Caderno de Resumos do III Colóquio Intenacional Poéticas do ...

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CADERNO DE RESUMOS:III COLÓQUIO INTERNACIONAL POÉTICAS DO IMAGINÁRIO AMAZÔNIA: LITERATURA

E CULTURA

Allison LeãoOtávio Rios

(Org.)

Universidade do Estado do AmazonasCátedra Amazonense de Estudos Literários

CADERNO DE RESUMOS:III COLÓQUIO INTERNACIONAL POÉTICAS DO IMAGINÁRIO AMAZÔNIA: LITERATURA

E CULTURA

Allison LeãoOtávio Rios(Organizador)

Manaus - AM2012

III COLÓQUIO INTERNACIONAL POÉTICAS DO IMAGINÁRIOAMAZÔNIA: LITERATURA E CULTURA

Caderno de Resumos dos Trabalhos Apresentados

Universidade do Estado do Amazonas

ReitorJosé Aldemir de Oliveira

Comissão organizadoraAllison Leão (Coordenador Geral)

Universidade do Estado do Amazonas

Roberto Augusto Ferro (Co-organização)Universidad de Buenos Aires

Maged El Gebaly (Co-organização)Universidade Ain Shams

Gabriel Arcanjo dos Santos Albuquerque – UFAMGleidys Maia – UEA

Juciane dos Santos Cavalheiro – UEALorena Nobre- UEA

Mauricio Gomes de Matos – UEAMichele Brasil – UFRJ/UFAM

Nicia Zucolo - UFAMOtávio Rios – UEA

Renata Nobre – UEA

Caderno de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário: Amazônia: literatura e cultura / Allison Leão, Otávio Rios (orgs.). Manaus: UEA Edições, 2012. 88 p.

ISBN 978-85-7883-204-9

1. Ensaios Brasileiros. 2 Cultura Amazônica. I. Título. II. Leão, Allison. III. Rios, Otávio.

CDD B869.4

Os conceitos, as afirmações e os erros gramaticais contidos nos artigos são de inteira responsabilidade dos autores, assim como quaisquer imagens inseridas nos textos. De igual modo, os organizadores restringiram a revisão formal dos textos apenas à formatação estabelecida nas circulares. Assim, as incorreções quanto às normas da ABNT que extrapolam esse referencial são de inteira responsabilidade dos autores.

Editora Universitária daUniversidade do Estado do Amazonas

Otávio Rios Portela | DiretorJuliana Sá | Editora Assistente

Ed Bibiani | Secretário ExecutivoFrancisco Ricardo Lopes de Araújo | DiagramadorAna Luiza Santa Cruz de Matos dos Santos | Capa

Leandro Babilônia | Revisor de textos

Conselho Editorial

Ademir Castro e SilvaCristiane da Silveira

Maria da Graças Vale BarbosaOtávio Rios Portela (Presidente)

Patrícia Melchionna AlbuquerqueSergio Duvoisin Junior

Silvana Andrade MartinsSimone Cardoso Soares

Valmir César Pozzetti

— UEA EDIÇÕES —Reitoria da Universidade do Estado do Amazonas

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MINICURSOS

Registro e análise de narrativas orais: problemas e método

Ministrante: Prof. Dr. Devair Antônio Fiorotti (Universidade Estadual de Roraima/PPGL - Universidade Federal de Roraima)Ementa: Partindo da experiência do projeto “Narrativa Oral Indígena: Registro e análise nas Terras Indígenas São Marcos e Raposa Serra do Sol”, em funcionamento desde 2008, este minicurso expõe como foram realizados os registros das narrativas orais nesse projeto. Ainda apresenta e analisa as principais dificuldades encontradas no processo de coleta e trabalho com as narrativas. Todo processo de registro ancorou-se na metodologia oriunda da História Oral, sendo que as análises posteriores sustentam-se numa perspectiva interdisciplinar. A dimensão metodológica da História Oral tem permitido, além do registro, o trabalho com os dados, que resumidamente pode ser assim apresentado: transcrição, conferência de fidelidade, copidesque e posterior disponibilização para consulta. Considerando que o questionário de entrevista foi estruturado de forma a minimamente dar conta tanto de aspectos sócio-históricos quanto mitológicos e lendários, a análise das narrativas tem se apresentado como um problema à parte, já que as informações presentes dizem respeito a várias áreas do conhecimento, tais como a Antropologia, Sociologia, História, Teoria da Literatura, Linguística. Por enquanto, o foco da análise tem recaído em questões de identidade indígena e aspectos mitológicos e lendários.

Memória e oralidade na Amazônia

Ministrante: Josebel Akel Fares (Universidade do Estado do Pará)Ementa: Este minicurso divide-se em duas partes. A primeira pretende questões ligadas à memória, a partir de autores e de temas considerados fundamentais; tais como memória mítica, tradição e esquecimento, memória individual e coletiva. A segunda parte propõe uma leitura prática de algumas experiências de pesquisa na Amazônia envolvendo as poéticas da oralidade, a partir de construções narrativas de repertórios míticos, testemunhos, história de vida.

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O Acre “rur-bano” no século XX: poderes, imaginários e discursos

Ministrantes: Profa. Dra. Luciana Marino do Nascimento, Prof. Dr. Francisco Bento da Silva e Profa. Ms. Ana Carla Clementino (Universidade Federal do Acre)Ementa: Apresentar e desenvolver junto aos participantes do minicurso reflexões acerca dos processos sociais relacionados à produção e transformação do espaço urbano na Amazônia acreana, bem como dos múltiplos aportes teóricos que possibilitam a construção da cidade como objeto da história. Discutir e debater questões relacionadas aos discursos e imaginários constituídos ao longo dos tempos com suas transformações e permanências, usos e desusos ao longo do século XX.

Memória intercultural no Relato de um certo oriente

Ministrante: Prof. Dr. Maged El Gebaly (Universidade Ain Shams – Egito)Ementa: O minicurso será dividido em duas partes:

1. Embasamento Teórico: Discutiremos a memória como local da “narrativa da identidade” (Paul Ricoeur, 1984) e sua relação com o narrador testemunha –sobrevivente (Walter Benjamin, 1936). Também analisaremos a relação entre a “memória autobiográfica” (Alan Braddeley, 2011), que se aproxima da realidade fatual, e a narrativa da “memória ficcional”, uma forma artística subjetiva que procura trazer para a consciência a realidade psíquica de uma “memória inconsciente”, local de contato entre as identidades e as diferenças (Márcio Seligmann-Silva, 2005). Na situação da narrativa da imigração, a “memória cultural” (Joel Candau, 2011) – diferentemente da “memória histórica” (Jaques Le Goff, 1992) – surge como um modo pós-colonial de intersubjetividade que supera a retórica holística das narrativas totalitárias do nacionalismo, do colonialismo e do orientalismo. Mas, sendo a memória o local das identidades e das diferenças, ela passa a existir a partir do contato com outras culturas, o que quer dizer que a memória não é cultural, mas intercultural (Anthony Pym, 1998).

2. Oficina Literária: No Relato de um certo oriente (Milton Hatoum, 1989), essa memória intercultural se configura por meio da “polifonia” da ficção (Mikhail Bakhtin, 1929; Marília Amorim, 2004), da “memória involuntária” proustiana, de experiências pessoais com objetos sensoriais (fotos, cadernos,

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cartas, cheiros marcantes), da evocação de imagens do passado e do presente misturadas e suas lembranças entre a realidade fatual e a ficção (Johan Lehrer, 2007). No Relato, a memória intercultural não se constrói de modo cronológico e linear, mas associativo por meio de “monólogos dialogantes” entre o mundo da casa (família e comunidade) e o mundo da rua (a sociedade) (Denis Leandro Francisco, 2007).

Haikai: de Matsuo Bashou a Luiz Bacellar

Ministrante: Profa. Dra. Michele Brasil (Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Universidade Federal do Amazonas)Ementa: Os haikai (ou haiku), poemas líricos de origem japonesa formados de 17 sílabas (dentro do padrão três versos com cinco, sete e cinco sílabas, respectivamente), são uma demonstração da arte de dizer muito com poucas palavras. A sugestão, mais que a descrição, fazem deste verdadeiro exercício de síntese algo muito rico, apesar de aparentemente simples. Muitos foram os escritores no Ocidente atraídos pela singeleza dos haikai. No Brasil, onde temos até concursos literários de haikai, nomes como os de Afrânio Peixoto e Millôr Fernandes são sempre lembrados entre os haicaístas brasileiros. Na literatura amazonense, ao falarmos de haikai sempre nos lembramos de Luiz Bacellar, especialmente pelo seu livro Satori. Este minicurso propõe estudar os haikai a partir de suas origens, através de poemas de Matsuo Bashou (seu maior representante no Japão), observando os kigo (palavras que remetem às estações do ano) e seu apelo à natureza, dialogando com os poemas do escritor amazonense Luiz Bacellar.

Fractais do ser na lírica de Astrid Cabral

Ministrante: Profa. Ms. Nicia Petreceli Zucolo (Universidade Federal do Amazonas)Ementa: Astrid Cabral é amazonense, integrante do Clube da Madrugada por “confissão artística”, radicada no Rio de Janeiro. Sua vasta obra lírica abarca, além de diversos livros de poemas, um livro de contos cujo lirismo se evola de uma prosa surpreendente, revelando uma sensível percepção da natureza, antes monopolizada pelo olhar masculino. A proposta deste minicurso é identificar em

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que medida o ser – figurado na obra da autora – é a representação fractal do universo percebido cosmogonicamente pelo eu-lírico, sempre a pôr em questão o agora, o aqui, o devir, o eu. Entendendo fractais como a multiplicação da autossemelhança de um todo reproduzido ao infinito numa parte, pretende-se refletir sobre o dobramento do ser captado pela lente do demiurgo feminino, em seu prosaico quotidiano banalizado pelo senso comum, porém capaz de reproduzir em si o cosmos. A ênfase na autoria feminina é determinante numa abordagem de gênero a qual pretende avaliar as relações que se estabelecem nessa perspectiva fractal.

Fronteras móviles e inestables en La vorágine de José Eustasio Rivera: notas acerca de la problemática de los géneros literarios

Ministrante: Prof. Dr. Roberto Ferro (Universidad de Buenos Aires)Ementa: En La vorágine se traman un conjunto de registros narrativos que exhiben marcas que se corresponden con una gran diversidad de géneros discursivos y literarios: testimonio, denuncia, autobiografía, diario de viaje, fragmentos epistolares, entre otros; la tensión entre discursos y contextos abre esa diversidad a intercambios y contaminaciones, que a su vez se complica en las figuraciones ficcionales que atraviesan la narración novelesca. El curso se propone una aproximación a la novela de José Eustasio Rivera con el objetivo de reflexionar especulativamente acerca de la especificidad de los géneros literarios, que en La vorágine aparecen vinculados por fronteras móviles e inestables. El curso apunta a promover una lectura crítica del texto centrada en la exigencia de revisar las cuestiones teóricas relacionadas con la caracterización de los géneros literarios. La idea básica consiste en alentar la intervención de los participantes en torno de aquellas relaciones entre teórica y crítica que permitan una adecuada aproximación al objeto de estudio del curso.

Bibliografía sumaria:Ferro, Roberto. Da literatura e dos restos, Florianópolis, UFSC, 2010.Garrido Gallardo, Miguel (ed.). Teoría de los géneros literarios, Arco, Madrid, 1988.Schaeffer, Jean-Marie. ¿Qué es un género literario?, Madrid, Akal, 2006.

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Ecos de Os Lusíadas na Amazônia: Muhuraida, de Henrique João Wilkens

Ministrante: Profa. Ms. Verônica Prudente (Universidade do Estado do Amazonas)Ementa: Partindo da análise do texto fundador da poesia amazonense, a Muhuraida ou o triumfo da fé na bem fundada esperança da enteira conversão, e reconciliação da grande, e feróz nação do gentio Muhúra (1785), que, inspirada n’Os Lusíadas, de Luís de Camões, canta a empreitada colonizadora no norte do Brasil e a conversão da nação Mura, este minicurso pretende analisar as semelhanças do texto de Wilkens com o de Camões, e abordar a questão colonizado x colonizador, centrando a discussão nas ideias de Walter Benjamin a respeito de uma outra versão da História — “a história vista de baixo”. Da mesma forma, pretendemos abordar outras narrativas amazônicas nas quais a nação Mura se faz presente, a saber: no romance Os Selvagens, de Francisco Gomes de Amorim e no conto “A decana Mura”, de Alberto Rangel.

Leitura e comentário de Chove nos campos de Cachoeira, de Dalcídio Jurandir

Ministrante: Prof. Dr. Willi Bolle (Universidade de São Paulo)Ementa: O romance Chove nos Campos de Cachoeira (1941), de Dalcídio Jurandir (1909-1979), é o livro inicial do conjunto de dez romances, que o escritor paraense denominou “Ciclo do Extremo Norte” (1941-1978) e com o qual realizou o seu projeto de criar um amplo retrato dos habitantes da Amazônia, focalizando a década de 1920 a 1930 a partir de cenários localizados na ilha de Marajó, em Belém e no Baixo Amazonas. A metade dos romances passa-se na periferia de Belém, que é o lugar de moradia dos migrantes que ali se instalaram a partir do fim do Ciclo da Borracha. O objetivo do minicurso é proporcionar uma introdução ao ciclo romanesco inteiro a partir dos principais elementos constitutivos do romance fundador: o protagonista (um ou dois) como personagem central, figura de sondagem e de mediação; a família e seus problemas; escola, formação e aprendizagem; tipos sociais, classes sociais e relações de poder; aspectos econômicos e políticos, inclusive projetos pseudo-sociais; o contexto histórico; costumes, tradições, rituais e festas; componentes eróticos; o imaginário, sonhos e imagens de desejo; as falas dos personagens e o projeto dalcidiano de um dictio-narium dos habitantes da Amazônia.

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Panorama da Literatura Amazônica para a formação de um pensamento crítico

Ministrante: Prof. Dr. Yurgel Pantoja (Universidade Federal do Amapá)Ementa: Qual representação se quer da Amazônia no contexto atual da construção de um pensamento crítico na região? A rigor, o nome “Amazônia” constitui-se recentemente, pois a designação desse imenso e riquíssimo território data de um discurso colonial que passou a formular as Capitanias do Maranhão e Grão-Pará (1621), Grão-Pará e Maranhão (1751) e Grão-Pará e Rio Negro (1772). Tais designações para aquilo que seria depois tida e havida como “Amazônia” ainda percorria o período republicano quando, à época do Regime Militar (1964-1984), a Amazônia passa então a ser reconhecida como esta região que absorve várias representações em diversos campos do conhecimento. No percurso literário amazônico, há vários exemplos de narrativas que se movem num espaço onde são encenadas lutas ferrenhas entre a barbárie concreta de uma geografia desconhecida e o homem moderno e civilizador. Nesse contexto, chamam a atenção algumas obras basilares na formação do conceito de espaço sobre a região, desde os primeiros cronistas, como o Frei Carvajal (séc. XVI) até os romances de Dalcídio Jurandir (séc. XX) e Milton Hatoum (sécs. XX-XXI), passando por obras emblemáticas, como o poema épico Muhuraida (H. J. Wilkens, séc. XVIII) e a prosa de Inglês de Souza (séc. XIX). Assim, a proposta deste minicurso é, ao apresentar um panorama da literatura de expressão amazônica, aplicar uma lógica de cunho crítico a essa produção a partir de alguns modelos de desenvolvimento que se impuseram sobre o espaço amazônico, tanto do ponto de vista estético-literário quanto do político-econônimo.

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SESSÕES DE COMUNICAÇÃO

SESSÃO 1

Coordenadora: Cátia Monteiro Wankler

TOPOFILIA À BEIRA DO RIO: BOA VISTA EM BEIRAL, DE ZECA PRETO

Cátia Monteiro Wankler (UFRR)

Resumo: O livro de poemas Beiral, do poeta Zeca Preto, paraense radicado em Roraima, canta a cidade de Boa Vista a partir de imagens que se constroem em torno do Rio Branco, enfocando o local conhecido como “Beiral”, cujo cotidiano envolve pescadores, lavadeiras, prostitutas e outros personagens. O Beiral de Zeca Preto traz a observação de uma Boa Vista ribeirinha a partir de um olhar que transita entre a subjetividade e a objetividade, mas que, em certa medida, é apaixonado e revela fortes sentimentos topofílicos. Para tratar da topofilia, tomamos como base a obra homônima de Yi-Fu Tuan, que, através de conceitos e pontos de vista da Geografia Cultural, subsidia as discussões acerca da per-cepção do lugar pelo(s) sujeito(s) poético(s).

Palavras-chave: Poesia de Roraima; Literatura e Identidade; Topofilia e Poesia.

BOA VISTA/RR: UMA CIDADE VIVIDA E CONTADA

Carla Monteiro de Souza (UFRR)

Resumo: Boa Vista se torna capital do antigo Território Federal do Rio Branco em 1943, e de 1944 a 1959 passou por mudanças significativas, espaciais/urbanísticas e nas relações sociais/culturais, as quais configuraram a cidade de hoje. Este trabalho apresenta uma discussão sobre este processo a partir da leitura do livro Boa Vista 1950: uma história que quero contar, de Walmir Pimentel (2010), que por meio de pequenos relatos esquadrinha a cidade de então, enfocando personagens, lugares e práticas. Está vinculada ao projeto “Memória e História de Boa Vista na década de 1950” (apoiado pelo CNPq),

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que concebe a cidade como “um tecido sempre renovado de relações sociais”, pensada a partir das representações sociais que se produzem e se objetivam em práticas sociais” (Pesavento, 2007). Discute também o papel da memória e dos seus relatos no estudo das questões urbanas, na medida em que estes projetam o passado no presente, pois o tempo da memória que os preside, descontínuo e flexível, perpassa o texto no momento da sua escrita e no da lembrança, a matéria-prima da narrativa, aspecto que torna estes textos fontes tão fecundas e válidas para pensar a cidade da atualidade.

Palavras-chave: Cidade; Memória; Narrativa; Boa Vista.

A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO EM PORÃO DAS ALMAS, DE ANTÍSTHENES PINTO

Francisco Alves Gomes (UnB/CAPES)Sidney Barbosa (UnB)

Resumo: O escritor amazonense Antísthenes Pinto (1929-2000) foi poeta, prosador e jornalista. Fez parte também do Clube da Madrugada e da Academia Amazonense de Letras. Produziu uma literatura singular, no qual a paisagem amazônica, com todos os seus elementos míticos, dialoga de forma direta com os dilemas do homem moderno, sujeito em constante processo de afirmação numa realidade em que a floresta e a cidade, ao mesmo tempo que estão coadunadas, levam a transformações sócio culturais marcantes. A partir do título da novela Porão das Almas, apresentando uma verticalidade oposta, “porão” que leva ao submundo, à depressão, ao sufoco, ou seja, aquilo que está em processo de degradação em oposição a “alma”, simbolicamente interpretada como aquilo de mais altaneiro, sublime e luminoso existente no homem, faremos uma análise da espacialidade utilizada na arquitetura da novela, tendo em vista suas funções na produção dos vários sentidos do texto. No nosso entendimento, a junção das categorias de espaço são fundamentais para a tessitura da novela, seu desenrolar e força, caracterizada pela densidade poética presente no livro.

Palavras-chave: Literatura; Espacialidade; Topo-análise; Porão das almas.

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SESSÃO 2

Coordenadora: Roseli Anater

UM OLHAR SOBRE A ARTE NAÏF DA ÍNDIA MACUXI CARMÉZIA EMILIANO

Roseli Anater (IFRR/PPGL-UFRR)

Resumo: O presente trabalho pretende discorrer sobre um estilo de arte muito peculiar: a Arte Naïf. Uma arte que se desenvolveu especialmente na pintura. Com características muito próprias, é chamada de arte ingênua, espontânea ou primitiva. Utiliza basicamente as cores primárias e secundárias em grande profusão, por isso na sua grande maioria são bastante coloridas, com formas e cores uniformes e chapadas. Uma característica em especial reside na opção estética e ética, da representação caprichosa (nos dois sentidos do termo), de um imaginário fantasioso e escapista do artista naïf, conforme afirma Anatole Jacovsky, conhecido especialista em naïfs. É uma arte baseada na cultura do seu povo, em especial nos aspectos religiosos e sociais, destacando a simplicidade, pureza e ingenuidade dos artistas que a praticam. Roraima tem na índia macuxi e artista plástica Carmézia Emiliano sua representante naïf. É exemplo de um fenômeno de transição, de transculturação por migração. Traz consigo a memória do seu cotidiano na maloca, da relação com os indígenas e a natureza, das lendas e mitos, as cenas de caça e pesca, plantio, colheitas e festas. Essa memória pictográfica impregnada em seu ser vai servir de base e “inspiração” para grande parte de sua produção artística.

Palavras-chave: Arte Naïf; Carmézia Emiliano; Imaginário; Transculturação; Memória.

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BRINQUEDOS DE MIRITI: CULTURA, IMAGINÁRIO, ORALIDADE E EDUCAÇÃO

Claudete do Socorro Quaresma da Silva (UEPA)Nazaré Cristina Carvalho (UEPA)

Resumo: Este artigo apresenta reflexões iniciais acerca do brinquedo de miriti e suas interfaces com a cultura, a oralidade, a educação e o imaginário amazônico. Tal brinquedo é um artesanato secular tipicamente amazônico que traz em sua materialidade um conjunto de experiências, valores, crenças, sentimentos, símbolos e significados que são historicamente vivenciados, construídos e partilhados cotidianamente por caboclos ribeirinhos amazônidas. São cobras, tatus, casas, dançarinos, pássaros, peixes, barcos, canoas, entre tantas outras peças criadas e produzidas pelos artesãos que expressam o imaginário local e enriquecem com seu colorido, leveza e encantamento as festividades religiosas, principalmente a de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, capital do Pará. Por sua significabilidade cultural tal objeto é reconhecido como patrimônio imaterial e cultural. Os artesãos do brinquedo de miriti com sua forma singular de ensinar através da oralidade e da observação perpetuam de uma geração a outra os saberes e fazeres que conduzem diariamente o ritmo e o estilo de vida das comunidades ribeirinhas e constroem a educação na região Amazônica. Ressalta-se que este trabalho é um recorte da pesquisa Brinquedos de Miriti: Identidade e Saberes Cotidianos, que está sendo realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará.

Palavras-chave: Brinquedo de miriti; Cultura; Imaginário; Educação.

CUIAS DE SANTARÉM: A BELEZA GRAFADA POR MÃOS DE ARTESÃS DA ASARISAN

Ádrea Gizelle Morais Costa (UFOPA)

Resumo: Os primeiros registros sobre as cuias de Santarém foram feitos no final do XVII por naturalistas que visitaram a região amazônica, e atualmente são conhecidas como artesanato de tradição, e como importante tradutor da identidade daquele que o produziu seja como individuo ou como coletividade. Abordo neste trabalho o estudo sobre as famosas cuias de Santarém, as cuias estudadas são procedentes da região do Aritapera, as peças foram analisadas

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durante o processo de criação, por meio do registro fotográfico. A pesquisa foi desenvolvida em março de 2011, nesta pesquisa procurei analisar a iconografia das cuias e a forma que é desenvolvida pelas artesãs da Asarisan, tendo por ob-jetivo descrever as etapas do processo de confecção da cuia, e principalmente as diferentes formas de grafismo utilizadas na iconografia das cuias, analisando os mais recorrentes, grafismos, estes feitos pelas habilidosas mãos das artesãs da Asarisan, cooperativa de mulheres que confeccionam cuias pretas, tendo como decoração a técnica da incisão. As cuias de Santarém retratam não so-mente o modo cultural da região, mas a identidade de mulheres que por meio do artesanato contribuem com o suporte econômico de suas famílias.

Palavras-chave: Cuias; Icnografia; Asarisan.

SESSÃO 3

Coordenador: Zemaria Pinto

TRAGÉDIA E CHANCHADA NO TEATRO DE MÁRCIO SOUZA

Zemaria Pinto (PPGL-UFAM)

Resumo: Retomando comunicação que apresentamos no II Colóquio, em 2010, divulgaremos a continuidade daquele trabalho, que se iniciara como O teatro mítico de Márcio Souza. Com base nas peças publicadas em três volumes (Marco Zero, 1997), analisaremos os grupos que classificamos como tragédias amazônicas e chanchadas amazônicas. A Paixão de Ajuricaba, a primeira peça de Márcio Souza levada à cena, abre o capítulo das tragédias, com a história ficcional do herói amazonense. Pequeno teatro da felicidade, ambientada durante a guerra entre cabanos e legais, trata da tragédia coletiva, da mesma forma que Contatos amazônicos de terceiro grau, uma alegoria do poder destruidor da colonização. Homenageando as origens cinéfilas do autor, agrupamos entre as chanchadas amazônicas a cota da sua obra que seria, talvez, mais apropriado chamar de farsas históricas: As Folias do Látex, uma alegre e contundente análise sobre nossas origens e nosso caráter; A resistível ascensão do boto Tucuxi, um retrato da arte menor da política amazonense nos anos pós-Vargas/Maia; e Tem piranha no pirarucu, um painel risonho e franco da Manaus pós-

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moderna. Entre os deuses da primeira abordagem e os heróis e bufões desta, oraniza-se o universo dramático do autor amazonense.

Palavras-chave: Márcio Souza; Teatro; História; Política; Amazonas.

POÉTICAS TEATRAIS MODERNAS NA AMAZÔNIA PARAENSE

José Denis de Oliveira Bezerra (PPHIST/UFPA- UEPA)

Resumo: Este trabalho tem como fulcro as poéticas teatrais modernas na Amazônia paraense. Para tanto, é fundamental compreender as representações sociais, políticas, ideológicas e estéticas na região amazônica. Estudar como se constituiu, em uma perspectiva histórica, o teatro moderno na região ajudará a perceber a formação do pensamento artístico-cultural no e sobre o espaço amazônico, no século XX. Assim, esta comunicação de pesquisa de doutorado centraliza-se em uma questão fundamental: como se deram as transformações na produção e recepção das práticas cênicas no século XX, ou seja, o teatro moderno, no Pará. Além disso, problematiza também a historiografia teatral no Brasil, e discute alguns conceitos: teatro/dramaturgia/encenação; moderno/modernismo/tradição; história/memória/historiografia.

Palavras-chave: Teatro; Moderno; História; Amazônia.

LENDAS AMAZÔNICAS: ORALIDADES NA ESCRITURA DRAMATICA

Gislaine Regina Pozzetti (UEA)

Resumo: A lenda é um elemento indissociável da identidade amazônica; figura como experiência de vida e memória coletiva. Com raízes e objetivos semelhantes, lendas e teatro surgem com o homem primitivo, um para explicar os fenômenos da natureza, outro como tentativa de controlá-los. Contudo, só é possível compreender a lenda por ela própria, assim, a escritura dramática, ao explorar as lendas como temática, apresenta-se como uma estratégia de permanência e reflexão acerca do ambiente dos povos amazônicos, alimentando o imaginário e estruturando os atos humanos. O desafio, neste processo

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criativo, apresenta-se na preservação da espontaneidade criativa que a oralidade comporta, ressaltando sua relevância, enquanto memória, e oferecendo outras possibilidades de enunciação, para além das práticas orais.

Palavras-chave: Escritura Dramática; Oralidade; Lenda; Teatro.

SESSÃO 4

Coordenadora: Maria da Luz Soares da Silva

BAÍRA: AMBIGUIDADE DE UM HERÓI CIVILIZADOR

Maria da Luz Soares da Silva (PPGL-UFAM)

Resumo: Esta comunicação tem como objetivo geral a análise das funções desempenhadas pelo personagem burlão em relatos míticos retirados do livro Experiências e estórias de Baíra – o grande burlão, de Nunes Pereira, a fim de determinar a ambiguidade das características de herói-civilizador e de burlão nas ações desse personagem. A análise será desenvolvida à luz dos estudos etnográficos de Claude Lévi-Strauss contidos em suas obras Antropologia Estrutural (2008) e O cru e o cozido (2010), nas quais o antropólogo francês põe em prática seus preceitos teóricos estruturais sobre narrativas mitológicas do continente americano. De posse deste e de outros estudos da teoria da narrativa, analisaremos os textos literários, procurando identificar elementos característicos do herói mítico Baíra, personagem dos relatos na obra de Nunes Pereira.

Palavras-chave: Herói-civilizador; Relatos Míticos; Ambiguidade.

A ESTRUTURA DO UNIVERSO: ORIGEM DO KAHPÍ E DAS FLAUTAS MINÃPORÃ

Juliana Mitoso Belota (PPGSC-UFAM)

Resumo: Os Desâna organizam seu cosmos a partir da relação espaço-

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temporal circunscrita nos ciclos de vida envolvidos nos processos de morte e renascimento, que são expressos pelo caminho espiritual do Sol primordial pela superfície da terra em oposição à morte carnal. A unidade representativa do universo é a maloca. A música, que tem expressão nas flautas e trompetes denominados Miñapõrã (flautas de Jurupari) é a unidade representativa do caminho do Sol primordial pela terra. O kahpí, ingerido por yaiwas (pajés), kumus (conhecedores da medicina tradicional), e bayaroas (mestres de música e cerimônia), abre em sua corporalidade canais de comunicação com as dimensões do universo. É sobre a relação dos mahsá (gente do universo), com a origem da medicina sagrada ou alimento dos criadores (Kahpí), e das flautas sagradas que versa o mito. O saber-fazer biodiverso deste povo é calcado no uso deste enteógeno, como fonte de sabedoria e de vida. Este trabalho objetiva analisar o mito de origem do Kahpí e das flautas Miñapõrã, no contexto da cosmologia Desâna.

Palavras-chave: Cosmologia; Gênese; Mito; Xamanismo; Música.

NARRATIVA MÍTICA EM ÓRFÃOS DO ELDORADO

Werner Vilaça Batista Borges (PPGL-UFAM)

Resumo: O próprio título da novela Órfãos do Eldorado de Milton Hatoum já sugere uma imersão nas questões míticas. O que se propõe neste artigo é considerar esta obra como uma releitura de mitos amazônicos. E isto por meio do narrador-personagem que conduz a narrativa em uma característica em que se predomina a oralidade (contando sobre sua vida), e nisto, repercutindo e ressoando histórias míticas. Desta forma, compõem-se uma literatura que estabelece relações com a mitologia, entendendo esta como aquilo que dá sentido à vida. Assim, o trabalho proposto é analisar como estas narrativas míticas estão sendo entrelaçadas na obra e como influenciam a estrutura e a maneira de pensar e agir das personagens.

Palavras-chave: Narrativa; Mito; Oralidade.

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SESSÃO 5

Coordenador: Carlos Rogerio Duarte Barreiros

RUMO AO CRUZEIRO: O ACRE, O BRASIL E O MUNDO NA URBANIDADE AMAZÔNICA DOS LOS PORONGAS

Carlos Rogerio Duarte Barreiros (USP)

Resumo: A banda de rock Los Porongas, formada em Rio Branco, no Acre, tem alcançado sucesso de crítica e de público no que se tem convencionado chamar cena independente da canção popular brasileira. O conceito de urbanidade amazônica, explorado pelo conjunto em seu primeiro álbum, lançado em 2007; as condições específicas em que se formaram os Los Porongas e que lhes permitiram a projeção nacional; o ponto de vista a partir do qual as letras da banda expressam a cultura do Acre e do Brasil, que revela mais a respeito do país do que poderia supor certo regionalismo anacrônico; as diferenças entre as canções do primeiro álbum, especialmente ligado ao espaço do Acre, e as do segundo, largamente influenciado pelo tempo acelerado da cidade de São Paulo, para a qual a banda se transferiu no ano de 2008 – todos esses serão temas investigados na apresentação que propomos, cujo ponto de fuga é a hipótese de que a expressão das contradições entre vida ideológica e vida material do Brasil, a partir do ponto de vista amazônico das canções dos Los Porongas, ganha extensão e complexidade no plano da forma e do conteúdo.

Palavras-chave: Los Porongas; Canção popular brasileira; Urbanidade amazôni-ca; Rock brasileiro; Canção independente.

A MEMÓRIA NAS TOADAS DOS BOIS-BUMBÁS

Maria Celeste de Souza Cardoso (PPGLA-UEA)

Resumo: Este artigo explicita como a memória se apresenta nas toadas dos bois-bumbás de Parintins, demonstra o pensamento de alguns pesquisadores a respeito da temática e enfatiza a questão da preocupação com o tradicional e o moderno presentes atualmente nas composições musicais dos bois-bumbás e

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24 | Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.

as transformações ocorridas nos últimos anos. A história do boi-bumbá está na memória dos brincantes mais antigos e daqueles que acompanham a evolução dos bumbás e o surgimento de novos modelos nas agremiações folclóricas. Assim, o artigo evidencia que a memória está viva e atuante no meio cultural e traz em si todo um processo de transformações pelo qual passaram as sociedades no dias atuais. Nas toadas dos bumbás parintinenses, essas transformações são evidenciadas quando se comparam as toadas antológicas com as atuais.

Palavras-chave: Memória; Toadas; Boi-bumbá de Parintins.

INVISÍVEL LIRA: MÚSICA E ESTRUTURA MUSICAL DE PENSAMENTO EM FRAUTA DE BARRO

Valquíria Luna (UEA/FAPEAM)

Resumo: Visando aprofundar os estudos sobre a obra de Luís Bacellar, esta comunicação de pesquisa se volta a um aspecto notório de sua poesia: a música. A relação entre esta e sua obra, no entanto, vai além das marcas musicais observáveis em seus versos. O caráter musical que se pretende desvendar é o do pensamento que compõe a sua obra, a cosmovisão musical, movimentos não apenas captáveis sensorialmente, mas a partir de uma dinâmica específica do jogo entre as imagens. O fundamento dessa cosmovisão musical é justamente o ritmo, não o da medida, apreensível e aparente, mas o ritmo anterior à linguagem, o do pensamento que gera a frase, invisível e incorpóreo. O que se busca, dessa forma, é apreender em diversos níveis, a presença e a significação da musicalidade – desde os elementos musicais aparentes, para além destes – e desse ritmo invisível na obra do poeta amazonense.

Palavras-chave: Frauta de barro; lírica; música.

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SESSÃO 6

Coordenador: Miguel Nenevé

UMA LEITURA PÓS-COLONIAL DA AMAZÔNIA DESCRITA POR JÚLIO VERNE EM A JANGADA

Andréia Mendonça dos Santos Lima (UNIR)Miguel Nenevé (UNIR)

Regiani Leal Dalla Martha Couto (UNIR)

Resumo: A Amazônia tem sido descrita, investigada e analisada por muitos escritores e jornalistas há séculos. Muitos dos escritos sobre a região foram “inventados” como afirma Neide Gondim, uma vez que fazem parte de uma rede discursiva sobre a região. Assim, a imagem produzida e reproduzida nem sempre é baseada no que se vê, mas no que se quer ver, ou no que se espera que o leitor queira ver. Assim, temos visões distorcidas, desfiguradas dependendo do interesse de quem interpreta, divulga e reproduz estas visões. Considerando estes aspectos, nossa pesquisa tem por objetivo analisar sob uma perspectiva pós-colonial a Amazônia descrita por Júlio Verne na obra A jangada – 800 léguas pelo Amazonas. Para estruturação do trabalho usamos obras de estudiosos sobre a Amazônia e autores que discutem o pós-colonialismo e a literatura de viagem. Nossa pesquisa nos permite argumentar que na obra A Jangada, Júlio Verne não repete uma imagem estereotipada da Amazônia que foi transmitida em sua época, mas apresenta uma Amazônia mais complexa com fatores positivos e negativos. Podemos dizer que, de certa forma, Verne tem postura descolonizadora se considerarmos o espaço geográfico e a época em que viveu e escreveu.

Palavras-chave: Pós-colonialismo; Amazônia; Júlio Verne.

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26 | Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.

ASPECTOS MNEMÔNICOS PRESENTES NA CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO AMAZÔNICO: A INVENÇÃO DA AMAZÔNIA,

DE NEIDE GONDIM

Maria Luiza Germano de Souza (UFAM)

Resumo: O imaginário amazônico foi construído, segundo Neide Gondim, nos dois primeiros capítulos de A invenção da Amazônia, a partir das memórias e rastros deixados pelos viajantes que visitaram outro lugar: a Índia. A autora nos possibilita verificar formas mnemônicas usadas na construção das representações e do imaginário amazônico deixados nas crônicas dos primeiros viajantes que aqui estiveram: Gaspar de Carvajal, Alonso de Rojas, Cristóbal de Acuña e La Condamine. Este artigo pretende verificar a construção da memória e imaginário amazônico a partir dos relatos dos primeiros viajantes, usando como recorte a abordagem de Neide Gondim nos primeiros capítulos do livro mencionado. As bases teóricas usadas serão as inferências de Paul Ricoeur em A memória, a história, o esquecimento, quando o autor trata da lembrança, da imaginação, da memória e do testemunho.

Palavras-chave: Imaginário amazônico; Cronistas; Paul Ricoeur; Memória.

QUANDO ESCREVER É NARRAR A POSSE: A COLONIZAÇÃO DA AMA-ZÔNIA E A ESCRITA DA HISTÓRIA

Kigenes Simas Ramos (UFF/FAPEAM)

Resumo: O presente artigo busca analisar a relação entre posse e narrativa no relato colonial na Amazônia. Trata-se de uma questão de leitura e de itinerário, uma vez que apenas o espaço legível adquiriu estatuto de posse e presença ao colonizador e somente a escrita dessa presença nos é dada a saber por meio de seus relatos de conquista. Assim, analisaremos a “Relação do novo descobrimento do famoso rio grande que descobriu o capitão Francisco Orellana”, documento que relata a viagem da primeira expedição a cruzar o Rio Amazonas e chegar até sua foz, buscando relacionar a escrita da viagem à narração da posse a partir do estatuto de linguagem do século XVI.

Palavras-chave: Amazônia; Narração; Colonização.

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SESSÃO 7

Coordenador: John Fletcher

AUSÊNCIAS POÉTICAS?: APONTAMENTOS SOBRE A ARTE CONTEM-PORÂNEA DE BELÉM, PA

John Fletcher (UFPA)José Afonso Medeiros (UFPA)

Resumo: Compreender uma produção visual nos dias atuais é buscar uma forma de situar tal poética como um registro dos processos culturais contemporâneos, uma vez que sua lógica de criação se insere em um contexto de culturalidades híbridas e de encurtamento de fronteiras. Nesse contexto, a presente pesquisa trata de um recorte de processos artísticos visuais em Belém, PA, os quais têm se utilizado de premissas sobre a ausência para espelhar e discutir problemáticas contemporâneas relacionadas à cultura material e imaterial; problemáticas aliadas às nossas estruturas de sentimentos em deformação e transformação.

Palavras-chave: Arte Contemporânea; Processos Culturais; Hibridismo.

CRÍTICA E HISTORIOGRAFIA DAS ARTES NA AMAZÔNIA: MEMÓRIA DOCUMENTAL E VISUAL

Ana Lídia da Conceição Ramos Maracahipe (UFPA) Camila Ferreira dos Santos Freire (UFPA)

Edison Farias (UFPA)John Fletcher Couston Junior (UFPA)

Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo apresentar uma discussão sobre o papel da memória documental e visual como complemento premente para a historiografia cultural de um dado contexto, e utiliza como ponto de partida o projeto intitulado “Crítica e Historiografia das Artes na Amazônia” (CHAA). O material em questão, neste trabalho, foi adquirido a partir de impressos sobre artes visuais, publicados no período de 1970 a 2010, os

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quais vêm sendo organizados e analisados com o intuito de criar um banco de dados visual que estará à disposição de procedimentos científicos, artísticos e educacionais em torno das manifestações artísticas produzidas no Pará, e, mais especificamente, na cidade de Belém. A pesquisa, alicerçada em conceitos relacionados com memória e antropologia cultural, busca retratar o contexto artístico de uma época local em suas formulações transformadoras e mutantes podem gerar indícios de como se entender o presente como temporalidade híbrida.

Palavras-chave: Artes Visuais; Memória; Historiografia Cultural.

CRÍTICA E HISTORIOGRAFIA DA ARTE NA AMAZÔNIA: UM PROJETO HISTORIOGRÁFICO E CULTURAL DAS ARTES VISUAIS PARAENSES A

PARTIR DE IMPRESSOS DE 1970 A 2010

Edison Farias (UFPA)John Fletcher Couston Junior (UFPA)

Samantha Raissa Cunha da Silva (UFPA)

Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar uma premissa historiográfica e cultural de um dos eixos do projeto de pesquisa intitulado “Crítica e Historiografia das Artes na Amazônia” (CHAA). A partir de impressos e demais publicações ocorridas no período de 1970 a 2010, que visa organizar dados e traçar uma cartografia visual e assim contribuir para a compreensão do processo de produção, transmissão e percepção da arte no Pará e, mais especificamente, na cidade de Belém. Sendo assim, a presente pesquisa, baseada em uma análise teórica dos estudos culturais e historiográficos, propõe-se em lançar algumas das rotas teóricas para identificar os processos híbridos, confluentes, refluentes, assimétricos e não lineares da produção artística para o foco local.

Palavras-chave: Historiografia da arte; Crítica paraense sobre arte; Arte no Pará.

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SESSÃO 8

Coordenadora: Auricléa Oliveira das Neves

AMAZÔNIA E AS CRÔNICAS MARIOANDRADIANAS, DE 1927

Auricléa Oliveira das Neves (ESBAM/UNINORTE)

Resumo: O recorte a ser tratado neste artigo são os escritos de Mario de Andrade no período de 7 de maio a 15 de agosto de 1927, que o autor relatou na obra O Turista Aprendiz, tendo como subtítulo “Viagem pelo Amazonas até o Peru, pelo Madeira até Bolívia e por Marajó até dizer chega”, em clara referência parodística aos extensos títulos dados às crônicas sobre o Brasil no período de sua colonização. Os incidentes da viagem, as dificuldades enfrentadas para a realização de seu intento de pesquisador, o conhecimento empírico de fauna, flora e paisagem diversificadas, o contato com culturas diferentes e a minúcia da narração de cada passagem, destinada a temas específicos, dão aos textos aspectos de crônicas históricas que asseguram a permanência de registro no futuro. As crônicas marioandradianas representam, portanto, a memória daquela época, sob a ótica de um intelectual que buscou nessa viagem material estético para algumas de suas obras.

Palavras-chave: Mário de Andrade; Amazônia; Literatura brasileira; Crônica.

EU SOU TU: A AMAZÔNIA SURREAL NO DISCURSO MODERNISTA BRASILEIRO

Gleidys Maia (CESP-UEA)

Resumo: Costuma-se estudar a Vanguarda como um aspecto da Modernidade. Por esse prisma, ela compreende movimentos, ações, geralmente coletivas, reunindo artistas/escritores, sobressaindo-se por um antagonismo radical face à ordem estabelecida no domínio artístico (formas e temas) e no plano geral (político-social). O Modernismo brasileiro, enquanto movimento de renovação artística, não pode ser situado no mesmo plano que os movimentos

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da vanguarda européia como o Cubismo, o Futurismo, o Expressionismo ou o Surrealismo. Esses movimentos diferem teórica e estilisticamente entre si, mas apresentam características comuns: possuem, individualmente, unidade estilística e afirmam, explícita ou implicitamente, uma visão crítica com respeito à própria modernidade ou a toda arte do passado. Essas características são encontradas no Modernismo brasileiro de forma incipiente - que tem, aliás, nessa diferença, sua especificidade. A negação iconoclasta dos modernistas explicita influências da Vanguarda histórica, mas se volta para a construção de um perfil de brasilidade, para a arte nacional, cujo caráter não passa pelo binômio destruição/construção, mas pelo resgate da história do país, pela valorização do primitivo e da cultura popular, priorizando as formas de vida e as condições sociais pré-modernas, ao mesmo tempo, que atualiza essas formas e condições à realidade brasileira, numa busca incessante de autenticidade da identidade nacional. Esse estudo quer analisar o discurso modernista quando se volta para a valorização do primitivo e da cultura popular, considerando as influências da vanguarda histórica, principalmente do Surrealismo, no relato de viagem O Turista Aprendiz, de Mário de Andrade.

Palavras-chave: Modernidade; Surrealismo; Primitivismo.

RETRATOS DE TRABALHADORES AMAZÔNICOS: DAS NARRATIVAS DE VIAGENS ÀS NARRATIVAS FICCIONAIS

Ane Caroline Rodrigues de Souza (UEA-CESP/FAPEAM)Gleidys Meyre da Silva Maia (UEA-CESP)

Dilce Pio Do Nascimento (UEA-CESP)

Resumo: Este trabalho aborda aspectos que visam identificar e descrever perfis de trabalhadores amazônicos pintados nos relatos de viajantes durante o século XIX e início do século XX. A partir da análise detalhista dos discursos desses narradores, a presente pesquisa parte, então, para a busca de resíduos desses perfis na literatura contemporânea de temática amazônica, apoiada teoricamente nos estudos da análise do discurso das narrativas históricas e das narrativas ficcionais. Na perspectiva de encontrar fatores e escritos que comprovem e relatem a ação do trabalhador amazônida, este trabalho de pesquisa justifica-se pelo fato de que as literaturas de viagens não se restringem às viagens de descobrimento, ela também engloba viagens de peregrinação,

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Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.| 31

viagens comerciais e, ainda, viagens imaginárias, uma vez que as narrativas de viagens remetem ao longo dos séculos a uma abundância textual determinada pelo fato que esse deslocamento moldou o mundo e a humanidade. Dessa forma, com este trabalho, objetiva-se analisar, identificar e descrever os processos de construção de perfis de trabalhadores amazônicos nos discursos de narrativas de viagens e para tal processo utilizar-se-á da pesquisa bibliográfica que definirá o corpus da análise e determinará a seleção de textos a serem analisados. O principal critério para essa seleção será a inscrição do texto no gênero Narrativa de Viagem, ficcional ou histórica, documental ou monumental.

Palavras-chave: Trabalhadores; Narrativas de viagens imaginárias e etnográ-ficas.

SESSÃO 9

Coordenador: Kenedi Santos Azevedo

A CIDADE NOS POEMAS DE ASTRID CABRAL E AL BERTO

Kenedi Santos Azevedo (UERJ)

Resumo: O presente trabalho tem como propósito fazer uma leitura comparativa das obras de Astrid Cabral e Al Berto, Visgo da Terra, de 2005 e Horto de Incêndio, de 2000, respectivamente, apontando a imagem poética da cidade (des)construída por ambos. Enquanto no livro da poetisa amazonense a cidade é recuperada por meio da memória – “Caricatura da Grécia/ a Manaus da minha infância/ essa Atenas tropical/ plantada de pára-quedas/ entre vegetais e colunas/ e doces mares singrados/ das proas de canoas e catraias/ pelo Peloponeso dos baré” (p. 56) –, no livro do poeta português destaca-se a imagem de uma cidade subvertida no presente: “mas lisboa é feita de fios de sangue/ de províncias/ de esperas diante dos cafés/ de vazio sob um céu plúmbeo que ensombra/ os jardins de estátuas partidas” ( p. 46). Além disso, pretende-se mostrar que ambos os poetas são contemporâneos, e mesmo assim, suas visões acerca da cidade contrapõem-se, apesar de os dois vislumbrarem de longe o espaço urbano, Astrid pelas lembranças pueris, Al Berto pela melancolia.

Palavras-Chave: Cidade; Astrid Cabral; Al Berto; Poesia Amazonense; Poesia Portuguesa.

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A (DE)GRADAÇÃO DO “EU” EM “A AGONIA DA ROSA”

Adriana Gonzaga de Moura (PPGLA-UEA)

Resumo: No estudo proposto desenvolveremos reflexões em torno do conto “A agonia da rosa”, contido no livro Alameda, da escritora amazonense Astrid Cabral. Em todas as vinte curtas narrativas presentes nesta obra, há máscaras vegetais para a representação dos dramas humanos. E o que o trabalho apresentará são as várias facetas inerentes à condição da existência através de quatro momentos dispostos em diferentes ‘eus’ da personagem, tendo como objetivo mostrar que a narrativa opera uma gradação em anticlímax. Para a demonstração desse desgaste o que se degradará é o “eu” em detrimento do “outro”, e isso acontecerá nas gradações que se seguem: eu maior que o outro (o desdém da rosa frente às suas “irmãs de mentira”); eu menor que o outro (a inveja da rosa ante os seus “irmãos felizes”); eu conjunto vazio (a nulidade da rosa aos olhos dos humanos); eu igual a menos EU (a iminência da morte pressentida). A quase ausência de enredo dos contos de Astrid contribui para que esses extraordinários seres vegetais imprimam na tela narrativa as mais finas ironias e as mais profundas reflexões existenciais.

Palavras-chave: Astrid Cabral; Ser; Existência; Morte.

A POÉTICA DA MORTE

Sônia Maria Vasques Castro (PPGL-UFAM)

Resumo: “A morte é uma realidade da qual nenhum homem pode se furtar. É um fato natural, como o nascimento, a sexualidade, o riso, a fome, a sede. Diante dela, jovens e velhos, homens e mulheres, ricos e pobres, ateus e crentes, todos sucumbem. Diante dela, as condições sociais são relativizadas e, no que diz respeito à finitude, fica evidente a absoluta igualdade que rege o destino dos homens. Todos morrem” (MARANHÃO, 1998, p. 7). Refletir sobre o tema da morte palmilhando o território de reminiscências do narrador de Sôbolos rios que vão (2010), obra do romancista português António Lobo Antunes e cotejar o tratamento dado ao mesmo tema pela escritora amazonense Astrid

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Cabral na obra Alameda (1998), mais especificamente no conto A agonia da rosa, é a pretensão desta comunicação. Para tanto, serão tomadas as opiniões do sociólogo e filósofo José Luiz Maranhão O que é a morte? e do teórico de literatura e estudos culturais Terry Eagleton no livro Depois da teoria.

Palavras-chave: Astrid Cabral; Lobo Antunes; Poética da morte.

SESSÃO 10

Coordenadora: Ana Maria de Carvalho

CORDEL: A ESCRITURA DA MEMÓRIA DAS VOZES

Ana Maria de Carvalho (UFPA)

Resumo: Falar de memória e oralidade remete ao folheto de cordel, nele conforme Santos (2006) a palavra, a imagem e a voz se cruzam. A seu respeito é possível dizer que eles se situam entre a fronteira da escritura e da voz, fronteira que não deve ser entendida como separação, mas como continuidade e complementação. Nesse caso, o verso impresso seria essa continuação e complementação do oral, tendo em vista que embora seja uma produção escrita, sua transmissão não ocorria somente por meio da leitura silenciosa e individual. Ela também se dava através da leitura oral que se materializava nas leituras comunitárias feitas nas rodas de terreiros. A leitura em voz alta também era um meio do poeta vender seus folhetos nas feiras, uma vez que eram lidos alguns trechos das narrativas para chamar a atenção do público leitor. No que diz respeito à temática desta comunicação, darei destaque às narrativas que versam acerca do movimento migratório dos nordestinos para os seringais e a relação com o que eles deixaram para trás.

Palavras-chave: Oral; Escrito; Migração; Representação.

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34 | Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.

CARTOGRAFIAS DA CULTURA: ORALIDADE E ESCRITURA EM NARRATIVAS DA AMAZÔNIA

Danieli dos Santos Pimentel (UEPA)

Resumo: A pesquisa estuda as poéticas orais/escritas nas vozes de narradores da Amazônia. Partindo da relação entre oralidade e escritura se observa de que modo a obra Órfãos do Eldorado (2008) de Milton Hatoum se relaciona às matrizes poéticas orais da região. Para tanto, o desenho cartográfico da referida abordagem está relacionado ao conceito de cartografia da cultura cunhado por Jesus Martín-Barbero em sua obra Ofício de cartógrafo travessias latino americanas da comunicação na cultura (2002). Nessa perspectiva, aproximar então os textos orais/impressos da cultura é observar que as fronteiras que os unem se interconectam nos mapas culturais, pois na maioria das vezes os registros impressos já estiveram em vozes de narradores, mas foram novamente reelaborados a partir do escrito e passados novamente pela oralidade. Assim, para analisar as relações entre oralidade e escritura literária, o respectivo recorte fundamenta-se, sobretudo, nos estudos Escritura e nomadismo (1985) de Paul Zumthor Armadilhas da memória (2003) de Jerusa Pires Ferreira, no sentido de entender como as narrativas se movem, variam e se adaptam a outros códigos culturais.

Palavras-chave: Cartografia; Cultura; Poéticas; Oralidade; Escritura.

POÉTICAS DO ORAL/IMPRESSO NO IMAGINÁRIO AMAZÔNICO: DALCÍDIO JURANDIR E MILTON HATOUM EM DIÁLOGO

Danieli dos Santos Pimentel (UEPA)Luiz Guilherme dos Santos Júnior (UFPA)

Resumo: Pretende-se nesta comunicação de pesquisa estabelecer um diálogo entre a obra Marajó (1947), de Dalcídio Jurandir e Órfãos do Eldorado (2008), de Milton Hatoum, no tocante às matrizes orais que compõem os dois textos literários. As referidas produções apresentam em sua estrutura signos da cultura amazônica e uma mitopoética fundada a partir das narrativas orais

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gregas, peninsulares e indígenas. Esse processo de reelaboração das matrizes européias e/ou indígenas evidencia um jogo de apropriação, ao mesmo tempo em que se observa a circulação de mitos e lendas universais e locais, “escrituras moventes e mistas”. Observa-se ainda a correspondência entre imaginários e signos culturais que se reescrevem no contexto da escritura dos autores, configurando-se num fenômeno de tradução cultural. A análise aqui proposta pauta-se em conceitos da Semiótica da cultura, no sentido de entender como essas matrizes se adaptam à tessitura textual literária e se engendram em novos códigos culturais. Neste sentido, recorre-se, teoricamente aos estudos de Eleazar Meletínski, em Os arquétipos literários (2002), Escritura e nomadismo (2005) de Paul Zumthor, Armadilhas da memória (2003), de Jerusa Ferreira, Escola de Semiótica (2003), de Irene Machado, além de outros importantes estudiosos que referenciam este trabalho.

Palavras-chave: Poéticas; Matrizes orais/impressas; Semiótica da cultura.

SESSÃO 11

Coordenador: Marcelo Sabino Martins

O ENCANTO DA ENCANTARIA: CULTO AOS ENCANTADOS EM PORTO VELHO/RO

Marcelo Sabino Martins (UNIR)Leonardo Lucas Britto (UNIR)

Resumo: Este trabalho tem como objetivo desenvolver estudos sobre a prática dos cultos de encantados em terreiros de Porto Velho/RO. Com o título de “O Encanto da Encantaria: culto aos encantados em Porto Velho/RO”, apresentaremos uma breve pesquisa sobre a organização de cultos em comunidades religiosas de Porto Velho. Acreditamos que a Encantaria é um culto presente na realidade religiosa afro-brasileira da Amazônia. Esse tema justifica-se por dar visibilidade à questão das práticas do Encantado e, o que defendemos, o encanto que ele provoca sobre uma parcela da população de Porto Velho. Iremos mapear alguns lugares onde esse culto é realizado e como se dão essas práticas. A metodologia está fundamentada em uma pesquisa

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36 | Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.

bibliográfica sobre religiosidade e cultura popular amazônica e afro-brasileira, além de estudos sobre a contextualização do culto de encantados nos terreiros de Porto Velho. Trabalhamos com depoimentos e entrevistas de praticantes desse culto.

Palavras-chave: Encantaria; Cultura; Religiosidade.

MITO, FOLCLORE E LITERATURA: O VOO DO PÁSSARO DE ENCONTRO À SERPENTE

Elaine Pereira Andreatta (PPGL-UFAM)

Resumo: Neste trabalho abordamos alguns aspectos referentes à presença do mito e do folclore na literatura, a partir da análise do conto: “Acauã”, de Inglês de Sousa, buscando compreender como se dá o processo de mitologização na literatura. Primeiramente, procuramos entender os conceitos de mito e mitologização a partir das obras de Mircea Eliade e Mielietinski, bem como a relação indissociável do mito com a linguagem, abordada por Cassirer. Em seguida, tratamos dos conceitos relacionados ao mito em contraposição ao conceito de folclore, abordando as principais diferenças entre essas duas formas de expressão. Por último, realizamos uma análise do conto “Acauã”, de Inglês de Souza, estabelecendo pontos de contato com o mito e o folclore, em especial, em torno de dois animais paradigmáticos presentes no conto: a serpente e a ave acauã, observando as modificações ocorridas no percurso que nos propomos a analisar, as quais, mesmo transmutadas, evidenciam aspectos da mitologização observada na literatura.

Palavras-chave: Mito; Folclore; Literatura; Ave; Serpente.

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HISTÓRIAS DE MULHERES E ENCANTADOS NA VÁRZEA AMAZÔNICA

Ádria Fabíola Pinheiro de Sousa (UFOPA)

Resumo: Este trabalho propõe analisar de que maneira o imaginário amazônico interfere na vida das mulheres ribeirinhas da Região do Aritapera, localizada às margens do Rio Amazonas, que tem como sede a cidade de Santarém. Por meio de registros orais das histórias de vida dessas mulheres, pretendemos analisar como o sistema de crença em encantados (sobrenaturais, botos, visagens) e em curadores, pajés, benzedeiras, dentre outros elementos do imaginário amazônico, configuram o espaço e a identidade feminina numa localidade de várzea. Também buscamos entender até que ponto esse sistema de crenças influi no modo de organizar, entender, tomar consciência e, enfim, de se representar como mulher ao narrar para si e para outros suas histórias de vida como uma série de acontecimentos encadeados, nos quais aqueles entes aparecem fortemente ligados a fatos e passagens da vida.

Palavras-chave: Imaginário amazônico; História de vida; Registros orais; Crenças.

SESSÃO 12

Coordenadora: Verônica Prudente

INVESTIGAÇÕES SOBRE O POEMA MUHURAIDA

Débora de Lima Santos (CEST-UEA/FAPEAM) Verônica Prudente Costa (CEST-UEA)

Resumo: O poema épico Muhuraida, escrito por Henrique João Wilkens na segunda metade do século XVIII, é considerado o primeiro poema escrito em língua portuguesa sobre a Amazônia. O poema celebra a “pacificação” e canta o triunfo da fé sobre o gentio Mura, um povo guerreiro e feroz que resistiu à dominação dos portugueses por mais de cinquenta anos até o dia da pacificação milagrosa cantada por Wilkens no épico. Percebe-se que no poema

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38 | Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.

Muhuraida há aspectos formais da obra camoniana Os Lusíadas, por exemplo, o episódio do Mura Velho que remete ao Velho do Restelo, ambos retratam a voz da sabedoria, ou seja, da experiência. O presente trabalho também discute diferentes olhares sobre a pacificação dos Mura no que diz respeito às versões do colonizador e de historiadores que pesquisam a versão do colonizado, como Francisco Jorge dos Santos.

Palavras-chave: Muhuraida; Colonização; Pacificação.

A REPERCUSSÃO DO PENSAMENTO EUROPEU A RESPEITO DO CRIS-TIANISMO NA VIDA DO INDÍGENA: UMA ABORDAGEM COM BASE

NO ROMANCE OS SELVAGENS

Sâmua Menezes Campos Lankford (UFAM)Ligiane Pessoa dos Santos Bonifácio (SEMED-MANAUS)

Resumo: Neste trabalho, analisamos, a partir do romance Os Selvagens, publicado por Francisco Gomes de Amorim em 1875, como o cristianismo, importado do pensamento europeu e principalmente luso, repercutiu profundamente sobre o universo indígena, transmudando seus valores em todas as dimensões, sejam elas culturais, identitárias, econômicas, religiosas etc. Para tanto, tecemos considerações sobre o cristianismo a fim de relacioná-las e/ou aplicá-las a essa obra da literatura amazonense, elencamos episódios da narrativa em que se evidencia a ideia de que o índio é um selvagem e de que a conversão ao catolicismo o “civilizaria”. A maneira como o rito indígena, evidenciado em uma passagem da narrativa, é interpretado pelo narrador da obra justifica-se na perspectiva por ele assumida. No texto, tal perspectiva pode ser identificada através das escolhas linguísticas, evidentes nas expressões de horror e depreciativas que ele utiliza. Quando vemos o índio ficcionalizado no romance, vemo-lo sob as lentes de um narrador aferrado a valores cristãos dos quais não consegue desvencilhar-se, de tal modo que valores alheios tornam-se para ele indiferentes. Assim, o sistema de vida e pensamento tribal é desqualificado, porque os princípios cristãos, inerentes ao narrador e tomados sempre como referenciais, são considerados como melhores ou mais “adequados”.

Palavras-chave: Universo indígena; Cristianismo; Os Selvagens; Valores.

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REPRESENTAÇÕES COLONIAIS, PODER E CONTRADIÇÃO EM CINZAS DO NORTE, DE MILTON HATOUM

Estrela Dalva Amoedo Viotto (UNIR)

Resumo: O objetivo da presente pesquisa em andamento é analisar o modo de ser e agir do sujeito cultural colonial representado no romance Cinzas do Norte, de Milton Hatoum. Partindo da análise do discurso e das teorias pós-coloniais, procuraremos compreender de que modo os lugares de fala revelam a tessitura da rede de relações e como se desenvolve, nessa rede, a prática do poder que envolve as personagens e a sociedade representada na obra, e, então, identificaremos as representações coloniais implícitas nestas relações e práticas no romance. A exploração do tempo da matéria narrada, no que diz respeito aos elementos histórico, social e econômico, nos permitirá contextualizar as contradições provocadas pela modernização em termos de Brasil e de mundo e seus consequentes reflexos no espaço amazônico explorado pela obra, bem como nos ajudará a verificar se há ou não um movimento de descolonização (resistência) por parte dos personagens centrais da obra.

Palavras-chave: Colonialismo; Poder; Contradição; Descolonização.

SESSÃO 13

Coordenadora: Marinilce Oliveira Coelho

CENÁRIOS DA BELÉM DO PÓS-GUERRA NOS CONTOS DE SULTANA LEVY E DE MÁRIO FAUSTINO

Marinilce Oliveira Coelho (UFPA)

Resumo: Este estudo analisa os contos de dois escritores: Sultana Levy Rosenblatt (1910-2008) e Mário Faustino (1930-1962) com o objetivo de verificar a literatura produzida em Belém após a Segunda Grande Guerra Mundial. Os contos foram publicados entre os anos de 1946 a 1952, em periódicos locais e representam documentos importantes para os estudos da história literária no país. Esses contos revelam imagens de faces masculinas e

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femininas angustiadas pelas condições sócio-históricas de um mundo conturbado pelos horrores causados pela guerra. O olhar dos contistas sobre o cotidiano fragmentado nos gestos dos personagens, nos caminhos por onde circulam, nos cenários da capital paraense. Esses autores narraram, então, conflitos, intrigas, traumas de um tempo histórico. Isso dimensiona uma reflexão para os estudos sobre a literatura da Amazônia diante do processo de interpretar o mundo nas dimensões temporais e territoriais.

Palavras-chave: história da literatura; literatura paraense; periódico; conto.

VER-O-PESO: CORAGEM E RESISTÊNCIA NA POÉTICA DE MAX MARTINS

Helenice Silva (UFPA)

Resumo: O presente trabalho visa a apresentar um estudo sobre algumas das características de poesia-resistência como tradução, que supomos encontrar na obra “Ver-O-Peso”, de Max Martins. O poema é aqui entendido como uma manifestação social de coragem e resistência cultural que parece revelada no decorrer de todo o texto em si. Entende-se o poema como uma resistência ao que está predeterminado por uma sociedade capitalista. Segundo as concepções de Bosi em Narrativa e Resistência (2002) e a obra foulcautiana A Coragem da verdade (2008), ocorre uma conexão com a ética do intelectual onde revela seu papel político-social. Em seu texto, Max inscreve o homem do “Ver-O-Peso”, através do lirismo poético, onde revela seu papel ético-político-social numa construção de sentido de sua resistência. É o homem universal que surge, que “é trazido” para na construção do poema, a partir de um ambiente. Quanto à revelação poética, ressignifica, pois, um processo que liga espaço, tempo, língua, cultura, costume e crença, onde ocorre o encontro, o diálogo e a relação entre épocas num determinado tempo histórico. O texto emerge em seus aspectos mais particulares, entre a coragem, resistência e verdade de uma vida, revelada no homem individual e na imagem urbana de uma coletividade.

Palavras-chave: Tradução; Coragem; Resistência; Ver-O-Peso; Max Martins.

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MADAME SAATAN: O HEAVY METAL COMO MEDIAÇÃO SIMBÓLICA ENTRE A PERIFERIA E O CENTRO DO CAPITALISMO

Carlos Rogerio Duarte Barreiros (USP)

Resumo: Madame Saatan, banda de Belém do Pará, acaba de lançar dois videoclipes dirigidos por P.R. Brown, consagrado pelos trabalhos com grandes conjuntos do rock internacional. É peculiar a composição de canções de heavy-metal com letra em língua portuguesa, em versos sem a linearidade adolescente tradicionalmente associada a esse gênero. Além disso, é digno de nota que a banda guarde raízes na Região Norte, povoando a obra de alusões à cultura popular urbana de Belém, sempre confinada e eivada pelos elementos e culturas da floresta, ressignificados quando confrontados com a cultura urbana e a indústria fonográfica. Finalmente, a linguagem visual adotada pelo diretor dos videoclipes permite investigar a obra da banda em duas perspectivas – ambas tentativas bem acabadas, esteticamente, de mediar o conflito entre o gênero oriundo do centro do capitalismo e suas expressões específicas no espaço periférico: de um lado, o ponto de vista da banda, que se reconhece “desterrada em sua própria terra”, na expressão de Sérgio Buarque de Holanda, fazendo rock em cidade delimitada pela floresta, sem prescindir das letras em português e da afirmação dos patrimônios da cultura local e nacional; de outro, a visada de P.R. Brown, cuja percepção daquele conflito permitiu-lhe formular linguagem visual que, longe de adaptar a banda aos modelos estrangeiros, aclimata-os de modo a alçá-la à categoria de banda internacional.

Palavras-chave: Madame Saatan; Canção popular brasileira; Heavy-metal bra-sileiro; Rock brasileiro; Canção independente.

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SESSÃO 14

Coordenadora: Lucila Bonina Teixeira Simões

BIOGRAFEMAS EM LIVROS INFANTIS: ENTRE A PALAVRA ARTE E A PALAVRA INFORMAÇÃO

Lucila Bonina Teixeira Simões (PPGLA-UEA)

Resumo: As obras de literatura infantil apresentam, em geral, elementos paratextuais bastante diversificados, mas verifica-se em livros infantis a recorrência de um paratexto com informações sobre o autor e o ilustrador, muitas vezes com o título: “Sobre o autor” ou, buscando maior proximidade com a linguagem infantil, simplesmente “Quem é Fulano (autor do livro)”. Este trabalho tem como objetivo verificar como esses textos “Sobre o autor”, enquanto registro de certos biografemas da vida do autor, podem revelar muito mais do que dados relevantes do currículo do autor do livro. Tais textos podem proporcionar uma antecipação – tardia do ponto de vista da edição do livro, mas anterior do ponto de vista da criação literária – de dois aspectos fundamentais no desenvolvimento da literatura infantil: a concepção de criança sobre a qual se constrói e a função social atribuída (ou praticada) pelo autor à sua literatura infantil. Os objetos de análise são obras infantis de Elson Farias, autor amazonense que, na última década, publicou mais títulos para crianças no Amazonas. Para efeitos comparativos, escolhemos os textos biográficos da autora Ruth Rocha, por ser em âmbito nacional, das autoras mais conhecidas e mais produtivas da literatura infantil.

Palavras-chave: Literatura amazonense; Literatura infantil; Biografema.

SUPORTE ELETRÔNICO: UMA PROPOSTA DE ARQUIVAMENTO DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL AMAZONENSE

Delma Pacheco Sicsú (UEA)

Resumo: O cenário literário amazonense traz à tona uma questão há muito tempo presente: a não existência da literatura infanto-juvenil no Amazonas, produzida

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por escritores amazonenses. Essa realidade, porém, vem se modificando. Elson Farias, por exemplo, em 2002, lança pela Editora Valer a coleção “Aventuras de Zezé na Floresta Amazônica”, com dez narrativas em que toma como espaço privilegiado a Amazônia, aproveitando desse meio as lendas, os mitos e o modo de viver das pessoas que aqui habitam. Falta, porém, um arcabouço teórico que possa servir de fonte de pesquisa para futuros investigadores dessa literatura. A criação de um arquivo, por meio de suporte eletrônico, é uma alternativa que pode ajudar a criar um suporte teórico, através de guias de leitura e de discussões teóricas. O presente estudo tem o objetivo de discutir a importância do suporte eletrônico para o arquivamento da literatura Infanto-Juvenil produzida no Amazonas, através de análise das narrativas da coleção ora citada. Tomar-se-á como suporte teórico os estudos de Meneses (1999), Colombo (1991) e outros que possam ajudar na elucidação do tema em questão.

Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil; Amazonas; Arquivo; Suporte eletrônico.

O QUE LEEM OS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO NA REGIÃO FRONTEIRIÇA RORAIMA–GUIANA

Joemia Gomes Sarmento (UFRR)

Resumo: Com base na análise parcial de alguns questionários do projeto “Literatura e Ensino em Roraima: O Cânone e a invenção escolar da Amazônia”, fomentado pelo CNPq, surgiu o trabalho fruto de uma iniciação científica que se preocupa em observar o quanto a situação de fronteira implica numa relação diaspórica para estudantes de origem estrangeira em relação à cultura veiculada/ proposta pela escola brasileira, no caso de alunos estrangeiros que residem ou estudam na cidade de Bonfim (fronteira Brasil/Guiana), partindo da pergunta “como e o que leem estes alunos?”, apontando que percurso fazem e o que leem de nossa literatura “nacional” canônica, assim como se em nossas escolas há aulas de literatura.

Palavras-chave: Literatura; Cânone; Ensino; Fronteira; Diáspora.

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SESSÃO 15

Coordenadora: Norma Wimmer

L’EXPOSITION COLONIALE: CONSIDERAÇÕES SOBRE O OLHAR FRANCÊS SOBRE A AMAZÔNIA

Norma Wimmer (IBILCE/UNESP)

Resumo: Em 1988, o romancista francês Erik Orsenna publica L’exposition coloniale, painel de quase um século de história da França representada sob a ótica do protagonista Gabriel, apaixonado pela borracha que descobre, durante sua viagem ao Brasil, a Amazônia. Chegando a Belém em outubro de 1913, Gabriel vivencia a “magia” da paisagem amazônica, testemunha a admiração dos habitantes locais pelo positivismo de Comte, convive com o declínio da economia da região em decorrência da queda do valor do látex nos mercados internacionais e é atingido por profunda depressão após a partida da companheira Clara, para quem viver tão longe da Europa e tão próximo à selva configurou-se uma experiência insuportável. O romance de Orsenna apresenta, notadamente nos capítulos intitulados Um amor de Gabriel, Anotações da floresta pluvial e Futebol, considerações acerca de questões de identidade, de intertextualidade, das relações história-ficção, captando o olhar “estrangeiro” sobre a Amazônia através de imagens que registram o estranhamento do encontro do eu com o outro, do centro com a periferia. Finalmente, o objetivo da comunicação a ser apresentada é o de apontar reflexões fundamentadas teoricamente sobre textos de T. Todorov, Jenny Laurent, Maria Teresa de Freitas acerca do olhar de um escritor francês do século XX sobre a Amazônia.

Palavras-chave: Orsenna; L’exposition coloniale; Amazônia; Identidade. Inter-textualidade.

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O ALTO-JURUÁ DE TASTEVIN E PARRISSIER: REFLEXÕES COMPARATIVAS SOBRE OS RELATOS, AS VIAGENS E A

OCUPAÇÃO DO RIO

Camila Bylaardt Volker (UFAC/UFMG)

Resumo: O presente trabalho faz reflexões comparativas sobre dois relatos de viagem à região do Alto-Juruá, o relato de Jean-Baptiste Parrissier, de 1898, e o de Constant Tastevin, de 1914. Os missionários espiritanos visitaram a região para “reconhecer” os caminhos que a fé católica ali tomava. Os relatos foram remetidos à Congregação do Espírito Santo e são documentos importantíssimos que retratam – mesmo que parcialmente – como vivia a população local. O objetivo do trabalho é perceber quais os métodos que os autores utilizam para descrever suas andanças, de modo a compreender a relação que os viajantes estabelecem com o espaço e com a população local. Mesmo utilizando métodos diferentes, os relatos de Tastevin e Parrissier representam um imaginário semelhante da Amazônia e de seus habitantes. Inspirado nas teorias de Roland Barthes (O Efeito de Real) e Mikhail Bakhtin (O Romance de Educação e sua importância na história do Realismo), o trabalho analisa nos textos as características do gênero relato de viagem, o posicionamento dos narradores e os elementos da narrativa, para refletir sobre como os relatos dessas viagens descrevem importantes processos de formação de um povo, de um local e, até mesmo, de um imaginário literário.

Palavras-chave: Relato de viagem; Parrissier; Tastevin; Acre; Rio Juruá.

CÔNSUL ROGER CASEMENT NO BRASIL DE EUCLIDES DA CUNHA

Freddy Orlando Espinoza Cárdenas (CESTB-UEA)

Resumo: Este trabalho tem o propósito de refletir sobre o período de serviço consular de Roger Casement no Brasil, através da sua correspondência brasileira recopilada pelo professor Angus Mitchell, nos arquivos da National Library of Ireland. Seu objetivo: construir, ou devanear, um itinerário de sua missão diplomática em Santos, Belém do Pará e Rio de Janeiro, entre 1906 e 1909, a fim de oferecer um ensaio narrativo sobre as ações mais significativas

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que Casement fez em terras brasileiras. Assim como também desvelar a relação que teve com Euclides da Cunha que, já em 1905, havia denunciado a triste condição humana dos nordestinos brasileiros, que, por sua condição de presos nos seringais, estariam pagando esse grande pecado: o de ter abandonado o Sertão, o de ter mudado da civilização à barbárie, em prol de uma ilusória fortuna. Além de vincular os ensaios de Euclides sobre a Amazônia com os relatórios amazônicos de Roger Casement.

Palavras-chave: Literatura; História.

SESSÃO 16

Coordenadora: Maria Lúcia Tinoco Pacheco

DO CHOCOLATE À GOMA, DAS VAZANTES ÀS CHEIAS, UMA LEITURA SÓCIO-HISTÓRICA DA AMAZÔNIA A PARTIR DA PROSA FICCIONAL

DO NORTE PRODUZIDA ENTRE 1850 E 1930

Maria Lúcia Tinoco Pacheco (PPGSCA-UFAM)

Resumo: Com métodos próprios como História da Literatura, Crítica Literária, entre outros, a Literatura vem possibilitando debates que compreendem as relações com o sistema literário, bem como com aquelas relacionadas à questão contextual e sociológica. Partindo-se deste novo cenário, o trabalho que ora se constitui busca, em uma perspectiva qualitativa, produzir uma leitura da Amazônia, em seus aspectos históricos, sociológicos e literários, tomando a literatura como método principal de análise. Neste sentido, o corpus do trabalho relaciona-se a obras publicadas entre 1850 e 1930 e ligadas aos ciclos econômicos historicamente apontados na história da Amazônia, assim como aqueles que sempre fizeram parte da vida de seus habitantes como o regime das águas. Além desta questão, ressalta-se ainda que embora muitos estudos tenham sido feitos sobre o lócus amazônico, há ainda lacunas referentes a sua história cultural em perspectiva literária, fato pelo qual o texto poderá contribuir sobremaneira.

Palavras-chave: Literatura; Amazônia; Ciclos Econômicos.

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O PROJETO LITERÁRIO AMAZÔNICO DE ALBERTO RANGEL

Rafael Voigt Leandro (UnB)

Resumo: Há um sentido estrito de projeto literário nos contos amazônicos de Alberto Rangel. Embora seja relativamente conhecido e estudado seu Inferno Verde: cenas e cenários do Amazonas (1908), é praticamente destituída de recepção literária sua contraparte, Sombras n’água: vida e paisagens no Brasil equatorial (1913). Alinhada ao positivismo e naturalismo de sua época, a tendência infernista da prosa rangeliana demonstra rumos possíveis da literatura brasileira no início do século 20. Seu projeto literário possui forte vinculação com a obra “vingadora” e inconclusa Um paraíso perdido, de Euclides da Cunha, além de À margem da história e outros escritos amazônicos euclidianos. Muitos traços podem ser apontados para a caracterização dessa prosa de Rangel no que tange a três grandes eixos temáticos: natureza, etnografia e conflitos histórico-econômicos. Dentro dessas perspectivas, o positivismo-naturalismo de Inferno Verde e Sombras n’água revela um narrador em atitude dialética com a tradição histórico-científica e cultural da região, bem como com os limites definidores da identidade nacional de ascendência amazônica, sem desconsiderar a encruzilhada histórica armada pelo auge do Ciclo da Borracha e pela política da primeira república nas cidades do Norte.

Palavras-chave: Alberto Rangel; Inferno Verde; Sombras n’água; Projeto lite-rário amazônico.

CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DE RONDÔNIA, NA DÉCADA DE 80, ATRAVÉS DO ROMANCE DE OURO E DE AMAZÔNIA

Neila da Silva de Souza (UNIR)

Resumo: A presente comunicação apresenta o romance De ouro e de Amazônia, de Oswaldo França Júnior, sob a perspectiva de expor a exploração de garimpo em Rondônia na década de 1980. Escrito em 1989, o romance tem como fio condutor o protagonista Adailton que deixa sua terra natal em busca de riqueza fácil e rápida. Encontramos uma personagem inquieta que se desloca de um lugar para outro. Desses trajetos, surge a relação homem e sociedade. Começa,

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48 | Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.

então, uma busca por identidade na sociedade. Isso faz com que haja conflitos internos, passando a refletir sobre a existência humana. Os movimentos da personagem, ou as descrições do ambiente conduzem o leitor na apreensão dos cenários compostos por Porto Velho, Abunã, Vilhena, entre outros. O garimpo pode ser representado, comparando os empecilhos vivenciados por Adailton e sua sobrevivência com os vários brasileiros que saíram, e saem de seus estados em busca de fortuna ligeira, e por melhores condições de vida enfrentam os perigos das matas, escavações profundas dos rios, a distância da família, e nem sempre conseguem alcançar seus objetivos.

Palavras-chave: Garimpo; Rondônia; De ouro e de Amazônia.

SESSÃO 17

Coordenadora: Telma Borges

ENCONTROS CULTURAIS: UMA REFLEXÃO SOBRE A LITERATURA DE MILTON HATOUM E A DE GABRIEL GARCÍA MARQUEZ

Telma Borges (Unimontes)

Resumo: Este trabalho objetiva, a partir de Dois irmãos, de Milton Hatoum, e Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, analisar a atuação dos filhos bastardos dessas narrativas. De que modo suas identidades são compreendidas como uma alegoria da América Latina – Brasil e Colômbia – em contraponto àquela imposta pelo colonizador. No emaranhado das culturas brasileira, indígena e árabe, nasce Nael, personagem-narrador de Dois irmãos, que busca a identidade paterna, negada pela mãe e por ele também. Esse curumim herda o nome árabe do bisavô paterno, mas opta por sua condição bastarda, fazendo seu relato nascer como um discurso não legitimado, sem a assinatura do pai. Em Cem anos de solidão, a bastardia condiciona o aparecimento de pergaminhos escritos em línguas impenetráveis, somente decifrados por aquele que, colocado à margem, busca algum sinal que possa indicá-lo como agente de uma história que deseja ver recontada e na qual não esteja relegado ao porão, devendo figurar, portanto, no mesmo plano dos “donos” da História. A voz do bastardo, portanto, emerge como resultado da transculturação. Com ela, pode

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Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.| 49

contar as versões não-oficiais de sua história. A partir dessas vozes pretende-se problematizar quando foi e se existiu o pós-colonial na América Latina.

Palavras-chave: Milton Hatoum; Gabriel García Marquez; Pós-colonial; Trans-culturação; Alegoria.

EL ZORRO DE ARRIBA Y EL ZORRO DE ABAJO, DE JOSÉ MARÍA ARGUEDAS: RESGATE DE UMA UTOPIA ARCAICA OU REVELAÇÃO DE

UMA TOTALIDADE CONTRADITÓRIA E HETEROGÊNEA?

Juliana Bevilacqua Maioli (UNIR/ UNESP)

Resumo: O trabalho propõe discutir o embate entre divergentes leituras críticas elaboradas pelos intelectuais Mario Vargas Llosa e Antonio Cornejo Polar a respeito do romance El zorro de arriba y el zorro de abajo, de José María Arguedas. Publicada em 1971, a obra ficcionaliza as transformações sócio-econômicas experimentadas pelo Peru, a partir da metade do século XX, motivadas principalmente pelo intenso fluxo migratório que rapidamente promoverá a urbanização do país. Ambientado em Chimbote, o relato revela a edificação de um novo mundo sobre as bases do capitalismo consumista e do individualismo. Logo, o romance objetiva representar o futuro da cultura andina/quéchua em meio às demandas da modernização implementadas no território peruano. O universo ficcional tecido na narrativa suscita diferentes apreciações críticas. De um lado, Vargas Llosa assinala a perspectiva reacionária de El zorro... que, ao refletir os sofrimentos do Peru e dos demais países latino-americanos, tende a ressuscitar o arcaísmo da cultura incaica em uma utopia literária, hostil ao desenvolvimento industrial e a modernização do país. No pólo oposto, Cornejo Polar busca enfatizar, por meio da constatação da presença do sujeito migrante, o caráter inovador do romance, segundo ele, capaz de representar a totalidade contraditória e heterogênea da cultura peruana.

Palavras-chave: El zorro de arriba y el zorro de abajo; Mario Vargas Llosa; Utopia arcaica; Antonio Cornejo Polar; Sujeito migrante.

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ESCREVER, RELEMBRAR E ESQUECER: O CICLO ARGUEDIANO

Isadora Xavier (UEA)

Resumo: No romance Los ríos profundos, de José María Arguedas, o protagonista, Ernesto, sofre por não estar inserido em um campo cultural preciso. O menino branco com criação e formação indígena possui também traumas familiares relacionados ao abandono de sua mãe, sua educação mestiça e, principalmente, a conturbada relação com seu pai. A respeito desta relação, sabe-se que José Maria Arguedas faz uma possível releitura de sua vida, já que, assim como Ernesto, foi também órfão, que pelo falecimento de sua mãe e a desatenção de seu pai, buscou refúgio e cuidados aproximando-se dos índios da serra peruana. A análise proposta é, primeiramente, a de descobrir, na obra em questão, até que ponto sua literatura pode funcionar como um espelho de sua experiência, tanto relacionada à infância, quanto ao trauma existente por sua nacionalidade fragmentada devido à mescla cultural que sofreu ainda em seus primeiros anos de vida. Em seguida, pretende-se analisar como esta rememoração, proposta por Arguedas ao escrever o romance, sugere que a reconquista de seu passado esteja fortemente ligada ao poder lírico do romance, e que a forma como constrói essa memória de seu passado ultrapasse o limite ficcional de Los ríos profundos.

Palavras-chave: Arguedas; Los ríos profundos; Transculturação.

SESSÃO 18

Coordenadora: Débora Renata de Freitas Braga

NOTAS SOBRE UMA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DE AMAZÔNIA EM PORTUGAL: FERREIRA DE CASTRO

Débora Renata de Freitas Braga (PPGLA-UEA)

Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo investigar de que maneira foi construída uma imagem de Amazônia em Portugal. Para isso, elencamos o escritor português Ferreira de Castro, cuja apreciação pela temática amazônica nas narrativas A Selva e O Instinto Supremo garantiu-lhe um lugar tanto nas

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Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.| 51

letras lusas quanto nas brasileiras. Especialmente a partir da leitura dos ensaios de Hernâni Cidade e Fernando Cristóvão escritos em homenagem ao autor, problematizaremos a respeito da recepção desta imagem de Amazônia criada no texto literário e interpretada pela crítica, discutindo as questões de identidade e o conceito de comunidade lusófona. Pretendemos, desta forma, investigar se há vestígios de dominação cultural de Portugal em relação à Amazônia na interpretação realizada sobre a obra castriana.

Palavras-chave: Ferreira de Castro; Amazônia; Portugal; Literatura; Crítica literária.

EXPERIÊNCIA E SIMBOLO: FIGURAÇÕES DO RIO-MAR NO IMAGINÁRIO POÉTICO LUSÓFANO

Renir Reis de Oliveira (CESP/UEA-PAIC)

Resumo: O encontro dessas poéticas das águas foi promovido a tema para a formação de uma linha de pesquisa que se voltasse para literatura comparada e para as poéticas do espaço. A partir das poéticas de Elson Farias, poeta amazonense, e Sophia de Mello Breyner Andresen, poetisa portuguesa, este projeto estende-se além mar e quer analisar as figurações do rio-mar numa atitude comparatista na poética cabo-verdiana e moçambicana, espaços privilegiados da cultura de língua portuguesa, espaço, portanto, lusófono. Este projeto é uma iniciativa de introdução de trabalho para a Cátedra Amazonense de Estudos Literários (UEA), articulado à linha de pesquisa de literatura e história, cuja meta é estabelecer pontos conceituais entre as literaturas da mesma língua. Escolhemos esse tema porque reúne e sintetiza grandes fulcros da poética do espaço e da viagem na poesia desses autores, pela presença permanente do mar com todos os seus mundos, vivências, metaforizações e alegorizações, viagens, espantos e espera. Como motivo maior da pesquisa espera-se ampliar o estudo das figurações do Rio-Mar no imaginário poético lusófono, principalmente as poéticas de Cabo Verde e Moçambique, numa atitude comparatista, a partir dos estudos sistematizados nas poéticas de Elson Farias, poeta amazonense, e Sophia de Mello Breyner Andresen, poeta portuguesa.

Palavras-chave: Lusofonia; Figurações; Mar; Poética; Imaginário.

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CIDADES LÍRICAS: A MEMÓRIA ERGUE AS RUÍNAS DE MANAUS E LISBOA, EM LUIZ BACELLAR E AL BERTO

Fadul Moura (UFAM)

Resumo: Muito embora Manaus e Lisboa façam parte de culturas distintas, uma conexão entre ambas se torna possível através das representações criadas pelo poeta brasileiro, de naturalidade amazonense, Luiz Bacellar, e pelo português Al Berto. Tanto em Frauta de barro (1963) como em Horto de incêndio (1997), as cidades são representadas com a mesma imagem: a das ruínas. Este trabalho se propõe a analisar a edificação dessas cidades e estabelecer seu eixo comunicante. Para tanto, o conceito de memória de Walter Benjamin e as considerações sobre a cidade de Renato Cordeiro Gomes serão importantes. É, pois, no intervalo entre a cidade e a memória que há o sujeito, capaz de não somente configurar os seus significados, como também de as unir.

Palavras-chave: cidade; memória; ruínas; Luiz Bacellar; Al Berto.

SESSÃO 19

Coordenadora: Maisa Navarro

DESLOCAMENTO E (RE) CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA: UMA LEITURA DE RELATO DE UM CERTO ORIENTE, DE MILTON HATOUM

Maisa Navarro (UFPA)

Resumo: O romance de Milton Hatoum inscreve-se no espaço geográfico de Manaus e apresenta-se como um relato curioso da experiência do hibridismo cultural brasileiro que se deu no Norte do Brasil, quando da chegada de imigrantes, no início do século XX. Provenientes de vários países do mundo e, como ilustra o livro de Hatoum, também do Líbano, os imigrantes tornaram-se força de trabalho na fundação da sociedade brasileira, influenciando hábitos sociais e culturais. Ao longo da história, no Brasil se misturaram raças, crenças, religiões e comidas, compondo o “caldeirão de culturas”, e a relação espaço-identidade passou a se confundir com a busca da felicidade. Atrelado à história

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familiar, no romance de Hatoum o individuo está à procura de si mesmo e do outro. O presente trabalho se propõe a analisar a noção de deslocamento evocada no romance, bem como o hibridismo cultural, elemento fundador que marcou a formação do povo brasileiro. Também se pretende refletir a dinâmica narrativa que envolve a descoberta dos personagens, sua importância na reconstrução da memória em uma casa de sotaques múltiplos, em que vozes e atitudes subjetivas se entrecruzam.

Palavras-chave: imigração, cultura, identidade.

IDENTIDADES CRUZADAS: UMA LEITURA DA OBRA CIDADE ILHADA DE MILTON HATOUM

Maria Alice Sabaini de Souza (UNIR)

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar, a partir da perspectiva do narrador, questões referentes à cultura e à identidade desenvolvida na literatura manauara. Para tanto, utilizaremos a obra Cidade Ilhada, do escritor Milton Hatoum, como corpus dessa pesquisa. Nessa obra, o autor contextualiza a maioria de seus contos em Manaus. No entanto, o fato de o espaço físico onde as estórias se passam ser o mesmo, a cultura e a identidade de muitas das personagens não é homogênea, na medida em que em um mesmo conto, como é o caso de “uma estrangeira em minha rua”, é possível verificar a presença de três culturas numa mesma casa, já que a personagem Lyris vive imersa na miscigenação cultural, pelo fato de residir em Manaus e ser filha de uma peruana e de um inglês ou irlandês. Nesse sentido, observa-se que nos contos em que há um hibridismo cultural, uma nova identidade se projeta no individuo que interage com cultura manauara.

Palavras-chave: Cultura; Identidade; Literatura; Milton Hatoum; Cidade Ilhada.

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54 | Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.

ARQUEOLOGIA DA MEMÓRIA: ENTRE CIDADES E CINZAS

Cristiana Mota (PPGLA-UEA)

Resumo: O que se convém chamar de pós-modernidade lega ao homem a fragmentação identitária, a sensação de incompletude e marca uma intensa problematização acerca do conceito de história, reconstituída constantemente por meio da memória e do arquivo. A literatura, enquanto expressão humana, é um viés usado para se refletir sobre a desconstrução e reconstrução da História. Nesse processo, as narrativas do escritor Milton Hatoum permitem-nos uma abordagem crítica sobre o tema, uma vez que a matéria usada para estruturá-las, baseia-se no jogo entre memória, história e ficção. Diante disso, este artigo propõe analisar as obras Cinzas do norte e dois contos de A cidade ilhada, sob o prisma da concepção de narrador proposta por Walter Benjamin e a partir da ideia de arquivo proposta por Jacques Derrida. Com isso, objetiva-se perscrutar a escrita de Hatoum em busca do lugar do arquivo e da memória na formulação dos discursos histórico-literários.

Palavras-chave: Memória; Arquivo; Cinzas do Norte; A cidade ilhada.

SESSÃO 20

Coordenador: Yomarley Lopes Holanda

O BOI-BUMBÁ DE FONTE BOA (AM) OU DE COMO A CIDADE QUE O BARRANCO LEVOU SE ENCENA NA SUA CULTURA POPULAR

Yomarley Lopes Holanda (UEA)Manoel Domingos de C. Oliveira (UEA)

Resumo: A Amazônia vem sendo o centro dos discursos representacionais contemporâneos, sobretudo, no que diz respeito à preservação sustentável do meio ambiente e de seus recursos naturais. São esses discursos e imagens que têm sido redimensionados pelas festas populares no interior da Amazônia, enquanto fontes de atração para os visitantes, configurando-se em alternativas econômicas interessantes onde a exotização dos elementos humanos e naturais

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Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.| 55

regionais serve de matéria-prima para tais expressões. Fonte Boa - AM, 322 anos de história, é o palco de uma manifestação sociocultural que remonta a meados do século XX: a brincadeira do boi que ao longo do tempo passou pelos terreiros e quintais, pátios de escolas até chegar à arena. A pesquisa que alicerça as reflexões deste artigo parte de um estudo etnográfico sobre esta festa popular que congrega e movimenta um conjunto de instituições sociais, demonstrando formas de produção artística diversas, chamando a atenção as suas continuidades e simbolizações.

Palavras-chave: Cultura Popular; Boi-bumbá; Fonte Boa.

A IDENTIDADE SATERÉ-MAWÉ NAS TOADAS DE BOI BUMBÁ

Josy Magno de Deus e Silva (CESP-UEA/PAIC)

Resumo: Este trabalho visa registrar traços culturais do povo Sateré-Mawé encontrados nas toadas de boi bumbá investigar de que forma é contada a história dessa etnia nas obras supracitadas, tendo em vista o conhecimento repassado por essas composições, bem como o estudo para tal produção. Porquanto, a reprodução dessas toadas implica uma exploração teatral, o registro dessa pesquisa almeja oferecer conhecimento científico desse grupo étnico e marcar dados relativos à literatura local. O estudo está referenciado em Demo (2009); Laraia (2001); Marconi (2007); Nogueira (2008); Silva (2009); Silva (2000) Somanlu (2002); Valentin (2005), Ribeiro (2010) e outros. Na metodologia, a natureza é qualitativa. Tem-se pesquisa bibliográfica pelo embasamento nos estudiosos da área abordada. Os métodos de procedimentos são o estudo de caso, analisando minuciosamente as toadas de boi bumbá. Portanto, este mote busca a valorização e afirmação da cultura local, no âmbito da toada de boi bumbá, e indígena, Sateré-Mawé.

Palavras-chave: Identidade; Sateré-Mawé; Boi Bumbá; Cultura; Literatura.

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TOADA DO BOI BUMBÁ DE PARINTINS: A VALORIZAÇÃO CULTURAL DA IDENTIDADE DE UM POVO

Cláudia Célia Duarte de Souza (PAIC/UEA-CESP)

Resumo: Este trabalho apresenta parcialmente o resultado da pesquisa cujo tema é “Toada do Boi Bumbá de Parintins: a valorização cultural da identidade de um povo”. A pesquisa tem o propósito de investigar como é contada a história do povo parintinense na toada de boi bumbá, vislumbrando o conhecimento transmitido pelas composições, bem como o estudo para tal produção, pois a repercussão dessas produções sugere uma exploração teatral a ser encenada a céu aberto, tornando-se um material rico e acessível, podendo até ser explorado em diferentes contextos de aprendizagem. Nesta perspectiva o estudo tem como referência: Demo (2009); Laraia (2001); Marconi (2007); Monteiro (2004); Nogueira (2008); Silva (2009); Somanlu (2002); Valentin (2005) e outros. A natureza da pesquisa é qualitativa; o método de abordagem é o dialético e de procedimento é o estudo de caso. O universo da pesquisa são as toadas do Boi Bumbá de Parintins. O estudo tem relevância científica pela importância e utilização da mesma para ser retratada a identidade cultural de um povo.

Palavras-chave: Toada; Literatura; Cultura; Boi Bumbá; Identidade.

SESSÃO 21

Coordenadora: Carla Monteiro de Souza

NARRATIVAS ORAIS: A ARTE VERBAL TRADUZIDA PELAS VOZES DE NARRADORES INDÍGENAS

Maria Georgina dos Santos Pinho e Silva (UERR/UFRR)Carla Monteiro de Souza (UFRR)

Resumo: As narrativas orais são marcadas por fragmentos de textos pertencentes ao passado e estão imbricadas na própria origem do homem, apresentando saberes que dão significados à vida atual. Por serem desvalorizadas

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Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.| 57

socialmente em relação ao texto escrito, buscamos nas vozes poéticas dos narradores indígenas da Comunidade São Jorge-RR, conhecer e desvendar os segredos das histórias orais presentes na memória dos narradores. Para tanto, este trabalho que é parte da pesquisa sobre as narrativas orais da Comunidade São Jorge, localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol – Roraima, vinculada ao Programa de Pós- Graduação em Letras (UFRR), busca perceber os rastros identitários nas narrativas orais, com a finalidade de verificar como a narrativa concorre para a propagação de práticas culturais à nova geração. Por trabalhar com a oralidade, registrando as lembranças dos narradores que são coletivamente compartilhadas, adotei os procedimentos metodológicos da história oral.

Palavras-chave: Narrativa oral; Narrador; Cultura; Comunidade Indígena.

A POÉTICA-POLÍTICA DE UM CANTO DA TUCANDEIRA

Mário Geraldo Rocha da Fonseca (UFMG)

Resumo: O artigo desenvolve a noção de “esperto” a partir do canto a “Origem da Tucandeira”, colhido por Nunes Pereira, na década de 40 do século passado, e ainda hoje executado nas comunidades sateré-mawé, tanto das áreas dos rios Marau e Andirá (Amazonas), quanto naquelas instaladas nas cidades de Maués, Iranduba e Manaus entre outras. Para tanto, faz um percurso histórico dos sateré-mawé, mapeando a presença deles em registros da história cultural da Amazônia, de modo a observar a capacidade que aquele grupo indígena demonstrou para estreitar o contato com índios de outros grupos e com a população não-indígena. A capacidade de fazer deslocamentos com relativa frequência, que é notado pelos historiadores da Amazônia indígena, merece registro ainda mais contundentes por parte de pesquisadores interessados em analisar o processo identitário dos chamados índios urbanos. O conceito de “esperto”, portanto, torna-se uma ferramenta interessante para verificar como um ritual tão antigo, como é o caso da Tucandeira, demonstra uma grande capacidade plástica de dialogar com as mais variadas situações pelas quais os sateré-mawé têm passado ao longo da sua aventura histórica e sócio-cultural.

Palavras-chave: Esperto; Ritual da tucandeira; Poética/política.

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58 | Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.

A PERFORMANCE E A MEMÓRIA DO NARRADOR ORAL SATERÉ-MAWÉ

Dilce Pio Nascimento (UEA/PPGLA-UEA)

Resumo: No presente artigo, pretende-se analisar e refletir sobre a performance do narrador das narrativas orais dos índios Sateré-Mawé, do Baixo Amazonas, numa perspectiva literária. Para dar sustentabilidade a essa análise, estabeleceu-se um diálogo entre dois autores: Paul Zumthor e Walter Benjamin. O primeiro, por ser um dos mais conceituados estudiosos de literaturas orais, apresentando uma ampla discussão em torno da performance do narrador oral; e o segundo, por analisar aquele que seria o narrador por excelência, no que se refere à maneira de contar histórias, ao se aproximar dos narradores das tradições orais. Uma das estratégias do narrador oral está mo modo de narrar, pois, ao utilizar o complexo e dinâmico processo entre a voz e o corpo elucida um enunciado vivo, cheio de digressões, levando os ouvintes para um tempo distante, fazendo uma longa viagem pelos meandros da memória que re-cria a história, aconselhando-os a fim de que o grupo social continue unificado e vivo, dessa forma, valoriza sua cultura para que outras gerações não deixe que essa prática, de narrar suas crenças e costumes, caia no esquecimento.

Palavras-chave: Performance; Memória; Narrador oral; Sateré-Mawé.

SESSÃO 22

Coordenadora: Rita Barbosa de Oliveira

MITOS DA AMAZÔNIA NA PERSONAGEM DE JOANA, DE GALVEZ, IMPERADOR DO ACRE

Rita Barbosa de Oliveira (UFAM)

Resumo: Nesta comunicação, será apresentado o modo como o narrador-personagem do romance Galvez, imperador do Acre (1976), de Márcio Souza, reconstrói alguns mitos da Amazônia, tais como as icamiabas, Jurupari e Ajuricaba, por meio da personagem Joana, levantando questionamentos sobre

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Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.| 59

a mitologia e a historiografia da mencionada região, recolocando em discussão o choque entre a cosmogonia dos primeiros habitantes do território amazônico e a dos colonizadores. Emprega-se como fundamentação teórica a polifonia poética de Mikhail Bakhtin, na qual se verificam, dentre outras, as categorias da estilização e da carnavalização. Este estudo integra a linha de investigação Prosa de ficção do Grupo de Estudos e Pesquisas em Literaturas de Língua Portuguesa (GEPELIP).

Palavras-chave: Galvez, Imperador do Acre; Romance.

AMAZÔNIA: MITOS E MEMÓRIA

Mônica Vieira (UFPA)

Resumo: Este trabalho visa pesquisar, estudar e compreender os mitos amazônicos presentes em comunidades indígenas afetadas pela construção de hidrelétricas, tendo estes mitos como representantes da formação da memória e da identidade das comunidades escolhidas para esta pesquisa, e reconhecer tal representação cultural como portadora de significados explícitos e implícitos para a comunidade e seus indivíduos. O tema do estudo dos mitos tem ganhado maior atenção e reconhecimento em decorrência da valorização dos estudos das representações culturais das comunidades, por isto, justifico minha escolha pretendendo agregar conhecimento a esta área de pesquisa que visa aprofundar conhecimento no que diz respeito ao imaginário, ao simbólico e à formação da memória e identidade de uma comunidade.

Palavras-chave: Mitos; Memória; Identidade.

ASPECTOS TRÁGICOS E MITOLÓGICOS EM A PAIXÃO DE AJURICABA DE MÁRCIO SOUZA E ECOS DO MITO DE REI ARTUR

Mary Ellen Rivera Cacheado (PPGL-UFAM)

Resumo: Neste artigo, fazemos uma análise dos aspectos trágicos e mitológicos da peça A Paixão de Ajuricaba do autor amazonense Márcio Souza.

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Como embasamento teórico, usamos principalmente as obras Poética de Aristóteles, Mito e Realidade de Mircea Eliade e Amazônia: mito e literatura de Marcos Frederico Krüger. Nesse artigo, encontramos alguns pontos de convergência entre a tragédia de Márcio Souza e a tragédia clássica, assim como algumas rupturas. Analisamos também alguns aspectos mitológicos da peça e encontramos alguns mitos locais, assim como ecos do mito longínquo de Rei Artur.

Palavras-chave: Tragédia grega; Mito; Herói; Rei Artur.

SESSÃO 23

Coordenador: José Luiz Foureaux de Souza Júnior

CHUVA BRANCA: TRAVESSIA AMAZÔNICA

José Luiz Foureaux de Souza Júnior (UFOP)

Resumo: O presente trabalho apresenta leitura do romance amazonense de autoria de Paulo Jacob, na perspectiva comparatista. O contraponto da comparação é Grande sertão: veredas. Ambos, de certa forma propiciam visão ficcional de ambiências naturais, cada um em sua região de “origem”. Trata-se de articulação interpretativa de alguns índices textuais, sem o menor desejo de esgotar as possibilidades hermenêuticas oferecidas por ambos os textos. A linguagem de ambos, sustentáculo de discursos próximos – no que diz respeito à construção do relato ficcional –, é o ponto de fuga dos apontamentos apresentados na busca de construir um horizonte de expectativas comum entre as duas obras.

Palavras-chave: Comparatismo; Leitura; Linguagem; Discurso.

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A AMAZÔNIA ILUSTRADA: O QUE SE CAMUFLA POR ENTRE O VERDE D’A SELVA

Adriana Aguiar (UFAM/FAPEAM)

Resumo: Um passeio pelas pinturas no interior do Teatro Amazonas ou pelas quase mil obras da Pinacoteca do Estado revelam os muitos olhares que artistas lançaram sobre a Amazônia. Por mãos de estrangeiros e brasileiros, o espaço toma a forma de um colorido mosaico de percepções. As temáticas que permeiam essas imagens são quase sempre providas de um imaginário construído pelo europeu e intensificado pelos diferentes e reforçados conceitos que se lançavam sobre a região, fundando o que se pode chamar de uma tradição imagética da Amazônia. Não raramente, a extensa área localizada ao norte da América do Sul é arquivada como selva, como massa verde, camuflando realidades subjacentes no interior do ecossistema. Quando tais imagens são produtos do texto literário, que Amazônia é metaforizada? São questionamentos como este que se desejam problematizar nesse artigo. Partindo das relações entre literatura e pintura, buscar-se-á analisar a Amazônia ilustrada no romance A Selva, especificamente nas edições de 1939, encomendada por Roberto Nobre, e de 1955, realizada por Cândido Portinari. Dessa forma, pensa-se não apenas a relação de fidelidade entre os contextos semióticos, mas, sobretudo, as relações entre os efeitos que o texto literário efetua no pintor, e ambos (literatura e pintura), no leitor.

Palavras-chave: Amazônia; Literatura; Pintura; A Selva.

VOZES SILENCIADAS: NARRATIVAS DE MILTON HATOUM E MIA COUTO EM DIÁLOGO

José Benedito dos Santos (PPGL-UFAM)

Resumo: Por meio desta comunicação pretendemos realizar a intertextualidade entre a obra de Milton Hatoum e a de Mia Couto, especialmente, nos aspectos do silenciamento a que a mulher é obrigada no sistema social em que vive, fazendo a reflexão sobre sua condição e procurando compreender o lugar que a mesma ocupa nessa sociedade, bem como, ao mesmo tempo, mostrar que há uma forma de resistência nas duas narrativas à dominação colonial. Para

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62 | Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.

isso, temos como objetos de análise a personagem Anastácia Socorro da obra Relato de um certo Oriente (1989), do primeiro autor, e Miserinha de Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (2003), do segundo. O suporte teórico empregado será a concepção de Mikhail Bakhtin sobre o dialogismo.

Palavras-Chave: Milton Hatoum; Mia Couto; Literaturas em Língua Portuguesa; Dialogismo.

SESSÃO 24

Coordenador: José Denis de Oliveira Bezerra

LITERATURA AMAZÔNICA: IDENTIDADES, PRODUÇÃO E RECEPÇÃO

José Denis de Oliveira Bezerra (PPHIST/UFPA- UEPA)

Resumo: Falar de literatura de expressão amazônica é um grande desafio, e em muitas vezes já se tornou algo enfadonho, pois acredito que tal discussão deve ter outros rumos, não que ela deva ser esgotada, mas que o campo das reflexões se amplie ou até mesmo seja (re) descoberto. Não se objetiva aqui criar novos paradigmas, mas refletir sobre os conceitos de literatura, de Amazônia e do que chamamos, na contemporaneidade, de práticas culturais artísticas, focando a arte literária. Penso que ao falar das questões pertinentes à produção literária na Amazônia, devemos destacar três questões: a produção, o produto e a recepção. Baseio-me na análise de Antonio Cândido, em a Formação da Literatura Brasileira, quando define a literatura enquanto sistema, distinguindo, a partir do Neoclassicismo, a literatura de manifestações literárias. Candido pensa a literatura enquanto elemento orgânico da civilização, e que há elementos de natureza social e psíquica que se manifestam historicamente. Assim, este trabalho pretende refletir a identidade literária amazônica a partir da produção e da recepção.

Palavras-chave: Literatura; Amazônia; Produção; Recepção.

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NOTAS SOBRE A PRIMEIRA FASE DA FORTUNA CRÍTICA DE THIAGO DE MELLO

Pollyanna Furtado Lima (UFAM)

Resumo: Este estudo apresenta aspectos da primeira fase da fortuna crítica de Thiago de Mello. Após o levantamento geral dos textos críticos sobre a obra do poeta, decidiu-se adotar como corpus de análise apenas aqueles produzidos de 1951 a 1960. Parte do material de análise foi encontrada na segunda edição do Vento Geral; a outra foi descoberta em bancos de dados, bibliotecas, acervos particulares sob domínio público. Como pressuposto teórico, emprega-se os conceitos discutidos por Pascale Casanova, em A República Mundial das Letras, que analisa a tensão nas relações entre autor e crítico, as noções de literatura (nacional e universal) e as dificuldades comuns à grande parte dos escritores para se impor no espaço literário. Em função da natureza da pesquisa, fez-se necessário o histórico dos diferentes perfis da crítica brasileira presente nos estudos de Afrânio Coutinho, Antonio Candido e Flora Süssekind. Como resultado da coleta e seleção de dados, constam as críticas de Álvaro Lins, Emanuel de Moraes, Gilberto Freyre, Sérgio Milliet, Manuel Bandeira, entre outros. A análise desses textos apresenta aspectos reveladores da dinâmica do sistema literário nacional.

Palavras-chave: Thiago de Mello; Fortuna Crítica; Literatura Brasileira Contemporânea.

A CONSOLIDAÇÃO IDENTITÁRIA EM PERSONAGENS DO BEIRAL: SERÃO AS BRISAS DO RIO BRANCO SEI LÁ...

Sheila Praxedes Pereira Campos (UERR/PPGL-UFRR)

Resumo: Dentre as diversas simbologias criadas para representar o Beiral (bairro às margens do Rio Branco, em Boa Vista-RR), cinco personagens que dão título a poemas ocupam lugar de realce no cenário discursivo do conjunto da obra homônima de Zeca Preto, artista roraimense que publica essa coletânea de poemas em 1987, durante o Movimento Roraimeira. Ao eleger estes cinco personagens (Genésio, Chico Ribeiro, Xikinha, Simeão e Maria), é

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interessante indagar como eles foram apreendidos pelo poeta e quais imagens foram construídas em torno deles. Estas indagações serão respondidas tendo em vista a pluralidade de construções sobre estes personagens, cujas imagens serão colocadas em diálogo sob a ótica da consolidação identitária a partir do local onde vivem – o Beiral.

Palavras-chave: Beiral; Identidade; Personagens.

SESSÃO 25

Coordenador: Marcio Roberto Vieira Cavalcante

A NARRATIVA LITERÁRIA CONSTRUINDO O IMAGINÁRIO URBANO

Marcio Roberto Vieira Cavalcante (UFAC)Deuzilene de Lima Costa (UFAC)

Resumo: A história que propomos se confunde com a literatura, já que corresponde a narrativas explicativas do real que se renovam no tempo e no espaço, mas que são dotadas de traço de permanência ancestral. O que nos interessa é discutir o diálogo da história com a literatura, como um caminho que se percorra nas trilhas do imaginário. Em linhas gerais, nossa proposta é de ler a história como literatura, ver na literatura a história se escrevendo. Queremos evidenciar, por meio de narrativas literárias, os lugares de vida irregular, de boemia, de prostituição, no sentido de pensar que “viver o urbano” impõe uma série de interditos e não lugares. Por meio dos textos literários chegaremos a esses interditos, as sensibilidades que fazem a cidade se tornar o reduto de novas/velhas sensibilidades. A cidade como lugar do homem, onde ele realiza seus projetos, vai ser evidenciada neste trabalho, para que os conflitos, as relações sociais, as práticas de interação venham à tona, voltem a fazer sentido no presente, que se constitui como tempo histórico, no sentido de conhecermos um pouco mais dos enredos de uma memória tão carente de estudo.

Palavras-chave: Literatura; Cultura; Amazônia.

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RETRATOS IMAGINADOS: A AMAZÔNIA NAS PÁGINAS DA LITERATURA

Marcelo Sabino Martins (UNIR)

Resumo: Grandes e densas matas, animais silvestres, indígenas, aldeias, silêncio, grande rio, verde, imensidão... são algumas das imagens, formas e cores que povoam o imaginário sobre a Amazônia no Brasil e no mundo. Porém, o retrato imaginado nas páginas da literatura amazônica não corresponde apenas a essas cores, formas e sons. Cinzas do Norte, Dois irmãos e Órfãos do Eldorado são algumas das obras de Milton Hatoum que apresentam um “outro” retrato da Amazônia: por vezes cinza, escura, barulhenta, urbana, de várias etnias, transitória. Assim, propomos com este artigo contrapor a ideia de uma Amazônia verde, desconhecida, com a Amazônia cinza, urbana de Manaus. A Amazônia do Eldorado, das lendas e dos mitos, com a Amazônia dos desencontros, da modernidade, da melancolia. Qual dessas Amazônias é representativa da realidade local? Qual dessas Amazônias é o resultado de um retrato imaginado? Este é um trabalho que se situa no âmbito da História Cultural e leva em conta o conceito chave de “representação”, tal como proposto por Roger Chartier em “História Cultural: entre práticas e representação”. As obras literárias são tomadas como fonte, sendo escolhidos para análise trechos de obras de um dos autores amazonenses mais lidos da atualidade.

Palavras-chave: Amazônia; Literatura; Imaginário; Representação.

ALDÍSIO FILGUEIRAS E ARNALDO ANTUNES: DIÁLOGO SOBRE O IMAGINÁRIO DA CIDADE

Maria das Graças Vieira da Silva (UFAM)

Resumo: Este artigo apresenta uma análise comparativa entre a poética de Aldisio Filgueiras, do livro nova subúrbios, lançado em 2006, e a de Arnaldo Antunes em 2 ou + corpos no mesmo espaço, da Coleção Signos, lançado em 1997, pela editora Perspectiva. A fundamentação teórica baseia-se nas concepções de cidade e na imagem da cidade de Manaus evocada na poesia de Aldísio, segundo Allison Leão, em “A cidade que existe em nós”, bem como, nas

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66 | Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.

visões literárias do urbano apresentadas por Sandra Pesavento em O Imaginário da cidade. Este estudo integra a linha de pesquisa Poesia em Língua Portuguesa, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Literaturas de Língua Portuguesa (GEPELIP).

Palavras-chave: Aldisio Filgueiras; Arnaldo Antunes; Poesia.

SESSÃO 26

Coordenadora: Priscila Gomes Rodrigues

O SAGRADO NOS CONTOS DE SOPHIA ANDRESEN E MAX CARPHENTIER

Priscila Gomes Rodrigues (PPGL-UFAM)

Resumo: O sagrado acompanha a história da humanidade, conforme se observa nas organizações sociais, inclusive nas produções textuais. O trabalho consiste em realizar um estudo comparado dos contos da autora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen e do autor amazonense Max Carphentier Luiz da Costa. O intuito é identificar elementos que representam o sagrado nos contos O jantar do Bispo, da primeira, e O sínodo em Tefé, a ascensão, do segundo. Trilhar um conceito de sagrado em sua essência é bastante complexo e amplo, mas é primordial entender que a abordagem contida no enredo dos contos refere-se a um sagrado cristão. A partir da síntese de cada conto, os elementos identificados serão analisados e interpretados com base na ideia do sagrado para Mircea Eliade, no livro O sagrado e o profano, e para Roger Caillois, em O homem e o sagrado.

Palavras-chave: Conto; Sagrado; Cristianismo.

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ANA HATHERLY E ALDISIO FILGUEIRAS: DUAS EXPERIMENTAÇÕES

Matthews Carvalho Rocha Cirne (UFAM)

Resumo: A literatura amazonense tem se mostrado inovadora devido ao rompimento com o tradicionalismo no fazer poético de alguns escritores. Juntamente com o desvelamento da urbanidade em meio à floresta, verifica-se a notoriedade da palavra em uma perspectiva metalinguística, onde as experiências com a arte concreta interligam os poemas de Aldisio Filgueiras com os de Ana Hatherly, precursora do movimento de Poesia Experimental em Portugal. Neste contexto, será analisada a forma com que Filgueiras constrói seus poemas através de experimentações com o concretismo e serão identificadas as semelhanças entre os seus poemas e os da poeta portuguesa. Este trabalho está fundamentado em “Teoria da Poesia Concreta”, manifesto dos autores do concretismo Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos e está inserido na linha de investigação “Poesia em Língua Portuguesa” do Grupo de Estudos e Pesquisas em Literaturas de Língua Portuguesa (GEPELIP/UFAM).

Palavras-chave: Poesia; Experimentações; Concretismo.

A LÍRICA DE BACELLAR EM FORMA DE RONDEL

Giele Vieira dos Santos (UniNorte)

Resumo: O poeta Luiz Bacellar deve ter certificado pelos leitores amazonenses o lugar preponderante que lhe cabe na criação literária. A reflexão será, ao longo dos parâmetros orientadores que a obra Sol de feira oferece e na identificação de alguns fatores determinantes da modernidade, no ideário estético-literário, que demandará uma prévia contextualização de natureza histórico-literária da sua produção. Estudar-se-á, pela visão semiótica, as frutas ofertadas em poesia. É importante essa consciência consubstanciante que envolve a poética inovadora e clara, e que se propõe assente na consciência do leitor amazônico: o de perceber os poderes da arte que envolve as vozes, os sabores, os cheiros, os odores na feira, do pomar para a quitanda. O rigor formal foi herdado de onde estudou, em São Paulo, aliado ao sentir romântico pelo que representa sua infância: qualquer escritor sofre, mais cedo ou mais tarde, o fascínio das

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68 | Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.

suas origens, e a escrita se faz memória. Pela evocação da paisagem, do lugar e da atmosfera, Bacellar põe a presença-memória das frutas que o pomar se oferta e se transmuda em sensualidade feminina. É o que se pode observar em seus poemas.

Palavras- chave: Luiz Bacellar; Poesia; Sensualidade; Memória.

SESSÃO 27

Coordenadora: Viviane Dantas Moraes

IDENTIDADES DESENRAIZADAS: DOIS IRMÃOS E O CASO TODOROV

Viviane Dantas Moraes (Unama)

Resumo: O objetivo deste trabalho é discutir a questão da Identidade cultural na modernidade, a partir da perspectiva do imigrante, questionando a configuração identitária e cultural no mundo globalizado. Deste modo, pensa-se na representação da identidade cultural do imigrante na literatura, especialmente no cenário amazônico, a partir da obra Dois Irmãos, de Milton Hatoum, onde o desenraizamento gera conflitos que perpassam os limites da identidade. Por outro lado, a experiência do crítico literário e professor húngaro Tzvetan Todorov, radicado na França, sobre seu conflito em torno da aceitação de sua própria identidade de origem, nos servirá de exemplo para engendrar a discussão. Em autobiografia crítica, em que retrata seu processo de transculturação, Todorov nos dá uma dimensão real e universal do drama do imigrante quando desenraizado do seu local de origem. Assim, temos dois exemplos que ilustram o debate em torno da aquisição de uma nova cultura e a decisão em admiti-la enquanto primeira, mas por outro, a não adaptação à cultura estrangeira gera um entrave. A partir da visão de autores como Canclini e sua teoria sobre as “culturas híbridas” e do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, é possível ainda refletir sobre uma questão primordial que é a identidade em si mesma.

Palavras-chave: Identidade; Todorov; Imigrante; Modernidade.

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A ARTE DE NARRAR EM RELATO DE UM CERTO ORIENTE

Fabricio M. Souza (PPGLA-UEA/SEDUC-AM)

Resumo: Este artigo pretende versar sobre como a arte narrativa oral é representada na narrativa de ficção do romance Relato de um certo Oriente (2008), do escritor Milton Hatoum, partindo-se do ensaio O narrador... [1936], do filósofo Walter Benjamin. Nesse ensaio, Benjamin escreve que a “arte de narrar está em vias de extinção”. Se ela está em vias de extinção porque as pessoas não sabem mais “contar”, então como reportar essa afirmação, examinando-a à luz de um texto ficcional-literário, mais apropriadamente, o de nossa reflexão? As reflexões postas em dia pelo filósofo nos dão a entender que, seja fazendo comparações de semelhanças ou não entre a narrativa oral e escrita, fica em relevo que o Romance põe de lado esse modo de transmitir a experiência de dar e ouvir conselhos (narrativa oral) em troca de uma pergunta: sobre o sentido da vida (relato). Tendo em seu interior personagens que esboçam uma tradição oral do Oriente e Amazônica, é uma narradora anônima quem dá o primeiro gesto que funda a narração, representando-se como organizadora dos relatos que formam sua própria perplexidade diante dos segredos dessa história.

Palavras-chave: Narrador; Narrativa oral/escrita; Relato.

NARRAÇÃO, MITO E INFORMAÇÃO EM ÓRFÃOS DO ELDORADO

Elton Emanuel Brito Cavalcante (UNIR)

Resumo: Benjamin, em O Narrador, afirma que a forma de expressão literária representativa do período pré-capitalista era a Narração. Esta permeava-se por mitos, os quais constituíam um saber oral armazenado numa memória coletiva. Com o Capitalismo, a Narração fora substituída pela Informação, mais célere, menos moralizante. O homem deixara de crer no mito e passara a adorar a Razão. Benjamin, entretanto, faz esta análise sob uma perspectiva urbana e eurocêntrica, como se em outras regiões não houvesse formas distintas de se narrar e vivenciar os mitos. Estes, na Amazônia, por exemplo, segundo Loureiro, constituem-se em fonte oral de saber, fazendo parte do imaginário caboclo. Assim, em livros como Órfãos do Eldorado, de Mitton Hatoum, haveria a

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manifestação fenomenológica do mito. Entretanto, como ocorre nessa obra tal manifestação? Representaria esta a forma real como os mitos são vivenciados no meio rural ou reforça a visão racionalista e urbana de que os mitos são apenas crendices? Hipótese: no livro, mitos locais mesclam-se aos da tradição judaico-cristã e manifestam-se como parte integrante da personalidade das personagens.

Palavras-chave: Mito; Narração; Informação.

SESSÕES COORDENADAS

SC1 – EXPERIÊNCIAS LITERÁRIAS DE AUTORIA INDÍGENA

Coordenadora: Cynthia de Cássia Santos Barra

Resumo: Fazem parte desta sessão três trabalhos de pesquisadoras do Grupo de Pesquisa Transdisciplinar Literaterras: escrita, leitura, traduções (FALE/UFMG), atualizando questões relativas às passagens culturais, à letra, à voz, aos deslocamentos que os conceitos de livro e de experiência literária sofrem quando em contato com poéticas indígenas. Em O Livro Vivo, Maria Inês de Almeida acompanha o processo de edição das pesquisas dos professores e agentes de saúde Kaxinawá do Rio Jordão, compreendendo aspectos da poética que mostram como os textos se ligam com os bichos, as plantas, o “espírito da floresta”, e atuam na cura (nisun em hatxa kuin ou língua kaxinawá). Em “Livros Maxakali: método, horizonte indígena e experiência tradutória”, Cinara de Araújo aborda a convergência do poético nos processos tradutórios e na feitura de livros e site com a etnia Maxakali: Hitupmã’ãx (Curar), Tikmuun Maxakani Yõg Mimãti Ãgtux Yõg Tappet (O Livro Maxakali conta sobre a Floresta) e Biografias Maxakali (em edição). Em “Uma literatura por vir Yanomami”, Cynthia Barra interroga as articulações possíveis entre textos (mitos, poemas e relatos) de autoria Yanomami publicados em português e a criação literária.

Palavras-chave: Autoria indígena; Experiência literária; Tradução intercultural.

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UMA LITERATURA POR VIR YANOMAMI

Cynthia de Cássia Santos Barra (UNIR/RO)

Resumo: A existência de um movimento literário de autoria indígena no Brasil contemporâneo parece ser um fenômeno estético e político bastante complexo (ALMEIDA, 2004). Cada vez mais evidente como fenômeno cultural, os livros da floresta têm sido pouco discutidos pela crítica literária especializada. A presente comunicação almeja essa discussão, indagando: o que sabemos sobre os textos criativos de autoria Yanomami e sua penetração no espaço literário? Ajustamos nosso olhar ao enquadramento das palavras canibais de Antônio Risério: “Não há povo que não ostente, no elenco dos seus signos mais expressivos, objetos de linguagem, correspondentes ao que, em nosso mundo, chamamos poesia” (RISÉRIO, 1993 p. 25). Passamos à leitura de duas obras escritas – Mitopoemas Yãnomam (1978) e A criação do mundo segundo os índios Ianomami (1994) –, e aos relatos de Davi Kopenawa publicados na web, como quem encontra passagem aberta entre mundos. Por um veio histórico, o sentido intensivo da palavra escrita adentrou na clareira em meio à floresta dos Yanomami. Quanto aos sentidos extensivos da escrita, com o ato de escrever indígena e as possíveis órbitas descentradas da língua/lógica colonizadora, apostamos na emergência de uma literatura de autoria Yanomami em nosso mundo como “nó a desatar-se no olhar” (LLANSOL, 1997, p. 9).

Palavras-chave: Literatura Yanomami; Livros da Floresta; Davi Kopenawa.

LIVROS MAXAKALI: MÉTODO, HORIZONTE INDÍGENA E EXPERIÊNCIA TRADUTÓRIA

Cinara de Araújo Soares Iannini (Literaterras/UFMG)

Resumo: Reflexão sobre a prática do Núcleo Transdisciplinar de Pesquisa Literaterras, designando a convergência do poético nos processos tradutórios e na feitura de livros com a etnia Maxakali. Apontamentos sobre técnicas de produção e edição coletivas dos livros Hitupmã’ãx (Curar), Tikmuun Maxakani Yõg Mimãti Ãgtux Yõg Tappet (O Livro Maxakali conta sobre a Floresta) e do site Biografias Maxakali. Análise das linhas de pensamento que sustentam o

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método in progress dos laboratórios interculturais. Ressaltamos, no contexto de formação de professores indígenas, acaba-se formando também, e de forma contundente, pesquisadores não-índios. “Não é a cultura que precisa da poesia, para se enriquecer, é a poesia que precisa de uma cultura que a permita.” (LOPES, 2003. p. 192). Uma inversão do olhar sobre o próprio campo reflexivo que nos é dado. A frase da teórica Rodrigues Lopes deixa-nos questões. Afinal, qual poesia a nossa cultura permite/permitiu/permitirá? Os inúmeros processos de tradução (linguística, intersemiótica e intercultural), suas soluções e impossibilidades, apontam-nos justamente para este ponto. Não se trata somente de afirmar uma dissemelhança estética, mas de grafar uma outra maneira de habitar o mundo ou os mundos. Permitir, sem adulterar e/ou domesticar, a potência indígena que perdemos.

Palavras-chave: Maxakali; Livros; Método tradutório; Literaterras.

O LIVRO VIVO

Maria Inês de Almeida (FALE/UFMG)

Resumo: No sentido de continuar a experiência do Núcleo Literaterras com as textualidades indígenas, estamos realizando um trabalho que consiste em acompanhar e editar as pesquisas dos professores e agentes de saúde Kaxinawá do Rio Jordão sobre o complexo poético/narrativo que envolve seus textos e seus processos de cura tradicionais. As pesquisas dizem respeito ao universo conceitual da Ayauasca e aos ensinamentos da Jibóia (Yube), na forma como se apresentam nos rituais, bem como à possibilidade de traduzi-los para a língua portuguesa. Assim, as “medicinas” do povo huni kuin, ou kaxinawá, são ensinadas aos jovens pesquisadores por alguns mais velhos. Ensinam as medicinas (a palavra é usada por eles equivalendo às plantas medicinais) tradicionais, os cantos, o nixi pae, e os banhos. O campo literário abre, assim, espaço para conceber a ciência sem cindir: o canto e a biologia, a cura e a função da escrita. Pretendemos, apoiando a edição do Livro Vivo, organizado pelo Pajé Agostinho Manduca, compreender aspectos da poética que mostram como os textos se ligam com os bichos, as plantas, o “espírito da floresta”, e atuam na cura (nisun em hatxa kuin ou língua kaxinawá).

Palavras-chave: Kaxinawá; Livro Vivo; Poética.

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SC2 – NARRATIVA ORAL E IMATERIALIDADE: IMAGINÁRIO INDÍGENA E GARIMPEIRO DE RORAIMA EM QUESTÃO

Coordenador: Devair Antônio Fiorotti

Resumo: Essa sessão coordenada objetiva discutir as possibilidades de pesquisa a partir da narrativa oral garimpeira e indígena. Os trabalhos apresentados partem de dois projetos de pesquisa sob a coordenação de Devair Antônio Fiorotti: Do diamante ao carvão, que registra e analisa narrativas orais dos antigos garimpeiros da lendária região do Tepequém, Roraima; e Narrativa oral indígena: registro e análise na Terra Indígena do Alto São Marcos, esse último financiado pelo CNPQ. A partir desses projetos, são apresentados dois trabalhos, um sobre o imaginário garimpeiro e outro sobre o imaginário indígena em contato com não indígenas. Ambos buscam trabalhar com esses aspectos a princípio distintos, que também compõem aspectos culturais de Roraima. A metodologia de coleta e trabalho das narrativas é oriunda da História Oral, e a análise ancora-se na perspectiva multidisciplinar dos Estudos Culturais.

Palavras-chave: Narrativa oral indígena e garimpeira; Imaginário; Imaterialidade.

DO CLÁSSICO AO REGIONAL: UMA INVESTIGAÇÃO ENTRE AS HISTÓRIAS CLÁSSICAS E AS NARRATIVAS INDÍGENAS DE RORAIMA

Ana Maria Alves de Souza (PPGL-UFRR)Devair Antônio Fiorotti (UERR e PPGL-UFRR)

Resumo: Sendo parte do Projeto de Pesquisa Narrativa Oral Indígena: registro e análise na Terra Indígena Alto São Marcos-RR, o presente trabalho investiga a narrativa oral denominada Mariazinha Borralheira, contada por Dona Arlene, índia Macuxi da comunidade Sabiá. Nessa narrativa, a informante narra uma história com riqueza em detalhes literários que remete ao conto clássico Gata Borralheira. Assim, esta comunicação centra-se no reconhecimento das semelhanças e diferenças entre a literatura clássica e a literatura regional relacionadas a esta história, uma vez que conhecimento e reconhecimento de aspectos regionais são importantes na valorização cultural dos povos indígenas,

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principalmente diante do processo de transculturalização, que vêm sofrendo tais povos.

Palavras-chave: Narrativa oral; Mariazinha Borralheira; Comparação.

O IMAGINÁRIO DO GARIMPO NA CONSTRUÇÃO DE SUA PAISAGEM

Paulino Batista Neto (UFRR)Devair Antônio Fiorotti (UERR e PPGL-UFRR)

Resumo: O garimpeiro, atualmente, é figura estigmatizada por determinados segmentos da sociedade roraimense, contudo, é elemento importante da nossa cultura e da nossa identidade, razão que justifica este trabalho. Nele procuramos refletir acerca do fenômeno do imaginário do garimpeiro e de sua importância como um dos recursos para a formação da paisagem garimpeira. Para tanto, buscamos narrativas orais de ex-garimpeiros que ainda moram na região do Tepequém, além da contribuição do jornalista Laucides Oliveira, que, por algum tempo, na década de 50, testemunhou a relação desses atores nessa região. Para referendar este trabalho trazemos também abordagens teóricas que justificam essa relação entre o homem e o meio físico, uma vez cada qual atua e molda o outro.

Palavras-chave: Narrativas orais; Garimpeiro; Imaginário; Paisagem.

SC3 – IMATERIALIDADE, ORALIDADE E IMAGINÁRIO REFERENCIA-DOS NO PROJETO IFNOPAP

Coordenador: Maria do Socorro Simões

Resumo: O projeto IFNOPAP (O imaginário nas formas narrativas orais populares da Amazônia paraense), implantado no antigo Centro de Letras, da UFPA, em 1994, conta com um acervo de mais de 5.300 (cinco mil e trezentas) narrativas recolhidas em 118 municípios do Pará, com a participação de mais de 2.000 (dois mil) informantes. Ao longo desses anos de trabalho já participaram

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do projeto, 130 (cento e trinta) estudantes, responsáveis pela recolha de depoimentos e produção de trabalhos acadêmicos, em níveis diferenciados. O projeto já foi contemplado com mais de 80 bolsas de IC (UFPA/ CNPq) e conta com uma produção acadêmica representativa: 20 Dissertações de Mestrado, 07 Teses de Doutorado, inúmeros TCCs e Monografias de cursos lato sensu, 16 livros publicados, mais de oitenta artigos em livros e revistas científicas, além de ter promovido 16 eventos, de alcance regional (02), nacionais (12) e internacionais (02). No III COLÓQUIO INTERNACIONAL POÉTICAS DO IMAGINÁRIO — AMAZÔNIA: LITERATURA E CULTURA, apresentar-se-á uma retrospectiva das principais produções e atividades do projeto IFNOPAP, nestes dezoito anos de existência.

Palavras-chave: Narrativas; Amazônia; Imaginário; Cultura; Tradição.

IMATERIALIDADE, ORALIDADE E IMAGINÁRIO REFERENCIADOS NO PROJETO IFNOPAP

Maria do Socorro Simões (UFPA)

Resumo: Há cerca de mais ou menos vinte anos, autoridades uniram-se a estudiosos e pesquisadores para reconhecerem que há muito mais que pedra e cal como referência do patrimônio cultural da humanidade. Daí, a consideração da existência de um patrimônio cultural imaterial referenciado em elementos intangíveis, mas igualmente representativos do homem, no seu percurso terrestre, materiais estes identificados nas tradições, nos saberes, nas línguas, nas festas, nas lendas e mitos e em outras tantas manifestações, transmitidas de geração em geração. O projeto IFNOPAP constitui, com um acervo de mais de 5.300 narrativas, um dos mais caros patrimônios imateriais da Amazônia paraense, uma vez que nele se encontram referências ao homem amazônida em suas manifestações mais ricas e diferenciadas, que atendem desde o seu particular imaginário até a sua sobrevivência, “entre o Rio e a Floresta”, deste espaço indescritível.

Palavras-chave: Amazônia; Narrativas; Imaginário; Patrimônio imaterial.

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PROJETO IFNOPAP: DO TRABALHO CIENTÍFICO DE DESIGNAÇÃO TEMÁTICA DAS NARRATIVAS À PESQUISA DOS CASOS DE

METAMORFOSES EM BELÉM DO PARÁ

Natasha de Queiroz Almeida (UFPA/ CAPES)

Resumo: Diante das transcrições de 1.439 narrativas catalogadas no acervo, o projeto IFNOPAP assentou a importância da organização destas narrativas por temas e tipos textuais, a fim de viabilizar o acesso e a pesquisa do público e da comunidade acadêmica ao acervo de narrativas coletadas na Amazônia paraense. Desta feita, os resultados do prévio estudo temático e tipológico das narrativas dos campi de Abaetetuba, de Belém e de Bragança sinalizaram a relevância e a necessidade do estudo narratológico, com ênfase à identificação de elementos ligados à memória e à tradição de comunidades, passíveis de serem encontrados entre contadores de outros campi da região que, sem dúvida, possuem um corpus diverso e singular. A referida pesquisa classificatória foi realizada no campus Belém, com a leitura e designação teórico-metodológica de 824 narrativas, assim como no campus Marajó que salvaguarda 122 narrativas. Mediante o estudo cabal de ambos os campi, verificou-se que um número considerável de narrativas, a saber, 20% destas, apresentam o dilema da metamorfose como tema. Considerou-se, portanto, a importância do prosseguimento desse viés de pesquisa de cunho strictu sensu, cujo foco presentifica os diálogos que as metamorfoses circulantes na Amazônia paraense estabelecem com os mitos gregos clássicos de metamorfose, com a verificação dos índices de memória presentes nestes mitos.

Palavras-chave: Narrativa; Tema; Metamorfose.

SANTA CRUZ DO ARARI: MITO COMO REFERÊNCIA DE IDENTIDADE

Rosa Bentes (UFPA)

Resumo: Este trabalho trata de um relato de experiência sobre o estudo desenvolvido com a comunidade de Santa Cruz do Arari-Marajó. O objetivo do estudo foi adentrar nas peculiaridades constituintes de um imaginário coletivo herdado do ancestral índio, aliados ao ambiente físico e do desenvolvimento

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cultural que se processou na região. Nesse estudo, apresentam-se as relações e significações subjacentes nas histórias de vaqueiros e pescadores da comunidade santa-cruzense, utilizando os conceitos de imaginário e símbolo, de Gilbert Durand (1997), e de oralidade, segundo Paul Zumthor (1993).

Palavras-chave: Vozes caboclas, superstição, fenômenos climáticos.

MEMÓRIA E TRADIÇÃO EM MONUMENTOS ORAIS DA AMAZÔNIA PARAENSE

Antonia Priscila Fernandes Araújo (UFPA)Alex Dax de Sousa (UFPA)

Resumo: Este estudo apresenta a identificação de índices que refiram memória e tradição amazônicas, em narrativas orais de Bragança, fazendo uma abordagem analítica circunstancial das narrativas coletadas no referido município, pelo projeto de pesquisa IFNOPAP (O Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia Paraense). Pretende-se uma investigação da recorrência de tais índices na dinamicidade das relações entre indivíduos e hábitos, costumes, tradições e ideologias que se entrecruzam nos fazeres individual e coletivo do amazônida paraense, evidenciados em tais narrativas. Ao tratar a memória como processo contínuo, não linear, cheio de conexões que formam um todo significativo, compreende-se que este fenômeno atua, em colaboração com a tradição oral, para a manutenção de uma identidade cultural, considerando, para tanto, o aspecto temporal que marca tal processo. Neste sentido, as narrativas orais de Bragança consistem um corpus de análise oportuno para o estudo ora proposto, na medida em que resgatam elementos da história dos primeiros povos em contato com a formação de uma identidade local, durante e após o período de colonização pelo qual passou. Conclui-se, então, que, além de possibilitar a identificação dos elementos supracitados, este estudo pode servir como base para a verificação do exercício da tradição oral, constante no cotidiano dos povos da Amazônia Paraense.

Palavras-chave: Narrativa oral; Memória; Tradição.

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A SOBREVIVÊNCIA DE TEMAS MEDIEVAIS EUROPEUS EM NARRATIVAS ORAIS DA AMAZÔNIA PARAENSE

Priscila Oliveira Ramos (UFPA)

Resumo: O corpus do projeto IFNOPAP possui um acervo extremamente rico de narrativas orais caracterizando o que Socorro Simões afirma ser um “modo supremo da experiência de vida” no qual se vê homens dividindo sua vida entre o rio e a floresta, transmigrando para mundos nos quais existem seres encantados com quem também dividem sua vida e suas experiências. Nesse sentido, Simões afirma ser “indispensável que se lembre da herança recebida, pela narrativa escrita, das formas de produção oral da Grécia antiga e o do Norte da Europa”, ressaltando-se que se trata de uma arte verbal, que, umas vezes, se revela na sua forma oral e outras, na sua feição escrita. Vale ressaltar que essas produções orais se apresentam também como um depoimento vivo da presença do colonizador dentro do Estado do Pará. Dessa forma, tendo-se um contato mais aprofundado com as narrativas desse corpus, percebe-se, dentre outros aspectos, o quão são recorrentes ressonâncias medievais europeias nas “narrativas orais paraenses”. Com isso, pretende-se, neste colóquio, fazer uma comunicação na qual serão abordadas tais características próprias da cultura desses povos estrangeiros dentro do imaginário amazônico.

Palavras-chave: Narrativas; Medievalismo Europeu; Memória, Tradição.

PAINEL MIDIÁTICO: UM OLHAR NO PASSADO COM OLHOS NO PRESENTE E FUTURO DO PROJETO IFNOPAP

Eurico Lucas Cruz Bezerra (UFPA)Lázaro Klenner de Paiva (UFPA)

Maria do Socorro Simões (UFPA)

Resumo: O projeto IFNOPAP desde a sua concepção, contribuiu, primeiramente, para a formação de um corpus representativo de depoimentos com narrativas orais populares, e, posteriormente, o acervo transformou-se em importante fonte de pesquisa e de produção científico-acadêmica para inúmeros trabalhos, em níveis diferenciados, desde comunicações, em eventos locais, a conferências

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e mesas-redondas em encontros locais, nacionais e internacionais; desde produção monográfica, na graduação, até teses de Doutorado. Desde 2006, tem-se trabalhado na organização de uma base de dados do acervo IFNOPAP, com o objetivo de digitalizar as narrativas, ainda em base analógica, e disponibilizar esse material para as futuras pesquisas, considerando uma base, a partir das mais de cinco mil narrativas recolhidas. Esse trabalho de recolha e posterior tratamento das narrativas orais feitas pelo projeto IFNOPAP ao longo desses dezesseis anos será exposto por meio de um painel midiático, com fotos, vídeos, banneres e a apresentação de um documentário produzido em um dos eventos. A exposição do trabalho mostrará a retrospectiva dos eventos e trabalhos já realizados pelo projeto nesses anos “navegando entre o rio e a floresta”, com explicações interpessoais no decorrer do evento. Essa exposição pretende mostrar os caminhos trilhados pelos componentes que juntamente com professora Socorro Simões, fizeram (e ainda fazem) do projeto IFNOPAP um dos maiores e mais importantes projetos de pesquisa e extensão em curso na Universidade Federal do Pará.

Palavras-chave: Narrativas; Amazônia; Imaginário; Cultura; Tradição.

SC4 – QUESTÕES SOBRE IDENTIDADE: (DES) ENCONTROS IDENTITÁRIOS NA AMÉRICA LATINA AMAZÔNICA E CARIBENHA

Coordenadora: Maria Helena Valentim Duca Oyama

Resumo: A sessão coordenada “Questões sobre identidade: (des)encontros identitários na América Latina Amazônica e caribenha” tem o objetivo discutir e apresentar reflexões acerca da temática identidade, levando em consideração conceitos (re)elaborados e obras literárias de intelectuais/ficcionistas desta região, ligados aos encontros de culturas. Conceitos como transculturação, crioulização e hibridação alimentam as diversas representações do homem, dos lugares, das paisagens e dos discursos que dialogam com outras construções, outros imaginários, tendo em vista novos recursos literários utilizados na ficção contemporânea da América Latina, mais especificamente da Amazônia e do Caribe.

Palavras-chave: América Latina; Identidade; Cultura; Transculturação, Romance Contemporâneo.

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CONSIDERAÇÕES SOBRE IDENTIDADES EM QUAND LES MUR TOMBENT: L´IDENTITÉ NATIONALE HORS LA LOI?

Maria Helena Valentim Duca Oyama (UFRR)

Resumo: O ensaio Quand les murs tombent: l´identité nationale hors la loi?, de Edouard Glissant e Patrick Chamoiseau (2009), retoma questões iniciadas por eles mesmos nos anos 1990 sobre identidades. Partindo das considerações desses autores, esta comunicação pretende discutir aspectos teóricos que envolvem o imaginário caribenho a partir da noção de crioulização, elaborada por Glissant, que nos convida a valorizar a diversidade poética na região amazônica e no mundo. A noção de crioulização nos permite considerar as possibilidades de aproximações literárias entre o Caribe e as Amazônias, resguardando as opacidades regionais, locais.

Palavras-chave: Identidades; Crioulização; América Latina; Amazônias; Caribe.

REFLEXÕES SOBRE A NARRATIVA CONTEMPORÂNEA EM ERA UMA VEZ O AMOR MAS TIVE QUE MATÁ-LO

Aline Cavalcante Ferreira (IFRR/PPGL-UFRR)

Resumo: A presente comunicação tem o intuito de refletir sobre os elementos constitutivos da estrutura narrativa contemporânea a partir da análise do romance Era uma vez o amor mas tive que matá-lo, do escritor colombiano Efraim Medina Reyes. Para tanto, verifica-se como o autor vai desconstruindo o texto, abalando as características do romance tradicional por meio do emprego de novos recursos literários, próprios do romance contemporâneo. Esta análise procura se efetivar tendo como fundamentação teórica as considerações de Anatol Rosenfeld e Erwin Theodor Rosenthal sobre o romance moderno

Palavras-chave: Efraim Medina Reyes; Romance moderno; Identidade; Fragmentação; Polifonia.

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A ABORDAGEM TRANSCULTURAL INDÍGENA NA NARRATIVA DE ARGUEDAS

Leidejane Machado Sá (PPGL-UFRR)

Resumo: A América Latina constitui um imenso cenário de diversidade cultural, dada a alta taxa de miscigenações dentro do continente. Considerado um país multiétnico, o Peru conta com aproximadamente 73% de contribuição indígena para a formação de sua população. Nesse contexto, um dos grandes representantes da palavra latino-americana do século XX e renovador da literatura de inspiração indigenista, cujas obras mais representativas tematizam a questão cultural indígena, José María Arguedas, trata dos conflitos culturais do indígena peruano. Considerando essa dinâmica intercultural do continente latino-americano, entende-se que Arguedas, ao abordar a figura indígena, nos brinda com uma possibilidade de analisar esse e outros cenários, aparentemente compostos por elementos similares, como por exemplo, países latino-americanos que concentrem grande variedade de etnias indígenas. A partir da abordagem que o autor faz em torno do espaço ocupado pelo índio, tanto físico, social, cultural ou identitário, Arguedas nos instiga para uma investigação baseada principalmente na ideia de identidade e do reconhecimento do sujeito inserido em culturas híbridas. Portanto, pretende-se analisar como o autor peruano apresenta o personagem indígena e como este se desenvolve dentro da narrativa, considerando sua identidade nacional e cultural.

Palavras-chave: América Latina; Identidade; Cultura; Transculturação.

SC5 – LITERATURA EM RORAIMA: RECEPÇÃO, REPRESENTAÇÃO CULTURAL E ENSINO

Coordenador: Roberto Mibielli

Resumo: A proposta inicial desta sessão coordenada é discutir os processos de recepção e de representação cultural da literatura local, além de analisar parcialmente o ensino da literatura na Cidade de Boa Vista, RR. O primeiro trabalho a ser apresentado trata da recepção da produção litero-musical do Movimento Roraimeira (movimento cultural iniciado em 1984, que buscou

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discutir o problema da identidade roraimense) entre leitores de escolas públicas de ensino médio da Cidade de Boa Vista que iniciaram sua vida escolar na primeira década do século XXI. Essa comunicação tem o seguinte título: Movimento Roraimeira: Processos de Recepção. O segundo trabalho aborda o conhecimento literário dos alunos de ensino médio da Cidade de Boa Vista, e tem o seguinte título: Aspectos Identitários: conhecimento literário dos alunos de ensino médio de Boa Vista, RR e procura mostrar o perfil identitário destes alunos a partir de suas escolhas literárias. O terceiro trabalho, com o título: O Ensino de Literatura em Boa Vista-RR: Apredizagem Literária nas Escolas de Ensino Médio apresenta dados relacionados a um ‘ breve estudo sobre como o ensino de Literatura é realizado pelos professores das escolas de ensino médio e como isso contribui ou não para a formação de uma imagem do literário.

Palavras-chave: Literatura Local; Estética da Recepção; Ensino de Literatura.

ASPECTOS IDENTITÁRIOS: CONHECIMENTO LITERÁRIO DOS ALUNOS DE ENSINO MÉDIO DE BOA VISTA, RR

Roberto Mibielli (PPGL/UFRR)

Resumo: Nossa pesquisa Literatura e Ensino em Roraima: o cânone e a invenção escolar da Amazônia, fomentada pelo CNPq (em sua primeira etapa via edital de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e em sua segunda etapa através do edital Universal) procura, entre outras coisas montar o perfil identitário de alunos de ensino médio da Cidade de Boa Vista a partir de suas escolhas literárias. Intitulado: Aspectos Identitários: conhecimento literário dos alunos de ensino médio de Boa Vista, RR, este trabalho, recorte do projeto maior, busca observar que imagem do literário é construída no imaginário destes alunos e qual os autores a partir dos quais esta imagem é formulada, procurando perceber se os autores citados pertencem a um modelo canônico de literatura nacional. Discutimos, entre outras coisas, que aspectos das escolhas apontadas refletem um saber constituído a partir do espaço escolar, qual é o panorama desta imagem, como ela influi na construção da identidade e, em casos em que prevalecem as escolhas pessoais, que imagem do literário estes alunos trazem em sua bagagem extra-escolar. A discussão da construção

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de um modelo canônico originado nos bancos escolares também é objeto deste trabalho, na medida em que o corpus analisado pertence ao universo escolar.

Palavras-chave: Literatura; Cânone; Imagem do Literário; Literatura e Escola; Identidade.

MOVIMENTO RORAIMEIRA: RECEPÇÃO E IDENTIDADE

Suênia Kdidija Araújo Feitosa (PPGL-UFRR)

Resumo: A proposta inicial desta comunicação oral é discutir os processos de recepção da literatura local, especificamente do Roraimeira (movimento cultural iniciado em 1984, que buscou discutir o problema da identidade roraimense), entre leitores de escolas públicas de ensino médio da Cidade de Boa Vista que iniciaram sua vida escolar na primeira década do século XXI. Nesse sentido, discute-se a recepção dessa produção local em três aspectos: identificação, apropriação e construção identitária. Uma das questões analisadas é a seguinte: passados mais de duas décadas do início do Movimento Roraimeira, que alguns pesquisadores locais apontam como um dos principais proponentes da construção de uma imagem identitária de Roraima, quais representações desta identidade efetivamente permanecem no imaginário de nossos jovens estudantes de ensino médio? É importante ressaltar que este trabalho se volta para aspectos receptivos e identitários, sem margens para questões didático-pedagógicas.

Palavras-chave: Estética da Recepção; Literatura Local; Identidade.

O ENSINO DE LITERATURA EM BOA VISTA-RR: APRENDIZAGEM LITERÁRIA NAS ESCOLAS DE ENSINO MÉDIO

Herica Maria Castro dos Santos (PPGL-UFRR)

Resumo: Este trabalho apresenta dados importantes no que tange o ensino de Literatura praticado em Boa Vista –RR. A pesquisa enfatizou principalmente o papel do professor. Foram visitadas 21 (vinte e uma) escolas de Ensino Médio

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regular, a amostra da pesquisa foi de 15 (quinze) educadores que atuam nas disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura. As informações apresentam um breve estudo teórico sobre o ensino de Literatura, descrevendo as concepções do ensino e um breve retrospecto histórico. Na sequência, descrevo o que os documentos balizadores do ensino de literatura regem nos últimos anos, e ao final, relato os dados coletados na pesquisa realizada com os professores. As informações demonstram a realidade vivenciada por uma parcela significativa de educadores roraimenses.

Palavras-chave: Ensino de Literatura; Estudos Literários; Formação de leitores.

SC6 – LITERATURA E FILOSOFIA II – MITO E FILOSOFIA

Coordenadora: Maria do Socorro da Silva Jatobá

Resumo: Desde a antiguidade clássica, a filosofia se debruça sobre os mitos a fim de investigá-los, analisá-los e teorizá-los. Nosso propósito é, pois, apresentar alguns mitos e algumas reflexões filosófico-literárias sobre os mesmos, a fim de estabelecermos um amplo debate com áreas afins e provocarmos, desse modo, uma reflexão sobre alguns aspectos da mitologia amazônica, ressaltando suas característica principais, desenvolvendo uma categoria mínima de análise e de conceitos fundamentais a serem tematizados e explorados pelos pesquisadores do tema. Demonstrar sua riqueza e complexidade a partir do exame e reflexão sobre uma literatura indígena viva e rica que está em processo de construção e desenvolvimento, ocupando pouco a pouco o cenário literário nacional é, também, uma das tarefas que nos propomos a realizar.

Palavras-chave: Mito; Mitologia; Escrita e Oralidade.

SERES QUE VÊM DA MATA: UMA LEITURA DO MITO TIKUNA

Maria do Socorro da Silva Jatobá (UFAM)

Resumo: O trabalho tem por objetivo apresentar uma teoria do mito e fazer uma análise dos mitos do Curupira e do Mapinguari conforme apresentado no

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Livro das Árvores, elaborado por membros da etnia Tikuna. Na medida em que Curupira e Mapinguari se configuram como protetores da floresta e do universo que a constitui, nossa leitura pretende explorar o conceito de vida e de gente que atuam como uma espécie de substrato fundamental das atividades e da natureza desses dois seres.

Palavras-Chave: Mito; Mitologia; Antropologia; Oralidade.

SOBRE HOMENS E PEIXES NA MITOLOGIA AMAZÔNICA

Marilina Conceição Oliveira Bessa Serra Pinto (UFAM)

Resumo: O trabalho pretende mostrar a relação de proximidade entre os homens e os peixes na mitologia amazônica, sobretudo, quando se trata dos mitos cosmogônicos. Tomaremos como objeto de análise as narrativas de dois povos distintos que vivem na Amazônia, os ticuna, cuja terra indígena situa-se na região do Alto Solimões e os tukano que vivem na região do Alto Rio Negro e demais afluentes. O trabalho comparativo destas narrativas confirma as recorrências no repertório temático dos mitos que embora sejam universais se manifestam de diferentes modos em contextos sociais distintos. Neste caso o enfoque será dado ao simbolismo aquático que figura como um dos principais na constituição do imaginário amazônico.

Palavras-chave: Simbolismo aquático; Homens; Peixes; Mitologia.

A COMPREENSÃO E REPRESENTAÇÃO DOS ASTROS PELOS WAHARI DIPUTIRO PORÁ, OS AVÔS DO MUNDO DESANA

Lucas Jatobá do Lago (UFAM)

Resumo: O recente desenvolvimento do campo das etnociências e a publicação de obras sobre populações indígenas regionais, proporciona a elaboração de estudos antropológicos relacionando saberes e práticas tradicionais à diversas áreas do conhecimento. A elaboração deste estudo objetiva, então, analisar e compreender a relação entre a etnia Desana, e seu conhecimento sobre os

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céus, e seus saberes e práticas cotidianas. Para tanto, foi utilizada metodologia qualitativa baseada somente na leitura de textos, principalmente da obra “Bueri Kãdiri Maririye: Os ensinamentos que não se esquecem”, que descreve o sistema de representação astronômica Desana e a estrutura do ciclo anual que se constrói a partir dele. Como resultado obteve-se uma análise do sistema de representação astronômica Desana e dos aspectos sócio-culturais a ele relacionados, além de conclusões acerca de metodologias de pesquisa e de construção do conhecimento, relacionando autores clássicos e contemporâneos do campo das ciências sociais.

Palavras chave: Desana; Etnoastronomia; Antropologia; Mitologia; Cosmologia.

BANNERS

O ASPECTO LIBERTÁRIO NOS VERSOS DE ASTRID CABRAL E LUIZA NETO JORGE

Carolina Alves Ferreira de Abreu (UFAM)

Resumo: Neste banner, objetivamos fazer um estudo direcionado à comparação entre o poema “Sem Maquilagem”, presente na obra Lição de Alice, da poetisa amazonense Astrid Cabral, e o poema “Minibiografia”, inserido em A Lume, da portuguesa Luiza Neto Jorge. Esta proposta tem como intenção considerar, por meio de uma linguagem poética e particular, o espírito revolucionário e libertador tratado pelos eu-líricos dos dois poemas, abordando de forma contestadora o universo feminino adverso aos costumes vigentes de cada momento: a mulher, como um indivíduo moldado às condições sociais devidamente impostas a ela, e a liberdade do ser, condição humana oposta à submissão ou domínio de outro. Para isso, utilizamos como fundamentação teórica a crítica temática que propõe a investigação da relação do sujeito com o mundo.

Palavras-chave: Crítica temática; Literatura Comparada; Liberdade.

Universidade do Estado do Amazonas - Cátedra Amazonense de Estudos Literários

Livro de Resumos: III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário Amazônia: Literatura e Cultura.| 87

MEMÓRIA, UMA EMOÇÃO QUE SE FORTALECE AO LONGO DO TEXTO E DO TEMPO

Matheus José Santos da Silva (UF AM)

Resumo: Neste banner, propõe-se fazer uma análise temática e comparada entre o poema “Soneto”, de autoria da poetisa Astrid Cabral, presente em “Copo de Mar”, primeira parte do livro Rasos d’Água, e o poema “Poema ao filho”, do autor português Jorge Reis-Sá, inserida no seguimento “Caminho de Candeeira” do livro Biologia do Homem, a respeito da relação afetiva e familiar. Como fundamentação teórica, será empregada a ideia de memória discutida pelo filósofo francês Henri Bergson no livro Memória e Vida – textos escolhidos, enfatizando o segundo capítulo da obra, “A memória ou os graus coexistentes da duração”, no qual o autor escreve que esse fenômeno se manifesta na arte em decorrência da explosão de intensas emoções imaginadas ou reinventadas, as quais estão correlacionadas à vivência.

Palavras-chave: Análise temática e comparada; Memória.

UM FLÂNEUR NAS MUITAS CIDADES

Stéphanie Rodrigues da Cunha (UFAM)

Resumo: Neste banner objetivamos identificar a imagem dialética do flâneur na obra “A república muda”, do poeta amazonense Aldisio Filgueiras, tendo em vista as observações críticas que o autor expõe sobre a cidade de Manaus, vítima dos recentes processos de urbanização e industrialização promovidos pela modernidade, empregando como fundamentação teórica o texto de Walter Benjamin Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo, complementada com o comentário de Ricardo Maia sobre a obra em questão, objeto desta pesquisa. Este estudo integra as investigações do projeto Fio de linho da palavra do Departamento de Língua e Literatura Portuguesa (DLLP) – UFAM.

Palavras-chave: Aldisio Filgueiras; Flâneur; Walter Benjamin; Modernidade; Manaus.

Universidade do Estado do Amazonas - Cátedra Amazonense de Estudos Literários

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