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CARMEN ANTONIA SANCHES ITO
ÁCIDO NALIDÍXICO COMO MARCADOR PREDITIVO DE SENSIBILIDADE ÀS
FLUORQUINOLONAS EM Escherichia coli ISOLADAS DE UROCULTURA
CURITIBA
2004
A-PDF MERGER DEMO
CARMEN ANTONIA SANCHES ITO
ÁCIDO NALIDÍXICO COMO MARCADOR PREDITIVO DE SENSIBILIDADE ÀS
fLUORQUINOLONAS PARA Escherichia coli ISOLADAS DE UROCULTURA
Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre, pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Setor de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Paraná - UFPR. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Libera Maria Dalla Costa
CURITIBA
2004
ii
AGRADECIMENTOS
Um trabalho de pesquisa é sempre uma tarefa que conta com a contribuição de inúmeras pessoas e de várias instituições, cujos nomes quero deixar registrados aqui.
Prof.ª Dr.ª Libera Maria Dalla Costa, que aceitou orientar este trabalho e
que me deu muitas de suas horas de lazer. Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná – equipes de:
Bacteriologia: Adriane Ceschin Maestri, Aurora da C. F. da Silva Faria, Cecilia Kazuko Goya, Cesar Renato Zambao, Dilair Camargo de Souza, Eliane Meri B. Mendes, Gislene Maria D. Botão, Helena Aguilar P. H. M. de Souza, Irene de Morais, Izabel Joana de Lima, Jaqueline Sena Duraes, Jussara Kasuko Palmeiro, Keite da Silva Nogueira, Laura Lucia Cogo, Luciana Costa, Mara de Fatima C. Hack, Margareth Indiukov Neves, Maria Bernadete Mira, Maria Estela M. de Lima, Marisa Viante Rossi, Maristela de Paiva Lima, Marli Terezinha Karpstein, Marluza Apª Ramos Andrade, Roberto Ribeiro dos Santos, Rosalia Rubel, Rute Ricardo da Silva, Sugleri, Zozimo Oractz Neto. Central de Soluções: Acir de Miranda Saiz, Josiane Meyer, Maria Olívia Mendes de Camargo, Paulo de Tarso Túllio, Pedro Horlap. Virologia: Meri Bordignon Nogueira, Sonia Mara raboni, Clyete Santos da Silveira. Imunogenética: Noemi Farah Pereira, Ana Lucia Vieira Mion, Marcia Fabricio de Melo.
Escola Paulista de Medicina – Laboratório Especial de Microbiologia Clínica
e Laboratório de Retrovirologia, especialmente a Dr.ª Ana Cristina Gales, Patrícia Munerato, Maria Cristina Tognim, Liana Carballo Menezes e Andréa Pereira.
Os amigos Luine Rosele Renaud Vidal Tsuchiya e Waldemar de Paula
Junior. Altair Coelho, do Laboratório Alpha, e sua equipe, especialmente as amigas
Larissa Bail, Adriana Van Santen e Ana Cristina Defino. César Roberto Busato e Juarez Gabardo. As empresas Newprov, Bristol-Myers Squibb, Merck Sharp & Dohme e
Bayer, pelo fornecimento de parte do material. Miguel Sanches Neto. Marcos Ito e Julia Sanches Ito, por terem compreendido minhas longas
ausências da vida familiar.
iii
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS ..................................................................................................v
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................................. viii
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................1
2 REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................................3
2.1 QUINOLONAS.......................................................................................................3
2.2 DESCOBERTA E EVOLUÇÃO..............................................................................3
2.3 RELAÇÃO ESTRUTURA-ATIVIDADE...................................................................8
2.4 CLASSIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS QUINOLONAS..........................................11
2.5 EFEITOS ADVERSOS ........................................................................................12
2.6 INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA .......................................................................13
2.7 MECANISMO DE AÇÃO .....................................................................................13
2.8 MECANISMOS DE RESISTÊNCIA ÀS QUINOLONAS.......................................19
2.8.1 Mutações nos genes que codificam para DNA girase e Topoisomerase IV .....22
2.8.2 Bombas de efluxo .............................................................................................28
2.8.3 Resistência mediada por plasmídios ................................................................29
2.9 PREVENÇÃO DE SELEÇÃO DE MUTANTES....................................................30
3 OBJETIVOS ..........................................................................................................33
3.1 OBJETIVO GERAL.............................................................................................33
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..............................................................................33
4 MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................34
4. 1 AMOSTRAS......................................................................................................34
4.1.1 Estocagem das amostras bacterianas.............................................................34
4.2 TESTE DE SUSCEPTIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS POR DISCO-
DIFUSÃO EM ÁGAR .................................................................................................35
4.3. DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA (CIM) PELO
MÉTODO DE DILUIÇÃO EM ÁGAR..........................................................................36
4.3.1 Preparo das soluções de antibióticos ..............................................................37
4.3.2 Preparo das placas de Mueller-Hinton ágar com antimicrobiano ....................39
4.3.3 Procedimento técnico do teste de diluição em ágar ........................................41
iv
4.4 PESQUISA DE MUTAÇÕES NA REGIÃO DETERMINANTE DE
RESISTÊNCIA ÀS QUINOLONAS (QRDR) DOS GENES gyrA e parC....................44
4.4.1 Extração do DNA bacteriano ...........................................................................44
4.4.2 Amplificação da QRDR dos genes gyrA e parC por PCR................................45
4.5 SEQÜENCIAMENTO DO PRODUTO AMPLIFICADO .......................................46
4.5.1 Purificação do produto de PCR .......................................................................46
4.5.2 Seqüenciamento..............................................................................................46
4.5.3 Precipitação de DDNTPs não incorporados .....................................................47
4.5.4 Determinação da seqüência do DNA...............................................................47
4.6 SÍNTESE DOS PROCEDIMENTOS REALIZADOS NESTE TRABALHO ..........48
5 RESULTADOS ......................................................................................................50
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA...................................................................50
5.2 TESTES DE SENSIBILIDADE ÀS QUINOLONAS POR DISCO-DIFUSÃO ........52
5.3 DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA........................54
5.4 PESQUISA DE MUTAÇÕES NOS GENES gyrA e parC.....................................63
5.4.1 Amplificação das QRDRs dos genes gyrA e parC............................................63
5.4.2 Seqüenciamento das QRDRs dos genes gyrA e parC ....................................65
6. DISCUSSÃO .........................................................................................................67
7. CONCLUSÕES .....................................................................................................78
REFERÊNCIAS .........................................................................................................80
v
LISTA DE TABELAS TABELA 01 - DIVISÃO DAS PRINCIPAIS QUINOLONAS.............................................. 12
TABELA 02 - ATIVIDADE DA TROVAFLOXACINA EM COMPARAÇÃO COM A
CIPROFLOXACINA NOS DOIS PRINCIPAIS SÍTIOS DE AÇÃO DE
DIFERENTES ESPÉCIES BACTERIANAS...............................................
19
TABELA 03 - MUTAÇÕES NO SÍTIO DE AÇÃO EM Klebsiella pneumoniae................. 25
TABELA 04 - MUTAÇÕES NO SÍTIO DE AÇÃO EM Escherichia coli............................ 25
TABELA 05 - MUTAÇÕES NO SÍTIO DE AÇÃO EM Pseudomonas aeruginosa.......... 26
TABELA 06 - MUTAÇÕES NO SÍTIO DE AÇÃO EM Staphylococcus aureus................ 27
TABELA 07 - MUTAÇÕES NO SÍTIO DE AÇÃO EM Streptococcus pneumoniae......... 27
TABELA 08 - COMPONENTES DO SISTEMA DE EFLUXO DAS PRINCIPAIS
BACTÉRIAS...............................................................................................
29
TABELA 09 - CONCENTRAÇÕES DOS ANTIMICROBIANOS TESTADAS PARA
AMOSTRAS DE E. coli..............................................................................
38
TABELA 10 - INICIADORES UTILIZADOS NA AMPLIFICAÇÃO DA QRDR DOS
GENES gyrA e parC..................................................................................
45
TABELA 11 - PERCENTUAL DE RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS DETECTADO
PELO MÉTODO AUTOMATIZADO...........................................................
51
TABELA 12 - DISTRIBUIÇÃO DOS FENÓTIPOS DE RESISTÊNCIA ÀS
QUINOLONAS PELO MÉTODO DE DISCO-DIFUSÃO............................
52
TABELA 13 - DISTRIBUIÇÃO DOS ISOLADOS E PERCENTUAL CUMULATIVO
POR CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA PELO MÉTODO DE
DILUIÇÃO EM ÁGAR................................................................................
55
TABELA 14 - POTÊNCIA E ATIVIDADE DOS ANTIMICROBIANOS TESTADOS
PELO MÉTODO DE DILUIÇÃO EM ÁGAR EM 385 AMOSTRAS E.
coli..............................................................................................................
56
TABELA 15 - PERCENTUAL DE SENSIBILIDADE À NITROFURANTOÍNA E AO
SULFAMETOXAZOL/TRIMETOPRIM EM AMOSTRAS SENSÍVEIS E
RESISTENTES ÀS QUINOLONAS...........................................................
57
TABELA 16 - RESULTADO DO TESTE DE ACURÁCIA DOS MÉTODOS DE
DIFUSÃO E DILUIÇÃO EM ÁGAR PARA OS 385 ISOLADOS DE E.
coli.............................................................................................................
58
TABELA 17 - DISTRIBUIÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA (AD) DA
CIPROFOXACINA DOS 385 ISOLADOS DE E. coli.................................
vi
CIPROFOXACINA DOS 385 ISOLADOS DE E. coli................................. 63
TABELA 18 - LOCALIZAÇÃO E TIPO DE MUTAÇÕES NOS GENES gyrA E parC
POR GRUPO DE AMOSTRAS..................................................................
66
vii
LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 - ESTRUTURA BÁSICA DAS QUINOLONAS................................................... 08
FIGURA 02 - PRINCIPAIS SUBSTITUINTES NA MOLÉCULA DAS QUINOLONAS......... 10
FIGURA 03 - NUCLEÓIDE E FORMAÇÃO EM ALÇA DO DNA BACTERIANO.................. 16
FIGURA 04 - REGIÃO 4 α-HÉLICE DA DNA GIRASE......................................................... 16
17 FIGURA 05 -
FIGURA 06 -
COMPLEXO TERNÁRIO: DNA GIRASE-DNA-QUINOLONAS............
PRINCIPAIS MECANISMOS DE RESITÊNCIA ÀS QUINOLONAS.... 21
FIGURA 07 - JANELA DE SELEÇÃO DE MUTANTES........................................................ 32
FIGURA 08 - ESTRUTURA QUÍMICA DA QUINOLONAS UTILIZADAS................... 36
FIGURA 09 - EXEMPLO DE DILUIÇÃO SERIADA DA SOLUÇÃO ESTOQUE DO ÁCIDO
NALIDÍXICO....................................................................................................
40
FIGURA 10 - ESQUEMA SIMPLIFICADO DO MÉTODO DE ÁGAR DILUIÇÃO
UTILIZADO.....................................................................................................
42
FIGURA 11 - EXEMPLO DA DETERMINAÇÃO DA CIM DO ÁCIDO NALIDÍXICO PELO
MÉTODO DE DILUIÇÃO EM ÁGAR.............................................................
43
FIGURA 12 - DIAGRAMA SIMPLIFICADO DOS PROCEDIMETOS TÉCNICOS
REALIZADOS.................................................................................................
49
FIGURA 13 - DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE AMOSTRAS FEMININAS E
MASCULINAS POR FAIXA ETÁRIA..............................................................
51
FIGURA 14 - DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO TOTAL DE AMOSTRA E NÚMERO DE
AMOSTRAS RESISTENTES PELO MÉTODO DE DISCO-DIFUSÃO POR
FAIXA ETÁRIA EM AMOSTRAS FEMININAS................................................
53
FIGURA 15 - DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO TOTAL DE AMOSTRA E NÚMERO DE
AMOSTRAS RESISTENTES PELO MÉTODO DE DISCO-DIFUSÃO POR
FAIXA ETÁRIA EM AMOSTRAS MASCULINAS............................................
53
FIGURA 16 - COMPARAÇÃO DO HALO DE INIBIÇÃO EM mm (DD) COM A CIM EM
µg/mL (AD) DAS QUINOLONAS TESTADAS...............................................
60
FIGURA 17 - COMPARAÇÃO DO HALO DE INIBIÇÃO EM mm (DD) DO ÁCIDO
NALIDÍXICO COM A CIM EM µg/mL (AD) DA NORFLOXACINA,
CIPROFLOXACINA E GATIFLOXACINA NAS 385 AMOSTRAS
ESTUDADAS..................................................................................................
61
FIGURA 18 - PRODUTO DE AMPLIFICAÇÃO DO GENE gyrA e parC OBTIDOS DA
AMOSTRA......................................................................................................
64
viii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Ala - alanina
Arg - arginina
Asn - asparagina
Asp - ácido aspártico
AUC - área sob a curva
AUIC - área sob a curva inibitória
CIM - concentração inibitória mínima
CIP - ciprofloxacina
dATP - dinucleotídeo adenosina trifosfato
dCTP - dinucleotídeo citosina trifosfato
DDNTP -- dideoxidinucleotídeo trifosfato
dGTP - dinucleotídeo guanosina trifosfato
DMSO - dimetilsulfóxido de sódio
DNTP - dinucleotídeo trifosfato
dTTP - dinucleotídeo timina trifosfato
Gln - glicina
GTF - gatifloxacina
gyrA - gene que codifica para GyrA
GyrA - subunidade A da DNA girase
gyrB - gene que codifica para GyrB
GyrB - subunidade B da DNA girase
His - histidina
Ile - isoleucina
Leu - leucina
Lis - lisina
mL - mililitro
mm - milímetro
n - número de amostra
NAL - ácido nalidíxico
ix
NOR - norfloxacina
NCCLS - comitê nacional para padronização de laboratórios
parC - gene que codifica para ParC
ParC - subunidade C da Topoisomerase IV
parE - gene que codifica para ParE
ParE - subunidade E da Topoisomerase IV
Phe - fenilalanina
Pro - prolina
QRDR - região determinante de resistência às quinolonas
Ser - serina
SUT - sulfametoxazol/trimetoprim
Thr - triptofano
TSA - teste de susceptibilidade aos antimicrobianos
Tyr - tirosina
UFC - unidades formadoras de colônias
Val - valina
v/v - volume a volume
µg - micrograma
µL - microlitro
x
RESUMO
A infecção do trato urinário é uma das patologias mais comuns na prática clínica. O principal agente etiológico é Escherichia coli. As quinolonas são amplamente utilizadas na terapêutica dessas infecções e o aumento da resistência a esses fármacos é preocupante. Neste estudo, avaliou-se o padrão de susceptibilidade de 385 amostras de E. coli isoladas de urocultura. Os métodos utilizados foram disco-difusão e diluição em ágar. Testaram-se as seguintes quinolonas: ácido nalidíxico, norfloxacina, ciprofloxacina e gatifloxacina. Foram pesquisadas mutações nos genes gyrA e parC em doze amostras, das quais duas eram sensíveis às quinolonas, cinco resistentes somente ao ácido nalidíxico e cinco resistentes a todas as quinolonas. Das 385 amostras de E. coli, 53 foram classificadas como resistentes a pelo menos uma quinolona testada. Ciprofloxacina apresentou maior potência (CIM50 ≤ 0,015 µg/mL), entretanto, o percentual de sensibilidade foi igual ao da norfloxacina (91,4%) e ligeiramente menor do que o da gatifloxacina (92,7%). O ácido nalidíxico apresentou potência (CIM50 = 2 µg/mL) e sensibilidade (86,2%) menores do que as apresentadas pelas fluorquinolonas. A comparação entre os métodos de difusão e diluição em ágar mostrou uma boa relação para as quinolonas testadas, sensibilidade entre 97%-98% e especificidade de 100% . O ácido nalidíxico revelou-se um bom marcador preditivo da sensibilidade às fluorquinolonas em E. coli no teste de difusão em ágar, a sensibilidade desse método de triagem foi de 100% e especificidade de 95%. No sequenciamento, as amostras sensíveis às quinolonas não apresentaram mutações; naquelas resistentes apenas ao ácido nalidíxico foi encontrada uma única mutação em gyrA, com elevação da CIM para as demais quinolonas testadas. Nas amostras resistentes, foram observadas três mutações, duas em gyrA e uma em parC. Com base nos resultados encontrados neste estudo, sugerimos o uso do ácido nalidíxico como marcador preditivo de sensibilidade de E. coli às fluorquinolonas.
Palavras-chave: infecção urinária, resistência às quinolonas, Escherichia coli.
xi
ABSTRACT
Urinary tract infection is one of the most usual pathologies in clinical practice. Escherichia coli is the main ethiologic agent. Quinolones are widely used as a therapeutic agent in these infections. In this study 385, it has been evaluated 385 E. coli isolates from urine culture by using disk-diffusion and agar-dilution tests. The following quinolones were tested: nalidixic acid, norfloxacin, ciprofloxacin and gatifloxacin. Twelve strains were tested for presence of mutation in gene gyrA and parC, two strains were susceptible, five were only resistant to nalidixic acid and five were resistant to all quinolones tested. From 385 strains E. coli tested, 53 were classified as resistant to at lest one quinolone tested. Ciprofloxacin has shown the highest potency (MIC50 ≤ 0.015 µg/mL), however, the percentage of sensibility was similar to norfloxacin (91,4%), but less than gatifloxacin (92,7%). Nalidixic acid has shown potency (MIC50 = 2 µg/mL) and susceptibility (86,2%) lower than for fluoroquinolones. Comparison between the disk-diffusion and agar-dilution showed a good relation for quinolones tried, sensibility of 97%-98% and specificity of 100%. The nalidixic acid it shown a good marker predictive of the sensibility to fluoroquinoles in E. coli in the disk-diffusion test, this screening method provided a sensibility of 100% and specificity of 95%. From sequenced strains, the susceptible to quinolones has not presented mutations, in those resistant strains to nalidixic acid, only one mutation in gyrA, with increasing MIC for the other quinolones tested were found and in resistant strains to all quinolones only three mutations, two in gyrA gene and one in parC gene were found. On the base of results found in this study we sugest to use nalidixic acid as a predictive marker of sensibility to fluoroquinolones in E. coli.
Key-words: urinary infection, quinolones resistance, Escherichia coli.
1
1 INTRODUÇÃO
As quinolonas representam um importante avanço na terapêutica
antimicrobiana das infecções, comunitárias e hospitalares, do trato urinário, onde
Escherichia coli, continua sendo o principal agente etiológico nas infecções agudas.
O ácido nalidíxico foi o primeiro antimicrobiano desse grupo utilizado
clinicamente. Na década de 80, as fluorquinolonas foram introduzidas na terapêutica
antiinfecciosa. Esta classe possui compostos administráveis, por via oral e
parenteral, amplo espectro de atividade para vários tipos de infecção, incluindo
infecção complicada do trato urinário (ITU), infecções gastrointestinais, doenças
sexualmente transmissíveis, infecções do trato respiratório e osteomielite crônica. A
emergência de bactérias resistentes foi observada logo após o uso terapêutico das
fluorquinolonas, especialmente em isolados nosocomiais. Mas a preocupação se
intensificou com o aumento do relato de resistência em infecções adquiridas na
comunidade por E. coli, Neisseria gonorrhoeae e espécies de Salmonella e
Campylobacter (ACAR & GOLDSTEIN, 1997).
Algumas classes de antimicrobianos podem ser avaliadas quanto à
resistência por meio de um marcador, que tem a função de triagem. No caso das
quinolonas, há indícios de que o ácido nalidíxico possa exercer este papel. Apenas
uma mutação no gene responsável pela codificação do sítio alvo confere resistência
a este fármaco, enquanto as fluorquinolonas podem apresentar diminuição na
potência, detectada somente pela elevação da concentração inibitória mínima (CIM).
O objetivo deste trabalho foi determinar a potência e atividade das quinolonas
em E. coli isoladas de infecção do trato urinário, bem como pesquisar o principal
mecanismo genético envolvido na resistência. Objetivou-se ainda, correlacionar a
SENSIBILIDADE do ácido nalidíxico com as fluorquinolonas. As quinolonas testadas
foram o ácido nalidíxico (NAL), norfloxacina (NOR), ciprofloxacina (CIP) e
gatifloxacina (GTF). A suscepitibilidade às quinolonas foi determinada por dois
testes, difusão em ágar e diluição em ágar como método de referência.
Nitrofurantoína (NIT) e sulfametoxazol/trimetoprim (SUT) foram testados como
opções terapêuticas.
2
Foi realizada ainda amplificação e sequenciamento da região que determina
resistência às quinolonas (QRDR) dos genes gyrA e parC, para relacionar o nível de
resistência com a presença de possíveis mutações.
3
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 QUINOLONAS As quinolonas representam uma classe de antimicrobianos composta por
drogas estruturalmente semelhantes, totalmente sintéticas. Agentes bactericidas,
dependentes da concentração, que podem ser administrados por via oral ou
endovenosa. A manipulação do núcleo quinolônico levou ao desenvolvimento de
várias quinolonas que são agrupadas em diferentes gerações (ANDRIOLE, 1998).
A introdução do flúor na posição seis do anel quinolônico melhorou a
atividade antimicrobiana, recebendo a denominação de fluorquinolonas. As
fluorquinolonas são indicadas na terapêutica da infecção do trato urinário (ITU),
doenças sexualmente transmissíveis, infecções gastrintestinais e abdominais,
infecções do trato respiratório, infecções ósseas e articulares, da pele e suas
estruturas, infecções sistêmicas e na prevenção ou erradicação da colonização
(HOOPER, 2000).
Essa classe de agentes terapêuticos, em contínua expansão, tem sido usada
clinicamente em grande escala, tanto em pacientes hospitalares quanto em
ambulatoriais (HOOPER, 2000).
ENA et al. (1998) advogam que as taxas de resistência às fluorquinolonas
são mais elevadas em países em desenvolvimento. Isso dar-se-ia em função da
utilização de quinolonas menos potentes, como o ácido nalidíxico, ou ainda pelo uso
de regimes incompletos de compostos mais potentes, como a ciprofloxacina. Já em
países desenvolvidos, o aumento de resistência estaria ainda associado ao
crescimento no consumo geral de quinolonas, infecções urinárias complicadas e ao
amplo uso de catéter vesical.
2.2 DESCOBERTA E EVOLUÇÃO
Primeira quinolona de uso clínico, o ácido nalidíxico foi descoberto
acidentalmente por Lesher em 1962, durante a síntese de um composto
antimalárico, a cloroquina. Naquela época, constituía uma boa opção terapêutica
4
para o tratamento de infecções urinárias, pois apresentava atividade satisfatória
contra bactérias Gram negativas aeróbias (BARLOW, 1963). Porém, a atividade
limitada às enterobactérias e o fato de não alcançar concentração sérica adequada
restringiram a indicação do ácido nalidíxico para o tratamento de infecções urinárias
não complicadas (ANDRIOLE, 1996).
Nos anos 70, outras quinolonas, como o ácido oxonílico e a cinoxacina, foram
sintetizadas. Apesar de possuírem atividade antimicrobiana discretamente superior
à do ácido nalidíxido, tais compostos não constituíram descoberta significativa.
Quase que paralelamente, foi desenvolvido, no Japão, o ácido pipemídico, que já
apresentava alguma atividade, ainda que limitada, contra Pseudomonas aeruginosa.
Com características farmacocinéticas semelhantes ao NAL, ele também é indicado
para infecções urinárias não complicadas (ANDRIOLE, 1996).
A identificação da enzima DNA girase em 1976, levou a uma melhor
compreensão do mecanismo de ação, possibilitando o desenvolvimento das
quinolonas. Outro fator significativo foi a capacidade de manipular o núcleo
quinolônico, levando à obtenção de inúmeras substâncias substituídas em várias
posições no anel central, com melhora nas propriedades farmacocinéticas, aumento
na meia-vida e ampliação da atividade antibacteriana (ANDRIOLE, 1996).
Com a incorporação da molécula de flúor na posição 6 do anel quinolônico
houve um aumento importante na potência em relação às bactérias Gram negativas
e a ampliação do espectro de ação para as bactérias Gram positivas. Essas
quinolonas passaram a ser chamadas de fluorquinolonas (DOMAGALA, 1986).
Lançada em 1986, a primeira quinolona desse grupo foi a norfloxacina, que
apresenta excelente atividade em bactérias Gram negativas aeróbias, incluindo
Pseudomonas aeruginosa, e boa atividade também contra bactérias Gram positivas.
Indicada para infecções urinárias, infecções gonocócicas uretrais e cervicais não
complicadas e prostatite e infecções gastrointestinais, embora com limitações em
termos de farmacocinética e farmacodinâmica (TAVARES, 1996).
Logo após, outras fluorquinolonas, como ciprofloxacina (1987) e a ofloxacina
(1991), foram lançadas, apresentando alta absorção intestinal e ótima penetração
na maioria dos órgãos e tecidos, com excelente potência e espectro de ação contra
bactérias Gram negativas e Gram positivas (ANDRIOLE, 1998).
5
O uso hospitalar desses fármacos iniciou com as quinolonas de “segunda
geração” em função da melhoria nos parâmetros farmacocinéticos e
farmacodinâmicos, que permitiu a administração por via oral e endovenosa, a
redução das doses diárias, a ampliação do espectro de ação antimicrobiano e a
elevação da potência bactericida (TAVARES, 1996).
Até então, estas quinolonas apresentavam atividade relativamente baixa
contra algumas bactérias Gram positivas, especialmente Streptococcus
pneumoniae. A atividade delas também era restrita contra bactérias anaeróbicas e
contra os agentes etiológicos responsáveis pelas “pneumonias atípicas”, tais como
Legionella pneumophila, Micoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae
(ANDRIOLE, 1998).
Novas modificações deram origem aos análogos di e tri-fluorados do ácido
nalidíxico, criando a terceira geração das quinolonas, representadas pela
esparfloxacina (1997), temafloxacina (1992), grepafloxacina (1998), levofloxacina
(1997) e lomefloxacina (1992). Destas, somente a levofloxacina se encontra
disponível comercialmente no Brasil (MENDES, 1998).
Esta geração possui maior potência contra Gram positivos, especialmente
Streptococcus pneumoniae. São usadas com segurança no tratamento de infecções
de vias aéreas, atingindo ótimas concentrações no sangue e tecidos, embora ainda
possuam atividade limitada contra anaeróbios Gram negativos e os agentes das
pneumonias atípicas. Alguns destes compostos também apresentam meia-vida
longa, o suficiente para permitir administração uma vez ao dia (ANDRIOLE, 1998).
Apesar das melhoras efetuadas nesse grupo, a toxicidade também foi
ampliada, limitando o uso de alguns representantes. O primeiro composto desta
geração, a temafloxacina, foi lançada no início da década de 90. Foi retirada
rapidamente do mercado por apresentar efeitos tóxicos, que incluem principalmente
vasculites, alterações de coagulação e hepatotoxicidade (BLUM, 1994).
Outros representantes desse grupo também demonstraram problemas de
toxicidade, como a esparfloxacina que, embora cause fototoxicidade, foi liberada
para o uso intra-hospitalar nos Estados Unidos. Já a grepafloxacina foi associada a
relatos de casos graves de toxicidade (FINCH, 1996).
Mais recentemente surgiu um novo grupo de quinolonas, também
denominado por alguns pesquisadores como “quinolonas respiratórias” (BLONEAU,
6
1999; LOBER, 1999). Ainda não há consenso quanto ao agrupamento das novas
quinolonas em gerações. Entretanto alguns pesquisadores colocam essas novas
substâncias numa quarta geração de quinolonas, pelo fato de apresentarem
atividade contra bactérias anaeróbias e potência ainda superior contra Gram
positivos (AMYES, 1997).
Esses compostos possuem meia-vida prolongada e melhor desempenho em
termos de farmacocinética, farmacodinâmica, e potência antimicrobiana, podendo
ser utilizados em dose única diária (BERGAN, 1998).
Com o avanço da atividade sobre bactérias Gram positivas, atípicas e
anaeróbicas, estas novas quinolonas são usadas com segurança para o tratamento
de infecções de vias aéreas. As principais quinolonas incluídas nesta quarta
geração são a trovafloxacina (1997), gatifloxacina (1999), moxifloxacina (1999) e
clinafloxacina (1999) (KING, 2000).
A trovafloxacina foi restrita ao uso hospitalar nos Estados Unidos e foi
retirada do mercado europeu por problemas relacionados à toxicidade hepática.
Esses problemas parecem estar associados à sua estrutura química e ao fato de
apresentar eliminação predominantemente gastrointestinal (SMITH, 1997).
Em estudos in vitro, clinafloxacina mostrou ser um potente composto desta
geração contra bactérias Gram negativas e Gram positivas (EDNIE,1998;
CLARK,1999) e contra bactérias anaeróbias (SNYDMAN, 2000). O uso desta
fluorquinolona é, entretanto, restrito por causa de efeitos adversos, como
fototoxidade e hipoglicemia (ZHANEL et al, 2002).
Gatifloxacina e moxifloxacina, disponíveis no Brasil, representam um
importante avanço na evolução das quinolonas. Possuem maior potência e maior
espectro de ação contra os principais patógenos responsáveis por infecções do trato
respiratório, contra enterobactérias e outras bactérias Gram negativas. Maior
potência, associada à posologia de uma vez ao dia e à baixa toxicidade, propicia
uma contribuição significativa para o tratamento de vários tipos de infecções
comunitárias e hospitalares. No entanto, como para qualquer outro novo
antimicrobiano de amplo espectro, sua utilização deve ser bastante criteriosa para
evitar o rápido desenvolvimento de resistência (GALES, 2001).
7
8
2.3 RELAÇÃO ESTRUTURA-ATIVIDADE
A estrutura básica das quinolonas compreende um ciclo comum (Figura 1), o
ácido 4-oxo-1,4-diidropiridino-3-carboxílico condensado na posição orto com outro
ciclo de natureza aromática, sendo que este núcleo é denominado 4-oxo-1,4-
quinolona ou simplesmente 4-quinolona (CARVALHO, 1998).
Nem todas as quinolonas desenvolvidas apresentam este núcleo principal,
algumas possuem estrutura química, características farmacológicas e
antimicrobianas semelhantes. Esses análogos podem pertencer ao grupo das
naftiridinas, cinolinas, piridopirimidinas e 2-piridonas. Contudo, todos os compostos
disponíveis atualmente são quinolinas ou naftiridinas (SUH, 1995; HOOPER, 2000).
FIGURA 1 - ESTRUTURA BÁSICA DAS QUINOLONAS
FONTE: HOOPER, 2000
As modificações estruturais produziram importantes alterações, exercendo
influência na atividade antimicrobiana, aumentando a afinidade com o sítio alvo,
melhorando a penetração nas células e alterando a farmacocinética ou a toxicidade
das quinolonas. Os principais radicais substituintes e a posição no anel quinolônico
podem ser observados na Figura 2.
As pesquisas demonstram que modificações estruturais em todas as
posições (Figura 1) no núcleo quinolônico, exceto no grupo 4-oxo, produzem
potentes agentes antimicrobianos (ZHANG, 1991).
9
A posição 1 do anel quinolônico está relacionada à ligação com o sítio alvo,
requer a presença de substituintes, já que aquelas que não o possuem são inativas.
A atividade é aumentada com grupos como etila, ciclopropila, terc-butila e derivados
fenílicos. Os radicais que proporcionam maior potência são ciclopropila e 2,4-
difluorfenila.
A presença de substituintes na posição 2 leva à inatividade (ZHANG, 1991).
As posições 3 e 4 são consideradas críticas para a atividade das quinolonas
e nenhuma substituição útil tem sido relatada. Logo, a 3-carboxila e a 4-carbonila
devem ser mantidas (ZHANG, 1991; BRYSKIER, 1995).
Fatores estéricos devem ser levados em consideração para substituições na
posição 5, pois pode ocorrer alteração da estrutura planar da molécula,
Normalmente, esta posição não contém substituinte, no entanto, a introdução de um
grupo metila, hidroxila ou amina melhora a atividade biológica contra Gram positivas.
Esta posição depende também da variação do substituinte no carbono 7.
(BRYSKIER, 1995; WAGSTAFF, 1997).
A adição de um átomo de flúor na posição 6 eleva consideravelmente a
atividade antibacteriana, aumentando a afinidade pela enzima e a penetração nas
células. Essa modificação é encontrada com freqüência entre os compostos
quinolônicos com sucesso clínico (CARVALHO, 1998).
Os substituintes em carbono 7 determinam o espectro antimicrobiano e
desempenham, ainda, maior papel no controle da permeabilidade da célula
bacteriana. Grupos como hidroxipurolinil, aminopirrolidinil, metilpiperazinil e
piperazinil conferem alta afinidade do composto ao sítio alvo, aumentando sua
atividade contra Pseudomonas aeruginosa (SUH, 1995; BRYSKIER, 1995).
Substituindo-se o carbono 8 por um átomo de nitrogênio, produzem-se as
1,8-naftiridinas, que possuem excelente atividade. A adição de flúor, assim como a
presença de anel oxazilínico entre esta posição e o N-1, confere potente atividade
aos compostos (CARVALHO, 1998). No entanto, a adição de grupos nitro ou amino
diminui a atividade, sendo menor que a dos não substituídos (ZHANG, 1991).
10
FIGURA 2 - PRINCIPAIS SUBSTITUINTES NA MOLÉCULA DAS QUINOLONAS
FONTE: PETERSON, L.R, 2001 NOTA: R1: Ciclopropila
R5: Amino ou Metila
R7: Aminopirrolidina ou piperazina
R8: Metoxila
ou
ou
ou
ou
11
2.4 CLASSIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS QUINOLONAS
Algumas classes de antibióticos como as cefalosporinas e quinolonas
apresentam vários representantes e são normalmente agrupadas em gerações.
Em relação às quinolonas, há divergências entre os autores e classificações
baseadas nas estruturas químicas ou atividades biológicas têm sido propostas.
Entretanto, o número de novos compostos sintetizados, com diversas estruturas
químicas e atividades antimicrobianas, dificulta a elaboração de uma classificação
prática e completa (BRYSKIER & CHANTOT, 1995).
Alguns autores fazem a divisão levando em consideração espectro de ação;
outros, o período de lançamento (KING et al.,2000). A divisão didática das principais
quinolonas, a seguir, sumarizada na Tabela 1, foi baseada nestes aspectos.
A primeira geração tem uso restrito às infecções urinárias não complicadas,
pois alcançam baixos níveis séricos e têm ação predominantemente sobre bacilos
Gram negativos. O ácido nalidíxico e o ácido pipemídico são os representantes do
grupo.
Na segunda geração encontram-se a norfloxacina, ciprofloxacina, ofloxacina
e perfloxacina. A norfloxacina tem baixo tempo de meia-vida e espectro estreito de
ação, além de não alcançar bons níveis séricos, ficando restrito às infecções
urinárias baixas. As demais fluorquinolonas deste grupo alcançam bons níveis
séricos e são usadas em todas as infecções urinárias, infecções do trato respiratório
por bacilos Gram negativos e infecções de pele. A ciprofloxacina é a quinolona com
maior atividade contra Pseudomonas aeruginosa e ainda apresenta a vantagem de
ter boa penetração óssea.
A terceira geração é representada pela esparfloxacina, grepafloxacina,
levofloxacina e lomefloxacina. Administradas uma vez ao dia, possuem espectro
ampliado para Gram positivos e bactérias atípicas. Indicadas em pneumonia
adquirida na comunidade, exacerbação aguda da bronquite crônica, infecções
urinárias e de pele.
Na quarta geração encontram-se os mais novos representantes das
quinolonas, como a clinafloxacina, gatifloxacina, moxifloxacina e trovafloxacina.
Possuem espectro ampliado incluindo Gram positivos, anaeróbios e atípicos. São
usadas em infecções intra-abdominais, urinárias, pneumonia nosocomial e adquirida
12
na comunidade, com a vantagem de agir contra Streptococcus pneumoniae
resistente às penicilinas e cefalosporinas.
TABELA 1 - DIVISÃO DAS PRINCIPAIS QUINOLONAS
GERAÇÃO REPRESENTANTES
Primeira geração Ácido nalidíxico, ácido pipemídico
Segunda geração Norfloxacina, ciprofloxacina, perfloxacina, ofloxacina
Terceira geração Esparfloxacina, grepafloxacina, levofloxacina, lomefloxacina
Quarta geração Gatifloxacina, moxifloxacina
2.5 EFEITOS ADVERSOS
As quinolonas são medicamentos de boa tolerância, sendo referidos efeitos
adversos em 5 a 10% dos pacientes que as utilizam. Na maioria dos casos as
queixas relacionam-se à esfera digestiva, com náuseas, vômitos, diarréias e dor
abdominal. Manifestações de hipersensibilidade não são comuns, mas podem surgir
sob a forma de urticária, eosinofilia, erupções maculopapulares e febre (TAVARES,
1999).
Esses quimioterápicos podem causar efeitos tóxicos sobre o sistema nervoso
central, em freqüência variável e dependendo da dose. Manifesta-se por sonolência,
cefaléia, insônia, tonteiras, fadiga, depressão e até convulsão. Fotossensibilidade,
manifestada pelo escurecimento da pele em exposição à luz solar, é ocorrência
freqüente com o uso prolongado das fluorquinolonas, em especial a perfloxacina
(ANDRIOLLE, 1998).
O uso em crianças, adolescentes, mulheres grávidas ou nutrizes não é
recomendado pelo fato de haver riscos destes medicamentos causarem lesões
articulares e interferirem no crescimento ósseo (TAVARES, 1999).
13
2.6 INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA
A principal interação medicamentosa das quinolonas é com antiácidos
contendo alumínio e magnésio. A administração concomitante de antiácidos
contendo hidróxido de alumínio reduz a absorção das quinolonas. Portanto, a
administração deve ser 1 a 2 horas antes da ingestão de antiácidos ou pelo menos
4 horas depois. Esta restrição não se aplica aos bloqueadores dos receptores H2.
Quinolona administrada simultaneamente com teofilina pode resultar em aumento
da concentração plasmática da teofilina, eventualmente desencadeando efeitos
colaterais induzidos pela mesma. Nos casos em que a administração simultânea é
indispensável, são necessários a monitorização das concentrações séricas de
teofilina e o reajuste conveniente da dose. Estudos experimentais revelam que a
associação de doses elevadas de quinolonas com alguns antiinflamatórios não
esteróides, mas não com o ácido acetilsalicílico, pode causar convulsões. Em casos
isolados, após a administração concomitante de ciprofloxacina e ciclosporina, foram
observados aumentos transitórios da concentração de creatinina sérica, tornando
necessário o controle rigoroso destes níveis (LOBER, 1999).
2.7 MECANISMO DE AÇÃO
As quinolonas inibem a síntese de DNA bacteriano e, em concentrações
elevadas, inibem também a síntese de RNA. Esses efeitos são mediados pela
habilidade desses compostos em estabilizar em inibir as topoisomerases
bacterianas do tipo II – DNA girase e Topoisomerase IV, complexo enzimático
importante para a replicação do DNA (HOOPER, 2001).
O cromossoma bacteriano é formado por uma molécula de DNA circular,
única e longa. Trabalhos com E. coli demonstram que o DNA apresenta uma
estrutra compactada, dividida em domínios que formam alças (loop domain
estruture) para poder situar-se no interior da célula, ocupando um espaço mínimo,
chamado de nucleóide (Figura 3), já que em extensão ele é 1500 vezes maior que a
bactéria. Os domínios são intervalos de 50 kb do cromossomo, formando alças, que
variam de 30 a 200 em número e estão fixadas por âncoras, produzindo uma
14
estrutura com aspecto de flor. A estrutura da âncora não é conhecida, mas
elementos de seqüências repetidas (REP), além de proteínas, podem estar
envolvidos (TRUN & MARKO, 1998).
O tamanho do DNA é extremante reduzido pelas dobras na formação dos
domínios em alça que ainda sofre um processo de superespiralização negativa, que
recebe essa denominação porque o sentido é contrário ao sentido da hélice do DNA
na sua forma linear. O processo de superespiralização reduz um pouco o tamanho
do DNA, mas principalmente favorece as ligações entre as fitas de DNA intra-alça e
evita o emaranhado de alças vizinhas (TRUN & MARKO, 1998).
Devido à característica compactada do DNA, a duplicação do cromossoma
bacteriano passa por problemas topológicos durante a divisão celular. Para iniciar a
replicação do DNA, a enzima DNA helicase desenrola a fita dupla de DNA antes que
a DNA polimerase exerça sua ação. A abertura da fita junto com a ação da
polimerase gera tensão na forquilha de replicação. Além disso, a transcrição de
determinados genes resulta em superespirilização positiva, comprometendo a
progressão da DNA polimerase. Outra questão relacionada à topologia do DNA
ocorre ao final da duplicação cromossômica, onde as fitas filhas ficam entrelaçadas.
Esses e outros problemas topológicos da duplicação do DNA são resolvidos
por um conjunto de enzimas denominadas topoisomerases que são capazes de
romper a fita de DNA, passar a outra fita pelo local e reparar o local da ruptura. As
enzimas que rompem e restauram fita simples são classificadas como
topoisomerases do tipo I e são representadas pelas topoisomerases I e III. Aquelas
que rompem e restauram fita dupla pertencem ao tipo II, como a DNA girase ou
topoisomerase II e a topoisomerase IV.
A DNA girase é a única enzima bacteriana que introduz superespirais
negativos e retira superespirais positivos da molécula de DNA. A topoisomerase IV é
responsável pela separação das fitas filhas de DNA após a divisão cromossômica
(decatenação). DNA girase e topoisomerase IV (topoisomerases do tipo II) são os
sítios alvos das quinolonas.
DNA girase é um tetrâmero que consiste em duas subunidades A e duas
subunidades B, codificadas pelos genes gyrA e gyrB, respectivamente. Ambas as
subunidades contêm uma região 4-hélice que liga a enzima ao DNA (Figura 4). A
15
topoisomerase IV também possui duas subunidades, codificadas pelos genes parC
e parE, que são homólogos aos genes gyrA e gyrB (HOOPER, 2000).
As quinolonas ligam-se à DNA girase ou topoisomerase IV na presença de
DNA, alterando a conformação das enzimas. Atuam inibindo a função dessas
enzimas e ainda promovem um efeito tóxico para a célula por capturar uma ou
ambas as enzimas do cromossomo bacteriano criando um complexo ternário,
medicamento-enzima-DNA (Figura 5), no qual as fitas duplas rompidas do DNA são
mantidas juntas pelas enzimas. As quinolonas se fixam através de pontes de
hidrogênio, entre os grupos carbonila e carboxila dos anéis quinolônicos e as bases
do DNA, sendo que os grupamentos adjacentes são unidos à mesma fita,
orientados em sentidos opostos para evitar repulsão de cargas (DRLICA, 1999).
O bloqueio da replicação do DNA pode ocorrer por duas vias, a principal
envolve a remoção do complexo quinolona-DNA Girase, liberando a dupla fita
rompida de DNA. O DNA tem relaxadas suas espirais e passa a ocupar maior
espaço que o contido nos limites do corpo bacteriano. Além disso, as extremidades
livres do DNA induzem a síntese descontrolada de RNA mensageiro e de proteínas,
a produção de exonucleases e degradação cromossomal (TAVARES, 1996;
HOOPER, 1998).
A segunda via consiste na dissociação da enzima complexada ao DNA.
Ocorre liberação das pontas de DNA ligadas às subunidades da enzima levando à
morte celular. Esta via ocorrre quando as células são tratadas com altas
concentrações de quinolonas (HOOPER, 1998).
16
FIGURA 3 - NUCLEÓIDE E FORMAÇÃO EM ALÇA DO DNA BACTERIANO
FONTE: Adaptado de ASM microbellibrary.org©Graham
FIGURA 4 - REGIÃO 4 α-HÉLICE DA DNA GIRASE
FONTE: SINDELAR et all, 2000
Nucleóide: a) os nucleóides(n) brilhantes aparecem contra o citoplasma escuro, células com aproximadamente 1 µm de comprimento; b) visão ampliada do nucleóide, formação em alça do DNA.Nucleóide: a) os nucleóides(n) brilhantes aparecem contra o citoplasma escuro, células com aproximadamente 1 µm de comprimento; b) visão ampliada do nucleóide, formação em alça do DNA.Nucleóide: a) os nucleóides(n) brilhantes aparecem contra o citoplasma escuro, células com aproximadamente 1 µm de comprimento; b) visão ampliada do nucleóide, formação em alça do DNA.Nucleóide: a) os nucleóides(n) brilhantes aparecem contra o citoplasma escuro, células com aproximadamente 1 µm de comprimento; b) visão ampliada do nucleóide, formação em alça do DNA.
17
FIGURA 5 – COMPLEXO TERNÁRIO: DNA GIRASE-DNA-QUINOLONAS
FONTE: HOOPER, 2000.
DNA girase
ATP-B
DNA girase-A
Quinolonas
DNA circular
DNA girase
ATP-B
DNA girase-A
Quinolonas
DNA circular
18
A afinidade pelo sítio de ação depende do gênero da bactéria e da quinolona.
Em bactérias Gram negativas como Escherichia coli, Pseudomonas aeroginosa e
Neisseria gonorrhoeae, o principal sítio de ação das quinolonas é a DNA girase,
sendo a topoisomerase IV o sítio secundário. Em Gram positivas, como
Staphylococcus aureus e Streptococcus pneumoniae os sítios são contrários (PAN,
1998).
Como essas enzimas apresentam diferentes funções, a resposta às
quinolonas irá diferir de acordo com o principal alvo de ação de cada bactéria. Em
adição, nem todas as bactérias possuem as duas enzimas, por exemplo,
Mycobacterium tuberculosis, Helicobacter pylori e Treponema pallidum possuem
apenas DNA girase (HOOPER, 2001).
As quinolonas mais antigas, como a ciprofloxacina e a ofloxacina, apresentam
excelente atividade contra a DNA girase de bactérias Gram negativas e contra as
topoisomerase IV de bactérias Gram positivas. Sua atividade contra a DNA girase
de Gram positivos e contra as topoisomerase IV de Gram negativos é relativamente
fraca. Dessa maneira, as bactérias podem tornar-se resistentes à ciprofloxacina
através de mutações pontuais nos gens que codificam a enzima para qual ela
apresenta maior atividade, pois sua atuação na outra enzima (Girase de Gram
positivos ou Topoisomerases IV de Gram negativos) não será suficiente para inibir
adequadamente a bactéria (DRLICA & ZHAO, 1997).
Por outro lado, as novas quinolonas apresentam excelente atividade contra
ambas as enzimas, tanto em bactérias Gram negativas quanto Gram positivas.
Essas características proporcionam não só maior potência como também tornam
mais difícil o desenvolvimento de resistência, pois a bactéria terá que apresentar
mutações nas duas enzimas, uma vez que a atuação em qualquer uma das enzimas
será suficiente para inibir a bactéria (HOOPER, 1998).
A tabela 2 ilustra a afinidade pelo sítio alvo entre uma quinolona de 2ª
geração (ciprofloxacina) e outra de 4ª geração (trovafloxacina).
19
TABELA 2 – ATIVIDADE DA TROVAFLOXACINA EM COMPARAÇÃO COM A CIPROFLOXACINA NOS DOIS PRINCIPAIS SÍTIOS DE AÇÃO DE DIFERENTES ESPÉCIES BACTERIANAS
CIPROFLOXACINA TROVAFLOXACINA
BACTÉRIA DNA Girase Topo IV DNA Girase Topo IV
E. coli
****
*
****
****
S. pneumoniae
S. aureus * **** **** ****
FONTE: HOOPER, 1998
2.8 MECANISMO DE RESISTÊNCIA ÀS QUINOLONAS
A resistência às fluorquinolonas apareceu num período muito curto após a
introdução dessas drogas, o uso extensivo principalmente de ciprofloxacina e
ofloxacina levou à seleção de cepas mutantes resistentes. Algumas bactérias como
S. aureus e P. aeruginosa, uma única mutação já é suficiente para surgir resistência
observável clinicamente. No caso de S. aureus e estafilococos coagulase negativos,
cepas resistentes à meticilina desenvolveram resistência às fluorquinolonas mais
rapidamente que as cepas meticilina-sensíveis (HOOPER, 2001).
Campylobacter jejuni, Escherichia coli e Neisseria gonorrhoeae desenvolvem
resistência a esses fármacos por meio de múltiplos eventos mutacionais. Fatores
epidemiológicos podem estar envolvidos, pois há uma nítida correlação entre o uso
desses antibióticos em humanos e em aves domésticas. Esse mecanismo explica
porque patógenos zoonóticos, como Campylobacter jejuni, têm aumentado a
resistência por pressão seletiva em animais reservatórios dessas bactérias
(HOOPER, 2001).
A presença de portadores fecais de E. coli resistente às quinolonas parece
ser comum em alguns países. Na Espanha, adultos que nunca usaram esses
medicamentos e crianças no primeiro ano de vida, para as quais eles são raramente
prescritos, apresentavam cepas mutantes. Provavelmente, a aquisição foi feita via
cadeia alimentar, uma vez que também foram isoladas E. coli resistentes em aves
domésticas (HOOPER, 2001).
20
A propagação clonal pessoa-a-pessoa também é importante. Nos Estados
Unidos têm ocorrido surtos de infecção por Neisseria gonorrhoeae resistente às
fluorquinolonas (HOOPER, 2001).
Além dos fatores epidemiológicos, as características farmacocinéticas e
farmacodinâmicas dos antibióticos influenciam de forma marcante a atividade
antimicrobiana in vivo e o desenvolvimento de resistência. O pico de concentração
do nível plasmático em relação à concentração inibitória mínima (CIM), a área sob a
curva de concentração (AUC) em relação a CIM e o tempo acima da CIM são os
fatores mais importantes (FILE, 2001).
Parâmetros farmacocinéticos e farmacodinâmicos que se correlacionam com
a eficácia podem ser dependentes da concentração (níveis plasmáticos mais
elevados) ou dependentes do tempo (manutenção de níveis plasmáticos por um
período mais prolongado). A eficácia das quinolonas é concentração dependente,
determinada pela AUC ou pelo pico de concentração da droga no plasma (FILE,
2001).
O parâmetro primário para determinar a eficácia é a área sob a curva
inibitória (AUIC), definida como AUC em 24 horas dividida pela CIM do patógeno, o
que resulta em AUIC = AUC/CIM . Tem-se demonstrado, por exemplo, que para
bacilos Gram negativos há melhor eficácia e menor possibilidade de desenvolver
resistência quando os valores da AUIC estão acima de 100 e para S. pneumoniae
quando estão entre 25 a 30 (WRIGHT et al, 2000).
Calculando os valores da AUIC para S. pneumoniae no plasma e no soro
para várias fluorquinolonas, há uma ampla variação nos resultados. Deve-se levar
em consideração a característica individual de ligação com as proteínas
plasmáticas, quando os agentes são comparados de acordo com os resultados
séricos. Ciprofloxacina mostrou baixa eficácia contra pneumococo (AUIC de 13);
levofoxacina (AUIC=36), sparfloxacina (AUIC=29) e grepafloxacina (AUIC=40)
mostraram atividade “borderline”; moxifloxacina (AUIC=110), gatifloxacina
(AUIC=112) e gemifloxacina (AUIC=88) mostraram a melhor atividade. Esses
resultados indicam que as novas quinolonas são mais indicadas para prevenir o
aparecimento de resistência aos pneumococos, por possuírem afinidade aumentada
pelo sítio alvo (FILE, 2001).
21
A bactéria pode resistir à ação das quinolonas de diversas maneiras,
dependendo do medicamento e do organismo. No caso dos agentes mais recentes,
parece necessário mais de um mecanismo para o desenvolvimento de resistência
clinicamente significativa.
O desenvolvimento de resistência bacteriana foi observado com o uso de
ácido nalidíxico e com menos freqüência com as quinolonas mais recentes.
Entretanto, a exposição a concentrações crescentes destes fármacos resulta em
cepas altamente resistentes de muitas espécies, podendo existir resistência cruzada
a outras quinolonas (SADER, 1994).
As bactérias podem tornar-se resistentes às quinolonas principalmente por
meio de mutações nos genes gyr e par, proporcionando um alvo insensível (Figura
6). Podem ainda apresentar diminuição da incorporação do fármaco, tanto por
redução da permeabilidade das porinas quanto por aumento do sistema de efluxo
ativo (HOOPER, 2001). Outro mecanismo de resistência relatado é a aquisição do
gene qnr, mediado pelo plasmídeo pMG252 (TRAN & JACOBY, 2002). Até o
momento, não foram identificadas enzimas que degradem especificamente as
quinolonas.
FIGURA 6 – PRINCIPAIS MECANISMOS DE RESITÊNCIA ÀS QUINOLONAS
FONTE: SHEN, 1994.
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22
2.8.1 Mutações nos genes que codificam para DNA Girase e Topoisomerase IV
Como foi apresentado anteriormente, as quinolonas atuam ligando-se às
topoisomerases II e IV. Essas enzimas são homólogas, constituídas de quatro
subunidades cada . A topoisomerase II é composta por duas subunidades GyrA e
duas subunidades GyrB, enquanto a topoisomerase IV é contituída por duas
subunidades ParC e duas ParE. As subunidads GyrA e ParC constituem o principal
alvo de ação das quinolonas. Portanto, mutações nos genes que codificam essas
subunidades irão acarretar a diminuição da afinidade da bactéria pelas quinolonas,
e conseqüentemente, sua resistência (HOOPER, 2000).
Em geral, a resistência às quinolonas, associada a mutações nas
topoisomerases, ocorre de modo escalonado e cumulativo, ou seja, mutações
simples no sítio principal de ação da droga são associadas a moderados graus de
resistência, enquanto mutações adicionais no sítio primário e/ou secundário levam
ao alto grau de resistência (HOOPER, 2000).
O alto grau de resistência às quinolonas surge de maneira gradual após
sucessivas mutações nos seus sítios de ação (step wise mutations). Geralmente, a
primeira mutação simples ocorre no principal alvo de ação, a segunda mutação
simples no alvo secundário e a terceira mutação novamente no sítio principal de
ação. A cada mutação há um aumento na CIM para as fluorquinolonas, o que torna
importante o reconhecimento de amostras com baixos graus de resistência
(DRLICA, 1999).
Em E. coli, a maioria das mutações ocorre em uma pequena porção do
principal alvo de ação das quinolonas, o gene gyrA. Essa parte do gene é
denominada “Região Determinante de Resistência às Quinolonas” (QRDR) e
codifica os aminoácidos situados entre as posições 67 e 106 (YOSHIDA, 1990).
A substituição mais comumente observada é a da serina pela leucina ou
triptofano na posição 83, podendo resultar em um aumento da concentração
inibitória mínima para ciprofloxacina superior a 40 diluições. Elevações ainda
maiores são alcançadas quando ocorre uma segunda mutação, levando à
substituição do ácido aspártico na posição 87. Mutações na região determinante de
resistência às quinolonas do gene parC, com substituições do resíduo serina na
posição 80 e do ácido glutâmico na posição 84, também têm sido observadas em
23
amostras com alto grau de resistência às quinolonas. Essas mutações, porém,
sempre são acompanhadas de mutações duplas no gene gyrA (KUMAGAI, 1996).
Raramente, a resistência às fluorquinolonas em E. coli tem sido associada a
mutações nos genes gyrB e parE. Ainda não se compreende como mutações nestes
genes podem afetar a resistência às quinolonas nesta bactéria (HOOPER, 2001).
Em recente estudo realizado por GALES (2001), todas as amostras de E. coli
resistentes à ciprofloxacina apresentavam duas mutações no gene gyrA que
levaram a substituições nas posições 83 e 87, e mutações simples no gene parC.
Tais amostras demonstraram CIMs elevadas para ciprofloxacina, sendo ainda
resistentes a outras quinolonas testadas, tais como gatifloxacina, trovafloxacina e
ofloxacina. As mutações encontradas por este estudo são semelhantes àquelas
referidas por outros autores (HEISIG, 1996; KUMAGAI, 1996).
Embora a única amostra de E coli com uma mutação simples nos genes gyrA
e parC tenha sido também classificada como resistente à ciprofloxacina, a CIM para
este antimicrobiano foi pelo menos quatro vezes menor que aquela demonstrada
pelos isolados com duas mutações no gene gyrA. Além disso, essa amostra foi
classificada como sensível à gatifloxacina (GALES, 2001).
Esse fato sugere que múltiplas mutações são necessárias para o surgimento
de alto grau de resistência às quinolonas e que as metoxi-quinolonas, como a
gatifloxacina e moxifloxacina, apresentam maior atividade contra bactérias com
mutações simples, como relatado previamente (DRLICA, 1999; HOOPER, 1998;
BRISSE, 1999a; HOOPER, 2001).
Nenhuma mutação foi detectada nos genes gyrA e parC entre as amostras
de E coli categorizadas como sensíveis à ciprofloxacina com CIMs < ou = 0,015
µg/mL. Por outro lado, mutações simples no gene gyrA foram detectadas nas
amostras sensíveis à ciprofloxacina com CIMs entre 0,12 e 0,5 µg/mL. A mutação
mais comum levou à substituição da serina pela leucina na posição 83. Não se
desenvolveram mutações simples no gene parC nos isolados sensíveis à
ciprofloxacina com CIMs entre 0,12 e 0,5 µg/mL (GALES, 2001).
Nas enterobactérias, o mecanismo mais importante de resistência às
quinolonas é a alteração na subunidade GyrA da DNA girase, seguida de mutações
24
em ParC, subunidade da topoisomerase IV (BRISSE, 1999b). As principais trocas
de aminoácidos para este grupo podem ser observadas na tabelas 3 e 4.
Em Klebsiella pneumoniae ciprofloxacina resistente demonstrou-se a
mudança do aminoácido serina 83 pela tirosina, fenilalanina ou isoleucina. Em
Klebsiella spp, uma alteração única em Ser 83 da subunidade GyrA foi associada
com uma CIM da ciprofloxacina de 2 µg/mL. Mudanças adicionais nos aminoácidos
na posição 87 (ácido aspártico) em GyrA ou na posição 80 (serina) em ParC
geralmente aumentam a CIM. Isolados sem mutações em GyrA e ParC
demonstraram CIM para ciprofloxacina de 0,06 µg/mL (BRISSE, 1999).
Klebsiella oxytoca mostrou a mudança na posição 83 de triptofano para
isoleucina. Todos os isolados de Enterobacter cloacae mostraram uma mudança de
serina 83 para fenilalanina ou tirosina, e isolados de Enterobacter aerogenes uma
mudança de serina 83 para isoleucina ou tirosina (BRISSE, 1999).
Para Pseudomonas aeruginosa as principais alterações na QRDR ocorrem no
gene gyrA da DNA girase, como pode ser observado na tabela 5.
Em Campylobacter jejuni, a mutação no gene gyrA determina resistência à
ciprofloxacina. As mutações observadas ocorreram na posição 86 com troca do
aminoácido tirosina por isoleucina (ZIRNSTEIN, 1999).
Em relação às bactérias anaeróbicas como Bacteriodes fragilis, poucos
dados foram publicados, mas a alteração de efluxo e a alteração da região
determinante de resistência do gene gyrA podem estar envolvidas no mecanismo de
resistência às quinolonas (PETERSON, 1999).
Mutações em DNA girase e topoisomerase IV também conferem resistência
às quinolonas em bactérias atípicas como Mycoplasma hominis e Ureaplasma
urealyticum. As quinolonas de quarta geração são mais eficazes contra estas
bactérias, uma vez que estas requerem duas ou mais mutações em sítios diferentes
para se tornarem resistentes a esta nova classe (BEBEAR, 2000).
25
TABELA 3 - MUTAÇÕES NO SÍTIO DE AÇÃO EM Klebsiella pneumoniae
DNA GIRASE TOPOISOMERASE IV
Gyr A Gyr B ParC ParE
Ser 83 * * Tyr
Ser83 * * Phe
Ser83 *
Asp87 *
* Phe
* Tyr
Ser83 * * Ile Ser80 * * Ile
Ser83 * * Phe Ser80 * * Ile
FONTE: BRISSE,1999.
TABELA 4 - MUTAÇÕES NO SÍTIO DE AÇÃO EM Escherichia coli
DNA GIRASE TOPOISOMERASE IV
Gyr A Gyr B Par C Par E
Ala 67* * Ser Ser 426* * Asn Gly 78* *Asp Leu 445* *His
Ser 80* * Arg Lys 444* * Glu Gly 78* * Cys
Gly 81* * Asp Ser 80* * Ile
Gly 81* * Cys Glu 84* *Gly
Asp 82* * Gly Glu 84 Lys
Ser 83* * Ala
Ser 83* * Leu
Ser 83* * Trp
Ala 84* * Pro
Aps 87* * Asn
Asp 87* * Gly
Gln 106* * Arg
Gln 106* *His
FONTE: PAN, 1998; HEISIG, 1996.
26
TABELA 5 - MUTAÇÕES NO SÍTIO DE AÇÃO EM Pseudomonas aeruginosa
DNA GIRASE TOPOISOMERASE IV
Gyr A Gyr B Par C Par E
Thr 83 Ile
Asp 87 * * Asn
Asp 87 * * Gly
Asp 87 * * Tyr
Asn 116 * * Tyr
FONTE: KOHLER, 1997.
Em Staphylococcus aureus, estudos genéticos mostram que uma única
mutação em grlA (que equivale ao gene parC em Escherichia coli) é capaz de
causar resistência às quinolonas, fato que não se manifesta em uma única mutação
em gyrA (Tabela 6). Portanto, ao contrário do que ocorre em Escherichia coli, o
primeiro alvo de ação é a topoisomerase IV (MORRISSEY, 1999).
O uso intenso de fluorquinolonas em ambiente hospitalar é um elemento de
risco para o aumento de casos de S. aureus resistentes à meticilina (MRSA), onde
possivelmente um dos fatores envolvidos seja a seleção de MRSA pela exposição
dessas bactérias a concentrações subinibitórias das fluorquinolonas, em especial a
ciprofloxacina (SADER, 1994).
Resistência às fluorquinolonas é considerada alta entre amostras de
Staphylococcus aureus meticilina resistente (MRSA) (JONES, 1999).
Em Streptococcus pneumoniae, estudos genéticos têm mostrado que a
primeira mutação ocorre na região determinante de resistência às quinolonas
(QRDR) nos genes parC ou parE da topoisomerase IV, observada na tabela 7
(MORRISSEY, 1999).
VARON et al. (1999) encontraram três tipos de resistência em Streptococcus
pneumoniae. O primeiro nível de resistência foi obtido quando um único alvo, ParC
ou GyrA, dependendo da fluorquinolona, foi modificado. O segundo nível, quando
uma segunda mutação foi adicionada no outro alvo, ParC ou GyrA. O aumento da
resistência se completa com uma dupla mutação em ambas as enzimas GyrA e
ParC.
27
BRISSE (1999b), analisando amostras de Enterococcus faecium com
alterações em genes parC e gyrA em combinação com outros mecanismos de
resistência restringiram severamente a atividade in vitro de nove quinolonas
testadas.
TABELA 6 - MUTAÇÕES NO SÍTIO DE AÇÃO EM Staphylococcus aureus
DNA GIRASE TOPOISOMERASE IV
Gyr A Gyr B GrlA GrlB
Asp 73 * * Gly Asp 437 * * Asn Ser 80 * * Phe Asp 432 * * Asp
Ser 84 * * Ala Arg 458 * * Gln Ser 80 * * Try Asn 470 * * Asp
Ser 84 * *Leu Ser 81 * * Pro
Ser 85 * * Pro Glu 84 * * Lys
Glu 88 * * Lys Ala 116 * * Glu
Asp 82 * * Gly Ala 116 * * Pro
FONTE: PAN, 1998.
TABELA 7 - MUTAÇÕES NO SÍTIO DE AÇÃO EM Streptococcus pneumoniae
DNA GIRASE TOPOISOMERASE IV
Gyr A Gyr B Par C Par E
Ser 81 * * Phe Asp 435 * * Asn Ser 79 * * Phe Asp 435 * * Asn
Ser 83 * * Phe Glu 474 * * Lys Ser 79 * * Tyr Pro 454 * * Ser
Ser 83 * * Tyr Ser 80 * * Pro
Ser 84 * * Phe Asp 83 * * Ala
Ser 84 *
* Tyr Asp 83 * * Gly
Glu 85 * * Lys Asp 83 * * His
Glu 87 * * Gln Asp 83 * * Tyr
Glu 87 * * Lys Ala 84 * * Thr
Trp 93 * * Arg Arg 95 * * Lys
Lys 137 * * Asn
FONTE: PAN, 1998.
28
2.8.2 Bombas de Efluxo
Resistência causada por redução da acumulação de quinolonas tem sido
observada com o aumento da expressão de bombas de efluxo, encontradas na
membrana citoplasmática de bactérias Gram positivas e Gram negativas (FILE,
2001).
Quando quinolonas são utilizadas como substrato destas bombas, há uma
redução da concentração intracelular delas. Este sistema tem sido reportado em
várias bactérias como Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus
aureus e Streptococcus pneumoniae. Estas bombas estão presentes em muitas
bactérias, e eventualmente associadadas a um aumento de 2 a 4 vezes na CIM do
antimicrobiano (HOOPER, 2001).
O sistema de efluxo tem o papel de remover toxinas do citoplasma ou da
membrana citoplasmática e, geralmente, o substrato natural deste sistema é
desconhecido. Genes como nor, mex e nfx têm sido estudados. Por mutações em
tais genes, estas proteínas de efluxo são expressas em grande quantidade,
ocorrendo a resistência. O risco de aquisição de resistência pode ser reduzido,
evitando quinolonas que são bons substratos de bomba de efluxo, como a
norfloxacina (HOOPER, 2001).
As bombas de efluxo nas bactérias Gram negativas também podem estar
ligadas a outras proteínas capazes de facilitar a extrusão da droga através do
periplasma e da membrana externa (HOOPER, 2000). Nestas bactérias, o sistema
de efluxo possui, tipicamente, três componentes: uma bomba de efluxo localizada
na membrana citoplasmática, uma proteína de membrana externa e uma proteína
de fusão da membrana. Esta tem a função de ligar a bomba de efluxo à proteína da
membrana externa. Em amostras de Escherichia coli, os componentes do sistema
de efluxo AcrAB são: a bomba AcrB, a proteína de fusão da membrana AcrA e a
proteína de membrana externa TolC. Os genes que fazem parte do sistema MAR, e
que irão regular o sistema de efluxo AcrAB, são marA, acrR, robA e soxS. Mutações
cromossômicas nesses genes levam à superexpressão do sistema e,
conseqüentemente, à resistência às fluorquinolonas (HOOPER, 2001).
Os componentes das bombas de efluxo variam conforme o gênero e podem
ser vistos na tabela (8) a seguir.
29
TABELA 8 - COMPONENTES DO SISTEMA DE EFLUXO DAS PRINCIPAIS
BACTÉRIAS
COMPONENTES DA BOMBA DE EFLUXO
BACTÉRIA Bomba Proteína de fusão de membrana
Proteína de membrana externa
Gene regulatório ou mutação
Mex B Mex A Opr M mex R
Mex D Mex C Opr J mfz B
Mex F Mex E Opr N mex T
Pseudomonas
aeruginosa
mex Y Mex X Opr M mex Z
Escherichia coli
Acr B
Acr A
Tol C
acr B, mar A,
rob A, sox S
Staphylococcus
aureus
Nor A -- -- flq B promotor de
mutação, arl RS
S. pneumoniae Pmr A -- -- ?
FONTE: HOOPER, 2001.
Nas bactérias Gram negativas, as bombas de efluxo localizadas na
membrana interna podem agir concomitantemente com proteínas da membrana
externa, chamadas de porinas. Estas, por sua vez, podem apresentar mudanças na
quantidade, tamanho, estrutura e função, o que reduz a difusão através dos canais
protéicos da membrana externa para produzir uma resistência de baixo nível (FILE,
2001).
2.8.3 Resistência Mediada por Plasmídios
Resistência às quinolonas pode ser transferida de bactéria para bactéria por
meio de plasmídeos (MARTINEZ, 1998).
Resistência às quinolonas codificada pelo gene qnr e mediada pelo
plasmídeo pMG252 foi descoberta em um isolado clínico de Klebsiella pneumoniae
(1994) nos EUA. O gene codifica para uma proteína, pertencente a uma família de
proteínas pentapeptídeos repetidos, que proteje a DNA girase da inibição pelas
30
quinolonas. Esta proteína possui 218 aminoácidos com domínios repetidos de 11 e
28 cópias, uma atrás da outra, separadas por uma única glicina e com uma
seqüência consenso de A/C/D/NL/FXX (TRAN & JACOBY, 2002).
A prevalência do gene qnr tem sido investigada por PCR em mais de 350
bactérias Gram negativas de 14 gêneros, provenientes de 18 países e de 24
estados dos EUA. Neste estudo, a resistência às quinolonas mediadas por
plasmídeo foi rara, somente 6 das 350 amostras. Das 6 positivas, 5 eram Klebsiella
e 1 E. coli (JACOBY et al, 2003).
2.9 PREVENÇÃO DA SELEÇÃO DE MUTANTES
Várias estratégias têm sido usadas para diminuir o desenvolvimento de
resistência bacteriana aos antimicrobianos. Em relação à resistência bacteriana às
quinolonas mediada por mutações, surgiu uma estratégia nova baseada na
concentração do antimicrobiano capaz de inibir o surgimento de mutantes
resistentes. Esse índice é chamado de “Mutant Prevent Concentration” (MPC) e seu
valor varia entre as quinolonas para diferentes microrganismos (ZHAO & DRLICA,
2001).
Conceitualmente, a seleção de mutantes resistentes ocorre dentro de uma
variação de concentração específica da droga, chamada janela de seleção de
mutantes. O limite inferior da janela é a menor concentração da droga que inibe a
maioria das cepas sensíveis à droga. Esta concentração pode ser aproximada da
CIM50. O limite superior da janela é a concentração que inibe o crescimento da
maioria dos resistentes, com uma mutação. Acima desse limite, o crescimento
celular requer duas ou mais mutações de resistência (Figura 7).
Devido ao fato de raramente ocorrerem mutações múltiplas, poucos mutantes
serão seletivamente amplificados quando a concentração da droga exceder o limite
superior. Por exemplo, com fluorquinolonas, a freqüência de mutação para
resistência é menor que um numa população de 107 UFC/mL. Já a possibilidade de
encontrar uma célula com duas mutações que conferem resistência às
fluorquinolonas é de uma célula em uma população maior do que 1014 UFC/mL. Em
um caso clínico típico, a população bacteriana pode chegar até 1010 UFC/mL células
31
no sítio de infecção, mas a possibilidade de atingir 1014 UFC/mL é remota. Então a
resistência raramente ocorrerá quando a concentração da droga está acima do
limite superior da janela de seleção de mutantes, que define a MPC – “Mutant
Prevent Concentration” (Drlica, 2001).
A técnica para a detecção da MPC é semelhante ao método de ágar diluição.
A bactéria é inoculada em placas de MH ágar com diferentes concentrações do
antibiótico testado. O inóculo bacteriano, no entanto, é extremamente alto. Nas
técnicas utilizadas para determinar a sensibilidade, o inóculo é da ordem de 105-106
UFC/mL, enquanto para determinar a MPC é de 1010 UFC/mL.
A resistência aos antimicrobianos está emergindo em uma ampla variedade
de patógenos adquiridos na comunidade e no hospital. Quando a resistência
multidroga começou a aparecer, principalmente em bacilos Gram negativos
entéricos, foi mediada em sua grande maioria por plasmídeos. O papel das
mutações na gênesis da resistência bacteriana acabou sendo subestimado.
Contudo, para alguns microrganismos como M. tuberculosis, este mecanismo ocupa
o principal papel na dimuinição da sensibilidade à rifampicina, etambutol e
fluorquinolonas. Similarmente, resistência às fluorquinolonas em N. gonohrreae, S.
pneumoniae e espécies de Salmonella freqüentemente resultam de mutações nos
loci gyrA, gyrB e parC. As mutações podem ainda préexistir em genes transferíveis
de resistência, apresentando uma função diferente por aumentar ou expandir o
espectro de resistência (TENOVER, 2001).
Alguns fatores contribuíram na emergência da resistência, como as mutações
em genes de resistência, a troca de informação genética no qual genes de
resistência são transmitidos para o hospedeiro, a pressão seletiva exercida pelo
antibiótico no hospital e na comunidade e a incapcidade de alguns laboratórios em
testar métodos que detectem fenótipos de resistência emergentes (TENOVER,
2001).
A resistência bacteriana aos antimicrobianos é um fenômeno ecológico
originado da resposta da bactéria ao amplo uso de antibióticos e da presença deste
no ambiente, representando um dilema terapêutico mundial. E a concentração que
previne o surgimento de mutantes é um índice microbiológico que vem sendo
utilizado para minimizar o surgimento de bactérias resistentes aos antimicrobianos.
32
FIGURA 7 – JANELA DE SELEÇÃO DE MUTANTES
FONTE: ZHAO & DRLICA, 2001
Tempo após a administração
Con
cent
raçã
o sé
rica
/teci
dual
da
dro
ga
Janela de seleção de mutantes
Tempo após a administração
Con
cent
raçã
o sé
rica
/teci
dual
da
dro
ga
Janela de seleção de mutantes
33
3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar o uso do ácido nalidíxico como marcador preditivo da resistência às
outras quinolonas.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Determinar o perfil de sensibilidade ao ácido nalidíxico, norfloxacina,
ciprofloxacina e gatifloxacina de Escherichia coli isoladas de urocultura.
b) Comparar os métodos de difusão em ágar e diluição em ágar para
detecção de resistência quali e quantitativa às quinolonas.
c) Estudar o principal mecanismo de resistência por meio de reação em
cadeia da ppolimerase (PCR) e sequenciamento das regiões
determinantes de resistência às quinolonas (QRDR) dos genes gyrA e
parC.
d) Avaliar o perfil de sensibilidade de Escherichia coli frente à nitrofurantoína
e sulfametoxazol/trimetoprim.
34
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 AMOSTRAS
Foram coletadas 385 amostras sucessivas de Escherichia coli, isoladas de
pacientes com suspeita de infecção urinária, atendidos no Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Paraná, durante o período de seis meses, de maio a
novembro de 2002. Foi incluída apenas uma amostra por paciente, com
desenvolvimento bacteriano único e contagem de colônias igual ou superior a 104
UFC/mL (CLARRIDGE et al, 1998). Todas as amostras foram correntemente
submetidas ao processo de identificação e teste de SENSIBILIDADE aos
antimicrobianos (TSA) do sistema automatizado WalkAway® (Dade Behring™).
Dados referentes ao paciente, como gênero, idade, unidade clínica, foram
obtidos do mapa de trabalho do setor de bacteriologia com informações fornecidas
pelo médico requisitante. Além disso, o resultado do (TSA) pelo sistema
automatizado também foi registrado.
4.1.1 Estocagem das Amostras Bacterianas
Escherichia coli isoladas primariamente em meios seletivos foram repicadas
em meio não seletivo, ágar tríptico de soja, e incubadas a 35ºC por 18-24 horas. Na
seqüência, foram armazenadas em frascos estéreis contendo caldo tríptico de soja
/Glicerol 15% (v/v), em freezer a - 70 ºC (JONES et al, 1994).
35
4.2 TESTE DE SENSIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS POR DISCO DIFUSÃO
EM ÁGAR
O teste de disco difusão em ágar (DD) consiste no cultivo da bactéria sob a
qual deposita-se disco de papel impregnado com o antibiótico numa concentração
fixa.
Foi determinado o padrão de sensibilidade a quatro quinolonas com ação em
trato urinário, representando as diferentes gerações de quinolonas utilizadas no
Brasil (Figura 8). Escherichia coli ATCC 25922 foi utilizada como controle de
qualidade dos discos e do ágar Mueller-Hinton (MH). Placas inoculadas com a
bactéria, sem os discos dos antimicrobianos, foram utilizadas para monitorar o
crescimento bacteriano no meio. Os discos utilizados foram: ácido nalidíxico (NAL)
30µg, norfloxacina (NOR) 10µg e ciprofloxacina (CIP) 5µg, todos adquiridos
comercialmente da empresa Newprov®. Gatifloxacina (GTF) 5µg foi doada pelo
laboratório Bristol Myers Squibb®. O teste foi realizado conforme as normas do
documento M2-A7 (NCCLS, 2000), sumarizado abaixo.
O inóculo foi preparado subcultivando as amostras em Ágar Tríptico de Soja
duas vezes antes do teste. Na sequência, transferiu-se 3 a 5 colônias isoladas de
morfologia similar para um tubo contendo 4 a 5 mL de salina estéril. A turvação do
inóculo foi comparada com a turvação do tubo 0,5 da escala de McFarland (1,5 x
108UFC/mL) com auxílio de aparelho fotométrico, em absorbância de 625 nm. O
limite de leitura aceitável variou entre 0.08 e 0,10; quando o inóculo inicial não ficou
dentro do limite aceitável, a turbidez foi ajustada com mais bactéria ou mais salina
estéril conforme a necessidade. As placas de ágar Mueller-Hinton (MH) foram
inoculadas com a suspensão bacteriana por meio de swab impregnado, de modo a
cobrir homogeneamente toda a superfície da placa. Os discos foram colocados
manualmente sobre a superfície do ágar com auxílio de uma pinça estéril, a cerca
de 24 mm um do outro e a 15 mm da parede da placa. Após a secagem, por
período máximo de 15 minutos, as placas foram incubadas a 35 ºC por 16 a 24
horas. Após a incubação foi realizada a medição do diâmetro do halo de inibição. Os
resultados foram interpretados conforme os parâmetros da tabela 2A, do documento
M100-S12 (NCCLS, 2002).
36
FIGURA 8 – ESTRUTURA QUÍMICA DA QUINOLONAS UTILIZADAS
ÁCIDO NALIDÍXICO NORFLOXACINA
GATIFLOXACINACIPROFLOXACINA
ÁCIDO NALIDÍXICO NORFLOXACINA
GATIFLOXACINACIPROFLOXACINA
37
4.3 DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA (CIM) PELO MÉTODO DE ÁGAR-DILUIÇÃO
No intuito de avaliar a potência e atividade de NAL, NOR, CIP e GTF frente
às amostras testadas, determinou-se a concentração inibitória mínima (CIM). Foram
testados também nitrofurantoína (NIT) e sulfametoxazol/trimetoprim (SUT), por
tratarem-se de opções terapêuticas para infecções do trato urinário.
4.3.1 Preparo das soluções de antibióticos
Ácido nalidíxico, norfloxacina e nitrofurantoína foram adquiridos
comercialmente da empresa Sigma-Aldrich. SUT, da mesma empresa, foi doado
pelo Laboratório Especial de Microbiologia Clínica da Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP), CIP foi adquirida da empresa ICN Biomedicals. A gatifloxacina
foi usada na forma medicamentosa (solução injetável na concentração de 4mg em
200 mL), doada pelo laboratório Bristol Myers Squibb®, devido à falta de
disponibilidade do sal puro.
Foram testadas as concentrações fornecidas pela literatura (NCCLS), entre
as quais encontram-se os pontos de corte (breakpoints) para classificação das
amostras nas categorias sensível (S), resistente (R) e intermediário (I). A amostra
era composta de E. coli sensíveis e resistentes às quinolonas, inicialmente
classificadas pelo teste de difusão em ágar. Com o objetivo de diminuir os custos,
foram utilizados dois esquemas de diluições conforme as concentrações na tabela
9.
38
TABELA 9 – CRITÉRIOS DE INTERPRETAÇÃO DE SENSIBILIDADE SEGUNDO O NCCLS E
CONCENTRAÇÕES DOS ANTIMICROBIANOS TESTADOS PARA AMOSTRAS DE E.
coli
PONTO DE CORTE (µg/mL)
CONCENTRAÇÕES TESTADAS (µg/mL)
ANTIBIÓTICO
S R SENSÍVEIS RESISTENTES
NAL ≤ 16 ≥ 32 0,5-16 1-512 NOR ≤ 4 ≥ 16 0,015-8 2-256 CIPRO ≤ 1 ≥ 4 0,015-8 0,5-64 GATI ≤ 2 ≥ 8 0,015-8 0,5-64 NITRO ≤ 32 ≥ 128 0,5-256 0,5-256 SUT ≤ 2/38 ≥ 4/76 0,03/06-16/304 0,03/06-16/304
A concentração da solução estoque (SE) foi calculada a partir da maior
concentração testada para cada antimicrobiano, do volume de MH ágar utilizado nas
placas e do volume final da SE. A quantidade em mg do antimicrobiano necessária
para preparar as soluções foi calculada usando a seguinte fórmula:
Peso (mg)= Vol. do Solvente(mL) X Conc. da Solução Estoque (µm/mL)
Potência do antibiótico(µg/mL)
A concentração da solução estoque utilizada foi de 51200 µg/mL para o NALe
NOR, de 6400 µg/mL para a CIP e NIT, de 1600 µg/mL para a GTF e 15200/800
µg/mL para sulfametoxazol/trimetoprim.
O solvente utilizado para NAL, NOR e Sulfametoxazol foi NaOH 0,1 M/L,
ácido lático para Trimetoprim e água ultrapura para CIP. Gatifloxacina já estava na
forma solúvel (solução injetável). Água ultrapura foi usada como diluente para esses
antimicrobianos. Para Nitrofurantoína foi usado dimetilsulfóxido de sódio (DMSO)
como solvente e diluente, neste caso foi incluído uma placa controle a mais com MH
ágar e DMSO, na mesma proporção dos antimicrobianos, para o controle de
eventual efeito inibitório do DMSO.
39
As soluções de antimicrobianos foram esterilizadas por membrana filtrante de
0,22 µ de diâmetro (Millipore), divididas em alíquotas e estocadas a 4ºC, – 20ºC ou
– 70ºC, conforme indicado.
4.3.2 Preparo das placas de Mueller-Hinton ágar com antimicrobiano
Foram realizadas diluições seriadas a partir da solução estoque (SE), com
água ultrapura e DMSO para NIT. Diluiu-se a SE até a maior concentração a ser
testada, as seguintes foram obtidas com diluição 1:2 até alcançar a menor
concentração desejada – ver exemplo da diluição do NAL na Figura 9.
O ágar Mueller-Hinton foi preparado com os cuidados necessários e
conforme instruções do fabricante. Foram distribuídas alíquotas em frascos de
Castañeda estéreis. O volume distribuído em cada frasco foi de 48 mL para
Sulfametoxazol/Trimetoprim e 49 mL para os demais antimicrobianos. Após resfriar
em banho-maria até 48-50ºC, foi adicionada a solução diluída do antimicrobiano, 2
mL para SUT (um mL de sulfametoxazol e um mL de trimetoprim) e 1 mL para os
outros antibióticos, totalizando 50 mL, volume necessário para atingir a espessura
preconizada de 4-5 mm do ágar. Após a homogeneização, o meio foi distribuído em
placas estéreis descartáveis. As placas foram, então, refrigeradas e utilizadas até 48
horas após o preparo.
40
FIGU
RA
9 – EX
EM
PLO
DE
DILU
IÇÃ
O S
ER
IAD
A D
A S
OLU
ÇÃ
O E
STO
QU
E D
O
ÁC
IDO
NA
LIDÍX
ICO
1 mL SE+
7 mL H
2O
Solução 1
6400 µg/mL
Solução Estoque (SE)
51200 µg/mL
1 mL S1+
7 mL H
2O
Solução 2
800 µg/mL
2 mL S2+
2 mL H
2O
Solução 3
400 µg/mL
2 mL S3+
2 mL H
2O
Solução 4
200 µg/mL
2 mL S4+
2 mL H
2O
Solução 5
100 µg/mL
2 mL S5+
2 mL H
2O
Solução 6
50 µg/mL
2 mL S6+
2 mL H
2O
Solução 7
25 µg/mL
2 mL S7+
2 mL H
2O
Solução 8
12,5 µg/mL
2 mL S8+
2 mL H
2O
Solução 9
6,25µg/mL
2 mL S9+
72mL H
2O
Solução 10
3,12 µg/mL
2 mL S10+
2 mL H
2O
Solução 11
1,56 µg/mL
1 mL S 2
+
49 mLMH
16 µg/mL
1 mL S 8
+
49 mLMH
0,25 µg/mL
1 mL S 9
+
49 mLMH
0,12 µg/mL
1 mL S 10
+
49 mLMH
0,06 µg/mL
1 mL S 4
+
49 mLMH
4 µg/mL
1 mL S 5
+
49 mLMH
2 µg/mL
1 mL S 6
+
49 mLMH
1 µg/mL
1 mL S 7
+
49 mLMH
0,5 µg/mL
1 mL S 3
+
49 mLMH
8 µg/mL
1 mL S 11
+
49 mLMH
0,03 µg/mL
1 mL SE+
7 mL H
2O
Solução 1
6400 µg/mL
Solução Estoque (SE)
51200 µg/mL
1 mL S1+
7 mL H
2O
Solução 2
800 µg/mL
2 mL S2+
2 mL H
2O
Solução 3
400 µg/mL
2 mL S3+
2 mL H
2O
Solução 4
200 µg/mL
2 mL S4+
2 mL H
2O
Solução 5
100 µg/mL
2 mL S5+
2 mL H
2O
Solução 6
50 µg/mL
2 mL S6+
2 mL H
2O
Solução 7
25 µg/mL
2 mL S7+
2 mL H
2O
Solução 8
12,5 µg/mL
2 mL S8+
2 mL H
2O
Solução 9
6,25µg/mL
2 mL S9+
72mL H
2O
Solução 10
3,12 µg/mL
2 mL S10+
2 mL H
2O
Solução 11
1,56 µg/mL
1 mL S 2
+
49 mLMH
16 µg/mL
1 mL S 8
+
49 mLMH
0,25 µg/mL
1 mL S 9
+
49 mLMH
0,12 µg/mL
1 mL S 10
+
49 mLMH
0,06 µg/mL
1 mL S 4
+
49 mLMH
4 µg/mL
1 mL S 5
+
49 mLMH
2 µg/mL
1 mL S 6
+
49 mLMH
1 µg/mL
1 mL S 7
+
49 mLMH
0,5 µg/mL
1 mL S 3
+
49 mLMH
8 µg/mL
1 mL S 11
+
49 mLMH
0,03 µg/mL
41
4.3.3 Procedimento técnico do teste de agar-diluição
O inóculo bacteriano foi preparado de forma semelhante ao utilizado para o
TSA por DD (ver ítem 4.2). Na seqüência, realizou-se a diluição do inóculo pois a
concentração final por “spot” de 5-8 mm deve ser de 104. Para obter esta
concentração, o inóculo inicial foi diluído 1:10 em solução salina estéril, obtendo a
concentração de 107 UFC/mL. Após a inoculação no MH ágar, os “spots” ficaram
com a concentração de cerca de 104, pois os inoculadores depositam entre 1-2 µL
da amostra sobre a superfície do ágar (Figura 10).
Foram distribuídas alíquotas de 100 µL do inóculo diluído em placas tipo
ELISA de 96 poços, para um replicador Steer com 96 pinos. As amostras foram
inoculadas inicialmente em uma placa controle sem antibiótico. Na seqüência, as
placas foram inoculadas partindo da placa de menor concentração do
antimicrobiano (Figura 11). No final, foi inoculada outra placa controle sem
antimicrobiano, para avaliar a eventual contaminação e o carreamento de
antimicrobianos durante o procedimento.
As placas foram mantidas em temperatura ambiente por no máximo 30
minutos para secagem. Após este período as placas foram incubadas a 35ºC por
16-20 horas.
A concentração inibitória mínima (CIM) foi determinada como a menor
concentração que inibiu completamente o crescimento bacteriano visível. A película
causada pelo depósito bacteriano foi desconsiderada. CIM50 e CIM90 foram definidas
como a concentração inibitória mínima para inibir o crescimento bacteriano de 50%
e 90% das amostras, respectivamente.
42
FIGURA 10 - ESQUEMA SIMPLIFICADO DO MÉTODO DE ÁGAR DILUIÇÃO UTILIZADO
Diluição 1:10
(108UFC/mL)
1 a 2 µL por amostra 104 UFC/mL por spot
Inóculo Inicial
(107UFC/mL)(107UFC/mL)
Placa tipo ELISA
Replicador de SteerPlaca de MH ágar com antibiótico
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
Diluição 1:10
(108UFC/mL)
1 a 2 µL por amostra 104 UFC/mL por spot
Inóculo Inicial
(107UFC/mL)(107UFC/mL)
Placa tipo ELISA
Replicador de SteerPlaca de MH ágar com antibiótico
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . .
43
FIGURA 11 - EXEMPLO DA DETERMINAÇÃO DA CIM DO ÁCIDO NALIDÍXICO PELO MÉTODO DE ÁGAR-DILUIÇÃO
NOTA: Na figura, 96 amostras de E. coli foram inoculadas em ágar MH com concentrações crescentes de ácido nalidixíco (NAL). Em a) placa controle sem NAL, b) ágar MH com 0,5 µg/mL de NAL, c) ágar MH com 1µg/mL de NAL, d) ágar MH com 2 µg/mL de NAL, e) ágar MH com 4 µg/mL de NAL, f) ágar MH com 8 µg/mL de NAL, g) ágar MH com 16 µg/mL de NAL e h) placa controle sem NAL.
NOTA EPECÍFICA: → indica a concentração inibitória mínima (CIM), determinada como a menor concentração onde não houve desenvolvimento bacteriano que a bactéria no exemplo foi na diluição de 2 µg/mL (d).
a
c
g
e
b
d
f
h
a
c
g
e
b
d
f
h
44
4.4 PESQUISA DE MUTAÇÕES NA REGIÃO DETERMINANTE DE RESISTÊNCIA ÀS QUINOLONAS (QRDR) DOS GENES gyrA E parC
Das 53 amostras resistentes ao ácido nalidíxico, selecionaram-se 10
amostras para pesquisa de mutações nas QRDRs dos genes gyrA e parC. O critério
de seleção das amostras foi baseado nos resultados DD para o ácido nalidíxico e na
CIM da ciprofloxacina. Das amostras resistentes estudadas, 5 pertenciam ao grupo
2 (NAL resistentes e fluorquinolonas sensíveis) e 5 pertenciam ao grupo 3
(resistentes a todas as quinolonas, com exceção de uma amostra que apresentou
sensibilidade à gatifloxacina nos testes de difusão em ágar e ágar-diluição). Foram
incluídos, ainda, dois isolados sensíveis às quinolonas (grupo 1).
A investigação da presença de mutações que conferem resistência às
quinolonas foi realizada por PCR (Polimerase Chain Reaction) e seqüenciamento
do produto de PCR. A região amplificada compreende o local onde as QRDRs dos
genes gyrA e parC estão localizadas.
4.4.1 Extração do DNA bacteriano
O método de extração do DNA foi segundo BROWN & AMYES (1998),
modificando apenas a quantidade da amostra utilizada na PCR. Após isolamento
em ágar sangue, três colônias de cada isolado foram transferidas para tubos do tipo
eppendorff de 1,5 mL com 300 µL de H2O (ultrapura, esterilizada por membrana
filtrante 0,2 µm de diâmetro da Millipore), homogeinizadas em agitador do tipo
vortex, aquecidas a 100ºC em termobloco por 10 minutos, resfriadas em
temperatura ambiente e centrifugadas a 14.000 rpm por 5 minutos. Quinze
microlitros do sobrenadante foram utilizados em cada reação de amplificação.
45
4.4.2 Amplificação da QRDR dos genes gyrA e parC por PCR
Na reação de amplificação foram utilizados os “primers” ou iniciadores
(Tabela 10) para o gene gyrA: 5’ CCGTCGCGTACTTTACGC 3’ (fita sentido) e 5’
CGTTCACCAGCAGGTTAG 3’ (fita antisentido). Para o gene parC: 5’
TCTGAACTGGGCCTGAATG 3’ (fita sentido) e 5’ CTCAATAGCAGCTCGGAATA 3’
(fita antisentido) (GEORGIOU et al., 1996; EVERET et al, 1996). Foi preparada uma
solução (master mix) para PCR contendo H2O ultrapura estéril, tampão de reação
da enzima (10X concentrado), MgCL2 50 mM, dinucleotídeos (dATP, dTTP, dGTP e
dCTP) 0,2 mM cada, solução de iniciadores (primer mix) contendo as fitas sentido
(sense) e anti-sentido (anti-sense) 50 ρM cada e 2,5 unidades da Taq DNA
polimerase (MGM). O volume final foi de 60 µL de reação, 45 µL da master mix e
15 µL da amostra. A solução mãe (master mix) foi preparada de forma semelhante
para os dois genes, mudando apenas os primers.
TABELA 10 - INICIADORES UTILIZADOS NA AMPLIFICAÇÃO DA QRDR DOS GENES gyrA e parC
GENE SEQUENCIA REGIÃO ALVO
(Nucleotídeos)
Nº DE PARES
DE BASE
Sentido 5’ CCGTCGCGTACTTTACGC 3’ gyrA Anti-sentido 5’ CGTTCACCAGCAGGTTAG 3’ 135 - 448 313
Sentido 5’ TCTGAACTGGGCCTGAATG 3’ parC
Anti-sentido 5’ CTCAATAGCAGCTCGGAATA 3’ 148 - 401 253
A termociclagem foi realizada em aparelho da Eppendorff. O programa
incluiu um estágio preliminar de 10 minutos a 95ºC, seguidos de 35 ciclos a 90ºC
por 1 minuto, 58ºC (gyrA) ou 53ºC (parC) por 1 minuto e 72ºC por 3 minutos. Os
produtos da reação foram conservados em freezer a -20ºC.
46
Oito microlitros do produto amplificado foram submetidos à eletroforese em
gel de agarose a 1%, por cerca de uma hora a uma voltagem constante de 100 V.
Na seqüência, o gel foi corado com brometo de etídio (0,5 µg/mL) por 20 minutos,
visualizados e fotografados sob luz UV em transiluminador.
4.5 SEQUENCIAMENTO DO PRODUTO AMPLIFICADO
As amostras foram seqüenciadas no laboratório ALERTA da disciplina de
Doenças infeciosas e parasitárias da Universidade Federal de São Paulo - Escola
Paulista de Medicina (Unifesp/EPM), com o apoio da Dra. Ana Cristina Gales, que
gentilmente disponibilizou os insumos e a infra-estrutura necessários para a
realização desse método.
4.5.1 Purificação do produto de PCR
O produto de PCR dos genes gyrA e parC foram purificados com o “Kit
Concert Rapid PCR Purification System” (Life Technologies, Valencia, CA, USA),
conforme as instruções do fabricante. Após a purificação do produto foi realizada
eletroforese para quantificar o DNA por meio de comparação visual a outro gel com
quantidades conhecidas de DNA (controle do Kit de seqüenciamento), sendo
avaliados o tamanho e a intensidade das bandas formadas. Foi realizada a diluição
da amostra quando necessária.
4.5.2 Seqüenciamento
O DNA foi seqüenciado pelo método de terminação de cadeia com
dideoxinucleotídeos (dDNTPs) e revelado com corantes fluorescentes (Big Dye® -
Applied biosystems). Para cada teste foram realizadas duas reações, uma para a
fita sentido e outra para a fita anti-sentido. A reação de sequenciamento foi
47
preparada em dois tubos de microcentrífuga, utilizando-se de 2 a 10 µL da amostra
purificada, conforme a quantidade de DNA presente nas mesmas.
Os iniciadores utilizados foram os mesmos da PCR, porém numa
concentração menor (5 ρM) e em reações separadas. O volume final da reação foi
de 20 µL: 4 µL da mistura de reação Big Dye, 4 µL de tampão 2,5 X concentrado, 2
µL do primer e 10 µL da amostra pura ou diluída com água ultrapura.
Depois de preparada a reação, os tubos foram colocados em termociclador
com o seguinte programa: um ciclo de 94ºC por 2 minutos, 96ºC por 10 segundos,
50ºC por 30 segundos e extensão final de 60ºC por 4 minutos.
4.5.3 Precipitação de DDNTPs não incorporados
Ao final da reação de PCR o produto foi precipitado para eliminação dos
DDNTPs marcados que não foram incorporados na reação. O produto do
seqüenciamento foi transferido para novos tubos, foram adicionados 80 µL de
isopropanol a 75%, homogeneizados em vortex e centrifugados a 12000 rpm por 30
minutos, a 22ºC. O isopropanol foi removido com pipeta. O passo seguinte foi
adicionar 100 µL de etanol a 70%, homogeneizar em vortex e centrifugar a 12000
rpm por 10 minutos. O etanol foi removido, as amostras secas por 1 minuto em
termo-bloco a 94ºC. Foram adicionados 20 µL de TSR (polímero que acompanha o
Kit de seqüenciamento). As amostras foram submetidas a um choque térmico:
termo-bloco 1 minuto a 94ºC e, em seguida, os tubos foram colocados por 3 minutos
no freezer a –20ºC.
4.5. Determinação da seqüência do DNA
As amostras foram transferidas para os tubos de sequenciamento e estes
colocados no aparelho ABI BioPrism 310 (Foster City, Califórnia, EUA). A
interpretação análise e edição das seqüências foram realizadas com o auxílio do
“software Sequencing Analysis” do aparelho ABI BioPrism 310. A comparação com
48
as seqüências conhecidas já publicadas dos genes gyrA e parC, para pesquisa das
mutações, foi realizada no mesmo software.
SPIN
4.6 SÍNTESE DOS PROCEDIMENTOS REALIZADOS NESTE TRABALHO
Trezentos e oitenta e cinco amostras de E. coli foram submetidas ao teste de
SENSIBILIDADE aos antimicrobianos (TSA) por dois métodos, difusão em ágar e
ágar diluição (método de referência). As seguintes quinolonas foram avaliadas pelo
método de difusão em ágar, ácido nalidíxico (NAL), norfloxacina (NOR),
ciprofloxacina (CIP) e gatifloxacina (GTF). A concentração inibitória mínima foi
determinada pelo método de ágar diluição. Além das quinolonas citadas,
nitrofurantoína (NIT) e sulfametoxazol/trimetoprim (SUT) foram incluídos. Doze
amostras foram selecionadas para a pesquisa de mutações nos genes gyrA e parC
que conferem resistência às quinolonas, o critério de seleção dessas amostras foi
baseado na CIM da CIP. Das doze amostras, duas pertenciam ao grupo 1 (sensível
às quinolonas), cinco pertenciam ao grupo 2 (resistentes somente ao ácido
nalidíxico) e cinco pertenciam ao grupo 3 (resistentes às quinolonas). A sequência
dos procedimentos realizados está na figura 12.
49
FIGURA 12 – DIAGRAMA SIMPLIFICADO DOS PROCEDIMETOS TÉCNICOS REALIZADOS
D isco-difusãoN A L , NO R ,C IP e G TF
Ág ar-diluiçãoN A L , N O R ,C IP , G TF, N IT e S U T
Sequenciam ento(g yrA e p a rC )
P rod u tos d a P CR
PCR (g yrA e pa rC)G ru po 1 : 2 a m o s trasG ru po 2 : 5 a m o s trasG ru po 3 : 5 a m o s tras
T SAn :3 85
E. co lin :3 85
50
5 RESULTADOS
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
No período de maio a novembro de 2002, foram coletadas 385 amostras de
E. coli, isoladas em urocultura, processadas no período do estudo. Todas com
desenvolvimento bacteriano único, a maior parte (91,5%) com contagem de colônias
igual ou superior a 105 UFC/mL, e o restante com contagem superior a 104 UFC/mL.
A origem dos pacientes era predominantemente ambulatorial. As mulheres
participaram com o maior número de amostras, 327 (84,9%), e os homens com 58
(15,1%).
Quanto à idade, as amostras foram distribuídas por faixa etária, com intervalo
de 10 em 10 anos, com exceção da primeira década, que foi avaliado o número de
amostras até 1 ano e de 2 a nove anos (Figura 13). O número de amostras (A)
femininas (F) e masculinas (M) por faixa etária foi: 20 A até 1 ano (13 F e 7 M), 29 A
entre 2 e 9 anos (22 F e 7 M), 29 A entre 10 e 19 anos (26 F e 3 M), 59 A entre 20 e
29 anos (55 F e 4 M), 57 A entre 30 e 39 anos (56 F e 1 M), 67 A entre 40 e 49
anos (62 F e 5 M), 41 A entre 50 e 59 anos (35 F e 6 M), 41 A entre 60 e 69 anos
(32 F e 9 M), 33 A entre 70 e 79 anos (21 F e 12 M) e 9 A entre 80 e 89 anos (5 F e
4 M). Observa-se que as amostras masculinas foram mais freqüentes nos extremos
da faixa etária e as femininas entre os 20 e 50 anos.
51
FIGURA 13 - DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE AMOSTRAS DE E. coli ISOLADAS DE PACIENTES DO GÊNERO FEMININO E MASCULINO, SEGUNDO A FAIXA ETÁRIA
Os resultados retrospectivos do teste de sensibilidade aos antimicrobianos,
teste realizado pelo método automatizado WalkAway® (Dade Behring™), estão
sumarizados na Tabela 11. Sulfametoxazol e ampicilina são os antibióticos com
menor atividade para os microorganismos testados. Ceftriaxona apresentou o
melhor resultado, com apenas um isolado resistente, os demais antibióticos
apresentaram percentual de resistência entre 3,7% e 8,8%.
TABELA 11 – PERCENTUAL DE RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS DETECTADO PELO MÉTODO AUTOMATIZADO WALKAWAY® DE 385 ISOLADOS DE E. coli.
PERCENTUAL DE RESISTÊNCIA DE 385 ISOLADOS DE E. coli TESTADOS
NOR AMP CFZ CRO GENTA NITRO SUT
8,8 51,7 6,5 0,26 3,7 5,4 46,4
(NOR) Norfloxacin, (AMP) Ampicilina, (CFZ) Cefazolina, (CRO) Ceftriaxona, (GENTA) Gentamicina, (NIT) Nitrofurantoína, (SUT) Sulfametoxazol.
0
10
20
30
40
50
60
70
Até 1 2-9 10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89
FAIXA ETÁRIA (ANOS)
Nº
DE
AM
OS
TRA
Feminino Masculino
52
5.2 TESTE DE SENSIBILIDADE ÀS QUINOLONAS POR DISCO DIFUSÃO EM
ÁGAR
O resultado do TSA por DD ao ácido nalidíxico, norfloxacina, ciprofloxacina e
gatifloxacina demonstrou variação nas quatro quinolonas testadas. Foi detectada
resistência a pelo menos uma quinolona em 52 amostras, das quais 18 amostras
apresentaram resistência somente ao ácido nalidíxico (foram incluídas neste grupo
as 3 amostras com resultado intermediário para o NAL).
Os gráficos das figuras 14 e 15 apresentam a relação entre a idade e o
número de isolados para amostras femininas e masculinas. Entre as mulheres, o
número de amostras é maior entre 20 e 50 anos de vida, as amostras resistentes,
no entanto, estão concentradas entre a faixa de 15 e 30 anos e acima dos 60. Entre
os homens, o número de amostras é elevado na primeira década, apresentando
poucos islolados resistentes; a partir dos 30 anos há uma proporção entre o número
de amostras e o número de isolados resistentes, ambos aumentam gradativamente
com a faixa etária, principalmente acima dos 60 anos.
As quinolonas testadas pelo método de difusão em ágar mostraram fenótipos
variados de resistência, os predominantes foram resistência aos quatros
antimicrobianos testados (26 amostras) e resistência apenas ao ácido nalidíxico e
sensibilidade aos demais (18 amostras), fenótipos 1 e 2, respectivamente (Tabela
12).
TABELA 12 - DISTRIBUIÇÃO DOS FENÓTIPOS DE RESISTÊNCIA ÀS QUINOLONAS PELO MÉTODO DE DIFUSÃO EM ÁGAR
FENÓTIPO
NAL
NOR
CIP
GTF TOTAL
1 R R R R 26
2 R S S S 15
3 R I R S 2
4 R S I I 1
5 R R R I 4
6 R R R S 1
7 I S S S 3
(NAL) ácido nalidíxico, (NOR) norfloxacina, (CIP) ciprofloxacina, (GTF) gatifloxacina R, resistência; S, sensibilidade; I, intermediário
53
FIGURA 14 - DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO TOTAL DE AMOSTRA E NÚMERO DE AMOSTRAS RESISTENTES PELO MÉTODO DE DIFUSÃO EM ÁGAR POR FAIXA ETÁRIA EM AMOSTRAS FEMININAS
FIGURA 15 – DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO TOTAL DE AMOSTRA E NÚMERO DE
AMOSTRAS RESISTENTES PELO MÉTODO DE DIFUSÃO EM ÁGAR POR FAIXA ETÁRIA EM AMOSTRAS MASCULINAS
AMOSTRAS FEMININAS
0
10
20
30
40
50
60
70
0-6 m 7 m - 9 10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89 0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
TOTAL RESISTENTES
Nº
tota
l de
amos
tras
Nº
de a
mos
tras
res
iste
ntes
FAIXA ETÁRIA (ANOS)
AMOSTRAS MASCULINAS
0
2
4
6
8
10
12
14
0-6 m 7 m - 9 10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89 0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
TOTAL RESISTENTES
Nº
tota
l dea
mos
tras
Nº
de a
mos
tras
res
iste
ntes
FAIXA ETÁRIA (ANOS)
54
5.3 DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA (CIM)
Das 385 amostras de E. coli testadas, 53 apresentaram resistência no
mínimo a uma quinolona testada pela técnica de ágar-diluição, equivalente a 13,8%
de resistência geral às quinolonas.
Ciprofloxacina e gatifloxacina apresentaram as menores concentrações
capazes de inibir a maioria (cerca de 86%) dos isolados, com diferença de 1 a 2
diluições entre ambas (≤ 0,03 µg/mL e 0,06-0,12 µg/mL), respectivamente.
Norfloxacina apresentou uma diluição maior que a da gatifloxacina para inibir 87,5%
dos isolados. Para nitrofurantoína, cerca de 95% das amostras de E. coli foram
inibidas com uma CIM de 32 µg/mL. Devido ao fato do Sulfametoxazol/Trimetoprim
ter um percentual de resistência elevado, somente 47,7% dos isolados de E. coli
foram inibidos com a maior concentração abaixo do ponto de corte. Esses dados
podem ser observados na Tabela 13.
55
TABELA 13 – DISTRIBUIÇÃO DOS ISOLADOS E PERCENTUAL CUMULATIVO POR CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA PELO MÉTODO DE ÁGAR-DILUIÇÃO
ÁCIDO NALIDÍXICO
CIM (µµg/mL) ≤≤1 2 4 8 16 32 64 128 256 ≥≥512
N
%
8
(2,1)
223
(60)
99
(85,7)
2
(86,2)
3
(87)
1
(87,3)
4
(88,3)
2
(88,8)
5
(90,1)
38
(100)
NORFLOXACINA
CIM (µµg/mL) ≤≤0,03 0,06 0,12 0,25 0,5 1 2 4 8 16 32 64 128 ≥≥256
N
(%)
3
(0,8)
188
(49,6)
130
(83,4)
16
(87,5)
7
(89,3)
5
(90,6)
1
(90,9)
1
(91,2)
2
(91,7)
2
(92,2)
6
(93,8)
10
(96,4)
7
(98,2)
7
(100)
CIPROFLOXACINA
CIM (µµg/mL) ≤≤0,015 0,03 0,06 0,12 0,25 2 4 8 16 32 ≥≥64
N
%
248
(64,4)
83
(86)
5
(87,3)
12
(90,4)
3
(91,2)
1
(91,4)
1
(91,7)
3
(92,5)
6
(94)
13
(97,4)
10
(100)
GATIFLOXACINA
CIM (µµg/mL) ≤≤0,015 0,03 0,06 0,12 0,25 0,5 1 4 8 16 32 ≥≥64
N
%
7
(1,8)
178
(48)
126
(80,7)
22
(86,4)
8
(88,5)
8
(90,6)
2
(91,1)
3
(91,9)
12
(95)
6
(96,6)
9
(98,9)
4
(100)
NITROFURANTOÍNA
CIM (µµg/Ml) ≤≤4 8 16 32 64 128 ≥≥256
N
%
3
(0,8)
5
(2,1)
187
(50,7)
169
(94,6)
14
(98,2)
5
(99,5)
2
(100)
SULFAMETOXAZOL/TRIMETOPRIM
CIM (µµg/mL) ≤≤0,6/0,03 1,2/0,06 2,4/0,12 4,7/0,25 9,5/0,5 19/1 38/2 76/4 ≥≥304/16
N
%
8
(2,1)
57
(16,9)
100
(42,9)
17
(47,3)
6
(48,8)
5
(50,1)
3
(50,9)
3
(51,7)
186
(100)
56
No que se refere à potência, ciprofloxacina foi a quinolona que mais se
destacou com CIM50 ≤ 0,015 µg/mL para os 385 isolados de E. coli testados
(Tabela 14). Contudo, o percentual de inibição de crescimento bacteriano foi igual
ao da norfloxacina (91,4%) e um pouco menor que o da gatifloxacina (92,7%). O
ácido nalidíxico apresentou os piores índices em relação à potência (CIM50 de 2
µg/mL) e à sensibilidade (86,2%).
Além das quinolonas, foi determinada a CIM da nitrofurantoína e do
sulfametoxazol/trimetoprim (SUT). A nitrofurantoína mostrou boa atividade, inibindo
o crescimento bacteriano de 94,6 % das amostras; já a taxa de sensibilidade para o
SUT foi muito baixa (53,2 %). Ambas não apresentaram potência tão boa quanto à
das quinolonas, CIM50 de 16 µg/mL e CIM50 de 9,5/0,5 µg/mL, respectivamente.
Para avaliar se havia diferença na sensibilidade ao SUT e à NIT entre
amostras de E. coli resistentes e sensíveis às quinolonas, foi realizada uma análise
separada desses grupos. Nas amostras sensíveis às quinolonas (n: 332), a
sensibilidade à nitrofurantoína aumentou para 98,5 % e, nas resistentes (n: 53), ela
caiu para 72 %. Sulfametoxazol/trimetoprim foi sensível em 51,2 % das amostras
sensíveis e em 43,4 % das resistentes às quinolonas (Tabelas 14 e 15).
TABELA 14 – POTÊNCIA E ATIVIDADE DOS ANTIMICROBIANOS TESTADOS PELO MÉTODO DE ÁGAR-DILUIÇÃO EM 385 AMOSTRAS E. coli
ANTIMICROBIANO CIM50 µg/mL
CIM90 µg/mL
%
Sensibilidade
Ácido nalidíxico 2 256 86,2
Norfloxacina 0,12 1 91,4
Ciprofloxacina ≤0,015 0,12 91,4
Gatifloxacina 0,06 0,5 92,7
Nitrofurantoína 16 32 94,6
Sulfametoxazol/Trimetoprim 9,5/0,5 ≥ 304/16 53,2
57
TABELA 15 – PERCENTUAL DE SENSIBILIDADE À NITROFURANTOÍNA E AO SULFAMETOXAZOL/TRIMETOPRIM EM AMOSTRAS SENSÍVEIS E RESISTENTES ÀS QUINOLONAS
QUINOLONAS ANTIMICROBIANO
Sensíveis (n: 332) Resistentes (n: 53)
NITROFURANTOÍNA 98,5 % 72 %
SULFAMETOXAZOL/TRIMETOPRIM 51,2 % 43,4 %
Das 385 amostras de E. coli testadas, 53 amostras apresentaram resistência
no mínimo a uma quinolona testada pela técnica de ágar-diluição. Com base nesses
resultados, as amostras de E. coli foram divididas em três grupos: grupo 1
compreende as amostras (n: 332) sensíveis às 4 quinolonas testadas; grupo 2
representa as amostras (n: 19) resistentes ao ácido nalidíxico e sensíveis às demais
quinolonas; no grupo 3 estão as amostras (n: 34) resistentes a todas as quinolonas
testadas.
Os resultados dos métodos de difusão em ágar (DD) e diluição em ágar (AD)
das quinolonas testadas foram comparados por meio do teste de acurácia. Os
dados foram plotados num gráfico, onde, no eixo das abscissas (X), encontram-se
os diâmetros dos halos de inibição do fármaco fornecidos pelo DD e, no eixo das
ordenadas (Y), as CIMs, determinadas por AD, considerado o método de referência
(Figura 16). As discrepâncias entre os dois métodos foram classificadas em erros do
tipo alfa, falsa resistência; e erros do tipo beta, falsa sensibilidade (JEKEL, 1999).
Erros do tipo alfa (falsa resistência) não ocorreram em nenhuma amostra. Os erros
do tipo beta (falsa sensibilidade) ocorreram em 3 casos das 385 amostras de E. coli
avaliadas, 1 caso com NAL, 1 com NOR e 1 envolvendo a GTF. Essas quinolonas
também apresenteram discrepâncias na categoria Intermediário. No entanto, esses
resultados não interferiram na avaliação da sensibilidade e especificidade pois a
categoria “intermediário” foi incluída no grupo dos resistentes. Ciprofloxacina foi a
única quinolona testada que não apresentou nehuma discrepância entre os dois
métodos.
A correlação entre os dois métodos para as quinolonas é a que segue e os
valores de Sensibilidade (S), Especificidade (E), Valor preditivo positivo e negativo
58
(VPP e VPN) e Taxa de erros do tipo alfa e beta estão na tabela 16 . Para o NAL,
das 333 amostras sensíveis pelo DD, 332 apresentaram CIM ≤ 8 µg/mL (sensíveis)
pelo método de ágar diluição e uma amostra apresentou CIM de 16 µg/mL
(intermediário). Das 3 amostras intermediárias pelo método de DD, 1 foi classificada
como intermediária (CIM = 16 µg/mL) e 2 como resistentes (CIMs de 32 e 64
µg/mL). Todas as amostras resistentes ao NAL apresentaram CIMs ≥ 64 µg/mL,
com exceção de 1 amostra que apresentou CIM de 16 µg/mL (intermediário).
Duas amostras foram classificadas como intermediárias para NOR pelo DD, a
determinação da CIM revelou uma amostra intermediária (CIM de 8 µg/mL) e outra
resistente (CIM de 16 µg/mL). O resultado da GTF demonstrou 5 amostras
intermediárias no DD, 4 delas apresentaram CIM de 8 µg/mL (resistente) e 1 com
CIM de 4 µg/mL (intermediário). Entre as amostras sensíveis pelo DD, 1 foi
classificada na categoria intermediário (CIM de 4 µg/m) no método de diluição em
ágar.
TABELA 16 – RESULTADO DO TESTE DE ACURÁCIA ENTRE OS MÉTODOS DE
DIFUSÃO E DILUIÇÃO EM ÁGAR PARA OS 385 ISOLADOS DE E. coli.
QUINOLON
A
S
(%)
E
(%)
VPP
(%)
VPN
(%)
ERRO
ALFA (%)
ERRO
BETA (%)
NAL 98,7 100 100 99,7 0 1,9
NOR 97 100 100 99,7 0 2,9
CIP 100 100 100 100 0 0
GTF 97 100 100 99,7 0 3,0
LEGENDA: Sensibilidade (S), Especificidade (E), Valor preditivo positivo (VPP) e Valor
preditivo negativo (VPN), ácido nalidíxico (NAL), norfloxacina (NOR), ciprofloxacina (CIP) e
gatifloxacina (GTF).
O poder discriminatório do ácido nalidíxico em detectar resistência a outras
quinolonas, por meio do método de ágar difusão, foi avaliado (Figura 17). Todas as
333 amostras com halo de inibição ≥ 19 mm para o NAL (amostras sensíveis) eram
também sensíveis a NOR, CIP e GTF. As 49 amostras resistentes ao ácido
nalidíxico foram classificadas pelo método de ágar-diluição em três categorias (R, S
59
e I) para as fluorquinolonas: Resistentes (NOR: 32 A, CIP: 33 A e GTF: 31 A);
Sensíveis (NOR: 15 A, CIP: 15 A e GTF: 16 A) e duas amostras com resultado
intermediário para NOR e GTF e uma para CIP. Em relação à categoria
intermediário, as 3 amostras com este resultado para o NAL foram classificadas
como sensíveis a NOR, CIP e GTF. A sensibilidade e a especificidade do disco de
ácido nalidíxico (30µg), no método de difusão em ágar, em detectar resistência à
NOR, CIP e GTF foi de 100% e 95% respectivamente. O valor preditivo negativo
(VPN) foi de 100% para as três quinolonas citadas, já o valor preditivo positivo (VPP)
foi de 65,4% para NOR e CIP; e de 63,5% para GTF.
As amostras resistentes ou intermediárias ao NAL e sensíveis às outras
quinolonas testadas apresentaram elevação da CIM em 2 ou mais diluições. Por
exemplo, quando as amostras eram sensíveis à CIP e ao NAL, 99% delas
apresentaram CIM entre 0,015 e 0,03; no entanto, quando sensíveis à CIP e
resistentes ao NAL (n:15), 13 amostras apresentaram CIMs entre 0,12 e 0,25 µg/mL.
O mesmo foi observado para a GTF e a NOR, 94% das amostras sensíveis à GTF e
ao ácido nalidíxico apresentaram CIMs entre 0,03 e 0,06. Quando as amostras
apresentavam resistência ao NAL e sensibilidade à GTF, as CIMs ficaram acima de
0,25 µg/mL. Para NOR e NAL sensíveis, 96% das amostras apresentam CIMs entre
0,06 e 0,12 µg/mL e, quando NAL resistente, as CIMs situam-se entre 0,25 e 0,5
µg/mL.
60
FIGURA 16 - COMPARAÇÃO DO HALO DE INIBIÇÃO EM mm (DD) COM A CIM EM µg/mL (AD) DAS QUINOLONAS TESTADAS
61
FIGURA 17 - COMPARAÇÃO DO HALO DE INIBIÇÃO EM mm (DD) DO ÁCIDO NALIDÍXICOCOM A CIM EM µg/mL (AD) DA NORFLOXACINA, CIPROFLOXACINA E GATIFLOXACINA NAS 385 AMOSTRAS ESTUDADAS.
62
Para se observar a variação na CIM da ciprofloxacina, os três grupos de
amostras (1: sensíveis a todas as quinolonas, 2: resistência somente ao ácido
nalidíxico, 3: resistente a todas quinolonas) foram distribuídos conforme o gênero e
a CIM para ciprofloxacina. Os dados foram avaliados estatisticamente com o teste
do Qui-quadrado (χ2).
A freqüência dos grupos 1, 2 e 3 não se distribui nos gêneros de forma
independente. As maiores contribuições para o valor de χ2 são as classes: homens
no grupo 3 e mulheres no grupo 3. No gênero masculino apareceram bem mais
indivíduos no grupo 3 do que se esperaria se essa distribuição fosse independente.
Ocorreu o mesmo com as mulheres, porém no sentido inverso, apareceram menos
indivíduos no grupo 3 do que se esperava.
Na Tabela 17 podemos observar que as amostras do grupo 1 (quinolonas
sensíveis) apresentaram CIM para ciprofloxacina ≤ 0,03 µg/mL, com exceção de 2
amostras, uma com CIM de 0,06 µg/mL e a outra com CIM de 0,012 µg/mL (ambas
maculinas), e as amostras do grupo 3 (quinolonas resistentes) apresentaram CIM >
que 4 µg/mL. Esses resultados eram esperarados uma vez que essa amostras são,
respectivamente, sensíveis e resistentes à Ciprofloxacina. No entanto, no grupo 2
(NAL resistente e demais quinolonas sensíveis), apesar de sensíveis à
Ciprofloxacina, houve uma significativa elevação da CIM para concentrações acima
de 0,06 µg/mL. Esse evento foi mais freqüente do que o esperado no grupo 2, numa
distribuição independente (ρ< 0,0005).
63
TABELA 17 - DISTRIBUIÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA POR AD DA CIPROFLOXACINA DOS 385 ISOLADOS DE E. coli
5.4 PESQUISA DE MUTAÇÕES NOS GENES gyrA e parC
A caracterização genética do principal mecanismo de resistência às
quinolonas em E. coli, foi realizada em 10 das 53 amostras resistentes ao ácido
nalidíxico e duas amostras sensíveis às quatros quinolonas testadas. A escolha das
amostras foi baseada nos grupos 1, 2 e 3 com diferentes CIMs para NAL e
ciprofloxacina. Foram selecionadas 2 amostras do grupo do grupo 1 (quinolonas
sensíveis); 5 amostras do grupo 2 (NAL resistente e demais quinolonas sensíveis) e
5 amostras do 3 (quinolonas resistentes).
5.4.1 Amplificação das QRDRs dos genes gyrA e parC
As bandas observadas na detecção dos produtos da PCR apresentaram
tamanhos correspondentes aos fragmentos esperados, 313 pares de base para
gyrA e 253 pares de base para parC (Figura 18).
0,015 0,03 0,06 0,125 0,25 0,5 1 2 4 8 16 32 64 128
1 218 72 - - - - - - - - - - - - 290F 2 - 2 3 9 3 - - - - - - - - - 17
3 - - - - - - - - 1 3 2 7 3 4 20327
M 1 30 9 2 1 - - - - - - - - - - 422 - - - 2 - - - - - - - - - - 23 - - - - - - - 1 - - 4 6 1 2 14
58TOTAL 385
GRUPOS
CIM: Concentração inibitória mínima
LEGENDA:
2: Amostras resistentes somente ao ácido nalidíxico1: Amostras sensíveis
F: FemininoM: Masculino
TOTALGRUPOCIM (µg/ml) DA CIPROFLOXACINA
GÊNERO
3: Amostras resistentes às 4 quinolonas testadas
FIGURA 18 – PRODUTOS DE AMPLIFICAÇÃO DOS GENES gyrA e parC OBTIDOS DE ISOLADOS CLÍNICOS DE E. coli
LEGENDA: 1 - Marcador de peso molecular 100 pb (gibco-BRL®, Life Technologies) 2G, 3G e 4G – Produto de PCR para o gene gyrA. Amostras 345, 837 e 4557 2P, 3P e 4P – Produto de PCR para o gene parC. Amostras 345, 837 e 4557
313 pb253 pb
100200300400500
1PM
2G345
3G837
4G4557
2P345
3P837
4P4557
313 pb253 pb
100200300400500
1PM
2G345
3G837
4G4557
2P345
3P837
4P4557
100200300400500
1PM
2G345
3G837
4G4557
2P345
3P837
4P4557
65
5.4.2 Sequenciamento da QRDR dos genes gyrA e parC
O resultado da reação de seqüenciamento das 12 amostras selecionadas
pode ser observado na Tabela 18. As duas amostras do grupo 1 (amostras
sensíveis às quinolonas testadas) não apresentaram mutações na QRDR dos
genes estudados. Das 5 amostras resistentes somente ao NAL (grupo 2), 3
apresentaram uma mutação no aminoácido 83 do gene gyrA, uma amostra com
duas mutações, uma no aminoácido 83 do gene gyrA e a outra mutação no
aminoácido 80 do gene parC. Destas 5 amostras, uma não apresentou
mutações. Entre as 5 amostras resistentes às quinolonas (grupo 3), todas
apresentaram três mutações, duas no gene gyrA (aminoácidos 83 e 87) e uma
mutação no aminoácido 80 do gene parC. As mutações detectadas no gene
gyrA foram constantes: na posição 83 o aminoácido serina foi substituído por
leucina e na posição 87, o ácido aspártico foi substituído pela asparagina. Para
o gene parC, 5 amostras com substituição de serina por isoleucina e 1 amostra
com substituição de serina por arginina.
As amostras resistentes ao ácido nalidíxico (grupo 3) com três mutações
(2 no gene gyrA e 1 no gene parC) apresentaram CIMs elevadas para CIP
(tabela 18). Aquelas com somente uma mutação no gene gyrA apresentaram
discreta elevação da CIMs para CIP, ainda ficando, entretanto, dentro da
categoria sensível. A única amostra com duas mutações, uma mutação no gene
gyrA e a outra mutação no aminoácido no gene parC, apresentou discreta
elevação nas CIMs das quinolonas. Nestas amostras a troca no aminoácido 80
do gene parC foi por arginina, diferente das amostras que apresentavam três
mutações. Resultados semelhantes foram encontrados para NOR e GTF.
66
TABELA 18 - LOCALIZAÇÃO E TIPO DE MUTAÇÕES NOS GENES gyrA E parC POR GRUPOs DE AMOSTRAS DE E. coli
MUTAÇÃO
CIM µg/mL gyrA parC
AMOSTRA GRUPO NAL CIP 83 87
Ser Ala Val Tyr Asp 80 Asp Ser Ala
5384 1 1 0,03 ..-.........-...........-........-..........-.. ..-.........-...........-.. 9850 1 1 0,015 ..-.........-...........-........-..........-.. ..-.........-...........-..
837 2 64 0,03 ..-.........-...........-........-..........-.. ..-.........-...........-.. 4633 2 64 0,25 Leu......-..........-..........-..........-.. ..-.........-...........-..
9233 2 64 0,12 Leu......-..........-..........-..........-.. ..-.........-...........-.. 4557 2 >512 0,12 Leu......-..........-..........-..........-.. ..-.........-...........-..
8889 2 >512 0,25 Leu......-..........-..........-..........-.. ..-.......Arg.......-.. 6556 3 >512 8 Leu......-...........-..........-.......Asn ..-.......Ile.......-..
345 3 >512 64 Leu........-...........-........-.......Asn ..-.......Ile.......-.. 6723 3 >512 64 Leu........-...........-........-.......Asn ..-.......Ile.......-..
5850* 3 >512 4 Leu........-...........-........-.......Asn ..-.......Ile.......-.. 6452 3 >512 32 Leu........-...........-........-.......Asn ..-.......Ile.......-..
LEGENDA: GRUPOS
1: Amostras sensíveis 2: Amostras resistentes somente ao ácido nalidíxico 3: Amostras resistentes às 4 quinolonas testadas
CIM: Concentração inibitória mínima NAL: Ácido Nalidíxico CIP: Ciprofloxacina AMINOÁCIDOS: Ala, alanina; Arg, arginina; Asn, asparagina; Asp, ácido aspártico; Ile, isoleucina; Leu, leucina; Lis, lisina; Tyr, tirosina; Val, valina.
67
6. DISCUSSÃO
A infecção do trato urinário (ITU) é uma das doenças infecciosas mais
comuns, sendo menos freqüente apenas do que as infecções respiratórias. Nos
Estados Unidos, as ITUs são responsáveis por 5,2 milhões de consultas
médicas anuais, onde 10% das ITUs representam episódios graves e 80%
requerem exames laboratoriais e tratamento antimicrobiano. O custo estimado
das ITUs em geral, naquele país, ultrapassa 1,5 bilhões de dólares anuais
(STAMM & NORRBY, 2001; KARLOWSKY, 2001).
As enterobactérias são os agentes mais comuns de infecção urinária, e
dentre estas, Escherichia coli é o principal representante nas infecções agudas.
Mesmo em infecções hospitalares, onde estão presentes outros patógenos, este
microrganismo predomina (BISHARA et al.,1997; WINSTANLEY et al, 1997;
VROMEN et al.1999; GALES et al, 2000).
Neste trabalho foram avaliados os isolados de E. coli de urocultura,
coletados por jato médio e com contagem de colônias igual ou superior a 104
UFC/mL, ponto de corte recomendado pela literatura como critério de
diagnóstico microbiológico de ITU. Não foi realizada uma avaliação
epidemiológica porque o objetivo do trabalho foi estudar a resistência de E. coli
às quinolonas utilizadas no trabalho e, por isto, outras bactérias Gram negativas
e bactérias Gram positivas foram excluídas, o que poderia interferir numa
análise epidemiológica fidedigna.
A incidência de ITUs depende da idade e do gênero do paciente. A ITU é
doença que acomete predominantemente as mulheres. A prevalência de
bacteriúria em mulheres aumenta gradualmente com a idade, chegando a 10%
a 20% em mulheres idosas. A associação de ITU com intercurso sexual pode
também contribuir para esta incidência aumentada, porque a atividade sexual
aumenta as chances de contaminação da uretra feminina que, sendo mais
curta, facilita a ascenção da bactéria. A exposição a espermicidas e o uso prévio
de antibióticos são fatores de risco para ITU em mulheres na fase pré-
menopausa. A incidência de bacteriúria também aumenta durante a gravidez,
como resultado de alterações anatômicas e hormonais que favorecem as ITUs
(STAMM & NORRBY, 2001). Para os homens, as ITUs são mais comuns
68
durante o primeiro ano de vida, associadas principalmente às mal-formações
congênitas e após os 60 anos, quando o aumento da incidência de hipertrofia da
próstata interfere com o esvaziamento da bexiga predispondo à ITU (NICOLLE,
2001).
Os dados avaliados no presente estudo em relação ao gênero e idade,
mostraram uma distribuição de amostras semelhantes aos índices de ITU
citados na literatura. Entre os pacientes do gênero masculino, o maior número
de amostras foi encontrado no primeiro ano de vida e acima de 60 anos e o
número de isolados resistentes aumenta com a idade, possivelmente em
decorrência do uso de quinolonas no tratamento de prostatites, onde os
antimicrobianos atingem níveis teciduais menores, entre outras causas. Já entre
as mulheres, o maior número de casos foi encontrado na faixa etária entre os 20
e 45 anos, e justamente neste período observa-se um número menor de
isolados resistentes. explicado em parte pela presença de gestantes neste
grupo onde as quinolonas são contra indicadas. Além disso, outros fatores,
como o uso prévio de antimicrobianos, podem estar envolvidos mas não
puderam ser avaliados.
KARLOWSKY et al. (2002) avaliaram a sensibilidade à Ampicilina e ao
SUT em E. coli isoladas de ITU em mulheres nos Estados Unidos. Neste
trabalho, foram encontrados índices de resistência para ampicilina de 37% e
para SUT de 16,1%, sugerindo que outras terapias deveriam ser consideradas
de acordo com o índice local de resistência a tais drogas.
Os dados retrospectivos do presente estudo revelaram altos índices de
resistência à ampicilina (51,7%) e ao SUT (46,4%). A resistência à ampicilina
pode estar associada à disseminação de genes localizados em plasmídios, que
codificam enzimas que inativam a ampicilina (geralmente β-lactamases do tipo
TEM-1). Resistência ao SUT, por sua vez, é decorrente de alterações nas
enzimas diidrofolato redutase e diidropteroato sintetase, principalmente pela
aquisição de novos genes localizados em plasmídios. Taxas elevadas de
resistência ao SUT (38%-59%) para E. coli têm sido descritas em países da
América Latina (HUOVINEN, 1997).
WINSTANLEY et al., em 1997, avaliaram a suscetibilidade
antimicrobiana de bactérias isoladas do trato urinário num período de 10 anos.
69
No trabalho desses autores, a ampicilina mostrou os piores índices de
sensibilidade para todas as enterobactérias. Esse resultado condiz com os
obtidos no presente trabalho, indicando que esse antibiótico não deve ser
utilizado empiricamente para tratamento de ITU.
Durante os anos 70, as taxas de resistência aos β-lactâmicos em
microrganismos hospitalares já se mostravam elevadas, 30% dos isolados de
Escherichia coli eram resistentes à ampicilina e 20 a 30% dos isolados de
Klebsiella pneumoniae à cefazolina - fato este que estimulou o uso das
cefalosporinas de amplo espectro, tais como a ceftriaxona e a ceftazidima (NEU,
1989).
Em relação às cefalosporinas, os isolados do presente estudo
demonstraram um percentual de resistência à cefazolina de 6,5 % e à
ceftriaxona de 0,26 %. A sensibilidade moderada dos patógenos urinários frente
à cefalotina é preocupante, pois este antibiótico é a droga de primeira escolha
para cistites em gestantes, onde o número de antibióticos permitidos é limitado e
a presença de infecção é frequente. Provavelmente não foram encontrados
altos índices de resistência à ceftriaxona porque a maioria dos isolados eram de
pacientes ambulatoriais.
A boa sensibilidade da gentamicina para E. coli encontrada neste
trabalho (3,7%) não descarta a preocupação com o decréscimo significante na
sensibilidade a estes antimicrobianos em bacilos Gram negativos, por ser uma
opção para o tratamento de infecções do trato urinário, tanto em pacientes
hospitalizados quanto nos medicados em domicílio (WEBER et al., 1997).
GOETTSCH et al. (2000) demonstraram um aumento na resistência de
amoxacilina e SUT nos isolados de Escherichia coli, em infecções no trato
urinário de pacientes ambulatoriais da Holanda. Com o passar dos anos,
fluorquinolonas passaram a ser prescritas mais freqüentemente para o
tratamento dessas infecções, ocasionando um aumento de E. coli resistente a
estes antibióticos, dificultando seu tratamento.
ZHANEL et al. (1998) avaliaram a resistência bacteriana de 2000 isolados
do trato urinário de pacientes ambulatoriais no Canadá. Os dados mostraram
que a nitrofurantoína e a ciprofloxacina foram mais eficientes que SUT e
amoxacilina na terapia empírica dessas infecções.
70
A resistência antimicrobiana de bactérias Gram negativas, isoladas em
urina de pacientes ambulatoriais entre 1983 e 1997, foi analisada por VROMEN
et al (1999). Durante o período de estudo, a sensibilidade de E. coli ao SUT
diminuiu de 79% para 62%, aumentou para a nitrofurantoína de 79% para 91%
e permaneceu estavelmente baixa para a amoxacilina (41%). Neste mesmo
trabalho, os autores demostraram que a sensibilidade para a norfloxacina,
avaliada a partir de 1990, diminuiu de 87% para 71%. Acredita-se que a
prescrição empírica deste antimicrobiano foi a responsável por esta mudança na
sensibilidade. Este decréscimo observado na sensibilidade da norfloxacina é
preocupante. Durante o período de tempo relativamente curto em que tais casos
foram avaliados, houve um aumento na resistência destes antibióticos em torno
de 25%.
Em outro trabalho em um hospital universitário de Paris, entre 1992 e
1998, ROBERT et al (2001) também constataram uma redução na sensibilidade
da E. coli para fluorquinolonas (pefloxacin, de 95 para 90%; ciprofloxacin, de 99
para 95%).
Pesquisadores estudaram, num hospital de Valencia, 218 casos de cistite
aguda em mulheres entre março e novembro de 2000. O elevado índice de
isolados de E. coli resistentes às quinolonas mostrou-se persistente (18,4% para
ciprofloxacina; 19,6% para norfloxacina e 22,3% para o ácido pipemídico).
Excelente sensibilidade foi observada para amoxacilina-clavulanato e
aminoglicosídeos. Para a ampicilina e o SUT, a resistência também foi alta,
respectivamente, 54,7% e 35,8%. A nitrofurantoína apresentou baixos índices
(3,3%) de resistência (QUEIPO et al., 2001).
KAPOOR e AGGARWAL, em 1997, encontraram taxas ainda mais altas
de resistência para as quinolonas em ITUs nosocomiais em Nova Delhi, cerca
de 62% das amostras eram resistentes ao ácido nalidíxico, 52% à norfloxacina e
51% à ciprofloxacina.
No Brasil, um estudo com bactérias isoladas do trato urinário revelou que
houve, com o passar dos anos, um aumento gradativo na resistência às
quinolonas, entretanto as taxas foram bem menores: 9,1% para a norfloxacina e
para a ciprofloxacina e 16,5% para o ácido nalidíxico (LOPES et al., 1998).
71
No presente trabalho, das 385 amostras de E. coli testadas pelo método
de difusão em ágar, 52 amostras foram classificadas como resistentes a pelo
menos uma quinolona testada. É importante ressaltar que dentre estas 52
amostras, 15 amostras foram classificadas como resistentes e 3 como
intermediárias ao ácido nalidíxico, permanecendo sensíveis às demais
quinolonas. Houve ainda variação no fenótipo de resistência por este método
para 8 amostras, sete envolvendo resultados intermediários, que é a categoria
que oferece mais resultados de difícil interpretação (M2-A7, NCCLS, 2000).
Ácido nalidíxico foi a quinolona com maior percentual de isolados resistentes
(13,5%), seguido da ciprofloxacina (8,8%), norfloxacina (8,6%) e da gatifloxacina
(8,0%).
A variação nas taxas de sensibilidade das diferentes quinolonas pode ser
explicada pelo mecanismo de resistência, onde o nível de resistência depende
da enzima-alvo afetada e do número de mutações acumuladas. Além disso, há
uma relação entre o nível de resistência a potência específica de cada fármaco,
principalmente para as quinolonas mais novas (SANDERS, 2001).
No presente estudo, os resultados da determinação da CIM dos
antimicrobianos testados confirmaram que as quinolonas são fármacos
potentes, pois mesmo as mais antigas, como o NAL, exibiram CIM50 ≤ 2,0
µg/mL. Valores bem menores que os encotrados para SUT (CIM50 9,5/0,5
µg/mL) e para a nitrofurantoína (CIM50 16 µg/mL). Entre as quinolonas testadas,
esperava-se que a potência e a atividade fossem maiores entre as quinolonas
mais novas. Porém, apesar das modificações estruturais presentes na
gatifloxacina (GTF), que conferem maior afinidade com os dois alvos (DNA
girase e topoisomerase IV), a ciprofloxacina (CIP) apresentou os melhores
resultados com CIM50 ≤ 0,015 µg/mL e CIM90 de 0,12 µg/mL. Gatifloxacina
apresentou CIM50 ≤ 0,06 µg/mL e CIM90 de 0,5 µg/mL.
Apesar das diferenças de potência entre as quinolonas, o índice de
sensibilidade foi praticamente o mesmo para as fluorquinolonas (NOR, CIP e
GTF), sendo discretamente mais alto para GTF. O mecanismo de resistência
cruzada entre as quinolonas poderia explicar índices de sensibilidade
semelhantes para fármacos com diferentes potências da mesma classe, já que
72
um evento mutacional confere elevação na CIM, em 4 a 8 vezes, conferindo alto
nível de resistência para as quinolonas mais antigas (menos potentes), como o
NAL, e baixo nível de resistência às fluorquinolonas, percebido apenas pela
elevação da CIM. A ocorrência de uma amostra sensível somente à
gatifloxacina poderia ser explicado pelo fato dessa quinolona interagir nos dois
alvos de ação com a mesma a intensidade, o que, teoricamente, necessitaria de
mais mutações para diminuir a sensibilidade.
Resistência ao SUT tem aumentado em todo o mundo, limitando seu uso
como antibiótico empírico. Desde o final da década de 80 já se observava uma
notável redução na sensibilidade dos uropatógenos a este antimicrobiano. Em
1989, LAMIKANRA & NDEP , relataram uma incidência de resistência de 63,3%.
WINSTANLEY et al. (1997), relataram uma taxa média de resistência das
enterobactérias ao SUT de cerca de 30%. No Brasil, BERDICHEVSKI et al.,
1998, demonstraram que 34,25% desta mesma classe de microrganismos
estavam resistentes a esta droga. Quando avaliados uropatógenos na América
Latina, como realizado pelo programa SENTRY, a freqüência de resistência foi
42,6% (GALES, 2000).
O resultado da determinação da CIM90 para SUT encontrado no presente
trabalho foi elevada (≥ 304/16 µg/mL), com percentual de resistência de 46,8%
pelo método de ágar diluição, número muito próximo daquele obtido pelo
sistema automatizado (46,4%). Tais dados são semelhantes aos reportados em
outros trabalhos. No Brasil, a alta incidência de resistência pode estar associada
ao alto consumo deste fármaco, que é distribuído gratuitamente nas unidades
de saúde.
O resultado dos seis antimicrobianos, testados no presente trabalho pelo
método de diluição em ágar, demonstrou que a nitrofurantoína foi o antibiótico
com a menor taxa de resistência entre os isolados E. coli, com
aproximadamente 95% de sensibilidade. Felizmente, a presença de múltiplos
mecanismos de ação têm evitado o surgimento de E. coli resistentes a este
fármaco. Nitrofurantoína é uma alternativa para tratamento das infecções
urinárias não complicadas, mas o estreito espectro de atividade e a baixa
distribuição tecidual limitam seu uso em casos complicados de ITU (McCUE,
1997; ZOLER, 1999; KARLOWISKY et al., 2002).
73
Quando se comparam as duas metodologias (diluição em ágar e difusão
em ágar) para as quinolonas testadas, observa-se uma boa relação entre os
dois métodos, sensibilidade entre 97%-98% e especificidade de 100%. Os
resultados discrepantes estavam relacionados à categoria intermediária,
principalmente para o ácido nalidíxico e gatifloxacina. Segundo o NCCLS,
documento M2–A7 (2000), essa categoria inclui uma zona tampão para
prevenção de eventuais fatores técnicos não controlados, causadores das
maiores discrepâncias na interpretação. Isso poderia justificar os resultados
discrepantes para NAL e GTF, já que, devido à baixa difusão no ágar do NAL,
este é correntemente usado na forma sódica. Para GTF, foi usada uma
apresentação diferente da recomendada pela literatura em função da ausência
comercial do produto no momento da realização do trabalho. Contudo, os
resultados da cepa controle mantiveram-se nos limites confiáveis.
O NAL foi utilizado neste trabalho com intuito de verificar a possibilidade
de sua aplicabilidade como indicador de resistência às fluorquinolonas em E.
coli, uma vez que a determinação da CIM não é amplamente difundida nas
rotinas de laboratórios, devido ao seu custo elevado e por ser técnica
trabalhosa.
As 333 amostras sensíveis ao NAL (DD) eram também sensíveis às
outras quinolonas testadas pelo método de referência (AD). As amostras
resistentes ao NAL (49 A) apresentaram resultados variados em relação às
categorias S, R e I no método de AD, valor preditivo positivo em torno de 65%.
Constatou-se que algumas dessas amostras apresentam sensibilidade às
demais quinolonas, porém com elevação nas CIMs para as mesmas. Este
fenômeno poderia ser explicado pelo principal mecanismo de resistência, que
depende do número de mutações acumuladas. Outros mecanismos de
resistência como bombas de efluxo e mutações em genes secundários (gyrB e
parE) podem estar envolvidos, mas, infelizmente, não puderam ser avaliados
em função dos custos envolvidos e do tempo necessário para mais análises.
É interessante notar que o número de amostras resistentes ao NAL e
sensíveis às fluorquinolonas foi maior entre as mulheres. Entre os homens, a
quantidade de amostras totalmente resistentes às quinolonas foi mais freqüente
(Tabela 17), talvez pela associação entre ITU e prostatite, onde as quinolonas
74
são bastante utilizadas apesar dos níveis teciduais serem inferiores aos obtidos
no trato urinário, o que facilita a seleção de mutantes resistentes. Em crianças
do gênero masculino, alterações funcionais e anatômicas poderiam favorecer a
permanência do microorganismo no sítio de infecção, propiciando a seleção de
mutantes com alto nível de resistência.
Mutações nos genes que codificam para topoisomerase IV relacionam-se
com a diminuição da sensibilidade às quinolonas. Esta enzima é considerada o
alvo secundário das quinolonas em E. coli, fato referidos em diversos trabalhos
científicos, nos quais se observou que a topoisomerase IV da cepa selvagem
não é dominante sobre o alelo resistente e a sua inibição, que é primariamente
bacteriostática, leva a uma lenta parada na replicação. Mutações podem ocorrer
nos genes parC e parE. Mutações em parC ocorrem geralmente nas posições
78, 80 e 84, com substituição de glicina por aspartato, serina por arginina ou
isoleucina e glicina por aspartato, respectivamente. Em parE, as mutações com
troca de aminoácidos não são comuns, mas já foi detectada a troca de leucina
por histidina na posição 445 (BROWN & AMYES, 1998).
Patógenos clínicos com diminuição na sensibilidade às quinolonas têm
comumente alterações no gene gyrA que codifica para a subunidade GyrA da
enzima DNA girase. Mutações pontuais que se correlacionam com a
sensibilidade diminuída às quinolonas têm sido localizadas numa região
chamada “Quinolone Resistance Determining Region” (QRDR). Em E. coli,
incluem os aminoácidos 67-106 (codificados pelos nucleotídeos 201-320). Este
é principal mecanismo em enterobactérias. Mutações no gene gyrB de bactérias
com diminuída sensibilidade às quinolonas têm sido relatadas, porém com
menor importância.
No presente trabalho, para verificar a associação entre o mecanismo
genético de resistência e fenótipo das bactérias estudadas, 10 amostras de E.
coli resistentes e 2 amostras sensíveis às quinolonas foram submetidas à
amplificação e seqüenciamento das QRDRs dos genes gyrA e parC (Tabela 17).
O grupo das amostras resistentes era composto de 5 amostras resistentes
somente ao NAL (grupo 2), com CIMs para CIP variando entre 0,03 e 0,25
µg/mL, e 5 amostras resistentes a todas as quinolonas (grupo 3), com CIMs
75
para CIP variando entre 4 e ≥ 64 µg/mL, à exceção de 1 que era sensível à
gatifloxacina.
Dentre as cinco amostras de E. coli do grupo 2, uma amostra com CIM
para CIP de 0,03 µg/mL não apresentou nenhuma mutação e quatro amostras
com CIM para CIP ≥ 0,12 µg/mL apresentaram mutações nos genes gyrA e
parC. Dessas quatro amostras, 3 apresentaram uma única mutação no gene
gyrA na posição 83 (Ser → Leu) e uma amostra apresentou 2 mutações, uma
mutação em gyrA na posição 83 (Ser → Leu) e outra em parC na posição 80
(Ser → Arg). Mutação única em gyrA determina um baixo nível de resistência às
fluorquinolonas, que não é observado no método de difusão em ágar, mas pode
ser observado pelo método de diluição em ágar pela elevação na CIM da CIP
acima de 0,12 µg/mL. A única amostra desse grupo que não apresentou
mutação também não apresentou elevação na CIM para CIP, possivelmente
outros fatores estão envolvidos como mutações em outras regiões dos genes
estudados ou em outros genes.
A despeito de a ciprofloxacina requerer duas ou mais mutações no
principal alvo para expressar alto nível de resistência às fluorquinolonas,
quinolonas mais antigas, como o ácido nalidíxico, são capazes de expressar alto
nível com apenas uma mutação e, a exemplo de outros trabalhos realizados
com E. coli e Salmonella, este antimicrobiano pode ser usado como marcador
de resistência às fluorquinolonas pelo método de difusão em ágar (AGUIAR et
al., 1992; ENA et al., 1998; HAKANEN et al, 1999; GALES et al., 2000).
As amostras do grupo 3 apresentaram três mutações, duas no gene gyrA
e uma em parC, confirmando a necessidade de mutações múltiplas para a
expressão de alto nível de resistência às quinolonas. Duas mutações no alvo
principal estão associadas a alto nível de resistência, fato observado nas nossas
amostras seqüenciadas. As cinco amostras com resistência à CIP apresentaram
três mutações, duas em gyrA e uma em parC. Em gyrA, ocorreu uma troca de
aminoácidos na posição 83 (Ser → Leu) e na posição 87 (Asp → Asn). Em
parC, a troca de aminoácido ocorreu na posição 80 (Ser → Ile). A única amostra
resistente ao NAL e sensível à CIP (CIM de 0,25 µg/mL), apresentou duas
mutações, uma em gyrA na posição 83 (Ser → Leu) e outra em parC na posição
76
80 (Ser → Arg), fato observado por outros autores e que demonstraram a
necessidade do acúmulo de mutações no principal gene de resistência para a
quinolona.
EVERETT et al. (1996) estudaram os mecanismos individuais de
resistência às fluorquinolonas em isolados veterinários e humanos de E. coli,
com CIMs para CIP variando entre 2 e 128 µg/mL. Os 36 isolados continham
mutação em gyrA (troca de serina por leucina no códon 83) e 26 isolados
também apresentavam uma mutação no códon 87, com troca de aspartato por
asparagina em 14 amostras, por tirosina em 6 amostras, por glicina em 5
amostras e por histidina em 1. Vinte e quatro isolados apresentaram uma única
mutação em parC no códon 80, a troca da serina por isoleucina ocorreu em 17 A
e por arginina em 2. Em três amostras a mutação ocorreu no códon 84 com
troca do ácido glutâmico por lisina. Nenhuma mutação foi encontrada nos genes
gyrB e parE. Este trabalho demonstra que o alto índice de resistência dos
isolados em E. coli envolve a aquisição de múltiplas mutações em gyrA. As
mutações em gyrB e parE são menos freqüentes.
VILA et al (1994) pesquisaram mutações na QRDR nos genes gyrA e
gyrB de 27 isolados clínicos de E. coli. A CIM para CIP variou entre 0,007 e 128
µg/mL e de 2 a 2000 µg/mL para o NAL. Os 15 isolados com CIM para CIP ≥ 1
µg/mL mostraram mudança da serina 83 por leucina. Nos 11 isolados clínicos
com CIMs ≥ 8 µg/mL para CIP foi encontrada uma dupla mutação, em serina 83
e aspartato 87 na subunidade A da DNA girase. Todos os isolados com CIM ≥
128 µg/mL para o NAL mostraram uma mutação em gyrA no códon 83 que
acarretou troca da serina por leucina. Somente em um dos 27 isolados clínicos
manifestou-se a troca do aminácido lisina por ácido glutâmico no códon 447 na
subunidade B da DNA girase, demonstrando a predominância dos mutantes
gyrA sobre gyrB. O autor observou ainda que uma mutação na serina 83 é
suficiente para gerar alto nível de resistência ao NAL, enquanto uma segunda
mutação, geralmente em asparagina 87 na subunidade A da DNA girase, ocupa
um papel complementar no desenvolvimento de cepas com alto nível de
resistência à CIP.
77
Na Alemanha, LEHN et al. (1996) relataram 19 amostras E. coli
resistentes às fluorquinolonas. Todas apresentaram uma mutação no
aminoácido 83 do gene gyrA, o que levou à substituição de serina por leucina.
Dezoito amostras tinham também uma mutação no aminoácido 87, em 16
amostras houve substituição de aspartato por asparagina e em 2 amostras a
troca foi de aspartato por glicina.
O encontro de mutações simples no gene gyrA das amostras sensíveis à
ciprofloxacina é preocupante, pois a seleção de mutantes adicionais poderia ser
favorecida com a presença das fluorquinolonas. Geralmente, os laboratórios de
microbiologia utilizam a técnica de difusão em ágar para predizer a sensibilidade
aos antimicrobianos. Como esta técnica não fornece a CIM, não é possível
observar a elevação da CIM para ciprofloxacina apresentadas por estas
amostras com mutações simples. Sugere-se que os laboratórios testem o ácido
nalidíxico como um marcador para avaliar a presença de mutações simples no
gene gyrA, já que a resistência às quinolonas resulta principalmente das
mutações seqüenciais e acumulativas. Assim, caso o clínico optasse pelo
tratamento com quinolonas, a presença de mutações adicionais poderia ser
observada e correlacionada ou não à falência terapêutica (ROBERT, 2001).
Considerando a freqüência da infecção urinária e a grande diferença no
perfil de sensibilidade das bactérias nos diversos locais onde foram estudadas,
torna-se necessário o conhecimento local da prevalência e do padrão de
resistência antimicrobiana. A freqüente observação do comportamento
bacteriano frente aos antimicrobianos ajuda não somente a prever o futuro da
resistência bacteriana, mas também contribui para a instituição de uma
terapêutica adequada.
Em relação às quinolonas, o presente estudo alerta para o aumento
específico da resistência a esses fármacos e sugere que o ácido nalidixico seja
usado como marcador de resistência às fluorquinolonas em E. coli.
78
7 CONCLUSÕES
I. A taxa de resistência geral às quinolonas nas amostras avaliadas neste
estudo foi de 13,8 %.
II. A comparação entre os métodos de difusão e diluição em ágar mostrou
uma boa relação para as quinolonas testadas, sensibilidade entre 97%-
98% e especificidade de 100% .
III. O ácido nalidíxico revelou-se um bom marcador preditivo da sensibilidade
às fluorquinolonas em E. coli no teste de difusão em ágar:
- As 333 amostras sensíveis ao ácido nalidíxico eram também
sensíveis à norfloxacina, ciprofloxacina e gatifloxacina
testadas pelo método de referência.
- As 53 amostras resistentes ao ácido nalidíxico eram
classificadas como resistente, sensível ou intermediário às
fluorquinolonas pelo método de referência. Nas amostras com
resistência somente ao ácido nalidíxico houve uma
significativa elevação na CIM da ciprofloxacina.
A sensibilidade desse método de triagem foi de 100% e especificidade de
95%. Tais resultados nos permitem sugerir que o ácido nalidíxico pode ser
empregado como marcador de resistência às quinolonas, no antibiograma
pelo método de difusão em ágar, na rotina laboratorial.
IV. O sequenciamento de algumas amostras evidenciou que a presença de
mutação única está relacionada com resistência ao ácido nalidíxico e
elevação da CIM para as fluorquinolonas.
V. Nas amostras de E. coli resistentes a todas as quinolonas, a presença de
três mutações, duas no alvo principal e uma no alvo secundário,
confirmou a correlação entre múltiplas mutações e a expressão de alto
nível de resistência.
79
VI. O número de isolados de E. coli com alto nível de resistência foi mais
freqüente entre os homens, na população estudada.
VII. Confirmou-se o elevado percentual de E. coli resistente ao
sulfametoxazol/trimetoprim (46,8%).
VIII. A nitrofurantoína apresentou um bom percentual de sensibilidade (94,6%)
dentre as 385 amosras de E. coli anlisadas. Quando consideradas
apenas as amostras resistentes às quinolonas, este percentual caiu para
72,0%.
80
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