Cuidados Intensivos em Doentes com Doença de Células Falciformes Versão Original: James H. Hanson...
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Cuidados Intensivos em Doentes com Doença de Células Falciformes
Versão Original:
James H. Hanson M.D.Director Cuidados Intensivos
Children’s Hospital & Research Center Oakland
Professor Associado de Pediatria - UCSF
Versão Portuguesa:
Helena Loureiro, MD
Ester Almeida, MDUnidade de Cuidados Intensivos e Especiais Neonatais e Pediátricos
Hospital Fernando Fonseca - Portugal
Fisiopatologia da Doença de Células Falciformes
• Hemoglobina SS
• Hemoglobina SC
• Hemoglobina S-talassemia– Alterações do cito esqueleto do Glóbulo Vermelho (GV)
– Polimerização da hemoglobina
– Alterações da deformabilidade do GV
– Alterações do fluxo microvascular
– Aumento da activação endotelial
Síndrome Torácico Agudo
• Infiltrado Pulmonar– Por vezes com derrame– Acompanha-se de um ou mais dos seguintes:
• Dor Torácica– 40% - também dor abdominal
• Febre • Hipoxémia• Pode haver calafrios
– Frequentemente precedido por crise vaso-oclusiva– Níveis elevados de fosfolipase A-2
Síndrome Torácico Agudo
• Formação de rolhões intravasculares de eritrócitos
• embolia gorda
• atelectasia
• infecção
• tromboembolismo
Causas Infecciosas
• Staph aureus
• Strep pneumoniae
• Hemophilus influenzae
• Klebsiella pneumoniae
• Chlamydia
• Mycoplasma
• Viral
Mais comum
Ciclo Vicioso• Falciformação agrava com hipoxémia, acidose• Atelectasia causa vasoconstrição
– Lentificação do fluxo e agravamento da oclusão
• Dor torácica causa – Hipoventilação e atelectasia
• Analgésicos narcóticos podem diminuir a ventilação– Aumenta a atelectasia– Aumenta a PaCO2 com agravamento da
acidose
Co-morbilidade
• asma
• anemia grave
• trombocitopenia
• hipertensão pulmonar
• cor pulmonale
”uma alteração conduz a outra”
• O síndrome torácico agudo é frequentemente recorrente
• Formação progressiva de áreas de fibrose /cicatrização do parênquima
• doença pulmonar restritiva• hipertensão pulmonar
– Mesmo sem clínica óbvia de sindroma torácico
• cor pulmonale• 20% dos doentes com STA desenvolvem
complicações neurológicas (confusão é frequentemente o sintoma inicial)
Terapêutica Síndrome Torácico Agudo
• Oxigénio– Evitar excesso pois reduz eritropoiese
• Rehidratação cuidadosa– Manter euvolemia– Uso criterioso de furosemida
frequentemente útil• Antibióticos
– eritromicina ou azitromicina– cefuroxime
• Controlo da dor– narcóticos– ketoralac– paracetamol
Terapêutica Sindrome Torácico Agudo
• aumentar entrega de oxigénio• reduzir % hemoglobina S
– Transfusão concentrado eritrocitário– precoce!– Exsanguino-transfusão se agravamento após a
transfusão (raramente necessária se transfusão precoce)
• broncodilatores– salbutamol independentemente da presença ou
ausência de sibilância• ventilação não invasiva• entubação endotraqueal
– PEEP adequado• Exercícios de expiração forçada
Terapêutica Síndrome Torácico Agudo
• Dexametasona pode encurtar o episódio• No entanto, o uso de esteróides está
associado a:– Readmissões em 1/3 dos doentes
– Aumento do risco de necrose avascular
– Pancreatite
– Alterações do estado mental
• Estudos clínicos em elaboração
Terapêutica Síndrome Torácico Agudo
• Terapêuticas não aprovadas mas que “parecem resultar”– alfa dornase inalada– óxido nitrico– ECMO
Acidente Vascular Cerebral
• 300X > doentes sem anemia de células falciformes• 11% com HbSS terão AVC até aos 15 anos
2% de doentes com HbSC• 17-22% de doentes com Hb SS têm AVCs
silenciosos• RM alteradas em 1/3 dos doentes aos 15 anos• Doppler transcraniano alterado: risco risco se Hb base é baixa ou leucócitos elevados• risco elevado se TA normal ou elevada• Risco elevado se doente tiver Moya-Moya • AVC diminuem com exsanguino transfusões
crónicasmanter % Hgb S < 30
Acidente Vascular Cerebral
• Avaliação standard - ABC (airway, breathing, circulation)
• Maior preocupação com terapêutica hiperosmolar – Pode induzir falciformação
• Transfusão e/ou exsanguíneo para manter HbS < 30% e Hb 10-11 mg/dL
• Evitar valores extremos de TA– TA normal é menor em doentes com
anemia células falciformes• Evitar hiperglicemia
Sequestração Esplénica
• 15% dos doentes com Hb SS entre 6-36 meses• Rápido aumento das dimensões do baço • Queda do valor hemoglobina• Aumento reticulócitos• Queda do valor das plaquetas• Choque• Hemoglobinúria e insuficiência renal• Sequestração hepática é rara • Rabdomiólise é rara
Sequestração Esplénica
• volume intravascular de suporte • controle da dor• transfusão e raramente exsanguino-transfusão• esplenectomia se recorrente ou refractária
– Vacinação para pneumococcus; meningococcus
• se envolvimento hepático pode ser necessário vitamina K
• monitorização diurese
Sepsis
• Terapêutica prolongada com penicilina ou amoxicilina está indicada pela asplenia funcional
• Assegurar vacinação pneumococcus
• Seguir as normas da “Surviving Sepsis Campaign”
Sobrecarga de Ferro
• Resulta de > 20-30 unidades CE • Desferroxamina (ou deferriprona) como quelante de ferro• Disfunção cardíaca e insuficiência cardíaca congestiva• Doença pancreática e diabetes mellitus (sem cetoacidose)• Disfunção hepática
– Carcinoma hepatocelular • Disfunção pituitária hipotalâmica
– Défice das hormonas sexuais
Sobrecarga de Ferro
• Tratar disfunção orgânica como habitualmente
• Infusão de desferroxamina contínua
• Deferriprone (L1) disponível em muitos países - pode ser útil
• Novos agentes quase disponíveis
• Eligível para transplante
Transfusão• Transfusão pre-operatória para obter Hb 9-10g/dl
– diminui morbilidade
• Evitar Hb > 12 g/dl (hiperviscosidade)• Sangue: “Sickledex” negativo • Fenotipicamente concordante, pelo menos para C,
E, Kell– altas taxas de aloimunização
• Sangue desleucocitado
Exsanguino-transfusão
• Usar apenas se transfusão simples inadequada
• Preferível com máquina de ferese
• Mas exsanguino manual aceitável
– diluir CE com 5% albumina ou SF para Hct 30%
– Monitorização apertada sinais vitais
– Pode necessitar de cálcio
– 150 mL/kg removido e substituído (o dobro da volémia) deve reduzir % S para < 30%
• precauções exposição sanguínea
• Use sangue aquecido
Priapismo
• Erecção prolongada dolorosa
• Difícil de tratar– Hidratação, mas não excessiva– Narcóticos– Transfusão nem sempre bem sucedida– Injecção urológica/aspiração
• Sequelas comuns, disfunção erectil– Especialmente em doentes mais velhos
Estratégias Futuras
• Sildenafil reduz hipertensão pulmonar– Aumenta resistência ao exercício
• Bloqueadores dos canais de Gardos ( ainda não disponível)– aumentam desidratação intra GV
– aumentam marcadores de hemólise
• Arginina + hidroxiureia aumentam óxido nítrico disponível, pode ser útil na vasculopatia
Transplante de Células Hematopoiéticas
• TMO ou transplante de outras células precursoras pode ser curativo na anemia células falciformes
• Cerca de 90 % de sobrevivência
• Cerca de 80% de sobrevivência sem doença
• Disfunção das gónadas
• Minoria com progressão de doença pulmonar
– Se doença pulmonar prévia
• Melhores candidatos são aqueles que tiveram AVCs minor
• Melhor prognóstico nos hipotransfundidos
– Mas como previmos quem está em risco?
Abordagem perioperatória
• Transfusão pré-operatória diminui a morbilidade
• Maior risco de Síndrome Torácico Agudo nas primeiras 48 horas pós-cirurgia
• Cirurgia ambulatória não indicada
• Melhores resultados com laparoscopia