva e adultos apresentando esporos superficiais; E, adultos sem

desenvolvimento de fungo; F, larva envolvida por cobertura viscosa com fungos

desenvolvidos na cobertura e não associados a mesma; G, larva envolvida por cobertura

viscosa sem sinal de desenvolvimento de fungos.

51

Figura 33: Besouro (G18) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. C, larva morta envolvida por cobertura viscosa.

Figura 34: Abdômen e tórax parcial de formiga (G19) antes (A) e depois (B) do

desenvolvimento de fungos na câmara úmida. C e D, pupas e adultos mortos sem sinal

de desenvolvimento de fungos.

52

Figura 35. Besouro (G21) antes (A) e depois (B) do desenvolvimento de fungos na

câmara úmida. A seta em A indica fungo cobrindo parte do besouro, Em B, nota-se que

não houve aumento da cobertura pelo fungo e sim consumo do mesmo por

microrganismos presentes no inseto. C, larva coberta com esporos da mesma cor do

fungo apontado em A.

Figura 36: Homoptera: membracídeo “soldadinho” (G22) antes (A) e depois (B) do

desenvolvimento de fungos na câmara úmida. Não houve registro de mortalidade.

53

Tabela 2. Mortalidade de larvas, pupas e mosquitos adultos gerada pela exposição aos

fungos crescidos sobre insetos

Origem dos fungos Mortalidade (%) Presença de

fungos

Controle * 10 ± 10

F2 13,3 ± 5,7

F3 20

F4 13,3 ± 5,7 +

F5 0

F6 13,3 ± 5,7

F7 6,7 ± 5,7

G8 13,3 ± 5,7 +

G9 0

G10 3,3 ± 5,7

G11 3,3 ± 5,7

G12 10

G13 0

G14 20

G15 20 +

G16 16,7 ± 11,5

G17 33,3 ± 5,7 +

G18 6,7 ± 5,7

G19 23,3 ± 5,7

G21 6,7 ± 5,7 +

G22 0

* Larvas mantidas na ausência de fungos.

54

Figura 37: Insetos antes e depois da transferência para a câmara úmida. A. Besouro; B,

Besouro coberto por corpos de frutificação (seta) formados em condição úmida

favorável ao desenvolvimento do fungo; C, Vespa antes do desenvolvimento do fungo; D,

Vespa coberta por micélio e esporos brancos produzidos na câmara úmida.

55

A Tabela 3 apresenta algumas características das ordens dos insetos coletados neste

trabalho.

Tabela 3: Características das ordens dos insetos coletados

Ordens Características

Coleoptera Besouros, brocas.

A maior ordem de insetos. Espécies de

corpo duro e peças bucais mastigadoras.

Os adultos têm usualmente dois pares de

asas das quais o par anterior está

modificado como pesadas capas

protetoras (élitros); o par posterior é

membranoso. Metamorfose completa. A

maior parte é comedora de plantas mas

há espécies predadoras. Algumas

espécies aquáticas.

Hymenoptera Formigas, abelhas e vespas. Grande e

variada ordem, todos com peças bucais

mastigadoras mas também modificadas

em algumas formas para lamber e sugar.

Espécies com e sem asas. Asas

transparentes e com poucas nervuras.

Metamorfose completa. As larvas têm

peças bucais mastigadoras.

Homoptera Cigarras e afídeos. Insetos herbívoros

aparentados como os hemípteros mas

com a tromba originando-se da parte de

trás da cabeça e com asas anteriores

tipicamente membranosas. Asas

usualmente mantidas como uma tenda

sobre o corpo. Metamorfose gradual.

Fonte: Barnes, 1990, p. 929

56

5.2 Fungos entomopatogênicos e Ensino de Biologia

Os Parâmetros Curriculares Nacionais têm divulgado propostas para o Ensino Médio

que objetivam a promoção da formação integral dos alunos através da aquisição de

conhecimentos contextualizados, do desenvolvimento de competências e da participação ativa

na construção e avaliação de suas aprendizagens.

5.2.1 Reflexão sobre alguns desafios para se promover o ensino de Biologia

Em resposta às transformações científico-tecnológicas da década de 90, um novo

paradigma surge buscando tornar o aluno autocrítico, reflexivo e produtivo. O currículo passa

a ser inter-relacionado e o professor é um facilitador do processo, devendo propor situações-

problema, desafios, estabelecendo conexões entre o conhecimento adquirido e os novos

conceitos, entre o ocorrido e o pretendido (MORAES, 2000, P.152).

Portanto, esta proposta permite a produção do conhecimento com autonomia,

criatividade e espírito investigativo, provocando a interpretação das informações e não apenas

a sua aceitação. O professor precisa propor um estudo sistemático, uma investigação

orientada, levando o aluno a ser sujeito e, não objeto, e produtor do seu próprio conhecimento

(BEHRENS, 2005, p. 56).

O professor e o aluno trazem conhecimento e experiências que são compartilhados

gerando a pedagogia relacional que propõe a construção do conhecimento no fazer e no

pensar, na teoria e na prática. O professor deve atuar como mediador, agindo como

incentivador para a reflexão do aluno em relação as situações do mundo em que vive

(BECKER, 2001, p. 26).

Ultimamente, os discursos pedagógicos são dominados por proposições construtivistas

(que considera que o conhecimento é proveniente da interação entre sujeito e objeto) e

significativas. O ensino de qualidade precisa ser construtivista, inovador e deve promover a

aprendizagem permanente. O conhecimento prévio é utilizado como um ponto de ancoragem

para os novos conceitos, sendo ambos modificados neste processo, que é dinâmico e

possibilita a construção do saber (MOREIRA, 2006, p. 2)

Moreira (2000, p. 5) destaca que na sociedade contemporânea não é suficiente a

aquisição de conhecimentos de forma significativa, mas é preciso que a aprendizagem seja

também crítica, ou seja, possibilita a participação dos indivíduos no processo e também

permite que os mesmos realizem uma avaliação do procedimento.

57

Várias estratégias podem ser utilizadas de modo a promover o processo significativo

crítico. Um dos princípios facilitadores fundamentais é a utilização de perguntas ao invés de

respostas. O ensino que permite a interação, o diálogo, a troca de informações entre professor

e aluno, em geral é significativo. Quando um aluno é capaz de formular perguntas

sistematicamente, ele faz uso de seu conhecimento prévio de maneira não-arbitrária e não-

literal, evidenciando o processo crítico. Outra estratégia importante é a utilização de vários

materiais educativos, o livro-texto quando utilizado como única fonte de informação fornece

uma visão reduzida da realidade (MOREIRA, 2000, p. 6).

O princípio da contextualização e da interdisciplinaridade entrou em pauta com a

reforma do ensino, proposto pela LDB no. 9.394/96. Segundo os PCN “contextualizar um

conteúdo significa, a princípio, assumir que todo conhecimento envolve uma relação entre

sujeito e objeto” (BRASIL, 2002, p. 91). Para Menezes & Santos (2002, p. 42) é, de forma

geral, o ato de vincular o conhecimento à sua origem e à sua aplicação.

De acordo com Possobom (et al., 2002, p. 115) é preciso compreender o vínculo

existente entre realidade, aluno e conhecimento científico. Assim, este possibilitará a

reelaboração e a compreensão da Biologia trabalhada na escola. Ensinar não é transferir

conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção

(FREIRE, 2006, p. 47).

Com base nas informações acima, nos ensaios utilizando fungos e mosquitos e nos

princípios metodológicos divulgados pelo PCN-EM (2002, p. 87-88), um roteiro de apoio ao

professor foi criado. Os princípios metodológicos que embasaram esta construção foram:

valer-se do cotidiano dos estudantes como ponto de partida, usar o conhecimento prévio, levar

em conta o contexto histórico-social, tomar a natureza como laboratório, valer-se da relação

entre ciência, tecnologia e sociedade.

Assim, o aprendizado em Biologia deve privilegiar não somente os processos

biológicos, como também a construção dos conhecimentos sociais, políticos e econômicos

que fazem parte deste aprendizado. Deverá possibilitar desenvolvimento de uma visão

sistêmica de ambiente, conscientização da necessidade de preservação da natureza, da

utilização racional dos recursos naturais, além de articular o senso comum e o conhecimento

científico (AMARAL, 1998 apud AMORIM, 2001, p. 49).

58

5.2.2 Roteiro para utilização do tema “fungo entomopatogênicos” em aula de Biologia do

Ensino Médio

Para introduzir o assunto “fungos entomopatogênicos“ na sala de aula, o professor

poderá selecionar um texto sobre perda econômica na produção de alguma cultura na região

Norte Fluminense devido ao ataque de pragas ou número de casos de dengue no município.

Associado a esse texto viria em seguida um texto relacionado ao controle de pragas e vetores,

incluindo a utilização de fungos entomopatogênicos.

O professor deve estimular os alunos a pensar e resgatar conhecimentos já

consolidados. Indagações durante a aula constituem um recurso interessante. Outra forma é

dividir a turma em grupos e pedir que cada grupo discuta e resolva uma parte do problema

levantado pelo professor.

Para execução do experimento, o professor deverá realizar se possível uma saída de

campo para coleta dos insetos mortos. Caso não consiga, pode pedir para que os alunos

tragam dos jardins de suas residências os insetos mortos que encontrarem.

As perguntas a seguir nortearão o professor em uma aula sobre o tema, desde a parte

introdutória passando pela execução do experimento até chegar à interpretação dos resultados.

Ordenamento de perguntas a serem levantadas pelo professor durante a aula:

1 – Como é possível obter fungos entomopatogênicos na natureza?

Se este tipo de fungo depende dos insetos para se desenvolverem e reproduzirem é

provável que encontremos associados a insetos. Buscar insetos mortos é uma boa opção, pois

alguns podem ter morrido pela infecção por fungos.

2 – Onde podemos encontrar insetos mortos?

O melhor é procurar em locais livres de inseticidas. Jardins de residências, hortos,

jardins de praças, matas, etc. Lugares de mais fácil acesso dos alunos ou em locais mais

preservados como uma mata se houver possibilidade de realização de uma saída a campo.

59

3 – Como os insetos mortos podem ser encontrados?

Observar debaixo de árvores e arbustos já que são locais mais protegidos de animais e

de pessoas caminham pelo local.

4 – Como coletar os insetos encontrados?

O ideal é utilizar uma colher ou pinça para pegar o inseto e transferi-lo para um frasco

estéril. Farmácias oferecem tais frascos para coleta de amostras biológicas para análise.

5 – Identificação dos insetos coletados. Quais ordens?

O professor deve disponibilizar aos alunos um quadro contendo as principais ordens

de insetos e suas características para que os alunos possam reconhecer seus insetos nessa

classificação. Isso dará mais sentido para esta parte do conteúdo de insetos que normalmente é

vista de maneira teórica, exigindo dos alunos a memorização do conteúdo sem apropriação do

mesmo.

6 – Se os insetos mortos não aparentam terem sido mortos pela ação de um fungo, como

investigar isto?

Favorecer a germinação deste através da manutenção do inseto em recipiente com

umidade elevada.

7 – Como umidificar o recipiente?

Manter os pequenos frascos contendo insetos em um recipiente maior com tampa,

tendo no seu interior um frasco contendo água ou um chumaço grande de algodão embebido

com água fervida e resfriada. Utilizar água fervida evita contaminar o recipiente com

microrganismos. Ao colocar a água fervente no algodão, o mesmo já está sendo esterilizado

também. O recipiente também deverá ser lavado com água fervente.

60

8 – Quanto tempo esperar para retirar os frascos da condição úmida?

Os frascos deverão ser examinados diariamente ou de dois em dois dias. Primeiro

ocorre o desenvolvimento do fungo dentro do inseto, não sendo possível avaliar alteração no

inseto nesse período. Posteriormente é verificado um material saindo do corpo do inseto. Este

material pode ter cor variada e às vezes se assemelha a algodão. Poucos dias depois vê-se

esporos (aparência de pó) cobrindo o inseto totalmente ou posteriormente. Para alguns fungos,

pode-se observar crescimento de um corpo de frutificação sobre o corpo do inseto. O corpo de

frutificação é uma estrutura que pode variar na forma, mas está associada a produção de

esporos.

O professor nesse momento pode colher um pouco de esporos, micélio e corpo de

frutificação para observação dos alunos a olho nu ou com auxílio de microscópio para

observação de detalhes estruturais utilizados para a identificação dos fungos.

9 – Como afirmar que se trata de um fungo entomopatogênico?

Os fungos devem ser testados em insetos. Universidades e outras Instituições de

Pesquisa podem oferecer alguns insetos oriundos de colônias mantidas por pesquisadores.

Mesmo que haja dificuldade na realização dessa etapa, todo o trabalho anterior terá

permitido ao aluno vivenciar a experimentação científica, desde a demanda da sociedade até a

geração de conhecimento, para uma futura aplicação dos resultados. Assim, poderá verificar

que até a aplicação de uma descoberta é necessário o cumprimento de uma série de etapas e

que o conhecimento teórico embasa todas as pesquisas.

10 – A natureza é fonte de toda a matéria-prima para o controle biológico, já que os agentes

são naturais estando disponíveis nos ecossistemas. O que pode prejudicar a distribuição de

fungos entomopatogênicos nos ambientes naturais?

As ações que levam ao desmatamento, perda de habitat, poluição, queimadas

prejudicam populações de insetos que perdem indivíduos e podem ser totalmente eliminadas.

A perda de espécies de insetos levará a perda de fungos entomopatogênicos. Medidas para

evitarem as alterações destrutivas no meio contribuirão para a manutenção da biodiversidade.

Isto garantirá o funcionamento correto do ecossistema.

61

Em relação às restingas, como trata este trabalho, por estarem localizadas ao longo da

costa brasileira estão sob intensa pressão da ocupação humana e consequente alteração da

paisagem original, o que dificulta sua conservação. A região costeira é uma das áreas mais

alteradas e exploradas do País, resultado de aproximadamente 500 anos de ocupação após o

descobrimento do Brasil. Ao longo dos séculos, a densidade demográfica aumentou e as

faixas vegetadas da costa, em grande extensão, estão sujeitas a intenso impacto humano, o que

resultou na elevada degradação de planícies costeiras, de praias e dunas de restinga ao longo

de toda a costa brasileira. As restingas costeiras são as áreas dentro do Bioma da Mata

Atlântica com menor acúmulo de informação científica biológica, não apenas em termos de

biodiversidade, mas também do status de conservação em que se encontram cada um de seus

remanescentes (ROCHA et al., 2004, p. 343).

62

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aprendizagem de Biologia deve possibilitar aos alunos a compreensão das

transformações biológicas que ocorrem no mundo físico de forma integrada para que os

mesmos possam julgar as informações adquiridas na mídia, na escola, e, dessa forma,

interagir com o mundo enquanto sujeitos e cidadãos. Porém, na atualidade, um dos grandes

desafios do ensino das Ciências é incentivar a participação plena dos indivíduos no processo

de ensino-aprendizagem. A utilização de experimentos em conjunto às aulas teóricas tem sido

apontada como uma ferramenta capaz de contribuir e favorecer a aprendizagem de modo

significativo e consistente.

É importante fornecer aos estudantes uma visão crítica e objetiva, trabalhando

conteúdos biológicos de relevância social e científica, possibilitando que os mesmos tenham a

capacidade de interferir positivamente na sociedade.

Para que as experimentações possam ser utilizadas para estimularem a participação, a

criatividade, a motivação e o trabalho em grupo, o professor deverá analisar e discutir os

procedimentos e resultados observados e, sempre que possível relacionar os temas das aulas

com o cotidiano dos alunos. Dessa forma, poderá promover o desenvolvimento de habilidades

e da aprendizagem mais significativa.

O tema fungos entomopatogênicos tem o potencial de poder ser relacionado ao

cotidiano dos alunos, promover a contextualização e integração de conteúdos de Biologia, e

permitir, então, o exercício de uma aprendizagem mais significativa já que os alunos podem

participar da construção do conhecimento. Utilizar um texto científico sobre fungos

entomopatogênicos pode num primeiro momento parecer inapropriado para uma turma de

Ensino Médio, mas é função do professor fazer a transposição didática, que deve resultar

numa educação que propicie uma leitura de mundo vinculada às implicações econômicas,

sociais, éticas e ambientais. Este tipo de recurso visa que o aluno aprenda a mobilizar

competências para solucionar problemas em contextos apropriados, para que possam

efetivamente se integrar na sociedade, interagindo e interferindo sobre ela.

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