Cena Expandida Interferencia de mídia e multimeios no dicurso poético da Cia Phila 7

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHOCENTRO DE CINCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE ARTESLICENCIATURA EM TEATRO

    JANAILTON SANTOS DE SOUSA

    Cena Expandida: interferncias de mdias e multimeios no

    discurso potico da Cia Phila 7.

    SO LUIS2011

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHO UFMACENTRO DE CIENCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE ARTESLICENCIATURA EM TEATRO

    JANAILTON SANTOS DE SOUSA

    CENA EXPANDIDA:interferncias de mdias e multimeios no discurso potico daCia Phila 7

    S o Lus2011

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    JANAILTON SANTOS DE SOUSA

    CENA EXPANDIDA:interferncias de mdias e multimeios no discurso potico daCia Phila 7

    Monografia de conclus o de cursoapresentado ao curso de Licenciatura emTeatro da Universidade Federal doMaranh o, em cumprimento sexigncias para obten o do grau delicenciado em teatro.

    Orientadora: Prof. Ms. Fernanda Areiasde Oliveira.

    S o Lus2011

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    JANAILTON SANTOS DE SOUSA

    CENA EXPANDIDA:interferncias de mdias e multmeios no discurso potico da CiaPhila 7

    Monografia de conclus o de cursoapresentado ao curso de Licenciatura emTeatro da Universidade Federal doMaranh o, em cumprimento sexigncias para obten o do grau delicenciado em teatro.

    Aprovado em ____/______/2011.

    BANCA EXAMINADORA

    ___________________________________________________ Prof Ms. Fernanda Areias de Oliveira

    ___________________________________________________ Prof Esp. Rodrigo Frana

    __________________________________________________ Prof Ms. Michelle Cabral

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    Os processos so os devires, e estesno se julgam pelo resultado que os

    findaria, mas pela qualidade de seuscursos e pela potncia de suacontinuao."

    GILLES DELEUZE

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    RES UMO

    O presente trabalho consiste na investiga o dos impactos de plataformas tecnolgicasdiversas nas encenaes teatrais contemporneas, tendo como objeto a potica da CiaPaulistana Phila 7 e seu trabalho de maior efeito, a srie de espetculos Play on Earth.Para este exerccio, a pesquisa resgata as contaminaes no teatro pelas tecnologias,observando experincias do cenrio mundial, e respaldando-se nos fazeres de grandesencenadores e a maneira como estes potencializam os seus discursos cnicos de maneiracontextual desde a metade do sculo XX at a atualidade. O trabalho busca aindainteragir o pensamento de importantes tericos das artes cnicas com pensadores dasociologia e filosofia contempornea para perceber como se d a rea o do fazer artstico no territrio do teatro em suas especificidades com os paradigmas dacontemporaneidade como a internet e tecnologias digitais.

    Palavras-chave: Teatro, Plataformas Tecnolgicas, Contemporaneidade, Internet.

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    ABS TRACT

    The present work is trying to investigate the impacts of various technology platforms incontemporary theatrical performances, getting as object the poetic of aS o Paulostheater company called Phila 7 and its more effective work, the series of shows "Playon Earth." For this exercise, the search retrieves contamination by technology in thetheater watching experience on the world stage, and backing on the doings of greatdirectors and how they leverage their speeches so scenic context since the mid-twentiethcentury to the present . The work also seeks to interact thinking of major theorists of thearts and sociology and also thinkers in contemporary philosophy to see how the reactionoccurs in the territory of making art in their specific theater with contemporary paradigms like the Internet and digital technologies.

    Keywords: Theatre, Technology Platforms, Contemporary, Internet.

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    S UMRIO

    p.1 INTRODUO..........................................................................................................12

    2 UM TEATRO ETERNAMENTE HBRIDO: contextualizao histrica acercado teatro e tecnologias...................................................................................................133 REVOLUES ESTTICAS NO TEATRO MODERNO: o paradigma daluz....................................................................................................................................174 CONTAMINAO TECNOLGICA: experincias mltiplas e variadoscontextos.........................................................................................................................195 TECNOLOGIAS DIGITAIS: o advento da internet...............................................296 PHILA 7: uma referncia brasileira.........................................................................35

    7 SRIE PLAY ON EARTH: uma experincia pioneira......................................428 CONSIDERAES FINAIS.....................................................................................46

    REFERNCIAS ............................................................................................................48ANEXOS .......................................................................................................................50

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    1 INTRODUO

    maneira de um caleidoscpio, estilos de representa o e diferentes mdiass o continuamente integrados ao teatro contemporneo apresentado uma nova poticada cena. Essa irradia o pelas mdias e as diversas possibilidades de manuseio eintera o por parte delas, torna a tarefa de discuss o acerca de um teatro miditicocontemporneo uma necessidade pontual frente a epifania de formas de representa oem um mundo globalizado.

    O advento da tecnologia, tal qual sua interferncia no campo do real, sugereao sujeito ps-moderno uma radical fragmenta o em diversos setores de sua existncia,onde este, e todas suas manifestaes de expressividade tendem a se adequar ao seu

    agora para dar vaz

    o ao gigantesco contingente de informaes geradas ecompartilhadas nessa era atravs da internet. As transformaes sugeridas aqui apontam para uma crescente modifica o no campo da cria o artstica, onde as artes cnicas semostram como um potencial em capacidade de intera o entre campos.

    O trabalho busca apresentar ainda, alguns processos de hibridiza o doteatro com rela o s novas mdias, tendo como referncia as transformaes histricase as revolues estticas, observando que para que tais transformaes ocorram, o fazer cnico, necessita se contextualizar, no sentido de se estruturar e reafirmar o seu espao,

    meios as evolues da humanidade.S ob a luz de diferentes observaes, a presente investiga o apresenta como

    objetivo, discutir a contamina o pela tecnologia digital, nas encenaes da Cia brasileira Phila 7, observando a evolu o da companhia desde seu primeiros trabalhoGalileu Galilei e como a utiliza o da internet se insere e potencializa o trabalho dogrupo, auxiliando de maneira contundente a comunica o das obras encenadas por seuencenador Rubens Velloso.

    O trabalho pretende ainda articular a potica do Phila 7 com diversos

    pensadores do teatro e campos diversos do pensamento esttico e social, posicionando ofazer desta Cia em um lugar revolucionrio com rela o as novas tendncias e asdiversas possibilidades da cena contempornea, alm de destacar os procedimentosmetodolgicos do grupo, para observar o processo de aprendizagem destas novas poticas.

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    2 UM TEATRO ETERNAMENTE HBRIDO: contextualizao histrica acercado teatro e tecnologias.

    Desde a Grcia, os eventos teatrais apresentam possibilidades dehibridiza o com rela o a ferramentas que melhoram seu discurso, um exemploclssico que permeia esta idia est no Deus Ex-Machine1, que de maneira inusitada eraintroduzido repentinamente ao drama para dar continuidade narrativa. No teatro gregohavia muitas peas que terminavam com um deus sendo literalmente baixado por ummaquinrio at o local da encena o. Esse deus ent o amarrava todas as pontas soltas dahistria.

    Revolues que v o surgindo ao longo da histria do teatro no sentido de

    reafirmar a cada inova

    o tcnica o seu potencial hbrido fazem aparecer umadiversidade de contextos que podem ser observados ao longo de seu desenvolvimento. Na corrente simbolista o entendimento que propunha que o novo teatro n o poderiaassemelhar-se a uma fotografia do cotidiano, como era a frmula do teatro realista,impulsinou as transformaes, e fez com que o espao do palco sofresse mudanasrevolucionrias.

    Teatro Realista: Pea Um inimigo do povo de Ibsen

    1 Deus ex machina (literalmente o deus que desce numa mquina) uma no o dramatrgica que motivao fim da pea pelo aparecimento de uma personagem inesperada.

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    Teatro Simbolista: Pea Interior de Maeterlick

    Nas imagens acima podemos observar estas transformaes de maneira plena, em se tratando pricipalmente do uso da perspectiva, em que no teatro simbolista,esta iniciativa de explos o do espao aparece com maior clareza em detrimento doteatro realista, no qual a representa o do cotidiano reverberava em seus percursos.

    Neste sentido, podemos observar ao longo da histria do teatro, que este, mesmo mantendo sua base fixada na representa o fundamenta suas formas emteatralidades evolutivas, apresentando a indissocivel necessidade de agregar

    ferramentas diversas que auxiliem no estabelecimento de seu discurso.S em nenhuma dvida, o teatro exige a presena de um ator e de umespectador: clula mnima que define sua essncia. Mas sua histriacomprova que ele est ligado, por um lado, histria das outras artes doespetculo e, por outro lado, apropria o artstica das tecnologias, enquantonovos meios de express o: o teatro est ligado s tecnologias da eletricidadee da ilumina o, que j h muito tempo transformaram o palco, as condiesde cria o e de percep o de uma obra, e est ligado tambm s tecnologiasda imagem e do som. (VALLIN, 2008. P. 108)

    A partir desta no o, se entendermos o teatro como uma arte que est ligadaao movimento e s aes da humanidade, poderemos coloc-lo em uma linha paralela

    prpria histria da humanidade, no qual estabelecimentos ideolgicos e movimentos polticos, ocasionam passagens fundamentais evolu o do conjunto humano, e sendo oteatro uma arte representativa, este, de igual maneira tende a se apropriar dessastransformaes na humanidade para se posicionar de forma eficaz e importante paracada tempo.

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    Estas transformaes, na medida em que avanam nos permite destacar queuma parte da histria do teatro do sculo XX se constitui pelos avanos tecnolgicos, eo j manifestado potencial de hibrida o do teatro, este incorpora de imediato de todasas novas tcnicas, desde a perspectiva at a internet. A aliana entre arte e tecnologiaamadurece, e a marcha inexorvel do mundo para uma cultura digital inclui a arte emseus passos, a arte digital um meio mecanizado cujo potencial parece ilimitado(RUSH , 2006).

    Michael Rush, atenta, que as evolues da humanidade, principalmente nosaspecto da integra o digital, seguem em um movimento irreversvel, e tais revoluesse vinculam ao fazer artstico de maneira efetiva, estabelecendo alianas que resultemem obras significativas que representem essa evolu o. A partir disso, podemos ainda

    apontar neste movimento para poder ent

    o, integr-lo em uma perspectiva histrica que estas evolues poderiam nos causar a sensa o de estabelecimento de umavanguarda teatral do sculo XXI.

    Oscar Conrgo Bernal 2 afirma em seu ensaio O corpo Invisvel: Teatro etecnologia da imagem, que este movimento revela uma caracterstica prpria dasvanguardas artsticas, no qual a interferncia mltipla de signos aponte para um novofazer cnico.

    Este recorte tem caracterizado igualmente as prticas artsticas nasltimas dcadas, com a intensifica o das relaes entre campos divers

    os, normalizando uma atitude prpria das vanguardas [...] Tudo que ocupaum lugar na cena se reveste com seu manto de ilus o e engano, jogo eencena o, mas tambm assume a carga de realidade e a o imediatas,devolvendo ao sujeito sua responsabilidade poltica ao situar novamente aimagem no tempo e no espao de sua produ o, o que est oculto atrs desua aparncia acabada e perfeita. (BERNAL, 2008)

    A no o trazida por Bernal nos permite afirmar que os meios decomunica o, governam o mundo atual, e o teatro, na manifesta o de seu potencialhbrido, tende a reagir dentre a massifica o desses meios, que na medida em queavanam, estimulam as artes performativas a formatarem um fazer que integre campos

    criativos o que reflete na no o de contemporaneidade.Para tanto, esta formata o, transcende a no o sociolgica da teoria da

    vanguarda, no qual estas potencializaes estticas, ou meramente a apropria o da

    2 scar Conargo doutor pelo instituto da lngua espanhola e investigador do conselho superior de

    investigaes cientficas. especialista em teoria e historia do teatro contemporneo e histria comparadados meios de comunica o, alm de professor convidado do PPGT (programa de ps-gradua o emteatro) no doutorado da Universidade do Estado deS anta Catarina.

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    tecnologia pelo teatro, n o se mostrem como o fim da linha para o fazer dramticotradicional que resiste ado o de suportes tecnolgicos, mas pelo contrrio, apresenta possibilidades de evolu o dessa narrativas, no sentindo de interagir de maneira maiscontundente com o espectador na era digital.

    Neste contexto, podemos nos dar conta de que o exerccio teatral atravs desua histria tende inevitavelmente apropria o de diferentes tcnicas e formas deexpress o, para sustentar o seu discurso e fundamentar a sua fun o.

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    3 REVOLUES ESTTICAS NO TEATRO MODERNO: o paradigma da luz

    Dentre as principais revolues que podemos observar ao longo da histriadas artes cnicas, a que se apresenta como uma das mais marcantes , com certeza, ainser o da ilumina o cnica. Deste movimento, destaca-se novamente, e de maneiraconcisa, a necessidade do teatro de apropria o de novas possibilidades tcnicas, sendoa ilumina o, um dos principais fenmenos apresentado com o advento da energiaeltrica. Appia j observava no incio do sculo passado, a importncia da luz colocadaa servio do teatro.

    A luz de uma flexibilidade quase milagrosa. Ela possui todos os graus declaridade, todas as possibilidades de cores, como uma palheta, todas asmobilidades; pode criar sombras, irradiar no espao a harmonia de suasvibraes exatamente como faria a msica. Possumos nela todo o poder

    expressivo do espao. (APPIA, 1954. P. 39)A luz na cena trouxe grandes interferncias no exerccio teatral at a metade

    do sculo XX, potencializando os signos j existentes e possibilitando s artes cnicasuma descoberta esttica de grande valor. O cenrio deveria evocar imagens e originar aa o da luz no novo conceito de espao cnico, o que se tornou primordial, pois, a partir dos jogos de luz, configuram-se volumes e sombras alterando a no o de espao etempo no palco.

    Como vimos nas consideraes acima, neste exerccio de smbolos visuais,

    destacaram-se as contribuies de Adolphe Appia e deGordon Craig que delinearamcaminhos inusitados cena e aos olhos do pblico a partir das primeiras dcadas dosculo XX. Algumas das transformaes do teatro j haviam sido formuladas a partir deexperincias realizadas desde 1888, constando de trabalhos de arquitetura cnica e deilumina o propostos por Appia. Naquela ocasi o o cengrafo apresentou estudos sobreo espao e o tempo teatral at hoje muito utilizados.

    Apropiando-se, portanto, dessa observa o, veremos no decorrer dotrabalho, que os paradigmas que determinam as transies do fazer teatral para novas poticas que se contextualizam a cada mover da histria, s o variados, e atravessam possibilidades inumerveis de cria o no territrio das artes cnicas. Porm neste estudo buscaremos focar na quest o da contamina o tecnolgica, entendendo esses suportescomo pontos decisivos nas transformaes do mundo, logo, do teatro.

    No captulo seguinte, faremos um recorte histrico, de importantes perodose protagonistas do fazer teatral, entreleando estes fazeres com os processos de

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    progresso da tecnologia, e como se d na concep o destes tericos o fenmeno dahibrida o do teatro, alm de observar como reagem os movimentos estticos, a cadanova possibilidade apresentada por suportes tecnolgicos.

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    4 CONTAMINAO TECNOLGICA: experincias mltiplas e variadoscontextos

    Compreender o fenmeno teatral a partir do fluxo contnuo de comunica oestabelecido entre o espetculo e o expectador contemporneo uma tarefa urgentedentre o aperfeioamento e do surgimento de variadas formas de intera o no sculoXXI. As evolues tecnolgicas introjetaram no incio deste sculo uma fragmenta ode olhares a respeito do que conhecemos como cultura. No entanto, esta no o de que asatuais formas de se comunicar do homem moderno, devem ser tomadas pelo teatrocomo mote irradiador de sua potica, n o nova, e data de quase dois sculos passados.

    Neste recorte, observaremos como se aplicam as questes tecnolgicas ao

    fazer teatral, no sentindo de construir um discurso de potencializa

    o embasada nainiciativa de hibrida o, tendo como objeto, importantes pensadores do teatro, que ser oapresentados, cada um em seu contexto como expoentes de processos de intera o delinguagens.

    Experincias de grande valor histrico e poltico, como Erwin Piscator, ouVsevolod Meyerhold, passando por Antonin Artaud e Adolphe Appia, aparecem nodecorrer do captulo como suporte para essas discusses, influenciando com seus pensamentos encenadores contemporneos a eles, chegando ent o na potica de Bob

    Wilson e Robert Lepage. E para legitimar ainda mais este processo de contamina o nacontemporaneidade, onde a realidade humana encontra-se expandida de forma quaseintegral a um novo ambiente, descreveremos o fazer do La Fura Dels Baus, e suacontamina o pelas tecnologias digitais para ent o buscarmos compreender como sed o estes processos ao longo da histria.

    Encenadores como Jacques Poliere3, ainda no sculo passado, encenaramtrabalhos que interagiam diversos campos tecnolgicos, e podem ser apresentados comovisionrios neste sentido. Poliere de incio cengrafo e encenador, torna-se

    rapidamente arquiteto de salas de espetculos, criador de acontecimentos interativosvisando ao que ele chama desde 1957 de um teatro do movimento total (VALLIN,2008).3

    Jacques Poliere um diretor Francs, nascido em Toulouse em 1928, fundador do Lecorbusier efestivais do avant-gard,S uas conquistas v o desde a abstrata encena o do"Livro" de Mallarm na mdiaat os "jogos de comunicao" em uma escala global. Desde 1980 ele produziu uma srie de shows demultimdia completos, com transmisses de vdeos intercontinentais e imagens geradas por computador e projetadas em teles, hologramas etc.

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    A no o de movimento total apresentada por Poliere revela uma encena o potencializada, que explode a a o fsica dos atores em trnsito na cena, ligando estesmovimentos corporais aos demais signos tecnolgicos, igualmente se movimentandoem cena, neste caso as projees.

    Para entendermos essas interferncias nas encenaes contemporneas podemos observar que a inven o do cinema, aparece como um paradigma de revolu odas teatralidades, Antonin Artaud n o hesitar em sonhar com a utiliza o dosartefatos oriundos da stima arte, que podem se tornar objetos para um teatro no qual oencenador [...] se empenharia para compor uma imagem cnica complexa. (VALLIN,apud Artaud, 2008).

    O desejo de Artaud, anunciado no seu segundo manifesto do teatro da

    crueldade, Artaud nos fala de um outro teatro, aquele no qual a realidade daimagina o e dos sonhos surgir em igualdade com a vida e no qual as grandestransformaes sociais, as fora naturais se manifestar o, seja diretamente sob a formade manifestaes materiais, obtidas por meios cientficos novos4.

    Este teatro miditico, que nos d a sensa o de est sendo descoberto agora pela sua recente sistematiza o como j citado, um fenmeno que vem seestendendo desde a metade do sculo XX, onde podemos constatar que a atividadeteatral profundamente arraigada pela cultura cinematogrfica.

    Dentre outros precursores deste movimento, temos que apontar as

    fundamentais contribuies de Adolphe Appia, no qual na ltima dcada do sculo XXobserva a contamina o do teatro pelas projees oriundas da stima arte, e parareafirmar seu vislumbramento, no final do sculo passado Adolphe Appia escrevia:

    A proje o cujos efeitos alcanam uma t o maravilhosa perfei o e que s explorada isoladamente para efeitos especiais (fogo, nuvem, gua etc.) incontestavelmente um dos poderosos recursos decorativo: elo entre ailumina o e o cenrio, a proje o imaterializa tudo o que toca. Por ser absolutamente manejvel, a proje o se presta a todo tipo de utiliza o [...]seu movimento deve alcanar o mximo da perfei o atualmente [...] assimestruturada, a proje o ganha um papel ativo na cena, podendo at s vezes

    suplantar o das personagens [...] quando a proje o for introduzida na cena, a proje o poder dizer-se toda poderosa e poucas coisas lhe ser o negada.(APPIA, 1981).

    A apropria o tcnica oriunda do cinema e plataformas diversas, tambmaparecem no teatro de Piscator como forma de potencializa o. Em seu livro O Teatro

    4 Trecho da tradu o de Teixeira Coelho, o teatro da crueldade, (segundo manifesto) em Antonin Artaud,O teatro e seu Duplo, S o Paulo. Max Limonad, 1984. Pag. 155.

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    poltico Piscator relembra o uso indiscriminado de todos os meios possveis: msica,canes, acrobacias, caricaturas rapidamente esboadas, imagens projetadas, filmes,estatstica, cenas interpretadas e discursos.

    Piscator alugou o Theater AM Nollendorfplatz em Berlim e o inaugurou em 3de setembro de 1927, com a pea antiburguesa de Ernest Toller, H oppla, wir leben (Oba! Estamos Vivos) numa montagem altamente tcnica, em quePiscator atribua a parte filmada uma acentuada fun o didtica.(BERTH OLD, 2006. P. 501)

    Piscator se pronunciou repetidas vezes sobre a quest o de como definir oseu estilo especfico.S ua proposta, explicava ele, era intensificar o efeito ao graumximo, pelo uso de meios extra-teatrais.

    Alm de Erwin Piscator, podemos ainda apresentar neste processo, nomesrevolucionrios do teatro mundial para dar continuidade investiga o da contamina o

    no teatro por formas tecnolgicas. Dentre os mais importantes encenadores podemosdestacar ainda, Vsevolod Meyerhold e sua cultura plstica que n o conhecia limites. Odesejo de Meyerhold era ultrapassar a palavra, buscando agregar elementos a encena oque dissociassem os dois principais canais de percep o: o sonoro e o visual, chegandoa afirmar que a palavra se dirige ao ouvido, e a imagem ao olho. De certo modo, aimagina o do espectador trabalha sob o impacto de duas impresses, a visual e aauditiva, e o que distingue o antigo teatro do novo, que no novo, a plstica e a palavraest o submetidas cada qual a seu prprio ritmo e at se separa dependendo das

    circunstancias (VALLIN, 2006).O desejo de Meyerhold por uma arte nova e engajada na Revolu o

    S ocialista conduz o seu exerccio cnico a importantes reformas artsticas na Rssia noincio do sculo XX. As idias revolucionrias estimularam as transformaes doespetculo e das prticas artsticas n o somente atravs de sua politiza o, comotambm pela busca de uma potica inovadora e em conformidade com as aspiraes dapoca.

    As consideraes teorizadas pelo encenador russo ser o aprofundadas aolongo de sua obra e depois radicalmente aplicadas por Robert Wilson, outro expoentedos usos de imagens e tecnologias na cena.

    Uma das referncias na anlise do teatro do final do sculo vinte oespetculo Einstein on the beach, dirigido em 1976 por Robert Wilson. A pea, oupera, como foi chamada pelo diretor, ou ainda "evento multimdia", quando aexpress o n o era t o comum, foi criada em parceria com o msico PhilipGlass. O

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    espetculo fez uma importante carreira internacional e iniciou um processo detransforma o nos cnones dramticos herdado dos clssicos, abalando muitas dascertezas teatrais da poca. Einstein on the beach marcou, para muitos, uma espcie deano-zero do teatro contemporneo, assim como 1950 marcou o incio do teatro doabsurdo ou 1881, o drama realista.

    Eisnten On the Beach, 19770, por Robert Wilson

    Entender a natureza do percurso artstico de Bob Wilson, um meio decompreender algumas das transformaes da arte nas ltimas dcadas do sculo XX ecomeo do XXI, afinal, a obra deste criador se espalha por trs dcadas de atividade,sessenta espetculos e uma quantidade considervel de questes colocadas artecontempornea.

    Wilson considera a imagem o fundamento e o devir do universo cnico, e responsvel pela renova o do pensamento teatral no ltimo tero do sculo passado,em seu trabalho este encontra uma maneira de liberar o espectador de qualquer

    pensamento racionalista ao ter contato com sua obra, convidando-o assim para umaexperincia de aprecia o a partir do ver e do sentir.

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    Estilo de representao de Robert Wilson: o uso da imagem

    Como convite aprecia o esttica a partir da esttica, a utiliza o dossilncios ou msica minimalista, os ambientes estilizados e a visualidade pontuada pelorecurso da ilumina o teatral, o encenador evoca o dilogo entre as linguagens artsticasde campos diferentes, neste caso utilizando-se dos recursos de sua potica teatral paraapresentar contedos puramente plsticos e visuais em suas composies, obtendoassim resultados muito semelhantes entre essas linguagens. Isso se deve ao fato deWilson mostrar-se sempre preocupado em pensar o Tempo e o Espao como ponto de

    equilbrio de seu trabalho.O tempo para mim uma linha vertical. O tempo algo que vai para o centroda terra e atinge o cu. csmico. E o espao algo horizontal. Mas a umn o existe sem o outro. Assim o equilbrio entre esta cruz. Algo que vai para cima e para baixo. E, ao mesmo tempo, algo que faz sair (WILS ON,1993).

    O trabalho de Wilson nos revela um panorama bastante rico com rela o scontaminaes aqui exploradas, mas para uma contemporaneidade recente, necessrioainda, que se busque evocar neste trabalho a apresenta o da obra do encenador canadense Robert Le Page, para ent o concluirmos este captulo com uma inser o maisdireta nos modos de utiliza o de tecnologias digitais, e assim, nos lanarmos demaneira generalizada em um contexto extremamente atual.

    Em 1994, quando Robert Lepage pediu seus colaboradores para ajudar aencontrar um nome para seu novo empreendimento, ele apresentou uma condi o: oteatro enquanto palavra n o poderia ser parte do nome, assim o nome da iniciativa de

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    Lepage foi batizada de Ex Machina. O grupo que se inaugura , portanto, um coletivomultidisciplinar que rene atores, escritores, cengrafos, tcnicos, cantores de pera,marionetistas, designers de computa o grfica, os artistas de vdeo, contorcionistas emsicos.

    A equipe criativa do Ex Machina acredita que as artes cnicas dana,pera, msica devem ser misturadas com artes gravadas - cinema, vdeo arte emultimdia, e que devam haver reunies entre cientistas e dramaturgos, entre pintores earquitetos, para reafirmar de maneira prtica a intera o proposta pelo grupo.

    Novas formas artsticas certamente ir o surgir a partir desses encontros.E o encenador, juntamente com o Ex-Machina segue na busca de tornar-se o laboratriode um teatro que quer tocar o pblico neste novo milnio.

    La Damnation de Faust por Robert Lepage

    Na visualiza o acima, podemos observar a maneira contundente em quese d esta intera o de campos diversos, sobretudo os tecnolgicos, nas encenaes deRobert Lepage. Para tal o crtico de teatro,H eidi Waleson, escreve para o jornal

    americano WallS treet Journal sobre o trabalho do encenador canadense: N ova Metropolitan, Opera de"Ring" ciclo de Robert Lepage foi uma misturadesconfortvel decuttingedge (novas formas de tecnologia) eold-fashioned (formas antigas de encena o e representa o). Com"Siegfried", a terceirapera, que estreou na quinta-feira, oS r. Lepage e sua equipe finalmente secasou com esses elementos, em parte graas a novas tcnicas de imagens 3-D. Incndio, quedas de gua, topo de uma montanha rochosa, uma densafloresta, at mesmo ver um subterrneo com slithering worms (vermesmicroscpicos) e skittering bugs (superfcies escorregadias) vieramvividamente vida atravs de imagens. (WALES ON, 2001)

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    A potica de Lepage, , sem dvida, uma das mais expressivas obrasdeste milnio, e seu trabalho est atento sensibilidade inerente ao conceito universalde teatro, que como afirmar-se frequentemente aqui, uma arte que se apropria adiversas outras linguagens para dar vaz o sua produ o de subjetividades.

    Por fim, e para legitimar este pensamento, importante ainda, que nos proponhamos na pesquisa, a apresentar uma experincia de grande relevncia para ofazer teatral na contemporaneidade, que revele a irradia o das tecnologias digitais emterritrios artsticos. Neste sentido, seria perturbadora a ausncia de uma importantereferencia; o grupo catal o: La fura dels Baus.

    O La Fura comea sua atua o em 1979, como grupo de entretenimento derua, atuando em diferentes cidades da Catalunha regi o da Espanha e esta primeira

    fase duraria cinco anos, e neste perodo em que o grupo experimentou muitas dascaractersticas estticas que constituriam a sua linguagem.

    Os espetculos de Linguaje Furero s o caractersticos nas obras do LaFura Dels Baus, que de maneira diversificada vem experimentando linguagens diversase interagindo campos desde sua funda o. Dentre algumas das caractersticas quetradicionalmente tm definido o trabalho do La Fura dels Baus, podemos destacar: o uson o convencional de msica, espao, movimento, aplica o de materiais orgnicos eindustriais, incorpora o de novas tecnologias e intera o com a platia durante o que

    eles classificam como show ou macro espetculo.A partir desta proposta o La Fura tem atrado um pblico geralmente longe

    do teatro, e tem proporcionado, de um certo modo, que a linguagem teatral se torneatraente e de boa aceita o nos mais diverssos meios.

    No aspecto da tecnologia digital, o grupo atribui o uso da internet como umanova percep o, a realidade virtual assim, se torna um ambiente de freqente apoio nascriaes de La Fura dels Baus.

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    La Fura Dels Baus Espetculo BORIS GODUNOV Teatro Nacional de Catalunia

    A rede, presente em todas as partes do mundo, tem sido utilizada pelocoletivo para propor e desenvolver aes de interatividade teatral. La Fura definiu ognero como um teatro digital, soma de atores e bits5, e propiciou, a partir do manifesto binrio que grupos do mundo inteiro observassem o fenmeno da internet como possibilidade de cria o e potencial expressivo.

    O manifesto binrio considerado um texto revolucionrio que instigautiliza o de meios digitais nas artes cnicas. Para melhor compreen o deste contexto,abaixo temos o manifesto na ntegra, em uma tradu o livre de um dos participantes daCia paulistana Teatro para Alguem que tambm se utiliza da internet como forma deexpress o em seus trabalhos artsticos, e tm no manifesto binrio uma fonte de grandeinspira o para suas criaes.

    Teatro digital a soma entre atores e bits 0 e 1, movendo-se na rede. Atoresno teatro digital podem interagir a partir de tempos e lugares diversos Asaes de dois atores em dois tempos e lugares diversos correspondem na redea infinitos tempos e espaos virtuais. No sculo 21, a concep o gentica doteatro (da gera o ao nascimento da cena) ser substituda por umaorganiza o de atividades interativas e interculturais. Teatro digital se referea uma linguagem binria conectando o orgnico com o inorgnico, o materialcom o virtual, o ator de carne e osso com o avatar, a audincia presente com

    os usurios da internet, o palco fsico com o ciberespao. O teatro digital daLa Fura dels Baus permite interaes em palcos dentro e fora da rede,inventando novas interfaces hipermiditicas. O hipertexto e seus protocoloscriam um novo tipo de narrativa, mais prxima dos pensamentos ou sonhos,gerando um teatro interior em que sonhos se tornam realidade (virtual). Ainternet a realiza o de um pensamento coletivo, orgnico e catico, que foidesenvolvido sem hierarquia definida. O teatro digital se multiplica em

    5 Bit (simplifica o para dgito binrio, " Binary digit " em ingls) a menor unidade de informa o que

    pode ser armazenada ou transmitida. Usada na Computa o e na Teoria da Informa o. Um bit podeassumir somente 2 valores, por exemplo: 0 ou 1, verdadeiro ou falso.

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    milhares de representaes, em que os espectadores podem colocar imagensde suas prprias subjetividades, por meio de mundos virtuais compartilhados.S er que o teatro digital vai perpetuar a Pintocracia?S er que a Vaginocraciaeventualmente vencer? Ou ser que ambas se juntar o em perfeita harmonia0-1? No teatro digital, a abstra o absoluta coexiste com o retorno ao corpo,que pode ter uma dimens o sadomasoquista tanto quanto uma dimens o

    sensual, angelical ou orgistica; ou talvez uma mistura de todas elas. Por defini o, o ato teatral envolve um excesso, um excedente de performance. o prazer de mostrar e ser mostrado. Uma sensa o de identifica o estabelecida entre o ator e a platia. Como essa identifica o funciona noteatro digital? Como uma m o se encaixa numa luva? Como uma extens o deum ser? Pela integra o na rede? A tecnologia digital torna possvel o antigosonho de transcender o corpo humano. Assim, o ciberespao pode ser habitado por corpos com um novo invlucro de representa o, entre asubjetividade e a materialidade. Temos que deixar nossa prpria pele parachegar a uma referncia comum de percepo. Os papis do ator, do autor eda platia tendem a se misturar. A cultura digital n o significa mais umatecnologia de reprodu o, mas a produ o imediata. Enquanto no passado afotografia dizia era assim, congelando um instante, a imagem digital diz no presente assim, unindo o ato real, o teatro, o aqui e agora. O teatro digital

    permite que a imagem se altere de uma configura

    o para outra, atual evirtual, deixando-a em diversos planos: um cone da sntese que sempre serH UMANO. (MANIFES TO BINRIO, 2009)

    O manifesto binrio, nos revela uma percep o latente para as artes cnicas,frente s grande evolues da formas de se comunicar e de perceber do homem ps-moderno, o texto aparece como uma das principais referncias do pensamento acerca dofazer teatral contemporneo que se integre s tecnologias digitais, no sentido de dar potncia comunica o da obra, observando o fazer humano e suas possibilidades deestender-se com a cria o da internet.

    Como j citado, o manifesto de autoria do grupo catal o La fura DelsBaus, e revela neste interim, a contextualiza o dos fazeres teatrais mais atuais, n onegando a originalidade e essncia do fazer teatral como entendimento generalizado,mas agregando a este fazer para que se cumpra novamente a fun o do teatro asaes e possibilidades do contexto em que se cria, ou se produz arte atualmente.

    Neste contexto, poderamos afirmar que, o manifesto binrio, instiga muitosencenadores contemporneos a dissolver a linguagem teatral, na rede sem perder, noentanto, a essncia do teatro, porm, sem omitir-se de transcender o corpo fsico ereduzir espaos geogrficos, criando eventos interativos, onde a teatralidade exera afun o de plataforma geral para todos os outros acontecimentos em cena,contextualizando e revelando a contemporaneidade.

    A partir do movimento que podemos definir como contemporneo podemos observar que a arte teatral n o hesita em se contaminar de todas as possibilidades e evolues aparentes desde sua gnese ainda naGrcia, pois como

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    podemos analisar nesta sntese, o advento da tecnologia invade a realidade concreta dohomem, o que de forma irreversvel e imediata gera ecos positivos em sua produ o desubjetividades. A arte, portanto, como movimento humano, tende inevitavelmente aacompanhar todos esses processos em todo o mundo.

    Essas revolues nas estticas teatrais ao redor do mundo, de maneirasingular, aparecem no Brasil, na medida em que, o pas se desenvolve e d abertura paraestas formas de experimenta o, tendo seu contexto como plataforma desses fazeres,Assim, veremos no desenrolar da pesquisa, como se d essas experincias no territrionacional tendo a contamina o pelas tecnologias digitais ou simplesmente a internetcomo eixo irradiador do pensamento neste trabalho.

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    5 TECNOLOGIAS DIGITAIS: o advento da internet

    O desenvolvimento da computa o e o avano da internet causam umatransforma o no modo como interagimos com o mundo. A internet umconglomerado de redes em escala mundial de milhes de computadores interligados que permite o acesso a informaes e todo tipo de transferncia de dados. Ela carrega umaampla variedade de recursos e servios, incluindo os documentos interligados por meiode hiperligaes 6, e apresenta ainda, infra-estrutura para suportar correio eletrnico eservios como comunica o instantnea e compartilhamento de arquivos.

    Representao imagtica da internet e suas hiperconexes

    Referindo-se a estrutura da internet em sua capacidade de conectividade ou o suporte de conex o que ela oferece a seus usurios atravs de interaes digitais observa-se que este fenmeno se insere no cotidiano das sociedades contemporneas deforma consolidada e irreversvel, dando aos seres humanos um poder de comunica o

    at ent o desconhecido, permitindo- lhes interagir com outros usurios ao redor domundo em um processo de compartilhamento de dados e impresses do real. Com oadvento da internet, a consequncia que esta dinmica instala no cotidiano da

    6 H iperligaes s o partes dos fundamentos das linguagens usadas para constru o de pginas na Internet

    e outros meios digitais e so designadas elementos clicveis, em forma de texto ou imagem, que levam aoutras partes de um stio ou para recursos variados, tambm conhecida em portugus peloscorrespondentes termos ingleses, hyperlink e link

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    humanidade, podemos afirmar, justamente a altera o das formas como este interage, percebe e interfere em sua realidade.

    A internet literalmente se instala na realidade humana, possibilitando a estedisseminar de maneira livre, seus pensamentos, idias e as formas como compreende ese projeta para o outro. Para legitimar esta reflex o, podemos tomar como ponto de partida o enfraquecimento da no o de presena fsica, a partir do avano da internet e acria o das chamadasredes sociais virtuais 7.

    A universaliza o da cibercultura propaga a co-presena e a intera o dequaisquer pontos do espao fsico, social ou informacional [...] O virtualencontra-se antes da concretiza o efetiva ou formal (a rvore estvirtualmente presente no gr o) o virtual obviamente uma dimens o muitoimportante da realidade (Lvy, 1999. Pag. 27)

    O que emerge naturalmente deste entendimento no que se refere a presena,

    que a intera o atravs da internet, pressupe a existncia fsica de um usuriointeragindo com outros na rede suas manifestaes cognitivas e suas vontades expressasem plataformas de comunica o especficas de interesses comuns. Estas presenavirtuais, o que poderamos chamar de dissolvimento da materialidade, no entanto, asinteraes entre estas presenas concreta / virtual nas superfcies das telas doscomputadores, de igual modo, pressupem, como j citado, uma intera o cognitivaentre dois usurios, o que inegavelmente nos apresenta transferncias de afetividade, talqual no mundo material.

    Uma das principais referncias que podemos expor para este fenmenoseria, portanto as redes sociais. Estas redes oportunizam os seus usurios a manipularemsuas identidades no ciberespao, possibilitando aos navegantes a criarem avatares desuas personalidades, nas redes sociais, os usurios podem fornecer informaes de seuuniverso pessoal, e ainda aglomerar em seu perfil, um histrico de suas vivncias, pessoais e coletivas, atravs do armazenamento de arquivos como fotografias, vdeos etextos diversos.

    As redes sociais possibilitam ainda, por sua utiliza o em larga escala, a propaga o de informaes acerca dos usos de ferramentas diversas da vida cotidiana, eesta possibilidade, para fundamentarmos como se d o estas interferncias, modificam,

    7 As RedesS ociais Virtuais s o grupos ou espaos especficos na Internet, que permitem partilhar dados

    e informaes, sendo estas de carter geral ou especfico, das mais diversas formas (textos, arquivos,imagens fotos, vdeos, etc.).H tambm a forma o de grupos por afinidade, formando comunidadesvirtuais, com ou sem autoriza o, e de espaos abertos ou n o para discusses, debates e apresenta o detemas variados (comunidades, fruns)

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    por exemplo, a maneira como se comportam os mercados, tanto no territrio domarketing, quanto da presta o de servios, onde o eco das manifestaes na redeinterfere de forma urgente nos servios prestados por estes mercados.

    Estas plataformas de intera o na rede revelam a estruturarizomtica 8 dainternet, no qual o estabelecimento de um terceiro ambiente ou umarealidade virtual 9 interaja duas formas de existncia; o orgnico e o inorgnico.

    Neste contexto de contamina o tecnolgica, Pierre Lev10 descortina asreflexes sobre o fazer contemporneo apontando o avano da humanidade para oestabelecimento de uma cibercultura que elege a internet como um artefato inovador oqual estabelece um novo espao e tempo de intera o social, dentre as quais emergemnovas formas de sociabilidade. As proposies do termo cibercultura abrangem os

    fenmenos relacionados ao ciberespao, ou seja, os fenmenos associados s formas decomunica o mediadas por computadores.

    A contribui o de Lev possibilita a reflex o sobre um panorama geral dassociedades ao redor do globo, mas se nos focarmos no teatro, legitimando o reflexo deseus fazeres a partir da compreens o de que todos s o espectadores, chegaremos aoespectador contemporneo, observando, alteraes marcantes em suas formas de percep o a partir de sua prpria realidade.

    Nesta estrutura encontramos as redes sociais, nos forando a perceber uma

    caracterstica do sujeito ps-moderno, ao criar um paralelo entre a idia de perfil on-line ou o avatar de uma identidade do sujeito com o conceito de identidade culturalna ps-modernidade proposto por S tuartH all.

    8 Trata-se de um termo oriundo da botnica e diz respeito a uma estrutura que n o possui um centro, mas

    pequenas razes espalhadas pela superfcie, ampliando-se em todas as direes e n o apenas na vertical,este conceito adotado por Gilles Deleuze eGuattari em sua obra Os plats. Estes filsofos propemque o pensamento, alm da forma arborescente que implica uma hierarquiza o - pode tambmconfigurar-se de outra maneira: o pensamento como rizoma, um pensamento que se faz mltiplo, se quer com diferentes formas, quer subtrair o uno da multiplicidade a ser construda.S egundo os autores, orizoma tem muitas formas diversificadas que v o desde sua extens o superficial ramificada em todos ossentidos at suas concrees em bulbos e tubrculos. (2000; 15). Acreditam que o pensamento humanoest mais para um perfil rizomtico, do que para um perfil arborescente. 9 O termo oficial criado por Jaron Lanier diz que RV (realidade virtual) consiste em diferenciar simulaes tradicionais feitas por computador de simulaes envolvendo mltiplos usurios em umambiente compartilhado. Realidade Virtual uma tecnologias de interface avanada entre um usurio eum sistema computacional. O objetivo dessa tecnologia recriar ao mximo a sensa o de realidade paraum indivduo, levando-o a adotar essa intera o como uma de suas realidades temporais.10

    Pierre Lvy francs e um dos principais filsofos contemporneos da informa o que se ocupa emestudar as interaes entre a Internet e a sociedade.

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    S tuart H all um terico que contribui com importantes obras para osestudos sobre a cultura e os meios de comunica o na ps-modernidade, Professor da

    Open University, uma da figuras mais importantes na sistematiza o do pensamentoda rea de estudos sociais na contemporaneidade.

    Neste sentido, o socilogo afirma que o conceito de identidade passa a ter carter diferenciado em rela o identidade iluminista e sociolgica, j que desarticulaestabilidades e possibilita o surgimento de novas identidades que na vis o do autor s oabertas, contraditrias, plurais e fragmentadas, caracterizando o sujeito ps-moderno.

    H all, portanto, apresenta uma forma dinmica de pensamento, que nos permite refletir sobre a recep o das obras pelo espectador na contemporaneidade, dadaa contamina o pela tecnologia digital e a diversidade de formas de intera o

    apresentadas na ps-modernidade.Para fundamentarmos ainda mais esta no o e de maneira a sistematizar de

    forma mais objetiva a interferncia das tecnologias digitais e a contamina o docotidiano pela internet, podemos extrapolar o campo da identidade para refletirmos nocampo da comunica o, dando a devida aten o a este fenmeno de uma maneira geral,sem perder, portanto, o foco da rela o entre teatro e espectador que queremos tratar aqui.

    Podemos afirmar que este novo modelo de existncia, que se vale de formas

    tecnolgicas, surgiu a partir da no o de que todos os meios de comunica o etecnologias possuem uma estrutura fundamentalmente lingustica, n o como linguagemsimples, mas linguagem em sua forma essencial, cuja origem est na capacidade dohomem de estender-se a si mesmo, atravs de seus sentidos.

    Nesta perspectiva de auto-expans o do homem, os meios de comunica o,tais como a televis o e o rdio, j apresentavam possibilidades de propaga o deinformaes em larga escala, no entanto, somente com o advento das tecnologiasdigitais e da internet, que estes meios de comunica o tradicionais, se potencializam e

    atingem grandes massas em um curto perodo de tempo, at os jornais impressos, podem se afirmar expansivos quando readquam a lgica de distribui o das notciasdigitalizando os peridicos e os distribuindo na rede.

    Este fenmeno apresentado pela internet da rpida propaga o deinformaes atravs do mundo nos faz perceber que essa estrutura de comunica o emmassa reduz o mundo a situa o de uma aldeia, no qual a capacidade de intera o de

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    informaes e contedos pelo progresso tecnolgico superam grandes velocidades eestruturam a sensa o de uma aldeia global.

    O conceito de aldeia global reside no princpio de um mundo interligado eesta no o pode ser observada no pensamento do socilogo canadense MarshallMcLuhan o qual observa que o progresso tecnolgico estava reduzindo todo o planeta mesma situa o que ocorre em uma aldeia.

    Todos os modelos cientficos ocidentais de comunica o s o lineares,sequenciais e lgicos como uma rela o de nfase da ultima etapa medievalsobre a no o grega de casualidade eficiente. As teorias cientficas modernasabstraem a figura do fundo. Para seu uso na era eltrica, se necessita ummodelo de comunica o do hemisfrio direito do crebro, para demonstrar ocarter imediato da informa o que se mova na velocidade da luz. Como avoz, a impress o, a imagem e todos os dados sensoriais procedem de formasimultnea. (McLuhan, 1993, p. 14)

    A no

    o geogrfica de uma aldeia nos permite imaginar um espao cujadinmica permite a difus o das idias de maneira generalizada dentro deste mesmorecorte geogrfico, ou seja, as limitaes espaciais permitem na situa o de umaaldeia que as informaes trafeguem dentro deste recorte, no entanto, a no o deMcLuhan, aponta para um devir no qual a tecnologia digital se agregaria ao cotidianodo homem, expandindo inclusive o seu potencial comunicativo. Esta no o nos clareia aforma como a internet estabelece relaes mutuas entre seus usurios, que tal qual emuma aldeia podem intercambiar informaes e contedos.

    As caractersticas de uma aldeia global atribuem ainda ao discurso oentendimento de que tal expans o no potencial comunicativo gera transformaesnotveis na postura do sujeito ps-moderno, e que essas transformaes na postura dosujeito, interferem na forma como ele percebe o mundo, e s o estas novas formas de percep o cuja gnese est na revolu o tecnolgica, que se vinculam cria o teatralcontempornea como territrio contaminador de novas poticas da cena.

    Neste sentido, a importncia dos tericos citados, se configura a partir danecessidade do teatro de interagir com o seu tempo, sem perder sua essncia, ou

    enfraquecer a teatralidade, mas pelo contrrio, observando as potencialidades de cadaera, para atingir o espectador de maneira eficaz, e deste modo, n o evadir as salas deapresenta o por n o se fazer entender, ou seja, necessrio que o progressotecnolgico do sculo XXI contamine ainda mais as artes cnicas, para estabelecer demaneira mais contundente o fluxo comunicativo entre o evento teatral e o espectador contemporneo.

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    Pode-se ainda, nesta proposta, afirmar que pela velocidade cognitivaestabelecida pelos fenmenos de propaga o da comunica o igualmente em altavelocidade, o expectador de hoje, o da era digital, se mostra desinteressado por estticasvisualmente estticas, o que para ele, se apresenta como uma atividade entediante, e por isso, necessrio atingir a sua produ o de subjetividades, apresentado poticas potencializadas por movimentos e possibilidades que s o apresentadas nas plataformastecnolgicas, garantindo, desta maneira, a experincia esttica que justamente oresultado esperado pelo fazer artstico, quando este estabelece uma comunica o com oespectador.

    A presente pesquisa, portanto, est focada na revela o de como serelaciona o espectador contemporneo com o teatro que se vale de noes e aparatos

    emergentes da contemporaneidade e este objetivo tem sua decorrncia em umaexperincia bastante significativa destes fazeres, e que apresenta de maneira pontual afertilidade do relacionamento entre teatro e tecnologia.

    No captulo seguinte, esta experincia ser descrita e debatida sob a luz dasdiscusses travadas at aqui, no sentido de legitimar estes fazeres, observando anecessidade de sistematiza o do pensamento sobre essa atividade, tanto no universoterico do teatro em escala mundial, mas principalmente, na demarca o de um fazer exclusivamente brasileiro que siga tendncias universais.

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    6 PHILA 7: UMA REFERNCIA BRASILEIRA

    Como vimos at aqui, o dilogo contundente da linguagem teatral e campostecnolgicos diversos, reverbera na sistematiza o de um fazer teatral contemporneo, ecomo citado nos captulos anteriores, na procura por este objetivo, a presente pesquisa busca apresentar uma experincia brasileira; os processos da companhia paulistana Phila7, no qual este trato esttico aparece com grande potencial expressivo.

    A companhia Phila7 surgiu no incio de 2005 com o objetivo de pesquisar novas linguagens e diferentes mdias. Desde seu primeiro trabalho, tem na dramaturgiae na tecnologia ferramentas para o desenvolvimento de novos caminhos para as artescnicas.

    A primeira experincia do grupo foi ainda em 2005 na cidade deS

    o Paulocom a montagem de Galileu Gallilei de Bertold Brecht, no qual, o encenador inseriuuma orquestra ao vivo para fazer trilha sonora, e a aplica o do recurso dodistanciamento brechtiniano era feito com cmeras ao vivo que mostravam depoimentosdos atores no camarim em um tel o na cena e ainda com a inser o de imagens oriundasdo cinema, neste trabalho, j era possvel perceber o apontamento de possibilidades deintera o entre campos diversos.

    Espetculo Galileu Gallilei por Phila 7

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    Deste primeiro encontro entre o encenador Rubens Velloso, dois atores,dessa montagem, uma produtora e alight designer 11 surge efetivamente o Phila 7.

    O trabalho do encenador da Phila 7, reverbera de forma exponencial nacria o teatral contempornea. Utilizando-se de um notvel aparato tecnolgico, oencenador reafirma o conceito de que o teatro segue a revolues histricas no sentidode legitimar seu potencial e seu lugar em meio ao acelerado aperfeioamento dasmdias.S e nos permitirmos ir mais profundamente, trata-se de uma arte que tal qual arealidade est ligada ao aperfeioamento de outras tecnologias para que se estabeleade maneira mais contextual sua produ o de subjetividades.

    Deste modo, o que podemos observar na esttica do Phila 7 que ateatralidade estabelecida de maneira clara, e a rela o entre atores e espectadores se d

    em diferentes territrios: orgnico e digital. O principal aspecto da longa histria doteatro, neste caso, a existncia de atores e espectadores interagindo, mantido,entretanto, a teatralidade evolutiva.

    Com rela o a inser o de mdias no trabalho do Phila 7, podemos observar uma caracterstica marcante do teatro contemporneo, Lehmann afirma que s quandoa imagem de vdeo se encontra em uma rela o complexa com a realidade corporal,comea propriamente uma esttica miditica do teatro (LEH MANN, 2007).

    A partir desta compreens o, o que se pode identificar na composi o do

    Phila 7, seria uma espcie de esttica que transcende as teorias conceituais do teatro emsua essncia. Quando se discute a essncia do teatro em sua pureza, a primeirareferencia que: para que o teatro exista, necessrio que tenhamos a presena docorpo de onde parta a a o do ator quando este inicia a constru o de um personagem,da corporalidade e organicidade ou de um movimento preciso de reflex o cerebral, estaent o seria a melhor forma a ser utilizada para que o corpo torne-se o condutor pelo qualo espectador identifica as aes em cena.

    Cabe esclarecer que este corpo condutor tambm pode ser chamado de

    presena cnica. E, por presena cnica, compreendemos o ato de prender a aten o do pblico, como que criando fios invisveis que ligam a platia ao ator, sendo esta, para oteatro dramtico a melhor e mais eficiente forma de comunica o corporal.

    11 Ligth Designer um termo em ingls usado para iluminadores, a tradu o em portugus design de

    luz, essa conota o revela a luz como um elemento autnomo e de grande eficcia nas encenaescontemporneas e que ainda permite ao profissional da luz, criaes sigunicas dos trabalhos.

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    dois corpos no ambiente virtual, ou seja, o dissolvimento do carter fsico, paraextens o desta presena na superfcie dos computadores, um exemplo prtico seriam,ferramentas de comunica o on-line em tempo real, como oS kype e os Messengers.

    Recorrendo novamente ao conhecimento qumico, o silcio, umcomposto que est na base da fabrica o de vidro, ou seja, a indstria da computa outiliza-se deste composto para fabrica o das telas dos computadores, e ele aparece nosmais diversos tipos de superfcies, como cristal liquido(LCD, Liquid Cristal Display) Telas de LED, etc.

    Esta no o de presena, que opera como plataforma para as criaesartsticas do grupo, sendo elas presena silcica ou carbnica, tida por eles de igualforma como presenas concretas, e esta concretude est entrelaada nessas formas de

    rela

    o e comunica

    o desta era que trabalhamos aqui, e pode-se afirmar que de umamaneira efetiva, esses relacionamentos entre os seres humanos presentes no cotidianodas sociedades, para alm de relaes concretas, ou como se define na Cia; carbnicas,representam uma troca de afetividades.

    Essas formas de presenas interativas, no qual Rubens Velloso, adotaterminologias prprias, podem ser referenciadas nos estudos da telemtica, este conceitodiz respeito a presena mediada pela informtica atravs de meios de comunica o.Experincias com o uso de telepresenas vm continuamente adentrando o espao das

    novas poticas da cena atualmente.Estas experincias consistem na Investiga o sobre os novos estatutos dacomunica o e da performao no mbito das redes telemticas e das novasmdias de intera o. Est o em causa o estudo da telepresena e os diversosagenciamentos do corpo e da presena nas passagens da interface orgnica para a virtual.S o nomeadas tipologias de intera o que incluem ascategorias do corpo extenso, corpo hbrido, hipermdia, cria o de ambientes,Interferncias e performances em tempo real. (COH EN, 2004)

    Com o objetivo de expans o dessas presenas cnicas, a Cia respalda suacria o na no o de que a tecnologia digital deste sculo levou o espectador contemporneo a compreender de outra maneira como se d o as trocas simblicas entreos corpos. A Internet, portanto se apresenta como uma forma de estender a presena atoutros lugares em tempo real, o que consequentemente entrega ao teatro a mesmacapacidade de opera o na rede, trazendo-a para a cena, n o somente como aparatocnico, ou como plataforma tecnolgica, mas como uma fora expressiva.

    Esta realidade observa o encenador do Phila 7 faz com que o eventoteatral seja forado a se potencializar de tais possibilidades, legitimando o discurso da

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    contemporaneidade, no qual limitaes de formas e contedos para o fazer artstico, n os o apresentadas, e a maneira como ns nos relacionamos com os outros e com anatureza est marcadamente alterada pelas tecnologias digitais.

    O Phila 7, como j declarado, um plo irradiador de novas possibilidades para a cena, e essa caracterstica, de maneira natural atrai artistas, tcnicos, pensadores emuitos outros profissionais da rea das artes e da tecnologia, e por se tratar de umtrabalho de encena o diferenciado, que de maneira revolucionria extrapola os limitesda teoriza o teatral, fazendo com que ainda n o haja defini o para o trabalho do Phila7 ou seja, este fazer n o se limita a algum jarg o, ou conceitua o acadmica.

    O encenador trata o trabalho da Cia, n o como espetculo, ou teatro digital,mas como plataforma de eventos. Nesta terminologia, Rubens Velloso, aponta para um

    territrio, que abrange diversos outros territrios e se apresenta como uma superfcie para que outras linguagens interajam, neste caso, linguagens que n o se limitamsomente a no o de arte, mas compreenses que passam pelas mdias, pela computa oas possibilidades com a tecnologia em geral indo at a neurocincia12.

    Este movimento, embora seja considerado revolucionrio e como vimosnos captulos anteriores, est o presentes ao longo da histria do teatro ainda encontraresistncia por parte das agncias de fomento. Na ocasi o da videoconferncia RubensVelloso, relembra um fato em que numa solicita o da produ o do Phila 7 para a

    montagem de um trabalho feita a uma agncia de fomento deS o Paulo, a agenciadevolveu o projeto, alertando que havia considerado o trabalho de grande relevnciaesttica, mas que o mesmo n o se enquadrava dentro das exigncias conceituais do queseria para esta banca o teatro

    Este fato, alerta para a necessidade urgente de sistematiza o desses fazeres,defendendo que a diversidade de possibilidades de encena o na contemporaneidade,transcende a no o comum a respeito do fazer teatral, que seria se daria somente com aatividade orgnica entre atores e espectadores limitados nesta rela o.

    O exerccio artstico do Phila 7, podemos afirmar, se encontra naconfluncia desses fazeres, objetivando estas possibilidades de maneira prtica, comoveremos a seguir.

    12 A neurocincia um termo que rene as disciplinas biolgicas que estudam o sistema nervoso, normal

    e patolgico, especialmente a anatomia e a fisiologia do crebro inter-relacionando-as com a teoria dainforma o, semitica e lingustica, e demais disciplinas que explicam o comportamento, o processo deaprendizagem e cogni o humana bem como os mecanismos de regula o orgnica.

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    No territrio da educa o, ou seja, no que se refere pedagogia do teatro, ouainda seus mtodos de transferncia de conhecimentos, o encenador Rubens Vellosorevela n o utilizar-se de aplicaes didticas de um mtodo cristalizado, Rubensacredita que cada trabalho apresenta necessidades especficas de montagem em que esse processo aparece de acordo com cada uma delas.

    Os conhecimentos tcnicos, como por exemplo, a linguagem de programa o, o manuseio dos computadores, a opera o dos softwares e as demaisnecessidades que n o s o propriamente ditas do universo cnico, de responsabilidadede profissionais especializados em cada rea, que tambm compem o coletivo, noobstante, estes profissionais que atuam nas especificidades tcnicas das montagens doPhila 7 est o absolutamente integrados dentro dos conceitos e das idias que permeiam

    as encenaes.O processo de montagem de um trabalho no Phila, obviamente se inicia na

    reuni o e debate de todas as questes que permeiam a cria o artstica do grupo, e aapropria o destas noes se d o em encontros frequentes na sede da Cia emS o Pauloentre todos os participantes, sejam eles atores, tcnicos de cena, de informtica,cengrafos, produtores ou qualquer outro participante necessrio a cada processo. Esteencontro, podemos observar, uma maneira eficaz de avanar na elucida o ou aomenos processos que apontem para isso das inquietaes que permeiam o fazer

    esttico do coletivo, o que gera consequentemente um resultado mais contundente nascriaes e revela a contextualiza o de seu exerccio artstico.

    A estrutura de coletivo, portanto, aparece na concep o do grupo, comouma proposta metodolgica, onde cada um se insere no processo de maneira a integrar-se em um processo que se entende como um todo. Ainda na videoconferncia RubensVelloso afirma que a necessidade de entender esse processo criativo de uma formacoletiva se mostra eficaz na concretiza o do trabalho, cada participante atua de formaautnoma dentro de suas especificaes profissionais, mas os territrios dessas criaes

    n o s o e n o devem ser apartados, para n o interferir na proposta principal dogrupo, que justamente a coletiviza o de idias e de pessoas que pensemexpansivamente, e que imaginem a possibilidade de expandir na rede para outrosterritrios uma atividade que acontece em uma sala escura, ou seja, o fenmeno doteatro e sua efemeridade sendo explodido de um espao limitado por paredes, paraoutros lugares ao redor do globo.

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    Essa proposta maior do Phila 7, que justamente o trabalho com espaosconectados, ser apresentada no captulo seguinte, e poder ser discutida de maneira bastante clara. O objetivo debater o segundo trabalho do coletivo, a srie play onearth que composta de duas experincias, a primeira, que leva o nome da srie; playon earth e a segunda whats wrong with the world no qual este entendimento materializado em uma obra, e a utiliza o de tecnologias digitais adentram cenacom um potencial marcadamente expressivo.

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    7 SRIE PLAY ON EARTH: uma experincia pioneira

    Em 2006, com o seu segundo trabalho, a srie de espetculos "Play onEarth", o Phila 7 tornou-se pioneira no uso da Internet para a cria o e apresenta o deuma pea teatral que uniu trs elencos em trs continentes simultaneamente: Phila 7 emS o Paulo,S tation H ouse Opera (Inglaterra) e Cia Theatreworks em Cingapura. Trsaudincias, cada uma em sua cidade, assistindo as atuaes em tempo real, formandoum quarto espao imaginrio.

    Espetculo da srie Play On Earth (pea na terra) Phila 7 (BR)

    Este trabalho que rene trs audincias de expectadores em diferentecidades, exemplifica de maneira concreta a proposta trazida pelo Phila 7. As condiestcnicas para que o trabalho acontea, apresenta uma diversificada plataforma detecnologias, dentre as quais a mais importante uma poderosabanda larga 13 que d o

    suporte de transferncia de dados na rede atravs do o uso de streaming 14.

    13 O termo banda larga pode apresentar diferentes significados em diferentes contextos. A recomenda o

    I.113 do setor de Padroniza o da UIT (uni o internacional de telecomunicaes) define banda largacomo a capacidade de transmiss o que superior quela da primria do IS DN (sistema de navega o queutiliza as redes de telefonia convencionais para transmitir dados em alta velocidade).14 S treaming ( fluxo, fluxo de mdia) uma forma de distribuir informa o multimdia numa rede atravsde pacotes. Ela frequentemente utilizada para distribuir contedo multimdia atravs da Internet.

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    A pea Play On Earth com sua plataforma de tecnologia possibilita suaexpans o atravs do globo, o que novamente nos remete ao conceito de aldeia global.Os elementos chave da encena o teatral, neste aspecto, s o mantidos, no entanto, o jogo de organicidades entre atores e sua rela o com os espectadores expandido e suas presenas fsicas ou carbnicas, s o dissolvidas de modo a dar vaz o ao fluxo decomunicaes estabelecidas entre os participantes do evento em todas as audincias nomundo, interagindo em tempo real, o que caracteriza, ainda referindo-se ao pensamentodo socilogo canadense Marshal Mcluhan, o que poderamos chamar de platia global.

    Esta observa o de que a internet, apresentava-se como um potencialexpressivo e como um territrio poderoso de produ o de sentidos, adotada no Phila 7a partir do processo criativo do play on earth , sendo o Phila a companhia brasileira

    convidada pelo diretor doS

    tationH

    ouse Opera da Inglaterra para participar daexperincia.

    M ontagem da pea Play On Earth (pea na terra) Phila 7 (BR) com Rubens Velloso a direita

    O uso e aplica o de tecnologias digitais, na srie reflete a no o decontemporaneidade, quando n o se limita a conceituaes pragmticas do universoteatral, ou ainda n o se permite enquadrar-se em terminologias determinadas pelos jarges acadmicos.

    Com isto, os espetculos da srie play on earth se apresentam como ummix de possibilidades que transcendem essas denominaes. Basicamente, a proposta

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    do play on earth fundamenta-se na aproxima o junto tecnologia n o apenas comosuporte, mas como ferramenta que cumpre a revitaliza o esttica da express o e, aomesmo tempo, amplifica sua capacidade de transmitir e trocar sensaes entre atores e perante o pblico.

    Para nos aproximarmos desta experincia, o presente trabalho, traz em seucorpo uma possibilidade de aprecia o, nas referncias videogrficas, temos uma mdiacom fragmentos das apresentaes da srie em vdeo, e a seguir poderemos verificar tambm o relato de um espectador da srie; o pesquisador RodolfoGonalves Arajo,que investiga novas possibilidades na cena contempornea e ligado a PUC-S P. Orelato do pesquisador foi apresentado no Encuentro de la RedINAV, em Bogot Colmbia, no ano de 2008, e nesta ocasi o, ele apresentou detalhes sobre sua

    experincia com o P

    lay On earth: Em cada localidade, os espectadores lidavam com duas dimenses bsicas denarrativa. A primeira, fsica, presencial, dava-se no palco posicionado diante da platia. Logo acima da caixa cnica, todavia, estava instalada uma tela, na qual eram projetadas imagens ao vivo do que ocorria nos outros dois pases, somada a umaimagem do prprio local que oferecia um outro ngulo acerca do que se poderiaenxergar materialmente. Os atores moviam-se por entre as marcas combinadas,auxiliados por pontos eletrnicos que asseguravam a sincronicidade entre gestos edilogos dados nos e entre os pases. No espao brasileiro, ao fundo, caixas echapas de madeira conferiam um ar de transitoriedade, como se o espetculoassumisse de forma transparente seu carter provisrio. Na tela, os pases seencontravam. Imagens de Cingapura, Brasil e Inglaterra uniam-se em determinadosmomentos, formando uma espcie de quarto pas, uma materializao dosincretismo entre global e local no mbito da narrativa. Os momentos de maior profus o, indubitavelmente, ocorriam nos pontos em que a comunica o dava-se deforma plena nesse sentido. Dois anos depois, o primeiro espetculo da srieapresentou sua continuidade, desta vez com sem a participa o do grupo deCingapura. A nova montagem, intitulada What

    s Wrong with the World?

    propunha-se a aprofundar os questionamentos e a proposta estabelecida na primeira pea, tanto esteticamente a partir da manipula o de meios e recursos digitais como no campo dos contedos abordados. A dramaturgia, nas duas fases da srie,direcionou-se a explicitar, apoiada em conflitos derivados de relacionamentos, a problemtica da incomunicabilidade no contexto ps-moderno. O primeiro ponto aser considerado nos elementos comuns s duas partes de Play on Earth diz respeitoaos seus fundamentos narrativos. Por ocorrerem em mais de uma localidade, osespetculos apresentam camadas dramatrgicas que se sobrepem aosacontecimentos presenciais verificveis nos palcos. As projees nas partes externasdos teatros e a transmiss o das imagens internacionais criam um mosaico

    entrecortado, no qual o fio condutor faz-se uno e ntegro somente se efetivamenteconectado por entre os frames que compem o drama. A conectividade, alm deadvento tecnolgico, um espao imaterial no qual o espetculo efetivamenteocorre, ou seja, um espao virtual em que os smbolos dialogam e produzemsentidos. O aspecto mais destacvel reside na quebra da narrativa teatral a partir deoutros recursos n o apenas cosmticos, mas decisivos para a amplia o ecompreens o do drama

    (Rodolfo Arajo)

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    O relato crtico do pesquisador RodolfoGonalves Araujo, nos revela amaneira revolucionria no qual este experimento se constri e revalida toda a discuss oapresentada neste trabalho, sob a tica de que os processos de hibridismo ou intera oentre campos pelo teatro, constitui-se como uma mxima das artes cnicas, no sentidode potencializa o de seu discurso e na busca por contextualiza o.

    A experincia, nos mostra ainda, que as tecnologias digitais, s o umacondi o irreversvel na ps-modernidade, e que ela proporcionam ao humanodesenvolver extenses de seu prprio crebro quando cria meios de potencializa o desuas matrizes comunicativas e sua produ o de linguagens. Deste modo a percep o que podemos constatar a respeito da experincia deplay on earth se d no campo de queela nos mostra de que maneira essas novas poticas se instalam nos fazeres teatrais

    contemporneos, n

    o tapando as possibilidades do j debatido conceito teatral e suadiversidade de correntes, mas coexistindo junto a essa diversas formas.

    Neste contexto a arte possui a urgente tarefa de codificar essastransmutaes para que sua produ o de subjetividades crie um paralelo com odesenvolvimento humano, no qual a tendncia, como nos revela todo esse movimento,caminha a passos largos para um momento em que as humanidades estar o arraigadas efragmentadas no j conhecido e visitado ciberespao.

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    8 CONSIDERAES FINAIS

    O tempo um fenmeno no qual ainda apresenta-se como uma incgnita,mesmo para as mais profundas reflexes filosficas, proposies sociolgicas ou pensamento cientficos sobre o modo como ns transformamos, nos degradamos ouevolumos dentro da perspectiva fundamental de compreender qual a nossa fun o nessaexistncia, como humanos, como agentes de transforma o e sobretudo como pensadores.

    Entender o tempo como superfcie, para nos colocarmos sob a luz do tic-tacquerendo se mostrar eterno, uma boa iniciativa para percebermos que somos mutveis,maleveis, e toda nossa cria o acompanha, em qualquer campo, as mudanas sugeridas

    pelos crepsculos seguidos de alvoradas, dia aps dia. Nesta reflex o, o teatro como uma das fundamentais manifestaes do

    homem, e como uma das mais difundidas artes mundiais, n o se integra a formaslimitativas, mas pelo contrrio, se enraza no seu contexto de cria o para se mostrar cada vez mais potente e verdadeiro, frente aos diferentes paradigmas que surgem aoseguir do tempo.

    Apropriando-se dessa no o, esta investiga o, props um recorte no percurso do teatro mundial, no sentido de posicionar a linguagem teatral numa

    perspectiva histrica, para reafirmar sua fun o que extrapola os limites de suaapresenta o e se posicione de igual modo uma esfera globalizada e contempornea.

    As experincias sugeridas aqui s o demonstraes efetivas de que estacapacidade de hibrida o do teatro, pode-se afirmar, quase uma condi o para suacoexistncia nos contextos atuais.S e submergirmos no oceano de contaminaestecnolgicas ao nosso redor, poderemos observar que a existncia humana est fadada aestender-se a artefatos, superfcies e contextos tecnolgicos.

    Exemplos como a medicina, cincia que ocupa da investiga o acerca da

    permanncia e da sade do homem, pode ser citada como um campo que n o hesita emavanar no seu progresso tecnolgico, para tornar de valor ainda mais fundamental oseu percurso. Ou ainda para nos aproximarmos ainda mais da idia, tomemos comoreferncia, os celulares e computadores a nossa volta, que s o, inegavelmente, extensesde ns mesmos, ou ainda de nossa necessidade nata de nos comunicar.

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    O teatro arte do momento, da precis o, uma ferramenta poderosa noaspecto da produ o de subjetividades e afetaes didticas, necessrio, portanto, queeste se revista de possibilidades para se contextualizar e potencializar o seu efeito sobreaquele que o faz e, sobretudo, quele que o v que s o exatamente aqueles que osentem.

    Esse debate pde ser observado ao longo da descri o de contextos diversosdo fazer cnico, legitimados por pensamentos de alto grau de importncia para aevolu o do homem, tais como o campo da filosofia e da sociologia, trazendo umano o mais fundamentada em questes que s o debatidas em outros territrios que n os o fundamentalmente do pensamento artstico, mas se valem da arte para avanar emsuas proposies.

    Finalmente, uma experincia brasileira, executada dentro das aspiraes denosso pas, que neste contexto, a segunda dcada do sculo XXI, avana emcrescimento econmico, desenvolvimento humano e outras transformaesfundamentais evolu o de uma na o, colocada em voga, e discutida sob luz dediversas possibilidades, fundamentando, assim o seu fazer.

    O Phila 7, nesta investiga o, o objeto de aprecia o, de busca equestionamentos acerca da compreens o do fazer teatral contemporneo, e de igualmaneira a srie de espetculos play on earth se apresentou como um oceano de

    possibilidades de indagaes e contestaes a respeito destes fazeres, s o poticas potencializadas, que se contaminam das possibilidades de seu contexto e seu tempo, ouseja, do progresso tecnolgico e do ciberespao.

    Por fim, este trabalho espera contribuir, n o para elucida o, mas paraenriquecimento do processo de investiga o acerca das novas formas de cria o artsticae como nossos contextos podem influenciar nesses fazeres, reverberando na evolu o denossas possibilidades criativas e de nossas capacidades de produzir conhecimento.

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    ANEXOS