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CORTE IMPERIAL DO JAPÃO SALA DO TRONO DO CRISÂNTEMO A Restauração Meiji

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CORTE IMPERIAL DO JAPÃO SALA DO TRONO DO CRISÂNTEMO

A Restauração Meiji

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Bernardo Silva Martins Ribeiro, Gabriel Costa dos Santos Oliveira Nathalia Dayrell Andrade, Geovana Zoccal Gomes

EDO Abril 1867

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CARTA DE APRESENTAÇÃO

Caros Senhores,

Sejam muito bem-vindos ao TEMAS 2007 e em especial à Corte Imperial do Japão. É com imenso prazer que recebemos todos vocês em Belo Horizonte para uma experiência única em simulações. Gostaríamos, portanto, de nos apresentar:

Prezados Delegados. Meu nome é Nathalia Dayrell Andrade e sou uma das

Diretoras-Assistentes deste comitê. Tenho 18 anos e estou cursando o 3º período de Relações Internacionais na PUC Minas. Minha primeira experiência com modelos foi no 7° MINI-ONU, no qual participei como voluntária na Assembléia Geral das Nações Unidas. Interessei-me muito pelo evento e decidi participar mais ativamente na próxima oportunidade. Então aqui estou, ansiosa para entrar no mundo do Japão do século XIX e reviver este momento tão importante para o país. Espero que os senhores se empenhem e cheguem preparados para recriar a história do Japão. Um abraço e até o TEMAS.

Prezados Delegados, sejam muito bem vindos ao Japão do século XIX. Meu nome é

Geovana Zoccal Gomes e eu sou uma das Diretoras-Assistentes do comitê. Tenho 19 anos e estou cursando o 2º período de Relações Internacionais na PUC Minas. Antes de entrar no curso não tive nenhum contato com algum Modelo ou Simulação, não obstante fui voluntária administrativa na edição do 7º MINI-ONU, e desde então me interesso muito sobre tal categoria de evento. Tendo feito intercâmbio estudantil por um ano no Japão, o TEMAS 2007 – Ásia me agradou muito, tanto pela sua abordagem, como pelos tópicos que serão discutidos nos diversos comitês. Estou muito ansiosa para entrar junto com todos vocês na Sala do Trono do Crisântemo. Torço para que os senhores também tenham em mente a importância da simulação, realizem diversas pesquisas para podermos assim diversificar ainda mais nossas discussões. Um abraço e até o TEMAS 2007.

Olá, aqui é Gabriel Oliveira; curso o 5º período de relações internacionais na PUC-MG

e esta edição do TEMAS é mais um passo na minha vida de modelos e simulações. Será minha terceira experiência nesta simulação, que chega agora exatamente à sua terceira edição, sendo esta minha segunda como parte do staff acadêmico. Expandindo um pouco minha participação em modelos, já fiz parte de cinco edições do MINI-ONU, nosso modelo para colegiais, das quais três como delegado e duas como integrante do staff; atualmente me encaminho para minha 6ª participação no modelo onde serei diretor da “1933 - League of Nations”, discutindo a invasão

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japonesa na Manchúria. Desejo que todos aproveitem ao máximo esta que será uma fantástica simulação.

Caríssimos! Entrego-lhes em suas mãos os primeiros resultados de um sonho que só o

TEMAS pode tornar realidade. Durante toda a minha experiência em modelos, que perpassa cinco MINI-ONUs desde o 3°, o 9th AMUN, os MONUs 2004, 2005 e 2006, o UFRGSMUN 2006, a 2ª SiNUCES e o TEMAS 2006 - Soberania – além de meus 7 períodos do curso de Relações Internacionais da PUC Minas –, jamais enfrentei um desafio tão grande quanto tornar realidade um comitê tão complexo e heterodoxo. Confesso-lhes que por vezes pensei que o comitê não fosse ser possível pela quantidade de informações conflitantes que a história oriental nos trás. Felizmente, aqui estamos nós. Os senhores perceberão que este guia procura explorar o assunto ao máximo, em virtude de ser um tema e uma época nebulosa para nós ocidentais. Incentivo-lhes a lerem este documento com muita atenção, pois ele procura prepará-los ao máximo para os debates. Agradeço pela escolha do comitê, pela confiança depositada na Diretoria e pela escolha em participar do TEMAS, um projeto que dedicamos a vocês com carinho e trabalho! Os próximos resultados deste projeto dependem de vocês. Até logo, Bernardo Ribeiro.

Sem mais, esperamos vê-los em Belo Horizonte em abril de 2007, onde estaremos em Edo

de abril de 1867. Forte abraço,

Bernardo Ribeiro, Gabriel Oliveira, Geovana Zoccal e Nathalia Dayrell. Equipe da Corte Imperial do Japão

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INTRODUÇÃO

A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DO CRISÂNTEMO

“Se todos os mares são nossos irmãos, porque sopram os

ventos e as ondas se levantam ruidosamente?”.

- Imperador Meiji Mutsuhito (1868).

O mundo oriental ainda é repleto de mistérios para nós ocidentais.

Quando se trata de falar sobre o oriente, quase sempre nos deparamos com essa

afirmação. Contudo, ela é sempre carregada de certa cautela e até mesmo temor diante do mundo

oriental e da abordagem que se pretende estabelecer. Mesmo assim, o fascínio que o oriente tem

despertado no ocidente tem atraído as pessoas para explorações ousadas desse mundo. O que faz

do mundo oriental, composto em sua quase totalidade pela Ásia, algo tão misterioso e fascinante

é sua diversidade cultural. Talvez a vastidão do oriente seja a causa disso, ou quem sabe ter sido

entre os rios Tigre e Eufrates – notadamente em continente asiático – o nascimento das

civilizações e das organizações culturais complexas. O que sabemos de fato é que o oriente traz

organizações sociais, políticas e culturais extremamente peculiares para nós ocidentais e que são

capazes de encantar-nos e despertar nossa curiosidade e interesse.

O Temas 2007 - Ásia tem como proposta não apenas explorar sem temor o mundo

oriental, mas também esmiuçar as organizações políticas, sociais e culturais do continente

asiático e do mundo oriental. Convidamos você, caro leitor ou delegado, a se aventurar

destemidamente no fascinante continente asiático e convidamos ainda para que olhem mais de

perto para um dos mais fascinantes países da Ásia: o Japão.

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O Japão, cujo nome na língua nativa é Nihon ou Nippon (oficialmente Nihon-Koku ou

Nippon-Koku) é um país insular do Extremo Oriente asiático. Fica localizado no oceano pacífico

próximo à China, Coréia do Sul e Rússia. O nome Nihon ou Nippon significa “Originada do Sol”,

contudo, o Japão também é conhecido como “Terra do Sol Nascente”. O país é composto por

mais de 3 mil ilhas que englobam cerca de 377.872 quilômetros quadrados. As maiores ilhas do

arquipélago japonês são Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku. Por ser um país vulcânico, grande

parte de sua geografia é montanhosa. Atualmente a capital do Japão é Tokyo em Honshu, mas

durante grande parte do Império foi Kyoto.1

Não se sabe ao certo a composição exata tanto da etnia japonesa quanto das manifestações

culturais desse povo. Diversas influências de povos asiáticos setentrionais, bem como de grupos

insulares do sul e vindos de onde hoje são as Coréias e até mesmo da Mongólia e China, podem

ter sido o berço étnico do povo japonês. A cultura tradicional japonesa, também sofreu uma série

de influências das mais diversas. Desde influências da Coréia até da China e passando por povos

Mongóis. O Império Japonês surgiu em virtude dessa grande mistura. Conquistadores que viviam

na península Coreana fizeram uma série de incursões nas proximidades de Kyushu e logo se

moveram até Honshu onde subjugaram a etnia bárbara dos Ainus e estabeleceram o império sob o

reino de Jimmu. (BERGAMINI, 1971, p. 243-245)

O reino estabelecido pelo Imperador Jimmu compreende o que hoje são as cidades de

Osaka, Kobe e Kyoto, e foi chamado de Yamato. As instituições imperiais criadas por Jimmu, tais

como a atribuição de funções de Estado para castas familiares, permanecem até hoje no Japão.

Jimmu também disseminou as primeiras manifestações do xintoísmo e a noção de que o

Imperador era o filho da deusa-sol Amaterasu. Em virtude disso, o Império Japonês é um dos

mais peculiares do mundo comparado aos Faraós pela representatividade política, militar e

1 CIA World Factbook - Japan. Disponível em <https://www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/ja.html>. Acesso em: 20 dez. 2006.

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religiosa dos primeiros Imperadores passando pelo shogunato e até depois da restauração Meiji.

(BERGAMINI, 1971)

Contudo, o Império Japonês sofreu mudanças durante toda a sua história. Desde a

influência Chinesa, em especial com o doutrinamento budista e as filosofias de Confúcio, até a

emergência dos shoguns, os Imperadores foram modificando sua forma de atuação diante do

governo de Yamato e da condução das políticas no Japão. Mas juntamente com a influência

Chinesa veio a evolução do pensamento das elites da nobreza, que ajudaram a propiciar as

mudanças do império e da figura do Imperador. Com a ascensão do Clã dos Fujiwaras ao posto

de conselheiros íntimos do Império Japonês, veio também o adensamento das cerimônias

envolvendo o Imperador e seu governo. Talvez isso tenha sido uma estratégia para aumentar a

capacidade das elites de manipular o Imperador e seu governo. O que de fato resultou foi uma

grande influência dos Fujiwaras no governo e um certo desmantelamento da soberania do

imperador e de seu governo pessoal.

Na grande Sala do Trono, sobre um chão de tatames brancos, o Imperador foi tomando de forma crescente a aparência de um boneco, sentado imóvel no centro de um balé cômico e surrealista. Sua figura tornou-se tão tabu e endeusada que ele não mais era chamado de Imperador, mas eram usados eufemismos como ‘Caminho para o Paraíso’, ‘Amanhecer no Palácio’, ‘O Grande Grandioso’. (BERGAMINI, 1971, p.255, tradução nossa)

Tal acontecimento propiciou que daimyos – grandes senhores de terra – de várias

províncias se tornassem mais fortes com o claro objetivo de combater a manipulação dos

Fujiwaras sobre o Trono do Crisântemo. Tais daimyos mais tarde foram chamados de shoguns.

No início, seu maior trunfo foi a manutenção de fortes exércitos que mantinham a balança de

poder interno do país. Os shoguns passaram a gerir feudos, coletando taxas, policiando as ruas,

aplicando leis e governando. Não tardou para que eles assumissem o poder político no Japão,

deixando o imperador, já enfraquecido pelos Fujiwaras, apenas com sua representatividade

religiosa. Mesmo assim, o imperador ainda tinha a atribuição de ratificar decisões importantes

para o Estado. (BERGAMINI, 1971, p. 255)

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O Estado japonês então se fragmentou radicalmente em feudos e pequenas províncias

dominadas pelos daimyos. O sistema de sucessão era fundamentalmente hereditário assim como

no império. Os feudos eram quase autônomos se não fosse a obediência dos daimyos ao

Imperador semeada durante toda a constituição do Império Japonês e a representatividade da

figura do Imperador. Enquanto os senhores feudais japoneses governavam suas províncias e

feudos, cabia ao Imperador – aconselhado pelos Fujiwaras – tratar das questões essencialmente

nacionais e governar soberanamente sobre a região de Kyoto. (BERGAMINI, 1971)

Esse período de descentralização durou até a invasão Mongol. Quando as tropas de Kublai

Kahn invadiram o Japão, a mobilização de forças para expulsão dos invasores foi de tal ordem

que incentivou certa reunificação do povo japonês. O resultado foi a grande vitória do Japão com

maus efeitos colaterais. O primeiro deles foi a deterioração do governo dos daimyos e o segundo

foi a secção da família imperial japonesa em duas facções. Uma parte da corte governava o Japão

nas montanhas ao sul de Kyoto e a outra estabelecia seu governo ao norte da cidade.

A corte do Sul tinha como objetivo principal o retorno de poder militar, político e religioso para as mãos do Imperador somente. [...] A corte do Norte por sua vez apoiava os shoguns como os mantenedores do poder militar desejando para si apenas o poder religioso. (BERGAMINI, 1971, p.264, tradução nossa)

Dessa forma, fica claro que as cortes receberam apoios diferentes. Os shoguns davam

suporte ao governo do norte e os sacerdotes do shinto davam suporte à Corte do sul.

Ambas as Cortes entraram em profunda decadência nesse período. A vitória sobre Kublai

Kahn não serviu de incentivo para o fortalecimento da nação japonesa e a secção do Império

serviu para que uma guerra civil eclodisse em todo a nação. A situação não se estabilizou por

muito tempo e os primeiros exploradores ocidentais chegaram à região. A chegada dos

portugueses fez a guerra civil se tornar ainda mais violenta quando os japoneses foram

introduzidos aos mosquetes e às armas de fogo. Com o desenvolvimento do militarismo no Japão

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e o aumento da guerra civil, o espírito de reunificação do Japão surgiu em um líder disciplinado e

fiel ao Império: Oda Nobunaga. (BERGAMINI, 1971, p.269-270)

Nobunaga foi um brilhante estrategista que entrou no ciclo de guerras desse período e

recebeu o incentivo e o reconhecimento do Imperador para depor os daimyos revoltosos e

reunificar o país. O brilhantismo de Oda Nobunaga ao conduzir suas forças nesse sentido fez

com que ele tivesse muito poder no Japão, sendo o precursor do primeiro Bakufu – um governo

militar centralizado em um único shogun. Depois do assassinato de Nobunaga, no auge de seu

poder, seu general mais proeminente, Toyotomi Hideyoshi, assumiu seu lugar para concluir seu

trabalho e até mesmo expandi-lo. Hideyoshi completou a reunificação do Japão, e fez com que

todos os senhores de terra – os daimyos – fossem a Kyoto renovar seus votos de lealdade para

com o Imperador.

Hideyoshi era mais ambicioso que seu predecessor Nobunaga e logo lhe sobreveio a idéia

de expansão do Japão em direção à Coréia, China e demais países a oeste do Japão. Suas

incursões na Coréia foram fortemente repelidas por exércitos Chineses que desejavam impedir a

expansão japonesa, resultando numa guerra perdida pelo Japão e na morte prematura de

Hideyoshi.

Toyotomi Hideyoshi deu lugar então ao shogun Tokugawa Ieyasu, o primeiro da mais

longa e proeminente família de shoguns do Japão e também a última. O Império nesse período foi

invariavelmente velado pelo poder dos Tokugawas e quase perdeu seu poder político no Japão

uma vez que o shogunato nessa época foi capaz de estabelecer um governo quase independente

do Imperador sobre o Japão. Foram anos de mudanças no sistema político do Japão, incluindo o

início do maior período de reclusão e do nascimento de um espírito de xenofobia que seria

motivo de enormes controvérsias entre Império e Bakufu quando da chegada do Comodoro

Matthew C. Perry na baía de Uraga em 1854. (BERGAMINI, 1971, p.293-302)

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O Império Japonês permaneceu estagnado politicamente até a ascensão do Imperador

Komei Osahito, um jovem visionário e estudioso que via o shogunato como uma ameaça ao

poder imperial e pretendia reaver parte desse poder, em especial a capacidade de decidir questões

políticas em prol da nação japonesa. (BERGAMINI, 1971)

Nesse período, a cooperação entre o shogunato e o império se dissolveu numa guerra

política que se intensificou radicalmente em virtude da chegada de estrangeiros. Enquanto

Tokugawa se inclinava numa política de cooperação e diálogo com os visitantes norte-

americanos, Komei enviou uma carta “relembrando” o shogun de que as defesas do Japão

deveriam ser sólidas e impenetráveis e que a política de reclusão deveria ser mantida a todo custo

em nome da honra do Japão e do desejo dos deuses do shinto. Além disso, Komei instituiu uma

nova lei Imperial fazendo com que todas as decisões sobre política externa japonesa fossem

executadas somente após consulta ao Trono do Crisântemo. (BERGAMINI, 1971, p.302-305)

O poder da Corte japonesa estava se restabelecendo pouco a pouco, mas o Bakufu insistia

em desrespeitar muitas de suas definições. Tokugawa assinou vários tratados de amizade, paz e

comércio com países estrangeiros, contudo, ainda precisavam da ratificação de Komei que

recusou categoricamente.

A fúria de Komei e sua postura foram um importante passo para a Restauração Meiji. Para

o império japonês, o Bakufu havia transposto todos os limites de seu alcance de governo. Ao

observar os visitantes estrangeiros, contudo, Komei percebeu que o Japão precisava de muito

mais que força militar para expulsá-los e livrar a terra sagrada da invasão. Era necessária uma

restauração total das bases políticas, sociais e militares do país para que ele alcançasse autonomia

e força suficiente para combater novas incursões e se impor diante dos demais países.

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A mobilização das províncias mais poderosas como Satsuma e Choshu foram decisivas

para a difusão de tais ideais, e a morte de Komei foi um importante passo para que, com um novo

Imperador, o Japão fosse restaurado nesse sentido.

Reintegralização do poder soberano nas mãos do sucessor de Komei, Meiji Mutsuhito,

modernização e restauração das bases sociais, econômicas, políticas e militares do Japão, e

abertura econômica e cooperação internacional eram o foco da Restauração Meiji que os senhores

delegados terão o papel de tornar realidade.

Bem vindos ao Japão do século XIX.

Bernardo Silva Martins Ribeiro

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A RESTAURAÇÃO MEIJI

“Meus ancestrais dominaram o Japão por 2000 anos. E por todo este tempo nós

dormimos. Durante meu sono, eu sonhei. Sonhei com um Japão unificado.

Um país forte, independente e moderno…

E agora estamos acordados. Temos linhas de trem, canhões e roupas ocidentais.

Mas não podemos nos esquecer quem somos.

Nem de onde viemos”.

- Imperador Meiji Mutsuhito (1876)

Todos nós atravessamos épocas em nossas vidas em que mudanças cruciais irão ocorrer, e

em apenas uma minoria das vezes em que isto ocorre temos controle sobre quais serão essas,

como irão ocorrer ou mesmo a intensidade das mesmas. Isto não somente é válido para

indivíduos, mas também para outras instâncias, como Estados nacionais.

O ano de 1867 pode ser definido como a fase de “transição opcional” mais radical da

história de uma nação, o Japão ( - Nihon – Terra do Sol Nascente). No referido ano,

encontrávamos o limiar da quebra de uma estrutura social vigente há séculos; o poder patriarcal

começaria ali a perder seu poder absoluto (mesmo ainda sendo marcante em tempos recentes), o

real poder governamental escaparia das mãos do enfraquecido shogun Tokugawa Yoshinobu

(1837 – 1913), o país abandonaria suas tradições e de certa forma negaria seu passado para

alcançar um patamar superior no sistema internacional. Sua identidade ficaria para sempre

perdida no tempo, entre um empoeirado livro com as palavras de moral do Bushido – código de

honra dos samurais – e a honra das grandes famílias que se negaram a acompanhar a evolução

pouco natural da nação japonesa.

A classe samurai conheceria o inferno nesta nova era. Ao menos seus membros que

tinham verdadeira devoção aos ideais do Bushido. Ocorreria o abandono da espada, a negação de

todo um estilo de vida e a submissão a “invasores” de terras distantes, acompanhados de suas

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máquinas de guerra e de sua honra duvidosa. O poder político japonês ficaria nas mãos de alguns

grupos de nobres e antigos samurais que abandonaram – em sua maioria e sem hesitar – suas

espadas, todos leais ao recém-entronado e jovem Meiji Mutsuhito (1852 - 1912), filho do

Imperador Komei (1831 - 1867).

A nação japonesa se encontrava dividida entre os conservadores e aqueles que

simpatizavam com os estrangeiros. Nacionalistas de uma forma geral temiam o futuro próximo

do Japão, tinham medo de que a influência estrangeira no país fugisse ao controle e que a

situação acabasse similar à da China – infestada e de certa forma dominada pela mão do oeste.

Tal sentimento é bem descrito por Maki Izumi, um patriota confesso, poucos dias antes do

completo declínio do shogunato:

Não foi há muito tempo atrás, por volta de 20 anos atrás na China, durante a Ahen Senso (Guerra do Ópio), que a Inglaterra começou a tomar conta e fez várias coisas para humilhar as mulheres. Em agosto do ano passado, eles finalmente dominaram a China. Apesar do Japão ser um país de guerreiros, é um país pequeno e a situação se tornou bem perigosa. Daqui pra frente temos que nos manter estáveis e as mulheres também devem estar preparadas. (IZUMI apud TATSUYA, 1969, p.106)

Mas esse era apenas um dos lados. Algumas milícias de províncias como Choshu e

Satsuma (apenas alguns grupos isolados inicialmente, mas que em breve seriam muitos)

posteriormente se expandiriam e ajudariam o Exército Imperial a se livrar das últimas ameaças à

modernização. É relevante relatar que, em sua maioria, o movimento anti-Bakufu foi levado por

samurais de classe mais baixa e Ronins (samurais sem clã, daimyo ou tradição, andarilhos), o que

mostra o interesse daqueles que tinham grandes vantagens oriundas do governo corrente, em

mantê-las (tendo em vista o abandono por muitos de suas tradições quando isto se tornou

“inevitável”).

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Tudo isto gerou um clima tenso na esfera política interna e nas relações com os

estrangeiros (que de certa forma nunca foram de total confiança ou amizade), e um futuro para

alguns incerto e, para outros, muito bem definido.

E será exatamente neste clima que nossa simulação se encaminhará senhores delegados:

traição, disputa, alianças inesperadamente desfeitas, queda de tradições supostamente

inaceitáveis. Assumindo o papel dos agentes que trouxeram o Japão a uma nova era, ou tentaram

evitar que isso ocorresse, tentaremos, quem sabe, dar diferentes rumos ao país.

Sem mais delongas, hajime mashite (‘vamos começar’) esta empreitada, que na verdade é

uma viagem de volta ao século XIX e a uma terra muito distante.

Gabriel Costa dos S. Oliveira

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CAPÍTULO 1

O ÚLTIMO SHOGUN

O Tokugawa Bakufu

Seiitaishogun – grande líder do exército na luta contra os bárbaros – era o título completo

do governante do Japão até 1867, o Shogun. Até este ano, o Japão passou por profundas

transformações de governo até o culminante Bakufu.

O Shogunato Tokugawa foi um marco na história do Japão. Sendo o primeiro governo

shogunal de solidez ímpar do país e ainda o último governo Bakufu, a era Tokugawa foi o período

onde ocorreram as maiores transformações no Japão em virtude de seu sistema de governo e seus

impactos na sociedade. E ainda anteriormente a tal período, as estruturas imperiais e

governamentais em geral do Japão passaram por várias modificações importantes em cada era em

que se divide a história do país.

Antes de adentrar no período final do Bakufu e na era da Restauração Meiji, observaremos

a história do Japão e a evolução do poder e do Império até a queda do Shogunato Tokugawa.

1.1 – Períodos Pré-Tokugawa

A história do Japão é dividida em períodos; falaremos aqui dos nove que antecederam a

Era Tokugawa ou o período Edo.2

2 Ensaio Nippo-Brasil – História do Japão. Disponível em <http://www.nippobrasil.com.br/2.historia_jp/index.shtml>. Acesso em: 18 dez. 2006.

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A respeito dos dois primeiros períodos pouco se sabe, uma vez que não há registros

deixados pelos próprios japoneses. O que se pode dizer é baseado em estudos, principalmente

arqueológicos, e, quanto ao segundo período, em alguns escritos chineses e coreanos. O primeiro

período, Jomon, compreende um enorme espaço de tempo, de 8000 AC a 300 AC, tempo este

remoto, sobre o qual não se pode dizer muito e não se pode ter muita certeza sobre o que é dito.

Os habitantes da região viviam de caça e pesca e eram nômades. Eles conseguiram fixar-se

quando descobriram a possibilidade de fazer vasos de barro e, dessa forma, conservar alimentos.

Formaram-se, assim, as primeiras aldeias. Acredita-se que havia no Japão aborígines que viviam

no norte, os Ainu, e aborígines no sul, sedentários, cuja população foi desaparecendo e sendo

substituída por mongóis.

O segundo período, Yayoi, compreende os anos 300 A.C. a 300 D.C., nele chegaram

mercadores que introduziram o cultivo de arroz, o ferro e o bronze. Há aqui uma controvérsia a

respeito de quando o primeiro imperador, Jimmu, ganhou tal posição. A data oficial divulgada

pelos japoneses é 660 AC, mas a maioria dos estudiosos acredita que a ascensão ao trono ocorreu

de 600 a 800 anos mais tarde. David Bergamini (1971) diz ter sido por volta de 50 DC. Seu reino

compreendia a região onde hoje são as cidades de Osaka, Kobe e Kyoto região que mais tarde

ficou conhecida como Yamato. (BERGAMINI, p. 246-247, 1971) Sob esse mesmo nome um

novo período é fundado entre os anos de 300 e 593. No século VI o Budismo foi introduzido no

país.

No período Asuka, de 593 a 710, ocorreu uma mudança no governo. Após a morte do

imperador, que aceitou o Budismo em seus momentos finais, um dos clãs se rebelou e, após

algumas lutas, um garoto foi coroado príncipe; ele era Shotoku Taishi. Ele foi responsável pela

criação dos “17 artigos da Constituição”, baseados no Confucionismo, Budismo e Xintoísmo.3

3 Há dúvidas sobre Shotoku ter escrito os artigos ou estes terem sido escritos após sua morte, em sua homenagem. Para maiores detalhes, ver: STORRY, 1962.

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Estes artigos tinham o intuito de reforçar o poder do governante. Ele conseguiu também conciliar

as duas religiões dominantes, Xintoísmo e Budismo, e fazer com que os seguidores de uma

aceitassem os seguidores da outra. Muitos dos planos idealizados por Shotoku não se tornaram

realidade antes de sua morte, em 621. Muitos planos morreram com ele e alguns foram efetivados

por seus seguidores. Alguns destes últimos foram as reformas realizadas de 645 a 655, que

incluíam uma burocratização do reino. Após sua morte, o clã Soga havia se tornado muito forte e

pretendia tomar o poder. Foi impedido, no entanto, pelo clã Fujiwara, que se tornou, então, a

família mais influente no Japão e quem governava o país de fato. (STORRY, 1962)

No período seguinte, Nara, de 710 a 794, o poder dos Fujiwara foi consolidado. Eles não

se tornaram imperadores nem eram descendentes destes; o que faziam era convencer o Imperador

a abdicar, e então se declaravam regentes. Caso o Imperador se recusasse, os Fujiwaras se

declarariam ditadores civis. Ou seja, o Imperador perdeu grande parte de seu poder de governo,

se tornando fantoche dos Fujiwara. No final do período conseguiu recuperar parte de seu poder,

mas logo o perdeu para famílias de militares. (STORRY, 1962)

A partir do início do século VII estabeleceu-se na China uma dinastia chamada T’ang.

Esta se baseava, principalmente, na centralização do poder. O Japão, admirado, envia pessoas à

China para aprender sobre esta nova dinastia.

Os Fujiwara implantaram uma nova administração, inspirada na dinastia T’ang, que

visava à centralização do poder. Estabeleceram também uma capital, onde ficaria a família

imperial e o centro administrativo do país. A primeira capital foi Nara, mas logo foi transferida

para Heian-kyo, atual Kyoto. Neste período foram escritos os primeiros livros de história do

Japão, foi compilada a antologia poética Man’yoshu, foi construído o Grande Buda em Todaiji e

o Budismo se tornou a religião oficial. A cultura chinesa foi intensamente absorvida.

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O período Heian, de 794 a 1185, inicia-se com a transferência da capital para Kyoto e tem

fim com a implementação do governo militar de Minamoto. Neste período, foi sendo formada a

cultura japonesa inspirada no próprio povo, não mais nos chineses. Também neste período a

classe dos militares se consolidou. Estes são chamados também de samurais.

Ocorreram neste período grandes mudanças em relação ao sistema feudal e à organização

das classes. Inicialmente, toda a terra do reino pertencia ao Imperador e ele deveria distribuí-la a

chefes de clãs, os quais contratariam camponeses para cultivá-la e pagariam impostos à Corte. No

entanto, o número de feudos que não pagavam impostos estava aumentando radicalmente e os

impostos pagos pelos camponeses acabavam por ficar nos próprios feudos. Isso comprometeu a

renda da família Imperial, fazendo com que esta se tornasse ainda mais dependente da

administração Fujiwara, contando com ela para compensar o déficit. Além disso, os senhores

feudais eram agora, em sua grande maioria, parentes do Imperador ou dos Fujiwara,

principalmente segundos filhos, o que dificultava a cobrança e a repreensão. Outra mudança foi

em relação à segurança. Com o aumento de feudos isentos de impostos, os senhores feudais

passaram a contratar generais para garantir sua segurança, generais estes que tinham controle

sobre exércitos. Isso dificultou ainda mais a intervenção da Corte na nova situação. Então a

configuração do reino no final do período era: uma Corte dependente da administração Fujiwara,

com poder decadente, e senhores feudais ganhando cada vez mais poder, assim como a classe de

militares. (BERGAMINI, 1971, p. 254-260)

O momento em que os militares tomaram o poder efetivamente foi quando ocorreram

desentendimentos entre os membros da família Fujiwara; a situação se agravou a ponto de haver

lutas entre civis. Para garantir a própria segurança, os Fujiwara pediram o suporte de militares;

um lado recorreu à família Minamoto e o outro aos Taira. Quando as discórdias foram resolvidas,

os Fujiwara perceberam que haviam perdido o poder para os militares. (STORRY, 1962)

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No período Kamakura, de 1185 a 1333, surge a figura do shogun e inicia-se o governo

militar no Japão – regime chamado de shogunato.

O primeiro samurai a governar foi Taira Kiyiomori. Ele foi considerado cruel com seus

opositores, matando-os ou exilando-os. Ao assumir o poder, se estabeleceu em Kyoto e diz-se

que, devido à vida na corte, tornou-se mais civilizado ou que foi corrompido pelas artes e

costumes do palácio. O militar que o sucedeu foi Minamoto, que tomou o poder após sua morte.

Para evitar a influência da corte ele estabeleceu seu centro administrativo não em Kyoto, mas em

Kamakura. Ali implementou o chamado Bakufu – a tradução literal do termo seria ‘escritório no

campo’. Em 1192, recebeu do Imperador o título que se tornou, depois, tão conhecido: shogun.

150 anos depois, a liderança Minamoto foi substituída pela Hojo, no entanto, estes não se

tornaram shoguns e sim governavam como regentes. (STORRY, 1962)

Com a ascensão do shogun e sua função de chefe administrativo, restou ao Imperador a

função de chefe espiritual. No entanto, independentemente do alcance do poder do shogun, nunca

houve tentativa de depor o Imperador; este sempre foi uma figura muito respeitada e, apesar de

não ter poder decisório real, sua posição nunca foi ameaçada. (BERGAMINI, 1971)

Em 1268, chegaram ao Japão enviados de Kublai Khan – o novo imperador mongol que

havia dominado grande parte da Ásia. Eles traziam uma carta de Khan, na qual ele pedia que os

japoneses se submetessem ao seu império ou sofreriam invasões. O shogun, após consultar o

Imperador e receber uma carta que ele considerou distante da realidade, mandou os enviados

embora sem nenhuma resposta. Seis anos depois as tropas de Kublai Khan chegaram às ilhas ao

sul do Japão. O exército de mongóis e coreanos estava com grande vantagem, porém, devido a

uma forte tempestade, tiveram enormes perdas e retornaram ao império. Um ano depois Kahn

mandou novos enviados exigindo que os japoneses se submetessem ao império mongol, mas

obtiveram uma resposta ainda pior que na tentativa anterior: os enviados tiveram suas cabeças

cortadas. No entanto, Kublai Khan estava envolvido em batalhas na China e só mandou tropas ao

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Japão seis anos depois. Enquanto isso, os japoneses se preparavam para a batalha; o plano era

impedir o exército inimigo de entrar no território japonês. Para tanto construíram um muro de

pedra de mais de 161 km, cercado por navios e homens. Quando as tropas de Kublai Khan

chegaram, atacaram as extremidades do muro. Por 53 dias os homens lutaram incansavelmente,

até que, novamente, foram ajudados pela natureza. Ocorreu um furacão, fazendo com que o

exército de Kublai Khan se retirasse. Este furacão foi chamado de kamikaze, que significa vento

divino. (BERGAMINI, 1971, p. 262-264)

Com o fim da batalha e a vitória japonesa devido ao kamikaze, o Budismo e o Xintoísmo

ganharam enorme credibilidade, já que dizia-se que a ajuda foi conseqüência da sinceridade das

preces japonesas. Por outro lado, os soldados estavam insatisfeitos, pois apesar da vitória não

tinham territórios para apropriar. Além disso, o país, já empobrecido pelas batalhas anteriores,

preparava-se para um possível terceiro ataque, impossibilitando o pagamento de recompensas

para os soldados. Isso gerou grande insatisfação em relação à administração Hojo, até que o

próprio Imperador deu um golpe e recuperou seu poder, mas não o desfrutou por muito tempo.

Ashikaga Takauji, da família Minamoto, que apoiara o Imperador no golpe contra os Hojo, o

tirou do trono, colocou um Imperador fantoche e se nomeou o novo shogun. (STORRY, 1962)

O período Muromachi, de 1333 a 1573, tem esse nome devido ao estabelecimento do

shogunato Ashikaga na região homônima. Este período foi marcado por uma longa guerra civil,

pelo desenvolvimento do comércio, chegada dos primeiros portugueses e introdução ao

cristianismo e às armas de fogo.

Após o fim da guerra contra o exército de Kublai Khan, a sociedade japonesa entrou em

um período de intensa decadência e constante violência. Mesmo com a mudança de governo, dos

Hojo para os Ashikaga, a situação continuou instável e alarmante. A família imperial se dividiu

por ter intenções divergentes e, a partir de 1339, passaram a existir duas Cortes: uma ao sul de

Kyoto, que tinha como objetivo recuperar o poder de governo do Imperador, apoiada pelos

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xintoístas; e outra em Kyoto, que pretendia manter apenas o poder religioso e delegar ao shogun

todo o poder de governo, sendo apoiada pelos samurais. (BERGAMINI, 1971, p. 264)

A guerra civil se prolongou até o início do século XVII. A Corte, apesar de não participar

da luta, sofreu as conseqüências da guerra através do seu empobrecimento. O shogun vivia

luxuosamente, mas a família imperial por muito tempo foi obrigada a viver na simplicidade e, até

mesmo, na pobreza. Os samurais, livres para portar armas e matar sem ter que responder por

crimes, eram leais aos daimyos ou chefes de clã que os acolhiam. Os samurais matavam em nome

dos daimyos, em duelos entre si ou por motivos de vingança. Durante a guerra famílias inteiras

foram assassinadas, nomes tradicionais desapareceram, grandes chefes foram mortos por

bandidos. A situação se agravou ainda mais com a chegada dos portugueses, pois estes

introduziram as armas de fogo aos japoneses.

Em 1542 os primeiros navios portugueses chegaram aos portos japoneses. Eles

presenciaram este momento de caos da nação e o reportaram à sua terra natal, associado com o

espanto ao ver a pobreza em que vivia a família imperial. Os anfitriões em Kyushu ficaram

admirados com as armas portuguesas e logo aprenderam como fabricá-las. A partir de então, o

ofício foi aprimorado e levado para todo o território. Em 1549, os primeiros missionários

chegaram ao Japão, liderados por Francisco Xavier.

Apesar do constante caos civil, a nação como um todo progrediu muito neste período. O

comércio marítimo se desenvolveu e foi largamente ampliado. Os japoneses se tornaram

exportadores mundiais de metais e armas, os artesãos e comerciantes locais obtiveram grandes

lucros com a guerra ininterrupta e a população cresceu consideravelmente.

O período Azuchi - Momoyama, de 1573 a 1603, foi o período da unificação do Japão,

iniciada por Oda Nobunaga e concluída por Toyotomi Hideyoshi. Nobunaga, descendente da

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família samurai Taira, mostrou ter grande habilidade e interesse pela vida militar desde criança.

Quando seu pai morreu e lhe deixou seu castelo, logo tomou iniciativas para fortificar seu feudo,

comprando centenas de armas de fogo, em 1549. Alguns anos depois já liderava sua província,

Owari. Em 1562, o Imperador lhe enviou uma carta pedindo que fosse até Kyoto e colocasse um

fim nas lutas contínuas dos samurais. Ele então partiu, e, em 1568, havia deposto os grandes

chefes de clã de Kyoto e Tokyo, quando pôde tomar atitudes mais eficientes para colocar um fim

na guerra civil. Sua primeira medida foi depor o shogun e substituí-lo por um sem poder. O

Imperador pôde então novamente governar e Oda continuou sua missão de unificar o país.

Nobunaga procurou, ao longo de sua vida, aperfeiçoar o uso das armas de fogo e de táticas de

guerra. Com isso conseguiu ganhar batalhas vistas como já perdidas, como a Batalha de

Narashino, em 1575, a maior que enfrentou. Em 1582, foi assassinado, não se sabe o motivo, por

um de seus generais de confiança. (BERGAMINI, 1971, p. 269-272)

Seu sucessor foi Toyotomi Hideyoshi, filho de um soldado camponês, um dos chefes mais

habilidosos do exército de Nobunaga. Ele completou o processo de unificação do Japão, fazendo

com que os daimyos revalidassem seus votos de lealdade para com o Imperador, atualizou a

relação de feudos para facilitar a cobrança de impostos e planejou expandir o poder japonês para

a Coréia, a Malásia, as Filipinas, a Índia e, em uma aspiração um tanto quanto grandiosa, a China.

O general também decretou que, para uma melhor organização da estrutura de classes, ao

assumir obrigações com um superior, não lhe seria permitido deixar seu cargo sem a permissão

do empregador. Aos samurais seria proibido tornarem-se prefeitos e aos camponeses possuírem

armas; logo tiveram que entregá-las ao governo. (STORRY, 1962)

A empreitada na Coréia apresentava dois grandes problemas: em caso de ataque, era certo

que a China mandaria tropas; além disso a Coréia tinha grandes navios, com canhões, enquanto

os japoneses tinham apenas pequenos navios, que navegavam não no oceano, mas nos calmos

mares entre suas ilhas. Ainda assim, em 1592, Hideyoshi enviou uma primeira expedição, de 205

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mil homens, para Pusan na Coréia. Após menos de seis meses, quando os japoneses haviam

avançado para o Rio Yalu, os chineses mandaram seu exército. Estendeu-se, assim, uma guerra

sem vencedores por três anos, quando, em 1594, Hideyoshi enviou uma segunda expedição. Em

resposta, a China mandou o dobro de tropas e os coreanos, temendo perder o controle do mar,

desenvolveram uma embarcação como uma casca de tartaruga, que funcionava como blindagem.

Os japoneses tinham guarnições limitadas, mas conseguiram que os chineses, após grandes

perdas, cedessem. Em 1598, ainda nas negociações do processo de paz, Hideyoshi morre.

Percebendo que haveria problemas com a sucessão do poder, formou-se um conselho de cinco

generais para sediar o governo. Fizeram, então, um tratado com a China, colocando um fim à

guerra, e logo tiraram suas tropas da Coréia. (BERGAMINI, 1971, p. 273-274).

Hideyoshi deixou um filho de cinco anos como herdeiro, Hideyori. Os cinco generais

começaram, então, a discutir quem seria o tutor do garoto e, conseqüentemente, o governante.

Esta situação levou à Batalha de Sekigahara, em outubro de 1600, decisiva para a ascensão

Tokugawa. Logo após a morte de Hideyoshi, formaram-se dois pólos opostos de poder: um

liderado por Tokugawa Ieyasu e o outro por Ishida Mitsunari, o qual se declarava fiel a Hideyoshi

e seu herdeiro. Os dois grupos se enfrentaram em Sekigahara e Tokugawa foi o vencedor, devido

à traição de alguns daimyos que passaram a apoiá-lo durante a batalha. Acredita-se que ele tenha

combinado com estes antes mesmo do início da batalha, tendo assim garantido sua vitória. Os

vencedores receberam novas terras, uma vez que os perdedores, exceto dois daimyos, tiveram

seus feudos parcial ou completamente confiscados. (STORRY, 1962)

1.2 – O shogunato Tokugawa

O shogunato Tokugawa teve início com a vitória na Batalha de Sekigahara, em 1600 e se

consolidou em 1603, quando Tokugawa Ieyasu se tornou shogun. No entanto, abdicou após dois

anos no cargo, cedendo seu lugar ao filho. Ieyasu continuou, porém, governando ao lado do filho

até sua morte, em 1616. Seu objetivo era consolidar as mudanças iniciadas por Nobunaga e

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Hideyoshi, transformando o país em um estado ordenado, pacífico e governado por militares,

com cada vez menos influência imperial. Nestes dois anos como shogun, Ieyasu conseguiu

estabilizar a situação do país, econômica e politicamente. A paz pôde ser atingida e mantida

através de intensa vigilância sobre os daimyos e a corte imperial. (STORRY, 1962)

O Tokugawa Bakufu foi estabelecido em Edo. Lá, o Shogun governava através de um conselho de anciões dos Clãs advindos da família Tokugawa e que eram assistidos por uma burocracia constituída de samurais, incluindo uma rede de espiões que mantinha vigilância sobre o restante da aristocracia. (BARKER, 2001, tradução nossa).

Ieyasu tentou formar uma aliança com o então Imperador Go-Yozei, no entanto, este se

recusou a aceitá-la a não ser que o shogun tomasse medidas para neutralizar a influência branca e

cristã no país. O último acreditava que o país ainda não era estável o suficiente para enfrentar tal

empreitada. Então, em 1611, o Imperador renunciou como sinal de protesto. Em 1614, no

entanto, o shogun mudou sua postura, após a concessão por parte do Imperador de um casamento

entre Tokugawas e família Imperial. Ele então mandou deportar os padres estrangeiros, demolir

igrejas e ordenou a renúncia ao cristianismo, vinculado àqueles que buscavam usurpar a terra.

Apesar da crescente xenofobia, Tokugawa permitia a entrada de alguns estrangeiros, uma vez que

as trocas de mercadoria e conhecimento eram extremamente lucrativas. Os bem-vindos ao país

eram principalmente protestantes holandeses e ingleses. O anti-cristianismo foi ainda mais

divulgado a partir de 1620, majoritariamente através de propaganda, mas também através da

força. Entre 1620 e 1635 cerca de 6000 cristãos foram mortos, crucificados. (BERGAMINI,

1971, p. 277)

Em 1624, o shogun e o Imperador se reuniram em Kyoto para decidir quais seriam as

medidas a serem implantadas em relação a japoneses e estrangeiros. O resultado foi a política de

isolamento que fechou o Japão para qualquer interação com outros países. Além da proibição de

recebimento de navios estrangeiros, foi também estabelecida a proibição de construção de navios

para navegar no oceano, bem como a proibição do retorno de japoneses que vivessem fora do

país, sob pena de morte. Em relação a outros assuntos foi também decidido que os chefes de clã

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deveriam viver por um ano em Tokyo e um ano em sua cidade, impedindo assim possíveis

revoltas. A respeito do Cristianismo, foi estabelecido que qualquer prática da religião fosse

punida com pena de morte. Dessa forma, a partir de 1635, o Japão torna-se um país livre de

qualquer interferência externa, seja no plano econômico, político ou religioso. (BERGAMINI,

1971, p. 278-280)

A conseqüência imediata destas novas leis foi a morte de milhares de cristãos, tanto

estrangeiros quanto japoneses. Em 1638, o último padre foi deportado e, a partir de então,

nenhum navio português ou espanhol obteve permissão para ancorar nos portos japoneses. O

último navio inglês aceito no Japão foi em 1673, após o shogun descobrir que o príncipe havia se

casado com uma portuguesa. Apenas um pequeno posto de comércio holandês recebeu permissão

para permanecer em solo japonês, no entanto, os holandeses eram obrigados a pagar um preço

altíssimo por seus lucros e provar que eram neutros em questões religiosas. Em 1641, foram

levados para uma minúscula ilha, onde ficaram presos e só podiam sair de lá uma vez por ano,

quando iam para Tokyo entreter o shogun e contar-lhe o que estava acontecendo no mundo. Além

dos holandeses, apenas aos chineses eram permitidas trocas com o Japão, mas sob forte

vigilância. O país estava, então, fechado para o resto do mundo e só se abriria novamente depois

de mais de dois séculos. (BERGAMINI, 1971, p. 280)

A partir de então, iniciou-se um processo de desmilitarização do Japão. A produção de

armas diminuiu drasticamente, chegando ao ponto de a maior parte das armas produzidas serem

compradas como peças de arte. Apenas as armas na costa do país foram conservadas para

proteção e garantia de que nenhum navio estrangeiro ancoraria sem permissão.

Os Tokugawa fizeram uma divisão dos senhores feudais, colocando-os em três grupos,

dessa forma podiam identificar seus potenciais inimigos e facilitar a prevenção de possíveis

golpes. Em primeiro lugar vinham os membros da família Tokugawa, descendentes diretos de

Ieyasu. Em segundo lugar, os daimyos que o apoiaram na Batalha de Sekigahara e seus

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descendentes, considerados confiáveis e fiéis ao shogun. Estes dois grupos possuíam feudos nas

melhores localizações e alguns em regiões mais distantes, com o objetivo de fazer vigilância. O

terceiro grupo eram os tozama daimyo, ou seja, daimyos externos; era formado por aqueles que

não apoiaram Ieyasu em Sekigahara e só se submeteram aos Tokugawa após a derrota na batalha.

O shogun se sentia ameaçado por este grupo, pois nele encontravam-se daimyos poderosos, que,

se unidos e armados, poderiam tirá-lo do poder. Uma quarta categoria representava grande

ameaça ao shogun, eram os ronin, samurais sem senhores. Eles eram homens que haviam perdido

ou abandonado seus senhores e que, portanto, não deviam lealdade a ninguém. Isso preocupava

Tokugawa, pois os mesmos poderiam se unir contra ele. A partir desta divisão foi implantada

uma complexa política de segurança e vigilância, visando impedir qualquer tentativa de revolta.

Dessa forma os Tokugawa foram capazes de manter a paz durante seu governo, a não ser por

pequenas convulsões de camponeses, até o final do século XIX. (STORRY, 1962)

Apesar do isolamento, o Japão apresentou enorme desenvolvimento em seu comércio a

partir da segunda metade do século XVIII. O feudalismo passou a ser, na verdade, apenas

nominal. As cidades já haviam se tornado centros comerciais e o campo fazia o papel das

colônias ultramarinas dos outros países quanto ao provimento de matérias-primas. Apesar de não

ter ocorrido uma revolução industrial, a manufatura japonesa era bem desenvolvida e

especializada. Além disso, havia certa divisão do trabalho entre as regiões. Houve também um

crescente interesse pela mineração, principalmente de carvão e metais, o que proporcionou o

aumento do cunho de moedas de metal. (STORRY, 1962)

Inicialmente, as trocas e pagamentos eram feitos através do arroz. A introdução de

moedas de metal ocorreu somente quando se iniciaram as trocas com estrangeiros e, ainda assim,

em pequena escala. Com o enriquecimento dos comerciantes e o aumento de sua importância foi

necessário aumentar a circulação de moedas de metal e estas foram, progressivamente,

substituindo a utilização do arroz como moeda. (STORRY, 1962)

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Outro importante aspecto do shogunato Tokugawa foi a utilização do confucionismo

como ideologia política, principalmente a questão da obediência aos superiores e a idéia de

manutenção do sistema de classes. Os Tokugawa tinham grande interesse pela filosofia chinesa e

investiram muito em seu estudo. (STORRY, 1962)

Duas importantes escolas foram fundadas durante este shogunato. Elas foram

fundamentais para a formação de homens engajados politicamente, nobres e samurais. Uma delas

ficou conhecida como Escola de Peer, era voltada para nobres entre quinze e quarenta anos,

principalmente da região de Kyoto; nela eles estudavam principalmente história e governo

japonês. Muitos dos príncipes que se voltaram contra o shogun e a favor da Restauração Imperial

se formaram nesta escola. A outra importante formadora de mentes foi uma escola para samurais.

Com a duradoura paz no Japão, tornou-se necessário aos samurais estudar não só artes marciais,

mas também assuntos que incitassem o raciocínio. Dessa forma começaram a estudar,

principalmente, filosofia chinesa. Com o passar dos anos as escolas se dividiram de acordo com

os ramos da filosofia que seguiam e uma delas se tornou intensamente nacionalista, questionando

a legitimidade do poder do shogun e defendendo que quem tinha real direito ao governo do Japão

era o Imperador. Inicialmente, esta corrente de pensamento não teve força, mas com a crescente

crise no governo dos Tokugawa no século XIX ela foi ganhando adeptos. (STORRY, 1962)

Com Tokugawa Ieyoshi, em 1857, o poder de governo passou para as mãos dos

conselheiros e continuou assim nos anos de crise que se seguiram. Este fato veio a afirmar a

decadência do shogunato Tokugawa, ao mesmo tempo em que o prestígio e o apoio à família

imperial eram crescentes.

Na realidade, os Tokugawa jamais conseguiram uma unificação de fato do país. O sistema

de governo era organizado em porções de terra, semelhantes a feudos, cada um governado por um

daimyo.

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O que o shogun fazia era tanto regulamentar a administração dessas terras colhendo

tributos diretamente do daimyo quanto clamar pela autonomia em punir o senhor das terras com

confiscos e reduções do feudo, caso ele fosse mal administrado e não trouxesse lucros ao Bakufu.

Tal sistema abria um precedente para que os daimyos fossem os verdadeiros administradores da

população japonesa, pois eles eram os intermediários entre o shogun e os comuns, sendo ainda

responsáveis pela coleta de tributos e também pelo poder judicial sobre a população.

É certo que os daimyos sofriam uma série de controles por parte do shogun, contudo,

eram eles que governavam de forma local, ou seja, em seus respectivos domínios. (BARKER,

2001). Nesse sentido, pode-se conceber o exercício dos daimyos como uma extensão do governo

shogunal, mas que ainda possuía certa autonomia em virtude de seu controle jurídico.

O governo Tokugawa se consolidou e se fortaleceu, segundo Barker (2001), por quatro

aspectos únicos:

Primeiro [...] a redistribuição de suas terras [dos daimyos]; Segundo, o shogunato enfraqueceu o poder econômico dos daimyos demandando que eles provessem homens e materiais para a construção de castelos, fortificações, manutenção e construção de estradas, redistribuição de terras e etc; Terceiro, o shogunato promulgou uma série de leis e regulamentos que governavam as atividades e as condutas dos daimyos em seus domínios. Cada daimyo deveria reduzir as fortificações e os castelos para um em cada domínio, além de limitar suas forças militares. Era necessário que ele cooperasse com a inspetoria shogunal, que tinha direito de examinar sua administração interna e suas finanças. Regras de vestimenta e conduta privada eram impostas e alianças matrimoniais eram controladas pelo Bakufu em Edo; Quarto, cada daimyo, com um grupo apropriado de samurais, precisava passar parte de cada ano na Corte do Bakufu. Quando ele estava em casa nos seus domínios [han] ele deveria deixar sua mulher e filhos como reféns com o shogun. Dessa forma sua lealdade era mantida. O sistema ainda requeria que o daimyo gastasse parte de seus recursos na manutenção de residências alternativas para si mesmo e sua guarda e para financiar suas ocasionais visitas ao Bakufu. (BARKER, 2001, tradução nossa)

Outra força que mantinha certa estabilidade do governo de Tokugawa era a política de

reclusão e não-interferência estrangeira. Como já citado anteriormente, havia leis que impediam o

contato com o exterior além de pesadas restrições para o comércio com os holandeses no pequeno

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posto de comércio que havia em uma ilha próxima ao porto de Nagasaki. “Isso cortava

totalmente a possibilidade de que os daimyos se unissem aos estrangeiros para derrubar o

governo” (BARKER, 2001, tradução nossa).

Nesse período, então, a sociedade japonesa se reorganizou numa hierarquia de classes.

Havia os bushi, ou os nobres que englobavam os samurais e seus senhores; logo abaixo vinham

os camponeses, seguidos dos artesãos e por fim os mercadores. Cada classe possuía benefícios

em virtude do sistema de governo e suas atividades refletiam na economia do país e em seus

ganhos particulares. E exatamente esses resultados do sistema e suas reflexões nas vidas das

pessoas que foram peça chave para a emergência de insatisfações que culminaram em

movimentos contra o Bakufu.

As vilas japonesas pré-modernas mostram todos os sinais de um mecanismo poderoso de incorporação e controle de indivíduos porém com um grande potencial para insatisfações. (MOORE apud BARKER, 2001, tradução nossa)

1.3 A Queda do Shogunato Tokugawa

Questões Políticas

Por mais de dois séculos o Japão foi dividido em duas capitais, uma em que reinava o

Imperador (Kyoto) e outra governada pelo shogun (Edo). Em 1639, foi banido o cristianismo e foi

também proibida a entrada de qualquer estrangeiro, com exceção dos holandeses e chineses. Este

isolamento japonês causou certa estagnação política, econômica e cultural do país.

Os anos da década de 1830 levaram o Japão de Tokugawa a uma crise, que tinha como

centro o âmbito econômico. Em primeiro lugar, o processo de redistribuição de feudos trouxe

malefícios aos samurais. Em virtude de sua realocação, muitos perderam seus antigos domínios e

todos ficaram sob a égide de seus daimyos. Isso fez com que eles perdessem suas arrecadações

periódicas advindas de seus antigos domínios e também fez com que eles passassem a viver de

salários pagos pelos seus senhores. Eles foram incorporados pelas cortes senhoriais assumindo

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postos oficiais e deixando os campos de batalha onde haviam estado até a unificação de

Hideyoshi.

Os camponeses também sofriam severas restrições por parte do governo em suas

atividades.

[...] os feudos jamais poderiam deixar de ser cultivados e os campos de arroz não podiam secar. Roupas de seda eram proibidas aos camponeses, e os tamanhos assim como os materiais de suas casas eram regulados minimamente. A busca por outras carreiras além da lavoura era severamente limitada. Os camponeses eram proibidos de vender ou trocar suas terras e posses ou de deixá-las. Armas eram expressamente proibidas a eles assim como o estudo do confucionismo e de práticas religiosas litúrgicas. (BARKER, 2001, tradução nossa)

Mesmo havendo todos estes constrangimentos, algo inédito no Japão foi ocasionado pelo

sistema tributário do governo Tokugawa e pela paz que se instaurou: um grande desenvolvimento

das classes mercantes e dos camponeses. Isso ocorreu em virtude de sua capacidade produtiva

sofrer grande valorização enquanto os samurais viviam de salários fixos e os daimyos de receita

da corte shogunal. A organização da produção foi cada vez mais voltando-se para interesses

econômicos gerando comércio e aumento de renda aos produtores e aos mercadores. O sistema

funcionava pelo pagamento em arroz e a necessidade de converter isso em dinheiro era grande.

Isso fazia com que os ganhos dos nobres estivessem fixos na produtividade e na capacidade das

classes menores sob sua jurisdição de pagar as taxas, e, por sua vez, fazia com que eles

buscassem o aumento dos tributos gerando insatisfação e até revoltas camponesas. Enquanto isso,

os comerciantes faziam o arroz render dinheiro, fazendo com que as classes inferiores fossem

ficando mais ricas que as superiores. (BARKER, 2001)

Um exemplo disso está nas finanças das classes dominantes:

[...] por volta de 1800, o valor total dos domínios [shogunais] estava um pouco abaixo de 4.500.000 koku e as receitas do Bakufu sobre esse valor [...] estava um pouco acima de 1.500.000 koku [...]. Essa proporção caiu para uma media de 30% entre 1836 e 1841.

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[...] os estoques pessoais de ouro do shogun, que somavam 1.717.000 ryo em 1770, caíram para [...] 377.500 ryo em 1816. (AKAMATSU, 1977, p.38, tradução nossa).

Já nos anos da década de 1850, essa crise passou a ser maior na área política; em virtude

das pressões estrangeiras, o poder dos Tokugawa estava se esfacelando. A política Tokugawa de

reclusão inicial, chamada sakoku, mantida com pouca dificuldade durante mais de dois séculos,

entrava em crise.

Tudo que havia sido peculiarmente japonês se tornou ainda mais e o Japão foi unificado em seus costumes. A arte da paz foi tão laboriosamente cultivada que a arte da guerra foi relegada ao status de esporte antiquado. (BERGAMINI, 1971, p.282-283 tradução nossa)

Os reflexos destes problemas econômicos à luz do empobrecimento das classes

dominantes geraram insurgências implacáveis entre os samurais. Um grande número destes

acabaram se tornando ronins e se envolveram em atividades criminosas e conspirações contrárias

ao regime, gerando grupos que perpetraram atos de terror xenófobos ou contra o próprio Bakufu.

Pelo fato dos samurais serem os únicos da sociedade japonesa de Tokugawa permitidos de

participar de movimentos políticos, eles se engajaram em uma série de movimentos que

provocaram as crises dos próximos anos; a maioria dos que viabilizaram a Restauração Meiji

emergiram destes grupos. Sua revolta era muito conexa ao crescente enriquecimento de uma

classe a qual eles desprezavam – os comerciantes –, classe esta que os samurais acreditavam não

ter vez na sociedade japonesa. Tais desenvolvimentos eram duramente criticados:

[o] mais lamentável abuso nos dias atuais, em meio aos camponeses, é que aqueles que enriquecem se esquecem de seu status social e acabam vivendo no luxo como aristocratas citadinos. Suas casas são tão diferentes das de pessoas comuns como o dia e a noite ou nuvens e lama. Eles as constroem com os portões, pórticos, alcovas, estantes ornamentais e bibliotecas mais belos. Alguns até dão dinheiro e recebem o direito de portar espadas e sobrenomes. [...] Outros emprestam dinheiro aos daimyos e oficiais locais [...] exercitando influência em suas localidades e abusando de camponeses comuns. Alguns ainda [...] ganham favores de príncipes imperiais, de membros da família imperial que recebem ordens budistas e de pessoas versadas nas questões da corte. [...] Mais ainda, os oficiais das vilas e outros que possuem riquezas confiam o cultivo a servos; eles ainda vestem roupas finas que imitam o estilo cerimonial dos

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guerreiros e em todas as ocasiões formais como casamentos e funerais. (BUYO apud BARKER, 2001, tradução nossa)

As insatisfações foram tomando conta do Japão naquele período, gerando grandes grupos

de pessoas agitadas e inclinadas à modificação da ordem instaurada naquele momento.

O Japão estava repleto de espíritos agitados e sedentos por ação. Havia os nobres que queriam independência e comércio com o exterior para desenvolver os recursos de seus domínios; samurais que queriam oportunidades para usar seus talentos, como soldados ou oficiais; mercadores que queriam quebrar monopólios de determinadas guildas; estudiosos que queriam trazer conhecimentos de novos povos; camponeses humildes e cidadãos que queriam apenas um pouco de liberdade diante das taxas e da tirania. Todas as forças – exceto as conservadoras – estavam pressionando as portas fechadas do Japão por dentro; então, quando uma voz de fora chamou, as portas foram abertas e todas as energias aprisionadas foram liberadas. (G.B. SAMSON, apud BARKER, 2001, tradução nossa)

Não obstante, no fim do século XVIII, o Japão se via obrigado a reconhecer a mudança do

mundo; um novo grupo de europeus, notavelmente poderoso, chegou ao país para quebrar esse

isolamento.

Entre os anos de 1853 e 1867 o Japão passou pela custódia de três diferentes shoguns:

Iesada (1853-1858), Iemochi (1858-1866), e Yoshinobu (1866-1867), nenhum dos quais

conseguiu estabilizar a situação do país ou resolver o problema dos estrangeiros.

Principalmente durante o ano de 1853, os líderes Tokugawa estavam completamente

divididos sobre como se portar diante da situação. O Bakufu se encontrava incapaz de lidar tanto

com a crise estrangeira com firmeza, quanto reivindicar o poder sobre os assuntos internacionais.

Em julho deste mesmo ano, Abe Masahiro, membro do conselho Shogunal (Roju4),

negociou com Comodoro Matthew Perry, líder de uma esquadra dos Estados Unidos que aportou

na baía de Edo exigindo a abertura dos portos japoneses. A chegada dos quatro navios

4 Conselho composto por cinco homens – ‘advisers’.

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americanos provocou grande desordem no período. Existiam diferentes visões entre os japoneses.

Os membros do Conselho queriam se abrir para negociações, já o Imperador defendia a não

intervenção de estrangeiros no Japão; por último, havia os daimyos, que defendiam a guerra. Abe

permitiu a abertura dos portos e do comércio japonês com estrangeiros; simultaneamente seria

feita uma preparação militar no Japão.

O governo Tokugawa decidiu, afinal, sair do isolamento, graças à existência da pressão

pelas contradições econômico-sociais internas e das pressões externas. A abertura ao comércio

externo deu-se, principalmente, com o surgimento de um tratado de amizade e comércio –

Tratado de Kanagawa –, em março de 1854, com os EUA, e, posteriormente, também com a

Holanda, Rússia, Inglaterra e França. Dava-se o início do declínio do poder do shogunato. Não

obstante, a oposição a Abe crescia.

Em 1858, Kyoto tornara-se centro da política internacional japonesa. Neste mesmo ano

houve uma inesperada mudança dos fatos no momento em que Ii Naosuke, “o grande ancião” do

Shogunato Tokugawa, assinou o chamado tratado “Harris e Ansei”, um pacto de comércio, sem o

aval do Imperador, levando a um fim a política de reclusão. Este fato enfureceu os radicais que se

opunham ao shogunato; irromperam freqüentes revoltas camponesas e urbanas que remetiam a

movimentos de descontentamento do início do século XIX. Surgiu um forte sentimento anti-

Bakufu combinado com a xenofobia por todo o país. Agitadores extremistas foram chamados de

shin shishi,5 que tinham como lema a expressão sonno-joi.6A morte de Ii, em 1860, foi, para o

Bakufu, o começo do fim. Os atos de caráter terrorista tiveram rápida repercussão tanto na

política doméstica quanto para os representantes ocidentais. Além disso, o shogunato não tinha

mais poder para manter os tratados firmados anteriormente.

5 ‘Homens com determinação’. 6 ‘Venere o imperador, expulse os bárbaros’.

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No ano de 1863, em reflexo de um ato terrorista que matou um inglês num ataque à

delegação britânica, um comboio de navios britânicos bombardeou Kagoshima, e um ano depois

atacaram a costa de Choshu.

O shogun se via forçado a travar uma aliança com os daimyos, chamada de “coalizão

corte-daimyo”; porém, já em 1864, as tentativas da coalizão mostravam-se sem sucesso e a crise

entrou em mais uma nova e complicada fase.

Dois clãs se destacaram na crise do período Tokugawa: foram eles os clãs Shimazu de

Satsuma7 e o Mori de Choshu;8 o primeiro localizava-se no sul da ilha de Kyushu, e o segundo no

sul de Honshu. Em 1866 os líderes de tais províncias, Saigo Takamori e Kido Koin, formaram

uma aliança – Aliança Satcho – contestando o poder dos Tokugawa.

Com os contatos estrangeiros, os clãs de Satsuma e Choshu foram superando o shogunato

na modernização das forças armadas. Os daimyos estavam inclinados para o movimento pró-

Imperador, moviam-se em direção à abolição do shogunato e à criação de um novo governo sob o

comando do Imperador.

Dois clãs em particular invadiram muitas terras dos Tokugawas sem perder nenhuma de suas famílias samurais. […] Ambos os clãs investiram pesadamente no conjunto de operações militares coreanas de Hideyoshi e lutaram ativamente contra a política Tokugawa de substituição de agressões externas com a consolidação interna. (BERGAMINI, 1971, p. 283 tradução nossa)

No início de 1867 dois fatos memoráveis aconteceram quase simultaneamente e levaram a

situação política a um clímax. O primeiro deles foi a morte do Imperador Komei Osahito. O

Imperador teve uma não muito longa, mas terrível morte. Em meados de janeiro, seu médico

7 Atual província de Kagoshima. 8 Atual província de Yamaguchi.

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detectou uma gripe que foi se prolongando e se agravando até levá-lo, já na manhã do dia 30 de

janeiro, ao coma e, ao entardecer, à morte.

O Imperador Komei representara um importante papel nas forças contra o shogunato e

estrangeiros. Desde a chegada dos americanos ele se negou a assinar qualquer tratado e exigiu

que o shogun expulsasse os estrangeiros do solo sagrado japonês o quanto antes. Vendo que os

conselheiros não estavam obedecendo a sua ordem, tomou atitudes para expulsá-los do cargo,

lembrando que eram eles que estavam à frente do governo, não mais o shogun. Dessa forma, ele

conseguiu adiar a abertura dos portos e, com uma reaproximação shogun-Imperador – a partir do

casamento da irmã do imperador com o shogun –, o Imperador conseguiu que o shogun

prometesse expulsar os estrangeiros, o que, no entanto, acabou não acontecendo.

Komei foi sucedido pelo seu filho Meiji Mutsuhito, nascido no inverno de 1852. No

comando, a primeira ação do jovem imperador Meiji foi transferir a capital da tradicional cidade

Kyoto para a cidade portuária, Tokyo, também conhecida como Edo.

O outro fato foi a ascensão de Hitotsubashi Keiki ao posto de shogun. Quando, em agosto

de 1866, o shogun Tokugawa Iemochi morreu de uma doença abdominal no Castelo de Osaka, foi

sucedido por seu primo distante, Tokugawa Keiki, de vinte e nove anos, que se tornou Tokugawa

Yoshinobu. Yoshinobu era anteriormente conhecido como Hitotsubashi Keiki, nasceu em 1837, na

Província de Mito, foi adotado pela família Hitotsubashi aumentando, assim, suas chances de

sucesso. Teve uma educação política rigorosa; seria, posteriormente, um evidente e promissor

líder.

Em 1858, com a morte de Iesada, foi indicado como candidato para se tornar o décimo

quarto shogun, já que havia sido muito eficiente em sua carreira política mesmo com pouca

idade. No entanto, teve grande oposição e seus inimigos, liderados por Ii Naosuke, garantiram

que o décimo quarto shogun fosse Tokugawa Iemochi. Porém essa liderança não foi competente o

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suficiente e, em 1862, com grande desordem do shogunato, Tokugawa Keiki foi denominado

membro do Conselho – Roju – e guardião do shogun.

Iemochi morreu e deixou o Bakufu em crise, sem nenhum sucessor possível para salvar tal

regime. Com o forte apoio de todos os Tokugawas, Keiki foi indicado como shogun. Inicialmente

resistindo ao posto, tornou-se, em janeiro de 1867, relutantemente o décimo quinto – e

posteriormente conhecido como o último – shogun; mas, uma vez no comando, criou um intenso

programa de reforma. Era o único candidato com experiência no governo nacional e ocupação no

ramo internacional, além de se mostrar um regente capacitado. Teve como objetivo manter a

supremacia política do Bakufu enquanto reorganizava o governo sob influência do Imperador.

Com a ajuda do ministro francês, Léon Roches – que, trabalhando vigorosamente em Edo desde

1864, pretendia reanimar o poder do Bakufu – reorganizou a administração, a força militar e

construiu um moderno arsenal da marinha em Yokosuka 9 – programa que John Hall (1971)

classifica como “o novo plano do Bakufu chamado de a expansão da base militar do shogun e

uma completa reorganização administrativa” (HALL, 1971, p.263 tradução nossa) –, cessando a

agitação política.

Com isso, Sir Harry Smith Parkes, ministro britânico, forneceu armas para os daimyos de

Satsuma e Choshu. O daimyo de Tosa, temendo o crescimento destes dois principais daimyos,

propôs um acordo para a solução do problema de organização política em Tokugawa. “Sendo

ardentes legalistas, os esgrimistas das províncias de Choshu e de Satsuma teriam levantado uma

rebelião, a qualquer momento, se tivessem recebido uma palavra de encorajamento de Kyoto”

(BERGAMINI, 1971, p. 282 tradução nossa).

O período de 1868 a 1869 foi o ponto de virada do período Tokugawa. Houve a chamada

Boshin Senso, a guerra civil entre o shogunato Tokugawa e aqueles que eram a favor da

restauração do poder do Imperador Meiji. Por volta de cento e vinte mil homens foram

mobilizados para o conflito, e cerca de trinta e cinco mil destes morreram. O início se deu com a 9 Cidade portuária localizada em Kanagawa-ken.

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declaração feita pelo Imperador Meiji abolindo o sistema que havia sido prolongado por duzentos

anos, “system of curtain government”,10 e também pela imposição de regras administradas pela

Corte Imperial. O shogun Yoshinobu lançou uma campanha militar para a retirada da Corte

Imperial de Kyoto, liderada pelo Almirante Enomoto; este havia estudado na escola naval de

Nagasaki, instaurada em 1855, e foi também mandado para treinamento naval no ocidente.

Apesar da marinha japonesa do shogunato deter oito navios de guerra a vapor, vindos da

influência do estilo ocidental, houve uma reviravolta em favor da pequena, mas moderna, facção

do imperador. Os clãs de Satsuma e Choshu tiveram, novamente, notável importância. Suas

forças armadas derrotaram o exército do shogun e forçaram o Imperador a depor Yoshinobu do

poder. Depois de uma série de batalhas, o próprio Tokugawa Yoshinobu se rendeu.

Pouco antes do início de 1869, voluntariamente, Tokugawa Yoshinobu entregaria ao

Imperador o poder que lhe havia sido usurpado. Com o início do novo ano, os opositores à

restauração do poder Imperial, de armas nas mãos, se rebelaram nos arredores de Kyoto; as forças

de Bakufu resistiram por mais de seis meses e chegaram até a criar a República Enzo, porém esta

não teve um longo período de existência. Ao Imperador foram restituídos poderes políticos e

militares. “O governo imperial mudou o nome da era – que passou a ser Era Meiji – e a capital do

país se transferiu para Edo, redenominada de Tóquio. Empreendeu-se aí a modernização do

Japão” (PERALVA, 1991).

10 “Sistema de governo resguardado” (BERGAMINI, 1971, p.324).

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Capítulo 2

A MUDANÇA QUE VEIO DE FORA

As Intervenções Estrangeiras

Um samurai oriundo da província de Choshu, que atendia pelo nome de Takasugi

Shinsaku, escreveu, em uma missão em território chinês no ano de 1862, os seguintes dizeres em

seu diário de viagem:

21 de Maio. Durante esta manhã eu andei nos arredores de uma loja de antiguidades e vi algumas pinturas. Eu vim a pensar na cidade de Xangai por todo o dia. Aqui, a maioria dos chineses se tornou servente aos estrangeiros. Quando ingleses e franceses passam andando, os chineses abrem caminho para eles taciturnamente. Apesar de o principal poder aqui ser chinês, não passa de uma colônia da Inglaterra e da França. Dizem que Pequim fica a 732 milhas de distância daqui – a China tradicional do passado deve remanescer por lá. Eu realmente espero que sim. Eu imagino, o que aqueles chineses pensariam se vissem esta cidade? De qualquer maneira, nos virando para a situação de nosso país, pensando no caso do Japão, já teremos sido avisados previamente – quem pode ter certeza de que o mesmo destino não irá visitar nossa nação no futuro...? (SHINSAKU apud TATSUYA, N. 1865, tradução nossa)

O senso comum, aliado à reputação de certa “reserva” ou reclusão da nação japonesa, leva

muitos a acreditarem que o Japão cresceu e prosperou exclusivamente no âmbito interno, tendo

evitado qualquer tipo de contato externo até o famoso episódio no século XIX, no qual ocorre a

entrada da frota do Comodoro Matthew C. Perry na baía de Uraga. Isso nos leva a imaginar se é

possível que uma nação “sobreviva” ou prospere sem relações internacionais. Apesar disto, os

mistérios desta nação encobrem inúmeros fatos além deste simples “contato com o oeste”.

Apresentaremos, neste capítulo, a história das relações internacionais japonesas – antes da

própria “invenção” do termo, ou mesmo anteriormente a pensarmos as mesmas como hoje o

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fazemos –: suas origens, suas influências culturais, políticas e tecnológicas que chegariam a ser

um fator definitivo na maior mudança da história da nação.

2.1 - Os Primeiros Contatos Externos

Retornando às primeiras eras da terra do sol nascente, onde habitavam supostas tribos

nômades ao norte e ao sul do arquipélago que, posteriormente, seriam os chamados ‘filhos da

deusa do sol’, encontraremos os primeiros traços de influências externas marcantes no Japão.

Primeiramente, representantes da raça mongólica começaram a chegar ao sul do Japão em

proporções tímidas durante todo o período Jomon, trazendo sempre novidades e inovações do

continente, além do que se adaptando ao local, aprendendo a língua lá falada. Neste momento, as

raças aborígines que lá habitavam iniciaram um processo de retrocesso territorial, ficando

acuadas pelas novas aglomerações mongólicas, que, com o passar do tempo, se tornaram

presenças predominantes – tudo isto entre 8000 A.C. e 300 A.C. (BERGAMI NI, 1971, p. 244)

A partir de 300 A.C., novos visitantes, com novos propósitos, passaram a surgir nas ilhas

japonesas. Eram comerciantes de diversas origens – coreanos, chineses, mongóis – que vieram

introduzir no Japão o uso de metais já difundido no continente – tais como o ferro e o bronze – e

cultivos agrícolas como o arroz. Este foi o estopim para a formação de vilas agrícolas

organizadas por todo sul do Japão na ilha de Kyushu, que seriam o modelo básico precedente à

futura formação feudal japonesa. (BERGAMINI, 1971, p. 245)

Esse tipo de influência externa foi essencial para os rápidos avanços que levaram o Japão

a adentrar uma nova era, o período Yayoi. Historicamente, divide-se o papel de nação mais

influente na cultura japonesa para a formação da chamada “Cultura Yayoi” entre Coréia e China.

Qual nação foi, de fato, a predominante neste processo, jamais se saberá. Mas devemos

considerar que ambas continuaram a exercer forte influência no país ainda por alguns períodos.

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Na era que se seguiu – Yamato ou Kofun –, importantes figuras políticas e progenitores de

importantes clãs eram imigrantes coreanos e chineses ou descendentes dos mesmos. Na era

Asuka, após muitos anos de pesquisas e testes, o sistema de escrita chinês finalmente teve o início

de seu uso em terras nipônicas; da mesma forma, o sistema judicial japonês foi reformado com

base nos moldes de seu vizinho continental. Após alguns anos, as relações diplomáticas entre

Japão e China foram cortadas, mas as mesmas permaneceram com Baekje, um dos três reinos em

que se dividia a Coréia na época. Tal reino estava sob fogo de Silla, outro reino coreano, e da

China. Tal fato ocasionou a entrada do Japão no conflito em auxílio a Baekje. As forças

japonesas foram afastadas após uma grande derrota; no entanto, sacerdotes coreanos foram

enviados às terras de Yamato como uma espécie de “moeda de troca” pelo apoio militar. Tal

expedição levou a nação a novos rumos culturais. Conheceu-se ali uma espiritualidade renovada

e o Budismo japonês se fundiu com a influência religiosa coreana.

Durante a era Nara, apesar das passadas animosidades, a nação japonesa mantinha

relações diplomáticas fortes com Silla, que mais tarde unificaria os três reinos da Coréia, e com a

China da dinastia T’ang. Esta relação não duraria muito, pois tal dinastia chegaria ao fim durante

o período Heian. As tensões internas na península coreana relaxaram os laços de amizade das

duas nações e, por conseguinte o tempo fortalecia as relações Nara - T’ang. (BERGAMINI,

1971, p. 252-254)

Durante o período Heian, após o declínio da Dinastia T’ang, relações formais com a

China foram cortadas, apesar das expedições comerciais informais de menor porte continuarem

ocorrendo em ambos os países, assim como missões religiosas budistas. Este período passou sem

mais nenhum episódio “crítico” relativo às relações exteriores japonesas.

A era Kamakura, na qual o sistema de governo do shogunato ascendeu ao poder, trouxe o

episódio já descrito da situação conflituosa envolvendo as pretensões mongólicas acerca da nação

japonesa.

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Na era que se seguiu, a Muromachi, havia um prolongado caos oriundo dos conflitos com

os mongóis e, quase ao final da era, os primeiros descobridores ocidentais chegarem ao país.

2.2 - Contatos com o oeste distante

No ano de 1542, os primeiros europeus, – portugueses – chegaram à costa japonesa após

se desviarem do rumo que tomavam até a costa chinesa. Chegaram a Kyushu e logo se tornaram

visitantes regulares; a partir de 1544, já faziam visitas periódicas à nação japonesa. Traziam todo

tipo de inovação e produtos difundidos no ocidente, desde armamentos até o tabaco.

Este tipo de prática dos portugueses foi o que fez surgir a era de “comércio Nanban” –

comércio com os bárbaros vindos do sul –, na qual não somente ocorreu a assimilação de

materiais e produtos estrangeiros, como se iniciou a difusão do cristianismo no Japão, no ano de

1549, quando missionários jesuítas portugueses começaram a se dirigir ao país.

Após a chegada dos Espanhóis ao Japão, em 1557, o processo de difusão do cristianismo

se dividiu entre as potências Ibéricas, acabando por se tornar uma prática bastante popular em

algumas regiões. Inicialmente, esse tipo de doutrina estava ligado aos interesses comerciais de

Portugal e Espanha na área; no entanto, após alguns anos, adquiriu caráter independente. As

lideranças japonesas, de forma geral, não viam com bons olhos esse tipo de intervenção na

“santidade” das terras japonesas, e, após algumas condenações de cunho não-oficial, em 1614,

Tokugawa Ieyasu baniu qualquer tipo de prática da religião no país, levando à morte milhares de

cristãos e à fuga muitos outros. A religião cristã se tornou algo obscuro e era praticada em grupos

secretos, longe dos olhos da sociedade. (BERGAMINI, 1971, p. 275)

No entanto, as práticas comerciais européias na região se expandiam já há alguns anos e

iriam perdurar ainda por certo tempo. Em 1600, os Komo – cabelos avermelhados, ruivos –

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iniciaram suas empreitadas na região. Eram holandeses comandados por William Adams, que

mais tarde se tornaria o primeiro samurai estrangeiro da história. Os holandeses seriam os únicos

remanescentes deste período de prosperidade comercial no Japão após alguns anos. A Inglaterra,

anos após a chegada dos Holandeses, também firmou um centro comercial em Hirado, por volta

de 1613.

A presença européia durante este período no Japão foi notória. Da mesma forma que nos

anteriores contatos com China e Coréia, importantes figuras da política japonesa não raramente

eram estrangeiros. Apesar da repulsão inicial por parte da nação japonesa em relação aos

visitantes distantes, seus aspectos culturais e tecnológicos não tardaram a serem absorvidos.

Militarmente, a introdução das armas de fogo revolucionou os conflitos internos do país, assim

como a adoção de armaduras européias e navios nos moldes ocidentais. Culturalmente, apesar do

banimento oficial, permaneceu a prática do cristianismo. Além disso, expressões e termos

estrangeiros foram anexados à língua japonesa, na forma de neologismos, adaptados à fonética

nipônica, os quais perduram até os dias de hoje.

Porém, apesar de todas estas inovações e da suposta prosperidade das relações Europa -

Japão, em 1641, Tokugawa Iemitsu decretou o início do Sakoku – nação fechada – que baniu

quase todas as nações européias do contato com o país. Apenas o posto holandês em Nagasaki

permaneceria em uso. Neste período, o Japão se relacionava comercialmente com Holanda,

China, Coréia e os povos Ainu, assim como com o Reino de Ryukyu, ao sudoeste. (BERGAMINI,

1971, p. 278-280)

Os motivos que levaram Iemitsu a levar a cabo essa reclusão do Japão são variados.

Inicialmente, se tratava apenas de demonstrar a não necessidade do país de depender de outras

nações, evitando também vínculos tributários com outras potências. Além disso, posteriormente,

foi a maneira encontrada para proteger os escassos recursos naturais japoneses dos gananciosos

estrangeiros.

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Inúmeras tentativas falhas de quebra desse decreto por potências expansionistas foram

realizadas. Rússia, Inglaterra, França e Estados Unidos, principalmente, fizeram diversas visitas

com estratégias diferenciadas, mas sempre com o propósito de conseguir o mínimo de abertura

possível. Os russos fizeram três tentativas falhas de entrada no Japão: a primeira, educadamente,

em 1778; posteriormente, em 1804, tiveram novamente o pedido de estabelecimento de comércio

negado, o que os fez realizar uma considerável demonstração de força atacando ilhas próximas à

região de Ezo – norte do Japão ou a ilha de Hokkaido –, em uma dita “estratégia de medo”; a

última tentativa falha russa se tratou de um navio comandado por Vasily Golovnin, em uma

suposta missão de exploração regional em 1811 – Vasily foi encarcerado pelo governo Bakufu

por dois anos e então liberado para retornar à sua terra.

A França fez duas visitas com o mesmo intuito, em 1844 e 1846. Ambas foram negadas

de forma bastante pacífica – em uma destas, um padre católico, Theodore A. Forcade, foi deixado

para trás com seu intérprete chinês. Acreditavam que, com este tipo de contato, os objetivos de

estabelecimento de contato comercial entre França e Japão seriam mais facilmente alcançados.

No entanto, foi apenas mais um motivo para os japoneses reafirmarem o sentimento e a política

anticristã vigente no país.

Quanto à Inglaterra, em 1808, o país forçosamente conseguiu suprimentos na baía de

Nagasaki, sob bandeira da esquadra holandesa. Posteriormente, em 1849, conduziu supostas

expedições de pesquisa topográficas, porém apenas conseguiria adentrar a nação japonesa após

alguns anos.

Os Estados Unidos da América também tentaram por vários anos a entrada em terras

japonesas com propósitos comerciais. Primeiramente, durante o período compreendido entre

1797 e 1809, em aliança com o governo holandês, os americanos fizeram trocas utilizando

esquadras sob a bandeira holandesa, pela incapacidade do país em questão de realizar as

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atividades comerciais regulares devido aos conflitos gerados pelas guerras napoleônicas. Porém,

após este espaço de tempo, os EUA iriam demorar para retornar ao país e realizar este propósito.

Houve tentativas individuais de mercadores norte-americanos como, por exemplo, em 1837, a de

Charles W. King que tentou a abertura com a estratégia de retornar marinheiros japoneses

náufragos à sua terra. Foi recebido duramente com vários disparos, mas não foi eliminado.

Em 1846, uma dura tentativa do governo estadunidense levou dois grandes navios, um de

comércio e um de guerra, à baía de Kyoto. Começava a se considerar a idéia de abertura através

de uma demonstração de força ou de capacidade militar por parte dos Estados Unidos. Dois anos

depois, o capitão James Glynn aporta em Nagasaki e consegue um diálogo com o governo

japonês. Através de suas recomendações, a idéia de demonstração militar se torna a chave para a

estratégia norte-americana. Assim, em 1853, os EUA enviam a esquadra comandada pelo

Comodoro Mathew Calbraith Perry que colocaria fim aos mais de duzentos anos de reclusão da

nação japonesa.

2.3 - A Esquadra Negra de Perry

A esquadra de grandioso poder destrutivo sob o comando do comodoro norte-americano

era composta por uma série de navios militares de grande porte, dos quais os principais eram as

fragatas a vapor nomeadas Mississipi e Susquehann; além destas, a frota contava também com

uma fragata a vapor de menor porte, a Powhatan, as chalupas à vela de guerra, chamadas

Vandalia, Plymouth e Saratoga, e os navios à vela de suprimentos, Southampton, Supply e

Lexington.

Especificando os motivos que levaram às várias tentativas de abertura do Japão – que

somente tiveram sucesso com a vinda de Perry –, podemos destacar:

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- Importância do Japão para o comércio no oriente – a abertura do Japão, facilitaria os

contatos com a China, já que se encontrava na rota dos navios que para lá se dirigiam;

- Necessidade de proteção das atividades de pesca baleeira na região; direitos

documentados e proteção aos marinheiros e navios;

- Seguindo as premissas do Destino Manifesto, os Estados Unidos adquiriam um caráter

cada vez mais expansionista. Já havia chegado ao Japão, através dos comerciantes

holandeses, a palavra de que os EUA haviam engajado em combate com o México,

vencido e anexado parte de seu território, o que inspirou certo medo na nação;

- As anteriores negações da entrada estadunidense no país feriram o inflado orgulho

nacional dos mesmos, assim como eventuais acidentes de navios oriundos dos EUA

próximos à costa japonesa, que levavam ao aprisionamento e maus tratos de vários

cidadãos daquele país. (BERGAMINI, 1971)

A jornada de Perry se iniciou na Virgínia, no ano de 1852, e tomou o rumo para o Japão

pela longa e tradicional rota que passava pela África do Sul. A missão fez paradas em diversos

pontos. Destacam-se as feitas em Hong Kong e Loo Choo (Okinawa), que serviram de bases de

operação para a frota de Perry – em especial Okinawa, que recebeu cinco visitas em um curto

espaço de tempo para abastecimento e outras manutenções. Meses antes de aportar na baía de

Edo, o Comodoro fez uma tentativa falha de estabelecer negociações com o Reino de Ryukyu –

ao sul do Japão. No entanto, ele conseguiu um feito extraordinário: através da demonstração do

poderio norte-americano, adentrou o Castelo da família real e conversou com o regente de

Ryukyu.

Os habitantes de Loo Choo tinham suas desconfianças e preocupações com a presença da

esquadra de Perry na região, no entanto, isto não impediu o estabelecimento da já citada base de

operações (para reabastecimento de carvão e suprimentos). Aparentemente, havia uma

preocupação ainda maior com o caso de o Comodoro não realizar sua missão no Japão com

sucesso. Eles ainda imaginavam que as ilhas próximas poderiam ser adentradas forçosamente

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para servirem a quaisquer propósitos necessários até que a nação japonesa cedesse às demandas

dos EUA. Pensavam também que isso não chegaria a ocorrer, apesar de ter sido pensado e

sugerido pelo Comodoro.

No dia 8 de julho de 1853, a baía de Edo observou a chegada dos imponentes Kurofune –

Navios Negros: Susquehanna, Plymouth, Mississipi e Saratoga –, que exalavam densa fumaça

preta e eram armados gloriosa e perigosamente, assim como carregavam grande quantidade de

homens (calcula-se que a tripulação que chegou ao Japão nos quatro navios aproximava-se de

1000 homens).

Não somente uma demonstração do poderio estadunidense, mas um verdadeiro show de

pompa e cerimônia foi o que se observou neste momento. O Comodoro foi recebido a bordo de

seu navio por um oficial de patente baixa que lhe passou instruções para que se dirigisse a

Nagasaki, onde seria recebido pelos oficiais lá instalados. O Comodoro Mathew C. Perry tomou

isto como uma grande ofensa e demandou que o Imperador enviasse alguém para receber

apropriadamente os documentos em sua posse ressaltando que não hesitaria em entregá-los à

força. (BERGAMINI, 1971, p. 299-300)

A esquadra estadunidense se dirigiu, no entanto, em direção a Uraga, onde Perry ordenou

uma pesquisa topográfica na região do canal de Uraga. Esta atitude causou certo desconforto e

uma grande tensão, pela importância estratégica e militar da região, mas, por fim, o episódio

terminou sem incidente de maior gravidade.

Aportados em Uraga, finalmente se conseguiu contato com oficiais de alta patente

japoneses que já sabiam da importância do Comodoro e que ele não receberia ninguém de “nível

inferior”. A carta levada pelo Comodoro, do Presidente Millard Fillmore para o Imperador do

Japão, foi recebida pelos governadores conjuntos de Uraga, os Príncipes Toda e Ido, de Izu e

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Iwami, e representantes formais do Shogun Tokugawa Yoshinobu, após uma cerimônia formal

que precedeu os primeiros passos do americano em terras japonesas.

A carta do presidente Fillmore requeria a abertura de alguns portos japoneses aos navios

estadunidenses, proteção para marinheiros acidentados próximo à costa japonesa e direitos de

compra e reabastecimento de carvão. Perry avisou que os japoneses poderiam analisar as

propostas por um tempo, já que ele voltaria à China imediatamente e ao Japão um ano depois

para, finalmente, receber resposta às demandas norte-americanas. Durante sua permanência na

China, ele reforçou sua frota, preparando-se para o triunfante retorno às terras nipônicas.

Em fevereiro de 1854, nove navios – Vandalia, Powhatan, Mississippi, Susquehanna,

Saratoga, Southampton, Macedonian, Lexington e Supply – sob o comando do Comodoro

partiram para o Japão. Na baía de Yokohama, no dia 8 de março de 1854, havia porém apenas

oito embarcações, pois o Supply sofreu atraso. As oito embarcações foram suficientes para

proporcionar uma imagem ainda mais imponente do que aquela observada no ano anterior na baía

de Edo.

No dia 31 de março, comissários sob o comando do Shogunato Tokugawa assinaram o

Tratado de Kanagawa entre Estados Unidos e Japão. Tal tratado abria dois portos japoneses –

Shimoda e Hakodata – para os norte-americanos, garantia a proteção dos marinheiros acidentados

e a compra de carvão por navios americanos. Além disso, autorizava a fundação de um consulado

estadunidense em Shimoda. Não era o tratado “perfeito” para Perry, já que não garantia os

acordos comerciais (apesar de já ter sido um duro golpe para o governo do Bakufu). No entanto,

estes não demorariam, já que dentro de quatro anos o “Tratado de Amizade e Comércio” entre

Japão e EUA seria assinado, sob o comando de Townsend Harris, primeiro Cônsul Geral dos

EUA no Japão.

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A frota do Comodoro se dirigiu mais tarde aos recém-abertos portos japoneses, para

acertos com os governantes locais no intuito de garantir o cumprimento dos recentes acordos e

realizar pesquisas sobre as regiões.

Enquanto a expedição de Perry continuava a fazer pesquisas nos mares do Japão, o

Saratoga retornava aos EUA com uma cópia do tratado. Nova frota norte-americana foi enviada

para a região em 1854, no intuito de checar o cumprimento do tratado de Kanagawa. Esta visita

ocorreu sem nenhum incidente de maior porte.

2.4 - O retorno das potências européias

De acordo com os desenvolvimentos dos EUA no Japão, as demais potências seguiram as

mesmas estratégias para a realização de acordos com a nação japonesa. Primeiramente, um

acordo para que se garantisse paz, amizade, trocas e ajudas em questões simples. Posteriormente,

acordos mais específicos em relação ao comércio e alianças gerais.

Nos anos que se seguiram às primeiras atividades de Perry na região, países como França,

Inglaterra e Rússia retornaram ao país para novas tentativas de comercialização ou de realizar

tratados similares ao assinado em Kanagawa pelos EUA.

Primeiramente, os ingleses, sob o comando de Almirante Sir James Stirling, em 1854,

realizaram o “Tratado de amizade” entre Japão e Inglaterra, em Nagasaki. Em 1855, a França e a

Rússia conseguiram assinar tratados semelhantes, em Okinawa e Shimoda, respectivamente.

Ambos tratados tinham conteúdo similar àquele assinado na Convenção de Kanagawa. O tratado

de amizade russo-japonês foi um pouco além, definindo questões territoriais relativas ao norte do

Japão (estabelecendo limites claros para as fronteiras japonesas na região) – assunto que seria de

grande significância no futuro.

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Nos anos seguintes, houve tentativas de novos tratados, mais expansivos e

especificamente comerciais. O primeiro novo tratado com uma potência nesses moldes foi o

assinado por Townsend Harris em 29 de julho de 1858 – o Tratado de Amizade e Comércio entre

Japão e Estados Unidos ou simplesmente o tratado de Harris – após dois anos de sua

permanência no país, marcados por tentativas contínuas de convencer o governo do Bakufu a

assinar o novo tratado. Este previa a abertura de cinco portos japoneses – Edo, Kobe, Yokohama,

Nagasaki e Niigata – para comércio e moradia de cidadãos norte-americanos, o tratamento de

cidadãos estrangeiros de acordo com as leis de suas respectivas cortes consulares, taxas de

importação e exportação extremamente baixas e interação diplomática mais avançada.

Harris convenceu os japoneses apontando que, caso seus simples termos não fossem

aceitos, os britânicos, mais agressivos e impertinentes, iriam lhes apresentar termos muito piores

e não hesitariam em usar força militar para que suas demandas fossem cumpridas.

Em 26 de agosto de 1858, Lorde Elgin, da Inglaterra, assinou o Tratado de Amizade e

Comércio Anglo-Japonês que especificava as datas a partir das quais a Inglaterra teria acesso

comercial a três portos japoneses – Nagasaki, Hakodate e Kanagawa – e as datas a partir das

quais seriam permitidas alocações de cidadãos britânicos em Edo. Foi estabelecido também a

residência de um representante do governo britânico na mesma localidade.

Rússia, França e Holanda também realizaram este tipo de “expansão e atualização” de

seus vigentes tratados de amizade com a nação japonesa. A Prússia também tentou iniciar

contatos com a nação japonesa em 1861, mas falhou em causar uma boa impressão, deixando,

então, o contato japonês restrito às cinco potências já presentes no país.

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As cinco potências, ou como eram conhecidas, “Pessoas das Cinco Nações”. Yoshizaku, 1861. 11

2.5- A Queda do Shogunato Tokugawa Após os Estrangeiros

Após tais acontecimentos que acarretaram na abertura da nação japonesa, o país se

encontrava na mais profunda crise política, com o descontentamento do Imperador Komei com as

atitudes do governo Tokugawa, que foi totalmente contra suas recomendações e vontades. O

Imperador não aceitava a idéia dos estrangeiros macularem a santidade das terras japonesas tão

abrangentemente. (BERGAMINI, 1971)

Devemos certamente nos manter distantes dos estrangeiros e reverter ao sonoro comando da reclusão (Sakoku). (KOMEI apud BERGAMINI, 1971, p. 306 tradução nossa)

O Imperador já havia avisado que a aceitação desses tratados por parte do governo

Tokugawa acabaria em guerra civil, e os principais membros do círculo político japonês já se

dividiam entre os pró-imperialistas e as forças shogunais.

11 Imagem retirada de <http://ocw.mit.edu/ans7870/21f/21f.027j/yokohama/yb_core_intro.html>. Acesso em: 18 jan. 2007.

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No entanto, as reformas acarretadas pela abertura do país já vinham minando o poder do

governo do Bakufu, atraindo críticas fortes não somente daqueles leais ao Imperador, mas

também de antigos seguidores de sua doutrina que simplesmente achavam absurda a aceitação

dos chamados “tratados desiguais” impostos pelas cinco potências ao Japão.

Os movimentos nacionalistas ganharam força com os acontecimentos que levaram à

abertura do país. A grande quantidade de estrangeiros que agora pisavam no solo sagrado japonês

fez emergir grupos xenófobos que buscavam aterrorizar os “bárbaros” e derrubar categoricamente

o governo de Tokugawa; nesse contexto surge a Sonno-Joi.

A chegada do Comodoro Perry é considerada tanto uma marca para a abertura do país

quanto um catalisador para os movimentos de reforma que ocorreriam mais cedo ou mais tarde

no país. É certo que as inquietações que sacudiram a sociedade civil ganharam muito mais força

nesse período e o Bakufu, vendo-se de mãos atadas, precisou consultar as lideranças locais para

saber o que fazer. Isso provou ser o maior erro do shogunato Tokugawa. O poder do Bakufu se

esfacelou, abrindo espaço para que as lideranças locais pudessem atuar no governo e derrubar o

shogun como sempre quiseram. Como já dito no capítulo 1, o regime andava de mal a pior.

Agora, seu fim era iminente.

A morte do Imperador Komei em 1867 – dando lugar ao jovem Meiji Mutsuhito – deixou

o shogunato na dependência não somente das potências instaladas no país mas, também, dos

conselhos da Corte Imperial e dos leais ao imperador e restauradores. A situação já havia, há

muito tempo, fugido do controle da regência japonesa. (BERGAMINI, 1971)

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CAPÍTULO 3

A RESTAURAÇÃO DO JAPÃO

O Governo Meiji

No início de 1868, os líderes do Shogunato Tokugawa (bakufu) foram retirados de suas posições hereditárias de poder e, nos meses seguintes, os líderes, também hereditários, da maioria dos domínios dos daimyos (han), seguiram seus antigos superiores na escuridão. Em seu lugar, outros homens forjaram um novo sistema de governo, a ordem política de Meiji, onde o status de samurai era abolido e um governo Imperial unificado dirigia a nação de sujeitos diligentes. (TOTMAN in WRAY; CONROY, 1983, p.56, tradução nossa)

Dentre todas as revoluções, a que ocorreu no Japão, a partir 1867, é uma das mais

notáveis. É interessante observar os efeitos dessa revolução na sociedade japonesa. Os impactos

das mudanças que ocorreram no país não afetaram apenas a área industrial, por exemplo, mas

toda a estrutura de organização social, de poder, militar, enfim, todos os aspectos mais

particulares do Japão. O objetivo final era edificar uma nação que pudesse competir, em pé de

igualdade, com os grandes poderes do ocidente sem padecer diante de eventuais pressões

colonialistas. Desde 1867 até a morte de Meiji Mutsuhito, em 1912, o Japão passou a possuir:

- Um governo centralizado e burocrático;

- Uma constituição;

- Um sistema de comunicações e transporte bem desenvolvido;

- Uma população altamente escolarizada livre de restrições de classe feudais;

- Um estável e crescente setor industrial baseado em tecnologia de ponta;

- E um exército e marinha poderosos.

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3.1 As Elites Oligárquicas.

Harold Bolitho (1983) vislumbra a Restauração Meiji como um processo que teve duas

fases bastante distintas. A primeira fase, concebida como a derrubada do Bakufu, foi o pontapé

inicial para os processos de restauração do Japão. As formas de autoridade que havia no país

naquele momento eram um empecilho para o processo de reestruturação da política japonesa que

culminaria na restauração da nação como um todo.

Alguns estudos mostram, não obstante, que a revolução que se configurava no Japão

naquele momento não advinha de sentimentos sem origem fundamentada na iminente

insatisfação com a estrutura governamental do Japão. É certo que, naquele momento, o sistema

de Tokugawa mostrava que seu funcionamento estava cambaleante, em crise. Contudo, o sistema

shogunal de Tokugawa tinha uma estrutura muito plana e organizada. A premente unificação do

poder no Japão – uma herança notável do regime Tokugawa – e as bênçãos do Imperador a

Toytomi Hideyoshi puderam gerar um governo que agia “direcionando a política nacional em

nome do Imperador” (BOLITHO in WRAY; CONROY, 1983, p.59, friso nosso).

Mais ainda, o regime de Tokugawa pressupunha cooperação e obediência dos daimyos de

cada província ao shogun e ao sistema, garantindo a obediência também dos samurais,

fazendeiros e outros comuns que compunham a população japonesa. (BOLITHO in WRAY;

CONROY, 1983). Exatamente nesse segmento da sociedade emergem as mentes por trás da

Restauração Meiji que, além de agitadores de movimentos contrários ao Bakufu, tornaram-se,

mais tarde, as cabeças políticas do governo de Mutsuhito.

As origens do declínio político do Bakufu estão profundamente ligadas ao contato com o

exterior, em 1853, com a chegada do Comodoro Matthew C. Perry. A pequena semente

capitalista que foi plantada na sociedade japonesa já começava a dar frutos no interior das

províncias. Movimentos populares começavam a emergir demandando de seus senhores e

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daimyos condições para iniciar atividades de agricultura comercial, redivisão de terras, indústrias

de pequeno porte entre outros. Tais movimentos ainda não poupavam esforços para resistir às

imposições dos governos locais e do governo central em Edo. (BOLITHO in WRAY; CONROY,

1983). Tais movimentos, e sua oposição aos seus senhores e governos, oneravam pouco a pouco

as estruturas de autoridade e as autoridades propriamente ditas.

Tanto a Corte Imperial quanto o Bakufu apresentavam problemas financeiros, a riqueza da

nação estava onerada e diminuía gradativamente. O sistema de tributação por koku já não rendia

tanto quanto em seu início. Todas as classes sofriam com essa estagnação e a classe que poderia

reagir mais perigosamente era a dos bushi, os samurais. Tudo isso advinha da política de

isolamento de Tokugawa.

De fato, foram exatamente membros dessa classe que, inicialmente, movimentaram-se

contrariamente ao regime. Como já explicado no primeiro capítulo, tais samurais estavam

insatisfeitos com os resultados da política econômica que acabava por beneficiar as classes mais

baixas que a deles.

A maioria desses samurais começou a se organizar em grupos contrários ao Bakufu e a

situação se agravou muito com a chegada dos estrangeiros e da abertura dos portos de Shimoda e

Hakodate, garantida pelo Tratado de Kanagawa. A estratégia do Bakufu em consultar os daimyos

a respeito das demandas de Perry só fez seu governo enfraquecer e fez com que o próprio Shogun

perdesse poder político no interior de seu aparato governamental. “O shogunato deixou de ser

uma ditadura militar controlando um grande e poderoso exército” (FAIRBANK apud BARKER,

2001, parte 4, p.02, tradução nossa). O shogunato espalhou seu poder decisório entre os daimyos.

Assim, mesmo que algumas vezes ele agisse de forma contrária às recomendações dos senhores,

a pressão política era muito grande e serviu para desestabilizar o governo e dar força à crise

política do Bakufu.

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O crescente trânsito de estrangeiros no Japão, em especial nas imediações do palácio em

Edo, causava grande furor na sociedade japonesa e incitava os ânimos xenófobos. O espírito de

repúdio à presença estrangeira – ‘os bárbaros’ – crescia com força e violência no Japão. Grupos

de samurais organizavam ataques terroristas contra os estrangeiros, que passaram a viver com

medo. Grupos eram assassinados ou sofriam severas represálias por parte dos samurais:

[os] estrangeiros em Edo viviam em constante terror. Nas ruas – apesar da população geralmente amigável e curiosa – eles tinham medo de ser atacados a qualquer momento por algum maluco armado com duas espadas. O pior era que eles não tinham idéia de onde vinham esses inimigos, que surgiam, atacavam inesperadamente e desapareciam sem deixar rastro. (AKAMATSU, 1977, p.143, tradução nossa)

Esses grupos radicais acabaram emergindo no seio dos conselhos de alguns daimyos.

Esse crescimento na representatividade incitou o surgimento de pensamentos nacionalistas no

Japão. A política adotada pelo Shogun desde 1853 fez com que seu poder perdesse chão para o

império, que pouco a pouco recuperava sua antiga força política. Até 1860, o eixo de poder no

Japão migrou de Edo para Kyoto e a presença de samurais e daimyos na Corte Imperial gerou

uma boa absorção, por parte da Corte, desse nacionalismo e desse sentimento anti-estrangeiros

que ele incitava. O Imperador Komei se tornou um forte defensor e um bastião da política de

expulsão dos estrangeiros. “[...] O Imperador assinou um decreto em 1862 instruindo o shogunato

para iniciar a expulsão dos estrangeiros do Japão até o verão de 1863” (BARKER, 2001, tradução

nossa).

Acuado pelo poder dos estrangeiros, o shogun desrespeitou o decreto, mas isso só

conseguiu fortalecer o movimento. Nesse período, os samurais começaram a mover suas políticas

e suas ações baseadas em um intenso movimento político chamado sonno-joi – “reverencie o

imperador e expulse os bárbaros”. Os atos terroristas contra os estrangeiros foram largamente

incentivados por esse movimento. Os samurais extremistas ainda conseguiram tomar o poder na

província de Satsuma e na província de Choshu, bem como angariaram grande representatividade

na Corte Imperial. Contudo, em virtude de seus métodos radicais e de sua organização difusa, em

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1863, um partido mais moderado emergiu na província de Satsuma varrendo os extremistas que

rodeavam a Corte Imperial. (BARKER, 2001)

É exatamente nesse período que se evidencia a emergência dos primeiros movimentos

em favor de um grupo de pessoas que iriam modernizar o Japão e derrubar o regime Tokugawa.

Os extremistas de Choshu tentaram investir, sem sucesso, contra os nobres de Satsuma, mas,

diante da derrota, eles desistiram de suas campanhas militares radicais e passaram a construir

uma forma mais eficaz de mudança do regime. Os líderes de Satsuma também aderiram a essas

novas formas, e começaram a desenvolver laços econômicos, diplomáticos e militares com os

Britânicos. As províncias iam se fortalecendo e grupos de pessoas fortes politicamente passaram

a ter grande influência nas políticas reformistas das províncias. John Whitney Hall (1971) aponta

estes homens:

Da Corte Imperial: Sanjo Sanetomi e Iwakura Tomomi; De Satsuma: Okubo Toshimichi, Terashima Munenori, Godai Tomoatsu, Saigo Takamori, Kuroda Kyiotaka, Matuskata Masayoshi; De Choshu: Takasugi Shinsaku, Kido Koin, Omura Masujiro, Ito Hirobumi, Inoue Kaoru, Yamagata Aritomo, Hirosawa Saneomi; De Tosa: Itagaki Taisuke, Goto Shojiro, Fukuoka Kotei e Sakamoto Ryoma; De Hizen: Eto Shimpei, Okuma Shigenobu, Soejima Taneomi e Oki Takato; Além de: Yokai Shonan e Inoue Kowashi da Prefeitura de Kumamoto, Yuri Kimimasa da Prefeitura de Fukui e Katsu Kaishu representando o escritório do Bakufu. (HALL, 1971, p.268, tradução nossa)

Hall ainda aponta uma série de características comuns a todos eles:

[s]obre esse grupo há um número de generalizações elementares que emergem deles. Em primeiro lugar todos eram de províncias grandes do grupo tozama que dividiam o mesmo antagonismo diante da casa de Tokugawa. Eles eram notavelmente jovens, sendo a média de idade pouco acima de 30 anos em 1868. Sua maioria fazia parte de samurais de castas mais baixas; apesar de alguns como Kido, de mais alta classe. Como eram jovens, eles eram vigorosos e ambiciosos, muitos começaram suas carreiras da forma tradicional, subindo da escala de prestígio em suas províncias, notavelmente no serviço militar. Eles não faziam parte da aristocracia e suas ambições poderiam ser alcançadas apenas no governo. Um grande número de arenas políticas se abriu diante deles em virtude da descentralização do sistema de governo do Bakufu. E assim como nas revoluções na América, esses homens aprenderam a serem líderes de suas terras antes de serem líderes de sua nação. (HALL, 1971, p.269-270, tradução nossa)

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Esses homens notáveis iniciaram suas escaladas em favor dos movimentos que

tentavam restaurar o poder do Imperador e da nação japonesa à luz da intervenção estrangeira e

procuravam evitar que o país sofresse o mesmo destino da China.

Uma característica dos líderes da restauração era seu alto nível de educação e treinamento especializado. Muitos tiveram reconhecimento em suas províncias em virtude de suas habilidades militares ou sua graduação acadêmica. Como conseqüência eles tiveram carreiras ativas servindo de conselheiros aos seus daimyo, como agentes de diplomacia ou chefes de unidades militares. A carreira militar, talvez, era a mais comum. Saigo, Omura, Eto, Hirosawa e muitos outros foram comandantes militares em suas províncias. Ito costumava ser um intérprete e Kido era o conselheiro chefe de seu daimyo. O tipo de educação desses homens também era significativo. Criados como samurais a fim de suportar uma dura disciplina militar (muitos deles se tornaram excelentes espadachins), eles foram treinados para serem homens de ação e para cultivar talentos marciais. O conteúdo intelectual de sua educação era fundamentalmente o confucionismo que enfatizava lealdade e dedicação à sociedade. (HALL, 1971, p.269-270, tradução nossa)

Como Hall bem evidencia, estes homens possuíam uma predisposição tanto intelectual

quando talentosa para pensar a restauração da nação japonesa, ainda sendo incentivados por seus

líderes nas províncias e ademais pelas atividades que desempenhavam em seus domínios. Nesse

período, as províncias começaram a adquirir certa autonomia em relação às suas atividades,

beneficiando-se do contato com os estrangeiros e se modernizando – na medida do possível – até

mesmo antes de modernizar a nação japonesa. O espírito de renovação estava se infiltrando nas

mentes dessas pessoas e o contato com o modo de vida do ocidente despertava uma latente

consciência de que o Japão só se tornaria uma nação forte se importasse o conhecimento e o

modo de produção e operação dos ocidentais.

Mesmo tendo fortes ambições [esses homens] tinham grande sensibilidade pelos problemas da nação e difundiam a idéia de serviço a autoridades superiores. Sendo parte do grupo conhecido como Shishi [samurais xenófobos], muitos deles foram incendiados pelo desejo de salvar seu país e servir seus daimyos. Mesmo assim poucos poderiam ser considerados ambíguos ou cegos a respeito de suas visões políticas. Muitos estiveram no exterior até 1868 [Godai, Ito e Inoue estiveram na Inglaterra, Katsu foi levado num navio japonês pelo pacífico], outros tinham associações com Ocidentais dentro do Japão [Okubo, Saigo e Okuma tiveram longas conversas com Satow, o intérprete Inglês]. Ainda que muitos dos Shishi se tornaram violentos xenófobos em 1853 [Ito tomou parte

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do ataque à delegação Britânica em 1863], os mais fanáticos acabaram sendo mortos cedo e aqueles que permaneceram foram, em 1868, convencidos da superioridade da civilização Ocidental. (HALL, 1971, p.269-270, tradução nossa)

O local que essas pessoas ocupavam em suas comunidades e todos esses fatores

evidenciados por Hall fizeram delas pessoas de visão. Suas perspectivas vislumbravam um Japão

novo, moderno, com uma forte estrutura de poder e baseado nos princípios de constituição

militar, econômica e social difundidos pelas sociedades ocidentais. Seu alto grau de instrução e

seu contato com o ocidente só fizeram enaltecer estas idéias e sua posição política ajudou para

que eles imprimissem tais políticas em seus respectivos lares e, por fim, quisessem fazer o

mesmo em toda nação japonesa. A crise política do Bakufu foi vista como uma janela de

oportunidades por estas pessoas especialmente fiéis ao Imperador.

A partir de 1866, aqueles homens que viviam em Satsuma e Choshu iniciaram um

movimento em favor de toda esta mobilização e este pensamento. Eles conseguiram apoio em

seus próprios domínios e até mesmo dentro da Corte Imperial. Tal movimento se baseava nos

constantes contatos que foram sendo estabelecidos com os Britânicos para modernização e

desenvolvimento das províncias e, especialmente, dos exércitos. O movimento buscava o fim do

Bakufu pela deposição do shogun e a instauração de um governo cujo soberano seria o

Imperador. (BARKER, 2001)

A situação encontrou um clímax em dois eventos no inicio de 1867. O Imperador Komei faleceu e foi sucedido por seu filho de 14 anos [Meiji Mutsuhito], e Tokugawa Yoshinobu assumiu o shogunato. (BARKER, 2001, tradução nossa)

As elites finalmente encontravam sua principal oportunidade para atuar em favor de seus

ideais. Com um novo shogun, ainda debilitado pela crise do regime, e um Imperador pronto para

receber a legitimidade do povo e dos líderes, eles iniciaram o processo de restauração.

A maioria do Japão, dividido em pequenas unidades que eram pequenas demais ou indecisas para tomar alguma decisão maior, simplesmente parou e assistiu, enquanto um

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pequeno grupo de jovens samurais, a maioria de nascimento humilde, tomava controle de governos das províncias de Satsuma e Choshu. Eles tinham o apoio de novos e amigáveis nobres da Corte Imperial e logo conseguiram controlá-la também, e em virtude de audacioso poder militar de Satsuma e Choshu, eles conseguiram controlar toda a nação. (FAIRBANK apud BARKER, 2001, tradução nossa)

3.2 Os Ideais de Modernização.

A segunda fase da Restauração Meiji, segundo Bolitho (1983), se concretizou apenas

uma década depois que o shogun foi retirado do poder. Tal fase foi a reestruturação, passo a

passo, do regime político e econômico e da sociedade japonesa. Era um desafio tomado em mãos

pelas mesmas pessoas descritas na sessão anterior. Contudo, o trabalho dessas pessoas não se

limitou a funcionar a partir da abdicação de Yoshinobu, mas durante todo o processo já se

trabalhavam os planos para a refundação do Japão.

Como já dito anteriormente, naquele período, as províncias de Satsuma e Choshu

haviam adquirido algum grau de independência e com isso conseguiram se desenvolver de forma

brilhante até 1867. A relação com os estrangeiros foi capaz de fundar os novos padrões de

desenvolvimento político, econômico e social para estas províncias – desenvolvimento este que

constituía os ideais do grupo de homens que faria a Restauração Meiji.

De início, o movimento tinha como objetivo a restauração imediata do governo

imperial. Tal restauração deveria acontecer após a entrega pública de todo o poder ao Imperador

por parte do shogun. Esse ideal tomou força com a ascensão ao trono de Meiji Mutsuhito ao

mesmo tempo em que Tokugawa Yoshinobu assumia o Bakufu.

Naquele momento, os oficiais de Satsuma, Choshu, Tosa e Hizen assumiram também o

poder. Eles apoiaram o novo Imperador e iniciaram os planos de restauração definindo as

diretrizes a serem seguidas. Todos os passos deveriam se fundamentar nos ideais defendidos por

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eles. Tais ideais podem ser traduzidos nos cinco pontos fundamentais para restauração e

modernização do Japão publicados em 1868 como um juramento do Imperador:

1 – Assembléias deliberativas devem ser estabelecidas e todas as questões devem ser decididas em discussão pública; 2 – Todas as classes, humildes e poderosas, devem se unir vigorosamente para condução e administração das questões do Estado; 3 – As pessoas comuns, inclusive os oficiais civis e militares, devem ser autorizadas a buscar seus próprios interesses de forma que eles não fiquem descontentes; 4 – Os costumes malignos do passado devem ser abolidos e devemos nos basear nos princípios de justiça universais; 5 – O conhecimento deverá ser buscado pro todo o mundo a fim de fortalecer as fundações do governo Imperial. (AKAMATSU, 1977, p.222, tradução nossa)

Em primeiro lugar, a consolidação do governo Imperial deveria acontecer após total

dissolução do sistema que imperava no governo de Tokugawa. Para tanto, o império deveria

edificar um novo Exército Imperial para fortalecer suas atividades e subjugar possíveis

contraposições ao novo sistema. (BARKER, 2001)

A garantia de que o grupo que movimentou a restauração tivesse papel importante no

governo está expressa na cláusula de número 1. A criação de um conselho decisório nestas bases

atendia as intenções desse grupo de permanecer no governo juntamente com o Imperador e assim

trabalhar ativamente na restauração do país. A abolição do sistema de Tokugawa está expressa

nas cláusulas 2 e 3, que procuram acabar com o sistema de classes e com a estratificação

produtiva compulsória. A de número 4 era fundamental para que as mudanças pudessem ser de

fato efetivas e que novos costumes fossem incorporados na sociedade a fim de que a

modernização fosse plena. Por fim, a última cláusula explicita o interesse no modo ocidental

como alternativa mais viável para modernização do país e para adoção de políticas de

desenvolvimento capazes de satisfazer as necessidades modernistas da nação. (BARKER, 2001)

A dissolução do antigo regime de províncias deveria ser feita com a entrega dos títulos

dos daimyos ao governo central – o Império. Para tanto eles deveriam ser persuadidos tanto

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diplomaticamente – através de acordos e concessão de benefícios no novo regime – quanto, se

necessário, militarmente. (BARKER, 2001)

As parcerias com os ocidentais deveriam funcionar nesse sentido, a fim de modernizar o

exército e conferir-lhe capacidade não apenas de obter legitimidade e força em relação ao

ambiente doméstico, mas também para reforçar o Japão diante dos estrangeiros. Todas as

províncias supracitadas já haviam sofrido derrotas em batalhas contra estrangeiros e seus líderes

tinham plena noção de que aquilo não poderia acontecer à nação japonesa. (BOLITHO in

WRAY; CONROY, 1983). Mesmo assim, os contingentes de Satsuma e Choshu serviriam para a

formação de uma base para o Exército Imperial.

A necessidade mais imediata da nova situação diplomática era o fortalecimento maciço das defesas nacionais. Tal tarefa compreendia não apenas mudanças tecnológicas extensivas, com a aquisição de modernos rifles, canhões e navios de guerra, mas também a total reorganização do sistema militar para que essa nova tecnologia fosse usada com os melhores resultados. (BOLITHO in WRAY; CONROY, 1983, p.61, tradução nossa)

Uma reforma financeira e fiscal também era importante. O Japão precisava de dinheiro

para financiar suas reformas e gerar um caixa para o governo que ficaria a cargo de oferecer

benefícios aos ex-daimyos e pagar os salários dos samurais e do exército. Para tanto, eles

tentariam buscar empréstimos internacionais para seus investimentos em infra-estrutura de

modernização e para administração das terras e dos custos das províncias. (BARKER, 2001)

A reforma econômica deveria se basear na reformulação do sistema de taxas e da

agricultura japonesa. O sistema Tokugawa deveria ser modificado de um sistema de pagamentos

em arroz – koku – para um sistema de pagamentos em dinheiro. As políticas de condução e

aplicação dessas taxas também deveriam ser reformuladas a fim de que os compromissos fossem

honrados e esse sistema fosse complementar à estrutura econômica do Japão.

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As restrições baseadas em classes sociais deveriam ser abolidas também. Todas as

profissões deveriam estar disponíveis a todos os membros da sociedade, sem exceção. Além

disso, todas as restrições sociais deveriam ser cortadas, como as restrições de posse, casamento e

até mesmo as de vestimenta. O serviço militar deveria ser irrestrito, não compreendendo apenas a

classe dos samurais que deveria ser modificada ou dissolvida. (BARKER, 2001)

Por fim, tratados antigos com países estrangeiros deveriam ser revisados e novos

deveriam ser feitos para que a colaboração do conhecimento ocidental moderno fosse eficaz para

os projetos de restauração do país e para seu fortalecimento. A transferência de conhecimento

poderia ocorrer tanto através do envio de delegações japonesas para o exterior, para observar

países como Estados Unidos e Inglaterra, quanto via utilização da presença de embaixadores e

enviados estrangeiros no Japão para conferir consultoria nesse sentido.

3.3 A Restauração Meiji

Um dos primeiros atos concretos do novo regime foi a declaração oficial de retorno ao

antigo sistema monárquico conferindo poderes governamentais de volta ao Imperador. Com isso,

a legitimidade do Imperador e da Corte Imperial para a conduta do governo japonês estava

assegurada e, a partir dali, seria edificada e fortalecida. Em seguida, emergiria a questão dos

tratados internacionais. Essa discussão se dividia entre a opinião dos reformistas mais radicais,

que defendiam a revisão dos tratados negociados pelo Bakufu, e aquela dos que desejavam

menores indisposições com os estrangeiros, com o respeito aos prazos e às provisões dos tratados

até a assinatura de novos. (AKAMATSU, 1977)

O que se sucedeu foi uma constante discussão a respeito da entrega de poder por parte

do shogun. Até o início de 1867 o shogun não havia se entregado, e negociações foram feitas para

que isso ocorresse. Pessoas como Okubo Toshimichi e Saigo Takamori defendiam que o Bakufu

só se entregaria após uma maciça derrota de seus exércitos por parte do recém-formado Exército

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Imperial que compreendia, primariamente, as forças de Satsuma e Choshu. Após a efetiva entrega

formal do shogun, os dois ainda defendiam que a legitimidade da ação só seria completa após sua

derrota em campo de batalha. (BARKER, 2001)

Tais avanços foram conquistas importantes para a instauração do novo governo, mas ele

ainda carecia de uma constituição. Para tanto, foram publicados os 5 artigos de juramento do

Imperador. Mas a versão final foi redigida após a apresentação de uma versão preliminar feita por

Yuri Kimimasa:

1 – Queremos que o povo, em cumprimento a sua voluntariedade, alcance seu pleno florescimento; 2 – Que oficiais e plebeus, movidos por um mesmo ideal, participem ativamente do governo; 3 – Que a obra imperial seja elevada em todo o Império, recorrendo aos conhecimentos de todo o mundo; 4 – Que os representantes dos feudos elejam ao final aqueles mais prudentes que eles mesmos; 5 – Que as medidas do governo sejam decididas em debates públicos e não em discussões privadas. (AKAMATSU, 1977 p.223, tradução nossa)

Muito mais do que isso, à luz do juramento imperial, deveria ser edificado um sistema

imperial que contivesse não apenas uma constituição, mas também uma série de políticas

econômicas, educacionais e sociais que deveriam conduzir a governança sobre o povo japonês e

defender a unidade nacional. (IROKAWA, 1985). Tais políticas deveriam não só entrar em

profunda discussão, mas também serem exploradas e definidas pelo texto da constituição.

Nesse sentido, a Constituição do Império do Japão deveria conter as várias provisões a

fim reger todo o sistema de governo e contemplar as necessidades que as elites oligárquicas

diagnosticaram para o Japão. Em primeiro lugar, como fundamento primordial para a solidez do

regime, todos os poderes soberanos do Imperador deveriam ser listados e estabelecidos. A

soberania do Imperador deveria ser fortalecida e seu papel como governante definido e

assegurado diante do povo e das futuras instituições nacionais. Não poderia ser esquecida a

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divindade do Imperador e a idéia de que sua linhagem sagrada havia sido mantida íntegra por

anos a fio.

Baseado nesse princípio, as instituições de governo deveriam ser definidas à luz dos

artigos pertinentes nos 5 pontos juramentais. Toda a gerência estatal deveria ser redefinida

baseada nos 5 artigos e na soberania do Imperador. As demais instituições, tais como as forças

militares, também deveriam defender tais princípios. O governo participativo era uma importante

máxima a ser explorada pelos constituintes.

Para a edificação do Exército Imperial era importante explorar as capacidades internas

das forças militares japonesas. Como já colocado, a força das tropas de Satsuma e Choshu foi

importante para o estabelecimento de um exército primário a serviço do Imperador. Contudo,

havia a latente necessidade de modernização das tropas para que elas pudessem se igualar às

forças Ocidentais. Por isso, a organização dessas tropas e seu poderio deveriam ser reavaliados. O

sistema organizacional deveria ser unificado para a marinha e para o exército, à luz de uma

intensa reconstrução de processos e estruturas. Em seguida deveriam ser definidas as formas de

interação do exército com a sociedade, como o serviço militar e seus recursos – aquisição,

treinamento e aplicação. (SUMIKAWA, 1999)

As opiniões tanto convergiam quanto divergiam a respeito do exército. Todos tinham

consciência de que as forças imperiais seriam fortes para se colocarem à altura do ocidente

apenas mediante modernização baseada nos princípios de organização, logística, serviço e

recursos ocidentais. Mas quanto à composição nuclear das tropas havia grandes divergências.

Uns defendiam que os samurais deveriam ocupar esse núcleo, sob o argumento de que eles eram

os mais capazes de conduzir as forças japonesas. Outros eram partidários de que os samurais

deveriam ser minoria sob o argumento de que eles em nada sublimavam os princípios ocidentais

de organização militar. (SUMIKAWA, 1999)

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Em termos econômicos, o governo era o responsável pela fundação das políticas

econômicas para o desenvolvimento e modernização do Japão. Até esse período, o Japão baseava

sua economia fundamentalmente na agricultura de arroz e chá, e nas manufaturas de seda e

algodão. O sistema era semelhante ao feudal, os lavradores pagavam parte de suas produção aos

seus daimyos que revertiam parte dela ao governo. Esse sistema de taxas por produção – koku –

recebia novas abordagens por parte dos constituintes a partir do momento em que eles passaram a

defender a coleta das mesmas não por percentual produtivo, mas em dinheiro. Tal mudança

geraria as reservas necessárias ao governo para sua política de modernização econômica.

(BARKER, 2001)

A preocupação era com o desenvolvimento posterior de infra-estrutura social e

industrial para a modernização do Japão. Deveria haver recursos para investir em estruturas

industriais comuns ao ocidente, como ferrovias, rodovias, portos, comunicações, entre outras. A

busca por reservas monetárias na base agrícola japonesa deveria ser maciça e extremamente

rentável. Neste sentido, a observação de tratados comerciais internacionais a fim de explorar a

demanda estrangeira por bens japoneses como a seda e o chá passa a ser interessante. Além disso,

seria útil para essa nova estrutura industrial que os ganhos com essa latente exportação pudessem

ajudar na importação de bens de capital para industrialização do Japão. Outra questão importante

era a criação de um sistema para organizar tais finanças, o que faltava ao Japão naquele

momento. (SUMIKAWA, 1999)

A modernização, contudo, pressupunha a especialização da sociedade no modo de

produção ocidental. Para que a industrialização pudesse ocorrer, parece lógico a necessidade de

que as pessoas soubessem operar as máquinas e de fato produzir nas indústrias que seriam

instaladas. A importância de um novo sistema educacional estava profundamente ligada a essa

necessidade. Além disso, os ideais de unidade nacional poderiam ser facilmente defendidos

através do doutrinamento educacional.

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Um sistema educacional no Japão deveria ser implantado e desenvolvido desde os

níveis mais primários até os níveis superiores para garantir que todas as gerações pudessem

participar da atual modernização. Isso possibilitaria que as mais velhas fossem se aprimorando e

garantindo que as mais novas pudessem manter o desenvolvimento do país no futuro. O estudo de

tecnologias e ciências era uma questão importante a ser abordada. A ênfase na educação, nesse

sentido, deveria se basear na descoberta e aprendizado sobre o ocidente, rechaçando os antigos

princípios do confucionismo, por exemplo, em favor dos princípios educacionais ocidentais.

(SUMIKAWA, 1999)

A Era Meiji trouxe grandes mudanças nos setores econômicos, sociais e políticos que se tornaram a fundação do Japão moderno. Em primeiro lugar, a adoção de um sistema constitucional com governo participativo. A base do tipo de governo que há hoje no Japão foi fundado no período Meiji na tentativa de emular os poderes superiores ocidentais. O Imperador se tornou a figura potente e eminente, da qual todos tinham ciência. A monarquia foi um instrumento efetivo para a criação e a manutenção de uma unidade nacional. Mais importante que isso, ela criou uma relação forte entre os governos locais e o governo central, assim como entre o governo central e as pessoas comuns. Economicamente, o governo apoiava grandes negócios familiares – os zaibatsu – que levaram ao desenvolvimento industrial e econômico do país. [...] As raízes do sistema financeiro e bancário do Japão também podem ser traçadas nas reformas que ocorreram no período Meiji. Socialmente, o Japão fez um salto monumental da sociedade feudal para o Estado moderno industrial. [...] O Japão de Meiji também foi a raiz do sistema de educação compulsória que vemos no Japão atual. O alto grau de educação das pessoas é resultado do sistema educacional atual do país. [...] O projeto militar de Meiji, que era a expansão para se igualar aos poderes Ocidentais, influenciou seu papel em ambas as Guerras Mundiais. A Era Meiji foi a fundação do Japão moderno e pode ser concebida como um primeiro passo da nação para seu objetivo de alcançar a modernização e o status de superpotência num mundo dominado pelo Ocidente. (SUMIKAWA, 1999, tradução nossa)

Durante a restauração Meiji, um grupo que defendia os direitos humanos emergiu na

tentativa de colocar em pauta suas reivindicações. Ele buscava defender os direitos dos cidadãos

através de preceitos a serem fixados na constituição a ser escrita. Para tanto, os constituintes

estabeleceram deveres como contraparte e discorreram a respeito dos direitos constitucionais e

legais dos cidadãos. Tais direitos procuravam compreender liberdades, privacidade, direitos nas

atividades produtivas e públicas no Japão, direitos de propriedade, entre vários outros.

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O novo regime também deveria apresentar suas autoridades, em outras palavras, aqueles

que conduziriam os diversos assuntos de governo, como finanças, exército e outros; os

representantes que discutiriam as questões de governos nos fóruns a serem criados; e as provisões

para a Corte Imperial assim como para o seu soberano.

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CAPÍTULO 4

NA CORTE IMPERIAL DO JAPÃO

A Simulação

Apresentamos neste capítulo a nossa simulação. Agora que vocês já conhecem o contexto

no qual o Japão estava inserido, passaremos para a exposição das particularidades da reunião que

será simulada. É muito importante que vocês estejam familiarizados com o texto deste capítulo,

pois ele será muito importante para as negociações e para a postura dos senhores no comitê.

Não se esqueçam de ler com muito cuidado o Guia de Regras. Trata-se de um guia

bastante particular em virtude da unicidade da cultura japonesa. Boa leitura!

4.1 – Descrição do Tema

Desde os primeiros anos de 1850, o regime do Bakufu entrava num processo de

decadência. As intenções de restaurar o poder político do Imperador estavam tomando forma

desde então. A Restauração Meiji foi um processo que durou do início de 1850 até seu ponto

culminante em 1889, com a promulgação da Constituição do Grande Império do Japão.

Durante o regime do Bakufu, o poder político no Japão estava centralizando no shogun.

Ele era tanto o líder político do país quanto o comandante chefe ou supremo general das forças

nacionais. Por isso, ele tinha o uso legítimo da força e legitimidade também para tomar decisões

em nome do país. Uma decisão importante do último shogunato – o Tokugawa – foi o

fechamento dos portos e das fronteiras do país aos estrangeiros.

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Desde que o fechamento ocorreu, as potências ocidentais fizeram tentativas de estabelecer

relações com o Japão, todas sem sucesso e até mesmo repelidas pela força. O exército japonês,

conduzido pelo shogun, aproveitou de seu conhecimento em exploração naval para conter a

incursão de esquadras estrangeiras. Tal rejeição moveu as incursões de volta a seus países e

precedeu um período de longa inatividade nas costas do Japão.

Ainda sob influência do shogunato Tokugawa, o Japão recebeu, em 1853, a visita da

“Esquadra Negra”, comandada pelo Comodoro Norte-Americano, Matthew C. Perry. Tal

incursão foi vista como muito perigosa para repelir pela força a esquadra do Comodoro, muito

mais poderosa que as defesas japonesas. Então, acaloradas discussões se seguiram: alguns

daimyos, juntamente com o então Imperador Komei Osahito, defendiam que Perry deveria ser

expulso da terra sagrada do Japão; outros queriam ouvir o que ele tinha a dizer. Ainda naquele

tempo, a Restauração Meiji começou a trabalhar suas bases num grupo de pessoas que

influenciavam o Imperador, conhecido como a Oligarquia Meiji. Eles desejavam buscar o poder

que jazia nas mãos do shogun e entregá-lo ao Imperador.

Uma série de reuniões formais e informais ocorreu desde a assinatura do Tratado de

Kanagawa, incluindo reuniões que resultaram em tratados com outras potências além dos Estados

Unidos, como a Rússia e a França. Nesse ínterim, a Oligarquia planejava um golpe de estado para

a Restauração Meiji. Este comitê irá simular, em abril de 1867, as discussões entre a Oligarquia e

o shogun Tokugawa Yoshinobu na presença do Imperador Meiji Mutsuhito e de representantes

estrangeiros. A discussão versou nos termos práticos de reabertura do Japão, na reintegralização

do poder nas mãos do Imperador e na reestruturação completa do regime político do Japão.

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4.2 – Tópicos de Discussão

Os tópicos de suma importância a serem discutidos e resolvidos na reunião que decidirá o

rumo da nova era japonesa são:

- Redação do Projeto da Constituição Meiji

- Novo sistema legal japonês,

- Renovação da gestão política do país,

- Renovação do sistema econômico, financeiro e tributário,

- Renovação do sistema militar japonês,

- Renovação do sistema de educação em todos os níveis,

- Desenvolvimento do setor industrial,

- Desenvolvimento de infra-estrutura industrial de comunicações e transporte,

- Criação dos direitos e deveres dos povos japoneses;

- O papel específico das cinco potências no novo Japão

- Intercâmbio tecnológico,

- Modernização do exército nacional,

- Renovação dos tratados, através da apresentação de novos,

- Renovação das relações comerciais.

Esta é a agenda básica que os senhores delegados deverão explorar durante as

negociações. É importante frisar que os senhores devem se fundamentar nas necessidades do país

e nas posições dos atores que serão descritas no próximo capítulo.

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4.3 – Os Movimentos das Representações

A primeira questão a ser abordada nessa seção é o nível de representatividade de cada

representante presente na Corte Imperial do Japão. As representações respeitam uma dinâmica

muito particular no que tange seus interesses e seus objetivos com a discussão dos tópicos

supracitados.

Para os estrangeiros é necessário ressaltar o seguinte: os interesses dos países

representados devem ser bastante observados pelo fato de serem diplomatas a serviço do país de

origem. Eles ainda deverão apresentar novos tratados, já no primeiro dia de negociação, contendo

as novas definições de relacionamento que seus países desejam estabelecer com o novo governo

que poderá ser instaurado no Japão. As representações estrangeiras ainda poderão auxiliar os

japoneses nos tópicos que tangem o novo regime à luz do ideal de modernização sob bases

ocidentais.

Para os representantes das províncias é necessário observar o seguinte: eles estarão

representando duas posições importantes. A primeira é a posição geral da província como um

todo e à luz de seu respectivo senhor (daimyo). A influência, o poder, a necessidade de

participação no governo e as capabilities militares, comerciais e industriais de cada província

podem ser consideradas pelo representante. A segunda é a posição particular da pessoa

representada, uma vez que seu poder e sua representatividade podem transcender aos interesses

gerais de suas províncias de origem e influenciar suas preferências na negociação. Nesse caso,

fica a cargo do delegado definir qual posição ele observará primeiro, a individual ou a da

província. É importante deixar claro também que uma pessoa em particular pode não ser o único

a representar o domínio, tornando interessante haver coerência e harmonia entre os colegas de

província.

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No caso do shogun e de Katsu Kaishu, eles deverão observar seus interesses particulares

na reunião como apresentados no capítulo 5 deste guia. As capabilities militares e os postos

ocupados pelos mesmos também poderão ser considerados nas negociações. Kaishu pode

considerar também sua qualidade de conselheiro de Yoshinobu.

A Corte Imperial também possui interesses definidos no capítulo 5 deste guia, o que lhes

confere possibilidade de atuar nos debates. Sanjo Sanetomi deverá considerar sua atuação de

modo semelhante aos representantes das províncias: observando os interesses da Corte e os

particulares.

A segunda questão a ser abordada tange as estratégias de negociação disponíveis. Além da

própria negociação retórica que ocorrerá durante todo o tempo na Corte, outras estratégias

poderão ser exploradas pelos delegados para diversos fins.

Em primeiro lugar podemos destacar o uso das tropas militares de cada província ou de

coalizões de províncias como estratégia de pressão e enfraquecimento. Cada província

representada possui um contingente de tropas terrestres e navais, cujo número é de conhecimento

apenas do daimyo. Para que as tropas da província sejam mobilizadas é necessário um despacho

assinado por todos os membros da província na Corte, endereçadas ao daimyo e contendo o plano

de ação bem como a justificativa.12 Tal plano será de conhecimento apenas da província e será

enviado através dos mensageiros da Corte.13

Outra estratégia é de utilização de shinobis. Os shinobis ou ninjas são mercenários

treinados para missões de alta periculosidade que envolvem espionagem e assassinatos. Nesse

caso, o representante em particular pode contratar um shinobi de sua província para executar uma

missão desse porte. As ordens expressas na carta de contratação deverão ser claras e objetivas,

12 Para maiores informações, vide Guia de Regras. 13 Os mensageiros não terão acesso ao conteúdo confidencial das cartas.

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contendo, no caso de assassinato, o nome do alvo e, no caso de espionagem, o local a ser

explorado. Tal carta se insere na categoria de cartas às províncias.14 O contrato informal de

trabalho fica entre o representante e o shinobi contratado. Os mensageiros da Corte enviarão a

carta à casa shinobi da província.

Os alvos de missões de assassinato podem ser desde daimyos até pessoas representadas

na própria Corte Imperial. No caso de espionagem, pode-se espionar desde um castelo até as

cartas que são enviadas às províncias por parte dos representantes na Corte. Pode haver tanto

sucesso quanto falha nas missões.

Os duelos deverão ser observados de acordo com suas próprias definições descritas no

Guia de Regras.

Existem outros recursos que podem ser extraídos do Guia de Regras, mas fica a cargo dos

delegados identificarem quais são e utilizá-los no comitê.

Dito isto, seguimos ao capítulo 5, no qual daremos informações de grande importância

para as posições a serem defendidas e representadas no comitê.

14 Idem.

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CAPÍTULO 5 15

OS NOMES DA RESTAURAÇÃO

Posição dos Representantes e Blocos

5.1 A Corte Imperial

A Corte Imperial do Japão havia perdido muito poder desde o primeiro Bakufu.

Em especial durante o governo de Tokugawa, o Imperador passou a ter uma

representatividade quase exclusivamente espiritual, deixando todas as decisões

de Estado nas mãos do shogun.

A situação mudou a partir da chegada do Comodoro Matthew Perry ao Japão. O império

não via oportunidade melhor para retomar seu poder senão na crise política que se instalou no

país naquele momento. A iniciativa do Bakufu de consulta popular foi uma janela para que o

império voltasse a atuar politicamente expressando sua opinião a respeito da situação. Nesse

sentido, o império – na figura do Imperador Komei – posicionou-se totalmente contrário à

abertura promovida pelo shogun alegando ainda que era dever do mesmo expulsar os bárbaros do

solo sagrado japonês.

O governo de Komei ainda foi mais longe e estabeleceu que nenhuma decisão de política

externa deveria ser adotada pelo Bakufu sem aprovação do império, mas tal determinação foi

ignorada pelo shogun, o que despertou a fúria dos príncipes e da Corte. Esses mesmos príncipes

15 Todas as informações deste capítulo foram compiladas a partir de informações contidas nos websites listados nas referências bibliográficas do Guia, no Apêndice do livro de Paul Akamatsu e mescladas no texto dos vários autores consultados. A grande maioria das informações foi encontrada em meio ao texto corrente dos autores.

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começaram então a conspirar contra o governo shogunal e encontraram grande apoio nas

províncias do sul – Satsuma e Choshu em especial. O espírito de reforma foi introduzido no

império e grandes movimentos nesse sentido começaram a se formar.

O Príncipe Iwakura Tomomi então assumiu a direção de tais projetos de restauração

dentro da Corte. Ele fazia parte do grupo mais moderado que defendia a restauração em partes

planejadas cuidadosamente ao invés de algo mais radical, notadamente através da força, como

queriam os rebeldes de Choshu.

Quando o Imperador Komei faleceu, veio a grande chance do império. Naquele momento

o shogunato estava bastante desestabilizado e houve um hiato de tempo até que Yoshinobu

assumisse o posto de shogun. Nesse hiato, Tomomi – com apoio dos revolucionários de Satsuma,

Choshu, Tosa e Hizen – ergueu o filho de Komei, Meiji Mutsuhito, ao posto de Imperador do

Japão ainda com 14 anos de idade. A partir deste momento foi dado o pontapé inicial para a

Restauração Meiji.

Meiji Mutsuhito - Imperador do Japão 14 anos

Nasceu no dia 03 de novembro de 1852; filho do Imperador Komei Osahito. Mutsuhito

passou grande parte de sua infância na residência Nakayama em Kyoto, onde recebeu educação e

foi criado em meio aos nobres da Corte.

Ele foi posteriormente adotado por Asako Nyogo, a principal consorte do Imperador

Komei, e logo recebeu importantes títulos de nobreza como Shinno – Príncipe Imperial – e

também Kotaishi – Príncipe da Coroa –, o que o qualificava como potencial sucessor ao trono.

Aos quatorze anos de idade ele assumiu o trono do Império do Japão, sendo legitimado pelo

Príncipe Iwakura Tomomi que se tornou seu principal conselheiro.

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Em virtude de sua juventude, Mutsuhito foi um líder simbólico durante o início da

restauração; contudo, sua vivência com líderes brilhantes e pessoas de visão e talento fez com

que ele se tornasse um importante líder para o Japão. Ele foi muito influenciado pelas idéias de

Tomomi a respeito da restauração e apoiou os líderes em seu trabalho.

Iwakura Tomomi - Príncipe da Corte Imperial e Primeiro Conselheiro de Meiji Mutsuhito

42 anos

Nasceu em 26 de outubro de 1825 em Kyoto; filho de um nobre da Corte Imperial,

Horisawa Yasuchika. Em 1836, ele foi adotado por Iwakura Tomyasu e educado pelo kampaku

Takatsukata, chegando a escrever uma opinião sobre a reforma da Corte. Mais tarde se tornou um

alto oficial da Corte de Komei.

Durante o período de chegada do Comodoro Perry, Iwakura foi um dos nobres da Corte

que se opôs à abertura do Japão para os estrangeiros; quando o Bakufu foi até Kyoto buscar apoio,

Tomomi mobilizou um grupo de nobres para travar as negociações e fazer com que o shogun e o

Imperador não chegassem a nenhum acordo. Quando Ii Naosuke faleceu, emergiu o movimento

da Kobu Gattai. Tomomi se simpatizou com a idéia e passou a defender a aliança entre a Corte

Imperial e o Bakufu, contudo, naquele momento, a Corte foi tomada por pessoas e nobres que

apoiavam o movimento da Sonno-Joi e Tomomi foi perseguido, sendo forçado a se exilar no norte

de Kyoto.

Tomomi estabeleceu importantes contatos com os líderes de Satsuma no exílio,

conseguindo fortes aliados lá. Entre eles estavam Saigo Takamori e Okubo Toshimichi. Em 1866,

ele tentou unir os daimyos para que o Império tomasse o poder após a morte de Iemochi, mas ele

falhou tendo sua conspiração revelada. Quando o Imperador Komei faleceu, surgiram rumores de

que Tomomi o havia envenenado, mas esses rumores desapareceram em pouco tempo. Mais

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tarde, juntamente com Takamori e Toshimichi, ele assumiu a Corte Imperial, colocando

Mutsuhito no trono e iniciando assim a Restauração Meiji.

Tomomi defendia que o Japão precisava de uma nova forma de governo que deveria fazer

uso das forças políticas do país. Ele ainda acreditava na reforma do país em bases ocidentais.

Sanjo Sanetomi - Conselheiro Imperial 30 anos

Nasceu em 13 de março de 1837 em Kyoto; filho de Naidaijin Sanjo Sanetsumu. Nobre da

Corte Imperial, foi aliado de Iwakura Tomomi em suas políticas de restauração. Contudo,

Sanetomi era um defensor da Sonno-Joi e permaneceu no governo quando Tomomi foi ao exílio.

Sanetomi então fomentou o espírito de restauração, em especial com relações importantes

com as lideranças de Choshu. Ele defendia o novo sistema de governo assim como Tomomi, com

quem ele dirigiu os oligarcas da restauração em suas reformas.

5.2 O Bakufu

O Shogunato Tokugawa, como já dito anteriormente, estava em profundo

declínio. O sistema de governo instaurado pelo Bakufu gerava grandes

insatisfações no povo e o governo já sentia seus efeitos. Quando os Estados

Unidos chegaram ao Japão, o shogun, na sua dúvida sobre o que fazer, consultou

os daimyos e abriu um precedente político para uma fragmentação fatal de seu poder e para a

fúria do Imperador.

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Nesse período, o Bakufu assinou uma série de tratados com os estrangeiros encerrando o

período de reclusão e iniciando um processo de emergência de grupos insatisfeitos com o

governo e de ideais de instauração de um novo regime. Contudo, o shogunato ainda era bastante

poderoso nessa época; possuía o controle do exército nacional, e a marinha do Bakufu,

comandada por Katsu Kaishu, era uma das mais modernas do país.

O Bakufu ainda tinha plena ciência da iminente derrocada de seu poder, e pelo fato de

terem o maior contato com os ocidentais, não havia ninguém melhor que eles para reconhecer a

necessidade de modernização e melhoria do país. Para tanto, o Bakufu desenvolveu planos para o

desenvolvimento do Japão já desde 1840. O primeiro foi um movimento que objetivava uma

reforma a fim de coordenar uma resposta à ameaça estrangeira que se configurava. A maioria dos

oficiais do Bakufu acreditava que o Japão precisava se fortalecer para competir com as forças

estrangeiras e assim as reformas deveriam alcançar outros aspectos como as relações com os

daimyos. Essas reformas foram personificadas por Ii Naosuke e chamadas de Reformas Tempo.

(BOLITHO in WRAY; CONROY, p.61, 1983)

Um segundo plano emergiu, em virtude da falha do primeiro e das crescentes ondas de

apoio ao Imperador. Tal movimento foi a Kobu Gattai que pregava a reconciliação entre o

Imperador e o shogun. O shogunato investiu nesse plano, mas os movimentos que desejavam sua

derrubada foram crescendo e criou-se a Sonno-Joi que derrubou todas as pretensões da Kobu

Gattai.

Na figura de Katsu Kaishu, o Bakufu adotou políticas diferentes. Ainda mantinha um

ideário baseado na Kobu Gattai, mas Kaishu defendeu uma forte modernização do exército do

Bakufu. Além disso, os Tokugawa agiram várias vezes de forma a conter os desenvolvimentos

das províncias, em especial de Choshu, a fim de enfraquecer os laços entre elas para que o

movimento da Sonno-Joi perdesse força e voltasse a dar lugar à Kobu Gattai. Quando

Hitotsubashi Keiki foi indicado como o 15° shogun e assumiu o nome de Tokugawa Keiki ou

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Yoshinobu, ele mesmo lançou campanhas de reforma e conciliação para melhoria do Japão, além

do intuito de evitar uma guerra civil de maiores proporções. Mas suas tropas de terra foram

derrotadas pelas forças de Choshu levando Yoshinobu a uma política mais moderada de

conciliação.

Tokugawa Yoshinobu - Shogun

29 anos

Nasceu em 28 de outubro de 1837 na província de Mito; filho de Tokugawa Ibaraki, o

daimyo. Mesmo assim, de acordo com a tradição, ele era inferior às três casas de Tokugawa que

eram elegíveis para o cargo de shogun. Foi batizado com o nome de Tokugawa Shichiroma e foi

educado sob tutela e supervisão estritas dos homens que educaram seu pai. Ele recebeu

ensinamentos de artes, kenjutsu, artes marciais, política e questões de governo; por isso ele cedo

se revelou um líder promissor e brilhante.

Mais tarde ele foi adotado pela família Hitotsubashi a fim de possuir mais chances de

assumir o shogunato no futuro. Durante o reinado de Tokugawa Iemochi, seu predecessor, o

governo passou por momentos de muita instabilidade aliada à incompetência de seus

administradores. Quando Ii Naosuke foi assassinado, Yoshinobu foi indicado para ser o líder do

conselho dos Roju – os homens que administravam o Bakufu – e assumiu em 1862. Yoshinobu

então mostrou sua habilidade e liderança ao iniciar políticas para contensão de rebeliões, alianças

para conter os rebeldes em Choshu e assinatura de tratados com os estrangeiros. Em 1864, as

forças do Bakufu, comandadas por Yoshinobu, derrotaram as forças de Choshu em seu assalto a

Kyoto.

Em 1866, Iomochi adoeceu e veio a falecer; Yoshinobu foi indicado o próximo shogun

por ser considerado o único com talento e habilidade para salvar o Bakufu, tornando-se, portanto

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o 15° shogun do Japão. Assim que assumiu, Yoshinobu lançou reformas para tentar salvar o

governo.

Yoshinobu procurou fortalecer a Kobu Gattai e iniciou negociações com a Corte Imperial

para reestruturação dos governos. Ele também buscou apoio com os franceses que enviaram uma

missão militar para modernização das forças do shogunato, em especial a marinha – com a ajuda

do Capitão Jules Brunet.

Yoshinobu tem o controle das poderosas forças militares nacionais do Japão e apoio de

todas as províncias do norte aliadas a Mito. Ele defende a Kobu Gattai e quer manter seu posto de

importância no governo japonês.

Katsu Kaishu - Comissário da Marinha Shogunal Japonesa

44 anos

Nasceu em janeiro de 1823 em Edo; filho de um samurai pobre. Logo cedo ele foi inscrito

numa escola de kenjutsu onde estudou a arte dos samurais. Mais tarde, seu mestre de espada o

incentivou fortemente a abandonar o estudo do kenjutsu e investir nos estudos do militarismo

ocidental e da língua holandesa.

Ele se tornou mais tarde um comissário da marinha japonesa e começou a trabalhar para o

Bakufu. Quando Perry chegou ao Japão ele alegou que eles não poderiam conter a ameaça e que

Perry entraria facilmente no país. Em seguida, ele demandou que o shogunato iniciasse um

processo de recrutamento imediato de pessoal para trabalhar na marinha, desafiando a antiga

tradição de serviço militar exclusivo aos samurais para admitir pessoas comuns na marinha.

Katsu ainda fez com que o shogunato revogasse a lei que proibia a construção de navios de

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guerra nos moldes europeus e que fosse iniciada a construção de canhões e rifles para reformar o

exército aos moldes ocidentais.

O reconhecimento às idéias de Katsu veio quando o Shogunato adotou todas as suas

sugestões. Em 1855, ele foi para Nagasaki estudar na academia naval em Dejima onde

permaneceu por dois anos e meio estudando. Mais tarde ele assumiu o comando do primeiro

navio de guerra a vapor do Japão, o Kanko Manru. Ele conduziu o navio na primeira viagem

internacional promovida pelo shogunato Tokugawa. Kaishu foi até os Estados Unidos onde

ratificou o primeiro tratado com o país na capital Washington. Ele permaneceu nos EUA por

mais dois meses onde ficou observando a sociedade norte-americana e aprendendo sobre suas

organizações, seu modo de vida, suas relações sociais.

Em 1863, ele foi condecorado como vice-comissário da marinha de Tokugawa e

estabeleceu uma academia naval em Kobe onde ensinou Sakamoto Ryoma e o adotou como braço

direito. Katsu então foi promovido ao posto de Comissário e recebeu o título de Protetor da

Província de Awa – Awa-no-Kami. Em 1864, Katsu foi retirado do seu posto e preso pelo novo

regime Tokugawa, regime conservador e que via suas ações como revolucionárias demais. Sua

academia foi fechada e seu salário reduzido.

Em 1866, as forças do Bakufu sofreram uma série de derrotas militares no interior do

Japão e Katsu foi reintegrado ao cargo quando Yoshinobu assumiu o shogunato. Contudo, as

relações entre os dois não eram muito amigáveis. Em 1866, ele foi enviado a Choshu para

negociar com os rebeldes; voltou vivo, mas sem acordo.

Katsu Kaishu era um ferrenho defensor de varias políticas da Restauração – em especial a

de modernização do exército. Ele ainda defendia a Kobu Gattai e tinha bons laços com o Capitão

Jules Brunet.

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5.3 As Províncias

Satsuma -

A província de Satsuma é uma das mais antigas e tradicionais do sul do Japão.

Após a abolição do sistema de províncias ela passou a compreender apenas a Prefeitura de

Kagoshima. Satsuma foi uma das principais províncias da campanha de restauração do Império e

da oposição do shogun. A província fazia parte do grupo de daimyos que foram derrotados na

batalha de Sekigahara e se uniram alguns anos mais tarde aos obedientes ao shogunato

Tokugawa.

A partir da desestabilização do shogunato em meados de 1850, Satsuma iniciou um

processo de fortalecimento interno que geraria suas bases para a grande influência que teve na

Restauração. A chegada de estrangeiros no país foi culminante para tanto. Na década de 1860,

Satsuma foi uma das províncias mentoras da aliança feudal que ocorreu entre os mais importantes

domínios do sudoeste do Japão – Satcho-Dohi.

Satsuma era o domínio mais poderoso de Kyushu, não compartilhava de tantos interesses

intelectuais como Tosa e Choshu, contudo, passou por um enorme período de meio século de

desenvolvimento econômico. Satsuma havia se inserido no sistema comercial com sucesso, o que

possibilitou que a província acumulasse capital e tivesse grande familiaridade com as relações

internacionais. No período final do bakumatsu, a província havia se desenvolvido militarmente

através do contato com os estrangeiros. Os oficiais militares, apoiados pelo Lorde Shimazu,

fizeram acordos com estrangeiros – especialmente os britânicos – para troca de mercadorias,

compra de equipamento bélico, consultoria militar e intercâmbio estudantil.

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Muitos dos líderes de Satsuma que iniciaram as alianças para a restauração faziam parte

de uma ideologia de lealdade ao Imperador e ainda haviam tomado partido, em algum momento,

dos movimentos da Sonno-Joi. Eles foram os primeiros da coalizão dos feudos do sudoeste que

alcançaram a Corte Imperial, estabelecendo fortes laços com os nobres de lá e influenciando suas

políticas à medida em que iam fortalecendo o governo imperial.

Okubo Toshimichi - Samurai 36 anos

Nascido em 26 de setembro de 1830; Toshimichi era filho do nobre Okubo Juemon; que

possuía baixa nobreza diante do senhor de Satsuma, Shimazu Nariakira. Toshimichi foi colega de

Saigo Takamori na escola local de Kagoshima. Em 1858, o Lorde Shimazu promoveu Toshimichi

a administrador de tributos da província fazendo-o se aproximar dos líderes de Satsuma. Quando

da morte do Nariakira, ele assumiu a empreitada para derrubada do shogun, iniciada pela nobreza

de Satsuma.

Toshimichi era inicialmente favorável à Kobu Gattai, ou seja, à reconciliação entre o

shogun e a Corte Imperial. Mais tarde, diante da derrocada do movimento, aliou-se ao movimento

da Sonno-Joi, ou seja, à derrubada do shogun, centralização do poder nas mãos do Imperador e

expulsão dos bárbaros. Em 1866, ele fundou a Aliança Satcho-Dohi para derrubada do Shogun

juntamente com Saigo Takamori e Kido Koin de Choshu. Mais tarde aliou-se ao Príncipe

Iwakura Tomomi.

Toshimichi era muito talentoso com finanças e sabia muito bem trabalhar com taxas e

tributos. Ele era bastante favorável a reformas nos sistemas de tributação e na concentração do

poder militar nas mãos do Imperador – em detrimento da classe samurai, da qual ele queria retirar

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poder. Era ainda partidário da instalação de escolas técnicas, empréstimos à iniciativa privada e

subsídios governamentais para indústrias.

Mesmo sendo partidário do Sonno-Joi, mais tarde Toshimichi foi defensor da

indiscriminação dos estrangeiros, inclinando-se à idéia de Tomomi de formar uma delegação

japonesa para uma viagem ao mundo. Okubo Toshimichi é um dos mais influentes líderes da

Restauração Meiji. Tornou-se um homem muito poderoso e reconhecido por seus esforços na

modernização do Japão.

Terashima Munenori - Diplomata 35 anos

Nasceu em 21 de junho de 1832, em uma família samurai da província de Satsuma.

Munenori era bastante próximo do Lorde Shimazu Nariakira em virtude de ter sido seu médico.

Mas seus talentos foram reconhecidos pelo Bakufu, sendo selecionado para integrar o grupo de

estudantes enviados para a Universidade de Londres. Familiarizou-se com a cultura ocidental em

suas viagens pela Europa, quando conheceu a França, os Países-Baixos, a Bélgica, a Rússia e

Portugal. Regressou ao Japão em 1863.

Por seu conhecimento das línguas ocidentais, fruto de seus estudos na Europa, ele foi

reconhecido como diplomata Japonês e negociou tratados com a Rússia e com os Estados Unidos.

O governo Meiji o adotou como San’yo ou Conselheiro Júnior. Munenori foi decisivo nas

discussões com os estrangeiros.

Godai Tomoatsu - Cientista e Tecnólogo Naval 31 anos

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Nasceu em 1836 na província de Satsuma, e foi mais um dos selecionados pelo Bakufu

para estudar em Londres. Freqüentou a escola de Ciência e Tecnologia Naval em Nagasaki e

defendeu Satsuma num conflito contra a Grã-Bretanha.

Durante o Bakumatsu, Tomoatsu foi decisivo para o fortalecimento da província de

Satsuma em sua empreitada para derrubar o shogun. Tomoatsu foi à França em missão de

estabelecer uma parceria entre a província de Satsuma e o país. A idéia era de trocar os grandes

recursos naturais advindos da província por armas e bens manufaturados vindos da Europa. Foi

criada, então, uma Companhia de Comércio entre a França e Satsuma. Os franceses investiram na

instalação de uma fábrica de navios a vapor e uma indústria têxtil na província de Satsuma, além

de receber estudantes da província em suas Universidades. No início de 1867, Godai estava em

pleno processo de negociação com o governo francês para compra dos mais modernos navios de

guerra para as forças armadas da província.

Seu conhecimento das línguas ocidentais foi de grande importância para os líderes da

Restauração Meiji, que o indicaram como san’yo assim como Munenori. Ele foi responsável pela

resolução de uma série de incidentes envolvendo representantes estrangeiros e samurais

xenófobos e continuou a atuar nesse sentido. Muito talentoso para negócios, Tomoatsu sempre foi

partidário do comércio e dos investimentos bi e multilaterais.

Kuroda Kiyotaka - Samurai 27 anos

Nasceu em 16 de outubro de 1840 em Kagoshima, capital da província de Satsuma.

Membro de uma tradicional família de samurais, não tardou para que se tornasse samurai e servo

direto do Lorde Shimazu.

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Em 1862, ele participou do Incidente de Nanamugi, onde nobres da corte de Shimazu

assassinaram um cidadão Britânico que recusou prestar respeito aos nobres durante uma

audiência. Tal incidente resultou no conflito entre a Grã-Bretanha e a província de Satsuma, no

qual Kiyotaka também esteve presente. Após a guerra ele foi enviado para Edo onde estudou tiro.

Durante o Bakumatsu ele foi membro ativo da Aliança Satcho-Dohi que buscava a

deposição do shogun. Seus talentos militares e sua capacidade diplomática eram observados com

interesse pela Corte Imperial.

Matsukata Masayoshi - Burocrata 32 anos

Nasceu em 25 de fevereiro de 1835, em uma família de samurais em Kagoshima.

Estudioso do confucionismo, sempre aprendeu os preceitos de lealdade ao Imperador. Trabalhou

como burocrata na província de Satsuma e, em 1866, foi enviado para Nagasaki, onde estudou

ciência, matemática e métodos de pesquisa nas tradições ocidentais.

Durante o processo de negociação da Restauração Meiji, Masayoshi trabalhou como

mediador entre a província de Satsuma e o palácio Imperial em Kyoto. Sempre muito próximo a

Saigo Takamori e Okubo Toshimichi, Masayoshi era defensor de um novo sistema de tributos.

Era muito talentoso com finanças e defendia maiores negociações a respeito dos tratados

bilaterais.

Saigo Takamori - Samurai 39 anos

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Nasceu em 1828 na província de Satsuma. Era um samurai forte e influente, oficial das

forças do Lorde Shimazu. Saigo iniciou sua carreira servindo como oficial baixo da província de

Satsuma.

Em 1854, ele foi escalado para acompanhar o Lorde Shimazu Nariakira em uma viagem

até Edo onde pretendiam promover o estreitamento de laços entre a Corte Imperial e o Bakufu,

mas não obtiveram muito sucesso. O Bakufu repeliu as tentativas, e Saigo fugiu de volta a

Satsuma após a morte repentina do Lorde Shimazu.

Em 1864, Saigo foi enviado a Kyoto pelo novo Lorde Shimazu Hisamitsu a fim de assumir

a direção dos interesses de Satsuma diante da Corte Imperial. Lá, ele assumiu o exército do

domínio. Ele conduziu negociações secretas com os líderes de Choshu juntamente com Okubo

Toshimichi, resultando na aliança Satcho-Dohi. Ele foi um dos líderes das tropas de Satsuma que

ajudaram as forças de Choshu contra a investida do Bakufu, antes da chegada de Tokugawa

Yoshinobu.

Saigo era um samurai fervoroso e altamente defensor de sua classe. Ele foi um dos

grandes agitadores da política contrária a uma solução negociada com o shogun Tokugawa

Yoshinobu. Ele defendia que todos os domínios dos Tokugawa fossem retirados dos mesmos e

seu status fosse dissolvido totalmente. Além disso, Saigo não se sentia muito confortável com a

abertura comercial do Japão e com sua modernização. Ele era totalmente contrário à construção

do sistema de ferrovias, alegando que o dinheiro seria melhor gasto com a modernização do

exército apenas.

Militar ativo, ele foi fundamental na discussão do novo sistema de exército do Japão e na

abolição do sistema de províncias.

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Choshu -

A província de Choshu é um grande domínio também do sudoeste do Japão.

Atualmente, compreende a prefeitura de Yamaguchi.

No período do Sengoku, o grande senhor Mori Motonoari estendeu os domínios de

Choshu por toda a região de Chugoku compreendendo cerca de 1.200.000 koku em terras. Mais

tarde, seu sucessor Mori Terumoto aliou-se a Toyotomi Hideyoshi. Após a derrota dos aliados a

Hideyoshi, os Mori tiveram seus domínios reduzidos a 329.000 koku apenas. Desde então, a

província de Choshu foi uma grande defensora de movimentos anti-Tokugawa.

Contudo, esse sentimento anti-Tokugawa não foi suficiente para fomentar uma grande

lealdade ao Imperador. Isso ocorreu em virtude dos laços de hereditariedade que havia na guarda

Imperial; os filhos de samurais de Choshu que eram enviados para servir a Corte Imperial eram

incentivados a estudar e se converter aos princípios de lealdade ao Imperador.

Choshu foi o berço dos samurais mais radicais do período de oposição ao Shogunato.

Durante esse período, teve vários atritos com a província de Satsuma em virtude da emergência

de movimentos conservadores nesta. Eles tinham muitas preocupações com a ameaça externa que

se configurava no momento, e acreditavam, mais que ninguém, que o Japão precisava se

fortalecer para expulsar os bárbaros.

As lideranças radicais de Choshu tentaram uma investida contra as lideranças moderadas

de Satsuma que haviam estacionado na Corte Imperial em 1863, mas foram derrotadas. Mais

tarde, assim como Satsuma, Choshu iniciou um processo de modernização do seu exército,

aproveitando a brecha deixada pelo instável Bakufu. Apesar dos grupos extremistas na região,

novos líderes assumiram o poder e iniciaram a difusão de políticas mais moderadas, até, enfim,

movimentarem a aliança Satcho-Dohi juntamente com os líderes de Satsuma.

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A aliança que começou entre Satsuma e Choshu foi um pontapé inicial para o grande

movimento revolucionário que se configurava na época, e a pronunciada força das duas

províncias e de seus aliados, assim como a participação que Choshu assumiu nas políticas da

Corte Imperial, foram fundamentais para a instauração do novo regime.

Takasugi Shinsaku - Samurai 28 anos

Nasceu em 12 de setembro de 1839 na cidade Hagi, capital da província de Choshu. Era

filho de um samurai de classe média. Acabou se tornando um guerreiro de renome ao ter

estudado em Shoka Sonjuku, uma famosa escola da região.

Shinsaku dedicou sua vida em favor da modernização do exército de Choshu e se tornou

estudante favorito do senhor de Shoka Sonjuku, Yoshida Shoin. Em 1858, foi estudar na escola

militar do shogun em Edo, mas foi chamado de volta em 1859 pelos líderes do clã de Choshu.

Era forte partidário das políticas de reclusão do Japão e expulsão dos estrangeiros. Em 1864,

Shinsaku foi enviado para Xangai na China a fim de investigar a expansão das forças européias

que já operavam no país vizinho. Tal visita fortaleceu suas idéias de modernização e

fortalecimento do Japão com o objetivo de evitar que o país fosse colonizado pelas forças

ocidentais. Tal sentimento teve suporte nos movimentos que se formavam na época, em especial

o Sonno-Joi, e logo as idéias de Shinsaku receberam apoio na província de Choshu.

Suas idéias de melhoria das forças armadas tomaram corpo, e ele revolucionou o sistema

militar japonês antes de 1867 ao imprimir suas idéia nas forças de Choshu. Até 1863 ele iniciou

um sistema de recrutamento militar que incluía não apenas os samurais, mas também admitia

outras classes sociais como unidades paramilitares. Shinsaku acreditava que as riquezas

acumuladas pelas classes mercantes e pelos fazendeiros poderiam melhorar as receitas dos

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militares e ajudar na estruturação do exército. Em 1863, ele já possuía uma força de cerca de 300

soldados, cuja metade era de samurais, mas, devido a sua pregação pública em favor da Sonno-

Joi, ele foi preso pelo Bakufu.

Em 1864, ele se aliou a Yamagata Aritomo, Ito Hirobumi e Inoue Kaoru numa empreitada

militar para diminuir a influência das classes mais conservadoras sobre as políticas de Choshu.

Sendo um militar brilhante, ele fortaleceu as tropas de Choshu, após a vitória sobre os

conservadores, a níveis quase desproporcionais e projetou Choshu no cenário da Restauração

Meiji após derrotar tropas de Tokugawa em 1866. Sua habilidade militar foi decisiva para a

Restauração Meiji.

Kido Takayoshi (Kido Koin) - Samurai 34 anos

Nasceu em 11 de agosto de 1833, filho do médico de Choshu. Assim como Shinsaku,

Kido foi estudante da academia de Yoshida Shoin, onde também adquiriu a filosofia de lealdade

ao Imperador. Em 1852, foi estudar kenjutsu em Edo, onde fez alianças com samurais radicais em

Mito e aprendeu técnicas de artilharia com Egawa Torozaemon. Foi supervisor da construção dos

primeiros navios ocidentais de guerra de sua província.

Durante sua estada em Edo, Kido atuou como mediador entre os senhores de Choshu e as

milícias radicais de samurais que eram partidários da Sonno-Joi. Foi transferido para Kyoto em

1858 quando viu as tropas de Choshu serem expulsas da cidade pelas forças de Satsuma e foi

forçado a se esconder durante a nova tentativa em 1864.

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Mais tarde se aliou com Takasugi Shinsaku na condução da política de Choshu e se aliou

com Saigo Takamori e Okubo Toshimichi na Aliança Satcho-Dohi para a derrubada do shogun.

Forte defensor de um governo constitucional, sempre atuou de forma um tanto

controversa diante das idéias de Choshu em favor de um fim melhor para o país como um todo.

Tornou-se partidário das idéias de Iwakura Tomomi, que também atuava com Takamori e

Toshimichi.

Omura Masujiro - Expert Militar (Samurai) 43 anos

Nasceu em 30 de maio de 1824, na província de Suo que estava sob os domínios de

Choshu. Durante os anos de 1850 foi estudar técnicas militares ocidentais; em 1853, foi recrutado

pelo domínio de Uwajima como instrutor militar e a partir de 1857 foi professor da academia

militar do shogun em Edo.

Em 1862, ele foi chamado de volta a Choshu para ensinar na academia militar do exército

de lá, a fim de desenvolvê-lo. Sua reputação como estrategista foi reconhecida quando as tropas

de Choshu venceram as de Tokugawa em 1866 e ele se uniu às campanhas para derrubada do

shogun.

Masujiro foi precursor do exército Imperial e era defensor das medidas que acabavam

com o papel dos samurais no Japão e diminuíam seu poder.

Ito Hirobumi - Samurai 26 anos

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Nasceu em 16 de outubro de 1841, adotado por uma família de samurais de classe mais

baixa. Estudou na escola de Yoshida Shoin, juntamente com Kido Koin e Takasugi Shinsaku.

Trabalhou junto com Kido Koin em favor do movimento Sonno-Joi.

Hirobumi foi mais um dos estudantes selecionados pelo Bakufu a integrar o grupo que foi

estudar na Grã-Bretanha, e a visão que teve do ocidente foi suficiente para que ele fosse

convencido de que o Japão deveria adotar o estilo ocidental de todas as formas possíveis para

modernizar o país e fortalecê-lo.

Hirobumi era, portanto, defensor do ocidentalismo no Japão. Ele defendia reformas nesse

sentido que perpassavam desde o sistema financeiro do país até a forma de sua constituição e, em

especial, sua forma de governo. Foi o precursor do sistema de parlamento no Japão e sempre foi

fiel ao Imperador.

Inoue Kaoru - Samurai 31 anos

Nasceu em 16 de janeiro de 1836, em uma família de samurais de baixa classe em

Choshu. Freqüentou a escola Han e foi amigo de infância de Ito Hirobumi. Junto com seu amigo,

Kaoru participou do movimento Sonno-Joi em Choshu e foi líder de um movimento anti-

estrangeiros que se formou na província, sendo um dos responsáveis por um incidente com a

delegação Britânica juntamente com Takasugi Shinsaku.

Kaoru foi um dos enviados para estudar em Londres pelo bakufu e retornou

compartilhando o mesmo sentimento de que o Japão precisava adotar os métodos ocidentais.

Inoue Kaoru mais tarde se uniu à Aliança Satcho-Dohi contra o Bakufu.

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Kaoru é mais um dos que defendiam uma nova sistematização de tributos e uma forte

industrialização do Japão. Ele também atuava como defensor de harmonização de tratados

bilaterais e de bons relacionamentos com os estrangeiros para aproveitar suas capacidades para

modernizar o país, contudo ainda retinha seus princípios expressos pelo Sonno-Joi.

Yamagata Aritomo - Samurai 29 anos

Nasceu em 14 de junho de 1838, em uma família de samurais em Hagi, na província de

Choshu. Estudou na mesma escola que a maioria das grandes figuras de Choshu estudaram, a

Shoka Sonjuku. Durante esse período, Aritomo se concentrou nos esforços de gerar um

movimento para deposição do Shogunato. Assim, ele comandou Kihei-tai, uma força paramilitar,

criada com base em métodos ocidentais, que atuou em exercícios militares para a retirada do

Shogun.

Um grande conhecedor de sistemas militares ocidentais e ainda um experiente

comandante, ele defendia a idéia de modernização do exército japonês nos padrões ocidentais e

se apresentou como um dos mais brilhantes militares da Restauração Meiji e um promissor líder

para o Exército Imperial.

Hirosawa Saneomi - Samurai 34 anos

Nasceu em 1833, em Yamaguchi; membro do clã Hagi. Filho de uma família de samurais,

tornou-se um e, a partir de 1859, tornou-se membro dos administradores do clã. Era defensor da

política de restauração do poder imperial e de expulsão dos estrangeiros, promovendo, com os

demais, o movimento contra o shogunato.

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Defensor fervoroso da derrubada do Bakufu, defendeu o movimento durante os anos 1866

e 1867. Durante esse período ele foi figura central da administração do clã e foi figura

fundamental nas negociações com Katsu Kaishu em meio aos conflitos entre Choshu e o Bakufu.

Saneomi foi uma figura política importante para a reapresentação dos interesses de Choshu, em

especial nas negociações com Satsuma.

Tosa -

A província de Tosa foi uma das mais importantes do período da Restauração,

juntamente com Satsuma e Choshu. Ela fazia parte da aliança de províncias que

defendia a derrubada do shogun e a restauração do governo Imperial. Tosa era

dirigida pelo clã Chokosabe e ocupa a maior parte da ilha de Shikoku.

Mesmo estando isolada em Shikoku, Tosa se desenvolveu bem através de exportações de

minerais e madeira. A classe média rural havia se transformado na classe mais rica durante o

sistema de Tokugawa, e começava a assumir cargos de nobreza e administração do feudo. Esses

homens começavam a vislumbrar os ensinamentos de lealdade ao Imperador como algo bastante

satisfatório para suas políticas, e não tardaram a apoiar os movimentos nesse sentido.

Durante o período de atritos entre Satsuma e Choshu, Tosa atuou no sentido de efetuar

uma mediação e engrenar a aliança Satcho-Dohi, procurando estreitar as relações pacíficas entre

Satsuma e Choshu. Além disso, a província de Tosa defendia fervorosamente a posição em prol

de uma resolução negociada e pacífica entre o shogun e o Imperador, de modo a impedir que

houvesse mais guerras nesse sentido – como Satsuma e Choshu queriam.

Itagaki Taisuke -

Samurai 30 anos

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Nasceu em 21 de maio de 1837, em uma família de samurais de classe média em Tosa.

Estudou em Kochi e Edo, e mais tarde foi apontado conselheiro do próprio daimyo de Tosa. Em

1861, ele foi enviado para a residência do daimyo em Edo para administrar as contas e as

questões militares da província de Tosa.

Durante a formulação da Kobu Gattai, Taisuke se posicionou contrariamente ao

movimento. Sendo Taisuke o chefe das forças militares de Tosa, Saigo Takamori se aproximou

dele e iniciou laços de negociação para fortalecimento do Exército Imperial, com apoio de Tosa.

Ele era bastante liberal e defendia princípios de direitos iguais para todos, uma vez que temia a

dominação de Satsuma e Choshu no governo – por serem províncias mais poderosas.

Goto Shojiro - Samurai 29 anos

Nasceu em 13 de abril de 1838 em Tosa, em uma família de samurais. Já no início de sua

carreira ele foi atraído pelo movimento radical Sonno-Joi juntamente com seu amigo Sakamoto

Ryoma. Foi promovido dentro da estrutura de governo do feudo e logo assumiu poder dentro das

políticas da província; também exerceu bastante influência nas decisões do daimyo Yamauchi

Toyoshige.

Shojiro passou a gerir as políticas de Tosa no sentido de apoiar o Imperador e fazer

pressão para que o Bakufu entregasse o poder de forma pacífica ao governo imperial.

Uniu-se a Itagaki Taisuke nas políticas de Restauração e logo aderiu a seus ideais liberais.

Defendia também uma maior participação popular e democrática no governo. Contudo, manteve-

se como figura forte diante dos governistas e participou ativamente da Restauração.

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Fukuoka Takachika - Samurai 32 anos

Nasceu em 05 de fevereiro de 1835, em Tosa. Tornou-se samurai e assumiu carreira como

oficial de armas servindo o daimyo de Tosa. Era amigo de Goto Shojiro e compartilhava de suas

idéias e de sua lealdade para com o Imperador. Fazia parte do movimento moderado de Tosa que

defendia a entrega pacífica do poder por parte do shogun.

Mas, ao contrário de Shojiro e Taisuke, ele não era um liberal tão fevoroso; assumiu o

posto de san’yo no governo Meiji e um papel muito importante na estruturação do sistema

político e dos princípios que deveriam reger o novo regime à luz dos 5 pontos juramentais.

Sakamoto Ryoma - Samurai (Ronin) 31 anos

Nasceu em 3 de janeiro de 1836, em uma família de camponeses, em Kochi na província

de Tosa. Durante o governo de Tokugawa, sua família enriqueceu com sua atividade de

fabricação de sake até comprar o título de ‘samurais mercadores’ junto ao Bakufu. Isso garantiu à

família um bom status social, ainda que baixo. Mais tarde a irmã de Ryoma o inscreveu numa

escola de esgrima e quando ele atingiu a idade adulta; já era um mestre espadachim.

Em 1853, foi enviado a Edo como discípulo de um grande mestre; lá testemunhou a

chegada de Perry ao Japão, e toda a comoção causada. Isso o incentivou a adotar elementos

extremistas em suas ideologias e, por fim, aderir à Sonno-Joi. Ele foi recrutado para uma força de

samurais extremistas de Tosa, mas foi forçado a se exilar como um ronin quando o plano desse

grupo de efetuar um golpe para assumir o governo da província foi revelado.

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Mais tarde, durante seu exílio, Ryoma ainda manteve seus ideais calcados na Sonno-Joi.

Em virtude ainda de ser um samurai de baixa classe ele, aderiu aos movimentos extremistas que

pregavam o terror. Mas suas ambições eram maiores que amedrontar os estrangeiros para que

eles fugissem do país. Ele resolveu assassinar Katsu Kaishu. Contudo, durante a tentativa, Kaishu

persuadiu Ryoma de que era necessário um plano de longo prazo para modernização do exército

japonês, caso contrário os estrangeiros o derrotariam facilmente. Kaishu então adotou Ryoma

como seu assistente e protegido.

Em 1854, Ryoma fugiu para Kagoshima em Satsuma, onde fomentou movimentos contra

o Bakufu e iniciou a mediação para que as até então províncias inimigas, Satsuma e Choshu,

negociassem uma aliança. Mais tarde, Ryoma ajudou as províncias de Satsuma e Choshu a

desenvolverem suas forças navais. Seu sucesso e sua fama fizeram com que seus senhores em

Tosa finalmente o reconhecessem e o convocassem de volta. Ryoma então assumiu posto de

destaque nas políticas de Tosa e foi fundamental para as negociações entre a Corte Imperial e o

Bakufu.

Hizen -

Hizen era uma província próxima fisicamente a Satsuma; juntou-se às demais no

processo de restauração. Hoje, ela é dividida entre as Prefeituras de Nagasaki e

Saga. Hizen era administrada pelo clã de Nabeshima.

Hizen foi a menor das quatro províncias que se aliaram contra o Bakufu e em favor do

novo governo Imperial. A província foi também atingida por grande parte das influências que

atingiram as demais províncias, no que tange tanto suas políticas reformistas quanto seu

desenvolvimento e sua representatividade no cenário na época. Muitos dos aristocratas de Hizen

também foram enviados ao exterior, trazendo tais pensamentos reformistas. Os líderes de Hizen

haviam conhecido o poderio dos ocidentais e também compartilhavam da idéia de modernizar o

país para se defender dessa ameaça.

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Enquanto Hizen defendia que a política de reclusão deveria ser abandonada, a província

se aliava a Tosa em suas políticas moderadas de negociação com o shogun e de restauração do

poder imperial.

Eto Shimpei - Samurai 33 anos

Nasceu em 13 de março de 1834, na cidade de Saga, em uma família de samurais.

Notável samurai conhecedor de estratégias militares e um grande general, era amigo de Itagaki

Taisuke e Goto Shojiro e compartilhava de suas idéias liberais. Defendeu a Restauração Meiji e a

modernização do Exército Imperial e, principalmente, era partidário da derrubada militar do

shogun.

Shimpei era um militar ativo, com pretensões expansionistas, e pensava também na

formatação de uma polícia nacional e na modernização de códigos de conduta e pena para a

população.

Okuma Shigenobu - Samurai 29 anos

Nasceu em 16 de fevereiro de 1838; filho de um oficial de artilharia em Saga. Durante sua

juventude estudou Literatura Chinesa. Em 1853, foi enviado para uma instituição Germânica e

pouco depois de 1861 assumiu o posto de professor na instituição. Shigenobu era simpático à

Sonno-Joi, mas sua postura moderada o fez defender uma conciliação entre os rebeldes de

Choshu e a autoridade shogunal.

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Shigenobu fez uma viagem a Nagasaki onde conheceu um missionário germânico que lhe

ensinou inglês a partir do Novo Testamento e da Declaração de Independência dos Estados

Unidos. Estes trabalhos influenciaram sua mente política fomentando o desejo de estabelecer um

governo constitucional no Japão e abolir o sistema feudal.

Juntamente com seu conterrâneo Soejima Taneomi, defendeu o plano de restauração

Imperial diante do shogun e se tornou um membro ativo da Restauração Meiji. Ele era um

homem muito talentoso para negociar, assim como tinha fluência nas línguas estrangeiras, o que

lhe qualifica para o serviço de relações com os estrangeiros.

Ele defendia a restauração do sistema monetário e tributário, um governo constitucional e

a revisão dos tratados com os estrangeiros.

Soejima Taneomi - Samurai 39 anos

Nasceu em 17 de outubro de 1828, em Saga, numa família de samurais. Era filho de um

professor da escola de Estudos Nacionais. Contudo, os líderes do domínio enviaram Taneomi a

Nagasaki para estudar inglês. Mais tarde ele se tornou um grande líder militar das forças de Saga.

Durante a restauração ele foi defensor do projeto Imperial e defendia a derrubada do shogun.

Ele se tornou san’yo do Império, e defendia o governo constitucional e a modernização

das bases políticas do novo governo.

Oki Takato – Samurai 35 anos

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Nasceu em 23 de março de 1832 em uma família de samurais na cidade de Saga. Iniciou

sua carreira de estudos na escola Kodokan, na província de Hizen, e logo promoveu reformas na

administração da província, assumindo importantes cargos na política local. Tornou-se um dos

líderes das forças de Saga durante o período da Restauração.

Ele era um grande administrador público e defensor de um novo sistema educacional para

o Japão. Ele também assistiu aos trabalhos de Shimpei no que tange o sistema judiciário. Ele era

bastante reconhecido por suas virtudes políticas e seu espírito de liderança.

Kumamoto -

A Prefeitura de Kumamoto ficava na região da Província de Higo, na ilha de

Kyushu. Era uma prefeitura importante por se situar entre as províncias de

Satsuma e Hizen, mas sua representatividade na Restauração Meiji se limita a seus dois

representantes.

Yokoi Shonan - Samurai 58 anos

Nasceu em 22 de setembro de 1809, em Kumamoto, numa família de samurais. Em 1839,

ele foi enviado para estudar em Edo, onde fez contato com os primeiros movimentos pró-

reformistas do país. Quando retornou a sua terra natal, ele iniciou um projeto de reforma da

província a partir de linhas neo-Confucionistas.

Em 1857 ele foi convidado, pelo daimyo Matsudaira Yoshinaga, para ensinar no domínio

de Echizen. Por ter ganhado fama, foi apontado, em 1862, como líder do governo shogunal. Em

virtude de seus laços com a Corte Imperial, tal apontamento era uma estratégia para que o

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Imperador aprovasse as decisões do shogun. Yokoi defendeu uma reforma completa no Bakufu e

defendeu também a reconciliação entre o Imperador e do shogun.

Ele defendeu a abertura completa do país para o comércio exterior, reformas econômicas

e modernização do exército. Shonan ainda foi defensor da criação de um conselho de daimyos em

que o shogun atuaria como primeiro ministro. O Bakufu logo se viu escandalizado por tais idéias

e retirou Shonan do cargo, decretando sua prisão domiciliar. Ele foi libertado pelo Imperador

mais tarde e chamado para contribuir com suas idéias para o novo governo.

Inoue Kowashi - Samurai 23 anos

Nasceu em 06 de fevereiro de 1844, em uma família de samurais, em Kumamoto. Era

conhecido como uma criança extremamente inteligente e foi enviado para a academia

confucionista da província. Seus estudos o levaram a ser reconhecido como liderança importante

para a Restauração Meiji.

Ele defendia o governo constitucional e a derrubada do shogun. Okubo Toshimichi o tinha

em alta estima e seus talentos eram importantes para o projeto constitucional.

Fukui -

Assim como Kumamoto, Fukui foi importante no processo de Restauração em

virtude de seu representante. Era a região mais isolada de todas as importantes da

Restauração, localizando-se na ilha de Honshu.

Yuri Kimimasa - Samurai 38 anos

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Nasceu em 11 de novembro de 1829, em uma família de samurais de Fukui. Ele estudou

tendo Yokoi Shonan como professor no início de sua carreira. Mais tarde, trabalhou em favor de

uma reforma financeira e da modernização de Fukui; foi reconhecido pelo daimyo Matsudaira

Yoshinaga em virtude de sua grande habilidade e conhecimento.

Na Restauração Meiji ele foi o autor do primeiro rascunho do que seriam os 5 pontos

juramentais do novo governo, e defendia as reformas políticas e financeiras.

5.4 – Os Estrangeiros

Grã-Bretanha -

As relações entre a Grã-Bretanha e o Japão se iniciaram em 1600 quando

William Adams aportou em Usuki na ilha de Kyushu. Mas antes, em 1587,

dois japoneses aventureiros foram até a Califórnia onde foram capturados pelo britânico Thomas

Cavendish e levados à Grã-Bretanha. Mas as relações de fato ocorreram em 1600, quando

William Adams se tornou conselheiro do shogun Tokugawa da época e foi renomeado de Miura

Anjin, passando a viver no país até o fim da sua vida.

Contudo, as relações entre ambos os países se arrefeceram após esse período. Em 1853,

quando da chegada do Comodoro Norte-Americano Matthew C. Perry, a Grã-Bretanha se

manteve neutra apenas observando os desenvolvimentos dos Norte-Americanos na região. Em

1853, foi assinado o Tratado de Kanagawa entre Japão e EUA e, com a abertura dos portos, os

Britânicos decidiram ir até o Japão levar seu próprio tratado. Em 1854, foi assinado o “Tratado de

Amizade Anglo-Japonês” ( Nichi-Ei Washin Jōyaku), que foi celebrado pelo

Almirante Sir James Stirling e os representantes do Bakufu.

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Em seguida, no mês de agosto de 1858, Lord Elgin se encontrou com os representantes do

Bakufu e assinou um novo “Tratado de Amizade e Comércio Anglo-Japonês”

( Nichi-Ei Shūkō Tsūshō Jōyaku). O tratado forçou as seguintes concessões

por parte do Japão:

- Um representante do governo britânico teria residência em Edo;

- A abertura dos portos de Hakodate, Kanagawa e Nagasaki para comércio em julho de

1859 e a abertura do porto de Hyogo em janeiro de 1863;

- E cidadãos britânicos seriam permitidos de viver em Edo a partir de janeiro de 1862 e

em Osaka a partir de janeiro de 1863.

Durante o Bakumatsu, os britânicos sofreram com as represálias dos grupos extremistas.

Em 1861, a delegação britânica foi atacada por grupos extremistas resultando na morte de alguns

diplomatas. Mais incidentes ocorreram; em 1863, a Marinha Real bombardeou a cidade de

Kagoshima em Satsuma e, em 1864, eles bombardearam o Estreito de Shimonseki juntamente

com a França, os EUA e os Países-Baixos.

Em 1865, a Grã-Bretanha enviou o ministro Sir Harry Smith Parkes ao Japão para

conduzir as negociações diplomáticas entre os dois países, renovando os tratados e estreitando as

alianças entre a Grã-Bretanha e o Japão. A Grã-Bretanha manteve os interesses de fazer comércio

com o Japão e na Restauração o Japão tinha interesse de usar as experiências do país para sua

modernização.

Sir Harry Smith Parkes - Embaixador da Coroa Britânica no Japão 39 anos

Nasceu em 1928 em Birchills Hall, uma cidade próxima a Walsall em Staffordshire, na

Inglaterra. Quando estava com quatro anos sua mãe faleceu e no ano seguinte seu pai sofreu um

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acidente de carruagem que também tirou-lhe a vida, indo Harris viver com seu tio em

Birmingham.

Entre 1841 e 1864, Parkes foi viver em Macau onde iniciou seus estudos de Chinês bem

em meio à Guerra do Ópio. Em 1842, ele foi indicado para trabalhar no consulado na China e

acompanhou Sir Henry Potinger em seus trabalhos durante a guerra, testemunhando a assinatura

do Tratado de Nanking que abriu cinco portos chineses para comércio. Depois de trabalhar no

consulado de Fuchow, retornou à sua terra natal e trabalhou no Departamento de Relações

Exteriores até ser enviado de volta à China como intérprete. Em 1854, ele foi promovido a

Cônsul e, em 1855, foi nomeado secretário da missão em Bangkok, ajudando na assinatura de

tratados com o Sião (atual Tailândia). Em 1856, Parkes foi a Canton ainda na qualidade de

Cônsul e atuou em favor da Grã-Bretanha na segunda Guerra do Ópio, sendo preso juntamente

com o Lorde Elgin pelos chineses. Foi libertado após o fim da guerra, retornando a seu posto de

Cônsul em Canton e mais tarde retornando à Grã-Bretanha.

Entre 1865 e 1883 Parkes prestou serviços diplomáticos no Japão. Tornou-se ministro e

embaixador em 1865 e foi enviado ao Japão a fim de chefiar a missão britânica no país. Durante

o período em que permaneceu no Japão, ele foi um grande apoiador de ideais liberais e era

bastante amigável com os rivais do Bakufu, defendendo então a Restauração Imperial. Parkes

iniciou as negociações para um novo tratado com o Japão que diminuísse as desigualdades dos

anteriores e estabelecesse, ainda, importantes contrapartidas às concessões dadas pelo Japão, em

termos legais e materiais, incluindo cooperação para a modernização do país.

Estados Unidos -

Os Estados Unidos tem uma história longa de relações com o Japão, com os

resultados mais diversos. Contudo, a intervenção norte-americana sempre foi

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decisiva na história do Japão em todas as vezes que ela ocorreu, seja antes da Restauração Meiji,

seja depois dela.

Durante o século XVII, as colônias Européias na América recebiam mercadorias advindas

do comércio entre a Europa e os países asiáticos, incluindo o Japão. Os espanhóis faziam

negócios com o Japão e retornavam à Europa através de suas colônias na América, o que fez com

que japoneses também explorassem a América à bordo de galeões espanhóis. Assim os japoneses

fizeram uma visita aos espanhóis, quando então começaram a estabelecer relações formais. Todas

as relações foram cortadas em 1850, quando Tokugawa editou a lei que fechava o Japão ao

exterior.

Em 1848, o Capitão James Glynn foi ao Japão tentar negociar, de forma pacífica, uma

reabertura. Sem sucesso, retornou aos Estados Unidos e recomendou ao congresso que qualquer

negociação para abertura do Japão seria falha caso não houvesse demonstração de força.

Em 1852, o Comodoro Matthew C. Perry aportou na Baía de Uraga no Japão com sua

esquadra de navios a vapor e seus grandes canhoneiros. Ali ele iniciou o processo de abertura do

Japão, mostrando maior força que o país e persuadindo o shogun a assinar o Tratado de

Kanagawa em 1854. O tratado abriu os portos japoneses para comércio com os EUA, precedente

para que outros tratados fossem assinados com outros países ocidentais.

Mais tarde, o Cônsul Townsend Harris negociou e assinou, em 1858, o Tratado Harris

( Nichibei Shūkō Tsūshō Jōyaku). O tratado de Perry fazia apenas com que os

portos japoneses fossem abertos ao exterior e a integridade dos navios que por ali circulavam

fosse preservada. Então, Townsend Harris se incumbiu da tarefa de negociar comercialmente e

iniciar as relações comerciais do Japão com os Estados Unidos.

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Townsend Harris - Cônsul Geral dos Estados Unidos no Japão 63 anos

Nasceu em 1804 na cidade de Sand Hill, no Condado de Washington. Mais tarde ele

mudou-se para Nova York onde se tornou um mercador de sucesso e também um importador de

artigos da China. Mais tarde Harris se uniu ao Comitê de Educação de Nova York e iniciou

trabalhos nessa área com a fundação da Escola de Nova Iorque, que mais tarde se tornou a

Universidade Townsend Harris.

Em 1847, Harris deixou Nova York para embarcar em uma série de viagens pela Índia e

Pacífico onde conheceu o Comodoro Matthew Perry e, por pouco, não o acompanhou na viagem

até o Japão. Contudo, em julho de 1856, ele foi nomeado o primeiro Cônsul Geral dos Estados

Unidos no Japão, onde abriu o primeiro consulado na cidade de Shimoda na Prefeitura de

Shizuoka. Durante esta missão norte-americana no Japão, Harris iniciou negociações que

resultaram na assinatura do Tratado Harris que assegurou o comércio entre os dois países, mas

ainda assim foi considerado desigual (em termos de partidas e contrapartidas). O tratado definia:

- Intercâmbio de agentes diplomáticos;

- A abertura dos portos de Kobe, Edo, Nagasaki, Niigata e Yokohama para o comércio

internacional;

- Abertura para que cidadãos Norte-Americanos vivessem e fizessem comércio nestes

postos;

- Estabelecimento do princípio de extraterritorialidade para que os cidadãos norte-

americanos fossem submetidos às leis norte-americanas;

- Taxas fixas e baixas para exportação.

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França -

As relações entre França e Japão não foram tão intensas nos períodos que

antecederam a política de reclusão de Tokugawa. Antes desse período há

apenas o episódio em que um samurai passou alguns dias na França quando ia a caminho de

Roma. Após a derrubada da política de reclusão efetuada pelos Estados Unidos, o Japão e França

estreitaram seus laços. Durante o século XIX, os dois países se tornaram grandes aliados nos

campos militares, econômicos, legais e artísticos. Jules Brunet foi decisivo para a modernização

do exército do Bakufu, por exemplo. A França forneceu grandes incentivos para a modernização

da indústria naval japonesa.

O primeiro tratado assinado entre a França e o Japão ocorreu em 1855 – na verdade tal

tratado foi assinado entre a França e a Província de Okinawa. Um tratado bilateral ocorreria

apenas em 1858, assinado em Edo, abrindo as relações diplomáticas entre os dois países. O Japão

então estava muito interessado no militarismo francês e, notando isso, a França enviou, em 1867,

uma missão militar para ajudar na modernização do exército, missão esta que foi liderada pelo

Capitão Jules Brunet.

Jules Brunet - Capitão da Marinha Francesa 29 anos

Nasceu em 12 de janeiro de 1838 em Belford, na região da Alsácia. Graduou-se na École

Polytechnique em 1857, especializando-se em artilharia.

Em 1862, ele participou da intervenção no México enviada por Napoleão III, onde

recebeu a medalha de Légion d’honneur por sua atuação. Mais tarde foi enviado a Yokohama

como membro da primeira missão militar da França no Japão. Em 1898, Brunet foi condecorado

General do Exército Francês.

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A missão militar francesa no Japão foi enviada com o objetivo de treinar as forças de

Tokugawa Yoshinobu e modernizar seu exército. O Capitão Brunet apoiava o shogun em suas

políticas durante a Restauração Meiji e foi seu partidário ferrenho.

Países-Baixos (Holanda) -

O grande trunfo da Holanda em suas relações com o Japão foi ter sido o único

país a estabelecer relações comerciais durante o período de reclusão do

shogunato Tokugawa. Contudo, as relações comerciais entre ambos os países datam de muito

tempo antes do início de tais políticas.

A história de relações entre o Japão e os Países-Baixos durante a política de reclusão gira

exclusivamente em torno da ilha de Dejima ( ), o único entreposto comercial do Japão

naquele momento. Originalmente, o entreposto foi construído para usufruto dos portugueses, para

ensinar no domínio de Echizen que chegaram no Japão em 1550. Enquanto as relações entre

Portugal e Japão se estreitavam, o shogun Tokugawa Iemitsu ordenou a construção do entreposto

que seria localizado na baía de Nagasaki. Dejima então foi construída em 1634 e ocupada pelos

mercadores portugueses. Em 1637, houve um conflito entre os cristãos e os japoneses, em que

holandeses se aliaram ao Japão, expulsando os portugueses em 1638 e assumindo Dejima por

ordens do shogun. A partir de então, apenas os chineses e os holandeses podiam fazer comércio

com o Japão. No início a ilha era administrada pela Companhia Holandesa das Índias Orientais.

Dejima era uma ilha artificial de cerca de 120 por 75 metros de extensão e era ligada ao

Japão por uma ponte, mantendo os estrangeiros, então, longe de solo sagrado do país. Havia

residências para os holandeses, galpões para estocagem de mercadorias e casas para acomodação

de oficiais japoneses, guardas nos portões e um supervisor local. A supervisão geral da ilha ficava

sob a jurisdição de Edo.

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O processo aduaneiro em Dejima ocorria da seguinte forma: os navios que aportavam na

ilha eram inspecionados pelo governador de Edo. Mercadorias como livros religiosos e armas

eram confiscadas. O comércio era bastante lucrativo, apesar dos custos de manutenção da ilha.

Quando o Bakufu instaurou sua política de reclusão, o comércio declinou, mas permaneceu.

Mesmo assim, isso não impediu a falência da Companhia em 1795, fazendo com que o governo

Holandês assumisse o controle da ilha.

Os holandeses foram responsáveis por introduzir vários produtos e costumes ocidentais no

Japão durante esse período – exemplos estão na introdução de esportes como o badmington e o

bilhar. No setor alimentício, os holandeses introduziram a cerveja, o café, o tomate, o chocolate,

etc. O primeiro piano também foi levado ao Japão através de Dejima.

A partir da abertura promovida pelo Comodoro Matthew Perry, o Bakufu passou a

interagir mais com Dejima a fim de conhecer a estrutura naval ocidental. Para tanto, foi

estabelecido um Centro de Treinamento Naval na ilha, no ano de 1855. A interação entre os

holandeses e os japoneses se intensificou muito nesse período. Os holandeses influenciaram

muito a medicina japonesa, além da escola naval. Por isso, em 1857, o posto foi fechado quando

os holandeses foram autorizados a adentrar o território japonês e fazer comércio em outros

portos. Janus Henricus Donker Curtius foi o ultimo comissário a dirigir a ilha de Dejima.

Janus Henricus Donker Curtius - Comissário e Diplomata Holandês 54 anos

Nasceu na Holanda em 1813 e formou-se em Direito na universidade de Leiden. Foi

enviado para Dejima em 1852 e testemunhou a abertura do Japão promovida pelo Comodoro

Matthew C. Perry em 1853.

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Curtius foi responsável pela administração do entreposto de Dejima até seu fechamento,

em 1857. Em 1855, Janus foi responsável pela entrega do primeiro navio de guerra a vapor do

Japão, de fabricação Holandesa, que foi chamado de Kanko Maru. Janus foi responsável pela

formalização de um tratado comercial entre o Japão e a Holanda, em 1856, e a partir de sua saída

do entreposto em Dejima ele se tornou diplomata Holandês no Japão.

IMPÉRIO RUSSO -

Apesar de não muito documentado, o Império Russo iniciou sua tentativa de

abrir o Japão para o comércio na mesma época em que os Estados Unidos faziam a mesma

tentativa. Em 1852, o Almirante Putyatin e sua tripulação embarcaram na fragata ‘Pallada’ e

partiram em uma viagem cujo objetivo era estabelecer contato com o Japão para iniciar comércio

e resolver uma disputa territorial nas Ilhas Kurile.

A missão da fragata era entregar uma carta que predispunha as questões que interessavam

a Rússia naquele momento. Antes de chegar ao Japão, Putyatin conduziu a fragata em outras

rotas para se juntar a outros navios russos a fim de fazer um contato mais eficiente com o Japão.

A missão ocorreu em virtude do Império Russo tomar conhecimento das pretensões norte-

americanas de efetuar uma missão do mesmo porte naquele momento. As ordens dadas ao

Almirante compreendiam que ele deveria retornar com um tratado semelhante ao que seria

assinado por Perry, ou melhor. Contudo, Putyatin chegou ao Japão depois de Perry e decidiu que

observaria de longe seus desenvolvimentos. Três semanas após a partida de Perry, o Almirante

entrou no Japão pela Baía de Nagasaki e contribuiu para a pressão internacional que fez com que

Tokugawa assinasse o tratado com os EUA.

Algum tempo depois, após o naufrágio dos navios de Putyatin devido a um tsunami na

costa de Shimoda, o shogun ajudou o Almirante a construir um novo navio para retornar à Rússia

na esperança de aprender as técnicas de construção de navios dos Russos. Não tardou para que as

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negociações entre ambos os países continuassem. A Rússia tinha grandes interesses em assinar

um tratado com o Japão, em virtude de crer que o Japão poderia ajudar no desenvolvimento da

Sibéria e de outros territórios conquistados no Ártico – como o Alaska – e no Pacífico – como o

norte da Califórnia. Para tanto, o país precisava de um parceiro comercial na região e o Japão era

o candidato perfeito. Os russos ainda se preocupavam com os EUA e seus desenvolvimentos na

região.

As negociações se desenvolveram e, em 1855, o Tratado de Shimoda finalmente foi

assinado entre a Rússia e o Japão. O tratado previa termos básicos para o início das relações entre

o Japão e a Rússia nas seguintes provisões:

- A abertura dos portos de Hakodate e Shimoda para comércio com a Rússia;

- A abertura dessas mesmas regiões para a permanência de oficiais consulares russos;

- As fronteiras entre Japão e Rússia nas ilhas Kurile deveriam ser definidas de modo

que todo território ao norte da região de Erotofu e Uruppu seria de propriedade Russa,

e, ao sul, de propriedade Japonesa;

- E ambas as partes acordaram que a ilha de Shakhalin deveria ser administrada por

ambos os países e que a Rússia deveria destruir sua base militar na região.

Yevfimy Vasilyevich Putyatin - Almirante da Marinha e Embaixador do Império Russo 64 anos

Nasceu em 8 de novembro de 1803, na Rússia. Tornou-se almirante da marinha russa e foi

designado para liderar a missão ao Japão.

Putyatin era um navegador talentoso e foi responsável por uma grande quantidade de

contatos entre a Rússia e os países do Índico e do Pacífico. Ele serviu na guerra entre a Rússia e a

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Turquia em 1828-29. Durante sua missão no Japão, Putyatin passou a maior parte do tempo

observando o exercício norte-americano a fim de verificar seus desenvolvimentos. Mais tarde,

quando teve sua frota naufragada por um tsunami, foi capaz de negociar um tratado com o Japão

para abertura de portos e relações diplomáticas.

O tratado ficou conhecido como Tratado de Shimoda e foi fundamental para as relações

entre os dois países. Mais tarde, em 1861, Putyatin, continuando suas expedições pelo Pacífico e

Índico, assinou um tratado com China – o Tratado de Tientsin. Apesar do tratado de Shimoda, o

Japão e a Rússia ainda mantêm até hoje as discussões a respeito das Ilhas Kurile (conhecidas no

Japão como Ilhas Chishima ou Ilhas Kuriru), além de algumas disputas territoriais no norte do

pacífico.

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CAPÍTULO 6

CONCLUSÃO

Um Novo Começo

A Restauração Meiji foi um novo e grande começo para a nação japonesa. Todo

o movimento que resultou na troca do regime feudal para o regime Imperial moderno,

teve base em uma virtude inerente ao povo japonês até os dias de hoje: o amor pela pátria

japonesa.

A narrativa que empreendemos nos capítulos deste Guia nos mostra exemplos desse

nacionalismo. Quando samurais viajavam à China, por exemplo, e se deparavam com uma

situação em que chineses se curvavam diante dos britânicos em sua própria terra natal, eles

demonstravam seu sentimento de repúdio a tais posturas e se movimentavam para que o mesmo

não acontecesse ao Japão. Quando eles se viam às voltas com estrangeiros que chegam se

impondo e empurrando “goela abaixo” dos japoneses suas vontades e seu modo de vida, sem o

menor respeito às necessidades e vontades do país, os japoneses não desistiam de lutar por nem

um momento. Sua luta emergiu nos corações de bravos guerreiros que, por vezes, atacaram os

estrangeiros para aterrorizá-los. Outras vezes defenderam bravamente suas represálias – como no

incidente do Estreito de Shimonoseki.

Temos certeza hoje que os resultados dessa luta levaram o Japão a ser uma das nações

mais ricas, desenvolvidas e poderosas do mundo atual. Ele não teve o mesmo destino de

subdesenvolvimento que outras nações colonizadas pelos europeus, sejam as africanas ou as sul-

americanas.

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O Japão recebeu o modo de vida ocidental à sua maneira, aliado ao espírito de uma nação

abençoada por deuses com um governante de sua prole – o Imperador – e mentes que jamais se

esqueceram da honra dos samurais, do suor do seu povo e do sangue derramado na Sengoku-

Jidai, na Batalha de Sekigahara e na Guerra de Boshin.

Os homens que empreenderam a Restauração Meiji podem ser considerados grandes

heróis de uma nação orgulhosa. Heróis que fizeram o Japão prosperar em meio à sua inserção no

cruel capitalismo. Pessoas brilhantes que conduziram o país a ser o que é hoje. Uma nação que se

tornou uma potência, que teve papéis fundamentais nas duas Guerras Mundiais, que sofreu do

flagelo do ocidente por muitas vezes em sua história. Uma nação que se ergueu de forma

triunfante em todas essas vezes. Após a Esquadra Negra, a Restauração Meiji; após Hiroshima e

Nagasaki, uma potência econômica e tecnológica; e em meio à massificação cultural do novo

século, uma cultura legítima.

A Restauração foi um movimento que teve tais resultados por ser muito particular em sua

essência. Muitos autores que lemos – Paul Akamatsu, David Bergamini, Daikichi Irokawa,

Richard Storry, Colin Baker e outros – nos indicam que o movimento que tomou lugar no Japão

em 1867-68 foi engrenado por suas classes superiores. Muitas vezes eles dizem que foi uma

“revolução de cima” – ‘revolution from above’, em seus originais –, mas o que aprendemos aqui

é que a revolução não começou “de cima”. Ela pode ter sido engrenada pelos homens que

compuseram a Oligarquia Meiji, mas ela jamais começou por eles.

Como mostrado no texto deste trabalho, a Restauração se iniciou no âmago dos povos que

sofriam com os efeitos adversos do regime de Tokugawa; nas grandes insatisfações que

emergiam dia após dia em virtude do crescente empobrecimento que a política de reclusão e a

tributação por koku causavam; e nas mentes dos samurais que perdiam seu espaço e ficavam mais

pobres que os mercadores. E, por fim, ela tomou corpo nas mentes daqueles que enxergaram a

verdadeira ameaça por trás da chegada do Comodoro Matthew Perry, como o brilhante Takasugi

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Shinsaku ou Katsu Kaishu; naqueles que se mobilizaram para combater tais ameaças como Kido

Koin, Saigo Takamori, Sakamoto Ryoma; e naqueles que tiveram vontade e brilhantismo político

para fazer a restauração como Okubo Toshimichi, Iwakura Tomomi, Ito Hirobumi e até mesmo

Meiji Mutsuhito.

Por trás da Restauração estavam os nomes que fizeram o movimento acontecer. Os nomes

de homens que eram elite em suas províncias, que eram de fato vindos “de cima”. Mais ainda,

por trás destes homens estavam os anseios de outros homens. Samurais pobres, lavradores de

arroz, fabricantes de sake, mercadores de remédios, fabricantes de kimonos, gueixas, ronins,

monges de templos budistas e xintoístas, ferreiros, pescadores, toda a sociedade japonesa que

ansiava por mudança. Mudança que vinha para dar um novo alento ao povo assolado pela

pobreza, que vinha para dar proteção às constantes ameaças externas, que vinha para transformar

o Japão. A Restauração Meiji foi uma revolução de todo o povo japonês.

Hoje o Japão é segunda maior economia do mundo, acumulando cerca de 4,5 trilhões de

dólares em PIB por ano.16 O Japão possui o maior banco do mundo, o Mitsubishi UFJ Financial

Group, que movimenta cerca de 1,7 trilhões de dólares ao ano.17 O setor de ciência e tecnologia

também é grande no país, gerando um orçamento de 130 bilhões de dólares.18 Todas essas cifras,

esse desenvolvimento, essa economia sólida tem suas origens na Restauração Meiji.

Compreender o Japão de hoje é compreender o Japão de 1867-68. A nação que se

configura hoje teve sua pedra fundamental na Restauração Meiji. E jamais na história do mundo

16 CIA World Factbook - Japan. Disponível em <https://www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/ja.html>. Acesso em: 20 dez. 2006. 17 Mitsubishi UFJ Financial Group, Inc. Consolidated Financial Information (31 jul. 2006). Disponível em <http://www.mufg.jp/english/ir/fs/backnumber/2007mufg-mar-1q/pdffile/mufg2007_1q_e.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2006. 18 McDonald, Joe. OECD: China to spend $136 billion on R&D. Business Week. Disponível em <http://www.businessweek.com/ap/financialnews/D8LQ0OI00.htm>. Acesso em: 28 dez. 2006.

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houve um movimento de renovação que mudasse tanto em tão pouco tempo e que trouxesse tanta

prosperidade para gerações a fio.

Essa foi a Restauração Meiji.

Bernardo Silva Martins Ribeiro

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O Caminho do Guerreiro

Então, caríssimos delegados, chegamos ao fim de nosso Guia – que é, na verdade, ainda o

princípio de nossa jornada ao passado japonês. Compreender todos os aspectos descritos

anteriormente fará com que seja possível que vocês façam uma revolução à sua “própria

maneira”, em circunstâncias, de fato, especiais.

Creio que esta seja a oportunidade perfeita para pensarmos sobre questões-chave não

somente da sociedade japonesa, como da nossa própria. Pontos como a honra samurai, lembrada

hoje somente pelos entusiastas dos estudos orientais – algo tão fantástico, mas que acabou por

morrer pelo contato com a ganância infindável e a sede por expansão dos chamados “demônios

estrangeiros”.

Os objetivos de superação, evolução e vitória, assim como o acontecimento da vergonha

nos casos de falha, são considerados por muitos como um extremismo desnecessário em uma

filosofia bonita e bem construída – o que muitas vezes, leva as pessoas a não encarar os

ensinamentos do bushido (‘caminho do guerreiro’) como algo possível atualmente. No entanto, a

opinião deste servo é que os preceitos básicos do mesmo devem estar nas mentes e corações de

todos a qualquer momento.

GI, YU, JIN, REI, MAKOTO, MEIYO, CHUGO. Em linhas gerais: justiça e senso de

moral, coragem e bravura, compaixão e benevolência, polidez e cortesia, sinceridade a qualquer

custo, honra e glória, dever e lealdade, respectivamente.

Apesar de tudo, sou obrigado a discordar um pouco de um dos maiores samurais da

história do Japão, o grandioso Miyamoto Musashi, que, em seu livro intitulado Gorin No Sho

(Livro dos Cinco Anéis), diz:

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O bushido, significa a vida total do guerreiro, sua devoção à espada, seu respeito às normas ditadas pelo Confucionismo. Não é apenas um sistema de ética a ser seguido pelas classes sociais. É a estrada do cosmo, os vestígios sagrados dos Céus, apontando o Caminho. (MUSAHI, 2006 p 248)

Creio que sim, os ideais pregados pelo caminho do guerreiro devem ser seguidos por

todos que se julgarem aptos a seu cumprimento, sendo que caberá à morte julgá-los como certos

ou errados. No entanto, em uma sociedade de valores cada vez mais corruptos, não é fácil

encontrar verdadeiros guerreiros, que irão fazer jus à gloriosa memória de inúmeros samurais,

mas saber que esses existem nos faz continuar olhando para frente com esperança.

Alguns irão encarar os dizeres acima como meros devaneios utópicos, ou palavras de um

jovem de suposta inocência; mas se estás no mundo para morrer, que isto seja feito

gloriosamente, para que sua memória viva para a eternidade, como a maior parte dos personagens

que vocês irão incorporar em nossa simulação.

Por fim, fica aqui o desejo de que para sempre essa chama queime dentro de vocês, de

honra e glória. E que nunca percam a pose que irão adquirir nestes dias, de verdadeiros samurais.

Mesmo aqueles que não incorporarem os mesmos. Estamos aqui falando do “espírito maior”, da

aura que circundará todos os presentes.

Finalizo então, apenas com os dizeres:

����������������-�� (doumo arigatou gozaimasu minna-san).

Obrigado a todos vocês.

Gabriel Costa dos S. Oliveira

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livros

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Artigos On-Line

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ANEXO I Mapa do Japão em 1867

Localização das Províncias e Domínios de Tokugawa Fonte: http://www.loyno.edu/~seduffy/japanmap.jpg. Acesso em: 19 jan. 2007. Tradução da Legenda:

- Domínios de daimyos externos – Tozama – que tiveram papel importante na restauração de 1853 até 1868;

- Principais áreas dos domínios shogunais; - Tokaido (Rota Comercial).