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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ÉRIKA LORENA FERREIRA ALVES A VULNERABILIDADE DO USUÁRIO DE DROGAS NO TRATAMENTO DO HIV/AIDS. FORTALEZA 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ÉRIKA LORENA FERREIRA ALVES

A VULNERABILIDADE DO USUÁRIO DE DROGAS NO TRATAMENTO DO

HIV/AIDS.

FORTALEZA

2013

II

ÉRIKA LORENA FERREIRA ALVES

A VULNERABILIDADE DO USUÁRIO DE DROGAS NO TRATAMENTO DO

HIV/AIDS

Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Sob a orientação da professora Laurinete Sales Andrade.

FORTALEZA

2013

III

ÉRIKA LORENA FERREIRA ALVES

A VULNERABILIDADE DO USUÁRIO DE DROGAS NO TRATAMENTO DO

HIV/AIDS.

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: ___/___/2014

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________ Ms. Laurinete Sales Andrade

_______________________________________________________________ Ms. Flaubênia Maria Girão de Queiroz

_______________________________________________________________ Ms. Valney Rocha Maciel

IV

Dedico essa monografia a todos que me ajudaram a

construir essa conquista.

À minha amada família, ao meu amor Bruno e aos

amigos que conquistei nessa jornada.

Muito obrigado: AMO TODOS.

V

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado o dom de viver, ao pai amado que esteve comigo

nessa jornada, obrigado Deus, por ter colocado pessoas maravilhosas na minha

vida, por nunca me deixar desistir e me dar forças quando achei que não daria certo.

À minha família amada, eu agradeço por sempre apoiar meus passos e

segurar minha mão. Ao meu irmão que é meu exemplo de vida: Obrigada pela

dedicação e empenho que você sempre me oferta, que sempre ofertou desde os

meus primeiros dias de vida. Eu te amo meu velho. À minha mãe, agradeço por

sempre estar comigo, movendo montanhas para me oferecer o que há de melhor.

Você, mulher guerreira que nunca desistiu de seus objetivos me ensinou que não

importa o quanto seja difícil: eu posso conseguir. Essa vitória é sua mãe.

Ao meu companheiro e grande amor Bruno, deixo meu eterno

agradecimento por estar ao meu lado em todos os transtornos que vivenciei nesse

período acadêmico. Por ser paciente em todas as ausências, todos os momentos de

stress, principalmente nesta reta final que não pude controlar meus turbilhões de

sentimentos e emoções. Te agradeço meu bem, por sempre me apoiar e me

oferecer carinho quando mais preciso. Essa vitória é sua, e agora juntos, vamos

trilhar nosso caminho, como sempre sonhamos desde a nossa primeira música:

“Amor verdadeiro, amor sem palavras, que chega sem medo Que não se acaba...

Deus abençoe todo esse amor. Que seja lindo em teu coração, porque em mim, eu

sei: Amo você”.

À minha orientadora Laurinete Sales (Lauri), agradeço a dedicação e

paciência, em mim investida. Você foi parte essencial nesse processo da construção

da monografia. Com todas as minhas dificuldades, percebi em você a segurança e

otimismo de que tudo ia dar certo. Obrigada por tudo e Parabéns por ser esse

profissional maravilhoso que és.

Agradeço às professoras da banca examinadora: querida Flaubênia e a

magnífica Valney. Obrigada por aceitarem meu convite e participar comigo desde

momento tão importante.

Meu agradecimento cheio de carinho é para minhas maiores

companheiras de jornada. Obrigada Andréa, Cristina M, Cristina S, Glaucia, Marlúcia

VI

e Mirnna, Eliene Brito e Nathalie e sem vocês essa batalha não seria vencida. Com

vocês percebi o valor de uma amizade, e vou levá-las comigo por onde eu for.

A ela, que amo incondicionalmente e que me mostrou o melhor de uma

amizade, simples e sincera. A ela que levo comigo no coração com muito carinho, e

que nunca deixarei fugir de mim, que nunca deixarei o tempo e a distância apagar os

traços e as linhas da nossa amizade: A você Fernanda Braga Gondim, que esteve

comigo nessa estrada, lhe deixo meu muito obrigado minha irmã. “... seja você quem

for: eu te conheço muito bem, e isso faz bem pra mim, isso faz bem pra vida. Onde

quer que vá, eu vou estar também... Bendito encontro, na vida AMIGA”.

As minhas amigas VERDADEIRAS Lauana Cavalcante (futura A.S),

Priscila Oliveira, Suzy Maia, Eva Costa e Liliane Gama, agradeço por sempre

estarem comigo e acreditarem em mim. Como também pela compreensão das

minhas longas ausências. “... é tão forte quanto o vento quando sopra, tronco forte

que não quebra, não entorta, pode crer, podes crer: eu tô falando de amizade” Amo

Vocês. Sou grata aos docentes que passaram pela minha jornada acadêmica, e a

minha turma CSS082, do ano letivo 2013.1. Juntas compartilhamos muitas vivencias

nestes quatro anos.

Aos amigos que conquistei na FAC, citar todos não caberia aqui. Mais a

todos que por algum momento estiveram comigo e levarei em meu coração sempre.

Especialmente: Veeh Ribeiro, Stheysse, Igor, Aldo, Rogério, Vivi Barbosa.

À companheira e grande amiga Elzineide Marques, sem você minha flor

eu não conseguiria chegar ao fim desta jornada. Obrigada, amo você.

Como não poderia faltar, agradeço imensamente as amigas Albanita

Pontes e Maria de Lourdes, supervisoras de estágio, que desde o primeiro dia me

acolheram como uma filha. Vocês moram em meu coração.

Agradeço à minha grande amiga Rosane Andrade, que me acompanha

desde meus primeiros passos acadêmicos, deixo meu agradecimento eterno. Como

também ao meu chefe e amigo, Edglei Marques, que sempre me apoiou e me deu

oportunidades para concluir minha graduação, e o companheiro Frank Lima por

tanta atenção que me dedicaste.

Enfim, agradeço a todos que de algum modo participaram desta etapa em

minha vida.

VII

“Nunca deixe que lhes digam que não vale a pena acredita num sonho que se tem. Ou que seus planos

nunca vão dar certo, ou que você nunca vai ser alguém.” (Renato Russo)

VIII

RESUMO

O presente estudo investiga a questão da vulnerabilidade dos usuários de drogas no tratamento do HIV/AIDS, no Hospital São José. Tem como objetivo geral Investigar os sentimentos, percepções e perspectivas das pessoas que vivem com HIV/AIDS e que fazem uso de drogas, os específicos de: Compreender a realidade de um portador do vírus HIV com dependência química; Identificar as dificuldades das pessoas que vivem com HIV/AIDS com dependência química em realizar o tratamento; Analisar as mudanças em suas vidas após o diagnóstico. O trabalho foi realizado por meio de uma pesquisa qualitativa, tendo como sujeitos os pacientes internados com diagnóstico de HIV/AIDS que se declarassem usuários de drogas. Foram realizadas 12(doze) entrevistas semi-estruturadas, gravadas. Para análise dos dados, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo. Os resultados obtidos foram eleitos por categorias e subcategorias. Os resultados mostraram a dificuldade dos sujeitos em lidar com o diagnóstico. O preconceito e a discriminação ainda se apresentam presente nos discursos dos entrevistados e uso de drogas se revelou com um grande dificultador na adesão ao tratamento. Concluímos que existe a necessidade de serem implantados projetos/serviços específicos para tratar com o grupo de pessoas que convivem com a AIDS e são usuários de drogas, buscando o incentivo deste, aproximá-los do seio familiar e buscar a inclusão destas pessoas na sociedade. Para isso, podemos perceber a necessidade não apenas dos programas de atuação, mais como também a qualificação dos profissionais de saúde, para que tratam a problemática de forma integral.

Palavras-chave: Usuários de Drogas, AIDS, Vulnerabilidade.

IX

ABSTRACT

The present study investigates the issue of vulnerability of drug users in treatment of HIV / AIDS, in St. Joseph Hospital has the general objective to investigate the feelings, perceptions and perspectives of people living with HIV / AIDS and who use drugs , specific to: Understand the reality of the HIV virus with chemical dependency; Identify the difficulties of people living with HIV / AIDS with chemical dependency in performing the treatment ; analyze changes in their lives after diagnosis . The study was conducted through a qualitative research, having as subjects hospitalized with a diagnosis of HIV / AIDS who reported users of drugs patients. Twelve (12) semi-structured, recorded interviews were conducted. For data analysis, the technique of content analysis was used. The results were elected by categories and subcategories. The results showed the difficulty of the subject in dealing with the diagnosis. Prejudice and discrimination still present this in the interviews and drug use is revealed with a big impediment to treatment adherence. We conclude that there is a need to be implemented specific projects / to deal with the group of people living with AIDS and drug users are seeking encouragement this , bring them within the family and seek to include these people into society . For this, we realize the need not only of action programs, as well as the most qualified healthcare professionals , to treat the problem holistically .

Keywords: Drug Users, AIDS, Vulnerability.

X

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Idade dos usuários participantes da pesquisa...........................................52 Gráfico 2 Escolaridade os Usuários participantes da pesquisa.................................52 Gráfico 3 Idade do inicio do uso de drogas................................................................53 Gráfico 4 Estado Civil dos Entrevistados...................................................................54 Gráfico 5 Vínculos ativos com os familiares...............................................................55 Gráfico 6 Consumo regular de crack e similares por região no Brasil em 2012 .......56

XI

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA - Alcoólicos Anônimos

AIDS - Acquired Immunodeficiency Syndrome (Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida)

CAPS/AD - Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas

Creaids - Centro de Referência Estadual de AIDS

DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis

HIV – Human Immunodeficiency Virus (Vírus da Imunodeficiência Humana)

HSJ – Hospital São José

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia Estatística

Ibope - Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística

INPAD - Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Drogas

LACEN - Laboratório Central de Saúde Pública do Estado

Lenad - Levantamento Nacional de Álcool e Drogas

LSD - Lyserg Säure Diethylamid (Dietilamida do Ácido Lisérgico)

MS – Ministério da Saúde

NA – Narcóticos Anônimos

OMS – Organização Mundial da Saúde

PNAD- Política Nacional de Álcool e Drogas

PVHA – Pessoas Vivendo com HIV/AIDS

RD - Redução de danos

SAE - Serviço Ambulatorial Especializado

SENAD - Secretaria Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas

SESA – Secretaria de Saúde do Estado do Ceará

SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade

SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SNC - Sistema Nervoso Central

XII

SUS - Sistema Único de Saúde

UDI – Usuários de Drogas Injetáveis

UNAIDS – Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS.

XIII

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14

2 HIV/AIDS ELEMENTOS PARA UMA DISCUSSÃO .................................... 17

2.1 Contextualizando a AIDS ......................................................................... 17

2.2 AIDS no Brasil .......................................................................................... 20

2.3 AIDS no Ceará .......................................................................................... 22

2.4 Questão Social da AIDS ........................................................................... 25

2.5 Vulnerabilidade ......................................................................................... 28

3 O USO DE DROGAS E SUAS COMPLEXIDADES ...................................... 32

3.1 História e contextualização da dependência química ........................... 32

3.2 Vulnerabilidade e o uso de drogas ......................................................... 37

3.3 O Consumo de drogas e a relação com a AIDS ..................................... 41

4 PERCURSOS METODOLÓGIICOS E RESULTADOS ................................ 47

4.1 Percurso Metodológico ............................................................................ 47

4.1.1 Natureza do estudo ................................................................................. 47

4.1.2 Campo de estudo .................................................................................... 47

4.1.3 Sujeitos do estudo ................................................................................... 48

4.1.4 Técnicas de coletas de dados ................................................................. 49

4.1.5 Analises dos dados ................................................................................. 49

4.1.6 Aspectos éticos das pesquisas ............................................................... 50

4.2 Resultados ................................................................................................ 51

4.2.1 Caracterização dos usuários Natureza do estudo ................................... 51

4.2.2 Análises das entrevistas .......................................................................... 55

4.2.2.1 A realidade das drogas ........................................................................ 55

4.2.2.2 AIDS e suas descobertas .................................................................... 59

4.2.2.3 Drogas e AIDS: os dilemas do tratamento ........................................... 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 68

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 71

APÊNDICES .................................................................................................... 77

ANEXOS .......................................................................................................... 79

14

INTRODUÇÃO

Os cientistas e pesquisadores começam a reconhecer, em 1981, o

surgimento de uma nova doença que destrói o sistema imunológico do corpo,

evitando que seus portadores consigam combater infecções simples. No mesmo

ano, o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos da América (EUA)

publica o primeiro artigo sobre cinco homossexuais com um tipo raro de pneumonia.

A infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida – HIV acomete os indivíduos em

três fases distintas: no inicio da infecção, na fase silenciosa e na doença clínica

(CHAVES, 2009).

AIDS, sigla em inglês correspondente à síndrome da imunodeficiência

adquirida, que se instala quando pessoas infectadas pelo HIV encontram-se com o

sistema imunológico comprometido, deixando o organismo mais vulnerável a

diversas doenças oportunistas. Entre o ano de 1982 até junho de 2012 foram

notificados 656.701 casos de AIDS no Brasil, sendo que ocorreram 253706 óbitos

declarados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) de 1980 até 2012.

(BRASIL, 2012).

O uso de drogas é considerado um grave problema de saúde pública e

falar sobre drogadição é discutir o processo saúde/doença, considerando-se os

modelos que contribuem para a compreensão do fenômeno no momento atual e das

estratégias de intervenção estabelecidas. Pratta (2009) refere que os usuários de

drogas são vistos pela sociedade de formas excludentes, porém, para

considerarmos como uma doença, o olhar deve ser direcionado sob outra

perspectiva: de que se trata de um problema em que o portador perde o controle do

uso da substância e sua vida psíquica, emocional, espiritual e física vão se

deteriorando gravemente.

Em Pratta (2009) vimos que a relação do uso de drogas e HIV/AIDS não

está apenas no contágio, mais como também no tratamento, o usuário de drogas,

possui um comportamento de alto risco no que se fala do tratamento de

antirretrovirais. A vulnerabilidade dessas pessoas deve ser tratada não apenas como

mais um aspecto relacionado ao adoecimento pelo HIV/ AIDS e uso de psicoativos,

mas no contexto da realidade vivida pela questão social, onde sabemos que o

15

sistema de saúde busca melhorias que ainda não são suficientes para atender a

demanda da sociedade, com a devida qualidade e atenção.

Diante desse contexto, o trabalho se propôs investigar as dificuldades

vivenciadas pelas pessoas que vivem com HIV/AIDS. Esta pesquisa nos fez

entender a realidade dos pacientes de AIDS que são usuários de drogas e

direcionou um olhar para os pacientes atendidos pelo Hospital São José, com o

objetivo de entender estas dificuldades em aderir e permanecer no tratamento, o que

se passa na vida e rotina de um portador do vírus da AIDS e é usuário de drogas?,

Quais os problemas enfrentados por paciente no tratamento? Quais são os seus

sentimentos? Qual a sua percepção em relação à situação vivida?

A aproximação com o tema parte da experiência de estágio curricular

obrigatório do curso de Serviço Social desenvolvido no Hospital São José. Durante

os plantões, observei que grande parte dos pacientes de HIV/AIDS do hospital eram

usuários de drogas, e nos despertou o interesse de entender a realidade daqueles

usuários, diante do tratamento. Analisar os aspectos como a discriminação,

aceitação da família e a perspectiva do conceito de vulnerabilidade.

No primeiro capítulo iniciamos o trabalho com a aproximação da temática

AIDS, fizemos um resgate do desenvolver de sua história no Brasil, depois os atuais

dados dentro do Ceará. O capitulo se encerra com uma análise sobre a questão

social da AIDS, e uma abordagem sobre a vulnerabilidade das pessoas que

convivem com a doença.

O segundo capítulo faz um resgate sobre o surgimento das drogas, e uma

contextualização. Observamos também a vulnerabilidade do usuário de drogas e

também o a relação do consumo de drogas com a AIDS.

No terceiro capítulo apresentamos os resultados e análises dos dados

coletados referente ao objeto e que estão no escopo da investigação. Nesse estudo,

observamos a atual realidade dos entrevistados e analisamos com bases nos

estudos feitos por nós até o momento, embasados teoricamente nos autores que

tratam o tema.

Acreditamos então, que esta pesquisa venha acrescer positivamente para

os estudos da área, tendo em vista que os seus objetivos foram alcançados,

sabendo que é importante promover discussões sobre a realidade social, dentro da

16

perspectiva vivenciada pelas pessoas que vivem com HIV/AIDS e são usuárias de

drogas.

17

2 HIV/AIDS: ELEMENTOS PARA UMA DISCUSSÃO

2.1 Contextualizando a AIDS

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foi reconhecida em

meados de 1981, nos Estados Unidos da América - EUA, a partir da identificação de

um número elevado de pacientes adultos do sexo masculino, homossexuais e

moradores de São Francisco ou Nova York, que apresentavam sarcoma de Kaposi,

pneumonia por Pneumocystis carinii e comprometimento do sistema imune, o que

levou à conclusão de que se tratava de uma nova doença, ainda não classificada, de

etiologia provavelmente infecciosa e transmissível (CORDAZZO, 2004).

O Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV, o causador da AIDS ataca o

sistema imunológico, o qual é responsável por defender o organismo de doenças.

Biologicamente o HIV é um retrovírus, classificado na subfamília dos Lentiviridae.

Como processo de contágio, o vírus compartilha algumas propriedades comuns:

período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença,

infecção das células do sangue e do sistema nervoso e supressão do sistema

imune. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+, e é alterando o DNA

dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo, depois de se multiplicar, rompe os

linfócitos em busca de outros para continuar a infecção, desta forma entende-se que

ter o HIV não é a mesma coisa que ter a AIDS (BRASIL, 2006).

A AIDS é o estágio mais avançado da doença, que ataca o sistema

imunológico, o vírus destrói as células de defesa do corpo humano, e

consequentemente, o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças

oportunistas. Um simples resfriado da causa a infecções mais graves como

tuberculose ou câncer. O próprio tratamento dessas doenças fica prejudicado

Existem muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem

desenvolver a doença, mas, podem transmitir o vírus a outros pelas relações

sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento seringas contaminadas ou de mãe

para filho durante a gravidez e a amamentação (BRASIL, 2006).

18

Segundo Brito (2008), a epidemia da infecção pelo HIV/AIDS constitui

fenômeno global, resultante das profundas desigualdades da sociedade mundial, a

propagação da infecção pelo HIV e da AIDS revela epidemia de múltiplas dimensões

que vêm sofrendo grandes transformações epidemiológicas. Inicialmente restrita aos

grandes centros urbanos e marcada pelos membros do sexo masculino. A atual

epidemia do HIV e da AIDS caracteriza-se pelos processos de heterossexualização,

feminização, interiorização e pauperização, assim Cotran afirma:

Em junho de 1981, os Centros para Controle de Doenças dos Estados Unidos relataram que cinco homossexuais jovens do sexo masculino, da região de Los Angeles, tinham contraído pneumonia por Pneumocystis carinii. Dois deles haviam morrido. Esta comunicação assinalou o início da epidemia de uma retrovirose caracterizada por imunossupressão intensa associada a infecções oportunistas, neoplasias secundárias e manifestações neurológicas, que se tornou conhecida como AIDS (et al 2000, p. 194).

Souza (2011) discorre que enquanto acontecimento histórico recente, a

rápida resposta tecnológica na qualidade dos exames laboratoriais para o

diagnóstico, o monitoramento e o tratamento medicamentoso de elevada potência,

possibilitaram às coletividades de alguns países o acesso ao tratamento. Para além

dos aspectos etiológico-biológicos, o processo de construção social da AIDS, sua

transmissão, localização e as dimensões sociais da doença são acompanhadas

pelas dimensões científicas, política, econômicas, jurídicas, morais e atravessadas

pela dimensão simbólica, que lhe confere significados e sentido.

Nos primeiros anos da epidemia a quase totalidade dos casos de AIDS

eram notificados entre homens, com altos coeficientes de incidência. No início da

década de noventa, a frequência de casos entre mulheres cresceu

consideravelmente e a transmissão heterossexual passou a ser a principal via de

transmissão (BRASIL, 2003).

Em associação ao uso de drogas injetáveis, a transmissão sanguínea é

um meio de transmissão do HIV, devido ao uso compartilhado de seringas e

19

agulhas. Essa via de transmissão adquire importância crescente em várias partes do

mundo, como na Ásia, América Latina e no Caribe. Os casos por transmissão

sanguínea diminuíram significativamente em todas as regiões, em ambos os sexos.

Ao longo da ultima década, de 1980 a 2006 foram notificados 2.831 casos de AIDS

na subcategoria transfusão de sangue nos pais (BRASIL, 2006).

Já a taxa de transmissão vertical do HIV, que representa a porcentagem

de infecção da mãe para o bebê, vem apresentando redução gradativa. Como

consequência, a incidência de AIDS em menores de cinco anos - que em 2000 era

de 5,4 casos por 100 mil habitantes - diminuiu para 3,0 casos por 100 mil habitantes

em 2009. As inúmeras ações que estão sendo adotadas pelo governo brasileiro,

que irão contribuir para o país chegar à meta de 2% de transmissão vertical. Entre

as iniciativas, o diretor cita a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da

Mulher - desenvolvida em parceria com outros órgãos de governo - e o Plano

Integrado de Enfrentamento da Feminização do HIV/AIDS e outras DST, em parceria

com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (BRASIL, 2011).

Segundo Pinto (2007), a AIDS foi responsável por mudanças significativas

em outros campos que somente restritos a saúde. Por combinar comportamento

sexual e doença, o vírus acarretou desafios para a área científica, trouxe novos

atores para os movimentos sociais e atinge as pessoas em proporção geométrica,

sem distinção social, econômica, racial, cultural ou política. A autora diz que ainda

que, para podermos fazer uma reflexão sobre a situação da AIDS no mundo, vamos

ressaltar alguns dados: diariamente 14 mil pessoas são infectadas pelo HIV, e desde

o início da epidemia 20 milhões de pessoas morreram em consequência do vírus.

Dados da UNAIDS mostram que pelo menos 2,5 milhões de pessoas contraíram o

vírus do HIV em 2011. Os números confirmam a tendência decrescente das novas

infecções que, em uma década, caíram 20%.

20

2.2 AIDS no Brasil

Os primeiros casos de AIDS no Brasil foram identificados na década de

1980 nas maiores regiões metropolitanas do país, principalmente nas mais

influentes: São Paulo e Rio de Janeiro. A proliferação da epidemia de HIV mobilizou

a sociedade brasileira, que na década de 1980, vivia um período de luta pela

redemocratização.

Confirmam Granjeiro, Silva e Teixeira (2009), quando dizem que, ao final

da década de 1980, os indicadores epidemiológicos da AIDS no Brasil eram

semelhantes aos de muitos países da África Austral, onde, atualmente, a epidemia

apresenta contornos alarmantes. Na época, análises apontavam para o risco da

epidemia se generalizar na população brasileira e provocar expressivo impacto na

economia e na saúde. Esse temor era justificado pela velocidade de crescimento da

doença no Brasil, um país marcado pela diversidade social, econômica e cultural,

pelo surgimento de um expressivo número de novos casos entre mulheres e homens

heterossexuais e pela manutenção de incidências altas em grupos sociais mais

vulneráveis.

Estima-se que entre as mulheres afetadas pela doença, a maior parte

delas tem idade de 15 a 34 anos, e em idade reprodutiva. Em 2012 a contaminação

em mulheres chega a 14,7% da taxa de incidência (por 100.000 habitantes) de

casos de AIDS notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação –

SINAN (BRASIL, 2012).

Oliveira (2009) reflete que em resposta ao surgimento dos casos de AIDS

no país, como política brasileira, em 1986 foi criado o Programa Nacional de

DST/AIDS, e também realizada a VIII Conferência Nacional de Saúde que

consagrou as propostas da luta pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Tendo em vista que o início dos anos de 1990 foi marcado pela ação do Programa

Nacional por meio de campanhas que, a princípio, repercutiam a imagem

discriminatória do HIV sobre a premissa de que a AIDS não tem cura e mata. Além

disso, tais campanhas voltavam-se estritamente aos grupos de risco. A mobilização

social organizada reivindicou a mudança na perspectiva de abordagem do Programa

21

Nacional para que este pautasse suas ações no sentido da prevenção, luta contra

discriminação e o preconceito e a defesa da solidariedade e dos direitos das PVHA.

Os rumos da epidemia no Brasil têm delineado tendências ao longo dos

últimos dez anos. A primeira delas é a sua heterossexualização, embora inicialmente

se acreditasse que o vírus HIV atingiria apenas “grupos de risco” referindo-se

principalmente aos homossexuais, gradualmente essa terminologia englobaria

outros grupos, tais como hemofílicos, usuários de drogas injetáveis e profissionais

do sexo. Outra característica é a sua interiorização, pois se no início a epidemia

atingia mais os grandes centros urbanos e o litoral, ao longo dos anos ocorreu um

aumento do número de municípios com os casos da doença.

No Brasil (2013) a última tendência é a feminização, que diz respeito ao

aumento do número de casos de HIV entre mulheres. Essa expressiva participação

das mulheres no perfil epidemiológico da doença pode ser constatada pela

progressiva redução da razão de sexo entre todas as categorias de exposição ao

vírus, de 24 homens: uma mulher em 1985, para dois homens: uma mulher em

1999/2000.

De acordo com o relatório da UNAIDS, Brasil (2007), estima-se que

existam, atualmente, 33,2 milhões de pessoas com HIV em todo mundo e que

ocorreram 2,5 milhões de novas infecções em 2007. Segundo o documento, o Brasil

tem um terço das pessoas que vivem com HIV na América Latina. No país,

destacam-se a diminuição da prevalência em usuários de drogas injetáveis (UDI),

relacionada aos programas de redução de danos; e o aumento em mulheres, cuja

infecção é atribuída nesse relatório principalmente ao comportamento sexual de

seus parceiros. Galvão (2002) afirma que a conquista do acesso gratuito e universal

para o tratamento em HIV/AIDS, foi uma das maiores em tempos de luta.

Entre o ano de 1982 até junho de 2012, foram notificados 656.701 casos

de AIDS no Brasil, sendo que ocorreram 253.706 óbitos declarados no Sistema de

Informações sobre Mortalidade – SIM de 1980 até 2012. (BRASIL, 2012).

Romancini (2010) refutou que no início da década de 90, o Banco mundial

estimou que até 2000, 1,2 milhões de brasileiros estariam infectados com HIV e/ou

22

teriam AIDS. Contudo, em decorrência das medidas preventivas e o acesso

universal ao tratamento do HIV/AIDS, o número previsto foi reduzido à metade.

Tratando-se das repercussões com a descoberta da AIDS no Brasil,

Galvão (2002) que um das facetas mais conhecidas do programa brasileiro de AIDS

foi distribuição gratuita, e universal, de antirretrovirais para o tratamento do

HIV/AIDS na rede pública de saúde. Tal distribuição é totalmente subsidiada pelo

Tesouro Nacional, ou seja, faz parte do orçamento do Ministério da Saúde. Mas, ao

lado da distribuição, vem ganhando importância a produção nacional de

medicamentos, que é apresentada como uma estratégia fundamental para a

manutenção do programa de distribuição, sobretudo a produção local dos

antirretrovirais proporcionou destaque internacional à forma como o Brasil enfrenta a

epidemia.

Os custos do tratamento são oriundos dos empréstimos feitos junto ao

Banco Mundial ao Brasil - que beneficiam o programa nacional de AIDS - mas tais

empréstimos não são para a compra de medicamentos anti-HIV. Os componentes

do Acordo de Empréstimo incluem, basicamente, prevenção, vigilância

epidemiológica e desenvolvimento institucional.

O primeiro empréstimo, iniciado em 1993 e finalizado em 1998 foi da

ordem de 160 milhões de dólares que, somado à contrapartida nacional de 90

milhões de dólares, totalizou 250 milhões de dólares.

2.3 AIDS no Ceará

No Ceará, desde o primeiro caso conhecido em 1983, foram notificados

12.246 casos até dezembro de 2012, no SINAN. Destes, 70% foram no sexo

masculino e 30% em mulheres. No ano de 2012, com dados ainda bem preliminares,

foram confirmados 800 casos, sendo 430 (53,7%) residentes no município de

Fortaleza. A proporção de casos por sexo, que na década de 80 era de 12 homens

infectados para cada mulher, passou para dois homens para cada mulher, em 2012.

Outra característica é a progressiva interiorização da doença no Estado. Até o final

23

da década de 80, por exemplo, apenas 5% dos municípios tinham casos, passando

para 60% a partir de 1998 e, em 2012, para 96% dos municípios com, pelo menos,

um caso confirmado. (CEARÁ, 2013)

Sobre a interiorização da AIDS no Estado, apenas nove municípios (5%)

registravam casos até o final da década de 80, crescendo para mais de 60% dos

municípios a partir de 1998. Atualmente 96% dos municípios têm pelo menos um

caso, e somente 4% dos municípios permaneceram silenciosos (CEARÁ, 2013).

Há um destaque para o aumento do número de municípios pequenos com

casos de AIDS notificados no estado do Ceará, onde 80% das ocorrências estão em

16 municípios. Juntos, apenas os municípios de Aracati, Crato, Juazeiro do Norte,

Cascavel, Sobral, Maracanaú, Caucaia, Fortaleza, Crateús, Itapipoca, Russas,

Limoeiro do Norte, Pacajus, Canindé, Quixadá e Iguatu, representam 51% da

população cearense, os quais são considerados prioritários para ações de controle

da doença (CEARÁ, 2008).

Desde as primeiras notificações foram registrados 78.686 casos de AIDS

no nordeste até novembro de 2011. No ano 2000 foram notificados 3.387 casos,

passando a 6.702 em 2010, o que representa um aumento de 50,5% no número de

notificações na última década. Este crescimento acentuado inspira preocupação por

indicar resultados contrários aos esperados após realização de campanhas de

prevenção, fato que não pode ser imputado unicamente a políticas ou apoio

governamental, cabendo principalmente ao indivíduo à adoção de medidas

preventivas. De acordo com boletim divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado -

SESA, no Ceará, desde o primeiro caso conhecido em 1983, foram notificados

12.246 casos até dezembro de 2012. Somente no ano passado, foram confirmados

800, sendo 430 (53,7%) residentes no município de Fortaleza (CEARÁ, 2013).

O número de óbitos na região Nordeste mostrou aumento a partir de

2005, com crescimento de 1.393 óbitos em 2004 para 2.020 em 2010. O total de

óbitos registrados na região desde 1980 é de 26.172 casos. No Estado do Ceará, de

1983 até junho de 2010 foram notificados 12.062 casos de AIDS. A taxa de

incidência passou de 7,5 no ano 2000 para 11,1 em 2010. Esta variação

corresponde a 32,4% de crescimento desta taxa na última década, ainda assim

24

permanece menor que os valores encontrados nos demais estados da região

nordeste (BRASIL, 2011).

A frequência de casos de AIDS entre mulheres cresceu

consideravelmente, e a transmissão heterossexual passou a ser a principal forma de

contágio; ou seja, não apenas pessoas do sexo masculino e homossexuais podem

ser atingidas. Até crianças têm o risco de serem afetadas, caso a mãe seja

portadora do vírus (CEARÁ, 2013).

Até 2005, a única referência no estado para diagnóstico e tratamento da

AIDS era o Hospital São José de Doenças Infecciosas, com notificação de 80% dos

casos até 2009, o que sobrecarregava este serviço. Em 2009/2010 iniciou-se a

tendência de descentralizar cada vez mais o atendimento para outras unidades

hospitalares. Esta descentralização traz a vantagem do aumento no número de

vagas e da oportunidade de oferecer atendimento de melhor qualidade (CEARÁ,

2013).

O tratamento vem evoluindo e em 2013, existem vários municípios

cearenses que já aderiram à mobilização nacional para a triagem de sífilis e

diagnóstico de HIV - Fortaleza, Aracati, Crateús, Crato, Itapipoca, Limoeiro do Norte,

Maracanaú e Russas - darão mais um passo para tratar, precocemente, essas

doenças serão identificadas por testes rápidos para detectar a sífilis e a AIDS

(CEARÁ, 2013).

No Ceará, em cerca de 50% dos registros da AIDS, o diagnóstico é feito

tardiamente, o motivo registrado é o medo, a desinformação ou mesmo porque não

se teve acesso aos serviços de saúde para detectar a doença, são fatores que

retardam o diagnóstico, o que traz graves prejuízos ao tratamento da AIDS

(CEARÁ,2013).

25

2.4 Questão Social da AIDS

Enquanto problema de saúde pública, Leite e Rodrigues (2000) afirmam

que a AIDS vem demandando a cada ano, novas formas de ações na perspectiva de

um efetivo controle desta doença, atividades estas pautadas em práticas educativas

que visam reverter o quadro crescente de sua disseminação. Desde o seu início, a

AIDS aponta para as formas tradicionais de controle das doenças, tendo a

epidemiologia mostrando-se insuficiente nos seus quadros de análise das doenças

infecciosas.

Os autores ainda refletem que, atualmente, a AIDS é dividida em

fenômenos: feminização, juvenização, interiorização, e a pobreza agravada da AIDS.

No Brasil, a situação atual da pandemia parece corroborar estas perspectivas.

Entretanto, o único indicador social disponível pelo PN-DST/AIDS diz respeito

apenas à escolaridade dos indivíduos infectados, visto a preocupação do governo

brasileiro com o social. Ao passo que nesse campo, em linhas gerais, avanços

consideráveis foram obtidos, no terreno social a AIDS coloca problemas cujas

dimensões não podem ser ignoradas, a exemplo das formas de prevenção

veiculadas (que não levam em conta as diversidades culturais humanas, formas de

se fazer sexo e exercer a sexualidade, religiões e minorias socialmente subjugadas).

Ainda para Leite e Rodrigues (2000), estes fatores citados servem como

pano de fundo para que observemos na atualidade a pobreza extrema crescente da

AIDS, ou seja, a evolução da pandemia mostra que atualmente somente os estratos

mais pobres das sociedades economicamente desenvolvidas é que estão sendo

majoritariamente atingidos pelo HIV/AIDS, podendo-se facilmente inferir o custo

social que a doença poderá acarretar em breve, principalmente as condições sociais

dos indivíduos afetados pelo HIV/AIDS tornando-se quase impossível respeitar um

regime de tratamento complexo e eficaz.

Referindo-se a exclusão social no caso da AIDS, Santos (2005) reflete

que as pessoas são levadas a se sentirem reduzidas de fato, a coisas sem valor e

sem cidadania, numa sociedade que o identifica a partir de uma enfermidade.

Embora seja uma doença que atinge pessoas de todas as classes sociais e regiões

26

do planeta e viver com AIDS em si constitua motivo de estigma e discriminação,

observa-se que os excluídos no universo da AIDS são também os mesmos

indivíduos do acesso ao usufruto de bens na sociedade, uma vez que, apesar de

não existirem dados oficiais, sabe-se que a epidemia continua se espalhando nas

camadas mais pauperizadas, que em sua maioria, tem baixa escolaridade e baixa

renda por estar permanentemente fora do mercado de trabalho, apesar dessas

pessoas estarem em idade produtiva. (SANTOS, 2005)

A exclusão é um processo inerente à forma de produção e acumulação

capitalista, que por si só já é um sistema eliminatório, e impõe diferentes formas de

privações aos indivíduos. No Brasil, conforme Santos (2005), a exclusão social é um

processo crônico, a qual perdura desde a sua colonização, onde já existia uma

espécie de discriminação entre o colonizador e o colonizado. Contudo, é preciso

atentar para suas particularidades, e considerar o processo histórico-social do país.

Imprescindível reconhecer que, do ponto de vista social, a ideia do HIV

restrito a grupos específicos contribuiu para o enraizamento do preconceito que

acompanha a epidemia em suas diferentes camadas das sociedades. Preconceito

este revestido de desinformação, de moralismo e da não aceitação dos valores e da

escolha do outro no tecido social. Sobre preconceito Heller (1992) reflete que “todo

preconceito impede a autonomia do homem, ou seja, diminui sua liberdade relativa

diante do ato de escolha, ao deformar e, consequentemente, estreitar a margem real

de alternativa do indivíduo (p.59)”.

Além disso, o “grupo de risco” foi exposto à incômoda situação de

discriminação e estigmatização na sociedade. Tanto a discriminação quanto a

estigmatização levam a um tratamento diferenciado do indivíduo no grupo. Ambos

os sentimentos geram insegurança nas relações sociais de afetividade

desenvolvidas na rede de sociabilidade levando ao isolamento social (SANTOS,

2005).

Para Goffman (1988) o indivíduo estigmatizado pode descobrir que se

sente inseguro em relação à maneira como os normais o identificarão e o receberão.

Percebe-se assim que o estigma se torna um ponto crucial dentro da perspectiva da

27

AIDS, sendo provável que o indivíduo estigmatizado sinta que está "em exibição", e

leve sua autoconsciência e controle sobre a impressão que está causando maneiras

e extremas de conduta que supõe que os demais não alcançam.

Martins (2002) analisa que os problemas políticos e econômicos nos

países também contribuíram negativamente para a rejeição das pessoas vivendo

com o vírus, juntamente com a falta de interesse do poder público. A medicina

também não sabia o que fazer, pois essa nova doença acabou com o ideal da

ciência médica de dominar toda a natureza biológica humana. Em um momento que

ela se envaidecia a cada dia pelas suas descobertas, sobretudo em relação a

medicamentos eficazes no combate a doenças infectocontagiosas, surge um vírus

poderoso, resistente a todos os medicamentos até então conhecidos.

A estigmatização favorece também à desigualdade social por

desempenhar um papel central na produção e reprodução das relações de poder e

de controle dos sistemas sociais (PARKER; AGGLETON, 2001). Nesses termos a

epidemia do HIV/ AIDS é, ao mesmo tempo, a mais individual e a mais social das

doenças. É por isso que o trato da epidemia adentra o novo milênio tendo uma nova

compreensão por parte dos governos. Hoje, a epidemia é entendida não apenas

como risco individual, mas como uma gigantesca “vulnerabilidade social”.

Retornando a linha de pensamento de Santos (2005), quando afirma que

a compreensão de vulnerabilidade social adquire uma nova roupagem no tocante às

estratégias de combate à epidemia delineada pelos governos. Nesse sentido,

vulnerabilidade social leva à compreensão de que a epidemia apresenta mais

ocorrência nos grupos que estão à margem do usufruto da riqueza produzida no

país. São aqueles indivíduos que não tem acesso à saúde, à educação, à moradia, à

alimentação, tal grupo compreende a maioria da população brasileira vítima da

histórica desigualdade social do país.

28

2.5 Vulnerabilidade

Conforme Mann (1993) o termo vulnerabilidade é originário do movimento

de Direitos Humanos, da década de 80 no campo da saúde pública ao tratar da

epidemia da AIDS. As características dessa epidemia, a maneira como ela foi

atingindo grupos – de diversas formas e em diferentes países – fez com que se

articulasse a incidência do vírus com o contexto socioeconômico, buscando

esclarecer quais grupos sociais e indivíduos poderiam estar mais ou menos

vulneráveis a vitimização pela epidemia. Segundo Adorno (1998):

É preciso destacar que a noção de vulnerabilidade originada no âmbito das discussões sobre a epidemia de AIDS buscou incorporar a ideia do direito que todas as pessoas deveriam ter de alterar suas condições de vida para tornarem-se menos vulneráveis e, assim, promover a igualdade para todos (p.11).

O conceito de “vulnerabilidade” teve destaque no início da década de

noventa entre cientistas do campo da saúde que, na intersecção de vários campos

do saber, buscavam estratégias para o enfrentamento da AIDS. De acordo com

Ayres (2003), o conceito de vulnerabilidade é expresso por um:

Conjunto de aspectos individuais e coletivos relacionados ao grau e modo de exposição a uma dada situação e, de modo indissociável, ao maior ou menor acesso a recursos adequados para se proteger das consequências indesejáveis daquela situação (p.123).

No plano social, Souza (2011) avalia que a vulnerabilidade diante dos

paradigmas das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e ao HIV/AIDS e outros

agravos é mediada: pela noção de cidadania e de direitos, em especial, o direito

humano à saúde, os direitos sexuais e reprodutivos e o direito à livre orientação

sexual; pelo repertório de crenças e valores relacionados ao exercício da

sexualidade, ao processo saúde/doença/cuidado; pelos sentidos e significados

sociais atribuídos ao pertencimento étnico e racial, à masculinidade, à feminilidade e

às identidades de gênero, à idade e geração, denominação religiosa, dentre outras

dimensões.

Confirma Ayres (2003), que a noção de vulnerabilidade compreenderia a

inter-relação entre as práxis sociais, políticos-institucionais e comportamentais, as

29

quais estariam associadas às diferentes suscetibilidades de indivíduos e grupos

populacionais, bem como às consequências do HIV/AIDS.

O conceito de vulnerabilidade, tomado do movimento de Direitos

Humanos, foi desenvolvido por Mann e colaboradores (Mann, 1993), para pensar a

epidemia da AIDS no contexto da Saúde Pública. Ele foi muito utilizado por

pesquisadores brasileiros tais como Ayres, 1996; Villela, 1996; Paiva, 1996; Ayres,

Calazans e França Junior, 1998 com o intuito de ultrapassar a compreensão inicial

do risco da AIDS baseada na ideia de grupos de risco e de comportamentos de

risco. Em consequência de tal abordagem, a prevenção da doença era entendida

como resultado de informação e vontade pessoal, dependendo, portanto, da

mudança de comportamento realizada voluntariamente pelo indivíduo. Tais

pesquisadores vêm propondo ampliar o campo das reflexões para além do

comportamento individual que só pode ser entendido como produto da interação de

múltiplos fatores sociais, econômicos, culturais e políticos e nem sempre se reduz à

vontade individual, entendida enquanto livre e consciente.

Mann (1993) afirmou que o conceito de vulnerabilidade em três tipos de

componentes: o individual, o social e o institucional. Explica que o componente

individual refere-se aos comportamentos e às práticas de risco; o social relaciona-se

à estrutura da sociedade; e o programático ou institucional está associado à

capacidade de resposta das instituições públicas às necessidades desses sujeitos.

Relacionando a vulnerabilidade com a AIDS, o Ministério da Saúde define

que no plano pessoal, a vulnerabilidade está associada a comportamentos que

criam a oportunidade de infectar-se e/ou adoecer, nas diversas situações já

conhecidas de transmissão do HIV (relação sexual desprotegida e uso de drogas

injetáveis, transfusão sanguínea e transmissão vertical). Depende, portanto, do grau

e da qualidade da informação de que os indivíduos dispõem sobre o problema, da

sua capacidade de elaborar essas informações e incorporá-las ao seu repertório

cotidiano e, também, das possibilidades efetivas de transformar suas práticas, ou

seja, o grau de consciência que os indivíduos têm dos possíveis danos decorrentes

de comportamentos associados à maior vulnerabilidade precisa ser considerado.

30

Refletindo acerca de tudo isso se imagina que o maior problema talvez,

seja o desconhecimento sobre o fenômeno, além de contribuir para a formação de

crenças equivocadas, contribui para a vulnerabilidade individual desse segmento

populacional, uma vez que, segundo Ayres (2003), a vulnerabilidade individual está

relacionada, ainda, ao nível e à qualidade da informação disponíveis aos indivíduos

acerca do problema, bem como à capacidade dos mesmos para elaborar tais

informações e integrá-los à sua vivência cotidiana.

No plano institucional afirma Ayres (2003) que a vulnerabilidade está

associada à existência de políticas e ações organizadas para enfrentar o problema

da AIDS. Por fim, plano social, a vulnerabilidade está relacionada a aspectos

sociopolíticos e culturais combinados, como o acesso a informações, grau de

escolaridade, disponibilidade de recursos materiais, poder de influenciar decisões

políticas, possibilidades de enfrentar barreiras culturais etc. Este tipo de conceito

pode ser entendido, portanto, como um espelho das condições de bem-estar social,

que envolvem moradia, acesso a bens de consumo e graus de liberdade de

pensamento e expressão, sendo tanto maior a vulnerabilidade quanto menor a

possibilidade de interferir nas instâncias de tomada de decisão. Desta forma, o

acompanhamento do conceito e da doença ensinou que:

[...] a vulnerabilidade ultrapassa a dimensão comportamental e que a ideia de risco individual deve ser extrapolada. É preciso considerar que a exposição das pessoas ao adoecimento resulta de um conjunto de aspectos individuais e coletivos associados à suscetibilidade ao adoecimento e, ao mesmo tempo, à maior ou menor disponibilidade de recursos de proteção. (Guia para profissionais que atuam na promoção da saúde, Brasil, 2006, p. 44).

Os enormes progressos do conhecimento e da técnica não esvaziaram os

desafios da prevenção, uma vez que tais avanços não chegaram a alterar

substantivamente os determinantes da vulnerabilidade ao HIV e à AIDS de

significativos contingentes populacionais. Entre estes aspectos de vulnerabilidade,

destacam-se a pobreza; a exclusão de base racial; a rigidez de papéis e condutas

nas relações de gênero; a intolerância à diversidade, especialmente de opção

sexual; o limitado diálogo com as novas gerações e a consequente incompreensão

dos seus valores e projetos; o descaso com o bem estar das gerações mais idosas e

a impressionante desintegração da sociedade civil no mundo globalizado (Ayres,

31

2003), gerando uma violência estrutural que amalgama todos os demais aspectos de

vulnerabilidade num perverso sinergismo.

Aprofundando o tema, o capítulo seguinte fará uma contextualização da

dependência química abordando a temática do HIV/AIDS, a discussão será em torno

de dados atuais e conceituação dos estudiosos da área.

32

3 O USO DE DROGAS E SUAS COMPLEXIDADES

3.1 História e contextualização da Dependência Química

A tradição do uso de substâncias capazes de alterar o estado de

consciência vem na história da humanidade por muitos anos. Inicialmente, estas

substâncias eram usadas em rituais religiosos, para fins medicinais ou até para

produzir alterações senso perceptivas que promovessem uma “fuga” da realidade.

Segundo Varalda e Cordeiro (2011), no século passado, o uso de drogas,

entretanto, adquiriu status de problema social, numa convergência dos discursos

médico, jurídico e social do início do século XX. Inaugurou-se uma nova

representação sobre o usuário, que transita entre os estigmas da marginalização e

da fraqueza moral.

Collett (2010) completa quando disse que desde a antiguidade, o homem

utiliza substâncias extraídas da natureza com objetivos diversos: medicamento,

veneno, ou como forma de modificar seu estado de ânimo e percepção, é o

comportamento de procurar alguma coisa que atenda as suas necessidades.

Já Pratta (2009) afirma que o consumo de substâncias psicoativas

cresceu a partir da segunda metade do século XX, configurando-se nas últimas

décadas desse século, como um fenômeno de massa e como uma questão de

saúde pública. Sendo assim, em função da complexidade desse fenômeno na

atualidade, a dependência química é um problema que vem recebendo crescente

atenção, mobilizando até o sistema de saúde.

Como dito acima, atualmente o uso de drogas é considerado um grave

problema de saúde pública e falar sobre drogadição é discutir o processo

saúde/doença, considerando-se os modelos que contribuem para a compreensão do

fenômeno no momento atual e das estratégias de intervenção estabelecidas. Em

suas pesquisas, Pratta (2009) concluiu que os usuários de drogas são vistos pela

sociedade de formas excludentes, porém, para considerarmos como uma doença, o

33

olhar deve ser direcionado sob outra perspectiva: de que se trata de um problema

em que o portador perde o controle do uso da substância e sua vida psíquica,

emocional, espiritual e física vão se deteriorando gravemente.

Na teoria da conceituação de drogas vê-se que as pessoas sempre as

utilizaram e continuarão utilizando drogas nos mais diferentes contextos. Seibel

(2002) afirma que uma parte dos usuários pode estabelecer com a droga um

comportamento patológico. A palavra droga tem etimologia controversa, já o termo

dependência de drogas refere-se à dependência de substâncias psicoativas, que

são aquelas que atuam alterando o funcionamento do Sistema Nervoso Central -

SNC, modificando o estado de consciência do usuário. Para Toscano (2002), pode

ter vindo do persa droa, que significa odor aromático; pode ter vindo do hebraico

rakab, perfume, ou do holandês droog, substância ou folha seca. A questão do uso

de drogas perpassa a própria história da humanidade. A relação do homem com as

substâncias psicoativas envolvem medicina, ciência, magia, religião, cultura, festas e

deleite.

Já Escohotado (2000), diz que a história geral da humanidade tem relação

direta com o uso de drogas, na evolução da medicina, da moral, da religião e da

economia, bem como os mecanismos de controle político. Destaca Kraemer (2002) o

uso de drogas como parte da iniciativa de curiosidade ou fatores sociais e científicos

para que um determinado indivíduo experimente drogas.

As motivações ou justificativas para o consumo indevido de substâncias psicoativas são as mais variadas e as correntes de pensamento que procuram explicar estes motivos são desencontradas e muitas vezes antagônicas, sendo que, algumas teorias desenvolvidas sobre este tema, além de conflitantes, têm uma confirmação científica relativa e não são válidas para todos os casos. (p.23).

O referido autor descreve vários perfis de usuários: os que iniciam o

consumo por causas emocionais, por pressão social, os que buscam o prazer, por

fuga, e ainda, por fatores psicossociais e psicodinâmicos.

34

Além de tantas formas de entrar no universo das drogas, o autor diz que o

uso de psicotrópicos se torna uma síndrome de características alarmantes, tanto

pelo preço, quanto pela repercussão e discriminação que desencadeiam:

As drogas psicotrópicas, sejam quais forem, assumem a condição de problema quando elas se tornam o centro da atenção e passam a fazer parte integral e essencial na vida das pessoas. (KRAEMER, 2002, p.34).

Defende ainda que os fatores de risco e todo o processo que causa a

dependência no ser humano é o da negação da doença, onde nem o usuário, nem

seus familiares reconhecem o uso de drogas como doença. O que traz problemas, já

que com esta concepção:

Pensam que o abuso de drogas faz parte da experiência de adolescentes; que existem drogas „„leves‟‟ e que não produzem dependência; que AIDS, overdose, problemas com a polícia, roubar e mentir, são acontecimentos improváveis em suas vidas. (KRAEMER, 2002, p.48).

O autor, ainda apoia a ideia de que a pessoa sem informações adequadas

sobre drogas e seus efeitos; com uma saúde deficiente; insatisfeita com a qualidade

de vida; com personalidade vulnerável ou mal integrada e com fácil acesso às

drogas tem um estado de vulnerabilidade psicológica e social que pode induzir um

indivíduo a iniciar o processo de dependência química.Laranjeira (2003) diz que são

em torno de oito substâncias ativas na sociedade, que causam dependência

química. São elas: Álcool, Nicotina, Anfetamina, Benzodiazepínicos, Opiláceos,

Cocaína, Maconha e Solventes. Destes, as mais comuns e perigosos para a

contaminação AIDS são a Cocaína e as injetáveis, pois a transmissão pode dar-se

por via endovenosa e via inalatória.

Apesar do consumo de crack não apresentar risco de infecção para o usuário, este acaba exposto às DSTs/AIDS devido ao maior envolvimento com a troca de sexo para a obtenção de crack. (LARANJEIRA, 2003, p.98).

Laranjeira (2003) também discute, além de muito mais do que definições

35

e compreensões meramente bioquímicas, estas substâncias precisam ser

compreendidas dentro de um sistema de sentidos e de significados na sua relação

com os seres humanos nas suas mais diversas contextualizações socioculturais,

avaliando além da mera perspectiva química do problema.

A categoria dependência química está diretamente ligada ao aspecto

social. Leite (2006) afirma que a situação da massa pobre da sociedade e o contexto

das pessoas em situação de rua, e ainda a vulnerabilidade em que estão

submetidos:

A alteração da percepção da realidade pode adquirir um caráter lúdico, com a vivência de momentos mágicos, sensações de poder e/ou euforia. Ao aliviar o enfrentamento da realidade, o uso de drogas também pode representar uma forma paradoxal de preservação mental. Essas funções se somam ao potencial reforçador das drogas. Nos casos de dependência, constatam se outros motivos como, por exemplo, a fissura e o mal estar da abstinência. Por outro lado, para alguns casos, também deve ser ponderada a ausência de motivos para não usar. (p.57).

A história da dependência química acontece desde o início da

humanidade, embora a atenção a essa problemática só tenha ocorrido no último

século, tendo como definição: o uso frequente e exagerado da droga, com ruptura

dos vínculos afetivos e sociais, é a perda da liberdade de dizer não à droga à qual o

organismo se adaptou, seja droga lícita ou ilícita.

Seibel define “substâncias ou drogas psicoativas são aquelas que

modificam o estado de consciência do usuário”. (2002, p. 1). Refletindo sobre o que

coloca o autor, substâncias não produzidas pelo organismo, e que causam

modificações ao seu funcionamento são denominadas drogas. Quando agem

diretamente no sistema nervoso central são denominadas psicoativas ou

psicotrópicas.

Para compreender a temática da dependência química é preciso entender

as ligações com as políticas públicas existentes, na atuação do controle e combate a

proliferação do consumo de drogas. A dependência química na atualidade

corresponde a um fenômeno amplamente divulgado e discutido, uma vez que o uso

36

abusivo de substâncias psicoativas tornou-se um grave problema social e de saúde

pública em nossa realidade.

Oliveira (2009) assevera que as drogas são classificadas em três

categorias, de acordo com a sua ação no sistema nervoso: Depressores do Sistema

Nervoso Central, englobando o álcool, benzodiazepínicos, inalantes, opiáceos

naturais, sintéticos e semissintéticos; Estimulantes do Sistema Nervoso Central,

englobando anfetaminas, cocaína e seus derivados; e ainda os Perturbadores do

Sistema Nervoso Central, onde se encontra vegetais (mescalina, maconha,

psilocibina, trombeteira) e sintéticos (LSD, ecstasy).

No Brasil, o crack chegou ao início da década de noventa e se

disseminou inicialmente em São Paulo. “O consumo do crack se alastrou no País

por ser uma droga de custo mais baixo em relação ao cloridrato de coca, a cocaína

refinada (em pó). Para produzir o crack, os traficantes utilizam menos produtos

químicos para fabricação, o que a torna mais barata", No país, a dependência

química era associada à violência e ao crime organizado, atualmente vem atingindo

todos os cidadãos, de todas as classes sociais e uma faixa etária cada vez mais

precoce, políticas públicas para essa área começaram a ser pensadas e

implantadas, embora de forma lenta e gradativa (BRASIL, 2013).

Os dados do Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Drogas –

INPAD apontam que o primeiro relato do uso do crack no Brasil foi em São Paulo e

aconteceu no fim da década de 80. No ano de 1991, houve a primeira apreensão da

droga, que avançou rapidamente: de 204 registros de apreensões em 1993 para

1.906 casos em 1995. Para popularizar o crack e aquecer as vendas, os traficantes

esgotavam as reservas de outras drogas nos pontos de distribuição, disponibilizando

apenas as pedras. Logo, diante da falta de alternativas, os usuários foram obrigados

a optar e aderir ao uso (BRASIL, 2013).

Atualmente, a droga está presente nos principais centros urbanos do

País. Os dados mais recentes sobre o consumo do crack foram coletados e

indicaram as principais regiões afetadas, bem como o perfil do usuário. A estimativa

encontrada, nas capitais do país e Distrito Federal, para a população desses

37

municípios que consomem crack e/ou similares de forma regular é na proporção de,

aproximadamente, 0,81% o que representaria cerca de 370 mil usuários. Nos

mesmos municípios, temos que a estimativa para o número de usuários de drogas

ilícitas em geral (com exceção da maconha) é de 2,28%, ou seja, aproximadamente

1 milhão de usuários. Sendo assim, usuários de crack e/ou similares correspondem

a 35% dos consumidores de drogas ilícitas nas capitais do país (BRASIL, 2013).

No Nordeste, os dados do INPAD afirmam que os resultados dos estudos,

que tem o nome de Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), aponta que

quase seis milhões de brasileiros (4% da população adulta) já experimentaram

alguma apresentação de cocaína na vida. Entre os adolescentes, esse índice foi de

3%, o que representa 442 mil jovens. No Nordeste, o percentual de usuários é de

27%, representando 800 mil pessoas. Índice é o segundo maior do país, perdendo

apenas para o Sudeste, aonde esse número chega a 46% (BRASlL, 2013).

Para Paulilo e Jeolás (2005), a droga, assim como o sexo, encontra-se

profundamente ancorada na visão que a toma como fonte de satisfação, de

sensação agradável e ela inclui, sem dúvida, uma dimensão de prazer, sem a qual

seria inexplicável a atração por ela exercida sobre jovens e adultos.

Em que pese a dimensão prazerosa do uso da droga, no caso de

usuários dependentes, estudos mostram situações de sofrimento e desprazer

relacionados, sejam à sua insuficiência, sejam à sua abstinência.

3.2 Vulnerabilidade e o uso de drogas

Segundo Andrade (2010), a vulnerabilidade pode ser compreendida como

a forma com que o indivíduo enfrenta eventos adversos e adota certos

comportamentos, sob a perspectiva dela ser uma pessoa engajada em um sistema

de relações e problemas de diferentes ordens (sociais, políticos e econômicos), que

influenciam nas suas escolhas e condições de vida.

38

Dentro desta perspectiva, discute-se a questão do consumo de drogas

psicoativas, que atualmente tem sido debatida na mídia e na opinião pública,

promovendo calorosos embates sobre a melhoria a ser dispensada no combate aos

seus danos. Segundo Minayo (1994), os fatores de risco em relação ao uso de

drogas podem estar relacionados a seis domínios da vida: o individual, o familiar, o

midiático, o escolar, os amigos e a comunidade de convivência, relacionados entre

si, sendo que cada pesquisa na área enfatiza determinadas variáveis. Exemplos

dessas variáveis são o sexo, a idade, o nível socioeconômico, o desempenho

escolar, o trabalho e o uso de drogas na família, dentre outros.

Para Simkin (apud KESSLER et al., 2003) sobre vulnerabilidade, foram

encontrados fatores de risco, tais como: 1) Cultural e social: permissividade social,

disponibilidade de droga, extrema privação econômica e moradia em favela 2)

Interpessoal: a) na infância – família com conduta “álcool e droga” relacionadas,

pobre e inconsistente manejo familiar, personalidade dos pais e abuso físico b) na

adolescência – conflitos familiares e/ou sexual, eventos estressantes, rejeição dos

seus pares na escola ou em outros contextos, associação com amigos usuários. 3)

Psicocomportamental: precoce e persistente problema de conduta, fracasso escolar,

vínculo frágil com a escola, comprometimento ocupacional, personalidade

antissocial, psicopatologia, atitudes favoráveis para drogas, inabilidade de esperar

gratificação. 4) Biogenético: genealogia positiva para dependência química e

vulnerabilidade psicofisiológica ao efeito de drogas.

A vulnerabilidade individual depende da inter-relação com os planos

anteriores e os fatores estruturais neles atuantes, avaliam a dificuldade dos

indivíduos em incorporar as parcas informações que recebem nas suas

preocupações e interesses cotidianos e transformá-las em prática. Paulilo e Jeolás

(2005) afirmam que a vulnerabilidade às drogas é potencializada para os jovens de

baixa renda e baixa escolaridade – a maioria em nosso país – por fatores como a

exposição diária à violência; a desmotivação em relação à escola; a falta de

perspectivas de um futuro melhor; e os infindáveis apelos de consumo e lazer –

sempre inalcançáveis. E, seguramente, o risco representado pelas drogas será

avaliado e hierarquizado de forma comparativa aos outros tantos riscos presentes

39

em suas vidas. A capacidade de se proteger estará também, sem dúvida, aí

contextualizada.

Oliven (1986), afirma que as experiências dos usuários de drogas não são

empreendidas de forma solitária ou voluntariamente. Eles as realizam no interior de

uma história, de um contexto socioeconômico, imersos em momentos socioculturais,

vinculados a sistemas familiares e condicionados pela manipulação e apelo da

sociedade na qual vivem. A ingestão de drogas funde-se, portanto, com os dados

desta história.

Pensar em vulnerabilidades e nos determinantes socioculturais em

relação ao uso de drogas, em nossa sociedade, certamente amplia e torna mais

complexa a abordagem deste fenômeno. Dentro desta abordagem, resta-nos,

finalmente, sublinhar o peso da vulnerabilidade programática ou institucional

existente em nosso país, cujo reflexo é o não acesso da maioria dos jovens

brasileiros a programas de informação e de prevenção na rede de educação e nos

serviços de saúde. Quando existentes estes projetos são pontuais e não possibilitam

o encaminhamento dos jovens de forma a dar continuidade ao trabalho iniciado.

Voltando a Paulilo e Jeolás (2005), estes reiteram que a falta de serviços

voltados para as especificidades e necessidades dos jovens e a inexistência de

programas de apoio para usuários e dependentes de drogas tem inviabilizado

políticas sociais integradas. Somente quando a questão das drogas for

compreendida como parte de uma política de saúde que tenha por objetivos tanto a

prevenção como a redução de danos, o enfoque passará do produto, isto é, a droga,

para a pessoa que a utiliza, ou seja, o cidadão.

Às dificuldades do tratamento para usuários de drogas em si,

intensificadas muitas vezes pela falta de apoio de famílias desarticuladas, soma-se

um sistema público de saúde particularmente desaparelhado para tratar a

dependência química e as doenças mentais. Os médicos, no entanto, acusam a

desarticulação do modelo anterior, sem que nada seja oferecido em seu lugar. De

acordo com parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil oferece

0,34% dos leitos que seriam necessários para sua população. Outro problema

40

detectado é a falta de preparo dos médicos para lidar com o usuário de drogas. Para

suprir essa carência, as comunidades terapêuticas, instituições privadas

disseminadas por todo o mundo que oferecem especialmente tratamento para

usuários de drogas, estão abrigando a maior parte dos pacientes em tratamento. O

problema, nesse caso, é a falta de regulamentação dessa atividade e, também, de

apoio público às entidades que realizam um trabalho em acordo com as mínimas

diretrizes e padrões legais.(BRASIL, 2011)

Dados da pesquisa realizada pela Unidade de Pesquisas em Álcool e

Drogas – UNIAD, afirmam que 70% dos entrevistados nunca receberam oferta de

tratamento. Entre os que receberam, 26% foram convidados a frequentar os

Alcoólicos Anônimos - AA, e o Narcóticos Anônimos - NA (BRASIL, 2013).

Segundo Mesquita (2004) o Brasil tem regulamentação sobre as drogas

desde 1938, inicialmente estabelecida pelo Decreto-Lei nº 891/38, posteriormente

incorporada ao artigo 281 do Código Penal. Esse decreto se deu no governo de

Getúlio Vargas, no qual realizou, junto aos EUA, uma negociação para equipar as

Forças Armadas.

Em 1998, foi criada a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), vinculada

à Casa Militar da Presidência da República, logo após a Assembleia Especial das

Nações Unidas sobre Drogas. Com a posse do Presidente Lula, ocorre uma

mudança na política de drogas com duas medidas simbólicas: a mudança do nome

original da SENAD para Secretaria Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas e a

proposição de sua colocação junto ao Ministério da Justiça, que tem capacidade de

articular outros Ministérios e a Sociedade Civil para uma resposta de natureza mais

ampla.

A mudança na denominação para SENAD efetivou-se em 2005. Com a

incorporação da denominação políticas públicas requer considerar que o problema

das drogas deve ser prioridade do Estado, o que permite pensar a reafirmação da

sua responsabilidade na condução das políticas. Definiu-se que o dever do Estado

é estabelecer políticas públicas sobre drogas é considerar a formulação e execução,

pois sem ações, sem resultados, não há garantia de sua efetivação. Com o Governo

41

Lula, ocorreu um realinhamento da Política Nacional Antidrogas - PNAD (BRASIL,

2005).

As mudanças ocorridas na política de enfrentamento ao uso indevido de

drogas e as contradições presente no interior dessa política têm movido a todos na

reflexão, revisão e proposição de mudanças com a ampliação dos espaços de luta e

confrontação dos múltiplos interesses inscritos no interior da temática “drogas”.

Idealmente, o processo político dentro da Política Nacional de Políticas Públicas

sobre drogas forma um ciclo, começando com uma avaliação sistemática dos

problemas relacionados ao uso indevido de drogas, seguida pela implementação de

políticas de intervenções/preventivo-repressivas, e terminando com uma avaliação

objetiva dos efeitos destas. Mas, geralmente, o processo político não é tão claro

assim, sendo contaminado por interesses, valores e ideologias conflitantes (BRASIL,

2005).

3.3 O consumo de drogas e a relação com a AIDS.

Para Paulilo e Jeolás (2005) o consumo de drogas está intimamente

relacionado com o HIV. Essa conexão se produz quando as drogas são injetadas no

corpo e se utiliza um material contaminado. Além do mais é reconhecido que o

consumo de certas drogas pode levar ao aumento da vulnerabilidade, que, por sua

vez, pode facilitar a transmissão do HIV.

Os autores supra afirmam ainda que o conceito de risco, quando

associado aos termos grupo e comportamento, nos primeiros anos da epidemia

mostrou-se limitado para abranger a complexidade das múltiplas dimensões da

AIDS relacionadas a práticas e representações na esfera da sexualidade e do uso

de drogas. Neste sentido, entender a noção de risco como uma construção sócio-

histórica implica buscar a maneira como as situações consideradas de risco são

concebidas pelos próprios atores sociais que as vivenciam.

42

Entende-se, em resumo, que a vulnerabilidade compreende a percepção

da chance de exposição das pessoas ao HIV ou o adoecimento pela AIDS como

resultado da união de vários aspectos: os individuais, os coletivos e ainda os

contextuais. Esse modo de pensar revelou a impossibilidade de promover saúde se

considerando apenas o nível individual, além de chamar a atenção para a relação

entre a prevenção e o cuidado das pessoas que vivem com HIV. Na análise da

vulnerabilidade devem ser consideradas as influências políticas, sociais, culturais e

econômicas nas tomadas de decisões, nos comportamentos e nos cuidados à saúde

(AYRES et al., 2006).

Estudos mostram que uso de drogas lícitas ou ilícitas por pessoas que

vivem com HIV/AIDS pode inviabilizar um tratamento adequado para a doença.

Neste caso à adesão aos antirretrovirais é falha, o sistema imunológico é debilitado,

as interações medicamentos/drogas são perigosas e os profissionais de saúde nem

sempre estão preparados para lidar com esta população, porém, apesar de difícil, o

sucesso do tratamento não é impossível. (BRASIL, 2012).

A adesão ao tratamento antirretroviral é o problema mais recorrente

quando o paciente que vive com HIV/AIDS e também é usuário de drogas. Conforme

Leite (2006), o tratamento da AIDS requer atenção total aos horários dos

medicamentos, no caso da dependência química, se o indivíduo entra num quadro

de euforia, causado pelo uso de drogas ou álcool, o risco de esquecer-se de tomar a

medicação é grande, botando em risco o tratamento. A estatística do Ministério da

Saúde – MS, que em 2012 verificou que o Brasil apresenta 656.701 casos de AIDS

notificados, e cerca de 250.000 pessoas em tratamento antirretroviral, e o grande

indicador do abandono é o uso abusivo de substâncias psicoativas (BRASIL, 2012).

Ocorre que, na maioria das vezes, a organização dos serviços coloca em

prática única e quase que exclusivamente ações de prevenção de caráter geral, e

não consideram as especificidades culturais, sociais, epidemiológicas e subjetivas

das populações que se encontram em situação de vulnerabilidade. Dessa forma,

grupos populacionais como os homossexuais e usuários de drogas, por exemplo,

quando procuram os serviços de saúde, são muitas vezes surpreendidos com a

43

prática do preconceito e do estigma e são tratados com desrespeito e desatenção

pelos profissionais de saúde (BRASIL, 2008).

Leite (2006) afirma que as maiores dificuldades nos tratamentos de AIDS

é o alto índice de abandono. Melhoras nos sintomas, excesso de efeitos colaterais,

dentre outros fatores, contribuem para uma baixa adesão ao tratamento completo.

Para evitar o abandono, é preciso um acompanhamento do poder público, com

equipes preparadas para orientar o paciente.

Como citado anteriormente, a Política Nacional de Adesão é a norteadora

das orientações para aprimoramento da adesão dos pacientes, dos critérios

nacionais para as mudanças de esquemas terapêuticos, e as diretrizes para o

atendimento dos pacientes com AIDS, em geral e em particular os co-infectados por

tuberculose e que sejam usuários de drogas. No que se refere especificamente aos

usuários de drogas injetáveis e o HIV, a política de prevenção e tratamento da

dependência química dos serviços de saúde do Brasil inclui as ações de redução de

danos, vinculada as diretrizes da Política Nacional de Álcool e Drogas-Pnad,

apresentada no documento de 2003, denominado A Política do Ministério da Saúde

para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas. Essa política

compreende ações de informação e educação do usuário sobre os danos

relacionados ao uso de drogas, distribuição de preservativos e de equipamentos

para a injeção segura diagnóstica e o tratamento da AIDS, hepatites e outras

doenças transmitidas pelo sangue, bem como o estimulo a participação efetiva dos

usuários de drogas, nas medidas de prevenção e redução de danos, havendo

investimentos importantes por parte do poder público na organização do usuário em

associações e redes comunitárias e de referência (BRASIL, 2003).

Com a adoção da politica de redução de danos no Brasil, além da

diminuição drástica da infecção pelo HIV entre usuários e seus parceiros

importantes, avanços no campo dos direitos humanos foram conquistados, como por

exemplo, a promoção de leis que garantem o direito do usuário de drogas ao

tratamento da dependência química de forma digna e não punitiva, bem como a

garantia do acesso ao tratamento da AIDS, das hepatites e de outras doenças mais

44

prevalentes entre usuários de drogas e álcool de forma gratuita e confidencial

(BRASIL, 2012).

Em 2008, foi elaborado o Manual de adesão ao tratamento para pessoas

vivendo com HIV/AIDS, com o intuito de esclarecer e disseminar informações

importantes sobre a doença e declarar como importante a situação das pessoas que

convivem com HIV/AIDS e é usuária de drogas. O manual pontua a abordagem das

drogas em: Situações de Especial Atenção, dedicando tópicos de explicações para

esta problemática.

“Os usuários de substâncias psicoativas podem sentir dificuldades em compartilhar com a equipe de saúde informações sobre o seu padrão de consumo ou menosprezá-lo, por causa do estigma associado a essas práticas, ou falta de motivação para modificar esse hábito. Essa dificuldade poderá ocorrer em especial se o usuário não se sentir acolhido e respeitado pela equipe de saúde e perceber opiniões pré-concebidas e preconceituosas sobre pessoas que usam drogas. Entre as visões pré-concebidas que são muito comuns está o fato de alguns profissionais considerarem que usuários de drogas são pessoas desorganizadas e que não têm qualquer condição para aderir a tratamentos complexos e se cuidarem.” (Brasil, p.67, 2008).

Fonsêca (2012) revela que ainda hoje, não se ouvem os usuários de

drogas, porque há “consensos” em nossa sociedade, resultando em ensurdecimento

das possibilidades de escuta e de acolhimento ético e digno. A pouca disponibilidade

em ouvir sobre suas histórias, entender o motivo das resistências em admitir o

convívio com as drogas e usuários, pois, frequentemente, estão associados a

práticas de irresponsabilidade, de prazer irrestrito, de delinquência e de afronta aos

hábitos e costumes socialmente aceitos.

Sabemos que algumas das estratégias de redução de danos, podemos

citar: terapias de substituição (de drogas “pesadas” por drogas “leves”); terapias de

redução do consumo; aconselhamento sobre os riscos presentes no uso; mudança

na via de administração; compartilhamento (o usuário e seus familiares tomados

enquanto parceiros no tratamento); resgate da cidadania e da autoestima;

estabelecimento de parcerias (farmácias, igrejas, centros comunitários, entre outros);

ações desenvolvidas especificamente com grupos considerados de risco (travestis e

45

prostitutas; usuários de drogas injetáveis; moradores de rua – crianças e adultos

etc.); campanhas de vacinação; monitoramento em ambientes controlados (salas de

injeção segura; “coffee shops” etc.); campanhas de legitimação do uso tradicional de

substâncias psicoativas. (FONSÊCA, 2012)

O mesmo autor refere que claramente, que as estratégias demonstram a

preocupação em deslocar o foco da droga, enquanto um problema universal a ser

combatido, para o usuário e seu uso particular da droga. Sendo consideradas como

tratamento primário: promoção da saúde. A prevenção secundária refere-se ao

diagnóstico precoce, limitando a ação da doença. Em relação à redução de danos,

esse nível de prevenção é realizado através do teste do HIV, fazendo com que as

pessoas possam conhecer seu diagnóstico positivo e realizar o tratamento

adequado, quando necessário.

Traduzindo, a fundamental importância que os trabalhadores da relação

drogas e saúde, Fonsêca (2012) afirmou que os profissionais devem ser

capacitados, a fim de aperfeiçoarem esse diálogo, para que possam estar

transmitindo não só medidas de segurança à saúde, mas sim confiança, respeito e

aceitação. Ao passo que esta perspectiva de redução de danos propõe que

profissionais e usuários possam traçar um plano de tratamento juntos, como um

conjunto. Não podemos esquecer que a questão do preconceito ainda representa

um empecilho ao desenvolvimento de algumas estratégias de redução de danos.

Dentro das informações já citadas no trabalho, podemos perceber que a

relação do uso de drogas com a contaminação e tratamento do HIV/AIDS, é de

grande relevância. A vulnerabilidade dessas pessoas deve ser tratada não apenas

como mais um aspecto relacionado ao adoecimento e morte pelo HIV/ AIDS e uso

de psicoativos. Mas, como contexto da realidade vivida pela questão social, onde

sabemos que o sistema de saúde busca melhorias que ainda não são suficientes

para atender a demanda da sociedade, com a devida qualidade e atenção.

Relacionado ao HIV/AIDS, dentro do grupo de usuários de drogas, considerado

como grupo de risco, percebemos a real necessidade de haver no tratamento as

necessárias intervenções mais incisivas, não apenas no campo da informação e

46

prevenção por meio de campanhas públicas, mas também incorporando parcerias

com outras instituições, como escolas e programas de saúde da família.

O próximo capitulo prevê analisar essa relação do uso de drogas com a

vulnerabilidade do tratamento de HIV/AIDS. A partir dos relatos dos participantes da

pesquisa, embasado teoricamente com autores da área.

47

4 PERCURSOS METODOLÓGICOS E RESULTADOS

4.1 Percurso metodológico

4.1.1. Natureza do estudo

Segundo Pedro Demo (1984), a metodologia é o estudo dos métodos, as

etapas a seguir num determinado processo. A metodologia de trabalho que envolve

a visão de mundo de um pesquisador é tão importante quanto às hipóteses e os

objetivos de um projeto de pesquisa.

Nada faz tão bem à teoria como sua prática, e vice-versa. A prática, por estar exposta a todas as fragilidades históricas naturais, não deixa de ser importante, assim como a teoria, por uma construção abstrata, não é uma inutilidade vazia. (DEMO, 1984)

Para Demo (1984), uma “boa teoria” pressupõe uma boa prática e o seu

inverso – empírico - também é verdadeiro. Uma pesquisa deve estar pautada em

uma criteriosa metodologia científica de trabalho. Nesta perspectiva, a escolha de

uma metodologia qualitativa, por exemplo, depende muito da intenção do projeto a

ser realizado.

Pesquisar sobre as pessoas que vivem com HIV/AIDS (PVHA) em

situação de dependência química requer uma abordagem qualitativa. A escolha pela

pesquisa qualitativa deu-se porque os critérios de complexidade melhor são

explicados com abordagens detalhadas, e a aproximação do objeto, com o objetivo

de coletar e analisar depoimentos de usuários acerca de sua problemática. Essa

metodologia foi escolhida por favorecer a expressão de crenças, valores,

concepções e sentimentos em relação ao objeto do estudo.

4.1.2 Campo de Estudo

O estudo foi realizado no Hospital São José, referência em tratamento

para doenças infecciosas, situado na cidade de Fortaleza do Estado do Ceará. Esse

hospital, que recebe usuários de todo o Estado, foi criado no dia 31 de março de

48

1970, pela lei nº 9.387, de 31 de julho do mesmo ano. É um órgão vinculado à

Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, com capacidade de internamento de 134

leitos e com mais de 852 servidores.

A referida unidade hospitalar surgiu a partir da necessidade de construir

um hospital que agregasse internamento de usuários portadores de doenças

infecciosas ou que requeriam regime de isolamento. A partir de 1985 iniciou-se o

atendimento aos portadores de HIV/AIDS, com internamento. Em 1989 começou a

assistência ambulatorial para os mesmos. No ano de 1994 passou a ser o Serviço

Ambulatorial Especializado (SAE) em HIV/AIDS e, em 1997, essa assistência foi

ampliada, com atendimento em regime de hospital-dia.

A instituição vem ganhando força no que se diz respeito ao tratamento de

HIV/AIDS, sendo referência no tratamento em todo o Estado. A escolha por este

local deu-se pelo fato da unidade contemplar uma grande diversidade de usuários,

facilitando o processo de pesquisa. (HSJ, 2013)

4.1.3 Sujeitos do Estudo.

A pesquisa teve como sujeitos pessoas com HIV/AIDS, internadas no

Hospital São José e que se declararam usuários de drogas. A composição da

amostra foi a mais flexível possível, pois conforme lição de MINAYO (1994), a

amostragem boa é aquela que possibilita abranger o problema investigado em suas

múltiplas dimensões.

A filtragem foi realizada através das fichas de admissão do serviço

social, foram escolhidos com os critérios de inclusão são: Ter acima de 18 anos,

Viver com HIV/AIDS, declarar ter dependência química, estar internado no hospital,

estar consciente, orientado e em condições clinicas para se deslocarem a um local

que garanta o sigilo.

A partir desta seleção e aceitação dos usuários, utilizamos um local

reservado e que estivesse disponível no momento da entrevista, resguardando o

49

sigilo da mesma, foi explicitado o objetivo da pesquisa. O contato com os sujeitos foi

realizado pela pesquisadora.

4.1.4 Técnicas de Coleta de Dados

A fase de coleta é de grande importância na elaboração da pesquisa

científica, portanto, é necessário manter alguns cuidados para que se possa garantir

a fidelidade dos resultados. Para Gil (2008) esta fase visa descrever as

características de determinada população ou fenômeno, ou ainda o estabelecimento

de relações entre variáveis, envolvendo o uso de técnicas padronizadas de coleta de

dados, como entrevista estruturada e semi-estruturada, e assumindo, em geral, a

forma de levantamento.

Como ferramenta para o desenvolvimento deste estudo, foi utilizada a

entrevista gravada com perguntas abertas: abordando na primeira etapa aspectos

como perfil sociodemográfico e, em seguida a abordagem com as perguntas abertas

relacionadas ao tema proposto. De acordo com Minayo (2005), as entrevistas

podem ser consideradas conversas com finalidade classificada de acordo com a sua

organização. No caso das entrevistas semi-estruturadas escolhidas por nós, há uma

combinação de perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a

possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação

formulada.

4.1.5 Análises dos dados

Para análise das entrevistas semi-estruturadas, utilizamos a Técnica da

Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2010), definida como um conjunto de

técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e

objetivos de descrição do conteúdo das mensagens em três fases: Pré-análise;

Exploração do material; Tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

50

Confirmando o pensamento, Barros (, p. 87) diz sobre o êxito na análise

dos dados:

“Dependerá, indiscutivelmente, do próprio pesquisador; do nível de seu conhecimento, da sua imaginação, de seu bom senso e de sua bagagem teórico-prática, capacidade de argumentação e de elaboração propriamente ditas”.

Bardin (2010) diz que toda interpretação bem-sucedida é acompanhada

pela expectativa de que o autor poderia compartilhar da explicação elaborada se

pudesse penetrar também no mundo do pesquisador. Após a entrevista l semi

estruturada, o dados coletados foram processados na fase de pré-análise e de

exploração do material. A fase de pré-análise consistiu na organização

propriamente dita, No caso das entrevistas, estas foram devidamente transcritas e

sua reunião constituiu o corpus da pesquisa.

A fase de Exploração do material foi a etapa seguinte: é o momento da

codificação, em que os dados brutos são transformados de forma organizada e

agregadas em unidades, as quais permitem uma descrição das características

pertinentes do conteúdo (BARDIN, 2010).

4.1.6 Aspectos éticos das pesquisas

Em observância aos aspectos éticos e legais, o projeto foi encaminhado

para apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital São José de Doenças

Infecciosas (HSJ) e teve aprovação para realização da pesquisa.

Os pacientes que aceitaram sua participação no estudo foram convidados

a assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias, ficando

uma com o sujeito e outra com a pesquisadora, sendo-lhes assegurado o sigilo das

informações, bem como a liberdade de se retirar do estudo a qualquer momento,

sem que este fato represente qualquer tipo de prejuízo. Durante o desenvolvimento

do estudo, estivemos atentas ao que preconiza a Resolução 196 de 10/10/1996 do

Conselho Nacional de Saúde (CNS)/Ministério da Saúde (MS), sobre pesquisas que

envolvem seres humanos. Levaremos em consideração os pressupostos basilares

51

da Bioética, configurados na resolução, que são autonomia, não maleficência,

beneficência e justiça (BRASIL, 1996).

4.2 Resultados

4.2.1 Caracterização dos Usuários

Antes de iniciar a discussão sobre os resultados apreendidos, serão

apresentadas algumas características sócio-demográficas dos sujeitos que fizeram

parte deste estudo. O grupo estudado foram os pacientes internos do Hospital São

José (HSJ), durante a investigação foi aproximadamente 30 (trinta) selecionados. No

entanto, como o critério para a inclusão dos sujeitos é viver com HIV/AIDS e que se

declare usuário de drogas, apenas 12 (doze) usuários estavam dentro do perfil.

Assim, a amostra do estudo constitui-se de 12 (doze) usuários, todos enquadrados

dentro do perfil exigido para a pesquisa. Dos 12 (doze) usuários, eram 03 (três)

mulheres, e 09 (nove) do sexo masculino. Apresentaremos quadros para

caracterizar o grupo pesquisado em relação: idade, escolaridade e trabalho dos

usuários entrevistados.

Em se tratando da questão socioeconômica, a renda que prevalece nos

usuários participantes provém de benefícios: Beneficio de Prestação Continuada,

aposentadoria, auxílio doença. Nas entrevistas coletadas tinha a existência de

outras pessoas na família, na maioria dos casos, a renda é insuficiente para a

manutenção das despesas familiares, gerando dificuldades para os usuários, pois o

tratamento apesar de gratuito, não é barato tendo em vista as questões idas ao

hospital para exames e busca de medicamentos.

52

Gráfico 01 – Idade dos usuários participantes da pesquisa.

Fonte: Dados da pesquisadora, 2013.

Em relação à idade dos Usuários, neste estudo predominou as idades

entre 51-70 anos. Observamos que os usuários com idade mais avançada estão no

uso de drogas há mais tempo. Essas pessoas afirmaram que convivem com as

drogas a mais de 20 anos em média. O inicio do uso de drogas por estes usuários

deu-se antes de completar a maioridade. Observamos que a outra parcela de

entrevistados, que possui uma idade mais jovem, usam entorpecentes a menos

tempo, porém com uma maior intensidade e frequência. Segundo as pesquisas do

SENAD (2013), no Brasil a atual faixa etária do inicio de uso de drogas é de 14 – 30

anos. Dentro desta pesquisa, o referido perfil de usuários não foi encontrado.

Gráfico 02 – Escolaridade dos Usuários participantes da pesquisa.

Fonte: Dados da pesquisadora, 2013.

53

Quanto à escolaridade, predominou o ensino fundamental incompleto, 06

dos usuários (50%) apenas completaram o estudo fundamental. Este gráfico nos

revela que a maioria dos participantes não completou os estudos, e os relatos dos

usuários é de pouco acesso à informação sobre a doença e suas consequências,

tão pouco sobre os programas existentes para a cura do vicio as drogas. Para o

Ministério da Saúde o critério da escolaridade é um indicador para abandono do

tratamento dos antirretrovirais (ARV). (BRASIL, 2008).

Gráfico 03 – Idade do inicio do uso de drogas

Fonte: Dados da pesquisadora, 2013.

Dentre os doze usuários, sete iniciaram o uso de drogas antes dos 14

(quatorze) anos e três iniciaram depois dos 14 (quatorze) e antes dos 18 (dezoito).

Uma pequena parcela – dois deles – iniciou o uso depois de 18 (dezoito) anos.

Assim, a maioria dos usuários declarou ter iniciado o consumo de substâncias

psicoativas antes dos 18 (dezoito) anos, fato que revela que quanto mais baixo é o

nível de escolaridade, mais cedo os adolescentes se envolvem com

comportamentos de risco.

54

O indicador escolaridade é apenas mais um, dentro da problemática do uso

precoce de substâncias psicoativas entre crianças e adolescentes. O problema

abordado aqui possui dimensões expressivas e aspecto multifacetado, com

evidentes repercussões sociais, clínicas e psicológicas. A droga pode ser utilizada

pelo adolescente como uma solução para os problemas gerados por uma cultura em

crise (SILBER; SOUZA, 1998, p.14), pode-se supor que eles buscam nas drogas

respostas para os conflitos que estão vivendo no meio que os rodeia: família, escola

e grupos afins.

Quanto à escolaridade, é vasta a literatura em que se encontram resultados similares, e ainda revelam que o afastamento se deve à necessidade de trabalhar, à dificuldade de conciliar escola com trabalho, ao desentendimento com professores e colegas, ao desestímulo resultante de reprovações repetidas, à baixa qualidade do ensino e a pouca supervisão familiar no que se refere à frequência escolar, contribuindo todos estes fatores para o início da prática de infrações. (Martins; Pillon, 2008, p.87)

Gráfico 04 – Estado civil dos entrevistados

Fonte: Dados da pesquisadora, 2013.

Quanto ao estado civil, percebemos que a maioria dos entrevistados são

solteiros: seis, implica a ausência na estabilidade de relacionamentos e quatro dos

entrevistados relataram que seus parceiros (as) desistiram do relacionamento após

a descoberta dos diagnósticos de HIV+.

55

Gráfico 05 – Vínculos ativos com os familiares

Fonte: Dados da pesquisadora, 2013.

O gráfico acima apresenta a realidade da maioria das pessoas que convivem

com AIDS e são usuários de drogas. O gráfico foi elaborado a partir dos relatos

cedidos pelos entrevistados, e no decorrer das entrevistas podemos perceber que a

maioria deles declararam ter os laços familiares abalados após o diagnóstico da

doença. A estabilidade do vínculo é interpretada como um passaporte seguro para a

não infecção tanto para os homens como para as mulheres (GIAME, 1998). Quando

não, os vinculos foram rompidos no fervor do uso de drogas.

4.2.2 Analise das entrevistas

4.2.2.1 A realidade das drogas

Esta categoria foi construída com base nas entrevistas realizadas na

pesquisa. Após a análise de conteúdo, emergiram três categorias para melhor

explicar o material coletado. São elas: A chegada das drogas, envolvendo-se com as

drogas e efeitos das drogas: as mudanças de vida.

56

A chegada das drogas

A dependência química atualmente é um grave problema dentro da

sociedade mundial. No Brasil, os índices do consumo de substâncias psicoativas a

cada ano vêm se aumentando e se alastrando entre a população jovem. Atualmente

o nordeste é líder entre as capitais do Brasil, com maiores índices do uso regular de

crack e outras drogas similares (G1, 2013). A seguir uma figura de representação

dos índices em 2012:

Fonte G1 – Site Globo, 2013.

Estudos apontam que o consumo inicia-se no período entre adolescência

e inicio da fase adulta, e os fatores que mais influenciam as pessoas para o

experimento das drogas é a influencia dos amigos.

Vejamos os relatos coletados:

Eu sempre via a galera cheirando e sempre quis fazer também, mais tinha medo, um dia criei coragem (Usuário 01). Ah não lembro quando usei a primeira vez, mais sei que foi em uma festa, sim, lembro bem porque não gostei da primeira vez, mais (Usuário 08). Eu usei porque meu pai usava ai quando ele saia eu pegada a pedra e esquentava no fogão. (Usuário 04)

57

Era de noite sabe, ai eu tava com fome e não tinha o que comer, ai meu padrasto tava na sala com umas pedras na mesa, esquentando, ai eu pedi e ele não queria me dar. Mais dai eu pedi, pedi, pedi até que ele me deu duas e disse que era pra matar minha fome. (Usuário 12)

Envolvendo-se com as drogas

Usar droga é um longo processo contextual, passando da parte do

experimento até a etapa de vício, o início é sempre uma etapa curiosa, porque para

cada usuário existe uma historia e motivos divergentes, que constrói esse processo

sócio histórico. (BRASIL, 2013)

Nos entrevistados a percepção do envolvimento com as drogas, após o

ato de experimentar está associado a influência e ainda a falta de apoio familiar. Os

usuários relataram diferentes contextos para a permanência no consumo das

substancias. Os relatos abaixo revelam a complexidade dessa problemática, pois a

aproximação com as drogas está associada a todo um contexto psicossocial,

havendo a necessidade uma compreensão integral.

... a minha mãe mandava eu voltar pra rua... Teve uma vez que fiquei mais de duas semanas na rua (Usuário 01). Eu ia pras festas e meus amigos e eu tinha que fazer o que elas faziam, por que se não ficavam me chamando de medroso, frouxo...(Usuário 08).

Na verdade... nunca achei que tinha viciado, só usava, usava, bebia, fumava e não conseguia mais parar. (...) Um dia tentei, mais tremi, me senti mal, ai só melhorava quando cheirava de novo (Usuário 06). A minha família tentou me ajudar, mais eu não quis. No inicio até tentei, mais o vicio é mais forte, eu iniciei só com o pó, quando percebi já tinha usado de tudo, meus amigos me ofereciam e me mostravam onde buscar o bagulho do bom (Usuário 03).

Nesta subcategoria podemos confirmar as teorias ditas até aqui, sobre a

associação do uso de drogas com fatores internos e externos à realidade vivenciada

pelos usuários. Assim fala Scivoletto (1997), quando diz que há um consenso de que

o uso/abuso de substâncias psicoativas é multifatorial, com implicações de fatores

psicológicos, biológicos e sociais. Alguns fatores normalmente citados são:

curiosidade, obtenção de prazer, relaxamento das tensões psicológicas, facilitação

58

da convivência social, influência do grupo, isolamento social, dinâmica familiar, baixa

autoestima, manejo inapropriado da mídia na questão das drogas, influências

genéticas, familiares com problemas com álcool, excessiva mistificação da

sociedade.

Os efeitos das drogas: as mudanças de vida.

Percebemos que as experiências mostram que os relatos dos indivíduos

usuários e familiares, fatos policias diários e opiniões de especialistas sobre os

efeitos e as consequências nefastas das drogas podem ser resumidos em três

palavras tão básicas quanto contundentes: sofrimento, degradação e morte. As

ocorrências no terreno familiar, social e criminal vão caminhando sempre em largas

vertentes para dias piores.

Com o passar dos tempos de vício, a vida dos envolvidos com as drogas

parece sempre transpor os inimagináveis pesadelos. As entrevistas feitas não

apresentaram resultados diferentes dos relatos acima. Os usuários citaram o quanto

suas vidas tiverem decadência após o vicio e em um curto prazo de tempo. Como

bem afirma Scivoletto (1997) que as consequências do uso de drogas reportam não

somente aos fatores físicos, mais ao declínio de vida social e psicológico.

As drogas acabaram com tudo o que tinha: emprego, casa, mulher, amigos. Só me restou a doença (Usuário 01). A minha família se afastou de mim, hoje não querem que eu ande lá, nunca mais fui chamado para as festas de família. Eles têm medo ou nojo de mim. (Usuário 08)

Hoje eu não tenho mais nada, vendi o que eu tinha, vendi até as panelas da minha mãe pra comprar drogas. Tudo, eu vendia cadeado, camisa, o que eu encontrasse eu vendia ou trocava por drogas (Usuário 11). A minha família tentou me ajudar, mais eu não quis. No inicio até tentei, mais o vicio é mais forte, eu iniciei só com o pó, quando percebi já tinha usado de tudo, meus amigos me ofereciam e me mostravam onde buscar o bagulho do bom. (Usuário 12)

Conforme afirma Scivoletto (1997) em seus estudos acerca do tratamento

psiquiátrico em usuários de drogas e do papel da família neste tratamento, o núcleo

59

familiar geralmente está assustado e desorientado quanto à abordagem do

problema, Além de sentimentos de angústia, desespero e impotência nos familiares,

busca-se um culpado para o que, em geral, passa a ser um drama familiar. A

categoria acima mostra o sofrimento que vive um usuário de drogas, levando dor

não apenas para si, mais também para a família e as pessoas próximas que

diretamente são afetadas pelas consequências da dependência química. Os

entrevistados relataram ter em algum momento posses, bens, emprego e até mesmo

família constituída, e mesmo com todos esses elos, foram corrompidos

posteriormente com a entrada no universo das drogas.

4.2.2.2 AIDS e suas descobertas.

A AIDS possui um índice elevado de contaminação, mesmo que com o

passar dos tempos às pesquisas de cura, tratamento e prevenção tenham se

tornado mais eficazes, sabemos que ainda é um grande desafio conviver com o

vírus HIV/AIDS. A pessoa que vive com o vírus tem que passar por vários desafios,

não apenas o da doença mais também o enfrentamento da sociedade e família. As

entrevistas coletadas com os sujeitos participantes pesquisas foram analisadas por

meio da análise de conteúdo que permitiu a construção da 2ª categoria: HIV/AIDS a

descoberta, que foi dividida em três subcategorias:

AIDS como mudanças na vida

Esta categoria envolve as mudanças ocorridas na vida dos usuários com

a descoberta da AIDS em suas vidas. Segundo Cardoso, Marcon e Waidmani

(2008) revelam o fato de a doença ainda estar atrelada à questão de grupos de risco

traz algumas dificuldades em seu manejo e tratamento, com danos tanto no aspecto

individual como coletivo. No âmbito individual, há a manutenção do preconceito e

estigma, acarretando abandono do tratamento e não aceitação da doença pelo

doente e família; no plano coletivo, se não houver intervenção profissional de saúde,

o curso da doença leva a sérios danos, comprometendo desde a saúde do portador

60

até a disseminação de vírus resistentes, diminuindo, assim, as possibilidades de

controle da patologia.

Tudo aquilo que mudou ou não na vida de cada um a partir da nova

percepção do que é ser portador do vírus HIV. As pessoas que vivem com AIDS

revelaram que tomar conhecimento do diagnóstico desencadeia uma diversidade de

sentimentos e muito sofrimento.

No inicio a ficha não tinha caído, depois percebi que tinha jogado minha vida no lixo (Usuário 01). A doença não tinha mudado nada na minha vida, mais foi na primeira vez que vim pro hospital que o desespero bateu, eu sabia que estava condenada a isso. (Usuário 08)

Eu tinha vida saudável: praticava futebol, saia para festas e hoje não tenho mais fôlego para nada. (Usuário 07.)

.

Nesta etapa percebemos o sofrimento das pessoas que vivem com AIDS,

as mudanças físicas e psicológicas destas pessoas, a presença da doença produz

várias alterações na vida do indivíduo na esfera pessoal, representadas por

incerteza quanto ao futuro, aproximação da morte, discriminação e mudanças na

aparência e, também, na esfera afetiva, acarreta dificuldades de estabelecer novos

vínculos afetivos e interferências nos já existentes e alterando ainda o padrão de

vida sexual; e, finalmente, na esfera familiar, percebe-se hostilidade e discriminação,

levando a mudanças no projeto de vida. (CARDOSO; MARCON; WAIDMANI, 2008).

Viver com a AIDS: sofrendo com o estigma.

A maioria dos entrevistados relatou que a AIDS aparece em suas vidas como

um divisor de águas: existia o momento antes do diagnóstico e o momento de vida

posterior. Dentre todos os relatos, o que mais foi sinalizado foi o preconceito vivido

pelas pessoas que convivem com a AIDS, o preconceito vivido dentro de casa, pelos

amigos, pela sociedade falando de modo geral.

A característica inicial da AIDS enquanto doença contagiosa, incurável,

mortal e ligada ainda a homossexuais, fez associar a doença a vários estigmas e

61

preconceitos advindos das posições sociais perante a morte, a contaminação e a

sexualidade, os quais continuam enraizados na sociedade até os dias atuais.

Quando os usuários falam sobre preconceito e discriminação é um

momento muito difícil, pois, as maiores manifestações acontecem dentro da própria

família, quando percebem, eles também são afetados, tornando se bastante

vulneráveis. Como afirma Goffman (1988), as pessoas que convivem com uma

pessoa estigmatizada compartilham essa mesma realidade. Adiante veremos os

principais relatos de preconceitos e estigmatização vivenciadas pelas pessoas que

convivem com a AIDS.

Eu já chorei demais, a vergonha é grande, as pessoas passam na rua e me olham torto. Meu irmão no inicio não bebia água nem comia com a mesma colher que eu tivesse usado (Usuário, 12). O meu irmão saiu do trabalho dele, porque lá chamavam ele de irmão do aidético, e ele tinha vergonhas... (pausa).. .ele pediu as contas. (Usuário, 08). É difícil sabe? Eu tinha profissão, mais desisti de tudo quando as pessoas ficaram sabendo e comecei a perder os estímulos para praticar e exercer aquilo que eu sempre amei. Você sabe como é chegar numa quadra de esportes e o cara do lado diz assim: Não quero jogar com o João, ele vai me passar AIDS? (pausa longa) Essas coisas me fizeram ficar só em casa. (Usuário, 11).

A realidade que descobrimos na pesquisa é que mesmo com todos os

avanços e as descobertas que facilitaram a vida das pessoas que tem AIDS, a dor e

o sofrimento delas ainda é grande. Os avanços servem para aqueles que possuem

acesso às informações, aquelas pessoas que estão vivenciando os problemas

causados pela questão social ainda são afetadas pela indiferença e diretamente em

suas relações sociais.

Em Ayres (et. al. 2003) vimos a estigmatização e a discriminação

determinar para a pessoa com HIV e AIDS uma condenação não só à morte

biológica, natural e reservada a todos, independente da sorologia para o HIV, mas

com muito mais rigidez, a morte civil, impedindo-a de exercer plenamente todos os

62

seus direitos de cidadania. A AIDS deixa de ser uma doença para ser uma "pena"

aplicada aos "criminosos morais".

4.2.2.3. Drogas e AIDS: os dilemas do tratamento

Segundo Melchior (et. al, 2007) o fenômeno da não adesão ao tratamento

tem sido considerado universal, particularmente entre pessoas com doenças

crônicas. Ao longo dos anos vários estudos sobre fatores associados ao tratamento

com antirretrovirais (ARV) em países desenvolvidos têm confirmado que a adesão

ao tratamento é um fenômeno complexo e requer atenção. Declarou-se que é

importante conhecer as dificuldades de pessoas vivendo com HIV/AIDS permite

melhor compreensão da não adesão ao tratamento nos serviços brasileiros.

A falta de recursos para alimentação e locomoção, além do uso de álcool

e outras drogas merecem destaque nesse cenário. História de não adesão anterior,

efeitos adversos, não aceitação do diagnóstico e melhora dos sintomas, também

têm importante papel no uso inconstante das medicações (BRASIL, 2008).

Nesta categoria da pesquisa, os entrevistados citaram algumas

necessidades para a permanência regular no tratamento. Como esconder o uso da

medicação de amigos e familiares, ainda como dificuldade de adesão ao tratamento

a influenciada negativa por situações de lazer, social e dificuldades na família.

As maiores dificuldades citadas, estão relacionadas ao consumo de

bebidas alcoólicas e uso de drogas foram consideradas entre os fatores sociais.

Neste ponto crucial da pesquisa, vamos analisar as dificuldades da adesão ao

tratamento e a relação com o uso de drogas.

AIDS e o uso de drogas

63

O uso de drogas é considerado um comportamento de risco para a

infecção pelo HIV. De maneira geral, estudos mostram que avaliaram resultados

clínicos associados à terapia antirretroviral de alta potência, melhores resultados

foram encontrados entre pacientes mais aderentes, geralmente aqueles em

abstinência no momento (ou seja, ex-usuários), os que não apresentavam distúrbios

psiquiátricos severos e que recebiam apoio psicossocial. O uso de drogas e o

consumo abusivo de álcool, por outro lado, tendem a reduzir a aderência à terapia.

Entre os ex-usuários de drogas, o principal fator associado à aderência

abaixo da esperada tende a ser uma maior vulnerabilidade social. As evidências

sugerem a importância e a eficácia da oferta de tratamentos mais inclusivos e

adequados às necessidades e especificidades desta população, particularmente no

que se refere ao oferecimento em conjunto de tratamento para dependência química

e para a infecção pelo HIV. Em Brasil (2008) temos que na maioria dos países, no

entanto, o tratamento para dependência química e para a infecção pelo HIV são

frequentemente oferecidos de forma dissociada, em locais distintos.

Eu saia para as festas e usava tudo, usava aquilo me davam, não tinha dinheiro para comprar então injetava qualquer coisa, com qualquer seringa... Não sei como peguei AIDS, mas acho que assim (Usuário 06); Essa doença acabou comigo, mais acho que as drogas acabaram ainda mais, o crack mermo sabe. Usei tanto, ficava tão doido que não sabia mais aonde tava, pra onde ia... Já acordei na rua, em calçadas. E eu tenho família sabe? Mais nada disso importava (Usuário 05); As vezes eu já cheguei a transar pra conseguir uma seringa, lembro bem eu tava fora de casa há mais de mês, e já não tinha grana nem nada, vendi até as roupas da mala. Ai fui numa farmácia e me ofereci para que o moço vendedor me desse uma seringa pra eu ir atrás de usar droga. (Usuário 02).

As entrevistas mostraram neste tópico é que a relação entre o uso de

drogas e a AIDS é prejudicial. Uma relação que facilita o processo de infecção, que

deixa janelas para a facilidade das doenças prospectarem e que continua

prejudicando as pessoas mesmo depois de infectadas.

A adesão ao tratamento

64

Bastos (2006) afirma que os objetivos da terapia ARV é reduzir a

mortalidade e melhorar a qualidade de vida das pessoas que convivem com

HIV/AIDS, por meio da supressão viral, o que permite retardar ou evitar o surgimento

da imunodeficiência e suas consequências.

Ainda Bastos (2006) tem-se que os resultados obtidos com o uso dos

antirretrovirais, têm sido associados a benefícios marcantes na saúde física das

pessoas que convivem com AIDS têm permitido que essas pessoas retomem e seus

projetos iniciais de vida. Entretanto, vários fatores interferem no sucesso da terapia,

como questões relacionadas ao acesso ao tratamento e aos serviços de saúde,

características virais e da resposta imune, além de fatores comportamentais

relacionados ao indivíduo, principalmente a adesão ao tratamento por uso de

substâncias químicas de forma rotineira ou recreativamente. É o que confirma no

depoimento dos sujeitos pesquisados.

É difícil tomar 20 comprimidos por dia e sentir todos aqueles enjoos, aquela dor de cabeça, e não conseguir comer nada. Mais o mais difícil e saber que estou preso nisso pra sempre, ai às vezes não sinto nem vontade de tomar mais, um dia esses comprimidos não vão mais servir mesmo (Usuário 12). A minha família é que sempre me obrigou a tratar, eu não gosto de tomar as medicações, porque ai eu não posso cheirar sabe? Mais ai quando eu não aguento mais, fujo... Já fiquei foi mais de mês sumida só usando. Fiz foi vender os remédios da AIDS e comprei um monte de pedra. (Usuário 04) Eu só tomo os remédio quando tô aqui, quando to pra morrer, quando eu saio, eu já vou correndo pros becos atrás de comprar os bagulhos. È ruim demais minha filha, tem quem aguente tomar esses troços todo dia não. (Usuário 11) A medicação é ruim, no inicio eu sempre sentia os efeitos. Mais aprendi a conviver com ela. Minha filha já brinca comigo sobre as cores dos remédios. Acredito que o importante é estar vivo... ... Vivo pra ela. Por isso encaro todo esse processo. Eu parei as drogas, mais às vezes não nego, da uma vontade louca, um fissura incontrolável. Tem dias que dá pra segurar, tem dias que não dá. E assim vou vivendo um dia de cada vez. (Usuário 10). As vezes eu venho fazer os exames e pegar os remédios, mais quando to chapado, na fissura eu deixo de pegar por um tempão. Ai quando to pra morrer, venho aqui de novo (Usuário 02).

Esta subcategoria traz a reflexão do que é estar vivendo com AIDS, e o

quanto é um processo doloroso aderir ao tratamento e permanecer nele. Percebe-se

o quanto é difícil para estas pessoas equilibrar o vicio do uso de drogas e tratamento

65

da doença. Revela-se nesse sentindo a necessidade de se cuidar e buscar tratar os

dois campos de uma forma integral. Segundo o Segundo o Manual de Adesão ao

Tratamento para Pessoas Vivendo com HIV e AIDS criando pelo MS em 2008, as

pessoas usuárias de drogas são vulneráveis quanto ao tratamento da doença. A

possibilidade do abandono por motivos emocionais e físicos é bem maior do que

para os indivíduos que não usam substâncias entorpecentes. O uso de drogas, as

interações das drogas com os medicamentos, os problemas de adesão ao

tratamento e a imunodepressão natural causada pelo HIV podem desencadear

graves infecções em usuários de drogas. Por este motivo, é que o Manual

recomenda que as equipes de profissionais sejam qualificadas especialmente para

auxiliar no tratamento desse grupo de risco.

Dificuldades encontradas no caminho

Os usuários de substâncias psicoativas podem sentir dificuldades em

compartilhar com a equipe de saúde informações sobre o seu padrão de consumo

ou menosprezá-lo, por causa do estigma associado a essas práticas, ou falta de

motivação para modificar esse hábito. Essa dificuldade poderá ocorrer em especial

se o usuário não se sentir acolhido e respeitado pela equipe de saúde e perceber

opiniões pré-concebidas e preconceituosas sobre pessoas que usam drogas

(BRASIL, 2008).

No decorrer da pesquisa, observou-se que os participantes declararam ter

encontrado vários tipos de dificuldades para prosseguir o tratamento da doença.

Dificuldades estas que não se resumem ao campo financeiro, como também no

social e institucional.

Os relatos mostraram que os usuários se sentiam excluídos pelos demais,

não tinham apoio familiar, e até mesmo dentro da própria instituição de tratamento

não tinham os devidos apoios e orientações. Assim, afirma o manual “O profissional

não deve emitir juízos de valor sobre o uso de álcool e outras drogas. Assim, a

pessoa que vive com HIV/AIDS e usuária de drogas deve ser respeitada em suas

crenças, valores e hábitos relacionados a essa práticas, bem como pelo seu estilo

de vida.” (BRASIL, p. 69, 2008).

66

Vejamos os relatos:

Já é ruim você estar na situação de ser uma pessoa que tem AIDS e usar drogas, mais se torna pior quando eu cheguei no posto para me consultar e todo mundo me olhou com medo. Naquele dia eu quis largar tudo (Usuário 11). A maior dificuldade que tenho é segurar a barra pra não usar pó. É como um jogo. Tá ligado? Eu e as drogas, um dia eu ganho, no outro apanho. (Usuário 08) Eu só venho aqui por minha mãe quer. Por mim mesmo eu tava é na rua com a galera, eu num vou morrer mesmo?! Então pra que me entupir de remédio se o destino é a morte mesmo. Mais tenho pena da minha mãe, já deu muito trabalho pra ela e hoje não quero mais fazer mal pra ela não. Sabe? Porque nessa historia todinha só quem me dá apoio é ela, quem vem comigo quando eu to doente, quem vem me visitar... o resto da família não ta nem ai pra mim (Usuário 12); O tratamento desse negocio só serve pra me atrapalhar. Porque ao invés de eu ficar bom eu fico é mal. Cheio de enjoos e vontade de usar, porque se eu ficar uns dias sem usar eu volto com tudo. Umas pedrinhas não serve não. Tem que ser muita pra vontade passar (Usuário 10).

O olhar dos usuários sobre essa vivência

Esta subcategoria veio para analisar e se aproximar da realidade vivida

pelas pessoas que convivem com HIV/AIDS e são usuárias de drogas, através de

suas opiniões. Os relatos mostraram que a grande parte dos entrevistados se

arrepende do que fizeram. Uma amostra pequena amostra participantes, afirma

ainda gostar do uso e não pretende tentar largar vicio por drogas para melhor tratar-

se da doença.

A única coisa que eu queria era voltar no tempo. Pra não sentir dor e não ter que me entupir de remédios pra ter que sobrevier (Usuário 11); Eu gosto das drogas, me faz sentir bem e sumir da realidade que é minha vida (Usuário 08) Se eu pudesse eu tirava essas doenças de mim, porque usar drogas e abandonar tudo, também é doença (Usuário 12).

67

O que percebemos nesta etapa da pesquisa, é que a relação drogas e AIDS

está envolta na ligação entre sexo, drogas e prazer. Giacomozzi (2011) observa que

as drogas, assim como o sexo, se relacionam com fonte de satisfação, de sensação

agradável que inclui uma dimensão de prazer, sem a qual seria inexplicável a

atração por ela exercida sobre jovens e adulta.

É necessário, portanto que a dimensão do prazer seja considerada, tanto em

trabalhos preventivos, quanto em trabalhos onde a redução de danos (que é a

temática principal, atual), para que se possa dialogar a partir da verdade de cada

sujeito a respeito desta temática.

O uso de drogas precisa ser visto com um problema dentro do tratamento, os

serviços de saúde devem ter uma visão integral da problemática, pois a questões

estão imbricadas e interferem na qualidade de vida das pessoas que vivem com

HIV/AIDS, ou seja, entre as pessoas que são usuárias de drogas e que vivem com

AIDS é necessário uma força, no sentido de se tratar as duas realidades para que se

tenha sucesso na adesão.

68

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para fazer esta reflexão, de encerramento e contribuições desta pesquisa

é preciso retomar a memória e rever os caminhos percorridos, os desafios

enfrentados. Este trabalho foi composto de reflexões embasadas teoricamente, e de

análise das entrevistas.

Segundo Guerra (2000) precisamos nos aproximar da realidade para

compreender a totalidade. Neste estudo, através da pesquisa qualitativa com

entrevistas semi-estrutradas, iniciamos a nossa pesquisa com pessoas que vivem

com AIDS e são usuárias de drogas.

O uso de drogas por pessoas vivendo com HIV/AIDS pode inviabilizar o

esforço das equipes de saúde em oferecer um tratamento adequado. A adesão aos

antirretrovirais é falha, o sistema imunológico é debilitado, as interações

medicamentos/drogas são perigosas e os profissionais de saúde nem sempre estão

preparados para lidar com esta população. Mas, apesar de difícil, o sucesso do

tratamento não é impossível. A aceitação da doença, o contexto sociocultural e

emocional em que o diagnóstico foi realizado e apresentado interferem diretamente

para uma não adesão. Sabemos que existem estudos queb demonstram que os

pacientes, ao receber o diagnóstico de HIV, mesmo com aconselhamento pré e pós-

teste, entram em stress pós-traumático, com a mesma sintomatologia.

A condição de usuário de drogas dos participantes foi revelada como

problema macro desse recorte de estudo: a obstrução do uso regular dos

medicamentos, o uso incorreto e abandono no uso de antirretrovirais por parte das

pessoas que vivem com AIDS e são usuárias de drogas, são os fatores mais

recorrentes narrados pelos participantes, e como já visto no decorrer da pesquisa o

maior indicador para não adesão ao tratamento ou abandono, os fatores de uso de

drogas no tratamento da doença.

O que os eles revelaram é que ser usuário de drogas, na maioria das

vezes não foi escolha, era uma situação de submissão ao mundo em que viviam.

Além do ato de experimentar, a influência dos amigos e família, antes do diagnóstico

69

da AIDS, as drogas vinham para essas pessoas como condição de existência no

fato de conviver com a doença.

Apesar do sentimento de culpa e arrependimento, alguns participantes

declararam não ter intenção de parar o uso de drogas, pois se submeteram a

condição de vulnerabilidade diante da situação em que vivem e preferem não passar

pelo sofrimento dos fracassos na tentativa de deixar as drogas.

Ao descreverem como é viver com a doença, ao passo de ser usuário de

drogas, os medicamentos antirretrovirais aparecem como alternativa: tratamento

apenas quando suas condições físicas estão sendo arruinadas pela contaminação.

Grande parte dos relatos está voltada para o uso dos medicamentos apenas na

crise, e abstinência do uso de drogas nem sempre é feita no período de ingestão

dos antirretrovirais, que segundo eles não existe um apoio, ação ou ainda estimulo

para que nesse momento fossem amparados e sua condição clínica tornar-se

positiva.

Observamos também, como características da maioria dos participantes

do estudo: indivíduos de baixa condição socioeconômica, com baixa escolaridade,

subempregados, solteiros e dependentes financeiramente de outros membros da

família. Estes indivíduos correspondem ao perfil de pessoas marginalizadas, que

vivem dentro de um recorte da questão social produzido e reproduzido como

consequência do modelo econômico adotado no país, o neoliberal que exclui cada

vez mais os afastados de seus direitos. Portanto, cabe ao Estado, por meio de

ações preventivas, educativas e de tratamentos especializados para o perfil deste

estudo, fazer com que estes indivíduos se emancipem desse estado de

vulnerabilidade e possam ter uma qualidade de vida.

Faz-se necessário buscar explicações que contribuam para a criação e

implementação de políticas públicas voltadas para grupos específicos, sendo preciso

qualificar os profissionais constantemente, investir treinamento e aperfeiçoamento,

investir em ações e projetos mais eficazes com diretriz voltada para os usuários de

drogas e o tratamento.

70

Por fim, espera-se que o presente trabalho monográfico possa contribuir

para embasar estudiosos e pesquisadores da área, assim como fomentar possíveis

intervenções no futuro, no sentido de efetivar os direitos propostos pelo SUS e

fortalecer próximas investigações sobre esta temática.

71

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APÊNDICES

APÊNDICE A – Roteiro de Entrevistas

1. Dados de identificação; Entrevista nº:

2. Questões norteadoras:

a) Qual tipo de drogas que você usa? Como você iniciou o envolvimento com as drogas?

b) Como você contraiu a AIDS? O que mudou com a descoberta do

diagnóstico?

c) Qual a relação do uso de drogas com o tratamento da doença?

d) Como está o acompanhamento do tratamento da AIDS?

Codinome:

Idade:

Estado Civil:

Naturalidade:

Escolaridade:

Profissão/Ocupação:

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APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Meu nome é Érika Lorena Ferreira Alves, sou aluna do Curso de Serviço Social da Faculdade

Cearense, e estou desenvolvendo uma pesquisa sobre as dificuldades dos dependentes químicos em

aderir ao tratamento da AIDS, em fase de tratamento no Hospital São José. O objetivo é investigar os

significados, sentimentos e conhecimentos dos dependentes químicos soropositivos em relação ao

diagnóstico e tratamento.

Convido você para participar desta pesquisa, respondendo uma entrevista que terá o tempo

aproximado de 30 minutos e será realizada em uma das salas que estejam disponível no Hospital

São José, sendo garantido a sua privacidade. Se você concordar em participar, utilizarei o gravador

para registrar as suas respostas. As fitas ficaram sob minha responsabilidade e as informações

coletadas na entrevista serão confidenciais, ou seja, você não será identificada em nenhum

momento. Os resultados serão utilizados exclusivamente para fins científicos e em caso de

publicação, não haverá identificação. Sua participação na pesquisa será voluntária, se você decidir

não participar ou quiser desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-

lo. Seja qual for a sua decisão, o seu tratamento não ficará prejudicado em nenhum momento. Deixo

claro que não haverá nenhuma contribuição financeira para a sua participação.

É de extrema importância sua participação, pois, contribuirá para um melhor entendimento da

situação referente as pessoas que vivem com AIDS e dependência química. Quaisquer dúvidas

poderão ser esclarecidas através dos meus contatos: Endereço: Rua 5-A nº 053, Conjunto Industrial-

Maracanaú / Fone: 3463-1571. Contatos da orientadora/ Laurinete Sales de Andrade- 3483-

0254/8867-0093 ou pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital São José: 3101-7880.

Data: _____/_____/_____ _____________________

Érika Lorena Ferreira Alves

Consentimento livre e esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre a pesquisa, aceito participar voluntariamente deste estudo. concordo

em participar e assino abaixo em duas vias, sendo que ficarei com uma das vias.

Data ____/___/____.

________________________ ___________________

Assinatura do Participante Nome do participante

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ANEXOS

ANEXO A – Parecer do Consubstanciado do CEP

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