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    UNIVERSIDADEFEDERALDORIOGRANDEDOSULINSTITUTODEFILOSOFIAECINCIASHUMANAS

    PSGRADUAOEMCINCIAPOLTICA

    ResumocrticodotextoTheIntellectualHistoryoftheCivicCultureConcept,deGabrielA.Almond

    (In:ALMOND,

    G.A;

    VERBA,

    S.

    The

    Civic

    Culture

    revisited.

    Londre:

    Sage

    Publications,

    1980

    pp.1

    36).

    Autor:FagnerdosSantos

    OprimeirocaptulodaobradeAlmondeVerbaumtextointrodutrioaobradosanos60,

    intitulada The Civic Culture.Nele facilmente visvel a estrutura de projeto, ou seja, busca a

    justificaohistricadotemaalmdassuasbasestericasemetodolgicas.Noprocessodeescrita

    do texto fica aindamais patente uma diviso em duas etapas de, praticamente, igual tamanho.

    Talvezparamelhorampararotrabalhoparaaaceitaodosseuspares,agnesehistricadocampo

    deestudosrecebeuimportnciaigualadasoutrasduaspartesjuntas.

    1 GneseeinflunciasdoTheCivicCultureO texto se inicia na clssica gnese dapoltica em si, ou seja,uma comparao entreos

    textosgregosclssicoseahistriadascivilizaesditasocidentais1quedeixaramalgumahistria

    escrita.Assim,Almond busca demonstrar que, desde que o homem seorganizou em sociedade,

    buscoucompreendereanalisarosfatoresdaculturapoliticaenvolvidanoprocessodeobtenodo

    podereosmecanismosquegarantemasualegitimao.Segundooautor,termoscomosubcultura,

    culturapolticadeelite,socializaopolticaemudanaculturalso influnciasde textosantigos,

    comoosencontradosnostextosjudaicos.

    Porm,amaiorrelaoentreascaractersticasculturaisearelaodelacomapolticase

    tornam mais cientificamente estudadas e analisadas no perodo grego clssico, com Plato e,

    posteriormente,Aristteles.

    Do

    primeiro,

    oautor

    salienta

    aformao

    da

    criana

    em

    termos

    de

    ser

    criadaeorientadaemtermosdesetornarafeitavirtudecvica(p.3).Domesmomodo,aideiade

    umgovernomistocomumaclassemdiadominantecompluralidadede interessesquecoexistem

    toleravelmente, comum sensode competnciapoltica e a crenamtuana cidadania (p.4) so

    basesdescritaspeloltimo.

    Comotodasastentativasdegenealogiasdascinciasmodernas,existeumhiatodemilanos

    entre os gregos/romanos e os seus continuadores, os renascentistas. Embora os prprios se

    colocassem na condio de continuadores da cultura e arte clssica, h muita influncia das

    tradies islmicas nas tradues dos textos dos gregos.Muitos deles no sobreviveram na sua

    lnguadeorigem,vieramaconhecimentodosocidentaisatravsdetextosrabestraduzidosno

    fimda

    Idade

    Mdia.

    Assim,

    como

    praxe,

    Almond

    passa

    aos

    estudos

    feitos

    por

    Maquiavel

    sobre

    os

    romanos clssicos como passo seguinte e lgico da origem do conceito de Cultura Cvica.

    Caractersticascomocorrupo,servido, instabilidadedapopulaoedoimprioaparecemcomo

    componentesdahistriapolticadeRoma.Porm, segundooautor,utilizavaas ideiasdecultura

    1Ditaocidentalporque,namaioriadasvezes,humarelativizaosobreoqueserocidentalnostextosdegenealogiacientfica.Principalmenteaculturagregachegouaosrenascentistasatravsdostextosorientais,ouseja,resquciosdeConstantinoplaedosmuulmanosconquistadoresposterioresquedadeRoma,umaculturaconsideradacomodiferentedajudaicocristocidental.

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    polticaesocializao,comoanedotasouilustraes,fugindodaformaanalticautilizadaporPlato

    ouAristteles(pp.45).

    Dois sculosdepois foia vezdeMontesquieu,ao analisaro sucessodo imprioRomano,

    colocar a paixo cvica dos cidados, sustentada pela religio, sucessos militares e um vvido

    antagonismoentreopatriciadoeaplebe,comocausadotriunfodasuaexpansoterritorial.Porm,

    essaextenso

    acabou

    trazendo

    povos

    culturalmente

    heterogneos

    que

    visavam

    mais

    atradio

    de

    espliosdeguerraereligiesdiferentessetornaramasprincipaisrazesdesuaqueda (p.5).Essa

    importnciadaculturaesocializaocomomodelaresdaspolticaspblicasinfluenciouRousseau,e

    esteTocqueville.Assim,surgemasnoesdemoralidade,customeopinio(p.5).

    De um modo geral, a teoria poltica iluminista era, para Almond, uma teoria poltica

    psicolgicaquederivavaejustificavaasinstituiespolticasealegislaoatravsdeumanatureza

    humanadeuma criaturaque temdireitos inalienveis, comoum serhednicoqueevitaadore

    buscaprazer,e,comocriador,transmissoreconsumidordeconhecimento(p.7).Essaviso,aliadaa

    difusodasideiasbiologizantesnascinciassociaistrouxeavisopolticaliberaldasegundametade

    dosculoXIX,queviacomoinevitvelocrescimentoeconmicoeoprogressopolticoadvindosdo

    progressoda

    cincia

    (p.7).

    Essa

    noo

    de

    progresso

    inevitvel

    tambm

    era

    vista

    em

    Marx

    que

    via

    o

    crescimento material como criador de trs subculturas polticas (capitalistas, operrios e

    revolucionrios) (p.8). Em oposio a esses dois modelos, os elitistas (Mosca, Pareto, Michels)

    embasaramseusestudosemoutraspremissassociolgicasepsicolgicas.

    Asguerrasmundiais tambmentraramcomoponto importantenocomopensaracultura

    poltica.Aascensodos regimesautoritriosapsaprimeiraguerra forampontos importantesna

    viso crtica a essa viso. Se o progresso era inevitvel, como explicar o sucesso de regimes

    retrgradosembasadosnoautoritarismo?Essaquestoinfluiuclaramentenanoodeinferncia

    no racional em poltica de Graham Wallas e na ideia de educao no combate aos regimes

    antidemocrticos,deFiner(p.89).A ideiageraleradequeessesdesviospoderiamserexplicados

    pelaexperinciahistricaepelocarterdasnaesegrupos,queforammoldadosprimariamente

    pelosseusambientesehistrias(p.10).

    Almond enumera como segunda grande influncia para o conceito de Cultura Civil a

    sociologiaeuropeia.SaintSimon,Comte,MarxeDurkheim,cadaumaseumodo,trouxeaspectosda

    influnciadaculturasocialcomocomponentesdaexplicaodosaspectospolticosdasociedade.

    Porm,foiemMaxWeberondeoautormaisseembasou.Asuatipologiadepartidospolticoscom

    suas razes subjetivas para filiao e apoio casa muito com a ideia de cultura poltica e a

    metodologiadeconstruodeum tipo ideal serummodeloparaa suadefiniometodolgica.

    Complementara isso,asderivaesdeTalcottParsonssobreotrabalhodeWeberqueresultaram

    emsuacategorizaoforammuitoimportantesparaoestudodeAlmondeVerba(pp.1112).

    Completandooespectrodeinflunciasoautorcolocaapsicologiasocial,principalmente,na

    sua corrente comportamentalista e a anlise das atitudes; a psicoantropologia, no que tange a

    vertenteque valorizano s a formaodo indivduo,mas sua fase adulta, almdo tratamento

    quase estatstico de comportamento que cria as noes de personalidade bsica oumodal; e a

    metodologia de survey, que seria uma revoluo para entender as motivaes de grupos e

    indivduosemagirdedeterminadamaneira (pp.1215)oquedenota certo fetichismoporuma

    visodecinciaformadaporexperimentaoeclculos,tpicadosanos60dosculoXX.

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    2 OmodelodoTheCivicCultureSegundooautor,omodeloparaaobraseembasounomodelodecidadaniademocrtica,

    derivadadanoodeaoracionalherdadasdatradioiluministaeliberal.Essemodelodeuma

    democraciabemsucedidaquerequerquetodososcidadossejamenvolvidoseativosnapolticae

    suaparticipaoseja informada,analticae racional (p.16) seriaumdoscomponentesdacultura

    cvica,mas

    no

    o

    nico.

    Ele

    s

    resultaria

    em

    um

    governo

    democrtico

    eestvel

    se

    combinado

    de

    algumaformacomapassividadedaoposio,crena,defernciaparaaautoridadeecompetncia

    sejamviveis(p.16).

    Damesma forma,Almond fundaesseconceito sobrea ideiade umapolticadegoverno

    misto com classe mdia predominante, porm caracterizado por disparidades balanceadas da

    cultura cvica um tipo de participao poltica moderada que combina discrio dos lderes

    polticos e oficiais do governo; um tipo de envolvimento poltico que no completamente

    pragmtico ou simplesmente passional; e uma forma de partidarismo que dinmica ainda que

    contida entre normas limtrofes de umaunidade cvica comum (p.17).Assimo autor usa como

    exemplo as ideias de Tocqueville sobre a estabilidade dos EUA, resultado de uma cultura

    aristocrticadada

    pela

    uniformidade

    da

    advocacia

    como

    formao

    majoritria

    (aristocracia

    legal).

    Oautorsalientaque,apsasegundaguerramundial,aresponsabilidadedaascensodos

    regimes autoritrios sociedade de massas, um produto do processo de industrializao,

    urbanizaoedemocratizaoque teriadestrudoos laosque impossibilitavam ser suscetveis

    lideranademaggica e osmovimentos autoritrios. Eesseprocesso foi tratadopelospluralistas

    (como Schumpeter) que, para Almond, tinha muito em comum com o modelo de governo

    misto/culturacvicaproposto.

    A partir dessa explicao, Almond se debrua sobre as basesmetodolgicas da pesquisa

    apresentadano livro.A ideia inicial era incluirGrbretanha eEUA comopases com tradiode

    relativaestabilidade

    democrtica;

    Frana

    eAlemanha

    como

    instveis;

    eaSucia

    como

    democracia

    estvel commultipartidarismo.Porm,pela situaodaFranaesta foi substitudapela Itliaeo

    MxicosubstituiuaSucia,comumacentenadeentrevistasemcadapas.Assim,oautorsalienta

    quevriasdassuaspremissasforamconfirmadaspeloestudo.Taiscomo:

    daculturapolticadoiluminismo:aimportnciadaeducaocomoumavarivelexplicativa

    das propenses cvicas, mesmo que no relacionasse necessariamente a educao formal com

    componentesafetivosevalorativosdaculturacvica(comoobrigaocvicaecrena);

    da teoria sociolgica: a estratificao entre ocupao, renda e educao forte,mas a

    educaoo fatormais forteparaaprepondernciadecompetncia cvica.Almdisso,Almond

    considerouos

    tipos

    weberianos

    de

    autoridade

    eos

    arranjos

    de

    Parsons

    nos

    tipos

    de

    categorizao

    de cultura poltica (paroquial, sujeito e participante) muito teis teoricamente para explicar os

    resultados.

    A influncia da psicologia social foi, pelo descrito at aqui, apenas instrumental (o autor

    apenas cita que usou as escalas de Guttman em situaes especficas). As questes

    psicoantropolgicasque embasaram apropostadeestudono foram testadas, segundoAlmond,

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    pornoserofocoprincipaloquetornaasuarelevnciarelativa,enoconstituintedaTeoriada

    CulturaCvicacomoeleprope.

    Almondencerraoseutextotecendobrevesconsideraessobreasrelaesentreacultura

    polticaeateoriapoltica.Culturapolticanoumateoria;serefereaumrangedevariveisque

    podem ser usadas na construo de teorias. Mas enquanto designa uma srie de variveis e

    encorajasua

    investigao,

    imputa

    algum

    poder

    explicativo

    s

    dimenses

    psicolgicas

    ou

    subjetivas

    da poltica, assim como implica que h variveis contextuais e internas que podem explicala.O

    poder explicativo das variveis da cultura poltica uma questo emprica, aberta ahipteses e

    testes(p.26).

    Oautorelenca trspolmicasqueaculturapolticaestavaenfrentando:1 diferenasde

    opinio de definio e especificao do contedo da cultura poltica; 2 a controvrsia sobre a

    separaoanalticadaculturapolticadaestruturaecomportamentopoltico;3 odebatesobreas

    seelaumacausadaestrutura(p.26).

    Sobreaprimeiraquesto,Almondsalientaqueamaioriadasdefiniesdeculturapoltica

    sopr

    tericas,

    ou

    seja,

    so

    adaptadas

    para

    serem

    testadas

    por

    estudos

    empricos.

    Por

    exemplo,

    ao

    analisaraspropriedadesculturaisqueinfluemaestabilidadedemocrtica,oautorteriaelaboradoo

    conceito de modo a salientar o conhecimento e habilidade polticos, sentimentos e valores

    orientadosparaobjetospolticoseprocessos(p.27).Oprprioautorcriououtraformulaoemum

    trabalho posterior, onde definiu a cultura poltica em trs direes: contedo substantivo;

    variedades de orientao; e relaes sistmicas sobre esses componentes. O primeiro pode ser

    subdivididoemculturadesistema(atitudesobreacomunidadenacional,oregimeeautoridades),

    cultura de processo (atitude sobre o si na poltica e sobre outros atores polticos) e cultura de

    poltica (distribuio de preferncias sobre os resultados da poltica, valores como bem estar,

    segurana e liberdade). As orientaes atravs dessas direes podem ser cognitivas (crenas,

    informaes e anlises), afetivas (sentimentos de pertencimento, averso ou indiferena) ou

    valorativos(juzosmorais)(p.28).

    Aprincipal crtica sobre abibliografiada cultura poltica, segundoo autor, diz respeito

    ltimaquestocolocada.Emborasalientequeessaquestoerradaeaculturapolticatantocrie

    quantosejacriadapelasestruturas(p.29),oargumentoprincipalsugeridoemTheCivicCultureodequecrenas,sentimentosevaloresinfluenciamsignificativamenteocomportamentopoltico,e

    queessas crenas, sentimentos e valores sooprodutodas experinciasde socializao (p.29).

    Finalmente, o autor afirma que, mesmo com a explanao sobre como a pesquisa foi feita, a

    polmicasobreasignificnciadaculturapolticacomoapresentadanaobraspodeserconfirmada

    compesquisaemprica(p.30).