A África e os africanos em Heart of Darkness

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404 A ÁFRICA E OS AFRICANOS EM HEART OF DARKNESS (CORAÇÃO DAS TREVAS) Roberto Carlos de ASSIS Célia Maria MAGALHÃES (UFMG) ABSTRACT: Heart of Darkness (1902), by Joseph Conrad, has been approached from diverse perspectives within literary studies, be them reader response, formalism or cultural studies approaches to mention but a few. In 1975, for example, Chinua Achebe argued that Joseph Conrad projected Africa as the other world, opposite to Europe, presenting Africa and the Africans just as an assembly of limbs. To add to the discussion, within the scope of CORDIALL – Corpus of Discourse for the Analysis of Language and Literature, in this paper, we investigate Conrad's text from a systemic functional linguistics perspective. Based on the transitivity system (HALLIDAY 1994) and the system network for the representation of social actors (van LEEUWEN, 1996,) we investigated Africa and Africans' representation in Conrad's novellete. Wordlist and Concordance lines of the WordSmith® software were used to handle the corpus. In addition to corroborating Achebe's argument, the analysis of transitivity revealed that Congolese people are represented as circumstances or as participants in processes that do not affect other participants. Moreover, the representation of social actors pointed to exclusion, backgrounding and fragmentation of African people as social actors in the development of the story. 1 - Introdução Este artigo apresenta uma das possibilidades de análise de padrões de regularidade que contribuem para criar significado, compor o estilo do texto e revelar discursos subjacentes. A análise fundamenta-se na Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday e ainda no inventário sócio semântico de van Leeuwen. Halliday (1976) afirma que uma das três metafunções da linguagem, aquela denominada ideacional, é a expressão de conteúdo que estrutura a experiência e determina a nossa forma de representação do mundo. O autor explica que essa é a propriedade da linguagem de permitir a seres humanos construírem imagens mentais da realidade, representando suas experiências bem como os acontecimentos (goings-on) ao seu redor e em seu interior, assim construindo e modelando a nossa visão de mundo. Van Leeuwen (1996), baseando-se em Halliday, apresenta categorias sócio-semânticas de representação de Proceedings 33rd International Systemic Functional Congress 2006

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A ÁFRICA E OS AFRICANOS EM HEART OF DARKNESS (CORAÇÃO DAS TREVAS)

Roberto Carlos de ASSIS

Célia Maria MAGALHÃES (UFMG)

ABSTRACT: Heart of Darkness (1902), by Joseph Conrad, has been approached from diverse perspectives within literary studies, be them reader response, formalism or cultural studies approaches to mention but a few. In 1975, for example, Chinua Achebe argued that Joseph Conrad projected Africa as the other world, opposite to Europe, presenting Africa and the Africans just as an assembly of limbs. To add to the discussion, within the scope of CORDIALL – Corpus of Discourse for the Analysis of Language and Literature, in this paper, we investigate Conrad's text from a systemic functional linguistics perspective. Based on the transitivity system (HALLIDAY 1994) and the system network for the representation of social actors (van LEEUWEN, 1996,) we investigated Africa and Africans' representation in Conrad's novellete. Wordlist and Concordance lines of the WordSmith® software were used to handle the corpus. In addition to corroborating Achebe's argument, the analysis of transitivity revealed that Congolese people are represented as circumstances or as participants in processes that do not affect other participants. Moreover, the representation of social actors pointed to exclusion, backgrounding and fragmentation of African people as social actors in the development of the story. 1 - Introdução Este artigo apresenta uma das possibilidades de análise de padrões de regularidade que contribuem para criar significado, compor o estilo do texto e revelar discursos subjacentes. A análise fundamenta-se na Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday e ainda no inventário sócio semântico de van Leeuwen. Halliday (1976) afirma que uma das três metafunções da linguagem, aquela denominada ideacional, é a expressão de conteúdo que estrutura a experiência e determina a nossa forma de representação do mundo. O autor explica que essa é a propriedade da linguagem de permitir a seres humanos construírem imagens mentais da realidade, representando suas experiências bem como os acontecimentos (goings-on) ao seu redor e em seu interior, assim construindo e modelando a nossa visão de mundo. Van Leeuwen (1996), baseando-se em Halliday, apresenta categorias sócio-semânticas de representação de

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atores sociais. Esse autor faz um inventário dos modos pelos quais os atores sociais podem ser representados na língua inglesa. O corpus de análise é a novela Heart of Darkness (1902), escrito por Joseph Conrad e uma de suas traduções para o português brasileiro Coração das Trevas por Albino Poli Jr.. Esse romance tem recebido várias críticas por representar a África e os africanos de forma negativa, entre elas Achebe (1975) que afirma que Heart of Darkness projeta a imagem da África como o outro mundo, antítese da Europa. Tendo em mente as acusações de racismo feitas por Achebe (1975), procuramos investigar como os africanos, são representados no romance. Várias diferenças na forma de representação dos atores sociais foram notadas, especialmente ao tomarmos dois grupos para comparação e contraste. Ao colocarmos de um lado os europeus e de outro os africanos, percebemos que os primeiros são referidos, a maioria das vezes, pelos próprios nomes ou por suas profissões enquanto os segundos são fragmentados, tomados por partes do corpo ou são referidos através de características físicas ou termos que os qualificam negativamente. Transitividade e Representação de Atores Sociais A linguagem como forma de representação é discutida em Halliday (1994). De acordo com o autor, ela é realizada pelo sistema de transitividade e se insere no modo experiencial da função ideacional. Essa representação, realizada por acontecimentos (goings on) de fazer, acontecer, sentir e ser, é construída, dentre outros recursos, pela configuração de processos, participantes e circunstâncias. Eggins (1994) esclarece que ativamente escolhemos representar a nossa experiência de uma determinada forma ao selecionarmos o tipo de processo e a configuração de participantes que iremos usar. Assim, ao analisarmos a gramática da oração, focalizando sua transitividade, podemos perceber como essa experiência está sendo organizada. Segundo Halliday (1994), a transitividade especifica os diferentes tipos de processos que são reconhecidos na língua bem como as estruturas pelas quais eles são expressos, consistindo de três componentes de categorias semânticas: a) o processo em si; b) os participantes no processo;

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c) as circunstâncias associadas ao processo. Os processos são classificados em seis tipos: material, mental, relacional, comportamental, verbal e existencial. Os três primeiros são os principais e os três últimos se situam entre estes, como subcategorias, não claramente distinguidos, mas que constituem sua própria gramática. Halliday, explicando porque os três primeiros são tidos como principais, esclarece que desde o início da infância – três a quatro meses de idade – aprendemos a distinguir a experiência exterior a nós da experiência interior, ou seja, o que acontece "lá fora" do que acontece dentro de nós, no mundo da consciência e da imaginação. Esta experiência está relacionada com os processos materiais e mentais, respectivamente. Os processos relacionais estão relacionados com nossa habilidade de generalizar, classificar e identificar e são expressos com frases como: "Isto é o mesmo que aquilo", "Isto é um tipo daquilo" (HALLIDAY, 1994, p.106-107). Esses três tipos de processos, segundo Halliday, são a base da gramática como teoria da experiência e apresentam três tipos distintos de configuração estrutural. Já os três últimos compartilham características dos três primeiros: nos limites entre os processos materiais e mentais estão os comportamentais; entre os processos mentais e relacionais estão os verbais e entre os processos relacionais e materiais estão os existenciais. Os participantes em cada tipo de processo são apresentados sucintamente no QUADRO 1 abaixo. Para uma compreensão detalhada ver Halliday (1994).

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QUADRO 1: Tipos de processos e principais participantes

Processo Definição Participantes principais Comportamental Processos comportamentais constróem o

comportamento fisiológico e psicológico (tipicamente) humano.

Comportante

Existencial

Processos existenciais constróem um participante envolvido em um processo de "ser" no sentido de existir. Geralmente, as orações existenciais são expressas pelo verbo there to be em inglês e "existir / ter" em português.

Existente

Material

Processos materiais constróem feitos e acontecimentos tipicamente concretos. Alguma entidade faz alguma coisa ou realiza alguma ação provocando mudanças no mundo material, tais como uma criação, um movimento no espaço ou mudanças na constituição física.

Ator Meta

Mental

Processos mentais representam o mundo interno, o que acontece na mente de um participante humano que sente um fenômeno.

Experienciador Fenômeno

Relacional Processos relacionais são aqueles relacionados ao "ser", não no sentido de "existir", mas, como aludido pelo próprio nome, eles estabelecem relações entre duas entidades separadas.

Atributivo: Portador Atributo Identificativo: Característica Valor

Verbal Processos verbais representam o "dizer", incluindo não só os diferentes modos de dizer (pedir, oferecer, declarar), mas também processos semióticos não necessariamente verbais como "mostrar" e "indicar".

Dizente Verbiagem Receptor

As circunstâncias associadas ao processo são realizadas por grupos adverbiais ou por sintagmas preposicionados e podem ocorrer com todos os tipos de processos. Elas podem ser de tempo, causa, lugar, modo, dentre outras. Van Leeuwen (1996), também se apoiando na Gramática Sistêmico Funcional de Halliday faz um inventário sócio-semântico dos modos como os atores sociais podem ser representados no discurso em inglês e de como elas se realizam lingüísticamente, ou seja, o autor elenca as escolhas que a língua inglesa nos dá para nos referirmos às pessoas. Entre elas estão a exclusão, distribuição de papéis, genericização e especificação, assimilação e individualização, associação e dissociação, indeterminação e diferenciação, nomeação e categorização, funcionalização e identificação, personalização, impersonalização, e, finalmente, sobredeterminação, resumidas brevemente no QUADRO 2. Quadro 2: Resumo das categorias de representação propostas por van Leeuwen (1996)

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Categoria definição Subcategoria Definição Realização lingüística

As representações incluem ou excluem os atores sociais de acordo com seus interesses e propósitos em relação os leitores a quem se dirigem

Supressão Não há qualquer referência aos atores sociais em qualquer parte do texto;

· Apagamento da passiva; · Orações infinitivas funcionando como Participante gramatical; · Apagamento de Beneficiários; · Nominalizações; · Processos realizados através de adjetivos; · Codificação na voz média (intransitividade).

Exclusão

Encobrimento (Segundo plano)

Os atores sociais excluídos podem não ser mencionados em relação a uma dada atividade, mas são mencionados em outro lugar no texto recuperáveis através de inferência.

· Elipses em orações infinitivas formadas com gerúndio ou particípio; · Orações infinitivas com "to" e em orações paratáticas; · Da mesma forma que a supressão, mas em relação a atores sociais que são incluídos em outro lugar no texto.

Distribuição de papéis:

"Quem faz o que a quem?" Quem é representado como Agente (Ator), quem é representado como Paciente (Meta) em relação à determinada ação? As representações podem redistribuir papéis e reorganizar as relações sociais entre os participantes. Elas podem dotar os atores sociais como ativos e passivos.

Ativação Os atores sociais são representados como forças ativas e dinâmicas em uma atividade.

· Estruturas de transitividade nas quais os atores sociais ativados são codificados como Ator, Comportante, Experienciador, Dizente ou Portador; · Circunstancialização, ou seja, por meio de circunstâncias preposicionais (no inglês introduzidas por "by" ou "from"); · Pré-modificação e pós-modificação; · Nominalizações; · Substantivos processuais; · Possessivação

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Passivação Os atores sociais são representados como receptores finais da atividade. Eles podem ser sujeitos ou beneficiados.

· Sujeição: Meta, ou beneficiários tornam-se sujeito em orações passivas; Participação como Meta, Fenômeno ou Portador; circunstancialização através de um sintagma preposicional; entre outros. · Beneficialização: Participação como Receptor, Cliente ou Destinatário.

Genericização e especificação

Os atores sociais podem ser representados como classes ou como indivíduos específicos e identificáveis.

· Plural sem artigo; · Singular com artigo definido ou indefinido.

Assimilação e individualização:

É possível referir-se aos atores sociais como indivíduos (individualização) ou como grupos (assimilação).

Agregação Quantifica grupos de participantes, tratando-os como dados estatísticos.

· A individualização realiza-se pela singularidade e a assimilação pela pluralidade ou por meio de um substantivo contável ou de um substantivo que denote grupo de pessoas. · A agregação realiza-se através da presença de um quantificador definido ou indefinido que funciona como núcleo do grupo nominal.

Associação e dissociação

Outra forma de representar os atores sociais como grupos.

· Parataxe; · Circunstâncias de acompanhamento; · Pronomes possessivos; · Orações atributivas possessivas com verbos como "ter" ou "pertencer"

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Indeterminação e diferenciação

A primeira representa os atores como não-específicos, grupos ou indivíduos anônimos A Segunda diferencia um ator social individual ou um grupo de atores de um ator ou grupo similar criando a diferença entre o "mesmo" e o "outro".

· Indeterminação: pronomes indefinidos usados com função substantiva (Alguém, alguns, algumas pessoas) ou por referência exofórica generalizada (Não te deixarão ir...).

Nomeação e categorização:

Os atores sociais podem ser representados em termos de sua identidade única (nomeação) ou em termos de identidades e funções compartilhadas (categorização).

· Nomeação realiza-se por meio de nomes próprios (sobrenome, nome, ambos, letras ou nomes que os substituam). Pode ser acompanhada por titulações, afiliações ou pseudotítulos. Outros elementos além dos nomes próprios podem ser usados para nomear, especialmente quando, em um dado contexto, apenas um ator social ocupa uma posição ou função. Nesse caso, estaríamos no limite entre a nomeação e categorização.

Funcionalização Os atores sociais são referidos em termos de uma atividade, de alguma coisa que fazem, por exemplo,uma ocupação ou função.

· Realiza-se, entre outras formas, por meio de substantivos derivados de um verbo (entrevistador).

Identificação Os atores sociais são definidos em termos daquilo que são.

Classificação Os atores sociais são referidos em termos das principais categorias através das quais uma dada sociedade ou

· Grupos nominais

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instituição diferencia classe de pessoas (idade, sexo, origem, classe social, riqueza, raça, etnicidade, religião, orientação sexual, entre outras).

Identificação relacional

Representa os atores sociais em termos da relação pessoal, de parentesco ou de trabalho que têm entre si.

· Um conjunto fechado de substantivos denotando tais relações: (amigo, tia, colega, etc.) Normalmente são possessivados.

Identificação física

Representa os atores sociais em termos de características físicas que os identificam singularmente num dado contexto.

· Substantivos que denotem características físicas (louro, coxo, etc.) ou através de adjetivos (alto, baixo, gordo).

Diferentes das demais categorias até então mencionadas, que representam os atores sociais como seres humanos a impersonalização representa os atores sociais por meio de substantivos abstratos ou concretos cujo significado não inclui q característica semântica "humano".

Abstração Quando os atores são representados por meio de uma qualidade que lhes é atribuída pela representação ("imigrantes" referidos como "problemas", por exemplo).

· Substantivos abstratos ou concretos cujos significados não incluem a característica semântica humana.

Impersonalização:

objetivação Quando os atores são representados por meio de referência a um local ou coisa diretamente associada a sua pessoa ou à atividade a que se ligam (referência metonímica).

· Referência metonímica

Sobredeterminação: Os atores sociais são representados como participantes de mais de uma

Inversão Os atores sociais estão ligados a duas práticas que, num certo sentido, se opõem uma à outra.

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prática social simultaneamente.

Por exemplo, os Flintstones que se apresentam fisicamente como da Idade da Pedra, mas que desempenham atividades do século XX.

Simbolização Ocorre quando um ator social ou grupo de atores sociais ficcionais representam atores ou grupos em práticas não ficcionais

Conotação Ocorre quando uma única determinação (uma nomeação ou identificação física) corresponde a uma classificação ou funcionalização

Destilação Realiza a sobredeterminação através de uma combinação da generalização com a abstração.

A escolha da gramática sistêmico funcional como suporte para esta pesquisa deve-se, entre outros fatores, a sua ampla utilização em análises textuais (ver Halliday (1973); Montgomery (1993); Vasconcellos (1998); Magalhães (2005), entre outros) e ao fato de vir sendo amplamente usada pelos pesquisadores do CORDIALL – Corpus Discursivo para Análises Lingüísticas e Literárias, onde este trabalho se insere. Já a escolha de van-Leeuwen (1996) é mais específica e deve-se ao fato de os Africanos não serem nomeados na novela de Conrad, sendo, portanto, necessário um aporte teórico para levantamento de como esses atores são representados. Vale lembrar que entre suporte teórico e metodológico, este trabalha conta com o aporte da Lingüística de Corpus, mais especificamente o uso de ferramentas computacionais para o auxílio de localização de padrões textuais. Berber-Sardinha (2000) diz que a Lingüística de Corpus tem como objeto a coleta criteriosa de textos, compondo os denominados corpora eletrônicos, com o propósito de servirem como banco de dados e evidências empíricas para diversos tipos de pesquisas lingüísticas.

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2. Metodologia Abaixo são listados os passos metodológicos a – Composição do corpus: Para que o corpus possa ser manipulado por um programa de computador, neste caso o WordSmith Tools, ele deve estar em formato eletrônico. Heart of Darkness já é de domínio público e está disponível em diversas bibliotecas digitais que permitem downloads para leitura na tela do computador. Assim, ele foi copiado e transformado em formato .txt, padrão necessário para leitura no programa de análise. b – O WordSmith Tools e as ferramentas utilizadas: Esse programa de computador desenvolvido por Michael Scott e lançado pela Oxford University Press permite observar como as palavras se comportam em um texto. Oferece várias ferramentas que apresentam, entre outras possibilidades, levantar dados estatísticos do texto, alinhar um texto traduzido com seu original, observar uma palavra seguida de um co-texto em todas as suas ocorrências. Nesta pesquisa foram utilizadas as ferramentas Wordlist e Concord. A primeira lista as ocorrências de todas as palavras em um texto, seguidas de dados estatísticos e a segunda nos permite observar linhas de concordância ordenadas de várias formas, i.e., de acordo com a primeira palavra à esquerda ou à direita listadas em ordem alfabética ou pela ordem de ocorrência no texto, entre outras possibilidades. c- Levantamento dos dados: Através da leitura da novela e confirmado com os dados gerados pela Wordlist foi percebido uma grande utilização de partes do corpo humano para referir-se aos africanos. A figura 1, abaixo é um exemplo de como os dados dessa ferramenta podem ser apresentados. Com base nesses dados, foram geradas linhas de concordância com nódulos como head, eyes, hands entre outras para observação do co-texto como nos exemplos abaixo;

Exemplo de linha de concordância com o nódulo Head (cabeça): ving, the eyes of that apparition shining darkly far in its bony head that nodded with grotesque jerks Exemplo de linha de concordância com o nódulo Eyes (olhos): stures, not one of which was lost to the sixty pairs of eyes before me, and the next morning I started the h Exemplo de linha de concordância com o nódulo Hands (mãos):

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ked grass-roofs, a burst of yells, a whirl of black limbs, a mass of hands clapping, of feet stamping, of bodies swaying, of eyes rolli

Figura 1: Visualização da tela com dados gerados pela ferramenta Wordlist d- Análise e apresentação dos dados: As linhas de concordância foram analisadas e classificadas de acordo com o sistema de transitividade e de representação de atores sociais. Os resultados são apresentados através de gráficos, seguidos de análises quantitativas e qualitativas. 3. Heart of darkness (Coração das trevas) e a representação dos africanos Tido como uma crítica ao imperialismo por alguns ou como uma representação racista por outros, a maior parte da história em Heart of Darkness (Coração das Trevas) se passa em território do antigo Congo, hoje Zaire, e acontece no período da colonização belga revelando os primeiros contatos do homem europeu com o continente e povo Africano. Cabe ressaltar que em parte alguma do romance é mencionada que a aventura da personagem Marlow tenha ocorrido em território do Estado Independente do Congo, pesquisas de cunho histórico (MURFIN,

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1996, por exemplo), no entanto, identificam semelhanças entre a história narrada e os relatos da viagem que Conrad fez a então Colônia Belga anos antes de escrever o romance. Talvez por essa não localização, sempre que se fala na novela de Conrad, é a imagem do Continente Africano que entra em questão, como sugere o debatido artigo de Chinua Achebe “An Image of Africa: Racism in Conrad's Heart of Darkness”. Uma análise lingüística do romance revela a exclusão do povo local, representado sem individualidade, que, como um amontoado de seres, são colocados em segundo plano, passando a fazer parte do cenário para o desenrolar da história contada em primeira pessoa por Marlow, um marinheiro que esteve no Congo em busca do desconhecido. Na análise inicial constatou-se que apenas os europeus foram nomeados - Kurtz, Marlow, Fresleven, entre outros - ou funcionalizados através de cargos/ profissões que exercem, como o médico, o fabricante de tijolos, o gerente, o agente, entre outros. Tal identificação faz com que percebamos os europeus como indivíduos, cada um com vida própria, trazendo-os para primeiro plano. Por outro lado, os africanos raramente são individualizados, sendo freqüentemente assimilados e apresentados em grupos ou bandos, utilizando termos que os qualificam, como nos exemplos abaixo:

(1) Black shapes crouched, lay, sat between the trees, leaning against the trunks... (p.31) [Vultos negros agachavam-se, deitavam-se sentavam-se entre as árvores, encostados nos troncos... (p.33)] (2) A quarrelsome band of footsore sulky niggers trod on the heels of the donkey. (p. 46) [Um bando de negros mal-humorados e pés feridos marchava nos calcanhares do animal. (p.63)]

No exemplo (1) são representados como "vultos negros" e no (2) como um bando de negros mal-humorados e pés feridos. Quando individualizados, são freqüentemente referidos através de partes de seus corpos:

(3) I began to distinguish the gleam of the eyes under the trees. Then, glancing down, I saw a face near my hand. The black bones reclined at full length with one shoulder against the tree, and slowly the eyelids rose and the sunken eyes looked up at me,

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enormous and vacant, a kind of blind, white flicker in the depths of the orbs, which died out slowly. (p.32) [Comecei por distinguir o brilho de olhos sob as árvores. Depois, olhando para baixo, enxerguei um rosto próximo a minha mão. Um negro feixe de ossos recostava-se numa árvore: lentamente suas pálpebras ergueram-se, e os olhos afundados voltaram-se para mim, enormes e vagos, numa espécie de cegueira, uma branca oscilação no fundo das órbitas, que se apagava devagar. (p.34)]

No exemplo (3), partes do corpo olhos (eyes), rosto (face) e ossos negros (black bones) são tomados como um todo para representar os indivíduos. Nota-se que a genericização apresentada nos exemplos (1) e (2) é forma recorrente de representação, mesmo utilizando membros do corpo para tal, como nos exemplos (4) e (5):

(4) But suddenly when we struggled round a bend, there would be a glimpse of rush walls, of peaked grass-roofs, a burst of yells, a whirl of black limbs, a mass of hands clapping, of feet stamping, of bodies swaying, of eyes rolling, under the droop of heavy and motionless foliage. (p.51) [Mas subitamente, ao contornarmos a duras penas uma curva do rio, vislumbramos paredes de junco, telhados de palha pontiagudos e um turbilhão de braços negros - mãos aplaudindo, pés batendo -, uma verdadeira explosão de gritos, corpos oscilando, olhos rolando, à sombra de pesada e imóvel folhagem. (p.75)]

(5) I had to lean right out to swing the have shutter, and I saw a face amongst the leaves on the level with my own, looking at me very fierce and steady; and then suddenly as though a veil had been removed from my eyes, I made out deep in the tangled gloom, naked breasts, arms, legs, glaring eyes - the bush was swarming with human limbs in movement, glistening, of bronze colour. (p.61) [Tive de curvar-me inteiramente para fora a fim de fechar a pesada veneziana, e enxerguei um rosto no meio das folhas a minha altura, olhando-me muito feroz e firme; então de repente, como se um véu houvesse sido removido dos meus olhos, avistei, no fundo da enreada escuridão, peitos nus, braços, pernas, olhos brilhando - a mata estava infestada de membros humanos em movimento, cintilantes, cor de bronze. (p.95-96)]

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Nos exemplos (4) e (5), além de serem somatizados, os africanos são apenas gritos (yells), mãos que aplaudem (a mass of clapping hands), pés (feet), corpos (bodies), peitos nus (naked breasts), membros humanos (human limbs) em movimento. O uso de meronímia, a parte pelo todo, fragmenta a personagem representada ao mesmo tempo em que a objetifica, especialmente ao ser tratada como um agrupamento ou bando, sem individualidade. A TAB. 1 apresenta as partes do corpos mais utilizadas no romance para descrição das personagens e que foram base para investigações mais detalhadas com o Concord. Tabela 1: Itens lexicais referentes a partes do corpo Parte do corpo Ocorrência Parte do corpo Ocorrência Head(s) [cabeça(s)] 59 Body(ies) [corpo (s)] 19 Eye(s) [olho(s)], eyebrows [sobrancelhas], eyelids [cílios]

58 Leg(s) [perna(s)] 14

Hand(s) [mão(s)] 44 Hair [cabelo] 13 Voice(s) [voz (es)] 42 Shoulder(s) [ombro(s)] 12 Foot [pé], Feet [pés] 36 Mind (s) [mente(s)] 11 Face(s) [rosto(s)] 35 Ear(s) [orelha(s)] 9 Heart(s) [coração (ões] 26 Lip(s) [lábio(s)] 9 Arm(s) [braço(s)] 25 Neck [pescoço] 6 Soul (s) [alma (s)] 21 Cabe ressaltar, no entanto, que as ocorrências listadas na TAB. 1, acima, nem sempre tomam a parte pelo todo. Através da ferramenta Concord, foi feito um levantamento do contexto das seis partes do corpo que mais ocorrem como descrição, de acordo com a listagem acima, a saber: head (cabeça), eyes (olhos), hands (mãos), voice (voz), feet (pés) e face (rosto). O objetivo do levantamento foi detectar quantas vezes as personagens, tanto europeus quanto africanos, tinham seus membros, produto (voz) ou itens associados à composição humana (alma e mente) tomados como um todo. A TAB. 2 apresenta o resultado:

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Tabela 2: Itens lexicais referentes a partes do corpo tomadas como o todo Item lexical Usado para

representar o povo local

Usado para representar o povo europeu

Usado para representar ambos no mesmo grupo

Head(s) [cabeça(s)] 3 2 - Eye(s) [olho(s)] 6 - - Hand(s) [mão(s)] 1 2 - Voice(s) [voz(es)] 1 14 1 Feet [pés] 2 - - Face(s) [rosto(s)] 3 - 1 Destaca-se da TAB. 2 o fato de o europeu ser tomado pela parte através dos itens lexicais head [cabeça] (duas vezes), hand [mão] (duas vezes) e especialmente voice [voz] (14 vezes), enquanto o povo local é tomado por todas as partes citadas. Destaca-se ainda o fato de a ocorrência do item lexical voz ser predominante na representação do europeu, enquanto o povo local é representado por sua voz somente uma vez. Esse fato aponta para o silenciamento desses atores sociais, aos quais são atribuídos apenas barulhos feitos com os pés, mãos e tambores e no caso da ocorrência da voz, são tratados como um conjunto de vozes que soam como murmúrios ininteligíveis que vêm da floresta. Abaixo são apresentados exemplos de linhas de concordância de cada nódulo investigado. A investigação foi feita com o corpus em inglês e a busca pela tradução da linha de concordância foi feita manualmente com o auxílio dos dados apresentados para cada linha de concordância. 1. Nódulo Head / Cabeça: ving, the eyes of that apparition shining darkly far in its bony head that nodded with grotesque jerks [ ... os olhos daquela aparição brilhando sombriamente a distância em sua cabeça ossuda que balançava com movimentos bruscos e grotescos. (p. 128)] 2. Nódulo Eyes/ olhos: stures, not one of which was lost to the sixty pairs of eyes before me, and the next morning I started the h [..., nenhum dos quais se perdeu para os sessenta pares de olhos diante de mim, e, na manhã seguinte, partimos com... (p.41)] 3. Nódulo Hands: ked grass-roofs, a burst of yells, a whirl of black limbs, a mass of hands clapping, of feet stamping, of bodies swaying, of eyes rolli [..., telhados de palha pontiagudos e um turbilhão de braços negros - mãos aplaudindo, pés batendo -, uma verdadeira explosão de gritos, corpos oscilando, olhos rolando, à sombra de pesada e imóvel folhagem. (p.75)] 4. Nódulo Voice: half-a-crown a tumble--" "Try to be civil, Marlow," growled a voice, and I knew there was at least one listener awake bes [... "Tente ser cortês, Marlow", grunhiu uma voz e percebi que havia no mínimo um ouvinte acordado além de mim. (p. 72)]

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5. Nódulo Feet: after day, with the stamp and shuffle of sixty pair of bare feet behind me, each pair under a 60-lb. load. Camp, coo [Dia após dia, o bater e arrastar de sessenta pares de pés descalços às minhas costas, cada par com trinta quilos de carga. Acampar, cozinhar... (p.40)] 6. Nódulo Face: the eyes under the trees. Then, glancing down, I saw a face near my hand. The black bones reclined at full len [olhos sob as árvores. Depois, olhando para baixo, enxerguei um rosto próximo a minha mão. Um negro feixe de ossos recostava-se numa árvore:... (p.34)] Para a análise da transitividade, que revela "quem faz o que a quem", foram consideradas as linhas de concordância que tomam as partes do corpo do africano como um todo, acrescidas das linhas de concordância com os nódulos "nigger” (negro), "shape" (vultos) e crowd (multidão), que são itens lexicais para referir-se ao povo local, conforme levantamento feito através da ferramenta Wordlist. Ao todo foram analisadas quarenta frases (ver ANEXO I), cujos resultados são apresentados na TAB. 3, a seguir: Tabela 3: Distribuição dos tipos de processo na representação do Africano em Heart of Darkness

Nódulos

Total

%

Tipos de Processos

Head Cabeça

Eye(s) Olho(s)

Hand(s) Mão(s)

Voice(s) Voz(es)

Feet Pés

Face(s) Rosto(s)

Nigger(s) Negro(s)

Crowd Multidão

Shapes Vultos

Comportamental 12 28,0

Comportante - 2 1 - 1 1 2 1 3

Extensão - - - - - - - 1

Existencial

Existente 1

1 2,3

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Material

Ator 1 1 1 8 3 1

Meta 2

Circunstância 1 1

19 44,2

Mental

Experienciador 1

Fenômeno 2 1 1

5 11,6

Relacional

Identificador 2 1 1 1

5 11,6

Verbal

Dizente 1

1 2,3

Total 43 100

Ao analisarmos a transitividade (tipos de processo, participantes e circunstâncias) das linhas de concordância que tiveram partes do corpo e os itens lexicais nigger (negro), crowd (multidão) e shapes (vultos) representando o povo africano, percebemos que esses são inscritos principalmente em processos Materiais (45%), seguido dos processos Comportamentais (27,5%) dos Mentais (10%), Relacionais (4%); Verbais e Existenciais (2,5%) cada . Os processos Materiais constróem acontecimentos do mundo externo. A alta concentração destes processos na representação dos africanos é indício de que eles afetam ou estão afetando o mundo no qual estão inseridos. Ao analisarmos mais detalhadamente percebemos que eles são Ator em 12 dos 18 processos Materiais, entretanto, o são basicamente em processos de voz média, que não afetam outros participantes como no exemplo (6) abaixo:

(6) I put down the glass, and the head that had appeared near enough to be spoken to ... [Abaixei o binóculo, e aquela cabeça, que parecera perto o bastante para falar... (p.125)]

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Em quatro dos processos Materiais eles são Circunstâncias para o desenvolvimento das ações empreendidas por outros participantes como em (7):

(7)... vory had been shaking its hand with menaces at a motionless crowd of men made of dark and glittering bronze. I saw him o [...marfim velho estivesse agitando sua mão ameaçadoramente para uma multidão imóvel de homens feitos de bronze escuro brilhante. (p.129)]

e em duas eles são a Meta, como no exemplo (8), abaixo, em que o negro é espancado por um agente que o narrador prefere excluir.:

(8) The shed was already a heap of embers glowing fiercely. A nigger was being beaten near by. They said he had caused th [O barraco virara uma pilha de brasas incandescentes. Um negro era espancado ali por perto. Diziam que havia de algum modo provocado... (p.48)]

Os processos Comportamentais, constróem as manifestações externas de processos Mentais. Assim o povo local é construído por sons que fazem ou por serem espectadores de atividades realizadas por outros participantes. Cabe salientar que tais processos são geralmente intransitivos, ou seja, o Comportante não afeta outras entidades. Os processos Mentais constróem o mundo interior de um Experienciador humano. Os africanos estão inscritos em 4 processos Mentais, sendo apenas em um deles como Experienciador e os outros três como o Fenômeno percebido por um outro agente como no exemplo (9) abaixo:

(9) Then, glancing down, I saw a face near my hand. The black bones reclined at full len [Depois, olhando para baixo, enxerguei um rosto próximo à minha mão. Um negro feixe de ossos recostava-se... (p.34)]

Os Processos Relacionais constróem os participantes em relação a outras entidades ou através de atributos. O baixo índice desses processos pode indicar o desinteresse em construí-los a partir de relações com outras instituições. Os processos Verbais constróem os processos de dizer e percebemos que os africanos estão inscritos em apenas um processo desse tipo, ainda assim colocado em segundo plano através da comparação entre o agente que é o Dizente do processo invocar no exemplo (10) abaixo e os negros que também invocariam em outras ocasiões.

(10) I had, even like the niggers, to invoke him--himself--his own exalted and incredibl [Seria preciso, como faziam os negros,

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invocar - a ele próprio - sua própria exaltada e incrível degradação. (p.143)]

Finalmente, os Processos Existenciais constróem entidades que existem. Os africanos são os Existentes em uma oração (11):

(11) "Suddenly there was a growing murmur of voices and a great tramping of feet. A caravan had come in. [De repente surgiu um crescente murmúrio de vozes e um tropel de passos. (p.38)]

É interessante notar que este é um dos poucos exemplos em que Europeus e Africanos são representados em um mesmo grupo e não é possível saber de quem são as vozes que surgem. Como exposto acima, podemos concluir que a distribuição dos processos nos quais os africanos estão inscritos revelam seres que embora atuem no mundo externo não o modificam, servindo mais como pano de fundo para os acontecimentos. Sua interação com outros participantes limita-se à participação como espectadores não verbalizando, nem expressando o que pensam, gostam ou sentem. 4. Considerações Finais O estilo e o discurso racista subjacentes em Heart of Darkness (Coração das Trevas) foram analisados considerando o inventário sócio-semântico de van Leeuwen (1996) e o sistema de transitividade descrito em Halliday (1994). A análise do estilo, através da representação dos atores sociais, indicou que os africanos são assimilados ao mesmo tempo em que são objetificados, tomando partes de seus corpos como um todo, revelando o discurso racista sob o ponto de vista do colonizador. A análise da transitividade revelou que os africanos no romance interagem com o mundo externo, mas não o afetam, sendo antes vítimas de agentes exteriores. São representados apenas como observadores de uma realidade e não sentem, gostam, pensam ou falam, corroborando Achebe (1975), o qual afirma que Conrad, ao mesmo tempo em que nos mostra uma África em massa, fragmenta os personagens que são tidos apenas como membros do corpo. REFERÊNCIAS ACHEBE, CHINUA. 1977. "An Image of Africa: Racism in Conrad's

'Heart of Darkness'" Massachusetts Review. 18.. Rpt. in Heart of

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Darkness, An Authoritative Text, background and Sources Criticism. 1961. 3rd ed. Ed. Robert Kimbrough, London: W. W Norton and Co., 1988, pp.251-261.

CONRAD, JOSEPH. 1902. Heart of darkness.London: Penguin Books, 1994.

_____. 2001. Coração das trevas.Trad. Albino Poli Jr. Porto Alegre: L & PM.. 167 p. Original em inglês.

EGGINS, S. 1994. An Introduction to Systemic Functional Linguistics. London and New York: Continuum.

HALLIDAY, M. A. K. 1971. Linguistic function and literary style: an inquiry into the language of William Golding's The inheritors. In: CHATMAN, S. Literary style: a symposium. London & New York: OUP, p. 330-368

_____. 1976. Estrutura e Função da Linguagem. Tradução de Jesus Antônio Durigan. In: LYONS, John (Org.). Novos Horizontes em Lingüística. São Paulo: Cultrix, p.134-160. Original em inglês.

_____. 1994. An Introduction to Functional Grammar. 2nd edition. London: Edward Arnold, 434p.

MURFIN, R. C. (Ed.). 1996. Case studies in contemporary criticism: Heart of darkness. Miami: Bedford Books of St. Martin Press.

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ANEXO 1 Linhas de concordância N Concordance H EA D 1 e a snake. Ough! A door opened, ya white-haired secretarial head, but wearing a compassionate expression, appeared, a <Europeu; Material; Ator> 2 le-pie order. "Everything else in the station was in a muddle--heads, things, buildings. Strings of dusty niggers with splay <Africanos; Relacional; Portador> 3 understand that there was nothing exactly profitable in these heads being there. They only showed that Mr. Kurtz lacked r <Africanos; Relacional; Portador> 4 he was hollow at the core. . . . I put down the glass, and the head that had appeared near enough to be spoken to seeme <Africanos/ Material /Ator>

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5 ving, the eyes of that apparition shining darkly far in its bony head that nodded with grotesque jerks. Kurtz--Kurtz--that m <Europeu, Comportamental; Comportante> N Concordance EYE 1- th banks quite impenetrable-- and yet eyes were in it, eyes that had seen us. The riverside bushes were cer <Africanos / Relacional / Portador > 2- th banks quite impenetrable-- and yet eyes were in it, eyes that had seen us. The riverside bushes were cer <Africanos, Mental; Experienciador> 3 ands clapping. of feet stamping, of bodies swaying, of eyes rolling, under the droop of heavy and motionless <Africanos; Material; Ator> 4 stures, not one of which was lost to the sixty pairs of eyes before me, and the next morning I started the h <Africanos; Material; Ator> 5 ted together, the violently dilated nostrils quivered, the eyes stared stonily uphill. They passed me within six <Africanos; Comportamental; Comportante> 6- up a bit, then swung down stream, and two thousand eyes followed the evolutions of the splashing, thumpi <Africanos; Comportamental; Comportante> N Concordance Hands 1 deep sigh that made me mend my pace away from there. I felt a hand introducing itself under my arm. `My dear sir,' said the fello <Europeu; Material; Ator> 2 ed, brushed, oiled, under a green-lined parasol held in a big white hand. He was amazing, and had a penholder behind his ear. "I s <Europeu; Comportamental; Comportante> 3 ked grass-roofs, a burst of yells, a whirl of black limbs, a mass of hands clapping. of feet stamping, of bodies swaying, of eyes rolli < Africanos; Comportamental; Comportante> N Concordance Voice 1 in a great peace. "Suddenly there was a growing murmur of voices and a great tramping of feet. A caravan had come in. <Ambos? / Existencial / Existente> 2 ing as I was lying flat on the deck of my steamboat, I heard voices approaching--and there were the nephew and the un <Europeus; Mental; Fenômeno>

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3 half-a-crown a tumble--" "Try to be civil, Marlow," growled a voice, and I knew there was at least one listener awake bes <Europeu / Verbal / Dizente> 4 at once if necessary. `Will they attack?' whispered an awed voice. `We will be all butchered in this fog,' murmured anoth <Europeu; Verbal; Dizente> 5 at scuffle of feet on the iron deck; confused exclamations; a voice screamed, `Can you turn back?' I caught sight of a V- <Europeu; Verbal; Dizente> 6 `Now I will never hear him.' The man presented himself as a voice. Not of course that I did not connect him with some s <Europeu; Verbal; Extensão> 7 Oh, yes, I heard more than enough. And I was right, too. A voice. He was very little more than a voice. And I heard--hi <Europeu; Relacional; Identificado> 8 ittle more than a voice. And I heard--him--it--this voice--other voices--all of them were so little more than voices--and the <Europeu; Mental; Fenômeno> 9 -this voice--other voices--all of them were so little more than voices--and the memory of that time itself lingers around m <Europeu; Relacional; Identicado> 10 sordid, savage, or simply mean, without any kind of sense. Voices, voices--even the girl herself--now--" He was silent fo <Europeus; Relacional; Identificado> 11 llow all the air, all the earth, all the men before him. A deep voice reached me faintly. He must have been shouting. He f <Europeu; Material; Ator> 12 ithout the trouble of moving his lips, amazed me. A voice! a voice! It was grave, profound, vibrating, while the man did no <Europeu; Relacional; Portador> 13 he fires loomed between the trees, and the murmur of many voices issued from the forest. I had cut him off cleverly; but <Africanos; Material, Ator> 14 mean and greedy phantoms. "Kurtz discoursed. A voice! a voice! It rang deep to the very last. It survived his strength t <Europeu; Material; Ator> 15 judgment upon the adventures of his soul on this earth. The voice was gone. What else had been there? But I am of co <Europeu;Material;Ator> 16 of incomprehensible words cried from afar, the whisper of a voice speaking from beyond the threshold of an eternal dark <Europeu; Verbal, Dizente> N Concordance FEET 1 after day, with the stamp and shuffle of sixty pair of bare feet behind me, each pair under a 60-lb. load. Camp, coo <Africanos; Comportamental; Comportante>

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2 yells, a whirl of black limbs, a mass of hands clapping. of feet stamping, of bodies swaying, of eyes rolling, under t<Africanos; Comportamental; Comportante> N Concordance FACE 1 the eyes under the trees. Then, glancing down, I saw a face near my hand. The black bones reclined at full len <Africanos; Mental; Fenômeno> 2 will be all butchered in this fog,' murmured another. The faces twitched with the strain, the hands trembled sligh <Ambos; Comportamental; Comportante> 3 to lean right out to swing the heavy shutter, and I saw a face amongst the leaves on the level with my own, look <Africanos; Mental; Fenômeno> N Concordance NIGGER 1 f noise and smoke when I made a dash at the wheel. The fool-nigger had dropped everything, to throw the shutter open and <Africanos; Material, Ator> 2 I am; but they call it fossil when it is dug up. It appears these niggers do bury the tusks sometimes-- but evidently they cou <Africanos; Material, Ator> 3 ppeal in the name of anything high or low. I had, even like the niggers, to invoke him--himself--his own exalted and incredibl <Africanos; Verbal; Dizente> 4 n had cleared out a long time ago. Well, if a lot of mysterious niggers armed with all kinds of fearful weapons suddenly took <Africanos; Material, Ator> 5 ound of hissing; steam ascended in the moonlight, the beaten nigger groaned somewhere. `What a row the brute makes!' as <Africanos; Comportamental; Comportante> 6 s greatness, the amazing reality of its concealed life. The hurt nigger moaned feebly somewhere near by, and then fetched a <Africanos; Comportamental; Comportante 7 d. The shed was already a heap of embers glowing fiercely. A nigger was being beaten near by. They said he had caused th <Africanos; Material, Meta> 8 the impressed pilgrims. A quarrelsome band of footsore sulky niggers trod on the heels of the donkey; a lot of tents, camp- <Africanos; Material, Ator> 9 g his self-respect in some way. Therefore he whacked the old nigger mercilessly, while a big crowd of his people watched hi <Africanos; Material, Meta> 10 on was in a muddle--heads, things, buildings. Strings of dusty niggers with splay feet arrived and departed; a stream of man <Africanos; Material, Ator>

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N Concordance CROWD 1 . Therefore he whacked the old nigger mercilessly, while a big crowd of his people watched him, thunderstruck, till some ma a <Africanos; Comportamental; Comportante> 2 s over the sombre and glittering river. "And then that imbecile crowd down on the deck started their little fun, and I could se a <Africanos; Material; Ator> 3 , stricken to death by the touch of that gloom brooding over a crowd of men. Forthwith a change came over the waters, and a <Africanos; Material; Circunstância> 4 e house with me--the stretcher, the phantom-bearers, the wild crowd of obedient worshippers, the gloom of the forests, the g <Africanos; Material; Circunstância> 5 no sounds of human language; and the deep murmurs of the crowd, interrupted suddenly, were like the responses of some <Africanos; Relacional, Portador> 6 forward again, and almost at the same time I noticed that the crowd of savages was vanishing without any perceptible move <Africanos; Material; Ator> 7 uch heavier than a child. "When next day we left at noon, the crowd, of whose presence behind the curtain of trees I had been acutely conscious... <Africanos; Mental, Fenômeno> 8 vory had been shaking its hand with menaces at a motionless crowd of men made of dark and glittering bronze. I saw him o < Africanos; Material, Circunstância> N Concordance SHAPES 1 ry of what I had heard him say afar there, with the horned shapes stirring at my back, in the glow of fires, within th <Africanos; Material; Ator> 2 ere then allowed to crawl away and rest. These moribund shapes were free as air--and nearly as thin. I began to di <Africanos; Relacional; Portador> 3 he launched earth had suddenly become audible. "Black shapes crouched, lay, sat between the trees leaning aga <Africanos; Comportamental; Comportante> 4 shore. I followed the direction of his glance. "Dark human shapes could be made out in the distance, flitting indisti <Africanos; Comportamental; Extensão> 5 ink and rise from the ground amongst confused columnar shapes of intense blackness, showed the exact position <Africanos; Material; Circunstância>

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