BOletim do Kaos #3

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Distribuição Gratuita Distribuição Gratuita Distribuição Gratuita Distribuição Gratuita Distribuição Gratuita JUNHO/2009 SUA DOSE MENSAL DE (R) EVOLUÇÃO EDITORA DA RUA Pág.09 PÁG.14 Gustave Flaubert MULHERES N MULHERES N MULHERES N MULHERES N MULHERES NA ESCRI ESCRI ESCRI ESCRI ESCRITA MV Bill Paula Lima Caco Barcellos JOÃO ANTÔNIO à FERRÉZ Pág.06 Pág.08 tudo de interessante antes que o mundo acabe! LANÇAMENTOS FAVELA TOMA CONTA! CINEMA SEM VERBA Q REPRESENTA PÁG.10 A PONTE PÁG. 11 ESPAÇO VIP SÉRGIO VAZ GUIA PÁG.12 REVOLUÇÃO DAS CATRACAS ESTÚDIO 1 DA SUL PONTOS DE DISTRIBUIÇÃO PÁG. 13 CANTO DA POESIA PÁG. 14 PÁG.07 PÁG.15 PÁG.08 cult cult cult cult cultur ur ur ur urahiphop ahiphop ahiphop ahiphop ahiphop.uol.c .uol.c .uol.c .uol.c .uol.com.br/bolet om.br/bolet om.br/bolet om.br/bolet om.br/boletimdok imdok imdok imdok imdokaos aos aos aos aos EDIÇÕES EDIÇÕES EDIÇÕES EDIÇÕES EDIÇÕES TORÓ ORÓ ORÓ ORÓ ORÓ Grandes nomes da Litera-Rua Pág.04 PR PR PR PR PRAZER EM AZER EM AZER EM AZER EM AZER EM APRENDER APRENDER APRENDER APRENDER APRENDER

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BOletim do Kaos #3

Transcript of BOletim do Kaos #3

Page 1: BOletim do Kaos #3

Distribuição GratuitaDistribuição GratuitaDistribuição GratuitaDistribuição GratuitaDistribuição GratuitaJUNHO/2009SUA DOSE MENSAL DE (R) EVOLUÇÃO

EDITORA DA RUAPág.09

PÁG.14

Gustave FlaubertMULHERES NMULHERES NMULHERES NMULHERES NMULHERES NAAAAA ESCRI ESCRI ESCRI ESCRI ESCRITTTTTAAAAA

MV BillPaula LimaCaco Barcellos

JOÃO ANTÔNIOà FERRÉZ

Pág.06 Pág.08

tudo de interessante antes que o mundo acabe!

LANÇAMENTOS

FAVELATOMACONTA!CINEMASEM VERBAQREPRESENTAPÁG.10A PONTEPÁG. 11ESPAÇOVIPSÉRGIO VAZGUIAPÁG.12REVOLUÇÃODAS CATRACAS

ESTÚDIO1 DA SULPONTOS DEDISTRIBUIÇÃOPÁG. 13CANTO DAPOESIAPÁG. 14

PÁG.07

PÁG.15

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Grandes nomes da Litera-Rua

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OS EDITORESAlexandre De Maio é

editor de publicaçõesde hip-hop pela

editora Escala eMinuano, colaboradorda Revista Raça e do

site Catraca Livre,além de fazer história

em [email protected].

Alessandro Buzo éautor de vários livros,

blogueiro nato eapresentador doquadro “Buzão -

Circular Periférico”, naTV Cultura.

[email protected].

Salve amigos (as) leitores (as).Dividir conhecimento, informação e

despertar o interesse pela leitura. Foi com essameta que nasceu o Jornal Boletim do Kaos.

As nossas informações com acontribuição dos colunistas, entrevistados,escritores e poetas, levam para mais de 10 milleitores espalhados por 13 estados, literatura,cinema, música e quadrinhos.

Nossa luta em levar do centro aquebrada, um veículo com conteúdo, umaalternativa a informação pasteurizada quepredomina atualmente, é reforçada nadistribuição em massa nas periferias,sempre muito carente de informação dequalidade.

Juntamos pessoas influentes,formadores de opinião, imprensa,universitários, cineastas, atores,diretores, atrizes,cantores, escritores,poetas, estudantes,professores, mos-trando que a gentenão quer só comida,a gente quer culturatambém.

Nessa ter-ceira edição falamoscom Paulo Lins, oescritor do sucesso mun-

dial “Cidade de Deus”, um marco da literatura atual, que nocinema ganhou ainda mais força e conquistou o mundo.

Essa cultura efervescente atual mistura váriaslinguagens, do cinema, a literatura, da poesia, as HQ’s; é a colunavertebral dessa publicação. Nas páginas também trouxemos aex-menina de rua, Esmeralda que hoje escritora e mostra que, navida, superação das mais difíceis situações é possível.

A literatura militante de Toni C também é destaque juntocom a matéria especial sobre as mulheres, um panorama

das Edições Toró, o grande exemplo de trabalhocoletivo da literatura periférica atual.

Boletim do Kaos é isso, sua dose mensal de(R)Evolução.

“Para se ter talentoé necessário

estarmosconvencidos de que

o temos”.

Uma das muitas frases dopensador GustaveFlaubert que costuram aleitura desse exemplar.

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Truuty lê Boletim do KaosFoto:Marilda Borges

A palavra é"Conhecimento"

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Ele nasceu 1958, no Rio de Janeiro, mas foinos anos 80 que se inicou como poeta dogrupo Cooperativa de Poetas. Seis anosdepois lançou seu primeiro livro de poesia,publicado pela Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ), Sobre o sol (1986).Toda essa trajetória vivida como moradorda Cidade de Deus, na periferia da cidade,se tornava o credenciando para no futuroser base do seu maior sucesso literário.Enquanto dedicava-se ao magistério eàs pesquisas antropológicas sobre acriminalidade e as classes populares elefoi contemplado com a Bolsa Vitae deLiteratura.No meio dos anos 90 acompanhando ocrescimento da sua comunidade escreveu olivro que seria um marco da literaturacontemporânea. Com a delicadeza, afirmeza e o saber de só quem vive dentroda situação, Paulo Lins mostrou no livroCidade de Deus a criação de umacomunidade que vive sob o terror dotráfico de drogas e sua guerra interna eatuação corrupta da policia.Mas seu livro ganhou fama mundialquando, em 1997, foi dirigido porFernando Meirelles, recebendo quatroindicações ao Oscar 2004 (melhor diretor,melhor fotografia, melhor montagem emelhor roteiro adaptado) e foi indicadopara o Globo de Ouro de melhor filmeestrangeiro.Depois, Paulo Lins se tornou um dosroteiristas mais solicitados pelo cinemae pela TV. Assinou os episódios deCidade dos Homens, da TV Globo, e oroteiro do longametragem Quase DoisIrmãos (2004), de Lúcia Murat, querecebeu o prêmio de melhor roteiro daAssociação Paulista de Críticos de Arte(APCA), em 2005.

“O livro é muito maisviolento, mas a violênciamaior é o descaso e oabandono que grande partedos brasileiros recebem doEstado e da sociedade emgeral.” Paulo Lins

Todas as bandeiras se encheram tanto de sangue que étempo de as banirmos por completo.

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“NINGUÉM VIRABANDIDO DE UMAHORA PARAOUTRA, POIS OPROCESSO ÉLENTO EDOLOROSO E OESTADO ESOCIEDADE,RACISTA EEGOÍSTA,CONTRIBUI EMUITO NESSEPROCESSO.”

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Entrevista: Alessandro Buzo

Boletim do Kaos: Em primeiro lugar, o que vocêachou da ocupação policial na Cidade de Deus (CDD)que diz ter acabado com o trafico na região?Paulo Lins: SE O GOVERNO E A SOCIEDADE EM GERALTIVESSE DADO CONDIÇÕES SOCIAIS MÍNIMAS, ESSAOCUPAÇÃO NÃO SERIA PRECISO. O ESTADO DIZ QUEACABOU COM O TRÁFICO NA REGIÃO COMO SE OTRÁFICO FOSSE SOMENTE ESSES MENINOS SEMI-ANALFABETOS QUE VIVEM NA FAVELA MORRENDO, NAMÃO DA POLÍCIA QUE É A QUE MAIS MATA NOMUNDO. Eu pergunto para onde foram os distribuidoresde drogas da Cidade de Deus? Que ação social fazem comnossos detentos para que eles se reintegrem à sociedade?Por que não se fala em tráfico de armas no Brasil? Quemleva droga para as favelas? Aqui no Rio se adotou apolícia de confronto com os grupos armados dos morrose favelas como se o Brasil tivesse pena de morte.Enquanto o Brasil não acabar com a fome, manter umaboa escola e um grande sistema de saúde esse tipo decrime, feitos por jovens da periferia, sempre vão existir.Ninguém vira bandido de uma hora para outra, pois oprocesso é lento e doloroso e o Estado e sociedade,racista e egoísta, contribui e muito nesse processo.

BK: O livro Cidade de Deus mudou sua vida?Paulo Lins: Minha vida, não! Mudou o meu trabalho, poiseu parei de dar aulas e vivo de escrever.

BK: E o filme, o que pode nos dizer sobre ele?Paulo Lins: Ele guarda o espírito do livro e todos osprofissionais que trabalharam no filme tiveram muitapaixão pelo próprio tema que abordava. Pensávamos queo impacto social e questões como racismo, desigualdadesocial, ensino, saúde pública fossem mais discutidos pelamídia e pela sociedade.

BK: O filme é violento ou a sociedade é violenta e ofilme só retratou?Paulo Lins: O livro é muito mais violento, mas a violênciamaior é o descaso e o abandono que grande parte dosbrasileiros recebem do Estado e da sociedade em geral.

BK: Projetos literários, o que vem por aí?Paulo Lins: Estou escrevendo um livro que fala do samba,da capoeira e da Umbanda aqui no Rio.

BK: Você ainda tem amigos e parentes na CDD, comque frequencia costuma ir à comunidade?Paulo Lins: Não vou muito porque vários amigos tambémse mudaram de lá. Eu saí há 15 anos. Tenho três afilhadose muitos conhecidos. Sempre que rola uma festa eu tô lá.

BK: O que achou da Lei Rouanetque não contempla a literatura?Paulo Lins: Ainda não li sobre isso.Vou começar a acompanhar agoraessa semana, inclusive que entenderas propostas no nosso Ministro. Decara eu acho um erro não contemplara mãe das artes. Isso não pode ser.

BK: Como vê a cena literária periférica ?Paulo Lins: Como sempre, a diferença é que agora se publica mais,os artistas se comunicam. Porém sempre existiram poetas eprosadores na periferia.

BK: O que mais te agrada e o que menos te agrada no Rio deJaneiro?Paulo Lins: O povo é muito legal, mas se mata muito. Eu estouachando muito ruim o governo do Sérgio Cabral. Votei nele e mearrependi. Participei até de um protesto contra a política desegurança.

BK: Gosta de São Paulo, o que faz quando está por aqui?Paulo Lins: Eu tenho vários amigos em Sampa e um filho meucarioca, meio paulista. Quando estou em sampa estou sempre comum amigo para ir a um show os exposição, enfim, entro na cenacultural que essa cidade oferece que é muito boa por sinal.

Um filme?Paulo Lins: O Invasor

Um diretor?Paulo Lins: René Sampaio

Um ator e uma atriz?Paulo Lins: Leandro Firmino e Mary Sheila.

Um livro?Paulo Lins: Fogo Morto

Um escritor?Paulo Lins: Ferréz

BK: Seu livro, assim como "Meunome não é Johnny" por exemplo,estouraram de vender depois docinema, isso é bom ou ruim.Depender do cinema para venderlivro?Paulo Lins: É ruim, queria vendermesmo sem filme.

BK: Gosta de eventoscomo a Bienal do Livro (SP,RJ e outras)?Paulo Lins: Gosto de todos.

BK: O povo não lê porque?Paulo Lins: Porque não temincentivo.

BK: Você acha que asempresas dando um "ValeLivro" de R$ 50,00 por mêspor exemplo, ajudaria amudar essa cena?Paulo Lins: Talvez, não levomuita fé, não.

BK: Considerações finais?Paulo Lins: Eu gosto depessoas legais.

O que o dinheiro faz por nós não compensa o que fazemos por ele.

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Por: Alessandro Buzo

Fotos: Marilda Borges

Ela nasceu Esmeralda do Carmo Ortiz, em 04 deagosto de 1979, cresceu até os 8 anos pedindoesmola com a mãe e os irmãos.

A partir de 1987, ganhou de vez as ruas e passaa ser uma menor abandona na Praça da Sé, nocentro de São Paulo, conhece cedo as drogas,o crack.

Em 1989 foi para prisão (antiga Febem) pelaprimeira vez, ao todo foram mais de 50 prisões,fugas e recaídas.

Até que depois de muitas tentativas, passagenspor projetos como o Travessia, recebeu apoiode Gilberto Dimenstein para escrever suahistória em livro e enfim, mudar o final queparecia trágico.

O livro foi um grande sucesso, deu visibilidadee foi lido em universidades, nas cadeias e nasruas, sucesso de vendas e mais que isso“Esmeralda. Por Que Não Dancei” (EditoraSenac – 208 páginas) virou um clássico. Desuperação, de denúncia, de luta.

Logo no primeiro capítulo ela diz: - COMO ÉGOSTOSO UM CHUVEIRO. O CHUVEIROVAI LIMPANDO A GENTE POR DENTROE POR FORA. NUNCA TIVE UMCHUVEIRO. NUNCA TIVE UMA CAMA EUMA CASA DE VERDADE. AGORA SIM,TENHO O MEU CHUVEIRO, TENHO AMINHA CAMA, TENHO A MINHA CASA.

Pra quem cresceu nas ruas, sofreu todo tipo deviolência, ter um teto, uma cama e um chuveiroé ter muito, mas ela buscou e hoje tem muitomais.

Formou-se em jornalismo, teve um filho e seorgulha de ser boa mãe, de não ter enlouquecidocom toda droga que usou.

Faz mais de 10 anos que não usa, confessaainda ter vontade “Hoje sei que se eu usarviro minha vida de pernas pro ar”. Emseguida descontraí: “Também tenho vontadede ganhar na loteria.”

Recentemente gravou o quadro “Buzão –Circular Periférico” junto com o DélcioTeobaldo (Pivetim/2009Editopra SM) que disse“Pivetim é ficção, a Esmeralda é o Pivetimda vida real”, Esmeralda ainda confessa “Édificil pra mim estar aqui. Parece que foi

Ser estúpido, egoísta e ter boa saúde, eis as condições ideais para seser feliz. Mas se a primeira vos falta, tudo está perdido.

ontem, se ficar muito aqui éperigoso eu roubar um tiozinho, dávontade de usar droga”.

Mas como exemplo de superação elaluta dia após dia, pelos seus sonhos eprojetos atuais que livram sua mentede pensamentos ruins, ela atualmentemora em Pirituba, onde organiza o“Samba da Quebrada”, uma vez por mês.

Esmeralda Ortiz é uma guerreira, saiudo descaso e da invisibilidade, parauma vida de sonhos e futuro atravésda literatura.

Se você não leu seu livro, procure eleia, porque a voz de Esmeralda precisaser ouvida.

Quantas Esmeraldas não existempelas ruas, seu próprio irmão ainda

vive na Sê “POR OPÇÃODELE, AQUI É A CASADELE, NUNCA TEVEOUTRA. O GOVERNO E ASOCIEDADE POUCO FAZ.E UM JOVEMABANDONADO NASRUAS DO CENTRO DESÃO PAULO, SÓ É VISTOQUANDO COMETE UMATO INFRACIONAL,TRADUZINDO, VOCÊ SÓENXERGA ELE QUANDOESTE TE ROUBA, FAZERALGUMA COISA ANTES ÉQUE POUCOS FAZEM”.

Esmeralda Ortiz é um exemplo vivo deque é possivel recuperar, mas a pessoatambém precisa querer, e ela quis.

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las estão por toda parte e não seria diferente na literaturaproduzida nas periferias, as mulheres estão simpresentes e tem muito a nos dizer, muito a somar.Algumas lançaram suas obras, outras ainda não, mastodas elas sabem onde querem chegar.Não dá para falar de mulheres na periferia, sem anteslembrar que muitas vezes são elas que seguram os B.O’s

Por: Alessandro Buzo

Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter.

sozinhas, muitas se vêem só quando ficam grávidas e mãenão abandona, as guerreiras da periferia muitas vezes fazem opapel de mãe e de pai.Mas voltemos à escrita, vamos falar um pouco das mulheresque colocam no papel suas expectativas e sonhos.

Elizandra SouzaEla é poeta, co-autora do Livro “PUNGA” (Edições Toró), juntocom Akins Kinte.Há muito tempo corre pela escrita, antes da onda de saraus,fazia parte do time de fanzineiros, com o seu MJIBA.Passou a frequentar a Cooperifa e outros saraus da cidade,hoje trabalha na Ação Educativa, com a “Agenda da Periferia”,é militante do hip hop linha de frente.

DinhaVinda do Parque Bristol, zona sul de São Paulo, é a únicarepresentante feminina, na Coleção Literatura Periférica da Glo-bal Editora, onde seu livro “De Passagem Mas Não À Passeio”foi relançado, está nas melhores livrarias do país.Uma das organizadoras do Espaço Maloca, no Bristol, costumapromover roda de leitura para crianças.

Raquel Almeida e Soninha M.A.Z.O.Duas guerreiras de Pirituba, ambas são do Sarau Elo da Corrente,Raquel Almeida é esposa do poeta Michel da Silva, Soninha écabeleireira, juntas lançaram o Livro “Duas GeraçõesSobrevivendo no Gueto” (Elo da Corrente Edições), Raquel éresponsável junto do marido, pelo Sarau e pelo Blog (www.elo-da-corrente.blogspot.com).Raquel esteve nas coletâneas “Caderno Negro” e “Pelas Periferiasdo Brasil”.

Aninha Atitude FemininaAninha é de Brasília-DF, vocalista do grupo Atitude Feminina,esteve na coletânea “Pelas Periferias do Brasil – VOL II” é esposado DJ Raffa que lançou o livro “Trajetória de Um Guerreiro”.

Mary do RapParticipou do Livro “Suburbano Convicto – Pelas Periferias doBrasil”, é colunista do blog “Literatura Periférica” Há dois anos(www.literaturaperiferica.blogger.com.br), pretende juntar seustextos publicados no blog e lançar seu primeiro livro.

Essas são algumas das nossas representantes, mas têm muitasoutras na luta, frequentando os sarais e mandando suamensagem, como a Prof.Lú, Rose Dorea, De Lourdes, Ana PaulaRisos entre outras.Elas não se intimidam com nada e fazem literatura da melhorqualidade, mas sem perder a ternura jamais.

Elizandra Souza

Dinha

Raquel Almeida

Soninha

Mary do Rap

Aninha

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Gustave Flaubert nasceu1821, em Ruão, na França e morreuem 1880, na cidade de Croisset. Umdos maiores escritores franceses,cresceu no hospital onde seu pai eracirurgião-chefe.

Sua reprovação na provasde direito na Universidade de Parisfoi o estopim para o começo da suacarreira 1843. Seu primeiros livrosforam “Salambô”, uma reconsti-tuição da civilização Cartaginense,e assim sua carreira cresceu com “ATentação de Sto. Antonio”(1874), “A Educação Sentimen-tal” (1869) e “Três Contos”, entre outros.

Mas nada foi fácil, em 1844, sofreu epilepsiae fugiu para um sitio, depois de cinco anos detrabalho, publicou “Madame Bovary”, o livro quecoloca ele definitivamente entre os grandes. Um livroforte que carregado de critica, rompe os padrõesda época. Ele chegou a ser acusado pelo governofrancês de ter escrito uma "obra execrável sob oponto de vista moral". Mas foi absolvido pelaSexta Corte Correcional do Tribunal do Sena, em Paris,em fevereiro de 1857.

Flaubert, no livro, ridicularizava até suaprópria condição social. Em 1840, por ter seformado ganhou uma viagem. Passando porMarselha, onde viveu um namoro com EuláliaFoucaud de Langlade que deu origem a obra “AEducação Sentimental”.

Para escrever “Salambô” viajou para aÁfrica, Flaubert foi um dos mestres do Realismo,movimento estético de reação ao Romantismoeuropeu. O ideal era retratar a realidade com a arte,e Flaubert conseguiu mais do que isso sedestacando pelo seu estilo, vocabulário e estruturade suas obras.

Mas o escritor para evitar a falência de umparente vendeu tudo que tinha um pouco antes demorrer e seus últimos dias sobreviveu com o saláriode conservador da Biblioteca Mazarine.

“SALVO SE FORMOS CRETI-NOS, MORREMOS SEMPRE NAINCERTEZA DO NOSSO PRÓPRIOVALOR E DO DA NOSSA OBRA.”foi uma de suas frases que marcaram.

Um povo de ateus não poderiasubsistir.

Pode fazer-se tudo, salvo fazersofrer os outros: eis a minha moral.

O coração é uma riqueza que não sevende nem se compra. Presenteia-se.

Talento é paciência sem fim.

oni C. é escritor, produtor, autor do vídeo documentário “É Tudo Nosso! O Hip-HopFazendo História”. Organizador do “Hip-Hop a Lápis”, uma seção semanal de artigosde hip-hop no portal de notícias Vermelho que se tornou livro em 2004, e Ponto deCultura, em 2006.

É membro da Nação Hip-Hop Brasil, entidade nacional do movimento hip-hop doqual ajudou a construir.

Escreve na revista Juventude.br, revisou e prefaciou o livro “A Trajetória deum Guerreiro”, autobiografia de DJ Raffa, assina texto na contra-capa do livro

“Colecionador de Pedras”, do poeta Sergio Vaz.Orientou a construção do programa de TV “Periferia”, produzido pela TV Aperipê-SE.

Morador de Carapicuíba, zona oeste de São Paulo, produtor do CD “Revolução no Caos”.Toni C é ganhador de prêmios como o Escola Viva promovido pelo Ministério da Cultura e oprêmio Cooperifa nas suas três edições. Tem artigos e reportagens publicados nos principaisjornais, revistas e programas televisivos.

Está neste momento finalizando a produção do livro “Hip-Hop a Lápis 2”, e coordena aconstrução da TV Vermelho.

Seus artigos de hip-hop se tornaram um livro em 2004, um ponto de cultura em 2006Chamado Hip-Hop a Lapis. Você também é autor do documentário É Tudo Nosso! OHip-Hop Fazendo História em 2007. Qual foi a idéia que originou tudo isso?Se eu disser que foi ouvindo Pânico na Zona Sul, não estarei sendo original, né? Mas na real foipor ai... Aprendi a escrever fazendo fanzine, a trabalhar coletivamente jogando basquete, a fazerfilme filmando pra fazer trabalho escolar. Mas aprendi a me indignar, buscar informação e meconscientizei com as letras de rap.

Hoje um comunicador, um artista , um ativista contemporânea tem que usar variasferramentas. Como você vê essa evolução de linguagens? E qual o futuro que você vêna comunicação digital, blogs, twitters. Qual o futuro dessa mistura de arte ecomunicação?

TRUTA SOU UM AMANTE DA TECNOLOGIA. PROGRAMO,DIAGRAMO, DISCOTECO, EDITO, ESCREVO. COMO DIZIAMALCOLM X TEMOS QUE UTILIZAR TODOS OS MEIOSNECESSÁRIOS. O hip-hop revolucionou todas as linguagens a 30 anos, fez dos toca-discos instrumentos musicais, das paredes, painéis, das ruas, academia de dança, das calçadas,palco. Mas estamos devagar, precisamos utilizar essas tecnologias a nosso favor. Eu atuo nessafronteira entre a arte e comunicação, e precisamos de mais guerreiros, por que aqui tá descampado,só tem monstrão contra.

Como você se define, produtor, escritor, repórter, ativista?Dependendo do ponto de vista sou tudo isso. Eu me defino como sendo multi-media, no sentidoque topo as pessoas me interpretarem da maneira que quiserem. Sou fundamentalmenteum ativista político, mas até sobre isso há controvérsias.

Voce trabalha dentro de um site que se define como “Esquerda bem informada”. O que é ser deesquerda hoje?Boa pergunta! Porque as pessoas acham que tem a ver com ser destro ou canhoto, ou confundemser de esquerda com ser de oposição. Exemplo é o Lula que era de esquerda e era oposição, aiele se torna presidente, ou seja situação, e nem por isso deixa de ser necessariamente de

Nada é mais humilhante do que ver os tolos vencer naquilo em que fracassamos.

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Então acesse o sitio, leia umconto, baixe um livro ou ouça umapoesia, Edições Toró, a prova doimpossível!

A concretização do olharpoético transformou Edições do Toróna mais complexa ação cultural daliteratura periférica.

A editora conta com 15 títulosde diversos autores, já foram mais de7 mil exemplares vendidos. Na net, ositio é muito completo, que além dedivulgar e disponibilizar as obras,abreespaços para novos textos, divulga oprograma de rádio “Nas Ruas daLiteratura”, mantém uma agenda cul-tural, indicando eventos além de mudara cena cultural de São Paulo nas horasvagas..

Gingando nas ladeiras, vielas,feiras, saraus e centros comunitáriosfamintos de poesia e prosa, EdiçõesToró é um exemplo da pluralidade e dafusão das artes contemporâneas.

Nessa matéria vamosdestacar quatro obras, acomeçar pelo livro homônimo doartista Conde-Quadros, esculturas emurais.

Conde marcou os bairros doJd.João XXIII, Jd.Uirapuru, Jd.Arpoador eCohab Educandário, onde cresceu órfãode pai e de mãe, mas foi nesses lugaresque deixou sua arte de quadros, muraise esculturas. Pintor e ativista foifundador da Associação dos Artistas eArtesãos do Jardim Arpoador e fez dosbarracos onde morou ateliês abertos,e recebia a juventude pra tintar, musicare modelar.

Nos livros escritos, obras,poemas e reflexões do artista“Seja bem vindose não trouxer má vontademá intenção com nossas criançasdiscórdia com nossos jovens,desunião, energia negativafofoca, olho gordo, inveja, cobiçapreguiça, “não sei”, “não dá”,“não tá”, “ cabô de saí”

Outro livro é “De passagem, mas não apasseio” de Dinha. A obra de estréia da adolescentepaulista que se destacou gravando um documentáriopara a BBC World, sobre a desigualdade social no Brasil,a partir do olhar de jovens do movimento hip hop.Dinha cresceu numa favela, no Parque Bristol, zona sulde São Paulo, mas venceu as barreiras e estudou naUSP. A guerreira mostra tudo nesse livro, uma obraimperdível.

Outra publicação é essa fusão de arte que é“Morada”, de Guma e Allan da Rosa. Nesse livro defotos o texto é mero convidado. A nutrição do livro é aluz natural, o equilíbrio gigante da lente do Guma. Suasutileza objetiva, nada interessada em mostrar miséria efome, bem ligeira com uma tradição de coitadinho quese encarrapatou aqui no Brasil. Um ensaio poéticofotográfico, uma reflexão forte sobre a questão dapropriedade, do viver nas periferias.“E como eu esparramasse,/braços se abrindo emânsia de crescença/por dentro de uma parede./E como eu, pescoço travado querendo movimento/vagarosa cãibra no caibro/por dentro viga.O corpo um corguinho. O olhar, ponte bamba.O passo uma/enxurrada de pertences valiosos,rachados na correnteza das tretas./Em cactus de pau adiamos nossa sede”.

Outra edição com dupla de autores é “Donde Miras”,de Binho e Serginho Poeta. Binho tem um Sarau noCampo Limpo, zona Sul de São Paulo, e foi nesse palcoque surgiu a ideia do livro que tem como propósitoconhecer nossa cultura latino-americana.No livro “Bilíngue” o sentimento latino mostra suasraízes e você viaja por essa emoção chamadaLatinidade

Literatura no rádio?Além do site, as editoras, as palestras e saraus, outrodestaque é a série “Nas Ruas da Literatura” umprograma de rádio que ganhou apoio do Programa deAceleração e Crescimento (PAC) em 2006, da SecretariaEstadual de Cultura de São Paulo na categoria“Programas de Áudio para Promoção da Literatura” eprograma chegou à Rádio USP.Versos e contos alinhados a princípio em papel, agoranessa praia entre a beira do caderno, o mar dabiblioteca e o rio do rádio.

esquerda. O termo vem da época da revoluçãofrancesa, quando quem queria que se mantivessea monarquia, se sentava a direita do rei, e quempropunha mudança ficou a esquerda. Dês de entãoesquerda é sinônimo de ser progressista, de lutarpela maioria, defender proposta a favor do povo.

Até que ponto o pensamento político estánas suas obras artísticas?O poeta chileno Pablo Neruda, foi duramenteboicotado pela CIA, eles diziam que em Neruda eraimpossível separar a arte da política. Agora minhaconvicção política se reflete em minha açõesartística tanto quanto qualquer outro artista. A arteé a representação de um pensamento, mesmo queseja uma arte abstrata, basta dizer que o FBIpatrocionou fortemente o abstracionismo durantea guerra fria. A única diferença é que eu tenho umposicionamento político, tenho consciência políticado papel destas ações. Não faço arte pela arte.

Qual foi o melhor momento do documentario?Num sei, é muita idéia. Gosto bastante, por exemplodo Lotto, um graffiteiro de recife que é cego. Foium dos inspiradores pra esse projeto, quando oconheci falei; "o hip-hop precisa conhecer, isso!".Agora pode ser assistido pela internet, estamospublicando um capítulo por semana, tem genteacompanhado que nem novela. www.youtube.com/h2lapis

Adiante um pouco do Livro Hip-Hop a Lapis 2?Terá mais autores, de muito mais quebradas, e émais malandriado, os escritores se tornaram maismaduros, estão mais forgados, mais ligeiros.Transformar um monte de analfabetos em autoresde livros, foi um grande feito do Hip-Hop a Lápis,para muitas pessoas este foi o primeiro livro queleram em suas vidas. Agora isso só não basta, énecessário que o conteúdo esteja mais próximocom aqueles que não gostam de ler, que os temassejam mais variados, que a linguagem seja maissimples. Sem ser bobo, sem ser vazio, sem ser maisdo mesmo. Se um PHD de qualquer curso da melhoruniversidade ler, vai pagar um pau, porque o cabeçadus muleque é zica memu. Se um cara guardadoler, vai se identificar, saber dus corris do mundão. Ese ele for lido daqui a 100 anos, vão saber o que aprimeira geração de jovens do século 21 tavaaprontando. É Tudo Nosso!

A medida de uma alma é a dimensão do seu desejo.

“Truta sou umamante datecnologia.Programo,diagramo,

discoteco, edito,escrevo. Como

dizia Malcolm Xtemos que utilizar

todos os meiosnecessários.” Toni C.

Vocêprecisa deliteratura,poesia,

www.edicoestoro.net

artes-plásticas?Quer ver e ouvir?

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Vamos falar de um Coletivo “QRepresenta”, falo do Movimento Enraizadosdo Rio de Janeiro.

A anos nos corres do Hip Hop, indodo artístico ao social.

Hoje com sede montada emComendador Soares, Baixada Fluminense“Nova Iguaçu” o Enraizados faz projetos deoficinas, de audio visual que viramdocumentários e muito mais.

Por todo esse corre, ganhou o 1ºLugar no Prêmio Cultura Viva do Governo

Texto: Alexandre De MaioFoto: Marilda Borges

Por Alessandro Buzo

www.marildafoto.blogger.com.br

FAVELA TOMA CONTAUm evento que virou livro

Como um evento no extremoda zona leste de São Paulo entrou nocalendário do rap nacional?

O “Favela Toma Conta”organizado pela Suburbano ConvictoProduções que com apoio da AçãoEducativa, Centro Cultural da Espanhae DGT Filmes, promoveu em Maio de2009, a 18ª edição, mais que umevento, uma atitude.

Desde 2004, o evento sendorealizado três ou quatro vezes por ano,sem cobrar ingresso, já levou ao ItaimPaulista grandes nomes do rap comoThaíde, Realidade Cruel, ExpressãoAtiva, DMN, De Menos Crime, AlertaVermelho, A286, Tribunal Mc’s, TrilhaSonora do Gueto, Periafricania, WesleyNóog, Dudu de Morro Agudo (RJ),Realistas NPN (MG) entre outros.

Tradicionalmente o evento érealizado no Dia das Crianças e virouaté livro. “Favela Toma Conta”, deAlessandro Buzo (Aeroplano Editora,284 páginas) saiu em 2008, na narrativaBuzo monta sua trajetória até seenvolver com a literatura e o hip hop,culminando em produzir um eventopara devolver a sua quebrada umpouco de cultura, uma forma de dizerobrigado por ter sido em seus becos evielas que Buzo passou de invisível aapresentador de quadro na TV Cultura,se tornou escritot entre outrasatividades.

“Favela Toma Conta” tevepor duas edições patrocínio de umaempresa de telefonia celular, teveoutras que foi realizado 100% na raçasempre tudo ocorreu na perfeita paz.

É possívelrealizar umfilme semdinheiro?

Por lá, além dos grupos derap, já teve samba, reggae, rock, MPB,jazz, circo, teatro, escritores e poetas.Apesar de ser um evento de hip hop,toda forma de cultura é bem vinda.

Mas para a realização de umevento como esse tem o apoio dorapper Da Antiga, Marilda Borges naprodução, além de FernandoPremonição, Eduardo B.Boy, ToniNogueira e DGT, Eleilson Leite,Vagnão, Bibiano, todo reunidos peloideal de levar cultura para a periferia.

“Com ou sem dinheiro.Quando tem todos recebemalguma coisa, quando não temfazemos por amor. Muitosgrupos vieram 100% de graça,outros só com transporte equando teve dinheiro pagamospela apresentação. Enfim, umafesta da periferia para periferia,tem mais duas datas previstasesse ano, em julho com umaatração internacional, uma rap-per que faz sucesso na Espanha,ainda não estamos divulgandoseu nome, e dia 12 de Outubro,quando pela sexta vez estare-mos na Favela do CDHU Itaim,porque a molecada já sabe, diadas Crianças é Dia de “FavelaToma Conta. Precisamos nosunir, nos organizar e nos profis-sionalizar para de fato a “FavelaTomar Conta” de ponta aponta.” finaliza Buzo.

Texto: Alexandre De MaioFoto: Marilda Borges

Não se faz nada de grande sem fanatismo.

Federal, é um dos “Pontos de Cultura”espalhados pelo Brasil.Seu maior nome artisticamente falando é orapper Dudu de Morro Agudo, que lançouem SMD o albúm “Rolo Compressor” e temlançamento agendado esse mês na Françae na Holanda.

Acesse o site e fique ligado queo “Enraizados” representa.

www.enraizados.com.br

Para o “Profissão MC” foi.O primeiro filme do escritorAlessandro Buzo e do experienteToni Nogueira todo rodado no ItaimPaulista, com atores também novatos,como o rapper Criolo Doido deprotagonista e nomes como DaAntiga, Dan Dan, Neto, Juju Dendenentre os papeis principais efigurantes como Tubarão, Fanti, BetoGuilherme, Eduardo B.Boy, ZinhoTrindade, Márcio Rodgs entre outros.

As tomadas, maioria feita naFavela do D´Avó, do Itaim Paulista,molibilizou a comunidade que aplaudiaao final das cenas. O filme teve aindaparticipação de Rappin Hood e outraslocações como a Fundação Casa,Teatro Franco Zampari e ExecutivoClub onde acontece a tradicional Rinhados Mc´s.

O motivo de fazer semgrana o Buzo explica, “eu tinha aideia e não queria esperar anospara uma possível captação degrana, então convenci o ToniNogueira a entrar comigo naempreitada, além de dividir adireção comigo, utilizar a es-trutura de câmera e edição daDGT Filmes (da qual ele é donoe onde eu trabalho), a DGT pro-duz meu quadro do “Buzão”, naTV Cultura. Com o Toni na jo-gada, fui chamando os amigospara participar, desde que fossesem remuneração, tipo apos-tando no projeto e no que elepode nos proporcionar no fu-turo. Montei um time único”.Finaliza Buzo.

O filme foi rodado em HD,entre novembro de 2008 e fevereirode 2009, está em fase de edição ecom lançamento previsto paraagosto/2009. ”Queremos fazer um

lançamento oficial num cinema, com coquetel edebate no final, depois passar onde tiver umatela, assim como foi feito sem grana, dispo-nibilizar ele de graça para todas as comunidadese, se possível, disputar alguns festivais”. Fala o“aprendiz de cineasta” Alessandro Buzo, como elemesmo se define.

Perguntamos também ao Toni Nogueiracomo foi participar do projeto, ele apresenta umquadro no Domingão do Faustão da TV Globo edirigiu filmes como “Osvaldinho da Cuíca –Cidadão Samba”, entre projetos em outros paísescomo Índia, Toni disse “Na verdade não sou dire-tor e nem quero ser, diretor tem que serchato e eu não tenho a manha, aceitei co-dirigir este fantástico filme do Buzo devidoa minha experiência com o cinema “Udigrudi”nos idos dos anos 70 com os diretores JúlioBressane, Rogério Sganrzela, NevilleD’Almeida e outros como câmera efotógrafo. Naquela época, a gente fazia doislongas por semana, a mesma equipe osmesmos atores e um diretor rodava seufilme pela manhã e o outro à tarde, o maisimportante é que os filmes eram rodadosum pra um, quer dizer, não tinha duastomadas para o mesmo plano, como saíaficava. E foi isso que fizemos no “ProfissãoMC”. Rodamos tudo com uma pequenacâmera de alta definição, com planos e con-tra planos, câmera no tripé como manda ofigurino. A mágica ficou por conta dosatores, com atuações sensacionais em queeles representam eles mesmos com nomepróprio e tudo. O filme ao contrário demuitos outros que revelam as favelas, éum documentário que ressalva na ficção,seus atores contam suas es-tórias na vera”.Finaliza Toni Nogueira.

Agora vamos aguardar pra ver, “ProfissãoMC” vem para fazer barulho. Mostrar que hoje pra sefazer cinema é mais fácil ter uma câmera na mão,mas ainda é preciso ter uma idéia na cabeça.

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No fechamento dessa ediçãorecebemos essa foto deMarcelino Freire direto daFeira do Livro de Lisboa. “Eis aprova do crime” escreveu eleno e-mail, “O KAOS fez o maiorsucesso por lá e saravá! Nomais, aquelabraçosempre grato esempre às ordense té já,” finalizounosso parceiro.Boletim do Kaoslevando nome da Litera-Ruapara Europa.

Por trás de todo o “glamour” queexiste no imaginário de quem nãoconhece a realidade da Europa, há umafrieza, bem pior que o inverno nessecontinente.

Em vésperas das eleições para oParlamento Europeu ( que pretendomoldar o futuro da Europa nospróximos cinco anos), a frieza estáexplícita nas Políticas Europeias deImigração, que tratam os estrangeirosque partiram em busca de melhorescondições de vida como uma praga aser combatida.

A imigração é um fenómeno milenar ecom diversos aspectos positivos, jáque traz uma diversidade cultural paraos países de acolhimento, sem contaros aspectos econômicos.

Mas há na Europa uma visãomercantilista com relação a imigração:quando há necessidade de mão deobra barata os imigrantes são bem-vindos e bem explorados.

Nesse momento, com a crisefinanceira mundial, os imigrantestornaram-se o bode expiatório,acusados injustamente de aumentaro desemprego e a violência, uma boadesculpa para dissimular o fracassodas políticas económicas e sociais.

As leis aprovadas reforçaram ocontrole das fronteiras da “EuropaFortaleza” e, com isso, milhares depessoas morrem tentando entrar nocontinente através de rotasclandestinas e tornam-se vítimas dotráfico de seres humanos.

Quando conseguem entrar na Europa, para sair da ilegalidade passampor um processo burocrático, com um custo elevado e muitas vezessem resultado, mesmo trabalhando há anos e pagando todos osimpostos.

Sem documentação é muito difícil conseguir trabalho e, quandoconseguem, são vítimas de diversos abusos, como não receber osalário.

Em países como Portugal, os imigrantes sem documentos são privadosdos serviços públicos de saúde.

Após a aprovação em 2008 da Diretiva de Retorno (pelo presidentefrancês Nicolas Sarkozi no seu mandato na presidência da UniãoEuropeia) -que entre outras aberrações prevê prisão de até 18 mesespara estrangeiros indocumentados, inclusive crianças - a xenofobiana Europa aumentou.

O Pacto de Imigração e Asilo criminaliza atos como ser solidário comestrangeiros indocumentados, dando moradia ou prestando algumtipo de assistência. Na França já houve casos de pessoas presas porter deixado pessoas dormir, tomar banho ou comer em sua casa.Existem também muitos casos de famílias inteiras presas por nãoterem documentação, aguardando para serem deportadas.

O governo italiano tentou aprovar uma lei onde os médicos do serviçopúblico de saúde deveriam denunciar os pacientes ilegais e umacidade italiana criou uma linha de ônibus exclusiva para imigrantes.Além disso, o governo pretende limitar a percentagem de alunosestrangeiros em salas de aula.

Em Portugal, há casos de pessoas que estiveram durante anos fazendodescontos para a Segurança Social (obrigatório para o trabalhadorque quer se legalizar) e quando recebeu o chamado do Serviço deEstrangeiros e Fronteiras para regularizar sua situação, recebeu umacarta de expulsão, tendo dez dias para deixar o país.

Nesse momento, há milhares de pessoas perdidas no deserto,passando por situações difíceis de imaginar. Fugiram da fome e daguerra, buscando ajuda para sua família e, quando chegam nasfronteiras da Europa, nem sequer são levados para o seu país, sãojogados a própria sorte.

Em meio a todas essas crueldades existem pessoas que utilizam aarte para fazer denúncias, como é o caso do documentário Bab Sebta,de Frederico Lobo e Pedro Pinho, onde podemos conhecer, atravésde alguns depoimentos, a realidade de quem ficou no meio do nada,só com o sonho: entrar na Europa e trazer melhores condições devida para a família. “Eles (europeus) vieram até a África pelo mar. Agoraque nós queremos ir por mar até lá, eles não permitem? Agora elesestão desenvolvidos e querem que nós permanecemos pobres".depoimento de um dos entrevistados no documentário.

Por Juliana Penha, correspondente de Lisboa.

O autor, na sua obra, deve ser como Deus no universo,presente em toda a parte, mas não visível em nenhuma.

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O Riso do palhaço sem alegria

13/06 - 20hPavio da CulturaTodo segundo sábado domês, escritores, poetas,músicos, dançarinos,cineastas, cordelistas,repentistas e capoeiristas sereúnem para apresentarem umpouco da sua arte nesteespaço que reúne 100 pessoasa cada encontro. Ohomenageado é o poeta JoãoCabral de Melo Neto.Realização: AssociaçãoCultural Literatura no Brasil ePrefeitura de Suzano.Local: Centro Cultural deSuzano, Rua BenjaminConstant, 682 - Centro -Suzano - SPInformações: (11) 4747-4180

Por Sérgio Vaz

Outro dia alguém, não sei bem porque e quando ,me disse que a vida era um presente divino, e que devíamossaber aproveitá-la, e jamais esquecer de agradecê-la, quemquer que fosse o padrinho. E que por pior que seapresentasse a vida, estar vivo era um milagre dos céus."Deus sempre sabe o que faz", enfatizou o amigo, filósofode botequim, cheio de paz no coração e repleto de alegriaartificial na cabeça.

Fiquei meio assim com essa ideia de que a vida éum presente, porque outro dia também ouvi de ummendigo agradecido pela sobras de um almoço: "cavalodado não se olha os dentes", nesse mesmo dia o vira-lata ficou sem o seu almoço na lata de lixo. As migalhasnão escolhem os miseráveis, elas são presentes do acaso.

É preciso estar no lugar certo, na hora certa, nosdiz as pessoas que embrulham os presentes. Mas como ospobres e os vira-latas não têm relógio, sempre chegamatrasados. Assim como os ônibus.

Não sei quem me disse que para entender a vidaera preciso conhecer a palavra de Deus, mas como ele nuncaapareceu pessoalmente, durante muito tempo acreditei nosmandamentos dos publicitários. Lembram daquela profecia?"O mundo trata melhor quem se veste bem". Pois é, omundo dá crédito para quem tem crédito.

E aí, se a vida é agora, vida loka ou vida besta?Descobrir tem seu preço.

Na verdade acho que a vida é uma das coisas maisengraçadas que o mundo nos dá, e que por isso mesmo,muitas vezes não tem graça nenhuma. Não é que eu sejamal-agradecido, e ria menos que devia para o destino, masé que tem umas coisas que acontecem...

Vai vendo a ironia do destino, tenho um amigoque estava já algum tempo desempregado, estava vivendode bicos, sei que tem muita gente que não sabe, mas viverde bico não tem graça nenhuma. Ele agora ele faz bico emuma loja de sapatos, e a coisa mais engraçada é que elenão é vendedor, nem gerente ou faxineiro, meu amigo é opalhaço da loja. É. Ele fica na frente da loja vestido depalhaço, fazendo graça para as pessoas que passam. Parecelegal, né? Mas não é.

Quando eu o vi e reconheci até que foi meio divertido, não sei se porque opatrão estava olhando, mas seus olhos e a maquiagem mal-feita, o traíram. Estava triste.

Puxa! Pensei: um homem desempregado não deveria ser palhaço, serpalhaço não é uma profissão, é um estado de espírito, um dom. Taí, um presente.

Que tristes tempos nós vivemos, em que os circos se foram para onunca mais, e os palhaços-trapezistas habitam as lojas de sapatos.

Também tentei fingir, e ri um riso falso de poeta que tem a bocadesbotada, para que ele, talvez, se mantivesse digno em seu novo emprego,para que ele talvez se mantivesse firme na corda-bamba dessa vida, que maisparece sapato sem cadarço, para os que têm pés-de-chinelo e as pegadasmiúdas que rastreiam o chão duro da felicidade que nunca vem.

Despediu-se de mim com os olhos e partiu arrastando sua tristeza ocultaem outra direção. Ele se aproxima de uma menininha que se afasta meio com medo.

A Mãe, sem-graça, diz: "não tenha medo minha filha, é só um palhaço.""Quem dera", pensou ele."A vida não é engraçada, um homem triste a fazer sorrir os

outros?", disse a voz do destino, segurando um cartão de crédito sem-limitesna mão, e um peito vazio na outra.

Sem saber como chorar, ele respondeu com os olhos: "Não mãe, não é sóum palhaço, é um homem sem emprego, desfrutando o presente da vida".

Despedi-me com um sorriso amarelo e lembrei-me de outrosdesempregados, que cegos, viram atiradores de facas. Dói só de lembrar.

13/06/2009 (das 16 às18h) - Alessandro Buzopromove na Loja SuburbanoConvicto do Itaim Pta o"Encontro com o Autor",que traz o poeta FUZZIL.Serviço: Rua Nogueira Vioti,56 - Itaim PaulistaInf: (11) [email protected]

Sarau Elo da CorrenteToda quinta-feira, menos aultima do mês.Bar do SantistaRua Jurubim, 788- A. JdMonte Alegre - Pirituba.20 horasTel: (11) 3906-6081 c/Michel e [email protected]

26/06/2009 - (19h) - SUBURBANO NO CENTROApresentação: Alessandro Buzo .ATRAÇÕES: Os guerreiroz, Função DNS,PercutindoMundos, Comunidade Carcerária,Impacto Verbal.* Pocket Show c/ 3 musicas.([email protected])Ação Educativa - Rua General Jardim, 660 (MetrôSta Cecilia)

SARAU COOPERIFAMovimento literário que acontece desde 2001,todas as quartas- feiras, com recital de poesias noBar do Zé Batidão na periferia da Zona Sul de SãoPaulo. Busca um novo artista, o artista-cidadão quecontribui para melhorar a comunidad.Todas as quartas-feiras, a partir das 20h. Bar do ZéBatidão - Rua Bartolomeu dos Santos, 797 -Chácara Santana. Zona Sul.Entrada franca. (11) 5891-7403.

SARAU POESIA NA BRASA06/06 e 20/06Criado em julho de 2008 com o objetivo deproduzir e divulgar arte e poesia dentro dacomunidade da Zona Norte, este sarau é ummovimento cultural de periferia para aperiferia, uma forma de construir um outrouniverso baseado nas palavras comoferramenta de transformação. É também umespaço de expressão discussão e reflexão,aberto a todos que queiram comungar dapalavra.

Bar do Carlita - Rua Professor Viveiros Raposo,234 (em frente da escola E.E. João Solimeo).Brasilândia. Zona Norte. Entrada Franca. (11)9169-9690. http://brasasarau.blogspot.com

Show de RAP28 de junho, das 16h às 19hNegredo-N.S.N-R.d.G-Conexão Sul-Forma deExpressão-Tr nação ÒR.Cantos do amanhecer s/n Jd.mitsutani.

Sérgio Vazrecitando nacomemoração dos2 anos de “SarauRap” na AçãoEducativa

Maiores informações e muito mais opçõesacesse nossos parceiros e informe-se no siteda Ação Educativa que tem uma agendasobre os vários eventos no mêswww.acaoeducativa.org.br/agendadaperiferia

No site Catraca Livre você tem uma agendaque tem eventos, cursos, cinema, teatro,exposições, palestras e encontroswww.catracalivre.com.br

Quem quiser divulgar seuevento na próxima ediçãoentre em contato pelo [email protected]

Page 13: BOletim do Kaos #3

Quadrinhos coletivo onde o internauta é co-autor!

streou a primeira História em Quadrinhos (H.Q.)interativa da internet. Ela faz parte dos materiaisdesenvolvidos pela equipe do site Catraca Livre(www.catracalivre.com.br).Nessa HQ o internauta participa fazendo os textosdas páginas. No enredo de “Revolução dasCatracas”, idéia do jornalista Gilberto

Dimenstein e desenvolvida pelo quadrinhistaAlexandre De Maio cada página tem um autor.

A primeira história começa com um jovem casal,de diferentes classes sociais. Camila, moradorada região dos Jardins, na zona oeste, conheceHenrique, morador do bairro da Brasilândia, nazona norte da cidade. Deste encontro, surgiu ointeresse de um pelo outro.A partir de então, a cada semana uma nova páginaentra online e os internautas vem construindo ahistória coletivamente.

Participe, deixe um post, com seus palpites de comoseria a história ideal para o casal. Mais que umahistória de amor, essa HQ é uma reflexão sobre asdiferenças da nossa sociedade.É possível encontrar uma São Paulo, onde nãoexistam catracas? É possível quebrar asbarreiras sociais numa cidade com milhões dehabitantes?

Quem quiser saber o que aconteceu com Henrique eCamila, acesse o site. Os dois já se encontraram nabalada, já dançaram, já beberam, já ficaram e agora, aoque tudo indica, começam um relacionamento. Façavocê, também, parte desta história e dê sua contribuição.www.catracalivre.com.br

Keila Baraçal

Cuidado com a tristeza. Ela é um vício.

ONDE PEGAR O SEU "BOLETIM DO KAOS"?São Paulo/Região CentralDGT Filmes (Rua 13 de Maio, 70)

Ação Educativa (Rua General Jardim, 660)

Sebo 264 (Rua Rua Álvares Machado, 42Liberdade) - (11) 3105-8217

Restaurante Santa Madalena(Rua Santa Madalena, 27 - Bela Vista)

Conduta (Galeria 24 de Maio)

Porte Ilegal (Galeria 24 de Maio)

Zona LesteLoja Suburbano Convicto(Rua Nogueira Vioti, 56 - Itaim Paulista)(11) 2569-9151

Casa de Cultura do Itaim Paulista(Pça Lions Clube, s/n - Itaim Paulista)

Sebo Mutante(Rua Barão de Alagoas, 76-A - Itaim Pta)

Zona SulBar do Zé Batidão(Rua Bartolomeu dos Santos, 797 - ChácaraSantana)

Loja 1 da Sul(Rua Comendador Santana, 138 - Capão Redondo)

Loja 1 da Sul(Av. Adolfo Pinheiro, 384 - Lj. 31 - Galeria Borba Gato)

Estudio 1 da Sul(Rua Grissom, 80-A - 50 metros Metrô Capão)

Sarau Binho

Sarau Ademar.

Zona OesteBar do Santista/Sarau Elo da Corrente(Rua Jurubim, 788-A Pirituba)

Zona NorteCCJ - Vila Nova Cachoeirinha(Av Dep. Emílio Carlos, 3641)

Casa Verde - Banca de Jornal(altura do nº 450 da Rua Dr César Castiglioni Jr)

Sarau da Brasa - Bar da Carlita(Rua Prof.Viveiros Raposo, 234)

Outros EstadosProcurem os agente multiplicadores, e oscolaboradores, que existe em seu estado.Espaço Enraizados (Nova Iguaçu - RJ)CUFA Madureira RJ (sede da CUFA)Afroreggae RJ (A/C José Junior)Heloisa Buarque de Hollanda (RJ)Eduardo Siqueira (Curitiba-PR)Paulo Lins (RJ)Nelson Maca/ Blackitude (Salvador-BA)Lindomar 3 L (Uberaba-MG)Tata Amaral (cineasta-SP)Casa do Zezinho (SP)Mandrake (Portal Rap Nacional) SCLivro Sonoro (SP)Estevão Paiva (DF)Darlan (DF)

Marlos Nunes (DF)

Estúdio e biblioteca sonoraO estúdio recém inaugurado na zonasul, além de abrigar equipamentos dealta tecnologia pra gravação de audio.Também tem outro acervo de ponta:uma coleção de mais de 10 mil vinis.Um grande acervo que envolve quasetoda discografia do hip hop brasileiro emuita música Black, nacional einternacional.Quem produz lá, além de ter acesso auma gravação de qualidade, temacesso aos vinis, na foto Maurício, oproprietário do estudio e da coleção aolado do Dj Dr renomado produtor.Música contemporânea, com raiz nopassado, tudo com selo de qualidade 1Da Sul que completa 10 anos agora.

Page 14: BOletim do Kaos #3

Versado de várzea

(Pro Bola e pro Kiko)

Lá vem ele...

Lá vem ele com ela

Costurando a imagem

mais bela

Das ladeiras

domingueiras

Criativo na ativa

Ele num gela

No BA-TIN-CUN-DUM!!!

Nota 10

Ele é 10

Craque da massa

Batalha de raça

Amor que ultrapassa

Qualquer sofrimento

Daquele que dá a vida

Pela vila

Pelo manto

Amadores amores

Nas canelas as dores

Nas canchas de terra

Só cola os fera

Que trinca

Igual na trincheira

No ritmo do timbre

Faz da várzea um verso

Um outro universo

O povo do canto

Se enche de encanto

Na ginga, na finta

Que é firme, da firma

E finda.

Velha guarda só ganha

Bola na gaveta abala

Torcida vibra

Torcida chora

Duro golpe no goleiro

GOOOOLAAAAAÇO!!!

MV Bill aprende a língua portuguesa por meio da literaturaAntes mesmo de escrever letras de rap, MV Bill descobriu na escola,

durante as aulas de redação, que tinha um grande talento com as palavras. Porconta de sua imaginação fértil, as histórias criadas pelo garoto ficavam interessantese a professora Nair acabava sempre lendo na frente da sala para todos seuscolegas. “As aulas de redação foi o primeiro lugar que percebi meu domde escrever histórias, mesmo antes de fazer o rap”, conta MV Bill.

Fascinado pela palavra Bill passou a ler muito, descobrindo assim acomplexidade da língua portuguesa. “A leitura foi um dos fatoresfundamentais na minha vida e na minha formação, descobri que existiaoutro português diferente do favelês que eu falava”.

Eleito pela Unesco como um dos rappers mais politizados dos últimosdez anos, MV Bill também conhecido pelo trabalho de desenvolvimento socialque faz junto com os jovens da comunidade Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.Todo esse envolvimento com a causa começou justamente por causa do rap.

Caco Barcellos aprendeu com a igreja e com os hippiesUma escola comprometida com a realidade do seu bairro pode estimular

seus alunos a encontrarem mais sentido em estudar. Um ótimo exemplo disso é ojornalista Caco Barcellos, que durante a infância, no Rio Grande do Sul, freqüentavaum colégio que se importava com a realidade política de seus alunos.

Foi um professor que deu a primeira chance para o jovem mostrar seutalento de repórter. O mestre de filosofia trabalhava na redação de um jornal eresolveu contratar o Caco Barcellos.

Uma família contadora de histórias, a igreja e uma longa vivência em umacomunidade hippie também contribuíram para enriquecer o repertório cultural dojornalista.

Até hoje Caco continua tendo novos aprendizados. Diariamente oexercício da reportagem vira sua maior escola. O contato que a profissão oproporciona de ter com diferentes tipos de pessoas faz com que Caco Barcellosseja apaixonado pelo jornalismo.

Paula Lima usa o Direito na sua carreira de cantoraPaula Lima – um dos ícones da música popular negra brasileira – descobriu

ainda na pré-escola, com a professora Cidinha, o gosto pelo canto. Foi ela quemincentivou a cantora a ser oradora de sua turma, na formatura.

Cantora teve as primeiras aulas de piano aos seis anos“A tia Cidinha foi muito bacana, porque ela tocava sanfona. Ela

era uma professora muito engraçada. Sempre achava que eu tinha umpotencial a mais. Tanto que na formatura do pré ela me colocou comooradora e cantora da turma”, conta Paula.

Mas foi na aula de piano, a partir dos sete anos de idade, com a professoraElga, que Paula sentiu o prazer em aprender sobre as notas musicais. “Eu tivemuito contato com pessoas e culturas diferentes. Essa professora eramuito correta, digna”.

Quando chegou na faculdade de Direito, a cantora se deu conta de queera possível aliar os dois campos de trabalho, ou seja, o Direito e a Música. Elaexplica como. “No lado prático, eu leio meus contratos de uma outramaneira”. Paula, ao longo de sua carreira de cantora, percebeu também que amúsica poderia oferecer inúmeras formas de aprendizado. “Conheci França,África do Sul, Angola, diversos estados, muitas pessoas iluminadas, queé caso do Jorge Ben Jor.”

Além de Paula Lima , artistas como Jorge Vercillo, Fernanda Montenegro,Mariana Ximenes, Gilberto Gil e Fernando Meirelles também contam como foramsuas experiências durante o tempo de escola.

PrazeremaprenderFotos: Marilda Borges

Texto Erika Vieira

Só através do estudopodemos transporos obstáculos davida e mudar a

nossa realidade.

Michel -Elo da Corrente

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om esse título Ferréz lança um DVDque conta sua trajetória e a criação

da marca 1 Da Sul e toda sua correriapela literatura marginal.

O documentário sobre a vida doescritor Ferréz, que já vendeu mais de 100.000cópias de livros em seus 11 anos, traz aspalestras, intervenções e viagens do escritor.Conhecido por obras como “Capão Pecado” e“Manuel prático do ódio”. Ferréz é um marginalmultimída, além de escritor lançou disco de rap, faz eventos,é roteirista da série do canal Fox, e com sua marca tem 3lojas que são sucesso na zona sul.Sem perder a personalidade marginal Ferréz já foi publicadoe passou por diversos países como Itália, França, Alemanha,Portugal e Espanha.

Ferréz resgatou o nome Literatura Marginallançando, em parceria com a revista Caros Amigos, apublicação Literatura Marginal Ato I, que foi sucessonas bancas do país e colocou vários nomes da literaturamarginal atual em evidência.

Sua marca completa 10 anos e seus trabalhossociais mudaram a cara da quebrada, e como a sociedadepaulistana vê o Capão Redondo.

Sempre revolucionando, o mano acaba de lançaruma Editora Selo Povo, que vai vender livros à R$ 5,00visando disseminação da literatura nas periferias, quebrandociclo de preços altos dos livros.

Ferréz enxerga longe e é fiel a suas convicções, àsvezes é até incompreendido, mas nunca ignorado.Atualmente também acumula a função de entrevistadorno quadro “Interferência” do programa “Manos e Minas”,da TV Cultura.

Na literatura seus livros “Capão Pecado”, “ManualPrático do Ódio” e “Ninguém é Inocente em São Paulo”dialogam com “Malagueta, Perus e Bacanaço” mostrandoque marginalidade é atemporal. Muito mais que umacondição social, é um estado de espírito.

oão Antônio Ferreira Filho (1937-1996) é uma das grandes referência daliteratura marginal, mas ser marginal no país que vivia sobre ditadura foidifícil. Mas assim como Ferréz, João Antônio viu as dificuldades começaremdentro da sua casa. O escritor paulista filho de uma família de imigrantesportugueses de poucos recursos, que se instalou na cidade de São Paulo,em 1949 publicou seus primeiros contos.

Mas seu cotidiano marginal, como assíduo frequentador os salões desinuca, cada vez mais o aproximam da realidade das ruas da época.

Em 1958, ele ganhou os concursos de contos da revista "A Cigarra"e do jornal "Tribuna da Imprensa" e iniciou o curso de jornalismo. Mas, assimcomo o escritor do Capão, os originais de seu livro "Malagueta, Perus eBacanaço" foram destruídos no incêndio de sua casa, em 1960. (Os de Ferrézforam levados pela enchente.)

O livro só saiu em 1963 e ganhou o Prêmio Fábio Prado e doisPrêmios Jabuti. No ano de 1964, mudou-se para o Rio de Janeiro, para trabalharno "Jornal do Brasil". Em 1966 voltou a São Paulo, onde passou a fazer parteda equipe criadora da revista "Realidade". Teve contos publicados naAlemanha, Venezuela e, naquela época, Tchecoslováquia. De volta ao Rio, em1968, passou a colaborar com diversos jornais. Publicou, em 1975, "Leão-de-chácara" (Prêmio Paraná de 1974) e "Malhação do Judas carioca". Editouo "Livro de cabeceira do homem" e criou a expressão "imprensa nanica"no jornal "O Pasquim". Ainda nesse ano, foi agraciado com o Prêmio Ficção daAPCA (SP). Em 1977, seu conto "Malagueta, Perus e Bacanaço" foi adaptado parao cinema, recebendo o nome de "O jogo da vida". Outro prêmio: em 1983,seu livro "Dedo-duro" recebe o Troféu Calango do Prêmio Brasília de Ficção.Ganhou também o Prêmio Pen Club.

Premiada, sua obra é objeto de análise dos mais importantes críticosliterários brasileiros.

Outras obras do autor: "Casa de loucos" (1976), "Calvário e porres dopingente Afonso Henriques de lima Barreto” (1977), "Lambões de caçarola" (1977),"Ô, Copacabana" (1978), "Noel Rosa" (1988), "Meninão do caixote" (1983), "Dezcontos escolhidos" (1983) e "Abraçado ao meu rancor" (1986).

Seu maior sucesso "Malagueta, Perus e Bacanaço", João Antônioexpôs de forma simples e lírica (mas contundente), flagrantes da vida depersonagens suburbanos, registrando especialmente o drama dos jogadoresde sinuca, os últimos malandros paulistas, condenados ao desaparecimentopela urbanização feroz da cidade. Contos como "Meninão do caixote", "Afinaçãoda arte de chutar tampinhas" e o próprio conto-título do livro estão entre asmelhores histórias curtas brasileiras de todos os tempos.

Em 1967, casou-se com Marília Mendonça Andrade. No mesmo anonasce seu único filho, Daniel Pedro.

Mas no final dos anos de 1960 resolveu mudar radicalmente de vida.Largou seu emprego, destruiu seus cartões de crédito, vendeu seu automóvel,separou-se da mulher e passou a vestir-se de forma despojada, geralmente debermudas e sandálias. Enfim, adota um estilo de vida próximo da marginalidadevivida por seus personagens, tudo para se dedicar inteiramente à literatura.

Em 2005, Mylton Severiano publicou "Paixão de João Antônio", livroque tem sua escrita com base em cerca de 200 cartas que João Antônio enviouao amigo jornalista. As cartas revelam a personalidade ímpar desse poeta-narradordos panos verdes, bares e ruas que se perpetuam cada vez que corremos osolhos sobre sua escrita.

É bom ir logo dizendo de sua morte solitária (outubro de 1996),apodrecendo uns quinze dias no apartamento alugado há décadas, na PraçaSerzedelo Corrêa.

João Antônio consolidou sua atividade de jornalista e definitivamenteentrou para a classe média, que ele tanto odiava – e a que se referia comoclasse “mérdia”. “Desaprendi a pobreza dos pobres e aprendi a pobrezaenvergonhada da classe média”, escreve ele em “Abraçado ao meu rancor”,livro que narra uma de suas viagens à capital paulista, depois de sua mudançadefinitiva para o Rio de Janeiro.

João Antônio tinha o hábito de usar o índice alfabético para anotar as gíriasque ouvia nas suas andanças pelas quebradas de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Com uma visão pessimista dos governantes do país e descrédito como mundo das letras, ele sempre se recusou a participar de cerimônias oficiais ereuniões com autoridades e rodinhas literárias. Era um solitário que,decisivamente, odiava o protocolo, a gravata e os tapinhas nas costas. Sealguém queria encontrar João Antônio, não o procurasse junto à oficialidade,mas sim em bares e restaurantes populares, rodas de samba e outros lugares.

Ler suas obras é conhecer melhor a nossa face, os nossos valores etambém os imensos problemas que enfrentamos. Mas, sobretudo, conhecer aboa literatura produzida no país.

Fica aqui nosso convite: vamos ler João Antônio?

Rap NacionalNesse mês vamos falar do site RAP Nacional, a grande fonte deinformação para quem gosta do hip hop, e se identifica com o rapbrasileiro. O site que surgiu há alguns anos tomou força nos últimos e setornou grande referência no mundo do hip hop.Focado no hip hop feito no Brasil, o site traz discos, para baixar,entrevistas, vídeos, coberturas, enfim tudo para quem quer se informarsobre o que acontece no cenário nacional.Comandado por Mandrake , o site vem crescendo a cada dia e é fonteinformação exclusiva em meio a mesmice do conteúdo apresentadoatualmente na internet. Acesse www.rapnacional.com.br.

Um marginal em conflito com o sucessoLiteratura e resistência

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