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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
BACHARELADO EM PSICOLOGIA
MAYARA APARECIDA FRANCO RODRIGUES
“ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ E RESILIÊNCIA COMO
POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE
LITERATURA”
JUINA/MT
2015
MAYARA APARECIDA FRANCO RODRIGUES
“ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ E RESILIÊNCIA COMO
POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE
LITERATURA”
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do titulo de bacharel em Psicologia, sob a orientação da Profª Dra. Nádie Christina Machado Ferreira Spence.
JUINA/MT
2015
AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
BACHARELADO EM PSICOLOGIA
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Esp. Isonéia Mara Peloso Pasqualotto
_________________________________________________
Professora Dra. Alice de Carvalho Lino
__________________________________________________
Professora. Dra. Nádie Christina Machado Ferreira Spence
ORIENTADORA
Esse trabalho dedico, à Deus, minha inspiração, natureza da minha fé,
motivo do meu louvor. Dia após dia, Ele me faz dar sentido à minha existência, me
ensinando que a essência de tudo é o amor. Amor que se constitui na graça, na
reconciliação e na cura. Que se materializa na ação, na empatia, no valorizar o
outro, e principalmente no fazer profissional. Verdade é que “... sem amor eu nada
seria...” (I Co 13.1) - sem amor nós nada somos.
AGRADECIMENTOS
Alguém disse que a gratidão é a memória do coração, nesse pequeno
espaço então, teço de forma simples as lembranças do meu coração na forma de
singelos agradecimentos a pessoas que me auxiliarem e em alguns momentos me
“colocaram” no caminho do sonho.
Aos meus pais, Edilson e Sandra, sou grata por me receberem nesse mundo
me dando amor e um lar, ambos sempre lutaram pela sua família e por seus filhos,
já me apontando o caminho da resiliência. Sem minha mãe eu não teria me
descoberto profissionalmente, sem os incentivos do meu pai eu não teria seguido
em frente.
Aos meus pastores Sirineu Becker e Ivone Becker que apostaram em mim,
me deram abertura para falar dos meus sonhos e oraram por mim. Mesmo com a
distancia que temos hoje, são meus exemplos de como “servir ao próximo”.
Em especial, ao professor Dr. Francisco Curbelo Bermúdez, que me
apresentou a resiliência e me conduziu nos primeiros estudos – sempre te terei
como meu orientador. Às professoras Esp. Josimara Diolina Ferreira e Ms. Sônia
Waltrick, sou grata, mesmo sem saberem, sinto admiração profunda por vocês, pois
me ensinaram e me inspiraram durante o percurso da faculdade.
À minha orientadora, Dra. Nádie Christina Machado Spence, sua orientação
foi de extremo valor pra mim, sua preocupação não foi em me fazer trilhar caminhos
metodológicos e teóricos apenas, mais que isso, me fez trilhar o caminho da
perspectiva da resiliência, da fé, do amor como possibilidade de cura aos indivíduos,
de busca para o sentido para a vida. Digo mais, o seu encontro professora Nádie foi
o meu encontro.
Agradecida sou pelos meus amigos de faculdade, pelos futuros colegas de
profissão, o conhecimento que adquirimos, adquirimos juntos. Deus abençoe a
todos.
Tudo foi feito por Ti, tudo é dado a Ti E não há palavras pra expressar
O que fizestes pra me salvar
Obrigado, Senhor, pelo seu amor Como é bom viver milagres
Obrigado, Senhor, pelo seu favor Nossa esperança está em ti
Tu és o Deus que dá, Senhor, todas as visões
A sabedoria, tudo vem de Ti Deus do impossível, que nos surpreende
Que nos dá vitória e nos faz crescer
Obrigado, Senhor, Obrigado
Gratidão - Gabriela Rocha
RESUMO
O presente trabalho, a partir de uma revisão sistemática de literatura, investiga como a espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência vendo apresentadas em trabalhos acadêmicos, nos últimos cinco anos, como forma de intervenção terapêutica. A resiliência é vista como capacidade de recuperar-se depois de uma doença ou estresse, resistindo às provas e crises da vida, superando-as, de maneira saudável. A espiritualidade/religiosidade/fé perpassam por questões existenciais do homem e se constituem como fonte de alívio e esperança, e por isso são consideradas como fatores de proteção no processo de resiliência. O estudo teve por objetivo geral explorar as relações entre os conceitos espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência em trabalhos acadêmicos com enfoque terapêutico. Em seus objetivos específicos demonstra quais as delimitações geográficas onde tais estudos têm sido produzidos; aponta quais as áreas conhecimentos que estão explorando o tema e descreve quais as intervenções tem sido propostas. Utilizam-se mapas conceituais como método de análise dos dados, pensando-se na diversidade e complexidade de definições que envolvem os conceitos espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência. Através dos estudos analisados, ressalta-se, a importância de que mais estudos de autores da área da Psicologia sejam publicados. Os estudos apontam para a espiritualidade/religiosidade e fé como favoráveis e promotoras de saúde ao homem, indicando que a dimensão espiritual no indivíduo contribuiu na superação de adversidades. As intervenções terapêuticas podem ser específicas a partir da dimensão espiritual como a Terapia Comunitária e a Logoterapia, assim como realizadas por meio da valorização da espiritualidade dos sujeitos.
Palavras-chave: Espiritualidade. Religiosidade. Fé. Resiliência. Intervenção terapêutica.
ABSTRACT
This paper, from a systematic review of literature investigates how spirituality/ religion/faith and resilience seeing presented in academic papers in the last five years as a means of therapeutic intervention. Resilience is seen as the ability to recover after an illness or stress, enduring the trials and crises of life, overcoming them, in a healthy way. The spirituality/religion/faith permeates by existential questions of man and constitutes a source of relief and hope, and so is considered as protective factors in the resilience process. The study was overall objective explore the relationships between the concepts spirituality/religion/faith and resilience in academic papers with therapeutic approach. In its specific objectives which shows the geographical boundaries where such studies have been produced; points which areas knowledge that are exploring the topic and describes what interventions have been proposed. Are used concept maps as data analysis method, is thinking on diversity and complexity settings involving concepts spirituality/religion/faith and resilience. Through the analyzed studies, we emphasize the importance of further study of the psychology area of authors are published. Studies point to spirituality/ religiosity and faith as positive and health-promoting man, indicating that the spiritual dimension in the individual contributed to overcoming adversity. Therapeutic interventions may be specific from the spiritual dimension as Community Therapy and Logotherapy, as performed by the appreciation of the spirituality of the subject.
Keywords: Spirituality. Religiosity. Faith. Resilience. Therapeutic intervention.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Resultados da pesquisa nas bases eletrônicas ........................................ 50
Quadro 2 Trabalhos científicos selecionados ............................................................ 51
Quadro 3 Caracterização dos trabalhos selecionados .............................................. 51
LISTA DE IMAGENS
Mapa 1 COSTA, 2010.. ............................................................................................. 56
Mapa 2 ROCHA, 2011.. ............................................................................................ 58
Mapa 3 FARINASSO, 2011. ...................................................................................... 60
Mapa 4 OLIVEIRA e FUREGATO, 2012. .................................................................. 62
Mapa 5 HOCH, 2013.. ............................................................................................... 63
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12
CAPÍTULO I .............................................................................................................. 15
1 RESILIÊNCIA: A SUPERAÇÃO HUMANA NA ADVERSIDADE .......................... 15
1.1 RESILIENCIA E A ORIGEM DO CONCEITO: PRIMEIRAS INVESTIGAÇÕES .. 15
1.2 A RESILIÊNCIA E A COMPLEXIDADE DO CONCEITO EM PSICOLOGIA ....... 18
1.3 FATORES DE RISCO ......................................................................................... 19
1.4 FATORES DE PROTEÇÃO ................................................................................ 21
1.4.1 Fatores internos de proteção: os pilares da Resiliência................................ 23
1.5 COPING – AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO .................................... 24
1.6 A RESILIÊNCIA NA CONCEPÇÃO PSICANÁLITICA ......................................... 25
CAPÍTULO II ............................................................................................................. 30
2 ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ: O HOMEM E O SENTIDO DA VIDA . 30
2.1 ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ: CONCEITOS FUNDAMENTAIS ...... 30
2.2 ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ E PSICANÁLISE: DA NEUROSE
OBSESSIVA À CURA DOS HOMENZINHOS ........................................................... 35
2.3 ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ E SAÚDE FÍSICA E MENTAL SUAS
RELAÇÕES COM A RESILIENCIA ........................................................................... 39
2.3.1 Quando a espiritualidade/religiosidade/fé é fator de doença e risco social ... 41
CAPÍTULO III ............................................................................................................ 43
3 ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ E RESILIÊNCIA: OS CONTEXTOS DE
ABORDAGENS E INTERVENÇÕES ........................................................................ 43
3.1 O ESTUDO DA ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ E RESILIÊNCIA EM
IDOSOS: DOENÇAS CRÔNICAS ............................................................................. 43
3.2 A TERAPIA COMUNITÁRIA ................................................................................ 45
3.3 LOGOTERAPIA E RESILIÊNCIA: O ACONSELHAMENTO PASTORAL ........... 46
CAPÍTULO IV ............................................................................................................ 48
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 48
4.1 MÉTODO E MATERIAL ...................................................................................... 48
4.2 COLETA DE DADOS .......................................................................................... 49
4.2.1 Período de coleta de dados .............................................................................. 50
4.2.2 Procedimento de coleta de dados .................................................................... 50
4.2.3 Caracterização dos trabalhos selecionados ..................................................... 51
4.3 PLANO DE ANÁLISE DOS DADOS .................................................................... 53
CAPÍTULO V ............................................................................................................. 54
5 ANÁLISE DOS DADOS ......................................................................................... 54
5.1 DISCUSSÃO DOS DADOS OBTIDOS POR MEIO DE MAPAS CONCEITUAIS 54
5.1.1 Mapa 1 – Costa, 2010: “Resiliência” como conceito “guarda-chuva” ............ 55
5.1.2 Mapa 2 – Rocha, 2011: “Espiritualidade” como conceito “guarda-chuva”: .... 57
5.1.3 Mapa 3 – Farinasso, 2011: “Religiosidade” como conceito “guarda-chuva”: 60
5.1.4 Mapa 4 – Oliveira e Furegato, 2012: “Fé” como conceito “guarda-chuva”: ... 61
5.1.5 Mapa 5 – Hoch, 2013: “Espiritualidade” como conceito “guarda-chuva”:...... 63
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 65
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 66
12
INTRODUÇÃO
De acordo com Rocca (2013), a resiliência é um conceito recente nas
Ciências Psicológicas, seus estudos começaram a ser desenvolvidos na Inglaterra
com Michel Rutter e Emmy Werner nos Estados Unidos, no final dos anos 80.
Originalmente, o termo veio da Física, onde é conceituado como a capacidade que
alguns corpos apresentam de retornar à forma original, após terem sido submetidos
a uma deformação elástica, apresentando características como resistência e
flexibilidade. No Brasil, as pesquisas sobre o assunto se iniciaram no fim dos anos
90.
Concordamos com Rocca e Hoch (2007), quando afirmam que a resiliência é
a capacidade de recuperar-se depois de uma doença ou um estresse, resistindo às
provas e crises da vida, superando as adversidades para seguir em frente da melhor
forma possível.
Os estudos sobre resiliência se deram quando pesquisadores passaram a
investigar os impactos que os eventos chamados de adversidades ou traumatismos
tinham sobre o desenvolvimento infantil. Para descrever essas adversidades, os
termos vulnerabilidade e fatores de risco foram concebidos. A resiliência funcionaria,
então como uma resposta complementar a vulnerabilidade dos indivíduos (ANAULT,
2006).
Segundo Cabral e Levandowski (2013), as pesquisas sobre a resiliência
ainda tendem a enfocar mais os fatores de risco e a vulnerabilidade dos indivíduos.
Tal fato está relacionado à tendência de se analisar o homem a partir de sua
patologia e nos permite pensar que os atributos individuais, como a resistência
frente aos fatores de risco, podem ser mais explorados nos estudos de resiliência,
possibilitando maior compreensão desse fenômeno.
Nesse sentido, existem escassos, mas já iniciados, estudos especulativos
sobre a espiritualidade/religiosidade/fé como um atributo da resiliência, que envolve
um modo de viver e de superação de adversidades, além de que o ambiente da fé
diz não só de um atributo interno, mas também de uma rede social de apoio, ou
seja, de pessoas que possuem um mesmo propósito e que se apóiam em situações
13
de crise, tal fato valoriza ainda mais a relação da fé com o conceito psicológico da
resiliência.
Frente ao exposto e por uma motivação estritamente pessoal, é que esse
estudo propõe a discussão dos conceitos espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência
pensando-se em contribuições teóricas, clínicas e sociais no campo da saúde
mental. Esta era a minha inquietação desde o início da graduação, sobre qual seria
o papel da espiritualidade/religiosidade/fé nos indivíduos. Como pensar em atuações
éticas que compreendam o ser humano como um ser bio-psico-social-espiritual?
Mais que isso qual seria o lugar de minha própria fé enquanto profissional, mas
também como sujeito particular de subjetividades?
Enquanto sujeito por diversas vezes pude vivenciar quão positivo é a certeza
que coisas melhores estão por vir: sempre depois da tempestade, o sol brilha
novamente e só por causa da tempestade é que vemos quão lindo é o brilho do sol.
Nesta perspectiva, o presente trabalho tem por questão de pesquisa: Como
a espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência vendo apresentadas em trabalhos
acadêmicos, nos últimos cinco anos, como forma de intervenção terapêutica? Tendo
por objetivo geral explorar as relações entre os conceitos
espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência em trabalhos acadêmicos com enfoque
terapêutico.
Por objetivos específicos pretendemos demonstrar quais as delimitações
geográficas onde tais estudos têm sido produzidos; apontar quais as áreas
conhecimentos que estão explorando o tema e descrever quais as intervenções tem
sido propostas dentro da perspectiva do indivíduo como ser bio-psico-social-
espiritual.
Para dar conta desse desafio então, adotamos como metodologia um estudo
qualitativo de revisão sistemática de literatura, sendo estabelecidos critérios de
inclusão e exclusão dos estudos encontrados, utilizando-se também mapas
conceituais como método de análise dos dados, pensando-se na diversidade e
complexidade de definições que envolvem os conceitos aqui explorados:
espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência.
Quanto à organização, o conteúdo desta monografia está organizado em 5
(cinco) capítulos. No início se encontra a Introdução, que inclui o tema, o problema,
14
os objetivos gerais e os específicos, a delimitação e a justificativa. O primeiro,
segundo e terceiro capítulos contêm o desenvolvimento da revisão de literatura, o
quarto capítulo apresenta a metodologia, na qual está descrita a escolha dos
procedimentos e a organização da pesquisa desenvolvida. No quinto capítulo,
desenvolvemos a análise e apresentamos os resultados obtidos. Na sequência
seguem-se as considerações finais do trabalho.
15
CAPÍTULO I
1 RESILIÊNCIA: A SUPERAÇÃO HUMANA NA ADVERSIDADE
Nesse primeiro capítulo, abordamos a perspectiva histórica da concepção do
conceito de resiliência. Apresentamos os elementos que compõem o tema: fatores
de risco e proteção – os pilares da resiliência e coping.
As linhas teóricas que conduzem a investigação sobre o assunto são as
correntes: norte-americana com Michel Rutter e Ruth Smith; européia com Emmy
Werner; e mais tarde o conceito adentrou a América Latina, retratado por Suarez
Ojeda (ROCCA, 2013). O curso da pesquisa norte-americana seria behaviorista ou
ecológico transacional. Já o curso da pesquisa européia teria uma aparência mais
relativista, com o ponto de vista psicanalítico. A corrente latino americana é mais
comunitária, enfatizando o social como resposta aos problemas do sujeito frente às
adversidades.
Esse estudo tende a adotar a corrente européia com o ponto de vista
psicanalítico a partir das teorias de Bion (1991) e Winnicott (1956), que baseiam os
conceitos de resiliência em Psicanálise. Contudo, observações no campo da Terapia
Comunitária e Logoterapia serão feitas no terceiro capítulo, pois tal estudo visa
principalmente a investigação das intervenções relacionadas à resiliência.
1.1 RESILIENCIA E A ORIGEM DO CONCEITO: PRIMEIRAS INVESTIGAÇÕES
A literatura brasileira por meio de vários autores (ASSIS, 2006; GUZZO e
TROMBETA, 2002; YUNES, 2006; YUNES e SZYMANSKI, 2001) nos apresenta um
consenso de que o termo “resiliência” teria sido extraído da física ou até mesmo
nascido nessa ciência. Partindo dessa ideia, consideramos necessário compreender
como essa disciplina concebe o conceito.
Sobre isso Brandão (2011, p. 264) nos informa que:
16
Físicos e engenheiros utilizam a noção de módulo de resiliência para calcular a quantidade máxima de energia que um dado material pode absorver ao ser submetido a determinado impacto, deformando-se sem se romper e voltando posteriormente à forma primitiva. Tal noção relaciona-se ao limite de elasticidade do material.
Parece que o termo já teria sido usado em 1807 na publicação do inglês
Thomas Young, cuja obra propõe uma discussão sobre resiliência ao apresentar os
impactos causados pela elasticidade nos corpos. Atualmente, o conceito de
resiliência diverge do de Young, porém ainda retém algumas semelhanças
(BRANDÃO, 2011).
Uma das compreensões da resiliência em Psicologia, paralelo à concepção
de elasticidade em física se refere à capacidade do indivíduo conseguir se recuperar
de abalos sofridos e retornar ao que se era antes do acontecimento.
A própria palavra “resiliência”, admite tal idéia da física, etimologicamente
vem do latim resilio, resilire. Segundo Saraiva (2000), resilio seria derivação de re -
fragmento que indica retrocesso - e salio que significa saltar, dando sentido de saltar
para trás ou voltar saltando.
O conceito de “resiliência” no Brasil era desconhecido até ser usado, a partir
dos anos 80 nos estudos de Psicologia e se disseminar para um público leigo,
através de matérias de autoajuda difundidas na mídia, até o momento o termo
resiliência não fazia parte do vocabulário da população.
Já o oposto ocorria com as palavras resilience e resiliency na língua inglesa.
Esses termos já eram integrados no vocabulário dos falantes da língua inglesa pelo
menos há 30 anos, não como um conceito relacionado com a física, mas voltado aos
fenômenos humanos. Yunes (2006) ao examinar um dicionário de língua inglesa
relata que esse privilegia a conceituação relacionada aos fenômenos humanos em
primeiro plano.
Brandão (2011) descreve que a procedência dos estudos acerca da
resiliência, aconteceu devido a algumas condições sócio-históricas, que teriam se
instalado nos Estados Unidos, por volta de 1970, que ameaçavam o
desenvolvimento infantil saudável. De acordo com esses autores, essas condições
sócio-históricas se davam em decorrência do aumento de casos de divórcio, de
gravidez na adolescência, de abusos sexuais de crianças, e de problemas com
17
drogas e violência, esses fatores representavam alguns dos riscos aos quais as
crianças estavam submetidas.
Yunes (2006) destaca que tais pesquisas, observaram que algumas crianças
submetidas a fatores de risco, como as condições sócio-históricas citadas,
alcoolismo, drogadição e doenças mentais de seus próprios cuidadores, contra
todas as expectativas, se desenvolviam de maneira satisfatória. Assim, foi
investigando os riscos aos quais a infância estava subjugada, que fenômeno da
resiliência foi observado. Nesse sentido, fez-se necessário compreender como
crianças ameaçadas em seu desenvolvimento poderiam conseguir êxito ou
demonstrar alguma competência. Fingergut (2011, p.44) cita:
[...] as diversas pesquisas realizadas nas décadas de 60 a 80 dentro das ciências sociais, concluíram que nem todas as pessoas submetidas situações de risco adoeciam; ao contrário, para muitas delas tais situações serviam para fortalecer habilidades e desenvolver novas capacidades de enfrentamento.
Segundo Rocca (2013), os autores na época denominaram esses indivíduos
de invulneráveis ou invencíveis. Entretanto, tais termos não seriam os mais
apropriados para esse fenômeno, já que ninguém é invencível, a “resiliência”, então,
passou a ser o adjetivo utilizado para essas crianças.
Com o avançar dos estudos começaram a introduzir definições de resiliência
que incluíam o sentido de superação e, portanto, passaram a estudar o fenômeno de
recuperação. Um dos primeiros pesquisadores Flach (1991, p. 254) em resiliência já
considerava que:
[...] para uma pessoa ser resiliente, dependerá de sua habilidade de reconhecer a dor pela qual está passando, perceber qual o sentindo que ela tem e tolerá-la durante um tempo até que seja capaz de resolver esse conflito de forma construtiva. [...] o termo não se relaciona somente com aspectos psicológicos, mas também aos aspectos físicos e fisiológicos.
Assis (2006) destaca que atualmente a resiliência não é vista somente como
possibilidade de recuperação. Segundo o mesmo, autores nacionais e internacionais
corroboram que a capacidade de resiliência vai muito além de se recuperar de um
dano, implica uma superação do que se era. Nenhuma pessoa passa por uma
situação traumática e volta a ser o que era antes, ao voltar se vê fortalecida e com
um aprendizado único sobre o sentido de sua dor, existindo um crescimento
pessoal.
18
1.2 A RESILIÊNCIA E A COMPLEXIDADE DO CONCEITO EM PSICOLOGIA
Melillo e Ojeda (2005) dividem os primeiros estudos sobre a resiliência em
três correntes: a norte-americana ou anglo-saxônica, a latinoamericana e a europeia.
O curso da pesquisa norte-americana se constituiu de forma mais pragmática,
centrada no indivíduo, adotando como avaliação da resiliência dados observáveis e
quantificáveis, geralmente com o ponto de vista behaviorista ou ecológico
transacional. Para essas teorias, a resiliência surge como um produto da interação
entre o sujeito e o meio-ambiente em que ele vive.
Já o curso da pesquisa europeia teria uma aparência mais relativista, com o
ponto de vista psicanalítico, para esta linha teórica a resposta do indivíduo frente às
adversidades transcende os fatores do meio, é arranjada a partir da dinâmica
psicológica da pessoa, o que gera uma narrativa íntima e uma narrativa externa
sobre a própria vida. A corrente latinoamericana é mais comunitária, enfatizando o
social como resposta aos problemas do sujeito frente às adversidades (MELLILO e
OJEDA, 2005).
Yunes e Szymanski (2001) descrevem que os estudos pioneiros sobre a
resiliência enfocaram os traços e disposições pessoais: desenvolvimento intelectual,
temperamento, nível de auto-estima e grau de autocontrole, e já incluíam dados
sobre o ambiente familiar como o número de membros na família, a incidência dos
conflitos e o nível de proteção a seus membros, aspectos estes que foram cada vez
mais valorizados. Posteriormente, essas pesquisas também passaram o enfoque
para dados de um contexto social mais amplo, dando ênfase nas redes sociais de
apoio que foram consideradas uma fonte abundante de proteção e cuidados para os
indivíduos.
De acordo com Rocca (2013), o que encontramos nos estudos do tema é
uma tentativa de uma única definição, pois há complexidade para descrever ou
delimitar o conceito, há autores que propõem o uso do termo no plural “resiliências”.
A autora reúne as quatro principais diretrizes quanto à conceituação na literatura:
Capacidade humana: a resiliência consiste numa capacidade humana para se desenvolver bem, é uma habilidade que permite a uma pessoa ou um grupo de pessoas projetarem-se no futuro mesmo diante de traumas graves, condições de vida difíceis, entre outros, funcionaria para impedir, diminuir ou superar efeitos negativos das adversidades;
19
Tipo de Personalidade: alguns autores entendem a resiliência como um tipo de personalidade, contudo, como esta afirmação não pode ser evidenciada cientificamente, tais autores a tratam como um potencial em cada pessoa;
Resultado de um processo: tal concepção é bastante criticada, pois leva a ideia de que em algum momento da vida se fixe uma estrutura resiliente;
Processo dinâmico: a resiliência se manifestaria como um processo dinâmico específico, não é um estado em que se obtém uma única vez.
Justamente pela complexidade de definições, é que para Cyrulnik (2004), a
resiliência precisa ser compreendida dentro de uma perspectiva ecossistêmica, já
que não se estabelece com um processo linear, mas multidimensional, interativo e
transacional.
Mesmo diante do paradigma das definições, o estudo da resiliência traz uma
nova perspectiva psicológica quanto às capacidades dos indivíduos e grupos, traz
a abordagem da esperança, o lugar das patologias, ciclos repetitivos de reprodução
de violência, de histórias como destinos e é ocupado pela descoberta de forças
para suportar situações adversas (ROCCA, 2013).
Ressaltamos que Vanistendael (2005) afirma que a resiliência não consiste
em uma solução mágica, mas alia o realismo com a esperança, de modo que as
adversidades são vistas como construtivas e não de maneira ingênua. Também
não se restringe a uma intervenção vinda do exterior, pensam-se nas
características individuais de cada pessoa em conjunto com as da comunidade.
Para Rocca (2013) estudar os fatores de risco e de proteção a nível pessoal,
da família, da comunidade, nas próprias relações com a sociedade e na sociedade,
permitem um entendimento mais profundo da resiliência, nos possibilita melhores
formas de prevenção e intervenção.
Nesse sentido, passamos a descrever abaixo um pouco mais desses
conceitos, estendendo a discussão com a introdução dos chamados pilares da
resiliência e a promoção desta.
1.3 FATORES DE RISCO
A resiliência propõe um resgate, depois da confrontação com situações de
risco, violência, morte ou danos extremos que prejudicam o indivíduo física ou
20
psicologicamente. Esta confrontação traria a sensação de morte1, e a resiliência
seria a “forma de costurar”, retomar a vida. Assim, ela não pode estar vinculada a
situações simples e cotidianas, tais ocorrências são entendidas como provas e
provocam danos menores (CYRULNIK, 2004). Anault (2006), nos alerta para não
confundirmos o conceito com adaptação, pois a resiliência envolve outros
processos.
As situações descritas por Cyrulnik (2004) se associam aos fatores de risco.
Para Yunes e Szymanski (2001), os fatores de risco podem ser definidos como toda
a sorte de eventos negativos da vida, que quando presentes aumentam a
probabilidade de o indivíduo apresentar problemas físicos, sociais ou emocionais.
As pesquisas apontaram uma constante de fatores de riscos e estressores
no desenvolvimento das crianças e adolescentes; que com o passar do tempo se
alteram pela demanda da construção social do que se entende por risco, sendo
assim, o conceito apresenta uma configuração dinâmica, dando-se ênfase no
movimento dos fatos, pois estes não são estáticos (YUNES e SZYMANSKI, 2001).
Dell’Aglio (2006, p. 32) complementa dizendo que:
O termo risco tem sido utilizado na área da saúde mental com a significação de estressor ou fator que predispõe um resultado negativo ou indesejado. O risco poderá desencadear um distúrbio ou uma doença de acordo com sua severidade, duração, freqüência ou intensidade de um ou mais sintomas ou comportamentos.
Relacionando risco e resiliência, Guzzo e Trombeta (2002) apontam uma
pesquisa realizada por Hutchinson que discute as características de riscos e as
características saudáveis ou resilientes de crianças e adolescentes. A pesquisa
aponta que crianças em fatores de risco possuem ego frágil, são passivas,
desconfiadas, tendem a uma habilidade de comunicação pobre, baixo rendimento,
dificuldade para seguir normas e regras, possuem inferioridade ou auto-imagem
negativa, baixo nível de tolerância, e ainda podem manifestar ideias suicidas,
depressão, abuso de álcool, drogas e desorganização familiar.
1 Interessantemente Grünspum (2003) corrobora que, a princípio, o conceito de risco era relacionado
ao modelo biomédico de mortalidade e como diz Cyrulnik (2004), as situações adversas, por vezes, trazem a sensação de morte.
21
Poletto e Koller (2006) apontam que vários são os autores que salientam os
fatores de risco como experiências estressoras no desenvolvimento infantil, essas
podem ser: separação dos pais, abuso físico e sexual, condições socioeconômicas
de pobreza, desastres e catástrofes naturais, situações de guerra, doenças e outras
ocorrências que causam traumas.
Contudo, ainda de acordo com Poletto e Koller (2006), torna-se difícil
construir a relação de causa-efeito dos fatores de risco, pelo que observamos é
necessário pensar em termos de processos ou mecanismos, associando o risco à
sua consequência em um determinado momento da vida do sujeito. Dentro desse
aspecto, o conceito de risco psicológico não possui uma definição fechada, sendo
até mesmo atemporal, pois pode se modificar em cada história individual,
apresentando consequências e repercussões diferentes para cada sujeito estudado,
já que perpassa pelas percepções internas do mesmo.
1.4 FATORES DE PROTEÇÃO
Teoricamente, os pensadores do tema resiliência enfatizam que existem
sistemas de proteção que operam para assegurar e sustentar o desenvolvimento do
indivíduo. Para Poletto e Koller (2006), esse sistema se refere aos fatores de
proteção que se manifestam como influências que modificam, melhoram ou alteram
respostas pessoais frente a determinados riscos.
As pesquisas em resiliência concordam com o fato de que sistemas de
proteção funcionam em diferentes fases do desenvolvimento do indivíduo, assim
como em diferentes contextos. Para Angst (2009, p. 255), os fatores de proteção
consistem em “[...] relações parentais satisfatórias, disponibilidade de fontes de
apoio social, autoimagem positiva, crença ou religião, etc. [...]”.
Yunes e Szymanski (2001) elencam quatro mecanismos que colaboram para
a ocorrência de processos de proteção: 1) redução do impacto dos riscos, ou seja,
alterar a exposição da pessoa à situação estressora; 2) redução das reações
negativas em cadeia, que seguem a exposição do indivíduo à situação de risco; 3)
estabelecer e manter autoestima e autoeficácia através da presença de relações de
22
apego seguras, incondicionais e o cumprimento de tarefas com sucesso; 4) criar
oportunidades.
Segundo Pesce (2004, p.137), a maioria dos pesquisadores define de
maneira didática três tipos de fatores de proteção que se seguem:
(1) fatores individuais: auto-estima positiva, auto-controle, autonomia, características de temperamento afetuoso e flexível; (2) fatores familiares: coesão, estabilidade, respeito mútuo, apoio/suporte; (3) fatores relacionados ao apoio do meio ambiente: bom relacionamento com amigos, professores ou pessoas significativas que assumam papel de referência segura à criança e a faça sentir querida e amada.
Para a autora, se estabelecem interações entre os fatores de proteção, a
eficácia do suporte social como redutor do estresse, por exemplo, pode se alternar
conforme o nível de outro fator de proteção como a autoestima. Assim, entendemos
que presença de um fator de proteção pode motivar o aparecimento de outros
fatores de proteção em outra ocasião.
Rocca (2013) utiliza outra divisão para compreender a dimensão dos fatores
de proteção, para ela, os fatores de proteção são definidos em externos: a aceitação
incondicional de, pelo menos uma pessoa e a presença de redes de apoio social ao
alcance da pessoa; e internos como a autoestima, as aptidões e competências
pessoais, o senso de humor e a espiritualidade, os quais ela denomina de pilares da
resiliência.
A autora entende que, para que a resiliência aconteça é necessária a
presença de um “tutor de resiliência”, ou seja, alguém que acredite no potencial
daquele que está sofrendo, que potencialize suas capacidades, que mantenha um
vínculo empático e amoroso proporcionando formas, para que este elabore suas
próprias capacidades de superação. É válido ressaltar que, a aceitação incondicional
não significa aceitar todos os comportamentos do que sofre, pois há
comportamentos que, por vezes, colocam a pessoa numa situação de risco ainda
maior.
As redes sociais de apoio podem ser tanto formais quanto informais. Por
formais, entendem-se os sistemas oficiais de proteção, como aqueles que impedem
que situação traumática aconteça novamente. As redes informais se estendem ao
contexto familiar, aos amigos, ao trabalho, às organizações, que podem possibilitar
23
novas vivências à pessoa. Ao pensarmos em redes sociais de apoio, precisamos
entender estas como aquelas que são acessíveis ao indivíduo (ROCCA, 2013).
No tópico abaixo, tratamos dos fatores de proteção internos entendidos por
Rocca (2013) como pilares da resiliência.
1.4.1 Fatores internos de proteção: os pilares da Resiliência
Como vimos, os fatores internos de proteção são a autoestima, as aptidões
e competências pessoais, o senso de humor e a espiritualidade, os quais ela
denomina de pilares da resiliência (ROCCA, 2013).
Segundo Vanistendael (2005), a autoestima é uma condição imprescindível
para a resiliência, uma vez que essa é baseada na estima que lhe é prestada pelos
outros, que se apóia na certeza de aceitação e reconhecimento. De acordo com
Assis (2006, p. 49), “a convivência com o sentimento de desvalorização pessoal
parece ser um dos poucos eventos adversos que, por si só tem a capacidade de
afetar o potencial para a superação de problemas”.
Para os autores da área, a autoestima auxilia não só na resolução de
problemas, como a própria superação contribui para aumentá-la.
As aptidões e competências sociais relacionadas à resiliência são a
sociabilidade; a determinação; o controle de si mesmo; o protagonismo, a iniciativa e
a criatividade; o pensamento crítico e a visão otimista e realista (ROCCA, 2013).
De acordo com Vanistendael (2005), o senso de humor atrelado à resiliência
abre espaço para uma nova narrativa, fazendo com que as pessoas saiam da
posição de vítima ou de passividade. Não se trata apenas de um mecanismo de
evasão, mas de uma forma de tornar mais leve, suportável e positivo o sofrimento.
Quanto à espiritualidade e resiliência, dimensão esta que caracteriza o
objeto desse estudo, faremos pontuações no próximo capítulo quando trazemos as
conceituações e as relações encontradas no tema.
24
1.5 COPING – AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
Outro conceito atrelado à resiliência é o de coping, a palavra não traduzida
no português e usada no seu original, é entendida como as formas de enfrentamento
das quais o indivíduo se utiliza diante das situações adversas. O estresse aparece
ao lado do conceito de coping nas pesquisas sobre resiliência, de maneira a serem
dois pólos: o positivo – coping – e o negativo- estresse.
Segundo Yunes (2006, p. 79):
A palavra coping é geralmente utilizada no original em inglês para referir-se a esforços cognitivos e comportamentais para lidar com demandas específicas de situações adversas e avaliadas como sobrecarregando ou excedendo os recursos pessoais.
As produções mais expressivas sobre coping de acordo com Braun (2008)
são dos autores Lazarus e Folkman (1984). Os mesmos definem o processo de
coping relacionado às estratégias empregadas para a resolução de adversidades. O
foco da atenção, então é o que o indivíduo está fazendo ou pensando em fazer na
ocasião em que se encontra.
Paralelamente a maneira como o indivíduo faz, fazia ou poderia fazer é o
foco das teorias da personalidade. Como enfatiza Wondracek (2005, p.15), “para a
psicanálise importa o modo como o sujeito se posiciona no mundo e em relação à
sua história”. Devemos observar então as falas das pessoas com os enlaces que
eles próprios fazem.
Nesse sentido, as ações e pensamentos de coping são sempre
encaminhados para condições particulares. Estas podem se alterar de momento
para momento durante os estágios de uma situação estressante bem como dos
estágios de desenvolvimento.
Para Taboada e colaboradores (2006), o coping e resiliência estão
relacionados na medida em que o coping focaliza as estratégias de enfrentamento, e
a resiliência aplica sua atenção no resultado da estratégia utilizada, isto é, uma
adaptação com sucesso do sujeito frente às adversidades.
Fazendo menção ao estresse relacionado ao coping, Fingergut (2011, p. 42)
cita que:
25
No mundo contemporâneo o estresse passou a ser um aspecto inevitável da condição humana, sendo, portanto mais interessante tentar aprofundar a formas de enfrentamento que poderão ser utilizadas pelos sujeitos e a consequências que delas derivarão. Palavras como: habilidades, estratégias comportamentos, estilos, respostas, recursos etc, são utilizadas quando se quer fazer referência a diferentes formas de enfrentamento às situações adversas.
Seguindo o raciocínio, Fingergut (2011) ressalta que os diferentes recursos
usados para lidar com certas situações de risco e estresse, deverão estar em acordo
com as regras sociais em vigência, portanto, as condutas e comportamentos devem
produzir aceitação e reconhecimento social. Se acontecer o processo contrário, o
coping será ineficaz, incompetente ou não resiliente.
1.6 A RESILIÊNCIA NA CONCEPÇÃO PSICANÁLITICA
De acordo com Cabral e Levandoswki (2013), o conceito de resiliência ainda
é pouco explorado na perspectiva analítica, o falar sobre gera controvérsias e
dúvidas nesse ambiente, já que o conceito de resiliência é próprio de outros
contextos teóricos, e a psicanálise vem buscando se apropriar desse conceito
procurando em seus pressupostos teóricos bases para sua compreensão.
O fato de o conceito ser atualmente privilegiado no campo da saúde mental
faz com que a psicanálise converse com outros saberes, sem negar os seus
próprios de maneira a enriquecer-se (GOLSE, 2003). Para mais, é inerente à
contemporaneidade a elaboração de novos conhecimentos, dentro disso a
psicanálise conserva sua dedicação e o interesse em reconhecer formas recentes
de abordar e investigar o psiquismo humano, com o objetivo de melhor cuidar do ser
humano.
No ano de 2006, segundo Cabral e Levandoswki (2013), o conceito de
resiliência foi motivo de um evento internacional, que aconteceu em Toulouse, na
França, cujo título era: Résilience: Réparation, Élaboration ou Création. A proposta
do evento era trazer reflexões sobre a resiliência dentro do pensamento analítico.
Uma das principais considerações foi a observação de que a resiliência está dentro
da teoria psicanalítica a partir de algumas citações do próprio Freud, mas sob outras
denominações.
26
Observam Cabral e Levandoswki (2013), que a noção de resiliência foi
encontrada no “Projeto para uma psicologia científica” (1895), o significa que este
não é um conceito alheio à psicanálise. Os autores salientam que:
[...] o referencial psicanalítico investiga o processo resiliente através da análise do funcionamento intrapsíquico do indivíduo. O processo resiliente é percebido após o trauma (situação adversa), por meio do efeito psíquico gerado pelo mesmo, chamado traumatismo. A psicanálise investiga, então, o traumatismo e refere-se à resiliência como um processo de reorganização psíquica frente ao mesmo (CABRAL e LEVANDOSWKI, 2013, p. 46).
Zukerfeld (2005) explica que o traumatismo é formado tanto pelo choque
gerado de um agente externo, quanto pelas maneiras de reação do sujeito diante do
choque. Nesse sentido, a capacidade de conter o que é traumático, possibilitando
novos estados psíquicos, seria o processo de resiliência. O aparelho psíquico
manifestaria a potencialidade inovadora que determina ação modificada. Essa ação
transformaria as situações adversas e os futuros já traçados.
Vale salientar que a psicanálise, considera também a resiliência relacionada
a situações de fragilidade psíquica que são próprias do desenvolvimento humano,
como a adolescência, a velhice, destacando as vicissitudes da vida e não só
situações traumáticas como violência e catástrofes (BERTRAND, 2006 apud
CABRAL e LEVANDOSWKI, 2013).
Na perspectiva analítica, a resiliência é investigada sob duas vertentes
teóricas: a teoria das pulsões e a teoria das relações objetais, baseadas nos
pressupostos de Bion (1991) e Winnicott (1956) entre outros autores.
Anault (2006), diz que a teoria das pulsões compreende a resiliência através
dos mecanismos de defesa empregados no enfrentamento do traumatismo,
considerando a forma como são explorados diante de uma experiência traumática. O
ego se utiliza dos mecanismos de defesa constituídos por táticas inconscientes e
involuntárias para controlar e canalizar o que apresenta como perigo externo e
interno (CABRAL e LEVANDOSWKI, 2013).
Para Anault (2006), no processo resiliente estaria o manejo dos mecanismos
de defesa dos quais permaneceriam somente os adaptativos e maduros que
levariam a uma boa condição de saúde mental, entre eles estaria a sublimação, a
criatividade, o humor e o altruísmo, pois funcionam como um suporte na elaboração
27
das pulsões agressivas que estão presentes no traumatismo, além disso a própria
flexibilidade nos modelos de ajustamento.
Por outro lado, os mecanismos de defesas imaturos e primitivos como a
projeção e o comportamento passivo-agressivo, não fazem parte do processo
resiliente já que não permitem a flexibilidade do ego para a adaptação (CABRAL e
LEVANDOSWKI, 2013). Quanto à utilização de defesas imaturas, como a projeção
usada diante de frustrações e situações adversas, Sordi; Manfro e Hauck (2011,
p.119) citam:
A criança que reage intensamente contra toda frustração tende a se ressentir de maneira importante ante a quaisquer falhas do ambiente em que vive e a subestimar a bondade alheia. Dessa maneira, faz uso maciço da projeção para livrar-se das sensações que provocam desprazer. Pessoas que mantêm esse padrão adaptativo ao longo da vida tornam-se menos tolerantes a situações frustrantes e podem fazer uso maciço desses mecanismos de defesa mais primitivos, o que acaba por gerar prejuízo nas relações interpessoais.
Já na teoria das relações objetais, de acordo com Zukerfeld (2005), a
resiliência é compreendida dentro da formação dos primeiros anos de vida, por meio
da rede vincular da criança constituída pelo apego, pela identificação, pela
sustentação na intersubjetividade que se apresenta na relação com o outro.
Nesse sentido, a resiliência é investigada através dos vínculos significativos
estabelecidos nos primeiros anos de vida. Tais vínculos proporcionam uma
adaptação diante do traumatismo bem elaborada, pois se constituem como causa
geradora de recursos intrapsíquicos (GOLSE, 2003).
Nessa compreensão estão em destaque as interações mãe-bebê. Essas
interações precoces mãe-bebê quando de qualidade, permitem a formação de
recursos intrapsíquicos fundamentais que promovem o desenvolvimento da
segurança interna e da autonomia do indivíduo e por isso estão relacionadas a
resiliência (CYRULNIK, 2004).
Alguns conceitos na teoria das relações objetais são primordiais na
compreensão do processo de resiliência, estes são o conceito de rêverie (BION,
1991), traumatismos hiperprecoces (DIATKINE, 1994) e preocupação materna
primária (WINNICOTT, 1956).
28
O conceito de rêverie, proposto por Bion (1991), incide em um estado
característico de consciência receptiva e de atividade psíquica para se conservar
nesse estado, de acordo com Parsons (2007). Figura principalmente a relevância da
função materna na formação do processo intersubjetivo, que constitui a construção
do psiquismo do bebê.
A rêverie acontece quando a mãe funciona como um continente para a
projeção das vivências somáticas e psíquicas do início da vida extrauterina do bebê,
que precisam ser projetadas e transformadas em pensamento. A mãe se atendendo
às experiências do filho as transforma em elementos pensáveis. Este papel é
fundamental, pois vai desenvolvendo a criança para dar conta de suas próprias
experiências (HOUZEL, 2005).
Como conseqüência da falha de rêverie, Diatkine (1994) cunhou o termo
traumatismos hiperprecoces. Tal falha levaria o bebê a vivenciar as situações
adversas sem continente, o que poderia instalar psicopatologia na criança,
principalmente as baseadas nas primeiras experiências de vida.
Como cita Houzel (2005), uma mãe com severa depressão pós-natal pode
oferecer os cuidados físicos indispensáveis ao seu bebê, contudo, pode não ser
capaz de exercer a função de continente, de rêverie diante das vivências instáveis
do bebê. Essas vivências acometidas de sensações fortes e por vezes,
desorganizadoras, precisam ser transformadas em algo que faça sentido, o que
possibilita assimilação psíquica do bebê, sem rêverie isso não acontece e se
instalam os traumatismos hiperprecoces.
O terceiro conceito por fim, refere-se à empatia da mãe ao reconhecer o que
a criança precisa. Segundo Winnicott (1956), os cuidados que a mãe dispõe ao bebê
demonstra sua identificação e empatia para com ele, que vai ser elaborada ao longo
da gravidez, e leva a mãe para uma condição específica designada de preocupação
materna primária. Essa preocupação vai aumentando progressivamente seguindo as
semanas anteriores ao parto, fazendo com que a mãe se renuncie atendo toda a sua
atenção para as necessidades do bebê. Essa renúncia materna permite um suporte
primeiro para a estruturação do ego da criança, o que lhe confere o sentimento de
ser e existir.
29
Partindo desses conceitos, a resiliência pode ser analisada como resultado
do contexto da relação inicial pais-bebê (GOLSE, 2003). Isso porque segundo
Cyrulnik (2004), essa relação vai possibilitar características relacionais para a
criança mais ou menos resilientes. Vale enfatizar que a função desempenhada pela
mãe de continente está relacionada com a afetividade vivenciada pela mesma, pelo
seu suporte conjugal, familiar e social, pois uma mãe suprida nesses contextos tem
mais condições de atender e compreender as necessidades de seu bebê Tudo isso
possibilitará a própria criança uma confirmação no enfrentamento do seu contexto
social, que, por vezes, está incidido de outras adversidades.
30
CAPÍTULO II
2 ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ: O HOMEM E O SENTIDO DA VIDA
Nesse capítulo, apresentamos os conceitos de espiritualidade, religiosidade
e fé e suas relações com a saúde física e mental dos indivíduos.
Traçamos a definição de cada conceito separadamente, mas também
fazemos as correlações existentes entre eles, sendo que nesse estudo, então,
usamos a sentença espiritualidade/religiosidade/fé.
Para mais, estabelecemos relações igualmente entre a
espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência, pois a dimensão espiritual dos
indivíduos vem sendo considerada como um dos fatores internos de proteção,
chamados pilares da resiliência.
2.1 ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
As conceituações de espiritualidade e religiosidade são muito intrínsecas,
complexas e abrangentes ao mesmo tempo, suas variações e limitações dependem
da perspectiva pela qual é abordada (MOSQUEIRO, 2015).
Para Mosqueiro (2015), a diversidade de apresentações desses conceitos
que incluem ou não a relação com instituições religiosas permite a utilização da
expressão espiritualidade/religiosidade proposta por Koenig e colaboradores da
Universidade de Duke Estados Unidos. Segundo o autor, as concepções de Koenig
são as mais atuais e específicas do tema. Nele a religiosidade é compreendida
como um sistema organizado (crenças, rituais, símbolos, práticas) que visa à
aproximação do ser humano com as experiências do sagrado – seres divinos, já a
espiritualidade prevê a constante procura por respostas quanto ao sentido e
significado existencial e a relação com o sagrado que se manifesta ou não por
práticas e ritos religiosos.
31
Já para Gomes, Farina e Dal Forno (2014) existe a necessidade de que se
diferenciem tais conceitos, justamente para que compreendamos melhor as suas
relações. Nesse sentido, é que discorremos mais sobre as especificidades dos
mesmos, contudo, nesse trabalho usaremos assim como Mosqueiro (2015), a
expressão espiritualidade/religiosidade, pois entendemos que assim podemos
contemplar não só a dimensão do tema, mas principalmente a dos indivíduos.
Para Boff (2006), a espiritualidade é inerente ao ser humano, é o que lhe
move a procurar o sagrado e a experiência transcendente, é o ensaio das respostas
às inquietações profundas da alma sobre a sua existência: Quem eu sou? De onde
vim e para onde vou? Qual o sentido e o propósito da minha vida? Porque isso
aconteceu/acontece comigo? Qual meu lugar no mundo? Qual meu destino depois
da morte? Assim, a espiritualidade não pertence a algum movimento ou domínio
religioso, visto que seu propósito é dar sentido à existência humana.
Estendendo a discussão sobre a espiritualidade Gomes, Farina e Dal Forno
(2014, p. 109) citam que:
[...] a partir de pesquisas de neurociência e de neuropsicologia, foram feitas descobertas que permitem um novo mapeamento do cérebro, ampliando as possíveis inteligências, a saber: a Inteligência Espiritual (QS), após terem sido enfatizadas a Inteligência Intelectual (QI) e a Inteligência Emocional (QE).
Através da inteligência espiritual, absorvemos contextos maiores em nossa
vida, temos o sentimento de pertencimento do “todo”, somos mais sensíveis a
valores, a questões de sentido de vida, rompemos os limites que levam a
transcendência, nos ligamos a Deus (GOMES, FARINA e DAL FORNO, 2014).
Zohar e Marshall (2012) entendem que tal inteligência espiritual é uma
capacidade interna, uma habilidade inata do cérebro e da psique humana que
permite ao indivíduo manifestações de sentido e de cura antes não vivenciadas,
funciona como um núcleo centralizador dos fenômenos existenciais.
De acordo com os autores, foi constatado que os neurônios incluídos em
uma experiência consciente possuem oscilação coerentemente a 40 hertz2.
2 A atividade elétrica do cérebro se constitui em frequências de ondas electromagnéticas. Essas
frequências são medidas em Hertz. A frequência das ondas electromagnéticas são alteradas a partir da atividade elétrica dos neurônios, ligadas à modificação dos estados de consciência. Disponível em: <http://www.psicologiafree.com/areas-da-psicologia>. Acesso em 10 nov. 2015.
32
Verificou-se que essa excitação vai muito além de 40 hertz, quando o indivíduo se
envolve de maneira profunda, com temas relacionados à religião, Deus ou valores
que abrangem o sentido da das coisas. Isso porque, os lobos temporais do cérebro
recebem uma excitação que amplia essa frequência, e provocam uma experiência
espiritual de euforia, de contentamento e de beatitude, como se estivesse frente a
uma “Presença”. Por esse motivo é que Zohar e Marshall (2012) batizaram essa
região dos lobos temporais como o “ponto Deus”.
Segundo Boff (2011), as religiões do mundo são as manifestações do “ponto
Deus”, apresentadas na forma de ritos, comportamentos e doutrinas que são
distintas entre si devido à cultura. Para o autor todas as religiões têm um elemento
em comum, e a partir da consideração do “ponto Deus” é possível perceber a
unidade existente entre elas: questões que definem vida e morte.
Sobre as especificidades do conceito da religião, nos valemos da
compreensão da filósofa Marilena Chaui (2010), em seu livro Convite à Filosofia, por
ir ao encontro das discussões aqui elencadas.
Para a autora, quando consideramos as atividades humanas estritamente
ligadas à sua sobrevivência como coletar e preparar alimentos, buscar abrigos
contra as intempéries da natureza ou fabricar instrumentos simples para combater
inimigos, percebemos que a religião consiste na atividade cultural mais antiga que
se manifesta em todas as culturas. A mesma explica o fato dizendo que:
(...) descobrimos que somos humanos quando temos a experiência de que somos conscientes das coisas, dos outros e de nós mesmos. Se a consciência é a descoberta de nossa humanidade, se descobrimos porque nos diferenciamos dos outros seres da natureza, graças à linguagem e ao trabalho, podemos atribuir ao fato de sermos dotados de consciência a condição e a causa primordial do surgimento da religiosidade (CHAUI, 2010,
p. 252).
Nesse âmbito Chaui (2010), atribui à consciência a causa principal do
surgimento da religiosidade, isso porque desde muito cedo nós seres humanos
observamos que existem regularidades na natureza que independem da nossa
vontade, há coisas boas e ruins dos quais não somos autores. A realidade exterior
compreendida como algo que vai além da ação humana, como uma ordem externa
que determina do que podemos ou não nos apossar, faz surgir a crença de seres ou
poderes superiores com os quais o homem busca meios para se comunicar.
33
A religião é aquela que nos conduz ao sentimento da distancia entre o
natural e o sobrenatural, dos humanos e o sagrado, mesmo que o sagrado habite
neles ou na natureza. Etimologicamente a palavra religião advêm do latim religio,
construída pelo prefixo re -“outra vez, de novo”- e pelo verbo liare -“ligar, unir,
vincular”. A religião é então, o vínculo que une os homens e as divindades (CHAUI,
2010).
A autora declara que a experiência do sagrado traz significado ao espaço e
ao tempo em que os seres humanos nascem, vivem e morrem, ou seja, na sua
transcendência e, assim, passa a ser religião por meio da cultura. Tal passagem
define os desígnios fundamentais da experiência religiosa e da instituição social
religiosa. A saber:
Proteger os seres humanos contra o medo da natureza [...]; Dar aos humanos um acesso à verdade do mundo, encontrando explicações para a origem, a forma, a vida e a morte de todos os seres e dos próprios humanos. Oferecer ao humanos a esperança de vida após a morte, [...] que permite o retorno do homem com o convívio direto com a divindade, [...] As religiões da salvação, tanto as de tipo judaico-cristão quanto as de tipo oriental, prometem aos seres humanos libertá-los da pena e da dor da existência humana. Oferecer consolo aos aflitos, dando-lhes uma explicação para a dor, seja ela física, seja ela psíquica; Garantir o respeito às normas, às regras e aos valores da moralidade estabelecida pela sociedade (CHAUI, 2010, p. 263).
Sobre a religião e seus desígnios, já na época medieval os filósofos Santo
Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1227-1274), buscaram
respectivamente, conciliá-la à filosofia, entendendo que as explicações racionais
podiam justificar as crenças. Santo Agostinho ressaltou a onipresença da ação
divina: o homem só alcança salvação espiritual por meio de Deus. São Tomás de
Aquino compreendia a religião como uma virtude, que torna bom o homem e sua
ação. Para São Tomás de Aquino religião está dividida em dois grupos de virtude. O
primeiro grupo coloca o homem diante de Deus, e o segundo envolve
comportamentos morais tais como a gratidão, a veracidade, a cordialidade e a
liberalidade (NASCIMENTO, 2008).
Nas concepções de Chaui (2010), afirmamos ainda mais o uso da expressão
espiritualidade/religiosidade como Mosqueira (2015), pois segundo a autora as
experiências do transcendente passam a ser religião, o que se dá por meio da
cultura, nesse aspecto se encontram as relações dos conceitos.
34
Chaui (2010), ainda propõe que a religião ao se voltar para as inquietações
do crente, lhe implica na fé, ou seja, na confiança e na aceitação da manifestação da
ação da divindade, a principal atividade da fé é o respeito pelas divindades e a
piedade.
Para o teólogo latino americano Juan Luis Segundo (1997), fé é a relação
com o esperado, a determinação que movimenta o indivíduo, “é uma determinada
estrutura de sentido e de valores que cada um constrói para dar significação à sua
existência dentro do real” (SEGUNDO, 1997, p.93). Para o autor, todos possuímos
uma fé, é o que direciona cada um, dando sentido à nossa existência, o mesmo
postula a concepção de fé religiosa e fé antropológica.
A fé antropológica está relacionada com um sistema de valores que
direcionam a essência da vivência do homem, assim como à confiança ou ao
compromisso feito a alguém. Tal sistema estrutura os valores de modo que haja um
valor central que hierarquiza e subordina os demais valores. De acordo Segundo
(1997), num sentido mais existencial, este sistema de valores se refere aos preços
que o homem está disposto a pagar por aquilo que almeja.
A fé se resultaria em religiosa de acordo com seu envolvimento, sua
abrangência e intensidade, a fé religiosa não difere da fé antropológica,
essencialmente são a mesma coisa, contudo a fé religiosa crê de um modo
específico, havendo ou não a menção de divindade, a própria conotação popular de
que uma pessoa segue religiosamente a tal norma transmite essa idéia (SEGUNDO,
1997).
Segundo (1997) indica a fé como a energia, a força da ação, que não exclui
a reflexão dos meios para alcançar o objetivo, ou seja, é necessário que a pessoa
observe a realidade concreta pela qual passará para não frustrar-se.
Para aproximarmos o conceito de fé como confiança na divindade em Chaui
(2010), com a fé em Segundo (1997), fazemos referência da experiência íntima de fé
que Hoch (2007) descreve:
Como cristão, eu acredito que a fé ajuda a despertar essa força muitas vezes adormecida dentro de nós. A fé é capaz de alimentar essa força. Aliás, eu creio que nós, mediante a fé em Deus, podemos nutrir, reforçar treinar esta força como um músculo que precisamos exercitar para ficar forte. A fé em Deus é como uma força externa que fortalece essa força vital
35
própria com a qual Deus, o criador, já nos presenteou no ato de nascermos (HOCH, 2007, p. 73).
A fé se dá, então, numa dimensão pessoal profunda que faz com que os
indivíduos avancem guiados como que por um instinto, algo nato como diz Hoch
(2007), ela é da ordem dos significados, da consciência (CHAUI, 2010). É uma
certeza implícita que funciona como ânimo, como mola de movimento da ação
(SEGUNDO, 1997) e, ainda como cita Wondracek (2005, p.11), para Pfister “crer
não é uma apreensão racional nem uma imaginação, mas uma comoção de todo o
interior da pessoa”.
2.2 ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ E PSICANÁLISE: DA NEUROSE
OBSESSIVA À CURA DOS HOMENZINHOS
No pensamento e na obra freudiana, a religião e as vivências religiosas
sempre estiveram presentes. Do período de 1914 e 1939, o pai da psicanálise,
concebeu parte expressiva de seu trabalho a assuntos concernentes à religião. As
concepções de Freud sobre o assunto são motivo para discussões e pontos de vista
variados. Mesmo diante de um avanço considerável entre o diálogo psicanálise e
religião, centros universitários e igrejas se esquivam para debater a temática
(WONDRACEK, 2005).
Para falar discutirmos o assunto, nos baseamos em Karin Hellen Wondracek
que se dedicou ao tema, buscando nos pressupostos da teoria de Freud a relação
entre psicanálise e religião. Traduziu as cartas entre Freud e o pastor protestante
psicanalista Oskar Pfister, e afirma que as correspondências se caracterizam como
testemunho vivo das variadas dimensões que a religião recebe na psicanálise.
Baseados na amizade, os pontos de vista polarizados, são absorvidos pela
afetividade e ganham novas possibilidades de relação no âmbito científico
(WONDRACEK, 2005).
Pfister foi apresentado à Freud através de Jung, o pastor que fazia análise
com Jung foi encorajado pelo seu analista a enviar seus postulados a Freud que os
recebe e os responde. Mesmo diante das diferenças quanto à religião, a amizade de
36
Freud e Pfister perdurou por quase trinta anos, frequentavam a casa um do outro,
trocando além de presentes, confidências (WONDRACEK , 2005).
Interessantemente com o mesmo Jung, Freud rompe suas relações
posteriormente, e ambos Jung e Pfister adotam a religião na formação positiva do
ser (WONDRACEK, 2005). Oskar Pfister se dedicava a utilizar a Psicanálise para
atender à sua igreja, assim como contribuiu com vários ensaios e trabalhos sobre o
processo analítico (WONDRACEK e JUNGE, 2009).
De acordo com Cezar, Assunção e Pereira (2012), Freud relacionava o
estado infantil de desamparo à necessidade da religião. Tal desamparo é
pertencente ao indivíduo desde seu nascimento e surge dos conflitos e dúvidas
sobre a manutenção do seu existir e futuro. Ao sair do útero, o indivíduo depara-se
frente a um mundo estranho, permeado de hostilidade e de mistérios quanto à sua
existência e morte.
Para Freud (1927), a figura de Deus/deuses foi formada pelo homem há
muito tempo atrás, consistindo numa concepção do ideal de onipotência e
onisciência, às divindades são atribuídos os seus desejos inatingíveis ou proibidos, e
são em essência ideais culturais.
No inicio do século XX, Sigmund Freud publica um trabalho intitulado de “O
futuro de uma ilusão” no qual defende firmemente a ideia de que a religião deveria
ser superada pelo avançar da ciência e sociedade (FREUD, 1927). O autor da
Psicanálise entendia que a religião estava ligada à neurose obsessiva, à culpa e a
sentimentos onipotência ou projeção.
Para Freud (1927) a religião se comparava ao sonho, sendo uma maneira de
realização dos desejos. O homem conceberia para si uma realidade imaginária,
dando origem à ilusão frente à realidade concreta. De forma geral, o indivíduo
escolhe viver na ilusão, pois o distanciaria das dificuldades e angustias da vida,
nesse âmbito a religião oferece a promessa da felicidade.
É válido considerar que para Freud (1927), a ilusão não se constituiria em
um erro e nem seria algo falso. A ilusão pode tornar-se realidade, contudo, não
existem fundamentos racionais para crer de tal forma. Para o mesmo, a ilusão é
concebida, quando a realização de um desejo é o elemento crucial de sua
37
motivação, nesse sentido, sua relação com a realidade é subestimada, pois a ilusão
não pode ser verificada.
Frente a nossa realidade cheia de dificuldades e angústias que fogem da
nossa capacidade de controle, damos origem à ilusão da providência divina que se
configura no pai. O amor e a compreensão do pai nos protegem da hostilidade do
mundo. Freud ressalta a relevância da ilusão no homem, pois ela atenua o
sofrimento, nesse aspecto, a religião fortalece o homem para suportar a vida
(FREUD, 1927).
Para Freud (1927), todavia, a religião limita o sujeito na busca da proteção
do sofrimento e da felicidade, lhe apontando o caminho correto. Por outro lado,
contribuiu de maneira veemente no processo de civilização, já que mantêm o
controle das pulsões destrutivas e antissociais do homem, que sem domínio o
destruiria.
De acordo com Wondracek (2005), Pfister consente com Freud em alguns
aspectos a respeito da religião. Um deles, por exemplo, é que a religião pode ser
auxiliar na prevenção de neuroses, contudo, quando é levada pela ortodoxia pode
causar uma neurose compulsiva. Dessa forma, a religião em si não é o problema, e
sim a maneira como a devoção é estruturada.
A religião esclarecida para Pfister é aquela em que mantêm diálogo com a
ciência, que lhe promove avanços e suprime a ortodoxia imatura. Anteriormente a
Pfister, o diálogo entre ciência e religião, já foi havia sido feito com Santo Agostinho
e São Tomás de Aquino, como citamos (NASCIMENTO, 2008).
Fundamentando-se em Winnicott no conceito de objeto transicional3, Pfister
aborda o conceito de ilusão, mostrando o valor positivo da ilusão mediante a função
de sustentar relacionadas as realidades interna e externa. Defende que a ilusão
pode coexistir com concepções ajustados à realidade (WONDRACEK, 2005).
Entendemos que no conceito de ilusão, Pfister encontra nos pressupostos
psicanalíticos o que fundamentaria como relevante a religião para o homem. A
ciência e religião não tiram do homem seu sofrimento. Entretanto, na religião o
3 O objeto transicional significa a primeira posse da criança, possuindo caráter de intermediação entre
o seu mundo interno e externo. Para melhor explicar o objeto transacional, Winnicott (1956) se refere ao primeiro vínculo da criança com o mundo externo: o seio da mãe, contudo o objeto transacional é de controle da criança, sendo ela que delimita seu uso.
38
homem encontra meios para significar e suportar a sua dor funcionando como meio
de sobrevivência, não só como um obstáculo a realidade.
Wondracek (2005) nos permite ver em Freud o reconhecimento, ainda que
tímido da religião como “cura das almas”. Pfister foi reconhecido por Freud em uma
das cartas trocadas entre eles, como um verdadeiro servo de Deus, “cujo conceito e
existência eram pra ele muito improváveis” (WONDRACEK, 2005, p. 27). Da mesma
maneira, Pfister tem a seguinte consideração sobre Freud “[...] o senhor não é ateu,
pois quem vive para a verdade vive em Deus, e quem luta pela libertação do amor
permanece, segundo I Jo 4.16 em Deus. [...] jamais houve cristão melhor”
(WONDRACEK, 2005, p.37).
Vemos com mais clareza como a relação de Freud e Pfister foi estabelecida
nos trechos das cartas seguintes, Freud (1909-1939) escreve a Pfister:
Alegro-me diretamente pelo seu posicionamento público contra minha brochura; será um refrigério em meio ao coro desafinado de críticas, para o qual estou preparado. Nós sabemos que por caminhos diferentes lutamos pelas mesmas coisas para os pobres homenzinhos. (Carta 81, 22. 10. 1927).
E Pfister a Freud (1909-1939):
No tocante à sua brochura contra a religião, sua rejeição da religião não me traz nada de novo. Eu a aguardo com alegre interesse. Um adversário de grande capacidade intelectual é mais útil à religião que mil adeptos inúteis. Enfim, na música, filosofia e religião eu sigo por caminhos diferentes que os do senhor. Não poderia imaginar que uma declaração pública sua me possa melindrar; sempre achei que cada um deve dizer sua opinião honesta de modo claro e audível. O senhor sempre foi paciente comigo, e eu não o seria com o seu ateísmo? Certamente o senhor também não vai levar a mal se eu oportunamente expressar com franqueza minha posição divergente. Por enquanto fico na disposição de alegre aprendiz. (Carta 81, 24.11.1927).
Para Wondracek (2005), o pastor Pfister consegue uma obra maravilhosa:
introduz o exercício da teologia cristã na essência da psicanálise. Seu olhar de
protestante conduz a outra dimensão os conceitos da teoria psicanalítica e de sua
clínica, além da compreensão da relação do sujeito com os outros e outras
instâncias psíquicas.
Observamos que mesmo que Freud tenha posturas críticas à religião, seus
pressupostos teóricos permitem de certa forma sustentá-la. Fazer uma crítica à sua
postura é complexo na medida em que sendo Freud judeu, ele mesmo foi
39
atravessado pela experiência religiosa, e talvez por isso tenha escrito tanto a
respeito, de alguma forma o fenômeno religioso o instigava.
Nos permitimos pensar, que manter uma relação com Pfister não tinha só
por objetivo provar suas afirmações, mas de perceber sobre outra ótica o amor de
Deus, o Pai onipresente. Ele mesmo diz que Pfister era “verdadeiro servo de Deus”,
que sua presença em sua casa fazia bem aos seus filhos (WONDRACEK, 2005).
Como receber o “verdadeiro homem de Deus” em sua casa, sem ter em si uma
concepção positiva a respeito do próprio Deus? Dizer que Freud era totalmente
contrário à religião é olhar apenas para o homem científico, e não olhá-lo sob a
perspectiva de sua maior descoberta o homem que age pelo seu inconsciente.
2.3 ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ E SAÚDE FÍSICA E MENTAL SUAS
RELAÇÕES COM A RESILIENCIA
Segundo Lopes (1970), na história da humanidade vemos que, a imagem
identificada como os “primeiros médicos” estavam ligadas às entidades
reconhecidas como curandeiros, xamãs ou sacerdotes, principalmente porque os
males que atingiam o corpo ou a mente eram associados à interposição de
Deus/deuses e estados místicos, inexplicáveis pelo modo natural.
Com o avançar da ciência e do desenvolvimento tecnológico no campo
ocorrido no século XX, possibilitou-se a visão microscópica e a leitura bioquímica
dos processos de doenças, o que gerou uma nova reinterpretação dos mecanismos
fisiopatológicos na área da saúde (GALLIAN, 2009).
De Marco (2003) salienta tal reinterpretação favoreceu também uma visão
fragmentada do ser humano e marginalizou a atuação do sobrenatural,
compreendido na transcendência, que funciona como fator de preponderante no
processo de cura, em tal perspectiva a homestase ou cura do corpo humano seria
estabelecida a partir da ação de fármacos.
Contudo, Lopes (1970) afirma que mesmo com o avançar da ciência médica,
perdurou-se o vínculo entre a cura do corpo e a crença dos pacientes que por sua
vez, parte da consciência de um componente simbólico, misterioso, que é a fé. Por
40
meio da fé ou da intercessão de orações e cultos, o paciente pode achar a saúde,
sobretudo quando exauridos todos os recursos médicos.
Corroborando com a ideia Oliveira e Junges (2012) fazem menção que em
1988, a Organização Mundial de Saúde (OMS) percebe que a espiritualidade está
relacionada às questões de vida e morte e introduz o conceito de espiritualidade na
saúde integral, o concebendo como conceito multidimensional de saúde: a
espiritualidade não se reduz a práticas especificas de religiões, mas às questões de
significado e sentido da vida.
Oliveira e Nogueira (2010) afirmam que a fé cristã dá significado e sentido às
experiências dolorosas da vida, assim como promove uma esperança real,
autoconfiança, equilíbrio e alegria existencial que despertam a resiliência.
Concomitantemente, Rocca (2013) afirma que diante desse novo cenário,
onde se potencializa o estudo das capacidades de pessoas ou de grupos de
pessoas para superar os traumas, doenças, adversidades ou fraquezas, faz-se
necessário especular de maneira investigativa qual seria o papel da fé nesse
processo. Aliás, quando se pensa na espiritualidade dos indivíduos, esta
primeiramente é associada à saúde-doença como citamos, e mais recentemente
com a resiliência (ROCCA, 2013).
Pensando-se nas situações de saúde-doença, pesquisas vem investigando a
resiliência como sendo a habilidade de um sujeito lidar com a doença, assimilando
suas limitações, cooperando com adesão ao tratamento, redimensionando sua vida,
adaptando-se e sobrevivendo de modo positivo (BIANCHINI e DELL’ AGLIO, 2007).
Interessantemente Camon (2003) trata das implicações do imaginário nos
sujeitos hospitalizados. Segundo o autor, é necessário que se faça uma análise dos
conceitos que o paciente possui sobre a doença e sobre seu sofrimento, pois os
sujeitos são acometidos pelas concepções que possuem de si mesmos. Fatores
subjetivos como menos autoconfiança, esperança e vontade de vencer fará com que
o paciente manifeste um maior grau de prejuízo e traga implicações na sua
recuperação.
Morais e Koller (2004) destacam que todas as vivências negativas da vida
de um indivíduo terão influência na sua maneira de lidar com o passado e com o
presente, quando estiver frente a situações adversas, como a doença. Nesse
41
sentido, Romano (1999) defende a realização de um estudo prévio de cada
paciente, pois, suas formas de reação no tratamento são resultantes de sua
estrutura de personalidade, assim como da sua interpretação das experiências que
está vivenciando, que envolvem tanto elementos do imaginário quanto do real.
Definindo a resiliência, Hoch (2007, p. 72) a descreve como a “a capacidade
humana de extrair do íntimo do seu ser uma reserva extra de forças para superar
dificuldades”, completando “é como se Deus tivesse colocado dentro de nós, no
fundo da nossa alma, um tanque de reserva”, para o enfrentamento de crises,
perdas, doenças e catástrofes.
Rocca (2013) sinaliza que a espiritualidade/religiosidade/fé são encontrados
nos estudos de fatores de proteção e nos pilares da resiliência quando se estuda o
fenômeno. Assis (2006, p. 106) destaca que:
Vários autores concordam em que a vivência da religião e a participação na Igreja são fatores de proteção, pois ajudam tanto a assumir com aceitação as adversidades inevitáveis, quanto a lutar com esperança por uma transformação. [...] a espiritualidade com suporte congregacional permite suportar crises e superar com recuperação, já que na confiança na presença divina é possível até “crescer com a adversidade, sentindo que não tem somente a força dos homens, mas uma força superior”.
Stadtler (2002) enfatiza o fato de que, a princípio, os profissionais da
Psicologia, possuem a concepção de que são proibidos de abordar a religião tratada
pelos próprios clientes. Segundo a autora, essa concepção é o motivo de várias
incompreensões e problemas profissionais relacionadas por aqueles que adotam a
mesma postura diante de conceitos como crença religiosa/doença mental,
racionalidade/loucura, misticismo/alucinação, que são situações bem diferentes.
2.3.1 Quando a espiritualidade/religiosidade/fé é fator de doença e risco social
Como vimos em Freud (2010), a religião esteve ligada a noção de neurose
obsessiva, também no início do século XX Dalgalarrondo (2008) descreve que
religião foi associada a sintomas psicóticos como delírios e alucinações observados
em pacientes com transtornos mentais graves, justamente nesse período
observamos a distância entre a ciência médica e a religião.
42
Não obstante os esforços para reconsiderarmos quão positiva pode ser a fé
no processo de cura dos indivíduos, Vanistendael (2005) nos alerta para a prudência
em nossas avaliações, observando principalmente o fato de que algumas religiões
ou fé as quais ele denomina como sectárias, induzem a prática da violência contra si
ou contra o seu próximo. Ele enfatiza que essa espiritualidade ou fé sectária não
será promotora de resiliência, uma vez que essa capacidade é essencialmente um
processo de crescimento da vida.
De acordo com Ballone (2008), a psicopatologia busca reduzir a
religiosidade à sua natureza fisiológica, compreendendo ser o fenômeno uma
necessidade psicológica adequada e sadia, quando não, eventualmente gera um
episódio mórbido e regressivo. Nesse sentido, a religiosidade pode compor
propósitos terapêuticos ou antagonicamente pode expressar uma situação de clínica
patológica. Rocca (2013, p. 106) pondera:
Em determinados casos tem-se observado a influência de alguns efeitos negativos da religiosidade: baixa na autoestima, sentimentos de culpa, crenças punitivas que fomentam a repressão da raiva, ansiedade e medo, tendência à dependência, ao conformismo e à sugestionalidade, à hostilidade às pessoas que não seguem a mesma religião e o rechaço de cuidados médicos por fanatismo [...].
A tal ocorrência, Gomes (2006) acrescenta a postura de quem lida com
esses indivíduos doentes, dizendo que quando algumas práticas religiosas, por
exemplo, entendem o corpo como possível habitação de demônios, esse indivíduo
passa a ser subordinado ao exorcista, o que acaba por desprender dos seus
familiares e amigos a consciência de responsabilidades éticas e morais para com o
mesmo. Contudo, assim como Ballonne (2008), o autor elucida a diversidade de
experiências religiosas, que serão ou não formadoras de personalidades sadias ou
patológicas.
43
CAPÍTULO III
3 ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ E RESILIÊNCIA: OS CONTEXTOS DE
ABORDAGENS E INTERVENÇÕES
Nesse capítulo, citamos quais os contextos de intervenção encontrada nos
trabalhos acerca da resiliência, assim como seus pressupostos teóricos.
O idoso e doença crônica e o manejo desta vem sendo discutidas na
resiliência por meio do coping religioso-espiritual, pois as implicações da doença
crônica, requerem adaptação para se melhorar a qualidade de vida.
Duas foram as linhas teóricas que propunham intervenções relacionadas à
espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência: A Terapia Comunitária, criada por
Adalberto de Paula Barreto (COSTA, 2010) e a Logoterapia de Viktor F. Frankl
(SOUZA e GOMES, 2012). A primeira visa a promoção da resiliência por meio da
auto-estima, da valorização da identidade cultural, pelo compartilhar das
experiências em grupo, entre outros aspectos. A segunda relaciona o
aconselhamento pastoral com resiliência e “o inconsciente espiritual”.
3.1 O ESTUDO DA ESPIRITUALIDADE/RELIGIOSIDADE/FÉ E RESILIÊNCIA EM
IDOSOS: DOENÇAS CRÔNICAS
De acordo com Oltramari (2010), o envelhecer é um processo com
frequência entendido como um momento característico de redução das reservas. As
perdas que são múltiplas acontecem de maneira concomitante ou gradativamente
em um curto espaço de tempo. São exemplos de perdas: morte do cônjuge ou de
amigos, decadência da saúde e das funções físicas, diminuição do status social, e,
por vezes, privação econômica. Além disso, a morte passa a ser iminente.
De fato, determinados episódios incomuns ou não constantes, nas fases
anteriores como as doenças, transformam-se relativamente normativos quando se
envelhece. Levando tais ocorrências em consideração, que se caracterizam como
riscos e desafios, é necessário a ampliação na capacidade de reservas e da
44
resiliência nos idosos para que o funcionamento adaptativo se mantenha. (SÁ e
FARAH, 2008).
A espiritualidade ligada à resiliência de acordo com Rocha (2011) pode ser
uma forma de enfrentar a doença crônica, pois ao receber o diagnóstico, a pessoa
está sujeita a modificar seus hábitos, a adaptar-se e a aprender viver de outra
maneira para controlar sua patologia. A doença crônica significa estar limitado por
tempo prolongado, muitas vezes até o final da vida. Tal condição tende a gerar
depressão, estresse e falta de esperança.
Segundo Panzini e Bandeira (2005), as estratégias de enfrentamento
religiosas denominadas coping religioso-espiritual, são identificadas especialmente
em situações de crises tais como problemas de saúde, velhice, inaptidões, morte,
perda de familiares ou entes queridos e situações de guerra. Os propósitos do
coping religioso-espiritual se relacionam com os da religião, visam principalmente a
busca de sentido, o conforto espiritual, o controle, a intimidade com Deus e com a
comunidade e a transformação e crescimento pessoal.
Panzini e Bandeira (2005) fazem referência a um estudo de Koenig,
Pargament e Nielsen de 1998, onde observou-se que o coping religioso-espiritual
possuía relação com melhor saúde mental, proporcionando redução de sintomas
depressivos e aumentando a qualidade de vida. Permite, então, crescimento ligado
ao estresse, à espiritualidade e a cooperatividade.
Sá e Farah (2008, p. 150) salientam que:
[...] determinadas práticas que visam desenvolver a espiritualidade, no mínimo, reforçam o sistema imunológico do indivíduo, o que já foi comprovado cientificamente, e proporcionam ao ser humano a sensação de segurança, do controle, o otimismo, a capacidade de adaptação e esperança.
Percebe-se segundo Rocha (2011) que o envelhecimento e a
espiritualidade, o que inclui a resiliência e o coping religioso-espiritual são temas de
interesse em diversas áreas. A espiritualidade e as crenças pessoais são conceitos
antigos e tidos como componentes de saúde, contudo, são conteúdos novos quando
se fala do reconhecimento científico e pouco utilizados na prática profissional.
45
3.2 A TERAPIA COMUNITÁRIA
Segundo Costa (2010), a Terapia Comunitária é uma terapia popular, criada
pelo psiquiatra, teólogo, antropólogo e filósofo Adalberto de Paula Barreto, no estado
do Ceará. Sua proposta é o respeito pela diversidade, no apelo do sentimento
humano do amor que independe de crenças, raça, condição socioeconômica, idade
ou posicionamento sexual e político.
De acordo com Barreto (2008)4, a Terapia Comunitária se caracteriza por ser
um lugar de compartilhamento de vivências pessoais, de escuta e construção de
vínculos, onde cada indivíduo se torna seu próprio terapeuta. Todos os participantes
se posicionam ativamente na busca por solução e superação das adversidades,
situações de estresse e sofrimento psíquico em um espaço de acolhimento, num
grupo de ajuda mútua.
Sendo que se utiliza de tais referenciais teóricos: O Pensamento Sistêmico,
A Teoria da Comunicação, A Antropologia Cultural, A pedagogia de Paulo Freire e a
Resiliência, com os seguintes objetivos:
1º - Reforçar a dinâmica interna de cada indivíduo, para que este possa descobrir seus valores, suas potencialidades e tornar-se mais autônomo e menos dependente. 2º - Reforçar a autoestima individual e coletiva. 3º - Redescobrir e reforçar a confiança em cada indivíduo, diante de sua capacidade de evoluir e se desenvolver como pessoa. 4º - Valorizar o papel da família e da rede de relações que ela estabelece com o seu meio. 5º - Suscitar, em cada pessoa, família e grupo social, seu sentimento de união e identificação com seus valores culturais. 6º - Favorecer o desenvolvimento comunitário, prevenindo e combatendo as situações de desintegração dos indivíduos e das famílias, através da restauração e fortalecimento dos laços sociais. 7º - Promover e valorizar as instituições e práticas culturais tradicionais que são detentoras do “saber fazer” e guardiãs da identidade 8º - Tornar possível a comunicação entre as diferentes formas do “saber popular” e “saber científico”. 9º - Estimular a participação como requisito fundamental para dinamizar as relações sociais, promovendo a conscientização e estimulando o grupo, através do diálogo e da reflexão, a tomar iniciativas e ser agente de sua própria transformação (COSTA, 2010, p. 24).
Dentro dos objetivos da Terapia Comunitária, observamos como a resiliência
é abordada por essa perspectiva, há aspectos da resiliência individual de acordo
4 Terapia Comunitária – Conversa com Adalberto de Paula Barreto, 2008. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=awNRIXx5vEI>. Acesso em: 07 out. 2015.
46
com Rocca (2013) nos fatores de proteção internos (auto-estima, por exemplo), mas
também da resiliência comunitária, uma reforça e provoca a outra.
Para Ojeda e colaboradores (2007, p.36), a resiliência no âmbito comunitário
se define como a “condição coletiva para superar desastres e situações de
adversidade maciça e construir sobre elas”, os principais pilares são a solidariedade,
a honestidade, a identidade cultural, o humor social e a auto-estima coletiva.
Para Barreto (2008)5, a resiliência compreende que a carência, dor ou
sofrimento gera competência, o autor usa a metáfora “a ostra que não foi ferida, não
produz pérola, a pérola é uma resposta a agressão”, corroborando que o sofrimento
é inerente ao ser humano. Nesse sentido, o importante “não é a pedra (sofrimento),
mas o que cada um faz dela”. Esta compreensão é transmitida aos participantes dos
grupos, com objetivo que esses busquem dar significado às adversidades não pelos
sintomas ou doenças, mas pela capacidade que cada um tem ou que pode
desenvolver para o enfrentamento.
3.3 LOGOTERAPIA E RESILIÊNCIA: O ACONSELHAMENTO PASTORAL
A Logoterapia foi criada por Viktor E. Frankl e nasceu a partir das vivências
do seu criador nos campos de concentração durante a II Guerra Mundial. Frankl foi o
primeiro psicólogo a passar por tal experiência, e é chamado de “Psicólogo Mártir”
(SOUZA e GOMES, 2012).
Segundo Gomes (1992), Frankl foi discípulo de Sigmund Freud, o conheceu
quando tinha apenas 16 anos, o jovem estudante passou a trocar cartas com Freud
para responder às suas inquietações. Mais tarde, teve um artigo publicado na
Revista Internacional de Psicanálise, dirigida por Freud.
Frankl rompeu com o pai da psicanálise, quando começa a entender que o
ser humano não é movido por impulsos, mas pela sua procura no significado da
vida. Como possui responsabilidade, é livre e tem consciência disso, traz dentro de
si um Deus inconsciente (GOMES, 1992).
5 Terapia Comunitária – Conversa com Adalberto de Paula Barreto, 2008. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=awNRIXx5vEI>. Acesso em: 07 out. 2015.
47
De acordo com Hoch (2013), Frankl introduz a concepção de espiritualidade
inconsciente, desta maneira, a prática terapêutica é conduzida através “psicologia a
partir do espiritual”. Nesse sentido, a espiritualidade é caracterizada como:
[...] uma “relação latente com a transcendência” que é “intrinsecamente inerente ao ser humano”. Frankl faz questão de frisar que com isso não está falando de um “Deus (que) está dentro de nós” ou que “habita em nosso inconsciente”. O que Frankl destaca é o poder terapêutico que resulta da relação da pessoa que sofre “com um Deus que está em si oculto”, mas com o qual o sofrente se relaciona (HOCH, 2013, p.185).
O aspecto da religiosidade no inconsciente humano é abordado como uma
unidade antropológica que inclui corpo, psiquismo e espírito, que se constitui através
da materialidade da relação com o outro. Tem uma dimensão bio-psico-sócio-
espiritual, por essa percepção é que se auto-transcende e se torna verdadeiramente
humano (SOUZA e GOMES, 2012).
Hoch (2013) faz referencia entre a relação existente entre a logoterapia e o
aconselhamento pastoral, a logoterapia e a resiliência. Para o autor, religião e
terapia têm objetivos diferentes. A psicoterapia visa à saúde mental, enquanto que a
religião a salvação das almas. Contudo, a religião pode ser terapêutica quando o
homem vivencia alívio psicológico ao contemplar a sua transcendência, ao descobrir
o sentido da vida em Deus, ao sentir-se seguro no absoluto.
A ponte feita entre resiliência e logoterapia encontra subsídios em
Vanistendael (2005), seus postulados convergem com os de Frankl, ambos
enfatizam que em meio ao imponderável, “a liberdade humana”, “a busca de sentido”
e “a força de resistência do espírito” são considerados “pilares da resiliência”.
Para Hoch (2013), do ponto de vista da teologia e do aconselhamento
pastoral, é interessante observar que partes dos especialistas se referenciam à
tradição bíblica, se utilizando, por exemplo, da história de Jó, como uma metáfora
que figura o caminho pelo qual na qual um ser humano é provado em seu sofrimento
de perdas: filhos, mulher, condição econômica e status social, doença, crises
existenciais, como ferro em brasa suportando as fortes marteladas do ferreiro para
que forje uma ferramenta refinada.
48
CAPÍTULO IV
4 METODOLOGIA
Esse capítulo apresenta o tipo pesquisa escolhido para responder a(s)
questão(ões) de pesquisa e o objeto de estudo, assim como, o método adotado para
a sua realização. Trata-se de uma revisão sistemática de literatura, de cunho
qualitativo.
Apresentamos também a caracterização dos dados obtidos, assim como o
plano de análise dos dados e o cronograma final para efetivação dessa pesquisa,
tida como trabalho de conclusão de curso.
4.1 MÉTODO E MATERIAL
O presente trabalho tem por questão de pesquisa a investigação de como a
espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência tem sido estudada nos últimos cinco
anos como forma de intervenção terapêutica.
Tendo por objetivo geral compreender as relações estabelecidas pelos
indivíduos apresentadas pela literatura entre espiritualidade/religiosidade/fé e
resiliência com sua saúde física e mental. Para dar conta de tal proposta,
recorremos à revisão sistemática de literatura, que se constitui em uma forma de
pesquisa que utiliza como fonte de dados a literatura sobre determinado tema.
Esse tipo de investigação disponibiliza um resumo das evidências
relacionadas a uma estratégia de intervenção específica, mediante a aplicação de
métodos explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese da
informação selecionada (SAMPAIO e MANCINI, 2007).
Para autores Sampaio e Mancini (2007), as revisões sistemáticas são
particularmente úteis para integrar as informações de um conjunto de estudos
realizados separadamente sobre determinada terapêutica/ intervenção, que podem
apresentar resultados conflitantes e/ou coincidentes, bem como identificar temas
que necessitam de evidência, auxiliando na orientação para investigações futuras.
49
Ainda de acordo com os autores a busca em base de dados eletrônica e em
outras fontes é uma habilidade importante no processo de realização de uma revisão
sistemática, considerando que sondagens eficientes maximizam a possibilidade de
se encontrarem artigos relevantes em um tempo reduzido.
Como forma de tratamento e análise de dados, será elaborado um mapa
conceitual com o objetivo de integrar, reconciliar e diferenciar conceitos, encontrados
na literatura. Tal mapa será produzido com o auxílio do Software Cmap Tools. Tal é
Software é resultado de pesquisa realizada no Instituto de Flórida para Human and
Machine Cognition (IHMC)6, que tem objetivo capacitar os usuários a construírem,
navegarem, compartilharem seus conhecimentos concebidos nos mapas
conceituais.
A teoria que está por trás do mapeamento conceitual é a teoria cognitiva de
aprendizagem de David Ausubel, contudo, a técnica dos mapas conceituais foi
desenvolvida em meados da década de setenta por Joseph Novak e seus
colaboradores na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. O conceito básico
da teoria de Ausubel é o de aprendizagem significativa. A aprendizagem é dita
significativa quando uma nova informação (conceito, ideia, proposição) adquire
significados para o aprendiz através de uma espécie de ancoragem em aspectos
relevantes da estrutura cognitiva já preexistente do indivíduo (MOREIRA, 1997).
Nesse sentido, a revisão sistemática e a construção do mapa conceitual
nesse trabalho, visam principalmente à formulação de um conjunto de novos
conhecimentos e habilidades que levam a autonomia na avaliação crítica das
informações científicas que serão utilizadas para diminuir as incertezas das decisões
tomadas nas intervenções terapêuticas.
4.2 COLETA DE DADOS
Para coletar dados pertinentes à pesquisa, esse trabalho se utilizou de
revisão sistemática de literatura, associada à área de Psicologia, utilizando os
descritores espiritualidade, religiosidade, fé e resiliência nas seguintes bases
eletrônicas de dados: CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
6 Disponível em: <http://cmap.ihmc.us/>. Acesso em 05 out. 2015.
50
Nível Superior) fundação do MEC (Ministério da Educação), BVS (Biblioteca Virtual
em Saúde), Google Acadêmico e SCIELO (Scientific Electronic Library Online).
4.2.1 Período de coleta de dados
A coleta de dados aconteceu entre os meses de Agosto e Setembro de
2015. Período em que se definiu a forma como a revisão sistemática aconteceria,
estabelecendo os descritores para a busca dos dados nas bases eletrônicas
mediante as leituras já realizadas do tema.
4.2.2 Procedimento de coleta de dados
Os descritores para a busca dos dados como já citamos foram:
espiritualidade, religiosidade, fé e resiliência, a delimitação do período em que os
estudos tivessem sido publicados foi arbitraria e definida entre 2010 e 2015.
Os critérios de inclusão e exclusão para a seleção dos artigos, teses,
monografias e dissertações assim foram definidos:
Inclusão: trabalhos publicados em português, que estivessem na íntegra, que se debilitassem aos últimos cinco anos e que relacionassem os conceitos espiritualidade, religiosidade, fé e resiliência.
Exclusão: trabalhos cuja metodologia de pesquisa fossem revisão sistemática ou integrativa, artigos repetidos, que mencionasse a espiritualidade/religiosidade/fé relacionados à resiliência, mas não exploravam tais fenômenos conceitualmente.
Apresentamos os resultados da busca na seguinte tabela:
Quadro 1. Resultados da pesquisa nas bases eletrônicas
Base Eletrônica Quantidade
CAPES 4
BVS 5
GOOGLE ACADÊMICO 37
SCIELO 2
Total de Resultados 48
Fonte: FRANCO, Mayara. 2015.
51
Mediante aplicação critérios de inclusão e exclusão os trabalhos ficaram
assim dispostos:
Quadro 2. Trabalhos científicos selecionados
Base Eletrônica Quantidade
CAPES 2
BVS 0
GOOGLE ACADÊMICO 2
SCIELO 1
Total de Resultados 5
Fonte: FRANCO, Mayara. 2015.
Tanto na busca inicial dos trabalhos para a revisão sistemática, quanto na
seleção dos trabalhos que farão parte da discussão, percebemos que tais produções
são ainda pouco publicadas, o que já aponta para uma necessidade de mais
pesquisas sobre o tema.
4.2.3 Caracterização dos trabalhos selecionados
No quadro abaixo apresentamos a caracterização dos trabalhos
selecionados em revisão sistemática de literatura nesse estudo para a discussão
dos resultados:
Quadro 3. Caracterização dos trabalhos selecionados
Estudo Característica Objetivo Método Principais Resultados Costa, 2010.
Estudo de campo com enfoque qualitativo.
Verificar o impacto do Projeto Rede de Apoio Social nas famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família.
Amostragem composta por famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família, participantes do Projeto Rede de Apoio Social, 60 indivíduos foram entrevistados.
Acredita-se que a espiritualidade poderia ser melhor explorada entre os grupos de TC através da participação ativa de lideranças religiosas, oportunizando às pessoas a expressão de sua fé considerando, principalmente, que a fé contribui também para o fortalecimento do potencial resiliente de cada um.
Farinasso, 2011.
Estudo clínico-qualitativo com amostra intencional.
Compreender os sentidos e significados da vivência do luto em viúvas idosas e sua
Entrevista não estruturada e observação com 6 viúvas idosas com idade igual ou
A crença em Deus e a religião possuem um papel mais positivo na elaboração do luto do que se tem atribuído comumente na literatura.
52
relação com a religiosidade.
superior a 60 anos.
Rocha, 2011.
Estudo exploratório.
Identificar e compreender o papel da espiritualidade no manejo da doença crônica do idoso.
Entrevista semi-estruturada com idosos que possuíam de 60 a 81 anos.
Os resultados mostraram que a religiosidade/espiritualidade/fé interfere na maneira positiva no enfrentamento dos obstáculos e dificuldades da vida, fortalece a resiliência do paciente melhorando assim sua qualidade de vida.
Oliveira e Furegato, 2012.
Pesquisa de campo na vertente história oral temática.
Identificar, entre pais de esquizofrênicos, elementos de sua convivência diária com o transtorno e com o cuidado recebido através do sistema de saúde.
Entrevistas, gravadas e transcritas, usando três instrumentos (dois questionários específicos e um diário de campo) com um casal, pais de quatro portadores de esquizofrenia.
Observou-se, a partir da análise das entrevistas, a resiliência presente nas atitudes dos pais, fortalecida pela fé em Deus, fonte de consolo e alívio.
Hoch, 2013. Ensaio. Explorar preliminarmente em que medida a logoterapia e a resiliência podem ajudar as igrejas e centros de formação teológica a capacitar melhor seus ministros no exercício do aconselhamento pastoral.
Pesquisa bibliográfica propondo o dialogo entre a logoterapia e a teologia protestante.
Valorizar a logoterapia e a resiliência como propostas terapêuticas capazes de enriquecer a teoria e a prática do aconselhamento pastoral numa perspectiva protestante, não prescindir da dialética teológica entre fraqueza e força, mas da afirmação da presença de Deus em meio a sua aparente ausência.
Fonte: FRANCO, Mayara. 2015.
Os estudos variam entre os anos de 2010 a 2013, sendo que dois foram
dissertações de mestrado um na área em Enfermagem e outro em Teologia
(COSTA, 2010 e ROCHA, 2011) uma tese de doutorado em Enfermagem
Psiquiátrica (FARINASSO, 2011), dois artigos um Enfermagem e outro em Teologia
(OLIVEIRA e FUREGATO, 2012 e HOCH, 2013).
Duas foram as Universidades que publicaram esses trabalhos: a
Universidade de São Paulo – USP (ROCHA, 2011; FARINASSO, 2011; OLIVEIRA e
53
FUREGATO, 2012) e a Escola Superior de Teologia de São Leopoldo Rio Grande
do Sul (COSTA, 2010 e HOCH, 2013). As delimitações geográficas foram então o
Estado de São Paulo e do Rio Grande do Sul.
4.3 PLANO DE ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados é composta por mapas conceituais e pela discussão
dos conceitos e intervenções encontradas nos trabalhos, relacionados com a
abordagem psicanalítica da resiliência.
Os mapas conceituais seguem um modelo hierárquico no qual um conceito
funciona como “guarda-chuva” localizado na parte superior ou central do mapa e
com cor específica. Esse conceito “abriga” os demais que são relacionados abaixo,
com outra cor. Setas dão um sentido de direção a relações conceituais específicas,
sendo usadas nas setas uma ou duas palavras que servirão de “conector” entre um
conceito e outro, e estabelecerão proposições entre eles.
Na análise dos dados, os mapas conceituais auxiliam: a) Encontrar o
conceito “guarda-chuva” do trabalho analisado; b) Evidenciar os significados
atribuídos aos conceitos e c) Estabelecer relações propostas entre eles.
54
CAPÍTULO V
5 ANÁLISE DOS DADOS
Nesse capítulo segue-se a análise dos dados obtidos por meio dos trabalhos
selecionados na revisão integrativa. Através da apresentação de mapas conceituais,
são estabelecidas relações entre as definições de espiritualidade/religiosidade/fé e
resiliência encontrados nos estudos.
Como a questão de pesquisa dessa investigação visa identificar formas de
intervenções terapêuticas relacionadas à espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência,
alguns mapas trazem também outros conceitos ligados a focos terapêuticos como a
Logoterapia e a Terapia Comunitária e suas intermediações com os conceitos
explorados.
5.1 DISCUSSÃO DOS DADOS OBTIDOS POR MEIO DE MAPAS CONCEITUAIS
O objetivo geral desse estudo pretende explorar as relações entre os
conceitos espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência apresentadas em trabalhos
acadêmicos como forma de intervenção terapêutica por meio de mapas conceituais
que se dá logo mais adiante. Os objetivos específicos foram identificados logo na
distribuição das pesquisas no quadro de Caracterização dos Trabalhos que se
encontra no capítulo anterior.
A delimitação geográfica onde tais pesquisas foram encontradas é
polarizada. Apenas os estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul publicaram a
respeito do assunto investigado. A Universidade de São Paulo – USP publicou os
trabalhos de ROCHA, 2011; FARINASSO, 2011; OLIVEIRA e FUREGATO, 2012 e a
Escola Superior de Teologia de São Leopoldo Rio Grande do Sul os trabalhos de
COSTA, 2010 e HOCH, 2013
As publicações variam entre os anos de 2010 a 2013, sendo que dois foram
dissertações de mestrado um na área em Teologia (COSTA, 2010) e outro em
55
Enfermagem (ROCHA, 2011), uma tese de doutorado em Enfermagem Psiquiátrica
(FARINASSO, 2011), dois artigos, um em Enfermagem (OLIVEIRA e FUREGATO,
2012) e outro em Teologia (HOCH, 2013).
É interessante que a maioria dos autores não é da área Psicologia, a não ser
Hoch (2013) que além de teólogo é psicólogo, mas publica seu artigo na Revista
Estudos Teológicos da EST. Tal fato pode estar relacionado ao que diz Stadtler
(2002) quando observa que a princípio, os profissionais da Psicologia, possuem a
concepção de que são proibidos de abordar a religião tratada pelos próprios clientes.
Essa concepção é o motivo de várias incompreensões e problemas profissionais.
Por outro lado, indica a interdisciplinaridade do tema abordado, uma vez que
a espiritualidade e as crenças religiosas são componentes da saúde, e então
referidas e pesquisadas nas áreas de saúde – Enfermagem -, mas são construções
teológicas, pesquisadas então nessa ciência, que perpassam pela Psicologia
quando falamos que o sujeito precisa ser compreendido numa concepção bio-psico-
social-espiritual, e quando relacionadas à resiliência.
Apresentamos os mapas conceituais em ordem cronológica das publicações.
Como buscamos as relações entre quatro conceitos: espiritualidade, religiosidade, fé
e resiliência, estes são estabelecidos como “guarda-chuva” no mapa conceitual a
partir do estudo explorado. Ressaltamos com exceção o Mapa 1 – Costa, 2010 - em
que o tema central do estudo é a Terapia Comunitária, mas que tem por base teórica
a resiliência, então a consideramos como conceito “guarda-chuva”; e o Mapa 5 –
Hoch, 2013 – que estuda a Logoterapia, defendendo a espiritualidade, então
consideramos a espiritualidade como conceito “guarda-chuva”.
5.1.1 Mapa 1 – Costa, 2010: “Resiliência” como conceito “guarda-chuva”
O mapa conceitual abaixo foi extraído da dissertação de mestrado em
Teologia de Costa (2010) de título “Projeto Rede de Apoio Social: transformando
sofrimento em competência”:
O conceito central do estudo de Costa (2010) é a Terapia Comunitária, que
tem como um dos seus eixos teóricos a resiliência. Na América Latina a resiliência é
estudada numa perspectiva mais contextual do meio em que o sujeito vive, retrata
56
por Suarez Ojeda (ROCCA, 2013) enfatiza o social como resposta aos problemas do
sujeito frente às adversidades.
Segue o mapa conceitual:
Mapa 1 COSTA, 2010.
Fonte: FRANCO, Mayara. 2015.
A proposta da Terapia Comunitária é formar uma rede de apoio social por
meio de grupos terapêuticos, onde os sujeitos são estimulados a enfrentar seu
sofrimento dando-lhe um novo sentido, além de buscarem em si próprios recursos
para superarem as adversidades de maneira saudável. O criador terapia Barreto
(2008) diz que a resiliência compreende que a carência, dor ou sofrimento gera
competência, usa a metáfora “a ostra que não foi ferida, não produz pérola, a pérola
é uma resposta a agressão”, corroborando que o sofrimento é inerente ao ser
humano.
O sofrimento e as adversidades são entendidas na Psicanálise como
traumatismos. Zukerfeld (2005) explica que o traumatismo é formado tanto pelo
choque gerado de um agente externo, quanto pelas maneiras de reação do sujeito
diante do choque. Nesse sentido, a capacidade de conter o que é traumático,
possibilitando novos estados psíquicos, seria o processo de resiliência. O aparelho
psíquico manifestaria a potencialidade inovadora que determina ação modificada.
Essa ação transformaria as situações adversas e os futuros já traçados.
A Terapia Comunitária ao incentivar o indivíduo a buscar recursos próprios
para superação coincide com o entendimento psicanalítico da resiliência como
mecanismos de defesa. Para Anault (2006), no processo resiliente estaria o manejo
57
dos mecanismos de defesa dos quais permaneceriam somente os adaptativos e
maduros que levariam a uma boa condição de saúde mental, entre eles estaria a
sublimação, a criatividade, o humor e o altruísmo, pois funcionam como um suporte
na elaboração das pulsões agressivas que estão presentes no traumatismo, além
disso a própria flexibilidade nos modelos de ajustamento.
No texto de Costa (2010) a Terapia Comunitária a partir da resiliência
estimula a busca de novos sentidos para o sofrimento baseado não na dor, mas na
capacidade de enfrentamento, enfatiza a resiliência é potencializada por meio dos
fatores de proteção que incluem a espiritualidade e a religiosidade que auxiliam na
busca pelo sentido da vida (ROCCA, 2007). As práticas religiosas são expressas por
meio da fé, que consiste na confiança de que um Deus presente ajuda a superar o
sofrimento (ROCCA, 2007).
Os conceitos espiritualidade/religiosidade/fé e resiliência aparecem como
sendo a resiliência o conceito central de onde se parte os demais conceitos:
espiritualidade/religiosidade/fé, sendo que os dois conceitos não são separados nem
distanciados, como alguns autores o fazem. Dessa forma, o texto de Costa (2010)
se aproxima das concepções de Chaui (2010), expressadas no referencial teórico
desse trabalho. Para a autora a religiosidade possui a função de dar explicação
sobre o mundo, está ligada às questões existenciais, dada a alguns autores para a
espiritualidade (MOSQUEIRO, 2015), como ajuda a superar o sofrimento.
A fé também aparece dentro da concepção de Chaui (2010), assim como de
Segundo (1997), em Chaiu (2010) quando diz que a religião exige a fé dos crentes,
e em Segundo (1997) quando que ela é um meio de alcançar algo, ou seja, superar
as adversidades.
5.1.2 Mapa 2 – Rocha, 2011: “Espiritualidade” como conceito “guarda-chuva”:
No segundo mapa conceitual elaborado a partir da dissertação de mestrado
de Rocha (2011) em Enfermagem, de título “A espiritualidade no manejo da doença
crônica do idoso”, percebemos que seu conceito “guarda-chuva” é a espiritualidade
dos quais partem os demais conceitos religiosidade/fé e resiliência, como vemos
abaixo:
58
Mapa 2 ROCHA, 2011.
Fonte: FRANCO, Mayara. 2015.
No trabalho de Rocha (2011) a espiritualidade é vista como o sentido da vida
(PANZINI et. al. apud ROCHA, 2011), como aquela que busca questões existenciais
de vida e morte, e por isso é vista como um componente de saúde. Oliveira e
Junges (2012) fazem menção que em 1988, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) percebeu que a espiritualidade está relacionada às questões de vida e morte
e o concebe como conceito multidimensional de saúde: a espiritualidade não se
reduz a práticas especificas de religiões, mas às questões de significado e sentido
da vida.
Contudo, no trabalho da autora que visa perceber como a espiritualidade
pode ajudar o indivíduo no manejo de doenças crônicas, a religiosidade aparece
ligada intimamente com a espiritualidade, pois se constitui como expressão da
mesma. A religião permite o restabelecimento do homem a Deus (PANZINI et. al.
apud ROCHA, 2011). Tal ligação, só é alcançada por meio da fé, ou seja, na
confiança e na aceitação da manifestação da ação da divindade (CHAÍU, 2010).
Rocha (2011) afirma que o bom relacionamento do homem com Deus é o que
promove a resiliência.
Deus, nesse sentido pode ser visto como na figura de um “tutor”. Rocca
(2013) destaca que para que a resiliência aconteça é necessária a presença de um
“tutor de resiliência”, ou seja, alguém que acredite no potencial daquele que está
59
sofrendo, que potencialize suas capacidades, que mantenha um vínculo empático e
amoroso proporcionando formas, para que este elabore suas próprias capacidades
de superação.
Freud (1927) afirma que frente a nossa realidade cheia de dificuldades e
angústias que fogem da nossa capacidade de controle, damos origem à ilusão da
providência divina que se configura no pai. O amor e a compreensão do pai nos
protegem da hostilidade do mundo.
Ainda pensando em Deus como a figura do pai, observamos que na teoria
das relações objetais, a resiliência é vista dentro da formação da rede vincular da
criança, logos nos primeiros anos de vida constituída pelo apego, pela identificação
e pela sustentação na intersubjetividade que se apresenta na relação com o outro.
Nesse sentido, a resiliência é investigada através dos vínculos significativos
estabelecidos nos primeiros anos de vida. Tais vínculos proporcionam uma
adaptação diante do traumatismo bem elaborada, pois se constituem como causa
geradora de recursos intrapsíquicos (GOLSE, 2003).
Os recursos intrapsíquicos que Golse (2003) cita são cruciais no
enfrentamento da doença crônica, e são mencionados como fatores de proteção
internos por Rocca (2013), sendo eles a determinação; o controle de si mesmo; o
protagonismo, a iniciativa e a criatividade e a visão otimista e realista.
Nesse sentido, a espiritualidade ligada à resiliência de acordo com Rocha
(2011) pode ser uma forma de enfrentar a doença crônica, pois ao receber o
diagnóstico, a pessoa está sujeita a modificar seus hábitos, a adaptar-se e a
aprender viver de outra maneira para controlar sua patologia. A doença crônica
significa estar limitado por tempo prolongado, muitas vezes até o final da vida. Tal
condição tende a gerar depressão, estresse e falta de esperança.
Segundo Panzini e Bandeira (2005), as estratégias de enfrentamento
religiosas denominadas coping religioso-espiritual, são identificadas especialmente
em situações de crises tais como problemas de saúde, nesse caso a doença
crônica. Os propósitos do coping religioso-espiritual se relacionam com os da
religião, visam principalmente a busca de sentido, o conforto espiritual, o controle, a
intimidade com Deus e com a comunidade e a transformação e crescimento pessoal.
60
5.1.3 Mapa 3 – Farinasso, 2011: “Religiosidade” como conceito “guarda-chuva”:
O estudo de Farinasso (2011) de título “A vivência do luto em viúvas iodas e
sua interface com a religiosidade: um estudo clínico-qualitativo” visa compreender os
sentidos e significados da vivência do luto em viúvas idosas e sua relação com a
religiosidade, assim o conceito “guarda-chuva” do estudo é a religiosidade.
Como observamos no mapa conceitual abaixo:
Mapa 3 FARINASSO, 2011.
Fonte: FRANCO, Mayara. 2015.
Em seu estudo Farinasso (2011) coloca a fé como implicação da
religiosidade, citando que a fé significa crer numa dimensão performativa, dirigida ao
mundo externo, ter fé é sempre invocar concretamente o poder do mundo espiritual
para os eventos e as experiências do cotidiano (DALGALARRONDO, 2008 apud
FARINASSO, 2011).
A morte traz a consciência da finitude do homem, é um evento sobre o qual
não tem controle, de acordo com Chaui (2010), desde muito cedo nós seres
humanos observamos que existem regularidades na natureza que independem da
nossa vontade, há coisas boas e ruins dos quais não somos autores. A realidade
exterior compreendida como algo que vai além da ação humana, como uma ordem
externa, faz surgir a crença de seres ou poderes superiores com os quais o homem
busca meios para se comunicar.
61
A espiritualidade surge nesse âmbito, relacionando com questões a respeito
da vida e da razão de viver (KOENIG, 2001 apud FARINASSO, 2011). Boff (2006)
ressalta que a espiritualidade é inerente ao ser humano, é o que lhe move a procurar
o sagrado e a experiência transcendente, é o ensaio das respostas às inquietações
profundas da alma sobre a sua existência: Quem eu sou? De onde vim e para onde
vou? Qual o sentido e o propósito da minha vida? Porque isso aconteceu/acontece
comigo? Qual meu lugar no mundo? Qual meu destino depois da morte? Nesse
sentido o homem a partir da comunicação com seres espirituais, exercida por meio
da fé, atribui não só significado a sua vida, mas também ao seu morrer.
De acordo com o que Farinasso (2011) apresenta em seu estudo, idosas
que enfrentam o luto por seus companheiros, passam também por uma espécie de
morte própria. Na maioria das vezes, eram dependentes dos maridos, são frágeis e
possuem uma ideia depreciativa da velhice, sentem mais a solidão e se costumam
isolar-se. A espiritualidade nelas funciona como um indicador de resiliência.
Para a psicanálise, segundo Cyrulnik (2004) a resiliência propõe um resgate,
depois da confrontação com situações de risco, violência, morte ou danos extremos
que prejudicam o indivíduo física ou psicologicamente. A própria confrontação traria
a sensação de morte, e a resiliência seria a “forma de costurar”, retomar a vida.
5.1.4 Mapa 4 – Oliveira e Furegato, 2012: “Fé” como conceito “guarda-chuva”:
Oliveira e Furegato (2012) em seu trabalho de título “Um casal de idosos e
sua longa convivência com quatro filhos esquizofrênicos”, possuíam o objetivo de
identificar, entre pais de esquizofrênicos, elementos de sua convivência diária com o
transtorno e com o cuidado recebido através do sistema de saúde.
Os autores encontraram nos relatos do casal entrevistado, a fé como um
elemento disseminado em seus discursos. Mencionam então como a fé em Deus
tem sido recurso de superação que o casal utiliza em sua vivência de sofrimento
diante da esquizofrenia. No mapa conceitual abaixo vemos como a fé aparece
relacionada aos conceitos de espiritualidade/religiosidade e resiliência:
62
Mapa 4 OLIVEIRA e FUREGATO, 2012.
Fonte: FRANCO, Mayara. 2015
Segundo os autores, a fé seria a invocação do poder curador divino
(RANDERMAK, 2009 apud OLIVEIRA e FUREGATO, 2012), o casal estudado frente
à adversidade da doença da esquizofrenia de seus quatro filhos possui uma
perspectiva de esperança na fé.
De acordo com Lopes (1970), na história da humanidade vemos que, a
imagem identificada como os “primeiros médicos” estavam ligadas às entidades
reconhecidas como curandeiros, xamãs ou sacerdotes, principalmente porque os
males que atingiam o corpo ou a mente eram associados à interposição de
Deus/deuses e estados místicos, inexplicáveis pelo modo natural.
A fé, nesse sentido promove resiliência e é potencializada na religião e na
espiritualidade (ZAHID, 2010 apud OLIVEIRA e FUREGATO, 2012) consiste na
capacidade de enfrentar o sofrimento, transformando-o autoestima, bem-estar e
satisfação. Oliveira e Nogueira (2010) concordam dizendo que a fé na medida em
que dá significado e sentido às experiências dolorosas da vida, gera uma esperança
real, autoconfiança, equilíbrio e alegria existencial.
A resiliência na psicanálise é entendida por meio dos mecanismos de defesa
empregados no enfrentamento do traumatismo. O ego se utiliza dos mecanismos de
defesa constituídos por táticas inconscientes e involuntárias para controlar e
canalizar o que apresenta como perigo externo e interno (CABRAL e
LEVANDOSWKI, 2013).
63
5.1.5 Mapa 5 – Hoch, 2013: “Espiritualidade” como conceito “guarda-chuva”:
No trabalho de Hoch (2013) com título “A contribuição da logoterapia e da
resiliência para o cuidado pastoral dos que sofrem: um diálogo inicial”, o autor
propõe explorar preliminarmente em que medida a logoterapia e a resiliência podem
ajudar as igrejas e centros de formação teológica a capacitar melhor seus ministros
no exercício do aconselhamento pastoral. O conceito “guarda-chuva” é a
espiritualidade que parte da compreensão da Logoterapia, como pode se observar
no mapa abaixo.
Mapa 5 HOCH, 2013.
Fonte: FRANCO, Mayara. 2015
A espiritualidade nesse estudo é compreendida a partir de uma dimensão
valorativa, intelectual e artística (FRANKL, 1985 apud HOCH, 2013), para o autor o
homem possui um inconsciente espiritual, ou seja, a espiritualidade está nele,
mesmo que ele não creia na existência dela. Ao compreender a dimensão espiritual
como uma unidade intelectual e artística, o criador da Logoterapia Frankl (1985 apud
HOCH, 2013) já se aproximava do conceito da inteligência espiritual e do chamado
“ponto Deus”, cunhados posteriormente.
64
Através da inteligência espiritual, absorvemos contextos maiores em nossa
vida, temos o sentimento de pertencimento do “todo”, somos mais sensíveis a
valores, a questões de sentido de vida, rompemos os limites que levam a
transcendência, nos ligamos a Deus (GOMES, FARINA e DAL FORNO, 2014).
Zohar e Marshall (2012) entendem que tal inteligência espiritual é uma
capacidade interna, uma habilidade inata do cérebro e da psique humana, que
funciona como um núcleo centralizador dos fenômenos existenciais. Quando o
homem se envolve profundamente, com temas relacionados à religião e a Deus, os
lobos temporais do cérebro recebem uma excitação que amplia a freqüência de 40
hertz das ondas eletromagnéticas do cérebro, e provocam uma experiência espiritual
de euforia e de contentamento e de beatitude, como se estivesse frente a uma
“Presença”. Zohar e Marshall (2012) batizam essa região dos lobos temporais como
o “ponto Deus”.
Quanto à dimensão artística, Boff (2011) afirma as religiões do mundo são
as manifestações do “ponto Deus”, apresentadas na forma de ritos, comportamentos
e doutrinas que são distintas entre si devido à cultura.
A espiritualidade então implica na religiosidade que culmina na fé, na
confiança em Deus, que é exercida na força interna que possuímos, ou seja, na
resiliência para superar as adversidades. A resiliência é definida pelo próprio Hoch
(2007, p. 73) a partir de sua experiência cristã da seguinte maneira:
Como cristão, eu acredito que a fé ajuda a despertar essa força muitas vezes adormecida dentro de nós. A fé é capaz de alimentar essa força. Aliás, eu creio que nós, mediante a fé em Deus, podemos nutrir, reforçar treinar esta força como um músculo que precisamos exercitar para ficar forte. A fé em Deus é como uma força externa que fortalece essa força vital própria com a qual Deus, o criador, já nos presenteou no ato de nascermos (HOCH, 2007, p. 73).
A fé em Deus seria suporte da resiliência, para o encontro de um novo
sentido para vida diante das adversidades. Assim, Deus se apresenta na figura do
Pai amoroso (FREUD, 1927) que protege seus filhos da hostilidade do mundo. A
espiritualidade como capacidade intelectual (FRANKL, 1985 apud HOCH, 2013) se
alia a resiliência, na medida em que não consiste em uma solução mágica, mas
alia o realismo com a esperança, de modo que as adversidades são vistas como
construtivas e não de maneira ingênua (VANISTENDAEL, 2005).
65
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizar esse trabalho podemos perceber como as questões espirituais
são inerentes a própria natureza do homem. Existem diálogos possíveis entre
ciência e fé que foram exaustivamente cunhados na proposta de Santo Agostinho
(354-430) e São Tomás de Aquino (1227-1274) em aliar filosofia à religião, assim
como em Pfister em associar e usar termos psicanalíticos para fundamentar a
prática religiosa (NASCIMENTO, 2008; WONDRACEK, 2005).
O caminho do diálogo estreito. É comum escutarmos que “religião” não se
discute, mas se ela não for discutida nas academias e nos templos, não haverá
avanços para ambas as partes, as práticas religiosas imaturas não serão superadas,
e a ciência não será contemplada com a esperança.
Ressaltamos assim, a importância de que mais estudos de autores da área
da Psicologia sejam publicados, uma vez que foi encontrado, apenas um estudo
escrito por um psicólogo (HOCH, 2013). Nos demais estudos quem fala do
fenômeno psicológico da resiliência são enfermeiros e teólogos, o que indica uma
interdisciplinaridade, mas por outro lado culmina na afirmação de Stadtler (2002) de
que os profissionais da Psicologia possuem a concepção de que são proibidos de
abordar a religião tratada pelos próprios clientes.
Uma maior publicação de estudos com essa proposta possibilitará uma
descentralização desses pensamentos, já que nas bases eletrônicas pesquisadas,
apenas duas faculdades publicaram a respeito – USP - Universidade de São Paulo –
e a EST - Escola Superior de Teologia de São Leopoldo Rio Grande do Sul. Em
todos os estudos, a dimensão espiritual no indivíduo contribuiu na superação de
adversidades, servindo de intervenção terapêutica como a Terapia Comunitária ou a
Logoterapia, ou ainda por meio da valorização e incentivo da mesma (COSTA, 2010;
FARINASSO, 2011; ROCHA, 2011; OLIVEIRA e FUREGATO, 2012 e HOCH, 2013.)
Observamos que a organização de conceitos “guarda-chuva” nos mapas
conceituais serviu de sistematização de relações propostas entre os conceitos
estudados, mas não implicou em divisão entre eles, os estudos apontam para uma
inter-relação, onde a espiritualidade/religiosidade/fé são vistas como fatores de
proteção que reforçam a resiliência em vários aspectos (ROCCA, 2013):
66
REFERÊNCIAS
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