ANÁLISE COMPARATIVA DE ARGAMASSAS … · Because dry-set mortars are plastic for the placing of...

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ANÁLISE COMPARATIVA DE ARGAMASSAS COLANTES DE MERCADO E O SEU COMPORTAMENTO REOLÓGICO COSTA, Marienne R.M.M. (1); CINCOTTO, Maria Alba (2); PILEGGI, Rafael G. (3) (1) Eng a .Civil; Doutoranda PCC-EPUSP. São Paulo-SP. CEP 05508-900. E-mail: [email protected] (2) Quím.; Pesquisadora Convidada do Departamento de Engenharia de Construção Civil, PCC-EPUSP. São Paulo-SP CEP 05508-900. E-mail:[email protected] (3) Eng o .Materiais; Pós-Doutorando PCC-EPUSP. São Paulo-SP. CEP 05508-900. E-mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho propõe o método de ensaio “Squeeze Flow” para caracterizar o comportamento reológico das argamassas colantes, tendo em vista que no Brasil ainda não foi estabelecido um ensaio normativo que possibilite a caracterização reológica das argamassas. Este ensaio, que consiste no escoamento do material pela aplicação de uma carga de compressão dinâmica sobre a amostra no estado fresco, foi aplicado a seis argamassas colantes tipo AC-I de mercado, além de ter sido efetuada a caracterização granulométrica das mesmas, tendo em vista a sua influência sobre o comportamento reológico de fluidos. Foi observado que as argamassas apresentam comportamentos reológicos distintos, apesar de possuírem distribuições granulométricas semelhantes, indicando que, provavelmente, os sistemas são sensíveis a variáveis intrínsecas, tais como morfologia dos grãos, tipo de cimento, tipo e teor de aditivo. Em complementação foi determinada a resistência de aderência à tração prescrita na NBR 14084, apresentando todas as argamassas resultado semelhante. Não foi observada uma relação entre o comportamento reológico das argamassas e a aderência obtida pelo método normativo, o que leva a crer que a imprimação do substrato prescrita nesse método não permite detectar a influência do comportamento reológico no resultado da resistência de aderência. ABSTRACT A test method named “Squeeze Flow” is proposed to evaluate rheologic behaviour of dry-set mortars. No standard for such evaluation is available in the Brazilian market so far. In such method the flow of a plastic sample is measured when submitted to dynamic compression. Because dry-set mortars are plastic for the placing of ceramic tiles in floors and walls, their rheological characteristics are expected to influence the final performance in the hardened state. The rheology and performance of six dry-set mortars classified by NBR 14081 as AC-I were evaluated. Their granular distribution was also evaluated because such parameter also influences the fluid rheological behaviour. VI Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas I International Symposium on Mortars Technology Florianópolis, 23 a 25 de maio de 2005 - 382 -

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ANÁLISE COMPARATIVA DE ARGAMASSAS COLANTES DE MERCADO E O SEU COMPORTAMENTO REOLÓGICO

COSTA, Marienne R.M.M. (1); CINCOTTO, Maria Alba (2);

PILEGGI, Rafael G. (3) (1) Enga.Civil; Doutoranda PCC-EPUSP. São Paulo-SP. CEP 05508-900. E-mail:

[email protected]

(2) Quím.; Pesquisadora Convidada do Departamento de Engenharia de Construção Civil, PCC-EPUSP. São Paulo-SP CEP 05508-900. E-mail:[email protected]

(3) Engo.Materiais; Pós-Doutorando PCC-EPUSP. São Paulo-SP. CEP 05508-900. E-mail: [email protected]

RESUMO

O presente trabalho propõe o método de ensaio “Squeeze Flow” para caracterizar o comportamento reológico das argamassas colantes, tendo em vista que no Brasil ainda não foi estabelecido um ensaio normativo que possibilite a caracterização reológica das argamassas. Este ensaio, que consiste no escoamento do material pela aplicação de uma carga de compressão dinâmica sobre a amostra no estado fresco, foi aplicado a seis argamassas colantes tipo AC-I de mercado, além de ter sido efetuada a caracterização granulométrica das mesmas, tendo em vista a sua influência sobre o comportamento reológico de fluidos.

Foi observado que as argamassas apresentam comportamentos reológicos distintos, apesar de possuírem distribuições granulométricas semelhantes, indicando que, provavelmente, os sistemas são sensíveis a variáveis intrínsecas, tais como morfologia dos grãos, tipo de cimento, tipo e teor de aditivo. Em complementação foi determinada a resistência de aderência à tração prescrita na NBR 14084, apresentando todas as argamassas resultado semelhante. Não foi observada uma relação entre o comportamento reológico das argamassas e a aderência obtida pelo método normativo, o que leva a crer que a imprimação do substrato prescrita nesse método não permite detectar a influência do comportamento reológico no resultado da resistência de aderência.

ABSTRACT

A test method named “Squeeze Flow” is proposed to evaluate rheologic behaviour of dry-set mortars. No standard for such evaluation is available in the Brazilian market so far. In such method the flow of a plastic sample is measured when submitted to dynamic compression. Because dry-set mortars are plastic for the placing of ceramic tiles in floors and walls, their rheological characteristics are expected to influence the final performance in the hardened state.

The rheology and performance of six dry-set mortars classified by NBR 14081 as AC-I were evaluated. Their granular distribution was also evaluated because such parameter also influences the fluid rheological behaviour.

VI Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas I International Symposium on Mortars Technology

Florianópolis, 23 a 25 de maio de 2005

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It was observed that mortars have different rheological behaviour despite their similar granular distributions probably because of the influence of other variables such as grain morphology, type of cement, type and concentration of admixtures. Furthermore, the mortars were tested to evaluate the tensile bond strength to ceramic tiles, as recommended by the Brazilian standard NBR 14084. The measured tensile bond strengths were similar for the tested mortars. No correlation between the mortars rheological characteristics and the tensile bond strengths was observed, leading to the conclusion that the influence of the rheological characteristics of dry-set mortars on the bond strength is obscured by the superficial conditions of the concrete substrate used as the base for the mortars placing.

Palavras-chave: argamassa colante, reologia, resistência de aderência à tração.

Keywords: dry set mortar, rheology, tensile bond strength.

1. INTRODUÇÃO

O assentamento de revestimento cerâmico sobre o substrato é usualmente efetuado aplicando-se uma camada intermediária de uma argamassa, denominada colante, especificamente desenvolvida para a união dos componentes, conforme ilustrado esquematicamente na Figura 1.

Figura 1 – Representação esquemática da camada de argamassa colante aplicada entre um substrato e uma placa cerâmica, destacando-se suas duas interfaces de aderência

(argamassa/substrato, argamassa/placa cerâmica).

A Figura 1 evidencia que a presença da argamassa colante entre a placa cerâmica e o substrato resulta na formação de duas interfaces distintas (argamassa/substrato, argamassa/placa cerâmica), devendo cada uma apresentar um nível de aderência adequado que garanta ao sistema suportar as solicitações e os esforços a que todo o conjunto estará submetido.

Tendo em vista que a aplicação da argamassa colante ocorre no estado fresco anterior ao início da pega do cimento, suas características neste estado fluido exercem grande influência no desempenho final endurecido, pois determinam o grau de cobrimento das

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superfícies de contato. As Figuras 2(a) e 2(b) ilustram as situações de cobrimento parcial e total de argamassa nas interfaces, respectivamente.

(a)

(b) (c)

Figura 2 – Eficiência do contato da argamassa colante nas interfaces em função da sua viscosidade: (a) Argamassa muito viscosa e com elevada tensão de escoamento; (b)

Argamassa com viscosidade e tensão de escoamento ideais; (c) Argamassa muito fluida e com baixa tensão de escoamento.

Do ponto de vista reológico1, a viscosidade2 está relacionada com a facilidade de escoamento do fluido, determinando a facilidade de seu espalhamento e penetração nas rugosidades do substrato. O preenchimento das mesmas fortalece o fenômeno mecânico de ancoragem da argamassa e, conseqüentemente, a resistência de aderência desta interface. Cabe destacar que a penetração da argamassa nos poros do substrato cerâmico foi elucidada por CARASEK (1996) pelo estudo da microestrutura da interface argamassa/substrato, realizado ao microscópio eletrônico de varredura dotado de detetor de raios X.

Além de a argamassa apresentar viscosidade ideal, deverá desenvolver tensão de escoamento3 suficiente para suportar o peso da placa e o seu peso próprio sem 1 Reologia é a ciência que estuda o escoamento dos fluidos (OLIVEIRA et al., 2000).

2 Constante de proporcionalidade que relaciona a taxa com a tensão de cisalhamento aplicada no fluido (OLIVEIRA et al.,2000). 3 Tensão mínima para início do escoamento do fluido (OLIVEIRA et al., 2000).

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escorregar, após aplicação do revestimento. A Figura 2(c) apresenta o exemplo de uma argamassa com baixa tensão de escoamento, ou seja, uma argamassa com característica reológica inadequada para o fim a que se destina.

Adicionalmente, na interface argamassa – placa cerâmica a viscosidade da argamassa deve permitir a formação adequada de cordões de argamassa com a utilização da desempenadeira denteada e proporcionar facilidade de esmagamento dos mesmos quando da colocação da placa cerâmica e posterior pressão exercida (“aperto”). Uma baixa viscosidade irá auxiliar na facilidade de formação dos cordões, mas não garantirá que os mesmos preencham totalmente o tardoz da placa, o que dependerá também do balanço entre a pressão exercida pelo oficial pedreiro e a tensão de escoamento da argamassa.

Diversos fatores influenciam o comportamento reológico da argamassa, tais como sua granulometria, o teor e tipo de aditivos empregados e a quantidade de água utilizada na mistura. Assim como o tamanho e formato das partículas influenciam o fluxo do fluido, os aditivos dispersantes, por exemplo, contribuem para reduzir a possibilidade de aglomeração das partículas, facilitando o escoamento, e reduzindo, conseqüentemente, a sua viscosidade. A quantidade de água de mistura contribui para afastar as partículas e reduzir a viscosidade da argamassa (PILEGGI, 2001; PAPO e PIANI, 2004).

Tendo em vista que o desempenho de aderência de uma argamassa é diretamente influenciado pela extensão de aderência, é possível inferir que tal propriedade depende das características reológicas, além de suas características próprias de resistência mecânica e retenção de água. O tempo em aberto4 das argamassas é influenciado tanto pela absorção de água do substrato, quanto pela evaporação de água para o meio ambiente (PÓVOAS et al., 2001). A quantidade de água perdida poderá comprometer a hidratação do cimento e, conseqüentemente, a resistência mecânica da argamassa.

Apesar das características reológicas das argamassas serem tão importantes para a aderência de revestimentos cerâmicos, não foi ainda estabelecido no Brasil um ensaio normativo que possibilite essa caracterização. A aplicação da argamassa se dá no estado fluido, logo, o domínio do seu comportamento reológico deve ser a base para o aperfeiçoamento tecnológico de produção e solução dos problemas de descolamento, muito comuns.

Dos estudos publicados, observa-se que o estado endurecido da argamassa colante é quase sempre o foco das pesquisas, ficando o estado fresco relegado a um segundo plano. A norma brasileira de argamassa colante (NBR 14081/2004) prescreve como requisito para o estado fresco apenas o ensaio de deslizamento, adotando um critério único para todas as classes. Por sua vez, para o estado endurecido, estabelece o ensaio de resistência de aderência associado ao de tempo em aberto.

Um ponto importante a ressaltar é que o ensaio tradicional de consistência empregado para caracterizar a trabalhabilidade das argamassas na mesa de fluidez (“flow table”) não é representativo para as argamassas aditivadas, pois os aditivos modificam as propriedades reológicas da argamassa e, por isso, há dificuldade de se estabelecer a consistência-padrão coerente com uma trabalhabilidade ideal para o oficial pedreiro (NAKAKURA e CINCOTTO, 2004).

Sabendo-se que a indústria de argamassa colante é representada por centenas de empresas fabricantes distribuídas em todo o Brasil, a preocupação com a busca da qualidade dessas argamassas torna-se primordial, tendo-se em vista o mercado expressivo de revestimentos cerâmicos a que a indústria das argamassas deve atender.

4 Tempo útil de aplicação da placa cerâmica sobre a argamassa já espalhada sobre o substrato.

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A necessidade de preenchimento da lacuna tecnológica de caracterização reológica das argamassas colantes motivou a proposição de utilização do método de ensaio reológico denominado “Squeeze Flow” (escoamento por compressão axial) (KOLENDA et al., 2003; MATSOUKAS e MITSOULIS, 2003; SHERWOOD, 2002), o qual é usualmente utilizado na avaliação de diversos materiais heterogêneos, como os compósitos poliméricos. Neste ensaio o escoamento do material decorre da aplicação de uma carga de compressão sobre a amostra no estado fresco, a qual ocasiona deslocamentos no seu interior devido aos esforços de cisalhamento radiais originados durante o fluxo.

2. OBJETIVO

O presente trabalho propõe determinar as características reológicas de argamassas colantes de mercado pelo método de ensaio “Squeeze Flow” e realizar um comparativo com a resistência de aderência obtida segundo a norma brasileira.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Os ensaios laboratoriais foram realizados em 6 marcas de argamassa colante tipo AC-I adquiridas em revendas de materiais de construção. As argamassas foram misturadas com as quantidades de água indicadas nas embalagens dos produtos. A codificação das argamassas e as proporções de água utilizadas nas misturas estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 – Codificação das argamassas colantes e as proporções de água utilizadas nas misturas.

Codificação das Argamassas Colantes

Quantidade de água indicada pelo fabricante (ml / kg)

A, D, E 230 B 220

C, F 200

3.1 – Caracterização granulométrica

A caracterização granulométrica das argamassas colantes foi feita por peneiramento com a série normal de peneiras, desde abertura 2,4 mm até abertura 0,075 mm (no 200), seguindo o procedimento estabelecido na NBR NM 248. O material passante na peneira de abertura 0,075mm por sua vez, devido à sua finura, foi caracterizado granulometricamente com o equipamento a Laser CILAS – Modelo 1064 (utilizando álcool anidro), tornando possível desta forma a obtenção da distribuição granulométrica completa. Os ensaios foram executados com álcool anidro, do mesmo modo que se utiliza para ensaios de cimento

3.2 – Ensaio “Squeeze Flow”

O equipamento utilizado como base desse ensaio é uma máquina universal de ensaios (Instron 5569) comumente existente nos laboratórios de materiais de construção para a aplicação de carga em corpos de prova. A Figura 3 detalha os componentes do ensaio “Squeeze Flow” adaptado para as argamassas colantes. A geometria do porta-amostra e do punção móvel responsável pela aplicação da carga foram adaptadas para as

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argamassas colantes visando representar a forma como as argamassas são aplicadas na prática, ou seja, com esforços de compressão sobre uma área de pequena espessura, simulando o esforço feito com a desempenadeira quando da aplicação da argamassa para o assentamento do revestimento cerâmico.

A geometria definida para o porta-amostra é um cilindro de 1 cm de altura e 5 cm de diâmetro. O porta-amostra é feito de PVC e é composto de quatro partes que se deslocam juntamente com a argamassa durante o ensaio. O punção móvel, responsável pela aplicação do deslocamento, foi desenvolvido com o mesmo diâmetro da amostra, visando garantir a aplicação de carga sobre toda a superfície da mesma. Foi estabelecido o deslocamento máximo de 3 mm para todas as argamassas; a velocidade de deslocamento adotada foi de 0,1 mm/s por tratar-se de uma velocidade intermediária de ensaio que, a partir dos testes realizados, mostrou-se representativa para as argamassas em estudo.

Figura 3 – Representação esquemática dos componentes do ensaio “Squeeze Flow”.

3.3 – Ensaio de resistência de aderência à tração

Este ensaio foi realizado com base na NBR 14084/2004. Segundo a norma, a argamassa colante é estendida na direção longitudinal de um substrato-padrão de concreto, que tem espessura mínima de 20 mm e dimensões mínimas de 25 cm x 50 cm. Inicialmente é feita a imprimação do substrato, ou seja, a aplicação da argamassa colante com o lado liso da desempenadeira apoiado firmemente sobre a sua superfície. Após a imprimação do substrato, a argamassa colante é aplicada sobre o mesmo com o lado liso da desempenadeira e, em seguida, realizada a formação dos cordões de argamassa com o lado denteado da mesma. Aguardam-se 5 minutos e colocam-se as 10 placas cerâmicas de dimensões 5 x 5 cm sobre os cordões de argamassa. Cada placa é submetida à pressão de uma massa-padrão de aproximadamente 2,0 kg, durante 30 s.

Porta-amostra preenchido com

argamassa, antes do escoamento

Porta-amostra preenchido com

argamassa, após o escoamento

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O conjunto deve passar por 28 dias em cura nas condições ambientais do laboratório, submetendo-se as placas cerâmicas após este período, ao ensaio de arrancamento por tração na velocidade uniforme de (250 ± 50) N/s até a ruptura.

Apresenta-se nas figuras abaixo uma ilustração da seqüência de aplicação da argamassa sobre o substrato e do posicionamento das placas cerâmicas sobre a argamassa colante.

Figura 4 – Imprimação do substrato.

Figura 5 – Aplicação da argamassa no substrato com a formação dos cordões.

Figura 6 – Posicionamento das 10 placas cerâmicas sobre a argamassa.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Caracterização da Distribuição Granulométrica

A Figura 7 apresenta a distribuição granulométrica discreta das seis argamassas colantes de mercado. As argamassas colantes caracterizadas apresentam distribuição granulométrica semelhante, com pequenas variações na faixa de 100 a 1000 µm. Por esse ensaio, pôde-se observar que as argamassas “D” e “F” apresentam os grãos finos com distribuição granulométrica exatamente igual, assim como verificado entre as argamassas “C” e “E”.

A Figura 8 apresenta o quantitativo de grãos finos das argamassas colantes, observando-se que o teor é semelhante (com exceção da argamassa “D” que apresentou teor um pouco superior às demais argamassas), o que leva a crer que as mesmas apresentarão volume semelhante de matriz cimentícia no estado fresco. Observa-se5 também que o teor aproximado de cimento das argamassas é semelhante e que para a maioria delas o teor de finos abaixo de 0,075 mm refere-se quase que totalmente ao teor de cimento existente nas mesmas, com exceção das argamassas A, C e D, que possuem um teor mais expressivo de fíler calcário. 5 Estudo em andamento na EPUSP pelos autores deste artigo.

12345

67

8910

12345

67

8910

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Figura 7 – Distribuição granulométrica discreta das argamassas colantes.

Figura 8 – Teor de finos e teor aproximado de cimento apresentado pelas argamassas colantes.

Diversos fatores podem influenciar o comportamento reológico das argamassas, merecendo destaque neste trabalho a distribuição granulométrica. De um modo geral, a argamassa colante é constituída de grãos grossos (partículas com dimensão superior a 0,075mm), da fração areia e de partículas com grãos finos (partículas com dimensões inferiores a 0,075 mm), da fração aglomerante, basicamente cimento, podendo ocorrer adições de fíler e outros minerais.

Tanto os grãos finos quanto os grãos grossos alteram a movimentação das linhas de fluxo da argamassa e, conseqüentemente, seu desempenho reológico. O agrupamento dos grãos finos forma uma estrutura no estado fresco, chamada de matriz, que envolve os grãos grossos (areia) e que mantém a coesão do sistema. A situação ideal em termos de comportamento reológico da argamassa é aquela na qual há um equilíbrio quantitativo entre matriz e agregado, que proporcione uma viscosidade adequada à facilidade de aplicação da argamassa (PILLEGI, 1996; OLIVEIRA et al., 2000).

0

5

10

15

20

25

30

A B C D E F

Argamassa colante

Teor

de

finos

aba

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de

0,07

5 m

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)

0

5

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25

30

Teor

apr

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teor de f inosteor de cimento

0,0

20,0

40,0

60,0

0,01 0,1 1 10 100 1000 10000

Abertura nominal (micrômetros)

% re

tida

disc

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Argamassa AArgamassa BArgamassa CArgamassa DArgamassa EArgamassa F

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Tendo-se em vista que as granulometrias das argamassas são semelhantes, é esperado que os comportamentos reológicos também o sejam. O efeito do aditivo retentor de água precisa ainda ser estudado.

4.2 Caracterização reológica

Os resultados obtidos no ensaio “Squeeze Flow” estão mostrados na Figura 9.

Figura 9 – Relação (carga x deslocamento) obtida no ensaio “Squeeze Flow” com as argamassas colantes.

As curvas de carga aplicada versus deslocamento apresentam a evolução da carga de compressão e de deslocamento. Através destas curvas, torna-se possível obter a carga máxima de compressão de cada argamassa para o deslocamento máximo do pistão do equipamento (fixado em 3 mm). Cada argamassa apresenta uma curva característica, sendo que comparativamente entre as argamassas é possível determinar as argamassas que apresentam a maior carga de compressão. Cargas de compressão altas indicam argamassas com maior viscosidade, já que foi necessário aplicar uma carga maior para obter-se um mesmo deslocamento. Cargas de compressão mais baixas indicam, por sua vez, argamassa com menor viscosidade.

De um modo geral, o comportamento reológico que se espera para as argamassas colantes, ao longo do tempo de ensaio, é o aumento da carga de compressão (conforme observado com as argamassas em estudo), pois a argamassa vai perdendo água para o meio devido à evaporação, tornando-se gradativamente mais rígida. Na prática, a análise comparativa entre as argamassas possibilita identificar as de maior facilidade de aplicação e conformação pelos dentes da desempenadeira.

As curvas apresentadas na Figura 9 demonstram que as argamassas colantes apresentam características reológicas diferentes, pois cada argamassa mostrou capacidade distinta de absorção do carregamento de compressão imposto pelo punção móvel do equipamento. Observa-se que a argamassa “C” foi a que apresentou maior carga de compressão, conseqüentemente a maior viscosidade. A argamassa “F”, por sua vez, foi a que apresentou a menor carga de compressão, conseqüentemente a menor viscosidade. Cabe destacar que os resultados obtidos são restritos para a relação água/materiais secos indicada pelo fabricante.

0

0,3

0,6

0,9

1,2

1,5

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3Deslocamento (mm)

Car

ga (N

)

Argamassa AArgamassa BArgamassa CArgamassa DArgamassa EArgamassa F

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A Figura 10 detalha a Figura 9, mostrando as cargas máximas de compressão apresentadas pelas argamassas colantes, indicando as argamassas mais e menos viscosas.

Figura 10 – Carga máxima de compressão apresentada pelas argamassas no ensaio “Squeeze Flow”.

As diferenças observadas no comportamento reológico das argamassas colantes de mercado mostram que, na prática, irão apresentar desempenho distinto ao espalhamento e deformação dos cordões. Por exemplo, a argamassa C, que se mostrou mais viscosa que as demais, apresentará maior dificuldade ao espalhamento e deformação dos cordões. A argamassa F, por ter se apresentado muito fluida frente às demais, mostrará facilidade ao espalhamento e deformação dos cordões, provavelmente até em excesso (comportamento mostrado na Figura 2(c)), com possível deslizamento.

Sendo assim, apesar da seis argamassas colantes possuírem distribuição granulométrica semelhante, conforme discutido no item anterior, apresentam comportamento reológico distinto, indicando que, provavelmente, os sistemas são sensíveis a variáveis intrínsecas, tais como morfologia dos grãos, tipo de cimento, tipo e teor de aditivo, e que devem estar influenciando a propriedade reológica estudada.

Tendo-se em vista que as argamassas apresentam diferenças na facilidade ao espalhamento, cabe investigar se essa diferença tem impacto sobre a aderência das argamassas.

4.3 Resistência de aderência à tração

A Figura 11 apresenta os resultados de resistência de aderência à tração das argamassas colantes.

As argamassas colantes apresentaram resistências de aderência praticamente iguais. Os resultados obtidos levam a crer que, aparentemente, a granulometria semelhante deve ter contribuído para a mesma resistência de aderência à tração. Esse comportamento somente não foi observado com a argamassa F, que parece ter sido indicada pelo fabricante ao emprego com excesso de água, prejudicando a sua aderência.

0 0,5 1 1,5

A

B

C

D

E

F

Arg

amas

sa c

olan

te

Carga máxima de compressão (N)

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Figura 11 – Resultados de resistência de aderência à tração segundo a NBR 14084/2004.

Na Figura 12 estão apresentados os resultados de resistência de aderência das argamassas e as respectivas cargas máximas de compressão obtidas do ensaio reológico, com o objetivo de se identificar a existência de relação entre essas duas variáveis.

Figura 12 – Representação da relação entre resistência de aderência e carga máxima de compressão no “Squeeze flow” para as argamassas colantes.

Com os resultados disponíveis não foi possível evidenciar uma relação entre as variáveis, pois argamassas com cargas de compressão diferentes apresentaram a mesma resistência de aderência. O que se espera em termos de comportamento é que argamassas com maior carga de compressão (maior viscosidade) apresentem menor resistência de aderência, tendo-se em vista a maior dificuldade de aplicação e de preenchimento da rugosidade responsável pela ancoragem da argamassa na interface, discutido anteriormente.

Uma hipótese para a ausência de relação entre essas duas variáveis é a imprimação do substrato estabelecida no procedimento do método de ensaio normativo de resistência de aderência, executada anteriormente à aplicação da argamassa e formação dos cordões, já que a mesma acaba anulando o efeito das características reológicas da

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

Res

istê

ncia

de

Ade

rênc

ia

Cur

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orm

al (M

Pa)

A B C D E F

Argamassas Colantes

y = 0,2726Ln(x) + 0,6723R2 = 0,5913

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6

Carga máxima de compressão (N)

Res

istê

ncia

de

Ade

rênc

ia (M

Pa)

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argamassa sobre a sua penetração no substrato. Desta forma, não é possível obter uma conclusão sobre o impacto da reologia na resistência de aderência, pois a imprimação não permite a observação de um fenômeno que pode ocorrer na prática que é a ruptura na interface substrato/argamassa. Cabe destacar ainda que o método normativo prescreve este tipo de ruptura. Um outra hipótese se relaciona ao fato de as tensões reais de aplicação da argamassa colante poderem ser maiores às verificadas para a deformação de 3 mm adotada no ensaio “Squeeze Flow”. Os materiais em grandes deformações podem apresentar características diferentes das observadas em deformações menores. Portanto, torna-se importante ainda a realização do ensaio reológico com grau de deslocamento maior ao adotado, para a verificação do comportamento das argamassas em estudo.

5. CONCLUSÕES

Os resultados permitem as seguintes conclusões:

- O ensaio “Squeeze Flow” mostra-se adequado para caracterizar o comportamento reológico das argamassas colantes. Acrescenta-se que o deslocamento de 3 mm foi adotado nesta abordagem inicial do estudo e que outros valores serão objeto de pesquisa, buscando-se maior proximidade à tensão do aplicador na prática.

- Apesar da similaridade granulométrica, as argamassas colantes apresentaram comportamento reológicos distinto segundo o ensaio “Squeeze flow”.

- Conclui-se então que, seguindo uma condição geral para os ensaios reológicos, as argamassas colantes são sensíveis a variáveis intrínsecas, tais como morfologia dos grãos, tipo de cimento, tipo e teor de aditivo, e que devem ter influenciado os resultados obtidos.

- Não foi observada a ocorrência de relação desta propriedade reológica das argamassas e a resistências de aderência à tração, seguindo o método de ensaio da NBR 14084.

- O estudo da reologia no setor de argamassas está no seu início, de forma que o seu aprofundamento permitirá correspondentemente o aprofundamento dos parâmetros que envolvem a resistência de aderência.

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AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Laboratório de Química dos Materiais do IPT pelas análises químicas realizadas, à Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP pela análise granulométrica efetuada nas argamassas e ensaio de resistência de aderência à tração, ao Laboratório de Microestrutura do CPqDCC da EPUSP por possibilitar o desenvolvimento do ensaio “Squeeze Flow” e à empresa TESIS - Tecnologia de Sistemas em Engenharia por proporcionar a compra das argamassas além de disponibilizar um técnico para a pesquisa.

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