Cartilha agroecologia.pdf

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Agricultura Familiar, Agroecologia e Mercado N o 2 2008

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  • EXPEDIENTE

    Projeto Agricultura Familiar, Agroecologia e Mercado

    Desenvolvimento Sustentvel da Agricultura Familiar no Nordeste

    Representante da Fundao Konrad Adenauer Fortaleza: Anja Czymmeck

    Coordenadora Geral:Angela Kster

    Coordenador tcnico: Jaime Ferr Mart

    Coordenadora administrativa: Pollyana Vieira

    Equipe tcnica:Narciso Ferreira Mota, Nashira Mota e Pollyanna Quemel

    Cooperante do DED-Brasil:Thomas Jaeschke

    Estagiria: Ana Gabriela Bezerra Lima

    Elaborao de textos:Angela Kster, Jaime Ferr Mart, Nashira Remigio Mota, Pollyanna Quemel, Narciso Ferreira Mota

    Reviso e edio de texto:Maristela Crispim

    Projeto grfico, capa e ilustraes:Fernando Lima

    Fotos:Arquivo Fundao Konrad Adenauer (exceto quando disposto em contrrio)

    Jornalista responsvel:Maristela Crispim (CE0095JP)

    Todos os direitos para a utilizao desta cartilha so livres. Qualquer parte poder ser utilizada ou reprodu-zida, desde que se mantenham todos os crditos e seu uso seja exclusivamente sem fins lucrativos.Disponvel para download em www.agroecologia.inf.br

    Esta publicao foi realizada com apoio da Unio Europia(UE).O seu contedo no expressa necessariamente a opinio da UE.

  • Agroecologia colocada em prtica a segunda de uma srie de cartilhas pro-duzidas no mbito do Projeto Agricultura Familiar, Agroecologia e Mercado (AFAM), coordenado pela Fundao Konrad Adenauer, com co-financiamento da Unio Euro-pia (UE).

    A construo do conhecimento agroecolgico se realiza a partir da juno da teoria e da pratica, atravs do intercmbio de experincias entre os agricultores e pesquisadores cientficos. Dessa forma sugiram muitas tecnologias adaptadas ao semi-rido e s realidades da agricultura familiar para o manejo ecolgico das pro-priedades familiares.

    Os agricultores chamados de experimentadores, que esto desenvolvendo di-ferentes tecnologias ou aperfeioando-as, contribuem para o processo de construo desse conhecimento.

    Esta cartilha apresenta algumas das prticas voltadas ao estmulo da transio agroecolgica com a inteno de contribuir para sua divulgao, sem a pretenso de ser completa e sem poder aprofundar muito na sua aplicao. Sua proposta de fer-ramenta metodolgica a ser utilizada em cursos, estimulando a troca de experincias e a socializao das prticas desenvolvidas e a adoo dessas tecnologias por cada vez mais famlias no Nordeste.

    Contriburam com o contedo dessa cartilha agricultores e agricultoras que parti-ciparam dos cursos e oficinas do Projeto AFAM e de outras entidades, como tambm os tcnicos e agrnomos que os acompanham.

    Esperamos que este material contribua para complementar as suas prticas e experincias na aplicao e adequao dessas tecnologias.

    APRESENTAO

  • Projeto Agricultura familiar, Agroecologia e Mercado

    O Projeto Agricultura Familiar, Agroecologia e Mercado (AFAM), co-financiado pela Unio Europia (UE) de 2006 a 2011, tem como objetivo promover a melhoria da qualidade de vida, soberania alimentar e empoderamento da populao no semi-rido do Nordeste do Brasil, por meio do fortalecimento da agricultura familiar eco-lgica e sustentvel.

    Trabalha, para tanto, o fortalecimento da organizao social e da qualificao de agricultores familiares, na produo, planejamento, gesto e comercializao de pro-dutos agroecolgicos, promovendo uma maior participao de mulheres e jovens.

    No Estado do Cear, o projeto est contribuindo para a criao e fortalecimento de redes de agricultores(as) familiares ecolgicos(as) na regio de Itapipoca, no Serto Central e no Macio de Baturit, em parceria com as organizaes no-governamentais (ONGs) Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (CETRA) e Ncleo de Iniciativas Comunitrias (NIC). O Centro de Cincias Agrrias da Universidade Federal do Cear (CCA-UFC) parceiro formal no apoio cintifico ao projeto, que conta tambm com o apoio do Instituto de Desenvolvimento de Energias Renovveis (IDER), na difuso de energias alternativas, e de outros parceiros locais e estaduais.

    Alm disso, existem articulaes com redes e entidades em outros Estados do Nordeste, promovendo a troca de experincias e construo de estratgias para avanar na difuso da proposta agroecolgica.

    e-mail: [email protected]

    homepage: http://www.agroecologia.inf.br

    Fundao Konrad Adenauer

    A Fundao Konrad Adenauer uma fundao poltica da Repblica Federal da Alemanha que, naquele pas e no plano internacional, vem trabalhando em prol dos direitos humanos, da democracia representativa, do Estado de Direito, da economia social de mercado, da justia social e do desenvolvimento sustentvel. Os principais campos de atuao da Fundao so a formao poltica, o desenvolvimento de pes-quisas aplicadas, o incentivo participao poltica e social e a colaborao com as organizaes civis e os meios de comunicao.

    No Brasil, realiza seu programa de cooperao por meio de um Centro de Estudos no Rio de Janeiro e de uma Representao em Fortaleza, para o Nordeste e Norte do Pas, sempre em conjunto com parceiros locais. Com suas publicaes, pretende contribuir para a ampliao do debate pblico sobre temas de importncia nacional e internacional.

    Nas publicaes da Fundao Konrad Adenauer, os trabalhos tm uma metodolo-gia cientfica e tratam de temas da atualidade, principalmente nos campos das cin-cias sociais, polticas, econmicas, jurdicas e ambientais. As opinies externadas nas contribuies desta publicao so de exclusiva responsabilidade de seus autores.

    e-mail: [email protected]: http://www.kas.de/brasil

  • Captulo 1Agricultura familiar no Nordeste

    Captulo 2A construo do conhecimentoe das prticas agroecolgicas

    Captulo 3Passos para a transio agroecolgica

    Capitulo 4Prticas agroecolgicas

    Capitulo 5Quintal produtivo

    Capitulo 6Agrofloresta

    06

    13

    17

    22

    36

    43

    SUMRIO

  • 6Recentemente a agricultura familiar passou a ser reconhecida como fator social e eco-nmico importante, tanto no Brasil quanto no Nordeste.

    Durante sculos as populaes indgenas foram aculturadas e suas prticas de cultivo, que imitavam a natureza, foram ignoradas. A agricultura era toda voltada para a exportao de matria-prima como acar e caf desde a colonizao. Nas fazendas, os escravos s tinham direito a plantar para a sub-sistncia.

    Assim, a agricultura familiar foi considerada apenas para subsistncia. Mas foi esta agricultura que garantiu a sobrevivncia das famlias, inclusive

    no semi-rido.

    Ao longo dos sculos muitas fa-mlias foram expulsas das suas terras, afastadas para outras pouco cultivveis ou atradas para outras regies. Pro-curaram servios como trabalhadores rurais nas fazendas. Outros tantos

    migraram para as cidades, con-tribuindo para a construo dos

    grandes centros industriais no Sul e Sudeste ou foram povoar as vastas regies da Amaznia.

    Cap

    tulo

    1Ag

    ricul

    tura

    fam

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    ste

    Agricultura de subsistncia

  • 7O Nordeste caracterizado pela Casa Grande e Senza-la, com relaes especficas entre os donos do poder e seus su-bordinados, que dependiam uns dos outros. A falta de informaes e edu-cao, tanto quanto as barreiras para a organizao do povo, eram estrat-gias para manter a ordem, geralmente atravs da violncia e do medo. A resis-tncia de alguns povos indgenas, escra-vos fugitivos ou outros grupos, como os cangaceiros uma mistura de bandidos e guerrilheiros iniciaram a formao dos primeiros movimentos sociais contra a dominao e explorao.

    Alguns movimentos ganharam destaque. Canudos (1893-1897), na Bahia, liderado por Antnio Con-selheiro, foi eternizado nos Gran-des Sertes de Euclides da Cunha. O Caldeiro de Santa Cruz do Deserto (1926 - 1937), iniciado pelo beato Jos Loureno, na Regio do Cariri cearen-se, foi outro movimento importante. Es-tas duas experincias de revolues sociais nordestinas foram prontamente combatidas porque mostraram uma forma de organizao igualitria e independente.

    Os Quilombos eram outras formas de resistn-cia, que mantiveram fortalecidas as razes africa-nas que permanecem at hoje nas comunidades quilombolas.

    Os movimentos sociais impulsionam a reforma agrria para a (re)distribuio da terra para que agricultores e agricultoras familiares possam dela ti-rar sua sobrevivncia.

    O Caldeiro de Santa Cruz do Deserto foi um dos movimentos messinicos que surgiu nas terras do Crato, Cear. A co-munidade era liderada pelo paraibano de Piles de Dentro, Jos Loureno Go-mes da Silva, mais conhecido por beato Jos Loureno.No Caldeiro, os romeiros e imigrantes trabalhavam todos em favor da comuni-dade e recebiam uma quota da produ-o. A comunidade era pautada no tra-balho, na igualdade e na religio.

    Movimentos sociais no Nordeste

  • 8Tecnologias modernas no semi-rido

    Depois da Primeira Guerra Mundial surgiu a Agroindstria, com uma produo em grande escala, baseada em tcnicas da chamada Revoluo Verde, que trazia um paco-te tecnolgico com a dinmica de uso de sementes hbridas, adubos sintticos, agrotxicos e mecani-zao. Essas tcnicas chegaram pelos anos 1960 e 1970 ao Nordeste, mas no eram adequadas para muitas realidades, inclusive a do semi-rido, que tem solos rasos e secos.

    A mecanizao do manejo do solo aumentou o desmatamento da vegetao nativa, deixando a ter-ra exposta ao sol, vento e chuva, desencadeando a diminuio da biodiversidade e da disponibilidade de gua na regio.

    Em conseqncia deste pacote, hoje aproxima-damente 15 % da rea do semi-rido, incluindo o norte de Minas Gerais, esto em processo de deser-tificao. Segundo o Ministrio do Meio Ambiente e Recursos Hdricos e da Amaznia Legal (MMA), qua-

    se 86 mil pessoas no Estado de Pernambuco vivem em reas que em poucos anos vo se transformar em deserto.

    Aproximadamente 92% do territrio cearense encontra-se no semi-rido, sendo suscetvel de-sertificao. Esta situao se agrava com os desma-tamentos e queimadas. Atualmente restam apenas 16% da cobertura natural do Estado.

    O Mdio Jaguaribe e o Serto dos Inhamuns e de Crates so as regies mais atingidas, alm da cidade de Irauuba, que uma das quatro reas gravemente atingidas pela desertificao do Pas.

  • 9De fato houve pouca mecanizao nas pro-priedades da agricultura familiar, pois as mquinas foram feitas para grandes reas e so pouco adequadas para as pequenas proprieda-des. Mas sementes, fertilizantes, adubos e defensi-vos industrializados foram difundidos e financiados tambm para os pequenos agricultores. Alm disso, prticas como a queimada, usada pelos povos ind-genas, em pequena escala e com um tempo longo de recuperao, prejudicam os solos e contribuem para os processos de degradao.

    Iniciou-se, assim, um ciclo vicioso, provocando um desequilbrio entre as plantas nativas e as culti-vadas, que foram introduzidas. Enquanto as chuvas eram suficientes para a ve-getao nativa, as semen-tes de fora, condicionadas a outras condies de clima e umidade, precisavam quan-tidades cada vez maiores de adubos e venenos.

    A produo familiar, que tinha antes o custo da mo-de-obra, ficou mais cara com a compra de in-sumos. Muitos agriculto-res se endividaram com os crditos, enquanto os insumos se tornavam cada vez mais necessrios para garantir a produo. Sem perspectiva de melhoria de vida muitos agricultores e agricultoras foram para as cidades. O xodo rural principalmente dos jovens preocupante, pois, sem a agricultura familiar, quem vai produzir os alimentos que vo para a mesa dos brasileiros?

    De 1940 para c a populao bra-sileira cresceu muito. E boa par-te deixou o campo para tentar a sorte nos centros urbanos. Hoje, o Brasil tem mais de 188 milhes de habitantes, 81% nas reas urbanas e 19%, nas reas rurais*.

    *fonte: portal brasil

    Ciclos viciosos esvaziam o campo

  • 10

    Em resposta a esses impactos sociais e am-bientais foram surgindo ou se fortalecendo vrios movimentos no mundo inteiro, que se voltaram para prticas agrcolas baseadas na natu-reza. Podemos citar as agriculturas orgnica, biodi-nmica, natural e regenerativa, entre outras, que defendem alternativas ao modelo convencional de produo industrializada dos alimentos.

    Os olhares dos movimentos e organizaes so-ciais se voltaram para as reas rurais, onde encon-traram saberes dos povos tradicionais remanescen-tes, que se mostram auto-sustentveis nas pequenas reas que lhes restaram. Cientistas de vrias reas, como agrnomos, antroplogos, socilogos e eco-nomistas, descobriram que nas formas de vida con-sideradas atrasadas existem, na verdade, modelos de organizao social adaptados ao seu meio am-biente, vivendo com e no contra a natureza.

    A Agroecologia nasceu como proposta de reunir todos estes esforos na procura da sustentabilidade, no s da agricultura familiar, mas da vida humana neste planeta.

    O surgimento de outro modelode desenvolvimento rural

  • AGRICULTURAFAMILIAR

    84% daproduo

    de mandioca

    31% daproduode arroz

    49% daproduode milho

    67% daproduo de

    feijo

    40% daproduo deaves e ovos

    59% daproduode sunos

    52% daproduode leite

    25% daproduode caf

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    Nos ltimos anos, a agricultura familiar ga-nhou reconhecimento na sociedade e nas polticas pblicas, sendo responsvel pela produo de 50% dos alimentos bsicos, com quali-dade, garantindo soberania e segurana alimentar ao povo brasileiro. O apoio dos governos aos agriculto-res familiares aumentou, principalmente do Governo Federal, atravs do Ministrio de Desenvolvimento Agrrio (MDA).

    De 2002 para 2008 os recursos destinados para agricultura familiar aumentaram cinco vezes, grande parte deste investimento veio em forma de crdito no Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF) ou como investimento na extenso rural e assistn-cia tcnica. No incentivo comercializao houve avanos com o Programa de Aquisio de Alimentos (PAA), que permite a compra de produtos da agricul-tura familiar para a merenda escolar da rede pblica de ensino ou outras instituies pblicas, pela Com-panhia Nacional de Abastecimento (CONAB).

    Tambm houve avanos na reforma agrria. No Nordeste existe um nmero crescente de assenta-mentos federais e estaduais, que recebem assistn-cia tcnica e apoio atravs do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA).

    Fique de olho no oramento pbli-co. Nas pginas www.transparen-cia.gov.br possvel acessar tudo que previsto e o que foi gasto no seu municpio, no Estado ou pelo Governo Federal. Se organizar com outros para pensar em aes e par-ticipao seu direito!

    Caractersticas principais da agricultura familiar:

    1. Os empreendimentos so ad-ministrados pela prpria famlia

    2. Neles o trabalho familiar su-perior ao trabalho contratado

    Atualmente so 85% dos estabe-lecimentos agropecurios que se enquadram nesses critrios, ou seja, tudo que no latifndio agricultura familiar

    A agricultura familiar ganhaimportncia poltica

  • REGIO ESTABELECIMENTOS REA VALOR BRUTO DAPRODUOFINANCIAMENTO

    TOTAL

    NordesteCentro Oeste

    NorteSudeste

    SulBrasil

    49,7%3,9%9,2%

    15,3%21,9%100%

    31,6%12,7%20,3%17,4%18,0%100%

    16,7%6,2%7,5%

    22,3%47,3%100%

    14,3%10,0%5,4%

    15,3%55,0%100%

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    Participao percentual das regies no nmero de estabelecimentos, rea, valor bruto da produo e financiamento total destinado aos agri-cultores familiares.

    Fonte: IBGE

    A regio apresenta as menores rendas mdias por estabelecimento, sendo tambm sua rea m-dia a menor do Pas. Sendo a grande maioria dos estabelecimentos nordestinos enquadrados na agri-cultura familiar (88,3%). Detm 43,5% da rea da regio, geram aproximadamente o mesmo percen-tual do valor bruto da produo (43,5%) e capturam 26,8% do financiamento total.

    Debate: a agricultura familiar deve produzir energia usando plantas e sementes?

    Utilizar alimentos para produzir combustvel poderia desencadear uma grave crise humanitria, idia a princpio ignorada, mas a pou-ca oferta de alimentos leva a esses questionamentos: a produo de etanol e biocombustveis em larga escala pode mesmo potencializar a fome? A agricultura familiar do Nor-deste tem estrutura para produzir combustvel? Considerando, que parte da produo de alimentos da agricultura familiar consumida na propriedade, como ficaria a segu-rana alimentar das famlias?

  • 13

    A dcada de 1970 foi marcada pelo despertar sobre os efeitos desastrosos de um mode-lo de desenvolvimento que provocou muita degradao ambiental. A Conferncia do Meio Ambien-te das Naes Unidas realizada em 1972, em Esto-colmo, Sucia foi um marco a partir do qual os pases iniciaram a definio das suas legislaes ambientais e implementaram ministrios de meio ambiente. Tambm os movimentos e organizaes sociais que se preocu-pavam com a situao socioeconmica dos trabalhado-res rurais e agricultores (as) familiares comearam a voltar suas atenes preservao ambiental.

    As culturas tradicionais que produzem e vivem em harmonia com a natureza ganharam mais aten-o e despertaram o interesse de diferentes cientistas para as prticas agrcolas desses povos. A Agroecologia surgiu como cincia de uma agricultura alternativa ao modelo chamado convencional no intercmbio das pr-ticas tradicionais com os conhecimentos cientficos. A Agroecologia une prticas tradicionais, o conhecimento cientfico e a criatividade vinda da observao da na-tureza com o objetivo de produzir alimentos respeitan-do e aproveitando os ambientes e os ciclos naturais. Assim, a agricultura est sempre se adaptando a no-vas realidades atravs da experimentao, tendo, para isso, os seguintes princpios norteadores:

    Respeito dinmica da vida

    Busca de uma relao equilibrada com os ecossistemas

    Sustentabilidade (econmica, ecolgica e social)

    Cap

    tulo

    2A

    cons

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    tica

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    cas Princpios e fundamentos

    da Agroecologia

  • A Agroecologia hoje considerada uma cincia com ferramentas tericas e me-todolgicas que consideram de forma holstica e sistmica as seis dimenses da susten-tabilidade: Ecolgica, Econmica, Social, Cultural, Poltica e tica. Nestas dimenses surgem as ques-tes de gnero, geraes e etnia, adaptao e uso de tecnologias para uma vida melhor e sustentvel com o tempo.

    A discusso sobre o conceito da Agroecologia ga-nhou visibilidade, consistncia e sentido, no Brasil, com as contribuies de pesquisadores e agroecolo-gistas como Miguel Altieri, Stephen Gliessman, Ana Primavesi, Francisco Roberto Caporal, Jos Antnio Costabeber, Eduardo Sevilla Guzman, Jos Lutzen-berger e outros. O conceito foi desenvolvido com experimentaes e interlocues entre agricultores (as), movimentos sociais e interdisciplinaridade de cincias como Ecologia, Biologia, Agronomia, Geo-grafia, Geologia, Economia, Arquitetura e Cincias Sociais.

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    A Agroecologia um conceito em cons-truo que prope uma agricultura so-cialmente justa, economicamente vivel e ecologicamente sustentvel. Trabalha um modelo de relacionamento com a natureza que estabelece uma tica ba-seada nos princpios da criao, tendo a justia e a solidariedade como valores fundamentais. Assim, a Agroecologia relacionada diretamente ao conceito de sustentabilidade e justia social.Na viso agroecolgica, a Terra consi-derada um sistema vivo e complexo, e respeita a diversidade dos povos, das plantas, animais, microorganismos e minerais, em suas infinitas formas de relaes.A Agroecologia engloba modernas ra-mificaes e especializaes, como: agricultura biodinmica, agricultura ecolgica, agricultura natural, agricul-tura orgnica, sistemas agroflorestais, permacultura e outras que contribuem para a construo de outro modelo de desenvolvimento rural.

    Conceitos da Agroecologia

  • 15

    Durante sculos da evoluo os sistemas cul-turais e biolgicos se adaptaram s condi-es locais. Mesmo sob condies ambien-tais adversas foram desenvolvidos sistemas agrcolas complexos, sem uso de mecanizao, fertilizantes ou pesticidas. Em torno de 60% da rea agrcola no mun-do ainda cultivada com base em mtodos tradicio-nais, segundo Altieri (2002). Das diferentes formas e prticas agrcolas se podem tirar princpios importantes para otimizar a produtividade em longo prazo, cuidan-do do meio ambiente, com insumos e energia de fon-tes locais, ao invs de maximiz-la em curto prazo.

    Alguns princpios e processos so:Organizao das comunidades: fortaleci-

    mento das comunidades rurais e urbanas atravs da conscientizao poltica e ecolgica para a produo sustentvel e o consumo consciente.

    Modelos de cultivos mltiplos: a diversidade assegura a produo constante de alimentos e uma cobertura vegetal para a proteo do solo. Os dife-rentes perodos de plantio e colheita garantem uma dieta variada durante o ano e oportunidades de co-mercializao justa e solidria.

    Uso eficiente do espao e dos recursos: o con-srcio de plantas de diferentes tamanhos e razes me-lhoram o uso de nutrientes, gua e sol. Sistemas agro-florestais, por exemplo, permitem o cultivo sob as copas das rvores, dependendo das espcies e do manejo.

    Conservao do solo: os agricultores adotam sistemas de pousio ou rotao de culturas incluindo leguminosas para manter os nutrientes no solo, apro-veitando tambm esterco, forragem ou composto.

    Adaptao de cultivos a reas de secas ou chuvas: a disponibilidade de gua determinante para o cultivo das espcies, que podem ser tolerantes seca como o feijo guandu, batata doce, mandioca, milho ou sorgo portanto precisa-se trabalhar a cobertura do solo para evitar a evaporao e o escoamento super-ficial da terra levando o solo. Para reas alagadas so adequadas culturas como arroz e os esforos se con-centram na integrao entre agricultura e aqicultura.

    Aprendendo com aagricultura tradicional

    Estes princpios oferecemdiversas vantagens, como:

    Proteo: mais eficiente contra as cha-madas pragas, pois a diversidade dimi-nui o ataque e, conseqentemente, o aparecimento de doenas tambm re-duz. As plantaes oferecem uma gama de indivduos e tambm tm mais inimi-gos naturais. O solo fica mais protegido e com maior disponibilidade de gua.Produtividade: maior por hectare do que na monocultura, uma vez que o plantio consorciado de plantas com-panheiras possibilita ganhos no rendi-mento do solo e da biomassa.Disponibilidade de nutrientes: uso eficiente da luz e da gua pelas plantas, contrabalanceando, aumentando a dis-ponibilidade de nitrognio.Perdas da produo: reduzidas nos po-licultivos, com culturas que compensam perdas e danos sofridos em outras.

    Na sua comunidade se praticam al-guns desses princpios ou existem caractersticas das agriculturas tra-dicionais mencionadas?

  • 16

    Agricultores e agricultoras familiares tm aberto espao para estas idias, contri-buindo de forma decisiva para a constru-o de experincias com as antigas prticas adap-tadas aos diferentes lugares aonde os sistemas agroecolgicos vm sendo implantados.

    A agricultura familiar oferece uma estrutura ideal para as prticas agroecolgicas, com sua produo em pequena escala, valorizando o trabalho manual, minimizando o mecanizado. O ncleo da famlia ofe-rece a oportunidade de estabelecer relaes justas, quando consideram a igualdade no gnero e entre as geraes. A organizao em associaes ou coo-perativas se ope ao modelo patronal e empresarial predominante que levou explorao dos trabalha-dores e trabalhadoras rurais.

    O processo de transio agroecolgica se baseia na troca de saberes e experincias nos mbitos fami-liar, comunitrio, da organizao popular, dos movi-mentos sociais, governos, agentes financeiros e orga-nizaes no-governamentais (ONGs) na construo do conhecimento agroecolgico e das suas prticas.

    Deve-se compreend-las como potencial para os processos de desenvolvimento rural sustent-vel, com o objetivo de apoiar a transio dos atuais modelos da agricultura chamada convencional para modelos de agriculturas sustentveis. Para tanto, seus princpios e conceitos devem ser aplicados no manejo e redesenho dos agroecossistemas.

    Curiosidade

    Agroecossistemas so considerados uni-dades produtivas que incluem diferentes espcies de formas de vida (microrganis-mos, plantas e animais), onde ocorrem as inmeras cadeias alimentares (quem come quem e comido por quem), bem como a ciclagem de materiais (elemen-tos e substncias que fazem parte da terra e dos organismos vivos), tudo inte-ragindo entre si e com o meio ambiente com a funo claramente definida para a agricultura.

    As prticas agroecolgicas mudam a vida de agricultores e agricultoras

    Para o casal Zezo e Zildene, agricul-tores da comunidade Z do Lago (Ita-pipoca), a experincia com Agroeco-logia trouxe muitas melhorias para a qualidade de vida da famlia. A prtica agroecolgica permitiu que a gente aprendesse muito, minha famlia e meus irmos, so conscientes graas ao nosso trabalho, diz Zezo.

    Agricultura familiar e Agroecologia

  • Desenvolvimento depequenas propriedades

    EXPLICAO

    Melhor qualidade do produto ecolgico

    Melhor preo dos produtos ecolgicos

    Comercializar os produtos diretamente

    Economia de insumos e menor custo de produo

    Cuidado com a sade, no se expondo aos venenos e preservar animais e plantas para ter maior equilbrio ecolgico

    Valorizao do trabalho, melhoria da auto-estima

    Produzir alimentos de melhor qualidade para consumo

    Cuidado com o meio ambiente

    Trabalho em grupo familiar e coletivo

    MOTIVOS

    Produtividade sustentvel

    Viabilidade econmica

    Valorizao das cadeias produtivas

    Sistemas de produo mista

    Controle biolgico

    Satisfao das necessidades locais

    Auto-suficincia alimentar

    Regenerao dos recursos naturais

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    Para iniciar o processo de transio agroecolgi-ca necessrio ateno, dedicao e fora de vontade. Isso implica tambm na disposio de mudar certos hbitos culturais de cultivo, comporta-mentos e formas de convvio.

    A transio agroecolgica pode ser vista como uma caminhada que comea com o primeiro passo, obser-vando a realidade atual da propriedade:

    Quais so as plantas nativas (ervas, arbustos, rvores...) existentes?

    Quais so as culturas na propriedade e como se comportam?

    Qual o rendimento de cada cultivo por ano?

    Quanto gasta com insumos?

    Quanto tempo gasto com o trabalho?

    Como est o solo?

    Aparecem doenas? H ataque de pragas? Quais so?

    O planejamento deve ser feito de acordo com os ob-jetivos da famlia, que precisam ser identificados para atingir as metas no sistema de produo sustentvel. Portanto, h passos primordiais para os bons resultados do diagnstico que so: observar, compreender, de-cidir, agir e monitorar na busca do desenvolvimen-to da propriedade. A partir da, a caminhada deve ser constante, elencando claros motivos e explicaes para permanecer na transio agroecolgica.

    Cap

    tulo

    3Pa

    ssos

    par

    a a

    trans

    io

    agro

    ecol

    gica

    O diagnsticoda propriedade

  • 18

    Em regies semi-ridas, como o caso do Nordeste do Brasil, o maior desafio da agricultura aproveitar a pouca gua dis-ponvel. Neste contexto, a cobertura do solo ganha grande importncia, funcio-nando como uma esponja que absorve a gua, para depois liber-la lentamente no solo, mantendo a umidade necessria para as plantas, sem exigir muitos recur-sos hdricos.

    Planejamento das mudanas

    As mudanas vo brotar a partir de peque-nas aes realizadas no dia-a-dia que, com o tempo, vo construindo a sustentabilida-de do agroecossistema, sempre dentro das possibilida-des e da realidade de cada famlia. Alguns passos, que podem orientar a transio agroecolgica, estimular as inovaes e guiar o planejamento so:

    1. Manejar o solo corretamente: o solo preci-sa de proteo contra a ao direta do sol, chuvas e ventos. A cobertura promove essa proteo e ajuda a manter sua fertilidade. Vrias prticas podem ser utilizadas para revitalizar e recuperar a sua capaci-dade produtiva, como cobertura, adubao verde, consrcio entre culturas, dentre outros.

    2. Parar o uso de venenos: o controle biolgi-co estratgico para a prtica de controle de pragas e possveis doenas, que por ser um recurso natural e ambiental, equilibra o sistema, com o uso de de-fensivos naturais.

    3. Garantir a segurana alimentar da fam-lia: a produo para o auto-consumo dos produtos agroecolgicos cultivados deve ser priorizada para a melhoria da sade e diminuio de gastos com a ali-mentao industrializada. O uso de ervas e plantas medicinais tambm minimiza os gastos com medi-

  • Uma boa maneira de realizar a troca de experincias aproveitar espaos como fruns, encontros e seminrios.

    19

    camentos, e estas podem ser cultivadas, de prefe-rncia, prximo cozinha.

    4. Produzir adubo, sementes e mudas: alm de poder preservar e melhorar as variedades adaptadas ao local com sementes variadas e crioulas, os gastos com a compra desses insumos podem ser reduzidos. A produo de composto para o adubo fcil com o aproveitamento de restos de alimentos, folhas secas, palhas e esterco de animais. Aps obter um composto de boa qualidade, este favorece a produo de mudas.

    5. Preservar e aproveitar a gua: cuidar da gua disponvel com a proteo de nascentes, rios ou audes atravs do reflorestamento das matas ci-liares essencial para poder produzir por muito tem-po. Cisternas garantem gua nos perodos de seca e a gua usada pode ser reaproveitada nas hortas e quintais.

    6. Plantar e preservar as matas: fundamental para o equilbrio na propriedade. Elas ajudam no contro-le de insetos, mantm a umidade, regulam o clima, do frutos e madeira, fertilizam o solo e abrigam a fauna.

    7. Trocar experincias: importante ficar sem-pre em contato com outros(as) agricultores(as) para trocar idias. Junto com tcnicos ou outras pessoas, que pesquisam, pode-se observar resultados de experi-mentos e divulgar o que deu certo, construindo, juntos, as prticas e os conhecimentos agroecolgicos.

    8. Organizar-se: a formao de associaes ou cooperativas oferece a possibilidade de compartilhar a infra-estrutura, transporte e equipamentos. Juntos podem comercializar os produtos por um preo me-lhor e garantir a independncia.

  • Casa com quintal produtivo

    Quintal produtivo

    20

    A propriedade familiar composta por di-versas partes, chamadas de sistemas de produo, que se complementam para formar um todo integrado. Estes sistemas se ligam atravs da interao dos processos produtivos em uma propriedade, ou seja, na integrao de siste-mas produtivos menores, que podem dar suporte um ao outro.

    O objetivo dessa integrao alcanar a susten-tabilidade da propriedade, criando um ambiente que favorea a qualidade ambiental, a sade humana e animal, conseguindo tambm uma menor dependn-cia dos insumos externos. Tudo consiste em identificar as estratgias acertadas para garantir o papel chave de cada sistema dentro da unidade produtiva.

    Os subsistemas mais comuns existentes numa propriedade familiar so:

    A casa: faz parte da propriedade e importan-te observar a sua posio estratgica. O que entra nela e o que sai dela? Como est o acesso gua e energia? Tem esgoto? Como tratado o lixo? Com a otimizao do ciclo no qual a casa se encerra, fica mais fcil abastec-la com alimentos. Interessante tambm que os resduos devem ser aproveitados na produo e nada se perde.

    O quintal produtivo: o espao ao redor da casa ideal para produzir uma variedade de alimentos para abastecer a famlia. Podem ser ervas de tempero ou medicinais, como malva santa, capim santo e hortel; hortalias, como alface, pimentes, tomates; e verdu-ras, como cenouras, batatas e cebolas; bem como fru-tos, como laranja, manga e banana, ficando tudo de fcil acesso para usar na cozinha. Enfim, o quintal pode garantir autonomia no que se refere alimentao.

    O pomar tambm no deve ficar muito longe da casa, encurtando os caminhos para buscar os alimentos. As rvores precisam de material orgni-

    Integrao dos sistemasprodutivos na propriedade familiar

    Voc j parou pra observar as espcies de plantas ao redor de sua propriedade e pro-curou saber de sua importncia no local e possibilidades de aproveit-las?

  • Roado diversificado e mata

    Criao de pequenos animais

    21

    co para seu alimento, como as folhas que caem e devem ser preservadas junto s razes. A maioria das rvores no caso das maiores, como jaquei-ras ou mangueiras pode ser plantada no fundo do quintal.

    O roado diversificado e a mata: os sis-temas agroecolgicos correspondem a estratgias de se construir o espao e se manejar a floresta. Deve-se plantar o maior nmero possvel de esp-cies no roado e tambm manter as que se encon-tram no local. A presena da mata nas redondezas da propriedade permite ao agricultor fazer a cole-ta de produtos da natureza, como os madeireiros, sementes, cips e outros, alm de abrigar insetos que atuaro de forma biolgica na rea, evitando o ataque de pragas e animais que ajudaro na di-nmica do sistema como um todo.

    A criao de pequenos animais: a criao de caprinos, ovinos, sunos, coelhos, aves, abe-lhas ou peixes no precisa de grandes reas para explorao e so importantes para complementar o sistema. fonte de nutrientes e seus subprodu-tos so bem aproveitados na propriedade, como o esterco. Alm do mais representa interessante fonte de renda alternativa para a famlia, princi-palmente a criao de abelhas, tendo o mel como alimento.

    A unidade de beneficiamento: a transfor-mao dos produtos agrcolas de origem vegetal e animal adiciona valor aos produtos e pode fortale-cer as relaes familiares na diviso das tarefas. Um exemplo disso a produo de queijos ou do-ces a partir dos produtos disponveis.

    Atividades no agrcolas: podem ser inte-gradas de forma dinmica na produo da unidade familiar, como vassouras, artesanatos de barro, de palhas, casca de coco, labirinto, renda, bordado, pintura em tecido, croch e tapearia, dependen-do das habilidades e dos recursos disponveis.

    Para se alcanar a sustentabilidade da proprie-dade familiar fundamental perceber o potencial existente e aproveitar este de uma forma que pos-sa dar um sustento a toda famlia, com o ideal de que uma atividade alimente e facilite a outra, e assim por diante, para que o sistema seja o mais independente e dinmico possvel.

  • 22

    O solo um organismo no qual ocorrem processos vivos e dinmicos, essenciais sade das plantas. A sua ecologia nos leva ao mundo de milhes de microorganismos que reagem entre eles. Um solo saudvel depende dos nutrientes (macro e micronutrientes), da porosida-de, do potencial hidrogeninico (pH), da salinidade e da umidade, precisando de um equilbrio adequado para a manuteno da microvida que servir de ali-mentao para as plantas e animais.

    Caractersticas de um soloem seu estado natural.

    Fsica

    Capacidade de reteno de gua, taxa de infil-trao, profundidade do solo, horizontes, textura, densidade, estabilidade dos agregados, disperso de argilas e porosidade.

    Qumica

    Disponibilidade de nutrientes, condutividade eltrica (salinidade), sdio, Potencial hidrogeninico (ph), capacidade de troca catinica e aninica

    Biolgica

    Matria orgnica do solo, Biomassa microbiana do solo, respirao/biomassa (CO2), N mineraliz-vel (lbil), C orgnico lbil (0,5-2 mm), respirao no solo, crescimento de vegetao e da cobertura, presena de minhocas e outros representantes da fauna e flora do solo e populao de fitopatgenos

    O manejo ecolgico do solo tem como princpio a sua preservao atravs de tcnicas de cultivo que evitam as eroses, bem como a sua nutrio atravs da adubao com matria orgnica e ciclagem de nutrientes.

    Cap

    tulo

    4Pr

    tica

    s ag

    roec

    olg

    icas

    O manejoecolgico do solo

  • ESPCIE FAMLIA N em Kg / haPRODUO em T / ha

    Crotalria (Crotalaria juncea)

    Leguminosa

    Leguminosa

    Leguminosa

    Leguminosa

    250

    200

    150

    150

    180

    190

    20 25

    15 20

    10 15

    10 15

    15 20

    15 20

    05 10

    05 10

    05 10

    00 05

    05 10

    05 10

    Massa Verde Massa Seca

    Feijo de porco (Canavalia ensiforme)

    Guandu caqui (Cajanus cajan)

    Guandu ano (Cajanus cajan L. Millsp)

    Labe-labe (Dolichos lab lab)

    Mucuna preta (Styzolobium aterrimum)

    Leguminosa

    Leguminosa

    Valores adquiridos em experimento de mestrado, num argissolo vermelho sem adubao,realizado na Universidade Federal do Cear.

    Feijo Guandu

    O uso de estercoMuitas vezes j disponvel na propriedade, o es-

    terco outra possibilidade de adubao orgnica, podendo ser incorporado ao solo em estado slido ou lquido. Antes da utilizao do produto, necessrio um processo de fermentao, j que o esterco fresco pode ser txico para as plantas.

    Componente Bovinos Eqinos Ovinos Sunos

    Matria seca 2.039 1.715 199 176

    Nitrognio 78,9 58 6,7 7,5

    Diferenas entre estercos quanto matria seca e nitrognio (kg/cabea/ano)

    23

    Estratgias parafortalecer o solo

    Adubao verde

    O plantio de leguminosas uma estratgia antiga e eficiente para aumentar a ferti-lidade do solo. O guandu, por exemplo, incorpora muito nitrognio e mais adaptado para reas secas. As leguminosas diminuem a compacta-o e melhoram a estrutura do solo, reduzem o cres-cimento de mato e aumentam os nutrientes. O ideal que elas sejam consorciadas com outras espcies para otimizar os resultados.

    Quantidades de biomassade adubos verdes no solo

    O esterco pode tambm ser adi-cionado no processo de composta-gem para a produo de adubo

  • 24

    A compostagemO Composto produzido por meio da decomposio

    por microorganismos, usando ar e gua como ativado-res. Os restos de alimentos, estercos animais, aparas de grama, folhas, galhos e restos de culturas agrcolas podem ser colocados na composteira, fechando, dessa forma, o ciclo de produo da propriedade.

    Como fazer

    Local - Deve ser de fcil acesso, prximo s hortas ou canteiros e de preferncia plano, para evi-tar escoamento.

    Montagem - O composto deve ser empilhado em camadas alternadas de materiais secos e fres-cos, com 15 a 20 cm de altura cada, at um total padro de 1,5 m e que fica fcil de revirar. Cada ca-mada deve ser molhada para que a distribuio de gua seja uniforme.

    Umidade - Durante o processo de decompo-sio, se a pilha ficar muito aquecida deve ser logo umedecida. No ponto de saturao ideal, apertando um punhado na mo, a gua deve pingar entre os dedos, mas no escorrer.

    necessrio revirar o composto pelo menos trs vezes durante o primeiro ms porque, na decompo-sio, as partes inferiores vo ficando mais densas em virtude da reduo do volume da pilha.

    Maturao - Varia entre 60 e 90 dias. O cheiro deve ser agradvel e os materiais utilizados, trans-formados em uma massa escura. Deve permanecer umedecido e protegido do sol e da chuva antes de ser utilizado como adubo nas plantaes.

    Relao carbono / nitrognio (C/N) - Uma combinao ideal para o processo de decomposio seria de dois teros de materiais secos, que possuem uma alta relao C/N, como galhos de rvores, folhas secas e palhadas; e um tero de materiais frescos, que tm uma baixa relao C/N, como as aparas de gramas, folhas verdes, sobras de cozinha e estercos. O esterco pode ser de aves, bovino, ovino, eqino, caprino e outros.

    Materiais que no podemir para compostagem

    Todo material (madeiras, resduos, etc.) que tiver sido tratado com produto txicoEsterco suno e humanoPlantas infestadas ou doentesVidros, plsticos, metais, tintas, txteis

    Para a construo de uma compostei-ra, o cho precisa ser impermeabiliza-do e deve haver espao para separar o composto fresco do composto j ama-durecido. Recomenda-se a colocao de um dreno para coleta do chorume, que pode ser diludo e usado como fertilizante.

  • 25

    Potencial hidrogeninico(pH) do soloO pH permite escolher a cultura mais correta para

    cada terreno. Ele indica se o solo cido, neutro ou bsico, alm de favorecer o controle de qualidade. Esta caracterstica do solo pode ser identificada pela exis-tncia de plantas espontneas indicadoras da qualida-de do solo, como por exemplo, a tiririca, ou barba de bode (Cyperus rotundus) e a azedinha (Oxalis oxyp-tera), muito comuns em solos cidos e as hortnsias (Hydrangea macrophylla) que podem indicar solo bsi-co quandosuas flores se paresentarem rosadas.

    O ideal que seja feita a anlise de amostras do solo num laboratrio de manejo de solo, onde se tem resultados mais precisos. O custo no alto e facilita a correo no caso de acidez.

    Cobertura do soloEssa prtica tem como objetivo de manter a

    umidade e temperatura do solo em nveis timos, evitando a eroso pelo vento, pela chuva e resseca-mento pelo sol. Um solo coberto e mais mido favo-rece a existncia de microorganismos e de minhocas, que so importantes para a respirao do solo, pela formao de caminhos; e os seus dejetos fornecem minerais.

    Recomenda-se, como medida paliativa para o solo com elevada acidez, a cala-gem, ou seja, adio de calcrio ao solo. A quantidade depende do pH e deve ser realizada pelo menos dois meses antes do plantio. Quando a quantidade de cal-crio for superior a 4 t / ha, melhor divi-dir a aplicao.

    Use para a cobertura do solo a palha de carnaba, palhada do milho, cascas de arroz, bagaos de cana, fibras do coco ou outras palhas disponveis.

    Terra preta

    A terra preta arqueolgica ou terra preta, encontrada na Amaznia, est derruban-do o mito de que os solos da regio so pobres e imprprios para a agricultura. A descoberta a chave do desenvolvimen-to da agricultura sustentvel nos trpi-cos. Uma hiptese que a alta fertilidade deva-se ao acmulo de material org-nico desde a pr-histria. O resultado matria orgnica estvel, formando mi-croecossistemas auto-sustentveis, que no se exaurem facilmente.

  • 26

    Rotao de culturas

    A alternncia entre as culturas evita o des-gaste do solo com monoculturas, contri-buindo para a conservao dos nutrientes pela utilizao de plantas com diferentes processos de crescimento, tipos de razes e com funes e ne-cessidades diversas.

    Consrcios entre culturasPlantas companheiras de famlias diferentes fa-

    vorecem a produo pela riqueza de interaes. Elas podem ser arranjadas de formas diversas, tornando at o manejo mais fcil. Os consrcios mais comuns so os de leguminosas com gramneas.

    Plantio em nvelO plantio em nvel importante para a preser-

    vao da estrutura do solo, principalmente em reas de declive runoff, evitando enxurradas, que favore-cem a eroso. Esta tcnica segue as linhas naturais de nvel da terra (topogrficas). Nesse caso, alm das culturas anuais, possvel plantar rvores e ar-bustos que permitem a infiltrao da gua, evitando o escoamento superficial.

    D preferncia a plantas nativas e adap-tadas ao semi-rido, como o feijo de cor-da, feijo guandu, algaroba, umbuzeiro, mandacaru, palma, manioba, marmelei-ro, leucena e sorgo, que sobrevivem me-lhor a longos perodos de estiagem.

    reas com declive inferior a 45 devem ser plantadas em nvel, utilizando cor-des de rochas, patamares.

    O runoff o escoamento superficial pro-duzido em funo do tipo de superfcie.

    Tcnicas de plantio

  • 27

    Plantio na palhaPode ser feito principalmente com espcies legu-

    minosas e gramneas, que crescem rpido e produ-zem biomassa abundante. Entre as vantagens, con-serva a produtividade do solo, impedindo a perda de umidade; protege contra a eroso, contra o aqueci-mento e proporciona colheitas elevadas. As palhas mais comuns no meio rural so as de cereais e capim roado. Para o plantio, essa camada deve apresentar de cinco a sete centmetros de espessura, para que o solo no resseque demais.

    Cercas vivasCercas vivas e quebra-ventos podem ser feitos

    com plantas como mandacaru, xiquexique, facheiro, macambira, leucena, sanso-do-campo, sabi, den-tre outras para demarcar os limites da propriedade ou das reas de plantio. Ao mesmo tempo em que evitam gastos com arame, estacas e moures, estas cercas tm uma funo de quebra-ventos, protegen-do as plantas contra o vento, que seca mais que o sol, atuando tambm noite.

    Sabendo o sentido do vento, basta plan-tar uma ou mais faixas de rvores, arbus-tos ou outras plantas em direo oposta e que seja maior do que a cultura.

  • Porco-espinho no Centro tecnolgico do Serta

    Bomba Rosrio

    28

    gua vida e precisa ser preservada para garantir o presente e futuro. Os nutrien-tes chegam s plantas atravs dela e a sua disponibilidade fundamental para a produo. A preservao das matas ciliares nas nascentes, rios, lagos, lagoas ou audes deve ser prioridade porque desempenham um papel fundamental para proteger seus cursos. Manter a vegetao nativa evita que a gua evapore e que os rios sejam assoreados.

    Irrigao alternativaExistem vrias formas de irrigao adaptadas ao

    semi-rido, que dependem, sobretudo, da criativida-de de cada um. Dependendo do material utilizado, pode trazer benefcios ambientais, aproveitando re-sduos que poderiam ir para o lixo ou at mesmo para o solo. Os aspersores de garrafas PET, por exemplo, de baixo custo ou quase nenhum, so os mais usa-dos, mostrando excelentes resultados. fcil mont-los, conforme a necessidade de cada rea.

    Conjunto aspersor de garrafa PET

    Com uma tesoura, feito um furo na tampa da garrafa, para que o bico da torneira seja encaixado. Na garrafa se coloca um veda-rosca, para evitar va-zamentos. Depois so feitos os furos na garrafa PET,

    que podem ser: setorial, com furos apenas em 180 graus; com furos em 360, molhando tudo em volta ou modelo tripa, com fu-ros feitos na horizontal.

    O aspersor pode ser fixo no cho ou remov-vel. Os removveis so fi-xados em uma lata, com cimento. Cada aspersor de garrafa PET atinge at trs metros de raio. Quan-to menor o furo, maior a presso, e maior a rea irrigada.

    As nascentes devem ser isoladas num raio de 50 m da sua fonte, para que a natureza em redor se preserve e / ou se recupere, em caso de desmatamentos.No caso de reas com degradaes se-veras, deve-se reflorestar com espcies nativas e adaptadas.

    Assoreamento o acmulo de areia, ou seja, de solo desprendido por eroses e outros materiais depositados pelo ven-to e chuva. Isso ocorre quando no h proteo de mata ciliar dos rios e lagos tornando-os susceptveis.

    Preservao emanejo da gua

  • 29

    Sementes

    A prtica da preservao de sementes de espcies nativas, conhecidas como se-mentes crioulas, importante para ga-rantir a independncia e a segurana alimentar dos agricultores. A coleta das sementes na comunidade e a troca entre vizinhos ou com outras comunidades mais distantes um habito que ajuda a melhorar e a conservar as caractersticas naturais das mais adap-tadas regio e contribui para a renovao continua das espcies.

    Coleta e tratamento das sementesColeta de sementes

    Para obter as melhores caractersticas impor-tante o conhecimento da espcie e do processo de reproduo da planta da qual se pretende retirar as sementes. O ideal selecionar uma planta de meia idade, vigorosa, produtiva, precoce, com frutos de boa qualidade, bom sabor, sadia, sem doenas ou pragas. Dessa planta se escolhem os melhores fru-tos, que podem ser colhidos com podes, subindo na rvore, aproveitando as sementes cadas ou at as dos frutos maduros que caram, se estiverem saud-veis e sem danos.

    Secagem

    Antes do armazenamento, as sementes devem ser secas, preferencialmente sombra, pois isso ajuda a diminuir a ocorrncia de ataque dos fungos e outros fitopatgenos.

    Diversidade e estocagem

    As sementes devem ser armazenadas em reci-pientes resistentes e bem vedados, separadas por espcies, com etiqueta com o nome, a data e o lo-cal de coleta. A vedao pode ser feita com cera de abelha ou de carnaba derretida. O uso de cinzas, de areia ou terra de formigueiro ajuda a proteg-las, desde que fiquem guardadas em um local protegido da luz e da umidade e que seja bem arejado.

    Sementes da Paixo

    Existe uma srie de estratgias de uso e conservao das variedades de semen-tes locais como patrimnio gentico para a segurana e soberania alimentar das famlias agricultoras. No Estado da Paraba, estas sementes receberam o nome Sementes da Paixo, pelo cari-nho com que so plantadas e colhidas, a cada ano. O Plo Sindical da Borborema e a ONG Assessoria e Servios a Proje-tos em Agricultura Alternativa (AS-PTA) estimulam a organizao de bancos de sementes comunitrios para reforar as estratgias familiares de estocagem. Atualmente h na regio uma rede de 80 bancos de sementes, com a participao de 3.200 famlias que armazenam anual-mente um estoque de mais de 32 tonela-das de sementes.

    Fonte: AS-PTA

    Organize na sua comunidade uma casa de sementes para garantir, na hora do plantio, sementes de qualidade, nati-vas e adaptadas localidade.

    Produo de insumos

  • Produo de mudasProduzir as prprias mudas ajuda a minimizar

    os custos de produo. Elas podem ser preparadas a partir das sementes ou vegetativamente, com partes das plantas. Na poca das chuvas o plantio das mudas mais fcil. Em outras pocas, se pode plantar em horrios de temperaturas mais amenas e com todo cuidado na rega.

    EnxertiaA criao de mudas atravs de prpria planta

    simples. A tcnica consiste em juntar partes de duas plantas ou mais de modo que, atravs da regene-rao dos tecidos, a combinao atinja a unio ple-na, permitindo que continuem seu desenvolvimento numa planta nica. Quando o enxerto consiste de apenas uma nica gema, o processo chamado de borbulhia. As principais formas desta tcnica so a encostia e enxerto destacado, onde enxerto e porta-enxerto acham-se ligados planta-me e onde so-mente o cavalo fornece as razes, respectivamente. As tcnicas de enxertia compreendem a garfagem, borbulhia e encostia.

    Controle biolgicoNos sistemas agroecolgicos tem que haver uma

    interao entre insetos e plantas, de forma que os insetos no ataquem os cultivos, se tornando pra-gas. Para tanto, necessrio conhecer o seu habitat natural, que precisa ser preservado, estabelecendo um equilbrio entre predadores, parasitas e plantas. Ou podem ser usadas bactrias, vrus, ou fungos naturais que atacam os outros, para evitar pragas.

    Quadro de animaisbenficos no controle biolgico

    Animal Controle

    Centopias Pragas do solo

    Pssaros Pernilongos, lesmas, lagartas e pulges

    Joaninhas Pulges e cochonilhas

    Rs/sapos Besouros, mosquitos calangos e larvas

    Aranhas Diversos insetos

    Abelhas Promovem a biodiversidade (polinizao) e com isso um equilbrio ambiental

    As cercas verdes e as faixas homeost-ticas tambm proporcionam um con-trole biolgico, pois servem de abrigo para animais.

    30

    Na aplicao de defensivos naturais, faa um registro dos resultados. Isso ajuda a melhorar cada vez mais a efici-ncia no uso dos diversos defensivos.

    Mudas

  • 31

    Defensivos naturaisQuando o sistema est desequilibrado e os in-

    setos e doenas atacam as plantaes, as perdas podem ser irreparveis. Nestes casos podem ser usados defensivos que agem nas plantas de forma natural. Estes so preparados a partir de substncias no prejudiciais sade humana e ao meio ambien-te e com eficincia no combate a insetos ou microor-ganismos nocivos s plantas. Os defensivos naturais tm um custo reduzido, podem ser feitos a partir de plantas e substncias disponveis na propriedade e so de simples aplicao e manejo.

    BiofertilizantesOs produtos para fortificar as plantas tambm

    podem ser preparados com baixo custo. O preparo da mistura de estercos com folhas de plantas medici-nais e outros elementos com aes nutritivas, como as cinzas, ps de rocha, urina de vaca ou at micro-nutrientes deixam as plantas mais saudveis e resis-tentes contra pragas. Os mais utilizados so o agro-bio, os efluentes do biodigestor e o supermagro.

    O agrobio produzido a partir de esterco bovino fresco, gua, melao e sais minerais em recipien-tes abertos cujo efeito nutricional e de controle de doenas considerado muito eficaz, de acordo com vrias experincias comprovadas. utilizado nas fo-lhas, principalmente em hortalias.

    O biodigestor o equipamento onde se faz o tra-tamento de dejetos, para produo do biogs. O l-quido (efluente) produzido pelo processo natural da fermentao utilizado como soluo nutritiva, po-dendo ser adicionado diretamente ao solo.

    Receita do supermagro enriqueci-do com mineraisIngredientes30 kg de esterco fresco de vaca2 kg de sulfato de zinco2 kg de sulfato de magnsio0,3 kg de sulfato de mangans, cobre e ferro0,05 kg de sulfato de cobalto0,1 kg de molibdato de sdio1,5 kg de brax2 kg de cloreto de clcio2,6 kg de fosfato natural1,3 kg de cinza27 litros de leite (podendo ser soro de leite)18 litros de melado de cana (ou 36 de cal-do de cana)

    PreparoMisturar todos os minerais, obtendo, as-sim, 12,45 kg de mistura. No dia primeiro do ms, colocar os 30 kg do esterco, mis-turar a 3 litros de leite, 2 de melado e 60 litros de gua limpa, deixando fermentar em local isento de sol e chuva. Nos dias 4, 7, 10, 16, 19 e 22 acrescentar 3 litros de leite e 2 litros de melado. Repetir isso at o dia 25 do ms que quando deve ser colocado o resto da mistura mais o leite e o melado. Depois de 10 a 15 dias, peneirar e utilizar.

    Recomendaes de usoNo caso do milho, pulverizar as sementes com apenas 10% da soluo preparada, dei-xando-as secar sombra e, posteriormente, fazer o plantio. No tomate, utiliza-se de oito a dez tratamentos, a 5% durante o ciclo.

  • 32

    CaldasAs caldas agem beneficamente sobre o metabo-

    lismo das plantas, ajudando a aumentar sua resis-tncia s pragas. As mais usadas so a bordalesa, viosa e sulfoclcica, que so indicadas para doen-as como rubelose, gomose, ferrugem, podrido, fungos, caros e pragas (vaquinhas, cigarrinhas e tripes).

    Calda bordalesaPara o controle e preveno de doenas cau-

    sadas principalmente por fungos, como mldio e as manchas nas folhas. Usando um vasilhame de pls-tico, cimento ou madeira, disolva 200g de sulfato de cobre, enrolado num pano em 5 litros de gua mor-na. Em outro vasilhame, dissolva 200g de cal virgem em 15 litros de gua. Misture o sulfato na cal (nunca o contrrio), mexendo sempre. Para saber se est pronta, basta mergulhar uma faca ou colher de ao durante trs minutos, se escurecer ainda est cida, devendo acrescentar mais cal.

    Calda viosaSua utilizao mais ampla, servindo para v-

    rias doenas, como o mldio e mancha foliar em hor-talias, antracnose em frutferas da famlia cucur-bitcea, alternaria e requeima em tomateiro. Em culturas perenes, protege satisfatoriamente de do-enas causadas por fungos.

    Em um balde, coloque 10 litros de gua para dissolver 40g de cido brico, 200g de sulfato de cobre, 40g de sulfato de zinco e 120g de sulfato de magnsio. Em outro recipiente misture 104g de cal hidratada a 10 litros de gua. Pegue a primeira mis-tura e despeje no leite de cal. Deve ser coado antes da aplicao.

    Recomendaes para bordalesa e viosaPara as culturas perenes, fazer a pulverizao

    nas folhas de 15 em 15 dias, assim que for observa-da a manifestao da doena. Para hortalias, usar nas folhas quinzenalmente, como forma preventiva.

    MineraisPermanganato de potssio e calPara controle de mldio e odio, dilua 125g de

    Permanganato de Potssio (KMnO4) e 1Kg de cal virgem, separadamente, em gua morna. Mistu-re as solues, completando com gua, at obter 100 litros.

    Requisitos para o uso rotineiro das caldas:o sulfato deve apresentar 98% de pu-reza e a cal no conter menos que 25% de CaO xido de clcio. Usar logo aps o preparo. Aplicar somente du-rante o dia e com o tempo seco. Usar o equipamento de proteo individu-al (EPI). No descartar os excedentes em nascentes, audes, cursos dgua. E obedecer aos intervalos de 15 a 20 dias entre as aplicaes.

  • Caf me deixa

    muito acelerado!

    33

    Produtos orgnicosEstes podem ser utilizados sozinhos, misturados

    com outros e aos extratos de plantas.

    Farinha de trigoMisture 20 g de farinha a 1 litro de gua e pulve-

    rize em um dia quente e seco. Esta mistura impede que os insetos fiquem nas folhas.

    Farinha de osso, casca de ovo triturada, carvo vegetal

    Misture meio copo de farinha de osso, meio copo de casca de ovo triturada e meio copo de carvo mo-do em um recipiente. Distribua o resultado em volta dos canteiros para repelir as formigas cortadeiras.

    CafUsar p de caf, diludo em gua na dosagem de

    0,1% (para repelir) ou 2% (para controlar). Indicado para lesmas e caracis.

    SaboDissolva 1Kg de sabo em 5 litros de gua quen-

    te. Misture a soluo resultante em 95 litros de gua. Uso para tripes, pulges, cochonilhas e lagartas.

    Plantas defensivasAlgumas plantas nos canteiros das hortas, com

    caractersticas atrativas, repelentes, controladoras ou inibidoras, podem afastar insetos das plantaes, como alfavaca, alho, alecrim, urtiga, cravo-de-defunto, mastruo, mandioca, gergelim, hortel ou girassol.

    Manipueira (Manihot esculenta Crantz)

    Costuma-se dizer que o suco da mandioca, de-pois de prensada para o preparo da farinha. Em ou-tras regies, aps processo de fermentao, parte da culinria, sendo utilizada em diversos pratos. Ela pode ser usada como defensivo pela grande quan-tidade de cido ciandrico, que acaba sendo txico para os insetos, caros ou carrapatos.

    Para o controle de nematides, usar 1 litro dilu-do em 1 litro de gua para cada 6 m2 de solo infes-tado. Aps o uso deixar o solo repousar por oito dias e revolver para o plantio.

    Para o controle de insetos, fazer trs pulveriza-es foliares de manipueira diluda em igual volume de gua em intervalos semanais.

    Para o controle de formigas, utilizar 2 litros de ma-nipueira. Ideal para ser utilizado nos olheiros de formi-gueiros. A dose deve ser repetida a cada cinco dias.

    A manipueira pode ser usada como adubo em canteiros, bastando, para isso, aplicar 4 litros por m2, 15 dias antes do plantio.

  • eita, dona vaca,ch de erva

    cidreira acalmaat carrapato!

    34

    Angico (Anadenanthera colubrina)Para as pragas em geral, pode-se usar 1 Kg de

    folhas e vagens e 10 litros de gua. Bastando deixar as folhas e vagens de molho durante oito dias, coan-do logo em seguida. Na hora de utilizar, diluia 1 litro da soluo em 5 a 10 litros de gua, dependendo do grau de infestao.

    Iscas e armadilhasSementes de gergelim30 a 50g da semente ao redor do olheiro do for-

    migueiro. No interior do formigueiro sero liberadas substncias que inibiro o crescimento do fungo que alimenta as formigas. A falta do alimento acarretar a morte das mesmas.

    Garrafa como armadilhaPode ser montada com garrafas PET. Na parte

    superior so feitos trs ou quatro furos com 1 cm de dimetro; despeja-se, no fundo, suco de frutas ou mel diludo em gua. A garrafa , ento, amarrada com barbante ou fio de nylon nos ramos das rvo-res, no interior das copas, a 1,80 m de altura do solo. Assim, as moscas das frutas so atradas pelo alimento e entram na garrafa pelos furinhos laterais e morrem por afogamento ou asfixia.

    Defensivos para animaisFumo e calDeixar 1 Kg de fumo dentro de 2 litros de lcool

    em um vidro escuro durante dois dias. Depois coar, misturar a 250 g de cal hidratada diluda em 20 litros de gua e pulverizar os animais com sarna e berne.

    Erva cidreiraFazer infuso da erva em gua (como um ch),

    colocar na bomba de pulverizao e completar o vo-lume total. Aps, pulverizar os animais que estive-rem infestados de carrapatos.

    ManipueiraMisturar a manipueira com leo de mamona,

    sendo uma parte de cada para duas partes de gua e fazer trs aplicaes a intervalos semanais nos animais com carrapatos.

    Armadilha com garrafa no Centro Tecnolgico do Serta.Glria de Goit - PE

  • Forno Solar

    Desidratador Solar

    35

    As fontes renovveis de energia tm gran-des potencialidades no meio rural do Nor-deste. O sol, a terra, o vento, o clima e as atividades econmicas hoje disseminadas so favo-rveis para o uso de tecnologias apropriadas que po-dem impulsionar a economia local, preservar o meio ambiente e levar qualidade de vida para as famlias sertanejas. Algumas tecnologias desenvolvidas para esses objetivos so:

    Fogo e forno solar Usando os foges e fornos solares, possvel

    economizar 55% da madeira. As temperaturas ob-tidas num fogo solar parablico so de 350 C, suficiente para o cozimento de alimentos. O fogo de caixa quente s chega, no mximo, a 150 C.

    Fogo ecoeficiente A partir da queima eficiente da lenha, este fogo

    reduz o consumo de biomassa e livra as famlias das doenas causadas pela fumaa no ambiente domstico

    Desidratador solarCom o aproveitamento do calor do sol, desidrata

    frutas sem o uso de combustvel.

    BiodigestorA partir de esterco e gua, este equipamento

    produz biofertilizante e gs que pode ser utilizado como combustvel.

    Usina de produo de biocombustvelEnvolve o processamento de sementes de olea-

    ginosas como mamona ou pinho manso, produo de leo vegetal in natura e o processo de transeste-rificao para produo de biodiesel.

    Sistema fotovoltaicoTransforma energia solar em energia eltrica.

    Pode ser usado para eletrificar cercas ou como al-ternativa de fornecimento de eletricidade e bombea-mento de gua para vrios fins.

    CataventosTransforma a energia gerada pelos ventos em

    trabalho, podendo ser aproveitado para o bombea-mento de gua ou energia eltrica, com os aeroge-radores.

    Energias renovveis

  • 36

    Os quintais caseiros so sistemas que in-tegram vrios subsistemas, como jardim, hortas, plantas medicinais e a criao de pequenos animais, complementados com a compos-tagem e adubao orgnica.

    Para iniciar um quintal produtivo deve ser feita inicialmente uma leitura do espao e de suas possi-bilidades de uso, com identificao das plantas teis j presentes, das ervas nativas e dos animais que podem ser criados, do solo e da gua disponveis.

    As possibilidades de combinar as vrias espcies so infinitas e dependem do gosto e das necessida-des de cada famlia, como plantas para enriquecer o sabor e o valor nutritivo dos alimentos, razes, tu-brculos, fruteiras, ervas medicinais, plantas orna-mentais ou com outras utilidades.

    O resultado de um quintal diversificado o au-mento da produo de oxignio, da absoro de car-bono e tambm a conservao e perpetuao das plantas nativas. No seu conjunto, as plantas filtram a poluio, absorvem rudos, diminuem a intensida-de dos ventos, alimentam e abrigam os animais e regularizam a temperatura e a umidade.

    Adicionalmente o quintal produtivo gera uma sensao de bem-estar para a famlia ao tornar-se um local de convivncia.

    Cap

    tulo

    5Qu

    inta

    lpr

    odut

    ivo

    O quintal como reade produo e lazer

  • 37

    O plantio de rvores frutferas de prefern-cia com espcies nativas ou adaptadas ao clima da regio uma boa opo. As fru-tas preferidas da famlia podem ser utilizadas para consumo ao natural ou na forma de gelias, compo-tas ou sucos.

    O local importante para que as plantas sejam produtivas e sadias. Para isso, so necessrios os seguintes cuidados:

    O terreno deve ser de preferncia plano ou leve-mente inclinado

    O solo deve ser profundo, bem drenado e livre de cascalho

    Precisa haver gua nas proximidades

    O terreno deve ser cercado para evitar a entrada de animais

    Importante tambm a escolha da variedade, a qualidade da muda e os cuidados no plantio. As diferentes espcies frutferas tm exigncias clim-ticas diversas, sendo preciso escolh-las com aten-o. Para a proteo das rvores frutferas podem ser plantadas cercas vivas e deve ser colocada uma cobertura com palhas para proteger o solo. Durante a implantao do pomar muito importante a irriga-o das mudas. Depois de crescidas, as rvores fru-tferas exigem, em geral, pouca manuteno. Para algumas delas, uma poda anual o nico cuidado necessrio.

    Espaamento aproximadode algumas rvores

    Mangueira, coqueiro, cajueiro gigante 10 metrosGoiabeira, cajueiro ano, limoeiro 5 a 7 metrosAceroleira, ateira e gravioleira 3 a 4 metros

    O Nordeste brasileiro favorece o cultivo de frutas como caju, manga, ata e caj; en-quanto algumas espcies, como abacate, acerola, banana, goiaba, sirigela, mamo, maracuj e mesmo laranja e limo adap-tam-se bem a qualquer clima.

    Pomar

  • 38

    Para plantar uma horta possvel usar o quin-tal, um cantinho qualquer e at mesmo vasos e caixotes. O lugar somente precisa ter seis horas por dia de sol e disponibilidade de gua. No caso de plantio direto na terra, deve ser escolhido preferencialmente um terreno plano e com boa dre-nagem para que no encharque e, se possvel, em lo-cal mais elevado e com uma distncia mnima de dez metros de privadas, chiqueiros, fossas e esgotos.

    O solo do canteiro deve ser equilibrado, nem muito arenoso, nem muito argiloso ou barrento, para que mantenha as condies de umidade e aerao adequadas ao bom desenvolvimento das culturas e precisa de boa quantidade de matria orgnica - composto.

    Na construo de canteiros preciso levar em conta o manuseio, mantendo uma largura entre 0,8 e 1,2 m. J a altura pode variar, desde que a superf-cie do canteiro seja plana, garantindo uma distribui-o equilibrada da gua e do composto. O espaa-mento entre os canteiros deve permitir a passagem de pessoas e do carrinho de mo, sendo de aproxi-madamente 0,5 a 0,7 metros.

    Aproveitando o espao com a associao de v-rias culturas se otimiza nutrientes e adubao.

    Hortas no Centro Tecnolgico do Serta.Glria de Goit - PE

    Horta

  • Companheirismo e antagonismo de algumas hortalias

    Hortalias Companheiras Antagnicas

    Alface Cenoura, moranguinho, pepino, alho-por, beterraba, rcu-la, acelga, feijo, alho

    Alho Alface, beterraba, tomate, couve, roseira, framboesa, ce-noura, morango, camomila Tomate e pimento

    Berinjela Feijes em geral

    Beterraba Cebola, alface, couve, nabo, vagem, alho Feijo trepador

    Cebolinha Cenoura, espinafre, tomate, roseiras, repolho, couve-flor Ervilha, mostarda, feijes, coentro

    Cenoura Ervilha, alface, cebola, alho-por, tomate, cebolinha, couve, rabanete, bardana Aneto (endro)

    Chicria Rcula, vagem, rabanete

    Brssicas (Br-colis, couve-flor, couve, repolho)

    Feijes, ervilha, salso, beterraba, salsa, cenoura, hortel, cebolinha, camomila, mastruo Rcula

    FeijesAcelga, jerimum, rcula, rabanete, chicria, gergelim, mi-

    lho, batata, cenoura, ervas aromticas, couve, girassol, berinjela, alface, alho-por, pepino, repolho, nabo, cereais

    Funcho, alho, cebola, be-terraba

    Jerimum Ervas nativas, chicria, feijo-vagem, acelga, amendoim, milho Batatas, legumes tuberosos

    Maxixe Quiabo, milho

    Pepino Feijes, milho, ervilha, rabanete, girassol, alface Batata, ervas aromticas

    Rcula Alface, chicria, vagem, milho, rbano Couve

    Salsa Tomate, aspargo, vagem, couve, pimenta, rabanete

    Tomate Cebolinha-verde, cebola, cenoura, urtiga, salsa, manjerico, aspargo, dente-de-leo, hortel, salsoFeijo, couve, rabanete,

    batata, funcho (erva-doce), repo-lho, pepino

    Fonte: Manual de Horticultura Ecolgica

    39

    preciso conhecer as caractersticas das espcies, como os tratos culturais. Os perodos de plantio variam de acor-do com cada uma.

    Tempo de colheita de algumas hortalias1 ms: coentro, rabanete, rcula2 meses: cebolinha, alface, berinjela, espinafre, beterraba3 meses: brcolis, pimenta, pimento, repolho, couve4 meses: tomate, jerimum, cenoura, quiabo, chuchu6 meses: cebola, alho, inhame

  • 40

    A natureza possui uma grande variedade de plantas com propriedades medicinais. O seu uso baseado em conhecimentos tradicionais, construdos por vrias culturas ao lon-go do tempo.

    O cultivo de plantas com propriedades medici-nais exige certos cuidados, como disponibilidade de gua limpa e solo cultivvel, isto , livre de conta-minaes. A colheita precisa ser feita na poca ade-quada, que varia de acordo com cada espcie, para que sejam aproveitados corretamente os princpios ativos para o uso teraputico ou preventivo.

    As preparaes caseiras com ervas medicinais podem ser feitas para o uso interno como infuso, decoco, p, xarope, garrafada ou sucos ou de uso externo como banhos, emplastos, ungentos, compressas, p ou inalao.

    De forma semelhante, podem ser feitos prepa-ros destas plantas para a proteo dos canteiros, sendo que o plantio de algumas espcies com pro-priedades medicinais costuma afastar predadores, como o caso da cebolinha.

    preciso conhecer as plantas medicinais para no confundi-las, uma vez que vrios nomes so atribudos a uma mesma espcie, ou, por outro lado, muitas espcies so atribudas a um mesmo nome popular. Um modo eficiente de evitar tanta confuso consultar um botnico, agrnomo ou bilogo que conhea as plantas pelo nome cientfico, que nico para cada espcie.

    No utilizar plantas medicinais sem acompanhamento mdico ou farmacu-tico, mesmo que para sintomas comuns. E, caso o tratamento ocasione qualquer efeito colateral, suspender o uso.

    Algumas plantasmedicinais e seus usos

    ALHO (Allium sativum L.) Bulbo fresco e leo. Em casos de diabetes, gripes e resfriados, com efeito tnico digestivo, antidiurtico, redutor de colesterol e amebicida. O leo vermicida, expectorante redutor do colesterol e protege os vasos da aterosclerose.AROEIRA (Schinus terebinthifolius L.) Cas-ca. til em inflamaes feridas e tumores.BABOSA (Aloe vera L.) Folha. Cicatrizante para lceras, queimaduras e ferimentos.CANELA (Cinnamomum zeilanicum L.) Cas-ca. Tnico geral e digestivo, afrodisaco, an-tiasmtico, hemosttico em hemorragias.CIDREIRA (Mellissa officinallis L.) Folhas e flo-res. Para palpitaes no corao, insnia, ner-vosismo, dores, cimbras, clicas intestinais, tosses, falta de apetite, priso de ventre; para lavar feridas e combater o mau hlito.MENTRASTO (Ageratum conyzide L.) Utiliza-se toda a planta, principalmente a parte area. Tnico digestivo, antidiarreico, expectorante, cicatrizante para lceras crnicas, tendo tam-bm efeito digestivo e carminativo, para ga-ses intestinais, clicas abdominais, distenso do abdome, para menstruao atrasada e dismenorria.GERGELIM (Sesamum indicum L.) Semente torrada e leo. Serve como tnico geral para fraqueza e envelhecimento precoce, comba-te anemias, dores nas articulaes e na colu-na, alm de seu efeito laxativo.

    Fonte: Frmulas Mgicas: como utilizar e com-binar plantas para o tratamento de doenas simples, Alexandros Spyros Botsaris.

    Aroeira(Schinus terebinthifolius)

    Plantas medicinais

  • 41

    A criao de animais tem sido uma fonte de segurana alimentar e tam-bm uma alternativa de gerao de renda para a agricultura familiar. A presena de animais, como aves, sunos, caprinos e ovinos, no quintal produtivo enriquece a biodiversida-de e garante uma relao de maior aprovei-tamento dos recursos da casa. Forma-se um ciclo, onde os animais alimentam a famlia e so alimentados pelos elementos do quintal, como folhas e caules das plantas, frutas, inse-tos e at pelos resduos orgnicos da casa. Este alimento transformado em adubo, que vira fonte de alimento para as plantas, fornecendo boa parcela dos nutrientes necessrios para os pequenos plantios.

    Alguns cuidados podem ser pensados para otimizar a relao desses animais com o siste-ma quintal produtivo. O principal organizar o sistema para que a criao no atrapalhe as demais atividades do quintal. Mant-los longe dos canteiros cultivados uma necessidade. Lembrando que depois da colheita, principal-mente as aves podem realizar a arao da ter-ra para o prximo plantio, colocando-as para ciscar sobre o solo dos canteiros depois de realizada toda a colheita.

    Sunos, ovinos e caprinos, alm de disponi-bilizarem alimentos para a famlia, integram o sistema de forma dinmica. O chiqueiro, assim como o curral, deve ser construdo afastado da casa, para evitar a presena de moscas e inse-tos, e sero bem mais atrativos se tiverem algu-mas rvores para dar sombra e complementar a alimentao dos animais. Outra parte de sua dieta pode vir da casa, do roado ou do pomar, reaproveitando alguns resduos da colheita e do preparo dos alimentos. Retornando para a terra este material atravs da compostagem do adu-bo produzido por estes animais.

    O uso de galinheiros mveis possibilita levar as aves com facilidade para onde elas possam ser teis, garantindo a adu-bao e arao do solo de forma rotativa e direcionada, alm de mant-las longe das plantas.

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    .

    Criao de pequenos animais

  • 42

    Reciclar o ato de transformar objetos e materiais usados (que geralmente chama-mos de lixo) em novos produtos. Grande parte dos materiais que vai para o lixo pode e deve ser reciclada.

    A reciclagem, principalmente dentro de casa, traz consigo a necessidade de repensar a prpria produo do lixo, seguindo os princpios dos 3 Rs:

    Reduzir a quantidade de lixo que cada um pro-duz

    Reutilizar, escolhendo produtos e embalagens que possam ser utilizadas vrias vezes

    Reciclar os materiais, dando-lhes uma nova uti-lidade

    O lixo deve ser separado entre orgnico e o inor-gnico. Tambm conhecida como a separao do lixo molhado do seco.

    Vale a pena fazer

    Separar o lixo seco de todos os restos orgni-cos: um copo sujo de cafezinho pode inutilizar quilos de papel limpo e reciclvel

    Lavar as embalagens para retirar os resduos dos alimentos e dos produtos de higiene e limpeza

    No vale a pena fazer

    Separar o lixo seco por tipo de material. As em-presas e cooperativas faro uma nova triagem, es-tando o lixo organizado ou no

    Amassar latas e garrafas PET ou desmontar as embalagens longa-vida. So medidas que no en-curtam em nada o processo de reciclagem

    Devem ser separados num lixo parte: LMPADAS, BATERIAS, CACOS DE VI-DROS PLANOS E DE ESPELHOS. Estes l-timos devem ser embalados em jornal e encaminhados para vidraarias.LEO DE COZINHA: colocar o leo em garrafas PET bem vedadas e entreg-las a uma das vrias organizaes especiali-zadas nesse tipo de reciclagem.

    Reciclagem do lixo

  • 43

    As agroflorestas ou Sistemas Agroflorestais (SAFs) aparecem como uma alternativa pro-missora de sistemas de produo integrados, produzindo e conservando, ao mesmo tempo, os solos, a gua e a biodiversidade. Dentro da viso sistmica e integrada, as agroflorestas seguem os conceitos e prin-cpios ecolgicos no desenvolvimento de sistemas pro-dutivos com mais sustentabilidade, recuperando reas e recursos hdricos, melhorando a produtividade, a ren-tabilidade e a qualidade de vida dos agricultores.

    A biodiversidade condio indispensvel para a sa-de dos sistemas naturais. Sendo tambm um princpio norteador para o Sistema Agroflorestal, que tem sua sus-tentao e estabilidade baseadas na diversidade da pro-duo. Esta diversidade de espcies um caminho para se obter produes estveis a longo prazo. Quanto maior a biodiversidade do sistema mais ele ter resistncia a pragas, doenas e outros riscos causados pelas variaes climticas e econmicas.

    A diversidade de espcies vem juntamente com uma grande variedade de funes das plantas, que po-dem ser cultivadas no Sistema Agroflorestal de forma harmnica.

    A proposta para a agrofloresta aberta e permite que agricultores e agricultoras construam seu Sistema Agroflorestal, de acordo com suas necessidades e com o que a natureza lhe permite. Valoriza-se sempre o princpio da vida e tendo como referncia os seguintes princpios prticos:

    No fazer queimadasNo usar agrotxicos nem adubos sintticosManter a cobertura do soloConhecer e obedecer a sucesso natural da plantasBuscar sempre aumentar a biodiversidade da rea cultivadaManejar espcies agrcolas, frutferas e florestaisConservar flora e fauna nativasCultivar a mesma rea at que ela se torne susten-tvelUtilizar sempre que possvel os recursos locais, inclu-sive para a alimentao da famlia

    Quais so as espcies nativas da sua regio que crescem juntas com ou-tras plantas? possvel introduzi-las no seu roa-do ou quintal para diversificar a pro-duo?

    A construo de uma agrofloresta pode ser realizada de uma forma coletiva organizada, com a opinio de toda famlia e da comunidade.

    Cap

    tulo

    6Ag

    roflo

    rest

    aPrincpios bsicos

  • Agrofloresta - Um Modelo de Ser

    "...Aprofunda-te na matria! Abre os teus sensos! Tentas perceber as formas dadas pela prpria nature-za! E tu chegars A criar laos mais ntimos com ela. Isto acarretar mais sensibilidade nos tratos, nas relaes com nossos irmos (seres vivos) no campo e na floresta, bem como nas relaes entre os seres humanos. Assim, a agricultura voltar a ser o que ela era, pelo sentido da palavra: cultura. Uma tenta-tiva culta de conseguir o necessrio daquilo que precisamos para nos alimentarmos, alm das outras matrias-primas essenciais para nossa vida, sem a necessidade de diminuir e empobrecer a vida no lu-gar, na terra. Isto implica em considerarmos um gasto mnimo de energia, onde no cabem maquinrio pesado, agrotxicos, fertilizantes qumicos e outros adubos, trazidos de fora do sistema.A agricultura, dessa forma, passa a ser uma tentativa de harmonizar as atividades da agricultura com processos naturais de vida, existentes em cada lugar que atuamos. Para conseguirmos isto, preciso que haja em ns mesmos uma mudana fundamental, uma mudana da nossa compreenso da vida.O nosso pensamento na civilizao moderna ocidental baseado nos princpios da fsica newtoniana. Eles tentam explicar, numa forma rudimentar simples de entender, os processos fsicos do movimento, da gravidade, da combusto, etc. Esta teoria permitiu que se elaborasse um desenho bastante lgico do mundo. E assim, como vem se realizando este sonho de dominar o mundo, estamos compulsoriamente a descartar tudo o que no cabe dentro da nossa lgica, obtendo como resultado um agravamento cada vez maior dos problemas ecolgicos e socioeconmicos.No entanto, parece que o pensamento tecnomorfo no d certo. A vida no funciona nos princpios da fsica newtoniana, do complexo para o simples, na entropia. Os princpios em que a vida se baseia so processos que levam do simples para o complexo, onde cada uma das milhares de espcies, a humana entre elas, tem uma funo dentro de um conceito maior. A vida neste planeta uma s, um macro organismo cujo metabolismo gira num balano energtico positivo em processos que vo do simples para o complexo, na sintropia ..."

    Ernst Gtsch

    44

    Algumas funes que podem ser desempenhadas pelas espcies dentro de um cultivo agroflorestal:

    Planta melferta com florada para as abelhasAlimento frutas, cereais, razes, tubrculos, ou brotos Retardar o fogo planta com alto teor de gua Lenha planta de crescimento rpidoAtrativas de insetos planta que atraia inimigos naturais de pragas, ou que atraiam pragas para evi-tar ataques a cultivares valiosasQue produz fibras matria-prima para constru-o e artesanato.Controle da eroso do solo que criam uma ca-mada de proteo contra chuva, bastante folhosaCobertura do solo que produz bastante massa verde (folhas), para conservar a umidade do soloForragem animal serve de pasto para os animaisFixadora de nitrognio leguminosas, que adu-bam o soloQuebra vento que diminuem a velocidade dos ventos nos lugares desejados.Reciclagem de nutrientes que possuem razes pivotantes para trazer os nutrientes da parte pro-funda do solo para suas folhasIsolamento trmico que amenizem as altas ou baixas temperaturas atravs de suas folhagens

  • 45

    Exemplos de espcies na sucesso

    Pioneiras: vassoura de boto, beldroega, capim-alho, carrapicho, abacaxi, mandioca, batata-doce, cana-de-acar, salsa e tiriricaSecundrias: marmeleiro, jurubeba, jurema, sabi, mufumbo, cajueiro, caf, laranjeira, limoeiro e siri-geleiraClmax: cumaru, cedro, ip, juazeiro, angico, mangueira, jaqueira

    SucessoNatural

    5 Anos depois

    25 Anos depois

    Cerca viva plantas com espinhos ou ramos bem fechados, formando barreiras.Trelia servem de andaime para conduzir outras plantas no sentido verticalHabitat selvagem refugio para animais e inse-tos, que controlam a populao de pragas, polini-zam, e disseminam sementes de plantas teis.Tratamento de guas poludas plantas aqu-ticas que pela raiz absorvem as impurezas contidas na guaIndicadora das condies do solo a alta po-pulao de determinadas plantas nativas indica as condies do solo, como: acidez, falta de macro ou micro nutrientes, pouca aerao ou compactao do solo.Ponto de referncia atravs de uma caracters-tica bem destacvel da plantaBalano hdrico diminuindo o impacto das se-cas, ou a velocidade das guas da chuva que correm das partes altas para os rios e riachos.

    A sucesso natural o principio bsico da teia da vida que rege os sistemas agroflorestais, onde os consrcios vo se sucedendo, combinando-se em se-qncias de plantios que formam um ambiente sadio e sustentvel, trabalhando com uma dinmica em que a regenerao dos solos, da vegetao e do sis-tema produtivo como um todo, acontece de acordo com os processos naturais.

    As primeiras plantas que aparecem so chama-das de pioneiras. Elas abrem espao para a vege-tao secundria, e assim por diante, at chegar a uma vegetao clmax que vai envelhecendo, caindo e abrindo clareiras para que novas pioneiras possam repovoar a rea. Assim, as plantas fortalecem e di-versificam o solo em sua capacidade produtiva e seu ciclo de vida, favorecendo o surgimento de outras espcies de plantas e atraindo animais.

    A sucesso pode ser acelerada com o manejo (poda e plantio) de espcies nativas, inserindo tam-bm espcies de valor econmico, manejando-as de forma adequada para seu desenvolvimento. Pode-se tambm harmonizar os pomares com as matas nati-vas, de modo a evitar a incidncia de pragas e me-lhorar a produo.

  • O lugar mais apropriado para se comear um manejo agroflorestal aquele onde ainda existam plantaes nativas ou ento uma rea que j foi modificada e que precisa ser recupe-rada, criando uma ordem de prioridade na escolha do terreno. Onde derrubar capoeires fica em ltimo plano e reconquistar lavouras degradadas por anos de mau uso est em primeiro.

    Escolhida a rea, preciso reconhecer os po-tenciais do local, para identificar as espcies que j existem e como elas crescem na presena de outras, para as possveis consorciaes. Pode-se comear por fazer uma anlise ou diagnstico da rea para, a partir da, fazer um planejamento de cultivo diversi-ficado, com uso de cercas-vivas, quebra-ventos, po-mares, culturas anuais e espcies nativas.

    importante escolher as espcies conhecidas, com as quais j se possui alguma familiaridade, pois os resultados do plantio demoram a aparecer, e quanto mais conhecidas as plantas, mais fcil o pla-nejamento de suas interaes, tanto com as outras espcies vegetais como com o solo.

    Nessa hora tambm importante aumentar a biodiversidade, evitando o surgimento de pragas, di-minuindo os riscos de perder a safra e restabelecen-do o equilbrio.

    Passos importantes que devem ser considerados na hora de implantar a agrofloresta:

    1 passo: observar e analisar o solo e em que condies se encontra, priorizando seu manejo adequado

    2 passo: fazer um planejamento e calendrio agrcola de todas as culturas anuais e perenes que deseja produzir conforme a poca do ano (gros, verduras, legumes, frutferas, etc.)

    3 passo: reconhecer a funo de cada elemento da paisagem natural, verificando qual o melhor desenho para a implantao da rea em funo do terreno.

    Este planejamento deve partir da realidade de cada produtor e produtora, do que j produzem cos-tumeiramente como milho, feijo, fava, mandioca,

    46

    Agroflorestapasso a passo

  • jerimum. Aproveitam-se os cultivos existentes, sempre na perspectiva de melhorar a diversidade produtiva e a biodiversidade, atravs de consrcios, podas, capinas seletivas, e principalmente introdu-o de novas espcies.

    Os consrcios

    Como no SAF a variedade de espcies vai man-ter sua sustentabilidade, importante pensar nas relaes que estas plantas tm entre si, para que o companheirismo entre elas seja equilibrado uma ajudando no desenvolvimento da outra.

    As plantas a serem consorciadas so escolhidas pelos seguintes fatores:

    tamanho e porte

    tolerncia sombra

    exigncias de um solo mais frtil ou menos frtil e de umidade

    afinidade no tempo da sucesso

    Assim, por exemplo, o feijo trepador convive muito bem com o milho. A batata-doce, o mangari-to e a taioba ficam muito bem entre as bananeiras que, por sua vez, se relacionam muito bem com o caf. Exemplos so vrios. Podemos ter como fonte o saber popular, mas sem deixar de lado a experi-mentao.

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    O Sistema Agroflorestal depende, e muito, de um manejo adequado.O manejo da floresta consiste em re-conhecer as reas para os plantios, onde ser pos-svel introduzir novas espcies a partir da sucesso natural, e tambm as que precisam de um descanso; remover as plantas doentes; retirar galhos envelhe-cidos como forma de limpeza; podar rvores que es-tejam fazendo muita sombra para outras espcies, com o objetivo de renov-las, sendo indicada geral-mente a poda de 30% da copa das rvores em rea de cultivo.

    Este manejo, na realidade, se faz a partir de di-ferentes cuidados para diferentes tipos de plantio. Veja abaixo algumas tcnicas:

    Capina seletiva a primeira capina deve ser feita antes do tempo de plantio. Com ela so corta-das a maioria das plantas pioneiras que no interes-sam no momento, abrindo espao para o plantio.

    Poda de limpeza - Geralmente feita aps a fru-tificao, com a retirada dos galhos envelhecidos ou quebrados. Tambm usada para aumentar a entrada de luz nas reas de cultivo, atravs do raleamento.

    Poda drstica usada em ltimo caso, esta poda retira mais de um tero da copa da rvore, para que esta se recupere de uma doena ou que rejuve-nesa, revigorando assim o sistema produtivo.

    Sulcos so valas abertas no solo, que so pre-enchidas com palha e folhas secas, que tem como principal funo a reteno da gua no solo.

    Colheita

    Cada produto agroflorestal tem suas caracte-rsticas e o seu ciclo. Sendo assim, deve constar no planejamento do produtor a colheita do produ-to. Deve ser pensado como retirar o produto do SAF antes mesmo de seu plantio, para a garantia de uma colheita apropriada, com o menor esforo possvel e a preservao adequada da produo que ser colhida.

    Tratos culturaise manejo

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    ACIDO CIANDRICO: conhecido tam-bm como cianeto de hidrognio, cuja frmula HCN um cido fraco, porm, muito venenoso que interfere na condu-o do oxignio s clulas do organismo.

    AGROPECURIA: a palavra agropecu-ria rene os substantivos agricultura e pecuria e a rea do setor primrio res-ponsvel pela produo de bens de con-sumo, mediante o cultivo de plantas e a criao de animais.

    AGROTXICOS: produtos qumicos usados na lavoura, na pecuria e mesmo no ambiente domstico: inseticidas, fun-gicidas, acaricidas, nematicidas, herbici-das, bactericidas, vermfugos; alm de solventes, tintas, lubrificantes, produtos para limpeza e desinfeco de estbulos.

    CAROS: artrpode pertencente classe dos aracndeos, que so, em sua maioria, predadores, mas h os fitfagos, detrit-fagos e os parasitas.

    AGREGADOS DO SOLO: quando em presena do hmus, as partculas do solo se agregam formando agregados maio-res torres, consistentes, que resis-tem melhor aos efeitos da eroso. Entre esses agregados formam-se espaos va-zios, os micro e macroporos que facilitam a penetrao e circulao da gua, do ar e penetrao das razes.

    ASSEMBLIA GERAL: nas organizaes de associativismo o rgo supremo que decide sobre as polticas a seguir. To-dos tm direito ao voto e normalmente composta pelo conjunto dos scios da associao.

    ANTAGONISMO: relao em que um parceiro prejudicado pelo outro, como por exemplo: rcula e couve.

    ANTRACNOSE: doena causada pelo Col-letotrichum sp., que incide principalmen-te nas brotaes jovens, pices, folhas e ramos jovens. Quando na sementeira geralmente ocorre a queima do pice das plntulas, impedindo seu crescimento. Se apresenta principalmente com man-chas escuras, irregulares, incidindo, prin-cipalmente nas bordas, causando defor-maes nas folhas jovens.

    AQICULTURA: processo de produo, em cativeiro de organismos aquticos