Características Acústicas Do Tap - 54

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CARACTERÍSTICAS ACÚSTICAS DO TAP EM GRUPO NO PB Gustavo NISHIDA* (UFPR ) ABSTRACT : This paper sheds some light on the acoustic characteristics of Brazilian Portuguese taps in clusters, paying special attention to the vowel-like segment laying between the obstruent consonant and the tap, since it can be an epenthetic vowel or the same vowel succeeding the tap. Our investigation supports the second hypothesis. KEYWORDS: taps; clusters; acoustic analysis; vowel-like segment. 0. Introdução Há uma escassez de estudos acústicos e articulatórios sobre os róticos do Português Brasileiro (PB), dificultando a caracterização desses sons, pois a maior parte da literatura disponível refere-se a outras línguas. Em seu estudo de 1980, Maddieson apresentava que 59% das 321 línguas do corpus do UCLA Phonological Segment Inventory Database (UPSID) possuíam pelo menos um tipo de rótico, o que mostra a grande freqüência de ocorrência desse tipo de som e, assim, aponta para a necessidade de se estudar mais detalhadamente esses segmentos. São poucos os estudos sobre os clusters do tipo consoante-/r/-vogal nas línguas do mundo. Para o espanhol, Quilis (1993) argumenta que grupos formados por oclusiva mais tap ou fricativa mais tap desenvolvem um “elemento esvarabático” entre a consoante e o /r/. Esse segmento já havia sido notado, impressionisticamente, por Lenz (apud Quilis 1993). Notava auditivamente que tanto no espanhol peninsular como no americano havia a produção de um som glótico nesse contexto segmental. Quilis concluiu que esse “elemento esvarabático” apresenta os formantes em uma estrutura muito parecida com a do triângulo vocálico espanhol. Almeida & Dorta (1993), mais detalhadamente, estudam as líquidas do espanhol falado na ilha de Tenerife. Ao tratar dos grupos nessa investigação, os autores também identificaram o “desenvolvimento de um elemento vocálico cuja duração pode superar a do tap” (Almeida & Dorta, op cit: 107) 1 . A estrutura formântica dessa vogal parece ser condicionada pela qualidade da vogal nuclear, possuindo F1 mais alto quando a vogal é aberta e mais baixo quando a vogal é fechada; F2 e F3 mais altos para vogais anteriores e mais baixos para posteriores. Em ambos os estudos para o espanhol, não há uma análise minuciosa sobre qual a natureza do elemento vocálico dos clusters . Entretanto, tais conclusões nos permitem pensar que o tap entrecorta a vocal nuclear. Ao contrá rio do que se tem em espanhol, Kvale & Foldvik (1995) notam que os clusters do norueguês (constituídos de oclusivas ou fricativas mais um flap retroflexo), em um dialeto não padrão, apresentam uma vogal epentética, ou seja, um elemento vocálico do tipo schwa. É interessan te notar que a duração desse evento acústico é bem variável e longa, com 30ms depois de [ ] e 50ms depois de [ ] e [ ]. Com base em Silva (1996), podemos dizer que os grupos do tipo “oclusiva-tap-vogal” no PB também apresentam esse elemento vocálico. A estrutura formântica desse segmento é muito semelhante ao da vogal nuclear do grupo. Nesse sentido, é possível pensar que o tap entrecorta a vogal nuclear do grupo para se apoiar em sons adjacentes devido ao seu caráter descontínuo, fazendo com que “o tap sempre ocupe, de qualquer forma, uma posição intervocálica” (Silva, op cit: 69). * Trabalho de iniciação científica sob a orientação da Profa. Dra. Adelaide H. P. Silva. 1 A tradução dos originais é minha. Anais do 6º Encontro Celsul - Círculo de Estudos Lingüísticos do Sul

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CARACTERÍSTICAS ACÚSTICAS DO TAP EM GRUPO NO PB

Gustavo NISHIDA* (UFPR ) ABSTRACT : This paper sheds some light on the acoustic characteristics of Brazilian Portuguese taps in clusters, paying special attention to the vowel-like segment laying between the obstruent consonant and the tap, since it can be an epenthetic vowel or the same vowel succeeding the tap. Our investigation supports the second hypothesis. KEYWORDS: taps; clusters; acoustic analysis; vowel-like segment. 0. Introdução

Há uma escassez de estudos acústicos e articulatórios sobre os róticos do Português Brasileiro (PB), dificultando a caracterização desses sons, pois a maior parte da literatura disponível refere -se a outras línguas. Em seu estudo de 1980, Maddieson apresentava que 59% das 321 línguas do corpus do UCLA Phonological Segment Inventory Database (UPSID) possuíam pelo menos um tipo de rótico, o que mostra a grande freqüência de ocorrência desse tipo de som e, assim, aponta para a necessidade de se estudar mais detalhadamente esses segmentos. São poucos os estudos sobre os clusters do tipo consoante-/r/-vogal nas línguas do mundo. Para o espanhol, Quilis (1993) argumenta que grupos formados por oclusiva mais tap ou fricativa mais tap desenvolvem um “elemento esvarabático” entre a consoante e o /r/. Esse segmento já havia sido notado, impressionisticamente, por Lenz (apud Quilis 1993). Notava auditivamente que tanto no espanhol peninsular como no americano havia a produção de um som glótico nesse contexto segmental. Quilis concluiu que esse “elemento esvarabático” apresenta os formantes em uma estrutura muito parecida com a do triângulo vocálico espanhol. Almeida & Dorta (1993), mais detalhadamente, estudam as líquidas do espanhol falado na ilha de Tenerife. Ao tratar dos grupos nessa investigação, os autores também identificaram o “desenvolvimento de um elemento vocálico cuja duração pode superar a do tap” (Almeida & Dorta, op cit: 107)1. A estrutura formântica dessa vogal parece ser condicionada pela qualidade da vogal nuclear, possuindo F1 mais alto quando a vogal é aberta e mais baixo quando a vogal é fechada; F2 e F3 mais altos para vogais anteriores e mais baixos para posteriores. Em ambos os estudos para o espanhol, não há uma análise minuciosa sobre qual a natureza do elemento vocálico dos clusters . Entretanto, tais conclusões nos permitem pensar que o tap entrecorta a vocal nuclear. Ao contrá rio do que se tem em espanhol, Kvale & Foldvik (1995) notam que os clusters do norueguês (constituídos de oclusivas ou fricativas mais um flap retroflexo), em um dialeto não padrão, apresentam uma vogal epentética, ou seja, um elemento vocálico do tipo schwa. É interessan te notar que a duração desse evento acústico é bem variável e longa, com 30ms depois de [p] e 50ms depois de [b] e [m]. Com base em Silva (1996), podemos dizer que os grupos do tipo “oclusiva-tap-vogal” no PB também apresentam esse elemento vocálico. A estrutura formântica desse segmento é muito semelhante ao da vogal nuclear do grupo. Nesse sentido, é possível pensar que o tap entrecorta a vogal nuclear do grupo para se apoiar em sons adjacentes devido ao seu caráter descontínuo, fazendo com que “o tap sempre ocupe, de qualquer forma, uma posição intervocálica” (Silva, op cit: 69).

* Trabalho de iniciação científica sob a orientação da Profa. Dra. Adelaide H. P. Silva. 1 A tradução dos originais é minha.

Anais do 6º Encontro Celsul - Círculo de Estudos Lingüísticos do Sul

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Portanto, o trabalho que se apresenta tenta esclarecer qual a natureza desse elemento vocálico que aparece nos clusters do PB e investigar se isso está relacionado ao caráter descontínuo do tap, que precisaria de um som contínuo para se sustentar. Este estudo é importante para que se dê maior naturalidade a programas de síntese de fala, bem como para colaborar com a prática clínica, uma vez que o tap é um dos últimos sons adquiridos pelos falantes de PB.

1. Metodologia

1.1. Design experimental Decidiu-se utilizar, para a montagem do corpus, sentenças que continham palavras da língua, as quais possuíam os grupos. As palavras-alvo eram dissílabos paroxítonos, uma vez que se verificou, com o auxilio do programa Listas2, a maior ocorrência dessa estrutura no PB (197 ocorrências). Os grupos foram posicionados na sílaba tônica da palavra-alvo. Eles têm a estrutura C-/r/ -V (consoante-tap-vogal), tendo a consoante alternada entre as seis oclusivas do PB ([p,b,t ,d,k,g ]) e uma fricativa ([f]), já que somente esses sons ocupam posição tônica quando em grupos. Procurou-se alternar, toda vez que possível, a vogal nuclear do grupo entre as sete vogais tônicas orais do PB. Para a análise, as palavras-alvo foram divididas em dois conjuntos: grupos em contexto de oclusivas e grupos em contexto de fricativas. Com isso, utilizou-se as seguintes palavras alvo:

[i] [e] [E] [a] [ �] [o] [u] [p] primo preso pressa prato prova - -

[b] briga - breque braço broche broto bruxa

[t] tribo trecho treco trave trote troco truque [d] - - - drama droga - -

[k] crime creme crepe cravo - - - [g] grito grego greve grade - grosso grupo

[f] fritas frevo frete frase frota fronha fruta Quadro 1 – Palavras-alvo das sentenças utilizadas para o experimento. As sentenças obedecem a mesma estrutura direta e afirmativa, de uso cotidiano. As palavras -alvo sempre ocupam o mesmo lugar nas sentenças: não aparecem em posição de sujeito para se evitar efeitos de topicalização; sempre aparecem na posição de objeto, mas nunca em posição final da sentença, para se evitar que a curva descendente característica em sentenças afirmativas insira mais uma variante ao experimento, pois pode alterar o F0 dos segmentos, abaiaxando-o.

1.2. Coleta dos dados

As 37 sentenças do experimento foram lidas três vezes cada (total de 222 sentenças) por dois informantes que residem na região metropolitana de Curitiba (D, 19 anos, universitário; e M, 37 anos, professor universitário), de forma aleatória. Não se utilizaram distratores, pois haveria um grande nú mero de sentenças a serem lidas, o que poderia resultar no cansaço dos informantes, e assim, enviesar a coleta de dados. Como as sentenças obedeciam a uma forma de uso cotidiano, os informantes não perceberam o que estava sendo analisado, dando, com isso, maior naturalidade à gravação.

2 Programa desenvolvido no LAFAPE/UNICAMP que possibilita realizar quantificações das estruturas de silabas e palavras da língua.

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As repetições foram gravadas em uma sala com tratamento acústico no estúdio LACOMUS (Laboratório de Computação Musical) do Departamento de Artes da UFPR (DEARTES)3. Utilizou-se para a gravação um microfone dinâmico AKG-Platina e o software Pro Tools Digi 001, com taxa de amostragem do sinal a 44100Hz.

2. Análise dos dados

Os dados coletados para o experimento foram analisados no software Praat4 (versão 4.2.07). Os grupos das palavras-alvo foram identificados nos espectrogramas auditiva e visualmente. Os taps são caracterizados por seu aspecto descontínuo, ou seja, por espaços em branco nos espectrogramas, já que se trata de um “som em que um breve contato entre os articuladores é feito pelo movimento de um articulador ativo diretamente ao céu da boca” (Ladefoged & Maddieson, 1996: 231).

Figura 1 – Espectrograma mostrando um tap em grupo na palavra-alvo ‘prato’, entre as linhas verticais pontilhadas. Na figura 1 é possível identificar, entre as linhas verticais pontilhadas, o tap em grupo na palavra-alvo ‘prato’, principalmente pelo caráter descontínuo do espectrograma e pela queda da energia de produção (identificada pela diminuição da amplitude da onda e pelo espaço quase que em branco no espectrograma ). Nessa figura, também pode-se notar a produção de um elemento vocálico entre a oclusiva [p ] e o tap. Entretanto, o tap não foi produzido em todas as palavras do experimento. É possível verificar a ocorrência de um rótico do tipo aproximante em alguns casos, ou seja, há apenas uma aproximação dos articuladores, não chegando a haver contato entre eles. Mesmo assim, o número de ocorrências para o tap é maior, tanto em contexto de grupos com oclusivas (61% para o informante D e 73% para o informante M) quanto em grupos com fricativas (51% para D e 76% para M).

3 Um agradecimento ao Prof. Dr. Rodolfo Coelho por permitir a utilização do laboratório e ao aluno Richard Maus pelo auxílio técnico nas gravações. 4 Programa gratuito desenvolvido por Paul Boersma e David Weenink no Instituto de Ciências Fonéticas da Universidade de Amsterdã. Disponível em www.praat.org.

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Figura 2 – Espectrograma mostrando uma aproximante em grupo na palavra alvo ‘prova’, entre as linhas verticais pontilhadas. Na figura 2, entre as linhas verticais pontilhadas, há a produção de uma aproximante na palavra ‘prova’. Pode-se identificá-la pois seu espectrograma apresenta um caráter contínuo, ou seja, não há uma obstrução total do trato vocal, até mesmo permitindo a visualização de uma estrutura formântica. É interessante notar que, ao contrário do que se tinha para o tap, não há a produção de um eleme nto vocálico entre a oclusiva [p] e a aproximante, o que nos permitiria pensar que a produção do elemento vocálico estivesse condicionada à presença do tap.

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Figura 3 – Espectrograma mostrando um elemento vocálico e uma aproximante na palavra-alvo ‘briga’, entre as linhas verticais pontilhadas. No entanto, nos casos em que os informantes produziam aproximantes, também ocorreu a produção elementos vocálicos. Na figura 3, é possível notar, entre as linhas pontilhadas verticais, uma aproximante e, à sua esquerda, a produção de um elemento vocálico, que parece ter uma estrutura formântica muito semelhante à da vogal nuclear, o que se permitiria pensar que tanto o tap quanto a aproximante entrecortam a vogal nuclear. Com isso, decidiu-se extrair a medida dos três primeiros formantes nos pontos médios, tanto dos elementos vocálicos quanto das vogais nucleares dos grupos, para se verificar qual a natureza desse elemento vocálico. As medidas foram feitas com o auxílio da extração automática do Praat e conferidas manualmente, para se evitar possíveis erros nas medidas dos formantes.

3. Discussão dos dados 3.1. Vogais nucleares e elementos vocálicos

Extraídas as medidas dos formantes e realizadas as médias aritméticas, os valores foram plotados em gráficos de F1xF2.

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Gráfico 1 – Média dos valores de F1 e F2 das vogais nucleares dos grupos dos informantes D e M. Como se pode notar no gráfico 1, as vogais nucleares formam um triângulo para os dois informantes, mesmo não havendo exatamente um mesmo valor para os formantes. Os gráficos dos elementos vocálicos serão comparados a este para se determinar qual é a sua natureza.

Gráfico 2 – Média dos valores de F1 e F2 dos elementos vocálicos em contexto de oclusivas (informantes D e M). O gráfico 2 corresponde às médias dos valores de F1 e F2 dos elementos vocálicos em contexto de grupos com oclusivas. Como se pode perceber, a disposição dos pontos nesse triângulo é muito semelhante à dos pontos do triângulo das vogais nucleares no gráfico 1. A “limpeza” na disposição dos pontos do gráfico 2 ocorre devido à pouca coarticulação entre as oclusivas e os segmentos adjacentes . Os elementos vocálicos apareceram em mais de 70% dos casos, em contexto de grupos com oclusivas (71% para D e 85% para M). Tais dados nos permitem pensar que o elemento vocálico é uma parte da vogal nuclear que foi entrecortada pelo tap.

Media de F1 e F2 dos elementos vocalicos em contexto de oclusivas (informante M)

0500

1000150020002500

0 200 400 600

F1

F2Media de F1 e F2 dos elementos

vocalicos em contexto de oclusivas (informante D)

0

5001000

1500

2000

0 200 400 600

F1

F2

Media de F1 e F2 da vogais nucleares (informante D)

0500

1000

1500

2000

0 200 400 600 800

F1

F2

Media de F1 e F2 das vogais nucleares (informante M)

0500

1000150020002500

0 200 400 600 800

F1

F2

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Gráfico 3 – Média dos valores de F1 e F2 dos elementos vocálicos em contexto de fricativas (informantes D e M). No gráfico 3, tem-se as médias dos valores de F1 e F2 dos elementos vocálicos em contexto de grupos com fricativas. Ao contrário do que ocorria para os grupos com oclusivas, os grupos com fricativas não apresentam a mesma disposição dos pontos em triângulo . Os pontos parecem se agrupar no gráfico, levando a se pensar em uma centralização dos valores de F1 e F2 dos elementos vocálicos em grupos com fricativas. É interessante notar que essa centralização pode estar relacionada a um efeito de coarticulação entre as fricativas e os segmentos adjacentes e ao reduzido número de ocorrências dos elementos vocálicos nesse contexto. Nos dados do informante D, as palavras-alvo ‘frota’ e ‘fruta’ não apresentaram nenhuma ocorrência de elemento vocálico, por esta razão há apenas 5 pontos em seu gráfico. Tanto para D quanto para M, em alguns casos, havia apenas a ocorrência de um único dado nesse contexto, ou seja, nem sempre o valor plotado no gráfico 3 é uma média dos valores de F1 ou F2. Seria necessário um maior número de dados para que se tivesse uma média mais fidedigna dos elementos vocálicos dos grupos com fricativas, e assim, verificar se realmente há centralização dos valores de F1 e F2.

3.2. Duração dos elementos vocálicos

Decidiu-se medir o tamanho desse elemento vocálico pois foi levantada a hipótese, durante as inspeções iniciais dos dados, que os falantes não percebem a produção desse elemento vocálico entre a obstruinte e a vogal justamente por se tratar de um segmento muito breve.

[i] [e] [E] [a] [�] [o] [u]

Informante D M D M D M D M D M D M D M

Oclusivas 18 16 20 20 20 21 22 23 19 25 23 19 21 22

Fricativas 14 15 16 12 12 13 16 12 19 15 - 24 - 15 Quadro 2 – Duração média dos elementos vocálicos em ms. O quadro 2 mostra as médias da duração desses elementos vocálicos. Quando em contexto com oclusivas os valores variam de 16 ms a 25 ms, que representam segmentos muito breves. Para o contexto com fricativas, a medição não apresenta um número considerável de dados; assim, alguns valores não são médias, são apenas a medida de um elemento vocálico. Mesmo assim é possível perceber que o tamanho desse segmento é variável e muito breve.

Media de F1 e F2 dos elementos vocalicos em contexto de fricativas

(informante D)

0

500

1000

1500

2000

0 200 400 600

F1

F2

Media de F1 e F2 dos elementos vocalicos em contexto de fricativas

(informante M)

0

500

1000

1500

2000

0 200 400 600

F1

F2

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4. Conclusão Com base no que foi apresentado na seção anterior, podemos dizer que esse elemento vocálico produzido nos grupos do PB não é uma vogal neutra do tipo schwa, como se tem para o norueguês. Esse segmento parece ser a própria vogal nuclear do grupo sendo entrecortada pelo tap, devido à grande semelhança entre estrutura dos formantes do elemento vocálico com a da vogal nuclear, o que pode ser percebido ao se comparar os triângulos vocálicos dos gráficos 1 e 2. A hipótese de que os falantes não percebem esses elementos vocálicos parece estar correta, pois realmente se trata de segmentos muito breves. No entanto, através de manipulação manual, pôde-se notar que para que o tap soasse era necessário que ele estivesse apoiado em dois sons contínuos . Acredita-se, portanto, que essa parte da vogal nuclear à esquerda do tap tem como função fazê-lo soar, e com isso, tem o seu som encoberto, não sendo ouvido pelos falantes . É por isso que quando um tap é produzido invariavelmente há a produção de um elemento vocálico. Vale salientar que os casos em que apareceram elemento vocálico e aproximante juntos colaboraram para tal conclusão, uma vez que nada impede que dois sons contínuos sejam produzidos “lado a lado”, o que permite os dois tipos de configuração: com elemento vocálico ou sem. Pretende-se colher e analisar mais dados para essa investigação, principalmente para as fricativas, já que há poucos dados em que são produzidos os elementos vocálicos. O próximo passo, porém, é averiguar a razão da produção de uma aproximante no lugar do tap. Talvez esteja relacionada à velocidade de fala, uma vez que o tap é um som que se necessita uma manobra articulatória complexa em um espaço de tempo muito curto e que em situações de velocidade de fala rápida pode não ser produzido, podendo haver apenas a aproximação dos articuladores, o que resultaria em uma aproximante. Para se averiguar essa hipótese, será medida a duração relativa do tap e da aproximante, pois a produção desses sons parece ser aleatória, já que uma mesma palavra pode ser produzida com esses dois tipos de sons pelo mes mo falante.

RESUMO: Este estudo descreve acusticamente o tap em grupo no PB. Elaboramos um experimento para investigar a natureza do segmento vocálico entre a oclusiva e o tap, pois pode se tratar de uma epêntese ou da vogal do grupo entrecortada pelo tap. Os primeiros resultados parecem apontar para a segunda hipótese. PALAVRAS-CHAVE: taps; grupos; análise acústica; elemento vocálico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBANO, E. C. MOREIRA, A. A. AQUINO, P. A. SILVA, A. H. P. & KAKINOHANA, R. K. Segment frequency and word structure in Brazilian Portuguese. In: Proceedings of the XIVth International Congress of Phonetics Sciences. Stockholm, 1995, vol. 3, pp. 346-349. ALMEIDA, M. & DORTA, J. Datos acústicos de las líquidas españolas. In: Homenaje a José Pérez Vidal. Edición al cuidado de Carmen Díaz Alayón. La Laguna, Tenerife, 1993, pp. 97-110. KVALE, K; FOLDVIK, A, K. An acoustic analysis of the retroflex flap. In: Proceedings of the XIIIth International Congress of Phonetics Sciences. Stockholm, 1995, vol.2, pp. 454 -457. LADEFOGED, P. & MADDIESON, I. The sounds of the world’s languages . Cambridge: Blackwell, 1996. MADDIESON, I. A survey of liquids. In: UCLA Working Papers in Phonetics. no 50, 1980. QUILIS, A. Tratado de fonología y fonética españolas. Madrid: Editorial Gredos, 1993. SILVA, A, H, P. Para a descrição fonético-acústica das líquidas no português brasileiro: dados de um informante paulistano . Dissertação de mestrado. UNICAMP/IEL, 1996.