Arqueologia do cinema de animação - Material prático & didático

28
ARQUEOLOGIA DA ANIMAÇÃO MATERIAL PRÁTICO & DIDÁTICO

description

Arqueologia da Animação - Material prático & didático é uma publicação produzida pelo Coletivo Ora Bolas com o apoio do FAC-DF. É destinada a estudantes, professores e educadores interessados em explorar os sentidos da ficção e da realização do cinema, de construção da memória imagética.Licença Creative Commons para uso não comercial. Copie, cole, leia, releia, imprima, use, divulgue!Você sabia? *Desde o dia 27 de junho de 2014, o uso de recursos audiovisuais passou a ser obrigatório em escolas da educação básica do Brasil. Você sabia? A regra passou a integrar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LEI Nº 9.394). A diretriz é: escolas devem exibir filmes nacionais por, no mínimo, duas horas mensais, como componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola.

Transcript of Arqueologia do cinema de animação - Material prático & didático

  • ARQUEOLOGIADA ANIMAOMATERIAL PRTICO & DIDTICO

    ARQUEOLOGIAARQUEOLOGIAARQUEOLOGIAARQUEOLOGIAARQUEOLOGIA

  • O i , e u s o u o O l i v e r B e r n a r d, m a s p o d e m e c h a m a r d e O . B ! V e n h a c o m i g o d e s v e n d a r o m a rav i l h o s o m u n d o d a A n i m a o ! ? !

  • ARQUEOLOGIADA ANIMAOMATERIAL PRTICO & DIDTICO

  • equipe editorial

    Ilustrao: Julia LibnioPesquisa e texto: Julia Libnio, Raquel Piantino e Tamara e CostaProjeto grfi co e diagramao: Eduardo PootzReviso: Tamara e Costa

    Arqueologia da animao - Material prtico & didtico Impresso no Brasil1 Edio / 2015 Licena Creative Commonspara uso no comercial

  • Dedicado a todos os educadores e escolas que tornaram esse projeto realidade. E, principalmente, aos artistas mirins, nossa maior inspirao: nossa luz e sombra.*

    * conceito cinematogrfi co muito importante.

    Dedicado a todos os educadores e escolas que tornaram esse projeto realidade. E, principalmente, aos artistas mirins, nossa maior inspirao: nossa luz e sombra.*

    * conceito cinematogrfi co muito importante.

  • INTR

    ODU

    O Muito antes do CINEMA, da FOTOGRAFIA ou da LUZ ELTRICA, as pessoas j se reuniam para registrar a dinmica da vida, os MOVI-MENTOS hericos, as jornadas picas ou at mesmo as guerras.

    Em cavernas ou igrejas, pinturas ou foto-grafi as, ns humanos sempre nos encantamos por narrativas e mitos e tudo o que remete ao movimento da ANIMA.

    Anima (em latim) ALMA, que tambm quer dizer o que anima. Anima signifi ca tambm VIDA, ESPRITO e SEDE DO PEN-SAMENTO.

    Existem alguns conceitos bsicos que precisamos conhecer para compreender a DINMICA do movimento:

    Okey. Mas o que tudo isso tem a ver com o desenho animado ou o cinema?Okey. Mas o que tudo isso tem a ver com o desenho animado ou o cinema?

    //7

  • luz e

    som

    bra

    A SOMBRA como o silncio, a pausa, o descanso. Se no houvessem repousos para a mente, a msica, o trabalho ou os estudos, o mundo seria sobrecarregado de informaes supersaturadas sem contorno ou forma.

    Luz e sombra so como o yin yang. A sin-tonia perfeita entre duas polaridades.

    Antes do sc. 19, quando no havia luz eltrica, nas cidades, sombras oscilavam com as labaredas das fogueiras, tochas, lareiras, velas e candelabros.

    Com a descoberta da eletricidade, as sombras fi caram rgidas sem movimento.

    Voc tem medo do escuro? J viu uma sombra em movimento? A sombra de uma rvore na janela do quarto escuro que parecesse mais o monstro cabeludo do alm? Teve medo?

    Vejamos: num desenho, a sombra quem d profundidade. Num ser humano, a sombra uma caracterstica da personali-dade - e cada um tem sua prpria sombra.

    E no Cinema, a sombra um dos princ-pios da PROJEO DA IMAGEM.

    Luz e sombra, tempo e movimento, espao e iluso so conceitos fundamentais para entender como uma imagem esttica pode se movimentar.

    //8

  • Se voc observar esta mesma ma nas mesmas circunstncias ao longo do dia, ir perceber a variao da posio desta sombra...

    Voc consegue imaginar essa experincia no tempo das cavernas?

    // EXPERIMENTESe voc colocar uma ma em frente a sua

    janela, permitindo que a luz do Sol entre in-cidindo sobre a mesa cuja ma est apoiada, vai perceber que ela projeta uma sombra, certo?

    E se voc levar a ma para uma fogueira dentro de uma caverna, a oscilao das laba-redas dar a impresso de que a ma est em movimento, correto?

    LUZ E SOMBRA

    TEMPO E MOVIMENTO

    ESPAO E ILUSO

    //9

  • AS PI

    NTUR

    AS

    RUPE

    STRE

    S Registros arqueolgicos nos mostram que nossos ancestrais pintavam dentro das caver-nas aquilo que gostariam de caar. Nos rituais, pinturas j nos deram poderes sobrenaturais e garantiram o bom sucesso da caa.

    Na Pr-Histria, imagens estticas pro-duzidas nas cavernas Altamira (Espanha), Lascaux ou Font-de-Gaune (sul da Frana), at hoje parecem se movimentar. Nesses locais, medida que algum com uma lan-terna se locomove a uma determinada velo-cidade, parte das fi guras fi cam na sombra e parte se iluminam, resultando na iluso de que as imagens se movimentam.

    Talvez, em suas representaes, o homem das cavernas no estivesse apenas reprodu-zindo imagens de sua caa como prtica ri-tualstica, mas ORGANIZANDO quadros em um espao e tempo especfi cos. Ou seja, criando neste exerccio de pintar o que hoje podemos reconhecer como os princpios bsicos do Cinema e da Animao.

    Vamos viajar pelo tempo !!!!

    VRUMMMMM//10

  • Assista: COMO A ARTE FEZ O MUNDO - documentrio de 5 epis-dios produzido pela BBC em 2005 - especialmente o EPISDIO 2 - O DIA EM QUE AS IMAGENS NASCERAM. //11

  • DA C

    AVER

    NA A

    O TE

    ATRO

    DO

    TEAT

    RO A

    O CI

    NEM

    AEra e no era uma vez na China, na

    dinastia Han (por volta de 200 a.C.), um imperador chamado Wuti. Deses-perado aps perder sua amada dana-rina num fatal acidente, pediu a um mgico que a trouxesse de volta a vida. Impossibilitado pela prpria fsica, o mgico ento usou a imaginao: pegou uma fi na escama de peixe e cortou no formato da bela jovem. Com a imagem (cortada) da mulher proje-tada em um lenol branco, fez ressurgir em sua vida a lembrana viva da dana e do encanto.

    //12

  • Aproximadamente 5.000 a.C., no Oriente, nascia o Teatro de Sombras. Era ento uma espcie de projeo, em cortinas brancas, de silhuetas de bonecos articulados e manipu-lados por varetas.

    O teatro de sombras chins, tambm co-nhecido como Chinauaka, uma arte muito antiga que at hoje praticada por grupos de mais de 20 paises. tambm considerado um dos primrdios do Cinema.

    Sombrio, no?!Mas e o cinema e a animao?

    // TEATRO DE SOMBRAS

    Sombrio, no?!Mas e o cinema e a animao?

    //13

  • O qu

    e so

    br

    inqu

    edos

    p

    tico

    s?

    Tudo comea com brincadeiras ldicas que desencadearam maravilhosos objetos de pesquisa e estudo. Os chamados brinquedos pticos provocam, fundamentalmente, a iluso que os olhos e a imaginao produzem.

    Os dispositivos pticos mecnicos, ou brinquedos pticos, foram aparelhos desen-volvidos no perodo Pr-Cinema, que possi-bilitavam ver imagens animadas sem neces-sariamente a utilizao de energia eltrica e/ou projeo.

    Estes instrumentos, que apresentavam a animao de forma mecnica, deram grande contribuio para a tecnologia da Animao e do Cinema como conhecemos hoje.

    Graas a descobertas divertidas como estas, hoje podemos nos deliciar com os in-meros programas que passam na telinha do Cinema ou da TV*.

    Contudo, os brinquedos pticos foram criados independentes do Cinema. Seus criadores no podiam prever que ainda con-tinuariam a encantar e surpreender pessoas que nasceram depois do cinema cores.

    ou qualquer outro dispositivo*//14

  • Existe uma teoria chamada persistncia retiniana. Ela explica que o olho humano retm uma imagem por uma frao de se-gundos (aproximadamente 1/10 de segundo) enquanto outra imagem est sendo percebi-da; e que o olho v um nico movimento ao ver vrias imagens em sequncia exibidas rapidamente.

    // TAUMATRPIOCriado 1825, quem leva o crdito pela in-

    veno deste brinquedo John Ayrton Paris, fsico e matemtico belga. Ele extremamen-te simples e no sugere um movimento, mas exemplifi ca bem a teoria da persistncia reti-niana. O aparelho consiste em um disco pequeno, com um desenho na frente e outro no verso, preso por duas cordas amarradas. As cordas, ao serem torcidas, fazem duas imagens se fundirem.

    Nossa, esses brinquedos so maneiros! Mas... como funcionam? Nossa, esses brinquedos so maneiros! Mas... como funcionam?

    //15

  • // FENAQUITOSCPIO Idealizado em 1828, o fenaquitoscpio

    um brinquedo com dois discos paralelos presos a uma haste. Ao girar o disco, ob-servando atravs das frestas, as imagens ganham movimento.

    // ESTROBOSCPIO Idealizado em 1832, o estroboscpio

    consiste em um nico disco com frestas abertas entre as imagens. O observador v as imagens atravs das frestas com o dispositivo em frente a um espelho.

    // ZOOTROPOIdealizado em 1834, o zootropo um

    tubo giratrio com frestas em que o ob-servador, ao girar o aparelho, tem a iluso de que os desenhos em sequncia feitos em tiras de papel esto em movimento.

    // FENAQUITOSCPIO

    //16

  • // KINEGRAFO, OU FLIP BOOKSimples, barato e at hoje bastante

    popular, o flip book, idealizado em 1868, hoje o famoso livro de fotos ou desenhos em sequncia. Ao passar as pginas rapi-damente com a mo, vemos uma sequn-cia de imagens em movimento.

    // PRAXINOSCPIOIdealizado em 1877, o praxinoscpio

    um aparelho semelhante ao zootropo, mas ,no lugar das frestas, tem um espelho interno onde o observador v a sequncia de imagens em movimento.

    // KINEGRAFO, OU FLIP BOOK

    LANTERNA MGICAA lanterna mgica fi cou conhecida no

    sculo 17, quando o padre jesuta alemo, Athanasius Kircher, a descreveu e comeou a utiliz-la. O aparelho era constitudo de uma fonte de luz gerada por uma chama de querosene e um espelho curvo dentro de uma caixa, que projetava imagens pin-tadas com cores transparentes - em pedaos de vidro - , em uma tela branca.

    //17

  • Para fazer o estroboscPio voc vai Precisar de:

    - uma tesoura- um percevejo- um palito grande (churrasco ou sushi)

    faa

    voc

    mes

    mo

    3- Fure o palito em uma das extremidades;

    4- Fure o centro do disco com o percevejo deixe o percevejo perfurado no disco e agora encaixe no furo do palito;

    5- O seu estroboscpio est pronto!

    //Dvidas? acesse:arqueologiadaanimacao.blogspot.com.br

    1- Recorte o disco desenhado;2- Recorte as frestas na borda;

    //18

  • Para fazer seu Tau-matrpio, recorte o crculo onde est o Oliver Bernard. Depois, faa dois furinhos nas laterais e coloque duas cordinhas. Gire as cordas com as mos e veja nosso amiguinho no espao. Whohooo!

  • Com a projeo da lanterna mgica somada ao mecanismo dos brinquedos pticos, e o surgimento da fotografi a (1826), temos o Cinema como conhecemos hoje.

    Assim nasceu L'Arrive d'un Train La Ciotat (A chegada do trem na cidade), dos irmos Lumire, considerado o primeiro fi lme da histria do Cinema.

    Dos b

    rinq

    uedo

    sao

    cin

    ema

    E quando o pblico viu o trem em direo cmera pela primeira vez na histria, toda a plateia levou o maior susto! UHAuhauahHA. Imagina s?!

    //21

  • // LUMIREOs irmos Lumire no eram cineastas

    de primeira. Na verdade, eles eram bons co-merciantes. Filhos de um fotgrafo e vendedor de papis fotogrfi cos, os dois irmos soube-ram tirar proveito da clientela vendendo fi lmes e cmeras que eles mesmos faziam.

    O grande sucesso dos irmos Lumire na disputa tecnolgica da poca, era que o Cine-matgrafo (artefato criado por eles) funcio-nava como projetor, cmera e ainda podia fazer cpias a partir dos negativos.

    Seus fi lmes no contavam uma historinha linear, com personagens fi ctcios ou qualquer dramaturgia aparente. Eram fi lmes documen-tais, fi lmes de registro. Como, por exemplo, os funcionrios saindo da fbrica - alm de outras documentaes.

    E que

    m fo

    ram

    ?

    //22

  • // MLIS Muitos cineastas eram mgicos de forma-

    o e usavam o cinema como um dos seus nmeros de ilusionismo. Por isso foram cha-mados de trickfilms (filmes de truques), cuja caracterstica principal eram os cortes e edies muito elaboradas; como desapareci-mentos, mutilaes e metamorfoses.

    George Mlis foi um marco para os trickfilms. considerado o primeiro cineasta de fico.

    Contudo, seus filmes passaram a perder pblico quando o Cinema encontrou uma narrativa prpria e fez com que o ex-mgico entrasse em falncia no ano de 1913.

    // mile ReynaudInventor do praxinoscpio e do Teatro

    ptico, o francs mile Reynaud fez a primei-ra projeo pblica de um espetculo de imagens animadas no dia 28 de outubro de 1892, trs anos antes da conhecida primeira projeo do Cinematgrafo realizada pelos Irmos Lumire.

    O Teatro ptico era uma volumosa enge-nhoca que utilizava tiras flexveis de imagens enroladas em um carretel que, passando diante da lente de uma lanterna mgica, pro-jetava uma animao.

    Alm de inventor, Reynaud era um grande artista e seu novo aparelho foi utilizado para exibio de seu espetculo chamado Panto-mimes Lumineuses. Com aproximadamente 1.500 imagens coloridas pintadas mo, o espetculo continha narrativa, ao dram-tica, personagens, trilha sonora e participao do pblico e, durante alguns anos, fez imenso sucesso. Devido a este acontecimento, hoje em dia, pessoas de todo o mundo comemo-ram o dia 28 de outubro como o Dia Interna-cional da Animao.

    //23

  • bibl

    iogr

    afia

    MASCARELLO, Fernando (org). Histria do cinema Mundial. Campinas: Papirus, 2007.

    LUCENA JUNIOR, Alberto. arte da animao tcnica e esttica atravs da Histria. So Paulo: Senac, 2002.

    MANNONI, Laurent. a Grande arte da Luz e da sombra: arqueologia do cinema. So Paulo: Senac/Unesp, 2003.

    MACHADO, Arlindo Pr-cinemas & ps-cinemas. Campinas/SP: Papirus, 1997.

    CASATI, Roberto. a descoberta da sombra. So Paulo: Companhia das letras, 2001.

    WILLIAMS, Richard. the animators survival Kit. Londres: Faber and Faber Ltd., 2001.

    CAMPBELL, Joseph. o Heri de Mil faces. So Paulo: Editora Cultrix/Pensamento, 1995.

  • SOBRE O PROJETOEste material acompanha o projeto Arqueologia da Animao, realizado pelo Coletivo Ora Bolas, em

    Braslia (DF). A iniciativa contemplada pelo Fundo de Apoio Cultura do DF inclui uma exposio itinerante de brinquedos pticos, alm de ofi cinas criativas, por escolas pblicas e instituies privadas. A publicao destinada a estudantes, professores e educadores interessados em explorar os sentidos da fi co e da realizao do Cinema, de construo da memria imagtica.

    Voc sabia?Desde o dia 27 de junho de 2014, o uso de recursos audiovisuais passou a ser obrigatrio em escolas da

    educao bsica do Brasil. A regra passou a integrar a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (lei n 4.394). A diretriz : escolas devem exibir filmes nacionais por, no mnimo, duas horas mensais, como com-ponente curricular complementar integrado proposta pedaggica da escola.

    arqueologiadaanimacao.blogspot.com.brwww.coletivoorabolas.com.br

    VENHA NOS VISITAR!

  • Apresentao Realizao Apoio

    ... simples: quando acordo aterrorizado, vendo as grandes sombras incompreensveis erguerem-se no meio do quarto, quando a pequena luz se faz na ponta dos dedos, e toda a imensa melancolia do mundo parece subir do sangue com a sua voz obscura... Comeo a fazer meu estilo. Admirvel exerccio, este. s vezes uso o pro-cesso de esvaziar as palavras. Sabe como ? Pego numa palavra fundamental. Palavras fundamentais, curioso... Pego numa palavra fundamental: Amor, Doena, Medo, Morte, Metamorfose. Digo-a baixo vinte vezes. J no significa. um modo de alcanar o estilo.

    Herberto Helder (1930-2015)