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Capítulo 13No arco-íris da rega
De um grande pivot centralCada gota ali carregaUm recurso natural.
A superfície molhadaPor chuva artificial
Costuma ser cultivadaCom fruta ou cereal.
Geovane Alves de Andrade
381
Gestão de Recursos Hídricos no BrasilBenedito Pinto Ferreira Braga Júnior
Antônio Félix Domingues
AbstractLately, irrigated agriculture has intensified in the Cerrado Biome, a region drained by majorwater basins. Sustainable development of the agriculture sector of this region can only beachieved through methods of rational water use, irrigation and planting schedules andthrough the strengthening of water resources management tools, all of which are fosteringinvestors´ confidence. Efficient management depends on an effective implementation of theWater Law (Law nº 9433/1997) by federal and state-level governments, water users andrepresentatives of civil society. This chapter provides an assessment of the implementation ofwater resources management systems in 11 states of the Cerrado region and its effects onthe improvement of the use of water in irrigated agriculture in the Cerrado Biome.
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais382
Introdução
A gestão de recursos hídricos ganhou força no Brasil nos últimos 20 anos. A partirdo trabalho pioneiro das associações profissionais de recursos hídricos lideradas pelaAssociação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), nosso país saiu de um modelo degestão calcado no setor hidroelétrico para um modelo extremamente sofisticado que sevale de instrumentos econômicos e permite uma efetiva participação pública. O Brasildispõe de 12 % da água doce mundial. Entretanto, a distribuição desse enorme volume deágua se dá de forma irregular tanto no espaço como no tempo. A diversidade econômica,social e cultural do País traz também grande desafio na implementação de um sistema degestão de água eficiente e eficaz.
O uso da água na agricultura é, sem dúvida, algo de grande importância para odesenvolvimento do Brasil. Como se trata de um uso consuntivo, faz-se necessário umcuidado na sua utilização e manejo. Em particular, o Bioma Cerrado, onde hoje se localizauma significativa parcela da produção agrícola brasileira, depende em grande maneira desuprimento adicional de água para que se possibilite seu uso agrícola de formaeconomicamente eficiente. Ademais, outros usos da água são importantes para odesenvolvimento do País: hidroeletricidade, navegação, pesca, abastecimento domésticoe industrial, turismo e ecologia. A regulação do uso da água em nossos rios e lagos éfundamental para que eventuais conflitos possam ser mediados com rigor técnico evisando ao interesse nacional.
Neste capítulo, é feita uma análise da situação dos recursos hídricosbrasileiros em termos de disponibilidade e demanda para diferentes usos.Apresenta-se uma visão do desenvolvimento do sistema de gerenciamento derecursos hídricos no Brasil e o estágio de sua implementação nos dias atuais. OBioma Cerrado, que se estende por 11 estados brasileiros, é objeto de uma análise
mais detalhada no contexto acima descrito.
Disponibilidade e Demanda de Água no Brasil
Na Fig. 1, estão mostradas as 12 regiões hidrográficas (conjunto de uma ou maisbacias hidrográficas) utilizadas para a gestão de águas no Brasil. Observa-se que oslimites dessas regiões não coincidem com os limites geopolíticos dos estadosbrasileiros. Esse fato terá implicações importantes no modelo de gestão de recursoshídricos adotado no País, como se verá mais adiante.
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 383
Fig. 1. Regiões hidrográficas e os estados brasileiros.
Na Tabela 1, estão indicadas as vazões médias anuais per capita dessas 12
regiões hidrográficas. Os resultados mostram que o Brasil é rico em termos de
disponibilidade hídrica. Considerando-se o valor de 179.433 m3/s de vazão média para o
território brasileiro, nota-se que o País detém 12 % da água doce do planeta. Entretanto,
essa disponibilidade varia de forma acentuada ao longo do País. Ademais, existe também
a variação sazonal dessa disponibilidade. Mesmo em regiões hidrográficas de grande
disponibilidade, como a Amazônica (74 % do total brasileiro), observam-se importantes
períodos de estiagem. Esse foi o caso de secas importantes que ocorreram no sul da
Amazônia nos anos de 1983 e 2001. Entretanto, tais dados isolados não refletem a
problemática da gestão de águas no Brasil, pois não levam em conta as demandas pelos
diferentes usos.
Região Hidrográfica Amazônica
Região Hidrográfica do Paraná
Região Hidrográficado Tocantins
Região Hidrográficado São Francisco
Região Hidrográficado Paraguai
Região HidrográficaAtlântico Leste
Região Hidrográficado Parnaíba
Região Hidrográfica Atlântico Sul
Região Hidrográfica do Uruguai
Região HidrográficaAtlântico Nordeste
Oriental
Região HidrográficaAtlântico Sudeste
Região HidrográficaAtlântico Nordeste
Ocidental
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais384
Tabela 1. Vazão média de água por habitante no Brasil.
Região Hidrográfica População Vazão média(milhões de habitantes) (m3/s) (m3/hab/ano)
Amazônica 7,806 131.947 533.062Tocantins Araguaia 7,178 13.624 59.856Atlântico Nordeste Ocidental 5,302 2.683 15.958Parnaíba 3,729 763 6.453Atlântico Nordeste Oriental. 21,465 779 1.144São Francisco 12,796 2.850 7.024Atlântico Leste 13,996 1.492 3.362Atlântico Sudeste 25,245 3.179 3.971Atlântico Sul 11,634 4.174 11.314Uruguai 3,834 4.121 33.897Paraná 54,670 11.453 6.607Paraguai 1,887 2.368 39.575Brasil 169,542 179.433 33.376
Estudos elaborados pela Agência Nacional de Águas (AGÊNCIA NACIONAL DEÁGUAS, 2005) avaliaram a relação demanda/disponibilidade de água nessas 12 regiões
hidrográficas. A demanda é estimada a partir dos dados disponíveis de outorgasconcedidas tanto pela União como pelos estados para os diferentes usos de águaexistentes nas regiões hidrográficas. A disponibilidade é a vazão regularizada pelosistema de reservatórios a montante, com 100 % de garantia, somada à vazão com
permanência de 95 %, no trecho não regularizado. Em rios sem regularização, a
disponibilidade é a vazão com permanência de 95 %. No sentido de caracterizar a situação
dos rios nessas regiões hidrográficas, foi utilizada uma escala qualitativa para a relação
disponibilidade/demanda, que varia desde “confortável” até “crítica”, conforme mostrado
na Fig. 2. A situação é confortável na região hidrográfica Amazônica e Tocantins/Araguaia,
excetuando algumas regiões de cabeceiras e nos rios Jaburu e Formoso, nos quais as
atividades de irrigação se intensificaram nos últimos anos. Na região Atlântico Nordeste
Oriental, o Rio Mearim encontra-se em situação crítica. O Rio Parnaíba consegue atender
com tranqüilidade às demandas da bacia, excetuando-se alguns afluentes. A região
Atlântico Nordeste Oriental é a mais crítica. Quase todas as sub-bacias dessa região
apresentam uma relação entre demanda e disponibilidade acima de 40 %. A região
hidrográfica do São Francisco também apresenta situação pelo menos preocupante nas
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 385
sub-bacias dos rios das Velhas e Paraopeba, alguns afluentes do Paracatu (rios Preto, São
Pedro e Ribeirão Entre-ribeiros), a maioria dos rios localizados na região semi-árida da
bacia. Algumas bacias do Atlântico Leste também apresentam dificuldades no
atendimento às demandas, como, entre outras, Vaza-Barris, Itapicuru e Paraguaçu.
Fig. 2. Relação entre demanda e disponibilidade hídrica nos principais cursos d’água1.
Fonte: Agência Nacional de Águas, 2005.
Adicionalmente, apresentam um quadro, pelo menos, preocupante as bacias
próximas aos centros urbanos, como aquelas da região Atlântico Sudeste (por exemplo, rios
Paraíba do Sul, Pomba, Muriaé, Guandu e rios que desembocam na Baía de Guanabara),
Atlântico Sul (Guaíba, Jacuí e Camaquã, entre outros) e do Paraná (rios São Bartolomeu, Meia
1 A disponibilidade é a vazão regularizada pelo sistema de reservatórios a montante com 100 % de garantia,somada à vazão com permanência de 95 % no trecho não regularizado. Em rios sem regularização, adisponibilidade é a vazão com 95 % de permanência.
Excelente Confortável Preocupante5 % 10 %
Crítica Muito crítica20 % 40 %
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais386
Ponte, alguns afluentes do Rio Grande, por exemplo, rios Sapucaí, Turvo, Pardo e Mogi-Guaçu). Por fim, algumas bacias localizadas na região do Uruguai encontram-se em umasituação que exige intenso gerenciamento e intervenções em virtude, principalmente, deconflitos de usos com a irrigação (rios Ibicuí, Santa Maria e Quaraí, entre outros).
Observam-se, ainda, regiões no País em que, a despeito da elevada disponibilidadenatural de água, a intensa e desordenada ocupação do território tem gerado conflitos pelo usoda água, em face, principalmente, de questões associadas à qualidade requerida paradeterminados usos. É o caso das regiões hidrográficas do Paraná e Uruguai, dos altos cursosdos rios Tocantins e São Francisco, além de boa parte das regiões hidrográficas AtlânticoSudeste e Sul, em que os conflitos pelo uso da água envolvem, essencialmente, problemasde poluição ou de consumo excessivo de água para irrigação.
Pelo acima exposto, nota-se que, apesar de nosso país liderar a disponibilidade deágua doce no mundo, com 12 % do total, existem problemas sérios de oferta de água paraos diferentes usos. Esses problemas decorrem de demandas quantitativas elevadas emrelação à disponibilidade e do comprometimento da qualidade das águas pela poluição. Oresultado prático é que o custo marginal do atendimento das demandas urbanas de água
em regiões metropolitanas em todo mundo tem aumentado sensivelmente (Fig. 3).
Fig. 3. Custo marginal de abastecimento doméstico em regiões metropolitanas.
Fonte: Adaptado de Briscoe (2004).
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.4
Amman
São Paulo
México
LimaAlgier
Hyderaba
DhakaBangaloreShenyang
Custo Atual
Cust
o Fu
turo
Custo futuro é maior que o atualCusto futuro é mais que o dobro do atualCusto futuro é mais que o triplo do atual
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 387
O Bioma Cerrado e os Recuros Hídricos
O Cerrado brasileiro ocupa importante área, calculada pela Embrapa em 204milhões de hectares. É um bioma de extrema importância econômica e ecológica para oPaís. O Cerrado, atualmente com seus 12 milhões de hectares cultivados, representacerca de 18 % do total da área cultivada no Brasil e aponta para um uso sustentável de
mais cerca de 66 milhões de hectares, mantendo-se ainda preservados cerca de65 milhões de hectares. Esse número representa um aumento de cerca de 100 % da áreaatualmente cultivada no País e, com certeza, essa ocupação vai significar pressão intensanos usos dos recursos hídricos da região.
A ocupação dos Cerrados foi iniciada há séculos, principalmente para atividade depecuária extensiva, com importância insignificante no uso dos recursos hídricos. A partirda década de 1970, iniciou-se uma ocupação intensa motivada, em grande parte, pela
atuação dos órgãos de pesquisa e fomento. Essa atuação foi traduzida na importação degramíneas exóticas, facilmente adaptáveis, como a braquiária africana; a criação devariedades de soja e arroz adequadas ao Cerrado; a migração do café do Paraná,inicialmente, e, depois, de São Paulo para o Cerrado de Minas Gerais e da Bahia. Maisrecentemente, verifica-se a ampliação importante da área de cana-de-açúcar na área doBioma Cerrado.
A entrada de diversas culturas na área do Cerrado trouxe uma demanda adicional
de água. O café cultivado anteriormente em São Paulo e Paraná não demandava irrigação,pois, nas regiões tradicionais de clima temperado, o regime de chuvas é adequado àsnecessidades da cultura, fato que não se verifica nas regiões novas, como Araguari ePatos de Minas, em Minas Gerais, e Barreiras, na Bahia. O mesmo fato é verificadoquando se comparam culturas como milho, soja-semente e cana-de-açúcar.
A cana merece atenção especial, pois se espera elevada ampliação das áreas decultivo, particularmente na Bacia do Rio Paranaíba e Tocantins-Araguaia, e a expectativa
é que, ao menos em algumas regiões, será necessária a chamada irrigação de salvação,na qual é comum a adição em agosto, setembro ou outubro de cerca de 60 mm de água.
Fato importante vem sendo observado na área de expansão da cana em Goiás: éa tendência de irrigar-se a cultura não apenas nos períodos críticos. A cana-de-açúcar,
sendo uma gramínea, tem seu potencial produtivo altamente correlacionado com o
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais388
aumento do fotoperíodo e com o aumento da disponibilidade de radiação solar. A
comparação entre o rendimento produtivo dessas culturas com o rendimento obtido por
culturas como a da soja possibilita notar que o investimento em tecnologia de irrigação
na implantação das primeiras, nas áreas mais setentrionais, justifica a tendência
observada.
No caso do Cerrado brasileiro, a subida da cana-de-açúcar para áreas mais ao
Norte possibilita o necessário déficit hídrico para a maturação da planta, mas aumenta,
consideravelmente, o risco de secas severas e o consumo expressivo de água, já que se
trata de regiões com marcante sazonalidade nas chuvas e elevada evapotranspiração.
O balanço hídrico mensal das áreas tradicionais de cultivo no Sul e no Sudeste,
quando comparado com regiões pólo no coração dos Cerrados, mostra que o sucesso
dessas culturas, nas áreas do bioma, depende basicamente de dois fatores: grande
investimento na adequação genética dessas culturas à realidade pluviométrica e uma
administração competente de irrigação.
Segundo Brasil (1999), algumas áreas do Cerrado, particularmente localizadas no
norte de Minas, sudoeste da Bahia, sul do Piauí e do Maranhão, indicam risco climático
mais elevado com veranicos de até 50 dias, com período de recorrência de 10 anos. As
Fig. 4, 5, 6 e 7 apresentam os balanços hídricos mensais de Piracicaba, SP; Londrina, PR;
Barreiras, BA; e Porto Nacional, TO. Nesses gráficos, pode observar-se claramente a
diversidade do regime climático quando se compara, por exemplo, Barreiras, BA, com
Piracicaba, SP. O déficit hídrico em Barreiras mostra-se mais longo e mais intenso,
sinalizando a necessidade da irrigação e conseqüente uso e manejo eficientes da água
naquela localidade (SENTELHAS et al., 2003).
A relação entre demanda de água e a disponibilidade hídrica no Bioma Cerrado é
apresentada na Fig. 8. A demanda é estimada a partir dos dados disponíveis de outorgas
concedidas tanto pela União como pelos estados, para os diferentes usos. A
disponibilidade é a vazão regularizada pelo sistema de reservatórios a montante, com
100 % de garantia, somada à vazão com permanência de 95 %, no trecho não
regularizado. Em rios sem regularização, a disponibilidade é a vazão com permanência de
95 % do tempo.
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 389
Fig 4. Extrato do balanço hídrico mensal no Município de Piracicaba, SP.
Fonte: Sentelhas et al., 2003.
Fig 5. Extrato do balanço hídrico mensal no Município de Londrina, PR.
Fonte: Sentelhas et al., 2003.
140
120
100
80
60
40
20
0
-20
-40jan. fev. mar. abr. maio jun. jul. ago. set. out. nov. dez.
DEF(-1) EXC
mm
jan. fev. mar. abr. maio jun. jul. ago. set. out. nov. dez.
120
100
80
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20
0
-20
mm
DEF(-1) EXC
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais390
Fig 6. Extrato do balanço hídrico mensal no Município de Barreiras, BA.
Fonte: Sentelhas et al., 2003.
Fig. 7. Extrato do balanço hídrico mensal no Município de Porto Nacional, TO
Fonte: Sentelhas et al., 2003.
DEF(-1) EXC
200
150
100
50
0mm
jan. fev. mar. abr. maio jun. jul. ago. set. out. nov. dez.
-50
-100
-150
jan. fev. mar. abr. maio jun. jul. ago. set. out. nov. dez.
DEF(-1) EXC
80
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20
0
-20
-40
mm
-60
-80
-100
-120
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil391
Fig. 8. Relação entre o consumo total de água e a disponibilidade hídrica no Bioma Cerrado.
Fonte: Adaptado de Projeto Proágua Semi-árido (2005).
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais392
Sistema Nacional de Gerenciamento de RecursosHídricos (Singreh)
No sentido de propiciar mecanismos para um adequado gerenciamento de
recursos hídricos, em janeiro de 1997, foi promulgada a Lei 9.433, que institui a Política
Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos (Singreh). A chamada Lei das Águas incorporou modernos instrumentos e
princípios de gerenciamento de recursos hídricos e trouxe conceitos inovadores no que
concerne à organização do setor de planejamento e gestão de recursos hídricos, nos
âmbitos nacional e estadual, e em termos de participação dos diferentes atores
envolvidos e interessados na questão desses recursos.
Em julho de 2000, consolidou-se a ampla reforma institucional do Setor de
Recursos Hídricos, com a edição da Lei Federal no 9.984, que cria a Agência Nacional de
Águas (ANA). Vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e dotada de autonomia
administrativa e financeira, a ANA, na condição de autarquia sob regime especial, tem
como missão implementar e coordenar a gestão compartilhada e integrada dos recursos
hídricos e regular o acesso à água, promovendo o seu uso sustentável em benefício da
atual e das futuras gerações. Além de criar condições técnicas e institucionais para a
implementação da Lei das Águas, a Agência contribui na busca de soluções para o
enfrentamento de dois graves problemas: as secas prolongadas, especialmente na Região
Nordeste, e a poluição dos rios. O Brasil dispõe agora de uma entidade com autonomia,
estabilidade e agilidade suficientes para fazer frente a um conjunto de desafios. Para sua
atuação, a ANA subordina-se aos fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos da
Política Nacional de Recursos Hídricos e articula-se com órgãos e entidades públicas e
privadas integrantes do Singreh.
Estrutura político-institucional do Singreh
O Singreh é constituído por um conjunto de instituições governamentais e não-
governamentais e possibilita a gestão de recursos hídricos no País de forma
descentralizada e participativa. Fazem parte desse sistema: o Conselho Nacional de
Recursos Hídricos (CNRH), a Secretaria de Recursos Hídricos (SRHU/MMA), a Agência
Nacional de Águas (ANA), os conselhos de recursos hídricos dos estados e do Distrito
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 393
Federal (CERHs), os órgãos dos poderes públicos federal, estadual, distrital e municipal,os comitês de bacia e as agências de bacia cujas competências se relacionem com agestão de recursos hídricos.
O CNRH conta, hoje, com 57 conselheiros com mandato de três anos, dos quais 29são membros do Poder Público Federal (o número de representantes do Poder ExecutivoFederal não pode exceder à metade mais um do total de membros), 10 membros dosConselhos Estaduais de Recursos Hídricos, 12 membros do setor usuário de recursoshídricos e 6 membros de organizações civis de recursos hídricos. Conta ainda com 10Câmaras Técnicas, criadas para subsidiar os conselheiros em suas deliberações: CâmaraTécnica de Análise de Projetos (CTAP); Câmara Técnica de Águas Subterrâneas (CTAS);Câmara Técnica de Cobrança (CTCOB); Câmara Técnica de Ciência e Tecnologia (CTCT);Câmara Técnica de Educação, Capacitação, Mobilização Social e Informação em RecursosHídricos (CTEM); Câmara Técnica Gestão de Recursos Hídricos Transfronteiriços –CTGRHT; Câmara Técnica de Assuntos Legais e Institucionais (CTIL); Câmara Técnica doPlano Nacional de Recursos Hídricos (CTPNRH); Câmara Técnica de Integração deProcedimentos, Ações de Outorga e Ações Reguladoras (CTPOAR); Câmara Técnica deIntegração da Gestão das Bacias Hidrográficas e dos Sistemas Estuarinos e Zona Costeira(CTCOST), além de diversos grupos de trabalho temporários criados para desenvolverdeterminados temas.
Na Tabela 2, são mostradas as entidades do Singreh e suas atribuições e, na Fig. 9, aestrutura político-institucional do sistema.
Esse sistema altamente sofisticado representa uma verdadeira mudança deparadigma e uma expectativa de melhoria na gestão. Até então, a gestão de recursoshídricos no Brasil era altamente centralizada e não possuía mecanismos para auscultaçãodos anseios populares. No Singreh, o comitê de bacia é uma entidade deliberativa quecongrega não só os governos eleitos democraticamente, mas também usuários e asociedade civil organizada. Trata-se de uma nova forma de organização política quepoderíamos chamar de democracia participativa. No passado, os comitês de bacia eramdeliberativos. Hoje são organismos do estado brasileiro, pois suas decisões têm impactodireto na vida dos usuários de água da bacia hidrográfica. A priorização de obrashidráulicas nos planos de bacia e o valor da cobrança pelo uso da água são exemplosclaros da capacidade do comitê de bacia de impactar a vida do cidadão residente na baciahidrográfica.
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais394
Tabela 2. Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh).
Entidade Atribuição
Conselho Nacional de Órgão máximo do Singreh responsável por dirimir
Recursos Hídricos (CNRH) conflitos de uso, em última instância, e subsidiar a
formulação da política nacional de recursos hídricos.
Secretaria de Recursos Entidade federal encarregada de formular a Política
Hídricos Nacional de Recursos Hídricos, subsidiar a formulação
do orçamento da União e atuar como secretaria executiva
do CNRH.
Agência Nacional de Águas Reguladora do uso de recursos hídricos de domínio da
(ANA) União e coordenadora da implementação do Singreh em
todo território nacional.
Conselho Estadual de Órgão máximo estadual responsável por dirimir conflitos
Recursos Hídricos (CERH) de uso, no âmbito do estado, e subsidiar a formulação
da política estadual de recursos hídricos.
Gestor Estadual de Órgão central e coordenador do Sistema Estadual de
Recursos Hídricos Gerenciamento de Recursos Hídricos, que possui
competências similares à ANA, com destaque para a
outorga e fiscalização do uso de recursos hídricos de
domínio do estado.
Comitê de Bacia Colegiado constituído pelo poder público, usuários e
Hidrográfica (CBH) sociedade civil, com competências para aprovar o plano
de bacia e acompanhar a sua execução. Estabelece
também os mecanismos de cobrança e sugere ao CNRH
os valores a serem cobrados.
Agência de Bacia Braço executivo dos Comitês de Bacia, responsável por
manter o balanço hídrico atualizado da disponibilidade
de recursos hídricos, manter o cadastro de usuários,
operacionalizar a cobrança, gerir o sistema de
informações e elaborar o plano da bacia.
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 395
Fig. 9. Estrutura organizacional do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos -Singreh.
Fonte: Pereira, 2003.
EntidadeÂmbito Conselho Governo Gestor “Parlamento” Entidade de Bacia
Nacional
Estadual
Bacia
CNRH MMA/SRH ANA
Órgão ouEntidade Estadual
CERH Gov. do Estado
Comitê de Bacia
Agência de Bacia
Subordinação
Integração de Ações
Vinculação
A descentralização do processo de planejamento e gestão no Brasil somente se
materializará se forem criadas as agências de bacia, instituições executivas, ágeis e flexíveis
para dar suporte técnico, administrativo e financeiro às deliberações dos comitês de bacia.
Condição básica para a criação dessas agências é a cobrança pelo uso da água, instrumento
que garante sua auto-sustentação financeira. A agência de bacia pode ser uma entidade
pública ou organização privada, sem fins lucrativos. Exemplo da última categoria é a
Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia do Rio Paraíba do Sul (Agevap), entidade que
exerce as funções de agência de bacia e que já está instalada e em funcionamento. Na Bacia
do Alto-Iguaçu, a Superintendência de Recursos do Paraná (Sudersha), entidade pública do
governo do Estado do Paraná, serve como agência dessa importante bacia altamente
urbanizada. Observa-se, ainda, que, não necessariamente, cada comitê deve criar sua
respectiva agência. Por sua vez, o tamanho adequado de uma agência, em termos de
viabilidade econômico-financeira, deve constituir-se em preocupação de todos: União,
estados, usuários e sociedade civil, de modo a não onerar o sistema e não o inviabilizar.
Política Nacional de Recursos Hídricos
A Política Nacional de Recursos Hídricos estabelecida pela Lei 9.433/1997 (Lei dasÁguas) tem como objetivo principal assegurar à atual e às futuras gerações a necessária
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais396
disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos. Aomesmo tempo, busca a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos e odesenvolvimento sustentável por meio da utilização racional e integrada dos recursoshídricos.
Os princípios sobre os quais se baseia a política de gestão de recursos hídricospodem ser resumidos da seguinte forma:
• Reconhecimento da água como um bem público dotado de valor econômico.
• Necessidade do uso múltiplo das águas.
• Prioridade do uso dos recursos hídricos em situações de escassez para o consumohumano e dessedentação de animais.
• Adoção da bacia hidrográfica como unidade territorial de planejamento e gestão daságuas: gestão descentralizada.
• Participação dos diferentes níveis do poder público, dos usuários e da sociedade civil
no processo de tomada de decisão: gestão participativa.
A Política de Recursos Hídricos é orientada pelas seguintes diretrizes gerais de ação:
• Gestão sistemática dos recursos hídricos sem dissociação dos aspectos dequantidade e de qualidade.
• Adequação da gestão dos recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas,demográficas, econômicas, culturais e sociais das diversas regiões do País.
• Articulação da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental.
• Articulação do planejamento dos recursos hídricos com o dos setores usuários e comos planejamentos regionais, estaduais e nacional.
• Articulação da gestão de recursos hídricos com a gestão do uso do solo.
• Integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e das
zonas costeiras.
Na Tabela 3, são mostrados os instrumentos de gestão preconizados na Lei 9.433/1997. A implementação desses instrumentos, os quais são fortemente interdependentes
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 397
e complementares do ponto de vista conceitual, demanda não somente capacidades
técnicas, políticas e institucionais, mas requer também tempo para sua definição eoperacionalização. A implantação desses instrumentos depende de um processoorganizativo social que demanda a participação e a aceitação dos atores envolvidos,dentro da compreensão de que haverá um benefício coletivo global.
O plano de bacia hidrográfica requer do sistema de informação dados sobredisponibilidade de água em quantidade e qualidade, além das demandas por múltiplosusos agregadas por bacia hidrográfica. Os planos de bacia são planos diretores que visam
a fundamentar e orientar a implementação da política de gestão de recursos hídricos embacias hidrográficas, pois definem os usos prioritários e o programa de investimento parao desenvolvimento, a recuperação e a conservação dos recursos hídricos da bacia.
O enquadramento visa a determinar níveis de qualidade ao longo do tempo nosdiversos trechos da malha hidrográfica em função dos usos e dos programas e metaspara a consecução desses objetivos. As definições nele previstas afetam diretamente aoutorga, que se dará pelas vazões de diluição, as quais são, por sua vez, função dos níveis
de qualidade estabelecidos.
Tabela 3. Instrumentos de gestão de recursos hídricos.
Instrumento Objetivo
Planos de recursos Definir ações estruturais e não-estruturais para a utilização múltipla
hídricos e racional dos recursos hídricos.
Enquadramento dos Possibilitar uma gradual e contínua melhoria da qualidade das
corpos de água águas nas bacias hidrográficas.
Outorga de direito de uso Assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o
de recursos hídricos efetivo exercício dos direitos de acesso à água.
Cobrança pelo uso Incentivar o uso racional da água e obter recursos financeiros para a
da água implementação das ações preconizadas nos planos de recursos
hídricos.
Sistema de informações Prover informações de oferta e demanda de recursos hídricos para
sobre recursos hídricos utilização no planejamento e gestão da água.
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais398
A outorga é um instrumento que tem como objetivo assegurar o controlequantitativo e qualitativo dos usos da água. É o direito de acesso à água, ou a habilitaçãopara o seu uso. Para sua implementação, a outorga demanda, do sistema de informações,dados relativos à disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade, bem como dadosreferentes aos usuários situados a montante e a jusante do ponto de autorização.
Sobre o conjunto de usuários submetidos à exigência da outorga, é estabelecida acobrança pelo uso dos recursos hídricos. Essa, por sua vez, além dos seus objetivos deracionalização do uso da água e de estímulo à não poluição, é o instrumento de gestão quepermite o aporte de recursos para financiar o programa de investimentos da bacia.
O sistema de informação tem como objetivo principal produzir, sistematizar edisponibilizar dados e informações que caracterizam as condições hídricas da bacia emtermos de quantidade e qualidade da água nos diversos usos. Essas últimas assumemdiversas formas possíveis de caracterização por mapas de uso e ocupação do solo,declividade, cobertura vegetal e cargas pontuais, referentes a captações e lançamentos emdiferentes pontos da rede hidrográfica expressos no cadastro de usuários da água na bacia.
Implementação da Política: Agência Nacional deÁguas (ANA)
Para implementar um sistema tão complexo, foi necessária a criação de umainstituição que pudesse com competência agir nacionalmente. A Lei 9.984, de 17 dejulho de 2000, estabelece como missão da ANA a implementação, em sua esfera deatribuições, da Política Nacional de Recursos Hídricos e a coordenação do SistemaNacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh), em particular a execução eoperacionalização dos instrumentos técnicos e institucionais de gestão de recursoshídricos. Ademais, a ANA está encarregada de regular o uso da água em corpos hídricosde domínio da União por intermédio da outorga de direito de uso e de sua fiscalização.
O grande desafio que se coloca para a implementação do Singreh em um Paísfederativo como o Brasil é a existência, em uma mesma bacia hidrográfica, de corposhídricos administrados pelos estados ou pela União. A autonomia dos estados leva asituações como a que ocorre na Bacia do Rio Paraíba do Sul, no qual o comitê de baciadecidiu pela cobrança pelo uso da água, o CNRH aprovou o valor, a União implementou acobrança em rios e lagos de seu domínio e alguns estados ainda não o fizeram em rios de
seu domínio. Essa assimetria coloca em risco o sistema.
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 399
A gestão compartilhada de recursos hídricos demanda, necessariamente, a
compatibilização dos diversos conflitos de interesses. Requer, entre outros aspectos, acriação de ambientes institucionais adequados à resolução, à negociação e à superaçãodos problemas e das lacunas existentes nos arcabouços jurídico-legais. Esses ambientessão formados pela trama de múltiplos fatores, entre os quais, são decisórios (PEREIRA,2003):
• A convergência de objetivos.
• O entendimento por todos os atores das questões e desafios envolvidos.
• A criação de laços de confiança por meio de um processo de gestão ético,transparente e democrático, que conduza à eqüidade, racionalidade e eficiência natomada de decisões.
• A construção de um sentido de identidade da bacia, um sentido de unidade de atuaçãoharmônica, de co-responsabilidade e co-dependência.
No sentido de procurar estabelecer condições mínimas de homogeneidade decritérios de outorga, fiscalização e cobrança, no âmbito da bacia hidrográfica, a ANA criou afigura do convênio de integração. Esse convênio pactuado entre a ANA e os estados, com ainterveniência do comitê de bacia, é o compromisso entre os entes federados de trabalharemjuntos na implementação dos instrumentos de gestão preconizados na Lei 9.433/1997.Entretanto, o convênio de integração não é suficiente para garantir a sustentabilidade dessa
implantação. Alguns estados não dispõem de aparato institucional compatível com asnecessidades desse novo e complexo sistema de gestão. Assim, a ANA criou também afigura do convênio de cooperação, por meio do qual aquela agência reguladora apóia técnica efinanceiramente o estado para fazer frente aos desafios da gestão descentralizada eparticipativa. Esse intrincado arranjo multiinstitucional está mostrado na Fig. 10.
A atuação da ANA obedece aos fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentosda Política Nacional de Recursos Hídricos, em particular, à adoção da bacia hidrográfica
como unidade territorial de planejamento e gestão dos recursos hídricos. É desenvolvidaem articulação com órgãos e entidades privadas integrantes do Singreh. A ANA exercetambém o papel não menos importante de indução de processos mediante a definição deestratégias para o estabelecimento de mecanismos de articulação e cooperação,
independentemente do domínio dos corpos de água.
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais400
Fig. 10. Organização da gestão de recursos hídricos na bacia hidrográfica.
Fonte: Pereira, 2003.
Particularmente, e de acordo com a Lei 9.984/2000, vale destacar algumas das
atribuições da ANA:
• Supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento
da legislação federal pertinente aos recursos hídricos.
• Disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o controle e
a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos.
• Elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos, dos valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos de
domínio da União, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelos
comitês de bacia hidrográfica.
• Estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de comitês de baciahidrográfica.
• Implementar, em articulação com os comitês de bacia hidrográfica, a cobrança pelouso de recursos hídricos de domínio da União.
Usuários da águaAbastecimento urbanoAbastecimento industrialIrrigaçãoHidroeletricidadeNavegaçãoAqüicultura e pescaEcologiaTurismo e lazer
Sociedade civilUniversidadesOrganizações técnicas ecientíficasONGs
União(ANA)
ParceirosInstitucionais
Convênio deIntegração
Convênio deCooperação
Estados(SecretariasEstaduais)
Municípios(Prefeituras)
Comitê deBacia
Agência de Bacia
Comitês de BaciasTributárias
Contrato de Gestão
Contratode Gestão
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 401
• Arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança pelo uso
de recursos hídricos de domínio da União.
• Planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e
inundações em articulação com o órgão central do Sistema Nacional de Defesa Civil,
em apoio aos estados e municípios.
• Promover a elaboração de estudos para subsidiar a aplicação de recursos financeiros
da União em obras e serviços de regularização de cursos de água, de alocação e
distribuição de água, e de controle da poluição hídrica, em consonância com o
estabelecido nos planos de recursos hídricos.
• Definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios por agentes públicos e
privados, visando a garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos, conforme
estabelecido nos planos de recursos hídricos das respectivas bacias hidrográficas.
• Promover a coordenação das atividades desenvolvidas no âmbito da rede
hidrometeorológica nacional, em articulação com órgãos e entidades públicas ou
privadas que a integram, ou que dela sejam usuárias.
• Organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.
• Estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos para a gestão de recursos
hídricos.
• Prestar apoio aos estados na criação de órgãos gestores de recursos hídricos.
• Propor ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos o estabelecimento de incentivos,
inclusive financeiros, à conservação qualitativa e quantitativa de recursos hídricos.
Do ponto de vista de sua estrutura orgânica, a ANA é dirigida por uma Diretoria
Colegiada, composta de cinco membros, indicados pelo Presidente da República, e
aprovados pelo Senado Federal, com mandatos não coincidentes de quatro anos, admitida
uma única recondução consecutiva. Para dar o apoio técnico às decisões de sua Diretoria
Colegiada, conta a ANA com superintendências temáticas que atuam nas diversas áreas
de competência da Agência.
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais402
A Fig. 11 apresenta, de maneira resumida, a situação da implantação dos
instrumentos técnicos e institucionais de gestão de recursos hídricos nos anos de 2003 e
2004, em algumas bacias hidrográficas brasileiras. Incluem-se entre esses instrumentos:
agência de bacia; planos de bacia; enquadramento dos corpos d’água; regularização de
usos; o cadastro de usuários; outorga de direito de uso; monitoramento e fiscalização e
cobrança pelo uso da água.
Fig. 11. Implementação de instrumentos de gestão em bacias hidrográficas.
2003
Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total25
Comitê (10) 20Agência (10) 0Plano da bacia (10) 5Regularização (10) 0Cobrança (10) 0
Bacia Hidrográfica do Rio Verde Grande
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total05
Comitê (10) 0Agência (10) 0Plano da bacia (10) 0Regularização (10) 5Cobrança (10) 0
Bacia Hidrográfica do Rio Doce
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total20
Comitê (10) 20Agência (10) 0Plano da bacia (10) 0Regularização (10) 0Cobrança (10) 0
Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total75
Comitê (10) 20Agência (10) 0Plano da bacia (10) 20Regularização (10) 15Cobrança (10) 20
Continua...
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 403
Fig. 11. Continuação.
Bacia Hidrográfica dos rios Piracicaba/Capivari/Jundiaí
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total20
Comitê (10) 20Agência (10) 0Plano da bacia (10) 0Regularização (10) 0Cobrança (10) 0
Bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total00
Comitê (10) 0Agência (10) 0Plano da bacia (10) 0Regularização (10) 0Cobrança (10) 0
Bacia Hidrográfica do Rio Grande
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total00
Comitê (10) 0Agência (10) 0Plano da bacia (10) 0Regularização (10) 0Cobrança (10) 0
Bacia Hidrográfica do Rio Pipiripau, DF e GO
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total
Regularização (50)25
Bacias Hidrográficas dos Rios Poti e Longa, PI e CE
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0) Total
Regularização (50)0
Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu, PB e RN
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Regularização (50)
Bacia Hidrográfica do Rio Preto, DF
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Regularização (50)
Total0
Total0
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais404
Fig. 11. Continuação.
Bacia Hidrográfica dos rios Tocantins e Araguaia
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0) Total
Plano estratégico (50)0
Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai/Pantanal
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Plano estratégico (50)
Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba, Al
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Plano de ações estratégicas (50)
2004
Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total40
Comitê (10) 20Agência (10) 0Plano da bacia (10) 15Regularização (10) 5Cobrança (10) 0
Bacia Hidrográfica do Rio Verde Grande
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total35
Comitê (10) 20Agência (10) 0Plano da bacia (10) 0Regularização (10) 15Cobrança (10) 0
Bacia Hidrográfica do Rio Doce
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total25
Comitê (10) 20Agência (10) 5Plano da bacia (10) 0Regularização (10) 0Cobrança (10) 0
Total0
Total0
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 405
Fig. 11. Continuação.
Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total95
Comitê (10) 20Agência (10) 20Plano da bacia (10) 20Regularização (10) 15Cobrança (10) 20
Bacia Hidrográfica dos rios Piracicaba/Capivari/Jundiaí
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total45
Comitê (10) 20Agência (10) 0Plano da bacia (10) 10Regularização (10) 10Cobrança (10) 5
Bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total05
Comitê (10) 5Agência (10) 0Plano da bacia (10) 0Regularização (10) 0Cobrança (10) 0
Bacia Hidrográfica do Rio Grande
Não exist. Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total00
Comitê (10) 0Agência (10) 0Plano da bacia (10) 0Regularização (10) 0Cobrança (10) 0
Bacia Hidrográfica do Rio Pipiripau, DF e GO
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total
Regularização (50)50
Bacias Hidrográficas dos rios Poti e Longa, PI e CE
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total
Regularização (50)25
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais406
Registre-se que as peculiaridades de cada bacia hidrográfica - geopolítica,econômica e social - têm grande influência sobre os modos de implementação da Lei dasÁguas, fazendo que a seqüência de operacionalização dos instrumentos de gestão seja,por vezes, fortemente diferenciada de uma bacia a outra. É a prática definindo caminhos eaplicando lições, conforme observado na vivência das experiências pioneiras de gestão debacias nacionais iniciadas nas bacias dos rios Paraíba do Sul, Piracicaba-Capivari-
Jundiaí, São Francisco, Doce e Verde Grande.
A gestão de águas no Cerrado brasileiro
Para a consolidação de uma agricultura sustentável, é fundamental que o Paísinvista em uma eficiente gestão de seus recursos hídricos na região dos Cerrados,traduzindo segurança necessária aos investidores. Essa gestão eficiente depende de umaefetiva implementação dos instrumentos previstos na Lei 9.433/1997 e que sãodecorrentes de ações do governo federal, dos governos estaduais, dos usuários e da
sociedade civil organizada.
Fonte: Braga et al., 2006.
Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu, PB e RN
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Total
Regularização (50)50
Bacia Hidrográfica do Rio Preto, DF
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Regularização (50)
Bacia Hidrográfica dos rios Tocantins e Araguaia
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0) Total
Plano estratégico (50)25
Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai/Pantanal
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Plano Estratégico (50)
Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba, Al
Não existe Fase inicial Em elabor. Conc. Impl.Instrumento(0) (0,5) (1,0) (1,5) (2,0)
Plano de ações estratégicas (50)
Total50
Total25
Total25
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil 407
Uma parte significativa da água utilizada no Bioma Cerrado provém de bacias
hidrográficas de rios de domínio dos estados. No sentido de avaliar a situação de
implementação dos Sistemas de Gerenciamento de Recursos Hídricos nos estados e no
Distrito Federal, a ANA, em 2006, no Programa Proágua, e em parceria com os órgãos
gestores das 27 unidades federativas, desenvolveu um estudo sobre a implementação
dos instrumentos de gestão. Para esse trabalho, que teve o intuito de servir de “marco
zero” para o Proágua Nacional, considerou-se como instrumento toda e qualquer ação que
promova efeito benéfico ou maléfico sobre a disponibilidade e qualidade dos recursos
hídricos, solicitando cópias de documentos que comprovassem as informações (AGÊNCIA
NACIONAL DE ÁGUAS, 2006).
A avaliação foi realizada no período de maio a outubro de 2006, após uma oficina
de trabalho ocorrida em Brasília, nos dias 25 e 26 de maio de 2006, com as 27 Unidades
da Federação, complementada com a visita de técnicos da ANA a todas essas unidades.
Durante a visita, um questionário sobre 56 instrumentos de gestão de recursos hídricos
foi respondido por técnicos de todos os estados. Esse questionário serviu de base para a
avaliação do “estado da arte” da gestão nos estados, que subsidiou o desenvolvimento
dos mapas temáticos.
Foram consideradas variáveis básicas: modelo institucional, organismo gestor/
coordenador, arcabouço legal, conselho estadual de recursos hídricos, capacitação
setorial, balanço hídrico, divisão hidrográfica, base cartográfica, rede pluvio/fluvio
(meteorológica e de quantidade de água), rede de qualidade, outorga de uso e lançamento
e fiscalização. Como variáveis intermediárias, consideram-se: estrutura e capacidade
institucional, comunicação social e difusão, comitês de bacias e outros organismos
colegiados, planejamento estratégico, planos estaduais de recursos hídricos, planos de
bacias, cadastros (de usuários e de infra-estrutura), sistema de informações,
sustentabilidade financeira do sistema, fundo estadual de recursos hídricos. Como
variáveis avançadas, foram consideradas: articulação e definição de estratégias com
setores usuários e transversais, enquadramento, estudos de gestão, atlas e publicações
em recursos hídricos, sistemas de suporte a decisão/modelos matemáticos, cobrança,
conservação/operação/execução de obras hídricas, manualização e tecnologias de gestão
e operação, gestão e controle de eventos críticos.
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais408
O estágio de implementação desses 30 temas nos organismos gestores derecursos hídricos foi classificado em níveis, de acordo com situações encontradas neles.Foi possível encontrar variáveis com níveis de implementação que vão desde trêspossíveis níveis, até cinco níveis, tendo algumas quatro níveis.
Assim, o estado que não implementou nenhum dos 30 instrumentos recebeu 1ponto em cada instrumento e alcançou 30 pontos. Se determinado estado implementoutodos os instrumentos no nível máximo, alcançou 116 pontos.
Neste trabalho, apresenta-se o resultado das 12 variáveis básicas para as 11unidades federativas onde há ocorrência do Cerrado: Bahia, Distrito Federal, Goiás,Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí, São Paulo eTocantins. Os melhores resultados, para as variáveis analisadas, ficaram para os estadosde Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Bahia (Tabela 4).
As autoridades outorgantes de recursos hídricos têm utilizado o critério da vazãode referência para balizar a emissão de outorgas. Associada a vazões de estiagem, asvazões outorgáveis garantem aos usuários uma baixa probabilidade de falhas noatendimento às suas vazões outorgadas. A Tabela 5 apresenta os critérios de outorga decaptação de águas superficiais utilizadas por autoridades de recursos hídricos onde háocorrência do Cerrado.
Sabe-se que existe um ponto ótimo para a vazão outorgável, que equilibra aprodutividade das culturas com a área irrigável. Isso resulta em uma maximização dareceita líquida da bacia. Pante et al. (2005) realizaram estudo na Bacia do Rio Paraná, GO,com as culturas de arroz, feijão, milho, sorgo e trigo. Eles verificaram que as vazõesoutorgáveis ótimas resultaram em valores entre Q74 % e Q86 % e concluíram que asvazões de referência atualmente adotadas pelas autoridades outorgantes são, em geral,muito restritivas, pelo menos para a cultura irrigada de grãos. Entretanto, ponderaram osautores, vazões outorgáveis com menores garantias de suprimento, para usos menosprioritários, exigem o estabelecimento de regras de racionamento e sistemas defiscalização eficientes.
Sabe-se que uma vazão de referência outorgável baixa, com alta garantia de
atendimento, produz, no longo prazo, as maiores produtividades médias das culturas.
No entanto, limita o crescimento da área irrigável.
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil409
Tabela 4. Avaliação do estágio de implementação dos instrumentos de gestão em 11 estados da federação onde há ocorrência de Cerrado.
Nome dos estados BA DF GO MA MT MS MG PR PI SP TO
Grupo 1 – Legais, institucionais e articulação social
Modelo institucional do sistema de gestão (5 níveis) 5 4 3 2 3 4 5 4 2 4 4
Organismos coordenadores/gestores (5 níveis) 5 3 2 2 3 2 4 5 2 4 4
Arcabouço legal (4 níveis) 3 3 3 3 4 2 4 4 3 3 2
Conselho Estadual (4 níveis) 4 3 4 3 4 3 4 4 3 3 3
Capacitação setorial (3 níveis) 3 2 1 1 1 1 3 1 2 2 2
Grupo 2- Planejamento
Balanço hídrico (3 ou 4 níveis) 4 2 1 2 1 1 4 3 2 4 1
Divisão hidrográfica (2 ou 3 níveis) 3 3 1 2 3 2 3 2 2 3 2
Grupo 3- Informação e suporte
Base cartográfica (4 níveis) 2 2 1 1 2 1 3 4 2 3 2
Rede pluviométrica e fluviométrica (5 níveis) 3 3 3 2 2 1 5 5 2 5 2
Rede de qualidade (3 níveis) 2 1 2 1 3 3 3 3 2 3 2
Grupo 4- Operacionais
Outorga (5 níveis) 4 4 5 2 1 1 4 5 2 5 4
Fiscalização (4 níveis) 4 4 3 2 2 1 4 4 2 4 2
Fonte: Agência Nacional de Águas, 2006.
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais410Tabela 5. Critérios de outorga de captação de águas superficiais de autoridades outorgantes.
Autoridade Vazão máxima outorgável Legislação Limites máximos de vazões Legislação referente à definição
outorgante consideradas insignificantes das vazões insignificantes
ANA 70 % da Q95, podendo variar em Não existe, em função 1,0 L/s Resolução ANA 542/2004
função das peculiaridades de das peculiaridades do
cada região. 20 % para cada país, podendo variar o
usuário individual critério
SRH, BA 80 % da Q90 Decreto Estadual 0,5 L/s Decreto Estadual 6.296/1997
20 % para cada usuário 6.296/1997
individual
Semarh, GO 70 % da Q95 Não possui legislação Não estão ainda definidos
específica
Igam, MG 30 % da Q7,10 para captações a Portarias do IGAM 1,0 L/s para a maior parte do Deliberação CERH-MG 09/2004
fio d’água. Para captações em 010/1998 e 007/1999 estado e 0,5 L/s para as regiões
reservatórios, podem ser de escassez (águas
liberadas vazões superiores, superficiais). 10,0 m3/dia
mantendo o mínimo residual de (águas subterrâneas).
70 % da Q7,10 durante todo o
tempo
Suderhsa, PR 50 % da Q95 Decreto Estadual 1,0 m3/h (0,3 L/s)
4646/2001
Continua...
Gestão de Recursos Hídricos no Brasil411
Tabela 5. Continuação.
Autoridade Vazão máxima outorgável Legislação Limites máximos de vazões Legislação referente à definição
outorgante consideradas insignificantes das vazões insignificantes
Semar, PI 80 % da Q95 (rios) e 80 % da Não existe legislação Não estão ainda definidos
Q90reg (açudes) específica
Daee, SP 50 % da Q7,10 por bacia. Não existe legislação 5,0 m3/dia (águas subterrâneas) Decreto Estadual 32.955/1991
Individualmente nunca específica
ultrapassar 20 % da Q7,10
Naturatins, TO 75 % Q90 por bacia. Decreto estadual já 0,25 L/s ou 21,60 m3/dia. A Portaria Naturatins 118/2002
Individualmente o máximo é 25 % aprovado pela Câmara minuta de regulamentação
da mesma Q90. Para barragens de outorga do Conselho aprovada deve alterar para
de regularização, 75 % da vazão Estadual de Recursos 1,0 L/s ou 21,60 m3/dia
de referência adotada Hídricos
Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade , agronegócio e recursos naturais412
Considerações Finais
O Brasil desenvolveu, nos últimos 10 anos, um sofisticado sistema de
gerenciamento de recursos hídricos. Esse sistema está baseado em premissas
modernas e de complexa implementação. Entre elas, destacam-se: descentralização,
participação pública e utilização de mecanismos econômicos para gestão (por exemplo,
cobrança pela utilização da água e lançamento de efluentes). Apesar da complexidade,
com o advento da Agência Nacional de Águas (ANA), em 2000, duas bacias hidrográficas
compartilhadas pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro encontram-se
em operação de acordo com os preceitos estabelecidos no referido sistema. Os comitês
das bacias do Paraíba do Sul e do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) já aprovaram seus
planos de bacia hidrográfica e cobram pelo uso da água nos rios de domínio da União.
Esses recursos arrecadados são totalmente utilizados em ações e obras nessas bacias.
O uso da água no Brasil tem na agricultura irrigada seu maior consumidor.
Aproximadamente 70 % do uso consuntivo de água em nossas bacias hidrográficas
decorre da irrigação. Esse fato indica a importância do uso eficiente dos recursos
hídricos nesse setor no Brasil. O desenvolvimento sustentável da agricultura no Cerrado
depende do uso racional da água, do escalonamento da área irrigada, do escalonamento
das épocas de plantio e do fortalecimento dos instrumentos de gestão de recursos
hídricos, na medida em que: (a) os planos de recursos hídricos de bacias hidrográficas,
aprovados pelos comitês de bacia, contemplem estudos de estimativa da vazão
outorgável excedente ótima, sob o ponto de vista econômico, em bacia com uso
predominantemente agrícola; (b) o regime de outorgas opere em regime de
racionamento, o que conduz ao controle social do uso da água; e (c) as instituições de
recursos hídricos possuam eficientes sistemas de fiscalização para a garantia das
regras de racionamento.
Referências
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