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    o

    SEGREDO

    DO

    INDlvfDUO

    o

    INDWfDUO E SUA MARCA

    o semimcmo de identidade individuaI

    c e n t u ~ s e

    e difunde-se am

    plamente aa longo de rodo

    0

    século

    XIX.

    A historia do sistema de dena

    minaçao fornece um prlmeiro indicio. 0 processo de dispersâo dos pre

    nOffil:S iniciado no século XVlll

    prossegue;

    contradiz 0 movimemro de coo

    centraçao ddiber d mente encorajado pela Igreja d Reforma Catôlica,

    desejosa

    de valorizar

    0

    exe-mplo

    dos

    principais santos. Neste dc.minio, a

    Rtvoluçào n

    aD

    constitui urna verdadeira ruptura; no maxima

    d

    desem

    penha

    0

    papel de acelerador.

    Aù longo de décadas,

    ciclos mais ou

    menos curtos,

    eSlabcleddos

    -

    la moda,

    dao 0

    ciuno do movirncnto de dispersao; esta aceleraçao traduz

    sUnultaneamemc a acentuada vomade de individualizac, a preocupaçâo

    cm sublinhar 0 cocte das geraçôes e 0 desejo de adaptar-sc à nova norma,

    sugerida pelas classes dominantes. Corn efeiro, a mod de ce ttos peeno

    mes propaga-se verticalmeme, da acÎstoccacÎa para 0 povo, d cidade para

    o campo. A precisao e complicaçao crescemes d hiecaequia social favoee-

    cern a transmissao d e tais modas por capilaridade. .

    Ao

    mesmo tempo as

    regcas

    de tcansmissao familiar dos nomes pcc

    dem sua auroridade. A esco Ula do prcuome do p drinho ou da madri

    nha, ou seja, rradiciona

    lm

    eme, de um dos av6s,

    um

    rio-avô

    ou

    um tia

    av6

    a passagem do pre nomc do pai ao filho primogênito

    ou

    do avô fale

    cido ao neto cecém-nascido constituem, cspecialmeme no campo, impe

    rativos cujo declinio

    ce

    rtamcmc nao convém exageeac; nern

    poc

    isso dei

    xam

    de sec

    co

    ntcaeÎados pelas n

    ovas

    praticas em ascensâo. 0 cnfraqueci

    mento das regras de rransmissào famïliar tradu z 0 definhar das virtudes

    hceedici

    rias

    e ao mesmo tempo vaticinadoeas do peenorne. A pe eda d

    fé na exisrência de urn patrimônio de cararer cransmitido pela denomi

    naçao evidentemente trabalha a favoc do individualismo.

    Quando peedura a familia de estrutura co

    mpl

    exa c a pobeeza d

    gama dc pecoornes agrava os

    risco

    s de

    co

    nfu sao 0 sisrema denomina-

    A ORlGINAllDADE

    DA DENOMlNA

    ÇÀO

    OU

    UM

    NOME

    PARA SI

    11.0

    rednir

    Of

    ClIJI

    OJ tU fo togrofo

    proJtn:.id3 em Jin

    ·e

    ,

    DiJdin

    p ermÙ

    ù.

    o ulgrnizo;iio do retrol

    o.

    Com

    ete,

    ur/Jo

    de

    11I ;14

    to

    ma

    ·fe

    mll

    ù

    insùlewte; pouce queur iguror

    no

    ilbum

    de

    fomü;a

    . A

    pofe

    fotogriftU, oqu; elabormlfuima,

    en/fll1l  fproCl dimenlos

    de so

    fùlicopo

    do apm

    enUlÇ40

    de si t1mfTJ ). (DiJdin Ûltes

    de visite: groupées. Pon , Bibliolec.;

    NlICio"J.. )

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     il1 1l:\1 III

    ) IIiH

    difundem os pcqucnos cspclhos para

    qUt

    · as mulhcrcs c moças po

    sam contemplar seus rostos; mas as aldcias ignoram os espclhos em

    que

    se

    vi: a corpo inteiro. Entre

    os

    camponeses, a identidade corporal

    continua a ser lida nos olhos dos

    OUtrOS,

    a reveJar-se por meio da escuta

    de urna percepçao intcrior.

    Coma

    viver em uro corpo que nao se viu",

    em seus menores detalhes?, indaga Véronique de Nahoum; eis aî uma

    questao que é preciso

    co

    locar para os bisloriadores da sociedade rural.

    Entao compreendem-se melbor as interdiçôes que pesaro, cm tal am

    biente, sobre

    0

    uso do espclho: apresenra-Io a um hebê pode deter

    seu crescimento; deixar um espelho descoheno depois de urna morte [raz

    azar.

    Nas classes abastadas,

    0

    codigo de boas maneiras proibira por muito

    tempo que uma moça se admire nua, mcsrno que seja através dos reflexo s

    de sua banheira. Hâ pos especiais corn a mÏS5ào de

    [Urvar

    a âgua do ba

    nho, de forma a prevenir tal vergonha. 0 estîmulo erotico da imagem do

    corpo, exacerbado por semelhante proibiçâo, freqüenta esta soc iedade que

    enche

    os

    bordéis de espelhos antes de pendurâ- I

    os

    , tardiamente, na porta

    do armârio nup cial.

    No final do século, a difusâo citadina desre ambîguo m6ve permite

    a organizaçâo de urna nova identidade

    cu

    l[U

    ral.

    No indiscreto espe ho a

    beleza desenba para si

    uma

    nova silhueta. 0 espdho de

    co

    rpo inteiro au

    torizara a afloramento da estética do esbelto e guiara

    0

    nutricionismo por

    novos

    rumos.

    Nao menos essencial é a difusao social do retrato, "funçao direra",

    obse

    rva

    Gisèle Freund,

    do

    esforço da personalidade para afirmar-se e

    tomar consciência de si mesma' . Adquirir e aflXar sua pr6pria imagem

    desarma a angustia; é dem onstrar sua existência, registra sua lembrança.

    Bem encenado, 0

    re([ato atesta

    0 sucesso;

    manifesta a posiçâo. Para

    0

    bur

    g u ~ s

    familiarÏzado corn

    0

    papel de her6i e pioneiro, nao se trata mais,

    coma for a outrora para 0 aristocrata, de inscrever-se na cominuidade das

    geraçoes, mas de criar uma linhagem;

    e1e

    de

    ve

    partanto inaugurar seu

    prestÎgio por meio de seu êxito pessoal. 0 século da comemoraçao é tam

    bém

    0

    da fundaçâo das genealogias comerciais, orgulhosamente ostenta

    das. Bem entendido, a moda do reuato panicipa do proccsso de imitaçao

    par capilaridade, precocemente

    di tCernido

    por Gabriel

    Tarde; da

    satisfaz

    o desejo de igualdade. Nâo esqueçamos, por fim,

    0 papd

    inovador da

    técnica que reproduz a desejo da imagem de si, convenida ao mesmo tem

    po cm mercaclo

    ri

    a e cm instrumento de poder.

    Tendo sido par longo periodo Om apanâgio da arÎstocr

    acÎa

    e da

    mais rica burguesia,

    0

    retrato se difunde c toma-se intimo no fina l

    do Antigo Regime; é cntao que uiunfa a miniatura; os pingcntes , os

    medalhoes,

    as

    cobcrturas de caixinh

    as

    de

    pO

    facial ostemam

    os

    rosros

    amad.os. Barbey d'Aurev

    ill

    y enfalÎza corn quanta fervor

    as

    dites da

    Restauraçao retomam esta moda do retrato-j6ia. Para uma dama do bu-

    o

    JEGIiED l

    X l NI

    J

    wfl>uO

    4 3

    A DEMOCRATIUçAO

    DO

    RETRAIO

    o artiJ/a do

    final do &

      0,

    lio ncinado e perlllrbado pela

    inlù,ûdade

    da

    mlilher Iozinha

    como

    al erpeuadouI aOI quail te dirige,

    de/eitt1-te cam

    uleJ tibioI

    dllplamente

    o/

    ertadoI. Ope

    ra

    -te

    enlia, POiro d POIlCO a idenlificafào

    do individuo rom tll cor o;

    l

    dtfllI40

    do

    elpe/ho de corpo inle/

    ra

    eJ/imlim 0 alumo do

    nar

    cùùmo.

    (Djante do cspc: lho, 1890.

    Parù

    ,

    Biblio/eu

    dal

    Artu

    Decoralivt1J.

    " .

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    426

    iJAS17IJOR IiS

    Dù di n" e JeUJ dùcipulo sabem

    exaltar igua/mente Il funfiia materna.

    o eJpaçamento regular do fi/ho

    permite /JO ar/ùfa deJenh4T lima

    piramide. &/a reproduz e alarga

    o ~ y J u m e da

    cn"nolin::

    ou da

    (mquinhaJ,

    qu

    e têm a

    flln fiio

    de disJimular

    e Iimuluneamente

    wgenr os ponontes quodtiJ dG

    geni/ora. (Colepo Sirot-Angel.)

    pouco a pouco a vida cotidiana. Milhôes de rc rratos fotograficos djfundi .

    dos e cuidadosamente

    inseridos

    cm

    albuns impôem normas gestuais que

    renovam a cena privada; ensinam a

    alhar

    corn nOVQS olhos para corpo,

    especialmente para as maos.

    0

    retraw fotografico contribui para esta pro

    pedêutica da postura objedvada pela

    esco

    l

    a

    ao mesmo tempo cm que

    difunde um

    nOVQ

    c6digo perceptivo. A arte de

    sec

    avô, assim como ges

    to de reflexâo do pensador, obedecem a

    panic

    de agora a urna banal en

    cenaçao.

    o

    desejo

    de

    idealizac

    as

    aparências.

    0

    rep6dio ao feio, conforme os

    cânones da pÎntuca oficial, convergem igualmeme para

    0 ordenamemo

    do retrato-foto. As rnultidôes da Exposiçao de 1855 mostram-se fascina

    das pela demonstraçao do retoque. Esta técnica difunde-se ap6s 1860; os

    traços

    do

    rasto

    se

    suavizam; manchas, vermeIhidôes, rugas. verrugas in

    convenientes desaparecem das faces lisas, aureoladas por urna artistÎca de

    licadeza. Até no campo, urna nova imagem da beJeza vern ameaçar as

    noc-

    mas impostas pela cultura tradicional.

    o album de fotografias da familia delirnita a configuraçao da pa

    rentda e conforta a coesao do grupo, entao ameaçada pela evoluçâo eca

    nômica. A Ïrrupçâa do retrata no seia de vastas camadas da sociedade ma

    difica a vÎsâo das idad

    es

    da vida, e portanco a sennmento do tempo. As

    fotos,

    comenta

    Susan Soncag, tambérn coostiruern

    memenlo

    mon'. Gca

    ças a elas, fica mais fâcil imaginar sua pr6pria desapariçao;

    0

    q u ~

    incita

    a lançar mais um olhar sobre os velhos e a reconsiderar a sone que se re

    serva a

    des.

    Esreio da rememoraçâo, a foto renova a nostalgia. Pçla primeira vez,

    a maior parte da populaçao cern a p o s s i b ~ d d e de representar antepassa

    dos desaparecidos e parentes desconhecidos. A juvenrude dos ascenden

    teS

    corn quem

    sc

    convive

    no

    dia-a-dia torna-

    se

    perceptivel. Opera-se

    no

    mesmo processo

    uma

    mudança d,as referências da mem6ria familiar. De

    urna rnaneira geral, a possessào simb61ica de outra pessoa tende a canali

    zar os fluxos semimentais, valoriza a relaçâo visual

    em detrimemo da

    re

    laçào orgânica, modifica

    as

    condiçôes psicologica da ausência. A fota dos

    defuntos ateoua a anguscÎa de sua

    perda

    e concribui para desarmar

    0

    re

    morso causado por seu desaparecimento.

    o

    novo processo favorece por fim a vu lgarizaçao e a comcmplaçâo

    da imagem

    da

    nudez. Tende a modificar

    0

    equilîbrio dos modos

    de

    si

    mulaçao erôrica, a difundir urn nova tempo do desejo; testemunha-o

    0

    prestîgio do nu 1900 . 0 legislador percebeu-o bem depressa: desde

    1850. urna lei profbe a venda de foros obsceoas na via piiblica. Ap6s 1880,

    a foro

    de amador

    suprime 0 intermediario profissional, alivia 0 ritual

    da

    pose, abre de par em par a vida privada para a objetiva, a pa'nir de entao

    avida de imagens întimas.

    1

    i

    Deotco

    do

    cemîtério manifesta-se a mesma vomade de perpetuar·

    se de imprirnir sua marca. Philipe Ariès rclatou

    0

    tfiunfo

    da rumba

    indj·

    vidual e a emecgência do novo culto aos mortos no alvorecer do século

    XIX. Aqui interessa-nos apenas

    0

    epitâfio personalizado, procedimeoto

    também inteiramente nova para a grande maioria da populaçâo; inédito

    apelo à permanência

    da

    lembrança . A l-tisr6ria

    da

    vulgarizaçào neste dis

    curso funerario começa a esboçar-se corn nitidez. Durante a Monarquia

    de )ulbo, multiplicam-se os epitâfios enalrecendo os mérÎtos do esposo,

    do

    pai

    ou

    do cidadao. lnscreve-se sobre a pedra tumular

    0

    avanço da

    pn -

    tldey.

    Mais adiante, a cornplicaçao dos cemitérios construldos e a indus

    trializaçao dos rumulos tendem a apagar aos poucos rodo

    0 d i s c u r ~ o ori,

    ginal e a subsrÎtuf·lo

    par

    estere6tipos que os medalhôes-fotografias in

    crustados na pedra irao individualizar corn felicidade.

    Diversos trabalhas mostram que esta evoluçâa operau-se segundo

    ritmos diferemes e nao deixou de provocar atritas . No cemitério de

    Asnières, obscura aldeia

    do

    Ain,

    0

    primeiro texto runebre 56 surgiu em

    () .ŒGRH)O lx l   Jlw fJ /lO

    A

    PERENIDADE

    DA RECORDAÇ l.O

    A

    fOlogTafia iflsm

    "d

    "

    '10 ilbum

    de

    fomf/it1

    conuglle

    InCOTIIT

    flO

    ùmbronça 0 soltdariulode entre

    427

    os irmlio . Qut1l1do

    0 j,ida

    os

    dispersar,

    0 i n s t a n t i t l ~ o Il'RoTeiecido

    servira

    de SUPOTte do unlimento.

    (ColeçiJo Siro/·Ange

    l)

    .  î

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    428 B  77 REf

    Enqlla11lo , n

    os CU

    I/linos comtruIdos,

    a5

    formulas estueo

    li

    plldas fe

    nde ,

    Il

    5ubJ/iluir os ep

    itôji

    os

    persona/izados de o

    ut

    ro

    ra

    , fi fo ro no

    meda/h30 asugura

    Il

    ,unon a do

    aparincia. &Ia prôficil

    efimerll

    cotlstitui lima dal mais sigllifi

    ca

    lillas

    11Iamfosltlflus do deujo de garantir

    a Mrenidade da maf Ca.

    1847. Em 1856, a villva de um dignatario, mUlto malvisto por seus conc

    i

    dadâos, manda cereac co rn urna balauslrada

    0

    monumento de seu espo-

    50.

    0 gesto provoca um m

    ov

    imnno de hos lilidad

    e; 0

    proprio padre insurge

    sc ao constata r que

    0

    marmore ira conservar a Iembran

    ça

    daquele simples

    cri

    stâo, quando é Impossfvd saber onde jaz exa tamente seu piedoso cria

    dor. Nas pequenas par6quias rurai

    s,

    a ped ra tumular, 0 epitw.o por mui.

    tO tempo continuarào es barrwdo no sentimenw de igualdade. Em

    1840,

    Eugénie de Guéein vê-se obrigado a guardar a pomba branca

    qu

    e, no cen

    tro do cemitério de Andill

    ac.

    celebra a mem6ria de seu irmao Maurice.

    o surgimento do discurso funecario nestas miniisculas par6quias

    é acompanhado pela

    as

    eensâo da dignidade

    post

    mortem:

    0

    comerciame,

    aqui, uma vez [alecido, da-se ares. Inversamente, esta nova permanên

    cia do traço favorece a manutençào, e até a ampliaçâo, do boato desa

    bonador.

    Um fio condutor vincula corn efeito todos os procedimentos ·que

    tcndem a reforçar

    0

    sentimento do eu: a tentaçâo de forjar her6is, a

    hipencofia da vaidade tranqüilizadora. A époea foenece muiras OUtros

    sinais neste senrido, conforme se verifica a ascenso

    da

    meritocracia: a

    împon

    ância atribuîda ao ouadro de hanca, ao ritual das distribuiçôcs

    de prémios, ao dip loma que sc pendu ra na pan

    :

    dc do sal ào uu da sala

    comum; ou ainda

    0

    prestigio da decora ao, () tom hag io ;rafiw da rub rica

    necroJ6gi

    ca.

    Para muitos humildes, sera a

    nova

    emoçào de k r scu nome

    em uma co luna de jornaJ. Qualqucr

    l l l

    pode, agora, sc

    c

    lelllado a ado

    tar a pose de her6i; ainda que scja apenas no seio do

    ci

    rc

    ul

    o familia r. on

    de

    esta nova pretensâo modifica 0 ambienre. Alé ° pr6p rio gcSlO crimi

    nosa traduz lai aspiraçâo. lncitado por leituras

    so

    bre fundadores, no esti-

    10

    de Plutar

    co,

    0 jovem parricida de Aunay-sur-Odo n escreve, coma

    se

    esuvesse orgulhoso, na primeira linha de suas assomb

    rosas

    mem6

    ri as:

    "Eu,

    Pi

    e

    rce

    Rivière, tendo esuangulado minha mae, minha irmà e mtu iemâo .. .

    o

    eeajustamento

    do

    indivîduo

    impôe-se

    corn

    maioe

    ra

    zâo

    às

    autoeÎ

    dad es, que, no inteeioe do espaço publico, passam pouco a pouco do ano

    nimato paea eelaçèies de inteeconhecimcnto. A multidao cada vez ma

    is

    densa e silenciosa que cobee a rua perde sua teatralidade; disso lve-

    sc

    cm

    um

    ageegado de pessoas corn a pensamen to absorvido poc se us intere

    sses

    privados. Compreende-se

    que

    a partie dar se purifiquem os processos de

    idemificaçâo e 0 controle social torne-se peeciso.

    Até

    0

    uiunfo

    da

    Repiiblica

    (1876-1879),

    as técnicas de

    aj

    ustamento

    sâo ainda balbuciames; sua peecariedade ftxa

    os

    limites

    de

    sta

    visâ

    o pa

    n6p tica que se aui bui, sem d6vid':l corn algum exagero, aos delemores

    do poder. 0 Estado civil, secularizado desde 1792, codificado a 28 Plu

    vioso do ano Ill,

    os

    ra:en... CaIIlentos da populaçào e

    as

    listas nominais cs

    tabdecidas a cada cinco anos, as listas cleitorais,

    ce

    nsiciirias aré 18·18 , es

    tc:ndidas ao conjunto da populaçao masculina em março de 1848, c: a se

    guir em seeembro

    de 1851,

    constÎtuem as refcrê

    nc

    ias essenciais do sistema.

    Certas categorias sac adc:mais objeto de procedimemos especiais: os ope

    teoricamente

    su

    je

    e

    os

    à ca

    etei ra desde

    0

    Consulado,

    ca

    n eira que

    des

    pr6prios passarâo a

    ponar

    desde a lei de 22 de

    junh

    a de

    1854,

    para

    grande prejufzo dos patc5es; os militaees; os domésticos, dos quais

    se exi

    ge a apresemaçâo de certîficados emÎ tidos pelos empregadorc s prc:ceden

    tes; as mulheres da vida registradas pela Chefatura de Po llcia ou pela ad

    ministcaçao municipal; as crianças abandonadas às quais sc de e je aui-

    buir um estado civil cuma (Ueela;

    os

    viajantes e, mais especia

    lm

    enrc, os

    elementos Itinerantes e nômadcs, que devem providenciar passapones antes

    de efetuar suas andanças.

    o

    es

    cud

    o dos migrantes de

    limo

    ge

    s,

    assim como 0 dos viajames que

    atravessam 0 departamenro de Indre,

    rno

    sua

    cl

    aramente

    qu

    e a extre

    mada miniicia das exigênci

    as

    é

    acompanh ada, n

    eS

    fe panicular

    co

    mo

    em muifOs ourros, poe uro grande laxismo, para nao dizer pd a mais

    comple ta anarqu ia. 0 n:conhecimento interpessoal e a mcm 6ria visual

    continuarâo por muito taupo a ordenar as list

    as

    de migrantes c: de

    amoricladcs.

    Enu

    etanto, junto corn

    os

    progress

    as

    da alfabc ti zaçâo,

    0

    eec

    ru desc

    imento de todas estas exigências admin islCativas conu ibui para

    dcsenvolver a posse, 0

    uso

    e a decodifi caçào dos

    papéi

    s" . Nova fami

    liaridade que, avivada pelo a.scenso da peatica do COntralO no se io da

    o iI XJ:E

    l(j

    :>n

    INI)lV IJUO

    429

    OS

    LIMITES

    DO PAN6PTICO

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    432

    HA.Î1J/lO/J:.\

    1fao C01ll0 0

    menOI

    dO do

    drJJ

    membrO de In1Ja fomfHa de ",édicol

    preJfigioJOI, em cOll frdparJida

    Adolphe

    Berl/Jlon

    encol//rar;

    a n%riedode

    IIOJ

    esen/6rios do

    ChefolurJ de P

    olicia.

    ToI eomo

    por,1

    nonos an/rop6logos rio filial do

    século - Cesare LDtnbroJO 011

    PoIllline 1imlovJl.:uio, par exemplo -

    o ombienle

    dos

    en"

    minOJOJ

    forma JeU

    labora/

    6rio.

    (

    PariJ

    Milieu tU

    Pol

    icil1. )

    MEDIDAS

    6SSEAS

    EM

    BUSCA DA MARCA

    1' 'OC' .,.   ,, ,

    .

    , • •

    . I ; ~ - -

    - - •

    t ... ..

    __ _

    .

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    .

    ·

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    Il

       

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    _ .. - .: ...._ ._ . _

    1

    -_ . .... -

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    4 4

    RI1mDORfS

    Em selembro de 1894 l França

    eSla aterroriuda par aten/ados

    anarquu/as. Desta tJez a

    bUSCil

    dos indil/ruuas n40 e bau; flpenfls

    nll

    m f 4 0

    Ji folOgrafia ths sUJpeùos,

    difundid nas jronuiraJ, é

    m

    obJt.uu/o

    il

    IIJurp/lftlo da iden/ùiade.

    (Album photogn phiqu

    l::

    d

    es

    individus qui doivent êU

    I

    l'objl::l

    d'uol:: su[V(:il12nc

    ::

    spéciale UX

    frontières. Paru  MIiJeIi

    da poIrcw.

    A

    btfftdlof/agem,

    m i l l dt:

    Uilla

    caminhada, baliza

    da pelus trabalhos de Barrud sobre 0

    sangue

    e 0

    oda "

    individuais, pelas

    invc:stigaçoes

    de

    Ambroise Tardieu , dt: Qué telet e dos membros da Socic

    dade de

    t\lllropo logia,

    reinara

    sem

    ri

    vais

    :né

    0

    inkio

    do

    séçu lv

    xx.

    Nes

    te intcrvalo, é

    aperf

    eiçoada por seu inventor.

    que

    decidc acresce

    ntar

    os

    si na is parr iculares à idcntificaçao

    ddin

    ida pel

    as

    medidas ôsseas, a

    juntan-

    do mais tarde a fotografia ao bol

    ct

    im a

    mr

    opomécri

    co.

    Na vcrdade, a

    bertillonagcm naDé

    mais que urna Clapa. Oesde a

    inicio do século XX triunfa a idcntificaçâo pelas marc

    as

    corporais e mais

    precisamente pel

    as împre:ssôt:s

    digitais.

    Es

    ta

    vdha de

    sco

    ben

    a chin

    es

    a, uti

    lizada

    cm

    Be:nga la pela adminisnaçâo ing

    lc

    sa,

    é

    apropri

    ada

    por

    Galton

    que

    sahe:

    ra

    convenccr Alphonse Bertillon a integrar

    0

    nova da

    do

    ao OOle

    {im antropométrico.

    Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, os procedimcl1tos destina·

    dos aos ddinqüe

    nt es

    e crimÎnosos ultrapassam 0

    qua

    dro penitenciario.

    A lei de 16 de julho de 1912 os impôe ta

    mb

    érn aos nômades e itineran

    tes, inclusive comerciante:s e indust

    ri

    ais

    do

    exterior, a posse de urna

    car

    ta de identidadc antropornétrÎca'

    .

    Nda figuram

    0 nome

    , sobrenome.

    data

    e

    lo

    cal de nascimento, ftliaçâo, descriçâo. Împressôes digitais e a foto

    do

    individuo; reconheceremos nela a antepassada de nossa carteira de iden

    tid ade.

    nova amea·ça

    que

    tais procedimentos

    ruem

    pesar sobre

    0

    segre

    do

    da vida privada começ:a a inquieta r.

    Qua

    lldo a questâo alcança seu apo·

    geu, a m ~ o p o m t r i desperra a ira dos dreyfusianos e alime:ma um vivo

    debate. Entretanto, e revela-se aqui a mesma ansiedade,

    0

    afluxo de queixas

    obriga

    0

    prefeito Lépine a deixar

    de

    exigir das proprierari

    as

    de bordéis

    . a fotografia d

    as

    mulh

    er

    es

    que freqüemam seus

    estabde

    cimemos. Prova

    veImente seria possivel distinguir

    mu

    Îtos outras sinais desra n

    ova

    suscetÎ

    bilidadc; Philipe Boutry mosrra também, desde 1860. cm vârias par6quias

    do

    Ain ,

    uma

    intolerância até entâo desconhecida

    em

    reIaçâo a

    qualquer

    violaçâo de atos pessoais por parte dos p regadores. Os pastores, apegados

    à batida imagem

    da

    " e oqüente profundcza dos abu sos individuai

    s ,

    sâo

    aos

    pou

    cos obrigados a levar em conta 0 nova espaço privado da vida mo-

    ral baseada

    na autonom

    ia

    da

    pessoa.

    É f:icil observ-.d.r que , em todas as esferas menci0nadas, urna mudan·

    ça

    se

    esboça em torno de 1860

    p::.ra

    ce inir-se

    par

    volta

    de

    1880 . Em resu

    ma,

    ope

    ra-se urna transformaçâo no

    momento

    do triunfo

    da

    Republica.

    o

    movimento

    de

    individuaIizaçâo

    qu

    e anima

    0

    século culmina,

    ao

    passa

    que

    0

    neokamianismo inspira os dirigemes c

    que:

    Paste

    ur

    impôe a exis·

    tên

    t:

    ia do micr6bio. pcnurbador do organismo; este modelo biolôgi

    co,

    apli.

    cado ao campo

    soc

    ial, estabelccc

    que 0

    controle

    do

    indiv

    iduo

    é essencial

    à

    so

    brevivênCla

    do

    grupo.

    Ao mesmo tempo.

    0

    temor da violaçâo

    do

    cu e

    se

    u segrcdo en

    gendra

    0

    famascÎco dêsejo de decifnl.r a pe rsonalidade que sc oculta e

    de Înt romcter·se na iulimidade dos outras;

    muda

    preocupaçâo

    que

    cm·

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    4 6 BAmOORES

    A

    lM

    E

    o

    CO

    RPO

    basa

    0

    csnobismo

    do

    incognilO, .ui\a a

    lcma

    çao da cana anônima, com

    ri-

    bui para

    0

    prcstigio

    do

    voycurismo

    do

    fim -dc-sé

    cu

    l

    o,

    cxplica a cmcrgên

    cia da p crsonagcm

    do

    detctivc em busca de pistas . Ma is ainda

    que

    Conan

    Doyle, é

    G

    aslO

    O

    Leroux que restcmunha a nova sensibil idade e que raz

    nao da ident ificaçào, mas da prop

    ri

    a identidade do cu lpado, e de seu dis

    farce, a essência da açâo pol

    iciaJ.

    S

    ME Ç S

    DO CORPO

    È

    DUtil temar

    compreende r

    0

    se

    mimemo

    de imimidade

    que

    orien

    ta a vida privada

    no

    sécu

    Jo

    XIX

    sem um

    a re

    fl

    exâo preliminar sobre esta

    permanente dicotomia entre alma e corpo que gera

    as

    atitudes de entâo.

    As

    modalidades desta espantosa partilha variarn evidentemente confor

    me a extraçâo social, a nlvd cultural e 0 grau de fervor rdigioso. Por ou

    tra lado, urna sedimemaçào de ceenças nos subsrratos pcofuudos de cada

    indivlduo assim coma urna incessante c

    ic

    cuJaçao das mod as e compona

    mentos entre as diferentes camadas da populaçao semeiam confusâo mes

    mo em

    meio às mais rigorosas anâ

    li

    ses. Assim, é cooveniente nâo perder

    de

    vi

    sta

    0

    imeincado dos sistemas

    de re

    peesemaçâo que nos,

    po

    r razôcs

    didâticas, Îremos diferenciae aetificialmente.

    Muitos ernologos, enue os quais Françoise I.oux, evideociaram a coc

    rência e 0

    dommio

    do corpo no seio da soc iedade tradiciooaJ. Muito

    curiosamente, esta parece ignorar a di

    co

    tomia

    à

    qual aludi. Os peo

    vér-

    bios coletados por folcloristas cm fins do século XIX reflerem uma visâo

    laicizada da existência, que privilegia

    0

    oegânico.

    Ddin

    eiam urna moral

    da moderaçâo, constatacn que

    0

    repiidio à posiçâo mediana,

    0

    respeito

    ao

    jUStO

    meio favorecem a sailde e buscam, aqui, um bem-estar mais refi

    nado

    que 0

    prazer.

    Es

    ta ética brota de um

    ca

    mpesinato laborioso,

    que

    vaIociza os fcuros

    do

    esforço e desconfia

    do

    s pobres, fermemadores de vio-

    lências e desordens. Mentalidade impeegnada de pe

    ss

    imismo e resigna

    çao,

    que mantém

    uma obed

    ieme

    escuta das mensagens

    do

    corpo, basea

    da na convicçâo de que este encontra-se es treitamente ligado à ordem cos-

    mica, vegetal e animal, por toda uma sé

    ri

    e de correspondências simbOlicas.

    A atençâo dcdicada às fases da lua, indicadoe cdeste do cielo feminino,

    a ansiosa auscultaçao do discurso do galinh eiro quando se apresenta

    0

    pe

    cig

    o

    da mone a mediçâo do crescÎmemo da ârvore plamada 00 dia do

    n

    asc

    imento

    do

    filho, as proibiçôes

    que

    ceccam a gestào dos dejews

    do

    or

    ganismo,

    pla

    centa, fragmentos de uoh

    15 ou dent

    e caldo, atestam

    0

    ca

    ter obsessivo desus ceenç

    as

    aecaicas .

    Elas

    sao acompanhadas poe urna oor

    ma higi ênica

    que admite 0

    born des

    empenh

    o das funçoes nattirais, talera

    o arcoto,

    0

    peido,

    0

    espi

    rco, 0

    suor e os sioais

    do

    desejo, ass

    ume

    sem red a

    mar os estigmas da decadência.

    É

    um

    si

    stem a de opinioes e atitudes que

    define uma frente de resÎstência à difusâo da higiene acadêmica e que

    se insinua.

    em

    pérfidos comra-ataques, até no imerioe

    b u r ~ u ê s

    graças

    à

    cumplicidade das amas ou criadas . Nâo ha motivo para espaoto quan

    do se eccncontram   paru

    cu

    larmente imeriorizadas pela di te, gumas de:stas

    normas que af}oram a parti r das profuodezas sociais, cm peneita harmo

    nia corn

    0

    higienismo cotidiano de médicos bonachôes, panidârios. tam

    bém d es, da posiçâo mediana.

    No

    polo oposto às crenças antigas inscreve-se a permanência e,

    em

    ccnas esferas, a tendência a acentuae a mensagem c

    ri

    stà baseada no ama

    gonismo entre a alma e

    0

    co rpo. Desdenhando os limites dogma ti cos do

    desprezo pela carne, desenhados pelo misté

    ri

    o

    da

    Encaroaçao,

    0

    mistério

    da Eucaristia e a fé na R

    ess

    urreiçâo,

    uma

    visao pessimista, refinada

    pdos

    Padees da Igreja,

    notadameme

    Tertuliano, e retomada tanto por Bossuet

    como pelos jansenistas, re

    duz

    os despojos

    monais,

    fururo pasto

    do

    s ver-

    m

    es a urna provisoria peisâo. 0 corpo,

    que 0

    padre de

    Aes

    nuoca chama

    senâo de 0 cadâver", co mpromete a alma corn os instintos e impede-a

    de dcvar-se ru mo à parria celeste. Assim se jusrifica a guerra permanente

    movid a contra os anseios, os impulsos orgânicos;

    se

    a alma nao modera

    o corpo, este, tal coma

    0

    deagao, hâ de Ievamar- se para avassalâ-Ia. Nâo

    ex

    iste

    compeomisso

    pOSSIVel. Este desdobramemo,

    qu

    ase esquizofrênico,

    embasa os componamemos ascéticos_

    Alimentadas pelo crescÏmemo dos efetivos congregacionistas,

    pda

    mulciplicaçao dos pensionaws

    ed

    igiosos

    e

    das oedens terceiras, ta is prao

    cas, oeiundas de uro passado longlnquo, nâo c

    ess

    am de cvoluir ao longo

    do

    5

    ulo

    XIX.

    Até a alvorada do Segundo

    Imp

    ério sobrevive um rude

    ascetismo, compa

    nh

    eiro do rigorismo

    qu

    e persiste. Esta violência

    harmoniza-se corn a imagem

    do

    Cristo no G6lgota, e piedosos gravadores

    se comprazem eotào em fazer suas feeidas venerem sangue cm terriveis

    jacos_

    A partir de meados do século declinam as monÛtcaçôes, pouco ade

    qu adas à feminizaçao da prâtica. A Igreja, que investe na mulher para

    levar a born termo sua reconquista, deve levar

    cm

    conta

    0

    discueso médi

    co que sublinha à saciedade a fragilidade das filhas de Maria.

    Mil

    peque

    nas monificaçôes, mais adaptadas ao Îtmo dos tempos femininos. subs

    tituem

    0

    sangue e a dor. lnterioriza-se assim a eenun cia a

    si

    mesmo no

    cotidiano e inaugura-se a comabilidade dos pequenos sacrificios.

    Os disct'rsDS acadêmicos revdam-se mais Înovadores. Em fins do sé

    cu

    la XVIII, tem um pape decisivo neste dominio a difusao na França dos

    esccitos de Georg Stahl e sua influência sobre

    0

    pensameDto médico. Quer

    se

    prodacnem part idârios

    do

    vitalismo montpe lieriano,

    do

    anicnismo ou

    do organicismo,

    os

    médicos da épata, cm sua maiocia, noradamente aque

    les que, ta l como Roussel,

    daboraram 0

    discurso sobre a especificidade

    do sexo feminino, al inham-se corn 0 dogma da supeemacia da alma sobre

    o corpo. A alma, guia, det emo ra do segredo da vocaçao do corpo, dirige

    sua efetivaçâo. Nâo sao portamo as formas da anatomia, Dem os traços

    especificos da fisi ologia

    da

    mulher

    que

    deteeminam seu carater

    e

    justifi

    cam sua missao maternai; é a alma

    que

    modela simultaneacnente

    0

    corpo

    o SEGRED

    O DO N l vf  u 43ï

    : ; 1 : :

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    440 BM11I>O /ŒS

    o

    LEITO

    E 0

    QUAR10

    INDIVIDUA I$

    progressiva identificaçào do sujciro corn

    0

    co

    rpo; 0

    que implica atenua

    mente do desprezo pelo orgâni

    co,

    pela animaJidad

    e.

    Pouco a pouco instaJa

    se a

    so

     i dào dos apetil

    es,

    semidos como sendo os da pr6p

    ri

    a pessoa, e nào

    mais coma expressao das exigências de um Outro, a um 50 tem p9 ame a

    çador e fascinante.

    0

    anacronismo psicol6gico espera 0 historiador desa

    tento a esta mutaçào do estatUlO do desej

    o.

    o

    século X X assistiu

    à

    continu idade do p

    roccsso

    dc desamomoa

    mcnto dos corpos, inaugurado nos espaços

    co

    lcuvos por volta do final do

    Antigo Regime.

    0

    lei ta individuaJ, velha norma dos convemos,

    tom

    ou

    se

    simples precauçao sanÎtaria, especialmente nos hospitais.

    De

    fata,

    c o ~

    mo bem demonstrou Olivier Faure, a peop6sito do exemplo lionés, a pri

    vatizaçào do espaço reservado ao enfe rmo demorara a trjunfar nestes esta

    beleeimentos, pois contrariava os ritOS da sociabiJidade poputar

    que

    se

    r

    ec

    onstituia espontaneament

    e. 0

    essencial no que diz r

    es

    peito ao nosso

    objetivo é sobretudo a transferência desta preocupaçào p"ra a espaço p

    ri

    vado;

    um processo acelerado pela epidemia de c6le ra de 1832, que enfa

    tizou tardiamente os mal

    es

    do amonroamento e da promiscuidade

    nantes no seio

    da

    habj[açào

    popu

    Jar.

    Estimulados pelas descobertas de Lavoisier e pelo n

    ov

    o emendîmen-

    ta do mecanismo da respiraçâo, pe rsuadidos dos

    benef1c

    ios de urna resee

    va

    de oxigênio, os médicos luram durante todo 0 sécu

    lo

    contra 0 Idto co

    JetÎvo e a promiscuid ade. Pou

    co

    a pouco serao ouv idos. Seria impossivel

    superestimar as conseqüências de seu dif1ci l triù.nfo . A nova solidâo do

    leiro individual conforra 0 sentimemo da pessoa, favarece sua autonomia;

    facilita 0 desabrochar do mon610go

    im

    erior; as moda

    li

    dadç:s da prece, as

    formas do devaneio,

    as

    condiçôes do adorf lecer e do despenar,

    0

    desen

    vo

    lvimemo do sonho,

    e

    do pesadelo, rudo é transtornado. Ao passo que

    se atenua

    0

    ealor da fraternidade e se desenvo

    lv

    e na criança a exigência

    da boneca ou da confortadora mao .materna. Os médicos 0 dep loram: 0

    p:-azer solitario Bea favor

    ec

    id

    o.

    '

    No seio da pequena burguesia, pelo menos, avança 0 quarto indivi

    dua l, objeto da solicirude dos higienistas que ditam os vo lumes, aconse

    lharn a e1iminaçâo das dom

    és

    ticas e

    da

    coupa de cama suja.

    0

    quarto

    de

    uma

    moça, transfonnado em templo de sua vida p

    ri

    vada, enche

    -sc de sUn

    bolos; confunde-se corn a personalidade da ocupante, prova sua autono

    mia.

    0

    pcqueno oratorio no ângulo, a gaiola do passarinho, 0 vasa das

    flo

    res, 0

    pape de parede que imita

    0

    tecido deJouy, a escrivaninha que

    encerra

    0

    â1bum e a coleçao de canas intim

    as.

    talvez a bibli9teca. comr.i

    buem para definir a imagem de Césa

    ri

    ne Biroueau ou Henriette .Gérard,

    e mais ainda a de Eugénie de Guéri n, cujo d iat io emoa um interminavel

    hino ao prazer

    de

    ter seu quartinho , igualmeme celebrado por a r o } j ~

    ne Brame.

    '1

    o

    SliCIŒ/ O IJ J n·mwfDllo 44

    "

    ri :

    I l

    '

    . 1·

    Il

    h

    . l

    .

    .

    , 1

    l ,

    j

    "" '

    V .',) 1

    No lj1lflrlO

    JI1/ur.:uIo

    de objelos,

    simb s

    de seUl prdZeres, elta

    burgUellI de/eila·Je cam sua friorenta

    solirJâo. Ner Il épocl1,

    Il edaçiio

    dos/ocuù de infimidade cons/ilui pllnl

    muitos umo I1grl1divel nOl/idade.

    Pllni,

    Bibliofeca

    daI

    Arlel

    DeCQrativuJ. )

    illesmo TIll

    Salp

    émere, este inJerno

    das

    mu/huer, In unft o

    /ûlo

    indi ùlllai e eJbofu-se Il pril/l1tiz

    l1flJ

    o

    do

    t:Jpayo.

    (Albut

    Morand,

    la a l p ê Paris, MUIeu

    da

    ÂJsutêncùl Nb/ica.)

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    13/42

    442

    H.H11IXlh/ .

    l HJGIENE

    INTIMA

    Aqui l lame/(: $e,. e de pretexto

    pl1r.z exalla;40 do

    co

    rpo

    dll

    mu/hu

    C

    M};

    perft

    ira

    depi/

    Ilfd

    o

    i

    apena;

    w m'encio

    ntJ

    /.

    0

    hùron;'dor

    I1m

    ericano Peter

    G J

    ;ub/inM com

    11lz0

    0 0 pape d

    e$e

    mpenhado pela

    contemp

    lo{iJ

    o de o

    br.:

    ; de orte

    na

    educ

    a{ii

    o dO$ Jenfidol d" jUlienlude

    bUfEuua. (Benj.zmitt-

    Eu

    gène

    Fi

    che/'

    u l h ~ t n:i.

    t O i k t ~

    1891 . PanJ,

    Bibliotua Nac1onal. )

    A idîlica mansarda da cosrureiri nha, cujo bcm-componado ambienrc

    é atestado de vinude, constirui 0 avatar plebeu do mode l

    o.

    A ob rigato

    riedadc de " um quarto para cada um" impoe-se mesmo n

    as

    casas de to

    lcrâncÎa

    fi scal

    izadas pela polîcia de costumes. No ca

    mp

    o, a

    int

    imidade

    de um espaço conjugal cxplicita

    -s

    e pouco a pouco corn a instalaçao de

    coninas. de

    bi

    ombos, até corn a co nstruçao de sumarios tabique

    s

    Quan

    do 0 dono da casa decide passa -la a alguém, desenvolvc sc: 0 uso de reservar

    se

    um quano no conuato de doaçâo; de garante assÎm a privacizaçlio do

    espaço cm que deve passar

    0 re

    sto de sua existência.

    Paraldameme, a w:sceme intimidade dos locais de defccaçao favo

    rece a busca

    do

    mon6

    10

    go Îm eri

    or

    Nos im6veis populaces a passe da chave

    das

    lauin

    as inaugura esta familiaridade do excremento,

    que

    constitui um

    d emenro nlio negligenci a

    vd

    do avanço da pn'tlocy, Quando, em torno de

    1900, difunde-se 0 sanitârio,

    e

    mais tarde 0 banhcir

    o

    dotado de um soli

    do ferrolh

    o. 0

    corpo nu pode começar a experimemar sua mobilid ade a

    sa

    l

    vo

    de qua lquer intromissao.

    Es

    te espaço, dessensibilizado ao maximo,

    transforma

    -se

    no templo cleon

    ond

    decent do inventario e da contempl

    a

    çào de

    si

    pr6prio.

    Os progressos da higieoe

    int

    ima

    efe:tivamc:

    nte r

    evo

    luci

    onam

    a vida

    privada e as condiçoes da funçao. MGltiplos fatores contribuem, desde os

    prim6rdios do s&ul

    o

    para aceoroac as antigas cxigências de limpeza, que

    germinaram no interior do espaço dos convemos, Tanta a descoberta dos

    mecaoismos

    da

    transpiraçlio como

    0

    grande sucesso da teoria infecciorus

    ta levam a

    se

    acenruar os perigos da

    ob

    struçao dos paros pela sujeÎra,

    par.

    radora de miasmas. Um pouco mais tarde,

    0

    fon aJecimento

    do

    conceito

    de "depura çao" impOe uma vigilante higiene dos' emunctorios do or

    ganismo. A ceconhecida influênc

    Îa

    do fisico sobre a moral valoriza

    e

    re

    comenda 0 limp

    o

    Navas cxigências senstveÎs rejuvenescem a civilidade;

    a acentuada delicadeza das dites, 0 desejo de manter à distância 0 dejeto

    orgânico,

    que

    lembra a animalidade,

    0

    pecado, a mort

    e.

    em resumo, os

    cuidados

    de

    purificaçào aceleram

    0

    progresso. Este é cstimuJado igua

    mente pela vantade de distinguir-se

    do

    im

    un

    do zé-povinho. Tudo con·

    tribui para estabdecer uro n

    ovo

    esraroto do desejo sexual e da repulsâ

    o

    que por seu turno aviva 0 impul

    so

    d

    as

    p'"'iticas higiênicas.

    Porém, cm contrapanida, muitaS crenças incitam à pru dênc ia . A

    agua, cujos efeitos sobre

    0

    115ico e a moraJ sào superes[Îmados, reclama

    p recauçôes. Normas exrremamente estritas reg

    ul

    am a pcitica

    do

    banho

    conforme

    0

    sexo. a idade , 0 temperame

    nt

    o e a profissào. A preocupaçâo

    de evÎtar a languidez, a complacência ,

    0

    olhar para

    si

    , na

    ve

    rdade a mas

    rurbaçào. limita a extensào de t

    ais

    praric

    as

    . A rd açao na época firmemente

    estabelec ida ent re âgua e estcrilidade dificuha 0 avanço da higiene inti

    ma da mulher.

    Entretamo, 0 progressa esgueira.se aos poucos, das classes supe

    riores para a

    peq

    uena burguesia. Os empregados domésticos

    co

    ntribu em

    o

    SfO::ElJU DO J

    NDWfDl O 44

    .,

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    446

    IMsnDORES

    Ir AMEAÇA

    DO

    DESE)O

    ]impamentc sua sapa; no cnt'anro, na

    casa

    da vizinha, Fifille Migneboeuf,

    ordena-se que a cfiança enxugue 0 sanguc mcnstrual espalhado pelas la

    jes da sala

    comum.

    A pr6pria t'scola rc.:publicana,

    taO

    exallada

    por

    sua açâo

    higiênica e pela rimai das visitas de limpcza, nâo rem ambiçôes; para

    convencec-se basta celer atemamente Le tour de France par

    deux

    enfonls

    (A

    volta

    à França por dois meninas]. A batalha dccisiva efava-se cm torno

    do usa do

    pente

    e do aprendizado da disciplina da defecaçâo. 0 garora

    deve deixar

    de

    pemear-se corn os dcdos; ca

    menina, aprendcr

    a manter

    limpa

    sua calcinha.

    Por volta do inkio do século

    xx,

    contudo, urna virada se deJineia:

    o progressa, limicado, do

    equipamcmo

    e

    do

    mobiliârio sanitiirios, a

    10-

    f1uência da clucha das sociedades esponivas, os esforços da nova adminis

    traçao da higiene publica, a crescente utilizaçao dos hotéis de turismo e

    dos bordéis de luxo ajudam a

    difundir

    a bacia e 0 jarro d'ligua; mas sera

    preciso esperar pelo period'J entreguerras para que se difunda

    0

    ferro es

    maltado; e pelos anos 50, a banalizaçâo da ducha e do banheiro, para

    que

    a revoluçâo higiénica se opere em

    prafundidade.

    É no seio do espaço privado

    que

    0 individuo se prepara para afron

    tar

    0 olhar dos outras; ali configura-se sua apresentaçâo, em funçâo das'

    imagens sociais do corpo. Também neste d omÎnio verrncou-se uma revo

    luçao. 0 século XIX elabora e

    em

    seguida

    impôe

    uma esrratégia da apa

    rência, um sÎstema

    de

    convençôes e ritas precisos que nao visam senao

    a esfera privada. Depois opera-se 0 lento enfraquecimento desra recente

    especificidade, corn base

    na

    distinçâo hipertrofiada entre

    0

    dentro

    e

    0

    fo

    ra.

    Assim, ao cabo de décadas, a camisola de

    dormir

    deixa aos poucos

    de ser toJerada fora do quarto. Tornou -se 0 simbolo de uma incimidade

    erôtica e a

    menor

    alusâo a ela, mesmo implîcita, seria ja entao inconve

    niente; mais ainda uma vez que a camÎsûla conjugal tende a distinguir-se

    da

    simplicidade juvenil. Toda uma gama

    de déshabillés

    compôe 0 guarda

    roupa matinal, no quai uma mulher decorosa nao sera vista par estranho

    algum, a menos que seja scu amame; uma exigência

    de

    modésria espica

    çada pelo progressivo refinamemo destas vestes e pela visibilidade cada

    vez maior das roupas intimas. 0 Mas enldo

    niio

    passeies

    Ioda

    nua de fey-

    deau nao deve sec t ''llado ao pé da leua.

    D

    mesma maneira, em sua

    casa uma

    mulher

    circula corn os cabelos solcos; no espaço pûblico, urn

    tai penteado designaria a arrumadeira .. ou a prostituta. Tais normas en

    tram no sistema global

    de

    freios que contribui

    simultaneamente

    para li

    mitar

    0

    acesso

    da

    mulher

    à

    cena pûblica

    e

    para dar so1enidade ao seu apa

    recimento. A distÎnçao emre 0 dentro e a fora rambém nao poupa a po

    pulaçao masculina; a vestimenra adotada pelo parisiense em sua casa nao

    Ihe permitiria afromar a rua.

    Outra fato histôrÎco renova entao as condutas privadas: 0 inaudi

    te sucesso da lingerie. A extrema sofisricaçao da vestimema invisivel

    valoriz:l a n1ldez, dando-lhe maior profundidade. Jamais, observa Phi-

    l

    1

    lippe Perror,

    0

    corpo feminino

    foi

    tao cscondido como cnuc 1830 c

    1914. Ap6s a combioaçâo, 0 calçao propaga-se irresis tivehnente . Usado

    primeiro pela menina, vence sua causa junte às mulhcres adultas corn

    o triunfo da crinolina, 'ou seja, no iolcio do Segundo Império. Em 1880,

    seu uso é imperativo, ao menos na burguesia . Entretanto,

    0

    corpete re

    sisre às violentas ofensivas empreendidas contra

    de

    pelo corpo médi

    co.

    A amarraçao à preguiçosa permire seu uso autônomo; deixa

    que

    a mulher se arrume sozinha, 6 que incremema sua margem de manobra

    amorosa.

    No final do século a riqueza, até emao desconhecida, da renda

    e dos bordados acompanba a hipemofia

    da

    lingerie.

    Jamais

    ficarao tao

    evidentes os efeitos perversos do pudor; enquanto se inultiplicam os

    estagias do despir-se, os impacientes dedos masculinos devem suplantar

    obstaculos de uma gama cada vez maior de laços, colcheres e botôcs.

    1àmanha

    acumulaçâo er6rica, que contribui para renovar a mitologia

    libidinosa e cuja represenraçao grâfica continua a ser

    um

    rabu, exceto

    na caricatura, difunde-sc com extrema rapidez - mais depressa

    que

    a

    higiene em todas as classes da sociedade. Muito em breve, até 0 jo

    vern campônio sedutor deverâ aprender a haver-se corn inesperados

    obsrâculos.

    Seria convenienre refletir sobre 0 que signrnca a aceitaçâo destes re

    finados complicadores, cm harmonia corn a

    perturbadora

    hipertrofia

    do

    imaginario er6rico que traduzem, no seio da burguesia, a ânsia de cobrir

    se, a obsessâo

    da

    capa, do estojo c do cadarço.

    0

    desejo de conservaçao,

    o cuidado

    de

    p r o t

    r - ~

    0 medo da castraçâo, a permanente lembrança

    '

    da

    ameaça do desejo realizam aqui

    um

    neur6tÎco encontro.

    Camo

    entao admirar-se corn

    0

    ascenso deste fetichismo, descrito e

    codificado por Binet e Krafft-Ebing, no final do século, mas cujos sinto

    mas ja tÎnham sida minuciosamenre analisados

    por

    Zola, Huysmans e Mau

    passanr? A mistica do talhe e das curvas, a fixaçâo do desejo nos sedosos

    arredondados do colo, 0 valor er6cico do

    e do couro das borinas, 0 de

    sejo de

    conar

    a cabeleira feminina para respirar à vontade rornaram-se

    fatos histôricos, assim como 0 fetichismo do avental, simbolo de intimi

    dade que parece autorizar rodos os atrevimentos. A lingerie, onde v o

    inscrevcr-se os traços

    da

    sexualidade, da eofermidade,

    alé

    do crime, adora

    um discurso comprometedor ;

    nde

    se ap6ia 0 cumor elaborado pelos cria

    dos e logo amplificado pelas Javadeiras. A lavadeira do castelo sabe

    de

    muita coisa; desfruta na aldeia do .prestigio da mu lher que conhcce os

    segredos das belas coupas intimas.

    [,enero do espaço privado desenvolve-se também a toalere que

    prepara a apariçao

    na

    cena publica.

    0 ri

    tuai deste labor inutil, par

    muito

    tempo

    confinado à

    dite,

    difunde-se

    bruralmente

    entre 1880 e

    1910. Aiguns traços principais 0 caracrerizam: para começar é urn da -

     ) SEGRE O

    DO

    fNDfvfDUO 44 ï

    o corpete lem por missilo Jubliflhar

    as

    formJS

    fominimn.

    Na

    jo em

    de silhue

    tlllJintia

    etbe/lIl, iUentua

    l Cllroa

    da l n ~

    e

    do Jeio.

    Contn'but; sem demaniuJa

    indiscripo,

    P lT l e"ùknCÜlr

    0 dole

    ettético. Itq:ti.

    tonludo Um4

    Ilmarraç40

    à

    pregyifOSa'; bOJlIlnte

    frouxo,

    "oIon'zondo

    l

    grlJf4

    do geslo,

    e ilo a (1ulénfÎca tortura que mOfd

    Je

    arrisca

    sofrer qUllndo chegor

    a

    horo

    do =17JUJto e

    da

    motemidade.

    (Eug ène Vincent Vitiol, Moça do

    corpctc:

    toSll. Paris, MUJeu

    de Luxembourg.)

    AS ESTRATÉG1AS

    DA

    APARÊNClA

  • 8/17/2019 alain corbin - o segredo do individuo.pdf

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    4

    48

    MS71IXJREJ

    N o

    fi

    nal do Jéculo, li lIledidJ q ue

    se d t/ 1f 1 a d t: lazer do l J i n l O

    do corpo orùl. dt/fm de ·se I/m

    eXiJ

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    vo " Irobalbo dal Up

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    réII(ÙI"

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    Perro/) , aD quaI

    l pe queno·burgueJ  1 ,

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    criada, delle l ubm eter-se an' u

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    do dia imp 6e url/a p en 1(1/1c  Ie

    ad

    eqtluf40 dOJ e

    lu l

    u tllo do

    guarda-roupa; CU O cOTllrt

    in

    o

    a

    co

    ,,[us40 /r.ms[o

    nfllJr1(1 CI)

    1f

    du nas/ada e idêllci 1 0

    upafO

    int ima

    er  bal lidor do Je(1/ro IOcial (Colefilo

    Siro / ,Allgel.)

    I IIJ

    lWiI

    riss imo dimo

    rfi

    smo sexual quc rcsuha cm salicntar a difcrcnciac;ao dos

    papéis A mu lh

     

    r lem

    0

    monopôl io do pcrfumc. da

    pimura

    . da cor, da

    sedosidade, da renda e sobrerudo de urna tOrturante body sculpture que

    a coloca dcsde

    0

    infcio acima de qualquer suspeita de trabalho. Tem a

    funçâo de

    se

    r a insignia

    do

    horncm condenado

    à

    atividadc, ou sc

    ja

    , à

    ves-

    timenta negra ou cinzenta, cm forma de tubo,

    que

    faz Baudelaire bradar

    qne

    este é um sexo de luto, As pr6prias roupas intimas masculinas care

    cern de refinarnemo, 0 homem do século

    XIX

    nâo se orgulha de seu cor

    po,

    exceto de seus pêlos. Enquanto as ondas da cabeleira feminina fee

    qüentam

    0

    modem style e a ondulaçâo Marcel faz furor. propagada

    pelos cabeJeireiros para damas

    que

    começam a surgir. outros proflSSionais

    nâo propôem menos de quinze a vinte modelas de bigodes, barbas e suiças,

    o

    que se

    investe nestas modas nào é nada insignificante; sua his

    tôria inaugura a difusâo de um novo escilo de vida priY

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    17/42

    o

    PUDOR

    E

    Il VERGONHA

    E n q ~ J n J 0

    mo  im

    t:

    I1Jo

    operin

    o

    chaf Ul l J 

    Il clerical in ju

    nf

    0 do

    repouJo dominical,

    0 n Iu  l

    do

    PIlJJeiO

    por mllilo tempo

    co

    nfinado

    nll b1ltgue

    sia,

    propaga·

    Je

    bruscllmenU no

    final

    do l

    ieu o.

    É

    es/imu

    lado

    pela pro/angon/enta

    do lempo /ivre e pela du ejo

    de

    pllrtitip flr

    do des

    fi

    le de

    trlljes

    que emba,.uho os ni

    ei

    J so

    àa

    is e

    p ermile

    0

    Jonho do conlolo

    eftm

    ero.

    (Henri Ellenepo

    el, Pa.ssc io de

    domingo, 1899. Liège, Mus

    eu de

    Belas

    ArteJ.)

    ras cançôes de 1900 registram esta mutaçâo simbolizada aioda pela surgi

    menta do moço de recados, longfnquo descendente da costureirinha

    gnselte.

    No século XIX 0 pudor e a vergonha pretendem

    regcc

    os campana-

    mentas. Por tras destes termas ocutta-se

    um duplo

    sentimento: de

    um

    lado.

    0

    m,do

    de ver

    0

    Omra -

    0

    corpo - exprimir-se, de permitir

    que

    o animal panha as manguinhas'

    fora; de omro, 0 temor de que 0 segre

    do

    intimo

    seja violado pela indiscriçâo,

    0

    desejo atiçado

    por

    todas

    as

    pre

    cauçôes destinadas a mascarar tamanho tesouro. 0 primei ro sentime nto

    da lugar à conrençâo, ou seja, a preocupaçâo de evitar qualquer manifes

    taçâo orgânica suscetivd de recordar

    que 0

    corpo existe. Richacd Sennett

    evoca a prop6sito a doença vecde , coostipaçâo provocada nas mulheres

    pelo receio de peidar em pûblico. Os médicos estabeJecem 0 quadro c1i-

    oico da eceutofobia , pudoc exacecbado. m ocbido pavoc de nâo poder

    imperur 0 ruboc de subir

    às

    faces. Do segundo

    sentimemo

    deciva , poc

    exemplo, a recusa do espéculo, cujo emprego permanece por mu ito tem

    po identificado corn

    um estupro

    médico ;

    no

    final do século, os aboli

    cionistaS

    continuam

    a empcega r 0 argumento em sua lura contra a prosti

    tuiçâo regulamentada. 0 rnesmo tipo de ansiedacle acarreta nas mulhe-

    ce

    s 0

    mal

    branco , cecusa em sair po r medo de

    se

    c espiada por de sco-

    nhecidos.

    Esta

    dupla

    pceocupaçâo instiga a exigência

    do

    porte ,. modesto ,

    que

    inspira em especial a pedagogia das congregaçôes femininas. Esta visa em

    pcimeiro lugac ceduzic a vivacidade das crianças. A quebra do citmo dos

    impulsos conjuga-se aqu i corn a vontade de estancar as fontes de emoçao

    e restcingic os assamos

    da

    sensualidade.Ja

    que

    os sentidos sao semelhan

    tes a

    ponas

    aberras para

    0

    demônio, é

    pceciso

    ensinar a pcudência, ins

    truir a juvenrude paca que ocupe pecmanentemente as mâos, ceceie seu

    pcoprio olha

    r

    saiba falar

    em

    voz baixa

    e

    melbor

    ainda, compenetce-se

    das virrudes do silêncio. Odile Arnold dis tingue a este respeito, nos coo

    ventos de rneados do século. um nitido enducecimeoto pedag6gico, que

    se segue a

    uma

    considecavd liberdade e até a urna

    eeal

    espontaneidade

    de atitudes. A tentativa de descorporificaçao se exaspera corn

    0

    enalteci

    mente do modelo angeJical; em muitas moças opera-se entao urna vecda

    deica identificaçâo corn 0 anjo. Esta miragem, cuja gêneseJean Delumeau

    atcibui

    cm

    parte à antiga influência do neoplatonismo, acentua capida

    mente seu domînio; nitidament e perceptivd nas

    POSturas

    da prece, acom

    panha a ccescente exaltaçao da virgindade e

    0

    ascenso do lirismo da casti

    dade. É sin tomatica, a pcop6sito, a capida difusâo do culto a Filomeoa

    a partir de 1834. 0

    moddo

    desta santa que ouoca existiu, mas à quai

    ai

    nda

    assim sao consagradas abundan tes biogcafias,

    pe

    rmice a difusao de

    preces, imageos e até

    cocdôes

    destinados

    às

    jovenzinhas desejosas

    de

    se

    cooservacem intatas.

    Nao

    esqueçamos: nesse século em

    que

    se afirma

    0

    prirnado da palavca masculi na, é atcavés da

    cetocica

    do corpo, da elevaçao

    do olhar e do fervor do gesto que se opeca a prédica feminina.

    Resta colocar 0 problema da difusâo das conduras. Suzanne Voilquin,

    filba do povo, rdata 0 verdadeiro noviciado a

    que

    foi submetida, entre

    1805 e 1809, pelas mestras da escola do claustra de SaÎnt·Merry, e em

    seguida pelas tristes senhoritas normandas em cuja casa eferuou seu

    aprendizado, desde os nove anos de idade. Todavia, a antropologia an

    ge1ical rdativa à época romântica 56 se estende

    amplamente quando

    se deflagca a contca-ofensiva cat61ica, ou seja, ap6s

    1850. As

    técnicas

    de començâo destiladas nos conventos penetram emâo nos meios po

    pulaces. Muito cecentemente, Macie:José Garoiche-Mercitt, que eeco

    lheu minuciosamente

    0

    testemunho

    da

    mem6ria

    popular

    , tcaça

    um

    quadro impcessionante da rninuciosa vigilância exe ccida, ainda entce

    1900 e 1914 pdas celigiosas sobre as moças da pequena

    comuna

    de

    Bué·eo-Sancerrois. Constitui·se. especialmente nas par6quias curais,

    urna cede de congcegaçôes juvenis. Incomaveis assocÎaçôes de ccianças,

    de Filbas de Maria, ou ainda dessas donzdas agraciadas corn coroas

    de rosas,

    as

    rosières,

    que

    Manine Segalen avalia serem pcovavdmenre

    um

    milhar, ap licarn a iiçao de moral e començâo dispensada pela es-

    o

    Sl:.GRE

    OO DO INDJVfDUO 45

    J

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    454 sn OO R S

    o ONANIS'LI.

    SOB VIGILÂNGIA

    de gerir qualquer dispéndio e ponamo de daborar urna saudavel I.:cono

    rnia espermatica. Nesta perspectiva, repete-se que 0 prazer solitirio mas

    cutino conduz a uma tâpida decadência. 0 definhamemo, a senilidade

    precoce seguida de morte baljzam 0 îtînerario percorrido por estes indivî

    duos emagrecidos, macilentos e quase amnésicos que lotam

    os

    consult6-

    rios

    médicos. A dramatizaçao do quadro clînico traduz

    0

    ternor de que

    o dispêndio de energia prejudique 0 dinamismo necessario ao esforço e

    coloque em causa a capacidade de uabalho; oculta sobretudo a recusa do

    aprendizaclo do prazer, a negativa das funçôes hedonistas.

    o gozo da mulher sem a presença masculina parece ser panicular

    meme

    inroledvel. A manualizaçao constirui

    0

    supra-sumo d o

    vîcio.

    Para

    0

    homem, figura

    0

    segredo absoluto, infinitamente mais misterioso

    que as comoçôes do coÏto. Aqui nem se cogita de privilegiar os riscos de

    esgotamento, pois a capacidade copulaclora da mulher parece infini a; po

    rém outras sançôes, igualmente terrlveis, espreitam no horizonte

    da

    ful

    ta. Nao ha

    um

    quadro clînico, mas a biografia de ninf6mana, de histérica

    ou prostituta que se abre sobre a imagem da pe quena

    viciosa.

    Reencontra-se

    aqui a hostilidade que

    os

    médicos do século XIX demonstram diante do

    clitoris, simples instrumento de prazer, ioual na procriaçao.

    A luta concra a corrente provém dos pais, do padre e sobrerudo do

    médico. Os livros incÎtam a vigilância doméstica. Aos o1hos dos edueado

    res clericais,

    0

    sono deve ser

    0

    equivalente da morte,

    0

    Idto, imagem do

    tûmulo e 0 despenar, equivaleme

    àa

    ressurreiçao. No imerior do dormi

    tôrio do pensionato eocontra-se

    uma

    freira para zelar pela

    modéstia

    do despertar e do adormecer. Durame a dia, convém nao deixar a criança

    sozinha por muito tempo. 0 regulamenro das casas dirigidas pelas ursu

    linas prescreve que as moças devern ficac sempre à vista de numerosas co

    legas. Os médicos, por seu turno, aconselham que se evite

    0

    calor e a ma

    ciez da cama; proscrevem a manta e

    um

    exagero de cobertas, e

    Hxam

    a

    postura do sono. A prâtica feminina da equitaçâo desperta sua descon

    fiança, assim como a maquina de cosrura,

    ~ e n u n c i d

    pela Acadernia de

    Medicina em 1866.

    A estrutura dos equipamentos e, em caso de necessidade, a ortO

    pedia concorrem para a prevençao. Em 1878

    os

    especialistas aconselham

    a adoçao de sanitarios tendo na parte superior e na inferior orifîcios

    autorizando 0 controle de posruras. Cenos médicos 3.consdham que

    os

    menioos vistam longas camisolas. Até 1914

    os

    especialistas propôem

    contra

    0

    onanismo rebelde

    0

    uso de bandagens sob medida; alguns

    chegam mesmo a fabricar cintos de començao destinados às moças.

    Nos hospkios, algemas, correias, aparelhos instalados entre as coxas para

    impedir

    0

    toque

    S:i0

    impostos aos alienados ninfôrnanos. Quando

    0

    mal persiste, pode acontecer a cirurgia. A cauterizaçao

    da

    uretra pa

    ecce ser praticada corn bastante freqüência. Théodore Zeldin cita 0 mar

    tîrio do empregado de urna loja, corn dezolto anos

    de

    idade, vltÎma

    por sete vezes de scmelhante terapêutica, destinada, em princîpio, a cura-lo

    de perdas seminais involuntarias. Porém sac ainda mais eloqüentes

    os

    pa

    vores

    de

    Amid,

    minuciosarnente relatados pela prôpria vÎtima. 0 iofeliz

    sucumbe regularmente às pe rdas seminais'

    .

    Cada poluçao é uma

    punhalada para vossos olhos , declarou um especialista ao rapaz de de

    zenove anos. Este, aterrorizado, anota cuidadosamente desde entao cada

    urna de suas ejaculaçôes noturoas; consigna seus arrependimentos, escre

    ve suas resoluçoes;

    à

    noite, toma banhos de agua fria, come gelo picado,

    lava

    as virilhas corn vinagre. Nada adiama; em 12

    de

    junho de 1841 de

    decide nao dormir mais que quatro ou cinco horas por noite, sentado cm

    uma

    poltrona.

    A cauterizaçao do clitôrÎs e do orifîcio da vulva constituern em con

    rraparrida procedimentos muÎto raros, e mais ainda a clitordectomia, pra

    ticada pelo de. Roben desde

    1837

    e mais tarde, no final do

    sécu.1o

    pelo

    dr. Demettius Zambaco. Corn efeito é necessario ser prudente

    e

    sem ne

    gar a significativa dimensao de tao terrificantes prâticas, nao superesti

    mar sua freqüência.

    Cornpreendern9s assim 0 guanto 0 corpo tocna-se urna obsessao no

    seio da vida privada. 0 auscul tar dos obscuros sinais

    da

    cenestesia, a vigi

    lante espreüa da tentaçao, a permanente ameaça que

    se

    .acredita pesar so

    bre 0 pudor, 0 fasdnio exercido pela transgressâo semprë possîvel

    o o ~ -

    rem para valoriza-lo. Chega-se a fugir do esperaculo do coiro animal. A

    simples alusao a ele é urna grosseria masculina cujo sentido hurnorîstico

    é

    dificil conceber atualmente. Grupos de canto e circulos formarn-se

    ex

    clusivamente

    p ~ r

    rir e falar de sexo. 0 nu, profundamente oculto, é

    um

    fantasma a rondar os hornens. Os convidados da condessa Sabine, urna

    das herofnas de

    Nana,

    con ecturam longarnente sobre a forma de suas

    co

    xas. Comparada corn îsto, nossa tao célebre subrnissao aos impulsas e de

    sc

    jo

    s do corpo parece bastante descuidada e até urn tanto desajeitada.

    1NTERPRETAÇAO E CONTROLE E SI

    Enquanto sc processa 0 esgotamcmo literario

    da

    intimidade, apro

    funda-se

    0

    desejo de decifrar a si pr6prio, banaliza-se a pratica da Întros

    pecçao. Processos favoreciJos pelo refinamento e difusao social dos exer

    ck

    ios espirituais surgidos d o esforço disciplinar pôs-tridemÎno. Parado

    xalmentc,

    0

    procedimcnto do exame de coosciéncÎa estende-se no mo

    mento cm que se reduz 0 efetivo dos praticantes.

    Uma nova

    cornpreensâo

    dos imperativos da teologia moral petmite 0 acesso da massa de catôlicos

    a uma disciplina mental que permanecera por muito tempo restrita

    à

    di -

    te. Dur antc a Restauraçao, multiplicam-se os retiros e mÎssôes; rama uns

    coma ouuas desaguam em uma confissao geral; estas proporciooam oca

    s

    iao

    para uma longa exploraçao  de si. Claude Langlois mostrou

    0

    enraiza-

    .

     

    o

    SI GRU

     O [ln

    INlJwiVIlO

    455

    QlIando a l'ig/ïânc/4

    dos

    pais

    e edlludores nâo bllllll, apenas

    o corpete

    11

    0

    apar

    elho orJopédico

    conlêm

    no

    adolescente l i CSU lil'el

    neceJSidade

    do prazer soli mG e

    e1Iita

    a senilidade precoce, ou alé a morte

    por exceJS illa d/ïapidaçâo

    da

    puc osa

    um m t

    e. (Paris,

    B bliouca

    da

    antiga

    Faculdade

    de Mellicina.)

    A BANALIUÇÀO

    O

    EXAME

    .

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    20/42

    4 56 IM

    S7 DO

    A PROCURA

    DO DIÂRIO

    mento popular da prâtica do retiro na diocese de Vannes. Em 24 de

    março de

    1821,

    relata Gérard Cholvy,

    6

    mil homens participam, de c

    rio

    cm punho, da

    honrosa eerimônia de caridade que eonstitui 0 fone

    da grande missâo de Montpellier. Cerea de meio século mais tard

    e,

    em 1866, par motiva da visita de uns pregadores a Chasseradès - a

    humilde eomuna do inacesslvel Gévaudan - opera-se 0 voltar-se para

    si e desata-

    se

    a Irogua dos rudes camponeses dos

    oustaux. A

    manuten

    çâo,

    durante

    décadas,

    da dup

    la confissao

    e

    da absolviçâo difeft'nciada,

    a pradca da confissao geral por ecapas, entremeada par longos perlo

    dos de auto-anâlise, tal como era preconizada pelo padre de Ars, con

    venido em missionario sedentario durante a Monarquia de Julho, in

    citam a um minucioso esquadrinhamemo da memoria à procura da

    falta.

    A proliferaçâo dos

    regu

    lamemos de vida", a crescente precisâo

    das "reso uçôes" acompanham 0 aprofundamento dos exames. Prega

    dores e educadores congregacionistas convidam as aimas piedosas a exer

    cer esta nova maestria.

    AssUn

    se acomodam as condutas no interior

    da vida privada. Aconselhados pelas educadoras, os pais Împôem urn

    rigido reguJamemo

    às

    moças

    que

    retomam do internato, corn 0 inten

    to de afasca-Ias das temaçôes de uma vida que parece devotada 2 6cio.

    o emocionaote

    Cahier de résolutions

    [Caderno de resoluçôes] da

    ;0

    vern Léopol

    dine

    Hugo testemunha 0 sistema. Algumas boas aimas

    chegam a escimular tadas

    as

    moças a manter um diario, como simples

    corolârio

    do

    sacramento da pcnitência. Em Marselha, Isabelle Fraissi-

    net , corn doze anos de idacle, é constrangida a preencher todos

    os

    dias

    a seu. 0 papel pode registrar rambém 0 progresso

    da

    vida espirirual

    dos adultos, aliviar

    os

    escriipulos nascidos de pequenas falras cotidia

    nas. Apos 1850, 0 ascenso do diâIio feminino de conversao, tendo por

    modela

    0

    de madame Swetchioc, editado por Falloux, traduz

    0

    mes-

    mo desejo

    de

    adaptar a fins edi fiéantes a crescente necessidade de (:Scre-

    ver

    sobre si.

    Nâo menos essencial é a laicizaçao dos procedimentos de imer

    pretaçao

    do

    Îndivîduo, elaborados à sombra do confessionârio. A com

    patibiJizaçao

    da

    existência, a aritmética das horas e dos dias. que so-

    brecarrcgam 0 homem

    do

    século XIX. nao derivam apenas do tcmor

    da

    Calta;

    provêm igualmente deste mesmo fantasma

    da

    perda que con

    duz a manter livros de contabilidade doméstica da mais extremada

    minucia,

    que

    engendra a angûstia do desperd1cio de espcrma ou sim

    plesmente do coridiano esucitamento

    da

    duraçâo

    da

    vida. Este desejo

    de represar a perda t ~ n s b o r d para 0 diario intimo.

    o extraordinacio Essai

    sur l emploi du temps ou Méthode

    qui

    a pour

    objet de bien régler l emploi du temps, premier moyen d être heureux

    ,.

    [Ensaio sobre 0 emprcgo

    do

    tempo ou método

    tendo

    par objeuvo a boa

    organizaçào do emprego

    do

    tempo, primciro meio

    de se

    r feliz} . redigido

    em 1810 por Jullieo. militar da reser\ a. manifesta clarameote sua filiaçao.

    o autar, que remete a lDcke e a Franldin, e cujo crabalho sera coreado

    par Fourcroy, recorncnda

    que

    se divida a dia

    em

    três fatias de oito horas.

    Aconsdha que

    .se

    coosagre a primeira

    01.0

    sano, a segunda

    aos

    esrudos e

    aos "deveres de .seu emprego", a terceira às refeiçôes, 01.0 lazer e aos exer

    crcios corporais. Ac onsdha, sobrerudo, que se mantenham tcês diarios ou

    contab

    ilidadcs",

    onde

    serâo registf2.d2S as fluruaçôes da saûde, 2S vicis

    situdes

    da

    moral

    e

    as

    pulsaçôes da arividade Îme1ectual.

    Um

    "memorial

    analltico" e um quadro trîplice da siroaçâo, redigidos a C2.da

    trimestre

    ou

    semestre, pennicirao

    que

    se façam sucessivos balanços que serâ conve

    niente submeter a

    um

    amigo vo lumâIio para julgar sua evoluçâo.

    0

    dese

    ;0

    de esdarecÎmento interior, combinado corn 0 emor do desperdfcio,

    suscita aqui uma prâcica que nâo subemende nenhum dialogo corn

    0

    Cria

    dor. É em funçâo do olhar sobre si mesmo, c dos olhares dos outres e

    do mondo, que

    se

    e5trutura

    um

    exame permanente, obcecante.

    Olongo

    monélogo interior permite também que se conuole a aparência pessoaI,

    tomando-a 01.0 mesmo tempo mais iodecifrâvd aos ourros;

    0

    necessmo

    segredo

    do

    individuo conuibui pan. impar a introspecçâo.

    Os grandes autor

    es de

    diar

    ios

    da primei

    C2

    metade do século esfor

    çaram-se por levar a bom terme

    esta

    ucefa de esclarecimento, sem a me

    nar

    ambiçao literâria. Suas obras, que

    corn

    fceqüência regiscram simulta

    neamente 0 crabalho, 0 dinheiro, 0 luer e a açao amoresa, desempenham

    o.papd

    de

    cOllubilidades

    da

    decadência. 0 dîmo Intima tenta exorcizar

    esta angUstia da morte, que de aviva corn

    0

    proprio ato de se escrever.

    Detectar

    0

    desperdkio de si proprio

    é

    proporcionar-se os meios para

    uma

    estratégia

    de

    poupança.

    Ao

    conservar a historia do que sioto", diz Dela

    croix

    em

    7 de abril

    de 1824, tenho

    um

    duplo fun:

    0 passado retornara

    a mim. 0 future :st i sempre aIi. Assi.m se constirui uma mem6ria que

    autoriza a um sô tempo a amnésia e a comemoraçâo.

    Manter

    um

    diacio é rambém disciplina

    de

    imeriorizaçào; depo

    sita-se sob

    re 0

    papel a discreta conft

    ssâo.

    A escritura pcrmitc a anâlisc

    da

    culpabitidade înrima, registra taoto os fracassas da sexualidade c omo

    0

    sufocante semimento da iocapacidade de agir: cepisa as resoluçôes secretas.

    Multipl

    os

    fatores comribucm ainda para explicar a ascensâo

    desu

    fascinante prâtica. Em Maine de Biran, da respollde

    à

    ambiçâo

    de

    apoiar a ciência do hamem na observaçâo e captar, para tanto,

    as

    cela ·

    çôes

    que

    se estabelecem entre 0 fîsico e 0 moral. A busca de si mesmo

    é estimulada ainda

    por

    todos os fatas historicos que conduzem ao

    aprofundamemo

    da

    sensaçao de identidade. Sobrerudo,

    2

    acderaç2:o

    da mobilidade social engendra um semimemo de iosegucança. Incita

    o SEG WO O IN wt  UO 45ï

  • 8/17/2019 alain corbin - o segredo do individuo.pdf

    21/42

    458 nA Sl1DO /Πl

    A pRAnCA

    DE ESCREVER

    SOBRE SI

    A

    alfobetiZOfâo

    j qUlIse

    generaliZllda

    quando da imfallfllç40

    dt

    esco

    /a

    republicana, p ermite pela prime

    /ra

    li

    ez

    qu

    e

    0

    conjllnlo

    da

    jUll

    e

    nlud

    e

    se dedique às d1leren/el modaltdades

    da escrila de

    Ji

    propn 

    . LiçJ

    o

    0 ;: praxer

    a

    car/a

    IlISÙn

    (omo

    (/

    red

    açiio

    , en/ra

    a pllr/ir de

    agorll

    na liIta dal

    obngllfôel. (Philippe jo/yet A

    carta,

    Salao

    de 1908.)

    o autor do diârio a indagar-sc sobre sua posÎçâo, a calcular

    0

    julg:unento

    dos outros. A muda presença da sociedade freqüenta a vida privada e so

    jitiria do autor. novo fcitio das reJaçôes interpcssoais ditado pela urba

    nizaçâo muhiplica as feridas narcîseas ,

    gcra

    uma frusrraçâo que convida

    ao recolhimento neste refugio interior. Maine de Biran prevê, em

    1816

    esta busca de urna revanche psicologica; prcssente

    os

    (Crnpos cm que' os

    homens, cansados de ouvir, estarao mais dispostos a se

    vOltaT

    sobre

    si

    pro

    prios, buscando ali

    0

    repouso c esta espécie de calma

    e

    conso lo que s6

    se encontra na intirnidadc da consciência".

    o

    avanço do sentir nento de propriedade nao é estranho

    à

    nova bus

    ca; mais urna

    vez

    é Maine

    de

    Biran que

    0

    pr

    es

    sente;

    de

    se

    Felicita quando

    o abade Morellet, seu

    amigo, na monografia que consagra ao assuntO, ba

    scia

    0

    dircito de propriedade no "direito de cada homem sobre

    si

    pro

    prio, sobre todas as suas faculdades, [sobre] seu eu .

    Resta definir 0 efclivo consagrado

    à

    prâtica de escrever sobre si mes

    mo. Caso nos atenhamos aos grandes aurores de diirios, reconhecidos pe

    la historia literaria, a tarefa é fici . Sao numerosas as mulheres ils quais

    o codigo das conveniências proibe a publicaçao e que suprem graças ao

    diârio sua neccssidade, quando nao sua

    fUria,

    de escrever.

    A

    propria Eu

    génie de Guérin confessa que aplaca urn irreprimivd desejo e {Odo leva

    a crer que 0 mesmo ocorre a madame de Lamartine, a mie do poeta.

    Corn freqüência mal inserida na sociedade onde foi chamada a vi

    ver, a autora de um diârio sofre por nao poder comunicar-se. Ademais,

    seme dificuldade em decidir-se. Em maio de

    184

    8,

    corn

    27

    anos de ida

    de, Amie expôe em seu diario, sob a forma de uma int erminavcl equ a

    çao,

    os clementos de um eventual casamento.

    Eu

    invento fantasmas e

    obsticu los gratuitos", confessa Maine de Biran, esmagado pelo que de

    nomina a "preocupaçao" - nos didamos a ansiedade - que de atribui

    à

    "desconfiança de si pr6prio".

    Eru suma, 0 grande escritor de diirios nao es tâ longe de parecer uro

    doente; certamente uro dmido, aré um il f.lpotente, cheio de tendências

    homosscxuais que nao saberia saciar. A microfaroilia burguesa

    da

    provin

    cia constitui

    0

    lugar privilegiado da eclosao do diario intimo. Sua estru

    tura favow:e 0 apego à mae e à infância; Béatrice Didier afirma que

    0

    autor de um diirio sofre de regressao e sua caligrafia traduz a busca de

    u

    refù.gio maternaI. Nao se poderia negar que este castigo cotidiano pro

    longa os imperativos da pedagogia juvenil: de lembra simultaneamente

    o cademo escol

    ar

    e

    0

    dever de

    ca

    sa.

    Com efe ito

    0

    diario é, para começar, e talvez acima de tudo, uma

    pritica. Impôe um fati gante trabalho; lembremos as

    17

    mil pâginas

    escritas por Amiel Para os que sc comprazem com

    0

    rnon610go inte

    rior, de pode

    {Omar

    -sc também um refinado prazer. Quando estoe

    sozinho", declara Maine de Biran, "basta-me a ocupaçao de seguir 0

    rnovimento de minhas idéias ou impressôes, de apalpar-me, observar

    minhas disposiçôes e as variantes de minha maneira de ser, de tirar

    0

    me

    lhor partido de miro mesrno, de registrar as idéias que me ocorrem por

    acaso,

    ou

    as

    que minhas leituras

    sugerem.

    Neste sentido, 0 diârio inti

    mo é 0 coroamento

    das

    alegrias da pn·vdcy: "Aspiro a tornar-me eu mes

    mo, retOrnando à vida privada e familiar", confessa 0 mesmo escritor,

    "erguendo-me assim acima de mim mesmo; entao nao serei nioguém".

    Entretaoto, pode-se adivinhar,

    0

    di:1rio é inimigo da vida conjugal Às

    mulheres, sobretudo, impôe-se que

    0

    escrevam às escondidas.

    u ~ é n i e

    de

    Gué.rin oculta até de seu adorado pai 0 caderno que cla preeoche

    à

    noite,

    em seu "quartinho", enquanto contempla as estrelas. Manter um diârio

    re

    veste-se

    efetivarnente do aspecto masturbat6rio reaIçado por Béatrice

    Didier.

    Os hiscoriadores ainda nao mediram satisfarorÎameme a difusao so

    cia

    l de urna prarica cuja anilise permanece coma monop6lio dos especia

    listas em literatura. Ademais, a grande fragilidadc destes documentos cer

    tamente leva à subestimaçao de sua quantidade. Muitos indicios levam

    porém a pensar que

    0

    diârio Intimo é

    0

    contrapomo de muitas vidas pri

    vadas. A pequena burguesia nao 0 ignora, como testernunha 0 texto de

    o

    SEGREDO

    DO

    INDJVfDfJO

    Um4

    fm,/her th IJTislocraciz ou da

    bllrglles/n

    conJlJgra

    muitn.r

    nOTai

    por

    dilJ à

    lua co espondéncia.

    Carolin

    e Chol4r4-Iiorel

    pâde

    analisar

    pOrlllnto milhores de cn IlS elen·llll,

    11Q

    i1h·ma leTfO

    dosicuÛ} pelosBoileJ1u

    I/m

    Ulal

    de dignalânos

    de Snl/mllrois. Ao p e

    mllhr

    Il IIeriflClJfiio e mI1nulençiio dol

    gn/pOl,

    Il C4r11l

    joga um plJpe/

    crelt:ente na

    re/4pa amoroJ4.

    Nesta

    BeD

    e Époque

    da

    dU/lénO, é eu que

    permite

    114 mI1iorin tins

    vezes

    qu

    e

    a

    mmido delCtlbrlJ

    qu

    e

    é

    enganado.

    (Visconde

    sJII

    de Cil/ello A

    resposta,

    Sdiic

    de

    19

  • 8/17/2019 alain corbin - o segredo do individuo.pdf

    22/42

    .Jo )

    HIHTII

    ) J  

    f:S

    A MODERAÇAO

    DAS AMBIÇOES

    P.

    H. Azaïs,

    modesto autodidal3

    p:trisicmc;

    :lqUÎ

    0

    diario apn.. SCnta-St: cam

    o

    herdeiro l

    onginquo do

    livra de razâo c companheiro do livre de conrabi

    lidade. Adivinha-se que as mocinhas que enco ntraram

    ode

    urna mancira

    de

    dcsabafar sejam legiao. Caroline Brame, cujos papéis foram cncomca

    do nos Puces, e Marie Bashkirtseff cenamcntc nâo sâo exemplos isolados;

    e menas ai od a Isabelle Fraissinet.

    Convém desracar a

    prop

    6sito a imen

    sa

    popularidade

    do

    album.

    Durante a Monarquia deJu lho, escrcve Pierre Georgel, coda moça de boa

    familia {cm

    0

    seu,

    que

    apresenta aos amigos da casa. Lamartine

    que

    abre 0 de Léopoldine Hugo. Aré os Heze anos de idadc. Dicline regis

    tra ali seus brinquedos, seus sonhos de infância, suas leiruras; em

    se

    guida surpreendem-se ali

    os

    suspiros c dedaraçôes dos primeiros admi

    radores aos quais a jovem aos poucos

    vai

    atemando. Desde cntao ela

    se

    preocupa corn

    as

    roupas, registra

    os

    bailes,

    os

    espetâculos a

    que assis

    te e (em

    0

    cu idado

    de

    inscrever suas impre

    ssôes

    de viagem. 0

    album

    é uro saco

    de

    gatos; ali colam-se boletins escolan:s e gravuras picores

    cas; ao chegar

    0

    casamento,

    de

    ira un ir-

    se

    aos

    cadernos no oovo museu

    dos arquivos familiares.

    Funcionam entre 0

    povo equivalentes simb6

    1icos do

    album, se nao

    do

    diario. 0 enxoval bordado pela jovenlinha

    nio

    pode ser coosiderado

    como uma arenta escrituraçao de

    si

    e de seus soohos para

    0

    fururo? Em

    rodo caso,

    sua

    funçao ultrapassa

    em muito 0

    simp l

    es

    desejo de dispor

    de

    uma reseNa de

    panos para

    depois

    do

    casamenro.

    g n ~ s

    Fine mostra corn

    quantos

    cuidados a adolescente dos Pireneus fia, borda, marca corn

    um

    fio ve

    rmdho

    este resouro que, mais tarde, de nada Ihe servira. A moça

    designada como herdeira

    também se

    curva a

    em

    : rito cuja necessidade

    pratica ela nao rem. Explica-se

    ass

    im

    0

    extremo apego da mulher a seme

    lhante acumulaçao simbolica. Em Icarie Cabet sera acusado de querer

    confiscar 0

    en

    xova

    l. Ao va

    lorizar ao extremo cm sua narrativa 0 bau de

    panos

    que

    G i

    ll

    iat herda de sua mac,

    0

    amor de Tratltufleurs de

    /0 m r

    [1fabalhadores do mar] sabc pcrfeitamence que aponta

    um

    clemento maior

    da

    sensibilidade popular.

    A busca retrospect i

    va do

    eu, objeto do diario intimo, estimula arre

    pendimentos

    aviva nostalgias , mas, em

    um

    mesmo movimemo, valoriza

    a aspiraçao e desperta

    0

    ima ginario da conscruçao de

    si.

    Convida à histo

    ria

    da

    ambiçao, mas ai , sem pre limbo. Vma

    ev

    idênci

    a.

    comudo: enorme

    moderaçao cerca as represcntaçôes do futuro; esta prudência

    vern

    contra

    dizer a

    imagem

    excessivamentc fogosa de

    um

    século cm

    que

    sc

    daria va

    zao aos apetites.

    De

    fato, convém nao esquecer

    0

    atrativo da reproduçao

    e a força dos mecaoismos

    que

    0

    corroboram. A amplitude do apadrinba

    mento,

    do si.

  • 8/17/2019 alain corbin - o segredo do individuo.pdf

    23/42

    462 M S17DORFS

    ambiç:lo prolctâria . A hi S1 o ri:1 das singularidades temper:1 :lqu; os muclos

    clados da quamificaçào, informando·n

    ûs

    sobre a g

  • 8/17/2019 alain corbin - o segredo do individuo.pdf

    24/42

      6

    l

    unOOI iS

    Enlre a a

    uin3

    tura da

    Co

    ncordata

    (IBOI) e

    0

    fim do Segur/do ImPéno,

    mU/llp/icam-u al vocPf6el femin in/n.

    Se

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    como no Jào

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    .; com 0 JeXO jrJgil

    p

  • 8/17/2019 alain corbin - o segredo do individuo.pdf

    25/42

    No Belle Époqlle é em fomf/io

    qll e olluceJJorel

    de monitelir

    Pern chan e'Jjrenlllm ll1 Jonlonho.

    A expons40

    dOl

    priliClll esporlilJos

    renOIJ3 0 modo,

    j

    balillnu Ilnligo,

    do

    exctmiio lis ''ge/eirIJl'' dos A/pel

    ou dOl Pireneui.

    do

    highlander

    de

    Wavedey,

    do Îndio de 1 0 prairie lA p radariaJ ou das

    margens d o Messachebé suscita urna etnologia rude e povoada de fa ntas

    mas. Os

    s.ibios da Academia

    Ce

    ha e pouco depois os arque610gos d

    as

    as

    sociaçôes ciemfficas aponta m ao

    via

    jante

    os

    traços de um passado inc

    ru

    s

    tado na terra e sugercm miste

    ri osas