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Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa So Paulo2005; 50(1):14-7

ARTIGO ORIGINAL

A avaliao neuropsicolgica no auxlio do diagnsticodiferencial entre transtornos clnicos e de personalidade na

clnica psiquitricaNeuropsychological assessment as complementar methodological diagnosis differential of

clinic psychiatric and personality disorder

Gislaine Gil1, Maringela Gentil Savia2

1Neuropsicloga do Setor de Psicologia do Centro de Ateno In-tegrada a Sade Mental da Irmandade da Santa Casa de Miseri-crdia de So Paulo, ps-graduada em Avaliao Psicolgica eNeuropsicolgica pelo IPq da Faculdade de Medicina da USP epesquisadora do PROTER do Instituto de Psiquiatria do HC daFaculdade de Medicina da USP.2Psicloga, coordenadora do Setor de Psicologia do Centro deAteno Integrada a Sade Mental da Irmandade da Santa Casade Misericrdia de So Paulo, doutora em Psicologia Clnica peloInstituto de Psicologia da USP e pesquisadora do Ambulatrio deAnsiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas daFaculdade de Medicina da USP.Ncleo de Neuropsicologia do Setor de Psicologia do Centro deAteno Integrada a Sade Mental da Irmandade da Santa Casade Misericrdia de So Paulo (CAISM-ISCMSP).Rua Major Maragliano, 241, Vila Mariana, So Paulo - SP, CEP:04017-030, TEL: 5087-7109. e-mail: cepesampsico@ig.com.br

Resumo

Introduo: No tratamento de pacientes psico-geritricos aspectos da personalidade demandam au-xlio de outras especialidades para o diagnstico dife-rencial para Transtorno de Personalidade (eixo II). ,nesta fase, que a avaliao neuropsicolgica (A.N) tor-na-se fundamental. O caso descrito, diagnosticado ini-cialmente como demncia frontal, ilustra a idia deque toda a A.N tem de se adaptar s particularidadesindividuais do examinado, s suas competncias e li-mitaes. Apresentao do caso: RSJ, 67anos, foi en-caminhado para investigar o funcionamento cognitivono auxlio do diagnstico de demncia frontal. Dis-cusso: Os resultados no demonstraram alteraescognitivas. Encontrou-se quociente intelectual na fai-xa de superdotado, acentuando que os recursoscognitivos no foram usados no mbito afetivo. Foidiagnosticado Transtorno Misto de Personalidade.Portanto, se as questes do encaminhamento envol-

vem menes as dificuldades cognitivas envolvidas emquadros de Transtornos Clnicos (eixo I) com aspectosmarcantes da personalidade, Transtorno da Persona-lidade (eixo II), procedente recorrer a mtodos com-plementares de investigao como a AN.

Descritores: Neuropsicologia, Cognio, Demncia,Transtornos da personalidade.

Abstract

Introduction: Certain aspects of the personalityprofile of psychogeriatric patients often demand aspecialised approach on the differential diagnosis ofpersonality disorders (Axis II). In the case, theneuropsychological assessment (NA) is a fundamentaltool. The patient hereby described, initially diagnosedas a case of frontal dementia, illustrates the notion thatevery NA must be adapted to the individualcharacteristics of the evaluated patient, as well as hislimitations and capabilities. Case presentation: RSJ, a67 years old, male patient was referred for assessmentof cognitive functioning skills to aid the diagnosis offrontal dementia. The results failed to demonstrate anycognitive impairment. On the contrary, the patientpresented with higher than average I.Q, highlightingthe fact that his cognitive abilities were not used inthe affective sphere. The resulting diagnosis was of anot otherwise specified Personality Disorder.Discussion: Therefore, the NA can present itself as acomplementary in the diagnostic tool whenever thereare issues that involve the cognitive impairmentsuggesting an clinics psychiatric disorder (Axis I), inassociation with specific personality traits that pointtoward an personality disorder (AXIS II).

Keywords: Neuropsychology, Cognition, Dementia,Personality disorders

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Gil G, Savia MG. A avaliao neuropsicolgica no auxlio do diagnstico diferencial entre transtornos clnicos e de personalidade na clnica psiquitrica.Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa So Paulo 2004; 50(1):14-7

Introduo

Pacientes buscam atendimento em ambulatriopsiquitrico com uma gama de sintoma que sugerecategorias diagnosticas de Transtornos Clnicos (eixoI). Mas, no decorrer do tratamento que aspectos dapersonalidade so evidenciados e demandam aux-lio diagnstico de outras especialidades para o diag-nstico diferencial de Transtorno de Personalidade(eixo II). A ateno, at ento dirigida principalmen-te para Transtornos Clnicos, eixo I, converte-se paraTranstorno de Personalidade, eixo II (1). A escassez deexplicaes tericas e eventualmente, as complexasconexes entre estas duas categorias nosolgicas po-dem ser os fatores que contribuem para a confuso(2).

na fase de diagnstico diferencial que a Avalia-o Neuropsicolgica torna-se de fundamental im-portncia. Segundo Lezak(3), um tipo bastante com-plexo de avaliao psicolgica, porque exige do pro-fissional no apenas uma slida fundamentao empsicologia clnica e familiaridade com a psicometria,mas tambm especializao e treinamento em con-texto em que seja fundamentais o conhecimento dosistema nervoso central e suas patologias. Tem comoobjetivo investigar as alteraes no funcionamentocognitivo e suas conseqncias comportamentais esociais, bem como investigar o funcionamento dapersonalidade.

Dentro dos limites deste artigo, vamos conside-rar um dos diagnsticos do Eixo I encontrado na nossaprtica clnica: a demncia frontal, doena dege-nerativa progressiva que acomete pessoas a partir dos50 anos. As principais sintomatologias que se apre-sentam so: alteraes do comportamento, tais comobizarrias, desinibio social, prejuzo no julgamentoe impulsividade, junto com apatia ou prejuzo na ca-pacidade para sustentar a motivao, rigidez afetivae afasia progressiva(4). Os sintomas psiquitricos,como depresso, tambm so identificados(5).

O caso descrito a seguir, diagnosticado inicialmen-te como demncia frontal, ilustra a idia bsica deque todo o exame, todas as estratgias usadas, as ta-refas propostas e toda a ateno, numa AvaliaoNeuropsicolgica, tm de se adaptar s particulari-dades individuais do examinado, s suas competn-cias e limitaes(3). Segundo Cunha(6), os pacientesdevem ser examinados sob todas as perspectivas ade-quadas e hipteses fundamentadas sem embasamentoem idias pr-concebidas. Portanto, a descriosintomatolgica do paciente foi avaliada juntamentecom a sua histria de vida, incluindo suas caracters-ticas de personalidade e relatos da dinmica familiare atravs da anlise dos testes cognitivos e da entre-vista estruturada de transtorno de personalidade parachegar a um diagnstico neuropsicolgico.

Apresentao do Caso

RSJ, 67anos, 2 grau completo, casado, sem filhos,religio luterana, foi encaminhado para a AvaliaoNeuropsicolgica pelo Setor de Psiquiatria do Cen-tro de Ateno Integrada Sade Mental para inves-tigar o funcionamento cognitivo no auxlio diagns-tico de demncia frontal. Natural e procedente de SoPaulo, o segundo de trs filhos, de uma famlia abas-tada, de descendncia hngara e alem. Os pais (fa-lecidos) sempre desmotivaram os filhos nos relacio-namentos interpessoais. Dos seus dois irmos, umsuicidou-se. Sempre foi uma pessoa irritvel e im-pulsiva. Casou-se aos 30 anos e foi residir ao lado doapartamento de sua me.

Formou-se no ensino mdio, sem reprovaes.Abandonou os estudos, pois achava que os profes-sores no eram muita coisa. Voltou aos estudos aos40 anos, cursando supletivo e recentemente ingres-sou na faculdade de Terceira Idade. Acreditava queestudando, a mente ficaria mais aberta. Aprendeuingls e estuda sozinho outras lnguas, dentre elas,alemo, francs e latim.

Exerceu a profisso de auxiliar de escritrio aos18 anos, atuando em outras funes como, encarre-gado de correspondncia. Nunca se relacionou bemcom seus superiores, achava que ningum presta-va. Aps dispensa aos 55 anos, iniciou trabalho au-tnomo como tradutor. Fortes cefalias levaramo arequisitar aposentadoria por invalidez. Recentemen-te trabalhou como free-lancer na rea de jornalismo.

Suas atividades favoritas atuais so: ir a peras,assistir filmes e ir a exposies de pocas. Tem poucosamigos e, em sua maioria, estes so amigos da esposa.

A histria psiquitrica foi descrita no pronturiomdico pelo surgimento de sintomas de agres-sividade, impulsividade dirigida esposa e recor-rncia de cefalias que se iniciaram aps o falecimen-to de sua me, o paciente tinha 46 anos. Aos 65 anosestes sintomas intensificaram-se, com acrscimo decolecionismo, como: recolher revistas deixadas pelosseus vizinhos na escada e guardar saquinhos de la-ranja. Apresentava comportamentos desadaptados,como deixar a casa desarrumada e no permitir quea esposa arrumasse, utilizar algodo nos ouvidos,devido ao barulho das buzinas e andar com sacolasde supermercado com contedos alimentares. Apre-sentavam medos como o de dirigir, de ter a doenade Alzheimer e de ter cncer de prstata. O sono eraagitado, sonhava com bandidos e sem querer agre-dia e mordia a esposa.

Foi medicado com Rivotril 2 mg e desde ento,aventando diagnostico de Demncia Frontal. Comrelao aos antecedentes mdicos apresentavahipotiroidismo subclnico.

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Gil G, Savia MG. A avaliao neuropsicolgica no auxlio do diagnstico diferencial entre transtornos clnicos e de personalidade na clnica psiquitrica.Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa So Paulo 2004; 50(1):14-7

Avaliao

Os instrumentos de avaliao foram: 1) anlisedo pronturio mdico, 2) entrevistas com o pacientee a acompanhante e 3) aplicao do protocolo de De-mncia elaborado pela Dra. Cndida Helena Pires deCamargo.

Verificou-se no pronturio os resultados do EEGque evidenciaram discreto alentecimento difuso e daTC de crnio sem anormalidades.

Os testes neuropsicolgicos, realizados em 5 ses-ses de 1 hora cada, avaliaram: ateno -Dgitos Di-reto e Inverso do Wechsler