Acervo_performare_Alexandra Goncalves Dias - Performance Movimentos
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8/9/2019 Acervo_performare_Alexandra Goncalves Dias - Performance Movimentos
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Performance: Movimentos.
Alexandra Gonalves Dias
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Palavras-chave: Performance, performance art, corpo, processo, artes hifenizadas.
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Movimentando a cartografia:
Gostaria de comear este artigo dizendo que ele poderia ser qualquer outro,
assim quero introduzir a idia de que esta escrita processo e, como processo,
quero trat-la como uma experincia partilhada. Escrever este artigo trata-se de,com os olhos fechados, apontar o dedo em um lugar qualquer de um mapa que est
em constante movimento. Assim, ao invs de tentar reter um assunto especfico,
preferi abrir as possibilidades e dar vazo ao movimento que j est acontecendo na
elaborao deste texto.
Na fase atual do meu trabalho de pesquisa, desenvolvido dentro do
Programa de Ps-Graduao em Artes Cnicas da UFGRS, sob o ttulo provisrio
de Performance/corpo: O corpo da performance1, me encontro agora naquele
momento silencioso em que decises prticas e tericas foram tomadas, mas queainda totalmente incerto o destino que a pesquisa vai tomar. Dizer que o processo
est em atual estado de desordem pode parecer arriscado se pensarmos que estou
inserida num contexto acadmico, porm trata-se primeiramente de um contexto de
arte onde paradigmas cientficos se rompem e que a desordenao pode ser
entendida dentro de uma idia de pensamento complexo e que, se pensarmos em
pesquisa em arte, o objeto no pode ser definido a priori, ele est em vir-a-ser e se
construir simultaneamente elaborao metodolgica (CATTANI, 2002: 40).
Fao este relato, pois me faz acreditar que posso encarar este momento daescrita tambm como performance2 e como parte do meu processo a partir do
momento em que percebemos a obra de arte como um processo ininterrupto.
Assim, a realizao deste cruzamento da escrita com o meu trabalho prtico pode
ser pensado como uma coisa s. Dessa forma quero ter a pretenso de que, no
processo de composio deste ensaio, minha pesquisa vai ter avanado para alm
destas pginas, para dentro e para fora do corpo.
Assim, posso fazer saltos dentro do espao desse mapa que estou traando
e prosseguir atravs da reflexo de um movimento especfico que venho estudandoem meu trabalho.
Visualizo essa matriz de movimento como sendo o ponto de onde se
desdobra toda a pesquisa, assim como posso pensar tambm o inverso, de que toda
a pesquisa se desdobrou neste movimento. importante evidenciar que o corpo
aqui a matriz da obra de arte, o centro absoluto de nosso universo simblico
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um micro modelo para a humanidade e ao mesmo tempo, uma metfora
para um macro corpo poltico-social. (GMEZ-PEA, 2005: 204).
Chamo este movimento especfico de conflito e a idia em torno da
palavra conflito neste trabalho tem a ambio de se estender ao macro corpo
poltico social descrito por Gmez-Pea, trazendo a idia de conflito internacionalem mim.
Em meu trabalho, parto do conflito que se estabelece embrionariamente no
corpo e assim surgem questes de movimento: De onde comea a oposio no
corpo? Onde o conflito se instaura em mim? Em que momentos eu estou evitando o
conflito no meu corpo?
Apesar de este movimento especfico ser recorrente em minhas
improvisaes e que surgiu, mais intensamente, no meu ltimo trabalho3, ele s se
estabeleceu dentro desta pesquisa na ocasio em que vi a cena do filmePossesso4 em que a atriz Isabelle Adjani, possuda por uma entidade metafrica,
executava movimentos perturbadores.
Como as questes de interdisciplinaridade so inerentes a minha pesquisa,
principalmente na utilizao dos conceitos cinematogrficos como referncia e
inspirao, adicionei ao cabealho da pgina deste artigo, a estrutura mecnica
bsica desta tecnologia. Pode-se utilizar ento as imagens como um filme ou como
um flip-book, onde se pode visualizar rusticamente a matriz que venho
desenvolvendo. Assim, preferi lanar mo da tecnologia da imagem seqencial, aoinvs de descrever o movimento com palavras (tentando imprimir sensaes,
metforas e impresses). No entanto, no se deve tratar esta aplicao como um
atalho ou como uma traduo mais fiel do que as palavras poderiam imprimir ao
meu movimento, penso apenas que, como artista, posso fazer esta opo e talvez
suscitar no leitor a ao de folhar o canto direito ou at, quem sabe, de rearranjar a
seqncia proposta. Podemos encarar isto como minha proposta de cruzamento
entre linguagens dentro de um texto acadmico.
Essa idia no uma novidade, Richard Schechner, por exemplo,desenvolveu a escrita de seu livro Performance Studies: An Introduction utilizando
o recurso das janelas estimulando o leitor a navegar por hyperlinks analgicos,
criando o efeito de um computador com muitas janelas abertas ou de um seminrio
dinmico com muitas perguntas vindas da platia.
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O sentido estimulado, como abordar cruzamentos?
Artes hifenizadas:
As proposies do ps-dramtico, da Performance Studies e daetnocenologia parecem convergir, entre outros aspectos, no conceito da obra teatral
como acontecimento vivo, aqui e agora, retomando a idia da presena, numa
proposta que se concentra sobre o que resta de especfico no teatro: o corpo real
de um ator se oferecendo ao olhar imediato de um espectador, o evento que
constitui uma co-presena (CHEVALLIER, 2004). Essa idia nos remete
diretamente a Grotowski e sua pergunta primeira onde ele define a essncia do
teatro no encontro.
Assim, pode parecer contraditrio que as artes performticas ps-modernas, se interessem por trabalhar com novas tecnologias, outras mdias e
linguagens. No entanto ao resgatar sua essncia, o teatro consegue se libertar da
idia de dependncia tecnolgica e de um pensamento competitivo com o cinema e
a TV. Livre desta relao, a arte performtica espetacular se autoriza a propor
interseces e assim passa a ampliar suas fronteiras que comeam a se contaminar
abrindo a possibilidade de cruzamentos e contaminaes que se desdobram em
manifestaes como Teatro-Dana, Physical Theatre, vdeo-dana, vdeo-
performance,performance-instalao, body art, etc.Dessa forma, a relao com elementos tecnolgicos e a inter-relao de
linguagens, no devem ser entendidas como um incremento ou um poluente do
espetculo, mas devem estar associadas ao processo numa relao dialgica que
identifica a interao e a interdependnciados diferentes elementos que constituem
a obra, colocando em prtica uma idia complexa de teatro. Assim, esses
procedimentos desmancham hierarquias do olhar e derretem barreiras de raa,
classe, sexo, lngua e disciplina. (LEABHART, 1986: p. iii). O que nos autoriza a
perguntar:Posso pensar a dana como cinema?
Posso pensar a dramaturgia como blog?
Posso pensar neste artigo como performance?
... e assim at o infinito.
Para onde isto vai se desdobrar?... Este um final em aberto...
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Bibliografia:
CATTANI, Icleia Borsa. Arte Contempornea: O Lugar da Pesquisa. In: BRITES,Blanca. TESSLER, Elida (orgs.). O meio como ponto zero: metodologia dapesquisa em artes plsticas. Porto Alegre: Ed. da Universidade, 2002. p. 35 - 50.
CHEVALLIER, Jean-Frdric. O gesto teatral contemporneo: entre apresentaoe smbolos. (Trad. livre de Paulo Balardim). LAnnuaire thtral, revue qubcoisedtudes thtrales n 36. Ottawa Universit dOttawa, 2004.
CONNOR, Steven. Performance ps-moderna, cultura ps-moderna. SoPaulo: Loyola, 2004.
GOLDBERG, RoseLee. Performance Art: From Futurism to the Present.London: Thames & Hudson Ltd, 2001. 240 p.
GMEZ-PEA, Guillermo. En defensa del arte del performance. HorizontesAntropolgicos, Porto Alegre, vol.11, n. 24. p. 199 - 226, 2005
GROTOWSKI, Jerzy. El Performer. El tonto del pueblo, La Paz, n.3, p. 154 - 164,mayo 1999.
LEABHART, Thomas (ed.). Canadian post-modern performance. MimeJournal. Claremont: Pamona College Theatre Department, 1986. 91 p.
LEHMANN, Hans-Thies. Teatro ps-dramtico e teatro poltico. Sala Preta, SoPaulo, n3, 2003.
MARGOLIN, Deb. A perfect theatre for one - Teaching performance composition.The drama review, New York, 41 (2), n.154, p. 68 - 81, summer 1997.
MORIN, Edgar. Introduo ao pensamento complexo. Lisboa: Intituto Piaget,2007.
POSSESSO. Andrzej Zulawski (Dir.). Frana: 1981. son., color, 35mm. Ttulooriginal: Possession. Legendas em portugus.
PRADIER, Jean-Marie. Etnocenologia. In: GREINER, Christine; BIO, Armindo(orgs.). Etnocenologia: Textos selecionados. So Paulo: Annablume, 1999. p. 23 -29.
RIBOT, La. Panoramix. In: HEATHFIELD, Adrian (ed.). Live: art andperformance.New York: Routledge, 2004. p. 28 - 37.
SCHECHNER, Richard. Performance studies: an introduction. New York:Routledge, 2002. 289 p.
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1 A pesquisa realizada sob orientao da Prof. Dra. Ins Alcaraz Marocco.
2 Qualquer comportamento, evento, ao ou coisa que pode ser estudada "como" performance, pode ser analisado em termos defazer, de comportamento, e de mostrar. (SCHECHNER, 2002: 32).3 Em atividade desde 2003, o PROJETO MAX, criado por mim, juntamente com Andr Mubarack e Michel Capeletti, se caracterizapor ser um grupo de pesquisa onde o interesse reside no conceito do performer como criador e condutor da narrativa. No PROJETOMAX os trs performers criam e concebem seus trabalhos e desenvolvem projetos em colaborao com diretores convidados. Comesses preceitos, o grupo vem traando sua trajetria multidisciplinar, onde a investigao pelo movimento estabelece conexes entre
linguagens. O espetculo INSTRUES PARA ABRIR O CORPO EM CASO DE EMERGNCIA, o mais recente trabalho dogrupo em colaborao com Tatiana da Rosa que assina a direo do trabalho. O espetculo estreou em Porto Alegre em maro de2007 e suas questes continuaram a ser desenvolvidas dentro do projeto INSTRUES]desdobramentos (os dois trabalhosreceberam o Prmio Funarte de Dana Klauss Vianna em 2006 e 2007).4 POSESSO. Andrzej Zulawski (Dir.), 1981.