CS Lewis - Cartas Do Inferno

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Cartas do Inferno Cartas do Inferno Completas C. S. Lewis Título original: The Screwtape Letters

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Cartas do InfernoCartas do Inferno

Completas

C. S. Lewis

Título original: The Screwtape Letters

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Sumário

PREFÁCIO

INTROD!"O

C#RT# N$%ERO I

C#RT# N$%ERO II

C#RT# N$%ERO III

C#RT# N$%ERO I&

C#RT# N$%ERO &

C#RT# N$%ERO &I

C#RT# N$%ERO &II

C#RT# N$%ERO &IIIC#RT# N$%ERO I'

C#RT# N$%ERO '

C#RT# N$%ERO 'I

C#RT# N$%ERO 'II

C#RT# N$%ERO 'III

C#RT# N$%ERO 'I&

C#RT# N$%ERO '&C#RT# N$%ERO '''I

 A melhor forma de correr com o Diabo, se ele não serende aos textos das Escrituras é zombar e caçoardele, pois o mesmo não suporta o escárnio.

Martinho Lutero

O Diabo... o espírito do Orulho... !ão suporta serdebochado.

Thomas More

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certeza$ #izeramno perder dentre seus leitores$ pelo menos um:determinado clérigo do interior te!e oportunidade de escrever aoredator cancelando sua assinatura so( a alega*ão de que%muitos dos conselhos !eiculados por aquelas cartas lhepareciam não somente errados mas até mesmo dia(/licos%.

<ntretanto$ em geral elas alcan*aram tal recepti!idade que oautor &amais sonhara que chegaria a tanto. Es cr'ticas literáriasmostraramse ora inchadas por aquela espécie de ira quedemonstra ao escritor de que o seu al!o teria sido$ de #ato$atingido. E procura do li!ro #oi$ desde o in'cio$ prodigiosa e assimtem continuado de modo crescente. Na realidade$ a !enda nemsempre signi#ica o que os autores esperam. -e o leitor pretendera!aliar o n7mero dos que lêem a F'(lia pelo n7mero de F'(liasque são !endidas$ certamente incorrerá em grande erro.  As6artas do 4n#erno$ dentro de seus limites$ estão expostas àmesma sorte de am(igGidade. < li!ro do tipo que se costumao#erecer a a#ilhados$ do tipo que costuma ser lido em !oz altapor ocasião dos retiros. < até mesmo$ como &á o(ser!ei com umriso algo #or*ado$ daquele tipo de li!ros que são deixados nosquartos de h/spedes$ para que ali permane*am sem qualquermanuseio. 2or !ezes$ tais li!ros são comprados por moti!osainda menos plaus'!eis. 6erta senhora conhecida do autor

desco(riu que a (ela atendente que lhe enchia (olsas de águaquente no hospital$ ha!ia lido As 6artas do in#erno. oilhe dadotam(ém sa(er o porquê: A senhora sa(e$ disse a mo*a$ #omosad!ertidas de que nas entre!istas$ depois de serem respondidasas perguntas relacionadas com assuntos reais e técnicos$ adiretoria e outros às !ezes fazem perguntas so(re nossosinteresses de modo geral... Nesse caso$ a melhor coisa érespondermos que gostamos de ler. Essim sendo$ rece(emos

uma lista de cerca de dez li!ros de leitura mais ou menosagradá!el$ com a recomenda*ão de que de!er'amos ler pelomenos um deles. < !ocê escolheu as 6artas do 4n#erno Fem$ de#ato o escolhi$ pois era o que tinha menos páginas. Einda$ depoisde descontarmos essas ninharias$ o li!ro conseguiu leitoresautênticos em n7mero su#iciente para que !alha a pena ao autorresponder a algumas perguntas que tem surgido em !áriasmentes. A mais comum delas é se eu admito mesmo a existência

do Dia(o. "ra$ se por Dia(o o inquiridor queria dizer a existênciade um poder oposto a Deus e$ como Deus$ autoexistente desdea eternidade$ a resposta é sem d7!ida$ não, Nenhum ser nãocriado existe alem de Deus. Deus não tem nenhum ente que lhe

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se&a oposto. Nenhum ser poderia &amais alcan*ar uma tão%per#eita maldade% que se opusesse à per#eita (ondade de Deus.Iuando$ pois$ se tirasse a esse ser oposto todas as espécies decoisas (oas: a inteligência$ a !ontade$ a mem/ria$ a energia e aexistência pr/pria$ nada mais lhe restaria.

 A pergunta mais ca('!el é: -e eu admito a existência dedia(os. Edmitoa$ sim. 4sto quer dizer o seguinte: 6reio naexistência de an&os e admito que alguns destes$ pelo a(uso doli!re ar('trio$ tornaramse inimigos de Deus e$ por decorrênciadesse #ato$ tam(ém são nossos inimigos. A tais an&os podemoschamar dia(os. Não di#erem$ quanto à essência$ dos (ons an&os$mas a natureza deles é depra!ada. Dia(o op+ese a an&o nosentido em que dizemos que homem mau é o oposto a homem(om. -atanás$ o l'der ou ditador dos dia(os$ não é ente oposto aDeus e$sim ao arcan&o >iguel. Essim admito$ não como se talcoisa constitu'sse uma parte essencial de meu credo$ mas nosentido de que é uma de minhas opini+es. >inha religião nãocairia em ru'nas caso #osse demonstrada a #alsidade destaopinião. Eté que se&a demonstrada tal #alsidade é di#'cil seremarran&adas pro!as de #atos negati!os pre#iro manter minha

opinião. 5enho sempre para mim que ela concorre para explicarmuitos #atos. <stá em consonJncia com o sentido claro das<scrituras$ com a tradi*ão do 6ristianismo e com o modo de crerda maioria dos homens$ atra!és dos tempos. Elem do mais$ estaopinião não colide com coisa alguma que qualquer das ciênciastenha demonstrado como !erdadeira. 2oderia parecerdesnecessário 0mas não o é1 acrescentar que a cren*a naexistência dos an&os$ tanto (ons como os maus$ não signi#ica

admitir a #orma de sua representa*ão$ quer na arte$ quer naliteratura. "s dia(os são retratados com asas de morcego e osan&os (ons com asas de pássaro$ não porque alguém a#irme quea depra!a*ão moral ha!eria de trans#ormar penas emmem(ranas$ mas porque a maioria dos homens gosta mais dospássaros que dos morcegos. As asas 0as quais nem todos tem1lhes são atri(u'das para sugerir a rapidez de energia intelectualsem impedimento algum. A #orma humana lhes é atri(u'da pelo

#ato de que o homem é a 7nica criatura racional queconhecemos.  As criaturas mais ele!adas do que n/s na ordemnatural$ se&am elas incorp/reas ou se&am dotadas de algum tipode corpo animado$ inacess'!el à nossa experiência$ tem de ser

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representadas sim(olicamente ou não seriam &amaisrepresentadas.

 5ais #ormas não são s/ sim(/licas$ mas sempre #oram tidascomo sim(/licas por todos os pensadores. "s gregos &amaisadmitiram que os deuses #ossem realmente tal como seusescultores os representa!am$ dotados da (ela complei*ãohumana. 6onsoante a poesia grega, quando um deus dese&a%aparecer% a um mortal qualquer$ assume temporariamente a#orma de um homem.  A  5eologia 6ristã$ quase sempre temexplicado os %aparecimentos% angélicos desta maneira.%-omente os ignorantes% dizia Dion'sio no 9 século$ %sonham queos seres espirituais são realmente como homens alados%. Nasartes plásticas$ essas representa*+es sim(/licas !em sedegenerando paulatinamente. "s an&os de ra Engélicoestampam nas #aces e gestos a paz e autoridade celestiais. >aistarde$ surgem os an&inhos de Kaphael$ nus e rechonchudos.inalmente$ surgem os an&os meigos$ delgados e delicados daarte do século 848$ an&os de complei*ão tão #eminina que s/ nãoparecem sensuais por causa de sua insipidez. -ão como eunucas#r'gidas$ usadas para o ser!i*o no 2ara'so. <sses s'm(olos 0todos

eles1 são perniciosos. Nas <scrituras$ as !isita*+es angélicas sãosempre alarmantes e assim se apresenta!am: % Não temas%. "an&o da era !itoriana  parece dizer com simplicidade: % <stouaqui % ou % "lá$ gente%. "s s'm(olos literários são ainda maisnoci!os por não serem tão #acilmente reconhecidos como sendosim(/licos. "s empregados por Dante são os melhores$ mas emcontrapartida$ #icamos horrorizados com seus an&os. -eus dia(os$como acertadamente o(ser!ou o Kus3in$ por sua #erocidade$

despudor e re(eldia são muito mais semelhantes àquilo que narealidade de!eriam ser do que na imagina*ão de >ilton. "sdemônios pensados por >ilton$ por causa da ma&estade eele!a*ão poética que os adorna$ tem causado grandes males0aliás$ seus an&os de!em demasiado a Homero e a Kaphael1.<ntretanto$ a imagem mais perniciosa de todas nos é dadaatra!és do >e#ist/#eles de ;oethe. < austo$ e não >e#ist/#eles$quem mostra !erdadeiramente o egocentrismo impiedoso insano

e #eroz concentrado em si mesmo$ que é a pr/pria caracter'sticado 4n#erno. >e#ist/#eles$ por ser caracterizado como umespirituoso$ ci!ilizado$ sagaz e #acilmente adaptá!el$ temcola(orado para que se alimente a #alsa idéia de que o mal

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proporciona 0de alguma maneira1 a li(erdade$ quando &á setornou patente que o que ocorre é &ustamente o in!erso. "shomens conseguem e!itar a prática de erros cometidos poralguém importante) #iz o poss'!el para que meu sim(olismo nãoca'sse no erro de ;oethe$ pelo menos$ porque tra(alhar com

humorismo exige certo sentido de propor*ão$ alem dacapacidade de alguém contemplarse a si mesmo como seesti!esse olhando pelos olhos de outra pessoa externa. 2odemosresponsa(ilizar qualquer ser que ha&a pecado pelo orgulho porum oceano de culpas$ mas não por esta. 6hesterton disse que-atanás caiu pelo e#eito da or*a da ;ra!idade. 2odemosimaginar o 4n#erno como sendo uma situa*ão em que todosestão preocupados com conceitos como dignidade e progressopelos pr/prios es#or*os$ onde todos se sentem o#endidos$ e sede(atem tomados por paix+es #atais como a in!e&a$ a !aidade eo ressentimento. < estes são apenas alguns dos elementos.Edmito que pre#iro morcegos do que (urocratas. 9i!o nestaépoca de grandes e %(rilhantes% administradores. "s maioresmales &á não acontecem nos per!ersos %redutos criminosos%$ queDic3ens tanto aprecia!a descre!er. Nem sequer nos hediondoscampos de concentra*ão. Nestes campos$ apenas temos !isãodos resultados de outros males que #oram praticados antes$

causando estes mesmos campos.  A !erdade$ porem$ é que osmaiores males e crimes são criados$ arquitetados e executadosem escrit/rios (em limpos$ atapetados$ re#rigerados e (emiluminados por homens de colarinho (ranco$ unhas (emcuidadas) estão sempre (em (ar(eados e &amais precisamele!ar seu tom de !oz.

2or causa disso$ os s'm(olos que eu uso para #alar do4n#erno se originam da (urocracia de um estado onde a pol'ciadomina ou do am(iente caracter'stico de escrit/rios de certosesta(elecimentos comerciais terri!elmente imundos. Echo (emmais concreto e sugesti!o. >ilton diz que %dia(o maldito comdia(o maldito mantém s/lida concordJncia%. 5udo (em$ mascomo 6ertamente não é pelos la*os da amizade ou #raternidade!erdadeiras$ pois qualquer ser que possa amar ainda não é um

dia(o. >ais uma !ez$ creio que o -im(olismo que usei pareceu7til$ pois me permitiu$ por compara*+es terrenas #azer uma (oaidéia de outra sociedade que s/ se mantém por causa do medo eda am(i*ão. -uper#icialmente$ as maneiras são normalmente

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delicadas$ pois um tratamento rude para com seu superior seriasuic'dio) e quando um superior #alasse com um su(ordinado$ se o#izesse com rispidez ou rudeza$ isto #aria com que os mesmossu(ordinados #icassem pre!enidos antes que o che#e esti!essepronto para dar a %#acada nas costas%. 6om e#eito$ %co(ra come

co(ra% é o principio de toda a "rganiza*ão 4n#ernal. 5odosdese&am o descrédito$ a derrota e a ru'na de todos os outros. <mresumo$ todos se tornam especialistas na propaga*ão de#alsidade e trai*ão. As (oas maneiras$ as express+es de cortesiae os %elogios #ormais% que trocam entre si pelos %inestimá!eisser!i*os prestados% são apenas uma casca de todas estas coisas.De !ez em quando$ esta casca racha$ e então aparece o caldo#er!ente de seus /dios de um pelo outro. " sim(olismo tam(émme permitiu li!rar a mente da #antasia a(surda de se admitir queos demônios estão empenhados na (usca desinteressada dealgo a que damos o nome de >al 0com letra mai7scula$mesmo1.<m meu sim(olismo$ não ha!eria lugar para esp'ritos tãodes#igurados em seus o(&eti!os. "s maus an&os 0à semelhan*ados maus homens1 tem esp'rito puramente prático. <les tem doismoti!os para isso. 2rimeiro: medo da puni*ão. Essim como ospa'ses ditatoriais 0totalitários$ se pre#erirem1 tem suas pris+espol'ticas e campos de concentra*ão$ da mesma #orma$ o 4n#erno

que eu pinto contem 4n#ernos mais pro#undos$ que #uncionamcomo %casas de corre*ão%. " segundo moti!o !em de uma certaespécie de #ome. 4magino que os demônios podem$ no sentidoespiritual$ de!orarse uns aos outros$ e a n/s tam(ém. >esmo nocontexto de !ida humana$ !emos a paixão dominar 0quasemesmo de!orar1 uma pessoa à outra. 4sto #az com que toda a!ida emocional e intelectual do outro se&am a tal ponto apagadasque se reduzam a meros complementos da pr/pria paixão. "

indi!'duo passa então a odiar como se o agra!o #osse so(re simesmo$ de!ol!er o#ensas como se ele ti!esse sido o#endido$en#im$ tem sua indi!idualidade totalmente dissol!ida$assimilando desta #orma a do o(&eto de sua paixão. <m(ora na

 5erra chamem isto de %amor%$ imagino que passe longe doconceito de amor que Deus nos legou 0!er 4 6o AL1. No 4n#erno$identi#ico este tipo de sentimento com a #ome) e neste 4n#erno$ a#ome é mais #eroz e a satis#a*ão desta mais !iá!el.

Não ha!endo corpos$ o esp'rito mais #orte pode realmentea(sor!er o mais #raco$ deleitandose assim de modo permanente

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na indi!idualidade destru'da do mais #raco. < por isso 0suponhoeu1 que os dia(os dese&am conquistar esp'ritos humanos$ (emcomo os esp'ritos uns dos outros. 5am(ém é por isto que-atanás anseia por todos os mem(ros de seu exército e portodos que nascem de <!a e mesmo 0ainda que

pretensiosamente1 pelos exércitos do 6éu. " sonho que eleacalenta é o do dia em que tudo este&a em seu interior$ de modoque qualquer um que disser %<u% s/ possa dizer atra!és dele.2oder'amos comparálo à aranha inchada$ em contraposi*ão à(ondade in#inita segundo a qual Deus torna homens em ser!os$e estes ser!os em #ilhos$ de modo a serem no #inal reunidos a<le$ não como %almas a(sor!idas%$ mas como indi!'duosaprimorados$ des#rutadores de todo o deleite e prazer que apresen*a de Deus proporciona. <m s'ntese$ Deus se compraz empedir ao homem sua indi!idualidade$ mas tão logo o homem acede$ o maior prazer de Deus é de!ol!êla aprimorada. Deus(ate à porta$ ao passo que o Dia(o a arrom(a. " <sp'rito -antoenche$ os dia(os possuem. Essim mesmo$ como acontece noscontos dos irmãos ;rimm$ estas coisas são apenas cria*+es de#antasia e sim(olismo. < o moti!o pelo qual minha opiniãopessoal so(re os dia(os$ mesmo precisando ser colocada$ nãotem maior importJncia para o leitor destas 6artas. 2ara os que

participam de meus conceitos$ meus dia(os serão simpless'm(olos de uma realidade concreta) para outros$ eles serãopersoni#ica*+es a(stratas$ de #orma que o li!ro terminará sendouma alegoria. ará assim pouca di#eren*a o modo pelo qual !ocêo leia$ pois o prop/sito das 6artas não é #azer especula*+es emtorno da !ida dia(/lica$ e sim lan*ar luzes$ partindo de um no!oJngulo 0no caso$ o do 4nimigo1 so(re a !ida dos homens.Disseramme que não sou o primeiro neste campo$ e que alguém

no século 89444$ escre!eu cartas atri(uindoas ao dia(o. Não ti!eoportunidade de !er estas cartas. >as é !erdade que de!oalgumas posi*+es a outros autores. ico satis#eito de reconhecero dé(ito com %6on#iss+es de uma mulher (em intencionada% deautoria de >cMenna. "s pontos concordantes podem não estar(em claros$ mas é #ácil !eri#icar a mesma in!ersão moral: ospretos #icam (rancos e os (rancos #icam pretos e o humor queexiste em #alar atra!és de uma %pessoa% totalmente despro!ida

de humor. -uponho que minha idéia relati!a ao cani(alismoespiritual$ com toda a pro(a(ilidade de!e alguma coisa às cenashorrendas de %a(sor*ão% que se encontram descritas nas%9iagens para Ercturus% de Da!id =indsa. "s nomes que escolhi

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para os demônios tam(ém tem dado margem para muitoscomentários$ todos eles errados. A !erdade é que eu s/ quis darlhes um aspecto horripilante 0como no sentido espiritual eintelectual eles tem1 e tal!ez isso se de!a tam(ém a algumasidéias de =indsa usando para isso o som. ma !ez que um

nome ti!esse sido in!entado$ eu podia imaginar o que quisesse0sem nenhuma autoridade$ concordo$ mas nenhum homem ateria mais que eu1 quanto às associa*+es psicol/gicas que umnome #eio pudesse dar de um ser de essência #eia.reqGentemente recebi solicita*+es e sugest+es para escrevermais cartas$ mas$ por muitos anos$ não ti!e a menor inclina*ãopara #azer algo no sentido. <m(ora admita que me custou muitopouco es#or*o escre!er as 6artas$ tam(ém é #ato que nada doque escre!i me trouxe tão pouco  prazer. oi #ácil porque otra(alho de escrever cartas atri(uindoas a um dia(o$ uma !ezescolhido o método$ chega a ser mecJnico$ ou se&a$ o pr/priométodo fornece os assuntos. "s assuntos se sucedem de tal#orma que podemos escre!er milhares de páginas$ (astandopara isso se deixar le!ar pela inspira*ão. <ntretanto$ em(orase&a #ácil le!ar a mente a raciocinar dia(olicamente$ isso nãoproporciona  prazer, ou pelo menos não por muito tempo. "es#or*o implicaria em uma esta#a espiritual$ pois o mundo em

que eu tinha que me pro&etar enquanto su(lima!a a mente de-cretape era todo p/$ areia$ #ome$ sede e c/cegas. 5odos os!est'gios de (eleza$ #rescura e !erdade tinham de ser exclu'dos$e isso quase me su#ocou antes mesmo de chegar ao #im. "utracoisa que me deixou a#lito em tal li!ro #oi ele não ser uma o(raoriginal a ponto de ninguém poder escrever algo semelhante.

4dealmente$ a orienta*ão prestada por -cretape aOormood de!eria ser contra(alan*ada pelo conselho de umErcan&o a um an&o protetor do paciente. -em isto$ o quadro da!ida humana  parece estar inclinado para o lado ad!ersário deDeus. <ntretanto$ quem poderia suprir tal de#iciência >esmoque alguma pessoa que teria que ser muito melhor que eu chegasse a escalar as alturas celestiais necessárias$ qual seria oestilo que se teria que empregar 2orque este estilo teria de ser

tão su(lime quanto o assunto. Não (astaria ministrar conselhos$cada senten*a teria de emanar o aroma celestial. < atualmente$mesmo que se pudesse escre!er em prosa igual à de 5rahrnes$não se lhe permitiria #azêlo$ uma !ez que os ditames do

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#uncionalismo tem ina(ilitado a literatura relati!amente àmetade das #un*+es que lhe pertencem. 0No #undo$ todo idealestil'stico não s/ cita normas quanto a maneira como as coisasde!em ser ditas$ mas tam(ém relati!amente as pr/prias coisasque se nos permite dizer1. <ntão$ à medida em que os anos

decorriam e a experiência su#ocante acarretada pela con#ec*ãodas 6artas se en#raqueceu na mem/ria$ come*aram a ocorrerme algumas re#lex+es so(re pontos aqui e ali que demanda!ama inter!en*ão dum -cretape . <sta!a resol!ido a não escre!ernenhuma outra carta. -urgiume !agamente a idéia de algocomo uma prele*ão ou como um estudoidéia ora esquecida$ orarelem(rada$ mas que nunca chega!a a ser escrita. < #oi entãoque me chegou às mãos um con!ite do -aturda <!ening 2ostque me #ez por mãos à o(ra.

>E;DE=<NE COLLEGE, 6E>FK4D;<

AP de >aio de ABQR. 6=49< -. =<O4-

CARTA Número I

>eu 6aro Oormood:

2restei (astante aten*ão no que !ocê disse acerca deconduzir as leituras do seu paciente$ tomando cuidado para queele assimile (astante daquele amigo materialista. >as !ocê nãoestá sendo um pouquinho ingênuo nesta tare#a 2areceme que

!ocê está se con!encendo 0não sei (aseado em quê1 que atra!ésda argumenta*ão !ocê pode a#astálo da in#luência do 4nimigo.4sso até seria aceitá!el$ se seu paciente ti!esse !i!ido algunsséculos atrás$ pois naquele tempo os humanos ainda sa(iamdistinguir quando uma coisa ha!ia sido pro!ada ou não. < seti!esse sido$ os homens a aceita!am e muda!am sua maneira deagir e de pensar$ somente seguindo uma corrente de racioc'nio.No entanto$ de!ido à imprensa semanal e a armas semelhantes$alteramos (astante este contexto. 2arta do princ'pio que sua!'tima &á se acostumou desde crian*a a ter uma d7zia de#iloso#ias di#erentes dan*ando em sua ca(e*a. <le não usa ocritério de %9<KDED<4K"% ou %E=-"% para con#erir cada

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doutrina que lhe apare*a 0se&a do 4nimigo ou nossa1. Eo in!ésdisso$ ele !eri#ica se a doutrina é %Ecadêmica% ou %2rática%$%Entiquada% ou %Etual%$ % Eceitá!el% ou %6ruel%. " &argão e aexpressão #eita 0e não o argumento l/gico1 são seus melhoresaliados para mantêlo longe da 4gre&a. Não perca tempo tentando

le!álo a concluir que o >aterialismo se&a !erdadeiro 0sa(emosque não é1. a*ao pensar que ele é orte$ 9iolento ou 6ora&oso ou ainda$ que é a iloso#ia do uturo, <ste é o tipo de coisas quelhe despertarão a aten*ão. 2erce(o que !ocê tem inten*+esproduti!as$ mas há um pro(lema muito grande quando tentamospersuadir o paciente a passar para nosso lado pelo emprego deargumentos e l/gica: isto conduz toda a luta para o campo do4nimigo$ que para azar nosso tam(ém sa(e argumentar 0emelhor do que n/s1. 2or outro lado$ no que diz respeito àpropaganda prática 0ainda que #alsa1 que lhe sugeri$ <le tem semostrado por séculos (em in#erior ao Nosso 2ai lá de Faixo. 2elapura argumenta*ão$ !ocê despertará o racioc'nio do paciente)uma !ez que a razão dele desperte$ quem poderia pre!er oresultado 9e&a que perigo, >esmo que uma cadeia de racioc'niol/gico possa ser torcida de modo a nos #a!orecer$ isso tende aacostumar o paciente ao há(ito #atal de questionar as coisas$analisando as mesmas com !isão geral$ e des!iandose das

experiências ditas %concretas%$ que na !erdade são apenasexperiências sens'!eis e imediatas. -ua maior ocupa*ão de!e serportanto a de prender a aten*ão da !'tima de modo a &amais seli(ertar da corrente do %-e eu !e&o$ creio,%. <nsineo chamar estacorrente %9ida Keal%$ e &amais deixeo perguntar a si pr/prio oque signi#ica %Keal%. =em(rese que ele não é puramente esp'ritocomo !ocê. Nunca tendo sido humano 0< a(ominá!el a!antagem do 4nimigo neste ponto1 !ocê não perce(e o quanto os

humanos são escra!izados à rotina. ma !ez$ ti!e um paciente$ateu con!icto$ que costuma!a #azer pesquisas no >useuFritJnico. m dia$ estando ele a ler$ notei que seu pensamentoes!oa*a!a com tendência a um caminho errado. 6om e#eito$ o4nimigo ali esta!a ao seu lado$ naquele momento. Entes quedesse por mim$ !i o meu tra(alho de !inte anos come*ando adesmoronar. -e ti!esse entrado em pJnico e tentadoargumentar$ eu estaria irremedia!elmente perdido. >as não #ui

tolo a esse ponto, Kecordei da parte da !'tima que mais esta!aso( meu controle e lem(reilhe que esta!a na hora de almo*ar." 4nimigo acho lhe #ez uma contrasugestão 0!ocê (em sa(ecomo é di#'cil acompanhar aquilo que <le lhes diz1 de que a

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questão que lhe surgira na mente era mais importante do que oalimento. 2enso ter sido essa a técnica do 4nimigo porquequando lhe disse %Fasta, 4sto é algo muito importante para semeditar num #inal de manhã...%$ !i que o paciente #icou satis#eito.Essim$ arrisquei dizer: %< muito melhor se !ocê !oltar ao assunto

depois do almo*o e estudar o pro(lema com ca(e*a mais #resca.Não ha!ia aca(ado a #rase e ele &á esta!a no meio do caminhopara a rua. Na rua$ a (atalha esta!a ganha. >ostreilhe um

 &ornaleiro gritando %"lha o @ornal da 5arde%$ e o Sni(us No.TLque ia passando$ e antes que ele ti!esse dado muitos passos$ euo tinha con!encido de que se&am lá quais #orem as idéiasextraordinárias que possam !ir à mente de alguém trancado comseus li!ros$ (asta uma dose de %9ida Keal% 0que ele entendiacomo o ôni(us e o &ornaleiro gritando1 para persuadilo que%Equilo 5udo% não podia ser !erdade de &eito nenhum. A !'timaescapara por um #io$ e anos mais tarde$ gosta!a de se re#eriràquela ocasião como %senso inarticulado de realidade$ que é o7ltimo sal!a!idas contra as a(erra*+es da simples l/gica%. Ho&e$ele está seguro$ na 6asa de Nosso 2ai. 6ome*a a perce(er ;ra*as a processos que ensinamos em séculos passados$ oshomens acham quase imposs'!el crer em realidades que nãolhes se&am #amiliares$ se estão diante de seus olhos #atos mais

ordinários. 4nsista pois em lhe mostrar o lado comum das coisas.Ecima de tudo$ não #a*a qualquer tentati!a de usar a 6iência0digo$ a !erdadeira1 como de#esa contra o 6ristianismo.6ertamente$ as 6iências o encora&ariam a pensar em realidadesque a !isão e o tato não perce(em. 5em ha!ido tristes perdaspara n/s entre os cientistas da 'sica. -e a !'tima teimar emmergulhar na 6iência$ #a*a tudo que !ocê puder para dirigilapara estudos econômicos e sociais$ acima de tudo$ não deixe

que ela a(andone a indispensá!el %9ida Keal%. >as o ideal é nãodeixar que leia coisa alguma de 6iência alguma$ e sim lhe dar aidéia de que &á sa(e de tudo e que tudo que ele assimila dascon!ersas nas %rodinhas% são resultados das %desco(ertas maisrecentes%. Não se esque*a que sua #un*ão é con#undir a !'tima.2ela maneira como alguns de !ocês$ dia(os inexperientes #alam$poderiam até pensar 0que a(surdo,1 que nossa #un*ão #osseensinar,

-eu a#etuoso tio$

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-cretape

CARTA Número II

>eu 6aro Oormood:

9e&o$ com muito desgosto que sua !'tima tornouse umcristão. Nem por sonho alimente a esperan*a de que poderáescapar aos castigos normais) com e#eito$ em seus melhoresmomentos$ espero que !ocê nem mesmo pense em tal coisa.<nquanto isso é preciso que #a*amos o poss'!el para remediar

essa situa*ão tão indese&á!el. Não é necessário cairmos nodesespero$ contase por centenas esses con!ertidos em idadeadulta que #oram reconquistados$ depois de uma (re!e estadanos arraiais do 4nimigo e agora se encontram conosco. 5odos oshá(itos do paciente$ tanto intelectuais quanto #'sicos$ estãoainda a nosso #a!or. Eliás$ um dos maiores aliados que temosho&e é a pr/pria 4gre&a. Não me interprete mal. Não me re#iro àpestilenta 4gre&a que !emos di#undida atra!és dos séculos portoda parte com suas raízes na <ternidade$ terr'!el como umin!enc'!el exército com suas (andeiras. ESSE espetáculocon#esso que traz inseguran*a e inquieta*ão aos mais cora&ososentre n/s. 2ara nossa sorte$ <-5E 4gre&a é inteiramente in!is'!elaos olhos humanos. 5udo que seu paciente pode contemplar é oprédio inaca(ado$ 0pretendendo um estilo g/tico1 em seu (airrono!o. <ntrando ali$ o paciente !ê o dono da quitanda local$ comuma expressão de (ema!enturan*a no rosto$ e que se apressaem lhe oferecer um li!rinho &á (em gasto contendo uma liturgia

que ninguém consegue entender mais$ e mais um outro li!rinhocaindo aos peda*os que contem !ários textos 0corrompidos$ porsinal1 de poemas religiosos 0a maioria$ péssimos1 e ainda porcima$ impressos em letra mi7da 0chego a pensar que n/s osescre!emos1 de #orma a di#icultar ao máximo a leitura. Eoassentarse num dos (ancos e olhar ao redor$ o paciente !ê

 &ustamente os !izinhos que até então e!itara. 9ocê de!eráacentuar (em na imagina*ão do paciente alguns detalhes

daqueles !izinhos. a*a com que sua mente #ique a #lutuar entreuma expressão como o corpo de 6risto e os rostos concretos queele pode !er nos (ancos pr/ximos. 4nteressa muito pouco sa(er

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qual se&a$ na realidade$ o tipo de pessoas acomodadas naquelesoutros (ancos. 2ode ser quer !ocê sai(a que um de entre eles é#errenho (atalhador nas #ileiras do 4nimigo. Não há pro(lema.<sse paciente$ gra*as a Nosso 2ai lá de Faixo$ não passa de umtolo. 6ontanto que alguns dos seus !izinhos ali este&am cantando

desa#inados$ ou usem sapatos (arulhentos$ ou tenham duplapapada$ ou este&am tra&ados com ternos antiquados$ o pacientepoderá logo admitir muito #acilmente que a religião de taissemelhantes terá de ser$ portanto$ de certa #orma$ rid'cula. Noestágio em que ele se encontra$ compreender o conceito que #azdos cristãos lhe  parece espiritual) na !erdade$ é um conceitototalmente imaginário. -ua mente está cheia de togas esandálias e armaduras e pernas nuas 0restos duma pel'culasituada no século 4$ de modo que$ o simples #ato de que outraspessoas na igre&a este&am a tra&ar roupas modernas constituisenuma real em(ora se&a isso inconsciente di#iculdade para ele.Nunca deixe que essa di#iculdade chegue à tona: nunca permitaque ele inquira a respeito de como espera!a que esses cristãos#ossem. a*a #or*a por conser!ar tudo con#uso em sua menteagora$ pois assim !ocê terá em que distrairse por toda aeternidade$ dandolhe o tipo de esclarecimento que o 4n#ernooferece. Epro!eitese quanto poss'!el$ então$ da decep*ão$ ou do

#orte contraste que com certeza !irá ao paciente no decorrer dasprimeiras semanas de #reqGência à igre&a. " 4nimigo permite queo re#erido desapontamento ocorra na #ase inicial de todos oses#or*os dos seres humanos. "corre quando o adolescente queexperimentara !erdadeiros enleios ao ou!ir as hist/rias da"disséia passa depois a estudar$ com a#inco$ a l'ngua grega."corre quando os noi!os #inalmente se casam e come*am a realtare#a de aprender a !i!er &unto. <m todas as áreas da !ida$ esse

desapontamento assinala a transi*ão necessária entre asaspira*+es sonhadas e a realiza*ão tra(alhosa. " 4nimigo seexp+e a esse risco porque acalenta a curiosa #antasia de tornaresse no&ento !ermezinho humano a que <le chama de seus li!resamigos e ser!os #ilhos é a pala!ra que <le emprega em suapre#erência costumeira por degradar todo o mundo espiritualmediante rela*+es não naturais que esta(elece como animais('pedes humanos.  À li(erdade dos re#eridos animais <le$ por

conseqGência$ recusase a atra'los s/ pelas a#ei*+es e pela #or*ade há(ito a qualquer dos o(&eti!os que intente com eles. <le osdeixa %agir por si mesmos% 0não é incoerente1 >as #elizmente$nisto está uma /tima oportunidade para n/s 0se apro!eitada$

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claro1. 6omo assim$ !ocê diria ácil: -e eles saem destesapertos iniciais sem se %arranhar%$ se tornam maisindependentes de suas emo*+es$ e com isso$ #ica muito maisdi#'cil tentálos. Eté aqui$ tenho escrito longamente sempreimaginando que as pessoas sentadas nos demais (ancos não

dão moti!os espec'#icos para o tal desapontamento. 6om e#eito$se derem moti!os se o paciente sou(er que aquela mulher dechapéu esquisito é pro#undamente !iciada em &ogos de azar$ ouque o indi!'duo dos sapatos (arulhentos é a!arento eganancioso então seu tra(alho como tentador #ica muito mais#ácil. 9ocê s/ precisa (anir da mente da !'tima esta linha dere#lexão: %-e eu$ sendo o que sou$ posso aceitar que até certoponto sou um cristão$ quem poderia distinguir os !'cios destaspessoas nos (ancos a' ao lado e pro!ar que a religião deles nãopassa de hipocrisia e mero con!encionalismo%. 9ocê pode estarperguntando se é poss'!el e!itar esse tipo de re#lexão$ mesmose tratando de uma mente humana. -ai(a que é sim$Oormood$ pode acreditar, >anipuleo corretamente e !erá queisto &amais lhe passará pela ca(e*a. -eu paciente não terá aindatempo su#iciente de con!i!ência com o 4nimigo para aprenderacerca da humildade real. " que diz$ mesmo quando de &oelhos$so(re sua !ida pecaminosa$ é mera con!ersa de papagaio. No

#undo$ ele ainda acha que no (alan*o da contacorrente do4nimigo a sua situa*ão é mais #a!orá!el$ pois ele consentiu em sedeixar con!erter$ e acha uma extrema pro!a de humildade edesprendimento o #ato de #reqGentar a igre&a com essa %cor&a%de semelhantes med'ocres. a*a tudo para mantêlo o maiortempo poss'!el neste estado de pensamento.

E#etuosamente$ seu tio.-cretape

CARTA Número III

>eu caro Oormood:

Elegrame so(remodo o que !ocê me diz a respeito dasrela*+es desse homem com sua mãe. >as !ocê tem de tirar

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maior !antagem: pode ser que o 4nimigo este&a operando dedentro para #ora$ conduzindo o paciente gradati!amente àado*ão dos padr+es no!os propostos à sua conduta de modo quea qualquer momento possa #azêlo su(misso à antiga senhora. <preciso que !ocê se&a o primeiro a entrar. 2onhase em contato

com nosso colega E(sinto$ que tem aquela mãe a seu cargo$ e!ocês dois procurem arquitetar no 'ntimo do paciente$ um há(itoe#iciente e prop'cio$ de pro!ocar m7tuos a(orrecimentos:chatices diárias. "s métodos que passo a sugerir são muito7teis:

A. >antenha a mente da !'tima presa à !ida interior delemesmo$ posto que sua aten*ão se !olta presentemente paraaquela !ersão expurgada dos re#eridos estágios deamadurecimento da alma$ que é tudo quanto !ocê lhe de!econceder que contemple. <ncora&e isto, >antenhalhe a mentea(stra'da relati!amente aos de!eres mais elementares porinsistir em que ela se diri&a s/ para os de!eres mais a!an*ados emais espirituais. a*a mais gra!e essa caracter'stica humanaque são o horror e a negligência para com as coisas maissimples. 9ocê poderá le!álo a condi*ão na qual se torna

poss'!el o autoexame durante uma hora sem que #iquemdesco(ertos #atos a respeito de si mesmo que seriama(solutamente claros aos que tenham con!i!ido com ele nomesmo escrit/rio.

U. -em d7!ida é quase imposs'!el impedirlhe queinterceda por sua mãe$ mas temos meios para #azer com que

tal intercessão #ique nula. 6erti#iquese de que as ora*+es se&amsempre muito espirituais$ de modo que o paciente se preocupeincessantemente com o estado da alma de sua mãe e não comseus %reumatismos%. Duas são as !antagens que da' pro!em. <mprimeiro lugar$ a aten*ão do paciente #icará presa naquilo queele mesmo considera como sendo pecados dela$ por cu&asexpress+es$ com alguma diligência que !ocê exer*a$ ele poderáser induzido a de#inir esses pecados maternos como a*+es dela

que lhe pare*am irritantes ou incon!enientes. Essim !ocê poderámanter %arranhantes% todos os pro(lemas mais diários$ mesmoquando ele esti!er prostrado de &oelhos. E opera*ão não é dasmais complicadas e !ocê irá achála (astante recreati!a. <m

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segundo lugar$ desde que suas idéias acerca da alma da mãesão muito cruas e #reqGentemente erradas$ ele estará de umacerta #orma$ orando por uma pessoa imaginária$ e sua tare#a é#azer com que a pessoa imaginária se distancie mais e mais damãe real a !elha senhora de l'ngua a#iada no ca#é da manhã.

6om o passar do tempo$ !ocê poderá alargar esta distJncia a talponto que nenhum pensamento ou sentimento !indo de suasora*+es possa #luir para a personagem real. @á ti!e pacientes tão(em manipulados que poderiam mudar num instante de umaapaixonada ora*ão pelas %almas% de sua esposa ou #ilhos para oespancamento e insulto dos #amiliares reais semconstrangimento algum.

L. Iuando dois seres humanos !i!eram &untos por muitotempo$ usualmente aparecem tons de !oz e express+es #aciaisde um que quase enlouquecem de #7ria ao outro. 5ra(alhe emcima disso, 5raga à lem(ran*a de seu paciente aquele especialarquear de so(rancelhas que ele aprendeu a detestar desde ain#Jncia$ e con!en*ao de quanto ele detesta este tre&eito. a*acom que ele assuma que ela sa(e per#eitamente o quão irritanteé esta mania e por isso mesmo #az a tal careta de prop/sito s/

para atormentálo se !ocê sou(er tra(alhar$ ele nuncadescon#iará da imensa impro(a(ilidade de tal presun*ão. < éclaro$ nunca o deixe perce(er que alguns tons de !oz eexpress+es #aciais dele a a(orre*am da mesma #orma. @á que elenão pode se !er ou ou!ir pela /tica dela$ isto é de #ácil execu*ão.

C. Na !ida doméstica ci!ilizada$ aparecem express+es queaparentariam total inocência se escritas no papel 0ou se&a$ aspala!ras em si não são o#ensi!as1$ mas ditas com certo tom de!oz$ ou num dado momento ou com certo sorriso$ assemelhamse a autênticas (o#etadas na cara. 9isando manter este &ogo(em aceso$ !ocê e o E(sinto de!em estudar todos os detalhes a#im de manter esta dupla de idiotas com tam(ém duplo padrãode personalidade e comportamento. -eu paciente de!erá co(rarque tudo que ele disser se&a tomado ao pé da letra e &ulgadosimplesmente pelo teor das pala!ras$ ao mesmo tempo em queele #az exatamente o oposto com tudo que a coroa disser$

 &ulgando cada tom$ gesto$ expressão #acial como #ormas !eladasde agressão. Eo mesmo tempo$ E(sinto de!erá encora&ála àmesma atitude. Essim$ depois de cada (riga$ cada um deles

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poderá sair con!encido 0ou quase con!encido1 de que esta!atotalmente inocente. 9ocê sa(e aquele tipo de papo: %<u s/pergunto a que horas irá sair o &antar e ela #ica toda ner!osinha,%Desde que este há(ito tenha sido (em esta(elecido$ !ocê terá adi!ertid'ssima situa*ão em que um humano diz coisas que !isem

o#ender ao seu pr/ximo e depois se mostrem indignados quandoo pr/ximo se mani#esta de #ato o#endido. inalmente$ contemealgo so(re a posi*ão espiritual da !elhota. <la está ciumentade!ido ao no!o #ator na !ida do #ilho <stará desgostosa de queele ha&a aprendido de terceiros e tão tardiamente o que elasup+e ter dado a ele desde a mais tenra in#Jncia <la consideraque ele estaria #azendo demasiado alarde em torno do caso "uque ele aceitou de estranhos com a maior #acilidade o que elanunca conseguiu inculcarlhe =em(rese do irmão mais !elho na2ará(ola do 4nimigo...

E#etuosamente$ seu tio

-cretape

CARTA Número IV >eu 6aro Oormood:

Es sugest+es amador'sticas em sua 7ltima carta ad!ertemme que é chegada a hora de escrever a !ocê so(re o dolorosoassunto da ora*ão. 9ocê (em poderia ter poupado o comentário

tipo %mostraramse singularmente in#elizes% so(re minhasad!ertências acerca das ora*+es dele por sua mãe. 4sto não é otipo de coisa que um so(rinho de!esse escre!er a seu tio nemum tentador aprendiz ao su(secretário de um departamento.-ua postura re!ela tam(ém um pouco recomendá!el dese&o de#ugir à responsa(ilidade) !ocê precisa aprender a pagar por seuspr/prios desacertos. E melhor coisa$ quando poss'!el$ é manter opaciente totalmente #ora da inten*ão séria de orar. Iuando opaciente é um adulto recentemente reconciliado ao partido do4nimigo$ como é o caso do seu homem$ o melhor é encora&álo ase lem(rar 0ou pensar que se lem(ra1 da natureza de con!ersade papagaio em suas ora*+es de in#Jncia. <m contraposi*ão a

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isso$ ele de!e ser persuadido a aspirar algo inteiramenteespontJneo$ mais 'ntimo$ in#ormal e sem sistematiza*ão) e o queisso irá realmente signi#icar para o principiante consistirá em umes#or*o para produzir em si mesmo um estado !agamentede!ocional$ no qual a real concentra*ão de !ontade e

inteligência simplesmente não existem. m de seus poetas$6oleridge$ deixou registrado que não ora!a %com mo!imentosdos lá(ios e &oelhos do(rados%$ mas simplesmente %dispunha seuesp'rito a amar% e entrega!ase a um %sentimento de s7plica%.<ste é exatamente o tipo de ora*ão que queremos) e desde queo re#erido tipo sustenta uma certa semelhan*a com a ora*ãosilenciosa que é praticada por aqueles que &á estão (emadiantados no ser!i*o do 4nimigo$ pacientes %amadurecidos% oupregui*osos podem ser conduzidos completamente nestasistemática por longo tempo. No m'nimo$ podemos persuadilode que a posi*ão corporal não #az di#eren*a em suas ora*+es)pois eles constantemente se esquecem de que são animais$ epor isso tudo que seus corpos fazem a#eta suas almas eesp'ritos.

< di!ertido como os mortais sempre nos pintam como

%colocando coisas em suas mentes%: na realidade$ nosso melhortra(alho consiste &ustamente em e!itar que certas coisascheguem a suas mentes. -e isto tudo #alhar$ !ocê de!eráretroceder em um sutil mau encaminhamento de sua inten*ão.-empre que os homens estão procurando #azer a !ontade do4nimigo n/s estamos derrotados$ mas há #ormas de e!itar queeles #a*am assim.  A mais simples destas #ormas é des!iar acontempla*ão deles do 4nimigo para eles pr/prios. >antenhaos

na introspec*ão de suas pr/prias mentes e na tentati!a deproduzir sentimentos %no(res% interiores por sua pr/pria !ontadepessoal. Iuando$ por exemplo$ eles #orem pedir ao 4nimigo odom da compaixão$ deixeos$ ao in!és disso$ iniciar umatentati!a de produzir sentimentos de compaixão por suaspr/prias energias e não se aperceberem que é isso que estão#azendo. Iuando eles come*arem a orar por coragem$ dêlhesuma con!ic*ão de serem dotados de (ra!ura. Iuando eles

disserem que estão orando pelo perdão$ le!eos a &á se sentiremperdoados. <nsineos a a!aliar a e#icácia de cada ora*ão peloseu sucesso em produzir o sentimento dese&ado) e nuncapermita que eles suspeitem que o sucesso ou #racasso deste

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gênero depende de como eles este&am no momento$ se&adispostos ou doentes$ lépidos ou cansados. No entanto$ o 4nimigonão estará ocioso neste 'nterim. Eonde hou!er ora*ão$ hásempre o perigo de uma a*ão -ua imediata) <le é cinicamenteindi#erente à dignidade de -ua posi*ão$ e à nossa$ como

puramente esp'ritos$ destarte$ estando os animais humanosprostrados so(re seus &oelhos$ <le lhes passa o autoconhecimento de uma #orma completamente indigna 0quasesem!ergonha1. >as mesmo que <le o derrote em sua primeiratentati!a$ n/s ainda temos uma arma sutil. "s humanos nãopossuem essa percep*ão direta do 4nimigo$ a qual n/s$in#elizmente$ não podemos e!itar."s mesmos animais nuncaconheceram essa luminosidade mort'#era$ que dilacera e esseresplandecer a(rasador que se torna um #undo de dorinterminá!el em nossa existência. -e olhar para o interior damente de seu paciente quando ele está orando$ &amaisencontrará nada dEquilo. -e !ocê$ ainda$ examinar o o(&eto aoqual ele ser!e$ irá encontrar o que seria um o(&eto complexo$contendo muitos ingredientes completamente rid'culos. Eliha!erão imagens deri!adas de #iguras do 4nimigo como <leapareceu durante o pouco digno de crédito epis/dio conhecidocomo  A <ncarna*ão: tam(ém há imagens !agas de todo

sel!agens e in#antis associadas às duas outras 2essoas da 5rindade. Ha!erá mesmo algo de sua pr/pria re!erência 0e dassensa*+es corporais que a acompanham1 que (usca construirum o(&eto a ser associado ao "(&eto real de adora*ão. <u tenhoconhecido casos onde o que o paciente chama!a de seu %Deus%$esta!a na !erdade localizado ao alto e à esquerda do #orro noquarto de dormir$ ou dentro da pr/pria ca(e*a$ ou em umcruci#ixo na parede. >as se&a lá qual #or a natureza do o(&eto

#a(ricado pelo paciente$ !ocê tem que manter o al!o de suaora*ão N4-5" na coisa que ele mesmo #ez e nunca na 2essoaque o #ez. 9ocê pode até encora&álo a dirigir grande importJnciaà corre*ão e melhoramento do o(&eto de seu culto$ (em comomanter o dito o(&eto sempre em sua mente$ durante qualquerora*ão. 2ois se ele !ier a #azer a distin*ão$ se eleconscientemente dirigir suas ora*+es %Não ao que eu penso que

 5u és$ mas ao que 5u sa(es ser%$ nossa situa*ão será$ no

momento$ desesperadora, Desde que todos os seuspensamentos e imagens tenham sido descartados para longe$ ouse retidas$ retidas com o conhecimento total de sua naturezameramente su(&eti!a$ e o homem passe a con#iar na

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completamente real$ externa e in!is'!el 2resen*a que seencontra com ele no quarto$ e que &amais será dele conhecidatanto quanto o conhece #a , danos incalculá!eis poderão !irso(re n/s.  A #im de e!itar esta situa*ão esta real pureza dealma na ora*ão !ocê será auxiliado pelo aspecto de que os

seres humanos não dese&am tanto esta pureza quanto elesmesmos sup+em. 2ermanece sempre o medo de receberemmais do que ha!iam rei!indicado receber.

-eu a#etuoso tio

>"K6<;E"

CARTA Número V 

>eu 6aro Oormood:

< um pouco decepcionante esperar um relato detalhadoacerca do seu tra(alho e rece(er$ ao contrário$ aquela (re!e

raps/dia que !ocê en!iou à guisa de carta. 9ocê diz que está%delirante de alegria% porque os humanos europeus iniciaramoutra de suas guerras. <u perce(o muito (em o que temacontecido com !ocê...

9ocê não está delirando$ está somente em(riagado.2asseando pelas entrelinhas exageradas do seu relat/rio so(re a

noite passada em claro pelo paciente$ posso reconstituir seusestados mentais com uma razoá!el exatidão. 2ela primeira !ezem sua carreira !ocê pro!a do !inho que é a recompensa paratodo o nosso es#or*o: a ang7stia e a perplexidade de uma almahumana e isto su(iu à sua ca(e*a. < di#'cil para mim repro!álopor isso. Não espero ca(e*as amadurecidas so(re om(ros ainda

 &o!ens. " paciente respondeu a alguma de suas aterrorizantesexpecta*+es para o #uturo 9ocê tra(alhou em alguns repentessaudosos do seu passado #eliz Elguns sutis pa!ores no 'ntimodo estômago dele$ não #oi 9ocê tocou seu !iolino de maneiraestupenda$ não Fem$ (em$ tudo isso é muito natural... >aslem(rese (em$ Oormood$ que a o(riga*ão !em antes da

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di!ersão, -e alguma negligência ou desleixo de sua parteculminar na perda de nossa !'tima$ !ocê #icará eternamentesedento por este trago re#rigerante de que !ocê se deliciou comuma primeira gota. -e$ por outro lado$ pela aplica*ão calculada e#ria de seus es#or*os aqui e agora !ocê puder %assegurar% sua

alma$ ela ir ser sua eternamente uma !ida qual cálicetrans(ordante de desespero$ horror e perplexidade que !ocêpoder le!ar aos lá(ios quantas !ezes quiser. Epenas não permitaque nenhuma excita*ão passageira o distraia de seu realtra(alho de minar o alicerce de #é do paciente$ (em como e!itarnele a #orma*ão de !irtudes. >andeme 0e sem #alta,1 napr/xima carta um relat/rio completo das rea*+es do paciente àguerra$ a#im de que consideremos o melhor a #azer) tornálo umextremista patriota ou um ardente paci#ista. <xiste toda a sortede possi(ilidades. >as de antemão$ &á o pre!ino a não esperargrande coisa de uma guerra. 6oncordo que uma guerra érecreati!a. " medo e so#rimento imediato dos humanos é umleg'timo e agradá!el re#rigério para nossa mir'ade de ocupadostra(alhadores. >as que (ene#'cio permanente isso pode nos darse não pudermos conduzir almas para Nosso 2ai =á de FaixoIuando !e&o o so#rimento temporário de humanos que#inalmente nos escapam$ sinto como se me ti!essem permitido

pro!ar o cou!ert de um rico (anquete e impedido de sa(orear oresto. < pior do que se nem ti!esse pro!ado, " 4nimigo$ #iel aseus (ár(aros métodos de guerrearnos$ permitenos 0éindecente,1 !er a curta miséria de -eus #a!oritos somente parapro!ocarnos e atormentarnos zom(ando da nossa incalculá!el#ome$ a qual durante a presente #ase do grande con#lito$ -eu(loqueio nos imp+e. 9amos$ então pensar mais em como usar doque nos di!ertir com esta guerra européia. 2ois a guerra tem

algumas caracter'sticas pr/prias$ que por si s/$ não estão anosso #a!or. 2odemos esperar por muita crueldade edepra!a*ão. >as se não #ormos cautelosos$ teremos o desprazerde !er milhares de !idas se !oltando para o 4nimigo dentre suastri(ula*+es$ enquanto dezenas de milhares$ que não chegarão air tão longe$ irão constantemente des!iar a aten*ão de simesmos para !alores e causas que acreditam serem ele!ados edignos. <u sei que o 4nimigo desapro!a muitas destas causas.

>as é a' mesmo que <le mostra sua má-fé e deslealdade, <le#reqGentemente recompensa humanos que dedicam e dão suas!idas por causas que <le mesmo considera ruins$ com amonstruosa so#isma de que os humanos pensa!am estar #azendo

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o que era (om$ e seguiam o melhor caminho que conheciam...

< realmente execrá!el, 2assar por cima de tudo que sepensa por con!eniências. 6onsidere tam(ém que mortesindese&á!eis podem acontecer durante uma guerra: Homens sãomortos em lugares onde &á sa(em poder morrer a qualquerinstante e$ portanto se pertencem às #ileiras do 4nimigo$ &á !ãopreparados para morrer. >uito melhor seria para n/s se todos osseres humanos morressem dentro de lares luxuosos e caros$com médicos ao redor que mentem$ en#ermeiras que mentem$amigos que mentem$ con#orme os treinamos$ para que dêem aomori(undo uma !isão de !ida mais longa do que terá$estimulandoo a crer que a doen*a desculpa todos os excessosque passam a cometer$ e claro$ se nossos agentes sou(eremtra(alhar$ imaginar que a presen*a de um pastor ou o(reiro do4nimigo possam re!elar ao doente seu !erdadeiro estado. < quãodesastrosa para n/s é a lem(ran*a cont'nua da morte que aguerra o#erece. ma de nossas melhores armas$ que é omundanismo desen#reado$ tornase completamente in7til.Durante uma guerra$ até o mais ignorante dos humanos nãopode acreditar que !i!erá para sempre, -ei que o 2estilência e

outros têm encontrado /timas oportunidades para (om(ardear a#é$ no am(iente das guerras$ mas creio que tal !isão de tra(alhoé exagerada. "s humanos do partido do 4nimigo tem sidosu#icientemente ad!ertidos por <le de que o so#rimento é parteessencial do que <le mesmo chama Keden*ão$ de sorte que estetipo de #$ que pode ser destru'do por uma guerra ou epidemia$(em$ creio que nem !ale a pena o es#or*o de destru'la. <stou#alando agora do so#rimento disseminado por longo tempo que

uma guerra acarreta. 6oncordo que no exato instante de terror$pri!a*ão ou dor #'sica !ocê pode pegar seu homem$ &á que suarazão #ica con#usa por algum tempo. >as se ele por in#elicidadese dirigir ao quartelgeneral 4nimigo$ quase sempre <le iráde#endêlo en!iando prontamente um esquadrão de guerreiros#uri(undos dos quais$ se ti!er um pingo de (omsenso$ !ocê#ugirá com toda a !elocidade de que dispuser no momento.

-eu a#etuoso tio

-6K<O5E2<

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CARTA Número VI

>eu 6aro Oormood:

ico encantado ou!indo que a idade e pro#issão do seupaciente permitem a possi(ilidade$ ainda que não a certeza$ deque ele se&a chamado para o ser!i*o militar. Dese&amos que ele#ique na máxima incerteza$ e que sua mente #ique cheia deaspectos contradit/rios do #uturo$ para que cada um dessesaspectos pro!oque nele esperan*as e receios. Não há nada comoo suspense e a ansiedade para le!antar pela mente humana

uma autêntica (arricada contra o 4nimigo. <le dese&a homensocupados com o que fazem, ao passo que n/s tra(alhamos paradeixálos preocupados com o que irá acontecer a eles.

-eu paciente &á terá a essa altura concordo a(sor!ido ano*ão de que de!e su(meterse pacientemente à !ontade do4nimigo. " que o 4nimigo quer dizer com isso é que o homem

de!e rece(er com resigna*ão todas a tri(ula*ão &ogada so(re ele as mesmas que produzem o presente estado de suspense eansiedade. < nesta /tica que o paciente de!e dizer %-e&a #eita a

 5ua !ontade,%$ e no tocante à responsa(ilidade diária desuportar esse #ardo$ ele de!erá pedir que lhe se&a dado o pão decada dia. < seu de!er cuidar para que o paciente nunca imagineo seu presente medo como uma cruz que lhe está destinada$mas sim gaste todo o tempo poss'!el com os temores que o

assom(ram. E&a no sentido de que o paciente considere tudocomo !erdadeiras cruzes) deixeo a pensar que &á que elas nãotem nada a !er uma com a outra$ que não podem todas lheacontecer ao mesmo tempo$ e portanto$ treineo para praticar aresigna*ão e paciência pelas pro!a*+es muito antes que elastenham sequer come*ado a acontecer. 2ois a real resigna*ãopara uma d7zia de coisas di#erentes 0e imaginárias1 é quaseimposs'!el$ e o 4nimigo não se mostra lá muito interessado nas

pessoas que tentam conseguir essa %!irtude%. E resigna*ão porso#rimentos reais e presentes$ ainda quando o so#rimento é#ormado apenas por medo$ é muito mais #acilmente socorridapela a*ão direta do 4nimigo.

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ma importante lei espiritual está contida aqui. @á lheexpliquei que !ocê pode en#raquecer suas ora*+es pelo des!iode suas aten*+es do 4nimigo Keal para os estados de mente queele alimenta com rela*ão ao 4nimigo. 2or outro lado$ é

extremamente mais #ácil assenhorearse do medo quando amente do paciente está des!iada do o(&eto amedrontador para omedo em si$ considerado com um estado presente e insuportá!elem sua mente$ e quando o homem considera o medo como acruz que ele de!e carregar 0inapela!elmente1 como um estadoem sua mente. 2odemos$ portanto$ #ormular a regra geral: <mtodas as situa*+es mentais que nos #a!ore*am$ encora&e opaciente a se despir da autoconsciência e se concentrar

puramente no o(&eto em si) mas em todas as ati!idades#a!orá!eis ao 4nimigo$ conduza sua mente de !olta a ela mesma.a*amos com que um insulto ou um corpo de mulher #ixe suaaten*ão no exterior a tal ponto que ele não possa re#letir %<stouneste momento entrando em um estado de alma chamado Kai!a ou em um estado de alma chamado =uxuria.% Eo contrario$ #a*acom que as re#lex+es: %<stou agora acrescentando mais de!o*ãoou caridade aos meus sentimentos%$ a #im de #ixar sua aten*ão

em si mesmo de tal #orma que nunca mais possa olhar alem desi mesmo para !er o 4nimigo ou ao seu pr/ximo.

E respeito das atitudes gerais do paciente com rela*ão àguerra$ !ocê não pode con#iar excessi!amente naquelessentimentos de /dio que os humanos tanto gostam de discutirnos peri/dicos$ se&am eles 6ristãos ou não6ristãos. <m suaangustia o paciente pode reconhe*o ser incenti!ado à!ingan*a pessoal atra!és de sentimentos re!anchistas contra$por exemplo$ os lideres alemães$ e isso é coisa muito (oa atéonde puder ser le!ada. >as usualmente$ este tipo de /dio émelodramático e #antasioso$ dirigido contra !itimas imaginárias.<le &amais encontra estas pessoas na !ida real são todas#iguras prémoldadas que ele a(sor!e das noticias nos &ornais."s resultados deste /dio #antasioso são #reqGentemente muitodecepcionantes$ e de todos os humanos os ingleses são os mais

deplora!elmente %#ogos de palha% neste aspecto. <les são destetipo miserá!el de criaturas que proclamam aos gritos a torturacomo a melhor op*ão para seus inimigos e oferecem chá e

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cigarros para o primeiro piloto alemão #erido que se&a capturadode(aixo de suas portas.

-e&a o que #or que !ocê #izer$ sempre so(ra alguma(ene!olência e alguma mal'cia na alma do seu paciente.  Agrande &ogada e dirigir a mal'cia para seus !izinhos maispr/ximos 0do tipo que ele !e&a todo dia1 e dirigir sua(ene!olência para um c'rculo distante e para pessoas que elesequer conhe*a. Desta #orma$ a mal'cia acaba se tornando real$e a (ene!olência$ em ultima análise$ totalmente imaginária. Nãoé (om que !ocê in#lame o seu /dio pelos alemães se ao mesmotempo está crescendo um pernicioso há(ito de caridade entreele e sua mãe$ seu empregador ou o homem que ele encontra notrem.

4magine seu homem como uma serie de c'rculosconcêntricos na qual sua !ontade se&a o centro$ !indo ap/s seuintelecto e #inalmente$ sua #antasia. Di#icilmente !ocê terá aesperan*a de conseguir excluir de todos os c'rculos tudo quetenha o aroma do 4nimigo: mas !ocê terá sucesso mo!endo

todas as !irtudes para o c'rculo da #antasia$ #icando os de#eitos e!'cios que dese&amos trans#eridos para a 9ontade. -omentequando estão encra!adas na 9ontade$ e se mani#estam ematitudes e há(itos$ as !irtudes nos são realmente #atais. 0Nãoestou$ naturalmente$ me re#erindo ao que o paciente chamaerradamente de sua 9ontade esta né!oa de consciência eexerc'cios de resolu*ão e gestos agressi!os$ mas o real centro dapersonalidade$ que o 4nimigo chama de 6"KEVW",1.

 5oda a sorte de !irtudes pintadas na #antasia ousimplesmente apro!adas pelo intelecto$ ou mesmo até certoponto amadas e admiradas$ não arrancariam nosso homem dosantros de Nosso 2ai lá de Faixo) ao contrário$ elas até fazem as!itimas mais engra*adas quando as mesmas descem ao 4n#erno.

-eu a#etuoso tio

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a&udar (astante !ocê. -e alguma dé(il suspeita de nossaexistência come*ar a se #ormar na mente dele$ sugira a ele uma#igura usando malha !ermelha e ra(o pontudo e con!en*ao deque &á que ele simplesmente não pode acreditar naquilo$ 0este éum antigo método tirado de um li!ro para con#undilos1 tam(ém

não poderá acreditar em !ocê. Não me esqueci de minhapromessa de considerar qual seria o caminho ideal para conduzirnosso paciente desde um patriota extremista até um radicalpaci#ista. 5odos os excessos$ com exce*ão da extrema de!o*ãoao 4nimigo 0a qual é tecnicamente imposs'!el$ !isto os humanosestarem sempre em #alta nessa área1 de!em ser encora&ados.Não sempre$ é claro$ mas nesta ocasião espec'#ica. Elgumas#ases são indi#erentes e complacentes$ e então é nosso tra(alhoacalmálos para que durmam de uma !ez (em depressa. "utras#ases$ das quais a presente é uma$ existe uma tendênciadesequili(rada ao partidarismo e é portanto nossa tare#aincendiálo mais ainda. Iualquer c'rculo #echado ou #ronteiraaliada a algum interesse que os homens não gostem ou ignoremtende a desen!ol!er dentro dos participantes uma espécie deestu#a m7tua de admira*ão$ e acoplado a esta$ certo desprezopelo resto do mundo lá #ora$ o que é um /timo neg/cio para !ocêmanipular o orgulho e o /dio sem (arreiras$ porque existe a

%6ausa% e é ela a patrocinadora de tais sentimentos e a*+es namedida que a mente se torna impessoal. >esmo quando opequeno grupo existir originalmente para prop/sitos do pr/prio4nimigo$ este princ'pio ainda #uncionará. Nosso dese&o é que a4gre&a permane*a pequena$ não s/ porque poucos homens!enham a conhecer o 4nimigo$ mas tam(ém porque$ aqueles quepodem adquirir a preocupa*ão intensa com a de#esa de seusdireitos por fazerem parte de uma sociedade secreta ou uma

#ac*ão. E 4gre&a em si é claro$ é de#endida pesadamente pelashostes do 4nimigo e$ portanto ainda não ti!emos nada muito (emsucedido no sentido de darmos a ela as caracter'sticas de umaseita) mas #ac*+es su(ordinadas a ela tem sido #reqGentementeproduzidas com admirá!eis resultados$ desde o partido de 2auloe Epoio em 6orinto até o Elto e o Faixo 6lero na 4gre&a da4nglaterra. -e seu paciente puder ser induzido a se tornar umo(cecado pela conscientiza*ão$ ele automaticamente encontrará

em si mesmo uma das pequenas$ sonoras$ organizadas eimpopulares sociedades e os aspectos desta$ para alguém no!ono 6ristianismo$ quase sempre serão muito (ons. >as o(ser!eque é IE-< -<>2K<. <le tem a(rigado sérias d7!idas acerca da

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legalidade de lutar em uma guerra &usta antes que a atualti!esse come*ado < um homem dotado de grande coragem#'sica e$ portanto não terá pro(lemas com medos dosu(consciente acerca dos reais moti!os de seu paci#ismo2oderia ele$ quando (em pr/ximo da honestidade a(soluta

0nenhum humano está sempre nesse estado1 se sentirplenamente con!encido de que ele é totalmente mo!ido pelodese&o de o(edecer ao 4nimigo -e ele é este tipo de homem$seu paci#ismo pro!a!elmente não será grande coisa e o 4nimigocuidará de protegêlo das conseqGências con!encionais de

 pertencer a uma seita. -eu melhor plano neste caso$ seria tentálo com uma s7(ita e con#usa crise emocional$ da qual eleemergisse como um #errenho con!ertido ao patriotismo. <stetipo de coisas sempre pode ser controlado. >as se ele é ohomem que eu penso que é$ tente o 2aci#ismo.

Não importando muito qual ele adote$ sua tare#a sempre háde ser a mesma. Deixeo come*ar a lidar com o 2atriotismo ou o2aci#ismo como parte de sua !ida espiritual. <ntão$ deixeo$ so(a in#luência do esp'rito de partidarismo$ se con!encer que eleestá na parte mais importante. < #inalmente$ silenciosa e

gradualmente$ conduzao ao palco onde a !ida espiritual se&aapenas uma parte da %6ausa%$ na qual o 6ristianismo se&aa!aliado principalmente por seus excelentes argumentos em#a!or do es#or*o de guerra (ritJnico ou do 2aci#ismo. A atitudecontra a qual !ocê tem que se resguardar é em quais assuntostemporais são tratados primariamente como caminhos para ao(ediência. ma !ez que !ocê o persuada a considerar o >undouma #inalidade e a #é um meio$ !ocê quase terá !encido o seu

homem$ &á que é muito di#'cil perce(er a pequena di#eren*aentre uma #inalidade mundana e o que ele está perseguindo.

ma !ez pro!idenciado para que encontros$ pan#letos$pol'ticas$ mo!imentos$ causas e cruzadas comecem a ter muitomais importJncia para ele do que as ora*+es$ ordenan*as e acaridade$ ele é nosso e quanto mais religioso 0nestes termos1 ele

#or$ mais seguramente nosso ele se tornará. <u poderia mostrara !ocê uma gaiola cheia desse tipo de almas aqui em(aixo.

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-eu a#etuoso tio

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CARTA Número VIII

>eu caro Oormood:

6om que então !ocê %tem grandes esperan*as de que a#ase religiosa do paciente este&a morrendo%... não é mesmo <usempre achei que o 6olégio de 5reinamento ha!ia desa(ado emru'nas depois que o ;osmento assumiu seu comando$ e agora eu

passo a ter certeza mesmo, -erá poss'!el que nunca ninguémexplicou a !ocê acerca da =ei da "ndula*ão

"s humanos são an#'(ios metade esp'ritos e metadeanimais. 0E determina*ão do 4nimigo para produzir estes h'(ridostão re!oltantes #oi uma das coisas que determinou Nosso 2ai aretirar o apoio que antes presta!a a <le1. 6omo esp'ritos$ eles

fazem parte da existência eterna, mas como animais eles !i!empresos ao tempo. 4sso implica em que seus esp'ritos podem serdirecionados a o(&etos eternos e seus corpos$ paix+es eimagina*+es estão em cont'nua mudan*a$ &á que estar ligado aotempo signi#ica estar em muta*ão.

E sua caracter'stica mais pr/xima da constJncia que

caracteriza tudo que é eterno é portanto a ondula*ão o retornorepetido a um n'!el no qual ele ha!ia ca'do anteriormente$ oumelhor$ uma série de picos e !alas. -e !ocê ti!esse o(ser!adomelhor seu paciente$ teria o(ser!ado esta ondula*ão em todosos departamentos de sua !ida seu interesse pelo tra(alho$ suaa#ei*ão pelos amigos$ seus apetites #'sicos$ tudo su(indo edescendo. 2ortanto$ !ocê contemplará$ nos per'odos emocionaisque ele !i!ência na terra$ riqueza e alegria com per'odosalternados de tristeza$ depressão e po(reza.

Desta #orma$ a sequidão e desJnimo que seu paciente está

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atra!essando agora estão longe de ser como !ocê imagina!a o#ruto !itorioso de seu tra(alho) ele está apenas atra!essando um#enômeno natural que não nos trará nenhum (ene#'cio por simesmo$ a menos que !ocê #a*a (om uso dele.

ma maneira #ácil de decidir qual o melhor uso destasitua*ão é analisar o que o 4nimigo está #azendo a respeito$ eentão #azer exatamente o oposto. -e entendêssemos toda asistemática d<le$ (astaria lutarmos sempre contra todas as suasa*+es e iniciati!as) in#elizmente$ não é tão simples assim. >uitas!ezes temos a impressão que <le está #azendo coisas ruins comas pessoas$ num primeiro momento$ s/ para desco(rirmos emseguida que o que nos parecia mau era outra so#isma d<le para(ene#iciar os !ermes humanos. 6omo tenho explicado ami7de$<le não tem nenhum escr7pulo com este tipo de coisa$ a pontode #icarmos totalmente con#usos em algumas ocasi+es mais atédo que os humanos al!os de suas a*+es.

Egora$ uma coisa que pode surpreender !ocê é o #ato deque o 4nimigo$ em sua luta por conquistar almas$ <le as mantém

às !ezes por mais tempo nos !ales desagradá!eis que nos picosgloriosos$ a despeito do desagrado que isso causa nos sereshumanos. < alguns de -eus #a!oritos especiais são exatamenteos que passam por a#li*+es mais pro#undas e prolongadas.

E razão é essa: 2ara n/s$ um humano é primariamentecomida) nosso dese&o pela a(sor*ão de suas almas para dentro

de n/s$ o aumento de nosso pr/prio alcance pessoal às custasdeles.

>as a o(ediência que o 4nimigo requer deles é uma coisatotalmente di#erente. 5emos que encarar a realidade de quetudo que se #ala a respeito de -eu amor pelos homens e suao(ra de proporcionar per#eita li(erdade não é 0como muitos

poderiam acreditar sorridentes1 mera propaganda$ mas umaaterradora realidade. <le realmente quer encher o ni!erso comum monte destas pequenas réplicas d<le mesmo$ criaturinhascu&as !idas em uma escala miniaturizada seriam

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qualitati!amente como <le pr/prio$ não porque <le as ti!essea(sor!ido mas porque suas !ontades li!res eram semelhantes àd<le. N/s queremos criar gado que #inalmente nos sir!a dealimento) <le quer ser!os que mais tarde con!erterá em #ilhos.N/s queremos sugálos$ <le quer premiálos) Nos somos !azios e

queremos nos encher atra!és deles$ <le é pleno e assimtrans(orda.

Nossa guerra !isa um mundo no qual Nosso 2ai =á de Faixotenha todos os demais seres encerrados nele mesmo) " 4nimigodese&a um mundo cheio de seres unidos a <le$ mas aindadistintos e pessoais.

< é a' mesmo que a coisa aperta. 9ocê tem #reqGentementese mara!ilhado porque o 4nimigo não #az maior uso de -eu poderpara se apresentar sensi!elmente às almas humanas emqualquer grau que lhe desse !ontade$ e a qualquer momento.>as agora !ocê entende que o 4rresist'!el e o 4ndisputá!el são asduas armas que a pr/pria natureza do 4nimigo o pro'(e de usar.Epenas so(repu&ar uma !ontade humana 0com sua pr/pria

2resen*a num grau que parecesse inquestioná!el ao homem1não !aleria coisa alguma para <le.

<le não !iolenta ninguém. <le pode apenas pedir$ solicitar.2or causa de -ua ign/(il idéia acerca dos homens$ algo como!ocê comer um (olo e ainda ter o (olo inteiro com !ocê$ ascriaturas terminam sendo uma coisa s/ com <le$ mas ainda são

elas mesmas. Epenas as destruir ou a(sor!er não s/ não =heser!iria$ como sequer #aria algum sentido para <le.

<le se dá ao tra(alho de !oltar com eles ao come*o$ e osprepara com mani#esta*+es de sua 2resen*a$ a estes que apesarde suas #raquezas o !êem como ;rande$ docemente emoti!o$ ecapaz de !encer #acilmente qualquer tenta*ão. >as ele nunca

permite que este estado de calma e tranqGilidade dure muitotempo. >ais cedo ou mais tarde$ <le sai de perto deles$ se nãode #ato$ pelo menos de suas experiências conscientes$ e de seusapoios e incenti!os !is'!eis.

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<le deixa as criaturas em pé por suas pr/prias pernas paracarregálos no colo de suas miss+es solitárias onde &á nãohou!esse mais nenhum prazer ou tempero. 4sto acontecedurante certos per'odos$ muito mais que os per'odos de pico$ e

proporciona segundo o que <le acredita$ crescimento na dire*ãode que as criaturas se tornem as pessoas que <le dese&a.

2ortanto$ as ora*+es que so(em diante d<le durante os!ales de amargura e so#rimento são as que mais o agradam$normalmente. N/s podemos arrastar nossos pacientes ao longode tenta*+es cont'nuas$ porque os queremos apenas para estar

em nossas mesas$ além de suas !ontades$ sem d7!ida a melhorparte deles.

 @á <le$ não pode tentar suas !irtudes$ como usamos fazer.<le quer que eles aprendam a caminhar e então escolhamsegurar em -ua mão) e esse conduzir pela mão é #ortementeaplicado nas situa*+es em que eles estão lidando com seus

trope*os. >as não se deixe enganar$ Oormood, Nossa causanunca estará mais amea*ada do que nas !ezes que um serhumano$ mesmo não dese&ando pessoalmente alguma coisa$esti!er #azendo a !ontade do 4nimigo$ ainda mais quando eleesti!er o(ser!ando o uni!erso em seu redor$ sem conseguir !ero menor tra*o do 4nimigo se perguntando porque <le o teriaa(andonado assim$ e mesmo assim "F<D<6<ND".

>as claro que estas situa*+es de solidão tam(ém nos

(ene#iciam. Na pr/xima semana$ eu lhe darei algumas dicasacerca de como explorálas.

-eu a#etuoso tio

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CARTA Número IX 

>eu caro Oormood:

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<spero que minha 7ltima carta tenha con!encido !ocê deque o deserto de tédio ou %sequidão% pelo qual o seu pacienteestá passando atualmente não #ará por si mesmo a alma delecair em suas mãos$ a não ser que se&a con!enientemente

explorada. 2asso a descre!er as maneiras de aplicar a ditaexplora*ão.

<m primeiro lugar$ eu tenho sempre reparado que osper'odos %de (aixa% das ondula*+es humanas #ornecemexcelentes oportunidades para todas as tenta*+es sensuais$particularmente as ligadas ao sexo. 4sto poderia soar estranho

para !ocê$ uma !ez que é claro que há energia #'sica e portantopotenciais de apetite sexual nos per'odos %de pico% dos homens)mas !ocê precisa se lem(rar tam(ém que nessas ocasi+es emque eles estão sorridentes$ dan*ando a(ra*ados$ rindo alto ecantando$ enquanto tomam champagne são tam(ém osmomentos em que a resistência mental e espiritual a todas assuas sugest+es pecaminosas tam(ém estarão em alta. E sa7de ealegria que !ocê está tentando usar para produzir lux7ria e

licenciosidade pode ser #acilmente canalizada em coisas comotra(alho$ di!ersão$ ou alegres pensamentos despro!idos demal'cia.

" ataque tem muito maiores chances de ser (em sucedidoquando por alguma razão o mundo interior seu homem esti!erdesmazelado$ #rio e !azio.

< é tam(ém digno de nota que o canal de sexualidade setorna su(itamente di#erente em qualidade$ diria mesmo quetotalmente di#erente das ocasi+es %de pico%$ durante osestranhos #enômenos água com a*7car que os humanoschamam de %se apaixonar%. Nessa ocasião será mais #ácildesenhar dentro dele per!ers+es$ e !ocê notará que as mesmasper!ers+es não são contaminadas pela generosidade e

compromisso espiritual os quais #reqGentemente causam umasexualidade humana tão decepcionante. Econtece assim comoutros dese&os da carne. 9ocê consegue mais #acilmente

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trans#ormar sua !'tima num alco/latra in!eterado quando lhesugere usar o álcool como uma anestesia contra alguma dor outristeza que o este&a acometendo. Não espere grandesresultados quando tentar le!álo ao !'cio da (e(ida exatamentequando ele está #eliz cele(rando ani!ersários$ !it/rias do seu

time de #ute(ol ou promo*+es na carreira pro#issional. Nunca seesque*a de que quando estamos lidando com qualquer #orma deprazer sadio e qualquer #orma de satis#a*ão normal$ de certa#orma estamos pisando no terreno do 4nimigo. <u sei que n/stemos alcan*ado muitas almas atra!és dos  prazeres; mas nãonos esque*amos que todo  prazer é in!en*ão d<le, <le crioutodos os prazeres; toda nossa pesquisa atra!és dos séculos não#oi capaz de criar uma 7nica #orma de prazer. 5udo que podemos#azer é encora&ar os seres humanos a tomar os prazeres que o4nimigo criou de #ormas ou intensidades que <le mesmo tenhaproi(ido.

 5oda !ez que tentamos tra(alhar usando condi*+esnaturais de qualquer  prazer que se&a no m'nimo natural$ omesmo come*a a exalar aquele cheiro a(ominá!el do seu6riador$ como nos lem(rando que pertence a <le. m aumento

considerá!el no dese&o pela o(ten*ão cada !ez menor do prazerrelacionado é a #/rmula, 4sto dá mais resultado$ e é portanto omelhor estilo a adotarmos. 6onseguir a alma do homem dando aele NEDE em troca é o que realmente aquece o cora*ão deNosso 2ai =á de Faixo. < os caminhos são o tempo para ocome*o do processo.

>as existe uma #orma ainda melhor de explorar os%desertos%. Iuero dizer$ atra!és dos pr/prios pensamentos dopaciente a respeito do deserto. 6omo sempre$ nosso primeiropasso é a#astar o conhecimento de sua mente. Não o deixesequer suspeitar da existência da =ei da "ndula*ão. Deixeoassumir que os primeiros ardores de sua con!ersão de!eriampermanecer inde#inidamente$ e mostrelhe que de!eriam$ maspassaram$ e portanto a atual situa*ão de sequidão e indi#eren*a

é uma condi*ão igualmente permanente. ma !ez que tenhacolocado essa mentira na mente dele$ !ocê pode agir de !áriasmaneiras.

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 5udo depende do tanto que seu homem se&a desanimado aponto de que o tentemos até o desespero ou do tipo depensamentos dese&osos que o conduzamos a ter achando quetudo está (em ou %so( controle%. " primeiro tipo é muito raro

entre os seres humanos -e seu paciente  pertencer a ele$ tudoserá muito #ácil. 9ocê tem apenas que mantêlo #ora do caminhodos cristãos experientes 0tare#a #ácil ho&e em dia$ de!ido aodescaso pelo qual passa a 4gre&a1 e dirigir sua aten*ão para aspassagens apropriadas nas <scrituras$ e então mergulhálo notra(alho desesperado de recuperar o %primeiro amor% por seuspr/prios es#or*os$ e teremos ganho a partida.

-e ele é do tipo mais esperan*oso$ seu tra(alho é mantêlona (aixa temperatura espiritual que se encontra e gradualmentemudar a !isão dele de #orma a acreditar que ele não está tãomal assim. <m uma semana ou duas !ocê o !erá come*ar adu!idar se seus primeiros dias no 6ristianismo não #oramexagerados ou excessi!os. ale a ele acerca da %modera*ão emtodas as coisas%. -e !ocê conseguir con!encêlo de que a

espiritualidade é muito (oa mas s/ até certo ponto$ podecome*ar a sentir o gostinho de sua alma. ma espiritualidademorna é tão (oa para n/s quanto espiritualidade nenhuma$ e(em mais di!ertida$ além disso.

ma outra possi(ilidade é o ataque direto à sua #é. Iuando!ocê conseguir con!encêlo de que o deserto é permanente$!ocê não poderia persuadilo tam(ém que a sua atual #aseespiritual está morrendo como todas as demais #ases de sua!ida

6laro que não há um caminho seguro para mo!er sua razãoa partir da proposi*ão %<stou perdendo o interesse nisso aqui%para a proposi*ão %4sto é #also% >as como eu lhe disse antes$ é o

 &argão e não a razão que n/s temos que utilizar.  A simples

expressão %ase% será empregada de #orma #alaciosa. 6oncordoque a criatura passou !árias !ezes por ela antes todos elespassaram mas eles não costumam raciocinar so(re o #ato de

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terem !encido muitas$ não porque tenham o criticismo racional#alho$ mas apenas porque elas #icaram no passado e$ portanto &ánão se lem(ram muito (em delas. >antenhao portantoalimentado de idéias (astante con#usas acerca de 2rogresso eDesen!ol!imento (em como dentro do 2onto de 9ista Hist/rico$

e dê a ele montes de (iogra#ias modernas para ler.  As pessoasque fazem parte delas estão sempre emergindo de #ases antigas$não estão

2egou a idéia >antenha sua mente #ora do plano dasant'teses entre 9erdadeiro e also. 6on#unda na ca(e*a deleexpress+es como %4sso #oi uma #ase%$ ou %@á passei por tudo isso%e não se esque*a daquela pala!ra a(en*oada: %Edolescente%.

-eu a#etuoso tio

-6K<O5E2<

CARTA Número X 

>eu caro Oormood:

<stou deliciado em ou!ir do 5rope*o que seu paciente tem#eito algumas no!as amizades (em dese&á!eis$ e que !ocê &áentendeu como usálas de maneira (em promissora. <uen#ocaria que o casal de meiaidade que tem #reqGentado seu

escrit/rio é exatamente o tipo de gente que queremos que eleconhe*a ricos$ espertos$ super#icialmente intelectuais$ e(rilhantemente incrédulos so(re tudo neste mundo. 6hamo suaaten*ão para o aspecto de que eles são !agamente paci#istas$não por assuntos morais$ mas por um há(ito &á arraigado dedepreciar qualquer coisa que diga respeito a pessoas comuns dopo!ão$ além de uma aprecia*ão pouco pensante do que este&ana moda e do comunismo literário. 4sso é simplesmenteexcelente, < aparentemente$ !ocê tem #eito (om uso de toda a#utilidade social$ sexual e intelectual deles dois. >as contememais, <le está pro#undamente ligado a esse casal Não estou mere#erindo a uma liga*ão da (oca pra #ora. Há um sutil &ogo de

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olhares$ sorrisos e tons de !oz que demonstra que ele #az partedo grupo de pessoas com as quais está con!ersando 0ou se&a$conotam cumplicidade com o re#erido grupo1. <ste é o tipo deen!ol!imento que !ocê de!e encora&ar$ partindo da premissaque os seres humanos não se realizam totalmente em si

mesmos$ e com o tempo !ocê pode aprender a usar essadi#iculdade deles. -em d7!ida ainda é muito cedo para seupaciente perce(er que suas posi*+es de #é estão em oposi*ãodireta a todas as con!ersas que ele tem com os no!os amigos.Não creio que ha&a grandes pro(lemas em !ocê persuadilo aadiar ao máximo qualquer conhecimento expl'cito da situa*ão$ eisto$ com a a&uda da !ergonha$ do orgulho e da #utilidade seráuma tare#a simples de se executar.

Iuanto mais !ocê conseguir que ele adie uma con!ersaa(erta com a dupla$ onde ele se posicione claramente comocristão$ mais tempo !ocê estará conseguindo que ele !i!a na#alsidade. <le silenciará quando de!eria #alar$ e rirá quandode!eria estar em silêncio. <le assumirá primeiramente apenaspelas maneiras$ e em seguida pelas pala!ras$ toda a sorte deatitudes c'nicas e incrédulas que não são realmente suas. >as se

!ocê manipular (em a situa*ão$ pode até conseguir com que asatitudes terminem sendo dele de #ato. 5odos os mortais tendema se tornar as coisas que eles pretendiam ser. 4sto é elementar." 7nico pro(lema real é como se preparar para o contraataquedo 4nimigo.

E primeira coisa é !ocê retardar tanto quanto puder o

momento no qual ele perce(a que esta no!a #orma de prazernão passa de uma tenta*ão nossa. ma !ez que os ser!os do4nimigo tem pregado (astante so(re %" >undo%$ como uma dasgrandes tenta*+es para dois mil anos$ isto pode ser (astantedi#'cil de realizar. >as #elizmente eles ultimamente têm tocadopouco nesse assunto nas 7ltimas décadas. Nos escritos cristãosmodernos ainda que eu tenha !isto muito 0na !erdade$ mais doque eu gostaria1 so(re >amom$ !i muito pouco acerca das

utilidades >undanas$ a <scolha de Emigos e o 9alor do 5empo. 5udo isso$ pro!a!elmente$ seu paciente irá classi#icar como%2uritanismo% e posso salientar de passagem que o !alor quen/s temos dado a esta pala!ra se constitui em um dos nossos

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triun#os realmente s/lidos nos 7ltimos cem anos

2elo nosso resgate anual de milhares de seres humanos datemperan*a$ castidade e so(retudo da !ida.

>ais cedo ou mais tarde$ de qualquer modo$ a real naturezade seus amigos tem que se tornar clara para ele$ e então suastáticas tem que depender da inteligência do paciente. -e ele #orum idiota completo$ deixeo assumir o caráter dos no!os amigossomente enquanto eles esti!erem ausentes. -uas presen*aspodem ser manipuladas de maneira a !arrer do paciente todo ocriticismo. -e isto #uncionar$ ele pode ser induzido a !i!er$ como

temos conhecimento que muitos humanos !i!em$ por longosper'odos de tempo$ entre duas !idas paralelas) ele não s/ terá aaparência de ser$ como tam(ém será um homem di#erente$dependendo do c'rculo de amizades em que esti!er numadeterminada noite.

-e isto #alhar$ há um modo mais sutil e até (em mais

di!ertido. <le pode ser conduzido a acreditar que um prazerpositi!o na sua percep*ão de que os dois lados de sua !ida sãoinconsistentes. 4sto é #acilmente explorá!el pela #utilidade dopaciente. <le pode ser ensinado a apreciar uma ora*ão de

 &oelhos ao lado do quitandeiro no domingo$ apenas porque ele selem(ra que o quitandeiro não entende certamente o mundo degente zom(eteira no qual ele ha(ita nas noites de -á(ado) e aocontrário$ podemos ensinálo a apreciar as indecências e

(las#êmias que naturalmente (rotam de um ca#é com estesadmirá!eis amigos$ em geral porque ele está atento a respeitode um mundo pro#undo e espiritual o qual ele simplesmente nãoconsegue enxergar$ mas não acerca do seu dia a dia noci!o edominado por n/s.

6apte a idéia seus amigos mundanos o tocam de um lado$

e o quitandeiro do outro$ e ele está completo$ (alanceado$ ocomplexo homem que consegue discernir tudo ao seu redor.<ntão$ enquanto está sendo permanentemente trai*oeiro e #alsoa pelos menos dois grupos de pessoas$ ele sentirá$ ao in!és de

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!ergonha por ser hip/crita$ rios cont'nuos de autosatis#a*ão.inalmente$ se todo o resto #alhar$ !ocê pode persuadilo$ comoum desa#io à consciência$ a continuar o no!o relacionamento$em algum caminho incerto e sem compromisso$ considerandoestas pessoas são %(oas% pelo simples #ato de estar tomando

seus coquetéis e rindo de suas piadas$ e que interromper talrelacionamento seria %pedante%$ %intolerante% e 0é claro12uritano.

<nquanto isso$ !ocê cuidará de tomar as precau*+es /(!iaspara se assegurar que este no!o desen!ol!imento o induz agastar mais do que ele pode$ por suas condi*+es salariais e anegligenciar seu tra(alho e sua mãe. "s ci7mes dela$ suaspreocupa*+es exageradas e o comportamento do paciente cada!ez mais e!asi!o e rude$ serão inestimá!eis no sentido deagra!ar a tensão doméstica.

-eu a#etuoso tio

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CARTA Número XI

>eu caro Oormood:

 5udo está o(!iamente indo muito (em, <stou

particularmente contente por sa(er que os dois no!os amigosdele o enturmaram com o restante da %quadrilha%. 5odos dentreeles$ pelo que sei da imprensa o#icial$ são pessoas inteiramentecon#iá!eis) pessoas está!eis$ escarnecedores de primeira emundanos até onde possam ser ter cometido nenhum crimeespetacular. -ão pessoas que estão silenciosa progressi!a econ#orta!elmente a caminho da casa de Nosso 2ai.

9ocê #ala deles como sendo grandes grace&adores... <ucon#io que isso não queira dizer nada$ digo$ esta impressão deque o riso este&a sempre a nosso #a!or. < este ponto merece

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alguma aten*ão.

<u di!ido as moti!a*+es para o riso humano em <xprimirElegria$ -e Di!ertir$ Echar ;ra*a e Xom(aria ou 4rre!erência.9ocê !erá o primeiro tipo entre amigos e amantes reunidos na!éspera de um #eriado. <ntre adultos sempre existe pretexto norumo de piadas$ mas a #acilidade com que os menores grace&osproduzem risadas mostra que o grace&o em si não é a causaprincipal do riso. " que é a causa principal é exatamente o quen/s não sa(emos ainda. Elguma coisa do tipo é !ista duranteexecu*+es da detestá!el arte humana conhecida por %>7sica%$ ealgo parecido com isso ocorre nos 6éus uma acelera*ão semmoti!o aparente no ritmo das ati!idades celestiais totalmenteincompreens'!el por n/s. " riso por causa de raz+es assim não é(om para n/s$ e por tanto de!e ser sempre desencora&ado. Elémdo mais$ tratase de um #enômeno no&ento e um insulto direto aorealismo$ dignidade e austeridade do 4n#erno.

Echar gra*a é algo estreitamente relacionado à alegria umtipo de #ri!olidade emocional que (rota do instinto de (rincar.

4sso é de quase nenhuma utilidade para !ocê. 2ode ser usada$de acordo$ para di!ertir humanos a partir de alguma coisacontrária ao que o 4nimigo gostaria que eles se di!ertissem: masa di!ersão em si mesma &á traz tendências indese&á!eis) elapromo!e caridade$ coragem$ contentamento e muitos outrosmales horr'!eis.

" grace&o propriamente dito$ o qual é gerado normalmentepela s7(ita percep*ão da incongruência$ é um campo muito maispromissor. Não estou imaginando primariamente o humoro(sceno ou indecente$ o qual tem sido largamente usado portentadores de segundacategoria e #reqGentemente trazdecep*+es no tocante aos resultados. Na !erdade$ os sereshumanos são mara!ilhosamente di!ididos em dois grandestimes$ no que diz respeito a esse assunto: Há alguns para quem

nenhuma paixão é tão importante quanto a lasc'!ia e para ostais$ uma hist/ria indecente perderá toda a lasc'!ia no exatomomento que se tornar engra*ada. < existem outros cu&asensualidade e grace&o são disparados ao mesmo tempo pelas

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mesmas coisas e situa*+es. "s do primeiro tipo fazem piadas arespeito do sexo porque isso gera polêmicas e assuntosdesencontrados. @á os do segundo time culti!am di!ersosassuntos com a #inalidade de terminar sempre os mesmosassuntos #alando de sexo. -e seu homem #or da primeira

categoria$ o humor picante não !ai a&udar !ocê em nada nuncame esquecerei das horas horrendamente entediantes quedesperdicei com um de meus primeiros pacientes$ antes queti!esse aprendido esta regra. Descu(ra a qual grupo seupaciente pertence e ci!e para que ele não se aperce(a nem delonge do #ato. E 7nica #inalidade 7til realmente das piadas e dohumor em geral está numa dire*ão di#erente$ e éparticularmente promissora entre os ingleses$ os quais le!am o%senso de humor% tão a sério$ que uma de#iciência nesta árealhes causa !ergonha pro#unda. " Humor é para eles o o(&eto deconsolo para tudo$ e portanto é exatamente a área onde sepermitem #azer quaisquer coisas que tenham !ontade nomomento. Elguns acreditam piamente que sem humor$ a !idanão tem a menor gra*a$ e portanto o mesmo humor se torna umreal 'dolo para eles. "u se&a$ em nome de %terem senso dehumor%$ se permitem #azer as coisas mais desa!ergonhadasposs'!eis. -e um su&eito sempre deixa os amigos pagarem sua

conta no restaurante$ rapidamente seria quali#icado como %mãode vaca". >as se nas ocasi+es que isso acontecer ele #izerpiadas$ gozando os amigos explorados e chamando a ele mesmode a!arento$ um #enômeno estranho acontece: 5odos passam a!êlo não como so!ina$ mas como um su&eito engra*ado.  Asimples co!ardia é pro#undamente !ergonhosa. >as se aadornarmos com um monte de grace&os e comentáriosexagerados 0tipo (rincarmos com um soldado que #ugiu e

a(andonou seus companheiros numa hora di#'cil$ dizendo que eletem medo das (aratas do quarto$ e o mesmo #azendo caretasquando comentassem1 a co!ardia se tornará como num passe demágica apenas uma coisa engra*ada. A crueldade é terr'!el paraos humanos$ e inaceitá!el$ a menos que o homem cruel possaser representado de #orma cômica e espalha#atosa. >ilhares deanedotas imorais$ ou mesmo (las#emas$ não destruiriam tanto aalma de um indi!'duo quanto a desco(erta de que o mesmo

possa praticar e até proclamar atos repro!á!eis$ desde que oscerque de gra*a e comicidade.  As pessoas podem mesmoadmirar o pecador$ ol!idando as #altas cometidas em nome dedar risada delas. Iualquer excesso que ela perce(esse estar

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cometendo seria imediatamente a(a#ada de(aixo da idéia queisso seria %puritanismo% ou simplesmente #alta de senso dehumor.

>as a melhor dentre todas as causas mencionadas écertamente a le!iandade. 2ara come*ar$ ela é (astanteeconômica. -empre que um ser humano mais inteligenteconsegue #azer alguma piada en#ocando uma !irtude podecontaminar seus companheiros no sentido de que as !irtudesse&am engra*adas. 6om algum tempo 0e com seu tra(alhodedicado1 as mesmas pessoas criarão ao redor de suas mentesuma !erdadeira armadura contra o 4nimigo$ no tocante a todasaquelas !irtudes que eles andaram grace&ando.  A le!iandade é/tima$ em todos os aspectos. ica a milhares de quilômetros da!erdadeira alegria$ e ainda tem a !antagem de não despertarnenhum a#eto entre as pessoas do grupo que a estãoexercitando.

-eu a#etuoso tio

-6K<O5E2<

CARTA Número XII

>eu caro Oormood:

"(!iamente$ !ocê tem #eito excelente progresso. >eu 7nicoreceio se (aseia na possi(ilidade de !ocê empurrar o pacientepara a perdi*ão tão rapidamente que ele despertasse para odiscernimento de sua real posi*ão. 2ara eu e !ocê$ que !emostal posi*ão como realmente é$ &amais de!e ser esquecido oquanto isso tudo de!e parecer para ele. -a(emos queconseguimos introduzir uma grande mudan*a de dire*ão nocurso da !ida dele$ a qual &á o está tirando da /r(ita em redor do4nimigo) mas ele precisa ser le!ado a acreditar que todas asescolhas recentes que tem #eito são tri!iais e re!ogá!eis. <le nãopode ser conduzido a suspeitar que está agora$ ainda quelentamente$ sendo dirigido diretamente do -ol para uma linha na

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qual o estamos carregando para o #rio e escuridão do !azioa(soluto.

2or esta razão$ estou quase alegre ao ou!ir que ele ainda éum #reqGentador da igre&a e ainda participa da 6eia do -enhor.6onhe*o (em os perigos que existem nisso$ mas qualquer coisaé melhor do que se ele #izesse uma compara*ão séria a respeitodo que tem #eito nos 7ltimos dias e do que #azia nos primeirosmeses de sua !ida cristã. <nquanto ele ainda manti!erexternamente os há(itos de um cristão$ ele pode ser manipuladopara imaginar a si mesmo como alguém que apenas adotoualguns no!os amigos e di!ers+es$ em(ora seu estado espiritualcontinue o mesmo de seis semanas atrás. < enquanto ele pensarassim$ não temos que lutar com o arrependimento expl'cito dequalquer posi*ão$ totalmente reconhecida como pecaminosa$mas apenas lidarmos com um sentimento !ago$ ainda quereceoso$ de que ele não tem se comportado lá muito (emultimamente.

<sta re#erida inquieta*ão do paciente precisa ser

manipulada com muito cuidado. -e tornarse muito #orte$ podeacordar o paciente e destruir o &ogo inteiro. 2or outro lado$ se!ocê o esconder totalmente coisa que pro!a!elmente o 4nimigonão permitirá que !ocê #a*a deixaremos de contar com umelemento extremamente 7til na situa*ão como um todo: se talsentimento é le!ado a permanecer$ mas nunca se tornairresist'!el e desa(rocha como arrependimento genu'no$ issotermina le!ando seu homem a uma tendência ine!itá!el o

aumento gradati!o da relutJncia em pensar no 4nimigo. Iuasetodos os seres humanos tem um pouco desta relutJncia) masquando pensar na 2essoa d<le inclui o con#ronto e aintensi#ica*ão de uma nu!em totalmente !aga de culpa(ilidadesemiconsciente$ esta relutJncia cresce dez !ezes mais. "shomens passam a odiar qualquer idéia que sugira <le$ da mesma#orma que um homem com di#iculdades #inanceiras detestaria a!isão de um extrato (ancário. Neste estado$ seu paciente irá não

s/ omitir$ como come*ará a a(ominar seus de!eres espirituais.<le irá pensar a respeito deles o m'nimo que puder$ mantendo adecência$ e se esquecer dos mesmos o mais rápido que puder$assim que os ti!er conclu'do. 2oucas semanas atrás$ !ocê te!e

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que tentálo para a nãoo(&eti!idade e desaten*ão nas suasora*+es) &á agora !ocê o encontrará de (ra*os a(ertos e quasesuplicando a !ocê que o distraia de suas o(riga*+es e lheentorpe*a o cora*ão. <le mesmo irá querer que suas ora*+esse&am (em irreais$ pois não há nada que ele tema mais que o

contato e#eti!o com o 4nimigo. <le terá como al!o deixar asminhocas na sua ca(e*a dormindo.

6on#orme esta condi*ão #or se tornando mais esta(elecida$!ocê irá sendo gradualmente li(erado da insuportá!el tare#a deestar pro!idenciando prazeres para as tenta*+es. ma !ez que ainquieta*ão e a relutJncia em encarála a#astam dele mais emais a #elicidade real$ e !isto como a monotonia da rotinaha(itual #az com que os prazeres pro!enientes da !aidade$excita*ão e irre!erência se tornem cada !ez menos apraz'!eis ecada !ez mais di#'ceis de se a(andonar 0pois é exatamente istoque o há(ito rotineiro #az com qualquer prazer1 !ocê o(ser!aráque quase nada ou mesmo nada será su#iciente para atrair suaaten*ão errante. 9ocê não precisará mais de um (om li!ro$ doqual ele realmente goste$ para mantêlo longe de suas ora*+esou de seu tra(alho ou de seu sono) uma coluna de conselhos do

 &ornal de ontem será su#iciente. 9ocê pode agora le!álo adesperdi*ar seu tempo não somente em con!ersas que eleaprecia com pessoas que ele goste mas em con!ersas comquem ele não ligue a m'nima e assuntos que o a(orre*am. 9ocêpode conduzilo neste esquema por longos per'odos. 2odemantêlo acordado até tarde da noite$ não numa #arra homérica$mas apenas o(ser!ando o #ogo que se apaga na lareira de umasala gelada. 5odas as ati!idades sadias e sociá!eis que

dese&amos que ele e!ite podem ser o(&etos de ini(i*ão sem quetenhamos que lhe dar a(solutamente NEDE em troca$ de #ormaque no #inal ele possa dizer$ como um de meus pacientes #alouquando chegou aqui. %<u agora !e&o que gastei a maior parte daminha !ida #azendo nada do que eu queria ou gosta!a.% "scristãos descre!em o 4nimigo como aquele sem o qual nada é#orte. < na !erdade$ nada é realmente muito #orte. Digo$ #orte osu#iciente para rou(ar de um homem seus melhores anos$ não

em doces pecados mas em uma som(ria e melanc/licadi!aga*ão de sua mente$ de #orma a ele não sa(er o que nem oporquê da satis#a*ão das curiosidades tão !oláteis que o homemnem mesmo chega a discernir com exatidão$ no estalar de seus

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dedos e (ater dos calcanhares$ no asso(io de melodias que eledetesta ou no longo$ ene!oado la(irinto de #antasias que nemmesmo contam com a sensualidade e am(i*ão para ter algo deprazeroso$ mas uma !ez que exista alguma associa*ão casualcom o pecado$ a criatura está #raca e con#usa demais para se

des!encilhar daquilo. 9ocê poderá comentar que todos estes sãopecados muito pequenos) e sem d7!ida alguma$ como todos ostentadores inexperientes$ !ocê está ansioso para relatar algumamaldade espetacular. >as !ocê precisa se lem(rar que a 7nicacoisa que realmente interessa é a extensão da distJncia a que!ocê possa le!álo do 4nimigo. Não importa o quão desprez'!eisse&am os pecados usados neste e#eito cumulati!o$ desde quecontinue aumentando a !ala que conduz a !'tima cada !ez maispara longe da =uz e cada !ez mais para dentro do Nada.Essassinato não é melhor que &ogo de cartas se as cartas podemrealizar o engano. 6om e#eito$ a estrada mais segura para o4n#erno é a gradual a ladeira sua!e$ com chão sua!e$ semcur!as acentuadas$ sem a!isos de quilometragem e sem placasindicati!as de sinaliza*ão.

-eu a#etuoso tio

-6K<O5E2<

CARTA Número XIII

>eu caro Oormood:

<stá me parecendo que !ocê gastou um imenso n7mero depáginas para contar uma hist/ria extremamente simples. No#rigir dos o!os$ !ocê deixou o homem escapar por entre seusdedos. E situa*ão é muito gra!e$ e eu realmente não !e&onenhuma razão para tentar li!rar !ocê das conseqGências de suaine#iciência. m rompante e reno!o do que o outro lado chamade %;ra*a% na escala que !ocê me descre!eu é uma derrota deprimeira grandeza, 4sto tem o peso de uma segunda con!ersão epro!a!elmente a mesma terá um n'!el mais pro#undo que aprimeira.

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6omo !ocê #or*osamente de!eria sa(er$ a nu!em as#ixianteque e!itou seu ataque ao paciente no seu caminho de !olta do!elho moinho é um #enômeno &á (em conhecido. < a arma mais(ár(ara de que #az uso o 4nimigo$ e geralmente se mani#esta

quando <le está pessoalmente presente com o paciente demaneiras ainda não (em compreendidas por n/s. Elguns dentreos seres humanos estão permanentemente rodeados por aquilo$e são totalmente inacess'!eis para n/s. < agora$ !amos às suasmancadas. De acordo com seus pr/prios comentários$ !ocêpermitiu$ primeiramente$ que o paciente lesse um li!ro do qualrealmente gosta!a$ apenas por gostar dele$ e não para #azercomentários espertos so(re o li!ro com os no!os amigos. <m

segundo lugar$ !ocê permitiu que ele #izesse uma caminhada ao!elho moinho e tomasse um chá lá o que equi!ale dizer$ umpasseio por uma região da qual ele realmente gosta$ e estandosozinho. <m outras pala!ras$ !ocê permitiu que ele usu#ru'sseli!remente de D"4- prazeres reais. -erá poss'!el que !ocê se&aignorante a ponto de não conhecer o perigo nisso tudo E grandecaracter'stica nos prazeres e nos so#rimentos é que eles sãoinso#isma!elmente reais$ e$ portanto$ não importa quão longe

eles consigam ir$ eles proporcionam ao homem algo como uma%ca'da de #icha% para compro!a*ão da realidade. Desta #orma$ se!ocê !inha tentando danar seu homem pelo método KomJntico #azêlo uma espécie de Komeu apaixonado$ su(merso emmurmura*+es por uma in#elicidade imaginária do tipo %sem

 @ulieta$ a !ida não #aria sentido% de!eria têlo protegido a todocusto de passar por alguma dor !erdadeira) por que é e!identeque apenas cinco minutos com uma dor de dente real re!elaria aele que o so#rimento romJntico não #azia sentido algum e assimseu estratagema seria desmascarado na hora, >as se !ocêesta!a tentando desgra*ar seu paciente atra!és do >undo$ ouse&a$ atra!és da explora*ão da !aidade$ da &actJncia$ da ironia eo tédio em rela*ão aos  prazeres. 6omo #oi poss'!el !ocê nãoperce(er que experimentar um 2KEX<K K<E= de!ia ser a 7ltimacoisa permiss'!el a ele Não enten!e que !ocê de!eria terpre!isto que tal experiência mataria instantaneamente 0pelocontraste1 toda a cole*ão de &/ias #alsas que !ocêtra(alhosamente ha!ia dado a ele e o ensinado a !alorizar <que tam(ém o tipo de prazer que a leitura do li!ro e o passeio aomoinho deram a ele são o maior perigo para n/s < que este

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mesmo tipo de prazer arrancaria a crosta de engano que !ocê!inha colocando na mente dele$ dandolhe mesmo a sensa*ão deestar de !olta em casa totalmente recuperado. " planopreliminar que !ocê empregou para a#astálo do 4nimigoterminou por a#astálo de si pr/prio e !ocê até que tinha #eito

alguns progressos. Egora$ tudo desmoronou. <ntendo qual #oisua con#usão... < claro que estou ciente de que o 4nimigotam(ém quer tirar o #oco dos homens de si mesmos$ mas omodo é totalmente di#erente. =em(rese sempre que o 4nimigorealmente gosta destes !ermezinhos$ e atri(ui um !alor a(surdoa respeito das caracter'sticas indi!iduais de cada um deles.Iuando <le diz que os homens de!em de #ato renunciar a simesmos$ na !erdade isso quer apenas dizer a(andonar aprioridade na satis#a*ão do seu %eu%$ mas tão logo elesconseguem #azer isso$ o 4nimigo lhes de!ol!e no!amente toda aessência de suas personalidades$ e ainda se !angloria 0temo euque <le se&a sincero no que diz1 que quando os homens serendem totalmente a <le passam a ser mais do que eramanteriormente. E partir da'$ enquanto <le se delicia ao !er oshomens sacri#icando mesmo suas coisas mais inocentes à!ontade d<le$ <le mesmo odeia quando os ('pedes raste&antesmudam sua natureza ou sacri#icam suas coisas queridas por

qualquer razão que não se&a <le. Iuanto a n/s$ sempreestaremos encora&andoos a que #a*am isso, "s mais pro#undossentimentos e impulsos de todos os homens são nossa matériaprima$ o ponto de partida com o qual o 4nimigo os tem dotado.

 5oda !ez que conseguimos tirar de algum indi!'duo algumdestes tra*os de personalidade$ marcamos um gol, >esmo quepare*am coisas ino#ensi!as$ sempre nos é interessante su(stituiras pre#erências$ gostos e pretens+es reais dos seres humanos

por outros padr+es$ como o mundano$ os con!encionalismossociais e a moda e portanto de!emos a#astar os homens dosgostos e desgostos pessoais reais. -ou radical a ponto deesta(elecer uma regra no sentido de tentar arrancar do pacientetodo e qualquer gosto pessoal que não constitua um pecadode#inido$ mesmo se tratando de coisas tolas como umacompeti*ão esporti!a$ uma cole*ão de selos ou (e(er 6oca6ola.<stas coisas$ é claro$ sequer possuem alguma !irtude em si

mesmas) mas há uma espécie de inocência$ humildade e autoesquecimento nelas que me deixam descon#iado. " homem que!erdadeiramente e desinteressadamente aprecie qualquer coisano mundo apenas por causa dela mesma$ sem estar preocupado

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em coisa alguma so(re o que os outros pensem a respeito$estará muito (em armado contra alguns de nossos mais sutismétodos de ataque. 9ocê sempre de!erá tentar #azer o pacientea(andonar as pessoas$ comidas ou li!ros dos quais realmentegoste em #a!or das %melhores pessoas%$ %mais adequadas

comidas% e %importantes li!ros%. <u conheci um ser humano queresistiu (ra!amente a todas as tenta*+es em ascender a escalasocial$ até que desco(ri como despertar nele um prazer#ort'ssimo pela lingGi*a #rita com ce(ola.

Kesta considerarmos o que #azer para consertar ospre&u'zos deste desastre. A coisa mais importante a #azermos éconseguir que o paciente não #a*a mais nada. <nquanto ele nãoconseguir trans#ormar a mudan*a de !ida em a*+es$ não importamuito o que ele pense a respeito dessa reconcilia*ão. Deixe queele #ique como um animalzinho dando !oltas em redor disso.=e!eo a meditar muito no assunto$ a escre!er um li!ro so(reisso$ #reqGentemente essa é uma #orma excelente de esterilizaras sementes que o 4nimigo planta na alma humana. 2ermita queele #a*a qualquer coisa$ menos  AG#$. Nenhuma quantidade depiedade em sua imagina*ão e sentimentos poderá nos causar

qualquer pro(lema$ desde que mantenhamos tudo isso longe dasua 9"N5ED<. 6omo um dos seres humanos mesmo disse$ oshá(itos ati!os são #ortalecidos pela repeti*ão$ ao passo que ospassi!os se en#raquecem pela mesma continuidade. Iuantomais !ezes ele se sentir inati!o$ menos ele se disporá a agir$ eao longo do tempo$ menos ele conseguirá sentir alguma coisa.

-eu a#etuoso tio-6K<O5E2<

CARTA Número XIV 

>eu caro Oormood:

" mais alarmante no seu 7ltimo relat/rio do paciente é queele não está mais #azendo nenhuma resolu*ão exagerada$ como

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na época da sua con!ersão original. Nada de promessasimposs'!eis de !irtude eterna$ nada de #rases do tipo %nuncamais #arei isso%$ pelo contrário$ ele permanece satis#eito com aespera da por*ão de ;ra*a para sua !ida$ mas tão somente apor*ão diária e a mixaria necessária para suportar a pr/xima

hora de tenta*ão sem pecar. 4sto é realmente >45" K4>,

-/ !e&o uma sa'da para o quadro presente: -eu pacientetem se tornado humilde$ não é 9ocê tem conseguido chamar aaten*ão dele para este aspecto 5odas as !irtudes são menos#ormidá!eis assim que o homem perce(e que as têm$ mas isto éespecialmente marcante com rela*ão à humildade, -urpreendao num momento em que esti!er mergulhado na mais pro#undapo(reza de esp'rito e contra(andeie sua aten*ão para umpensamento da linha "Caraca% >as não é que estou mesmo metornando humilde% 9ocê o(ser!ará quase imediatamente aapari*ão de uma !aidade a !aidade pelo #ato de ser humilde.-e ele se tocar quanto ao perigo e tentar a(a#ar esta no!a #ormade orgulho$ #a*ao orgulhoso por ter conseguido$ e assim pordiante$ em quantos degraus que !ocê considere necessário. >asnão mantenha este &ogo por muito tempo$ claro$ pois isso

poderia despertar o senso de humor dele e seu senso depropor*ão. -e isso ocorrer$ ele simplesmente dará risada na suacara e irá tranqGilamente para a cama.

Há porém maneiras (em lucrati!as de prender a aten*ãodele na !irtude da Humildade. E respeito desta !irtude (emcomo das demais o 4nimigo quer tirar a aten*ão dos homens de

si mesmos$ canalizandoa n<le mesmo e nos pr/ximos dopaciente. 5odo o tra(alho que <le realiza$ (em como seu cuidadopessoal está tão somente !oltado para conseguir isso dos sereshumanos. Na !erdade$ acredito #irmemente que toda esta guerraterr'!el s/ #az sentido para <le quando consegue este tipo deo(&eti!o destes !ermes raste&antes.

2ortanto$ !ocê precisa arrancar do paciente o !erdadeirosentido da Humildade. Deixeo imaginála como um con&unto deopini+es a respeito de seus talentos e caráter. Elguns talentos$eu (em sei$ ele possui de !erdade. ixe sua mente no aspecto de

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que humildade é nada menos que tentar acreditar que estestalentos não !alem tanto quanto ele imagina. Não resta d7!idade que ele é mesmo menos !irtuoso do que pensa$ mas isso nãotem nenhuma importJncia para n/s. E melhor coisa é #azer comque ele a!alie uma opinião para alguma qualidade de #orma

errada e se perca nestes !alores$ pois com isso conseguiremosintroduzir um elemento de desonestidade no processo e o#aremos crer piamente em mentiras interessantes. 2or estemétodo$ milhares de humanos tem sido conduzidos a acreditarque a humildade signi#ica mulheres lindas a#irmarem que são#eias e acreditarem nisso$ (em como homens (rilhantesaceitarem que ser humildes signi#ica dizerem e acreditarem quesão retardados mentais. < uma !ez que ele está tentandoacreditar$ isso tudo pode desem(ocar em !erdadeirasinsanidades sem que ele ao menos descon#ie de alguma coisa.2ara se antecipar à estratégia do 4nimigo$ precisamos considerar-eus o(&eti!os. " 4nimigo quer trazer o homem a um estado demente no qual ele poderia desenhar a mais extraordináriacatedral de todos os tempos$ e sa(er que de #ato ela eraincompará!el$ e se alegrar em extremo por têla desenhado$ semse sentir nem um miligrama menos #eliz 0ou mais1 se sou(esseque tinha sido desenhada por outra pessoa. " 4nimigo quer$ no

#inal$ que ele se&a tão li!re de qualquer opinião em seu pr/prio#a!or que consiga alegrarse por seus pr/prios talentos tão#rancamente e agradecidamente quanto pelos talentos dos seussemelhantes$ ou por uma manhã de sol$ ou ao !er um ele#anteou uma cachoeira. <le quer cada homem$ ao longo de sua !ida$apto a reconhecer todas as criaturas 0mesmo <le pr/prio1 comocoisas gloriosas e excelentes. <le quer matar em todos eles oamorpr/prio tão rápido quanto poss'!el$ mas em -ua pol'tica de

longoprazo$ temo eu$ <le de!ol!e a eles tudo que lhes tirou$como um no!o tipo de amorpr/prio que se espalha por toda ara*a humana$ em #orma de caridade$ gratidão por todos$inclusi!e por ele mesmo. < quando #inalmente eles conseguemrealmente aprender a amar seu pr/ximo como a eles mesmoseles serão capazes de amar a si mesmos como a seussemelhantes. 2ois nunca podemos nos esquecer que da maisrepugnante e incompreens'!el caracter'stica em nosso 4nimigo$

que é amar realmente os ('pedes lisos. <le os criou$ e semprede!ol!e com a mão direita tudo que lhes ha!ia tirado com aesquerda no #inal das contas.

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Nosso grande es#or*o$ portanto$ está em manter a mentedo homem presa ao !alor que ele mesmo tem. <le os conduz ase considerarem arquitetos e poetas excepcionais por algunsinstantes$ para em seguida se esquecerem disso$ enquanto n/s

#azemos de tudo para os humanos se concentrarem$ gastandomuito tempo e dores pensando neles mesmos como coisaspéssimas. -eus es#or*os para instilar ou a !angl/ria ou a #alsamodéstia no paciente irão portanto distanciálo do 4nimigoapenas se ele #ixar a mente$ meditando horas e horas acerca desuas !irtudes ou de#eitos. "s escritos do 4nimigo nuncaensinaram homem algum a meditar e #icar horas analisando a sipr/prios... mas #elizmente outra arma poderosa que temos ainda

é a pro#unda ignorJncia da ra*a humana acerca dos mesmosescritos.

2reciso acrescentar que o 4nimigo tra(alhará no sentido deque sua !'tima tenha consciência de que #oi criada por <le ede!e tudo a ele. -e eles não se criaram a si pr/prios$ certamenteseus talentos tam(ém não dependeram grande coisa de seus

es#or*os pessoais. 2ortanto$ quando um humano se orgulha porser culto$ e acha rid'culo alguém se orgulhar pela cor do ca(elo$apenas não perce(eu que é culto porque o 4nimigo lhe deu ainteligência$ sa7de$ recursos para estudar$ os li!ros$ o tempoli!re para tanto e mesmo a !ontade de o(ter conhecimento.>antenhao neste tipo de ignorJncia$ e  perceberá resultadosinteressantes. 5enho o(ser!ado que mesmo a respeito dospr/prios pecados$ não é inten*ão do 4nimigo que gaste muitotempo pensando.

-eu a#etuoso tio

-6K<O5E2<

CARTA Número XV 

>eu caro Oormood:

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 5enho reparado$ é claro$ que os humanos estãoexperimentando uma certa calmaria na sua guerra européia que eles pateticamente chamam de %E ;uerra% e não estousurpreso de que ha&a uma patetice equi!alente nas ansiedadesdo seu paciente. <stamos interessados em mantêlo tranqGilo a

respeito da guerra$ ou preocupad'ssimo com ela 5anto o medotorturante quanto a calma tola são estados de mente dese&á!eispor n/s. Nossa escolha entre uma ou outra depende deimportantes quest+es$ as quais passo a comentar.

"s homens !i!em presos ao tempo$ mas nosso 4nimigo osdestinou à <ternidade. <le$ portanto$ creio eu$ quer a aten*ãodeles presa primordialmente a duas coisas: E <ternidade em si eao ponto do tempo que eles chamam de %2resente%$ uma !ezque o mesmo presente é exatamente o ponto do tempo que tocaa <ternidade. A partir do presente momento$ e somente dele$ oshumanos tem têm uma experiência análoga à experiência quenosso 4nimigo tem da realidade como um todo em sua li(erdadesolitária$ e <le realmente a oferece a eles. <le poderia então têlos continuamente ocupados a respeito da <ternidade 0o quesigni#ica estarem ocupados com <le1 ou com o 2resente ocasião

para medita*ão so(re a união eterna deles com <le ou aconstata*ão de sua separa*ão do 6riador$ ou ainda empenhadosem o(edecer à !oz da consciência con#ormandose em le!arso(re seus om(ros suas pr/prias cruzes$ (uscando gra*a paracada dia e mostrando gratidão por qualquer prazer presente.

Nossa tare#a é le!álo cada !ez mais para longe do eterno e

do 2resente. 6om isto na mira$ n/s às !ezes tentamosencaminhar um humano 0se&a uma !i7!a ou um p/sgraduado1 a!i!er no passado. >as isto tem !alor limitado$ pois eles &á temalgum conhecimento real do passado$ e sa(em que ele seapresenta com uma natureza razoa!elmente de#inida$assemelhandose até a' com a <ternidade. < muito melhor #azêlos !i!er no uturo.  As necessidades (iol/gicas deles &á fazemcom que suas paix+es apontem para esta dire*ão$ naturalmente.

2or causa disso$ seus pensamentos !oltados para o que ainda!irá estão cheios de esperan*as e medos. Einda por cima$ ele édesconhecido para eles$ portanto se conseguirmos concentrar opensamento deles no #uturo$ na !erdade eles estarão !i!endo

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em um mundo irreal. <m resumo$ o uturo é$ de todas as coisas$o que menos se  parece com a <ternidade. <la é a parte maisca(almente temporal do tempo pois o passado está de#inido enão #lui mais$ e o presente está totalmente so( o (rilho dos raioseternos de luz. 2artindo deste #ato$ temos encora&ado #ortemente

as doutrinas como a <!olu*ão 6riadora$ o Humanismo 6ient'#icoou o 6omunismo$ os quais #ixam sempre a aten*ão dos homensno uturo. Da' decorre que praticamente todos os !'cios temsuas raízes no uturo. E ;ratidão olha para o 2assado e o amoren#oca o 2resente) mas o medo$ a a!areza$ a lux7ria e a am(i*ãosempre estão olhando para #rente. Não pense na lux7ria esensualidade como exce*+es. Iuando o prazer presente chega$o pecado 0que é unicamente o que nos interessa1 &á ha!iaacontecido. " prazer é apenas a parte do processo quedetestamos$ e se pudéssemos$ certamente o excluir'amos doprocesso) ele é exatamente a parte proporcionada pelo 4nimigo$e é sempre experimentado no 2resente. " pecado que n/sconseguimos produzir$ encarou o #uturo.

2ara ser preciso$ o 4nimigo tam(ém quer que os homenspensem no uturo mas apenas o necessário para agora

plane&arem seus atos de &usti*a e caridade$ que se constituirãono seu de!er de amanhã. 2orém$ o de!er de plane&ar aso(riga*+es de amanhã$ é uma o(riga*ão de ho&e$ e portanto$em(ora o conte7do pensado e plane&ado este&a no #uturo$ ode!er como todos os de!eres em geral Y diz respeito aopresente. < é portanto aqui que di!ergimos do 4nimigo. <le nãoquer os homens olhando muito para o uturo$ de #orma adeixarem seus tesouros no por!ir. >as n/s queremos. " ideal do

4nimigo é que o homem$ tendo tra(alhado o dia inteiro pelo (emda posteridade 0se esta #or sua !oca*ão1 se despreocupetotalmente a esse respeito$ con#iante que os céus ha!erão deproporcionar os melhores e#eitos a partir de seu tra(alho. "use&a$ ele apenas queira cumprir seus de!eres$ sem grandescuidados do que acontecerá em decorrência deles. @á n/s$queremos um homem que !i!a se cha#urdando no uturo assaltado pelas !is+es de um céu ou in#erno que este&a para cair

so(re ele de repente pronto para que(rar qualquermandamento do 4nimigo no 2resente$ se !islum(rar que poderáter um céu em !ida no uturo #icando sua #é #irmada nadependência do sucesso ou #racasso de situa*+es e esquemas

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que ele simplesmente morrerá antes que aconte*am. N/squeremos essa ra*a de !ermes inteira perseguindoperpetuamente o pote de ouro no #im do arco'ris$ nunca sendohonesta$ nunca sendo generosos$ nem #elizes agora$ mas sempreusando todos os talentos que lhes #oram dados no presente

como com(ust'!el depositado no altar onde cultuam o #uturo.

-egue portanto$ de modo geral$ que é mais produti!oencher seu paciente com ansiedade e esperan*a 0nãoimportando grande o que !ocê use para isso1 nesta guerra$ de#orma a ele não conseguir mais !i!er o presente. >as aexpressão %!i!er no presente% tem duplo sentido. <la podedescre!er um processo que é realmente uma simplespreocupa*ão com o uturo$ com toda a ansiedade poss'!el. -eupaciente poderá demonstrar despreocupa*ão com respeito aouturo apenas porque o seu uturo aparentemente será muitoagradá!el 0como imaginou o homem que ampliou seus celeirosna pará(ola do 4nimigo1$ e ele tem a sensa*ão que esta #ase !aidurar muito tempo. Iuanto mais esse estado durar$ melhor serápara n/s$ porque ela pode desa(ar em ru'nas ao menor sintomade !irada de rumo$ e isso somente estará acumulando na alma

dele mais desapontamento$ mais impaciência e ego'smo quandosuas #alsas esperan*as são des#eitas. -e$ por outro lado$ eleesti!er ciente dos horrores que podem cair so(re ele e esti!erorando pelo rece(imento de !irtudes que lhe #acultem encararos mesmos horrores$ enquanto s/ tem olhos para o 2resente pois é sempre no 2resente que estão todos os de!eres etam(ém toda a ;ra*a$ todo o conhecimento$ e todos osprazeres$ seu estado estará altamente indese&á!el para n/s$ e

de!erá portanto ser atacado sem tréguas. A esse respeito$ nosso<xército ilol/gico tem #eito um (om tra(alho) tente a pala!ra%6omplacência% com ele. >as claro$ pareceme pro!á!el que eleeste&a realmente !i!endo no 2resente apenas porque estágozando de (oa sa7de$ tem um emprego está!el e um localagradá!el para morar. >as não importa, No seu lugar$ eu #ariatudo que pudesse para destruir essas sensa*+es agradá!eis.

 5odo #enômeno natural tende a militar contra n/s. < a#inal de

contas$ por que ir'amos permitir que este idiota #osse #eliz

-eu a#etuoso tio

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CARTA Número XXXI

>eu caro$ meu car'ssimo Oormood$ meu (onequinho$meu leitão:

Iuão equi!ocada mente$ agora que tudo está perdido$ !ocê!em choramingando me perguntar se aquelas pala!ras de a#etoque eu dirigia a !ocê não signi#ica!am nada desde o come*o,=onge disto, 2ode ter certeza que meu amor por !ocê$ tanto

quanto seu amor por mim se assemelham tanto quanto duaser!ilhas. <u tenho sempre lhe dese&ado$ como !ocê 0m'sero tolo1tem me dese&ado. E di#eren*a é apenas que eu sou o mais #orte.<u acho que eles me entregarão !ocê no momento 0ou umpeda*o de !ocê1. Emar !ocê 6laro$ certamente. 6omo umpetisco delicioso igual aos outros que me tem engordado.

9ocê deixou uma alma escapar por entre seus dedos. "ui!o de #ome aguda por tal perda ecoa neste momento em todosos n'!eis do Keino da Farulheira até descer ao pr/prio 5rono. -/de pensar$ enlouque*o, 6omo eu conhe*o o que aconteceunaquele instante em que eles o arrancaram de !ocê, Hou!esu(itamente um clarão em seus olhos 0não #oi assim mesmo1 eele !iu !ocê pela primeira !ez em sua !ida$ e reconheceu o papelque !ocê tinha desempenhado nela$ e sou(e tam(ém que &amais!ocê teria acesso a ele no!amente. Epenas imagine 0e isso se&a

o princ'pio de sua agonia1 o que ele sentiu naquele exatomomento) como uma casca de #erida que ti!esse ca'do de uma!elha chaga$ tal qual ele ti!esse emergido de uma p7stula$ comose ele ti!esse se despo&ado de uma roupa gosmenta$ malcheirosa num 7nico mo!imento. 2elos 4n#ernos$ &á não (asta amiséria que é !êlos em seus dias mortais tirando suas roupassu&as e descon#ortá!eis e imergindo numa (anheira de águaquente emitindo pequenos grunhidos de prazer enquanto

esticam seus mem(ros cansados " que dizer então destedespo&amento #inal$ desta puri#ica*ão plena

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Iuanto mais se pensa$ pior #ica. <le entrou tão #acilmentena no!a existência$ !ocê percebe& Nada de d7!idas crescentes$sem condena*+es médicas$ nada de en#ermeiras em casa$ salasde cirurgia$ ou #alsas esperan*as de !ida) ao in!és disso$li(erta*ão instantJnea. <m um momento$ tudo parecia estar no

nosso mundo) o estrondo das (om(as$ as casas desmoronando$o cheiro e gosto horr'!eis dos explosi!os em seus lá(ios epulm+es$ os pés queimando de tanto cansa*o$ o cora*ão geladode horror$ o cére(ro con#uso$ as pernas !acilantes) no momentoseguinte tudo isto ha!ia passado$ como se tudo #osse apenas umpesadelo$ pelo qual ele nunca mais ha!eria de passar. -euderrotado, -eu idiota incompetente, 'ercebe quãonaturalmente como se ti!esse nascido para isso o !ermegerado em cima de uma cama passou para a no!a !ida 6omotodas as d7!idas que ele ti!era de repente esta!am claras diantede seus olhos$ e se torna!am simplesmente rid'culas <u sei oque a criatura disse pra si mesmo, %-im$ 6laro. 4sso sempre #oiassim mesmo...% 5odos os horrores tem seguido o mesmo curso$e #oram piorando$ e piorando como uma rolha so( pressão numagarra#a$ até que de repente$ a rolha pulou #ora. 6omo um dentein#eccionado que do'a mais$ e mais$ e mais$ até que de repenteera extra'do. " sonho se torna!a cada !ez mais em pesadelo$

até que #inalmente !ocê desperta, Não entendo realmente comoos seres humanos ainda podem du!idar de todas estas coisas...

Essim como ele !iu !ocê$ tam(ém !iu a <les. <u sei (emcomo #oi. 9ocê #icou su(itamente cegado e paralisado$ mais#erido por eles do que ele ha!ia sido pela (om(a #inal. Iuedegrada*ão que é isto, Iue esta coisa de terra e lodo pudesse

estar de pé e con!ersando com esp'ritos diante dos quais !ocê$um esp'rito$ s/ podia tremer de medo. 2ode ser que !ocê aindati!esse a esperan*a de que a surpresa e a estranheza pudessematrapalhar a alegria dele. >as isto é outra coisa estranha) osdeuses são estranhos aos olhos mortais$ mas mesmo assim$ nãosão tão estranhos. <le tinha uma concep*ão #antasiosa aindaacerca da aparência que eles teriam$ e tal!ez até ti!esse d7!idasso(re sua existência. >as quando os !iu$ ele sou(e que eles

sempre esti!eram &unto a ele$ e reconheceu cada parte que elesha!iam operado em muitas horas de sua !ida$ quando ele seimagina!a sozinho e desamparado$ de #orma que agora$ ao in!ésdele se dirigir a eles com um %6omo !ão !ocês%$ disse algo como

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%<ntão eram !ocês o tempo todo hein,% 5udo que ele #ez e disse!inha agora no!amente$ de suas mem/rias. " reconhecimento o#ez li!re de sua companhia ainda antes que os mem(ros de seucorpo destru'do es#riassem. < somente !ocê #icou de #ora.

>as ele não pôde contemplar apenas os seres celestiais...ele pôde contemplar a <le, <ste animal$ esta coisa nascida so(reuma cama pôde olhar para <le, " que para !ocê é um #ogocegante e consumidor é agora luz #resca para ele$ a claridadepersoni#icada so( #orma de homem. 9ocê gostaria de interpretar$se pudesse$ a prostra*ão do paciente na 2resen*a$ a sua autoa(omina*ão e o conhecimento ca(al de todos os seus pecados0-im$ Oormood... um conhecimento até mais pro#undo que oseu1 em contrapartida com a atmos#era mortal que emana docora*ão do 6éu. >as nada disto #az sentido con!ersarmos agora.-e ainda encontrar algum so#rimento pela #rente$ ele os aceitarásem reser!as ou re!oltas. < não os trocaria por nenhum prazerterreno nunca mais. 5odas as del'cias dos sentidos$ do cora*ão$do intelecto que !ocê pudesse usar para tentálo antes$ agoralhe pareceriam como a atra*ão nauseante que uma prostitutapudesse e(ercer so(re um homem que esta!a ou!indo a (atida

na porta da mulher que amara a !ida inteira e acredita!a morta.<le transpusera a #ronteira do mundo$ onde a dor e o  prazertomam !alores trans#initos e onde nossa aritmética #alhamisera!elmente em tentar compreender. >ais uma !ez$ oinexplicá!el acaba conosco. Da mesma laia dos tentadoresin7teis como !ocê$ a maior #onte de #alhas continua sendo nossoDepartamento de 4nteligência. -e apenas sou(éssemos o que <leestá tramando, Droga, Droga, -a(er isto em si mesmo &á nos

daria tudo que é necessário para tomarmos o 2oder. Elgumas!ezes$ quase caio em desespero. 5udo que me sustenta é acon!ic*ão de que nosso Kealismo$ nossa re&ei*ão 0em #ace detodas as tenta*+es1 5<> I< 9<N6<K$ no #inal. <nquanto isso$eu terei !ocê para me di!ertir um pouco. >uito!erdadeiramente$ seu a#etuoso e a cada minuto mais !oraz tio