A natureza do amor

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A Natureza do Amor Título original: The nature of love Por John Angell James (1785-1859) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Dez/2016

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A Natureza do Amor

Título original: The nature of love

Por John Angell James (1785-1859)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Dez/2016

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J27

James, John Angell – 1785-1859

A natureza do amor / John Angell James. Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2016. 27p., 14,8 x 21cm Título original: The nature of love 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

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Em sua autobiografia, Spurgeon escreveu:

"Em uma primeira parte de meu ministério,

enquanto era apenas um menino, fui tomado

por um intenso desejo de ouvir o Sr. John

Angell James, e, apesar de minhas finanças

serem um pouco escassas, realizei uma

peregrinação a Birmingham apenas com esse

objetivo em vista. Eu o ouvi proferir uma

palestra à noite, em sua grande sacristia, sobre

aquele precioso texto, "Estais perfeitos nEle." O

aroma daquele sermão muito doce permanece

comigo até hoje, e nunca vou ler a passagem

sem associar com ela os enunciados tranquilos

e sinceros daquele eminente homem de Deus ."

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Na discussão de cada assunto, é de grande

importância averiguar, e fixar com precisão, o

significado dos termos pelos quais ele é

expressado. Mais especialmente nos casos em

que, como no presente caso, a palavra principal

adquiriu, pelas mudanças de tempo e pelos usos

da sociedade, mais do que um sentido. Nos

tempos modernos, a palavra amor, geralmente

traduzida por caridade, é muitas vezes

empregada para significar esmola - uma

circunstância que tem jogado uma obscuridade

parcial sobre muitas passagens da Escritura, e

levou, na verdade, à mais grosseira perversão da

verdade Divina e à circulação dos erros mais

perigosos. Neste tratado substituiremos a

palavra caridade, pela palavra AMOR, que é uma

tradução correta do original.

De que tipo de amor o apóstolo trata? Não de

amor a Deus, como é evidente em todo o 13º

capítulo de I Coríntios, pois as propriedades

aqui enumeradas não têm referência direta a

Jeová, mas se referem em cada caso ao homem.

É uma disposição, fundada, sem dúvida, no

amor a Deus - mas não é a mesma coisa.

Nem é, como alguns têm representado,

meramente o amor dos irmãos. Sem qualquer

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dúvida, estamos sob obrigações especiais de

amar aqueles que são filhos de Deus e co-

herdeiros conosco em Cristo. "Este é o meu

mandamento", diz Cristo, "que vos ameis uns aos

outros." "Nisto conhecerão todos os homens que

sois meus discípulos, se vos amardes uns aos

outros". Nossos irmãos em Cristo devem ser os

primeiros e mais queridos objetos de nossa

consideração. O amor a eles é o distintivo do

discipulado - a prova, tanto para nós quanto para

o mundo, de que passamos da morte para a vida.

E embora devamos "fazer o bem a todos os

homens", ainda assim devemos considerar

especialmente "a família da fé". Mas, ainda

assim, o amor dos irmãos como tal, não é a

disposição que aqui é especificamente

recomendada - embora ele esteja incluído nela.

Um dever muito mais abrangente é

estabelecido, que é o AMOR À HUMANIDADE

EM GERAL. Esta benevolência não se detém em

seres inteligentes, mas sai adiante com toda boa

vontade para a criação animal - a todos os seres

que são capazes de prazer ou dor. Certamente

no amor que é o cumprimento da lei, deve ser

compreendida aquela Misericórdia que faz com

que o justo considere a vida e o conforto de seus

animais, uma vez que esta é uma parte da

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bondade moral que Deus julgou oportuno

aprovar, mas neste capítulo o apóstolo se limita

aos objetos de nossa benevolência à

humanidade.

Como prova disso, refiro-me à natureza dos seus

exercícios. Não se refere tanto aos não

convertidos quanto aos convertidos, aos

incrédulos quanto aos crentes? Não somos tão

obrigados a ser mansos e bondosos, humildes,

perdoadores e pacientes para com todas as

pessoas, como somos para com nossos irmãos?

Ou, podemos ser invejosos, apaixonados,

orgulhosos e vingativos para com os

incrédulos? Basta considerar as operações e os

efeitos do amor aqui descritos e lembrar que são

tão necessários na nossa interação com o

mundo, como com a igreja, e perceberemos de

imediato que é o amor a todas as pessoas, que é

o assunto deste capítulo. Nem este é o único

lugar onde a "filantropia universal" é

recomendada. O apóstolo Pedro, na sua cadeia

de graças, fala deste último elo, e distingue-o da

"bondade fraterna", à qual, ele acrescenta o

"amor". A disposição inculcada neste capítulo é

o amor que Pedro nos ordena acrescentar à

bondade fraterna, é, de fato, o próprio estado de

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espírito que é o resumo da segunda tábua da lei

moral: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo."

O temperamento tão bem posto por Paulo é uma

exposição muito viva, luminosa e eloquente

deste resumo do dever para com o próximo, que

nos é dado pelo Senhor.

Seria estranho, na verdade, se o cristianismo, o

mais perfeito sistema de dever, assim como de

doutrina que Deus jamais deu ao mundo, não

contivesse nenhuma injunção para cultivar um

espírito de amor geral e de boa vontade.

Estranho, de fato, se esse sistema que se eleva

sobre a terra com o aspecto sorridente da

benevolência universal, não respirasse seu

próprio espírito nos corações de seus crentes. É

estranho, de fato, que, se Deus amou o mundo e

Cristo morreu por ele, que o mundo em

nenhum sentido deveria ser objeto de

consideração cristã. É estranho, de fato, que as

energias, os exercícios e as propensões da

verdadeira piedade fossem confinados dentro

dos limites estreitos da igreja, e não se

permitissem excursões nas regiões

amplamente estendidas que se encontram além

e não ter simpatia pelos milhões incontáveis

pelos quais estas regiões são povoadas. Teria

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sido considerado como um vazio no

cristianismo, como um abismo profundo e

amplo, se a filantropia não ganhasse lugar, ou

apenas uma pequena parcela, em meio a seus

deveres. E essa omissão sempre deveria ter

apresentado uma falta de harmonia entre suas

doutrinas e seus preceitos, um ponto de

dissimilaridade entre a perfeição do caráter

divino e a necessária completude do caráter

humano.

Aqui está, então, a disposição inculcada - um

espírito de amor universal; uma boa vontade

para com a humanidade; um prazer na

felicidade humana; um cuidado para evitar o

que quer que diminua, e fazer o que quer que

aumente a quantidade da felicidade da

humanidade; um amor que não se limita a

nenhum círculo, que não é restringido por

parcialidades, nem amizades, nem relações; em

torno das quais nem os preconceitos, nem as

aversões pessoais são capazes de traçar uma

fronteira; que se realiza como objetos próprios,

amigos, estranhos e inimigos; que não exige

nenhuma qualificação de ninguém, senão que

seja um ser humano; e que procura o homem

onde quer que ele seja encontrado. É uma

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afeição que liga seu possuidor a toda a sua raça,

e faz dele um bom cidadão do universo.

Devemos possuir afeições domésticas, tornar-

nos bons membros de uma família, devemos ter

os princípios mais amplos do patriotismo, para

nos tornar bons membros do Estado - e, pela

mesma razão, devemos possuir a benevolência

universal, para nos tornar bons membros de um

sistema que compreende toda a raça humana.

Esta é a virtude universal - o único princípio

simples, do qual tantas e tão belas ramificações

de santa benevolência evoluem! Todos os atos

de amor, tão bem descritos pelo apóstolo,

podem ser traçados até este prazer de felicidade

- todos eles consistem em fazer o que vai

promover o conforto dos outros, ou em não

fazer o que impedirá a sua paz - se eles

consistem em propriedades passivas ou ativas,

elas têm uma influência direta no bem-estar

geral da sociedade.

Mas, embora representemos esse amor como

um princípio de benevolência universal,

observamos que, em vez de satisfazer-se com

"mera especulação sobre a desejabilidade do

bem-estar do todo", ou com meros bons votos

para a felicidade da humanidade em geral - em

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vez daquele sentimentalismo indolente, que

converteria sua incapacidade em beneficiar o

grande corpo em uma desculpa para fazer o bem

a nenhum de seus membros, o verdadeiro amor

cristão exercerá as suas energias e envolverá as

suas atividades para as que estão ao seu alcance.

Se pudesse tocar as partes extremas, mas como

isso não pode ser feito, exerce uma influência

benéfica sobre as que estão próximas, a sua

própria distância da sua esfera de ação será

sentida como um motivo para maior zelo na

promoção do conforto de tudo o que pode ser

contíguo, e considerará que a melhor e única

maneira de alcançar o último, é por um impulso

dado ao que é adjacente.

O verdadeiro amor cristão verá cada indivíduo

que tem a ver com ele, como um representante

de sua espécie, e considerá-lo-á como

oferecendo fortes reivindicações, tanto por sua

própria conta, e em razão de sua raça. Para

todos, ele manterá um sentimento de boa

vontade, uma preparação para a atividade

benevolente, e para aqueles que entram na

esfera de sua influência, ele vai adiante agindo

com bondade.

Como a pupila de um olho, o verdadeiro amor

cristão pode dilatar-se para ver, embora de

modo obscuro, toda a perspectiva, ou pode

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restringir sua visão e concentrar sua atenção

em cada objeto individual que vem sob sua

inspeção. As pessoas com as quais conversamos

e agimos diariamente são aquelas em que nossa

benevolência deve primeiro e mais

constantemente se expressar, porque essas são

as partes do todo, que nos dão a oportunidade de

exercer nossa filantropia universal. Mas, não

deve ser confinada a eles, nem no sentimento,

nem na ação, pois, como temos oportunidade,

devemos fazer o bem a todos os homens e enviar

os nossos benéficos cumprimentos à grande

família da humanidade.

Nem devemos confundir esta virtude com uma

"mera amabilidade natural de disposição".

Muitas vezes é o nosso testemunho de uma

espécie de bondade, que, como a pintura ou a

escultura, tem uma semelhança muito próxima

do original, mas que ainda é apenas uma

imagem ou uma estátua, e não tem o princípio

misterioso da vida. Daquela mera boa vontade

para o homem, que mesmo os povos não

convertidos podem possuir - o amor descrito

pelo apóstolo difere nos seguintes detalhes:

1. O amor cristão é um dos FRUTOS DA

REGENERAÇÃO. "O fruto do Espírito é amor". A

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menos que um homem nasça do Espírito - ele

não pode fazer nada que seja espiritualmente

bom. Somos por natureza corrompidos e

profanos; destituídos de todo amor a Deus; e até

que sejamos renovados pelo Espírito Santo no

espírito de nossa mente, não podemos fazer

nada bem para agradar a Deus. "Se alguém está

em Cristo, é uma nova criatura", e este amor é

uma parte da nova criação. É no sentido mais

estrito do termo, uma santa virtude, e um

grande ramo da própria santidade, pois o que é

santidade, senão amor a Deus e amor ao

homem? E sem essa mudança anterior que é

denominada de ser "nascido de novo", não

podemos amar mais o homem como devemos

fazer, do que podemos amar a Deus. A graça

divina é essencialmente necessária para a

produção e exercício da filantropia cristã, assim

como para a piedade, e a primeira não é menos

uma parte da religião verdadeira do que a

segunda. O amor é a natureza divina, a imagem

de Deus; que é comunicada à alma do homem

pela renovação da influência do Espírito Santo.

2. O amor cristão é o EFEITO DA FÉ. Por isso, o

apóstolo diz: "Em Cristo Jesus, nem a

circuncisão nada aproveita, nem a

incircuncisão, mas a fé que age por amor". E por

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outro inspirado escritor é representado como

uma parte da superestrutura que é levantada

com base na fé, "Adicione à sua fé o amor". É

certo que não pode haver relação com o

homem, que não resulte da fé em Cristo. É a

crença da verdade que faz o amor ser sentido

como um dever, e que traz à mente os grandes

exemplos, os poderosos motivos, fornecidos

pelas Escrituras para promover seu exercício.

Nada espiritualmente excelente pode ser

realizado sem fé. É somente pela fé que tudo o

que fazemos é verdadeira e devidamente

piedoso. A fé salvadora é o princípio cristão

identificador, separado do qual, qualquer que

seja a excelência que os homens possam exibir,

é mera moralidade. Pela fé nos submetemos à

autoridade da lei de Deus, pela fé estamos

unidos a Cristo, e "recebemos da sua plenitude e

graça sobre graça". Pela fé contemplamos o

amor de Deus em Cristo; pela fé nossa conduta

torna-se aceitável a Deus através de Cristo.

3. O amor cristão é exercido em obediência à

autoridade da Palavra de Deus. O amor cristão é

um princípio, e não apenas um sentimento. O

amor cristão é cultivado e exercido como um

dever, e não apenas a cessão a um instinto

generoso. O amor cristão é uma submissão ao

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mandamento de Deus, e não apenas uma

indulgência de nossas próprias propensões. O

amor cristão é o constrangimento da

consciência, e não apenas o impulso da ternura

constitucional. O amor cristão pode ser, e

muitas vezes é encontrado, onde não há

suavidade natural, ou amabilidade de

temperamento. Onde a suavidade e a

amabilidade naturais já existem, o amor cristão

crescerá com maior rapidez, e se expandirá para

maior magnitude, e florescerá em maior beleza.

Mas, o amor cristão pode ainda ser plantado em

uma situação menos agradável, e prosperar, em

obediência à lei de sua natureza, entre

esterilidade e rochas.

Multidões, que não têm nada de

sentimentalismo em sua natureza, têm amor ao

homem. Elas raramente se derretem em

lágrimas ou se inflamam em êxtase, mas podem

ter toda energia e atividade para o alívio da

miséria e para a promoção da felicidade

humana - seu temperamento mental

compartilha mais com o frígido do que com o

tórrido, As estações de verão da alma são curtas

e frias. Mas, ainda, em meio a seu inverno suave,

e mesmo encantador, o amor, como a rosa,

floresce na fragrância e na beleza. Esta é sua

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regra - "Deus me ordenou amar meu próximo

como a mim mesmo, e em obediência a ele, eu

restringirei as minhas tendências pecaminosas

naturais, e perdoarei as ofensas, e aliviarei as

misérias, e construirei o conforto, e ocultarei as

falhas de tudo ao meu redor."

4. O amor cristão é fundado sobre, e cresce do

amor a Deus. Devemos amar a Deus por sua

própria causa, e os homens por amor a Deus.

Nosso Senhor estabeleceu isto como a ordem e

o governo de nossas afeições. Nós devemos

primeiro amar a Deus com todo o nosso coração,

e alma, e mente, e então nosso próximo como a

nós mesmos. Agora, não pode haver afeição

religiosa apropriada para o próximo, que não

brote de suprema consideração para com Jeová,

pois nosso amor ao próximo deve respeitá-lo

como descendência e obra de Deus - "Todo

aquele que crê que Jesus é o Cristo é um filho de

Deus, e todo aquele que ama o Pai também ama

seus filhos". Além disso, como devemos exercer

esta disposição em obediência à autoridade de

Deus, e como nenhuma obediência à sua

autoridade pode ser valiosa em si, ou aceitável

para ele, que não seja uma operação de amor,

nenhuma bondade para com o próximo pode vir

até a natureza do dever aqui ordenado, que não

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surge de um estado de coração apropriado para

com Deus.

Separados de Deus, as coisas que os homens

amam são seus ídolos.

Recordemos, pois, que o belo edifício da

filantropia que o apóstolo levantou neste

capítulo tem por fundamento uma suprema

consideração pelo grande e bendito Deus. A

maior bondade e simpatia - a compaixão mais

terna, unida à mais generosa liberalidade, se

não descansar no amor de Deus, não é o

temperamento aqui exposto, não é a graça que

tem o princípio da imortalidade em sua

natureza, e que viverá e florescerá na

eternidade, quando cessará a fé e a esperança.

A "excelência humana", por mais nobre que seja,

e o bem que possa difundir sobre os outros, ou

qualquer glória que possa trazer em torno de si

mesma, se não for santificada e sustentada por

este santo princípio, é corruptível e mortal e não

pode habitar na presença de Deus, nem existe

entre as glórias da eternidade, mas é apenas a

flor da erva que deve murchar na repreensão do

Todo-Poderoso. Por falta deste princípio vital e

essencial de toda a verdadeira religião, quanto

de compaixão amável e de terna atenção às

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desgraças da humanidade - o quanto de

bondade e benevolência ativa é diariamente

gasto, que, embora renda a seu amável, embora

incrédulo autor, muita honra e deleite, não tem

o peso de uma pena nas escalas de seu destino

eterno!

5. Esta disposição de amor cristão é alimentada

em nossos corações por um sentimento do

amor de Deus em Cristo Jesus para conosco.

Há esta peculiaridade na moralidade do Novo

Testamento - ela é imposta pela consideração da

Divina Bondade para conosco. Não que qualquer

motivo seja absolutamente necessário para

fazer com que um mandamento seja vinculado à

nossa consciência, além do direito de Deus de

emiti-lo, a obrigação do dever é completa, na

ausência de qualquer outra consideração além

da autoridade legítima do comando. Mas, como

o homem é uma criatura capaz de ser movido

por apelos à sua gratidão, bem como por

motivos dirigidos a seus medos, é tanto sábio e

condescendente por parte de Jeová, assim, lidar

com ele, e "fazê-lo disposto no dia de seu poder".

Ele não só nos conduz pela força de seus

terrores, mas nos atrai pelas cordas de seu

amor!

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O grande incentivo evangélico à mútua afeição entre o homem e o homem, é o amor de Deus

em Cristo Jesus para conosco. Deus nos recomendou e manifestou seu amor para nós de

uma maneira que encherá a imensidão e a eternidade de espanto - Ele "amou tanto o

mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna!" Esta exposição estupenda de

misericórdia divina é apresentada pelos escritores sagrados, não só como fonte de forte

consolo, mas também como um poderoso motivo para a ação. Não devemos apenas

contemplá-lo com o propósito de alegria, mas também de imitação. Marque o belo raciocínio

do apóstolo João: "Aqui está o amor, não que nós amamos a Deus, mas que ele nos amou, e enviou

o seu Filho para ser o sacrifício expiatório pelos nossos pecados.” Semelhante a isto é também a

inferência de Paulo: "Antes sede bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-

vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.” “Sede pois imitadores de

Deus, como filhos amados; e andai em amor, como Cristo também vos amou, e se entregou a

si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave." (Ef 4: 32-5: 1,2). Quão

forçosa, mas quão terna é essa linguagem! Há um encanto em tal motivo que nenhum termo

pode descrever.

O amor de Deus, então, em sua existência e

invenção desde a eternidade; em sua

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manifestação no tempo, pela cruz de nosso Senhor Jesus Cristo; em sua altura, sua

profundidade insondável, seu comprimento e largura incomensurável, é o grande incentivo

para a afeição universal! Não é o amor de Deus por nós, o suficiente para suavizar um coração

de pedra, e para derreter um coração de gelo? O amor falado no capítulo em consideração, é esse mesmo impulso para com os nossos

semelhantes que nos é dado pela cruz de Cristo. Não é mera benevolência natural, mas é amor

pelo amor de Cristo. Não são as meras operações de um temperamento generoso, mas é o

sentimento que se moveu no seio do apóstolo, quando ele exclamou: "O amor de Cristo nos

constrange!" Não é o sentimentalismo e a amabilidade naturais, mas o amor cristão.

O verdadeiro amor cristão é, por assim dizer,

uma planta que cresce no Calvário, e se

entrelaça para apoio em torno da cruz. Trata-se

de uma disposição que argumenta dessa

maneira: Deus realmente me amou assim, para

dar seu Filho para minha salvação? E ele é

bondoso comigo diariamente por causa de

Cristo? Ele perdoou todas as minhas

transgressões inúmeras e agravadas? Será que

ele ainda, com infinita paciência, suportará

todas as minhas fraquezas e provocações?

Então, o que há, no caminho da afeição de mais

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generoso, eu não deveria estar disposto a fazer,

ou suportar, ou sacrificar, pelos outros? Eles me

ofendem? Deixe-me suportá-los, e perdoá-los,

assim como Deus me suportou, e apagou os

meus pecados! Eles estão necessitados? Deixe-

me ser o primeiro a suprir suas necessidades,

pois quão grandemente Deus supriu as minhas!

Eis aqui o amor - o sentido profundo do amor de

Deus para conosco, que nos mostra a

necessidade, a razoabilidade, o dever de ser

bondoso com os outros, o sentimento de um

coração que, trabalhando sob o peso de suas

obrigações para com Deus e encontrando-se

demasiado pobre para estender sua bondade a

ele, olha ao redor, e dá a expressão de sua

gratidão exuberante em atos de bondade para a

humanidade.

6. O amor cristão é aquela boa vontade para os

homens que, enquanto seu objeto imediato é o

bem-estar de nossos semelhantes, é, em última

instância, dirigido à glória de Deus.

É a característica sublime de toda virtude

verdadeiramente cristã, que quaisquer fins

inferiores que ela possa buscar, e através de

qualquer meio intermediário que possa passar,

é direcionado em última instância ao louvor de

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Jeová! Pode apresentar suas excelências diante

dos olhos admiradores dos mortais, e exercer

suas energias para a sua felicidade, mas não

para atrair seus aplausos, nem para aumentar

sua estima - deve ser seu maior objetivo. A regra

de nossa conduta, quanto ao seu fim principal, é

assim explícita e abrangentemente

estabelecida: "Se, portanto, você come ou bebe,

ou o que quer que você faz - faça tudo para a

glória de Deus!" Este não é um mero conselho,

mas um mandamento - e é um mandamento

que se estende a toda a nossa conduta. Glorificar

a Deus é agir de modo que sua autoridade seja

reconhecida e confirmada por nós no mundo,

deve ser vista submetendo-se à sua vontade, e

comportando-se de modo que a sua Palavra e os

caminhos sejam melhor pensados pela

humanidade. Nossas ações devem parecer ter

uma referência a Deus, e sem isso, elas não

podem participar do caráter da verdadeira

religião, por mais excelentes e benéficas que

elas possam parecer em si mesmas.

Mas, talvez, essa disposição da mente seja

melhor ilustrada mostrando um exemplo dela, e

onde encontraremos um adequado para nosso

propósito? Todas as mentes, talvez,

imediatamente se voltem para AQUELE que era

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o amor encarnado, e poderíamos, de fato,

apontar para cada ação de sua carreira

benevolente, como uma exibição da mais pura

filantropia. Mas, como o seu exemplo será

considerado a seguir, vamos selecionar um de

homens de semelhantes paixões com nós

mesmos, mas temos de ir para ele para "a

câmara onde o homem piedoso encontra o seu

destino", e não para os resorts dos saudáveis e

ativos, pois parece que as belezas mais

brilhantes deste amor foram reservadas, como

as do pôr-do-sol, para a véspera de sua partida

para outro hemisfério.

Quantas vezes vimos o cristão moribundo, que

durante uma longa e mortal doença exibiu, à

beira do céu, algo do espírito de um imortal

glorificado! As fraquezas naturais de

temperamento que o acompanhavam pela vida

e que às vezes diminuíam o brilho de sua

piedade, perturbavam sua própria paz e

diminuíam o prazer de seus amigos - todos

haviam partido ou mergulhado na sombra

dessas santas graças que então sobressaíam em

alívio audacioso e comandando sobre sua alma.

Os raios do céu que agora caem sobre o seu

espírito se refletiam não só na fé, que é a

confiança das coisas não vistas - não só na

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esperança que entra no véu - mas no amor que é

o maior na trindade das virtudes cristãs.

Quão manso de coração ele parecia, quão

inteiramente vestido de humildade! Em vez de

se ensoberbecer com qualquer coisa própria, ou

de proferir uma única expressão jactanciosa,

era como uma ferida em seu coração ouvir

alguém lembrá-lo de suas boas ações ou

disposições. E ele pareceu a seus próprios olhos

menos do que nada, enquanto, como seu

emblema, o sol poente, ele se expandia cada

momento em maior magnitude, à vista de cada

espectador. Ao invés de invejar as posses ou as

excelências de outros homens, era agradável ao

seu espírito que outros fossem assim

enobrecidos. Como ele é bom para seus amigos!

E quanto aos inimigos, ele não tinha nenhum -

toda a animosidade tinha morrido em seu

coração. Ele perdoou tudo o que era

manifestamente mau, e gentilmente

interpretou tudo o que era apenas

equivocadamente assim. Nada vivia em sua

lembrança, quanto à conduta dos outros - senão

seus atos de bondade. Quando a notícia chegou

ao seu ouvido da má conduta daqueles que

tinham sido seus adversários, ele se afligia em

espírito - mesmo quando se alegrava quando era

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contado de seus inimigos que eles voltaram à

estima pública por atos de excelência. Suas

próprias opiniões apareceram sob a influência

de seu amor, e, assim desejava o bem, acreditava

no bem, ou esperava o bem - de muitos dos quais

antes pensara mal. Sua mansidão e paciência

eram tocantes, sua bondade indescritível - o

problema que ele deu, e os favores que recebeu,

tirou lágrimas de seus próprios olhos; e foram

reconhecidos em expressões que tiraram

lágrimas de todos os lados. Havia uma ternura

inefável em sua aparência, e suas palavras eram

os próprios acentos de bondade. Ele era um

padrão de todas as virtudes passivas, e tendo

assim jogado fora muito que era da terra, vestiu

o amor como uma veste, e se vestiu para o céu,

em seu leito de dor, de onde ele partiu para estar

com Cristo, e estar para sempre perfeito no

amor.

Havia um homem em quem isso foi realizado, e

alguns extratos de sua inestimável memória

irão provar isso, eu me refiro ao Sr Scott, o autor

do famoso Comentário Bíblico.

"Sua mente", diz seu biógrafo, "habitava muito

no amor, parecia cheia de ternura e afeição a

todos ao seu redor." Uma evidência, disse ele,

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tenho de mansidão para o céu, sinto muito amor

por toda a humanidade, por todos os homens da

terra, aos que mais se me opuseram e me

caluniaram." Ele disse ao seu servo: "Eu te

agradeço por toda a tua bondade para comigo.

Se em algum momento eu fui apressado ou

tardio com você, me perdoe - e lance a culpa

sobre mim, não sobre a verdadeira religião.”

Em tal estado de sofrimento extremo, sua terna

afeição por todos nós foi espantosa, e nos cortou

o coração. Ele implorou a seu assistente para

perdoá-lo, se ele tivesse sido ocasionalmente

áspero e cortante. Eu quis dizer para o seu bem,

mas, como tudo o que é meu, foi misturado com

o pecado, não o atribua, no entanto, à minha

religião, mas à minha falta de religião

verdadeira. Ele era tão gentil e amoroso - era tão

deleitável atender a ele, que os empregados,

preocupados com o que poderia acontecer a ele

em sua agonia, concordaram em vigiá-lo por

turnos, de modo que cada um poderia ter sua

parte devida do prazer e benefício, e ainda ele

estava implorando continuamente o nosso

perdão por sua falta de paciência e gratidão. Sua

bondade e afeição a todos os que se

aproximaram dele foram levadas ao mais alto

nível e mostraram-se em uma atenção

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singularmente minuciosa a todos os seus

sentimentos individuais, e o que poderia ser

para seu conforto, a um grau que era bastante

afetador - especialmente quando ele estava

sofrendo tanto muitas vezes na mente, bem

como o corpo.

Houve uma ausência surpreendente de

sentimentos egoístas - mesmo nas piores horas,

pensou na saúde de todos nós, observou se nos

sentávamos por muito tempo, insistia em nos

dar descanso e estava com muito medo de nos

machucar ou ferir de qualquer maneira.

Alguém disse alguma coisa elogiando o seu

Comentário - "Ah!", ele falou, "você não sabe que

tenho um coração orgulhoso, e como você ajuda

o Diabo." Ele também disse: "Aos que me

caluniaram muito, eu não posso sentir qualquer

ressentimento, só posso amá-los e compadecer-

me deles, e orar pela sua salvação, nunca senti

nenhum ressentimento por eles, lamento não

ter mais ardentemente desejado e orado pela

sua salvação.

Podemos conceber uma exemplificação mais

bela da virtude que estou descrevendo? E esse é o temperamento que todos devemos buscar.

Este é o amor, misturado com todos os nossos hábitos de vida, difundido através de toda a

nossa conduta, formando nosso caráter,

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respirando nossos desejos, falando em nossas palavras, irradiando em nossos olhos - em suma,

uma parte viva de nosso ser. E isso, seja lembrado, que a verdadeira religião é religião

prática. " E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência,

e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.” (1 Coríntios 13: 2).