Anoplophora chinensis

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Ano XI • N.º 39 • 22 de março a 21 de junho de 2012 Esta Revista faz parte integrante da edição do Jornal de Notícias e não pode ser vendida separadamente • Distribuição gratuita Countdown HEALTH AND BIODIVERSITY Interview SPIDERS Report TAGUS ESTUARY NATURAL RESERVE Contra-relógio SAÚDE E BIODIVERSIDADE Entrevista AS ARANHAS SÃO IMPORTANTES Reportagem ESTUÁRIO DO TEJO

Transcript of Anoplophora chinensis

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Ano XI • N.º 39 • 22 de março a 21 de junho de 2012

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Contra-relógioSAÚDE E BIODIVERSIDADEEntrevistaAS ARANHAS SÃO IMPORTANTESReportagemESTUÁRIO DO TEJO

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FICHA TÉCNICARevista “Parques e Vida Selvagem” · Diretor

Nuno Gomes Oliveira · Editor Parque Biológico

de Gaia · Coordenador da Redação Jorge

Gomes · Fotografi as Arquivo Fotográfi co

do Parque Biológico de Gaia · Propriedade

Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM ·

Pessoa coletiva 504763202 · Tiragem 60 000

exemplares · ISSN 1645-2607 · N.º Registo

no I.C.S. 123937. Dep. Legal 170787/01 ·

Administração e Redação Parque Biológico

de Gaia · Rua da Cunha · 4430-681 Avintes

· Portugal · Telefone 227878120 · E-mail:

[email protected] · Página na

internet http://www.parquebiologico.pt ·

Conselho de Administração José Miranda de

Sousa Maciel, Nuno Gomes Oliveira, Serafi m

Silva Martins, José António Bastos Cardoso,

Brito da Silva · Publicidade Jornal de Notícias

· Impressão Lisgráfi ca - Impressão e Artes

Gráfi cas, Rua Consiglieri Pedroso, 90 ·

Casal de Santa Leopoldina · 2730 Barcarena,

Portugal · Capa foto de João Luís Teixeira

Esta revista resulta de uma parceria entre o Parque Biológico de Gaia e o “Jornal de Notícias”

Primavera 2012

SUMÁRIO 3

Os conteúdos editoriais da revista PARQUES E VIDA SELVAGEM são produzidos pelo Parque Biológico de Gaia, sendo contudo as opiniões nela publicadas da responsabilidade de quem as assina.

9 Ver e falar

11Cartoon

12 Fotonotícias

14 Portfolio

24 Quinteiro

28 Parques de Gaia

44 Migrações

60 Biblioteca

61 Crónica

66 Coletivismo

Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 3

SECÇÕES18 ARANHASentrevistaSeres vivos tidos como repugnantes ganham um lugar ao sol na Década da Biodiversidade. As aranhas não precisam do obséquio: vencido o preconceito, muitas delas são bonitas. Não sendo pela estética que importam aos ecossistemas em que se integram, se não fosse a sua ajuda, estaríamos a braços com picos populacionais de insetos nocivos. Pedro Sousa, investigador, explica esta fasquia da diversidade da vida.

22 BIODIVERSIDADE E SAÚDEcontra-relógioA sua saúde depende da diversidade biológica. Esta é a verdadeira base dos alimentos que consumimos, a fonte dos medicamentos que usamos quando estamos doentes e é através da sua atividade que dispomos de ar puro e água potável. Em plena Década da Biodiversidade, distinguida pelas Nações Unidas, há informações a sublinhar.

46 ESTUÁRIO DO TEJO reportagemAo longo de 14192 hectares a Reserva Natural do Estuário do Tejo comporta uma extensa superfície de águas estuarinas, campos de vasa que abrigam sapais, salinas e terrenos aluvionares agrícolas. Esta área protegida distribui-se pelos concelhos de Alcochete, Benavente e Vila Franca de Xira.

Carlos Rocha

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O professor Valdir Cechinel Filho, coordenador do Núcleo de Investigações Químico-Farmacêuticas, da Universidade do Vale do Itajaí, deu a conhecer num seminário realizado no dia 15 de março deste ano, entre outras conclusões

já apuradas, a descoberta que a “cabeludinha” (Plinia glomerata), um arbusto caraterístico da Mata Atlântica brasileira, terá princípios ativos que permitem produzir fármacos com um efeito mais potente, no controlo da dor e infl amação, que o paracetamol ou a aspirina, fármacos que também têm por base plantas, o salgueiro-branco (Salix alba), no primeiro caso, e a erva-das-abelhas (Spiraea ulmaria, atualmente Filipendula ulmaria). “A expectativa é que no futuro tenhamos um novo fi toterápico disponível no mercado”, disse o Prof. Cechinel.É por estas e outras razões que a biodiversidade tem um valor incomensurável e que a sua destruição é um completo disparate, demonstrativo de falta de cultura e conhecimento.

Lince-ibérico ganha terrenoSão boas notícias: em março nasceram 7 crias no Centro de Reprodução do Lince-ibérico, em Silves, um projeto do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Em abril juntaram-se-lhes mais 12 crias de lince-ibérico. Além destas 17 crias, outras nasceram nos centros de reprodução espanhóis de La Olivilla, de El Acebuche, e de Granadillha, perfazendo um total ibérico de 40 crias, o que eleva a população de lince-ibérico em cativeiro para 96 animais.Em simultâneo com a criação em cativeiro, importa melhorar as condições do habitat para que, um dia, os linces criados possam ser libertados na natureza. Sem este trabalho de criação de condições de abrigo, alimentação e segurança todo o esforço de aumento ex-situ da população de lince de nada valerá.Por isso é de saudar a notícia de uma recente parceria estabelecida entre a Liga para a Proteção da Natureza e a Câmara Municipal de Moura: os 5000 hectares da Herdade da Contenda (Baixo Alentejo)

vão passar a ser geridos de forma mais favorável ao lince-ibérico e ao abutre-preto. Para o primeiro, serão melhoradas as condições de habitat da sua presa principal, o coelho-bravo e, para o segundo, serão instalados ninhos artifi ciais e um campo de alimentação.

O Provedor da FlorestaRetomando este título, do número anterior da revista “Parques e Vida Selvagem”, é com muito agrado que verifi camos, no Diário da República, que o Governo e a Assembleia da República acolherem bem a recomendação feita no fi m do ano passado, pelo Provedor de Justiça, Juiz Conselheiro Alfredo José de Sousa. Assim, em 13 de março de 2012 foi publicada a Lei n.º 12/2012 que revoga o Código Florestal (Decreto-lei n.º 254/2009) e mantém em vigor a legislação fl orestal vigente até 2009, e que o citado Código Florestal tinha, por sua vez, revogado. Quer isto dizer que voltaremos a ter a proteção do Regime Florestal e dos Guardas-fl orestais?

Novas espécies no Parque Biológico O milhafre-preto, a garça-real e a garça-boieira, no estado selvagem, são as novas “vedetas” do Parque Biológico.O milhafre-preto (Milvus migrans), pouco abundante nesta região, foi já registado no Parque Biológico em 2010/2011, havendo a suspeita de nidifi cação na região; este ano, um casal está a nidifi car, num grande eucalipto, dentro do Parque.A garça-real (Ardea cinerea), cuja presença é regular no Parque Biológico, este ano, pela primeira vez, construiu ninho num velho carvalho e, espera-se, vá criar.Finalmente, a garça-boieira (Bubulcus ibis), “muito rara” no Entre Douro e Minho, segundo o portal www.avesdeportugal.info, começou a frequentar o Parque Biológico em início de fevereiro deste ano; um número variável de indivíduos (até agora nunca superior a 10) dorme regularmente, desde então, junto à colónia de garças que existe no Parque, em cativeiro; um casal fez ninho nuns arbustos e está a incubar desde o início do mês.

A Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa

Catarina (Brasil) está a fi nanciar estudos para obtenção de substâncias

com potencial terapêutico tendo como base plantas brasileiras

Por Nuno Gomes OliveiraDiretor da Revista “Parques e Vida Selvagem”

4 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

4 EDITORIAL

O valor da biodiversidade

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Estas ocorrências devem-se, seguramente, à presença em cativeiro e semicativeiro das mesmas espécies mas talvez haja um nexo de causalidade com a seca deste ano, que permitiu às aves fi carem mais tempo no Norte. De fato, em abril deste ano, 57% do território do continente estava em situação de “seca extrema” e 41% em “seca severa”, segundo o Instituto de Meteorologia, encontrando-se a região do Douro Litoral em situação de seca extrema.

Peneireiros em GaiaO Peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus) começa a ter ocorrência regular nesta região. Junto aos estúdios da RTP do Monte da Virgem, tem criado desde há anos numas das aberturas da torre de cimento armado do PT; no Estuário do Douro, utilizam a torre de um depósito de água da antiga seca do bacalhau. Recentemente, um casal habituou-se a pernoitar num armazém da Suldouro, empresa que gere o aterro sanitário de Vila Nova de Gaia e Vila da Feira; para lhe proporcionar um bom local de nidifi cação, em fevereiro a Suldouro e o Parque Biológico instalaram ali um ninho artifi cial (foto).

Reserva Natural Local do Estuário do Douro Em 2 de abril foi registada a presença, na Reserva Natural Local do Estuário do Douro da Mobelha-pequena (Gavia stellata), uma espécie de ocorrência muito rara em Portugal (ver foto na página 30).Apesar disso, já estava na lista das aves selvagens observadas no Estuário do Douro desde outubro de 2010.O Guia da Reserva Natural Local do Estuário do Douro está pronto e impresso, e será brevemente lançado no mercado. Com textos de Nuno Gomes Oliveira, Paulo Paes de Faria, Henrique Nepomuceno Alves, José Portugal, Pedro Quintela, J. J. Gonçalves Guimarães e António Manuel S. P. Silva, Narciso Ferreira, e fotografi as, na sua maioria, de João Luís Teixeira, as 160 páginas deste livro dão-nos uma visão geral da geologia, geomorfologia, arqueologia, história, ocupação humana, fauna e fl ora desta área protegida.

Instalação de um ninho artifi cial na Suldouro Milhafre-preto

Duas garças-boieiras selvagens no Parque Biológico

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6 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

Ainda não se falando em turismo no rio Douro, o professor Link e o conde Hoffmannsegg foram, porventura, dos primeiros a fazê-

lo em 1798: “Um passeio muito agradável vai pelo rio acima, à direita tem-se o belo rio, à esquerda uma encosta íngreme e rochosa, cujas rochas tiveram de ser rebentadas para alargar o caminho, em frente, um convento com a sua quinta cheia de arvoredos. Muitos ribeiros se precipitam pelas rochas abaixo, perdendo-se entre musgo, mato e ervas que gotejam água fresca e clara. (...) Em frente e até alguma distância a terra é muito bonita, formando uma colina alegre onde um matagal baixo de carvalho [Quercus robur] e azevinho (Ilex aquifolium) surpreende pela novidade. Um caminho igualmente agradável vai rio abaixo até ao mar. (...) As montanhas acabam subitamente junto à costa, a terra na foz do rio torna-se mais plana, mas da areia destacam-se aqui e ali rochedos.” Link estava a referir-se a um passeio no

sentido nascente, pela atual Avenida de Gustavo Eifel e, talvez, ao Real Colégio dos Órfãos, no Bonfi m, junto ao Monte do Seminário, fundado em 1651 por alvará régio de D. João IV, e administrado até hoje pelos Salesianos. No dia seguinte, uma límpida manhã de junho de 1798, bem cedo, o conde Hoffmannsegg e o professor Link saíram do Porto, provavelmente da casa do comerciante de vinho do Porto e cônsul britânico no Porto, senhor James Warre, onde estariam hospedados, e dirigiram-se à Ribeira, para atravessarem de barco para Vila Nova de Gaia, pois ainda não havia nenhuma ponte. Foram descendo calmamente pela margem esquerda do Douro, provavelmente tentando refazer o percurso que, em 1751, quase meio século antes, tinha sido feito pelo botânico sueco Pehr Löfl ing, colaborador de Lineu, durante o qual recolheu várias espécies novas de plantas, que depois enviou ao mestre, entre

elas a silene-do-porto (Silene portensis L.), ainda hoje presente no Estuário do Douro.Nas encostas, possivelmente junto ao Castelo de Gaia, recolhem a Potentilla reptans descrita por Lineu em 1753, mais adiante a madorneira, Artemisia campestris, também descrita por Lineu na mesma data, talvez a subespécie marítima, descrita pelo botânico italiano Giovanni Arcangeli, em 1882, que prefere locais próximos do mar. Ao chegarem ao que é hoje a Reserva Natural Local do Estuário do Douro, registam a presença de uma planta carnívora aquática, a Utricularia vulgaris, classifi cada por Lineu em 1753, que devem ter confundido com a Utricularia australis descrita pelo botânico escocês Robert Brown em 1810; admite-se a confusão visto que a primeira é uma planta de altitude e a segunda mais adaptada ao litoral e a águas hipossalinas.

Por Nuno Gomes Oliveira

Turismo Botânico no Douro em 1798

Hoffmannsegg e Link encontraram o rio Douro com aspeto idêntico a este, quando ali chegaram, pelo lado de Gaia, por volta do Dia do Corpo de Deus de 1798 (07/06/1798). Gravura de Batty, 1829

6 REGISTO

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Por Luís Filipe MenezesPresidente da Câmara Municipalde Vila Nova de Gaia

OPINIÃO 7

Ora isto vem dar um duplo valor à criação, pelo Município de Gaia, desta área protegida: primeiro, e antes de mais, foi um

contributo muito positivo para a conservação da biodiversidade, nesta Década da Biodiversidade, estabelecida pela ONU e, segundo, foi também um contributo para o desenvolvimento turístico local.Não serão centenas, por ano, os turistas que vêm a Gaia por causa das aves, mas somados a outros milhares que nos visitam por causa da arquitetura do ferro das nossas pontes, da classifi cação como “Património Mundial” atribuída pela Unesco à parte histórica do Porto e Gaia, aos museus ou às caves de vinho do Porto, perfazem o fl uxo de centenas de milhar que trazem riqueza e desenvolvimento

económico à nossa região. Ainda há dias, ao visitar as obras em curso na Afurada/Canidelo (marina, mercado, restaurante e museu) tive ocasião de chamar a atenção para a importância da complementaridade dos investimentos; se a Reserva Natural do Estuário é importante para o futuro restaurante do mercado da Afurada, também este é importante para os visitantes da Reserva que, naturalmente, depois de verem e fotografarem as aves querem almoçar ou jantar.O Centro Interpretativo do Património Natural e Cultural da Afurada (vulgo, Museu da Afurada) será, também, mais um elemento de promoção da visita a esta zona de Gaia e irá permitir o conhecimento aprofundado da história, usos e costumes locais.Porque quem visita tem curiosidade de

conhecer o que visita, aos poucos, estamos a criar uma rede de equipamentos de interpretação do território gaiense. Desde a Estação Litoral da Aguda, que nos explica o mar, ao Centro de Educação Ambiental das Ribeiras de Gaia, que nos fala do ciclo da água, ao Parque Biológico, que interpreta a paisagem agro-fl orestal, ao Solar dos Condes de Resende, que nos abre as portas para mostrar a história de Gaia, ao Parque de Dunas da Aguda, que permite descobrir a fl ora dunar, ao futuro Centro de Interpretação do Sítio Arqueológico do Castelo, em Crestuma, que nos falará do passado milenar do comércio fl uvial no Douro, passando pelas múltiplas exposições existentes nas caves de Vinho do Porto, que nos contam a história deste vinho e do seu comércio, Gaia explica-se aos visitantes.

Gaia explica-se aos visitantes O número crescente de pessoas que visitam a Reserva Natural Local

do Estuário do Douro, que se eleva a centenas em alguns fi ns-de-semana,

demonstra que o gosto pela observação e fotografi a da fauna selvagem

são actividades que, cada vez mais, atraem pessoas

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 9

VER E FALAR 9

Dizem os leitoresAssim que a revista

de inverno foi distribuída

em 29 de fevereiro,

quarta-feira, os leitores

manifestaram-se

Em 18 de janeiro, quarta-feira, António Teixeira escreve no seu e-mail, após ter pedido o envio da revista de outono

de 2011: «Agradeço a vossa gentileza em me enviarem a revista PARQUES E VIDA SELVAGEM n.º 37. Gostaria de saber o dia da próxima publicação para comprar o “Jornal de Notícias”. Meus cumprimentos e parabéns».Ficou anotado e seguiu o alerta assim que houve a certeza da data de distribuição.No dia esperado, de manhãzinha, uma senhora perguntava no quiosque da bomba de gasolina da via Norte, junto à circunvalação da cidade do Porto, ao folhear o “Jornal de Notícias” que ia comprar: «Olhe que não encontro aqui a revista PARQUES E VIDA SELVAGEM! E disseram que saía hoje...».O vendedor pegou num outro jornal do maço, folheou e encontrou-a sem demora: «Aqui está!».A compra concluiu-se. Quem nos fez chegar este episódio foi Joaquim Peixoto, quando fortuitamente parou no mesmo local para comprar tabaco.Em 6 de março Joaquim Borges dizia no seu e-mail: «Boa tarde! Acabei hoje de ler o novo número da revista. Já não era sem tempo ela ter saído. Congratulo-vos com as peças escolhidas, pela qualidade de imagem e pela voz ativa na conservação da natureza. Fazia falta a revista sair todos os meses ou ter mais páginas. Bem hajam e que continuem o vosso trabalho por muitos anos. Cumprimentos a toda a equipa».Agradecemos as palavras simpáticas e, quanto às saudações, fi cam entregues.

a

Processionária?Quem tem crianças preocupa-se mais e o aumento da população de processionárias está a vista. Ana Mota indaga por e-mail: «Boa tarde.Fotografei esta lagarta e gostaria que me ajudassem a identifi car se é ou não uma processionária».Resposta: «Boa tarde. Não é uma processionária. Não tem aspeto disso e não há memória de alguma vez termos visto uma processionária isolada. As fi las que formam quando as vemos atravessar o chão normalmente têm a ver com a descida dos ninhos de seda que fazem nos pinheiros-bravos, quando termina a sua fase de lagarta (alimentação) e procuram um pedaço de solo adequado para se enterrarem e formarem crisálida, a fase que antecede o seu surgimento na forma de mariposa (uma pequena borboleta noturna acinzentada) em tempo oportuno. Não sabemos identifi car a espécie da foto com certeza mas estará também no grupo das borboletas noturnas. Mais vale deixá-la seguir o seu caminho. Não deve ser manuseada, pois os seus pêlos também serão urticantes. Esperamos ter ajudado».

Manuel Ferreira escreve em 14 de março: «É com agrado que leio a revista e, como me enchi de inspiração, tomo a liberdade de enviar um pequeno texto e uma fotografi a, para ser publicada na página “Ver e falar”, isto se reunir condições para isso!».

E diz muito bem. Aqui fi ca a foto e o seu registo: «Passeios a pé — Não é preciso afastarmo-nos muito de casa, para por vezes, sermos surpreendidos por aquilo que nos rodeia, basta estarmos atentos! Ultimamente é com agrado que vejo próximo da área pedonal junto há linha F do metro, entre Rio Tinto e Fânzeres, diversas espécies de aves que utilizam aquela zona semi-urbana para passar uma temporada; já identifi quei rolas, pombas, gaivotas, pintassilgos, pardais, melros, corvos, poupas, garças, entre outras, isto só para falar de aves! Aproveito os espaços verdes para as caminhadas independentemente das estações do ano, pois sou largamente benefi ciado física e mentalmente! É uma receita que repito semana após semana e aconselho a todos».

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10 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

10 VER E FALAR

Alfaiatesno Corta-fi tas

Os textos que os visitantes do Parque Biológico de Gaia vão fazendo dispersam-se na internet. Exemplo disso é este encontrado no blogue* publicado por João Afonso Machado, em 25 de setembro do ano passado, centrado nos alfaiates da exposição Biorama. O mote é sugestivo — «Corta-fi tas – inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios» — e o texto fi ca a seguir a estas linhas.«Nessa tarde calma de sábado, os alfaiates resolveram reunir em convenção, como acontece a todas as horas e minutos, todos os dias. Foi em Avintes, algures no percurso de 3 km do Parque Biológico. Nessa estranha confl uência dos tempos e dos espaços e dos mundos,

desde as cabras anãs até aos ressuscitados bisontes europeus. Com paragem na quintinha que nos vai no coração, na sua horta, nos seus milheirais, na azenha ou nos lagares.Eu leria um livro inteiro, escutando o animado diálogo silencioso dos alfaiates. Sentado num banco, sempre atento ao seu ar circunspecto e corporativo. Ou então junto ao lago dos anatídeos, a aguardar o voo de qualquer pato-real, preso às cores dos zarros, dos trombeteiros, dos arrábios.Atravessámos pinhais, carvalhais e o sonho de exóticas borboletas. Longuíssima viagem, o Febros um dia será rio e vida outra vez. Nas mãos, à chegada o aroma remoto da planta de caril.

Vão lá e tragam também tão grande viagem na alma e nos sentidos».No dito blogue os comentários também não se fazem rogados: «Se andam reunidos todos os dias e a todas as horas, não admira que o pronto-a-vestir dê cabo da clientela a esses preguiçosos desses alfaiates...», brinca alguém com um comentário, e um leitor diz a seguir que «O Febros já é rio e vida outra vez. Já esteve morto mas a vida voltou com cerca de uma dezena de espécies piscícolas no troço que atravessa o Parque Biológico. O Febros já foi muito mais que vida: foi a força motriz que moeu os grãos de milho, com que foi e continua a ser feita a broa de Avintes».

* http://corta-fi tas.blogs.sapo.pt/4544239.html

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De segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00; Sábados, domingos e feriados das 10h00 às 18h00

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(PORTES DE CORREIO NÃO INCLUÍDOS)

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Por Ernesto Brochado

Conheça as edições do ParqueDesejo adquirir os seguintes títulos nas quantidades indicadas:

Livro “José Bonifácio de Andrade e Cunha: Um Ecologista no Séc. XVIII”

de Nuno Gomes Oliveira €10,00

Livro “Ecoturismo e Conservação da Natureza”

de Nuno Gomes Oliveira €10,00

Livro “Áreas de Importância Natural da Região do Porto

de Nuno Gomes Oliveira €25,00

Livro “Manual da Confecção do Linho”

de Domingos Quintas Moreira €5,00

Livro “Empresas Municipais”

de Catarina Siquet €11,00

Livro “Conservação dos Sistemas Dunares”

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Livro “Cobras de Portugal”

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12 FOTONOTÍCIAS

Um tanto mais a norte

À medida que o clima muda os seres vivos que o consigam fazer têm de se deslocar para norte.

Manda assim a média do aquecimento climático, que refresca na Europa à medida que se sobe no mapa. Só assim conseguirão, na maior parte dos casos, viver na amplitude térmica a que se adaptaram ao longo da evolução da sua espécie. Enquanto o calendário corre, os investigadores vão concluindo, por exemplo, que populações de animais distintos como aves e borboletas se estão a deslocar em média 212 e 135 quilómetros para norte, respetivamente, sob o comando do clima.

A capacidade de voo destes animais torna-os capazes de se redistribuírem no espaço ao contrário de outras fasquias de biodiversidade que não estão aptas a dispersar-se de forma efi caz.Embora seja certo que todos estes animais alados dependem de fl ora, há borboletas que simplesmente desaparecem sem a presença de certas espécies de plantas, fundamentais ao seu ciclo de vida.Além disso, se considerarmos as funções que são desempenhadas, ou deixem de o ser, mediante a ausência destas aves e insetos nos ecossistemas em que se enquadravam, essa dúvida levanta perguntas sobre os reajustes que terão de ser feitos pelos que sejam capazes de

se adaptar, redistribuindo-se, quando se sabe que estão articulados numa teia de interdependência.Nestas pesquisas concluiu-se também que os insetos respondem melhor à necessidade de se adaptarem ao novo quadro climático do que as aves. Isso pode ser explicado pelo facto de as borboletas completarem o ciclo de vida muito mais rapidamente do que as aves. Enquanto a borboleta da fotografi a consegue completar o seu ciclo de vida, se tudo correr bem, ao longo de um ano, as aves tendem a viver bastante mais tempo... Texto JG Foto João L. Teixeira

Borboleta-limão, Gonepteryx rhamni

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 13

A terra a arder

Com a pouca chuva que cai este ano, as notícias sobre incêndios sucedem-se.Por vezes, até se cheira na rua, o

que demonstra a proximidade do desvario.É difícil deixar de perceber que a maioria esmagadora dos sinistros são fogo-posto.Quem ganha com isso? A população não ganha de certeza. Sem água a vida esvai-se e são os bosques que defendem a água, conjugados com as turfeiras, cervunais e outras estruturas, autênticas esponjas vivas capazes de purifi car e reter a água potável. A relação entre bosques e a conservação de fontes de água não é novidade. Já na Grécia Antiga se sabia que as fontes que abasteciam as cidades tinham a ver com a existência de fl oresta. Um dos primeiros

personagens a perceber o valor dos serviços que os ecossistemas naturais oferecem ao ser humano terá sido Platão.Nos cenários da Grécia Antiga, este pensador chegou a detetar pólos de causa e efeito entre o abate de bosques na península de Ática e a erosão, a que se ligou a perda das fontes de água.Ao contrário da globalização que encolheu o planeta como nunca antes se conseguiria vislumbrar, naquela época não se desenhava com certeza a hipótese de um dia o ser humano fi car perto de esgotar recursos naturais.Os fogos sucessivos a que assistimos todos os anos tendem a deixar o solo desprotegido.Ao caírem as árvores crescem matos. Quando estes desaparecem à força de incêndios recorrentes, fi cam herbáceas.

E quando estas se vão, a chuva não é absorvida. A terra sem as raízes das plantas, sobretudo em vertentes inclinadas, descai com as chuvas e vai saturar a água de ribeiros e rios, diminuindo a diversidade da vida nesses habitats. Ao desaparecer o solo do bosque deixa rocha nua à vista. Criam-se assim os desertos, sítios onde o ser humano vive em condições extremas.Na Década da Biodiversidade, defi nida pelas Nações Unidas para 2010/202, espera-se uma tomada de consciência do precário equilíbrio da vida, onde se incluem os recursos de que todos dependemos, nomeadamente a água e o ar...

Texto Jorge GomesFoto João L. Teixeira

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14 PORTFOLIO

14 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

As aranhas não precisariam do obséquio, até porque — vistas mais de perto e vencido o preconceito — a maior parte das 42 mil espécies contadas hoje em todo o mundo até são bem bonitas.Mas não é pela estética que importam aos ecossistemas em que se integram e onde desempenham papéis importantes. Se não fosse a sua ajuda, o ser humano estaria muitas mais vezes a braços com picos populacionais de insetos nocivos à sua saúde. Até fi ns de maio poderá ver no salão de fotografi a do Parque Biológico de Gaia cerca de meia centena de trabalhos deste teor obtidos por mais de 20 autores que, de uma forma atrativa, lhe ampliam estes seres com quatro pares de patas e com seis ou oito olhos, mostrando-lhos como provavelmente nunca os tinha visto antes.

Aranhasuma questão de equilíbrioOs seres vivos normalmente tidos

como repugnantes parecem ganhar

mais facilmente um lugar ao sol,

agora que estamos na Década

da Biodiversidade

Aranha-vespa, Argiope trifasciata

Aranha-saltadora da família Salticidae Aranha-caranguejeira

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IMPAR 15

Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 15

Aranha-caranguejeira da espécie Synema globosum (Fabricius, 1775) Aranha-saltadora

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16 PORTFOLIO

Aranha-caranguejeira Synema globosum (Fabricius, 1775), de João L. TeixeiraAranha da família Lycosidade, de Rui Andrade

Aranha de jardim, de Hugo Amador

Agelena sp. de Abel Gomes

Caçadora, de Sara Dias

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 17

FOTONOTÍCIAS 17

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FOTONOTÍCIAS 17

Aranha, de Rui FariaAranha, G. Limas

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18 ENTREVISTA

Ao serviço do CIBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto e aluno

de doutoramento da Faculdade de Ciências do Porto, Pedro Reis Sousa começou há quase uma década a estudar as aranhas da biodiversidade portuguesa. Como situar de forma compreensível para o cidadão comum as aranhas dentro do mundo dos aracnídeos?Pedro Reis Sousa – Os aracnídeos são um dos maiores grupos de seres vivos no planeta em termos de número de espécies conhecidas. E este grupo divide-se em cerca de 11 ordens, das quais sete são conhecidas em Portugal. Aqui incluem-se, para além das aranhas, os opiliões, os ácaros, os escorpiões e outros animais ainda menos conhecidos. A nível mundial as aranhas representam o grupo com maior número de espécies, com mais de 42 mil descritas, ainda que seja provável que venham a ser ultrapassadas em número pelos ácaros, menos conhecidos. Mas são fáceis de reconhecer, pois para além de terem oito patas (como todos os aracnídeos), têm o corpo separado em duas partes, a maioria tem oito ou seis olhos, de dimensão variável, têm um aparelho bocal formado por duas quelíceras de forma muito particular, com uma base larga e uma “unha” afi ada preparada para injetar veneno, e claro, têm fi eiras por onde produzem a seda. Mas não se deve esquecer que a produção de seda

não é exclusiva das aranhas, nem sequer dos aracnídeos.Para quem as estuda, de um ponto de vista subjetivo as aranhas são feias ou bonitas?Pedro Reis Sousa – Não tenho dúvidas que de forma objetiva as aranhas são bonitas. Posso reconhecer que nem todas, claro, sejam chamativas, mas muitas pessoas admitem, depois de ver algumas das nossas espécies mais coloridas, que são animais bonitos. Temos muitas aranhas pardacentas, cujo objetivo será exatamente passarem despercebidas, mas temos também aranhas belíssimas, das quais tenho de destacar as aranhas-saltadoras. Estas aranhas têm uma grande acuidade visual (para um pequeno invertebrado) e a cor desempenha um papel importante nas suas vidas. Evidentemente, as aranhas são animais fascinantes, com comportamentos complexos, e merecem a nossa atenção.Existem muitos mitos acerca das aranhas? Pedro Reis Sousa – Em Portugal não conheço propriamente, embora por vezes as pessoas relacionem o encontrar aranhas na roupa com prosperidade, um pouco como fazem os ingleses que chamam mesmo “aranhas-dinheiro” a um grupo de pequenas aranhas. Mas as pessoas associam as aranhas ao veneno, e esse será porventura o maior mito. Esse mito é largamente infundado, mas muito alimentado pelos meios de comunicação social, que tantas vezes exploram e alimentam o desconhecimento.São venenosas ou, no mínimo, perigosas?

As aranhas também são importantes

Pedro Reis Sousa é biólogo e dedica

a sua investigação aos aracnídeos, grupo

de seres vivos a que pertencem as aranhas

Pedro Reis Sousa – Essa pergunta tem várias respostas. Se me pergunta se produzem veneno, então sim, quase todas as 110 famílias de aranhas que se conhecem produzem veneno. Por isso, aquilo que deve querer perguntar é se são venenosas para o ser humano. E aí a resposta é quase nenhuma, apenas cerca de 200 ou 0,5% das 42 mil espécies conhecidas podem produzir envenenamentos sérios no ser humano. Um número muito reduzido de espécies, exacerbado por má publicidade. Na verdade a maioria das aranhas são ou demasiado pequenas para perfurar a pele humana ou demasiado tímidas, pelo que fogem sem tentar morder. E a maioria das que nos conseguem morder produzem reações semelhantes a picadas de vespa. Em Portugal posso chamar a atenção para a viúva-negra-europeia, que será provavelmente a mais venenosa da nossa fauna. Mas duvido que a maioria das pessoas já tenha visto ou sequer estado perto de uma. É que, ao contrário da sua prima americana, esta espécie

SpidersSpiders are usually seen as being unpleasant creatures but during the decade of Biodiversity they are winning a better place in the human mind. Spiders are underrated, being thought ugly but these little animals are in truth very beautiful when seen close-up. The ecosystems in which the spiders live don’t concern themselves with the aesthetic aspect of their lives because they are too busy helping the natural mechanism of biodiversity. The Researcher Pedro Reis Sousa will speak with PARKS AND WILDLIFE about these interesting animals.

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não gosta de viver dentro das casas, pelo que difi cilmente entra em contato com as pessoas. Conheço referências bastante antigas, mas havia maior população nas áreas rurais e quase ou nenhuma mecanização da agricultura. Gostava de concluir dizendo que não conheço nenhum caso fi dedigno recente de envenenamento por aranhas em Portugal.Propagam doenças transmissíveis ao ser humano?Pedro Reis Sousa – Não se conhecem aranhas que sejam vetores de doenças, como por exemplo, alguns mosquitos. Mas é possível que a mordida de algumas aranhas exponha a pessoa mordida a bactérias, algumas das quais podem representar problemas de saúde. E dados mais recentes têm sugerido que alguns casos graves atribuídos a aranhas, por exemplo nos EUA, são na verdade causados por bactérias às quais os doentes estiveram expostos.Qual a importância das aranhas nos ecossistemas? Pedro Reis Sousa – Como predadores

de invertebrados terrestres as aranhas desempenham um papel muito importante no controlo das populações de muitos insetos, que mantêm dentro de limites normais. Por exemplo, existem dados que nos dizem que a utilização permanente de inseticidas que conduzam à eliminação das aranhas podem signifi car explosões nas populações de insetos prejudiciais em épocas seguintes de colheitas, pois desaparece esse controlo de base efetuado pelas aranhas sobre as populações naturais de insetos.Há aranhas herbívoras? Pedro Reis Sousa – Por acaso existe uma espécie conhecida há muito pouco tempo (descoberta em 2009) que se alimenta também de pólen e estruturas doces produzidas por uma árvore. Esta espécie continua a alimentar-se também de invertebrados, mas não exclusivamente. O que é muito interessante porque todas as outras espécies conhecidas são exclusivamente carnívoras, ainda que algumas possam ser necrófagas, o que revela um grau de especialização extrema, pouco

comum num grupo tão vasto de animais.Estamos da Década da Biodiversidade: quais as principais ameaças no quadro de conservação destas espécies? Pedro Reis Sousa – As ameaças às aranhas não são diferentes das ameaças que todas as espécies de uma maneira geral enfrentam. E a maior é a destruição e perda de habitat, associada ou não à intervenção do ser humano. Aqui incluo as alterações climáticas, pois embora não existam dados específi cos para o seu impacto nas aranhas portuguesas, extrapolando a partir de impactos identifi cados noutros grupos de animais, é provável que muitas espécies vejam reduzida a sua área de distribuição e outras possam desaparecer, conduzindo a um empobrecimento da nossa fauna de aranhas. O uso excessivo de pesticidas e outros químicos é outra ameaça importante que não deve ser menosprezada. Há muitas espécies endémicas de Portugal ou da Península Ibérica? Pedro Reis Sousa – Um artigo publicado recentemente por dois especialistas em aranhas Ibéricas, Pedro Cardoso e Eduardo Morano, com dados até 2009, e que aborda precisamente a fauna de aranhas da Península Ibérica, relata que existem 236 espécies endémicas na Península, 36 das quais conhecem-se apenas em Portugal. Estas podem considerar-se mais importantes do que outras mais distribuídas? Pedro Reis Sousa – Essa questão não tem uma resposta fácil. Todas as espécies, e aqui não falo apenas nas aranhas, são importantes na manutenção dos equilíbrios que existem no nosso planeta. Ecossistemas mais complexos, com maior riqueza de espécies, tendem a ser mais resistentes a

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20 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

20 ENTREVISTA

alterações, sejam elas naturais ou por ação humana, do que ecossistemas simplifi cados, muitas vezes já em situações de perda de diversidade. Portanto a biodiversidade é um bem em si mesmo, até porque é cada vez mais evidente que os vários ciclos de energia e matéria do nosso planeta estão intimamente relacionados com a sua componente viva, a biosfera, pelo que não creio que existam espécies mais importantes do que outras.Mas há com certeza espécies emblemáticas. E nesse sentido espécies endémicas, que podem apresentar maior fragilidade, pois estão mais expostas à destruição de habitat, dado que têm em teoria uma menor área de distribuição. No entanto, conhecemos tão pouco sobre a ecologia da esmagadora maioria das espécies de aranhas que o simples facto de serem endémicas pode dizer-nos muito pouco. Por exemplo, para além da área de distribuição das espécies, é muito importante para estabelecer critérios de conservação conhecermos o efetivo populacional das espécies, mas essa informação simplesmente não existe. Falta muita investigação, muita dela de base, sobre os invertebrados, que porventura por terem menor visibilidade atraem menos fi nanciamento e também menos interessados. As aranhas são abundantes também nas cidades: são todas urbanizáveis?Pedro Reis Sousa — Há realmente várias espécies que ocorrem com abundância nas nossas cidades. A maioria nos jardins, mas algumas autênticas especialistas em viver dentro das nossas casas. Creio que muitas espécies não conseguem viver em locais demasiado humanizados. Podem ser mais sensíveis aos químicos, podem ter maior difi culdade em ultrapassar as barreiras como estradas para dispersar, e podemos também pensar que algumas espécies podem seletivamente ser mortas pelas pessoas, por exemplo aranhas de maiores dimensões ou que têm comportamentos que as expõem. Existe sem dúvida esse estigma de matar aranhas que estejam à vista (infelizmente não só com as aranhas). Eu deixo sempre a pergunta: preferem mosquitos e melgas ou aranhas cujo único problema é produzirem teias nos cantos das casas?Há aranhas aquáticas? Pedro Reis Sousa – Outra pergunta interessante. Apesar de geografi camente expandidas por quase todos os continentes

exceto a Antártida, e de se poderem encontrar espécies de aranhas a viver em quase todos os habitats terrestres, as aranhas não colonizaram o ambiente aquático, quer de água doce, quer salgada. A única exceção é a espécie Argyroneta aquatica (Clerck, 1758) que passa todo o seu ciclo de vida submersa em água doce, em campânulas de seda que tece, e que enche a intervalos regulares com ar que vai buscar à superfície. Esta é uma aranha conhecida, pois surge frequentemente em fi lmagens de documentários sobre vida selvagem.Normalmente não são gregárias, pois não? Pedro Reis Sousa – Sim, existem muito poucas espécies sociais, cerca de 25. Os exemplos mais conhecidos pertencem aos géneros Anelosimus Simon, 1891 e Stegodyphus Simon, 1873, que pertencem a diferentes famílias de aranhas. Estes dois géneros existem também em Portugal, mas as nossas espécies não são sociais. Creio que convém explicar um pouco mais o que se entende por social neste contexto. Existem espécies no nosso país que estabelecem colónias, por vezes formadas por muitos indivíduos, mas que não cooperam entre si, provavelmente resultam de reduzida dispersão por parte das aranhas. Mas mesmo as aranhas que refi ro acima são apenas quase-sociais, partilham comida e uma teia comum, mas apresentam um grau de socialização muito menor do que os insetos sociais propriamente ditos, como as formigas, que possuem por exemplo castas reprodutoras especializadas e classes operárias estéreis.Não há casos de introdução de espécies exóticas? Pedro Reis Sousa – Conheço pelo menos uma espécie de aranha exótica, amplamente distribuída em Portugal. Mas essa questão é difícil de responder com as aranhas, primeiro porque o conhecimento passado da distribuição das espécies é diminuto e, em segundo lugar, porque a maioria das espécies de aranhas é boa dispersora. Talvez não seja uma característica facilmente associada às aranhas, pois não têm asas, mas estas também se dispersam pelo ar por um processo dito de balonismo, em que a aranha espera por uma brisa para lançar um ou mais fi nos fi os de seda no ar e depois se deixar ir até onde o vento a levar. Mas existem muitos casos, inclusive em Portugal, de animais e plantas introduzidos,

que provocaram grandes problemas nos ecossistemas, normalmente eliminando todas ou quase todas as espécies autóctones. As espécies exóticas são um grave problema a nível global, de difícil solução. Que curiosidades considera interessante referir sobre estes seres vivos? Pedro Reis Sousa – As aranhas são um grupo tão diverso que é difícil chamar a atenção para características particulares, mas fi co sempre surpreendido com a capacidade que as aranhas-saltadoras têm, dada a sua elevada acuidade visual, de seguir o nosso movimento no que aparenta ser um comportamento de curiosidade/medição de perigo. São aranhas pequenas, que raramente ultrapassam um centímetro de comprimento. E é fascinante, claro, a construção das teias. Não apenas as habituais teias orbiculares, pois diferentes aranhas utilizam diferentes teias para caçar e/ou abrigar-se. Por exemplo, em 2009 foi descoberta uma aranha, em Madagáscar, que constrói teias com quase 25 metros de comprimento e 3 m2 de superfície! Esta é mais uma evidência das extraordinárias qualidades da seda de aranha, a fi bra natural mais resistente que se conhece e que tem a mesma resistência que o kevlar. Mas as aranhas produzem vários tipos de seda em glândulas especiais no abdómen. A seda permanece no estado líquido até ser extrudida nas fi eiras, órgãos especializados que existem na ponta do abdómen, altura em que é exposta ao ar.E deixo ainda resposta a uma última curiosidade: por que razão as aranhas não fi cam presas na própria teia? Na verdade a maioria das teias não são aderentes, e quase todas as que o são, como por exemplo nas teias orbiculares, apenas os fi os da espiral são peganhentos, pois têm pequenas gotas de cola a intervalos regulares. Nesses casos, para não fi carem presas na própria teia as aranhas têm apenas que se movimentar com cuidado ao longo dos fi os estruturais, e para isso possuem três pequenas garras na ponta das patas dispostas de forma assimétrica. Fazem-no prendendo o fi o de seda entre uma das garras laterais e a garra central.Quero agradecer esta oportunidade para ajudar a despertar a atenção para estes animais fascinantes mas pouco conhecidos, que têm muitos outros segredos para desvendar. Deixo à curiosidade dos leitores a sua descoberta.

Texto Jorge Gomes

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 21

CONTRA-RELÓGIO 21

Concurso nacional de fotografi a da natureza

PARQUES E VIDA SELVAGEMAbriu esta primavera o concurso nacional de fotografi a

da natureza PARQUES E VIDA SELVAGEM!

Em 2012 conta 10 anos de vida.

Leia o regulamento no site www.parquebiologico.pt

indo ao botão Atividades e entrando na secção Fotografi a.

A fi cha de inscrição também está aí.

O prazo de de entrega de fotografi as termina

em 30 de setembro de 2012.

Dê um gosto ao seu olhar e ganhe prémios!

Participe!

PrémiosARTE FOTOGRÁFICA € 700,00

REGISTO DOCUMENTAL € 300,00

FAUNA

€ 150,00

FLORA € 150,00

PAISAGEM

€ 150,00

JÚNIOR

(só para jovens até aos 15 anos de idade)€ 100,00Em novembro de 2012 abrirá a exposição de meia centena de trabalhos

selecionados pelo Júri, que varia todos os anos, com a entrega de prémios.

Prémio Arte Fotográfi ca 2011, Claro Oliveira

Prémio Júnior de 2011, Pedro Cardoso Prémio Flora e Fungos de 2011, Carlos Vale

Prémio Fauna 2011, Pedro Ferrão Patrício

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22 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

• A natureza pode contribuir para a prevenção de moléstias, pois tem efeitos positivos na pressão sanguínea, no colesterol, elevando as expectativas de vida e favorecendo a diminuição do stress habitual da vida citadina.

• Uma substância utilizada no tratamento de cancro da mama e ovários, o paclitaxel, é um composto derivado do teixo-do-pacífi co, Taxus brevifolia.

22 CONTRA-RELÓGIO

Saúde e biodiversidade A saúde do ser humano depende da diversidade

biológica: é esta a verdadeira base dos alimentos

que consumimos, a fonte dos medicamentos

que usamos quando estamos doentes

e é através da sua atividade que dispomos

de ar puro e água potável

Além disso, é essa biodiversidade que possibilita o desenvolvimento económico sustentável e o enriquecimento do homem do ponto de vista espiritual e cultural.Quando as Nações Unidas, através do seu Programa para o Ambiente, têm em curso a Década da Biodiversidade, desdobram-se preocupações de largo espetro ao verifi car-se, por exemplo, que os glaciares que alimentavam alguns dos grandes rios da Terra estão a desaparecer de ano para ano, indicadores de um aquecimento global acelerado que pode comprometer a adaptação de numerosas espécies de seres vivos com papéis relevantes na teia interdependente da diversidade da vida.É também esta que é capaz de mitigar os efeitos das alterações climáticas que se precipitam no planeta, bastando pensar no plâncton vegetal dos oceanos e nos bosques nativos. Todos os seres humanos têm direito a gozar de boa saúde e bem-estar social, emocional, físico, espiritual e cultural. Não há sociedades sãs sem biodiversidade.Uma desfl orestação descontrolada pode causar a perda de espécies de plantas e outros organismos que são importantes na investigação farmacológica e que podem conter substâncias relevantes na produção de medicamentos.As perdas de diversidade biológica representam um prejuízo maior para a saúde do ser humano.

No último meio século estima-se que a variedade de plantas de cultivo para fi ns alimentares – que levou a que 90% das calorias consumidas no planeta provenham de apenas uma dúzia de espécies de plantas cultivadas – diminuiu a qualidade da alimentação das populações.Como resultado, há quem defenda que é campo fértil ao surgimento de patologias vinculadas à alimentação, como a diabetes e a obesidade, entre outras. Também o aumento da depressão, e até problemas ligados ao universo da saúde mental, poderão passar por essas perdas já alcançadas de biodiversidade.Este défi ce afeta todos os seres vivos que se interligam num encadeamento vital, seres humanos incluídos, assim como os ecossistemas essenciais que estas espécies sustentam. É possível, assim, ter um vislumbre do que está em jogo e planear alterações no modo de vida em que nos enquadramos de forma a contribuirmos para uma sociedade o mais saudável possível.Se cada um se dispuser a fazer algum esforço para conhecer, proteger e recuperar a diversidade biológica local, regional e mundial surgirão daí benefícios para todos, sentidos a curto e longo prazo, no plano da saúde do ser humano e dos ecossistemas de cujos serviços benefi cia desde já e de que nunca deixará de depender.

Fonte: www.cbd.int

• A d ib i ã •Factos & números

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 23

• Há investigações que demonstram que a própria obesidade – um problema da boa parte da população – tende a reduzir mediante a proximidade de parques fl orestados.

• Um terço das cem maiores cidades do mundo obtém uma porção considerável da sua água potável a partir de áreas protegidas.

• Pelo menos 3 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade morrem todos os anos por causa de enfermidades relacionadas com o meio ambiente degradado em que vivem.

• A artemisina, substância derivada de uma planta, Artemisia annua, é um dos medicamentos mais efi cazes contra a malária.

• A esquistosomiasis é uma doença crónica causada por parasitas e afeta mais de 200 milhões de pessoas por ano. Transmitida por caracóis de água doce, pode aumentar mediante a escassez de predadores que resulta de pesca excessiva. A desfl orestação, particularmente nas regiões tropicais, favorece a agressividade destes vetores.

Fonte: www.ramsar.org

• Há i i

Health and BiodiversityWe rely on biodiversity to stay healthy. Biodiversity sustains our food supply, is a source of medicines, and supports the provision of clean air and fresh water while also contributing to economic development, cultural and spiritual enrichment. It is now also widely recognized that biodiversity is affected by climate change, with negative consequences for human well-being, but biodiversity, through the ecosystem services it supports, also makes an important contribution to climate change, mitigation and adaptation.

João

L. T

eixe

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Quinta de Santo Tusso, Parque Biológico de Gaia

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Page 24: Anoplophora chinensis

24 QUINTEIRO

Não menospreze a contribuição do seu jardim

se se preocupa com a conservação da natureza:

comece por dar o exemplo e pense no seu quinteiro

como uma comunidade viva com muito para ver

no arco-íris da biodiversidade

Ferreirinhas:contas de amor e de guerra

Há jardins urbanos capazes de produzir néctar e pólen equivalente a um quilómetro quadrado de fl oresta, mas o que leva alguém a manter um espaço tão cheio de recursos deriva de algo muito simples: gostar de fl ores. São bonitas! Esses cartazes de localização, as corolas, são vistosos para os invertebrados que se ligam com o ciclo de vida destas espécies de fl ora e resultam bem também para o ser humano que os lê não como uma fonte de alimento mas como um valor estético que lhe traz bem-estar.O jardineiro que queira ser organizado disporá de espécies de plantas que lhe tragam fl ores não numa só estação do ano mas em várias. Dispor de vagas de fl ores ao longo do ano é um padrão que ocorre na natureza e que se articula com as espécies que ali vivem.Como a primavera acompanha algum do ritmo das migrações, se por exemplo as aves selvagens apreciaram sementes nas estações frias, nesta época há insetos que, no seu ciclo de vida, aparecem como larvas suculentas,

nutricionalmente ricas para as aves que andam agora na azáfama dos ninhos.Vêm a calhar estas fontes de reabastecimento energético, até porque as crias têm de arribar rapidamente.

Ferreirinhas Entre as aves do seu jardim uma haverá que pode ocultar-se até de observadores experientes: as ferreirinhas, Prunella modularis. Num relance, a alguma distância, pode ser confundida com um pardal, mas vista com maior cuidado, como na fotografi a, percebe-se que é diferente.Pode ser tão discreta entre os pássaros que frequentam os seus comedouros de jardim para aves selvagens que nem dá por ela. Como acontece com tentilhões, melros e tordos, as ferreirinhas gostam de petiscar sem alarido não na mesa de sementes mas por baixo dela, no solo, onde o seu pequeno bico encontra sustento. E pode andar ali todo

Na anilhagem científi ca de aves selvagens em curso há mais de cinco anos no Parque Biológico de Gaia as ferrerinhas são presença regular

o ano, acompanhada, e inclusive nidifi car.Dizem os investigadores que as ferreirinhas funcionam frequentemente como casais com epicentro numa fêmea e vários machos.

Pular a cercaSegundo a opinião dos entendidos, as fêmeas de ferreirinha não dão ponto sem nó. Nada é simples na vida destas aves e é agora, na primavera, que tudo se passa. Se o território de uma fêmea desta espécie consegue ser defendido por um só macho vigoroso, até pode estabilizar ali um casal monógamo.

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JG

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Dunnocks: love and war Among the birds of your garden there is one that can hide from even of the best observers: the Dunnock. The females tend to be promiscuous and can live with 2, 3 or even 4 males. In this way, those birds can get more food and better defence for their chicks.

Pardal-montês: as caixas-ninho que pode aplicar no seu jardim servem as aves que gostam de fazer ninho em buracos, de árvores ou de rochas

Mas se assim não for, o território dela terá de valer-se da defesa de vários machos. Entre eles, o alfa é o indivíduo que detém ascendência sobre os outros e vai querer naturalmente a menina dos seus olhos só para si. Ela, porém, não quer descurar a atenção de outros. Quando estes copulam com ela — e podem ser mais dois ou três machos — estão a seguir ordens genéticas que os vinculam a ajudar a defender o território e a alimentar as crias assim que estas eclodirem dos ovos azulados postos no ninho com forma de pequena taça.Um determinado território oferece uma

certa quantidade de alimento e abrigo, algo precioso se estes seres vivos fazem questão de sobreviver e gerar descendência.Havendo rivalidade, surgem as manifestações territoriais. A primeira consiste em cantar. Aquilo que para o ouvido humano é uma música de singular beleza, entre as aves é um cântico de defesa de sementes, frutos, larvas e outras ementas.Quando uma relativa paz regressa, a pulsão de fazer ninho impõe-se e, com um pudor assinalável, o véu levanta-se para tornar públicos alguns dos comportamentos só vistos por observadores muito atentos.

Na cópula, a fêmea de ferreirinha entreabre as asas e deixa-as cair enquanto, ao alçar as penas caudais, não deixa dúvidas sobre o que espera ao exibir a cloaca ao macho.Como este sabe que não é o único felizardo, faz-se rogado, a fi m de que a fêmea excrete o esperma ali alojado desde a cópula anterior com outro. Vamos lá nós saber o que se passa naquelas cabecitas, mas parece que de uma ou de outra maneira a molécula egoísta, o ADN, responsável pela hereditariedade, não lhes dá grande sossego.Estes segredos da vida selvagem ainda estão longe de estar todos à vista, sendo certo que estes registos levam a pensar que, na vida destas pequenas aves, como na da nossa espécie, tudo vale, no amor e na guerra.

Texto Jorge Gomes

Bibliografi aGarden birds confi dential, Dominic Couzens, 2010

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JLT

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26 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

26 QUINTEIRO

A Anoplophora chinensis (Forster), é um coleóptero da família Cerambycidae muito polífago, originário da Ásia, estando

disperso pela China e Coreia (OEPP, 2009). Na União Europeia é considerado um dos organismos de quarentena, que consta do Anexo I, parte A, Secção I da Diretiva 2000/29/CE e suas alterações e como tal, sujeito a medidas de erradicação, em caso de aparecimento.Na sequência do aparecimento do A. chinensis em vários vegetais hospedeiros (Citrus spp., géneros Acer, Populus e Salix) na região da Lombardia, em 2007 os serviços ofi ciais italianos informaram a Comissão da tomada de medidas de controlo. De igual forma, face à deteção deste organismo prejudicial nos Países Baixos, os serviços ofi ciais holandeses informaram a Comissão da tomada de medidas de proteção em 2008, a fi m de impedir a introdução e dispersão nos seus territórios daquele organismo e proceder à sua erradicação. Neste mesmo período, o organismo A. chinensis foi intercetado em várias remessas de vegetais para plantação de Acer spp. provenientes de países terceiros.Ainda em 2008, a Holanda apresentou uma análise de risco no que se refere ao A. chinensis, onde se concluía a existência de uma probabilidade muito elevada do estabelecimento daquele organismo na Comunidade e de um elevado potencial de danos económicos para vários vegetais

Anoplophora chinensis (Forster)

Praga de quarentena p

O insecto adulto tem cor negra com várias pintas brancas nos élitros, medindo o macho cerca de 25 mm e a fêmea 35 mm de comprimento. As antenas no macho são 1,7 a 2 vezes superiores ao seu comprimento, na fêmea cerca de 1,2 vezes. O macho tem os élitros estreitados distalmente (Fig. 1), nas fêmeas são distalmente paralelos e arredondados (Fig. 2). O ovo tem cerca de 5 mm, é alongado e subcilíndrico. Tem cor branca-amarelada, adquirindo gradualmente tonalidade amarela-acastanhada (Fig 3). A larva é apoda (não tem patas), podendo atingir 45 mm de comprimento no fi nal do seu desenvolvimento. Tem cor branca-amarelada com característicos padrões amarelos no protórax. A cabeça é castanha (Fig. 4).

Macho Fêmea Ovo Larva

Galerias larvares

hospedeiros, nomeadamente em espécies de fruteiras, ornamentais e fl orestais.Face à situação apresentada houve necessidade de serem implementadas medidas acrescidas de proteção contra a introdução e dispersão do inseto na Comunidade em caso de aparecimento, através do controlo de vegetais potencialmente hospedeiros, bem como proceder à defi nição das exigências específi cas aquando da sua importação de países terceiros. Também fazem parte das medidas de proteção a preconizar, todas as ações de prospeção a serem realizadas por todos os Estados membros, no sentido de serem detectados eventuais focos do insecto e serem implementadas de imediato todas as disposições defi nidas na legislação fi tossanitária em vigor. Neste contexto, foi publicada a Decisão da Comissão 840 de 7 de novembro de 2008, que regula as medidas de emergência contra a introdução e a propagação na Comunidade de A. chinensis.A bibliografi a refere as espécies A. chinensis e Anoplophora malasiaca (Forster). É de salientar que há alguma sobreposição na sinonímia das referidas espécies, que estão intimamente relacionadas, pelo que se adoptou a designação, A. Chinensis (Decisão 2008/840/CE).Com o presente documento, apresentamos

uma breve caracterização do inseto, os principais sintomas da sua presença no hospedeiro, e por fi m um conjunto de medidas de proteção fi tossanitária a serem aplicadas no seu combate em caso de aparecimento.

BioecologiaEste insecto tem como principais hospedeiros várias espécies: Acer spp. Aesculus hippocastanum, Alnus spp., Betula spp., Carpinus spp., Citrus spp., Corylus spp., Cotoneaster spp., Fagus spp., Lagerstroemia spp., Malus spp., Platanus spp., Populus spp., Prunus spp., Pyrus spp., Salix spp., Ulmus spp. (Decisão 2008/840/CE, versão consolidada). Normalmente regista uma geração anual, mas poderão ocorrer duas ocasionalmente dependendo da alimentação e das condições climáticas. As posturas fazem-se desde um pouco acima da superfície do solo até 60 cm de altura. Os ovos, cerca de 70 por fêmea, são postos um a um, debaixo da casca, no tronco. As larvas escavam galerias alimentares no tronco e ramos por baixo da casca. Mais tarde atacam tecidos lenhosos das zonas mais baixas do tronco e as próprias raízes. Os adultos vivem cerca de um mês entre maio e agosto e alimentam-se de folhas, pecíolos e casca tenra.

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materiais, concretamente no que se refere à obrigatoriedade do acompanhamento do passaporte fi tossanitário.Assim, em resultado dos trabalhos de prospeção desenvolvidos em toda a região Norte, até ao momento ainda não foi a detetada a presença do A. chinensis.Mais uma vez, alertamos para a colaboração de todos os intervenientes na implementação de uma estratégia integrada de controlo no sentido de serem aplicadas medidas rápidas e efi cazes, de modo a protegermos os nossos ecossistemas da introdução, dispersão e estabelecimento de novos organismos nocivos.

Texto Maria de Lurdes Marques e Miguel Folhadela Rebelo Engenheiros Agrícolas, Técnicos da Divisão de Protecção e Controlo Fitossanitário – Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte.

Pupam na madeira, muitas vezes numa parte da árvore acima da área da alimentação das larvas.A dispersão acontece na circulação de material vegetal, na forma de ovos, larva ou pupa em plantas envasadas, incluindo bonsai, e também em materiais de embalagem.

Principais sinais e sintomasAs plantas adultas enfraquecem pelo ataque das larvas fi cando mais suscetíveis a doenças, podendo morrer com maior rapidez (Fig. 5 e 6).Os sinais de infestação são visíveis pela observação de excrementos e serradura da madeira roída pelas larvas (Fig. 7); galerias larvares no tronco e ramos por baixo da casca (Fig. 8 e 9); orifícios ovalados e fendas de oviposição no tronco e raízes (Fig. 10 e 11); orifícios de saída de adultos (Fig. 12 e 13).Os adultos roem a casca tenra dos ramos para se alimentar.

Meios de lutaUma vez que a praga não existe em Portugal, a estratégia passa pela adopção de medidas integradas que evitem a introdução do inseto:intensifi cação das prospeções e vigilância em potenciais hospedeiros instalados em viveiros, fl orestas, parques, espaços públicos e privados;ao aparecimento de sintomas suspeitos, avisar

de imediato os serviços ofi ciais competentes.Nos países em que a praga está presente, adotam-se as seguintes medidas de luta:proteção dos troncos revestindo-os com arame fi no, por forma a evitar a postura;em caso de suspeita, os ramos atacados devem ser cortados e destruídos/triturados.

Nota fi nalFace às características do inseto, nomeadamente no que se refere à elevada diversidade de hospedeiros, a Divisão de Proteção e Controlo Fitossanitário da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), sob coordenação da Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento (DGADR), a partir de 2010, tem vindo a intensifi car a prospeção do A. chinensis em potenciais hospedeiros instalados em viveiros de materiais de propagação vegetativa, dando cumprimento ao estipulado no articulado da Decisão 2008/840/CE, alertando para a perigosidade da dispersão e estabelecimento do inseto, para a necessidade de realização de observações cuidadas em potenciais hospedeiros oriundos de regiões da União Europeia onde já foi detetada a presença do inseto, bem como para as medidas aplicáveis à produção, transporte e controlo desses mesmos

Bibliografi aDecisão Comunitária 2008/840/CE

EPPO quarentine pest/Data sheets on quarentine pests

– Anoplophora malasiaca and Anoplophora chinensis

EPPO Gallery (http://photos.eppo.org)

EPPO by Matteo Maspero et al (2007) – Anaplophora

chinensis – Eradication programme in Lombardia (Italy)

http://www.eppo.int/QUARENTINE/anoplophora-

chinensis/chinensis-IT-2007.htm

a potencialmente perigosa

e Morte de ramos e observação de casca oca Excrementos e serradura Galerias larvares

e Orifícios ovalados e fendas de oviposição e Orifícios de saída dos adultos10

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28 DUNAS

Parque de Dunas da Aguda

Mas em 16 de fevereiro, minutos antes do meio-dia, Henrique Alves, botânico, fez o registo fotográfi co que ilustra estas linhas. Autor das fotografi as, comenta: «Fiquei abismado com a capacidade de encontrarem larvas enterradas. Em minutos, comeram n... Em algumas fotos dá para ver… se fossem muitos dizimavam a população!».Estariam, supomos, já em trânsito migratório

para o Norte. E as dunas são desde sempre as estações de serviço que estes e outros viajantes alados utilizam para poderem refazer energias, alimentando-se e descansando. O litoral funciona como corredor verde, numa sequência de habitats que sustentam a diversidade da vida.Com dezenas de espécies de plantas nativas enraizadas na areia, um solo difícil, serve

também as aves que ali vão fazer ninho, como é o caso dos borrelhos-de-coleira-interrompida. Em síntese, estes ambientes dinâmicos, as dunas, não servem só para proteger o ser humano das agressões do mar.Servem a paisagem, cujo valor estético é inspirador e repousante, algo que pode ser tudo menos irrelevante nos dias que correm.

É mais fácil ver, com um olhar atento, estes pilritos junto à fímbria das ondas

Cordão dunar

A primavera já começou a despertar

em ondas sucessivas

a fl oração das plantas das dunas

Com a temperatura a subir, como conseguirá adaptar-se esta fl ora à escassa chuva do inverno passado? Vivem num meio difícil, pois a areia não apanha o jeito de reter a água de que também elas necessitam. Embora tenham técnicas singulares para resistir às agruras e continuarem a fi xar as dunas

com as suas raízes, a tarefa é árdua. Se não fossem os passadiços soçobrariam.Estas dezenas de espécies de plantas, ao povoarem os habitats dunares, dão oportunidade a que inúmeros invertebrados com capacidade de voo aproveitem o néctar das fl ores, fundamental para as suas migrações.Se por um lado o seu alimento é produzido pelas plantas, estes pequenos animais fertilizam-nas, fi cando depois na ementa de outras espécies de aves, répteis, anfíbios e até de pequenos mamíferos, num quadro natural de interdependência. Em tempo de ninhos, isso é pão para a boca.

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 29

Clic-clic... clic!Em jeito de caça

fotográfi ca são muitos

os fotógrafos da natureza

no estuário do Douro:

as suas imagens já têm

servido para registar

espécies que de outra

forma escapariam ao

observador mais atento...

Como não há espaço para falar com a maior parte, escolhemos três. Primeiro as senhoras...Maria Rego, professora aposentada, encontra na Reserva Natural Local do Estuário do Douro (RNLED) o seu passeio favorito. Como mora ali perto, «é uma paixão observar a natureza com as mudanças inerentes às estações do ano e às várias espécies que visitam o estuário», diz.Desde 2005 que visita o local, «sempre no intuito de observar aves e os seus comportamentos. Foi então que comecei também a registar estas observações em fotografi a e a divulgá-las na Internet». Desde que «o estuário foi classifi cado como Reserva – o que me alegrou bastante – a satisfação da minha paixão tornou-se mais difícil», comenta. «Tenho pena que não haja um espaço para os fotógrafos que tanto contribuíram para

o registo de novas espécies que todos os anos aparecem nesta Reserva. Deixo aqui a sugestão de fazerem um abrigo, num local estratégico, em que pudéssemos fotografar sem incomodar as aves», adianta. Enquanto isso não se concretiza, Maria Rego informa que «quando vou fotografar tenho sempre o cuidado de não perturbar a vida selvagem. Coloco sempre o interesse dos animais em primeiro lugar». Assim, «evito uma grande aproximação para não causar o abandono dos ninhos».Com anos de experiência, consegue «identifi car várias espécies», mas, confi dencia, «tenho mais difi culdade em classifi car gaivotas. Têm várias mudanças de plumagem até se tornarem adultas».Nas outras espécies de aves utiliza o guia da especialidade.Maria Rego apaixonou-se por esta atividade:

Estuário do Douro

Mar

ia R

ego

Merganço-de-poupa, na RNLED, em dezembro de 2009

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30 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

30 DUNAS

«Fotografar uma espécie que é a primeira vez que se avista no estuário é uma grande emoção, a respiração fi ca alterada e a mão treme de tal maneira que as primeiras fotos não fi cam bem. Só depois de alguns clics se conseguem fotos “perfeitas”!».Também reformado está Francisco Bernardo: «Quase não há dia que não visite a Reserva», diz e continua: «Pelo menos passo lá. Sou vizinho deste espaço protegido e das aves».Francisco Bernardo encontrou na fotografi a uma ocupação interessante, até porque na sua perspetiva «há cada vez mais espécies que procuram a RNLED, seja para nidifi car seja para descansar das longas viagens migratórias anuais».Conhece o sítio desde petiz, onde fazia as suas brincadeiras em jeito de capitão da areia, contudo, só há cerca de três anos é que se começou a interessar por fotografi a da natureza. Aponta o dedo: «A Reserva também foi “culpada” por esse interesse. Sempre gostei da fotografi a, mas quando me reformei é que

se tornou a atividade preferida, de que retiro um grande prazer». Como mora perto, «mesmo que desça a encosta e passe na via marginal sem o propósito de fotografar, observo o que se vai passando. Até de casa avisto o lugar. A minha atenção e olhar quotidianos estão muito centrados no que acontece naquele espaço. Parece que não se passa nada, mas há algo que muda, como é próprio de tudo o que tem vida». Remata: «Muda quase impercetivelmente...».Acompanhou a criação da RNLED e «o seu desenvolvimento no terreno. Fiz uma reportagem fotográfi ca da inauguração em 17 de setembro de 2010. Foi para mim um importante acontecimento no sítio em que vivo e na comunidade em que estou inserido».A ética própria da fotografi a da natureza não lhe passa ao lado: «Os abrigos fotográfi cos são indispensáveis ao respeito pela vida selvagem por parte de quem quer abordá-la no sentido do seu conhecimento, do conhecimento científi co e fruição da sua beleza, como é o caso da fotografi a», comenta.

«O que mais conta na hora de fazer o clic é que ele aconteça em condições de respeito intransigente pelas espécies», sublinha. É importante «que não interfi ra nas condições de liberdade das aves, sobretudo não as perturbando na sua vida dentro do espaço propício à sua existência, à defesa da sua vida, da sua reprodução e preservação». Na opinião de Francisco, o ponto crucial é também «a altura da nidifi cação: não se pode interferir, pois pode ocorrer o abandono dos ninhos se as aves se sentirem ameaçadas. É inimaginável que a “fotografi a” fosse agente de destruição, de perturbação grave, de ameaça. É com esta consciência que visito a Reserva e me comporto ao fazer as minhas fotografi as».Houve um registo especial que é obrigatório destacar: «Já este ano tive um enorme prazer por ter conseguido fotografar um alcaravão, uma ave muito rara nestas paragens». Falamos também com Paulo Leite. Não está reformado, trabalha no setor da segurança. Mesmo assim é um ferrinho neste espaço protegido: «Visito diariamente a RNLED, sempre antes ou depois do trabalho».

Paulo Leite, Maria Rego e Francisco Bernardo: fotógrafos da natureza

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Mobelha-pequena na RNLED no passado dia 2 de abril

Pilrito-escuro, um visitante dos países frios, na RNLED, no passado dia 10 de janeiro

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 31

Mora a uma dezena de quilómetros da Reserva e não se cansa: «Venho aqui regularmente desde outubro de 2010, altura em que comecei a fotografar aves». Cativa-o «sobretudo o imprevisto, o facto de poder a qualquer momento chegar lá e ver uma espécie menos usual e rara», o que sugere um registo fotográfi co. «A possibilidade de estudar as aves e o seu comportamento» é o vetor essencial.Para que essa observação não se esgote, tem em atenção a ética própria da fotografi a da natureza: «A Reserva tem um sistema próprio de funcionamento que deve ser respeitado. Faltam alguns abrigos de fotografi a para podermos estar mais próximos das aves, mas é necessário respeitar as espécies, evitar que entrem em stress», adianta. «O pisoteio das dunas cria caminhos e destrói plantas que alimentam os insetos que são a base da cadeia alimentar das aves, dos mamíferos…», acrescenta e conclui: «É preciso preocuparmo-nos com tudo isto antes de saber se vale a pena fazer a fotografi a».

Foi registada a presença de uma petinha, Anthus richardi, na Reserva Natural Local do Estuário do Douro (RNLED) em 18 de janeiro. Sob o olhar atento de Francisco Bernardo, fotógrafo da natureza, não escapou às diversas fotografi as obtidas, como a que publicamos.Trata-se de uma ave rara proveniente da Ásia Central. A migração para a Europa, apesar de pouco expressiva, é conhecida, havendo registos no outono e inverno em vários países. Em Portugal no passado havia pouca informação desta espécie tendo aumentado os registos a partir dos anos 90. Historicamente são importantes os registos que Tait refere em “The Birds of Portugal” relativamente a observações e capturas desta espécie no início do século passado por Reis Júnior, e inclusivamente a informação de grupos de aves que permaneciam do outono ao mês de abril do ano seguinte.Quanto à ave que tem permanecido na RNLED, foi acompanhada no local ao longo de uma semana.

Esta ave solitária apresentava alguma debilidade física, embora se alimentasse bem. O facto de estar na Reserva debilitada mas a alimentar-se constantemente acentua a importância desta área protegida. Hipoteticamente esta ave terá realizado uma deslocação de milhares de quilómetros e encontrou neste estuário uma zona de descanso, alimentação e eventual recuperação física propícia que, há dois anos, com a perturbação humana e de cães no local, não seria certamente possível.São também importantes os cuidados que se têm tomado em relação à melhoria de condições do habitat no que toca à vegetação e invertebrados terrestres. Este aspeto é um dos fatores essenciais para que a RNLED possa ser um espaço de qualidade em termos de serviço às aves migratórias de passagem, nomeadamente o grupo das insetívoras, como esta rara petinha asiática, que teve a sorte de encontrar um espaço com alimento e baixa perturbação. Outras virão.

Texto Paulo Paes de Faria

A rara petinha-de-richardPaulo Leite

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32 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

32 LITORAL

AVES MARINHAS

As aves são um elemento importante em muitos ecossistemas marinhos, infl uenciando estruturas e dinâmicas.

No mar, na costa rochosa, na praia arenosa e nas dunas, conforme a época do ano, as aves alimentam-se, repousam durante as migrações, mudam as penas e até nidifi cam em certos lugares. Em geral, cada espécie de ave explora um recurso alimentar diferente, relacionado com a forma e o comprimento do bico, do pescoço e das pernas, desenvolvendo uma tática de captura adaptada à presa. Assim, diferentes espécies conseguem viver em conjunto sem grande concorrência direta.As gaivotas agarram os peixes na superfície da água, recolhem invertebrados nas rochas ou na areia durante a maré baixa, e assaltam os ninhos de outras aves. No estuário, agitam com as patas a água das pocinhas baixas, levantando nuvens de sedimento e provocando a saída de pequenos invertebrados. Tordas-mergulheiras e gansos-patolas atiram-se do ar para a água e mergulham atrás das presas. As andorinhas-do-mar caçam peixinhos, voando baixo sobre a superfície da água e introduzindo apenas a cabeça na água. Os patos, com os seus bicos curtos, alimentam-se de pequenos caracóis e mexilhões, enquanto outras aves, com bicos mais compridos, como o ostraceiro, conseguem chegar aos bivalves e poliquetas enterrados. As aves migradoras repousam na costa e alimentam-se para armazenarem reservas antes

de prosseguirem viagem, na primavera para o norte e no outono para o sul. Especialmente na época de migração, as necessidades alimentares são elevadas. Nos estuários, os grandes bancos de areia e vasa são muito ricos em pequenos invertebrados e são estes os locais de paragem e alimentação de muitas aves típicas do litoral. Enormes áreas fi cam a seco durante a maré baixa, quando as aves limícolas se alimentam ao ritmo das marés, dia e noite, andando facilmente na lama com as pernas compridas e os bicos de diferentes formas e tamanhos, que estão bem adaptados para penetrarem profundamente no substrato. Milhares de e gaivotas-prateadas (Larus cachinnans) e gaivotas-de-asa-escura (Larus fuscus) vivem no litoral, alimentando-se de todo o tipo de detritos orgânicos que as águas do mar transportam 1 e 2. Recolhem os restos acumulados, contribuindo para a limpeza das praias e atuando, assim, como “engenheiros do ecossistema”. Seguem os barcos de pesca, aproveitando os restos de peixe que são atirados borda fora mas, em terra, invadem os espaços humanos, alimentando-se muitas vezes nas lixeiras. Com as asas fi nas e pontiagudas, a andorinha-do-mar (Sterna hirundo) é uma grande voadora3. No verão nidifi ca em colónias de milhares de indivíduos nas costas do Círculo Polar Ártico. A torda-mergulheira (Alca torda) é muito semelhante ao arau-comum (Uria algae), tendo o bico deprimido lateralmente 4. Voa rapidamente sobre a superfície do mar e nada debaixo da água usando as asas e os pés como remos.

Flora e fauna marinhasdo litoral de Gaia

ELA - Estação Litoral da AgudaRua Alfredo Dias, Praia da Aguda,4410-475 Arcozelo • Vila Nova de Gaia

Tel.: 227 536 360 / Fax: 227 535 [email protected]

Nidifi ca em colónias nas falésias, onde põe um único ovo. O ganso-patola (Morus bassanus), de asas grandes e pontiagudas como a cauda, lança-se de vários metros de altura, a grande velocidade, e mergulha até profundidades consideráveis para apanhar os peixes 5. Reproduz-se nas falésias das ilhas rochosas no Atlântico Norte, sobretudo na Inglaterra, onde forma grandes colónias. O pato-preto (Melanitta nigra) é um pato marinho grande, com cauda curta que nidifi ca em pântanos de água doce 6. O seu bico preto tem uma marca cor de laranja na parte superior e as patas também são pretas. Durante o inverno, os bandos procuram refúgio na praia durante as tempestades. O ostraceiro (Haematopus ostralegus) é uma ave limícola migratória, que nidifi ca na Europa e Ásia e passa o inverno nas costas do sul de África 7. Tem um bico comprido e vermelho, tal como as patas e os olhos. É solitário mas associa-se aos bandos de outras aves marinhas.

Por Mike Weber e José Pedro Oliveira* Fotos: João L. Teixeira

1. Gaivotas, Larus spp. 2. Gaivotas, Larus spp. 3. Andorinha-do-mar, Sterna hirundo*

4. Torda-mergulheira, Alca torda 5. Ganso-patola, Morus bassanus* 6. Pato-preto, Melanitta nigra

7. Ostraceiro, Haematopus ostralegus*

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 33

ESPAÇOS VERDES 33

Este ano há mais atividades de educação ambiental concretizadas através

da realização de ateliers para um público jovem, normalmente ao fi m-de-semana

Em curso desde o início de 2012, os ateliers orientados por técnicos do Parque Biológico de Gaia têm registado uma boa adesão por parte da população.A fotografi a em cima regista um momento de um dos ateliers de fotografi a da natureza realizados em 17 de março passado. As dicas

desta formação pretendem ajudar as pessoas a tirar mais partido da sua máquina digital numa atividade sem custos de participação mas limitada a 15 participantes. Vocacionado essencialmente para o recreio e lazer, este parque de 11 hectares, que abriu ao público em agosto de 2005, localiza-se muito

perto do centro de Gaia e resulta da aquisição, pelo Município, da antiga quinta da Lavandeira. Em Oliveira do Douro, o Parque brinda os visitantes com percursos pedestres, jardins temáticos e zonas para merendar.Com entrada grátis, este espaço verde está aberto todos os dias, do nascer ao pôr-do-sol.

Parque da Lavandeira

AS MULHERES DO CAMPO VÊM À VILA

Aos sábados de manhã, venda de legumes sem pesticidas.

TAI CHI

Às segundas-feiras, aulas às 9h30 e às quintas-feiras às 10h30.

YOGA

A orientação é da responsabilidade da Dr.ª Luísa Bernardo, que proporciona a atividade em regime de voluntariado. Decorre às quartas e sextas-feiras às 9h45.

ATELIERS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

destinados a um público jovem, são monitorizados por técnicos do Parque Biológico.

MAIO – Sábado, dia 5 às 11h00, Astronomia, observação do Sol. – Sábado, dia 12 às 11h00 e às 15h00, A terra conVida.– Domingo, dia 13 às 11h00, Yoga no jardim. – Fim-de-semana, dias 19 e 20, há Feira de Agricultura Biológica.

– Sábado, dia 26 às 11h00, “Os nossos cágados estão em perigo, vamos protegê-los”, Projeto LIFE.

JUNHO – Sexta-feira, dia 1, Dia Mundial da Criança com animação a cargo da Associação Ilha Mágica. – Sábado, dia 2 às 11h00, atelier de fotografi a da natureza. – Domingo, dia 3, Feira de Artesanato. – Fim-de-semana, dias 9 e 10 às 11h00, Yoga no jardim.

– Sábado, dia 23, Centro de Recuperação de animais. – Sábado, dia 30, Desenhar o Parque.

Participação e entrada grátis.

Pode seguir o Parque da Lavandeira no Facebook, em www.parquebiologico.pt (botão Parque da Lavandeira), através de [email protected] ou telefonar para 227 878 138.

AAAS MULHERES DO CAMPO VÊM À VILA ATELIERS DE

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Atelier de fotografi a

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34 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

34 ESPAÇOS VERDES

ParqueBotânico

do Castelo

Altaneiro sobre o rio Douro, este espaço verde foi até ao século passado terreno agrícola cultivado. Com uma tez acastanhada, o xisto do morro atira-se, oblíquo, ao céu azul.

Terá assistido às suas múltiplas utilizações, desde as populações castrejas à ocupação romana, passando pela idade medieval e as que se seguiram.

Certo é que quando a quinta foi abandonada no século XX a vegetação espontânea reocupou o seu espaço. Medronheiros, carvalhos, sobreiros, freixos e muitas outras

espécies botânicas refazem habitats.Se umas se veem o ano inteiro, outras há que brilham, singulares, só por estes dias.

Fica esta escolha, valendo ainda dizer que a entrada neste parque é grátis.

Situado em Crestuma, agora que a

primavera avança é tempo

das fl ores silvestres cativarem a atenção

de quem ali passeia

Abrótea Urze-branca Sanguisorba sp.

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Page 35: Anoplophora chinensis

Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 35

Silene scrabifl ora Omphalodes nitida, endémica

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36 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

36 ESPAÇOS VERDES

SERRA DE ARGA: PERCURSO

DE DESCOBERTA

Sábado, 19 de maio

A serra de Arga ergue-se a 825 metros de

altitude (Alto do Espinheiro) e enquadra-se

no Alto Minho. Saída e regresso ao Parque

Biológico de Gaia em autocarro. Inscrição

obrigatória.

EXPOSIÇÃO COLETIVA DE FOTOGRAFIA

DA NATUREZA – “ARANHAS: UMA QUESTÃO

DE EQUILÍBRO”

Na Década da Biodiversidade (até 2020) lançada

pelas Nações Unidas não há que ter dúvidas

sobre os aracnídeos: têm poucos amigos, mas

quem fotografa aranhas vê-as com outros olhos

e percebe que não vale a pena menosprezar o

seu lugar na natureza.

Até 26 de maio e pode ser visitada no horário de

abertura do Parque Biológico de Gaia.

SÁBADO NO PARQUE

Dia 5 de maio o Parque prepara algumas atividades

especiais para os seus visitantes, sem custos a não

ser o bilhete de entrada habitual neste equipamento

de educação ambiental. O programa inicia às

11h00 com o atelier “Paparoca da bicharada”.

Após o almoço, pode assistir às 14h30 à conversa

do mês, que será sobre “Conhece o cágado-de-

carapaça-estriada? (Projeto Life Trachemys)”.

Às 15h30 há visita guiada pelos técnicos do Parque

e percurso ornitológico. Entre as 22h00 e as 23h30,

decorrem observações astronómicas, dependendo

das condições meteorológicas (inscrição

necessária).

Dia 2 de junho o programa mantém-se com

exceção do atelier que será “Viver no campo” e

da conversa do mês, “Os pirilampos do Parque”.

Às 15h00 decorre a abertura da exposição de

fotografi a da natureza “Um olhar de inseto”, de Luís

Bravo Pereira.

ANILHAGEM CIENTÍFICA DE AVES

SELVAGENS

Nos primeiros e terceiros sábados de cada mês,

das 10h00 às 12h00, os visitantes do Parque

podem assistir de passagem pelo percurso de

descoberta da natureza (Quinta do Chasco) a

estas atividades, se não chover.

OFICINAS E CAMPOS DE VERÃO

O primeiro Campo de Verão vai de 7 a 14 de julho; outro decorre de 4 a 11 de agosto. As Ofi cinas de Verão vão de 2 a 6, de 16 a 20 e de 23 a 27 de julho, seguindo de 30 de julho a 3 de agosto. Reeditam-se de 13 a 17 de agosto, bem como de 20 a 24 e de 27 a 31 do mesmo mês. Para participar tem de fazer a inscrição no Gabinete de Atendimento.

OBSERVAÇÃO DE AVES SELVAGENS

Nos domingos 6 de maio e 3 de junho, entre as

Eis algumas das iniciativas a curto prazo do Parque Biológico de Gaia que

SERRA DE ARGA PERCURSO S

Agenda

Noites dos Pirilampos

As noites dos pirilampos são assim. Neste ano,nas noites dos dias 1 e 2 e de 7 a 9, bem como de 11 a 16 e de 18 a 22 de junho, o Parque Biológico de Gaia recebe visitas noturnas para observação de pirilampos e outros animais notívagos (reserva obrigatória).Nessas mesmas noites, das 23h00 até às 23h30, há também observações astronómicas. O self-service do Parque serve jantares (reserva obrigatória).

Quando junho desliza no calendário

uma das iniciativas mais antigas e

de maior êxito criadas pelo Parque

Biológico de Gaia agita o interesse

de milhares de famílias

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Luciola lusitanica

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Page 37: Anoplophora chinensis

Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 37

Em 29 de fevereiro, quarta-feira a revista Parques e Vida Selvagem foi distribuída com o Jornal de Notícias.Às 9h01 Raquel Santos apressa-

se a enviar a sua mensagem: «Bom dia! Já conhecia o passatempo e hoje resolvi participar. O animal é um texugo».Foi a primeira a acertar. Viemos a saber que mora na Maia e para prémio escolheu o livro “Ecoturismo e conservação da natureza”, que lhe foi imediatamente enviado.No que toca à planta, pela primeira vez, ninguém acertou. Talvez deva ser considerada uma identifi cação com maior grau de difi culdade, mas já agora aqui fi ca: a espécie em causa era uma chuchapitos, do género Lamium. Nesta nova edição, quem sabe se não chega a sua vez de alcançar algum prémio? Para esta edição de primavera, fi cam estas fotografi as. É capaz de identifi car estes seres vivos?

Se for, não deixe de nos dizer! As fotografi as publicadas são sempre de vida selvagem que já foi observada na região. As respostas mais rápidas recebem como prémio um dos livros editados pelo Parque Biológico de Gaia.Deve ser indicado um dos nomes vulgares reconhecidos ou, melhor ainda, o género ou o nome científi co. Se acertar numa só de ambas as espécies, a sua resposta é igualmente considerada na lista das mais rápidas. Envie-nos o seu e-mail ([email protected]) ou carta (Parque Biológico de Gaia – Revista “Parques e Vida Selvagem” – 4430-681 Avintes)! O prazo para as respostas termina em 9 de maio de 2012. Os leitores já premiados em edições anteriores só o serão se não houver outra resposta certa (este item só é válido durante um ano a partir da atribuição do prémio). Então, já sabe o nome de alguma destas duas espécies?

Que será isto?

que podem ser do seu interesse...

10h00 e o meio-dia, leve, se tiver, um guia de campo

de aves europeias e binóculos à Reserva Natural

Local do Estuário do Douro. Com telescópio, estará

um técnico do Parque para ajudar os presentes a

identifi car as aves do Litoral.

RECEBA NOTÍCIAS POR E-MAIL

Para os leitores saberem das suas atividades

a curto prazo, o Parque Biológico sugere uma

visita semanal a www.parquebiologico.pt. A

alternativa será receber os destaques, sempre

que oportunos, por e-mail. Para isso, peça-os a

[email protected]

Mais informações

Gabinete de Atendimento

[email protected]

Telefone direto: 227 878 138

4430-681 Avintes - Portugal

www.parquebiologico.pt

No âmbito do estágio das duas alunas do Colégio Internato dos Carvalhos e de forma a celebrar o Ano do Morcego, no dia 2 de abril houve teatro para os participantes das Ofi cinas de Primavera.Foram também realizados pequenos jogos didáticos e inquéritos de forma a garantir a retenção da mensagem. Estas atividades tiveram como objetivo principal dar a conhecer aos mais jovens este pequeno mamífero voador

“mal compreendido”, a sua etologia e ecologia, bem como a sua importância no controlo de pragas de insetos e as diferentes ameaças a que se encontram sujeitos. Para quem estiver interessado em espreitar, dia 22 de maio – Dia Internacional da Biodiversidade – este teatro voltará a realizar-se, desta vez no Biorama num horário ainda a defi nir. Texto Jessica Castro

Compreender os morcegos

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38 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

38 ESPAÇOS VERDES

Museu da Afurada atrairá turismo

Decorreu em Madrid, Espanha, a reunião anual da Associação Ibérica de Zoos e Aquários (AIZA)

entre 16 e 18 de fevereiro.O certame envolveu vários grupos de trabalho,

nomeadamente os de educação, de conservação e de marketing e comunicação.

Ao todo, juntou uma centena de participantes nas instalações do parque Faunia, anfi trião das reuniões,

com 32 parques representados. A direção da AIZA também reuniu durante o evento com

representantes do Ministério da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente de Espanha, e do Instituto da Conservação

da Natureza e Florestas e com a Direcção-Geral de Veterinária portuguesa. Mais em www.aiza.org.es

Associação Ibérica de Zoos e Aquários

Prevê-se que o museu da Afurada esteja pronto ainda este ano e «vai consolidar a zona como ponto de atração turística na Área Metropolitana do Porto», disse Luís Filipe Menezes, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, no passadodia 11 de abril, em visita às obras desteequipamento.

«Vai ser interessante ter uma vila piscatória com autenticidade, limpa e ordenada, a cinco minutos do Porto», adiantou.O autarca sublinhou que «a crença no futuro das cerca de 5 mil famílias que aqui vivem é muito diferente de comunidades que estão a viver fases de depressão».Este museu, que será conhecido como

Centro Interpretativo do Património da Afurada, abrirá com uma exposição sobre a cultura local e o património natural da zona.O museu resulta de uma parceria entre a Câmara Municipal de Gaia e a Administração dos Portos do Douro e Leixões.

Foto João L. Teixeira

A Afurada vai ter um museu, com vista a expor património etnográfi co típico

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 39

ESPAÇOS VERDES 39

Pela suasaúde!

Inês Farias Mateus esteve em estágio no Centro de Recuperação do Parque Biológico de Gaia de novembro a março.Oriunda da Universidade de Évora, do

curso de medicina-veterinária, tinha por missão acompanhar todo o trabalho com os animais, desde o acolhimento, exame clínico e diagnóstico até ao tratamento. Mas não se fi cava por aí. Tinha outro objectivo: fazer necrópsias a tartarugas exóticas no fi to de identifi car alterações nos órgãos e tecidos causadas por diferentes patologias.Inês recolheu amostras que seguiram para laboratório, com vista a serem analisadas. Resultado? Embora ainda esteja em curso esse labor entre provetas e microscópios, encontrou a priori muitas patologias a nível de fígado e pulmão. Renais nem tanto, «era um caso ou outro», afi rma.De início «estava a retirar só os órgãos alterados, depois mudei o protocolo, uma vez que em muitos casos as lesões não são observáveis a olho nu». Tendo ocorrido «uma quebra de organismos a analisar, optei por cinco órgãos essenciais: coração, baço, fígado, rim e pulmão».Havia que recolher também «osso do plastrão

– a parte inferior da carapaça – onde surgem muitas lesões, sobretudo úlceras». Agora resta aguardar os resultados laboratoriais e fazer um estudo estatístico para ver o que é que as tartarugas exóticas transportam que possa contagiar os ecossistemas naturais. «Ainda estou curiosa quanto aos resultados», diz e adianta: «Seria sempre melhor poder fazer mais exames, por exemplo, a nível bacteriológico, para atingir áreas que não estavam no âmbito deste estágio» e que podem trazer dados mais amplos sobre esta problemática.De qualquer forma, o resultado deste trabalho liga-se ao projeto LIFE-Trachemys iniciado o ano passado, em resultado de uma parceria estabelecida entre o CIBIO-UP, o Parque Biológico de Gaia, a Associação ALDEIA/RIAS, em Portugal, e em Espanha com a Generalidade Valenciana e a empresa Vaersa. Entretanto, já sabe: se conhece alguém que se tenha cansado de ter uma tartaruga exótica como animal de estimação, não vale deitá-la num lago ou num rio. É preferível, pela sua saúde, entregá-la a uma entidade responsável que saiba lidar com ela sem lesar o bem comum.

O surgimento

de cágados exóticos

nos ecossistemas

do país não é prejudicial

só pela concorrência

de alimento e espaço

face às duas espécies

nativas, ou pelo risco

de hibridação se for

o caso, mas também

pelas doenças que

esses répteis podem

transportar consigo

Centro de Recuperação

JG

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40 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

40 ESPAÇOS VERDESÇ

Novidades de fl ora

Hepática-talosa-hemisféricaReboulia hemisphaerica (L.) Raddi

Esta planta é do grupo das hepáticas talosas, já que o seu corpo vegetativo não está diferenciado em caulóides e

fi lídeos e, portanto, tem um aspeto taloso que cresce em rosetas prostradas sobre o solo. Cada talo pode ter até 8 mm de largura e divide-se sempre em duas partes na zona terminal (divisão dicotómica), o que faz com que as rosetas se alarguem à medida que a planta se desenvolve e recobre o solo nu, sustentando-o e protegendo-o. A superfície superior do talo é suave, mas percorrida por uma série de redes de poros pouco salientes que permitem à planta as trocas gasosas.As plantas desta espécie são levemente aromáticas (cheiro fresco e apimentado) e a superfície superior é verde-esbranquiçada. Para além disso, em estado seco, são sempre visíveis as margens avermelhadas a púrpuras dos talos que se devem à presença de escamas salientes a partir da face ventral.Esta espécie está geralmente fértil de março a julho e os seus órgãos reprodutivos são facilmente visíveis e têm morfologia diferenciada: os femininos são suportados por estruturas que se assemelham a pequenos guarda-chuvas verdes (quando imaturos) e castanhos (quando maduros e a libertar esporos); os masculinos são estruturas em forma de rim ou lua rentes ao talo e de cor verde-púrpura.

Sendo uma espécie primocolonizadora de solos neutros a básicos pode ser encontrada um pouco por todo o mundo e também se encontra nos taludes terrosos e nas fendas dos muros e dos caminhos do parque. A melhor altura para observar esta espécie é durante a primavera, já que, tal como outras

hepáticas talosas, cresce durante a época mais chuvosa e fria e reproduz-se durante a primavera, secando no verão e outono, alturas em que os esporos continuam a dispersar-se para que a espécie possa expandir-se a novos micro-habitats.Agora que leu este artigo, pode ver um vídeo

Quem palmilhar o percurso de descoberta da natureza do Parque Biológico de Gaia, para além de ver espécies emblemáticas da Europa como o grou-europeu ou a lontra, pode também agora observar uma das garças mais pequenas do mundo.Trata-se do abetouro-galego. Com o nome científi co de Ixobrychus minutus, esta pequena

garça típica de habitats de zonas húmidas resulta de reprodução em cativeiro. Na sua vida selvagem, o abetouro-galego é observado em pauis e estuários da primavera ao fi m do estio, embora seja possível excecionalmente ver alguns indivíduos noutras alturas do ano. Com hábitos discretos e crepusculares, a verdade é que nem sempre

se dá facilmente com ele. Quando quer passar despercebido aponta o bico ao céu e confunde-se com o ambiente. Ali perto, depois dos ostraceiros, os visitantes podem observar alcaravões que, irrecuperáveis para libertação na natureza, servem fi ns de educação ambiental. Conhecer o património natural incentiva a sua conservação.

Abetouro-galego e alcaravão

púrpura. dura

Novidades de fauna

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 41

com as características morfológicas desta hepática vistas em pormenor à lupa.http://www.youtube.com/watch?v=mpPaQa3D3Vs

Texto Cristiana Vieira e Helena Hespanhol (CIBIO-UP). Foto Sónia Ferreira (CIBIO-UP).

Astronomia ao sol

Nessa tarde, uma parceria entre o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto e o Observatório Astronómico

do Parque Biológico de Gaia permitiu às inúmeras pessoas que ali compareceram realizar uma observação solar, de tarde. «Apesar de algumas nuvens incómodas terem ameaçado a realização do evento, foi possível levar a bom porto as atividades», diz Joaquim Gomes, um dos dinamizadores, e adianta: «As pessoas aderiram e tiveram a oportunidade de ver o Sol como nunca viram, através de telescópios preparados para a observação solar que mostrava aos interessados as manchas solares e fi lamentos da sua superfície, bem como algumas

protuberâncias no bordo do Sol através do telescópio H-alfa».Seguiu-se a Semana Lunar, entre 1 e 7 de abril. Apesar do dia ter estado mau no que toca às condições meteorológicas, os organizadores mantiveram-se no local e tiveram ainda a sorte de verifi car que a partir das 22h30 o céu limpou e foi possível obter algumas imagens de planetas do sistema solar.Dia 14 de abril, sábado à noite, quem compareceu junto ao observatório pôde ver Saturno. Uma semana depois, dia 21 de abril, houve também uma palestra seguida da observação de Marte com as Líridas pelo meio. As Líridas são uma chuva de meteoros cuja origem está localizada na constelação da Lira.

O Mês Mundial da Astronomia,

cuja comemoração está ainda em curso,

começou no primeiro dia de abril, Dia do Sol

1 de abril 2012 - Canon EOS 350D - Newton 8” f/6 + fi ltro Baader 1 de abril 2012 - Canon EOS 350D + Coronado 60 mm

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42 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

42 ESPAÇOS VERDES

Percursos de descoberta

Em 10 de março a serra da Margaraça recebeu uma visita temática organizada pelo Parque Biológico de Gaia.

Após uma paragem na aldeia de Côja, a fraga da Pena encantou os visitantes. A variedade da vegetação local permitiu a observação de espécies mediterrânicas ainda misturadas com as que melhor se conhecem no Norte litoral.

Duas espécies de aderno, medronheiros velhos, azevinho, madressilvas com lagartas gregárias de uma espécie de borboleta protegida por lei — a aurínia — e caminhar por trilhos onde uma vegetação cheia de musgos, fetos e folhado faz lembrar contos de infância.A geologia esteve presente com Narciso Ferreira. Explicou em linguagem simples a formação do relevo local e o recuo de

cabeceira por erosão que deu origem à queda de água que ali se vê. Na Margaraça, propriamente dita, mais um gosto ao pé, e outras tantas espécies a observar, quando as folhas dos carvalhos, castanheiros e aveleiras tardavam e as prímulas e as violetas fl orescem, precoces para olharem ainda o sol.Em 14 de abril houve outra deslocação, desta vez à serra da Lousã.

Anilhagemcientífi caSe não chover, tendo em conta a exigência de bem-estar animal, nos primeiros e terceiros sábados de cada mês, das 10h00 às 12h00, o grupo de anilhagem do Parque Biológico de Gaia está em ação, na quinta do Chasco, em pleno percurso de descoberta da natureza.Os visitantes do Parque podem assistir a esta atividade. O contacto direto e mais próximo com as aves do património natural lusitano tem força motivadora em educação ambiental. Este trabalho decorre da colaboração com a Central Nacional de Anilhagem, coordenada pelo Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, num projeto europeu

de Estações de Esforço Constante, para monitorização das aves selvagens. Com a orientação de ornitólogos credenciados, são capturadas aves selvagens,

colhendo-se dados biométricos, sendo depois anilhadas e devolvidas à liberdade.As sessões de anilhagem estão abertas à formação de voluntários.

Ant

ónio

S. P

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Narciso Ferreira, geólogo, explica o aspeto atual da fraga da Pena

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Libertação de pica-pau-malhado-grande depois de anilhado

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Page 43: Anoplophora chinensis

Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 43

BATER DE ASA 43

O voo das avesUm corvo-marinho,

uma gaivota e uma

coruja-das-torres

são os casos escolhidos

para este espaço feito

de viagens naturais

Em 8 de junho de 2010, o anilhador credenciado Ingo Ludwichowski aplicou a anilha n.º 271174 na pata direita de uma cria de corvo-marinho-de-faces-brancas.Esta sessão de trabalho decorreu no Norte da Alemanha, em Fehmarn.

Seiscentos e cinquenta e oito dias depois, em 27 de março passado, este mesmo corvo-marinho foi encontrado na Reserva Natural Local do Estuário do Douro, a uma distância de 1492 quilómetros.

Gaivota-de-cabeça-pretaUma gaivota-de-cabeça-preta, Ichthyaetus melanocephalus, com anilha de cor foi observada na Reserva Natural Local do Estuário do Douro no passado dia 3 de abril por Paulo Faria.Uma vez que foi possível tomar nota do seu código alfanumérico – R92C –, entretanto o Programa para as Gaivotas Mediterrânicas (anilhas de cor) de França passou as seguintes informações: esta ave tinha sido anilhada por Omis Baguage em 14 de junho de 2011 em

Conchil le Temple, Pas de Calais, em França.Entre dois registos — o primeiro, francês e o mais recente, português — esta gaivota tinha sido vista por Renaud Flamant em 2 de agosto de 2011 ainda na mesma região francesa mas em Bassin Liane, Outreau.

Coruja-das-torresEm início de fevereiro um veterinário telefonou para o SEPNA da Anadia. Dizia que tinha sido recolhida uma coruja com a anilha n.º M23460.Tratava-se de uma coruja-das-torres que passara pelo Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque Biológico de Gaia e, antes de ser libertada, foi anilhada pelas mãos credenciadas de António Cunha Pereira em 28 de julho do ano passado.

Corvo-marinho-de-faces-brancas Coruja-das-torres João L. TeixeiraJoão L. Teixeira

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Page 44: Anoplophora chinensis

44 MIGRAÇÕES

Nova espécie de ave registada para Portugal Quando passeamos nos nossos

parques, quando vamos à praia,

sempre que estamos no nosso quintal,

e ouvimos grande diversidade

de espécies de aves a cantar, raras

são as vezes que nos apercebemos

que uma boa parte delas são animais

migradores, que anualmente se

movimentam entre os locais

em que se reproduzem

e os refúgios de inverno

Estes pequenos animais alados dispõem de um grande arsenal de “tecnologias” naturais de navegação que lhes permitem deslocar-se na época e orientação corretas, e cuja efi cácia quase envergonha os nossos sofi sticados sistemas de GPS: dependendo da espécie, têm capacidade de se orientar pelas estrelas, pelo campo magnético da Terra ou pela posição do Sol, com cada ave a utilizar estes mecanismos de acordo com a sua programação genética e com a experiência adquirida de migrações anteriores. Embora cada espécie tenha uma ou outra rota preferencial, seguida pela grande maioria dos indivíduos, alguns desviam-se do caminho ideal, acabando em terras onde não é suposto serem encontrados.António Marques é um ornitólogo algarvio já com 30 anos de experiência, responsável pelos trabalhos de monitorização da estação de anilhagem de aves de Loulé, na fonte da Benémola. Para além deste trabalho de anilhagem no campo, também recolhe anilhas de aves mortas por caçadores da zona: “Uso o sistema de colocar em zonas estratégicas no meio rural, em cafés como em restaurantes onde se juntam muitas pessoas, um pequeno recipiente onde depois são colocadas anonimamente as anilhas. Todo este trabalho é perigoso e arriscado porque mexe com hábitos ainda muito enraizados na nossa cultura. Mas tem só uma fi nalidade para mim que é a científi ca.” Num dia como qualquer outro em que foi recolher essas anilhas, encontrava-se uma pata de passeriforme com uma anilha que indicava que a ave em questão viria de longe: mais concretamente, da Suécia.

Encontrar aves com anilhas estrangeiras não é raro, por isso António tratou de entrar em contacto com as autoridades suecas para saber a espécie a que pertencia.Pelas informações que chegaram do país nórdico, a ave foi anilhada em Utklippan, no Sul da Suécia, em 15 de outubro de 2011, e encontrada morta em Boliqueime 96 dias depois, em 19 de janeiro de 2012, a 2724 quilómetros de distância. Nada de incomum para um pássaro. Com surpresa veio ao saber a identidade do animal: era um macho juvenil de pisco-de-cauda-azul (Tarsiger cyanurus), uma espécie nunca antes observada em Portugal! Na verdade, até para a Suécia esta espécie é rara – só 32 indivíduos foram anilhados neste país, mas o seu número está rapidamente a aumentar à medida que a distribuição desta espécie se está expandir para a Europa – esta é uma ave tipicamente asiática, ocorrendo mais raramente nos países do Norte da Europa (Finlândia e parte europeia da Rússia). No inverno deslocam-se habitualmente para o Sul do continente asiático, pelo que a ave algarvia se desviou muito da rota normal.Encontrar uma espécie nova de ave para Portugal não é algo que aconteça com frequência. Parece muito pouco provável que as autoridades suecas se tenham enganado na identifi cação do espécime, mas com uma pata apenas fi caria sempre uma réstia de dúvidas quanto à identidade da ave, sobretudo num achado tão singular. Por esta razão Júlio Neto, investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, realizou as análises genéticas necessárias que poderiam determinar a identidade da ave. Retirada uma amostra de ADN da pata da ave, Júlio utilizou técnicas de biologia molecular para estudar um gene específi co (designado ND2) para o qual já era conhecida uma sequência para o pisco-de-cauda-azul. Feitas as comparações entre a amostra da ave de António e a sequência do gene ND2 já conhecida de um destes piscos asiáticos, o investigador conseguiu concluir que eram idênticas, ou seja, tanto a amostra como a sequência publicada pertencem a aves da mesma espécie.A descoberta do pisco-de-cauda-azul no Algarve é importante por várias razões. Para além de ser um registo (mesmo que acidental) de uma espécie antes desconhecida em Portugal, é um importante testemunho da forma como as rotas migratórias das aves evoluem ao longo do tempo. Por enquanto, animais como este que venham parar nestes lados da Europa não deverão ter muito sucesso, mas quem sabe, num futuro longínquo, com o aumento progressivo da espécie no continente europeu, talvez o pisco-de-cauda-azul venha a estabelecer-se como uma ave portuguesa.

Por Pedro Andrade

Pisco-de-cauda-azul, Tarsiger cyanurus

44 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

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Page 45: Anoplophora chinensis

Tets

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Shi

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A new bird species for PortugalWhen we walk through our parks; when we go to the beach; whenever we’re in our gardens and we hear a great diversity of birds singing, rarely do we realize that a good part of them are migratory and they annually undergo great movements between their breeding sites and their wintering quarters.

Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 45

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Page 46: Anoplophora chinensis

46 REPORTAGEM

46 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

Ao longo de 14192

hectares a Reserva

Natural do Estuário

do Tejo comporta uma

extensa superfície

de águas estuarinas,

campos de vasa

que abrigam esteiros,

mouchões, sapais,

salinas e terrenos

aluvionares agrícolas

O barco passou debaixo da ponte Vasco da Gama. Neste dia não há nem sol nem chuva. O rio Tejo é uma imensa estrada chã

cansada de correr à procura do mar. O veleiro agita aqui e ali corvos-marinhos que repousam nas bóias.Bem mais longe, com os binóculos e telescópios apontados às margens, percebem-se formas distintas de aves de diferentes espécies adaptadas ao limo. Por isso lhes chama limícolas o guia desta embarcação adaptada ao turismo de natureza que leva consigo meia centena de pessoas.O desenho da periferia dos corpos e o tamanho das patas são alguns dos elementos que mesmo sem binóculos

permitem distinguir num bando em repouso os patos-bravos, os corvos-marinhos, ou os fuselos, entre garças. As certezas só se tiram na mira do telescópio, e nem sempre.Detrás dos bandos em repouso, ergue-se uma

cortina de vegetação típica de zona húmida, enquanto em cima, mais para norte, volteia uma rapina. Será uma águia-de-asa-redonda? Estamos na Reserva Natural do Estuário do Tejo, um dos poucos rios de Portugal que já

Estuário do Tejo

TarambolaVegetação mediterrânica

Tagus Estuary Natural ReserveOver 14 192 hectares Natural Reserve of the Tagus Estuary comprises an extensive area of estuarine waters, mud fi elds that harbour estuaries, mouchões, marshes, salt fl ats and alluvial agricultural land. This protected area is distributed among the Counties of Alcochete, Benavente and Vila Franca de Xira. The biodiversity of the estuary is very important and the wildlife of the Reserve draws the birds and attracts ecotourism.

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Page 47: Anoplophora chinensis

vêm grandes quando passam a fronteira que une os dois países ibéricos. Esta área protegida abrange «a zona mais a montante do estuário, distribuindo-se pelos concelhos de Alcochete, Benavente e Vila

Franca de Xira». Não excede os 11 metros de altitude e a profundidade não ultrapassa dez.A classifi cação de reserva natural data do século passado, em 1976. Ficou escrito na lei que a medida se impunha porque «o estuário do

Tejo tem um papel fundamental do ponto de vista ecológico e económico», pois «nele se concentra todo o material biológico arrastado ao longo do curso do rio, o que transforma o estuário numa zona extremamente rica em seres vivos e de importância fundamental no povoamento da costa marítima».Afi rma-se ainda que «desempenha um papel de grande relevo internacional na conservação de aves aquáticas que aqui encontram condições óptimas para invernada, nidifi cação ou como suporte às rotas migratórias».Além disso, «desempenha um papel de grande relevo internacional na conservação de aves aquáticas que aqui encontram condições óptimas para invernada, nidifi cação ou como suporte às rotas migratórias».Os habitats assentam numa comunidade de espécies vegetais com papéis singulares. Misturando-se com o próprio mar, as vasas cobrem-se de descobrem-se de água ao sabor da maré. É o ambiente de diversas espécies de invertebrados de cuja abundância benefi ciam bandos de muitas espécies de aves selvagens e o próprio homem. Nas margens há plantas que conseguem viver num meio de elevada secura fi siológica, como a salicórnia, a morraça ou o valverde-dos-sapais. Como se estivessem mal-dispostas excretam sal pelas folhas...Se é certo que a pressão de origem humana, industrial e urbana, por exemplo, rema em sentido contrário ao da conservação do património natural do país, há também intervenções artesanais que até contribuem para a biodiversidade. As salinas são um exemplo disso. À medida que se navega pelo rio para mais longe do mar, abandona-se o sapal composto

Narceja Peneireiro

Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 47

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48 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, 12890-015 Alcochete

Telefone212 348 021

E-mail [email protected]

Sitehttp://portal.icnb.pt

Reserva Natural do Estuário do Tejo

Mergulhões-anões entre galeirões

48 REPORTAGEM

por plantas capazes de lidar com o sal e vai aparecendo o caniçal. Estas manchas são o habitat de nidifi cação das garças-vermelhas e do garçote, dos rouxinóis-dos-caniços e da cigarrinha-ruiva, entre muitas outras aves aquáticas, sem deixar de referir uma das rapaces mais dependentes das zonas húmidas, a águia-sapeira.Esta descontinuidade composta por mosaicos de habitats contrasta com a aparente regularidade do eixo central das águas estuarinas.Sempre submerso ao longo do ano, alimenta o fl uxo de que depende o berçário de inúmeras espécies de peixe, muitas delas com valor comercial, como o linguado e a

solha, a corvina, o sável e a enguia.Basta procurar notícias e encontra-se referência farta a uma prática proibida e que contribui para pôr cada vez mais em perigo uma espécie outrora abundante. A apanha do meixão (enguias juvenis) captura indivíduos quando vêm do mar dos Sargaços, em pleno Atlântico, e chegam aos estuários para subir o rio ao mesmo tempo em que perdem a transparência do seu corpo. Mais adiante aparece a lezíria, moldada pelo estuário. A planura tecida de aluviões depositados ao longo de séculos regula-se por mão humana, num jogo de canais de escoamento, de taludes e comportas.São os esteiros e as cheias do Tejo cuja notícia se tolhia na imprensa, conforme a

literatura do século XX regista. Há lugar agora à ocorrência de aves estepárias, como o sisão ou o alcaravão, do ganso-comum, com presença regular do peneireiro-cinzento. A área fl orestal presente seria dominada, antes do ser humano, pelo sobreiro, a árvore autóctone recentemente eleita Árvore Nacional. O veleiro atraca. Há que pôr o pé em terra fi rme.Pela sua extensão e pelo seu património, a Reserva Natural do Estuário do Tejo revela novos ritmos em cada visita. Uma região para ir e revisitar.

Fotos João Luís TeixeiraTexto JG

Caniçal: um visitante peculiar, chapim-de-faces-pretas

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50 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

Data do ano de 1998 a inauguraçãono decurso da última exposição mundial dao tema “Oceanos – um património para o

50 REPORTAGEM

Sob a superfície oceânica abre-se um mundo peculiar: à medida que a profundidade aumenta a luz diminui. E é esse mesmo ambiente

que envolve quem visita este oceanário da capital.Uma variada coleção de espécies que engloba aves, mamíferos, peixes e outros habitantes marinhos desfi la com os visitantes, passo a passo, mas é o grande tanque central que mais atrai a maioria das pessoas.

A forma típica dos tubarões e das raias enche a vista quando estamos ao seu nível. Há uma penumbra azulínea omnipresente e a deslocação destes seres vivos parece contagiar os visitantes com algo mágico, quase como se se conseguisse, ao escutar o silêncio, ouvir outros mundos.Será por isso que a dada altura a frase de Sophia de Mello Breyner aparece e assinala um dos grandes aquários na visita. Lê-se: «Quando eu morrer voltarei para buscar / Os

instantes que não vivi junto do mar». Contar as espécies que vão desfi lando é uma missão tortuosa capaz de abater o gosto de olhar esta fatia da biodiversidade do planeta tão ameaçada, onde as fronteiras dos países não funcionam tão bem como a temperatura e demais características da água, sob uma batuta biogeográfi ca.Chama a atenção um animal de formato invulgar, presente também no mar português. Parece mal acabado, mas o enunciado destas

O tanque central reúne uma amostra coletiva de património natural do planeta, ocupad

Oceanário

Ninguém passa pelos tubarões com ar de indiferença

Alforreca

Pinguim-de-magalhães

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ção do Oceanário de Lisboa al do século passado, subordinada a o futuro”

Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 51

cupado maioritariamente por oceanos

palavras só pode nascer de preconceitos. É o peixe-lua! Dá à barbatana à sua maneira, de olho noutros ritmos. Quem diria que também se pode ser peixe... assim? Não será de estranhar, uma vez que o oceanário recriou vários habitats muito ricos, como os recifes de coral do Índico, alguns outros do oceano Antártico, bem como das costas rochosas do Pacífi co e da costa dos Açores, no nosso Atlântico. Vivem neste parque aquático diversas espécies

de peixes, nomeadamente barracudas e atuns, entre outros, rodeados de numerosos peixes tropicais, de menor tamanho.Assinado pelo famoso arquiteto norte-americano Peter Chermayeff, o edifício do oceanário evoca um porta-aviões junto ao cais, cercado pela planura das águas do estuário do rio Tejo, ele próprio com estatuto de reserva natural.Como outros parques, o oceanário «desenvolve continuamente atividades

educativas que dão a conhecer os oceanos, os seus habitantes», «abordando os desafi os ambientais da atualidade». Além disso, «colabora com várias instituições em projetos de investigação científi ca, de conservação da biodiversidade marinha, que promovem o desenvolvimento sustentável dos oceanos».

Texto JGFotos João Luís Teixeira

de Lisboa

Peixe-lua

Camarão do género Lysmata

Lisbon OceanariumThe Lisbon Oceanarium has a large collection of marine species – birds, mammals, fi sh, cnidaria, and other marine organisms totalling about 16 000 individuals of 450 species. Sharks, rays, chimaeras, various species of tuna, barracudas, groupers, and moray eels attract visitors. There are many other interesting species in this building, which is surrounded by the waters of the River Tagus.

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52 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

52 REPORTAGEM

MoradaEsplanada D. Carlos I1990-005 Lisboa

Telefone218 917 002 [email protected] Sitewww.oceanario.pt

Oceanário de Lisboa

As aves marinhas também estão representadas no oceanário – os airos parecem aves a caminho de serem pinguins

O que nos uneintangível para

A caminho do Rio+20

Os sistemas climático

e oceânico são

os sistemas naturais

que nos unem a todos:

a construção de um futuro

para a Humanidade exige

uma organização

do uso coletivo destes

sistemas comuns

No âmbito da Rio+20 a Quercus e os parceiros do projeto Condomínio da Terra submeteram uma proposta de reconhecimento de um suporte jurídico global e de um sistema de contabilidade, como alicerces estruturais na construção da confi ança e reciprocidade necessárias a um acordo global. Uma campanha para o pós-Rio+20.As alterações climáticas são um caso clássico de deterioração dos bens comuns. O uso partilhado de um mesmo bem por um grupo alargado de indivíduos resulta numa indefi nição da propriedade desse bem. As soluções encontradas até hoje para estas situações resumem-se à divisão e privatização do bem sujeito ao uso por vários agentes, uma vez que a alternativa do uso partilhado do bem dá origem à concorrência e à inevitável “tragédia dos comuns”. Este problema está identifi cado pelas ciências económicas como o “dilema clássico da ação coletiva”, também conhecido como “dilema do prisioneiro”, no qual se um utilizador retrai o uso do recurso comum e o outro não o fi zer, o recurso esgotar-se-á da mesma forma e um dos utilizadores terá perdido o benefício de curto prazo que foi obtido pelos outros utilizadores. Quando ampliado a uma escala global este dilema transforma-se na “armadilha social” (Ostrom) que é “potencialmente o maior dilema que o mundo enfrentou”. Com a descoberta da existência dos sistemas naturais

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 53

EVENTO 53

globais do clima ou dos oceanos, que são de todo insusceptíveis de qualquer forma de divisão ou apropriação, fomos confrontados com o abismo da tragédia relativamente ao uso destes sistemas verdadeiramente comuns e globais. É num contexto de 20 anos de insucessos de negociações climáticas e de uma verdadeira “impossibilidade política” para uma ação coletiva global, que surge o reconhecimento pela Academia Sueca de um Nobel da Economia, pela primeira vez atribuído a uma mulher, Elinor Ostrom, pelo trabalho desenvolvido em torno dos Commons. Com este contributo desmascarou-se a noção generalizada da fatalidade da tragédia da gestão comunitarista e abriram-se as portas sobre quais são as condições estruturais necessárias para existir a possibilidade de um Happy End. Nesta nova abordagem fi ca clara que a gestão partilhada de bens não só é possível, como pode gerar ganhos no médio prazo para todos os intervenientes, desde que existam determinadas condições estruturais. Quando estamos perante sistemas naturais globais que são vitais para toda a Humanidade, tal abordagem constitui mesmo a única saída. O fato de todos poderem infl uenciar de forma positiva ou negativa os sistemas climático e oceânico convoca-nos para o maior dos desafi os: o da inevitável gestão comum. Se a “impossibilidade física” dos limites do planeta é inultrapassável, a “impossibilidade política” é a única possibilidade que está verdadeiramente ao nosso alcance.

A importância da inclusão dos contributos positivosA inclusão dos contributos positivos na contabilidade das relações entre todos os países (e internamente entre as regiões de cada país) é uma condição para a existência de justiça social e ambiental. E só investindo na construção de uma arquitetura de relações justa é que poderemos ambicionar um acordo.Construir uma “economia verde” é não só ser mais efi ciente no consumo e uso dos recursos, mas também ter a capacidade de manter e recuperar o capital natural, e desta forma alterar as relações entre zonas urbanas e zonas

naturais/rurais, tornando a economia, para além de mais verde, mais justa e inclusiva. Para isso ser possível é necessário introduzir nas contas das relações internacionais e nos PIB de cada país, os contributos positivos de cada um, na manutenção dos sistemas globais de que todos dependem. Confrontando os contributos negativos e positivos obtém-se o EcoSaldo, que será a base de entendimento para a obtenção de um acordo, de um acerto de saldos e de uma compensação para aqueles que disponibilizam benefícios que foram usufruídos por toda a Humanidade. É neste sentido que se avança com a proposta de reconhecimento de um “Património Natural Intangível da Humanidade” relativamente aos sistemas climático e oceânico, como forma de capturar, nas nossas sociedades, esses benefícios e encargos que se dispersam por todo planeta, internalizando num património comum, fatores vitais para a nossa existência que continuam a ser considerados “externalidades”. Ao ultrapassarmos a difi culdade “buraco negro” a que chamamos externalidades que não são externas ao estado da nossa casa comum, e assinalarmos direitos completos de propriedade comum alargada a toda a Humanidade, a estes sistemas naturais funcionais cuja dimensão é sempre a global, que estão simultaneamente dentro e fora da dimensão espacial dos territórios dos estados, estamos a abrir as portas para a criação de um sistema de contabilidade de direitos e deveres (EcoSaldo) relativos a esse património comum e à criação de um sistema relativo à sua governação.

Expectativas e responsabilidades da Rio+20Depois de anos de tortuosas negociações sobre as emissões de gases de efeito-estufa que a cimeira do Rio+20 se tornou num foco de convergência das esperanças na desconstrução da fatalidade da “Tragédia Comum”.A este enorme desafi o sobrepõe-se a crise fi nanceira que assola algumas das principais

economias do mundo, que coloca para um plano secundário, ou mesmo para um completo esquecimento, a crise social e ambiental em que estamos inseridos. Renovar o marco histórico que constituiu a cimeira de 1992, assegurando que as legítimas expectativas criadas em torno da nova cimeira não se tornem numa enorme desilusão, é pois um tarefa que requer visão estratégica de longo prazo. É necessário responder a uma questão primordial: o que é necessário fazer para que em 2032 haja motivos para assinalar um Rio+40? A inclusão na mesa das negociações dos contributos positivos na contabilidade das relações entre países, a construção de um suporte jurídico que sustente o interesse de toda a Humanidade, presente e futura, uma métrica comum e um valor comum, para medir e compensar as reais relações globais existentes, é uma tarefa civilizacional que se nos apresenta como herculiana. Se não é sério nem realista pensar que da Rio+20 possa sair uma solução mágica, também não é sério nem realista pensarmos que podemos construir sociedades sustentáveis esverdeando procedimentos, sem intervir na estrutura da economia. E para isso ser um dia possível, temos primeiro que construir essas condições de justiça estruturais que permitam a confi ança, reciprocidade e previsibilidade para que seja possível alterar comportamentos. As condições estruturais que propomos são um suporte jurídico global e um sistema de contabilidade das relações globais. E se os acordos ainda não surgiram e os números dos limites do planeta continuam a ser pulverizados, é porque esse caminho ainda é apenas penumbra. Com os Congressos Internacionais de Gaia, EcoSaldo e Condomínio da Terra, queremos que a Rio+20 seja mais do que a mera possibilidade de um acordo circunstancial, forçado por uma pressão política ou mediática. Queremos o mais importante. Queremos que não comprometa a esperança.

Por Paulo MagalhãesCoordenador Condomínio da Terra/Quercus, investigador Cesnova/FCSH Universidade Nova de Lisboa

ne a todos: um património naturalra a Humanidade

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54 RETRATOS NATURAIS

54 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

Se há insetos que o

Homem aprecia pela sua

beleza e ornamentação

– como as delicadas

borboletas (lepidópteros)

ou alguns escaravelhos

(coleópteros) – outros

há que são acarinhados

pela “gulodice” gustativa

e económica que

proporcionam – como

as abelhas

De facto, enquanto fervoroso apreciador deste concentrado de açucares que é o mel (bem como do pólen, cera e própolis), o Homem aprendeu a conviver, a tratar e a cuidar destas incansáveis trabalhadoras (os primeiros registos da apicultura remontam a cerca de 2400 a.C.!), construindo os apiários onde, a cada ano, instalam as colmeias e os novos enxames – sempre na proximidade de espécies vegetais com um elevado alto potencial apícola (fl ores com elevada concentração de néctar), como os eucaliptos ou as éricas. Alem dos benefícios imediatos para o uso humano, acaba também por prestar um serviço a essas espécies botânicas, ao promoverem a polinização e a reprodução cruzada em cada visita que fazem às suas fl ores — contribuindo assim para a diversidade genética da espécie vegetal.Este organizado e interessante artrópode é um inseto social que vive em colónias (enxames/colmeias). Com uma hierarquia bem defi nida (por vezes considerados superorganismos), compreendem três castas — a rainha que governa o enxame (dedicada unicamente a

pôr ovos, cerca de 3000/dia), 10 mil a 15 mil abelhas operárias (o elemento produtivo que se dedica a recolher o néctar das fl ores, que dará origem ao famoso mel, e a construir os favos da colmeia, para o armazenar e também aninhar os ovos/larvas de novas obreiras, com a cera que são capazes de produzir) e ainda 500 a 1500 zangões (machos; os elementos improdutivos da colónia, cuja única função consiste em fecundar a rainha). Estando bem nutridas, todos os anos são libertados novos enxames da colmeia-mãe (observando-se o voo nupcial de uma nova rainha, perseguida por zangões que a fecundam) e que se irão instalar noutros locais, formando novas colónias.Existem sempre várias operárias encarregues de patrulhar e encontrar esses locais onde irão construir nova colmeia, as quais comunicam depois cada achado ao enxame que saiu, mas que não se afastou muito do local de origem (poisando numa árvore perto) para

Vamos desenhar... uma abelha

Abelha-europeia Apis mellifera

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 55

em conjunto decidir qual vai ser o sitio onde instalarão a nova colónia. Este pode situar-se numa fenda entre blocos de rochas, mas o mais habitual é localizar-se na cavidade de uma árvore velha (resultante da ação de um pica-pau, ou da natural degradação de um tronco). Dentro do “ninho”, as operárias-engenheiras escolhem então o ponto mais central no teto dessa cavidade e gerando calor, produzem cera (secretando pequenas escamas ceríferas que mastigam e moldam posteriormente) e com ela constroem uma fi na lâmina vertical. Concluída esta lâmina, iniciam depois a construção de alvéolos hexagonais, em ambos as faces, os quais possuem uma leve inclinação ascendente (para evitar que o seu conteúdo — o mel — escorra para fora, por ação da gravidade).A aventura gráfi ca de hoje centrar-se-á no desenho de uma operária (as mais comuns) e ao invés de optarmos por uma vista dorsal (usual em ilustração entomológica), vamos representar o espécime em norma lateral, para podermos identifi car e familiarizar-nos com as várias estruturas, apêndices e segmentações que compõem o seu corpo. A primeira noção que devemos ter é que apenas iremos desenhar um elemento representativo da espécie, que por ser o mais comum e abundante foi escolhido em detrimento dos restantes. A ilustração científi ca da espécie implicaria também o desenho das outras formas adultas que são os elementos reprodutores (a rainha e os zangões), desmistifi cando assim a eventual ideia que essas formas representariam uma outra espécie, caso fossem observadas em separado.A segunda ideia a ter em conta é que por melhor que seja a observação direta do espécime, dado o seu tamanho e ativa movimentação

teremos que nos munir de uma ferramenta de ampliação (idealmente, uma lupa com câmara clara, ou uma lupa de mão) e observar um indivíduo conservado (por exemplo, num insetário, onde os insetos coletados pelos entomologistas são sistematizados, catalogados e guardados). Outro aspeto a ter em conta são as asas, importantíssimo elemento na taxonomia das espécies aladas e a que iremos dedicar um próximo artigo.Restam pois as cerdas ou pelos, abundantes elementos estes que recobrem quase por inteiro o corpo da operária. O primeiro exercício consiste pois em desenhar o corpo tal e qual tivesse sido depilado, para entendermos a sua organização e o

colocarmos em pose e proporção naturais, recorrendo à lupa e identifi cando os limites de cada peça e/ou articulações. Na cabeça temos que ter atenção aos três ocelos, para além dos bem desenvolvidos olhos compostos, ás antenas e sua segmentação, e à armadura bucal. No tronco, á segmentação externa e aos locais de articulação com as patas e com as duas asas (a anterior, em cima da posterior). No abdómen á segmentação, ás aberturas para respiração (espiráculos) e ao ferrão.Como o exoesqueleto de quitina das abelhas é extremamente escuro — castanho sépia com refl exos alaranjados — será necessário pintar primeiro todo o corpo em crescendo tonal e bem como as asas (estas em velatura, ou seja passagens sucessivas com o pigmento diluído para conseguirmos a transparência), antes de pintarmos as cerdas, ou pelos (acastanhados/alaranjados nas zonas mais claras e amarelados/esbranquiçados nas zonas mais escuras). No fi nal e satisfeitos com a “pelagem” adicionamos/reforçamos os brilhos, principalmente nas asas ou áreas quitinosas sem pelos. Sendo um exercício algo moroso e laborioso, respeitemos o ditado popular – Não há rosa sem espinhos, nem mel sem abelhas – e desenhemos com afi nco...

Texto e ilustrações Fernando CorreiaBiólogo e Ilustrador científi coDep. Biologia, Universidade de [email protected] www.efecorreia-artstudio.com

Antena

Olho composto

Maxila

AsasAnterior

Posterior

Olhos simples (ocelos)

Clípeo

Labro

Língua (glossa) Mandíbula

Coxa

Trocanter Fémur

Tíbia

Metatarso

Tarsos

Espiráculos

Ferrão

Check-list da anatomia externa de uma abelha, com as principais estruturas a observar e representar

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56 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbono

Para aderir a este projecto recorte o seguinte rectângulo e remeta para:

Junto se envia cheque para pagamento

Nome do Mecenas

Recibo emitido à ordem de

1 m2 = € 50 = menos 4 kg/ano de CO2

Telefone

Email

Endereço

N.º de Identifi cação Fiscal

O Parque Biológico pode divulgar o nosso contributo Sim Não

56

Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA B3

• Agrupamento Vertical de Escolas de Rio Tinto

• Alice Branco e Manuel Silva • Amigos do Zé

d’Adélia • Ana Filipa Afonso Mira • Ana Luis Alves

Sousa • Ana Luis e Pedro Miguel Teixeira Morais •

Ana Miguel Padilha de Oliveira Martins • Ana Paula

Pires • Ana Rita Alves Sousa • Ana Rita Campos,

Fátima Bateiro, Daniel Dias, João Tavares e Cláudia

Neves do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária

de Oliveira do Douro • Ana Sofi a Magalhães Rocha

• Ana Teresa, José Pedro e Hugo Manuel Sousa •

António Miguel da Silva Santos • Arnaldo José Reis

Pinto Nunes • Artur Mário Pereira Lemos • Bárbara

Sofi a e Duarte Carvalho Pereira • Bernadete Silveira

• Carolina de Oliveira Figueiredo Martins • Carolina

Sarobe Machado • Carolina Birch • Catarina Parente

• Colaboradores da Costa & Garcia • Cónego Dr.

Francisco C. Zanger • Convidados do Casamento

de Joana Pinto e Pedro Ramos • Cursos EFA

Básicos (2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim

Gomes Ferreira Alves • Deolinda da Silva Fernandes

Rodrigues • Departamento Administrativo Financeiro

da Optimus Comunicações, SA - DAF DAY 2010 •

Departamento de Ciências Sociais e Humanas da

Escola Secundária de Ermesinde • Departamento

de Matemática e Ciências Experimentais (2009/10)

da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Dinah

Ferreira • Dinis Nicola • Dulcineia Alaminos • Eduarda

e Delfi m Brito • Eduarda Silva Giroto • Escola Básica

da Formigosa • Escola Dominical da Igreja Metodista

do Mirante • Escola EB 2,3 de Valadares • Escola EB

2,3 Dr. Manuel Pinto Vasconcelos Projecto Pegada

Rodoviária Segura, Ambiente e Inovação • Escola

EB 2,3 Escultor António Fernandes de Sá • Escola

Secundária Almeida Garrett - Projecto Europeu

Aprender a Viver de Forma Sustentável • Escola

Secundária do Castelo da Maia • Família Carvalho

Araújo • Família Lourenço • Fernando Ribeiro •

Francisco Gonçalves Fernandes • Francisco Saraiva

• Francisco Soares Magalhães • Graça Cardoso

e Pedro Cardoso • Grupo ARES - Turma 12.º B

(2009/10) da Escola Secundária dos Carvalhos •

Grupo Ciência e Saúde no Sec. XXI - Turma 12.º B

(2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes

Ferreira Alves • Grupo de EMRC da Escola Básica

D. Pedro IV - Mindelo • Guilherme Moura Paredes •

Hélder, Ângela e João Manuel Cardoso • Inês, Ricardo

e Galileu Padilha • Joana Fernandes da Silva • Joana

Garcia • João Guilherme Stüve • João Monteiro,

Ricardo Tavares, Rita Mendes, Rita Moreno, e Sofi a

Teixeira, do 12.º A (2011/12) da Escola Secundária

Augusto Gomes • Joaquim Pombal e Marisa Alves

• Jorge e Dina Felício • José Afonso e Luís António

Pinto Pereira • José António da Silva Cardoso •

José António Teixeira Gomes • José Carlos Correia

Presas • José Carlos Loureiro • José da Rocha Alves

• José, Fátima e Helena Martins • Lina Sousa, Lucília

Sousa e Fernanda Gonçalves • Luana e Solange

Cruz • Manuel Mesquita • Maria Adriana Macedo

Pinhal • Maria Carlos de Moura Oliveira, Carlos

Jaime Quinta Lopes e Alexandre Oliveira Lopes •

Maria de Araújo Correia de Morais Saraiva • Maria

Guilhermina Guedes Maia da Costa, Rosa Dionísio

Guedes da Costa e Manuel da Costa Dionísio •

Maria Helena Santos Silva e Eduardo Silva • Maria

Joaquina Moura de Oliveira • Maria Manuela Esteves

Martins Alves • Maria Violante Paulinos Rosmaninho

Pombo • Mariana Diales da Rocha • Mário Garcia

• Mário Leal e Tiago Leal • Marisa Soares e Pedro

Rocha • Miguel Moura Paredes • Miguel Parente

• Miguel, Cláudia e André Barbosa • Nuno Topa

• Paula Falcão • Pedro Manuel Lima Ramos •

Pedro Miguel Santos e Paula Sousa • Professores

(2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro

• Professores e Funcionários (2009/10) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro • Regina Oliveira e

Abel Oliveira • Ricardo Parente • Rita Nicola • Sara

Pereira • Sara Regueiras, Diana Dias, Ana Filipa Silva

Ramos do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de

Oliveira do Douro • Serafi m Armando Rodrigues de

Oliveira • Sérgio Fernando Fangueiro • Tiago José

Magalhães Rocha • Turma A do 6.º ano (2010/11)

do Colégio Ellen Key • Turma A do 8.º ano (2008/09)

da Escola EB 2,3 de Argoncilhe • Turma A do 9.º

ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do

Douro • Turma A do 11.º ano (2010/11) da Escola

Secundária de Ermesinde • Turma A do 10.º ano

e Professores (2010/11) da Escola Secundária de

Oliveira do Douro • Turma A do 12.º ano (2010/11) da

Escola Secundária de Ermesinde • Turma C do 10.º

ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde

• Turma D do 10.º ano e Professores (2010/11) da

Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma

D do 11.º ano (2010/11) da Escola Secundária

de Ermesinde • Turma E do 10.º ano (2008/09)

da Escola Secundária de Ermesinde • Turma E

do 12.º ano (2010/2011) da Escola Secundária

de Ermesinde • Turma G do 12.º ano (2010/11) -

Curso Profi ssional Técnico de Gestão do Ambiente

do Agrupamento de Escolas Rodrigues de Freitas

• Turma IMSI do Curso EFA - ISLA GAIA (2008/09)

• Turmas A e C do 10.º ano (2009/10) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A e C do

11.º ano; A e B do 12.º ano e Professores (2010/11)

da Escola Secundária de Oliveira do Douro •Turmas

B e C do 12.º ano - Psicologia B (2009/10) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro • Turmas B e D do

11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira

do Douro • Turmas A, B e G do 12.º ano; G e H

do 11.º ano e F do 10.º ano (2010/11) da Escola

Secundária de Ermesinde • Vânia Rocha

Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confi arem ao Parque Biológico de Gaia o s

Parque Biológico de Gaia • Projecto Sequestro do Carbono • 4430 681 Avintes • V. N. Gaia

apoiando a aquisição de

Procedeu-se à transferência para NIB 0033 0000 4536 7338 05305

euros.

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Para mais informações pode contactar pelo n.º (+351) 227 878 120 ou em [email protected]

Parque Biológico de GaiaProjecto Sequestro do Carbono

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58 ATUALIDADE

A Liga para a Proteção da Natureza em representação do projeto LIFE - Natureza “Habitat Lince Abutre” e a Herdade da Contenda, empresa municipal gestora desta herdade localizada no concelho de Moura e propriedade deste município, formalizaram a assinatura de um protocolo de parceria que visa a aplicação de medidas de conservação dirigidas ao lince-ibérico, ao abutre-preto e aos seus habitats.O projeto LIFE “Promoção do Habitat do

Lince-ibérico e do Abutre-preto no Sudeste de Portugal” visa contribuir para a melhoria das condições de sobrevivência e reprodução do lince-ibérico e do abutre-preto, duas espécies Criticamente em Perigo e com importantes funções no ecossistema no Sudeste de Portugal, benefi ciando ainda outras espécies ameaçadas de extinção. A Herdade da Contenda possui um reconhecido valor natural, cénico e cinegético, correspondendo a uma área com uma

importância fundamental na conservação da biodiversidade da região. Desde há longos anos zona de caça nacional e perímetro fl orestal, a herdade da Contenda é parte integrante e essencial para o equilíbrio ecológico da Rede Natura 2000 na margem esquerda do Guadiana. Com a assinatura deste protocolo acordou-se na implementação na herdade da Contenda de um conjunto de medidas de conservação que têm por objetivo a melhoria das condições

Habitats de Contenda

Contenda Farm: the iberian lynxIn the defence of the Iberian Lynx and the Black Vulture, two Critically Endangered Species, the League for the Protection of Nature has established a partnership under the LIFE-Nature project. With this measure, it is planned to safeguard and protect the habitat of both species in order to ensure their survival.

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Os astrónomos estão a examinar planetas que descrevem a sua órbita ao redor de estrelas como o nosso Sol, na esperança de encontrarem um orbe estelar com condições idênticas às da Terra.Esta notícia surgiu nas páginas da revista “Scientifi c American” de fevereiro passado e explica que as plantas vasculares foram uma importante força primária a delinear a superfície do nosso planeta.Timothy Lenton, cientista da Universidade de Exeter, na Grã-Bretanha, apresentou dados de natureza biogeoquímica que demonstram que há 450 milhões de anos a evolução deste vasto grupo de plantas começou a absorver dióxido de carbono da atmosfera ainda de maneira mais efi caz do que os organismos do oceano. Como resultado a temperatura global desceu iniciando ciclos disseminadores de glaciações e aquecimento.Muito mais do que isso, foram as plantas vasculares que defi niram os rios, afi rma-se. Não é difícil perceber que, antes, a água espalhava-se pelo relevo sem leito defi nido. Só quando a vegetação abriu as rochas para soltar minerais e lodo, e fi xou esses sedimentos, é que os leitos dos rios estabilizaram e dominaram a água em deslocação. A canalização da água com cheias periódicas enriqueceu o solo das margens e houve condições para que as árvores surgissem, podendo estas aprofundar as suas raízes. A análise de rochas sedimentares indica que, antes do surgimento das plantas, estas quase não continham lama e depois das plantas vasculares surgirem esta aparece com abundância.Conclui a investigação que as plantas estão muito longe de terem sido meros e passivos passageiros da superfície do Globo.

As plantas modelaram a Terra

de sobrevivência, alimentação e reprodução do lince-ibérico e do abutre-preto, assim como a salvaguarda dos seus habitats. Desde já, e ao longo dos próximos anos, «o projeto LIFE “Habitat Lince Abutre” aplicará e fará a manutenção e monitorização destas medidas, em colaboração com a herdade da Contenda, E. M., tendo permanentemente em atenção a necessária compatibilização com as restantes atividades em curso na propriedade, como sejam a caça, a silvicultura ou o usufruto pelas comunidades locais».

João L. Teixeira

João L. Teixeira

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60 BIBLIOTECA

Aldeiacomunitária

Os estudos etnográfi cos apareceram em Portugal com a curiosidade da vida tradicional e popular, aspetos profundamente estudados mais tarde por Leite de Vasconcellos e colaboradores da Revista Lusitana e da Revista Portugália. Os estudos etnográfi cos estão longe de constituir uma disciplina corrente e aceite no mundo científi co. Em Portugal não há sequer tradição universitária. Isso não impediu o surgimento desta obra, tese de António Jorge Dias, compilada para apresentação no fi nal de curso de Etnografi a na Universidade de Munique, refundida e ampliada com o cancioneiro de Margot Dias e desenhos de Fernando Galhano, publicada para o público em 1948 e com reedições da Imprensa Nacional – Casa da Moeda em 1981 e 1983.

Esta primeira edição de “Vilarinho da Furna, uma aldeia comunitária”, publicada pelo Centro de Estudos de Etnologia Peninsular do Instituto para a Alta Cultura, pode ser consultada na biblioteca do Parque Biológico de Gaia.

Pode consultar o catálogo de obras disponiveis em www.parquebiologico.pt, indo ao botão Biblioteca.

Por Filipe Vieira

Esta primeira edição

de Jorge Dias,

com desenhos de Fernando

Galhano e prefácio

de Orlando Ribeiro, também

eles autores de livros já aqui

por nós revelados como

obras-primas, é de 1948

Alguns insectos polinizadores, como as abelhas, apresentam capacidade de visão à luz UV, conseguindo identifi car desenhos fl orais invisíveis aos humanos. Halimium alyssoides (Lam.) C. Koch

Um Olhar de Inseto

Exposição de Luís Bravo Pereira no salão de fotografi a da natureza do Parque Biológico de Gaia

Abertura sábado 2 de junho às 15h00

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CRÓNICA 61

Por Jorge PaivaBiólogo, Centro de Ecologia Funcionalda Universidade de [email protected]

As plantas, como não se movem, para se reproduzirem sexuadamente e, também, para se dispersarem são dependentes

de agentes transportadores (ar, água e animais) dos seus diásporos (esporos, sementes e frutos). Desta maneira, evoluíram adaptando-se não apenas às condições ecológicas dos ecossistemas onde vivem, mas também aos agentes dispersores. Quando os agentes dispersores são animais, ocorreu frequentemente uma evolução adaptativa paralela com esses animais. São fenómenos de co-evolução, como o caso da orquídea de Madagáscar (Angraecum sequipedale) que tem uma fl or com um esporão de 30 cm de comprimento, que só pode ser polinizada

por uma borboleta noturna de tromba (probóscide) também muito longa (Xanthopan morganii-praedicta) e que, tal como a orquídea, só ocorre em Madagáscar (ver Parques e Vida Selvagem 27: 63-66; 2009).

CoresNas Angiospérmicas (plantas vasculares, com fl ores e frutos), as cores das folhas são verdes, pois é a cor da clorofi la, pigmento importantíssimo para a elaboração dos nutrientes necessários para as funções vitais das plantas. Mas as cores das fl ores e dos frutos resultaram de uma evolução adaptativa aos agentes dispersores, particularmente animais.Os animais não têm todos a mesma visibilidade

para as cores. Assim, do espetro solar (arco-íris) os humanos vêm as cores das radiações desde os 380 nanómetros de comprimento de onda (violeta) aos 740 nanómetros (vermelho). Os cães e gatos vêm poucas cores, apenas do azul ao amarelo. Um cão-guia sabe que o semáforo está vermelho, pela posição da luz na vertical do semáforo, pois não vê a cor, apenas tem a perceção da luz estar apagada ou acesa. Por isso, as posições das 3 cores dos semáforos são sempre as mesmas em todos os semáforos (a inferior é verde, a do meio é amarela e a superior é vermelha). Nos humanos também há que contar com os daltónicos que não veem o vermelho. Muitos insetos (abelhas por exemplo) e muitas aves, veem para além do violeta (ultravioleta), que nós não vemos, mas

Cores, fl ores e frutos Na Natureza nada é aleatório (ao acaso). Tudo o que nela existe

resultou de milhões de anos de evolução. Os seres vivos não evoluíram

independentemente, mas integrados nos respetivos ecossistemas

Ultravioleta violeta

380 740

azul verde amarelo laranja vermelho infravermelho

Comprimento de onda (nm)

Homem

Aves e borboletas

Alguns escaravelhos

Abelhas

Visibilidade animal

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podemos saber como as abelhas veem essa cor nas fl ores. Tiram-se fotografi as às fl ores com fi lmes sensíveis ao ultravioleta e, após revelação, as zonas coradas de violeta (muitas vezes manchas, pontos ou riscos) revelam-se negras na fotografi a. Nunca vamos saber que cor veem elas. Por outro lado, as abelhas e muitos outros insetos não veem o vermelho. As cobras, por exemplo, têm uma reduzida amplitude de visão das cores do espetro solar, mas veem para lá do vermelho (infravermelho), o que é muito útil para predadores noturnos de presas de sangue quente.

FloresAs fl ores são ramos modifi cados no sentido da reprodução sexuada das plantas, com umas folhas externas (geralmente verdes) que servem para proteger as outras peças fl orais, designadas por sépalas, cujo conjunto forma o cálice. Outro grupo de folhas, geralmente coradas com diferentes tons de cores (pétalas, cujo conjunto forma a corola), servem, fundamentalmente, para atrair e orientar os polinizadores (transportadores dos grãos de pólen). No interior, protegidas pelas sépalas e pelas pétalas, estão as folhas produtoras

dos micrósporos (grãos de pólen), designadas por estames, cujo conjunto forma o androceu e mais para o interior as folhas produtoras dos macrósporos, designadas por carpelos, cujo conjunto forma o gineceu. Geralmente os carpelos estão unidos formando o pistilo, constituído pelo ovário, onde estão os óvulos, e estigma, que é órgão recetor dos grãos de pólen, muitas vezes elevado por um pedículo (estilete).Quando nas Angiospérmicas os grãos de pólen são transportados pelo ar, isto é, pelo vento (anemofi lia), as fl ores ou têm sépalas e pétalas reduzidas e normalmente descoradas [ex.: juncos (Juncus spp.) ou são nuas [sem sépalas, nem pétalas, como, por exemplo, as fl ores masculinas das aveleiras (Corylus avellana) e as da maioria das gramíneas] e os grãos de pólen têm paredes lisas (ex.: gramíneas) e como substância nutritiva o amido (hidrato de carbono), que é leve (fácil de transportar pelo vento), esbranquiçado e praticamente inodoro. O outro grupo das Espermatófi tas (plantas produtoras de sementes), as Gimnospérmicas, é quase na totalidade anemófi lo (ex.: abetos, ciprestes e pinheiros), não tendo fl ores propriamente ditas

(não há, portanto, sépalas nem pétalas).Quando os grãos de pólen são transportados pelas correntes de água (hidrofi lia), as fl ores são geralmente imersas [ex.: limo-mestre (Ruppia cirrhosa)], frequentemente nuas e os grãos de pólen têm formas adaptadas ao transporte aquático, chegando a ser capiliformes [ex.: limo-de-fi ta (Zostera marina)].Quando os grãos de pólen são transportados pelos animais (zoofi lia), a cor das fl ores é um importante fator atrativo e o aroma do néctar também. Nestas fl ores, os grãos de pólen têm paredes muito ornamentadas, com cavidades, saliências e muitas vezes espinhos [ex.: alface (Lactuca sativa) e dente-de-leão (Taraxacum offi cinale)]) e como substância nutritivas gorduras (lípidos), que têm a vantagem de serem substâncias viscosas (pegam-se ao corpo dos polinizadores), coradas (visíveis para o polinizador) e aromáticas (atrativo para os polinizadores). Se os polinizadores são morcegos (quiroptofi lia), moluscos (malacofi lia) e mamíferos (mamofi lia) a cor das fl ores não é relevante. Porém, no caso dos polinizadores serem insetos (entomofi lia) e aves (ornitofi lia) as cores e o aroma das fl ores são importantíssimos.

Cápsula alada de Polygala vayredae e formigas (Lasius sp.) a arrastarem, no solo, as sementes - Espanha, Pirenéus

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Como referimos, a maioria dos insetos veem para além do violeta, são sensíveis ao ultravioleta, mas são cegos para o vermelho. Por isso, nas regiões do Globo Terrestre em que os polinizadores são insetos, como Portugal, as plantas nativas não têm fl ores vermelhas. Assim, quando vemos os nossos montes fl oridos, vemos giestas (Genista spp; Cytisus spp. e Spartium junceum) desde o branco (os insetos veem pontos e riscos orientadores ultravioletas, mas nós vemos essas fl ores apenas brancas) ao amarelo e alaranjado, urzes (Erica spp.) desde o branco ao violáceo, rosmaninhos (Lavandula spp.) violáceos, alecrim (Rosmarinus offi cinalis) azulado e a erva-das-sete-sangrias (Lithodora prostrata) de fl ores azul forte. Isto é, vemos fl ores brancas, amarelas, alranjadas, azuis e violáceas, mas nenhuma vermelha. Nos campos cultivados acontece o mesmo.As papoilas de pétalas vermelhas não são nativas, todas produzem ópio e foram introduzidas a partir do Oriente há vários séculos. Por isso se encontram na orla ou no seio dos campos cultivados. As fl ores das papoilas nem sequer são aromáticas, mas as abelhas (melitofi lia) visitam-nas para colherem

grãos de pólen (têm muitos estames por fl or), pois as anteras e o pólen são roxos, bem visíveis, portanto, para os insetos.Há fl ores que só abrem à noite. Geralmente são muito aromáticas, brancas e geralmente de tubo da corola comprido ou com um longo esporão. São polinizadas por borboletas noturnas (falenofi lia). Nos trópicos há fl ores muito grandes, geralmente brancas, polinizadas por morcegos (quiroptofi lia), que, de noite, não se orientam pela visão, mas sim através ondas ultrassónicas e respetivo eco [ex: embondeiro (Adansonia digitata)].Como as aves vêm o vermelho muito bem, as regiões em que existam fl ores polinizadas por aves, há plantas nativas com fl ores vermelhas, maiores do que as de Portugal (as aves são maiores do que os insetos) e de pétalas mais duras, porque as aves usam o bico córneo (duro) para colheita do néctar e os insetos usam a tromba (probóscide) que não é córnea. Assim, por exemplo, na África do Sul existem cerca de 600 espécies de urzes, muitas delas de fl ores vermelhas (nós não temos urzes de fl ores com fl ores dessa cor), pois ali há aves polinizadoras. Na América do Sul onde há muitas espécies de colibris,

há imensas fl ores do laranja ao vermelho. Nas regiões tropicais os polinizadores têm de ser predominantemente aves, pois as fl ores do estrato inferior das fl orestas tropicais são predominantemente vermelhas, tal como as macro-algas marinhas mais profundas.

FrutosCom as sementes e frutos, passa-se o mesmo. Os que são dispersos pelo vento (anemocoria), têm como substância nutritiva o amido que, como já se referiu, é leve, o que facilita o transporte pelo vento. Muitas vezes têm adaptações que facilitam o voo, como asas [ex.: os áceres (Acer spp.) e os freixos (Fraxinus spp.)], pelos [ex.: as boninas (Bellis perennis)], etc.Quando são dispersos pelas correntes aquáticas (hidrocoria) , têm também adaptações, como tecidos esponjosos com espaços cheios de ar (ex.: cocos).Quando são dispersos por animais (zoocoria), apresentam também as respetivas adaptações e podem ser pesados (ter substâncias nutritivas gordurosas). No caso dos dispersores serem mamíferos (mamocoria), os frutos são grandes e, geralmente, têm

Planta ornitófi la. Columnea gloriosa - Costa Rica. Santa Helena

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64 CRÓNICA

adaptações para serem transportados por esses animais, como, por exemplo, os ouriços (não são frutos) dos castanheiros que contêm 3 ou mais castanhas (frutos) no seu interior. Quando os ouriços se prendem às cerdas do javali, este ao caminhar vai largando (semeando) as castanhas. Outras vezes têm formações gancheadas (ex.: muitas gramíneas) para se prenderem ao corpo dos animais. Claro que se os dispersores são aves (ornitocoria) os frutos têm cores que vão do alaranjado ao vermelho, como, por exemplo, os medronhos (Arbutus unedo) e as cerejas (Prunus avium).Se os dispersores são insetos (entomocoria), os frutos chegam a ser azuis e violeta forte. Como os insetos, geralmente, não têm capacidade para percorrer grandes distâncias, como os mamíferos e as aves, a entomocoria é mais frequente nas regiões tropicais, onde os insetos têm maiores dimensões do que nas regiões temperadas como as do nosso país.Muitas vezes as plantas não apresentam adaptações a um único tipo de dispersor. Estudei um género de plantas (Polygala) com cerca de 1300 espécies, em que a grande maioria tem uma cápsula (fruto) alada, para ser transportada pelo vento (anemocoria). Cada cápsula tem duas sementes, cada uma com um eleosoma (arilo), que é um alimento muito apreciado por formigas. Além disso, essas sementes estão cobertas de pelos rígidos e orientados de tal modo que facilitam o arrastamento pela formiga, que as introduz nas luras (buraquinhos) onde vai comer o arilo. Entrada a semente na lura, os pelos impedem a formiga de voltar para trás, acabando por “semear” a planta no interior do solo. ´Trata-se de uma anemocoria (agente dispersor o ar) e, simultaneamente, uma mirmecocoria (agente dispersor a formiga). Claro que se trata de

Desenhos de sementes de algumas espécies de Polygala

um caso particular de entomocoria (agente dispersor inseto), assim como por exemplo quando o agente dispersor é um coleóptero, designa-se por cantarocoria, que é uma dispersão entomocórica. O mesmo se diz na polinização pelos coleópteros (cantarofi lia), que é um caso de entomofi lia.Nos trópicos há morcegos frugívoros

(alimentam-se de frutos). Neste caso (quiroptocoria), não interessa a cor, nem o aroma dos frutos, mas outras características (localização saliente na planta), pois, como já se referiu, os morcegos orientam-se através ondas ultrassónicas e respetivo eco [ex.: a jaca (Artocarpus heterophyllus) e a fruta-pão (Artocarpus altilis)].

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BLOCO DE NOTAS 65

Cotovia-dos-bosques, Lullula arborea

Avifauna do Estuário do CávadoA distribuição das aves

selvagens pelo território

nacional está tão bem

caraterizada nos últimos

atlas, guias de campo,

monografi as e estudos

científi cos divulgados

que já quase nada nos resta

para descobrir

Será que sim? A já vasta literatura ornitológica publicada no país tem-nos revelado importantes conhecimentos sobre a ecologia das aves. Aspetos da sua morfologia externa, rotinas alimentares, reprodução, os habitats e as regiões de ocorrência típica ou ainda o traçado dos seus grandes percursos migratórios deixaram de ser segredo para muitos e, por regra, até já nos habituamos a dividir as diferentes espécies regulares no espaço europeu entre residentes, estivais, invernantes ou migradoras de passagem. Mas esta cedência à tentação de “etiquetar”

as aves pode causar confusão nos menos avisados. Todas as publicações identifi cam os mergulhões-pequenos (Tachybaptus rufi collis), as garças-brancas-pequenas (Egretta garzetta), os guarda-rios (Alcedo atthis) ou as cotovias-de-poupa (Galerida cristata) como residentes comuns na Península Ibérica. Apesar disso, estas espécies que referi a título de exemplo têm surgido no estuário do Cávado quase unicamente após o período reprodutor para aqui passarem o inverno. Devemos então considerá-las invernantes? Não. Estas aves não empreendem propriamente aquilo a que chamamos de migrações, mas antes pequenos movimentos dispersivos à escala nacional ou regional. Nalguns casos estas divagações por zonas relativamente pouco afastadas da sua área habitual de ocorrência podem ser determinadas, ainda que de modo ocasional, pelo clima mais rigoroso ou pela escassez de recursos alimentares. Será nestas circunstâncias que as cotovias-dos-bosques (Lullula arborea) descem com as nuvens da Barreira de Condensação minhota para as terras baixas mais próximas da costa. Embora provenientes de outros lugares, também as cada vez mais numerosas garças-boieiras (Bubulcus ibis) se limitam a visitar o litoral de Esposende nos meses mais frios. Estaremos face a indivíduos com perfi l de pioneiros no seu já bem conhecido processo de expansão

territorial ao nível global? E as gralha-pretas (Corvus corone) que, após tantos anos de ausência, têm regressado nos últimos invernos à foz do Cávado? Serão meras aves errantes? A colocação deste tipo de questões expõe várias insufi ciências no plano da monitorização de populações das nossas aves. E o litoral norte, tantas vezes preterido pela maior biodiversidade dos climas mediterrânicos, surge como uma complexa área de estudo onde ainda há muito para desvendar. A difi culdade em interpretar com rigor todos estes registos, antes de nos desencorajar, deve constituir um estímulo à divulgação das nossas observações. Prestaremos um contributo decisivo na concretização de um retrato mais consistente da avifauna portuguesa inscrevendo-nos nas Equipas Atlas, remetendo os nossos dados de campo para o Noticiário da SPEA ou para a plataforma on-line PortugalAves, participando nas discussões da comunidade do FórumAves, submetendo os nossos “achados” mais insólitos ao Comité Português de Raridades ou simplesmente partilhando imagens pelos diversos grupos criados nas redes sociais ou galerias fotográfi cas da internet.Boas observações!

Por Jorge Silvawww.verdes-ecos.blogspot.com

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66 • Parques e Vida Selvagem primavera 2012

66 COLETIVISMO

Sociedade Portuguesa para o Estudo das AvesAvenida João Crisóstomo, n.º 18 - 4.º - Dir.1000-179 [email protected] • www.spea.pt

A rola-brava foi

a espécie escolhida

como protagonista

da campanha Ave

do Ano 2012: o objetivo

da campanha,

que decorre todos

os anos, é chamar

a atenção para a sua

situação

A rola-brava (Streptopelia turtur), e faça-se a distinção da rola-turca, está em decréscimo acentuado na maior parte dos países europeus. O Esquema Pan-Europeu para a Monitorização de Aves Comuns, que, anualmente, compila informação de 25 países, revela que as populações europeias desta

espécie diminuíram em média 69%, entre 1980 e 2009. Isto signifi ca que por cada 100 rolas existentes em 1980, atualmente apenas existem 31. Em Portugal, a situação não é diferente; a rola-brava está em decréscimo acentuado, pelo menos desde 2004, de acordo com o Censo de Aves Comuns. Entre 2004 e 2010, as populações nacionais registaram uma diminuição média de 31%. As causas para o decréscimo populacional acentuado podem ser várias. É uma espécie muito sensível à perda e degradação do habitat de reprodução, devido, principalmente, à intensifi cação agrícola e fl orestal. A destruição de sebes e linhas de água, a simplifi cação do mosaico agrícola e fl orestal, as monoculturas e o uso intensivo de fi tofármacos são causas principais da degradação do habitat da rola-brava. É também muito vulnerável à caça excessiva. O estado depauperado da maioria das populações de rola-brava torna a pressão cinegética atual insustentável. Os números existentes, pouco precisos, indicam que pelo menos 10% da população é caçada anualmente na Europa, sendo 2-3 milhões de aves abatidas, maioritariamente durante a migração pós-nupcial. Está também muito

dependente do regime de chuvas na região onde inverna, em África. Por esta razão, as populações invernantes de rola-brava estão também ameaçadas pelas alterações climáticas, em particular pelas secas prolongadas e pelo avanço do deserto na África subsariana.Atualmente, existe uma Plano de Gestão da União Europeia para a Rola-brava, ao abrigo da Diretiva Aves. Este plano prevê medidas essenciais e urgentes como a publicação anual de estatísticas da caça credíveis, o desenvolvimento de um modelo populacional preditivo para calcular o abate anual sustentável, o estudo do sucesso reprodutor e da mortalidade invernal e dos fatores que os afetam. Apesar do Plano de Gestão estar em vigor desde 2006, pouco ou nada foi feito em Portugal, e, entre outras ações, a SPEA irá esforçar-se por isso, esperando contar consigo.

Por Domingos Leitão e Joana Domingues

Ave do Ano 2012

Rola-brava: a migradora ameaçada

Faís

ca

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Parques e Vida SelvagemParque Biológico de Gaia | 4430 - 757 AvintesTelemóvel: 969 105 613 | e-mail: [email protected]

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Parques e Vida Selvagem primavera 2012 • 67

TARDÍGRADOS12.º SIMPÓSIO INTERNACIONAL

Investigadores de todo o mundo juntam-se no Parque Biológico de Gaia para debaterem as pesquisas mais recentes sobre a biologia, a taxonomia e a biogeografia destes seres.

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www.tardigrada2012.comTel. 227 878 120 (Dr.ª Cristina Neves)

23 - 26 de julho

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Centro de CongressosHospedariaSelf-service

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do centro de Vila Nova de Gaia

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