Abelhas Nativas

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Nat i vasAbel has sem f er r ao ~ Jos Manuel P. P. Ballivin (Org.)Bruno Ut ermoehl Valdir Machado Soares Carlos Jacint o Cleci Claudino Cleci Terezinha Brum da Silva Cleunice Vent ura Elio Alfredo Tamiozzo Ely Machado Vaz Fabiano Punt el Flvio Pen Ribeiro Francieli Soffiatt i Gilmar Veot anh Bento Glucia Ri beiro de Arruda Ieda Teresinha Pinheiro Jane Adriana Vaz Tolott i Jussara Ribeiro Lori Nelson Jot Ribeiro Mrcio Fg J T Joaquim Maria Vieira Vargas Sales Maria Ruth Pereira Marlice Kvn Sales Nice Terezinha P. Ternes Sara Crist iane Karigk Sales Sueli Teresinha Vargas Soffiatt i Thais Pissinin Ubirajara Venh Venh de Oliveira Vit alina Nvnso dos Sant os Viviane Toto de Oliveira Zacarias Kat anh Sales Zico Fjin Ribeiro M g PTerra Indgena Guari ta, RS 2008 CACIQUE TERRA INDGENA GUARITA - RS Kaingang Valdones Joaquim LIDERANA SETOR PEDRA LISA Kaingang Ado Se Juja Sales LIDERANA SETOR Km 10 Kaingang Julio Sales ESCOLA E. INDGENA de E. F. BENTO P GG Diretora Cleunice Ventura Vice-Diretora Jussara Ribeiro Orientadora Educacional Ieda Teresinha Pinheiro Secretrio Fabiano Puntel ESCOLA E. INDGENA de E. F. GOMERCINDO JT TENH RIBEIRO Diretora Nadir Fleck Grassioli Vice-Diretora Maria Ruth Pereira Secretrio Matias Dav id Brum Editora Oikos Ltda. Rua Paran,240 - Cai xaPost al 1081 CEP 93120-020 - SoLeopoldo/RS Tel.: (51)3568-2848 cont ato@oi koseditor a.com. br www.oi kosedit ora.com. br CAPA - CentrodeApoi o ao PequenoAgricultor Rua Gaurama,470 - Cai xaPostal 977 99700-000 - Erexi m/RS Tel. /Fax: ( 0xx54)3321-5951 Correio El etrnico:[email protected] Endereo I nter net:www.capa.org.brCOMIN - Conselho de Missoentre ndios Rua Amadeo Rossi, 467 - CaixaPost al 14 93001-970 - SoLeopoldo/RS Tel. /Fax: ( 0xx51)3590-1440 Correio El etrnico: comin@est. edu. br Endereo I nter net:www.comi n.org.brDISTRIBUIO: NATIVAS Abelhas sem ferro M gP Escol a EstadualIndigena de E. F.Gomercindo Jt Tenh Ribeiro Escol a EstadualIndgena de E F Bento P Gg FA-KED BAYERN Instituio Sinodal de Assistncia, Educao e Cultura ISAEC Departamento de Assuntos Indgenas DA COMIN COORDENAO Parceria COMIN/CAPA ELABORAO: Jos M. P.Palazuel os Ballivin Bruno Uter moehlValdir MachadoSoar es Carlos Jacinto Cleci Claudi no Cleci TerezinhaBrum da Sil va Cleunice Vent ura Elio Alfredo Tamiozzo El y Machado Vaz Fabiano Puntel

Flvio PenRibeiro Francieli Sof fiatti Gilmar VotanhBento Glucia Ribeiro de Arruda Ieda Teresinha Pinheiro Jane AdrianaVaz TolottiJussara Ribeiro Lori Nelson Jot Ribeiro Mrcio Fg J TJoaquim Maria Vieira Vargas Sales Maria RuthPereira Marlice Kvn Sales Nice Terezinha P. Ternes Sara Cristiane KarigkSales Sueli Teresi nha Vargas Sof fiattiThais Pissinin Ubirajara Venh Venhde Oliveira Vitalina N vnso dos Santos Viviane Toto de Oli veira Zacarias KatanhSales Zico Fjin Ribeiro ORGANIZAO e EDITORAO Jos Manuel P. Palazuelos Ballivin ILUSTRAES Alunos indgenas das escolas participantes e Smara Pereira Palazuelos REVISO Vitor H. Hollas e Erny Mugge REALIZAO Parceria COMIN / CAPA Tenente Portela / EMATER Tenente Portela Escola Estadual Indgena de E. F. Bento P Gg Escola Estadual Indgena de E. F. Gomercindo Jt Tenh Ribeiro COLABORAO Alexandra Carv alho Pereira de Palazuelos, Roberto Carlos dos Santos, Rodrigo Matos e Wilmar DAngelis APOIO - Igreja Ev anglica Luterana da Bav iera FA-KED - Ajuda da Igreja da Noruega - AIN - Kirkens Ndhjelp CatalogaonaPublicao:Bibliotecria: Eliete Mari Doncat o Br asil CRB10/ 1184A141 Abelhas Nativ as sem Ferro - M g P / Organizador Jos M. P. Palazuelos Balliv in So Leopoldo: Oikos, 2008. 128 p.: il., color.; 15,5 x 22 cm. ISBN 978-85-7843-056-6 1. Abelha nativa sem ferro. 2. Cultura indgena. 3. Educao ambiental.4.MeioambientePreserv aoExtinoAbelha nativ a sem f erro. I. Balliv in, Jos M. P. Palazuelos. CDU 638.1 To pequena... Singela, vens f azendo grandes coisas. De f lor em f lor, resist indo ao t empo, insist es em promover a vida. A vida de muit os, inclusive dos que ignoram a t ua hist ria. Porm, eis t ua prpria obra que demonstra a t ua grandeza. Que t ua reaf irmao surpreenda a conscincia, principalment e daqueles que pelo lucro negam a t ua presena. E que a esperana permanea lat ent e, desejando a f ormao da nova sement e. Manolo Agradecimentos Igreja Evanglica Luterana da Baviera FA-KED; Ajuda da Igreja da Noruega Kirkens Ndhjelp AIN; A Luiz Rogerio Boemeke e Jos Carlos Hs, pela paixo com que contagiam atravs da meliponicultura; A Walter Sass que, desde Carauari/AM, compartilha o seu conhecimento e a sua motivao. Sumrio APRESENTAO 8 INTRODUO11 1 HISTRIA DAS ABELHAS13 2VIDA DE INSETO 21 3EM PARCERIA COM O AMBIENTE 33 4DIVERSIDADE e DIFERENAS43 5 VALOR SOCIOCULTURAL 53 6 VALOR ESPIRITUAL 59 7 VALOR ALIMENTAR e MEDICINAL 67 8 ALERTA!PERIGO DE EXTINO 77 9 APLICAO PRTICA e INTERDISCIPLINAR 85 Atividades nas escolas: Entrevistas - Textos e Tarefas - Historinhas - Poesias - Acrsticos - Receitas com mel Oficina de Abelhas 113 ANEXO- Depoimento: Impactos decorrentes da invaso de abelhas117 Glossrio119 Refer ncias Bibliogrficas121 APRESENTAO Asabelhassemferrosopoucoconhecidasemuitasvezespassam despercebidas,mastmumaimportnciamuitogrande,cumprindoseu papeldepolinizadoras,aovisitarasfloresdervoresearbustos.Isto acontece assim h milhes de anos.O trabalho realizado por estas abelhas essencial para a manuteno da diversidade vegetal e para a manuteno da flora nativa e, indiretamente, da faunaquedelasealimenta,desempenhandoumatarefaimportantssima para a nidificao das matas e dos ecossistemas, contribuindo na preservao dafaunaedaflora,que,emconjuntocomoutrosseres,mantm onosso planeta em equilbrio. O que no muito divulgado que 90% das rvores brasileirasdependemdapolinizaorealizadapelasabelhasnativase que, sem diversidade, no h sustentabilidade. Estas abelhinhas, como so carinhosamente chamadas, esto ameaadas dedesaparecerpeladestruioaceleradadosecossistemasnaturais, condenando muitas espcies a uma existncia limitada a registros em livros e museus.Nestesentido,o Guia doProfessorAbelhasNativassemFerro cumpreumpapeldesafiadoraosensibilizaralunoseprofessores,mas tambm asociedadeemgeral,resgatando ovalorsociocultural,espiritual, alimentar e medicinal que este grupo possui para a humanidade, ao mesmo tempo em que alerta para o perigo da extino.Estapublicao,comaplicaoprticaeinterdisciplinar,ricamente ilustrada,comhistorinhas,poesias e depoimentos,torna oseu contedode fcilleituraecompreenso.Aproveitoparaparabenizarosautoresque pensarameelaboraramesteGuia,sistematizandoconhecimentoe registrando histrias, certamente de grande utilidade para todos. Ameliponiculturaumaatividadeque podeserincentivadaatnas cidades, despertando nas crianas e nos adultos o gosto pela atividade, bem como o cuidado e a preservao destas abelhas, servindo de instrumento de educao ambiental. Certas espcies j esto sendo criadas pelos agricultores familiares para ajudar a polinizar alguns cultivos. Aimplementaodaeducaoambientalnasescolasurgente, devendo ir muito alm do plantio de rvores, do cuidado com a gua e com osoloedapreocupaocomolixoproduzido.precisopromovera sustentabilidadedaagricultura,aproteodosecossistemas,asoberania 9alimentar,odesenvolvimentosustentvel...Podemoscomearcom pequenasaes,masprecisodaroprimeiropasso.Estanossa responsabilidade frente s futuras geraes. Ingrid M. Giesel Coordenadora CAPA - Ncleo Erexim com muita alegria que apresentamos este Guia que trata das Abelhas Nativassem Ferroapartirdos conhecimentos esaberesacumuladospelos povos indgenas. Omaterialresultadodotrabalhoeesforodepessoasjunto parceriaComunidadeIndgena/COMIN/CAPA sensibilizadas ededicadas emcompreender,valorizareincluirosconhecimentosindgenasem processosdeformaoeeducaodiferenciadanumaperspectivade sustentabilidade.Nestesentido,estelivrorepresentamaisumespaode visibilidade da sabedoria e cultura indgenas, apoiado pelo COMIN. Nestecontexto, a prtica esistematizaodaexperinciacomabelhas nativassemferroumaimportanteiniciativaquepermitevivenciar, atravs dateoria eprtica,estaperspectiva desustentabilidadeem quese restabelecemrelaesmaisequilibradasentreosseres.Estaprticaque envolvemeio ambientee famliasindgenas uma ao concretaem favor da vida e da diversidade biolgica e cultural. O material tambm um aporte importante no processo do dilogo de saberesemquesevisibilizaesevalorizaacontribuioindgenana construodeconhecimentoseno estabelecimento devivnciaserelaes mais justas e solidrias entre todos os seres vivos. Destaforma,omaterialservedeapoioaeducadoras,educadorese extensionistas quetrabalhamjuntocompovosindgenas, emcomunidades tradicionaiseem outroscontextos.Elepossibilitatrabalharatemticade forma diferenciada,comumaabordageminterculturalenuma perspectiva desustentabilidade.Que aleituraeoestudodo material possam animaras reflexes relacionadas ao tema e gerar um modo de ser mais solidrio. Cledes Markus Assessora em Formao - COMIN Pesquisa de Campo do 8 ano. Ninho da abelha irapu encontrado durante trabalho de campo. As abelhas irapu sentindo-se ameaadas, grudam nas roupas e cabelos dos alunos. Quando decidimos em reunio realizar esta proposta de trabalho juntoaosalunos,logosentiquenoserianadafcil,poisafaltade informaessobreestasabelhaseraumdosobstculos.Tnhamos pouqussimosmateriaisdidticosepedaggicos.Somentepelainternet acharamosmateriaisdepesquisa.Comaajudada professoraIeda,foi possveljuntarmosumbancodedadoseinformaessobreasmais variadas espcies de melipondeos, e saber que no Brasil h pelo menos 192 espcies de abelhas sem ferro. Mas algo me chamou ateno nestas pequenasabelhasnativasque,almdefrgeisedeexcepcionais produtoras demel,estoseriamenteameaadasdeextinodevidoao desmatamentoeaousoindiscriminadodeagrotxicose,tambm,pela ao indiscriminada dos meleiros, que somente visam o lucro.Outropontoquepodeserdestacadosobreestasabelhasque elassofundamentaisnavidademuitasplantas,poisatuamcomo polinizadorasdediversasespciesnativas.Sendoassim,podemos destacarpontosfundamentaisnestapesquisa:olevantamentode conhecimentos,aconscientizaodosdiversosvalores,oresgateda culturae,acimadetudo,fazendocomqueessaatividade,almde trazer benefcios para a sade e prazeres a toda a comunidade, permita uma renda extra para as famlias, e, em especial, para as mulheres e os jovens. Osalunoscompartilharameelaboraramtrabalhosmaravilhosos como desenhos e informaes trazidas de casa. Todos se empenharam e gostaram muito.Professora Jane Adriana Vaz Tolotti Introduo Por que o interesse por estas abelhinhas? EsteGuia,quevisaservirdeapoioparaeducadores/aseextensionistas quetrabalhamjuntoscomunidadestradicionais,oresultadofinaldo trabalho admirvel, desenvolvido em parceria por COMIN,CAPA eEMATER de Tenente Portela, duas escolas indgenas direo, professores e alunos , e a participaodedoisuniversitriosindgenasdoscursosdeagronomiae biologia. Omaterialcompreendeoregistrodeatividadessugeridaspelos professoreseincluiumarevisobibliogrficasobreoassunto.Foielaborado comointuitodefundamentarteoricamenteotemaedepromoveruma educaodiferenciadaatravsdavivnciaprticadealunoseprofessoresem questessobremeioambienteeculturaindgena,numaperspectivade contribuio para alternativas mais sustentveis e adequadas para as etnias. Entendemos,porm,queosconhecimentos,princpiosesistemasque atualmente regem o nosso intelecto, nossa produo de conhecimentos e nossas relaessocioambientais,lamentavelmentesodominadosporumparadigma depensamentohegemnicoquenosdistancia,cadavezmais,deumdilogo mais equilibrado e harmnico entre ser humano e natureza. Portanto,osaberindgenaacumuladoeoconhecimentocientfico disponveisprecisam(enos desafiam a) provocarumencontroparaagerao deinterfacesque,auxiliadaspelainterdisciplinaridade,nospermitamuma interpretaoeressignificaomaisadequadadetemasequestesqueesto fortemente relacionadas, interligadas, ou seja, que so interdependentes. E que precisam, necessariamente, passar por processos educativos e de formao. O destino da biodiversidade est seriamente influenciado pela ao do ser humano. E est em nossas mos (o que no significa depender somente de ns) promovermosaesmaisconcretasemfavordavidaedestespequeninhos polinizadores,quecumpremumnobrepapelquevaialmdointeresse material! Jos Manuel P. Palazuelos Ballivin Parceria COMIN/CAPA TenentePortela, RS Histria dasAbelhas 1 As abelhas existem h milhes de anos.Muitos dos povos primitivos conheciam as abelhas e utilizavam seus produtos e derivados. Osegpciossoconsiderados osprimeiros apicultores,umavezque 2.400anosantesde Cristojcriavamabelhasemcolmiasde barro.Athojeo povoegpciomantmuma dana tpica denominada Passo da Abelha. O MEL na HISTRIA da HUMANIDADE Nahistriadahumanidadeomelfoiumadasprimeiras fontes de acar para o ser humano. Isso demonstrado pelo uso do meledoplendasabelhasnativassemferronosperodospr-hispnicos e pr-Cabral, ao papel que desempenharam na dieta das comunidadesindgenasamericanas.NoBrasil,atosculoXIX,omelea cera,utilizadosnaalimentaopelosndioseno-ndiosenaconfecode velas pelos padres jesutas, eram provenientes das abelhas sem ferro. AS ABELHAS nas AMRICAS antes de CABRAL Antes do descobrimento e da con-quistadasAmricas,ousodeprodutos deabelhassemferro,e,emalguns casos,asuacriao,faziapartedos costumessocioculturais,inclusive alimentares,medicinais,ritualsticose comerciais de muitos povos indgenas da Amrica.Ouseja,jeramconhecidase domesticadaspelospovospr-O mel um aliment o geralment e encont rado em est ado lquido viscoso e aucarado, que produzido pelas abelhas a part ir do nct ar recolhido de flores e processado pelas enzimas digest ivas desses inset os, sendo armazenado em favos ou pot es, em suascolmias, para servir-lhes de aliment o durant e o perodo de escassez de flores. ABELHAS 1 Histria das ABELHAS LEITURA de TEXTO 16colombianos.ocasodosindgenasMaiade Yucatn(naAmricaCentral)que,segundo documentosescritos,antesdachegadados espanhisjpossuamoschamadosjobones (colmiasemtroncosocosrecortados),de onde omeleaceradeabelhaeramextrados.Mas, tradicionalmente,diversascomunidades indgenasbrasileirastambmfaziamusodestasabelhinhas;ocasodos Kayap,quedemonstraramteruminteressantesistemadeidentificao, manipulao e de semidomesticao de abelhas sem ferro. Atoanode1840,asabelhasexistentesnoBrasileram somente as chamadas nativas, indgenas ou meliponneos, cuja diversidade (ainda) muito grande. Em todo o Novo Mundo, antesdaintroduodacana-de-acaredaabelhaeuropia (Apismellifera),aprincipalfontedeadoanteeraomeldas abelhas sem ferro. A quantidade de abelhas sem ferro era to grandenoBrasilquemuitosriosforamchamadospelos portuguesesdeRiodasAbelhas,tambmconhecidospelos sertanistas brasileiros como Rio das Velhas. O MEL no PERODO da COLONIZAO OPadreAnchietafoioprimeirodosviajantesaregistraraabundncia domeledasespciesdeabelhasexistentesnoBrasil,ediz:Encontram-se quasevinteespciesdiversasdeabelhas, das quais umas fabricam o mel nos troncos das rvores, outras em cortios construdos entreosramos,outrasdebaixodaterra, dondesucedequehajagrandeabundncia decera.Usamosdomelparacurarferidas, que saram facilmente pela proteo divina.A cera usada unicamente na fabricao de velas.17 NoMxico,depoisdaconquistaespanhola,aabelhanativa denominada Xuna'an Kab (Melipona beecheii), domesticada pelo povoMaia,foiutilizadaintensamentepararesponderaos propsitosdosespanhis,quemonopolizaramasuaproduo impondofortestributosaosprpriosindgenasqueascriavam,impostosestesqueerampagoscomomeleacera,exportada principalmente para Europa. A CHEGADA das ABELHAS UROPA As primeiras colmias enviadas para a Amrica CentraledoSul,provavelmenteaoBrasil,em fins dosculoXVIII,procederamdaEspanhaede Portugal.Foiem1838queopadreManoel Severiano(eem1839,opadreAntnioCarneiro Aureliano)introduziunoRiodeJaneiroaabelha europia:alemounegra(Apismelliferamellifera) eaustraca(Apismelliferacarnica),ambas procedentesdoVelhoMundo;porm,nocomopropsitodeproduzirmel, mas, sim, para produo de velas de cera, necessrias para as missas da Corte. Porseremoriginriasdepasesqueapresentam invernorigoroso,estasabelhastinhamohbito de estocar alimento em quantidade para hibernar (dormir)duranteasestaesmaisfriasdoano. Elas se adaptaram muito bem ao clima brasileiro, aumentandoassuaspopulaesdeforma aceleradae,aindaquepossuamferro,so abelhas muito mansas, dceis e de fcil manejo. Entreosanosde1845e1880,novascolniasforamintroduzidaspor imigrantes italianos e alemes, que se estabeleceram no sul (Rio Grande do Sul,SantaCatarinaeParan)esudestedopas(SoPaulo).Nofinaldosculo passado, foiavezdaintroduodaabelhaitalianaouamarela(Apismellifera ligustica), que tambm tem ferro. 18 AS PERIGOSAS AFRICANAS Asabelhasafricanasnativasestodistribudas amplamente do ponto de vista geogrfico, ocupando todooterritriodafrica,compreendidoentreo SaharaeoKalahari.Abelhasafricanasdaespcie Apismelliferascutellatasobastanteprodutivas, porm, muito agressivas.Em 1956, o Dr. Warwick E. Kerr trouxe da frica, para fins cientficos, cerca de 50 abelhas rainhas africanas e as introduziu emPiracicaba,interior de So Paulo. Cerca de um ano depois, 26 enxames com suasrespectivasrainhas,escaparamacidentalmenteeacabaram cruzando com as espcies de abelhas europias aqui introduzidas nosculoXIX.Destecruzamentosurgirampopulaeshbridas denominadasdeabelhasafricanizadasque,hoje,dominama AmricadoSule quasetodoocontinenteamericano,causando grandes problemas para a apicultura nacional. Muitoagressiva,pormmenosdoquea africana,aabelhaafricanizadatemgrande facilidadedeenxamearemigrar.Temalta produtividade,rusticidade,tolernciaa doenaseadapta-seaclimasmaisfrios, continuando,inclusive,otrabalhoem temperaturasbaixas,enquantoaseuro-pias se recolhem nessas pocas. Avariabilidadegenticadessasabelhasmuitogrande,havendo umapredominnciadascaractersticasdasabelhaseuropiasnosuldo pas,enquantoaonortepredominamascaractersticasdasabelhas africanas. Asabelhasafricanizadassotemidaspelassuasferroadasquandoatacam, representando perigo (de acidentes) para o ser humano. O seu manejo exige um bom treino profissional e equipamentos especiais de proteo. 19 SUGESTESdeATIVIDADES Antes da colonizao do Brasil, as abelhas sem ferro eram as nicas produtoras de mel e as principais polinizadoras da flora e das matas nativas. As abelhas africanas e seus hbridos com as abelhas europias so responsveis pela formao das chamadas abelhas africanizadas, que hoje dominam toda a Amrica do Sul. Elas no existiam originariamente nas Amricas. Elas foram introduzidas durante a colonizao. O ferro pode causar reaes alrgicas em pessoas sensveis. Dependendo do nmero de ferroadas, chega a ser fatal. O enxame pode atacar e provocar a morte de animais. Por ser muito agressivo, pode apresentar risco para as pessoas. No incio da conquista, as abelhas nativas da Amrica do Sul eram consideradas venenosas pelos colonizadores portugueses.A cana-de-acar chegou ao Brasil no sculo XVI, junto com os portugueses e, pouco a pouco, foi substituindo o uso de mel como adoante. a.Pesquise com os mais velhos da comunidade, a poca em que comearam a aparecer as abelhas estrangeiras na sua Terra Indgena? Procure saber quem as trouxe? Como elas so identificadas (europia, alem, italiana, etc.) e como elas so chamadas na sua lngua? b.Descreva se o problema dos acidentes com abelhas de ferro afetou a vida de quem lida com a roa e com os animais. VOCSABIA? 20 c.Descubra a poca em que comearam a perceber o comportamento agressivo dessas abelhas e a incidncia de ataques com ferroada na comunidade. d.Pesquise o significado e a diferena das seguintes palavras: Velho Mundo e Novo Mundo; Pr-hispnico, pr-colombiano e pr-Cabral; Descobrimento, conquista e colonizao;Tributos e impostos, monoplio e exportao; Estrangeiro e nativo; indgena e no-indgena; Domesticao, semidomesticao e selvagem; Nativo ou autctone e extico ou imigrante; No tempo: ano, dcada, sculo e milnio. e.Localize no globo ou mapa mundial os continentes: americano, europeu e africano. f.Pesquise como e de que material eram feitas as velas antigamente. Como so feitas nos dias de hoje, e quais as atuais formas de iluminao utilizadas na comunidade e na sociedade no indgena. g.Procure descobrir a partir de quando a cana-de-acar foi utilizada pelo seu povo e quais so os derivados dela. Vida deInseto 2 Lngua Kai ngang Lngua Guar ani Lngua Kai abi Nomeem Portugus Kr Inhak Iakang Cabea KanExaEirareaOlho composto Kan S-eai iOcelos (pequenos) --OpejopAntena JnkyJuruIjuruMandbula (boca) NnApekIkuGlossa (lngua) Fe parPoxiaEteTrax (peito) FnfrIpepoIpepoAsa anterior Fnfr-IpepoiiAsa posterior Fa / KreIpoIjywaFmur (coxa) PnIpyIfwTarso (p) Kre kpVaraiTymakangCorbcula (cesta) GrYeapi aAbdome (barriga) Pn / NrEviapi aapPlaca tergal (costas) CNPTIA/EMBRAPA Besouros, baratas, grilos,cigarras,moscas,percevejos,mosquitos, cupins,abelhas, borboletas, formigas e muitos out ros animais formam uma verdadeira legio de criat uras fantsticas chamadas de insetos. PARTES de um INSETO J foram estudadas cerca de 750.000 espcies de insetos, e so incalculveis as que ainda no conhecemos. Apesar da grande variedade, existem caractersticas comuns que os definem: Tm seis patas; No possuem esqueleto; Tem corpo dividido em trs partes; Podem ter asas, ou no; Possuem antenas. dos INSETOS 2 Vida de INSETO LEITURA de TEXTOCorbcula. Local semelhante a um cesto onde a abelha carrega ou transporta plen, em associao com nctar para o alimento das larvas, e resina e barro para construo de seu ninho. Os insetos so o grupo de animaismais diversif icado existentenaTerra. 24 ASPECTOS REPRODUTIVOS Osinsetossoseresovparos,ouseja,composturasdeovos,podendo apresentar trs tipos de desenvolvimento: 1.Desenvolvimentodireto.Nohtransformaodocorpo(metamorfose), pois, do ovo eclode um filhote jovem semelhante ao adulto ou imago, como o caso da traa. 2.Desenvolvimento indireto com metamorfose incompleta. Do ovo nasce uma ninfa,quemuitosemelhanteaoadulto,massemasasasdesenvolvidas. Exemplos: barata, percevejo, gafanhoto, cigarra, cupim e liblula. 3.Desenvolvimento indireto com metamorfose completa.Do ovoeclodeuma larvacomaparnciabemdiferentedoadulto;essalarvapassaporum perodoemquesealimentamuitoevaimudandodepeleatatingiro estgio de pupa, no qual pode haver a formao de um casulo de proteo; na pupaocorreametamorfose,atravsdaqualalarvasetransforma,criando suas asas, num adulto. Exemplos: borboleta, besouro, mosca e abelha. PARTICIPANDO da TEIA ALIMENTAR Muitosinsetossoimportantespor fazerempartedateiaalimentar(ou trfica)de outrosanimaiscomodeaves, peixes e mamferos.Almdisso,muitosinsetos,espe-cialmenteosescaravelhos,sodetritvo-ros,alimentando-se deplantaseanimais mortos, contribuindo assimparaaremi-neralizaodosprodutosorgnicos, portanto,paraareciclagemde nutrientes. Besouros e moscas necrfagas alimen-tam-sedefezesedeanimais mortos,easformigaseoscupins reciclamamatriaorgnicanosolo, atuando sobre plantas mortas.25 Emboraamaiorpartedaspessoasnosaiba, provavelmente a maior utilidade dos insetos que muitos delessoinsetvoros,ouseja,alimentam-sedeoutros insetos, ajudando a manter o equilbrio na natureza. Emsuma,osinsetossodeextremaimportncia paraamanutenodoequilbriodosecossistemas terrestres,semosquaisareciclagemetodaacadeia alimentar entraria em colapso, j que so a base alimentar de muitos outros animais, inclusive do ser humano.O Controle Biolgico ou Natural Nacadeiaalimentar,muitas pesquisastmdirecionadoparao controlebiolgicodeinsetos,como uso de certos fungos, vrus, bactrias e atinsetoscarnvorosnocombate de pragas.Paraqualquerespciede inseto,existeoutraespciequepode ser um inseto (por exemplo, umavespa), um fungo, um vrus, umabactria,umaaveouummamfero,quepodeserum parasitideoupredadordele.Porestarazo,ousode inseticidas pode ter o efeito contrrio ao desejado, uma vez que estesmatamnososinsetosquesepretendeeliminar,mas tambm os seus inimigos naturais. No mundonatural, quase todos os seres vivem embrenhados numacomplexa teiade relaesque se estabelecem entre representantes das diferentes espcies. As relaesde predador-presa, herbvoro-planta ede parasita- hospedeiro, so um exemplo disso.26SOCIEDADES de INSETOS Asmuitasespciesdeabelhastambmevoluramdistintamenteno quedizrespeitosociabilidade.Enquantoalgumascontinuaram solitrias, outras desenvolveram vrios nveis de sociabilidade. Insetos Solitrios Aocontrriodoquemuitaspessoasimaginam,a grande maioria das abelhas no vive em sociedade ou em colniascomrainhaeoperrias.Amaioria dasespcies deabelhassolitria,isto,vivemsozinhas(comopor exemploamamangava) .Cadafmea,individualmente, constriecuidadoseuprprioninho.Afmeamorre antesdesuacrianascer.Ouseja,nohcontatoentreasgeraes.Oalimento dacriaslido,umamisturadeplencomnctar,sobreoqualoovo colocado. H, no Brasil, muitas espcies de abelhas solitrias, algumas com cores metlicas,detamanhosvariadosemuitobonitas.Asabelhassolitriaspodem apresentar,nassuas patas traseiras,tufosdeplosonde oplenseaglutina,ou no ter nenhum aparelho coletor de plen nas patas. H ainda uma famlia que apresenta o tufo de plos para prender o plen na parte ventral do abdome. Insetos Sociais Algumas espcies de insetos, como formigas, cupins e abelhas, vivem emcomunidadesorganizadaschamadasdecolnias.Entreasabelhas sociais,almdaconhecidaeuropia(Apismellifera),estoos meliponneos, que agrupam vrias espcies de abelhas sem ferro. As abelhas sem f erro so insetos com altssimo grau de evoluo social,vivendo em colnias permanentes e dividindo suas f unes por entre as castas da sociedade. Todasasespciesdemeliponneosso eusociais, isto , vivem em colnias, as quaisDerli 2 ano 27 soconstitudaspormuitasoperrias(atmaisde umacentenademilhar,conformeaespcie),que realizamastarefasdeconstruoemanutenoda estrutura fsica da colnia, coleta e processamento do alimento,cuidadoscomacriaeadefesa,eporuma rainha(emalgumaspoucasespciessoencontradas atcinco),responsvelpelaposturadeovos,quevo darorigemsfmeas(rainhaseoperrias)ea,pelo menos, parte dos machos (em diversas espcies, parte dos machos so filhos das operrias).Osmachos,conhecidos comozanges,tambmpodem estarpresentes.Nassociedades dasabelhas,osmachosno trabalham.Osdescendentes nascem e crescem protegidos dentro da colnia, e o alimento coletado usado por todos.Enxameagem A enxameagem um processo complexo pelo qual a colnia se reproduz e queenvolveumarainhavirgemepartedasoperriasdesuacorte.Algumas destas operrias deixam a colnia original e procuram um local adequado para a construodenovoninho.Aoencontr-lo,sualocalizaoinformadas demaisabelhasdogrupo,atravsdoprocessode comunicao,tpicoemcadaespcie,sendoque partedasoperriasmigraparaestelocallevando cerume,retiradodacolniaoriginal,iniciandoa construo do novo ninho.Inicialmentetodoomaterialutilizado (cerume,resinaealimento)retiradodoninho materno.Quandoonovoninhoestem condiesdereceberanovacolnia,migram ento a rainha e muitas operrias. O vnculo com acolmiamaternasemantmaindaporalgum Dentro da colmia ou colnia, h diviso de trabalho e interao entre a me e os seus descendentes. 28tempo,duranteoqualasoperriasdanovacolniacontinuamtransportando alimentoecerume.Apsamigrao,arainhadanovacolniarealizaovo nupcial, durante o qual fecundada e, algum tempo depois, inicia a postura.Inimigos Naturais das Abelhas sem Ferro Todosospredadoresdeinsetossopotenciaisinimigosdasabelhas.No entanto,alguns,comoasaranhas,ospssaroseosbarbeiros,noalteramo cotidiano de uma colnia, por no possurem grande poder de destruio para a colmia,utilizandoparaasuaalimentao,quandomuito,algunspoucos indivduos.Porm,existeminimigosquepodempredaroninho,provocando mortandadeeatsuaextinototal.ocasodosseguintes insetos: 1.FORDEOS: as larvas destas pequenas moscas bem ligeiras (dpteros) se alimentam do mel. 2.FORMIGAS: gostam de acar e no hesitam em entrar na colmia para lamber o mel. 3.ABELHAS LIMO: so abelhas (lestrimelita limo) que conseguem o seu alimento em ataques macios contra os ninhos de outras abelhas sem ferro, dominando totalmente suas vtimas ao soltar um cheiro de limo, que bloqueia a comunicao das mesmas, confundindo-as e desmobilizando-as. Defesa das Abelhas sem Ferro As abelhas nativas so conhecidas como abelhas indgenas sem ferro por possurem o ferro atrofiado, sendo, portanto, incapazes de ferroar. Se no tm ferro, como se defendem? Enganam-se aqueles que desprezam a capacidade de defesa das abelhas sem ferro. Embora no se utilizem de tais rgos, defendem suas colnias de forma indireta,construindoseusninhosemlocaisdedifcilacesso(nointeriorde paredesgrossas,toposdervoresaltas,cavidadesprofundas,ninhosdeoutros 29 animaisagressivos),oucomofazaabelhaboca-de-sapo(Partamona), construindojuntoentradadoninhoumvestbuloquedificultaaentrada de inimigos.A entrada do ninho da maioria dasespcies , normalmente, guardada por abelhas que atacam inimigos que tentam entrar, especialmente abelhas de outras colmiaseformigas.Paramuitasespcies,estaentradacircundadaporuma resinapegajosaquedificultaoacessodeformigas.Outrasespciesfechama entrada do ninho quando so atacadas por estes insetos.Tambm se defendem de maneira direta, atacando os inimigos que insistem em penetrar em seus ninhos. Quando animais maiores (inclusive o ser humano)so considerados como elemento invasor, enroscam-seemseuscabeloseplos,beliscamcomsuas mandbulasafiadaseaindapenetramnos ouvidose narinas,deixando-ossobestadodesconfortvel,s vezes, insuportvel. Existe uma espcie vulgarmente conhecidacomo"caga-fogo" (Oxytrigona)quelana modeumartifciobastantedolorido.Quandoem situaodeataque,liberaumasubstnciacustica (cidofrmico)apartirdesuasglndulas mandibulares, resultando em srias queimaduras. INSETOS na CULTURA TRADICIONAL Muitosinsetossoconsideradosdaninhosoupragasporquetransmitem doenas(mosquitos,moscas),danificamconstrues(trmitasoucupins)ou destroemcolheitas(gafanhotos,gorgulhosoucarunchos,cigarrinhas,traas, etc.).Porm,quandoemequilbrio,asespciessoimportantesparaomeio ambiente.Damesmaforma,existeminsetosqueproduzemsubstnciasteis paraoserhumano,como omel,acerae aseda. Inclusive, emvrios lugares do mundo, os insetos sousadosnaalimentaoenasadehumanas. Dadosconfirmamque,dascentenasdemilhares deespciesdeinsetosjcatalogadas,maisde 1.500soutilizadascomoalimentoporcercade trs mil grupos tnicos, em mais de 120 pases.30Em algumas culturas, o uso de insetos se destaca pelo seu elevado consumo edependedoestgiodedesenvolvimentodestes.Porexemplo,dealgunsse consomem os ovos; de outros, as larvas ou, ainda, as larvas e pupas; e, de outros, somente os bichinhos adultos.EntreosndiosTukano,quehabitamaAmazniacolombiana, formigasesoldadosdecupinsconstituem onicoalimentode origem animalpermitidoemdietaslimitadasporcausadedoenas,ritosde iniciao de adolescentes e, inclusive, de meninas menstruadas. Na histria Kaingang sabe-se de atividades coletoras que promoviam a obtenodeanimaisminsculoscomoinsetoselarvas.Aslarvasdas palmeiraseramasmaisapreciadas,assimcomoasdeabelhas. Antigamentederrubavam-seaspalmeirasparaqueapodrecesseme nelas se criassem as larvas. EntreosAshninka,acoletadeformigasconstituitambmumadas atividadesalimentares.Elesencontramnestesinsetosumaimportante fonte de protena e energia. J os Tukuma apreciam as formigas vermelhas, as quais so consumidas assadasoumisturadasnafarinhade mandioca;damesmaforma, osovosda formigacortadeirasotambmutiliza-dos como alimentos. OsEnawen-Nawtambmapreciam muitoinsetoscomo:lagartas,brocas, coros,cupins,formigas,larvasepupas de vespas. Inclusive,naAmricaCentral,opovo Astecaalimentava-secommaisde noventaespciesdeinsetos, preparando-osdediversasmaneiras: assados,fritos,emmolhos,apenas fervidosoucomo condimentodealgum prato. Algumas espcies inclusive eram armazenadas secas. DonaM aria,v endendoformi-gas,l agart asegaf anhot os torradosnummercadopopu-lar do M xico. 31 Comachegadadosconquistadoresespanhis,noentanto,muitosdos alimentosindgenasforamqualificadosnegativamentee,ento,esquecidos e/ou depreciados. Sabe-sequeosinsetoscontmquantidadesconside-rveis de protenas e gorduras, sendo tambm ricos em minerais.Porexemplo,aformigacortadeiraoucaiap (Attacephalotes)possuimaisde40%deprotena. Tambmsesabequepupasdeabelhascontm aproximadamente18%deprotenasesoricasem vitaminas A e D. As antenas funcionam como rgos de paladar, olfato e tato, alm de permitir a orientao e a conservao do equilbrio. Os insetos so os nicos invertebrados com real capacidade de vo, mas muitos no a possuem, como pulgas, traas, piolhos, cupins e formigas, sendo que os dois ltimos desenvolvem asas na poca reprodutiva, perdendo-as aps a cpula. As abelhas e vespas so insetos parecidos, fazendo parte do mesmo grupo - ordem Hymenoptera. Uma abelha pode ser distinguida de uma vespa pela posio de suas asas: vespas tm as asas dobradas longitudinalmente, quando em repouso; pela pilosidade do corpo: ausncia de plos nas vespas; pela presena de uma expanso ou tufos de plos nas patas posteriores das abelhas, onde acumulado o plen coletado, ausente nas vespas. Na cabea das abelhas, esto os dois olhos compostos (viso em todas as direes), trs ocelos ou olhos simples (viso de perto - interior da colnia e das flores). As abelhas operrias melponas vivem em mdia trinta a quarenta dias e so quase brancas ao sarem dos favos, escurecendo com o passar do tempo. VOCSABIA? 32 SUGESTESdeATIVIDADES As operrias, durant e a vida adult a, desempenham diversas funes dentro do ninho, seguindo relat ivament e a seguint e ordem: faxineiras nutrizes arquit etas soldados campeiras. Os machos no t m corbcula, no colet am nct ar nas flores. Diferent es so os zanges de Apis mellifera, os meliponneos. Alm de estarem sempre alert as espera da princesa para fecund-la, tambm exercem pequenos t rabalhos dent ro da colnia, como a desidrat ao do nct ar, incubao de favos de cria, manipulao do cerume e defesa do ninho. A agregao de machos ao redor do ninho ou caixa pode reflet ir a exist ncia de uma rainha virgem prest es a realizar o seu vo nupcial. a.Compare e diferencie os insetos quanto forma de vida e alimentao. b.Elabore um fluxograma de relaes entre animais, insetos e plantas que expressem um tipo de teia alimentar existente no seu meio. c.Desenhe o ciclo de vida das abelhas, destacando o processo de mudanas do corpo ou metamorfose. d.Escolha e compare a organizao social de alguns insetos com a organizao da sua etnia. Analise aspectos de cooperao e comunicao entre indivduos; ocorrncia de castas sociais, com diviso de tarefas e estocagem de alimento que acontece entre os insetos. e.Faa um levantamento junto s pessoas para ver quem tem nome indgena de algum inseto e qual o significado em termos de personalidade ou qualidade. f.Pesquise quais os insetos que eram usados (ou ainda so usados) na alimentao ou no tratamento de pessoas da sua comunidade. Em parceriacom o Ambiente 3 Nome Popular Nome Cientfico Utilidade poca FloraoHbitat Aoita-cavalo Luehea divaricata MarchNctar/plen Nov-abr Mata Angico vermel hoPiptadenia rigida benth.Nctar/plenNov-dezMata AraPsidium cattleianumPlenSet-janMata Aroeira pretaLithraea brasiliensis M.Nctar/plenOut-novMata Butiazeiro, butiCocos ariospatha M.PlenNov-dezCampos BracatingaMimosa divaricata Mart.Nctar/plenJul-agoMata CambarCochnatia polymorphaNctar/plenNov-janMata CamboatCupania vernalisNctarMar-abrMata CaraguatEryngium S.PNctarDez-abrCampos Carqueja Baccharis sppNctar Fev-marCampos Carrapicho rasteiro Acanthosperman brasilum Nctar/plen Jan-abrCampos Cip-so-joo Pyrostegia venustaNctar/plen Jun-ago Mata Guabi roba CampomanesiaPlen/nctar Set-out Mata Laranjeira Citrus sinensisNctar/plen Ago-set Cultivada Louro Cordia Trichotoma VellNctar Fev-abr Mata Mariamole Senecio brasiliensis Less.Nctar/plen Set-nov Campos Milho Zea maysPlen Nov-f ev Cultivada PitangaEugenia unifloraNctar/plenSet-outMata TarumVitex taruman Mart.NctarDez-f evMata TimbAteleia glazioveanaNctarJan-dezMata Unhade gatoAcacia nonariensis GillNctar/plenNov-f evMata Conhea algumas plantas de i nteresse para as abelhas As abelhas so parte integrante do ecossistema da regio onde vivem. Sua principal funo na natureza a polinizao das flores e, conseqentemente, a produo de frutos e sementes. Uma RELAO de INTERDEPENDNCIA Maisde218.000das250.000espciesde plantascomfloresdependemdeanimais polinizadoresparasuasobrevivncia.Destas, 91%dependemdeanimaisparaproduzirem suassementes,emboraaspopulaesde polinizadores,quecompreendemprinci-palmenteinsetos,pssarosemorcegos, estejam em declnio. Porisso, importante promover maneiras de manter as populaes existentes e restaur-las para que a polinizao possa ocorrer com freqnciaadequada.Semeles,ospolinizadores,amaiorpartedasplantas com flores estaria destinada extino.Asabelhassoagentespolinizadoresfundamentaisparaomeio ambiente. Essa a razo da grande importncia dos meliponneos nativos que, almdaproduodemel,realizamapolinizaodasnossasplantas, garantindoaproduodeflorese sementes.Assim,atribui-seapolinizao de40%a90%dasrvoresnativas brasileiras s abelhas nativas sem ferro. As restantessopolinizadasporabelhas solitrias,borboletas,besouros,morcegos, aves, alguns mamferos, gua, vento e, mais recentemente,pelasabelhasdognero Apis (a europia e a africanizada). 3Em parceria com O AMBIENTE A conservao da fauna de abelhas tem sido considerada um fator important e na preservao das espcies vegetais. Alm disso, os frutos e as sement es que as abelhas ajudam a produzir so, tambm, fontes de alimento para aves e mamferos nat ivos. LEITURA de TEXTO 36Interessantequeessarelaomtuaentrepolinizadoreplanta (mutualismo),defatoumarelaobenfica paraasduaspartesumatroca legal!Pois,almderetiraremplenenctardas flores,duranteodia todo,nas suasviagensembuscadealimento,asabelhasretribuemsplantasumservio defertilizaocruzada,queresultaemfrutosdemelhorqualidadeemaior nmerodesementes.Assim, odesaparecimentodeumadasduas abelhasou plantas trar como conseqncia a extino de uma das espcies. A polinizao cruzada constitui importante adaptao evolutiva das plantas, aumentando o vigor das espcies, possibilitando novas combinaes de fatores hereditrios e aumentando qualidade, tamanho e produo de frutos e sementes. O PROCESSO de POLINIZAO Comovimos,asabelhassoagentespolinizadoresdegrandeimportncia. Asrelaesentreabelhaseplantas baseiam-seemumsistemade dependncia recproca,emqueasplantasfornecemoalimento,principalmenteplene nctar,e,emtroca,recebemosbenefciosdatransfernciadeplene fecundaofloral.Apalavramelferasignifica"carregadorademel",muito embora as abelhas carreguem nctar, plen e resinas. Nibro&Campos,2001. 37 Asfloresatraemasabelhasatravsdoperfumeedesuasptalasvistosas, nasquais,svezes,soencontradascertasmarcas coloridas,queindicam onde estoosnectriosflorais,glndulasqueproduzemumasubstnciaaucarada chamada de nctar, sendo este a doce recompensa para seus visitantes. Basicamente,apolinizaooprocessoreprodutivoemqueacontecea transfernciadoplen(estruturamasculinada flore fonte deprotenaparaos insetos)atoestigma(estruturafemininadaflor).Istoacontecequandoas abelhascoletamonctareoplendasfloresparaalimentar-se.E,atravs deste vo, de flor em flor, que as abelhas levam junto ao corpo os gros de plen, fertilizandoasplantas.Quandooplendeumaplantavaiparaoestigmade outra, inicia-se a formao de um fruto com sementes. Uma vez maduro o fruto, se cair no solo e suas sementes germinarem, originar-se- uma nova planta, que contm as caractersticas das plantas que participaram na polinizao. Dependendo da planta, a polinizao pode acontecer na mesma flor, entre flores da mesma planta ouentre flores de vrias plantas da mesmaespcie.38Asabelhaspodemserespecialistasemdeterminadasfloresoufamlias botnicas,fazendoacoletacomamximaeficinciaeoperandocomo polinizadorasespecializadas,oupodemsergeneralistas,isto,visitammuitas espciesbotnicaseaspolinizamcommenoreficinciado queasespecialistas, nodependendoexclusivamentedelasparasuasobrevivncia.Asespcies sociais,quevivemduranteoanotodo,sogeneralistas.Entretanto,asplantas visitadas por cada espcie da comunidade local variaro conforme a abundncia relativadeninhosedefloradas,emboraexistamprefernciasdealgumas espcies de abelhas por determinadas espcies ou famlias de plantas. Dependncia Planta-Inseto O grau de dependncia que as plantas apresentam com relao aos agentes polinizadores externos varivel. Este fato nos permite classific-las em trs grupos: A. No precisamde polinizadores B. So beneficiadas em diversos graus pelos polinizadores C. Somente produzem com a interveno de polinizadores TrigoSoj a Melo MilhoLaranj eiraMaracuj azeiro BananeiraTangerineiraMamoeiro MandiocaFeij oeiroPepino Marliane Sales8 ano 39 PAPEL ECOLGICO abelhas que reflorestam? Pequenasabelhassemferro podemterpapelestratgicona reconstituiodeflorestastropicaise preservaodanatureza.Estas pequenas,porm, preciosasabelhinhas, conseguemalcanarumadistnciade vo de 600 a 2.400 metros, dependendo daespcie.Cadaespciedeabelha possuiumacapacidadedevo diferente.Estacapacidadeest,demodogeral, relacionadaaotamanhocorporal.Assim,enquantoabelhas pequenas possuem raio de vo de apenas vrias dezenas de metros em torno de seu ninho, abelhas maiores podem voar at vrios quilmetros de distncia.Pesquisasconstataramapredominnciadelasnacopadasrvoresmais altas e antigas da mataeseupapelfundamentalparaaauto-regeneraoou reconstituiodaflorestaprimria.Asabelhasafricanizadasdificilmenteso vistasnointeriordeflorestasdensas;encontram-sesomenteemreas desmatadas.Porisso,devidoaopapelecolgicoquedesempenham,os meliponneosdefatosoteisemprojetosdepreservaoambiental, possibilitandoumacomunicaoentreosfragmentosremanescentesde floresta. ALGUMAS CAPACIDADES EM ATIVIDADES BSICAS Distncias cobertas pelas operrias: - JATA (Tetragonisca angustula): 500 metros - MANDAGUARI ou CANUDO (Scaptotrigona postica): 750 metros - MANDAAIA (Melipona quadrifasciata): 2.500 metrosNa primavera do Rio Grande do Sul, as floradas so abundantes, constituindo-se numa das melhores temporadas para as abelhas. J no vero, a situao mais crtica. Porm, nesta poca a mata oferece importantes floraes de angico, aoita-cavalo, timb, cambar e tarum, entre outras. 40As Abelhas como BioindicadoresAgranderiquezadeespciesdeabelhas geralmenteencontradasemcadalocalidadereflete adiversidadecomqueestasexploramoambiente. Paraquepossamreproduzir-se,asabelhas necessitamdehbitatquepreenchaosseguintes pr-requisitos:1)stiosousubstratosapropriados para nidificao; 2) para certas espcies, materiais especficos para construo de ninhose3)quantidadesuficientedefontesdealimento(plantasflorferas) especficas.Aabelhamandaaia,porexemplo,espciedeocorrncia generalizadanoscerrados,nidificaemtroncosdervoresocos.Paraqueas rvorespossamabrigarosninhosdestasespcies,entretanto,precisoqueelas atinjamgrandeporte.Aausnciadestaabelhaprovavelmenteumaindicao indireta do acontecimento do corte seletivo de rvores numa determinada rea.Defato,abelhasevespassoafetadaspelonveldeperturbaoda vegetao.Existemgruposquesoessencialmentedereasconservadas, florestasprimriase,portanto,odesmatamentoafetasuaspopulaes negativamente. Servem, portanto, como bioindicadores da qualidade ambiental. O Conhecimento Indgena Falandodoconhecimentoderelaes,napercepodosndiosKaiabida aldeia Kwaruj, as espcies de abelhas sem ferro esto associadas a determinado tipo devegetao.Eles percebemque certasespciesdeabelhassemferroso especficas de determinadas paisagens, indicando a necessidade de um ambiente propcio, com certo tipo de diversidade de espcies vegetais nesses lugares. TABELA. Abelhas sem ferro e seus locais de ocorrncia ABELHA Kaaret mato alto de terra firme Kof et capoeira Yapopet mata de vrzea Ju campo Ko roa Jataxxx Mandaguari xxx Borxxxx 41 Observa-se queh uma preferncia das abelhas pelo Kaaret (mato alto de terra firme) e uma menor incidncia delas em reas alteradas como o Ko (roa).OsKaiabiconhecemasespciesvegetaisqueas abelhasutilizamparanidificao(porexemplo, canelo,arapari,itaba,buriti,jatobeperoba). Tambmsabemindicaralgumasespciesimportantes paraaalimentaodasabelhas(porexemplo,caf-bravo, crendiva, jacareba, inaj, buritizinho e ip-amarelo). Se uma abelha produzir cinco gramas de mel por ano, ento, para produzir um quilo de mel, ela precisar visitar aproximadamente 5 milhes de flores. Sabe-se muito pouco sobre as espcies de rvores utilizadas para nidificao pelas abelhas sem ferro e sobre o impacto causado por alteraes dos hbitat nas suas populaes. Em agosto de 2004, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) aprovou a Resoluo 346, definindo normas para o manejo de abelhas sem ferro; o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis (IBAMA) atua na regulamentao da criao e do comrcio de abelhas nativas. A criao de abelhas nativas combina perfeitamente com a agroecologia, principalmente em agroflorestas (sistemas de produo agrcola que buscam imitar a floresta). A abelha Irapu (Trigona spinipes) uma espcie que costuma cortar os botes florais de vrias plantas, principalmente dos citros (laranja, por exemplo), utilizando-se desse material para a construo do ninho. VOCSABIA? - 5 ano Profa. Jussara 42 SUGESTESdeATIVIDADES a.Verifiqueainflunciadatemperatura,condiesdetempoehorado dia na visita dos diferentes insetos s flores. Considere tambm a poca ou estao do ano. b.Registreafreqnciaeapreferncia.Marquequaisasplantasmais visitadas.Vocpodercontar,porexemplo,onmerodeabelhasem cada trs minutos de observao, ou mesmo o nmero total de insetos, tendo assim uma estimativa da diversidade de animais que procuram a planta como fonte alimentar.c.Asfloresdeberinjela,porexemplo,precisamdeumapolinizaopor vibrao(buzz)paraliberaroplen.Estecomportamento,exibido pelasabelhasnativas,noapresentadopelasabelhasafricanizadas. Pesquise quais as plantas de sua regio que dependem de vibrao. d.Biomas so grandes ecorregies geogrficas com condies ambientais especficas que determinam a flora e fauna tpicas dessa regio. Pesquise a qual bioma pertence a sua terra. e.Para compreender melhor como as dinmicas de florao acontecem, pesquise o calendrio anual de escalonamento de floradas que ocorrem na sua terra ou regio. Nome Indgena Nome Popular F L O R A OMeses do ano JanFevMarAbrMaioJunJulAgoSetOutNovDez Diversidade eDiferenas 4 Regio SulMandaaia Manduri Guaraipo JataTubuna Mirim-preguia Irapu Guiruu Regio Sudeste Mandaaia Guaraipo Tujuba Manduri JataGuarupu Regio Centro-Oeste Jandara potiguar Manduri Uruu-boca-de-renda Uruu-boca-de-raloou Bugia Jata Regio Nordeste Uruu Manduri Rajada Jandara Jupar ouTiba Urucu-nordestina Regio Norte Uruu-boca-de-renda Jandara amarela Uruu-boca-de-ralo Taquaruu Canudo Uruu-boi Jupara Moa-branca Bor Adaptadode Kerret al.(1996) e Lopeset.al.(2005). MAPA DAS ESPCIES 4 Diversidade e DIFERENAS Os meliponneos constituem importante grupo de abelhas nativas, representadas no Brasil por mais de 192 espcies. No Rio Grande do Sul, j so mais de 20 espcies catalogadas. Os MELIPONNEOS Osmeliponneos,conhecidosporabelhas indgenassemferro,soencontradosnaAmricado Sul,AmricaCentral,sia,IlhasdoPacfico,Austrlia, NovaGuinefrica.Atualmenteconsidera-seque existam ao redor de 400 espcies. Elas esto subdivididas em duas tribos: Meliponini, formada apenas pelo gnero Melipona,encontradoexclusivamentenaregio Neotropical (Amrica do Sul, Central e Ilhas do Caribe); Trigonini, que agrupa um grandenmero de gneros, distribudo de forma mais ampla (Trigona, Tetrgona, Plebeia, etc.). TrsespciesdemeliponneossomanipuladasnasAmricas,mais quequalqueroutraespciedeabelhasdestecontinente:Aabelha xanan-cab (Meliponabeechei),doMxico,atiuba(Meliponacompressipes),do Maranhoeauruu(Melipona scutellaris),doNordeste.Os indgenasdastrsregiesas domesticarame,noBrasil,tantono MaranhocomonoNordeste,as selecionaramparamaiorproduo de mel. LEITURA de TEXTODas espcies demelipondeos conhecidasno Brasil, aproximadament e cem est o em risco de ext ino. M uit as espcies aindano foramest udadas e suas caract erst icas biolgicas so desconhecidas, embora colnias de diversas espcies t enham sido dest rudas comas alt eraes promovidas pelo serhumanono ecossist emanat ural.46Meliponas e TrigonasExemplos de abelhas pertencentes s duas grandes tribos: MELIPONASTRIGONAS Mandaaia Melipona quadrifasciata anthidiides JataTetragoniscaangustula Manduri Melipona marginata Tubuna Scaptotrigona bipunctata Guaraipo Melipona bicolor Mirim-preguia Friesella schortottkyiUruu Melipona scutellaris Irapu Trigona spinipes Os grupos de Meliponas e Trigonas apresentam algumas diferenas. Dentre elaschamaaatenootipode entrada doninho,cujafinalidadeprotegero abrigoeorientarasabelhas.Asmeliponassoabelhasgrandes,quechegama medirumcentmetroemeio,constroemaentradadoninhocombarropuro e/ouprpolis,moldando-aemformadesulcosouestrias.Jastrigonasso abelhaspequenase,paraaentradadoninho,utilizammateriaisdiversos (prpolis, cera, barro, brotos de rvores, lascas de madeira, etc.), moldando essa entrada sem formato definido. Apesardecomparti-lharcaractersticasqueas fazemsemelhantes,h outrasque permitemdistin-guircomprecisoasesp-ciesdogneroMelipona dosgnerosrestantes.A tabelaaseguirapresenta algumas diferenas.47 MELIPONA NO-MELIPONAAbelhas robustas com asas que no sobrepassam a longitude do corpo.Abelhas finas com asas que sobrepassam a longitude do corpo.Entrada do ninho achatada, de barro, com um simples buraquinho com estrias radiais.A entrada do ninho um tubo de cera com dimetro e longitude variveis.Ninhos feitos de resinas e barro.Sempre so cobertos.Os ninhos geralmente so feitos de cera. Podem ser cobertos, expostos ou parcialmente expostos.No h favos reais. Todos so do mesmo tamanho e forma.Os favos reais so maiores que dos machos e das obreiras. Localizam-se na regio perifrica da colmia.A rainha determinada geneticamente.A rainha determinada pela qualidade de alimento consumido. Os Guarani Mby possuem ampla informao acerca das espcies de abelhas. Por exemplo, a entrada dos ninhos se chama okngua e as pipas de cera impregnadas de resina que do acesso aos favos das espcies da subfamlia Trigona, denominam-se takui ach, literalmente, rgo sexual masculino, devido forma que adquirem. TIPOS DE NINHOS As abelhas podem construir seus ninhos em locais e substratos diversos, de formas e tamanhos variados, dependendo somente das necessidades reprodutivas de cada espcie. Assim, existem espcies que constroem ninhos escavando o solo oumadeira,usandocavidadesjexistentes,nacopadasrvores,comresinas vegetaisoubarroque coletam,oucomceraeoutrassubstnciasqueproduzem ou encontram na natureza. 48Abelha JATA - Tetragonisca angustula Aabelhaindgenasemferro jatadasmaisconhecidasna AmricaTropical.Vivedesde Missiones,naArgentina,atosul do Mxico. Estaumadasespciesmais adaptveis em relao ao hbito de nidificao.Vivenasgrandese pequenascidades,nasflorestas virgensecapoeiras,noscerrados, nosmoeiresdecerca,nosocosdosparedesdepedra,etc.Entretanto,em ambientes naturais ou pouco alterados, utiliza mais comumente ocos de rvores. KAINGANG Jata. gpnh GUARANI Jata. Jatei (pote de gua) WEENHAYEK (Mataco-noctene, Chaco-Bolvia) Jata. Wos (um dos mis preferidos dos indgenas matacos) Veja algumas caractersticas citadas pelo Karai Poty, Guarani Mby da Aldeia Morro da Saudade, em So Paulo, na comparao entre as espcies jatei e ei guaxu. (RODRIGUES, 2006) JATEIEI GUAXU (abel ha grande) Boazinha, calma, mansinha, gosta mais do ser humano, dcil, no causa problemas, inofensiva, no perigosa, esperta e valente. Brava, nervosa, furiosa, no gosta do ser humano, danada, esquisita, de mau humor, muito perigosa, perdida (vai em qualquer coisa) e no pensa, ataca qualquer um. Foto: Marlon Stein 49 Outros nomes da Jata: Brasil: jata, jati, alemzinha Colmbia:angelita, virgencitaCosta Rica:mariquita, mariolaGuatemala:doncellitaPanam:virgencita, mim Peru:Ramichi Bolvia:seoritaVenezuela:angelita, rubitaMxico:seorita Abelha TUBUNA Scaptotrigona bipunctata umaespcierstica.Possuiexcelen-tepotencialprodutivodemel,devidoao volumeabundante(4a5litros/ano)ede saborapreciado.Estaespciemuito agressivaemrelaoaoutrasespciesde abelhassemferro.Aentradadoninho possuiformadefunileconstrudade cerume escuro. Brasil: TubunaColmbia: tacay, vinagrillo, enreda, pedorraGuatemala: congo tamagas, alazn Mxico: abeja chiquita, tenchalitaPanam: taparaca, zagao,enredapelos Peru: irao rete Venezuela: pico Foto Parceria COMIN/CAPA Tubuna(Proj. Manduri)www. pucrs. br/ima/promataFoto: Parceria COMIN/CAPA 50Abelha GUARAIPO Melipona bicolor Aguaraipodistingue-seda guarupu,quemaisamarela.uma abelhatmida,quenosaidesua colmiasehbarulhoouvibraesnas redondezas.Osninhosnaturaisso poucoconhecidos.Elasnidificamem ocosdervores,amaioriadasvezesna base dos troncos. O mel estocado em potes de cerume, podendoterde3a5cmdedimetro,de acordo com o estado da colnia. GUARANI MBY Guarykua = guaraipo Abelhas MANDAAIA e MANDURI Fotos:www. apacame. org. brFernandoRiosGUARANIMBY Mandori = Manduri Mandacaia - M. quadrifasciata www. meliponario. com. br/cdromManduri - M. marginata htpp://www. pucrs. br/ima/promataNalinguagemindgenasignificavigiabonito (mand:vigia;ai:bonito),fatoesteporse observarnoorifciodeentradadacolmia uma abelha sempre presente. 51 CONHECIMENTO INDGENA TUPI GUARANI Bor = makayba: mel, resduo amarelo, amargo, que se encontra nos alvolos da colmia. Irapu =yrapu =yra: mel + pu: redondo: abelha que faz casa de terra, arredondada. Arapu: abelha redonda. I Ira = mel RATI.Yrati =yra: mel + tinga: branco, claro. Iracema = "era-sema" - nascida do mel.Ira = "era-y" - Rio do mel ou rio das abelhas. Uruu = abelha grande (ira = abelha; uu = grande). Mirim-preguia htpp://www. fiocruz. br KAINGANG Abelha africanizada. Gym. Abelha irapu. Kus. Abelha mirim. Sug me. Abelha preta. Mg sy S (europia). Abelha pequena. Ro. Abelha tubuna. Kunnh. Abelhas do pau. Kgj. Abelha jata. gpnh; t. GUARANI MBY ei. 1. Mel de abelha. 2. Abelha. (Eiru, eixu). ei guaxu. Abelha grande. ei mir'i. Abelha-mirim. ei pyt. Abelha vermelha. ei rakua ax. Abelha-irati. ei ruxu. Mumbuca. ei raviju. Mandaaia. yvy ei. Abelha-da-terra. guarykua. Guaraipo mandori. Mandurico DENI Jandaira (Rizi Terer), Abi Itsi. Arapu (Rizi Vak).Uruu (Rizi Vesevi), Zumah. Abelha pimenta (Abi Kashi). 52 SUGESTESdeATIVIDADES VOCSABIA? Abelha BOR Tetragona clavipes conhecida popularmente por Jataizo, Vor e Cola-Cola. Tambm conhecida pelos ndios da reserva do Xingu, onde encontradaemabundncia.OsndiosYudjaconhecemas abelhasborporWatawila,osIkipeng(Kticao),por Amputxigagem, os Sui, por Simbretx e os Kaibi, por Tapemon.Dizalendaque borsignificasubstnciaamarelae amargosaencontradanos cortiosdessaabelha,possivelmenteporsenotargrandequantidadedesamora, sabur (plen), que elas armazenam em seus ninhos. Abelhada famlia dosmeliponneos,seunomeoriginalvemdo Tupi:Hebor (que,traduzindo,querdizer:oquehdetermel).Ascolniassobastante populosas, muitoagressivas.Depositam prpolis sobre as pessoas queexaminamos seusninhos,quandosuas colmiassoabertas.Apesar disso,algumtempo depois, digamosvinte outrintaminutos,possveltrabalharcomelassemvu.Seu mel um pouco azedo. FONTE: Waldemar Ribas Monteiro, membro do Departamento de Abelhas Indgenas da APACAME. Precisa-se atentar para o fato de que muitas vezes o nome popular de uma abelha varia de uma regio para outra, de tal forma que uma nica espcie pode receber, em regies diversas, denominaes diferentes e, em outros casos, o mesmo pode estar sendo usado para designar espcies diferentes de abelhas. a.Identifiqueasespciespredominantesnoseuterritrioouregio. Pesquise os nomes indgenas e populares mais conhecidos. b. Classifiqueogrupo outribo (MeliponaouTrigona)aquepertenceme verifiquequaisascaractersticasprincipaisquesedestacamemcada espcie.Fonte:www. unifap. br/arley ValorSociocultural 5 Veja alguns exemplos de usos, restries e comportamentos de abelhas, dentre as 27 espcies conhecidas pelos Kaiabi do Xingu, da aldeia Kwaruj:Nome indgena Nome cientficoComportamento Usos dos produtosMarumar Scaptotrigona postica Morde e corta o cabelo, muito brava, produz pouco mel.Crias, mel e plen so apreciados para consumo. No ms de julho, o plen mais doce.Mamangairowasing Melipona (michmelia) oblitescens Morde e seu plo d coceira, produz bastante mel de colorao escura, coleta fezes de ona.O mel e o plen so consumidos. O mel utilizado para tosse e gripe. A cera utilizada na confeco de artesanato.Jateii Tetragonisca angustula Muito mansa, produz pouco mel e geralmente encontrada em rvores mortas cadas no cho.Crias, mel e plen so apreciados para o consumo. O mel utilizado como antitrmico e dores de garganta.Marapypit Tetragona clavipes Carrega cera na pata, morde e enrosca no cabelo.Crias, mel e plen so apreciados para o consumo.Kawintajuu Lestrimelitta sp. Produz bastante mel de gosto azedo e espesso.Mel txico. A cera, quando queimada, utilizada para espantar mosquito. Adaptado deBALLESTER, 2006. As abelhas sem ferro desempenham papel significativo na alimentao, religio, mitos, ritos, crenas e tambm na medicina de vrios povos do mundo. TRADIO dentro da CULTURA Omelnasculturas pr-colombianastinhatrs funesprincipais:ingredienteprincipaldebebidas nosrituais,usomedicinale adoantenos alimentos. NoantigoMichoacn,nosuldoMxico,ochapari eraumabebidabasedemel.Napennsulade Yucatn, o balch e o sac-ha eram bebidas rituais das cerimniasmaiaseoleyenoupozoleerabebida tradicionaldoslacandonesdeChiapas.Todasas bebidascontinhamomelcomoprincipal ingrediente; tambm a cera era muito apreciada para a produo de velas e outros adornos necessrios nas atividades mgico-religiosas.Naculturamaia,aXunan'kab(Melipona beecheiiB.)eraumadas abelhasnativassemferro criadas na regio, pois, desde muitos anos, os grupos maias do estado de Yucatn desenvolveram exitosamente a arte de criar abelhas, sendo que esta chegou a ser domesticada.Porm,quandoacana-de-acarfoiintroduzidanoMxico, incorporando-senadieta,assimcomocomachegadadeabelhasexticasque tinham mais produo, a criao das xunan'kab foi desaparecendo. Tambm em outras partes do Mxico se praticava a criao de abelhas sem ferro. Os astecas comercializavam cera e mel. Tambm seus antecessores, os toltecas, tinham um grande apreo pelas abelhas. Eles acreditavam que as almas se transformavam em insetos. Portanto, haveria uma alma de abelha e o deus-abelha seria uma forma possvel para a alma. 5 Valor SOCIOCULTURAL LEITURA de TEXTO O deus do mel "AH MUCEN KAB" retirando mel de um ninho de abelhas sem ferro. Cdice 104 Maya Itz de Mayapn. Ilustrao de Juan C.C. Medina. 56 ETNIAS BRASILEIRAS e ABELHAS KAIABI Para os Kaiabi, do Parque Indgena do Xingu, localizado ao norte do estado deMatoGrosso,maisparticularmente na aldeia Kwaruj, o mel um alimento muitoapreciado.Seumenxame descobertoduranteumaexpediode caae/oucoleta,seumel propriedade dapessoaqueoviuprimeiro.Geralmentearvorederrubadaeabertacomo machado, expondo os favos de mel, que so espremidos com as mos e colocados emrecipientesfeitoscomfolhasdebananabrava.Seoenxameestiver nidificadoemrvoresbemgrossas,elesconstroemumandaimecompequenas rvores, ramos e cips para a coleta do mel. Na percepo dos Kaiabi, as espcies de abelhas sem ferro esto associadas ao tipo de vegetao. GUARANI PesquisasrealizadascomGuaraniMbydaAldeiaMorrodaSaudade, localizadanacidadedeSoPaulo( KaraiPoty),mostramqueelesso conhecedores dos insetos, incluindo vrias prticas alimentares, medicina local e costumesreligiosos.Oconhecimentosobreabelhassemferrotransmitido entre as geraes, principalmente de pai para filho, oralmente, por observao e tentativa de acerto e imitao (RODRIGUES, 2005). Afirma-sequeosGuaranisemidomesticaramaabelhaeque,depoisde utiliz-la, sempre deixam parte da colmia e das larvas. Quandooshomensguaranisvoao morro, com a finalidade de coletar mel, ficam atentosaoscantosevosdecertospssaros comootangar(Chiroxiphiacaudata)eo eichujabem-te-vizinho-ladro(Legatus leucophaius),queindicamoslugaresonde estoascolmias.Destemodo,acoletade 57 melecera,damesmaformaqueasatividadesassociadascaaepesca,pertenceaodomniosocialmasculino.Naculturamby,acoletademeluma atividadepuramentemasculina,naqualasmulheresspodemcolaborarou acompanhar, j que no permitido irem sozinhas na selva ou mata. Depois da coleta,reparte-seoprodutoobtido,respondendodestamaneirasleisde reciprocidade da cultura mby, to necessrias para a sobrevivncia do grupo.KAYAP AprofundarelaodosndiosKayap comasabelhasevespasmanifesta-sepelo conhecimentode56etnoespcies(espcies classificadaspelaetnia)deabelhasede utilizaodetcnicassofisticadasdemanejo deenxamesnanatureza.Umadastcnicas utilizadasaconstruodeumaplataforma comdegrausparaalcanarenxamesque nidificamemrvoresaltascomtroncos grossos.Geralmentesoabertosburacosnasrvoresparaaextraodemel, deixando partes de crias, plen e mel para o restabelecimento do enxame.Todososespecialistasdeabelhassoxams.Foramelesqueconceberamo modelo natural da organizao social, baseando-se na observao da ordenao socialdasabelhas,vespaseformigas.Segundoasua tradio,aprenderamaser sociveisporcausadeumancestralsbio,owayanga,queganhouseu conhecimento pelo estudo do comportamento desses insetos. OsndiosKayaprevelaramumconhecimentoassombrosodaanatomiae docomportamentodasespciesdasquaisainda aproveitamomel,opleneaslarvaspara alimentao;ocerumeeasresinaspara impermeabilizaodecanoaseconfecode artefatos(inclusiveflechas);emisturadeabelhas epartesdoninhonamedicinaalmde, mitologicamente,seespelharemnestesanimais paraentenderaorigemea organizaodatribo. www. funai. gov. br Indio Guaj retirando mel www. revistagalileu. globo. com/Revista/Galileu58 SUGESTESdeATIVIDADES VOCSABIA? SegundoPosey(1983),elesclassificamas abelhasda seguinte maneira: Combasenoseucomportamento,quandoso tocadas:dceis,picadoras,mordedorasou causadoras de bolhas; Com base nas propriedades do mel: sabor, acidez, produo por ninho, poca de colheita, etc.; Com base na sua morfologia (forma ou formato); Combasenaestruturadoninho(formaetamanhodotubo deentrada; tamanho do ninho; quantidade de mel por ninho, etc.) e sua localizao (na terra, na rvore, em casas de cupim abandonadas, etc.). A abelha extrai seu alimento das flores e vive em perfeita organizao social. Por isso, tornou-se um smbolo de pureza e disciplina. Simboliza pureza (por ser um animal que vive entre as flores), disciplina (devido organizao exemplar das colmias), trabalho (pela atividade incessante das abelhas operrias) e realeza (o poder exercido pela abelha rainha reconhecido e respeitado por todas as outras). a.Identifiquecomosuaetniarealizaaobtenodemelnamata.Como so localizados os ninhos e quais os cuidados que se tm com eles. b.Descrevaasvriasutilidadesquetmasabelhaseseusprodutosna vida da sua comunidade. Analise se o seu comportamento e a forma de organizao influenciam no jeito de ser da sua etnia. ValorEspiritual 6 Segundo uma antiga lenda indgena dos SATER-MAW, quando Anumar Hit foi para o cu para transformar-se no sol, ele convidou sua irm Uniawamoni a segui-lo.Ela decidiu ficar na Terra sob a forma de uma abelha para poder ajudar os ndios Sater-Maw a cuidar das florestas sagradas de guaran. JosmarFevereirohttp://jofevereiro. blogspot.com//sergiobastos. wordpress. comMitos e lendas confirmam que o mel e as abelhas sempre ocuparam um lugar muito importante na vida cerimonial e no pensamento religioso dos ndios. O VALOR RITUALSTICO As comunidades indgenas costumam levar uma vida cerimonial marcada por festas e rituais que movimentam as tribos e atraem parentes de outras aldeias. Muitos desses eventos e rituais tm se utilizado do mel, da cera e das prprias abelhas. OS KAINGANG Alm de alimento, o mel tambm fazia parte da cultura Kaingang,sendoproduzidaumabebidabasedemele gua,chamadakiki,aqualerautilizadanarealizaoda festacomomesmonome.OritualdoKikiexprimea cosmologiaKaingang,rememorandoacriaodasociedade Kaingangeocultoaosmortos.Acontecianoinciodo inverno.Porm,apreparaodafestademoravaalguns mesesporqueimplicavacoletademel.Istosignificavaque ospreparativoscomeavamjemmeados do outono,poca de abundncia de alimentos e de melgueiras cheias. Para a realizao desta festa era necessria a presena dos rezadores kui(xam) muito especializados, donos 6Valor ESPIRITUAL LEITURA de TEXTO 62de oraes poderosas. Eles dirigiam toda a preparao do ritual: a designao dos pin para coletar o mel, a derrubada de um pinheiro para fazer o konki, em que se fermentava a bebida. A preparao da bebida com gua, mel e, s vezes, milho, resultava numa espcie de cerveja o kiki. Atualmente, na falta de mel, o kiki foi adaptado para uma mistura de gua, acar e cachaa. XOKLENG OMON - bebida tpica dos Xokleng Amaior festadosXoklengaconteciaporocasio da furaodoslbiosdos meninos(ritualdeiniciaodosjovens),quandoasvriascomunidadesse reuniam,comemorandocom danasemuitabebida feitabase demel,guae xaximomon.Porm,esteritualdesapareceucomo aldeamento. GUARANI MBY NacerimniadoemongaraidaculturaMby,em Misiones/Argentina,omelconstituiumdoselementos fundamentais para a realizao do ritual, correspondendo ao domniomasculinoconsegui-lo,assim como acolheitadomilhodedomnio feminino.Estacelebraoamaisimportantenaculturamby, ou, pelomenos,a queperduracommaiorfora.Realiza-senofinaldaestaoderapyau, correspondenteaoltimomsdoano.Nestacerimniasecelebrao amadurecimentodos frutos,tanto daselvacomo dasroas, quesoabenoados oupurificadosatravsdafumaadotabaco, inclusive as sementes de milho (que iro semear), assimcomoaprimeiracolheitaobtidadetodos os produtos cultivados.Oritualserealizanoopy(casadereza)e todaacomunidadeparticipa,realizando-se tambm,porintermediaodivina,acolocao do nome nas crianas (batismo).63 Osquatroelementosnecessriospara realizaroemongaraiso:1)omilho,j elaboradonastortasdefarinhachamadasde mbojapee2)ospunhadosdeerva-mate(que correspondemsmulheres);3)osfrutosdo guembe(goimb)e4)o mel (quecorresponde aos homens).O mel utilizado na celebrao deve provir preferencialmentedasabelhasjataoumandori,jquesoconsideradas ei ete, querdizer,misgenunosouverdadeiros.Senoforpossvelencontr-las, pode ser utilizado mel de outras espcies como a ei ruchu e eira viju. O mel da europa (Apis) nunca utilizado nas cerimnias religiosas por considerar-se esta abelhanoautctoneeporqueseacreditaqueestaabelhanofoicriadapor ande Ru Pa Pa (a mxima divindade), mas pelos brancos. GUAJAJARA Os Guajajara so um ramo dos Tenetehara que vivem no Maranho; o outro ramo, os Tembs, vivem no Par. OsGuajajaradaAldeiaFunil, localizadanaReservaAraribia,no municpiodeAmarante(a674kmde SoLus),estoresgatandoumdestes rituaisrelacionadosaomel:aFestado Mel,queaaldeianorealizavah bastantetempo.Afestadura praticamente um ms. Nesse perodo, os ndiosdaaldeiaanfitriedasque participamdafestasaemprocurado mel, que religiosamente armazenado no local onde feito o cerimonial. CHONTAL Para os Chontal de Nacajuca, Tabasco (Mxico), as abelhas sem ferro tm um valor religioso importante, sendo consideradas benditas. http://webradiobrasilindigena. wordpress. comFesta do mel - Povo Guajajara TenteharAldeia Araribia MA //static. flickr.com64UWA OsUwa,tambmconhecidos comoTunebo,soumpovo localizado ao redor da Serra Nevada doCocuy,naCordilheiraOriental colombiana.Os mitos cantados so celebra-dosduranteasquatroestaesdo ano regidas pelo movimento do sol: 1) estaes da colheita, 2) das sementes, 3) da semeadura e 4) da florescncia.NamitologiaUwa,asabelhassem ferroso"as filhasdoSol",ea festa celebradanaestaoseca(quesimbolizaassementes,agestaoeos intercmbios),marcadapelosolstciodedezembro.OsUwaassociamoseu universo com a vida e a organizao das colmias das abelhas sem ferro. KAIAP SegundoacrenaKaiap, Bepkrrtionomedadoao espritodeumvelhoxamquesetornafuriososeacomida nodistribudanatriboequepossuiumapreferncia especialpormel.Bepkrrtilanaraiosetrovespara destruir as pessoas gananciosas. De certa forma, a crena nesse espritoacabapossuindoumaduplafuno:encorajara distribuiodealimentosnatriboe,tambm,protegeras abelhas, uma vez que ele estimula a preservao das colnias. YORA/YAMINAHUA OsndiosYora/Yaminahua,daAmazniaperuana,atribuema origemdedoresnocoraoedoresepigstricasaoespritodaabelha mangang.MariaIgnezCruzMello,1999.65 MAIA OsMaiasyucatecos,entreoMxicoea Guatemala,realizamumritualpara abenoar as abelhas u hanli cab.Inclusive,acreditamemAhMuzencab,umdeus encarregadodecuidardocu,cujonome significa o que protege ou cuida do mel.Tambmsetemacrenadequequando umapessoaquecostumavacriarasabelhas morre,estaspoderoirembora,casooseu herdeironoasavisardamorteecomunicar que agora ele as cuidar. Segundo os yucatecos, as abelhas precisam saber quem as atender. O mito do vamos embora e do mel de Abreu dosaberpopularomitosegundooqualsediz quequemingereomeldecertaabelhaindgenasem ferroficacomtontura,comoqueembriagado,e, passandomal,acabaperdendoorumo.Contudo,isso somenteaconteceseomeladordisseraosseus companheiros:vamosemboraouvamosimbora.O meladorentendido sabeque,se,depois detersaboreadoo meldessaespcie,pronunciaressas palavras,elesseperderoepodero no encontrar o caminho de volta. www. proyanomami. org. br 66VOC SABIA? SUGESTESdeATIVIDADES Oprincipalinimigodasabelhasoserhumano,quedevastao ambiente onde elas vivem na natureza. No mito Kaingang sobre a criao, Kajrukre fez os animais teis, entre eles, as abelhas. a.Pesquise se em sua etnia existe alguma festa ou algum ritual em que se utiliza as abelhas e o mel. b.Pesquise algum mito ou alguma lenda sobre as abelhas nativas. Caso no encontre nenhuma, crie uma histria e faa a sua apresentao. Valor Alimentare Medicinal 7 Composio qumica dos mis: Mel de abelha comum (Apis) e de Jata (Trigona):

COMPOSIO JATAAbelha Comum gua20 a 30%17,7% (12,7 a 27%) Sacarose0%10% Dextrose Glicose45%34% (24,7 a 36,9%) Magnsio570 ppm130 ppm* Ferro6 ppm2 ppm Outros elementos qu micos10 ppm2,3 ppm Enxofre125 ppm83 ppm Clcio570 ppm130 ppm Potssio3,2 ppm0,97 ppm * ppm = partes por milho Fonte: Centro Ecolgico - Projeto AgroFloresta - FNMA / ECOVIDA O mel sempre foi valorizado por suas propriedades medicinais e por ter sido, no passado, praticamente a nica fonte de acar disponvel. NOSSO ALIMENTO O NOSSO REMDIO Muitos povos ainda se servem do mel de abelhas nativas sem ferro por ser umafontedenutrientesmuitoricaparaaalimentao.Nasuacoleta,larvas,mel, plen, prpolis e cera so utilizados para diversas necessidades.Encontramosrelatos,porexemplo,dequeosAsteca,doMxico, consumiam insetos assados, fervidos, em molhos, fritos ou como condimentos.Nodemaislembrarqueomelumdosalimentosfavoritosdos Yanomami.Ochamadobuucoletadoprincipalmentedeabelhasevespas.Existetambmocostumedeconsumirmeljuntocomcera,abelhasadultas, ovos,larvas,pupaseplenpresentesnacolmia.Aslarvaseoplenso particularmentefontesdeprotenasvaliosas,eoplentambmtemumaalta concentrao de vitaminas. Assim,podemosencontrarsituaessimilaresjuntoaospovosGuarani, Enawene-nawe,Kaiap, etc. Por exemplo, o povoKaiabi,daaldeiaKwaruj,fazusode onze etnoespcies (espcies classificadas pela prpriaetnia)nasuaalimentaocotidiana. Geralmente os Kaiabi consomem as crias nos locaisondeosenxamessoexploradose, casosobrem,solevadasssuasresidncias para consumo posterior. 7Valor Alimentar e MEDICINAL LEITURA de TEXTO O mel um aliment o rico em energia e t em subst ncias que ajudam no equilbrio dos processos biolgicos do corpo humano. S ua composio inclui mineraiscomoclcio, cobre, magnsio, fsforo, pot ssio e zinco, alm das vit aminas A, do complexo B, C e D, embora est es emmenores quant idades.70O MEL na CULTURA Segundo os mby, no inverno, o mel dasabelhasdogneropynguarie mandorisetornaazedo;osindgenaso denominameitai.Tambmomelda evoraapresentaumsaboramargo,eiro. Nestatemporada,asabelhasnativas deixariam de produzir mel. Entre os Xucuru Kariri, no estado de Alagoas, as crianas se alimentam do queixa, equivalente a um refrigerante. Esta bebida uma garapa feita com rapadura ou mel de abelha. DIMINUIO DO SEU CONSUMO A diminuio da utilizao do mel das abelhas sem ferro comeou a partir doaumentododesmatamentoedocrescimentodasabelhaseuropias(Apis mellifera),cujaproduomassivademelacabousubstituindoemgrandeparte ossistemastradicionais.Paralelamente,aintroduodacana-de-acareseu consumo generalizado contriburam ainda mais para o abandono dessa atividade (com abelhas sem ferro) e nas mudanas alimentares dos povos indgenas. Hoje,omel,infelizmente,estsendosubstitudopormuitospovos indgenaspeloacarbranco.Ousocontnuoedescontroladodeacar,sal, leo de cozinha e o abandono gradual de produtos tpicos que deram espao nas roasparaaproduodealimentoscomosoja,arrozeoutros,jcausam impactosnasoberaniaalimentardemuitaspopulaesindgenas.Almdisso,estoaumentandooscasosdediabetese obesidadeemdecorrnciademudanasna forma de alimentao e de alteraes culturais. Ograndediferencialdomelproduzidonas reasindgenasaqualidadeasseguradapela diversidade de floradas da floresta, das quais as abelhasrecolhemoplen paraproduziromel equegarantemumaenormevariedadede aromas. A Kaingang Cenilda, oferecendo mel de abelha j ata aos seus netos (T.I. Guarita, RS) 71 Todoomelpodeserconsumido?JnosculoXVI,opadreAnchieta relatava sobre a existncia de mel venenoso:H,porm,comodisse,muitas espciesdemel,masas queosndios chamam"Eiraaquyeta",melde muitosburacos,porqueasabelhas fazemmuitasentradasnacolmia. Logo que se bebe este mel, toma todas asjuntasdo corpo,contrai osnervos, produz dor e tremor, provoca vmitos e destempera o ventre. MEL DE JATA Dentre as trigonas, a jata produz o mel de sabor mais apreciado, econsideradocomotendoatribuiesteraputicasnostratamentos dos olhos (oftlmicas) e molstias dos pulmes. Omeltemsidoutilizadonaalimentao,comoantissptico, como conservante de frutas e de gros e at para embalsamar, devido suaaoantiputrefante. Temtambmefeito bactericida (quemata asbactrias).Noninho,omeldejata,quandomaduro,envolvidoporpotes ovais,maisoumenosesfricos,medindo cerca de 1 cm de dimetro cada um.PROPRIEDADES Ao dinamognica (resistncia do organismo); Ao ligeiramente aperitiva (apetite); Ao febrfuga (abaixa a febre);Ao sedativa (calma a dor, tranqiliza); Suplemento alimentar (complemento); Antissptico (impede a infeco); Digestivo e laxativo (digesto e purgante); Diurtico (facilita urinar); Antianmico (combate a anemia).POSOLOGIA * Adultos: uma colher de sopa trs vezes ao dia.* Crianas: (menores de 5 anos)uma colher de ch trs vezes ao dia. - Quando o mel tomado puro, deve-se ingeri-lo vagarosamente e em pouca quantidade de cada vez. //ArtesanatodoMel.com Marcelo Massarellacel 72 VALOR MEDICINAL do MEL OsPankararmantmumaforte interaocomas"abias",etnocategoria representadapelasabelhasevespas,cujos produtossodeimportnciasignificativa naeconomia,religioemedicinadesta etnia.Osmissoimportantes,especial-menteosdasabelhassemferro,osquais sorecomendadosparaotratamentodediabetes,bronquites,micosesorais, gripes,doresdegargantaeatimpotncia.Tambmsousadoscomo vermfugos e considerados um antiveneno contra mordeduras de serpentes e de ces raivosos.A terapia em animais tambm um recurso empregado pelos Pankarar em suas prticas de medicina etnoveterinria. Por exemplo, um pedao do ninho da abelha irapu colocado na gua, sendo esfregado at dissolver-se. Depois se usa esta gua para banhar um cachorro para eliminar as pulgas e cur-lo da sarna. OsPankarartambmassamaslarvasdeabelhas(Apismellifera)e vespas(Polybiasericea)emseusfavos,depoisasextraemcompequenos gravetoseascomempurasoumisturadascomfarinhademandioca.Eles afirmam que a qualidade do mel depende do tipo de rvore na qual a colmia foiconstruda,daidadedacolmiaedoperododeflorao.Osindgenas podemcomerlarvasepupasno prpriolocaldecoleta domel oulevarem-nas para as mulheres e crianas (COSTA-NETO, 2003). Vale registrar que os produtos do tratamento com insetos so prescritos pelo Caec ou curador da aldeia, que aprendeu as propriedades curativas dos produtos naturais com os encantados, os quais so entidades sobrenaturais percebidas como guardies dos recursos naturais. NamedicinapraticadapelosKaiap,asabelhasconstituemumdos recursosmaisimportantes:Diferentesmispossuemdiferentes propriedadesmedicinaisesousadosparavriasdoenas.Plen,larvase pupastambmpossuemqualidadesmedicinais.Afumaa,produzidapor diferentesceras,umtratamentoimportanteepoderosocomqueso banhadosospacientes,ouparaquemosinala(POSEY,1983).73 Ainda tem mais...No perodo pr-colombiano, na cultura Maia, alm do mel adoar suas bebidas, os maias o utilizavam como remdio em mltiplas doenas, inclusive para dores durante a gestao e debilidade geral depois do parto; suas propriedades medicinais o fizeram indispensvel dentro da farmcia maia. Na atualidade, os Kaiabi so uma das etnias que tambm faz uso dos mis das espcies de abelhas jata e a mamangairowasing[Melipona (michmelia) oblitescens] como medicinais. EmHonduras,AmricaCentral,omeldejatausado como um ungento para problemas nos olhos. Na Argentina, os xams Guarani utilizam desde a antigidade o apreciado mel de jata para a cura e o tratamento de diversas doenas oculares, como catarata, e sobretudo, em nvel respiratrio, para o tratamento de asma. Noestado deAlagoas,estasabelhassocomprimidasentreosdedos,eas gotasdolquidoresultantesoderramadasnosolhosparatratarproblemas oftalmolgicos, como a catarata(LAGES FILHO, 1934). Dentreasinmeraspropriedades medicinaisatribudasaomel,vriasvm sendo comprovadas por trabalhos cientficos. De acordo com essas pesquisas, sua atividade microbianapareceseroefeitomedicinal maisativo.Propriedadesanti-spticas,anti-bacterianas,fungicidasecicatrizantes tambm so aes confirmadas. www. cuencarural. com 74 VALOR TERAPUTICO DO PLEN Oplenpossuialtovalorprotico (composioricaemaminocidos)e vitamnico,quelheconferealtovalor nutricional.Foramconstatadasalgumas curas, como de doenas de prstata, anemia, estresse,fadiga,regulagemdofunciona-mentointestinal,aoprotetoradosistema circulatriodosangue,melhoriasnaviso noturnaevrioscasosdereduocom normalizaodosnveisdecolesterole triglicerdeosnosangue,noapresentando contra-indicaes para o seu uso. O PRPOLIS Prpolisumasubstnciaresinosaobtidapelas abelhasatravsdacoletaderesinasdaflora(pasto apcola)daregioealteradapelaaodasenzimas contidasemsuasaliva.Acor,osaboreoaromado prpolis variam de acordo com sua origem botnica. Seriaentoumtipodeceraextradadapolpa das rvores com a qual as abelhas recobrem a entrada de suas colmias, a fim de proteg-las contra fungos e bactrias, e que tem propriedades antibiticas e fungicidas.USO NA COLMIA utilizada pelas abelhas de diversas formas: Para proteger a colmia de intrusos e dofrio,mantendoatemperatura ideal para suas crias, fechando frestas ediminuindootamanhodaentrada; 75 Paradesinfetarointeriordacolmiaeosalvolosondea abelha-rainha faz a postura dos ovos; Quandoumintrusoabatidoenopodeserretiradodo interiordacolmia,asabelhasocobremcomprpolis, evitando que sua putrefao contamine o ninho. USO PELO SER HUMANO Oprpolispossuidiversaspropriedades biolgicaseteraputicas.Hojeoprpolis utilizado com maior freqncia na preveno e notratamentodeferidaseinfecesdavia oral,tambmcomoantimictico(contraos fungos)ecicatrizante.Estudosmaisrecentes indicameficienteaodealgunsdeseus compostos ativos como ao imunoestimulante e antitumoral. www. elmundo. es SAIBAA PRODUO DEMEL JataDe 0,8 a 1,4 litros Tubuna, Mandaaia, Guaraipo e Manduri De 2 a 5 litros * Dependendo da espcie, forma de criao e das floradas 76VOCSABIA? SUGESTESdeATIVIDADES A abelha-limo (Lestrimellita) tem o hbito de roubar alimentos de outras colnias. Investigaes de laboratrio comprovaram a crena tradicional de que o mel de jata possui propriedades antimicrobianas. Omelproduzidopelaabelhajatacompostoessencialmentede levulose (frutose), que um acar natural das frutas. a.Pesquiseousodomeledosderivadosdeabelhasqueso utilizados na culinria (alimentao) da sua comunidade. Destaque em que momentos e/ou poca isto acontece. b.Entrevistepessoase/oufamliasarespeitodeabelhas,mel, prpolis,plenecera,utilizadosemtratamentosecurade doenas. c.Faa uma discusso sobre o porqu do mel ter alto valor alimentar e curativo. d.Analise e relacione os diferentes tipos ou qualidades de mel com as diferentes espcies de abelhas e seus hbitos e comportamentos. e.Analise se a substituio do mel e o aumento do uso dos produtos da cana-de-acar trouxeram benefcios ou prejuzos para a sade da sua comunidade. Alerta! Perigo de Extino 8 Nome tradicional Nome cientfico CATEGORIAde AMEAA GUARAIPOMelipona bicolorVulnervel MANDURIMelipona marginataVulnervel MANDAAIAMelipona quadrifasciataEm perigo MIRIMPlebeia wittmanniEm perigo Atualmente no estado de Rio Grande do Sul so conhecidasaproximadamente vinte espcies de meliponinas,das quais quatro j esto ameaadas de extino. .FotoLucianoCosta//mel.cpatu. embrapa. brFundao Zoobotnica do Rio Grande do Sulhttp://www.fzb.rs.gov.br/downloads/fauna_ameacada.pdf Aes do ser humano vm causando o declnio populacional e de diversidade de polinizadores naturais. CAUSAS DO DECLNIO Semfazeralardenemdeixarpistas,abelhasdediversasregiesdo planetaestodesaparecendo.Oscientistasestocorrendoatrsdeuma resposta,masaindanoconseguirampassardehipteses.Talvezsejaa intoxicao por inseticidas cada vez mais usados na agricultura , talvez ainfecoporvrusecaros.Diantedomistrio,nosedescartanem mesmo a influncia de lavouras transgnicas, o aumento da incidncia de raios ultravioletas e a radiao dos telefones celulares. As populaes de abelhas silvestres tm sido reduzidas drasticamente, devido eliminao de suas fontes de alimento e locais de nidificao, pela ocupao intensiva da terra pela agricultura e urbanizao e pela intoxicao com pesticidas. A reduo das populaes de abelhas, por sua vez, pode levar diminuio da produo de frutos e sementes de plantas cultivadas e nativas. 8 Alerta! Perigo de EXTINO LEITURA de TEXTO 80 COMPREENDENDO melhor o PROBLEMA Oproblema complexo,porm,basicamente,podemosdestacaralguns fatores provocadospeloserhumano queestoocasionandomodificaes dohbitat (lugarouambientenatural)necessriopara avidadasabelhas nativas sem ferro. Impactos e modificaes 1. Falta de fontes de alimento para as abelhas. 2. Falta de locais de nidificao para as abelhas. a) DESTRUIO DE AMBIENTES Algumas causas: Desmatamento e queimadas; Plantio de extensos macios florestais homogneos; Implantao da monocultura atravs da agricultura e da pecuria. Alguns efeitos: Fragmentao do hbitat; Os meliponneos no conseguem escapar das queimadas porque suas fmeas no podem sair do ninho devido ao grande desenvolvimento de seu abdome. b) COMPETIO COM OUTRAS ESPCIES Algumas causas: A introduo de espcies exticas (como por exemplo, a Apis melifera); O ser humano (a urbanizao e os meladores). 81 Alguns efeitos: Asabelhassoconsideradasas principaispolinizadoras.Entretanto,a introduodeespciesexticas(como nocasodaApis)poderesultarno declniopopulacionaldospolini-zadoresnativosenadiversidadedos mesmos,pois,estasespciesexticas ocupamosespaosdasabelhassem ferro.Espciesinvasorasnotm predadoresnaturaisesemultiplicam rapidamente.Sofortes,tipicamente agressivas, e controlam o ambiente que ocupam,roubandoespaodasespciessilvestresecompetindocomelas por alimento (ver depoimento pgina 117). Muitosmeleiros,semconhecimento,aoretiraromel,praticamente destroemas colmiasqueestoem ocosdervores,deformaqueasabelhas tmmuitotrabalhopararefazersuasmoradiaseproduzirnovamente, prejudicando a sua sobrevivncia e podendo at matar a colnia. Em Mamirau, AM, no obstante a proibio de caa, os macacos uacaris esto diminuindo em nmero. A razo foi fcil de ser encontrada: trs espcies de abelhas grandes e boas produtoras de mel uruu-boca-de-renda, uruu-boca-de-ralo e uruu-amarela so polinizadoras de centenas de variedades de rvores frutferas. Porm, as populaes indgenas e ribeirinhas daquela rea coletam mel para servir como remdio e mezinha. No consideram agresso natureza derrubar um tronco de rvore que tenha uma colnia; essa colnia aberta, sendo o mel, o geoprpolis, a gelia real, as larvas e pupas utilizados como remdio. O que no utilizado jogado fora e comido pelas formigas. A conseqncia ecolgica, imediata, a diminuio da polinizao, da fecundao, de frutos e da quantidade destes disponveis para os uacaris.6 ano Profa. Jane Tolotti82 c) CONTAMINAO DO AMBIENTE Algumas causas: Uso abusivo de agrotxico (por exemplo, inseticidas). Alguns efeitos: Intoxicao; Morte. A advertncia deEinstein O fsico Albert Einstein disse que, se as abelhas desaparecessem, a humanidade seguiria o mesmo rumo. A razo muito simples: sem abelhas no h polinizao, e sem polinizao no h alimentos. Nessa inter-relao, ao modificar negativamente o ambiente das abelhas, acabamos tambm prejudicando a sobrevivncia de outras espcies que dependem delas, ou seja: A BIODIVERSIDADE fica AMEAADA! 83 PENSANDO algumas SOLUES NoBrasil,aconservaodervores comolocaisdenidificaocrucial paraasobrevivnciadasabelhassem ferro em ambientes naturais. Portanto, desumaimportnciaestimular programasdeconservaoerecupe-raodereasdegradadasatravsda preservaoepromoodoplantiode espciesarbreasnativas,quesoas maisapropriadasparacomporemlistas deprogramasdecompensao ambiental.Acompensaoecolgica obrigatriaparacertosprojetosque, atravsdesuasatividades,destroemos ambientesnaturais.Essacompensao pode estar na forma de reflorestamento dasreasafetadasouem outrasformas de melhorar a qualidade do ambiente. Hojeemdiapossveldesenvolverameliponiculturaemcombinaocomos sabereslocaise tradicionaisecomasespecificidadesculturaisdecadaetnia.J existem tcnicas de manejo como: Captura,usandoiscasetransfernciadecolnias para caixas de criao; Diviso de ninhos; Controle de inimigos; Alimentao suplementar; Tcnicas de extrao do mel, etc. Eliane Amaro Criar CAIXA 84 SUGESTESdeATIVIDADES nimo! Vamos criar abelhinhas de uma forma mais sustentvel e responsvel para assim desfrutar dos benefcios por mais tempo e em favor do ambiente. O criador de abelhas nativas sem ferro um meliponicultor e no um apicultor. Uma caixa de criao pode produzir quase que o dobro se comparada com a criao no toco ou a melao na mata. Grande parte dos vegetais presentes no Brasil dependem exclusivamente da polinizao realizada por estas abelhas. a.Pesquise o significado das seguintes palavras: ecossistema, hbitat, espcieextica,transgnico,intoxicao,biodiversidadeeoutras palavras de interesse. b.Existemoutrosseresvivosqueforamintroduzidosouimporta-dos? Quais os impactos ocasionados pela sua presena? c.Sugirasistemasprodutivosnosquaispossvelo convvioemharmoniadasabelhassemferrocoma produodealimentosparaoserhumano(exemplo: sistemas agroflorestais, quintais agroflorestais, etc.). www. amavida. org. br VOCSABIA? Aplicao Prtica e Interdisciplinar Em ao! 9 Desenho: 5 a 8 ano Profs. Mrcio e Maria Atividades nas Escolas Indgenas Bento P Gg e Gomercindo Jt Tenh Ribeiro 87 Entrevistas sobre Abelhas Nativas Conheoasabelhasjataeirapu.A abelhajatabempequenininhae amarelinha. A irapu j preta e uma abelhaquesegrudanoscabelosda gente.Unsdezanosatrs,ns tnhamosemcasaumacaixinhade jata, produzia um litro de mel por ano. Ascrianasgostavammuitoeelas mesmasiamlepegavamomelpara comer.Sque,detantomexer,elas foram embora. Ficotriste,porquequeriaqueelas voltassem. As pessoas vinham em minha casa buscar mel para remdio, pessoas da cidade,eeuarrumavaemvidrinhose davaparaelas,porqueeuconheoesei que remdio para tosse comprida. Para queestasabelhinhasvoltem, importante queas pessoas plantemmais rvorescomoauvaJapoporqueelas gostammuitodessa flor.Euachoqueas abelhassumiramporqueaspessoas derrubammuitasrvores,noplantam mais e a falta alimento para elas. Neiva Bento 56 anos rvore Triste - 5 ano Profa. Jussara Ribeiro Jssica Ribeiro 7 ano 88 Conheomuitobemessasabelhas,a jataeamirim,masnuncativeestas abelhas, conheo e tenho uma caixa das abelhascomuns,asdeferro.Mas tambmseiqueasjatasemirinstm um mestre e tem que ter muito cuidado nahoradeextrairestemelparano mataromestreenuncatirartodoo mel,sempredeixarumpoucoporque senomorreoenxame.Estasabelhas tmofavoseparado,temapartedo meledosfilhotes.Seiqueestemel muito caro porque remdio e muito bom para comer. Francisco Bento Entrevista: alunos do 7 e 8 anos Asabelhassemferroproduzemmel quebastanteutilizadoparafazer remdiosparagripeetambmera utilizado como alimento. Tambm serve comovitaminaparaascrianasedeve-sedar,pelamanh,umacolheradade melpuroparaelas.Tambmdeve-se ensinaraimportnciadomeldas abelhas sem ferro para os filhos e netos. Eparacurarasgripesdeve-setomar sucodelimomisturadocomuma poro do mel. Nlia Sales Entrevista: Eliane Incio Joaquim 5 anoBruna - 8 ano Karine - 4 ano 89 Textos e Tarefas Abelhas Nativas Sem Ferro Otrabalhodasabelhasimportanteparaapreservaoda natureza. Elas ajudam no nascimento de muitas plantas.Nas flores, a fecundao acontece quando a abelha pousa na florparacolheronctar ou oplen,levando oplenpara aflor seguinte ou para as flores de outra planta.Asqueimadas,aderrubadadasrvores,acoletapredatria domeleousodevenenosnaagriculturasoinimigosdas abelhas. Omelumalimentopreparadopelasabelhasapartirdo nctar,queumlquidodoceproduzidopelasflores.As qualidadesmedicinaisdecadamelvariamdeacordocoma florada de cada planta ou com o tipo de abelha produtora. Nasreservasindgenas,existemespciesdeabelhasnativas, conhecidas como abelhas sem ferro. So pequeninas e produzem um mel muito bom. Asabelhasindgenas,semferrosoclassificadasemdois gruposdiferentes:asquefazemaentradadesuacolmiacom Mauro Sales4 ano 90 barro,emformadeestrias,easquefazemaentradacomcera, em forma de canudo.Algunstiposdeabelhas fazemseusninhosemocosdepau, outrosemburacosnosbarrancoseemformigueirosou,ainda,em cupinzeiros abandonados. comum ainda hoje, no interior, a criaodeabelhasemcabaas,principalmentedajata.uma boa alternativa sustentvel para climas quentes. importantelimparomelutilizandopeneiras,filtrando-o emmeiasfinasouemoutrotecido.Deveserguardadoem recipientelimpoeseco.Oidealarmazenaromelemvidros com tampa. Professora Nice Terezinha P. Ternese alunos do 4 ano Ameja v vnh kang t, kar kafeje ti t me han j. As abelhas precisam das flores da capoeira, e do mato para fazer mel. 91 Marines8 ano Vantagens da criao Asabelhassemferrosoosprincipaisagentespolinizadoresdevrias plantasnativas.Preservaressasabelhascontribui,portanto,paraconservaros mais diversos tipos de vegetao. A criao das abelhas sem ferro muito fcil. So abelhas bastante dceis e de fcil manejo. Por isso, sua criao barata e no exige roupas e equipamentos especiais,reduzindoassimoscustosdesuacriaoepermitindoquesejam mantidas pertoderesidnciasedecriaodeanimaisdomsticos. Almdisso, para manejo pode facilmente ser feito por jovens ou idosos, pois no exige esforo fsico. Omelproduzidopelasabelhassemferroco