A era do espírito (ademir xavier)

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Bem vindos à 'Era do Espírito' que traz conhecimento sobre temas na fronteira entre Ciência e Espiritismo.

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Bem vindos à 'Era do Espírito' que traz conhecimento sobre temas nafronteira entre Ciência e Espiritismo.

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Livro III - O Que Acontece Quando Morremos (Dr. Sam Parnia)

"Of course it is happening inside your head, Harry, but why on earth should thatmean that it is not real?" J. K. Rowling, em "Harry Potter and the Deathly Hallows"

O Dr. Sam Parnia é conhecido pesquisador da área médica, especialista emcardiologia, com uma grande virtude: tem interesse declarado pelas ocorrências de'experiências de quase morte' (EQM ou NDE - ver vocabulário abaixo para ostermos comumente usados em inglês). Em seu livro 'O que acontece quandomorremos - Um estudo sobre a vida após a morte', ele nos fornece um relatointeressante de suas primeiras pesquisas no fascinante mundo das experiências dequem esteve a um passo de se encontrar com a 'morte', mas voltou para nos contarcomo é.

Embora o subtítulo sugestivo da edição em português 'um estudo sobre a vida apósa morte', o livro é, em essência, uma introdução ao tema discorrendo de formaparalela como um relato em primeira pessoa do interesse do autor pelo assunto. A'vida após a morte' aqui é uma referência ao curto estado em que passamdeterminados pacientes em coma profundo que descreveram posteriormenteNDEs. Do ponto de vista espírita, uma EQM é um evento de desdobramentoespontâneo causado pela parada cardíaca que revela de forma independente anatureza dual do ser humano.

Divisão de capítulos

O livro está dividido nos seguintes capítulos: 1 - Experiências de quase morte: daantiguidade aos dias atuais; 2 - Organizando o estudo de Southampton; 3 - Como é

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morrer?; 4 - Paradoxo científico; 5 - Compreendendo a mente, o cérebro e aconsciência; 6 - Os ingredientes da vida; 7 - Isso é real; 8 - A Horizon; 9 -Implicações para o futuro.

Faremos alguns comentários breves sobre alguns capítulos, enfatizando o queacreditamos ser mais relevante no que é apresentado pelo Dr. Parnia. O Capítulo 1é, na verdade, uma introdução ao assunto, revelando que, desde cedo(adolescência), o autor teve grande interesse pelas questões relacionadas a"tanatologia". Há poucos relatos de NDE em 'casos da antiguidade' conformerelatado no Capítulo, exceto por uma citação de Platão (*). Os exemplos históricosde eventos de NDE fornecidos são muito mais recentes. Mas o Capítulo 1 não deixade ser interessante, pois o autor faz um resumo das teorias existentes para explicaras NDEs. Antes disso, convém apresentamos grosso modo uma visão cética sobre oassunto:Todas as sensações de espiritualidade que sentimos ocorrem na mente. Oscientistas já provaram esse fato, e afirmam que isso tudo não passa de reaçõesquímicas, falta de oxigênio ou qualquer outro distúrbio mental que provocaalucinações, sensações de expansão da consciência, e outras variedades doschamados " fenômenos espirituais; sendo assim, a viagem para fora do corpopoderia ser explicada como um fenômeno mental....também! (ver Blog 'Crônicasdo Frank')

Para essa crítica, 'todas as sensações de espiritualidade que sentimos ocorrem namente'. As sensações "reais", ocorrem onde? Para muitos que não conseguem seaprofundar na questão, elas ocorrem no mundo externo... Para sabermos se oscientistas "estão realmente provando isso" convém consultarmos Parnia. Elerelaciona nos seguintes grupos as explicações chamadas 'ortodoxas' para ofenômeno: Teoria das alucinações; Teoria do cérebro moribundo (depleção de oxigênio); Teoria do dióxido de carbono; Teoria das drogas (e seus efeitos); Teoria dos receptores químicos do cérebro; Teoria das NDEs como epilepsia do lobo temporal; Teorias psicológicas;Se existisse qualquer consenso aceito para o fenômeno, então não haveriam tantasexplicações propostas. O conjunto de 'explicações não ortodoxas' (na verdade sóexiste uma) é chamada por Parnia de 'teorias transcendentais'. Trata-se daquelaque postula a continuidade da vida após a morte e que explica as NDEs comorelatos de experiências reais passadas pelo indivíduo (NDEr). Das explicaçõesacima, a mais aceita nos meios acadêmicos (e que constantemente se vê colocadacomo uma 'explicação' para os fenômenos pela grande mídia) é a 'teoria do cérebromoribundo' que supostamente explica a NDE como efeito de falta de oxigênio.Entretanto, Parnia vai a fundo na questão e pondera:Do ponto de vista médico, a falta de oxigênio é um problema corriqueiro numhospital. Muitos médicos operando em emergência deparam com o problemafrequentemente, particularmente com pacientes cujos pulmões ou corações nãoestão funcionando muito bem, por exemplo, em casos de asma ou falênciacardíaca. Cuidei de mais de 100 pacientes com falta de oxigênio. Quando os níveiscaem, os pacientes ficam confusos e bastante agitados. Esse 'estado agudo deconfusão', como é conhecido na medicina, é muito diferente da experiência dequase morte. (Parnia, 2008, p. 44)

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Parnia argumenta que as 'teorias químicas do cérebro' (todas baseadas em algumamodificação severa nos níveis de substâncias presentes no tecido cerebral, sejaoxigênio, drogas, receptores químicos etc) não são boas explicações porque elas nãopreveêm as condições em que os NDE ocorrem. Em outras palavras, eventos deNDE não são observados costumeiramente quando essas condições estãopresentes. Experiências de quase morte são eventos singulares, únicos,imprevisíveis, mas com estatística de ocorrência alarmante para seremdesprezados. De nossa parte nos perguntamos: será que isso demonstra que osNDE não são produzidos apenas a partir de condições endógenas (e. g. paradacardíaca etc) mas também exigem fatores externos (independentes do indivíduo)para acontecer? Isso certamente explicaria a aleatoriedade dos eventos.

Quanto as 'teorias psicológicas', elas se aglomeram em torno da tese de que asexperiências seriam supostamente produzidas pela mente como resposta a umasituação potencialmente traumática. Para lidar com a situação, o cérebrosupostamente inventa toda cadeia de eventos relatados pelos paciente que passapor uma NDE. Parnia chama a atenção que muitas teorias simplesmente partem dopressuposto de que os relatos são invenções e alucinações, descartando anomaliasobservadas durante as ocorrências.

O Capítulo 2 (Organizando o estudo de Southampton) é uma descrição algo irônicadas dificuldades de se estudar esse tipo de fenômeno na prática. Nesse capítulo,Parnia descreve com humor sua tentativa frustada de iniciar um estudo das EQMpor meio de cartazes fixados em salas de UTI no hospital de Southampton. A ideia éque, se as visões de NDErs forem reais (no sentido de se referirem a eventosexternos), eles seriam capazes de ver e descrever posteriormente o que está escritonesses cartazes, fixados de forma que os dizeres estavam voltados para o teto. Anarrativa de Parnia mostra que um estudo considerado minimamente 'científico'exige tratar fatores que vão muito além daqueles que se tem quando se manipulacoisas simples de laboratório. Esse é mais um exemplo que mostra que a chamada'metodologia científica', se exportada sem modificações e cuidados a partir defenômenos simples, nunca irá funcionar de forma satisfatória. A cada fenômeno,um método.

Relatos infantis de EQMs

No Capítulo 4 (paradoxo científico), Parnia descreve vários relatos de crianças (comidade que pode chegar a 6 meses de vida) que passaram por experiências de quasemorte. Esses são, para mim, os relatos mais impressionantes. Em muitos desenhosfeitos posteriormente, é possível ver que a criança reproduz a situação de se ver a siprópria fora do corpo, em outro corpo e de se encontrar com outros seres oupessoas, gente 'morta' como elas mesmo relatam posteriormente.

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Desenho infantil como um relato de uma EQM. É possível ver como a criança se vê,estendida sobre a mesa e flutuando acima dela. Fonte: HubPages.

No que consiste esse 'paradoxo científico' ? O Dr. Richard Mansfield, colega deParnia, nos conta um caso de um paciente que sofreu parada cardíaca por mais de20 minutos e permaneceu por 15 minutos totalmente sem assistência deressuscitação. Segundo Mansfield:Quando o vi, ele me contou que tinha visto tudo de cima e descreveu em detalhesabsolutamente tudo o que aconteceu. Disse tudo o que eu tinha dito e feito, comochecar seu pulso, decidir parar com a ressuscitação, sair do quarto, voltar depois,olhar para ele, checar novamente seu pulso e não recomeçar o processo deressuscitação. Ele contou todos os detalhes de forma correta e precisa, o que eraimpossível, uma vez que não apenas ele estava sob parada cardíaca, e nãopossuía pulso durante a parada, mas sequer estava sendo ressuscitado por cercade 15 minutos depois. O que ele me contou realmente me arrepiou, e até hoje eununca havia contado a ninguém porque sabia que não conseguiriaexplicar... (Parnia, 2008, p. 103)

De outra forma, se a consciência é produto da atividade cerebral, como podealguém ficar privado de oxigênio por quase meia hora e se lembrar de detalhesdurante o ocorrido? Se a consciência é simples produto de atividade de circuitosneuronais, como alguém pode ter consciência perfeita de acontecimento quandoseus circuitos neuronais sequer tem energia para cumprir os processos primitivosde controle metabólico? O paradoxo está na consciência anômala adquirida pelopaciente quando da parada cardíaca, consciência que se manifesta inclusive comototal ciência, visão e audição dos eventos ao redor, produzindo informaçãoverificável. Portanto, na medida que se consideram muitos detalhes nos eventos deEQM (ou seja, que se estude a fundo esses fenômenos), descobre-se que elas nãosão meras alucinações ou invenções do cérebro.

O Capítulo 5 (Compreendendo a mente, o cérebro e a consciência) é umaintrodução ao conhecimento presente sobre as teorias de funcionamento do cérebroe da mente. O estilo de Parnia é bastante livre e ele consegue passar de umadescrição autobiográfica para técnica em poucas linhas. Nesse capítulo, o autordiscorre sobre limitações das teorias convencionais do cérebro e adentra no campoda filosofia e de física quântica, esta última entendida como explicação nãoconvencional. O Capítulo 6 (Os ingredientes da Vida) é uma extensão do capítuloanterior e o autor descreve alguns fundamentos de física quântica que ele entendeserem importantes para tentar responder às questões fundamentais. Na verdade,esse capítulo descreve que o que entendemos como 'matéria' não é algo tão material

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ou 'duro' como se pode pensar e que é possível, portanto, que no nível maiselementar, a mente seja formada por outro tipo de coisa.

A realidade

No Capítulo 7 (Isso é real?), Parnia se propõe a discutir métodos ou meios pelosquais seria possível separar uma experiência real de algo imaginário. A maiornovidade na discussão são as propostas de metodologias baseadas em imagensde tomografia que permitem observar em tempo real as áreas que são ativadas nocérebro quando um indivíduo está realizando uma atividade ou simplesmentepensando em algo. Como vimos, a maior parte das teorias ortodoxas para as NDEsparte da hipótese de que as experiências não são reais, mas alucinações. SegundoParnia:Isso é uma maneira bem simplista de se olhar um assunto complexo que precisade mais esclarecimentos e explicações. O que muitos que apoiam este argumentonão mencionam é que exatamente as áreas do cérebro envolvidas com alucinaçõesestão igualmente envolvidas com muitas das experiências 'reais' e 'normais' eemoções como o amor, ódio etc. Por conseguinte, simplesmente identificar essasáreas do cérebro como aquelas envolvidas em EQM não pode nos dizer se sãoexperiências reais ou alucinações. (Parnia, 2008, p. 166)

De outra forma: exames de tomografia do cérebro não permitem que se diferencieexperiências 'privadas' das experiências 'públicas'. Os circuitos neuronais envolvidona atividade de se contemplar uma lâmpada acesa são os mesmos de simplesmenteimaginar ver uma cena com essa lâmpada acesa. Não parecem existir bases emmapeamento neuronal suficientemente seguras para se caracterizar determinadasexperiências como alucinações ou experiências reais. Isso complica bastantemétodos laboratoriais de pesquisa no assunto, já que não é possível diferenciar umcaso de outro e todo o assunto, por essa via, parece muito complexo. Mais uma vezestamos diante de um objeto de estudo que escapa aos métodos presentes depesquisa considerados científicos.

A Horizon (Capítulo 8) é uma fundação criada por Parnia que tem como objetivoapoiar estudos na área de EQM. De certa forma, essa foi a solução encontrada peloautor para dar vazão à pesquisa na área, ainda incipiente ou pouco tolerada pelomeio acadêmico convencional. Há vários projetos em andamento e é bom sempreverificarmos esse link para sabermos das novidades na fascinante área da pesquisadas experiências de quase morte.

Finalmente, no último capítulo (9 -Implicações para o futuro), Parnia faz umresumo do que apresentou anteriormente, traça planos para o futuro e discute asconsequências para a humanidade de uma aceitação global do pós-vida a partir deevidências fornecidas pelas EQMs. Não seria apenas uma nova ciência, mas umarevolução como nunca antes vista:Isto levaria a um estudo objetivo do que comumente é considerado assuntoreligioso e filosófico e, portanto, terminando muitos desacordos e levando, porconseguinte, a uma sociedade muito mais tolerante. Da mesma forma que a

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ciência revolucionou nossa compreensão do mundo externo, ela também poderiarevolucionar nosso entendimento do mundo subjetivo dentro de nós.

De certa forma, isso já está acontecendo. Em síntese, o livro de Parnia é bastanteelucidativo, trazendo discussões e contra argumentos ao ponto de vista céticopadrão de considerar as EQM como meras alucinações. Certamente, as experiênciasde quase morte são uma via alternativa através da qual podemos acessar parte darealidade maior em que estamos envolvidos. Para a imensa maioria dos quepassaram por essa experiência, hoje não há mais dúvidas: elas existem e são reais.

(*) A citação está no livro 'A República', Livro X, última parte onde Platão narra afábula de Er. Parnia não fornece a referência completa. Ver o blog Rotas Filosóficas.

Dados sobre o livro

O que acontece quando morremos - Um estudo sobre a Vida após a Morte.Autor: Sam Parnia (2008).Ed. nacional com tradução de Emanuel Mendes Rodrigues.ISBN: 978-85-7635-360-7Número de páginas: 246.Editora Larrouse, São Paulo, SP.

Vocabulário

NDE (inglês) - 'Near Death Experiences' ou experiências de quase morte (EQM emportuguês) são relatos de vítimas de coma ou 'instâncias de quase morte' (em geralsobreviventes de paradas cardíacas) que mantem entre si determinadascaracterísticas comuns. Dentre as mais marcantes está a de separação docorpo, sensação de grande paz, presença de pessoas já falecidas, visualização deuma luz ou tunel de onde retornam para continuar a presente existência. Aexperiência é descrita como não traumática e de grande impacto na vida dopaciente.NDEr (inglês): É o indivíduo que passa por uma EQM.

Alguns artigos de Parnia e colaboradores(ver www.horizonresearch.org)

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Parnia S, Fenwick P, Near Death Experiences in Cardiac Arrest: Visions of adying brain or visions of a new science of consiousness. Resuscitation 2002 Jan 52,5-11; Parnia S, Fenwick P: Do reports of consciousness during cardiac arrest holdthe key to discovering the nature of consciousness? Medical Hypothesis 2007; Parnia S, Waller D, Yeates R, Fenwick P, A qualitative and quantitative studyof the incidence, features and aetiology of near death experiences in cardiac arrestsurvivors. Resuscitation, Feb 2001 48, 149-156.Outros links

Outra página de referência (em inglês) é a da Near Death Experience ResearchFoundation.

Uma abordagem estatística para a determinação do tempo devida entre encarnações sucessivas.

Durante o 7 ENLIHPE (20/8/2011), tivemos a oportunidade de apresentar otrabalho: "Uma abordagem estatística para a determinação do tempo de vidaentre encarnações sucessivas."

Como se sabe, o Espiritismo introduzido por A. Kardec foi o primeiro movimentoespiritualista no ocidente a compreender a importância da reencarnação. Este é oúnico mecanismo que pode explicar tanto anomalias observadas na personalidadehumana com também fornecer uma visão do mundo mais de acordo com osprincípios de justiça natural e equidade. Portanto, é importante compreender asconsequências da reencarnação não somente para cada um de nós como indivíduos,mas também como um fenômeno social e, principalmente, demográfico.

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Assumindo a reencarnação como uma das leis da Natureza que é válida para todosos seres humanos, ela certamente tem consequências coletivas que apenascomeçamos a vislumbrar.

O objetivo do trabalho foi construir um modelo numérico para calcular o intervalode tempo entre reencarnações sucessivas de uma individualidade humana Otrabalho baseou-se nos seguintes princípios:

1. Existe uma base de tempo única que pode ser usada para determinaro intervalo de tempo entre duas existências (o que chamamos de 'tempo deerraticidade');2. Existe conservação da 'individualidade', isto é, a personalidadehumana sobrevive à morte física e conserva sua consciência (que é, de fato, afonte dessa personalidade). A consciência é conservada em uma unidade nãomaterial (ou incorpórea) chamada 'Espírito' (note a letra maiúscula 'E');3. O Espírito não pode ser 'destruído' (não existe uma 'segunda morte');4. Para cada Espírito está associado um único corpo durante umaencarnação;5. A reencarnação implica na existência de competição entre populaçõesdesencarnadas distintas no mundo espiritual (que distinguimos entre umavizinhança no 'plano físico' e de 'outros planos' ou zonas espirituais distantesda Terra);6. No plano físico (mundo terreno), cada indivíduo nasce de outros dois.Entretanto, no que concerne à origem dos Espíritos, não se conhece omecanismo de seu nascimento. De fato, a origem dos Espíritos é ummistério. Para todos os efeitos, podemos assumir que existe um reservatórioinfinito de individualidades desencarnadas no mundo espiritual (desde queo Universo é infinito);7. A existência humana no plano físico é limitada à vida do corpo físico.Não existe um limite para a existência do Espírito (conforme o princípio#3);

Os princípios estabelecidos acima são baseados em questões dadas pelos própriosEspíritos conforme o 'Livro dos Espíritos' (LE). Por exemplo: o princípio #1 estábaseado na questão LE#224; o princípio #2 em LE-Q#92 e 150; o princípio #3 emLE-Q#83; o princípio #4 em LE-Q#137; princípio #5 em LE-Q#172 e 173;o princípio #6 em LE-Q#81 e, finalmente, o princípio #7 em LE-Q#68.

No trabalho, fizemos várias predições concernentes à maneira como as populaçõesem ambos os planos físico e espiritual interagem, utilizando um conjunto deassunções adicionais sobre o estado atual da população total. Nós finalmentefizemos alguns cálculos numéricos mostrando que o 'tempo de erraticidade' estáoculto na taxa de natalidade da população do plano físico.

O gráfico abaixo mostra a evolução temporal da expectativa de vida no plano físico(esquerda) e o tempo de erraticiadde (direita) em anos para a população brasileirasegundo nosso modelo. Ambos intervalos são dados como função do tempo desde1970 a 2000.

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Como tais predições poderiam ser validadas? Se for possível rastrear uma vidaanterior para um grupo de indivíduos (uma população, digamos de 100 pessoas),encontrando-se a data de falecimento anterior - o que, de certa forma, pode serfeito conforme demonstrou I. Stevenson (1966) - o tempo de erraticidade poderiaser estatisticamente calculado uma vez que a data de nascimento da vida presente éconhecida. Isso abriria a possibilidade de se testar nossas assunções, o quecaracterizaria uma extensão das teorias de dinâmica populacional (só que agoraenglobando componentes desencarnadas).

Tais resultados mostram a fertilidade heurística dos princípios espíritas, que nãosomente admitem a sobrevivência da personalidade à morte física, mas tambémque ela evolui ao longo de muitas vidas no plano físico.

Referências Kardec A. (1857). 'O Livro dos Espíritos'. Há muitas edições (inclusiveeletrônicas) desta obra; Stevenson I. (1966) Twenty Cases Suggestive of Reincarnation. (1966).(Second revised and enlarged edition 1974), University of Virginia Press, ISBN0813908728.

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Considerações sobre as ideias de verdade e controvérsias em torno dosensinos dos Espíritos. I/2

A vaidade de certos homens, que julgam saber tudo e tudo querem explicar a seumodo, dará nascimento a opiniões dissidentes. Mas, todos os que tiverem em vistao grande princípio de Jesus se confundirão num só sentimento: o do amor do beme se unirão por um laço fraterno, que prenderá o mundo inteiro. Estes deixarão delado as miseráveis questões de palavras, para só se ocuparem com o que éessencial. E a doutrina será sempre a mesma, quanto ao fundo, para todos os quereceberem comunicações de Espíritos superiores."O Livro dos Espíritos. [1],Prolegômenos.

Versão modificada de um original publicado no Boletim do GEAE, Ano 08 - Número 367 -1999.

1 - Introdução

Todos aqueles que já tiveram a oportunidade de entrar em contato com conceitosespíritas dificilmente deixaram de se perguntar quanto à natureza e a validade demuitas das informações trazidas pelos mensageiros espirituais. Nesse sentido, érelevante se perguntar quanto aos critérios de aceitação dos ensinos espíritas, sobrecomo deve ser nossa postura diante da propagação, divulgação e grau de validadedesses ensinos. Será que um determinado conceito deve ser aceito absolutamente,sem exame algum, com exclusão daqueles que por ventura possam discordar dele?Será que, por outro lado, devemos sempre manter uma postura reticenciosa, comoque eternamente aguardando uma última palavra ou, o que seria ainda maisrestrito, considerar tais ensinos como meras figuras passadas pelos Espíritos naimpossibilidade de nós, os encarnados, estarmos longe de mais do que seria averdade? Como se dá o consenso com relação a um determinado ensino? Taisquestionamentos podem parecer supérfluos a uma mente excessivamente prática,mas estão provavelmente na raiz de grandes males que afetaram a humanidade.

Sem dúvida, diversos estudos foram feitos desde os primórdios do desenvolvimentoda doutrina com Allan Kardec em torno da validade e aceitação das teses doEspiritismo. No momento histórico da codificação, diante da exuberância dosfenômenos espíritas (a aparecerem espontaneamente em muitas instânciassimultaneamente), Allan Kardec chegou a formulação do critério da concordânciauniversal dos ensinos dos Espíritos. Em termos resumidos tratava-se da aceitaçãode uma determinada tese (em sua maioria relacionada aos princípios básicos)quando apoiada maciçamente pelos Espíritos através de diferentes médiuns nosmais variados lugares. Voltaremos a esse ponto na Parte 3 deste artigo. Essa idéialembra vagamente os critérios de aceitação de conceitos e teorias dentro dasuniversidades e institutos de pesquisa científica. Não seria o caso de uma certa idéia

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ser aceita quando apoiada igualmente por uma variedade de departamentoscientíficos após, muitas vezes, difíceis e laboriosas experimentações? O mesmo sedaria com os princípios espíritas, já que as fontes destes são os Espíritos por meiodos médiuns. A comparação não pode ser estendida indiscriminadamente pois nãosegue daí que toda ideia espírita deva sempre ser sancionada pelo critério daconcordância universal da mesma forma que a aceitação de uma certos pontos deuma teoria científica não precisa ser sancionada por um grande número delaboratórios. Isto, porém, é apenas um ponto de semelhança entre o Espiritismo eas doutrinas da ciência comum. A aceitação dos princípios espíritas está baseadotambém no selo de racionalidade e coerência que ele empresta à sua visão douniverso, algo muito em comum com as teorias das diversas ciências que estudam amatéria e suas manifestações.

Pretendemos aqui enfatizar que tais desenvolvimentos colocam o Espiritismo emuma posição ímpar no cenário das religiões atuais. Para esse fim, é muitointeressante recorrermos à história com o intuito de conhecer melhor como eramaceitos e avaliadas as verdades pelos povos antigos. Analisando especificamente ahistória das religiões (para o mais perto possível do que seria o objeto de estudo doEspiritismo), constatamos o quão difícil e as vezes sanguinolenta pode ser a disputapela aceitação das idéias religiosas. No caso específico da religião católica - com aqual nos encontramos mais próximos culturalmente - é nítida essa dificuldade.Observando a história da Igreja, vemos como foi constante o interesse do PlanoMaior na libertação e engrandecimento da Igreja que, amiúde, se via a braços comdiscussões muitas vezes estéreis e sem interesse para as sociedades ondefloresceram as organizações católicas. A grande conseqüência prática dessesdebates culminava, muitas vezes, com a morte deliberada de tantos outros quechegaram perto demais da "heresia". Ficou famosa, por exemplo, a chamadacontrovérsia ariana no começo do Cristianismo. Do historiador católico EamonDuffy [2] colhemos o seguinte relato:"A consternação de Constantino em face das divisões dos cristãos norte-africanoshaveria de redobrar quando, tendo deposto Licínio, o imperador pagão rival noOriente, ele se mudou para sua nova capital cristã a 'Nova Roma', Constantinopla.Pois as divisões da África nada eram em comparação com a profunda fissura naimaginação cristã que se abrira, no Leste, por iniciativa de Ário, um presbítero deAlexandria famoso por sua austeridade pessoal e pela popularidade entre as freirasda cidade. Ário fora afastado pelo bispo local por pregar que o 'Logos', a Palavra deDeus que em Jesus se fizera carne, não era o próprio Deus, mas uma criaturainfinitamente superior aos anjos, embora como eles criada do nada antes docomeço do mundo. Ele via em tal ensinamento um meio de conciliar a doutrinacristã da Encarnação com a fé igualmente fundamental na unidade divina. Naverdade, essa idéia privava o cristianismo de sua afirmação central segundo a qual avida e morte de Jesus tinham o poder de redimir, pois eram ações do próprio Deus.Contudo, as verdadeiras implicações do arianismo não foram compreendidas depronto, e Ário conseguiu amplo apoio. Mestre de propaganda, angariou a simpatiapopular compondo canções teológicas para serem cantadas por marinheiros eestivadores nas docas de Alexandria. Escapando aos salões eruditos, o debateteológico irrompeu nas tavernas e nos bares do Mediterrâneo oriental.''

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Cabeça representando o Imperador Constantino.

Como foi resolveu o problema de Ário? Na verdade não houve uma soluçãodefinitiva. Na época a solução se materializou no concílio de Nicéia (em 325),convocado pelo imperador. Ainda segundo Duffy:"Nicéia foi o começo, não o fim da controvérsia ariana. A derrota dos adeptos deÁrio havia sido imposta por um imperador decidido a resolver rapidamente ascoisas. Eles foram silenciados, não persuadidos, e, terminado o concílio,reagruparam-se para contra atacar."

É fato conhecido de todos que Constantino considerava a emergente fé cristã umapoderosa força de aglutinação do império romano que estava prestes a desmoronar.Por isso ele via com angústia o debate teológico infindável e, por razões práticas,resolveu impor uma solução. A tradição católica (isto é, a convergência da opiniãodo clero e do laicato crente em torno da interpretação de certos pontos evangélicosa se materializarem como dogmas) foi, portanto, uma lenta e encarniçadaconstrução que se desenvolve até hoje, onde muitas vezes o interesse político eeconômico ditou uma clara delimitação entre o que seria a verdade e a heresia. Nãoforam poucos os movimentos de renovação católicos e de "reforma" (mesmo antesdos protestantes no Século XVI) e, na Idade Média, foram considerados grandes ospapas que se dedicaram vivamente a eles [2]. Os que se admiram de semelhantesmovimentos na atualidade apenas desconhecem a milenar história da Igreja. Comoeram, entretanto, tomadas as decisões em matéria de fé? Onde deveria estar averdade quando dois partidos rivais se insuflavam defendendo cada um sua própriaopinião? Esta era decidida oficialmente e com esperanças para sempre seja a portasfechadas, seja pela aclamação popular, pelo voto dos bispos (concilium) ou pelavontade do papa. Na prática a Igreja se viu obrigada a revisar constantemente seuspontos de vista sobre conceitos marginais ou centrais à fé católica. É importante terem mente que a construção de toda Doutrina Católica (e o aparecimento dosmovimentos de reforma) se guiou em muito pela necessária manutenção da "purezadoutrinária" da crença em Cristo. Não foi senão em função da sustentação de talpureza que se ergueram os tribunais eclesiásticos [2] (Inquisição) por Gregório IXem 1231. Nesse sentido, a Igreja de Roma adquiriu sua fama ao longo do tempo porter se propagandeado livre da heresia (principalmente diante do cisma com a Igrejagrega) e guardiã "da fé dos Apóstolos".

2 - Exemplo da Astronomia.

Compreende-se que na nossa vida comum estamos diante de situações que exigemuma posição prática diante dos fatos. Quando alguém diz: "fulano é casado mas temuma amante mais velha", em geral, a primeira atitude não é a de formulação deteorias que justifiquem ou não a aceitação dessa "verdade". Porque a verificaçãodela é coisa tão ordinária quanto o próprio fato, sua aceitação é muito simples. Não

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se dá o mesmo, porém, com certas noções e concepções do mundo que nos cerca.Muito menos com aquelas que dizem respeito à Doutrina Espírita. Mais uma vezrecorremos a exemplos simples da ciência. A afirmação "a Terra gira commovimento circular em torno do Sol" parece, se aplicarmos o critério de aceitaçãovulgar, uma afirmação livre de ambiguidades.

Sistema Ptolomaico, com a Terra no centro do Universo. (~200)

Nossas mentes formam instantaneamente uma ideia perfeitamente clara de seusignificado. Por mais incrível que pareça, no entanto, sua validade não pode serinferida da mesma forma como no exemplo de frase anterior. Ela não era nem umpouco válida aos povos antigos, porque não era bem isso que eles constatavamquando viam o Sol se levantar e se por todos os dias, em aparente movimentocircular ao redor da Terra. Ela foi a própria expressão da verdade para NicolauCopérnico (1540) na sua nova formulação do sistema do Mundo. Para ele, a Terrasim girava circularmente em torno do Sol.

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Sistema Copernicano (1540) com o Sol no centro do sistema solar.

Ela deixou de ter validade para astrônomos posteriores, em particular JohannesKepler (1630) que descobriu que o movimento, de fato, não era circular mas simelíptico "com o Sol ocupando um dos focos da elipse".

Imagem do Universo revelada por J. Kepler (1630). Os planetas descrevem elipses com o sol ocupando um

dos focos.

Essa última conclusão de Kepler deixou de ser válida com Isaac Newton (1670) esua teoria da gravitação universal. Para Newton (assim como para toda mecânicaclássica que ele fundou), o movimento só seria elíptico se no Universo somente oSol e a Terra existissem. Desde que há outros corpos (não podemos nos esquecer daLua) o movimento passa a ser "perturbado". Muito aproximadamente a Terragiraria descrevendo uma "roseta" ao redor do Sol por causa do "movimento deprecessão dos ápsides" da órbita descrita por ela. Em termos exatos se, porém, noUniverso, existisse mais um corpo além da Terra e do Sol, o movimento daquelajamais seria descrito de uma maneira simples.

Perturbação exercida por um terceiro corpo deforma a trajetória elíptica (1670).

Mais uma vez, porém, essa afirmação deixou de ser válida para Albert Einstein(1905), que descobriu efeitos "relativísticos" não desprezíveis.

Sistema Copernicano (1540) com o Sol no centro do sistema solar.

Ela deixou de ter validade para astrônomos posteriores, em particular JohannesKepler (1630) que descobriu que o movimento, de fato, não era circular mas simelíptico "com o Sol ocupando um dos focos da elipse".

Imagem do Universo revelada por J. Kepler (1630). Os planetas descrevem elipses com o sol ocupando um

dos focos.

Essa última conclusão de Kepler deixou de ser válida com Isaac Newton (1670) esua teoria da gravitação universal. Para Newton (assim como para toda mecânicaclássica que ele fundou), o movimento só seria elíptico se no Universo somente oSol e a Terra existissem. Desde que há outros corpos (não podemos nos esquecer daLua) o movimento passa a ser "perturbado". Muito aproximadamente a Terragiraria descrevendo uma "roseta" ao redor do Sol por causa do "movimento deprecessão dos ápsides" da órbita descrita por ela. Em termos exatos se, porém, noUniverso, existisse mais um corpo além da Terra e do Sol, o movimento daquelajamais seria descrito de uma maneira simples.

Perturbação exercida por um terceiro corpo deforma a trajetória elíptica (1670).

Mais uma vez, porém, essa afirmação deixou de ser válida para Albert Einstein(1905), que descobriu efeitos "relativísticos" não desprezíveis.

Sistema Copernicano (1540) com o Sol no centro do sistema solar.

Ela deixou de ter validade para astrônomos posteriores, em particular JohannesKepler (1630) que descobriu que o movimento, de fato, não era circular mas simelíptico "com o Sol ocupando um dos focos da elipse".

Imagem do Universo revelada por J. Kepler (1630). Os planetas descrevem elipses com o sol ocupando um

dos focos.

Essa última conclusão de Kepler deixou de ser válida com Isaac Newton (1670) esua teoria da gravitação universal. Para Newton (assim como para toda mecânicaclássica que ele fundou), o movimento só seria elíptico se no Universo somente oSol e a Terra existissem. Desde que há outros corpos (não podemos nos esquecer daLua) o movimento passa a ser "perturbado". Muito aproximadamente a Terragiraria descrevendo uma "roseta" ao redor do Sol por causa do "movimento deprecessão dos ápsides" da órbita descrita por ela. Em termos exatos se, porém, noUniverso, existisse mais um corpo além da Terra e do Sol, o movimento daquelajamais seria descrito de uma maneira simples.

Perturbação exercida por um terceiro corpo deforma a trajetória elíptica (1670).

Mais uma vez, porém, essa afirmação deixou de ser válida para Albert Einstein(1905), que descobriu efeitos "relativísticos" não desprezíveis.

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Precessão da órbita elíptica de acordo com a Relatitividade Geral (1905).

Para Einstein, ainda que não existisse nenhum outro corpo no Universo massomente a Terra e o Sol, ainda assim o movimento seria o de uma roseta com umaprecessão dos apsides extremamente lenta para a Terra. A existência de outroscorpos não alteraria muito a descrição de Newton, embora o movimento se tornasseainda mais complexo. Tal exemplo nos mostra o quão difícil é a descrição da"verdade" relacionada ao objeto de pesquisa da ciência ordinária, a matéria. A liçãoque se tira não é a de que certa concepção anterior tenha deixado de ser válida(decretada como "herética" na visão por dogmas) . Ao contrário, as construçõescientíficas presentes fundamentam-se explicitamente naquelas do passado. Paranós a memória dos antigos astrônomos deve ser tão venerável quanto a dos maisrecentes. Mesmo hoje em dia, se quisermos construir um relógio do Sol porexemplo, podemos perfeitamente usar os conceitos antigos que consideravam o Solcomo girando em torno do Terra. Existe erro nisso? Diante de nossa presumívelignorância com relação às questões ainda abertas nas ciências, estamos certamentetão perto da verdade quanto eles. A verificação desse fato não pode ser motivoporém para escândalos, nem para um descrédito para com as ciências. O que se faznecessário é, pois, uma nova concepção de aceitação da verdade, bem comocritérios de compreensão das explicações científicas. A chave que permite essa novacompreensão pode ser conseguida estudando-se um pouco a história das ciênciasassim como os mecanismos pelos quais as concepções científicas surgiram e têmoperado [3].

As teorias científicas representam as construções de raciocínio onde essasconcepções científicas se estabelecem. Não é senão pelo fato de tais conceitosestarem harmonicamente integrados às teorias que sua aceitação torna-se válida.Além disso, as teorias devem fornecer uma visão consistente do universo onde talfenômeno ocorre. Isso implica não só em explicar aquele fenômeno particular, mastambém possíveis efeitos a ele correlacionados. Uma excelente teoria deve alémdisso fornecer as bases para a previsão de fenômenos desconhecidos. Portanto, nãoé a autoridade de um ou de outro cientista que fundamenta a ortodoxia nas ciências

Precessão da órbita elíptica de acordo com a Relatitividade Geral (1905).

Para Einstein, ainda que não existisse nenhum outro corpo no Universo massomente a Terra e o Sol, ainda assim o movimento seria o de uma roseta com umaprecessão dos apsides extremamente lenta para a Terra. A existência de outroscorpos não alteraria muito a descrição de Newton, embora o movimento se tornasseainda mais complexo. Tal exemplo nos mostra o quão difícil é a descrição da"verdade" relacionada ao objeto de pesquisa da ciência ordinária, a matéria. A liçãoque se tira não é a de que certa concepção anterior tenha deixado de ser válida(decretada como "herética" na visão por dogmas) . Ao contrário, as construçõescientíficas presentes fundamentam-se explicitamente naquelas do passado. Paranós a memória dos antigos astrônomos deve ser tão venerável quanto a dos maisrecentes. Mesmo hoje em dia, se quisermos construir um relógio do Sol porexemplo, podemos perfeitamente usar os conceitos antigos que consideravam o Solcomo girando em torno do Terra. Existe erro nisso? Diante de nossa presumívelignorância com relação às questões ainda abertas nas ciências, estamos certamentetão perto da verdade quanto eles. A verificação desse fato não pode ser motivoporém para escândalos, nem para um descrédito para com as ciências. O que se faznecessário é, pois, uma nova concepção de aceitação da verdade, bem comocritérios de compreensão das explicações científicas. A chave que permite essa novacompreensão pode ser conseguida estudando-se um pouco a história das ciênciasassim como os mecanismos pelos quais as concepções científicas surgiram e têmoperado [3].

As teorias científicas representam as construções de raciocínio onde essasconcepções científicas se estabelecem. Não é senão pelo fato de tais conceitosestarem harmonicamente integrados às teorias que sua aceitação torna-se válida.Além disso, as teorias devem fornecer uma visão consistente do universo onde talfenômeno ocorre. Isso implica não só em explicar aquele fenômeno particular, mastambém possíveis efeitos a ele correlacionados. Uma excelente teoria deve alémdisso fornecer as bases para a previsão de fenômenos desconhecidos. Portanto, nãoé a autoridade de um ou de outro cientista que fundamenta a ortodoxia nas ciências

Precessão da órbita elíptica de acordo com a Relatitividade Geral (1905).

Para Einstein, ainda que não existisse nenhum outro corpo no Universo massomente a Terra e o Sol, ainda assim o movimento seria o de uma roseta com umaprecessão dos apsides extremamente lenta para a Terra. A existência de outroscorpos não alteraria muito a descrição de Newton, embora o movimento se tornasseainda mais complexo. Tal exemplo nos mostra o quão difícil é a descrição da"verdade" relacionada ao objeto de pesquisa da ciência ordinária, a matéria. A liçãoque se tira não é a de que certa concepção anterior tenha deixado de ser válida(decretada como "herética" na visão por dogmas) . Ao contrário, as construçõescientíficas presentes fundamentam-se explicitamente naquelas do passado. Paranós a memória dos antigos astrônomos deve ser tão venerável quanto a dos maisrecentes. Mesmo hoje em dia, se quisermos construir um relógio do Sol porexemplo, podemos perfeitamente usar os conceitos antigos que consideravam o Solcomo girando em torno do Terra. Existe erro nisso? Diante de nossa presumívelignorância com relação às questões ainda abertas nas ciências, estamos certamentetão perto da verdade quanto eles. A verificação desse fato não pode ser motivoporém para escândalos, nem para um descrédito para com as ciências. O que se faznecessário é, pois, uma nova concepção de aceitação da verdade, bem comocritérios de compreensão das explicações científicas. A chave que permite essa novacompreensão pode ser conseguida estudando-se um pouco a história das ciênciasassim como os mecanismos pelos quais as concepções científicas surgiram e têmoperado [3].

As teorias científicas representam as construções de raciocínio onde essasconcepções científicas se estabelecem. Não é senão pelo fato de tais conceitosestarem harmonicamente integrados às teorias que sua aceitação torna-se válida.Além disso, as teorias devem fornecer uma visão consistente do universo onde talfenômeno ocorre. Isso implica não só em explicar aquele fenômeno particular, mastambém possíveis efeitos a ele correlacionados. Uma excelente teoria deve alémdisso fornecer as bases para a previsão de fenômenos desconhecidos. Portanto, nãoé a autoridade de um ou de outro cientista que fundamenta a ortodoxia nas ciências

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(com sentido muito diferente daquele usado pelas religiões clássicas). Nunca averdade científica haverá de ser decidida em reuniões a portas fechadas, peladeliberação de conselhos ou organizações ou baseando-se no palpite dos cientistasmais notáveis. É verdade que a opinião de um grande cientista a favor de uma certateoria particular pode pesar muito na orientação das pesquisas futuras, mas talopinião nunca constituirá a teoria.

Vídeo I - 'Visitantes da outra margem' - Fenômenos de Materializaçõesdescritos por Tom Harrison (Inglaterra)

A médium de efeitos físicos Minnie Harrison.

Apresentamos aqui uma sequência de vídeos do arquivo original: Visitors from the'Other Side' (Visitantes da 'outra margem') com legendas emportuguês inseridas por nós. Esses vídeos trazem entrevistas e palestras de TomHarrison (1918-2010, veterano da 2a Guerra Mundial) que testemunhou fenômenosde efeitos físicos produzidos por sua mãe, Minnie Harrison, de 1946 a 1954 nacidade de Middlesbrough, Inglaterra.

Os videos são rico em informações sobre o fenômeno de ectoplasmia, quase todossemelhantes aos casos nacionais conhecidos (Ana Prado, Francisco Lins Peixoto,Antônio Feitosa e Otília Diogo). A mediunidade de Minnie Harisson foi, entretanto,desconhecida no Brasil e mesmo no exterior, posto que sua ocorrência foi poucodivulgada em sua época.

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Atenção:Apresentaremos as traduções legendadas dos filmes não necessariamente emsequência de posts. Os videos serão postados conforme nossa disponibilidade detempo para legendá-los. Aguardem!

Considerações sobre as ideias de verdade e controvérsias em torno dosensinos dos Espíritos. (II/2)

Segunda parte. Para acessar a primeira parte clique aqui.

3 - Analisando o critério da concordância universal.

Se na descrição de um simples fenômeno material somos obrigados a fazer grandesconcessões de tolerância para com aqueles que sustentam opiniões diferentes, imaginemospor um momento a situação com os fenômenos e princípios espíritas. Isso é particularmenteforte se considerarmos que o objeto de estudo do Espiritismo não está sujeito à apreensãodireta pelos sentidos humanos ordinários nem por quaisquer "aparelhos de medida". Issonão significa, porém, que esses fenômenos estão condenados eternamente a sereminexplicáveis, muito menos que seremos sempre impotentes em explicá-los. O que se passacom o Espiritismo (que resulta em sua independência das ciências comuns) é que ele tratade fenômenos pelos quais as ciências não se interessam. As ciências estudam a matéria e oEspiritismo o espírito. Para assegurar o progresso principalmente moral do ser humano,aguardou-se o lento mas inexorável avanço da intelectualidade humana e o conhecimentoespírita foi e tem sido revelado, em função direta dessas mesmas necessidades morais.Diante das dificuldades humanas de se conhecer a verdade (como exemplificadasanteriormente), não é difícil concluirmos que existem claramente limites à revelaçãoespírita.

A fonte primordial da informação espírita são os Espíritos. Mas como se deu aaceitação dessas informações por eles propostas? Vamos aqui analisar brevemente

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o famoso critério da concordância universal (CCU) que muitas pessoas acreditam éa base para a aceitação dos princípios espíritas. Argumentaremos depois que não éo CCU que valida esses princípios. A referência principal sobre esse assunto é aIntrodução ao O Evangelho segundo o Espiritismo [4], Parte II, "Autoridade daDoutrina Espírita". Todas as citações de Kardec feitas a seguir foram extraídasdessa referência. Kardec aponta duas grandes razões para a existência de umcritério de aceitação das informações espíritas:(a) "Garantia para a unidade futura do Espiritismo", com anulação das teoriascontraditórias (Parágrafo 14).(b) "Garantia contra as alterações que poderia sujeitar o Espiritismo às seitas que sepropusessem apoderar-se dele em proveito próprio ou acomodá-lo à vontade."(Parágrafo 16).

Tal critério protege assim os fundamentos do Espiritismo contra enxertias, sejamda parte dos próprios Espíritos (menos esclarecidos) ou dos encarnados. Prevê-seque tais enxertias ocorressem por falha na compreensão e, principalmente,aplicação lógica dos princípios espíritas, fato que a história acabou pordemonstrar. A primeira coisa que notamos é que o CCU foi uma descobertainteligente de Kardec diante do dificílimo problema da autenticidade dasmensagens dos Espíritos. Assim sendo, ele não é resultado do ensino dos Espíritose, portanto, não pode ser tomado como um princípio da doutrina. Analisando areferência citada acima, podemos dizer que o critério tem 3 principaisfundamentos. O Espiritismo não é uma construção humana, ou seja, não é resultado deuma simples teorização em torno de observações e análise de fatos; Os Espíritos têm ampla liberdade de comunicação, o que anula apossibilidade de privilégios na concessão da informação espírita (o que, docontrário, tiraria o caráter "natural" da revelação espírita); Os Espíritos têm diversos graus de evolução. Se a fonte de informaçãoespírita são os Espíritos, a validade das mesmas depende do grau de lucidez queeles possuem em relação aquilo que pretendem informar. Disso vem que nem todosos Espíritos estão igualmente aptos a servir de fonte de informação e daíimediatamente, a necessidade de uma seleção das mesmas.Por razões didáticas, podemos dizer que os três fundamentos acima possibilitamenunciar o que chamariamos de "CCU fraco":Uma garantia existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que exista entreas revelações que eles façam espontaneamente.Existem entretanto condições operacionais (em relação ao caráter das mensagens)para que o CCU seja válido. Essas, por sua vez, se dividem em dois tipos: condiçõesgerais e condições específicas. São condições gerais:

1. "Tudo o que seja fora do âmbito exclusivamente moral" (Final doParágrafo 6);2. Comunicações que tratem dos fundamentos doutrinários: "Vê-sebem que não se trata aqui das comunicações referentes a interessessecundários" (Parágrafo 9).

Ao mesmo tempo, são condições específicas (ver Parágrafo 8):

Que um só médium receba comunicações de diversos Espíritos; Que vários médiums diferentes (em um certo grupo ou em vários lugares)recebam comunicações de diversos Espíritos.Ocorre aqui porém que se tanto na situação (I) como em (II) houver a incidência deobsessão (incluenciação negativa por parte da fonte original da informação), a

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aceitação do CCU fraco não é possível. Disso resulta o que chamaríamos de CCUforte:"Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que hajaentre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grandenúmero de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares". (Parágrafo 9).

Ao CCU fraco é assim acrescentada a exigência de repetibilidade geográfica emediúnica de uma certa informação. Poderíamos ainda adicionar uma necessidadede confirmação temporal da informação, isto é, de que uma dada tese referente aum princípio se confirme ao longo do tempo. Isso ocorreu diversas vezes durante acodificação. Do ponto de vista histórico, Kardec parece também ter sido o único aaplicar o CCU forte:"Na posição em que nos encontramos, a receber comunicações de perto de milcentros espíritas sérios, disseminados pelos mais diversos pontos da Terra,achamo-nos em condição de observar sobre que princípio se estabelece aconcordância".(Parágrafo 13).

A razão de ser do CCU fraco é que ele parece ser válido desde que os médiuns nãoestejam sob efeito de Espíritos mistificadores (obsessão etc). A exigência do CCUforte foi cumprida plenamente no momento da codificação por conta da enormeabundância de fenômenos espontâneos ocorridos na época. As condições geraisenunciadas por Kardec (condições 1 e 2) são de crucial importância para seentender a aplicação do CCU. De fato, não tem muito sentido exigir um critério deconcordância (seja por vários médiuns ou através várias instâncias temporais) comas comunicações pessoais de Espíritos familiares por exemplo. Seria mesmoridículo exigir que os Espíritos se comunicassem por médiuns diferentes apósfornecerem muitas vezes provas indubitáveis de que são eles mesmos que seapresentam a determinado médium. As especificidade da mensagem dita assim ograu de recorrência ao CCU. O grau de obviedade com que constatamos aconcordância dos Espíritos esclarecidos em relação às questões morais é o quefundamenta a condição geral (A). Suprimir tal condição é equivalente a dizer que oCCU (na forma forte) sempre foi operacional com relação às questões morais.Parece assim ser importante compreender exatamente o que se entende por pontosfundamentais e pontos secundários, coisa que fazemos brevemente a seguir.

4 - O que são pontos fundamentais e o que são pontos secundários.Exemplos.

Por Doutrina Espírita entendemos o conjunto de princípios fundamentais quesistematizam o Espiritismo, as regras de aplicação desses princípios às diversassituações e fenômenos em que ele representa uma alternativa lógica e racional deexplicação. Também a essa doutrina estão associados os diversos conjuntos depreceitos e regras éticas que caracterizam a conduta espírita na mais pura acepçãoda palavra. Por promoverem o progresso da alma humana, tais regras fortalecem asrelações deste com a Divindade, de onde deriva imediatamente o aspecto religiosodo Espiritismo.

De modo resumido os princípios fundamentais do Espiritismo são:1. Existência de Deus. Deus aqui entendido como um ser existente detoda eternidade, sem princípio nem fim, todo poderoso e bom. Sem tentardescrever o impossível, tais atributos são, digamos, os mínimos necessáriospara a noção da Divindade.2. Existência do Espírito. O Espírito aqui é o princípio inteligenteindependente da matéria, a constituir um outro princípio. Por ser

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independente da matéria, o Espírito não sucumbe nem desaparece frente àstransformações desta, de onde se tem a noção da imortalidade do ser.3. Evolução do Espírito. A medida que o tempo transcorre, o estado quecaracteriza o Espírito se transforma. Esse estado dá, por exemplo, ascaracterísticas do Espírito. Da faculdade que o Espírito tem de interagir coma matéria, ele passa por transformações que modificam sua personalidade ecaracterísticas. Essa evolução leva ao aprimoramento moral do ser e de suainteligência. No homem, o período de tempo necessário para oaprimoramento é muito maior que o tempo de vida médio de sua vidamaterial. Daí segue, como corolário desse princípio, a idéia dereencarnação.4. Comunicabilidade dos Espíritos. É possível ao Espírito, desprovidoda parte material, entrar em comunicação com o mundo material por meiode pessoas dotadas de uma faculdade especial chamada mediunidade.5. Pluralidade dos mundos habitados. No Universo são inúmeros osmundos onde a vida é abundante, e os Espíritos, segundo semelhantesprincípios, evoluem e têm sua existência mais ou menos material de acordocom o progresso atingido.

Os princípios fundamentais estão todos eles contidos nas obras básicas editadas porKardec. Essas obras também trazem idéias secundárias que auxiliam a explicaçãoespírita do mundo segundo os princípios fundamentais. Além disso, a vastaliteratura espírita contemporânea também contém inúmeras obras quedesenvolvem substancialmente a aplicação dos princípios fundamentais e, porquenão dizer, propõem princípios secundários novos. Esse fato é permitido pelo caráterprogressista da doutrina, e os que teimam em não aceitá-lo estão, de fato, atrasandoa marcha desse progresso. Vejamos um exemplo concreto que nos auxilie nesseponto. Suponhamos que um certo Espírito proponha uma modificação na lei III deevolução afirmando que a marcha de desenvolvimento do Espírito não é incessantemas que, em determinado ponto de sua vida maior, seja permitido por lei aoEspírito estacionar. Não é difícil ver que semelhante idéia depõe contra váriosoutros princípios e leva imediatamente a uma contradição com a noção de livre-arbítrio pois, se ao Espírito é possível estacionar, ele não tem, por lei, nenhumaresponsabilidade sobre seus atos durante o período de falta de progresso. Essa idéiadeve ser rejeitada por estar em contradição com uma série de noções que protegemos fundamentos da doutrina.

Tomemos agora um exemplo de uma controvérsia no movimento espírita queilustra bem as dificuldades de compreensão dos princípios espíritas e do ensino dosEspíritos. Trata-se da famosa proposição do elevado Espírito Emmanuel sobre as"almas gêmeas" no seu livro O Consolador [5]. Antes de tudo, conviria considerar

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uma afirmação desse Espírito contida logo na introdução ("Definição") de seuslivro:"Alem do mais, ainda nos encontramos num plano evolutivo, sem que possamos

trazer ao vosso círculo de aprendizado as últimas equações, nesse ou naquele setorde investigação e de análise. É por essa razão que somente poderemos cooperarconvosco sem a presunção da palavra derradeira".

Na questão 298 de "O Livro dos Espíritos" [1], Kardec questiona os Espíritos sobrea idéia das almas gêmeas, entendidas como dois seres unidos desde sua origem epredestinados a se encontrarem fatalmente algum dia. Tratava-se, sem sombra dedúvida, de um ponto secundário, já que os princípios fundamentais nada dizemsobre a criação dos Espíritos (ver questão 78 de "O Livro dos Espíritos"). Alémdisso, a idéia da almas gêmeas não contradiz nenhum outro ponto fundamental.Em "O Consolador", Emmanuel por diversas questões (desde 323-328, "TerceiraParte", "Amor") reafirma a idéia das almas gêmeas, entendidas como seres que sebuscam na Eternidade e cuja existência propicia o progresso aos Espíritos, já queestes, quando separados e caídos no crime anseiam por se encontrar, constituindoisso um incentivo ao seu progresso. Emmanuel, de fato, reconhece sua ignorâncianão só em relação à criação dos Espíritos como também sobre como se estabelece ovínculo afetivo entre eles:"Para todos nós, o primeiro instante da criação do ser está mergulhado num suavemistério, assim como também a atração profunda e inexplicável que arrasta umaalma para outra, no intuito dos trabalhos, das experiências e das provas, nocaminho infinito do Tempo."

Entretanto, inquirido a examinar melhor seus pontos de vista, Emmanuelhumildemente pede seja mantido o texto original, chamando a atenção para acomplexidade do assunto. Esse Espírito sinalizou que ainda estamos longe de ter apretensão à verdade de um tem tão complexo. Por outro lado, se os Espíritos queauxiliaram Kardec, em diversos pontos de "O Livro dos Espíritos", afirmaram que acriação dos Espíritos está mergulhada em um profundo mistério, como poderiamter dado uma resposta definitiva à questão das almas gêmeas? Parece-nos que,nesse caso, bem como em muitos outros, eles haveriam de estar igualmente longede dar uma "resposta derradeira". De qualquer forma, o CCU na forma forte nãopode ser invocado nesse caso por não se tratar de um ponto fundamental. Podemostomar a proposição de Emmanuel como uma opinião pessoal sua, aliás emconformidade com o que vimos que esse Espírito diz na introdução de "OConsolador". Entretanto, certos setores do movimento espírita extremamenteligados à letra e desatentos às sutilezas das idéias de verdade e ensino dos Espíritos(a se aplicarem igualmente para as explicações das coisas materiais), tomaram essecaso como mais um exemplo a depor contra a "pureza doutrinária" do Espiritismoque se imagina poder ser imposta a todo custo.

5 - Conclusões

Não foi senão por uma longa e difícil marcha que a Humanidade, pela colaboraçãode inúmeros luminares da cultura, inteligência e moralidade, conseguiucompreender que a noção de verdade só pode ser formulada dentro de basesestritamente relativas. Acompanhando o progresso das religiões e das ciências(mais notadamente dessas últimas) chegou-se a conclusão que as concepções arespeito das coisas e dos fenômenos do Mundo tem uma grande dependência comas épocas, recursos de pesquisa e tendências culturais dos indivíduos. No estágioem que nos encontramos, jamais poderemos aspirar à verdade absoluta.

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O CCU pode ser invocado como um princípio metodológico que foi aplicado noinício da codificação para estabelecer os fundamentos. Entretanto, não é ele quemvalida esses princípios, como muitos poderiam pensar. Seria o mesmo queacreditar que os princípios que organizam as ciências materiais só valem porque oscientistas neles acreditam, os que são apenas a origem desse conhecimento. Asdoutrinas declaradas de muitas disciplinas científicas tem como fundamento opróprio princípio, muitas vezes inverificável, que deve ser assumido como válido afim de que suas conclusões sejam determinadas. O mesmo pode ser dito sobre avalidade dos princípios espíritas: no fato de gerarem explicações plausíveis everificáveis da Natureza que nos cerca. É a capacidade que os fundamentosespíritas tem em explicar determinadas anomalias que observamos com aspectos dapersonalidade humana e com determinados fenômenos que representam a maiorfonte de validação de sua "comprovação".

Assim, dentro do escopo sobre o que trata a Doutrina Espírita, tais conclusões sãoigualmente válidas. Elas servem ainda mais para reforçar definitivamente nossaextrema pequenez diante do universo em que vivemos, a idéia de que nossaspretensões são ínfimas. Aliás essa já é a opinião emitida por Espíritos elevadosquando inquiridos sobre nosso tamanho nesse universo. Imediatamentetransparece a importante conclusão da inutilidade de quaisquer querelas quevenham se formar ao redor das concepções espíritas, sejam elas fundamentais ousecundárias. Se nos é possível fechar a correspondência com o passado, digamosque a única "heresia" que se pode suspeitar hoje em dia é a da sustentação de taisquerelas contra nossos companheiros muitas vezes dentro do próprio movimentoespírita. Ela é antiética e depõe contra todos os princípios evangélicos que oEspiritismo sustenta abertamente.

Por outro lado, o sentimento de impotência diante da verdade com relação a muitasquestões profundas, não invalida em nenhum ponto os efeitos inquestionavelmentebenéficos em nossas vidas que a aceitação e prática dos princípios espíritas -revelados na medida que podemos compreender - podem gerar. De fato, estaremostalvez muito distantes de compreender por bases racionalmente sólidas princípioscomo o do amor, caridade e misericórdia. A própria evolução onde estagiamos hojedá-nos muito mais capacidade para sentir esses conceitos.

Há uma base sim muito sólida onde se estabelecem os princípios edesenvolvimentos espíritas. Para conquistá-la, o espírita deve abraçar com zelo oestudo da doutrina e desvencilhar-se um pouco de velhas concepções. Isso significaavaliar coerentemente o conteúdo dos novos ensinos, compará-los aos antigos,notar as sutilezas por detrás das novas noções aparentemente tão simples. E nuncaesquecer também que o mundo onde vivemos é de fato muito maior que nossas vãsconcepções podem imaginar.

6 - Referências

[1] Allan Kardec, "O Livro dos Espíritos", 71 edição, Federação Espírita Brasileira(1991).[2] Eamon Duffy, "Santos e Pecadores, a História dos Papas", Cosac & Naif EdiçõesLtda, São Paulo (1998).[3] Silvio Seno Chibeni, "A Excelência Metodológica do Espiritismo II",Reformador, Dezembro de 1988, pp. 373-378 (FEB).[4] Allan Kardec, "O Evangelho segundo o Espiritismo", 104 edição, FederaçãoEspírita Brasileira (1944)

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[5] Emmanuel, "O Consolador", 4 edição, Federação Espírita Brasileira.

Vídeo III - 'Visitantes da outra margem' - Fenômenos deMaterializações descritos por Tom Harrison (Inglaterra)

Escrita direta obtida pela mediunidade de Minnie Harrison.

Os versos abaixo são de autoria de Jack Bessant, irmão de Minnie Harrison e foramobtidos através dessa médium em 1954. (ver original em Inglês abaixo)

Não chorem por mim, meus amados, pois estou ao vosso lado.Não fui arrebatado a reinos desconhecidos ou levado por ignotas marés.Não vos deixei sem cuidados - nunca pensem que vos faria isso;Secai vossas lágrimas, levantai e sorride, ainda estou convosco.

Meu olhos que se fecharam agora estão abertos, minha visão clara e brilhante;Onde dantes podia ver por janelas esfumaçadas, agora vejo a perene luz.O véu simplesmente se levantou e os meus amados que se foramAgora esperam por mim como nos velhos tempos de então.

O amor deles ainda me cerca. Seus Espíritos não se perderam;E, agora, sei como sou conhecido - NÓS VIVEMOS! Não há morte!Então, confortai vossos corações, livrai-vos da dúvida e do pavor;Vivemos e caminhamos ao vosso lado - os vossos amados estão aqui.

Não vos aflijais por mim, meus queridos, livrem-se dessas lágrimas;Caminharei convosco pelas escuras noites terrenas até o amanhecer de um novodia.Levantai vossos corações em agradecimento para vos unir a nós e cantar:Ó, túmulo, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão?

Page 25: A era do espírito (ademir xavier)

Fenômenos de escrita direta e aparições de luzes

Terceira parte do vídeo Visitantes da 'outra margem' com entrevista de TomHarrision.

Conteúdo (5' 18'')

00:00 Continuação da palestra de Tom Harrison sobre voz direta obtida por meiode uma corneta;01:33 Continuação da entrevista para Pat Hamblig;02:22 Nova palestra onde Harrison descreve os primeiros fenômenos luminosos ede escrita direta obtidos no grupo;

Outros Vídeos

1a parte de Visitantes da 'outra margem'; 2a parte de Visitantes da 'outra margem; A compilação de todos os videos podem ser vistoaqui:http://www.youtube.com/user/xavnet2

Referência Visits By Our Friends From the "Other Side". Tom Harrison. Saturday NightPress Publications; Revised edition edition (February 23, 2011)

Original em Inglês

Mourn not for me my loved ones, For I am by your side,

I have not sped to realms unknown or crossed the rolling tide.

I do not leave you comfortless—think not I ever will;

So dry those tears, look up and smile, for I am with you still.

My eyes once closed are opened, my vision clear and bright;

Where once I looked through darkened glass, I see perpetual light.

The veil has just been lifted and my loved ones gone before

Are waiting now to welcome me, as in the days of yore.

Their love is still enfolding me, Their spirits have not fed;

And now I know as I am known—WE LIVE! There are no dead!

So let your hearts be comforted, cast out all doubt and fear;

We live and walk beside you—your loved ones still are near.

Grieve not for me my dear ones, just dry those tears away;

I'll walk with you through Earth's dark night until the break of day.

Page 26: A era do espírito (ademir xavier)

So lift your hearts in thankful praise and join with us to sing—

Oh, Grave where is thy victory? Oh, Death where is thy sting?

Pragmática e intenção nas cartas psicografadas de Chico Xavier.

Psicografia em Italiano, F. C. Xavier.

Este post contém um artigo submetido à revista 'Reformador' da Federação EspíritaBrasileira em 7/fev/2011 que teve publicação recusada em 8/set/2011.

De forma bastante simplificada, um processo de comunicação é um conjunto deetapas que leva uma mensagem de um emissor a um receptor. Esse é a imagempopular de um processo ou mecanismo de comunicação, e podemos denominá-la demodelos de ‘transferência de informação’. Entretanto, ela é severamente limitada,embora pareça dar conta do processo de comunicação na maioria dos casos,principalmente com sistemas eletrônicos ou meios outros meios de comunicação(exemplos vão desde sinais de fumaça, telégrafos até o telefone). Em temposrecentes, boa parte da pesquisa sobre o processo de comunicação é desenvolvidaatravés de várias teorias linguísticas, embora outras áreas de pesquisa (como asemiótica) tenham como objeto de estudo a comunicação não baseada nalinguagem dos seres humanos, inclusive desenvolvendo modelos para comunicaçãoentre seres vivos (plantas, animais etc). Modernas teorias linguísticas buscamexplicar aspectos do processo de comunicação que não podem ser explicados pelosmodelos simples de transferência de informação. Um processo eficiente decomunicação não é aquele em que partes ou pedaços de informação sãotransferidos para o recipiente e este, por sua vez, vai montando um quadro ouinterpretação que é proporcional à quantidade de mensagem transmitida. Há váriosníveis ‘hierárquicos’ de informação dentro de uma mensagem e, para se ter umaideia limitada desses níveis, é suficiente considerar a linguagem escrita.

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Um texto escrito de próprio punho por alguém (emissor) a um seu conhecido(receptor) é um exemplo rico para os vários níveis de sinais linguísticos que seinterrelacionam dinamicamente formando uma mensagem que só pode serconvenientemente compreendida pelo receptor. O primeiro nível existente é o damorfologia, afinal, se a mensagem é enviada pelo emissor, ela contém sinaisgrafados que o identificam univocamente. Uma vez ‘transcrita’ a mensagem em ummeio que é independente da morfologia, aparecem então outors tipos de sinais querevelam outros níveis hierárquicos: a sintaxe (ou, que diz respeito ao cumprimentode regras próprias do idioma em que a mensagem é grafada) e a semântica (ou, quediz respeito ao significado das palavras e frases contidas no texto). Se a relaçãoentre o emissor e o receptor sempre se deu, por exemplo, utilizando a línguaportuguesa, então é natural que a sintaxe obedecida será a do português. No que dizrespeito à semântica, o significado das palavras e grupos de palavras formandofrases inteiras pode ser feito tanto se respeitando a regra (o chamado léxico)comum ou não. É muito comum que, entre grupos privados, regras semânticasparticulares sejam utilizadas. Nesse caso, qualquer análise externa que pretendainferir um significado ao texto escrito sem o conhecimento de um léxico particular éseveramente limitada. Se esse léxico não está disponível em parte alguma, não épossível codificar corretamente o significado do texto, por mais que nos esforcemos.Um exemplo comum de problemas desse tipo é a tentativa de grupos dogmáticoscristãos em interpretar literalmente passagens ou textos inteiros do Velho e doNovo Testamento.

Há, entretanto, um último nível na hierarquia de sinais de comunicação que estámuitas vezes oculto na mensagem: o da pragmática. Além do sentido aparente dadopela semântica, a mensagem do emissor é gerada de forma tal que apenas oreceptor está completamente capacitado para compreendê-la. Por exemplo, se meuamigo, morando na Austrália, escreve a mim (receptor) uma carta contando dasinúmeras belezas naturais daquele continente, seu objetivo pode ser apenasremover meus receios presentes de o visitar. Afinal, apenas ele sabe que eu nãotenho o menor interesse em visitá-lo. Qualquer outra pessoa, ao ler a mesma carta,vai pensar que meu amigo apenas está empolgado com as belezas naturais daquelepaís. Embora morfologia, sintaxe e semântica sejam visíveis para todos (ou seja, sãoníveis de conhecimento linguístico disponíveis publicamente), o nível pragmáticonão é. Em todo o processo de comunicação, competência pragmática deve existirpor parte do emissor para que o processo seja realmente eficiente. Isso é possívelporque uma comunicação verdadeira só ocorre entre emissor e receptor porque elescompartilham crenças anteriormente adquiridas conjuntamente.

Em paralelo com a questão da pragmática nas mensagens, há ainda questõesligadas à finalidade ou objetivo do texto que denominamos de ‘intenção’. Afinalpode ser que, dentre os inúmeros objetivos do emissor com o texto, o menor deles éo de comunicar alguma coisa. Mensagens podem ter como objetivo provocardeterminadas impressões no receptor. Um exemplo interessante é o do indivíduoque chega a um posto de gasolina com seu carro e um pneu furado. Ele então falapara o primeiro funcionário do posto: ‘o pneu furou’ e aponta para o problema.Essa mensagem não tem como objetivo dizer que o pneu foi avariado, mas fazercom que o receptor faça alguma coisa diante da necessidade de se trocar o pneu.Fala-se assim no problema da ‘subdeterminação da intenção comunicativa’, napresença de expressões ‘semanticamente mal definidas’ e nos ‘atos nãocomunicativos’ (Bach, 1979), todos eles representando aspectos privados doprocesso.

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É um exercício interessante analisar e encontrar cada um dos níveis de hirarquia desinais de comunicação nas cartas psicografadas por Chico Xavier. Cada um deles,morfologia, sintaxe, semântica, pragmática e intenção aparecem vividamente emdiversas cartas, embora não extensivamente em todas ao mesmo tempo. Isso revelaaspectos ocultos do processo de comunicação mediúnico que está de pleno acordocom a expectativa deinterferência, e que ainda não são bem compreendidos. Aocontrário do que se pode pensar, a presença de interferência por parte do médiumnas psicografias é uma evidência forte de processo de comunicação, uma vez quetodo sistema de comunicação não está imune a interferências. Existe interferênciaem cada um dos aspectos do processo, embora, para alguns deles, ela é menosextensiva. Quanto maior o nível considerado, menor a interferência por parte domédium. Reciprocamente, quanto maior esse nível tanto mais privada é amanifestação do nível (ver Figura abaixo).

A pragmática e a intenção nas cartas estão diretamente ligadas a forte impressãocausada aos parentes dos comunicantes que foram chamados a ‘decodificar’ oconteúdo, justamente pela presença de elementos que não estão publicamentedisponíveis. É necessário reconhecer que, para que a estratégia do emissor tenhaqualquer sucesso, um conjunto de crenças deve ser compartilhado entre o emissor eo receptor e que essas crenças não estão disponíveis antes (ou depois) do atomediúnico. Se comunicar-se não é apenas ‘transportar’ informação, as cartaspsicografadas por Chico Xavier (nosso exemplo mais notório) só podem serexplicadas se o médium teve ajuda explícita do emissor para escrever cada umadelas. O emissor (Espírito) é o agente que detém completamente a competênciapragmática e a intenção, enquanto que o médium é o intermediário, interferindoainda como fonte de ruído irredutível no processo que se manifesta nos níveisinferiores. Embora os aspectos mais superiores da pragmática e da intenção sejamos menos imunes à ação de ruído (interferência) pela mente do médium, sãoigualmente notáveis as comunicações ‘xenográficas’, ou escritas em uma sintaxe (esemântica) diferente da conhecida pelo médium, que demonstram que o Espíritotem o controle sobre níveis inferiores, além dos superiores. Esse é o melhor modelopara se explicar os fenômenos e os dados oriundos das cartas psicografadas. Deacordo com esse modelo simplificado de comunicação, é compreensível tambémque o caráter ‘automático’ ou ‘mecânico’ da comunicação é tanto maior quanto maiscompleto deva ser o processo de comunicação nos vários níveis em que ele semanifesta.

Nosso esforço aqui é parte de uma iniciativa que resultou em um pequeno textosobre a aplicação das modernas teorias da linguagem e comunicação aos dados quese obtém das cartas psicografadas por Chico Xavier e que foi publicada na revista‘Paranthropology’ (Xavier, 2010). Essa análise pode também ser aplicada aproduções psicográficas de outros médiuns. Mais importante do que isso, ela revelaque os aspectos justamente ‘não públicos’ são os mais importantes nacaracterização e identificação do emissor. Não é possível explicar o conteúdopragmático invocando-se aquisição de conhecimento por parte do médium ou

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mesmo simples emulação. Os detalhes pragmáticos e intencionais dependem deuma quantidade grande de conhecimento que é compartilhado historicamenteentre o emissor (Espírito) e seus familiares (receptores) e que não estão disponíveispublicamente e que não se podem armazenar. Mesmo alguns aspectos públicos(como a semântica) dependem de conteúdo privado, principalmente quando oemissor intencionalmente faz uso de palavras com significado diferente do usual.

Esperamos que novas pesquisas sejam dirigidas ao estudo dos vários níveis quecaracterizam uma comunicação mediúnica efetiva além de outros aspectos. Partedisso já tem acontecido, como um estudo recente sobre o papel das citações (Rocha,2010) nos textos psicografados. Tais estudos descobriram textos desconhecidos deHumberto de Campos citados por ele em Espírito. Esse estudo não é apenasimportante para caracterizar os vários níveis encontrados nas mensagens e, assim,responder às dúvidas do ceticismo, mas também para formar uma imagem maisprecisa do processo psicográfico em si. Em particular eles podem revelar detalhessobre como se dá a interação entre a mente do médium e a do emissor a fim de queo processo de comunicação seja o mais transparente possível.

Referências

Arantes H. M. C & Xavier F. C. O conteúdo das cartas foi publicado emvárias obras publicados pela Editora do Instituto de Difusão de Araras e GEEM(ver, por exemplo, Ramacciotti C. & Xavier F. C. (1975), Jovens no Além). Bach K. & Harnish R. M. (1979), Linguistic communication and speech acts,Cambridge Mass: MIT Press. Grumbach C., Gentile L. A. & Pelele P. P. (2010), As cartas psicografadas deChico Xavier, Crisis Produtivas and Ciclorama Filmes. Rocha, A. C. (2010). Uma estratégia para a construção autoral napsicografia: as citações. A Temática Espírita na Pesquisa Contemporânea, textosselecionados. Editado por CCDPE-ECM. Xavier A. (2010). ‘Pragmatic and intention in automatic writtings: the ChicoXavier case’, Paranthropology, vol II, Numero 1, p 47-51. Disponível publicamenteem http://paranthropology.weebly.com/Ver também: Cartas psicografadas neste blog em 3 partes.

Memória Genética e Reencarnação

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Cada da revista 'Espiritismo & Ciência' (número 90),com texto de nossa autoria . Editado pela Mythos.

Seções do artigo

1 - Introdução;2 - Memória Genética e Eugenia;3 - Consequências da tese da memória genética para a visão espiritualista do serhumano;4 - Qual é a situação atual?5 - Considerações finais.AgradecimentosReferências

Descrição

A matéria de capa da revista Espiritismo & Ciência 90 fala sobre memória genéticae reencarnação. Esse conceito de memória genética refere-se à suposta capacidadede herdarmos não apenas memórias dos antepassados, mas também suaspersonalidades. Ele tem sido utilizado para tentar refutar o conceito dereencarnação, mas sem sucesso. A matéria é assinada pelo físico Ademir Xavier. Ospassarinhos do bem de Marcio Baraldi, os Vapt&Vupt continuam firmes com suasmensagens de paz e reflexão. A edição também traz comentários e sinopses delivros espíritas, para você escolher sua leitura preferida. José Sola continua com asérie de textos a respeito dos livros de Chico Xavier, agora com a obra Há 2000Anos, uma das mais populares escritas pelo Espírito Emmanuel. Na seção"Desmistificando o Dogma da Reencarnação", o doutor Wladimyr Sanchezresponde perguntas dos leitores, aqui com uma longa explanação sobre o conceitode reencarnação que surge no livro Missionários da Luz, de André Luiz. Paulo Netotraz um interessante texto explicando qual a primeira obra espírita que deve serlida, baseando em informações fornecidas pelo próprio Alan Kardec. Carlos eCarmen Imbassahy abordam as pesquisas científicas que permitem dizer-se que ouniverso não é criação do Deus religioso que conhecemos. No texto de RogérioCoelho, você poderá ler a respeito da relação entre ciência e religião, a partir doponto de vista de Allan Kardec e de Joanna de Ângelis.

Clique aqui para saber como adquirir a revista.

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Editora Mythos

Vídeo II - 'Visitantes da outra margem' - Fenômenos deMaterializações descritos por Tom Harrison (Inglaterra)

Sra. Agnes Abbott.

Fenômenos de AporteSegunda parte do vídeo Visitantes da 'outra margem' com entrevista de TomHarrision.

Conteúdo

00:00 Segunda parte da entrevista;01:38 Trecho de uma palestra com T. Harrison onde ele explica os primeirosfenômenos de aporte;05:20 Continuação da entrevista onde T. Harrison mostra objetos que foramobtidos durante várias sessões de aporte;

Outros Vídeos

Primeira parte de Visitantes da 'outra margem';

A compilação de todos os videos podem ser vistoaqui:http://www.youtube.com/user/xavnet2

SAGB: Associação Espiritualista da Grã-Bretanha.

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O colégio Arthur Findlay.

Kardec sobre o Ceticismo.

"Se eu estiver errado, basta apenas um crítico." - Albert Einstein (Seu comentário àprimeira edição do livro 'Hundert Autoren gegen Einstein', ou 100 autores contra

Einstein, em 1931)Reunimos aqui algumas citações de Allan Kardec sobre o ceticismo. Outrasreferências dele sobre o assunto podem ser encontradas nas diversas obras queformam a codificação. Como pioneiro no desbravamento dos princípios

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espiritualistas e sua verificação por meio de fenômenos considerados insólitos,Kardec enfrentou problemas que legiões de cientistas (metapsiquistas e,modernamente, parapsicólogos) iriam enfrentar quando a questão era defender eexplicar de forma satisfatória a fenomenologia psíquica. E a luta que ele teve queenfrentar foi dupla: primeiro contra aqueles que negavam a realidade dosfenômenos, depois contra os que, os aceitando, propunham explicações ilógicas, emfranca contradição com a multiplicidade de ocorrências e detalhes observados.

É importante que se diga que Kardec nunca teve a pretensão, como muitas críticasprocuraram mostrar ao longo dos anos, em ser árbitro da verdade:Confessamos, sem constrangimento, nossa insuficiência quanto aos pontos para osquais não temos resposta. Assim, longe de repelir as objeções e as perguntas, nós assolicitamos (desde que não sejam ociosas e nem nos façam perder tempo comfutilidades), pois constituem um meio de nos esclarecermos. (RS, 1858, p. 294).

Há limitações ao conhecimento espírita, isso é um fato que, ao invés de diminuir aimportância da doutrina como se pode pensar inicialmente, a engrandece. De fato,o valor de uma teoria está na capacidade que ela tem em fornecer explicaçõeselegantes para uma grande quantidade de fatos. Ora, uma vez que diga algumacoisa sobre o mundo, é igualmente certo que a teoria tem limites. Não é objetivo deuma ciência explicar todo e qualquer aspecto do mundo. Muitos críticos acreditamque o Espiritismo, enquanto uma visão do mundo, deveria fornecer respostas paratudo o que se observa nele. Isso não é verdade. A ciência da matéria também temsuas dificuldades para explicar determinados aspectos da Natureza. Isso é normal eesperado no processo de produzir conhecimento científico que diga alguma coisasobre o mundo. Por outro lado, muitos críticos controem (e ainda o fazem)labirintos de hipóteses e explicações sem se preocupar em unificar conceitos ebuscar uma causa ou origem comum para o que se observa. Para cada fenômeno,uma explicação diferente. Dito isso, é importante prestar atenção ao tipo de crítica:É logica elementar que, para discutir uma coisa é preciso conhecê-la, visto que aopinião de um crítico só tem valor quando ele fala com perfeito conhecimento decausa. Só então a sua opinião, ainda que errônea, pode ser levada em consideração.Mas, que importância tem ela acerca de um assunto que ele ignora? O verdadeirocrítico deve dar provas, não somente de erudição, mas também de profundo sabercom respeito ao objeto em exame, de julgamento são e de imparcialidade a todaprova, sem o que o primeiro menestrel que surgisse poderia arrogar-se ao direito dejulgar Rossini e um iniciante em artes o de censurar Rafael. (RS, 1860, p. 269)As condições que Kardec aponta para caracterizar um crítico sério estão descritasacima e é instrutivo enumerá-las abaixo:

1. Um crítico sério deve ter erudição. Por 'erudição' entende-se umabagagem mínima de conhecimento a respeito do que se pretende criticar. Éfácil ver porque essa condição é necessária;2. 'Profundo saber com respeito ao objeto em exame'. Esse 'profundosaber' distingue-se da mera 'erudição', pois essa última pode sercaracterizada apenas como quantidade de informação. Há uma diferençaentre o saber verdadeiro e a mera informação. Estar informado a respeito dealgo é muito diferente de saber porque esse algo existe, como ele ocorre,quais são as condições para que ele ocorra e assim por diante;3. 'Julgamento são e imparcialidade a toda prova'. Colocamos essasduas condições justas, pois a 'imparcialidade' é consequência do 'julgamentosão'. O 'julgamento são' implica em saber manejar a lógica dentro de leis quesão universalmente aceitas, embora essa capacidade possa ser apenas

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tacitamente apreendida (é fato que há pessoas que tem dificuldade emapreender a lógica em determinados assuntos, assim como há pessoas quetem dificuldade para matemática, outras para as artes e assim por diante).Se um indivíduo tem dificuldades com raciocínio lógico, ele dificilmenteserá um bom crítico pois sua opinião, frequentemente, será parcial etendenciosa. Ao se observar a presença de tendenciosismo e a parcialidade,toda a crítica está comprometida, pois coexistem 'interesses escusos' ouimplícitos que o crítico, se for honesto, deverá declarar.

Tais características que fazem parte de um 'crítico de primeira linha', manifestam-se na maneira como a crítica é desenvolvida. É comum observar-se ataquesdirigidos a determinados pontos da doutrina por pessoas reconhecidamenteiniciantes no assunto. Mas isso não ocorre apenas com o Espiritismo. Em toda equalquer área do conhecimento onde se tem uma teoria ou escola que diga algopositivo a respeito do mundo que nos cerca, é possível apreciar esse fenômenosocial, o de detratores despreparados e desesperados em refutar e combater (2). Oantigo provérbio português, "só se atiram pedras em árvores que dãofrutos," sempre deve ser lembrado. Qual é a causa desse fenômeno? Acreditamosque seja uma tentativa de reafirmação pessoal que pode se manifestar em massa, nocoletivo, mas isso nos leva a um assunto que foge ao escopo desse post. Destaforma, a polêmica é consequência do tipo de discussão, que é gerada dependendoda qualidade da crítica. E, sobre isso, explica Kardec:"Mas há polêmica e polêmica. Existe aquela ante a qual jamais recuaremos: é adiscussão séria dos princípios que professamos. Todavia, mesmo nesse caso, faz-sepreciso uma distinção: se se trata apenas de ataques gerais dirigidos contra adoutrina, sem outro fim que o de criticar, e feitas por pessoas arraigadas em rejeitartudo quanto não compreendem, nada disso merecerá a nossa atenção; o terrenoque o Espiritismo ganha a cada dia é resposta suficientemente peremptória e provade que seus sarcasmos não tem produzido efeito." (RS, 1858, p. 293)

Da mesma forma como se pode descrever detalhes sobre o tipo de crítica, existemdiferentes tipos de discussões ou 'polêmicas' como Kardec descreve acima. Emparticular, deve-se manter distância de polêmica feita por indivíduos 'arraigadosem rejeitar tudo quanto não compreendem'. É fácil entender a razão disso diantedas características já enumeradas acima. O que fazer então? Kardec recomenda:"Deixando aos nossos contraditores o triste privilégio das injúrias e das alusõesofensivas, não os seguiremos no terreno de uma controvérsia sem objetivo; dizemossem objetivo, porque ela não os conduziria à convicção, sendo perda de tempodiscutir com pessoas que desconhecem as primícias do que falam. Só nos cabedizer-lhes: estudai primeiro, e veremos em seguida. Temos outras coisas a fazer doque falar àqueles que não querem ouvir. Por outro lado, que importa, afinal aopinião contrária de tal ou qual pessoa? Será essa opinião de tão grandeimportância que possa entravar a marcha natural das coisas? As maioresdescobertas encontraram os mais rudes adversários, o que não as fez perecer.Deixamos, pois, a incredulidade murmurar em torno de nós, e nada os desviará darota que nos é traçada pela gravidade mesma do assunto em pauta." (RS, 1860, p. 1)

No comentário acima, Kardec de forma lógica recomenda o silêncio contradeterminados tipos de crítica. Fazem parte delas, as que surgem naturalmente devários tipos de ceticismo, tanto aqueles que se põem contra os fenômenos como osque se colocam contra a teoria. Tal como no exemplo citado sobre a Teoria daRelatividade (1), Kardec chama a atenção ao fato de muitos princípios inovadoresnão terem sido afirmados senão depois de muitas discussões. Entretanto, muitoscríticos podem seguir um caminho ainda mais extravagante. Sobre isso tambémescreveu Kardec:

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Cremos que, em certos casos, o silêncio é a melhor resposta. Há, por outro lado, umgênero de polêmica que nos impomos a norma de abster-nos: é a que podedegenerar em personalismos. Ela não só nos repugna, como nos tomaria um tempoque podemos empregar mais utilmente, além do que seria bem pouco interessantepara os nossos leitores, que assinam o jornal para se instruírem e não para ouvirdiatribes(2) mais ou menos espirituosas. Ora, uma vez embrenhados nessecaminho, dele seria difícil sair; eis porque preferimos ai não entrar, e julgamos queassim o Espiritismo só terá a ganhar em dignidade. (RS, 1858,p. 293)

Uma 'polêmica personalista' é um debate cujo objetivo implícito é a disputa pessoalbuscada por alguns dos polemistas. Aqui estão em jogo forças que distanciam muitoo debate de qualquer tipo de discussão equilibrada e imparcial. De fato, não podehaver imparcialidade onde se busque determinados tipos de ganhos (que podemosconsiderar 'morais', em contraposição a ganhos materiais ou pecuniários). O gostode se sentir apreciado e vencido em um debate é recompensa considerada de altopreço, que sempre ocorreu em vários setores da sociedade. Infelizmente tambémreconhecemos que muitos espíritas e mesmo alguns setores do movimento espíritaendossam esse tipo de discussão contra a qual Kardec colocou-se já em 1858. E issopor uma boa razão: por se tratar simplesmente de perda de tempo. Tal comoqualquer outro recurso, o tempo também é um bem que devemos considerar diantede determinados tipos de ganho, lembrando ainda que o tempo é recursoirreversível: uma vez perdido, é impossível recuperá-lo. Kardec reconhece sermuito difícil sair desse tipo de caminho porque ninguém quer se sentir vencido,ainda que a discussão tenha objetivo intangíveis e de pouquíssima importância.

O julgamento da História

Que é feito hoje da memória dos que criticaram Kardec na sua época? Tentamosnos lembrar de alguns nomes do passado. Para ajudar o leitor, listamos algunsdesses nomes nas notas de Apêndice deste post (3). Com essa nota, tambémrendemos nossa justa homenagem a eles.

O Ceticismo como um vício filosófico.

Finalmente, relembramos o que disse Kardec sobre o ceticismo exacerbado. Paraele ficou claro que ele se caracterizava mais como um vício filosófico, algo que nascenão só da falta de conhecimento, mas da falta de madureza intelectual:Há céticos que negam até à evidência, nem milagres poderiam convencê-los. Hámesmo aqueles que ficariam bem desgostosos se fossem forçados a crer, porquantoseu amor-próprio sofreria com a confissão de que estavam enganados. Queresponder a pessoas que por toda parte só vêem ilusão e charlatanismo? Nada;deve-se deixá-los tranquilas, a repetirem, enquanto quiserem, que nada viram e atémesmo que nada lhes pode ser mostrado. Ao lado desses céticos endurecidos, há osque querem ver a sua maneira; os que, firmados numa opinião, a esta tudo queremajustar, não compreendendo existirem fenômenos que não podem sujeitar-se a suavontade. Eles não sabem ou não querem adaptar-se às condições necessárias. (RS,1858, p. 153)

Entre os críticos, há os que poderíamos chamar de 'analfabetos filosóficos' queparecem se enquadrar na classe de contraditores de que fala Kardec. Procuram elesajustar tudo o que vêem a sua maneira muito particular de ver o mundo, nãocompreendem - ou não querem compreender - que existe uma realidade maior quenão se deixa perceber da mesma forma que a 'realidade menor' de suas vidasparticulares, que existem milhares de nuances e detalhes nos fenômenos da

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Natureza a requerer esforço e dedicação (as vezes de vidas inteiras) para que sejamcompreendidos. Jamais negaremos a tais o direito de não acreditar, afinal é assimque vivem os homens, cada um segundo sua visão de mundo, mas seria justo quepudessem destruir fenômenos ou apagar a realidade tão só com efeitos de retórica?

De qualquer forma, o efeito de suas palavras, ao contrário do que se pode imaginar,é fazer propaganda justamente dos princípios ou ideias que pretendem combater.

Referências

H. Israel, ed (1931). Hundert Autoren gegen Einstein. Leipzig: Voigtländer.Z. Wantuil e F. Thiesen (1987), Allan Kardec - Pesquisa Bibliográfica e Ensaios deInterpretação. Vol. II. Ed. FEB.

Notas de Apêndice

(1) Um exemplo clássico tirado da Física moderna é o da teoria da relatividade deEinstein. Para isso ver 'Críticas à teoria da Relatividade'. Poucos sabem que, aolongo de sua carreira como cientista, Einstein enfrentou uma crítica furiosa contrasuas conclusões e teorias. Por que? Uma resposta razoável é porque a Relatividadepossui respostas definitivas para os fenômenos que ela se propõe a explicar. Mas,igualmente possível é imaginar que muita gente invejou a notoriedade que Einsteinadquiriu com o lançamento de sua teoria. Assim, não é difícil perceber porquemuitos lançam críticas a médiuns modernos, que alcançaram notoriedade em vida.Há aqui muito mais que mera descrença.

(2) Diatribes: s.f. Crítica severa e mordaz; escrito ou discurso agressivo e injurioso.

(3) A lista abaixo traz alguns nomes de críticos e céticos do Espiritismo da época deKardec (ano da crítica entre parênteses). Talvez o leitor possa se lembrar de algunsdeles. A referência principal de onde tiramos tais nomes é Z. Wantuil e F. Thiesen(1987).

Pe. François Chesnel (1859);Dr. Jobert de Lamballe (1859);Sr. Oscar Comettant (1859);Dr. Louis Figuier (1860);Sr. George Gandy (1860);Sr. Émile Deschanel (1860);Dr. Armand Trousseau (1862);Pe. Lapeyre (1862);Pe. P. Nampon (1863);Sr. Robin (1863);Pe. A. Barricand (1864);Mons. Pantaleón Monserra Y Navarro (1864);Sr. Rewile (1865);Sr. Jules Claretie (1866);Pe. Poussin (1868);

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Entrevista III - Alexandre F. da Fonseca e a temática espírita naatualidade (parte 2/2).

Continuamos aqui a 2a parte da entrevista de Alexandre Fonseca.

Para acessar a primeira parte.

EE - 6 Onde você acha que essa nova ciência deveria se desenvolver ? (academiaversus ambiente do movimento espírita)

Essa é uma boa pergunta. Eu penso que estando os Espíritos por toda a parte,dependendo do tipo de projeto de pesquisa, qualquer lugar pode se tornar umlaboratório legítimo de pesquisa espírita. Ao meu ver, é a seriedade e os objetivos deum trabalho de pesquisa que vai determinar se o projeto vai ou não contar com aassistência de bons Espíritos.

Em termos das “frentes de trabalho”, o local de pesquisa mais comum na primeira“frente” é a academia, sem contudo excluir o que chamamos de “atividade decampo”, onde o cientista vai ao local onde pode encontrar de modo mais abundanteo objeto de seu estudo. O biólogo costuma ir às florestas investigar determinadasespécies em seu próprio habitat, enquanto que o astrônomo não tem comoreproduzir em laboratório a grandeza do cosmos.

Pensando em termos da segunda “frente de trabalho”, o laboratório de pesquisamais comum pode ser tanto o centro espírita quanto um gabinete de leitura eestudos. Porém, essa questão merece mais atenção pois o centro espírita, em minhaopinião, não deve formalmente se transformar em “centro de pesquisas”, sob penade prejudicar as outras atividades para as quais ele se dedica. Apenas ressalto quenada impede que pessoas que lidam com a mediunidade, por exemplo, possamfazer registros e anotações que permitam colher aprendizados posteriores, aexemplo do que fez Hermínio C. de Miranda na obra “Diálogo com as Sombras”.Nada impede que um grupo de trabalho de passes, realize um acompanhamento daevolução da saúde de alguns assistidos. E se algum grupo dispuser de um médiumde efeitos físicos que procure investigar os fenômenos e suas condições e nãoapenas assisti-los pela satisfação da curiosidade.

Outra ressalva importante é que ninguém, no centro espírita, deve serconstrangido(a) a realizar algum trabalho de pesquisa, nem mudar sua postura emsua atividade rotineira, em nome de um ideal no aspecto científico do Espiritismo.Por exemplo, não é porque se pode fazer anotações sobre a mediunidade em umgrupo de desobsessão que os doutrinadores ou dialogadores faltarão com a atenção,respeito e caridade em suas conversas com os Espíritos.

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EE 7 - Como você acha que deveriam ser divulgados os trabalhos dessa novaciência?

É necessário haver um espaço apropriado, seguro e de baixo custo para divulgarcom a devida rapidez e facilidade os resultados das pesquisas espíritas. O melhorque conhecemos dentro da Ciência é o esquema de publicação de artigos inéditos depesquisa através do método de análise por pares, o chamado “peer review”(comentamos sobre ele na questão 5). Esse esquema permite a publicação rápidados trabalhos de pesquisa que, por conseguinte, permite a divulgação do quê vémsendo pesquisado e como vém sendo pesquisado aos outros pesquisadores. Graçasa esse esquema, a Ciência constrói seu conhecimento na base da contribuição demuitos cientistas.

O movimento espírita atual valoriza muito a obra publicada na forma de livro. Olado positivo é que o livro é uma forma de registro permanente de umconhecimento adquirido. O lado negativo é que interesses diversos aliados à falta deespírito crítico de editores e leitores tornam o livro uma fonte de informaçõesmuitas vezes insegura. No processo de divulgação dos trabalhos de pesquisa não sepode perder tempo ou recursos. Na preparação de um livro, leva-se um tempomaior para juntar e compor o seu conteúdo. Depois de pronto, os custos deprodução e distribuição de um livro são elevados. Além disso, nem sempre amaioria dos leitores interessados tem recursos financeiros para aquisição de muitoslivros. Assim, a opção de uma revista de artigos de pesquisa preenche os requisitosde rapidez e baixo custo de divulgação. Em tempos de acesso mais fácil à internet, épossível editar e criar uma revista científica em que os artigos possam serdivulgados a custo zero para o leitor, o que levaria a um ganho enorme em termosde visibilidade do trabalho de pesquisa. Visibilidade é algo tão importante napesquisa científica que algumas editoras acadêmicas tem criado revistas de “openaccess”, em que o leitor não paga para ler os artigos.

Esse tipo de metodologia de edição e escolha de artigos funciona da seguintemaneira: especialistas em uma determinada área do conhecimento relacionada aotema de um artigo recém submetido para publicação, são escolhidos pelos editoresda revista para analisarem se os conceitos, métodos e rigores de análise doproblema em questão, foram empregados pelo(s) autor(ers) do artigo. Isso é feitode modo anônimo, pelo menos, para os autores. Por ser uma atividade humana, énatural que haja defeitos nessa forma de avaliação dos artigos, mas até ondeconhecemos, essa é a melhor forma de garantir que um artigo de pesquisa élegítimo, cujos resultados foram obtidos de modo criterioso e sensato, podendoassim ser lido com a confiança de que os critérios de bom-senso na pesquisa foramseguidos. Obviamente que a publicação de um artigo ainda não significademonstração científica de algo novo, mas é o primeiro passo para que acomunidade de cientistas e estudiosos da área tomem conhecimento formal dapesquisa.

EE 8 - O que você acha da crescente onda de valorização de fundamentos da físicaquântica por parte do movimento espírita?

Um exagero que denota a falta de noção de como a Ciência de fato se desenvolve.Na ânsia de ver o Espiritismo mais divulgado e aceito pela sociedade, algunscompanheiros acreditam que a relação entre as teorias e descobertas modernas daciência, como a Física Quântica, e o Espiritismo mostrariam que o Espiritismo tem

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valor científico. Infelizmente, isso é um engano que demonstra a falta deconhecimento do significado do aspecto científico do Espiritismo. O movimentoespírita tem um potencial enorme de trabalho em pesquisa genuinamente espírita,com um poder de demonstração de seriedade no aspecto científico muito maiorquando comparado ao ganho aparente que se imagina obter das afirmações darelação entre a física quântica e os conceitos espíritas. Isso, sem falar dos textospseudo-científicos envolvendo física quântica que são divulgados no meio espíritacomo a favor do Espiritismo, mas que contém afirmações completamentecontrárias a ele.

EE 9 - Como você vê uma possível interação entre o Espiritismo e uma disciplinaexata como a Física, por exemplo?

Imagino que é possível trabalhar na “interface” em que determinados fenômenossejam da alçada tanto da Física quanto do Espiritismo. Os fenômenos de efeitosfísicos são exemplos disso por se tratarem de efeitos materiais de causas espirituais.Porém, diversos companheiros do movimento espírita, talvez por algumentusiasmo, talvez por ignorância (sem intenção pejorativa), tem tentado associarde modo precipitado alguns conceitos da Física com os do Espiritismo de umaforma que eu chamaria de inversa. Por exemplo, com relação aos fluidos espirituaishá obras inteiras que tentam adaptar teorias e modelos modernos originalmentedesenvolvidos para descrever as propriedades da estrutura atômica da matéria, aosconceitos de fluido. Muitos se esquecem de que a história da ciência mostra queprimeiro os cientistas desenvolveram as teorias para o comportamento da matériaem escala macroscópica e só depois, por meio do aprimoramento e refinamento dosexperimentos, é que com base nos resultados experimentais, os cientistaspropuseram novas teorias para a estrutura atômica da matéria. Assim, em minhaopinião, antes de ficar imaginando que os fluidos ou o Espírito tenham ou sejamuma função de onda como descrita pela teoria quântica, busquemos investigar eesgotar o nosso conhecimento sobre as propriedades e condições físicas dos fluidose fenômenos espíritas na escala normal de tamanho, que é macroscópica, e sódepois quando tivermos sólidas informações sobre essas propriedades, começarmosa imaginar, por exemplo, como poderia ser a estrutura em escala atômica daquiloque chamamos de fluidos espirituais.

Para isso, poderemos contar com a possibilidade de usar diversos equipamentosmodernos e sensíveis que a nossa tecnologia já disponibiliza obviamente na medidaem que existam recursos financeiros para aquisição ou aluguel dessesequipamentos. Apesar das dificuldades naturais, há companheiros espíritas quetem imaginado novos experimentos capazes de investigar as condições em que osfenômenos de efeito físico ocorrem. Vide, por exemplo, o artigo de Ademir Xavierem (livro do 6º encontro da LIHPE).

EE 10 - Como você vê as contribuições presentes de movimentos de grupos depesquisadores espíritas para o desenvolvimento da temática espírita? (quesugestões você daria para tais grupos).

Primeiramente, dos poucos grupos de pesquisadores espíritas que conheço, épreciso que eles recebam nossos sinceros parabéns e incentivo pelo esforço que temrealizado no propósito de desenvolver pesquisa espírita. Temos relatos de estudosque demonstram o número razoável de teses e monografias acadêmicas envolvendotemática espírita ou de interesse espírita. Nas duas “frentes de trabalho” há gruposcomo a Liga dos Historiadores e Pesquisadores Espíritas (LIHPE) que promovem

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encontros anuais onde pesquisadores apresentam em formato próximo aoacadêmico, seus trabalhos de pesquisa espírita, e grupos acadêmicos de pesquisaespírita e espiritualista como o Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde(NUPES). Essas contribuições estão motivando o engajamento de jovens em novosprojetos de pesquisa o que sem dúvida é positivo para o processo nas duas “frentesde trabalho” mencionadas anteriormente.

Entretanto, noto que o movimento espírita em si parece ter pouco interesse oumesmo nem tem conhecimento da existência desses grupos e trabalhos de pesquisaque vém sendo realizados até então. Eu acredito que isso se deve, em parte, ao fatoda divulgação desses trabalhos de pesquisa ainda não ser perfeita, com baixavisibilidade que, como comentamos anteriormente, é algo importantíssimo aodesenvolvimento da pesquisa em qualquer área. Na minha opinião, a criação deuma revista espírita dedicada a artigos de pesquisa espírita, que tivesse o método deanálise por pares (o “peer review”) e divulgasse seus artigos de modo gratuito (pelainternet, por exemplo), permitiria um maior o acesso de um número maior deleitores a trabalhos de pesquisa espírita legítimos.

EE 11 - Alguma mensagem final para nosso blog?

O blog A Era do Espírito tem se dedicado ao esclarecimento de conceitosimportantes sobre Ciência, Ciência Espírita, e os limites de validade de ambas. Emparticular, esses conceitos tem nos servido de base para compreendermos os limitesde validade da crítica feita ao Espiritismo. Estamos vivendo em uma época em quehá facilidade de acesso à informação combinada com a falta de formação científica efilosófica de grande parte dos espíritas. E, diante da afirmativa de Kardec de que averdadeira fé só o é aquela que é capaz de encarar a razão face a face em todas asépocas da humanidade, ao apresentar estudos sobre assuntos pouco discutidos emoutros blogs, páginas ou periódicos espíritas, este blog tem preenchido umaimportante e difícil lacuna de informar (e por que não dizer, formar) os leitores emassuntos necessários para o fortalecimento da fé espírita.

Entrevista III - Alexandre F. da Fonseca e a temática espírita naatualidade (parte 1/2).

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Apresentamos aqui a primeira parte de uma entrevista com Alexandre Fontes daFonseca, conhecido articulista de 'O Reformador' e pesquisador espírita. Alexandreé nosso conhecido e nos cedeu esta entrevista onde discorre sobre diversos temasde interesse atual para o movimento espírita e para a pesquisa da temática espírita.Alexandre é físico e trabalha na Universidade Federal de Volta Redonda. Para sabermais sobre o Alexandre, você pode visitar sua página do Grupo de ModelagemFísica de Nanoestruturas. As respostas do Alexandre estão em azulabaixo.

EE 1. Como você conheceu o Espiritismo?

Meu pai frequentava um centro espírita na minha cidade natal, e ele me levava comele. Só na adolescência, porém, que tive oportunidade de participar de grupo dejovens do setor de Evangelização do centro, e comecei a ler as das obras básicas ealgumas das obras psicografadas pelo Chico Xavier.

EE 2. Você acha que o Espiritismo tem algo a contribuir para nosso conhecimentocientífico atual?

Sem dúvida! Sendo uma doutrina que revela as leis naturais que envolvem aexistência e sobrevivência da alma, e a possibilidade de comunicação entre a almados ditos “mortos” com a dos ditos “vivos”, ela naturalmente abre um campo novode pesquisa que é de interesse tanto científico quanto filosófico e religioso. Emparticular, o Espiritismo oferece uma base teórica com a qual é possível investigar ecompreender os fenômenos que, mesmo hoje, ainda são consideradossobrenaturais.

EE 3. Quais são os seus principais interesses na 'interface' Espiritismo - Ciência?

Eu particularmente tenho dois interesses distintos entre si que eu chamaria de“frentes de trabalho”, ambas envolvendo aspectos diferentes da ideia que temos deCiência e sua relação com o Espiritismo.

Uma dessas “frentes” é o que acredito ser um dos maiores desafios da pesquisaespírita que é investigar os fenômenos espíritas dentro dos paradigmas e métodosdas diversas áreas do conhecimento humano como a Física, a Química, a Biologia, aMedicina, etc. Digo grande desafio, pois o fenômeno da vida, do ponto de vistamaterial, ainda é pouco compreendido pelas ciências materiais, o que dificultaqualquer tentativa de se investigar, pelo lado da matéria, teorias ou modelos paraeste fenômeno que incorporem o elemento espiritual como força atuante nofenômeno da vida. É difícil meditar sobre onde e como o princípio inteligente atua

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nos seres vivos se mal conhecemos como eles são e como se comportam em termosdo conhecimento das ciências materiais.

Isso, porém, não impede que se pesquise as características e condições materiaisem que alguns fenômenos espíritas ocorrem; ou efeitos indiretos da espiritualidadecomo, por exemplo, a ação da prece ou dos passes na saúde humana, etc.

A segunda “frente de trabalho”, na minha opinião, é a que mais importância teriano cenário do movimento espírita e que traria consequências positivas na formacomo a sociedade encara o Espiritismo. Essa “frente” consiste em desenvolver o“aspecto científico” do Espiritismo. Apesar de parecer redundante, podemos dizerque a atividade de pesquisa realizada constantemente por uma comunidade ougrupo de pessoas é que torna, perante a sociedade, uma área do conhecimento ativano seu aspecto científico. Por exemplo, a comunidade de pesquisadores em Físicamantém ativa a pesquisa científica nessa área. E isso não ocorre por causa dasimples existência de físicos, mas porque uma boa parcela deles faz pesquisaprofissionalmente. Assim, na minha opinião, as pessoas do movimento espírita quetem afinidade ao estudo e pesquisa, mesmo não possuindo experiência profissionalem pesquisa científica ou acadêmica, podem ser orientadas a realizar um bomtrabalho de pesquisa espírita, contribuindo de forma segura e racional para oprogresso do aspecto científico do Espiritismo ou daquilo que chamamos de“Ciência Espírita”.

Enquanto que a primeira “frente de trabalho” é, em geral, muito difícil, e só podeser realizada por pesquisadores profissionais das diversas áreas do conhecimentohumano, a segunda “frente de trabalho” está mais próxima do movimento espíritapois requer apenas um bom conhecimento das obras básicas da Doutrina Espírita, ogosto pelo estudo, observação e meditação, e um pouco de orientação sobre O QUEe COMO é um trabalho de pesquisa. Na minha opinião, uma das consequências amédio ou longo prazos da segunda “frente de trabalho” é mostrar à sociedade que oEspiritismo possui um subgrupo de pessoas que trabalham de modo sério no seuaspecto científico o que, portanto, implica na existência de uma ciência espírita.Outro benefício direto é combater as novidades que se apresentam de modo místicoe incoerentes com os princípios próprios do Espiritismo, o que perderiam o espaçoe o valor para aquilo que se obtém através do estudo e pesquisa sérios.

EE 4. O que significa para você 'ciência espírita'?

O conceito de ciência é amplo e filosoficamente envolve vários fatores. Entretanto,se eu puder apresentar uma definição em poucas palavras, eu diria que ‘ciênciaespírita’ consiste de conhecimentos que são obtidos através de atividades depesquisa baseadas em conceitos, métodos e rigores de análise definidos e descritospelo paradigma espírita.

EE 5. Como você vê o desenvolvimento dessa nova ciência?

Apesar de conhecer vários companheiros no movimento espírita se esforçandotanto na primeira quanto na segunda “frente de trabalho” mencionadas na questão3, minha impressão é que esse desenvolvimento ainda é pequeno. Isso ocorre nãosomente pelas pessoas que fazem parte do movimento espírita não serem cientistasou pesquisadores profissionais, mas principalmente pela falta de interesse peloestudo sério e metódico. Felizmente, a nossa juventude espírita vive uma época de

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maior acesso ao livro e à informação o que é um ponto positivo. O obstáculoaparente é a falta de noção do que é um trabalho de pesquisa já que, infelizmente,não se aprende a realizar pesquisa científica nas escolas e nem mesmo nos cursosde nível superior. Profissionalmente, isso se aprende nos cursos de Pós-Graduaçãodo tipo strictu-senso, que são os cursos de Mestrado e Doutorado, mas dentro domovimento espírita, não há necessidade de se ter títulos de pós-graduação pararealizar pesquisa de qualidade. As qualidades necessárias fundamentais são oconhecimento sólido do Espiritismo e o interesse e gosto pelo estudo.

H. G. Andrade. (1913-2003)

Podemos citar alguns exemplos de pessoas que trabalharam na segunda “frente detrabalho” acima mencionada. O primeiro exemplo que desejo citar são as pesquisassobre reencarnação e outros assuntos relacionados à área psíquica realizadas pelosr. Hernani G. Andrade. Cito, também, a obra “Diálogo com as Sombras” deHermínio C. Miranda que contém o relato das observações e conclusões que foramfrutos de uma atividade legítima de pesquisa espírita no campo da desobssessão.

De correspondências que troco com alguns companheiros espíritas, tenho aimpressão de que já existem vários grupos no movimento espírita que realizamtrabalhos de pesquisa em assuntos espíritas ou de interesse espírita, mas que, porfalta de uma melhor divulgação, não alcançam um número maior de pessoas.Baseado nas condições que, via de regra, sempre estão presentes junto aos gruposou comunidades de pesquisadores das diversas disciplinas científicas ouacadêmicas, eu acredito que existem fatores que, se pudessem ocorrer nomovimento espírita, ajudariam a “alavancar” o desenvolvimento da ciência espírita.Enumeramos alguns desses fatores a seguir:

Primeiro, como já comentado, precisamos de recursos humanos, isto é, pessoasdispostas ao árduo e paciente trabalho de estudo e pesquisa.

Segundo, precisamos de recursos financeiros para a pesquisa em si, para fomentarencontros de pesquisadores, aquisição de materiais, equipamentos, investigaçõesde campo, etc.

Terceiro, precisamos desenvolver uma mentalidade de pesquisa, análoga à queexiste nos meios acadêmicos porém, sem o prejuízo que existe nos mesmos porcausa do egoísmo e do orgulho. Essa mentalidade de pesquisa envolve odesenvolvimento de um senso-crítico que assegure a validade da análise dasnovidades que surgem na atividade de pesquisa. Isso envolve tanto a capacidade deauto-crítica quanto a de análise crítica da produção intelectual de outrem.Enquanto no meio acadêmico isso muitas vezes ocorre de modo agressivo, nomovimento espírita o dever moral impõe o respeito ao próximo mesmo diante de

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uma crítica. Em outras palavras, se faz necessário por em prática a recomendaçãode Jesus: “Seja seu dizer sim, sim, não, não” (Mateus 5:37).

Quarto, precisamos de mecanismos de divulgação dos resultados de pesquisa maisrápidos, eficientes e baratos, e que sejam similares ao que toda área de pesquisa doconhecimento humano tem: revistas científicas ou acadêmicas dedicadasexclusivamente a artigos de pesquisa, que utilizam o sistema de “peer review” paraa análise dos artigos. Esse método, mesmo sendo imperfeito, contribui paramaximizar as garantias de que os conteúdos publicados tiveram critério na suaexecução e bom-senso nas conclusões. As novidades publicadas por meio dessemétodo são mais confiáveis e menos suscetíveis a erros do que aquelas oriundas depublicações individuais, onde nem sempre o conteúdo passou pela devida análisecrítica.

No próximo post, Alexandre discorre sobre o que seria necessário para aprimorar odesenvolvimento da Ciência Espírita.

Livro IV - O Cérebro e a Mente (uma conexão espiritual) pelo Dr.Nubor Facure

Há um grande fosso entre as considerações acadêmicas sobre as bases daconsciência e os postulados espiritualistas. Esses últimos colocam como origem edestino das manifestações da consciência o Espírito ou princípio inteligente,independente da matéria. Já as academias - nas chamadas 'neurociências' -

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procuram explicar as manifestações de inteligência e consciência como subprodutosda atividade neuroquímica do cérebro. Esse assunto certamente ainda precisa sermuito desenvolvido, e o que as crenças acadêmicas sugerem são explicações para ofuncionamento de muitas funções cognitivas elementares, que se construiu a partirde uma visão fundamentalmente descritiva dessas funções, bem como sualocalização no cérebro (ou seja, há um mapa que liga essas funções com partesespecíficas da massa encefálica). Não obstante a existência desse mapa, inexisteuma 'teoria da consciência' como muitos poderiam pensar que explique de formasatisfatória as manifestações superiores da consciência (além disso, é preciso aindacompreender o mistério que existe na chamada 'plasticidade neural').

O neurologista Dr. Nubor Facure é autor do livro 'O Cérebro e a Mente - umaconexão espiritual' onde procura abordar o tema do ponto de vista espírita (e nãoapenas espiritualista). O livro é formado por vários capítulos (que não sãonumerados) conforme a sequência abaixo: A Evolução do Cérebro O Mapa do Desenvolvimento. Os Sistemas. O Mapa do Desenvolvimento. As Funções. Reconhecendo a Mente. O Inconsciente Neurológico. O Cérebro e a Mediunidade. A Neurologia do Bem-Estar. Revelações da Alma. Psicognosia. O Reconhecimento da Alma. O Homem Mediúnico. Uma perspectiva para o Ser Humano no futuro. Ciência e Espiritualidade. Doença Espiritual. Eventos Históricos na Pesquisa do Cérebro e da Mente.De início já comentamos que uma das grandes deficiências do livro é inexistênciade gravuras ou imagens que acompanhe as descrições feitas pelo autor(principalmente nos capítulos iniciais). O livro não contém, de fato, nenhumailustração exceto pela bela imagem da Nebulosa de Órion em sua capa. Uma vezque a neurologia definiu e especificou a existência de um mapa entre funçõescognitivas elementares e partes do cérebro, seria muito mais didático se a descriçãodo autor fosse acompanhada de figuras. Isso considerando a grande variedade deáreas e funções existentes. A figura abaixo é uma imagem extraída de um modeloaberto em Sketchup (cortesia de Fussolia) para o cérebro humano que pode ser útilpara os leitores acompanharem a interessante e bem feita descrição de Facure dasfunções cerebrais.

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Modelo 3d do cérebro segundo Fussolia (via sketchup), com algumas das áreas discutidas por Facure em seu livro.

Em 'A Evolução do Cérebro' o autor se baseia nos relatos arqueológicos sobre aevolução do volume da massa do cortex, desde os símios até o chamado HomoSapiens. Nessa descrição, o autor não se aventura a fazer qualquer 'conexão' com oprincípio inteligente ou Alma que irá aparecer apenas no capítulo 'Reconhecendo aMente'. O estilo do autor é bastante livre, ele consegue descrever de forma simplesmuitos dos conceitos. Há certa semelhança na maneira de apresentar cada conceitoentre o que escreve o autor e André Luiz em vários dos livros sob psicografia deFrancisco Cândido Xavier. Isso se caracteriza pelo uso do presente do indicativopara se referir a acontecimentos passados e fatos históricos na forma de curtosparágrafos.

Duas passagens doe 'O Cérebro e a Mente' me chamaram a atenção. Na página 41,ao descrever o gigantesco número de conexões neurais existentes no cérebro e aquantidade de informação genética supostamente necessária para descreverdetalhadamente tais descrições, Facure reconhece uma impossibilidade:Ainda não se tem uma interpretação adequada para explicar quais osmecanismos que direcionam essas ligações. Não sabemos, por exemplo, como osneurônios do olho se estendem pelas vias corretas até a parte de trás do cérebro,onde suas terminações têm que se distribuir por camadas de alta complexidade ecom a exigência de impecável de que cada fibra deve ocupar com precisão o seudevido lugar. Acredita-se que a célula alvo contenha as substâncias químicas queexercem o papel de atrair a 'fibra certa' com a qual se deve ligar. Convémregistrar que, enquanto temos milhões de gens, as ligações entre os neurônios sãode tal forma numerosas que, para desligá-las, uma a uma, a cada segundo,seriam necessários 32 milhões de anos para completar a tarefa. Portanto, temosmuito pouco material genético para, por si só, direcionar todas essasinformações.

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Em outras palavras, a quantidade de informação contida no código genético é muitomenor do que a necessária para descrever (ou mapear) as conexões neurais. Deonde vem essa informação adicional? O problema aqui é que, embora se possa terideia dessas diferenças de informação, ninguém consegue quantificá-lascorretamente. Mas, a necessidade de perfeição no concerto dessas ligações indicaque alguma força adicional está em operação. Como a neurologia é conhecimentoessencialmente descritivo, inexiste qualquer evidência sobre como essa forçapoderia operar, é como se apenas dispuséssemos da descrição de prédios e ruas docentro de uma metrópole sem poder saber absolutamente nada sobre as forçassubjacentes que os utilizam durante a maior parte do tempo.

Outra parte interessante está na pagina 47. O autor considera que as estruturasencefálicas necessárias para a inteligência do homem moderno já estavam prontas a100 mil anos atrás. Ainda assim, ele considera:Podemos questionar, então, porque só tão recentemente fomos capazes deconstruir cidades, as pirâmides, a esfinge e redigir livros sagrados, considerandoque a disponibilidade do cérebro já podia nos permitir desempenhar essas funçõesmuito tempo antes. Pressuponho que a magnitude e a rapidez desse avanço, queocorreu nesses últimos 250 séculos, deve ter sido precipitado ela vinda decriaturas, mais desenvolvidas, que vieram habitar entrenós, exercendo um papel de enxertia para a espécie humana.

Uma observação pode ser válida aqui: é possível que a história que conhecemos sejaapenas um esboço precário da verdadeira história pregressa dos últimos 100 milanos. É possível que nossa história verdadeira tenha começado muito tempo antesdos 6 mil anos a. C. De qualquer forma, é interessante considerar que a arqueologiae antropologias modernas especifiquem um 'surto' evolutivo para a cultura humanaapenas nos últimos 25 mil anos, enquanto que o cérebro moderno já estavadisponível 100 mil anos antes. Isso pode corroborar a noção de nossa cultura tenhasido auxiliada pela vinda em massa de Espíritos mais evoluídos. Essa 'vinda' emnada teve de extraordinária: ela se deu pelas vias normais do nascimento comum enada teve a ver com uma 'invasão' extraterrestre. Assim, nenhuma evidência físicadela será encontrada, apenas um surto de desenvolvimento, que é assinalado pelosestudos arqueológicos sem nenhuma explicação aparente.

Em 'Reconhecendo a Mente', é feita a primeira abordagem da necessidade de seincluir a Alma ou Espírito no quadro puramente descritivo das ciênciasneurológicas. Isso é feito pelo autor evocando-se tratados antigos de diversasculturas que reconheciam a existência de uma individualidade que é preservadaalém da morte. É importante considerarmos aqui que a postulação da existência daAlma não parte de uma necessidade meramente neurológica. De fato, podemos terdificuldades em explicar a falta de informação no código genético para explicar asligações neurais, mas o Espírito (sua existência e sobrevivência) vem como baseindependente dessas considerações. De uma maneira diferente dos capítulosiniciais, Facure descreve conceitos como Tempo, Matéria e Energia adentrando emconceitos primitivos de Relatividade e Física Quântica para justificaraparentemente a incompletude das descrições neurológicas da mente.

O Cérebro e a Mediunidade

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O que também chama a atenção em 'O Cérebro e a Mente' é a tentativa dedesenvolvimento da noção de Kardec de que a mediunidade tem a ver com aorganização física do médium que, para Facure, sugere uma ligação estreita com aestrutura cerebral (o que daria origem a uma 'neurologia da mediunidade'). Nessesentido, todos os tipos de mediunidade (mesmo aqueles que se poderiamconsiderar os mais 'físicos') passam pelo filtro do cérebro para que possam semanifestar. Isso contrasta fortemente com a opinião algo generalizada de quemediunidade deva ser algo 'místico'. E, também, sugere não se poder falar emmediunidade absolutamente mecânica, quando o médium apenas transmite o querecebe sem nenhum tipo de interferência. Esboços em direção ao desenvolvimentodessa ideia podem ser encontrado na pag. 84 ('Psicografia e Pintura Mediúnica'):Com o desenvolvimento mediúnico, a psicografia e a pintura mediúnicamanifestam-se claramente como expressões de automatismos cerebrais, nos quaiso Espírito comunicante se utiliza dos núcleos da base e das áreas motorascomplementares para executar a tarefa. Por isso, ambos, a psicografia e apictografia, são executados com extrema rapidez; a caligrafia com frequência éampliada e não há necessidade de acompanhamento da visão por parte domédium, porque ele já está treinado para execução do texto ou da pintura.

E não apenas isso. O conhecimento da maneira como o cérebro opera a codificaçãodos sinais visuais para fornecer ao Espírito a visão integral de um objeto (1) pareceser essencial para compreender as diferenças que existem entre descrições dediversos médiuns videntes. Mais recentemente, em seu blog, Facure discute umapossível explicação para esse fenômeno (2). Ele fala, por exemplo, que um pacienteepilético pode descrever uma maçã sem cor. Isso acontece porque diferentesparcelas de informação de uma imagem vão para áreas diferentes do cérebro.Portanto, como a mediunidade está essencialmente ligada a estrutura física docérebro, então diferentes médiuns poderão descrever diferentes aspectos de umacena exterior, uma vez que essa faculdade dificilmente estará uniformementedesenvolvida entre eles (trata-se de uma nova faculdade em desenvolvimento naespécieHomo Sapiens). A Psicometria (capacidade de certos médiuns de conhecer ahistória pregressa de objetos físicos simplesmente ao tocá-los) é uma extensão dasfunções do tato ordinário que são processadas no lobo parietal. Dessa forma, prevê-se que as variedades (e intensidades) mediúnicas seriam tão grandes quanto asvariedades de funções cognitivas disponibilizadas pelas diversas estruturas docérebro. A nós parece que o Dr. Nubor Facure é um pioneiro na extensão dessesconceitos oriundos de modernas descobertas da neurologia para indicar umacaminho a ser seguido na pesquisa da mediunidade no futuro.

O leitor poderá encontrar ainda vários neologismos usados pelo autor no livro (talcomo a palavra psicognosia com significado específico dado por ele), além doconceito do inconsciente neurológico. Na parte final do livro há um instrutivoquadro cronológico sobre as descobertas da neurologia, onde não deixam de figuraras contribuições de Kardec e de outros investigadores para a compreensão integral

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do ser humano. Não é possível estabelecer uma ciência da Mente onde o Espíritoseja dela derivado a partir de observações da neurologia, assim sendo:Estando presos à realidade física que nos limita, não poderemos explicar afisiologia dessas aptidões. Todas elas estão ligadas a uma capacidade da Almaque utiliza também o cérebro, mas transcende a sua fisiologia. (pag. 97)

Pelo menos, isso ainda não ocorreu. Mas, certamente, o livro do Dr. Nubor Facurenos ajuda a aprender um pouco mais sobre o assunto.

Dados da obra

Título: O Cérebro e a Mente, uma conexão espiritual.Autor: Dr. Nubor O. FacureNa nossa edição, não pudemos encontrar o ISBN dessa obra.Número de páginas: 174.Editora: FE Editora Jornalística Ltda.

Referências1. Com relação à maneira como o cérebro interpreta inicialmente ainformação visual, uma descrição para os leigos pode ser encontrada noCapítulo 4 do livro 'Fantasmas no Cérebro' de V. S. Ramachandran (Ed.Record, Rio de Janeiro, 2004). Segundo este autor, existem cerca de 30áreas no cérebro associadas ao processamento separado da informaçãovisual.2. Ver 'Mediunidade a visão das cores' postado em 26/11/11 no blog doDr. Nubor Facure. Há outros posts sobre o assunto mediunidade também.

Ciência e Fé

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“A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revelaas leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essasleis o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se.” (Allan Kardec)

Há opinião generalizada de que não é possível haver acordo entre a Ciência e a Fé.Para muitos, Ciência e Religião jamais poderão ser integradas, posto que secolocam hoje em dia em posições diametralmente opostas no que diz respeito àmaneira como o Mundo deve ser visto e interpretado. Como a Ciência - entendidacomo conhecimento e não meramente como opinião acadêmica - foi capaz deprodigalizar avanços nunca imaginados e de produzir conhecimento útil a respeitodesse Mundo, enquanto que a Religião estabelecida é herdeira de um passadapouco memorável, prevalece o ponto de vista de que a Ciência deve substituir a Féem todos os setores da vida humana.

Semelhante estado de coisas é apenas produto de um ponto de vista muitoparticular sobre o que Ciência e Fé realmente são. Quase sempre a última é descritacomo filha da ignorância e herdeira da presunção humana que assume umaimagem do Universo sem a necessidade de provas. Os exageros pintados em coresescuras que cercam a noção de Fé, se contrapõem aos exageros semelhantes masem tons coloridos que se formam em torno da Ciência. Esta é vista como produto daexação e da lógica, da aplicação rigorosa de um método isento de erros e acima detodos os interesses humanos. A favor desse quadro apresentaram-se versões defatos históricos, que se cristalizaram como verdades absolutas seguindo a opiniãode maior gosto e interesse de nossa época.

Entretanto, esse estado de tensão desaparece ao se encontrar uma nova noção de Féque se completa a partir de uma nova visão da Ciência, nascida da compreensãointegral de como esta opera e se estabelece realmente. Tal mudança de ponto devista com relação às noções de Ciência e Fé são parte dos fundamentos que deverãoestabelecer uma nova sociedade, mais equânime e menos dogmática em seuspontos de vista.

Pois, apenas a uma causa deve-se imputar o aparente conflito que existe entreCiência e Fé: ao dogmatismo que ainda existe na sociedade humana. É a opinião

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dogmática que devemos combater como sendo o pior dos vícios quando a questão éfazer verdadeiramente Ciência e Religião caminharem lado a lado. Elimine odogmatismo e veremos aparecer uma nova Ciência e uma nova Religião prontas asse darem as mãos em direção à Verdade. Elimine o dogmatismo e teremos umasíntese perfeita do que pode a alma humana alcançar em termos do que é belo everdadeiro em sua plenitude: a respeito de nossas origens como espécie, de nossaposição no Mundo, sobre nossas aptidões em realizar o ideal de beleza no campodas artes, com relação a nossa 'religação' com a fonte primordial da Vida, queconstitui Religião no sentido mais exato do termo.

Repetimos que o dogmatismo é o responsável por todosos desvirtuamentos da Religião: ele pode ser encontrado em todas as decisões arespeito de assuntos que não eram de sua alçada, mas que se ligaram a ela por purointeresse. E, quando se trata de defender seus maiores interesses (ainda que taisinteresses sejam inúteis e imaginários) é preciso ser dogmático. É o dogmatismo oresponsável por negar à Ciência sua capacidade de estudar e compreender assuntostranscendentes porque tais assuntos fogem aos interesses imediatos de se fazerCiência. Logo é preciso alimentar o dogmatismo.

Em essência, nunca houve conflito genuíno entre o conhecimento puro a respeitodo mundo e a necessidade humana em se conectar à fonte geradora desse mesmomundo. Ambas são forças que nascem da ânsia de transcender a nossa vidacotidiana, em procurar e se ligar a nossa verdadeira origem. Mas, por causa dosinteresses que se multiplicaram no meio do caminho que se traçou para essa busca,Ciência e Fé tornaram-se, de acordo com esse ponto de vista popular, pontos devista antagônicos para se interpretar o Mundo.

Uma novo continente haverá de surgir desse oceano profundo, de águas escuras eenodoadas por sangrentas e cruéis batalhas de outrora. Que morram os interessesmesquinhos e veremos nascer uma nova Terra como uma nova síntese de estado decoisas, de noções mais perfeitas e conhecimentos ainda mais exatos. Neste novomundo, desaparecerão as concepções de 'Religião' e 'Ciência', confundidas em umamesma busca, em um mesmo método de procura da Verdade que é, por si mesma, afonte de tudo que existe.

Conceitos básicos de Física Quântica I

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As moléculas têm uma forma determinada?" Sem dúvida, as moléculas têm uma forma,que não é perceptível para vós." ('O Livro dos Espíritos', questão # 34, 1857)

Apresentação elementar de conceitos básicos em física quântica para que o leitor possamelhor julgar e se posicionar diante dos que pretendem misturar espiritualismo comessa especialidade da física.1. Introdução

A física exerceu enorme influência sobre o desenvolvimento das ciências modernasnos últimos tempos. Sabemos hoje o quanto e ciência e a tecnologia têmcontribuído para o aprofundamento do abismo entre as sociedades ricas e pobres,numa situação nunca antes vista na história. Nosso objetivo com a série de postsque se inicia hoje é apresentar brevemente alguns conceitos de física quântica, a fimde elucidar aparentes diferenças entre a visão do mundo fornecido por essadisciplina e a maneira usual de ver o mundo. Isso é importante, uma vez quedescobrimos que o nosso jeito particular e puramente sensorial de apreender arealidade não corresponde ao único existente. Existem 'outras realidades', o quepode ajudar a nos distanciar do ceticismo em relação a novos fenômenos daNatureza. Sabemos também que a física quântica tem sido evocada por grupos deespiritualistas numa tentativa de justificar ideias e noções transcendentes do serhumano ou do próprio Universo (ver "Física Quântica e os espiritualistas do século21 - uma análise preliminar"). Antes de analisarmos e criticarmos essa postura, éimportante apresentar os novos conceitos da física quântica, mesmo que em nívelelementar, a fim de que o leitor também possa julgar melhor a polêmica e adificuldade apresentada por esse tipo de debate. Nosso objetivo não é, portanto, acrítica.

Grande parte dos avanços da física neste século foram possíveis graças aodesenvolvimento do programa de pesquisa da chamada "mecânica quântica"também conhecida como física quântica. Seu desenvolvimento se deve basicamenteà convergência de três especialidades da física: o eletromagnetismo, a óptica e osurgimento da física nuclear, bem como um conjunto de novos fenômenos que nãopoderiam ser explicados de forma satisfatória pela física anterior, chamada de'física clássica'. Em sua essência a mecânica quântica visa o estudo de sistemasquânticos. Sistemas quânticos são sistemas físicos (isto é, podem ser sistemaselétricos, ópticos, nucleares, eletrônicos, térmicos, mecânicos etc) cuja quantidade

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de movimento ou energia associada é tão pequena que uma descrição clássica não épossível.

2. Descrição clássica

O que é porém uma descrição clássica?

É a descrição de sistemas físicos desenvolvida pelos cientistas antes dadescoberta de fenômenos quânticos e que atingiu seu pleno desenvolvimento comas contribuições deIsaac Newton (1643-1727) no século 18 (mas não exclusivamentepor ele). Newton tornou-se um dos pais fundadores da física clássica. Nossa crençado mundo é clássica. Daí o nome 'física clássica' ou 'mecânica clássica'. Quandodirigimos automóveis acreditamos que as posições e velocidades dos automóveisque passam a nossa frente realmente refletem oestado desses sistemas de formasimultânea. Sabemos que um erro de cálculo de nossas mentes pode ser fatal pois,em se tratando dos sistemas “automóveis”, não é possível que dois deles ocupem amesma posição no espaço no mesmo instante de tempo. Quando ligamos aparelhoselétricos sabemos (na verdade, nós acreditamos nisso) que a corrente elétrica datomada de força flui continuamente, o que possibilitamos o correto uso deequipamentos. Quando observamos objetos a nossa frente, acreditamos que elesestão na posição que nós observamos, no momento em que são observados, paradosou em movimento, e não que se encontrem em outro lugar (mesmo que esse outrolugar seja alguns poucos milésimos da distância da posição onde nós acreditamosque esses objetos estejam).

Nota de 1 libra trazendo a imagem de Newton. O desenvolvimento da física clássica foi um dos triunfos dacivilização moderna.

A física clássica é a física dos objetos e coisas muito próximos de nossos sentidos.Para ela o tempo flui continuamente, sem consideração a nada mais; o medidas noespaço são definidos a partir de sua referência a um determinado ponto arbitrárionesse mesmo espaço, que não se altera pela presença de objetos nele. Espaço etempo são conceitos primitivos e independentes um do outro. Objetos existem noespaço com posições muito bem definidas. Movimentam-se nele com velocidadesque se pode determinar com precisão. O estado desses objetos clássicos édeterminado por arranjos experimentais sem que o observador interfira de formamais fundamental no processo de medida. Ou, se isso não for absolutamentepossível, há sempre uma maneira de se fazer um experimento de forma que oprocesso de medida interfira o mínimo possível com o estado anterior desse objeto

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(antes da medida). Ainda assim, é possível separar o efeito do observador, de formaa se prever e reduzir sua influência sobre o objeto medido.

Essas características da física clássica acima deixam de ser válidas no universoquântico, que é o domínio de existência de fenômenos quânticos. Isso ocorrefreqüentemente, porém, dentro de uma escala de dimensão peculiar. A Naturezafreqüentemente prega peças nos seres humanos, principalmente quando nosbaseamos em nossas experiências ordinárias ou tomamos como certo o mundo quenos cerca (nossa experiência ordinária sensorial dele). Nesta nossa discussão,apresentaremos brevemente alguns dos fenômenos quânticos que se tornaramnotórios no desenvolvimento da física quântica, a dificuldade de compreensãodesses fenômenos pelo “bom senso” que nos guia diariamente, e um panoramageral da situação atual acadêmica da interpretação física desses mesmosfenômenos. Por causa da dificuldade intrínseca do assunto, não poderemos senãoapresentar uma descrição necessariamente qualitativa e elementar, deixandoaspectos quantitativos e mais complexos de lado para inúmeras referências queexistem.

Se o domínio dos fenômenos quânticos é muito diferente do nosso, por queconhecer física quântica é importante? Uma resposta a essa questão não pode serdada fora das aplicações dessa nova física. Isso porque todo conhecimentocientífico que é útil tem uma aplicação definida de onde aproveitamentos práticospodem ser feitos. Todos os equipamentos eletrônicos que usamos modernamentetêm como elementos básicos componentes que funcionam utilizando fenômenos oupropriedades de sistemas quânticos. Também nos processos de comunicação adistância (telecomunicações) alguns princípios quânticos importantes tais como anoção de comprimento de onda, freqüência etc são utilizados. Dificilmente porémteremos que nos preocupar com a física quântica em se tratando dos fenômenosque impressionam diretamente nossos sentidos, pois a maior parte dos fenômenosquânticos não podem ser apreendidos dessa maneira.

3. Alguns fenômenos quânticos

Experimento das duas fendas.

Um fenômeno quântico antigo que é de fácil montagem experimental é o fenômenode interferência de ondas (também chamado de experimento das duas fendas).Esse fenômeno era bem conhecido muito antes do nascimento da física quântica,pertencendo à óptica, pois se acreditava então (até o fim do século 19) que a luzfosse formada por vibrações (ondas) propagando-se em um meio especial chamadoéter. Uma imagem ilustrativa do experimento é mostrada na Fig. 1. Uma anteparocom uma fenda (S1) é iluminado uniformemente desde a esquerda. A luz,propagando-se inicialmente seguindo frentes de onda plana (regiões de mesmaintensidade de luz), ao passar pela fenda, propaga-se com frentes de onda esféricaou circular como mostrado. Se essa onda passar agora por duas fendas (S2), porcausa da interferência entre as oscilações provenientes de cada fenda, um anteparodistante registrará a interferência na forma de regiões claras e escuras comomostrado.

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Fig. 1 Experimento das duas fendas.

Observamos que, invocando a natureza ondulatória do fenômeno, esse experimentopode ser feito tanto com luz como com som. No caso de som, o que se registra naregião de interferência é a alternação entre zonas de ruído e zonas de silêncio. Umaextrapolação do experimento de duas fendas que foi confirmada na práticaexperimental e que constitui uma assinaturas da natureza quântica da matéria é aseguinte: se, ao invés de luz, lançarmosmatéria na forma de partículas desde aesquerda, esperamos intuitivamente que as partículas atravessem as fendasdiscretamente, não se observando figura alguma de interferência no anteparo final.Isso acontece porque nossa concepção aprendida de matéria é de algo bem definidono espaço. Partículas são tratadas como 'bolinhas' que se movimentam no espaçocolidindo-se umas com as outras, sem chance de interferirem.

Fig. 2 Experimento de duas fendas com 'ondas de matéria'.

Entretanto isso não acontece! Lançando muitas partículas no experimento de duasfendas, encontramos no anteparo final partículas que se distribuem no espaçosegundo uma padrão de interferência característico (Fig. 2). Poderíamos achar queo padrão de interferência final fosse resultado da colisão (interação) entre as muitaspartículas que lançamos e que atravessam as fendas ao mesmo tempo. Isso porém

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não é verdade, pois o padrão de interferência aparece ainda que lançemos umapartícula por vez. A única explicação possível é mudar nosso conceito usual departícula ou matéria e associarmos um comportamento ondulatório a ela. Dizemosque uma determinada partícula (pode ser um elétron, um átomo, coleções deátomos etc) está associado uma onda que tem um certo comprimento de onda oufreqüência característica e que se propaga no espaço prescrevendo nele aintensidade de probabilidade de se encontrar a partícula em um dado ponto. Demaneira esquemática:

Uma Partícula está associada a

onde

é uma representação simbólica para a onda da partícula (letra grega psi, narepresentação acima pronuncia-se 'psi de x', uma função matemática especial). Elaestá associada à probabilidade, por exemplo, de se achar a partícula em uma certaposição do espaço dado por x. A primeira diferença da nossa descrição usual(clássica) do mundo aparece. De fato, a matéria descrita do ponto de vista quânticonão pode ter sua posição fornecida com infinita precisão; existe uma incerteza dadapela onda de probabilidade. Na experiência das duas fendas, essa onda deprobabilidade se manifesta na forma de interferência. Cada orifício na fenda 2produz ondas de probabilidade que se interferem para formar a figura no anteparo.Perceba que isso é verdade mesmo que tivéssemos uma única partícula. Mas comopode uma partícula interferir com ela mesma? Há algo que se espalha no espaço,ligado a uma partícula que, ao passar pelas duas fendas, é modificado no espaço,resultando na figura de interferência que se observa no anteparo. Notamos, porém,que no caso de uma única partícula, esta é capturada em algum ponto no anteparoapenas nas zonas previstas pela distribuição de probabilidade modificada (Ver fig. 3para uma simulação de uma partícula que se encontra confinada inicialmente emuma região circular do espaço em vermelho). É preciso utilizar muitas partículaspara se formar uma figura de interferência 'por acumulação' como aquela obtidapor meio da luz.

não é verdade, pois o padrão de interferência aparece ainda que lançemos umapartícula por vez. A única explicação possível é mudar nosso conceito usual departícula ou matéria e associarmos um comportamento ondulatório a ela. Dizemosque uma determinada partícula (pode ser um elétron, um átomo, coleções deátomos etc) está associado uma onda que tem um certo comprimento de onda oufreqüência característica e que se propaga no espaço prescrevendo nele aintensidade de probabilidade de se encontrar a partícula em um dado ponto. Demaneira esquemática:

Uma Partícula está associada a

onde

é uma representação simbólica para a onda da partícula (letra grega psi, narepresentação acima pronuncia-se 'psi de x', uma função matemática especial). Elaestá associada à probabilidade, por exemplo, de se achar a partícula em uma certaposição do espaço dado por x. A primeira diferença da nossa descrição usual(clássica) do mundo aparece. De fato, a matéria descrita do ponto de vista quânticonão pode ter sua posição fornecida com infinita precisão; existe uma incerteza dadapela onda de probabilidade. Na experiência das duas fendas, essa onda deprobabilidade se manifesta na forma de interferência. Cada orifício na fenda 2produz ondas de probabilidade que se interferem para formar a figura no anteparo.Perceba que isso é verdade mesmo que tivéssemos uma única partícula. Mas comopode uma partícula interferir com ela mesma? Há algo que se espalha no espaço,ligado a uma partícula que, ao passar pelas duas fendas, é modificado no espaço,resultando na figura de interferência que se observa no anteparo. Notamos, porém,que no caso de uma única partícula, esta é capturada em algum ponto no anteparoapenas nas zonas previstas pela distribuição de probabilidade modificada (Ver fig. 3para uma simulação de uma partícula que se encontra confinada inicialmente emuma região circular do espaço em vermelho). É preciso utilizar muitas partículaspara se formar uma figura de interferência 'por acumulação' como aquela obtidapor meio da luz.

não é verdade, pois o padrão de interferência aparece ainda que lançemos umapartícula por vez. A única explicação possível é mudar nosso conceito usual departícula ou matéria e associarmos um comportamento ondulatório a ela. Dizemosque uma determinada partícula (pode ser um elétron, um átomo, coleções deátomos etc) está associado uma onda que tem um certo comprimento de onda oufreqüência característica e que se propaga no espaço prescrevendo nele aintensidade de probabilidade de se encontrar a partícula em um dado ponto. Demaneira esquemática:

Uma Partícula está associada a

onde

é uma representação simbólica para a onda da partícula (letra grega psi, narepresentação acima pronuncia-se 'psi de x', uma função matemática especial). Elaestá associada à probabilidade, por exemplo, de se achar a partícula em uma certaposição do espaço dado por x. A primeira diferença da nossa descrição usual(clássica) do mundo aparece. De fato, a matéria descrita do ponto de vista quânticonão pode ter sua posição fornecida com infinita precisão; existe uma incerteza dadapela onda de probabilidade. Na experiência das duas fendas, essa onda deprobabilidade se manifesta na forma de interferência. Cada orifício na fenda 2produz ondas de probabilidade que se interferem para formar a figura no anteparo.Perceba que isso é verdade mesmo que tivéssemos uma única partícula. Mas comopode uma partícula interferir com ela mesma? Há algo que se espalha no espaço,ligado a uma partícula que, ao passar pelas duas fendas, é modificado no espaço,resultando na figura de interferência que se observa no anteparo. Notamos, porém,que no caso de uma única partícula, esta é capturada em algum ponto no anteparoapenas nas zonas previstas pela distribuição de probabilidade modificada (Ver fig. 3para uma simulação de uma partícula que se encontra confinada inicialmente emuma região circular do espaço em vermelho). É preciso utilizar muitas partículaspara se formar uma figura de interferência 'por acumulação' como aquela obtidapor meio da luz.

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Fig. 3 Fenômeno de espalhamento de uma onda quântica definida em uma região circular do espaço sobre umanteparo com dois orifícios. Se fosse uma 'partícula clássica', ela teria ricocheteado na parede e nada seria visto dooutro lado ou ela teria atravessado um dos orifícios (caso fosse menor que eles). No caso de uma partícula quântica,há interferência de sua onda de probabilidade, e a partícula pode ser encontrada do outro lado. (De acordo comFernandez Palop, 2009)

Essa 'onda de probabilidade' orienta a posição da partícula. Mas não só isso, elaorienta também a velocidade dessa partícula. Como tudo é feito de partículas -átomos e seus agregados - então a matéria que conhecemos tão bem no chamado'nível macroscópico' como sendo algo tangível e de posição definida, não o é nonível microscópico. Como então acontece de não percebermos essa variaçãoapreciável na probabilidade de posição tão comum no nível quântico? A resposta éque, no nível macroscópico, quando se agregam muitos milhares de bilhões departículas em agregados, a discretização possível de interferência observada torna-se microscópica, tão pequena que é imperceptível: surge então uma descriçãoabsolutamente contínua da realidade, desaparecem as incertezas e o 'universoclássico' se estabelece. Isso é algo semelhante à ilusão provocada pela contemplaçãode uma imagem num computador: essa imagem é feita, de fato, por milhões de"pixels", mas cria uma ilusão de continuidade se vista a certa distância.

No próximo post: efeito fotoelétrico; tunelamento quântico (efeito túnel).

Sobre alguns termos

Estado - diz respeito a determinadas características de um sistema físico.Ao se descrever o estado de um sistema físico, se está também definindo o própriosistema. Esse conceito será foco de um futuro post. Sistema físico - é a região do espaço definida por determinados objetosfísicos submetidos a condições específicas. Um sistema físico tem determinadascaracterísticas que o descrevem, uma delas é o seu estado.Referências "A versatile applet to explore the wave behaviour of particles, " J IFernández Palop, 2009 Eur. J. Phys. 30 771. doi: 10.1088/0143-0807/30/4/010 Física Quântica e os espiritualistas no século 21 (análise preliminar).

Convite antecipado para participação do 8o ENLIHPE (2012)

Desde 2003, o Encontro Nacional ENLIHPE tem sido o espaço de encontro da LIHPE - Liga dePesquisadores do Espiritismo. A Liga é um grupo virtual de pessoas interessadas no estudo do

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Espiritismo nos moldes acadêmicos. Isto quer dizer que se estuda a temática espírita de acordocom regras acadêmicas. Os membros não necessitam ser espíritas para participar, basta querespeitem os códigos de conduta do grupo e obviamente tenham interesse no Espiritismo.

A LIHPE foi criada para incentivar o registro e discussão da história do Espiritismo, e aospoucos, foi agregando interessados que trabalhavam na fronteira entre o Espiritismo e aschamadas áreas do conhecimento: filosofia, física, psicologia, ciências sociais, antropologia emuitas outras.

Desde seu fundador, Eduardo Carvalho Monteiro, percebeu-se que apenas o intercâmbio àdistância é insuficiente para estabelecer grupos de trabalho e aproximar os membros. Foi entãocriado o ENLIHPE, que é o encontro nacional, este de caráter presencial.

São Paulo abriu as portas para o ENLIHPE, especialmente o Centro de Cultura,Documentação e Pesquisa do Espiritismo - CCDPE, que é uma casa fundada com o esforçode muitas pessoas e o acervo bibliográfico e documental do Eduardo, doado após a morte.

CCDPE-ECM: instituição que abriga o EncontroNacional da Liga realizado tradicionalmente em agosto.

Há quatro anos as paredes do Centro de Cultura têm recebido membros da LIHPE e outrosinteressados dos quatro cantos do país. Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, RioGrande do Sul, Paraná, Piauí, Ceará, Bahia e Goiás são alguns dos estados que já enviaramrepresentantes ou expositores, ou mesmo participantes para o evento. Houve a presença de umantropólogo italiano na participação do evento e o intercâmbio posterior possibilitou apublicação de um trabalho monográfico na área da antropologia em seu país.

Se você tem algum trabalho na fronteira entre o Espiritismo e as ciências reconhecidas peloCNPq e até outras não reconhecidas (como é o caso da parapsicologia), comece a preparar seuartigo para submissão. O ENLIHPE ocorre tradicionalmente em Agosto (este ano ocorrerá em18-19 de Agosto) de forma que ainda tem muito tempo para participar. Evite, porém, deixarpara a última hora. Mais informações sairão no site da LIHPE: www.lihpe.net

Crenças Céticas XIX - O que o ceticismo dogmático produz de útil ?

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Um tema que passa muitas vezes despercebido nas discussões céticas versa sobre asconsequências de longo prazo da postura cética em relação aos fenômenospsíquicos e, porque não, com outras ocorrências anômalas que sabemos existir nomundo. De forma mais geral, quais são as consequências práticas do ceticismo, seprincipalmente dogmático, para o avanço do conhecimento humano? Será que ele écapaz de produzir algo útil, além de mais adeptos a sua escola?

Se tivéssemos que investir tempo e recursos para a pesquisa de novos fenômenos,de novas realidades além do que conhecemos de forma ordinária, no queinvestiríamos: numa postura que aceita a realidade deles ou que os nega deforma peremptória? Qual dessas posturas será capaz de fazer nosso conhecimentoavançar com relação a esses fenômenos? Podemos também encarar essa últimaquestão como a proposta para uma competição: daqui para frente veremos quemconsegue, seguindo cada qual sua maneira de encarar as coisas, realmente produziralgo útil.

Porque conhecimento só tem valor se for útil

Não há nenhuma dúvida de que a ciência moderna só conseguiu chegar no ponto dedesenvolvimento presente porque ela se constituiu em um método capaz de gerarconhecimento útil. Hoje, o desenvolvimento científico só acontece a partir de umadecisão de investimento. Depois de uma descoberta científica, qualquer que sejaela, a pergunta crucial é: ok, o que podemos fazer de bom com isso? Qualquer fundoprivado, por exemplo, somente irá investir em ideias que se possam mensurar emtermos de retorno financeiro, desde que produzam algo que tem valor para alguém,algo que pode ser "comercializado". Isso se torna ainda mais forte em períodos decrise econômica e aversão ao risco.

Alguns analistas erroneamente consideram que a tecnologia moderna é fruto deuma ciência cética e materialista. Isso está longe de ser verdade. O desenvolvimentotecnológico é fruto da ciência aplica e de decisões de investimento calcadas emanálises de mercado onde o objetivo é certamente o lucro financeiro. Empresasorganizam suas atividades de "P&D" (pesquisa e desenvolvimento) de forma amaximizar o retorno de capital em projetos de pesquisa que tragam claramentevantagens de crescimento para a empresa. Portanto, aquilo que se oferta emtecnologia depende da existência de claras oportunidades de mercado. A existência

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de mercados para determinados produtos tecnológicos, impulsiona odesenvolvimento da ciência aplicada em um ciclo virtuoso, mas que eventualmentetem o seu fim com a descoberta ou desenvolvimento de novas tecnologias.

Desta forma, grande parte do avanço tecnológico moderno está sendo feito a partirde pesquisas aplicadas dentro de corporações privadas, onde o conhecimentogerado dificilmente se torna público. Assim, há uma grande quantidade deconhecimento genuíno e útil fora do ambiente acadêmico, o que torna difícildefender o ponto de vista limitado de que avanços tecnológicos foram frutos depesquisas acadêmicas tão somente. Esta última é, majoritariamente, apoiada porrecursos estatais, onde as decisões de investimento são tomadas a partir de outroscritérios (por exemplo, acadêmicos) que não o da utilidade pública ou do mercado.

Por que essa discussão é importante? Em um sentido mais amplo, nossa posturasobre o mundo também pode ser vista como uma decisão de investimento. Essa é,por si só, uma maneira pragmática de se decidir no que acreditar. Trata-se de seescolher aquela postura que fará o conhecimento não somente crescer, masproduzir algo prático à sociedade. Por 'conhecimento útil' entendemos assim oconhecimento que seja capaz de: Gerar mais conhecimento que, por sua vez, também deve ser útil a alguém; Gerar métodos ou procedimentos capazes de melhorar a vida das pessoas.Historicamente, céticos (um exemplo é Carl Sagan) tem se colocado contra o estudoda fenomenologia psíquica por entenderem que ele deriva de uma maneira arcaicade ver o mundo. Muitos céticos extremados acreditam-se investidos da função decríticos contrários a essa visão arcaica e irracional que estaria ameaçando nossasociedade. Criaram um duelo fictício entre uma sociedade tecnologicamenteavançada e outra que se torna marginalizada por conta na crença na existência defatos e coisas que eles consideram sem fundamento. A utilidade, assim, desseceticismo, seria livrar a sociedade moderna do 'perigo de se retornar à idade dastrevas', que se constitui, claramente, numa crença sem fundamento e até mesmoingênua. Outros céticos temem, na verdade, que recursos financeiros sejamdesviados de seus temas preferidos de pesquisa e conhecimento.

Uma busca minuciosa por uma aplicação prática desse tipo de ceticismodificilmente resultará em algo além da proposição 'livrar as pessoas da ignorância,evitar com que a sociedade caia de novo nas trevas, evitar que sejamos enganados' ecoisas desse tipo. O medo maior de todo cético extremado é 'ser enganado',esquecendo-se que ele se engana a si mesmo.

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O ceticismo exagerado é, pois, uma postura infértil, incapaz de gerar conhecimentoútil e que só serve para cumprir determinados propósitos fechados em si mesmo.

Do que a história do ceticismo está cheia.

A. R. Wallace (1) descreve num relato breve o maior papel desempenhado peloceticismo na história do desenvolvimento tecnológico e científico moderno. Épossível assim traçar, na história da Ciência, o verdadeiro papel desempenhado poressa maneira peculiar de ver o mundo."Não é necessário mais do que referir-se aos nomes universalmente conhecidos deCopérnico, Galileu e Harvey. As grandes descobertas que fizeram, como sabemos,foram violentamente combatidas por todos os seus contemporâneos do meiocientífico, para quem elas pareceram absurdas e inacreditáveis; mas nós temosexemplos igualmente contundentes muito mais próximos aos nossos dias. QuandoBenjamin Franklin trouxe o assunto dos condutores de raios ante a SociedadeReal, ele foi ridicularizado como se fosse um sonhador, e seu artigo não foi aceitopara a revista Philosophical Transactions. Quando Young propôs suas provasmaravilhosas da teoria ondulatória da luz, ele foi igualmente vaiado comoabsurdo pelos populares escritores científicos de sua época[1]. A revista EdimburgReview exortou o público a colocar Thomas Gray “em saia justa” por sustentar apraticabilidade das estradas de ferro. Sir Humphrey Davy riu da ideia de Londresser sempre iluminada com gás. Quando Stephenson propôs empregar locomotivasnas estradas de ferro de Liverpool e Manchester, os homens instruídos colocaramem evidência a impossibilidade de se locomover a doze milhas por hora. Outragrande autoridade científica declarou ser igualmente impossível navios a vaporoceânicos cruzarem o Atlântico. A Academia Francesa de Ciências ridicularizou ogrande astrônomo Arago quando ele desejou discutir sobre o assunto do telégrafoelétrico. Médicos ridicularizaram o estetoscópio quando ele foi descoberto.Operações sem dor durante o transe mesmérico foram consideradas impossíveis,e depois imposturas.

Mas um dos mais formidáveis, por se tratar de um dos mais recentes casos deoposição, ou pelo menos descrença em fatos que se opunham à crença corrente desua época, entre homens que estão geralmente encarregados de ir mais distantena outra direção, é o da doutrina da “Antiguidade do Homem”. Boué, umexperiente geólogo francês, em 1823 descobriu um esqueleto humano a oitenta pésde profundidade no loess ou lodo endurecido do rio Reno. Foi enviado para ogrande anatomista Cuvier, que desacreditou completamente do fato. Eleconsiderou este fóssil como sem valor, como se fosse inútil, e o perdeu. Sir C. Lyell,a partir de uma pesquisa pessoal no local, agora acredita que as afirmações doobservador original eram bastante precisas. Nos idos de 1715, armas de pedraforam encontradas com o esqueleto de um elefante em uma escavação em InnLane, na região de Gray, na presença do Sr. Conyers, que as colocou no MuseuBritânico, onde elas permaneceram completamente sem notícia até muitorecentemente. Em 1800, o Sr. Frere encontrou armas de pedra juntamente com osrestos de animais extintos em Hoxne, Suffolk. De 1841 a 1846, o célebre geólogofrancês Boucher de Perthes descobriu grandes quantidades de armas de pedra nosaluviões de cascalho do norte da França; mas por muitos anos ele não conseguiuconvencer nenhum de seus colegas, homens de ciência, que se tratava de trabalhosde arte, nem mereceu a mais leve atenção. Por fim, contudo, em 1853 ele começoua fazer adeptos. Em 1859-60 alguns de nossos mais eminentes geólogos visitaramo local, e confirmaram totalmente a veracidade de suas observações e deduções.

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Outro ponto neste assunto foi tratado de forma ainda pior, se for possível. Em1825, o Sr. Mc Enery, de Torquay, descobriu pedras trabalhadas junto aos restosde animais extintos na célebre caverna King's Hole; mas o relato de suasdescobertas foi simplesmente ironizado. Em 1840, um de nossos primeirosgeólogos, o falecido Sr. Godwin Austen, trouxe este assunto à SociedadeGeológica, e o Sr. Vivian, de Torquay, enviou um artigo confirmandocompletamente as descobertas do Sr. McEnery; mas ele foi considerado muitoimprovável para ser publicado. Quatorze anos depois, a Sociedade de HistóriaNatural de Torquay fez observações posteriores, confirmando inteiramente asanteriores, e enviou um relato delas para a Sociedade Geológica de Londres; maso artigo também foi rejeitado, considerado muito improvável para publicação.Agora, contudo, a caverna foi sistematicamente explorada sob a superintendênciade um comitê da Associação Britânica, e todos os relatórios anteriores enviadosdurante quarenta anos foram confirmados, e foi mostrado serem ainda menosmaravilhosos que a realidade. Deve ser dito que “este era um cuidado próprio daciência”. Talvez fosse; mas todos esses eventos provam este importante fato: queneste, assim como em todos os outros casos, os humildes e frequentementedesconhecidos observadores estavam certos; os homens de ciência que rejeitaramsuas observações estavam errados.

Agora, são os observadores modernos de alguns fenômenos, usualmentedenominados sobrenaturais e inacreditáveis, menos dignos de atenção que osoutros já citados?"

Os que tem interesse em procurar a verdade, devem se perguntar sempre sobre omelhor caminho a seguir quando se trata de gerar conhecimento genuíno a respeitode fenômenos e ocorrências naturais. Devem também se questionar sobre autilidade do que acreditam. A insistência em permanecer na defesa de ideias eposturas inférteis pode representar uma perda de tempo inestimável.

Referência

(1) A. R. Wallace. O 'Diálogo com os Céticos' (2011). Editora 3 de Outubro.

Nota de A. R. Wallace[1] As citações que se seguem são exemplos escolhidos dentre os artigos doEdimburg Review em 1803 e 1804: “Outra leitura Bakeriana, contendo maisfantasias, mais asneiras, mais hipóteses sem fundamento, mais ficções gratuitas,todas sobre o mesmo campo, e do fértil, mas infrutuoso cérebro do mesmo eternoDr. Young.” E novamente: “Ele não ensina verdades, não reconcilia nenhumacontradição, não organiza nenhum fato anômalo, não sugere novos experimentose não conduz a novas investigações”. Alguém pode supor que se trate de umcientista moderno desdenhando do espiritualismo!

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Livro V - "Sinfonias Inacabadas" por Rosemary Brown.

Médiuns músicos – Os que executam, compõem ou escrevem músicas sobinfluência dos Espíritos. Há médiuns musicais mecânicos, semimecânicos,

intuitivos e inspirados, como se dá com as comunicações literárias. (Ver o tópicosobre Médiuns de Efeitos Musicais). A. Kardec (1)

Os escarnecedores devem apresentar alguma explicação para essa música, vistonão poderem rejeitá-la como não existente. Ela deve ser investigada

imparcialmente, é claro. Na verdade, eu mesma continuo a buscar as condiçõesnecessárias a uma eficiente comunicação com o mundo dos Espíritos. (Rosemary

Brown, "Sinfonias Inacabadas", p.26)

Imagine conversar com Espíritos desde a tenra infância e crescer relacionando-secom eles durante toda adolescência. Imagine receber deles centenas decomunicações e ditados e desenvolver uma mediunidade produtiva, rica emmanifestações intelectuais por mais de 70 anos. Se alguém pensou que este é maisum post sobre Chico Xavier, enganou-se. Rosemary Brown (1916-2001) foi umasimples dona de casa inglesa que desde sua primeira infância conversou e recebeurecados de gente falecida. Sua história de vida está bem contada no livro 'SinfoniasInacabadas - os grandes mestres compõem do Além' que é uma espécie deautobiografia. Muita coisa já foi publicada sobre ela na década de 70, quando elateve um curto mas impactante aparecimento na mídia inglesa e americana paradepois voltar a sua vida pacata, longe dos holofotes e da fama. Sua história éfascinante e tem paralelos impressionantes com a vida de Chico Xavier, com adiferença que, ao invés de livros, ela recebeu músicas.

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Franz Lizst (1811-1886).Foram cerca de 500 partituras, obtidas por meio de 'psicografia musical', poralguém que teve aulas esporádicas de piano quando permitidas por sua vida cheiade dificuldades. Essas composições revelaram 12 diferentes estilos, todosconfirmados pela crítica. As dificuldades da Sra. Brown tiveram sua razão de ser,pois fizeram crescer nela a força que precisaria para mostrar (ou executar) seusditados mediúnicos ao mundo, vencendo sua personalidade tímida. A mediunidademusical é raríssima, mas foi detectada por Kardec conforme consta no Capítulo 16de 'O Livro dos médiuns'. A variedade musical de Rosemary Brown foi desenvolvidaao longo do tempo. Como tinha grande lucidez ao conversar com os Espíritos, elespodiam indicar a ela nota a nota a composição final, além de marcar o compasso.Seu principal mentor foi Franz Lizst (1811-1886) que se revelou quando ela tinhaapenas 7 anos de idade. A edição brasileira do livro traz um prefácio de ElsieDubugras que a compara ao grande médium mineiro. O livro é dividido nosseguintes capítulos: Capítulo 1 - O início Capítulo 2 - Por que eu? Capítulo 3 - O plano dos compositores. Capítulo 4 - Lizst. Capítulo 5 - A Vida após a morte. Capítulo 6 - Chopin. Capítulo 7 - Os compositores. Capítulo 8 - Curas. Capítulo 9 - A comprovação.Para quem gosta de música clássica, o livro chega a ser divertido. Embora oceticismo em sua época tenha se interessado pelo fenômeno, ele não conseguiuencontrar uma explicação plausível para a variedade de estilos demonstrados pelamédium. Explicar o fenômeno da Sra. Brown não é tarefa fácil fora da tese espírita,pois a composição de músicas clássicas é uma atividade enormemente complexa,que envolve um conjunto de faculdades intelectuais raramente encontradas. Alémdisso, compor músicas não é uma atividade muito feminina (basta tentar serecordar do número de mulheres na história que se dedicaram à composição). Doponto de vista da fenomenologia, certamente a psicografia musical é algo maisnotável que psicografia comum (literária).

O Capítulo 1 é cheio de histórias das fases iniciais de sua vida e da sua dificuldadeem se acostumar com sua faculdade extraordinária. As dificuldades porque teve quepassar, moldaram uma personalidade bastante flexível e, portanto, sensível para atarefa que haveria de se revelar mais tarde. Um resumo dos ensinamentos que teve

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com o grupo de compositores pode ser lido no Capítulo 5. Os capítulos 4, 6 e 7 érepleto de informações e detalhes pessoais dos próprios compositores. Sobre Lizst:Sempre que ele me dá algum conselho, fá-lo de um modo muito delicado. Nunca éautocrático. (p.99, Capítulo 4)

Sobre Chopin (1810-1849):Chopin tem aparência de muito moço, o mais moço de todos. Uns trinta anos, diriaeu. Tem cabelos espessos e ondulados, é um belo sorriso claro que lhe dá um arbem juvenil. O rosto é bem talhado, ligeiramente oval, fazendo-o parecer umrapazola (p. 150, Capítulo 6)

Sobre Rachmaninov (1873-1943):O rosto de Rachmaninov é um tanto comprido e magro, e ele parece muito maisrídigo do que realmente é. Porém, é muito compassivo, creio que por ele próprio tersofrido bastante. Disse-me que houve um período em sua vida em que se sentiutotalmente desprezado como pessoa e como músico. (p. 170, Capítulo 6).

Sobre Debussy (1862-1918):Geralmente pintam-no com uma barba, mas agora apresenta-se de cara raspada,pelo um tanto pálida, bastante cabelo, bem escuro, partindo de imponente testa. Osolhos são muito escuros e a voz grave. Às vezes, com o esforço em tentarcomunicar-se, soa um tanto áspera. É de temperamento bem sério. Quase nunca ri,raramente sorri. (p. 175, Capítulo 6)

Sobre Schubert (1797-1828):Uma das coisas que mais gosto nele é a sua expressão. Seus olhos são muitobrandos, e parecem irradiar cordialidade. É extremamente modesto e retraído,quieto e ao mesmo tempo alegre, de certo modo, apesar de seu senso de humor serbastante antiquado. (p. 160, Capítulo 6).Finalmente, no capítulo 'A Comprovação', Rosemary Brown descreve o impacto damúsica dos compositores em diversas pessoas, os testes de lucidez mental a que elateve que se submeter para 'comprovar' que ela não era demente e os testes feitospor parapsicólogos da época (dentre os quais Wilhelm Tenhaeff (1894-1981)) paramostrar que sua faculdade não se devia a 'criptomnésia' (uma suposta 'memóriaoculta'). Essas e outras explicações esdrúxulas continuam a ser aplicadas por quemse impressiona com o fenômeno mas não aceita a tese da comunicação. RosemaryBrown também descreve questionamentos de músicos ao seu trabalho, comperguntas endereçadas diretamente aos compositores falecidos. Muitos ficaramconvencidos de sua correspondência com esses compositores e passaram a admirara música de Rosemary Brown.

Qual era o verdadeiro objetivo dos compositores

Será que os compositores decidiram criar um novo movimento musical por seuintermédio? Do mesmo modo como não se pode dizer que o caráter da revelaçãoespírita não tem como objetivo fazer ciência, filosofia ou religião, o movimento decompositores que se comunicou por intermédio de Rosemary Brown não tinhacomo objetivo simplesmente fazer música. Seu objetivo foi declarado em umamensagem ditada palavra a palavra a Rosemary Brown por Sir. DonaldTovey (1875-1940):Ao comunicar-se através da música e da conversação, um grupo organizado decompositores, que partiu deste mundo, está tentando estabelecer um preceito paraa Humanidade, ou seja, que a morte física é uma transição de um estado deconsciência a outro no qual conserva a sua individualidade. A compreensão destefato encaminhará o homem a uma visão interior de sua própria natureza e das suaspotencialidades supraterrestres. O conhecimento de que a encarnação no seu

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mundo nada mais é do que um estágio da vida eterna do homem, promoveráatitudes de maior amplitude do que as adotadas no presente e ensejarão uma visãomais equilibrada acerca de todas as coisas.(p. 23, Capítulo 1)

Reencarnação

O Espiritualismo inglês historicamente cresceu dissociado da noção dereencarnação. Entretanto, as personalidades musicais que se manifestaram porRosemary Brown sancionaram esse conceito. Ao questionar seu mentor a razãoporque ela teria sido escolhida para a tarefa de transmitir música, recebeu de Lizst aseguinte explicação:"Antes de você nascer, quando acedeu em ser a nossa medianeira, você teve queconcordar em passar por uma série de sofrimentos de modo a tornar-se maissensitiva." (p. 67, Capítulo 2)Portanto, inexiste descontinuidade no nascimento. Mais ainda, há condiçõesrestritas para que alguém possa desenvolver essa faculdade no grau dedesenvolvimento a que a Sra. Brown conseguiu chegar:Sofrimento, como aquele porque você passou, ajuda a atuação do tipo de faculdadede que você é dotada. As pessoas que levam uma vida fácil e tranqüila não sãosuficientemente sensitivas para conseguirem comunicação conoscofacilmente". (p. 67, Capítulo 2; grifos nossos)Explica-se assim porque médiuns extraordinários são tão raros. Agora, porqueesses compositores escolheriam uma dona de casa para transmitir suas músicas e,assim, passar a mensagem do pós vida? Não seria melhor que procurassem alguémde talento, que tivesse uma educação musical completa, que soubesse melhortransmitir sua intenção? A tais questões os Espíritos também cuidaram de darrespostas:O seu conhecimento é suficente para o que temos em mente. Se tivesse tido umaeducação musical completa, isto não nos auxiliaria absolutamente em nada. Emprimeiro lugar, porque um curso completo de música teria tornado muito maisdifícil a você provar que não seria capaz de escrever a nossa música sozinha.Segundo, porque um acervo de conhecimentos musicais teria feito com que vocêadquirisse muitas ideias e teorias próprias, as quais iriam ser um entrave paranós. (p. 66, Capítulo 2)Em outras palavras, excesso de conhecimento atrapalha a transmissão, cria muitoruído. No caso da Sra. Brown, a música era transmitida por ditado - ou seja - elanão tinha conhecimento do sentido musical da peça transmitida ao longo doprocesso, apenas no final, quando ela era executada. Também ressaltamos quecomposição clássica não é reconhecidamente uma atividade feminina. Ao escolher aSra. Rosemary Brown, os compositores elevaram ao máximo o impacto que seriaprovocado por suas composições para a mente desconhecedora do fenômeno.

A opinião dos compositores sobre a 'música moderna'.

Finalmente não poderíamos deixar de citar a opinião externada por Lizst aRosemary Brown sobre música moderna. O caso aconteceu quando a Sra. Brownouvia rádio (na década de 60, é provável que se tratasse de alguma música dosBeatles ou Jazz, mas isso não é dito pela Sra. Brown). Ela perguntou a ele o queachava desse tipo de música e a resposta foi:É uma série de sons vagamente interessantes, porém bastante grotescos. Creio queo resultado poderia ser considerado engenhoso, do ponto de vista intelectual, mas,em minha opinião, não é música. Não se pode manufaturar música. Ela deve provirde alguma fonte de inspiração. Há compositores que conseguem compor

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diretamente do seu intelecto, mas o resultado não será satisfatório, a menos quehaja, mesclada à música, alguma espécie de sutil inspiração. (p. 121, Cap. 4)Desde então, a situação só piorou. Deixamos, entretanto, aos leitores apreciar ejulgar a sabedoria dessa opinião, no que se refere à música de nossos dias. Emresumo, o livro de Rosemary Brown é muito bom, repleto de informaçõesinteressantes sobre sua mediunidade, em particular sobre esse tipo raríssimo defaculdade mediúnica ligada à música.

No próximo post, traremos mais informações sobre Rosemary Brown e a músicados compositores por ela transmitida.

Dados bibliográficos

Título em Português: 'Sinfonias Inacabadas: os grandes mestres compõem doAlém'.Autor: Rosemay Brown.Título em Inglês: 'Unfinished Symphonies: voices from the Beyond'.1971. Edição especial para Livraria Espírita 'Boa Nova'. São Paulo, Brasil.Traduzido por Agnor de Mello Pegado.Gráfica e Editora Edigraf S. A.

Entrevista IV - Dra. Ana Carolina Xavier fala sobre o câncer infantil eas consequências da visão espiritualista no trato com a doença.

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Apresentamos aqui uma entrevista com a Dra. Ana Carolina Xavier que éprofessora assistente em hematologia pediátrica e oncologia no Medical Universityof South Carolina em Charlestown, Carolina do Sul, Estados Unidos, que nos contaum pouco de sua visão e experiência no tratamento de uma doença como o câncer,principalmente quando ela afeta crianças. Ana Xavier tem Bacharelado eResidência médica pela Universidade de São Paulo, além de Doutorado emmedicina pela mesma instituição.

Talvez os leitores já possam imaginar porque escolhemos esse tema dentro docontexto das consequências práticas da visão espiritualista do mundo. Torna-sebastante evidente que é fácil defender uma visão cética em relação à realidadeespiritual quando não se passa por um problema que lida diretamente com aameaça à vida ou, melhor ainda, com a necessidade da existência da continuidadedela. Devemos analisar, pois os efeitos da visão oposta, a que sabe que aqueles seresque ontem estavam conosco, na esperança de vencerem uma batalha gigantescacontra uma enfermidade que não lhes ouviu os apelos infantis, hoje não mais estãomas que, não obstante isso, continuam vivos.

Ao invés de discutir fundamentos sobre esse ou aquele aspecto do mundo conformea concepção de mundo adotada, podemos nos perguntar sobre quais seriam asconsequências práticas de cada uma delas, sabendo que 'árvores boas produzembons frutos, enquanto que árvores más produzem péssimos frutos'. Neste caso,preferimos analisar as consequências da visão espiritualista da vida.

Perguntas

EE - 1) Ana, conte-nos um pouco de seu dia a dia e do seu trabalho.

Meu dia a dia no trabalho é bastante interessante. Eu divido minhas atividadesentre a clínica e enfermaria, onde passo visita a cerca de 15 a 20 pacientes esupervisiono médicos residentes e estudantes de medicina. A rotina diária daenfermaria pode ser bastante intensa e temos uma estrutura organizada quepermite que as coisas funcionem um pouco mais eficientemente. Nosso time écomposto não apenas do médico, mas também das enfermeiras, um farmacologista,uma assistente social e uma nutricionista. Cada caso é discutido detalhadamente e

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cada um contribui com sua experiência e opinião, objetivando o melhor para cadaum dos nossos pacientes.

Costumamos ver pacientes com variadas patologias hematológicas ou oncológicas,mas a maioria deles são pacientes com alguma forma de câncer ou pacientes quevão receber transplante de medula óssea. De maneira semelhante ao Brasil, temostambém um grande numero de pacientes com doença falciforme.

Na clínica, além dos pacientes recebendo algum tipo de terapia oncológica, tenho 2sextas-feiras do mês dedicadas apenas a pacientes que completaram quimioterapiahá pelo menos 5 anos e estão “oficialmente” curados. Esse é um grupo muitoespecial de crianças, porque eles são sobreviventes de uma doença que pode serfatal e de um tratamento bastante intenso, que, muito frequentemente, causa sériosproblemas mentais ou físicos que podem se estender pelo resto da vida.

Eu posso ter dias muito bons ou extremamente ruins, quando nada parece dar certopara os pacientes. De qualquer maneira, eu me sinto bastante privilegiada de fazerparte da vida dessas crianças e poder atender a tais grupo de pacientes.

EE - 2) Sabemos que o trabalho do médico, principalmente quando ele escolhecomo serviço o atendimento a doentes infantis de câncer, é pontuado de muitasvitórias, mas um número igualmente grande de aparentes derrotas. Como vocêencara isso?

Esse é uma questão fundamental. Na verdade, todo estudante de medicina ouresidente que está seriamente interessado no campo da pediatria oncológica deveavaliar sua própria capacidade de lidar com constantes derrotas no dia-a-dia paratomar a decisão final na escolha da carreira. Você está certo quando diz que temosmuitas vitórias: hoje é possível se curar quase 80% das crianças que sãodiagnosticadas com câncer. O grande problema é que o caminho até a cura ébastante tortuoso e longo, e representa um grande sofrimento não só para acriança, mas como para toda a família e pode durar anos a fio. A derrota maior éobviamente quando perdemos um paciente. Como profissional médico,compreendo bem o problema fisiológico, e me é bastante fácil saber quando ascoisas não vão tão bem assim como gostaríamos. O problema é que todo esseprocesso pode ser emocionalmente desgastante. Quando perdemos um paciente,todos os que estiveram envolvidos no cuidado daquele paciente sofrem muito. A féindividual ajuda bastante. No meu caso, penso que a vida continua e que osofrimento atual é, como disse uma vez Chico Xavier, um meio para expurgar asculpas que trazemos em nós mesmos, e eles saem dessa vida em uma condiçãosuperior àquela em que entraram. Isso me conforta e ajuda, mas mesmo assim,muitas vezes choro bastante…

EE - 3) Como você lida com o processo de separação dos familiares das criançasquando a 'sorte' se coloca contra as expectativas?

Geralmente tento estar por perto. Isso pode ser difícil também, porque não querointerferir naquele momento tão único da família e sua criança. É um balançodelicado, e temos que ser bastante cuidadosos. Na grande maioria das vezes,conheço bem a família e sei de suas crenças e o que pode ou não ser apropriadopara uma determinada família. Procuro falar pouco e ficar ao lado deles, porque seique o momento é de dor intensa. Também tento ir a todos os funerais, mas confessoque algumas vezes não consigo, porque dói bastante.

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É impossível ser absolutamente impassível diante de tamanho sofrimento. O quefunciona como uma “vantagem” aqui é o fato de que esses pacientes, na maioria dasvezes, passam por um longo período de sofrimento ate o evento final, caso esse sejao destino. Isso é certamente desgastante, mas ao mesmo tempo dá tempo para aspessoas aceitarem o fato de maneira mais pacífica, sem muito do desespero queacentua demasiadamente o sofrimento do paciente. Além do mais, muitas dascrianças já sabem que o finzinho delas esta próximo, e muitas vezes, elas avisam.

EE - 4) Você acha que a visão espiritualista do ser humano, aquela que postula acontinuidade da vida, pode ajudar no processo de separação?

Sim, certamente. É muito mais fácil acreditar que nos uniremos novamente após a“longa viagem”, como se diz no Brasil. Tambem acredito que os pais, mesmo semacreditar que a vida continua, anseiam desesperadamente por isso. A DoutrinaEspirita tal como conhecemos no Brasil, não é bem divulgada nos EUA, de maneiraque o conceito de vida após a morte é um tanto diferente por aqui. Muitas pessoasjá me perguntaram o porquê de tamanho sofrimento. Geralmente respondo que,por ser Deus justo, Sua causa deve ser igualmente justa.

EE - 5) Em que grupos de familiares (personalidade ou visão de vida) a dor daseparação se mostra menos pungente? Em qual grupo ela é maior?

Acredito que a intensidade da dor de se perder um filho é a mesma para os paisindependente do credo ou religião O que é diferente é a maneira com que aspessoas lidam com a situação. Muito raramente a postura é de completo desesperoou revolta diante dos fatos. A aceitação sem muita revolta éuma característica comum a várias familias que passam pelo problema. Issoacontece porque o curso da doença é bastante prolongado, o que confere tempopara que as pessoas aceitem de maneira um pouco mais pacífica. Muitorecentemente tivemos um caso de um adolescente com câncer terminal que faleceucercado por seus familiares mais próximos e que estavam ao seu lado rezando paraque o momento de transição fosse o mais calmo e pacífico possível. Quando elefinalmente expirou, os pais estavam certamente tristes, mas aliviados e agradecidosa Deus pela passagem aparentemente tranquila de seu filho. Diante do fatoconsumado, muitas vezes os pais querem ver os seus filhos libertos de todo aquelesofrimento.

EE - 6) Você pode nos descrever o comportamento característico de seus pequenospacientes quando eles sabem do destino que os aguarda, ou seja, no momento emque a separação se mostra inexorável? Tem algum caso especial que gostaria de nosrelatar?

Crianças de uma maneira geral são bastante resilientes (1). Elas aceitam asdificuldades de modo mais fácil queadultos. Crianças com doenças crônicas são ainda mais especiais. Acho queintimamente sofrem muito, pois sabem que não podem fazer a maioria das coisasque as outras crianças da mesma idade fazem – como ir a escolar, ou praticaresportes, ou brincar com os amiguinhos. Mas eles entendem, independentementeda idade, que a situação delas é especial naquele momento.

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Crianças com câncer são geralmente altruístas, muito preocupadas com o bem deoutras crianças e de sua própria família, e os mais velhos tendem a “fazer de conta”que estão muito bem para acalmar os pais. Quando a doença se torna incurável,muitas das crianças comunicam à familia que vão morrer, ou que tiveram um sonhoem que estavam no céu ou que um anjo veio visitá-las no quarto. Essesfatos são para mim bastante interessantes.

EE - 7) Você acha que a sua visão espiritualista ajuda você no dia a dia e no tratocom seus pacientes? No que ela mais te ajuda?

Sim, sem dúvida. Eu estou completamente consciente de minhaspróprias limitações em meu trato diário. Entendo bem que o que define o destinode cada um é algo muito superior a mim mesma. Mesmo ao dar o melhor de mim eoferecer o que há de melhor em termos de tratamento e apoio médico, lidoconstantemente com derrotas, sem me revoltar ou me sentir ofendida. Além domais, acreditar que a vida continua e que o sofrimento existe para nos fazer melhoré sempre reconfortante.

EE - 8) Quais os maiores obstáculos, na sua visão, contra a efetiva aceitação darealidade espiritual do ser humano?

Acredito que o maior obstáculo contra a efetiva aceitação da realidade espiritual doser humano seja nós mesmos. Nós ainda temos dificuldades enormes em aceitaralgo que nao pode ser sentido através de nossos 5 sentidos elementares. Aindaprecisamos sentir em nossa pele o abraço daquele filho ausente, ouvir a voz da filhadistante para acreditar que aqueles que se foram estão realmente vivos.

EE - 9) Você tem algumas palavras finais para famílias que estejam hoje compacientes infantis de câncer?

O que eu gostaria de dizer é que me sinto profundamente honrada de poder ajudarno tratamento dessas crianças e suas famílias. Obviamente, não gostaria queninguém tivesse que passar por isso. A grande maioria dos pais me pergunta oporquê de sua criança ter desenvolvido câncer. Sentem-se culpados e procuramentender no que falharam. Porém, a causa fundamental do câncer é ainda ummistério médico a ser desvendado com a ajuda e permissão de Deus. A aceitaçãopacífica dos fatos ajuda a compreender melhor o que é preciso ser feito e aprovidenciar o melhor cuidado para a criança. Além do mais, é muito importanteque se comunique com a criança o que esta acontecendo com ele ou ela. Percebo

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que os pais que tentam esconder o diagnóstico do filho tendem a ter maioresdificuldades no dia a dia. Também acredito que esses momentos terríveis dedificuldades que temos que passar são grandes oportunidades de melhorar a nósmesmos, nossa família, nossas relações e provar o nosso amor aos que estão aonosso lado. Tenho certeza que no final, de uma maneira ou de outra, todos sairãovencedores.

Notas

(1) Resiliência (ref. resiliente): diz respeito à capacidade que se tem de lidar comuma situação angustiante, superar obstáculos e vencer dificuldades. No caso aqui,uma doença.

Física Quântica e os espiritualistas no século 21 (análise preliminar)

Representação gráfica da molécula de DNA.

Do ponto de vista filosófico, espiritualista é todo aquele que acredita haver algoalém da matéria, que justifique os fenômenos da consciência, do ser e dapersonalidade humana (e, porque não, dos animais). Deixa de ser espiritualistaaquele que acredite que a matéria seja a base para compreendermos os fenômenospsíquicos e psicológicos. Essa é uma maneira muito didática de apresentarconceitos que sempre geram muita confusão e é de autoria de Allan Kardec (*).

Mas, no que consiste esse materialismo? Já que a física moderna demonstrou queexistem modalidades de matéria muito distantes dos nossos sentidos, deixa de serviável acreditar que fenômenos com o da consciência sejam explicáveis por meio deinteração simples entre átomos entendidos como blocos rígidos de matéria. Alémdesses 'blocos constitutivos', existem outras entidades na forma de campos ouforças que atuam à distância, além de outros conceitos fundamentais que são

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necessários para explicar como a matéria pode se organizar para constituir algovivo primeiro e, então, como esse ser vivo pode manifestar consciência. Omaterialismo moderno, portanto, deve fazer uso dessas ideias e conceitos abstratospara explicar como a vida e a consciência podem existir em nosso mundo. Masentão, a raiz da palavra 'materialismo' na forma de 'matéria' ou aquela coisainflexível e positiva deixa de ter seu significado original.

Visto meramente do ponto de vista das definições que se faz para coisas e conceitos,pode-se defender a ideia hoje em dia que há menos distância entre as as noçõesespiritualistas do ser do que antes, durante o século 19, por exemplo. No auge dopositivismo lógico, a matéria que impressionava os sentidos era tudo o que poderiaexistir. Hoje há meios de se compreender que o espírito (Nota 1) seria tambémuma força, um outro elemento, inacessível aos sentidos ordinários comoingrediente fundamental para a formação da consciência. Entretanto, há uma claradificuldade quando se trata de validar essa noção do ponto de vista considerado'científico'.

A visão de Mundo pelos cientistas modernos (início do século 21)

Em paralelo com tal constatação, existe uma queixa por parte do mundo acadêmicocom relação a qualquer tentativa de explicação do mundo a nossa volta por meio deconceitos que não nascem diretamente do processo considerado adequado de sefazer ciência. É que o pensamento científico de nossa época se desenvolveu a partirda ideia de que noções como a existência de deuses ou forças invisíveis conscientesque atuariam diretamente no mundo são desnecessárias. No passado, a religiãoorganizada ditava as normas sobre o que seria considerado razoável e não haviaproblema em se acreditar que o mundo era de fato regido diretamente pelas mãosde Deus. Desde que a física clássica conseguiu explicar muitos dos fenômenosmecânicos e elétricos do Universo com base na existência de leis cegas e sempreoperantes (não são leis arbitrárias como arbitrário pareciam ser os caprichos deDeus), todas as outras ciências (principalmente a Biologia e a Medicina) tambémbuscaram desenvolver suas teorias dentro da noção de que leis cegas são suficientespara explicar os fenômenos naturais.

Essa visão do mundo, conjugada à maneira positiva de se encarar as entidades(coisas que existem no mundo, de fato) que trabalham como 'atores' nas teoriascientíficas, levou a uma situação onde aparentemente não mais seria possívelacreditar na possibilidade de forças inteligentes (além daquelas que tem comocausa a existência dos seres humanos) atuarem diretamente no Universo. Há umaimensa categoria de fenômenos naturais (que são objeto de estudo das ciênciasfísicas) que são claramente produto de forças ou leis cegas. Entretanto, acomunidade acadêmica acabou se especializando neles e são hoje incapazes deaceitar que há uma limitação de escopo na ciências que trabalham. Por se referirema fenômenos simples, colecionáveis, reprodutiveis etc, as teorias deles derivadossão necessariamente limitadas a esses objetos que criam uma visão de mundoigualmente limitada. Acrescenta-se a isso o espírito corporativista das associaçõescientíficas, e teremos um ambiente notoriamente cético em sua maneira deconsiderar determinados fenômenos e avesso a qualquer tentativa de mudança ounovidade, que é mal vista como um enxerto desnecessário e suspeito.

Surge a psicologia quântica

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No que a física quântica mudou esse quadro? Uma resposta a essa questãopareceria envolver necessariamente grande conhecimento dessa nova física. Mas,no que nos interessa aqui, não deixa de ser interessante observar o fenômenorecente de como essa nova física tem sido invocada para justificar a crença dedeterminados grupos espiritualistas, psicólogos e até de grupos de acadêmicosmarginalizados (Zohar, 1999). O exemplo que encabeça a lista é a do físico eescritor Amit Goswami que, numa série de livros, palestras e congressos, fez-seconhecido como um 'ativista quântico' e propõe uma 'interpretação' radicalmentequântica do ser humano. Além disso, vários parapsicólogos (Kugel, 2000)aderiram à ideia de que é preciso utilizar a física quântica para explicar osfenômenos psíquicos. Essa física também surge como uma novidade capaz demotivar uma nova psicologia (Zohar, 1990).

O fenômeno é curioso porque a física quântica, não obstante ter introduzido umamodificação bastante radical na maneira de se encarar as entidades que fazem partedas teorias da física anterior, apenas é aplicável ao mundo infinitamente pequeno.Trata-se da microfísica ou física das partículas e agregados atômicos, somenteatuante em escalas muito pequenas. Como então que essa nova física veio parar emcompêndios de psicologia e artigos de parapsicologia?

Nossa introdução anterior procurou fornecer um quadro muito resumido da atualmaneira de se encarar o mundo por parte dos cientistas. Uma vez que a físicaquântica é um mistério - sua interpretação ainda é motivo de calorosos debatesentre os especialistas - parece ser conveniente para tais grupos invocar a físicaquântica na psicologia, parapsicologia e até ecologia que também lidam commistérios. Como a física quântica é um mistério e a consciência é um mistério,então o cérebro é quântico... Dessa forma, a física quântica surge como umavalidação científica de mistérios para uma ciência que aprendeu a encarar osfenômenos naturais como se eles não o fossem. Dai também é compreensível airritação de muitos acadêmicos com a 'onda quântica' na psicologia e outrasdisciplinas.

Desvantagens da abordagem quântica em assuntos espiritualistas

Alguns de nossos leitores poderiam nos questionar porque alguém que se afirmaespiritualista poderia ser contra essa abordagem 'quântica'. Minha argumentação,em ordem de importância é conforme segue:

1. Embora concorde que a física quântica alterou nossa visão do mundo(microscópico), não é possível querer extrapolar essa nova física para apsicologia porque os objetos de estudo dessa disciplina podem não serquânticos (Jahn, 2011, ver Nota (2)). Esta-se abusando demais de analogiase interpretações para forçar uma nova maneira de ver o mundo derivada decoisas que não são os objetos da vida cotidiana. Isso tem consequênciasainda maiores quando buscamos descrever os fenômenos oriundos daatuação do espírito sobre a matéria. Para mim, o princípio inteligente (que éa fonte de toda informação dos seres) não é quântico, os que assim pensamainda precisam demonstrar que é possível levar adiante essa ideia nãoapenas como uma simples extrapolação;2. Ao se buscar descrever o comportamento da mente, do espírito ou daconsciência com base em analogias da física quântica, será que poderemostambém exportar diretamente os métodos de pesquisa da microfísica paraesses objetos de estudo? A tarefa de criar uma nova ciência não está apenasem encontrar uma nova explicação para certos fatos, mas criar um método

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de pesquisa que seja consistente, dê resultados práticos e possibiliterelacionamento harmônico entre diversas disciplinas correlacionadas. Emsuma: é preciso demonstrar a fertilidade heurística das analogias quânticasnos estudos da consciência e psicologia;3. A psicologia e até as doutrinas espiritualistas de forma geral nãoprecisam de interpretações quânticas para descrever o principal objeto deseus estudos. É possível conceber aplicações e métodos de grande valorprático para essas disciplinas sem que seja necessário se recorrer à analogiacom a física quântica. Alíás, podemos argumentar que recorrer à analogiasda nova física pode prejudicar o desenvolvimento de novas ideias e novosmétodos de investigação nesses campos de conhecimento;

O conhecimento completo dos fundamentos da física quântica, ao ponto que seriapossível fazer propostas de aplicações inovadoras na pesquisa corrente da física éuma atividade que leva anos de estudo e exige conhecimento nada elementarde álgebra, geometria e cálculo. Será que as propostas de se interpretar o fenômenoda consciência desde o ponto de vista da física quântica chegarão ao ponto deincorporar também a necessidade de se conhecer e aplicar esses métodos depesquisa? De outra forma, como a ciência do 'psi quântico' irá se desenvolver?Essas são questões que devem ser respondidas de forma satisfatória, antes que sepropague uma ideia que pode estar condenada desde seu princípio.

Além das justificativa pouco convincentes do ativista quântico Goswami (Fonseca,2010), sabemos que é um fenômeno mais de aceitação, da necessidade de se ter oendosso da ciência - que se crê popularmente ser a guardiã da verdade sobre omundo - do que qualquer outra coisa. Ao aplicar conceitos da microfísica napsicologia humana, estamos diante de um quadro nunca visto antes de desesperointelectual, um quadro sem nenhum respaldo de evidência possível, permitido poruma brecha de interpretação surgida dentro da própria física.

E que brecha é essa? As forças admitidas cegas que guiam os fenômenos naturais,continuam cegas nos fenômenos quânticos. Mas, mesmo assim, por sugerirfortemente que podemos estar enganados com relação à maneira como vemos omundo, a física quântica fornece um contexto de conhecimento que se colocafortemente em desacordo com uma visão mecânica e puramente sensorial domundo. Nossa visão do mundo macroscópica (não quântica) pode ser apenas umepifenômeno sensorial, não estamos vendo a realidade que é manifestamenteoculta. É principalmente isso que os 'ativistas quânticos' querem chamar atenção.Mas duvido que isso seja um caminho prático para se gerar conhecimento útil noque concerne à realidade do Espírito.

Referências (*) Ver a Introdução de "O Livro dos Espíritos", Parte I. Fonseca, A. F. (2010), Uma análise espírita da obra "A Física da alma" deAmit Goswani, O Espiritismo visto pelas áreas de conhecimento atuais, Textosselecionados Ed. por CCDPE-ECM, São Paulo. Goswami, A. (1993) The self-awere universe. New York, Puttnam’s Sons; Goswami, A. (1998). O universo autoconsciente. Rio de Janeiro, Rosa dosTempos; Jahn R. G., Dunne B. J. (2011), Journal of Scientific Exploration, Vol. 25,No. 2, pp. 339–341.

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Kugel,W. (2000) Quantum correlation as a potencial detector for Psi-phenomena. Proceeding of 43rd Annual Convention of ParapsychologicalAssociation, Frieburg, Alemanha; Zohar, D (1999), O Ser quântico, Editora Best Seller.Notas

(1) espírito; de acordo com 'O Livro dos Espíritos' (Questão #23) o espírito é oprincípio inteligente, necessário para 'espiritualizar' a matéria.

(2) Os pesquisadores pioneiros em interpretações quânticas para aconsciência Robert Jahn e Brenda Dunne alertaram recentemente (Jahn, 2011):Muitas pessoas involvidas em áreas de fronteira de estudo científico mostramuma tendência de invocar a nomenclatura da mecânica quântica para aumentarsua credibilidade acadêmica tanto com o público leigo como acadêmico. Emboraessa estratégia seja efetiva no esclarecimento de conceitos sutis e podem sercaminhos úteis para se enfatizar a necessidade de perspectivas alternativas àrealidade, se levado ao excesso pode se tornar contraprodutivo e deve sercuidadosamente evitado. Primeiro de tudo, existe uma tendência compreensível,se não totalmente legítima, das comunidades das 'ciências exatas' em evitarem aaplicação do que entendem ser suas conceituações e classificações quânticas aoutras áreas menos precisas e rigorosas do conhecimento, especialmente quandotais apropriações são escandalosamente vazias, se não totalmente incorretas. Emnossa luta continua para o desenvolvimento de um referencial conceitual capaz deacomodar a dimensão subjetiva da realidade, tais tentativas ingênuas parecemser mais ofensivas do que persuasivas. Mas, além disso, elas tentam obscurecer ofato importante de que a mecânica quântica, como qualquer estrutura teórica, é,em si mesma, uma técnica metafórica para se formalizar e comunicarrepresentações objetivas de observações e interpretações de dados subjetivos. (...)

Crenças Céticas XVII - Teoria das evidências fotográficas e de outrostipos.

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Não há dúvida que vivemos numa época de grandes inovações tecnológicas. Acomeçar pelo uso de recursos de imagem e som e de manipulações de elementosdesse tipo, o que é hoje parte da grande indústria cinematográfica. Mas, poderiamimagens serem usadas como evidência da realidade de fenômenos insólitos?

Nossa principal tese neste texto é demonstrar que a alegação cética que rejeita aproposição de fotos ou imagens para demonstrar a existência de fenômenosparanormais (transporte de objetos, telecinese, materializações etc) também podeser usada com objetivo oposto: a de negar a validade da argumentação cética queconsideram tais fenômenos como fraude. Nesse assunto, a solução não é tãosimples como proponentes ou críticos frequentemente imaginam. A base oufundamento de nossa tese é uma concepção apropriada de imagens, filmes e sonsno contexto em que são muitas vezes apresentados.

Veja que não estamos a propor que não existem fraudes. Mas, diante dacomplexidade que a Natureza exibe, com uma diversidade de fenômenos einterações, será que o 'método cético' é realmente eficiente? Será que ele realmenteleva a conhecer a verdade? Será que devemos apenas acreditar naquilo que nossossentidos aprovam? Reiteramos que não é razoável insistir em teorias de fraude comcertas evidências para desqualificar fenômenos considerados insólitos, querequerem condições especiais de ocorrência. Justamente por ser muito fácil'fraudar' uma evidência, esse tipo de prova não pode ser usada para se negar umdeterminado fenômeno, embora seja possível usá-las para se afirmar dentro dedeterminadas circunstâncias.

Do ponto de vista lógico, assim, muitos céticos não percebem que as condições quepregam para 'validar' o que considerariam contra-evidências, extrapola certosaspectos lógicos não explícitos em cada caso, tornando-se uma tentativa condenadadesde o princípio.

Prova fotográfica

Para começar, analisemos o que é uma 'prova' fotográfica. Uma vez que recursostécnicos podem ser usados para múltiplas imagens, as mesmas considerações quefazemos aqui para fotos também valem para filmes. A fig.1 abaixo mostra umaimagem razoavelmente compreensível de um evento singular.

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Trata-se da imagem de um avião 'tentando' decolar mas demonstrando certadificuldade, talvez na iminência de um desastre total. Se nos perguntarmos sobre a'validade' dessa imagem, uma pesquisa feita com a maioria das pessoas nãodemonstraria nenhuma dificuldade em aceitar que se trata, realmente, de um aviãotentando decolar com dificuldade, com parte de sua asa quebrada etc. Em suma,um flagrante de um acidente.

Fig. 1 Um avião na iminência de um desastre?

Entretanto, essa imagem é uma fotomontagem (isto é, uma fraude). Ela é oproduto de alterações feitas por um programa de computador que é capaz demanusear parcelas da imagem e integrá-las de forma a constituir um todo finalconvincente.

Uma imagem está assim longe de ser uma evidência autosuficiente. Há algo mais,externo à foto que deve existir para que seja considerada verdadeira. O que é isso?Uma pista para conhecer esse algo mais é se questionar sobre onde esse algo fica. Aresposta simples é que ele fica na cabeça de quem vê a imagem. Por causa disso,uma imagem ou reprodução fotográfica de um objeto externo não existe por simesma:I) Uma imagem ou filme é, em essência, uma representação de um objeto que sóexiste na mente de quem o contempla.

É importante que esse 'algo' realmente 'exista', onde por 'existir' entendemos anoção interna de quem observa, que obrigatoriamente teve uma experiênciasensorial com o objeto representado. Podemos clamar sobre a existência de outrostipos de entidades não sensoriais, que existem sem nenhuma relação com nossossentidos. Mas, então, o que seria uma imagem ou foto de uma entidade desse tipo?Quanto mais próximo a representação dessa 'coisa' estiver da experiência sensorial,tanto mais realística será a impressão causada, tanto maior será a 'força' expressivada representação, tanto maior será a crença na validade da representação.

Alguns fatos validam essa noção: Uma vez que as crianças - principalmente com menos de 5 anos de idade -ainda não tem experiência sensorial plenamente formada, elas tendem a ver omundo de forma diferente dos adultos. A 'representação da realidade' para ascrianças não precisa ter os mesmos detalhes de um adulto. Desenhos simples oubonecos já são suficientes para se manipular conceitos e idéias na mente infantil;

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A busca pelo realismo incentiva o desenvolvimento de novas tecnologias,como a do cinema ou televisão 3D; Ilusões de óptica: a existência de imagens dúbias e mutantes sugere que oque se vê está mais dentro da mente do que fora;

Exemplo de Ilusões de óptica: o que se vê depende do que estamos acostumados a ver. Esta imagem não é um 'gif'animado.

Onde está a verdade então sobre a foto que analisamos? Sendo a representação deum objeto externo, não temos dificuldades em identificar do que se trata. Ainda quenão tenhamos contemplados fisicamente decolagem de aviões, já os temos vistomuitas vezes em outras ocasiões, seja na tv ou e filmes de cinema ou internet quetambém são representações assertivamente válidas no contexto em que sãoapresentadas.

Surge assim o segundo elemento importante em nossa análise:II) O contexto de uma imagem ou filme é o segundo elemento que determina aescolha que o observador faz internamente sobre a validade da representação(imagem ou vídeo).Em outras palavras, não é razoável que duvidemos de toda e qualquer foto ou filmede desastre de avião só porque mostramos um exemplo forjado. Nosso princípio Inão é suficiente para garantir a validade da representação apresentada comoimagem. Desastres de avião são eventos raros e mais rara ainda é a chance de seregistrar um evento desse tipo. O fato de ser fácil forjar imagens de desastres deavião utilizando tecnologia de ponta não significa que tais desastres não ocorram ouque seja impossível registrá-los.

Esse é um exemplo clássico que demonstrar a dificuldade de se utilizar evidênciasde foto ou filme em determinados casos. Imagine que, se para 'demonstrar' quedesastres de aviões existem, tivéssemos que reproduzir essa ocorrência em seusmínimos detalhes para convencer os céticos desses desastres.

Aplicação para fenômenos insólitos

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Fig. 2 'Raio verde'. Fenômeno raro que podeocorrer durante o ocaso ou nascer do sol.

No que segue, por 'fenômenos supostamente insólitos' não nos referimos apenasaos fatos registrados na fenomenologia psíquica. Um fenômeno supostamenteinsólito parece ter as seguintes características:

1. Uma ocorrência imprevisível (condições de ocorrênciadesconhecidas);2. Uma ocorrência rara (a frequência com que ela ocorre é muitopequena);3. De difícil registro fotográfico ou filmagem (no sentido de não seremfrequentes as oportunidades de registrá-lo, ou porque ele ocorre sobcondições em que não é possível usar com facilidade métodos de registrofotográfico ordinário);4. Diz respeito a um objeto ou coisa para o qual não existe uma'representação local e privada' para a maioria dos observadores;5. Não existe um contexto estabelecido que apoie a aceitação de suaocorrência.

Fig. 3 Raríssimas núvens do tipo 'mamatus' .

O objetivo de toda evidência parece ser a característica 5, ou seja, reunir 'provas'que ajudem a criar o contexto de aceitação. Uma 'prova fotográfica' é, assim, umapeça ou material que pretende formar uma opinião, um contexto, a respeito de umdeterminado fato. A tarefa é simples com eventos ordinários. Por exemplo, no casodo uso de uma filmagem como testemunho de um crime: aqui é fácil ver que nãoobstante se cumpram quase todos os quesitos, um crime de difícil solução não tema característica 4, ele não se refere a objetos ou coisas para as quais a imensa

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maioria não dispõe de uma 'representação local e privada'. Um crime é umaocorrência suficientemente ordinária para que essa característica não se aplique.

O que distingue um fenômeno supostamente insólito de outras ocorrências rarasmas ordinárias é sua causa considerada insólita. A característica 4 implica que nãoexiste um objeto conhecido que possa ser usado como referência. Por causa disso,para os céticos sobre determinados fenômenos, o mais próximo que se chega paracumprir a exigência 4 é imaginar que uma fraude está envolvida. Uma fraude é umaocorrência ordinária, facilmente concebível que torna nulo o requisito 4 e que,portanto, desqualificá-lo o fenômeno no discurso do cético dogmático.

Entretanto, há uma imensa classe de fenômenos naturais que se enquadram nessetipo de fenômeno. Com são eles justificados? A partir de teorias ou modeloscientíficos que permitem prever sua ocorrência. A Fig. 2, por exemplo, traz umregistro fotográfico do 'raio verde' ou 'flash verde' provocado pela refraçãoexcessiva, assim como absorção de comprimentos de onda longos de raios solaresdurante o nascer ou ocaso do sol. Trata-se de um fenômeno raro que dura somentealguns instantes. Para alguém que desconheça totalmente o fenômeno, esta imagempode ser resultado de alguma edição digital, já que é fácil preencher digitalmentecom cores variadas determinadas porções de uma imagem. Já a Fig. 3 trás uma fotodas núvens tipo 'mamatus'. Para quem nunca contemplou o fenômeno, pode setratar de uma montagem fotográfica feita com superposição de um fundo de algumlíquido ou fumaça sobre uma imagem ordinária de uma paisagem. Mas, a existênciadessas nuvens é validada pela fluidodinâmica aplicada a condições meteorológicasespeciais (anda que o mecanismo exato de sua formação seja presentementedesconhecido).

Nesses casos extraídos das ciências naturais, as imagens apenas fornecem registrosde ocorrência de fenômenos que são concebíveis. Portanto, as imagens nãoconstituem 'prova' no sentido de validarem o contexto. Em outras palavras, aordem com que se apresentam as circunstâncias está invertida: com taisfenômenos, o contexto (a teoria) vem primeiro, as evidências são colhidas depois.

Conclusões

O que podemos dizer então da negativa sistemática das evidências tão comumenteencontrada no ceticismo dogmático? Na análise de toda crítica cética -principalmente se ela se faz em tom agressivo ou debochado - o mais importante éconsiderar os aspectos não aparentes da crítica, quais suas reais intenções eobjetivos. Esse é o contexto ou 'pano de fundo' que irá determinar como umaevidência proposta será considerada. Não importa o quão 'séria' e 'científica' elapretenda se apresentar, na imensa maioria das vezes isso se dará de forma negativapor razão muito simples.

Por definição, para o ceticismo dogmático qualquer 'prova' será sempre suspeita atéque se cumpram determinados requisitos, todos eles frequentemente considerados'imprescindíveis', mas que fazem parte de uma estratégia maior de desqualificaçãode fenômenos. Quase sempre o cumprimento de determinadas exigências serávirtualmente impossível, o que, para os céticos dogmáticos, facilita a tarefa dedesqualificação dos fenômenos. É importante considerar a intenção: para esse tipode ceticismo, por definição, determinados fenômenos não existem. É precisoentender que o cético dogmático é alguém que acredita que a Natureza não temsegredos para ele. Considera que não há mais nada 'debaixo do sol', o que serve

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para justificar sua crença. Logo todas as evidências que se apresentem são forjadas.Partindo-se desse princípio, explicações são formuladas para ou invalidar aocorrência ou a evidência fornecida, o que é muito mais fácil.

Em síntese: se uma imagem é o que está na cabeça de cada um, qualquer 'evidência'fotográfica que se apresente será sempre uma fraude na cabeça do cético, porprincípio, porque ele entende que nada pode existir que ele já não conheça.

Os fenômenos psíquicos, por outro lado, não pertencem à classe das ocorrênciasordinárias. Portanto, tais como fenômenos físicos de natureza material (raros econtextualizados por uma teoria), eles não podem ser facilmente negados pelainvalidação de evidências fotográficas que se apresentem. O que torna osfenômenos psíquicos tão especiais são as condições de ocorrência que são, na suaimensa maioria, desconhecidas e totalmente não aparentes.

A possibilidade de existência de fraude está sempre garantida para todos osfenômenos, inclusive os de natureza material. Como haveremos então de nosposicionar quanto à realidade dos fatos? Se isso não é uma questão de respostasimples, mesmo com os fenômenos naturais que são objeto de pesquisa científicade causas materiais reconhecidas, podemos fazer ideia do grau de dificuldade queencontramos com os fenômenos supostamente 'insólitos' ou 'sobrenaturais'. Elesexigem a aceitação tácita de teorias bem fundamentadas, sem as quais é impossívelavançar na compreensão desses fatos.

Postado por Ademir Xavier às 13:15 0 comentários

Mensagem de Hermínio C. Miranda aos Pesquisadores queparticiparam do 7o ENLIHPE

Aos Estudantes e Participantes do 7.o encontro do LIHPE.

Meus jovens amigos e amigas de ontem, de hoje, de amanhã e de sempre:

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Gostaria de estar pessoalmente aqui, para viver este momento com vocês. De certomodo, contudo, é bom que eu não esteja. Sou um sujeito emotivo e até a minhacardiopatia é tida pelos médicos como de natureza emocional. Como iria euadministrar minhas emoções, ao partilhá-las com vocês?

Alegra-me sobremodo ver vocês trabalhando na realização do impossível. Digo istoao me lembrar de Sir Winston Churchill, que costumava dizer mais ou menosassim: “Difícil é aquilo que a gente pode fazer imediatamente. O impossível é quedemora um pouco mais.”

As leis divinas me concederam generosamente, tempo para realizar algumasimpossibilidades pessoais, superando pretensos obstáculos e supostos limites, quemisteriosamente desmaterializavam-se e me deixavam passar.

Foi assim que me tornei até um escritor. Imaginem só: eu, escritor!

Somente agora estou percebendo que os “impossíveis” começaram a acontecer,depois que tomei conhecimento da abençoada Doutrina dos Espíritos, nos idos de1957.

De algum tempo para cá passei a perceber algo singular. Ou seja: como é que agente assiste em certo nível de indiferença ao doloroso espetáculo doestrangulamento do processo evolutivo da humanidade pelos implacáveis punhosdo materialismo dominante? É claro que, no decorrer de tal ditadura ideológica,avançamos consideravelmente nas badaladas e sofisticadas conquistas tecnológicas.Mas, não é a esse aspecto que me refiro. Desejamos mais do que isso, muito mais.E para toda a comunidade humana onde quer que ela esteja pelas dobras infinitasdo espaço imenso.

Será que não podemos mudar – pacificamente e sem dores, pelo amor de Deus! --osmodelos políticos, sociais, econômicos, religiosos e culturais? Claro que sim. Nãoapenas podemos, mas devemos mudá-los.Temos de mudá-los.

Vocês já estão trabalhando no projeto de reformatação do mundo em que vivemos eno qual, viveremos ainda, não sei quantas vidas. Estão levando para o autorizadoforo de debates do meio acadêmico, a desprezada realidade de que não somosmeros corpos físicos perecíveis, mas espíritos imortais, pré-existentes,sobreviventes e reencarnantes. Convém lembrar, ainda, que, ao separardidaticamente o território das coisas materiais, do espaço reservado às imateriais,Mestre Aristóteles certamente não pretendeu demonizar a Metafísica. Quis apenaschamar a atenção para o fato de que esses vetores de conhecimento exigemabordagem e tratamento diferenciados e despreconceituosos de gente que sedisponha honestamente a aprender com os fatos.

Decorridos mais de dois milênios, ainda ouvimos dizer que os componentesmetafísicos da vida são, crendices e fantasias pré-científicas, indignas da atençãode intelectuais que se prezam. O que desejamos é presença de gente qualificada quenos ouça e ajude a retirar o estigma que pesa sobre realidade espiritual. O restovirá por acréscimo.

Parodiando o ex-Presidente Kennedy, não aspiremos ao que mundo pode fazer pornós, mas ao que podemos fazer pelo mundo.

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Que Deus nos abençoe. E nos inspire sonhos como este, dado que, se nãosonharmos, como é que nossos sonhos vão se realizar?

Eis o singelo recado do velho escriba.

Hermínio C. Miranda

Sobre o 7o ENLIHPE (Agosto de 2011)

Tive a oportunidade de participar do último 'Encontro Nacional da Liga dosHistoriadores e Pesquisadores de Espiritismo' e me vi cercado por uma atmosferade seriedade e profundo interesse em estudar e fazer avançar a temática de estudosespíritas. Muitos poderiam se perguntar o que representaria essa iniciativa, já que'Espiritismo' é francamente visto apenas como mais uma religião. Para omovimento espírita, os livros de Kardec e algumas obras consideradasfundamentais representam tudo o que o adepto deve procurar conhecer a respeitode sua doutrina. Para os críticos e céticos, é mais uma mania religiosa queprovavelmente terminará algum dia.

O sucesso de encontros como o do ENLIHPE demonstram que qualquer que seja aimpressão, venha ela de onde for, ela não corresponde à realidade. O Espiritismo,muito mais que um movimento religioso, fundamenta-se como uma maneira deraciocínio filosófico que tem amplas consequências para diversas áreas doconhecimento. É um empreendimento intelectual complexo, de muitas sutilezas,capaz de fornecer respostas que, muitas vezes, nem seus adeptos mais esclarecidose, muito menos, seus críticos podem imaginar. Em primeiro lugar porque ele nascea partir de eventos singulares na Natureza, muitas vezes considerados 'insólitos',mas que perdem seu caráter de anormalidade, uma vez que os postulados espíritassejam compreendidos de forma correta, sem serem exagerados ou desprezados.Depois, porque os princípios espíritas, uma vez admitidos, têm alcance e validadeque apenas começamos a vislumbrar. Isso ocorre com toda nova ciência ou novoconhecimento, pois é muito difícil aos pioneiros prever as consequências de umconhecimento genuíno a longo prazo.

No meu entender, embora se possa professar o ponto de vista de que o lugar ondese deve fazer avançar o conhecimento espírita seja o centro espírita e não aUniversidade, ou, segundo outros, que a Universidade representa esse ambiente,associações como o ENLIHPE surgem como entrepostos avançados onde é possíveldiscutir a temática espírita com liberdade, sem a pretensão de se desviar a arenaverdadeira onde esse conhecimento se desenvolve. Na verdade, onde deve oconhecimento nascer? Parece-nos que ele pode nascer em qualquer lugar e a partir

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de qualquer indivíduo que tenha diante de si a chave para resolver um determinadoproblema. Para isso é preciso ter competência e conhecimento, além de recursosadequados para se fazer avançar o conhecimento.

O ENLHIPE é uma iniciativa desse tipo que, infelizmente, ainda não parece terrecebido a devida atenção do movimento espírita. Sua maior vantagem é agregarpessoas com interesses comuns, em que pese a ampla gama de disciplinas quecontribuem na realização dos estudos. Entretanto, mesmo essa característica é umponto favorável, já que ela permite o intercâmbio de ideias entre pesquisadores devárias áreas de conhecimento.

Alguns exemplos

Na edição deste ano (2011), muito me impressionou saber que psicólogos epsiquiatras debruçam-se sobre o problema dos gêmeos siameses ou pessoas quenascem irremediavelmente conectadas de forma vital e que permanecem assim portoda uma existência. Reza o conhecimento contemporâneo sobre odesenvolvimento da personalidade humana, que ela é formada pela contribuição defatores genéticos e de influências do ambiente. Entretanto, como explicar quegêmeos siameses idênticos, tendo permanecidos conectados fisicamente por todauma existência apresentem diferenças marcantes em suas personalidades? Opsicólogo clínico Júlio Peres expôs esse problema durante o evento. Tal evidênciademonstra a preexistência da personalidade humana, não depois da chamada'morte' mas antes do que chamamos 'vida' ou nascimento.

H. C. Miranda deixou uma comunicação especial para o 7o ENLIHPE em 2011.

A comunicação de projeto de Nadia Luz: "Simetrias Históricas: o conceito teórico ea prática na metodologia de Hermínio Miranda", também me impressionoubastante. Trata-se possivelmente de uma contribuição importante aosdesenvolvimentos e estudos em historiografia utilizando um conceito que pode servalidado no futuro, à medida que identificações de personalidades em múltiplasexistências tornarem-se mais frequentes. O trabalho de Nadia Luz, baseado emuma contribuição de Hermínio Miranda, parece revelar mais um tipo de simetria,daqueles que são tão frequentes na Natureza que, realmente, gosta bastante desimetrias. Elas nos permitem descrever o que está 'do outro lado', no caso, revelar opassado oculto de uma personalidade, baseado nos registros dos acontecimentosmais recentes de sua vida. A tese das simetrias que se apresenta como umaconjectura tem assim a vantagem de ser testável.

Em uma era de incertezas e contestações, de quebras de paradigmas erecrudescimento de dúvidas, iniciativas como o ENLHIPE são muito bem vindas.

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Lançamento de Livro no 7o ENLIHPE

O Espiritismo visto pelas áreas de conhecimento atuais. Textosselecionados.

Sumário

1. Introdução2. Uma análise espírita da obra "A Física da Alma" de Amit Goswami3. Conjectura e proposta esperimental para detecção de movimentos defluidos nas cercanias de médiuns de efeitos físicos;4. As narrativas de vida nas rodas de conversas com mulheres naeducação de aldultos: um lugar privilegiado de produção de saber naperspectiva espírita;5. Espiritismo e engajamento político;6. Diálogos e ritmos: em busca de uma ideia de sujeito (na perspectivaespírita) no trabalho com juventudes;7. Investigando relações entre voluntariado e contexto socioculturalnuma instituição espírita: Contribuições da Fenomenologia;8. O Espiritismo em teses e dissertações: um mapeamento da produçãoacadêmica brasileira;9. O Espiritismo na Mídia: uma análise de conteúdo na maior revistasemanal do Brasil de 1968 a 2010;10. Memória de uma jornada.

Detalhes

Autores: Ademir Xavier, Aldenora Guedes, Alexandre Fontes da Fonseca, ÂngelaLinhares, Benedito Dagno Moreira, Francisco Antonio Barbosa Vidal, GardnerArrais, Josael Jario Santos Lima, Kátia Penteado, Marco Antonio F. Milani Filho,

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Miguel Mahfound, Sinuê Neckell Miguel, Tiago Paz e Albuquerque, Yuri EliasGaspar.

Organizadores: Jeferson Betarello e Jáder dos Reis Sampaio.

Editora: UNIFRAN / CCDPE-ECMAno de Edição: 2011

Para adquirir a obra, consulte o site do CCDPE.

Obras históricas raras sobre materializações e fenômenos de efeitosfísicos.

Em longa e silenciosa espera, de noite triste e sombria,Minha alma clama em agonia ao Deus de Amor e Luz.

Que em minha hora de densa treva, seus Santos Emissários,Trazendo luz e esperança, dêem a minh'alma o poderDe se elevar acima da sordidez terrena,Tão cheia de disputas e preocupações,A fim de que eu busque os raios da Eterna Existência.

Lá, onde o amor se encanta de felicidade, onde tudo é justo e brilhante,Onde flores se enchem de doce perfume, numa existência sem noites,Minha alma se levanta indômita, minha noite de angústias se esvai.

Oh, Deus de amor, Tu me conduz por celestes praias.Meu coração chora de contentamento a Ti por todo seu Amor.Em tuas mãos eu me coloco, meu Senhor, pois Tu atendeste a minha prece.

Recitado pelo Espírito de Tia Agg (foto), materializada em 21 de Julho de 1950, em resposta aoSr. Brittain Jones - conforme explicado no livro 'Visitas de nossos amigos do outro lado', por T.Harrison (Para o poema original em inglê, ver nota 1, tradução de A. Xavier).

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A recente onda de ceticismo, que se contrapõe a outra onda crescente de interessepor questões transcendentes, tratou de descrever como fraude o chamado 'caso' dasMaterializações de Uberaba. Com o tempo, mentiras inventadas faz bastante tempo(mais de 50 anos) para desqualificar o fenômeno se tornam facilmente 'verdadesinquestionáveis' para muitos crentes céticos, que aumentam assim a estatística dosmal informados.

Como diria o filósofo George Berkeley, 'a verdade é o clamor de muitos, mas jogopara bem poucos'. As materializações de Otília Diogo não foram as únicas queocorreram. Existiram muitas outras, fora do Brasil inclusive, envolvendo centenasou talvez milhares de testemunhas. Obviamente, a maior parte da crítica e doscéticos ignoram tais casos. Muitas narrativas céticas do 'caso' Otília Diogo são feitascomo se ele fosse um evento único e, por essa razão, profundamente suspeito.

Concordamos que não é facil acreditar nesses fenômenos. Eles são raríssimos eimplicam em uma revisão radical em nossa maneira de ver o mundo, coisa quepouca gente está disposta a fazer. Entretanto, foge também à lógica e à razão - quetantos céticos e críticos afirmam seguir - classificar todas as pessoas queparticiparam desse fenômenos como ignorantes, iludidos, embusteiros oufarsantes.

Para ajudar na pesquisa e elucidação dos fenômenos de efeitos físicos, aquiapresentamos uma coletânea de obras espiritualistas - quase todas não traduzidaspara o Português e, por isso, desconhecidas no Brasil - que relatam fenômenos dematerializações, muitos deles com personalidades bem famosas. Essas obras sãoimportantes não só para a pesquisa histórica, mas para a caracterização correta dosfenômenos (por exemplo, para se conhecer as condições de sua ocorrência, o que écrítico para se garantir sua reprodução futura). O que traduzimos abaixo foi tiradodireto do site survivalebooks que tem se comprometido com a digitalização edisponibilização de tais obras.

Esperamos que essas obras possam incentivar o estudo e a reflexão no assunto.

Vislumbres do próximo estado - Vice almirante W. Usborne MooreUma investigação sobre fenômenos de efeitos físicos incluindo voz direta com asmédiuns Cecil Husk, Etta Wriedt, médium de materialização Ben Jonson e as irmãsBangs.

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Não há morte – Florence Marryat.Florence Marryat (1838-1899) foi uma atriz famosa em sua época que produziumais de 90 peças. Editou a publicação mensal da ‘Sociedade Londrina’ e foicorrespondente de vários jornais e revistas, além de atriz, cantora de opera einstrutora de jornalismo.

Em ‘Não há a Morte’, ela fornece um relatório completo de 15 anos de experiênciacom médiuns de materializações em ambos os lados do Atlântico, incluindo umanarrativa de sua experiência em ver sua filha Florence materializada logo após seufalecimento prematuro.Materializações – Harry BoddingtonDescreve pesquisas e experiências do autor com fenômenos de materialização.

Gente do outro mundo – Henry S. OlcottHenry S. Olcott, cofundador da Sociedade Teosófica, foi um advogado meticuloso ecientista agrário que aceitou o desafio de dois Jornais de Nova York para investigaras materializações de Espíritos produzidas pelos irmãos Eddy de Chittenden,Vermont/USA, em 1874. Ao longo de 16 semanas de investigação, Olcotttestemunhou a materialização de mais de 400 Espíritos. Seus relatórios, como os deSir. Willian Crookes, tiveram um grande impacto por todos os Estados Unidos eEuropa. As observações e testes cuidadosos de Olcott foram consideradas as maismeticulosas e completas já realizadas desses fenômenos.Brochura de Camp Silver Belle – Lena Barnes JeftsUm pequeno livrinho sobre mediunidade de efeitos físicos escrito por Lena BarnesJefts, que integrou o grupo de Camp Silver Belle com o médium Ethel-Post Parrish.Esse grupo reuniu-se na cidade de Ephrata, Pensilvânia/USA, entre 1932 e 1961. Aautora testemunhou formas materializadas de famosos pesquisadores como CharlesRichet e Willian James.A prova palpável da imortalidade – E. SargentUm relatório sobrre fenômenos de materialização com explanações sobre a relaçãodesses com fatos de natureza teológica, moral e religiosa.Rasgando o véu, Além do Véu, O Alvorecer de uma nova Existência e A EstrelaGuia – Willian AberUma série de livros escritos entre 1890 e 1903 em Spring Hill, Kansas/USA,contendo ditados diretos de formas espirituais completamente materializadas sob a

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mediunidade de Willian W. Aber. Dentre os mentores do time que se manifestaramem Spring Hill estavam o Prof. Willian Denton (que havia sido um espiritualista emvida), Dr. Reed, o pioneiro em física de fenômenos elétricos Michael Faraday, e umdos pais dos direitos humanos nos Estados Unidos, Thomas Paine.Aparições materializadas – E. A. Brackett"A medida que examinava as paredes e tudo relacionado à cabine (onde ocorriam osfenômenos), não hesitava mais em afirmar que as formas que apareciam ou delasurgiam eram de seres materializados. Estive na cabine várias vezes durante assessões com duas formas ao mesmo tempo. Uma vez, quando me sentei entre asduas, pude sentir sua realidade ao colocar meus braços ao redor delas, tanto quantofiz isso ao caminhar com elas fora da sala. Enquanto segurava uma delas, aquelaenvolta pelo meu braço esquerdo e cujo braço direito estava ao redor de meupescoço, desapareceu sem qualquer movimento aparente. Em um instante, ela láestava e, depois, não mais. Ainda mantendo outra forma com meu braço direito,com minha mão esquerda puxei a cortina para o lado, de forma a poder ver tudoatrás dela. Não mais pude ver o mais leve traço do ser que tinha tão firmementesegurado momentos antes e com quem tinha conversado." Essa são palavras de E.A. Brackett e suas experiências em sessões com a médium Sra. Fairchild.

Visitas de nossos amigos do outro lado – Tom HarrisonFormas completamente materializadas e outros tipos de fenômenos físicos sãodescritos por Tom Harrison, filho da médium de efeitos físicos Minnie Harrison. Háum vídeo no youtube que contem o relato em vida do Sr. Harrison sobre essesfenômenos que ele testemunhou com sua mãe na década de 1950. Um exemplo depoema ditado por um dos Espíritos materializados pelo grupo que participou T.Harrison pode ser visto no início deste post. Trata-se de uma comunicação ditadapelo Espírito materializado de sua tia 'Agg' (a foto traz uma imagem quandoencarnada). Futuramente, traremos mais informações sobre esse caso no blog.Provas sólidas da sobrevivência - Einer Nielsen (Islândia)"Uma entidade feminina saiu da cabine e foi direto até ele dizendo 'Eu sou suaprimeira esposa, Bertha, que você abandonou. Você nos deixou sozinhos, eu eminha filha. Depois de grande sofrimento, faleci. Meu corpo está enterrado nocemitério de H., e nossa filha vive em estado de grande miséria em L. Tenteencontrá-la e ajudá-la; dessa forma, você compensará o mal que nos causou.' Entãoela se foi, desmaterializando-se no chão da sala.""Uma entidade alta saiu da cabine e disse que seu nome era John King. Parou nafrente da primeira fileira formada pelos participantes da sessão, a mesma fileiraonde eu estava, em posição mais distante. Sua cabeça estava descoberta, e à luz deuma lâmpada vermelha, podiamos ver sua face avermelhada e seu cabeloencaracolado escuro. Depois de se dirigir a alguns participantes da reunião, disse:'Olhe para meu corpo, eu irei desmaterializar a parte inferior em baixo.' Tão logodisse isso, a parte inferior de seu corpo desapareceu, e a outra lá estava, suspensano ar. Não sabia no que acreditar, pois eu era meio cético, mas então a entidadeflutuou no ar na minha frente e disse distintamente: 'Está me vendo'?"

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O Alvorecer da mente despertada - John S. King

Retrato de Hipátia de Alexandria materializada, feito pelo Dr. Kingem uma sessão com as irmãs Bangs em Chicago. (~1910)

"Questões e respostas dirigidas ao Espírito protetor do Dr. King, Hipátia deAlexandria (370-415A.C.), filósofa e matemática neo-platônica, considerada umadas mulheres mais inteligentes de sua época, brutalmente assassinada por umaseita de monges cristão fanáticos seguidores de Cirilo, por ensinar na época umaciência que era considerada conhecimento pagão. Esse Espírito protetor, que sedizia filha de Teon, apareceu materializada, saindo da cabine para a apreciação detodos os presentes. Palavras dificilmente podem ser encontradas para descrever afigura belíssima dessa materialização. Alta e de porte majestático, carregava jóiascintilando a cada movimento, Hipácia estava gloriosa."

Fantasmas em forma sólida - Gambier Bolton"Hipótese de trabalho: que sob condições determinadas e razoáveis detemperatura, luz, etc, entidades, existindo em uma esfera fora da nossa, podem semanifestar em corpos materiais temporários, oriundos de fonte desconhecida, até opresente momento, através da atuação de certas pessoas de ambos os sexos,chamados sensitivos, que se pode demonstrar a qualquer pessoa, que terá então ascondições de comprovar tais afirmações.Quando tais fatos foram a mim apresentados, percebi que estava diante de umproblema que exigiria a mais profunda investigação; e, então, decidi largartrabalhos de todos os tipos e dedicar anos, se necessário, ao exame crítico dessasafirmações... O resultado foi que aquilo que era aparentemente impossível foidemonstrado como possível, e eu aceito os fatos completamente, admitindo quenossa hipótese de trabalho foi demonstrada fora de qualquer dúvida, e que taisformas materializadas podem se manifestar a qualquer um, que terá, então, ascondições necessárias para comprovar tais afirmações."

Byron, Estação a Estação - Coleen Owen Britt"Numerosas formas materializadas apareceram e conversaram naquela noite, masquando nosso filho Byron veio até nós, proferindo seu nome, nos beijando edizendo que estava feliz, sentimos o primeiro alívio desde que ele havia nosdeixado. Minha vida desde então tinha sido gasta em lágrimas e numa existência

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mórbida. Agora, podia até mesmo cantar, o que me era impossível desde que elecantou sua última canção conosco."O autor descreve fenômenos de materialização obtidos com a médium Lula Taber,de St. Louis, Missouri/USA.

Onze dias em Moravia - Thomas R. HazardRelata experiências do autor com a médium de efeitos físicos Sra. Mary Andrews,na cidade de Moravia/USA. Nessa obra há interessantes descrições dos processo degeração de ectoplasma e de materialização em si.Há outros livros em 'survivalebooks', alguns já conhecidos e com traduções para oportuguês (como 'No País das Sombras' por Madame D´Esperance). Há outros comrelatos e gravações de voz direta. Em oportunidade futura discutiremos essas obras,que fornecem material rico de comparação com outras obras conhecidas em paíseslatinos.

É interessante observar que muitas idéia semelhantes foram desenvolvidas, assimcomo conclusões parecidas em culturas diferentes, mostrando que existemcondições únicas - mas bem determinadas - para a ocorrência de todos essesfenômenos.

Notas

(1) Original em Inglês:

In the long and silent watches of the dark and dreary night,My soul cries out in anguish to the God of Love and Light.

Send down Thy Holy Angels in this my darkest hour,That they may give me Light and Hope and give my Soul the powerTo rise above the sordidness of earthly cares and strife,

That I may look to brighter things in that Eternal Life —Where Love is crowned with happiness, where all is fair and bright,Where flowers bloom with sweet perfume and where there is no night.My Soul arises unafraid, my night of sorrow o'er,

Oh God of Love, Thou leadest me towards that Heavenly shore.My heart cries out with thanks to Thee for all Thy loving careInto Thy hands Oh Lord I come— Thou answerest now MY PRAYER.

Livro II - Estudando o Invisível (por Juliana M. Hidalgo Ferreira)

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William Crookes (1832-1919)

Imagine pretender descrever a história do desenvolvimento científico da física,química ou biologia partindo do princípio de que os fenômenos estudados por essasciências podem ter sido fraudados ao longo do tempo. Imagine descrever, porexemplo, a descoberta do elétron por J. J. Thomson partindo do princípio que osresultados experimentais que ele apresentou ao público possam ter sido forjadospor algum assistente de laboratório, de forma consciente ou inconsciente. Alguémresponderia: "mas os experimentos dele poderiam ter sido repetidos..." Nesse caso,imagine ser possível defender a idéia de que todas as tentativas posteriores deconfirmação desses fenômenos não passaram de uma gigantesca fraude.

De certa forma, tal é o objetivo de Juliana Mesquita Hidalgo Ferreira em seu livro'Estudando o Invisível', resultado de seu trabalho de mestrado em História daCiência em 2001 que teve como objetivo estudar, do ponto de vista historiográfico,a obra do químico inglês William Crookes (1832-1919) e seu envolvimento comfenômenos espíritas no final do século XIX. Trata-se de uma obra de fôlego (quase600 páginas de um trabalho minucioso e farto de referências históricas) - o queconta como um ponto positivo da obra. Entretanto, o livro é quase queexclusivamente referenciado a trabalhos de pesquisadores anglo-saxões, na suamaioria ingleses e americanos.

Antes de discutirmos os fundamentos do trabalho, destacamos uma curiosidaderevelada no estudo: muitas das correspondências trocadas entre Crookes e seuspares concernentes aos estudos que faziam sobre o 'Espiritualistmo' desaparecerammisteriosamente. Não só isso, trechos de cartas onde esse grande cientista citou ediscutiu problemas relacionados ao seus estudos sobre a fenomenologia mediúnicaforam literalmente cortados com tesoura tempos após a morte dele:Vale notar, entretanto, que a seção de manuscritos do Science Museum de Londres,onde se encontra esse último material mencionado, não dispõe de todas as cartastrocadas entre Crookes e o seu assistente na época. Essas caras são numeradas emuitos itens estão faltando. Além disso, trechos de algumas cartas parecem ter sidocortados a tesoura Assim, tem-se a sensação de que certas informações contidasnesses documentos foram, propositalmente, excluídas dos arquivos do cientista.

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Nessas cartas poderiam estar informações relevantes para entendermos o queestaria acontecendo nas pesquisas de Crookes nesse período. (p. 45)

Embora distantes da época quando a inquisição foi instaurada, uma novainquisição - movida pelos mesmos fundamentos e interesses filosóficos - deu-sepressa em eliminar tudo o que teria sobrado ainda não publicado das observaçõesde Crookes sobre os fenômenos transcendentes.

No Capítulo 1, 'Introdução' (p. 34), enunciam-se os objetos da pesquisa edestacamos a frase:Do ponto de vista puramente historiográfico, não há interesse em tentar discutir, apartir de estudos anacrônicos, se os fenômenos espiritualistas existem ou não.

É perfeitamente compreensível que a Histórica, como ciência, não tenha comoobjeto de estudo o fato ou fenômeno em si e nem mesmo as teorias que se criarampara explicar tais fatos (o que seria objetivo da Epistemologia da Ciência). Oobjetivo da História é estudar o fenômeno humano, a narrativa, e tentar encontraras motivações subjacentes ou relacionamento entre fatos na tentativa de se inferirrelações entre ocorrências aparentemente isoladas e para as quais não se temevidência histórica suficiente. Por isso, o trabalho da Juliana está supostamenteresguardado contra quaisquer críticas tanto de espiritualistas como de céticos.Como consequência disso, essa obra não ajuda o leitor indeciso a resolver adicotomia conforme o orientador da pesquisa adverte no prólogo:Espero que ninguém distorça o presente trabalho, utilizando-o com base paradefender ou negar a existência dos fenômenos mediúnicos. Ele não foi escrito paraisso e não se presta para tal uso. (p. 15)

Espiritualismo X Teorias de Embuste

Dessa forma, o trabalho apresentado em 'Estudando o Invisível' pretende ser umanarrativa 'neutra'. Tanto seu orientador como a autora reafirmam a necessidadedessa postura que pode ter o mesmo objetivo de Crookes ao 'dosar' o conteúdo deseus artigos para que fossem academicamente aceitos. A diferença é que Crookesnão tinha quaisquer dúvidas quanto à realidade dos fenômenos, enquanto que nanarrativa da autora transparece a todo instante a possibilidade de fraude. Éabundante assim o uso do futuro do pretérito (composto) no texto: 'teria feito','teria observado'. Esse tempo verbal desaparece na narrativa de fenômenosmateriais (chamados de 'normais' ou 'não espiritualistas') no Capítulo 5.

Um exemplo característico do tom que permeia todo o livro é o paragrafo que iniciaa página 133 em que se explicita a ausência de controle de Crookes na realização dealgumas sessões iniciais. A um espiritualista, isso demonstra o conhecimento tácitoque Crookes tinha sobre o que era realmente essencial de ser reportado econtrolado, enquanto que para a autora isso é indício de fraude. A questão éimpossível de ser decidida tal como apresentada, pois o relato de Crookes é semprefeito de forma não definitiva quanto a conclusões. Um exemplo é encontrado na p.118 na descrição de uma sessão realizado com D. D. Home (1833-1886) na presençade Crookes:Os fatos observados em seguida, segundo o autor, foram ainda maisimpressionantes: Home retirou a mão que segurava o acordeão, colocando-a emcima da mão da pessoa próxima a ele, enquanto o instrumento continuava a tocar.Observação desse grau feitas por Crookes não tem nenhum valor frente a outras,tem-se a impressão que todas tem a mesma importância, inclusive as que sugeremfraude. De novo, isso se deve a estratégia de neutralidade adotada. Assim, umatoalha sobre a mesa tem importância magnificada, denunciando o ponto de vista

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cético adotado.

Embora tanto Kardec quanto Crookes tenham magistralmente listado todas asteorias existentes para se dar conta dos fenômenos (desde a do embuste, ademoníaca, a da fraude inconsciente, a da influência das mentes até a teoriaespírita, ver nota [1]), na narrativa de 'Estudando o Invisível' transparece a disputaentre a teoria espiritualista versus fraude como necessária na manutenção dessapostura. A verdade é que essa também é a dicotomia presente em muitos estudosacadêmicos contemporâneos que ainda se aventuram a estudar esse tipo defenômeno, afinal é preciso tratar o problema dos céticos que, embora mantenhamposições filosoficamente contrárias e aparentemente inofensivas, tem impacto nadecisão de se distribuir recursos financeiros para a pesquisa. Embora possamostecer críticas quase perfeitas ao grau de 'cientificidade' das teorias de embuste, éinegável que ela ainda é a preferida por aqueles que dizem seguir 'métodoscientíficos' de pesquisa.

Não é possível que não haja diferença entre fazer história da ciência sobre crenças eteorias de cientistas pioneiros que esforçaram-se para desenvolver modelos teóricosque embasam fatos naturais simples e altamente repetitivos, e se fazer o mesmocom determinadas teorias quando sequer os fenômenos a elas associados sãoacreditados. Como vimos anteriormenteno caso de Galileu, o problema desse sábioflorentino não era tanto defender suas teorias contra a ortodoxia Aristotélica, masfazer com que os outros acreditassem nas suas observações de telescópio, numaépoca em que esse instrumento poderia ser considerado tanto um instrumento defeitiçaria como uma ilusão de óptica. A história se repete com Crookes e com toda afenomenologia espírita.

Há certamente duas vias para se fazer ciência: uma é postular teorias diante dedeterminados fatos e tentar 'desenhar' experimentos que ocorram exatamenteconforme prevejam tais teorias. Outra, bem diferente, é iniciar-se tão só pelaobservação dos fatos e tentar convencer o mundo, pelo uso dos fatos, de que há algomais. A segunda via foi a seguida por Crookes porque era impossível defenderfacilmente qualquer teoria que não fosse a da fraude. De acordo com JulianaHidalgo, talvez Crookes sempre tenha mantido internamente sua crença naexistência dos Espíritos (não importa se isso ocorreu pouco depois da morte de seuirmão em Cuba ou algo depois). Como cientista, ele nutria profundo amor pelaCiência e esforçou-se de todas as formas para chamar a atenção da elite acadêmicade sua época ao menos para a realidade dos fenômenos sem procurar se envolvermuito com os espiritualistas. Nesse relato, percebe-se, assim, a diferença entre suasobservações particulares, onde ele valorizava comunicações e informes dados peloscontroladores invisíveis de seus experimentos psíquicos (e que formavam umcontexto espiritualista inadmissível para seus céticos), e aquilo que ele acabavapublicando em seus artigos.

Alguns comentários que a autora tece a respeito da argumentação de Crookespodem ser questionados. Por exemplo, no Capítulo 3, p. 110, ao discutir algumasdesculpas de Crookes em não continuar as pesquisas psíquicas por causa dadificuldade de acesso a bons médiuns, a autora considera:Entretanto, supondo que o autor atribuísse essa característica à força psíquica,pode-se considerar estranho que ele afirmasse que o fato de esses fenômenos sóocorrerem na presença de poucas pessoas seria um empecilho à realização daspesquisas. Como um cientista acostumado a lidar com fenômenos muitas vezes nãodetectáveis pelos simples sentidos humanos, ele poderia cogitar na construção de

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aparelhos cada vez mais sensíveis, para que a força psíquica pudesse ser detectadana presença de pessoas não consideradas médiuns. Assim, alegar que asinvestigações eram difíceis por falta de acesso aos médiuns não parece ser um bomargumento.(p. 110)

Esse comentário é questionável porque todo o problema de Crookes não estava emsaber se pessoas comuns poderiam revelar a força psíquica (uma conjectura) emmenor intensidade ou não (o que seria uma forma alternativa de chamar a atençãopara a realidade dos fenômenos), mas no caráter incontrolável dos experimentos.De fato, Crookes (tanto quando muitos espiritualistas) considerariam o problemaresolvido se se dispusesse de meios para se conhecer completamente todas ascondições necessárias e suficientes para a ocorrência do fenômeno. O problema érecorrente hoje em dia pois, por mais sensíveis sejam os instrumentos utilizados(balanças, câmeras, detectores e sensores), a incontrolabilidade permanece. Asinvestigações sempre foram difíceis sim por conta de dificuldades no acesso afontes fenomenológicas de qualidade, e Crookes estava longe em sua época decontar com dispositivos sensíveis para validar sua conjectura. A autora foi levada atal conclusão por desconsiderar a realidade dos fenômenos.

Para pessoas acostumadas com a literatura espiritualista, em nenhum momento de'Estudando o Invisível' (nem mesmo na capítulo que descreve as famosasmaterializações de Kate King via Florence Cook) aparece qualquer referência afamosa substância denominada 'ectoplasma' (neologismo criado por Charles Richet(1850-1935) que também não é citado na obra) responsável por muitos fenômenos.Será que Crookes não teria notado essa substância? Como muito da comunicaçãonão publicada de Crookes foi sumariamente eliminada, talvez nunca venhamos asaber. A inexistência de quaisquer citações ao ectoplasma - tão abundantementeregistrado por vários pesquisadores no passado - é um ponto negativo na narrativada obra, já o Capítulo 7 discute investigações de fenômenos espíritas posteriores aCrookes.

Que a conclusão da autora se dá desde o ponto de vista das teorias da fraude (que sejustifica pela necessidade de neutralidade e narrativa desde o ponto de vista daépoca) está claro na conclusão. Por exemplo, no último parágrafo da página 530está afirmado:Os relatos das sessões mostraram que as condições de visualização dos fenômenosnão eram tão boas quanto o cientista apregoava em suas publicações....Além disso,os médiuns e outros observadores pareciam não ser revistados e, muitas vezes,foram realizadas sessões nas quais, provavelmente, o cientista não podia controlarquem entrava ou saía da sala.

Podemos considerar equivocada a conclusão expressa em seguida, na p. 539 nopenúltimo parágrafo:De qualquer forma, observa-se que o cientista parecia ter suas iniciativas eprocedimentos limitados durante as sessões, o que pode explicar a poucavariabilidade dos experimentos e as discrepâncias entre o seu método de agir nocaso das investigações 'normais' e nas invesigrações espiritualistas.O mais correto seria reconhecer que possivelmente a natureza do fenômeno e desuas causas não possibilitasse a adoção de métodos semelhantes aos adotados naspesquisas chamadas 'normais'. De fato, o trecho acima deixa transparecer queCrookes foi 'ludibriado' pelos participantes das sessões e que, por isso, não poderiaaplicar seu método universal de pesquisa, no que ele realmente estava equivocado.A autora não questiona em nenhum momento a validade da universalidade de talmétodo, limitando-se a enfatizar que Crookes nele acreditava.

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Considero igualmente confusa a discussão apresentada no Capítulo 9 onde a autoradescreve os critérios de demarcação entre 'ciência e não ciência'. Ao mesmo tempoque discute propostas relevantes de autores como Thomas Kuhn e Imre Lakatos, aautora reforça o ponto de vista de céticos como Nathan Aaseng e Terence Hines quepodem ser colocadas em conflito com as teorias epistemológicas de Kuhn e Lakatos.Os critérios apresentados por Aaseng para o que seria ciência (ver p. 513) podemser descritos como consequências de uma visão positivista lógica da ciência comforte lastro no indutivismo. Portanto, as conclusões da aplicação desse tipo de visãoao trabalho de Crookes (o que é feito na parte final do Cap. 9) obviamente irãorefletir o ponto de vista lógico positivista.

A obra 'Estudando o Invisível' demonstra de forma categórica que, por mais famososeja um pesquisador ou cientista que aceite a tese espiritualista, sua fama jamaispoderá convencer os céticos. De nada serve a opinião de um cientista muito versadoem determinada disciplina acadêmica, contrariando o próprio projeto de Crookes,que esperava pudesse modificar a opinião da academia de sua época sobre oassunto. O mesmo fenômeno ocorre modernamente com cientistas famosos(inclusive nobelistas) que defendem a parapsicologia ou o uso da mecânica quânticano estudo de fenômenos chamados paranormais. A opinião e a crença cética sobredeterminados assuntos estão estabelecidos sobre fundamentos muito maisprofundos, inabaláveis pela disposição da fama em aceitar uma opinião contrária.

Recomendo fortemente a leitura desse livro que certamente é um importantetrabalho de resgate da memória universal relativa a esse capítulo tão importante dahistória da ciência, ainda que os céticos disso discordem.

Informação sobre o livro

Estudando o Invisível.Autor: Juliana Mesquita Hidalgo Ferreira.Coleção Hipóteses.Educ/FAPESP (2004)ISBN: 85-283-0306-3.566 páginas.

Notas

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[1] As teorias descritas por Crookes encontram-se descritas na p. 209, Cap. 4 'Asinvestigações de Crookes sobre os fenômenos espirualistas II de 'Estudando oInvisível'. Para referência de A. Kardec ver o Cap. 4 de 'O Livro dos Médins', 'DosSistemas'.

Usos e maus usos da palavra 'energia' entre espiritualistas

"É uma perda de energia enervar-se com alguém que se comporte mal, assimcomo com um carro que não ande." Bertrand Russel.

Se a física é a ciência que trata da estrutura íntima da matéria, a energia (do gregoantigo ἐνέργεια: energeia ou "atividade", "operação") é a quantidade física demenor semelhança com qualquer coisa sólida ou material que se possa imaginar.Por isso mesmo, ela tem sido utilizada - de forma inapropriada - por grandesgrupos de espiritualistas (de várias vertentes, cultos, crenças e nacionalidades) emsuas narrativas de fenômenos ou eventos de natureza 'espiritual', ou mesmo fatoscorriqueiros sem qualquer significado transcendente. Fala-se em 'energiasespirituais', 'energias curativas' ou 'curas energéticas'. Existe ainda as 'energiaspositivas e negativas' e por ai vai.

Nosso objetivo aqui não é criticar o uso desta palavra nesses contextos, masesclarecer o significado de 'energia' que é utilizado em muitas disciplinasacadêmicas como a física, química e biologia. De fato, não somente entreespiritualistas (veja a frase de B. Russel acima), a palavra 'energia' recebe acepçõesmuito diferentes para muitos grupos, sendo talvez o exemplo mais contundente depolissemia que se pode dar. Nosso objetivo aqui é resgatar o sentido original dessapalavra.

O que é energia? Todos temos algum contato com algum tipo de processo ousistema que faz uso de energia. Na vida moderna, televisores, computadores,telefones celulares, carros etc são exemplos de equipamentos que, parafuncionarem, precisam de energia. Sabemos que, se não forem supridos com ela,seu funcionamento é paralisado. Também nossos corpos precisam de energia. Aprivação do alimento leva à inanição e mesmo à morte. Mas, todos sabemos que,para funcionar, tais equipamentos e mesmo nossos corpos não são 'alimentados'com nada 'sutil', 'invisível' ou imponderável. Sabemos que, para funcionar, umcarro precisa de combustível que se apresenta na forma líquida, na maior parte das

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condições climáticas que habitamos. Para continuarmos vivendo ingerimosalimentos, na forma sólida ou líquida, nada aparentemente sutil - pelo menos noque diz respeito ao quanto tais coisas podem sensibilizar nossos sentidos.

Energia em física, química e biologia, é um termo essencialmente técnico que serefere a algo imponderável (não podemos 'captar' ou perceber a energia com nossos5 sentidos), mas que pode ser medido. Trata-se de uma medida de capacidade oupropensidade de um sistema ou processo em realizar trabalho. Energia e trabalhosão termos irmãos. O termo 'trabalho' ordinariamente é utilizada com significadototalmente diferente. Falamos em 'hoje não vou trabalhar' para se referir àatividade ou meio de produção a que me dedico diariamente. Entretanto 'trabalho'no sentido dado pela física é uma medida de variação de energia de um sistema.

Energia pode-se apresentar nas formas mais variadas: fala-se em energia nuclear(quando trabalho é extraído do interior do núcleo atômico), energia química(quando trabalho é extraído da eletrosfera dos átomos), energia luminosa (quandoluz pode ser usada para produzir trabalho), energia elétrica (quando cargas emmovimento realizam trabalho), energia hidroelétrica (quando trabalho pode serextraído da vazão e queda de grandes volumes de água através de geradoreselétricos), energia potencial (quando a capacidade de um sistema em produzirtrabalho está armazenada de forma potencial, isto é, não 'cinética'), energia térmica(quando trabalho pode ser extraído do movimento de moléculas) etc. Maisimportante do que compreender que existem diversos tipos de energia é saber que aela está associada um valor que as fazem todas equivalerem entre siquantitativamente.

Exemplos de transformações energéticas entre sistemas físicos.

Por causa disso, fala-se em transformar 'energia elétrica' em 'energia cinética' (emmotores elétricos) ou vice-versa (em geradores elétricos), em transformar energiaquímica em eletricidade (em baterias elétricas) ou vice-versa (quando se 'carregam'as baterias) e assim por diante. Até hoje ainda não se conseguiu encontrar nenhumsistema para o qual a lei de 'conservação de energia' não possa ser aplicada. Umavez gerada, energia não pode ser destruída, embora uma fração da energia presenteem um sistema físico (qualquer que seja ele) se perde de forma irreversível, fazendocom que não possamos extraír toda a energia potencial associada a esse sistema.Isso dá origem ao termo 'eficiência' (uma porcentagem) que mede o trabalho

condições climáticas que habitamos. Para continuarmos vivendo ingerimosalimentos, na forma sólida ou líquida, nada aparentemente sutil - pelo menos noque diz respeito ao quanto tais coisas podem sensibilizar nossos sentidos.

Energia em física, química e biologia, é um termo essencialmente técnico que serefere a algo imponderável (não podemos 'captar' ou perceber a energia com nossos5 sentidos), mas que pode ser medido. Trata-se de uma medida de capacidade oupropensidade de um sistema ou processo em realizar trabalho. Energia e trabalhosão termos irmãos. O termo 'trabalho' ordinariamente é utilizada com significadototalmente diferente. Falamos em 'hoje não vou trabalhar' para se referir àatividade ou meio de produção a que me dedico diariamente. Entretanto 'trabalho'no sentido dado pela física é uma medida de variação de energia de um sistema.

Energia pode-se apresentar nas formas mais variadas: fala-se em energia nuclear(quando trabalho é extraído do interior do núcleo atômico), energia química(quando trabalho é extraído da eletrosfera dos átomos), energia luminosa (quandoluz pode ser usada para produzir trabalho), energia elétrica (quando cargas emmovimento realizam trabalho), energia hidroelétrica (quando trabalho pode serextraído da vazão e queda de grandes volumes de água através de geradoreselétricos), energia potencial (quando a capacidade de um sistema em produzirtrabalho está armazenada de forma potencial, isto é, não 'cinética'), energia térmica(quando trabalho pode ser extraído do movimento de moléculas) etc. Maisimportante do que compreender que existem diversos tipos de energia é saber que aela está associada um valor que as fazem todas equivalerem entre siquantitativamente.

Exemplos de transformações energéticas entre sistemas físicos.

Por causa disso, fala-se em transformar 'energia elétrica' em 'energia cinética' (emmotores elétricos) ou vice-versa (em geradores elétricos), em transformar energiaquímica em eletricidade (em baterias elétricas) ou vice-versa (quando se 'carregam'as baterias) e assim por diante. Até hoje ainda não se conseguiu encontrar nenhumsistema para o qual a lei de 'conservação de energia' não possa ser aplicada. Umavez gerada, energia não pode ser destruída, embora uma fração da energia presenteem um sistema físico (qualquer que seja ele) se perde de forma irreversível, fazendocom que não possamos extraír toda a energia potencial associada a esse sistema.Isso dá origem ao termo 'eficiência' (uma porcentagem) que mede o trabalho

condições climáticas que habitamos. Para continuarmos vivendo ingerimosalimentos, na forma sólida ou líquida, nada aparentemente sutil - pelo menos noque diz respeito ao quanto tais coisas podem sensibilizar nossos sentidos.

Energia em física, química e biologia, é um termo essencialmente técnico que serefere a algo imponderável (não podemos 'captar' ou perceber a energia com nossos5 sentidos), mas que pode ser medido. Trata-se de uma medida de capacidade oupropensidade de um sistema ou processo em realizar trabalho. Energia e trabalhosão termos irmãos. O termo 'trabalho' ordinariamente é utilizada com significadototalmente diferente. Falamos em 'hoje não vou trabalhar' para se referir àatividade ou meio de produção a que me dedico diariamente. Entretanto 'trabalho'no sentido dado pela física é uma medida de variação de energia de um sistema.

Energia pode-se apresentar nas formas mais variadas: fala-se em energia nuclear(quando trabalho é extraído do interior do núcleo atômico), energia química(quando trabalho é extraído da eletrosfera dos átomos), energia luminosa (quandoluz pode ser usada para produzir trabalho), energia elétrica (quando cargas emmovimento realizam trabalho), energia hidroelétrica (quando trabalho pode serextraído da vazão e queda de grandes volumes de água através de geradoreselétricos), energia potencial (quando a capacidade de um sistema em produzirtrabalho está armazenada de forma potencial, isto é, não 'cinética'), energia térmica(quando trabalho pode ser extraído do movimento de moléculas) etc. Maisimportante do que compreender que existem diversos tipos de energia é saber que aela está associada um valor que as fazem todas equivalerem entre siquantitativamente.

Exemplos de transformações energéticas entre sistemas físicos.

Por causa disso, fala-se em transformar 'energia elétrica' em 'energia cinética' (emmotores elétricos) ou vice-versa (em geradores elétricos), em transformar energiaquímica em eletricidade (em baterias elétricas) ou vice-versa (quando se 'carregam'as baterias) e assim por diante. Até hoje ainda não se conseguiu encontrar nenhumsistema para o qual a lei de 'conservação de energia' não possa ser aplicada. Umavez gerada, energia não pode ser destruída, embora uma fração da energia presenteem um sistema físico (qualquer que seja ele) se perde de forma irreversível, fazendocom que não possamos extraír toda a energia potencial associada a esse sistema.Isso dá origem ao termo 'eficiência' (uma porcentagem) que mede o trabalho

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máximo que se pode produzir por um sistema que é sempre menor do que odisponíbilizado por sua fonte energética. Por exemplo, baterias solares temeficiência de 14%, o que significa que apenas 14% da energia solar é convertida emeletricidade nessas baterias.

De qualquer forma, energia não se refere a 'algo' que exista concretamente, que sepossa ver ou tocar (o que é diferente do 'Espírito' que é algo que existe embora deforma 'incorpórea'). Quando sentimos o calor na proximidades de uma chapaquente, não estamos 'sentindo energia térmica'. Há uma certa quantidade deenergia armazenada na chapa (a uma temperatura acima da ambiente) que étransferida para as moléculas em torno da chapa. Essas moléculas (de ar) adquiremvelocidades superiores às velocidades médias das moléculas que estão àtemperatura ambiente. Nossa pele tem 'células' capazes de sentir a colisão dessasmoléculas mais rápidas, o que que se manifesta em nós como uma sensação docalor.

Do ponto de vista semântico, assim, a palavra energia não se refere, na física,biologia ou química a nada que se possa ver ou tocar. Desta forma, luz não é'energia' tecnicamente falando, pois a luz é considerada um tipo de radiação oumovimento de ondas de natureza definida pela teoria física. Entretanto, talvez pornão se referir a algo ponderável, o termo adquiriu outra conotação quando caiu nogosto popular. Assim, é comum ouvir-se que 'luz é um tipo de energia'.

Energia tornou-se um dos termos mais polissêmicos na atualidade por representaruma 'novidade' que confere atualização ou modernidade para o linguagem demuitos movimentos espiritualistas, mas que não tem nenhuma relação com suaacepção original. Colocado dessa maneira, seu uso não representa endosso dasvárias disciplinas acadêmicas para as novas formas de 'energia' que se está apropor.

Referências

Para saber mais sobre polissemias veja A. P. Chagas,'Polissemias no Espiritismo'.Revista Internacional de Espiritismo, setembro de 1996, pp. 247-49.

Crenças Céticas XVI - O ceticismo dogmático como charlatanismointelectual.

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"Existem duas maneiras de ser enganado: uma é acreditar no que não é verdade ea outra é recusar-se a acreditar naquilo é." Søren Kierkegaard

Queremos até admitir, nestes últimos, uma opinião conscienciosa, visto que por simesmos não puderam constatar os fatos; mas se, em tal caso, é permitida adúvida, uma hostilidade sistemática e apaixonada é sempre inconveniente. (...).Explicai-os como quiserdes, mas não os contesteis a priori, se não quiserdes queponham em dúvida o vosso julgamento. A. Kardec, Revie Spirite, Arigo 'Sr. Home',Fevereiro de 1858.

Dicionários definem fraude como o 'ato de enganar, esconder, distorcerinformações, não cumprir com a verdade'. O ato em si de fraudar pode serconsciente, quando quem frauda tem interesses no ato, ou pode ser inconsciente.Nesse último caso, o agente da fraude não tem interesse explícito em enganar. Seuinteresse é outro e ele nem tem consciência do engano.

As 'teorias da fraude' (ou do 'charlatanismo') formam o grupo das explicações maispreferidas do ceticismo dogmático quando se trata de relativizar, reduzir ou negarfenômenos psíquicos. Através dela, médiuns respeitados são consideradosfarsantes, fraudadores conscientes ou não da fé pública, mesmo que não seidentifiquem nenhum interesse escuso tais como vantagens pecuniárias ou outros.Mas, não somente as fontes dos fenômenos são inescrupulosamente envolvidos,testemunhas, mães, parentes e amigos são todos envolvidos, seja como membros deuma quadrilha de embusteiros ou como vítimas de um gigantesco engodopropositado.

Fraudes também podem ser divididas em 2 tipos: as fraudes materiais e asintelectuais. As primeiras obviamente são preferidas dos céticos. Basta uma foto,um som, uma evidência sensorial que não esteja de acordo com as noções do sensocomum que facilmente se pode acusar o material como uma tentativa burlesca egrave de se enganar. Quanto às fraudes intelectuais - as que são geradas através deargumentação ou material de natureza intelectual, essas são muito mais difíceis deserem identificadas. Se inexistem dúvidas quanto a existência das fraudes deprimeira classe (materiais), com as de segunda classes existe uma clara dificuldadeem sua identificação, mas é inegável que ela tem poder muito maior (e maisduradouro) de convencimento do que as primeiras.

Nosso objetivo aqui é demonstrar que o grosso da argumentação pseudocética podeser descrito verdadeiramente como uma mistificação de natureza intelectuale inconsciente. Isso porque, no rastro das explicações forçadas dos céticos 'linha

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dura' está a constatação de que eles mesmos, os que pretendem 'denunciar' a fraudeou o embuste, acabam se tornando os verdadeiros charlatães. Obviamente aqui nãose trata de fraude vulgar: nenhum crítico, sério ou não, se interpelado, revelará teroutros interesses a não ser a sua 'verdade'. Mas, para todos os efeitos práticos,acabam 'enganando, escondendo, distorcendo informações e faltando com averdade' Se não vejamos:

1 - Para que se possa ajustar uma explicação aos fatos, é necessário escrutiná-losdetalhadamente e encontrar nos menores deles razões que aumentem aimportância da explicação postulada, a da fraude. Assim, os menores erros feitospor médiuns são magnificados de tal forma a se tornarem 'evidências' conclusivas.Isso faz parte da tática da fraude pois é preciso que se acumulem evidências que, nacabeça dos pseudocéticos, formam um quadro favorável à tese que defendem. Comonão podem distorcer muitos fundamentos, acabam se agarrando aos detalhes quesão, por isso, magnificados para que adquiram importância. Detalhes como, 'porque o médium saiu 15 minutos mais cedo ou mais tarde', 'por que ele estava usandoessa roupa e não outra' são considerados muito relevantes.

2 - Justamente porque os detalhes insignificantes são considerados muitoimportantes, o contexto ou muitas outras circunstâncias relevantes de fato sãodesprezados. Isso caracteriza o status 'intelectual' da fraude. O foco da crítica nodetalhe faz com que se relativizem as circunstâncias, a idoneidade e outros detalhesmenos aparentes. Pouco importa se testemunhas sérias podem ser encontradas. Senão foram enganadas fizeram parte da fraude. Como para o pseudocético é muitomais fácil apelar para os sentidos, condições não aparentes e circunstanciais devemser obrigatoriamente desprezadas.

3 - Foco em ressaltar o caráter ordinário e facilmente forjável de evidênciasmateriais apresentadas. A tática é criar hipóteses das mais variadas e mutáveis paraexplicar qualquer material apresentado como evidência. Assim, hipótesesmirabolantes, teatralizações inusitadas ou confusões consistentes e incidentais detestemunhas são sempre levadas em conta. Isso ocorre porque a críticapseudocética focaliza-se no que é considerado evidência palpável. Todo o esforço éentão gasto na sua invalidação pois, se isso for feito em paralelo com o passo (1) -quando detalhes menos importantes são magnificados - cria-se uma imagem do'caso' obviamente identificável como embuste.

4 - Existam pessoas que enganam, que exploram a credulidade e a fé alheia. Essefato óbvio é a explicação principal e invariável da crítica pseudocética que se fazapresentar sempre como uma extrapolação justa. Juntando-se os passos 1-2-3descritos acima, torna-se uma tarefa 'fácil' chegar a mesma conclusão sempre.

Analisemos todas as críticas que céticos endurecidos lançaram contra médiuns e osfenômenos espíritas e veremos sempre o processo descrito acima. Tal processocaracteriza charlatanismo intelectual em sua essência, pois é forjado comoargumentação tendenciosa e, muitas vezes, 'inconsciente'.Quanto mais endurecido for o pseudoceticismo tanto mais ele se aproxima de umfraude ou mistificação intelectual porque as conclusões a que chega não sãoverdadeiras. Assim como se pode hoje facilmente, usando recursos tecnológicos,criar imagens fantásticas que explorem o que pessoas acreditem, o 'charlatanismocético' pode modificar, retocar, forjar argumentos para se criar uma imagemaparentemente convincente embora falsa de determinado fato, principalmente

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quando esse fato ainda é considerado uma anomalia ou aberração para o sensocomum.

Pouquíssimos céticos de carteirinha se dão conta disso, quando então descem emum processo de alienação pessoal flagrante. Analisemos detalhadamente cada casoparticular e veremos que o motor principal da alienação será sempre o orgulhoferido, a necessidade de ser reconhecido e acreditado por suas audiências, a invejapela admiração causada nos outros por esse ou aquele fenômeno transcendente queeles, os céticos, não conseguem reproduzir e que, por isso, passam a combater comtodas as suas forças.

Outras identificações do charlatanismo cético: Diferenças entre quembusca verdadeiramente a verdade e o pseudocético.

Estas diferenças também reforçam nossa tese do pseudoceticismo comomistificação intelectual: Quem busca a verdade procura as questões relevantes a serem feitas. Opseudocético fornece de imediato aquelas que ele considera como as únicaspossíveis; Quem busca a verdade motiva-se por amor desinteressado à verdade. Opseudocético está interessado em que todos pensem que ele está certo, esteja ele ounão; Quem busca a verdade aceita o fato de que aquilo que existe é muito mais doque ele sabe. O pseudocético afirma saber tudo o que se pode saber sobredeterminado assunto; Quem busca a verdade reconhece de bom grado casos que ele não podeexplicar. O pseudocético ataca qualquer coisa que se lhe oponha o ponto de vista, ese esforça em destruí-la a fim de se mostrar superior. Quem busca a verdade está realmente convencido das limitações da razãohumana. O pseudocético faz da sua razão particular um deus que é capaz deperscrutar qualquer coisa; Quem busca a verdade a procura em todas as partes, consciente de queidéias podem surgir em qualquer lugar ou nas pessoas menos prováveis. Opseudocético apenas aceita idéias que venham de pessoas consideradas 'experts' ou

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especialistas (segundo seu ponto de vista), além de autoridades convenientemente'carimbadas'; Quem busca a verdade propõe hipóteses na esperança de que sejamverdadeiras. O pseudocético impõe dogmas como verdadeiros; Quem busca a verdade reconhece que nem sempre os opostos sãocontraditórios, mas que, as vezes, podem se reforçar. O pseudocético pinta umquadro em preto e branco, certo e errado, sem chance para um ponto de vistacontrário; Quem busca a verdade está consciente de que não existem respostas finaispara as questões humanas. O pseudocético faz com que cada resposta provisória outentativa pareça como a última final; Quem busca a verdade reconhece quando se coloca contrário à opinião damaioria. O pseudocético segue sempre 'as autoridades mais confiáveis' no seu modosarcástico de lidar com heresias; Quem busca a verdade nunca fala em tom mais 'alto' com sua audiência. Opseudocético fala de modo contrário, de forma a mistificar ou impressionar a todos.

Entrevista II - 2/2 - William Bengston e a pesquisa de curas porimposição das mãos (passes de cura)

2a. Parte da Entrevista com o Dr. W. Bengston.

EE 8 - O Sr. acha que o mesmo mecanismo que explique o passe pode estarenvolvido em outros tipos de cura a distância (obtido com médiuns de cura como,por exemplo, João de Abadiânia no Brasil)?

WB - Não tenho experiência em comparar técnicas diferentes de cura. As que usono meu trabalho são difíceis de dominar e exigem compromisso da parte dapessoa sendo treinada. Já ouvi falar de outros métodos que são aparentementemais fáceis de se praticar. É uma interessante questão saber se diferentes métodosresultam em diferentes resultados.

EE 9 - Franz A. Mesmer (1734-1815) acreditava que um tipo de fluido era trocadoentre o passista e seu paciente através do que ele chamou 'magnetismo animal'. Oque o Sr. acha desta teoria?

WB - Não há, certamente, troca de um fluido no sentido convencional do termo. Edigo mais, não acho que a cura ocorra por qualquer tipo de 'efeito de campo'. Emalguns de meus experimentos, ratos foram curados de câncer, ratos usados comocontrole foram curados e nada no meio foi afetado. Se as curas resultassem daação de algum campo, tais resultados não fariam muito sentido.

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EE 10 - No Brasil, muitos grupos espíritas usam passes ou a imposição das mãoscomo prática nascida nos tempos de Mesmer no alvorecer do século XIX. O objetivoé promover o equilíbrio psicológico aos que frequentam reunões espíritas. O Sr.acha que tais práticas - por extensão - podem ter algum efeito no humor dosindivíduos? Se sim, o Sr. acredita que não se pode defender a idéia da sugestãoenvolvida no efeito?

WB - Acredito fortemente que a imposição de mãos não é apenas para se obtercura de doenças. Já vi e ouvi muitos casos onde a prática pode trazer benefíciospsicológicos também. Certamente há muita gente que aprendeu minhas técnicasde passes e que reportam terem experimentado benefícios dessa natureza.

EE 11 - Não obstante todo o sucesso e experiência no assunto, por que tanta gente(particularmente os acadêmicos) não se convenceram ainda?

WB - Gente que ainda não está convencida, não olhou ainda os dados. Nesseponto, mesmo um cético como eu mesmo, deve concluir que, se formos levar emconta os dados, a questão sobre se ocorre cura ou não não é interessante. Aquestão realmente importante é sobre o mecanismo, sobre o que aumenta oudiminui a eficácia da cura, sobre se o processo de cura pode ser ensinado, ou seja,questões desse tipo. A questão sobre se você deve acreditar nas curas faz tantosentido para mim como a questão sobre se você deve ou não acreditar nagravidade.

EE 12- Na sua opinião, o que se deve fazer para mudar a tendência cética emrelação à cura por meio de passes?

WB - Para realmente mudar as coisas, precisamos de aplicações práticas. Se, porexemplo, a capacidade de cura pode ser armazenada e reproduzida sem apresença do passista, então, talvez ela possa ter aplicações maiores. Se aimposição de mãos estimula algo no corpo, tal como o sistema imune e esseestímulo possa ser reproduzido sem o passista, teremos aplicações beminteressantes. Estamos trabalhando nisso agora.

The Energy Cure: Unraveling the Mystery of Hands-on Healing. (Título: Curaenergética: desvendando os mistérios da cura pelas mãos) Editora: Sounds True.Para saber mais (artigos científicos em inglês do Dr. Bengston):

"Spirituality, Connection, and Healing with Intent: Some Reflections on Cancer

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Experiments on Laboratory Mice." Forthcoming in Lisa Miller (ed.), OxfordHandbook of Spirituality and Psychology. Oxford University Press, 2011. Trad.título: Espiritualidade, Conectividade e cura com intenção: algumas reflexõessobre experimentos de curas de câncer em ratos de laboratório.

"Breakthrough: Clues to Healing with Intention." Edge Science, no.2,January/March 2010, p.5-9. www.scientificexploration.org/edgescience/edgescience_02.pdf. Trad.título:Novidade: pistas a respeito de curas com intenção.

"The Healing Connection: EEG Harmonics, Entrainment, and Schumann'sResonances."Journal of Scientific Exploration, vol. 24, no. 4,Winter 2010, pp. 655-666. (with Luke Hendricks and Jay Gunkelman). Trad. título: Correlação nascuras: Harmônicos de Eletroencefalograma, arrastamentos e ressonâncias deSchumann.

"Anomalous DC Magnetic Field Activity during a Bioenergy Healing Experiment."Journal of Scientific Exploration, vol. 24, no. 3, pp. 397-410, 2010. (with MargaretMoga). Trad. título: Atividade de campo magnético DC anômalo em experimentode curas bioenergéticas.

"Some Patterns of Acceptance of Anomalies." The Explorer, vol.22, no.3, Spring2009, p.7-9. Trad. título: Alguns padrões de aceitação de anomalias.

"Can Healing Be Taught?" Explore, vol 4(3), pp. 197-200, May/June 2008. (withDon Murphy). Trad. Título: Pode-se ensinar a curar (com as mãos) ?

Entrevista II -1/2 - William Bengston e a pesquisa de curas porimposição das mãos (passes de cura)

Seria possível aprofundar a questão sobre o efeito da 'imposição das mãos' atravésde métodos experimentais? O prof. Willian Bengston gentilmente respondeu-nos aum conjunto de 12 questões que serão apresentadas em 2 posts a começar deste. Oprof. Bengston é veterano pesquisador do efeito da imposição de mãos (hand-onhealing) com funções terapêuticas, tendo já publicado inúmeros artigos científicossobre o assunto.

Traduzimos abaixo um extrato de sua página pessoal que utilizamos aqui paraapresentá-lo.

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Willian F. Bengston (Bill) é professor de sociologia no St. Josephs College em NovaYork, EUA. Doutorou-se na Universidade de Fordham, Nova York, em 1980. Suasatividades profissionais 'diurnas' incluem métodos de pesquisa e estatística.

Durante muitos anos, Bill realizou pesquisa com as chamadas 'curas anômalas' eprovou a eficiência de uma técnica desenvolvida por ele a partir de um testeexperimental controlado com 10 animais e que foi conduzido em 5 laboratóriosmédicos. Sua pesquisa com esse tipo de fenômeno demonstraram com sucessocuras de tumores mamários induzidos por metilcolantreno em ratos por umatécnica de imposição de mãos que ele desenvolveu. Ele também investigoucorrelações dessas curas com micropulsações geomagnéticas e harmônicos em EEG(eletroencefalogramas).

O Dr. Bengston não oferece tratamentos de cura, diagnósticos médicos ouquaisquer tipos de consultas relacionadas à saúde ou tratamentos psiquiátricos. Seutempo e esforço é dedicado a pesquisa sobre curas com as mãos (passes) eeducação.

Dr. Bengston tem publicações no Journal of Scientific Exploration, o Journal ofAlternative and Complementary Medicine e a revista Explore. Além disso, deuvárias palestras por todos os EUA e Europa. Bill é membro da Society of ScientificExplorarion (SSE) desde 1999 e, presentemente (2011), é seu presidente. Junto comSylvia Fraser escreveu sobre suas experiências de cura na obra The Energy Cure:Unraveling the Mystery of Hands-on Healing, publicado pela editora Sounds True.

Para mais informações (em inglês), consulte suapágina: www.bengstonresearch.com/

OBSERVAÇÃO: Como a 'imposição de mãos' é conhecida pelos espíritas como'passe' (embora a aplicação para realização de curas seja minoritária), utilizamos osdois termos na tradução de forma equivalente por falta de outra palavra. Assim,onde estiver 'passe', lê-se 'passe de cura'. Termos como 'healer' e 'healee' tambémforam adaptados para facilitar a compreensão.

Entrevista

EE 1 - Como o Sr. se interessou pelo assunto de cura através das mãos?

WB - Fui atraído ao assunto de cura pelas mãos ao ler sobre uma incrívelpesquisa feita por Bernard Grad na Universidade McGill entre 1950 e 1960.Trabalhando com o médium de curas Oskar Estebany, Grad demonstrou aaceleração significativa de crescimento de plantas e cicatrização de feridas emratos. Tais experimentos me fascinaram, já que deslocavam tais curas do âmbitodas piadas de consultório para ambientes mais controlados. Essa pesquisa foiclaramente minha inspiração para continuar a pesquisa laboratorial do assunto.

EE 2 - Como o Sr. chegou a conclusão de que esse efeito nada tinha a ver com a féou postura religiosa da parte do candidato a passista?

WB - Meus experimentos foram feitos com voluntários que não acreditavam noefeito (incluindo eu mesmo) e que não tinham nenhum conhecimento prévio sobreessas curas ou de que se tratasse de um efeito real. Tais voluntários atuaramsobre indivíduos que também não tinham qualquer crença. Esses indivíduoseram, inclusive, ratos que tinham sido deliberadamente infectados com câncer.Desta forma, as curas foram demonstradas em situações onde nem o passista nemseus alvos tinham qualquer crença.

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EE 3 - Mas o Sr. não acha que a fé pode melhorar o desejo ou a intenção e, assim,aumentar o poder de cura por algum tipo de 'efeito de segunda ordem' ?

Já presenciei centenas de casos clínicos de curas por imposição de mãos feitostanto por gente experiente ou não, sobre pacientes crentes e não crentes. Especuloque, 'se tudo o mais se mantiver igual', tais crenças tem, na verdade, um efeitoretardador na eficácia da cura. Acho que a crença induz um tipo de tendência de'se forçar' , que é uma tentativa de se reforçar a crença existente. Tal esforço trazem cena a mente consciente e o ego que, suspeito eu, não conseguem aumentar opoder de cura. Suspeito que o processo de cura por passes seja semelhante aoprocesso de cura em circunstâncias mais comuns, e, em tais casos, concentraçãoou qualquer coisa parecida não é necessária ou mesmo desejável.

EE 4 - O Sr. acha que qualquer pessoa pode aprender a curar através de passes?

WB - Essa é uma questão interessante. Escrevi um artigo sobre ela em conjuntocom um amigo biólogo, Don Murphy, que saiu no jornal Explore em 2008. Nessetrabalho, salientamos que ninguém tem dados históricos sobre a eficácia de seensinar os passes. Isto é, embora seja verdade que virtualmente todos os passistasaprenderam sozinhos, não há evidências de que o ensino de uma maneiraparticular de se realizar o passe melhore o processo de cura. Muita gente ficouenfurecida comigo por causa desse trabalho, que achei bem interessante. Paramim fica claro que existe um monte de crenças (desnecessárias) em torno doprocesso.

EE 5 - De acordo com sua experiência, qual o mecanismo mais provável envolvidona cura pelas mãos?

WB - Não faço ideia desse mecanismo, essa é a questão crucial! Acho que não setrata de um tipo de 'energia', mas sim troca de informação no processo de cura.Da mesma forma que temos uma quantidade enorme de troca de informação noprocessos normais biologicos (p. ex., na digestão, supressão de doenças etc), achoque o paciente depleta-se dessa informação de alguma forma durante a doença.No caso do câncer, por exemplo, o sistema imunológico em mamíferos funciona deforma contínua, mas, algumas vezes, o câncer predomina. Acho que o processo decura por passes pode fornecer essa informação ao corpo que, então, atinge a curapor si próprio.

EE 6 - É possível conseguir o efeito de cura sem impor as mãos?

WB - A cura não parece ser afetada pela distância. Nos experimentos emmicropulsações geomagnéticas (com Margaret Moga), obtivemos o mesmo efeitotanto a duas polegadas como a 2 mil milhas de distância. Da mesma forma,animais podem ser curados a grandes distâncias. É um fato interessante tambémque o poder de cura possa ser armazenado em alguns materiais. Por exemplo,Bernard Grad descobriu que Estebany segurava algodão que, depois, poderia serusado para obter curas. Trabalho presentemente em alguns experimentosrelacionados a isso.

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J. Benveniste (1935-2004)

EE 7 - Na resposta da questão anterior, o Sr. disse que o 'poder de cura' pode serarmazenado em materiais. Ele poderia ser armazenado na água? Pergunto isso porque, nos experimentos de Jacques Benveniste, que tiveram como objetivodemonstrar a eficácia de soluções homeopáticas, descobriu-se que os resultados sópoderiam ser replicados na presença de certas pessoas. Talvez esse tipo de 'efeito doexperimentador' e a cura por meio das mãos tenham alguma causa em comum que,ultimamente, pode ser relacionada à eficácia dos preparados homeopáticos.

Tenho bastante certeza que se pode armazenar essa capacidade na água, emboraisso represente um problema metodológico difícil. Em um dos meus experimentos,ratos eram tratados apenas com água desse tipo e foram curados. O problemametodológico é, dada a existência de ressonância conectiva, não sabemos se issoocorreu por causa da água ou porque os ratos pertenciam ao grupo de geralconectado. Em suma, suponho que a água em si funciona.

Trabalhei com Jacques Benveniste em seu laboratório em Paris. Foi beminteressante. Ele ficou bem chateado quando viu que os efeitos que ele tinhadescoberto somente ocorriam quando certas pessoas estavam no laboratório.Disse a ele que isso era uma descoberta incrível com implicações igualmenteincríveis, mas ele não se mostrou animado com isso. Acho que ele pensou que oefeito que tinha descoberto era realmente independente do observador.

Continua no próximo post

Fim da Religião ou do irracionalismo religioso?

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Se a religião, apropriada em começo aos conhecimentos limitados do homem,tivesse acompanhado sempre o movimento progressivo do espírito humano, nãohaveria incrédulos, porque está na própria natureza do homem a necessidade decrer, e ele crerá desde que se lhe dê o pábulo espiritual de harmonia com as suasnecessidades intelectuais. A. Kardec (4) ('O Céu e o Inferno', Parte I, Capítulo, 1: 'OPorvir e o Nada', parágrafo 13).

Recentemente uma reportagem publicada na 'Folha de S. Paulo' (Maio de 2011) (1)trouxe afirmação de líderes da Igreja Católica de que a ascensão social reduzirá aquantidade de pessoas nas fileiras do protestantismo ou outras denominaçõesreligiosas que surgiram como religiões reformadas. Deixando a polêmica de lado, omais correto seria dizer que a ascensão social, que resulta em maior acesso aoconhecimento científico, não só reduz o número de adeptos das igrejas reformadas,mas de todas as religiões que fundamentam sua teologia ou crença em tradiçõesdifíceis de serem defendidas, diante da nova imagem do mundo revelada peloconhecimento científico. Tal observação tem consequências particulares. Para oOcidente (onde se encontram a maior quantidade de pessoas consideradas cristãs -lê-se - que fundamentam sua crença em interpretações tradicionais da Bíblia)haveria um aumento no número de não cristãos. Essa previsão, em verdade, foiplenamente confirmada por pesquisas de opinião.

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Fig. 1. Gráfico do percentual de pessoas na população que se dizem cristãs (azul), agnósticas (verde) e não cristãs(laranja) em uma pesquisa britânica. Há uma clara tendência para o 'desaparecimento' das religiões cristãs.

Avaliações recentes feitas Pesquisas de atitudes sociais britânicas (2)demonstraram que, na Inglaterra, o número dos que se dizem 'cristãos' está sereduzindo a uma taxa bastante grande, que se pode considerar 'alarmante' para oslíderes das religiões tradicionais (Fig. 1). A época que vivemos é, assim, uma épocamuito especial, pois parece representar o fim de uma era. Não acreditamos que sejao fim das religiões, mas certamente o fim do dogmatismo religioso, daintransigência e do irracionalismo implicado por determinadas crenças. Para quetenha alguma utilidade, as religiões tradicionais deverão aprender a conviverjuntas, de certa forma relativizando as implicações de seus dogmas que, de outraforma, já demonstraram levar a sua recíproca destruição.

Fig. 2 Mapa da Europa na pesquisa da Eurobarômetro (2005), Ref. 3, do percentual de pessoas que responderam'sim' à questão: 'você acredita em Deus?'

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A pesquisa britânica demonstra uma tendência em países mais 'desenvolvidos' ouem lugares onde as pessoas tem acesso à edução de qualidade - principalmentecientífica para o desaparecimento das religões cristãs. Se nada for feito (e nãoparece que o será), a curva cinza da Fig. 1 encontrará a origem em duas vezes ointervalo amostrado da pesquisa, que é de 26 anos. Ou seja, em meio século, gruposcristãos serão minoria semelhante aos 'não-cristãos' em países mais desenvolvidos.

Isso claramente ocorre por conta do efeito 'anti-religão' provocado pelo ensino (Fig.2). Ao se educar as crianças a compreender que a imagem moderno do Universonão corresponde àquela ensinada pelas antigas crenças, que deixam de justificaroutras como o juízo final, céu, inferno, julgamentos terminais ou na existência deDeus feito à imagem e semelhança dos homens, as religiões tradicionais estão emfranco processo de desaparecimento. Basta que analisemos também, o que recentepesquisa demonstrou na Suécia, reconhecidamente o país o terceiro mais ateu paísda Europa. Segundo a Wikipedia: Demographics of Atheism:

'Vários estudos mostraram que a Suécia é um dos países mais ateus do mundo. 23%dos cidadãos Suecos responderam que 'acreditam em um Deus', enquanto que 53%responderam que 'acreditam que existe algum tipo de espírito ou força vital'. Osoutros 23% restantes não acreditam nem em Deus ou na existência de um tipo deespírito ou força superior.

Portanto, a conclusão da autoridade católica que afirmou ser a ascensão socialmotor para a redução de protestantes, também vale para outros tipos de crenças,inclusive a católica. E, não é o enriquecimento que causa o esmorecimento da fé nasantigas crenças, mas o acesso à educação (de qualidade). Não obstante oenfraquecimento da crença na existência de Deus (conforme a imagem ensinadapelas religiões tradicionais), a maior parte da população ainda crê na existência dealgo superior. A pesquisa 'Eurobarômetro' (3) de 2005 resultou no gráfico da Fig.3.

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Fig. 3 Percentual da população que responderam 'sim' à questão: 'você acredita na existência de um Espírito ouforça superior?' Fonte: Pesquisa Eurobarômetro 2005, Ref. 3.

A Fig. 3 traz o percentual dos que responderam positivamente à questão sobre acrença em um Espírito ou força superior. Curiosamente, os países onde mais seacredita em Deus (Fig. 2), tem o menor percentual de crença no Espírito ou 'forçasuperior'. Tais resultados demonstram positivamente a influência de fatoresculturais (através da educação) sobre a crença e demonstram que, por trás dessa'geografia do ateísmo' o que se vê é o desaparecimento de antigos modelos decrença religiosa. Conforme o parágrafo de Kardec na introdução deste artigo, aeducação científica não conseguirá fazer a religião - entendida como movimentoque nasce a partir da necessidade de se crer inata no ser humano - comopretenderiam alguns céticos mais endurecidos. O que se está a observar é umaampla validação do que foi previsto por Kardec em várias de suas obras (4):

A crença na eternidade das penas perde terreno dia a dia, de modo que, sem serprofeta, pode prever-se-lhe o fim próximo. ('O Céu e o Inferno', Cap. 6, parágrafo1);

É isso que se dá hoje com a Humanidade, saindo da infância e abandonando, porassim dizer, os cueiros. O homem não é mais passivo instrumento vergado à forçamaterial, nem o ente crédulo de outrora que tudo aceitava de olhos fechados. ('OCéu e o Inferno, Cap.6, parágrafo 22);

Por muito tempo essa fórmulas lhes satisfizeram a razão; porém, mais tarde,porque se fizesse a luz em seu espírito, sentindo o vácuo dessas fórmulas, uma vezque a religião não o preenchia, abandonaram-na e tornaram-se filósofos.('O Céue o Inferno, Cap.1, parágrafo 12)

Nenhuma crença religiosa, por lhes ser contrária, pode infirmar os fatos que aCiência comprova de modo peremptório. Não pode a religião deixar de ganhar emautoridade acompanhando o progresso dos conhecimentos científicos, como não

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pode deixar de perder, se se conservar retardatária, ou a protestar contra essesmesmos conhecimentos em nome de seus dogmas, visto que nenhum dogmapoderá prevalecer contra as leis da Natureza, ou anulá-las. Um dogma que sefunde na negação de uma Lei da Natureza não pode exprimir a verdade.('ObrasPóstumas', Manifestação dos Espíritos, parágrafo 7).

Longe de estarmos vivendo o 'final dos tempos', amanhece um novo dia para aHumanidade.

Referências

(1) http://www1.folha.uol.com.br/poder/915670-ascensao-social-reduz-evangelicos-diz-lider-da-cnbb.shtml(2) http://en.wikipedia.org/wiki/Demographics_of_atheism(3) http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_225_report_en.pdf(4) A. Kardec: 'O Céu e o Inferno', 23a. Ed. FEB, 'Obras Póstumas', 15a Ed. FEB.

Postado por Ademir Xavier às 16:43 1 comentários

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Marcadores: ateísmo, dogmatismo, religião

DOMINGO, 8 DE MAIO DE 2011

Crenças Céticas XV - Máquinas que pensam ?

Certa vez, observava com atenção a reação de uma platéia de crianças (com idadeentre 4 a 6 anos) em numa apresentação de fantoches em um lugar público.Admirei-me ao ver como uma reforçava a reação da outra ao seu lado, ao ver ocomportamento dos bonecos no teatrinho. Dava para se ver, no brilho dos olhos,que realmente acreditavam que aqueles bonequinhos estavam ali, vindos de algumlugar encantado, para contar histórias divertidas. Eles tinham reações engraçadas,alegria, tristeza, raiva, contentamento. Elas se identificavam com eles, percebendo

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o quanto a maneira de ser dos bonecos não diferenciava muito da mãe ou do pai aoseu lado.

Nossa sociedade aprendeu cada vez mais a depender de dispositivos tecnológicospor uma variedade de razões, tanto comerciais como pragmáticas. Desde da prensade Gütemberg até os modernos sistemas de inteligência artificial (IA), sistemasautomáticos auxiliam a realização de uma variedade grande de tarefas. Maisrecentemente, porém, sistemas eletrônicos incorporaram funções interativas comos humanos, além da descomunal expansão de capacidade de informação por quepassaram, o que fez reacender o debate sobre o quão inteligente tais sistemaspoderiam ser (ver filme abaixo que mostra um robô tocando violino). O nome'inteligência artificial' tornou-se assim um símbolo para possibilidades ainda maisfuturísticas como a de sistemas artificiais exibirem consciência do mesmo grau detipo dos humanos.

Mecanismo robótico da TOYOTA tocando violino (2007). A legenda diz que o sistema é parte de

um esforço demonstrativo de como tais sistemas poderiam ser usados em casas, hospitais e

lugares públicos. Embora a similaridade espantosa observada com humanos, trata-se de um

sistema que apenas executa instruções pré-programadas, não diferindo, assim, de

um marionetes sem cordas.

Recentemente um dos pais fundadores da idéia de inteligência artificial, MarvinMinsky, foi entrevistado e o resultado pode ser visto no artigo com título sugestivo:'As máquinas já PENSAM' (1). O assunto é complexo o suficiente para exaltarânimos entre os proponentes da chamada 'strong AI' (IA forte), ou hipótese queafirmar ser possível a sistemas artificiais pensarem e terem uma mente (com umaconsciência junto), e os que não pensam assim, advogando uma forma branda de'computacionalismo' ou 'weak AI' (IA fraca) que afirmar ser possível programarsistemas que apenas parecem executar atividades inteligentes.

Embora seja possível achar que os proponentes da IA forte teriam algum interessenão apenas 'científico' na continuação das pesquisas nessa direção, pesquisas em IAse sustentarão comercialmente por muito tempo ainda, diante da capacidade de seutilizar tais sistemas para resolver problemas práticos. Logo, o assunto 'IA' tem umgrande futuro comercial ainda que não se acredite em IA forte.

Obviamente o debate entre as duas formas de se abordar IA tem implicações com asconcepções atuais sobre o que é a consciência e o que é o ser humano. Para nós, asesperanças da IA forte são uma aplicação prática da maneira materialista de se vero mundo e os seres humanos. Como tal crença demonstra desprezo pelas noçõesespiritualistas, trata-se assim de mais uma crença cética. Cabe a nós, assim, estudare compreender quais são os fundamentos que suportam a IA forte.

Comentamos abaixo a entrevista citada acima feita por um repórter da revistaEXAME. As questões feitas pelo repórter são excelentes e estão grafadas em itálico.

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1) Algum dia computadores serão capazes de pensar?

Eles já pensam de um certo modo, mas não de outros. Um dia, quandoentendermos como funcionam outros tipos de pensamento no homem, entãopoderemos construí-los nas máquinas.

Todas as esperanças de IA forte repousam no futuro. É como se acreditássemos queo futuro fosse uma espécie de 'caixa mágica' de onde se pode tirar qualquer coisa.Como não sabemos como uma coisa funciona hoje, então, quando soubermosamanhã isso será possível. Esse tipo de argumentação é muito fraca pois estabeleceo desconhecido como fundamento para o que não se sabe.2) Muita gente diz que os computadores não fazem mais que seguir instruçõesmais rápido que qualquer ser humano. O que pode compensar essa má reputaçãoda inteligência artificial?

Errado. Computadores podem seguir outros tipos de processos. Quandoprogramadores não sabem resolver um problema, eles podem programar ocomputador para realizar uma "pesquisa evolutiva". Ele tenta muitas possibilidadespara ver qual funciona melhor. Isto é, claramente, o que fazem as pessoas: resolvemproblemas por "tentativa e erro".

O repórter da Exame aqui se esqueceu de dar alguns nomes para 'muita gente' emsua questão. Na verdade, os maiores especialistas em assuntos de consciência ecognição pertence a esse grupo. A resposta de Minsky não poderia ter sido maisevasiva. Obviamente que para se fazer uma máquina realizar 'pesquisa evolutiva',ela tem que ser programada, e isso é feito a partir de instruções simples quecomputadores sabem realizar rapidamente. Aqui começa a transparecer umargumento que é frequentemente usado por proponentes de IA forte: o de que bastaum sistema executar algo que se pareça com o que um humano faça para que eleseja classificado como consciente. Além disso, pessoas não se escoram em 'tentativae erro' para resolver problemas. Essa é uma noção muito limitada do aprendizadohumano.3) Mas algum dia as máquinas desenvolverão algo comparável à consciência?

Acho que, se consciência quer dizer a capacidade de um cérebro pensar sobre suaspróprias atividades, sim. Muitos programas de computador já fazem algo parecido,portanto já são conscientes em um certo grau.

O conceito de consciência - embora tenha sido usado marginalmente nodesenvolvimento tecnológico de sistemas de IA (2) - é relevante para se dar umaresposta convincente à questão colocada. A resposta dada, como se baseia em ideiaerrônea do que é algo consciente, naturalmente levou à conclusão (igualmenteerrada) de que computadores já pensam. Mas serviu para dar um títulosensasionalista à entrevista.4) Qual será o impacto disso nos negócios?

Em primeiro lugar, teremos maior produtividade em todos os setores. No entanto,quando computadores começarem a pensar tão bem quanto pessoas - e melhor queas pessoas -, as coisas mudarão de formas que não podemos imaginar.

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O aumento de produtividade através do uso de sistemas automáticos já é realidade,independente de terem consciência ou não. Como as esperanças são colocadassobre algo que não se sabe, tudo é realmente possível.5) O senhor diz que não há muita diferença entre o pensamento comum e opensamento criativo. As empresas estão erradas ao procurar executivoscriativos?

Não há muita diferença entre as pessoas mais criativas e as mais comuns, excetopor aquelas serem capazes de descobrir novos modos de pensar. Claro quepequenas diferenças ao pensar podem fazer muita diferença em quantos problemasa pessoa pode resolver. Um engenheiro muito bom vale por uma centena deengenheiros medíocres, por isso às vezes ele ganha o dobro.

A única diferença entre os que são criativos e os que não são, é que os primeiroscriam mais coisas novas. Além da obviedade na primeira frase, é necessário explicarporque o ser humano exibe capacidades tão diferentes e discordantes entreindivíduos. Embora sejamos todos geneticamente idênticos, as diferença decomportamento e de capacidade criativa são muito grandes. "Mas isso pode muitobem ser apenas uma maneira equivocada de se ver as coisas", diria um defensor deIA forte. Para Minsky, 'pequenas diferenças no pensar' criam grandes diferenças nahora de se resolver problemas. Por causa disso, um 'bom engenheiro que vale por100 engenheiros medíocres' ganha apenas o dobro e não 100 vezes o salário de umengenheiro medíocre...6) Os defensores da inteligência artificial não cometem um erro ao descartar olivre arbítrio como ilusão?

Quando você diz "usei meu livre arbítrio para tomar uma decisão", isso só querdizer "não sei o bastante sobre minha mente para entender como tomei estadecisão".

Essa foi a melhor questão da entrevista. Com a resposta podemos ler o que sepassou na mente de Minsky: 'E por acaso você sabe o que é livre-arbítrio?' Mesmoassim, temos que reconhecer, Minsky deu uma resposta educada, embora'tangencial' à questão proposta.7) Quais as implicações éticas de produzir cérebros em linha de montagem? Osenhor não teme algo como o Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley?

Diria que podemos antecipar o oposto. As primeiras máquinas industriais eramusadas para repetir processos idênticos em linha de montagem. Mas um robômoderno programado pode fazer coisas diferentes a cada trabalho. Poderíamos terrobôs que projetam terno e sapatos perfeitos para cada indivíduo. Quandopudermos fabricar máquinas que pensam, poderemos fazer cada uma delas demodo diferente. Não seria muito difícil fazê-las muito mais diferentes umas dasoutras do que as pessoas são.

Mais uma vez o entrevistado dá uma resposta pouco satisfatória. A questãoproposta era sobre as implicações éticas e bem ponderáveis - no sentido de se criar'Franksteins', que se voltem contra seus criadores, uma possilidade perfeitamentecabível diante das apostas de IA forte. As respostas comuns são do tipo: 'toda

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tecnologia pode ser usada para o bem ou para o mal'. Assim, se novos Fransksteinsconscientes aparecerem, isso já era previsto. Por isso, Minsky preferiu focar o ladobom.

Mas, como tudo é possível, Minsky poderia ter respondido muito bem: 'podemosprogramá-los para serem sempre escravos e bonzinhos para com seus criadores' .Ah, mas ele não poderia mesmo dizer isso, pois, de acordo com a crença de IA fortesobre a possibilidade de consciências artificiais, elas seriam em todos os aspectosiguais as nossas e, portanto, não poderiam ser programadas para obedecerdeterminadas instruções. Crendo-se ou não na existência de livre arbítrio, terconsciência implica em certas liberdades que sistemas autônomos artificiais devemter para serem considerados verdadeiramente conscientes. Em algum momento dahistória do desenvolvimento da IA, a noção de livre arbítrio terá que surgir...

Conclusão

Vou terminar como comecei: para a maioria dos crentes em IA forte - apoiados porconcepções materialistas do ser humano - a consciência artificial é possível.Analisando a maioria dos argumentos, temos a impressão que eles são como ascrianças que se impressionam e fantasiam com o comportamento aparentementehumano de bonecos ou fantoches em um teatrinho.

Crêem eles que a consciência pode ser definida pelos seus efeitos, por se recusarema analisar, ou sequer acreditar, em suas causas. Na verdade, para o paradigmamaterialista, o cérebro, como fonte de consciência, não exige que se busque nadaalém: está tudo lá, grafado entre códigos neurais que aguardam um pouco maispara serem desvendados.

Referências

(1) http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0662/noticias/as-maquinas-ja-pensam-m0046093(2) Ver artigo: Drew McDermott (2007), Artificial Intelligence and Consciousness,The Cambridge Handbook of Consciousness. Cambridge University Press.

Livro I - Introdução à Ciência Espírita de Aécio P. Chagas

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No centenário de nascimento de Allan Kardec (2004), muitas obras forampublicadas em sua homenagem. Dentre elas, destaca-se a 'Introdução à CiênciaEspírita' de Aécio Pereira Chagas. Com um estilo simples, o autor consegue abordaruma ampla gama de tópicos que fazem parte dos fundamentos da DoutrinaEspírita, suas consequências morais e filosóficas. Um livro com 156 página - poucose considerarmos a vastidão da temática espírita - é bem uma introdução aoassunto.

Para se ter uma idéia dos temas abordados por esta obra, basta que consideremosseu índice: 1 Introdução, 2 - Concepção espírita do ser humano, 3 - Fluidos - I (hádois capítulos separados para o tema 'fluidos'), 4 - Perispírito, 5 - Animismo, 6 -Mediunidade, 7 - Fluidos II, 8 - Efeitos Físicos, 9 - Fluidoterapia, 10 - Evolução eTempo (que discorre sobre o importante princípio da reencarnação), 11 -Conclusão. Há ainda 2 apêndices: um sobre o conceito de religião e outro que tratade um resumo histórico do Espiritismo.

Antes do 1o Capítulo, no 'Prólogo', o autor, que é pesquisador acadêmicoconceituado, discorre sobre a noção de 'ciência espírita'. Essa noção certamente temconsequências para a noção de universidade e centro de pesquisa acadêmico. Deforma bem direta, o autor considera:As universidades são importantes instituições de ensino e pesquisa, cujas atuaiscaracteristicas têm cerca de duzentos anos. Formaram-se após a RevoluçãoFrancesa (ou Burguesa) sobre as ruínas das universidades medievais. Estas eramcentradas na teologia e as novas universidades centram-se nas ciências da matéria:física, química, biologia. Sua ideologia, ou seja, o conjunto de idéias que definemsua estrutura, objetivos, funcionamento etc, é praticamente positivista. Ela é, emsua essência, materialista. Creio que, dentro desta concepção de universidade, nelanão cabe o espiritismo.

Essas considerações certamente tem consequências sobre a opinião particular dosque pensam ser possível acomodar a pesquisa espírita dentro dos modelos atuais decentro de pesquisa e universidades. Sendo pois a pesquisa acadêmicaessencialmente centrada na busca e explicação de fenômenos materiais, é bastantelógico compreender porque existe grande resistência em meios acadêmicos a estudode outras natureza. Um fato de uma determinada universidade estar vinculada auma religião (como ocorre com as universidades católicas, por exemplo) em nadamodifica esse quadro:Existem universidades vinculadas a algumas religiões: universidades católicas,protestantes, judaicas, entre outras. Pergunto ao leitor, como são elas? No quediferem das universidades não confessionais?

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Finalmente, ancorado nessa lógica o autor afirma: A ciência espírita foi feita e estásendo feita nos centros espíritas. O autor explica:Acho que a pesquisa espírita não foi feita e não está sendo feita nos centros demetapsíquica ou de parapsicologia, que não satisfazem os requisitos da atividadecientífica, pois elas não contêm uma teoria. Muitos dos notáveis pesquisadores dopassado, que trabalharam no estudo da fenomenologia mediúnica, não fizeramciência espírita, ou melhor, não fizeram ciência nenhuma, pois não possuiam umateoria. É interessante que alguns até se tornaram espíritas no fim de seus trabalhos.

Do ponto de vista das modernas teorias do conhecimento, a existência de umateoria - que desenvolve e orienta a pesquisa - é um quesito fundamental para quehaja verdadeira ciência. Em um ambiente cercado de ceticismo com relação aoobjeto de estudo (que é o Espírito) como haverá de se desenvolver nossoconhecimento sobre o assunto? Este é um ponto fundamental que não pode serdesconsiderado.

Ao longo do livro, o autor discorre sobre vários conceitos espíritas - essencialmentefundamentados em 'O Livro dos Espíritos' e 'O Livro dos Médiuns' de A. Kardec pormeio de muitas figuras (ou 'esquemas') que, embora não sofisticadas, conseguemexplicar os conceitos e que dificilmente encontramos em outros obras. Além disso,o livro apresenta diversos 'exercícios' que orientam o leitor no estudo de obrascomplementares. Por exemplo, ao final do capítulo 6 (sobre mediunidade), existemdiversas questões. Destacamos uma delas: 6.3 - Um médium sonambúlico 'que vê' évidente ou clarividente? Tal proposta faz de 'Introdução à Ciência Espírita' um livrodiferente de muitos outros, um livro que tem uma proposta pedagógica.

Interessante e elucidativa é a proposta do autor de explicar os fenômenos físicosatravés de um capítulo dedicado. Por serem ocorrências que se distanciam dos fatosordinários, são os mais considerados pela adeptos da teoria do 'embuste'. Emparticular, o autor esclarece os fatos da década de 60 em Uberaba, MG, em torno damediunidade de efeitos físicos de Otília Diogo. Ele faz isso não como alguém que'ouviu falar do assunto', mas como quem teve contato direto com testemunhas dosfatos:Em uma dessas reuniões, esteve presente também uma equipe de repórteres darevista O Cruzeiro, na época, era o semanário de maior circulação no país. Aprimeira reportagem publicada pela revista foi fiel aos fatos observados. A segunda,uma semana depois, procurou apresentar tudo como se fosse uma fraude.

Mesmo assim, em determinados assuntos, sentimos que o autor foi algo resumidodemais. Um exemplo, é o tema 'prece' do capítulo 9 'Fluidoterapia'. O assunto, nanossa opinião, é de certa importância e muito se beneficiaria de maioraprofundamento com o estilo didático do autor.

No último capítulo (11 - Conclusão), o autor trata da noção de prova científica deoutras questões ligadas ao assunto e sua relação com os fatos espíritas. Bastaconsiderarmos as perguntas feitas pelo autor no capítulo citado: 'Átomos emoléculas existem? Você já os viu ou os tocou? Como provar que elesexistem? para que tenhamos uma idéia de que a noção de prova na ciência e,principalmente, na ciência espírita, não tem o mesmo status que a idéia de'evidências' das ciências forenses ou criminais. O assunto requer muito estudo euma visão dilatada que inclua a ideia de que muitas coisas no mundoexistem apesar de não sensibilizam diretamente nossos sentidos ordinários.

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'Introdução à Ciência Espírita' traduz em seu título, de uma maneira fiel, o que oautor desejou transmitir com ele: uma introdução didática a um tema que tem umgrande futuro.

Detalhes bibliográficos:Introdução à Ciência EspíritaAécio P. Chagas156 páginasBiblioteca de Ciência e EspiritismoEditora Lachâtre (http://www.editora3deoutubro.com.br)1a Edição (2004)

Crenças Céticas XIV - "Afirmações extraordinárias requeremevidências extraordinárias."

"Pessoalmente, ficaria muito satisfeito se houvesse vida após a morte,especialmente se ela me permitisse continuar a aprender sobre este e outrosmundos, se ela me desse a chance de descobrir como a história aconteceu". C.Sagan

Inexiste frase mais inconseqüente e de menor aplicação à história da ciência do queesta que serve de título deste post, proferida pelo astrônomo Carl Sagan (1934-1996), membro fundador de uma importante seita de céticos. Por isso mesmo, elaveio a se constituir em um dos pilares da crença cética. (1)

C. Sagan foi bem meu herói de juventude: quem não se lembra da série 'Cosmos' nocomeço da década de 1980, com suas primeiras simulações computacionais,mostrando um viajante em suas viagens pelo Universo, de uma maneira acessívelao grande público? A série era primorosa e, mesmo hoje em dia, a maneira com queele explica cada tópico em Astronomia deixa saudades. Mais tarde, descobri que

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Sagan errava em alguns pontos com relação à história da ciência, o que é de poucaimportância comparada a sua postura de defensor infatigável da ciência (lê-seacademia) utilizando, entretanto, argumentação algo equivocada, que o levaria atirar conclusões em contradição com sua visão materialista de ver o mundo.

Sagan pretendia fazer algo muito importante: livrar a sociedade das trevas daignorância medieval, do irracionalismo cristão que condenou tantos mártiresconsiderados hereges à fogueira. Nisso ele estava muito certo. Por isso, Sagan chegaà conclusões belíssimas com relação a nossa verdadeira posição no Cosmos:no auge da gerra fria fez uso de uma foto tirada por uma das Voyager mostrandotudo aquilo que somos. Nada mais que um grão de areia perdido na imensidão doCosmos.

'Pale Blue dot': foto da Terra de um ponto muito distante no espaço. Para C. Sagan, o uso dessas imagens

poderia demonstrar ao público a verdadeira dimensão das disputas e pontos de vista humanos.

Sobre tal foto escreveu ('Pálido Ponto Azul'):Olhem de novo para aquele ponto. É ali. É a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto,todos aqueles que amamos, todos os que conhecemos de quem ouvimos falar,todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas.Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as inúmeras religiões,ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, heróis ecovardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casaisapaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos os inventores e exploradores,professores de moral, políticos corruptos, “superastros”, “líderes supremos”, todosos santos e pecadores da história de nossa espécie, ali - num grão de poeirasuspenso num raio de sol.

A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pensem nosrios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, naglória do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração desteponto. Pensem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes maldistinguíveis de algum outro canto em seus freqüentes conflitos, em sua ânsia derecíproca destruição, em seus ódios ardentes.

Nossas atitudes, nossa pretensa importância, a ilusão de que temos uma posiçãoprivilegiada no universo, tudo é posto em dúvida por este ponto de luz pálida. Onosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante.Em nossa obscuridade, no meio de toda essa imensidão, não há nenhum indício deque, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos.

Carl Sagan - (de “Um pálido ponto azul”, 1994)

Entretanto, Sagan frequentemente afirmava que a sociedade, que passou adepender da Ciência e da tecnologia, sem saber o que era, de fato, Ciência, deveriaarraigar-se ao cientificismo que, segundo ele, era a única coisa que poderia salvar aTerra e a sociedade, tanto de uma hecatombe nuclear como num retorno à IdadeMédia e de suas fogueiras. Desta forma, Sagan fazia da ciência um plataforma depregação de suas crenças céticas e se voltava contra qualquer coisa que não se

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adequasse à visão corrente resultante de interpretações das teorias científicas, algoque é estranho à atividade científica em si.

Não é papel da Ciência fazer pregações sobre como a sociedade deva se comportar.A Ciência deve ser sempre neutra em sua visão do mundo porque, da humildaderesultante de quão pouco sabemos, apesar de termos progredido tanto emconhecimento, vem a conclusão que inexiste limites para o que podemos aprendercom o Cosmos. Encontra-se assim uma contradição no pensamento de Sagan:enquanto afirmava categoricamente que o Universo era infinito em muitaspossibilidades, ele negava veementemente a possibilidade de muitos outros fatosque ele considerava crenças pseudocientíficas. Para Sagan, o Cosmos era tudo o queexiste e era ilimitado, mas não tanto assim a ponto de validar determinadas crençasque entravam em conflito com as suas próprias.

Isso fica bem claro na sua visão sobre a Astrologia: dizia que 'os jornais do mundotrazem todas as semanas horóscopos, mas dificilmente notícias sobre o Universo'(isso era uma verdade na década de 1980, mas hoje, com a internet, jornaisdedicam muitas reportagens à pesquisa científica). Pretendia que as pessoascomuns, que não escolhem carreiras científicas em suas vidas, tivessem pelaCiência o mesmo interesse que tem por Astrologia. Acontece que essa éuma expectativa ingênua: a Ciência nada tem a dizer sobre o sentimento outemores das pessoas, enquanto que as colunas astrológicas aparentemente tem(mesmo que sejam na forma de frases auto evidentes). A Ciência jamais será tãopopular quanto novelas ou histórias românticas, porque o ser humano temsentimentos, expectativas, temores e esperanças para as quais a Ciência -principalmente aquela de C. Sagan - jamais conseguirá dar respostas atraentes.

Em algum ponto de sua pregação cética nasceu o slogan sobre as 'afirmaçõesextraordinárias e das evidências extraordinárias' (Ver nota (1)). Embora pareçauma frase lógica, tão lógica quanto: 'pessoas felizes tem vidas felizes' ou 'planetasrochosos tem densidades elevadas' (para usar um exemplo mais ao gosto de C.Sagan), trata-se de uma falácia lógica (non sequitur) que não tem base alguma nahistória da ciência. Basta que analisemos alguns exemplos para vermos suafalsidade, o que nos esclarece um pouco também sobre como se dá o processo dasdescobertas científicas.

Primeiro há o problema com a definição de 'evidência extraordinária'. O que é uma'evidência extraordinária'? Uma pessoa comum, tropeçando com uma pedra nochão, dificilmente reconhecerá nela qualquer sinal de um fóssil antigo, fato que umbom paleontólogo será capaz de fazer. Ou seja, uma 'evidência extraordinária' só érealmente em relação a um 'referencial de conhecimento'. Não há evidênciasextraordinárias de qualquer tipo para quem não acredita em nada ou não sabenada. No âmbito da Ciência, uma evidência desse tipo só é verdadeiramente'extraordinária' desde um ponto de vista muito especial e privilegiado, o ponto devista de uma teoria particular. Na ausência desta, inexiste evidência alguma - aindaque a Natureza nos bombardeie diariamente com vários fenômenos.

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Um exemplo interessante (embora distante de nossa realidade diária) foi a'descoberta' das partículas elementares chamadas neutrinos. Elas foram'postuladas', ou seja, imaginadas como existentes para explicar certas anomalias emprocessos de desintegração radioativa, em particular o decaimento beta.Entretanto, nenhuma 'evidência extraordinária' foi encontrada na condiçõesexigidas por muitos crentes céticos, pois os neutrinos não interagem comabsolutamente nada, assim não podem ser detectados diretamente. A menos quetenhamos muitos bilhões de dólares para construir um detector de neutrinos (queconsegue isso por métodos indiretos e de forma estatística), jamais teremosqualquer evidência de sua existência.

Pelo menos em física de altas energias, 'evidências extraordinárias exigem orçamentos extraordinários'. A

foto mostra um detector de neutrinos (interior do LSND ou detector de neutrinos por cintilação líquida em

Los Alamos, USA).

O mais certo é dizer que, no estágio atual de desenvolvimento das Ciências damatéria,'evidências extraordinárias exigem orçamentos extraordinários', tal é aquantidade de dinheiro necessária para que determinadas 'afirmaçõesextraordinárias' tenham qualquer chance de serem consideradas. Céticosdogmáticos não se dão conta disso e pretendem generalizar a regra para todos osfenômenos da Natureza. E, mais importante ainda, não podemos deixar dereconhecer o papel fundamental das teorias que devem ser aceitas e trabalhadas.Sem elas é impossível desenhar ou projetar qualquer equipamento para tornarvisíveis determinadas evidências. Assim, a Ciência verdadeira está longe de ser umaatividade imparcial, pelo menos no que diz respeito à crença que se deve depositarna validade de certas conjecturas a respeito do Cosmos.

Portanto, a frase de Sagan é retórica elegante mas sem fundamento. Ascontradições com diversas descobertas científicas são tão grandes que deixamos aoleitor a tarefa de encontrar outros exemplos na história da ciência.

Mesmo com essas constatações, não podemos deixar de admirar o brilhantismo e o

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esclarecimento que Carl Sagan prestou em seu papel de divulgador e comoastrônomo. A maioria dos que pretendem seguir seus passos hoje, o fazemexagerando ainda mais no ceticismo e são quase todos desprovidos de sua eleganteretórica. Sem a reverência que Sagan tinha pelo imensidade do Cosmos, pretendemditar normas sobre o que é 'científico' ou não na visão deles, e seu argumento éusado para refutar o que céticos chamam de 'claims' de muitos fenômenos, quedevem ser 'provados rigorosamente', o que inclui: exigências de farta repetibilidade(como se na Natureza não houvessem fenômenos estocásticos e raros),'objetividade' e outros quesitos.

Notas

(1) Segundo o site 'The Anomalist', a frase teria sido criada por Marcelo Truzzi(1935-2003). Junto com P. Kurtz, Truzzi fundou o "Committee for the ScientificInvestigation of Claims of the Paranormal" (CSICOP), tendo se arrependido dissoposteriormente:"I might note here that it was Marcello, not Carl Sagan, who coined the often-misattributed maxim "Extraordinary claims demand extraordinary evidence." Inrecent years Marcello had come to conclude that the phrase was a non sequitur,meaningless and question-begging, and he intended to write a debunking of hisown words. Sad to say, he never got around to it."

Crenças Céticas XIII: 'O Porvir e o Nada'.

Wellington Menezes de Oliveira, o assassino do Realengo, explica porque cometeria oseu crime.

Todos somos livres na escolha das nossas crenças; podemos crer em alguma coisaou em nada crer, mas aqueles que procuram fazer prevalecer no espírito dasmassas, da juventude principalmente, a negação do futuro, apoiando-se naautoridade do seu saber e no ascendente da sua posição, semeiam na sociedadegermens de perturbação e dissolução, incorrendo em grande responsabilidade. (A.Kardec em 'O Céu e o Inferno')

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Nossa época apresenta-se como o apogeu da cultura científica e da pobrezafilosófica, fruto de doutrinas negativas e niilistas adotadas de forma convenienteapós a separação entre o Estado e a Religião estabelecida, que se provou serremédio mais fulminante do que a própria doença. Por isso, alguns indivíduos,portadores de deficiências ainda mais profundas na compreensão que deve existirentre seres que se reconhecem iguais, tornam-se casos alarmantes a demonstrarconduta de visível decadência em todos os sentidos.

Por que isso aconteçe? Um pouco de reflexão, desde que pautada na visão espíritamais dilatada da razão e da existência dos seres, nos mostra facilmente o motivo.

Em primeiro lugar, é importante enunciar verdades à guiza de princípios: nossasociedade vive fase de pesadas angústias sociais, fruto do desabamento de suasestruturas éticas e morais. Isso acontece porque, em uma sociedade onde não existeesperança no porvir, na vida futura, não poderá haver nenhuma tipo esperança.

De uma lado temos a Religião estabelecida que se tornou motivo de riso e deboche,uma vez que as práticas não correspondem aos princípios pregados. De outro, aintelectualidade que se incumbe hoje de decisões dos Governos e organizações civis,perdida em interpretações apressadas da Ciência, se satisfaz com crenças céticas epessimistas diante das quais a ética torna-se apenas uma questão de opiniãopessoal.

Diante desse quadro, para determinadas mentes enfermiças que, ao nascerem, sereconhecem diante de um mundo cuja razão é desconhecida, o convívio harmoniosose torna uma necessidade. Se o mundo não tem sentido, então ao menos viveremoscom algum sentido sendo aceitos e compreendidos por nossos semelhantes.

Mas o que fazem nossos semelhantes? Vivem conforme a imensa maioria, perdidosnesta mesma sociedade cujas crenças exclusivistas determinam gozar ao máximo aexistência presente que, afinal, tem como fim último o vazio eterno.

Nada nos espanta ver então o surgimento de grupos que sistematicamentedesprezam, caluniam e atacam outros considerados diferentes ou inferiores. Enada, governo, sociedade ou pessoa alguma poderá detê-los, afinal, como não existevida futura, inexiste justiça. É em vão que se invoca a justiça dos Governos, muitotempo depois que a oportunidade de uma educação baseada na verdadeiraesperança foi perdida.

Em vão tentarão reformular leis, convencer ou mudar uma sociedade que não vêsentido em nada além. Qual será a diferença entre matar uma mosca e matar seusemelhante? Tal é a questão que se coloca para quem aprendeu a relativizar seussentimentos em um mundo sem direção.

Mais de um século nos separam hoje desde que Allan Kardec escreveu as palavrasabaixo (Em 'O Céu e o Inferno') que se aplicam perfeitamente aos dias quevivemos:Suponhamos que, por uma circunstância qualquer, todo um povo adquire acerteza de que em oito dias, num mês, ou num ano será aniquilado; que nem umsó indivíduo lhe sobreviverá, como de sua existência não sobreviverá nem um sótraço: Que fará esse povo condenado, aguardando o extermínio?

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Trabalhará pela causa do seu progresso, da sua instrução? Entregar-se-á aotrabalho para viver? Respeitará os direitos, os bens, a vida do seu semelhante?Submeter-se-á a qualquer lei ou autoridade por mais legitima que seja, mesmo apaterna? Haverá para ele, nessa emergência, qualquer dever?

Certo que não. Pois bem! O que se não dá coletivamente, a doutrina do niilismorealiza todos os dias isoladamente, individualmente.

E se as conseqüências não são desastrosas tanto quanto poderiam ser, é, emprimeiro lugar, porque na maioria dos incrédulos há mais jactância queverdadeira incredulidade, mais dúvida que convicção – possuindo elesmais medo do nada do que pretendem aparentar – o qualificativo deespíritos fortes lisonjeia-lhes a vaidade e o amor-próprio; em segundo lugar,porque os incrédulos absolutos se contam por ínfima minoria, e sentem a seupesar os ascendentes da opinião contrária, mantidos por uma força material.

Torne-se, não obstante, absoluta a incredulidade da maioria, e a sociedadeentrará em dissolução. Eis ao que tende a propagação da doutrina niilista.(Grifosnossos)

Kardec explica aqui porque nem todos se dissolvem na falta de ética resultante dacrença niilista: não é porque esta explicação seja inapropriada, mas porque adúvida e a falta de convicção norteia a imensa maioria que, por medo, faz de formaautomática o que se aprendeu por imitação a fazer. Seguem hebetados a costumes emodismos, sem nenhum compromisso com o futuro. Kardec previu, entretanto, quehaveria um aumento do relaxamento moral, na medida que o niilismo ganhasseforça na sociedade. É por isso que hoje vemos, todos os dias, notícias de crimesescabrosos que ocorrem aqui e ali, quando então o medo e a dúvida são substituídospela violência que sacrifica sem piedade suas vítimas. Também Leon Denis em 'Oproblema do Ser, do Destino e da Dor' adverte:Em toda parte a crise existe, inquietante. Sob a superfície brilhante de umacivilização apurada esconde-se um mal-estar profundo. A irritação cresce nasclasses sociais. O conflito dos interesses e a luta pela vida tornam-se, dia a dia,mais ásperos. O sentimento do dever se tem enfraquecido na consciência popular,a tal ponto que muitos homens já não sabem onde está o dever. A lei do número,isto é, da força cega, domina mais do que nunca. Pérfidos retóricos dedicam-se adesencadear as paixões, os maus instintos da multidão, a propagar teoriasnocivas, às vezes criminosas. Depois, quando a maré sobe e sopra o vento detempestade, eles afastam de si toda a responsabilidade.

(...) A origem de todos os nossos males está em nossa falta de saber e em nossainferioridade moral. Toda a sociedade permanecerá débil, impotente e divididadurante todo o tempo em que a desconfiança, a dúvida, o egoísmo, a inveja e oódio a dominarem. Não se transforma uma sociedade por meio de leis. As leis e asinstituições nada são sem os costumes, sem as crenças elevadas. Quaisquer quesejam a forma política e a legislação de um povo, se ele possui bons costumes efortes convicções, será sempre mais feliz e poderoso do que outro povo demoralidade inferior.

Em vão alguns pigmeus morais afirmarão que o niilismo de nossa sociedade nadatem a ver com os problemas de polícia. Outros tratarão de culpar o Estado pela faltade segurança e pelo mal estar geral devido a crise econômica. Ainda outros,religiosos dogmáticos apresentarão as portas do inferno eterno aqueles que não seenquadram em suas doutrinas repletas de idéias preconcebidas e interpretaçõeserrôneas.

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O problema que temos que enfrentar é muito mais profundo e exige tratamento dascausas e não ação de paliativos. A certeza na Imortalidade e a noção de uma JustiçaNatural preexistente a tudo deverá ser a base para uma nova educação, baseada naaceitação, compreensão e múta estima - calcada em exemplos e não em meraretórica - que deverá ser ministrada a nossos filhos e descendentes a fim de quepossamos viver realmente em paz.

Entrevista I-2/2 - Yvonne Limoges da Sociedade Espírita da Flórida(EU)

NUNCA ESTÁS SOZINHO

Quando tu sofres... nunca estás a sós......Aqueles, no mundo espiritual, teus verdadeiros amigos e parentes desta e de

outras vidasQue te amam, estão contigo, cientes de tuas dificuldades,Eles choram quanto tu choras, sofrem quando tu sofres.

Mas eles te ajudam tanto quanto podem.

...Sustenta-te com prece, sincera e fervorosa, ao teuEspírito protetor e ao Todo Poderoso.

Tuas preces derramarão sobre ti,das Alturas, as energias espirituais que tanto precisas.

Elas agirão sobre ti como o bálsamo benéficoQue te improvisará a calma interior a tua alma combalida...

Elas te sustentarão em tempos de crise e necessidade,afastando-te do desespero...

Os teus espíritos protetores tem grande compaixão por ti...Eles te assistem com o que precisas para eliminaras angústias do coração oprimido e te fornecem

a boa inspiração, desde que saibas ouvirtua voz interior ou intuição. Eles sim sabem...

que se tu também souberes te sustentarpor tais horas de escuridão, tanto melhor será para teu Espírito

no progresso de tua presente existência.Assim, sejas forte, ores,

e tenhas fé!

Tradução nossa de uma comunicação recebida por Y. Limoges (boletim deFevereiro de 2011 da Sociedade Espírita da Flórida).

Parte final da entrevista feita com Yvonne Limoges da Spiritist Society of Florida.

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EE 6 - Como os lídereas da NSAC pensam sobre isso? (referência àquestão anterior).

YL - Nos EUA, Espiritualismo e Espiritismo são sistemas de crenças distintos compráticas diferentes.

Espiritualistas estão majoritariamente preocupados em espalhar sua religião e nãocreio que se sintam ameaçados pelos espíritas.

Não obstante, o conceito de reencarnação tornou-se tão difundido aqui queeventualmente eles irão aceitá-lo. Muitos espiritualistas já acreditam nisso e, comodisse, estão se mexendo para mudar a situação do ponto de vista dos princípios. Àmedida que os mais velhos se vão, a balança irá pesar cada vez maisfavoravelmente.

Seus médiuns hoje estão recebendo comunicações que envolvem descrições devidas passadas, o que está criando um conflito, pois eles são ensinados apenas atransmitir a mensagem sem interferência.

Se a reencarnação não é um principio, como os médiuns devem agir? Tal é o dilemaque eles tem que enfrentar.

EE 7 - Você acredita que Espiritualistas nos Estados Unidos estão maisconscientes do Espiritismo ou eles ainda veem o movimento espíritacomo essencialmente integrado a grupos Latino Americanos? Comovocê vê o aumento crescente do interesse de espiritualistas americanospor reencarnação?

YL - Alguns dos líderes das maiores organizações espiritualistas nos EstadosUnidos, a Associação das Igrejas Nacionais Espiritualistas (NSAC) tem consciênciados princípios básicos do Espiritismo. Nos últimos anos, eles publicaram váriosartigos de nossos boletins espíritas, incluindo sobre reencarnação na publicaçãooficial 'The Summit' que é enviada a todas as igrejas e membros. Entretanto, apenascitam o autor e fornecem detalhes tais como se foi uma comunicação, não divulgamque esses artigos são de nossos boletins ou de nosso centro.

Penso que tenho um bom relacionamento com esses líderes e seus editores, achoque o fato de ser Americana ajudou bastante nisso. Como espírita, fico contente quepossa influenciá-los no que diz respeito aos princípios básicos e filosóficos de nossadoutrina. Isso é a coisa mais importante do meu ponto de vista. Já me encontreipessoalmente com o presidente dessa associação e tenho mantido correspondênciacom o vice-presidente nos últimos 10 anos.

Infelizmente, a mim parece que eles consideram todos os espíritas comoestrangeiros e brasileiros. Seus membros não fazem ideia de que existem milharesde espíritas em outros lugares do mundo e em muitos países que falam espanhol.

Também reporto que tem havido contato entre espiritualistas e espíritas por meiode Divaldo Pereira Franco em seminários que ocorreram em Lily Dale. Acredito quealguns espiritualistas visitaram centros espíritas.

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Considerando tudo isso, ainda afirmo que a maioria dos membros atuais dessasigrejas espiritualistas não sabem que o Espiritismo existe.

Também, tenha em mente que as práticas espiritualistas são muito diferentes (dasespíritas). Eles mantem organização clerical, testam e certificam seus médiuns (decura inclusive), dão comunicações espirituais de parentes falecidos publicamenteno púlpito de suas igrejas durante os serviços e cantam hinos. Recentemente,perceberam que existe necessidade de se enfatizar mais a filosofia, já que tantaspessoas se mostram crentes da existência dos Espíritos e da vida após a morte.

Durante muitos anos, artigos sobre reencarnação eram absolutamente proibidos.Agora isso mudou, e cada vez mais membros acreditam em reencarnação. Elesainda não a aceitaram como um princípio, mas alguns deles estão realmentelutando para que isso ocorra oficialmente. Tiveram sua conferência anual maisrecente no ano passado na Flórida, ocasião em que participei. Encontrei-me com ocomitê 'pro-reencarnacionista' para explicar sobre o 'Espiritismo' do que nadasabiam, além de nossos princípios.

Além disso, há um debate bastante forte ao redor do mundo na internet sobrereencarnação e sua conceituação entre espiritualistas de língua inglesa e outros queacreditam principalmente no que os espíritas postulam concernente aos fenômenosespíritas e à mediunidade.

Uma coisa que se há que ter em mente é que o que uma pessoa média nos EUAentende por 'reencarnação' se mostra muito diferente do que Espiritismo diz. Háopiniões variadas sobre como e porque a reencarnação ocorre, se ela somente seaplica a certas pessoas ou a todos. Eles não tem o conhecimento profundo que oEspiritismo nos dá com relação aos objetivos, detalhes ou o processo completo dareencarnação.

Falando nisso, há nos EUA e outros países pessoas que se auto denominam'espiritualistas' mas que não tem igrejas e se reúnem em grupos ou centros como osespíritas. Nem tampouco são eles muito religiosos. Em uma conferênciaespiritualista que participei e dei palestra, encontrei muitos espiritualistas nessaposição que acreditam e praticam coisas variadas. Muitos deles são bastanteseculares. O ensino da filosofia não é para eles uma prioridade.

A maioria dos espiritualistas focam no fornecimento de provas da vida após amorte. Fazem isso por intermédio de mensagens recebidas por médiuns quecontem evidência verídica de parentes que partiram para o mundo espiritual. Vi etestemunhei tais casos pessoalmente, através de vários médiuns e sensitivos.Também tem a prática de cura por meio de passes. Não há ênfase em transesmediúnicos. Se isso vem a ocorrer, o fazem de forma privada.

No que diz respeito a obsessão, há muitos hoje em dia praticando o que chamamosde 'spirit release' de forma semelhante a praticada pelos espíritas. Algunsindivíduos e grupos (aqui e na Inglaterra) se especializaram no assunto e estãointegrados a profissões médicas ou psicológicas.

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Além disso, a maioria do povo dos EUA não sabe nada de Espiritismo e, quandoisso ocorre, o sabem mais através de brasileiros que eles conheçam pessoalmente.Alguns podem participar de conferências ou simpósios locais, mas tais eventos sãoesporádicos e mais freqüentados por espíritas.

Um fato que tem chamado a atenção para o Brasil e para o Espiritismo foi seconsiderar espírita por aqui o médium João de Deus (João de Abadiânia). Houvemuitas notícias sobre ele durante vários anos aqui, tendo ele sido tema noprograma da Oprah que é bastante influente por aqui. Emma Bragdon, PhD,publicou bastante coisa sobre sua obra e o que ela chama de centros espíritas decura. Isso inspirou a muitos a viajarem ao Brasil para assistir suas curas. Lá podemtalvez conhecer mais sobre o Espiritismo e freqüentar outros centros.

EE 8 - O que se pode fazer para mudar essa situação?

YL - Primeiro é preciso saber que o Espiritualismo e suas igrejas oficiais nãoconstituem religião majoritária aqui nos EUA.

Há poucos centros espíritas também. Mesmo assim, acho que o contato com osespíritas ajuda bastante, mas , no que diz respeito a certas práticas espiritualistas -como a de se ter organização clerical - isso vai demorar bastante para mudar.

Os espíritas estão se tornando mais organizados nos EUA, são eles na sua maioriaformado por centros ou grupos de brasileiros com alguns centros e gruposhispânicos. Há também alguns conselhos espíritas estaduais afiliados ao ConselhoEspírita dos Estados Unidos (USSC) que, por sua vez, é afiliado ao ConselhoEspírita Internacional (CEI). Publicam uma revista espírita nos EUA. Muitosprofissionais americanos bem conhecidos (que escrevem livros ou se envolvem empesquisas sobre o pós-vida, mediunidade e reencarnação) participaram deconferências e simpósios mantidos por tais organizações. Conferencias médico-espíritas anuais tem ocorrido anualmente também. Se isso continuar a crescer,então mais pessoas irão se aproximar do Espiritismo.

Também gostaria de registrar que aqui nos EU são inúmeras as igrejas 'metafísicas'e grupos espiritualistas do gênero que acreditam em combinações de crençasrelacionadas a capacidades psíquicas, mediunidade, espíritos e além-túmulo.Muitos tem médiuns legítimos e conduzem sessões. Muitas dessas pessoasacreditam em misturas de crenças espirituais e de vários outras religiões - incluindocrenças orientais e de índios americanos.

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EE 9 - Você acha que eles terão 'vergonha' no futuro em não terreconhecido esse importante princípio, o da reencarnação, desde oinício?

YL - Não acho que pensarão desse jeito. Tudo ocorrerá como se eles finalmenteaceitassem por si tal conceito.

Os espiritualistas nada sabem sobre o Espiritismo e sua história.

Deixo claro que muitos querem provas substanciais e não apenas comunicações ouevidências de regressão a vidas passadas. Apenas o trabalho do Dr. Ian Stensonparece impressioná-los por enquanto, e muitos permanecem ainda céticos, mesmocom relação a tais trabalhos.

E, ainda que aceitem completamente a reencarnação, nada irão compreender decomo ela funciona. Haverão inúmeros debates sobre isso, penso eu, nos anos quevirão.

EE 10 - No futuro, você disse que gostaria de traduzir livros espíritaspara o inglês. Que tipos de livros?

YL - Gostaria de traduzir livros que estão em espanhol. Frequentemente traduzoartigos espíritas breves tanto em espanhol como em português para o nossoboletim.

EE 11 - Você gostaria de dar uma mensagem especial aos espíritas doBrasil?

YL - Primeiro, espero que minhas respostas possam esclarecer vocês sobre asituação em meu país.

Anteriormente, nos EUA, haviam centros espíritas hispânicos que apareceram aquicom a imigração nos anos de 1930 e 1940 em cidades grandes como Miami, Chicagoe Nova Iorque. Tanto quanto sei, meu pai foi o único que, ao se mudar, acaboufundando um novo centro espírita. À medida que as gerações se sucederam,somente poucos desses centros originais sobreviveram até hoje de uma forma ou deoutra.

Minha esperança é que brasileiros que tenham aberto centros espíritas nos EUAnos últimos anos (a mim parece que a maioria é de gente jovem comparada a mim,já na idade de 55) inspirem e passem a seus filhos a importância de assumiremposições de liderança na responsabilidade de dirigirem tais centros.

Quando seus filhos se tornarem mais 'americanizados' e se casarem com pessoasdaqui, proveniente de outras culturas ou de uma variedade de etnias e basesreligiosas distintas, isso será um problema. Por si só isso será um desafio; alémdisso, muitos irão se mudar para lugares distantes do centro espírita de origem.Será que eles irão abrir seus próprios centros, caso não encontrem um no novolocal? Somente o futuro irá dizer o que vai acontecer.

Temos nos esforçado para que isso aconteça aqui em nosso centro, preparandoalguns para tarefas de liderança.

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Gostaria de dizer que é maravilhoso saber que tantos brasileiros conheçam a línguainglesa e outros idiomas, e que muitos, vivendo em vários cantos do mundo,tenham sentido a necessidade de divulgar os princípios da Doutrina Espírita aosnativos dos países para onde se mudaram.

Conheço bem o livro 'Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho'.

Para finalizar, gostaria de dizer obrigado! Continuem com o seu trabalho espiritualmaravilhoso, e que Deus os abençoe a todos!

Agradeço muito a oportunidade de partilhar com vocês essas informações e o meuponto de vista.

FIM

Entrevista I-1/2 - Yvonne Limoges da Sociedade Espírita da Flórida(EU)

"Uma pessoa pode compreender os princípios do Espiritismo ou mesmo acreditarneles completamente. Entretanto, buscar ser fiel a tais princípios e os colocar emprática é coisa para uma pequena minoria. É necessário ter um certo nível moralpara pertencer a essa minoria." (Y. Limoges)

Neste post, apresentamos uma entrevista que fizemos em Fevereiro de 2011 com YvonneLimoges diretora da Sociedade Espírita da Flórida desde 1982. A Yvonne é umacompanheira de ideal espírita que já conhecemos faz certo tempo (desde 1997 com oGEAE) e que realiza um trabalho de impacto junto à comunidade espírita nos EstadosUnidos. Ela edita um boletim em inglês e é bastante conhecida nos meios espiritualistasamericanos. De seu boletim mensagens foram publicadas em vários outros órgãos taiscomo: a revista da Federação Espiritualista Nacional, a Associação Nacional de IgrejasEspiritualistas, e a Aliança Nacional Espiritualista. Também participa da Academia deEspiritualidade e Estudos Paranormais onde escreve 'book reviews'. Seu boletim é bastanteconhecido entre espíritas por todos os EUA que enviam a ela notícia sobre atividades deseus centros por lá.

Recentemente (2009) ela conseguiu publicar um artigo sobre reencarnação na principalrevista da NSAC (Aliança Nacional de Igrejas Espiritualistas), contrariando a tradição domovimento espiritualista que ainda não aceita esse importante postulado da Vida Maior.

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Dentre as várias realizações em prol do movimento espírita realizadas pelo grupo daYvonne está a tradução para o inglês do livro histórico 'Memórias do Padre Germano' deMiguel Vives em 2006. Esta obra foi traduzida por Edgar Crespo. Ela é membra de váriasacademias como o Instituto Windbridge (que estuda mediunidade), a FederaçãoEspiritualista Nacional (com participação majoritária de espiritualistas da Grã-Bretanha,Europa, Austrália, Islândia, Suécia e Nova Zelândia, além de espíritas das Filipinas).Yvonne expôs suas idéias em um encontro dessa federação em Rochester, NY.

Nesta oportunidade, aproveitamos também para questioná-la sobre uma visita recente quefez à Espanha (para um congresso espírita em Terremolinos pela CEPA), quando teve achance de entrar em contato com o movimento espírita daquele país onde ela também temraízes familiares. Uma outra entevista com a Yvonne pode ser lida (em inglês) no siteda ASPSI. A entrevista que segue será apresentada em 2 partes.

EE 1 - Que lembranças você tem sobre práticas espíritas na sua família?

YL - Desde pequena, lembro-me de ir ao centro espírita de meu pai em Nova Iorquevárias vezes. Fazíamos isso quando íamos para a cidade de Nova Iorque nas fériasde verão porque, então, já morávamos na Flórida. Embora tenha nascido na cidadede Nova Iorque, mudei-me para St. Petersburg quando tinha 6 anos de idade. Nãohavia centros espíritas lá. A maioria dos centros é em Miami que fica 6 horas dedistância.

Meu pai e seus parentes iam a este centro (estabelecido em 1933 e que durou até1980) em Nova Iorque. Minha avó era médium. Meu pai participou de aulas sobremediunidade quando mais velho e ainda vivia em Nova Iorque. Então ele já eracasado e isso foi 5 anos antes de eu nascer.

Na Flórida, meu pai nos ensinou muito sobre o amor a Deus, sobre os Espíritos,sobre ser uma boa pessoa e, à medida que crescíamos e compreendíamos mais,sobre a Doutrina Espírita.

Pertenço a uma família na 4ª geração de americanos com origem na Espanha, Itáliae França e já 5ª geração espírita do lado paterno. Minha mãe veio das IlhasCanárias para os Estados Unidos via Cuba. Do lado paterno vieram de Porto Ricoonde os homens eram proprietários de terra e trabalhavam junto a prefeituras e asmulheres professoras.

Meus pais falavam inglês em casa quando éramos criança e, as vezes, espanhol comseus parentes. Meu irmão e irmã só conhecem inglês. Entretanto, tive aulas deespanhol por 5 anos e também francês por 1 ano na escola. Os livros de Kardec quemeu pai usava eram todos em espanhol na época, exceto pelo ‘Livro dos Espíritos’de Anna Blackwell. Li e estudei todos eles (em espanhol e inglês). Eu e meu paieram os que mais conversavam sobre a doutrina em casa. Ele desencarnou em maiode 2008.

Na Flórida, porquanto não existisse nenhum centro espírita perto, mantínhamosreuniões domésticas regulares quando meu pai recebia comunicações em transemediúnico. Ele via Espíritos e tinha visões. Dava passes sob assistência de umaentidade chamada ‘Lula’, que também já se manifestara no centro que minhafamília participava quando eu era criança. Meu pai mantinha contato com adiretoria do centro de Nova Iorque.

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Com o tempo, frequentei vários centros em Miami, na Flórida, com meus pais,mesmo de sessões mediúnicas. Entretanto, íamos lá mais para comprar livrosespíritas que eram bastante raros onde morávamos. Mantínhamos uma pequenabiblioteca desses livros.

Naturalmente, com os anos, participei de vários centros espíritas (além de gruposespiritualistas, de parapsicologia e estudos paranormais), conferências e congressosonde tive a oportunidade de proferir palestras.

EE 2 - Como foi o seu primeiro contato com as realidades imortais(como médium)?

YL - Lembro-me que sempre senti a presença de Espíritos desde a idade de 4 anos(mas não tinha noção do que se tratava então). Eu os sentia e ouvia barulhos, talcomo passos e vozes de Espíritos. Era bem intuitiva e sabia das coisas antes que elasocorressem. Tinha sonhos ‘proféticos’ e experiências fora do corpo.

Mais tarde, comecei a receber o que chamei de ‘composições inspiradas’, logo noinício da minha adolescência, o que continuou mais tarde até comunicaçõesespíritas completas. As palavras eram ditadas a mim à medida que escrevia. Depoishouve uma mudança na maneira que recebia os escritos. Recebia um impulso,começava a escrever e as palavras estavam lá. Nunca sei o que estou escrevendoquando psicografo, o que vem a ocorrer apenas após finalizar a mensagem.

No começo da fase de maior produção mediúnica, meu pai me disse que eu tinhaum Espírito protetor chamado ‘El Anciano’. Seus escritos eram de conteúdo maismoral e espiritual. Ele se parecia com um ‘ancião’, com uma barba. Soube quetambém tinha um grupo de outros Espíritos que me ajudavam nas composições.Quando El Anciano se comunica, é sempre sobre questões de natureza séria. Seique ele assiste ao meu trabalho e sou muito grata a ele. Procuro me esforçar paramerecer sua assistência contínua.

Além disso, escrevi dois livrinhos em tempos distintos pelo que chamo de ‘escritasemi-automática’. Para tanto, disseram-me que deveria usar uma caneta (sempredigito minhas mensagens) e, durante esses dois episódios, meu braço direito foipuxado e senti como se ele tivesse sido colocado no fogo, mas sem queimar. Sentifluidos fortes de magnetização. Escrevi então muito rapidamente, sem saber o queestava escrevendo e terminei os dois livros em uma única sessão. São eles: ‘Ajornada espiritual da alma’ e ‘Princípios Espíritas para Crianças’ e podem seracessados no site de nossa sociedade.

Finalmente, minha faculdade se desenvolveu até o transe mediúnico completo etrabalho como médium na prática espírita já há 35 anos. Administro aulas deiniciação mediúnica no nosso centro.

EE 3 – Quais foram suas impressões sobre o movimento espírita naEspanha?

YL - Embora tenha participado de apenas uma conferência na Espanha,recebo freqüentemente muita literatura de vários grupos e centros daquele país(assim como do Brasil) já há muitos anos. Acredito que o Espiritismo na Espanhaesteja se desenvolvendo e crescendo bastante.

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Há duas orientações de pensamento (como sempre encontro em muitos países ondeexistem muitos espíritas, incluindo nos Estados Unidos). Alguns grupos são maisreligiosos ou orientados de forma cristã, enfatizando aspectos evangélicos daDoutrina Espírita. Outros grupos (embora aceitando absolutamente a existência deDeus) enfatizam aspectos mais ‘científicos’ do Espiritismo e, suas práticas são nadireção de educar os outros moralmente e nos princípios da doutrina de um pontode vista mais universal.

Fico bastante desapontada em ver que não existe incentivos à tradução livrosespíritas em espanhol para o inglês. Para a Espanha e muitos países Latino-americanos isso não parece ser prioritário, mas muitos espíritas nesses países nãoconhecem o inglês, pelo que não poderiam ajudar mesmo. Espíritas de Porto Ricoprovavelmente poderiam ajudar, pois são bilíngues, mas não manifestaraminteresse ainda.

Felizmente, os brasileiros tem se esforçado ativamente na tradução de livrosespíritas para o inglês.

Capa do Livro 'Memórias do Padre Germano' de A. D. Soler recentemente traduzidopara o inglês por Edgar Crespo.

Fico contente ao menos em saber que conseguimos disponibilizar, para pessoas queconhecem o inglês, traduções feitas por meu pai de dois clássicos da literaturaespanhola: ‘Memórias de Padre Germano’ (Memoirs of Father German) de AmáliaDomingo Soler e ‘Guia Prático para o Espírita’ (A Practical Guide for the Spiritist:handbook on personal conduct) de Miguel Vives.

EE 4 - Como você encara a recente onda de interesse crescente porideias e princípios espiritualistas em filmes tal como ‘Hereafter’ de C.Eastwood e outras séries televisivas?

YL - Desde pequena (meados da década de 1950), lembro-me de shows televisivossobre ‘fantasmas’ como eram chamados na época. Uma dessas séries chamava-se‘Topper’ e era sobre um milionário que podia ‘ver e se comunicar’ com um casal ricoque havia morrido em um acidente de carro. Esse programa foi muito popular.

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Outras shows e filmes vieram com as mesmas ideias. Religiões orientais tornaram-se então populares na década de 1960 e 1970. Mais tarde, livros sobre experiênciasfora do corpo e ‘canalizações’ – como eram chamadas - tornaram-se populares. Apartir de 1980 e em diante aconteceu o que considero a grande virada com o filme‘Ghost’ (que ilustrava basicamente a interação entre o mundo espiritual com omundo material na função básica da mediunidade).

Foram os meios de comunicação, por meio da televisão, livros, e mesmo vídeogames, que tem influenciado o público Norte Americano na direção doconhecimento básico dos fenômenos espíritas, aproximando-os, a cada ano quepassa, dos princípios da Doutrina Espírita. Tais meios tem divulgado ideias como: aexistência da alma no mundo espiritual, a realidade e a diferença entremediunidade e habilidades ‘psíquicas’, a idéia de que a maneira como vivemosnossa vida material determinará nossa condição no futuro, a realidade da influênciados Espíritos em nós no mundo material, a idéia da obsessão espiritual e como sedeve tratar o problema e, agora ainda mais, a crença na reencarnação.

Uma pesquisa em 2009 conduzida pelo Centro de Pesquisas Pew determinou que24% do público geral e 22% dos cristãos acreditam em reencarnação nos EstadosUnidos. Tal pesquisa foi bastante divulgada pela mídia nacional, o que acho muitorelevante pois mostra a muitos reencarnacionistas que eles não estão sozinhos.

Deixe-me ser clara aqui, estou falando mais sobre aceitação do público em geral deprincípios naturais e autênticos da Doutrina Espírita no que diz respeito ao básicodos fenômenos. Aspectos filosóficos ou mais específicos da Doutrina Espírita (comoo de que devemos ser uma boa pessoa ou sofrer alguma consequência adversa sejaaqui ou no mundo espiritual) são aceitos conforme são compreendidos pelopúblico.

EE 5 – Na sua opinião, quais são os maiores obstáculos para as crençasespíritas nos Estados Unidos?

YL - Para a maioria dos americanos, é fácil dizer que são membros de algumareligião tradicional e, se questionados, podem ao mesmo tempo dizer que acreditamem algo que o Espiritismo ensine, mas somente o básico.

Um parcela grande da população está envelhecendo, os chamados ‘Baby boomers’.Desesperadamente eles estão agora a procura de maneiras de prolongarem suasvidas, de 'rejuvenescerem' e querem também saber o que vai ser deles depois damorte do corpo. Estão em busca de um objetivo ou sentido à vida.

Os tempos estão difíceis hoje nos Estados Unidos, com muito desemprego e gastosexcessivos. Tais dificuldades obrigam as pessoas a buscar algo que as console.Sentem uma necessidade, o que chamaria de necessidade de alimento para a alma.

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Tal situação torna mais fácil falar a tais pessoas sobre o Espiritismo.

Não obstante isso, é necessário ter maturidade espiritual para aceitar a contrapartemoral e filosófica da Doutrina Espírita. Pode ser muito difícil compreender e aceitaressa parte. Aprendi nos últimos 35 anos que a maioria mais nova, que frequentacentros espíritas e aprende quão importante é a responsabilidade pessoal, acaba seassustando com esses aspectos. Eles ou não podem ou não querem aceitar essaparte, por não desejarem mudar seu comportamento pessoal.

Uma pessoa pode compreender os princípios do Espiritismo ou mesmo acreditarneles completamente. Entretanto, buscar ser fiel a tais princípios e os colocar emprática é coisa para uma pequena minoria. É necessário ter um certo nível moralpara pertencer a essa minoria.

No próximo e último post da entrevista: Yvonne Limoges fala sobre o MovimentoEspiritualista Americano, a crescente aceitação da reencarnação e de como seuslíderes estão lidando com isso. Ela também dá uma mensagem especial aosespíritas brasileiros.

Cartas Psicografadas (3/3) - Pragmática e intenção em psicografias deChico Xavier.

Esta é a 3a. e última parte da sequência de posts deste assunto.

Vá para a 1a. Parte.Vá para a 2a. Parte.Esta é a 3.a Parte.

Uma vez que se assuma um modelo de comunicação simples, qualquer análisepreliminar da mensagem irá falhar em considerar aspectos que poderiam sertratados por um modelo mais sofisticado (Akmajian, 2010; Bach, 1979).

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Informação, vista como um fluxo do emissor ao receptor, pode apenas dar conta deaspectos morfológicos, sintáticos e semânticos, isto é, sinais que podem serfacilmente ‘copiados e colados’, implicando a possibilidade de que isso tenhaocorrido de fato. Entretanto, mesmo tais aspectos morfológicos, sintáticos esemânticos tornam-se um desafio diante de mensagens escritas em línguasestrangeiras.

Seria assim muito mais fácil explicar a capacidade paranormal acima em umarcabouço teórico que não considerasse problemas de pragmática tais como: apresença de expressões linguisticamente ambíguas, mensagens contendoinformação sobre coisas particulares referenciadas (isto é, coisas que somente orecipiente tem conhecimento para ‘completar’ a referência), transmissão deintenção, o assim chamado ‘problema da subdeterminação de intençãocomunicativa’ (Bach, 1979), presença de conteúdo através de expressõessemanticamente mal definidas (comunicação não literal) e, finalmente, o problemados ‘atos não comunicativos’ – o objetivo da mensagem não é comunicar, masproduzir um efeito no recipiente. Em face disso, as seguintes observações sãopertinentes à carta em análise (ver post anterior)

1. Referência ao nome que Patrick chamava a sua mãe privadamente (seu nomecorreto era Christiane e não o referenciado);2. Referência ao nome da cidade de onde Patrick deveria ter retornado. O acidentefoi a 500 metro da residência de férias da família em Itaipava/RJ. A mãe confirmouter afirmado ao médium que o acidente ocorrera no Rio de Janeiro (estado);3. Referência não literal. O emissor não retornou de nenhuma guerra, mas utilizouessa expressão para se referir a sua situação anterior;4. Referência à irmã residente à época na França;5. Referência à namorada;6. Referência à avó materna residente à época na França;7. Referência ao avô paterno residente à época na França;8. O emissor se refere aqui a preocupações de natureza privada de sua mãe dealguém ter sido responsável por sua morte;9. Referência à bisavó materna (Margeritte Yvetot), falecida em França em 1974;10. Referência ao apego da mãe do emissor aos objetos pessoais de Patrick;11. Referência ao pai;12. O emissor pede a sua mãe que perdoe sua irmã por uma discussão ocorrida aotelefone após a morte de Patrick. O fato era de conhecimento privado;13. Patrick era muito sensível à natureza e gostava de animais.

Tais observações foram feitas pelos pais de Patrick depois de receber a carta emostram claramente a existência de uma ‘decodificação’, devido à existência deintenções, objetivos, crenças e desejos por parte do emissor. Sabe-se que qualquermodelo satisfatório de comunicação deve levar em conta o contexto e a inferência(Bach, 1979), simplesmente porque é muito difícil caracterizar ou acessar elementosque são reconhecidamente privados no processo de comunicação humana. Primeiroé preciso reconhecer que, para que a estratégia do emissor dê certo, um conjunto decrenças compartilhadas entre ele e seu receptor deve existir (Capone, 2006) e quetal conjunto não está disponível ao médium antes da ocorrência do fenômenopsicográfico. Não se trata, assim, simplesmente de se transmitir e receber símboloslinguísticos o que está envolvido em um processo de psicografia. Dada a quantidadee frequência de ocorrências pragmáticas nas cartas produzidas por C. Xavier, édifícil explicar tal fenômeno usando o ‘senso comum’ ou abordagens ‘naturalistas’.Além disso, a situação torna-se mais complexa diante de mensagens escritas em

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outras línguas, uma vez que elementos léxicos, sintáticos e semânticos acrescentamuma quantidade grande de informação linguística. Portanto, é razoável esperar queteorias e análises linguísticas tenham um papel importante na defesa da idéia daimortalidade da alma em muitas composições psicográficas (Beischel, 2009; Rock,2008b). Por exemplo, um aspecto interessante que se vê nas mensagens de C.Xavier é o aumento da letra, como se mão do médium estivesse sendo assistida naprodução das mensagens.

Acreditamos que um novo campo de estudos está aberto com a análise dascomposições 'anômalas' de C. Xavier. Isso também é facilitado uma vez que muitosfamiliares podem ser contactados para fornecer detalhes adicionais sobre as cartas.A quantidade e qualidade de material produzido por C. Xavier é pouco conhecidofora do Brasil porque está disponível em sua maior parte em Português. Traduçõessão, portanto, necessárias. Esperamos poder preencher essa lacuna no futuro.

Agradecimentos

Agradeço a Ana C. Xavier (Medical University of South California/USA) por meajudar na tradução para o inglês da mensagem de Patrick.

Cartas Psicografadas (2/3) - Pragmática e intenção em psicografias deChico Xavier.

Segunda parte da tradução do artigo original publicado na revista 'Paranthropology', 2 (1),2011. p. 35-47. As referências serão apresentadas no parte final depois da última postagem(número 3).

Vá para a 1a. Parte.Esta é a 2.a Parte.

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Vá para a 3.a Parte.

Neste contexto, a figura mais importante do movimento espiritualista brasiliero éFranciso Cândido Xavier (1910-2002), também conhecido como Chico Xavier.Tendo passado por uma infância não privilegiada, publicou mais de 400 livrosentre 1925 e 2001, além de ter produzido milhares de cartas de conteúdoparanormal. Entre seus livros, trabalhos poéticos e literários de autoresportugueses e brasileiros do final do século 19 devem ser destacados (Xavier, 1935;Xavier, 1938), implicando em outra dimensão na análise do fenômeno mediúnico, oda estética (Rocha, 2001). Limitações de espaço nos impedem de discutir aqui aquestão da poesia nos trabalhos mediúnicos de Chico Xavier. Sua vida foi tema deum filme recente (Filho, 2010; Grumback, 1910), mas, mesmo assim, suas obrassão pouco conhecidas fora do Brasil.

Aqui apresentamos uma tradução não publicada em inglês (1) de uma mensagempsicografada por C. Xavier atribuída a um recém falecido (Arantes, 2008a). Oobjetivo dessas cartas era dar consolo espiritual a pais e parentes que o procuravampor informações de seus filhos e parentes falecidos. Algumas considerações sobre oambiente e o contexto em que as mensagem foram obtidas seguem:

1. De acordo com regras de conduta aceitas no Movimento Espírita deorientação Kardecista, destacamos o caráter voluntário dos trabalhosproduzidos, isto é, ausência de quaisquer taxas para a realizações dassessões. Os direitos autorais de todos os livros psicografados foram doadospelo autor a trabalhos de assistência social e outras obras;2. A mediunidade de C. Xavier foi similar em grau e ostensibilidade aoda Sra. Piper (Piper, 1929; Braude, 2003c). Ele era capaz de produzirmanifestações tanto de caráter físico como inteligente, com preferência porpsicografias.3. Sua mediunidade pode ser dividida em várias fases. A que trataremosaqui que se inicia em 1960 foi caracterizada pela visita de familiaresbuscando informações por parentes recém falecidos. Uma pequena partedessas cartas foi publicada (Arantes, 1981; 1982a; 1982b;1984a; 1984b;1986; 1988;1990; 1998;2008a).4. O ambiente em que se encontrava o médium durante essa fase eracomposto por pessoas de uma ampla variedade de classes sociais e crençasreligiosas, a maioria inconsciente de mecanismos envolvidos na produçãodos fenômenos. Devido ao caráter excepcional das manifestações, grandequantidade de pessoas o procuravam em busca de informação gratuitas deseus parentes, e faziam isso com pouco ou nenhum contato anterior com omédium.5. A maior parte das cartas eram produzidas em Português, que era oidioma nativo do médium. Mas comunicações em outros idiomas foramobtidos (p. ex., italiano, (Perandrea, 1991) e inglês).6. A assinatura do emissário era reproduzida de alguma forma no finalde várias cartas. Tal fato permitiu a realização de estudos comparativos(Perandrea, 1991) usando análise grafoscópica.7. As cartas não eram obtidas de forma instantânea. Em alguns casos,eram obtidas em uma primeira visita, em outros um intervalo de váriassemanas ou meses era necessário.8. Em muitos casos, mais de uma carta era obtida.

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9. Nunca tendo encontrado o médium antes, parentes confirmaram queeles frequentemente eram chamados por seus nomes próprios por ele emuma primeira visita. Nome de parentes falecidos eram também citados,alguns não reconhecidos inicialmente pelos familiares, mas apenas apósbuscas ou pesquisas subsequentes.

É reconhecidamente difícil registrar e confirmar subsequentemente a informaçãoem comunicações de natureza psíquica (Braude, 2003c). Entretanto, as cartas de C.Xavier representam uma ocasião ímpar por se dirigirem a parentes que podem, elesmesmos, fornecer 'elementos de identificação'. Por exemplo, muitas cartas eramassinadas e, no exemplo abaixo, o emissor (falecido aos 20 anos de idade) deixouuma assinatura que, de acordo com sua mãe, era semelhante a de seu filho aos 8anos de idade.

Entretanto, para todos os pais que se entrevistaram, a evidência autoral vem dacompetência pragmática exposta nas cartas que revelam informação que somenteera conhecida por por um conjunto restrito de pessoas. Em muitas ocasiões ascartas revelam um conhecimento tácito de certas situações que era difícil de seobter por meios normais. De particular importância é a citação de nomes depersonalidades falecidas cujos nomes exigiram posterior confirmação para suavalidação (em muitos caso, nomes estrangeiros). Mais incrível ainda é o fato doemissor revelar conhecimento de sentimentos privados experimentados por pais eparentes anteriormente a emissão da mensagem.

A carta abaixo é um exemplo de comunicação psicográfica por C. Xavier obtida emUberaba/MG, no dia 1 de Janeiro de 1979 assinada por G. Patrick Castelnaud(24/1/1958-11/3/1978) que faleceu de um acidente de carro. Sua mãe recebeu estacarta após uma segunda visita à Uberaba, localizada a 800km do lugar do acidentee residência da família.

Mamãe Christine (1), abençoe-me.

Tudo bem. Chegada em paz. Sabe o que sucedeu? Reamente não regressei deItaipava (2). Retornei da guerra. Felizmente.

Diga ao meu pai, a nossa Chantal (4) e a nossa Ninon (5) que prossigo. Tudoprossegue. É a vida de que se cogita ainda mesmo quando nossas capas físicas seestendam estraçalhadas nos acientes.

Ontem, o campo da resistência e luta. Agora, é a região de pas reconquistada.

Avise à vovó ‘chéri gand-mère’ Fernanda (6) e ao vovô Mogliocco (7) que estoubem. De uma paisagem bonita como a nossa, me transferi para outra. Graças aDeus, a gerra para mim terminou.

Aqui tudo mamãe Christine, foi reajuste. Não culpem a ninguém(8). Minha outraavó Margueritte (9) está me ensinando a compreender. Aina vacilo nas lições.Mas o importante é que estou na escola.

Mãezinha, lance tudo o que é recordações de infância no esquecimento (10). PapiGerard (11) está certo, somos todos irmãos. Não existem adversários. Existem osfilhos de Deus e todos nos pertencemos uns aos outros.

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Console a querida Chantal(12). A vida pede compreensão e não entende qualqueranimosidade de nossa parte contra ela.

Tudo é belo na obra de Deus(13). O dia e a noite, a alegria e o sofrimento, o barcoe a estrela, e até o próprio mal existe por bem, ainda interpretado para a essênciapositiva que nos transforma as dificuldades em bençãos.

Mãezinha, esta carta é um alô simplesmente. Vai alô iluminado de beijos; sãotodos seus. Se possível entregue alguns para Chantal e Ninon , e receba com meupai Gerard todo o coração de seu filho, sempre seu filho do coração.

Gerard Patrick Costelnaud.

Na terceira e última parte analisaremos o conteúdo da mensagem e traremos a listade referências.

Notas

1 - Esta é uma tradução para o português do artigo originalmente em inglês.Obviamente, a mensagem reproduzida é a original.

Cartas Psicografadas (1/3) - Pragmática e intenção em psicografias deChico Xavier.

Primeira parte da tradução do artigo original publicado na revista 'Paranthropology', 2 (1),2011. p. 35-47. As referências serão apresentadas no parte final depois da última postagem(número 3).

Esta é a 1.a Parte.Vá para a 2.a Parte.Vá para a 3.a Parte.

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Minha intenção aqui é apresentar a mediunidade de Chico Xavier em psicografiasde recém falecidos. Como físico, deveria explicar os mecanismos envolvidos nessamediunidade, como a mente do médium pode adquirir informação oculta que é tãoabundante em psicografias, quais são as condições e exigências envolvidas nofenômeno, como a informação pode ser obtida dessa forma etc. Essa é uma tarefamuito difícil e busquei inicialmente invocar a teoria da comunicação (Griffin, 1987),assumindo que a informação está em algum lugar e que muitos detalhes doprocesso são bem compreendidos. Minha tentativa inicial mostrou a precariedadedessa abordagem. Além de ser um fenômeno humano, cada caso de mediunidade éúnico e tem suas próprias peculiaridades, requisitando estudo dedicado. Talcaracterística não permite enquadrar a mediunidade em categorias bem definidas oque parece ser importante na fase pre-científica de uma disciplina.

Espero também que tal narrativa despretenciosa possa motivar outros estudos decaráter antropológico (Koyama, 2006) ao redor da figura de Chico Xavier e suaobra, que é pouco conhecida fora do Brasil. Uma vez que o ponto de vista cético ébem conhecido, não procurarei fazer qualquer tentativa de teorização, pois minhaintenção aqui é descrever o fenômeno como ele se manifesta, junto com algumainformação sobre o contexto em que eles foram produzidos.

A moderna teoria da informação (Shannon, 1949) tem como objetivo fornecer ummodelo para o processo de comunicação entre duas entidades - emissor e receptor -no qual influências do ruído e outras interferências na transferência de mensagenssão levadas em consideração. Para ser viável, o processo exige uma fonte deinformação (emissor ou remetente), uma mensagem (codificada usando umprotocolo conhecido tanto pelo emissor como pelo receptor - a linguagem) e umalvo (destinatário, receptor). Além disso, a mensagem é transferida do remetente aodestinatário através de um meio. Tanto a linguística como a semiologia (Cobley,2001) tem como objetivo o estudo da comunicação, fornecendo teorias maisadequadas para a compreensão de sinais e outros aspectos relacionados ao processode comunicação, além daqueles que são explorados mecanicamente na abordagemde Shannon e outros (Bosco, 2006; Rigotti, 2006).

Dada uma mensagem, podemos nos interessar particularmente pelos elementoschave que resultam na identificação da verdadeira natureza da fonte de informação.Sabe-se (Chaski, 2000; Kopka, 2004) que, dependendo do meio usado para atransmissão, a mensagem pode conter elementos suficientes que permitem aidentificação do emissor, um assunto para a recém criada línguistica forense(Chaski, 2000; Olsson, 2008). Tomemos, por exemplo, a tarefa de identificar aautoria de uma carta escrita por um amigo que se mudou recentemente para aAustrália. Nela eu encontro sinais gráficos, morfológicos, sintáticos, semânticos eoutras estruturas pragmáticas (Akmajian, 2001) que me permitem identificarfacilmente meu amigo como seu autor.

No nível mais elevado ou da pragmática (Cutting, 2002), além do significadoaparente, a mensagem é composta de tal forma que somente o destinatário temcapacidade de compreender realmente seu conteúdo. Por exemplo, meu amigo,sabendo de meu pouco interesse em visitar a Austrália, descreve em cores vivas asbelas paisagens daquele continente, a fim de atualizar minhas impressões e mudarminha opinião sobre ir visitá-lo na Austrália. Se outra pessoa ler suas descrições, eleprovavelmente não conhecerá sua verdadeira intenção tão só pela leitura das frases.Embora a morfologia, a sintaxe e a semântica sejam as mesmas para todos, isto é,elas são publicamente disponíveis, a pragmática é um aspecto privado do protocolo

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de comunicação. Em todo processo de comunicação desse tipo, competênciapragmática (capacidade do autor em passar informação de conteúdo privado ao seudestinatário) é um fator importante para a identificação da fonte da mensagem(Borg, 2006).

Embora fenômenos psíquicos apresentem-se como anomalias para o pensamentocientífico contemporâneo e como fraudes para grupos céticos (aqui fazemosdistinção entre ciência e ceticismo), eles sempre se manifestaram prima facie comoprocessos de comunicação (Rock, 2008a; Beischel, 2007). Esse aspecto tem sidorepetidamente desconsiderado por pesquisadores dos fenômenos psíquicos(Beischel, 2009) que não aceitam a idéia de que informação de caráter psíquicopossa ser gerada fora da mente do médium (Braude, 2003a; Wales, 2009). Parece,então, razoável usar a semiologia e a linguística (Wales, 2009) para reafirmar ounão a autoria de muita informação de natureza psíquica de qualidade em umatentativa de se atestar a natureza da fonte.

Entre a variedade de processos inteligentes de natureza psíquica (em contraposiçãoàs manifestações físicas), a psicografia (Oxon, 1848; Braude, 2003b) apresenta-secomo uma evolução de formas primitivas e mecânicas de comunicação tais como atiptologia e o uso de pranchetas (Kardec, 2000b). Composições produzidas por viapsicográfica (incluindo poesia) são conhecidas em países de língua inglesa (veja ocaso Patience Worth em Braude, 2003b; Casper, 1916), embora em caráter menosextensivo do que sua contraparte sonora, a 'psicofonia' (capacidade de falarmensagens de conteúdo paranormal) que também se produziram por toda a parte.

No Brasil, a pratica da psicografia é muito popular no movimento espiritualistalocal conhecido com Espiritismo e fundado por H. L. D. Rivail, um pedagogofrancês também conhecido como Allan Kardec (Kardec, 1985). Kardec escreveu umtratado sobre mediunidade (Kardec, 2000a) nos início da pesquisa psíquica naEuropa e lançou os princípios do Spiritisme no 'Livro dos Espíritos' (Kardec, 1996).Em seu aspecto religioso, o Espiritimo de Kardec, além da ênfase na mediunidadeque se tornou uma prática espírita, também incorporou a crença na reencarnaçãocomo forma de evolução da alma (Chibeni, 1994). Tal ambiente de aceitação francada realidade da comunicação dos Espíritos e reencarnação constitui-se em umcampo fértil para o desenvolvimento da mediunidade ativa, em particular decaráter psicográfico.

No próximo post: a mediunidade de psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Crenças Céticas XII - Tomando carona no ceticismo: Críticas ao'Espiritismo' em Ateus.net

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Vamos agora analisar alguns textos utilizando as discussões que apresentamosanteriormente sobre as crenças céticas. Com isso, fornecemos alguns fatos, à guizade exemplos interessantes, que confirmam nossas exposições sobre o ponto de vistacético.

Nosso objetivo aqui não é discutir as crenças do ateísmo, masfazer alguns comentários em torno de um artigo que pretende levantar críticascontra o Espiritismo, notadamente sobre a relação deste com as disciplinasacadêmicas. O artigo intitulado 'Espiritismo, Ciência e Lógica' é longo, mas umasíntese do pensamento do autor desse texto pode ser compreendida lendo-se acomparação que ele faz através de um quadro entre suas noções de 'Ciência' e de'Espiritismo'. Esse quadro está mais ou menos no meio do artigo, e passamos adiscuti-lo abaixo.

Um pouco antes desse quadro pode-se ler:

E o Espiritismo nessas mudanças? O fosso entre as metodologias da “ciênciaespírita” e as demais “ciências” do mundo material foi progressivamenteaumentando.

Por 'mudanças' aqui, o autor entende as revoluções da Física moderna, que levarama uma noção diferente do mundo em comparação aos critérios e interpretações daFísica chamada 'clássica'. Ele afirma que existe um 'fosso' entre as 'ciências domundo material' e o 'Espiritismo'. Vejamos os pontos principais de suaargumentação, analisando o quadro comparativo que o autor coloca comoargumentos a favor da existência de tal 'fosso':

"Ciência"

1) Comum novas gerações de cientistas refutarem trabalhos anteriores. Aversão acritérios de “autoridade”.

Aqui a palavra 'refutar' está sendo empregada de forma pouco precisa. Alguém jáouviu falar em 'refutação' dos trabalhos de Newton, Einstein, Maxwell? Será que

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'Einstein refutou Newton'? Será que 'Maxwell foi refutado pela teoria dos campos'?Será que a Mecânica Quântica refutou a Mecânica Clássica? Existem casoshistóricos de teorias - que eram as preferidas dos acadêmicos - teremsido suplantadas por outras. Um exemplo interessante foi a teoria doflogisto (antes dos desenvolvimentos da termodinâmica na Física), ou a teoria doscontinentes fixos (na Geologia), suplantada pela tectônica de placas. Na Física, asteorias clássicas podem ser derivadas das teorias não-clássicas (ex., relatividade emecânica quântica) a partir de determinados limites. A tese de 'refutação' não sedefende muito bem.

Também, a observação em análise demonstra conhecimento idealizado do mundoacadêmico: com relação à aversão aos 'critérios de autoridade', isso é um mito quecorre entre cientistas. Todos sabemos que um artigo científico receberá tratamentomuito diferente se for publicado por um estudante (autor desconhecido) ou umprêmio Nobel, ainda que contenha o mesmo conteúdo. A autoridade se constrõecom um conceito: o 'nome' (número de artigos, citações, impacto etc). Ele contamuito e se correlaciona fortemente com com quanto um pesquisador ou grupo depesquisadores irá receber do governo ou de seus financiadores para a realização dedeterminada pesquisa. Essa é a razão porque cientistas procuram sempre ter seuscurrículos atualizados com novas publicações e alunos.

2) Obras de grandes mestres (Principia Mathematica, Origem das Espécies, etc.)ainda lidas como referência, fontes de valor histórico e como uma forma deadentrar no raciocínio do autor. Os estudantes, porém, usam bibliografia recente,expandida e corrigida.

É verdade, e, freqüentemente, se acham erros de interpretação imperdoáveis emtais 'bibliografias recentes, expandidas e corrigidas' para tristeza dos estudantes(Campanario, 2006; Hubizs, 2003).

Qualquer pesquisador sério sabe que não há nada melhor do que ler o autoresoriginais para se encontrar os princípios que fundamentam as diversas teorias daCiência.

3) A lógica é usada como ferramenta apenas. O raciocínio precisa estarcorroborado em evidências.

Somos brindados com essa preciosa observação:

"Kardec depositava fichas demais na lógica. Ela é importante sem dúvida e tê-la éum requisito mínimo. Mas quem a estuda não demora a descobrir que ela não temtanto poder assim como dizem."

Ao longo do texto, seu autor confunde a validade de pressupostos de umaargumentação lógica com a própria argumentação lógica. Não só Kardec, mas todaa comunidade de cientistas deposita fichas demais na lógica porque não existeoutro método de raciocínio disponível.

4) O bom senso e a experiência usual nem sempre são seguidos (Relatividade eMecânica Quântica que o digam. Idem para a “ação à distância” de Newton).Opta-se por soluções pragmáticas, ainda que esdrúxulas.

O autor diz que a 'Ciência opta por soluções esdrúxulas' e que isso é o resultado daCiência se afastar do 'bom senso' e da 'experiência'. Para quem compreende bem os

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fundamentos da Mecânica Quântica, ou da Relatividade sabe que essas teorias daFísica estão estruturadas de forma lógica - sim a mesma lógica que o autor disseque 'não tem tanto poder assim como dizem'. Sob determinadas interpretaçõesparticulares, esses ciências podem revelar aspectos do Universo e do mundo quenão estão de acordo com a experiência comum do dia-a-dia dos humanos.

5) Há grande discussão em torno da filosofia da ciência quanto à questão damelhor metodologia para o estabelecimento de novos conhecimentos(refutabilidade, crise de paradigmas, etc.).

A Epistemologia é uma área acadêmica da filosofia. Entretanto, não existe consensoentre especialistas da área sobre o impacto dos estudos da epistemologia nasciências. Na verdade, há quem defenda que estudos da Epistemologia não temserventia na Ciência (Holton, 1984). Embora seja altamente positivo que estudantesdas ciências se debrucem também sobre esse ramo da filosofia, sabe-se que aEpistemologia não é matéria obrigatória nos currículos da Física, Biologia, Químicaetc. Prefere-se não perder tempo com o assunto, embora sua aparente relevânciapara o desenvolvimento da Ciência.

6) Teorias inverificáveis, mas belas, são postas de lado.

Aqui,o que se entende por 'belas teorias'? Pois 'beleza' não é algo intrínseco doobjeto admirado, depende também de quem admira. Uma teoria que é bela para umcientista pode não ser para outro. Exemplos dessa situação existem muitos nahistória da ciência. A teoria do movimento da Terra era insustentável para osdefensores da Terra fixa e vice-versa.

Que exemplo que se pode dar de uma teoria inverificável? Como podemos saberque uma teoria é inverificável hoje diante dos avanços da tecnologia? Toda teoria éconstruída sobre algum fundamento empírico, entretanto, muitas teorias poderosasforam propostas bem antes de se registrar qualquer evento ou fenômeno que asuportasse.

7) Apropriações entre ramos da ciência (malthusianismo no darwinismo, biologiana sociologia – darwinismo social, eugenia) hoje são vistas com reservas.

Talvez o mais apropriado aqui seria 'integração' e não 'apropriações'. De qualquerforma, a frase parece conferir status de ciência ao darwnismo social e a eugenia.Talvez o objetivo seja dizer que determinadas interpretações ou extrapolações apartir de teorias científicas não mais são aceitas facilmente: o darwinismo social e aeugenia da biologia, o malthusianismo do darwinismo. A sociologia é uma teoriaindependente da biologia.

8) Ciências que não têm acesso direto ao seu objeto de estudo (astronomia,história, etc.) lançam mão da análise indireta dos efeitos que chegam até nós.(espectro de luz, documentos históricos).

Entretanto, porque ateus, céticos e materialistas exigem 'provas objetivas erepetitivas' dos fenômenos espíritas? Por que a ênfase no 'rigor' e na 'objetividade'?A imensa maioria dos fenômenos chamados 'paranormais' não estão acessíveis aossentidos. Kardec foi a primeira pessoa a reconhecer as manifestações do Espíritossó podem ser acessadas indiretamente.

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9) Orações, Meditação e estados alterados de consciência são passíveis de estudo,mas isso não significa que seja verdade aquilo que seus praticantes dizem.

Alguns estudos acadêmicos estrangeiros apontam para algo diferente, anômalo oupeculiar nos seres humanso: sua origem e natureza espiritual. Obviamente, todocientista é livre para pesquisar o que bem entender, as limitações que se impõemvem da falta de recursos financeiros, tempo (que é uma conseqüência da primeira)ou capacidade intelectual.

A frase faz transparecer que a Ciência (no sentido de comunidade acadêmica) tempreconceito com relação a certas fonte de conhecimento. Isso porque subsiste acrença de que o conhecimento só pode ser gerado por cientistas. Mesmo assim, essaopinião contrasta com a de pesquisadores sérios em Parapsicologiaque, freqüentemente, reportam o que seus 'subjects' sentem (como informaçãoimportante), sem falar nos pesquisadores de experiência de quase morte.Infelizmente ainda não se desenvolveram métodos não humanos de se acessar asrealidades do pós vida ou mesmo para praticar uma simples telepatia.

10) Não faz afirmações morais. Descobertas podem, inclusive, entrar em choquecom a moral vigente.

O objetivo das ciências naturais não é mesmo fazer afirmações morais. Mas isso nãopode ser contado como uma virtude como a observação parece sugerir. O maiscorreto é dizer que as ciências naturais são neutras. De outra forma, aplicaçõestecnológicas (derivadas das descobertas científicas) podem tanto ser usadas para obem como para o mal (Exemplos: avanços da genética, pesquisas nucleares etc).

"Espiritismo"

1) Medo de se distanciar da ortodoxia kardequiana. Culto à autoridade contido noespírito da Verdade ou Kardec. Há exceções, óbvio.

O culto à ortodoxia é o que mais se vê no ambiente acadêmico. Mais uma vez, afrase deixa transparecer conhecimento superficial do mundo acadêmico - que é oambiente onde as ciências acadêmicas são 'produzidas'. Confunde-se repetidamente'ciência' (teoria, hipótese, conhecimento) com o movimento humano que a produz.Assim confunde-se igualmente 'Espiritismo' com 'Movimento Espírita' tanto quanto'ciência acadêmica' com 'academia'.

O que na frase é chamado de 'culto' é o que ocorre em qualquer ambiente humano,no caso da ciência tem como objetivo proteger sua sociedade contra revisões oualterações mal intencionadas. Um cientista defende uma boa teoria com o mesmozelo que um fazendeiro sua propriedade, e não há o que se achar estranho nisso.Pelo contrário, o oposto seria algo bastante inexplicável.

2) Livros de Kardec ainda utilizados sem alterações, mesmo no que há de errado.Notas de rodapé corrigem alguns erros.

Imaginemos uma situação hipotética: uma nova edição do 'Principia' de Newtonsendo lançada repleta de 'revisões' e 'correções' a partir da relatividade restrita egeral. Imaginemos que os livros editados por Mawxell, Newton, Galileu, Boltzmanne outros grandes físicos fossem relançados com revisões completas - não notas de

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rodapé. Imagine lançar o livro fundamental de Charles Darwin em uma ediçãototalmente revisada conforme as novas descobertas da genética.

As obras dos pesquisadores pioneiros (em todas as áreas do conhecimento)representam um manancial de conhecimentos originais, onde se podem encontraros princípios ou fundamentos das idéias e teorias e, portanto, não são passíveis derevisão.

Há muitas coisas que ainda devem ser 'descobertas' nas obras de Kardec.Justamente por não se dar o devido valor a certas passagens, é que não se consegueconstruir uma teoria correta sobre muitos fenômenos considerados 'anômalos'.

3) A lógica é utilizada como meio de prova ou refutação de hipóteses, não havendoverificação de se a natureza pensa igualmente.

Quem 'pensa' em matéria de criação e teste de hipóteses são os seres humanos. ANatureza não pensa, ela simplesmente é. Aqui aparece a mesma crítica à lógica queo autor do texto diz 'que não tem tanto poder como pensam' (ver item 3 em 'Ciência'acima).

4) O senso comum, ao lado da lógica, é superestimado.

Em boa parte dos desenvolvimentos da Ciência, o 'senso comum' é utilizado comosinônimo de 'razoabilidade', ou seja, é uma percepção humana que permitedistinguir o que é razoável do que não é. O mesmo ocorre com a lógica. (Verconsiderações do item 3 em 'Ciência').

5) O conhecimento espírita ainda é majoritariamente indutivo, baseado emmoldes científicos do século XIX (positivismo).

Se por 'positivismo' entendermos a necessidade de se fundamentar o conhecimentoem fatos ou fenômenos naturais, é compreensível que o Espiritismo tenha caráter'positivo' neste sentido. Afinal aquilo que Kardec descreve em 'O Livro dosMédiuns' não é invenção dele, mas constitui uma fenomenologia verificável. Énecessário que seja assim, pois a base do conhecimento não pode ser a crença ou ainvenção. Toda ciência - ainda que nascida como pura teoria - só se estabelece ao seconectar a uma classe de fenômenos observáveis (não necessariamente atravéssentidos humanos). A ciência moderna continua a ser positiva oupositivista nessesentido.

Entretanto, é falso considerar o desenvolvimento e fundamentação do Espiritismoem uma acepção particular do positivismo: aquela que crê que o mundo deve serexplicado a partir de entidades que sejam acessíveis apenas aos sentidoshumanos. Um positivista nessa definição só acredita naquilo que os sentidos lheapresentam. Kardec aceitou a existência dos Espíritos e de muitas outras coisas apartir de evidências indiretas (afinal Espíritos não podem ser vistos ou 'detectados'por nenhum tipo de equipamento.

6) Persiste a presença de hipóteses “ad hoc” inverificáveis para sustentar pontosnebulosos da doutrina. (ex: vida “invisível” em outros planetas) .

Se o plano invisível existe na Terra, porque não poderia existir em outros planetas?Por que esse privilégio? Há aqui uma má interpretação do significado da noção dos

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'mundos habitados' . Ela não se refere a planetas, mas a planos de existência. Aoexigir 'hipóteses verificáveis' o autor está sendo incongruente com sua crítica deKardec - o de acusá-lo de 'positivista'.

6) Apropriações correntes são feitas sem garantia de que são válidas (ação ereação, noções de mecânica quântica, etc.)

É verdade. Há muitas pessoas que fazem uso de paradigmas de ciências bemestabelecidas como modelos de entidades de natureza espiritual. Isso não só noBrasil como no exterior onde, dizem, o Espiritismo de Kardec não existe. Há que seexplicar porque isso ocorre neste contexto (além da argumentação simples expostapelo autor), demonstrando que isso não é característica da Doutrina Espírita. Paraver um exemplo recente do uso de noções de Física Quântica, consulte o site darevista Neuroquantology.

7) Pede um lugar “especial” entre as ciências por não ter acesso direto ao seuobjeto de estudo (espíritos).

Aqui temo outra afirmação TOTALMENTE FALSA. Por isso é importante distinguirentre a noção de disciplina acadêmica (disciplina que tem corpo de pesquisadores,cátedra, laboratórios, verbas, corpo de edição com publicações sujeitas à avaliaçãopor pares etc) com ciência ou conhecimento sobre o qual ela discorre. Toda vez quedizemos 'O Espiritismo é Ciência', não estamos a afirmar que ele é uma disciplinaacadêmica nesse sentido especial. Assim, a afirmação não é válida.

Ainda assim, é possível ver que os 'objetos da Natureza' descritos e utilizados pelaDoutrina Espírita são entidades que tem sua existência no mundo em que vivemos.Se eles não sãoobjeto de estudo das disciplinas acadêmicas, então quem osestudará?

8) Verdades podem ser extraídas de “estados alterados de consciência”, vulgamediunidade. Contudo, nenhuma proposta rigorosa para a separação do joio e dotrigo foi apresentada.

Será correto igualar 'estados alterados de consciência' com a mediunidade? Sedefinimos estado de consciência normal como o estado mental durante a vigília,então, quando dormimos ocorre mediunidade? Se o estado de vigília e sono sãoestados normais de consciência, então alguém bêbado terá mediunidade?

As 'propostas rigorosas' passam todas pelo crivo neo-positivista que a crítica tentajogar sobre a fenomenologia psíquica. Aqui vemos transparecer incoerência: aCiência aceita 'explicações esdrúxulas' e evidências indiretas fugindo do 'bomsenso', mas certas investigações na esfera psíquica ou espiritual deve passar porum 'crivo rigoroso'.

8) Produz cartilhas de certo e errado. Eufemismos são usados para se alegar que“não é bem assim…”

Fica difícil avaliar essa afirmação do autor de 'Espiritismo, Ciência e Lógica' se elenão deu nenhuma referência a quais são essas 'cartilhas'.

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Existem maneiras mais sofisticadas e razoáveis de se defender o ateísmo. Está claroque o referido artigo não só é tendencioso em relação à Doutrina Espírita, masconstitui uma defesa precária do ateísmo, que merece nosso respeito como crença.

Referências

J. M. Campanario, (2006), Using textbook errors to teach physics: examples ofspecific activities. Eur. J. Phys. 27, 975–981 doi:10.1088/0143-0807/27/4/028

G. Holton (1984), Do Scientists need a Philosophy?, Times Literary Supplement 2,1232.

J. L. Hubisz, (2003), Middle school text don’t make the grade. Phys. Today 56, 50–4

Anomalias nos sinais elétricos do Cérebro com a morte do corpo

"...O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha elétrica."(Resposta a questão 88 de 'O Livro dos Espíritos', A. Kardec)

Para monitorar a atividade do cérebro é bastante conhecida e empregada a técnicada eletroencefalografia (EEG). Potenciais elétricos variáveis que surgem no crâniocomo resultado da intensa atividade neuronal podem ser investigados de umaforma limitada e mostram amplitude decrescente, que se correlaciona com adiminuição da atividade cerebral conforme o metabolismo do cérebro é atuado pordiversos fatores tais como: efeitos de drogas, lesões ou 'isquemia' (do gregoισχαιμία, isch- restrição, aima , sangue).

Mais recentemente, algoritmos sofisticados de análise 'multivariável' de EEGstornaram possível desenvolver equipamentos e escalas de consciência ('awareness')

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visando determinar, em tempo real, o grau de sedação em que se encontrampacientes em tratamento intensivo (nas famosas e temidas 'UTIs'). Isso éimportante para se garantir 'inconsciência' durante intervenções cirúrgicas e emoutros processos de tratamento. Duas escalas foram criadas, uma chamada 'índicebiespectral' (chamado BIS) que é saída do monitor de índice biespectral e outra dosmonitores SEDLine da empresa Masimo. O índice Sedline, por exemplo, considerao grau de sensibilidade à sedação que vai de 0 a 100. Acima de 80, o indivíduo éconsiderado plenamente consciente. Níveis seguros de sedação ocorrem entre 40 e60. Abaixo de 40 a sedação é severa. Com a morte chamada 'cerebral', o índicebiespectral vai a zero.

Em um artigo recente e muito interessante ("Picos de atividadeeletroencefalográfica na hora da morte: estudo de casos", Chawla, 2009), foramdescobertos padrões anômalos no comportamento elétrico do cérebro no momentoda morte do corpo.

No artigo que analisamos, o Dr. Chawla e sua equipe (Departamento deAnestesiologia e Medicina de Tratamentos Críticos do Centro Médico daUniversidade George Washington, EUA) monitorou um grupo de 7 pacientes emestado terminal em que tratamentos de apoio à vida foram progressivamenteretirados. Com isso, eles entram em um novo 'protocolo' visando dar conforto aoprocesso que segue, que é a parada cardíaca seguida da morte do corpo. Duranteesse processo, o comportamento elétrico do cérebro foi analisado usando as escalasque discutimos acima, o que resultou na descoberta de uma anomalia nocomportamento da escala. A figura abaixo é um gráfico do índice Sedline para umpaciente (chamado #01) durante o processo de parada cardíaca (monitoradaconjuntamente com um ECG - eletrocardiograma).

Curva de nível BIS no instante da morte, paciente #01 (segundo Chawla, 2009).

A parada cardíaca ocorre pouco depois das 6:35. Antes, a escala demonstra umnível normal de consciência, por volta de 80. Com a parada, oxigênio deixa de serenviado ao cérebro (assim como a todo o corpo). O nível de 'consciência'representado na escala BIS começa, então, a cair. O nível da escala chega a zeropouco antes das 6:50 (cerca de 15 minutos após a parada), quando então algoacontece: um pico surge que durar vários minutos, o que sugere - por causa damaneira com que a escala é interpretada - que um 'clarão de consciência' finalocorre. Esse pico de 'awareness' foi observado em todos os pacientes e pode duraralguns minutos com uma média entre 30 e 180 segundos. A posição do picotambém ocorre entre 15 a 25 minutos após a parada. De acordo com o artigo citado:

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Pudemos observar vários desses picos de BIS (mais de 20) em outros pacientesque estavam na fase anterior à morte, e a temporização desses picos foiconsistente, embora nem todos os pacientes demonstrassem a atividade. Apenasreportamos aqui pacientes para os quais fomos capazes de registrar oaparecimento do pico no monitor. Em nossa revisão bibliográfica, encontramosum reporte de pico de BIS em um cenário clínico semelhante (Grambrell, 2005). Oformato e temporização deste pico reportado é consistente com a dos 7 pacientesexaminados neste artigo.

Os picos podem ser considerados anomalias, pois não se prevê aumento daconsciência tanto tempo decorrido após a parada cardíaca. Os tecidos neuraisingressam em estágio de 'isquemia' e a depleção de oxigênio impede qualqueratividade. De acordo com a explicação mais aceita sobre a base e fundamentação daconsciência, não pode haver consciência na massa celular que não dispõe sequer deenergia para alimentar a si mesma.

Curva de nível BIS no instante da morte, paciente #02 (segundo Chawla, 2009).Neste caso, o pico final durou mais de 5 minutos.

A análise dos gráficos de evolução temporal da escala BIS com a morte do corpoexibe claramente a existência de dois fenômenos concorrentes: uma curvaassintótica (entremeada por picos menores), mostrando um regime associado aonovo processo bioquímico em andamento com a isquemia (depleção de energia) euma explosão de atividade que antecede a 'morte definitiva' (depois desse pico, nãohá mais nenhuma atividade e o paciente é declarado clinicamente morto).

Duas explicações especulativas são fornecidas pelos autores: a primeira associada aalgum efeito de 'interferência' gerado no algoritmo (o que é descartado) e adisruptura de potencial elétrico por grandes conjuntos de neurônios, o que causauma cascata de atividade elétrica. Entretanto, essa atividade está associada a 'ondasde alta frequência' (as chamadas 'ondas gama') que também já se mostrou estaremligadas a certas práticas meditativas. Os autores associam diretamente os picosanômalos de consciência como uma possível 'explicação' (obviamente empírica, ouseja, um fenômeno é considerado causa de outro) para as ocorrências ouexperiências de quase-morte (near-death experiences, NDE):

Oferecemos esta como uma explicação potencial para a clareza com que muitospacientes reportam 'experiências fora do corpo' quando ressuscitados com sucessode um evento de quase-morte.

A parte do fato de que é difícil explicar como é possível que o indivíduo retorne ilesoem suas funções cognitiva depois de experimentarem falta severa de oxigênio, essa

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explicação desconsidera totalmente outros detalhes das experiências, que é o daslembranças verificáveis de eventos externos ao paciente, que ele adquire poringressar em uma realidade diferente mas paralela a da vigília - com um cérebroconsiderado clinicamente morto. Assim, a sugestão da correlação entre o pico naescala de consciência e as experiências de quase-morte é algo precipitada, mas, nãoobstante, verificável. Para isso, é necessário monitorar a mesma escala com váriospacientes que sofrem NDE, até que se consiga um evento onde esses picos sejam defato confirmados e correlacionados com os tempos da experiência.

Entretanto, a cautela dos autores demonstra uma prudência bastante profissional:

A natureza dessas experiências invoca uma explicação espiritual ou divina, umtópico que está além do escopo deste artigo. Não obstante isso, o final da vida éuma área pouco estudada na medicina clínica e merece mais atenção. Se essasobservações serão importantes, isso será determinado por investigações futuras.Para o profissional de tratamentos paliativos, esperamos que tais observaçõessejam úteis. Em nossa prática de cuidados, permanecemos bastante tempo emcontato com famílias em luto. Nesse contato, pudemos constatar que a idéia deque 'algo' acontece no momento da morte é bastante reconfortante. Dado quesabemos tão pouco sobre essas observações, somos cuidadosos em não fazerafirmações definitivas. Mas, essa noção de um sinal elétrico que pode serobjetivamente medido próximo ao momento da morte é uma fonte de confortopara muitas famílias com pacientes que não resistiram ao tratamento em UTIs.

Para complementar nossa discussão, oferecemos ao leitor um texto para suareflexão e comparação com os achados do artigo que aqui analisamos. Trata-se dadescrição feita por André Luiz no livro "Obreiros da Vida Eterna" da morte deDimas (Capítulo 13, 'Companheiro Libertado'; Xavier, 1988), sob auxílio doinstrutor Jerônimo. Os grifos são nossos.

Dimas gemeu em voz alta, semi-inconsciente.

Acorreram amigos, assustados. Sacos de água quente foram-lhe apostos nos pés.Mas, antes que os familiares entrassem em cena, Jerônimo, com passesconcentrados sobre o tórax, relaxou os elos que mantinham a coesão celular nocentro emotivo, operando sobre determinado ponto do coração, quepassou a funcionar como bomba mecânica, desreguladamente. Nova cota desubstância desprendia-se do corpo, do epigastro à garganta, mas reparei quetodos os músculos trabalhavam fortemente contra a partida da alma, opondose àlibertação das forças motrizes, em esforço desesperado, ocasionando angustiosaaflição ao paciente. O campo físico oferecia-nos resistência, insistindo pelaretenção do senhor espiritual.

Com a fuga do pulso, foram chamados os parentes e o médico, que acorreram,pressurosos. No regaço maternal, todavia, e sob nossa influenciação direta,Dimas não conseguiu articular palavras ou concatenar raciocínios. Alcançáramoso coma, em boas condições. O Assistente estabeleceu reduzido tempo de descanso,mas volveu a intervir no cérebro. Era a última etapa. Concentrando todo o seupotencial de energia na fossa romboidal, Jerônimo quebrou alguma coisa que nãopude perceber com minúcias, ebrilhante chama violeta-dourada desligou-se da região craniana, absorvendo, instantâneamente, a vasta porção desubstância leitosa já exteriorizada. Quis fitar a brilhante luz, mas confesso que era

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difícil fixá-la, com rigor. Em breves instantes, porém, notei que as forças emexame eram dotadas de movimento plasticizante. A chama mencionadatransformouse em maravilhosa cabeça, em tudo idêntica à do nossoamigo em desencarnação, constituindo-se, após ela, todo o corpo perispiritualde Dimas, membro a membro, traço a traço. E, àmedida que o novo organismoressurgia ao nosso olhar, a luz violeta-dourada, fulgurante no cérebro,empalidecia gradualmente, até desaparecer, de todo, como se representasse oconjunto dos princípios superiores da personalidade, momentaneamenterecolhidos a um único ponto, espraiando-se, em seguida, através de todos osescaninhos do organismo perispirítico, assegurando, desse modo, a coesão dosdiferentesátomos, das novas dimensões vibratórias.

Referências

Gambrell M. Using the BIS monitor in palliative care: A casestudy. J NeurosciNurs 2005;37:140–143

Lakhmir S. Chawla, Seth Akst, Christopher Junker, Barbara Jacobs, Michael G.Seneff. Surges of Electroencephalogram Activity at the Time of Death: A CaseSeries. Journal of Palliative Medicine. Dezembro 2009, 12(12): 1095-1100.doi:10.1089/jpm.2009.0159. O artigo pode ser lidoem:http://www.liebertonline.com/doi/pdfplus/10.1089/jpm.2009.0159

Xavier F. C. Obreiros da Vida Eterna. 17a edição. 1988. Ed. FEB. ISBN:8573283157

Crenças Céticas XI - A avestruz cética e o peru indutivista.

Por Ademir Xavier.

Era uma vez uma avestruz cética e um peru indutivista. Viviam uma vida tranqüila,em uma pacata fazenda modelo perdida no sertão do Mato Grosso. A avestruz e operu gostavam de se envolver em discussões sobre a vida de outros animais nafazenda para aproveitar melhor o tempo.

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Formavam uma dupla porque pensavam parecido. A avestruz não acreditava emnada. Dizia todos os dias:

Comer sementes e pisar o chão, eis nossa razão! Nada há além disso!

O peru acreditava em poucas coisas além do que via freqüentemente, mas não eraigual à avestruz em um ponto: ele achava que podia decidir entre o que eraverdade e o que não era. Além disso, era muito observador e notava outras coisasao redor dele.

Ele percebeu que o sol se levantava todos os dias pouco depois do galo cantar, ese punha quando as galinhas iam dormir. Achava que isso sempre acontecia, poisele era indutivista em seu jeito de pensar. Nunca tinha testemunhado um dia emque o sol não houvesse nascido.

Comentou isso com a avestruz:

Veja como posso prever o que quiser: amanhã bem cedo, o galo vai cantar e, àtarde, as galinhas vão dormir.

A avestruz não era muito curiosa, nem com seus próprios pensamentos, nem como dos outros. Achava uma perda de tempo ficar pensando muito, já que nada maisalém de pisar o chão e comer folhas de árvores e arbustos havia para se fazer.Mas estava um tanto entediada de dizer sempre a mesma coisa e resolveu daratenção ao peru.

No dia seguinte, muito antes do sol nascer, queria mostrar que o peru estavaerrado. Mas, de repente, o galo cantou. Havia acontecido o que o peru dissera!Esperou pacientemente o dia todo e, de repente, as galinhas foram dormir. Maisuma vez o peru estava certo!

Intrigada com esses acontecimentos, repetiu tudo de novo no dia seguinte. E, maisuma vez, viu o galo cantar e, depois de esperar um dia inteiro de sol, as galinhasforam dormir. Repetiu isso uma terceira e quarta vez.

Ficou com inveja do peru, pois ela queria ter feito aquela descoberta sozinha.Então, decidiu ser mais esperta e fazer suas próprias previsões. De descrente edesanimada, a avestruz virou outra, uma verdadeira avestruz indutivista.

Um dia, abordou o peru com uma aposta que usava o método do peru paracomprovar suas próprias conclusões sobre a vida:

Aposto que você não consegue prever coisas tão bem como eu faço! Sua vida ésempre a mesma, a ciscar o chão ou comer ração. Nada vai te acontecer amanhãou depois, pois nada aconteceu com você hoje ou ontem.

Ficaram então os dois, avestruz e peru por um bom tempo, juntos, comprovando apredição da avestruz, o que também orgulhava o peru, afinal ele descobrira ométodo indutivista de pensar.

Viram que o peru vivia sempre do mesmo modo com todos os animais da fazenda,na chuva, no sol, no calor ou no frio. Nada modificava sua existência ou jeito de

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ser, nem o quanto ele comia, nem como ele pisava o chão. Nem mesmo o ritmodas galinhas parecia abalar qualquer coisa na vida do peru.

Era tempo de festa na fazenda, muitos enfeites e luzes, e a avestruz e peru aindadisputavam quem havia ganhado a aposta, a avestruz por tê-la proposto, o perupor ter descoberto o método.

Resolveram então acabar de uma vez por todas com a disputa e escolher umvencedor. Disse o peru:

Se amanhã eu ainda estiver do mesmo jeito, sempre como eu fui, dou-me porvencido e você ganha a aposta: sei que minha vida nunca será diferente!

Mas, logo nas primeiras horas do dia seguinte, quando a avestruz foi procurar seuamigo para receber seus cumprimentos pela vitória, cadê o peru?

Na noite do mesmo dia, a avestruz tremeu no seu ceticismo: tinha ouvido falar queseu amigo havia sido degolado e servido como prato principal em uma simplesfesta de Natal.

"FIM"

Referências

Esta estória é baseada em outra por B. Russell (Problems of Philosopy, Oxford UniversityPress, 1912)

Nova Edição de Paranthropology (Vol. 2, Número 1) - Destaque:ectoplasmias recentes no FEG.

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O volume 2 (número 1, Janeiro 2011) da revista 'Paranthropology' já está disponívelparadownload. Essa edição foi dedicada a 'Mediunidade e Possessão' e traz oseguinte conteúdo (traduzido do Inglês):

1. A História da Pesquisa da Sobrevivência além Túmulo - MichaelTymn - p.2-62. Em direção a uma História Social do Espiritualismo em Bristol -Jack Hunter - p. 6-83. Candomblé, Umbanda e Kardecismo: Médiums em Recife, Brasil -Stanley Krippner - p. 9-134. Uma demonstração de Transe mediúnico em Singapura - FabianGraham - p. 14-155. A Importância da Pesquisa da Mediunidade - p. 16-246. Imagens da atuação de um Teiman no sul da Índia - David Luke - p.24-267. De posse de meus sentidos? Reflexões em Ciência Social sobre ointercâmbio com o Outro Mundo - Sara Mackian - p. 27-298. A Arte do Médium: encontros com o Passado na Fronteira doDesconhecido. - Alysa Braceau - p. 29-319. Seleções do Arquivo "Revenant" - Kristen Gallerneaux Brooks - p. 32-3610. Relatórios de uma sessão de Mediunidade de Efeitos Físicos a 8 deOutubro de 2010. - Jon Mees - p.37-3811. Clarividência, classe e convenção - Sophie Louise Drennan - p. 38-4112. Experiências no Espiritualismo - Michael Evans - p.41-4313. A Ciência e a Batalha da Pesquisa Psi - Callum E. Cooper - p. 43-4414. Mediunidade, Possessão e nossa compreensão da Realidade - KimMcCaul - p. 45-4615. Pragmática e intenção na Escrita Automática: o caso Chico Xavier -Ademir Xavier - p. 47-51

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16. Autonomia e morfologia no Ectoplasma do Grupo Experimental'Felix' - Dr. Jochen Soederling - p. 52-5517. Eventos - p.5618. Reviews - p. 57-6419. A Disparidade de "Padrões de Tratamento" considerando o Exercíciode Mediunidade como uma Profissão Permitida na Área de SaúdeComportamental. - August Goforth - p. 65-91.

Pragmática e intenção em psicografias: o caso Chico Xavier.

Tivemos a satisfação de ter um de nossos artigos publicados nessa revista (verartigo número 15 acima). A introdução desse trabalho pode ser lida abaixo:

Comentaremos esse artigo posteriormente. Por hora fornecemos abaixo umatradução dos primeiros dois parágrafos reproduzidos acima:

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Pragmática e intenção em composiçõespsicográficas: o caso Chico Xavier

Minha intenção aqui é apresentar a mediunidade de Chico Xavier com psicografiasde recém falecidos. Como físico, eu deveria explicar os mecanismos envolvidos namediunidade, como a mente do médium pode entrar em contato com informaçãooculta que é tão abundante em psicografias, quais são as leis que governam ascondições e exigências do fenômeno, como a informação pode ser obtida dessaforma etc. Essa é uma tarefa bem difícil, e eu, inicialmente, pensei em invocar ateoria da comunicação, assumindo que a informação está em algum lugar e que osdetalhes do processo são bem conhecidos. Minha intenção inicial, entretanto,mostrou que esse método era bastante insatisfatório. Além de ser um fenômenohumano, cada caso de mediunidade é único e tem suas peculiaridades exigindoestudo meticuloso. Tal característica não permite classificar a mediunidade emtipos bem definidos, o que parece ser importante na fase pre-científica de umadisciplina que busque descrever cientificamente os novos eventos.

Mas penso também que tal narrativa despretensiosa possa motivar outros estudosantropológicos a respeito da figura de C. Xavier e seu trabalho que é poucoconhecido fora do Brasil. Já que a posição cética é bem conhecida, não buscareifazer nenhuma teorização, pois minha intenção é descrever o fenômeno como ele semanifesta, fornecendo ainda alguma informação a respeito do contexto no qual eleocorre.

Destaques que achamos interessante: Experiências de Ectoplasmias noFEG.

Parece haver um renascimento de experiências com mediunidade de efeitos físicosna Europa (ver artigo de J. Hunter, número 2 acima), notadamente Inglaterra eAlemanha. A julgar pelas descrições do Dr. Jochen Soederling, conforme descritoem seu artigo "Autonomia e morfologia no Ectoplasma do Grupo Experimental'Felix'" (número 16 acima) esse renascimento parece reviver a fenomenologiapsíquica do século 19. O Dr. Soederling é um médico com doutorado em Medicinamolecular e experimental que participa de sessões de ectoplasmias (não se podedizer que são de 'materializações' pois os relatos descrevem apenas a produção deEctoplasma) no grupo FEG (Felix Experimental Group) com uma nova 'safra' demédiuns e seus 'controladores'.

Experiência de Ectoplasmia no Grupo Felix (Alemanha) em 2009.

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A imagem acima é uma das fotos que mostra um desses médiuns em ação. Essa fotofoi tirada em escuridão total, apenas iluminada por uma fraca luz vermelha e, porisso, está sobre-exposta. No site do grupo Felix, existem diversos relatos deaparecimento de emissões e até mãos de ectoplasma. A figura abaixo é um desenhomostrando os movimentos de uma mão ectoplásmica da boca do médium que foiproduzida muito recentemente.

Desenho representativo de uma mão feita de Ectoplasma produzida no FEG (em2010).

As descrições dos fenômenos do grupo FEG parecem ter sido tiradas de algumaobra dos tempos iniciais do Espiritismo ou da Metapsíquica do alvorecer do século20, mas são bem atuais. Nas palavras do Dr. Soederling:Inicialmente, vi o aparecimento de uma substância móvel, que se ligava de algumaforma ao corpo do médium. Em muitas ocasiões, uma corrente branca deectoplama era lançada da boca do médium, que o tocava para que ele se abaixasseaté o chão. O médium expelia, muitas vezes, uma massa grande de ectoplasma desua boca que podia ser vista sobre seu corpo ou ao redor de seus pés e no chão. Essafase parecia de emanação. A substância tinha uma morfologia heterogênea, suaconsistência parecia ser sempre diferente.

(...) Em todas as formações ectoplásmicas, havia sempre algo inconstante eirregular e, frequentemente, a aparência era diferente no centro se comparada àsbordas. De outras vezes, pude ver uma massa mais perfurada, membranosa, comespessura que variava localmente e com interstícios vazios. Em uma fasesubsequente, a estrutura passava por um processo de transformação ou evolução.Muitas vezes mãos perfeitamente brancas tornaram-se visíveis – normalmentepude testemunhar a evolução e movimentação de uma única mão. Tais mãostinham tamanhos variados e não se comparavam à mão do médium, algumas vezeseram maiores, em outras, menores. Em muitas ocasiões, as pernas do médiumeram totalmente visíveis ao mesmo tempo em que se podia ver o movimento damão materializada.

As mãos podiam ser vistas a partir de suas palmas e davam a impressão de umagente vivo normal que se comprazia em interagir com o grupo. Vi frequentemente

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acenos ou dedos se moverem. De outra vez, testemunhei uma faixa densa desubstância branca de aproximadamente 4 dedos de largura que foi expelida da bocado médium. A formação moveu-se aproximadamente 1,5 metros para fora dacabine. Em uma das estremidades havia uma mão que podeia ser vista por todosrealizando movimentos e gestos.

Muitos se perguntarão: como isso é possível? Com relação à validade dos relatos efotos acima, podemos dizer que são apenas registros de quem participou dessasexperiências. O arsenal cético pode se posicionar contra, tornando a repetir omantra de que essas 'evidência' são forjadas. Fotos são apenas registros (que nãopodem ser usadas nem para 'provar' nem para 'refutar' os fenômenos) e a críticadepende de se manter a crença de que as testemunhas são mentirosas.

O mais importante é perceber que fenômenos de Ectoplasmias são replicáveis e queestá havendo um renascimento do interesse pela fenomenologia mediúnica deefeitos físicos. Contrariando a crença de que eles 'não mais são necessários hoje emdia', talvez estejam novamente sendo experimentados na Alemanha do começo doséculo 21.

Fundamentos III - Como se deve entender a relação entre oEspiritismo e a Ciência.

A tarefa agora é começar a entender como se estabelece a relação entre oEspiritismo e as ciências. Certamente não será objetivo do Espiritismo competircom esses ramos de atividade humana. Por isso, não é tarefa do Espiritismofornecer explicações alternativas ou desenvolver o núcleo principal das ciênciascom as quais o Espiritismo faz fronteira. Não se deve esquecer que o Espiritismocomo movimento é uma realização humana. O cientista que é espírita – se trabalhaprofissionalmente com alguma dessas áreas correlatas – tem seus próprios meios eprocedimentos, advindos do estudo adquirido de sua atividade. Como faz parte doprocesso de desenvolvimento da ciência normal, ele pode (e deve) utilizar-se dosmeios a sua volta (inclusive sua própria cultura) para fazer desenvolver sua ciênciaque tem suas regras próprias. Como dissemos, a ciência não faz caso da origem doconhecimento, o importante é que esse se organize como um paradigma bemestruturado, coerente e naturalmente integrado aos fenômenos. Fazemos abaixoalguns breves comentários das regiões de fronteira entre a Doutrina Espíritia e asciências enfatizando alguns pontos que nos parecem interessantes:

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Espiritismo X Astronomia: é bem conhecida as descrições da origem do sistemasolar (nebulosa primordial) existente no livro “Gênese” [2] de Allan Kardec. Ocapítulo VI de “Gênese” também fala de inúmeras galáxias (denominadas“nebulosas” – entendidas como agrupamentos de bilhões de estrelas como a “Via-Láctea”) numa época em que não se havia certeza desse fato. Há relatos decomunicações de Espíritos anunciando a existência de satélites desconhecidos emoutros planetas. Além disso, o Espiritismo parece ter se antecipado às discussõesque deram origem à exobiologia, proposta para estudar as formas de vidaextraterrestres. É interessante observar que, uma vez classificada como um planetaqualquer, a Terra passou a ser vista como um dos muitos planetas a ter vidainteligente no Universo (algo muito difícil de se acreditar no século 19). OEspiritismo prevê abertamente, pelo princípio da “pluralidade dos mundoshabitados”, a existência de vida inteligente fora da Terra (ainda a ser verificadapelos métodos normais – contato físico). Antes disso, porém, previu a existência deinúmeros planetas orbitando as estrelas, um fato que se tornou tema de pesquisacontemporâneo, graças ao desenvolvimento de novos métodos de observação muitomais precisos. Muitos planetas foram encontrados a partir de 1990 em torno deestrelas próximas.

Espiritismo X Física: aqui deparamo-nos com algumas afirmações feitas em “OLivro dos Espíritos” que parecem ter antevisto a modificação radical por quepassaria a física a partir do século 20. Os Espíritos falaram em uma forma que “quenão sois capaz de apreciar” [4] a respeito da estrutura dos átomos (uma alusão às“nuvens de probabilidade” dos elétrons?) num contexto bastante diferente para afísica da época. Considerações sobre a origem do Universo são feitas no começo de“O Livro dos Espíritos”, levando o Espiritismo para a fronteira com a cosmologia. Épreciso, porém, ter cautela em se tratar a questão inversa: a da influência da físicano Espiritismo. Muitos falam abertamente nas diversas “energias” que constituem omundo espiritual, esquecendo-se que “energia” é um conceito muito bem definidoem física e que não admite reinterpretações dessa forma [5]. Outros levantam apossibilidade de entender o próprio mundo espiritual como um “contínuoquadridimensional” do mundo físico. Para se utilizar conceitos e sugestõesadvindos do Espiritismo na física, faz-se necessário grande competência em físicauma vez que os núcleos das teorias (tanto do lado espírita como material) possuicerta resistência a mudanças, além de estar fundamentado em teoriasprofundamente matemáticas. Por isso mesmo, tentativas de modificação deconceitos por sugestão de ambos os lados (de um lado para outro) são muitoduvidosas no que diz respeito a qualquer avanço significativo no conhecimento. Éimportante também considerar as questões de diferença de linguagem (significadode termos e conceitos dentro de cada teoria particular) quando essa linguagemtenta conectar um fenômeno supostamente descritível tanto pela física como peloEspiritismo. Minha impressão particular é de que o grau de especificidade atingidopela física (especialização na forma de pulverização de campos de compentência)torna pouco viável qualquer tentativa “fácil” de interação.

Espiritismo X Biologia (medicina): aqui a fronteira torna-se um pouco mais nítida.Em “O Livro dos Espíritos”[6], existem muitas questões a respeito da origem dosseres vivos. É também na “Gênese” que existe um famoso capítulo sobre a gêneseorgânica. Naturalmente, esse capítulo faz eco às concepções da época, ainda àsvoltas com a “teoria da geração espontânea”, então a teoria mais aceita. É noCapítulo XI da II Parte de “O livro dos Espíritos” [3] que vamos encontrar questõescujas perguntas reafirmam a natureza espiritual de todos os seres vivos e sua

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submissão à lei de progresso. Naturalmente, os mecanismos da evolução dasespécies não estão afirmados nesses livros, mas o princípio de evolução espiritualajusta-se perfeitamente bem aos princípios da seleção natural, representando ummecanismo de modificação que atua na parte material levando o Espírito a sedesenvolver. É importante considerar que as discussões sobre a gênese orgânica sãocomplementares para a compreensão da Doutrina e seu desenvolvimento. Por issoesses pontos, assim como muitos outros, sofrem e sofrerão modificação, sem quehaja impacto ao corpo principal de doutrina.

Tal não é o caso, porém, com as inúmeras patologias da alma [7] que citamosacima. Nos quadros obsessivos, a ação do Espírito obsessor pode levar ao colapsoorgânico do obsidiado. A origem da doença, em sua íntima essência, encontra-seassim descrita através desse quadro de “simbiose espiritual”. É difícil entendercomo outra teoria – que desconheça a ação dos Espíritos – possa ter um sucessomaior no desenvolvimento de uma terapia apropriada. Aqui vê-se claramente aenorme importância dos princípios espíritas no desenvolvimento de certos ramosda medicina pois não se trata apenas de construção ou progressão da ciênica masdo desenvolviemento de terapias apropriadas a inúmeros transtornos mentais.

Espiritismo X História: as contribuições que o Espiritismo pode dar à História sãobastante evidentes. Um aspecto bastante inovador surge aqui, que é o de consideraros relatos históricos fornecidos pelos Espíritos, quando por meio de médiumsconhecidos. São notórios os casos de médiums que colaboram com investigaçõespoliciais na elucidação de crimes. No Brasil a psicografia já ajudou a elucidar váriosassassinatos. Com médiums equilibrados, os Espíritos podem fazer revelações úteisao progresso moral da sociedade e, muitas vezes, essas revelações trazem noticiasde relevante valor histórioco (como no caso dos inúmeros romances históricos deEmmanuel por meio de Francisco C. Xavier).

Espiritismo X Psicologia: o Espiritismo tem muito a contribuir com as disciplinasque tem como objetivo de estudo o homem em sua essência. Esse é o caso daPsicologia. Podemos falar em uma psicologia espírita que nasce por “inspiração”dos postulados da doutrina (principalmente de suas conseqüências morais) namaneira de viver, de se comportar e de interagir dos seres humanos. Oconhecimento da lei de evolução e reencarnação é crucial para se entender astendências inatas dos seres humanos que determinam o comportamento para alémdas limitadas considerações genéticas. Esse certamente é um campo com grandefuturo, onde apenas vislumbramos um começo.

Espiritismo X Sociologia: o comportamento social e evolução das sociedades éfunção de seu desenvolvimento cultural, de seu passado e da maneira de ser de seusindivíduos. Como no caso da História e da Psicologia, o Espiritismo tem muito acontribuir para o estudo e desenvolvimento da história social do homem uma vezque o compreende como Espírito em perene evolução. Há uma interação natural,desde a mais remota antigüidade entre o mundo material e o plano espiritual. Essefluxo é responsável pelo aparecimento e desenvolvimento de muitas religiões eculturas consideradas “inspiradas”. Dos princípios e informações fornecidos pelosEspíritos é possível complementar a história sociológica de várias sociedades.

Todos esses campos (assim como outros não listados acima tais como as artes)aguardam um futuro quando o espírita cientista seja capaz de utilizarjudiciosamente o conhecimento espírita, de acordo com as regras estabelecidas porsua ciência particular. O objetivo não é fazer o Espiritismo brilhar para a sociedade

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como um concorrente das ciências, mas como fonte de inspiração e origem paraproposição de novos mecanismos de explicação dos fenômenos e ocorrênciascaracterísticos de cada uma delas.

Considerações diferentes dizem respeito à atuação do cientista espírita. Por essetermo referimo-nos àqueles que pretendem desenvolver a ciência espírita a partirde seus princípios ou com a modificação desses, utilizando idéias advindas deoutras ciências. É uma conseqüência natural que se pretenda estabelecer umambiente acadêmico espírita – uma vez verificado o caráter científico doEspiritismo. Mas cautela é necessária para não exagerar demais nas comparações.Se o Espiritismo é de fato uma ciência não segue daí que no nosso momentohistórico ele deva se preocupar com o estabelecimento de um ambiente acadêmicocomo uma cópia dos ambientes acadêmicos de outras ciências. Todos sabemos dosefeitos que a excessiva profissionalização pode trazer em detrimento do fluxo deidéias, gerando estagnação. Imaginamos que no presente momento dedesenvolvimento e expansão da Doutrina Espírita não temos um ambientecompletamente apropriado a efetiva realização dos objetivos de um ambientepuramente acadêmico. Outras considerações sobre essa questão serão feitas emtexto futuro.

3.Alguns comentários finais.

Tentamos limitadamente neste texto discutir algumas idéias sobre o conceitomoderno (paradigma) de ciência “normal” – bem amadurecida – e o que seriacompreensível como uma salutar relação dessa ciência com o Espiritismo. Aaplicação padrão dos procedimentos de construção da ciência leva a plena formaçãoe progresso do conhecimento científico. A tentativa forçada de se estabelecerrelações – não sugeridas pelo desenvolvimento científico mas imaginadas comosituações idealizadas – não só conduz a perda de tempo como ao descrédito. Daparte do Espiritismo, tentativas forçadas de querer transcrevê-lo ou moldá-losegundo normas ou procedimentos de outras ciências pode conduzir a ilusão defalsificação da doutrina uma vez que o conhecimento científico e sua interpretaçãoé função de um contexto altamente específico e mutante mas desconexo em relaçãoa ela. Por outro lado, querer misturar conceitos de outras ciências com princípiosespíritas não é científico pois dentro da noção de paradigma cada um deles deve serentendido dentro de seu contexto de pesquisa (ambientação acadêmica) não sepermitindo enxertias ou fusões ainda que muito bem intencionadas.

Aprendamos a ver cada ciência – o Espiritismo entre elas – como linguagens arespeito do mundo. No procedimento de comunicação normal, plena compreensãosó é conseguida quando o emissor e o receptor dispõem de bagagem linguísticacomum. Todo e qualquer procedimento de tradução leva necessariamente a perdade significado pela impossibilidade de se transcrever plenamente determinadosconceitos e idéias típicos de um determinado referencial linguístico. O Espiritismo éuma linguagem a respeito do mundo espiritual, criada e desenvolvida paratransmitir conceitos sobre esse mundo. As ciências materiais são linguagensdistintas que tratam de outro cenário, embora o “palco” apresente áreas comuns ouadjacentes que no momento não dispomos de linguagem apropriada paradescrever.

Entretanto, a própria evolução das ciências levará a criação de uma linguagemcomum em futuro incerto (talvez distante para o nosso calendário). Esperamos quequando esse futuro acontecer, o Espiritismo tenha cumprido em sua totalidade seu

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papel fundamental que é o de promover a efetiva reforma moral em todos osEspíritos que dele tiverem se aproximado buscando consolo e refazimento moral.

Artigo originalmente publicado no boletim do GEAE, número 472 (2004).

Agradecimento

Agradeço ao Alexandre F. da Fonseca pela leitura e comentários a esse texto.

Referências

[2] A. Kardec, “A Gênese”, Uranografia Geral, o espaço e o tempo (Cap. VI). Ed.Federação Espírita Brasileira, 34a edição (1991).[3] A. Kardec, “O Livro dos Espíritos”, Trad. Guillon Ribeiro, Ed. FederaçãoEspírita Brasileira, 71a edição (1991).[4] Referência [3] , questão 34.[5] A. P. Chagas, Polissemias no Espiritismo, Revista Internacional de Espiritismo,pp. 247-49, Setembro de 1996.[6] Referência [3], Cap. III.[7] I. Ferreira, “Novos rumos à medicina”, Vol. I, Tratamento dos processosobsessivos no Sanatório Espírita de Uberaba, Edições Federação Espírita do Estadode São Paulo (1990).Postado por Ademir Xavier às 17:13 0 comentários

Fundamentos II - Como se deve entender a relação entre o Espiritismoe a Ciência.

Como dissemos, o sucesso da ciência contemporânea bem estabelecida advém desua estrutura intrínseca onde os fenômenos não têm papel central. O papelprincipal no estabelecimento da ciência é atribuído aos paradigmas ou teorias.Muitas vezes pode acontecer que uma determinada teoria seja melhor que uma

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outra, ao mesmo tempo que ninguém acredite nela. Teorias como realizaçõesmentais ou afirmações sobre o mundo são criadas livremente por um grupo restritode cientistas (às vezes apenas um indivíduo), e portanto, fazem parte de suabagagem cultural como crenças. É pela adequação dessas teorias aos fenômenosque elas se tornam aceitas a um grupo maior. O problema é que a definição deexperimentos ou a previsão de determinadas ocorrências fenomenológicas dependeda teoria. Poderíamos dar inúmeros exemplos dessa situação. Em física – que éuma das ciências costumeiramente consideradas com grande prestígio – é bastantenítido a ocorrência de “previsões experimentais” como resultado direto de teoriassofisticadas onde nada remotamente parecido com o fenômeno em questão tenhaentrado como ingrediente. Algumas outras vezes, são feitas previsões de objetos oucircunstâncias nunca observados anteriormente. Essa inversão de papéis, no quetange à importância para o desenvolvimento da Ciência entre teoria e experimento,é a principal causa de confusão tanto no que se refere à compreensão correta daCiência em si como do aspecto científico do Espiritismo. Conseqüentemente deve-se fazer um esforço para compreender essa inversão a fim de que seja útil nadiscussão da relação entre o Espiritismo e a Ciência.

A Ciência só tem início com a teoria. Essas podem ter qualquer origem – sejammotivadas por algum acontecimento experimental ou por algum sonho depesquisador (como no famoso caso do sonho de Kekulé ao conceber o formato dosanéis de carbono no benzeno). A origem do conhecimento científico não éimportante para a Ciência. Isto que dizer que uma determinada teoria não temvalor maior ou menor conforme sua origem, embora muitos cientistas sejamlevados a crer ou não nelas de acordo com a força de autoridade de seusproponentes. A partir da proposição da teoria, segue a tentativa de explicação dosfenômenos com ou sem a ajuda de leis complementares que não fazem parte donúcleo principal da teoria. Como um exemplo rápido podemos considerar oprocesso de previsão de tempo na meteorologia. As leis que governam osfenômenos meteorológicos são leis físicas, assentadas em princípios térmicos etermodinâmicos. Para prever a situação de tempo com todos os detalhes, pode-seconstruir modelos numéricos sofisticados onde essas leis estejam embutidasjuntamente com “condições de fronteira” específicas tais como a separação entrecontinentes e mares, o estado inicial de temperatura de uma determinada região, aposição do sol (sua altura em relação ao solo) etc. Essas são as leiscomplementares.

Dissemos que a maior parte das pessoas considera a noção popular a própriaessência do “método científico”. Isso é particularmente forte nas denominadas“ciências parapsicológicas”, ou o conjunto de disciplinas que tem como objetivoexplicar de maneira supostamente científica os fenômenos mediúnicos noEspiritismo. Essas disciplinas apresentam escassa discussão teórica, dando enormeênfase a descrição puramente fenomenológica dos fatos psíquicos. Quando sãofornecidas explicações, essas procuram ligar-se fortemente aos fenômenos. Dessaforma, é comum a tentativa de explicação simplificada para cada fenômeno. Assima telepatia é invocada como “hipótese” para explicar as comunicações dos Espíritos,negando-se a existência desses últimos. Ora a “telepatia” é definida simplesmentecomo a capacidade de transferência de informação entre duas “mentes” (no caso,pessoas). Essa capacidade pode ser constatada de forma experimental. É um fato enão um princípio sobre o qual se possa estabelecer uma explicação. Nas “ciênciaspsi” busca-se dar explicações aos fatos utilizando-se os próprios fatos. Nesseprocesso explicações são muitas vezes tornadas verossímeis pela sua designação pornomes empolados, difíceis de se pronunciar e com nenhum apelo intuitivo. É muito

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conhecida a frase, dada a guiza de explicação, de que os fenômenos psíquicos sefundamentam nas capacidades desconhecidas do cérebro. Diz-se que os sereshumanos normais utilizam apenas “10% da capacidade cerebral”. Ora, qual a basepara semelhantes afirmações? Como se mede essa capacidade cerebral? Nas“ciências parapsicológias” ocorrem falhas graves de compreensão dos verdadeirosatributos de uma disciplina para ser denominada ciência.

Já discutimos muito brevemente que uma verdadeira ciência se constrói utilizandomodelos, teorias ou paradigmas. A Fig. 2 ilustra essa “concepção de ciência” maispróxima da realidade. Há num centro irradiador de explicações (a teoria), eintegrado naturalmente aos fenômenos naturais a respeito dos quais a teoria ouparadigma versa. Leis complementares reforçam a estrutura do paradigma eintegram os princípios, que fazem parte dele, aos fenômenos. Juntamente comessas leis, o paradigma fornece explicações para os fenômenos, inclusive algunsdesconhecidos. É possível assim que no corpo teórico que constitui o paradigma, jáexista o gérmen para explicação de muitos fenômenos nunca observados. Essemodelo encontra respaldo na história do desenvolvimento de muitas ciências bemsucedidas.

Fig. 2

Também o modelo da Fig. 2 não faz nenhuma referência à necessidade externa de“instrumentos especiais de medida” e nem a métodos supostamente rigorosos demedida experimental, pois a existência desses aparelhos (a explicação de seufuncionamento) só se justifica pelo paradigma que para eles fornece explicação. É ocaso, por exemplo, da utilização de equipamentos ópticos para estudar omovimento dos planetas e outros corpos celestes. A explicação do funcionamentodos equipamentos é fornecida pela óptica, uma área da física, não necessariamenteligada à astronomia ou astrofísica. É possível englobar os princípios da óptica e damecânica dos corpos em um corpo de teoria comum (no caso a “física”), masprefere-se mantê-los separados por referirem a domínios fenomenológicosdiferentes. Ressaltamos porém que o grau de complexidade desses aparelhos nãotem correlação alguma com o rigor com que eles realizam suas medidas. Muito aocontrário, nesse modelo, estimula-se a realização de testes experimentais simples,de observação direta, onde haja pouca influência de fatores de erro a comprometera realização das medidas. No modelo da Fig. 2 a teoria tem papel fundamental e nãoo fenômeno. Desde de que se creia e desenvolva a teoria, explicações para osfenômenos irão aparecer. Visto de outra forma, os fenômenos são justificados(explicados) pelo modelo a ponto de só poderem ser percebidos por aqueles quedisponham de conhecimento do paradigma. Muitas vezes é possível notar que ummesmo paradigma fornece explicações para inúmeros fenômenos – muitos delestratados inicialmente como sem correlação alguma com a teoria. Há inúmerosexemplos como esses nas chamadas “ciências normais”, as ciências que se

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desenvolveram historicamente segundo o modelo “paradigmático” de ciência.Percebe-se que a negação dos fenômenos não traz conseqüência alguma para aciência vista nesse sentido pois o paradigma tem papel fundamental. Nesse caso,negar um fato soa profundamente suspeito de falha de compreensão da teoria ouparadigma. Não há também nenhuma preocupação com o grau decomprometimento do cientista com sua crença: pelo contrário admite-seabertamente que ciência é uma atividade onde a criatividade e crença particular docientista tem uma importância muito grande e benéfica para a ciência. Há, porém,limites para a livre criação, o corpo teórico deve ser interrelacionado e coerente, istoé, seus princípios não devem conflitar entre si. Além disso, a excelência de umdeterminado paradigma é medido em termos de sua capacidade de explicar osfenômenos a ele ligado e também prever outros. Assim, não basta apenas criarmuitas explicações, essas originam-se de princípios mais primitivos e harmônicos,mais ou menos imutáveis (Essa imutabilidade não deve ser entendida com a rigidezdos dogmas. Há um conjunto de regras muitas vezes não explícitas que protegem oconjunto de princípios de modificações mal justificadas).

Entendemos que a parte científica do Espiritismo deve ser entendida conforme aFig. 2. Nele os fenômenos são parte secundária e não fundamental da doutrina. ADoutrina Espírita contém o núcleo principal teórico da ciência espírita. Dautilização de leis complementares chega-se a explicação dos fatos. No caso dosfenômenos mediúnicos, a existência do perispírito como agente intermediário entreo Espírito e o corpo material é fundamental para compreender a imensa maioriados fenômenos mediúnicos também denominados psíquicos. Entretanto, aDoutrina Espírita vista como paradigma com conseqüências mais profundas,abarca um conjunto muito mais extenso de fenômenos: fenômenos sociais(principalmente comportamentais), biológicos, históricos, patológicos etc. Assim,embora não seja seu objetivo principal, o Espiritismo contribui a muitas áreas doconhecimento, em particular àquela que busca compreender a origem, essência efuturo do homem entendido como uma criatura sem limite no tempo. O Espírito éassim o objeto de estudo da ciência espírita e o paradigma espírita é formado porum conjunto harmônico e mais ou menos fixos. Princípios como a existência deDeus, do espírito como elemento fundamental (além da matéria), da evolução doespírito e da comunicabilidade entre os Espíritos e os homens (reinterpretadoscomo Espíritos encarnados) são alguns dos princípios fundamentais. Essesprincípios juntamente com outros (tal como a busca da felicidade por parte dascriaturas) explicam e prevêem os fenômenos. Consideremos o caso das doençasdenominadas “psiquiátricas”. Faz parte desse enorme grupo de patologias mentais,(que afetam o comportamento do indivíduo) um grupo não menos importantes dedoenças provocadas por influências espirituais – as obsessões em seus maisdiferentes graus. Compreender o surgimento dessas doenças, que forneceidealmente a base para um tratamento eficaz, é tarefa simples para o Espiritismo(desde que corretamente aplicado), mas muito difícil para as correntes que negam aexistência do Espírito, e que buscam uma explicação puramente material. Jácitamos aqui a telepatia. Dentro do paradigma espírita, a comunicação entreEspíritos é um fato bem estabelecido. Em particular, a comunicação entre Espíritosencarnados é uma forma particular dessa capacidade de comunicação. Temos assimuma explicação muito natural (dizemos “intuitiva”) da telepatia. Essa explicaçãofunda-se num princípio muito mais geral que explica simples e igualmente bem aenorme variedade de comunicações ou fatos psíquicos.

3. Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência.

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Depois dessa discussão inicial, fica claro que não se pode falar em uma receitainfalível, tal como o sonho de um método rigoroso, para se fazer ciência. Ela é oresultado de uma atividade altamente complexa e integrada no tempo através degrupos de indivíduos formando uma cultura. O Espiritismo, diante dasconsiderações feitas, classifica-se plenamente como uma doutrina científica. Nãosegue daí que deva adotar o modelo popular de ciência por algumas das falhas quediscutimos anteriormente. Essa discussão é importante para os que consideram aDoutrina Espírita, desenvolvida nos livros básicos de Allan Kardec, comoconhecimento ultrapassado. Não existe nada mais longe da realidade. Comodissemos, o corpo principal da teoria é protegido com certa rigidez. Modificações noparadigma só acontecem – são conclusivamente admitidos como necessários – sehouverem razões muito fortes para isso. Tal não é o caso do Espiritismo propostopelos Espíritos que auxiliaram Kardec. Da mesma forma que negar os fenômenos ésinal de falha na compreensão do paradigma, com muito mais razão, as tentativasde “reforma” do núcleo principal do Espiritismo (invenção de novos princípios emdesacordo com aqueles) é sinal forte de falha na compreensão desses princípios.Clamores recentes nesse sentidos são assentados em considerações bastante pueris,e deixam entrever uma dificuldade de compreensão do verdadeiro caráter doEspiritismo entendido como ciência.

Artigo originalmente publicado no boletim do GEAE, número 472 (2004).

Fundamentos I - Como se deve entender a relação entre o Espiritismo ea Ciência.

Resumo

Discute-se aqui brevemente a interação entre a Doutrina Espírita e as ciências. Essarelação pode ser entendida de diversos aspectos, uma necessariamente queconsidera o aspecto científico do Espiritismo. É importante porém frisar que nãopode haver compreensão correta dessa interação, se não se tem compreensãocorreta do sentido em que se fala de aspecto científico do Espiritismo. Essa

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discussão apresenta implicações importantes para os espíritas que acreditam nanecessidade de atualização da Doutrina Espírita.

Observação: Neste artigo, 'Espiritismo' e 'Doutrina Espírita' são usados comosinônimos, entendendo-se por eles o conjunto de princípios definidos em 'O Livrodos Espíritos' por Allan Kardec.

1.Introdução

Todo adepto com razoável entendimento dos princípios da Doutrina Espírita sabeque ela é um conjunto de princípios que se apresentam como afirmações sobre omundo. Não é menos certo que muitos desses princípios, ainda que se apliquem aoobjetivo maior do Espiritismo que é o estudo do elemento espiritual, contémafirmações singulares e gerais sobre o mundo material. Isso necessariamente nosleva à fronteira entre o Espiritismo e as ciências bem estabelecidas que tambémafirmam coisas sobre o mundo. Para que haja evolução na forma de aquisição deconhecimento – um dos objetivos das ciências e também do Espiritismo, no caso,conhecimento sobre o mundo espiritual – faz-se necessário conhecer exatamentecomo se dá essa relação.

A ciência, tal como a conhecemos hoje, é produto da evolução lenta com que nossasociedade passou nos últimos séculos. Não existe um consenso geral (na forma deuma formula ou padrão estabelecido) sobre qual seria a definição exata de ciência.Podemos, porém, descrevê-la de acordo com alguns de seus atributos bemconhecidos. De todos eles, um que parece conveniente para caracterizar aschamadas ciências bem estabelecidas (física, biologia, química e outros) é a noçãode paradigma [1]. Por paradigma entende-se um conjunto de princípios que versamsobre determinado objeto, e que se encontram naturalmente relacionados a umgrupo ou conjunto de fenômenos naturais. Fazem parte do corpo que forma oparadigma também leis complementares a completar o conhecimento, permitindo aaplicação das leis do corpo principal aos fenômenos observados. Os paradigmas sãoos campos de trabalho tradicional na pesquisa normal das grandes áreas doconhecimento científico. Assim, Ciência não é a mera coleção de fatos e hipótesesmas algo muito mais complexo, em constante mutação através das geraçõespossuindo seus próprios sistemas de proteção a fim de evitar que seu corpoprincipal de doutrina seja corrompido. Não se pode mudar a orientação dedeterminado programa de pesquisa de uma noite para outra, ainda que se tivesseuma boa razão para isso. As mudanças nos programas de pesquisa que caracterizamo paradigma – conhecidas como revoluções científicas – necessitam de um tempode maturação e, muitas vezes, uma mudança no posicionamento dos cientistas, namaneira como eles vêem o mundo. As revoluções científicas são acontecimentos decurta duração seguidos muitas vezes de estágios de desenvolvimento mais oumenos estáveis.

Semelhantes considerações, como pode se compreender, não devem ser deixadas delado na análise do assunto que serve de título a este texto. Da mesma forma, de uma

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análise imparcial da própria Doutrina Espírita deve nascer um modelo de idéiasque consiga descrever corretamente o que se entenda por “aspecto científico” doEspiritismo. De posse desses dois ingredientes (compreensão correta do aspectocientífico do Espiritismo e do significado da Ciência) podemos então considerarseriamente um debate sobre a relação entre esses dois ramos do conhecimentohumano. Apresentamos aqui brevemente alguns subsídios para se iniciar essedebate.

2. Noções incorretas de ciência espírita e ciência normal. Discutindoum modelo mais apropriado de ciência.

Um número razoável de espíritas e simpatizantes procuram abordar o aspectocientífico do Espiritismo de forma a moldá-lo segundo a visão parcial doconhecimento considerado genuinamente científico. Essa visão parcial vê a ciênciacomo uma atividade extremamente rigorosa em seus métodos de análise, e acreditaque os sucessos obtidos com o desenvolvimento científico – que permitiramcompreender os fenômenos e desenvolver novas aplicações tecnológicas – sãoproduto direto desse rigor metodológico. Nada poderia estar mais longe darealidade. O sucesso da ciência atual, que se materializa na forma de produtostecnológicos e sofisticados métodos numéricos de reprodução da realidade em seusmínimos detalhes, não decorre apenas de um rigor metodológico qualquer que sejaele, mas principalmente das teorias que nascem em sua forma primitiva na cabeçados cientistas. Semelhante compreensão parcial da realidade é comum para muitosespíritas que acreditam que os fenômenos espíritas devam satisfazernecessariamente a critérios de adequação empírica conforme os moldes dasciências normais. Para esses, a “ciência espírita” tem a haver unicamente com aparte fenomenológica (na forma da mediunidade em seus múltiplos aspectos) comexclusão de qualquer consideração de princípios. O Espiritismo é visto como umamontoado de fenômenos a partir dos quais se pode inferir um conjunto deafirmações mais gerais e deduzir conseqüências. Seguindo esse caminho,logicamente os inimigos do Espiritismo se comprazem em negar os fenômenos ouinventar explicações alternativas que parecem atingir os supostamente deduzidosprincípios espíritas. Coincidentemente, essa visão também é popularmenteatribuída à ciência. De uma maneira simplificada podemos esquematizar oentendimento popular de ciência – que dá origem ao chamado “método científico”– de acordo com a Fig. 1.

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Fig. 1

Nessa figura, um observador bem intencionado (quer dizer, isento de pré-julgamentos ou explicações próprias consideradas tendenciosas) observa osfenômenos da natureza. Essa observação deve ser igualmente isenta e completasuficiente para não permitir perda de informação a respeito dos fenômenos. Deveser realizada de forma a cobrir o maior número de “condições” possíveis, o que levaà necessidade de se repetir testes experimentais um grande número de vezes. Apartir dos fenômenos ele elabora hipóteses consideradas razoáveis que, por umprocesso mal explicado, degenera (ou se sintetiza) em “leis gerais”. Esse processo decriação de leis gerais é denominado indução. A partir das leis induzidas outrosfenômenos semelhantes (ou os mesmos) podem ser explicados por um processodenominado dedução. Um ponto importante a ser considerado diz respeito àsconseqüências para o desenvolvimento de uma ciência se o modelo mostrado naFig. 1 for considerado ideal. Compreensivelmente pode-se com ele destruirqualquer tipo de explicação negando-se simplesmente os fenômenos. Desde queesses não existam, não há sentido em se acreditar nos princípios delessupostamente induzidos. Isso acontece com os que negam inúmeras vezes com osfatos psíquicos, e com ele a idéia de comunicação entre vivos e mortos e asobrevivência dos seres após a morte.

Artigo originalmente publicado no boletim do GEAE, número 472 (2004).

Referências

Novo Jornal de Estudos Antropológicosparanthropology.weebly.com

ISSN 2044-9216

Entre dois mundos

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Várias vezes antropologistas testemunham rituais de Espíritos, e várias vezesexegetas indígenas tentam explicar que os Espíritos estão presentes...Mas,antropologistas resolvem sempre interpretar tudo de forma diferente. Nós,antropologistas, precisamos treinamento para ver o que os Nativos vêem.Edith Turner (1993). "The reality of Spirits: A Tabooed or Permitted Field ofStudy?" Anthropology of Conssciousness 4(1): 9-12.

No que segue abaixo, o que está em azul são textos de J. Hunter que comento maisabaixo.

Por J. Hunter (Universidade de Bristol, UK)

Bem vindos à primeira edição de 'Paranthropoloy: Journal of Anthopological Approaches tothe Paranormal". Essa jornal tem como objetivo básico fornecer uma plataforma para adisseminação de novas pesquisas e idéias concernentes à abordagens antropológicas para oestudo de crenças paranormais, associadas à prática ou aos fenômenos. Embora a ênfase dojornal seja uma abordagem antropológica, ele também se ramificará em outras disciplinas -psicologia, parapsicologia, sociologia, folclore, história - como um meio de explorar amaneira como tais metodologias teóricas lançam luz sobre o paranormal.

Antropologia e Paranormal: qual é a questão?

Há muitas razões para uma abordagem antropológica como estudo do paranormal. Não só aantropologia fornece uma metodologia promissora para a elucidação e compreensão doparanormal, como também o paranormal se apresenta como um aportunidade para queteorias e técnicas antropológicas sejam testadas e expandidas.

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Andrew Lang

A idéia que métodos antropológicos sejam apropriados para o estudo de fenômenosparanormais não é nova. Escrevendo ainda no Século 19, o acadêmico escocês AndrewLang (1844-1912), apresentou o método antropológico aos membros da Sociedade dePesquisa Psíquica (SPR). Lang achou incrível que a SPR tenha, por qualquer razão, serecusado a comentar sobre experiências psíquicas na literatura antropológica e,semelhantemente, que a antropologia da época estivesse super interessada no tipo depesquisa feita pela SPR. Lang (1996) expressou a opinião que ambos os conjuntos de dados(antropológicos e psíquicos) seriam melhor compreendidos se fizessem referência mútua, aoinvés de serem tomados como eventos separados e descorrelacionados.

Métodos antropológicos, em particular participação etnográfica, podem resultar em umacompreensão aprimorada dos mecanismos sociais, psicológicos e espirituais que envolvemas manifestações do paranormal, fatores que podem adicionar uma compreensão maisprofunda do tipo de fenômenos estudados por parapsicológos. A pesquisa parapsicológicatende a assumir que efeitos paranormais só podem ser replicados no laboratório semconsideração à maneira como tais efeitos tem sido tradicionalmente produzidos. De fato,Frederic Myers, um dos fundadores da SPR, afirmou que um dos objetivos da pesquisapsíquicas seria o estudo de fenômenos psíquicos ostensivos sem uma...

...análise da tradição, ou sem qualquer manipulação metafísica, mas simplesmenteexperimentação e observação - pela simples aplicação aos fenômenos dentro de nós e aoredor de nós, dos métodos de pesquisa exata, deliberada e desapaixonadamente, queserviram de base para o conhecimento do mundo que podemos ver e tocar." (citado porGauld, 1983, xi)

Tal abordagem altamente racional, positivista e empírica tornou-se a pedra fundamental daparapsicologia moderna e deve, possivelmente, explicar as evidências relativamenteinexpressivas que essa disciplina tem conseguido se comparada aos fenômenosextravagantes registrados na literatura etnográfica: é simplesmente um abordagem quedesconsidera a tradição mágica. De Martino (1972), por exemplo, lista um número grandede fenômenos paranormais ostensivos (clarividência, precognição, experiências fora do

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corpo, psicocinese, fire-walkings etc) testemunhados por etnógrafos em partes diferentes domundo, e compara o jeito com que etnógrafos registra tais ocorrências (i. e., dentro de umcontexto particular histórico, social, cultura, mitológico e cosmológico) com o jeito comoparapsicólogos fazem o mesmo. Assim ele escreve sobre a parapsicologia:

Ocorre um quase que total redução do estímulo histórico que está em ação nas ocorrênciasespontâneas de tais fenômenos. Assim, no laboratório, o drama do homem desencarnado(dying man) que reaparece... para um parente ou amigo - é substituido (reduzido) a umexperimento de repetição - tenta-se transmitir à mente do sujeito a imagem de uma carta debaralho escolhida aleatoriamente. (1973, p. 46)

A proposta do jornal de Parantropologia é inovadora para a nossa época e parte danecessidade de se avaliar a quantidade enorme de evidências etnográficas ehistóricas para fenômenos psíquicos. De fato, poderíamos dizer que a verdadeirapesquisa psíquica deve se iniciar com a antropologia e não na proposta delaboratórios de parapsicologia. Por que? Porque a Antropologia procura modelospara o fenômeno humano (tanto moderno como primitivo) sem eliminar nada delesque lhes seja característico. Embora esses fenômenos sejam interpretados dentro deconcepções restritas que eliminam o transcendente, a propostada Paranthropology é justamente iniciar ou propor modelos antropológicos onde aexistência do transcendente não possa ser descartada.

O horror à idéia da sobrevivência e as concepções espiritualistas fez surgir apesquisa parapapsicológica com proposta supostamente científica e certamentefechada às observações que ocorram fora dos recintos de laboratórios (veja acitação de F. Myers acima). Essa decisão foi tomada sem prestar atenção ao fato deque existem fenômenos naturais que não podem ser reproduzidos em laboratório,ou mesmo que a exigência de repetibilidade em laboratórias torna restritiva ascondições de ocorrência, ou seja, resultam em interferências destrutivas nofenômeno.

Há uma crença generalizada de que só existe ciência se os fenômenos puderem serrepetidos em laboratório. A constatação de De Martino, embora interpretada comouma observação quanto à eliminação de estímulos históricos, reflete a eliminaçãode quase todos os estímulos possíveis necessários para as ocorrências psíquicas. Aque se reduz então os testes parapsicológicos 'rigorosos'? A medidas de coincidênciade leitura de carta por 'sujets' ou outros sinais gerados por computador, ou porfontes radioativas. Com isso, espera-se medir correlações que lançem luz àexistência de precognição ou retrocognição, sem se postular nenhum mecanismopara que isso ocorra, a menos da existência de Super Psi, ou a existência deindivíduos dotados de percepção quase que onisciente (tanto no espaço como notempo). O Super psi nasce como uma explicação naturalmente fora do escopo dequalquer teste, já que ele, por definição, associa à mente determinadascaracterísticas que tornam muito difícil a 'contra prova' ou o processo do'falsificacionismo' no sentido proposto pelo Filósofo Karl Popper. Em outraspalavras, ao se assumir Super Spsi fica muito difícil a proposição de umaobservação onde Super Psi possa ser 'falsificado' ou demonstrado como não

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existente. Logo, as teorias de Super Psi são suspeitas do ponto de vistaepistemológico.

Mas Super psi tornou-se um mecanismo de crença de céticos moderados que, nãoaceitando a idéia da sobrevivência, não podem deixar de aceitar a existência dosfenômenos. Ai entra a necessidade de estudos Antropológicos que podem:

Lançar luz quanto a condições de ocorrência de fenômenos psíquicos; Chamar a atenção para a grande coincidência de narrações - ou seja,explicações que os antigos e outro povos davam ao fenômeno do mediunismo e suasmanifestações, atentando para a grande coerência entre tais descrições; Ajudar a classificar fenômenos e lançar luz quanto as verdadeiras fontes ouorigens desse fenômenos. Pode-se obsevar, através da antropologia, a supressão ou aumento dasocorrências mediúnicas, conforme se eliminem ou aumente os 'estimulos históricos'ou outras condições a serem determinadas no momento da ocorrência psíquica.Finalmente, Hunter chama a atenção para uma corrente de antropólogos modernosque adota uma postura diferente:

Mais recenemente, entretanto, teóricos tem argumentado em favor de tratar taiscrenças tal como os nativos o fazem. Edith Turner (1993, 1998, 2006) tem secolocado favorável a essa perspectiva, especialmente em termos de interpretar acrença na existência e atuação dos Espíritos no campo. Outros antropologistas temtambém considerado os Espíritos seriamente, mesmo que não no nível ontológicoreal: por exemplo, Nils Bubandt (2009) explorou a atuação política de Espíritos quese comunicam com médiums 'possuídos' em Norte Maluku - tratando-oscomo metodologicamente reais. Aqui vemos a noção antropológica da açãoconsciente expandida para incluir outras formas de personalidade.

Por que isso é importante? Porque não é possível fazer avançar o conhecimentoantropológico ao se desconsiderar a opinião dos nativos tais como elas seapresentem. Esperamos, assim, que uma nova era no conhecimento da verdadeiranatureza do Homem se inicia a partir da adoção dessa postura mais aberta.

Referências

Bubandt, N. (2009). “Interview with an Ancestor: Spirits as Informants andthe Politics of Spirit Possession in North Maluku.” Ethnography 10(3): 291-316. De Martino, E. (1972). “Magic: Primitive and Modern”. London: Tom StaceyLtd. Lang, A. (1896). “Cock Lane and Common Sense.” London: Green & Co. Turner, E. (1993). “The Reality of Spirits: A Tabooed or Permitted Field ofStudy?” Anthropology of Consciousness 4(1): 9-12.

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Turner, E. (1998). “Experiencing Ritual”. Philadelphia: University ofPennsylvania Press. Turner, E. (2006). “Advances in the Study of Spirit Experience: DrawingTogether Many Threads.” Anthropology of Consciousness 17(2): 33-61.

Crenças Céticas X - Positivismo lógico e indutivismo: as duas bases doceticismo dogmático.

"Acho que o mais importante defeito dele... era que quase tudo nele era falso." (A.J. Ayer, principal defensor do Positivismo lógico na Inglaterra, sobre o Positivismológico).

Muita gente acha que filosofia é perda de tempo, um conhecimento que serve à'gente metida' ou intelectuais com pouco senso prático. Na verdade, todas as nossasações e decisões se baseiam em motivações interiores que, muitas vezes, sãoderivadas de crenças e suposições que são objeto de estudo da filosofia. Uma vezque tomamos contato com as várias doutrinas filosóficas que existem, podemoscompreender melhor porque as pessoas agem de determinada maneira, e atémesmo, prever seu comportamento.

Esse é o caso do pseudoceticismo ou ceticismo dogmático que tem sido objeto denossas análises neste blog. Podemos nos perguntar: quais são os seus fundamentosfilosóficos? A resposta não pode ser outra: o positivismo lógico e o indutivismoingênuo.

Os positivistas lógicos descrevem o mundo como derivado dos sentidos. Para eles sóhá sentido em estudar aquilo que esteja diretamente acessível aos sentidoshumanos, fornecendo um visão de mundo essencialmente fundamentada no'empirismo'. Acreditamos que o positivismo lógico foi uma resposta ao excesso decuidados com conceitos e idéias que não tem suporte empírico, mais

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particularmente contra aqueles objetos da teologia dogmática. Historicamente,sabemos que o Positivismo lógico (nascido no assim denominado 'Círculo de Viena'na década de 1920) foi uma resposta à filosofia de Hegel.

Um positivista lógico acredita que evidência observacional é indispensável parauma descrição correta do mundo. Na verdade, ele vai mais além e só acreditanaquilo em que se possa fornecer uma evidência empírica. Portanto, a descriçãopositivista do mundo é uma descrição necessariamente pública que desprezaentidades que não sejam publicamente acessíveis.

Essa visão positivista tem reflexo imediato nas decisões de investimentos depesquisa. Uma vez que recursos são escassos, é razoável que o modo 'positivista' dever o mundo tenha maior influência, já que ele acaba por significar risco menor aoinvestimento. Parece ser muito menos arriscado investir dinheiro em pesquisassobre objetos que sejam diretamente acessíveis aos sentidos (que se pode ver, tocar,ouvir ou perceber) do que com aqueles que não são.

Hoje em dia, o positivismo lógico originalmente criado no círculo de Viena não émais defensável. A Física moderna, a genética e outros ramos da Ciênciademonstraram que, para que teorias científicas tenham sucesso, é preciso postulara existência de entidades que não são diretamente acessíveis aos sentidos. Se taisentidades existem ou não é outro problema, bem mais complexo, que o leitor podeaprender buscando por textos sobre o 'realismo científico'. Por isso, o positivismose transformou, e antes o que era tomado como 'necessidade de evidência dossentidos' é hoje substituído por 'evidências empíricas' dentro do chamado 'métodocientífico'.

No desenvolvimento e justificação desse método, os neopositivista são guiadospelo indutivismo, que se tornou outro fundamento para o ceticismo dogmático. Por'indutivismo' queremos dizer uma postura filosófica que aceita que o conhecimentopode ser gerado a partir do amontoado de evidências ou observações de fatossingulares. Acredita-se que conhecimento científico genuíno e altamente confiávelpossa ser criado a partir da observação de um número finito de fatos, desprezando-se o papel que teorias tem na orientação e condução de experimentos ou proposiçãode observação de fatos. Para o indutivista, as teorias são, na verdade, o resultado doprocesso de fazer ciência e não tem outro papel a desempenhar. Embora tal posturajá tenha sido conclusivamente rejeitada, ela tem grande influência na maneira

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como o processo de se fazer ciência é defendido popularmente, embora sejaduvidoso que tenha qualquer influencia na maneira comoCiência de qualidade égerada.

Analisemos, por exemplo, a frase abaixo, traduzida de seu original em inglês. Essafrase foi tirada da 'rationalwiki' um site semelhante à enciclopédia wiki mas que seauto-entitula 'racional':

Em geral, fenômenos paranormais colocam-se fora do que serianormalmente esperado ocorrer no mundo real. Além disso, tais fenômenos nãopodem ser reproduzidos sob condições controladas e, portanto, não podem serinvestigados pelo método científico. Por essa razão, eles são classificados comopseudociência. (em http://rationalwiki.org/wiki/Paranormal)

Por que a ênfase na repetibilidade e controle? Porque o indutivista acredita que oprocesso de indução só funciona sob determinadas condições, a mais importantedelas é a necessidade de um grande número de observações.

Vejamos um exemplo:

Bares noturnos são lugares ideais para se comprovar a tese de que muitosbrasileiros são bêbados.

Suponhamos que alguém todas as sextas-feiras, em determinado horário à noitevisitasse grande quantidade de bares ou casas noturnas em uma grande metrópoleno Brasil e verificasse a presença de pessoas embriagadas. Ele então visitaria outrascapitais, sempre à noite, aos sábados e verificaria ainda mais pessoas embriagadas.De acordo com o processo indutivista de fazer ciência, seria autorizado a essepesquisador enunciar a lei:

"Os brasileiros são bêbados em geral".

Note que, para que a afirmação tenha valor, não é suficiente observar um grupopequeno de brasileiros se embriagando, mas muitos, talvez milhares, o que éfacilmente atingido ampliando a 'base de dados' ou pesquisa de campo.

Além disso, faz parte da crença indutivista pensar que os dados ou osfatos contem em si tudo o que é necessário para se chegar ao enunciado final outeoria. Assim, de acordo com tal princípio de 'objetivação dos fatos', o pesquisador

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não pode fazer qualquer consideração adicional (como, por exemplo, sobre asrazões para pessoas beberem em bares à noite) sob pena de ser acusado deparcialidade ou de ser 'tendencioso' em sua pesquisa.

Por que essas considerações são importantes? Porque na defesa de explicações paraa fenomenologia dos chamados 'eventos paranormais' (quer dizer, fenômenosespíritas), somos constantemente bombardeados com acusações pseudocéticas danecessidade de 'repetibilidade' de experimentos. Isso acontece justamente porinfluência da crença indutivista que, não tendo papel a desempenhar nodesenvolvimento da Ciência (como mostram estudos em História da Ciência) éinvocada para invalidar os fatos ou negar o status de ciência a qualquer teoria ouexplicação para esses fatos (que transcendam às explicações populares de embusteou fraude).

Os fenômenos espíritas (a maioria girando em torno das faculdades mediúnicas)são eventos que exigem condições especiais para ocorrência. Tais condiçõessingulares são apreendidas quando a teoria desses fenômenos é compreendida.Somente assim é possível 'desenhar' experimentos que possam ser repetidos até umcerto ponto. A confirmação de resultados no campo da pesquisa dos fenômenosespíritas é possível, sem a necessidade de um número arbitrário de repetições. Taisconfirmações foram feitas no passado e apontam para a excelência das explicaçõesque sustentam a continuidade da existência para além do corpo físico, e postulam aexistência de entidades não observáveis de forma muito mais direta que muitasteorias da física ou da biologia o fazem para determinados fenômenos.

Quanto mais próximos estivermos da verdade com relação as origens e causasdesses fenômenos, tanto mais aptos estaremos para reproduzí-los e aproveitá-los deforma coerente e responsável. Isso explica porque, em um ambiente onde prevaleçao ceticismo, a descrença e o deboche para com tais ocorrências, elas dificilmentepoderão ser observadas e, muito menos, explicadas.

Para saber mais:

Sobre o Positivismo Lógico: http://en.wikipedia.org/wiki/Logical_positivism http://sts.um.edu.my/E-Library/Lecture%20Notes/SFGS6111/LP1.pdfSobre o Indutivismo ingênuo:

http://www.phys.port.ac.uk/what/lecture2.htmReferências

Suppe, Frederick, The Positivist Model of Scientific Theories, in: Scientific Inquiry,Robert Klee editor, New York, USA: Oxford University Press, (1999), pp. 16-24.Chalmers, A. F. O que é Ciência, afinal? ed. Brasiliense, 1a edição (1983).Postado por Ademir Xavier às 16:25 1 comentários

Crenças Céticas IX - Como refutar qualquer coisa que você não goste.

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Uma das melhores lições que se pode ter da literatura cética é sobre como tratara evidência, fatos ou dados que estejam em conflito com suas próprias crenças,de forma tal que apenas tais crenças sejam consideradas válidas.

Uma estratégia comum de desmascaramento é apresentar conjecturas 'ad hoc'para descartar qualquer evidência de uma certa afirmação X. Essa estatégiafunciona como método retórico para se ganhar uma argumentação(especialmente se os leitores estiverem inclinados a pensar como você), masestá longe de ser um argumento científico, porque, em ciência, hipótesesalternativas devem ser testadas, não meramente assumidas como possíveis.

Por exemplo, se cientistas estiverem buscando a causa do mal de Parkinson e aevidência confirmar a hipótese de que níveis de dopamina tem um papelfundamental nessa causa, não cai bem para um 'cético da Dopamina' dizer"Bem, é possível que outras causas desconhecidas existam, você não podeconcluir que a dopamina seja importante, porque podem haver outrasexplicações. Você está apenas manipulando as estatísticas."

Com certeza outras explicações são possíveis, mas nosso cético aqui não podeesperar que cientistas levem a sério o que diz, a menos que ele forneçaevidências a favor de sua alternativa (antidopamina), isto é, a menos que eleforneça evidência de que 'outras explicações' podem dar conta da doença deParkinson e tornar a hipótese da dopamina desnecessária ou implausível.

Uma opinião gerada no conforto do sofá sobre cenários imaginários oupossibilidades 'ad hoc' não é nem hipótese científica nem mesmo umaalternativa. Somente se deve tomar tais alternativas seriamente se foremtestadas ou confirmadas, ou, ao menos, se existir evidências independentes quefaçam a hipótese alternativa algo plausível ou relevante para aquele casoespecífico.

Por exemplo, para confirmar a 'hipóstese psi' (sobre a existência de capacidadesparanormais), você não precisa excluir qualquer outra possibilidade lógica oucenário imaginário, porque possibilidades lógicas são, por definição, semprepossíveis e a imaginação é livre e ilimitada.

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Hipóteses são confirmadas por suas conseqüências e predições. Se a 'hipótesepsi' prediz, por exemplo, que certos cães irão manifestar determinadoscomportamentos (como no caso da pesquisa de R. Sheldrake), então a hipótesefica confirmada se tais cães manifestarem aquele comportamento por elaprevisto. (Confirmado não significa que seja verdade absoluta, massimplesmente que os dados empíricos a confirmam, pedem por mais pesquisa eque ela seja aceita de forma provisória).

Será que isso exclui outras alternativas ou possibilidades imaginárias? Não, maspossibilidades alternativas tem que ser confirmadas e testadas (ou mostradascomo sendo plausíveis naquele caso específico) para que sejam aceitas comoreais e pertinentes, não simplesmente assumidas com verdade porque umcrítico de sofá não quer aceitar - por quaisquer razões ideológicas - o que ahipótese diz.

Caso contrário, seria possível então rejeitar de forma arbitrária qualquerresultado empírico a favor de qualquer hipótese usando de trucagem retóricacom base em qualquer possibilidade ad hoc imaginável.

Para deixar esses pontos ainda mais claros, vamos supor que estamosexaminando a afirmação "Jader Sampaio é o autor do blogespiritismocomentado.blogspot.com"

Uma foto e evidências facilmente refutáveis: será mesmo que Jader Sampaio é oautor de espiritismocomentado ?

Mas suponha que, dado minha filosofia pessoal, ideologia ou visão domundo, eu queira desacreditar tal afirmação porque, para mim, ésimplesmente impossível(i. e., estou certo que Jader Sampaio não existe, ouporque eu acho que ele não sabe usar um PC e, portanto, jamais poderia ter umblog).

Evidências são fornecidas a favor da idéia de que Jader Sampaio é na verdade oautor de tal blog:

O blog tem uma foto dele e um logo que ele criou; Em uma determinada entrevista, um sujeito chamado 'Jader Sampaio'diz que aquele blog é dele mesmo; O endereço IP (e outras informações técnicas) mostram que o blogpertence a alguém chamado 'Jader Sampaio';

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Outros sites tem links para esse blog com a frase 'Blog de Jader Sampaio';

Se eu quiser refutar a tese de que espiritismocomentado é de JaderSampaio, posso usar o truque da 'possibilidade lógica/explicação adhoc/cenário imaginário de sofá' e descartar ou rejeitar as evidências acima:

Com relação ao nome e ao logo, posso dizer que isso nada prova porquequalquer pessoa pode fazer um blog e colocar como autor 'Jader Sampaio' eainda fazer um logo parecido; Com relação à entrevista, posso dizer que se trata de uma evidênciaanedótica e, portanto, inválida. Além disso, é possível que o sujeito em questãoesteja simplesmente mentindo que seu nome seja Jader Sampaio. E, ainda queeu aceite que seu nome seja este, isso nada prova que o blog é dele. De qualquerforma, é apenas 'um testemunho' e, portanto, sem muito valor do ponto de vistacientífico; Com relação ao endereço IP, posso afirmar que isso nada prova, porque éPOSSÍVEL FALSIFICAR um endereço IP ou qualquer outra informação técnicacomo aquelas relativas a PCs ou um servidor específico; Com relação aos links de outros sites para o tal blog e a referência comoum 'blog de Jader Sampaio', posso mais uma vez dizer que isso nada prova,porque isso pode ser forjado também. De qualquer forma, é uma evidênciaanedótica (para um cético empedernido e racional como eu, isso nunca provanada).Note que os argumentos acima são essencialmente motivados no DESEJO DESE DESACREDITAR (especialmente, se eu sou alguém que mantém umaideologia ou filosofia que pregue a inexistência de um tal Jader Sampaio).Mas, também, esses são argumentos baseados em especulações de sofá nãoprovadas relativas a outras 'possibilidades' ou cenáriosimaginários que eu uso para invalidar qualquer evidência ou fato que me éapresentado.

Note também que todas as possibilidades apresentada por mim sãoperfeitamente POSSÍVEIS. Mas isso não as faz verdadeiras em nenhum casoespecífico. Para saber se tais especulações são verdadeiras, evidências que assuportem devem ser apresentadas (por exemplo, que um hacker tenha forjadoum endereço IP em um servidor específico para falsificar também um nomecomo 'Jader Sampaio').

Se eu afirmar que um fator X causa um 'habilidade psi' em laboratório, entãoestou fazendo uma afirmação empírica positiva e, se eu sou um cientista,tenho que testar minha afirmação a respeito de um tal fator X para saber se issoé certo ou não (se não estiver correta, minha afirmação é cientificamenteinútil contra objeções válidas de cientistas que obtenham evidências positivaspara a hipótese psi); e não simplesmente assumir isso sem evidência empírica.Obviamente, SE EU QUISER DESACREDITAR psi, então estarei bastantemotivado a aceitar qualquer alternativa ad hoc, mesmo que ela não tenha sidotestada ou confirmada. Mas, nesse caso, não mais estou a fazer Ciência, estousimplesmente protegendo minhas crenças com especulações ad hoce post hoc. Basicamente, estou racionalizando minha fé contra a

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existência de uma determinada coisa que eu não goste. Isso é, emessência, wishful thinking disfarçado como retórica científica.

Finalmente, como um exercício intelectual, imagine que você não acredite emuma determinada afirmação (você é livre para escolher que afirmação será esta).Você descobrirá, então, se usar especulações ad hoc criativas, que vocêsempre será capaz de se livrar de evidências que sejam contrárias as suascrenças. Quanto mais inteligente e esperto você for, tanto mais criativas epersuasivas serão suas 'especulações ad hoc'. Mas isso não muda o fato de quevocê está se enganando a si mesmo com um método sofisticado deracionalização de dados, fatos e evidências que desafiem suas crenças.

Em outras palavras, você está usando sua própria inteligência e razão para seenganar. Ao invés de usar isso para encontrar a verdade, você está usandosua capacidade para racionalizar ou proteger suas tendências, preconceitos oupreferências pessoais contra qualquer possibilidade de refutação. É um processosofisticado de auto ilusão (que também impede que você perceba que esta seenganando).

Ninguém pode estar 100% livre de ser tendencioso ou de truques mentais paraevitar tal dissonância cognitiva. Mas, se você ama realmente a verdade, vocêcertamente fará um esforço para controlar sua mente e manter seuspreconceitos sob controle consciente. Você então aprenderá bastante sobre suaprópria mente, e também sobre a mente dos outros.

Este é um texto traduzido e adaptado do original 'How to debunk any claimthat you want to disbelieve', acessível em

Crenças Céticas VIII - Alfred Wegener e a fraude dos continentesflutuantes.

Alfred Wegener.

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O "impossível" é geralmente fixado por nossas teorias, não definido pelaNatureza. Teorias revolucionarias habitam no inexperado.

(...) À medida que a ortodoxia Darwinista varria a Europa, seu mais brilhanteoponente, o embriologista já velhinho Karl Ernst von Baer, disse com amargaironia que toda teoria triunfante passa por três estágios: primeiro ela édescartada como uma inverdade, então é rejeitada como contrária à Religião e,finalmente, é aceita como dogma e todos os cientistas dizem que sempre lheapreciaram a verdade. Stephen J. Gould ("Ever since Darwin", Penguin books,1991)

Continentes que flutuam como barcos no oceano? Então, o solo que pisamos não semostra firme, robusto, desde a criação da Terra? Talvez a imensa maioria daspessoas não saiba, mas o chão que nós pisamos todos os dias, dirigimos nossoscarros ou praticamos esportes está em movimento. Quando criança, divertia-me aoconstatar, olhando os mapas das aulas de geografia, que a costa oriental da Américado Sul encaixava-se, quase como se fosse um quebra-cabeça, com a costa ocidentalda África. Na minha falta de compreensão, achava que aquilo não seriacoincidência, mas ignorava totalmente como aquilo teria acontecido.

Essa observação infantil talvez não tenha passado em vão aos primeiros cartógrafosque, da mesma forma que eu, não conseguissem imaginar uma causa para essagrande semelhança.

De qualquer maneira, a idéia de que continentes flutuassem constituiu-se numaheresia científica ou, usando termo mais modernos ao sabor dos céticos, umapseudociência. Evidências alinhadas por seu grande proponente, Alfred Wegener(1880-1930), foram completamente desprezadas e ridicularizadas como erros,incongruências de alguém que, não sendo geólogo, jamais poderia se aventurar emtal campo. Avaliar e estudar a saga de Wegener na defesa da teoria dos continentesflutuantes oferece ao estudioso uma oportunidade para compreender a maneiracomo a Ciência é fabricada e as consequências do ceticismo no desenvolvimento dasciências.

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Diz-se que o ceticismo é importante nas ciências. Isso não ocorreu na história denosso herói: Alfred Wegener. Ninguém melhor que o paleontólogo e biólogoevolucionista S. J. Gould (1941-2002) para nos contar essa estória, que fala tanto dacerteza e processo de perquirição científicos. O texto abaixo (em azul) é umatradução nossa de trechos do Cap. 10, Continental Drift, de 'Even Since Darwin'(Penguin books, 1991):

Por que tal profunda mudança (no pensamento científico) teria ocorrido em tãocurto espaço de tempo como uma década? (Referindo-se à mudança no opinião doscientistas sobre a teoria de Wegener)

Muitos cientistas sustentam - ou ao menos argumentam opinião para o público -que sua profissão marcha para a verdade sob a orientação de uma procedimentoinfalível chamado 'método científico'. Se isso fosse verdade, minha questão teriafácil resposta. Os fatos, tais como se apresentavam 10 anos atrás, falavam contra odeslocamento dos continentes; desde então, aprendemos mais e revisamos nossaopinião de acordo com tal aprendizado. Argumentarei que tal cenário é não podeser aplicado de forma geral e é profundamente impreciso nesse caso.(...)Considero essa estória como típica do progresso científico. Novos fatos,colecionados de forma antiga sob a orientação de velhas teorias raramente resultamem qualquer revisão substancial do pensamento. Fatos "não falam por si mesmos";são interpretados à luz da teoria. O pensamento criativo, tanto nas ciências comonas artes, é o motor da mudança de opinião. A Ciência é uma atividadequintessencialmente humana, não é algo mecânico, uma acumulação robótica deinformação objetiva, guiada por leis de lógica para uma interpretação inescapável.

Duas são as fortes evidências à respeito da deriva dos continentes, que eram'varridas para baixo do tapete' quando a teoria de Wegener era herética:

1. A glaciação no Paleozóico tardio. Cerca de 240 milhões de anos atrás, geleirascobriam partes do que é agora a América do Sul, Antártida, Índia, África eAustrália. Se os continentes fossem fixos, tal ocorrência torna difícil explicar certosfatos. (...). Todas essas dificuldades evaporavam se os continentes austrais(incluindo a Índia) estivessem unidos durante o grande período de glaciação, elocalizados mais abaixo, cobrindo o pólo sul; as geleiras sul americanas moveram-se da África, não de um oceano aberto; a África 'tropical' e a Índia 'Semitropical'estavam próximas do pólo sul; o pólo Norte localizava-se no meio de um grandeoceano, de forma que geleiras não poderiam ter se produzido no polo norte;2. A distribuição de trilobitas cambrianos (artrópodes fósseis que viviam entre 500a 600 milhões de anos atrás). Os trilobitas cambrianos da Europa e da América doNorte dividiam-se em duas faunas diferentes com uma distribuição bem peculiarnos mapas modernos. Trilobitas da província 'Atlântica' viviam por toda a Europa eem algumas áreas da costa mais oriental da América do Norte - (oriental e nãoocidental). Newfoundland e e o sudoeste de Massachusetts, por exemplo. Trilobitasda província 'Pacífica' viviam por toda a América e em alguns locais da costaocidental da Europa - norte da Escócia e o noroeste da Noruega, por exemplo. Émuito difícil dar conta dessa distribuição se os dois continentes estivessemdistantes 3000 milhas um do outro.

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Mas a deriva dos continentes sugere uma estranha solução. Em épocas Cambrianas,a Europa e a América do Norte estavam separadas: trilobitas atlânticos viviam emáguas pela Europa; trilobitas pacíficos em águas na América. Os continentes (agoraincluindo sedimentos com trilobitas encrustados) moveram-se um na direção dooutro até se juntarem. Mais tarde, se separaram novamente, mas não exatamenteao longo da linha de onde haviam se juntado. Restos espalhados da Europa antiga,contendo trilobitas atlânticos permaneceram na parte mais oriental da América doNorte, enquanto que algumas restos da velha América do Norte ficaram grudadosna parte mais ocidental da Europa.

Em apenas alguns segundos, assista milhõesde anos de deslocamentos nunca antes imaginados pelas gerações anteriores.

Tais exemplos são citados como "provas" da deriva hoje, mas eram sumariamenterejeitados nos anos anteriores, não porque os dados fossem menos completos doque hoje, mas porque ninguém imaginava um mecanismo que fizesse mover oscontinentes.

(...) Na verdade, a superfície da Terra parece estar dividida em menos de umadezena de "placas" maiores, limitadas em ambos os lados por zonas de criação edestruição. Os continentes estão congelados entre tais placas movendo-se com elasà medida que o solo oceânico se afasta de zonas de criação. A deriva dos continentesnão é mais orgulhosa de si, ela se tornou conseqüência passiva de nossa novaortodoxia - a tectônica de placas.

Entretanto, até ganhar o status de ortodoxia, a teoria de Wegener sofreu o escárnioe a desconsideração. Ela hoje nos apresenta como um exemplo vivo que secontrapõe a qualquer tentativa de estabelecer métodos na pesquisa científica e de aNatureza não demonstra tão facilmente seus mais profundos segredos. Consideradocomo uma fraude, seu proponente não viu sua aceitação pela comunidadecientífica, mas morreu acreditando nela e que, em algum dia, eles haveriam deconsiderá-la seriamente.

Crenças Céticas VII - A vida além da vida e a necessidade de uma novaCiência.

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Vimos anteriormente que, para que haja Ciência, são necessários ao menos trêscoisas: um objeto de estudo, uma linguagem e um método. O pseudoceticismo, emgeral, invoca (chama) a autoridade da Ciência para si para desqualificardeterminadas afirmações sobre o mundo, justamente aquelas que não se alinhamcom as crenças pseudocéticas.

Vejamos uma afirmação clássica do pseudoceticismo:A Ciência não comprova a existência de vida depois da morte. A Ciência nãocomprova a existência de Espíritos.Qual o significado aqui da palavra 'Ciência'? Em quase todas as discussões quevemos sobre o assunto, parece que podemos interpretar 'Ciência' como o corpo depesquisadores, o conjunto de cientistas, a opinião de técnicos ou especialistas emassuntos científicos. Se este for o caso, já vimos anteriormente que a opinião doscientistas não pode ser tomada como autoridade, principalmente no que dizrespeito a assuntos que fogem a sua especialidade. Se isso não é o caso, vejamos:

Qual pode ser o 'objeto de estudo' dessa idéia de comunidade que desaprove a vidaalém da vida? Será que a Ciência contemporânea, entendida como opinião doscientistas, tem se debruçado sobre essa questão específica que é negada peloscéticos? A resposta é claramente um não, uma vez que essa comunidade tem coisasmuito bem definidas - os estudos de outros objetos - para tratar.

Mas poderíamos dizer que não é a comunidade de cientistas a interpretação maiscorreta para o termo 'Ciência' na afirmação em análise, mas sim interpretarmos'Ciência' como o corpo de conhecimento, sem apelo algum à autoridade doscientistas.

Nesse caso, somos obrigados a apontar o objeto de estudo, o método e a linguagemque seriam responsáveis por tal negação... Onde, na ciência contemporâneapoderemos encontrar isso? Que ramo da Física, Astronomia, Biologia, Químicapoderia ser invocado para afirmar que, de fato, inexiste vida após à morte?

Muitos céticos dizem que é isso que vemos ocorrer todos os dias quando animaissão mortos ou pessoas deixam a vida em hospitais. Não há evidências - repetem eles- diante de um corpo inanimado, que nunca mais demonstrará nenhum sinal devida após os momentos derradeiros, de qualquer coisa além. Fisiologistas ebioquímicos de renome poderiam ser invocados para descrever os processocelulares internos que ocorrem após a morte de tecidos biológicos,

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neurofisiologistas poderiam enfileirar imagens de tomografias mostrando o apagardas luzes na massa encefálica e chegaríamos a formar uma imagem completa damorte, no que diz respeito ao modo como ela se apresenta para nosso conhecimentoatual, mas sobre o quê?

Sobre as conseqüências dela para o corpo. Sim, o corpo, eis aqui o objeto de estudoque procurávamos. Aqui há Ciência positiva, há uma linguagem descritiva e há ummétodo de pesquisa muito bom. Mas será que isso nos autoriza a dar o passo quepermite negar a afirmação que aqui analisamos? Será que não estão fazendo como oCardeal Bellarmino - do caso Galileu - que afirmou não existir evidências diante deuma Terra que parecia bem fixa, imóvel, e do movimento do Sol, todos os dias a selevantar a leste e se por a oeste?

Ao se tentar ir além, afirmarão: isso é metafísica...Mesmo sem saber o significadodessa palavra, aprenderam sua conotação negativa. O problema aqui é simples:trata-se de uma deficiência na compreensão da existência de uma multiplicidade deobjetos de estudos no mundo em que vivemos. Se não se reconhece a existência deum determinado objeto de estudo, não pode haver Ciência. Mas o que faz com queconsiderem esse mais além como uma mera especulação metafísica? O fato de eles,os céticos (veja que não estou me referindo aos pseudocéticos, mas aos céticos bemintencionados), não se darem ao trabalho de buscar, pesquisar e procurar. Muitoscéticos não sabem que a Natureza oculta muito bem os seus segredos. Mas uma dascoisas que a nova visão do mundo revelada pela Ciência é que existem muitosobjetos de estudo e que a imensa maioria deles não sensibiliza nossos sentidos.

Tomemos o exemplo do vírus (figura abaixo) e façamos o exercício mental de noscolocar em uma época onde microscópios eletrônicos não estavam disponíveis.Hoje, é muito fácil para nós acreditarmos na existência desses seres. Eles foram'revelados' pela Ciência e são a causa de muitas patologias. Mas ao afirmarmos isso,estamos numa posição privilegiada. Há razões para acreditarmos que, no que dizrespeito à afirmações a respeito da continuidade da vida além da vida não estamoscom os mesmos privilégios.

Imagem do vírus da gripe espanhola. Se microscópios eletrônicos não estivessem disponíveis,como poderíamos ter 'evidências' sobre a existência desses seres microscópicos? Hoje, estamos

numa situação privilegiada em relação a isso (conhecimento científico), mas o mesmo não éverdade com muitas outras proposições a respeito do Universo.

Se não conseguem 'encontrar' o Espírito, sede da consciência, é porque deleformaram uma idéia errada. Usam uma concepção arcaica, antiga, de uma épocaquando nosso conhecimento do mundo era muito pequeno, tão pequeno que aindanos julgávamos no centro do Universo. Como se recusam a postular a existência de

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um novo objeto de estudo, não podem aceitar os fatos, não podem ir além.

Entretanto... ela se move! afirmaria Galileu. Precisamos de uma nova Ciência paranos revelar nosso futuro. Novos Galileus, novos Newtons e novos Laplaces irãosobre esse novo objeto se debruçar para descobrir suas leis, desenvolver uma novalinguagem e novos métodos. Essa é a próxima grande fase da Ciência no futuro.Postado por Ademir Xavier às 22:02 0 comentários

Crenças Céticas VI - Noções populares de Ciência

Uma coisa que aprendi em minha vida é que toda nossa Ciência, se comparada àrealidade, é primitiva e infantil. Mas, mesmo assim, é coisa mais preciosa quetemos. A. Einstein.

O público em geral tem várias opiniões formadas (ou melhor, supostas) sobre o queé Ciência. Isso é importante já que a Ciência substituiu a autoridade religiosa emnosso tempo. Nada há mais bem conceituado hoje em dia do que a autoridade daCiência.

Entretanto, como seria possível descrever corretamente o conhecimento científico?Será que a Ciência se limita apenas ao conhecimento que está disponível na formade livros científicos ou artigos?

Aqui descrevo o meu ponto de vista, sem entrar em detalhes complexos que o leitorpode encontrar ao buscar por suporte em algum livro de Epistemologia da Ciência.Essa área da Filosofia foi justamente criada para tratar desses problemas . No quesegue não exporei nada sobre as principais teorias do conhecimento, mas discuto oque aprendi na minha vivência como cientista.

Nosso objetivo aqui é discutir posteriormente essas idéias e as novas proposições depesquisa dos fenômenos psíquicos, bem como o caráter científico das teorias que seaventaram para os explicar.

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Elementos da Ciência

Para que haja Ciência (note que escrevo essa palavra com letra maiúscula) sãonecessários, ao meu ver, 3 ingredientes:

Objeto de estudo.: É o objeto, coisa fisíca ou não sobre a qual as teorias eexplicações científicas irão versar. Por exemplo, há uma ciência que estuda átomose suas relações ou interações, há outra que estuda os fenômenos climáticos etc. ACiência, para existir, tem que ter definido um objeto de estudo. A questão do objetode estudo é especialmente crítica, uma vez que, por não se reconhecer a existênciade outros objetos além dos que já são conhecidos em uma determinada época, éimpossível estabelecer a Ciência.

Linguagem: É a maneira como a Ciência fará suas proposições sobre o objeto deestudo. No caso feliz da Física (ou mesmo da Química), essa linguagem éessencialmente matemática, ou seja, utiliza abstrações lógicas, construçõesabstratas e teoremas envolvendo essas construções. Há muita gente que acha deforma incorreta que, se o conhecimento científico não puder ser colocado na formade proposições que se reduzem a números, não há Ciência. Isso é um erro grave, jáque as coisas são justamente assim na Física por uma peculiaridade do objeto deestudo. Com outros objetos (por exemplo, seres vivos), o conhecimento científico seestabelece sem recorrer a manipulações numéricas ou teoremas. Aqui é importanteentender que o objetivo da Ciência é gerar informação que seja útil para asociedade, sendo que a 'utilidade' dessa informação não pode ser julgada com baseem idéia preconcebidas como imaginar que o que é útil amanhã é o mesmo que éútil hoje. A pesquisa científica inovadora e sem limites deve ser fomentadajustamente porque é difícil prever as consequências do conhecimento científico.

Método: aqui nos deparamos com algo mais delicado, fonte de inúmeras confusões.O método (assim como a linguagem) não pode ser definido deforma independente do objeto de estudo e da linguagem. Há pessoas (inclusivevários acadêmicos) que acham ser possível estabelecer um método geral para fazerciência independente do objeto de estudo. Essa crença é resultande de uma visãoparcial e incorreta da maneira como a Ciência se operacionaliza ou se desenvolveuao longo da história. O método ou processo de se fazer Ciência é altamentedependente do objeto de estudo e da linguagem, ou seja, das teorias científicas quesão levantadas preliminarmente para se estudar o objeto de estudo. Ou seja,dependendo da explicação ou hipótese levantada para explicar a origem ou fonte deum determinado fenômeno, um método de investigação diferente deverá serimplementado.

Há muitas pessoas que acham que o método científico é a fonte do conhecimentogenuinamente científico - e, portanto, genuinamente verdadeiro. Acreditam que oconhecimento pode ser adquirido através de um conjunto de passos que se iniciacom uma evidência, se amontoam outros próximos e, de evidência em evidência, sechega à verdade. O ceticismo dogmático confere grande importância às evidênciasjustamente porque se apoia nessa noção muito popular de se fazer Ciência. Essaidéia é problemática porque, muitas vezes, considerações sobre os objetos de estudoe linguagem não são levados em consideração. Efeitos com origem emdeterminadas causas são confundidos com outros efeitos que tem naturezaconhecida. Acredita-se que um determinado fenômeno deve ser enquadrado dentroda perspectiva de outros conhecidos, com linguagem própria.

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Antigamente (antes do Sec. 20) a comunidade acadêmica achava que meteoritoseram pedras lançadas durante erupções de vulcões distantes.

Um exemplo típico dessa visão foi as primeiras considerações sobre quedas depedras (meteoritos) do céu. A comunidade científica até a época de Arago (1786-1853), não acreditava que pedras poderiam cair do céu. Portanto, as que eramobservadas caindo só poderiam provir de erupções vulcânicas distantes. Achava-seque vulcões tinham força suficiente para erger monolitos inteiros a centenas dequilômetros de distância. Nenhuma evidência nessa caso foi suficiente paraconvencer o contrário. Por que isso ocorreu? A explicação mais plausível -frequentemente chamada pelo ceticismo dogmático de 'navalha de Occam' - nãoexigia que pedras viessem de fora da Terra, mas era suficiente imaginar quevoariam com as explosões, pois muitas pedras foram observadas voando nasproximidades de vulcões em erupção.

Ou seja, existiam evidências fortes para a teoria considerada conhecimentocientífico na época. As evidências mudaram depois que se observou que a maiorparte das pedras que cairam tinham um composição característica, diferentedaquelas ligadas a erupções vulcânicas. Um estudo muito mais meticuloso foinecessário para comprovar a 'evidência extraordinária' para a queda de pedras docéu. Obviamente que a mera observação dessas ocorrências - testemunhadas porqualquer indivíduo desde o início da civilização - não era considerada evidênciaextraordinária.

Esse exemplo tirado da História mostra que Ciência não começa com acumulo deevidências e fatos, já que as evidências e os fatos devem ser interpretados paraserem aceitos. E a interpretação dos fatos não depende deles mesmos, mas do queestá dentro da cabeça das pessoas. Logo a Ciência é uma construção humana,cultural e não algo independente de considerações humanas.

A Ciência verdadeira ocorre quando há uma interação fértil entre as noções deobjeto de estudo, linguagem e método. Entretanto, só isso não é suficiente. Osresultados devem estar disponíveis publicamente. Como sempre ocorre, as vezes asconsequências (ou efeitos) são tomados pelas causas, a ponto de ser bastantecomum confurndir-se conhecimento científico com conhecimento acadêmico. Nãoé o conhecimento acadêmico aquele que está publicamente disponível e que foianalisado por um método próprio de análise por consultores independentes etc?

A nós aqui não interessa criar uma disputa sobre as vantagens e desvantagens dométodo de publicações ou 'análise por pares'. Nosso interesse é na idéia ou

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concepção de Ciência. Há verdadeira Ciência quando as causas fos fenômenosrecebem explicação satisfatória, esteja ela ou não publicamente disponível na formade publicações acadêmicas. Seja ela aceita ou não. No que segue iremos analisaresse ponto que gera outro tipo de confusão.

Crenças Céticas V - O caso Galileu e a fraude do movimento da Terra.Terceiro, digo que, se houvesse verdadeira demonstração de que o Solesteja no centro do mundo e a Terra no 3º céu, e de que o Sol não circundaa terra, mas a Terra circunda o Sol, então seria preciso proceder com muitaatenção na explicação das Escrituras que parecem contrárias a dizer, antes,que não as entendemos, do que dizer que é falso aquilo que sedemonstra. Mas não crerei que há tal demonstração até que me sejamostrada...

...Mas, no que se refere ao Sol e à Terra, não há nenhum perito na matériaque tenha necessidade de corrigir o erro porque experimenta claramenteque a Terra está parada e que o olho não se engana quando julga que o Solse move, como também não se engana quando julga que a Lua e as estrelasse movem. E baste isto por agora...

Cardeal Bellarmino (In: Galileu Galilei. Ciência e Fé. São Paulo: Nova Stella Editorial;Rio de Janeiro: MAST. , 1988)

Em algum lugar da Europa, antes do final do primeiro quartel do Século 17, umcético empedernido escreve uma carta a um amigo distante...

"Houvi dizer que em Roma, um certo professor de nome Galileu Galilei afronta averdade ao pretender mostrar que não é o Sol que gira em torno da Terra, mas ocontrário, defendendo a idéia de Copérnico, o idiota que quer reformar toda aastronomia (1).

Galileu Galilei utilizou um tubo 'mágico' (só Deus sabe por quais artimanhas do

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demônio...) feito por arte trazida de um certo holandês, que é capaz de amplificar,diz ele, imagens de marinheiros em mastros de navios distantes. Comenta-se queas imagens são por demais toscas para não criar a idéia de que o tal tubo introduzilusões aos órgãos da vista (2), ao ponto de não serem críveis as descrições queesse professor fez de suas observações do céu.

Além disso, é fato provado que Galileu fez pequena fortuna com taltubo (3)vendendo a vários mercadores venezianos e de outras regiões e, agoramesmo, pretende que o exército o compre para suas campanhas militares, umaprova de sua astúcia e falta de decoro.

Numa noite, resolveu apontar o tal tubo 'mágico' para a lua e descreve supostascrateras, como se a Lua não fosse uma esfera perfeita, mas quer convencer atodos que ela é como a Terra, cheia de planícies, mares e montanhas (4).

Ao apontar sua mágica para Júpiter, disse e quer que todos acreditem ter vistoesse planeta não como uma estrela andarilha, como toda Humanidade sempre oviu (5), mas como uma pequena esfera rodeada de pontos brilhantes que eleafirma tratarem-se de satélites. Esse professor chegou ao ponto de sugerir que otal astro é um mini sistema solar que tem Júpiter como o maior corpo e que,portanto, o Sol seria por comparação o centro de nosso Universo e não a Terra.Esse professor afirma que isso não prova ser o Sol o centro mas é uma forteevidência (6).

Pela feitiçaria de seu tubo mágico afirmou que Venus passa por fases e que seutamanho varia junto com essas fases, a ponto de acreditar ter provado que Venusgira em torno do Sol. Fez isso mesmo agora, quanto todos os astrônomos daeuropa (7) sabem que o sistema de Tycho Brahe resolve maravilhosamente oproblema, ao propor que os planetas internos - e externos - girem ao redor do Solque, por sua vez, gira em torno da Terra como todos sabemos ser fatocomprovado.

Ao observar Saturno, o planeta mais lento do céu, foi enganado por sua própriaartimanha, ao constatar que esse planeta tem orelhas, e quer que todosacreditemos nisso!(8)

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Para o bem de todos, Galileu já começou a ser punido por sua presunção posto queesse homem, já meio velho, está ficando cego depois de ter apontado seu tubo parao Sol. Mesmo diante da punição, descreve que a superfície do Sol é repleta demanchas escuras que se movem em sua superfície, outra farsa que ele inventoupara nos provocar (9).

Não existem evidências nem pelas santas escrituras (que lhe é totalmentecontrária), nem na comunidade dos sábios que a Terra gire em torno do Sol(10).Essa é questão já resolvida para todos, que diariamente vêem o Sol se levantar aLeste e se por a Oeste e que ficam a imaginar o que seria dos continentes e maresse a Terra (11), nem que fosse por alguns milésimos de palmo, se movesse - hajavista os acontecimentos recentes de Terremotos no oriente e no ocidente.

Sendo assim, Galileu Galilei trata-se da maior farsa já perpetrada entre acomunidade dos astrônomos (12) a suportar as idéias perigosas de Copérnico. Eleé uma fraude que merece encarceramento e processo inquisitorial, o qual otribunal eclesiástico já deu-se pressa em estabelecer."

Analisando com cuidado os documentos da época e colocando-se no papel daquelesque participaram da trama que levou ao julgamento de Galileo bem como suaabjuração daquilo que havia professado, vemos que se tratou de mais um caso ondeas 'evidências' ou fatos comprovados não foram aceitos, antes renegados econsiderados 'inconclusivos' ou 'insuficientes' para mover o dedo das opiniões afavor da mobilidade da Terra...

Na verdade, os críticos de Galileu na época estavam em uma posição muito maisconfortável do que os pseudocéticos das anomalias, que hoje se aquartelamexigindo evidências. Mas, mesmo assim, o que aconteceu? Eles estavam errados. Senão vejamos:

(1) Essa frase é atribuída a Martinho Lutero. O reformista alemão obviamente sabiaque a tese do movimento da Terra contrariava a Bíblia. Para o pensamentomedieval, tudo estava muito bem do jeito que estava: a Bíblia (Velho Testamento)concordava maravilhosamente bem com o pensamento cristão dominante dohomem no centro do Universo, feito 'a imagem e semelhança de Deus' e tendo o céucomo enfeite de suas noites. Vem Copérnico e diz o contrário. Então Copérnico sópoderia ser um idiota ou estar a serviço de Satanás;

(2) Aqui nosso crítico de Galileu tenta desqualificar a evidência. 'Não passa de umailusão dos sentidos'. Evidências extraordinárias sempre foram tomadas comoalucinações ou fraudes, quando não se ajustam ao pensamento pseudocético. Mastemos que salvar nosso crítico pseudocético aqui, já que, na época de Galileu, aóptica sequer conhecia as leis de refração da luz. Logo, não é tão sem fundamentoassim nos imaginarmos na posição do pseudocético de Galileu como acreditandoque o telescópio se tratava de um 'tubo mágico'.

(3) Aqui nosso personagem desvia o objetivo de sua crítica e sugere uma possívelrazão financeira por conta dos atos de Galileu. Isso é bastante comum no ceticismodogmático, encontrar evidências ilícitas subjacentes a determinados fenômenos ouatos de pessoas ligados aos fenômenos.

(4) Nosso crítico simplesmente não aceita a evidência do telescópio. A Lua para ele

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é uma esfera perfeita, tal como a vista nos apresenta. Dizer que ela tem crateras emontanhas - ou seja, sugerir que é um mundo como a Terra, é querer contrariar aBíblia também, afinal não foi a lua uma luminária colocada por Deus no céu paraenfeitar a noite dos homens ?

(5) Nosso crítico recorre aqui à evidência dos sentidos. Júpiter é uma estrela e nãoum planeta!

(6) O argumento de Galileu foi desqualificado totalmente por nosso crítico. De fato,que adianta querer dizer que Júpiter, sendo o astro maior no grupo formado por elee seus satélites, guarda a mesma posição do Sol em relação à Terra? Argumentomuito sofisticado para a mente do cético dogmático.

(7) O cético dogmático tenta aqui recorrer à autoridade da Ciência de sua época.Como vimos, a autoridade da Ciência está baseada em outros pressupostos e não oda autoridade. Mas, nessa época tanto quanto hoje, isso raramente écompreendido;

(8) O que Galileu viu apontando o telescópio para Saturno? Vejam o desenhoabaixo do próprio Galileu:

Um 'planeta com orelhas'...

Por causa da baixa resolução óptica de seu telescópio, Galileu não conseguiu divisaros anéis tão conhecidos desse planeta hoje em dia. Ao invés disso, essa 'evidênciaextraordinária' corrorborava que, o que Galileu reportava, não passava de produtode uma ilusão produzida por seu tubo mágico. As evidências eram assim altamentesuspeitas...

(9) Galileu desconhecia os danos à visão causado pela exposição da retina ao fulgorsolar amplificado por seu telescópio. Na cabeça do pseudocético isso é uma puniçãopor suas provocações.

(10) De novo, aqui recorrência à autoridade, tanto da Bíblia com da comunidadecientífica.

(11) Aqui temos o ponto mais difícil de Galileu e uma razão peremptória paraduvidarmos ainda mais do ceticismo dogmático! Por mais que se esforçe emfornecer evidências, nada pode remover os críticos de Galileu de que a Terra não semove, afinal é o que todos sentimos e vivemos em todos os dias de nossasvidas... Entretanto, ela se move!

(12) Por tudo isso foi condenado Galileu, por se tratar de uma farsa colocada no rio

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da História como fronteira entre o conhecimento da Verdade e o ceticismodogmático em nome da Religião e de Deus.

Também essa é a razão porque muitos consideram que a Igreja não errou noprocesso de Galileu. Ainda hoje podemos duvidar do movimento da Terra seadotarmos a mesma visão do cético dogmático. De fato, quais são as evidências deque a Terra se move? Não adianta dizer que 'a Ciência já aceita isso, ou já resolveuaquilo'. Há que se provar, com o mesmo tipo de exigência cética, a tese domovimento.

Tentem fazê-lo por si mesmo, assumindo a mesma força de dúvida e descrença dosmais combativos céticos dos fenômenos espíritas e verão que ainda restam dúvidasquanto ao movimento da Terra...

Crenças Céticas - IV Onde está fundamentada a autoridade da Ciência?Mas, estamos certos dos fatos observados? Homens de Ciência são muito rápidosem pontificar que devemos estar certos dos fatos antes de se embarcar em umateoria. Felizmente, os que dizem isso não o fazem na prática. Observação e teoriafuncionam de forma ótima quando são integradas, uma ajudando a outra nabusca da verdade. É uma boa recomendação não confiar demais em uma teoriaaté que tenha sido confirmada pela observação. Espero não chocar os físicosexperimentais ao dizer que também é uma boa regra não confiar demais nosresultados da experiência até que eles tenham sido confirmados pela teoria.

Sir Arthur Stanley Eddington (1882-1944) Astrônomo e físico inglês.

Embora seja possível ter uma postura dogmática sem apelar para a Ciência, issoraramente acontece na atualidade, visto que a ciência moderna, dado seu alto graude especialização e sucesso em desenvolvimentos tecnológicos e nas descobertas daNatureza, é invocada pelo pseudoceticismo para invalidar ou sustentar certasproposições a respeito do mundo.

A nós aqui não interessa um estudo profundo do que seja Ciência, o que é feito porum campo da filosofia conhecido como Epistemologia da Ciência. Importa muitomais saber sobre onde repousa a autoridade da ciência, visto que o que é invocadopelo pseudoceticismo é sua autoridade, muito mais do que seu conteúdo deconhecimento.

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Isso é importante, visto que o conhecimento pode ser fundamentado de diversasmaneiras, ou seja, podemos sustentar determinada posição a respeito do mundotanto usando um apelo à autoridade (como fizeram os cardeais da Igreja no caso deGalileu Galilei, ao invocarem as Escrituras Sagradas como invalidando a tese domovimento da Terra) ou fundamentar a autoridade no próprio conhecimento. Emsuma:

* CONHECIMENTO BASEADO EM AUTORIDADE: certas proposições sobre asocorrências do mundo são de uma determinada maneira porque alguém disse que éassim. Exemplos: recorrer à Bíblia para proibir certas práticas ou posturas, oudizer, de certa forma, que 'a Ciência não comprova isso ou aquilo' como querendoimplicar que 'os cientistas não acreditam nisso'. Nesse último caso, Ciência éconfundida com a 'opinião dos cientistas', que, tanto quanto diz a lógica não temautoridade fora do campo de estudo a que se dedicam;

* CONHECIMENTO BASEADO NO PRÓPRIO CONHECIMENTO: aqui afundamentação é algo mais sutil e pouco conhecida. A autoridade da ciência temcomo escopo os objetos de estudo de uma determinada ciência em particular.Dentro desse escopo (e isso é muito importante) a autoridade das doutrinascientíficas está baseada nas próprias teorias, ou seja, na capacidade demonstradadessas teorias em prever acontecimentos e explicar fatos. Exemplo: é certo que aTerra gira em torno do Sol em órbitas elípticas porque o movimento dos astros emseus mínimos detalhes, como vistos desde a Terra pode ser explicado de formaprecisa com essa hipótese. Ao se tentar explicar de outra maneira, as explicaçõesfalham em determinados aspectos (mas não em todos!). Por lógica, a explicaçãomais abrangente e capaz de prever ocorrências não observadas (predições da teoria)é a de maior autoridade.

Muita gente invoca a autoridade da ciência como que fundamentada na opinião doscientistas. Um exame detalhado de como a Ciência se estabeleceu ao longo de suahistória mostra que tal opinião é equivocada. Acreditamos na Ciência porque ela écapaz de nos trazer uma descrição satisfatória a respeito de certos fenômenos queestuda (e não, como pretendem alguns, 'uma visão do mundo').

Acreditar que a Ciência nos traz uma visão de mundo que se pode generalizar paratodos os aspectos, mesmo aqueles que ela não estuda e que, por extrapolação, sãoexplicados dentro de determinadas creças, é uma postura chamada 'cientificismo'.

Cientificistas acreditam não só que a Ciência é o caminho a ser usado para estudarqualquer coisa, mas que a Ciência atual já consegue explicar qualquer coisa (teoriade tudo). De fato, podemos dizer que é razoável esperar que a Ciência seja ocaminho a ser usado para se estudar os mais variados fenômenos (mesmo aquelesque não fazem parte do grupo de fenômenos estudados pela comunidade científicapresentemente, mas novos fenômenos em estudos de fronteira). Entretanto, seráque o conhecimento científico atual pode ser usado para explicar tudo?

É certo que os desenvolvimentos da Ciência revelaram aspectos da estrutura domundo que merecem a atenção de todos que pretendem estudar novos fenômenos,inclusive anomalias:

* Há uma lógica inerente nas leis da Natureza. O universo conhecido (ouseja, aquele que é objeto de estudo sistemático) pode ser descrito por meio de leis

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que determinam como os fenômenos ocorrem sob determinads condições oucontextos;

* Acaso e aleatoriedade desempenham um papel importante, emboraexistam questões profundas relacionados aos fundamentos do acaso - sobre se ele é'irredutível' ou não - ou seja, sobre se essa aleatoriedade não se deva antes aignorância de fatores e não a um caráter inerentemente estocástico das leis daNatureza;

* 'Não existem milagres'. Por definição, um milagre é uma derrogação das leisda Natureza. Como não podemos dizer que temos o conhecimento completo arespeito dessas leis, a idéia de se utilizar milagres para explicar certos fenômenosnão pode ser bem vista. O mais correto é assumir que não conhecemos tudo e umaocorrência 'milagrosa' é uma ocorrência natural de causa e condições de ocorrênciadesconhecidas;

* O Universo é muito grande. Tanto em termos de suas dimensões físicas etemporais (muito antigo e de futuro desconhecido), como também em suadistribuição hierárquica de dimensões. As variadas escalas de ocorrência dosfenômenos (desde o microcosmo quântico até a escala cosmológica) atestam umahierarquização extraordinária na maneira como as leis físicas operam. Também a'grandeza do Universo' implica em nossa incomensurável ignorância a respeito dofuncionamento mais íntimo de muitos eventos naturais. A postura correta para seconhecer a verdade é a de humildade diante dos fatos naturais e não de arrogância;

* A pesquisa científica é o veículo de busca do conhecimento a respeitodas coisas da Natureza. Entretanto, não existe um 'método' ou 'receita' para sefazer ciência. Cada fenômeno, assim como cada objeto de estudo tem seu própriométodo ou ferramenta de pesquisa. Querer forçar as coisas, utilizar certosprocedimentos e regras para estudar ocorrências desconhecidas é um erro. Maserro pior é tirar certas conclusões a respeito de certos fenômenos com base numaaplicação incorreta de um método. Por exemplo: certos eventos psíquicos nãopodem ser reproduzidos em laboratório. Isso é uma característica do fenômeno queexige condições especiais de ocorrência. Muitos céticos dogmáticos concluem pelainexistência dessas ocorrências psíquicas por causa de sua não replicabilidade. Afalta de conhecimento a respeito das condições é um entrave ao desenvolvimento daCiência, tanto no estudo de fenômenos muito conhecidos como com as ocorrênciasmais raras.

De todas essas considerações, a falha em compreender a última colocação acimatem sido um obstáculo ao desenvolvimento da ciência dos fatos espíritas. Grandeparte da retórica pseudocética gira em torno da reprodutibilidade dos fenômenosanômalos exigindo condições descabidas para sua ocorrência. Isso decorre de umapostura tendenciosa de se repelir sistematicamente fatos que não se enquadrem emuma visão preconcebida do mundo que os pseudocéticos dificilmente reconhecem.

Em resumo: a autoridade da ciência está fundamentada em sua própria capacidadede explicar os fenômenos que estuda e não na opinião dos cientistas. Não há comofundamentar a verdade em 'comitês' ou 'grupos de pesquisa', 'associações' ou'academias'. Para verificar isso é só observar que existem inúmeros exemplos naHistória das Ciências de como a opinião apressada ou sem reflexão de cientistasfamosos prejudicaram o desenvolvimento da Ciência.A Natureza guarda suas

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verdades que somente com muito trabalho, esforço, compreensão e proposiçãoaudaciosas de teorias pode ser revelada.

Crenças Céticas III - Ceticismo dogmático

"Até que um dia percebi que seu ceticismo não era uma postura de busca daverdade, mas uma filosofia que se usavam para manipular os dados conformesuas crenças. Essa filosofia era de natureza pseudo intelectual e costumavadesacreditar e invalidar quem quer que propusesse uma evidência. Infelizmenteesses céticos pensam que podem fazer uso da semântica e regras de sua filosofiapara apagar a evidência da realidade! Pensam que podem invalidar eventosobjetivos da vida real de natureza paranormal colocando rótulos sobre eles oucitando teoremas e axiomas do tipo 'evidências anedóticas não são válidas', 'apeloà autoridade', 'argumento da falácia ad populum' dentre outros. De fato, tentamusar a semântica para apagar a realidade objetiva. Infelizmente para eles, anatureza não funciona desse jeito." (WistonWu, www.australianparanormalsociety.com).

Como já são bem conhecidas as táticas que fundamentam o ceticismo dogmático,recomendamos a leitura do post 'Pseudo-skeptical arguments of the Paranormal'disponível em www.australianparanormalsociety.com. Abaixo fazemos umatradução adaptada para nossa discussão.

1) "Isso não pode ser, portanto, o fato não é verdade!" Ignorar fatos ouevidências que não se enquadram em suas crenças ou concepções pré-estabelecidasdo mundo. Isso é feito sem modificação ou atualização das crenças para que seconformem os fatos, o que é mais lógico. Esse processo é conhecido comoracionalização por dissonância cognitiva.

2) Tentar forçar falsas explicações para explicar um evento paranormal,independentemente de se encaixarem ou não aos fatos. Em essência, céticosdogmáticos preferem inventar falsas explicações ao invés de aceitar as que se lhesão apresentadas e que sugerem a transcendentalidade das causas associada aos

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fenômenos espíritas ou paranormais. Por exemplo, o uso sistemático da hipótese da"leitura fria" (cold reading) para explicar a precisão surpreendente da informaçãotrazida por médiuns quando se sabe que tal explicação não dá conta dos fatos ecircunstâncias em que os fenômenos ocorrem.

3) Mudança frequente nas regras que estabelecem os critérios de evidência que oceticismo dogmático deseja que seja cumprido. Exemplo: um cético dogmáticoexige experimentos controlados e não o que chamam de 'evidências anedóticas'(esse termo tem caráter claramente pejorativo). Quando isso é feito, ele mudanovamente as regras e exige que os experimentos sejam repetidos por outrospesquisadores. Quando isso é feito, o cético dogmático passa a atacar a integridadedos pesquisadores e o seu caráter, atacar os métodos ou exige relatórios dos maispormenorizados detalhes do experimento. Caso contrário, rapidamente passa aconsiderar uma evidência de falta de controle como resultando na 'explicação' parao fenômeno. Sempre achará uma desculpa que valida seu ponto de vistapreresolvido. Surgiu uma evidência extraordinária ? mude as regras das evidênciasque elas deixam de ser...

4) Usar 'dois pesos e uma medida' para considerar as evidências. Não aceitam o quechamam de 'evidência anedótica' para fenômenos psíquicos, pois as consideramnão confiáveis. Surpreendentemente, porém, aceitam de braços abertos quando taisevidências suportam seus pontos de vista. Também a aceitam se tais evidênciascircunstanciais depõem contra os fenômenos (um marca inquestionável de posturatendenciosa). Exemplo: 'ninguém nunca reportou nenhum fenômeno paranormalpor aqui', ou 'ele/ela disse outra coisa'. Quando um experimento feito emlaboratório mostra de forma clara a transcendentalidade da evidência eles não aaceitam. Mas se algum experimento mostra apenas uma probabilidade para essaexplicação, então eles tomam o experimento como como claramente contrário àevidência;

5) Atacando a personalidade das testemunhas ou a credibilidade das evidências porelas fornecidas quando não há como aceitar essas evidências. A tática se assemelhaa dos políticos que, ao perceberem que não poderão ganhar uma eleição, recorrem aafirmações descabidas contra o adversário. Quando uma evidência tem comoorigem uma testemunha chave que não podem ser desprezada ou refutada, oscéticos dogmáticos encontram uma maneira de desacreditar a mesma seja atravésda contra caracterização de suas personalidades, ou exagerando/distorçendoeventuais erros triviais que elas tenham cometido.

6) Desconsiderando todas as evidências para os eventos, seja considerando-osanedóticos (um termo claramente pejorativo), não testáveis, irreplicáveis ou semcontrole. Céticos que se fecham para qualquer evidência, mesmo depois deperguntarem por ela de forma irônica, tendem a agir desse modo, conforme asposturas descritas acima. Ainda que a evidência seja na forma de experimento bemfeito, eles a descartaram considerando irreplicável ou sem controle.

As características que definem o ceticismo dogmático ou pseudoceticismo revelamna verdade forças psicológicas que não são distintas do estado de fanatismo em quemuitos crentes convictos se apresentam. Por incrível que pareça, é como se asmesmas forças operassem tanto dentro do fanático como do pseudocético. Masentre o cético dogmático mais tenaz e a postura de prudência que nós devemos terao se deparar com anomalias relatadas em primeira mão, existe uma infinidade deestados.

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Certamente o ceticismo é necessário - não temos dúvida disso - para a vida diária.De certa forma, o ceticismo é como um remédio que deve ser ingerido na dosa certapois, se tomado em excesso gera intoxicação. Mas antes de analisar com maisdetalhe a questão do ceticismo e sua postura diante dos fatos espíritas, convémestudarmos também um pouco dos fundamentos da ciência, como ela opera e sobrequal autoridade repousam seus fundamentos.

Será que a autoridade da ciência repousa na autoridade dos cientistas? Será quecientistas, enquanto homens fora de sua área específica estão autorizados a emitirjulgamentos a respeito de fatos que não conhecem? O que diferencia em mais altograu a ciência da religião?

Tais são as questões a que nos dedicaremos na próxima postagem.

Crenças Céticas - II Fundamentos do Ceticismo.

"Existem duas maneiras de ser enganado: uma é acreditar no que não é verdade ea outra é recusar-se a acreditar naquilo é." Søren Kierkegaard

A. Xavier.

O que é ceticismo? Essa é a primeira pergunta a se fazer. Hoje, é comum encontrarargumentos céticos em grupos que discutem ou rebatem a possibilidade defenômenos anômalos (os eventos psíquicos são apenas um subconjunto desses queengloba também as ocorrências de objetos voadores não identificados ou,simplesmente, OVNIS). Segundo esse grupo de pessoas, a Ciência - entendida emuma concepção particular - não sustenta, aprova ou comprova a existência dessesfenômenos. Em outras palavras, os céticos das anomalias chamam para si aautoridade da ciência para fundamentar sua opinião.

Mas enquanto esse movimento cético possa parecer hoje em dia algo bem moderno,isso está longe de ser verdade. Desde quando houveram pessoas que acreditaramem alguma coisa (a imensa maioria), houveram ao seu lado os que sempreduvidaram. Como a dúvida é a ausência da crença, para se estabelecer comoverdade a respeito de um determinado fato (não importa qual seja ele), é precisofundamentar a dúvida em princípios e são tais esses princípios que pretendemosdicutir aqui.

Na filosofia estabelecida como disciplina de estudo, conta-se que Pirro de Elis (~300 a. C) pregava a postura da ataraxia (paz da mente) ou falta de preocupaçãocom relação ao conhecimento das coisas, pois ele duvidava que pudéssemos emrealidade conhecer qualquer coisa. Pirro pregava assim a acatalepsia ouimpossibilidade de qualquer conhecimento. O ceticismo filosófico origina-se assimda crença dos Skeptikoi ou escola de filósofos que não afirmavam absolutamentenada, mas apenas davam sua opinião. A atuação dos céticos foi importante para o

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desenvolvimento da filosofia. No hinduísmo, a escola Karvaka (por volta de 500 a.C) pregava a linha de pensamento materialista ou de oposição à qualquer tipo decrença. Vê-se assim que a argumentação cética que se contrapõe à crença dequalquer tipo ou à possibilidade de conhecimento não é coisa moderna.

Nas ciências - entendida como atividade dos cientistas tendo suas próprias regras eproposições de raciocínio - o cetismo é comumente acreditado como tendo umpapel importante. É comum - embora errado - dizer que os cientistas são céticos.A postura cética, dependendo do momento e da maneira como é feita, pode tantoajudar como prejudicar o desenvolvimento científico. Há vários exemplos naHistória da Ciência sobre isso.

Ao se estabelecerem como verdades provisórias, as teorias científicas precisamerger sistemas de proteção que impeçam a modificação não desejada dessesprincípios. Justamente por não ser necessário 'comprovar' sempre determinadasverdades é que se organizam as ciências na forma de um corpo de princípios ou'doutrina'. Essa doutrina científica - que é, em essência a teoria, não pode sermodificada ao longo do processo de investigação na medida em que mais fatos acorrorborarem. Existe assim uma orientação (ou heurística) que impede que asciências sejam modificadas. Muitas vezes, essa heurística orientadora de proteçãodos princípios de conhecimento é confundida com o ceticismo. Ela é, na verdade,uma postura de proteção, pois sua tarefa é proteger o conhecimento, sem fechá-lo anovas investigações.

Para que seja genuíno em sua aplicação, essa postura tem que se expressar naforma de uma linguagem ou teoria científica. Qualquer coisa fora disso pode serdenominado de ceticismo ordinário e não guarda qualquer relação com a Ciência.Assim, podemos definir o cético de forma geral (de acordo com o Webster's RevisedUnabridged Dictionary) como alguém que:"Não está decidido quanto ao que é verdadeiro, alguém que está buscando o que é averdade, um pesquisador de fatos e raciocínios."Aqui, no ceticismo ordinário, como postura de direito inalienável de cada um diantede fatos do mundo, existem uma infinidade de posicionamentos. Para cadaposicionamento, uma virtude ou defeito gerará esse ou aquela consequência para apessoa. Como o referêncial de verdade é, muitas vezes, a própria individualidade(embora muitos céticos digam que é a Ciência), há que se julgar a postura cética deacordo com as consequências que ela gera.

Na considerações sobre o ceticismo, é preciso antes discutir onde estão os alicercespara o estabelecimento de afirmações sobre o mundo. De forma muito simples, aolongo da história das ciências e da filosofia foi possível ver que muitas vezes osfundamentos para o conhecimento estão estabelecidos na autoridade - seja dedeterminados textos considerados sagrados ou na pessoa de cientistas derenome.Veremos com certo detalhe essa questão da autoridade mais para a frentequando estudarmos os verdadeiros alicerces que fundamentam o conhecimentocientífico genuíno.

Muitas vezes também o ceticismo tem como força motriz a própria individualidadeou personalidade do cético e ai aparecem considerações sobre psicologia, ondepaixões mais elementares tais como orgulho ou inveja entram em cena. Há pessoasque duvidam simplesmente pelo prazer de se duvidar, sendo que a busca pelaverdade quase que nenhum papel toma parte. Outras se admiram com a atençãodispensada pela maioria a determinadas pessoas envolvidas com fenômenos (como

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é o caso dos eventos psíquicos) e passam a atacar de forma sistemática apersonalidade do envolvido. Essa admiração gera a raiva que se prende à inveja oudesejo de atrair a mesma atenção para si. Veremos também alguns fundamentospsicológicos para as crenças céticas.

Pseudoceticismo

‘A Ciência ainda não comprovou que existe vida após a morte nem que existemEspíritos’.

No pseudoceticismo parte-se de premissas que invocam a autoridade da ciênciapara contradizer ou invalidar explicações para muitos eventos psíquicos (mas nãoadstritos apenas a esses) tais como: possibilidade da sobrevivência, comunicaçãocom inteligências incorpóreas, experiências ou vivências variadas anômalas comoas de quase-morte que afirmam a independência da consciência do funcionamentodo cérebro dentre outras.

Uma simples análise pelos campos bem definidos do conhecimento científico atualmostra que inexistem disciplinas associadas ou criadas para estudar os fenômenosanômalos. Ou seja, temos aqui o problema do objeto de estudo. Como podemcéticos dogmáticos invocar a autoridade da Ciência para invalidar explicações oumesmo negar certos fatos que essas Ciência não estuda? A única ciência que se podeinvocar nesses casos é a que eles criam segundo suas próprias crenças, as crençascéticas.

Com relaçao a anomalias, é importante dizer que existem dois tipos:

1. Anomalias que ocorrem dentro de um determinado paradigma científico ou teoria;2. Anomalias que não se relacionam a qualquer teoria científica, caracterizando

eventos de natureza diferente do escopo de aplicação das ciências ordinárias.

As anomalias do primeiro tipo são tratadas de forma específica dentro dodesenvolvimento de uma determinada ciência bem estabelecida. Isso porque sãodescritas em termos de uma linguagem específica, a linguagem da teoria. Elaslevam a uma situação de crise dentro do paradigma aceito que é resolvido pelaproposição audaciosa de novas explicações. Ao se incorporarem na forma de novosparadigmas, tornam-se fatos que suportam novas teorias.

As anomalias do segundo tipo, sendo órfas de uma disciplina científica específicasão território selvagem, ou seja, terras novas onde provavelmente objetos de estudopeculiares devem ser reconhecidos. Mas reconhecidos por quem? Pelos cientistasdas ciências que não estudam esses fenômenos? Então só podem ser validados eestudados por quem se disponha a aceitá-los primeiramente tais quais seapresentem.

Invocar a autoridade de Ciências que se estabeleceram para estudar assuntosespecíficos para invalidar ou contradizer fatos considerados anômalos ou quecontradigam à experiência ordinária é o mesmo que pretender usar um médicocomo revisor de um trabalho de física, ou um físico para aprovar certasconsiderações de um biólogo. Em tudo há a necessidade de se consultarespecialistas, mas, no caso dos fenômenos psíquicos e espíritas eles não podem serencontrados entre os especialistas das ciências ordinárias como querem muitos

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céticos dogmáticos. Isso é um absurdo lógico que passa despercebido em muitasdiscussões céticas.

Mas qual a causa disso? Uma análise simples revela que a causa é a necessidade detrazer para si uma autoridade, para que sua argumetação tenha valor. A Ciência –ou melhor sua autoridade – é invocada para validar as crenças céticas.

Crenças céticas I - Introdução

"Existem duas maneiras de ser enganado: uma é acreditar no que não é verdade ea outra é recusar-se a acreditar naquilo é." Søren Kierkegaard

Por A. Xavier

Introdução

A movimentação pública em torno de eventos psíquicos, revelações mediúnicas,proposições sobre vida após a morte e reencarnação com base em noticiário damídia, faz surgir contingente de céticos que se esforçam para tentar refutar (eminglês, 'to debunk') não só a explicação transcendente para essas ocorrências comoas próprias ocorrências.

A maioria dos blogs e sites sobre ceticismo, pretende cobrir a falsidade e expor oembuste, apresentando as mais variadas 'explicações' para os fenômenos as quaiseles denominam 'explicações naturalistas' ou 'explicações plausíveis' (lê-se,"aquelas em que nós acreditamos"). O nome 'naturalista' evoca um apelo à ciênciasnaturais, como se estas pudessem embasar a crítica à manifestações dos Espíritosou as inegáveis evidências de reencarnação, além de outros fenômenos insólitos.

Ao invés de discutir cada explicação e cada tentativa de refutação, é convenienteexpor argumentos verdadeiramente plausíveis que fundamentam a 'crença cética'.Iremos aqui, em uma sequencia de posts, estudar alguns fundamentos filosóficos doceticismo tanto para aquele que podemos considerar 'ceticismo genuíno' comooutro que poderíamos denominar, falso ceticismo ou 'pseudoceticismo'. A maiorparte das críticas que recaem sobre as ocorrências psíquicas tem como origem osegundo tipo de ceticismo que é, a bem da verdade, bastante dogmático em suamaneira de ver o mundo.

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Através dessa análise poderemos compreender os argumento verdadeiramentecéticos ou não e suas reais disposições e, com isso, economizar tempo. Em toda equalquer argumentação, subsistem fundamentos ou princípios de raciocínio queconstitutem um 'método' de apreensão da realidade externa e de análise dessarealidade, dentro dos paradigmas internos ou crenças de cada um.

O que é ceticismo? Será que a Ciência invalida os fenômenos psíquicos? Serámesmo que não existem provas para essas ocorrências? Sobre quais bases se podeseguramente estabelecer a verdade sobre muitos eventos considerados anômalos ecolocados em dúvida pelo pseudoceticismo? Essas são apenas algumas questõesque iremos analisar.

O objetivo destes posts é estudar o fenômeno do ceticismo e apresentarargumentos, além do simples 'não acredito' dos céticos dogmáticos, paracompreender que há mais coisas em comum entre os pseudocéticos e os crentesmais cegos, do que se pode imaginar...

O grande livro da Natureza

Por A. Xavier

O Universo não pode ser lido até que se aprenda a linguagem e se familiarize comos sinais nos quais ele é escrito. Ele é escrito em linguagem matemática e suasletras são triângulos, círculos e outras figuras geométricas sem as quais éhumanamente impossível entender uma única palavra. (Galileo Galilei, Opere IlSaggiatore p. 171.)

Assim em resumo podemos dizer:

O “Livro da Natureza” é o último grande livro que começamos a folhear. Foi escritodesde o início dos tempos por um autor único. Está escrito em linguagem própria,não inventada pelos homens e só admite uma única interpretação. É também umcódigo de leis que se aplica a todos os objetos do mundo, governandosoberanamente a relação entre causas e efeitos. Não pode ser copiado, emborapossa ser imitado e os homens muitas vezes se maravilham ao descobrir passagensocultas que manifestam uma estrutura admirável, uma regularidade encantadora senão ao mesmo tempo assustadora. O conteúdo desse livro é infinitamente mais

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vasto do que tudo aquilo que aprendemos a ler nele, assim como infinitamente maisamplo do que tudo que sabemos, indicando a existência certa de pormenores, leis everdades nunca dantes imaginados.

Se admitirmos que o mundo não é só constituído por elementos materiais mastambém por elementos espirituais, assim como existem leis nesse livro que seaplicam a estes primeiros elementos, devem existir também leis apropriadas a seaplicar aos últimos. Por isso é que dizemos que o conteúdo do livro da Natureza éignorado em sua grande parte. É importante não confundir as teorias científicascom o próprio conteúdo do livro da Natureza. As teorias científicas são esboçosescritos em linguagem humana (quer dizer, apropriada à compreensão pela mentehumana) sobre a estrutura desse livro, que tem existência independente. Diz-se,freqüentemente, que os cientistas revisam constantemente suas teorias. Não éporque a natureza tenha mudado mas porque o que se compreendeu a partir deuma primeira leitura de seu livro foi interpretada erroneamente. Mas certamente,nenhuma descrição ou previsão humana se sustenta se estiver em desacordo como grande livro da Natureza. Conflitos entre a ciência e a religião se originamprincipalmente pela deficiência que grupos religiosos tem em compreender aexistência desse livro. Essa deficiência é fruto da ignorância e ou da presunçãohumana em sustentar que Deus poderia ser parcial para com determinado grupo. Écerto que a comunidade científica reconhece o caráter mutável das teorias daciência, mas é altamente suspeito a posição de grupos religiosos que pretendem tera “verdade a todo custo” baseando-se na intepretação literal de textos e suageneralização a qualquer assunto. Assim como a humanidade tem passado por umlento processo de conhecimento científico, todo a cultura religiosa não fugirá de sercomparada a verdade contida no grande livro da Natureza.

Bem vindo à Era do EspíritoSejam todos bem vindos à 'Era do Espírito', weblog que pretende discutir aspectos etemas relacionados à espiritualidade, espiritismo, ceticismo, religião e ciência.Esperamos que este seja um espaço dedicado à discussões bem fundamentadas eprofundas sobre assuntos que irão inaugurar uma nova época na história dahumanidade.